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história américa latina
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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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H I S T O R I D G U E R R D O P R G U Y
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HISTORIA
D A
G U E R R A D O B R A S I L
C O N T R A
A S R E P U B L I C A S Ü O U R U G U A Y E P A R A G U A Y
C O N T E N D O
CONSIDERAÇÕES SOBRE O E XER CITO DO BRASIL E SUA S CAMPANHAS
NO SUL ATÉ 1852.
CAMPANHA
DO ESTADO ORIENTAL EM 1865.
MARCHA DO EXERCITO PELAS PROVÍNCIAS ARGENTINAS.
CAMPANHA
DO PARAGUA Y..
OPERAÇÕES DO EXERCITO E DA ESQUADRA.
ACOMPANHADA
DO JUÍZO CRITICO SOBRE TODOS OS ACONTECIMENTOS QUE
TIVERAM LUGAR NESTA MEMORÁVEL CAMPANHA.
Le vrai
moyen d'eloigner
la
guerre
et de conserver
une longiae
paix, c'«st
d e cultiver
les armes.
FÈNBLON.
VOLUME I .
R I O DE J ANEI R O
LlYRABlA
D B A . G .
GUIMARÃES
& C. — RUA DO
SABÃO
N . 2 6 .
1870.
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T y p o g r a p h i a — P E R S E V E R A N Ç A — r u a d o Hospício n 91
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O E X E R C I T O
E Á
A R M A D A
D O
IMPÉRIO DO BR SIL
O A U T O R
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Í N D I C E
DAS
MATÉRIAS QUE CONTEM ESTE VOLUME.
INTRODUCÇÀO.
Influen cia da revolução de 7 de A bril de 1831 sobre oexercito.—
Campanhas do Sul contra Art igas, durante
o
governo do príncipe,
dep ois el-rei D . João V I, desde 1811 até 1820.—Política do gabine
te do Bio
de
Jane iro adoptada com relação aos neg ócios do sul .—
Guerra da Cisp latina, de 1825 a1828; suas causas eresultados.—
Tratado de29- de Maio de 1851, com oEstado Oriental eco m o
govern ador da provín cia de E ntre-Rios.— Ca mp anh a de 1851 e 1852-—•
Aniqui lamento doexercito nos anno s seg uin tes . — Considerações
sobre a política do governo im perial , em relação ao E stado Orien
ta l ,
e
ao Paraguay .—C omo se dev ia ter feito a guerra ao Parag uay.
—D emonstração da necessid ade de forças regulares estacionadas no
Bio Grande.—D ominação dos Jezuitas no Paraguay.
LIVRO I.
Sfcrte política dos relatórios doministério dos negócios e3tran-
3
e i r
° s e1853 a1855, em relação ás republicas do Rio da Prata.
—Missão do Paraguay confiada aochefe de esquadra Pedro Fe r-
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reira de Oliveira; seu comportamento como militar "e como diplo
m ata ,
e
seu s resultados.—R eflexOes sobre este s aco ntec ime ntos ,
e
sobre
a
política do governo imperial n'aquelles annos.
LIVRO
II.
Parte política do relatório do ministério dos negócios estrangei
ros do anno de 1856, em relação
á
política adoptada pelo gover
no imperial para com as republicas do R io da Prata.
LIVRO III.
Parte política dos relatórios do ministério dos negócios estran
ge iros dos ann os de 1857, 1858, 1859
e
1860, em relação
á
política
adoptada pelo governo imperial para com
a
republica do üruguay.
— Reclamações da legação imperial em Montevidéo ao governo ori
ental.— M issão ao Paraguay encarregada ao conselheiro José Maria
do Amaral.—Missão ao Paraguay encarregada ao conselheiro José
Maria da Silva Paranhos. — A ssassina tos perpetrados em subd itos
brasileiros no Estado Oriental.
LIVRO
IV.
Parte política dos relatórios do ministério dos negócios estrangei
ros nos annos de 1861, 1862, 1863
e
1864, em relação
á
política
adoptada pelo governo imperial, para com
as
republicas
do
Rio
da Prata.—Abusos
e
violências comm ettidos contra os Brasileiros
residentes
no
Estado Oriental pelas autoridades do departamento
de Taquarembó.—Providencias adoptadas pelo governo imperial em
1864,
relativamente ao que se passava no Estado Oriental.—M issão
confidencial do Brasil enviada a Buenos-Ayres.—M otivos justificativos
da missão Saraiva, no Rio da Prata.
LIVRO V.
Reclamações na câmara dos deputados, na sessão de 1864, so
bre perseguições
e
attentados soffridos por Brasileiros no Estado
O rientei.—R esposta do ministro dos negócios estrangeiros, JoSo
Pedro Dias Vieira.
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LIVRO VI
MissSo enviada ao Bio da Prata em Maio de 18(54, enca rrega da
ao conselheiro José A ntônio Saraiva. — A pre senta ção do min istro
brasileiro ao governo de M ontevidéo .—C orrespo ndên cia official relati
vamente
ás
reclamações fe i tas
ao
governo
do
Estado Oriental .
—C orrespondência com o corpo diplom ático.— Instrucç ões do gov erno
imperial expedidas á21 de Julho de 1864, ao vice-almirante bra
sileiro eao commandante do exercito doRio-Grande, para sefa
zerem represálias.
LIVRO
VIL
Protoeollo celebrado com aRepublica Argentina sobre aposição
assumida pelo Império
no
E stado Oriental .—Instrucções do vice -
almirante brasileiro ao s com ma ndan tes dos nav ios de gu err a, para
se proceder ás operações navaes.— Co rrespondên cia official dog o
verno imperial com as autoridades brasi le ira s doSul .—Relatór io
do presidente do Rio Grande, mostrando aforça que havia na
provincia, em 1864.— Discurso do deputado N ery, na sessão dè
26
de Agosto de 1864, em relação ápol í t ica do governo imperial pa
ra com oEstado Oriental .—N ova posição assum ida pelo Império no
Estado Oriental.—Reflexões sobre estes acontecim entos.— M ediação
offerecida pelo govern o do Parag uay a o gove rno imp erial. — R es
posta da missão especia l no Rio da Prata edo governo imperial .—
Nota de 30 de Agosto de 1864, do governo do Paraguay ao mi
nistro brasi le iro em Assumpção.—Resposta deste .—Continuação da
correspondência official com o governo de A ssum pçã o.
LIVRO VIII-
Accordo entre o vice-almirante brasileiro eo general D. Venancio
Flores para hostil isarem ao gover no de M ontevidéo.—P articipação do
vice-almirante brasileiro aos m inistros estrangeiros em M ontevidéo,
sobre obloqueio dos portos do Uruguay.—Effectividade do bloqueio.
—Correspondência com os commandantes das praças bloqueadas.—
Tomada da vil la do Salto.—Discurso do conselheiro José Maria da
Silva Paranhos no sena do, sobre acooperação do general D. Ve
nancio Flores.—Movimento combinado dos dous generaes.—M issão
ao Rio da Prata encarregada ao conselh eiro Jo sé Maria da Silv a Pa-
2
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ranh os.— Sua apresentação ao pr esid en te da R epu blica ÂrgeatÉB*
—Instrucções dadas aomesmo embaixador.
LIVRO
IX.
Captura do vapor mercante
Marquez ãe
Olinda,
nas águas
do rio
Paraguay.— Correspondência do governo de A ssum pçã o com al e ga -
ção imperial n'essa capital .— D iscurso do deputado A ntô nio Corrêa
do C outo, na sessão de 1858, sobre aattitude doParaguay.—Dis
curso do conselh eiro José M aria da Silva Paranho s nasessão de
11 de Julho de 1862, sobre as questões que
o
Brasil tem tido com
as republicas doRio da Prata e com o(Paraguay desde 1850.
—Invasão da província de Matto-Grosso.—Importantes documentos
comprovando
os
at tentados
e
inau ditas barbaridades praticadas
pelos Paraguayos.
w
LIVRO X.
Discurso do conselheiro José Maria daSilva Paranhos no se
nado,
sobre os movim entos do general D . Venancio Flores e do
vice-alm irante brasileiro.— Officio do conselh eiro José A ntô nio Sa
raiva ao vice -alm iran te, para este proceder
a
respresalias.—Conside
rações sobre os acontecimen tos, que se seguiram. —Discurso do
con selheir o José Maria da* Silva Par anh os, sobre asua missão ao
Rio da Prata.—Ataque
á
praça de Paysandú nos dias
6, 7 e 8
do
Dezembro de 1864.—Marcha da divisão brasileira commandada pelo
m arech al João Propicio Menna Barreto, desde- o R io-Gra nde
até
Paysandú.—Ataque aesta praça a31 de Dezembro, e a 1 e 2
de Jane iro de 1865.— Parte official do m are cha l J. P. M enna Barreto
ao governo imperial.—Discurso
do
conselheiro Paranhos. sobre
a
campanha no Estado Oriental.—Recordação histórica da guerra da
Pe ní ns ul a, tomada da praça d e Badajoz em 1812.
LIVRO XI.
Continuação da descrição do ataque apraça de Paysandú.—Pri-
níeir a carta do L° tene nte d'armada Francisco José de F reitas,—
Seg un da carta do mesm o 1.° tenen te.-D ocu m en toe officiaes sobre
o ataque
á
praça de Paysandú.
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LIV3R.O XII.
Marcha do exercito sobre Montevidéo.—Correspondência official do
ministro brasileiro, com
o
governo argentino
e o
corpo diplomático
de Buênos-Ayres.—Ofiieiò do ministro italiano em Montevidéo ao
Tice-almirante brasileiro, pedindo a suspensão de hostil idades até
15 de Fevereiro.—Resposta do vice-almirante.—Officio do mesmo mi
nistro de Itália ao conselheiro Paranhos para o mesmo fim.—Res
posta do ministro brasileiro.—Estado da população de Montevidéo
debaixo da influencia do governo de Aguirre.—O ministro dos ne
gócios estrangeiros, Dias Vieira, dá conta d'estes acontecimentos no
relatório de 1865.—Correspondência official entre
o
general D. Ve-
nancio Flores
e o
ministro brasileiro, sobre
as
reclamações que
'motivaram o ultimatum de 4de Agosto.
LIVRO
XXII.
Discurso do conselheiro Paranhos no senado, sobre
o
que se pas
sou antes
do
convênio de 20
de
Fevereiro,
e a
correspondência
com o ministro dos negócios estrangeiros, Dias Vieira.—Mediação do
governo argentino ofíerecida ao oriental e por este regeitada.—Cor
respondência de Montevidéo narrando acontecimentos importantes.
—Ataque á cidade de Jaguarão pelos chefes orientaes Basi lio
Mufioz e Apparicio, em Janeiro de 1865.
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INTRODUCÇÃO.
A revolução que teve lug ar no anno de 1831, á
qua l se guio-se a a bdic a ç ã o do S r . D. Pe dr o I , p r ò -
duz io uma m uda n ç a to ta l e m tod os os ra m os da
a dm inis t ra ç ã o do Es ta d o, c omo c onse qüê n c ia ne c e s
sária do que acabava de acontecer .
Esta mudança pol i t ica exacerbou o povo no sent ido
de que re r obte r ma ior l ibe rda de . Com e s ta e spe ra nç a
as m udanças p ol i t icas que a revo lução foi fazendo em
a lguma s provinc ia s t ra nsforma ra m-se e m c omple ta
desordem , e sofFreram os gr an de s m ales qu e d 'aq ui
deviam seguir-se .
A insubordina ç ã o qu e se guida m e nte fo i a p pa r e c e nd o
nos corpos do exer ci to logo dep ois da rev olu ção ,
obrigou a R egência a disso lvêl-os . O gov erno nã o
teve outro m eio par a ex t ing uir a insub ord ina ção «mi
li tar, mais perigosa do que a civil , se não armar os
homens que lh e m erec eram confiança, e com elles
de sa rma r os c orpos insu bo rdin a do s . Foi n 'e s ta oc c a -
éiào que se formou o ba talh ão de oínc iaes, p ar a fazer
o serviço de soldados .
D este modo ext inguio-se o ex erci to que o prim eiro
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I I
I m p e r a d o r t i n h a c r e a d o , e c o m o q u a l fez a in de
p e n d ê n c i a . O r g a n i so u - s e a g u a r d a c i v i c a , q u e um
a n n o d e p o i s f o i s u b s t i t u í d a p e l a n a c i o n a l . A assem -
b l é a g e r a l c o n h e c e u q u e e r a i n d i s p e n s á v e l t e r um
p e q u e n o e x e r c i t o ; d e c r e t o u q u e s e c r e a s s e m algung
c o r p o s d a s t r e s a r m a s , o s q u a e s n ã o c h e g a r a m p a ra
g u a r n e c e r m e t a d e d a s p r o v í n c i a s . O r e s u l t a d o foi
an iq ui la r -s e a c la sse m i l i ta r , e co m el l a a influencia
q u e p o d i a t e r n o g o v e r n o . A s p r o m o ç õ e s f o ra m p r o -
h i b i d a s p o r a l g u n s a n n o s p e l a a s s e m b l é a g e r a l , t a n t o
n o e x e r c it o c o m o n ' a r m a d a . P r i n c i p i o u l o g o a ap p a-
r ece r a i n f lu en c i a d e o u t r a c l as s e d a s o c i e d a d e , e a
t e r a p r i n c i p a l p a r t e n a a d m i n i s t r a ç ã o d o E s t a d o d e
ta l m odo que o que a té en tão se fazia co m a espa
d a , d ' es s a ép o ca em d i an t e f ez- s e co m a p en n a .
D ' aqu i s e co n c l u e q u e o p e i o r l eg ad o q u e n o s d e i x o u
a revolução de 7 de Abr i l de 1831, fo i o aniqui la-
m en t o d a c l ass e m i l i ta r , r e s u l t ad o q u e s e d ev i a es
p e r a r d ' a q u e l la m u d a n ç a d e g o v e r n o ; e s t e a n i q u i l a -
m e n t o c o n t i n u a r i a se n ã o h o u v e s s e n a s p r o v í n c i a s a s
c o m m o ç õ e s q u e e x i g i r a m o e m p r e g o d a f o rç a a r m a d a
p a r a a s r e d u z i r á o r d e m .
A r ev o l u ção e g u er r a c i v i l d o R i o G r a n d e , q u e
d u r o u 10 a n n o s , o b r i g o u o g o v e r n o i m p e r i a l a c r e a r
u m p e q u e n o e x e r c i to n ' a q u e ü a p r o v i n c i a . E s te e x e r c i t o
em p r eg o u - s e n a cam p a n h a d e 1851 a 1852 co n t r a R o
s a s e O r ib e ; m a s p o u c o t e m p o d e p o i s c o n t i n u o u a
c o n s i d e r a r -s e a c l a ss e m i l it a r c o m o u m a c o r p o r a ç ã o
q u ae i i n ú t i l e p es a d a ao E s t ad o . C o m o en t ão n& o
h o u v es s e r ece i o d e g u er r a c i v i l o u ex t e r n a , s e r v i o o
r es t o d o ex e r c i t o p a r a d i v i d i r - s e p e l as p r o v í n c i a s eaa
p e q u e n o s d e s t a c a m e n t o s p o l i c í a e s .
O a b a n d o n o e m q u e e s ta v a a
j
c l as se m i l i t a r , t i o
ne ce ssá r ia a to d as as naçõ es para co ns erv ar a e*t»~
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I I I
^biU& a& e dos gov e r n os , a o r d e m in te r io r , e p a r a s u a
de f e s a , f e z c om que , qua ndo o gove r no im pe r ia l p r e
c i s ou , e m 1864 , de s ta c or por a ç ã o pa r a f a z e r a gue r r a
q u e n ã o e s p e r a v a t i v e s s e l u g a r , c o n t r a o E s t a d o O r i e n
tal,,
n ã o t i n h a e x e r c i t o n e m f o rç a a l g u m a m o b i l i s a d a
p a r a t a l fim ; a p r o m p t o u a l g u n s c o r p o s p a r a e n t r a
r e m e m c a m p a n h a , o q u e s ó t e v e l u g a r m e z e s d e
p o i s .
S a b e -s e q u e o s r e c r u t a s p r e c i s a m d e a l g u m t e m p o
d e e x e r c i c i o c o n t i n u a d o p a r a p o d e r e m e n t r a r e m f o g o ,
e , a lé m da m or os id a d e c om qu e tu d o s e f ez , a q ue l le s
b a t a l h õ e s t in h a m p o u c a g e n t e ; a ss i m , o I m p é r i o n ã o
e s t a v a p r e p a r a d o p a r a a g u e r r a , p o r f a l t a d e s o l d a
d o s . O s b a t a l h õ e s d e v o l u n t á r i o s q u e m a r c h a r a m n o
p r i n c i p i o d a l u t a n ã o s e c o m p u n h a m d e s o l d a d o s ,
m a s d e h o m e n s a r m a d o s . O q u a n t o a g u e r r a d o P a
r a gua y f o i f a ta l a o Br a s i l , va i vê r - s e na h i s tor ia que
e s c r e v e m o s .
O g o v e r n o i m p e r i a l d e v i a s a b e r q u e n ã o t i n h a e x e r
c i to q u a n d o m a n d o u o e n v i a d o a M o n t e v i d é o e x i g i r
d ' a q u e l l e g o v e r n o r e p a r a ç ã o a o s m a l e s q u e n o s t i n h a
c a u s a d o ; g o v e r n o n e n h u m t e m e s t e p r o c e d i m e n t o s e m
te r ba s e e m que s e a p oie , qu e é a f o r ç a a r m a d a ; s e
o g o v e r n o i m p e r i a l o sa b i a , c o m o , a l é m d e m a n d a r u m
e n v i a d o p r e m a t u r a m e n t e , o r d e n o u , a 2 1 d e S e t e m b r o
q u e s e p r o c e d e s s e a r e p r e s á l i a s c o n t r a a q u e l l a R e p u
b l i c a ? E s t e e s t a d o d i m i n u t o e i m p e r f e i t o . d o n o s s o a r
m a m e n t o e m t e m p o d e p a z , p o r s e q u e r e r d i m i n u i r
o e x e r c i t o , p a r e c i a q u e c o n v i n h a á e s t a b i l i d a d e d e
a l g un s m i n i s té r i o s, q u e q u e r i a m g o v e r n a r i n d e p e n
dentes ou l ivres d e to d a a inf luencia m il i t ar .
N o te m po do S r . D . J oã o V I to da s a s c la s s e s d à
s o ci ed a d e e s t av a m c o n v e n i e n t e m e n t e r e p r e s e n t a d a s ;
s obr e toda s a c la s s e m i l i t a r t inha a p r e ponde r â nc ia
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IV
q u e d e v ia t e r e q u e l h e p e r t e n c i a , s e m i n v a d i r u'
a t t ri b u i ç õ e s d a s o u t r a s c l a s s e s d a n a ç ã o .
E s t e e q u i l í b r i o p o l í t i c o e s o c i a l a i n d a s e c o n s e r v o u
n o r e i n a d o d ò p r i m e i r o I m p e r a d o r , a i n d a e n t á o a
c la s se m i l i t a r t e v e a p r e p o n d e r â n c i a q u e l h e e r a d e
v i d a , p o r q u e o g o v e r n o d ' a q u e l l a é p o c a c o n h e c e u a
n e c e s s i d a d e d e c o n s e r v a r u m e x e r c i t o b e m o r g a n i z a
d o p a r a d e fe sa d o p a i z , e p a r a s u a s e g u r a n ç a e x t e r n a
e i n t e r n a ; n ' aq u e l le t e m p o s e rv i o t a m b é m p a r a d e s
t r u i r a a n a r c h i a ou a d e s o r d e m q u e s e m a n i f e s t o u
e m a l g u m a s p r o v í n c i a s d o n o r t e l o g o d e p o i s d a i n
d e p e n d ê n c i a .
No s e g u n d o r e i n a d o n u n c a a c l a ss e m i l i t a r t e v e a
c o n s i d e r a ç ã o q u e p e lo s s e u s s e r v i ç o s a d q u i r i o n o t e m
po do Sr . D. Pe dro I . D esde 1831 qu e a influ en cia
e s s e n c i a lm e n t e c i v il t e m t i d o a p r i n c i p a l p a r t e n o
g o v e r n o d o p a iz ; e s t e s y s t e m a d e a d m i n i s t r a ç ã o p r o -
duzio o que se tem vis to a té agora . D'es ta causa pr i
m o r d i a l n a sc e r a m s e g u i d a m e n t e o u t r o s a c o n t e c i m e n t o s
q u e n ã o c o n v é m a q u i e x p e n d e r , m a s q u e i g u a l m e n t e
inf lu í ram pa ra se pe rd er esse eq ui l íb r io tão ne ce ssá r io
á s n a ç õ e s . V e r e m o s s e d 'o r a e m d i a n t e a c l a s s e m i l i
t a r c o n s e r v a a c o n s i d e r a ç ã o q u e a d q u i r i o c o m a c a m
p a n h a q u e t e r m i n o u .
A n t e s de t r a t a r m o s d a h i s t o r i a d a g u e r r a c o n t r a o
P a r a g u a y , c o n v é m s a b e r - s e q u e d e t o d a s a s c a m p a
n h a s q u e o B r a s i l t e m s u s t e n t a d o n a s m a r g e n s d o Ri o
da P ra ta des de 1811 a té 1852, ne nh um a lhe foi t i o
f a t a l c o m o a g u e r r a q u e a c a b o u .
A p r i m e i r a c a m p a n h a , a i n d a n o g o v e r n o d o p r í n
c ip e re ge nt e D. Joã o, du ro u de sde 1811 a té 1814. O
n o s s o e x e r c i t o n ã o e x c e d i a d e 8,000 h o m e n s , c o m p o s
t o d e t r o p a s d a 1 .- e 2 / li n h a d a s p r o v í n c i a s d e S .
P a u l o e d o R i o G r a n d e , e m d u a s d i vi sõ e s c o m a m -
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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J o a q u i m X a v i e r C u r a d o ; c o m m a n d o u e m c h e fe o t e -
neafce-genera l D. D iogo de S ouza , de po is Co nde do R io
P a r d o .
N * es ta c a m p a n h a a s t r o p a s b r a s i l e i r a s fica ram se m
p r e v i c t o r i o s a s ; em R i o N e g r o , n o S a l t o , n a s i m m e -
d i a çõ e s d o C e r ro L a r g o , o s i n s u r g e n t e s f o r a m c o m p l e
t a m e n t e b a t i d o s : o n o s s o e x e r c i t o c h e g o u a P a y s a n d ú .
N a s e g u n d a c a m p a n h a , q u e p r i n c i p i o u e m 1 81 6,
m a r c h o u d o R i o G r a n d e u m a d i v i s ã o d e 5,000 h o m e n s
d a s t r ê s a r m a s , c o m m a n d a d a p e l o g e n e r a l J o a q u i m
X a v i e r C u r a d o ; e n t r o u n o E s t a d o O r i e n t a l p o r C e r r o
L a r g o u m a b r i g a d a d ' e s t a d i v i s ã o , c o m m a n d a d a p e l o
c o r o n e l Jo sé d e A b r e u , d e p o i s B a r ã o d o C e r r o L a r g o ,
d e r r o t o u A r t i g a s p e r t o d e S . B o r j a , e o g e n e r a l Jo ã o
d e D e u s M e n n a B a r r e t o o b t e v e o u t r o t r i u m p h o e m
Q u a r a h i m ; o s c o r o n é i s J o a q u i m d e O l iv e ir a A l v a r es
c o m a l e g i ã o d e S . Pa u l o e Jo sé d e A b r e u d e r r o t a
ram os H espa nhó es em Cata lan: de ste m od o ficaram
a s f r o n t e i r a s d o U r u g u a y l i v r e s d o s i n s u r g e n t e s e d o
se u c h e fe A r t i g a s .
E m q u a n t o o g e n e r a l C u r a d o fez e s t a c a m p a n h a
c o m t a n t a h o n r a p a r a a s a r m a s b r a s i l e i r a s , d e s e m b a r
c o u e m S a n t a C a t h a r i n a o g e n e r a l p o r t u g u e z C a r l o s
F r e d e r i c o L e c o r , c o m m a n d a n d o u m a d i v i s ã o d e 4 , 8 0 0
h o m e n s d a s t i e s a r m a s , o r g a n í s a d a e m P o r t u g a l , c o m
p o s t a d e t r o p a s a g u e r r i d a s , q u S t i n h a m a c a b a d o a
c a m p a n h a d a P e n í n s u l a c o n t r a o s F r a n c e z e s . L e c o r
fo i u m g e n e r a l h á b i l , q u e t i n h a c o m m a n d a d o b r i g a
d a s so b a s o r d e n s d e L o r d W e l l i n g t o n . C h e g a n d o a o
B r a s i l c o m o s me smo s so l d a d o s v e n c e d o r e s d o s Fr a n
cezes,
d e v i a d e c i d i r a se g u n d a c a m p a n h a a f a v o r d o
Bragi i , e ass im aconteceu no anuo seguinte .
O g e n e r al L e c o r e a d i v isã o p o r t u g u e z a c h e g a r a m
3
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V I
ao R io d e Ja n e ir o e m A go s t o d e 1816; d e p o i s d e e st ar
n a A r m aç ão d a Pr a ia G r an d e a l gu m t e m p o , f o i m a
n ob r ar c om a d iv i são n o c am p o d e S . B e n t o , n a p r e
s e n ç a d o S r. D . J o ã o V I , e m b a r c a n d o p o u c o d e p oi s
para Santa Cathar ina.
D 'e s te p or t o se g u io p ar a a p r o v ín c i a d o R io G rand e..
d 'on d e p a sso u p ar a o E s t ad o O r ie n t a l , t o m a n d o a d í-
r e c ç S o d e - M a l d o n a d o .
L o g o q u e L e c o r c h e g o u á f r o n t e i r a , d e s t a c o u o b r i
gad e ir o S e b as t ião P in t o d e A r aú j o C o r r ê a q u e f o i t o
m ar o f or t e d e S a n t a T h e r e z a , o q u a l se r e n d e i [
d e p o i s - d e p e q u en a r e s i s t ê n c i a ; e s e g u i d a m e n t e b a t eu
a t r o pa d o i n s u r g e n t e F r u t u o s o R i v e r a n a p r o x i m i
d a d e d a a l d êa d e I n d i a -M o r t a , m a t a n d o - l h e a l g u m a
ge n t e e f u g in d o o r e s t o . A d iv i são se gu io a oc c u p ar
M a l d o n a d o , p e q u e n a a l d ê a , t e n d o i m p o r t â n c i a s ó p o r
se r p or t o d e m ar d e a lgu m ab r igo p ar a a n ave gaç ão
d o R i o d a P r at a. N e s t e p o r t o s é c o r r e s p o n d e u o g e
neral Lecor com o chefe de d iv isã o C onde de Viann a,
. c o m m a n d a n t e d a d i v i s ã o n a v a l d e s t i n a d a a b l o q u e a r
M o n t e v i d é o . D e M a l d o n a d o m a r c h o u a d i v i s ã o , s e m
e n c on t r a r r e s i s t ê n c ia , a t é M on t e v i d é o . Pe r t o d a c id a
d e u m a d e p u ta ç ã o d a m u n i c i p a l i d a d e v e i o e n c o n t r a r
o ge n e r a l e e n t r e gar - lh e as c h ave s d a p r aç a , n a q u a l
en tro u a d iv isã o a 20 de Ja ne iro de 18 17, ten do
f u g id o an t e s D . M an oe l B ar r e r os , q u e a gove r n ava
e m n o m e d e A r t i g a s . C o m a t o m a d a d a c a p i t a l a
c a m p a n h a n ã o e s ta v a a c a b a d a ; n u m e r o s o s b a n d o s d e
gu e r r i lh as , a in d a q u e m al ar m ad os , c or r iam a c am p a
n h a e m d i f fe r e n t e s d ir e c ç ô e s . O ge n e r a l L e c or t in h a
d e i x a d o g u a r n e c i d a a a l d ê a d e M a l d o n a d o , e m a n d o u
oc c u p a r a c o l ôn ia d o S ac r am e n t o , p or t o d e m ar d o z e
lé g u as ac im a d e M on t e v id é o , p e lo c or on e l M an oe l tor-
g e R od r ig u e s , c o m o b at a lh ão d o se u c o m m an d o ,• e
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V I I
o b r i g a d e i r o A r a ú j o C o rr oa , c o r a u m a b r i g a d a f oi o c
c up a r a v i l l a d o Ce r r o L a r g o . T a l foi a m a r c h a qu e
s e g u i o a d i v i s ã o d o g e n e r a l L e c o r n ' e s t a s e g u n d a c a m
p a n h a . A s si m fico u a q u e l l e E s t a d o e n c ô r p o r a d o a o
B r a s i l p e l o d i r e i t o d e c o n q u i s t a , c o m o n o m e d e p r o
v í n c i a C i s p l a t i n a . E i s a q u i
n
O r e s u l t a d o d a p o l i t i c a d o
g a b i n e t e d o S r . D . J o ã o V I p a r a c o m a s r e p u b l i c a s
d o R i o P r a t a .
« A t o m a d a e o c c u p a ç ã o d e M o n t e v i d é o , c o l ô n i a
d o S a c r a m e n t o e M a l d o n a d o , d i z A b r e u e L i m a , a l é m
d e s er u m b r i l h a n t e c o m e ç o d e o p e r a ç õ e s , m u i t o c o n
c o r r e u a p r i n c i p i o p a r a a d i m i n u i ç ã o d o s n u m e r o s o s
p i r a t a s q u e , c o m a b a n d e i r a d e A r t i g a s , i n f e s t a v a m
a s nos s as c os ta s , por fic are m a s s im p r iv a d os dos pr in -
c i p a e s p o r t o s , o n d e s e a r m a v a m e r e c o l h i a m - s e . »
O g a b i n e t e d o S r . D . J o ã o V I e n t e n d e u q u e a s s i m
firm ava os l im i te s n a t ur a e s do s u l do Br a s i l ; po l í t i c a
p r e v i d e n t e , q u e m o s t r o u o a c e r t o d e t a e s m e d i d a s ,
m a s q u e m a i s t a r d e d e p o u c o s e r v i o .
O s h o m e n s q u e f o r m a r a m o s m i n i s t é r i o s d o S r . D .
J o ã o V I f o r am : M a r q u e z d e A g u i a r , C o n d e d a B a r c a ,
Conde da s G a lvê a s , Cond e de L inh a r e s , J oã o P a u o
B e z e r ra , T h o m a z A n t ô n i o d e V i ll a N o v a P o r t u g a l ; f o
r a m e s te s os m in is t r os que d i r ig i r a m n*a que l le t e m po
os negócios p o l í t i c o s c o m a s r e p u b l i c a s d o R i o d a
P r a t a . E s t e s m i n i s t r o s , h o m e n s v e l h o s e a c o s t u m a d o s
a d i ri g i r a a d m i n i s t r a ç ã o d o E s t a d o , s o u b e r a m b e m
d a r t o d a s a s p r o v i d e n c i a s p a r a f a z e r e m - s e a s c a m p a
n h a s d o s u l d o m o d o p o r q u e a c a b a m o s d e v e r , d a s
qua e s o Br a s i l c o lhe u bo ns r e s u l ta do s ; a o m e n os nã o
f ora m o s s e u s e x é r c i t o s c o m m a n d a d o s p o r e s t r a n
g e i r o s, n ã o s e a g i t o u a n a ç ã o c o m u m r e c r u t a m e n t o
f or ç a do , v io le n ta ndo hom e ns de d i f f e r e n te s c ondiç õe s ;
nã o s e c o m pr a r a m e s c r a vos pa r a os f az er s o l da do s ,
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VIII
n ã o p r o m o v e r a m a d e s g r a ç a p u b l i c a ; p e l o c o n t r a r io
o p o v o v iv i a c o n t e n t e , p o r q u e a q u e l l a s c a m p a n h a *
não l h e causaram m al es se ns í ve i s : o d e c o ro e a hon
r a d o B r a si l c o n s e r v a r a m - s e s e m m a n c h a .
E m q u a n t o o S r . D , J o ã o V I e s t e v e n o R i o d e J a
n e i r o ,
as f ron t e i ras do su l es t i v er am ao ab r i g o das
c o r r e r i a s d o s a v e n t u r e i r o s r e p u b l i c a n o s , p o r q u e o s e u
g o v e r n o s o u b e s e m p r e s u s t e n t a r o q u e t i n h a f e it o a
beneficio do Brasi l .
O m i n i s té r io d o S r . D . J o ã o V I p r o c u r o u s e m p r e c o n -
n h e c e r a q u a l i d a d e d a g e n t e q u e p o v o a v a a s c o l ô n i a s
h e s p a n h o l a s do R i o d a P r a t a . A l é m d a r i v a l i d a d e q u e
h o u v e s e m p r e e n t r e p o r t u g u e z e s e h e s p a n h ó e s , o q u e
n a A m e r i c a e x i s ti o e e x i s t e c o m o n a E u r o p a , h a v i a
a f a lt a d e c i vi li sa ç ã o m a i s c o m m u m n a s m a s s a s p o
pu l ares , e a falta de i ns t ruc çá o n a c l asse m ai s e l eva
da da sua soc i eda de ; onde fa l t avam en t ão es t es e l e
m e n t o s , a s i n s u r re i ç õ e s o u d e s o r d e n s e r a m f r e q ü e n t e s .
A q u ell es p o v o s t i v e r a m m o t iv o s f o r t e s p a r a s e p a r a r e m -
s e d a H e s p a h h a ; m a s d e c l a r a d a a s u a i n d e p e n d ê n c i a ,
dev i am l i m i t a r -se a o rg an i sar os seus go ve rn o s , con-
so lfc ia l-os com o pu de sse m , e não of fendere m ao B ras i l ,
com o l ogo fizeram com o ca rac t er de g u er r i l h e i ro s ,
p a r a a p o d e r a r e m - s e d a p r o p r i e d a d e d o s s e u s v i s i n h o s .
Não foi só pela di fferença da fôrm a de go ve rn o
q u e e x i s t i o e n t r e o s d o u s p a i z e s , d e s d e o a c t o d a i n
de pe n dê n cia , que aqu el les po vos do sul foram-fcos
s e m p r e h o s t i s ; o h a b i t o d e v i v e r e m e m a n a r c h i a i a -
flu io m ai s do que a an t i g a r i v a l i d ad e p a ra o seu p ro
c e d i m e n t o c o n t r a o B r a s i l .
O g o v e r n o d o S r . D . J o ã o V I l o g o no a n u o s o g u i a t e
a i n d e p e n d ê n c i a d ' a q u e l l a s r e p u b l i c a s , f o i o b r i g a d o *
m a n d a r r e p e l l i r c o m e n e r g i a o s b a n d o s d e a v e n t u r e i r o *
q u e i n f e s t a v a m a f r o n t e i ra d o R i o G r a n d e ,
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n ã o p ô d e i n f u n d i r a m e n o r c o n f i a n ç a ; s e g u í r - s e - h i á a
e m i g r a ç ã o d o s c a p i t a l i s t a » , e t o r n a r i a a s e r o q u e fo i ,
o t h e a t r o d á a n a r c h i a e a p r e z a d e u m a m b i c i o s o
a t r e v i d o , j s e m o u t r a l e i q u e a d a s a t i s f a ç ã o d a s s u a s
p a i x õ e s .
« H a a l g u m h o m e m q u e d e s e j e v e r a s u a p á t r i a e m
t r i s t e s i t u a ç ã o ? L o g o é e v i d e n t e q u e a B a n d a O r i e n
t a l , n ã o p o d e n d o s e r a c t u a l m e n t e n a ç ã o . , d e v e c o n s t i
t u i r - s e p a r t e d e o u t r o E s t a d o c a p a z d e s u s t e n t a l - a e m
p a z e s e g u r a n ç a . B u e n o s - A y r e s , n o m e i o d a s s u a s
g u e r r a s c i v i s , n ã o p ô d e p r e e n c h e r e s t e s o b j e c t o s ;
m u i t o m e n o s E n t r e - R i o s , e t ã o p o u c o a H e s p a n h a ,
p o r q u e a s u a d o m i n a ç ã o t e m c o n t r a s i o v o t o d o s
p o v o s , e p o r q u e , n o s e u e s t a d o a c t u a l , n e m p ô d e s o -
c o r r e l - a , n e m e v i t a r q u e e s t a p r o v í n c i a f o s s e o t h e a t r o
s a n g u i n o l e n t o d a g u e r r a d e t o d a s a s m a i s , q u e p r o
c l a m a r a m a s u a i n d e p e n d ê n c i a . C o n s e g u i n t e m e n t e n ã o
r e s t a o u t r o r e c u r s o s e n ã o a i n c o r p o r a ç ã o á m o n a r -
c h i a p o r t ü g u e z a , d e b a i x o d e u m a c o n s t i t u i ç ã o l i b e r a l . »
E s t e v o t o f o i â p p r o v a d o p o r o u t r o s d e p u t a d o s d o
c o n g r e s s o , e e m c o n s e q ü ê n c i a a 3 1 d e J u l h o d e 1 8 2 1 ,
s e l a v r o u e m M o n t e v i d é o u m a a c t a , n a q u a l o p r e s i
d e n t e e m a i s d e p u t a d o s d o s E s t a d o C i s p l a t i n o , r e p r e
s e n t a n d o o s s e u s h a b i t a n t e s , e o S r . B a r ã o d a L a g u n a
r e p r e s e n t a n d o a S u a M a g e s t a d e F i d e l i s s i m a , e m v i r
t u d e d a s f a c u l d a d e s e s p e c i a e s q u e l h e s f ei ra m c o n f e
r i d a s ,
d e c l a r a r a m :
« Q u e h a v e n d o p e s a d o a s c r i t i c a s c i r c u m s t a n c i a s e m
q u e s e a c h a o p a i z , e c o n s u l t a n d o o s v e r d a d e i r o s i n
t e r e s s e s d o s p o v o s e d a s f a m í l i a s , a c c o r d a r a m e p e l a
p r e s e n t e c o n v i e r a m e m q u e a p r o v í n c i a o r i e n t a l 4 o
R i o d a P r a t a s e i n c o r p o r e a o r e i n o u n i d o d e P o r t u g a l ,
B r a z i l e A l g a r v e s c o n s t i t u c i o n a l , c o m a o b r i g a ç ã o
i m p r e s c i n d í v e l
d e s e r e s p e i t a r e m , c u m p r i r e m , o b s e r -
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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XI,
y a r è r a , e s e f a z e r e m o b s e r v a r a s b a s e s q u e s e a p r e
s e n t a r a m e e r a m 2 1 . »
D e l l a s t r *M a s c r ev e r em o s a s s e g u i n t e s ;
<( l.
a
E s t e t e r r i t o r r i o d e v e c o n s i d e r a r - s e c o m o u m
E s t a d o d i v e r s o d o s d e m a i s d o R e i n o - U n i d o , d e b a i x o
d o n o m e d e C i s p l a t i n a .
« 3 .
a
G o z a r á d a m e s m a d i g n i d a d e q u e o s d e m a i s d a
m o n a r c h i a , e t e r á d e s d e j á a s u a r e p r e s e n t a ç ã o n o
C o n g r e s s o N a c i o n a l .
« 7." O c o m m e r c i o , i n d u s t r i a e a g r i c u l t u r a s e r ã o
i s e n t o s d e t o d o s o s v e x a m e s .
« 8 .
a
L o g o q u e s e v e r i f i c a r a i n c o r p o r a ç ã o , t o d o s o s
c a r g o s e e m p r e g o s , e x c e p t o p o r a g o r a o s d a c a p i t a n i a
g e r a l , s e r ã o c o n c e d i d o s aG s n a t u r a e s o u a o s h a b i
t a n t e s c a s a d o s e e s t a b e l e c i d o s n a C i s p l a t i n a . »
E i s a q u i c o m o a m o n a r c h i a p o r t ü g u e z a , a o r e t i
r a r - s e d o B r a s i l , d e i x o u a q u e s t ã o d o R i o d a P r a t a .
V e r e m o s b r e v e m e n t e c o m o a d e i x a r a m o s m i n i s t é r i o s
d o p r i m e i r o I m p e r a d o r . ( * )
E s t a p a r t e h i s t ó r i c a d a p o l i t i c a d o m i n i s t é r i o d o
S r . D . J o ã o V I , q u e a c a b a m o s d e t r a n s c r e v e r , e m r e
l a ç ã o á o c c u p a ç ã o d e M o n t e v i d é o e q u e f e z c o n s e r v a r
p o r m u i t o a n n o s e m r e s p e i t o a s n o s s a s f r o n t e i r a s d o
s o l , d e v i a t e r s e r v i d o d e g o v e r n o a o s m i n i s t é r i o s d o
S r. D . P e d r o I p a r a p o d e r e m , p o r m e i o d e u m a a d m i
n i s t r a ç ã o a p r o p r i a d a , c o n s e r v a r u n i d a a o B r a s i l a q u e l l a
p r o v í n c i a , o u a b a n d o n a l - a l o g o q u e s e m a n i f e s t a r a m
o s p r i m e i r o s s i g n a e s d o i n s u r r e i ç ã o , e m A b r i l d e
1 8 2 5 ,
p a r a c o m e l l a n ã o s e d i s p e n d e r m a i s d i n h e i r o ;
o c o n t r a r i o d e t u d o i s t o f o i o q u e f i z e r a m .
O m i n i s t é r i o d o Sr . D . P e d r o I p e r s i s t i n d o n a s u a
p o l i t i c a e r r a d a , c o n s e r v o u n a p r a ç a d e M o n t e v i d é o
u m g o v e r n a d o r m i l i t a r s e m r e c u r s o s p a r a d o m i n a r , a
(*) Carrgio
Mercantil
de 24 de Dezembro de 1859.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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XII
c a m p a n h a , o q u e e r a m u i t o u t i l á d e f e z a d a s n o s s a s
f r o n t e i r a s .
N ' e s t as c i r c u m s t á n c i a s f a l t a r a m f o r ç a s c o m q u e s e
fizessem a s o p e r a ç õ e s m i l i t a r e s , q u a n d o p r i n c i p i o u a
i n s u r r e i ç ã o : f a l t o u u m m i nis tr o" d a g u e r r a q u e s o u
b e s s e d i r i g i r o s n e g ó c i o s d o s u l .
D e p o i s d a d e c l a r a ç ã o d o c o n g r e s s o r e u n i d o e m M o n
t e v i d é o , c o m o f i c a m e n c i o n a d o , d e v i a a p r o v í n c i a C í s p l ã -
t i n a ficar u n i d a a o B r a s i l , d e p o i s q u e e s t e s e s e p a r o u d e
P o r t u g a l ; a p o l i t i c a d o s m i n i s t r o s d o p r i m e i r o I m p e
r a d o r f o i i m p r ó p r i a p a r a c o n s e r v a r a u n i ã o .
O g o v e r n o d e B u o n o s - A y r e s , a s t u t o q u a n t o e r a p o s
s í v e l , a p r o v e i t o u a i n é r c i a d o g o v e r n o i m p e r i a l , c o n s -
t i t u i o - s e o r e p r e s e n t a n t e d a i d é a f e d e r a l , e o r g a n i s o n
d e v a g a r a r e a c ç ã o o u i n s u r r e i ç ã o c o n t r a o B r a s i l .
E m N o v e m b r o d e 1 8 23 m a n d o u a o R i o d e J a n e i r o
e m c o m m i s s â o V a l e n t i m G o m e s , o q u a l c o m m u n i c o u
a o g o v e r n o i m p e r i a l e m u m a n o t a d e 2 6 d ' a q u e l l e met:
« Q u e o c a b i l d o d e M o n t e v i d é o , c o m o r e p r e s e n t a n t e
e m n o m e d o s h a b i t a n t e s , r e c o n h e c e n d o q u e o g e n e r a l d o
e x e r c i t o q u e g u a r d a v a a p r a ç a tr a t a v a d e s o l i c i t a r u m a
s u s p e n s ã o d e a r m a s , a f im d e o b t e r u m s a l v o - c o n d u t o
p a r a r e t i r a r - s e , e q u e c r e s c i a m o s p e r i g o s d e s e r d o
m i n a d o s p o r u m a a u t o r id a d e q u e d e s c o n h e c i a m ; d i
r i g i r a u m a d e p u t a ç ã o e s p e c i a l a o g o v e r n o d e B u e n o s -
A y r e s , p e d i n d o c o m u r g ê n c i a ' a s u a p r o t e c ç ã o , e f a
z e n d o v a l e r d e n o v o o s s e u s j u s t i f i c a d o s d i r e i t o s á
m e s m a : v i s t o s e r s u a d e c i d i d a v o n t a d e t o r n a r a e n t r a r
n a a s s o c i a ç ã o g e r a l d a s p r o v í n c i a s d o P r a t a , d e q u e
h a v i a s i d o s e p a r a d o c o m v i o l ê n c i a , e r e c o r d a n d o a o
m e s m o t e m p o a s e s t i p u l a ç ô e s e a j u s t e s f e i t o s n o m o
m e n t o d a o c c u p a ç â o d a p r a ç a p e l a s t r o p a s d e S u a
M a g e s t a d e F i d e l i s s i m á ' ; c h e g a r a o c a s o d e q u e e l l à s
„
,
j a w i - m
sp r a s c h a v e s e n t r e g u e s e ra
a e v a c u a s s e m , e d e v i a m s e r » u
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X I I I
p o d e r
da
m u n i c i p a l i d a d e p á ra d i s p o r
da sua
s o r t e ,
s e g u n d o j u l g a s s e c o n v e n i e n t e .
« Que o g o v e r n o de Buenos-Âyrés
1
, que se e m p e
n h a r a em não c h e g a r a um r o m p i m e n t o , a n t e s de ter
e s g o t a d o t o d o s
os
- m e i o s
de
p r u d ê n c i a
e
c o n c i l i a ç ã o ,
c o m
um
E s t a d o
que
a c a b a
de
o b t e r
a sua
e m a n c i
p a ç ã o , d e b a i x o
dos
m e s m o s p r i n c í p i o s c o m o
os
d e m a i s
E s t a d o s a m e r i c a n o s ,
e a
r e s p e i t o
do
q u a l c o n c o r r e
d e m a i s a c i r c u m s t a n c i a r e c o m m e n d a v e l de v i z i n h a n ç a ,
e o u t r a s r e l a ç õ e s ; a d v e r t i d o por uma part e» da r h y s -
t e r i o s a c o n d u c t a
do
g a b i n e t e
do
B r a s i l ,
no
t r a t a d o
d a n e g o c i a ç ã o p e n d e n t e
e
i m p r e s s i o n a d o
por
o u t r a
p a r t i c u l a r g r a v i d a d e
do
a s s u m p t o
por
c a u s a
d a
s i t u a ç ã o de M o n t e v i d é o : j u l g o u a c e r t a d o dar c o n t a
á h o n r a d a j u n t a da p r o v í n c i a , i n s t r u i n d o - a d e t a l h a
d a m e n t e
de
t u d o
o que se
t r a t o u
Com a
c o r t e
do
R io
de
J a n e i r o , p a r a
que se
d i g n a s s e d e c i d i r
o que
j u j g a s s e c o n v e n i e n t e . T u d o
o que
p r o d u z i r a c o n s t e r
n a ç ã o , t a n t o
nos
h o n r a d o s m e m b r o s
da
j u n t a , c o m o
e m t o d o s os h a b i t a n t e s da p r o v í n c i a , que c h e g a r a m -
a c o n c e b e r
que o
g a b i n e t e
do
B r a s i l ,
não
d a n d o
uma
d e c i s ã o d e f i n i t i v a , t r a t a v a
só de
g a n h a r t e m p o p a r a
q u e
as
t r o p a s i m p e r í a e s o c c ü p a s s e m M o n t e v i d é o ,
e
f e i t o i s t o , p o d e s s é m m a i s f r a n c a m e n t e r e p e l l i r
a pre-
t e n ç ã o da sua e n t r e g a a M o n t e v i d é o .
« C o n c l u í a e x i g i n d o t e n n i n a n t e m e n t e u m a d e c l a r a ç ã o
d e f i n i t i v a ,
se o
m i n i s t é r i o i m p e r i a l e n t r e g a v a
ou nã o
a o g o v e r n o
de
B u e n o s - A y e s
á
p r a ç a
de
M o n t e v i d é o
e
a sua
c a m p a n h a
ás
p r o v í n c i a s u n i d a s ,
na
inte l l i -*
g e i i c i à de que t a n t o a n e g a t i v a c o m o a d e m o r a d e
v i a m t r a z e r c o n s e q ü ê n c i a s mui g r a v e s , de que n i n g ü e n í
s e r i a r e s p o n s á v e l , s e n ã o
o
g o v e r n o
do
B r a s i l .
»
A ' e s t a n o t a r e s p o n d e u
o
g o v e r n o i m p e r i a l
em
•
d ê
F e v e r e i r o
de 1824, e
d i s s e :
4
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XIV
« Que a não serem os co n sta nt es d es ej o s deJjkia Ma-
g e s t a d e I m p e r ia l p a ra m o s t r a r a o g o v e r n o d e B u e n o s -
A vres o apr eço que d'e ll e faz ia , e nã o qu er en d o co nse -
g u i n t e m e n t e q u e u m a m a i o r d i l a ç a o n a e x i g i d a d e c i s ã o
f izess e duv i d a r d ' e ll e s, po de r - s e -b i a m o s tra r
ejà
r e s
po s ta o qua nto era i m pra t i cá v e l da r um a dec i s ã o de
fin itiv a s o bre o n eg o c i o da re i n teg ra çã o de M o nte
v i d é o á p r o v í n c i a d e B u e n o s - A y r e s , p e l o s m e s m o s
pr i nc í p i o s em que D . V a l ent i m s e funda v a pa ra ex i -
g i l -a ; po i s funda ndo -s e Sua M a g es ta de pr i nc i pa l m ente na
v o nta de da pro v í nc i a de M o nte v i déo , que de s e ja v a e
requer i a a Bueno s -A y res a s ua s epa ra çã o do I m pér i o ,
e ha v endo pe l o co ntra r i o to da a pres um pçã o jur í d i ca "
de que o s M o ntev i dea n o s nã o des e ja v a m s em el h a n te
separ ação , só res tar ia o recu rso em ta l d i ve rg ên cia
de asserções , e no caso de s incera duvida e de es tar
fixo o d ire i to da rec lam ação p or parte de Bu en os -
A y res , de co ns u l ta r - s e pu bl i ca m ente a v o nta de g era l
do Es ta do C i s p l a t i no ; recurs o , po rém , des neces s á r i o
e fa l l iv e l ; des neces s á r i o po r s e t er já co n h ec i d o pe l o s
meios poss íve i s essa vontade gera l , e ser mais preju
d i c i a l que s e dê cred i to a o co ng r es s o do s rep res en
ta n tes de to d o o E s ta do , que em 1 821 r es o l v e u a s ua
incorporação ao Bras i l ; e ás actas de todos os cabi l -
do s da ca m pa nha , que s ubs eqüentem ente a cc l a m a ra m ,
rec o n hec era m a Sua M a g es ta de I m p er i a l, do q ue da r - s e
cred i to a o s i m pl es e i l l eg a l ca b i l do da m es m a c i da de
de M o nte v i déo , que n o m e i o d e pa r t i do s que um a
inf luen cia es tranha nlli pro m ove, requ er a B ue no s-
A y res e s s a i nco rpo ra çã o , que nã o é a po i a da pe l o s
o utro s ca b i l do s ; fa l l i v e l po rque , a i nda qua ndo s e t i
v e s s e po r co us a nenhum a a ex pres s ã o já enu nc i a d a
da v o nta de g era l do s M o ntev i dea no s a fa v o r de s ua
i n c o r p o r a ç ã o a e s t e I m p é r i o , e s e q u i s e s s e c o w u i -
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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X V
t a l - o s . n o v a m e n t e , n ã o p o d i a i s t o e f fe c tu a r -p e : 1 .°, p o r
q u e e s t a n d o a c a n á p a n - h a g u a r n e c i d a p o r t r o p a s b r a
s i l e i r a s i n d i s p e n s á v e i s á s e g u r a n ç a e d e f e s a d o s s e u s
h a b i t a n t e s , e e s t a n d o a i n d a p o r o u t r o l a d o a c i d a d e
d e M o n t e v i d é o m i l i t a r m e n t e o c c u p a d a p o r t r o p a s p o r
t u g u e s a s c o n t r a r i a s á q u e l l a s , t o d a e q u a l q u e r d e c l a -
r a ç a o p o p u l a r s e r e p u t a r i a m u t u a m e n t e c o a c t a e i l le g a l
p o r a m b o s o s p a r t i d o s , e e n t r a r ia n o v a m e n t e n o c ir
c u l o d e q u e D . V a l e n t i m q u e r i a q u e s e s a h i s s e ; 2 ." ,
p o r q u e e r a c o n s t a n t e q u e s e e x i s t i a a l g u m p a r t i d o n o
E s t a d o C i s p l a t i n o a f a v o r d e B u e n o s - A y r e s , d o q u e
n ã o s e p o d e r i a r a c i o n a l m e n t e d u v i d a r , t a m b é m e ra
c o n s t a n t e q u e p o r c a u sa d a l u t a p e n d e n t e e n t r e a s
a r m a s q u e o c c u p a v a m a p r o v í n c i a , se t i n h a m d e s e n
v o l v i d o o u t r o s p a r t i d o s d i ff e r en t e s, f o m e n t a d o s p e l o s
i n i m i g o s d o I m p é r i o , c o m o f o s s e m o d o s q u e q u e
r i a m a u n i ã o a P o r t u g a l , á I n g l a t e r r a , e o d o s q u e
a s p i r a v a m á i n d e p e n d ê n c i a a b s o l u t a d o E s t a d o C i s p la
t i n o ,
o s q u a e s p o s t o q u e p o u c o n u m e r o s o s e d i s s e m i
n a d o s n a g r a n d e m a s s a d o s q u e. d e s e j a v a m e j u r a v a m
m a n t e r a s u a i n c o r p o r a ç ã o a o I m p e n o , o f f e re c i a m
c o m t u d o e m s e m e l h a n t e f e r m e n t a ç ã o t o d o s o s o b s t á
c u l o s p a r a s e c o l l i g i r a e x p r e s s ã o d e u m a v o n t a d e
g e r a l l i v r e m e n t e a n n u n c i a d a . »
A e s t a s r a z õ e s o g o v e r n o i m p e r i a l a c c r e s c e n t a v a ,
a d e s e r a q u e s t ã o d a n a t u r e z a d ' a q u e l l a s q u e d e p e n
d i a m d o p o d e r l e g i s l a t i v o , v i s t o q u e s e t r a t a v a d e
c e s s ã o d e t e r r i t ó r i o . T o d a v i a , r e c o n h e c e n d o a u r g ê n c i a
e i m p o r t â n c i a d e u m a s o l u ç ã o , o g o v e r n o i m p e r i a l
d e c l a r a v a :
« Q u e a i n d a q u a n d o s e c o n s u l t a s s e n o v a m e n t e a
v o n t a d e g e r a l d a p r o v í n c i a C i s p l a ti n a p o r q u a l q u e r
m e i o q u e s e p r o p u z e s s e , a i n d a q u a n d o e s t a v o n t a d e
s e e x p r i m i s s e p e l a i n c o r p o r a ç ã o q u e r a B u e n o s - A y r e s ,
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X V I
q u e r a P o r t u g a l , q u e r a o u t r a q u a l q u e r p o t è f t c i a , n áo
p o d e r i a o g o v e r n o i m p e r i a l d e i x a r d e r e p u t a U um
a t a q u e fe ito n ã o só a o s v e r d a d e i r o s i n t e r e s s e s d o E s
t a d o C i s p l a t in c , m a s a t é a o s d i r e i t o s a d q u i r i d o s co m
t a n t o s s a c r i f í c i o s p e l o B r a s i l a o r e f e r i d o E s t a d o ; p o i s
q u e u m a s o l e m n e c o n v e n ç ã o f e it a e n t r e e s t e E s t a d o e
o I m p é r i o d o B r a s i l , a q u e m f o r a e e r a m u i o n e r o s a ,
n ã o p o d i a d i ss o l v er -s e s ó p e lo a r r e p e n d i m e n t o d e u m a
d a s p a r t e s c o n t r a c t a n t e s , m a s p e l a d e a m b a s , e p o r -
t an t o s e v e r i a o b r i g ad o o d e f en d e l - o s . E s t e s d i ff cíí 0§
e r a m t ã o s a g r a d o s ( d i zi a a n o t a d o g o v e r n o i m p e r i a l )
q u a n t o e r a a o r i g e m d e q u e d e r i v a v a m , p o i s j á p r e s
c i n d i n d o d e a n t i g o s t r a t a d o s d e l i m i t e s c e l e b r a d o s c o m
a c o r t e d e H e s p a n h a , b a s t a v a p o n d e r a r : 1.°, q u e e s
t a n d o o s M o n t e v i d e a n o s e n t r e g u e s a o d e s p o t i s m o d o
c h e fe A r t i g a s , e q u a s i a n i q u i l a d a a p r o v í n c i a p e l o s
f u r o r e s d a g u e r r a c i v i l, n ã o a c h a r a m a m p a r o e m p o
t ê n c i a a l g u m a, s e n ão n o B r as i l , q u e o s l i v r o u d ' a -
q u e l l e ch ef e f e ro z , e fez r e n a s c er a p a z e a a b u n
d â n c i a n a s u a c a m p a n h a ; ao m e s m o t e m p o q u e n e m
B u e n o s - A y r e s , n e m a H e s p a n h a fizeram o m e n o r s a c r i
fíc io p a r a a j u d a l - o s e p r o t eg e l - o s ; 2 . °, q u e o g o v e r n o
b r a s i l e i r o f i z e r a d e s d e e n t ã o i m m e n s a s e a v u l t a d a s
d e s p e z a s c o m a q u e l l a p r o v í n c i a , d a s q u a e s t i n h a t a n t o
d i r e i t o a s e r i n d e m n i s a d o , q u a n d o h o u v e s s e d e a b a n -
d o n a l - a , q u e a p r ó p r i a c o r t e d e M a d r i d r e c o n h e c e r a
f o r m a l m e n t e o d i r e i t o q u e t í n h a m o s a i n d e m n i s a ç â o ,
q u a n d o p r o c u r o u , m a s s em f r u c to , i n t e r e s s a r a s p t i n -
c i p a e s c o r t e s d a E u r o p a n a r e s t i t u i ç ã o d e M o n t e v i d é o
p o r S u a M a g e s t a d e F i d e l i s s i m a ; 3.°, q u e d e p o i s d e s o c e -
g a d a e l i v r e a p r o v í n c i a , f ac i l i t á r a - l h e S u a M ag es la& e
F i d e l i s s i m a q u e e s c o l h e s s e a s u a s o r t e s e m c o a ç ã o a l
g u m a , è a p r o v í n c i a l e g a l m e n t e r e p r e s e n t a d a e m u m
c o n g r e s s o , c o n h e c e n d o q u e o m e s m o d i r e i t o q u é t t e t o o
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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h i á t h n o c o n h e c i m e n t o d o g o v e r n o i m p e r i a l . E m B u e n o s -
A y r e s e s t a b e l e c e u - s e u m a c o m m í s s á o c o m o t i t u l o d e
O r i e n t a l , e n c a r r e g a d a d e r e m e t t e r q u a n t o f o s s e n e c e s
s á r i o ,
n ã o s ó p a r a d a r f o r ç a a o s c h e f e s d a r e v o l u ç ã o
c o n t r a o B r a s i l , m a s a t é p a r a t e n t a r o a p r e z a m e n t o
d e v a s o s d a m a r i n h a b r a s i l e i r a . B o t e s , b a l i e i r a s e h * -
l a n d r a s d e c o r s á r i o s s a h i r a m d ' a l l i c o m e s s e d e s ti n o u
E p o r f i m , p u b l i c a r a m - s e n a s f o l h a s . a r g e n t i n a s t r e s
d e c r e t o s d e u m s u p p o s t o c o r p o l e g i s l a t i v o , d e t e r m i
n a n d o q u e a p r o v í n c i a O r i e n t a l ficaria u n i d a á s d e
m a i s d o R i o d a P r a t a .
O g o v e r n o i m p e r i a l e m p r e g o u d e n o v o m e i o s d i
p l o m á t i c o s , c o m a s p e c t o m a r c i a l ; o q u e m o s t r o u f r a
q u e z a d e g o v e r n o , e n ã o m e i o s e n é r g i c o s p a r a o b t e r
q u a l q u e r r e p a r a ç ã o d o g o v e r n o d e B u e n o s - A y r e s .
P r i m e i r o f o i o v i c e - a l m i r a n t e R o d r i g o L o b o , n a
c o r v e t a Liberal; d e p o i s o c a p i t ã o d e f r a g a t a F a l c ã o d a
F r o t a , c a d a q u a l a p e d i r e x p l i c a ç ã o d ' e s t e s a c t o s .
A m b o s o s d i p l o m a t a s t i v e r a m e m r e s p o s t a p a l a v r a s
a m b í g u a s , s u b t e r f ú g i o s r i d í c u l o s . S o b r e v e i o e n t ã o u m
s u c c e s s o q u e c o r o a v a t o d a e s t a o b r a d e p e q u e n o s
a c i n t e s , d e t r a i ç õ e s s o r r a t e ir a s , e d e p r o c e d i m e n t o
a a v i l l o s o .
A 2 6 d e O u t u b r o o a g e n t e b r a s i l e i r o s q f f r e u u m
m u i g r a v e e p u b l i c o i n s u l t o n a s u a p e s s o a e n a c a s a
d a s u a r e s i d ê n c i a , p r e t e n d e n d o - s e a r r o m b a r a s p o r t a s
d a I e g a ç ã o . V e n d o - s e a s s i m d e s r e s p e i t a d o , s e m q u e
o g o v e r n o a r g e n t i n o d e s s e m o s t r a s d e v i d a , o c ô n s u l
d e u p o r finda a s u a m i s s ã o , e p e d i o p a s s a p o r t e s ,
N ã o e r a m a i s p o s s í v e l a o g o v e r n o d e B u e n o s - A y r e s
c o n t i n u a r n o seu p r o p ó s i t o d e d i s f a r c e . L a r g a n d o fi
n a l m e n t e a m a s c a r a , d i r i g i o a 3 d e N o v e m b r o u m a
n o t a a o g o v e r n o i m p e r i a l .
N ' e s t a n o t a , d i z i a o g o v e r n o a r g e n t i n o : « Q u e h a -
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X I X
vendo os habi t an t es da Proví nc i a Or i t n t a l recuperado ,
pelos seus próprios esforços, a l iberdade de seu ter-
r i tor io , ocoupado pelas arm as de Sua M agestade I m perial
e depois de instal lar um governo regular para o regimen
da sua proví nc i a , dec l araram so l emnement e a nu l l i -
dade dos actos pelos quaes se pretendeu uni r aquel le
pa iz ao Im pér i o do Bra s i l ; e con segui n t em ent e m a
ni festaram que seu voto geral , constante e decidido,
era pe l a un i dade com as demai s proví nc i as a rgent i
n as , a que sem pre per ten cera m pelos vínculos m ais
sagrados que o m undo conh ece. O cong resso geral da s
províncias unidas, em sessão de 25 do mez de
O ut ubro passado sancc i on ou: « Que de con form i
dade com o voto uni forme das províncias
-
do Es
t a d o , e do que de l i beradam eat e r epro du zi o a P ro
víncia Oriental p91o órgão legi t imo dos seus repre
sentan tes na lei de 25 A gosto do pre sen te a n u o ; o
Congresso em nome dos povos que representa a re
conhece de fei to inco rpo rada á R epu bl ica das P ro
víncias Unidas do Rio da Prata, a que por direi to
per t ence e que r per t en cer . » Por es t a so l emne dec l a
r a ç ã o ,
o governo gera l es t á compromet t i do a prover
a segurança da Província Oriental . El le desempenhará
o seu compromisso por quantos meios est iverem ao
seu a l cance , e pe l os me smos ac ce l erar a evac uação
dos dpus ún i cos pont os mi l i t a res , que guarnecem a i nda
as t ropas de Sua Mages t ade Imper i a l .
« 0 abaixo assignado está ao mesm o temp o au to -
r i sad o a d ec lara ^ que n 'es ta nova s i tuaç ão, o gov ern o
das Províncias Unidas conserva o mesmo espi r i to de
moderação e de just iça , que serve de base á sua po
l í t ica , e que di r ígio as tentat ivas , que repet io a té aqui
em vão , para negoci ar ami gavel ment e a res t i t u i ção da
Província Oriental , e da qui t l dará novas provas todas
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a s v e z e s q u e o p e r m i t t i r a s u a d i g n i d a d e ; q u e e m
t o d o s o s c a s o s \ n ã o a t a c a r á s e n ã o p a r a d e f e n d e r - s e
e o b t e r a r e s t i t u i ç ã o d o s p o n t o s a i n d a o c . c u p a d o s ,
r e d u z i n d o as s u a s p r e t e n ç õ e s a c o n s e r v a r a i n t e g r i
d a d e d o t e r r i t ó r i o d a s P r o v i n c i a s U n i d a s , e g a r a n t i r
s o l e m n e n i e n t e p a r a o f u t u ro a i n v i o l a b i l i d a d e d o s s e u s
l i m i t e s c o n t r a a fo rç a, o u s e d u c ç ã o .
« E m t a l c a s o , e d e p o i s d e t e r f e i t o c o n h e c e r a o
E x m . m i n i s t r o d ' e st a d o d o B r a s i l a s i n t e n ç õ e s e
d e s e j o s d o g o v e r n o d a s p r o v í n c i a s u n i d a s , r e s t a - l h e
a c c r e s c e n t a r q u e d e p e n d e r á u n i c a m e n t e d a v o n t a d e
d e S u a M a g e s t a d e I m p e r i a l r e s t a b e l e c e r u m a p a z
a s sa z p r e c i o s a a o s i n t e r e s s e s d o s e s t a d o s v i s i n h o s e
a i n d a d e t o d o o c o n t i n e n t e . »
A e s t a n o t a r e s p o n d e u o g o v e r n o i m p e r i a l c o m o
m a n i f e s t o d e 10 d e D e z e m b r o d e i 8 2 5 , d e c l a r a n d o a
g u e r r a a B u e n o s - A y r e s .
E i s a h i c o m o a c e i t a n d o - s e o l e g a d o d a m o n a r
c h i a p o r t ü g u e z a , o I m p é r i o d o B r a s il f o i a r r a s t a d o á
g u e r r a c o m B u e n o s - A y r e s , p a r a s u s t e n t a r n o n u m e r o
d a s p r o v i n c i a s d o B r a si l u m a n a c i o n a l i d a d e d e o r i g e m
d i v e r s a , q u e n o s o d i a v a t a m b é m e a u x i l i a v a o s e s
f o r ç o s d e s e u s v i s i n h o s c o n t r a n ó s .
D . P e d r o e s e u s m i n i s t r o s d e i x a r a m - s e d o m i n a r
p o r u m a i d é a f al sa d e d i g n i d a d e n a c i o n a l . N ã o h a v i a ,
e n t r e t a n t o p r u d ê n c i a e m a c e i t a r a p o s i ç ã o d e v i s i -
n h o c o n q u i s t a d o r a g g r e s s i v o p a r a u m i m p é r i o q u e s e
a c a b a v a d e f u n d a r , q u e p r e c i s a v a d o c o n c u r s o d e s u a s
f o r ç a s , e n ã o d e v i a d e s p e r t a r o c i ú m e d a I n g l a t e r r a .
H a v i a m e s m o i n j u s t i ç a e m q u e r e r á f o r ç a d e a r m a s
c o n s t r a n g e r M o n t e v i d é o a s u s t e n t a r u m v o t o d e a d h e -
s ã o , a r r a n c a d o d e b a i x o d o s t r i s t e s a u s p i c i o s d e u m a
o c c u p a ç ã o m i l i t a r .
S u p p o s t o m e s m o q u e nfto p r e v a l e c e s s e m e s t a s c o n -
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XXÍ
s i d e ra ç õ e s q u e a b i l a n ç a m o s a o c o r re r d a p e n u a , I ) .
P e d ro d e v i a p re s t a r o u v i d o s a o su ssu r ro d a o p i n i ã o
p u b l i c a d e n t r o d o I m p é r i o .
Já e n t ã o se fo rm a v a e sse n ú c l e o b r i l h a n t e d e
m o ç o s i l l u s t r a d o s , q u e t i n h a m d e a p o i a r - s e n o r e s
p e i t o e c o n s i d e ra ç ã o d o p o v o , e d e v i v e r l o n g e d a s
r e g i õ e s d o p o d e r , a t é a o d i a e m q u e a t e m p e s t a d e
p a ss a n d o p o r e ssa s re g i õ e s , e x i g i sse o c o n c u rso d e
t o d o s o s h o m e n s d e b e m p a r a a s a l v a ç ã o d o p a i z .
Esse s m o ç o s i l l u s t r a d o s , q u e fo ram o s c h e fe s , d o v e r
d a d e i r o p a r t i d o n a c i o n a l , e n s i n a r a m a o p o v o , p o r m e i o
d a i m p r e n s a e d o a l t o d a t r i b u n a , o s d o g m a s l i b e -
r a e s ;
e ss es m o ç o s p e r g u n t a v a m d e s d e e n t ã o : — Q u e
p r e t e n d e m o s c o n s e l h e i r o s d a c o r o a ? G l o r i a p a r a o
m o n a r c h a ? E s s a n ã o . s e a d q u i r e p e l a c o n q u i s t a d e
p a i z e s e s t ra n g e i ro s , m a s s i m p e l a c o n so l i d a ç ã o d o se u
i m p é r i o .
« N o s s os r e c u r s o s s ã o p o u c o s , g u a r d e m o l - o s p a r a
n ó s . F o ra p a ra d e se j a r q u e t i v é s se m o s c o m o l i m i t e o
R i o d a P r a t a ; m a s ] p o r b e m d e u m f u tu r o r e m o t í s s i m o
n ã o sa c r i f i q u e m o s o p r e se n t e n a s d e p l o rá v e i s c o n t i n
g ê n c i a s d e u m a g u e r r a , e m q u e a i n e x p e r i ê n c i a d o s
g e n e r a e s , a p o u c a v o n t a d e d o s s o l d a d o s , o c o r s o i n -
s o l e n t e d o s p i r a t a s , e m u i t a s o u t r a s c i r c u m s t a n c i a s h ã o
d e c o n su m i r a v i d a e a fo r t u n a d o c i d a d ã o e d o Im
p é r i o B r a s i l e i r o . P e n s e b e m o c h e fe d o E s t a d o . O
p e i o r q u e l h e p ô d e a c o n t e c e r é a t é m e s m o a v i c t o -
r ia , po rq ue se a g u e rr a no s va i de bi l i ta r , ficaremos
d e p o i s a b s o l u t a m e n t e p r o s t a d o s c o m a c o n s e r v a ç ã o d e
M o n t e v i d é o . » P a l a v r a s p r o p h e t i c a s q u e o f u t u ro c o n
verteu em factos. (*)
O q u e a c a b a m o s d e t r a n s c r e v e r s o b r e a p r o v í n c i a
C i s p l a ti n a , m o s t r a q u e b e m p r o c e d e u o m i n i s t é r i o d o
(*) Correio
Mercantil
de 27 de Dezem bro de 1859 .
•M
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S r . D . J o ão V I , m a n d a n d o c o n s u l t a r a v o n t a d e 4Ü
C i s p l a t i n o s , p a r a s a b e r s e q u e r i a m c o n s e r v a r - s e u n i d o »
á m o n a r c h i a p o r t ü g u e z a , o u a o u t r o E s t a d o . L o g o q u e
o B ra sil se c o n s t it u i o e m I m p é r i o i n d e p e n d e n t e ,
dmh
o s e u g o v e r n o t e r m a n d a d o n o v a m e n t e c o n s u l t a r a
v o n t a d e d 'a q u el le p o v o ; e q u a n d o s e p r o n u n c i a s s e
p e l a s u a s e p a r a ç ã o d o B r a s i l , c o n v i n h a n ' a q u e l l a é p o c a
a o s i n t e r e s s e s d ' e s t e n o v o I m p é r i o , a b a d o n a l - o á s u a
sor te , po rq ue , com o se v io , o e s t ad o d a s finanças do
B r a s i l , sjia s d i s c ó r d i a s i n t e r n a s , t e n d o e m 1 8 24 s u s
t e n t a d o a g u e r r a ci vi l e m P e r n a m b u c o , n ã o p r e m i t -
t i a m q u e e m p r e h e n d e s s e u m a g u e r r a e s t r a n g e i r a , e s
t a n d o c o n s o li d a n d o a s u a i n d e p e n d ê n c i a : e r a i s t o o
que se dev ia te r fe i to .
S u p p o n d o a g o r a q u e e s t e s m o t i v o s n ã o e x i s t i a m e
q u e o B r a s il t i n h a o d i r e i t o d e c o n s e r v a r u n i d a a o
s e u t e r r i t ó r i o a p r o v í n c i a C i s p l a t i n a , e d i n h e i r o p a r a
fa ze r a g u e r r a a B u e n o s- A y r e s, p o r q u e a s s i m c o n v i n h a
a seus in te resses , os meios que o governo i m p e r i a l
e m p r e g o u p a r a o c o n s e g u i r fo i a m a l d i r i g i d a e i n ú
t i l ca m pa nh a de 1825 a 1828, qu e te rm in o u p e la paz
c o n c l u í d a n o fim d e 3 a n n o s d e g u e r r a , s e m v a n t a
g e m a l g u m a p a r a o B r a s i l ; o b r i g a d o p e l a i n t e r v e n
ç ã o d o g o v e r n o i n g le z p a r a c o n s t i t u i r - s e a p r o v í n c i a
C i s p l a ti n a em E s t a d o i n d e p e n d e n t e , o q u e t e v e p o r
fim f a v o r e c e r a s d u a s r e p u b l i c a s v i z i n h a s .
A g u e r r a q u e d e s d e e n t ã o t e m f e it o o E s t a d o O r i e n
t a l a o B r a s i l e a o s B r a s i l e i r o s a l l i e s t a b e l e c i d o s , a
d e s p e z a q u e e s t e t e m f e it o e m a r m a t n e n t o s p o r c a u s a
d ' a q u e l l a r e p u b l i c a , t e m s i d o p r e j u í z o s m a i o r e s d o
q u e t e v e c o m a q u e l l a p r o v í n c i a e m q u a n t o e s t e v e u n i d a
a e s t e I m p é r i o .
C o m o s e v i o a c i m a , a d e s i n t e l i g ê n c i a d o g o v e r n o ,
i m p e r i a l c o m o d e B u e no s -A y re s p r i n c i p i o u p e l * | | t «
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X X I V
A lé m ( T e sta fa l ta d e p r e v i d ê n c i a d ' a q u e l l e m i n i tt i© ,
n ã o se i n f o rm o u d a f o r ç a d e q u e p o d i a d i s p o r a R e pu
b l i c a A r g e n t i n a p a r a a t a c a r o B r a s i l ; s ó s o u b e d e po i*
q u e o e x e r c i t o i n i m i g o e n t r o u p a c i f i c a m e n t e s e m op~
p o s i ç ã o n o R i o G r a n d e .
N ã o e s c o l h e u u m g e n e r a l c a p a z d e c o m m a n d a r
a q u e l l e . n ú c l e o d e e x e r c i t o , p o i s q u e a l g u n s h a v ia
q u e p o d e ss e m d e s e m p e n h a r a q u e l l a c o m m i s s ã o . A p r a ç a
d e M o n t e v id é o e s t a v a o c c u p a d a p o r t r e s b a t a l h õ e s
d e in f a n t a r ia , q u e n ã o t i n h a m m a i s d e 2 ,0 0 0 h o m e n s
e a l g u m a c a v a l l a r i a . E s t a p e q u e n a f o r ç a p o d i a t e r
s i d o a u g m e n t a d a , l o g o q u e h o u v e p r i n c i p i o d e i n s u r *
r e i ç ã o , se o m i n i s t é r i o q u e e n t ã o e x i s t i a t i v e s s e v i s t a
m a i s l o n g a , p a r a s e r v i r d e b a s e á f o r m a ç ã o d e u m
co r p o d e ex er c i t o , q u e s ah i s s e a b a t e r d e f l an co o
e x e r c i t o a r g e n t i n o q u a n d o a t r a v e s s o u a c a m p a n h a d o
E s t a d o O r ie n t al p a r a i n v a d i r o R i o G r a n d e , c o m o
ac on tec eu no fim de 1826, ou a tac al -o p e la re ta
g u a r d a .
O g e n e r a l L e c o r e s ta v a i n a c t i v o g o v e r n a n d o a p r a ç a
d e M o n t e v id é o , p o r q u e a s i n t r i g a s d a c o r t e o q u i s e
r a m i n u t i l i z a r c o n s e r v a n d o - o a l l i .
C o m o n ão s e ap r o v e i t o u a f o r ça q u e es t av a em
M o n t e v id é o e q u e d e v i a t e r s i d o a u g m e n t a d a p a r a o
fim ac i m a d i t o d e o p er a r n a ca m p a n h a , ficaram o s
t r e s b a t a l h õ e s g u a r n e c e n d o M o n t e v i d é o a t é a o fim
d a g u er r a . P o r es t e m o d o ficou a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a
d e s e m b a r a ç a d a e d o m i n a d a p e l a i n s u r r e i ç ã o , c a u s a n -
d o - n o s o s g a ú c h o s m a l e s b e m s e n s í v e i s , c o m o v a m o s
v er n a g u er r a d e g u er r i l h as q u e n o s fizeram n o a a n ó
de 1825.
Joã o V ieira de C arvalho quiz d i r i g i r do R io <l*
J a n e i r o a s p r i m e i r a s o p e r a ç õ e s d ' a q u e l i a ç a m p a a h ^
m a n d a n d o i n s i n u a ç õ e s a o g e n e r a l R o s a d o s o b r e o
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X X V
d e v i a f a z e r ; p r e t e r i ç ã o i m p r u d e n t e e i n a d m i s s í v e l , p o r
q u e n ã o s e p o d i a r e a l i z a r d e m o d o a l g u m . F o i , p o r
t a n t o ,
a q u e l l e m i n i s t r o o a u t o r d e t o d a s a s e r r a d a s
p r o v i d e n c i a s q u e * s e t o m a r a m n o p r i n c i p i o d ' a q u e l l a
g u e r r a , d o q u e r e s u l t a r a m o s r e v e z e s q u e s of if re ra m
a s n o s s a s t r o p a s n a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a , a l é m d e a s
n ã o r e f o r ç a r c o m o d e v i a .
N a p r o v i n c i a d o R i o G r a n d e , e m 1 8 2 5 , j á n ã o e x i s
t i a m o s g e n e r a e s q u e t i n h a m f e i t o a s c a m p a n h a s d e
1 8 1 1 a t é 1 8 2 0 , e x c e p t u a n d o o s g e n e r a e s L e c o r e B a r S o
d o C e r r o L a r g o ; p o r t a n t o , e s t e s g e n e r a e s e s t a v a m n o
c a s o d e d e s e m p e n h a r e m e d i r i g i r e m q u a l q u e r d ' e l le s
a q u e l l a c a m p a n h a e u l t i m a l - a e m p o u c o t e m p o , l o g o
q u e c a d a u m t i v e s s e u m a d i v i s ã o d e
-
6 a 8 , 0 0 0 h o
m e n s d a s t r e s a r m a s , p a r a o p e r a r c a d a u m d o s e u
l a d o ,
i s t o é , L e c o r s a h i r d e M o n t e v i d é o , e o B a r ã o
d o C e r r o L a r g o d a f r o n t e i r a d o R i o G r a n d e . T o m a d a s
e s t a s d i s p o s i ç õ e s , o s g e n e r a e s f a r ia m d e p o i s o q u e
e n t e n d e s s e m , e o e x e r c i t o a r g e n t i n o t e r i a s i d o a n n i -
q u i l a d o a n t e s d e c h e g a r á f r o n t e i r a d o R i o G r a n d e .
E m 1 8 2 5 a s p o u c a s f o r ç a s q u e h a v i a n a p r o v i n c i a
d o R i o G r a n d e e s t a v a m s e m o r g a n i s a ç ã o r e g u l a r d e
u m e x e r c i t o ; c o m m a n d a d a s p e l o B a r ã o d o C e r ro L a r g o ,
m i l i t a r b r i o s o e v a l e n t e , e p r a t i c o d ' a q u e l l a g u e r r a d o
s u l , n a d a p ô d e f a z e r p e l a o p p o s i ç ã o q u e l h e f e z o
m i n i s t r o d a g u e r r a , t e n d e - s e d e s d e A b r i l d ' e s s e a n n o
o u v i d o o g r i t o d e r e v o l t a n a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a .
E s t e g e n e r a l m a r c h o u c o m u m a b r i g a d a d e c a v a l l a r i a
p a r a a v i l l a d e M e r c e d e s , n a p r o v i n c i a C i s p l a t i n a , á
r e q u i s i ç ã o d o g e n e r a l L e c o r , q u e e s t a v a e m M o n t e v i d é o .
O g e n e r a l B a r ã o d o C e r r o L a r g o c o n s e r v o u - s e p o r
a l g u m t e m p o n a p o s i ç ã o q u e o e c u p o u , s e m e t u p r e -
h e n d e r o p e r a ç ã o a l g u m a , p o r q u e n ã o d i s p u n h a d e
f o r ç a s u f i c i e n t e p a r a p o d e r d o m i n a r a c a m p a n h a , j á
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e n t f t o c h e i a d e b a n d o s d e g u e r r i l h a s q u e h o s t í l í s a v a m
o s B r a s i l e i r o s ; e p o r i s s o n ã o p ô d e o p e r a r c o n t r a o s
i n s u r g e n t e s . A l é m d ' a q u e ll a b r i g a d a t e r f a l t o d e g e n t e ,
n ã o t i n h a i n f a n t a r ia e a r t i l h a r i a . D ' e s t e m o d o o m i
n i s t r o d a g u e r r a p r o v i d e n c i o u s o b r e a o r g a n i s a ç ã o d o
e x e r c i t o do su l .
E s t a s o b s e r v a ç õ e s , t i r a d a s d a m e m ó r i a q u e o c o r o
n e l J o s é J o a q u i m M a c h a d o d e O l i v e ir a t r a n s m i t t i o a o
I n s t i t u t o H i s t ó r i c o s o b r e a c a m p a n h a d o s u l d e 1 8 25
a 18 28 , t o r n a m - s e a g o r a m a i s i n t e r e s s a n t e s d e p o i s d a
g u e r r a c o n t r a o P a r a g u a y . T r a n s c r e v e m o s n ' e s t e l o g a r
p a r t e d ' a q u e l la s — R e c o r d a ç õ e s H i s t ó r i c a s — q u e n o s
pa r e c e m m a i s i n t e r e ssa nt e s . ( * )
« A l é m d e o u t r o s r e v e z e s p a r c i a e s , s o f f r i d o s p o r p e
q u e n a s p a r t i d a s d e s t a c a d a s d o e x e r c i t o b r a s i l e i r o , o
d o R i n c ã o d as' G a l l in h a s , o c c o r r i d o e m 2 4 d e S e t e m b r o
d' a qu e l l e a nn o , e m que um f o r te r e f o r ç o de c a v a l l a r i a ,
q u e d a p r o v i n c i a d e S . P e d r o m a r c h a r a a r e u n i r - s e
á d i v i sã o do g e n e r a l B a r ã o do Ce r ro L a r g o p o s t a d a
e m M e r c ed e s , fo i c o m p l e t a m e n t e d e s b a r a t a d o ; e o s u b -
s e q a e n t e d e 1 2 d e O u tu b r o n o S a r a n d y , e m q u e a
d i v i s ã o e x p e d i d a d e M o n t e v i d é o s o b o c o m m a n d o d o
c o r o n e l B e n t o M a n o e l R i b e i r o f o i q u a s i t o d a d e r r o
t a d a ; d e r a m g r a n d e i m p u l s o e c o n s i s t ê n c i a á s u b l e -
v a ç ã o d a B a n d a O r i e n ta l ,, . e c o l l o c a r a m o s i n d e p e n
d e n t e s d o m i n a n d o e x c l u s i v a m e n t e a s i t u a ç ã o , e s e
n h o r e s d o s e u p a iz c o m e x c l u s ã o d a s p r a ç a s d e M o n
t e v i d é o e d a C o l ô n i a , q u e . f o ra m l o g o p o s t a s e m r i
g o r o s o s i t i o . N ' es te e s t a d o d e c o u s a s , p e n o s a e a r r i s
c a da f o i a r e t i r a da que f e z de M e r c e de s a d i v i s ã o d ó
g e n e r a l B a r ã o d o f ^ r r o L a r g o , q u e a p r i n c i p i o t o m o u
p o s i ç ã o n a f ó z d o A r a p e h y , f r o n t e i ra d a p r o v í n c i a d e
T o m o X X I I I
da
Reviste Trimensal dó lást i t i i to Histórico
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X.XVU
P ed r o , e ao d ep o i s t ev e d e i n t e r n ar - s e p e l o s eu
t e r r i t ó r i o , a f i m d e m a i s f a c i l m e n t e r e m o n t a r - s e .
« A co n s i s t ên c i a q u e d e t aes e o u t r as d es as t r o s a s
em er g ên c i a s , s o ff ri das p e l as t r o p as i m p e r i ae s , t o m o u
a ca us a dos O r ien taes , cujo paiz ficara á in te i ra m erc ê
d ' e l l es d e p o i s q u e es s as t r o p as d ' ah i s e r e t i r a r am ,
o b r i g o u o g o v er n o b r a s i l e i r o a fazer m an t er s ó e r e s
t r i t i v a m e n t e a o c c u p a ç ã o d 'a q u e ll a s d u a s p r a ç a s , e
a t o m ar - s e a d ef en s i v a n a f r o n t e i r a d a p r o v i n c i a d e
•
S . P e d r o , j á e n t ã o a m e a ç a d a s e r i a m e n t e e m a l g u n s
dos seus pontos mais vulneráveis , e que f icavam ao
a l c an ce d o f oco d a s u b l ev ação o r i e n t a l : e n em p o r
i ss o p r e s c i n d i o - s e d e , e m s e g u i d a , e m p h a t i c a m e n t e d e
c l a r a r g u e r r a á R e p u b l i c a A r g e n t in a , c o m o f u n d a m e n
t o d e q u e j á o s t e n s i v a m e n t e p r o t e g i a e a u x i l i a v a c o m
p r ó p r i o e s fo r ço e a n i m a ç ã o a p r o c l a m a d a i n d e p e n d ê n c i a
d a B a n d a O r i e n t a l . N a d a m a i s se p ô d e r e c o n h e c e r
n ' e s t e p a s s o i m p o l i t i c o e i m p r e v i d e n t e , e q u e d e t a
m an h o g r av am e f o i ao B r as i l n o co m eço d a s u a i n
d e p e n d ê n c i a , p o i s q u e e n t ã o s ó c o n v i n h a o c u ra r -s e
s e r i a m e n t e d e s u a r e o r g a n i s a ç ã o p o l i t i c a , a f i m d e
p ó l - a c o n s e n t a n e a c o m a s f ô rm a s r e p r e s e n t a t i v a s p o r
e l le a d o p t a d a s , q u e a t o t a l e i n q u a li fi c á v e l i g n o r â n
c i a d a o p i n i ã o p u b l i c a , o u t a l v e z a c i n t o s o d e s p r e s o
p o r e l l a ; a q u a l s e f o r a c o n s c i o s a m e n t e p r e s c r u t a d a ,
c l a r o r e v e l a r i a s e u p e r f e i t o a n t a g o n i s m o a o e s t a d o
d e v i o l e n t a c o a c ç ã o e m q u e d e n o v o s e p r o c u r a v a
co l l o ca r a B an d a O r i en t a l , d ep o i s d e h a v e r j á firm ado
s u a i n d e p e n d ê n c i a , e t o m a d o a d e q u a d a a t t i t u d e d e
s u s t e n t a l - a a i o d o t r a n s e .
« A s t r o p a s b r a s i l e i r a s q u e e v a c u a r a m o t e r r i t ó r i o
d a e x - p r o v i n c i a C i s p l a ti n a , r e t i ra n d o - s e p a r a a p r o
v i n c i a d e S . P e d r o d e p o i s d e b r e v e o c c u p a ç ã o d a
f r o n t e i r a d o A r a p e h y , s e r v i r a m d e n ú c l e o p a r a a r e -
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X X V I I I
c o m p o s i ç ã o d o e x e r c i t o q u e a o g o v e r n o i m p e r i a l c u n r
p r i a e m p e n h a r n a l u t a c o n t r a a e s t a b e l e c i d a i n d e p e n
d ê n c i a d o s O r i e n t a e s , e e m s u s t e n t a ç ã o d a d e c l a r a d a
g u e r r a á R e p u b l i c a A r g e n t i n a : e s e n d o d e s t i t u í d o
d o c o m m a n d o d ' a q u e l la s t r o p a s o g e n e r a l B a r ã o d o
C e r ro -L a rg o , a q u e m s e i m p ô z a r e s p o n s a b i l i d a d e d o s
r e v e z e s p o r q u e e l l a s p a s s a r a m , e q u e m e l h o r q u a d r a
v a c o m o g a b i n e t e b r a s i l e i r o q u e t ã o i m p r e v i d e n t e ,
l e v i a n o e p h i l a u c i o so se h o u v e e m q u e s t ã o d e t a n t a
m o n t a ; fo i s u b s t i t u í d o p e l o b r i g a d e i r o F r a n c i s c o d e
P a u l a D a m a s c e n o R o s a d o o q u a l s e m p r ó p r i a i m p o r
t â n c i a e p r e s t i g i o m i l i t a r , e e s t o l i d a m e n t e p r e t e n c i o s o
a u m g r a n d e n o m e , q u iz s u p p r i r a d e fi c iê n c ia a d o p t a n d o
e n t ão o a p p e l l id o d e g e n e r a l— M a s s e n a R o s a d o .
« S e m v o n t a d e p r ó p r i a , b a l d o d e t i n o e d i s c e r n i m e n
t o , g e r a l m e n t e t i d o e m m á o c o n c e i t o , e a p e n a s a l a r d e a n d o
por notável serviço a pró do Brasi l , a a í fouteza de el le
s ó d e s a r m a r o b a t a l h ã o q u e c o m m a n d a v a n a o c c a s i ã o
d a su b l e v a ç ã o d a d i v i sã o l u s i t a n a e m M o n t e v i d é o , e
q u e p o u c a h e s i ta ç ã o e n e n h u m a r e l u c t a n c i a m a n i f e s t a r a
c o n t r a a s u a d e s e n c o r p o r a ç ã o d a d i v i s ã o . O n o v o g e
n e ra l i n v e c t i v a n d o c o n t ra t o d a s a s d i sp o s i ç õ e s d o se u
p r e d e c e s s o r , r e l a t i v a m e n t e á g u a r n i ç ã o d a f r o n t e i r a
(e m q u e m a l i á s se n ã o p o d i a n e g a r o m a i o r c o n h e c i
m e n t o p ra t i c o d a t o p o g ra p h i a d ' a q u e l l a p ro v i n c i a , e
a q u a l i d a d e d e m u i a m e s t ra d o n a e s t ra t é g i a p e c u l i a r
á g ue rr a do su l , un ind o a i s to va lor e san gu e f r io
n o s c o m b a t e s ) ; e st r eo u o s eu c o m m a n d o o s t e n t a n d o ^ e
p re ssu ro s o e m d i a m e t ra l o p p o s i ç ã o a t o d a s e l l a s , i n
ve r te nd o tu do q uan to se hav ia fe i to a be m da defesa
d a f ro n t e i ra e p ro v i m e n t o d o e x e rc i t o , c o n c e n t ra n d o
as t ropas que achou co l locadas em diversas posições
ad eq u ad as a essa defesa , nos ar red or es da Capel la do
L i v ra m e n t o , n a c o x i l h a d e Sa n fA n n a , a c u j o l o c a l
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X X I X
d e u o n o m e d ' a h i a v a n t e d e — A c a m p a m e n t o d a I m
p e r i a l C a r o l i n a , — t e n d o a n t e s p e r c o r r i d o u m a p e q u e n a
p a r t e d a f r o n t e i r a d e E n t r e - R i o s , e v i s i t a d o o a c a m
p a m e n t o d e C a t a l a n , o c c u p a d o p e l a b r i g a d a a o m a n d o
d o c o r o n e l B e n t o M a n o e l R i b e i r o .
« I n v o c o o t e s t e m u n h o d o s c o n t e m p o r â n e o s d o e x e r
c i t o ,
q u e e n t ã o s e r v i r a m n o s u l, e t e m c o n h e c i m e n t o
d a s l o c a l i d a d e s d a C a pe ll a d o L i v r a m e n t o , p a r a q u e d i g a m
c o n s c i e n c i o s a m e n t e s e e s s a p o v o a ç ã o a s s e n t a d a n o p o n t o
m a i s p r o e m i n e n t e d a c o x i l h a d e S a n f A n n a , n o c e n tr o
d a f r o n t e i r a g er a l , t en d o as d e Mi s s õ es e E n t r e - Ri o s
á d i r e i t a , e a d o R i o Gr an d e á es q u e r d a , ach a n d o - s e
a g r a n d e s d i s t a n c i a s d a p r i m e i r a e t e r c e i r a , e a m u i t o
m a i o r d o c e n t r o d a p o p u l a ç ã o m a i s v a s t a , e d a c a
p i t a l d a p r o v i n c i a ; h a v e n d o d e p e r m e i o a e s t a e a
c a p e l l a t r e s g r a n d e s r i o s i n v a d e a v e i s , a l é m d e u m
n u m e r o d e a r r o i o s , s e r r a s e a l a g a d i ç o s , a t r a v é s d e
u m t e r r i t ó r i o n i m i a m e n t e a c c i d e n t a d o , q u e f a z m u i
d if fic il o t r a n s i t o p ar a o r o d a m e ; e r a es s e p o n t o o
m a i s a z a d o p a r a o e s t a c i o n a m e n t o d e t r o p a s , q u e b e m
p eu co f a l t o u p ar a q u e d a C i s p l a t i n a s e n ão r e t i r as s em
e m c o m p l e t a d e b a n d a d a ; o n d e c o n v i n h a c e n t r a l i s a r
o u t r a s f o r ç a s d e c a v a l l a r i a d i s s e m i n a d a s p e l a p r o v i n c i a ;
e s p e r a r c o n t i n g e n t e s d e t r o p a s q u e d e v i a m s e r e x p e
d i d a s d e d i f fe r e n te s p o n t o s d o I m p é r i o ; e e m fim
o r g a n i s a r ' e p r o v e r o e x e r c i to q u e em b r e v e d e v ia
af fr o n ta r a co l l i s ão a r m ad a d a u n i ão - ar g en t i n a , q u e
t o m a v a a a t t i t u d e d e m o v e r - s e ; v e l a r n a d e fe sa d a
p r o v i n c i a d e S . P e d r o , e r e c u p e r a r a C i s p l a ti n a , c u ja
p o p u l a ç ã o e r g u e r a - s e d e i m p r o v i s o c o m o u m s ó h o m e m
e m s u s t e n t a ç ã o d a s u a i n d e p e n d ê n c i a .
« E m u m p e q u e n o r e c i n t o m o n t u o s o d ' e s ta p o v o a -
çfto n o v a e i s o l a d a , c o b e r t o d e a r ê a d e s a r b o r i s a d o e
b a n h a d o a p e n a s e m u m a d e s u a s o rla g p o r p e q u e -
6
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X X X
n o s r e g a t o s , o r i g e n s d o I b i c u h y , q u e n o v e r ã o o u
s e c e a m o u s e t o r n a m i n s a l u b r e s ; e s t a b e l e c e u o b r i g a
d e i r o R o s a d o o s e u q u a r t e l g e n e r a l e m M a r ç o d e
1826,
o c c u p a n d o o s p o u c o s c a s e b r e s q u e a l l i d e p a r o u , e e m
d e r r e d o r d e s i fez a m o n t o a r a s t r o p a s , q u e e m d i
v e r s o s p e r í o d o s , e d e d i í f e r e n t e s p r o v i n c i a s c o n v e r g i r a m
p a r a a q u e l le p o n t o p a r a o r g a n i s a ç ã o d o e x e r c i t o .
« D * esta c o n c e n t ra ç ã o d e fo rç a s p a r a a c a p e l l a d o
L i v r a m e n t o , f o ra u n i c a m e n t e d i s p e n s a d a a b r i g a d a d e
c a v a l l a r i a d o c o m m a n d o d o c o r o n e l B e n t o G o n ç a l v e s
d a S i lv a , q u e o c c u p a v a u m a p a r t e d a f r o n t e i r a d o
R i o G r a n d e ; e i s to p o r q u e e s t e c o m m a n d a n t e o p p o z -
se a e f fe c tu a r d a su a p a r t e a q u e l l e m o v i m e n t o c e n -
t r a l i s a d o r ; e a i n d a b e m q u e a e n e r g i a p o r e l l e e m p r e g a d a
n a re cu sa d 'esse p asso (salva a offensa á su b o rd in a ç ã o
m i l i t a r q u e a h i s e p o s s a e n x e r g a r ) , p ô d e d e m o v e r o
g e n e r a l d e i n s i s t i r e m u m p r o p ó s i t o , c u ja n o v i d a d e
e l le n ã o sa b i a a v a l i a r , e q u e e ra a ssá s p r e j u d i c i a l
á q u e l la f ro n t e i r a , p o n d o a d e s c o b e r t o o s e u r e s p e c t i v o
t e r r i t ó r i o , a o n d e s e a c h a v a m a g g l o m e r a d a s a s m a i o r e s
e s t â n c i a s e ' c h a r q u e a d a s d a p r o v i n c i a , e p a r a o q u a l
t i n h a c o r r i d o a p o p u l a ç ã o d o E s t a d o O r i e n t a l , q u e
se n ã o q u i z e n v o l v e r n a su b l e v a ç ã o d ' ã q u e l l e p a i z .
«
O
R i n c ã o d e C a t a l an , o n d e h a v i a e s t a c i o n a d o o u t r a
b r i g a d a d e c a v a l l a r i a , c o m m a n d a d a p e l o c o r o n e l B e n t o
M a n o e l R i b e i ro , o fferec ia t re s e sse n c i a e s v a n t a g e n s ,
q u e l h e d a v a m p r e f e r e n c i a a o u t r o q u a l q u e r l o c a l n a
f r o n t e i r a g e r a l , p a r a d e v e r s e r o c c u p a d o p e l o e x e r
c i t o d u r a n t e a s u a ç e o r g a n i s a ç ã o : e r a a p r i m e i r a o
s e r e s s e r i n c ã o c o n s i d e r a d o c o m o p a r t e c e n t r a l d a
f o r n t e i r a d e E n t r e - R i o s , d ' o n d e c o m p r o m p t i d a o s e
p o d i a m e x p e d i r f o r ça s , n ão só p a r a q u a l q u e r d o s
po n to s d 'es ta f ron te i ra , que n 'e l la conf inam, com a l
g u m a s d a s p r o v i n c i a s d a C o n fe d er aç ã o A r g e n t i n a , e
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@#ni o s K n l i t e s a e p t e n t r i o n a e s d a B a n d a O r i e n t a l p e l a
l i n h a d o A r a p e h y , c o m o p a r a a s f r o n t e i r a s d e M i s s õ e s ,
e d o R i o G r a n d e , q u e l h e ficam c o n t í g u a s ; s e g u n d a ,
a d e p o d e r e m a s t r o p a s a l l i p o s t a d a s c o b r i r o t e r r i
t ó r i o c o r r e s p o n d e n t e a essa f r o n t e ir a c o m p r e h e n d i d o
e n t r e o s r i o s Q u a r a h i m e A r a p e h y , d e q u e o B r a s i l
e s t a v a d e p o s s e , e q u e c o m e ç a v a a p o v o a r -s e c o in
g r a n d e a n i m a ç ã o ; t e r c e i r a , e m fi m , a d e a s s e g u r a r e
d e f e n d e r a s v a s t a s e e x c e l l e n t e s p a s t a g e n s d e c h ã o
p e d r e g o s o d a s c a b e c e i r a s o r i e n t a e s d o Q u a r a h i m ; o n d e
f o l g a d a m e n t e p o d i a p a s s a r o i n v e r n o a c a v a l h a d a d o
e x e r c i t o , e s e m r i s c o d e s e r a p p r e h e n d i d a p e l o i n i m i g o .
P o i s b e m ; p a r a
ê
q u e t u d o f o ss e a o c o n t r a r i o d o b e m
c o n c e r t a d o p l a n o d e d e f e sa , q u e t r a ç a r a e p r i n c i
p i a r a a p ô r e m p r a t i c a n a s f r o n t e i r a s o p r e d e c e s s o r
d o g e n e r a l R o s a d o , e s t e , o u p o r e s p i r i t o r e a c c i o n a r i o ,
o u p o r c e g a o b e d i ê n c i a ás s u g g e s t õ e s q u e d o m i n i s
t é r i o d a g u e r r a l h e e r a m d i r i g i d a s e m c o r r e s p o n d ê n
c i a c o n f i d e n c i a l , o n d e ( c o u s a e s t r a n h a v e l ) a t é s e l h e
p r e s c r e v i a m d e t a l h e s e s t r a t é g i c o s ; e ss a b r i g a d a foi
i g u a l m e n t e a r r a s t a d a p a r a a C a pe lla d o L i v r a m e n t o ;
e a m u i t a s r o g a t i v a s d o s e u c o m m a n d a n t e , f a c u l t o u -
s e - l h e a i s e n ç ã o d e e n t r a r p a r a o n u m e r o d o s c o r
p o s ,
j á i n c o n s i d e r a d a m e n t e a c c u m u l a d o s n o p e q u e n o
r e c i n t o d ' a q u e l l a p o v o . a ç ão , i n d o a c a m p a r - s e a m e i a
l é g u a d ' a l l i .
« C u m p r e a q u i n o t a r - s e q u e , e m s e g u i d a á d e s l o c a -
ç ã o d ' a q u e l l a b r i g a d a d o s e u p r i m i t i v o a c a m p a m e n t o ,
f o i a f r o n t e i r a d e E n t r e - R i o s i n v a d i d a p o r d u a s v e z e s
p o r c o l u m n a s d e c a v a l l a r i a i n i m i g a , a p r i m e i r a d a s
q u a e s e n t r a n d o p e l a c o x i l h a d o L u n a r e j o , c h e g o u
p e l a s p o r t a s d o Q u a r a h i m a a m e a ç a r b e m d e p e r t o a
C a p e l l a d o L i v r a m e n t o ; e a s e g u n d a , p a s s a n d o o U r u -
g u a y , a b a i x o d o
fó z
d o I b i c u h y , l e v o u em c o n t i n e n t e
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XXXII
a s a q u e e d e v a s t a ç ã o o t e r r i t ó r i o q u e l h e fica a d j a
c e n t e , e m s o c c p r r o d o q u a l t e v e d e i r e s s a m e s m a
b r i g a d a , q u e c o m q u a n t o o p r a t i c a s s e c o m m a r c h a s
f o r ç a d a s , n a d a m a i s p ô d e f a z e r q u e p r e s e n c i a r a r e
t i r a d a da p e q u e n a f o r ça q u e o i n i m i g o c o l l o c a r a d e
o b s e rv a ç ã o n a m a r g e m e s q u e r d a d o U r u g u a y , e m
q u an to e l l e e f f e c tu ava a p a ssa ge m d 'e ss e r i o , c o m o
e s p o l i o q u e a s e u s a l v o c o l h e r a d o t e r r i t ó r i o b r a s i
l e i r o .
« 0 i n q u a l if i cá v e l a m o n t o a m e n t o n a C a p e l l a d o L a
m e n t o d a s t r o p a s q u e d e v i a m e n t r a r n a r e c o m p o s i ç ã o
d o e x e r c i t o , a p r e s e n t o u e m r e s u l t a d o , d e n t r o d e p o u c o
tem po, a q u e l l e s m a l e s e i n c o n v e n i e n t e s , q u e f o r a m b e m
p r e v i s t o s , e v a t i c i n a d o s p e l o s fi l h o s d o s u l ; p r á t i c o s
d a gu e r r a q u e é p e c u l ia r aq u e l la r e g ião ; ao s q u ae s o
g e n e r a l t i n h a e m c o n t a d e v i s i o n á r i o s e g u e r r i l h e i r o s ,
só c ap a z e s p ar a as c or r e r ias d o c a m p o , i s t o é , p ar a
o a p a n h a m e n t o d o g a d o b r a v i o .
« O s c or p os d e ou t r as p r ov in c ias , q u e p ar a a l l i m ar
c h ar am , e aos q u ae s , p e lo a f an d e se r e m p o s t o s e m
c am p an h a , a fim d e se d ar m aior vu l t o ao e xe r c i t o , s e
n ã o d e u t e m p o a l g u m p a ra a f a z e r e m - s e n a s p o v o a ç õ e s
d o su l ao n o vo c l im a , e m q u e iam v iv e r , e q u e b e m
d i v e r s o e ra d o d e su a t e r r a n a t a l ; p e r d e r a m u m
q u i n t o d o s e u p e s s o a l p o r m o r t e e d e s e r ç ã o ; r e c o
n h e c i d a e s s a e x t r a o r d i n á r i a r e d u ç ã o n a r e v i s t a g e r a l
q u e s e p a s s o u a o e x e r c i t o , q u a n d o t o m o u p o s s e d o
c o m m a n d o d 'e lle o n o v o c o m m a n d a n t e . E s t a d e m i n u i -
ç ã o d o e x e r c i t o , t a n t o m a i s d e p l o r á v e l q u a n t o e x e r c e u
e l la sob r e su as f u t u r as op e r aç õe s u m a in f lu e n c ia q u e
o l e v ou a n ão p o d e r t r iu m p h ar n a b at a lh a d e 20 d e
F e v e r e i r o , d e v e u - s e e m m á x i m a p a r t e á l o c a l i d a d e e m
que se o fez es ta c io na r , satu rad a, co m o ficou e m
p o u c o t e m p o , d e e l e m e n t o s i n s a l u b r e s , e e m c u j o
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XXXI I I
a c a n h a d o c i r c u i t o h a b i t a ra m - m i l h a r e s d e h o m e n s ex
p a t r i a d o s , r e s p i r a n d o u m a r c o n s t a n t e m e n t e m e p h i -
t i c o ,
e s u je i to s á r ig o r o s s im a d i s c ip l in a m i l i t a r ; d o
q u e r e s u l t o u s e r e m a c o m m e t t i d o s d e g r a v e s e n d e m í a s ,
q u e a o s p o u c o s q u e r e s i s t i r a m s o b r e v e i o o r a c h i t i s m o ,
q u e o s t o r n o u v a l e t u d i n a r i o s p o r l o n g o t e m p o . N ã o
m e n o s c o o p e r o u p a r a i s so a p r i v a ç ã o d o p r o v i m e n t o
d e to d a a q u a l i d a d e p o r q u e p a s s o u o e x e r c i to , f a l
t a n d o - l h e f r e q ü e n t e m e n t e o s o l d o , v i t u a J h as e f a rd a -
d a m e n to n a e sta ç ã o in v e r n o s a ; e, e m fim , c u m p r e d i-
z e l - o ,
a i m p o p u l a r i d a d e q u e , a t r a v é s d a d i s c ip l i n a
m i l i t a r , r e s s u m b r a v a d e u m a g u e r r a p r o m o v i d a c o n t r a
a p r o c l a m a d a i n d e p e n d ê n c i a d a B a n d a - O r i e n t a l , a o
m es m o te m p o qu e o Bras il a in da se do ia dos e ffeitos
d a r e l u t â n c i a q u e d e p a r o u n o p r o n u n c i a m e n t o d e s u a
e m a n c i p a ç ã o p o l i t i c a .
« P a r a * o l a m e n tá v e l in c r e m e n to cT e sta s c a la m id a d e s
n ã o p o d ia f a l ta r a a s q u e r o s a . d e s a v e n ç a q u e e x s i t ia
e n t r e o b r i g a d e i r o R o s a d o e o p r e s i d e n t e G o r d i l h o ,
q u e a e s se t e m p o g o v e r n a v a a p r o v i n c i a d e S . P e d r o .
E , p o is , q u e a in d a q u a n d o s u b s i s t i s s e d e lo n g a d a ta
e s s a d e s a b r id a e p e r n ic io s a m a lq u e r e n ç a , n ã o d e v ia m i
o b o m s e n s o , a p r u d ê n c i a , a h o n e s t i d a d e e d e c o r o d e
f u n e c i o n a r i o s d e t a l c a t h e g o r i a , e o p r ó p r i o p u n d o n o r
d e s v ia r d e s o b r e o s e r v iç o e m g e r a l e d a d i s c ip l in a
e p r o v i m e n t o d o e x e r c i t o d o s u l em p a r t i c u l a r , a s
a n i m o s i d a d e s e g r a v e s r e c r i m i n a ç ò e s q u e , c o m i n a u d i t o
e s c a n d a l - o , j o g a v a m á s e s c a n c a r a s e n t r e s i a s d u a s p r i
m e i r a s a u t h o r i d a d e s d ^ q u e l l a p r o v i n c i a ; e q u e n a s
m u i p o n d e r o s a s c i r c u m s t a n c i a s e m q u e s e a c h a v a m o s
n e g ó c io s p ú b l ic o s , a o m e io d ia d o B r a s i l, t ã o inf en -
s a s lh e f o r a m .
« S o b e s te e s p i r i to d e r a n c o r o s a a n im a d v e r s á o , o ge *
n e r a l , m a l a v i s a d o , f o r m u l a v a e r e p r o d u z i a q u a s i d i a -
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r i a m e n t e s u a s e x a g e r a d a s e x i g ê n c i a s a o p r e s i d e n t e ,
d e n v o l t a c o m i m p u t a ç õ e s a l l u s i v a s *ao a n i q u i l a m e n t o
d e q u e d e d i a a d i a s e i a r e s e n t i n d o o e x e r c i t o , e
a t t r i b u i n d o só a e l le t ã o d e p l o r á v e l s i t u a ç ã o ; n ã o
s em l a n ç a r - l h e e m r o s t o s u a f a l ta d e p r e v i d ê n c i a e
z e l o; e o p r e s i d e n t e , n ã o q u e r e n d o d i s c r i m i n a r o e s t a d o
m e s q u i n h o d o e x e r c i t o n o m o d o p o r q u e s e f a z i a m e s s a s
e x i g ê n ci a s, a s i n v e r t i a e m m e i o s d e o a p o q u e n t a r ,
r e d a r g u i n d o c om a sp e r e z a e v i r u l ê n c i a s e m e l h a n t e s
i n c r e p a ç õ e s . e s e a a l g u m a s a c c e d i a e r a m p r e s t a d a s
c o m b a s t a n t e r e t a r d a m e n t o e p a r c i m ô n i a .
« P o r s e m d u v i d a q u e o g o v e r n o i m p e r i a l s e a c h a v a
b e m a o a l c a n c e d a s c o n t r a r i e d a d e s , q u e l e v a r a m o
e x e r c i t o a t ã o m i s e r a n d o e s t a d o , p o i s q u e , q u e r d e
u m l a d o , q u e r d o o u t r o , d ' e s t e s d e s p e i t o s o s c o n t e n -
d o r e s ,
p o s t o s n a a r e n a p o r a n t i g a s d e s a v e n ç a s , h a v i a
p o r fi a do e m p e n h o d e i n c u l c a r o s e u a d v e r s á r i o c o m o
a o r i g e m d e t a e s m a l e s , e d e a s s i m a p r e s e n t a l - o a n t e
o m e s m o g o v e r n o ; e e s t as r e c i p r o c a s r e c i i m i n a ç õ e s
p o d i a m d a r a e s t e s e g u r o s d a d o s , q u e p o r c e r t o o
l e v a r i a m á a p r e c i a ç ã o d a v e r d a d e , q u e e r a i m p r e s -
c i n d i v e l m e n t e d e s u a h o n r a e p o s i ç ã o r e c o n h e c e r :
m a s n ã o d e s c r i d o o g o v e r n o , d ' e ss a s l a s t i m o s a s e m e r g ê n
c i a s , q u e p e s a v a m s o b r e o o l v i d a d o e x e r c i t o d o s u l ,
a t r a v e s s o u e s t e q u a s i u m a n n o d e p r i v a ç õ e s , d e d ô r
e d e s o f fr im e n t o s , c o m i n i m i t á v e l c o n s t â n c i a e r e s i g
n a ç ã o ; e a t i r a d o á m i s é r i a e á i n a c ç ã o , q u e d e i x a r a m
u m va sio em sua s fi leiras , e qu e a cu sto e só d e p o is
d e e n t r a r o e x e r c i t o e m ' o p e r a ç õ e s , é q u e p ô d e s e r
r e p a r a d o : n ã o o b s t a n t e , s ó a o t e r m i n a r e s s e a n n o é
q u e m u d o u e l le d e c o m m a n d a n t e , e a p r o v i n c i a d e
a d m i n i s t r a d o r .
. « E ' b e m p a r a s u p p ô r , q u e o e s t a d o c a l a m i t o s o a q u e
t i n h a c h e g a d o o e x e r c i t o d o s u l , p e r f u r a n d o o « a »
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x x x v i
porque o inopinado regresso do mona rc ha dava margem
a nensar-se que, como re conhecesse el le p or fim a
insustentabilidade da causa com que se lidava, vista
a attitude que havia tomado a un iã o- ar ge nt in a em
adhesão á independência da Banda Oriental, queria
assim evitar qualquer acontecimento em sua presença,
que fosse menos decoroso da sua alta dignidade.
« Dos homens notáveis , que un icamen te por deffe-
rencia ao propósi to do Imperador de as sist ir á futura
campanha, se haviam pronunc iado pela pres ta ção de
seus serviços no exerci to, só o genera l Barão do
Cerro Largo levou a effeito sua promessa, pois que,
logo em seguida ao regresso do Imperado r, dedicou-se
ao chamamento de gente de gue rra e dos de se rt or es,
que foram então indultados para reunirem-se aos seus
corpos,
e se achavam refugiados nos di st ri ct os da
Serra; para cujas localidades di rigio-se em pessoa
unindo-se depois ao exercito, como adiante se verá.
« Igual esfriamento presentio-se na col lec ta da av ul -
tadi ssima subscrição monetária que fora pr om ov id a
na imperial presença, e para subvenção da caixa mi
litar. Retirado o monarcha, foi ella quando mu it o
realisavel em pouco mais do algar ismo que se ostentava
espontaneamente promettido, e mesmo assim não foi
sua obtenção sem omitti r-se diligencia. Estes dous
factos,
bem claro revelam que as mais das vezes pe rde
sua efücacia e praticabi lidade o acto produsido pelo
enthusiasmo do momento, que é diverso do sen timento
de intima consciência, logo que se esvaece o pensa
mento que o inspira.
« O pagamento do soldo ao exercito achava-se em
grande atraso, ou porque a mal provida caixa mili ta r
não dava para poder haver exatidão ne ss e serviço im
prescindível, e sobre o qual basea-se a disciplina nu-
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xxxvu
l i t a r , o u p a r q u e d ' a h i s e s u b t r a h i s s e m , q u a s i d i a r i a
m e n t e , c o p i o s a s s o m m a s a t i t u l o d e d e s p e z a s s e c r e t a s
c o m b o m b e i r o s , ( e sp i õ e s ) q u e , s e o s h a v i a , m e l h o r
s e r v i a m a o i n i m i g o d o q u e a q u e m l h e s p a g a v a c o m
t a m a n h a p r o d i g a l i d a d e . E s e a s t r o p a s v i v i a m i m m e r -
s a s n a p e n ú r i a , p r i n c i p a l m e n t e a s d e fo r a d a p r o v í n c i a ,
s o f l r e n d o n ã o p o u c a s v e z e s o s e f f ei t o s d a f o m e e
n u d e z , o g e n e r a l , s e u s p r e d i l e c t o s e f a v o r i t o s n a d a v a m
n a a b u n d â n c i a ; d a v a m - s e r e c i p r o c a m e n t e b a i l e s s u m p -
t u o s o s , e o s t e n t a v a m c o m e s c â n d a l o u m l u x o a s i á t i c o .
« N ã o m e n o s q u e o u t r o s m a l e s , q u e t ã o d e p r o p ó
s i t o fa z i a m - s e p e s a r s o b r e o e x e r c i t o , o d a d i m i
n u i ç ã o e m á o e s t a d o d e s u a c a v a l h a d a , p r o v e n i e n t e s
d e r u i m p a s t o q u e s e l h e d e p a r o u e m c a m p o s i m p r ó
p r i o s e d e p e q u e n a e x t e n s ã o , c o n c o r r e u p o d e r o s a m e n t e
p a r a o m á o d e s f e c h o d ' a q u e l la c a m p a n h a . S a b e - s e q u e
u m a b o a e n u m e r o s a c a v a l h a d a é a p r i m e i r a n e c e s s i
d a d e d a s t r o p a s d o s u l , e q u e e n t r e f o r ç a s q u e c o n
t e n d e m n ' a q u e l l a r e g i ã o , a v i c t o r i a s e r á s e m p r e d a
q u e p o d e r d i s p o r d e m u i t o s e b o n s c a v a l l o s . P o i s
b e m ; a d o e x e r c i t o , q u a n d o o i n i m i g o p e l o r o m p i -
• m e n t o q u e f e z n a f r o n t e i r a d o R i o G r a n d e , c o m o m a i s
a b a i x o s e v e r á , o b r i g o u - o a p ô r - s e e m m o v i m e n t o ,
e x c e d i a d e 2 0 ,0 0 0 c a v a l l o s ; m a s o s e u e s t a d o e r a t a l ,
q u e n e m a q u i n t a p a r t e d a s u a t o t a l i d a d e p o d i a
p r e s t a r p a r a o s e r v i ç o d a c a m p a n h a , p o s t o q u e n o
e x e r c i t o f o s s e m e n o s f o r t e q u e a s o u t r a s a a r m a d e
c a v a l l a r i a ; e a n a d a m a i s s e p o d i a a t t r i b u i r e s s e m a l
s e n ã o á p e r t i n a z i m p e r i c i a d o g e n e r a l e m e s t a b e l e c e r o
a c a m p a m e n t o d o e x e r c i t o e m lo c a l q u e p a r a t e r c a
v a l h a d a s o l t a a o a l c a n c e d o e x e r c i t o , e a o m e s m o
t e m p o a c o b e r t o d a s a p p r e h e n s ô e s d o i n i m i g o , f oi d e
m i s t e r c o n s e r v a l - a e m d i v e r s o s c a m p o s , n a s e s p a l d a s
d o a c a m p a m e n t o , d e i n f er i o r e m e s q u i n h o p a s t o ; a o
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XXXVIII
q u e a c c r e s c i a a i m p r e v i d e n c i a e d e s l e i x o e m s e u
t r a ta m e n t o e c u s t e i o , d e m o d o q u e u m a g r a n d e p a r t e
d.'ella f oi d i s p e r s a e e x t r a v i a d a p e l o s d e s e r t o r e s . /
O c o m m a n d o d o b r i g a d e i r o R o s a d o p r i n c i p i o u a 3
d e F e v e r e i r o d e 1 82 6, e t e r m i n o u a 11 d e J a n e i r o
d e 1 82 7. P o r e s p a ç o d e u m a n n o e s te V e a q u e l l e p e
q u e n o e x e r c i t o , q u e n ã o c h e g a v a a 4 ;0 0 0 h o m e n s ,
m e t t i d o e m u m l u g a r a p e r t a d o , c o m o a c a b a d e v e r
se ,
e x p o s t o a t o d a s as p r i v a ç õ e s , á s e p i d e m i a s , e p o r
c o n s e q ü ê n c i a i n u t i í i s a d o , p o r q u e a s s i m o q u i z o m i
n i s t é r io d ' aq u e ll e t e m p o ; e m q u a n t o o s A r g e n t i n o s s e
p r e p a r a v am p a ra n o s v i r a t a c a r n a m e s m a p r o v i n
c ia do R io Gra nde .
O M a r q u ez d e B a r b a c e n a c h e g o u á C a p e l l a d o L i
v r a m e n to , o n d e e s t a v a a c a m p a d o o e x e r c i to , a 1 d e
J a n e ir o d e 1 82 7, e to m o u o c o m m a n d o a 11 d o m e s
m o m e z . N a r e v i s t a q u e l h e p a s s o u a c h o u
v
4 , 0 0 0 h o
m e n s em d i s p o n i b i l i d a d e e c e n t o e t a n t o s i n v á l i d o s .
E m c o n s e q ü ê n c i a d a d e m o r a p o r m a i s d e n o v e m e z e s ,
d e e st ar o e x e r c i to e n c e r r a d o n ' a q u e l l e p e q u e n o r e
c i n t o ,
t e v e a p e r d a d e q u a s i 2 ,0 0 0 h o m e n s , c a u
s a d a p o r d i ff e re n te s m o l é s t i a s , t u d o m o t i v a d o p e l a
t e i m a e i g n o r ân c i a d o b r i g a d e i r o R o s a d o , e m c o n s e r
v a r o e x e r c i t o a o n d e n ã o s e r v i a d e n a d a , e p e r d e n d o
g e n t e t o d o s o s d i a s . O m i n i s t r o d a g u e r r a i g n o r a v a
o u f in g ia i g n o r a r o e s ta d o m i s e r á v e l e m q u e e s t a v a
o exerc i to no Rio Grande .
O M a r q u e z d e B a r b a c e n a e n te n d e u c o m r a z ã o , q u e
e r a p r e c i s o t i ra l -o l o g o d ' a q u e ll e l u g a r , p a r a m e l h o r a r
o s e u e s ta d o s a n i tá r i o , o r g a n i s a l -o e a u g m e n ta l -o c o m
os re f orç os que esperava , e ass im o fez ; e de p o i s de
s e l h e i n c o r p o r a r o b r i g a d e i r o C a ll ad o c o m d o u s b a
t a l h õ e s , m a r c h o » a i r p r o c u r a r o e x e r c i t o a r g e n t i n o ,
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X X X I X
q u e , a p e z a r d e s e r m a i o r ( c o m p u n h a - s e d e m a i s d e
9 ,0 0 0 h o m e n s ) , p r o o u r a v a r e t ir a r - se ; m a s s a b e n d o q u e
o g e n e r a l b r a s i l e i r o o s e g u i a , q u i z a n t e s e s p e r a l - o d o
q u e s e r p e r s e g u i d o p e l a r e t a g u a r d a . O M a r q u e z d e
B a r b a c e n a f o i m a l a c o n s e l h a d o e m p r o c u r a r o i n i m i
g o , d e v i a l i m i t a r - s e a f a z er a g u e r r a d e f e n s i v a .
O g e n e r a l a r g e n t i n o A l v e a r t e v e a h a b i l i d a d e d e
e n g a n a r o M a r q u ez d e B a r b a c e n a c o m o s s e u s m o v i
m e n t o s ; fi n g io r e t ir a r - s e, p a s s a n d o a s u a b a g a g e m p a r a
o ou t ro l ad o do r i o San t a M *r i a , e ve i o e sp era r o
e x e r c i t o i m p e r i a l n o l u g a r q u e a n t e s t i n h a e s c o l h i
d o : n o fim d e 11 h o r a s d e c o m b a t e o n o s s o e x e r c i t o
f o i o b r i g a d o a r e t ir a r - s e , p o r n ã o t e r m u n i ç õ e s p a r a
c o n t i n u a r o f o g o .
V e j a - s e o q u e d i z a e s t e r e s p e i t o o c o r o n e l J o s é
J o a q u i m M a c h a d o d e O l i v e ir a a p a g i n a s 5 4 4 d o v o l u m e
c i t a d o :
« A o d e s e n v o l v e r - s e o e x e r c i t o p a r a o s e u m o v i
m e n t o d e a c ç ã o , a i n d a n ã o s e l h e h a v i a m r e u n i d o o s
t r a n s p o r t e s , q u e c o n t i n h a m o s e u t r e m d e g u e r r a e
b a g a g e m , p a r a q u e e s t i v e s s e m s o b s e u a p o i o , j á q u e
n e n h u m a f o rç a s e l h e s d e s t i n o u q u e c o m e l l e s m a r
c h a s s e , e p u d e s s e e f fi c a zm e n t e g a r a n t i l - o s d e q u a l q u e r
g o l p e d e m ã o d o i n i m i g o ; e d o a ç o d a m e n t o q u e
h o u v e e m a ff ro n ta r a s s u a s p r i m e i r a s m a n o b r a s , a p e n a s
a m b o s o s e x é r c i t o s s e a v i s t a r a m , s e m q u e s e a t t e n -
t a s s e q u e a o i n i m i g o s o b r o u t e m p o p a r a b e m e s t u d a r
e p r e c i s a r o t e r r e n o , e a d a p t a r a e l l e s e u s m o v i
m e n t o s s e g u n d o a s d i v e r s a s h y p o t h e s e s q u e s e l h e figu
r a ra m , e o e x e r c i t o im p r o v i s a r a n ' e s s e m o m e n t o o s e u
p l a n o d e a t a q u e ; d ' es se i m p r u d e n t e a f a n , q u e s ó s e
p ô d e j u s ti fi c a r c o m o i m p e t o d e a u d á c i a , q u e d o m i
n o u n o e x e r c i t o a o p r e s e n c i a r a a t t i t u d e p r o v o c f t d o r a
q u e t o m o u o i n i m i g o , d e r i v o u - s e q u é , r e c o n h e c e n d o
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X L
e s t e a i n e f i c á c i a d e a t a c a r a o e x e r c i t o d e f r e n t e , e
q u e o s t r a n s p o r t e s v i n h a m d e s a p e r c e b i d o s , e a in d a a
g r a n d e d i s t a n c i a d o e x e r c i t o ; d e p p e d i o s o b r e
e l le*
u m a f o r t e c o l u m n a d e c a v a l l a r i a q u e o s t o m o u , d e
s a r m a n d o p o r e s te m o d o o e x e r c i t o ao t e m p o
que o
i n i m i g o j á c o m e ç a v a a s e r d e r r o t a d o p e l o s e u flanco
e s q u e r d o . »
A l é m d o n o s s o e x e r c i t o n ã o p o d e r c o n t i n u a r o fo go
p e l a f al ta d e m u n i ç ã o , e o b r i g a d o p o r i s s o a r e t i
r a r - s e , f o i a i n d a h o s t i l i s a d o p e l a r e t a g u a r d a .
« O v a g a r c o m q u e m a r c h a v a o e x e r c i t o p o r c a u s a
d a s u a a r t i l h a r i a (d iz o m e s m o e s c r i p t o r ) , e p o r n ã o
d e v e r a b a n d o n a r a n e n h u m d o s s e u s f e r i d o s , fe z c o m
q u e s e l h e a v i s i n h a s s e m a i s a i n f a n t a r i a i n i m i g a , q u e
e m o r d e m e s t e n d i d a l h e p i c a v a a r e t a g u a r d a , e q u e
er a p r o t e g i d a , p o r ca v a l l a r i a n o s s eu s flancos; e p a r a
b a l d a r - l h e a o u s a d i a c o b r i o - s e e ss e l a d o c o m u m a l i n h a
d e a t i r a d o r e s , q u e f e z r e t r o c e d e r a d o i n i m i g o e d e -
s a p p a r e c e l - a c o m p l e t a m e n t e . »
D o e x p o s t o c o n c l u e - s e q u e , a m a i o r v a n t a g e m q u e
t e v e o e x e r c i t o a r g e n t i n o n a b a t a l h a d e I t u s a i n g o , f oi
a s u a c a v a l l a r i a t e r a f a c i l i d a d e d e t o m a r a b a g a g e m
d o e x e r c i t o b r a s i l e i r o , q u e o s e u c o m m a n d a n t e n ã o
m a n d o u d e f e n d e r .
« F o i n / e ss e s t r a n s p o r t e s ( c o n t i n u a o m e s m o a u t o r )
q u e o i n i m i g o e n c o n t r o u a s b a n d e i r a s d o s b a t a l h õ e s
d e c a ç a d o r e s d o e x e r c i t o , a h i g u a r d a d a s c o m a s u a
b a g a g e m e o i n s t r u m e n t a l d e s u a s b a n d a s d e m u s i c a ,
e q u e p o r c u m u l o d o r i d í c u l o o s t e n t a m - s e h o j e a b a
t i d a s n a c a t h e d r a l d e B u e n os -A y r es , c o m o t r o p h é o s
a d q u i r i d o s e m c o m b a t e , e c o m e l la s f e s te j a -s e o a n n i -
v e r s a r i o d a b a t a l h a d e I t u s a i n g o , co m o s e e l l a f o ss e
e m r i g o r g a n h a p e l o i n i m i g o . »
O q u e t e m o s m e n c i o n a d o s o b r e a c a m p a n h a d e
1826
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XLI
e 18W, escr ipto pe lo coronel Ol ive ira , basta para
mo s tr ar , o q u a n t o a q u e l la g u e r r a f o i ma l d i r ig id a p e lo s
m in is té r io s do Sr* D . Ped ro I , e os pre ju ízo s qu e
ca us ou , para no fim de t res ann os largar -se a pr ov in
c ia C isp la t ina . Os m inis té r ios do Sr . D . Ped ro I , não
sou be ram im itar ao gov ern o do Sr . D . João VI , e os
g a b i n e t e s d e 1 8 6 4 a i n d a t i v e r a m p e i o r p r o c e d i m e n t o
d o q u e o s d o S r . D . P e d r o I . D e v e - s e r e c o n h e c e r q u e
o m inis té r io q ue fez a guer ra a Oribe e a R osas d i -
r ig io c o m mu i t o t in o a q u e l la c a mp a n h a .
E m 1 8 5 1, o m in i s t é r io d ' e s s e t e m p o r e s o lv e u l i v r a r
a p r o v i n c ia d o R io G r a n d e , e m q u a n t o e r a t e m p o ,
d a in v a s ã o q u e p r o j e c t a v a R o s a s c o n t r a o I m p é r io ,
l o g o q u e O r ib e s u b m e t t e s s e a o s e u d o m i n i o a p r a ç a ,
d e M o n t e v i d é o , q u e t i n h a s i t i a d a . O g o v e r n o l e g a l d o
Estado Orienta l , que a l l i se achava encerrado , pôde
r e s i s t i r a o c e r c o d e O r ib e p o r e s p a ç o d e n o v e a n n o s ,
a juda do pe lo d in he iro do Bras i l e da França , a té qu e
t e v e lu g a r a e n t r a d a d o e x e r c i t o imp e r ia l n 'a q u e l l e
E s t a d o , b e m c o m o o d e E n t r e - R io s . P a r a e s t e fim
o r g a n i s o u - s e n o R io G r a n d e , e m q u a t r o m e z e s , u m
e x e r c i t o d e 1 6,0 00 h o m e n s , c o m m a n d a d o p e l o e n t ã o
Con de d e C ax ias , o qua l entro u no E stado O rienta l
a 4 de Se tem br o de 1851 .
V e j a - s e o q u e d iz d ' e s ta c a m p a n h a o c a p i t ã o L a -
d i s l á o d o s S a n t o s T i tá r a n a s — M e m ó r i a s d o g r a n d e
e x e r c i t o a l l i a d o l ib e r t a d o r d o S u l d a A m e r ic a , n a
g u e r r a d e 18 51 a 1 8 5 2 — e m r e l a ç ã o a o e x e r c i t o i m p e
ria l e a o d e E n t r e - R io s c o m m a n d a d o p o r U r q u iz a .
« E n t r e t a n t o q u e o e x e r c i t o im p e r ia l p o r t a n t o s
i m p e d i m e n t o s a s s á s d i f fi c ei s d e su p e r a r , m a r c h a v a
d i l i g e n t e a v e n c e r t ã o l o n g a d i s t a n c i a , c o n s e g u i o o
g e n e r a l U r q u iz a , p o r v i r d e m a i s p e r t o , a v i s f h h a r - s e
d o c e n t r o d a s f o r ç a s in im ig a s , o c c u p a d a j á t o d a a
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X U
c o s t a o r i e n t a l d o U r u g u a y a t é a o R i o N e g r o , sem
r e s i s t ê n c i a , r e c e b e n d o p e l o c o n t r a r i o d i a r i a m e n t e m u â *
t o s t r a n s f u g a s d e O r i b e ; e q u a n d o * a c a b a v a d e m o n t a r
o R i o N e g r o , s e l h e e n c o r p o r o u o c o m m a n d a n t e V il la -
r u e t a c o m a s f o r ç a s d o d e p a r t a m e n t o d e D u r a s n o , e
ou tro s m ui to s chefes e off ic iaes só s , ou com ge nte
q u e l h e o b e d e c i a . In f e r i o - s e d e t u d o q u e a s i t u a ç ã o
d e O r i b e e r a d e s e s p e r a d a , e q u e e l l e p a r e c i a f u n d a r
s u a s a l v a ç ã o e a d o s s e u s n a f u g i d a p a r a B u e n o s -
A y r e s , c o m a i n t e n ç ã o d e a l l i c o m e ç a r d e n o v o a
g u e r r a , o u c o a d j u v a r a s e u s c o m p a n h e i r o s : m a s n ' u m
t a l p r o j e c t o fo i b u r l a d o p o r n ã o t e r c o n t a d o c o m a
v i g i l a n t e a c t i v i d a d e d a s f o r ç a s n a v a e s d o I m p é r i o
s o b r e a s m a r g e n s d o R i o d a P r a t a .
« E m c o n s e q ü ê n c i a d o g r a n d e a v a n ç o q u e t i n h a m
a s t r o p a s d o g e n e r a l Ur q u i z a , p e l o s m o t i v o s j á r e f e
r i d o s ,
a c h a v a - s e o e x e r c i t o b r a s i l e i r o n a s T r e s C r u z e s ,
q u a n d o a q u el le g e n e r a l t r a n s p u n h a o R i o G y, e S e r -
v a n d o Go m e s e s t a v a e m Sa n t a Lu z i a . Ao c o r o n e l D.
V e n t u r a C o ro n e l f e it o p r i s i o n e i r o , e q u e m u i b e m r e c e b i
do fora po r U rqu iza , deu -se a op ção de , o u ficar co m
e s t e ,o u v o l t a r p a r a O r i b e : o p r i s i o n e i r o p r e f e r i o fica r,
a o v o l t a r p a r a s e u a n t i g o t y r a n n o .
« N 'e s t e e s t a d o d o s n e g ó c i o s , e s e n d o i m p o s s í v e l a
f u g a d o a l e iv o s o g e n e r a l O r i b e , p e l a s a c e r t a d a s m e
d i d a s q u e t o m a r a a n o s s a e s q u a d r a , b l o q u e a n d o d e
co nt inu o as co s ta s , r ios e po r to s ; finalmente as se d ia
d o e ll e p o r t o d o s o s l a d o s , a p r e s s o u - s e , n o P a s s o
d e i M o l in o , a p e d i r c a p i t u l a ç ã o a o g e n e r a l . e m c h e f e
d a v a n g u a r d a d o s e x é r c i t o s a l u a d o s o g e n e r a l U r q u i
za , an tes qu e o ex erc i to bra s i le i ro ef fectuasse a ju n
ç ã o c o m a d i t a v a n g u a r d a . D e le g o u , p o r t a n t o , L u i i
M o r e n o p a r a p r o p o r , p o r e n tr e o u t r a s c o n d i ç ^ * , o
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X L I H
rendimento do res to das forças or ientaes , mediante a
perm i s s ã o de seg u i rem pa ra Bu euo s -A y res a s t ro pa s
argent inas . I s to fo i - lhe negado a 30 de Setembro por
Urquiaa.
« N o já refer ido dia 30 de Setem bro , hav ia m ar
chado o d i to Oribe para S . José , de ixando o genera l
Laz ala e nc arr ega do do* m an do da s forças do C erri to ,
d i r i g i nd o pr im e i ra m ente á s s ua s t ro pa s um a pr o c l a -
m açã o , aonde acusava o gene ra l Urquiza de de sertor
da sagrada causa das republ icas do Prata . Ao mes
m o tem po e s te gene ra l se adiantav a , e av i s inha nd o-se
do i n i m i g o cheg o u sua v a ng ua rda a
2
de Outubro de
1851 ao Colorado, e ahi teve de disputar o passo, do que
resu ltou recua r o ge ne ral Oribe, e de ixar fran co o
ca m i nho á ca v a l l a r i a do m es m o U rqui za , que pro s s e -
g u i n do co m pe l l i a o i n i m i g o a s em pre perder t erreno .
« Con t inuando a m archa tr ium ph ante de Urquiza ,
pô de e l l e e s ta be l ecer co m m uni ca çõ es cpm a fo r ta l eza
do Cerro , no se gu inte d ia
4
de Outubro e prevenir
do o cco rr i do o co m m a nda nte em che fe da e s qua dra
bra s i le i ra , o qua l i m m edi a ta m ente s eg u i o no v a po r
Affonso
para o Bu cêo , o nd e já estav a a fragata
Cons
tituição, l ev a ndo m a i s a co rv e ta Berenice; e era tal a
v ig i lân cia , qu e não de ixav a rece iar que se esca pas se
um s ô do s s o l da do s a rg ent i no s . M a rcho u ta m bém pa ra
o Bucêo , a 5 do mesmo Outubro , o genera l Medina
co m 1 , 7 0 0 ho m ens , a f i m de m e l ho r to l her - s e a fug a
de Oribe por aquel l e porto .
« P ro g red i n do a s o pera çõ es do g ra nde ex e rc i to a l -
l i a d o ,
co m to da a d i l i g enc i a e bo m êx i to , f i co u c i r -
cum s cr i p to o g enera l Or i be num a ra i a de m e i a l ég ua ,
perdida tod a a esp eran ça de sa lvação por m eio d e
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f u g a , o u d e a l g u m a o u t r a r e s o l u ç ã o q u e n ã o f o ss e
c a p i t u l a r : i n s i s t io p o r i s s o e p r i m e i r o q u e o
exercite
i m p e r i a l m a i s s e l h e a p p r o x i m a s s e , n o p e d i d o q u e
h a v i a e n d e r e ç a d o a o g e n e r a l U r q u i z a . E m 1 0 d e Qfi-
t u b r o , f a z e n d o - l h e a p e n a s a l g u m a s c o n c e s s õ e s f av or á
v e i s ,
r e d i g i o o d i t o U r q u i z a p e l o t e o r q u e s e l ê e m
a n o t a 5 1 , o s a r t i g o s d a c a p i t u l a ç ã o p e l o m o d o q u e
l h e a p p r o u v e c o n c e d e r , a « q u a l f o i a c e i t a p e lo
v e n c i d o O r i be , n o i m m e d i a t o d i a 1 1 , o q u e t a m b é m
m o s t r a - s e p e l o o u t r o d o c u m e n t o 5 2 , f i c a n d o a e s c o l h a d e
r e t i r a r e m - s e , o u p e r m a n e c e r e m n o p a i z , s o m e n t e a o s
c h e f e s e o f f i c i a e s a r g e n t i n o s . O p t a r a m a l g u n s p e l a p r i
m e i r a , e o s m a i s u n i r a m - s e a o g e n e r a l U r q u i z a c o m
3 ,8 0 0 p r a ç a s d e p r e t .
« R e n d e u - s e , p o i s , O r ib e , c o m t o d o o p e s s o a l e m a
t e r i a l d o s e u e x e r c i t o : o p a r q u e t o m a d o f o i a v a l i a d o
e m u m m i l h ã o d e p e z o s f o r t e s , c o m p r e h e n d i d a s as
m u n i ç õ e s e a r m a m e n t o , q u e j u n t o a e l le d e p o s i t a v a
o i n i q u o d i c t a d o r , p a r a a e n c a r n i ç a d a g u e r r a q u e t i n h a
de fazer ao Bras i l .
« N o s e g u i n t e d i a , 1 2 d e O u t u b r o , c o n s u m m a d a j á a
c a p i t u l a ç ã o , c o m o t e m o s r e f e r i d o , c o m m u n i c o u o g e
n e r a l U r q u i z a , p e l o o f fi c io d a n o t a 5 3 , a c a d a u m d o s
a l u a d o s d e t a l h a d a m e n t e a s c o n c e s s õ e s f e i t a s , e o s m o
tivos q u e d e c i d i r a m - n o a a c e i t a r a c a p i t u l a ç ã o , s e m
c o n s u l t a r p r i m e i r o a s r e s o l u ç õ e s d o s g o v e r n o s a l u a d o s ,
c o m o e r a i n d i s p e n s á v e l . O P r e s i d e n t e d a R e p ú b l i c a
O r i e n ta l , D . J o a q u i m S o a r e z , r e s p o n d e u p e l a f ô r m a q u e
a c h a - s e e m a n o t a 5 4 ; e o g e n e r a l e m c h e f e d o
e x e r c i t o i m p e r i a l , C o n d e d e C a x i a s , q u e a i n d a s e a c h a v a
n a m a r g e m e s q u e r d a d o R i o G y , s o b r e o P a s s o d e P o -
l a n c o , e a t e r c e i r a d i v i s ã o n o P a s s o d ' É l - R e i , s o b r e
o m e s m o G y a 5 l é g u a s á e s q u e r d a , d e i x a n d o i n t e
r i n a m e n t e e n c a r r e g a d o d o c o m m a n d o d o e x e r c i t o o
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XLV
m a r e c h a l B e n t o M a n o e l R i b e i r o , c o m o r d e m d e a p r e s
s ar -s e para Santa L uz ia Grande , e ah i aguardar as s uas
o r d e n s ; p a r t i o l o g o p a r a o q u a r t e l g e n e r a l d e U r q u i z a ,
e n t ã o n o P a n t a n o s o , a o n d e c h e g o u á s 4 h o r a s d a t a r d e
d o d i a 1 4 , s o m e n t e a c o m p a n h a d o d o 2 . ° r e g i m e n t o d e c a
v a l l a r i a d e l i n h a . A l li c o n f e r e n c i a r a m , e , d e p o i s d e
e x p l i c a ç õ e s q u e e n t e n d e u i n d i s p e n s á v e i s n a s c i r c u m s -
t a n c i a s o c c o r r i d a s , d i r i g i o - s e o d i t o g e n e r a l á 1 7 p a r a
M o n t e v i d é o , a o n d e v i o - s e tã o a p p l a u d i d o e r e s p e i
t a d o ,
q u e r d o s s e u s , q u e r d o s e s t r a n h o s , e c o m e s
p e c i a l i d a d e d o s h e r ó i c o s O r i e n t a e s d e f e n s o r e s d a p r a ç a ,
q u e f o i u m a o v a ç ã o c o m p l e t a a m a n e i r a p o r q u e o v i c -
t o r ia r a m . E m M o n t e v i d é o c o m m u n i c o u - s e p e s s o a l m e n t e
c o m o i l l u s t r e c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s b r a s i l e i r a s , a
c u j o b o r d o r e c e b e u t o d a s a s h o n r a s d e v i d a s á s u a
a l t a g e r a r c h i a .
« O c o n v ê n i o d e 2 9 d e M a i o d e 1 8 5 1 , c e l e b r a d o e n t r e
o B r a s i l , a R e p u b l i c a O r i e n t al d o U r u g a u y a e o E s
t a d o d e E n t r e - R i o s , p a r a u m a a l l i a n ç a o f f e n s i v a e d e
f e n s i v a , a f i m d e m a n t e r a i n d e p e n d ê n c i a , e d e p a c i
ficar 0 ter r i tó r io d 'aqu e l la R ep u b l ic a , d iz no ar t . 3 .°
o s e g u i n t e :
« A r t . 3 . ° O s E s t a d o s a l u a d o s p o d e r ã o a n t e s d e r o m -
« p i m e n t o d e s u a a c ç a o r e s p e c t i v a , f a z e r a o g e n e r a l
« O r ib e a s i n t i m a ç ô e s q u e j u l g a r e m c o n v e n i e n t e s , s e m
« o u t r a r e s t r i c ç ã o m a i s d o q u e d a r - se c o n h e c i m e n t o
41 r e c i p r o c o d ' e s s a s i n t i m a ç ô e s a n t e s d e v e r i í i c a l - a s , a fi m
« d e q u e c o n c o r d e m n o s e n t i d o , e h a ja e m t a e s i n t i -
« m a ç ó e s u n i d a d e e c o h e r e n c i a . »
« V i o - s e a c i m a c o m o e s t e t e r c e i r o a r t i g o f o i c u m p r i d o
p e l o g e n e r a l U r q u i z a : e s t e g e n e r a l f e z s ó a c a p i t u l a
ç ã o c o m O r i b e , e d e u p a r t e d o q u e f e z d e p o i s d e
u l t i m a d o s o s s e u s a j u s t e s ; d ' e s te m o d o f a l to u a o
c o m p r i m e n t o c o m o s s e u s a l i ja d o s .
8
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XÉVI
NOTA 51.
A r t ig o s d a c a p i t u l a ç ã o c o n c e d i d a a O r i b e :
« 1.» R ec on he ce -se que a re s i s tên c ia fe i ta pe lo s mi
l i ta r e s e c i d a d ã o s á i n t e r v e n ç ã o A n g l o - F r a n c e z a , fo i
n a c r e n ç a d e q u e c o m e l l a d e f e n d i a m a i n d e p e n d ê n
c i a d a R e p u b l i c a .
« 2 .° R e c o n h e c e - s e e n t r e t o d o s o s c i d a d ã o s d a s d if-
f e r e n t e s o p i n i õ e s e m q u e t e m e s t a d o d i v i d i d a a R e
p u b l i c a , i g u a e s d i r e i t o s , i g u a e s s e r v i ç o s , m é r i t o e
o p ç ã o a o s e m p r e g o s p ú b l i c o s e m c o n f o r m i d a d e d a
c o n s t i t u i ç ã o .
« 3 . ° A R e p u b l i c a r e c o n h e c e r á c o m o d i v i d a n a c i o n a l ,
aque l la que haja contrahido o genera l Or ibe , em re
laçã o ao que para taes cas os e s ta t ue o d i r e i to pu bl i c o .
« 4 .° P r o c e d e r - s e - h a o p p o r t u n a m e n t e e em c o n f o r m i
dad e da con st i tu i ção , á e l e i ção de sen ad ores e repre -
t a n t e s e m t o d o s o s d e p a r t a m e n t o s , o s q u a e s n o m e a
rão o pres iden te da R epu bl i ca .
« 5 .° D eclara-se q ue entre to d as as differentes o p i
n iõe s em que tem es tado d iv id id os os or i e nta es , n ão
h a v e r á v e n c i d o s n e m v e n c e d o r e s , p o i s t o d o s d e v e m
un ir-se de ba ixo do e stand arte nac ional para o b em
da pátr ia , e para de fender suas l e i s e independênc ia .
« 6 .° O genera l Oribe, ass im com o to d os os m ais
c i d a d ã o s d a R e p u b l i c a f i c a m s u b m e t t i d o s á s a u t o r i
d a d e s c o n s t i t u i d a s d o E s t a d o .
« 7 .° Em conform idade com o que disp õe o art igo
ant er ior , o gen eral D . M anoel Oribe po de rá dispo r
l ivrem en te de sua pesso a . — yua rte l genera l , 10 de
Outubro de 1851.— Justo José de Urquiza.»
ROTA. 52 .
Carta de Oribe dirigida a Urquiza:
« Passo dei Molino, 11 de Outubro de 1851.
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XLVII
« M e u e s t i m a d o a m i g o e g e n e ra l .— N ã o t e n h o a m e n o r
duv ida em ac ei ta r as novas conce ssões que m odif i
c a n d o a s a n t e r i o r e s , m e r e m e t t e u V . E x . c o m s u a a p r e
c i á v e l d e h o n t e m 10 d e c o r r e n t e . S o m e n t e t e n h o f e it o
a s e u r e s p e i t o a o D r . Y i l l a d e m o r o s , q u e e n t r e g a r á
e s t a a V . E x . , a l g u m a s o b s e r v a ç õ e s v e r b a e s q u e e s
pe ro V . Ex . se s i rva o uvi l -as , e pôr em pr a t i ca com a
b e n e v o l ê n c i a q u e m e t e m m a n i f e s t a d o e m t o d o e s te
n e g o c i o . S e m o u t r o o b j e c t o , c o n f e ss o - m e d e V . E x .
a t ten to e ef fec tuos iss imo serv idor .—
M an oel Oribe. »
NOTA. N .
53.
« O g o v e r n a d o r e c a p i t ã o g e n e r a l d e E n t r e R i o s ,
g e n e r a l e m c h e f e d o s e u e x e r c i t o , e g e n e r a l d a v a n -
g n a r d a d o e x e r c i t o d e o p e r a ç õ e s .
« Q u a r t e l g e n e r a l n o P a n t a n o s o , 12 d e O u t u b r o d e
1851.
« A o E x m . S r . P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a O r i e n t a l d o
U r u g u a y , o c i d a d ã o D . J o a q u i m S u a r e z .
« M i n h a s a n t e r i o r e s c o m m u n i c a ç õ e s e c o m e s p e c i a
l i d a d e a d e 8 d o c o r r e n t e , t e r ã o i n s t r u í d o a V . E x .
d o s r e s u l t a d o s o b t i d o s p e l o s e x é r c i t o s a l l ia d o s s o b r e
o d o c o m m a n d o d e D . M a n o el O r ib e . V e n h o p o i s c u m
pr i r a p ro m es sa qu e e n tão f iz a V . Ex . d e ins t ru i l -o
d e t a l h a d a m e n t e d a s c o n c e s s õ e s f e it a s a o g e n e r a l O ri
b e , e d o s m o t i v o s q u e m e d e c i d i r a m a i s s o , a fim
d e q u e a p r e c i a n d o - a s V . E x . e m s e u í l l u s t r a d o j u í z o ,
q u e i r a d a r - l h e a s a n c ç ã o d a s u a a p p r o v a ç ã o .
« V . E x . c o n h e c e a - s e r i e d e a c o n t e c i m e n t o s f av o
r á v e i s q u e m e c o n d u z i r a m a t é p ô r - m e á f r e n t e d o s
ú l ti m o s e n t r i n c h e i r a m e n t o s d o g e n e r a l O r i b e. N e s s a
p o s i ç ã o n ã o r e s t a v a o u t r a a l t e r n a t i v a s e n ã o d a r u m a
batalha
c o n t r a u m e x e r c i t o q u e a i n d a c o n ta v a
8,500
h o m e n s d a s t r e s a r m a s , o u c o n t i n u a r e m p r e g a n d o o s
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XIiYIII
m e i o s p a c í f ic o s , c u j o s r e s u l t a d o s h a v i a m s i d o a t é e u tã o
tão felizes*.
« o u l t i m o m e i o p o d i a c o n d u z i r á t e r m i n a ç ã o i n s
t a n tâ n e a e c o m p l e t a d e u m a g u e r r a , q u e h a v i a d u
r a d o m a i s d e 8 a n n o s . O f f e r ec i a e s t e r e s u l t a d o s e m
e ff us ão d e s a n g u e , s e m o s a c r i f í c i o d e n o v a s v i c t i m á s ,
e o o b j e c t o d a p r e s e n t e c a m p a n h a s e p r e e n c h i a d o
m o d o m a i s s a t i s f a c t o r i o .
« N ' e s t e s m o m e n t o s d e s e j e i m a i s q u e n u n c a c o n
s u l t a r a s r e s o l u ç õ e s q u e e r a m n e c e s s á r i a s d o s g o v e r
n o s a l l i a d o s . E s t a e r a u m a c o n d i ç ã o d a a l l i a n ç a , e
u m a c o n s i d e r a ç ã o d e v i d a a o n o b r e i n t e r e s s e q u e h a
v i a m m a n i f e s t a d o p e l a p a c i f i c a ç ã o d a R e p u b l i c a O ri
e n t a l . P o r é m a o p o n t o a q u e o s s u c c e s s o s h a v i a m '
c h e g a d o , t o d a a d i la ç ã o s e t o r n a v a i m p o s s i v e l . A a c ç ã o
e m q u a lq u e r d o s e x t r e m o s q u e s e a d o p t a s s e , d e v i a
s e r d e m o m e n t o .
« E m ta l c o l l i s ã o , t i v e s ó em v i s t a o o b j e c t o p r i n
c ip a l d a a l l i a n ç a ; e , d e a c c o r d o c o m o g e n e r a l e m
c h e f e d o e x e r c i t o o r i e n t a l , a s s u m i a r e s p o n s a b i l i d a d e
d o s r e s u l t a d o s e m m e u c a r a c t e r d e g e n e r a l e m c h e f e
d o m e u e x e r c i t o , e c o m o r e p r e s e n t a n t e d o s g o v e r n o s
d e E n t r e - R io s e C o r r ie n t e s .
« F i z a o g e n e r a l O r i b e a l g u m a s c o n c e s s õ e s , q u e t a l
v e z n ã o s e p o d e s s e m r a c io n a l m e n t e n e g a r , d e p o i s d e
u m a v i c t o r i a e n s a n g ü e n t a d a . F i l - a s s o b a c o n d i ç ã o
d e o b t e r a a c q u i e s c e n c i a d o s g o v e r n o s a l l i a d o s , e
c o m a c o n f ia n ç a d e q u e e l l e s a v a l i a r i a m d e v i d a r q e n t e
o s m o t i v o s d e m i n h a r e s o l u ç ã o , , e a p r e c i a r ã o b e m s e u s
r e s u l t a d o s .
« H o j e c u m p r o c o m e s t e d e v e r , s u b m e t t e n d o á c o n
s i d e r a ç ã o d o s g o v e r n o s a l l i a d o s a s c o n c e s s õ e s f e i t a s
a o e x e r c i t o d o g e n e r a l O r i b e, c o m a s q u a e s s e c o n
f o r m o u , e q u e t e m d a d o e m r e s u l t a d o a p a c i f i c a ç ã o
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X L I X
d a R e p u b l i c a ; o r e c o n h e c i m e n t o d a ú n i c a a u t o r i d a d e
d e s e u g o v e r n o ; a r e - i n s t a l l a ç ã o d a o r d e m c o n s t i t u
c i o n a l , e o l i v r e e x e r c i c i o d e s e u s d i r e i t o s c o m o
N a ç ão I n d e p e n d e n t e . T a e s s ão o s o b j e c t o s e s s e n c i a e s
d a a l l i a n ç a , e o s m o t i v o s d e t a n t o s e t ã o s a g u i n o l e n -
t o s c o m b a t e s .
« A s t r o p a s o r i e n t a e s e s t ã o j á s o b o i r a m e d i a t o
c o m m a n d o d o g e n e r a l e m c h e fe d o e x e r c i t o d a R e
p u b l i c a ; a s a r g e n t i n a s s u b m e t t i d a s e x p o n t a n e a m e n t e
á s m i n h a s o r d e n s , s a h i r ã o i m m e d i a t a m e n t e d ' e s t e t e r
r i t ó r i o ; t o d a a a r t i l h a r i a e t o d o o m a t e r i a l d o e x e r c i t o
fo i j á e n t r e g u e . S ó r e s t a p o i s , q u e u m e s q u e c i m e n t o
a b s o l u t o d o p a s s a d o s e l le p a r a s e m p r e a p a z , q u e
t ã o f e l iz m e n t e s e t e m o b t i d o , e d e q u e t a n t o n e c e s s i
ta es te formoso paiz .
« Pa ra con seg ui l -o cre io qu e na da é m ais eff icaz
q u e o t r i u m p h o d 'e s sa p o l i t i c a t ã o h u m a n a q u a n t o
e l e v a d a , a c u j a f re n t e s e t e m c o l l o c a d o V . E x . , e e s s a
c o n v i c ç ã o é a q u e m e f e z c o n c e d e r a o g e n e r a l O r i b e
a s c o n c e s s õ e s q u e s o l l i c i t o u .
« E l l a s p o r o u t r a p a r t e n ã o s ã o m a i s q u e a r e a l i
d a d e d a s p a t r i ó t i c a s e l i b e r a e s d e c l a r a ç õ e s f e i ta s p o r
V. E x . , e q u e t a n t a s v e z e s h ã o e n c h i d o d e o r g u l h o
a o s a m i g o s e d e f e n s o r e s d a c a u s a p r e s i d i d a p o r V . E x . ,
q u e e m fim a b r a ç a r a m t o d o s o s O r i e n ta e s p a r a b e m
d e s u a d i l a c e r a d a p á t r i a .
« D e s e ja n d o v i v a m e n t e q u e m e u p r o c e d e r e n c o n t r e
n o g o v e r n o d e V . E x . a a p p r o v a ç ã o n e c e s s á r i a , c o n c l u o ,
S r . p r e s i d e n t e , r e i t e r a n d o a V . E x . a s e g u r a n ç a d e
m i n h a m a i # a l t a e d i s t i n c t a c o n s i d e r a ç ã o . — Justo José
de Urquiza. »
N O T A 5 4 .
« o
P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a O r i e n t a l d o U r u g u a y .
« M o n t i v í d é o ,
13
d e O u t u b r o d e 1 8 5 1 . — R e c e b i c o m
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g ra n de s a t i s fa çã o a no ta qu e m e d i r i g i o V . E x . co m
d a t a d e 1 2 d o c o r r e n t e , d a n d o - m e c o n t a d a s c o n c e s
s õ e s que V . E x . ho u v e po r be m fa zer a o g en era l D .
M a no e l Or i be, e do s m o t i v o s qu e o co l l o ca r a m no
caso de as fazer.
« A pres s o -m e , p o i s , a m a n i fe s ta r a V . E x . que co n
f i rm o e a ppro v o na pa r te que m e co rres po nde , tudo
q u a n t o V . E x . c o n c e d e u a o g e n e r a l O r i b e , e q u e c o n s t a d o
do cum ento a que V . Ex . s e re fere em s ua no ta c i ta da .
« Sa t i s f e i to s a s s i m o s d es e jo s que m o s tr a v a V . E x .,
s e ja -m e perm i t t i v o ex pres s a r - l he a s i ncera g ra t i dã o que
m e a n i m a p e l o n o b r e e g e n e r o s o i n t e r e s s e q u e l h e
i ns p i ra a v en tura do m eu pa i z , e o s i n d e l é v e i s ser
v i ço s co m que V . Ex , a ca ba de a t t ra h i r o s re s pe i to s
,e s y m pa th i a s d 'e s te po v o tã o v i r tuo s o , co m o bra v o .
Que i ra V . Ex . a ce i ta r , e t c , e t c . — S u a r e z .— Manoel Her-
rera y Obes.—Lourenço Batlle. »
O art . 3 . ° do C onvên io de 2 3 de Maio d e 1851 , d iz :
« Q u e o s E s t a d o s A l l i a d o s p o d e r ã o a n t e s d o r o m p i
m ento de s ua a cçã o res pec t i v a fa zer a o g enera l Or i be
a s i n t i m a ç ô e s q u e j u l g a r e m c o n v e n i e n t e s , s e m o u t r a
' r e s t r i c ç ã o m a i s d o q u e d a r - s e c o n h e c i m e n t o r e c i p r o c o
d ' es s a s i n t i m a çô es a n tes d e v er i f i ca l-a s , e t c . » O g e
nera l U rqui za nã o po d i a de i x a r de cum pr i r e s t e t er
ce i ro a r t i g o do C o nv ên i o , em bo ra e l l e d i s s e s s e na pa r te
que m a n do u a o pr es i d ent e do E s ta do O r i enta l, que
a o p o n t o a q u e o s s u c c e s s o s h a v i a m c h e g a d o , t o d a
a d i l a ç ã o s e t o r n a v a i m p o s s i v e l . C o n h e c e u - s e q u e U r
qu i za nã o qu i z cum pr i r a que l l e a r t i g o pa ra fa zer a
M a no e l Or i be a s co nces s õ es que qu i zes s e , pa ra o fa
v o r e c e r o u p r o t e g e r c o m o s e u p r i s i o n e i r o . D ' e s t e m o d o
o g en era l em che fe do ex erc i to im p er i a l nã o t ev e pa r te
n ' a que l l a ca p i tu l a çã o , co m o dev i a á v i s ta do d i to
a r t i g o .
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LII
c i a , p o r s e j u l g a r d e s n e c e s s á r i a e n t ã o m a i s c a v a ll a ri a ,;
J á d ' es d e 2 3 d e O u t u b r o t a m b é m h a v i a s i d o d i s p e n
s a d a a g u a r d a n a c i o n a l d a b r i g a d a d e r e s e r v a d o
m e s m o e x e r c i t o , c o m m a n d a d a p e l o c o r o n e l M a n o e l
L u c a s d e O l i v e i r a ; e f o r a m t a m b é m d i s p e n s a d o s e
m a n d a d o s r e g r e s s a r t o d o s o s o f f ic i a es d a m e s m a g u a r d a
q u e e s t a v a m a d d i d o s p o r n ã o t e r e m s e u s c o r p o s n o
e x e r c i t o , e m a i s d e . z p r a ç a s p o r c a d a c o m p a n h i a d e n
t r e o s c a s a d o s . »
T e r m i n a d a a c a m p a n h a n o E s t a d o O r i e n ta l p e l a c o n
v e n ç ã o d o P a n t a n o s o , s e g u i o - s e a ' i n v a s ã o * d o e x e r c i t o
d e U r q u i z a n a R e p u b l i c a A r g e n t i n a , a o q u a l s e u n i o
u m a d i v i s ã o d e 4 , 00 0 h o m e n s d o e x e r c i t o b r a s i l e i r o ,
c o m m a n d a d a p e l o b r i g a d e i r o M a n o e l M a r q u e s d e S o u -
* z a . N a b a t a l h a d e M o n t e - C a s s e r o s , q u e f o i o . r e s u l t a d o
d a i n v a s ã o d o e x e r c i t o d e U r q u i z a , n a q u a l e l l e c o m -
m a n d o u e m c h e f e , a d i v i s ã o b r a s i l e i r a , c o l l o c a d a n o
c e n t ro d a l i n h a d e c o m b a t e , d e c i d i o d a a c ç a o t o m a n d o
a a r t i l h a r i a a r g e n t i n a n a s a l t u r a s q u e e s t a v a m n a s u a
f r e n t e . N o d i a 3 d e F e v e r e i r o d e 1 8 5 2 a s a r m a s b r a
s i l e i ra s g a n h a r a m u m t r i u m p h o c o m p l e t o .
T e n d o e s t a c a m p a n h a d u r a d o d e 5 a 6 m e z e s , l i v r o u
o B r a s i l d e u m d o s m a i o r e s i n i m i g o s q u e e n t ã o t i n h a ;
a r a p i d e z c o m q u e s e f ez d e v i a t e r c o n v e n c i d o a o s
a n a r c h i s t a s d o s u l , q u e o B r a s i l t e m f o r ç a s s u f i c i e n t e s
p a r a o s c o n t e r n a s s u a s c o r r e r i a s .
E s t a v a n t a g e m q u e o B r a s i l o b t e v e c o n t r a o d i c t a -
d o r d e B u e n o s - A y r e s , d e c l a r a d o i n i m i g o d ' e st e I m p é r i o
e m b o r a f o s s e a l c a n ç a d a e m p a r t e p o r i n t e r m é d i o d e
u m g e n e r a l a r g e n t i n o , d e u - n o s n ' e ss a o c c a s i ã o m u i t a
f o r ç a m o r a l . Os s o l d a d o s a r g e n t i n o s n ã o s e t i n h a m e n
c o n t r a d o c o m o n o s s o e x e r c i t o d e s d e a c a m p a n h a d e
1 8 2 7, n a b a t a l h a d e I t u z a i a g o ; e n t ã o t o m a r a m - n o s a
b a g a g e m , q u e o g e n e r a l e m c h e f e n ã o s o u b e m a n d a r
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g u ar d ar , co m e ll a as m u n i çõ es , e , p o r es t a cau s a , o
fo go p a r o u ; e m M o n t e -C a s s e r o s a n o s s a d i v i s ã o t o m o u
t o d a a a r t i l h ar i a d e R o z as , e p ô z o s s eu s s o l d a d o s em
c o m p l e t a d e r r o t a .
O s m i n i s t é r i o s , q u e s e s u c c e d e r a m n ' e s te I m p é r i o
d e p o i s d o an n o d e 1 85 3, m o d i f i ca r am a s u a p o l i t i ca
p a r a c o m o s g o v e r n o s d a s r e p u b l i c a s d o s u l . T o d o s
e n t e n d e r a m q u e a p o l i t i c a d e t o l e r â n c i a e d e m o d e
r a ç ã o , e r a a q u e c o n v i n h a s e g u i r, p a r a ' v i v e r- s e b e m
co m os go ve rno s d 'aqu el les Estados*, Infe l izm ente a
e x p e r i ê n c i a d e m u i t o s a n n o s n ã o d e s e n g a n o u a o s es ta
d i s t a s b r a s i l e i r o s , q u e m a r c h a v a m p o r c a m i n h o f a l so .
O s p r i n c i p i o s p o l i t i c o s q u e s e g u i r a m o s m i n i s t r o s d e
e s t r a n g e i r o s p a r a c o m os g o v e r n o s d ' a q u e l l a s r e p u
b l i c a s , e s t ã o e x p e n d i d o s n o s s e u s r e l a t ó r i o s d e s d e
1 8 5 3 ;
a s u a d o u t r i n a c o n f i r m a o q u e d i z e m o s . T o d o s
o s a n n o s e s p e r a v a m p e l o b o m r e s u l t a d o d a s r e c l a
m a ç õ e s d a l e g a ç ã o i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o , m a s e s t a s
r e c l a m a ç õ e s , p e l a m a i o r p a r t e , n ã o f o ra m a t t e n d i d a s
n o e s p a ç o d e d o z e a n n o s , e o g o v e r n o i m p e r i a l v i v i a
n a e s p e r a n ç a .
A s offensas re ce b id as pelo Bra s i l , no esp aço de
t a n t o s a n n o s , d e u m a n a ç ã o p e q u e n a , p o b r e e f r a c a ,
q u e t a n t o s b e n e f í c io s h a v i a r e c e b i d o d o I m p é r i o , e r a m
m o t i v o s m u i t o j u s t if i c a d o s , p a r a n ã o se q u e r e r m a i s
e m p r e g a r r e c l a m a ç õ e s i n ú t e i s , p a r a o b t e r m o s r e p a
r a ç ã o d o s m a l e s c a u s a d o s ; m a s o u t r a p o l i t i c a n ã o
t i n h a l e m b r a d o .
O m i n i s t é r i o d e 1 5 d e J a n e i r o e sp e r a v a v e n c e r a s
d e s i n t e l l i g e n c i a s c o m o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o
so
m e n t e p o r m e i o s d i p l o m á t i c o s , p o i s q u e e m M a io
d e 1864 n ã o s e f az ia a r m am en t o a l g u m q u e m o s t r a s s e
q t tê t è r e m p r e g a r - s e a fo r ç a a r m a d a , a o m e n o s p a r a
d ef es a d as n o s s as f r o n t e i r as d o s u l .
9
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Q u a n d o o m i n i s t é r i o d e q u e t r a t a m o s v i o - s e o b r i -
g ad o a f azer a l g u m a co u s a a f av o r d o s s u b d i t o i
b r a s il e i ro s r e s i d e n t e s n o E s t a d o O r i e n t a l , e m c o n s e
qüên cia das m anifes ta çõe s qu e fizeram na câ m ar a os
d e p u t a d o s N e r y e F e r r e i r a d a V e i g a , m a n d o u
um
em i s s ár io p e d i r s a t i s façõ es e am ea ça r ao g o v e r n o d e
M o n t ev i d éo d e em p r eg ar a f o r ça , q u an d o n ão fo sse
a t t e n d i d o . D ' es te m o d o e n v o l v e u - se i m p r u d e n t e m e n t e
o m i n i s t é r i o d e 15 d e J a n e i í f e m u m a q u e s t ã o d a
q u a l se o r i g i n o u a g u e r r a q u e t ã o g r a n d e s m a l e s t e m
c a u s a d o e q u e p o r m u i t o s a n n o s s e d e v e m s e n t i r .
C o m o n ã o h a v i a f o r ç a d e t e r r a o r g a n i s a d a e p r o m p t a
a m a r c h a r n a p r o v i n c i a d o R i o - G r a n d e , d e n a d a s e rv i o
m a n d a r - s e a q u e l l e e m i s s á r i o , n ã o s e n d o a t t e n d i d a s a s
s u a s r e c l a m a ç õ e s ; f o i n e c e s s á r i o e s p e r a r a l g u n s m e z e s
q u e s e a p r o m p t a s s e a f o r ç a a c i m a m e n c i o n a d a , p a r a
h o s t i l i sa r - s e o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o . O e n v i a d o
b r a s i l e i r o n ã o e s p e r o u q u e h o u v e s s e e x e r c i t o n a f r o n
t e i r a d o R i o - G r a n d e p a r a a p o i a r a s s u a s r e c l a m a ç õ e s ,
j u l g o u t a l v ez q u e i ss o e r a d es n ece s s ár i o , e q u e a s u a
p r e s e n ç a b a s t a v a ; a p r e s e n t o u o s e u u l t i m a t u m a
4
d e
A g o s t o , c o n f o rm e l h e o r d e n a v a m a s s u a s i n s t r u c ç õ e s ,
e t ev e o d es g o s t o d e n ão co n s eg u i r d ' aq u e l l e g o v er n o
o q u e o m i n i s t é r i o d e 15 d e J a n e i r o e x i g i a ,
A d i v i s ão n av a l q u e h av i a n o R i o d a P r a t a e r a
p e q u e n a p a r a e m p r e h e n d e r o p e r a ç õ e s d e g u e r r a e m
g r a n d e e s c a l a ; a s s i m m e s m o m a n d o u - s e b l o q u e a r o s
p o r t o s
de*
P a y s a n d ú e d o S a l to , q u a n d o a i n d a o e x e r
cito-
b r a s i l e i r o n ã o t i n h a e n t r a d o n o E s t a d o O r i e n t a l .
C o m e l l a acco m m et t eu o v i ce- a l m i r an t e b r as i l e i r o a
p r a ç a d e P a y s a n d ú , d e s e m b a r c o u c o m 400 h o m e n s
d a s g u a r n i ç õ e s d o s n a v i o s p a r a t o m a r a q u e l l a p r a ç a ,
g u a r n e c i d a c o m 15 p eç as d e a r t i l h ar i a e 1,500 h o m e n s
de bo a t ro pa , o qu e só faz qu em n ão
é
a c o n s e l h a d o
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LV
p e t a p r u d ê n c i a . D e v e m o s o b s e r v a r q u e t e n d o o v i c e -
a l m i r a n t e b r a s i l e i r o o r d e m p a r a f a z e r r e p r e s á l i a s , p r e
t e n d e u t o m a r P a y s a n d ú s ó c o m a p e q u e n a f o r ç a q u e
c o m m a n d a v a , e c o m a d p g e n e r a l F l o r e s .
A p r a ç a d e P a y s a n d ú , n a s c i rc u m s t a n c i a s em q u e
se ac h a v a e co m o s m ei o s d e d ef eza q u e t i n h a , n ã o
d ev i a t e r s i d o i n v es t i d a s en ão p o r u m a d i v i s ão d e
6 ,0 00 a 7 , 00 0 h o m en s . A l ém d e n ão t e r m o s es s a f o r ça
n o E s t ad o O r i en t a l n o m ez d e D ezem b r o , n ão l ev o u a
d i v i s ã o d o m a r e c h a l M e n n a B a r r e t o a r t i lh a r i a p a r a
b a t e r a s m u r a l h a s . M a s, n ã o a n t e c i p e m o s o s a c o n t e c i
m e n t o s .
N ã o t e n d o t r a t a d o o g o v e r n o i m p e r i a l d e m e l h o r a r
o es t a d o d o ex e r c i t o an t e s d a g u er r a , d e r eo r g an i s a l - o
d e n o v o , p o i s es t av a em t o t a l d e cad ên c i a , p ó d e- s e d i zer
q u e n ã o p r i n c i p i o u o s a r m am en t o s p e l o s o ff en sas q u e
o s B r as i l e i r o s s o í f r e r am n o E s t ad o Or i en t a l , m as s i m
p e l a s r e c l a m a ç õ e s d e a l g u n s d e p u t a d o s : n ã o f oi , p o r
t a n t o , p o r a c t o e s p o n t â n e o d o g o v e r n o i m p e r i a l , e
m e n o s p o r c o n v i c ç ã o q u e t i v e s s e d e s s a n e c e s s i d a d e ,
m as p o r q u e a i ss o fo i o b r i g ad o . H a 1 2 o u 1 5 an n o s
q u e n a c â m a r a d o s d e p u t a d o s o r e p r e s e n t a n t e p o r
M at t o - Gr o s s o A n t ô n i o C o r r êa d o C o u t o , d i s s e q u e a
s u a p r o v i n c i a es t av a s em d ef eza , e q u e o P a r ag u a y
e s t a v a s e a r m a n d o p a r a a t a c a r o B r a s il n a p r i m e i r a
o cc as i ão q u e s e o f fe r ecess e . N i n g u ém d eu a t t en çã o ao
q u e e ll e r e c l a m o u d o g o v e r n o ; t u d o c o n t i n u o u n o
m e s m o e s t a d o , p o r q u e j u l g a v a - s e o P a r a g u a y <um a r e
p u b l i ca s em f o r ça p ar a a t acar o B r as i l .
Era n ot áv el o es ta do em qu e e ís tava esse re s to de
fo rç a a r m a d a a q u e s e d a v a o n o m e d e e x e r c i t o b r a
s il e ir o , e s p a l h a d o p e l a s p r o v i n c i a s d o n o r t e e m p e
q u e n o s d e s t a c a m e n t o s . N a i n t e n ç ã o d e n ã o s e r v i r p a r a
o
v e r d a d e i r o fim d a s u a i n s t i t u i ç ã o , t i n h a - s e - l h e d a d o
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LVI
o u t r o d e s t i n o p o u c o h o n r o s o . O a o ff ic ia es f o ra m e m
p r e g a d o s p o r a l g u n s p r e s i d e n t e s e m a g e n t e s p o l i c i a * *
E m a lg u m a s p r o v i n c i a s o s b a t a l h õ e s n a o e s t a v a m em
e s t a d o d e p r e s t a r o s e rv i ç o p e r f e i t o d e g u a r n i ç â o ; o s
s o l d a d o s t i n h a m p e r d i d o e m p a r t e a d i s c i p l i n a m i l i
t a r , n ã o c o n h e c i a m a a u t o r i d a d e d o s c o m m a n d a n t e s ,
p o r q u e v i v i a m d e s o r d e n a d a m e n t e n ' e s se s d e s t a c a m e n t o s
l o n g í n q u o s .
P a s s a v a m m e z e s s e m o s c o m m a n d a n t e s r e u n i r e m
o s c o r p o s p a r a r e v i s t a s e e x e r c í c i o s . O a r m a m e n t o e
e q u i p a m e n t o e s t a v a m e s t r a g a d o s , o f a r d a m e n t o v e l h o .
P o r c o n s e q ü ê n c i a n ã o h a v i a e m a l g u m a s p r o v i n c i a s .
n o s a n n o s a n t e r i o r e s á g u e r r a , f o r ç a a r m a d a e m e s
t a d o d e r e s i s ti r a q u a l q u e r a c o m m e t t i m e n t o e x t e r n o ,
o u d e s o r d e m i n t e r n a , á e x c e p ç ã o d o s c o r p o s q u e e s
t a v a m n e s t a c o r t e e p r o v i n c i a d o R i o G r a n d e , e e s t e s
m e s m o s t i n h a m m e t a d e d a f o r ç a d o s e u e s t a d o c o m
p l e t o .
(*)
N ' e s te e s t a d o d e d e s a r m a m e n t o , s e r v i n d o - n o s d e u m
t e r m o m a r í t i m o , c o n s e r v o u - s e o e x e r c i t o a t é 1 8 6 4 , o
q u e m o s t r a v a d a p a r t e d o g o v e r n o a p o u c a o u n e
n h u m a t e n ç ã o q u e h a v i a d e o e m p r e g a r e m o p e r a ç õ e s
d e g u er r a , ap e zar d as d e s i n t e l l i g e n c i as e o ff en sas r e
c e b i d a s d o g o v e r n o d o E s t a d o O r i e n t a l .
A p r o v i n c i a d o R io G r a n d e , q u e d e t o d a s é a q u e
d e v i a e s t a r m e l h o r g u a r n e c i d a p o r c a u s a d a f r o n t e i r a
t i n h a m u i t o p o u co t r o p a , co m o >se m o s t r a r á , i s to é ,
q u a n t o a o p e s s o a l ; a g o r a q u a n t o a o m a t e r i a l , o s a r
s e n a i s e s t a v a m d e s p r o v i d o s d e f a r d a m e n t o e d e a r
m a m e n t o , s o b r e t o d o s o d e P o r t o A l e g r e . O r e g i m e n t o
d e a r t i l h a r i a a ç a v a l i o t i n h a p e ç a s v e l h a s q u a s i i n u -
t i l i s a d a s ; e m O u t u b r o d e 1864 é q u e m a n d a r à m - s e
(*) O qu e dizemo s não é por informaçã o; em 1863 vimo s e admiramos o es
tado em qu e estava m os batalhões de guárn içaô ha Ba hi a: nàó se çonheciarft
os uniform es por estarem | ve lho s $ rotos»
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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LVI1
d e s t a c o r t e a s p r i m e i r a s s e i s p e ç a s d e b r o n z e r a i a d a s
d e c a l i b r e 6. A i n d a n ã o h a v i a g e n e r a l n o m e a d o p a r a
c o m m a n d a r o e x e r c i t o q u e se s u p p u n h a e x i s t ir n a p r o
v i n c i a d o R i o G r a n d e , m a s q u e a i n d a n ã o e x i s t i a ; p o r
q u e n ã o se p ô d e c h a m a r e x e rc i t o a a l g u n s c o rp o s d e
c a v a l l a r i a e i n f a n t a r i a c o m p o u c a g e n t e , e s p a l h a d o s
e m u m a e x t e n s a p r o v i n c i a , s e m o r g a n i s a ç â o a l g u m a
r e g u l a r .
Em O u t u b ro é q u e foi n o m e a d o o m a rc h a i Jo ã o
P r o p i c i o M e n n a B a r r e t o p a r a c o m m a n d a r e s s e s c o r p o s ,
q u e c o n s t i t u i r a m u m a p e q u e n a d i v i s ã o m a l a r m a d a n a
for ça de 4 ,500 ho m en s, m ui to insuff icien te pa ra i r
fa z e r a c a m p a n h a n o Es t a d o O r i e n t a l .
N o l u g a r c o m p e t e n t e c o n s i d e r a r e m o s o m o d o p o r q u e
se o rg a n i so u e s t a p e q u e n a fo rç a , su a m a rc h a e o p e
r a ç õ e s n o E s t a d o O r i e n t a l. E p o s t o q u e o m a r e c h a l
M e n n a B a r r e t o , c o m o g e n e r a l d o R i o G r a n d e , p a r e c e u
se r m u i t o c a p a z d e fa z e r a q u e l l a c a m p a n h a , c o m t u d o
a c r e d i t a m o s q u e o g e n e r a l q u e a s c i r c u m s t a n c í a s í n -
d ic a V a m p a r a c o m m a n d a r u m e x e r c i t o n o s u l, n o
p r i n c i p i o d e u m a g u e r r a q u e s e d e v i a r e c e i a r d u r a
d o u r a e t r a b a l h o s a , e r a a q u e l l e q u e o m i n i s t é r i o
F u r t a d o n ã o q u i z n o m e a r p o r s e r d e o u t r o c r e d o p o
l í t i c o . A o s o f f i c i a e s su p e r i o re s q u e fo ra m n ' a q u e l l a d i
v i sã o e a o u t ro s q u e m a rc h a ra m d e p o i s , n ã o fez
o p p o s i ç ã o a q u e l l e m i n i s t é r i o ; a l g u n s q u e n u n c a t i n h a m
v i s t o a g u e r ra p o r t a r a m -se c o m o o ff ic ia es a c o s t u m a d o s
a o s c o m b a t e s , e d e ra m p ro v a s d o se u t a l e n t o e v a l o r
n o c a m p o d a b a t a l h a : v i o - s e q u e e s t a v a m d e s t i n a d o s
p a r a e ra p o u c o t e m p o c o n q u i s t a r e m o v e r d a d e i r o
n o m e d e g e n e r a e s .
S a h & ã o o I m p é r i o d o e s t a d o d e p a z em q u e p o r
t a n t o s a n n o s e x i s t i o p a r a o d e g u e r r a , m o s t r a r a m
l o go a s u a i n t e l l i g e n c i a , v a l o r h e r ó i c o n o s c o m b a t e s ,
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L V I I I
e e l e v a ra m o n o m e b r a s i l e i r o á a l t u r a d a s p r i m e i r a s
n a ç õ e s d o m u n d o .
F a c to s d e t a l o r d e m , a c o n t e c i m e n t o s t ã o e x t r a o r
d i n á r i o s s u c c e d i d o s e m u m p a i z q u e a t é a g o r a n ã o
s e r e p u t a v a p o t ê n c i a m i l i t a r , f a r ã o d ' o r a e m d i a n t e
c om q u e o I m p é r i o d o B r a si l s e ja c o n s i d e r a d o c o m o
a p r i m e i r a n a ç ã o d a A m e r i c a d o S u l ; m a i s r e s p e i t a
d o p e l a s r e p u b l i c a s h e s p a n h ó l a s d o q u e o t e m s i d o
a t é a g o r a , s e t i v e r g o v e r n o s q u e l h e s u s t e n t e m a c o n
s i d e r a ç ã o q u e a d q u i r i o n ' e s t a g u e r r a , e q u e l h e c o n
s e rv e o p o d e r m i l i t a r c o m o u m e l e m e n t o o m a i s n e
c e s s á r i o
á
s u a e x i s t ê n c i a . »
A g l o r i a e a h o n r a d a s a r m a s b r a s i l e i r a s , e o s a c t o s
d e b ra v ur % d e t a n t o s v a r õ e s i l l u s t r e s q u e s e a s s i g n a -
l a r a m e m t ã o á r d u a c a m p a n h a , a p p a r e c e r ã o c o m t o d o
o s e u b r i l h o q u a n d o a s s u a s a c ç õ e s h e r ó i c a s f o re m
d e s c r i p t a s n o l u g a r q u e l h e s c o m p e t e .
C o n s i d e r a r em o s a c a m p a n h a d o P a r a g u a y c o m o a
m a i o r
i
g u e r r a q u e t e m h a v i d o n a A m e r i c a d o S u l , e
t a m b é m a m a i s d if fic il e t r a b a l h o s a q u e o B r a s i l
t e m s u s t e n t a d o , p e l a n a t u r e z a d o t e r r e n o o n d e fo i
f ei ta e o u t r a s c i r c u m s t a n c i a s q u e o c c o r r e r a m .
A c a m p a n h a foi d e m o r a d a p e l a d i r e c ç ã o q u e o e x e r
c i t o l e v o u , r e s u l t a d o do* T r a t a d o d e A l l i a n ç a d o 1.*
d e M a io . O p r i m e i r o g e n e r a l b r a s i l e ir o p o u c o p ô d e
f az e r p o r e s t a r s u j e i t o à s d i s p o s i ç õ e s d o t r a t a d o , n a d a
h o n r o s o a o B r a s i l ; o s e g u n d o e s t e v e n o m e s m o c a s o ;
s ó o t e r c e i r o p ô d e p r i n c i p i a r a c a m p a n h a c o m m a i s
l i b e r d a d e d e a c ç ã o .
O M a r q u e z d e C a x i a s p ô d e d i r i g i r a s o p e r a ç õ e s
q u a n d o s e r v i o d e g e n e r a l e m c h e f e d o s e x é r c i t o s
a l l i a d o s . P a r a i s t o a c o n t e c e r foi n e c e s s á r i o q u # o g e
n e r a l e m c h e f e a r g e n t i n o , c r e a d o p e l o T r a t a d o d e A l l i
a n ç a d o l .
u
d e M a io d e 186 5, s e a u s e n t a s s e d o e i ü l
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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oi to em Jan ei ro de 1868. Nao ba stou pa ra desgraça
do Brasi l ter de su ste nta r aquel la gu err a , teve ainda
a infe l icid ad e do seu ex erc i to ficar sujei to a unia
força ou a um p o de r es t ran ho , que po uco i n t e resse
po dia ter na glor ia de suas arm as.
Na Criméa não hou ve gen eral em chefe, porq ue
os governos de França e Ing l a t e r ra ass i m o en t ende
ram ; en t reta nto aquel la cam pan ha, fe ita tão longe
d'aq ue l las naçõ es, du ro u 13 m ezes, e não se sent io
a fa l ta d 'aquel la au tor ida de supre m a. No Paragu ay,
on de o Brasi l reun io um ex erci to seis vezes m aior
do que o argent ino, consent io o minis tér io de 12 de
M aio que este exe rci to f icasse su bo rdin ad o ao gen e
ra l que commandava uma d i v i são .
A i nexper i ênc i a em pol i t i ca é semel hant e á i nexpe
riê nc ia nas profissões da vida civi l ou m il i tar, isto é,
ace r t a -se pou cas vezes . A a r t e da guerra não é uma
sc i enc i a que se apre nde no es tudo do g ab i n e t e ;
apr ènd e-se no campo da ba t a l ha , e só quem t em
pr a t i c a de m ui t os annos de cam panh a é que pôde
e m p r e h e n d e r o p e r aç õ e s d e g u e r r a c om s e g u r a n ç a .
A pro va d o que dizem os foi o que se passo u no
ataq ue a Ctrru pa i ty; op eraç ão que não se devia ter
feito d 'aqu el le m odo , pelas razões qu e se di rão qua ndo
t r a t a r m o s d ' e s s e a c o n t e c i m e n t o .
No f im de quasí dous annos de campanha, pelo re-
«t r i tado d 'aquel la operação, que foi um grande revez
pa ra as a rm as a l u ad as , é que o governo i mp er i a l
conheceu o engano em que v i v i a re l a t i vament e ao
com m ando em chefe do e xerc i t o a l l i ado , i gnora ndo
as divergências que exist iam entre os generaes. (*)
O fevez q u e o nosso ex erc i to soffreu em Cu rup ai ty
(*) Assim o declarou o presidente do conselho no senad o na sessão d e 5 de
Junno de 18d7. l
:
hP
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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foi o que m oveu o go ver no , ou o pre sid en te do ga
binete de 3 de A gosto, a i r pe di r ao gen eral que
estava no caso de continuar aquella campanha, para
commandar o nosso exerci to no Paraguay. Foi
o
único meio que teve aquel le minis tér io de diminuir
o mal que dev orav a o nosso exe rcito hav ia quasi
dous annos . A ' influencia de um pa rt i do po l í t ico, ao
que elle t in h a feito d e er ra do , estava sujeita a sorte
da guerra .
Logo que o general bras i le iro pôde ser o comman
dan te em chefe do exerci to a lu ad o, a cam pan ha fez-se
com energia, passando do estado de guerra defensif»
para o de operações act ivas , de modo,que Lopez co
nheceu a differença dos co m m an do s; o qu e o general
bras ileiro fez em um ann o, o arg entin o não t in h a
feito em do us, ou nu nca . Se não t ivesse exis tido o
ga bin ete de 31 de A gosto, o M arquez de Caxias te ria
s ido com m andante em chefe do exerci to desde o pr in
cipio d 'es ta campanha, e também outras medidas pre
vent ivas se te r iam tomado.
A inda quando foi o conselheiro S araiva pa ra M onte
vidé o, o governo imp erial ignorava que o Paragu ay
estava-se arm and o par a ata ca r o Im pé rio ; os avisos
que havia annos t inha recebido, deviam ter bastado
para tom ar as medidas prec isas , sobre tud o par a pô r
em estad o de defeza, a pr ov in cia de M atto-G rosso. (*)
Por es te m otivo , da guer ra con tra o Paraguay, co
n h e c e u - s e
(
que a m aior pa rte d a gente de med iana
instrucção não tem conhecimento algum de his toria
militar, e por esta rasão foi fácil fazer-lhe acreditar
que a dem ora da cam panha nos dous primeiros annos,
as pe rda s qu e teve o nosso exe rcito, p or exem plo
(*) Veja-se o que disse o depu tado cVaquella provincia Antônio do Co nto em
1858,
acima citado.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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L X I
n os dia s 2 e 24 de M aio, tu do foi efíeito do acc aso ,
e não iaad ve r ten c ia de quem com m andava . Na Europa
a ins t ru cçã o m i l i t a r es tá m ais vu lgar i sada en t re a
classe m éd ia, ou seja po rq ue estas nações são m ais
gu er re i ra s do que tem s ido o B rasil a té agora , e
d 'aqu i vem a n ecess id ade de adqui r i rem essa ins t ru c
ç ã o , ou po rqu e ha ma is gosto para es te e s tud o.
No Im pé rio do Brasi l, a pr im eira nação d 'A merica
do S ul, a m aio r e a m ais civil isada, a qual até ha
po uc o tempo não se qu er ia que fosse um a potê ncia
m il i tar , foi fácil ad or m ec er o povo sobre os negócios
da g ue rra , po rqu e nâp es tá no caso de ju lg ar dos
aco ntec im ento s de um a cam panh a . Como nos pr i
mei ros dous annos todos ju lgaram que as cousas iam
be m , qu e não ha via outro m odo de fazer a gu err a ao
P a r a g u a y , p o u c o s t r a t a v a m d e i n d a g a r d a m a r c h a q u e
seguiam as operações mi l i t a res .
Em 30 de Março de 1864, d iscut indo-se na câmara
dos deputados a le i da f ixação das forças de terra ,
agi tou -se a qu estã o se basta va m 14,000 ho m ens , ou
se era m pr ec iso s 18,000; es tava presen te o minis t ro
d a g u e r r a , J o s é M a r i a n n o d e M a t t o s . O d e p u t a d o C a r
ne i ro de Campos , d i sse o seguin te :
— « Que no R io G rande hav ia t res ba ta lhõ es de
inf an taria , de n s . 3, 6 e 13, com o tota l de 1,500 ho
m e n s ;
qua t ro reg imentos de cava l la r ia com 1 ,000praças ;
um reg im en to de a r t i lh ar i a a cava l lo , com 276 pra ças ;
ao todo 2 ,776 praças de l inha . Não ha a l l i um corpo
ve rda de i ram en te c om ple to , e nas condições dese jáve is ,
a não ser na mantença da discipl ina e no respei to ,
que fazem-se guardar os off ic iaes; mas mesmo para
os exercíc ios não ha quanto baste . Emfim, por fa l ta
de gente , quando os corpos sahem dos quar té i s , cons
ta -me que já se t em fechado os por tões . Es tou t ra
io
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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LX11
tando d-esta fronteira do Império, que
m u i t o
tncom-
m odo nos pôde dar; que deve in teressar
al tamente
á
nossa pol i t ica , porque o povo v is inho
náo es tá
na
mesma razão dos outros povos* de que nos
achamos
distantes , e de quem estamos ao abrigo de
qualquer
ataque repent ino. Mas d
?
ál l i , senhores , podem vk-nos
a g g r e s s õ e s
inexp erad as, com o já tem acon tecido, ha
vendo nós receb ido por paga dos benef í c ios
prestados,
provas exuberantes de ingratidão. A fronteira do Es
tado Oriental e da Confederação Argentina, é bem
co nh ec id a do nobre gen eral (o m inis tro da guerra),
e el le pode dizer quantas cautelas, quanta vigi lância
devemos ter por esse lado. »
F oi este de pu tad o o prim eiro que n'aquella sessão
lem bro u ao gov ern o, — que era pr ec iso acautelar-nos
para nos defendermos de Montevidéo. Esta advertência,
que podia ter despertado o ministério do lethargo em que
se achava, relat ivam ente ás n ossa s relações com as
R epubl icas do Sul, pa ssou desa perc ebida pela câmara e
pelo ministér io ; por conseqüência nenhuma importância
se deu ao que disse o deputado Carneiro de Campos:
a câmara votou
18,000
homens para circumstancias
ordinárias.
Todas as nações precisam ter um exercito conforme
a sua população, extensão de território e posição geo-
gra phica . O Brasil é uma nação grande pela extensão
de terreno, e grande numero de portos abertos ao
commercio do mundo; precisa ter sempre prompto
um exercito para sua defesa. Está cercado
de
Repu
blicas, cujas populações são areadas no meio das guerras
civis , que devastam e em brutec em aquelles paizes, no s
quaes predo m ina a ignor ânc ia e a superstição
d o
povo.
A
anarchia, que ás vezes apparece n
'aquelles Saltados,
parece ser um elemento necessário á sua existência,
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 74/448
L X I Í I
p o r q u e o s d i ff e re n t es p r e t e n d e n t e s a o g o v e r n o , q u e
r e n d o c o n q u i s t a r o p o d e r p o r m e i o d a s a r m a s , fo r
t i fi cam aq u e l l e q u e o ex er ce , em b o r a o s d i r e i t o s d e
u n s e d e o u t r o s s e j a m i g u a e s . D e q u a l q u e r m o d o q u e
o s r e p u b l i c a n o s g a n h e m o p o d e r , l o g o q u e o c o n s e
g u e m , r e s p e i t a m p o u c o a s o b e r a n i a d o I m p é r i o d o
B r a s i l , c o m o a p r i m e i r a n a ç ã o d a A m e r i c a d o S u l .
P o r t o d a s e s t a s r a z õ e s , p e l a p r o x i m i d a d e d o s m . . .
v i s i n h o s d as n o s s as f r o n t e i r as , o B r as i l n ão p ô d e p r es
c i n d i r d e t e r u m e x e r c i t o b e m o r g a n i s a d o . A f o rç a
a r m a d a é a ú n i c a m u r a l h a q u e o p ô d e d e f e n d e r d a s
a g g r e s s õ e s r e p u b l i c a n a s d o R i o d a P r a t a e d o P e r u .
S e n ão s e a t t en d er a es t a n eces s i d ad e , o B r as i l co n
t i n u a r á a s e r i n v a d i d o p e l a s n o s s a s fr o n t e i r a s d e b a i x o
d e q u a l q u e r p r e t e x t o , o u q u a n d o a s a c h e m d e s a r
m a d a s ,
S e o s g o v e r n o s p a s s a d o s t i v e s s e m s id o m a i s p r e v i
d e n t e s em t u d o q u e d i z r e s p e i t o á n o s s a o r g a n i s a ç â o
m i l i ta r , a l é m d e t e r e x i s t i d o s e m p r e u m e x e r c i t o r e
g u l a r e b e m o r g a n i s a d o , t e r i a m m a n d a d o a l g un s of
fic iaes su p er io re s á Eu ro pa , á Cr im éa em 1855, e á
I t á l i a em 1 85 9, as s i s t i r aq u e l l as ca m p a n h as ; ex am i n ar
e e s t u d a r as for ti f icações qu e os France zes f izeram
n o c e r c o d e S e b a s t o p o l ; v e r o s s e u s m e i o s d e a t a q u e :
e x a m i n a r t o d o o s eu m a t e r i a l d e g u e r r a ; i n s t r u i r e m -
s e n a s e v o l u ç õ e s q u e s e d e r a m n a c a m p a n h a d e I t á
l i a .
N a g u e r r a q u e t e r m i n o u , p o d i a m a q u e l l e s o ffic iae s
t e r p r e s t a d o s e rv i ç o s i m p o r t a n t e s . A I n g l a t e r r a e a
F r a n ç a m a n d a r a m a l g u m a s v e z e s o ffic ia es a s s i s ti r á s
c a m p a n h a s d o s o u t r o s p a i z e s . S o b r e a n e c e s s i d a d e
d o I m p é r i o d o B r as i l t e r ex e r c i t o p a r a s u a d ef eza ,
d is se o m i n i s t r o d a g u e r r a J e r o n y m o F r a n c i s c o C o e
l h o ,
n o s eu r e l a t ó r i o d o an n o d e 1 85 8 :
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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LXSV
« Se tantas não fossem as di f icu lda de s para se com
pleta r uma força qu e fosse d ec reta da em nu m ero
su
perio r , de cer to que um e xerci to de 16,000 h o m e n s
não só é insigni f icante para todas as necessidades do
-serviço pu bl ico , mas a té não corres po nd e á posição
e c athe go ria qu e já hoje o cc up a o vasto e f lorescen
te Im pé rio do Brasi l na escala hiera rch ica das naçõ es .
A força actual do exerci to do Brasi l regula pela das
nações da Europa de ordem a mai s segundar i a .
« Lembrar -vos-he i que , comparando aquel l e numero
de força com o da pop ul açã o do Im pé r i o , com pu t a
da em 8 mi lhões de ha bi tan tes , o paiz co nt r ib ue com
um impo sto de 1 por 500 individu os .
« A prop orçã o ord inária nos paizes que tem um
exerc i to reg ularm ente org anisa do é , no p é de paz, 1
po r 100; n 'es ta pro po rçã o, se o Brasi l t ivesse de
imi tal -os , o seu exerci to em ci rcumstancias ordinárias
devia ser de 80,000 hom ens. A noss a con t r ibuição m i
l i tar é po rtan to a qu inta pa r te do que ser ia , s egu n
do as regras es tabe l eci das ; cum pr i ndo t oda vi a reco
nh ece r q ue aquel las reg ras não po dem em todo o r ig or
te r ent re nós perfei ta appl icação , p elas nossas c i r
cumstancias pecul iares , já de local idade e posição,
já em relação aos E stados com quem estam os em
i mmedi a t o cont ac t o . »
Foi este um do s pou cos m i l i tares , m inis t ros da gue r
ra que tem hav ido, que m elhor conh eceu a necessi
dad e ,do Brasi l ter um exe rci to bem orga nisad o. A
este respe i to disse o d ep utad o Brand ão, na sessão de
22 de Agosto de 1864, o seguinte, depois de ci tar
o re latór io acima mencionado :
« En caran do a go ra a questão sob o pon to de V ista
geral , e qu anto ao dev er qu e tem tod o o paiz de
m anter um ex erc i to sufficiente pa ra ga ra nt ir os seus
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L X V
d i r e it o s » e f azer r es p e i t a r a s u a h o n r a e s o b er an i a ;
p e d i r e i a i n d a l i c e n ç a p a r a , em a b o n o d o q u e t e n h o
d i t o ,
e x i b i r a o p i n i ão d e u m r e s p e i t áv e l p a t r i o t a f r an -
c e i , o S r . S c h u t z e n b e r g e r , p e r t e n c e n t e á e s c o l a l i b e r a l
m a i s a d i a n t a d a . D iz e l le :
« U m g o v e r n o q u e n ã o d i s p õ e d e u m a f o rç a m a t e
r i a l s u f fi c ien t e p a r a a s s e g u r ar n o ex t e r i o r e n o i n t e
r i o r a i n v i o l a b i l i d a d e e o r es p e i t o d o s d i r e i t o s d e
s o b e r a n i a d e q u e é d e p o s i t á r i o , é i m p o t e n t e e n ã o
p o d e p r e e n c h e r n e n h u m d o s d e v e r e s q u e l h e s ão i m
p o s t o s p e l a d e l e g a ç ã o d o s d i r e i t o s d e s o b e r a n i a . A
ex i s t ên c i a d o E s t ad o , as co n d i çõ e s d a p az p u b l i ca , d a
o r d e m , d a l i b e r d a d e e d o p r o g r e ss o , d e p e n d e m d a
cr eação d e u m a f o r ça a r m ad a s u f f i c i en t e p ar a d ef en
d e r c o n t r a o e s t r a n g e i r o a i n d e p e n d ê n c i a , o s d i r e i t o s ,
o s i n t e r e s s e s , a h o n r a e a d i g n i d a d e d o E s t a d o ; p a r a
m a n t e r n o i n t e r i o r o s d i r e i t o s l e g í t im o s d o s p o d e r e s .
« U m es t ad o q u e , p o r s u a f raq u eza , s e ach a á m er cê
d o e s t r a n g e i r o , n ã o t e m m a i s d o q u e u m a e x i s t ê n c i a
p r e c á r i a . O p o d e r s o c i a l p a r a l i s a d o p e l a s r e s i s t ê n c i a s
q u e n ã o p ô d e v en cer , ces s a d e s e r o r ep r es e n t a n t e
d a u n i d a d e p e s s o a l d o E s t a d o . O e n f r a q u e c i m e n t o d o
p o d e r é o s i g n a l p r e c u r s o r d a d e c a d ê n c i a , d e s o r g a -
n i s a ç ã o e a g o n i a d o s c o r p o s p o l í t i c o s ; a s a t t r i b u i ç õ e s
q u e , n o s eu i n t e r es s e , a s o c i ed ad e d e l eg a ao s p o d e r es
p ú b l i c o s , t o r n a m - s e i l l u s o r i a s se e l le s n ã o p o d e m
d i s p o r d e u m a f o r ça m at er i a l s u f f i c i en t e p ar a t o r n ar
e x e q ü í v e i s s u a s r e s o l u ç õ e s c o n s t i t u c i o n a e s e d e c i s õ e s
l e g a e s .
« O s g o v e r n o s q u e s e d e s c u i d a m d e p r e p a r a r s e u s
m eios de defeza»-e de rep res sã o ao n iv ei d os per ig o s
e x t e r i o r e s o u i n t e r i o r e s , q u e o s p o s s a m a m e a ç a r ,
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L X Y I
p e r e c e m . U m a n a ç ã o q u e p e r d e s u a s v i r t u d e s m i l í»
t a r e s ,
fica á m e r c ê d o s s e u s in im ig o s
« O e x e r c i to é o u l t im o a sy lo d o p a t r io t i s m o e da
h o n r a n a c io n a l . A s e g u r a n ç a d o f u tu r o , a p a z n o
e x te r io r e n o ^ in te r io r , a ' s o b e r a n ia d o d i r e i to , to d a s
as c o n d iç õ e s d a v i d a s o c i a l t o r n a m - s e p r e c á r i a s , e
ficam am eaç ada s de sde qu e o ex erc i to nã o possue a
força m a t e r i a l e a s q u a l i d a d e s m o r a e s n e c e s s á r i a s p a r a
a s a n c ç ã o d a s d e c i s õ e s p r o f e r id a s p e lo s ó r g ã o s d o
p o d e r s o c i a l .
« Um exe rc i to cora joso e br av o é a escola da s
v i r t u d e s c ív ic a s e d o s g r a n d e s c a r a c te r e s : u m e x e r
c i to d e v o ta d o a o c u l to d o s s e u s d e v e r e s , e a n im a d o
d o s n o b r e s s e n t im e n to s d e h o n r a , d e g lo r i a e d e
a m o r d a p á t r ia , é o c o r p o d e e s c o lh a d a n a ç ã o .
O e x e r c i to , g u a r d a 'f ie l d a l ib e r d a d e e d o d i r e i to ,
s e m p r e p r o m p t o a e m p r e h e n d e r o u a e m p e n h a r - s e n a
d e f es a d o s in te r e s s e s e d o s d i r e i to s d o E s ta d o , é a
p e r s o n i f ic a ç ã o a m a is p o d e r o s a d o p r in c ip io d e o r d e m
e d e a u t o r i d a d e . »
C o n t i n u a a g o r a o d e p u t a d o B r a n d ã o : •
« Cre io , sen ho res , que as obse rvaçõ es" do i l lu s t r e
p u b l ic i s ta , q u e a c a b a is d e o u v i r , n a d a d e ix a m a d e
se ja r , e que em face d 'e l las n i ng ué m em b o a fé
p o d e r á c o n t e s t a r q u e a f o r ç a a r m a d a é u m a n e c e s s i
d a d e p u b l i c a d e p r i m e i r a o r d e m ; t a n t o m a i s i n d i s
p e n s á v e l q u a n t o se e lla n ã o e x i s t i r a h o n r a do paiz e
a p r ó p r i a l i b e r d a d e d o s c i d a d ã o s n ã o p o d e r ã o a c h a r-se
c o m p l e ta m e n t e g a r a n t i d a s . »
O q u e d i s s e r a m , o d e p u t a d o C a r n e i r o d e C a m p o s ,
o m i n i s t r o d a g u e r r a J e r o n y m o F r a n c i sc o Coelh o, e
o d e p u ta d o B r a n d ã o , f o r am r a z õ e s b è m c o n v i n c e n t e s
p a r a p e r s u a r d i r a o g o v e r n o d * aq u el le t e m p o d a n e c e s
s i d a d e d e t e r p r o m p t o u m e x e r c i t o s u f i c i e n t e p a r a
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LXV1I
as acc urre ncias que se dess em . Do lado do sul é
q u e deviam vir a ggr essõe s inexperadas , disse o depu
tado C arneiro de C am pos; mas a j ies in tel l ige nc ia com,
o governo de Montevidéo não fez lemb
dade de ter prompta a força armada.
F icará dem onstrad o no lugar com petente que na
m arg em do rio Ur ugu ay podia-se ter anniquilado 6
ex er ci t o paraguay o quando v eio para o nosso terri
tó rio ; isto não se fez porqu e a pro vinc ia do Rio
Grande não t inh a um pre siden te official general , que
t ivesse reunida toda a força armada que estava espa
lhada na provincia, e que excedia de oi to mil homens .
O ex erc ito par agu ayo, mal arm ado, sem artilharia
e com pouca caval laria , infal l ivelmente teria s ido
derrotado quando passou o rio se fosse atacado
pela força que havia na provincia, sendo bem com
m a n d a d a .
C onsta dos doc um en tos officiaes, m anda dos pub licar
pelo ministro da guerra (Ferraz), que os tres officiaes
gen erae s que comm andav am forças achavam-se em di
versos lugares , longe de S . Borja, e que, além de
não se reunirem, achivam-se em des inte l l igenci^;
d e s te s t res um era então comm andante das armas,
t inh a a au tor ida de e as ord ens nece ssár ias para fazer
o
4
u e
en ten de sse , não fez o que dev ia fazer.
Em qua nto o exe rc ito paraguayo* m archo u até Uru -
guaya na, foi ho st i l i sado por com m andantes da guarda
nacion al , e pelo prime iro b atalhão de Voluntários da
Pátria , commandado pelo valente , então coronel , João
Manoel Menna Barreto; general dis t incto (bem como
outros), f icará o seu nome gravado nas paginas da
historia d'esta •m em orá vel ca m panha do Paraguay .
Foi , por tanto, para deplorar que o governo impe
rial não de t ivesse lembrado n'aquella occasiao de
rar a necess i -
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L X V H I
g u e r r a d e n o m e a r u m p r e s i d e n t e m i l i t a r p a r a a p r o
v í n c i a d o R i o G ra n d e , e q u e fo sse a o m e sm o t e m p o
c o m m a n d a n t e d a s a ç m a s , p a r a o r g a n i s a r u m a d i v i s ã o
c o m fo rç a n e c e ssá r i a p a ra b a t e r e d e s t r u i r o s P a ra -
g u ay os ; o qu e não f izeram os chefes m i l i ta re s qu e
e x i s t i a m n a p ro v i n c i a .
P o r c o n se q ü ê n c i a , e s t a s i t u a ç ã o c r i t i c a e m q u e e s
tava a provincia do Rio Grande no anno de 1865 fo i
o r e s u l t a d o d a s p r o v i d e n c i a s q u e d e r a m a s a d m i n i s
t r a ç õ e s q u e t i n h a m e x i s t i d o ; e o g a b i n e t e q u e a p p a -
re c e u a 12 d e M a io d ' e sse a n n o se g u i o o m e sm o c a m i
n h o d o s se u s a n t e c e sso re s e m re l a ç ã o a o s n e g ó c i o s d a
g u e r r a .
Que dev ia te r ' fe ito o gov erno im pe ria l qu an do em
A bril* de 1864 quiz at rê nd er ás qu eix as qu e lh e f ize
ra m a l g u n s d e p u t a d o s so b re o e s t a d o e m q u e j a z i a m
o s B ra s i l e i ro s n o Es t a d o O r i e n t a l ?
N ã o t e r m a n d a d o e m i s s á r i o a l g u m a M o n t e v i d é o
f az e r r e c l a m a ç õ e s e a m e a ç a s p r e m a t u r a s a u m g o v e r n o
q u e e s t a v a e m d e s i n t e l l i g e n c i a c o m o B ra s i l , p o rq u e
o Im p é r i o n ã o t i n h a e n t ã o m e i o s d e g u e r ra p a ra o b r i
g a a q u e l l e g o v e rn o a sa t is fa z e r o q u e e x i g í a m o s . C o n
s u l t a r o s h o m e n s c o m p e t e n t e s s o b r e t a e s a s s u m p t o s .
O u v i r a o p i n i ã o d o s g e n e ra e s , q u a l se r i a o m e l h o r
m o d o d e o rg a n i sa r d e p re ssa o e x e rc i t o q u e o B ra s i l
n ã o t i n h a ; q u e m o d e v i a c o m m a n d a r , e c o m b i n a r c o m
e ll es o p l a n o d e c a m p a n h a .
D e p o i s d o g o v e rn o i m p e r i a l t o m a r e s t a s m e d i d a s
i n d i sp e n sá v e i s á se g u ra n ç a d o Im p é r i o d o l a d o d o
su l, e e s t a rm o s p ro m p t o s p a ra o p e ra r , n ã o sé d o l a d o
d a t e r ra c o m o d o m a r , p o d i a e n t ã o o m i n i s t é r i o d e
1 5 d e Ja n e i ro t e r e n v i a d o u m e m i ssá r i o
S ü
M o n t e v i d é o
ex ig i r do g ove rno de A gü i rrç o que fosse ju s t o , o <jue
fo sse i n d i sp e n sá v e l á d i g n i d a d e d o B ra s i l , p a ra se -
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L X X
Gr ande; formar a ba se das tu as opera ções n'aquella
provincia, m archar div idido em dous ou tres corp os,
passar por S. Borja, pr ov incia do Paraná e pe lo sul
de S. Paulo em direção á Assumpção.
Em quanto o ex erc ito est ives se no R io Grande em
organisação, embora se demorasse alguns mezes, f i
cava re co lhid o em qu artéis, all i se lh e reuniriam os
corpos que marchassem das outras provincias; rece
beria tod o o material nece ssário para aquella campa
n h a ; pode ria ser bem al ime ntado , e f icar l ivre das en
fermidades que soffreu e perdas que teve em quanto
esteve acampado na margem do Rio de S. Francisco,
e C oncó rdia; ainda com a grande uti l ida de de que a
despeza que fizesse ficava na provincia.
N'aquella provincia ha extenso s cam pos, próp rios
para acampar qualquer exercito, com a faci l idade
de mud ar de p osição quando fo sse nec ess ário ; ha em
alguns lugares abundância de agua, pasto para a ca
valha da, faci l idade para transporte do s fornec ime ntos,
e a pro xim idad e das povo ações para ahi estabe lecer
ho sp i tae s; com estes recursos e em m elhores con di
ções de salubridade, marcharia o ex ercito quando
fosse necessário. Em quanto est ivesse no Rio Grande
observaria o E stado Oriental, t inh a em baraçad o a en
trada do s Paraguayos na pr ov in cia ; tinha-se feito
m uita econ om ia de dinheiro e de gente . Quando o
exercito atravessasse os territórios de Comentes e
do Paraguay, encontraria difficuldades que vencer,
sobre tudo na passagem do Alto Paraná, mas estas
difficuldades naturaes são ven cid as com m ais ou
menos trabalho, e para esse f im acompanha o exer
c i to um corpo de engenheiros .
Não teria o exer cito encon trado no cam inho para
o Paraguay grandes fortif icações, porque não se
t e r i a
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L X X I I
p i a r f o ra m i n s u f i c i e n t e s ,
á
v i s t a d o s r e c u r s o s q u e
h a v i a .
D e 2 0 d e F e v e r e i r o a t é fim d e A b r i l t e v e m u i t o
t e m p o o g o v e r n o i m p e r i a l p a r a a j u s t a r c o m o d a
C o n f e d e r a ç ã o A r g e n t i n a d a r - l h e u m a d i v i s ã o d e 6 ,0 00
h o m e n s d a s t r e s a r m a s , p a r a a u x i l i a r o s e u e x e r c i t o ;
e o g o v e r n o d e B u e n o s - A y r e s d e i x a r e n t r a r n o r i o
P a r a n á a n o s s a e s q u a d r a , e f i c a r a n a v e g a ç ã o d ' a q u e l l e
r i o l i v r e á s s u a s o p e r a ç õ e s , q u e d e v i a m s e r d e a c -
c o r d o c o m a s d o e x e r c i t o a r g e n t i n o : e s t e a j u s t e p a
r e c i a o m a i s r a c i o n a l e m l u g a r d a a l l i a n ç a q u e
fizeram.
Depois do Convênio de 20 de Fevereiro, f icou o
n o s s a e x e r c i t o a c a m p a d o p r ó x i m o a M o n t e v i d é o ;
a h i r e c e b e u a l g u n s c o r p o s d e i n f a n t a r i a q u e d ' a q u i
f o r a m , e o r g a n i s o u - s e m e l h o r p a r a p r i n c i p i a r a n o v a
c a m p a n h a , c o n t r a o P a r a g u a y . J u lg o u - se q u e a q u e l l a
d e m o r a q u e t e v e n o E s t a d o O r i e n t a l f oi c a u s a d a p e l a
i n c e r t e z a e m q u e e s t a v a o g o v e r n o i m p e r i a l s o b r e o
d e s t i n o q u e d e v i a s e g u i r o e x e r c i t o b r a s i l e i r o , d e p o i s
d a p a z c o m a R e p u b l i c a O r i e n t a l . A n t e s d e s e f a z e r
o T r a t a d o d e A l l ia n ç a , i s t o é em A b r i l, o n o s s o e x e r
c i t o p r i n c i p i o u a e m b a r c a r p a r a S . F r a n c i s c o , ô u a s
l é g u a s a c i m a d e P a y s a n d ú ; o q u e m o s t r a v a q u e o
g o v e r n o i m p e r i a l t i n h a j á e n t ã o r e c e b i d o i n s t r u c ç õ e s
d e s e u m i n i s t r o d e B u e n o s - A y r e s p a r a a s s i m o d e l i
b e r a r : j á d e l á l h e t i n h a a p o n t a d o q u a l e r a o c a
m i n h o q u e o e x e r c i t o d e v i a s e g u i r .
D o E s t a d o O r i e n t a l p a s s o u o e x e r c i t o d e p o i s p a r a
a p r o v i n c i a a r g e n t i n a d e E n t r e - R i o s . A q u i m e t t i d o
t a m b é m e m t e r r i t ó r i o e s t r a n g e i r o , f i c o u s e m b a s e
p a r a a s s u a s o p e r a ç õ e s ; o ú n i c o a p o i o q u e p o d i a t e r
n ' a q u e l l e l u g a r e r a a e s q u a d r a ; o s n a v i o s q u e a c o m
p u n h a m , a l é m d e s e r e m a i n d a e n t ã o e m n u m e r o lijm -
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LXXI V
P a r a n á n o P a s s o d a P á t r ia , d e s d e Ab r i l d e
1865
a té
A b r i l d e 1 866 , s e n d o e s t a m o r t a l i d a d e c a u s a d a p o r
d i f f e r e n te s m o lé s t ia s .
N a c a m p a n h a d a C r i m é a o s e x é r c i t o s a l l i a d o s s o í -
f re ra m t r a b a l h o s e x t r a o r d i n á r i o s p a r a p o d e r e m e s t a
b e l e c e r o c e r c o á p r a ç a d e S e b a s t o p o o l ; m a s v e n c e
r a m a c a m p a n h a n o fim d e 1 3 m e z e s . ( V e ja -s e B a n -
z a n c o u r t ) .
S e f o i r e c o n h e c i d a a s u p e r i o r i d a d e d a s a r m a s f r a n -
c e z a s n a c a m p a n h a d a C r i m é a , t a m b é m n a g u e r r a d o
P a r a g u a y f o i r e c o n h e c i d a c o m a d m i r a ç ã o a s u p e r i o r i
d a d e d a s a r m a s b r a s i le i r a s . O v a lo r d o s o fficia es e
s o l d a d o s b r a s i l e i r o s fo i a d m i r a d o n o s c o m b a t e s d e
2 e 2 4 d e M a io d e 1 86 6, q u a n d o f o r a m s u r p r e h e n -
d i d o s p e l o s P a r a g u a y o s . a o s q u a e s n ã o f a lt o u a u d á c i a
e r e s o l u ç ã o p a r a a t a c a r e m , m a s fa l to u p r e v i d ê n c i a d a
p a r t e d o c o m m a n d a n t e e m c h e f e d o s a l l i a d o s .
S e r á d i f f ic i l a c h a r - s e n a h i s to r ia d a s c a m p a n h a s d e
o u t r a s n a ç õ e s , f a c t o s c o m o o s q u e a c o n t e c e r a m n o s
p r i m e i r o s d o u s a n n o s n o P a r a g u a y . J a m a i s s e v i o q u e
u m e x e r c i t o i n v a s o r d e i x e d e p e r s e g u i r o i n i m i g o q u e
f o g e , p a r a n o m e s m o l u g a r e s p e r a r n o v o s a t a q u e s , e
p e r d e r t o d a s a s v a n t a g e n s q u e p o d i a o b t e r . A s s i m s e
p r i n c i p i o u a p r o l o n g a r a g u e r r a .
A e s q u a d r a f oi b l o q u e a r a s T r e s B o ca s q u a n d o o
e x e r c i t o p a r a g u a y o j á d o m i n a v a m e t a d e d a p r o v i n c i a
d e C o m e n t e s e a m a r g e m e s q u e r d a d o r i o P a r a n á ,
o n d e d e p o i s t e n t o u b l o q u e a l - a c o m b a t e r i a s e m t e r r a .
L o p e z c o n h e c e u a p o s i ç ã o e m q u e e s t a v a m o s n a v i o s
b r a s i l e i r o s ; n ã o e s p e r o u m a i s t e m p o p a r a f az er o q u e
j u l g o u c o n v e n i e n t e . O c o m b a t e d e R i a c h u e l o p o d i a t e r
s i d o m a i s f a ta l á e s q u a d r a b r a s i l e i r a , a t t e n d e n d o a o
l u g a r e m q u e fo i p r o v o c a d o e á p r o t e c ç ã o d a s d i t a s
b a t e r i a s a o s n a v i o s p a r a g u a y o s .
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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LXXV
A p a s s a g e m p o r M e r c e d e s e Ç u ê v as s a l v o u a e s q u a
d r a d e ficar b l o q u e ad a p o r aq u e l l as b a t e r i a s , s o ff ren d o
n ' a q u e l l e s d o u s l u g a r e s g r a v e s a v a r i a s e p e r d a d e
g e n t e , o .qu e p o d i a t e r - s e ev i t ad o , s e o u t r as t i v es s e m
s i d o as d i s p o s i çõ es d o g o v er n o r e l a t i v am en t e á n o s s a
f o r ç a n a v a l d e s d e o p r i n c i p i o d a g u e r r a .
C o m r e l a ç ã o a e s t e s m e m o r á v e i s a c o n t e c i m e n t o s , a
i m p r e n s a d o R i o d a P r a t a m a n i f e s t a v a - s e p o r e s s e
t e m p o d a m a n e i r a s e g u i n t e :
« A A L L IA N Ç A E A E S Q U A D R A . — S o b e s t e t i t u l o p u b l i -
car am as f o l h as d e B u en o s - Ay r es d i v er s o s a r t i g o s , o s
q u a e s s e a c h a m n o Jornal do Commercio d e 2 5 d e F ev e
r e i r o d e 1 86 6. De u m d e s s e s a r t i g o s e x t r a h i m o s o q u e
s e s eg u e , q u e t em r e l ação co m as n o s s as i d é as ac i m a
e m i t t i d a s , s o b r e o E s t a d o O r i e n ta l d o U r u g u a y , e s u a
e x i s t ê n c i a p o l i t i c a .
« P ar a a p az d as n açõ es n ã o h a m el h o r co u s a q u e
o s e u p o d e r e r e s p e i t o s r e c í p r o c o s . N ã o h a p a r a e s s a
p a z m a i o r p e r i g o q u e o s E s t a d o s p e q u e n o s q u e l h e s
b a t e m á s p o r t a s p a r a d e s p e r t a r o s c i ú m e s , o u a s
a m b i ç õ e s i l l e g i t i m a s .
« U m p o v o p e q u e n o , g e n e r o s o e v a l e n t e , m a s s e m
o s e l e m e n t o s n e c e s s á r i o s p a r a c o n s t i t u i r - s e u m a n a c i o
n a l i d a d e q u e b a s t e a s i m e s m a , c o n d e m n a d o a e s t r a n
g u l a r - s e p o r s u as p r ó p r i a s m ão s , e ao s acri fí c io d a
s u a d i g n i d a d e , s o ff re n d o e v i v e n d o d a i n t e r v e n ç ã o d o s
s e u s v i s i n h o s ; t a l fo i o d e s t i n o q u e os t r a t a d o s d e r a m
á R e p u b l i c a O r i e n ta l .
« E e m b e n e f ic i o d e q u e m ? D e n i n g u é m . Q u e t e m
l u c r a d o o B r as il c o m a i n d e p e n d ê n c i a o r i e n t a l ?
« G u e r r a s e i n t e r v e n ç õ e s r u i n o s a s , d e s c o n fi a n ça s e
ó d i o s p r o f u n d o s . Q u e p r o v e i t o t e m t i r a d o a R e p u b l i c a
A r g e n ti n a d e s sa m e s m a i n d e p e n d ê n c i a ? D e b i l id a d e ,
g u e r r a s e t r e m e n d a s r e c r i m i n a ç ô e s c o m u m f un d o t r i s -
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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LXXVI
tissirao de verdade, pois concor remos para a in de
pendência d'aquelle Es tado ; para envolvel-o nas nossas
próprias guerras, para tornal-o alvo da sanha dos
nossos próprios tyrannos, fazendo correr sobre a sua
athmosphera o sopro ardente da nossa revolução,
como a tempestade que nas entranhas leva o fogo da
cólera divina.
« E" esta a politica das ci rcumí tanc ia s de 1828; o
suicídio para o Estado Oriental, a agitação, o sangue,
e a sempre eterna desconfiança para a Republ ica Ar
gent ina e para o Brasil. E tudo isto pela estravagan-
te utopia de crear um Estado independente, que se
parasse as duas grandes nac ionalidades. O perigo nunca
esteve em que as fronteiras de ambas se tocassem,
mas em outras cauzas^na is profundas e sociaes.
« Mas se
^isso
estava o perigo, não se evitou,
porque se a desgraça da America nos levasse algum
dia a uma guerra com o Brasil, fornecendo mais um
escândalo aos annaes do novo mundo, os Orientaes
não estariam com o Brasil, mas comnosco ; po rque
assim o queriria quem pôde mais que os Impérios e
as Republicas, quem sabe mais que os governos e
os protocollos, porque assim o queriria a natureza.»
Des tas reflexões do escriptor argentino concluímos
q u e ,
quando qualquer dos dous Estados da margem
do Rio da Prata declarar guerra ao Brasil, elles se
acharão sempre juntos contra nós. Estes sent imentos
da imprensa argentina não são novos, elles estão lem
brados em mais de um lugar na historia da guerra,
que se segue. A all iança de 1852 com o Estado Orien
tal foi feita pela grande necessidade que teve aquella
Republica da protecção do Brasil; o mesmo aconteceu
com Buenos-Ayres em 1865 : cessando a Necessidade
da protecção, esquece o alliado e protector .
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L X X V I l
Não d es e j am o s q u e as d i v er g ên c i as q u e p o r m u i t o s
an n o » ex i s t i r am en t r e o B r as i l e as Rep u b l i cas d o R i o
d a P r a t a , t o r n e m a a p p a r e c e r d e p o i s d a g u e r r a q u e
t e r m i n o u .
Gom o an d a r d o s t em p o s , es s e p r o f í cu o r e s u l t a d o
s e c o n s e g u i r á , c o n v e n c e n d o - s e a q u e l le s p o v o s , q u e r e s
p e i t a m o s s u a a u t o n o m i a , e m a n t e m o s i n t e i r a n e u t r a
l id ad e no s seus negó*cios in t er no s , a l inda nas m aio res
a g i t a ç õ e s , p o r q u e p o r v e n t u r a p a s s a r e m .
A n t es d e p r i n c i p i a r m o s a e s c r e v e r a h i s t o r i a d a
g u e r r a d o P a r a g u a y , c o n v é m m e n c i o n a r n *e ste l u g a r
u m a d a s c a u s a s r e m o t a s q u e c o n c o r r e r a m p a r a o e m -
b r u t e c i m e n t o e m q u e t e m v i v i d o a t é a g o r a o p o v o p a
r ag u ay o s u j e i to ao d es p o t i s m o d e u m cr u e l d i c t a d o r , e
s em t e r p o d i d o m el h o r a r a f ô r m a d e s eu g o v e r n o , e o
es t a d o d e c i v i l is ação em q u e ex i s t e .
Q u a n d o s e d e s c o b n o , o P a r a g u a y e s t a v a p o v o a d o
p el o s í n d i o s g u ar a n y s , r aça q u e se m i s t u r o u co m o s
H e s p a n h ó e s , s e u s c o n q u i s t a d o r e s . P o u c o t e m p o d e p o i s
o s j es u i t as f o r am o s d o m i n a d o r es d ' aq u e l l e p o v o , ao
q u a l i m p r i m i r a m u m a e d u c a ç ã o t h e o c r a t i c a , e s t ú p i d a
e f an á t i ca , co n s er v a n d o - o n a i g n o r â n c i a e n a ceg a
o b e d i ê n c i a a o s p a d r e s q u e o g o v e r n a v a m . N ' e s te e s
t a d o d e t o t a l i g n o r â n c i a d o s d i r e i t o s d o h o m e m , p a s
s o u a p o p u l a ç ã o p a r a g u a y a p a r a o d o m í n i o d o s g o
v e r n a d o r e s h e s p a n h ó e s , a o s q u a e s c o n v i n h a c o n s e r v a r
a e d u c a ç ã o j e z u i t i c ã ; i s t o fo i f ác il c o n s e g u i r - s e , p o r
q u e a l li n ão p e n e t r a r a es s a t a l o u q u a l c i v i l i s ação q u e
f o i ch eg an d o d e v ag ar ás o u t r as co l ô n i as h es p an h o l as
d o R i o d a P r a t a . A q u e l l e p a i z , s i t u ad o n o cen t r o d a
A m er ica d o S u l , q u a s i s em co m m u n i caçô es co m o r es t o
d o m u n d o , a p p r o x i m a v a - s e a o e s t a d o p r i m i t i v o d a
natureza.
A l ém d ' i s to n o s sé c u l o s X V I I e X V I I I a H e s
p a n h a n ã o e r a a n a ç ã o m a i s c i v i l i s à d a d a E u r o p a ;
12
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L X X V I I I
os s e u s g o v e r n o s i m p o r t a v a m - s e p o u c o c o m a c i v i l i
s a ç ã o d a s s u a s c o lô n ia s d 'A m e r ic a , e a i n d a m e n o s
c o m o P a r a g u a y . E s ta s c i r c u m s la n c ia s f a v o r e c e r a m o
d o m í n i o d o s J e s u í t a s , q u e á p o d e r a r a m - s e d o p a i z e
d a s c o n s c iê n c ia s d o s ^ h a b i ta n te s , f ican do e s te s e n t r e
g u es a u m e s t a d o d e v e r d a d e i r o o b s c u r a n t i s m o . O s
g o v e r n a d o r e s h e s p a n h ó e s t i n h a m m e n o s p o d e r s o b r e
o e s p i r i t o d ' a q u e l le p o v o d o q u e o s j e s u í t a s ; m a s
q u a n d o e s te s d e s a p p a r e c e r a m , a q u e l l e s g o v e r n a d o r e s
n ã o t r a t a r a m d e m e l h o r a r o e s t a d o d e s g r a ç a d o e m
q u e e x i s t i a a c o l ô n i a p a r a g u a y a . | A o s g o v e r n a d o r e s
h e s p a n h ó e s s e g u i o - se o d i c t a d o r F r a n c i a , q u e c o n s e r
v o u a e d u c a ç ã o je z u i t i c a , a c e g a o b e d iê n c ia , o u a e s
c r a v id ã o d ' a q u e l le p o v o d e b a i x o d o f al so n o m e d e
r e p u b l ic a . L o p e z p a i éP L o p e z filh o, q u e h e r d a r a m o
g o v e r n o d o P a r a g u a y , c o m o s e f o s se u m a f a z e n d a d e
s u a p r o p r i e d a d e , s e g u i r a m o m e s m o s y s t e m a d e F r a n
c ia , pa ra conse rva r na esc rav idã o o infe l iz pov o qu e
t i n h a m s u b j u g a d o .
Conclue-se do que f ica expos to , quê o es tado mise
r á v e l e m q u e te m v iv id o a té a g o r a o s h a b i ta n te s d o
P a r a g u a y , o g o v e r n o d e s p o t i c o d o s s e u s d i c t a d o r e s ,
o mal que acaba de fazer aque l le governo ao Bras i l ,
p e la g u e r r a q u e lh e d e c la r o u , c o m o f im d e s e a p o
d e r a r d a p r o v i n c i a b r a s i l e i r a d e M a t t o - G r o s s o ; t u d o
t e m o r i g e m n a e d u c a ç ã o q u e r e c e b e u d o d o m í n i o d o s
J e s u í ta s . G r a n d e s e r v iço f ez o M a r q u e z d e P o m b a l á
n a ç ã o p o r tü g u e z a e a o I m p é r io d o B r a s i l c o m a e x
t in ç ã o d ' a q u e l le s h o m e n s , q u e s e r e p u ta v a m o s m a is
necessár ios ás nações .
P a r a e s c r ev e r m o s a h i s to r ia d e u m a c a m p a n h a tã o
l o n g a e t r a b a l h o s a c o m o n u n c a h o u v e o u t r a n a A m e
r ic a d o S u l , fo i n e c e s s á r io c o p ia r u m g r a n d e n u m e r o
d e d o c u m e n to s q u e e x is te m p u b l ic a d o s , e q u e s e r v e m
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L X X I X
p a r a e s c la r e c im e n to e p r o v a d o s f a c to s q u e a q u i s e
e x p e n d e m ; n ' e s t e s d o c u m e n t o s s e i n c l u e m o s r e l a t ó
r i o s d o m i n i s t é r i o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s d e s d e
1853 a té 1865, dos quaes copiamos o que e l les contem,
e m r e l a ç ã o á p o l i t i c a s e g u i d a e m t o d o s a q u e l l e s
a n n o s p a r a c o m a s R e p u b l i c a s d o U r u g u a y e d o P a
r a g u a y . A s c o r r e s p o n d ê n c i a s , i n fo r m a ç õ es m i n i s t r a d a s
p o r a q u e l l e s q u e p r e s e n c i a r a m o s a c o n t e c i m e n t o s , o u
p o r o u t r o s q u e t i v e r a m p a r t e n ' e l l e s , f o r a m o s m a t e -
r i a e s q u e s e r v i r a m p a r a a o r g a n i s a ç ã o d ' e s te t r a b a l h o .
S o b r e c a d a p a r te d ' e s ta h i s to r ia fiz em o s o n o s s o
j u i z o c r i t i c o á v i s t a d o q u e a c o n t e c e u , p r i n c i p a l m e n t e
n o s p r i m e i r o s d o u s a n n o s d e c a m p a n h a . E p o s t o q u e
i s t o n ã o r e m e d e i e o s m a l e s q u e . a g u e r r a p r o d u z i o ,
n ã o d e v e m o s d e i x a r d e e s c r e v e r a v e r d a d e s o b r e t u d o
o q u e v a m o s n a r r a r , e m b o r a n ã o a g r a d e a q u e l l e s q u e
f o ra m o s a u t o r e s d o s p r i m e i r o s a c o n t e c i m e n t o s .
N u n c a h o u v e t a n t a n e c e s s i d a d e d e d i z e r f r a n c a -
mento á nação o que e l la deve saber .
S e c o m e s t e i n c o m p l e t o t r a b a l h o , n e c e s s a r i a m e n t e
d e f e it u o s o a m u i t o s r e s p e i t o s , n ã o p r e e n c h e r m o s o
n o s s o f im , a o m e n o s s e r v i r á d e a p o n ta m e n to s a q u e l le s
q u e m a i s t a r d e , e c o m p e n n a s m e l h o r a p a r a d a s , e s
c r e v e r e m a h i s to r ia d a g u e r r a d o B r a s i l c o n t r a a s
R e p u b l i c a s d o U r u g u a y e d o P a r a g u a y .
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I M O PRIMEIRO.
CONSIDERAÇÕES
GERAES.
Às cam panhas que t iveram lugar no Su l do Bras il contra
as pov oaçõe s hespanh olas desde 1811
até
1820 , tendo s ido
dir ig idas por um gove rno i l lus trado e enérg ico e por gener aes
hábeis , t iveram por resultado
a
segurança das fronteiras
do
S u l e ahonra nacional desaffrontada.
A histo ria d'estas cam pan ha s, das qu aes já fizemos men çã o
n a in t r o d u c ç ã o , m o s t r a oacerto da acção adminis trat iva mi
l i tar na direcção que
se
deu áqu el las guerras do S ul , para
se
con c lu íre m com honra das armas bras i le iras .
E m b o r a oexerc i to bras i le iro nunca excedesse a 10,000
h o m e n s , f o i asua força em relação e sempre superior ãdos
i n s u r g e n t e s ,
e
o s n o s s o s s o ld a d o s , c o m m a n d a d o s p e lo s v a le n t e s
g e n e r a e s r io - g r a n d e n s e s , v e n c e r a m - o s e m t o d o s
os
e n c o n t r o s ;
então
o
Bras il com pouca gen te
e
pouco d inhe iro obteve
o q u e lhe foi necessá rio para serrespe i tado poraquel les
povos.
O m o v i m e n t o de d e s o r d e m e de anarchia qu e tem ex is t ida
ao povo hespanhol do Rio da Prata desde que proc lamou a sua
independênc ia ,
a
educação que recebeu
no
meio das guerras
ovis
que tem do m ina do aqu el les pauses , d ir ig idas pe los go -
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— 2 —
vemos que (TeUas nascem, é a razão porque aquel les homens
não tem respeitado até ha pouco tempo os direitos dos
v is inhos .
O despotismo repub l icano qu e os tem reg ido não c ív i l í s ou
ainda quanto é necessár io aos qu e descen dem dos H es pa nh óe s ,
e que povoam a Am erica do Su l , para converter as R e p u
blicas hesp anho las e m naç ões i l lustradas, pacif icas , ind ust rios as
e comm erc iantes . O que te m os v is to a té agora e m qua s i
todas as Republ icas hespanholas? Temos v is to um pres idente
governar ap oiado na força que o sus ten ta e qu e faz tu do
quanto quer. Se aquelles Estados t ivessem t ido outra fôrma
de governo, talvez o seu adiantamento teria s ido maior, e o
caracter feroz da gente da ultima classe estaria extincto.
E ste caracter é herdado dos seu s antepassa dos. Os H es pa -
panhóes europêos são em grande parte descendentes dos Sar-
racenos, po vos sem i-baw aros do norte da Áfr ica qu e por
a lguns sécu los habi taram na Penínsu la da Europa; por es ta
razão ju lg am os que es tes costum es q ue a inda ex i s tem na
raça hespanhola, são herdados d'aquelles dominadores.
As Rep ubl icas do R io da Prata acostumadas ao gov ern o
absoluto de um presidente , que con seg ue c onq uista r o po der
porque tem m aior força que lh e ob edece do qu e outro qu al
quer pretendente , não olham para o Brasi l pacif icamente, em
razão da sua crescente prosperidad e, a qu e e ll a s ain da nã o
puderam att ingir . D 'aqui tem na scido o desejo de ho st i l isar
sempre que podiam aos subditos do Impér io , host i l idades ora
praticadas, ora toleradas pelas autorid ades polic iaes d o Est ad o
Oriental , como o dizem os relatórios do ministério dos negó
cios estrangeiros ad iante tran scrip tos.
E m todas as guerras c ivis qu e appareceram n*aquelles pa izes
desde 1810, quando ainda o Estado Oriental não t inha Brasi
le iros domic i l iados na campanha, sempre os chefes revo luc io
nários procuraram env olve r n os seu s distúrb ios aos hab itante s
das fronteiras do Bio Grande, apezar d'estes nã o proc urare m
metter-se nas suas desordens domesticas; nunca, respeitaram
os limites e a soberan ia do ent ão reino do Brasil .
Todas as provinc ias do R io da Prata foram dom ina da s pela
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— 5 —
guerra 'civil logo
q u e
sacudiram o jugo da Hespanha, che
gando os seus estragos ás nossas fronteiras; n'estas circums-
tancias o Brasil não podia ficar indiferente a este estado de
desordem que podia passar para o Rio Grande, foi necessário
que o governo do Príncipe Regente
D .
João providenciasse,
e tivesse o procedimento que vimos na introducção.
Considerando agora os acontecimentos d'esta época, diremos
que os males que provieram ao Brasil de uma guerra que
podia ter-se demorado ainda por alguns annos, e para a qual
não estava preparado; tem origem nos homens que sendo
encarregados de dirigir os negócios públicos, foram pouco a
pouco precipitando os acontecimentos dos quaes proveio- a
guerra.
O que preparou e precipitou a guerra que durou mais de
cinco annos foi o comportamento pacifico do governo impe
rial,
e a falta de providencias no coftrer de doze annos, desde
1 8 5 2 até 1 8 6 4 , para defender aos Brasileiros residentes no
Estado Oriental. O que os ministérios fizeram n'este longo
espaço de tempo, foi ordenar á legação imperial em Monte
vidéo que reclamasse do governo d'aquella Republica as satis
fações e indemnisações a que tínhamos direito, em virtude
das violências de toda a ordem perpetradas constantemente
contra os sobditos do Xmperio alli domiciliados.
A isto limitou-se a acção do governo imperial.
Esta politica empregada no espaço de doze annos para com
uma nação pequena, que só tem existido para ser o foco de
desordens e de anarchia, não fez respeitar os Brasileiros, pro
tegendo-os como era de sua obrigação. D'este estado de inac-
ção do governo do Brasil, aproveitaram-se os gaúchos da
campanha do Estado Oriental para continuarem nas suas tro-
pelias, certos da impunidade, porque os seus actos estavam
de accordo com as instrucções e desejos do governo blanco
da Republica.
A* primeira vista parece inexplicável que uma nação como
o Brasil, que tem força sufficiente para fazer-se respeitar
d'aquellas republicas, aoffresse as repetidas aggressões
q u e
por
espaço de tantos annos lhe dirigio o povo e o governo blanco
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— 4 —
do pequeno Estado Oriental; sem gente e sem aendas para
poder sustentar a sua independência, com governos vacilantes,
sujeitos ás revoluções que alli são communs ; mas quem re-
Üectisse e conhecesse a índole e o caracter político de alguns
homens que neste espaço de tempo estiveram encarregados
dos negócios públicos, e soubesse que a maior parte d'elles
occuparani-se de preferencia da politica interna, irnportando-se
em segundo lugar da politica externa, não se admiraria de
que o seu comportamento fosse o que se vio.
A A ssembléa Geral nun ca tinha impellido o governo a tom ar
um a parte activa no que se passava no Estado O rienta l, o que
só aconteceu em A bril de 1864, como faremos ver no livro 5,°
A câmara dos deputados tinha conhecimento do que con
tinham os relatórios dos ministérios de estrangeiros, e nem
assim os seus membros se estimulavam com os factos que
elles referiam todos Q S annos.
Com a presença do general D. Venancio Flores no Estado
Oriental, em Abril de 1 8 6 3 , para reunir gente armada com o
fim de derribar o governo alli existente, o m inistério limitou -se
a ordenar á legação imperial em M ontevidéo, e ao presidente
da provincia do Rio Grande, que obstassern a que os Brasi
leiros do Estado Oriental e da fronteira se incorporassem ás
tropas do general D. V enancio.. F lo re s; convindo ao Brasil
conservar toda a neutralidade na guerra civil que principiava
na Republica visinha.
0 aviso do Marquez de Abrantes, como ministro dos ne
gócios estrangeiros ao p residente do R io G rande, de cla ro u: —
Que os Brasileiros que se incorporassem ás forças do general
D.
Venancio Flores seriam reputados rebeldes e mereceriam
processo.—
Os
factos passaram-se de modo differente, do que
o ministério pensava. Muitos Brasileiros, que se uniram ao
general D. Venancio Flores, tinham n^aquelia Republica os
seus estabelecimentos e as suas famílias, a quem queriam de
fender das aggrjssões dos O rientaes do partid o blanco , e tamfeem
já estavam desenganados de esperarem, pela protecção do go
verno imperial, porque este não ünfya meios promptos nem
os procurava para os proteger immediatamente.
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Desde 1855, que não havia exercito organisado na provincia
do Rio Grande, ou alguma força para guarnecer a fronteira;
único modo de conter as aggressões externas.
Existia a guerra civil no Estado Oriental desde Abril de
1863;
ern Outubro de
1 8 6 4
é
que se principiou a organisar
uma divisão das tres armas, que completou
4 , 5 0 0
homens,
com pouco material de guerra, a qual passou a fronteira em
2 de Dezembro, da qual trataremos no lugar competente.
Para tornar esta historia mais completa e interessante, jul
gamos necessário copiar dos relatórios do ministério dos ne
gócios estrangeiros a parte que diz respeito ás Republicas do
Sul, para se poder conhecer qual foi a politica do governo
imperial para com aquelles Estados, durante o periodo de mais
de doze annos. Estes relatórios são os melhores documentos
que se podem apresentar dos actos dos differentes ministérios
que existiram naquelle tempo.
As revelações que os ministros dos negócios estrangeiros fizeram
todos os annos nos seus relatórios ao corpo legislativo, sobre o
que se passava com os Brasileiros residentes no Estado Oriental,
tinham sido aquelles acontecimentos motivos mais que suffi-
cientes para
o
corpo legislativo obrigar o governo a mudar da
politica passiva em que vivia para outra mais activa e enérgica.
Esta mudança nunca se pôde fazer, porque a maior parte
dos deputados sempre dependendo do governo, necessariamente
approvavam tudo quanto o ministério lhes indicasse. Este
comportamento prova duas cousas: o pouco patriotismo de
alguns, e a indifferença de muitos para com os negócios ex
ternos; uns e outros não se interessaram pela causa publica,
e trataram só da politica interna ou pessoal.
Estabelecidos estes principios, vamos tratar dos iactos; que
confirmam o que acabamos de expender.
No anno seguinte aquelle em que terminou a campanha
contra Oribe e Rosas, o relatório do ministério dos negócios
estrangeiros apresentado á Assembléa Geral Legislativa em 1853
pelo respectivo ministro Paulino José Soares de Souza-, disse
o seguinte na parte política, referindo-se á R epublica do
Paraguay :
13
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6
« A o nosso encarregado de negócios no Pa rag uay foi en
viado o conve niente projecto, e foram dad as instru cçõ es p ar a
celebrar com o gove rno d*essa R epublica u m tratado de l i
mi tes ,
navegação e com mercio, Fora m feitas todas aqu el las
concessões qu e a respeito de lim ites po dem os fazer, sem
quebra do nosso direito e dignidade.
« A fal ta de solução das questões de l imites com o P ar a
guay tem embaraçado a de ou t ras tam bém de m om ento , e
pôde prejudica r se riam en te para o futuro as boas relaç ões qu e
tem subsist ido e subsistem entre os dous paizes.
« O tempo que passa vai enredando e d i f ic u l ta nd o cada vez
mais a solução d essas questões, que as nossas ant igas m e
trópoles debalde por m uita s vezes proc urara m resolver . F i -
xando-se cada uma das par tes em preteneões incompat íveis
com as da outra, e del iberadas ambas a não recuar, é impos
sível che gar-s e a u m accôrdo, e por isáo du ra nte séc ulo s
nun ca pôde haver . S omen te a guerra poder ia não desatar
mas cortar essas difficuldades.
« Esses t ratados, ainda de pen den tes de dem arca çõe s pa ra
a f ixação das l inhas, não remo vem todas as duvi da s, ina s
resolvem as principaes. E ' indispensá vel , em ordem a evi ta r
o estabelecimento de novas posses e ma iores com plica çõe s
para o futuro, fixar os pon tos c ardiaes dos l imites do I m p é ri o
(o que é unicamente possível por ora) , e 'determinar, desen
volver, e explicar depois, por meio de commissarios, as l inhas
que os devem l igar . S upposto, ante s de serem corrida s as
l inhas divisórias, possam ter luga r usurp açõ es, haverá com-
tudo uma base para as reconhecer e inut i l isar , fei ta a demarcação pratica.
« A experiência tem mostrado que a populaç ão dos Es ta
dos v is inhos com áreas m ui to menore s que a do Im pér io , e
principalmente a dos centraes, tende a alargar-se sobre as no s
sas fronteiras, ao passo que a nossa pop ulaç ão, an tig am en te
attrahid a para esses pontos pela ind us tria da s m in as , e a isso
levada peto systema da nossa ant ig a m etrópole , ten de hoje a
approximar-se do l i toral . Assim é que não somente não se
tem formado novos esta bele cim ento s n as nossas fronteiras,
mas parte dos ant igos tem sido a ban don ado s, ou se acha m
em decadência. »
Não t inha sido para desprezar pelos governos que se se
guira m , o que disse no seu relatório a qu elle m inistro , sobre
a fal ta de solução das questões de l imites com o Paraguay ;
e que podiam prejudicar seria m ente para o futuro as boas
relações que tin ha m e xistido até então entr e os do us paizes.
Que o tempo que passava en red ava e difficuitava cad a
vez
mais a solução d'essas que stõe s. Pa lav ras profecticas qu e se
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realisaram
1 1
an&os
4ejj>ois.
O tratado de limites tíunca se fez,
e o de oommercio e navegação foi concluído á von tade do
governo do Paraguay. Mostraremos que os factos, ou os acon
tecimentos
ex
pendidos em todos os relatórios do m inist ério
dos negooios estrangeiros, nu nc a serviram para o gov erno
imperial modificar a sua politica para com as Republicas do
Saí. ^
Em Fevereiro de
1852
acabou o Brasil de livrar com o con
curso do seu exercito e esquadra as provincias argentinas e
oriental dos seus dominadores, Oribe e Rosas; era de esperar
que aquelles povos, sobre tudo os O rientaes, ficassem agrad e
cidos a este Im pério por aqu elle serviço, e que quisessem
viver em boa intellige ncia com os Brasileiros residen tes na
campanha d'aquelle Estado, onde viviam da sua industria e
commercio, o que era util
á
prosperidade da Republica; mas
estes sentimentos de gratidão e de reconhecimento nun ca exis
tiram na maior parte do povo oaixo oriental, que não tem
educação nem civilisação bastante para possuirem aquellas
qualidades, que tem as nações cultas. N'este mesmo ann o
principiaram as desintelligencias entre as autoridades policiaes
do Estado. O riental e os Brasileiros que habitavam na R ep u
blica, per motivos filhos da rivalidade inherente aos dous
povos; e logo seguidamente principiaram os assassinatos nos
Brasileiros alli residentes.
As notas abaixo transcriptas annexas ao relatório do minis
tério dos negócios estrangeiros de 1853, provam o que aca
bamos de expor:
« Legação do Brasil em Montevidéo,
31
de Agosto de
1852.
« O abaixo assignado, ministro residente de Sua Magestade
o Imperador do Brasil, e em missão especial junto da Repu
blica Oriental do Uruguay, tem a honra de dirigir-se a
S. Ex. o Sr. D . Florentino Castellanos, ministro e secretario
d'estado das relações exteriores, para cham ar a seria* attenção
de S. Ex. sobre os factos seguintes que constam de conimu-
nicaçoes officiaes datadas de 4 do mez ultim o e transm ittidas
ao governo impe rial pelo com m andante d as arm as da prov in-
vincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul.
« Em
24
de M aio próximo passado foi encontrado entre os
arroyos Gesca e Mole o corpo mutilado do guarda nacional
brasileiro Joaquim Silveira, vulgarmente chamado o Saco.
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—
8 —
Constava que outro subdito brasileiro, de nome Manoel Nobre,
íôra assassinado junto ao arroyo Maio.
i
«pNas fronteiras de Bagé e do Jaguarao, e presume-se que
também na do Quarahim, se estava cobrando o imposto de
680
rs. em prata por cada rez que passava para a provincia
de S. Pedro, entretanto que d'esta tem passado para a cam
panha oriental, sem ônus nem estorvo algum, não pequeno
numero de gado, tendo sido strictamente observado por parte
do Império o art. 4.° do tratado de comniercío.
« Guardas recentemente collocadas na Estância Velha e no
Serro da Carpintaria não exigiam somente um imposto inde
vido e illicitò, prohibiam absolutamente o movimento de gado
para o território imperial. ™
cc Além das guardas acima mencionadas, outras se tem pos
tado de próximo em pontos onde nunca houve, que se acham
fora da nova e actual linha divisória. Havia em toda a fron
teira um movimento de tropas, que não tendo um fim co
nhecido, e coincidindo com a imposição, ou impedimento
sobre a passagem de gado, inquietava os proprietários brasi
leiros estabelecidos nas povoações limitropnes, e podia dar
lugar a successos desagradáveis.
cc 0 abaixo assignado, reproduzindo estas communicações que
os commandantes militares da fronteira dirigiram por inter
médio do seu chefe ao governo imperial, não pretende apre
sentai-as como factos e circumstanoias bem averiguadas sobre
que deva assentar a reclamação que elles exigiriam conforme
os direitos e encargos contratados pelo Império.
cc O
fim único e urgente que o abaixo assignado tem n'este mo
mento em vista é o que expressou verbalmente ao Sr. D. Floren-
tino CastelLanos, a vem a ser, rogar com instância ao governo
oriental, que se digne proceder ás averiguações que o caso exige,
e antecipe as ordens preventivas que se fazem necessárias para
que cesse a violação e o abuso, se abuso e violação se tem enec-
tivamente praticado, como dizem as communicações referidas.
« O assassinato do subdito brasileiro Joaquim Silveira é
desgraçadamente um facto averiguado, e o abaixo assignado
pede a iespeito d'elle, bem como a respeito do outro homi
cídio acinia referido, de que havia fundada presumpçao, que
o governo oriental mande proceder como o prescrevem e o
exigem a humanidade e a justiça.
a O abaixo assignado aguarda as informações que o Sr. D.
Florentino Castellanos de certo se ha de dignar transmittir-lhe
sobre cada um dos factos articulados, quando tenha recebido
o resultado das diligencias que são para esse íim necessárias \
e entretanto renova a S. Ex. os protestos de sua alta con*
sideraoão e apreço.
[:...rlr)i
cc Illm, e Bxra. Sr. Dr. D. Florentino Castellanos, ministro
e secretario de estado das relações exteriores da Republica
Oriental do TJruguãy.—Joèé Maria da Silva Paranhw. »
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«1 10 —
travir a
essa
ilhcita e
acintosa
prohibiçào,
m a s
eües
a
tem sofFrido pass ivam ente , e vit an do por sua parle gue«m
perturbe a paz da fronteira, e o respeito e a h a r m o n i a , que
tanto convém existam e ntre dou s povos visin ho s, amigos e
all iados, o que se não cessa de recomraendar a todos os
r io-graadenses em vir tude de ordens do gove r no
dje Sua M a
gestade o Imperador .
a Essa flagrante v iolação do trata do de com m ercio vi ge nt e
entre o Im pér io e a R epub l ica , é tam bém com m un icad a e
confirmada pelo presidente da prov incia de S . Pe dro do R io
G r a nde do S u l .
« Quasi ao mesm o tempo que o com m and ante da l inha de
Bagé, aos 13 dias do dito mez de J u lh o , se q ueix ava o co
ronel commandante da l inha de Quarahim de abusos e ex
cessos que n 'aq ue lla par te da f ronteira se tem pratic ado co ntr a
s ubdi tos de S ua M a ge s ta de o I m pe r a dor r e s ide n te s no te r r i
tór io or ienta l . Menciona par t icularmente um exemplo d 'essesrepetidos vexames que o abaixo assignado passa
a
referir .
O utros factos se po deria m exibir, se fossem prec isos para qu e
a t ranq üi l idade da f rontei ra e a harm on ia en tre os hab i tantes
de u m e ou tro lado m erecessem a m ais sér ia at te nçã o do
gove rno or iental , e para qu e se obtivesse da su a sab edo ria e
das disposições que por vezes tem professado o governo im
perial , medidas de justiça e de precaução.
« H aven do o major Francisco M acie l de O l iveira expedido
o seu capataz de nom e A ntônio M edin a em segu im ento de
um escravo que fugira para a cam pa nh a d'este Es tad o, foi o
dito capataz preso por esse un icò e inn oc en te facto, e ass im
privado de sua liberdade e coarctado na diligencia legai de
que seu patrão o encarreg ara. O effeito im m ed iato d 'esta
arbitrariedade foi o comp leto aba nd on o d e ma is de tres mil
anim aes que na estância s ituada entre Canas e E A r ap e h y -
Chico t inha aquelle ind ivíd uo debaixo de sua gu arda e cu ida do .
« O facto ac ima referido passou-se aos 2 3 dias de J u n h o
próximo passado, co ntra el le - representou em con tin en te o
coronel comm andan te da l inha de Qu arah im , mas à p á data
de 3 de Julh o ul t imo, ne nh um a resposta havia recebido do
Sr . capitão or ienta l Bo aventu ra T orrem , a qu em com esse
motivo se dirigira.
« Ne nh um resultado satisfatório, diz o m ui to conhecido e
respeitável S r . ma rechal de campo Ba rão d e Po rto-A legre, se
te m até ao presen te obtido de reclamações sem elhantes, e pro
vado está que esse meio é insufiicieute para obstar ás conti
nuadas tropelias e perseguições de que estão s*odo victiruas
os Brasileiros residentes na campanha or iental .
«. O p residente da pro víncia repo rtan do - se aquel las commu
nicações, informa que os subditos brasileiros menos favoreci
dos da for tuna não gosam ain da na cam pa nh a d'este Estada
da segurança que era de esperar fosse para todos o resultado
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— l i
mais prom pto da pacif icação e restabe lecim ento da ord em
const i tucional .
« A os factos qu e ficam m encion ados se associam na tur al
me nte os assass inatos dos bras ile iros Joa q ui m S i lveira e M a
noel Nobre, a extorçào do imposto de
680
rs . fortes pela exportação
de gados , a ordem do co m m an da nte da for ta leza de S anta T h e -
reza , declarando em nome do governo or ienta l , l ivres os escra
vo s cjue fugirem para o terr i tór io da Re pu blica , e arbitra r ieda des
pr a t ic a da s e m P a y s a nd ú c ont ra A dr ia no M uniz F a g und e s , o
que tudo consta das notas d 'es ta legação, des ignadas com os
nú m ero s 24, 27 e 14, datad as de 31 de A gosto,
iS
d e S e
tem br o e 13 de Ju lh o próxim o f indo. S e alg un s d 'estes factos
eram duvidosos para o abaixo ass ignado, quando sobre e l les
rec lam ou , hoje está o abaixo assignado auto r isado para sup pô -
los verdadeiros .
« N ing ué m duv idará e m enos o abaixo ass ignado, de queta e s de s m a ndos e ve xa m e s s ã o a be r ta m e nte c ont r á r ios á s in
tenç ões do go ve rno o r iental , aos pr incipios cu ltos de su a
adm inis t raçã o, á cor respondência de boa inte l ligencia e am i-
sade qu e S . E x. o S r . Pres idente da R epu bl ica tem por m ais
de u m a ve z, e do mod o m uito l isongeiro professado a Su a
M a g e st ad e o I m p e r a d o r . M a s é t a m b é m i n n e g a v e l q u e o s
sub ditos Brasileiros residentes n a c am pan ha d'este Estado,
estão soffrendo abu sos e violên cias qu e, se nã o forem com
pro m ptid ão e energia reprimid os, avivarão todas as dissensões
e offensas passadas, produzirão reações perigosas, conduzirão
a resultados funestos a tranquil l idade da fronteira, e as boas
relações ent re os dou s gove rnos e povo s.
« Esse proceder im pru de nte e at tentator io dos tratado s qu e
reg ul am as re lações de am isade, jus t iça e com mercio entre
o gov erno or ienta l e o de S ua M agestade Im pe r ia l , essas
vexações não auto r isadas , e m eno s jus ti ficáveis de a lg un s
agentes c ivis e mil i tares da R epub l ica , não podem ser con
siderados com o factos isolados, co mo effeitos na tu rae s de c au -
zas, qu e nã o pod iam ser de todo extinctas no m esm o dia
da pacif icação legal da Republica.
« O governo imp er ia l , com o o abaixo ass ignado , confia
ua n to de ve na s re c ta s in te nç õe s e nos s e n t im e ntos a m igá ve is
o gov erno o r i en ta l ; m as o abaixo ass ignado é o pr ime iro
a reconhe cer qu e não pôde repousar ; s i lenciosam ente n a fé
das segu ranças do m esm o go verno or ie nta l , em presença de
abusos qu e se estão p assand o na fronteira dos do us Esta do s,
e o abaixo assignado sente ter de o confessar em presença de
factos do própr io go vern o or ienta l , contra os qua es lhe cu m
pre reclamar em no m e do seu gov erno .
« À despei to das prevenções manifes tadas por a l g un s re
pr e s en ta n te s da R e pu bl ic a , na t r ib un a e pe la im p r e ns a , é
m n e ga v e l q ue o pr oc e dim e n to do gove r no de S ua M a ge s ta de
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o Im perador não, tem sido somente pautado pela fé do s Paetog
que o ligam ao governo or ien ta l; tem sido guiado por dis
posições as mais generosas e amigáveis.
« Depois de haver sacrificado o precioso sang ue de se us
subditos, e despendido um cabedal considerável para ass eg u
rar a independência e a paz da R epublica O riental, Sua M a
gestade o Im perad or teve o gra nd e desgosto de ver por algumtempo como que desconhecidos esses seus serviços, e os le
gítimos e honrosos direitos qu e por elles havia adquirido* e
cuja manutenção não interessavam mais ao Império do que
a este Estado. »
Continou o conselheiro José M aria da S ilva Pa ran ho s,
n'esta nota de
2 7
de S etembro de 1 8 5 2 , a queixar-se ao go
verno oriental da falta de cum prime nto do tratado de
1 2
de O utubro, de actos d 'aquelle governo contrários aos in te
resses de subditos brasileiros e ao gov erno im perial ; m ostrou
que tendo o governo brasileiro concorrido com um subsidio
mensal para ajudar a firmar-se o governo orien tal, este faltou
aos seus compromissos, deixando de os cumprir ; que o go
verno imperial tem os mais justos motivos de queixa e
pezar, que era de seu dever expressar de um mo do franco
e official, como acabava de o fazer.
Por tanto, pelo docu me nto do qu al transcrevemos parte,
vê-se que em 1 8 5 2 principiou a legação imp erial em M on
tevidéo (*) a reclamar contra as violências e assassin atos p ra
ticados na campanha do Estado Oriental contra os Brasi
leiros alli residentes ; vê-se tamb ém qu e o gov erno ori en tai
não deu providencias sobre estas reclamações, pois que em
1 4
de Dezembro d'aquelle anno ainda o nosso m inistro re
sidente continuo u a reclamar pelos mesmos m otivos ; e isto
acontecia com um governo que estava recebendo um a sonima
não pequena do thesouro do Brasil ; despendeu-se m uito
dinheiro com aquella R epublica, que tem pago ao seu credo r,
(*) De um documento que o presidente de Rio Grande remetteu ftogGWetffe
imperial cm data de 20 d e F ever eiro de 1847 , constou qu e 13Í) Bra sileiros foram
assassinados por Orientaes do partido blan co, nos d epartam entos de Ser ro-L arg o,
Cordovez 6 Taquaremb o, nos annos de 1843 a 1846. D iversa s reclamações foram
feitas ao gover no do Estado OrienÉd a este respeito pelo encarregado do s ne
gócios do Brasil, R odrigo de S ouza da Silva Po ntes. Estas reclamações tiver am
o meámo resultado, que tiveram dep ois a s qu e se dirigiram por iguaes m otivo s
desde 185) até 18 64.
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— 13 —
desde que se cpnstituio nação, com roubos, assassinatos e
violências de toda a ordem.
Eis aqui como se estabeleceram as boas relações de
paz e
amizade
entre o Império do Brasil e a Republica Oriental do
Uruguay, no mesmo anno em que as armas brasileiras con
correram, para livrar os dous povos da margem do Rio da
Prata dos tyrannos que os opprimiam. Isto era de esperar
logo que foi eleito
1
presidente da R epublica O riental João
Francisco Giro, que pertencia ao partido blanco, creatura de
M anoel O ribe, eleito por uma assembléa cuja maioria era
hostil ao Brasil. O comportamento que teve o governo de
Giro para com o Brasil, tiveram-no os outros que se lhe se
guiram até Fevereiro de
1 8 6 5 ,
com pequena differença. Ainda
depois d'esta pequena campanha no Estado Osiental, ainda
depois de Orientaes verem quanto podem as armas do Império
contra os anarchistas da margem esquerda do Rio da Prata,
depois da demonstração que lhe fizeram sobre as muralhas
de Paysandftà ; ainda continuaram os Brasileiros a se rinsu l-
tados nas ruas de M ontevidéo, na presença* da sua força
naval, e quando o Brasil ainda tinha um grande exercito e
armada no Paraguay,
O comportamento que teve o governo de Giro para com
o Brasil, se fosse com outro governo dotado de mais energia,
tinha sido bastante para se obrigar por meio da força a pôr
termo a tantas ofíensas, feitas a uma nação que tem meios
para se desaggravar. O exercito que fez a campanha de
1 8 5 2
• podia ter parado por algum tempo na fronteira do Rio Grande,
para observar o que se passava no Estado O riental ; dissol
veu-se paia não fazer despeza. Em
1 8 5 4
organisou-se uma
divisão de
4 , 0 0 0
homens, para ir proteger o governo de
M ontevidéo; mas apezar das desordens internas, continuaram
a hostilisar os Brasileiros na campanha, e a tropa brasileira
não servio para os proteger ou deíTender : o Brasil cumpria o
Tratado de
1 2
de Outubro, a Republica não o queria cumprir.
Antônio Paulino Limpo de Abreu* ex-ministro dos negócios
estrangeiros, disse no seu relatório que apresentou á Assem
bléa
Geral, no anno de
1 8 5 4 ,
o seguinte :
u
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<c
O
governo imperial depois dos acontec imentos qu e sobre-
vieram no R io da Pr ata nos an nos de 1851 e 1852; o ha vendo
dado tantas demonstrações n'esses annos e nos anteriores, de
consideração part icular para com a Republica do Paraguaj ,
de que resultou o reconnecimento d'essa Republica por parte
da Confederação Argentina, Republica Oriental do Uruguay,
e varias naçOes da Europa, que ainda não haviam adherido
ao convite q ue fizera o mesm o g overn o, para com pr ete nd er
aquella Republica no numero das nações l ivres e indepen
de nte s; t in ha razão para suppor que encon traria da parte d 'aquella
Republica, as melhores disposições para chegar a um accôrdo
sobre varias questões, resultantes do tratado com ella cele
brado em 25 de Dezembro de 1850; quanto á navegação dos
r ios,
e commercio, e principalmente sobre as questões dos seus
respectivos limites.
« Para este fim o governo imperial mandou um agente seu
ao Paraguay, dando-lhe todas as instrucções convenientes para
regular esses importantes assumptos. Na occasião em que, do
minado pelo espirito da maior moderação, o governo imperial
mandava propor ao governo da Republica do Paraguay todas
aquellas concessões, que a respeito de seus limites podia fazer
sem quebra de nosso direi to e dignidade; na admissão dessas
concessões encontrou embaraços imprevistos. O presidente da
Republica acabava de celebrar tratados com os governos da
Grã-Bretanha, França, Estados-Unidos e Sardenha; e quando
o nosso agente no Paraguay procurou entender-se com elle,
para a conclusão dos tratados que tivera ordem de negociar
por parte do Brasil , relativos á navegação e commercio; de
clarou o Presidente que nada ajustaria sem prévio accordo
a respeito do de limites; e quanto a este, apresentou ^reten
ções absolutamente inadmissíveis. As mais graves accusações
foram então prodigalisadas ao agente brasileiro, e a discussão
desagradável com elle h a vi d a, deu em resultado rem etter
o governo da Republica, de ordem do presidente, aquelle nosso
agen te, os seus passaportes, declarando q ue daria os motivos *
d*esta sua extraordinária deliberação ao governo imperial .
« Com efíeito, o gov erno imp erial recebeu u m a no ta doministro de relações exteriores da republica do Paraguay, com
data de 12 de Agosto do anno passado, e n'ella se referiam
os factos constantes das notas dirigidas ao nosso encarregado
de negócios, em data de 10 e 12 d'aquelle mez.
« O governo im perial não pôde suppor que motivos pes-
soaes tivessem dictado o procedim ento do governo d'aqu@lla
Republica, para se não prestar
á
conclusão ao menos do tra
tado de lim ites ; segundo as ordens q ue havia recibido o
nosso agente.
« Pre sta a estas difficuldades toda a consideração e proeu»
rar a resolvel-as de um modo decoroso p ara o Im pério | sem
que se alterem as relações de paz entre as duas nações. »
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O ex-ministro Limpo de Abreu, no relatório que acabamos
de transcrever, mostra que o governo não queria guerra com
o Paraguay, apezar d'este lhe dirigir offensas na pessoa do
seu representante, e de não querer fazer os tratados com o
Brasil, ajustados na convenção de 25 de Dezembro de
1 8 5 0 .
A bondade e as attençoes do governo imperial para com
o de Montevidéo desde o anno de 1852, continuaram do
mesmo modo; e a legação imperial a reclamar contra o
comportamento perseguidor feito aos subditos Brasileiros.
O mesmo ex-ministro dos estrangeiros apresentou um se-
gundo relatório á Assembléa Geral em 1855, o' qual contem
o seguinte :
RELAÇÕES DO BRASIL COM
0
PARAGUAY.
« O governo imperial, prestando toda a sua attenção ao es
tado em que se achavam as relaçOes entre o Império e a Re
publica do Paraguay, segundo vos informei no ultimo relatório,
encarregou de uma missão especial junto do Presidente
d'aquella Republica, o chefe de esquadra Pedro Ferreira de
Oliveira.
« E' sabido que pelo art. 3.° da convenção de 25 de De
zembro de 1850, celebrada entre o governo imperial e a Repu
blica do Paraguay; obrigaram-se os dous governos a auxiliar-se
reciprocamente, afim de que a navegação do rio Paraná até
ao Rio da Prata ficasse livre para os subditos de ambas as
nações.
D'esta estipulação resulta que o governo da Republica
reconheceu o direito do Império á navegação do rio Para
guay, e obrigou-se a franquear-lhe essa navegação, e a do
Paraná na parte d'estes rios que lhe pertence. Se o commer
cio brasileiro não pudesse subir e descer livremente pelo rio
Paraguay, não haveria reciprocidade n'aquella estipulação,
nem interesse especial para o Brasil, como evidentemente
ahi se presuppõe, em tornar-se livre aos subditos de ambas
as nações a navegação d'aquelles nos.
« O governo do Paraguay, por cuja independência tanto
fez o governo imperial, devendo ás allianças e aos esforços
do Brasil, sem o menor sacrifício de sua parte, o poder na
vegar o
Paraná até ao Rio da Prata; já concedeu a diffe-
rentes nações a navegação de seus rios, mas julgou-se com
direito e justiça para recusar igual concessão á bandeira bra
sileira.
« A navegação do Paraná está aberta a todas as nações,
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pelos actos dos governos de Buenos-Ayres, e da Confederação
A rgentina, que a franqu earam ; m as o Brasil não pôde ap ro
ve ita ss e d'ella para chegar á provincia de M atto-Grosso, por
que o Para gua y prohib e-lhe a entrada e sahida dos barcos
brasileiros pelos seus rios.
« O governo imperial abrio ao commercio nacional e estran
geiro o porto de Albuquerque, n 'aquella provincia; e o go
verno da R epub lica tem até hoje interdito aquelle comm ercio
á bandeira do Brasil, não obstante a sua qualidade de ribei
rinho, e as circumstancias especiaes acima ponderadas.
« Por outro lado, tendo-se obrigado S ua M agestade o I m
perador do B rasil, e o Presid ente da R epu blica do Pa rag ua y,
pelo artigo 15 do tratado de 25 de D ezem bro de 1850, a n o
mear, logo que o permittissem as circumstancias, e dentro
do prazo d'aquelle tratado, os seus plenipotenciarios, afim de
regularem por o utro o comm ercio, navegação e limites entre
ambos os paizes; o governo imperial apressou-se a dar anda
mento a estas negociações. Nenhum dos plenipotenciarios,
que o governo imperial nom eou , pôde conclu ir o tratad o, a
que se obrigara o Presidente da Republica do Paraguay pelo
artigo 15 da citada convenção. O ajuste sobre estas questões
e independente da obrigação contrahida pelo governo da Re
publica do Pa rag uay , pelo artigo 3.° da mesm a con ven ção .
A obrigação imposta no artigo 3.° não podia deixar ao go
verno do Paraguay pretexto algum para recusar-nos a livre
navegação do no Paraguay.
« Além disto, depois dos tratados celebrados pelo Presidente
da R epublica com a Fran ça, In glaterra, Estados-U nidos, e
S ard enn a, aq uella recusa seria u m a offensa flagrante á vista
dos compromissos dos artigos já mencionados do tratado de
25 de Dezembro de 1850, Entre tanto o governo da Repu
blica do Pa ragu ay não se quiz prestar a nenh um a das nego
ciações, allegandó, entre outros pretextos, a necessidade de
resolver-se primeiro a questão dos limites com o Império.
« O governo imperial facilitou a aceitação d'este ultimo ajuste,
fazendo ao da R epu blica as m ais am plas propo stas, e fun
dan do o seu direito em titu los que não po diam ser con tes
ta do s; m as não pôde chegar a um accordo "n^essa que stão, decuja solução fazia dep enden tes o govern o da R ep ub lica quae s-
auer outros ajustes, em vista das pretenções absolutamente
inadraissiveis do mesmo governo.
« Quando o encarregado de negócios Fehppe José Pereira Leal
instava pelo cumprimento das obrigações expressa e solemne
mente contrahidas pelo governo do Paraguay, mandou-lhe este os
seus passaportes por um m odo violento e insólito, pretextando
offensas e aggravos que não existiam, e nunca poderiam justificar
sem elhante procedim ento e seus effeitos. A ssim é qu e os ajustes
sobre commercio, navegação e limites ficaram adiados indefinida
m en te, e trancados os rios da R epub lica á navegação brasileira.
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— flr-
« Este u l t im o acontec im ento , dos passapor tes dados sem
razões que o podessem just if icar, pelo gove rno do P ar ag ua y,
o g o v e r n o d e Su a M a g e st ad e o I m p e r a d o r a p r o c u
rar um a solução a estas ques tões. A missão especial env iada
ao Paraguay teve pois por objecto: 1 .° Reclamar uma sat is
fação pelo acto praticado como encarregado de negócios do
Brasi l , Fel ippe José Pereira Leal . 2 ." Exigir que a navegação
do r io Par agu ay e do Pa raná , na par te em que um a de suas
m argens pertence á R epu blica do Pa rag ua y, seja f ranq uea da
aos navios e subdi tos brasi le iros, em vir tud e do a rt . 3 .° da con
venç ão celebrada em 25 de Deze m bro de 1850. 3 .° S ol l ic i tar
a celebração do t ratado de comm ercio, n avegação e l im ites, a
qu e está obrigado o govern o do Pa rag ua y, p elo ar t . 15 da m esm a
conv enção . O gove rno imp erial perten de fazer valer os se us
direitos, sem offensa nem prejuizo dos da Republica.
<t A m issão do chefe de esqu adra Pe dro Fe rre ira de O li-
vei foi aco m pan had a de um a torça na va l . — Esta força era
apenas uma condicção de dignidade nacional , e um meio de
at tender a interesses assaz importantes do Império. *
Qual poderia ser a intençã o do ex-m inistro de estrangeiros
L i mp o d e A b r e u , q u a n d o ma n d o u a q u e l la e sq u a d r a c o mo
condição de d ignidade nac ional? Vamos ver se encont ramos
alguma expl icação a este pensamento.
O Presid ente d 'aq ue l la R epu blica offendeu o Bras i l na
pessoa do seu re pr es en tan te; além d'isso neg ou- se a fazer os
tratados a que estava obrigado pela convenção de 25 de De- .
zembro de 185 0, . sobre tud o o de l imites. D eclaro u aqu el le
gov erno, qu e o t ra tado de navegação e com m ercio não ter ia
lugar sem se fazer o de l imites; para este apresentava o go
vern o do Para gu ay condições qu e o Bras i l não podia acei tar ;
segue-se qu e não era possível fazer-se t ra tado alg um com
aquel la Republ ica , e e ra i sso o que pre tendia o Pres idente ,
para os f ins que em outro lugar se dirá .
Foi n 'es tas c i rcum stanc ias , qu e o minis té r io que go ve rna va
e m 1 854 m a n d o u u m e mi ssá ri o a o Pa r a g u a y , a c o m p a n h a d o
de força que e l le mesmo commandou.
Julg ou-s e com razão, que aquel la força nava l e ra de st in ad a
a obrigar o governo do Paraguay a dar as sat isfações devidas
ao Brasi l , e a con cluir os t ra tados a q u e estava obrigado
aquel le governo pe la d i ta convenção . O minis té r io aparentou
que esse era o seu f im; m as acr ed i tou -se q ue as instrucç ões
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— 18 —
W Quando foi Ped ro Ferreira de O liveira, a fortaleza de Hum aitá consistia
e m
dez ou doz e peças de pequ eno calibre sobre a ma rgem do rio , fortificaoko
que teria sido facilmente destruída, com a nossa artilharia.
ordenavam que tudo se subm ettesse ao arbítrio do governo
do Paraguay , não se emp regando as ar m as ; o m inistério
estava persuadido, avista das ordens qae deu ao seu pleni-
poteneiario, que o Brasil não podia exigir, pelo meio dá força
das armas, o cum prime nto dos tratados de navegação e com
mercio, e o de limites, que deviam deixar livre a navegação
brasileira para M atto-Grosso.
Para se cum prir este pensamen to do govern o im per ial,
bastava que o emissário tivesse ido só, sendo inútil n'este
caso a esquadra que elle coramandou; mas disse o ex-minis
tro:—que esta era apenas uma condição de dignidade nacio
nal ;— que r dizer, qu e não foi para se em pre ga r co ntr a o
governo do Paraguay.
Quando o plenipotenciario voltou, conheceu-se então de
que natureza tinha sido a sua honrosa com m issão, e qu e o .
Brasil ficou subjugado ao governo do Paraguay.
Se a força naval foi também para attender a interesses
assaz importantes do Império, a esses interesses não attendeu
o emissário, á vista do tratado que con cluio, no qu al a
nossa dignidade e interesses foram esquecidos e despres ados.
Com tal politica não se devia ter mandado uma esquadra ao
Paraguay inutilmente, ao menos tinha-se poupado a despeza
que se fez com o seu armamento. Com outra politica, tinha-
se conseguido tudo q uan to a nossa dignidade exigia ; não
existia H um aitá , (*) e a nossa força nava l tin ha feito o resto .
Parece estar dem onstrad o, qu e aqu ella esqu adra não foi
para sustentar os direitos do Brasil, e que o seu armamento
foi inútil.
A força armada de terra, ou de mar serve para se em pregar
principalmente na defeza das nações, e na sus tenta ção dos
seu» direitos; nen hum a nação a tem só para lhe servir de
guarda de honra, como aconteceu na missão de Pedro Fer
reira d e O live ira: a força arm ad a serve para pu ni r as offensas ^
recebidas. Os m inistério s passados, t ujos relatório s dos negócios
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- n -
estrangeiros estamos cop iando , entenderam que era melhor
soifrer, do que tom ar u m a attitud e mais enérgica para com
os governos das R epublicas do Sul. A demonstração do qu e
acabamos d e expender, e do qu e se segue , está nos rela
tórios, que continuam os a transcrever, e nos docum entos qu e
os acompanham.
Se n'aquella occasião tivesse-mos obrigado ao governo do
Paraguay pela força a cumprir com o que devia, e conser
vando o Brasil n*Assumpção força naval sufficiente para sus
ten tar os seus direitos de ribeirinho ; tinh a ficado dese m ba
raçada a navegação para a provincia de M atto-Grosso. Se
tivesse havido um a politica previdente nas nossas relações
com o Paraguay , anteriormente á enviatura de Pedro Ferreira
de O liveira, politica d irigida por um governo activo e conh er
cedor das circumstancias em que estava ainda aquella Re
publica, relativamente aos meios de guerra de que dispu nh a:
as fortificações de. H um aitá nun ca se tinham conc luido.
Foi Pedro Ferreira de O liveira acompanhado de u m a gr an
de esquadra e não levou instrucções precisas para operar
activamente contra o governo do P ara gu ay , conforme o nosso
decoro e hon ra o exigiam; e quand o o governo imperial lhe
tivesse dado instrucções para hostiiisar ao governo d'aquella
Republica, aquelle official general não era o homem o mais
próprio para aquella commissão.
Dotado de espirito frouxo, não tinha a actividade e a en er
gia precisas a qualqu er official de m arin ha em certas cir
cumstancias de guerra. Foi este o hom em que o m inistério
de 6 de Setembro de 1854 escolheu para ir ao Paraguay de-
saffrontar a honra nacional, offendida por aquelle governo.
N as circumstancias em que estava o Pa ragua y, era m ais
preciso empregar a* força do que enviar notas diplom áticas,
que nada fizeram. Viram-se depois quantos prejuisos se se
guiram, por se tornar nulla aquella missão diplomática mili
tar. O arm am ento dos navios e o seu custeio por seis m e ie s,
a honra naciona l ultrajad a, o desgosto porq ue passou a cor
poração da m arinh a de gue rra com tal procedime nto; e no
fim
de tudo isto n egar-se o governo do P araguay a cum prir
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— 26 —
a convenção de 2 5 de Dezembro de
1 8 5 0 ,
pára se fazerem
os tratados que o Brasil exigia, *sobre tudo o de lim ites; a
navegação para M atto-Grosso ficou sujeita aos regulamentos
üuviaes, que aquelle governo estabeleceu para difficultar o
transito á bandeira brasileira no rio Paraguay. No livro
9 . °
d'este volume acha-se a historia das nossas rei aço*es diplo
máticas com o Paraguay desde
1 8 5 0 ,
extrahidá do discurso
que o conselheiro Paranhos pronunciou na câmara dos depu
tados a 11 Julho de 1 8 6 Í . '
A esquadra de 1 6 vasos de guerra que devia subir até
Assumpção para vingar a honra do Brasil offendida na pes
soa de seu representante, ficou fundeada nas Tres-Bocas, fora
do rio Paraguay ; porque a intimação de um agente de poli
cia e de vinte soldados a fez parar. O chefe da esquadra sub-
metteu-se a esta intimação, e esperou pela licença do governo
paraguayo para subir no vapor Amazonas depois de partici
par que ia em missão pacifica, como se lhe exigio.
Perto do rio' Vermelho encalhou o vapor
Amazonas,
onde
esteve dous dias. O chefe mandou um guarda marinha com
ordem ao seu immediato para mandar dous vapores peque-
dos para alliviar o
Amazonas; o
forte de Humaitá não deixou
passar o escaler, sem licença do seu governo ; este deixou
subir só o vapor
Ypiranga,
mas quando chegou já o
Amazo
n a s estava navegando. Como tornasse a encalhar, o chefe o
mandou descer e ficou com o
Ypiranga.
A ultima condescendência d'
aquelle
chefe, foi pedir licença
ao governo paraguayo para mandar um navio de guerra a
Matto-Grosso, e isso ser-lhe negado. Comtudo se acommodou
o commandante da esquadra; não quiz oppòr-se ás delibera
ções do governo d'
aquella
Republica, no que ia de accordo
com as instrucções que tinha recebido para bem cumprir a
commissão de que o encarregaram, isto é , não empregar a
forca que commandava contra a Republica
do
«Paraguay.
Ò Paraguay não estava ai nda armado convenientemente
para atacar o Brasil; o seu governo servio-se de boas pala
vras, com que illudio o diplomata militar. Fez-se o tratado
de navegação e commercio, nada vantajoso para o Brasil,
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que felizmente não foi rectificado pelo governo imperial; e
ficou interrompida a navegação para Matto-Grosso: não se fez
o de limites, porque a isso—se oppôz o governo paraguayo,
obrigando d'este modo ao enviado a retirar-se.
D'esta maneira terminou a missão de que foi encarre
gado Pedro Ferreira de Oliveira ao Paraguay, acompanhado
de uma esquadra para dignidade nacional. (*)
Quando escrevemos esta parte da historia da guerra do
Brasil contra o Paraguay, publicou o Dr. Mello Moraes no
Cnrreio Mercantil de 16 de Fevereiro de 1868, o seguinte:
« Uma armada poderosa e forte, e a maior que vio o Rio
da Prata, indo ao Paraguay exigir uma satisfação por um
insulto feito á nação brasileira na pessoa do seu agente diplomático, não se humilharia tanto, como se humilhou o
Sr. Pedro Ferreira de Oliveira, se suas instrucções fossem
claras e terminantes; e
o
Paraguay não estivesse instruído,
como afíirma o Sr. Dr. Antônio Corrêa do Couto, na sua
Dissertação sobre o actual governo do Paraguay,
a pag. 83
e
.84.
»
Diz o Sr. Dr. Couto :
«
Tivemos a franqueza de pronunciar na câmara dos de
putados, em Agosto de
1 8 5 8 ,
um discurso contra as vistas e
interesses do tyranno do Paraguay.a Fomos perseguidos por aquelles mesmos que talvez ti
vessem o cuidado de transmittir ao fallecido Lopez, com a
necessária antecedência, cópia das instrucções que levava o
fallecido S r. Pedro Ferreira de Oliveira para o Paraguay, por
cujo motivo se malogrou sua missão. O que é fora de du
vida é que com a noticia da nossa esquadra nas águas da
R epublica, tudo era confusão na A ssumpção: as famílias tra*
tavam de sahir em carretas para fora da capital conduzindo
o que tinham de melhor; o próprio Lopez destinava reti
rar-se para a sua quin ta, que demora duas léguas da cidade;
e n'este ínterim fundèa no porto um vapor, o Taçuary, que
lhe conduz cartas que lhe tinham sido dirigidas d'esta corte;
o Presidente sahe logo só a passeiar pelas ruas, cousa rara,
como prova que nada mais receiava, e a população se tran-
quilisa immediatamente.
« O
Brasil e o seu governo estavam atraiçoados pelo Jornal
do ÇommerciOj que privando infelizmente nas confidencias e
vivendo da inexperiência dos nossos homens de estado, tirava
(*) Disse o conselheiro Paranhos, na câmara dos deputados em 1862: f Todavia,
ella foi digna do n osso paiz ; deu uma idéa vantajosa dos recursos militares do
Império ante os governos do Prata. »
15
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como continua a t irar em seu pro ve ito, partido de todo s <e
de tudo.
« O
Paraguay nada t inh a . A for ta leza de H um ai tá não es tava
nas condições de hoje. As peças de pouco calibre enferrujadas,não podiam com as de 80 que guarneciam os nossos vasos
de guerra . Os próprios Paragua yos q ue v inha m vender gêneros
do paiz á nossa esquadra, aõ verem as peças, tomados de
espanto , d iz iam uns para os ou t ros , apontando para e l las : — Que
b ich as )
« Até os officiaes subalternos paraguayos
,
sab iam que o d i
plomata brasileiro, apezar do grande apparato naval e beliico,
nã o podia fazer uso do poder de que dis pu nh a I Q ue em bora al l i
se achasse na frente de uma esquadra, o diplomata não ia
desaffrontar pelas armas e com os morrões accesos, um in
sulto feito á sua nação; e sim em
missão pacifica,
embora o
presidente Lopez tivesse desfeiteado ao governo brasileiro na
pessoa de seu agente diplomático.
« Com um a esquadra poderosa, e com d irei tos na tura es á
navegação do r io Paraguay, a não ter o diotador Lopez, como
tinha, segurança das instrucções que levara o Sr . Pedro Fer
reira de Oliveira, não seria tão r idiculamente embaraçado como
foi,
e nem tão hum ilhado a obrigarem a fundear nas T res-Boceas,
fora das águas de um rio commum ao Paraguay e ao Brasi l ;
chegando a insolencia dos Pa ragu ayo s a ob star q ue viessem
dous vapores pequenos para ajudar a dese nca ihar a fragata
A m a zona s
« L opez impoz ao Sr. Pe dro F erreira de O liveira, para q ue
V iesse só a A ssum pção, deixando fora das águas do P ar ag ua y
a sua esquadra, e para isso lhe mandou offerecer carruagem,
para o seu t ranspor te do Passo de Tucumbú para a Assump
ção.
O papel que estava representando o S r . Pedro Ferr eira
de Oliveira no encalhe do
Amazonas,
e as hum ilhações porqu e
•passou, tendo á sua disposição uma esquadra bem forte, não
podiam ser maiores. » (*)
Quaesquer que fossem as instrucções pacificas, que o mi
nistério do anno de 1854 deu ao chefe de esquadra Pedro
Ferreira de Oliveira, para ir á Assumpção, jamais aquelle chefe
podia obedecer aos officiaes paraguayos, que estavam policiando
o r i o ; nem tão pouco as instrucções por m ais cautelosas qu e
fossem, podiam prever sem elhan te aco ntecim ento, para orde nar
ao commandante da esquadra que obedecesse ao official da
policia do rio.
Por conseqüência, logo qu e o chefe Pedro Ferre ira de
(*) Até aqui é o que diz o Dr. Mello Moraes.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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O livera. teve a bonho m ia de sujeitar a força qu e com m and ava
a um a intim ação de tal naturez a, perdeu a' força m or al, e
tornou-se inú til a sua commissão. Nos annaes m arítimo s de
todas, as nações, não se encontra um facto como este. O B rasil
m andou um a esqu adra para desaggravar a sua hon ra offen-
dida ; mas não mandou quem a devia com m andar . O governo
dietatorial de uma pequena nação, ainda embrutecida pela
falta de civilisação, com poucos recursos, e n'aq uelle tem po ,
mal armada, conseguio inutilisar os meios que o governo
imperial se propoz para a obrigar a cumprir o tratado de
25 de Deze mb ro de 1850. T ud o se deve ás instrucções que
deu o governo, e á escolha dó plenipotenciario. Quando uma
nação trata d e desaggravar-se de oífensas receb idas, qu e com
pro m etteram a sua honr a, emprega os meios enérgicos qu e
tem á sua disposição. Assim aconteceu quando a esquadra
franceza forçou a entrad a do T ejo, no tem po do governo de
D . M i g u e l . w
j
A qui ajuntam os parte de um ofHcio reservado qu e "o chefe
Pedro Ferreira de .O liveira dirigio ao m inistro dos negócios
estrangeiros; o qual confirma o que acabamos de dizer sobre
o caracter passivo da missão de que foi encarregado. (Copiado
do Correio Mercantil),
« Cidade da A ssumpção do Par agu ay, 10 de A bril de 1855.
• To das estas considerações me conv enceram da necessidade
de ser cauteloso observador das instrucções que V. Ex. me
havia d ad o ; sobre tudo qu and o não encontrasse o ge ner al
Urq uiza franca e lea lm ente decidido o nosso favor.
« Na Bajada tanto o m inistro Gu tierres, como o vice-p resi
dente da Confederação, se mostraram partidários da politica
do governo brasileiro, na questão da navegação fluvial; mas
não deixaram de dizer qu e ju lgav am acertado q ue antes d e
se empregar a força, se empresassem os meios diplomáticos,
fallaram-me na conveniência ae intimação prévia, e na de
não offender-se o m eliudre das republicas visin has , onde a
população se acha va um tanto assu stada com o apparato de
força por parte do Brasil n'estes paizes. T iveram a co nv e
nie nte resposta, qu e acabava co m a asserção seguinte:—- Nas
mão s do presidente L opez está a escolha; nosso procedimento
será a justa conseqüência do d 'eile .
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«No porto da Bajada o commandante do vapor norte-
americano
Water Vich
e seu imm ediato me procuraram e re
lataram os pormenores do conilicto com a bateria pa ra
guay a de I tapirú etc . • •
i
O s conselhos (que ou tra cousa n ão foi a conversação
d'estes officiaes comigo) de em preg ar a força desde qu e ch e
gasse, procediam nã o só do desejo de vere m cahir o actua l
goverao paragua yo, como da convicção em qu e estavam elles,
e m uita gente de Co m ente s, de que L opez não nos poderia
resistir. A s medidas de precaução tom adas pelo Pre side nte r e
velavam que elle contava com a derrota.
« Consistiam as prinoipaes d'essas m edid as, na retirad a
das familias que ha hita m á beira do rio , para o interior ;
na remoção dos cofres onde ha valores metálicos ; na co n
centração de forças nas baterias de H um ait á; e, finalmente,
na repetição de resistência no ponto de T uc um bú , qu e cobre
a capital.
« Estou certo de que esta resistência facilmente desappare
ceria, m as julgo ter sido mais vantajoso o and am ent o qu e os
negócios tomaram em conseqüên cia da declaração e dos r ei
terados protestos qu e recebi, de que o governo p aragu ayo es
tava disposto a tratar, a conceder o que fosse justo e razoá
ve l .
»
Con tinua o relatório do min istério dos negócios de estran
geiros de 1855.
« Expedição do chefe de esquadra Pedro Ferreira de Olivei
ra, desde que sahio d'este porto até Assumpção.—Estado das
negociações q ue fizeram o objecto de sua m issão .
« O chefe de esq uadra Pedro F erreira de O liveira sahio d'este
porto no dia 10 de Dezembro do anno passado, sendo acom
panhado por um a força nav al; chegou a M ontevidéo no dia
15 do mesmo mez ; e to m and o no dia 16 o co m m and o da
divisão alli estacionada partio no dia 22 para B uen os -A yre s.
« No dia 25 de Jane iro seguio do porto de Bu enos -A yres
>ara as ilhas denominadas— Dos Hermanos.— Chegou a l i d e
fevereiro á capital d e Corrien tes, e d'ah i partio a expedição
no dia 18 para as T res Boccas, onde chegou no dia 20 as
11 e meia horas da manhã. N'este mesmo dia, ao aproximar-
se do porto do Cerrito, recebeu o dito chefe de esq uad ra
um officio do commandante da policia do rio Paraguay, de-
clarando-lhe que não haveria inconveniente algum em sub ir
â Assumpção, uma vez que se dirigisse á Republica em mis- |
são pacifica e diplom ática, e a'es te caso convida va-o a qu e
fizesse conhecer, por um a nota ao m inistro das relações ex
teriores da R epub lica, o seu caracter publico, como era de
estylo em taes casos.
« Em resposta ao officio su pr a, dan do na mesm a da ta o
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com mandante em chefe da esquadra brasileira todas as
seguranças sobre o fim da sua missão, remetteu para ser
encaminhada ao ministro de relações exteriores da Repu
blica uma nota, participando-lhe a posição que havia tomado
no porto Cerri to, nas Tres Bocas; e que assim o fizesse cons
tar ao Presidente, bem como que Sua Magestade o Imperador
havia-lhe conferido plenos poderes para tratar e terminar as
questões pendentes entre os dous governos.
« O governo do Paraguay recebeu no dia 22 a nota supra,
e no dia seguinte expeaio a sua resposta concebida nos se
guintes termos: — que nutrindo sempre o Presidente da Repu
blica os mais vivos e sinceros desejos de manter inalteráveis
as relações de perfeita amisade e cordial intelligencia com o
governo de Sua Magestade o Imperador, recebia com a mais
viva e lisongeira satisfação a noticia de que o mesmo Augusto
Senhor se dispunha a enviar á Republica um agente diplo
mático para o ajuste das questões pendentes entre os dous
governos.—
« Os sentimentos assim manifestados pelo governo do Pa
raguay, confirmaram a esperança que nunca perdeu (*) o
governo de Sua Magestade o Imperador de que a occurrencia
dos passaportes dados ao encarregado de negócios do Brasil,
que se achava acreditado junto do mesmo governo, termi
naria de um modo honroso, e sem que se alterassem a
relações de paz entre as duas nações. Assim pois, apezar das
observações que se lêem n'aquella nota com referencia ao
apparecimento da força naval do Império nas águas da Re
publica, declarou o governo da mesma republica, que estava
prompto a receber o plenipotenciario brasileiro, e entrar com
elle em uma discussão e negociação pacifica sobre as questões
pendentes, uma vez que se afastasse das mesmas águas aquella
força.
« O plenipotenciario brasileiro annuio a este pedido, cuja
satisfação em nada prejudicava a sua missão, e antes era uma
prova não equivoca da sinceridade dos desejos que havia ma
nifestado em nome do governo imperial, de manter a paz e
amizade com os estados visinhos. Em conseqüência d'essa in
tell igencia, resolveu o chefe de esquadra commandante da
força naval brasileira, fazer fundear a esquadra do seu com
mando fora da embocadura do Paraguay, e seguir no vapor
onde tinha a sua ins ignia, no dia 27 de Fevereiro, para
Assumpção, em missão pacifica e diplomática. A subida do
plenipotenciario brasileiro até Assumpção não teve lugar no
vapor
Amazonas.
Com o fim de accelerar a viagem, passou o
dito plenipotenciario para o vapor Ypiranga, chegando á As
sumpção no dia 14 de Março.
(*)
O
governo imperial
viveu
sempre na esperança de conservar a paz a todo
o
custo com as
Republicas
do Sul.
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« Np dia 15 ás 5 horas da tarde foi recebido o pienipotea-
ciario brasileiro pelo Presidente da Republica, tendo antes
sido entregue ao ministro das relações exteriores a nota do
governo imperial de 10 de Dezembro do anno próximo pas
sado ,
em
resposta
á
d'aquelle ministro
de 12 de
Agosto,
de
que
vos dei
conhecimento
no
relatório d'esta repartição
do
anno próximo passado.
« N aquella nota declarou o governo imperial, que não
podia considerar procedentes os motivos que levaram o go
verno da Republica a praticar o acto violento de mandar os
passaportes ao encarregado dos negócios do Brasil, *Felippe
José Pereira Leal; pelas seguinte razões: 1.° Porque a des
pedida de qualquer agente diplomático não pôde ser justificada
se não em casos graves e urgentes, visto como o agente di
plomático não depende somente do governo" perante o qual
está acreditado para
a sua
gestão.
2.°
Porque
o
governo
que
obriga
um
agente
a
partir
do
paiz, junto
do
qual está acre
ditado, pondo termo ás suas funcções nulliíica a sua nomeação
que unicamente depende do governo do estado que dá os
poderes.
3.° Porque, por aquelle facto, os subditos do paiz ao
qual pertence aquelle agente ficam privados do seu protéctor
legitimo, e o chefe do estado e a nação, sem terem quem os
represente. 4.° Porque sendo esta uma situação violenta, o go
verno que a crêa perturba o exerci cio de direitos que a lei
internacional reconhece e manda respeitar, não podendo assim
proceder sem motivos imperiosos, os quaes nao existiam contra
o encarregado
de
negócios
do
Brasil,
a
quem apenas
se fa
ziam imputações vagas* e destituídas de provas na nota do
ministro de relações exteriores de 12 de Agosto do anno pró
ximo passado. 5.° Porque, sendo de estylo quando ha rosoa-
veis queixas contra um agente, uma intelligencia previa com
o governo de quem elle tem a sua carta de crença, não
havia assim procedido, na caso vertente, o governo da Re
publica. (*)
« Pelas razões expostas não julgava suíficiente o governo
imperial,
a
segurança
que por
nota
de 12 de
Agosto dera
o
ministro
das
relações exteriores
da
Republica,
de que
recebe
ria com a devida consideração qualquer outro agente que
houvesse por bem Sua Magestade o Imperador acreditar junto
do governo da mesma Republica; e exigia uma reparação que
podesse com honra e dignidade do Império pôr termo a esta
desagradável oceurrencia.
« O governo imperial deu igualmente conhecimento, pela
sua mencionada nota
de 10 de
Dezembro,
ao da
Republica
do
Paraguay, dos outros objectos da missão do Sr. Pedro Fer
reira de Oliveira, convidando-o ao ajuste das negociações pen-
{*) Todas estas razoes
tinham
exigido
que o
governo imperial tivesse
tido
outro comportamento com o do Paraguay.
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— 27 -
dentes, afim de restabelecer-se entre os dous Estados as rela
ções de uma amigável intelligencia.
« O governo da R epublica do Paraguay accusando a re
cepção da nota acima por outra dirigida ao plenipotenciario
brasileiro em data de 17 de M arço, declarou a sua satisfação
por ver chegada a occasião que assim lhe offerecia
o
governo
imperial de se abrirem conferências para o ajuste d'aquellas
questões entre os dous Estados; e que logo que lhe fosse
annunciado, segundo os estylos, o seu caracter representativo
se daria andamento ás correspondentes discussões.
« Satisfez o plenipotenciario brasileiro ao objecto d'aquella
nota, declarando officialmente em o dia
19
estar competente-
menre autorisado a pôr termo, por um ajuste rasoavel, á
desagradável occurrencia de que tratava a do governo impe
rial de
1 0
de Dezembro do anno j roximo passado; e achar-se
' munido também de plenos poderes para ajustar e concluir
com o governo da Republica as negociações interrompidas
com a despedida do encarregado de negócios do Brasil, FelippeJosé Pereira Leal.
« Não podia aquelle plenipotenciario entrar no ajuste dos
assumptos, que deviam fazer o objecto d'estas negociações,
sem prévio accordo sobre o modo da satisfação que reclamava
do governo da R epublica, pelos passaportes dados ao encar
regado de negócios do Brasil, e sobre este ponto versa a
discussão que passo a referir-vos.
k
Sobre esta questão manifestou o ministro de relações
exteriores, que estava convencido de quanto importava, tanio
á
R epublica, como ao Império do Brasil, m anter e estreitar
boas e amigáveis relações; que este era e tinha sido o
constante desejo do governo da R epublica, assegurando ao
governo de S ua M agestade o Imperador que m ui longe do
pensam ento do Presidente da R epublica estava querer oífender
no menor ponto a alta dignidade e decoro de Sua Magestade
o Im perad or, nem romper ou alterar as relações amigáveis
entre os dous governos, e que estava prompto e disposto para
receber com as devidas considerações, a qualquer agente que
Sua Magestade o Imperador quizesse enviar junto ao governo
da republica.
« Accrescentou o mesmo ministro, que tão distante estava
o Presidente da Republica de pensar que o deplorável incidente
occomào com o Sr. Leal alteraria, ou romperia aquellas
relações, que continuou a manter com o cônsul geral ae S ua
Sua Magestade na Assumpção a mais perfeita harmonia, con-
cluindo d'ahi que não era possivel duvidar das boas e am i
gáveis disposições do governo da Republica, em chegar a
um accordo pacifico a este respeito com o governo imperial,
e que se nã o fosse sufficiente esta declaração, não se recusaria
o mesmo governo a admittir tudo quanto parecesse ao pleni
potenciario brasileiro rasoavel e conveniente para tornal-a
mais completa.
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« £ m 5 de A gosto ultim o assignei com o m inistro oriental
n'esta corte um accordo, documento n.
2
do annexo L, com
o fim de determinar oom clareza o objecto, as c on diç õe s e
a duração do auxilio da força militar que o Império presta
á
Republica Oriental do Uruguay. Esse accordo foi em devido
tempo ratificado por Sua Magestade o Imperador, e pelo
Presidente da Republica. Ficou declarado:
« Que o au xilio de força m ilitar, que actualm ente presta o
Império do Brasil á Rep ublica Oriental do U rug uay , tinha e
tem por ún ico objecto auxiliar o govern o da dita R epu blica ,
seg un do o exigiam e exigem as sua s circum stancias, para for
tificar a nacionalidade oriental por meio da paz interna e
dos hábitos constitucionaes, que fora e é um dos fins prin -
cipaes da alliança celebrada em
12
de Outubro de
1851.
<c Que a duração d'este auxilio depend eria de accordo entre
os dous governo s, não podendo em caso alg um exceder o
actual período presidencial. Que no mesmo dia em que lhenotificasse o governo da R epu blica que se achava nas feli
zes circumstancias de poder dispensar a presença das tropas
brasileiras no território oriental; ordenaria a com pleta e im -
m ediata evacuação do dito território por aqu ella força, d e
ven do a evacuação effectuar-se no me nor espaço de tem po
possivel, não excedendo em caso algum a d ou sm ez es , con
tados d'aquella notificação.
« Que o go verno imperial poderia tam bém; antes de findar
o prazo de que trata a declaração segund a, retirar a força
em parte, ou no todo , com tanto que notificasse a sua re
solução ao governo oriental com antecipação de um m ez.
« Que posto se ho uvess e estipulado, no accordo celebrado
e approvado pela honrada A ssembléa da R epu blica, para a en
trada das forças imp eriaes no território orien tal, que as des-
pezas qu e com ellas se fizesse correriam por conta da m esm a
Republica, nos termos do artigo 10 do tratado de alliança
de
12
de Outubro de
1851,
o governo imperial, desejando
dar m ais um a prova não equivoca do desinteresse com que
prestava aquelle a uxilio e de seu sincero anhe lo de melhorar
o porvir do E stado Oriental, convin ha em acceder ao pedido
do env iado extraordinário e m inistro plenipotenciario d*esteE stado, de alterar o men cionado accordo para aqu elle caso
somente nos termos seguintes
: 1.°
Que os soldos ordinários
dos ch efe s, officiaes e soldados da tropa de lin ha da divisão
brasileira, e o seu equipamento e armamento correriam por
conta do Império.
2.°
Que todos o s outros gastos feitos co m
a tropa de lin ha , com a ún ica excepção dos declarados no
paragrapho antecedente, e todos os da guarda nacional, que
fazia ou faz parte da dita d ivis ão , sem excep ção algu m a, cor
reriam por conta da Republica.
« Concordou-se qu e permaneceria em pleno vigor , e seria
applicado e cumprido, emquauto as circumstancias o aconse-
1 6
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—
5 0 -
lhassem, o artigo 11 do tratado de alliança de 12 de Outu
bro de 1851, e especialmente o § 4.° do dito artigo que
dispõe o seguinte : « O governo da Republica se obriga a
a tomar medidas efficazes, para restabelecer e conservar a
« todos os habitantes da Republica no pleno goso das ga-
« rantias que lhe concedem os artigos 130, 134, 135, 136, 140,
<c 142, 143, 144, 145, 146 e 147 dá sua Constituição. »
« Concordou- se mais que o auxilio da força prestado pelo
governo imperial, não se estenderia além dos casos especifi
cados no artigo 6.° do tratado de alliança de 12 de Outubro
de 1851, pelo modo n'elle determinado.
« E' manifesto que segundo o accordo mencionado, a perma
nência da divisão brasileira em Montevidéo, não poderá ir
além do dia 12 de Março de 1856, e posso assegurar-vos que
o governo imperial deseja ardentemente que as circumstancias
da Republica permitiam, antes mesmo d'aquelle praso, o re
gresso da divisão para o Império. Se isto não se tem já rea-
hsado,
é porque o governo oriental entendeu que, tendo
sido fixado por um convênio o tempo da permanência da
divisão brasileira em Montevidéo, não havia rasão legitima,
nem consideração attendivel, para anticipar-se a sua retirada,
não tendo ainda decorrido tempo sufficiente, depois do esta
belecimento de uma ordem regular na republica. »
SUBSIDIO
A MONTEVIDÉO.
<( Tendo o governo imperial sido autorisado pela lei n. 723
de 30 de Setembro de 1853, a fornecer por empréstimo ao
governo da Republica Oriental do Uruguay, emquanto o jul
gasse conveniente, e sob as condições que tivesse por me
lhores ; um subsidio que não poderia exceder de 60,000 patacões
por mez, nem durar mais de um anno sem nova autorisação
do corpo legislativo; nos termos da mesma lei, celebrou o
o governo imperial com aquella Republica, em 1 de Junho
ultimo,
uma convenção. Documento n. 1 do annexo L.
« A prestação do novo empréstimo autorisado pela referida
lei n. 723 de 30 de Setembro de 1853, verificou-se em virtude
de notas trocadas em Montevidéo entre o governo da Republica
e a legação imperial, fornecendo o governo imperial 30,000
patacões mensaes, a começar do mez de Dezembro do refe
rido anno.
« Em virtude da nova convenção, aquella quantia foi ele
vada a 60,000 patacões mensaes a contar do mez de Março,
pagando o governo imperial a differença de 30,000 para 60,000
patacões, correspondente aos niezés de Dezembro, Janeiro e
Fevereiro.
r< A importância da divida contrahida pelo governo da Re-
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— 5\ —
publica Oriental do Uruguay por aquelle empréstimo foi por
conseguinte 720,000 patacões, ou 1,382:4008000 rs., como ve-
reis oa respectiva conta.
« O governo imperial encontrou n'este empréstimo a somm a
de 84,000 patacões e seus respectivos jur os , em vir tud e do
contracto que com o governo oriental celebrara em 9 de M aiode 1853, o Barão de M aú a, na importância de 98,207 pesos,
segundo fora estipulado no art. 7.° da convenção do subsi
dio, que submetto á vossa consideração. O governo imperial
fez com a devida anticipação ao governo da Republica, o
aviso de que não co ntinu aria a fornecer-lhe o subsidio além
do mez de Novembro. »
Aqui terminou o que disse o Visconde de Abaeté no seu
relatório de 1855, sobre a politica seg uida por elle em relação
á Republica do Paraguay.
A nota que o mesmo Visconde de Abaeté dirigio ao governo
do Paraguay, em 10 de Dezembro de 1854, de que foi porta
dor plenipotenciario Pedro Ferreira de Oliveira, commandante
da esquadra qu e o acom panhou, e de cuja nota deu conta
no relatório que acabam os de transc reve r; é digno de nota r-se
o se gu int e: d epois de se queixar das offensas do govern o do
Pa ragu ay ao I m pério , da falta do cum prime nto da convenção *
de 25 de Dezembro de 1850; co ntinua o V isconde de A baeté
na sua citada nota, dirigida aque lle governo :
« O gov erno do Paraguay pretextou a necessidade de re
solver antes de tudo a questão de limites com o Império, e
ao mesmo tempo excluio as propostas que o governo imperial
lhe fez, contendo aliás as mais amplas concessões. O governo
imperial propôz o adiamento do tratado de limites, conten
tando-se com o tratado de navegação
q
commercio.
« O governo do Para guay repellio esta proposta.
« A despedida do encarregado Felippe José Pere ira L eal,
coincidio com as instâncias que elle fazia perante o governo
da Republica, para celebrar os dous tratados mencionados, ou
pelo menos o de navegação e commercio.
« O gov erno im peria l, no intu ito de fazer cessar esta si
tuação, e de restabelecer sobre bases sólidas as relações, que
devem existir entre os dous Estados, segundo os direitos que
lhe confere a convenção de 1850, celebrada com o fim de
promover interesses recíprocos; manda offerecer
á
considera
ção do governo da Republica um projecto de tratado, regu
lando o commercio, navegação e limites entre o Império e
a Republica.
< O governo imperial n o qu e respeita ao com mercio e na -
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vegação pede as mesmas concessões que o governo da Repu
bl ica tem feito ás outras naçõ es, com os desenv olvim entos
que as c ircumstancias de ser r ibeir inho torna indispensáveis;
e pelo qu e pertence a l im ites a l inh a divisória q ue se pro
põe ,
fun dando-se no princip io do utis possidetis é sem con
testação muito favorável á Republica do Paraguay.
« As concessões do gove rno imp erial não podem n'esta parte
ir além das que se fazem no projecto.
« O governo im per ia l nu t re ã esperança de q ue o da R ep u
blica aceitará de Dom grado o projecto de tratado, que lhe
será offerecido pelo seu plenipotenciario; terminando-se assim
as questões p end entes, e restabelecendo-se entre os do us
Estad os as re lações de u m a am igável intel l igenc ia , q ue tanto
devem concorrer para consol idar a paz en tre os dous Estad os,
e para promover os interesses de sua industr ia e com
merc io .« O abaixo assignado prevalece-se d'esta opportunidade para
offerecer ao S r. D. Be nito V arella os protestos de sua per
feita estima e distincta consideração.— Visconde de Abaeté. »
A doutr ina d 'esta nota faz acredi tar que ao governo im
perial só pertencia pedir ao do Paraguay que fizesse os tra
tados prom ett ido s; que não t inha u m direi to f irmado de
exigir por meio da força, que se fizesse o tratado de nave
gação e commercio, para ficar l ivre a navegação do rio Para
gua y até M atto-Grosso á band eira brasi le ira; o que não acon
tecia a té então . Qu ando a a t t i tude que o governo im per ial
tomo u m andan do um a esquadra ao P aragu ay era para te r
outro com portam ento, e não m and ar ped ir aqui l lo q ue a
força devia ter exigido. O governo imperial já então devia
saber, qu e não era com notas cheias de satisfações, de pe di -
tor ios,
e de propostas e concessões amigáveis, que se levava
o governo do Paraguay .
A theoria do governo im perial , ou antes do V isconde de
A baeté, foi facilm ente com preh end ida e fielmente exec utada pelo
seu plenipotenciario Pedro Ferreira de Oliveira .
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— 54 —
nham, não só pela distancia em que se davam aquelles acon
tecimentos, como também por suocederem em épocas arras
tadas, o que prendia pouco a attenção do governo imperial.
Este descuido que por muitos annos houve, em não ter a
provincia de Matto-Grosso suficientemente armada, facilitou
aquellas incursões e depois o desejo da conquista, quando se
offereceu occasião.
Alguns ministérios persuadiram-se de que a política de
abstenção completa, era a que mais convinha ao Brasil, para
se conservarem as boas relações de amizade entre o Império
e os Estados republicanos do Sul. Na verdade essa politica
de abstenção completa conviria ao Império, se os interesses
dos subditos brasileiros não fossem envolvidos nas revoluções,
que alli são freqüentes. ,<y-
Por conseqüência não devia o governo imperial ser indiffe-
rente ás revoluções que tem havido no Estado Oriental, e aos
actos dos governos que d'ellas tem nascido, actos que todos
se dirigiam a offender aos Brasileiros; infelizmente, contra
esta situação nunca o governo imperial se dicidio a intervir
activamente antes de
1 8 6 4 ,
na persuasão de que não con
vinha á politica que o governo imperial devia sustentar para
com aquelle Estado visinho, politica que não podia ter uma
explicação satisfatória. O que acabamos de expender vai ser
demonstrado com os documentos seguintes.
RELATÓRIO
DO MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRA NGE IROS DE 1856 .
O
relatório do ministério dos negócios estrangeiros, do conse
lheiro José Maria da Silva Paranhos de
1 8 5 6 ,
contem sobre
as relações com o Estado Oriental o que se segue.
RE P UBLICA ORIE NTAL DO U R U G U A Y .
a São conhecidas as circumstancias que determinaram a
nossa intervenção no Estado Oriental do Uruguay em 1 8 5 4 ,
bem como os fins a que ella se porpôz.
«
A
intervenção do império foi solicitada pelo governo da
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— 55 —
R epub lica, em conseqüência^ dos acontecimentos poli ticos de
Setembro de 1853, e não tinham outros uns que promover e
assegurar o restabelecimento da paz e da ordem constitucional
n'aquelle Estado.
« O duplo auxilio de força e de subsidio pecu niário, qu e
prestamos ao governo da Republica não podia pois deixar de
ser regulado pelos factos existentes entre os dous Estado s
e assim foi declarado e ajustado, com appiicação ás circums
tancias especiaes da época, no protocollo ou accordo assignado
u'esta corte em 5 de Agosto de. 1854. A intervenção do Im
pério foi de certo muito profícuo á conservação da paz da
R epub lica. O governo oriental deu repetidas vezes testemu nho
do efficaz e desinteressado apoio que d'ella recebeu.
a Infelizmente, porém, quando já havia terminado o nosso
auxilio pecuniário, e approximava-se o dia em que a força
brasileira devia regressar ao seu paiz, occurrencias sobrevieram
que produziram uma perturbação, ainda que passageira, dapaz e ordem legal da Republica.
« O s successos a que m e refiro tiveram lugar em M on te
vidéo, no decurso do mez de Agosto ultimo, e originaram-se
de um decreto promulgado no dia 10 do mesmo mez, pelo
qual, o Presidente da Republica restringira fortemente a li
berdade de imprensa.
<c
As boas relações tão longo tempo mantidas entre a le
gação imperial e o governo da Republica, foram em conse
qüência d'aquella medida alteradas repentinamente. O ministro
do Brasil não podia dar o seu assentimento a uma medida
excep cional, que a ordem publica sufficientemente defendida
pela intervenção brasileira, não reclamava. Elle tinha o direito
de ser ouvido previamente, e de ser attendido a respeito de
medidas de semelhante natureza.
« O governo oriental, se carecia ou não queria prescindir do
apoio material do Brasil, não devia também prescindir do prévio
accordo da legação imperial para o emprego de taes medidas.
« O ministro de Sua Magestade em Montevidéo julgava muito
inconveniente a promulgação do decreto de 10 de Agosto, e
francamente manifestou este seu pensamento. Não obstante,
porém, suas amigáveis observações, o governo da Republicaentendeu que devia sahir da senda constitucional, e assim
aconselhado não duvidou interromper as boas relações que
entre tinh a com a legação imperial. O s actos do governo da
Republica levantaram grande clamor, e quebrantaram a tal
ponto a força moral de sua autoridade, que dentro em poucos
dias o Presidente vio-se obrigado a sahir da capital, deixando-a
interinamente acéphala. D'ahi nasceu immediatamente o esta
belecimento de um governo de facto em Montevidéo, com
posto de um governador provisório e tres ministros.
« Estes successos surprenderam e causaram a ma is desa
gradável impressão ao governo imperial.
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« O governo imperial julgara que as circumstancias da Re-
ublica já não exigiam a sua intervenção, e conforme os
esejos que vos manifestou, e também ao governo oriental,
contava que a divisão brasileira estacionada em Montevidéo
se retiraria dentro do praso estipulado no accordo de
5
de
Agosto de
1 8 5 4 .
u Os acontecimentos de Agosto em M ontevidéo vieram,
portanto, causar um duplo pesar ao governo imperial. Era
de receiar o reapparecimento da guerra civil na R epublica, e
consequentemente a necessidade da continuação do nosso
auxilio militar, que o governo imperial não retiraria de certo
em taes circumstancias.
« Não podendo prever o curso que teriam tomado esses
acontecimentos, e todas as suas contingências, entendeu o
governo imperial indispensável enviar a M ontevidéo um mi
nistro plenamente autorisado para auxiliar o restabeleci
mento da paz da Republica, pelos meios que estivessem ao
nosso alcance, e as circumstancias aconselhassem como mais
convenientes. Sua Magestade o Imperador houve por bem
conüar esta missão ás luzes e consummada experiência do
Sr. Visconde de Abaeté.
« No dia immediato ao da partida do referido ministro ple
nipotenciario, recebeu o governo imperial a noticia de haver
terminado a crise politica no Estado O riental, sem effusão
de sangue, e salvando-se o principio da ordem constitu
cional.
«t O ex-presidente da Republica, o S r. general Flores, e o
governo de facto estabelecido na capital, compenetrando-se
ambos da necessidade de sobrepor a tudo a conservação da
paz do seu paiz, por mutuas concessões evitaram a guerra
civil, e puzeram termo á situação anormal em que se
achava.
« O Sr. general Fíòres declarou que renunciava irrevogá
vel e espontaneamente ao cargo de Presidente da Republica,
e enviou a sua renuncia n'estes termos a assembléa geral
legislativa, que aceitando-a, convidou o presidente do senado,
o Sr. D. Manoel Basilio Bustamante, para assumir o go
verno da Republica, como o prescreve a sua constituição,
« A legação imperial, no entretanto que aguardava as ins
trucções e ordens que solicitara, conservou-se na mais pru
dente abstenção, sem todavia deixar de prestar ao commercio
6 ' aos paciücos habitantes da capital os bons serviços da força
brasileira alli estacionada
<( O acertado procedimento da legação imperial exerceu mui
benéfica influencia para o prompto restabelecimento da paz
publica.
« Um dos primeiros actos do novo presidente foi restabelecer
as relações de boa intelligencia e amizade entre o governo da
Republica e a legação imperial.
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— a r —
« Tal era a situaçã o da R epub lica, quand o o Sr, Viscon de
de Abaeté chegou a M ontevid éo; no dia 24 de Setembro. Tres
factos a caraoterisam com o perfeitamente con stitu cion al; 1.*
a espontânea renuncia do general Flores; 2.° a aceitação
d*esta ren un cia pela assembléa convocad a extraordinariamente,
co m o o prescreve, em casos sem elhan tes a constituição da
R e p u b l i c a ;
3.°
a devo lução da presidência da R epu blica ao
presidente do senad o, também conforme a mesm a consti tuição.
« O Sr. Visconde de Abaeté entendeu, de perfeito accordo
com o pensa me nto do governo imp erial , que o objecto prin
cipal de sua missão estava preenchido, e . que devia im m e-
diatam ente reconhecer, com o r econh eceu, o governo do Sr.
Bustamante, apresentando-lhe as suas credenciaes de enviado
extraordinário e m inistro plenipotenciario do Brasil em missão
especial.
« Com o restabelecimento da paz e de um governo regular
na Republica, t inham igualmente cessado as c ircumstanciasque podiam adiar a retirada da força brasileira estacionada
em Montevidéo . O S r . Visconde de Abaeté procurou conhecer
se o gov erno da R epu blica era do m esm o parecer, e acho u-o
de perfeito accordo.
« Foi, por tanto, ajustado por notas reversaes, que encon-
trareis entre os documentos aqui annexos, a cessação do au
xil io de força de terra, que h avia quasi dou s ann os prestá
vamos ao Estado Oriental.
« Desde o dia 1.° de Novembro deixou a divisão imperial
de fazer o serviço de guarn içáo e destacam ento em M un te-
v i dé o , no dia
14
do mesmo mez se poz em marcha, e a
19
de Dezembro passou a fronteira.
« O comportamento de que a força brasileira deu exemplo
no lo ng o espaço de tem po qu e estev e destacada fora do paiz,
vo s é co nh ec ido . N ão farei aqiíi o se u e log io, para deixar esta
tarefa ao gov ern o da R epu blica, cujo testem un ho é tão justo
quanto honroso. Respondendo á notiticação feita pelo nosso
en viad o extraordinário, o go ver no orientai se exprim io nos
seguintes termos .
« — Em vista das exactas e pon derosa s considerações qu e de
term inaram aqu el la resolução imperial , o governo crê que só
lhe cabe cumprir o dever de manifestar a
S .
Ex. o
S r .
V i s
con de de Ab aeté qu e adhere a um a determinação que é a
mais completa p r o v a do elevado desinteresse que preside á
pol í t ica do governo imperial em suas relações com a Repu
blica .
« — M as esse dever não f icaria preenchido de um a maueira
correspondente á honra da R epub lica, e ao qu e exig em a
justiça tu .xis notória e o s sen tim en tos nob res e gen erosos qu e
fazem a pby siorioiu ia pr oem ine nte do caracter naciona l, se ao
convir na execução ái referida resolu ção, não recon hecess e a
disciplina, mo deração e mo ral idade qu e a divisão imperial
n
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— 5 8 —
nu nc a desm ent i o dura nte sua longa perm anên cia no terr itór io
O riental , do qu e cada um de seus hab i tantes dará sem pre
testem un ho , sem que n ' isso faça mais do que pagar um . t r i
bu to de inneg avel justiça e de me recida adm iração por tão
re levantes v i r tudes .—»
« Depois da ret i rada da divisão imp erial , e qu an do el la
ainda se achava em ma rcha pelo terr i tór io da R ep ub l ica,
occorreu em M ontevidéo um conüicto de mã o arm ada en tre
a autor idade e algun s poucos cidadãos, que tentara m imp or
condições ao gov erno , allegan do falta de ga ra nti as e receios
contra certos chefes m ilitares qu e m erec iam a confiança do
m e s m o g o v e r n o .
« Es ta l amentável occur rencia , qu e fo i m om entâ ne a , t e r
m inando pela submissão dos insurgen tes , m ost rou que a au
toridade da R epub lica estava assás forte pa ra se fazer respe i
tar e obedecer.
« D uran te as ci rcumstancias a qu e me ref iro, o gov erno
oriental di rigio-se of icialm ente á legação do Bras i l , co m -
municando que resolvera permit t i r aos agentes- diplomáticos
que tinham forças navaes de sua nação no p orto de M on
tevidéo , qu e fizessem desem barca r alg um a tropa para protege r
os interesses commerciaes dos seus respect ivos subdi tos guar-
nec on do o edifício da alfândega.
« Foi este o único auxilio que o gove rno da R ep ub lica
requisi tou dos m inist ros de S ua M agestade que lh 'o pre staram
imm ediata m ente, fazendo desembarcar par a a al fândega u m a
pe qu en a força igual á que m and aram as legações de F ra nç a,
H esp an ha e Estado s-Unid os. Esta força recolheu-se para bordo
dos navios brasileiros logo que cessou a crise revolucionaria. »
Po r este relatór io do conselheiro Pa ran ho s, vê-se qu e, te r
m ina da a luta com R osas, o Brasil em prestou ao Estado
O riental por espaço de um a nn o a som m a de 60,000 pata
cões m en sa es ; pagando aquel le Es tado u m peque no ju ro .
A lém d'esta despeza que fez o thesouro do Im pé rio para
aq ue lla R ep ub lica po der prov er a defficiencia de sua s ren da s,
ainda o Brasi l conservou por quasi dous annos uma divisão
de 4,000 ho m en s á sua custa, estacionada em M ontevidéo,
para auxiliar a consolidação do governo legal .
A exposição do relatór io do conselheiro Pa ran ho s, com o
t i tulo—Subsidio prestado á Republ ica Oriental do Uruguay—
mostra que o Estado O riental não t inh a rend a para as suas
de.-pezas ord iná rias . A té 1853 o au xilio do Brasil servio p ara
aquel le f im ; d 'esse tempo em diante o governo imperial não
estava autorisado pelo corpo legislativo para co ntin ua r com
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a prestação de 60,000 patacões m ensa es, como o governo
oriental exigia ; ou qu e o governo imp erial lhe garantisse
um empréstimo que tencionava negociar n'esta corte.
« O governo imperial (diz o conselheiro Paranhos) em con
formidade do que havia por vezes manifestado ao
goyerno
daRepublica, pela sua legação n'esta corte e pela legação im
perial em M ontevidéo, respondeu em 11 de Ju nh o que não
estav a autorisado* pelo poder legislativo pa ra prestar novo
subsidio á Republica, nem julgava conveniente pedir essa autori-
sação, e ntendend o que a garan tia do Im pério, que aquelle go
verno pretendia na falta do subsidio, para reatisação de um
em préstim o, ou operação de cre dito ; ainda que o governo
orientai podesse assegurar, que seria pura me nte n om inal,
eqüivaleria em seus possíveis a um empenho eventual de pa
gamento .
(( No va sollicitação fez p ara esse fim o gov erno oriental em
27 de J ul ho , a. qual apenas difleria das a nteriore s em excluir
o subsidio mensal, determinar o quantum do empréstimo para
que o governo imperial teria de prestar a sua garantia offi
cial, e expressar a applicação que o governo da R epu blica tinh a
em vista dar ao empréstimo que tratava de obter.
« N ão tendo *sido a recusa do governo im pe rial m otiva da
por circum stancias accídentaes e transitór ias, fundand o-se em
razões m uito ponderosas, ainda subsis ten tes; declarou elle
que apesar de lhe ser mui sensivel ver a Republica ainda em
circum stancias diffieeis e precárias, n em podia renov ar os sa
crifícios já feitos, nem julgava que esses auxilios externos só
•por si fossem um rem édio efficaz para as finanças da R e p u
blica, sendo que apena s poderia m inor ar os effeitos do m al
por algum tempo, mas não extinguil-o ou cural-o radical
mente . »
A inda por esta vez ficou o Im pé rio livre de gastar o seu
apitai com uma pequena nação, que continuou a ineommo-
dal-o.
Quando o Brasil fez aquelle empréstimo devia de pre
ferencia em prega r o seu dinhe iro em ^melhorar as finanças, o
meio circulante, e promover os melhoramentos materiaes que
o paiz reclamava; em lugar de fazer isto, foi beneficiar com
elle os seus visin hos . O s estadistas diziam entã o, qu e era u til
ao Brasil sustenta r a inde pen dên cia do Estado O rientai, para
servir de barre ira á amb ição e aos projectos hostis da R e
publica A rgentina. O s acontecim entos passados já mo straram
qua nto tem sido condesce ndente a politica do Brasil , pa ra
com as republicas do R io da Pra ta. A sexta parte do di
nheiro que o nosso thesouro tem despendido com em pre s-
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— AO —
timo s aqu ellas Rep ublicas, tinha bastado para sustentar um
exercito de 8 , 0 0 0 ho m en s na fronteira do R io Grande, para
nos defender das suas hostilidades.
O Estado Oriental qu e, sem ter m eios sufficientes para poder
sustentar a sua independência, separou -se do Im pério ; depois
de lhe fazer a guerra por mais de tres annos, veio mais
tarde pedir dinheiro á nação a quem tinha offendido, e força
armada para o defender. Qual tem sido o agradecimento
d'aquella Republica ao Império que tantas vezes a tem pro
tegido
?
O seu comportamento tem sido, em difíerentes époc as, o
que consta dos relatórios dos ministérios estrangeiros, até aqui
látados, e dos que adiante se mencionam.
E S T A D O O R I E N T A L .
ATTENTADO S COMMETTIDOS NO ESTADO ORIEN TAL, CONTRA OS SUBDITOS
BRASILEIROS.
« Occorreram ha pou cos m ezes na campanha do Estado
Oriental, junto á fronteira do Império, alguns attentados
graves, de que foram victimas subditos brasileiros alli resi
dentes . Ninguém desconhece quanto é difScial policiar urna
fronteira tão extensa, e em grande parte despovoada, e também
é certo que as circumstancias anormaes em que se achava a
Republica deviam acoroçoar os malfeitores dê um e outro
paiz, que alli se refugiam.
« T oda via, a gravidade e repetição d'esses attendados, a
qualidade das victim as, e a frouxidào. se não ind iferen ça,
com que se houveram algumas das autoridades orientaes
d"aquelles districtos, tornaram taes occurrencias m uito notáv eis,
e deviam impressionar, como impressionaram, os residentes
brasileiros.
« A legação imperial em M ontevid éo dirigio ao governo
oriental as ma is instantes reclam ações, e recebeu d'este m ui
dignas m anifestações e p rotesto s; m as infelizmen te não consta
aind a qu e os autore s e co súplices de tão graves delictos est e
jam ein poder da jus tiç a. Entre os attentados a qu e m e
refiro mencionarei o d o assassinato da família de Joã o da
Silveira, perpetrado no dia 27 de Setembro
tiWfcno
no Curraldas Pedras, districto do departamento de Cerro Largo. Segundo
informações fidedignas; e que não foram contestadas, consta
qvft
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aqu elle infeliz subd ito brasileiro, ho m em pacif ico, sua m ulhe r ,
cinco f ilhos m enores e un ia escrava, foram barb aram ente
assassinados dentro de sua habitarão.
« O gove rno imp er ia l espera que as autor idades da R epu
blica, hoje q ue sua acção se m ostra mais forte, sen do que
cessaram os rou bos e assassinatos qu e se iam am iud an do
nas visinhanças da nossa f ronteira, não deixarão impunes
aquelles at ten tad os A s boas relações entre os dou s paizes
dependem muito de que o Brasileiro no terr i tór io or iental , e
o O riental n o terr i tór io b rasileiro, enco ntrem a m aior protec
ção, e que mais do que todas as outras autor idades dos distr ictos
lim itrop hes se esforcem para assegurar essa m utu a gara ntia .
«. O gove rno imp erial por sua par te tem essas conv eniências
m uit o em vista, como o attestam num erosos factos . S uas
autoridades civis e militares da fronteira são escolhidas com
o maior escrúpulo, e não ha reclamação fundada do governo
orie nta i qu e nã o ten ha sido por el le a t tendid a. »
V E X A M E S D E Q U E S E Q U E I X A M A L G U N S S U B D I T O S B R A S I L E I R O S
E S T A B E L E C I D O S N O E S T A D O O R I E N T A L .
« Cheg ando ao conh ecim ento do gove rno im perial , qu e o
commissar io de policia do Cerro Branco, no Estado Oriental ,
estava exigindo dous pesos por cada individuo qi-e passava a
pá, d'a] | i para a provincia do Rio Grande, e 240 réis pelos
que iam para o terr i tór io da Republica, ordenou á legação
im pe rial em M onte vidé o, que averiguasse se era exacta esta
noticia; e que no caso aff irmaúvo reclamasse como conviesse
con tra sem elha nte imposto . S egundo o ar t. 10 do t ra tado de com
mercio com a Republica, a passagem de gado é isenta de
todo e qualquer imposto . Ora a imposição não mudará de
natureza, nem se tornará legal, por ser applicada ás pessoas que
c onduz e m o ga do . »
RELAÇÕES DO BRASIL COM A REPUBLICA DO PÀRAGUÀV.
« J á fos tes informado s dos mot ivos que dete rm inara m o
governo imper ia l a enviar urna missão especia l , acompanhada
de a lg um a força á Rep ubl ica- do Pa ragu ay. Convém todavia ,
para dar -vos conta do seguiniento que teve essa missão a té
ao seu desenlace , recordar -vos aqui que os seus f ins eram:
« 1 . ° R ec lam ar um a satisfação pela otTensa feita ao Im pé rio
na peâvsoa do seu en carre ga do de negó cios, o S r. Felipp e Jos é
P e r e i r a L e a l ;
«
2 , °
R eclam ar q ue o s imp les transito pelos r ios Pa rag ua y e
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Paraná, na par te em que suas águas per tencem á Republ ica ,
fosse f ranqueado aos navios e subditos brasileiros, como se
ach a estipulado, no a r i 3.° do tratado de 25 d e D ez em bro
de 185 0; \
: :
.
« 3.° Celebrar , se o governo da Republica a isso se prestasse,
os ajustes concernentes aos l imites, e á navegação e commer
cio entre os dous paizes, em conform idade do ar t . 15 do m esm o
tratado.
« 0 me u an tecessor vos expôz o mo do pacif ico e ho nro so
para ambos os paizes, porque terminou a desinteil igencia a
que deu causa a violência praticada com o encarregado de
negócios do Brasil na Assumpção. Restabelecidas assim as re
lações entre o Impér io e a Republ ica , encetou o plenipoten
ciar io brasileiro a negociação das outras questões pendentes .
O governo imper ia l mostrou -se sempre dispos to a ce lebrar , e
por varias vezes tentou realisal-o, os ajustes de que falia o
art. 15 do tratado de 25 de Dezembro de 1850, isto é, o de
limites, e o de navegação e commercio entre os dous paizes .
M as o que o governo imper ia l rec lamava com u rgê ncia era
a liberdade do transito fluvial, cujo exercioio não dependia
d'aquelles ajustes, cujo direito era perfeito em virtude do art.
3.° do mesmo* trata do .
« Desde 1852 a navegação do P ara ná ach a-se f ranqu ead a
a todas as bandeiras, por effeito dos acontecimentos em que
o Im pér io teve não pequ ena pa r te ; e , todavia , apezar da
obrigação que a Republica do Paraguay contrahira pelo tra
tado de 1850, de perm ittir esse tran sito fluvial aos su bd ito s
e navios brasileiros, a provincia de M atto-Grosso co nti nu av a
privada de sua fácil e natural communicação com o Rio da
Prata.
« O exercício do l ivre transito pelos r ios Pa rag ua y e P a
raná, na pai te em que per tencem á R epublica, era po rtan to
o objecto principal da missão de que se trata. Em respeito
porém á obrigação contrahida pelos dous governos, de regu
larem dentro do prazo do tratado de 1850, os limites e as
relações commerciaes dos dous paizes, e porque estes ajustes
poderiam facilitar a solução amigável d'aquella reclamação, o
plenipotenciario brasileiro, foi autorisado para celebral-os.
« O governo imp erial com prehend eu em u m projecto de
tratado de amizade, navegação e commercio, os ajustes de
todas as questões pendentes com a Republica, podendo o seu
plenipotenciario subdividir em dous tratados o dito projecto,
se o governo da Republica desejasse que ò ajuste de l imi
tes fosse separado.
« N'esta sua proposta o governo imperial não pedia, quanto
á navegação e co m me rcio, se não a confirmação e desetivo i-
vim eato das bazes já estabelecidas no tratado vige nte, con
sultando pelo modo mais amigável os interesses recíprocos
dos dou s pa izes ; e q ua nto a lim ites, offereceu á R epu blica a
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ma ior concessão q ue el la poderá razoavelm ente pretender, um a
divisa que ia além do que o governg paraguayo propuzera
por d if feren tes vezes a té ao ann o d e * 8 5 3 .
« O projecto de tratad o do gov erno im per ial, foi assim
ofTerecido com o com ple m en to da sua nota de 10 de D eze m
bro de 1854, de que já tendes conh ecim ento . R espon dendo
a
esta nota em data de 10 de A bril do ann o passado, de
clarou o gov erno da R epu blic a, que os seus desejos era m
acce der a tud o qua nt o fosse rasoavel, decoroso, e comp atível
com a sua segurança e t ranquiUidade, m as que não podendo
as concessões iei tas pelo Império acerca de l imites i r além
do que estava no projecto, e sendo-lhe annunciadas como um
ultimatum inva riáve l , receiava q ue se us bons desejos fossem
inú til isad
os.
« Esta declaração, de pois do desenlace amigável da questão
que interrompera as relações dos dous governos, não podia
deixa r de sorpreh ende r e causar o ma is profundo pesar ao
g o v er n o i m p er i a l .
« A ssim se e nun ciou o m eu antecessor em sua nota de 30
de A bri l, accrescentando q ue sent ir ia profunda me nte qu e não
fossem bem apreciados pelo goYemo da Republ ica , os es
forços pacificos qu e co ntin ua va a fazer o gove rno de S ua
M agestade pa ra obte r por meios de negociações pacificas e
ho nro sa s, a justiça que não lhe poderia ser nega da, sem of-
fensa dos direi tos do B rasi l , sem violação de u m pacto in
ternacional , sobre assumptos cuja solução era de tão vi tal
intere sse para a civil isação, e para o desenv olvimen to do
com m ercio e ind ustr ia, não só dos dous paizes como de
todos os Estados visinhos.
« A s duv idas e objecções do governo da R epu blica , refe
r iam -se un icam ente á questão de l imi tes. O seu p len ipoten
ciario dec laran do que um ajuste a respeito da navegação e
comm ercio en t re os dous paizes n ão encont rar ia a me nor
dÜBcuIdade, por q ua nto em sua celebração via o gov ern o da
R epu bl ica conven iências e van tagen s para ambas as par tes ; ,
exigiò que a negociação começasse pelo ajuste de l imites .
« O plen ipotenc iario brasi leiro an nu io a essa exigência,
na esperança de que em nenhum caso ser ia recusada a ce
lebração do t ra tado de com me rcio e nav ega çã o, ou pelo m en os
o recon hecim ento do d i re i to do Im pé r io , ao s imples transito
fluvial estipulado no art . 3 .° do tratado de 1850.
« A discussã o sobre l imites nã o cond uzio a outro resul
tado qu e deixar a questão indecisa, e n o m esm o pé em qu e
se acua va. O governo da R epu bl ica , como vereis da corres
pondência annexa, declarou que não accei tava a proposta do
governo imper ia l , mas sem d izer f raucamente porque a re
c e i t a v a ,
nem offerecer outro accordo que entendesse mais
justo ou Convenien te .
« Depois de
inú teis esforços de s ua pa rte, o plènipoten-
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ciario brasileiro teve de annuir a que ficasse indecisa aqM»a
questão e assignou com o da R epub lica, aos 27 dias de Aortl
ao anuo próximo passjldo, duas convenções, uma relativa ao
simples transito fluvial, e á navegação e commercio entre os
dons paizes, a outra marcando o prazo de um anno para o
ajuste de limites.
« A primeira das duas supraditas con ven ções, segundo um a
cláusula n'ella expressa, não podia ter efieito sem que se
decidisse a questão de limites ; e a conven ção relativa a
este assumpto apenas estipulava, como fica dito, que
deutro
de
vm anno procurariam os dous governos chegar a um ac
cordo amigável e definitivo. Ambas as convenções, portanto,
nada mais eram nem valiam do que uma promessa de cu m
primento de obrigações ha m uito contrahidas pelos dous go
vernos, continuando no entretanto interdicto á bandeira bra
sileira o uso da navegação dos rios Paraguay o Paraná.
« A esta consideração aceresce que, nem nos actos de quese trata nem em documento algum de sua negociação, se
fez, a mais leve referencia ao tratado de 2 5 de de D ezem bro
de
1 8 5 0 ,
e que este silencio poderia ser considerado como
desconhecimento do direito que nos garante aquelle tratado.
« Sua Magestade o Imperador attendendo ás razões qu e
ficam expostas, houve por bem não ratificar as referidas con
venções, o que se comm unicou ao governo da Repu blica por
nota de 8 de Julho próximo passado. O governo imperial de
monstrou por esta occasiào o seu direito perfeito ao livre
transito fluvial pelas águas do Paraguay e do Paraná, na
parte em que a Republica tem a soberania destes rios, bem
como os fundamentos da-muito moderada proposta,
;
que ofe
recera para ajuste de limites.
«H a via sempre allegado o governo da Repu blica, para
justificar a falta de cumprimento do tratado de 2 5 D ezem bro
de 1 8 5 0 , que o simples transito fluvial estipulado no art. 3 . °
dependia dos ajustes a que se refere o art. 1 5 . Esta in te l
igên cia, porém, era evidentemente contraria á letra e espirito
d'aquellas estipulaçOes, que por sua parte o Brasil cumprira
com o mais amigável zelo, e em toda a sua extensão,
« Os ajustes indicados no art. 1 5 do tratado de
1 8 5 0 ,
são
de certo muito convenientes para as boas relações e todos os
interesses permanentes dos dous paizes, mas a pendem ia d'esees
ajustes, ou de algum dYdles, nào podia prejudicar o exercício
do direito perfeito que pelo art. 3
o
tem o Brasil a que a
sua bandeira e seus subditos possam transitar livrem ente pelo
rio Paraguay
« Culpa nao é do governo imperial o nào se terem reali-
sado os referidos ajustes com a proniptidào que se devia es
perar da ann/ade que existia entro elle o a Republica.
« O governo imperial nunca se recusou a celebrai-os. Esteve
sempre disposto a entender-se com o governo paraguayo pari
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e s s e fim , e t e n t o u p o r m a i s d e u m a v e z c o n s e g u i J - o . A q u e s
t ã o d e l i m i t e s e r a a c a u s a d e t ão l a m e n t á v e l d e s i n t e l i g ê n c i a ;
m a s e s t a q u e s t ã o e s t a r ia h a m u i t o r e s o l v i d a , s e o g o v e r n o
p a r a g u a y o n ã o p r e t e n d e s s e m a i s d o q u e é r a z o á v e l e p o s s í v e l .
« F e l i z m e n t e , s e n h o r e s , o g o v e r n o d a R e p u b l i c a m e l h o r
a c o n s e l h a d o p e l a s u a i I l u s t r a ç ã o e e x p e r i ê n c i a , d e s i s t i o d o i n
t e n t o d e t o t n a r d e p e n d e n t e d tf* a j u s t e d e l i m i t e s o e x e r c i c i o
d o d i r e i t o d q B r a s i l á l i v r e n a v e g a ç ã o f l u v i a l .
« N a c i t a d a n o t a d e 8 d e J u l h o , d e p o i s d e m o s t r a r t o d a
a r a z ã o q u e m i l i t a v a a s e u fa v o r , r e c l a m o u o g o v e r n o i m
p e r i a l q u e l h e f o s s e d e s d e l o g o r e c o n h e c i d o e r e s p e i t a d o o
d i r e i t o , q u e d e r i v a d o a rt . 3 . ° d o t r a t a d o d e 1 8 5 0 ; e p a ra
q u e n ã o c o n t i n u a s s e a d i a d o o a j u s t e d o s a s s n n i p t o s a q u e s e
r e f e r e o ar t . 1 5 d o m e s m o t r a t a d o , s o l l i c i t o u a o m e s m o t e m p o
a v i n d a d e u m p l e n i p o t e n c i a r i o p a r a g u a y o a e s t a c o r t e .
« O g o v e r n o d a R e p u b l i c a r e s p o n d e u á n o s s a r e c l a m a ç ã o
e m d a t a d e 2 4 d e S e t e m b r o , d e c l a r a n d o q u e e n v i a r i a o m a i s
b r e v e m e n t e p o s s í v e l u m p l e n i p o t e n c i a r i o m u n i d o d a s i n s t ru c -
ç O e s p r e c i s a s p a r a t r a t a r e c e l e b r a r o s a j u s t e s c o n v e n i e n t e s
s o b r e t o d a s a s q u e s t õ e s p e n d e n t e s . E s t a d e c l a r a ç ã o n ã o c o n
t i n h a e m s i o r e c o n h e c i m e n t o p r e c i s o e m u i t o e x p l i c i t o q u e
o g o v e r n o i m p e r i a l e x i g i r a a r e s p e i t o d o t r a n s i t o f l u v i a l , m a s
f o i t o d a v i a a c c e i t a c o m o u m a s e g u r a n ç a i n e q u í v o c a d e q u e o
o v e r n o d a R e p u b l i c a e s t a v a r e s o l v i d o a c u m p r i r o t r a ta d o
e 2 5 d e D e z e m b r o d e 1 8 5 0 .
« O p l e n i p o t e n c i a r i o p a r a g u a y o , o S r . D . J o s é B e r g e s , a p r e
s e n t o u a s s u a s c r e d e n c i a e s a S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r e m
5 d e M a r ç o u l t i m o , e n o d i a 9 d o m e s m o m e z d e u - s e c o
m e ç o á n e g o c i a ç ã o , q u e t e r m i n o u a 6 d e A b r i l . D e s d e a
p r i m e i r a c o n f e r ê n c i a , o p l e n i p o t e n c i a r i o d a R e p u b l i c a d e c l a
r o u - s e a u t o r i s a d o a c e l e b r a r u m t r a ta d o d e a m i z a d e , n a v e g a ç ã o
e c o m m e r c i o c o n f o r m e a o q u e f or a a s s i g n a d o n a A s s u m p ç ã o
e m 2 7 d e A b r i l d o a n n o p r ó x i m o p a s s a d o , e q u e S u a M a
g e s t a d e o I m p e r a d o r n ã o p o u d e r a t if ic a r , p e l o s m o t i v o s j á
e x p o s t o s . O g o v e r n o d a R e p u b l i c a a t l e n d i a a e s s e s m o t i v o s ,
n ã o t o r n a n d o o r e f e r id o t r a ta d o d e p e n d e n t e d o a j u s t e d e l i m i t e s ,
m a s e x i g i a q u e n * e ss e m e s m o a c t o , o u e m u m a c o n v e n ç ã o
d i . s t i n c t a , s e e s t i p u l a s s e c e r t o p r a z o e c l á u s u l a s p a r a a q u e l l e
a j u s t e . O g o v e r n o i m p e r i a l d e s e j a v a q u e a m b a s a s q u e s t õ e s
p e n d e n t e s f o s s e m r e s o l v i d a s a o m e s m o t e m p o , e d o m o d o
B i a í s s a t i s f a t ó r i o , m a s n ã o l h e f o i p o s s í v e l c o n s e g u i r t ã o a m i
g á v e l a c c o r d o .
« D e p o i s d e l o n g a d i s c u s s ã o , c u j o s p r o t o c o l l o s v o s s e r ã o
o p p o r t u n a m e n t e a p r e s e n t a d o s , c o n c l u i o - s e e a s s i g n o u - s e n o
d i a ti d e A b r i l c o m o p l e n i p o t e n c i a r i o d a R e p u b l i c o , u m
t r at a d o d e a m i z a d e , n a v e g a ç ã o e c o m m e r c i o , q u e d e s e n v o l v e
o s p r i n c i p i o s e s t a b e l e c i d o s n o d e 2 5 d e D e z e m b r o d e 1 8 5 0 ;
e u m a c o n v e n ç ã o p e l a q u a l s e e s t i p u l a , q u e d e n t r o d o p ra s o
d ' a q u e l l e t r a t a d o s e n o m e a r ã o n o v o s p l e n i p o t e n c i a r i o s p a ra
18
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— 46 —
examinarem e reconhecerem definitivamente a linha dirÜoria
dos dous paizes. Sua Magestade o Imperador houve por
bem ratificar os referidos ajustes. A s ratificações serão tr o
cadas na A ssumpção no prazo de oitenta dias, c ontado s de 6
de Abril, ou antes se fôr possivel. »
Hoje podemos dizer que a convenção de 6 de Abril de 1866,
foi um meio que teve o governo do Paraguay de iiludir ao
governo imperial, co ntinu índo a su a p retenção sobre a posse
da provincia de Matto-Grosso. A navegação fluvial não ficou
livre para os navios de g uerra, m as com r estricçã o; o trata do
de limites não se fez.
Depois de concluidos os tratados acima m enc iona dos , o
governo do Paraguay preparou-se vagarosa e occultamente
para hostilisar o Brasil, logo que podesse: dissemos occulta
mente, porque parece que o governo imperial nunca cuidou
de ter, pelo menos no Para guay , esta espionagem diplo m ática
que deve estar a cargo dos age ntes, para avisar aos seu s
governos do que se passa. A questão com o Estado O riental
veio proporcionar á Republica do Paraguay a occasião de
effectuar a invasão, que ha m uitos ann os p rojectava, da pro
vincia de M atto-Grosso; do que havia , além da descon fiança,
factos que o indicavam. Tal foi até 1856 a politica adoptada
pelo governo imperial, para com o do Paraguay.
Em quanto esta R epublica procedia activã m ente aos seu s
armamentos de terra e de m ar, co nstruin do n avio s, fund indo
m uito artilharia , levan tando fortificações na m arg em do rio ,
mandando vir da Europa muito arm am ento, acc um ulan do
nos seus arsenaes um immenso material de g ue rr a : vejamos
o que dizem os ministros dos negócios estrangeiros nos seus
relatórios, que nos ann os seguintes apre sen tara m á assem bléa
geral.
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1
H
L I V R O T E R C E I R O .
R E L A T Ó R I O D O M I N I S T É R I O D O S N E G Ó C I O S E S T R A N G E I R O S .
Do relatório apresentado á Assembléa Geral em 1857, pelo
respectivo m inistro, conselheiro José M aria da S ilva P ar a
nhos,
lê-se o seguinte:
P ARTE P OLÍTICA.
« O estado de nossas relações com as demais potências, é
pacifico e amigável. O Império adquire de dia em dia, pelos
seus elementos de grandeza, e sobre tudo pela alta razão, e
m agn ânim o coração qu e preside aos seus destinos, mais justo
apreço e mais pronunciadas sympathias.
« Estão ainda pendentes os ajustes de limites com a França,
e com os Estados de Venezuela e Nova Granada, comprehen-
dendo-se n'estes últimos, a convenção que diz respeito á na
vegação fluvial.
« O governo da R epublica do Paraguay adoptou disposi
ções taes de policia e tiscalisação no rio o?aquelle nome, que
forçoso no s foi reclam ar con tra ellas, em vista dos vexames
com que im pediam a nascente navegação de M atto-Grosso, e
porque ainda quando innocentes em seus effeitos, seriam
offeusivas das convenções de 6 de Abril do anno passado.
« O governo do Estado O riental do U rug ua y propoz a re
visão do tratado de commercio e navegação de 12 de Outubro
de 1851, e o governo de Sua Magestade annuio a essa pro-
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posição, no intuito de completar e de?envolver as disposà|Ê>es
a aquelle tratado, como aconselham as novas circumstancias
de ambos os paizes. »
RBLAÇOES
DO BRASIL COM A REPUBLICA DO PAKAGIJAY.
cc Submetto á vossa consideração, com o presente relatório,
os protocollos das conferências que precederam a celebração
dos ajustes de 6 de Abril do anno passado, com a Republica
do Paraguay.
« V ereis dos referidos documentos que foram attendidas no
tratado de amizade, navegação e com me rei o as justas recla
mações do Brasil, acerca do livre transito dos navios e s ub
ditos brasileiros pelos rio Paraguay e Paraná, segundo se
achava estipulado no art. 3.° do tratado de 25 de Dezembro
de 1850 ; e assentadas e desenvolvidas as bases que deviam
regular a navegação e commercio entre os dous paizes, em
conformidade do art. 15 do mesmo tratado de 18i0. »
Q U E S T Ã O
D E L I M I T E S .
« Sente o governo imperial que o ajuste de limites não
fosse definitivo, e o resultado log"ico e irreci savei da discussão que o precedeu. Não dependeu, porém, este justo
accordo de alguma concessão razoável e possível que da
nossa parte se recusasse. Até onde a moderação, a equidade,
todas as considerações que nos deve merecer a Republica
permittiam 'chegar, chegou o plenipotenciario brasileiro para
decidir de uma vez essas seculares e tão desagradáveis
questões.
« O governo imperial offereceu a mesma proposta que in i
ciara em em 18 53 , o reiterara em 185 4 e 1835. Demonstrou
até a evidencia que essa proposta era a maior concessão que
podia fazer á R epublica, a prova mais assignalada dos de-
„ seios, que tem constantemente manifestado, de estabelecer
sobre bases sólidas, e de um modo justo e honroso, as re
lações de amisade, e a reprocidade dos interesses dos dous
paizes.
« Na proposta a que alludo a linha divisória dos territó
rios do Império e da Republica,
é
assim descripta.
« Ò reconhecimento (festa fronteira funda-se nos mesm os
princípios adoptados pejo governo imperial, para o ajuste de
limites com as outras R epublicas visinhas : 1.° o uit pnssi•
« dtíiê
; 2.°
as estipulações celebradas entre as coroas de Por-
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— 49 —
tugal e Hespanha, nos pontos em que ellas não contrariam
os factos de possessão, e esclarecem as duvidas resultantes
de falta de occupação nffectiva. ,
« O governo paraguayo admíttio a primeira base, mas re
cusou a segunda, que é auxiliar indispensável para discri
minar o domínio originário ; traçar a raia divisória de um
e outro Estado nos lugares despovoados e sem marcas de
possessão.
cc
A caducidade dos antigos tratados, era o argum ento da
recusa do governo da Republica. Demonstrou-se, mas em
vão, que a invalidade d'essas estipulações não annullava o
direito anterior, de que ellas são documentos históricos in -
ternacionaes de fé indubitavel, uma prova irreffragavel e evi
dente na questão do Império com a R epublica. A dissidência
entre os dous governos versava sobre a fronteira compre-
hendida entre a margem direita do Paran á e a esquerda
do Paraguay.
« No intuito de dicidii-a propoz o governo da R epublica,
por meio de seu plenipotenciario, como condição indis
pensável, que se nomeassem commissanos para examinar os
terrenos contestados, e verificar as posses, ou monumentos
de posse das duas nações.
cc Em quanto esse exame se não fizer, dizia o plenipoten
ciario paraguayo, a Republica sustentará que a divisa dos
dous paizes nào pode ser outra senão do lado do rio Pa
raná, o rio Ivinheima, e do lado do rio Paraguay o rio
Branco, que corre ao norte do Apa, unidos estes dous riospelas serras de M aracajú ou Anhambahy, desde as suas ca
beceiras, que d'ellas nascem.
« No entretanto é certo, e o próprio representante da Re
publica o declarou na segunda conferência, que a Republica
não possue actualmente nem uma povoaçáo, estabelecimento,
ou monum ento de posse além do Iguatem y, e além do A pa.
cc O que o governo paraguayo allegava para pretender a
divisa do Ivinheima eram as posses que ahi tiveram os Hes
panh óes; e para provar o seu direito ao território entre o
Apa e o chamado rio Branco era o estabelecimento do Forte
Olvnipo, outr'ora Bourbon, que fica fronteiro, sobre a mar
gem direita do Paraguay.
a
Fez-se
ver por parte do governo imperial, que não era
razoável o adiam ento proposto, afim de que com missa rios
fossem percorrer o terreno e verificar as pessoas de um e
outro Estado.
cc
Que a questão estava resolvida
â priore,
uma vez que o
próprio governo paraguayo declarava que, além do íguatemy,
e além do Apa nada possuia. Que o exame dos terrenos sobre
as linhas contestadas nada daria em resultado, porque correm
ellas por pontos desertos, despovoados, sem vestigios de occu
pação. Que o direito primitivo dos dous paizes decidia pe-
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— 5 0 —
remptoriamente a questão em favor do Império, visto
quir a
R epublica cão podia he rdar de sua m etrópole u m direi to
mais extenso do que o d'esta. Que além do terri tório que per
tencia á H espan ha, não podia pretend er se não o qu e eiiee t i vã
mente houvesse tomado ao dom ínio portuguez , hoje bra si le iro .
« Que o Brasil estava no mesmo caso relativamente ao ter
ritório que n'esta parte da A m erica per tenc e á coroa de P or
tugal . Que as occupações hespanholas, a que quiz soccorrer-se
o plenipotenciario paraguay o, re lat ivam ente á l inha do Iv i
nheima, t iveram lugar du rante a un ião de Po rtugal á H e s
panha , e deseppareceram logo que se separara m as du as coroas ;
eram factos m uito ante riores aos tratado s de 1750 e 1777,
que reconheceram e assignaram o uti possidetis das duas me
trópoles, n 'essa parte de suas possessõeslimitrophes.
« Qu e, quando se construio o Forte Bou rbon ou O lym po ,
sobre a margem direita do rio P ara gu ay , já os H es pa nh óe s e
Portuguezes se achavam ha muito estabelecidos em uma
e outra ' margem d'aquelle rio, já t inh am sido cele bra do s os
tratados de 13 de Jan eiro de 1750 e de 1 de O ut ub ro de
1777, que reconheceram o m eio d'esse rio po r fronteira da s
possessões de Hespanha e Portugal . Que por tanto aquelle
estabelecimento não podia conferir direitos sobre a margem
opposta.
« Q u e a R epublica nen hu m a posse ou d om ínio tem no
território que pretende ou contesta ao Brasil , pr ov am -n o as
propostas feitas pela m esm a R ep ub lica em 1844, 1847, 1852 e
1853,
as declarações do seu plenipotenciario na segunda con
ferência, e os poucos factos sem im po rtân cia e ev en tua es q u e
foram invocados a titulo de posse effectiva.
« O governo imperial , não se aprovei tando da proposta que
lhe ofíereceu a Republica em 1844, pela qual se reconhecia
a divisa de 1777 , não aceitand o a cessão do territó rio d o
A guapehy, que se lhe quiz fazer em 1847, e of ere ce nd o ho ie
a R epu blica, como offerecia em 1853, u m a lin ha div isór ia
que cobre todas as suas possessões e estab elecim ento s, m ais
vantajosos do que aquellas que a mesma Republica propôz
em 1847, 1852 e 1853 ; exceptuando a idéa do terri tó rio n eu -
t r a l ;
entendeu que era tud o qua nto p odia fazer, para ob ter
da Republica o reconhecimento da moderação e benevolência
com que se prestava á solução d a inv etera da questão de
limites entre os dous Estados.
« Não sendo possível chegar a u m accordo definitivo
conveio-se em adiar o ajuste de limites obrigando-se os dous
governos a nomear, logo que as circumstancias o permitiam,
o dentro do prazo de seis ann os, os seus plen ipo tenc iarios
para ser de novo exam inada a qu estão , e resolvida de fin iti
vam ente. N o entretanto obrigaram-se outrosim amba s as partes
a respeitar e fazer respeitar recip roc am en te o s eu
uti pos
sidetis actual .
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N A V E G A Ç Ã O F L U V I A L .
« Cus ta-me d izer -vos , que a execu ção dos a jus tes de qu e
acabo de fal iar, não foi en ce tad a de u m m od o sat isfa ctor io
por par te da R epubl ica .
« Preva lecendo-se o governo p ara gu ay o da d i spo s ição do
ar t . 6 . ° do t ra tado de amizade , navegação e commerc io , pe la
qual se reservaram as dua s par tes con t ra tan tes , o d i re i to de
adoptar , em regulamentos f i scaes e po l ic iaes , as medidas que
fossem convenientes , para ev i ta r o cont rabando, e p rover á
s u a s e g u r a n ç a , p r o m u l g o u v á r i o s r e g u l a m e n t o s q u e e n c o n t r a m
com os nossos d i re i tos e pre judicam gravemente ao commer
cio e navegação da
#
p r o v i n c i a d e M a t t o - G r o s s o .
(( O p r im e i r o d 'e s se s r e g u l a m e n t o s d e 1 5 d e J u l h o u l t i m o ,
es tabe lece qu e ne nh um navio pôde subi r da capi ta l da R e
publ ica co tn des t ino ao por to de A lbu qu erq ue , ha bi l i t ad o pe lo
governo imper ia l desde 1853 para o commerc io nac ional e
es t rangeiro , sem que leve a seu bordo u m pra t ico , qu e re ce
b e rá s u c c e ss i vã m e n t e n a A s s u m p ç ã o , e n o s p o s to s m i l i t a r e s
da Conceição, fóz do A pa e O lym po .
cc No seu regresso do A lto Pa rag ua y, de ve m os n av io s re
vezar os prá t icos que t rou xerem com os qu e h ou ve re m de i
xado nos d i fe re n tes pontos d 'aqu el la esca la . Es tes prá t ico s são
t i rados d 'en t re 12 mat r icu lados na capi tan ia do por to de As
sum pçã o, e são re t r ibu ídos pe los capi tães dos na vio s , m e
diante cuii tracto por dia , mez ou viage m , feito an te a a u to
r idade mil i tar do lugar .
« O segundo de 10 de A gos to , con tém as ins t ru cçõ es da da s
ao com m anda nte do Cerro O ccidenta l , pos to mi l i ta r m u i re ce n
tem ente es tabelecido em f ren te do Pã o d 'A ssucar , e ao co m
m a n d a n t e d o F o r te O l y m p i o , p a ra e x e c u ç ão d a s m e d i d a s c o m
qu e o governo da R epub l ica ju l go u necessár io po l ic ia r a n a
vegação co mm um .
« Prescrevem as re fer idas ins t rucções q ue todo o n av io , pa
raguayo ou brasi le i ro, qualquer que seja o seu dest ino, deve
tocar não só no por to d 'A ssum pção , m as tam bé m n os dou s
pos tos mi l i ta res do Cer ro Occidenta l e For te Olympo, s i tuado
á margem di re i ta do r io Pa rag uay , ac im a da fóz do A pa .
Em cada um dos sobreditos pontos , é cada u m navio ob r i
gado a dar fundo, e sub m et t i Jo aos seg uin tes exa m es e for
m a l i d a d e s .
cc O capi tão ou m estre deve i r á pre sen ça da au to r id ad e
m il i tar e ap res en tar - lh e: 1.° o passaporte do n av io ; 2-.° o rol
da equipagem ; 3 . ° o man ifesto da car ga ; 4 .° a l is ta dos pas
sageiros . Os passageiros, sem dis tinoçáo de procedên cia ne m
de nac ional idade , devem exhib i r pesso a lme nte os seu s pa ssa
portes ás autor idades paraguay
as .
« Exige-se para que esses do cum ento s se jam t idos por
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5 3 -
va lid os : 1.° qu e o passaporte* do navio e o man ifesto da
carga ten ha m o visto do agente co nsular do Brasil na A s
sumpção; 2.° que os passaportes de passageiros estrangeiros,
procedentes d e fora do terr i tór io da R epu blica, e com destino
ara a prov incia de M atto-Grosso , sejam visados no porto
'Assumpção pelo chefe de policia e pelos agentes consulares
do Brasil , e cia nacionalidade do viajante.
cc O comÉ nandante do ponto que o regulam ento den om ina
Cerro O ccide ntal v isa rá : 1.° o passaporte do na vio ; 2.° o rol
da equ ipag em ; 3.° a lista dos passa geiros; 4.° o ma nifesto da
c a rg a ; 5.° o passap orte de cad a u m dos passageiros. Estes
vistos custam, os tres do passaporte do navio, rol da equi
pagem e manifesto da carga, qua tro pezos paragu ayo s, ou
tri n ta e do us reaes (prata), e o de cad a passageiro oito reaes.
cc N o Forte O lym po tem os navio s que sobem de sujeitar-se
ás mesmas condições, com a diferença de que os vistos que
ah i receba m os seus papeis e os passapo rtes dos passageirossão gratu itos . São por tanto obrigados a fundear m ais um a
vez , e a exhibir pela fôrma já especificada, os seu s p assap ortes
e os de cada passageiro, a l is ta d 'estes, o rol da eq ui pa ge m
e o manifesto da carga. Isto pelo que toca aos navios que
subirem para M atto-Grosso. Os navios que descerem dos portos
do Brasil farão a m esm a escala pelo Fo rte O lym po , Cerro O cci
dental e A ssump ção ; e passarão pelas m esm as operações policiaes,
sendo n e st e caso gratuito s os actos da auto r idade do Cerro
O ccidental , como na su bida o são os do Forte O lymp o. Os
documentos exigidos devem ser visados pelo cônsul do Para-
uay em M at to-Grosso, e o com m and ante do For te O lympo
rma e assigna a lista dos passageiros que na viagem rio
acima é apenas visada, percebendo por este acto mais oito reaes. »
S e gue m - s e a s . m ul ta s e m qu e inc or re r e m os na v ios que
co ntra vie rem ás disposições po liciaes e fiscaes do gov erno da
R e p u b l i c a .
cc 0 terceiro re gu lam en to contém precauções sanitár ias c on
cernentes aos navios que procederem dos portos do Brasil ,
nos casos em que não apresentem car ta de saúde, nem seja
es ta l impa, ou tenha occorr ido durante a viagem alguma mo
lés t ia epidêmica .
« E' evid ente que as m edidas f iscaes ado ptad as pelo go vern o
da R ep ub lica , não estão d e accordo com o tratado de 6 de
A bril . E llas confund em a naveg ação directa do Brasil com os
outros Estados visinhos, o u en tre os seus próprios p ortos, com
a navegação qu e se des t ina aos por tos da R epu bl ica . E a in da
a respeito d'e sta faltam á cl áu su la final do a rt. 6.° do m esm o
tra tado , pois nã o p odem ser cons ideradas com o as m ais favo
ráveis ao seu desenvolvimento .
19
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« O tratado de 6 de Abril dist inguio m uito clara e t er m i-
nanternente unia e outra navegação. A que tem por objecto
o commercio reciproco dos dous paizes, é regulada por dis
posições temporárias. A navegação directa ou o simples t r a n
sito dos navios brasileiros, é um direito permanente, l ivre de
todo
ônus, cujo exercicio por tanto só pôde ser regulado por
mutuo accordo. Sem embargo, p orém, de di sp os i^ es tão cla
ras e justas, os novos regulamentos paraguayos oorigam todos
os navios brasileiros a tocar nas Tres-Boccas, em Hurnaytá, no
Pilar, no porto da capitai, na Conceição, na foz do Apa, no
Cerro Occidental, e finalmente, no Forte Olympo.
« Os capitães e passageiros são forçados a desem barca r n a
ma ior parte d'esses pontos, para exhibir e le ga íisa r ah i os
seus docum entos e passaportes, pagando ida e vo lta os re qu e
ridos 2 pesos por cada passaporte, e os p rim eiros oito p es os ,
além da despeza dos práticos, e outras que , ao q ue pa rec e,
estão implicitamente comprehendidas nos ditos regulamentos.
Tão longa e demorada escala, ainda sem o m enor ôn us pe cu
niár io, fecharia de facto o rio Parag uay ao s na vio s bra si
leiros.
« E com o se taes m edidas não fossem assaz vex ató rias , o
cônsul da Republica em B uen os-A vres tem procurado aggr a-
vaí-as.
O s papeis dos navios brasileiros, e os passaportes dos
passageiros que se destinam á provincia de Matto-Grosso, en
tende'elle que devem receber o seu visto. Se no todo ou em
parte, a carga pertence a alg ué m suspeito por qu alq ue r
motivo ao governo paraguayo, julga -se com direito a im
pedir a negociação e a obstar q ue esse ind ivíd uo transite
como passageiro pelas águas da Republica.
cc Confiando na s franqu ezas e g arantias d o tratado de 6 de
Abril , vários negociantes de Buenos-Ayres empréhenderam'
licitas esp eculações para a prov incia brasileira, qu e p or tan to
tempo estava seqüestrada do commercio dos outros povos.
Esse m ovimen to foi começado por cinco emb arcações bras i
leiras,
as escunas
Leverger, Diamantina,
Pedro II e
Ulysses,
o
vapor Corsa, além de dous barcos paraguayo s, e dos nav ios
de guerra brasileiros Maracanã e Paraquassú. Podeis imaginar
o transtorno que as inexperadas exigências do governo para
guay o causariam aos que se aventuaram a ir procurar u m
mercado inteiramente descon hecido, onde não pode riam colher
senão módicos lucros, se todas as circumstancias lhes corres
sem favoravelmente.
« 0 governo imperial não podia conservar-se silen cios o e m
vista de semelhante estado de cousas: e tendo o governo da
Republica dado-lhe con hec ime nto das medidas qu e acaba va
de promulgar, em resposta a esta sua communicação se fize
ram as convenientes observações, reclamando:
« 1 ° ,
contra a vexatória e of en siv a policia a que suje itou-s eo com mercio da provincia de M atto-Grosso, e o transito das
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5 5 —
pessoas qu e d 'e l la san em , ou para e l la se dir igem sob a ba n
deira brasileira; 2.° contra, a longa escala a que para esse fim são
forçados os navios brasi le iros, que somente t ransi tam pelas águas
da Republica; 3 .° , contra a exigência de ser essa navegação
somente dir igida, por prát icos paraguayos; 4 .° , contra as impo
sições com que a t i tulo de vistos e de pratigagem é ag*gra-
vado o simples t ransi to dos navios e subai tos brasi le iros; 5 .° ,
con tra a sob erania exclusiva que o governo paraguay o as su m e
n 'aquel les regulam entos , sobre a parte do rio com prehe ndida
ent re o Apa e o For te Olympo.
K As m edidas adoptadas pe la R epubl ica , sem qu e precedesse
accordo algum com o gove rno im peria l , não co ntra riam só a
letra e espir i to do t ra tado de navegação e commercio, offen-
dem igua lm ente a co nvenção prel imin ar de l imites , visto com o
presupõe um di re i to , que não tem a R epu bl ica , de exc lu
siva jurisdicção nas águas do r io Paraguay, que correm entre
o For te Olympo e o Apa .
« N*esse t recho do r io a marge m esqu erda pertenc e ao I m
pér io, posto qu e a sua posse seja dispu tada pela R epu blica .
Em qu an to sub sisti r a referida conve nção, ou até qu e se co n
siga o seu fim am igá ve l, essa parte do rio se deve co ns ide rar
neu t ra ou eon im um , e por tanto a sua pol i tica não pôde co m
pet i r exc lusivamente nem ao Im pér io nem á R epub l ica . O s
regulam entos parag uayos, porém , a inda n 'esses pontos im põ e
u m a escala forçada ao t ransi to dos nav ios brasi le iros, e os
sujeitam ás autoridades da R epu blica, do m esm o m odo qu e
na parte inferior do r io, onde a R epublica possue as dua s
m a r g e n s .
« E
1
de esperar que o governo da Republ ica ouça benevola-
mente nossas justas reclamações, e venha a um perfei to accordo
com o governo im per ia l , para dar á navegação com m um o
im pulso e tavo r de qu e el la careça . O s interesses q ue d 'essa
boa intel l igen cia e d esse m ov im en to com m ercial provirão ao
Império, não são mais desejáveis do que os que pôde colher
a R e p u b l i c a .
« O s receios de contrab ando e de perigo pa ra a pol ic ia e
segurança interna da Republica, não exigem essas disposições
vexa tórias e exhorbi tantes. O con traban do e a en trad a ou fuga
de criminosos, se póie dizer que são impossíveis nas desertas
e in t ransi tave is m argens em que o goverob paraguay o quiz
tom ar tan tas e tão r igorosas precauções. T oda ev en tua l ida de
possível está á qu em dos m eios de vig ilância e rep res são de
que já d isp un ha a R epub l ica , e que pôde am pl ia r sem pr e
judicar os nossos interesses, nem violentar ao nosso direi to .
| O env iado ext raordinár io de S ua M agestade o Im perad or na
Coufederaçáo Argent ina fo i t ambém acredi tado junto á Republ ica ,
e já partio para a A ssum pção , afim de prom over o accordo
<$ue o gov erno im pe ria l espera da i l lus traç ao e am izad e do
governo parag uay o. No an nexo G. va i inser ta a correspo n-
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deu cia trocada entre este m inistério e o das relações ex te
riores da R epublica, relativam ente aos ponto s sob re qu e ten ho
n'este artigo cham ado a vossa atten çâo , bem com o al gu m as
communicações do consulado do Im pério em Bu en os- A yre s ,
que versam sobre o mesmo assumpto. »
No mesm o relatório a p agin a 59, lê-se o seg uin te :
RECL AMAÇÕES BRASIL EIRAS.
REPUBLICA ORIENTAL DO URUGUA Y. — ESTADO DAS RECLAMAÇÕES
PECUNIÁRIAS DOS SUBDITOS BRASILEIROS.
« O governo imp erial, por consideração ao estado criti co
das f inanças da Republica Oriental do Uruguay, tem dei
xado de insistir com o gove rno da mesm a R ep ub lica para
que attenda aos direitos de vários credores brasileiros.
« M anifestando o apreço q ue o seu govern o faz d o pr oc e
dimento que tem t ido o Im pério nas suas reclam ações pe
cuniárias, assegurou o m inistro oriental qu e, se por v en tu ra
se concluísse algum accordo definitivo á cerca das reclama
ções pecuniárias de outros governos em favor de seu s re s
pectivos subditos, os subd itos brasileiros se ria m att en did os ,
com as condições ma is favoráveis que se conc edes sem aos
de qualquer outro paiz.
« Esta man ifestação do
5
agente diplomático da R ep ub lica
Oriental do Uruguay, posto que de rig-orosa justiça, foi rece
bida como um a prova de disposições am igáv eis da pa rte do
governo da R epublica .
ASSASSINATO DO SUBDITO BRASILEIRO MANOEL CUSTODIO E VIO LÊN CIA S
FEITAS A OUTRO SUBDITO BRASILEIRO DE NOME LE OVIGILDO
ANTÔNIO DE LIMA.
« Nos primeiros dias do mez de O utub ro de 1856, aôh an
do-se aquelles brasileiros no Olimar Chico, no departamento
de M inas, foram citados pelo juiz de paz Ig na cio O torvós pa ra
comparecer perante esta autoridade como testemunhas do
roubo de um a vacca, commett ido por Jo aq uim A lvarisa, per
tencente a Francisco Baldomero de A lm ada , em cuja casa
estavam hospedados.
« A esta citação seguio-se u m a ordem do juiz de ten do em
seu d is trio to os dou s Brasileiros até a conc lusão do pr oc ess o,
em que haviam de ser ouvidos com o testem un has . D ur an te
esta detenção foram de passeio ao sitio em q u e viv e Ju st o
Benites, cunhado de Baldomero»
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— 57 -
« ^chando-se alli, foram surprendidos e atacados por cinco
ho m en s armados. M anoel Custodio que primeiro sahio ao en
contro dos aggre ssores, foi por estes ferido com dou s tiros,
am arrado, arrastado para lo ng e da ca sa e dego llado ; e Leo*
vigildo A ntôn io de L im a, depois de estaqueado e ultrajado
pelos salteadores, comprou a vida por trinta onças.
<( Seg und o dizem pessoas d o « lu g a r em que o facto se
passou os cinco s ind ivídu os que com m etteram estes crimes,'
foram o com m issario de policia Ru fino G om es, o sargento S e-
gundino Carrasco e tres soldados de policia.
« A transacçâo das trinta onças foi. negociada pelo sargento
e po r u m solda do, sob a direcçào do com missario de po
licia.. Informada d'esses factos, a legação imperial levou-os ao
con hec im ent o do governo oriental, reclamando a prisão e
castigo dos criminosos.
« O governo da R epu blica ordenou ao chefe polit ico de
M ina s qu e sem perda de tem po procedesse, á averiguação
d'esses crime s, e remettesse os delinqüe ntes presos para a
capital , sem prejuizo do summario que tinha de levantar-se.
« E ssa autoridade, officiando sobre este assum pto ao seu
gov erno , com m un icou -que o comm issario Gom es lhe dera
parte de qu e hav ia p erseg uido d ous Brasileiros n'aquelle des-
tricto por com m etter em roubos, tend o m orto um d" elles por
lhe haver resistido com as armas, levando os mesmos n'essa
occasião dous caval los roubados; e que tendo mandado pro
ce d er , ás averiguaçõ es recornmendadas pelo governo sobre
esses factos, nada tinha resultado contra o com m issario G om es
e seus zeladores, conserv and o-os entretanto na vil la de M ina s
com o em custodia até a conclusão do sum m ario que se es
tava form ando . N ada se diz acerca da extorsão das trinta
onças.
« E ssas inform ações foram transm ittidas á nossa lega ção,
que de ordem do governo imperial m andou proceder e m
M in as a averigua ções sobre os referidos aco ntec im ento s. »
A S S A S S I N A T O D E C L A U D I N O D A S I L V A .
« O presidente da provin cia de
S .
Pedro do Rio Grandedo Su l com m unico u ao governo imper ial , que segundo in
formaçõ es do com m an da nte geral das brigadas e fronteiras,
t inha sido assassinado no Estado Oriental, nas immediações
do Passo do Ce nturiáo, o subdito brasileiro Claudino da
Si lva .
« E m cons eqü ência de instrucções do governo imperial ,
levou a sua legação em M ontev idéo este facto ao conh eci
mento do governo da Republica, reclamando a puuiçào dos
qu e o com m etteram . O govern o oriental respondeu que não
tinha noticia d'esse assassinato, e qu e ia pedir as in form açõ es
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necessárias. N ão tendo a nossa legação recebido outra res
posta até o dia 26 de Fevereiro d'este anno, reiterou n*essa d a t a
aquella sua reclamação. »
ASSASSINA TO DO SUBDITO BRASILEIRO JOSÉ VIE IRA .
« Jo sé V ieira, natural da provincia de S. Pa ulo , foi ass as
sinado em 14 de Março de 1856, na costa do Rio N egr o, na
picada denominada de Japujú. O vice -côn sul do Brasil em
Pay sandú , tendo conhecim ento d' isso, dirigio-se ao chefe p o -
litico d'esse departamento, e este fnn ccionario m an do u fazer
algum as ,diligencias para descobrir e apprebender o ass ass ino ,
ellas porem foram infructiferas. Apezar d'isso, c on tin ua nd o o
mencionado vice-consu l a indagar por si , cheg ou a verif icar
que o crime havia sido commettido pelos cidadãos Orientaes
Francisco Figueirôa e José Figueirôa, os quaes depois de as
sassinarem a José Vieira, ro ubar am -lhe cen to e cinc oen ta e
tantas onças que levava com sigo, e fugiram para G ua le-
gú ay ch ú, na província argentina de Entre-Rios. S en do a l e
gação brasileira informada do occorrido, dirigio ao go ve rn o
oriental uma nota, levando esse facto ao seu conhecimento,
afim de que houvesse de tomar as medidas co nv en ien tes para
a captura d'esses indivíduos logo que regressa ssem ao E stado
Oriental. »
PROCESSO DO SUBDITO BRASILEIRO BOAVENTURA AL VA RE S.
« E ste subdito brasileiro residente em M albajar, dep arta
mento de Durasno, foi preso em sua casa no mez de No
vembro de 1854, e condusido á cidade da Colônia no dep ar
tame nto do me sm o nom e, onde tem estado preso até ho je,
sem que se tenha dado segu ime nio ao seu processo.
« A legação imperial em Mo ntevidéo informada d'esse fac to,
d'el le deu corhe cime nto ao governo oriental , r eclam ando a
immediata conclusão do processo d'aqueile brasileiro que
fora cruelm ente tratado e ferido, e q ue tinha todo s os s e u s
bens embargados com grande prejuizo seu e de su a fam ilia,
a qual soffna as maiores privações, bem com o elle na prisão.
« Em resposta a essa nota, l im ito u-s e o gov erno oriental
a remetter á nossa legação cópia das informa ções qu e re ce
bera do jui z do eivei e crime da C olônia sobre a prisão e
estado do processo de Boaventura.
« Ptess e docu me nto se diz, que o dito subd ito bra sileiro
foi preso por cum plicidade em diversos roubos e ass as sin a
tos ; que além do sum m ario nada m ais se tem feito desde
1854, e que esta dem ora é devid a ás difficuldades de cont*
mun icaçâo na campanha, e pouco zelo e inteUigen cia
das
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— 5 9 —
PROCESSO DO SUBDITO BRASILEIRO BERNARDINO JOSÉ DA SILVE IRA.
« Be rnard ino José da S i lveira , representou em Dezem bro de
1856 á legação imp erial em M ontev idéo, qu e fora preso no
dep artam ent o do S alto em M arço de 1854, rem ett ido depois
para o depar tam ento de Pa ysa nd ú, abi empregado no t raba
lho forçado das obras publicas, e transferido finalmente para
M on tevid éo, onde a inda se acha encarcerado . M andando aquel la
legaçã o verificar a nacio nalida de do peticionario e o m otivo
d e sua prisão , e send o inform ada de qu e era brasileiro, e
havia sido preso por homicidio, passou em 27 de Dezembro
u m a no ta ao governo or ienta l denu nciand o-lhe a procras ti -
naçã o do processo, e ped ind o a expedição das necessárias
ord ens pa ra que fosse term inado com brevidade. N ão obtendo
resposta até ao dia 26 de Fevereiro, insis tio na reclamação ,
obse rvan do qu e o aceusado hav ia sido forçado a trab alha r
na s obras publicas , antes de ser com petentem ente senten ciado . »
E X T R A D I CÇ Ã O D O D E S E R T O R J O S É I G N A C I O D A S I L V A .
« H av en do desertado para o departam ento do Cerro L argo
o soldado José Ign acio da S i lva, reclamou-se do respectivo
chefe po litico a su a entreg a. Este recuso u satisfazer á recla
m ação em qu an to não fossem preench idas as formalidades pres-
criptas pelo tratado de extradicção. T end o o governo im peria l
conh ecim ento d 'es ta rec usa , ordenou á sua legação em M o n
tevidéo q ue se entend esse com o governo oriental , vis to com o
aquellas form alidades não podiam ser applicadas aos deser
tores , e eram exigidas unicamente para a extradicção de cri
m ino so s, e escravos fugidos . O govern o oriental reconh ecend o
o fund am ento d 'es ta reclam ação, expedio orden s ás autoridad es
da fronteira pa ra qu e a entre ga do s desertores fosse feita m e
diante a s imples rec lamação das autor idades bras i le i ras , sem
d e p e n d ê n c i a d e o u t ra m e d i d a , como até então se praticara e
m an do u ent reg ar o desertor . »
N'es te mesmo re la tór io (annexo E) encontra-se a nota do
conse lhe i ro Pa ran ho s ao governo do Pa rag ua y, em data de 12 de
A bril de 1856, na qu al d iz o d i to min is t ro : — que S ua M ages tad e
o Im pe rad or ho uv e por bem ratificar o t ratado de am izad e, n a
vegação e com m erc io; bem como a convenção re la t iva ao
ajuste de l imite s , q ue no d ia 6 do co rrente coube ao m esm o
autoridades encarregadas das di l igencias a que se tem man
dado procede r. »
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— 6 0 —
cc O Sr. conselheiro Jo sé M aria do A m aral, en via do extraordi
nário e ministro plenipotenciario de Sua M agestade o Im perador
na Confederação Argen tina, foi encarregado de sus tent ar as res
pectivas reclamações junto do governo da Republica. »
O Viscon de de Maranguape, depois de relatar m in u ci os a
m ente as diligencias que fez o co nselh eiro Jo sé M aria do
Amaral para com o governo do Paraguay, mostrando quanto
eram offeasivas dos pactos cxtistente s, algum as das m ed ida s
estabelecidas pelos regulam entos da R epu blica; diz qu e m an
dou solicitar o governo imp erial, co m o m aior em pe nh o e
desde logo , a cessação de taes m edida s. T erm ina esta' parte
do seu relatório do modo seguinte:
<c A nota de 11 de Maio do governo da Republica repellia
em todos o s pon tos as justas reclamações* do gov ern o im per ial,
e com ella ficou rnallograda a neg ociaçã o confiada ao Sr .
conselheiro José Maria do Amaral. »
abaixo assignado a satisfação de assignar com o Sr. D . Jo sé
Berges, plenipotenciario da Republica.
No relatório de estrangeiros de 1858 apresentado á A ssem -
bléa Geral pelo Visconde de Maranguape, lê-se o seguinte:
RELAÇÕES DO BRASIL COM 0 PÂRÁGÜÀY.
MISSÃO DO
. S R .
CONSELHEIRO JOSÉ
M A R I A
DO
A M A R A L .
« O governo imperial, com o fostes informados pelo relatório
do meu antecessor, do an no próximo passado, reclam ou por
nota de 26 de Janeiro do mesmo anno contra as medidas fis
caes e de policia, a qu e o governo da R epu blica do Pa rag ua y
sujeitou pelos seus regulamentos de 15 de Julh o e 10 d e
Agosto de 1856, os navios brasileiros nas águ as da m es m a
Republica.
« A lgum as d'estas m edida s contrariavam o tratado de am i
zade, navegação e commercio, celebrado com aquel la Repu
blica em 6 de Abril de 1856, e gravemente prejudicavam o
comm ercio e navegação da provincia de M atto-G rosso. N ada
portanto mais razoável do qu e reclamar o go ver no im per ial
a fiel execução das estipulações contidas n'aquelle tratado.
« Pelos seus regulamentos fLuviaes o gov ern o da R ep ub lica
assum ia outrosim um a soberania exc lusiva sobre a parte do
Rio Paraguay,
j
com prehen dida entre o Apa e o forte O lym po.
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Até ao f im de 1857, o governo do Paraguay não t inha at ten-
dido ao Brasil nas su as m ais jus tas reclam ações, emb araçando
a navegação para o M atto-Grosso: tudo causado pela im por-
ticua missão de 1855.
Con t inua o re latór io do V isconde de M ara ng ua pe :
MISSÃO ESPECIAL DO SR. CONSELHEIRO JOSÉ MARIA DA SILVA
PARANHOS.
« Era porém , de gran de interesse para o Brasi l q ue progre
dissem as suas reclamações para terem a devida solução. A im
periosa necessidade de um ministro especialmente encarregado
de lhes dar a nd am en to e de conseguir o desejado res ultad o,
foi desde logo reconhecida pelo governo imperial .
« O S r . conse lhe iro José M aria da S i lva Paranho s , que
ha via neg ociado o trata do de 6 de A bril de 1856, e consig
na do n os respectivos protocollos, os principio s e as razões em
qu e se fun dara m as estipulações qu e elle consag ra, foi a
pessoa escolhida para essa importente missão.
« O gov erno im perial deu a este novo minis tro instrucções
ad eq ua da s ao estado da que stão, espera ndo que, reconsiderando
as suas justas reclamações, não insistiria em desáttendel-as o
i l lus t rado governo do Paraguay .
'< Essas pretenções dev iam buscar-se, como semp re se bus
cara m , nos regu lam ento s da navegação fluvial de o utros povos
qu e po r sua civilisação, com m ercio e patrica de s em elhan tes
relações internacionaes, nos podiam servir de exemplo.
« Qu e o em pen ho do gove rno im perial não era exigir
outra s faci l idades para a navegação do Pa rag ua y, que não
estivesse disposto a conceder par a a navegação dos rios do
Brasil .
« Esta nd o a qu estão fluvial por tal fôrma ligada com a de
limite s , que trata r de um a adiand o a outr a séria tornar a so
luçã o de am bas mu ito difflci l, teve o governo imp erial em
tod a a c onsid eração a su a definitiva fixação, fazendo ver qu e
o Brasi l não t in ha necessidade de estender o seu terri tório,
e nã o q ueria se nã o o qu e por direi to lhe pertencia .
« Nà o lhe send o porém perm ett ido instar pela solução
d'essa qu estã o, em vis ta do qu e se havia es t ipulado pela
convenção respectiva de 6 de Abri l de 1856, l isongeava-se en
tretan to o go ve rno imp erial de poder cons eguir es te benéfico
resu ltad o, pa ra as boas relações en tre os dous paizes, se fossem
iguaes as disposições do go verno da R epublica, no correr da
negociação sobre a navegação do Paraguay .
v
« Pátra este fim foi o ministro brasileiro munido dos necessá
rios plenos poderes , »
20
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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Eram estas as ideas do gov erno imp erial q ua nd o foi o
conselheiro Paranhos em 1858 ao Paraguay, sendo esta a ter>
ceira missão, depois da que stão dos pas sap ortes , q u e o go ve rn o
imperial enviava, para propor as suas razões; pedir aquelle
governo que attendesse ás reclamações do Brasil . Com effeito,
o conselheiro Paranhos conseguiu muito mais do que os seus
antecessores, como vamos ver ; mas não deixou de empregar
a mesma poli t ica de moderação seguida pelo governo imperial ,
para com as Republicas da America do Sul .
a A convenção celebrada com a R epub l ica (cont in ua o re
latór io do V isconde de M arangua pe) resolveu todas as q ue s
tõe s de ü m mo do satisfatório.
« Por ellas os navios qu e se em pre ga rem no co m m ercio
directo de Matto-Grosso somente serão obrigados a tocar em
dous pontos .
« No primeiro terão de exhibir cart a d e saú de , com ce rti
f icado da sua nacionalidade, tonelagem, procedência e destino.
No segundo entregarão o passe que all i t iverem recebido. Só
eventualmente , ou nos por tos em que voluntar iamente entra
rem, terão de mostrar os seus papeis, e sujeitar os passaportes
dos seus passageiros ao exame e visto da autoridade par.-fguaya.
« Estas operações não im po rtam ônu s algu m pe cu ni ár io , e
serão executadas do modo o mais expedito, a qualquer hora
do dia, desde o nascer até ao pôr do sol.
« Os paquetes de vapor, assim com o os navios de g ue rra,
gozarão de maior facilidade, podendo commumcar com a au
toridade local até ás 10 horas da noite durante o verão, e
até ás 9 dura nte o inv ern o. O serviço d a praticagem foi d e
clarado por uma e outra par te inteiram ente facultativo. Qu alq ue r
navio pôde navegar sem pratico, ou pôde empregar o pratico
que lhe aprouver , sem ^nenhuma restr icção qu anto á n ac io
nalidade d'este. A questão relativa á policia da parte do rio,
que corresponde ao território contestado, f icou decidida como
prescreve o art. 12. Esta foi a m aio r difficu Idade q u e se tev e
de vencer,
<<
O plenipotenciario brasileiro propôz qu e, en tre a que lles
pontos, a policia pudesse ser feita por embarcações de um e
outro Estado.
« Não sendo aceito este arbitrio, afinal chegaram a accordar
os respectivos plenipotenciarios em prescindir, n'esta parte do rio,
dos meios autorisaaos pela convenção, salvos os casos de invasão
dos selvagens^ em que a uma e outra autoridade seria alli
licito perseguir os invasores do seu território. O forte Olympo
foi designado para uma das estaçOes em que são obrigados a
commumcar os navios mercantes .
« A hnuio o plenipotenciario brasileiro sem rep ug nâ nc ia a
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esta designação, que era agradável ao governo da Republica,
porque podia resalv ar, como resalvou (art. 13) qu alq ue r al
teração para o futuro, relat ivamente ao terri tório contestado,
e porque de o ut ro mo do apparece na provav elmente a pre tenção
de que alli se parasse para fallar á fortaleza.
« N ão foi possivel acaba r de u m a vez com a restricçã o
pos ta ao t rans i to de nossos navios de guerra . Mas o p leni
potenciar io bras i le i ro obteve supp r imi l -a com ple tamente quan to
ao rio P ar an á, como devia ser em vis ta das concessões d o
gove rno arge nt ino , que é o soberano da maior par te navegá
vel d*esse r i o ; e pelo que toca ao r io Pa rag ua y, am pliou -se
a disposição do art . 18 do tratado de 6 de Abril .
a Em luga r de dou s nav ios , poderão passar até t res , sem
condição a lguma quanto ao seu armamento e capacidade . O
transito d'estes navios foi ainda facilitado em relação aos na
vios me rc an te s. S om en te são obrigados a fallar á fortaleza de
Humaytá , ass im na subida como na desc ida , a té ás horas
fixadas para os paquetes de vapor. »
V ê-se , por tant o, q ue o resultado d 'esta quarta missão con
fiada ao conse lheiro Jo sé M aria da S i lva Pa ran ho s, foi só o
governo do Paraguay faci l i tar a nossa navegação mercante
a té M at to-G rosso ; m as qua nto á de guerra , só perm it t io qu e
em lugar de dous, passassem tres navios de guerra de qual
quer a r m am en to ; n ão fez o t ra tado de l im i tes ; e a inda a i sto
se sujei tou o go vern o imp erial na pessoa de um dos seus
m ais há be is dip lom atas . Estes principios es tavam arreigados
na pol i t ica do govern o im per ia l , desde a missão de Pedro
Ferre i ra de O l ive i ra ; por tanto o e rro v in ha de t raz . 0 governo
do Pa rag ua y de u l icença par a passarem só tres navios de
gu err a, po rqu e calculou qu e aq uella força não defendia a
pro vin cia de M atto-G rosso con tra os seus futuros projeotos
hostis ; ass im fazia com que aquella provincia brasi leira f i
casse sem defesa, e sem o gov erno imp erial a pod er soccorrer
quando fosse necessário.
O go vern o imp erial devia ter então considerado, q ue quem
pu nh a em baraço s á navegação bras ile ira no r io Paragu ay, e ra
quem podia agredir aquella provincia; is to bastava para não
se fazer a ul t i m a co nv en ção , em bo ra resultasse a gu er ra .
Fez -se o segu nd o t ra tad o d e naveg ação e de com me rcio , sem
lem brar es tas con sidera ções , o qu e faz acred itar qu e o gov erno
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« O s inco nve nien tes expostos são em grande parte devidos
á falta de u m tratad o de extradicção entre a R epublica O ri
en tal e a Confederação. Na execução do que foi celebrado no
P ar an á, em 14 de Dezembro do 1857, entre os plenipotencia
r ios do Im pé rio e da Confederação, terá o governo impe rial
opp ortunid ade para promover algum ajuste co m m um aos t respaizes l imitro phe s, no intui to de pôr term o a um a si tuação
tão an ôm al a e contraria aos interesses qu e os respectivos go
vernos tem na conservação de relações de boa inteiligencia e
am i zad e .
a N o relatório d 'este m inistério aprese ntado em 1857 se
vo s deu conh ecim ento do assassinato do subdito brasi leiro José
Vieira, perpetrado a 14 de Março de 1856 na costa do Rio
N eg r o ,
« Fora m autore s d 'esse cr ime os orientaes Francisco Fi-
gueirôa e José Fígueirôa, que, depois de despojarem a vict i -
m a, ev adiram-se para Gu alegua ychú , na Confederação A rgen
t i n a .
« 0
governo O riental , at tende ndo ás reclamações da nossa
lega ção , expedio ordem ao chefe polit ico do depar tam ento de
Pa ys an dú para pren der aquelles indivíduo s, logo que fossem
encont rados no mesmo depar tamento .
« Em data de 1 de O utubro do anno f indo, informou o
govern o da R epublica, que os assassinos não t inham até então
apparecido n 'aque l le depa r tamen to ; m as que o respect ivo
chefe politico pro segu ia em su as pesquizas para desco brir se
'existiam em algum outro ponto do território Oriental .
« O subd ito brasileiro M anoe l R ibeiro dos S antos foi preso
em Jan eiro do ann o passado no departam ento do Cerro L argo,
por u m a força que se acha va ás ordens de D . T homaz Bo rges,
chefe polit ico inte rino do dito de pa rta m en to. Essa força tendo
de co nd uz ir o preso á presenç a do chefe polit ico, ma tou- o
e m c a m i n h o .
c c Dizem as informações das autoridades locaes, t ran srai t -
t idas pelo governo oriental á nossa legação, que esse subdito
brasi leiro era de máos costu m es, e que ao ser perseguido
resis tira disp ara ndo u m a pistola sobre o official com m an da nte
da força que o preten dia pre nd er; q ue este fora assim com-
pel l ido a fazer- lbe fogo, matando-o instantaneamente.
« Pasc oal N olasco , subd ito brasileiro , foi assa ssinado em 13
de Fev ereiro de 1858 pelo O riental Francisc o Be rro, em um a
casa de ne goc io de qu e este era caixeiro, s i tuad a na fron
te i ra do Quarahim.
« R esp ond end o á reclamação da legação imp erial , declarou
o gove rno da R epubl ica qu e a au tor idade po lic ia l, apenas
teve co nh ec im en to do successo, se dir igira ao lug ar; mas
qu e alli ch eg ara tar de , po rqu e o réo havia conseguido evadir-se
para a vi l la da Concórdia, terr i tório argentino, segundo se
soube depois .
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« Dias depois (Peste assassinato, coube igual sorte no Chuy
ao sub dito brasileiro M ariano Borba. F oi perpetrador o Ori-
ental Jo sé N ob le, que além de ter sido um dos assassino?
de Jo ão da Silveira e sua família, contribuirá ultima m ente
para qu e N icom ede s Coronel, tamb ém cúmp lice d'esse assassi
nato, se evadisse da prisão em que estava por haver morto
a Leonardo da Silva.
« O governo da Republica, acudindo ás reclamações da le
gação imperial e aos deveres da justiça, expedio prom pta-
mente ordens terminantes aos chefe políticos do litoral do
U ru gu ay para a prisão d'aquelles crim inoso s; e mandou que
o chefe politico de M ina s m archasse para o Cerro-Largo com
a su a força, atím de auxiliar a d'esse departam ento na captura
dos réos que tinham de ser remettidos para a capital.
« O presiden te da provincia de S. Pedro Rio Grande do
Sul informou que os subditos brasileiros Manoel José de
Sant'Anna, Manoel Leão e Manoel do Couto tinham sido
assassinados, no departamento do Cerro-Largo, pelo commis
sario de policia José L ind on ga ; os do as primeiros por se
, recusarem a servir no exercito da Republica, o terceiro por
delicto de pouca importância,, e depois de preso.
« A legação imperial, denu nciand o estes assassinatos ao
governo da Republica, reclamou que se procedesse ás neces
sárias averiguações, e ao julgamento dos criminosos.
« Com as informações ministradas pelo comm andante Bo r-
ches ,
a cujas orden s servia Lin do nga respondeu o governo
oriental que eram de scon hecid os os factos allegados. pois
qu e não só o mesm o Lindonga os negava, com o também
nenhum esclarecimento resultará das investigações que se
haviam praticado.
« F inalm en te, em 15 de Outubro do ann o próximo pas
sado, foi assassinado no lugar denominado Arapehy, departa
m ento do S alto , o subd ito brasileiro M anoel An tônio da
Silv a, por um cab o e do us soldados de policia de Santa
R osa , os quae s com pun ham um a das tres partidas que por
ová^m
do commissario de policia d'aquelle lugar, tinham
sabido em busca do dito Silva.
« Francisco Queiroz, u m dos assassinos, o que por ordem
do cabo Athanasio degollou a victuna, evadio-se para a pro
vín cia do Rio Grande do S ul, onde foi preso e recolhido á
vi]Ia de Sant'Anna do Livramento.
« A. legaçã o imp erial lev ou sem dem ora o facto e todas a s
suas circumálancias ao conhecim ento do governo da R epu blica;
e este expedio logo as precisas ordens para o devido castigo
dos culpados.
i>
G relatório dos negócios estrangeiros apresentado á Assem-
bléa Geral e m 1860, pelo m inistro Sin im bú , con tém a se
guinte expos ição:
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A S S A S S IN A T O S D E S U B DI T O S B R A S I L E I R O S .
« Continuam os assassinatos de subd itos Brasileiros no E s
tado Oriental. E m additam ento ao que vos te m sido com >
municado a respeito do Eduardo Taylor, cumpre-me partici
par-vos que tendo um dos assassin os d'esse desgraçado jov en
commettido outra morte no departamento de Pa ys an dú ; deu
a legação imperial con hec ime nto d'esse facto ao go ve rno da
R epublica, nào porque a victim a d'esse no vo crim e fosse
brasileira, mas com o fim de facilitar-se a apprehensão do
crim inoso , em cuja punição está o gov erno imperial int e
ressado.
« Aquella informação consta da nota dirigida e m 6 de Junho
do anno próximo passado ao ministério das relaçõ es ex te
riores.
« Os assassinios com me ttidos depois da apresentação do ultimo relatório, e que chegaram ao conhecimento da legação
imperial , sobem ao numero de nove, e são os seg ui nt e: de
Fortunato da Si lva, A ntônio D om ingu es, Jo sé Luiz de Souza,
de mais dous cujos nomes se ignoram, .e de João Alves da'
Fontoura Riquinho, no departamento de Taquarembó; de Ma
noel André, no departamento do Salto; de José Orlando, no
departam ento do Cerro Largo, e de Jo aq uim de M oraes C unh a,
no departamento de Soriano. F ortunato da Silva foi a ssassi
nado em Abril, no lugar d eno min ado — Arrojo M aio .
« A legação imperial den uncio u esse crime por nota de 2 3
de Maio, e o goveruo oriental respondeu no dia seguinte,
assegurando que se tinham expedido as ordens precisas.
« Antônio D om ingues e José Luiz de Sou^a foram assassi
nados em a noute 22 para 23 de Jun ho lugar cham ado —
Trauquera. Constou a principio que dous companheiros seus,
favorecidos pela escuridão, tinham conseguido escapar á m esm a
sorte, sendo porém um
d'e l l3s
ferido ; mas d epois verifi
cou-se que eram quatro os assassinados, e isso fez crer que
aquelles dous completavam o num ero.
« O m inistro residente de S ua M agestade e o secretario da
legação que a rege em sua ausê ncia, dirigiram -se a esse res
peito ao ministro de relações exteriores por notas de 22 de
Julho e 20 de Setembro, e d'esta consta que se attribuia o
delicio a indiv íduo s pertencentes á policia do departamento.
« Aq uelle ministro respondeu primeiro que expediria as
ordens que o caso exigia, e depois com m un ico u -que, seg un do
informação do respectivo chefe politico, tinha sido o indiví
duo Máximo Roldan preso o posto á disposição do ju iz or
dinário, como accusado de culpabilidade no mencionado
atteniado.
<* Por m otivo do assassinato d'esses quatro Bra sileiro s jul ge i
conveniente dirigir ao ministro Oriental a nota de
6
de Ou-
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o assassinato de José O rlando , cõinm ettido por ag en tes da
policia do Cerro L argo, na occasião em qu e o con du ziam
preso de Olimar para a capital d*aquelle departamento.
C
( O Sr . min istro de relações exter iores respondeu no di a
24 assegurando qu e t in ha etped ido as orde ns solici tadas. O
S r . Dr . Barbosa da S ilva, de nu ncia nd o esse novo deiicto , ch a
mo u a at tenção de S. Ex. para a resposta qu e sobre el le
deu o chefe poli t ico, ao vice-con sul do Im p ér io .
« R esulta d essa resposta que o pardo- Jo sé fora preso po r
ter insul tado e acomm ett ido com armas a u m ind ivídu o, e qu e
fora mo rto em cam inh o, s imp lesm ente porqu e ten tara fugir.
Por um dei ic to que não era nem podia ser punido com pe
na capital , e que ainda não estava pro vad o, foi m orto u m
subdito brasileiro, e mo rto pela policia, proc ura nd o-se da r
a este proce dim ento um carac ter de legaiic ad e.
« Este facto dispensa todo o com m entar io. O bservarei u n i
cam ente que são freqüentes os casos de m ortes dados pe la
policia a subditos do Im pério , por motivos sem elha ntes ao
qu e acabo de referir .
« Em M arço do corrente an no , cerca da vil la de M erce des
departam ento de So riano , foi assassinado Joaquim, de M ora es
Cu nha. Segu ndo informação do respectivo vice -co nsu l, ha via m
sido apprehendidos tres individuo s por suspeita de cu m
plicidade u'esae deiicto.
« A legação imperial denunciou-o por nota de 17 de Abril ,
e a 19 respondeu-lhe o ministro de relações exteriores, asse
gurando que ia expedir as ordens necessárias.
oc Po r informação do presidente da provincia do R io G ra n
de do S ul, consta que João A lves, da Fo nto ura R iq ui nh o,
gu ard a nacional destacado no fronteira do Q ua rah im , ten do
passado além da cochilha de H aedo pa ra ir á 'casa de seu
pai , fora no r incão de A rtigas, dep artam ento de T aq ua rem bó ,
assassinado no. dia 18 de M arço por u m sarge nto da policia
orien tal, de nom e Israel,* qu e serve sob as orde ns d o co m
missario Carrasco.
« O brigadeiro Can avarro ia dirigir-se a este respe ito ao
chefe politico do men ciouado dep artam ento ; e a legação im
perial informada pelo presidente do Rio Gr an de , e ins truid aconvenientemente pelo governo, nào deixará de fazer a enér
gica reclamação exigida por este novo attentado.
A RR EB A TA M EN TO
DE
UMA PORÇÃO DE GADO PERT ENC ENT E Á HERANÇA.
DO SUBDITO BRASILEIRO FORTUNATO DA SI L V A , ASSASSINADO SM
TAQUAREMBÓ*
cc O subd ito brasileiro Fo rtun ato d a Silva, assassinado no
departamen to de T aqua remb ó, deixou alguns bens, qu e ooas*
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— 7 2 —
VIOLÊNCIAS PRATICADAS CONTRA A PESSOA E PROPRIEDADE D E
SERAFIM JOSÉ DOS SANTOS.
« Serafim Jo sé dos S antos, estabelecido no dep artam ento
de Taquarembó, possue aí l i um campo que tem pertencido á
su a familia desde 1808. Essa prop riedad e, nà o inte rro m pid a
nem contestada ha mais de meio século, acaba de ser recla
ma da pelo coronel argent ino D. M ar iano M aza, como pr o
curador dos herdeiros de Fel ippe Contuci .
« Pa ra fazer effectiva essa reclam ação interv eio u m
j u i z
d e
paz . T ento u este compe ll ir Serafim José dos San tos a as -
signar um termo reconhecendo os direitos allegados pelos re
clam antes ; m as apesar das violências a que para isso re
correu, não conseguio o seu objecto .
« R econhe cida a inefncacia d esse violento abus o da au to
ridad e, recorreu-se a um a violência ainda m aior. S an tos foi
espoliado da sua p ropr ieda de, s endo arrasados os edifícios qu e
exist iam nos seus campos, e estes vendidos a pessoas que lhe
eram adversas.
« O Sr . Dr . B arbosa, encarregado de negócios inte rino do
Im pério, depois de ter levado esses factos ao con hec im ento
do Sr. ministro de relações exteriores em conferência* e de
que effectuasse o pagamento a que era violentado, e para o
qual acabava de recorrer a ou tre m .
« Não podendo satisfazer esse forçado com pro m isso , foi de
novo amarrado , remet tido para Pay san dú, lançado em u m a
cadeia, e conservado em com pleta incom mu nica ção sem pr o
cesso de nenhuma especie.
#
T ão i n au d i t o p r o ced i m en t o n ã o
podia escapar á
*
aüen eào dó encarregado de negócios do im
pério. Em 19 de ou tub ro iniciou elle*, por ta nt o, a nec essá ria
reclamaçã o, em vir tude da qua l , como se lhe assegu rou em
resposta do dia 2 de N ovem bro, m and ou o gov erno orien tal
proceder a averiguações.
« S eg u n d o as u l ti m as n o ti ci as , co n s ta q u e J a n u ár i o J u s
tiniano de Araújo havia sido posto em liberdade sob fiança,
não podendo com tudo ausentar -se da Vi l la de Paysandú .
« A ttr ibuia-se a esse individuo o cr ime de abig eato , e porelle se lhe havia instaurado processo.
« O S r . Dr . Barbosa instando verbalm ente pela c onc lusão
d'esse negocio, declarou ao S r. m inistr o de relações exte riores
que se h avia deiicto, não prete ndia favorecer a im pu ni da de
o?elle, ma s que exigia jus tiça , e que fossem sev era m en te cas
t igados os autores das arbi trar iedades com m ett idas . S . Ex .
resp ond eu-lh e, q ue seguia o processo contra A raújo, m as qu e
se t inham reiterado as ordens para qu e tam bém fosse pr o
cessado o commandante Fronday . »
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ter chamado para elles a sua attenção por meio de um a nota
verbal,
á
qual juntou os documentos que instruiam a recla
mação julgou de seu dever dirigir a S. Ex. a nota de 25 do
mez próximo passado, reclamando a prompta e efficaz inter
venção do governo da Republica, afim de que se restitua a
Santos a propiedade que lhe foi extorquida, e que só lhe
pôde ser disputada perante os tribunaes competentes.
« Tão fundada é essa reclamação, que o governo imperial
não hesita em crer que o da R epublica a ella attenderá,
como é de justiça, fazendo respeitar os direitos de um subdito
brasileiro, e punir com todo o rigor da lei os autores das
arbitrariedades commettidas. »
A T T E N T A D O S C O M M E T T 1 D O S N O T E R R I T Ó R IO B R A S IL E I R O P O R
U M A P A R T I D A O R I E N T A L .
a O presidente da provincia de S. Pedro do R io Grande
do Sul participou ao governo imperial por officios de 1 8 e
2 1
do mez próximo passado, que no dia 1 0 de Março uma
partida oriental de nove hom ens, commandada pelo alferes
João Senna, transpondo a linha divisória, exerceu actos de
violência na propriedade dos subditos brasileiros João Hen
rique e Anacleto José Soares; levando o seu arrojo ao
ponto de insultar a guarda da fronteira, que então apenas
se compunha de tres praças, commandada pelo sargento Flo-
risbello da Silva.
cc O com mandante da fronteira do Quarahim, dirigindo-se
em officio ao chefe politico do departamento de Taquarembó,
reclamou o castigo dos delinqüentes. .
« O governo imperial desejando prevenir e remover as
sérias complicações que podem resulta r de factos d*essa
ordem, e firm e em fazer respeitar a inviolabilidade do seu
território, e a prestar a todos os subditos do Im perador
devida e efficaz protecção, ordenou
á
legação imperial em
M ontevidéo que fizesse sentir ao governo da R epublica a
urgente necessidade de serem contidos pela acção de sua
própria autoridade os desmandos de seus funccionarios. »
Ao terminar o extracto d'este relatório do anno de 1 8 6 0 ,
não podemos continuar sem fazer algumas reflexões sobre o
ultimo facto que narramos.
Além das atrocidades praticadas nos subditos brasileiros,
de que fazem menção todos os relatórios até aqui mencio
nados, . sem que o governo imperial no espaço de tantos
annos desse signal de si, para pôr cobro a tantas mortes,
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r o u b o s e p r e p o t e n c i a s d e t o d a a q u a l i d a d e ; a l é m d ' e s s a s r e
c l a m a ç õ e s e x - o m c i o , d e q u e o g o v e r n o o r ie n t a l f az ia p o u c o
c a s o ; o c c o r r e u m a i s e n t r a r f o rç a o r i e n t a l n o R i o G r a n d e , e
e x e r c e r a c t o s d e v i o l ê n c i a n a p r o p r i e d a d e d e s u b d i t o s b r a s i
l e i r o s ,
o i n s u l t a r n a p a s s a g e m a g u a r d a d a f r o n t e i r a : t u d o
a c o n t e c e u s e m h a v e r u m a a u t o r i d a d e m i l i t a r q u e t i v e s s e f o r ç a
a r m a d a s u f f i ci e n t e p a r a o s p r e n d e r . E s t e g r a n d e a t t e n t a d o
c o n t r a a i n t e g r i d a d e d o n o s s o t e r ri t ó r i o , q u e e m o u t r a n a ç ã o
t i n h a s i d o c a u s a m u i t o s u f f i c i e n t e p a r a h a v e r h o s t i l i d a d e s , o
g o v e r n o im p e r i a l l i m i t o u - s e a — « o r d e n a r á l e g a ç ã o i m p e r i a l
e m M o n t e v i d é o , q u e f izesse s e n t i r a o g o v e r n o d a - R e p u b l i c a ,
q u e a s s u a s a u t o r i d a d e s c o n t i v e s s e m o s s e u s f u n c c i o n a r i o s . » —
C o m e s t e p r o c e d i m e n t o , o m i n i s t é r i o q u e g o v e r n a v a e m 1 8 6 0
d e u t a m b é m , c o m o o s s e u s a n t e c e s s o r e s , o m a i o r s i g n a l d e
attenção
q u e p o d i a m a n i f e s t a r e m r e l a ç ã o a o g o v e r n o o r i e n t a l .
I s t o q u e r d i z e r q u e c o m t o d a s a s v i o l ê n c i a s p r a t ic a d a s p e l o
g o v e r n o d o E s t a d o O r i e n t a l c o n t r a o B r a s i l , e s t e l i m i t o u - s e
a r e c l a m a r .
J á s e t i n h a m p a s s a d o o i t o a n n o s , d e p o i s q u e t e r m i n o u o
d o m i n i o d e R o s a s e d e O r i b e , e q u e o s B r a s i l e i r o s c o n t i n u a
r a m a s e r p r e s e g u i d o s n o E s t a d o O r i e n t a l, q u a n d o e n t r a r a m
o s s o l d a d o s o r i e n t a e s n o R i o G r a n d e ; p o r e n t e n d e r e m q u e
n ã o b a s t a v a a p e r s e g u i ç ã o q u e f a z i a m a o s B r a s i l e i r o s n o s e u
p a i z , e r a a i n d a n e c e s s á r i o v i r o f t e n d e l - o s n o t e r r i t ó r io d o
I m p é r i o .
N ' e s t a s c i r c u m s t a n c i a s , q u a n d o o g o v e r n o i m p e r i a l n ã o q u i -
z e s s e
•
t o m a r u m a d e l ib e r a ç ã o m a i s e n é r g i c a , d e v i a t er c o n s e r
v a d o n a f r o n t ei r a u m a d i v i s ã o d e 6 , 0 0 0 h o m e n s p a r a n ã o s e
p r a t i c a r e m i n s u l t o s c o n t r a a i n t e g r i d a d e d o t e r r i tó r i o b r a s i l e i r o .
E s t a m e d i d a p r e v e n t i v a e d e s e g u r a n ç a p a r a a s n o s s a s f r o n
t e ir a s d e v i a t e r s i d o p r e v i s t a p e l a c â m a r a d o s d e p u t a d o s p a r a
n ã o d i m i n u i r a f o r ça d o e x e r c i t o , o q u e p r o c u r a v a f a z er v o
t a n d o e m c a d a a n n o o u 1 6 o u 1 8 , 0 0 0 h o m e n s , o q u e n u n c a
f oi s u f i c i e n t e m e n t e p a ra a s n e c e s s i d a d e s d o s e r v i ç o ; e t a m b é m
o s m i n i s t r o s d a g u e r r a p o u c a s v e z e s p e d i r a m 2 0 , 0 0 0 h o m e n s .
A c â m a r a d o s d e p u t a d o s d i l i g e n c i a v a d i f ir i n u ir a f o r ç a d o
e x e r c i t o p a ra n ã o fa z er g r a n d e s d e s p e z a s , m a s n u n c a s e « f o r -
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— 75 —
n t a v a s e a s f r o n t e i r a s e s t a v a m g u a r n e c i d a s o u d e f e n d i d a s . O
e x e r c i t o e m t e m p o d e p a z , n ã o p ô d e t e r m e n o s d e 2 4 , 0 0 0
h o m e n s d i v i d i d o s e m 2 4 b a t a l h õ e s d e i n f a n t a r i a e c a ç a d o r e s ,
8 co rp o s de ca v a l l a r i a , e 1 0 co rpo s de a r t i l ha r i a a pé e m o n
t a d a ; s e m e s t a f o r ça e ff e c t i y a o I m p é r i o n ã o fica d e f e n d i d o ;
a g u a r d a n a c i o n a l c o m o s e g u n d a l i n h a , c o l l o c a l - a d e b a i x o d a
j u r i s d i c ç ã o d o m i n i s t r o d a g u e r r a . ( * )
(.*) Além d'esia força effectiva de 24,000 homens deve haver os corpos dt
engenheiros e sapadòres, que se pôde clacular em mais 2,000 homens*
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L I V R O Q U A R T O .
U U T D U O W M i l S t E R I O B O S I W O C I O S E S T R A N G E I R O S .
O relatório apresentado á A ssembléa Geral pelo conselheiro
Antônio Coelho de
S á e
Albuquerque em 1 8 6 1 , contém o se
guin te , que é a continuação dos factos referidos no relatório
anterior:
PARTE
POLÍTICA.
« Nenhuma alteração sobreveio em nossas relações interna-
çíonaes com a Confederação Argentina;
e
se algumas das
questões pendentes com a Republica Oriental do Uruguay,
como foram descriptas no relatório do anno passado, não
foram ainda terminadas de um modo satisfatório, cabe-me por
outro lado o prazer de dar-vos conta da solução de vários
assumptos graves, discutidos de longa data com os governosde outros paizes.
#
« A convenção de
1 2
de Fevereiro de 1858, celebrada com
a Republica do Paraguay, vai produzindo os benéficos resul
tados que se aguardavam de suas estipulações, baseadas no
pensamento de estreitar cada vez mais as relações entre os
uous pauses.
« O modo porque tem sido cum prido aquelle ajuste, ao
mesmo tempo que manifesta as boas disposições que hoje sub
sistem entre os dous governos, tende a remover as preocou-
pações que até aqui tem retardado a
fixação
da mutua fronteira.
22
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« Em A bril do anno próximo futuro expira o prazo den tro
do qual devem ser nomeados os respectivos plenipotenciarios*
para reatar esta negociação, que ticou suspensa em 1856.
« Com o arranjo definitivo desta questão secular e de outros
assumptos de menor importância, mas também convenientes,
poderão considerar-se consolidadas as relações e ntre o Im pé rio
e aquella Republica.»
I N V A S Ã O D O T E R R I T Ó R I O D O IM P É R I O P O R U M A P A R T I D A D E
S O L D A D O S D O E S T A D O O R I E N T A L .
« No dia 10 de Março do anno próximo passado uma par
tida de oito soldados, de policia do departam ento de T aq ua
rembó, sob o commando do alferes Senna, penetrou no ter
ritório do Im pé rio, passando a linn a divisória n a coc hilha deHaedo, em lugar onde se acha postada uma pequena guarda
brasileira.
« O alferes S enna assumio im me diatam ente attitude hos til ,
perseguindo com todos os seus e tentando desarmar a força,
aggravada com insulto s as tres praças da gua rda, qu e lhe sa-
hiram ao encon tro, mal arm adas, com o único fim de inq uirir
a causa d'aquella incursão: não contente com isso extorquio
alguma cavalhada ao capitão A nacleto José S oares, e a A ntônio
Nunes, ambos subditos brasileiros.
« Estes factos foram levados ao con hec ime nto do gove rno
oriental pela legação de S ua M agestade, prime iro verba lmen te
e depois por escripto em nota de
2 2
de Junho .
« O chefe politico do dep artamento de T aqu arem bó, dand o
ao seu governo as informações que elle lhe requisitara em
conseqüência d'aquella nota, pretendeu inverter a ordem dos
factos. Disse que o território invadido fora não o do I m pé rio ,
m as o do Estado O riental; e q ue n'este procurando o alferes
S enn a desarmar alguns soldados da gua rda bra sileira, que
tinham passado a linha, lhe fizera fogo um d'esses soldados.
« Posteriorm ente, em 2 6 de S etembro do mesmo an no ,
iniciou a legação oriental uma contra-reclamação, que foi
depois renovada perante a de S ua M agestade pelo ministro
das íelações exteriores.
§
« Esta contra-reclamação, fundada nos tardios esclarecimen
tos . do chefe politico de T aqua rem bó, não tem o menor fun
dam ento . Como vereis da correspondência ann ex a, não hou ve
invasão algum a por parte de soldados b rasileiros .
« Actos mediante os quaes se pretende privar aos subditos
brasileiros A ntônio José de V argas e R eginaldo Fe rna nde s,
de campo s que possuem em território do Im pé rio .
« Expoliação praticad a em prejuizo de S erafiim J os é dos
Santos.
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- 79 -
fflfcForturas soffridas por Sebastião Amado, Felippe José
Pires e José Vicente.
€ Imposição de serviço militar a João de Moraes Ortiz, Ma
noel Cunha e Francisco Berro.
, « V arejamento das moradas de José R odrigues Penteado ,
e Raymundo, por força armada.
« Violências comraettidas contra os subditos brasileiros por
autoridades do departamento de Taquarembó com o pretexto
de executarem uma ordem relativa a despejo de campos oc-
cupados por intrusos.
c T en taú va de esbulho, praticada pelo cidadão oriental
Fran cisco de la S erna contra vários subditos brasileiros, e
muitos outros estrangeiros estabelecidos na margem esquerda
do S olis-Grande.
a A rrebatamento de dous filhos menores de um subdito
brasileiro.
« A ssalto e saque da casa do subdito brasileiro Condeixa, e
ferimento grave de um filho seu.
« A ssalto e saque da casa de A mancio V az, e tentativas
contra a honra de mu lheres n'ella existentes.
« V iolências soffridas por José de O liveira, M anoel S alva
dor, Zeferino Oliveira e José Gutierres, arbitrariamente des
tinados ao serviço militar.
<c Prisão injusta e torturas de q ue foi victima M anoel
M arques. »
A S S A S S I N A T O S D E S U B D I T O S B R A S I L E I R O S .
S egue-se a descripção de seis assassinatos : Francisco Bor
ges,
Igna cio Pereira da S ilva e M anoel A ntônio Pere ira,
residentes no mesmo departamen to de T aqua rem bó. N . Corrêa
foi morto no dia 22 de Fevereiro, no lugar denominado—
Corfiovez,— de partam ento do Cerro L argo, pelo sargento de
policia do mesmo lugar Raphael Mendonça. Valentim Morei
ra , residente no districto de S. Carlos, departamento de M al
do nad o, foi ahi assassinado no dia 16 de M arço. No dia 20
i e O utub ro do a nno próximo passado foi Florisbello da S ilva
Pímentel morto á traição no Estado Orientai, no lugar cha
mad o Ca ntas, por um sargento de policia e um indio seu
com pan
beiro.
«c
O encarregado interin o de negócios do Brasil (continua o
relatório) denunciou esses homieidios ao Sr. ministro das
relações exterio res, e segu ndo a nota de S» Ex . dè 13 de
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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- 80 -
« À legação denunciou ambos esses delictos, por nota de
2 3
d'aquelle mez, e no 1.° de Abril participou-lhe o ministrodas relações exteriores que ordenara aos respectivos chefes po-,
liticos que .procedessem ás necessárias investigações. »
Não vão extratados por extenso os últimos assassinatos de
subditos brasileiros commettidos no Estado Oriental, referidos
n'este relatório, por não ser absolutamente necessário; basta
citar os factos para se saber que as relações amigáveis que
o governo imperial se esforçava para conservar com o Estado
Oriental, continuavam d'este modo. Estas relações de reciproca
amizade,
que existiam entre os dous Estados, consistiam na contir
nuação dos assassinatos, roubos, violências de toda ordem e per
seguição aos subditos brasileiros residentes n'aquella R epublica.
O relatório do ministério dos negócios estrangeiros de 1 8 6 2 ,
apresentado á Assembléa Geral pelo conselheiro Magalhães
Taques, contém o seguinte:
RELAÇÕES POLÍTICAS.
« As nossas relações com as Republicas do Prata, continuam
quasi no mesmo pé em que se achavam o anno próximo
passado.
v As violências e vexames que soffrem os subditos do I m
pério estabelecidos ou residentes nos departamentos da Re
publica Oriental, próximos da fronteira brasileira, tem despertado
a mais séria attenção do governo imperial, e exigem as mais
enérgicas providencias da autoridade superior, como não cessam
de reclamar os agentes do Império, a bem dos direitos e le
gítimos interesses dos nossos nacionaes.
« Seria para deplorar, que por falta d'essas providencias, se
alterassem as condições de boa intelligencia e harmonia entre
as respectivas populações.
« Do governo da mesma Republica deverão merecer parti
cular consideração as obrigações que ella contrahio pela con
venção de subsidio de 12 de Outubro de 1851, e os princípios que
dictaram o a cordo celebrado para a liquidação das reclamações
brasileiras provenientes de prejuízos de guerra.
« Com a terminação do prazo fixado para as isenções de
que trata o art.
4 . °
do tratado de commercio e navegação.
M arço, escripta á vista de informação do respectivo alcaide
ordinário, só faltavam algumas citações para que o processo
subisse ao juiz superior.
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ficaram livres o s dou s gov eruo s para* reg ula r as sua s relações
commerciaes conforme aconselha os seus próprios interesses .
« Em conseqü ência dos extraordinários acontecimentos oc-
corr idos nas provincias argentinas, depois de roto o pacto de
união celebrado entre a Confederação e Buenos-Ayres, não tem
podido o governo imperial continuar a activar a solução dos
ajustes concluidos em 1857, e que ainda pendem de consi
deração do governo nacional ,
« Acaba o governo imperial de ter communicação off icial de
ha ve r o gov ernador de Buen os-A yres assum ido as faculdades
que lhe foram confer idas por aquellas provincias, para representar
a R epub lica em suas relações com as potênc ias estrangeiras
no s term os do decreto de 12 de A bril do corrente an no .
« O governo impe r ia l deve esperar do governo supremo
encarregado hoje de dirigir os negócios da Confederação, a*
precisa cooperação para que se promovam os bem entendidos
interesses dos dous paizes .
« T en do de f indar a 6 de Abril do corrente ann o o prazo
fixado no art, 1.° da co nv enç ão celebrada n 'esta corte em 6
de Abr i l de 1856, dentro do qual se comprometteram o
Bras i l e o Parag uay a nom ear os respectivos plenip oten
ciar ios para se entenderem sobre a questão dos seus l imites;
o gov erno im pe rial , fiel aos seus com promissos, deu p ara
esse fim os precisos plen os poderes ao seu agente diplom ático
e m A s s u m p ç ã o .
« O statu quo das possessões dos dous Estados, ao tempo
d'aquel le a jus te , foi mant ido inal terável .
« O s estab elec im ento s brasileiro s nas cabeceiras dos rio s
Do urado s e M iranda , os quaes const i tuíam o
uti possidetis
do
Império em terrenos que lhe não podem ser contestados, nào
foram com prehen didos no pensam ento que di tou a convenção
de 1856.
« En tre ta nto u m a par tida paraguaya de 60 ou 70 ho m en s
foi a té aqu el las colônias, sob o com ma ndo de um tenen te ,
que pre tendeu duvidar do nosso dire i to a essa occupação.
a S egu nd o as informações que teve o governo imp er ia l , o
facto não passou de uma s imples exploração.
« Cabe aq ui info rmar-vo s de qu e o gove rno im perial d esap-
pr ovou
o
procedimento que por esta occasião teve o encar
regado de negócios do Impér io no Paraguay, de re t i rar -se
pa ra es ta corte sem a necessár ia l i ce n ça ; e resolveu exoneral-o
d ' a que l le c a r go .
E S T A D O O R I E N T A L .
ABUSOS E VIOLÊN CIAS COM METT ID03 CONTRA BRASILEIROS POR AUTORIDADES
DO DEPARTAMENTO DE TAQUAREMBÓ.
« A presidência d a provincia de S. Pedro do Rio-Grande
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do Sul fez subir á presença do governo imp erial um a re pr e
sentação assignada por grande numero de subditos brasi leiros
residentes no departamento de Taquarembó, expondo os at ten
tados e violências q ue sofTriam da parte das respectivas a u to
ridades orientaes.
« Os factos de que procedem taes queixas, não são mais do
que a reproducçâo ou continuação de outros, que o relatório
do ann o passado noticiou hav erem occorrido du ra nt e a ad m i
nistração de D. Jac inth o Barbat, antecessor do actu al chefe
poli t ico, D. Tris tão Azambuja .
« In felizm en te esses excessos não tem ficado lim itad os a
esse departamento; iguaes occurrencias ha a deplorar em
outros , se bem na general idade não sejam acompanhados de
circumstancias tão aggravantes .
« A ttendendo as reclamações feitas sob vários titu lo s, por
governos
representados por seus agentes em M ontev idéo,recomm endou o governo da R epublica em 9 de Jan eir o d o
corrente anno, que as autoridades departamentaes no desem
penho de seus deveres , se houvessem com a maior mode
ração, e que as commissões mais importantes fossem desem
pen had as pelos próprios com missarios, afim de pre vin ir abuso s
de funccionarios subalternos.
« A vultando mais o num ero de Brasi leiros residen tes ou
estabelecidos no território oriental, m ais freq üentes são as re
clamações do governo imperial .
« O governo da R epu blica dem itt io de suas funcções
vários chefes políticos e commissarios dos departamentos de
M aldonado, Canelones, e S al to . Igua l procedim ento teve com
D . Jacinto Barbat, chefe politico no departamento de Ta
q u a re m b ó .
» M as, nem as recommendações do governo da R epu blica,
nem a demissão d ' aquella autoridade, puz eram termo ás
violências que alli se praticam con tra os sub ditos d e S u a
Magestade o Imperador, sob a adminis tração do actual chefe
político.
« O s actos de perseguição oomm ettidos d ur an te essa a d m i
nistraç ão po dem ser classificados em du as cathe goria s : ou se
referem a um a comp licada questão sobrevinda em extensos
campos, era que tem posse antiga muitos subditos brasi
leiros ; ou na m áxim a parte a assassinatos, esp oli aç õe s,
prisões arbitrarias e toda a sorte de vexames.
« O governo imp erial , devendo prestar aos subditos do I m
pério a protecção que lhes é devida, tem cham ado co nsta n
temente a at tenção do governo da Republica sobre este de
plorável es tado de cousas .
« Os úl t imos successos induziram o mesmo governo a or
den ar que se procedesse ás precisas diligencias, afim de be m
averiguar a justiça que assiste aos reclam antes bra sileir os, e
para este flm dete rm ino u, po r despacho de 16 de Fe ve reiro
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— 85
do cor rente ann o, qu e o cousul gera l do Im pér io o Sr .
M eiehior Carneiro de M end onç a Franco , se di r igisse , ao
refer ido dep artam en to, pá ra habil i tar a legação im perial a
cumpr ir as ins t rucções que lhe tem s ido remet t idas .
« R esu l ta do re la tór io , que apresentou o nosso agente
c o n s u l a r
f
bm 30 de M arço ul t im o em desempenho de sua
árd ua com m issão , qu e não é ainda possível fazer-se u m juizo
seguro acerca do procedimento das autor idades or ientae s ,
re la t iv am ente ao esou lho de campos e gados , ar rasamento
de casas e bemfeitor ias , questões tão freqüentes no departa
mento de Taquarembó. Já antes havia informado a legação
imperial , que n 'essas questões estão envolvidos interesses
não só de par t iculares mas também do f isco.
« Nào desconhece o governo imper ia l que es te assumpto é
especia lme nte da com petência dos t r ibun aes , e qu e aos su b
ditos brasileiros per tence promover pelos meios legaes o que
lhes convier, e fôr a bem do seu direito.
« Este é o pr inc ipio regu lado r das relações intern acio nae s
em sem elhan te m atér ia , mas n em por isso pôde ser excluída
a inte rven ção do governo imper ia l , qu and o nos ple i tos qu e
se m ove rem por taes qu estõe s, forem po stergados os p r i n
cípios dè justiç a un ive rsal , ou se d er m anifesto abu so e
v io lê nc ia .
« Deplora entre tanto o governo imper ia l ver conf i rmadas no
relatór io do côn sul g eral do Im pério as queixas dos subd itos
brasileiros, por causa dos at tentado s de q ue tem sido victim as,
os quaes , segundo as aver iguações a que se procedeu, tem
sido cpm m ettidos de modo in justi í icavei, até pelas próprias
autor idades da 'Republica, com violação de suas leis .
« Esse s actos atrozes vem relacionados em u m a nota qu e
em conseqüência d 'aquel las di l igencias di r igio a legação im
per ia l , em 29 de M arço ul t im o, ao minis t ro das re lações ex
ter iores .
« Essa n ota d á . tam bé m c onhe cime nto de vár ios assassinatos
de qu e a té esse tem po não o t inh a a legação.
« A ' vista do qu e n 'el la se expõe, pôd e dizer-se qu e nã o
ex istem sob a a dm inistraç ão do actual chefe poli t ico, n e
nhumas garant ias individuaes para a população bras i le i ra , que
res ide em T aq ua rem bó . S obe de ponto a gravidad e d 'cs ta s i
tuação se se a t tender ás preoccupações t radic ionaes com que
são olhados na Republica os estabelecimentos brasileiros .
« T om a n do o go ve r n o da R e publ ic a e m c ons ide r aç ã o a s
representações do gov erno im per ia l , assegurou ao seu rep re
sentan te qu e ado pt an a med idas qu e as sa t is t izessem, e qu e
faria q u an d o estivesse ao seu alcance para q u e , ver if icados
os factos, fossem os seus autores severamente punidos.
« Conf ia o go vern o im per ia l qu e essas prom essas serão rea
l izadas, com o o pedem as boas relações en tre os do us p aizes .
«
O
gove r no im p e r ia l ve ia r á inc e s s a n te m e nte pa r a que se ja m
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m
— 8 4 —
respeitados os direitos e intere sses dos subd itos bra sileiro s ao
Estado O riental , tornan do-se effectivas as ga rantia s q ue de ve m
encontrar sob a protecção das leis e do go ve rno su pr em o
da Republica.
« Se forem improticuos os esforços dos agen tes do I m p ér io ,
as conse qüên cias da indifferença official ou da inefficacia d aacção do governo da R epub lica, não] correrão por con ta do
governo imperial . »
ASSASSINATOS DE SUBDITOS BRASILEIROS.
« No decurso do anno próximo passado, ho uv e a lam en tar
vários assassinatos de subd itos b rasileiros em difíerente s d e
par tamentos da R epubl ica O r ienta i do U rug ua y. A legação im
perial em M ontevidéo nào tem cessado de recla m ar c on tra
esses cr imes, e pela punição de seus autores .
« Estes factos nem sempre são acom pan hado s de circ um s
tancias grav es ; mu i tas vezes são conseqüência de r ixas ent re
indivíduos de baixa condição; a lguns , porém, tem s ido com-
mettidos com participação de autoridades ou agentes da força
publ ica da Republ ica
« Nas relações comp licadas existentes en tre os do us paiz es,
as garantias dos direitos individu aes são o pr im eiro elem en to
de harmonia e boa intell igencia.
« As autor idades, pois , encarregadas de m an ter a or de m
pu blica (os chefes políticos, s eu s delega dos e a força po licial)
devem ser consti tuídas de modo que respeitem e façam res
peitar tão preciosos direitos.
« Dar-vos-hei con hecim ento d o estado d'estas q uestõ es, de
cada um dos successos que tem feito objecto da intervenção
diplomática brasileira jun to ao gov erno or ien tal .
« O sargento de policia R aph ael M endonza, indigi tado c om o
auto r da mo rte do subdito brasileiro R oberto Corrêa, no d e
parta m ento do Cerro L argo , foi preso e p osto á disposiçã o da
justiça ordinár ia respectiva.
« O governo imper ia l recomm endou que cont inuasse a lega
ção em M ontevidéo a reclamar as necessár ias prov iden cias
para que o autor d'esse crime não escapasse á vinaicta da lei.»
Segue-se a descr ipção de mais cinco assassinatos perpetra
dos em subditos brasileiros, nos departamentos do Estado
Oriental , por agentes da policia . Sobre todos estes aconteci
men tos nao deixou a legação imperial de reclamar do go ver no
da Republ ica a punição dos culpados; aquel le governo apa
rentava dar as provid encias exigidas, m as os cu lpa do s ficavam
sempre impunes .
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— 8 5 —
« U lt im am en te teve o governo imperial not icia de outros
assass inatos commet t idos no depar tamento de T aqu arem bó.
Foram el les levados ao conhecimento do governo da Repu
blica por nota da legação imperial de 29 de Março ultimo,
em qu e se referem todas as violências e vexam es qu e alli
soffrem os sub dito s brasileiros da par te das respectivas a uto
r i d ad es .
a
Não com prehen de esta nota a morte do subdito brasi leiro
Es trug i ldo S i lva , perto do Passo dos T oros. Este facto fez
objecto da reclamação iniciada pela mesma legaçàu em 12de Feverei ro . O governo da R epubl ica com mun icou em 22
de M arço ter mand ado proceder á prisão de todos os ind i
v íduos envolv idos n 'es te cr ime. »
DEPREDAÇÕES NO DEPARTAMENTO DE MALDONADO.
« V ários grup os de sa i teadores escolheram aqu el le depar
tam ento para theatro de suas corre r ias e depredações. T antas
eram as violências que prat icavam, e tão freqüentes, que as
famílias brasileira s alli estabelecidas viam-se na n ecessidade
de emigrar para a p rovincia do Rio Grande do Su l .
« P or nota s de 23 de Ju lh o e 23 de Novem bro do an no
próxim o passado, a legação im per ial reclamou do m inistro
das relações exteriore s, providencias que garan t issem aos sub
di tos brasi leiros a segurança de suas vidas e propriedades.
Em a t tenç ão ás ju sta s qu eixa s do nosso encarregado de negó
cios, o gov erno da R epublica- èxpedio em 20 de De zem bro
do m esmo an no , o decreto pelo qual e xone rou o S r . Gabriel
R odrigues do cargo de chefe pol i tico do referido dep artam ento ,
e n o m eo u p ar a s u b s t i t u i l - o o S r . O l eg âr i o R o d r i g u es .
3 3
« De todos os attentados, porém, que fazem objecto especial
d 'esta exposição, o de ma ior gravidad e occorreu coro D om in
ós; de M oraes , guard ião da canhonei ra Ivahy, surta n o porto
J g M o n t e v i d é o .
«x E sta nd o este official m ari nh eir o em terr a, com licença
de*
seu s supe riores, de uniform e e desarm ado, foi preso, sob
pretexto de ser des ertor do exercito orienta l, por ú*m sarge nto
ao 1.° batalhão de caçadores.
(( L eva do p ara o qu arte l d 'aq ue lle corpo, foi ahi m altrata do
e m or ta lm en te ferido pelo official Ele uterio Pires , e n 'este
estado tran spo rtad o para o hospital de caridade, onde falieceu.
« À legação imp erial reclam ou imm ediatam ente a puniçã o
do assassino, e um a ind em nisaç ão pecuniária em favor da
fam ília do fallecido. S into dizer-vos qu e bem pouco satisfató
r ias são, até ao presente, as respostas que a legação impe
rial te/u recebido do ministério das relações exteriores da Re
p u b l i ca .
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ARRKBATAMENTO DO ESCUDO DAS ARMAS IMPERTAES DA F RE NT E
DA CASA DO VICE -CO NSU L RASILEIRO EM TAQUAREMBÓ.
« Este at tentad o foi perpetrado em 16 de Nove m bro ul t im o
por José do Couto , cunhado de
D .
Tris tâo Azambuja, chefe
poli tico do» mencionado dep ar tam ento . O minis t ro das re la
ções exteriores com m unic ou á legação impe rial , por nota de
7 de Jan eir o, qu e ordena ra ao respectivo chefe poli t ico, q u e
reprehendesse severamente ao autor do deiicto, e lhe appli-
casse a pen a correccio nai de seis a oito dias de prisà o. Es ta
ordem porém não foi cumprida.
c( No dia 6 de Jane i ro o nosso v ice-consul em T aq ua re m
bó recebeu um a com m un i cação do chefe politico do dia an
tecedente, part icipando-lhe que o referido Couto fora preso.
N'.esse m esm o dia apr esen tou -se esse ín div idu o a ca vai] o em
frente da casa do vice-c onsu l, lev an do de rastos pela ru a o
escudo das a rmas imp er iaes , por e lle anter iorm ente a rr eb ata
do ; e, apeand o-se, passou a injuria r e am eaçar com faca o
me smo vice-consul . Um a das m ui tas tes tem unh as , que as
s is t iram a essa aggressão, im ped io aind a m ais sérios at te nt a
dos .
« A legação im peria l teve po rtan to de solicitar, em 21 do
dito mez, providencias m ais enérgicas . E m 22 part icipou o
gove rno da R epub lica haver fei to as precisas rec om m en da -
ções, para qu e o réo fosse com pete ntem ente processado. E m
qu an to estas ordens eram expedidas, em 23 o alcaide ordi
n á r i o ,
sem ouvir as tes tem unh as presenciaes do crim e, .pro
feria a sentença de absolvição do réo , con sidera ndo -o ébrio
e louco,» e as offensas sem o cara cter qu e se lhe s attr ibu ia.
a Nã o sendo possivel aceitar sem elh an te justificação, ins is
t i o a legação imp erial para que o crime não ficasse i m p u n e,
e pelo gov erno da R epublica foram reiterad as as ord ens q ue
exigia a natureza da orFensa. Em conseqüência d'estas ultimas
ord en s, tornou a ser preso o ind ivid uo de que se t rata , e
foi sub m ettid o a nov o proce sso. )>
ASSALTO DA CASA DA BRASILEIRA ANNA DA SíL VA , EM CUN HA -PÊR U.
cc Em D ezembro do ann o próximo passado um a part ida de
policia de , T aqu arem bó, ás ordens do com missario da 4.»
secção Horacio Rodrigues, sob o pretexto de prender um in
divíduo de nome Gaspar Oribe, accusado do crime de rapto
de tres menores de côr, assaltou a casa da Brasileira A n na d a
S ilva, viuv a de Seraí im Nu nes Garcia , m orado ra em Cunha»
Pe ru , a pequena dis tancia da l inh a divisória , entre o Império
e a
Republica .
« Sendo encon trado, não Gaspar Oribe, porém Gaspar d a
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Sita*, foi este preso e levado amarrado á presença do com
missario, e depois solto por não ser o mesmo indivíduo que
se procurava.
« A legação im perial, tendo notícia d'este guccesso em
11
de Fevereiro do corrente anno, dirigio-se em
12
de Março
ao governo da Rep ublica, reclamando a punição dos culpados,
e a adopção de providencias adequadas, contra actos de v er
dadeira tropelia, com o os praticados n'aquella diligencia. »
Este relatório do ex-ministro de estrangeiros Taques,
p u b l i
cado em 1 8 6 2 , além de continuar a relatar as atrocidades de
que eram victimas os Brasileiros residentes no Estado Oriental,
e de mencionar o grande numero de assassinatos, diz:
« Que deplora o governo imperial ver confirmadas no relatório
do cônsu l geral do Império, as queixas dos subditos brasileiros,
por causa dos attentados, de que tem sido victim as; os quaes,
segundo as averiguações a que se procedeu, tem sido com-
mettidas de modo injustificáve l, até pelas próprias autoridades
da R epub lica, com yiolação das suas leis. »
Ainda no anno de
1 8 6 2 ,
esta exposição não despertou as
câmaras do lethargo em que jaziam, havia tantos annos, em
relação ás Republicas hespanholas.
A' vista de um tal comportamento dos poderes do Estado,
parece que aqueilas offensas eram commettidas contra indi
víduos de outras nações, e não contra Brasileiros, á vista do
seu govern o .
m
Coutem este relatório alguns factos mais notáveis, que me
recem que se faça d'elles menção especial.
Em 1 8 6 1 , setenta soldados paraguayos commandados por
um official, foram ás margens dos rios Dourado e Miranda,
duvidando da nossa posse sobre aquelles terrenos. A este
respeito continua o ministro dos negócios estrangeiros Taques
dizendo:
« Segund o as informações que teve o governo irap em l,
o facto não passou de um a simples exploração. »
Era a segunda vez que os Paraguayos invadiam a pro
vincia de Matto-Grosso, isto é, o que constava oficialmente,
e o governo imperial sabendo que estas explorações fizeram-se
com força armada, contentou-se em pedir simples informa
ções; já que não tinha podido previnir aquellas explorações
armadas ou reconhecimento do terreno, para algum fim do
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governo de Assumpção; e tomar uma attitude enérgica contra
aquelle governo.
Estas explorações dos Paraguayos têm ainda outras expli
cações ; a proviacia de Matto-Grosso, muito extensa, pouco
povoada, situada a Oeste da costa do Brasil, teve sempre por
estas razões poucos meios de defeza; por conseqüência nas
campinas do Sul não havia gente que se oppusesse aquellas
invasões armadas, isto facilitou a entrada dos soldados para
guayos, que tinham a certeza de não achar resistência;
aquella provincia teve sempre pequena guarnição, porque os
corpos de linha nunca poderam chegar a ler o seu estado
completo; para obstar.á invasão paraguay a de Dezembro de
1 8 6 5 ,
era necessário que tivesse de tres a quatro mil homens das
tres armas.
Vamos terminar o que diz o relatório de 1 8 6 2 com a recor
dação dos dous factos seguintes.
A prisão e assassinato do guardião da canhoneira Ivahy,
fundeada em Montevidéo, foi um motivo bastante forte para
se ter exigido immediatamente d'aquelle governo a satisfação
devida a tão grande insulto. Se o caso se tivesse dado com
uma praça dos outros navios de guerra de qualquer nação,
que alli tem suas estações, o «governo que então existia
u ' a q u e l l a
Republica tinha-se visto bastante embaraçado para
attenuar o crime que seus subditos commetteram. Apezar
das muitas reclamações da legação imperial em M ontevidéo,
aquelle governo não deu à satisfação conveniente, porque o
governo imperial não teve logo o procedimento que o caso
exigia.
O arrebatamento do escudo das armas imperiaes da frente
d a
1
casa do vice-consul brasileiro na villa de Taquarembó,
foi um insulto feito á nação o qual com outra qualquer po
tência, tinha sido motivo mais do que sufficiente para haver
serias complicações.
O relatório dos negócios estrangeiros que devia ser apre
sentado á Assemblóa Geral, em 1863, pelo M arquez de Abrantes,
contém o seguinte:
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ABUSOS E VIOLÊNCIAS COMMETTIDAS NO DEPARTAMENTO DE TAQUAREMBÓ,
DURANTE A ADMINISTRAÇÃO DO CHEFE POLÍTICO TRISTÃO DE AZAMBUJA.
« O meu antecessor já vos deu conta da séria attenção que
mereceram ap governo imperial os successos que occorreram
n'aqu elle departamento, e de que eram victimas vários subditos
brasileiros.
« Os factos levados ao conhecimento do governo da Repu
blica eram de natureza tal, que reconhecendo não ser pos
sível a continuação de um tal estado de cousas sem grave
eom pro m ettim ento das relações entre os dou s paizes ; resolveu
o mesmo governo por decreto de 12 de Junho ultimo, de-
mittir o chefe politico, que em vez de os prevenir os acoro-
çoava com o seu espirito de hostilidade ao Império.
« O Sr . Eduardo Ca ste%no s, continua a exercer interina
mente aquelle importante cargo.
« Esta providencia, devida como satisfação ás justas recla
mações do governo imperial pelos numerosos attentados per
petrados durante a administração do chefe politico demittido,
removeu a principal causa de desintelligencia entre os dous
paizes.
« Sobre o mérito do relatório a que procedeu o cônsul geral
do Brasil em Taq uarem bó, para bem verificar os abusos,
vio lên cia s e toda a sorte de vexames de que se queixavam
os subditos brasileiros, na sua representação dirigida ao pre
sidente da prbvincia do Rio Grande do Sul, ouvio*o goveino
da R epu blica as respectivas auto ridad es; e julgand o deficientes
as inform ações recebidas, exigi o nov as e m ais amplas averi*
gnações sobre a culpabilidade dos criminosos, e as circums
tancias que acompanharam os seus delictos, afim de adoptar
as providencias que os casos exijam. dj
« O govern o imp erial aguarda estas providencias, na co nvic
ção de que serão correspon dentes aos atrozes crimes de que
não estão escoimadas as autoridades locaes, e das quaes
foram até algumas os próprios autores. »
R E L A Ç Õ E S P 0 M T 1 C À S .
<* A s n ossas qu estõ es com a R epub lica O riental, Confede
ração Argentina e Paraguay, acham-se quasi no mesmo pé
ém que as deixou o meu iIlustre antecessor.
« As nos sas relações com a Repu blica do Paraguay apre
sentam um
aspecto lisongeiro,
e aguarda o governo imperial
uma época não r e m o t a de se entenderem os dous governos
sobre o í inal reconhecimento de sua respectiva linha divi
sória. »
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A S S A S S IN A T O D O G UA R D IÃ O D A A R M A D A N A C IO N A L D O M IN G O S D E M O R A E S .
« S i n t o t er d e c d m m u n i e a r - v o s q u e a i n d a s e a c h a p e n d e n t e
d e s o l u ç ã o d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a a r e c l a m a ç ã o i n i c i a d a
d e s d e 3 1 d e A g o s t o d e 1 8 6 1 p e l o g o v e r n o i m p e r i a l , p o r m o t i v o
d o a t t e n t a d o c o m i n e t t i d o n a p e s s o a d o g u a r d i ã o d a a r m a d a
n a c i o n a l D o m i n g o s d e M o r a e s .
<c D i s c o r d a m o s d o u s g o v e r n o s s o b r e a tfa cio na lid ad e d o
i n d i v i d u o d e q u e m s e t r a t a , firm an dó -se a m b o s n o s l i v r o s d e
r e g i s t r o d e q u e f o r a m e x t r a h i d a s a s c e r t i d õ e s d o s a s s e n t a
m e n t o s d e p r a ç a , q u e t e v e n a m a r i n h a b r a s il e ir a D o m i n g o s
d e M o r a e s , e n o e x e r c it o d a R e p u b l i c a u m t a l D o m i n g o s
M o r a l
es'.
« N ' e s t e e s t a d o d a q u e s t ã o , p r o p ô z o g o v e r n o d a R e p u b l i c a
q u e f os se e l l a s u b m e t t i d a , c o m t o d o s o s d o c u m e n t o s q u e l h e
s ã o r e l a t i v o s , a u m j u i z o a r b i tr a i d e d o u s a g e n t e s d i p l o m á
t i c o s , n o m e a d o s p o r c a d a u m a d a s p a r t e s , s e n d o D O c a s o d e
d i v e r g ê n c i a n o m e a d o u m t e rc e ir o a r bi tr o e s c o l h i d o t a m b é m
d ' e n t r e o s a g e n t e s d i p l o m á t i c o s .
cc R e c o n h e c e n d o o g o v e r n o i m p e r i a l n a o f íe r ta d o d a R e
p u b l i c a u m m e i o c o n c i l i a t ó r i o , e p o r v e n t u r a e q u i t a t i v o d e
r e s o l v e r s e m e l h a n t e c o n f l i c t o , n ã o p ô d e c o m t u d o a n n u i r a
e s s e c o n v i t e , p o r q u e s e n d o i n c o n t e s t á v e i s o s f u n d a m e n t o s d a
r e c l a m a ç ã o d o g o v e r n o i m p e r i a l , e t ã o c l a m o r o s a a j u s t i ç a
q u e l h e a s s i s t e , s u b m e t t e r - s e a u m t e r c e i r o a s o l u ç ã o d e s e
m e l h a n t e n e g o c i o , i m p o r t a r ia o d u v i d a r c a d a u m d o s d o u s
g o v e r n o s d a p r ó p r ia r e c t i d ã o e e n e r g i a . P r o s e g u i o , p o i s , a
l e g a ç ã o i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o $m s u a s i n s t â n c i a s j u n t o d o
g o v e r n o d a R e p u b l i c a .
cc A s a t i s fa ç ã o r e c l a m a d a p e l o g o v e r n o i m p e r i a l , c o n s i s t i a
n a e x e m p l a r p u n i ç ã o d o a u t o r d o a t t e n t a d o c o m m e t t i d o c o n
t r a o s u b d i t o b r a s i l e ir o d e q u e s e t r a t a , e b e m a s s i m e m u m a
r a s o a v e l i n d e m n i s a ç ã o p e c u n i á r i a q u e p u z e s s e a c o b e r t o d a í n -
d i g e n c i a , a q u e f i c o u r e d u s i d a , a f a m í l i a d e M o r a e s .
« O g o v e r n o i m p e r i a l a c a b a d e t e r i n f o r m a ç õ e s d e q u e e s
t a s e x i g ê n c i a s f o ra m t o m a d a s e m c o n s i d e r a ç ã o p e l o d a R e p u
b l i c a , p r o p o n d o e s t e , p e l a - i r r e g u l a r i d a d e h a v i d a n a p r i s ã o ,
n o c a s o v e r t e n t e , m a n d a r c a s t i g a r o o f f ic i al q u e a e f f e c t u o u ,
e r c p r e h e n d er o c o m m a n d a n t e d o c o r p o d e c a ç a d o r e s , d e b a i x o
d e c u j a s o r d e n s e l l e s e r v i a , a r b i t r a n d o o u t r o s i n i a q u a n t i a d e
m i l p e s o s e m f a v o r d a f a m í l i a d e s v a l i d a d e M o r a e s . »
VÁRIOS OUTROS ASSASSINATOS»
« N ã o t e m s i d o f e l i z m e n t e t ã o f r e q ü e n t e a p e r p e t r a ç ã o d e
c r i m e s d V s t a m t u r e z a n o E s t a d o O r i e n t a i e m s u b d i t o s d e
I m p é r i o . A s m e d i d a s to m a d a s p e lo g o v e r n o d a R e p u b l i c a p a r a
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pelo ju iz do c r ime respec t ivo a do us an no s de pr i são e nas
cus tas do processo. »
ARREBATAM ENTO 1)0 ESCUDO DAS ARMAS 1MPERIAES DA FR EN TE DA CASA
D O V I C E - C O N S U L B R A S I L E I R O E M T A Q U A R E M B Ó .
« O Bras i le i ro José do Cou to , cu nh ad o de D . T r i s t ã o de
A z a m b u ja , q u e c o m m e t t e u o d e s a c a t o , q u e j á foi l e v a d o a o
a o v o s s o c o n h e c i m e n t o , c o n t r a o e s c u d o d a s a r m a s i m p e r i a e s
que in d i ca va a res idência do v ice cônsul do Bras i l em T aqu a
rem bó, foi p reso e su bm et t ido a novo processo , por ser
t u t n u l t u a r i o o s u m m a r i o a q u e a n t e s s e h a v i a p r o c e d i d o , e por
conte r a sente nça profer ida pelo alcaide or diná r io u m a n ov a
aggressáo, a lém das
v
offensas i r rogad as ao Im pér io n 'es se gra ve
successo .
« N 'es tas c i rcum stanc ias , e pe lo r igor com qu e e ra de t ido
em cus todia , imploro u o perdão de £>ua M ages tad e o I m p e
ra d o r ; m as es tando o negocio a ffec to aos t r ibu na es , o go v er n o
i m p e r i a l j u l g o u d e v e r a b s t e r - s e d e q u a l q u e r i n t e r v e n ç ã o , e
deixar o processo correr seus t ramites legaes . »
O re la tór io dos negócios . . . es trangei ros , q u e o M arq ue z de
A brante s apresento u á A ssembléa Ge ra l de 8 de Ja ne i ro d e
1864,
contém o seguin te , cont inuação do re la tór io de 1863:
P A R T E P O L Í T I C A .
RELAÇÕES DO ESTADO ORIENTAL COM O BRASIL E A CONFEDERAÇÃO
ARGENTINA, POR OCCASIÃO DA INVASÃO DO TERRITÓRIO DA
R E P U B L I C A P E L O G E N E R A L D . V E N A N C I O F L O R E S .
« E m p r i n c í p io s d ' e st e a n n o r e p r o d u z i r a m - s e n o E s t a d o
O r i e n ta l o s l a m e n t á v e i s s u c es s o s q u e t ã o s e r i a m e n t e c o m p r o -
m et te ram a paz da R epu bl ica em 1858 . Em 19 de A br i l foi
n o v a m e n t e i n v a d i d a a R e p u b l i c a p o r a lg u n s e m i g r a d o s o r i e n
t a e s , re fugiados em Bu eno s-A yres . A ' t es ta d 'es te m ov im en to
a p r e s e n t o u - s e o g e n e r a l V e n a n c i o F l o r e s , E s t e g e n e r a l , t e n d o
d e s e m b a r c a d o n o R i c o n d e I a s G a l i n a s s o b re o u r u g u a y , s e
guio ixn med i a tam ente para a ca m pa nh a . Em S ant a R osa e
anto Eugênio foram-se- lhe reuni r vár ios chefes com forças
u e s e d i z i am o r g a n i s a d a s n a n o n t e i r a d e Q u a r a h i m e e m
orr ientes . Começou então a Ikta com a rebsf l iâo .
« Não ob s tan te confiar nos* e lem en tos nac io&aes pára de be l -
la l -a , rec lamou o governo da R epubl ica dos agentes d ip lomát icos
n 'el la acredi tados, o auxi l io que
estivessem
n o caso de p restar
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e m b e n e f i c io , d a p a z , e d o s i n t e r e s s e s e s t r a n g e i r o s c o m p r o -
m e t t i d o s n a s i t u a ç ã o a n o r m a l e m q u e s e a c h a v a o p a i z .
« H a v i a r az O e s p a ra cr e r q u e a l g u n s B r a s i l e i r o s , m e n o s
r e f le c t id o s , s y m p a í h i s a v a m e e s p o s a v a m a c a u s a d o s r e b e l d e s .
R i a m m a i s f u n d a d a s a s s u s p e i t a s d e q u e t i r a v a e l l a p r i n
c i p a l m e n t e a s u a f o rç a e d e s e n v o l v i m e n t o d e B u e n o s - A y r e s e
d e C o r r i e n t e s . C o m e s t a s a pp rt h e n s õ e s , o p r i m e i r o c u i d a d o
d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a foi r e c l a m a r d o s g o v e r n o s d o B r a s i l
e d a C o n f e d e r a ç ã o A r g e n t i n a , a s p r e c i s as p r o v i d e n c i a s , p a r a
q u e a s a u t o r i d a d e s e h a b i t a n t e s d o s r e s p e c t i v o s p a i z e s s e m a n
t i v e s s e m e m f r e n te d e t ã o d e p l o r á v e i s a c o n t e c i m e n t o s n a m a i s
s t r i c t a n e u t r a l i d a d e . »
P R O V I D E N C I A S A D 0 P T A D A 3 P E L O G O V E R N O I M P E R I A L .
« N ã o h a v i a q u e d u v i d a r d a p o l it ic a q u e , e m s e m e l h a n t e s
c i r c u m s t a n c i a s , s e r ia a d o p t a d a p e l o I m p é r i o , q u e t a n t a s p r o v a s
t e m d a d o d o s e u e m p e n h o e m m a n t e r n o p é d a m a i s p e r
f e i ta c o r d i a l i d a d e a s s u a s r e l a ç õ e s c o m a R e p u b l i c a . A n i m a d o
e n t r e t a n t o d o s s e n t i m e n t o s o s m a i s - « ge n er o so s e a m i g á v e i s ,
e d e c o n f o r m i d a d e c o m o s s e u s p r e c e d e n t es , r e ç o m m e n d o u
o g o v e r n o i m p e r i a l , e m t e r m o s p r e c i s o s e e x p l íc i t o s , a l i n h a
d e c o n d u c t a q u e d e v i a m t er , e m s e m e l h a n t e c o n j u n c t u r a , a s
a u t o r i d a d e s d a p r o v i n c i a d e S . P e d r o d o R i o G r a n d e d o S u l .
N e n h u m a p r o t e c ç ã o e a u x i l i o d e v i a p r e s ta r - s e á c a u s a d a r e -
b e l l i á o . A s f o r ç as r e b e l d e s q u e s e a s y l a s s e m n a p r o v i n c i a ,
d e v i a m se r c o l l o c a d a s e m u m a p o s i çã o i n t e i r a m e n t e i n o f e n
s i v a . A s a u t o r i d a d e s q u e s e d e s u s a s s e m d e s e u s d e v e r e s , n ã o
g u a r d a n d o o u n ã o f a z e n d o r e s p e i ta r a m a i s p e r f e i ta e a b s o
l u t a n e u t r a l i d a d e p o r p a r te d o I m p é r i o , d e v i a m s e r s e v e r a
m e n t e p u n i d a s .
« O p r e s i d e n t e d ' a q u e l l a p r o v i n c i a h a v i a j á a n t e c i p a d o e s t a s
o r d e n s , r e c o m m e n d a n d o t a m b é m p or s u a p a r t e , l o g o q u e a l l i
c o r r e u o b o a t o d e u m a t e n t a t i v a d e i n v a s ã o n o t e r r i tó r i o d a
R e p u b l i c a , t o d a a v i g i l â n c i a n a r e s p e c t i v a f r o n t e i r a , a f i m d e
o b s t a r a q u a l q u e r i n t e r v e n ç ã o d e B r a s i l e i r o s o u O r i e n t a e s ^ a l li
r e s i d e n t e s , n a s l u t a s i n t e s t i n a s d e q u e e s t a v a a m e a ç a d o o
E s l a d o^ - li m it ro p h e * F o r a m t a m b é m a d o p t a d a s a s p r o v i d e n c i a s
n e c e s s á r i a s p a r a t o r n a r - s e e f fe c t iv a a q u e l l a v i g i l â n c i a . E s t a s
p r o v i d e n c i a s s q r j i r a m o d e s e j a d o e f f e i t o .
« O s c h e f e s
:
r e v o l t o s o s M a r c o s S a l v a t i l l a , e P e d r o A l g a -
n a r á s , d e r r o t a d o s e m J u n h o a o S u l d o A r a p e h y , p e l a s fo rç a s
s o b o c o m m a n d o d o g e n e r a l L a m a s , b u s c a r a m a s y l o n o te r
r i t ó r i o b r a s i l e i r o ; m a s a p e n a s h a v i a m p a s s a d o a f r o n te i ra ^
f o r a m i m m e d i a l a m e n t e d e s a r m a d o s e i n t e r n a d o s p o r o r d e m d o
b r i g a d e i r o D a v i d O a n a v a r r o , f i c a n d o o a r m a m e n t o d e p o s i t a d o
p a r a s e r e n t r e g u e á a u t o r i d a d e b g a l d a R e p u b l i c a , q u e o r e
c l a m a s s e .
0
f a c t o d e t e r e m - s e d a d o a l g u n s c a s o s i s o l a d o s d e
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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entrada e sabida d o território brasileiro de alg un s rebeldes*
sem se lh es applicar as regras prescriptas em com protni^sos
dos do us g ove rno s, nào indicam tolerância
ou
convivência
das respectivas autoridades, que não podem estar presentes
e m todos os pontos da extensissima e despovoada fronteira,
qu e separa o Império da R epu blica. Os Brasileiros que i n -
consid erada m ente hav iam transposto a. fronteira, para tom ar
parte na revolta, a despeito da vigilância das autoridades,
nela maior parte arripiaram logo carreira, conhecendo as
funestas conseqü ências qu e resultariam do seu crim inoso pro
cedimento.
« E '-m e satisfactorio ter d e inform ar-vos que os sub ditos
d 'este Império residentes na Republica, no meio dos sérios
conflictos que se tem dado na campanha, mantiveram na sua
maior generalidade com honra o nome de Brasileiro, deixando
de ingerir-se nas dissenções domesticas do Estado Oriental.
E '
entretanto de deplorar que, apreciando mal este procedi
mento, tenham alguns d'esses Brasileiros soifrido depredações
e violências em suas propriedades, da parte das próprias forças
do governo da Republica. Este governo reconheceu, por um
accordo de 30 de Outubro ultimo, o direito que tem os pos
suidores dos certificados passados pelos chefes do exercito da
legalidade em campanha, de cobrar do Estado o justo valor
da propriedade tomada, pelo preço corrente nos respectivos
departamentos. A legação imperial em Montevidéo está encar
regada de proseguir nas reclamações que forem convenientes,
para que esta medida se torne efficaz e sejam indemnisados
os subditos do Im pério d a s' espoliações arbitrarias, qu e nã o
tem ainda tido a devida reparação pelos meios competentes. »
MISSÃO CONFIDENCIAL DO BRASIL EM BUENOS-AYRES.
a O objecto especial d'esta missão era obter do governo da
Confederação explicações sufficientes, que removessem as ap-
preh ensões e as duvidas de que. estava possuído o govern o oriental.
Preenchia assim o governo imperial um dever de lealdade e
de boa visinhança, e dava mais uma prova de fidelidade aos
seu s ajustes internacionaes. O governo a rgentino felicitand o-se
de que se lhe houvesse proporcionado a occasião de confirmar
as declarações de stricta neutralidade, que prometteu guardar
na luta que affiige a Republica do Uruguay, não hesitou
um momento em explicar os factos sobre que da maneira a
mais benevola procurou o ageute confidencial brasileiro ser
esclarecido* »
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— 95 —
POSIÇÃO DO IMPÉRIO.
« N'estas circumstancias a política do Império continua a
ser a da mais absoluta abstenção e imparcialidade, tanto nas
desavenças e conflictos extern os, com o nas lutas in testin as
dos Estados visinhos, sem prejuízo dos bons officios e apoio
m ora l, q ue estejam os %eus age ntes n o caso de poder prestar,
no interesse da paz, e sem prejuízo também de seus com
prom issos iutem acion aes, e da protecção que d eve ter as vidas
e propriedades dos subditos do Império resideutes n'aquelles
Estados. Para que esta protecção se torne mais efficaz na Re
publica Oriental do Uruguay, recommendou-se mais uma vez
ao presidente da província do Rio Grande do Sul, de reprimir
com todo o rigor da lei os que a despeito das ordens ins
tantes e reiteradas do governo imperial, surdos á razão e ao
seu dever, persistissem em prestar apoio e concurso á rebel-
lião que flagella aquelle Estado, e dissuadir os que por merairreflcxão se compromettem a si e aos interesses do Império. »
O m arquez de Ab rantes deu instru cções ao presidente da
prov incia do R io Grande, em d ata de 7 de Maio de 1863,
para se conservar a neutralidade do Im pério na luta do Estado
O riental. A lgu ns destacam entos collocados na fronteira deviam
embaraçar a passagem dos Brasileiros armados para as forças
de F lore s, e desarmar os qu e fugissem para o nosso terri
tório.
A legaçã o imperial em M ontev idéo officiou aos v ice-
consules do Estado Oriental, para que dissuadissem os sub
dit os brasileiros de tomar parte na lu ta d'aquelle E stado.
A 20 de O utubro de 1863, a legação im perial reclamou do
go ve rn o oriental contra os actos de violênc ia e depredação
q ue soífriam na cam panh a os subd itos brasileiros.
Dizia a nota da legação o seguinte:
« T en do as forças do general Lam as acampado desde o dia
1 3 a té 16 de Julho* junto á estância de Mattaperros, de pro
prieda de de M an oel A ntônio Br ag a, alli praticaram toda a
espécie de violência e expoliação, queimando ranchos, curral
e madeiras destinadas a construcções; matando indistincta-
mente, entre gado manso e bravio, cerca de 300 rezes; isto
som en te d ur an te aq ue lles tres dias, sem contar outras m uitas
qu e, dep ois de ha ver a divisão passado o S arandy, foram arre
banhadas no ca m p o; e f inalmente levantando toda a cava
lhada existente na estância, sem ao menos deixar os animaes
necessários, para os serviços m ais urgen tes. Por todo este
prejuízo, passou a m uito custo o general Lamas um recibo
d e
l imitado numero de rezes .
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96 —
« Os estabelecim entos- de Jo&o Ign acio , vizinh o d e Braga,
de M anoel F errão, na s pontas de Sopa s, e lugar de nom inad o
Curral de la Piedras; de Lu cind o Jo sé Tarouco, e L aurian o
Jo sé Tarouco, tiveram igua l sorte; a m esma deva stação e
expoliação foi reproduzida em todos elles.
« Na estância de Ferrão nem a m esm a casa de habitação
foi respeitada, parte d*ella foi destru ida e inc en dia da .
« Taes violências, de qu e tem sido quasi exclusiv am ente
victima s o s sub ditos brasileiros residentes na cam panh a da
Republica, não se podem de maneira alguma justificar com
as necessidades extremas da gu err a, em que infelizm ente
anda envolvido o paiz; s&o ellas verdadeiros attentados, que
só tem explicação nas prevenções e resen timen tos, qu e ainda
se nutr em , contra um a tão im portan te parte da população
do Estado.
« Apresentando esses factos á apreciação do Sr. m inistro
de relações exteriores, e esperando da rectidão de S. E x.que será attendida a reclamação, que em prol dos direitos
de seus compatriotas vem d e fazer, o abaixo assignado rei-
teira a S E x. as expressões de su a m ais distincta co ns ide
ração.—Júlio Henrique de
Mello
e Alvim.—A S. Ex. o Sr. Dr. João
José Herrera. »
O m inistro Herrera, depois de defender o general Lam as, d iz :
« A iniciativ a, Sr. encarregado de neg ócio s, é brasileira,
e por conseqü ência o go ver no não pode aceitar, nem a respon
sabilidade dos prejuizos até agora soffridos, nem a d os mu ito
maiores que se seguirão, se continuar a impunidade dos au
tores de desorden s, roubos, assaltos e toda a espécie d e pi
lha gem , que se perpetra na fronteira do Brasil, de com bina
ção com os invasores, que não representam outra cousa. »
Pouco tempo antes da legação imperial fazer esta recla
mação, o governo oriental pedio a cooperação do corpo di
plomático estrangeiro a 15 de Junho de 1863, nas difficul
dades com que lutava, procedentes da invasão do general
F lores. N 'esta protecção pedida ao corpo diplom ático inclu ia-se
o Brasil; m as ao mesm o tempo o gover no oriental deixava o
seu general apoderar-se da propriedade dos Brasileiros resi^
den tes n'aquelie E stado. E m todo este an no de 1863 a legação
imperial teve m otivos para reclamar contra as violên cias de toda
a ordem que soffriam os subd itos do Im pério. Poucos foram o s
resultados favoráveis que obtiveram aquellas reclamações.
A 2$ de D ezembro de 1863, quando o estado p olitico da
Republica se achava em peiores circumstancias, o governo
imperial recom mend ou ao presidente da provincia do R io
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— 97 —
G ra nd e: — « q u e empregasse todos os meios ao seu aleance,
par a fazer effectivo o pe nsa m en to do gove rno im per ial, já
pro cu rand o pers uad ir os nossos concidadãos do dever e da
conveniência de se manterem completamente estranhos a
essa luta, para pouparem a si e ao paiz perigos e difficul
dades mui graves, já fazendo punir com todo o rigor da lei
aq uelle s qu e, su rd o s' á voz da razão e do dever, persistissem
em seu desatina do propósito. » — A guerra civil já existia desde
A li il no E stado O rien tal; as complicações com os subditos
bra sileiro s cada d ia se au grh en tav am ; e a protecção que lhe
prestava o governo imperial consist ia nas notas da legação
ao governo da Republica, e este officio ao presidente do Rio
Grande; nunca o ministério entendeu, sobre tudo depois da
invasão do general Flores, que era absolutamente necessário
gu arn ec er a nossa fronteira do S u l , n a presença de um a
guerra, á qual o Brasil não podia ser indifferente, já pela
contiguidade do terreno, já pelas vidas e propriedades dos
Brasileiros. As armas que o ministério tinha promptas para
defende r o nosso te rritór io, eram as notas diplomáticas, se
gu nd o consta dos relató rios: o exercito conservava-se no
estado qu e m enc ionám os na introducção . Na verdade era mais
fácil es crev er no tas diplom áticas do q ue orga nisar um exercito
n a fro nte ira; era necessá rio conservar a paz, emb ora a gue rra
estivesse ás nossas portas. Tal era o prisma pelo qual o ga
bin ete q ue gov erno u em 1863 via o que se passou na R e
publica visinha. Vio como viram os outros ministérios, que
o precederam; a politica foi sempre a mesma, embora as
figuras que a executassem fossem diversas.
O relatório da repartição dos negócios estrangeiros, apresen
tado á A ssem bléa Geral em 1864 pelo ex-m inistro Joã o Pedro
B í as Vi e i ra , con t ém o segui n t e :
PARTE rOLITICA.
R E L A Ç Õ E S
DO BRASIL' COM A REPUBLICA
O R I E N T A L
DO URUGUAY. — CO N-
PLICTO ENTRE O E S T A D O ORtSlfTAL E A REPUBLICA ARGENTINA.
« E'
conhec ido o resu ltado d a missão confidencial que o
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governo imperial julgou dever enviar a Buenos-Ayres nos fins
do anno passado.
« Se felizmente acudindo ao nosso reclamo, o governo argen
tino foi prompto em dar todas as provas e seguranças pre*
cisas para remover as apprehensões e receios que manifestara
o governo do Estado Oriental, sobre a neutralidade d'aquelle
governo em relação aos acontecimentos que se passavam no
mes n í o
Estado; é todavia para sentir que não surtissem os
devidos e desejados effeitos as negociações n'esse sentido enta-
boladas e concluidas em Buenos-Ayres entre os dous gover
nos,
havendo pelo contrario surgido novas complicações.
« Motivaram ellas duas outras missões, a do Sr. D. José
Marinol por parte do governo da Republica Argentina, e a do
Sr.
Eduardo Thornton, ministro de S. M. Britannica em Bue
nos-Ayres.
< i
Ambas foram, porém, mal logra
I a s ;
a primeira por não
chegarem os dous governos a* um accordo sobre os preliminares da negociação; e a outra por não se prestar o governo
oriental a entrar em discussão diplomática sobre os aconteci
mentos que haviam occasionado a interrupção de suas rela
ções com o governo argentino, a menos que não abrisse este
mão do armamento da ilha de Martim Garcia, e das medi
das que havia adoptado para impedir a passagem de qualquer
navio de guerra oriental.
« Referindo-se o governo oriental a este ultimo facto, e
qualilicando-o em uma nota que a 12 de Fevereiro do cor
rente
a n n o
dirigio a legação imperial em Montevidéo. como
uma violação flagrante dos pactos vigentes com o Império ea Republica Argentina; reclamou do governo de Sua Mages
tade o Imperador providencias adequadas para a completa
neutralidade da dita ilha. »
PRINCÍPIOS E 1NTELLIGEN CIAS DOS TRATADOS SOBRE AS CONDI ÇÕES
COM QUE DEVIA SER POSSUÍDA A ILHA DE MARTIM GARCIA.
(( A reclamação fundava-se nas disposições dos arts. 18 dos
tratados de 12 de Outubro de 1851, e 7 de Março de 1856,
celebrados entre os tres Estados.
« Reconheceram as altas partes contratantes no primeiro
á'aquelles tratados que a ilha de Martim Garcia podia pôr
embaraços e impedir a livre navegação dos affluentes do
Rio da Prata, em que são interessados todos os ribeirinhos,
e a conveniência da neutralidade da dita ilha em tempo de
guerra, quer entre os Estados do Prata, quer entre um d elles,
e qualquer outra potência, em utilidade commum e como
garantia da navegação dos referidos rios.
« A mesma garantia tomou-se extensiva pelos tratados de
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- 9» -
S . José de Flores de 10 de Julh o de 1853, á França, In gla
terra e Estados-Unidos.
« As estipulações a que acabo de alludir tiveram por fim,
sem prejuígar a questão de dominio e soberania que tinh a
de ser resolvida exclusivamente entre os Estados do R io da
P r a t a ; assegurar quan to fosse possível a neutralisação da
ilha de M ar ti m Garcia, e prevenir que fosse ella occupadapor qualquer d'elles, estorvando a navegação d
1
aquelle n o e
ãe seus afílueutes, declarados livres por tratados os m ais
solem nes.
« Não se impedio nem se perniittio o seu arm am ento :
houve apenas um voto e um accordo eutre as partes con
tratantes para obter d'aquelle que estivesse de posse da ilha,
o consentir na sua neutralisação em tempo de guerra.
« Discutio-se este assumpto pela primeira vez, formalmente,
em 1 8 5 9 , quando a provincia de Buenos-Ayres em desint
1-
ligencia com a Confederação e a Republica Oriental, armou
e fortificou a ilha de M artim Garcia com intenção m ani
festa de fazer d'ella a base de suas operações militares.
« Dando os governos da Confederação e Estado Oriental a
este facto um alcance internacional que não tinha, exigiram
do governo imperial que interviesse para o desarmamento da
ilha e empregasse mesmo a força, se a sua intimação não
fosse attendida.
r < Com qua nto o governo imperial não se julgasse autori
sado por virtude dos tratados existentes a empregar meios
coercitivos para obrigar Buenos-Ayres a desarmar e desoc-
eupar Martim Garcia, pois que a tanto não se elevavam os
e/Feitos dos compromissos contratados por esses actos in ter -
nacionaes ; todavia apreciando devidamente o seu alcance, e
reconhecendo que o armamento poderia attrahir para alli
hostilidades que prejudicassem a navegação e commercio dos
neutros, procurou por todos os meios suasorios, convencer o
governo de B.ienos-Ayres das vantagens de a neutralisar.
« Nenhum resultado porém teve esta negociação. Sobreveio
a convenção de paz de 1 1 de Novembro de
1 8 5 9 ;
reorga-
nisou-se a R epublica A rgentina, e manteve esta o direito de
occupar e arm ar a ilha sem nenhum outro correctivo maisdo que tornal-a inteiramente inoifensiva à livre navegação
dos rios Uruguay e Paraná. •
À F P L I C A Ç Ã O D E S T E S P R I N C Í P I O S A. Q U E S T Ã O A C T U A L D E A R M A M E N T O
D E M A R T I M G A R C I A .
« No conceito do ministro das relações exteriores do Estado
O riental, a po&ição que alli tomou ultimam ente o governo
arg -ritmo constituo um a ameaça perm anente contra a R e-
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— 400 —
DEVER INDECLINÁVEL DO BRASIL DE PROTEGER OS SEUS SUBDITOS
RESIDENTES NO ESTADO ORIENTAL.
c< A poli t ica do Im pé rio, de act iva pass ou a s er com o acab o
de expôr-vos, desde 1857, de abstençã o e ne utra l ida de , nào só
nas aisáenções e confl ictos externos, como nas lutas inte
r iores d 'aquei la R epu bl ica , sem pre juízo, porém, dos bon s orH-
cios e apoio moral que est ivessem os seus agentes no caso de
poder prestar no interesse da paz, e sem prejuízo também de
seus comprom issos in tern acio nae s , e d a protecção devida aos
subdi tos bras i le i ros .
$ Esta polí t ica foi inv ariav elm ente seguida na luta ac tua l ,
não só pelas auto ridade s da fronteira da pro vín cia de S . Pe -
pu blic a, tendo por na tu ral effeito de bil i ta r os esforço» q ue
fazia o governo legal para co m prim ir a revo luçã o e pre s tar
indi rec tam ente a es ta poderoso auxi l io em pre juízo d e su a
s o b e r a n i a e i n d e p e n d ê n c i a . *&rl
« Considerando o gov erno im per ia l a rec la ma ção di r ig ida
p o r a q u e ll e m i n i s t r o á l e g a ç ã o i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o , n a o
duvidou com prazer a inda um a vez com os desejos do g o
v e r no o r i e n t a l , so l ic i ta n d o e x p l ic a ç õ e s d o g o v e r n o d a R e p u
b l i c a A r g e n t i n a a s e m e l h a n t e r e s p e i t o .
« Nã o exigio , porém , ne m podia exigi r , d 'es te gov erno o
desa rm am ento da i lha , cujas condições t in ha m ai nd a de ser
r e g u l a d a s d e c o m m u m a c c o r d o e n t r e o s E s t a d o s r i b e i r i n h o s ,
e as potências s ignatár ias dos t ra tado s de 10 Ju lh o de 1853.
« No in teresse da paz e para pre ve ni r com pl icações qu e pod e
r i a m r e s u l t a r d o a r m a m e n t o p a r a o p r ó p ri o g o v e r n o a r g e n t i n o ,
manifes tou o gov erno imp er ia l a con ven iência de rem ove r-se
m ais es te e lemen to d e d iscórdia n os conf lic tos infe l iz m ente
f reqüentes no Rio da P ra ta .
« O objecto da in tervenç ão of fic iosa do gov ern o de S ua M ag es
tade o I mperador n 'es te inc idente , parece ter s ido conseguido com
a seg uran ça dada pelo m inis t ro das re lações exter iores da R e
publ ica A rgen t ina , nas conferências qu e com S . E x . teve o m i
nis t ro bras i le i ro em Buenos-Ayres , de que não era a in tenção
do seu governo a t tentar cont ra a soberania e independência
do E stado vis inho, nem impedir a l ivre navegação e com
mercio es t rangei ro , com as medidas coerc i t iva •> q u e h a v i a p r e
parad o p ara obter d 'aquelle Estad o repa ração do
3
aggravos feitos
á n a ç ã o a r g e n t i n a , a i n d a d e p e n d e n t e s d e u m a s o l u ç ã o a m i
gável .
« E stas medidas não tem , en t re ta nto , t ido as c on seqü ênc ias
de que tanto se ar receiava o governo da Republ ica Or ienta l
do u ru g u a y : a i lha de M ar t im Garcia f icou de fac to desa r
m a d a . *
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- 4or—
dro do R io Grande do S ul, como pelos agentes brasileiros no
Rio da Prata.
« O me u illustre antecessor já vos informou do procedi
mento que tem tido aquellas autoridades com os revoltosos
asvlados no território do Império.
« Devo agora cemm unicar-vos, que o mesmo
rigoT
temsido observado em relação aos subciitos do Im pé rio , tr a n s
gressores das ordens expedidas pelo governo imperial, respoa-
sabilisando-se os que tem esposado a causa do general F lo
res, quando cahem sob a acção d*aquellas autoridades.
a Nos conflictos entre a R epublica A rgentina e o E stado
O riental , nenhum perigo ba que ameace a autonom ia d 'este
f
pa ra poder invoc ar o govern o impe rial a fiei execução dos
compromissos d'aquelle seu alliado para com o Império,
« A posição portan to, q ue acaba de tomar o Im pé rio , com
a missão extraordinária que enviou a M ontevid éo, só tem
or objecto prestar aos subd itos brasileiros alli reside ntes a
evida protecção. »
MOTIVOS QUE JUSTIFICAM A MISSÃO BRASILEIRA NO RIO DA PRA TA .
« São conhecidas as violências, roubos e perseguições com-
mettidas no Estado Orientai pelas próprias autoridades civis
e militares da R epub lica, contra as pessoas e prop riedade s
de subd itos brasileiros alli reside ntes. Estes attentad os sem preme receram a mais séria attenção do governo -imperial, como
provam os documentos officiaes das reclamações que tem in
cessantemente sido endereçadas ao gove rno d 'aquella R ep u
blica. F orça é, porém , confessar que avu ltand o tanto o n u
mero d'estas reclamações, só em um ou outro caso tem ellas
tido u m a solução satisfactoria.
« U m a porção conside rável de Brasileiros reside e possue
importantes estabelecimeutos na Republica Oriental. E' sabido
que não gozam elles plenam ente das garantias que lhes
concedem as leis do Estado. São sem distincçào comprehe%-
didos n'essas tropelias aquelles m esm os qu e inoffensivos Qe
conservara dedicados exc lusivamente ao seu trabalh o, e á sua
industria. D'ahi o recrudescimento das queixas d^quelles
Brasileiros e de toda a provincia de S . Pedro do R io G ran de
do S ul , e o estado de excitaçào em qu e se acha hojP a
respectiva fronteira com o Estado visinho . O governo imp erial
tem feito os m aiores esforços para rem ov er as causa s d essas
justas queixas, mas inuti lmente. As providencias que como
satisfação ás ins tan tes e reitera das reclam açõe s dos ag ente s
brasileiros expede o governo da R epublica para coh ibir
tantas violências e atrocida des, são quasf sem pre illudid as.
O s seus autores, nà o p oucas «vezes os próprios chefes e d e -
35
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— m —
legados da policia, f icam im pu ne s ; e quando m uit o, e em
casos mu ito especiaes, são demitt idos sem nenh um outro ca s
t igo.
Esta im pun idad e, a iuefficacia ou indifferença official
em assumpto tão grave é in toleráve l .
« 0 go verno imperial tem procurado, tanto qua nto é p o s
sível, na extensa fronteira que separa a importante provincia
do Rio Grande da Republica, prevenir que os resentimentos
degenerem em actos ofensivos emanados do território brasi
leiro; mas não lhe é dado exercer a mesma acção sobre os
subditos do Império que residem na Republica; sendo quanto
a estes indispen sável que o governo oriental , por actos sign if i
cativos, e medidas enérgicas, procure convencei-os de que
terão uma solução satisfactoria as suas justas reclamações, e
serão para o futuro respeitados os seus interesses e direitos,
aliás garan tidos pela própria con stituiçã o do Estado . F oi no
intu ito de evitar as con seqü ênc ias de tão critico estado decousas, que del iberou o governo imperial enviar uma missão
especial á R epu blica Oriental do Ur ug ua y. »
O B J E C T O D ' E S T A M I S S Ã O .
« E sta m issão confiada ao Sr. conselheiro José A ntônio Sa
raiva, tem por objecto conseguir por meios amigáveis do go
ver no da R epub lica Oriental do Ur ugu ay, a solução de va
rias reclamações importantes, que perante el le temos pendentes,
e a adopção de providencias e de med idas que e fic az m en te
protejam e garanta m no futuro a vi da , honra e propriedade
dos Brasileiros.
« O go ver no imperial estava no firme propósito de não
affastar-se da politica que até aqui tem seguido nas sua s
relações co m aquella R ep ub lica ; m as considerando atten ta-
mente a gravidade da situação, reconheceu ser chegada a
oceasiáo de exigir o cumprimento da referida obrigação, se
gura m ente com plehend ida na polit ica de neutralidade e ab s
tenç ão que adoptára. F azendo um ultimo appello -ao go ver no
da (R epu blica , no interesse das boas*relações entre os dous
paiíes, tem por fim o governo imperial obter:
« l .o O devido ca stigo, se não de todos, ao m en os dos prin-
cipaes criminosos qu e existem im pun es, ocoupando até alguns
d elle s postos no exercito orie nta l, ou exerc end o carg os c iv is
do listado.
« 2.° A immediata destituição e responsabilidade dos agentes
de policia que tem abusado da autoridade de que se acham
revest idos . %
« 3.0 a indemnisa ção da propriedade qu e, sob qu alque r
prete xto, tenha sii |o extorqui da aos Brasileiros, pelas auto ri
dades militares ou civis da Republica.
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« 4.° Que sejam po stos em plena liberdade todos os Brasi
leiros, que h ouverem sido constrangidos ao serviço da s arm as.
« 5.° A s con ven ientes ordens e instrucções aos diversos
agentes da autoridade, recommendando-lhes a maior solicitude
no cumprimento de seus dever
es,
communicando-lhes as penas
em que terào de incorrer se deixarem de tornar eífectivas as
garantias a que tem direito os habitantes da Republica.
<t 6.° O tiel com prim ento do accordo celebrado e subs istente
entre o governo imperial e o da Republica, pelas notas re
vê rsaes de
28
de Novembro e
3
de Dezembro de
1857,
no
sentido de serem reciprocamente respeitados os certificados de
nacionalidade, passados pelos competentes agentes dos dous
governos aos seus respectivos concidadões.
« 7.° Que os agentes consu lares brasileiros residentes na
R epub lica, sejam tratados co m a consideração e deferencia
devidas ao cargo que occupam.
« Está o governo imperial convencido de que o da Repu
blica, n ão podendo desconhecer o fundam ento e procedência
d'este ultimo reclamo, que amigavelmente lhe dirigimos, se
apressará a, corresponder com a solução desejada.
« São Sem duv ida melindrosas as circumstancias do governo
oriental, mas não é menos certo que nem ellas impossibi
litam a satisfação de nossas justas exigências, nem pode por
iss o o governo imperial prescindir do cum primen to do se u
rigoroso dever.
« A missão brasileira, com o se deprehende do qu e de ixo
exposto, é inteiramente pacifica; mas no intuito de fazer
respeitar o território do Império, e melhor impedir a passa
gem de qua esquer c ont inge ntes pelas fronteiras da p rovinc ia
do R io Grande para o gen eral F lores, resolveu o gov erno
imperial mandar collocar nas mesmas fronteiras uma força
su fic ien te , a qual servirá ao mesmo tempo para proteger e
defender a vid a, a honra e a propriedade dos subditos d o
Império, se, contra o que é de esperar, o governo da Re
publica, desattendendo ao nosso ultimo appello amigável, não
quizer ou não puder fazei-o por si próprio. »
t
EXPLICAÇÕES SOLICITADAS POR PARTE DA REPUBLICA ARGE NTINA S0B 1B
O
ALCANCE DAS MEDIDAS EXTRA ORD INÁRIAS ADOPTADAS
PELO GOVERNO IMPERIAL.
« O m inistro d'aq uella republica acreditado n'es ta cor te,
invocan do a franqueza e lealdade do s4h gov erno , em relação
á presente situaçã o do E stado O riental do U ru gu ay , e reco
nhecendo que a nen hum govern o custara meno s corresponder
a estes sentim entos do que ao de Sua M tgestad e o Imperador,
pela elevação e lealdade que o dis ting uem , solicitou algum as
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explioacOes sobre o alcance da politica que ia desenvolver
n'aque lle Estado o m inistro brasileiro que acabava de ser
para alli nomeado em missão especial.
«
O
governo imperial não se demorou em satisfazer aos de se
jos assim manifestados por parte da R epublica A rgen tina, d e clarando franca e lealmente que nao tinh a outro objecto
aquella missão, senão realizar o pensam ento já ena un ciad o
pelo mesmo governo á A ssembléa Geral, o que mais de se n-
volvidamente exponho no presente relatório. »
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L I V R O Q U I N T O .
D I S C U R S O S D O S D E P U T A D O S N A S E S S Ã O D E
mi
Tendo sido dissolvida a câmara dos deputados em Maio
de
1 8 6 3 ,
reunio-se a Assembléa Geral no 1 . ' de Janeiro
de
1 8 6 4 .
O
ministério presidido pelo conselheiro Zacarias de Góes e
Vasconcellos foi nomeado a 1 5 d'este mez.
A politica que seguio em relação ao Estado O riental foi,
nos primeiros mezes de sua administração, a mesma até então
seguida pelos anteriores ministérios.
Por espaço de doze annos, todos os relatórios do min is
tério dos negócios estrangeiros, repetiram como temos mos
trado,
as mesmas offensas contra os Brasileiros residentes no
Estado Oriental; nunca os ministérios mudaram de politica,
ou trataram de remediar tão grande m al ; até que dous de
putados fizeram a exposição d'estes acontecimentos* de modo
t a l ,
que obrigaram o governo a fazer alguma cousa a favor
dos que viviam sem protecção n'aquella R epublica. Foi a
primeira vez que no parlamento brasileiro se fizeram accu-
sações d'aquella ordem.
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106 —
No tomo 4 .° dos
An n aes da Câmara dos Deputados
d e 1864,
na sessão de
5
de Abr i l , l ê-se o seguin te :
« S egu nda par te da ordem do d ia. Ent ram em d iscussão
as in terpel lações dos S rs . Nery e .Ferrei ra da V eiga, a n n u n -
oiadas na sessão de 30 do passado, acerca das violências,
rou bos e perseguições c om me tt idas no Estado O riental pelas
autoridades civis e mil i tares da Republica, contra as pessoas
e propriedades de subditos brasileiros alli residentes.
« O Sr. Ferreira da Veiga.
—Sr. presidente, o nobre ministro
de estran geiros , por occasião das inte rpe liaç ões feitas a S Ex ,
pelo meu dist incto col lega e amigo, deputado pela pro
v incia de S . Pa ulo , declarou á câm ara qu e a po l ít ica de
gov ern o imp erial , em relação á luta que di lacera o Esta do
O riental do U rug ua y nào podia ser outra sen ão de str icta
neut ra l idad e, mas qu e o governo imp er ia l t inha os o lhos
voltados para aque l le ponto da A me rica, onde existem m uito s
Brasi leiros, sobre cuja vida e propriedade c um pr e velar .
d
Disse ainda S . Ex. , que o governo era sol icito em prom ove r
po r meio dos agentes diplomáticos as respect ivas reclamaç ões,
e -que em qu an to não perdesse a esperança de q ue este m eio
fosse profícuo, não podia recorre r a outro m ais ené rgico , m ais
positivo, e sem duvida mais efficaz.
« Disse ainda o nobre min istro , qu e a vinda do gen eral
Ne tto á capitai do I m pé rio, não devia fazer algué m crer que
podesse al terar , que podesse modificar a pol i t ica de neutra
l idade adoptada pelo governo imperial ; que aquel le dist incto
general veio a esta corte, como qualquer outro cidadão, em
caracter puramente par t icu lar .
« Declarou por u l t imo o nob re m in is t ro , qu e qua lque r
m edid a, qu e o governo julgasse de necessidade adoptar , prom p-
tamente ser ia communicada ao par lamento .
« Se eu julgasse, S r . presidente, que na luta t ravad a n#
Estado O r ien tal do U ru gu ay , não es tão com promet t idos m ui tos
e im porta ntes interesses de subditos b rasi leiros ; se eu não
soub esse qu e a necessida de de deffender a vida, a ho nr a,
e
a propriedade, obrigou cerca de 2,£00 dos nossos concidadãos
al l i res identes a em pun hara m as arm as, tomand o ass im um a
parte act iva na guerra civi l que assola aquel le paiz; eu não
estra nha ria que o nobre m inistro nos declarasse n 'esta casa,
qu e a pol i tica do governo era de str icta n eu tra l id ad e;
e
e m
bora nào acredite na força magnética dos olhos de S. Ex. '
e dos seus col legas, eu co nte nta r-m e-h ia com
a
declaração
feita, de q ue o governo imperial t in ha os olhos vol tados para
aquel le ponto da America.
<c M as infelizm ente, sen hore s, eu sei qu e contra a asserç ão
do nobre min is t ro ,
a
v inda do g eneral A ntônio de S ouza
Netto a esta corte não foi a vinda de um simples cidadão;
o dist incto e bravo general , representando cerca de 40,000
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— 407 —
Brasileiros residentes no Estado Oriantal do Uruguay, cons
tituindo-se órgão de suas qu eixas, éco de seu s gem ido s, ve io
em,
nom e d'elles representar ao g overn o imp erial .'contra as
violências e, attentados de que são victimas; veio saber se
esses 40,000 Brasileiros tem direito á protecção do Estado,
ou se devem só contiar em sua farça, em seu valor. O dis
tincto general veio a esta corte ver se pess oalm ente po dia
conseguir o que não pôde obter por meio de um a repre
sentação, que me consta foi dirigida ao governo imperial em
fins do m ez ;ie N ovemb ro por interm édio do digno Sr. Viscon de
de Abaeté; o intrépido Rio-grandense, veio talvez para declarar
ao governo que, se 40,000 Brasileiros residentes no Estado
Oriental do Uruguay, nào tem direito á protecção do governo
imperial, elles tem meios, tem recursos, tem força para se
prote gerem , para fazer justiça por suas próprias mã os.
« Já vê pois V . E x., Sr. presidente, que a vinda d'esse
bravo militar a esta corte não foi a de um simples cidadão,como nos declarou o nobre ministro. E estando elle entre
nó s ha m ais <|e um m ez, e tendo o nobre m inistro no s pro-
mettido, que qualquer medida que julgue de necessidade
adoptar, em relaçã o ao E stado Oriental do Ur ug ua y, prom p-
tam en te com m unicar ia á câmara, creio que presto um favor
ao governo, proporcionando a occasião opportuna para esta
declaração.
« Como V
n
E x. , sabe, Sr. presidente, sou op po sicion ista;
não posso estar ao facto dos segredos das secretarias de es
tado;
e não querendo pedir informações ao govern o por m eio
de requerimentos, por isso que, quando votados n'esta casa,
podem ter a sorte que creio teve um que foi apresentado
por um illustre deputado pelo R io Grande do Su l, o qual
mi adoptado ha mais de um mez, sem que até agora pro
duzisse nenhum resultado; n'estas circumstancias eu tenho
necessidade de com m unica r á câmara o que se m e tem dito,
o que con tém essa representação, que foi dirigida ao gove rno
imperial pelo valente general Antônio de Souza Netto; tenho
necessidad e de expo r á casa, o qu e ten ho lido em um jornal
publicado rxesta corte, redigido por um dos nossos mais dis-
tincto s diplo m atas, e qu e tem perfeito con hec im ento dos factos
qu e se tem dado ultim am ente no R io da Pra ta, e de todas
as questões que abi tem sido debatidas.
« Sr. presidente, é fora de duvida que cerca de 2,000 Bra
sileiros se ach am em armas no Estado •Oriental do U rug uay ,
sob o mando do general Flores; não pense, porém, V. Ex.
que ell es foram levados a este acto de desespero, ou de cora-
ggm porque o partido colorado seja aqu elle qu e m en os hos til
se mostra para com o Império; não, como já disse, foi a
necessidade d e defender a vid a, a honr a e a propriedade, qu e
levou esses noss os conc idadã os a esse acto extrem o. E lles foram
arrastados a tomar tão audaz e arriscada deliberação, porque
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— ws —
com razão pouco, ou nad a dev iam espera r das reclam ações
feitas por interm édio dos nossos agen tes diplom áticos, as qu aes
tem sido sem n en hu m resultad o até hoje . e , pois . resolveram
appellar para o cam po da bat alh a, preferindo mo rrer abi a
serem assassinados em suas próprias casas, depois de rouba
dos,
depois de profanad a a hon ra de suas fam ílias.
« A lém de m uit os factos escand alosos, de m uit os crim es,
de muitas violências praticadas pela força do actual governo
da Republica Oriental do Uruguay contra subditos brasi lei
ros ,'"è qu e vem m encionad os no relatório de estrangeiros , sou
informado de qu e n 'es tes úl t im os tem pos outro s m uitos e
mais graves at tentados tem se dado n 'aquelle paiz .
« Eu sei, S r. presiden te, qu e o gene ral Netto é um d*a-
quelles que mais tem soffrido em sua propriedade; sei que
depois de sua partida para esta corte, foram acc om m ettid as
alg um as de suas e stâncias, e d'ellas ro uba do s m ais de 1.500
cavallos , e grand e q uan tidade de g ado , a m aior parte do qu al
era deixado m orto pelas estradas, t irando-se-lh e apena s as lí n
g u as . Estes e outros actos de violência, estes e o utros cr i
m e s :
estas e outras muitas provocações não puderam demover
ao valente general a annuir ao convite de seus amigos, de
seus antigos companheiros de armas, para se collocar á frente
dos brasileiros armados; que não confiando na protecção do
governo imperial, reccorreram á sua força, ao seu valor.
« Essas violências , S r . presidente, no Estado O riental são
qua si toda s com m ettidas pelos agentes officiaes, são co m m et -
tidas pelo exercito da R epu blica ; ás forças da lega lidad e se
at tr ibue a morte de muitos Brasi leiros , que são encontrados
decapitados pelas estradas, pelos cam po s, trazen do alg un s
d'elles por escarneo na boca o titulo de sua na cio nal ida de.
« S r. presiden te, esta que stão não é que stão de par tido.
V . Ex. vio que havendo eu ann un ciad o á casa estas in ter -
el lações, um honrado membro meu adversário, dis t incto
eputado pela província do R io Gran de do S ul , declarou
qu e também tinha de interpe llar o gov erno sobre m otivo
idênt ico . Eu comprehendo que es ta ques tão mais i n t im am en
te interessa á provim ia do R io G ran de do S ul : e, po is, de
bom grado entrego aos nobres depu tados por essa provinc ia,
o desenvolvim ento d 'es ta questão, que m e parece mu ito gra
v e , para a qual não vejo nenhuma solução satisfatória, por
qu an to respeitando a opinião au torisada do digno redactor
do Espectador da America do Sul, me parece, Sr . presidente,
qu e d*ella ha de vir necessariam ente, ou u m a gu erra civi l ,
o u u m a g u e r ra i n t e rn a c io n a l .
« S e o governo julga r que deve affastar-se da ne utr alid ad e
a qu e se tem proposto, violando assim um com prom isso to
mado com a Republica Oriental do Uruguay, o Brasi l neces
sariamente terá d e lut ar com o govern o d*aquella R epu blic a,
e não nos i l ludam os, não estamos em 1850, n ào tem os a
1
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—
J09
—
situação econôm ica e financeira favorável de então , não temo s
boje os auxiliares poderosos que então encontrámos.
<< Mas se o g ov ern o imp erial julg ar que os recla m os de
40,000 Brasileiros existentes no Estado Oriental do U ru gu ay
nã o dev em ser attend idos, se julgar que essa grande fracçfto
da immensa familia brasileira nào tem direito á protecção do
E stado, então as relações de com m ercio, as relações de sa n
gu e, o espirito de nacionalidade, podem erguer um a luta
na provincia do R io Grande do Su l, cujos filhos sabem apre
ciar mais que tudo o valor e a honra.
« A im prensa d'essa provincia tem ligado a maior im po r
tân cia a esta questão ; peço permissão para ler á câmara o
trecho de um jornal que já chama a população do R io Gran
de ás armas.
« — M ais uma vez a primeira potência sul-ame ricana ultra
jad a, escarnecida, insultad a e provocada m il vezes pelo gover
no orien tal, por seu s decretos, por sua im pren sa, por seu s
m inistr os plenipotenciarios, por suas hordas de assassinos, por
seus alcaides, por todos e por tudo em fim ; mais uma vez
a primeira potência sul-americana foi humilde beijar a franja
do sangrento chiripá do gaúcho oriental.
« — M ais um a vez o Brasil hum ilhou-se, desfez-se em sa
tisfações, quando devia atirar a luva á face d'aquelle gov erno
falsário e perverso. E nv iou hu m ilde um m inistro para limpar
com as abas de sua casaca a poeira da secretaria de estran
geiros em M ontev idéo; quando devia enviar u m exercito
para proteger os interesses de seu s sub ditos , e derribar de
um a vez para sempre os tigres de Quinteros, que são in i
migos natos de todos os Brasileiros.
« — E o gabinete de S. Christovão se conserva surdo a
esse clamo r, despresa as reclamações do n osso va lente N et to ,
soffre calado os insu ltos da im prensa m onte vedia na, tolera a
emissão de decretos que manifestamente violam os tratados
existentes. fjjjfc
« — E o gabinete de S. Christovão se conserva mu do e
quedo ante a desgraça de tantos mil Brasileiros, não compre-
hende, ou não quer comprehender a nobre missão que Deus
deu ao Brasil, fadando-o para ser a prim eira potência da
America do Sul.
« — Po br es comp atriotas que estais indefesos sem pro
tecção entregues ao furor dos vossos ve rd ug os Infelizes
40,000
Brasileiros do Estado Oriental, que não tendes um
governo que faça respeitar o vosso direito I Não conteis com
o vosso paiz ; confiai em vó s, e só em v ó s Quando não
puderdes soffrer m ais a vexa ção a que estais exp osto s tom areis
as armas em vossa própria defeza, e á vossa frente en co n-
trareís o valente Netto í — »
« J á vê, pois , o nobre ministro que com razão eu m e
dirijo a V . E x. inquerind o quaes as providencias que tom ou
26
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o gov erno im perial á cerca das violências, roubo s e perse
gu içõ es com m et i idas na cam panh a do Estado O r ienta l do
u ru g u ay , pe las , au tor ida des da R epubl ica , cont ra as pessoas
e propriedades dos subditos brasileiros all i residentes, como
in d o foi representad o ao m esm o govern o, pelo gene ral A ntôniode Souza Net to .
Em Paysandú acaba de decl inar a honra de ser nosso
vièe-con sul n 'aquel le depar tam ento o d igno S r . Carne iro de
Campos, dec larando que não podia cont inuar n 'aquel le ca-
rac ter , porqu e nào t inh a coragem para presenciar as h u m i
lhações, as otfensas, os ultrages feitos a nossos patricios.
« A respei to do 3.° ar t igo das minhas interpel lações, digo
ao nobre ministro que sei que nossas reclamações tem sido
sem ne nh um resul tado até hoje , e creio que assim con t i
nu ar ão , con t inuan do essa pol it ica de neutral ida de tão preco-
nisada por S. Ex.
« S ei qu e são estas causas accum uladas qu e tem levado a
2,000 de nossos concidadãos a esse acto de desespero, ou de
co rag em ; sei que são essas causas a ccum ulada s q ue tem pro-
du sido m uito s dos factos que acabo de expor á c â m a r a ;
ten ho pois direito d e perguntar ao nobre m inis tro , quaes os
m otivos qu e tem dem orado estas reclamações até hoje . S . Ex .
dev e con nece l-os, po rque S . Ex. nos declarou n 'esta casa qu e
o governo era sol ic i to em prom over as rec lam aç õe s; q ue
em qu an to não perdesse a esperança de qu e esse meio fosseprofícuo, não podia o nobre m inistro recorrer a outro m ais
enérgico, mais posi t ivo.
« Em que se funda, porém , a esperança do nobre m inis tro?
Interpel lo a S. Ex. para que declare á câmara para que pos
sam os apreciar a solidez de su as bases. Q uan to ao ulti m o
ar t igo , Sr . pres idente , coníesso a V. Ex . que quando soube
qu e o governo imp erial m and ara reprehender seriamen te o nosso
m inistro em M ontevidéo , só por ter e l le consent ido q ue o
bravo general N et to, se t ransportasse em um navio de gue rra
nacional de Buenos-Ayres para aquel la capi tal , f iquei acre
di tando que o dist incto Rio-grandense pouco ou nada devia
esp erar de u m gov erno assim tão suspeitoso em favor de
objecto de sua representação.
a M as essa representação ha de Ser a t tendid a na parte em que
pe de protecção para m ais de 40,000 Brasileiros, que se n â e
forem at tendidos pelo governo impe rial , ante o qual se apre sen
tam por meu in te rmédio , porque me posso const i tu i r repre
sen tan te d 'esses 40,000 compatr iotas no sso s; a provincia d e
R io G ran de do S ul , essa tào im po rtan te fracção da familia
brasileira, poderá se erguer toda inteira, para vingar os seus
direitos offendidos, na pessoa e na propriedade d'esses nossos
i r mã o s .
« S r . presiden te , a neutral idad e em face de um a gu err a
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travada entre duas nações, ou entre uma fraoção de um Es
tado e o seu governo leg itimo , ou legal, eu ten ho visto
aconselhada por estadistas européos e americanos e por publi
cistas notáv eis, e ten ho v isto posta em partica por ma is de
um governo justo e cauteloso. E
7
assim que a Europa assisfio
impassivel á grande luta dos Estados-Unidos, ás invasões do
Piemonte, e ao externiinio atrocissimo dos Polacos.
« M as o que nen hum estadista, o que nen hu m publicista
tem aconselhado, nem poderá aconselhar, é que um Estado
se conserve tranquillo e indifferente, em stricta ne utra lida de ,
era frente do extermínio de seus concidadãos, praticado em
territó rio de um a nação amiga, ou qu e deve ser, porque a
sua independência e liberdade nos tem custado muitos sacri
fícios- de sangue, muitos sacrifícios de dinheiro.
« T erá, porém, o governo cumprido á risca essa ne utr al i
dade de que nos fal lou o nobre ministro? Será neutral idade
recommendar-se aos nossos agentes diplomáticos no EstadoO riental do U rug ua y, e ao presidente da provincia do R io
Grande do Sul, que procurem por todos os meios afíastar os
Brasileiros do exercito do general F lor es , sem qu e se reclame
em favor dos" nossos c om patrio tas qu e são co nstra ngid os a se
alistar no exercito da Republica? Será neutralidade tratar o
governo em suas notas e em seus officios como rebeldes aos
soldados do general Flores? Nào sabe o nobre ministro que
a m elho r força do gen eral Flores está n a sym pathia e adhesã o
que tem inspirado aos Brasi leiros?
« Pergunto ainda ao nobre ministro: reconhece S. Ex. como
legit imo o governo actual do Estado Oriental do Uruguay?
Nã o tem o no bre min istro noticia do manifesto feito pelos
senadores deportados?
« Não sabe S. Ex. das violências, dos excessos, das illega-
lidades e dos crim es com m ettidos, para que fosse eleito pre
sidente da republica o Sr. Aguirre?
a T em calcu lado o nob re m inistro quaes serão as conse
qüências de uma victoria alcançada pêlo exerci to da Republica?
A caso não teme S. Ex. o vm victis* dos vencedo res, e após
este grito de exte rm inio , os gritos e gem idos de 40,000
Brasileiros m orib und os? U m a consideração de tão grande
alcance parece-me que não deve ser despresada.
« Pa ra o gue tem servido, S r . presidente, a nossa diplo
macia no Rio da Prata? Qual a missão da diplomacia em
todos os pon tos do globo ? Que resultad os tem colhido e
nosso paiz da intervenç ão d'esses juiz es de paz das naç ões,
a
que se ch am a embaixadores e plenipoten ciarios? Nã o servem
para e vitar a gu er ra , ne m para deífender os direitos e os
interesses dos nossos concidadã os 1
« S r. preside nte, dizem os publicistas— Si vis pacem para
W/iíJtt-—
quizera
qu e o governo imp erial , de accordo com o
espirito ou com a letra d'este preceito, tomasse uma decisão
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digna e honrosa para o Império, na actual situação dos
negócios gravíssimos do Estado Oriental do Uruguay. Não
me pertence suggerir o alvítre que deva ser seguido; não
quero para mim nem a gloria nem a responsabilidade de
uma medida qualquer n'esta emergência diíficil. A soluçSo
pertence ao governo, porque o governo e quem dirige a
sociedade em sua vida interna, em suas relações internacio-
naes Cumpra cada um com o seu dever: eu creio que tenho
famprido com o meu. »
A i este discurso do digno deputado Ferreira Veiga, ao qual
não temos reflexões que fazer, porque é mais um documento
que apresentamos da inércia e da bondade dos ministérios
d'aquelle tempo, em relação á politica seguida ha muitos
annos para com as Republicas do Sul; respondeu o ex-ministro
de estrangeiros João Pedro Dias Vieira, o seguinte:
«
0
Sr Dias Vieira
— Sr. presidente, o nobre deputado
que acaba de fallar, sustentando as interpellações que dirigio
ao governo, entrou em uma serie de considerações, ás quaes
seguramente cumpre attender.
« V. Ex., Sr. presidente, e a casa sabem perfeitamente que
os Brasileiros residentes na Banda Oriental, não gozam em
toda a plenitude dos direitos que a própria constituição da
Republica confere a todos os estrangeiros.
tt As causas, porém, são antigas e graves, e para removel-as
tem o próprio governo imperial mudado de politica em tres
épocas bem distinctas e não mui remotas. Assim pelos mo
tivos especificados no manifesto que fizemos em 1851, o go
verno imperial tomou a resolução de intervir efficazniente na
politica d'aquellas regiões. Fez ainda mais, para salvar a in
dependência e a integridade do Estado Oriental do Uruguay:
havendo a este faltado o auxilio pecuniário da França, tomou
a si esse encargo. ,
a
O resultado d'essa intervenção em que gastamos sommas
consideráveis, e em que correu o sangue brasileiro, afim de
conseguir-se para os nossos concidadãos alli residentes a se
gurança e as garantias que lhe eram devidas, e ao mesmo
tempo no intuiio de auxiliar o governo da Republica a cons
tituir-se em bases sólidas, que onerecessem garantias de ordem
a todos os seus habitantes, o resultado, digo, de todos esses
sacrifícios foi vermos quasi com pequenas modificações, o mesmo
tjatamento dado pelo governo e pelos povos d'aqueile paiz aos
Brasileiros residentes na campanha.
<c Em 1854, tres annos depois, ainda o governo imperial,
levado pelas mesmas considerações, teve de celebrar um ac
cordo com o general Flores, então presidente da Republica
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Oriental. As p romessas so lem nem ente feitas n
'esse
accordo, no
sentido de se tornar efficaz a protecção aos direitos dos Bra
sileiros alli residentes, mais uma vez foram illudidas; tudo
continuou do mesmo modo.
« As reclamações d'esse segundo periodo tiveram pela maior
parte a mesma sorte que as do primeiro, e marcharam os
negócios de maneira que em
1857,
vio-se o governo imperial
forçado a mudar novamente a sua politica, e a concordar em.
que se inutilisassem diversos artigos do tratado de
1851,
què
eram relativos ao complexo de medidas tendentes a garantir
a paz, a ordem e a tranquillidade d'aquelle Estado.
« De então em diante continuando, por assim dizer, as cousas
do mesmo modo, julgou o governo imperial conveniente adoptar
a politica de abstenção completa nos negócios internos da Re
pub lica visin ha. E sta politica, além de outras razões obv ias,
era aconselhada pela necessidade de desvanecer apprehensões
e suspeitas que se manifestavam claramente em Estados cir-
cumvisinhos, e mesmo nos representantes de algumas outras
nações alli residentes, acerca das vistas do governo imperial
sobre aquella Republica, bem que se devesse conhecer que
os interesses do Império como os de todos, não podiam ser
outros se não os de manter a paz, a ordem e a estabilidade
das instituições da mesma Republica, condições indispensáveis
para a segurança da vida e propriedade dos seus habitantes.
« D 'este procedimento a que al iis o governo imperial até
certo ponto estava tam bém lidad o por ajustes intern acion aes
anteriores, não podia de certo affastar-se pelo simples facto
da luta civil promovida ultimamente pelo general Flores.
« A revolta do general F lores com eçou a manifestar-se em
Abril, ou M aio do anno passado. E' voz geral que d irigira-
se elle para Santa Rosa, e ahi encontrara contingentes, não
s6
de Brasileiros como de Argentinos. Com esses contingen
tes encetou a luta.
« Logo* qu e con stou hav er F lores descid o para atacar o
Salto,
o gove rno im peria l, posto qu e no propósito de nào
intervir nas dissensões intestinas da R epub lica, não hesitou
em expedir para aq ue lle ponto uma embarcação de guerra,
afim de dar a de vid a protecção e garantia aos sub dito s bra
sileiros alli residentes, fazendo ao m esm o temp o as con ve
nientes recomm eudaçOes á legação em M ontevidéo, para re
clamar com energia contra quaesquer vexa m es ou violê nc ias
que soffressem otf no sso s c on cid ad ãos .
« Outras naçõ es, a Inglaterra e a Confederação A rgen tiua,
procederam do m esm o m odo, mandando igualmente embar
cações de guerra para proteger os seu s respectidos sub ditos.
<f Pelo qu e toca á Confederação, a idéa gera lm ente aceita
da protecção dada a F lores por Buen os-Ayres, em con se-
uencia de acharem-se muitos argentinos envolvidos na luta,
eu lugar, pelo iacto do Pam pero , a sérias com plicações en-
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tre o govern o argentino e o oriental, qu e felizmente consta
haverem terminado pela mediação do ministro ingle z, o Sr.
Thornton.
«
O governo imperial então foi convidad o pelo do U r u
gu ay , e por m ais de um a vez para intervir, considera ndo
este chegado a hypothese dos tratados, por julgar qu e se
attentava contra a autonomia da mesma republica.
«
O governo im perial, n ão obstante, con tin uo u na su a
politica de neutralidade, e unicamente pe
l
os meios d iplomá
ticos tratou de pôr-se em communicação, quer com Buenos-
Ayres, quer com o governo de outros paizes , igualmente in
teressados na sorte d'aquella repub lica.
« Quando do Salto passou F lores para Pa ysa nd ú, tam bém
ma ndam os para lá o contingente de um a corveta, que foi a
Belmonte, no intuito de prestar aos Brasileiros a protecção de
que carecessem.
« A câmara não ignora qu e. o gov erno imperial, pelos
m eio s a seu alcan ce, tratou de fazer persuadir aos Br asi lei
ros que se achavam com as armas n a mão na cam panh a,
qu e desistissem d'esse em pen ho, que elle cuidav a da seg u
rança de suas pessoas e propriedades, e que o facto de esta
rem com as armas empun hadas difficnltava o dese m pen ho
de sua missão.
« D eixo ao critério da câmara a apreciação £ 0 escrúpulo
com que em taes circumstancias cumpria ao governo impe
rial proceder afim de arredar de si as susp eitas qu e ha via m
recanido sobre o da Confederação A rgentina. N o entr etan to
é fora de duvida que o go verno impe rial, apezar de tu do ,
quando soube que entre os vencidos algu ns brasileiros tin ha m
sido fuzilados, não hesitou em reclamar im m ed iata m en te,
allegando q ue era um acto de barbaridade, um acto de sh u-
m ano ,
o que se praticara ; e ainda posteriorm ente tev e de
reclamar a favor de Brasileiros, aliás envolvidos na luta, tendo
algumas d'essas reclamações sido attendidas.
« A ntes da vinda do Sr. brigadeiro N etto a esta corte,
o gover no imperial já estudava os m eios de proteger os in
teresses dos su bditos b rasileiros na cam panh a orien tal, sem
que ao m esm o tempo d'esse azo a que se dissesse que elle
abandonava a politica de neutralidade, que havia proclamado.
« Quando aqui chegou esse general para trazer ao co nh e
cim ento do gov erno imperial algun s factos no intuito d e j u s
tificar o .proce dim ento dos Brasileiros, que hav iam recorrido
ás armas arrastados pela força dos vei a m os e violên cias qu e
se commettiam na campanha, contra suas pessoas e pro
priedades, o gov ern o imperial m andava ao mesm o tem po
organisar um quadro de todas as reclamações feitas desde
18 õl, com declaração da solução qu e tiveram, afim de firmar
melhor o direito da nova e m ais positiva rec lam ação que
tinha de dirigir ao governo da R epu blica, no interesse de
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con ven eel-o de que se reprova e conde m na que os Brasi
leiros intervenham nas lutas e dissensõ es intestinas da m esma,
Republica; nào está disposto a tolerar que sob esse pretexto
se pratiquem vio lên cia s e atrocidades, e fiquem sem protecção
e sem g aran tia, a vida, a honra e a propriedade dos sub ditos
brasileiros alli residentes.
« Senhores, o governo imperial, comprehende bem que deveolhar para a luta actual da republica visioha, não só consi
derando a protecção que lhe cumpre dar aos Brasileiros alli
residentes, como também attendendo á influencia que essa
luta pode exercer na provincia do Rio Grande do Sul.
ç<
H oje é fora de duv ida qu e seguida a luta como está
sen do , por essa guerra de recursos, com o lá a den om ina m ,
é bem provável que se torne duradoura. A gue rra da espécie
de que se trata occasiona freqüentes movimentos de tropas,
e esse estado de cousas não pôde deixar de influir pod ero
sam en te nos Brasileiros al li residentes, ou seja porque se
vejam forçados, contra a sua von tade , e por ven tura para
salvarem a sua propriedade, a darem auxilio aos be ilig e-
rantes, o u seja porque estes fazem imp osições a que elle s
irremediavelmente tem de sujeitar-se.
« N'estas circumstancias entende o governo imperial que é
in dis pe ns áv el reforçar as suas fronteiras, e chamar m ais ser ia
m en te a attenção do gove rno oriental para o que se passa
na campanha.
« Por este modo poderá o governo imperial, não só habi-
Ktar-se para evitar violações do nosso território, como se tem
dad o, pela força revo ltosa, com o tamb ém im pedir a passagem
de contigentes brasileiros para a campanha, accrescendo que
assim licará igu alm en te h abilitado com o s precisos m eio s
para proteger os interesses brasileiros, dado o caso, que
aliás não espera, de ser infructifero o ultim o appello am igáv el
que vai fazer ao governo oriental.
« Estou persuadido de que se a posição que vai assumir
o gover no imp erial, e que lbe é imposta pelas circum stancias,
fôr acompan hada do desarm amen to dos Brasileiros, con scios
de que o mesmo governo occupa-se seriamente dos seus di
reitos e interesses, serão satisfeitas com mais facilidade e semgrande sacrifício para o paiz , as repre sentações e que ixas
dos subditos do Império.
« Se , poré m , isto não se verificar, não é m eno s certo, que o
governo imper ial ha de ir por dian te, com o lhe cum pre, e
nào pôde deixar d e fazer ; embora sem a esperança de qu e
a interven ção seja coroada de resultado feliz e dur adou ro,
attenta a experiênc ia do passado. A historia d'aq uellas
regiões con ve nc e-m e d'esta verd ade.
« A intervenção á força p ói e aproveitar n o mo m ento dado ;
m as depois as cou sas continuarão do m esm o m odo, e cons
tantemente teremos de no s vôr alli a braços com difficul-
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-
\\7 -
N*esi£ â w u r s o diz o ex-ministro do estrangei ros Dias Vieira,
q u e
a
potitioa que o
governo imperial continuava a seguir era
a de abstenção completa nos negócios da republica visinha;
que. todas as reclamações sobre violências contra os subditos
brasileiros foram sempre ílludidas. Diz que o governo impe
rial, soube que alguns Brasileiros foram fuzilados, e que logo
não hesitou em reclamar immediatamente, allegando que e r a
uma barbaridade; e n'essa reclamação ficou toda a energia do
governo imperial; que mandara organisar um quadro de todas
as reclamações feitas ao governo da republica desde
1 8 5 1 ,
para melhor firmar o seu direito, para nova e mais positiva
reclamação. Disse, que a intervenção á força pôde aproveitar
no momento dado, mas que depois as cousas continuavam no
mesmo estado. Desculpou o governo da republica que não
se podia consolidar, e por isso não podia responder aos go
vernos estrangeiros pelas extorções e violências que se com-
mettiam nos seus subditos. Que é necessário que o governo
faça um estudo mais apurado do que tem feito até agora
sobre o mal, para que tenha por resultado medidas que ga
rantam para o futuro a vida, a propriedade e a honra dos
Brasileiros alli residentes.
Foi em Abril de 1 8 6 4 , isto é , depois de terem passado mais
de 10 annos que os Brasileiros estavam sendo massacrados no
Estado Oriental, que um ministro de estado disse que devia
continuar o systema de neutralidade. A câmara dos depu
tados d'aquelle anno, á excepção de poucos membros, ficou
satisfeita com as explicações que deu o ministro Dias Vieira»
para desculpar o gove r n o imperial do seu procedimento para
com aquella republica, e convencer a câmara de que a po
lítica seguida até então era a melhor; a mesma politica que o
gabinete de 15 de Janeiro tinha herdado dos ministérios an
teriores.
Estando conhecida a política de todas as adminis
trações desde 1853 até 1864, em relação ao Estado Oriental,
dírefmos que, sabendo o governo imperial o que gse passava
n o Estado Oriental com os Brasileiros alli residentes, logo q u e
a s
primeiras reclamações nào fossem at t end ida s; devia intèrvit
aet ivamente
para obrigar ao governo
d e
Montevidéo a
c u m -
37
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prir com os devores de nação civilisada; com este compor
tamento tinha o Império ficado mais respeitado das outras
R epublicas, o soffrimento ou a desgraça dos Brasileiros
naquella Republica tinha parado ha muitos annos.
Se esta politica tivessse sido segu ida pelo governo do I m
pério desde que terminou a campanha contra Rozas, que tanta
força moral deu ao Brasil, não tinham sido os Brasileiros
fuzilados e degollados pelas autoridades policiaes do Estado
Oriental, para se apoderarem do que elles tinham, pois que
foi sempre o fim que tiveram as perseguições feitas aos Bra
sileiros; não tinham os soffrido um a guerra de cinco an no s,
e ficado o Império reduzido á miséria publica pelos impostos,
falta de meios de subsistência, e deminuição de população.
Às administrações passadas nunca quizeram seguir a poli
tica que adoptou o governo do Principe D . João para com
a Republica do Uruguay, ou por ignorarem o que então se
passou, ou por ir resolução, vacillando sobre o que deviam
fazer, e deixando que continuassem as desgraças a que es
tavam sujeitos o s ' sètis concidadãos, do modo porque o de
clararam todos os ministros de estrangeiros rios seus relatórios..
Causou admiração um tal procedimento dos ministérios do
Império á vista dos factos expendidos; os quaes não se
podem ler sem ' se sentir um a commoção de horror contra os
perpetradores de tantos crimes, que ficaram e ficarão im pu ne s.
Ao discurso do ex-ministro dos negócios estrangeiros, se -
guio-se outro do deputado Nery, que é um documento jus
tificativo do que temos exposto até esta época, o qual a qu i
copiamos.
« O Sr .
Nery
:
—
S r. presiden te, folguei de ouvir agora na
contestação que S. Ex. deu ao iílustre deputado por minas-
Geraes, ter ouvido a S. E*. a confirmação. d'aquiilo que a
confiança que deposito no patriotismo do actual gabinete,
tinh a anticipado na minha convicção; isto ó, a crença de que
o gabinete actual trata seriamente de remover os males* qu e
afüigem o% Brasileiros sesidentes no Estado. O riental, e d e
fazer assumir a politica do Im pério, aquella politica digna
e altiva a que a nossa posição na A merica do S ul e os
nossos brios uacionaes não tem somente direito, porém dãoo caracter de verdadeiro dever.
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— I I I —
cc S , Ex . por ém , p areoe-me ter man ifestado alg um receio,
de que um a poli t ica posi t ivamente enérgica traga os incon
venientes que enxergou no * má o êxito das intervenções de
1851,
e nos auxílios de .1854.
« S . E x. recorda ndo essas dua s paginas da nossa historia,
tirou d*ellas a co nse qü ên cia, de que tantas vezes qu an tas o
Brasi l tem lançado o peso da sua espada na s lutas da R e
publica Oriental, para proteger os legítimos interesses dos
Bra sileiros alli re sidentes, o resultado tem sido sempre contra
pr od uc en te ; é porq ue a politica im perial n'essas duas occasiões
nã o quiz ser conseqüen te comsigo m esm a, e recuou diante
do seu próprio pensamento; sendo o governo imperial o pri
m eiro a falsear a obra a qu e parecia ter hypotnec ado todo
o poderio do Im pé rio. E ' um facto histórico que está na
lembrança de toda a casa, qual foi a maneira porque se
falseou o resultad o da nossa interven ção em 185 1.
« Parece incr ível que quando o Império punha em marchatodas as suas hostes para derrocar, não simplesmente um ho
m em , porém u m systema, pa ra acabar com a barbara poli
tica que tin ha levado o gen eral O ribe ao pé dos m uro s de
M onte vidé o, lhe entregássemos no fim da luta o poder; que
deixássemos na s mã os não dò mesm o indivídu o, porém da
mesma politica, do mesmo systema, toda a autoridade que
tín ha m os ido arrebaáarvihe. M entimos á missão que nos ha
víamos imposto, t raiamos a confiança dos que nos haviam
cham ado
« O que para mim é patente, é o íacto singular de que no
momento em que o governo brasileiro parecia levar a força
e prest igio das armas imperiaes para sustentação d 'esse go
verno, as tropas brasileiras se fechavam dentro das quatro
pare des dos seus q uar téis, em qua nto me ia dúzia de patriotas
derríbavam a própria autoridade que t inham ido manter.
« O que resultou d 'esse proceder? Algumas dezenas de pa
triotas, algumas dezenas de homens a quem respeito e venero,
porque procederia como elles, se como elles eu fosse Oriental,
conseguiram abater o governo da Republica, diante da divisão
brasi leira que o t inha ido auxil iar .
« A inda a qu i qu al foi a acção da intervenção brasileira?
Nulla, como da primeira vez, tornou-se a fechar dentro dos
quartéis; e não o digo em estylo figurado, porém tal qual
o que fazia-se e aconteceu; porque de conformidade com a
política do nosso governo, as próprias sentinellas foram fe
chadas no interior dos prédios, para evitar-se até a sombra
de um confl icto.
« Flores
a
seu turno t r iumphou; a revol ta baqueou diante
da oolligação dos dous generaes, como ante ella baqueara pré-
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— 42i —
Nào é o pu nh al do siçarip ferindo nas trevas e a hora s
po rta s, o desarmado peito de sua victima ; é sempre a es
pada dos agentes da lei, rasgando em nom e d'esta o coração
de nossos conterrâneo s, e abrindo-o covarde, traidora e a 1 eivo-
samente, depois de presos e amarrados pelo prestigio da sua
autorid ade , ou lançando-se dez contra um , a titulo de reprim ir
crimes imaginários.
« No enta nto compulsei cuidadosam ente uma longa serie
de relatórios da nossa secretaria de estrange iros, e nã o
encontrei um só exemplo de reparação completa, um só
caso qu e fosse de satisfação con digna. As reclamações passam*
de um para outro anno, perpetuando-se
n*
um a discussão
estéril ; nossos ministros transcrevem uma por uma as notas
mais ou menos energidas da legação brasileira, e as contes
tações cavilosas, dúbias, ás vezes mesmo sarcásticas, irônicas
do governo oriental, que declina de hoje para amanhã, ora a
satisfação , ora a explicação de tudo ; até que afinal fatiga-se
a diplomacia, cansa d'essa luta, esquece-a e dormindo no
caso,
deixa esmorecer a reclamação, e finalmente perde-a, e
desapparece do histórico dos relatórios.
« M ais de u m exemplo d'estes podem verificar os m eus
iilus tres collegas n a collecção de relatórios da secretaria de
estrangeiros; mais de uma vez hão de encontrar casos de que
se occupa o governo d ous ou tres annos seguidos, reclam a
ções muitas vezes pendentes, sobre um crime horrivel, e que
acabam por desapparecer, por ser postas á margem, sem que
se saiba se a nossa legação foi satisfeita. »
Além d'esta parte do discurso do deputado Nery, que aca
bamos de transcrever, pron unciado também no dia 5 de
Abril de 1864, continuou o dito deputado, a fazer descripção
de m uit os assassinatos de Brasileiros, perpetrados só por serem
d'esta nacionalidade; alguns dos quaes já nós fizemos menção
no livro T. Apresentou os mais celebres em atrocidades, das
autoridades orientaes, que maiores males fizeram aos Bra
sileiros ; m encio nou o facto de serem que im ada s 15 proprie
dades brasileiras no districto de Taquarembó, ficando as fa
m ílias privadas do único abrigo que tin ha m ; e o governo
oriental nenhuma satisfação deu ás reclamações da nossa le
gação.
« Soffriam e não encon travam allivio; invocavam o a m - 1
paro da m ãe — pá tria (diz o deputado Nery), e a m ãe— pátria
não podia, ou não lhes sabia valer. Homens corajosos, ho
m ens de brio, ho m ens de gue rra, fácil era que olhassem para
o seu lado esquerdo, fácil era que requestassem a espada,
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— 122 —
que tantas vezes menearam, e que ao primeiro sopro procla
massem a guerra e a ving ança. »
Faz a descripção da en trad a do ge ner al Flo res no Es tado
Oriental, mostra como as perseguições feitas aos Brasileiros,
obrigavam estes a procurarem a protecção d 'aquelle general ;
e d 'este modo augm entara m -se as su as forças . A o que diss e
ram os deputados Ferre i ra d a V eiga e Nery , convém a juntar
o que expendeu o deputado Barros Pimentel sobre as obser
vações do ministro de estrangeiros, á vista do modo porque
tem sido tratados os nossos negócios no R io da Pr ata . As
partes m ais notáveis do seu discurso é o qu e se s e g u e :
« Nu nca, applaud i a m an eir a pela qu al tem sido dirigida
a politica do governo imperial, em relação ás republicas que
nos f icam ao S u l ; sempre a considerei vacil lante, tendo por
norma a inconsequencia e a fraqueza. Para demonstrar os
fundamentos d 'es te juizo, peço l icença á câmara e ao nobre
m inis tro dos negócios es trangeiros , para ju nt ar ao his tórico,
que S. Ex. acaba de fazer, da politica brasileira no Rio da
Pr a ta , a lguns rápidos com men tar ios . Par t io-se sempre de um
equ ivo co; tem entendido o governo brasi le i ro que devia es
tender á R epubl ica do Uru guay especia lmente , o mesmo
proceder elevado e nobre que tem t ido com outras p otências ,
r íã o via , não qu eria ver que tratávam os com povos m uito
menos civi l isados, que nunca souberam aquilatar a generosi
dade do nosso procedimento , qu e sempre procuraram a t t r ibui r
aos actos do governo imperial uma segunda intenção, incom-
pativel com um governo que se presa .
« Nã o m e re m ontar ei á época da separação da prov incia
Cisplatina; sendo certo que muito havia a dizer, e que desde
en tão nu nc a m ais hou ve socego pa ra os povos do sul do
Im pér io. T om em os os factos desde quand o começou a apre -
cial-os o nob re ministro dos negócios estrange iros. N ing uém
se pôde ter esquecido da lingua gem desabrida, de qu e con tra
nó s semp re se serviram os nossos visinhos. A inda es tá viva
a lem bra nç a das no tas insolentes e ameaçadoras q ue n os di
r igira o representante do dictador R osas . ' S abem os a despeito
dos tratados, especialm ente da convençã o pre lim inar da paz
de 27 de A gosto de 1828, pela qual a In gla terr a, a Jfran ça
e a Confederação A rgentina se comp rom etteram a sustentar e
defender a independência de Montevidéo; quantos meios ca-
• yilosos emp regou o g over no de Bu enos-A yres para despojar*
nos do direito de garantia e de viçilancia sobre o novo 'Es
tado,
e dom inar seu governo. Felizmen te aos olhos, do go
ver no im peria l, não se pô de occultar o desígnio do dictador,
qu e sendo ambicioso e de alg um gên io, pretendia absorver
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todos Q S Estad os do R io da Prata . Gomo via no Brasil um
obs táculo a seu s plan os, con tra o Brasil dirigi o su as setas.
Conhecemos os meios de que para esse fim se ser vio. Annos
depois de ter descido da cadeira presidencial o general Oribe,
sem ter concluído o tempo da sua presidência, vendo Rosas
qu e não podia exercer com a ordem de cousas então exis
tente, uma influencia directa e immediata sobre o Estado
O rien tal, arm ou o braço de O ribe, e env iou-o á conquista de
M ontev idéo. Ne nhu m de nós é tão moço que se n&o re
corde das depredações e morticínios praticados nos cam pos
orie nta es, por ond e O ribe passava; qu al novo A tilla, como um
üag ello talando , incendian do e assassinando. Nao tardou q ue
puzesse em assedio M ontevidéo.
« M as R osas receiand$ enc ontra r difficuldades nas potências
sig na tária s da con venç ão de paz de 1828, conseguio descartar-
se da interv ençã o da Fran ça, e em seguida da In glaterra.
M as os interesses da In glaterra e da França não são os m es
mos que os do Brasil. O Brasil é potência confínante, tem
direitos e deveres especiaes a cumprir .
« L ogo que o dictador engodou aquellas potências, com
promessas de aberturas de r ios, e tc , entendeu que se appro-
xiniava o dia tão desejado de transportar suas forças para os
campos do Rio Grande .
o Felizmente, n'este estado de cousas, tivemos um ministro
patriota , qu e bem médio a situação e com prehendeu qu e a
abstenção absoluta, que se tinha arvorado como politica per
petu a, já não era só um erro , era um cri m e; por conse
guinte, resolveu intervir no Rio da Prata .
« M as tirou o Brasil as vantagens que devia esperar de.
tan tos sacrifícios ; foi a politica im perial tão hab ilm ente en
cetada, conv enientem ente concluída ? E' o que v amos ver .
S abe-se qu e dem os a U rquiz a o comm ando dos exércitos. Não
en tro no jul ga m en to d'esta concessão. Partiram os dous ge
nerae s, um de 'Entre -R ios, e outro do R io Grande do S ul .
Em qu an to o nob re M arquez se dir igio para o R io Negro, as
com m unicaçõ es, os correios se cruzavam constantemente . No
di a em qu e o gen eral brasileiro passou o R io Negro, deixou
de receber despachos do general entrerian o. O s seus agen tes
iam e não voltavam. E' que Urquiza assim que teve certeza
de que as forças do Brasil haviam passado aquella linha,
qu e lhe gua rdava a retaguarda, não se imp ortou m ais com
o general brasileiro.
« Não tem endo m ais o inimigo correu-lhe ao encontro, e
alcançando-o a ssign ou a nefasta capitulação do P ant ano so.
Significa esta celebre ca pitulação, o recon hecim ento de que
nao havia vencedores nem vencidos, o reconhecimento ainda
de todas as posições, de todos os direitos ad qu irido s, um
amplexo fraternal, a sancção em fim da revolução feita por
Oribe.
In dig na do o g en era l brasileiro da precipitação e da
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m á fé do argen tino, arg ue -lhe a inconv eniência do ac to :
O argentino escusa-se com o desejo de evitar derramamento
de sangue. O general brasileiro subscreveu á capitulação.
Não sei se haveriam m uitos generaes qu e t ivessem tan ta
m a gna nim ida de . A inda * não é tudo ; o nosso ple nip o
tenciar io, o fal lecido M arquez de Pa ran á, acom panh ou o
nosso gen eral, e recon hec eu a cap itulaçã o Eis um dos erros
mais fataes de nossa politica no Rio da Prata. E' elle in
questionavelmente a or igem das desordens que hoje de
ploramos .
« Gom a capitulação voltaram os b atalh ões de O ribe a
concluirem como legaes a obra da devastação, qu e como re
beldes haviam incetado nas provincias do interior. Com ella
foi derribado o heróico governo da*praça, e se Oribe não
pôde entra r, m an do u em seu lugar seu ex-ministro, Giro.
Com a capitulação do Pan tano so dem os a victoria aos nossos
inimigos, e arreamos do poder aquelles que por tanto tempo
protegem os. A penas instalou-se o novo go verno, exigio o
nosso plenipotenciario que fossem ratificados os tratados cele
brados du ran te o assedio. P ara esse povo sem g ratidã o, o
seu primeiro acto foi negar a ratificação a esses tratados. Foi
preciso toda a energia do M arquez de Para ná, para por me io
de um convi te comm inator io ch amal-os a seu de ve r : ou
ratificação, ou entrada de nossas forças na praça. Entretanto
cu m pre nã o desconhecer , era isso a cons eqüê ncia de u m
erro d 'essa poli t ica sem rumo sem unidade. Passada a efer
vescê ncia, outro s ajustes foram celebrados no int uito de de sen
volver as bases a w tratados de 1851, e com todos usa ram
. nossos visinho s da mesm a má fé, e nós da mesm a sim pli
c idade . H
« Não obstan te tanta s decepçõ es, a solicitações de u m ca u
dilho feito presidente, lá fomos outra vez com o nosso exer
cito e com o nosso dinheiro. Não careço recordar á
câm ara as chican as e subterfúgios emp regados com o tratado
de lim ites, com pe rm uta s de território, etc. Bem fresca a ind a
está a historia dos tratados de 4 de S etembro de 1857. E ram
dous tratados, um de commercio e outro de l imites . Estava
estipulado qu e um não podia ser executado sem o ou tro. E ogo vern o da repu blica ratificou o prim eiro, e n egou a ratifi
cação ao seg un do . V im o-n os afinai na necessidade de su s
pender um e outro .
« O ra, senhores, qua ndo temos a tratar com u m gov erno
d'esta ordem, devemos levar nossa condescendência a ponto de
nos tomarem por f racos ou por néscios? Ainda não é tudo;
e este facto a q ue vou all ud ir revelia nfio m eno s a m á fé
d'esse govern o, como a ingen uidade do nosso. Com prom etten-
do-se as potências s igna tár ias da convenção prelimina r de paz
de 1828, a sust ent ar e g arantir a indepe ndênc ia do Estado
O rienta l, firmar as condições n 'u m tratado definitivo , o Brasil
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— 125 -
por motivos a que não posso attingir, sempre instou com
M ontevidéo a concorrer para reaíisar-se aquella promessa; até
que em fim, 3 0 annos depois, celebrou-se o tratado, com que
mais que ninguém tinha Montevidéo a ganhar, e só por pa
recer obra do Brasil nao foi ractiticado.
« A* imitação do Estado O riental, o Paraguay e a Confe
deração Argentina tem escarnecido da nossa boa fé, e faltando
a seus compromissos tem-se collocado em posição pouco
digna de nações civilisadas. T emos ainda presentes os successos
lamen táveis de um a infeliz aventura no Paraguay, afim de
pedir satisfação por passaportes enviados ao nosso encarregado
de negócios. N'esta occasião lamento, como um nobre depu
tado, a mesquinhez de nossos relatórios, que apenas dão os
factos, sem trazerem a explicação d'elles. »
Depois do fallar na missão de Pedro Ferreira d'01iveira ao
Paraguay continua':
« Senhores, se as scenas que desenrolou o nobre deputado
pelo Rio Grande do Sul, nos enchem de horror pelas atroci
dades que as acom panharam , esta nos enche de indignação,
porque uma nação altiva como o Brasil, foi escarnecida por
meia dúzia de H espanhóes nas margens do Pr a ta ; elles • ; J |
tiveram a habilidade de conservar nosso plenipotenciario durante
seis mezes, até as águas baixarem. Mais de uma vez, a
no bre oficialidade teve de corar d'esse papel aviltante que
se estava representando, e d'essa politica de condescendência
que nos levava a sacrificar a nossa dignidade de nação.
« Quanto á Confederação, o mesmo resultado, as mesmas
duvidas, a mesma falta de compromissos, de pagamento de
subsídios, etc.
« A* vista do que acabo de expor, da má vontade d'esses
povos, e dos péssimos resultados que temos tirado d'essa poli
tica demasiadamente condescendente, não podemos deixar de
mudar de rumo; e estas considerações sobem de ponto em
relação a Montevidéo, que
pelos* «eus
hábitos tradiccionaes de
derram am ento de sangu e, pela ^sua ingratidão, pela ausência
de um typo nacional, pois dous terços da sua população sãoestrangeiros pela instabilidade do seu governo, não tem de
nação senão o nom e. Um paiz cujo governo não tem acção
quatro léguas além de sua sede, que tem em sua capital,
pub licam ente protegida, um a comm andita destinada a fabricar
títulos de dividas de Brasileiros, títulos falsos ; em um paiz onde
nada. pertence á nação , porque tudo está ou hypotecado por
uma eternidad e, ou definitivamente ven dido ; onde só a ca-
thedral não está allienada; d'onde a fé publica desappareceu
;
um
paiz d'estes, é antes um a negação de nação, do que um a
nação; é uma ficção dos tratados.
« E pois, entendo que com o governo de Montevidéo não
2 8
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— 126 —
p o d e m o s t er a m e s m a p o l i t ic a q u e c o m a s ' n a ç õ e s c i v i li s a d a s .
P a r a a b i a c ç ã o e n é r g i c a - d a d i p l o m a c i a , e f o r ç a ' p a r a n o s f a
z e r m o s o u v i r . »
O r e s to d o d i s c u r s o d o d e p u t a d o B a r r o s P i m e n t e l , n ã o p r e
c i s a s e r a q u i c o p i a d o , p a ra c o r r o b o r a r a s n o s s a s a s s e r ç õ e s .
F o i n e c e s s á r i o q u e n a s e s s ã o d e 5 d e A b r i l d ' e s se a n n o
e s t e s d e p u t a d o s , c u j o s d i s c u r s o s ficam t r a n s c r i p t o s a c i m a , t o
m a s s e m a d e l i b e r a ç ã o d e c h a m a r a a t t e n ç ã o d o m i n i s t é r i o d e
1 5 d e J a n e i r o d e 1 8 6 4 , p r e s i d i d o p e l o c o n s e l h e i r o Z a c a r i a s d e
G ó e s e V a s c o n c e l l o s , p a r a o s a t t e n t a d o s q u e s e p r a t i c a v a m
c o n t r a o s B r a s i l e i r o s d o m i c i l i a d o s .n õ E s t a d o O r i e n t a l .
IN Pessa o c c a s i ã o o m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s . J . P .
D i a s V i e i r a , a l é m d o q u e j á m e n c i o n a m o s , a i n d a d e s c u l p o u o
g o v e r n o i m p e r i a l c o n f o r m e p ô d e , « d e c l a r a n d o q u e n ã o e r a d e
o p i n i ã o h a v e r i n t e r v e n ç ã o d i r e c t a n o s n e g o c i e s d o E s t a d o
O r i e n t a l d o P a r a g u a y . A i n t e r v e n ç ã o á f o r ça p o d e a p r o v e i t a r
n o m o m e n t o d a d o ; m a s d e p o i s a s c o u s a s c o n t i n u a r ã o d o
m e s m o m o d o , e c o n s t a n t e m e n t e t e r e m o s d e n o s v e r a l l i a
b r a ç o s c o m d i f f i c u l d a d e s . A c â m a r a n a o i g n o r a q u e a t é c e r t o
p o n t o e x i s t e a l l i u m a n t a g o n i s m o d e r a ç a s , e q u e a q u e l l a
R e p u b l i c a v i v e p o e i s s o e m c o n t i n u a a g i t a ç ã o . »
D e p o i s d o q u e s e p a s s o u n a c â m a r a d o s d e p u t a d o s , r e s o l
v e u - s e e n t ã o o m i n i s t é r i o d e 15 d e J a n e i r o m a n d a r o c o n s e
l h e i r o J o s é A n t ô n i o S a r a i v a e m m i s s ã o e s p e c i a l a M o n t e v i d é o ,
d a q u a l v a m o s t r a t a r .
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« Triste e desesperada tornou-se com effeito a sorte dos
nossos compatriotas, e a noticia dos seus soffrimentos exci
tava o clamor geral do paiz.
« Não podia, pois, o governo imperial prescindir por mais
tempo de intervir prompta e efficazmente em defesa de tãosagrados interesses, a despeito mesmo da situação excepcional
em que pela guerra civil achava-se collocado o governo da
Republica.
« Foi sob estas inspirações que o S r. conselheiro Saraiva
apresentou em 1 3 de M aio do anno passado as suas creden-
ciaes ao governo de M ontevidéo, declarando-lhe n'essa occasião
que só a adopção de uma politica previdente e com perse
verança executada, conseguiria dissipar todas as causas pró
ximas e remotas que no futuro poderiam perturbar as boas
relações que o governo imperial tinha a peito cultivar com
a Republica.
« Desenvolvendo este mesmo pensamento, o Sr. conselheiro
Saraiva, em sua primeira nota datada de
1 8
do citado mez,
disse ao governo oriental que, para obter-se o fim desejado,
indispensável era que o mesmo governo fizesse effectivas as
seguintes providencias:
« l .
a
Que o governo da R epublica fizesse effectivo o devido
castigo, se não de todos, ao menos d*aquelles dos crimi
nosos reconhecidos, que passeiavam impunes, occupando até
alguns d'elles postos no exercito oriental, ou exeroendo cargos
civis do Estado.
«
2 .
a
Que fossem immediatamente destituidos e responsabi-
lisados os agentes^ de policia, que haviam abusado da auto
ridade de que se achavam revestidos.
«
3 .
a
Que se indemnisasse competentemente a propriedade
que, sob qualquer pretexto, tivesse sido extorquida aos sub
ditos do Império.
<< 4 .
a
Finalmente, que fossem postos em plena liberdade todos
os Brasileiros que houvessem sido constrangidos ao serviço
das armas da Republica.
« E para que de futuro se não reproduzissem os attentados de
que se trata, solicitava maiâ-ip Sr. conselheiro Saraiva do go
verno da Republica:
« A expedição das convenientes ordens e instrucções aos
diversos ag*entes da autoridade, nas quaes condemnando so-
lemnem ente os alludidos escândalos e attentados, se recom-
mendasse a maior solicitude e desvelo na execução das leis
da Republica, e se comminassem as penas por essas mesmas
leis impostas aos transgressores, de modo a tornar effectivas
as garantias n'ellas promettidas aos habitantes do seu território.
<( Que se expedisse do mesmo modo as ordens e instruc
ções precisas, para que fosse fielmente cumprido o accordo
celebrado e subsistente entre o governo imperial e o da R epublica, pelas notas reversaes de
2 8
de Novembro e S de
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o S r. conselheiro S araiva na primeira conferência qu e teve
com o S r. min istro das relações exteriores, *~ a declarar fran
camente que o pensamento do governo imperial era todo ami
gável, emquanto as circumstancias e os acontecimentos nâo
aconselhassem outra politica.
« Era, por tanto , de esperar que o governo da R epub lica,
reconhecendo o espirito amigável e conciliador da missão, ex-
pontaneamente e sem demora correspondesse aos justos reclamos
do governo imperial .
« Em vez, porém, de proceder assim, em vez de procurar
entender-se com o representante do Império para resolver a
questão de um modo pacifico, e ao mesmo tempo decoroso
e digno, o governo da Republica, repellindo as nossas recla
mações e prorompendo em acerbas recriminações, fundadas em
inexactas apreciações dos acontecimentos, declarou ao Sr. con
selheiro Saraiva, em nota de 2 4 d'aquelle mez , que não podia
e não estava disposto a attender ás solicitações que se lhe
faziam.
<( A ' esta nota , respon deu o S r. con selheiro S araiv a, em 4
de Junho, restabelecendo a verdade dos factos, e mantendo
com a precisa circumspecção e firmeza a posição que havia
assumido em sua nota inicial. As circumstancias, como se vê,
eram graves, subindo de ponto pelos termos desabridos com
que negou-se formalmente o governo da Republica ás justas
solicitações do de Sua Magestado o Imperador.
« Pare cia , pois, chegado o caso da apresentação do ultimatum,
e do subsequente emprego dos meios a que a diplomacia cede
então o passo.
« O Sr. conselheiro Saraiva, porém, por considerações sem
duvida plausiveis, e na esperança de que, melhor aconselhado
pela reflexão, retirasse o governo oriental a sua nota e mudasse
de resolução, suspendeu por assim dizer a negociação emquanto
aguardava instrucções do governo imperial a quem commu-
nicára o que se tinha passado. »
P A R T I D A D O C O N S E L H E I R O J O S É A N T Ô N I O S A R A I V A .
No dia
2 7
de Abril de
1 8 6 4
sahio d'este porto a fragata a
vapor Amazonas, conduzindo a seu bordo o conselheiro José
Antônio Saraiva, enviado extraordinário e ministro plenipoten
ciario do Brasil em missão especial junto ao governo do Estado
Oriental do Uruguay. Era secretario d'esta missão especial o
Dr. Aureliano Cândido Tavares Bastos, então deputado pelas
Alagoas.
O vapor Amazonas chegou a M ontevidéo a 6 de M aio se
guin te, e a 12 do mesmo mez o conselheiro S araiva ápre-
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« O governo oriental não tem podido nem pôde deix ar d e
reconhecer a reciproca conveniência de manter a mais franca,
leal e amigável relação com o de S ua M agestade o Im perad or
do Brasil, e que crê ter dado provas de sua solicitude, para
que esta bôa relação seja permanente e inalterável, recebe
com satisfação a m issão de V . Ex. dirigida a tão im po rtante objecto.
« R econheço, como V . E x., que nen hu m esforço se deve
omittir da parte de am bos os governo s, para que os in te
resses de dous Estados limitropnes e am igos sejam firme
m ente gara ntido s por meio de relações' interna cion aes, fun
dad as no franco e effectivo acatam ento da justiç a e do direito
reciproco, no respeito do principio de ordem e de autoridade ,
únicas bases sólidas de um a am izade sincera e pe rm ane nte.
c<
Nao pôde have r nem diíficuldade, nem perigo para os
direitos e interesses legítimo s dos cidadãos dos dou s paizes,
nem causas próximas ou remotas capazes de perturbar as
relaçõe s de perfeita cordialidade en tre am bos os povos e go
vern os, quan do estes se inspiram de u m a politica baseada
n'aquelles principios, se essa politica é leal e perseverantemente
observada.
« Portanto, aceito e ^ agradeço, S r. M inistro, as benevolas
manifestações de V . E* ., e assim como espero que a rectidão
e iliustração do enviado extraordinário de S ua M agestade o
Im pe rad or do Brasil saberá fazer patente a nobreza dos sen
timentos que anim am o seu augusto soberano para com este
paiz. V. Ex. deve estar seguro de que o governo oriental,
conseqüente com suas declarações e com seus actos, hade dar
testemunho ao de Sua Magestade da elevação das suas idéas
e da lealdade dos seus sentimentos. »
Quatro dias depois de ter apresentado as suas credencias
o enviado brasileiro, dirigio-lhe o ministro das relações exte
riores da Republica, João José de Herrera, a nota seguinte :
et M inistério das relações exteriores. — M ontevidéo, 16 de
Maio de 1 8 6 4 .
cc
S r. M iuistro. — Em 26 de A bril próximo passado tive a
hon ra de dirigir a S. Ex. o S r. D r. L oureiro, ministro resi
dente do Brasil, uma nota solicitando de S . E x . que se
servisse confirmar, ou rectificar a exposição que fazia na refe
rida nota de u m a declaração que S. Ex. me transmittio ver
balmente de ordem de seu governo, relativa aos fins que o
mesmo governo tinha em vista, collocando um exercito na
fronteira do Império com a Republica.
c< S . Ex. o S r. D r. L oureiro não julg ou dever responder'
aquella minha nota, assim como também ás posteriores que
sobre o mesmo assumpto recebi ordem de dirigir -lhe, com as
datas de 4 e 13 do corrente.
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133 —
« N a entrevista com que V . Ex. honrou-me a 14, acom
panhado de S. Ex. o Sr. ministro residente do Império,
teve
V .
E x. a bondade de manifestar-me que, devendo co n
testar os p ontos das min has citadas notas no correr da missão
extraordinária que desem pen ha; devia S. Ex. o Sr. Loureiro
considerar-se fora do caso de tratar d'esses assumptos, decla
rando V . E x., se bem m e lembro, que não obstante a d if i
culdade de prever hoje successos que poderiam desenv olver-se
para o futuro, podia assegurar desde já, que não era da
intenção do governo imperial fazer passar o seu exercito a
linha da fronteira.
»<c N ão achei in con ven ient e em receber, no curso da m issão
de S. Ex. o Sr. enviado extraordinário e ministro plenipoten
ciario de Sua Ma gestade o Imperador do Bra sil, a resposta
ue devia ter dado ás minhas notas de 26 de Abril, 4 e 13
o corrente a legação permam ente do Brasil.
« Ao referir a conferência tida com V . Ex. , S . Ex. o Sr.
Pre siden te da R epub lica, q ue ficara satisfeito do espirito de
que
V .
Ex. se tem mostrado animado ; ordenou-m e não obs
tante, relativamente ao ponto de que me occupo, que fizesse
antes de tudo saber a S . Ex. o Sr. conselheiro Saraiva que,
em qualquer circumstancia, a passagem não consentida de
tropas brasileiras pelo território orien tal, seria considerada
com o um ultrage á soberania e independência da R epublica.
« Essa passagem pelo território oriental de forças do Im
pério do Brasil seria u m passo tanto ma is grav e, qua nto
m ais difficii são as circu mstan cias em que o paiz se acha
por causa da invasão F lores, especialmente quando ainda
não tem sido satisfeitas, e estão sem respostas, as sérias
queix as e reclam ações que por motivo d'essa invasão , e para
prevenir suas fataes conse qüên cias em prejuizo de todos os
habitantes da Republica, incluída a população brasileira,
foram dirigidas reiteradamente pelo governo da Republica ao
de Sua Magestade o Imperador do Brasil.
<ç V . E x. digno representante de um governo zeloso de sua
dignidade e de seus direitos, achará sem duvida justificado
o m otivo da declaração que acabo de fazer, tend ente não só
a salvar em todo o caso os direitos e a dignidade da Repu
blica, que podessem chegar a ser comp rom ettidos, co m o a
tornar m ais facil^e m ais cordial a intelligencia a que deseja
ardentemente chegar o governo oriental com o de Sua Ma
gestade o Imperador do Brasil. T enho a honra de con fes
sar-me com a mais alta consideração de V. Ex. attento e
seguro servidor.
« A S. Ex. o Sr. Jo sé A ntônio Saraiva, enviado extraor
dinário e ministro plenipotenciario do governo do Brasil.
—João José Herrera, »
N ão consta que o nosso enviado respondesse a esta nota
3 9
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do governo o rie nta l; principiou as reclamações de que ia en
carregado pela nota de 18 de M aio, que se se g ue :
N O T A D O M I N I S T R O B R A S I L E I R O E M M I S SÃ O ESPECIAL AO G O V E R N O
O R I E N T A L .
(( M issão especial do Brasil. — M ontev idéo, 18 de M aio de
1864.
(( O abaixo assignado, do conselho de S ua M agestade o
Imperador do Brasil, e seu enviado extraordinário e minisjro
plenipotenciario junto ao governo da Republica Oriental,
tem a honra de dirigir-se a S . Ex. o S r. ministro das re
lações exteriores, para com m unica r-lhe o objecto da missão
de que se acha encarregado.
Í Í Esse objecto não é n ovo , e tem merecido a solicitude
constante da legação . impe rial em M ontevidéo desde
1 8 5 2 ,
para não fazer referencia a uma época anterior. E' elle ainda,
com o foi se mp re, obter para os cidadãos brasileiros residentes
no Estado Oriental, a segurança e a protecção que as leis
da R epublica dispensam a todos, nacionaes ou estrangeiros.
cc O S r. m inistro das. relações exteriores sabe que o go
vern o imperial tem sido incansável em occupar a attenção
do governo da R epublica com as violências de todo o gênero
commettidas contra Brasileiros domiciliados na campanha. O
quadro incompleto d'essas violências, transumpto de longos,
acerbos e n-ão inte rro m pid os sofTrimentos, o qu al temo abaixo assignado a h onra de pôr de no vo sob as vistas
illustradas de S . Ex ., mo stra perfeitamente q ue quasi todas
as justas reclamações do governo imperial tem sido co nsta n
temente desattendidas.
« Se alguma vez as violências commettidas por particulares
contra Brasileiros foram averiguadas e punidas pelos tribu-
naes da Republica, não era, porém, castigado o abuso da
autoridade, que freqüentemnte mostrava-se caprichosa e par
cial em relação aos subditos de S ua M agestade o Im pera dor.
« M uitas vezes o governo d'este paiz tirava argu me nto dos
seus embaraços internos, para explicar a impunidade dos
attentados contra a vida e a propriedade de Brasileiros, e o
governo imperial, pesando taes dim c u ld a d e s^ a v a provas sem
pre da mais assignalada longanimidade perárite esses atten
tados,
interessado como era, e como é ainda, na consolidação
das instituições do paiz, e certo também de que d'ahi de
vera nascer um a ordem de cousas em q ue pudessem alcançar
justiça inteira e segurança completa os seus infelizes compa
triotas.
« O governo im perial acreditava qu e o d'estã R epu blica
ga nh aria de dia e m dia mais força e influencia legal, nào só
para tor na r effectiva a punição dos crim es com m ettidos pelos
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- m —
p a r ti cu l aj p es , c o m o p a r a r e p r i m i r e c a s t i g a r o s - d e s m a n d o s e
v i o l ê n c i a s d o s s e u s a g e n t e s a d m i n i s t r a t i v o s e p o l i c i a e s. E s s a s
e s p e r a n ç a s , p o r é m , S r . m i n i s t r o , s e t e m d e s v a n e c i d o .
<c O q u a d r o j u n t o d e m o n s t r a q u e c a d a r e c l a m a ç ã o d e s a t t e n -
d i d a , c a d a a b u s o d e a u t o r i d a d e i m p u n e f oi o r i g e m d e n o v o s
e n u m e r o s o s a t t e n t a d o s , e m u i t o s d e c a ra c te r a i n d a m a i s g r a v e .
T u d o i s s o g e r o u n o e s p i r i t o d o s B r a s i l ei r o s d o m i c i l i a d o s n o
i n t e r i o r d a R e p u b l i c a a c o n v i c ç ã o d e q u e o s e s f o r ç o s d o s e u
g o v e r n o e r a m i n e f i c a z e s pa ra g a r a n t i r - l h e s a v i d a , a h o n r a
e a p r o p r i e d a d e . T a l f o i , S r . m i n i s t r o , a c o n s e q ü ê n c i a d e p l o
r á v e l , d a i m p r e v i d e n t e p o l i t i c a o b s e r v a d a p e l o s a g e n t e s d o
g o v e r n o d a R e p u b l i c a .
c< E a s c o n s t a n t e s r e c l a m a ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , s e m p r e
d e s a t t e n d i d a s , t i n h a m p o r i r a j u s t a m e n t e p r e v e n i r u m a s i
t u a ç ã o t ã o g r a v e , q u a l a q u e r e s u l t a d e s e m e l h a n t e , c o n v i c ç ã o
f o r m a d a
1
n o e s p i r i t o d e e s t r a n g e i r o s p a c í f i c o s e i n d u s t r i o s o s ,
d e c u j a s e g u r a n ç a d e p e n d i a t a m b é m a p r o s p e r i d a d e d a R e
p u b l i c a , q u e p r o m o v i a m p or s e u t r a b a l h o .
« E m q u a n t o o s s o f f r i m e n t o s d a p o p u l a ç ã o b r a si l e ir a , t ã o
n u m e r o s a n a R e p u b l i c a e t ã o d i g n a d e p r o t e c ç ã o , n ã o f o r a m
s o b r e m a n e i r a a g g r a v a d o s p e l a a c t u a l g u e r r a c i v i l ; e r a m e l l e s
s u p p o r t a d o s c o m p a t r i ó ti c a e n o b r e r e s i g n a ç ã o ; e p o d i a o g o
v e r n o i m p e r i a l , p o r si e p o r s e u s d e l e g a d o s , i n s p i r a r a o s
s e u s c o m p a t r i o t a s a s e s p e r a n ç a s q u e a i n d a d e p o s i t a v a n a i l l u s -
t r a ç ã o d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a , e m . s p e r s e v e r a n t e s e s f o r ç o s
p a r a a l c a n ç a r d e u m E s t a d o v i s i n h o e a m i g o , a q u i l l o a q u e
t i n h a i n d i s p u t á v e l d i r e i t o . M a n i f e s t o u - s e fin alm en te, S r . m i
n i s t r o , a s i t u a ç ã o q u e o g o v e r n o i m p e r i a l r e c e i a v a , e p r o c u r o u
s e m p r e e v i t a r .
« Á d e s c r e n ç a e o d e s e s p e r o g e r a r a m a n i m o s i d a d e s d e p l o
r á v e i s , q u e , e s t i m u l a n d o
a
d e s f o r ç o i n d i v i d u a l d o s o f f e n d i d o s ,
o s t o r n a r a m a u x i l i a r e s d a g u e r r a c i v i l , n ã o o b s t a n t e o s c o n
s e l h o s e a s o r d e n s e m a n a d a s d o g a b i n e t e d e S u a M a g e s t a d e ,
<c O g o v e r n o o r i e n t a l e s t á b e m i n f o r m a d o d e q u e o g o v e r n o
i m p e r i a l , o b s e r v a n d o a m a i s e s c r u p u l o s a n e u t r a l i d a d e n a s
l u t a s i n t e s t i n a s d ' e st e p a i z , h a s i d o i n c a n s á v e l e m r e c o m -
m e n d a r á p r e s i d ê n c i a d a p r o v i n c i a d e S . P e d r o d o R i o G r a n d e
d o S u l , m e d i d a s q u e o b s t e m a p a s s a g e m p e l a f r o n te i r a d e
t r o p a e m a u x i l i o d a r e b e l l i ã o , q u e d o m i n a u m a p a r t e d a R e
p u b l i c a . N ã o o b s t a n t e , p o r é m , e s s a s p r o v i d e n c i a s , u m c r e s -
e i d o n u m e r o d e b r a s i l e i r o s a p o i a e a u x i l i a a c a u s a d o g e n e r a l
D . V e n a n c i o F l o r e s , e x h i b i n d o p e r a n te o g o v e r n o i m p e r i a l ,
c o m o m o t i v o s d e s e u p r o c e d i m e n t o , n ã o s y m p a t h i s a r p o r u m
d o s p a r t i d o s p o l í t i c o s d ' e s t e E s t a d o , m a s a n e c e s s i d a d e d e
d e f e n d e r e m a s u a v i d a , h o n r a e p r o p r i e d a d e c o n t r a o s p r ó
p r i o s a g e n t e s d o g o v e r n o d a R e p u b l i c a . O g r i t o d ' e s s e s B r a
s i l e i r o s r e p e r c u t e p o r t o d o o I m p é r i o , e p r i n c i p a l m e n t e n a
p r o v i n c i a v i s i n h a d e S . P e d r o d o R i o G r a n d e d o S u l ; e o
g o v e r n o i m p e r i a l n ã o p ô d e p r e v e r , n e m p o d e r á t a l ve z e v i t a r
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brasileira domiciliada n'a qu elle território. No fim de arg u
mentos inqualificáveis, de recriminações sem fim, termina a
dita nota do modo seguinte:
ti Pareceria que o desideratum do governo imperial, em
solicitar e obter reparação á males de mo me nto, efeito s decausas permanentes, que se desconhecem, ou se oceuitam, e
a repetição d'esses ene itos contra que as chancellarias do
Im pério recla m am ha doze an no s; se .conseguiria adoptaado-se
os me ios de evitar no fu turo sua rep roduc ção.
« Se alguma cousa provassem essas listas, seria não a neces
sidade de repetil-as evocando um passado que se reconhece
m áo, m as o dever de buscar, gu iado s pelas lições da expe
riênc ia, os meios de resgua rdar o porvir. »
A ' esta longa nota do governo oriental, respondeu o m i
nistro brasileiro com outra de
4
de Junho de
1 8 6 4 .
N'esta nota que por ser muito longa não a podemos copiar
toda, o conselheiro S araiva su stentou com toda a dignidade
os princípios em que fundou as suas rec lam açõ es; destruio
de um modo eíficaz as accusações que, para encobrir os seus
crim es, fez ao Brasil o governo or ie nt al ; provou a since ri
dade e a lealdade do governo imperial, para com o oriental.
Que se esforçou sempre por conservar perfeita neutralidade na
gu erra civil capitaneada pelo general D . V enancio Flores, do
que apresentou docu m entos. Que a invasão do Estado O riental
não foi organisada em território brasileiro, como falsamente
accusou o governo oriental. Insistio, em nome do gove rno
im pe rial, pelas providen cias reclamadas para defender aos Br a
sileiros, na o já d as calam idades inheren tes ás commoçòes po lí
ticas,
ma s das violências e crimes que , com esse pretex to,
ou sem elle, foram e con tinuam a ser praticadas pelos próprios
agentes do governo da Republica.
a Quando S r. ministro (disse o conselheiro S ara iva) ,
offereci á consideração do governo o riental o qua dro das
reclamações brasileiras, tive em vista demonstrar que a
desa ttença o com que foram con stantem ente acolhidas as nossas
solicitações, hav ia anima do o abuso de autoridad e, e g e
rado no espiiito dos m eu s concidadãos a descrença da pr o
tecção do seu governo. (*) Que os funccionarios civis m
militares da Republica punham freqüentemente em perigo
(*) Eis aqui confirmado o que temos dito, qu e o gov erno or iental desp resousempre as rec lamações do BrasiL
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— m —
a, vida* a ho nra e a propriedade dos Brasileiros. Que isto
constituio o governo imperial na necessidade de alterar a
sua politica, e de pedir com energia providencias promptas
e emcazes, que offerecessem aos subditos brasileiros a segu
rança e as garantias sempre prom et tidas e nu nca rea li-
sadas. Que nos acontecimentos mais graves, contra os quaes
tem semp re reclamado a legação imp erial n'esta R epu blica ,
figuram como personagen s principaes d'esses dram as sang ui -
no lento s, como os autores ou cúm plices de violências e assas
sin atos , as próp rias autoridades dos differentes departam entos.
« H ave m os de con seguir, S r. m inistro, q ue o Brasileiro na
Republica seja tão . protegido e garan tido como é o O riental
no Im pér io. O tempo e os nossos esforços perseverantes hão
de produzir duplo resultado de induzir os nossos com pa
triotas a serem absolutam ente neutraes na politica d'este E s
tado, e o gov erno orien tal a satisfazer as nossas justas re
clamações.
« A long anim idad e, S r , m inistro, com que o governo im
perial tem procedido para com o da R ep ub lic a; a benevo*-
lencia e . notória moderação que sempre o inspira ram , o
desejo de não actu ar fortemente sobre o go verno de u m
paiz am igo, que cuidava o rganisar-se ; não podem ser inv o
cados contra elle, agora que uma longa serie de aconteci
m en tos o con stituiram na necessidade de reclam ar com energ ia
a bem dos seus concidadãos, a execução sincera das leis da
R epub lica. O governo imperial até ha pouco m an tinh a-s e naresolução de esperar que este paiz, melhor administrado,
proporcionasse aos residentes brasileiros as garantias que elle
em vão tem solicitado no decurso de 12. ann os. M as não
está por isso inhibido de proceder de outro modo, tendo
chegado ao termo de suas illusões, e crendo com o crê, que
a sua politica de condescencia tem sido interpre tada como
fraqueza e irresoluç ão, a cujo favor pôde o go vern o orie ntal
liquid ar as que stões pendentes com os que lhe oppõem
embaraços sérios, m enos com o Brasil, estado visinho , e qu e
considera dever sagrado, respeitar a independência e integri
dade do território da Republica.
« A gora mesm o sou informado de q ue se está processando
ao gene ral N etto, pelo crime certam ente de ir ao R io de
Janeiro representar ao seu governo contra os abusos de auto
ridades de que são victimas os Brasileiros. Em Durasno ha
poucos dias foram barb aram ente assassinadas um a Brasileira
com sua filha de 10 ann os de idade, o q ue segu rame nte
não pôde acreditar o systema de protecção de que gosam na
Republica os meus concidadãos.
i
A fraqueza do poder supremo da R epublica, proveniente
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— —
algu m as vezes do estado politico do paiz, e actual m en te da
guerra civil, é o motivo invocado constantemente para justi
ficar a ineficácia das providencias adoptadas pelo governo,
o desleixo e abuso das autoridades iocaes, e o escândalo dos
julgamentos.
tc Esperar que o poder suprem o se torne respeitado em
todos os pontos do paiz, confiar na reorganisação da adminis
tração e do poder jud iciár io, e fazer votos pela paz, é um
conselho que o governo imperial não desprezaria, se, infeliz
m ente, a experiência dolorosa de perturbações nun ca inter
rom pid as, e cujo term o não é licito prev er, não houvesse
tornado incontestável a sua esterilidade.
« M as, se o governo não pôde pun ir os crim ino sos; se
os commandantes das suas forças exercem tal influencia que
estão ao abrigo de demissões e da effectiva responsabilidade,
pelas violências que autorisam ou comm ettem, então cum pre
reconhecer que é mais do que muito critica, é extrema a
situação do governo oriental. Em taes circumstancias, o go
vern o imperial deve e pôde cu idar de garan tir por si m esm o,
e pelos meios que o direito das gentes lhe perm itte, aos
seus concidadãos.
cc Com prehendo, S r. m inistro, todo o alcance de sem e
lhante deliberação: e é por isso e porque o governo imperial
não se desvia do propósito de ser demasiadamente prudente,
e prefere incorrer ás vezes na censura de fraco do que na
de violento, que elle tem procurado, com a mais notória lon-
ganimidade, exhaunr os meios possíveis de persuadir o governo
oriental da justiça de nossas queixas, da gravidade de nossas
reclamações, e dos perigos da nossa indiferença.
« Respondida por esta fôrma a nota de V. Ex., dou-me por
inteirado de não poder e de não estar disposto o g*overno
oriental, nas actuaes circumstancias, a satisfazer ás solicitações
amigáveis que o governo imperial lhe fez por meu inter
médio. »
Po r esta no tá, p arte da qual acabamos de transcrever, ficou
confirmado tudo quanto dissemos nos tres primeiros livros
sobre a politica seguida em tantos annos pelo governo im
perial, para com as R epublicas do S ul. Foi necessário que
passassem 12 annos, e que em todo este tempo fossem os
Brasileiros torturados do modo porque o referiram todos os
ministros dos negócios estrangeiros nos seus relatórios, para
que o governo do Estado Oriental recebesse pela primeira vez
uma nota redigida nos termos que acabamos de ver. Se nos anãos
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o s s e u s s u b o r d i n a d o s , n ã o s e p o d i a t ra ta r s ó d i p l o m a t i c a m e n t e .
D i z e m o s s ó , p o r q u e n o R i o G r a n d e n ã o h a v i a f or ça a l g u m a
o r g a n i s a d a d u r a n t e a m i s s ã o d ò c o n s e l h e i r o S a r a i v a .
O e n v i a d o b r a s i l e i r o r e t i r o u - s e p a r a B u e n o s - A y r e s , depois
d e t e n t a r a p a c i f i c a ç ã o d a R e p u b l i c a , d o m o d o p o r q u e v a m o s
v e r n o r e l a t ó r i o d o m i n i s t é r i o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s d e 1 8 6 5 .
T E N T A T I V A S P A R A U M A N E G O C I A Ç Ã O D E P A Z N O E S T A D O . O R I E N T A L .
« C o m o e r a n a t u r a l , a p o s i ç ã o e m q u e n o s a c h á v a m o s
c o m a R e p u b l i c a O r i e n t a l p r e o e c u p a v a o g o v e r n o d a C o n f e
d e r a ç ã o A r g e n t i n a , q u e v i s i n h o e h m i t r o p h e da m e s m a R e p u
b l i c a , v i a n a s c o m m o ç õ e s i n t e s t i n a s d ' e s ta , a c a u s a c o n s
t a n t e d e d i f f i c u l d a d e s i n t e r n a c i o n a e s e m s u a s r e l a ç õ e s c o m
e l l a , e a i n d a d e p r e j u i z o a s u a p r ó p r i a s i t u a ç ã o i n t e r n a .
« C o m a q u e l l e g o v e r n o e s t a v a m c o n v e n c i d o s o c o r p o d i p l o
m á t i c o e s t r a n g e i r o r e s i d e n t e e m M o n t e v i d é o , e t o d o s o s h o m e n s
s e n s a t o s e n o t á v e i s d o E s t a d o O r i e n t a l, d e q u e p a r a r e m o
v e r e m - s e a s d i f f i c u l d a d e s e x i s t e n t e s , e r a d e u r g e n t e e i n d e c l i
n á v e l n e c e s s i d a d e , a p a c i f ic a ç ã o i n t e r n a d o m e s m o E s t a d o .
« C o m e s t e p e n s a m e n t o e n o i n t u i t o d e p r o m o v e r a s u a
r e a l is a ç ã o , v i e r a m d e B u e n o s - A y r e s e c h e g a r a m a M o n t e v i d é o
n o d i a 6 d e J u n h o , o s S r s . D . R u f i . n o E l i z a l d e , m i n i s t r o
d a s r e l a ç õ e s e x t e r i o r e s d a R e p u b l i c a A r g e n t i n a , e E d u a r d o
T h o r n t o n , m i n i s t r o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n n i c a , q u e , c o m o
c a v a l h e i r o i n t e r e s s a d o n o c o n s e g u i m e n t o d e t ã o v a n t a j o s a
t e n t a t i v a , s e d i s p o s e r a a a u x i l i a l - a c o m o s s e u s b o n s o f fi c io s ,
e e s f o r ç o s p e s s o a e s .
cc E s t e s s e n h o r e s p r o c u r a r a m l o g o c o n f e r e n c i a r c o m o S r .
c o n s e l h e i r o S a r a i v a , a q u e m m a n i f e s t a r a m c o m f r a n q u e z a o
s e u i n t e n t o .
« A p r e c i a n d o d e v i d a m e n t e o n o s s o r e p r e s e n t a n t e o s b o n s
o f f ic i o s q u e s e l h e o f f e r e c i a m , n ã o h e s i t o u e m a c e i t a l - o s ,
d e c l a r a n d o q u e c o o p e r a r i a t a m b é m p a r a a p a z , p e r s u a d i d o
c o m o e s t a v a d e q u e m u i t o p o d e r i a e s t a f a c i li t a r o b o m
ê x i t o d e s u a m i s s ã o .
(( P o s t o s a s s i m d e c o m m u m a c c o r d o , s o l i c i t a r a m n o d i a %
d e J u n h o u m a c o n f e r ê n c i a c o m o S r . A g u i r r e , p r e s i d e n t e
d a R e p u b l i c a .
« N e s s a c o n f e r ê n c i a e x p ô z o S r . E l i z a l d e q u e a g u e r r a
c i v i l e r a a o r i g e m d e q u a s i t o d o s o s a g g r a v o s q u e h a v i a m
p e r t u r b a d o à s r e l a ç õ e s d o s e u p a i z c o m o E s t a d o O r i e n t a l ,
e q u e a C o n f e d e r a ç ã o t u d o o l v i d a r i a , s e s e c o n s e g u i s s e a p a a,
t a l e r a a v i r t u d e e i m p o r t â n c i a q u e l h e a t t r i b u i a ,
« O S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a d e c l a r o u e m s e g u i d a q u e a s
r e c l a m a ç õ e s e d i ff i cú l d a cl e s c ò m o I m p é r i o e r a m m a i s s é r i a s e
m a i s g r a v e s ; m a s q u e , r e s o l v e n d o a p a z m e t a d e d ' es sa s . d ií fi -
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cuidados, ficava o governo oriental habilitado para attender
desafíron tadam ente ás nossas reclamaçõ es, fazendo effectivas as
providencias que ellas exigiam.
a 0 Sr. A guirre, l isongeado d'esta abertura, -prometteu o
seu concurso para a realisaçâo de tão louvável intento, se se
pudesse conseguir sem comprometimento do principio da
autoridade.
« Esta manifestação do S r. A guirre, deixava e ntreve r qu e
o governo oriental propunha-se a retroceder da politica obsti
nad a, que revelava a sua nota de 24 de M aio.
«
O princ ipio da autorida de era com effeito a mais alta
conveniência da Republica, e a sua necessidade mais palpi
tante ; m as a verdade era também que, sc não t inha a auto
rid ad e força p ara suffocar a gu erra civil, a prolo nga ção
d'esta, sem termo previsto, enfraqueceria cada vez m ais o
principio invocado, acoroçoando as tendências revolucio
nárias.
« Conseguintemente, impossibilitar a paz, quando não podia
o governo reprimir a guerra civil, seria uma politica funesta
para o paiz. S em duvida, n'esta convicção foram asse ntad as
no dia 9 de Ju nh o as seguintes bases :
« A mnist ia ple na e inteira para todos qu e se houvessem
envolvido na guerra civil .
« R econhe cimen to dos postos que anteriorm ente t ivessem
no exercito da Republica, e 1 mesm o dos que o general
Flores houvesse dado, se fosse isto uma condição sine qua non
da paz. | $
« Concessão de uma quantia que se arbitrasse, e com que
o general Flores remisse as dividas contrahidas para a guerra,
e indemnisasse aos individuos de quem havia recebido gado
e cavalhada.
« Liberdade plena de eleição.
« Completadas estas condições com a adopção de uma poli
tica moderada nos conselhos do governo, razão havia certa
mente para esperar-se um accordo sincerc entre os partidos
dissidentes.
« A ssim preparad os para entra r em negociação com o ge
ner al Flo res, partiram aquelles ministros para as — P un tasdei R osário — rios limites do dep artame nto da Colônia e S o-
r i a n o ,
onde t inha el le então o seu acampamento.
« Os S rs . D . A ndré L amas e Florentino Castellanos deviam
igua lm ente tomar parte nas negociações, como delegados do
governo da Republica.
« No dia 18 de Ju n ho a ssignou-se en tre todos, e ad refe-
rendum, por aquelles commissarios um protocollo concebido nos
seguintes termos:
« 1.° T odos os cidadãos orientae s dev iam , d'esde aq uella
da ta, ficar no plen o gozo de se us direitos políticos e civis,
quaesquer que tivessem sido suas opiniões anteriores.
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« 2.° O desarmamento das forças verificar~se-hià pelo modo
e na forma que fosse resolvido pelo poder executivo, que se
entenderia:; com o gen era l D . Ve nan cio P iores , qu anto á m a
neira de èffectuai-o , pe lo que respeita as forças que estavam
debaixo de suas ordens.
« 3.° Seriam reconhecidos os postos conferidos durante a luta*
pelo gen eral Flo res e qu e est iv essem nas attribuiçôes do poder
executivo , o qual so l ic i tar ia do senado a precisa autonsação
para a confirmação d'aquel les que, pe la const i tuição do Es-
a d o ,
necess i tassem d'esse requis i to .
« 4 .° Seriam também reconhecidas como div ida nacional , todas
as despezas feitas pelas forças d'aquelle general, até a quantia
de 500 mil pezos .
« 5 .° A s som m as pelo m esm o arrecadadas, procedentes de
contr ibuições , patentes , ou quaesquer outros impostos , se con
s iderariam como entradas no thesouro nacional .
« Além das c láusulas d^teprotoco l lo , em uma car ta reservada ,
dir ig ida ao pres id ente da R epu blica , add ic ionou o general
D .
ve na nc io F lores a da organisação de um m inistér io qu e, se
cundando a polit ica da paz iniciadora, acalmasse os espiritos
e preparasse o paiz para entrar no seu estado normal, e ser
regido segundo a respect iva const i tuição.
« E n em era para estranhar sem elhan te c láusula , porque
nã o d evia esperar-se que um part ido com as armas na m ão,
e qu e n ão estava ven cido , as depu zesse espon taneam ente ,
sem essa ou outra equivalente garantia para si e para seus
correligionários. Para attender, porém, ao principio da autoridad e, concordara o gen eral F lores em qu e não figurasse a
menc ionada condição no convênio os tens ivo . Os commissar ios
da R epu blica não se esqueceram de expl icar ao Sr . Aguirre
ue esta era uma condição sine
qua
non, para que pudesse o
ito convênio produzir os seus devidos effeitos.
<c Su bm ettid o o ajuste á consideração do govern o orie nta l,
deu - lhe o pres idente d a Re pub l ica o seu assent imento c om as
s e g u i n t e s m o d i f i c a ç õ e s :
« l .
a
Q ue os pos tos, cuja confirmação fora estip ula da , não
poderiam recahir em pessoas qu e as leis inh ibi sse m de ser pro
m ovid as , ou n om eadas , ass im com o que deveriam taes postos
ser unicamente aque l le s dados pe lo genera l F lores em ordem
do dia do seu exercito.
« 2 .
a
Que a som m a pedida para os gastos da guerra, con
vinha que fosse reduzida, o mais poss ive l , em proveito da
Republ ica .
« Estas modif icações foram eom m uh icad as aos m inistros
mediadores em 23 de Junho, e no dia 30 part iram os Srs .
El iza lde e Thornton para transmitt i l -as ao general Flores , com
cuja adhesão contavam. »
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—
145 —
R O M P I M E N T O
DAS NEGOCIAÇÕES DE PAZ.
I
« Do que fica exposto resulta que tudo fazia esperar que
fossem bem succedidos os esforços, que tão decücadamente
haviam feito os ministros mediadores para a pacificação da
Republica.
« A ssim , porém , infelizmente
não
aconteceu, porque
o Sr.
Aguirre, não se dando por instruido da cláusula da carta
reservada, que lhe havia dirigido o general Flores, nem se
quer consultou
os
seus m inistros sobre esse im po rtan te pon to,
que aliás, como sabia,
era
essencial
da
negociação.
« T nterpellado depois a esse respeito, só então declarou
q u e não havia dado importância á carta do general Flores,
por entender
que a
exigência relativa
á
organisação
de um
novo ministério,
não era uma
condição essencial
do
ajuste
de
paz, accrescentando que não duvidaria tomal-a em consideração,
effectuada
que
fosse esta;
mas não
como
uma
imposição,
a
que não
'lhe era
possível sujeitar-se,
sem
dezar para
o
prin
cipio da autoridade, que lhe cumpria respeitar e manter a
todo
o
custo.
« Em . con seqü ência d'esta deliberação, as hostilidades da
guerra civil, que haviam ficado susp ensas d esde o dia 1 9 de
Junho, pela negociação de paz, recomeçaram no dia 6 de
J u l h o , 4 8 ho ras depois de denunciada a cessação do a rmis
tício pelo general Flores.
« Ret iraram-se
em
seguida para Buenos-Ayres
os
ministros
mediadores, resolvendo-se também o Sr. conselheiro S araiva
a aguardar alli ordens
do
governo imperial, antes
de
tomar
uma resolução definitiva acerca do objecto princ ipal da sua
missão. )>
TERMO
DA
MISSÃO
DO SR.
CONSELHEIRO SA RA IVA .
U L T I M A T Ü M
D E
4
DE
A G O S T O
E
E M P R E G O
D E
R E P R E S Á L I A S .
«
Era
inquestionavelmente
a paz a
única* solução,
que
con
sul tava a um tempo os mais vitaes interesses do Estado
Oriental .
No
interior, além
do
sacrificio
do
sangue
de
i rmãose
de
dinheiro
que se
poupava, salvara-se
o
principio
da au
toridade, aliás tão invocado; restabelecia-se a ordem publica,
se
não a uma
situação normal,
ao
menos
ao
caminho
que
para alli devia conduzil-a
com
rapidez.
No
exterior ficavam
removidas as difficuldades com a Confederação Argentina, e
em grande parte aplanadas as que embaraçavam as relações
de boa e cordial intelligencia com o Impér io .
« Pertinaz, poré m , em seu capricho, o presidente Aguirre
tudo subordinou ao espirito de partido, frustrando assim os es
forços tão nobrem ente empregados p ara salvar o seu paiz da
crise gravíssima
com que se
achava
a
braços.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 237/448
— 146 —
« Em taes circumstancias o governo imperial, apenas infor
mado dos successos que deixo referidos, comprehendendo a
inutilidade de insistir em fallar á razão e á consciência do
governo oriental; ordenou ao ministro, em
2 1
de Julho, que
regressasse a Montevidéo, e ahi intimasse ao respectivo go
verno, um prazo dentro do qual desse este as satisfações que
exigíamos, sob pena de passarmos a fazer, pelas nossas pró
prias mãos, a justiça que nos era negada.
<t Expirado aquelle prazo, devia retirar-se a missão espe
cial, depois de haver annunciado ao governo da RepuhRca o
começo das represálias.
cc
Em seguida, ordenou outrosim o governo im perial, que
nossas forças marítimas tomassem posição no Uruguay, afim
de prestar aos Brasileiros a devida protecção, e que as
tropas
existentes na fronteira do Rio Gran de,
estivessem preparadas
para qualquer eventualidade.
cc
Chegado a 4 de Agosto em M ontevidéo, n'esse mesmo
dia o Sr. conselheiro Saraiva,* exigindo do governo da Re
publica as satisfações pedidas em sua nota de 18 de M aio,
accrescentou que, se dentro do prazo improrrogável de seis
dias, não fossem attendidos os reclamos do Império, e sendo
certo que não podia este tolerar por mais tempo os vexames
e perseguições, que soffriam- seus concidadãos, nem deixar de
prover á indiclinavel necessidade de garantil-os por qual
quer modo, estava autorisado para declarar o seguinte :
cc
Que as forças do exercito brasileiro, estacionadas na fron
teira, receberiam ordem para proceder a represálias sempre que
fossem violentados os subditos de Sua Magestade, ou amea
çadas as suas vidas e segurança; incumbindo ao respectivo
commandante providenciar pela forma, que fosse mais conve
niente e efficaz a bem da protecção de que elles carecessem.
cc
Que também o vice-almirante brasileiro receberia ordem
e instrucções para proteger, com a ' força da esquadra ás
suas ordens, os agentes corisulares, e os cidadãos brasileiros
offendidos por quaesquer autoridades, ou indivíduos incitados
a commetter desordens, pela violência da imprensa, ou ins-
tigaçoes das mesmas autoridades.
<c
Não sendo as represálias, a que se via forçado a recor
rer o governo imperial, verdadeiros actos de guerra, esperava
o mesmo
governo
que o da Republica evitaria, que se aug-
mentasse a gravidade d'aquellas medidas, impedindo successos
lamentáveis, cuja responsabilidade pezaria exclusivamente
sobre elle.
cc O ministro das relações exteriores da Republica respon
deu em o dia 9 de Agosto, recusando-se a fazer punir os
attentados e abusos de autoridade, assignãlados em a nota do
ministro brasileiro, e devolvendo o
ultimatum
do mesmo mi
nistro, com a declaração de que não podia ficar nos archivos
da Republica. Accrescentava uma exposição inexacta dos factos
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 238/448
— 147 —
em termos descomedidos; e concluía propondo que as diver
gências entre o Imp ério e a R epublica, íbssem jB tó m et ti d as
ao arbitramento de um a ou mais potências, devafip) os arbi
tres deoidir:
%
1.° sobre a opportunidade das reclamações do
governo imperial; 2.° admittida essa opportunidade. sobre os
meios práticos de proceder ao exam e e satisfação das re ci
procas reclamações pendentes.« S em elhante expediente era visivelmente um meio prote-
latorio de qu e se soocorria o governo da R epu blica, para.
procrastinar se não frustrar a missão brasileira.
« O S r . conselheiro S araiva não o desc onh eceu ; e, pois no
dia imm ediato com mu nicou ao governo oriental, qu s de con
formidade com a sua nota do dia 4 de A gosto, e segu nd o
as orden s do g ov erno im peria l, iam ser expedidas instrucções
ao vice-alm irante brasileiro, e ao com m and ante dos corpos
do exercito estacionados na fronteira, para procederem a re
presálias, e empregarem as medidas mais convenientes, em
ordem a tornar enectiva por si mesma a protecção a que
tinh am direito os subd itos brasileiros, e qu e não podia asse
gurar-lhes o governo oriental .
« A ccrescentou qu e o governo imp erial julgav a do seu dev er
permanecer n'essa atti tude, em quan to o da R epub lica não
adoptasse as providencias, e não desse as satisfações reclam ada s,
nem reparasse as offensas praticadas contra a nação brasileira.
(c E term ino u declaran do que apezar de ser o principa l d e
sígnio do governo im perial, garantir por si m esm o, a seg u
ranç a pessoal e de propriedade dos seus concidadão s, até qu e
se tornasse effectiva a observâ ncia das leis da R ep ub lica, p ro
cederia ás represá lias especiaes, a respeito d e cada um do s
factos occorrentes, e só aug m entaria a grav ida de das m edid as,
que iam ser autorisadas, se a attitud e que ass um io, fosse
insu ficiente para alcançar tudo quan to em nom e do gov erno,
exigira na referida n ota de 18 de M aio. $jfòf?
« L imitan do-se a manifestar esta resolução do gov erno im
perial, o ministro brasileiro julgou com razão, que seria pura
perda de tem po, qualificar os termos em que se expressara
o govern o da R epu blica, e rectificar as inexa ctidões dos factos
por elle allegados; contentou-se apenas com devolver a men
cionada nota do dia
9 .
« No mesm o dia 10 dirigio aquelle min istro u m a circular
aos membros do corpo diplomático, communicando-lhes as
medidas extraordinárias, que o governo imperial havia sido
compelHdo a adoptar.
« No dia 11 officiou ao vic e-a lm iran te brasileiro pa ra q ue ,
como medida preliminar, estacionassem alguns navios de guerra
em Paysandú, Salto e Colônia, afim de proteger aos nossos
concidadãos e em baraçar que navios orientaes levassem a u
xílios militares aquelles portos.
« N*esse mesmo dia dirigio-se ao cônsul gerai do Im pé rio
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 239/448
em Montevidéo, dando-lhe, e aos vice-consules de sua de
pendência as instrucções, porque deviam guiar-se em tão grave
emergência»**»
Diz a este respeito o ex-ministro de estrangeiros João Pedro
Dias Vieira, no seu relatório de
1 8 6 5 ,
a pag.
4 ,
que conti
nuamos a extractar;
« Terminara então a missão confiada ao Sr. conselheiro José
Antônio Saraiva, sem que houvéssemos podido obter ajustar
a reparação que exigimos, e que fez objecto da mesma missão,
pelas offensas praticadas contra os direitos e le gi tim o* in te
resses dos subditos do Império residentes na Republica.
« Conseqüentes com o uhimatum apresentado pelo Sr. Sa
raiva, e/a que não attendeu o governo de M ontevidéo, tivemos
de assumir alli uma posição mais enérgica, empregando os
meios coercitivos, autorisados pelo direito das gentes e que
infelizmente se tornavam indispensáveis para manter o decoro
e a dignidade nacional.
« Iniciando as represálias a que me refiro, procedeu o vice-
almirante brasileiro com a maior moderação de modo a
salvaguardar qua nto fosse possivel os interesses dos neu tros, e
mesmo prejudicar o menos que pudesse, aos próprios n at u -
raes da R epublica, que não eram responsáveis immediatos da
situação creada pelo seu governo.
cc Se posteriormente a pe rtinácia do mesmo governo impoz
aquelle distincto chefe a necessidade de recorrer a meios de
mais vigor, como o bloqueio, em seguida a tomada de Pay
sandú ; nem por isso deixa de ser certo que, mesmo depois
de injustamen te repellido, deu o Im pério repetidas provas de
prudência e de longanimidade para com seus visinhos. »
Ainda depois de injustamente ser o conselheiro José An
tônio Saraiva repellido do Estado Oriental, deu o Império
provas da sua prudência para com seus visinhos D'este
modo terminou a sua embaixada, da qual se não tirou pro
veito algum.
Não tendo tido resultado, como acabamos de ver, a missão
dos tres ministros, para fazerem a paz entre o general Flores
e o presidente da R epublica, aquelle gen eral participou o
rompimento das hostilidades no dia 4 de Julho.
N O T A D O G O V E R N O ORIENTAL A O M I N I S T R O B R A S I L E I R O E M M I S S Ã O
ESPECIAL.
cc
M inistério das relações exteriores.— M ontevidéo,
5
de Julho
de 1 8 6 4 .
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 240/448
i49
« Sr.
ministro.—O
governo recebeu hoje, ás d u a s horas da
t a r d e , j y r ' d o c u m e n t o s que, por cópia, levo á presença de V. Ex.
« S E C U N D O aílirma explicita
e
categoriamentc H Venancio
F l o r e s a o general em chefe do exercito iiacional/clle procede
e m virtude de noticia que lhe foi transmittida por V. Ex. e
pelos Srs. ministros da Republica Argentina, e de Inglaterra,
e m que
SS.
EExs. lhe faziam saber, por commünicação que
haviam tido
no dia 4, que
estavam rotas
as
negociações
qúè
até este momento seguiam
SS.*
EExs.
cem o
governo, ten
dentes
á
pacificação interior
do
paiz.
<c À' vista d'èsta affirmação da parte do chefe da rebellíão,
que sorprehende o meu governo, S. Ex. o presidente da Re
publica ordenou-me que solicitasse uma explicação de
V.
Ex.
como tenho
a
honra
de
fazel-o pela presente nota.
« Cem este motivo reitero a V. Ex. a segurança da minha
alta e distineta consideração.
« A S . Ex. o Sr. conselheiro José Antônio Saraiva. —
João
José Herrera.
»
N O T A DO M I N I S T R O B R A S I L E I R O EM M IS SÃ O E S P E C I A L , AO G O V E R N O
O R I E N T A L .
« Missão especial do Brasil.—Montevidéo,
7
de Julho
de
1 8 6 4 .
« Sr. ministro.— S. Ex. o Sr. Presidente da Republica
Oriental do "Uruguay teve a bem declarar-me que não se
prestava ás indicações que lhe haviam sido feitas por S. Ex-
o Sr. brigadeiro general D . Venancio Flores, e em conse
qüência ficava concluída
a
negociação de
paz,
denunciándo-se
portanto
a
suspensão
de
hostilidades,
è, em
vista
d'istò,
assim
o fez
constar
a
S.
Ex. o
Sr. brigadeiro general D .
Ve
nancio Flores
« Julgo satisfazer
com
esta commünicação
aos
desejos
de
V. Ex. manifestados em sua nota 5 do corrente.
TE Havendo-se mallogradp as esperanças concebidas poste
riormente, de alcançar-se a pacificação do paiz, pois que
S. Ex. o Sr. Presidente entendeu dever insistir em idéas que
não tornam possíveis aquellas esperanças, parece-me comple
tamente inútil apreciar
o que V. Ex.
expõe
em
-outra nota
dè
4 do
corrente,
nem
rectificar alguns
dos
pontos indicados
n/essa mesma nota.
« Ao dar por concluída a minha officiosa participação a
bem da paz d'esta Republica, que lamento não se haja conse
guido, tenho a honra de reiterar a
V.
Ex. as expressões de
minha mais alta
e
distineta consideração.
« A S . Ex. o Sr. D . João José Herrera, ministro das relações
exteriores.—José Antônio Saraiva, »
T e n d o o conselheiro Saraiva communicado ao governo im-
derial
as
ultimas oceurrenciás n o Estado Oriental,
e que não
31
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 241/448
tin ha podido obter d'aqu elle gove rno satisfação algum a ás
suas reclamações; o govern o imperial mandou-lhe as segu intes
instrucções, em conseqüência do rompimento das negociações
de .paz.
« Rio de Janeiro.—Ministério dos negócios estrangeiros, em
21 de Julho de 1864.
« Il lm. e Exm. Sr. r -Acuso recebida, e tenho presente a
correspondência de V. Ex. constante dos seus officios, eonfi-
denciaes números 18, 19 e 20, de 10, 12 e 13 do correate.
« Por essa correspondência vê o govern o imperial confir
mada a noticia que , pelos seus anteriores officios, de que
foi portador o Saintonge, annunciara V. E x. de haver com
pletamente * abortado a intentad a pacificação da R epu blica
Oriental.
« C omm unica m ais V. Ex. pela- referida correspondê ncia a
sua chegada a essa capital, as conferências que teve com o
chefe da. Republica Argentina e com o seu governo, as im
pressões que lhe deixaram taes conferê ncias; e, por u ltim o,
offerece á consideração do gover no imperial os alvitres q ue
as circumstancias lhe suggerem para proseguir no desempenho
do objecto principal da sua missão.
-« De tudo inteirado, çabe-me em resposta dizer a V . E x.
que, visto terem-se mallogrado inteiramente os esforços em
pregados para a paz, mediante a qual, restituindo o soc eg o
á Republica Oriental, podiamos melhor conseguir do seu
gove rno as satisfações e reparações a que tem os direito pelas
offensas alli praticadas contra subditos brasileiros; entende o
governo imperial que estando como está o govern o da R ep u
blica A rgentina certo de nossas boas intenç ões, nada m ais
resta a fazer do que regressar V . Ex. a Montevidéo, e ahi
reatando a negociação que encetara, e na qual por amor das
esperanças da paz se sobr esteve; marcar ao governo da R ep u
blica um prazo mais ou m eno s breve, segundo as cir cu m s
tancias aconselharem, dentro do qual o mesmo governo possa
dar as satisfações exigidas na fôrma das instruc ções d e que
foi V. Ex. munido, sob a comminação n'ella estabelecida depassarmos a fazer pelas nossas próprias m ãos a justiça q ue
nos é negada, visto não termos outro recurso, e não ser
possivel o governo imperial tolerar por mais tempo os vexa
mes e perseguições feitas aos subditos de sua nação.
a Julga o governo imperial conv eniente que o Sr. Barão de
Tamandaré tome desde já posição no U ru gua y, afim de impo r
ao governo de M ontevidéo o respeito devido aos nossos na cio-
na es ; sendo que n'essa conformidade receberá aqu elle chefe
as precisas instrucções do ministério da marinha.
« Ê ' necessário que na apresentação do ultimatum fique
bem patente que das conseqü ências sup ervenientes só terá o
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 242/448
governo da Republica de queixar-se de si próprio, não tendo
o governo imperial em vista senão um único interesse, e é
qu e os Brasileiros como estrangeiros qu e são na R epub lica,
ozem de todas as g arantia s que a constituição confere aos (pie
abitam o seu território.
« Enten de o governo imperial que os ministros das dem ais
potências, acreditados no Estado Oriental, devem ter conhe
cimento do nosso ultimatum, e das razões que a isso nos
conduzem.
« Entende também o governo imperial, que a legação per
manente de Sua Magestade em Montevidéo deve alli conti
nuar, dado mesmo o rompimento das represálias por nossa
parte, pois que não significam estas necessariamente a guerra,
caso ún ico em que deve verificar-se a retirada da mesm a le*-
gação, porque importa a interrupção das relações diplomáticas.
« Ju lga , porém* o mesmo governo qu e, expirado o prazo
que fôr por V . Ex. marcado no ultimatum, deverá a missão*
especial retirar-se depois de haver intimado ao governo da
Republica o começo das referidas represálias, fazendo n'ess%
hypothese aviso ás nossas autoridades na fronteira.
« Previno por ultim o a V . Ex. que ao presidente da
provincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul se expede ordem
pa ra que as tropas existentes na fronteira estejam preparadas e
prom ptas para obrar, no sentido de fazermos ju stiça pela s
nossas próprias mãos.
« R enovo a V . E x. as seguranças *de m inha perfeita es
tima e distineta co nsideração. '
« A S. Ex. o Sr. José Antônio Saraiva.—/.
P. Dias Vieira. »
Logo que o conselheiro Saraiva recebeu estas instrucções,
apresentou ao governo oriental o seu ultimatum em data de
4 de Agosto, nos termos seguintes:
« M issão especial do B rasil.— M ontevid éo,
4
de Agosto de
1 8 6 4 .
á Sr. m inistro.— O governo de Sua M agestade o Imp erador
do Brasil, acaba de ordenar-me que eu communique ao go
verno da Republica Oriental do uruguay a grave deliberação
de que venho dar conhecimento a V . Ex, »
Expõe seguidamente o conselheiro Saraiva,—as violências e
as extorsões, os roubos e os assassinatos perpetrados no ter
ritório da Republica desde 1 8 5 2 , contra cidadãos brasileiros,
e em que figuravam como cúmp lices, m andantes, e até com o
executores, os próprios agentes do poder.
Transcreveremos as partes mais essenciaes desta nota:
« A convicção derramada entre os meus compatriotas, cujo
numero no Estado Oriental excede talvez de um quarto da
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 243/448
totalidade dos seus habitantes, em grande parte estrangeires,
de
que é
svglematica
a
perseguição
das
suas pessoas
e a
devas
tação
das suas
propriedades. Tudo isso exigia,
Sr.
ministro,
qué
o
governo imperial, convencido
da
ineôícacia
das
suas
diligencias anteriores, formulasse o ultimo appeUft amigável
ao governo d'esta Republica,
de
cuja prudência ainda espe
rava a reparação devida por factos de tão notória gravidade.
Insistir nas reclamações por taes crimes, e conseguir que me
didas enérgicas
e
preventivas obstem
a sua
reprodueçao,
era,
Sr. ministro, direito perfeito
do
Império, tanto quanto
uma
pretenção moderada.
Os
motivos
do seu
proceder,
e o 'fim a
que se propunha exprimioros o meu governo de um modo
explicito, e sem reserva alguma, em documentos públicos, do
mesmo modo porque eu depois o fiz a V. Ex. em nota de 18
de Maio.
Queixa-se da imprensa official da Republica sempre contra
o
Império,
e que não
permitte publicaçõesI contrarias
á sua
politica, e continua :
a Reprimindo
meu
profundo pezar,
na
crença
de que o
governo
da
Republica resistiria
por fim as
suggestões exal
tadas
do
partido
da
situação, tive
a
honra de-passar
á V. Ex.
a nota citada
de 18 de
Maio, acompanhada
da
memória
dos
factos constitutivos das reclamações pendentes.' Servi-me de
uma linguagem moderada, abstrahi
de
considerações
que
pudessem perturbar
a
calma
em que
parecia-me necessário
manter
a
discussão, limitei-me
a
expor
e
justificar
as me
didas repressivas
dos
crimes
e
abusos
de
autoridade, muitos
dos quaes
são
notórios
a
nacionaes
e
estrangeiros.
Seguem-se
as
reclamações
da
nota
de 18 de
Maio.
« Quando
eu
dirigia-me
ao bom
senso
e á
honra
do go
verno oriental, formulando um pedido de caracter tão mode
rado como o d'essas providencias, que é dever de todo o
governo civilisado adoptar, espontaneamente e sem provo
cação
das
potências estrangeiras,
por bem da
tranqüilidade
d'aquelles
que,
procurando
o seu
território, confiam
na
jus
tiça dos tribunaes
e nos
agentes
do
poder publico, estav*
bem longe de acreditar, Sr. ministro, que VY Ex* em res
posta recorria, como o fez por sua nota de 24 de Maio, a re-
crimináçoes inopportunas contra o próprio governo de Sua
Magestade, no intuito certamente de perturbar e desviar a
discussão.
<c Fiel ao propósito funesto de não encarar as questões
internacionaes senão pelo prisma
das
paixões
de partido* que
commovem
e
arruinam
o
paiz,
o
governo oriental preferio
óppôr aos
reclamos
do de Sua
Magestade
as
accusaçòes vui*
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 244/448
gares cja imprensa desvairada, imputando ao Brasil e á Re
publica Argentina a responsabilidade da presente guerra civil.
Como se os
paizes
visinhos pudessem participaiPdos
deplo
ráveis erros da
politica
interna do Estado Oriental, cujo go
verno a$o *omprehendeu ainda o dever da tolerância e da
moderação nas lutas dos partidos, e cuja historia reduz-se ao
*.
*
r
-,— £ T " ~ .1 r~
sivo ae outros,
« Longe de manifestar a intenção de garantir por q ua l
quer modo a sorte dós subditos de Sua M agestade, o go
verno da R epublica limitou-se a accusal-os de auxiliarem a
rebélliãó, julgando-se por ventum dispensado por isso de
proteger4h.es> a vida e a propriedade, e aceitando assim a
complicidade com os ehefes militares, que, ás ordens do
general D . Diogo L amas, actual ministro da guerra, devas
taram e até incendiaram estâncias de Brasileiros, sob o futilpretexto de que sympathisavam com a revolta.
« Não ficou esquecido o facto de se haverem alistado sob
as bandeiras do genaral D. Venancio Flores, vários dos meus
compatriotas, muitos d'elle aliás, convém notal-o, victimas
de violências impunes, permittidas ou praticadas pelas au to
ridades, entretanto que o exercito legal conta centenares de
estrangeiros violentados ao serviço militar. Invocando esse
facto, porém,
ó
governo da Republica não podia crer que
elle lhe permittisse izentar-se da obrigação de não consentir
que no seu território seja o estrangeiro, como o tem sido
alguns dos subditos de Sua Magestade, impunemente esfa
queados, assassinados, e até açoitados de . òruem e na pre
sença de autoridades sifperiores, tal como foi praticado por D .
L eandro Gomez, chefe militar do departamento de Paysandú.
« Ao passo que V . Ex. procurava, na sua nota alludida, .
excitar contra o Brasil o espirito nacional, o governo da R epu
blica esquecia-se de promover o restabelecimento da tran-
quillidade, a harmonia de todos os Orientaes, chamando-os á
um centro de acção contra os perigos que V . Ex. denunciava.'"
Isto demonstra claramente que o governo de V. Ex. nada
receiava d'esses fantásticos perigos, e só de caso pensado re-'petia os mesmos erros vulgares d'aquelles que não compre-
hendem o que houve de nobre e u til nas convenções que
aèràm existência e asseguraram a integridade e a soberania
d'esta R epublica, digna seguramente, por todos os títulos, de
melhor sorte.
« Na franqueza com que se expressava V . Ex. revelou que
nada podia ver
-
senão pelo prisma das questões internas, e que
confundia a .attitude séria e grave do Império do Brasil com
o s i n t e r e s s e s que agitam-se em derredor do partido dominante
na R epublica, e ameaçam a existência do governo actual.
« ftab careço de insistir no que já ponderei á este respeito
na m i n h a nota de 4 de Junho.
exilio e ao supplicio em proveito exclu-
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 245/448
« M ostrei então a V . E x. prevalecendo-^*, e de palavras
muito significativas da sua própria correspondência com a
legação imperial, qu e, e até uma data bem recente (31 de
Dezembro), o governo da Republica se manifestara sempre
mu ito reconhecido pelo esforço com que o de S u a Magestade
procurava evitar e reprimir a interv enç ão de Brasileiros n a
luta travada n'este p a iz ; qu e
V .
E x. invocara por vezes o
auxilio dos delegados de Su a M agestade, e que este jam ais
faltou -lhe para sem elhante fim, que certamente nenh um Bra
sileiro encorporar-se-hia ás forças revoltosas se encontrasse
justiça nos tribunaes e protecção nas autoridades.
« A
politica intolerante* do go ve rn o or iental forçara algu ns
do s m eu s compatriotas a recorrer ás armas, para se defen
derem a si e as suas fam ilias; e é notável, Sr. m inistro, que,
partindo d'esse facto sem assignar -lhe a causa, V . Ex. pre
ten de sse accusar o m eu go vern o de concorrer para o triumpho
da rebellião.« Isto dava-me a med ida das paixões que dom inavam o
•governo da R epu blica, victima da m ais inexp licável a iiuc i-
nação.
« A nota cujo pensam ento acabo de expor em res um o,
desvan eceu toda a esperança que podia eu ter de conseg uir
as garantias e as reparações solicitadas por meu governo.
« Se , n'essa occasião, venc ido pelo m odo com qu e Y . E x.
julg ou poder contestar, á m inh a primeira nota, tão moderada
quanto ã de V. Ex. foi inconveniente, eu houvesse respon
dido com um ultimatum lacô nico e dec isivo á negativa formal
opposta pelo governo da Republica ás solicitações de Sua
Magestade, exerceria certamente u m direito de que V . Ex.
me estimulara a prevalecer-me sem demora.
« N ão o fiz, po ré m ; e , pelo contrario, fiel á politica de
longan imida de que tem distm guido o proceder do governo do
Imp erador nas suas relações especiaes com este paiz, aven
turei, mesmo no momento em que vindicava a honra ofíen-
dida do m eu paiz e os direitos dos m eus concidadãos, con
selhos amigáveis, que fizessem o governo oriental comprehender
*a fatalidade das suas preoccupações e os perigos do seu pro
ced im ento . O m eu governo applaudiria sempre a moderação
do seu represen tante n'esta R ep ub lic a; estava eu certo d'isso,
e julg ue i não dever romper as nego ciaçõe s sem exhaurir a
ultim a esperança de conciliação; entendi que me cumpria
indicar ao govern o oriental o m odo pratico de h abilitar-se
para resolver prom ptamen te as suas ques tões intcrnacionaes,
isto é, a pacificação de seu paiz.
a Para qu e n ão reste somb ra de duv ida sobre o interesse
sincero que ainda um a vez o governo de Su a Magestade
reve lou pela sorte do E stado O riental, long e de regosijar-se
com as lutas que o estão ann iquilan do, transcreverei aqui
textualmente as palavras de que servi-me na citada nota de
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 246/448
— 1S -
4 de
J u n h o ,
e que
re s ume m
o
me s mo pe ns a me nt o
das mi
nhas
conferências
com V. Ex., e com S. Ex. o Sr.
pre
s idente .
« Agua rda ndo
as
ordens
do
governo
imperial, a
quem logo
informei
da
resposta negativa opposta
ás
suas reclamações,
eu fazia votos para
que o
governo
da
Republica reflectisse
na gravidade
da
s i tuação
e na
responsabil idade
que
assumira .
«
Um
supremo esforço
de
pat r iot i smo
e
abnegação poderia
rest i tuir
a paz ao
Estado Oriental
por
me i o
de
transacções
rasoaveis .
« L i be r t a do
das
preoccupações
da
politica interior,
que o
t o r n a m
tão
suspeitoso
e
intratável para
com o
Impé r i o ,
o
gove rno
da
Republ ica comprehender ia então
a
necessidade
de
cirj|entar
as
relações
de
amizade,
que
devem
ser
cul t ivadas
por
toàos os
Brasileiros
e
Orientaes , como reclamam
os
inte
resses recíprocos
de
a mbos
os
paizes .
^ ]
«
Não era eu
somente quem depos i tava
na paz
interna
do
Estado Oriental
a
esperança
da
solução completa
de
suas
questões internacionaes,
das
difficuldades
que
cercam
o seu
gove rno ,
e o
isolam
dos
seus vis inhos.
A
população laboriosa
da Re publ i c a
e os
seus homens mais notáveis t inham iguaes
sent imentos .
I
O
i l lustrado governo
da
R epubl ica A rgent ina , vence ndo
nobre me nt e
a
distancia
que o
separava
do
governo or ien ta l ,
com quem havia interrompido
as
relações diplom áticas , en vio u
a esta capital
uma
personagem
de
elevado caracter
©
s upe
r ior merecimento,
o
próprio ministro
das
relações exteriores,*afim
de
promover ajpeal isação
da paz,
almejada
por
todos.
cc
E,
para assignalar
o
caracter generoso
das
diligencias
feitas n'esse sentido, basta-me dizer
que não
duvi dou pre s
tar- lhes
o seu
muito val ioso concurso
o
nobre cavalheiro
que
em Buenos-Ayres representa
com
tanta dignidad e
o
governo
de
Sua
Mages tade Bri tannica .
«
Os
hon rados minis tros
a que
tenho a l ludido,
Srs.
Rufi.no
de Elizalde
e
Eduardo Thornton, conscios
das
intenções .
e do
fim
da missão especial
do
Brasi l , procederam sempre
de
per
fei to accordo comigo;
e
todos, durante longos dias , expondo
a provas mui to duras
a
nossa,
paciência, julgamos
ter
feito
a
bem
da
pacificação
do
Es tado Orienta l
os
esforços possiveis,
no meio
dos
preconceitos
de
part ido, através
dos
interesses
a m e a ç a d o s ,
e
apezar
das
injus t iças
da
própria imprensa official.
<c Des va ne cid a
a
esperança
de
verificar-se
a paz
i n t e rna ,
acheJHme
no
ponto
em que me
deixara
a
pr imeira nota
de
V.
J Ü . | S J
« Solicitei então
as
ul t imas ordens
do meu
governo, dan do
nè
'entanto
ao da
Republ ica tempo para
que
reflectisse sobre
as difficuldades
da sua
s i tuação,
e
effectúasse
por si
inesmo
a
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 247/448
—
156 —
paz do Estado Oriental, que aliegára nào ter se verificado em
conseqüência da pressão estrangeira. Tenho por tanto, Sr.
ministro, exhaurido os esforços possíveis para conservar A
minha missão o caracter amigável, que lhe dera o governo
de Sua Magestade, Como o exigem os verdadeiros interesses
do Império e da Republica.
« Agora, porém, não me cabe outro arbitrio se não cum
prir as ordens do meu governo.
ix Em virtude* d'ellas, venho notificar a V. Ex. o ultimo
appello amigavéf que o governo de Sua Magestade o Impe
rador do Brasil dirige ao governo da Repuhca Orientai do
Uruguay, solicitando as satisfações pedidas em minha nota de
18 de Maio, pela fôrma n'elia contida e acima transcripta.
« E, se dentro do praso improrogavel de seis dias, con
tados d'esta data, não houver o governo oriental attenílido
aos reclamos do governo imperial, não podendo este tolerar
por mais tempo os vexames e perseguições que soffrem seus
concidadãos, e tendo indeclinável necessidade de garantil-os
por qualquer modo, estou habilitado para declarar a V. Ex.
o seguinte :
« Que as forças do exercito brasileiro estacionadas nas
fronteiras receberão ordem para procederem ás represálias,
sempre que forem violentados os subditos de Sua Magestade,
ou fôr ameaçada a sua vida e segurança, incumbindo ao res
pectivo commandante providenciar, pela fôrma mais conve
niente e efficaz, a bem da protecção de que elles carecerem.
« Que também o almirante Barão de Tamandaré receberá
instrucções para do mesmo modo proteger, com a força da
esquadra ás suas ordens, aos agentes consulares e aos cidadãos
brasileiros ofíendidos por quaesquer autoridades, ou individuos
incitados a desacatos pela violência da imprensa, ou insti-
gação das mesmas autoridades.
« As represálias e as providencias para garantia dos meus
concidadãos, acima indicadas, não são, como V. Ex. sabe,
actos de guerra; e eu espero que o governo d'esta Republica
evite augmentar a gravidade aaquellas medidas, impedindo
successos lamentáveis, cuja responsabilidade pezará exclusi
vamente sobre o mesmo governo. Cumpre o governo oriental
ponderar os embaraços, e medir os resultados da posição que
assumir.
« Cumpre-lhe reflectir, que quaesquer que sejam as coase-
quencias supervenientes, unicamente de si próprio dever-se-ha
queixar, e da pertinácia com que tem querido desconhecer a
gravidade da situação do seu paiz. Desempenhando por esta
fôrma as ordens do meu governo, reitero a V. Ex. os votos
de minha muito distineta consideração. Wfc.M? . tó&a
« A S. Ex. o Sr. D. João José de Herrera, ministro das
relações exteriores da Republica Oriental do Uruguay.—
Jetê
Antônio Saraiva. 1
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 248/448
— 157 -
O governo oriental respondeu ao conselheiro Saraiva, em
uma longa nota, da qual transcrevemos o final.
« Penosa foi a impressão recebida por S. Ex. o f>r. Pre
sidente da Republica ao tomar conhecimento da nota de S. Ex.
o Sr. conselheiro Saraiva.
« Em seu conceito, nem são aceitáveis os termos que se
permittio, V . Ex. empregar ao dirigir-se ao governo da R e
publica, nem é aceitável a comminação. Para o governo da
Republica é sempre a mesma razão e a justiça, e tanto as
respeitará e sustentará na discussão, como ante a força e a
ameaça.
« Attendendo a isto, recebi .ordem de S. Ex. o Sr. Presi
dente da Republica de devolver a V. Ex. por inaceitável, a
nota
ultimatum
que dirigio ao governo. Ella não pode per
manecer nos archivos orientaes.
« O governo já declarou, e fica consignado n'esta nota, que
os seus principios obrigam-no a prestar attenção a qualquerreclamação justa do governo do Brasil, esperando que de igual
modo procederá este governo em relação ao oriental; mas
hoje depois da ameaça, julga como já julgou inopportuna a
occasião actual para satisfazer reclamações feitas ha doze annos,
e que se apresentam„ para justificar aquelles que estão com
as armas na mão combatendo as instituições da Republica.
« Não obstante esta convicção, e attenta a pouca confiança
ue tem de alcançar de S. Ex. Sr. o conselheiro Saraiva o ajuste
as difficuldades existentes, desejando o governo arredar de si
qualquer suspeita de proceder inconveniente, ou injusto, em
suas relações'•com o
d e
^ 3 u a
Magestade Imperial; propõe por
meu intermédio a S. Ex. como o meio o mais efficaz, e que
nenhum a exigência fundada em justiça pôde repellir, o sub-
mettimento de commum accordo, das actuaes differenças entre
ambos os governos, o arbitramento de um a ou mais potências
das representadas em Montevidéo por SS. EExs. os Srs. en
carregados de negócios de Hespanha D. Carlos Créus, de Itália
Raphael Ullysses Barbolani, de Portugal Leonardo de Souza
L eite de Azevedo, #de França M artin M aillefer, da Prússia
H ermanin V on Gulich, e de Inglaterra Guilherme G. L ettson.
« Os árbitros decidirão sobre a opportunidade das reclama
ções apresentadas ante o governo oriental pelo Brasil, e em
seguida, caso seja essa opportunidade reconhecida, proporão
os meios práticos de proceder-se ao exame e satisfação das
reclamações reciprocas pendentes.
« Havendo'o governo de Sua Magistade o Imperador do Bra-
zil aceitado os principios do congresso de Paris, e havendo-
os recentemente posto em pratica em suas questões com uma
das grandes potências signatárias n'aquelle congresso, não
pôde acreditar o governo da R epublica de que V . JEx. re
cuse esta proposta.
3 3
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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< t
R eitero a S. Ex. o S r. e nviado extraordinário e ministro
plenipotenciario de Sua M agestade o Im perado r do Brasi l os
votos de minha muito dist ineta consideração.
« A S .
Ex. o S r . conselheiro José A ntônio Saraiva . —João
José Berrem . »
Em 10 de A gosto respondeu o conselheiro S araiva ao g o
verno de Montevidéo com a nota seguinte :
« M issão especial do Brasil . — M ontevid éo, 10 de A gosto
de 1864.
« Sr . ministro .—Tendo o governo oriental del iberado desat-
tender ao ul t imo appel lo amigável que por meu intermédio
lhe dir igira o governo de S ua M agestade o Im pera dor , a bem
da justiça e protecção devida aos B rasileiros residentes na
R epu blica , recusand o-se a ffazer pu ni r os graves attentad os e
abusos de autorida de, assignalados em m inh a nota de 18 de
M a i o ;
e propond o-m e V . Ex. em data de h on tem , expedientequ e i l lude a que stão, ou adia a diff iculdade; sendo ao co n
trario urg en te providen ciar em prol da seguran ça d a vid a e
propriedade dos Brasi le iros domici l iados nos departamentos
interiore s, e em m anifesto perigo n o m eio da s perturb ações
d'este paiz , que desgraçadamente aggravam-se e prolongam-se
yejo-me na imperiosa necessidade de an nu nci ar a V . Ex .
g u e , segundo as ordens do meu governo, vão ser expedidas
instrucções ao almirante Barão de Tamandaré, e ao comman
dante dos corpos do exercito estacionados na fronteira, para
procederem a represál ias, e em preg arem as medidas m ais con
ven iente s em ordem a torna r eífectiva por si me sm os a pro
tecção a qu e tem direito os subd itos Brasileiros, e qu e não
pôde assegurar- lhes o governo oriental .
« Pa ra que V . Ex . nq ue p lenam ente informado da de l ibe
ração do governo de Sua Magestade, cabe-me acerescentar ,
que elle ju lga do seu dever perman ecer n 'essa a t t i tude em
qu an to o governo oriental não adop tar as providencias, e
não der as satisfações rec lam ad as, ne m rep arar as offensas
praticadas contra a nação brasileira.
« O u tr o sim , posto que o desígnio principal do m eu governo
seja garantir por si mesmjo a segurança pessoal e a propriedade dos s eus con cidad ãos, até que se torne effectivo o cum
pr im ento das lei s da R epubl ica , não du vidará comtudo p ro
ceder a represálias especiaes a respeito d e cada um dos casos
oceorr idos , e mesm o aug m entar a grav idade das medidas que
vão ser auto risad as, se a a t t i tu de qu e ass um e fôr insu ficiente
pa ra alcanç ar tud o qu an to em no m e d'elle sollicitei pela nota
referida de 18 de M aio.
a T al é , S r . m inistr o, a del iberação do m eu go vern o em
vista da resposta neg at iva do gov erno oriental , cons tante d *
nota datad a de hon tem a qu al devolvo a V. Ex. n ã ò s ó
pela razão qtte V. Ex. invocou para justiücar igual procedi-
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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- <59 -
raento,
isto é, por ser formulada em termos
que
não desejo
qualificar, mas por conter estranhas inexactidões de facto, que
fora; ocioso elucidar. Dando assim por finda a missão espe
cial de que eu fora encarregado perante o governo oriental,
tenho a honra de reiterar a S. Ex. o Sr. ministro das rela
ções exteriores os votos de minha muito alta consideração.
« A S .
Ex. o Sr. D. João José Herrera.—
José Antônio Saraiva.»
Na mesma data offíciou o conselheiro ^Saraiva ao corpo
diplomático residente em Montevidéo, participando-lhe que
tinha dirigido a
4
d^quelle* mez um
ultimatum
ao governo
oriental, pedindo-lhe de novo a resposta das reclamações
feitas na nota de 18 de Maio, tendentes a garantir a vida
e a propriedade dos subditos brasileiros alli residentes; e que
tinha recebido resposta negativa, que illudia a questão. Que
tinha ordem do seu governo para fazer-lhe esta commünicação,
acompanhando cópias d'aquelles documentos, das quaes conhe
ceriam a natureza dos fatos que houvessem de pratiear as
forças brasileiras, e os motivos do procedimento do governo
imperial.
Em data de 11 de Agosto dirigio o conselheiro Saraiva o
ofncte seguinte ao commandante das forças navaes
1
brasileiras
no Rio da Prata.
« Missão especial do Brasil.
—
Montevidéo,
11
de Agosto
de 1864.
« Illm. e Exm. Sr.—Passando por. cópia a V. Ex. as con-
clnsões do meu
uUvmatum
e a nota em que annunciei ao
governo oriental a execução das ordens do governo imperial,
creio haver habilitado á V. Ex. para comprenender e cumprir
as ordens do meu governo.
« Os nossos cônsules darão á V. Ex. noticia de tudo o
que souberem, e referir-se á aggravos soffridos por Brasileiros.
a Para corresponder ás vistas do governo imperial, pare
ce-me conveniente xiaver êm Paysandú, Salto e Colônia, esta
cionados navios de guerra, e que estes, além da protecção
devida aos nossos concidadãos, não devem tolerar que os
dous vapores de guerra do governo oriental, e quaesquer
outros,
levem tropas para os pontos indicados, e em quanto
V. Ex. não julgar preciso apressar a execução de represálias,
ou dar outro destino a esses navios.
« Julgo
ocioso dizer mais, porque o patriotismo e a illus-
tração de V. Ex. dispensam quaesquer esclarecimentos.
« Prevaleço-me da opportunidade para exprimir á V. Ex.
os
votos
de
meu
respeito e alta consideração.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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—
460
—
« À S .
iSx. o Sr. vice-almirante conselheiro de guerra
Barão de Tamandaré. —José Antônio Saraiva. »
« Missão especial do Brasil. — Montev idéo, 11 de Agosto
de 1864, |
Bif e. Sr. — Haja V. S. de previnir aos vice-consules, exe
cutando-as por sua parte, das seguintes instrucções, em quanto
permanecer a attitude que assumio o governo do Brasil de
proteger por si mesmo aos seus nacionaes.
« 1.° Commuaique aos commandantes das forças de terra
ou de mar qualquer attentados contra a vida e a propriedade
de Brasileiros.
« I Ê .
0
Faça constar aos nossos* concidadãos que servem no
exercito oriental que, se procurarem os nossos navios, n'elles
acharão a protecção que se lhes deve.
«
3 , ° Solicite dos mesmos commandantes qualquer prov i
dencias que julgue conveniente para que sejam os Bras ileiros
efficazmente protegidos.
« 4.° Preste aos Brasileiros constrangidos ao serviço mili tar
os meios necessários para que possam procurar o nosso
exercito, ou os navios de guerra.
« Cumpre que os vice-consules observem aos Brasileiros
que não . devem envolver-se nas lutas internas da Re pu -
« Deus guarde a V. S.
« Ao Sr. Melchior Carneiro de Mendonça Franco. — José
N'este mesmo dia
11
de Agosto sahio de Montevidéo o
conselheiro Saraiva ; ás 3 horas da tarde embarcou para a
correta
Nitherohy,
ao anoitecer seguio para Buenos -Ayres ,
onde chegou no dia seguinte.
Depois da partida do enviado brasileiro, o governo oriental
expedio u m a . circular aos chefes politicos, recommendan-
do-lhes que dessem toda a protecção e garantia aos subditos
brasileiros, e determinou a entrega de todos os qu e foram
forçados ao serviço militar da flepuMica. Pareceu com aquelles
a c t o s , que o^governo oriental principiava à reconhecer que
iinha procedido mal para com o enyiado brasileiro.
Dirigio uma circular ao corpo diplomático, sobre a missão
brasileira que acabava de findar. 0 ministro de Hespanha,
como decano do corpo diplomático, sem entrar env apre
ciações dos factos, limitou-se a responder por si e em nome
de todos os seus collegas, que sent ia profundamente que ò
enviado brasileiro não tivesse aceitado o principio da arbi*
Antônio Saraiva »
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— \§\ —
tragem proposta, e que não havia motivo para
fftna
commü
nicação especial aos respectivos governos.
A
população àa capitál^do pa/tido b lanco, continu ou m uito
exaltada contra os Brasileiros; foi necessário haver dajparte
d*õstes
m uita moderação , para evitarem-se sérias conseqü ências.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 253/448
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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L I V R O S E P T I M O .
E X P L I C A Ç Õ E S O F F I C I A E S , E N T R E O I M P É R I O
I
A R E P U B L I C A A R G E N T I N A .
Como não se tivesse realizado a pacificação do Estado
Oriental pela intervenção dos ministros argentino e ing lez,
aos quaes se reun io o brasileiro, e tendo-se depois recusado
o dito governo a attender ás reclamações do ministro brasi
leiro,
este declarou no
ultimatum
que lhe dirigio, que as
forças do Império passavam a fazer represálias, até que aquelle
gove rno desse as satisfações exigidas pelo governo imperial ;
então esta nov a posição do Brasil no E stado O riental despe r
t o u ,
como era natural, ao governo argentino. O conselheiro
Saraiva, que já estava em Buenos-Ayres, entendeu-se a este
respeito com aq uelle gov ern o, no sentido de ficar bem claro
quaes eram as intenções do Brasil para com o Estado Oriental.
E is como o ex-ministro dos negócios estrangeiros, J. P .
D ias V ieira, deu parte no seu relatório de
1865.
M A N
IFESTAÇÕE3 D O G O V E R N O A R G E N T I N O R E L A T I V A M E N T E i P O S I Ç Ã O
A S S U M I D A P E L O G O V E R N O I M P E R I A L E M M O N T E V I D É O .
« Como já o havia declarado o respectivo ministro das rela
ções exteriores, estava o gover no da Confederação A rge ntin a
convencido, como o do Império, que a pacificação interna do
Estado OrientaU era um dos meios mais próprios para con
seguir a conveniente solução de suas questões e dificuldades
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 255/448
—
4 0 4
—
com a mesma R epu blica; e p ara a realisaçáo d/esse m eio
tinha já em commum com o representante brasileiro empre
gado os seus esforços, reconhecendo en tão m ais u m a vG&t
pelo procedimento do m esm o represe ntan te, 'q u e a politica do
Império não era guiada pelas vistas ambiciosas, que se lhe
emprestavam, e nem de leve implicava com a independência
e integridade da dita Republica.
cc
Pa ra qu e em um doc um ento official ficasse con sagra da a
opinião dos dous governos, assignaram em 22 de Agosto, o
S r. Elizalde e' o Sr. conselheiro S araiva , u m prótocollo,
pelo qual reconheceu aquelle o pleno direito que assistia ao
Im pério de proceder, n a conjunctura qu e surg ira em suas
relações com o Estado O riental, do mesm o modo como pr o
cedem euk circum stancias idênticas todas as naçõe s, em pre
gando os^Hfeos" pa ra isso autorisados pelo direito das g en te s,
salva e subentendida sempre a l imitação de qu e, qua lque r
que fosse o resultado do emprego d
7
esses meios, respeitar-se-
hiam os tratados, que garantem a independência e integri
dade do território, bem como a soberania do mesmo Estado.
« Foi mais declarado q te , por effeito da boa h ar m oa ia e
intelligencia existentes entre os dous governos, o do Império
e o da Confederação? conv inham os seus repre sen tante s em
que m utuam ente se au xiliariam os mesmos governos no
ajuste de suas pendências com o Estado Oriental, demons
trando assinr o sincero desejo de ve r ter m in ad a a situ aç ão
que existia, e que tanto prejudicava a paz do Rio da Prata.
« Depois de referir-vos este inc ide nte , qu e intere ssa á h is
toria dos acontecimentos de que me vou occupando, cabe-me
dizer-vos qu e o governo oriental, em seguida ao ro m pi
mento da negociação para o restabelecimento da paz na Re
pub lica, dirigio aos agentes diplom áticos acreditados em M o n
tevidéo uma circular, chamando a sua attenção para a gra
vidade da situação, em que se achava a m esm a Republica.*
« Bem que soubessem os m encionad os agentes que na df
havia a receiar pela independên cia e integridade da R epub lica,
porque semelhante pretenção, além de attentatoria da boa fé
dos tratados, e dos seus respectivos compromissos, prejudicava
aos próprios interesses do Im pé rio ; reconheciam com tudo quão
melindrosa era a situação, considerando que as medidas, que
se adoptassem para conseguir as reparaçõe s qu e exig íam os,
poderiam affectar a propriedade e os interesses dos seus res
pectivos concidadãos domiciliados na Republica.
j§|& F und ado s n'esta razão, dirig iram -se pois os m enc iona dos
agentes diplomáticos ao então representante do Império em
Montevidéo, o Sr. Dr. João Alves Loureiro, manifestando-lhe
o receio de que no uso das represálias pelo gov erno imperia%
fossem prejudicados os alludidos interesses.
« Como cum pria, apressou-se o representante do
Impeli*»
a desvanecer semelhante apprehensão, declarando que àe
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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forma algu m a seria com promet tida a propriedade devida m ente
carao |s r isada e os interesses legit imes dos neutros, nos actos
de
coerçáo
que hou vessem de empregar
as
forças
marítimas
brasileiras.»
Por está exposição, que acabamos de transcrever do ex-mi
nistro de estrangeiros Dias Vieira, v ê- s e que o accordo que
fez o conselheiro José Antônio Sairava com o governo ar
ge nti no , foi um a prova de que*este go ver no desejava ver ter
minada a questão entre o Império e o Estado Oriental.
P R O T O C O L L O C E L E B R A D O C O M A R E P U B L I C A A R G E N T I N A S O B R E A P O S I Ç Ã O
A S S U M I D A P E L O I M P É R I O N O E S T A D O O R I B N T A
f
« Reunidos na secretaria do ministério das relações exteriores,
S. Ex. o Sr. ministro e secretario de estado d'esta repar
t ição,
Dr. D. Rufino de Elizalde, e S. Ex. o Sr. enviado
e xt r a or d iná r io
o m inistro plenipo tenciario de Su a Magestade
o Imperador do Brasil, em missão especial
j u n t o
ao governo
argentino, conselheiro José Antônio Saraiva, afim de confe-
renciarem acerca das eventualidades possiveis no Rio da
Prata por causa da questão oriental, concordaram em proto-
collisar as segu intes declarações, em nom e de seu s respec
tivos governos, os quaes em virtude dos tratados vigentes,,
tem o dever e interesse de manter a independência, a in te
gridade de território, e a soberania da R epu blica O riental do
Uruguay.
« 1.° R econ hec em que a paz da R epublica Oriental do
U ru gu ay, é a condição indispensável para solução completa
e satisfactoria de suas questões e difficuldades intern aciona es
com a m esma R epu blica; e que auxiliando e promovendo
essa paz semp re que ella seja comp ativel com o decoro de
seus respectivos paizes, e com a soberania da Republica
O riental: julga m praticar u m acto proveitoso não só a essa
R ep ub lica , como aos paizes l imitrophes, que tem com ella
relações mui especiaes.
« 2.°
Tanto a R epublica Argentina com o Imp ério do Brasil ,
na plenitud e de sua soberania co m o E stados indepe nde ntes,
podem em suas relações com a Republica Oriental do Uru
gua y, igualm ente soberana e independente f proceder nos casos
de desintelügencia como proceejem todas as nações, servinan-se
para exting uil-a dos m eios, que se reconhecem lícitos pelo
direito das gentes,, com a únic a limitação de q ue , qualquer
que seja o resultado que o emp rego n es te s m eios produsa,
serão sempre respeitados os tratados que garantem a inde
pend ência, a integr idade de território e a sober ania da m es m a
Republica.
« 3,° Os governos, argentino e o de Su a M agestade o Im -
3 3
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— 466 —
perador do Brasil, tratarão do ajuste de suas respectivas
questões com o governo oriental, auxiliando-se m u tu a m e n te
por
1
meios am igáveis, como u m a prova do* sêu since ro desejo
de ver terminar a si tuação a ctua l que pe rturba a paz do R io
da Prata.
« E n'esta conformidade, firmam dou s de u m sõ te or, e m
Bu enos-A yres aos 22 de A gosto de 1864.—José Antônio Saraiva.
— Rufino de Elizalde.»
Em 22 de Agosto o commandante em chefe das forças na-
vaes brasileiras no R io da P rata , offíciou á legação im pe rial
em M ontevidéo, particip and o-lhe que estava auto risad o pelo
conselheüo Saraiva para fazer represá lias; m as an tes de assim
proceder exigia que a legação recom men dasse ao go ve rno da
R epublica, e este a seus delegados, que tratasse m bem aos
nossos concidadãos, para po upa r qu an to fosse possivel q u e
aquelle Estado soffresse a menor humilhação das forças do
seu commando.
« Parece-me, porém (continua o vice-a lmira nte), qu e se o
governo oriental fizesse algu m pequ eno esforço pa ra ser ju st o ,
e reconhecesse a razão que nos assiste para não ab an do na r
a causa de nossos compatriotas, fácil seria caminharmos na
Tia ordinária de nossas relações, infelizmente abaladas. Para
isto conviria essencialmente que o dito governo ordenasse ainstauração dos processos das reclamaç ões feitas, e m ostra sse
boa vontade em fazel-os seguir seu curso legal.
« Peço, pois, a V . Ex. que faça algum a d eligencia n'es te
sentido, para que o governo oriental se esclareça e nos at-
tenda, e para assim conseguir-mos o fim que almejamos e
acima manifesto ; pois qu e se elle não der este passo, com
que prove querer entrar em via de reparação para comnosoo,
ver-me-hei forçado a sahir do estado de espectativa pacifica,
para proceder a alguma represália que, sem prejuízo dos ha
bitantes inoffensivos, aggrave a situação precária em que já
se acha o governo, o que justam ente tenho pr ocu rad o ev itar.»
Deu então o vice-almirante brasileiro instrucções ao com-
nÉmdante da 3 . divisão das forças navaes do Império no Rio
da Prata para:
1.° V elar na gu ard a das pessoas dos Brasileiros reside ntes
n'essas localidades, prestando todo o apoio qu e lh es for de vid o.
2.° Em prega r a força q ue for com patív el com os m ei os es»
peciaes de sua acção, para repe llir as aggressões q*e foNto
feitas a subditos brasileiros, capturando os autores d*esses
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- 167 -
a t t e n t a d o s , q u e r s e j a m a u t o r i d a d e s , q u e r s i m p l e s c i d a d ã o s d o
E s t a d a O r i e n t a l .
3 . ° P r e s t a r t o d a a c o a d j u v a ç ã o a o s c ô n s u l e s e v i c e - c o n s u l e s
b r a s i l e i r o s . A o c r i t é r i o d e
V .
S . e s e u z e l o p e l o b e m d o
s e r v i ç o , c o n f i o a e x e c u ç ã o d * e s t e s t r e s p r e c e i t o s i m p o r t a n t e s ,
b a s e c o r d i a l d a s p r e s e n t e s i n s t r u c ç õ e s .
. A l é m d ' e s t e s t r e s p o n t o s c a p i t ã e s , p r e v i n i o t o d o s o s c a s o s
q u e p u d e s s e m o c c or r e r n a e x e c u ç ã o d a s i n s t r u c ç õ e s q u e l h e
d a v a .
O s a c t o s p r a t i c a d o s p e l o c a p i t ã o d e m a r e g u e r r a F r a n c i s c o
P e r e i r a P i n t o , c o m m a n d a n t e d a 3 .
a
d i v i s ã o n a v a l , c o n s e
q ü ê n c i a d a s i n s t r u c ç õ e s q u e t i n b a r e c e b i d o , f o r a m : e m P a y
s a n d ú , a 2 8 d e A g o s t o , e x i g i r d o c o m m a n d a n t e d a p r a ç a q u e
l h e d e c l a r a s s e s e o s s u b d i t o s b r a s i l e i r o s a l l i r e s i d e n t e s p o d i a m
c o n t a r c o m a p r o t e c ç ã o q u e l h e s o f í e r e c i a u í a s l e i s d a R e
p u b l i c a ; e s e e s t a v a r e s o l v i d o a d e s a r m a r o v a p o r Villa dei
Salto. O c o m m a n d a n t e m i l i ta r , L e a n d ro G o m e s , r e s p o n d e u - l h e
q u e , e m c o n s e q ü ê n c i a d a s r e c o m m e n d a ç õ e s d o g o v e r n o d a R e
p u b l i c a , c o n t i n u a v a a r e s p ei ta r e p r ot e g e r a v i d a e a p r ó p r i a ^
d a d e d o s s u b d i t o s b r a s i l e i r o s c o m o d o s o u t r o s h a b i t a n t e s d a
R e p u b l i c a ; e r e c u s o u - s e a d e sa r m a r o v a p o r d e g u e r r a o r i e n t a l
Villa dei Salto. N o d i a 3 d e S e t e m b r o f ez a m e s m a e x i g ê n c i a
a o c o m m a n d a n t e m i l i t a r d a V i l l a d o S a l t o , q u e l h e r e s p o n d e u
no*
m e s m o s e n t i d o d e L e a n d r o G o m e s .
E m o f fi c io d e 8 d e S e t e m b r o , d e b o r d o d a c o r v e t a a v a p o r
Jequüinhonha, p a r t i c i p a o c a p i t ã o d e m a r e g u e r r a F r a n c i s c o P e
r e i r a P i n t o a o v i c e - a l m i r a n t e , q u e n o d i a 7 d a n d o c a ç a a o y a p o r
d e g u e r r a o r i e n t a l
Villa dei Salto
c o m a s c o r v e t a s
Belmonte
e J e -
quitinhonha,
a q u e l l e v a p o r , t en ,d o s a h i d o d a C o n c d r d i a á s c h o r a s
d a t a r d e , p ô d e r e f u g ia r - se e m P a y s a n d ú , o n d e a g u a r n i ç a o o
a b a n d o n o u e l a n ç o u - l h e f o go .
E m c o n s e q ü ê n c i a d ' es ta s o p e r a ç õ e s n a v a e s n o R i o U r u g u a y ,
o g o v e r n o o r i e n t a l r o m p e u a s s u a s r e l a ç õ e s c o m a l e g a ç ã o
i m p e r i a l e m M o n t e v i d é o . E m n o t a d e 3 0 d e A g o s t o d i r i g i d a
a o D r , J o ã o A l v e s L o u r e i r o , l h e d iz o s e g u i n t e :
« A ' v i s t a d ' e s t es f a c t o s , e t e n d o g o v e r n o d o B r a s i l d i s p a
r a d o o p r i m e i r o t i r o d e c a n h ã o n o P r a t a , S . E x . o S r . m i n i s t r o
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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residente junto do gov erno da Republica coniprehenderá que
é inútil sua permanência diplomática no território naeionajL
Po r con segu inte S . E x. se servirá fazer «uso, dentro Se 24
horas contadas d o mom en to em que receber esta nota, dos
passaportes qu e S. E x. o Sr. Presiden te da R epublica m e or
dena que passe ás suas mãos. »
No dia 31 retirou-se o ministro residente com a legação
imperial para bordo da cor veta dfitheroy. No dia
1 . °
de Setembro
dirigio uma circular aos agentes diplomáticos residentes em
Montevidéo. N'esta circular refere o ministro residente tudo
o que se tem passado entre o Império e o Estado Oriental,
d'esde a chegada do conselheiro Saraiva, a Montevidéo em
missão especial, até ao incêndio do vapor oriental
Villa dei
Salto,
no porto de Paysandú. A' esta circular responderam os
agentes estrangeiros com o convin ha á dignidade do Império.
E m 3 de «Setembro man dou o gov erno oriental um a nota
ao cônsul geral do Brasil em Montevidéo, na qual lhe com-
municava a resolução do dito governo tomada n'aquella data,
a qual se segue:
RESOLUÇÃO.
cc
Reproduzindo-se todos os dias, com caracteres de maior gra
vidade, os actos attentatorios da marinha imperial do Brasil
contra o pavilhão nacional, e até que sejam dadas á R epublica
as reparações que exigem sua honra ultrajada pelos actos de
injustificável hostilidad e, que, sem preencher- os requisitos es
tabelecidos pelo direito das gentes têm sido prepetrados em
no m e do govern o do Im pério, creando um a situação de guerra
que torna aggravante a permanência no território da Repu
blic a: do escud o das armas e da bandeira, sob cuja sombra se
tem comm ettido aquelles attentados: o Presidente da Repu
blica, em conselho de ministros, resolveu que hoje mesmo
sejam caçados os exequatur expedidos ás patentes consulares do
Brasil na Republica, devendo, ao dar conhecimento d
,
est* re
solução á quem tompete, por intermédio dos chefes políticos
dó i departam eutos, ser notificados ao m esm o tempo os agentes
consu lares brasileiros de que uca prohibida toda a com m uni-
cação das forças marítim as e terrestaes de seu governo com
o território da R ep ub lica , send o desde hoje exclusivamente
sua a responsabilidade por qualquer acto que dê lugar á ia*
fracção da presente resolução.
« Com a rubrica de
S .
Ex. —
Herrera.
—
Lapido.— Gomes.—
Per es. »
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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Emquanto se davam estes acontecimentos no Estado Oriental
e no R io U rug ua y, conservou-se o min istro brasileiro em
Buenos-Ayres. Antes de se retirar entendeu que devia maudar
instrucções ao presidente da provincia do Rio Grande; como
medidas indispensáveis á segurança dos Brasileiros no Estado
Oriental . Em data de 7 de Setembro, diz o conselheiro Sa
ra iva aquel le presidente:
k Q ue parece-lhe m uito necessário e urgen te, que o e xer
cito brasileiro en tre no território da R epu blica, para o fim
de expellir de Cerro L argo , Pa ysa nd ú e S alto, as forças
do governo de Montevidéo que n'esses pontos existem, e
am eaç am exercer represálias sobre nossos concidadãos .
Qu e a divisão qu e ho uv er de effectuar operações m ilita
res contra Pa ys an dú e S alto, deve ter a gente e material
necessário para sitiar e tomar á viva força, se necessário fôr,
a cidade de Pa ysa nd ú, onde ha hoje um a guarnição pouco
inferior a mil praças, e mais de 20 peças de campanha bem
collocadas. Que convém atacar primeiro o Salto, que tem
menor guarnição, para depois seguir com toda a força para
P a y s a n d ú . »
Seguem-se outras muitas instrucções, suppondo existir na
pro vin cia do R io Gran de u m g rand e exercite para as executar,
as quaes não transcrevemos, porque não se executaram n'aquella
occasião pelos motivos que vão ver-se. Offieiou também ao
commandante das forças navaes, cujo officio está copiado no
Kvro 10.
S egu em -se as ordens expedidas de conformidade com as
instrucções acima.
« R io de Ja ne iro . — M inistério dos negócios estrangeiros-
em 21 de Setembro de 1864.
« I ll m . Exm . S r . — O officio de V . E x. , n. 8, de 6 d o
co rren te, qu e ten ho prese nte, bem como todas as peças offi
ciaes qu e por cópia o acom panh am, expõem circumstan ciada-
mente ao governo imperial o facto occorrido no dia
26
do
mez findo com o vapor de guerra oriental Villa dei Salto,
e a nova face que consequentemente tomou a nossa posição
n'essa Republica .
« A lém da correspondência de V . Ex . foi o governo im
perial verbalmente informado pelo Sr . conselheiro Saraiva de
todo o occorrido a qu e a m esm a correspondência allude,
bem como d as med idas qu e julgo u o dito conselheiro deviam
ser adoptadas, em vista do proced imen to do gov erno o riental.
« A guardando a entrad a do paquete Saintoae para, com co
nh ecim ento dos officios de V . Ex. qu e elle trouxe sse res-
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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ponder aqu el la correspondê ncia , acaba de entra r o dito pa
q ue te sem sèr po rtado r de officio alg um de
V .
Ex . ,
o
que
at ír ib u o a circum stancia de achar-se infelizmente in com m o -
da do , segun do noticia o S r . L eal, em* um dos s eus offi
cios.
« Passan do pois a da r , com o o pe rm itte a estreiteza do
tempo, a devida resposta ao primeiro citado officio de
V. Ex.
cabe -m e signif icar- lhe que o govern o de S ua M agestade o
Imperador , coherente com as razões que o de terminaram a
m and ar o Sr . conselheiro S ara iva em m issão especia l a M on
tevidéo, approv a com ple tam ente a resolução que tomou o
m esm o con selh eiro , de q ue fossem occupa das por nossas forças
as c idades de Pa ys an dú , Sa l to e Cerro L argo ; entendendo
que deve essa occupação verif icar-se sem perda de tempo.
cc Como
V .
Ex . sa be , ne nhuma in te nç ã o , ou pr e te nç ã o
abr iga o governo imper ia l , contrar ia á indepen dência do
Esta do vis inh o, e ne m mesm o dá preferencia a este , ou
aquelle dos partidos em que all i se divide a opinião. Absolu
tam en te ne utra l , e de propósito deliberado a não inte rvir
nas questões e nas lu tas que se t ravem, o governo imper ia l
tão somente exige do da Republica, qualquer que seja a
opinião polit ica a que per tenç a, a solução de suas justas re
clam ações, e as garan tias precisas á vida, honra e proprie
dade dos cidadãos brasileiros que all i residem.
cc Co nseqü ente com este pen sam ento , entend e o governo
im per ial qu e a occupação dos pontos indicados só deve
subsistir em quanto , n 'elles não se achar que m dê as ga
rantias desejadas e as faça effectivas.
« A ssim qu e, se as forças do gene ral D . V enancio F lores,
vierem occupar os departam entos mencionados, desde qu e
ellas, em bo ra como gov ern o de facto, offerecerem as dese
jadas seguranças á vida, honra e propriedade dos Brasileiros,
cumprirá que as forças imperiaes se retraiam, pois que,
com o já disse, não tem o gov erno do Im perador o inten to
de favorecer u m a, ou ou tra parcialidade, m as conseguir de
qu alq ue r d'ellas, que effectivam ente exerça o poder, as ga
rantias devidas, e que a própria consti tuição da Republica
affiança aos qu e h ab itam o seu território.
« Co m m uníc and o por este modo a V . Ex. o pensamento
do governo im pe rial , que ora igualm ente transmitto ao S r .
presiden te da provincia de S . Pedro do R io Grande do S ul,
fica o governo imperial tranquillo sobre a execução que suas
ord ens h ão de ter da p arte de V . Ex. qu e tão repetidas
pro vas tem dad o do valor, critério e prudê ncia, que dis
t inguem o seu caracter .
« R eitero a V . E x. as segu rança s de minh a perfeita estima
é distineta consideração.
cc A S . E x. o Sr. Ba rão d e Tamandaré.—
•Cario* Carneiro de
Campos. »
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—
\7\
—
cc M inistério dos negócios estrangeiros, em 21 de S etembro
de 1864.
« Il lm . e Ex m . S r. — N a cópia inclusa do despacho que
n'esta data dirijo ao S r. Barão de T am andaré, com m anda nte
em chefe de nossas forças
#
m arítimas no R io da P rata , verá
"V.
Ex. a resolução tomada pelo governo imperial, relativa
m en te á posição qu e devemos assumir no Estado O riental.
Cou vindo activar o cum prim ento im med iato da referida reso
lução, solicito de V. Ex. a expedição das ordens para isso
precisas pelo ministério a seu cargo, ao commandante da
força no Rio Grande do Sul.
« Previno a V. Ex. de que as ordens a que acabo de re
ferir-me devem estar promptas para seguirem esta tarde pelo
vapor de guerra Recife, ou pelo
Apa,
cuja sabida os jornaes
de hoje a nn un cia m para o dia 23 do corrente.
cc
R eitero a V . E x. as segurança de m inh a perfeita estima e
consideração.
cc
A S . Ex. o Sr . H enrique de Beaurepaire R ohan. —
Carlos
Carneiro de Campos.
« M inisté rio dos negócios estrangeiros, em 21 de S etembro
de 1864.
<< Il lm . e E xm . Sr.*— O despacho por cópia incluso que
n'es ta data dirijo ao Sr. Barão de T aman daré, contra a reso
luçã o to m ada pelo governo im perial, em presença dos últim os
acontec ime ntos occorridos no Estado O riental, de qu e está
V . Ex. sem d uvida igualmente inteirado. Devendo V . Ex.
receb er pelo m inistério da gu erra as convenientes instrucçõe s
pa ra o cum prim en to da referida resolução na parte que lhe
resp eita, n ad a m e resta accrescentar senão que nca o governo
imperial certo de que V. Ex. envidará todos os possíveis
esforços para qu e a deliberação qu e acaba de to m ar o m esm o
governo tenha a melhor e a mais completa execução.
« R eitero a V . Ex. as seguranças de m inha perfeita estima
e distineta consideração.
cc A S . E x. o S r. Jo ão M arcellino de Souza Gonzaga.
— Carlos Carneiro de Campos.
I N S T R U C Ç Õ E S D A D A S P E L O M I N I S T É R I O D A G U E R R A P A R A . o S E R V I Ç O
D A S
F O R Ç A S E S T A C I O N A D A S N A F R O N T E I R A D O R I O
G R A N D E
D O S U L .
« 1.° A divisão situada em Bagé, deverá estar sempre prompta
para expedir força em todas as direcções de nossa fronteira,
e deve estar preparada para marchar para o Estado Orientai
se sueceder que alguma força considerável do mesmo Estado
ameace algum ponto de nossa fronteira.
« 2.° A fronteira de Quarahim e S ant 'A nna do L ivram ento
con tinua rá guarn ecida do m elhor modo que fôr possível, e
as forças qu e n 'ellas estacionarem se conservarão se m pre em
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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perfeito estado de m obillidade , de sorte que possam opetar
prom ptam ente. O m esm o se procurará observar a respeito
das forças que g ua rn ec em as fronteiras de Jaguarão. A fron
teira de Chuy conv ém qu e seja bem guarnecida e c om m an
dada por um official de inteir a confian ça, áq uem se prescreva
toda a vigilância e cuidado de su a defeza, a qual não d e
verá ser confiada s óm en U á guarda de forças de cavallaria,
attenta a sua posição topograp hica, em relação á cidade do
Rio Grande. \ *
« 3.° Os com m and ante s parciaes d'estás fronteiras, deverão
ter as necessárias orden s, para obrar repentina m ente, como
o caso ex igir, nas segu intes hypo theses: i . ° policia da fron
teira; 2 .° repellir qualquer inva são do nosso território; 3 .
9
exercer represálias.
« 4.° Na policia das fronteiras empregarão todos os meios
para m anter a tranquillidade e ordem , ap prehendendo os cri
minosos e desertores, e pessoas suspeitas que pretendam en
trar ou sahir pela fronteira, não con sentin do na reunião de
ind ivid uo s que pretendam passar para o Estado Oriental,
com o fim de introm etterem -se nas qu est õe s* intestinas d'a-
quelle paiz.
« 5.°
N a defeza contra qualqu er inva são do nosso territó
rio, o gov erno im perial conta que os bravos soldados do
Im pér io emp enharão ^todo o seu costum ado valor e lealdade
na defeza dos direitos de nos sa sobera nia territorial, quer
defendendo por si m esm os os pontos que forem invadido s,
quer auxiliando-se reciprocamente as forças destacadas umasás outras, conforme as circumstancias exigirem.
« 6.° A s represálias deverão consistir : 1.° N a apprehensão
dos individuos reconhecidos como criminosos, contra as pessoas,
o u propriedades dos Br asileir os; quer sejam autoridades, ou
com m anda ntes de forças, quer perm aneçam sob sua protecção;
2.° na perseguição e captura d 'aqu elles que comm etterem
atten tado s contra as pessoa s e propriedades dos B rasileiros;
3.° con sum m ada a represália, as partidas, ou forças que as
fizerem se recolherão immediatamente ao território brasileiro;
4.° os individuos que forem presos em virtude das represá
l ias ,
serão rem ettidos para as p risões das gua rniçó es mais
próx ima s, e ficarão sujeitos ás ordens do com m anda nte das
armas; 5.° a esphera das ev olu çõ es nece ssárias para realça
rem-se as represálias, deverá ser os departamentos dá fron
teira terrestre do Estado O rientai, não só porque é n^ lles
que avultam os interesses brasileiros, como porque não con
vém estender a muito longe a acção de pequenas forcas iso
ladas.
• 7.° O presidente d o R io Grande do S u l, de aocordo com
o com m an a ante das arm as, pode rá, confo rm e as oircumstan*
cias que occo rrerem , m andar realisar quaesque r outras pro»
viden cias que não se acharem contida s nas presentes. i-nsfÈüe*.;
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 264/448
odes,
mas forem necessárias para fiel execução do pensamento
do governo imperial, em relação á guarda e defeza da nossa
fronteira, e apoio e protecção ás pessoas e propriedades dos
cidadãos brasileiros.
« Paço, em 2 1 de Julh o de 1864.—Francisco Carlos
de Araújo
Brusque. »
I N S T R U C Ç Õ E S D A D A S P E L O M I N I S T É R I O D A M A R I N H A A O C O M M A N D A N T E E M
C H E F E D A S F O R Ç A S N A V A E S B R A S I LE I R A S N O R I O D A P R A T A .
« Ao com m andante em chefe das forças navaes, incumb e :
«
1 . ° Dar toda a protecção aos Brasileiros, até mesmo,
com força, contra as perseguições que lhes forem feitas, e
auxiliando, com os recursos á sua disposição, as requisições
qu e lhe dirigirem os nossos agentes diplomáticos e consu
lares.
« Fazer estacionar no S alto, em Pa ysan dú, em M aldonado,ou em qualquer outro ponto, as canhoneiras que forem neces
sárias, em ordem a prestar o mais efficaz amparo e protecção
aos subditos do Império, e apoio á acção das forças incum
bidas de represálias pela fronteira do Chuy e do Qu arahim.
cc A os respectivos comm andantes inb um be especialm ente:
cc 1 ,° V elar na guarda*das pessoas dos Brasileiros residentes
n'essas localidades, e prestar todo o auxilio que lhes for
possivel.
«
2 . ° Em pregar a força que for com pativel com os meios
de sua acção, para repellir as aggressões feitas a subditos
Brasileiros, capturando aquelles que forem autores d'esses
attentados, ou sejam autoridades, ou simples cidadãos do
Estado Oriental.
cc Pre star toda a coadjuvação aos cônsules brasileiros.
« S ecretaria d'estado dos negócios da m arin ha , em 2 1 de
Julho de
1 8 6 4 . —
Francisco
Carlos de Araújo Brusque. »
O governo imperial estava persuadido de que com as me
didas tomadas nos documentos que acabamos de transcrever,
conseguia que o governo do Estado Oriental satisfizesse ple
namente ás suas reclamações; que bastavam as represálias
ordenad as para tudo se acabar.
A s operações navaes que tiveram lugar no rio Uru gu ay,
desde Setembro até fim de Novembro, foi o encontro da
corveta
Jequitinhonha
com o vapor oriental
Villa
dst
SaMo,
que
já referimos.
O ex -m inistro dos negócios estrangeiros Dias V ieira, deu a
este acontecimento gran de im portância (importância qu e não
merecia,) e trata d'elle em seu relatório do modo se g u in te :
3 4
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« Dous conflictos, porém, succederam depois com o Villa dd
Salto q ue, em eomm issão do governo oriental, ia levar soe-
corros á villa de M ercedes, situada sobre a costa do Rio
Negro .
(c O fim da m ari nh a brasileira era. como fica dito, un ica
mente tolher o movimento dos navios, segundo as disposições
tomadas pelo Visconde de Tamandaré.
<c No prim eiro conflicto não pôde con segu ir, por se haver
refugiado aquelle vapor em águas argentinas, onde não era
possível perseguil-o, attenta a neutralidade declarada pelo
governo da Confederação.
« Os dous portos, da Conceição e da Concórdia, lhe serviram
por tanto de abrigo, o que levou o governo argentino a
mandar estacionar alli dous vapores, afim de ser mantida a
inviolabilidade de suas águas; não pelos navios de guerra
brasileiros, que conhecia haverem a este respeito sempre pro
cedido com o m aior escrúpulo e circum specção, m as pelos
vapores e embarcações orientaes, que assim abusavam do di
reito de asylo de um Estado amigo e neutral.
« No segund o co nflicto, que verificou-se érájl de S etembro,
ainda se frustrou a diligencia, porque encontrado pelo vapor
de guerra brasileiro JequitMionha, que lhe deu caça, e sobre
elle fez fogo, conseguio o Villa dei Salto escapar, alcançando
as águas da praia em frente a Pay san dú , onde pelo sen calado
não podia o Jequitinhonha chegar; e alli para de todo inu-
tilisar a diligencia do nosso vapor, fez o commandante saltar
a guarnição em terra, e lançou fogo ao navio.
c<
A s comm unicações officiaes do com m andan te da
3 .
a
d i
visão naval, vos informarão dos promenores d'estes incidentes. *>
As represálias na fronteira do Rio Grande não tiveram lugar
n'este tempo, conforme as instrucções, porque não havia
exercito prompto para as fazer, como vamos ver. Existiam
em algun s pontos da fronteira pequenos destacamentos de
cavallaria, para policia nos lugares mais freqüentados da pas
sagem para o Estado Oriental; e todos esses destacamentos,
espalhados em uma extensa fronteira de mais de
6 0
léguas,
não chegavam a ter
1 , 0 0 0
homens .
Póde-se oonjecturar que quando o governo imperial enviou
a missão ao governo de Montevidéo, não receiava que hou
vesse guerra, porque os preparativos que n'aquelle anno se
fizeram foram poucos e vagarosos.
O conselheiro Saraiva, sahindo de Buenos-Ayres a 7 de
Setembro para o Rio de Janeiro, oficiou ao presidente do
R io Grande, como já se vio , 4Uendo4 iiô que o exercito
b t « -
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leiro devia entrar no território da Republica, com o f ira de
expellir do Cerro Largo, P aysa ndú e Salto, as forças do go
verno de Montevidéo,
Esta com mü nicação estava de accordo com as ordens e in s
trucções dadas pelo governo impe rial, em 21 de Julho, ao
commandante da esquadra no Rio da Prata, e ao commau-
daute das forças estacionadas na fronteira do Rio Grande.
Essas poucas forças que, até Outubro de 1864, estavam espa
lhadas na provincia, não constituiam um exercito; por tanto
o governo imperial, ou o ministério de
15
de Janeiro, deu
ordens e instrucções a um exercito que não existia.
Para justificarmos o que acabamos de dizer sobre a pouca
força existente na provincia do R io Grande no ann o de 1864,
transcrevemos parte do relatório com que o presidente João
Marcellino de Souza Gonzaga, entregou a administração ao
seu successor, a 4 de Agosto de 1865.
EXTRÂCTO DO RELATÓRIO DO PRESIDEN TE DO RIO GRANDE DO SU L.
« As instrucções do governo imperial, pela secretaria de
estado dos negócios estrangeiros, recommendavam-me expres
samente o m utu o accordo entre a presidenoia e o chefe da
missào
esp ecia l; nã o he sitei por tanto em mandar organisar
uma divisão de observação, para acampar no ponto estratégico
das fronteiras, que julgasse mais conveniente o illustre ge
neral, que com
ni
andava as armas da provincia* Dando com
m ünica ção d'esta m inha deliberação ao ministério da guerra, por
officios de 26 e 30 de Maio e 1.° de Junho, procurei justi
ficai-a, ponderando entretanto as difficuldades com que eu
tinha de lutar para organisar e acampar a divisão . Po uca s
eram as forças de linha de guarnição na provincia, e estas
m al armadas, m al fardadas, e dissem inada s em diverso s pon tos
íong iquo s. O arsenal e os* depósitos bellicos estavam despro
vidos de material; os regimentos não tinham cavalhada, e a
estação invernosa approximava-se. Havia na província cinco
reg im ento s de linh a, um dè artilharia a c ava llo, e quatro de
cavallaria ligeira com 1,319 praças; tres batalhões de infan
taria com 1,184 praças. O gov erno imperial hav ia dado ordem
para virem para a província dous batalhões o 4.° com 703
praças, e o
12.°
com
511.
Deduzindo-se as praças incapazes
do serviço de guerra, podia-se apenas contar com cerca de
3,200 praças de linha das tres armas. Foi preciso, por tanto,
destacar a guarda nacion al, para organisar-se a divisã o, qu e
eu entendi não dever ser menor de 4,000 homens. »
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— m —
Este relatório, cora que o presidente do Rio Grande entre
g ou a adm inistração da prov incia ao seu successor, e m 4 de
Agosto de 1865 , é um documento just if icat ivo do que f ica
mencionado sobre a falta de força, e de mobilisação do exer
cito na occasiãq da missão do conselheiro Saraiva. Continua
o presidente G onzaga a dar conta das su as disposições bellicas,
para defender a provincia.
cc Posteriormente , eom m unic an do-m e a missão especial o
m allog ro d as neg ocia çõe s para a paz no Estado Oriental, e
uai era o estado das relações diplomáticas com o governo
'aquelle pa iz ; deliberei chamar a destacamento m ais 2,418
praças da guarda nacional, formando seis corpos provisórios,
aos quaes um mandei que reforçasse a guarnição da fron
teira de Missões, e os cinco, formando duas brigadas, mandei
incorporar á divisão de observação.
cc E ' este o corpo de exercito que no memorável dia 2 de
Janeiro cobrio-se de gloria em Pay sand ú, sob o com ma ndo
do bravo general Barão de S. Gabriel.
cc Em m eiados de Dezem bro, chegaram -me os primeiros an-
nu nc ios das disposições bellicas do Para guay . A ntecedente*
m ente já o Sr. m inistro dos estrangeiros hav ia-m e noticiado
o estado pou co agradável das relações diplomáticas com aquelle
Estado, e por isso já eu havia mandado reforçar a guarnição
da fronteira de Missões, elevando-a 1,071 praças; recebendo,
porém, communicações da missão especial de Buenos-Ayres,
cha m and o a m inha attenção para as fronteiras do U rugu ay,
deliberei immediatamente a organisação de uma divisão sob
o co m m an do do bravo e distincto brigadeiro D avid Canavarro.
cc
M ande i organisar a l .
a
divisão sob o plano de
4,000
ho
m en s de cav allaria e de toda a força de infantaria da guar da
nacion al, tanto da activa com o da reserva, que se pudesse
reun ir nos c om m an do s superiores de Q uarahim e de S. Borja.
cc O rganisei a d ivisão com duas brigadas, entregando o
commando da i .
a
ao coronel A ntônio Fernandes de Lima e
a
2 .
a
ao coronel João A ntônio da Sil ve ira ; officiaes m uito co
nhecidos pela sua bravura e perícia militar.
cc E xp edi ta m bé m orden s afim de m archarem para a fron
teira do U rug ua y, a encorparem-se á divisão, os dous bata
lhões de l inha, 2 . ° e 10.° , que hav iam chegado i provincia
em fins de D eze m br o; e os oito canhõ es obuzes que havia
em S. Gabriel, em estado de prestarem algum serviço.
cc
A té o mo m ent o de entregar a administração a V. E x. ,
o arsenal de guerra estava inteiramente desprovido de arma
mento de cavallaria, com excepção de lanças.
cc A lém dos corpos da g ua rda nacional chamados a serviço
de guerra, qu e era pre ciso fardar, os batalhões que chegaram
á provincia vinham necessitados de artigos de fardamento.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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« Bem poucas eram as m un içõe s de gu erra existentes nos
depósitos a esta cidade e do Rio G rande, até o m om ento de
entregar a administração a V. Ex. Junto entre os annexos a
no ta da s qu e remetsti pa ra o deposito qu e deliberei crea r em
Alegrete .
« T en do -m e requisitad o o gen eral era chefe do exercito er a
operações contra o Para gu ay, a remessa de m uniç ões para
canhões o buz es, enviei o pedido pa ra o arsenal de gu erra da
corte, porqu e não era possivel satisfazel-o aqu i hav end o re -
m ettido todas as qu e h avia para o deposito de A legrete .
« D e abarraca me ntos ha grand e falta nos corpos da l .
a
divisão. Poucas são as barracas que tem sido possível remet-
ter, as quaes não excedem de cerca de
6 0 0 .
Comprou-se ma
tér ia pr ima para as fabricar aqui, visto não poder o arsenal
de gu err a da corte satisfazer os pedido s qu e ten ho feito d'este
ar t igo. »
T al era o estado de arm am ento da provincia do R io
Grande em 1 8 6 4 , du rante a adminis t ração do Dr . João M ar-
eel l ino de Souza Gonzaga, quando em Dezembro d 'esse anno
foi ameaçada da invasão paraguaya .
Eis aqui a que se reduzio toda a actividade dos m inis té
r ios de
1 8 6 4 ,
para fazerem a guerra que provocaram , e que
d u r o u 5 annos. Na sessão de 2 6 de A gosto do dito an no ,
disse o dep utad o Ne ry o segu inte, em relação a po litica se
gu ida pelo gov erno imperial para cora o Estado O rie n ta l:
« O Sr. Nery. O governo a inda não dem onstrou que os
graves ins ulto s e affrontas, q ue os subd itos brasileiros tem
sonrido da par te do governo or ien tal , terão a satifação n e
cessár ia ; aquella que solemuemente se . t inh a protestado que
se lhes havia de dar.
« O que eu censuro no governo, senh ores , é qu e depois
de ter conh ecimen to pelas de nun cias d a tr ib un a de qu e as
perseguições das autor idades or ientaes hav iam violentad o su b-
uitos brasileiros a recorrerem ás arm as, pa ra se de fen de rem ;
que depois que o governo t inha manda do ao Estado O r ien
tal u m a missão especial com o objecto ostensivo de os pro
teger , e defendel-os; de os arrancar da s i tuação anormal em
qu e se a c h a v am ; essa protecção não se tin ha feito effectiva,
e que a s i tuação anormal se perpetua .
« Digo aind a como a ma ioria dos que leram essas no tas ,
qu e não vejo n 'el la s intim ação de q ue represálias serão fei
tas em satisfação do passado ; não vejo n 'el las essa in ti m a
ção como meio coactivo para obter do governo or iental a re-
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paraçâo das offensas qu e no s tem feito e de qu e nos qu ei
xamos.
(
( E u preferiria que a um a affronta, com o a qu e receb e
mos , se respondesse imm ediatam ente com a declaração de
guerra e operações repressivas e efficazes. Preferiria um a s i
tuação definida e clara, qu e permáttiria, com o já disse o outro
dia, que os sacrifícios ex igido s • ao Brasil terminassem e m
pequeno prazo ; a um a situação vaga, incerta, com o aqu ella
que se nos desenha, e na qual Deus queira que o elemento
m ais efficaz de comp ressão, sobre o go ver no or ien tal, não seja
o da revolta, qu e se atêa n'aquelle paiz.
cc N ão posso ver com socego que c on tinu em os nossos na-
cionaes em armas, não debaixo do pavilhão do Império, mas
sob os estandartes da rebellião or ie nt al ; e desejava q ue o
governo dissesse quaes são as provid encias, quaes os m eios
com qu e espera resolver a questão, definindo a posição m e
lindrosa em que esses Brasileiros se acham.
« N ão haja m edo, repito, que q ue o m eu enth usiasm o
diminua na questão oriental; o que diminuio, e muito, é
o enthusiasmo com que eu esperava que o governo levaria
por diante a exigência das reparações, que nos eram de vid as;
foi a confiança que me inspirava o ministério, quando occu-
pei- m e d'este assumpto a primeira vez. E já que S . E x. o
Sr.
ministro do Imp ério fez m enção d'esse m eu discurso,
permita-me S. Ex. lembrar-lhe, que não dei nem podia dar
apoio algum a uma politica que ainda não era nascida; que
não pude haver approvado a marcha traçada pelo governo á
missão que ainda não havia no m ead o; ne m applaudido actos
que nem sequer não tinham ensinuado. Aonde eu visava já
então, qual era a politica que preçonisava, dizem-nas as
palavras com que findei o m eu discurso:— Tom e o gov erno
a posição que lhe pertence, excla m ei; cam inhe avante, che gu e
até onde for preciso chegar, para qu e os no ssos direito s
sejam respeitados.—
« O
governo não podia entender estas palavras, que eu
julgasse devesse ficar sobre a fronteira, aguardando descan-çadamente pelo desen volvim ento da politica interna do Bstado
O riental, para qu e a revolta haja, se lhe apr ou ver, de nos
fazer justiça.
« Agora á palavra do nobre ministro do Império tenho de
oppôr as minhas informações, a respeito do estado em que
se acha o armam ento da m inh a p rovincia (R io Grande). R e
pito e affianço a S. E x . que no 1.° de Agosto de 1864, não
navia na fronteira elem ent os de acção taes com o in sin u ou á
casa.
« Mas, nao vou atraz de palavras *Ôcas: não acredito n'esses
improvisos; os exércitos, os elementos de guerra se preparai*
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— 179 —
labo riosam ente ; mas tr is te ser ia a s i tuação do Brasil se no
u m de quatro m eses n ão houv esse podido arranjar u m exer
cito de 5 ou
6
,000 homens, para entrar em operações.
« Não será acaso qu e o ministér io não ten ha com prehen dido
a magnitude da s i tuação que se desenhava? Pois é d ' is to que
eu faço cabedal na s i tuação a ctual . V ejamos se não . Nosso
enviado especia l fez uma ul t ima e solemne int imação ao
governo or iental , com praso peremptório e fatal , appellando
se não para a ult ima razão dos reis .
« O governo or iental denegou-lhe toda a satisfação, aceitou
o car te l do Im pér io . Nosso m inis t ro cor respondeu á ar r o
gância or iental , despachando um vapor com pregos para a
m in ha provincia ; mas na m inha provincia as forças não
estão organisadas, nada está prevenido para entrar em acção.
Pergunto eu: que resposta poderá ter dado ao nosso diplo
m at a, o háb il e bravo gen eral a qu em está confiada esta
missão na fronteira*?. . . Não bastavam 4 mezes para preparar
o exercito de op er aç õe s . . . Pergunta is -me, senhores , como
querias que declarássemos a guerra, se não estávamos prepa
rados para isso? P ois b e m ; eu vos responderei , qu e em 1851,
qua ndo houv e um a vontade enérgica e s incera , mui to m eno s
tempo do que este foi bastante para se preparar ura exercito
não de 6, mas de 16,000 homens, e dar em terra com o
poder de Rosas, e de Oribe no Estado Oriental , Não posso,
pois , cont i t íuar deposi tando confiança no capi tão qu e d iz : —
Eu não cuidei . »
Depois que o conselheiro S araiva se re t irou de M on te
vidéo, a posição do Império para com a Republica tornou-se
decidida men te ho st i l ; embora poucos meios de acção t ivesse
para em preg ar . So bre is to diz o senador Joã o Ped ro Dias
Vieira, no seu relatório dos negócios estrangeiros:
NOVA POSIÇÃO ASSUMIDA PELO IMPÉRIO NO ESTADO ORIENTAL,
« O s successos que acabo de re la tar-vos , cham ava m o I m pério a tomar no Estado O riental u m a posição ho sti l m ais
caracterisada e m ais definida, ta nto m ais qu e a elles accrescia
a importante circumstancia de haver-se collocado á testa
all i da administração o Sr . Antônio de Ias Carreras .
« O no m e d*este senho r , que tantas provas tem dado d e
sua tenaz animosidad e contra o Bras i l , symbol isava o pen sa
mento da m ais encarniçada reacção contra o I m pé r io , com o
emprego dos meios os mais extremos .
« Com es te chefe do par t ido exal tado, qu e do m inav a M o n
tevidéo, fora inúti l esperar qualquer resolução d'aqueile go
verno, que concil iasse os interesses do paiz com as suas ou-
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— 480
ficuldades ex tern as. A s invecfcivas d a im pr en sa alli t o m a
vam-se cada vez mais vehementes .
« Concitavam-se as nacio nalida des de origem hes pan hola ,
exis tentes
n o
R i o d a Pra t a , a p ro n u n c i a re m -s e c o n t ra o I m
pér io . Prom ovia-se toda a espécie de compl icação in ter na
cional , para pôr embaraços à pressão que ia exercer o
Brasil .
« N 'es ta s c i rcum stancias , e de accordo com o pen same nto
do governo imper ia l , resolveu o Sr . conse lhe i ro Sara iva ,
an tes do seu regresso a es ta corte , em 7 de S etem bro, qu e
se procdesse m ais energ icam ente e de u m m od o dec is ivo no
uso das represá l ias , de que se achava in t imado o governo de
M on tevid éo . Pa ra i s so d i r ig io-se ao pres idente da provínc ia
de S . Ped ro do R io Gran de do S ul , e ao v ice-a lm irante
bras i leiro ; afim de qu e pelas forças de m ar e terra , aux i-
l ian do -se m ut ua m en te , fossem expell idas da v i l la d e M el lo ,
cabeça do depa r tam ento do Cerro L argo, de Pa ysa nd ú e S a l to ,
as guarn ições do g overn o orient al , qu e exis t issem n 'esses pon tos ,
n o s q u a e s se a c h a v a m i m m i n e n t e m e n t e a m e a ç a d a s , e s em a
menor protecção, a honra , a v ida e a propr iedade dos sub
di tos bra s i le i ro s ; conservando-se a l l i as me sm as forças só -
mente em quanto para esses lugares não fossem nomeadas
elo gene ral Flo res nova s auto rida des , qu e sob a rospo nsa-
i l idade d 'es te , dessem gara ntia s e insp irassem confiança.
« P re ve nd o as prováveis conseqüên cias d 'es ta resolução,
ten tou o genera l U rqu iza um a n o m negociação de paz , sob
os bo ns auspícios ao governo arg en tino . Esta negociação,
porém, teve o mesmo resul tado das anter iores .
« Pa ra evi ta r qu e embarcações me rcantes es t rang eiras se
em pregassem no t ranspor te de gente e m uniç ões de gu erra
do go ver no , para os por tos no l itora l na R epub l ica , Pa ysa nd ú
e S a l t o ; o v ice-a lm irante bras ile iro d i r ig io-se conf idencia i -
mente , por c i rcular de
11
d e O u t u b ro , a o c o rp o d i p l o m á
t ico de M ontev idéo, so l ic i tando providencias para qu e os
navios de suas respectivas nações, no interesse do seu com
m ercio l ic i to, n ão .se prestasse aqu elle serviço .
cc E n x e rg a n d o , p o ré m / n ' e s t e p e d i d o a re s ol u çã o d e e xe rc er
o direi to de vis i ta , os mencionados agentes em nota ostensiva
com que responderam ao v ice-a lmirante , e que fo i publ icada
na im pre nsa de M ontevid éo, antes de chegar ás mãos do
m e s m o v i c e -a l m i ra n t e ; r e c u s a ra m o s e u a s s e n t i m e n t o á s o l i
ci tação, que lhes fora fei ta , sem uma declaração expressa de
gu err a , ou ao m en os not if icação de b loqu eio , com as forma
l idades e os prazos indispensáveis , deixando aos seus respec
t ivos gove rnos o d ic idk a té qu e po nto devia caber ao do
Brasi l a responsabil idade dos prejuizos, que d 'essas operações
houvessem de resul ta r para os neutros .
« A ' vis ta d 'es ta resp osta , apressou-se então o
chefe das
forças nav aes do I m pé rio , a co m m ua ica r aos referidos agentes,
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por outra c ircular ostensiva de 26 de Outubro, que mandava
effectivãmente bloq ueiar os portos do Salto e P ay sa nd ú, sob re
os quaes t inh a de operar em apoio do exercito im p er ia l ;
declarando que este bloqueio seria observado com as penas
estabelecidas pa ra os qu e o não respeitassem, e ao m esm o
tempo que poderiam os navios, que se achassem nos di tos
portos, sahir d'elles l ivremente até ao dia 15 de Novembro.
« A s instrucções, que em v ir tude das ordens do go vern o
im perial , de u em seguida o vice-almirante aos co m m and antes
dos nossos navios de guerra, para a execução d'aquelle blo
que io, revelam ainda a c ircumspecção e a prudência com qu e
o mesmo governo procurava conciliar os direitos com os in
teresses estrangeiros, com que ia achar-se em collisão.
cc Chegada a Buen os-A yres a noticia da resolução de que
se trata, quer o i l lustrado governo da Confederação, qu er o
corpo diplomático all i residente, vio n'ella mais uma prova
da defereneia que ao governo imperial merecia o commercio
licito dos neutros.
cc Po r outro lado, o gene ral Flores q ue se achava á frente
da revolução do seu paiz, e que já então era de facto ver
dadeiro bellig
,
erante , recon hecend o a proced ência e justiça de
nossas reclamações, como hav iam sido formu ladas pela m issão
do Sr . conselheiro Saraiva, e contrahindo espontaneamente o
comprom isso de oüerecer-nos um a reparação condigna, logo
que conseguisse o t r ium ph o de sua ca u sa ; manifestava ao
vice -alm irante b rasileiro o desejo de un ir os seu s aos esforços
das armas imp eriaes, para o restabelecimento da paz na R e
pub lica, e das relações amigáveis d'esta com o Im pé rio.
cc N en hu m a razão havia para deixar de acolher sem elhante
concurso, sobre tudo considerados os termos em que fora offere-
cido. Era, porém, necessário principalmente regularisar e de
finir bem a nossa posição com a Republica Argentina. Pelos
nossos compromissos e communidade de interesses, estávamos
no r igoroso dever de nos entender sobre o meio co m m um ,
de mais prom ptam ente pôr termo á desastrada luta , q ue t ra
zendo em continuo sobresalto a população pacifica, e os es
t range iros que tão avul tados interesses tem em M ontev idéo,
era fonte perenne de graves complicações internacionaes.
« A ccrescia que o governo do Paragu ay hav ia so lem ne-
m en te protestado contra qua lque r occupação do terr i tório
oriental por forças imperiaes, como attentatoria do equilíbrio
das Republ icas do Pra ta ; pro tes to que conf i rmara logo que
teve con hecim ento dos successos ocorridos no rio U ru gu ay ,
com o vapor oriental
VU la dei Salto.
| A contecendo posteriormente o incêndio do mesm o vapor, e
a entrada de u m a brigada brasi le ira no Cerro L argo , qu e faci
l i tou a entrega da vi l la de M ello ás forças do gener al F lo re s;
era de suppôr que á vista d'estes factos quizesse o governo
paraguayo in te rv i r na questão .
3 5
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— 182 —
« Convinha pois que sobre esta eventualidade nos en ten
dêssemos também com o governo da Confederação : e por isso
resolveu o governo imperial enviar uma nova missão especial
ao Rio da Prata, escolhendo para desempenhal-a o S r. con
selheiro José Maria da Silva Paranhos.
« O governo da R epublica do Paraguay. logo que teve co
nhecimento da 'missão especial confiada ao Sr. conselheiro
Saraiva, dirigio-se a este senhor e directamente ao governo
imperial; offerecendo a sua mediação para a solução amigável
de nossas pendências com o Estado Oriental.
« Esta onerta foi feita depois que o governo oriental res
pondeu com uma reconvenção • á nota com que o Sr. conse-
ministros argentino e de Sua Magestade ÍJritânnica. tratavam
de resolver pacificamente a guerra civil, que flagellava a Re
publica ; havendo então fundada esperança de que medrasse
este empenho, em cujo resultado enxergava-se um dos meios
mais promptos e mais efficazes de solver as difficuldades in-
ternacionaes, com que a mesma Republica se achava a braços.
« Estas considerações motivaram a resposta que ao governe
do Paraguay deu o Sr. conselheiro Saraiva, e que o governo
imperial confirmou, declarando não ser possivel acolher, como
alias desejaria, a offerta de que se trata.
cc Não sabia então o governo imperial, mas soube depois
e officialmente, pela nota que com data de
3 0
de Agosto do
anno passado dirigio o ministro das relações exteriores do
Paraguay ao representante do Estado Oriental, alli residente,
que a mediação que aliás fora pelo governo d'este Estado
solicitada, tinha sido também por elle próprio adiada, decla
rando seu representante no Paraguay, em
4
de Julho, que
na confiança fundada, e no interesse de restabelecer prompta-
mente cordiaes relações com o Brasil, julgara cumprir um
dever, não fazendo uso, por ora, d'essa importante mediação.
« Até aqui seguramente nenhuma razão plausível havia para
suppôr que a R epublica do Paraguay nutrisse resentimentos e
intenções hostis contra o Im pério: pelo o contrario; o passo
que acabava de dar, fazia presum ir que estava o seu governo
animado de disposições pacificas e amigáveis para comnosco;
revelando ainda melhor essas disposições no modo porque
acolhera o nosso agente diplomático.
« A illusão, porém, durou pouco, porque chegando
á
A s
sumpção a noticia do %Utimatum apresentado ao governo de
Montevidéo pelo Sr. conselheiro Saraiva, apressou-se o mi
nistro das relações exteriores d 'aquella Republica, a dirigir ao
nosso ministro alli residente a significativa nota de
3 0
de
Agosto.
« Como vereis por essa nota, que vai integralmente pu*
blicada entre os áppensos a este relatório, o governo da Re
publica do Paraguay erigia-se em arbitro supremo entre o
e quando elle com os
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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183 —
g o v e r n o i m p e r i a l e a R e p u b l i c a O r i e n t a l , p r e t e n d e n d o p o r
u m a i n t i m a ç ã o : a m e a ç a d o r a c o a r t a r a o B r a s i l , s o b p r e te x t o d e
perigo
p a r a a i n d e p e n d ê n c i a d 'a q u e l l a R e p u b l i c a , u m a p a r te
d e s e u s d i r e i t o s d e s o b e r a n i a , n o c o n f l i c t o e m q u e s e a c h a v a
c o m o s e u g o v e r n o , d o q u a l a l iá s e r a i n t e i r a m e n t e e s t r a n h o
o P a r a g u a y .
« O n o s s o m i n i s t r o , j u l g a n d o - s e c o m r az ã o d i s p e n s a d o d e
e x p l ic a r a o g o v e r n o d o P a r a g u a y a s c a u s a s q u e h a v i a m c o m -
p e l l i d o o d o I m p é r i o a u s a r d e r e p r e sá l i a s c o n t r a o d a R e
p u b l i c a d o U r u g u a y , po r s e a c h a r e m já e s s a s c a u s a s c l a r a
m e n t e e x p o s t a s , e d e s e n v o l v i d a s ' e m d o c u m e n t o s o f fi ci ae s e
s o l e m n e s , d e q u e t i n h a a q u e l l e g o v e r n o p e r fe i to c o n h e c i
m e n t o , l i m i t o u - s e a r e s p o n d e r .
« — Q u e n e n h u m a a p p r e h e n s ã o f u n d a d a p o d i a e x is t ir d e q u e
p r e t e n d e s s e o I m p é r i o a t te n t ar c o n t r a a i n d e p e n d ê n c i a e i n t e
g r id a d e d o E s t a d o O r i e n t al . Q u e e n v i a n d o u m a m i s s ã o e s p e
c i a l a M o n t e v i d é o , p a r a o f i m d e j u s t a r r e c l a m a ç õ e s p e n d e n t e s ,
d e r a o g o v e r n o i m p e r i a l u m n o v o t e s t e m u n h o d e m o d e r a ç ã o ,
e d o d e s e j o d e v e r a m i g a v e l m e n t e r e s o l v id a s a s m e s m a s r e c l a
m a ç õ e s .
« — Q u e es t a s u a m o d e r a ç ã o n ã o fo ra b e m c o m p r e h e n d i d a ,
r e s i s t i n d o s y s t e m a t i c a m e n t e o g o v e r n o d a R e p u b l i c a a o s m e i o s
d e s o l v e r p a c i f i c a m e n t e a q u e s t ã o . —
ct A ' e s t a s d e c l a r a ç õ e s , t ã o j u s t a s e t ã o m o d e r a d a s , e s t a v a
o g o v e r n o i m p e r i a l l o n g e d e e s p e r ar q u e r e s p o n d e s s e o g o
v e r n o d a R e p u b l i c a c o m o o f ez , e m n o t a - d e 3 d e S e t e m b r o ,
a o n o s s o m i n i s t r o , r a ti fi ca n d o o s e u p r o t e s to e a n n u n c i a n d o
q u e o f a r ia e f f e c t i v o , s e s e r e a l i s a s s e m a s a p p r e h e n s o e s d e
q u e e s t a v a p o s s u i d o .
ct P a r a t r a d u z ir m e l h o r s u a s i n t e n ç õ e s , a p r o v e i t o u o g o v e r n o
d o P a r a g u a y o c o n f l i c t o o c c o r r i d o c o m o v a p o r Villa dei Salto,
e q u e s e r v i o d e p r e t e x t o a o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o p a r a c o r t a r
s u a s r e l a ç õ e s c o m o d o I m p é r i o . D e m o n s t r a - o a n o t a d e 1 4
d e S e t e m b r o , d i r i g id a a o n o s s o a g e n t e d i p l o m á t i c o e m A s
s u m p ç ã o .
« D e s d e e n t ã o a l i n g u a g e m d o ó r g ã o o f fi c ia l d a i m p r e n s a
p a r a g u a y a a u g m e n t o u d e v e h e m e n c i a ; e p r o m o v e r a m - s e a b e r
t a m e n t e m a n i f e s t a ç õ e s p o p u l a r e s c o n t r a a p o l i t ic a d o I m
p é r i o n o R i o d a P r a t a .
ct C h e g a r a m e s t e s f a ct o s a o c o n h e c i m e n t o d o g o v e r n o i m p e r i a l
e m O u t u b r o e N o v e m b r o , q u a n d o j á c o r ri a t a m b é m , q u e
p r e t e n d i a o g o v e r n o d a R e p u b l i c a m a n d a r o c c u p a r o t e r r it ó r io
c o n t e s t a d o e n t r e A p a e o R i o - B r a n c o , s e f o r ç a s b r a s i l e i r a s
e n t r a s s e m n a B a n d a O r i e n t a l .
ct R e c o n h e c e n d o q u e , e m b o r a s e m a m e n o r r a z ão e f u n
d a m e n t o , m o s t r a v a - s e t o d a v i a o g o v e r n o d o P a r a g u a y d i s p o s t o a
h o s t i l i s a r - n o s , r e s o l v e u o g o v e r n o i m p e r a i t o m a r a l g u m a s p r o
v i d e n c i a s c o m r e l a ç ã o á p r o v i n c i a d e M a t t o - G r o s s o - , c o n f i a n d o
a e x e c u ç ã o d ' e l í a s a o c o r o n e l F r e d e r i c o C a r n e i r o d e C a m p o s . »
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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P e l o s d o c u m e n t o s q u e a c a b am o s ; d e t r a n s c re v e r , v ê - s e q u e o
g o v e r n o i m p e r i a l d e u o r d e m p a r a p r o c e d e r - s e a r e p r e s á l i a s e m
d a t a d e 2 1 d e J u l h o , q u a n d o s o u b e q u e o g o v e r n o d o E s t a d o
O r i e n t a l n e g a v a - s e a d a r a s s a t i s f a ç õ e s ex i gi d as * , n ã o e s p e r o u
q u e o c o n s e l h e i r o S a r a i v a a p r e s e n t a s s e o
ultimatum.
A s s è p r e -
s a l i a s
;
o u o p r i i f e i p i o d e h o s t i l i d a d e s a o g o v e r n o o r i e n t a l
t i v e r a m l u g a r l o g o p e l o m a r , m a n d a n d o - s e b l o q u e a r o s p o r to s
d e P a y s a n d ú e d o S a l t o ; n a d a s e fe z p e l o l a d o d e t erra, p o r
q u e n ã o h a v i a f o r ç a a l g u m a o r g a n i s a d a n a f r o n t e i r a , p a ra
o p e r a r a o m e s m o t e m p o ; o r e l a tó r i o d o p r e s i d e n t e d o R i o
G r a n d e a c i m a t r a n s c r ip t o , m o s t r a q u a l e r a o e s t a d o d e a r m a .
m e n t o d ' a q u e l l a p r o v i n c i a e m 1 8 6 4 . C o m t a e s d i s p o s i ç õ e s
n ã o e r a p o s s i v e l f a z e r- s e a g u e r r a e n t ã o a o E s t a d o O r i e n t a l ,
c o n f o r m e a s o r d e n s e i n s t r u c ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l .
B a s t a a p o n t a r o s f a c t o s, o u o s a c o n t e c i m e n t o s q u e s e f or a m
s u c c e d e n d o , p ar a s e c o n h e c e r q u e n ã o s e p o d i a t ir ar v a n
t a g e m i m m e d i a t a d o m o d o p o r q u e s e p r i n c i p i o u a fa ze r a
g u e r r a a o E s t a d o O r i e n t a l , e d e p o i s a o P a r a g u a y . N ã o h a v i a
o s m e i o s n e c e s s á r i o s , p r o m p t o s c o m a n t e c e d ê n c i a p a r a e s s e
fim ; a p e n a s u n h a m o s n o R i o d a P r a t a o i t o n a v i o s d e g u e r r a .
Q u a n d o o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o r e c u s o u s a ti sf az e r á s r e
c l a m a ç õ e s d o e n v i a d o b r a s i l e i r o , m a n d o u q u e o s e u r e p r e s e n
t a n t e n a " A s s u m p ç ã o s o l i c i t a s s e d o g o v e r n o d o P a r a g u a y q u e
i n t e r v i e s s e n a s d e s i n t e l l i g e n c i a s c o m o B r a s il . N ã o s e p ô d e
a c r e d i ta r q u e e s ta r e q u i s i ç ã o d o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o f o s s e
s i n c e r a p o r q u e t i n h a m e i o s d e c h e g a r a a l g u m a c c o r d o , s e
q u i z e s s e v i v e r e m p a z c o m o I m p é r i o , s e m s e r n e c e s s á r i o
p r o c u r a r o s b o n s o f fi c io s d o g o v e r n o d o P a r a g u a y . P o r e s t e
m e i o f o i o g o v e r n o d e A g u i r r e p r o c u r a r u m a l l i a d o c o n t r a o
B r a s i l , p o r c o n h e c e r q u e n ã o t i n h a f o r ça s p a r a o h o s t i l is á r .
O g o v e r n o d o P a r a g u a y , q u e d e s e j a v a a p o s s a r- se d o S u l d a
p r o v i n c i a d e M a t t o - G r o s s o , a c c e i t o u o c o n v i t e e a p r o v e it o u
a o c c a s i ã o , q u e s e l h e o f e r e c i a , p a r a c h e g a r a s e u s fin s, e
c o n s e g u i r o q u e h a v i a m u i t o t e m p o p r e m e d i t a v a .
U n i o - s e a o g o v e r n o d o E s t a d o O r i e n t a l p a ra i n t e r v ir d i r e -
c t a m e n t e n a s q u e s t õ e s e x i s t e n t e s c o m o I m p é r i o ; . j u l g o u q u e a
s u a a u t o r i d a d e e r a r e s p e i t a d a , e q u e p o d i a d i r i g i r t o d o s o s
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— 1 8 5 —
n e g ó c i o s q u e e x i s t i s s e m c o m a s r e p u b l i c a s d o R i o d a P r a t a .
O g o v e r n o i m p e r i a l n ã o c o n h e c e u o fim d e s t a i n t e r v e n ç ã o
o ff er ec id a p e l o g o v e r n o d o P a r a g u a y ; j u l g o u s e r u m o f f e r e-
c i m e n t o f e i to e x - o f fi c io , s e m fim p r e m i d i t a d o ; e p o r i s s o —
s e g u r a m e n t e n e n h u m a r a zã o p l a u s í v e l h a v u # p a r a « s up p ô r q u e
a R e p u b l i c a d o P a r a g u a y n u t r i s s e r e s e n t i m e n t o s e i n t e n ç õ e s
h o s t i s c o n t r a o I m p é r i o ; — d i s s e o e x - m i n i s t r o J o ã o P e d r o
D i a s V i e i r a n o s e u r e l a t ó r i o , c o n f o r m e j á f izem os v e r n e s t e
l i v r o ,
V a m o s v e r a g o r a e m q u e t e r m o s fo i c o n c e b i d a e o q u e
r e s u l t o u d * e s t a m e d i a ç ã o d o g o v e r n o d o P a r a g u a y .
MEDIAÇÃO OFFERE CIDA PELO GOVERNO DA REPUBLICA DO PARAGUAY
A O G O VE R N O IM PE R IA L .
« M i n i s t é r i o d e r e l a çõ e s e x t e r i o r e s . — A s s u m p ç ã o , 1 1 d e J u
n h o d e 1 8 6 4 .
« O a b a i x o a s s i g n a d o , m i n i s t r o e s e c r e t a r i o d e e s t a d o d a s
r e l a ç õ e s e x t e r i o r e s , t e m a h o n r a d e d i r i g i r - s e a V . E x . p a r a
c o m m u n i e a r - l h e q u e a l e g a ç ã o o r i e n t a l n ' e s ta c i d a d e s o l i c i
t o u ,
e m n o m e d o s e u g o v e r n o , a a m i g á v e l m e d i a ç ã o d o
d ' e s t a R e p u b l i c a p a r a o a j u s t e d a s q u e s t õ e s c o n f i a d a s p e l o
g a b i n e t e i m p e r i a l a S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a , e m
s u a m i s s ã o e s p e c i a l n ' a q u e l l a r e p u b l i c a .
« O g o v e r n o d o a b a i x o a s s i g n a d o q u e v ê c o m p e z a r t u d o
q u a n t o p ô d e d e s t r u i r a h a r m o n i a e n t r e d o u s p o v o s v i s i n h o s
e a m i g o s , e s e n s í v e l á m a n i f e s t a ç ã o d e c o n f i a n ç a q u e o
g o v e r n o o r i e n t a l de po & ita e m s u a r e c t i d ã o e j u s t i ç a , a c c e d e u
a o p e d i d o d a l e g a ç ã o o r i e n t a l , a c e i t a n d o o e n c a r g o d e m e d i a
d o r q u e l h e o r T er ec eu o s e u g o v e r n o .
« O g o v e r n o i m p e r i a l j u s t o a p r e c i a d o r d o v e r d a d e i r o v a l o r
d o s i n t e r e s s e s b e m e n t e n d i d o s d e t o d o s o s r i b e i r i n h o s d o
P r a t a e d e s e u s a f f iu e n t e s, c o n h e c e t a m b é m a i m p e r i o s a n e
c e s s i d a d e d e a m i g á v e i s r e l a ç õ e s e n t r e t o d o s e l l e s , e d o a j u s t e
d o s i n t e r e s s e s ' o p p o s t o s q u e p o s s a m s u r g i r .
« E s t a c o n v i c ç ã o e a p o l i t i c a • d e m o d e r a ç ã o q u e d i s t i n g u e o
g a b i n e t e i m p e r i a l , f a z e m e s p e ra r a o g o v e r n o d o a b a i x o a s
s i g n a d o , q u e o ' d e S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r h a d e r e s o l
v e r , d e a c c o r d o c o m e s t a p o l i t i c a , a s d i f í e r e n ç a s q u e m o t i
v a r a m a m i s s ã o e x t r a o r d i n á r i a d e S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o
S a r a i v a .
« O g o v e r n o d o a b a i x o a s s i g n a d o s e c o n s i d e r a r á m u i f e l i z
s e , e m p e n h a n d o a s u a c o o p e r a ç ã o , p u d e r c o n t r i b u i r p a r a u m
r e s u l t a d o t a o s a t i s f a c t o r i o ,
« O a b a i x o a s s i g n a d o a p r o v e i t a e s ta o c c a s i ã o p a r a o f f e r e c e r
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— 186 —
a V. Ex. as seguranças de sua mui distineta consideração e
estima.
« Ao Illm. e Exm. Sr. ministro e secretario de estado dos
negócios estrangeiros do Império do Brasil.—José Berges. »
NOTA
UO GOVERNO $A RA GU AT O Á MISS ÃO E SPECIAL EM MONTEVIDÉO.
« Ministério de relações exteriores.—Assumpção, 1 7 de Junho
de 1864.
« O abaixo assignado, ministro e secretario das relações
exteriores, tem a
y
nonra de communicar a V. Ex. que o go
verno da Republica Oriental do Uruguay solicitou, por in
termédio do seu ministro residente n'esta capital, a mediação
do governo do abaixo assignado para o ajuste amigável das
questões internacionaes confiadas a V. Ex. pelo governo im
perial.
« O governo do abaixo assignado* no intuito de remover
todo o motivo de desavença entre duas nações amigas e vi-
sinhas, aceitou esta honrosa prova de confiança que lhe dá
o governo do Estado Oriental; e assim o participa n*esta data
a S. Ex. o Sr. ministro dos negócios estrangeiros de Sua
Magestade o Imperador.
« O abaixo assignado aproveita esta oceasião para s audar
a V. Ex. com a sua mui distineta consideração.
« A S. Ex. o Sr. conselheiro José Antônio Saraiva.
—
José
Berges.
»
RESPOSTA
DA MISSÃO ESPECIAL DO BRASIL EM MONTEVIDÉO.
« Missão especial do Brasil.—Montevidéo, 2 4 Junho de 1 8 6 4 .
« Sr. ministro.—Tive a honra de receber a nota, pela qual
dignou-se V. Ex. communicar-me que, por solicitação do
governo oriental, resolvera dirigir-se ao Sr. ministro dos ne
gócios estrangeiros de Sua Magestade o Imperador, para oífe-
recer a mediação do governo paraguayo a bem do ajuste
amigável das questões que determinaram a missão especial
do Brasil n'esta republica.
v Aguardando como me cumpre as ordens do meu governo,
corre-me, entretanto, o dever de declarar a V# Ex. que nu
trindo as mais fundadas esperanças de obter amigavelmente
do governo oriental a solução das mencionadas questões, pa
rece-me por emquanto, sem objecto a mediação do governo
paraguayo, sempre apreciada pelo governo de Sua Magestade.
« Aproveito a oceasião para manifestar a V. Ex. os votos
de minha distineta consideração.
<
A S«g.Éx. o Sr. José Berges.—José Antônio Sarawa. »
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— Í8J —
RESPOSTA DO GOVERNO IMPERIAL.
« Ministério dos negó cios estrangeiros, em 7 de Ju lho
de
1 8 6 4 .
« O abaixo assignado, do conselho de S ua M agestade o
Imperador do Brasil, ministro e secretario d'estado dos negó
cios estrangeiros, tem a satisfação de accusar recebida a nota
ue com data de 17 do mez próximo findo, fez-lhe a honra
e dirigir S. Ex. o Sr. D. José Berges, ministro das relações
exteriores da Republica do Paraguay.
«: N 'essa nota, com m unican do ao abaixo assignado que a le
gação oriental em nom e do seu governo solicitara a am igá
ve l mediação do da Repub lica do P araguay para o ajuste
da s questões qu e fizeram objecto da m issão especial do Sr. con
selheiro José An tônio Saraiva a Montev idéo, o Sr. D . José
Berges, depois de abundar nas mais apreciáveis expressões de
benevolência e de sympathia, e n os mais dignos sen tim ento s,
pelo que respeita ás boas relações em que o governo do Pa
ragu ay deseja vêr os estados visin ho s, declara haver o m esm o
governo aceitado a posição de mediador que lhe fora offe-
recida.
« Quando chegou ás mãos do abaixo assignado a nota do
Sr. D . Jos é Berges, acabava elle de lêr a resposta qu e á nota
idêntica de S. Ex. havia dado em Montevidéo o Sr. conse
lheiro J. A. Saraiva.
« T end o-se o governo de Sua M agestade o Imperador co m
pletamente conformado com essa resposta, o abaixo assignado
cum pre o dever de assim o comm umcar ao Sr. D . José B er
g es ,
aproveitando a oceasião para pedir a S. Ex. se sirva serperante, o seu gov erno órgão dos sentim entos de gratidão e
de apreço que ao governo de Sua M agestade o Imperador
inspirou o cavalheiroso procedimento do da Republica.
« O baixo assignado renova á S. E x. o S r. JD. Jos é Ber
ges, as seguranças de sua alta consideração.
« A S. E x, o Sr. D . José Berges.— João Pedro Dias Vieira. »
Logo que o governo do Paraguay soube do ultimatum, que
o conselhe iro Saraiva apresentou ao gover no do E stado O rien
tal, á
4-
de A gosto, remetteu aq uelle governo ao encarregado
dos negócios do Brasil, alli residente, a nota que se segue.
« M inistério das relações exteriores.— A ssum pçã o, 30 de
Agosto de 1864.
« O abaixo assignado , m inistro e secretario d'estado da s
relações exteriores, teve ordem do Exm. Sr. Presidente da Re
publica para dirigir a V . Ex. esta commünicação, com o fim
que passa a expor.
c O abaixo asig.nado recebeu de S. Ex. o Sr. Vasquez
Sagastume, ministro residente da Republica Orienta^ do Úru*
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- 189 ™
n a s n o t a s d e S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a d e 4 e 1 0 d o
c o r r e n t e a o g o v e r n o o r i e n t a l , e x i g i n d o d ? e ll e u m i m p o s s í v e l
e l o o b s t á c u l o q u e o p p ô e a si t u a ç ã o i n t e r n a d
?
a q u e l l a R e p u -
l io a , è p a r a c u j a r e m o ç ã o n ã o t e m s i d o b a s t a n t e s , n e m o
p r e s t í g i o S S . E E x . o s S r s . T h o r n t o n , E l i& a ld e e S a r a i v a , n e m
o c o n c u r s o e a b n e g a ç ã o d o g o v e r n o o r ie n t a l .
« N ã o m e n o s p e n o s a f oi p a r a o g o v e r n o d o a b a i x o a s s i g n a
d o a n e g a t i v a d e S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a
á
p r o p o
s i ç ã o d e a r b i t r a m e n t o , q u e l h e f o i fe i t a p o r p a r t e d o g o v e r n o
o r i e n t a l ; m u i t o m a i s q u a n d o e s t e p r i n c i p i o h a v i a s e r v i d o d e
b a s e a o g a b i n e t e i m p e r i a l e m s u a s r e c l a m a ç õ e s c o n t r a o g o
v e r n o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n n i c a .
« O g o v e r n o d a R e p u b l i c a d o P a r a g u a y d e p l o r a p r o f u n d a
m e n t e q u e o d e V . E x . h a j a j u l g a d o o p p o r t u n o a f fa s ta r -s e
n ' e s t a o c e a s i ã o d a p o l i t i c a d e m o d e r a ç ã o e m q u e d e v i a c o n f i a r ,
a g o r a m a i s d o q u e n u n c a , d e p o i s d a s u a a d n e s ã o á s e s t i p u l a
ç õ e s d o c o n g r e s s o d e P a r i z ; n ã o p Ó d e p o r é m v ê r c o m i n d i f f e r e n ç a ,
e m e n o s c o n s e n t i r q u e e m e x e c u ç ã o d a a l t e r n a t i v a d o w / f i-
matum
i m p e r i a l , a s f o r ça s b r a s i l e i r a s , q u e r s e j a m n a v a e s , q u e r
t e r r e s t r e s , o e c u p e m p a r t e d o t e r r it ó r i o d a R e p u b l i c a O r i e n t a l
d o U r u g u a y , n e m t e m p or á r ia n e m p e r m a n e n t e m e n t e , e S . E x .
o S r . P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a o r d e n o u a o a b a i x o ^ a s s ig n a d o ,
q u e d e c l a r e a V . E x . , c o m o r e p r e s e n t a n t e d e S u a M a g e s t a d e
o I m p e r a d o r d o B r a s i l : q u e o g o v e r n o d a R e p u b l i c a d o P a
r a g u a y , c o n s i d e r a r á q u a l q u e r o c c u p a ç ã o d o t e r r i t ó r i o o r i e n t a l
o r f o r ça s i m p e r i a e s , p e l o s m o t i v o s c o n s i g n a d o s n o
uUi%\aium
e 4 d o c o r r e n t e , i n t i m a d o a o g o v e r n o o r i e n t a l p e l o m i n i s t r o
p l e n i p o t e n c i a r i o d o i m p e r a d o r , e m m i s s ã o e s p e c ia l j u n t o d ' a q u e l l e
g o v e r n o , c o m o a t t e n t a t o r i o d o e q u i l i b r i o d o s E s t a d o s d o P r a t a ;
q u e i n t e r e s s a á R e p u b l i c a d o P a r a g u a y , c o m o g a r a n t i a d e s u a
s e g u r a n ç a , p a z e p r o s p e r i d a d e ; e q u e p r e t e s t a d a m a n e i r a a
m a i s s o l e m n e c o n t r a t a l a c t o , d e s o n e r a n d o - s e d e s d e j á , d e
t o da a r e s p o n s a b i l i d a d e p e l a s c o n s e q ü ê n c i a s d a p r e s e n t e d e c l a
r a ç ã o .
cr D e i x a n d o a s s i m c u m p r i d a s a s o r d e n s d o E x m . S r . P r e s i -
d e n t e d a R e p u b l i c a , o a b a i x o a s s i g n a d o a p r o v e i t a e s t a o c e a s i ã o
p a r a s a u d a r a V . E x . c o m a s u a m u i d i s t i n e t a c o n s i d e r a ç ã o .
« A S . E x . o S r . C é s a r S a u v a n d e L i m a , m i n i s t r o r e s i d e n
t e d e S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r d o B r a s i l. — J o s é Berges .»
O m i n i s t r o b r a s i l e i r o r e s p o n d e u - l h e e m d a t a d e
1
d e S e
t e m b r o o s e g u i n t e :
« S i n t o q u e o g o v e r n o d e q u e V . E x . f az p a r t e , n u t r a
j pe ce io s s o b r e a s v e r d a d e i r a s i n t e n ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , e
v e j a n a a c t u a l c o n j u e t u r a p e r i g o s , q u e n ã o e x i s t e m , p a r a a
i n d e p e n d ê n c i a e i n t e g r i d a d e d o E s t a d o O r i e n t a l .
« E r a l i c i t o s u p p ô r q u e a s p r o v a s r e i t e r a d a s d e f r a n q u e z a e
l e a l d a d e d e q u e a b u n d a a p o l i t i c a d o g o v e r n o i m p e r i a l p a r a
c o m o s e s t a d o s v i s i n h o s , b a s t a r i a m p a r a a r r e d a r d o â n i m o * d o
36
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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governo paraguayo qualquer apprehensão
sobre
o fim que tem
o de Sua Magestade o Imperador, na resolução que foi obrí-
ado a tomar em presença da constante denegação de justiça
s reclamações que desde longo tempo tem infructuosamentè
dirigido ao Estado Oriental.
«
O governo imperial, pelo facto de mandar a Montevidéo
S. Ex. o Sr. conselheiro Saraiva, cujas elevadas qualidades
o tornavam tão recommendavel para semelhante missão, deu
um novo e irrefragavel testemunho de moderação e desejo de
ver resolvidas de modo amigável as suas reclamações ; mas,
infelizmente, esse derradeiro appello feito ao governo oriental,
e os esforços do distincto diplomata brasileiro, foram bal
dados pela resistência systematica que lhe oppôz aquelle
governo. »
Depois de dizer quaes eram as reclamações do governo im
perial ao de M ontevidéo, e que este governo parecia estar
no propósito firme de não acolher as reclamações brasileiras,
ultima assim a sua nota:
<r O governo imperial tem repetidas vezes explicado em
vários documentos, que estão hoje no dominio do publico,
os justos fundamentos das suas queixas, contra o governo
oriental; comprovado com o testemunho irrecusável dos factos
a seu respeito, pela independência e autonomia d'aquelle
Estado ; e dado exuberantes provas de longanimidade e mo
deração ; mas, vendo frustrados os esforços ultimamente em
pregados para chegar a um accordo amigável, recorre aos
.meios coercitivos, que o direito das gentes autorisa, afim de
conseguir aquillo que não poude obter por meios suassorios,
isto é, que justiça seja feita ás suas reclamações. D e certo
nenhuma consideração o fará sobrestar no desempenho da
sagrada missão que lhe incumbe, de proteger a vida, honra
e propriedade dos subditos de Sua Magestade o Imperador.
Ultimarei a presente commünicação, assegurando a V. Ex.
que vou dar conhecimento ao governo imperial da nota a
que respondo. »
Esta nota do 1 .° de Setembro do ministro brasileiro na
Assumpção, teve uma resposta, com
t
data de $ de Setembro,
do ministro de relações exteriores, que não merece fazer-se
d'ella menção. ,Mas, a 14 de mesmo mez recebeu o ministro
brasileiro a nota seguinte :
« Ministério de relações exteriores. — Assumpção, 1 4 de
Setembro de 1 8 6 4 .
« O abaixo assignado, ministro e secretario de estado d a s
relações exteriores, tem a honra de communicar a V. E x .
que, com data de 1 2 do corrente,; recebeu aviso da legaç&o
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oriental n'esta cidade, de que o vapor transporte de seu go
verno
V Ula dei Salta,
navegando o rio Uruguay em águas
argentinas, foi atacado por uma corveta brasileira, que lhe
disparou quatro tiros de peça com bala, com o fim de tomal-o,
ou de impedir-lhe a passagem do R io-Negro, para onde se
dirigia de ordem do governo oriental, no intuito de levar
auxílios á villa de M ercedes, situada sobre a costa d'este
rio,
e ameaçada pelas forças que obedecem ao general D.
Venancio Flores, resultando d'este attentado não poder chegar
ao seu destino o Villa dei Salto, que levara os elementos neces
sários aos defensores de Mercedes, por lh'o impedirem os
canhões da marinha imperial, por esta fôrma postos em bôa
oceasião ao serviço da invasão capitaneada pelo citado ge
neral Flores, que por esta circumstancia poude apoderar-se
de Mercedes no dia 2 7 do mesmo mez, passando em 2 8 ao
norte do Rio-Negro com a intenção de atacar a povoação de
Paysandú, a cujo porto tinham também chegado as canho
neiras brasileiras.
« Factos tão significativos como os que a legação oriental
denuncia, consummados em apoio de uma rebellião, com ol
vido dos principios de legalidade, base dos direitos de dynas-
tia dos governos monarchicos, impressionaram profundamente ao
overno do abaixo assignado, que não pode deixar de corro-
orar por esta commünicação as suas declarações de 30 de
Agosto e de 3 do corrente.—José Berges.»
A esta nota do governo paraguayo, respondeu o ministro
brasileiro o seguinte.
N O T A D A L E G A Ç Ã O I M P E R I A L A O G O V E R N O P A R A G U A Y O .
« Legação imperial do Brasil.—A ssumpção, 15 de Setembro
de 1 8 6 4
« Sr. m inistro.— T enho presente a nota que V . Ex. me fez
a honra de dirigir com data de hontem, communicando-me
que a Jegação oriental n'esta cidade lhe participara haver um
navio de guerra brasileiro feito fogo sobre um
#
vapor d'aquella
Republica, com o fim de captural-o, ou de impedir que de
sembarcasse forças destinadas á defeza da V illa de M ercedes,
por cujo motivo julgou V . Ex. dever confirmar as declarações
contidas nas suas notas de 30 de Agosto e de 3 do corrente.
« Tendo esta legação, na data do 1.° d'este mez, ministrado
M
a
V. Ex. explicações francas sobre a politica do governo im
perial na actual questão com o da R epublica O riental, e res
pondido ao protexto de que trata a nota de V. Ex. de 30 de
A gosto; n'esta oceasião só se me offerece dizer a V. Ex. que
a respeito do facto agora alludido não tenho outras noticias
senão aquellas que li no ultimo numero do Semanário, e na
commünicação a que respondo. Em taes circumstancias, e
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— Í92 —
ignorando quaes são as instrucções ultimamente expedidas aos
commandantes dos vasos da armada imperial, estacionados no
Bio da Prata e seus affluentes, no intuito de se levar a efíeíto
as medidas de represálias intimadas pelo
ultimatum
de 4 de
Agosto, abstenho-me por ora de toda e qualquer reflexão
acerca do conteúdo da supracitada nota de hontem.
« Aproveito esta oceasião para novamente ófferecér a V . Ex.
os protestos de minha mui distineta consideração.
« A S . Ex. o Sr. D . José
Berges.—César Sauvan Viann a de
Lima.*
Em Outubro recebeu o ministro brasileiro na Assumpção a
nota do governo imperial de
%%
de Setembro de 1864, a qual
se segue:
« Ministério dos negócios estrangeiros.—Rio de- Janeiro, em%% de Setembro de 1864.
« Com o officio de V . S. n. 3, de 3 do corrente, que
tenho presente, recebi as cópias, que o acompanharam, da
nota que a essa legação passou o governo da Republica, pro
testando contra qualquer occupação do território oriental, que
possa vir a ter lug ar por parte das forças do Império em
consequeia do
ultimatum
comminatorio do Sr. conselheiro
Saraiva; e bem assim da resposta por
V .
S. dada á referida
nota.
« Inteirado o governo imperial desta comm ünicação, com
pletamente approva os termos da resposta de
V .
S., que
nada deixam a desejar.
« Públicos e notórios como são os verdadeiros motivos que
determinaram a posição que o Império foi forçado a assumir
ultimamente no Estado Oriental; e sendo não menos publicas
e notórias, como de incontestável verdade, as declarações
explicitas e solemnes que o governo imperial tem feito
do respeito que consagra
á
independência d'aquelle Estado,
e até da neutralidade e abstenção que está no propósito de
observar em suas questões e lutas internas; é claro que o
protesto do governo paraguayo ficaria sem razão de ser, a
menos que não pretendesse esse governo arvorar-se em juiz
do direito com que exigimos do governo oriental a satisfação
de nossas reclamações, e ainda dos meios de que, para
conseguil-a, entendemos dever lançar mão; pretençfto que
seguramente importaria desconhecer a soberania, e por ven
tura a dignidade do Brasil.
<< Com razão, pois, repellio V, S. o protesto de que se
trata, cumprindo que n'esse terreno se mantenha com toda a
energia.
« E porque convém que V . S. ao corrente de todas as
resoluções do governo imperial, relativas
á
posição em que
nos achamos no Estado Oriental, inclusa envio-lhe a cópia de
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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despacho que n'esta oceasião dirigio ao commandante em chefe
de nossas torças navaes nas águas d'aquella Republica.
« Por esse despacho verá V. *S. que o governo imperial
appuevando as medidas indicadas pelo Sr. conselheiro Saraiva,
em seguida ao {acto do vapor denominado
Villa dei
Salto,
ainda uma vez põe em evidencia todo o seu pensamento a
respeito d'aquelle Estado.
« V. S. em termos hábeis usará do referido despacho, para
convencer o governo Paraguay de quanto são infundadas as
apprehensões que revela em seu protesto.
"
« Reteiro a V. S. as seguranças da minha estima e con
sideração
« Ao Sr. César Sauvan. Vianna de
Lima.—
Carlos Carneiro
de Campos. »
Por este despacho, que fica transcripto, dirigido ao ministro
brasileiro na Assumpção com data de 22 de Setembro, vê-se
que o governo imperial ainda não estava desenganado da
politica que devia ter para com o governo do Paraguay,
muito principalmente depois da nota e protesto d'este governo
de 30 de Agosto, que foi já uma ameaça de hostilidades ao
Brasil. Apezar do que continha esta nota ainda o governo
imperial continuou a dar satisfação da sua politica ao go
verno do Paraguay como se vê n'este officio de 22 de Se
tembro de
1864,
a qual termina dizendo ao ministro brasileiro:
que convença o governo do Paraguay, de quanto são infun
dadas as apprehensões que revela em seu protesto. Ou o
governo imperial julgava que o protesto do Paraguay não
teria más conseqüências, ou estava persuadido que vencia
aquelle governo só com explicações nas suas notas: o desen
gano chegou tarde.
A historia diplomática entre o Brasil e o Paraguay, como
a referio o conselheiro Paranhos na câmara dos deputados
na sessão de 11 de Julho de 1862, cujo discurso está trans
crito no livro 9.* d'este volume, devia bastar para quando
o governo do Paraguay remetteu ao enviado do Império
^Assumpção a dita nota de 30 de Agosto de 1864, rece
ber-se aquelle documento como uma declaração de guerra
contra o Império, e preparar-se este para a fazer. O governo
imperial sempre possuido de bôa fé para com os Estados do
Sul) parece que nfto deu grande importância aquella^ com-
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 285/448
—
m
—
municação e mandou proceder a represálias contra o Estado
Oriental, do que n os vam os occupar no livro segu in te.
D eve-se declarar n'este lugar qu e a pro va, de q ue o go
verno imperial não deu bastante attenção aquella nota, foi
mandar o coronel de engenheiros Frederico Carneiro de
Campos presidente para Matto-Grosso no principio de No
vembro do m esm o an no, dous m ezes depois de recebida a
nota de 30 de Agosto, pelo caminho do Paraguay. As hosti
lidades do presidente Lopez principiaram pela captura do
vapor
Marquei de Olinda
em que ia aquelle alto func
i o n á r i o .
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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L I V R O O I T A V O .
CONVENCI» ENTRE O -VICE-ALMIRANTE BRASILEIRO COMMANDANTE DA
ESQUADRA E O GENERAL
D.
VENANCO FLORES PARA PROCEDEREM A HOSTILIDADES
CONTRA O GOVERNO DE MONTEVIDÉO
No livro anterior está transcripto o officio do ministro dos
negócios estrangeiros, Carlos Carneiro de Campos, de 21 de
Setembro de 186 4, dirigido ao com m and ante da esquadra
brasileira no R io da Prata, no qual lhe diz :
« Que o g overno de Sua M agestade o Imperador, coh eren te
com as razões que o determinaram a mandar o Sr. con selheiro
Saraiva em missão especial a Montevidéo, approva completa
mente a resolução que tomou o mesmo conselheiro, de que
fossem occupadas por nossas forças as cidades de' Paysandú,
Salto e Cerro La rgo; entend endo que dev e essa occu paçã o
verificar-se sem perda de tempo.
« Conseqüente com este pensam ento, en tende o govern o im
perial que a occupação dos pontos indicado s só dev e subsistir
em qu ant o n'elles não se achar que m dè as garantias d es e
jadas e as faça effectivas.
« A ssim que , se as forças do general D . Ve nan cio F lores v ie
rem occupar os departamentos m enciona dos, desde q ue el la s,
embora co m o gov erno de facto, offerecerem as desejadas se gu
ranças á vida, honra e propriedade dos Brasileiros, cumprirá
qu e as forças imp eriae s se retraiam, pois qu e, com o já diss e,
não tem o gov erno do Imperador o intento de favorecer u m a
ou outra parcialidade, mas conseguir de qualquer d'ellas que
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— m —
effectivamente exerça o poder, as gara ntias devida s e qu e a
própria constituição da R epublica am ança aos que habitam o
seu território.»
{Teste officio, cujos trec hos acabam os de tran scre ve r, o m i
nistro de estrangeiros não deu autorisação ao commandante
da esquadra para se ajustar com o general D . V enancio Flo res ,
afim de fazerem juntos hostilidades ao governo do Estado
O riental; só recomm endou-lhe que , quan do as forças do ge
neral D. Venancio Flores occupassem aquelles pontos, as brasi
leiras se retirassem. Os acontecimentos passaram-se de modo
muito differente do que o governo imperial pensava.
O general D. V enancio Flore s, chefe da revolução, mas. aind a
não reconhecido belligerante pelo Império, queria um apoio
para poder oontinuar as hostilidades com m ais seg ura nç a; e
como já os navios de guerra brasileiros estavam no Uruguay
para o mesmo fim, officiou ao vice-almirante, reconhecendo
a justiça das reclamações feitas pelo conselheiro S ara iva, e
offerecendo dar uma reparação ás nossas que ixas, logo que
dirigisse os destinos da Republica.
Eis o officio de D. Venancio Flores:
« Quartel General.— Barra de Santa Lúcia, 2 0 de Outubro
de
1 8 6 4 .
« Sr, alm iran te. — Collocado á frente da revolução orie ntai,
qu e não se faz solidaria da responsabilidade qu e assum io o
governo de facto de Montevidéo e contra o qual o paiz pro
testou por meio d'essa revolução, que conaemna os actos
ofiensivos com mettidos contra o Im pé rio do Brasil e se us
cidadãos, cumpre-me fazer presente ao Sr. almirante que
considero necessário tornar communs os nossos esforços para
chegar á solução das difficuldades inte rna s da R epu blica , e
das suscitadas com o governo do Império, ao qual estou dis
posto,
na intelligencia de que a revolução á que presido em
nome do paiz, attenderá ás reclamações do governo imperial,
formu ladas nas notas da missão especial confiada a S . Exl o
Sr. conselheiro José Antônio Saraiva, e lhes dará condigna
reparação em tudo aquillo q ue seja justo e equitativo, e qu e
esteja em harmonia com a dignidade nacional, e que não
seja obtido como uma conseqüência natural e forçosa do trium-
pho da revolução.
a A o fazer esta manifestação a V . Ex. julgo ser écho da
opinião do meu paiz, em cujo nom e contraio este com pro
misso, que será executado assim que fôr obtido o completo
triumpho da causa que representamos.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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« Deus guarde ao Sr. almirante muitos annos.
c< A S. E x . o Sr. Barão de Tamandaré.— Venancio Flores.»
O vice-almirante brasileiro respondeu a esta participação do
general D. Venancio F l o r e s , em officio de 2 0 de Outubro de
1 8 6 4 , o qual é o seguinte:
« Commando em chefe da força naval do Brasil no Rio da
Prata.— Bordo da corveta
Recife,
na Barra de Santa Lúcia, em
2 0
de Outubro de 1 8 6 4 .
« Illm. e E x m . Sr.— Tenho presente a nota que V . E x .
acaba de dirigir-me em data de hoje, na qual me communica
que como chefe da revolução da Republica Oriental do Uru
guay, julga necessário unir os seus esforços aos meus, para
chegar á solução das difficuldades internas do seu paiz, e das
que tem sido suscitadas ao governo imperial pólo governo de
Montevidéo, visto que a revolução á que V. E x . preside re
conhece a justiça das reclamações do governo im perial, for
muladas nas notas da missão especial, confiada a S .
E x .
o Sr.conselheiro José Antônio Saraiva., e condemna os actos offen-
sivos ao Império do Brasil, do referido governo.
«c Accrescenta V. E x . que ao fazer-me esta manifestação crê
ser o écho da opinião de seu paiz, em cujo nome contrahe
o compromisso, que será rivaíidado, obtido o triumpho da
causa que representa, de dar a condigna reparação aquellas re
clamações cujo fundamento V. E x . tem demonstrado reconhecer.
« Fazendo a devida justiça á nobreza dos sentimentos de
V . E x . e á maneira honrosa com que se mostra disposto a
reparar estes males e offensas, devo declarar a V . E x . que
terei a maior satisfação em cooperar com V.
E x .
para o im
portante fim de restabelecer a paz da Republica, e de reatar
as amigáveis relações d'ella com o Império, rotas pela im
prudência d'aquelle governo, tão anti-patriotico, como injusto
em todos os seus actos.
«c Para tornar uma realidade esta cooperação, a divisão do
exercito imperial que penetra no Estado Oriental, com o con
curso da esquadra do meu commando, se apoderará do Salto
e Paysandú, como represálias, e immediatamente subordinará
estas povoações á junsdicção de V. E x , , visto o compromisso
de reparação que V.
E x .
contrahio, entregando-as ás autori
dades legaes que V.
E x .
designar para tomar conta d'ellas,
e só conservara abi a força qu e
V.
Ex. requisitar para garan-
til-as, de que não tornem a cahir no poder do governo de
Montevidéo.
« Não duvidarei também operar com o apoio das forças
dependentes de V. E x . que se acham em M ercedes, e ao
norte do Rio Negro, para, não só impedir que o general
Servando Gomes passe para o sul d'esse rio com o exercito
que commanda, como para obrigal-o a largar as armas.
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& Creio que V. Ex. avaliará o quanto efficaz
é
o apoio que
lhe garanto debaixo de minha responsabilidade, o qual se
traduzirá immediatamente em factos, que reconhecerá n*elle
mais uma prova da syrn.pathia do Brasil pela Republica Oriental,
a cujos males estimaria pôr um termo, concorrendo para cons
tituir o governo que a maioria da nação deseja, e que só
encontra opposição em um redusido numero de cidadãos.
<x Deus guarde a V. Ex.
« Il lm. e Exm. Sr. brigadeiro generalD. Venancio Flores,
commandante em chefe do exercito
l ibertador .—Barão de Ta
mandaré.
Desde 2 8 de Outubro que ficaram bloqueiados os portos do
rio Uruguay * pelos navios de guerra brasileiros. Este bloqueio
foi participado ás legações estrangeiras em Montevidéo, pel
a
nota do vice-almirante brasileiro, a qual é a seguinte :
« Commando em chefe, da força naval do Brasil no Rio da
Prata.—Bordo da corve.ta Nitherohy em Buenos-Ayres, 2 6 de
Outubro de 1 8 6 4 .
« Sr. ministro.—O governo de Sua Magestade o Imperador
do Brasil, meu Augusto Soberano, no desejo, de evitar todo o
prejuízo ao commercio
f
e propriedade dos neutros na Repu
blica Oriental, compatível com o exerçjçip indispensável das
medidas absolutamente --'requeridas para .obrigar ao governo
de Montevidéo a .ajttemde&íás justas exigências que lhe dirigio,
para garantir os direitos de, seus subditos, e obter as repara
ções devidas, por violações, das mais injustificáveis, contra
sua propriedade, honra e
(
, vida ; > ordenou ao ,-abaixo assignado,
que limitasse o exercício sd/estas medidas ao estrictamente
necessário, para obrigar a esse governo-., a respeitar aquelles
direitos e a dar.; as reparações competentes.
« Foi em execução d'esta ordem do governo do meu Au
gusto Soberano, que tive, a honra de dirigir-me a V. Er .
em 1 1 do corrente, fazen4&-lhe .saber o que estava disposto
a praticar. A resposta que recebi de V. Ex. me revela que
os nobres desejos e sãs intenções do meu governo não fo
ram comprehendidos, nem apreciados, e que se pretende
coilocal-o no caso desagradável de não poder reduzir ao me
nos possível os inconvenientes que os neutros devem soÉfrer
n'esta inesperada emergência.
« Violentado a fazer- o que V. Ex. crê necessário, e para
evitar toda discussão que não tem agora opportunidade, me
vejo no caso de notificar a, V. Ex., que passo a mandar blo
quear os portos da Republica Oriental do Uruguay, o Salto e
Paysandú, sobre os quaes, como já preveni a V. Ex. na minha
citada circular, tenho de operar em apoio do exercito imperial.
« Este bloqueio será vigorosamente observado em quámfe
Subsistirem os motivos que determinaram o governo a tomar
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a attitude em que se acha, pela dehegaçüo de justiça ás suas
reclamações; e em Conseqüência, as forças navaes sob minhas
ordens, Mo permittirSo que nenhum navio entre n'esses
portos,
notificando aquelles que se apresentarem da existên
cia e erfectividade do bloqueio, e ficando sujeitos os que inten
tarem violal-o ao que estabelecem os'
1
principios ao direito
das gentes. Aos que se acharem nos ditos"'portos ser-lhes-ha
livre a sahida até o dia 15 de Novembro próximo.
« Com este motivo aproveito a opportunidade de reiterar
a V.
E x .
as expressões de minha mais 'altár.e distineta con
sideração.
« A S. Ex. o Sr. ministro d e . . . . . —
B a r ã o
de Tamandaré. »
EFFECTIVIDÀDE DO BLOQUEIO.
INSTRUCÇÕES
PARA OS COMMANDANTES DOS NAVIOS DE GUERRA
BRASILEIROS ENCARREGADOS DE BLOQUEAR OS PORTOS DE
PAYSANDÚ
E SALTO.
« .Bordo da corveta Nitheroy, em Buenos-Ayr.es, 28 de Ou
tubro de 1864.
« 1.° Como um porto se considera éfféótivamente bloqueado
d'esde que ha manifesto perigo de se entrar,.n'elle ou sahir,
devem as nossas canhoneiras collocar-s
:
e na, posição conve
niente para realisar-se esta condição indispensável.
« 2.°
Aos navios que encontrarem nos' portos referidos, no
tificarão os com mandantes a existência 'dò bloqueio, e lhes
concederá a sahida até o dia 15 de Novembro, .próximo.,
« 3.° Aos navios que se apresentarem na linha do bloqueio
mandarão os commandantes fazer igual notificação por um
official, que a notará nos seus papeis*, com preferencia no
documento comprobatorio de sua naqionalidacle, e também no
diário de navegação, pedindo ao capitão um recibo.
« 4.° Os commandantes me remetterão lüma relação dos
navios notificados, com a declaração de seu nome, nome do
capitão, procedência, carga, dia da notificação, lugar em que
foi effectuada, e mais esclarecimentos que lhe parecer ut il
transmittir-me.
« 5.° Os commandantes só apprehenderão aquelles navios
q u e , depois da notificação, se apresentarem novamente á
linha do bloqueio tentando violal-o.
« N
?
este caso ainda tratarão*» as respectivas equipagens com
#
toda a modemGàOy e só empregarão a força como vitimo re
curso,
depois de esgotados todos os meios paciticos para a
apprehensão ; porque o meu intento é diminuir quanto possa
os rigores d'esta medida em attenção aos interesses com-
merciaes.
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« 6." Se depois da advertência tentarem novamente infringir
o bloqueio, esta tentavia se considerará um a viola ção do
bloqueio, e, por conseguinte, bôa preza os navios que a pra
ticarem.
Pilw
« 7 . ° T en do apresado qualquer navio, conjuctamente com o
capitão e piloto, o commandante fará pôr selíos em todas
as escotühas, a não consentirá que se retire de bordo da
presa, ne m que se despenda objecto algum a ella pertencente,
ou á sua guarnição.
« 8.° O commandante que deixar de cumprir as disp osiçõe s
anteriores tomadas para se gur anç a dos nav ios dos neutros,
será responsável pelos prejuizos que causar. »
Em quanto o vice-almirante brasileiro, Barão de T a m a n
daré, projectava este bloqueio dos portos do rio Ur ugu ay,
conforme as ordens que tinba do governo im peria l, e dava
as instrucções que ficam escriptas, approxim ava-se da fron
teira do Estado Oriental a primeira força brasileira que se
tinha organisado.
Com effeito, a 12 de Outubro entrou n'aque lla Republica
uma brigada brasileira, composta do batalhão 3 de infantaria e
dous corpos de cavallaria, comm andada pe lo brigadeiro José
Luiz M enna Barreto, com o fim de fazer represálias ; á 14
chego u a Cerro Lar go, e entrou na villa de Me llo , capital
d'aquelle departamento, conseguindo desalojar a guarnição que
alli estava, a qual fugio pelo rio Ta quary, qu e fica a um
lado da villa.
A 21 seg uio a brigada para a vill a de Cerro Largo, e a
24 retirou-se para o A cêgu á, em direcção a cidade de Bagé ;
seguio depois para Pirahy, onde se estavam reunind o ' os
outros corpos, que deviam formar uma divisão das tres
armas.
Foi um passeio militar que effectuou a brigada brasileira,
sem utilidade alguma, porque os pontos oocupados a titulo
de represálias foram logo abandonados, por uão se poder sus
tentar em um paiz inimigo tão peq uena força, longe da fron
teira, por consequenoia sem base para as suas operações.
Com tão pouca tropa não se emprehendem operações mili
tares em paizes inimigos; ainda que o governo imperial
mandou fazer represálias, o de Aguirre tomou-as como actos
de guerra; devia-se esperar a correspondente resistência, ô,
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por isso, nao se devia ter mandado aquella pequena brigada
sem ficar outra na fronteira que a apoiasse.
BLOQUEIO
BA
VILLA
DO
SALTO PELAS CANHONEIRAS BRASILEIRAS,
E
OCCUPAÇÃO PELO GENERAL FLORES.
Depois
que o
general
D.
V enancio Flores
e o
vice-almirante
brasileiro se entenderam, como consta das notas transcriptas,
seguio o general Flores para o Rio U rug uay , para esperar
que a villa do Salto, situada na margem esquerda d'aquelle
r io,
e
porto
de
com mercio, fosse bloqueada pelos navios
de
guerra brasileiros.
No dia
9
de Novembro deu ordem o chefe de divisão Fra n
cisco Pereira Pinto, commandante da 3 .
a
divisão naval, ao
1 /
tenente Joaquim José Pinto, commandante
da
canhoneira
Itajahy,
para
ir com a
canhoneira
Mearim
bloquear
o
porto
do Salto.
Transcrevemos parte
do
relatório
que o
dito 1 . ° tenente
Joaquim José Pinto publicou d'esta commissão. (*)
« No dia 2 2 de Novembro officiei ao Sr. chefe da 3 .
a
di
visão naval que ia subir n'aquelle dia para o S al to . Subimos
para a frente de uma cidade onde a autoridade militar nos
ameaçou,
e até
mandou dizer
á
Concórdia (povoação argentina
situada na margem direita do Uruguay, abaixo do Salto) que
relevassem as balas que alli cahissem quando atiradas ás ca
nhoneiras brasileiras* mas nem por isso deixámos de seguir
ás
8
horas da "manhã a vapor rio acima, apresentando
1 5
bocas de fogo para a banda oriental.
«
Era
immensa
a
porção
de
curiosos
que na
margem
ar-
1
gentina affiuiram para verem executadas as ameaças do
coronel Leandro Gomes; e na margem oriental notava-se
grande movimento
de
gente
e
cavalleiros
que
corriam
em
diversos sentidos. Fundeados
a tão
curta distancia
da
cidade,
que vínhamos desafiar a cólera de suas autoridades, passá
m os os dias e noites seguintes com toda a vigilância, prohi-
bindo
por
meio
de
escaleres toda
a
com mü nicação fluvial,
sem que fossemos h os ti Usados por modo algum.
« O coronel L eandro Gomes sabendo da approximação das
forças do general Flores, reconhecendo a pouca guarnição que
(*) Jornal do Commercio de 16 de Março de 1865.
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t inha o Salto para resist ir-lhe, entregou a praça ao coronel
Palomequ e e ret irou-se para Pa ysa ndú .
« No dia 23 de N ovem bro notava -se em terra mov imento
de tropa como approx imaçã o de inim igo. No dia 24 achava -se
a cidade cercada de tropa, que parecia ser do exercito liber
tador ao mando do general Flores, e ás 10 horas nos cert i
ficamos da verdade por sentir-mos guerri lhas em terra, eapparecer na praia do lado do norte, um esquadrão de ca
vallaria do mesm o exe rci to; d 'onde veio entend er-se com m igo
sobre o ataqu e da cidade , e algum as necessidade qu e t inh a o
general Flores , o coronel A costa: m and ei en tão o 1 / tenente
José M arques Guim arães entender-se com o di to general, e
regressando disse-me que este ficava certo da nossa coadjuva-
ção, e que ia acampar aquella noite na parte do sul , no
S aladeiro, em frente ao porto da Concórdia, onde esperav a
vários objectos qu e lhe devia traze r u m vapor q ue esta va
em Paysandú fretado para esse fim.
« N o dia 27 pre pa rou -se o exercito libertad or par a atacar
no dia seguinte o Sal to , e nós conservamos sempre durante
os dias e noites , toda a vigilânc ia possivel ao n ort e do rio ,
penetrando pelos arroios, onde tomamos embarcações miúdas,
que entregamos a seus donos no dia 29.
« No dia 28 acha va -se a cidade sitiada pelo exercito libe r
tador
;
o porto bloqueado pelas canhoneiras; e as forças da
cidade concentradas na praça principal .
« U m a part ida do exercito libertado r qu e veio a cav allo á
praia na par te do no rte soffreria alg un s tiros dos sitiados,
qu e em n um er o de oito vin ha m offendêl-os, se do vapo r qu e
os avistava não atirassem sobre elles uma bomba de 12 e um
foguete de guerra, que os fez retroceder. Em qua nto estav am
na cidade tratando-se entre o general Flo res e algu ns co m m er -
eiantes, e vice-consul portuguez, sobre a* capitulação da pra ça,
reinava suspensão de hosti l idades, não se ouvindo t iro algum.
cc N este m esm o dia 28 ás 5 ho ras da tard e, fez o co ron el
Pa lom equ e entre ga por capitulaç ão da cidade ás forças do exe r
cito libertador, com a co ndição de receber para elle e pa ra os
officiaes até alferes, passapo rtes p ara ond e lhes c on vie sse ;
porém • não e ntre ga ram a praça como de viam ; foram fugindo
pa ra a praia officiaes e sold ado s, on de a m aior pa rte ficou
retida pelos tiros do
Gualeguay
e por nossos escaleres. Offi
ciaes e soldados atrav essaram depo is o rio a cavallo e a n a d o ;
o maior nu m ero foram recolhido s a bordo d o vapor de
guerra argentino, inclusive o coronel Palomeque,
« En tregou -se no dia 28 de No vem bro a cidade do S alto
ás forças do exercito libertad or; tra tei de leva ntar o bloq ueio
no dia seg uin te, conforme as m inh as instruc ções , e ped ido
que t ive do general Flores.
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K
Na
dia 30 retirou-se por terra o general Flores com toda
a cavallaria e parte da artilharia' em dírecçâo a Paysandú; e
na noite d'este mesm o dia, embarcou toda a infantaria e o
resto da artilharia em dous lancho es â reboque do vapor
Gualeguay, auxiliando os nossos escalerès, e se dirigiram para
Paysandú.
« Como ficasse a cidade do
Salto, sem
tropa depois da reti
rada do exercito libertador, e em estado de poder ser nova
mente tomada por aquelles que a entregaram, e que residiam
na Concórdia; tivemos de desembarcar 100 praças e uma
peça de artilharia de campanha para guardar a cidade, por
pedido que me fez o commandante militar e o chefe poli
tico.
Esta força conservou-se muitos dias em terra, até que
as autoridades pudessem organisar um a força sufficiente para
guardar a cidade, o que levou muitos dias do mez de
Dezembro.
« Além d'estas praças que tínham os em terra, todas as
vezes que havia desconfiança de tentativa de invasão, haviaa bordo das canhoneiras, prompta para desembarcar, outra
força de 120 a 150 homens com duas peças de campanha;
N o m eiado de Janeiro a cidade já tinha muitos engajados
para o serviço, e nós ainda conservávamos 50 praças em ter
ra,
que só se retiraram para bordo nas vésperas da nossa
descida. »
Com tomar a cidade do Salto, ficou o general D . Venancio
Flores com base segura para as operações que projectava
fazer. Ficando aquella cidade guarnecida por forças suffici-
entes,
resolveu elle marchar contra Paysandú, onde esperava
também ser auxiliado pelos navios de guerra brasileiros que
estavam bloqueando o porto. Esta praça, depois da de Mon
tevidéo, era a mais fortificada do Estado Oriental; isto o de
via conter na sua marcha, á vista da pouca força que com-
m andava.
A correspondência acima transcripta, entre os dous generaes,
o vice-almirante brasileiro e o general D . Venancio F lores, era
para este uma garantia certa para poder continuar as hosti
lidades contra o governo de M ontevidéo. Por tanto entendeu
que ficou reconhecido belligerante pelo governo imperial, e,
como tal, habilitado para, de combinação com os generaes
brasileiros, continuar a guerra.
O general D . Venancio Flores % não tinha exercito organisado,
nem tão pouco o material necessário para pôr cerco e atacar
praças de guerra, ou para dar ba talh as; pois que não se
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— 204 —
c h a m a e x e rc i to a u m a p a r t i d a d e 1 , 6 0 0 h o m e n s q u e e l l e
c o m m a n d a v a , m a l a r m a d o s e p e i o r f a r d a d o s , s e n d o a m a i o r
p a rt e d e c a v a l l a r i a ; c o m p o u c o s m e i o s d e a u g m e n t a r a s u a
f or ça , s e m t er d e p ó s i t o s d e a r m a m e n t o e m u n i ç õ e s , e s c a s s o s
r e c u r so s d e s u b s i s t ê n c i a ; t r a zi a a l g u m a s p e ç a s d e a r t i lh a r i a
d e p e q u e n o c a l i b r e , q u e n ã o s e r v i a m p a r a o c e r c o d e u m a
p r a ç a . C o m t ã o p o u c o s m e i o s d e a g g r e s s ã o , p r o p o z - s è o g e
n e r a l F l o r e s a a ta c ar a p r a ç a d e P a y s a n d ú , b e m g u a r n e c i d a
e a r t i l h a d a .
D a p a r t e d ' e s t e g e n e r a l o s e u p r o j e c t o e r a u m a l o u c u r a ,
m e s m o c o m o p e q u e n o a u x i l i o q u e l h e p u d e s s e d a r o v i c e -
a l m i r a n t e b r a s i l e ir o ; d a p a r t e d ' e s t e n o t o u - s e q u e n ã o t e v e a
p r u d ê n c i a q u e e s p e r á v a m o s d o s s e u s p r e c e d e n t e s , a s s o c i a n d o -
s e a u m c h e f e d e r e v o l u ç ã o a i n d a n ã o r e c o n h e c i d o o ff ie ia li -
m e n t e b e l l i g e r a n t e p e l o g o v e r n o i m p e r i a l .
C o m t ão p o u c o s m e i o s d e g u e r r a d e q u e d i s p u n h a , o g e
n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s q u a n d o f o i p ô r c e r c o á p r a ç a d e P a y
s a n d ú m o s t r o u q u e n ã o t i n h a p r a ti c a d ' a q u e l l a s o p e r a ç õ e s ;
m a s d e p o i s f e z c o n h e c e r q u e e r a b o m g e n e r a l n o c a m p o , o
q u e j u s t i f i c o u n a b a t a l h a d e Y a t a y , q u e e l l e c o m m a n d o u .
S o b r e o a j u s te d o s d o u s g e n e r a e s , c o m o c o n s t a d a s s u a s
n o t a s d e 2 0 d e O u t u b r o d e 1 8 6 4 , d i z a e s t e r e s p e i t o o c o n s e
l h e i r o J o s é M a r i a d a S i l v a P a r a n h o s , n o s e u f o l h e t o , q u e
p u b l i c o u e m 1 8 6 5 , a p a g i n a 1 8 , o s e g u i n t e :
« V ê o s e n a d o q u e o g e n e r a l F l o r e s s ó p r o m e t t i a e m s u a
n o t a d ar c o n d i g n a r e p a r a ç ã o a t u d o q u a n t o f o s s e j u s t o <e
e q u i t a t i v o , e s t i v e ss e e m h a r m o n i a c o m a d i g n i d a d e n a c i o n a l
e n ã o f o s s e c o n s e q ü ê n c i a n e c e s s á r i a o u f o r ç os a d o t r i u m p h o
d a r e v o l u ç ã o .
« E s t e a c t o d o n o s s o a l m i r a n t e t e v e o u n ã o a a p p r o v a ç ã o
d o g o v e r n o i m p e r i a l ? T e v è - a : e , q u a n d o a s s i m n ã o f os se , a
d e s a p p r o v a ç ã o d e v o r a s e r p u b l i c a . N ã o s e p ô d e , p o r é m , n u t r i r
a m e n o r d u v i d a s o b r e e st e p o n t o , á v i s t a d a s s e g u i n t e s d e
c l a r a ç õ e s f e i ta s p e l o S r . e x - m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s
n o s e u r e l a t ó r i o .
« P o r o u t r o l a d o , o g e n e r a l F l o r e s , q u e s e a c h a v a á f r e n t e
d a r e v o l u ç ã o d o s e u p a i z , e q u e j á e n t ã o e r a d e f a c t o v e r
d a d e i r o b e l l i g e r a n t e , r e c o n h e c e n d o a p r o c e d ê n c i a e j u s t i ç a d e -
n o s s a s r e c l a m a ç õ e s , c o m o h a v i a m s i d o f o r m u l a d a s p e l a m i s s ã o
d o S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a , e c o n t r a h i ri d o e s p o n t a n e a m e n t e o
c o m p r o m i s s o d e o f fe r e ce r -n o s u m a r e p a r a ç ã o c o n d i g n a , loM
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que conseguisse o triumpho de sua causa, manifestava ao
vice-almirante brasileiro o desejo de unir os seus aos esforços
das armas imperiaes para o restabelecimento da paz na Re
publica e das relações amigáveis d'esta com o Império.
« N enh um razão havia para deixar de acolher sem elhan te
concur so, sobretu do considerados os termos em que fora offe-
recido.
sendo que d'elle teve noticia o governo oriental, bem como
os agen tes diplomáticos residentes em M ontevidéo, o govern o
argentino, o publico em geral do R io da Prata? Era o prin
cipio da alliança entre o Brasil e o chefe da revoluçã o. M as
por ventura ia de accordo este nosso procedimento com as
nossas declarações anteriores
?
Seguramente não; por quanto
o governo imp erial havia dito : Não estou em guerra, sou
neu tro, abstenno -me na questão interna ; exerço represálias
afim de obter as reparações que me são devidas, e tão de
pressa m e sejam ellas dadas, restabelecidas ficarão as re lações amigáveis entre os dous Estados.
« Pend entes estas declarações officiaes, nós em Santa Lú cia
secretamente tratávamos com o chefe da revolução, ajustava-
mos a cooperação das duas forças, estipulávamos a troca dos
serviços \ e isto sob a simples promessa de que as nossas re
clamações seriam attendidas nos termos em que o general
Flores promettia fazel-o, se elle ficasse vencedor e viesse a
ser governo reconhecido em toda a Republica Orientai. Con
fessemos, senhores, que taes factos não são regulares; que a
falta de franqueza que nesse mom ento se notava da nossa
parte dev ia alienar de nós as sy.mpathias do corpo dip lomá tica r eside nte em M ontevid éo, e tornar suspeitas as nossas in
tenções; cumpre reconhecer igualmente que, á vista d'esses
factos, natural era que o governo de M ontevidéo e o seu
partido se tomassem de maior irritação contra o Brasil.
« Este nosso procedimento, as represálias levadas a esse ponto,
até mediante a cooperação do chefe de uma revolução, tem
exemplos, é certo, mesmo no Rio da Prata.
a iVesde 1838, durante 10 annos, a França e a Inglaterra,
ora conjuncta, ora separadamente, assim procederam contra o
dictador Rosas e seu lugar-tenente o general Oribe. Outros
exemplos se podem citar. Como, porém, se explica semelhante
systema de represálias? Allega-se que é moderação do forte
para com o fraco, e consideração aos interesses neutros. Não
ó
egtado de paz, nem de guerra: é um estado mixto, que
o jmiéffoTte estabelece a seu arbitrio, com o fito de pou-
par»fe os sacrifícios de uma guerra formal, e para desviar a
intervenção das potências neutras. Mas esta doutrina é muito
contestada, mesmo no Rio da Prata.
« Como quer que seja, os acontecimentos nos tinham levado
até aquelle ponto; não só já empregávamos represálias que
«
ficou em segredo,
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propr iamente se devem chamar host i l idades de guerra , mas
até tratávamos e obrávamos de concerto com o chefe da re
volução;
cc O governo arg en tin o em qu e posição se ac ha va á v ista
d'estes successos? M ostrava-se benevolo para com o go ve rno
imp erial . Elle tam bém estava desav indo com o gov erno de
Montevidéo, suas re lações diplomáticas se achavam interrom
pida s ;
tinha aggravos que vingar, e d 'ahi esse interdicto das
relações officiaes; m as conserva-se ne utr o no qu e toca
á
questão
interna. N ão con testava ao gov erno im peri al o direito qu e
estava exercendo, o de represálias contra o Estado Oriental,
não via n'isso uma offensa ás estipulações que protegem a
independência e integr idade do di to Estado, promett ia-nos
mesmo o seu concurso moral, fazendo justiça ás nossas in
tenções moderadas, mas recusava intervir comnosco.
« O S r . conselheiro S araiva tinh a p rocurado conhecer as
disposições do governo argentino em face do nosso conflicto,
e as declarações que obteve foram muito positivas, e constam
de protocollos.
« A quelle governo enten dia qu e, para resolver a qu estão
orie nta i, já considerada em relação aos interesses inte rno s qu e
se achavam em luta, já considerada em relação aos dous Es
tados visinhos, se podiam empregar duas ordens de meios,
directos e iudirectos. Os meios directos consistir iam na inter
venção collectiva do Brasil e da Republica Argentina, para
impor a paz aos contendores internos d'aquelle Estado inter
mediár io ; mas ponderava o governo argen tino, qu e ta l meio
encontrava difficuldades no direito publico dos tres Estados,
além do grave inconveniente de f icarem os interventores res
ponsáveis pela situação que assim creassem, e pelas reacções
que sóe produzir o t r iumpho de uma revolução.
« Con sequentem ente ente nd ia o governo argentino qu e os
me ios a seguir eram os indirectos, e que estes deviam co n
sistir , por parte da R epu blica A rgen tina, na posição em qu e
se achava o seu governo para com o Estado O riental, e ,
por parte do Bras il , no emp rego de repre sálias , e m esm o,
em ul t im o caso, no recurso á gu erra . Esperava e l le que ,
prestando o seu concurso moral ao governo imperial, man
tendo interrompidas as suas relações com o governo oriental,
ou não se prestando a ne nh um accordo com este que não
fosse aco m pan had o de ou tro com o Brasil, as nossas rep re
sálias, e por fim a guerra, dariam o triplice resultado que se
desejava—pacificação da Republica Oriental, apparecimento de
um governo qu e se podesse entender com os visinhos, e re
paração am igáve l das offensas de qu e se queixav am o Im pé rio
e a R e p u b l i c a A r g e n t i n a .
cc Era m estas as disposições do govern o argen tino. O S r .
conselheiro S araiva tam bém enco ntrav a objecções n os tratados
vigen tes con tra a inte rven ção collectiva, no ponto de vista
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em que a considerara o gov erno argentino ; este meio lhe
repugnava, mas não esperava que do emprego dos meios
indirectos, que já estavam em execução, pudessem resu ltar
todas as oonseq uencias benéficas que se a ntolhav ám ao g o
verno arge ntin o ; o previa que as circumstancias p odia m
aggravar-se por tal modo, que a intervenção collectiva e
arm ad a fosse ind ispe nsá vel, afim de pacificar o Estado O rienta l,
e resolver as questões internacionaes pendentes entre aquelle
Estado e os dous visinhos,
« Eis aq ui , s enh ores , qua l era a nossa situação no R io
da Pra ta : — neutralid ade da parte do governo argen tino,
qu an to á lut a inter na do Estado O riental, apenas o seu co n
curso moral ao governo imperial a bem de nossas justas
reclam ações ; o corpo diplomático de M ontevidéo, prevenido
con tra nós, porque os nossos factos, apparentem ente ao m enos,
estavam em contradicção com as. nossas declarações officiaes:
já estávamos ameaçados pelo governo do Paraguay desde a
no ta de 30 de A gosto, e o gov erno argentino , considerandoa hypothese da intervenção pa raga ay a, só declarava
casus belli
para elle o que ha pouco se deu, a violação do território
arg en tino ; fora d'este caso elle tam bém se conservaria ne utro
entre o Brasil e o Paraguay. »
Esta exposição do conselheiro Paranh os mostra q ual era q
estado de nossas relações diplomáticas com as duas Repu
blicas do Rio da Prata e com a do Paraguay, depois que
terminou a missão do conselheiro Saraiva.
O governo 'da R epublica A rgentina q ueria conservar a s ua
neuÉralidade; ao mesmo tempo desejava ver^terminada a guerra
civil no Estad o O riental, apparecendo outro governo com o
qual ficasse em boa intelligencia.
O governo de A guirre, susten tado pelos exaltados e per
versos da Republica, conservava-se na esperança da protecção
promettida pelo governo do Paraguay. Este ameaçou o Brasil
se as tropas imperiaes entrassem no Estado Oriental.
N 'es ta reun ião de circumstancias todas graves, o Brasil não
tinh a no R io da Pra ta um representante que tratasse d
1
estes
negócios com os do us Estado s, e harmo nisasse estas questões,
suste ntan do os direitos, os interesses e a dignidade do I m
pério, além do encarregado de negócios em Montevidéo, que
tinha outras cousas em que cuidar . H avia também um m i-
' nistro residente em Buenos-A yres, no mesmo caso.
Desde 7 de Setembro em que o conselheiro Saraiva sahio
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d e B u e n o s - A y r e s a t é 2 do Dezembro, f o i o commandante em
c h e f e d a e s q u a d r a b r a s i l e i r a q u e m t o m o u a d i r e e ç ã o doe
n o s s o s n e g ó c i o s q u e a l l i s e a g i t a v a m , s e n d o o m a i s i m p o r
t a n t e o a j u s te c o m o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s p a r a a t a c a r e m
a p r a ç a d e P a y s a n d ú .
O m o d o d e r e m e d i a r e s te e s t a d o q u a s i i n d e f i n i d o d o
8
n o s s o s n e g ó c i o s n o R i o d a P r a t a , e r a s e m d u v i d a n o m e a r
u m e m i s s á r i o c a p a z d e e n d i r e i t a r o q u e e s t a v a t o r t o , s e a i n d a
f o ss e t e m p o ; a e s c o l h a f e l i z m e n t e r e c a h i o n o c o n s e l h e i r o J o s é
M a r i a d a S i l v a P a r a n h o s . (*)
D e p o i s q u e o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s t o m o u a c i d a d e d o
S a l t o e s e d i r i g i o p a r a P a y s a n d ú . o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o
v i o - s e m a i s e m b a r a ç a d o p e l o a u g m e n t o d a f o rç a p h y s i c á e
m o r a l q u e g a n h a v a a q u e l l e c h e f e d a r e v o l u ç ã o o r i e n t a l .
A p p r o x i m a v a m - s e n o fim d e N o v e m b r o o s d o u s c h e f e s d a
p r a ç a d e P a y s a n d ú . O v i c e - a l m i r a n t e b r a s i le i r o , q u e e s t a v a
e m B u e n o s - A y r e s , s a b e n d o q u e o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s i a e m
m i s s ã o e s p e c i a l a o R i o d a P r a t a , f o i n o s u t i m o s d i a s d ' a q u e l l e
m e z p a r a P a y s a n d ú , p a ra e n t e n d e r - s e c o m o g e n e r a l D . V e n a n
c i o F l o r e s . A i n d a e n t ã o n ã o c o n s t a v a d a e n t r a d a d a d i v i s ã o
b r a s i l e ir a n o E s t a d o O r i e n t a l . O v i c e - a l m i r a n t e e s p e r a v a a
a p p r o x i m a ç ã o d ' a q u e l l a f o r ç a p a r a a u x i l i a r d o l a d o d o m a r o
a t a q u e á p r a ç a ; c o m o n ã o h o u v e s s e n o t i c i a d ' el la , r e s o l v e r a m
o s d o u s c h e f e s o p e r a r d e c o m b i n a ç ã o c o m a s p o u c a s f or ç as d e
q u e d i s p u n h a m ; o q u e q u a l i f ic a m o s d e p o u c o p r u d e n t e e s e r á
d e m o n s t r a d o n o l u g a r c o m p e t e n t e .
P o r c a u s a d a d e m o r a d a d i v i s ã o b r a s i le i r a , q u e h a v i a m u i t o s
d i a s e s p e r a v a - s e q u e f o s se o c c u p a r p r i m e i r o C e r r o L a r g o e
d e p o i s a s o u t r a s p o v o a ç õ e s d o n o r t e , e s c r e v e r a m d e B u e n o s -
A y r e s p a r a o R i o d e J a n e i r o a 2 6 d e N o v e m b r o o s e g u i n t e :
— C o l l o q u e - s e o B r a s il n a s i t u a ç ã o q u e é s u a , m o s t r e s u a
p r o m p t i d ã o e s u a f o r ç a , e s e r á s e m p r e r e s p e i t a d o . D e q u a l
q u e r o u t r a m a n e i r a n ã o . H a d e c o n t i n u a r a s e r o l u d i b r i o d e
q u a l q u e r g o v e r n i c h ó d o R i u d a P r a t a .
— A i n a c ç â o d o B r a s i l t e m s i d o o a l v o d e t o d o s o s c o m m e n -
{*) Foi uma exc epç ão da politica dos m m istè íios de 1864.
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— 209 —
tarios , e a imp rensa arg entin a já a censur a, porque a co ns i
dera a causa de todas as com plicaçõe s que pod em sur gir; da
demora da solução da questão oriental. Carrera e Barra con
ceberam seu pla no , e fazem esforços para vingar, aproveitan do
os e lem ento s favoráve is que encontram. Se gu nd o es te p lan o ,
o Pa ra gu ay , Corrientes , E ntre -R ios, E stado Oriental e R io
G rand e, formarão u m E stado co nfeder ado; para contrabalançar
a inf lu enc ia que pod em ter no R io da Prata, Confederação
Argent ina e o Impér io do Bras i l .—
N ã o ha duvida de que a inacção do governo imper ia l
em todo o ann o de 1864, o pouco acerto das suas pro viden
cias em relação á ques tão oriental com prom etteram a nossa
causa, e deram lugar ás manifestações do Paraguay.
D ou s aco ntec im entos importantes occorreram n o R io da
Prata em De zem bro de 1 86 4: o pr imeiro fo i a chegada a
Bu en os-A yre s do conse lhe iro Paranhos; o segund o o a taque
á praça de Pa ys an dú pelos dou s chefes , brasi le iro e ori en
tal . T ratarem os primeiro da missão do conselheiro P ar an ho s.
F o i u m facto extraordinár io a nom eação do conse lhe iro Jo sé
M aria da Si l va Pa ran hos para env iado extraordinário em
m issã o especial ao R io da Prata, pelo m inistério de 31 de
Agosto; mas devemos reconhecer que aque l le min is tér io acertou
com a nomeação d 'aquel le d ip lomata , conhec ido como o mais
hab il i tado para tratar do s nos sos neg ócio s co m as R epu blicas do
Su l , do qu e t inha dado provas nas outras com missõe s de que fo i
encarregado. Pareceu que o gabinete de 31 de Agosto quis
remediar a m á direeção qu e se t inha dado á nos sa po l it ica
para com o E stado O riental co m a nom eaçã o qu e fez; m as,
se foram estas as suas in tenções , depressa se arrependeu.
O cons e lhe iro Pa ranhos d isse no senado sobre a sua n om ea
ção para ir ao R io da Prata em 186 4, o qu e se lê no folh eto
de sua defesa , a pag inas 7 :
« .Em dias de N ov em br o do ann o passado , Sr . pres id ente
f u i c o n v id a d o p e lo n o b r e e x - m in i s t r o d o s n e g ó c io s e s t r a n
ge iros para encarregar-me da missão d ip lomát ica do Bras i l no
R io da Prata . Porq ue , senh ores , era eu conv idado para es ta
c o m m iss ã o
?
P o r q u e o s n o b r e s e x - m in i s t r o s m e q u iz e s s e n
fazer um obséquio ? N ã o , t a n t o n ã o lh e s p o d ia e u m e r e c e r ;
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— 2i0 —
era convidado porque se tratav a de um a coramissão trab a
lhosa, de grande responsab i l idade, para a qu al eu t inha o
único méri to de alguma experiência de nossas questões com
aquelles Estados.
« Estava im m ine ntè a gue rra com o Estado O rien tal ; as
nossas represálias já tocavam o estado de g u e rr a ; estávam os
ameaçados de um rom pim ento por par te do P ar ag ua y; as
circumstancias eram difficeis: entendi que não podia recusar-me
a tão honroso c on vite : não hesi tei em a ce itar a coram issão,
um a vez que p m eu pen sam ento est ivesse de accordo com a
opniião que o governo pretendesse seguir em face do novo
estado das cousas. Na estação dá vida em que me acho, e tendo
desem penhado tres comm issões diplomáticas no R io da Pr ata,
era-m e licito ter u m a opin ião a respeito d'aq ue lles negócios,
e na m in ha posição social eu não podia aceitar m an da to
cujos preceitos fossem contrários ás minhas convicções.
« O uvi a exposição succinta do nobre ex-m inistro dos neg ó
cios estrangeiros sobre o estado da nossa questão com o Estado
O rie nta l : esta exposição não al terou o juízo qu e, eu t inh a for
m ado á v ista dos factos , que já eram do dom inio p ub l ic o;
pelo que respondi ao nobre m inistro que estava pro m pto , m as
qu e nece ssitava, pa ra formar juizo definitivo, ver a co rre s
pon dênc ia reservada. En tretanto ma nifestei-lhe, á vista do qu e
eu conhecia e das informações que S. Ex. acabava de pre s
tar -m e, q ua l o m eu parecer sobre a poli t ica a seg uir-se , e
achamo-nos de accordo.
<x O estudo da co rrespondênc ia reserv ada confirm ou-m e no
pr im ei ro j u i zo ; escrev i dous" 'm em orand os , ' urn dirigido ao
nob re ex-m inistro dos negócios estrangeiros, e outro ao seu
collega do ministério da guerra, , o S r . B eau rep aire R oh an ,
porqu e não se tratava, senho res, so m ente de diplomac ia, a
acção mil i tar era elem ento indispensável e que já estava em
act ividade. C ohvinha-m e, portan to , conhecer quaes eram as
no ssa s disposições m ilitar es, e o estado da nossa força ex pe
dicionária, ú&ã
a N o memorandum que dirigi ao no bre ex-ministro dos ne
gócios estrangeiros apresentei-lhe o plano da m in ha negocia
ção ; haviam hypotheses já con hecidas , out ras q ue se podiam
rever, pedio arbitrio q ue era essencial a u m a com m issão
'aquella nature za, m as pedi autorisaçoes expressas para as
hypotheses conhecidas e prováveis .
« O governo im perial cont inu ou de accordo com as idéas
que eu lhe havia m anife s tado ; as ins t rucções que o nob re
ex-mínistro dos negócios estrangeiros entre gou -m e, na vés
pera de minha par t ida á noi te , eram um t ránsumpto do me-
fhorandum
qu e apre sen tei-lhe corn o plano de negociação qu eme parecia mais conveniente .
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2 « —
« A ceitei, Sr. presid ente, esta
com missão
seria
. m e s m o
ter
tempo para consultar os principaes dos meus a m ig o sp o l i t i
co®. A penas com dou s ou tres, que m e honram m ais a m iúdo ,
pud e conversar a esse respeito ; ach ei n'clles b en evo lên cia e
approvação, confiei, pois, do critério o patriotismo dos outros
pensariam e sentiriam da mesm a m aneira. Sempre pr o-
ei e aind a hoje professo qu e a p olitica externa não de ve
estar sugeita ás vicissitudes da politica interna, que deve ter prin
cipio s trádiccionaes e fixos, com m un s a todos os partidos ; e,
seguramente, senhores, desgraçado o paiz que, depois de tan
tos annos de
•
indepen dência com o conta o Brasil, nem ao
menos tenha ainda principios fixos acerca de sua politica ex
terna com relação aos E stados limitrophes. E sta m inha opi
nião parecia-me e parece-me incontestável em circumstancias
como aquellas em que então nos achávamos, imminente uma
guerra externa. A nte o inim igo externo, en tendo e entend i
sempre que somos todos amigos e alliados.
« Par ti para a com m issão disposto a servir com todo o
zel o e dedicação de que fosse capaz
; e
os nobres ex-m inistros
se me quizerem hoje fazer alguma justiça, dirão que outrem
poderia servir com mais illustração, mas não com mais zelo
nem com mais lealdade.
« C ump re ter prese nte qual a situação politica do Império
no R io da Prata quand o aceitei a m issão, e qual o pensa
m en to cardeal das instrucç ões de que fui mun ido,
« M as o silen cio seria ma is prejudicial á causa pu blica do
que a discussão a que fui provocado,
e
que eu devia aceitar
e aceito. Confie o senado no
c o n h e c i m e n t o
pratico que tenho
do terre no que vo u percorrer, e n*esse tal ou qu al critério e pru
dência de que creio ter dado algum as provas. Para tran qui-
lisar com pletamen te o senado e. o governo, devo tamb ém
declarar-lhes desde já qu e não darei informações que sejam
novidades para os nossos visinho s do 'R io da Pr ata ; os factos
u e he i de citar, toda a historia que conv ém referir ao sena-
o é conhecida em Montevidéo e em Buenos-Ayres.
« A m issão do Sr. con selheir o Saraiva tevê por objecto
obter satisfações de aggravos recebidos pelo Império em varias
épocas, a partir de
1852,
nas pessoas e propriedades de sub
ditos bra sileiros residentes no E stado Oriental. O Sr. co ns e
lhe iro Saraiva d evi a exig ir reparação d'aquellas offensas, e
segur ança para o futuro ; e, se nossas reclamações não fos
sem attendidas, devia apresentar o seu ultimatum e com minar
o emprego de represálias.
« Sabem tod os qu e esta nossa primeira m issão foi recebida em
M ontevidéo com p revenção e animosidade ; prevenção e anim osi
dade que não tinham sua origem somente nas preocupações
trádiccionaes entre Portuguezès e Hespanhóes, ou nos precon
ceitos de raça, mas tamb ém em causas novas e próximas.
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« 0
E s t a d o O r i e n t a l a r d i a d e s d e
1862
e m g u e r r a c i v i l »
m u i t o s c i d a d ã o s b r a s i l e i r o s, s e g u n d o a s d e c l a r a ç õ e s o f f ic i a e s
d o p r ó p r i o g o v e r n o i m p e r i a l , h a v i a m a d h e r i d o á c a u s a d o
g e n e r a l F l o r e s , e s t a v a m e m a r m a s c o n t r a o g o v e r n o d a R e
p u b l i c a ; p o r o u t r o l a d o a s n o s s a s r e c l a m a ç õ e s e x i g i a m a
p u n i ç ã o d e i n d i v i d u o s q u e r e p r e s e n t a v a m u m p a p el i m p o r
t a n t e n a l u t a d o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o c o m a r e v o l u ç ã o ,
i s t o é , r e c a h i a m s o b r e p e s s o a s a d d i c t a s a e s s e g o v e r n o , e d e
c u j o a p o i o t a l v e z e l l e n ã o p u d e s s e e n t ã o p r e s c i n d i r . E , p o i s ,
c o m q u a n t o o g o v e r n o i m p e r i a l , d u r a n t e o g a b i n e t e d e 1 5 d e
J a n e i r o , q u e i n i c i o u a m i s s ã o d e q u e t r a t o , s e d e c l a r a s s e
s e m p r e n e u t r o n a q u e s t ã o i n t e r n a d a R e p u b l i c a , e q u e n ã o
s ó s e c o n s e r v a v a n e u t r o , m a s q u e a t é g u a r d a r i a a b s t e n ç ã o
( s ã o p a l a v r a s t e x t u a e s d o r e l a tó r i o d o m i n i s t é r i o d o s n e g ó c i o s
e s t r a n g e i r o s d o a n n o p a s s a d o ) , t o d a v i a , o f a c to d e s u s c i t a r m o s
u m c o n f li c to n ' a q u e l l e s m o m e n t o s , e q u a n d o n ã o p o d i a m o s
d e s v i a r d a s fileiras d o g e n e r a l F l o r e s m u i t o s s u b d i t o s b r a s i
l e i r o s q u e n ' è l l a s s e a c h a v a m , a l l u c i n o u , e a t é c e r t o p o n t o
e r a n a t u r a l q u e a l l u c i n a s s e o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o .
« E l l e s u p p ô z q u e n o s s a s e x i g ê n c i a s t i n h a m p o r fim a u x i
l i a r a r e v o l u ç ã o . O e n v i a d o b r a s i l e ir o f e z t o d o s o s e s f o r ç o s
q u e e s t a v a m a o s e u a l c a n c e p a r a d i s si p a r s e m e l h a n t e s d e s
c o n f i a n ç a s ; s u a m o d e r a ç ã o n ã o p o d i a i r m a i s l o n g e , m a s o
s e n a d o c o n h e c e t a m b é m q u e f o r ç a e g r a v i d a d e t ê m a s p a i x õ e s
o l i t i c a s n ' a q u e l l e s E s t a d o s . A c h a v a - s e n o p o d e r o p a r ti d o
l a n ç o ,
e e s t e p a r t i d o d e s d e m u i t o t e i m p o n o s c o n s i d e r a i n -
f e n s o s á s u a i n f l u e n c i a e a o s e u p r e d o m n i o n a B a n d a O r i e n
t a l .
I
« O S r , c o n s e l h e i r o S a r a i v a c o l l o c o u - s e n o t e r r e n o d a s o
l u ç ã o p r a t i c a ; r e c o n h e c e u q u e a m e d i d a p r e l i m i n a r i n d i s p e n
s á v e l p a r a o b o m ê x i t o d a s u a m i s s ã o , p a r a c o r r e s p o n d e r á s
v i s t a s p a c i f i c a s e i m p a r c i a e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , e r a p r o m o v e r
a p a c if i c a ç ã o i n t e r n a d a R e p u b l i c a . N ' e s t a s d i s p o s i ç õ e s d e
a n i m o s e a c h a v a e l l e q u a n d o o g o v e r n o a r g e n t i n o , q u e , p o r c i r
c u m s t a n c i a s q u e e s c u s o r e c o r d a r , t a m b é m v i r a c o m a l g u m r e p a r o
a e n v i a f u r a d a m i s s ã o b r a s i le i r a a c o m p a n h a d a d e f o r ç a , e n
t e n d e u - s e c o m o m i n i s t r o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n u i c a , e
i n i c i o u a m e d i a ç ã o c o n j u n c t a d o s t re s E s t a d o s — R e p u b l i c a
A r g e n t i n a , G r ã - B r e t a n h a e B r a si l — p a r a p a c i f i c a r -s e o E s t a d o
O r i e n t a l .
« N ' e s t e e m p e n h o f o r a m a M o n t e v i d é o o s S r s . E l i z a l d e e
T h o r n t o n , o p r i m e i r p ; m i n i s t r o d a s r e l a ç õ e s e x t e r i o r e s d a
R e p u b l i c a A r g e n t i n a , o s e g u n d o , e n v i a d o e xt r ao r d in á r io e
m i n i s t r o p l e n i p o t e n c i a r i o d e S u a M a g e s t a d e B r i t a n u i c a e m
B u e n o s - A y r e s . O S r . c o n s e l h e i r o S a r a i v a n ã o h e s i t o u e m u n i r - s e
a e s s a t e n t a t i v a d e p a z , e c o m a q u e l l e s m i n i s t r o s p r o c u r o u
f a z e r c e s s a r a g u e r r a c i v i l n o E s t a d o O r i e n t a l , t e n d o e m v i s t a
u e a s s i m t i r a v a t o d o p r e t e x t o a o g o v e r n o o r i e n t a l p a r a s u a s
e s c o n f i a n ç a s , c o m o d i s s e , a t é c e r to p o n t o p l a u s í v e i s , c o n t r a o I m -
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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perio. Sabe, porém, o senado que aquella teatativa mallo"
grou-se; a pacificação amigável não foi possível.
« S abe-se outro -sim pelas declarações do nosso governo
exaradas no relatório creste an no e no anterior, qu e, se a
tríplice mediação houvesse sido bem sucçedida, o resultado fora
continuar a m esma influencia que governava o Estado O rien
tal ; não haveria mu dança de governo, mas apenas m uda nçade m inistro s. Dar-se-ia algum a influencia ao general Flo res
no governo interno d'aquelle Estado, e far-se-lhe-iam algu
m as outras concessões de caracter diverso, ficando as nossa s.
reclamações para serem liquidadas posteriormente.
« Es ta solução, segundo o relatório do nob re ex-m inistro
dos negócios estrangeiros, teria a grande vantagem de salvar
o principio de autoridad e, e apianaria em grand e parte as
difficuldades sobrevindas entre o Brasil e a Republica; por
outros termos deixaria em gran de parte
satisfeitas
as
reclamações
brasileiras.
« Não sendo be m , succedido o projecto de med iação, o
nosso enviado extraordinário e ministro plenipotenciario pro -
seguio em sua negociação especial, e term inou pela apresen
tação do
ultimatum,
no qual declarou que reccorreriamos ao
emprego de represálias.
« As represálias então comm inadas nao eram bem difini-
d a s ; mas comprehendia-se que o exercito que se estava reu
nindo na fronteira de S. Pedro do Rio Grande do Sul, (*) e
a esquadra imperial, dariam protecção aos agentes e subditos
do Império que d*ella carecessem; e declarou-se expressamente
que ,
pelos factos que motivaram o conflicto, o governo imperial se reservava também o direito de fazer represálias es-
peciaes.
« Não era a guerra, disse o Sr. conselheiro Saraiva ao go
verno oriental, e tanto que elle retirou-se sem pedir passa
portes, deu apenas a sua missão por finda. A legação perma
nente do B rasil continuou em M ontevidé o; os nossos cônsules
continuaram também no exercicio de suas respectivas func-
ções;
depois d*esse successo, no dia 2 5 de Agosto, anniversario
da independência da Republica, os nossos navios surtos no
porta de Montevidéo, embandeiraram e salvaram á nação
Oriental .
« J á se vê que o pensamento do governo impe rial era não
levar m uito longe as suas represálias, evitar a gu erra , exer
cendo com mo deração m edidas coercitivas que trouxessem o
governo de M ontevidéo á satisfação exigida, a qu e tinha m os
direito. Desde o mo me nto em qu e o governo de M ontevidéo
prestasse ouvidos á razã o, se m ostrasse sincera m ente disposto
^ Julgamos qu e o con selhe iro Paranhos não estava inform ado de qu e, em
todo g: ann o de 1864, não havia força alguma organisada n o Rio Grande, o
que está dem onstrado por docum entos
nesta
historia.
3 9
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a reparar os aggra^os de que justamente nos queixávamos, a
questão estava finda, as nossas relações am igá ve is com a R e
publica estavam restabelecidas.
t O governo de M ontevidéo pareceu com prehend er então *á
moderação com qu e o governo impe rial qu eria proce der e
tanto qu e, consistindo a nossa p rime ira represália ém in ti
mar-se-lhe que immobilisasse o vapor
Genera^
Artigas,
que se
achava no porto de M ontevidéo, elle presto u-se a esta exi
gência que faziamos por meio da força. M as o nosso a lm i
rante ordenara também que se procedesse do • mesm o "modo
para com o vapor Villa dei Salto, que se achava nas águas
do U ru gu ay . O mo do de fazer as rep resálias tin ha ficado ao
arbitr io do almirante.
« Para fazer pressão sobre o gov erno de M onte vidé o po r
meio da esquad ra, eram esses os meios, as me didas q ue na
tura lm en te se offereciani como m ai s fáceis e efficazes; cu m
pre,
porém, apreciar o éffeito d'ellas, afim de que possamosbem julg ar de todas as em ergên cias dVfsta nossa ca m pa nh a
diplomática militar no Estado O riental .
«
O que importava immo bil isar aq uel les dous vapores, ú nico s
de propriedade do Estado, qu e eram emp regados no transporte
de tropas e muniç ões entre M ontevidéo e os pon tos do li toral
atacados pela revolução ? E ra um auxilio inv olu ntá rio e in -
directo, sim , m as auxilio á causa da revolução. E u o t inha
previsto e dito n'esta casa. A inda que o gov erno im peria l
não o queira, nas circumstan cias ac tuaes em q ue se acha a
R epublica, a sua acção coercitiva ha de tradu zir-se em a u
xil io á. revolução. Cum pria , é v erdade, o gov erno de M on te
vidéo pesar todas estas con seqü ências e evital-asf'
•
mas nem
por isso é menos certo que taes eram os efíeitos dos nossos
actos,
a despeito de nossas intenções. »i
Diz o conselheiro Pa ran ho s que foi escolhido para ir em
missão especial ao R io da Prata porq ue se tratava de u m a
commissão trabalhosa, de grande responsa bilidade, pa ra a q u al
éiftl tinh a o ún ico m érito de alg um a exp eriência d e nossas
questões cpm^ aquelles Estados. O ministério de 31 de A gosto,
que fez aquella nom eação , foi de certo po rqu e nã o e n c ra -
irb u ü e m
1
r e u n i s s ^
l
'
v
^h ab i l i ta çõ es que tem o conselhe iro
p a r a n h o s jjajji .tratar dos nossos, negócios com as Republicas
dOiS.UíL' Apezqr de,iconhecer±se as habilitaçõe s qu e tem o co n -
stíb 'eir^
í
Parat ihós
> i
t ísífá
i
tVatar dos nossos negócios diplo m á
ticos,
não satisfez, no objecto mais im po rta nte da sua com-
missjJLQ no R io da Pr at# , a j
n
vi$tasdo gabine te que o nomeou, e
etftettdètí^títf
6
hi
ãW f
^Éffp^ ^.
missão em qu e se açliatãu
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Diz o conselheiro Para nh os— qu e a politica externa nflo deve
estar sujeita ás vicissitudes da politica interna ;— isto, qu e é
um a verdade reconhecida po r todos, não foi reconhecida pelos
nojnisterios q ue dirigiram a g uer ra nos primeiros do us an no s,
e ainda depois até que as operações tomaram actividade.
São idéias que nos occorreram á vista da exposição acima
transcripta . Con tinuamo s a tratar da missão ás R epublicas
do R io da P rata em 1864.
Sahio o conselheiro Paranhos d'esta corte em Novembro,
e che go u a Bu enos-À vres á 2 cte Deze m bro de
1 8 6 4 .
Foi
recebido em audiência publica pelo Presidente da Republica,
Ba rtholom eu M itre, no dia 7 de D ezembro. N 'essá oceasião
ó "nosso enviado proferio o discurso se guin te, o qu al o ex-
rninisto dos negócios* estrangeiros, Joã o Pedro D ias V ieira,
não mandou publicar no seu Relatório, porque já tinha sido
demit t ido o conselheiro Paranhos;
A P R E S E N T A Ç Ã O D l » C A R T A C R E D E N C I A L ,
Exm . S r . Presidente . — A honra que recebo n 'es te m o
m ento depositando nas mãos de V . Ex. a carta de Su a M ages
tade o Im perad or, impõé-me como primeiro dever o m an i
festar mais uma vez os sentimentos da alta estima que omesm o A ugu sto S enh or ' t r ibuta , á pessoa de V I Ex. , bem
como o gr an de apreço em que o governo im perial tem as-
relações de perfeita intelligencia e estreita amisade que feliz
mente subsistem entre a R epublica A rgentina e o Brasil .
« Firm adas em vinculos natu raes indissolúveis* tão justa
m ente aquilatadas pela sabedoria dos dous governo s, e sem pre
aviv ada s pela m em ór ia do feito glorioso que em 1852 a
America e a Europa applaudiram unanimemente , as boas re
lações entre o I m pério e a R epublica A rgentina não pre
cisão de palavras qu e as encareçam ; m as não é possível
con tem plai-as hoje, em meio das actuaes emergências do
Rio da Prata, sem que todos os amigos da paz e da civili
sação expe rim entem , como eu , u m a nova e agradável emoção.
« Enc arregado pelo governo do Im perado r, no caracter de
seu representante em missão especial junto a R epublica A rgen
tina, de sustentar os direitos do Brasil ante as novas e graves
circumstancias qu e presenciamos, feliz m e julga rei , S r . P re
sidente, se eu puder conseguir fortalecer ainda mais essa
amisade t i o dign a das duas nações, m erecendo ao m esm o
tem po a b enevo lência e e stim a pessoal de
V.
Ex. Este duplo
resultad o será o fito con stante de me us assiduos esforços. »
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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O p r e si de n te d a R e p u b l i c a r e s p o n d e u :
a
E x m . S r . M i n i s t r o . — A o t e r a h o n r a d e r e c e b e r a c a r t a
d e v o s s o A u g u s t o S o b e r a n o , q u e v o s a c r e d i t a e m m i s s ã o
e s pe c ia l j u n t o a o g o v e r n o a r g e n t i n o , c o n g r a t u l o - m e p o r t e r - s e
l em b r a d o S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r d o B r a s i l d a v o s s a
d i st in e ta p e s s o a p a ra d e s e m p e n h a r t ã o i m p o r t a n t e e n c a r g o .
« A s s i s t e - m e a c o n f i a n ç a , S r . M i n i s t r o , d e q u e v o s s a m i s s ã o
h a d e c o n t r i b r u i r p a r a e s t r e i t a r m a i s a i n d a , s e é possível, a s
c o r d ia e s r e l a ç õ e ã d e p e r f e it a a m i z a d e e b o a v i s i n h a n ç a q u e
f e l i z m e n t e e x i s t e m e n t r e a m b o s o s p a i z e s , l i g a d o s p o r i n t e
r e s s e s p e r m a n e n t e s e c o m m u n s , e p o r g r a t a s e g l o r i o s a s
r e c o r d a ç õ e s , q u e e m t e m p o a l g u m s e a p a g a r ã o d o c o r a ç ã o
d o p o v o a r g e n t i n o .
« F a z e n d o a d e v i d a h o n r a a o s e l e v a d o s s e n t i m e n t o s d e S u a
M a g e s t a d e o I m p e r a d o r d o B r a s i l , e á s ã p o l i t i c a d e s e u
i l l u s t r a d o g o v e r n o , n ã o d u v i d o , S r . M i n i s t r o , q u e e m a s
n o v a s e g r a v e s c i r c u m s t a n c i a s e m q u e i d e s t er q u e r e p r e s e n t a r
o s d i r e i t o s d o I m p é r i o p r o c e d e r e i s c o m o t i n o e p r u d ê n c i a d e
q u e t e n d e s d a d o t a n t a s p r o v a s f
% A g r a d e c e n d o a s v o s s a s c o r d i a e s f e l ic i t a ç õ e s , e f a z e n d o v o t o s
a o c é o p e l a p r o sp e r i d a d e e e n g r a n d e c i m e n t o d a g e n e r o s a n a ç ã o
b r a s i l e ir a , e p e l a f e l i c id a d e p e s s o a l d e v o s s o A u g u s t o e d i g n o
S o b e r a n o , S u a M a g e s t a d e D . P e d r o I I , é - m e a g r a d á v e l fa z e l- o s
i g u a l m e n t e p e l a felicid ad e d e v o s s a d i s t i n e t a p e s s o a , m u i
d i g n a d a c o n s i d e s a ç ã o e s p e c i a l d o p o v o e g o v e r n o a r g e n t i n o . »
O q u e s a b e m o s d a s i n s t r u c ç õ e s q u e o m i n i s t é r i o F u r t a d o
d e u a o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s p a r a e l l e d e s e m p e n h a r a m e
l i n d r o s a c d n & m i ss a o d e q u e f o i e n c a r r e g a d o p a r a o R i o d a
P r a t a , é o q u e e l l e d i z n o s e u f o l h e t o a p a g i n a s 2 2 , q u e
j u l g a m o s m e l h o r c o p ia r .
« O p e n s a m e n t o c a r d e a l d ' e ss a s i n s t r u c ç õ e s e r a o b t e r a
a l l i a n ç a d o g o v e r n o a r g e n t i n o , o u a i n t e r v e n ç ã o c o l l e o t i v a
d o s d o u s g o v e r n o s , t o m a n d o - s e p o r b a s e o e l e m e n t o o r i e n t a l
r e p r e s e n t a d o p e l o g e n e r a l F l o r e s : s e e s s a a l l i a n ç a n ã o f o s s e
p o s s i v e l , e m t o d o c a s o a a l l i a n ç a c o m o g e n e r a l F l o r e s , p a r a
p a c i f ic a r a R e p u b l i c a e r e s o l v e r a s q u e s t õ e s p e n d e n t e s *
« S e g u n d o o p e n s a m e n t o d o g o v e r n o i m p e r i a l , n o e s t a d o
e m q u e s e a c h a v a m a s c o u s a s , a t te n t a a m a l e v o l e n c i a q u e j á
m o s t r a v a o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o , a g a r a n t i a m a i s s a t i s -
f a c to r i a p a r a o s i n t e r e s s e s b r a s i l e i r o s s e r i a d u e d e a o s s a i n
t e r v e n ç ã o r e s u l t a s s e ficar n a p r e s i d ê n c i a d a R e p u b l i c a o n o s s o
a l l i a d o , o g e n e r a l F l o r e s .
« A e s t a c o n s e q ü ê n c i a l i g a v a o g o v e r n o i m p e r i a l a m a i o r
i m p o r t â n c i a : e s e g u r a m e n t e u n h a r a z ã o , p o r q u e e r a o n o v o
P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a a v e r d a d e i r a g a r a n t i a q u e t e r i a o
B r a s i l n o p r e s e n t e e n o f u t u r o d e s u a s r e l a ç õ e s c o m a q ú e l í e
E s t a d o . S i
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— 217 —
« S $ o go vern o que se es tabelecesse não fosse um governo
am igo , possu ído de boa von tade e leal para com o Brasi l ,
todas a reparações que nos fossem promett idas não offere-
cer iam g ara nt ia s sufnc ientes , ser iam le t ra m or ta ; e a inda
ua nd o os agg rayos antigos fossem repa rado s, hav eria o perigo
e novas complicações ae novos aggravos e confl ictos .
« À al l ianç a com o gene ral Flo res era ainda necessária
para legi t im ar o procedimen to que t ivem os em S anta L úcia ,
e de que d&o prova ' as duas notas , que ha pouco l i , ass ig-
n ad a s em 20 de O utu bro . (*) Era de mis ter mos t rar que o
go ve rn o im per ia l nu nca t ra tou por esse mo do com o chefe
a e u m a rev olu çã o; conv inha q ue o própr io genera l Flores o
rec on he ces se, era necessário inspirar*lhes a confiança de qu e
o Bra s i l , qu an do ass im procedeu em 20 de O utub ro , já es tava
firmemente resolv ido a ace itar a allianç a do m esm o gen eral
F lo re s, a correr tod os os seus azares e a fazer todo o sacri
f ício de com bin açã o com elle , para pacificar a R epublica e
d ar lug ar ao es tabelec imen to de um gov erno, do qual o
m es m o gen eral fosse chefe, ou qu e pod esse ser acei to por
el le e ofierecer plena garantia ao Brasi l . »
« A s represál ias t ivera m por f im em sua origem trazer o
g o v e rn o d e M o n t e v i d é o a u m a c co rdo a m i g á v el c o m n o s c o ;
co m o enca rrega do da nossa m issão diplom ática n 'essas cir
cum stanc ias , pedi ao no bre ex-m inis t ro dos negócios es t ra n
geiros qu e escrevesse aos agentes brasi leiros em Bu eno s-A yres ,
is to é , ao nosso alm iran te e ao nosso m ini s tro residen te,
para que a not ic ia de m in ha nom eação chegasse ao co nh e
c im ento do g overn o arge nt ino , e ao m esm o tempo se nào
al te rasse o nosso ,
statu quo,
salvo o caso de força m aio r,
como o de operações já encetadas, .e nas quaes não se pu
desse sobres tar sem det r im ento de nossa d ignida de . O no bre
ex-m inis tro dos negócios es trang eiros assegurou -me qu e assim
o faria , e e ifect ivamente o fez, pois antes da minha part ida
S. Ex. recebera resposta á correspondência em que fal iava da
m i n h a n o m e a ç ã o .
cc T odav ia , qu an do cheg uei a Buen os-A yres no d ia 2 d e
D eze m bro , a s i tuação pol i t ica do Bras il já não era a m esm a,
ou ante s a nossa a l l iança com o gene ra l Flo res , a nossa in
te rv enç ão na gu err a c iv i l , es tava ma is def in ida. Em conse
qü ên cia da dem ora do exerc ito imp er ia l , o nosso a lm irante
t in ha resolvido a tacar a praça de Pa ys an dú , de com binação
com o g ene ra l Flo res , e para a l l i ha via par t ido com esse
in ten to . T a l foi a pr im eira not ic ia qu e achei em B ue no s-
Ayres . |
« O a t a q u e d e P a y s a n d ú , d a s e g u n d a c i d a d e d a R e p u b l i c a
(*) São a s no t a s que já transcrevemos do vice-almirante brasileiro e d o ge
neral Flores. Convenção entre os dous chefes.
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Oriental em com m um com o chefe da rev oluç ão, era a
i n
tervenção armada do B rasil na questão intern a, era a alliança
de facto com o general F lores, a guerra contra o go ve rn o de
M ontevidéo. M as e sta nossa posição não estava estabelecida
regularmente, subsistiam as declarações officiaes feitas pelo
Sr. conselheiro Saraiva em M ontev idéo . O senado ha de re
conhecer que d'estes factos devia resultar algum excitamento
á
animo sidade do governo oriental contra nós .
« E com effeito, depois do ataque de Pa ysan dú , o governo
de Montevidéo e o seu partido enfureceram-se contra nós;
desde então entregarémi-se aos maiores desatinos. Queimaram
em uma praça publica os autographos dos tratados subsisten
tes entre o Im pério e a Rep ublic a, e interromp eram as rela
ções commerciaes entre os dous paizes; a sua imprensa não
soltava se não gritos ferozes contra o governo do Brasil e
todos os Brasileiros.
« U m dos pontos de m inha s instru cções, com o já disse, era
a alliança com o governo argentino, para um a interv enç ão
conjuncta; mas, pelas declarações que o mesmo governo ar
gentino havia feito durante a missão do Sr. conselheiro Sa
raiva, sua opinião estava conhecida, e effectivãmente achei-a
inabalável como uma rocha.
« O gover no argentino precedia assim de inteira boa fé. 0
general Mitre era um partidário decidido da paz; /azia con
sistir a m aior glor ia da sua presidênc ia em transm ittir a seu s
suceessores o m ando suprem o da R epu blica depois de um
periodo não interrompido de vida pacifica.
A.
guerra civil do
Estado Oriental o inquietava, porque a Republica Argentina
podia ser contagiada, desejava a extincção do incêndio tão
pró xim o, m as temia os azares da em preza., os sacrifícios qu e
ella custaria ao seu paiz.
« Por outro lado via que o Impé rio do Brasil tinha qu eixa s
muito mais graves centra o governo de Montevidéo, que já
estava m ui to m ais adiantado em suas represálias, que de facto
se ach ava em estado d e guerra , e, por tanto, que era natural
esperar-se que da acção do Brasil resultasse a remoção do
perigo qu e preoçcunava, a guerra civ il n
f
aquel le Estado v is inho.
« Se fora possível dissim ular aos olh os de al gu ém que o
governo do Brasil já não podia voltar ao seu primeiro plano
fie represálias, conservando-se neutro na contenda internados
Orientaes, o ataque de Paysandú não permittia mais tal dis
simulação. Estava manifesto que, depois do Império ter ata
cad o a praça de Paysa ndú em alliança com o general F lor es,
e da reacção qu e este successo produzio e m M on tev id éo ,
reacção violenta e frenética, o g overn o imperial já não podia
parar, era forçoso ir por dian te, levar a guerra a M on tev idé o,
cortar a questão pela raiz.
« O gene ral M itre, pois, por um lado desejando a paz, c
por outro vend o q ue o B rasd era pelo se u próprio interesse
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— » t i —
o4>rigado a remover
o
ú n i c o
perigo
> qu e poderia com
pellir
o>
governa
a r g e n t i n o
a
in tervi r
na luta
do Estado
Oriental,
inaa. teve-se
em
su as declarações, anteriores, posto
q u e a b u n
d a n d o
sem pre em manifestações das ma is am igáveis para
0%$ ,
o Império.
<í
Era tam bém ái ífioil con vence r
o
governo argentino
de
que o Brasil, quando j á hajvia decorrido longo prazo para os
seu s preparativos m ilitares, não p udesse por si sò, e ne mainda em alliança com o general F lores, terminar dentro em
breve tempo a questão oriental.
cc E u , pois, senho res, n o primeiro passo da m inha m issão
tinha sido mal sueced ido; pretendi u m im possivel, obter a
allia nça do governo argentino em taes «fircumstancias. N ão o
con segu i, e eom m un ique i logo ao governo imperial o resul
tado de m eu s esforços.
« A resposta do no bre ex-m inistro de estrangeiros foi lou^
vando meu zelo, animando-me
á
proseguir na minha missão,
reconhecendo que eu havia feito quanto humanamente era
po ssive l, e qu e o máo êxito d'essa tentativa não se podia
im pu tar, nem a falta de zelo, nem a pouca habilidade do
negociador. Esta resposta do nobre ministro mais me confir
m ou na persuação; de que S. Ex. e os seus collegas jam ais
veriam com ináo s olhos ou com injustiça o meu procedi
m e n to ; que não queriam de m im se não o triumpho da
causa nacional, o cumprim ento religioso do m eu dever, e
qu e se mostrariam sempre justos e benevolos para com o
se u delega do, que por sua* parte não declinav a trabalho, nem
responsabil idade.
cc
N ão sendo po ssivel a alliança do governo argentino, es
tando o Império já empenhado no ataque de Paysandú, ten
d o
-se co ncl uid o esta operação pelo nosso triump ho, não h e -
sitei, de accordo com o pensam ento de m inha s instrucções,
em reconhecer
o
gen eral Flor es com o belligerante e declarar
a intervenção armada do Brasil, de combinação com esse
ii
1
us.tre general, para pacificar a Republica Oriental.
« Esta solução não nascia do arbitrio que o gov erna m e
havia conferido,
j á .
estav a escripta no s factos, era um dos
pon tos capitães de minhas instrucções. Não obstante, o s es -
Çfaptores m inisteria es, a m ilicia ano uym a dos nobres ex -m i
nistr os, entre outras aceusa ções, que correram com o asseve -
raçõ es m inisteria es, faziam-m e esta — que eu tinha rebaixado
a dignidade
do
Im pé rio , procurando a alliança do general
Flores, quando
o >
Brasil não carecia de semelhante aiha do.—
« A regular*me pela letra
de
minhas instrucções,. o governo
o
q u e
queria era ver pacificada a Republica Oriental, a in
fluencia
do
general
D .
Venancio Flores aceita entre os seus
compatriotas, pela confiança que inspiravam as boas dispo
sições
e lealdade do mesm o general para com o B ra sil
; e
as
reclama ções que motivaram a guerra seriam depois liqu i-
•
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dadas. Tanto
é
assina, foe as instrucções que recebi do
nobre e x-minis tro c onc lu ía m di z e nd o: — C om pe te ta mbé m á
-vossa missão liq uid ar nossas reclam açõe s com o go ve rno
oriental, e para este fim m ais tard e vos serão e nv iad as as
instrucções n ecessárias. — E com effeito, m ais tar de, nas vé s
peras de 20 de Fevereiro, chegaram-me as promettidas ins
trucções especiaes, a q ue alludia o nobre ex-m inistro , e qu e
se l imitaram apenas a um quad ro syn optico da s reclamações,
onde appareciam somente as datas, as circumstancias prin-
cipaes do s factos e os no m es de algu ns dos in diciad os.
« Nào obstante o theor de m in ha s instrucç ões, posto qu e
estas não o prescrevessem e antes add iassem , en tend i qu e,
pendente uma questão de houra ent ie o governo imperia l e
o de M ontevidéo , origem da gu erra a que fomos levados, não
deviam os march ar de Pa ysa nd ú em alliança com o gen eral
D . V enan cio Flor es, sem qu e essa questão de ho nr a fosse
decidida; entendi que a a l l iança do general D. Venancio
Flores p resu pp un ha qu e elle conhecia a justiça de nossas re
clamações e que nos daria plena reparação, quando estivesse
no caso de fazel-o ; de outro m od o, depois de pacificada a
R ep ub lica, podia-mos entrar ém luta com o nosso a ll iado e m il
difficuldades surgirem m esm o da pa rte do part ido qu e elle re
presentava, o qual n 'essa revolução não era todo. un iso no .
« Para este fim fui a Fr ay -B en tos , en ten di- m e com* o
general D. Venancio Flores, e , procurando conhecer as suas
disposições, m anifestei-lhe a necessidade qu e h av ia d e qu e
essa questão de hon ra entre o Im pério e o govern o de M on
tevidéo ficasse resolvida. 0 general mostrou-se nas melhores
disposições, prom etteu-m e espon taneam ente qu e reconheceria a
jus tiça de todas as nossas reclam ações, e qu e não só rec o
nheceria a justiça do
ultimatum
S ara iva , mas a inda a dos pre -
juizos da antiga gu erra civil . A ccrescentou m ais, qu e a al l ianç a
da Republica com o Brasil contra o Paraguay seria um
empenho de honra para e l le .
« Eu desejava que estes comp romissos espon tâneos e so-
lemnes do general D. Venancio Flores me fossem dados offi-
cialmen te antes da su a part ida par a M onte vidéo , isto é antes
que eu o reconhecesse como belligerante e declarasse a inter
venção armada do Brasil ; não porque desconfiasse do general,
m as porq ue m e parecia que o Brasil não dev ia associar-se
ao general D . V enancio Flores sem que este m ostrasse acceder
plen am ente a justiça qu e nos assistia na que stão de ho nra
qu e nos t inha posto as arm as nas mãos. O genaral D. V e
nancio Flores, porém , hesitou então em passar-me a su a
no ta, e tin ha para isso m otivos pon dero sos. Elle era. au to
*
ridade de facto no terri tório que d om inava, m as não t in ha
ainda declarado qu e assum ia a autoridade sup rema da R epu
blica, nem praticado actos de soberania exterior. O bservo u-m e
que lhe era necesssario dar u m m anifesto á na ção , q# e
o
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daria em Santa Lúcia, e que então, declarado o caracter da
sua autoridade suprema, me passaria os documentos dos com
promissos que espontaneamente contrahia.
<c E ste f acto é im po rtan te, porque mostra toda a confiança
de que é digno o general Flores, e a responsabilidade que
tomei. Posto que, como já ponderei, minhas instrucções não
prescrevessem esse accordo, eu o julgava indisp ensáv el; e,
tod avia , toma va sobre m im reconhecer o general F (ôres com o
belligerante, declarar a intervenção armada do Brasil, sem
ter ain da receb ido o titulo d'aquelles compro rrissos, confiado
unicamente na palavra do general. O governo imperial, que
aliá s^ pp ro va ra ímm ediatamente todo a meu procedimento,
teve a prova de que nao me engarM. Apenas chegou a
San ta Lú cia, o general F lor es, depois de publicar o seu ma
nifesto, dirigio-me a nota de
28
de Jan eiro, cujo theor é
conhecido do senado.
« O governo imperial approvou todos estes actos, as minhas
circulares, que definiram a nossa posição para com o go
verno do Montevidéo e para com o do Paraguay, merece
ram-lhe igualmente plena approvação: tudo por esse tempo
lh e parecia perfeito. »
Vejamos agora o que diz o ex-ministro de estrangeiros no
seu relatório de
1865
sobre a missão do conselheiro Paranhos.
MISSÃO DO SR. C O N S E L H E I R O JOS É .MARIA DA SILV A P A R A N H O S .
cc
O objecto principal da missão do Sr. conselheiro Para
nhos fica exposto no artigo anterior.« S. Ex . chegou a B uenos-A yres no dia
2
de Dezembro
do an no passado, e alli já não encontrou o Sr. Visconde de
Tamandaré, que informado da tomada da villa do Salto no
dia
28
de N ovem bro pelo general F lores, favorecido pelas
nossas forças nav aes, e m ediante a simples intimação feita
ao commandante militar da praça resolveu apressar o ataque
de
P a y s a n d ú
em conseqüência das noticias da posição assu
mida pelo Paraguay.
a
D ispun ha-se pois o vice-alm irante brasileiro a atacar Pa y
sandú com o auxilio do nosso exercito, quando foi igualmente
alli p reve nid o pelas forças do m esm o general Flores.
« Sendo indispensável não perder tempo, e n ão tendo então
ainda cheg ado a Paysan dú o nosso exercito, resolveu o vice-
almirante brasileiro proceder ao ataque em commum com as
forças' do general Flores, visto
n ão
se ter rendido o com
mandante da guarnição da cidade
á
intimação, que se lhe
fez. E sse ataq ue, depois de um a suspe nsão de arm as, durante
a qual che gou o no sso exerc ito, foi renovado e levada a praça
de vencida.
« São conhecidos os pormenores d'esse brilhante feito d'armas,
4 0
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em que tanto sobresahiram a brav ura e a gen erosida de do
soldado brasi leiro. Pay sand ú, rend eu-se no dia 2 de l a n e i r o ,
depois de 52 horas de porfiada luta, e o general Flores alli
assnmio logo a jurisdicção de que já estava dè posse na
villa do Salto, e em toda a campanha.
« A lém dos factos ante riore s, para justific ar a hostilidad e
aberta em qu e posteriormente o Brasil en trou contra a R e publica, exist iam as seguin tes raz õe s: achav am -se rotas as
relações entre o Brasil e o Pa rag ua y, hav end o o fundado re
ceio de qu e pude ssem vir 'd alli aux ilios pa ra o gov erno
oriental.
« Os nossos tratados de 12 de O utub ro de 185,1, e suas
modificações de 15 de M aio de 185 2, ann ullad os e c an # lla d os
por decreto d 'aquelle governo de 13 de Dez emb ro do an no
findo, tin ha m sido que ima dos em au to de fé com a maio r
ostentação e solemn idade na praça de M ontevidéo.
« Po r este decreto e outro da m esm a data t in ha m sidoabertas as águas da L agoa M irim aos nav ios e com me rcio
de todas as naç ões, e fechados os portos d a R epu blica á
bandeira mercante do Império .
cc O governo da Confederação A rge ntina hav ia já d eclarado
ao nosso m inistro em missão especial qu e, co ntin uan do a
prestar-nos o seu apoio moral , e a reconhecer o direi to com
qu e procedíam os, m anter-se-h ia com tudo ne utr al na qu estão ,
convencido de que era essa a posição, que lhe ind ica va ,
além de outras considerações ponderosas, a conveniência de
evitar maiores complicações inter nãc ion aes . *
« E pois, conseguida a toma da de P ay sa nd ú, resolveram os
chefes da marinha e exercito imperial, de accordo com o
Sr. conselheiro Paranhos e general Flores, não demorar o
ataque contra Montevidéo, u l t imo ponto da Republ ica a que
ficava então l imitada a autoridade do presidente Aguirre.
« Fo i n'e sta situação que o min istro das relações exteriore s
de M ontevidéo, em 11 de Jan eiro , dirigio ao corpo diplo m á
tico al l i residente uma circular, sol l ici tando novamente uma
declaração clara e term inan te sobre a at t i tude que assu m iriam
as forças navaes estrangeiras no caso de rep etir- sé por par te
do Império n'aquella cidade a aggressão feita contra a praça
de Paysandú .
« Era a repetição da circular de 13 de D eze m bro, á qual
havia respondido verbalmente o representante da I tá l ia em
seu nome e no de seus collegas, que considerava prematura
qualquer declaração a este respeito.
<*
Entregue assim aos seus únicos recursos, adoptou
^
o g o
verno do Sr. A guirre, para defeza da cap ital, as m edid as a s
mais violentas .
« Contra estas me didas clam aram todos, nacio naes e estran*
geiros, e era g eral o desejo de q ue as forças alliadas
se
approximassem quanto antes da cidade.
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«t O s ag ente s do corpo diplom ático rep resen taram ao gov erno
orie nta l, para q u e se nã o sacrificassem vid as e propried ades
em unia res is tênc ia inút i l .
« A n ad a, porém , at tend ia o presidente A guirre, declarando
que t inha elementos de resis tência, e res is t ir ia .
« S ua s esperanças consis t iam sem pre em qu e o auxil iariam
forças da fronteiras argen tina e do Pa rag ua y, es tando já
en tão es ta u l t im a R epubl ica em guerra dec larada contra o
Bras i l .
« N'esta s circum stancias , julgou o S r, conselheiro Pa ran ho s
deve r com m unic ar ao corpo d ip lomát ico res idente em Buenos-
A yres a resolução extrema, mais indicl inavel , q ue h avia o
governo imper ia l tomado na u l t ima pÉase que apresentava
as nossas desavenças com o governo oriental .
« Na referida commünicação, que tem a data de 19 de Ja
neiro do corrente an no , declarara o nosso minis tro que o go
ve rn o im pe rial nã o podia deixar de proseguir na gu err a a qu e
o hav ia provocado o governo de M ontevidéo, nem m anterm ai s a poli t ica de nen tral idad e qua nto ao confl icto intern o da
Republ ica , por se haver tornado aquel la neutra l idade incom
patív el não só com o fim qu e o govern o de S ua M agestade
se t in ha propo sto em suas justas reclamaçõ es, m as até com a
segurança do Im pér io , então ameaçado por dous in imigos , que
ostensivamente se t inham aluado para feri l-o em sua dignidade
e desco nhe cer os seu s direi tos .
« A n n u n c i o u , p o r t a n t o , q u e , c o n t i n u a n d o e m g u e r ra c om o
go vern o de M on tevid éo, es lava o governo imp erial resolvido a
concorrer tamb ém com as suas armas e com seus conselhos
pa ra a pacificação inte rna do paiz, procedendo de accordo com
o ge ne ral Flo res , a qu em reconhecia como legitimo bell igerante,
e m ov ido pelo sincero desejo de salvar sua pátria do estado
ano rm al em que se achava .
« E m sentido idên tico e com relação aos interesses especiaes ,
qu e l igavam os dou s paizes n 'es ta q uestã o, dir ig io-se na m es
m a d a ta o S r . conselhe iro Pa ran ho s ao
#
m inis tro das relações
exter iores da Republ ica Argent ina .
« O corpo diplom ático, deploran do tão grave s successos, e fa
zen do votos pelo restabelecim ento da paz e pela solução sat is -
factoria das aifficuldades existen tes, resp ond eu expressan do-seno s term os os m ais l isongeiros sobre a parte da com m ünicação
do S r . Pa ran ho s , em qu e ma is um a vez assegurara qu e ne
n h u m a t tentad o soffrer ia a independ ência e soberania da R ep u
blica Oriental do Uruguay, qualquer que fosse o êxito da guerra .
« O g o v e rn o d a R e p u b l i ca A rg e n t in a a b u n d a n d o t a m b é m
n'es tes sen t im ento s , re i te rou ao m esm o tem po a necess idade
em qu e se achava de conservar-se n a m ais s t ric ta ne utr a
l idad e, qu e se hav ia imp osto , m ovido por al tas considerações,
super iores ás jus ta s causa s , qu e podiam por ven tura aut or i
zar o abo no d'essa politica. »
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P o u c o s e s c l a r e c i m e n t o s d e u o e x - m i n i s t r o J o ã o P e d r o
D i a s V i e i r a , n *e st a p a r t e d o s e u r e l a t ó r i o , q u e a c a b a m o s d e
t r a n sc r e v e r, s o b r e a m i s s ã o d o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s ; e , p o r
d a r -s e e s t a f a lt a , j á c o p i a m o s o q u e n o s p a r e c e u m a i s i n t e
r e ss an t e s o b r e a s i n s t r u c ç õ e s q u e o m e s m o c o n s e l h e i r o l e v o u
p ar a a m i s s ã o d e q u e f oi e n c a r r e g a d o , e q u e p u b l i c o u n a
s u a j u s t i f i c a ç ã o s o b r e o c o n v ê n i o d e 2 0 d e F e v e r e i r o d e
1 8 6 5 .
A n t e s d e c h e g a r m o s a o a t a q u e d e P a y s a n d ú , a 6 , 7 e 8
d e D e z e m b r o , v e j a m o s o q u e s e p a s s o u n ' A s s u m p ç i o e m -
N o v e m b r o d e 1 8 6 *
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L I V R O N O N O .
C A P T U R A D O V A P O R « M A R Q U E Z D E O L I N D A » .
Q u a n t o m a i s o g o v e r n o i m p e r i a l s e e s f o r ç a v a p e r a n t e o d o
P a r a g u a y p a r a c o n s e r v a r a s s u a s b o a s r e l a ç õ e s , c o m m a i s
i n d i f f e r e n ç a e s t e t r a t a v a o B r a s i l , n ã o l b e d a n d o a i m p o r
t â n c i a e a c o n s i d e r a ç ã o q u e d e v i a * d a r - l h e , c o m o a p r i m e i r a
n a ç ã o d \ A m e r i c a d o S u l . A q u e l l e g f jp e r no s a b ia q u e n ã o t i
n h a c u m p r i d o c o m o q u e d e t e r m i n a v a a c o n v e n ç ã o d e 2 5 d e
D e z e m b r o d e 1 8 5 0 ; q u e o r e c o n h e c i m e n t o da s u a i n d e p e n
d ê n c i a d e v i a e m g r a n d e p a r te a o g o v e r n o d o I m p é r i o ; e m
l u g a r d e l h e se r g r a t o , n u n c a e m t e m p o a l g u m o m o s
t r o u ; t r a t o u m a l e e x p e l l i o o e n v i a d o b r a s i l e i r o F . J . P .
L e a l ; n ã o d e u a s s a t i s f a ç õ e s q u e d e v i a d a r a P e d r o F e r r e i
r a d e O l i v e i r a ; c o n t i n u o u a d a r p o u c a a t t e n ç ã o á s r e c l a
m a ç õ e s d o g o v e r n o i m p e r i a l , i l l u d i n d o - a s s e m p r e q u e p o d i a ,
c o m o a c o n t e c e u c o m o t r a ta d o d e l i m i t e s , q u e n u n c a s e f e z .
D e p o i s d e i r e m a o P a r a g u a y q u a t ro e n v i a d o s p a r a s e e s
t a b e l e c e r e m a s r e l a ç õ e s d e c o m m e r c i o , d e n a v e g a ç ã o e d e
I m i t e s , o r e s u l t a d o d e t o d a s a s s o l i c i t a ç õ e s e e x p l i c a ç õ e s d o
g o v e r n o i m p e r i a l s o b r e a s u a p o l i t i c a e i n t e n ç õ e s p a r a c o m
o E s t a d o O r i e n t a l , f oi o g o v e r n o d o P a r a g u a y , c u m p r i n d o
o q u e t i n h a p r o m e t t i d o n a s u a n o t a d e 3 0 d e A g o s t o , m a n
d a r a p r i s i o n a r o v a p o r m e r c a n t e Marqu es de Ottoda, q u e n a -
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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vegava para a provincia de M attò Grosso condusindp o pre
sidente e outros officiaes, sem prévia declaração dé gue rra .
Vejamos o que diz a este respeito o ex-ministro dos negócios
estrangeiros João Pedro Dias Vieira, no relatório de
1 8 6 5
a
paginas 30 :
« A 55 de O utubro chegou á A ssumpção a noticia da en
trada da vanguarda do nosso exercito no território oriental,
e da occupação da villa de Mello pelo general Flores. (*)
« No dia
1 1
de Novembro o vapor brasileiro Marquez de
Olinda, da companhia que "faz a navegação *ado A lto Pa ragu ay ,
tocou em ^Assunipçãoy levando a seu bordo, além de ou tros
passageiros, o nov% presidente nomeado para a provincia de
Matto-Grosso.
« O vapor, a cujo bordo não havia tropa nem armamento,
ia comq de costume proseguir tranquillo em sua viagem , aoabrigo dos ujustes solemnes que lhe garantiam o livre transi
to, e do estado de paz em que se achava a R epublica com
o Império ; quando a poucas léguas áquem da villa da Con
ceição foi abordado, conduzido ao porto d
7
onde sahira, e alli
detido com os passageiros e a sua tripolação sob as baterias
do vapor de guerra paraguayo
Taquary.
« A penas constou á legação imperial tão insólito aconteci
mento, em nota datada do dia 1 3 exigio ella do governo
do R epublica as devidas explicações, quando foi surpre hen-
dida pela nota do mesmo governo do, dia
1 2 ,
na qual calan
do-sé completamente aquelle extranho facto, e só alludindo-
se á entrada do nosso exercito no território do Estado O rientai^
reputava-se como violada a integridade territorial d'este; e decla
ravam-se interrompidas as relações com o, Império, e impedida a
navegação de suas águas, tanto para a bandeira de .guerra,
como para a mercante do Brasil. E o protesto de
3 0
de
Agosto foi allegado como prévia e solemne declaração de
guerra, para justificar o inqualificável abuso de boa fé, com
que ia aquelle governo iniciar as suas hostilidades.
« A legação imperial protestou imm ediatamente e do modo
mais solemne, passando a nota do dia 1 4 , contra o acto de
hostilidade praticado em plena paz para com o referido vapor,
com violação do que foi convencionado entre os dous paizes
a respeito do direito fluvial, resalvando os direitos da com
panhia de navegação do Alto Paraguay, pelas perdas e dam-
nos, que soffria e viria a soffrer em conseqüência da resolução
tomada pelo governo da Republica, e pedindo os precisos
passaportes para retirar-se com sua família e pessoal da legação.
« Ao passo que se lhe enviavam no dia
15
os passaportes
{*) Foi a nequetra brigada sob o comm ando do brigad eiro José Lu iz Menna
Barreto de que já fizemos men ção.
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pedidos, obstava o governoWa Republica a retirada do agente
diplomático brasileiro, prohmindo
a
todos os navios mercantes
a sahida^uo porto d a A s s u m p ç ã o , onde nenhum vaso de
guerra estrangeiro existia.
« Pretendia o nosso ministro f a z e r viagem p a r a Buenos-
Ayres
a o p a q u e t e
Marques de Olinda; mas
e s t e
único meio
de transporte
l h e f o i r e c u s a d o .
« A r e t i r a d a , p o i s , $ d ' a q u e l l e a g e n t e d i p l o m á t i c o , c u j a s i m -
m u n i d a d e s f o r am t ã o g r o s s e i r a m e n t e d e s c o n h e c i d a s p e l o g o
v e r n o d o P a r a g u a y , s ó s e p ô d e r e a i i s ar n o d ia 2 9 , p o r i n t e r
v e n ç ã o d o S r . W a s b u r n , m i n i s t r o d o s E s t a d o s - T J n i d o s ,
a
b o r d o d e u m v a p e r p a r a g u a y o : m a s a t f Ü a s o b a. g a r a n t i a ,
q u e s e e x i g i o d o m e s m o m i n i s t r o , d e n ã o s e r o É i t o v a p o r
m o l e s t a d o e m s u a v i a g e m d e i d a e v o l t t a
« O o f fi c io d o m i n i s t r o b r a s i l e i r o d e 7 d e D e z e m b r o , q u e
v a i p u b l i c a d o e n t r e o s a p p e n s o s , v o s i n f o r m a r á d o s m o r m e -
n o r e s r e l a t i v o s a e s t e a t t e n t a d o , q u e o g o v e r n o d o P a r a g u a y
c o r o o u f a z e n d o j u l g a r b o a p r e s a o v a p o r
Marquez de Olinda,
e d e s t e r r a n d o p a r a a c a p e l l a d e S . J o a q u i m o p r e s i d e n t e n o
m e a d o , c o r o n e l F r e d e r i c o C a r n e i r o d e C a m p o s , e o u t r o s B r a s i
l e i r o s q u e c o m e l l e i a m d e p a s s a g e m n o m e s m o v a p o r . »
A t é a q u i é o r e l a t ó r i o d o e x - m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n g e i r o s .
E s t e c o m p o r t a m e n t o d o g o v e r n o d o P a r a g u a y c o n t r a o
B r a s i l e m 1 8 6 4 , é u m a p r o v a e x a c t a d o q u e d i s s e m o s n o
p r i n c i p i o d ' e s t a h i s t o r i a , d o g o v e r n o i m p e r i a l t e r a d o p t a d o
p a r a c o m a s R e p u b l i c a s d o S u l , u m a p o l i t i c a d u v i d o s a e
fraca;
o s f a c t o s m e n c i o n a d o s n 'e s t a h i s t o r i a o C o n f i r m a m .
E s t a p o l i t i c a d o g o v e r n o i m p e r i a l d e u o s r e s u l t a d o s q u e
o b s e r v a m o s d e s d e 1 8 5 2 a t é 1 8 6 4 .
V e j a - s e a g o r a a c o r r e s p o n d ê n c i a o ff ic ia l e n t r e
o
g o v e r n o d o
P a r a g u a y e o m i n i s t r o b r a s i l e ir o n a c a p i t a l d ' a q u e l l a R e p u
b l i c a .
N O T A D O G O V E R N O P A R A G U A Y O Á L E G A Ç Ã O I M P E R I A L *
'< M i n i s t é r i o de relações exteriores.—Assumpção, 1 2 de N o
vembro de
1 8 6 4 .
« O abaixo assignado, ministro e secretario de estado dos
negócios estrangeiros, recebeu ordem do Exm. Sr. Presidente
d a Republica para declarar a
V .
Ex.:
« Que com quanto essa legação em sua nota de
1
de Se
tembro, afirmasse em resposta ao protesto
d 'e s t e
ministério
d e
30
d e
A gosto, que de certo nenhum a consideração faria so-
brestar o governo imperial na politica que havia adoptado
para com o governo oriental, esperou, entretanto, o de aoaixo
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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assignado, que a moderação do governo imperial e a comi»
deração de seus verdadeiros interess es, assim com o ;Jos se nti
mentos de jusfiça, que consti tuem a garantia dW respeito
de todo o governo, influir iam em seu animo para que, apre
ciando o exposto na citada nota de 30 de Agosto, adoptasse
uma politica mais conforme com os interesses geraes, e ao
equilibrio do Rio da Prata, como por si mesmo aconselhavatão grave si tuação.
« E' , porém, com profundo pezar que o governo do abaixo
assignado vê, que, longe de haver merecido a attenção do
governo imperial, sua moderação, as declarações officiaes de
30 de Agosto e a confirmação de 3 de Setembro, .res
ponde á ellas com actos aggressivos e provocadores, occupando
com forças im periaes a villa de M ello, cabeça do de pa rtam en to
oriental do Cerro Largo, no dia 16 do mez próximo passado,
sem prévia declaração de guerra, ou outro qualquer acto pu
blico dos que prescreve o direito das gentes.
« Este acto violento, e a patente falta de consideração que
esta Republica merece do governo imperial , chamaram
seria
mente a attenção do governo do abaixo assignado sobre suas
ulteriores conseqüências, sobre a lealdade da politica do go
verno imperial , e sobre o seu respeito á integridade terr i to
rial d'esta Republica, tão pouca segura, já pelas continuas e
clandestinas usurpações de seus territórios, e collocam o go
verno nacional no imprescendivel dever de lançar mão aos
meios de que trata em seu protesto de 30 de Agosto da ma
neira que julgar mais conveniente para o conseguimento dos
fins que motivaram aquella declaração, usando assim do di
reito qu e lhe assiste pa ra im ped ir os fun esto s effeitos da
politica do governo imperial, que ameaça não só deslocar o
equilibrio dos Estados do Prata, como atacar os maiores in
teresses e a segurança da Republica do Paraguay.
« Em conseqüência de um a provocação tão directa, devo
declarar a V. Ex. que ficam rotas as relações entre este go
verno e o de Sua Magestade o Imperador, impedida a nave
gação das águas da R epublica para a b and eira de gue rra e
mercante do Im pério do Brasil, sob qua lque r pretexto ou
denom inação qu e seja ; e perm ittida a navegação do R ioParagu ay para o com mercio aa provincia brasileira de M atto-
Grosso, a ban deira mercan te de todas as nações a m iga s, c om
as reservas auto risadas pelo direito das ge n te s.
« A proveito esta oceasião para reiterar a V . Ex. as se gu
ranças de minha consideração e estima.
« A S . Ex. o S r . César S auva n V ianna de L ima.
~José
Berges* »
NOTA DA LEGAÇÃO IMPERIAL AO GOVERNO PARAGUAY.
« Legação im perial do Bra sil. —
Assuraf»çáo,
13 de Novembro
de
18$4»
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— 229 —
N O T A D A L ÜGrA Ç Ã O I M P E R I A L A O GO V E R N O P A R A G U A Y O .
« L egação im peria l do Brasil . — A ssumpção , 14 de Nov emb ro
de 1864.
« S r . m inis t ro . — H on tem á noute chegou ás minhas mãos
a nota de V . Ex. datada do dia anter ior com mu nican do-m e
que recebera ordem de S. Ex. o Sr . Presidente da Republica
pa ra m e no tificar qu e, em conse qüên cia de não ter sido
attendido pelo meu governo o protesto contido na nota de
V . Ex . de 30 de A gosto ult im o, contra a en trada d e forças
impe riaes no Estado O riental , f icavam interrom pidas as re
lações entre os dous governos e impedida a navegação nas
águas d 'esta Republica para a bandeira de guerra e mercante
do Im pé rio , sob qualq uer pretexto ou deno m inação que seja.
« E' sem du vid a devido a esta grave resolução do governo de
que V. Ex faz parte o acto de violência commettiao sobre o
jaquete brasileiro
Marquez de Olinda,
qu e se dir igia a Co rum bá,
evand o a seu bordo o S r . preside nte no vam ente nomeado para
a provin cia de M attó Gro sso; acto acerca do qu al apressei-me
hon tem me sm o a pedir a V . Ex. explicações que até este m o
m e nto a inda nã o r e c e b i , c on t inua ndo o c om m a nda nte , pa s s a
geiros e tr ipolação do paqu ete a perm anecerem detidos e in -
com mu nicav eis com a terra .
« Em presença de am sem elhan te estado de co usas, prescin
d e de discutir as considerações de qu e V . Ex. acom panh ou a
sua com mü nicação, e l imito-me a protes tar do modo o mais
41
« S r . m in is t r o . — N * e s te ins ta n te , 9 hor as ^da m a nh a , fui
info rm ad* de qu e o paq uete bras ilei ro
Marquez de Olinda,
que
sahira d 'este porto para M atto Grosso ante-hon tem ás duas
ho ras da tarde , levando a seu bordo o S r . presidente no
meado para aq ue lla p rov intia , se acha desde esta m adrug ada
ancorado no porto de Assumpção, e debaixo das bater ias do
vapor de guer ra paraguayo
Taquary.
« Não se tendo o commandante do
Marques de Olinda
apre
sen tad o n*esta legação para explicar o mo tivo do seu i n e s
r
pera do regresso, devo sup pôr fundados os boatos que aq ui
circu lam de ter sido o dito paq uete p erseguido e detido pelo
Taquary,
que deixou este ancoradouro porcas horas depois do
Marquez de Olinda,
achando-se es te ac tualmente incommuni-
cavel com a terra .
« Em taes circumstancias dir i jo-me immediatamente a V. Ex.
pedindo-lhe explicação sobre o grave facto que acabo dé expor.
« R eitero a V . Ex. as expressões da m inh a dist ineta con
s ideração.
« A S. Ex. o S r . D . Jo sé Berges. —
César Sauvan Vianna de
Lima. »
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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23
solemne em nome do governo de Sm Magestade o Imperador áo
Brasil contra o aito de hostilidade praticado em plenafjpaz contra
o referido paquete
Marques de Olinda,
em violação do que foi
convencionado entre os dous governos, a respeito do transito
fluvial; e desde já resalvo os direitos da companhia de Nave
gação do Alto Paraguay pelas perdas e damnos, que lhe possa
occasionar a interrupção que o dito paquete sonre e vier a
soffer nas suas viagens, em conseqüência da decisão tomada
pelo geverno da Republica.
« Tendo portanto de retirar-me quanto antes d'esta capital,
peço a V. Ex. que se sirva mandar os passaportes para mim,
minha familia, o secretario da legação e comitiva, afim de
poder-mos seguir viagem no paquete
Marquez de Olinda.
cc Reitero a V. Ex. as expressões de minha distineta conside
ração.
ct AééL E X . O Sr. D. José
Berges.—César Sauvan Vianna de
Lima.
»
N O T A D O G O V E R N O P A R A G U A Y O Á L E G A Ç Ã O I M P E R I A L .
« Ministério de relações exteriores.—Assumpção, 1 4 de No
vembro de 1 8 6 4 .
« Recebi a nota que em resposta á d'este ministério de 1 2 do
corrente V. Ex. me fez a honra de dirigir com data de hontem,
protestando contra a detenção do paquete
Marquez
de
Olinda,
a
respeito da qual havia pedido explicações, que diz não ter ainda
recebido, attribuindo o facto á enunciada resolução do meu
governo, e pedindo passaportes para retirar-se quanto antes
3'esta capital com o pessoal da legaçEo.
cc Se ao fechara nota a que respondo, não havia V. Ex. rece
bido a minha resposta á nota em que pede explicações sobre o
facto occorrido no dia
1 3 ,
a terá com tudo recebido logo depois,
e por ella terá sido informado de que não se enganou attribuin
do a detenção do
Marquez
de
Olinda
á minha notificação de 1 2
do corrente.
(c Incluso tenho a honra de remetter a V, Ex. o passaporte
que pede, para retirar-se quanto antes d'esta capital com sua
familia, secretario da legação e comitiva.
« Aproveito esta oceasião para renovar a V. Ex. a expressão
de minha distineta consideração.
« A S. Ex. o Sr. César Sauvan Vianna de
Lima,—José Berges. »
N O T A D O G O V E R N O P A R A G U A Y O A L E O A Ç À O I M P E R I A L .
« Ministério de relações exteriores.—Assumpção, 1 4 de No
vembro de
1 8 6 4 .
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— 3 M —
« A c a b o d a t o m a r c o n h e c i m e n t o d a n o t a q u e V. E x . m a n
d a r a esÉ reg ajr n ' e s t a r e p a r t i ç ã o h o n t e m , d o m i n g o , c o m a d a t a
d o d i a , p e d i n d o e x p l i c a ç õ e s s o b r e a d e t e n ç ã o d o p a q u e t e
b r a s i l e i r o M a r q u e * da
Olinda,
q u e h a v e n d o s a b i d o d ' e s t e p o r t o
p a r a M a t t o - G r o s s o n a t a r d e d e
11,
s e a c h a v a d e v o l t a n a
m a d r u g a d a d e h o n t e m a n c o r a d o so b r e a s b a t e r i a s d o v a p o r
Tmquary. m
« T e n h o p o r e s c u s a d a q u a l q u e r e x p l i c a ç ã o s o b r e a m a t é
ria, v i s t o q u e V . E x . d e v e e n c o n t r a l - a n a n o t a q u e t i v e a
h o n r a d e d i r i g i r a e s s a l e g a ç ã o e m 1 2 d o c o r r e n t e .
« A p r o v e i t o a o c e a s i ã o p a r a s a u d a r a V . E x . c o m a m i
n h a m a i s d i s t i n e t a c o n s i d e r a d o .
« A S . E x . o S r . C é s ar S a u v a n V i a n n a d e L i m a . —
José
Berges »
A s h o s t i l i d a d e s * d o g o v e r n o d o P a r a g u a y c o n t r a o B r a s i l
p r i n c i p i a r a m p e l o a p r i s i o n a m e n t o d o v a p o r Marques de Olinda •
n o p o r t o d e A s s u m p ç ã o .
O
g o v e r n o i m p e r i a l t i n h a s i d o a v i s a d o p e l o d e p u t a d o d e
M a t t o G r e s s o A n t ô n i o C o r r ê a d o C o u t o n a s e s s ã o d e
1858.
C o n v é m n ' e s t e l u g a r t r a n s c r e v er o q u e d i s s e a q u e l l e d e p u
t a d o s o b r e o s p o u c o s m e i o s d e d e f e z a q u e t i n h a a p r o v i n c i a
d e M a t t o - G r o s s o , e o s a r m a m e n t o s q u e fa z ia o P a r a g u a y , q u e
n ã o p o d i a m te r o u t r o fim s e n ã o h o s t i l i s a r a o B r a s i l .
O d e p u t a d o A n t ô n i o C o r r ê a d o C o u t o d e p o i s d e f az er a l g u m a s
c o n s i d e r a ç õ e s s o b r e o a r s e n a l d e g u e r r a d e M a t t o - G r o s s o ,
d i s s e :
« E u e s t o u c o n v e n c i d o q u e s e s e d e s s e a g o r a o c a s o d e
g u e r r a c o m o P a r a g u a y , a l é m d a p r o v i n c i a n ã o e s ta r p r e p a
r a d a , o g o v e r n o s e v e r i a e m b a r a ç a d o e m m a n d a r p a r a a l l i o
q u e a i n d a l h e f a l ta , p o i s q u e n a d a e s t á p r ep a r a d o n a p r o
v i n c i a , n e m p a r a t r a n s p o r t e s . *
cc O S r . m i n i s t r o d a m a r i n h a r e s p o n d e u : — T e m o s e s p e r a n ç a
d e q u e a p a z c o n t i n u e .
<c E e u p a r t i c u l a r m e n t e n a o t e n h o e s s a e s p e r a n ç a ; e s e e u -
t i v e s s e o c e a s i ã o d e f a l la r n o s n o s s o s c e g o c i o s c o m r e la ç ã o a o
P a r a g u a y , d i r i a a r a z ã o .
« M a s é n o t á v e l q u e t e m o s f e it o v á r i o s t r a t a d o s c o m o P a
r a g u a y , t e m o s o t r a ta d o d e
25
d e D e z e m b r o d e
1850,
o q u a l
n a o f oi c u m p r i d o . L o g o q u e o P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a d o
P a r a g u a y v i o - s e s e m o e n o r r h e p e s a d e l o d o d i c ta d o r d e B u e n o s -
A y r e s , c o m e ç o u a m o s t r a r u m a t e n d ê n c i a p ar a u m a p o l i t i c a
i n t e i r a m e n t e d i v e r s a a n o s s o r e s p e i t o ; e t e n d o n ó s p o r a q u e l l e
t r a t a d o a n a v e g a ç ã o f r a n c a d o s r i o s P a r a g u a y e P a r a n á , v i -
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— 252 —
« Par a provar qu e o receio do dictador d e Bu eno s-A yres
conteve por algum tempo a polit ica que depois desenvolveua R epublica do P arag ua y para com o Brasil , direi qu e qu and o
se fez o tratado de
25
de Dezembro de
1850 ,
t ra tado qu e no
seu art . 3.° declarava livre a navegação do Paraná até o
Prata, tanto para os subditos brasileiros, como para os do
Paraguay; e quando mesmo se recebia, e ainda seria preciso
a protecção ao Brasil , o Presidente d'aquella Republica,
apesar de explicações do nosso encarregad o d e n egó cios, sobre
a ocupação do Pão de A ssucar; ao passo qu e com u m a m ão
recebia os benefícios já relatad os, com a o ut ra crav av a-n os o
mortifero punhal, mandando por assim dizer assassinar 25
soldados brasileiros, que guarneoiam o Pão de Assucar, por
uma força considerável. Pouco tempo depois offendeu profun
damente o Brasil na pessoa de seu encarregado de negócios,
o Sr . Leal, pelo que foi necessário que nós tomássemos pro
viden cias, indo para alli um encarrega do de negócios firmado
em uma força naval, missão que não foi muito feliz.
« Sou informado também de que a c idade de A ssum pção,
em vez de apresentar o aspecto de um a praça int eira m en te
com me rcial, mo stra-se u m a verdadeira p raça de arm as : não
se vê alli quo tidianam ente senão m ovim ento de soldados,
exe rcido s con tinuo s, para qu e f iquem b em disciplinados, etc.
T enh o também n oticu ud e qu e se estão edif icando n a me s
m a capital quatro fortes, e um de lle s, con sta-m e, com mu ita
regra e segurança.
« A inda ma is, senh ores, depois que se fez o tratado de
12 de Fevereiro, o Presidente da R epublica do Paragua y es
tabeleceu o imposto de 400 rs. por cada jornal que alli en
trasse: ul t imamente par t io para a Europa o vapor paraguayo
Rio-Blanco
com a missão, segu ndo era vos gerai all i , de
con tratar officiaes. De tudo isto conc luo qu e n ão tem os mo
tivos para tran qu illis ar-m o-n os ; qu e estas não são disposi
ções que deve manifestar um povo amigo.»
mo-nos depois na necessidade de ma nd ar para alli uni encar
regado de negócios firmado e m u m a força n av al .
« A politica do Pres iden te do Pa rag ua y tem sido p ro er as -
tinar. Depois d'iato fez-se o tratado de.6 de Abri de 1856,
tratado que por si só poderia fazer com que as nossas rela
ções com aquella Republica f icassem em bom pé; mas nós
vimos que por dous regulamentos policiaes e f iscaes do Pa
raguay, ficaram frustrados nossos desíg nios e boa vo nta de .
« M ando u-se para a l li o Sr . conselheiro A maral , o qual
nada pode conseguir; foi o Sr . conselheiro Paranhos, eonse-
guio em verda de alg um a cousa em relação aos nossos negócios
de limites, e póde-se dizer m a m o conseguio alguma cousa
mais sobre navegação, porém não estou satisfeito com isto.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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Te rm inando o que disse aquelle deputado sobre a Re»
pub lica ao Pa ra gu ay , co nv ém n'este lugar tranijjpever parte
do disourso que o conselheiro Paranhos pronunciou na câ
mara dos deputados, na sessão de 11 de Julho de 1802, s o
bre a sua m issã o ao Par agu ay em 1867, o qual trata das
qu estõ es qu e o Bra sil tem tido no Rio da Prata desde 1850,
e particularmente oom o Paraguay. (*)
O con selhe iro Paranho s disse :
« La nce m os agora, Sr. p re m en te , um a vista d'olhos sobre
os factos da n-.-ssa historia diplomática com a Republica do
Parag"uay ; e n'este bre ve retrospecto terei oceasiã o de resp on
der ao nobre deputado pela provincia das Alagoas sobre as
Censuras que dirigi
>
á missão especial de 1857.
« D ur an te o dom inio de Rosas, sob o perigo das even tua
lidades com qu e elle no s ameaçava, o governo imperial ti
nha tornado a peito, como interesse permanente do Império,
a defeza da indep end ência da R epublica do Paraguay. Por
ventu ra no em pen ho com qu e o governo imperial procurou
auxiliar o gove rno paraguayo na sustentação da sua in de pe n
dência, com que a diplomacia brasileira na America e na Eu
ropa procurou dem onstrar os direitos que assistiam ao g o
vern o da Assu m pção, não houve longa previdência, não se
attendeu á segurança do Império, a seus interesses presentes
e futuros.
<f ,D 'ess e empenho do governo imperial resultou aggrav a-
rem -se as sua s relações com o dictador R osa s, porque elle
via no Im pér io o m aior obstáculo aos fins do seu plano, a
con qu ista do Estado Oriental do Ur ug uay •— a conquista da
Republica do Paraguay.
« D irigidos por esta politica, celebramo s com o Paragu ay
o tratado de alliança defensiva de 25 de Dezembro de 1850,
E
;
preciso que eu recorde á câmara quaes eram os fins que
o go ver no im perial se pro pun ha n'esse tratado de alliança.
« O objecto princip al do tratado de 25 de Dezembro de
1850 era a defeza da R epu blica do Pa rag uay , dado o caso de
um a aggressão por parte do dictador^ Ro sas, contra a su a
independência. Todavia o governo i i iperial , como necessida
de,
n ão
só do Império, mas também e vital para a indepen
dên cia da R epu blica do Paragu ay, não se descuidou dos
interesses da nav egação , e estipu lou que a alliança tinha por
objec to, assim a defeza reciproca dos dous Estados contra o
dictador, como obter a livre navegação do Paraná até ao Rio
da Prata.
« A navegação do Paraná não dependia do Paraguay s ò -
(*) Extrabidodo Jornal do Commercio de 1 6 de M a r ç o d e 1 8 6 5 .
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— 2 5 5 —
« O gov erno paraguayo não se prestou a um a negociação
Bra sil, cuja confiança para coninoseo cheg ara a ponto de dar
car ta brtgaca ao m inis tro que o govern o im peri al nomeasse
para representar-nos em Buenos-Ayres , dada
j p a
supposta
interven ção do I m pé rio com a Fran ça e Inglaterra, o governo
do Pa rag ua y en tão deixo u-se possuir de prevenções contra o
Brasil, receiou que, ufanos com os resultados que havia-mos
alcançad o na s m arge ns do Prata, nos tornássemos ambiciosos
e quizesse -inos subs tituir o dictador R osas, em seus desígnios
con tra a R epublica do Pa rag ua y/ Deus sabe se a poli tica
estrangeira teve ou não grande parte n 'essas prevenções que
assaltaram o espir i to do governo paraguayo.
« A ssim aconselhado, o governo da R epublica do Parag uay
ne go u- no s o direito á navegação do rio que dá nom e aquelle
Esta do, r io com m um á R epublica e ao Im pé r io ; e e lle não
no s negav a o direito em principio, mas negav a-o fundando-se
em que o exercicio d'esse direito dependia, por outro artigo
do tratado, de regulamentos que deviam ser accordados entre
os do us gov ernos. O ra, como as estipulações d*esse regula
m en to elle as considerava depend entes da questão de lim ites,
a navegação estava adiada, e f icaria adiada por muito tempo.
« O artigo do tratado de 2 5 de Dezem bro de
1 8 5 0 ,
que
falia de regulamento para a navegação do rio Paraguay, não
se refere ao simples transito, á navegação directa; refere-se á
navegação e commercio entre os dous paizes, cousa distineta.
Era indubitavel que a navegação e commercio entre os dous
paizes dependia de estipulações uiteriores, mas o livre transito
pelo r io co m m um era direito perfeito, segundo esse tratad o,
e segundo as estipulações que tinhamos celebrado com os
governos
argentin o e or iental , ás quaes implic i tamente t inha
adher ido o governo paraguayo.
<
T oda via , o governo do Paragu ay discorr ia como o nobre
deputado pelas Alagoas, tornava o nosso direito á navegação
do rio Pa rag ua y de pend ente de nov as estipulações, e sobre
tu do . do ajuste de lim ites. Foi n 'estas circum stancias que o
governo imper ial enviou em 1 8 5 2 um encarregado de negócios
á A ssu m pçã o, Com in strucçõ es para reclam ar o exercício da
naveg ação a qu e tinha m os direito, para regulal-o do mo do
mais conveniente aos interesses dos dous paizes, e ao mesmo
tem po para resolver a questão de lim ite s, a que o governo
pa rag ua yo ligava forçosamente a ou tra, se por ve ntu ra fosse
poss ível obte r d'a qu elle gover no a este respeito u m accordo
satisfatório.
« A câmara conhece bem o q ue então oceorreu. O governo
da A ssumpção , domina do pelas impressões a que já a l lud i ,
não quiz separar a questão f luvial da questão de limites; e
n 'es ta questão pretendeu o que nunca pretendera .
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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236 —
amigável.
Na
questão
de
Jimites não queria as estipulações do
tratado
do l.° de
Janeiro de 1777, que elle
nos havia offere-
cido em
l f # 4 ;
não pretendia mais a linha divisora que o
se u
representante n'esta corte havia proposto em 1816; não
aceitava a linha divisória que lhe propuzemos, e que
desde
então temos•sustentado, a linha de Iguateiny, serra de
M ara-
cajú e Apa.
« Ao passo que se mostrava tãoinconsiliavel na questão
dc
limites,
não separava esta questão da fluvial. Entendia
el le
que a questão fluvial era a mais importante para o Império,
por isso mesmo que o Império quiz sempre separal -a;
que
não devia, portanto, prestar-se a um accordo a respeito d'elia
sem que ao mesmo tempo ficasse ajustada a demarcação da
fronteira.
« Teve esse governo um procedimento violento para com o
representante do Brasil na Assumpção; este foi obrigado a re
tirar-se;
resultou d'ahi uma situação muito desagradável,
muito grave para os dous paizes.
(( Ora, como procedeu então o governo imperial? Entendeu
que não podia enviar um negociador á Assumpção sem que
este fosse acompanhado de força, porque a sua missão devia
ter por fim obter satisfação da offensa feita ao Império na
pessoa do seu representante, e o reconhecimento do nosso
direito á livre navegação, ao simples transito pelo rio Para
guay, quando não fosse possivel chegar simultaneamente a
um ajuste satisfactorio, tanto a respeito da navegação e com
mercio reciproco, como a respeito da questão de limites.
« O nosso plenipotenciario foi acompanhado de uma força
naval. Esta força naval foi preparada sem estrepito, sem que
excedêssemos a fixação decretada para circumstancias ordiná
r i as , apenas reduzindo-se as tnpolações dos navios que fica
ram nas estações do Império: todavia ella foi digna do nosso
paiz, deu uma idéa vantajosa dos recursos militares do Im
pério ante os governos do Prata.
« Chegando a nossa esquadra ás Tres Bocas, o governo
paraguayo fez annunciar que estava disposto para uma nego
ciação pacifica; que, porém, se lhe evitasse a presença de
uma força estrangeira, ^ u e tornaria impossível qualquer ac
cordo amigável. 0 noss<f*plenipotenciario, levado por esse avi
so ,
deixou a esquadra ancorada áquem das Tres Bocas, e Foi
á Assumpção como simples agente diplomático.
« E' certo que confiou demasiado nas apparencias qúe lhe
manifestou o governo paraguayo; suppoz conseguir tudo, que
poderia resolver a questão fluvial, e também a de limites,
ou pelo menos a primeira: é certo que não comprehendeu
bem as disposições do governo paraguayo, e quando quiz
usar da força posta á sua disposição era, tarde.
Teve portanto
de retirar-se com um tratado de navegação e
c o m m e r c i o
que
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— 2 5 8 —
a A presentando u m projecto de con venç ão fluvial* aná logo
ao que tinhamos celebrado com a Confederação Argentina, o
governo paraguayo pelo órgão do seu plenipotenciario, for*
mulou um còntra-projecto. Seguio-se uma larga discussão de
que os protocoilos dão apenas uma idéa succinta.
« Dei conhecim ento m uito m inucioso ao governo im per ial
de toda essa discussão e seus incidentes, e pelo que
é
notório;
e algum dia melhor se verá dos documentos a que al ludo,
a dignidade e interesses do governo do Império foram man
t idos com toda a prudência e moderação, s im, mas sem que
soffressem a mais ligeira offensa. Consegui a convenção de 12
de Fevereiro de 1858.
« O que é a convenção de 12 de Fev ereiro de 1858? O
nosso fim era obter de facto a livre navegação do rio Para
guay; por outros termos, conseguir a revogação dos regula
mentos paraguayos, e sua substi tuição por medidas que ga
rantissem aquelle direi to, prevenindo iguaes desintel l igencias .A convenção de 12 de Feve reiro os revogou e> sub stitu io
completa e satisfatoriamente.
<< Os regulamen tos paraguayos im pu nh am ôn us pecu niários
aos nossos navios, obriga vam -os a u m a escala forçada, to
cando em diversos pontos do litoral da Republica, a varias
formalidades, todas elfas vexa tórias ; tudo isto desa ppare ceu
pela convenção de 12 de Fevereiro.
« Como dizia, S r. presiden te, fiz ab ertur as pa ra resolver a
questão de limites; não foi possivel, porém, apezar dos es
forços que empreguei, entabolar uma negociação formal (nem
era este, repito, o objecto essencial da m in ha m issão, este
estava conseg uido); vi que ne nh um resultado obtinha , e o
governo paraguayo terminou dizendo — a questão está adia da;
respeitemos o nosso accordo de adiamento.
« Isto confirmou-me mais no meu juizo anterior, de qu e,
se a questão de limites pode ser resolvida como espero, ami
gavelm ente, a oceasião não era aqu ella. Quand o o go vern o
parag uay o sahia de um a situação m uito difficil, t in h a ce
dido muito na questão fluvial, t inha cedido muito, não pelo
ue toca ao direito e á razão, m as rela tivam en te ás suas
esconfianças e preterições exageradas, não era natural que
elle cedesse na outra questão, que era a causa originaria de
todas essas dissenções.
« Isto p osto, S r. presidente, po der-se-ha com justiça dize r
que a missão de 1857, como foi planejada, com o fim prin
cipal que se teve em vista — evitar u m a gue rra po r c au sa
da navegação fluvial , pend ente u m tratado que adiava a
questão de limites, foi esté ril , porq ue nã o resolveu ao mesm o
tempo esta segunda questão?
« Para resolver esta questão ao mesmo tempo era preciso,
ou fazer concessões á R epublica do Par agu ay (o qu ê não
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estava no meu pensamento, nem m e foi autorisado), ou re-
solvêi-a por meio da força. Ora, nenhu m de nós sustentará
qu e a questão de limites deva ser resolvida pelo m eio da
força, antes de esgotarmos todos os meios pacíficos.
« Esta questão nào é urgente. Não é urgente porque as
fronteiras com o Paraguay se compõe em parte de território
inhabitavel, em parte de desertos, que não podemos occupar
agora. O q ue no s cumpre é policiar e exercer vigilânc ia
constan te sobre nossa s fronteiras. O Brasil é forte, com o disse
o nobre deputado, em relação ao Paraguay ; o Paraguay não
pôde deixar de respeitar-nos.
« O Paraguay não pôde provocar uma guerra comnosco; não
está isto nos seus interesses, não pôde desconh ecer a des i
gualdade de recursos que ha entre um e outro paiz. Vig ie
m os as nossas fronteiras, irnpeçamos que o govern o paraguayo,
se o tem em vista, o que não presum o, possa estabelecer
ess es além da linha que se tem demonstrado ser a verd a-
eira divisa dos dous paizes; mas d'ahi a dizer-se que deve
mos resolver a questão de limites pela força, sem que a isso
sejamos levados pelo gover no parag uayo , vai grande distan
cia. Quando se trata com um a nação fraca, não queiram os
só resolver as questões á valentona, porque pôde haver tam
bém uma nação forte que nos queira apphcar a pena de
T alião . E' necessário que sejamos m oderados, prudentes e
justos para com todos.
« Se o Par agu ay não respeitar o nosso território, se repetir
explorações como essa de 60 ou 70 homens que foram á
colônia dos Dourados, sem duvida alguma que provoca um
rompimento, não respeitará o nosso uti possidetis, violando o
nosso território: então
é
o Paraguay que torna esta questão
urgente; sua solução immediata será uma questão de paz ou
de guerra entre o s dou s paizes. M as por ora não considero
que se dê esta hypothese.
c< A que stão de ltmit es foi adiada em 1856, e a convenção
de 12 de F evereiro prestou ma is este serviço que v ou po n
derar á câmara. Era de prever que o tempo necessário para
trazer o governo do Paraguay ao reconhecimento amigável de
noss as fronteiras, fosse mais lon go que o de sei s an no s, esta
belecido no tratado de
6
de Ab ril de
^ 8 5 6 ;
porém conviemos
n'este prazo para evitar conflictos que tornassem inevitável a
solução pela espada. Na convenção de 12 de Fevereiro de
1858, procurei inserir estipulações que removessem taes em
baraços, ou a possibilidade de taes conflictos.
« A questão de lim ites prendia-se n u m ponto á questão
fluvial. O território contestado sobre a margem esquerda do
Paraguay é o que demora entre o Rio Apa e a sauga de
nom inada R io Bran co. D efronte d'esse território tem o P a
raguay o forte O lym po, ou Bo urbo n. Por este estabelecim ento
julgava-se com direito de propriedade sobre a margem opposta,
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— 2 4 0
e conseq uentem ente pre ten dia fazer por s i
S Q
a pol ic ia da
parte do r io correspondente a esse terr i tório .
« Pe lo s r e g u l a m e n t o s q u e d e i x a r a m d e v i g o r a r e m v i r t u d e
da convenção de 12 de Fev ere i ro , o governo da R ep ub l ica
t inha querido estabelecer u m po sto m il i tar defronte do di t o
terr itório contestad o, para ex ercer abi actos de so be ran ia , a
sua pol icia . Conv inha evi ta r es te em baraç o . Não podiam ospermi t t i r que o Paraguay exercesse exc lusivamente ac tos de
soberania na parte do r io que corresponde ao terr i tório con
testado, e por outro lado não hav ia necessida de de pol iciar
des er to s ; con seg ui , pois , que em a nov a con ven ção se es t i
p u l a sse q u e e n t re o A p a e o c h a m a d o R i o B r a n c o n e n h u m
dos dous governos far ia a pol ic ia por meio de embarcações
e guardas, sel lando as escot i lhas, e tc .
« S e o g overn o d o Pa rag ua y quizesse exercer a po l ic ia
n aque l la p ar te do r io , em qu e a sob erania não per te nce ex
c l u s i v a me n t e a n e n h u m d o s d o u s g o v e r n o s , p o r q u e a m a r g e me sq u e r d a n o s p e r t e n c e , p o s to q u e a R e p u b l i c a d o Pa r a g u a y
no- la contes te , e a margem di re i ta é posse do Paraguay (se
ha questão é entre aq ue l la R epu blica e a da Bo livia) ; se e l le
quizesse exercer ahi pol icia ex clu siv am en te, não po díam os co n-
sent ii -o , e então de duas u m a : ou a questão de l imi tes se
resolver ia am igavelmente , ' ou a guerra ser ia inev i táve l . A con
venção de 1858 remov eu es te o bs tác ul o; a pol ic ia não será
exerc ida por nenhum dos dous governos, na forma es tabe le
cida para os outros p ontos, em qú e a sob eran ia do r io P a
raguay per tence exc lusivamente a um d 'e l les , e i s to em qu an to
pender a questão de l imi tes . De manei ra que es ta questão
de l im i tes pode f icar pen den te a lém d os se is an no s, s em qu e
caus e o m en or emb araço á nav egaç ão f luvial.
« Esta que stão, repi to, só pode torn ar-s e casus heíli, u m a
ques tão urge nte , se o nosso uti possidetis não fôr resp ei tado .
Ora , eu c re io que o governo imper ia l t em mui tos meios ,
sem rom per hoje n ' u m a gu erra com o Ba rag ua y, para fazer
resp eitar o nosso terri tó rio, para exercer policia efficaz so bre
as fronteiras.
« Precisa rei agora, S r . pres idente , o estado de nossas r e
lações com a R epubl ica do Par ag ua y . J á pon dere i qu e a
conv enção de 12 de Fev ereiro de 1858 preven io a hy po the se,
qu e se pód l dar , de con t inuar pen den te a que stão de l imi tes
a lém do praso de se is ann os . O em baraç o q u e es ta questão
podia t razer com relação ao direi to que tem os de exe rcer
todos os dias o da n ave gaç ão fluvial, qu e no s põe em c o n -
tacto quot id iano com o gov erno par agu ayo , é o qu e na c i tada
convenção procurou-se evi ta r , e evi tou-se .
(( J á d isso 'á câm ara q ue esta que stão só pôde ser cau sa
de gu erra , se o nosso
uti possidetis
não fôr respei tado,
o que
n ão é de esperar da bôa fé e prudemiu do governo paraguay**
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242 —
ao governo
do
Paraguay
os
meios
de
guerra
de que o
Brasil
podia dispo r; — que
o
Paraguay
não
podia provocar
uma
guerra comnosco
(*) ; que não
podia desconhecer
a
desigual
dade
de
recursos
que
havia entre
um e
outro paiz. —
Estas theorias diplomáticas habilmente collocadas pelo con
selheiro Paranhos
no
seu discurso, puderam então acreditar-se,
porque foram pronunciadas pelo diplomata mais competente
e
que conhecia
o
Paraguay;
mas
dous annos depois
as
suas
informações sobre
o
estado d'aquella R epublica foram des
truídas pelos factos:
o
Paraguay tinha 80,000 hom ens
em
armas para fazer
a
guerra
ao
Brasil, 400 peças
nas
fortifi-
cações, e principiou as hostilidades do modo porque se vio.
Das quatro missões mandadas
ao
Paraguay
a que
devia
ter
conseguido tudo quanto exigia
o
Império,
foi a
confiada
a.
Pedro Ferreira d'01iveira, pelas razões
que já
expendemos;
não
se
aproveitou aquella oceasião para sustentar-m os depois
um guerra de cinco annos.
O governo do Império não esgotou a sua paciência com
enviar
ao
Paraguay quatro missões para obter algum a
cousa, também nunca pôde fazer respeitar
as
suas fronteiras
do
sul de
Matto Grosso pela demarcação
dos
limites
dos
dous Estados
;
porque
o
governo
do
Paraguay nunca quiz
fa
zer este tratado, para apoderar-se
dos
terrenos
ao
norte
do
rio
Apa. Não
sabemos
se o
governo imperial chegou
a
estar
prevenido d'esta pretenção,
mas
parece
que não,
pelas rela
ções
amigáveis que a
todo
o
custo queria conservar
com o
governo d'aquella Republica.
O
Paraguay desejava hostilisar
o
Brasil; servio-se
da
questão
com o
Estado Oriental para
o
fazer.
I N V A S Ã O P A R A G ü A Y A EM M A T T O G R O S S O .
Diz
o
relatório
do
ex-ministro
dos
negócios estrangeiros
de
1865, o seguinte sobre a invasão de Matto Grosso :
«
O
Paraguay havia allegado
que a
necessidade
de
manter
o equilibrio
das
Republicas
do
Prata
o
chamava
a
protestar
(*) E' para
a d m i r a r
o seu engano.
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a
con tra q ua lqu er inva são de forças brasileiras no território do
Estado O riental, acto qu e consideraria como a t tenta to ri o da
independência e integridade do mesmo Estado , e o governo
de A guirre em balado oom a idéa de que essa dec laraç ão, tra-
dusida em facto, importaria um auxilio efficaz contra o Im
pério, obstin ou- se em suas recusas ás nossas ju sta s recl am a
ções.; illudio toda s as propostas para a solução pacifica e
am igáve l das difficuldades inte rna s da R epublica, que co m
plicavam se não eram causa essencial dos embaraços inter-
nacionaes que assoberbavam-na.
« M as o tempo não tardou em dem onstrar , que a al lega
ção do P arag uay era apen as u m pretexto, em bora futil , com
qu e p rocurav a colorir , ou antes encob rir as suas verdadeiras
inten çõe s contra o Brasil, e além d'isso um estratag em a a qu e
recorria para distrahir a attenção do governo imperial, dos
projectos q u e cogitav a afim de m elho r levar a effeito seu s
pérfidos intentos.
« A ssim qu e, deixando a R epublica O riental entregu e a sim es m a no mo m en to m ais critico, ao passo que fazia circ u
lar boatos de que v inh a em seu auxilio, por ventu ra no in
ten to de illudir ainda as esperanças d'aquella, e conc entrar
toda a at tenção do governo imperial para a luta em que se
achava com a mesm a R ep ub k ca; o governo do Parag uay
resolvia e leva va a effeito de sorpresa a invasã o da prov incia
de M atto Grosso, prevalecendo-se da proximidade em qu e lhe
ficava a m esm a provin cia, conh ecendo o estado indefenso em
qu e ella se achav a, e a im m ensa distancia qu e a separava
dos recu rso s de qu e carecia, além da difficuldade, se não
impossibilidade de nos distrairmos então da luta em que nos
achávamos empenhados no Estado vis inho.
« A primeira expedição que part io da capital do Par agu ay
•
no dia 15 de Dezembro constava dos vapores de guerra Ta
quary, Paraguary, Iguarey, Rio Bran co e Iporá; rebocando
tres goletas e dous lanchões com forças consideráveis para
atacar o forte de Coimbra.
« Co m punh am -se estas forças de 4 batalhões de infantaria
com 800 ho m ens cada u m , 12 peças raiadas e foguetes de
Congrève de 24; devendo a ellas reunir-se na villa da Con
ceição um corpo de cavallaria de mais de mil homens.
« Um outro exerci to de 5 a 6 mil homens, principalmente
de cavallaria, e com 6 peças de artilharia, ao mando do co
ronel R esq uin , t inha de operar sobre Corum bá, onde se reu
niriam as duas expedições para invadir a provincia.
« A 27 de Dezem bro effectuou-se o ataq ue ao forte de
Coim bra. Dep ois de um a heróica e brilha nte resistência da
parte de su a guarn ição, em nu m ero apenas de 120 ho m ens ,
m as hábil e va len tem en te auxiliad a p elo bravo official qu e
com man dava a canhon eira Anhambahy, que se acha va al l i
estac ion ada , na noite de 28 para 29, aproveitand o a suspe nsão
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244
—
do fogo do inimigo , vio-se forçado o co m m an da nte do forte
a ret irar-se para Corumbá.
cc À parte official da da e m 30 de Dez em bro por este co m
mand ante, o tenente-coronel ^Jüernienegildo de A lbu qu erq ue
Porto-Carrero, contém as razoes do abandono d 'aqueile ponto.
« De posse do forte de Coim bra, assa ltaram os P ar a gu ay os
e tomaram no dia 2 de Janeiro a povoação de Corumbá.
« À canhon eira Anhambahy, prestando n'essa oceasião os
soecorros ao seu alcance á pop ulaçã o indefesa d'aq ue lle log ar,
seguio entretanto em direcção a Cuyabá, quando á ent rada do
S. Lourenço conseguiram alcançal-a quatro vapores para
guayo s; e da luta imm ensa m ente desigual , que al l i se t ravou
no dia 6, resultou ser batido e aprisiona do aque lle vap or,
comm ettendo o inimigo , segun do consta, horrorosos a t tenta
dos. A poderaram-se tamb ém os Pa ragu ayo s dos estabe lecim en
tos de Dourados , M iranda e N io ac
« Estes novo s actos de aggressão vêm expo stos no officio
do presidente da provincia de 28 de Fe vere iro ult im o; e as
atrocidades prat icadas pelas forças invaso ras, ac ha m -se m e n
cionadas no officio da mesma data do chefe de policia, e
depoimentos que o acompanham.
« No dia 11 de Ja ne iro tend o no ticia official do ata qu e
do forte de Coimbra, o presidente da p rovincia nom eou com
m and ante superior da guarda nacional o chefe de e squ adr a
Augusto Leverger, ê deu as necessárias providencias para de
feza da capital.
« N'estas circumstancias, dirigio o Sr. conselheiro Paranhos,
em 26 de Jan eiro , um a circular ao corpo diplomático, ma
nifestando os justos motivos que tinha o Império para repel-
lir tão gratuitas e insólitas aggressões.
« Em 10 do m ez próximo passado foram expedidas as p re
cisas ordens para serem bloqueados e hostilisaaos os portos e
litoral do Pa rag ua y ; deven do este bloqueio torn ar- se effectivo
desde o dia em qu e fosse estabelecido pela s forças na va es do
Império, e flxando-se o praso de 20 dias para a sahida das
embarcações estrangeiras, que estivessem à carga nos portos
d'aquella Republica.« D'estas disposições deram as nossas legaçpes em M on te vi
déo e Buenos-A yres conhecimento em 24 de A bril u l t im o aos
membros do corpo diplomático residentes u 'aquellas Republi
cas, e aos respectivos governos d'e sta s.
« O governo do Paragu ay havia dirigido ao da Con federa
ção um a nota , solicitando o con sen time nto d'este, afim d e
que pudesse o seu exercito transpor livremente a fronteira, da
provincia de Corrientes.
« O
governo a rge ntino , firmando-se em sua posição de tü u -
tro,
não annuio á solicitação. Tanto bastou para que, for
jando pretextos, conseguisse o Pre siden te do P ara gu ay do seu
congresso uma autorisação para, a despeito de todas
*
as con*
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— 2 4 5 —
s i d e r aç õ e s i n te r n ac i on ae s , faz e r p assar p e l o te r r i tór io ar g e n
t i n o o s e u e x e r c i t o , i n d e p e n d e n t e m e n t e d e p e r m i s s ã o d o r e s
p e c t i v o g o v e r n o ; e e m s e g u i d a h o u v e s s e a q u e l l e P r e s i d e n t e
c o m a R e p u b l i c a A r g e n t i n a , d o m e s m o m o d o c o m o p r o c e d e u
c o m o I m p é r i o , s e m p r é v i a d e c l a r a ç ã o d e g u e r r a , e e m e s t a d o
d e p az .
« A R e p u b l i c a A r g e n t i n a f oi p r o m p t a e m a p a n h a r a l u v a
q u e l h e a t i r ar am , e t r a ta d e v i n gar o u l tr age fe i to á su a so
b e r a n i a e d i g n i d a d e .
« E i s e m r e s u m o o q u e t e n h o d e c o m m u n i c a r - v o s r e la
t i v a m e n t e á R e p u b l i c a d o P a r a g u a y \ p a r e c e n d o - m e p o d e r
a c c r e s c e n t a r , s e m r e c e i o d e s e r c o n t r a r i a d o , q u e s e n ã o h a
u m s ó B r a s i l e i r o q u e d e s c o n h e ç a a r e v o l t a n t e i n j u s t i ç a e n e g r a
p e r f íd i a c o m q u e f o m o s g r a t u i t a m e n t e p r o v o c a d o s e a g g r e d i d o s ,
n e n h u m h a t a m b é m q u e , c h e i o d e i n d i g n a ç ã o , n ã o e s te j a
c o n v e n c i d o d a i n d e c l i n á v e l n e c e s s id a d e d e v i n g a r d e v i d a m e n t e
t a m a n h a a f lr o n t a á s o b e r a n i a e d i g n i d a d e d o I m p é r i o , n ã o
m e n o s q u e a o s p i i n c i p i o s d e h u m a n i d a d e e d e c i v i l i s a ç ã o d o
s é c u l o a c t u a l . E s o b r e m o d o l i s o n g e i r o m e é a q u i c o n s i g n a r
q u e n o d e s e m p e n h o d
1
e s se sagr ad o d e ve r d e h o n r a , t e m o
g o v e r n o i m p e r i a l e n c o n t r a d o o m a i s d e c i d i d o e o m a i s e n t h u -
ã & s t i c o a p o i o e c o n c u r s o d a n a ç ã o . »
C o m o o e x - m i n i s t r o d e e s t r a n g ei r o s f o i m u i t o r e s u m i d o n a
s u a e x p o s i ç ã o s o b r e a i n v a s ã o p a r a g u a y a n a p r o v i n c i a d e
M a t t o G r o s s o , t r a n s c r e v e m o s a s p a r t e s o f f i c i a e s q u e o g o v e r n o
r e c e b e u d ' a q u e l l a p r o v i n c i a .
PART E D O T ENENT E CO RO NEL P0 RT O - CARRER0 .
« Q u a r t e l d o c o m m a n d o d o d i st r ic t o m i l i t a r e m C o r u m b á ,
3 0 d e D e z e m b r o d e 1 8 6 4 .
ct I l l m . e E x m . S r . — S o b a s in a^ s g l o r i o s a s i m p r e s s õ e s d e d o u s
d i a s d a m a i s v i g o r o s a r e s i s t ê n c i a f e i ta p e l o c o r p o d e a r t i lh a r i a
d e M a t t o G r o s s o , c o a d j u v a d o p o r d e z c a n i n d é s d a t r ib u d o
c a p i t ã o L i x a g o t a , p o r q u a t r o v i g i a s d a a l f â n d e g a , e p o r t r es
o u q u a t r o p a i z a n o s d e A l b u q u e r q u e , d i s t r i c t o m i l i t a r c i o m e u
c o m m a n d o ; a o s a t a q u e s s u c c e s s i v o s e d e s es p e ra d o s d e e s c a
l a d a a o f o r t e d e C o i m b r a , p e l a d i v i s ã o p a r a g u a y a e m o p e r a
ç õ e s n o A l t o P a r a g u a y , a o m a n d o d o c o r o n e l V i c e n t e D a p p y :
a n t e c i p o - m e e m l e v a r a o c o n h e c i m e n t o d e V . E x . p a ra o s f in s
c o n v e n i e n t e s , q u e t o d o s o s o f f ic i a es d o d i t o c o r p o m a n i f e s
t a r a m e d e s e n v o l v e r a m o m a i s p r o n u n c i a d o e e n t h u s i a s t i c o
v a l o r , s e n d o a c o m p a n h a d o s n o s m e s m o s s e n t i m e n t o s p o r t o d as
a s pr a ç a s e m a i s i n d i v i d u o s a c i m a r e f e r id o s .
« N ã o n o s s o d e i x a r d e f az er e s p ec ia l m e n ç ã o d o s e g u n d o
t e n e n t e J o ã o d e O l i v e i r a M e l l o , n o c o m m a n d o d a f u z il a ri a
43
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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- 246 —
que defendia, nas seteiras da se gu nd a bateria na golla da
fortificação, os ataq ues de escalada a qu e acim a me refiro,
com oitenta baio netas, con tra u m bata lhão de infan taria d e 700
praças e duas bocas de fogo bem guarne eidas, qu e ata ca ra m
a dita retaguarda, chegando muitas vezes a porem a mão
sobre o parapeito.
« T odos os dem ais officiaes se torn am igu alm en te d ignos
da mesma especial m en ção ; qu an to á artilh aria da 1.* ba teria
que jogou constan teme nte dura nte os dou s dias, contra duas
baterias üuotuantes de 68, que se assestava, ora aqui , ora
acolá, onde melhor lhe convinha; t res baterias de art i lharia
a cavallo, raiad a, qu e assestadas na fralda do m orro em frente
ao forte, uma de foguetes á congrève á direita do dito forte,
e 5 vapores que também jogavam com o cal ibre de 68 e
outros, não deixando tamb ém de se dist inguirem por seu
tur no na fuzilaria das ba nq ue tas, e qu an do coaájuvarvam o
referido 2.° tene nte Joã o de O liveira M ello na das se te ira s.
« Passando agora a detalhar em t ran su m pto , para o fazer
extensamente em oceasião opportuna, o ataque e defeza do
forte de Coimbra, informarei que no dia 27 pelas 5 horas da
m an hã foram avistados pelas sentine llas e vigias do forte, ao
levantar de uma forte cerração que houve no referido dia,
diversas embarcações ao norte, e reconhecendo-se serem al
gu m as a vapor, fundeadas proxim am ente a u m a lég ua rio
ab ai xo ; reunida toda* a guarnição do forte e dispostas todas
as cousas em ordeni de combate com a única força de que
disp un ha , qu e apenas chegou para gua rnec er cinco bocas de
fogo com 35 homens, seis banquetas com 40 homens, as se
teiras da se gund a bateria com 80 ;' ag ua rda va qu e se app rox i-
massem , quan do ás 8 1/2 da m an hã dirigin do- se ao forte um
escaler procedente das embarcações acima referidas, c on du
zindo u m official para gua yo, qu e ent re go u- m e o officio de
que V. Ex. já teve conhecimento, que me era dirigido pelo
chefe da referida divisão paraguaya, declarando-me que eram
8 1/2 da m an hã e ag ua rd av a resposta* até á s 9 1/2; feita a
minha di ta resposta , de que também V. Ex. já teve conheci
mento, uma hora passada começaram a prat icar desembarquee
ás m argens direita e esquerda do r io . A qui cump ro u m dever
declarando que o vapor de guerra
A n h a m b a h y ,
ao m ando do
1.° tenente Balduino José Ferre ira de A guiar, com eçou a
desempenhar o mais bri lhan te papel que effectivamente de
sempenhou durante os dous
<
dias do ata qu e, fazendo-se até
ousado muitas vezes, approximando-se a umas e a outras ba
terias, que batiam o forte, jogando habilmente com seus does
canhões de 82, e me smo em barga ndo por m uita s vezes o
passo ao inimigo que se dirigia a retag uar da do forte pe lã
traída da m on tan ha . Este vapor ás 10 1/2 hor as da
manha,
passando pela frente do forte, dirigio-se ao ponto do pr im ei ro
desem barque á dire ita do rio,* e rom peu o fogo, d an do tres
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tiros sobre diversas columnas de infantaria e uma de artilha
ria a cavallo • que já se achavam em marcha.
« No mesmo momento rompeu também o fogo o inimigo
com os seus vapores e baterias üuctuantes de tão longe que
seus projectis apenas alcançavam a meia distancia. O forte
conservou-se á vista disto calado como lhe cumpria, até que
o inimigo se approximasse. A's % horas rompeu o dito forte
seu fogo de artilharia, e na mesma oceasião do fuzilaria das
seteiras. Engajado as^im o combate, sem a menor inter
rupção durou até 7 e meia horas da noite. O inimigou cessou
o seu fogo, reembarcou as suas forças e retirou-se. V. Ex.
sabe que no forte de Coimbra só existiam 10,000 cartuxos
embalados, os quaes reunidos a
2, 0 0 0
que me foram forne
cidos pelo vapor
Anhambahy
perfaziam o numero de 1 2 , 0 0 0 .
« Terminada a mais vigorosa resistência de que venhp de
fallar, aòs ataques de escalada do dia 27, reconheci só exis
tirem cerca de 2,500 cartuxos; tornou-se por tanto mister
que todas as mulheres que se achavam homisiadas no in
terior do forte, em numero de 70, fabricassem cartuxame
para a infantaria, durante toda a noite, sem dormirem um
só instante, visto não poderem os soldados deixar por um
momento os parapeitos.
« Assim consegui para oppôr aos novos ataques do dia
seguinte ' 6,000 e tantos cartuxos, tendorse tornado preciso
transformar as balas de adarme 17, machucando-as com pedras
e pequenos cylindros, para se acommodarem ás espingardas
á Minié.
« Com effeito, no segundo dia, 2 8 do corrente, dando o
inimigo novas disposições ás suas baterias üuctuantes, mos
trando claramente que queriam arrombar o portão principal
com a sua artilharia de
6 8
e abrir brecha ao lado com as
raiadas, entretive este fogo desde as 7 da manhã até ás 2 da
tarde,
e neste ultimo momento carregou com a infantaria
sobre as seteiras da 2.
4
bateria, e com tal furor que bem se
deixava ver que vinham animados na firme esperança de
effectuarem o assalto. -Cheguei ao ponto mais brilhante da
minha exposição.
« O inimigo vinha a cada momento ao parapeito e era re
chaçado com valor inaudito provocado pelos vivas do inimigo
e gritos desordenados de—rendam-se—, os quaes eram cor
respondidos pelos nossos soldados de — vivas ao Imperador,
aos Brasileiros e ao corpo de artilharia de Matto Grosso. —
Postos em retirada ás 7 horas da noite, mandei sahir duas
sortidas, uma com o bravo capitão Antônio Augusto Conrado,
e outra com o não menos* bravo 2.° tenente João de Oli
veira Mello, afim de recolherem todos os corpos semivivos
para s e T e m tratados com a humanidade que nos cumpre. •
« Foram recolhidos n'essas circumstancias 18, dos quaes
um foi immediatamente amputado no braço esquerdo, outro
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— 2 4 8 —
morreu em seguida, e os demais foram conv enientem ente
curados: as ditas sorttdas recolheram ao forte
8 5
armas dos
que haviam fallecido, muitos bonés, inclusive dous qu e pa re
ciam de officiaes, e outros muitos objectos encontrados de
pouco valor no lugar do com bate ; informando-me que os
mortos subiam de
100,
e que ainda existiam muitos feridos
por dentro do m atto, onde se ouviam gem idos, mas -que
pela approximação da noite se não podiam enco ntrar. Entre
os expolios acima ditos foi encontrada um a prociamação, e
algumas notas de dinheiro paraguayo, o que a esta acom
panha, para que V. Ex. lhes dê o eonveniente destino.
« No momento em que isto se dava, em qu e o corpo de
artilharia de Matto Grosso acabava de colher louros tão glorio
sos, e de cobrir-se de tanto orgulho, ao passo que o inimi
go rechaçado reembarcára como acima disse, reconhecem
as sentinellas que desembarcavam -novas forças em nu m ero
muito superior, frescas e que já se dirigiam para o forte em
massas de infantaria, cavallaria e quatro bocas de fogo pu
xadas a cavallos, que se dirigiam á frente do portão , á som
bra dos tamarindeiros que alli existem na distanc ia de cer
ca de
300
braças. Era pois evidente que, ou na m esma noite
ou ao amanhecer do seguinte dia 29, teriamos novos e pre
cisamente mais desesperados ataques, para os quaes comtudo
a guarnição do forte se achava sobejamente disposta a re -
cebel-os e a repellil-os ainda um a vez. N'este m om ento fatal
dirigi-me ao comm andante do forte para saber que cartux am e
de infantaria nos restava para colher-mos novos louros, fuiinformado de que talvez não excedessem de 1,000, pois que
cinco mil e tanto se haviam gasto n'aqu ella ultim a tard e,
e estes dos feitos pelas mulheres.
í Estas mulheres que já a dous dias, como nós todos, não
comiam nem dormiam, não podiam fazer novo cartuxame, por
ser isto um esforço sobrena tural e mesmo inven civel, tanto mais
que em termo de comparação não se poderia contar gastar no dia
seguinte menos do dobro do que se havia gasto n'aque lla tarde.
« A' vista d'isto forçoso me foi reunir em conselho a todos
os officiaes, inclusive
o
bravo commandanje do vapor
Anhambahy,
e resolveu-se que, sendo a falta do cartuxame de infantaria
uma razão de força maior, e um a difficuldade invencivel pelas
razões acima mencionadas, accrescendo a terem-se também aca
bado as balas de adarme
17
que serviam para a transformação
acima referida; que abandonássemos o forte, para não serem
sacrificadas tantas vidas, salvando-se assim sua guarnição, e
que isso se efíectuasse sem perda de um instante, visto que
o inimigo, já se achando nas posições novam ente tomadas
com forças frescas, podia engajar novo combate, e nós teria-
mos de cessar o fogo ao cabo de meia hora, por total aca
bamento do cartuxame de infantaria, e o inimigo em todo
o caso empossar-se do forte, levando a effeito sua carnificina.
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« Embarquei com toda a guarnição debaixo de todas as
precauções, prevalecendo-me da escuridão da noite, e dirigi-me
a este ponto, onde apresentando-me a V . Ex. fico aguar
dando as suas
ordens ;
restando-me a maior satisfação em
declarar a V. Ex. que nenhuma só praça da guarnição do
dito forte, nem mesmo d'aquelles cidadãos que coadjuvaram,
soffreu o mais leve ferimento. »
« Deos guarde a V. Ex,
« Illm e Exm. Sr. coronel Carlos Augusto de O liveira,
commandante das armas da provincia.
—
Hermen egildo de Al
buquerque Porto-Carrero,
tenente-coronel commandante. »
EXTRACTO DO OFFICIO DA PRESIDÊNCIA DE MATTO GROSSO DE 28 DE
F E V E R E IR O D E 1 8 6 5 .
« J á
V. Ex. deve estar sciente da desleal invasão que os
Paraguayos
fizeram
n'esta provincia, tendo atacado com grandes
forças o forte de Coimbra no dia
2 7
de Dezembro ultimo,
ò
qual resistindo até o dia 2 8 ; a sua guarnição,
á
vista do nu
mero de inimigos, evacuou-o n'essa noite. Desde então até
hoje foram seguidos os desastres, em razão dos poucos meios
de resistência que haviam na provincia.
«c
No dia
2
de Janeiro o coronel commandante das armas
abandonou precipitadamente a florescente povoação do Co
rumbá, embarcando-se coca o
2 . °
batalhão de artilharia a pé
no vapor
Ànhambahy,
e vindo-se metter encurrallado em um
pantanal sem sahida, no lugar denominado—Sará—sobre o
rio S . Lourénço, deixando em Corumbá, em uma escuna par
ticular, o corpo de artilharia da provincia que se havia batido
com bravura no forte de Coimbra, e- mais 4 0 praças do 2 . °
batalhão.
« Em taes angustias o povo de Corumbá embarcou-se como
pôde, e o que pôde em diversas canoas e egarités e subiram
pelo rio Paraguay. O corpo de artilharia, guiado pelo deno-
clado 2 . ° tenente João de Oliveira de Mello, subio como pôde
á espia até certa altura, de onde, distinguindo-se dous vapores
paraguayos, fez o tenente Mello desembarcar a gente e com
ella seguio oito dias por dentro d'agua pelos pantanaes, edepois de atravessar um braço do Paraguay, pôde chegar
com toda gente salva em uma fazenda do interior, mas com
cento e tantas pessoas doentes de fadigas, fome, etc . : ahi
mesmo foi essa gente dispersa pelos Paraguayos, e ainda hoje
se não sabe ao certo que é feito d'ella.
« No dia 6 de Janeiro o vapor
Anhambahy,
que deixara o
commandante das armas com perto • de 500 pessoas no Sará
e descia a auxiliar o resto da gente sahida de Corumbá, foi
batido e aprisionado por quatro vapores paraguayos.
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<( Depois cVisto os m esm os Par ag ua yo s arra sara m o
e s t a b e
lecimen to dos D ourados, onde s e g u n d o , a s ultimas n o t i c i a s
dadas por alguma gente nossa d'elles escapada, tem elles feoje
muito grande força, e se estão fortificando.
« O com m andante das arm as, depois *áe estar algum tempo
no Sará, passou o rio S. Lourenço para a margem esquerda,
e d'alli se dirigio pelos campos alagados em d uas canoas como seu estado maior e parte do
2 . °
batalh ão de artilharia a
pé em deman da do rio P iqu iry , deixando outra parte em um a
Fazenda. A parte que ficou foi dispersa pêlos Paragu ayo s, qu e
aprisionaram algumas praças e officiaes, e do com m and ante
das armas ainda se não tem outra noticia.
« Os Paraguayos tem quatro vapo res, em tudo superiores
ao nossos, crusando nos rios Cuyabá e S. L ou renço , e vão
aprisionan do toda a gen te qu e busca a capital. A s fazendas
de gado e mais estabelecimentos dos rios Cu yab á, S. L ou
renço e Parag uay , estão abandonadas, avaliando-se em m aisde
1 0 0 , 0 0 0
o numero de rezes das ditas fazendas.
« Consta que um tenente e o capellão do corpo de cava l
laria chegaram a um a fazenda do rio T aqu ary, e dão a n o
ticia de que o districto de M iranda fora atacado pelos P a ra
guayos, com uma divisão de 6 , 0 0 0 homens de infantaria e
2 , 0 0 0
de cavallaria ; que em Nioac houv era grande m o rta n
dade, que desapparecêra o tenente-coronel José A ntônio D ias
da S ilva, comm andante do corpo de cavallaria, e que a villa
de M irand a, onde estava o casco do batalhão de caçadores,
e o 7 . ° da guarda nacional, se rend era sem resistência.
« A gente dispersa pelos mattos e pan tanaes dos rios Pa
raguay e S. Lourenço é regulada em mais de
2 , 0 0 0
pessoas,
das quaes tem chegado algumas a esta capital, nuas, exte
nuad as de miséria e fadiga; de hoje até am an hã espera-se
cento e tan tas, gran de parte tem mo rrido de fome, afogadas,
de peste, e t c , e outras tem sido a prisiona das.
« Por esta descripção V . E x . vê que hoje não tem a p ro
vincia um só corpo de linh a. A força qu e a gua rnece pre
sentemente é de 9 7 0 guardas nacionaes n 'esta capital , 8 0 5
em M elgaço (a 2 0 léguas da capital, onde é hoje a fronteira
da p rovin cia), inclusive as
1 5 2
praças de linh a, cento e
t à à t a s
em Paconé, e 5 8 1 em V illa M aria, inclusive 8 3 praças de
linha. N'esta força não comprehendo pequenos destacamentos
dos sertões e do districto de Matto Grosso, nem a pequena
flotilha. »
Por este officio do preside nte de M atto Grosso de 2 8 de
Fevereiro, que acabam os de transcrev er, vê -se o abandono
em que ha muitos annos estava aquella provincia, em r e -
lação a armamento para a sua defeza ; o corpo de artilharia
da provincia estava redu zido a 1 2 0 p r a ç a s , que g u a r a n á o
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— 251
f o r t e de Coimbra; o 2 . ° batalhão de artilharia do exercito
não passava de
2 0 0
; os outros dous corpos de linha estavam
reduzidos a poucas praças.
Depois que o governo imperial recebeu
a
nota de 30 de
Agosto do igoverno do Paraguay, é que conheceu o engano
em que tinh a existido até então, masj apezar de vôr o que
contenha aquella nota, de ameaças contra o Brasil, limitou-se
a
tomar algumas providencias em relação á provincia de
M atto Grosso. Estas providencias foram a nomeação de um
presidente para aquella provincia, em quem, e com boas
razões, depositava toda a sua confiança.
A escolha do presidente para aquella provincia tinha sido
muito boa pelas qualidades da pessoa nomeada, e suas habi
litações scientificas como coronel do corpo de engenheiros.
O nome do coronel Frederico Carneiro de Campos era já uma
garantia para a provincia de Matto Grosso; se elle tivesse
sido nomeado algum tempo antes, teria podido talvez defender
a provincia da invasão paraguaya, ao menos não seria devas
tada como o foi; mas o m inistério que fez tão boa nomeação
acordou tarde também a este respeito; com a demora em dar
as providencias que o estado d'aquella provincia exigia, sa
crificou o presidente nomeado, digno a todos os respeitos da
veneração publica, e privou a provincia do primeiro auxilio
que lhe mandava para a sua segurança. (*)
Era preciso ter-se sido mais previdente para tomar-se em
grande consideração o primeiro insulto que o governo do
Paraguay fez ao Brasil em
1 8 4 6
no Pão de A ssucar, e depois
o que se passou com o encarregado de negócios na Assumpção
em 1 8 5 3 , para que na oceasião em que foi a esquadra com-
(*) A familia Carneiro de Cam pos, da Bahia, é uma das famílias que tem
dado maior n um ero de hom ens para o serviço do Estado,- a maior parte dos
m em bros d'esta familia tem occupddo lugares distinetos no serviço publico,
quasi todos foram c onhecidos pelo seu caracter franco e lea l; o seu nome de
honradez e de probidade como empregados públicos, unido aos muitos se r
viços que prestaram^ nos altos cargos do E stado, os constituíram homens d is
tinetos d'este Im pério: basta citar os som es d o Marquez de Caravellas, senador,
ministro do im pé rio e um dos signatários da nossa constituição politica,- F ran
cisco Ca rneiro ae Campos, senador, João Carneiro de Campos, official maior
da secretaria da justiç a, e ou tro s; bem conhecidos nesta corte, para confirmar-se
o que dizemos dos me mb ros d'esta familia. D 'estas qualidades participava o
infeliz coronel Frederico Carneiro de Campos, que está sepultado em Humaytá.
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H Y R O D É C I M O .
DISCURSO O C O N S E L H E I R O P A R A N H O S S O B R E O C O M P O R T A M E N T O O G E N E R A L
D.
V E N A N C I O F L O R E S E D O V I C E - A L M I R A N T E B R A S I L E I R O .
O governo imperial mandou instrucções para se proceder a
represálias contra o Estado Oriental por mar e por terra, de
cujas ordens fizemos menção no livro VII.
Tiveram lugar logo com a força marítima, porque n'essa
oceasião já tinhamos no Rio da Prata oito navios de guerra.
As primeiras represálias por terra consistiram no que fizeram
os dous chefes que se tinham ajustado, o vice-almirante bra
sileiro, e o general D. Venancio Flores; o que vamos mostrar do
modo seguinte.
Quando o general D. Venancio Flores, chefe da revolução que
elle tinha iniciado em 1863 no Estado Oriental, soube que o
governo imperial mandou hostilisar o governo de Montevi
déo, principiou os seus movimentos.
Diz o conselheiro Paranhos a este respeito o seguinte, a
pag. 13 da sua defeza:
« O vapor Villa dei Salto resistio á intimação, procurou es
capar e conseguio-o refugiando-se no porto de Paysandú,
onde as próprias autoridades orientaes o mandaram incen
diar.
« Observando o general Flores que o governo imperial,
mallograda a mediação, começava a exercer represálias contra
44
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—
254 —
o governo de Montevidéo, que já tinhamos
immobilisado o
vapor Gen eral Artigas e dado causa ao incêndio do Villa dei
Salto; que, ao passo que assim procedíamos para com o go
verno
de
Montevidéo,
não nos
entendiamos
com
el le; hábil
como é, e querendo popularisar também a sua causa
com
uma demonstração de zelo pela dignidade oriental, aquelle
general pedia explicações sobre
o
facto
do
vapor
Villa dei Salto.
O senado recorda-se
de que o
commandante
da
nossa divi
são estacionada no Uruguay prestou-se ao intento do general
Flores, dirigindo-lhe um longo officio, que já foi publicado o
anno passado
nas
gazetas d'esta corte.
O
dito commandante
explicou o facto, e declarou que não tivera intenção de offen-
der a bandeira oriental; offerecendo, em prova de suas dis
posições pacificas,
se o
general Flores
o
julgasse conveniente ,
salvar
á
bandeira da Republ ica com 2 1 tiros.
« O senado vê que esta occurrencia era também própria para
aggçaivar
o
nosso conflicto
com o
governo
de
Montevidéo.Já
não nos
l imitávamos
a
immobilisar vapores
de que
aquelle
governo carecia para defender-se
nos
pontes
do
litoral contra
seus adversários internos; o commandante de uma divisão
brasileira justificava perante o general Flores a represália que
praticara,
e que
aliás
era o
exercicio
de um
direi to: mais
do que isso, promettia uma satisfação ao chefe da revolução,
que até esse momento não estava reconhecido por nós como
belligerante.
yjèjfi
«
E'
certo
que o
governo imperial
não
approvou esse pro
cedimento, mas a sua desapprovação não foi publ ica; e porque
ficaria esta desapprovação reservada, quando aliás
era
cohe-
rente
com as
declarações solemnes
que
haviam os feito
ao
governo de Montevidéo? (D'aqui por diante os acontecimentos
correm sob a direcção do gabinete de 31 de Agosto). Porque
não se desapprovou publicamente aquelle acto? Seria porque
o commandante
da
estação naval
do
Ur ugu ay valesse m ais
do que o plenipotenciario brasileiro, que por menos mereceu
o decreto de 3 de Março? Não; ficou em reserva, senhores,
porque então
o
nosso horisonte politico
no Rio da
Prata
se
cobria de nuvens negras, grandes difficuldades nos ameaçavam,
não
era
opportuno
o
momento para
que os
valentes
do ga
binete de 31 de Agosto carregassem seus sobr'olhos, ou m o s
trassem
sua
feia catadura.
« Depois d'este facto,
que se
apresentava
já
c o m o
um
prin
cipio de alliança com o general Flores, o governo de M o n
tevidéo allucinou-se ainda mais; rompeu então suas
relações
diplomáticas com o Império, rompeu âo mesmo
tempo
as
relações consulares. Mandou
passaportes
ao
nosso ministro
residente, cassou o exequatur dos nossos agentes consulattfc*
mas ainda manteve as
relações
de commercio pacifico
entre
os dous povos.
« D esde esta em ergência ach am o-n os sobre uni
deciitfc,
i
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— 2 5 5 —
ue era m uito diíücii : resis tir . A ssim como crescia no animo
o g ov erno ori en tai ã su a desconfiança con tra nós, crescia
também da nossa par te a necessidade de reagir com mais
força. O carac ter e significação politica que assu m iram os
nosso s actos* de en tão por dia nte são dign os de nota r-se, e
para el les chamo a at tenção do senado, porque cumpre tel-os
m uito pres ente s , quand o houv er-mos de tomar contas ao ini
migo vencido, e graduar o r igor com que devamos proceder
para com elle .
« O nosso a lm ira nte , á vista de todos estes factos e com
autorisação superior , entendeu que devia empregar medidas
mais enérgicas ; e com es te empenho dir igio uma nota con
fidencial aos ageiLtes diplom áticos residente s em M ontev idéo.
E ste do cum ento foi logo publicado pela imp rensa do R io da
Prata e corte do Rio de Janeiro, e a elle se refere o nobre
ex-ministro dos negócios estrangeiros em seu ult imo relatór io.
R equ isitav a o nos so, alm irante aos agentes diplomáticos de
M onte vidé o qu e não consentissem qu e, sob as bandeiras de
su as naç ões , se transportassem tropas e mu niçõe s de guerra
do governo oriental para diversas portos do seu litoral no Rio
da Pra ta e no r io Uru gu ay. Pon derava o nosso a lmirante
que os agentes es t rangeiros deviam conservar -se neutros no
conflicto en tre o governo im perial e o de M ontev idéo, e d e
clarav a qu e, se el les nã o impedissem aos seus navios mercan
tes aqu elle serviço ao governo de M ontevidéo, a esqua dra
bra sileira exercer ia constante vigilância sobre os ditos tran s
portes, e far ia apprehensão do contrabando de guerra.
a O s agentes diplomát icos res identes em M ontevidéo res
ponderam á referida nota, recusando-.se á nossa requisição,
e es tra nh an do m esm o q u e ella lhes fosse feita. E' preciso,
senhores, reconhecer que elles t inham razão.
« Qu al era a p osição do govern o "imperial para com o de
M onte vidé o, segun do a defenio o conselheiro S araiva , seg un
do declarações officiaes que não tinham sido ainda modifica
das? Nã o es távamo s em \guer ra com aquel le governo; pra t i
cavam-se represálias af im de chegar a um accordo com elle,
q u e evitasse a gu er ra. Co m o, pois , fallar-se em neu tralidade
e c on trab an do de gue rra? Como a llud ir-se ao direito de visi
ta? E qu al o f im que t inha m os em vis ta? T olher ao governo
de M on tevid éo todos os meios de ir em soccorro dos po ntos
d o seu l i toral qu e fossem atacados pela revoluç ão. S e os agen
tes diplomáticos se prestassem á nossa requisição, é manifesto
qu e ef les se torn aria m auxil iares indirectos da revolu ção, como
nó s iá iam os send o. *
« Em conseqüência da resposta negat iva dos agentes diplo
má t icos es t rangeiros , o nosso a lmiran te ordenou o bloqueio
dos po r tos d e Pa ys an dú e S al to , e entrou em accordo com
o
general Flores em S an ta L úcia . Este accordo não é segredo,
conhece -o todos os ho m en s polí ticos do R io da Pr ata , e o
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nobre ex-m inistro dos neg óc io s estran geiros refere-se a isso
muito expressamente em sen relatório.
« D e que natur eza foi aq ue lle accordo? E ntã o prop unh a-se
o governo imperial a expelu r dos pon tos ao norte do R io N e
gro as forcas do govern o de M on tev idé o que a hi se ac h as
sem .
0 nosso a lm irante e nten deu -se com o general F lor es ,
com m unica ndo -lhe o nosso p lano de represálias , e procurand o
pôr-se de intel l igencia a esse respeito com o general oriental .
<t A ceita va a cooperação d*este , offerecendo -lhe a da es q u a
dra e do exercito para co ns eg ui r-s e aqu elle f im. Esta co op e
ração,
po rém , das forças brasile iras com as do general Flo res ,
do s nossos ch efes militares com o chefe da revoluç ão oriental ,
devia ter luga r m edi ante algum a seguran ça a respeito de
nossa s reclam ações, e qua nto ao futuro de n ossa s relações
com aquel le Estado. »
R es ul to u, pois , d'esta entrevista o accordo con stan te das
notas reversaes de 20 de Outubro de 1864, que se acham já
transcriptas.
O g e ner a l F lo r es to m o u a Vi l la do Sa l to a 2 8 de N o v e m
bro de 1864, sem dif i cu lda de , porqu e , á approx imaçã o das
forças d*aquelle chefe da revoluçã o orienta l , a guarn ição fu -
g i o . A chou 2 50 pris ioneiros , qu e fez encorporar ás forças qu e
elle commandava, 4 peças de arti lharia de pequeno calibre,
e a lg um a s mu niç õ e s de g ue r r a. O g e ne r a l F lo r e s no m e o u
com m an dan te m ilitar d'esta praça ao coronel Jo aq ui m de
Sant'Anna, que es tava a l l i preso . F icou guarnec ida por 400
ho m en s, dos quaes 100 eram Brasile iros . A quelle general di -
g io -se para as im m ediaç ões de Pa ysa nd ú, para se encontrar
com o vice-almirante brasile iro, conforme o ajuste anterior
mente fe ito.
A es te tem po es tava o v ice -a lm irante em Bu enos-A yres
(f izemos mensao dis to no l ivro antecedente); logo que soube
da rendição da Vil la do Salt o, e sab end o tam bém que ia
um m inistro brasile iro em mis são espec ial ao R io da Prata,
não esperou por e l le , sahio d*aquelle porto antes da sua che
gada; foi encontrar-se com o general Flores para procederem
ambos a operações be l l icas contra P ay sa nd ú, o que foi m ui to
inc on ven ien te antes de cheg ar o m inist ro qu e ia tratar dos
nossos negócios ,
E m qua nto o c o ns elhe ir o Pa r a nho s e ste v e em Bu e no s -A y r e s
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f a z e n d o a s uf c a p r e s e n t a ç ã o a o P r e s i d e n t e d a R e p u b l i c a , t i
v e r a m lu g a r o s a c o n t e c i m e n t o s q u e v a m o s n a r r ar .
O
g e n e r a l
D.
V e n a n c i o F l o r e s n ã o e st a v a r e c o n h e c i d o b el -
l i g e r a n t e p e l o g o v e r n o , i m p e r i a l , e , q u a n d o j á o e s t i v e s s e ,
d e v i a c o n h e c e r q u e n ã o t i n h a f o r ç as p a r a , j u n t o c o m o y i ç e -
a l m i r a n t e b r a s i l e i r o , a t a c ar a p r a ç a d e P a y s a n d ú ; o s d o u s g e
n e r a e s d e v i a m s a b e r q u e n ã o t o m a r i a m a q u e l l a p r a ç a c o m a
m e s m a f a c i l i d a d e c o m q u e o g e n e r a l F l o r e s t o m o u a V i l l a d o
S a l t o .
Q v i c e - a l m i r a n t e b r a s i l e i r o t i n h a r e c e b i d o i n s t r u c ç õ e s
d o m i n i s t r o e n c a r r e g a d o d a m i s s ã o e s p e c i a l , q u a n d o e s t e s e
r e t i r o u d e B u e n o s - A y r e s á 7 d e S e t e m b r o , p a r a c o o p e r a r c o m
a s f o r ç a s d e t e r r a q u a n d o e n t r a s s e m n o E s t a d o O r i e n t a l , d o
q u e j á fizem os m e n s ã o n o l i v r o V I I , q u a n d o t r a n s c r e v e m o s
a s i n s t r u c ç õ e s m a n d a d a s a o p r e s i d e n t e d o R i o G r a n d e ; ag or a
é n e c e s s á r i o c o p i a r n ' e s t e l u g a r o o f fi c io d o c o n s e l h e i r o S a
r a i v a a o d i t o v i c e - a l m i r a n t e , p a r a s e c o m p a r a r o q u e e l l e
d i s p u n h a c o m o s a c t o s q u e s e p r a t ic a r a m .
« M i s s ã o e s p e c ia l d o B r a s i l . — B u e n o s - A y r e s , 7 d e S e te m b r o
d e 1 8 6 4 .
<( I l l m . e E x m . S r . — A c o p i a i n c l u s a d o o f fi c io q u e n
T
e s t a
d a t a d i r i j o a o S r . p r e s i d e n t e d o R i o G r a n d e d o S u l , m o s t r a
a V . E x . q u a l o p e n s a m e n t o q u e v a i s er e x e c u t a d o , e o e s
p i r i t o q u e d e v e p re s id i r a o s m o v i m e n t o s d o n o s s o e x e r c i t o ,
r í ã o p r e c i s o d i z e r a V . E x . q u e a e s q u a d r a t e m p o r s u a p a r t e
d e a u x i l i a r a e s s e s m o v i m e n t o s .
« V . E x . s a b e q u e n ã o t e m o s s o b r e q u e e x e r c e r r e p r a s a l i a s ,
o u o u t r o s a c t o s d e f o r ç a p o r m e i o d o s n o s s o s v a s o s d e g u e r r a ,
e p o i s c o n v é m q u e a s n o s s a s v i s t a s s e c o n c e n t r e m n o U r u
g u a y , e q u e p r o c u r e m o s e x p e l l i r d o li t o r a l d ' e s s e r i o a s f o r c a s
d o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o .
« J u l g o q u e V . E x . d e v e r á e n t e n d e r - s e c o m as a u t o r id a d e s
q u e o g e n e r a l F l o r e s t i y e r n o s p o r t o s d o U r u g u a y q u e f ôr
o c c u p a n d o ; c o n v i n d o q u e s e j a m t ra ta d a s c o m d e f er e n c ia e m
u a n t o p r o t e g e r e m , c o m o é p r o p ó s i t o s e u d e m o n s t r a d o p or
i v e r s o s f a c t o s , a o s n o s s o s c o m p a t r i o t a s . N a d a m a i s c a r e ç o
a c c r e s c e n t a r .
« E s t o u s e g u i o
1
d e q u e V . E x . c o m p r e h e n d a , e h a d e e x e
c u t a r a s o r d e n s d o g o v e r n o i m p e r i a l p e l a f ô r m a m a i s c o n
v e n i e n t e e m a i s h o n r o s a a o n o s s o p a i z .
« R e i t e r o a V. E x. o s v o t o s d o m e u r e s p e i t o e c o n s i d e r a ç ã o .
« Illm.
e
Exm. Sr.
B a r ã o d e T a m a n d a r é . —
José Antônio Sa
raiva. »
Do o f fi c io d o . m i n i s t r o b r a s i l e ir o a o c o m m a n d a n t e d a e s -
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quadra, vê-se que tinha por principãL objecto auxiliar os
movimentos do exercito quando elle chegasse ás margens do
Uruguay, e expellir do litoral d*esse rio as forças do governo
de Montevidéo. Para se dar cumprimento a estas instrucções
era necessário que o exercito brasileiro se approximasse da
margem do Uruguay, o que só teve lugar a
2 9
de Dezembro;
devia entretanto o vice-almirante entender-se com as autori
dades que o general Flores tivesse collocado nos portos do
Uruguay, que fosse occupando. Em lugar de se fazer o que
indicava o officio do conselheiro Saraiva, que tinham sido
medidas muito acertadas se, quando foram ordenadas, esti
vesse o nosso exercito no centro do Estado O riental, e o
general Flores tivesse outro com força sufficiente para occu
par as povoações da margem do ri o; principiaram os dous
generaes, que se tinham ajustado, as hostilidades, sem terem
forças nem meios para as emprehender. Não tinham forças
para atacar a praça de Paysandú, nem o vice-almirante ordem
para o fazer; não esperaram que chegasse o exercito brasi
leiro,
assim mesmo foram sitiar aquella praça,, defendida por
15 peças de artilharia e 1,500 homens.
Não podemos deixar de dizer que foi uma imprudência do
general Flores persuadir-se que com tão pequena força que elle
cbmmandava, sendo a maior parte cavallaria, pudesse tomar
aquella praça, embora fosse ajudado por alguma gente da
marinha imperial.
O general Flores devia ter uma divisão de 6,000 homens,
e artilharia equivalente
a
esta força, para poder tomar
P a y
sandú, e considerar o contingente da marinha imperial como
uma reserva auxiliar, que de pouco servia pelo seu pequeno
numero.
No mesmo caso se achou o vice-almirante brasileiro; de
vendo esperar o exercito, persuadiorse que com
4 0 0
homens
e 4 peças podia apossar-se de uma praça bem fortificada.
A conseqüência d'estas precipitadas operações de guerra, foi
cercar-se a praça por tres dias, e no fim d^elles levántar-fee
o cerco com perda de muita gente em relação ao numero
dos sitiadores, o qüê consideramos
1
coínò utn revés*
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— 259 -
Os dous generaes, , brasi le iro e oriental , achavam-se á vista
de Pay sand ú no d ia 4 de Dezem bro, quando in t im aram a
Leandro Gomes, seu commandante , que se rendesse ; o par-
lamentario foi repellido a t iros de espingarda: á vista d'isto
resolveram atacar a praça no dia 6.
Sobre estes acontecimentos, que se passaram entre os dous
chefes a nte s da em preza de P ay sa n d ú , eis aq ui o que diz o
conselheiro Pa ran ho s, na sua defeza a pag inas 180.
« A cei tando o en cargo de m inistro do Brasi l no R io da
Prata , manifestei ao nobre ex-ministro dos negócios estran
geiros qu e, não receiava conflicto algu m com o nosso a lm i
ran te , porq ue conhecia o seu caracter e éramos amigos par
t iculares. Portanto, da minha parte não podia haver, e não
ho uv e, se não m uita deferencia para com o S r . V isconde de
T am an da ré . Esta deferencia , porém , não podia i r a té ao ponto
de ren un ciar eu ao cum prim ento de m eus deveres , ou de
hu m ilha r-m e . R espe ite i a l inha que dem arcava as a t t ribuições
do ministro e as .do almirante .
« El le , porém , segundo mani fes tou-me em um a de nossas
conversações, desde 1843 ou 1845 crê que um general em
chefe, "desde que com eçam as operações de gu erra , é o únic o
com peten te para decidir da opp ortunid ade e condições da paz ;
qu e o diplom ata d esde então só pôde inter vir como co ns e
lheiro. Desde o si t io de Paysandú (estas expl icações são ne
cessárias, porq ue algun s dos d ocu m ento s l idos fazem refe
rencia a um desaccordo entre o a lmirante e o ministro) eu
percebi , ou antes receei a lguma desintel igência entre os dous
principaes agentes do Brasi l . Este receio nasceu-m e de algu m as
car tas qu e t roquei com o S r . V isconde de T am and aré , an tes
de nos avistar-mos em Bu en os -A yre s; e , com o o confl ic to,
qu e eu pr evia nã o podia deixar de ser nocivo á caus a de
que ambos nos achávamos encarregados, sempre coherente em
m in ha f ranqueza e lea ldade , apresse i -me a com m unicar ao
governo imper ia l as minhas apprehensões . Aconteceu, porém,
q u e , vol tando S . Ex . de Paysandú, aquel las impressões des
vaneceram-se, julgando eu ter encontrado (e creio que effec-t i v a me n t e e n c o n t r e i ) n o Sr . V i sc o n d e d e T a ma n d a r é o me u
antigo a m igo . N a prim eira oceasião qu e se m e offereceu, es cre
vendo de Fra y-B ento s á u m a hora da no i te , depois de te r
um a conferênc ia com o genera l Flores , co m m un iqu ei ao no bre
ex-m inistro dos negócios estrangeiros aq ue l le , para m im , feliz
suecesso, declara ndo a S . Ex. qu e m inh as relações com o
S r . a lm iran te , qu er p art icu lares , que r officiaes, estavam n o
m e l h o r p é . txtgá
« fV estas disposições de an im o p erm an ec i . Desde então
fiquei
tão longe d e pres um ir um confl ic to de com petên cia
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c o m o no ss o a l m i r a nt e , q u e , c o m m u n i o a n d o - m e e l l e , e m d i a s
de F evere iro , a resposta qu e dera ao m inis t ro de I tá l ia , o
S r .
B a r b o la n i , q u a n d o e s t e p e d io a s u s p e n s ã o d e h o s t i l id a d e s
e m M o n t e v i d é o , e u l h e * m a n i f e s t e i q u e s u a r e sp o s ta m e p a
r e cia m u i t o a c e rt a d a, n ã o p e n s a n d o q u e n e s s a r es p o s t a e s t i
v e s s e t a ci t a m e n t e c o m p r e h e n d id a a s u a a n t ig a id é a d e s e r
e l le o c o m p e t e n t e p a ra d e c id ir d a n o s s a q u e s t ã o , n o s t e r m o s
e m q u e e l la e n t ã o s e a c h a v a : s ó d e p o i s , q u a n d o a d v e r t id o
por e l le na v i l la da U n iã o , é qu e v i q ue S . Ex. hav ia d i to
a o S r . B a r b o la n i q u e m e c h a m a r ia s ó p a r a o u v ir o m e u c o n
se lho .
« N a oceas ião e m q ue eu tratava co m o gen era l F lores e
o S r . He r re r a y O b e s , q u a n d o c o n v o q u e i o s * n o s s o s g e n e r a es
p a ra a c o n s e lh a r - m e c o m e l l e s , e m a n i f e s t a r - lh e s o s t e r m o s
e m qu e se achav a a neg oc ia ção já enc etad a , fo i qu e o Sr .
V i s c o n d e d e T a m a n d a r é d e c l a r o u - m e q u e n ã o m e j u l g a v a c o m
p e t e n t e p ar a e s s a n e g o c ia ç ã o ; n a s u a o p in iã o e l l e e r a o c o m
p e t e n t e . D i s c u t im o s ; e u r e f e r i- m e á s in s t r u c ç õ e s q u e r e c e b i d o
g o v e r n o im p e r ia l , e d e q u e e s t e r e m e t t e u c ó p ia a o S r . a lm i
r a n t e : á s c o m m u n ic a ç õ e s e m q u e o n o b r e e x -n i ia & s tr o d o s
n e g ó c i o s e s tr a n g e ir o s , s e g u n d o d e c l a r o u - m e . e m m a i s d e u m
d e s p a c h o , f e z s e n t i r a o m e s m o S r . a lm ir a n t e q u e a d i r e c ç ã o
pol í t ica da guerra me com petia exclusivamen te; e, poT fira,
a p p e l l e i p a r a o s m e u s p le n o s p o d e r e s .
« D esd e q ue a l leg ue i es tar ha bi l i tad o co m po de res firmados
p o r S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r , o S r . V i s c o n d e d e T a m a n
d a ré d e s is t io d a s u a r e c la m a ç ã o , d e c la r o u q u e j á s e n ã o q u e i
x a v a d e m i m , m a s s i m d o g o v e r n o i m p e r i a l ; t e v e a t é a
d e l i ca d e s a d e d i s p e n s a r a e x h ib iç ã o d e m in h a c a r t a d e p l e n o s
p o d e r e s . O in c id e n t e t e r m in o u , e p o r n ó s a m b o s f o i l o g o
c o m m u n ic a d o a o g o v e r n o im p e r ia l , p a ra q u e p r o v id e a ô à a s s e
quanto ao futuro .
« P e n s a v a e u q u e o n o s s o b r a v o a lm ir a n t e n ã o t in h a r a zã o
a l g u m a n a s s u a s e x i g ê n c i a s . F e l i z m e n t e , p o r é m , o g o v e r n o
i m p e r i a l n ã o a l l e g o u e s s a i n c o m p e t ê n c i a , n ã o
j
u l g o u q u e
h o u v e s s e d a m in h a p a r t e u s u r p a ç ã o d e a t t r ib u iç õ e s p e r t e n c e n
t e s a o a lm ir a n t e . E j u i z e s m u i t o i l lu s t r a d o s n^ esta c a s a t a m
b é m e s t ã o d e a c co r d o c o m m i g o e m r e c o n h e c e r q u e , t r a t a n
d o - s e d e u m a c to e s s e n c i a l m e n t e p o l i t i c o , n ã o d e u m a
c o n v e n ç ã o m i l i t a r , m a s d e u m a c o n v e n ç ã o e m q u e e r a
n e c e s s á r io t e r e m v i s t a v a r ia s e im p o r t a n t e s c o n s id e r a ç õ e s
p o l í t i c a s , o n e g o c ia d o r c o m p e t e n t e e r a o m in i s t r o e n ã o o
g e n e r a l e m c h e t e . »
Vo l t e m o s a g or a a n o s s a a t t e n ç ã o p a r a a p r a ç a d e P a y
sandú.
D o s n a v i o s d e g u e r r a b r a s il e ir o s d e s e m b a r c a r a m 4 0 0 h o
m e n s ,
d o s q u a e s 2 0 0 e r a m s o ld a d o s d o b a t a lh ã o d e in -
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261
—
Jantaria/,
qu e
e s t a v a m
no
A m a z o n a s .
Flores
t i n h a
1,500, do s
q u a e s
sô 600
e r a m
de
i n f a n t a r i a ,
s e m
a r t i l h a r i a ; a t a c a r a m
a praga noa d i a s 6, 7 e 8 de D e z e m b r o de 186 4. S e i s n a v i o s
d e g u e r r a , q u e n ' a q u e l l e s d i a s , de 6 a 8 de " D e z e m b r o , e s t i
v e r a m
e m
P a y s a n d ú , c u j a s g u a r n í ç õ e s p o u c o e x c e d i a m
a
700
h o m e n s ,
n ão
p o d i a m d e s e m b a r c ar
400,
c o m o
o
fizeram,
porque f icaram s e m g e n t e s u f f i c i e n t e p ar a q u a l q u e r e v e n
t u a l i d a d e
; m as
t u d o a s s i m
fo i
o r d e n a d o ,
S e L e a n d r o G o m e s , c o m m a n d a n t e d ' a q u e l la p ra ç a , f o s se
b o m g e n e r a l , p o d i a ter i m p e d i d o o d e s e m b a r q u e da n o s s a
p e q u e n a f o r ç a n a v a l ,
o u
p e l o m e n o s d i f f i c u l t a r - l h e s
a
m a r
c h a , c o n h e c e n d o
a
p o u c a g e n t e d e s e m b a r c a d a
e os
p o u c o s
m e i o s ' d é a t a q u e de que d i s p u n h a m o s e m terra ; s e t iv e s s e
t i d o
a
d e l i b e r a ç ã o
d e
t e n t a r
u m
m o v i m e n t o f o r a
da
p r a ç a
d u r a n t e
a
n o i t e
na
o c e a s i ã o
que lhe
p a r e c e s s e p r ó p r i a , t i n h a
b a t i d o
a
f o r ç a b r a s i l e i r a , l a n ç a n d o - a
no r io;
d e p o i s d i r i g i r - s e
p a r a a que c o m m a n d a v a o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s , e
b a t e i - a s e p a r a d a m e n t e ,
s e m u m a
p o d e r s o e c o r r e r
a
o u t r a ,
que
fic ar am e m g r a n d e d i s t a n c ia .
D o
l a d o
dos
a t a c a n t e s
não hon-
v e c a l c u l o , não- h o u v e p r u d ê n c i a ; do l a d o dos s i t i a d o s não
h o u v e d e l i b e r a ç ã o .
L e a n d r o G o m e s p ô d e d e f e n d e r - s e
por
a l g u m t e m p o ,
e m
q u a n t o t e v e d o u s o f f i c i a e s
que
s o u b e r a m d i r i g i r
a
d e f e z a ;
o
q u e c ò r f c o r r e u p a r a a d i f i c u l d a d e que t i v e r a m o s a t a c a n t e s
e m t o m a r
a
p r a ç a .
N o " p rim e ir o
d ia
d u r o u
o
f o g o
das 7
h o r a s
da
m a n h ã
até
á s 3 da t a r d e . N ' e s t e a t a q u e f o r a m os B r a s i l e i r o s os h e r ó e s
d o
d i a ;
d e p o i s
de
h a v e r e m t o m a d o
á
b a i o n e t a
os
p r i m e i r o s
c a n t õ e s , c h e g a r a m
até ás
u l t i f o a s t r i n c h e i r a s , o n d e ' p e l o
seu
p e q u e n o n u m e r o
n ã o
p u d e r a m e n t r a r : n ' e st e
dia foi
f e r id o
o c a p i t ã o G u i m a r ã e s P e i x o t o , q u e c o m m a n d a v a o d e s t a c a
m e n t o
de 200
h o m e n s
do 1.°
b a t a l h ã o
d e
i n f a n t a r i a
do
e x e r
c i t o .
C o n t i n u o u o a t a q u e n o s d i a s 7 e 8, s e n d o ao m e s m o t e m
p o b o m b a r d e a d a
a
p r a ç a p e l o s n a v i o s
de
g u e r r a b r a s i l e i r o s ,
Belmonte, Pdrnahyba
e
Araguay,
q u e
l a n ç a r a m m u i t a s b o m b a s
d e n t r o da p r a ç a .
4 5
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1
O a t a q u e s u s p e n d e u - s e n o d i a 9 p or , i n t e r v e n ç ã o d o s c o m
m a n d a n t e s d o s n a v i o s i n g l e z , f r a n ç e z e h e s p a n h p l , q u e s o u y
c i ta r a m d o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s u m a r m i s t í c i o p a r a
d a r l u g a r á s a h i d a d a s f a m í l i a s , q u e a i n d a s e c o n s e r v a v a m
n a p r a ç a ; m a i s d e d u a s m i l p e s s o a s p a s s a r a m p a r a a s , i l h a s
d o U r u g u a y , e n ' e s s a o c e a s i ã o 5 0 s o l d a d o s f u g i r a m p a r a o g e
n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s . A p e r d a d o s B r a s i l e i r o s u ^ es te s t r e s
d i a s f o i d e 1 2 m o r t o s e 4 0 f e r i d o s . A t r o p a d o g e n e r a l D .
V e n a n c i o F l o r e s t e v e 6 o f f ic i a e s e 3 6 s o l d a d o s m o r t o s ; f e ri d o s,
1 0 o f f i c i a e s e 4 0 s o l d a d o s ; d e n t r o d a p r a ç a c o n s t o u t e r e m
f ic a d o m a i s d e 1 0 0 h o m e n s f o r a d e c o m b a t e .
P a y s a n d ú e r a e n t ã o a p r a ç a m a i s f o r ti f ic a d a d o E s t a d o
O r i e n t a l ; a l li t i n h a m r e u n i d o o m a t e r i a l n e c e s s á r i o p a r a u m a
r e s i s t ê n c i a d e m o r a d a , m u i t a s m u n i ç õ e s e v i v e r e s .
N o s tr e s p r i m e i r o s d i a s d o c e r c o , á 6 , 7 e 8 d e D e z e m b r o ,
a f o r ç a b r a s i le i r a a b a n d o n o u a s p o s i ç õ e s d u r a n t e a n o i t e , e
v e i o a c a m p a r n o p o r t o p a r a e s t a r p r o m p t a a e m b a r c a r , s e
f o s s e a t a c a d a n ' a q u e l l e l u g a r ; a d o g e n e r a l D . V e n a n c i o
F l o r e s t a m b é m s e r e ti r o u d e n o i t e p a r a o u t r a p o s i ç ã o m a i s
d e f e n s á v e l ; v o l t a v a m u n s e o u t r o s d e m a n h ã
a
o c c u p a r o
l u g a r d o d i a . a n t e c e d e n t e . (* )
E s t e s m o v i m e n t o s m o s t r a v a m q u e o s d o u s c h e f e s c o n h e
c e r a m q u ã o d i m i n u t a s e r a m a s f o r ça s p a r a t o m a r a praça , o
q u e n ã o c o n s e g u i r a m e m q u a n t o n ã o c h e g o u o m a r e c h a l J o ã o
P r o p i c i o M e n n a B a r re to c o m
a
d i v i sã o q u e c o m m a n d a v a .
C o n s t o u a o s c h e f e s s i t i a d o r e s q u e o g e n e r a l o r i e n t a l S á a ,
t e n d o s a b id o d e M o n t e v i d é o n o s p r i m e i r o s d i a s d e D e z e m b r o ,
c o m 3 , 0 0 0 h o m e n s d a s t re s a r m a s , m a r c h a v a a f a z er l e v a n t a r
o s i t i o d e P a y s a n d ú ; s e i s t o s e t i v e s s e r e a l i s a d o , o s s i t i a r
d o r e s t e r i a m a b a n d o n a d o o s e u p r o je c to a n t e s d e s e a p r o
x i m a r a q u e l l a f o r ç a . N o c a s o d e d u v i d a , o c h e f e 4 a f or ç a
n a v a l e m b a r c o u a s u a a r t i l h a r i a e t o d o o m a t e r i a l q u e t i n h a
e m te r r a ; e n t r e g o u a o g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s 2 # 0
5
h o m e n s , e r e ti r ou - rs e p a r a a b o r d o d o s n a v i o s . O g e n e r a l
f ) Foi um acontecimento que nunca se vio em campanha algum a, e que
Jica assignalâdo na historia de sta gue rra; cerca r-se uma praça de dia
i
e abfti-
oonar-se o cerco dó noite*
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D *
Ve n a n c io F lo r e s l e v a n t o u o s i t io n o d ia 2 0 d e D e z e m b r o ,
em com pan hia do genera l bras ile iro N et to (Antônio d e Souza) ,
o qual do us d ias an tes t inha chegado com 1 ,000 h om en s d e
caval lar ia , m al armad os e pe ior m un ic iad os , e , por ta nt o ,
in út e is para o cerco . Com o o genera l Sáa vo l tou para M o n
tev idéo , o genera l D . Venancio Flores fo i res tabe lecer o
c e r c o ;
o v i c e - a lm ir a n t e b r a si le i ro d e s e m b a r c o u n o v a m e n t e
co m artilharia e a ge nt e qu e a ind a pôd e tirar dos navios,'
que f icaram com poucas praças .
Sendo a art i lhar ia naval de grande a lcance , dev iam as
peç as ser co l locadas em pos ição qu e , destru indo as fort if i-
ca çõ es , nã o f icassem os art i lheiros expostos as balas inim iga s
e m c u r t a d i s t a n c i a ; fo i j u s t a m e n t e o q u e a c o n t e c e u . D iz o
pr im eiro ten en te d 'armada F ranc isco José de F re i tas , qu e a
art i lhar ia de bordo fo i co l loc ar-se na m es m a d is tanc ia da
art i lhar ia de cam pan ha do exerc i to ; á vista da dirTerença do
s eu cal ibre, d evi a a art i lharia naval f icar m ais á retaguarda,
para empr egar m elho r os seus project ís ; v io -se então q ue as
b a la s in i m ig a s v in h a m m a t a r n o s s o s a r t ilh e ir o s . A h i m o r r e u
o 1 .° ten en te H en riq ue Jo sé M art in s , v ic t im a d 'es ta fal ta
de não se ca lcu lar a d is tanc ia segu ndo os ca libres das p eç as :
uma bala de 18 acertou-lhe na cabeça.
MARCHA DO EXERCITO PARA 0 ÍSTADO ORIENTAL.
E m qu an to o s dou s chefes , o v ice -a lm iran te bras ileiro e o
g e n e r a l D . V e n a n c io F lo r e s , s e o c c u p a v a m c o m o c e r c o d e
P a y s a n d ú , v a m o s a c o m p a n h a r o s m o v i m e n t o s d a d i v is ã o d o
m a r e c h a l J o ã o P r o p ic io M e n n a B a r r e t o , d e s d e o a c a m p a m e n t o
e m q u e e s t a v a n o P ir a h y Gr a n d e , a t é t e r m in a r a c a m p a n h a
d d E s t a d o O r ie n t a l.
Já s e v io e m o u t r o lu g a r q u a l e r a o e s t a d o d e d e s a r m a
m e n t o d a p r o v i n c i a . d o R i o G r a n d e e m 1 8 6 4 .
N o P ir a h y Gr a n d e r e u n ir a m - s e t o d o s o s c o r p o s q u e d e v ia m
f or m a r a d i v i s ã o q u e s o b o c o m m a n d o d o m a r e c h a l M e n n a
Barreto entrar ia no Estado Orienta l .
H a v ia c in c o b a t a lh õ e s d e in f a n t a r ia , q u a t r o r e g im e n t o s d e
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caval lar ia e ura de art i lhar ia montada; todos es tes corpos de
l inh a , excepto u m bata lhão , t inha m pouc a força , o q u e já
fo i m en cio na do ; não se t in ha tratado de com pletar os corpo s
com antecedência , sobre tudo os de in fantar ia que é a base
dos exérc itos. O gov ern o m an do u doz e peç as de bronze de
ca l ibres se i s e do ze , s endo es tas ra iad as ; c om o os art i lhe iros
não con he c ia m es ta art ilhar ia , o gene ra l n om eo u ao capi tão
Sampaio, of f ic ial d'esta arma, para instructor.
P e l o e s ta d o d e g u e r r a e m q u e s e a c h a v a o I m p é r i o c o m
a R epu bl ica O rienta l , t end o os do us che fes , bras i l e i ro e
or ienta l , pr inc ip iado as hos t i l idad es con tra o go ve rn o de M o n
t e v i d é o , r e c e b e u o g e n e r a l M e n n a B a r r e to i n s t r u c ç õ e s p a r a
organisar com pressa aquel la d iv i são e marchar para o
Es tado Orienta l ; não houve t empo para os art i lhe iros se 'exer
ci tarem co m a art i lharia raiada, se nd o m ui to m ais di f fic il
aprender- se o exerc ic io de art i lhar ia do que o de in fantar ia;
o gen era l man dou fazer exerc ic io u m dia , cada peça d i sp aro u
quatro t i ros . Com es te exer c ic io ju l go u os art i lhe iros ap tos
para entrar em campanha; ordenou a marcha para o d ia 1
de D ezem bro de 1864 . Cada peça l e vo u 70 t iros , de ix and o n o
a c a m p a m e n t o d o P i r a h y a s c a rr e ta s c o m m u n i ç õ e s , q u e d e v i a m
a c o m p a n h a r a d i v i s ã o ; o g e n e r a l d i s s e q u e c o m p o u c a b a g a
gem marchava mais depressa , mas não ref l ec t io se os 70 t i ros
pod iam bastar , porque e l l e não podia ca lcu lar a du raç ão
da ca m pa nh a; só no caso de não querer , fazer us o da art i"
lhar ia é que podia t er f e i to aquel l e ca lcu lo . Por es te modo
princ ip iou a march a a 1 ." d iv i são qu e fo i fazer a ca m pa nh a
do E s tado Orienta l. O gen era l d iv id io a força e m d ua s br i
gada s de in fantar ia , e u m a de cava l lar ia . Á br igada de ca va l
l a r ia fo i c o m m a n d a d a p e l o b r i g ad e i r o M a n o e l L u i z O s ó r i o ;
a i n fa n t ar ia f oi c o m m a n d a d a p e l o b r i g a d e i r o J o s é L u i z M é n n a
B a r r e t o ; a 1 / b r i g a d a c o m o s b a t a l h õ e s 4 , 6 e 1 2 , c o m m a n
d ad a p e l o c o r o ne l A n t ô n i o d e S a m p a i o ; a l « c o m o s b a t a l h õ e s
3 e 13 , pe lo coron el Carlos R es in . A art i lhar ia sob o c o m
m a n d o d o t e n e n t e - c o r o n e l M a l l e t . A c a v a l la r i a d a g u a r d a
nacional marchou em máo es tado , a cavalhada era ord inár ia
e b a r m a m e n t o p é s s i m o ; o s o l d a d o q u e l e v o u c a r a b i n a n a o
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t inha outra ar m a; o qu e t inha espada ou lança es tava no
m es m o ca so , e ass im foram to d os ; accrescente-se a es te m áo
e irregular armamento a pouca instrucção dos art i lheiros no
manejo das novas peças , poucas munições; e ve ja-se se era
pos sivel con tar-se co m *tal força para em pre hen der -se u m a
cam pa nha contra o E stado Orienta l , qu e n*esse tem po es tav a
m elhor arm ado do q ue o Bras il . A es ta pequena e m al
arm ada d iv isão deu -se o nom e de exerc i to do S ul .
N as c ircum stanc ias em que es tava aqu el la d iv isão , ho uv e
u m g e n e r a l q u e s e p r e st o u a t o m a r o c o m m a n d o , s e m p e n s a r
que ia com pro m etter o seu c redito , expor aq uella forÇa a
soffrer um revez atravessando o Estado O ri en ta l; logo se ver á
que houve esse per igo .
E m m a r c h a r e c e b e u o m a r e c h a l M e n n a B a r re to p a r t i c i
pação do Barão de Tamandaré , na qual lhe d iz ia que apres
sasse a m archa qu anto pud esse , porque tentand o toma r a
p r a ça d e P a y s a n d ú d e c o m b in a ç ã o c o m o g e n e r a l F lo r e s ,
não o puderam conseguir . Com este av iso fez a d iv isão
m archas das 6 hora s da ma nh ã até ás 6 horas da tarde e m
alg un s d ias , m as cofh grande d i f icu lda de , porqu e a m aior
parte da cav alh ad a consist ia em pòtr os, pe la falta de c av allo s
qu e e s t ivessem em estado de fazer a cam panj ia do U ru gu ay .
A s orden s que deu o gov ern o imp er ia l para es ta cam pa nh a,
foram m ui to dem oradas para se poder reunir no R io Grande
u m exerc i to qu e se emp regasse n as represá l ias ordenadas e m
data de 21 de J u l ho de 18 64 ; do us bata lhõe s de in fantar ia
qu e emba rcaram n'es ta corte (o 2 . ° a 25 de No ve m br o com
400 praças , e o 10 . ° a 15 de D ezem bro co m 450) não c h e
garam á fronte ira do R io G rande a te m po de se encorporarem
á d iv isão do m arec hal M en na Barreto , u m ficou e m Bagé,
e o outro em A leg re te ; n ão serv iram para defender a c idad e
d e J a g u a r ã o d a in v a s ã o d e M u n h o z a 2 7 d e J a n e ir o d e 1 8 6 5 .
ATAQUE Á PRAÇA DE PAYSANDÚ NO DIA 31 DE DEZEMBRO DE 186 4,
1 £ 2 DE JANEIRO DE 186 5, COMMANDANDO O MARECHAL
JOÃO PROPICIO MENNA BARRETO.
C o n s e g u io o m a r e c h a l M e n n a B a r r e to , c o m a s u a d i m i -
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nu ta e mal armada div i são* acam par á v i s ta de Pa ysa nd ú no
dia 29 de Dezembro de 1864, ás 7 horas da tarde.
E m m ar ch a p a ra P a y s a n d ú a c o n t e c e u o s e g u i n t e :
N o dia 27 ás 6 horas da tarde tev e not ic ia o brigad eiro
Manoe l Luiz Ozor io que o genera l or ienta l Sáa t inha passado
com algu m a força para o norte d o R io N eg ro ; destacou u m
e s q u ad r ã o d e c a v a ll a r ia d o R i o G r a n d e d e 4 0 h o m e n s c o m
mandado por um capitão , para saber se era verdade e obser
v ar o s m o v i m e n t o s d o i n i m i g o , q u e ti n h a s a h i d o d e M o n t e v i d é o
co m 3,000 h om en s das tres arm as e 4 bo cas de fogo para
soccorrer P ay san dú . À 's 10 horas da no i te d o m es m o dia
receb eu outra par t ic ipação , q ue o d i to genera l Sáa t in ha
p a s s a d o o u t ra fo rç a e m u m p o n t o d o R i o N e g r o m a i s a c i m a ;
m a n d o u l o g o o u t r o e s q u a d r ão d e c a v a ll a ri a , t a m b é m c o m m a n
da do por capitã o , para ir ver if icar on de es tav a o in im ig o .
O genera l or ienta l Sáa , ch ego u a m en os de tres l égu as do
a c a m p a m e n t o d a b r i ga d a d e c a v a l l a r ia d o b r i g a d e i r o M a n o e l
Lu iz O zorio , e pou co fa ltou para o sur pre hen de r , co m o f im
de a fazer retrogradar e m eter a lg u m a força na p ra ça ; m a s
o genera l S áa ju l gou qu e a d iv i são bras i leira q u e se d ir ig ia
a atacar a praça de P ay sa n dú era m ui to m aior , e rece iou
a p p r o x i m a r - s e m a i s , e . n a m e s m a n o i t e d e 27 p a s s o u o R i o
Negro para o sul .
I s t o n ã o e m b a r a ç o u q u e a d i v i s ã o d o m a r e c h a l M e n n a
Barreto seguisse a su a m arch a n o dia seg ui nt e de ma nh ã , e
c h e g a s s e a P a y s a n d ú n o d i a 2 9 á n o i t e , c o m o d i s s e m o s .
N o d i a 3 0 f o i o g e n e r a l c o m o t e n e n t e - c o r o n e l M a l l e t e x a
minar o terreno nas proximidades da praça, e n'essa noite fo i
o d i to tenente -corone l a sses tar a ar t i lhar ia sobre uma e levação ,
a que n
?
a q u e l l e p a i z c h a m a m c o x i l h a ; e s t a c o l l o c a ç ã o s ó p ô d e
ser fe i ta de noite , porque de dia a art i lharia da praça, de
grande a lcance , o ter ia embaraçado. Na frente da art i lharia;
em dis tanc ia de 50 braças , mandou o genera l e s tender duas
com pan hias do 4 . ° bata lhão de infan tar ia , para proteger a
a r t i l h a r i a c o n t r a a l g u m a s o r t i d a d o i n i m i g o d u r a n t e a n o i t e ;
e na re taguarda , em dis tan c ia , ficou o 4 . * bata lhã o tam bé m
de protecção; na frente das duas companhias do 4 . ° bata lhão
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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havia outra ooxilha, que as livrava das balas inimigas, porque
o terreno entre as duas coxilhas era m ais b ai xo : os outros
quatro batalhões estavam mais longe, formando duas brigadas.
Quando na manha do dia 31 principiou o combate, o ge
neral não mandou retirar as duas companhias que estavam
em linha na frente da artilharia, ficaram arriscadas debaixo
dó fogo das peça s, e de nada servio a sua contin uaçã o n'aq uelle
lugar; foi um descuido que causou prejuízo. A falta de pra
tica dos artilheiros, não sabendo graduar as espoletas das
granadas, fez com que- umas granadas rebentassem na reta
guarda das companhias que estiveram por algum tempo na
frente; outras passavam-lhe por cima e rebentavam adiante;
uma das granadas que rebentaram na retaguarda das compa
nhias do 4.° batalhão, queimou as pernas do tenente José
A ntô nio de Lim a Júnior, e sobre vindo -lhe a gangrena* falleceu
no dia
-
4 de Ja neiro a bordo do vapor
Recife,
que conduzia
tis feridos para Buen os-Ay res; & m esm a granada ficaram tam bém
feridos dous soldados.
Logo que aconteceu aquelle desastre, retiraram-se as duas
com pan hias da frente, da artilharia, onde de dia nã o eram
necessárias.
O pequeno alcance da nossa artilharia de campanha, não
permittia que os projéetís chegassem á praça: ftá um fogo
inútil . A' 9 horas da manhã a artilharia não tinha mais mu
nições, parou os ssus fogos; o general Menna Barreto mandou
dizer ao vicfr-almii&ute que fizesse parar o fogo dos- navios
e das baterias em terra, que elle mandava avançar a infan
taria por ter-se-lhe acabado as munições; todas as peças tinham
disparado o s 70 tiros qu e trou xeram do- Bit) Gran de.
Lo go que cesso u o fogo da esqua dra e o das baterias* o
general mandou
1
' avançar os quatro batalhões que> formavam
duas brigadas, uma pelo lado do norte, e a õütra* por les te;
marcharam em 'còTumna cerrada ao toque de cometa e tam
bores,
a entrar pelas ruas da cidade, Cujas primeiras casas
estavam guarnecidas de infantaria, fazendo fogo das jauellãs
6
das soté as; ãifidâ' qu e o ini m igo fosse em peq uen o nu m era ,
tinha a vantagem da posição, fe por toso fez grande estrago'
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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na nossa tropa, que ficou exposta aos fogos dos inimigos,
que se cruzavam.
Vamos acompanhar os m ovim entos da nossa tropa que entrou
pelo lado de leste.
 brigada dos batalhões 3 e 13 com m andad a pelo coro
nel Carlos R esin , q uan do en trou em um a rua (marchava na
frente o batalhão 13 ), à primeira d escarga que recebeu do s
pontos fortificados cahiram mortos 27 solda do s .e m uit os fe
ridos,
dos primeiros pelotões; cahio também ferido o coronel
Resin, f icando o cavallo morto; uma nuvem espeça de fumo
cobrio por algum tempo a tropa, não deixando fazer-se fogo
com ac er to; passado este es tado , vio-se o batalhão dividid o e
encostado ás casas para procurar abrigo; nao houve mais
form atura; principiou o combate nas casas, passand o de um as
para as outras até á noite, onde ficaram occupand o as p os i
ções tomadas.
N o dia seguinte, 1.° de Janeiro de 1865, con tinu ou o c om
bate por todos os lados, com perdas sensive is fora e dentro
da praça; n'este dia morreram tres officiaes supe riores, a qu em
Leandro Gomes tinha entregado a defeza da praça; ainda
assim os Orientaes con tinuaram a defender-se com va lo r; pela
tarde d'este dia já era difficil aos nossos soldados sustentar
os pontos tomados e avançar. N'estas circumstancias, mandou
o general Menna Barreto dizer ao brigadeiro Osório que no
dia seguinte, 2 de Janeiro de manhã, lhe mandasse a pé to
dos os soldados que tivessem car abin as; a cavallaria a pé era
destinada a ajudar a infantaria, por não ter reserva. A briga
da de cavallaria estava acampada á distancia de m en os de
meia légua da praça.
N o dia 2 de Janeiro de m anhã , vendo Leandro Gom es que
as tropas brasileiras ava nç ava m e estando elle sem os. seu s
principaes officiaes qu e até então é qu e tin ha m dirigido a d e
feza, en treg ou -se ás tropas brasileiras, q ue foram as qu e pr i
meiro entraram na praça. Leandro Gomes feito prisioneiro pelo
coronel Resina foi entr egu e ao coron el oriental Go yo Soarez
e por este mandado fuzilar. Os officiaes prisioneiros foram pos
tos em liberdade por inter ven ção do vice-alm iran te brasileiro,
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- 269
que. não o podia e não o devia fazer, autorisando-os a elles
irem continuar a hostihsar-nos em Montevidéo, quando fosse
sitiado pelo nosso exercito.
Este facto, filho
de.
excessiva
liberalídade
do vice-almirante
brasileiro para com os nossos Inimigos, mostrou a irregulari
dade que havia na direcção dos negócios antes de estar pre
sente o ministro brasileiro em missão especial, a quem com
petia ddcidir de todos os negócios diplomáticos, mesmo os
que tivessem relação com as operações de guerra.
O primeiro batalhão que entrou na praça de Paysandú foi
o 13; encontrou na esplanada 900 homeus com as armas
ensarilhadas; o seu armamento era de boa qualidade, e ti
nham ainda muitas munições para poderem prolongar a de
feza, e talvez rechassar as tropas brasileiras se os seus com
mandantes não tivessem morrido.
Tinham chegado a Fray-Bento, a 1.° de Janeiro, os tres
corpos que tinham sahido d'esta corte a 26 de Dezembro com
1,700 homens. O marechal Menna Barreto devia saber, por
participação official, que da corte tinham sahido aquelles tres
batalhões e que elle ds ia encontrar no Estado Oriental;
n'este caso podia ter demorado o ataque mais tres dias, e es
perar a juncção d'aquella força á divisão; quando a não
empregasse immediatamente contra a praça, era uma forte
reserva que tinha prompta para qualquer eventualidade.
As operações de guerra quando se emprehendem com pe
quena força, que não está em relação com o objecto que se
quer destruir ou tomar, são sempre os seus resultados duvi
dosos,
e d'este modo devia ter pensado o marechal Menna
Barreto quando foi atacar Paysandú.
Deixaram se cinco batalhões de infanteria (dous no Rio
Grande com
850
praças, e tres em Fray-Bento com
1,700),
fora da acção do combate contra Paysandú, isto é, quasi
3,000 homens que deviam ter-se reunido á divisão do mare
chal Menna Barreto; formando então esta força um corpo de
exercito melhor organisado do que aquelle que entrou no Estado
Oriental; devendo ter levado artilharia de maior calibre e em
relação a esta força, e a sua cavallaria melhor montada e armada,
46
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Este corpo
de
exercito
de 7 ou 8 , 0 0 0
homens ter ia s ido
então sufficiente para invadir
o
Estado
Oriental,
d e ix an d o
uma
reserva proporcionada
á sua
força
na
fronteira
do
J a g u a r á o
para operar conforme
as
c i r c u m s t a n c i a s
que
o c c o r r e s s e m ;
to m ar M o n tev id éo , ev i tan d o -s e as s im
o
a t a q u e
que se fez
contra
a
p raça
de
P a y s a n d ú .
OFFICIO DO MARECHAL JOÃO PRO PICIO MENNA BARRETO , E M <|ÜE DÁ
CONTA DO COMBATE CONTRA A PRAÇA DE PAYSANDÚ,
« I l l m .
e Exm.
S r . — N o
meu
officio
de 3 do
co r ren te
mez
t ra te i m ui to perfunctor iam ente
do
m em o ráv e l co m b ate t rav ad o
sobre
os
m u r o s
de
P a y s a n d ú ,
e no
q u a l co n q u is to u
o
e x e r
ci to imperia l mais
uma vez
i m m u r c h a v e i s l o u r o s .
«
Não me foi
possive l «então c olligir tod os
os
dados par a
formular
do
s an g u in o len to d ram a
circumstanc4ado
relatório
;
hoj e ,
p o rém ,
que
es tão conhecidos
os
difíerentes successos
que precederam
a
v ictor ia ,
o
n u m e r o d ' a q u e l l e s
que por
m o rto s
ou
feridos fizeram rarear
as
nossas fi leiras, apressô-ine
em s u p p r i r
a
l acu n a
do dia 3,
fazendo
a V. Ex.
m i n u c i o s o
relatór io
dos
preparat ivos para
o
c o m b a t e ,
dos
successos
que
durante e l le
se
d eram
e do seu
final
e
g r a n di o so r e s u l t a d o .
« A n tes
de
co m m e m o rar ess es aco n tec im e n to s , s e ja -m e
per-
m it t id o ,
em
n o m e
do
exerc ito, felicitar
ao
gove rno imp erial
p o r
tão
significativo feito d *a rm as: elle
nos era
in d i s p en s áv e l ,
p o r q u e
a
h o n r a n a c i o n a l ,
os
brios
do
m e s m o e x e r c it o
o
e x i
g i a m .
«
No
officio acima mencionado, disse
eu a V. Ex que
t i n h a
deixado
no dia 29 do
passado
a
força
de
caval lar ia
sob o
c o m m a n d o
do
br igadeiro Manoel Luiz Ozorio légua
e
m e i a
distante
de
P a y s a n d ú ,
e que com as
d u as b r ig ad as
de
i n f a n
tar ia
e as
baterias
de
a r t i lh ar ia t in h a acam p ad o
ás 7
h o ras
d 'aq u e l le m es m o
dia nas
in im ed iaçò es
da
c idade.
« Depois
de
a c o m m o d a r
a
t ropa,
foi o meu
p r i m e i r o c u i
d ad o en ten d er -m e
com os
E x r h s .
Srs.
Barão
de
T a m a n d a r é
e general Flores , para cujo
fim me
dirigi
com
es te u l t im o ,
q u e
me
t i n h a
ido
encontrar , para bordo
do
navio a lmiran te»
A l l i ,
e
depois
de
p ro lo n g ad a co n ferên c ia , as s en to u -s e
não só
n o
dia do
a taq u e , co m o tam b ém
na
m a n e i r a
de o
ex eo u tar .
« Resolv ido
o
p r i n c i p a l p r o b l e m a , e m p r e g u e i
o
resto
do
dia
e o
s u b s eq u en te
no
reco n h ec im en to
do
t e r ren o p ara
a
collocação
da
ar t i lhar ia , operação
que se
effectuou du ra nt e
a
noi te
do dia 30.
Ao 'escurecer d 'es te
dia,
d e i x a n do c o n v e n i e n
tem en te aco m m o d ad as
as
b ag ag en s ,
fiz
a v a n ç a r
as
forças para
as posições prefe ridas .
«
A's 2
h o ras
da
m a d r u g a d a
do dia 31
e m p r e h e n d e u
o
inimigo
uma
sort ida sobre
as
nossas bate r ias , sor t ida
que
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devia ter por fim reco nhe cerm os as po siç õe s; cobertas,
porém, as nossas peças por uma forte linha de atiradores,
tendo além d'isso de reserva o 4.° batalhão de infantaria, os
fogos dos atiradore s fizeram ma llograr o arrojado int en to,
« S. Ex. o S r. Barão de T am and aré me hav ia scien ti ficado
que os sitiados pretend iam en trar n'aq ue lle dia em acei
táveis neg ocia çõe s: esta cireum stancia levou-m e a ordenar
que não se rompesse o fogo até segunda ordem.
« A 's 4 horas e vinte m inu tos da m an hã partio do forte
inim igo o prime iro tiro ; foi elle o signal de com bate, qu e
logo se travou mortífero por um con tinuo e bem ap rov ei
tado canhòneio,
« A 's 9 horas man dei avançar as duas brigadas de infan
taria, .commandadas a
2 .
a
pelo coronel Carlos R es in, e a
5 .
a
pelo coronel Antônio de Sampaio. Levaram ordem de abrir
passagem pelas casas, para cujo fim conduziam a conve
niente ferramenta. As poucas forças do general D. Tenancio
Flores deviam atacar pelo flanco esquerdo, entrando as nossas
pela direita e frente da po.voação.
« Derram ado o inimigo em area tão extensa, servindo-lhe
cada sotéa de bem defendido forte, era necessário co nq uis
tar-lhe palmo a palmo as posições .guarnecidas, e tomar-lhe
as principaes, ob rigando-o a reunir-s e nas su as ultim as obras,
para sobre ellas conv ergir os fogos de a rtilha ria, e os esforços
de nossos batalhões. T al foi o m eu in ten to, q u e ' felizmen te
se reahsou pela bravura dos nossos soldados.
« A o m eio dia tinham os já tomado algu ma s posições ao
inim igo , nas quae s ma ndei assestar duas peças a L a H ittesob o com ma ndo do bravo 1.° tenen te Ernesto A ugusto da
Cunha Mattos*
« A confusão qu e se ma nifestou logo nas fileiras co n
trarias, provou o acerto d'esta providencia.
« Cahio a noite de 31 sobre os combatentes. Ordenar a re
tirada das nossas tropas seria moralisar o inimigo e dar-lhe
anho d e causa : m and ei pois que o a judante-general exp e-
isse as precisas ordens para que a todo transe fossem sus
tentadas as posições occupadas
•
o que feito o combate con
t inu ou nas trevas com o mesmo vigor que t inha t ido dura nte
o dia.
« A aurora do anno de
1 8 6 5
encontrou aind a os nossos
•bravos nas mesmas posições conquistadas na véspera com
tanto sacrificio. D ur an te o dia ou tras foram tom ada s, e a
peleja seguio-se sempre tenaz até ao dia 2 pelas 8 horas e
z O min utos da m an ha , hora em que se entregaram á dis-
cripção os valentes deíéhâores da praça, victimas immoladas
pelo insolente capricho dò governo do M ontev idéo.
« Cincoenta e duas horas consecutivas batalharam os nossos
bravos; nenhum obstáculo pôde contel -os , nada res is t ioáin-
domita coragem dos nascidos na terra de Cabral Trincheiras,
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ruas, barricadas, áreas, pontes
e
vallas, não fizeram trepida*
um
só
momento
as
phalanges
do
Império,
que
registraram
com
as
pontas
das
baionetas
no dia 2 de
Janeiro, mais
uma
pagina de gloria no grande livro da nossa historia pátria.
Durante
o
combate
4 , 0 0 0 e
tantos projectis
de
artilharia
fo
ram lançados sobre
a
cidade.
« Mais difficil ainda me teria sido este triumpho, se não
fosse eficazm ente coadjuvado pelo Exm.
Sr.
Barão
de
Taman
daré,
pondo
á
minha disposição
não só
boccas
de
fogo
de
vários ••calibres, como também os officiaes de marinha, e todas
as praças
de
pret
de que
pôde dispor; officiaes
e
praças
que
me prestaram relevantissimos serviços,
que
estou certo serio
devidamente aquilatados por Sua Magestade o Imperador.
«
A V. Ex. não
escaparão
por
certo
os
effeitos d'este com
bate, sendo como foi elle ao começar de uma campanha.
Ao passo
que as
nossas tropas
se
moralisam,
e se
acostumam
a encarar
o
perigo
sem
temor, apossam-se
das
fileiras con
trarias
o
desanimo
e a
certeza
da
improíicuidade
dos
seus
esforços; assim é que
o
governo de Montevidéo hade vêr na
nossa primeira victoria
o
prognostico
da sua
infallivel queda,
e
o seu
exercito recuará sempre
que se
achar
em
frente
dos
vencedores de Paysandú.
« Esta brilhante victoria tirou ao inimigo quasi todos os
seus principaes chefes
ao
norte
do Rio
Negro:
70 0
prisio
neiros, inclusive
9 7
officiaes, cujos postos
e
nomes verá V .
Ex.
pela relação que ajunto; 4 0 0 mortos e feridos, dous mil
e
tantos fuzis, sete peças de artilharia, grande quantidade de
munições
e
outros petrechos bellicos, foram
os
despojos d'este
grande combate. Infelizmente custou-nos elle
a
perda
de vá
rios officiaes e praças, cujos nomes, assim como dos feridos,
encontrará V. Ex. em relações especiaes.
« Deus guarde
a V .
Ex.— Quartel general
do
commando
em
chefe
do
exercito
do Rio
Grande
do Sul,
junto
do
Arroio
Negro, no Estado Oriental, 7 de Janeiro de 1 8 6 5 .— Illm. e
Exm. Sr. conselheiro Henrique de Beaurepaire Rohan, minis
tro
e
secretario
de
estado
dos
negócios
da
guerra.—
João
Pro-
$
fido
Menna
Barreto,
marechal de campo. »
A divisão do marechal Menna Barreto teve a perda se
guinte, nos tres dias de combate contra Paysandú, 3 1 de
Dezembro,
1 e 2 de
Janeiro: officiaes mortos
4,
feridos
1 3 $
praças
de
pret, mortas 1 7 3 , feridas mais
de 3 0 0 . Um dos
officiaes feridos falleceu depois do combate.
N'este officio, acima transcripto, omittimos as reeommenda-
ções
que fez ao
governo imperial
o
marechal Menna Barreto
dos officiaes
da sua
divisão, porque
o
julgamos desnecessário.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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«E ' notável qu an to differe este officio, que acabamos de
transcrever, do que se passou n'aqu elle assedio. Depois de se
tomar a praga é que se soube que a artilharia da divisão
tinha parado os seus fogos por não ter munições. Entendeu
o general que também não devia continuar o bombardeio da
esquadra, que foi o que produzio os estragos que houve, e,
por isso, é que devia continuar até que a infantaria pudesse
penetrar na praça sem deitar paredes abaixo; este procedi
mento não o quiz ter o general, e preferio os machados á
artilharia dos navios para abrir brechas. Foi a primeira vez
que um exercito sitiou uma praça fortificada sem levar arti
lharia de bater.
Para a praça de Paysandú ter sido cercada conforme as
regras da arte militar, devia-se ter mandado uma divisão de
sete ou oito mil homens de infantaria com a artilharia pró
pria de sitio, e o pessoal de engenheiros e sapadores, o que
tudo faltou. O ministério que d'esta corte dirigia a campanha
no Estado Oriental, sem ouvir a opinião dos generaes, os
competentes nos negócios da guerra, deixou que tudo corresse
do m odo porque temos exposto, do que resultou a perda de
m uita gente, que se podia ter po upado ; tudo se fez de modo
irregular e tumultuario. Disseram os órgãos officiaes: vence
mos e tomámos Paysandú; mas não publicaram as circums
tancias que acompanharam aquelle cerco.
Nos assédios das praças sempre se empregou a artilharia
até destruir as obras externas de defeza, abrir brechas nas
muralha s, etc. E' uma regra infallivel da sciencia m ilitar,
para reservar a infantaria para o assalto; é notável que no
ataque a Paysandú fez-se o contrario do que prescrevem as
regras da arte m ilitar, isto é, em pregar a artilharia para des
truir as fortificações que abriga o inimigo, quando o terreno
o perm itte. Não podia haver duvida de que aquella praça se
rendesse em mais ou menos tempo, logo que fosse conve
nientemente investida; devia por tanto ter-se empregado os
meios convenientes para tal fim.
O exercito não tinha artilharia para bater as m ur al ha s;
collocou-se a artilharia dos navios, de calibre
6 8 ,
a tiro de
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fuzil da praça; não se fez a mais pequena obra de defeza*
um parapeito ao menos para abrigar os artilheiros, porque não
havia um official engenheiro.
D*este modo foi prompta a divisão que marchou do Rio
Grande para ir tomar Paysandú, não houve quem a provesse
do mais necessário para uma campanha, que jã promettia
ser longa e muito trabalhosa.
À este respeito, e para justificar o
q u e
fica dito acima,
léia-se agora o que disse o conselheiro José Maria da Silva
Paranhos no senado, copiado do seu primeiro discurso, a
paginas 8 da sua defeza:
« Notei, senhores, pelo que toca ás nossas disposições mi
litares, que havia alguma desintelligencia entre o general do
exercito expedicionário e o presidente da provincia de S. Pedrodo Rio Grande do Sul. O primeiro requisitava, o segundo
dizia que tinha satisfeito á requisição; mas o general não se
dava por satisfeito; e em verdade o exercito destinado ás
operações no Estado Oriental não tinha força sufficiente para
a empreza que lhe estava designada. Estava fraco na arma
de infantaria, e, devendo atacar praças, não tinha artilharia
de bater, nem mesmo o maior calibre da nossa artilharia de
campanha. O seu estado maior era deficiente, não contava
um só engenheiro. Fiz n'este sentido varias observações ao
nobre ministro da guerra de então, porque me pareceu que
o general encarregado d'essa importante commissão militar
tinha muita razão nas observações que fazia; e foi de certo
injusto accusal-o pela demora do exercito. »
A
pagina 29, diz ainda o conselheiro Paranhos :
« Não tinhamos ainda no Estado Oriental força sufficiente
para assegurar o bom êxito do ataque á praça de Montevidéo;
o governo imperial promettia remetter novos contingentes,
mas a força que existia não era bastante. »
A paginas 3 1 , continua o conselheiro Paranhos a expender
os factos que convém que fiquem declarados na historia da
guerra de que tratamos.
« O governo do Brasil, que pretendia dar uma demons
tração de força no Rio da Prata, tinha apenas, até o ataque
de Paysandú, podido apresentar n*aquelle território um exer
cito de cerca de 6,000 praças. (*) O governo de Montevidéo,
(*) 'Incluindo a cavallaria do general
Netto,
que foi t5o -mal armada que
não
podia entrar em combate algum, c também não servio de nada em
Paysanâú.
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governo fraco, havia .desenvolvido mais açtividade e energia,
havia sido muito mais fértil em suas iniciativas ; por quanto
pôde resistir em M ontevidéo, resistir em Paysandú, destacar
urn
:
corpo de exercito para auxiliar aquella praça, obrigaüdo-nos
a suspender o sitio, o que foi um verdadeiro revez. A lém
disso pôde mandar uma expedição numerosa contra a nossa
fronteira do Jaguarão, que a foi achar desguarnecida
«
O
senado comprehende a impressão que estes facto?
deviam produzir. Mandamos um exercito para atacar a praça
de Paysandú, praça bem fortificada, defendida por uma guar
nição de 1 , 3 0 0 homens aguerridos, que ainda depois de ven
cidos lançavam olhares de despeito aos vencedores, tentamos
esta importante em preza com um exercito cuja força de in
fantaria não excedia de
2 , 0 0 0
praças, quando os mestres da
arte militar dizem, que, para atacar uma íortirjcação perma
nente, é necessária uma força que seja cinco ou dez vezes
superior á da guarnição sitiada.
« O nosso exercito não levou um engenheiro, não tinha
um engenheiro que pudesse dirigir a abertura de um fosso e
a construcção de um parapeito, em que se abrigassem os
nossos artilheiros, que ficaram inteiramente expostos, ao
alcance do tiro de fuzil, em frente das baterias de Paysandú,
onde morreu o bravo í.° tenente M artins Não levou esse
exercito na sua bagagem um a machadinha, um só . dos ins
trumentos necessários para romper cercas, abrir portas e
escalar muralhas
Eis, senhores, como o gabinete de
3 1
de
Agosto procurava defender a dignidade do Império, eis comoelle compromettia o credito de nossas armas, sacrificava o
sangue de nossos bravos
« Tal era a nossa posição militar no Estado O riental ; o
que se pôde dizer e se deve confessar, porque o Brasil
teria apresentado outra força em M ontevidéo, se tivesse um
governo menos patriótico e menos valente do. que o gabinete
de
3 1
de Agosto.
« Essa era a nossa posição militar no Estado O riental.
Provamos, é certo, muita bravura, muita dedicação,* muita
moralidade em Pa ysandú ; mas tínhamos , arrostrado um a
empreza superior aos elementos de que dispunhamos; aquelle
triumpho custou-nos sangue precioso, que se podia ter evitado,
se outras fossem as disposições do governo imperial.
« E não se allegue falta de tempo, porque o governo tivera
em suas mãos não romper as hostilidades antes de estar pre
parado para ellas. A Inglaterra e à Hespanha conservaram-se
desde 1 8 4 8 até 1 8 5 0 com suas relações interrompidas sem
chegarem ao estado de guerra. O príncipe de Menchikoff
retirou-se de Gonstantinopia a 2 1 de M aio, o ultimatum do
conde de Nesselrode foi de
3 1
do jmesmo mez, e a Turquia
só declarou a guerra
á
Rússia em
4
de Outubro, não come-
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—
2T6 P
çando as hostilidades senão a 13 no Danúbio, e a 2 de
Novembro em Oltenitzá. E* direito de qualquer governo, e
direito que, por via de regra, só pôde ser exercido pelo mais
forte, aaiar o rompimento de suas hostilidades; esse adia
mento significa ou moderação, porque se queira dar tempo
ao adversário para que reílicta e venha a um accordo ami
gável, ou sobranceira, ou finalmente, necessidade de procurar
alliança e preparar os meios materiaes de entrar em acção.
Senão estávamos preparados, não devíamos romper logo em
actos de guerra.
« Nosso credito militar devia ficar muito bem firmado no
Estado Oriental, porque era nosso intento dar uma demons
tração de força, que nos deixasse alli bem respeitados, e evi
tasse futuras complicações. Tinha sobrevindo o rompimento de
nossas relações* com a Republica do Paraguay, uma segunda
campanha ia abrir-se ás nossas armas, era preciso que do
Estado Oriental sahissemos com muita força moral. Mas o
governo imperial 'não havia preparado os elementos, e entre-'
tanto concorria para que se allucinasse a opinião publica da
corte e de todo o Império fazendo crer que nossas circum
stancias na Banda Oriental não podiam ser mais brilhantes,
que podíamos alli proceder, não já como alliados do general
Flores,
cuja alliança foi procurada desde
20
de Outubro em
Santa Lúcia, mas como conquistadores, que tinham por auxi
liar aquelle general da Republica. Como toquei n'este ponto,
Sr. presidente, vou mostrar ao senado com dados seguros,
qual a força que apresentamos no Estado Oriental até 20 de
Fevereiro, e ainda dias depois.
« Invadimos o Estado Oriental e atacamos Paysandú, com
uma força de 5,711 praças de todas as classes, não fallando
na força menos regular ao mando do general Netto, e que
não excedeu de 1,500 homens, A força de infantaria era
de 1,095 praças de pret; a de artilharia de 198 praças,
incluidos os officiaes. Não tinhamos artilharia de bater pra
ças : a nossa artilharia á La Hitte era de calibre 4 e a de
Phaixans de calibre 6.
< t
A força do nosso exercito no dia 20 de Fevereiro era
de 8,116 praças de todas as classes, comprehendidas n'este
numero 1,228 que chegaram no dia 16 d'aquelle mez, a sa
ber : do 8.° batalhão de infantaria, do batalhão dè caçadores
da Bahia, e do corpo policial da mesma provincia. As pra
ças de pret de infantaria e artilharia não excediam de 4,498,
sendo a guarnição da praça de Montevidéo de 4 a 5,000
praças . Os jornaes davam aquella praça essa força, e uma
informação que obtive do general Flores me assegura o
mesmo.
« Eis o documento a que acabo de referir-M# t
« —Montevidéo, 29 de Março de
1865*
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- 277 —
« Illm. e Exin. Sr. conselheiro José M aria da Silva Para nho s.
M eu presado ainigo.— R espondendo ao que V . Ex . teve a bon
dade de perguntar-mo, devo dizer a
y
Ex. que a força q ue
havia em Montevidéo para sua defeza era de
3 , 5 0 0
a 4,000
homens, com
4 0
peças de artilharia de calibre
4
a
4 6 ,
e gran
de abundância de munições. Sou como sempre de V . Ex. mu i
sincero amigo e criado,
Venan cio Flores.—»
« Quando esta era a verdade, como haviamos de atacar
Montevidéo, na confiança de que a sua guarnição era apenas
de 2,000 hom ens? Deviamos, em caso de tão graves conse
qüências, presuppôr o que nos fosse mais favorável, ou a
prudência a mais commum "recommendava o contrario em
uma operação que decidiria do bom ou máo êxito da guerra.
« Em 2 8 de Fevereiro, oito dias depois do fatal convênio,
tinhamos mais 1 , 0 1 5 praças de infantaria, pertencentes ao
corpo de guarnição do Espirito Santo, dito policial do Rio de
Janeiro, e segundo contingente do corpo de eng enh eiros.
A ssim, o total das praças de pret de infantaria e artilharia eran*aquella data de
5 , 5 0 4 .
« Em
4
de Março, com a chegada do batalhão da guarda
nacional da corte, contingente do batalhão do deposito e
ainda outro corpo policiai do R io de Janeiro , ao todo
6 3 0
praças de pret de infantaria, elevou-se a totalidade das praças
d'esta arma e da de artilharia a
6 , 1 3 4 .
« Além d'esta força só tinham os 2 , 4 4 7 praças de pret de
cavallaria, que se achavam litteralmente a pé. Havia falta de
munições, e alguns corpos, os de voluntários, careciam ainda
de instrucçâo.
« Não tinham os, pois, força de infantaria sufficiente para
atacar, com certeza de bom êxito, uma praça bem fortificada
e guarnecida por
3 , 5 0 0
a
4 , 0 0 0
homens com
4 0
peças de ar
tilharia de calibre
4
a
4 6 ,
grande abundância de m unições e
coberta de extensa linha de minas. »
O que acaba de ler-se julgamos ser bastante para justificar
tudo quanto temos escripto sobre a cam panha do Estado
Oriental. O que o conselheiro Paranhos escreveu na sua de
feza, confirma os factos narrados n'esta histo ria. M ostramos
a precipitação com que se provocou esta guerra, para a qual
o Brasil não estava preparado; a falta de meios m ateriaes, o
pequeno numero de soldados com que se invad io o Estado
Oriental, e a má direcção que se deu ás operações da guer
ra, tudo concorreu para as perdas que tivemos, as quaes se
podiam ter evitado.
Os militares e os homens instruídos na arte da guerra, que
lerem esta descripçáo da campanha do Estado Oriental, po-
47
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— 278 —
dem julgar melhor do que os outros das faltas que houve,
para se conseguir o fim d'aquella guerra contra o governo
de uma pequena R epublica, cujos meios de fazer a guerra
não tinham comparação com os do Im pério; e por esta ra
zão se o governo imperial tivesse empregado, quando fosse
tempo, os seus elementos de guerra, dirigidos de outro modo
e por outro caminho mais curto, o governo de Montevidéo
tinha cabido mais depressa, não se lhe dando tempo para
pedir a alliança e a protecção do governo do Paraguay, o qual
também nos desejava hostilisar.
Felizmente a terminação d'esta curta campanha do Estado
Oriental poupou ao Brasil a perda dos seus officiaes e sol
dados nas fortificações de M ontevidéo ; resultado satisfactorio
do convênio de
2 0
de Fevereiro, que o ministério de 3 1 de
Agosto não soube avaliar devidamente.
A praça de Paysandú não foi tomada conforme as regras
da arte militar, nem com os meios próprios para tal fim. A
este respeito occorre-nos a idéa de mostrar como se atacou e
tomou a praça de Badajoz na guerra peninsular, a 6 de
Abril de
1 8 1 2 ;
e se conhecerá
a
differença que houve nos
meios de acção.
Estamos certos que, os que tomaram parte no cerco de
Paysandú não se lembravam talvez do que se passou na
guerra da Península, 5 0 annos antes, para poderem imitar
a campanha d'aquella época. Ainda que não sirva de utili
dade o que vamos expor, servirá de recreio quando não lhes
sirva também de instrucçâo.
G U E R R A D A P E N Í N S U L A .
EXERCITO ALUADO EU P O R T U G A L .
Officios do commandante em chefe Lord Wellington ao se
cretario de guerra Lord Liverpool;
« Elvas 1 3 de Março de 1 8 1 2 . — Deixei o quartel general
de Freineda a 6 , e cheguei aqui a 1 1 do corrente; não ha
tropas inimigas na Extremadura, exoepto a parte do
5
0
corpoque está de guarnição em Badajoz e cujo quartel general
está em Villa Franca.— Lord WeU ingion.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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279
—
« Campo ante Badajoz, 20 de Março de
181$.**
Segundo as
intenções que participei a V. S, fiz sahir o exercito dos seus
acantonainentos a 15 e 16 d'este mez, e investi Badajoz pela
margem esquerda do rio Guadiaria, a 16 com a divisão li
geira, e a l
1
e 4.
a
divisão de infantaria; e uma brigada da
divisão do tenente-general Hamilton, pela direita. Estas tropas
estão sob o commando do marechal Sir Guilherme Beresford,
e do tenente-general Picton. Na manhã seguinte abrimos a
trincheira, e estabelecemos uma parailela a 200 toezas da
obra exterior chamada Picurina, a qual encerra todo o an
gulo sudueste do forte. Os trabalhos tem continuado desde
então com grande actividade, apezar do máo tempo que te
mos tido desde 17.
« O inimigo fez hontem uma sortida pela porta chamada
da Trindade, sobre a direita do nosso ataque, com cerca de
2,000 homens. Foi quasi immediatamente repellido com
grande perda, sem obter vantagem alguma, pelo major ge
neral Baines, que commandava a guarda nas trincheiras. Per
demos n'esta oceasião um official de grandes esperanças, que
foi morto, o capitão Cutbbert. Não tenho ainda recebido as
relações,
mas creio que a nossa perda desde o começo das
operações chega a 120 homens entre mortos e feridos. No mes
mo dia em que investi Badajoz, o tenente-general Graham
passou o Guadiana com a l.
a
e 6.
a
divisões de infantaria.—
Lord Wettington. »
« Campo ante Badajoz, 27 de Março de 1812. — As opera
ções do cerco de Badajoz tem continuado desde que vos
escrevi a 20, não obstante o máo tempo até ao dia 25. N'esse
dia abrimos o nosso fogo com 28 peças em seis baterias; na
primeira parailela duas, as quaes eram destinadas a bater
a obra exterior chamada Picurina, e as outras quatro a en
fiar ou destruir as defensas do forte pelo lado atacado. Orde
nei ao major-general Kemp, que commandava as trincheiras
n'aquella tarde, que atacasse por assalto a Picurina, depois
de ser noite escura; este serviço foi executado da maneira
a mais judiciosa e galharda. Fez o ataque com 500 homens
da 3.
a
divisão, formados em tres destacamentos. A commüni
cação da obra exterior com o corpo da praça, foi entrada
pela esquerda e direita, consistindo cada u.m em 200 ho
m e n s . O destacamento do centro de 100 homens foi o pri
meiro que entrou, o qual escalou a obra no angulo saliente.
A guarnição do inimigo nesta obra exterior consistia em
250 homens com 7 peças. Um coronel, tres officiaes e 86
homens ficaram prisioneiros; e o resto ou foi morto ou afo
gado no rio Rivellas.—Lord
Wetlington.
»
Morto»
e feridos no cerco de
Badajoz
de
18
até
26
de Março,
Mortos,
officiaes 9; sargentos, 5 soldados 144.
1
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— 280 —
Feridos, officiaes
34;
sargentos,
20;
soldados
532.
«Campo ante Badajoz, 3 de Abril de 1812. — Abrimos o
nosso fogo a 31 de Março com 26 becas na segunda parailela,
para fazer brecha
em
face
do
bastião
do
angulo sudueste;
o
fogo tem continuado com grande effeito. O inimigo fez uma
sortida
na
noite
de 29
sobre
as
tropas
da
divisão
do
general
Hamilton; foram iinmediatamente repellidos,
nós não
per
demos-ninguém.—Lord
Wellington.y)
« Campo ante Badajoz, 7 de Abril de 1812.—O meu offi
cio de 3 do corrente terá informado a V. S. do estado das
operações contra Badajoz
até
aquella data,
que se
analisaram
a 6 com a tomada da praça por assalto. Continuou o fogo a
4 e 5 contra a face do bastião chamado da Trindade, e o
flanco
do
bastião Santa Maria;
e a 4
pela manhã abrimos
outra bateria de 6 peças, na segunda pararella, contra a
espalda de revalim de S. Roque, e a muralha em seu collo.
Etiectuaram-se brechas praticaveis
nos
bastiões acima men
cionados na noite de 5; mas eu tinha observado que o ini
migo havia entrincheirado
o
bastião Trindade,
e se
faziam
os mais formidáveis preparativos para
a
defeza, tanto
da
brecha n'aquelle bastião, como no bastião Santa Maria. Eu
determinei demorar
o
ataque para
o
outro
dia, e
voltar todas
as peças das baterias, na segunda parailela, sobre a cortina da
Trindade.; com a esperança de que effectuando-se terceira
brecha, -
as
tropas poderiam voltar
as
obras
do
inimigo para
a
defeza das outras duas; cujo ataque além disso seria combi
nado com as tropas destinadas a atacar a brecha na cortina.
Esta brecha
se
effectuou
na
noite
de
6
; e
téndo-se superado
o fogo da face do bastião de Santa Maria, e do flanco do
bastião da Trindade, determinei atacar a praça n'aquella noite.
Tinha
eu
conservado
em
reserva
nas
visinhanças
d
este campo,
a 5.
a
divisão sob o commando do tenente-general Leith, que
tinha deixado Castella somente pelo meiado de Março; e o
fiz
marchar para aqui aquella noite.
« Consequentemente fiz o ataque ás 10 horas da noite; a
3.
a divisão estabeleceu-se
no
castello
ás 11
horas
da
noite.
Em quanto isto se fazia, o major Wilson do 48, tomou o
revelin
de S.
Roque pelo collo,
com um
destacameuto
de
200
homens
da
guarda
das
trincheiras,
e com o-
ajudante
do
major Squiré, dos engenheiros, se estabeleceu dentro d'aque ta
obra. As divisões 4.
a
e ligeira marcharam do campo para o
ataque
ao
longo
da
esquerda
do rio
Riv
ellas, e da
inundação.
Não foram elles percebidos pelo inimigo até que chegaram
á estrada coberta; e as guardas avançadas das duas divisões
desceram
sem
difficuldade para
os,
fossos, protegidos pelo fogo
das partidas postadas na esplanada para esse fim; e avança
ram ao assalto das brechas, guiadas pelos seus valentes offi
ciaes,
com a
maior intrépidos; porém
era tal a
natareza
dos
obstáculos preparados £elô inimigo no cimo e por detraz das
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 372/448
- m
—
trin ch eir as, e tão determ inada foi a sua resistência, que as
nossas tropas se não pud eram estabelecer dentro da praça.
« M uitos valoroso s officiaes e soldados loram m orto s ou
feridos pelas explosões no cimo das brechas; outros qu e foram
depois aelles, foram obrigados a retroceder, achando impos
sível o pen etrar os obstáculos que o inimigo tinh a prep arado
par a impe dir o seu progresso. Estas tentativas foram repetidas
até ás 9 horas da noite, quando .achando-se que não eta pos
sivel obter bom successo, e que o tenente-general P icton se
tinha estabelecido no castello; ordenei que as divisões 4 .
a
e
ligeira se retirassem para o terren o em qu e tinham formado
para o ataq ue. No entanto o major gen eral L eith t inha av an
çado com a brigada do inajor-general W alk er pela esq uerd a;
sustentada pelo regimento
3 8
sob o comm ando do tenen te-
coronel Nugent, e o regimento portuguez 1 5 sob o commando
do tenen te-coro nel L uiz do R ego; e t inha feito um ataque
falso sobre Pa rde leras com o
8 . °
de caçadores sob o com mando do major Hi l l .
O
m ajor-general W alk er forçou a ba r
reira na estrada de O livença, e entro u na estrada coberta,
pela esquerda do bastião de S . V icente , jun to ao r io Gua-
di an a. A qu i desceu elle pa ra o fosso, e escalou a face do
bastião de S . Vicente . O tenente-general Leith sustentou este
ataque com os regimentos 3 8 e 1 5 portuguez ; e estando as
nossas tropas assim estabelecidas no castello, que commanda
todas as obras da praça, e estando as divisões 4 .
a
e ligeira
formadas ou tra vez para o ataqu e das brechas, cessou toda
a resistência; e ao romper da manhã o governador Phil ippon
que se tinha retirado para o forte de
S .
Christovão, se rendeu
jun to com o general V eilande, todo o estado-ma ior, e toda
a guarnição.
« Eu nã o tenh o obtido relações exactas da força da g ua r
nição nem do numero de pris ioneiros; porém o general Phi
lippon me informou de que consistia em 5 , 0 0 0 hom ens no
principio do cerco, dos quaes 1 , 2 0 0 foram mortos ou feridos
durante as operações, além dos que se perderam no assalto
da praça. Havia 5 batalhões francezes, além dos dous regi
mentos de Hesse Daunstadt , e ar t i lharia , engenharia , e tc , ed iz e m-me que ha
4 , 0 0 0
prisioneiros.
« E ' impossível qu e nen hu m as expressões min has possam
transm itt ir a V . S. os sentimen tos que entreten ho da ga
lhardia dos officiaes e tTopa n'esta oceasião. A lista dos mortos
e feridos mostrará que os officiaes generaes e o estado-maior
ue lhe estava annexo, os commandantes e os outros officiaes
os regimentos sé puzeram á frente dos ataques, que cada
um d'eiles dirigia; e deram o exemplo de valentia, que foi
também imitado pela sua gente. O serviço das trincheiras loi
conduzido suecessivamente pelo honrado major-general Colville,
major-general Bowes, e major-general Kenpt, debaixo da su-
pentendeecia do tenente-general Picton. Tenho t ido oceasião
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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de mencionar todos es tes of f ic iaes durante o curso das ope
raçõe s, e todos elles se tem dist in gu i d o, e todos foram feridos
no a s sa l to . E s tou pa r t i c u la r m e nte obr iga do a o te ne nte - ge n e r a l
Pic ton. pela maneira em que ar ranjou o a taque do Caste l lo ,
e es tabeleceu as suas t ropas n*aqueí le impor tante ponto .
«
0
marechal S i r Gui lherme Beresford me a judou a con
duzir os detalhes d 'este cerco, e lhe sou muito obrigado pelooordeaiÉ auxil io qu e d 'el le recebi du ra nt e o seu progresso,
ass im com o n a ul t im a operação qu e o con clu io . O s ar ranja-
xnentos do tenente-general Lei th para o fa lso a taque de Par -
de le ra s e o do m a jor - ge ne r a l W a lk e r , d e u m a m a n e i r a q ue
lhe. dá gra nd e credi to .
A g a l h a r d i a e co n d u c t a d o m a j o r -g e n e ra l W a l k e r q u e t a m
bém ficou ferido , e a do s officiaes e trop as deb aixo do seu
c om m a ndo, f o r a m a l ta m e nte c ons p ic uos . Os a r r a n ja m e ntos
feitos pelo m ajor-general Colvil le par a o ata qu e da 4 .
a
d i
visão foram m ui judic iosos , e condu zio a sua ge nte ao a ta qu e
c om a m a ior ga lha r d ia . T e nh o ta m b é m de m e nc io na r o m a jor
ge ne r a l H a r ve y do s er v iç o por tugue z , c om m a nd a nd o um a
br iga da da 4 .
a
d iv i s ã o ; e o b r igade i ro Ch a m ple m ond , c o m
m a n da nte da br iga da por tügue z a da 3 .
a
d i v i s ã o , c o m o a l t a
m e nte d i s tinc tos . ( S e gue -s e a m e ns ã o dos c o m m a n da nte s dos
corpos.)
— Lord Welligton.
RELAÇÃO DOS MORTOS, FERIDOS E EXTRAVIADOS DURAN TE O CERCO DE
BADAJOZ, DESDE 16 DE MARÇO ATÉ 6 D E AB RI L .
Exercito Inglez.
Mortos . Feridos .
Ex t ra v ia d o s
60 251
0
45 178
1
0 14
0
Cabos e solda do s. 715 2,564
32
820 3,007
33
Exercito Portuguez.
Mortos .
F er id o s .
Bxtravisdoâ,
12
55
0
6 38
0
2
3
0
Cabos e sold ado s. 195
684
3 0
S o m n i a to ta l . . . .
215
780 30
S o m n i a to ta l . . . . 1,035 3,787
63
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— 28 5 ~
Arm amento e m u Bicões qu e ae acho u da praça;
Pe ça s de fortaleza e de campan ha, 165.
Espingardas com baionetas, 3,481.
Pólvora, bala, etc.
A praça de Badajoz estava gua m èc ida por 5,000 hom ens
do exercito franeèz, tinha m uita artilharia nas m ura lhas e
obras exteriores. Lord W elling ton inv estio -a com m ais de
30,000 homens e 40 peças de artilharia.
Pa ysa nd ú tinha 1,500 hom ens e 15 peças nas m uralhas,
algu m as de calibre 1 8 ; esta praça, que se dev ia considerar
forte n'aqu elle p aiz, foi inv estid a no dia 6 de D ezembro de
1864 por 900 a 1,000 ho m en s, 400 Brasileiros e 500 O rientaes,
quando o devia ser por 6,000 infantes.
Apresentamos aquelle facto histórico só para mostrar a dif-
ferença que ho uv e na força empregada contra um a e outra
praça, em relação ás guarnições que as defen diam ; em Ba
dajoz hav ia 5,000 ho m en s, foi cercada por força se is vez es
m aio r; em Pay sand ú havia 1,500, foi cercada de 6 a 8 de
D ezem bro por 1,000 hom ens , e nos dias 30 a 2 de Jane iro de
1865 por menos de 3,000.
Estes algarismos explicam tudo quanto se pôde dizer a este
respeito.
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7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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L I V R O D É C I M O
C O N T I N U A Ç Ã O D A C A M P A N H A O R I E N T A L .
Pelo que fica escripto no livro antecedente, conhece-se per
feitamente como se fez a cam panha do Estado Oriental no fim
do anno de 1864, quaes foram as forças empregadas, o seu
material de guerra, etc. O plano adoptado pelos dous generaes
de tomar-se a V illa do Salto e a praça
de
Paysandú como re
presá lias-até que o governo de M ontevidéo desse as satisfações
exigidas, converteu-se em guerra, que não devia ter sido ex e
cutada do modo porque a fizeram; mas o valor dos nossos
officiaes e soldados venceu tudo.
D uas circumstancias existiam para que não se pudesse effec-
tuar o systema das'repr esálias contra o Estado O riental: a
primeira era que em Montevidéo não havia em que fazer re
presálias pelo mar, o que aco nte ceu ; a segunda era que este
meio póde-se empregar com um povo mais civiiisado, mas
nunca com governos como os que tem existido n'aquella R e
publica, com raras excepções; porque tem mostrado desco
nhecerem os direitos internaeionaes. Portanto, o único m eio
que tinha o Império para obter as reparações devidas, con
sistia em empregar a força directamente contra aquelle go
verno.
48
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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Continuamos a referir o que se passou no ataque a Pay
sandú.
O correspondente de Buenos Ayres para o Jornal do Com-
mercio diz, a 14 de Janeiro de 18 65 , o seg uin te:
« Cahio no dia
2
do corrente o mais forte baluarte da ty-
rannia blanca na infeliz R epublica Oriental, diante do ataque
vigoroso e renhido das forças imperiaes reunidas ás do gene
ral F lores. Já não dom ina em P aysand ú o celebre general
Leandro Gomes, que tinha convertido aquella florescente po-
voação do Uruguay em uma praça forte; theatro em que se
julgava seguro para praticar quantas crueldades queria contra
Brasileiros e colorados. Ahi m esm o recebeu o prêm io de suas
iniqu idades, e pagou a affronta qu e havia inferido á ba n
deira brasileira.
« O ataque e tomada de Pay sand ú, bem que no s tenh a
custado muito sangue precioso,
é
um Üorão mais que se reunio
aos trophéos victoriosos de nossas armas, e um
bello
começo
de campanha no Rio da Prata.
« Nossas tropas de mar e terra rivalisaram de ardor e va
lentia, e todos que assistiram aos combates e operações glo
riosas que tiveram lugar, são unanimes em elogiai-as. As
grandes perdas que sonremos são devidas na maior parte ao
desprezo com que encaravam o perigo; ao arrojo com que
acommettiam a peito descoberto o inimigo prudentemente es
condido em trincheiras densas de material, protegidas ainda
por mais cautela por immensos fardos de lã de carneiro, que
se elevavam
a
grande altura.
cc
Era um combate desigual, em que foi preciso tomar casa
por casa, trincheira por trincheira, e em que se fizeram pro-
digios
de valor, que sinto não poder referir, para não men
cionar nomes e despertar ciúmes, quando todos, officiaes e
soldados, cumpriram nobremente o seu dever.
« A marinha imperial, qu e tantos serviços prestou n'esta
oceasião, e a quem cabe uma notável parte no triumpho que
hoje descrevo, está de luto com a morte do distincto official,
o l.o tenente H enrique J osé Martins, qu e, sendo imm ediato
da corveta Nüheroy, mostrou desejos de ir para o campo da
guerra, e o conseguio, sendo nomeado commandante interino
da canhoneira
Parnahyba.
« Por ordem superior tinha elle levado quatro peças raia
das d'aquella corveta, duas de 30 e duas de 12 , (*) e com ellas
montou uma formidável bateria em terra, contígua â de 32
estabelecida pelo 1.° tenente Barros, commandante do Recife,
desde o dia 6, com a qual este official tinha feito e faria
grande dam no á praça.
« Podia o l.o tenente Martins tercoliocado suas pecas fów.
(*) Ha eDgaao; as peças de 30 eram l isas .
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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ok> alcance da artilharia inimiga, pela superioridade do seu al
cance ; ta »% aliou
to,
qu iz tirar d ella s o m áxim o effeito util,
fazendo-as bater em brecha
á
curta distanoia das fortificações
contrarias . Com o interesse e sangue-frio do co stu m e, ratifi
cava elle uma pontaria, quando uma bala de 18 lhe levou a
cabeça.
« O serviço de sua bateria nem por isso se ento rpec eu, e
continuou seu fogo destruidor sobre a praça.
O
exercito per
deu tamb ém alg un s officiaes valen tes e de p restimo, entre e lle s
o tenente José Antônio de Lima Júnior, que foi um heróe
no campo de batalha, do qual sahio gravemente ferido, vindo
a fallecer a bordo do vapor Recife, qua ndo descia para esta
cidad e com o iilustre almirante brasileiro. Seu corpo foi se
pultado na Ilha de Martin Garcia.
« A noticia da tomada de Pay sand ú e da bravura de n os
sos soldados e marinheiros, causou aqui grande enthusiasmo.
Toda a imprensa exalta o denod o com que com batem os, e
até o
Pueblo,
nosso incansável inimigo, não podendo negal-o,
diz que o fizemos por ostentação.
« N ossos officiaes salvaram um sem nu m ero de prisione iros,
officiaes e soldados, e vieram entregar estes preciosos d es po
jes ao almirante e ao general brasileiro.
cc A gora é que se pôde saber com exactidão o n um ero de
praças que guàrneciam Paysandú. Quando atacámos esta ci
dade em 6 e 8 de Dezembio com 350 infantes e marinheiros
brasileiros, e com 600 infantes orientaes, tinha ella 1.274 c o m
baten tes, cobertos inteiram ente pelas fortificações exc ellen tes
que Leandro Gomes havia feito levantar.
« E ntretanto nossos soldados chegaram até u m a quadra d e
distancia da igreja, e tomaram varias posições ao in im igo , qu e
abandonaram â noite, pelo seu reduzido numero, e não con
vir dividil-os. Por ahi se deve avaliar o arrojo do capitão Pei
xoto e officiaes que o acompanharam, e do punhado de va
lentes do 1.° de fuzileiros da corte, do contingente do bata
lhão naval, e de imperiaes marinheiros.
« N os combates de 1 e 2 de Jan eiro entraram em acção
1,500 soldados brasileiros de infa ntaria, e 500 or ien tae s do
general Flores, contra mais de 1,000 homens que ainda res
tavam na praça, Os outros batalhõ es de infan taria e toda a
cavallaria conservaram-se na reserva formados. (*)
« Ora, deve ndo um a praça fortificada ser inv estid a pelo d ec u-
plo da força que a defende, segu nd o a opinião de m ilitares
os
mais distinctos da Europa, o nosso ataque apenas com o
duplo, revela a superioridade de nossa infantaria, que nao he
s ita em m archar sobre o inim igo debaixo de um den so ch u
veiro de balas, que abre claros em suas fileiras.
a.
SlJLí
e n g a n o d 0
correspondendente;
não
havia outros batalhões
de
infantaria
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— 2 8 8 —
(
( Os coronéis R esin e Boi lo deram novas provas de seu
valor e perícia. O primeiro teve quatro ferimentos leves, o
cavallo morto e o selim crivado de balas. O segu nd o tam bém
perdeu o cavallo.
« Pretendem os blanc os que o general Leandro G om es e
tres outros chefes secundários, foram fuzilados depois de to
mados prisioneiros no ardor do combate. Tenho averiguado
o que ha a este respeito, e o que julgo mais exacto é o se
guinte. Te ndo morrido no dia 31 o general Lu cas Pires, qu e
era a alm a da defeza de Pa ysa nd ú, o general Leandro Gom es
desanimou logo, e com elle todos os combatentes da praça,
que sabiam a perda que tinham soffrido.
« A resistência afrouxou se ns ive lm en te, e cada vez se tornou
m ais débil com a morte de Tristâo de A zam buja , ferim ento
do coronel Ranna, e de m ais algu ns officiaes de im por tân cia.
Na manhã do dia
2
mandou Leandro Gomes um parlamen-
tario aos 'tres chefes inimigos, pedindo uma suspensão de hos
tilidades por oito horas, para enterrar os mortos e cuida r do s
feridos. Impaciente pela resposta, não esperou que elle voltasse,
e mandou o prisioneiro oriental Anatazil de Saldana, que
conservava preso havia mais de um anno, para solicitar aos
referidos chefes uma resposta favorável.
a Responderam elles como era de presumir, que dentro do
prazo pedido a praça seria tomad a, e que nã o pod iam s u s
pender as hostilidades, porque este tempo podia ser aprovei
tado pelos sitiados para prolongar uma luta, que já por obs
tinada se tornava um crime da parte de um inimigo que não
tinha salvação possivel. Que para evitar erTusão de sangue,
conc ediam ainda a liberdade ao chefe e ao s officiaes da praça,
se se rendessem á discripção, e lhes garantiam a vida.
cc E m quanto isto se passava, os a ssaltantes ganh avam ter
reno,
e uma força brasileira commandada pelo coronel Belio
e outra oriental commandada pelo coronel Goyo Soares pene
travam no próprio recinto em q ue se achava Leandro G om es ,
que é tomado prisioneiro por aqu elle chefe brasileiro.
« N'esta oceasião o chefe oriental reclamou-o em nome do
general Flores, e pondera ao general Gomes que tão bemgarantida estaria sua vida sob a bandeira imperial como sob
sua própria bandeira. A este reclamo elle nào hesita, orgu
lhoso como é, em preferir acompanhar os Orientaes, que o
conduziram a uma casa affastada e ahi o fuzilaram.
cc O almirante brasileiro, que foi um dos prim eiros che fes
que entrou na praça, e que o procurava, qua ndo sou be *
que tinha succeâido, ficou indignado, e não oceultou a sua
reprovação a um acto que lhe repugnava.
cc Procurou im medi atam ente o gen eral F lore s, e m an ifes
tou-lhe os sentimen tos de que se achava possuído. O chefe
da revolução, que tamb ém não queria que se man chasse a
victoria com a menor nodoa, mostrou igualmente profundo
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desgosto, e prometteu que
castigaria
o culpado
da
morte
d e
Leandro Gomes, fosse quem fosse.
« Nào posso deixar de reconhecer que
a
sooiedade oriental
tem hoje de m enos um hom em fatal, um dos principa es
protagonistas do triste dram a qu e se está represe ntan do, e
que já conta in num eras victim as,
« A obstinação em render-se quando ainda no dia 31 lh e
foram propostas condições honrosas para qu alquer m ili ta r,
longe de ser uma virtude, não foi mais do que um acto de
m aldad e, um crime digno de severa punição, porque oc ea-
sionou muitas desgraças. »
Logo depois de tomada a praça foi levantad o o bloq ueio , e
o general D . Venancio F lores tomo u diversas medidas te n
dentes a restituir a tranquillidade aos habitantes
d*
aquella
parte da Republica.
Convém para o perfeito conhecimento do modo porque foi
feita esta curta campanha
d ò
E stado Oriental, em qu e
tomaram parte as forças brasileiras de mar e de terra, desde
4 de Dezembro de . 1 8 6 4 até 2 0 de Fevereiro de
1 8 6 5 ,
copiar
a parte que deu ao gover no o vice -alm iran te brasileiro, e
alg um as cartas de officiaes que tomaram parte no ataque e
tomada da praça de Paysandú.
E ' interessante saber-se o que aconteceu em quanto P a y
sandú esteve sitiada, com um a com missão que foi de M on
tevidéo, para curar os feridos e soccorrej^jos moribundos.
«t No dia
1 5
de Dezembro de 1 8 6 4 de m anhã concordou o
general D . Venancio Flores com o vice-almirante brasileiro
para deixar entrar na praça uma commissão que tinha sahido
de Montevidéo, composta do vigário apostólico, o vigário de
S. F rancisco, Martin Perez, m ais dou s padres, quatro iTmás
de caridade, e o presidente da jun ta de h yg ie n e pu blic a, o
D r. Vich. E sta comm issão protestou qu e só a co nd uzia o
nobre fim de curar- os enfer m os, e dar os soccorros e sp ir i-
tuaes aos m oribundos. O general D . V ena ncio F lor es, que
conhecia a sua gente, desconfiou alguma cousa.
« Marchava a procissão a seu destino , quan do no ult im o
posto avançado foram a bagag em e caix a de ins tru m en tos
examinados pelo official que alli se achava. Descobrio-se que
o Dr. Vich era um carteiro do correio disfarçado em medico ;
além de va no s e importantes officios que foram ap pr eh en -
didos, trazia m ais de 50 cartas, que e xaltav am o valor de
Leandro Gomes pela sua heróica defesa, e o comparava aos
mais denodados homens da antigüidade.
« Como se isto nã o bastasse para desacreditar a com m iaaqp,
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reconheceu-se que una indivíduo que acompanhava o Dr, Vich
como seu assistente, era uma Francesa vestida de hom em,
com quem elle andava publicamente em Montevidéo.
« Foi excessiva a indignação que sé manifestou no acam pa
mento por esta ridícula farça*
(( O general D . V enancio Flores deu ordem immedlata
mente para que toda a commissão se embarcasse no paquete
Teixeira em que ti D ha ido . e dirigi o algumas palavras de
censura ao padre Vera, o qual protestou achar-se innocente
em toda aquella trama. Os padres ficaram desesperados contra
o doutor que os expoz assim ao desrespeito publico. Este não
se alterou, e pareceu ficar satisfeito da sua commissão. Sendo
interrogado pelo general respondeu com aerim onia, porque o
general estava unido aos Brasileiros. Este respondeu-lhe com
energ ia, e foi interrompido por vivas acelamações, em qu e o
Brasil era simultaneamente victoriado.
« Por este facto esteve o falso Dr. preso
4
horas no acampamento, depois do que teve licença para reunir-se a seus com
panheiros. Este procedimento do general Flores foi muito d i
verso do que tinham os chefes do partido blan co ; que por
muito menos degolavam os seus adversários, como Tez L e
andro Gomes a um tambor da canhoneira
Ivahy,
que extra-
viando-se do acampamento, foi horrivelmente m artyrisado,
depois degolJado, pondo a cabeça exposta em frente á ba te
ria de marinha, com o boné para de bordo ser conhecido.
« Tendo chegado noticia ao acampamento de que o general
Sáa tinha sahido de M ontevidéo com 3 , 0 0 0 homens para
soccorrer Paysandú, e se preparava para passar o norte do
Rio Negro, o general Flores levantou o cerco d'aquella praça
no dia 20 de D ezembro, e levou com as suas tropas 3 2 0
homens de infantaria brasileira ; m ar :hou seis léguas , pô de
verificar que o general S áa não se tinha passado para o norte
do R io Negro ; porque soube que a divisão brasileira que vin ha
do R io Grande sob o mando do marechal M enna Barreto
tinha passado a fronteira a 2 de Dezembro, e para nào ficar
entre as duas forças com o rio na retaguarda, em cuja po
sição ficava perdido, voltou logo para M ontevidéo, O gene
ral Flores no dia
22
restabeleceu o cerco de Paysandú.
« Durante a ausência de Flores, L eandro Gom es mandou
incendiar os ranchos que as nossas tropas tinham occupado;
prendeu alguns Italianos que alli se achavam por terem ven-
aido gêneros no acampamento. N'esfca oceasião convidou para
um lunch aos com mau dantes das canhoneiras iugiem , france-
za, hespanhola e italiana, que estavam no porto. Todos acei
taram e entraram na casa d'aquelle general, que estava ador
nada com varias bandeiras. A chando-se a reunião com pleta,
o dono da casa disse a seus convivas que passassem para a
sala de jantar, que estava adornada do mesmo modo, e tin hapor tapete a bandeira brasileira. Ninguém hesitou pisar
toVsto
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emblema sagrado de nossa nacionalidade; só o c o m m a n d a n t e
inglês, official de brio e de h on ra, com preh end eu o qu e
havia de ignominioso em sem elhante proced imen to. Estacou
na porta e com toda a franqueza perg unto u o qu e signifi
cava aqüillo. L eandro Gomes, que percebeu aque lla pe rgu n
ta, e mais ain da o mod o por qu e era feita, des culp ou «se
declarando que por descuido o criado a tinha collocado alli ;
então o com m anda nte abaixou -se, levan tou-a e pôl-a sobre
uma cadeira com toda a attençã o. »
vejamos as informações que deu o 1 . ° te nen te d'arm ad a
Francisco José de Freitas, sobre o que aconteceu na tom ada
d'aque lla praça ; o qu e se pub licou no Jornal do Comm ercio
de 1 5 de Fevereiro de 1 8 6 5 .
P R IM E I RA C A RT A D O U .
0
TENENTE D'ARMADA FRANCISCO JOSÉ DE FREITAS.
« Pays andú , 1 0 de Dezembro de
1 8 6 4 .
« Não devo furtar-me ao desejo de na rrar -lh e o com bate
do dia 6 de D ezembro, ainda qu e d'eiie já ten ha m con hec i
mento os leitores. Foi um d'esses rasgos de intrepidez, a que
só um arrojo napoleonico se equipara.
Depois de fazer a descripção da cidade e praça de Paysandú,
c o n t i n u a :
« O dia 3 já passamos fundeados em frente a P ay sa n dú ,
onde nos encon tramos com os navio s
Parn ahyba, Belmon te,Âraguay e Ivaky, e no dia 4 pelas seis horas da tarde
desembarcara uma parte das nossas forças no arroio Sacra,
afim de acampar a oeste da cidade.
Compunha-se a força de mais de 3 0 0 h o m e n s , s e n do 2 5 0
de soldados do 1 . ° batalhão de infan taria, e fusileiros na va es ,
commaudados pelo capitão Guimarães Peixoto; de alguns ma
r inheiros guarnecendo tres peças de cam pan ha, com ma ndad as
pelo 1 .° tenente T eixeira de Freita s, e um a força de im p e
riaes marinheiros sob o meu commando, com o f im de
proteger a artilharia.
« Na noite de 5 recebemos ordem para marchar na madru
gada seguinte; e com effeito ao nascer do sol do dia 6 nos
approximavarnos da cidade pelo lado do norte, chegando ás 6
horas ao alcance do canhão inimigo. Assestada a nossa bate
ria, recebi ordem para accommetter a povoação; assim o tia,
encontrando-rae na marcha com o con tingen te do 1 . ° de fuzi
leiros. A arti lharia começou a atirar sobre os inim igo s, e
aos,
marinheiros e soldados, a inda que re la t ivamente em
pequeno num ero, carregamos á baioneta sobre elles, qu e, sem
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duvida espantados por tanta audá c ia , corr iam para den t ro do
ent r inchei ram ento , a esperar -nos encober tos e defendidos . D es
cíamo s a m arche-m arche u m a colu na a b uscar a fralda do
declive onde se recqsta a cidade, e já as balas do fuzil ini
migo davam principio ao estrago, diz im an do as nossas f ile iras .
Ao approxim ar-mo-no s das pr im ei ras casas supp or tam os v ivo
fogo de fuzi lar ia, e t ivem os qu e pres encia r a m orte ins tan
tânea de a lguns camaradas e fe r imentos de out ros . Não eram
essas perdas qu e nos arrefeciam o a rd o r; e l las ao con trario
dim inuiam a d is tanc ia do in im igo, po rqu anto co m m ais força
carregávamos sobre el les .
ct H a v i a - mo s t ra n sp os to a p r i me i r a r u a , e m u d a m o s d e t a c -
t ica , invest indo então em l inhas de a t i radore s , quan do s ignaes
evid en tes de grossa arti lh aria se fizeram sen tir E ra a nos sa arti
lharia de 68 da Araguay, Tvahy, e sob re todas as da Parnahyba
e Belmonte, que fa ílavam ás turb as in im igas . De balde es tes
i n t e n t a v a m r e sp o n d e r a q u e l l a s b o m b a s q u e o s f u l m i n a v a m ;grand e era a distancia a qu e estavam d 'e l las, e só o gra nd e
ca l ibre e qua l idade da nossa a r t i lhar ia pod iam ven ce l -a . A inda
m ais iam os foguetes de cong rève m ort i f ical-os, perfurando~lh.es
as paredes .
« A pezar do fogo mort i fero qu e se nos fazia, co ns eg uim os
chegar a u m a m ura lh a , d i s tante dua s qua dras da p raça . D er
ru ba r esse obstácu lo e ga n h a r o ou tro lado foi obra de po uc os
momentos; para ta l f im servi ram a lguns machados, que eu
havia levado com o re forço de imper iaes mar inhei ros que me
acom pan hav a. Era um passo m il i tar a t revido i r a lém d 'essa
m u r a l h a , q u e n o s e n c o b r ia d o i n i m i g o . E n t r e t a n t o a p e i to
descoberto conqu is tamos u m a quad ra m ais d e te r re no , a t ravez
de um chuvei ro de ba las que nos env iavam os s i t iados .
o Não posso nem devo esquecer os nomes dos companhei ros
que commigo es tavam n 'esse momento; e ram e l les : o capi tão
G u i ma r ã e s Pe i x o t o , t e n e n t e E d u a r d o E . d a Fo n se c a , a l f er es
E w e r t o n , e Pa u l o P e r e i r a , e o c a d e te H e l v é c io d e M e n e z e s ,
todos do 1.° d e fu z i le i ro s ; o s g u a r d a s - m a r i n h a s E l i e se r , Jo a
quim Lamare , Conrado e Affonso . Mais ta rde reuni ram-se a
nós o 2 .° tene nte com missar io Cast ro , e os gu ard as- m ar in ha
S a l d a n h a o Y i c to r L a m a r e , co m a l g u m a s p r a ç a s q u e h a v i a m
ficado dist rahidas com diversos t i roteios.
cc O s inimig os que a princip io re spo nd iam só ao nosso fogo,
eram agora d is t rahidos para out ro ponto , e t iveram que sus
tentar as posições de oeste , a tacadas por 200 imperiaes ma
r inhe i ros sob o com m ando do 1.° tene nte M on tau ry , e por
500 a 600 praças de Flore s. Po r esse lado n ão m eno s d ign o
de elogio foram os nossos soldados e officiaes.
cc
Co m qu antq o fogo fosse entã o m en os viv o, não podia
de ixar de inspi ra r -nos rece ios o pequeno numero de so ldados
qu e n os rod eav am se fossemos ata cad os por 300 ou 400 praç&s
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—
295 —
« Finalmente a 29 chegou o nosso exercito composto de
6,000 homens, (*) dos quaes só 2,000 de infantaria.
« Na tarde de 30 de Dezembro desembarcaram dos navios
da esquadra oito peças de artilharia, sendo tres do systema
La-Hitte, confiadas ao 1.° tenente Abreu, tres outras Phaixans
de calibre 30, dirigidas pelo 1.* tenente Barros, e duas raiadas
de Withworth, com mandadas pela 1.° tenente Martins.
« Dispostas as peças em carretilhas, seguiram acompa
nhadas por seus commandantes, officiaes e cerca de 80 impe
riaes marinheiros, até á Boa-Vista, terreno situado ao norte
da cidade, quasi ao alcance de fusil, e posição magnífica
para descortinar os pontos mais fortes do inimigo. Chegados
a esse lugar, encontraram-se com oito peças de campanha dó
nosso exercito; e formou-se assim uma bateria de 18 peças,
sob o commando do tenente-coronel Mallet.
« N
*essa
mesma noite marchou do porto para a retaguarda
da bateria o brioso contingente do 1.° de infantaria, comman
dado agora pelo major José Antônio Corrêa da Câmara, que,
vindo a Paysandú em commissão, quando ainda o exercito
se achava em marcha, foi requisitado pelo almirante para di
rigir essa força em substituição do capitão que estava ferido.
Eram seus officiaes os mesmos do exercito que citei na minha
primeira carta, e os da armada 1.° tenente Xavier de Castro,
2.° tenente Ferrão, commissario de 2.
a
classe Castro, e guar-
das-marinha Eliezer Tavares, Saldanha da Gama, Joaquim
Lamare e Conrado. Com esse batalhão também eu marchei e
entrei em acção, representando o duplo papel de major e
ajudante de ordens; mas abstendo-me sempre das manobras
inherentes ao primeiro d'estes postos, por quanto aos officiaes
do exercito competiam taes prerogativas, se nào por direito
n
?
aquella circumstancia, ao menos por homenagem á arte.
« Quando chegamos á Boa-Vista formamos na retaguarda
da bate/ia, em distancia proximamente de 400 braças, e ahi
encontramo-nos com os batalhões de infantaria, 3.°, 4.°, 6.°,
12 e 13. Fomos logo incorporados á brigada commanda*da pelo
coronel Sampaio, composta dos batalhões 6.° e 12 e parte do
4.°.
Além d'esta brigada havia outra commandada pelo tenente-
coronel Resin, composta dos batalhões 3.° e 13. A outra parte
"do 4.° batalhão protegia a artilharia,
«r O numero de nossos soldados reunidos aos de Flores não
faziam 3,000; o numero de inimigos era 1,000 mais ou menos.
Não se atacava por tanto, nem mesmo com a metade das
forças que recommendam as regras da ar te E o que fazer?...
Exaetamente o que se fez; expor muitas vidas, porém vencqr.
« Eram 4 horas do dia 31 ; e os inimigos que ao baixar
do sol miravam-nos acampados muito além da cidade, vêem
agora aos primeiros raios do crepúsculo da manha 3,000
*)
Foram 4 ,500.
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baionetas tocando-lhes os peitos, uma bateria de 18 peças
ameaçando-lhes as fortificaçôes, e mais de
6,000
h o m e n s - f )
de cavallaria apertando-lhes o sitio e tirau-io-lhos o recurso
da fuga. Foi por certo um a bella sorpreza. Nào con taram ell es
com tanta rapidez de man obra êm um a só noite.
« Sem duvida que tremeram com essa am eaça, e teriam
certamente deposto as armas se, como a luz que moribunda
bruxoleia sem pre, a mão, de Lu cas Pir es nao disparasse o*
primeiro can hã o, e os susten tasse ainda por do us dia s. A fra
queza, essa pusilauimidade do espirito, também nos seus úl
timos momentos adquire forças para bater-se. Já não eram
as idéias que os arremeçavam á luta, era o delírio que os
conduzia ao fogo, onde extinguiram a existên cia. E assim foi,
bateram-se por amor á vida.
«. Ao primeiro tiro do baluarte *inimigo res po nd eu -se-lh e
com 18 bombas, que quasi a um tempo foram rebentar nas
immediações da praça. Começou então a destruição da cidade. O fogo da nossa artilharia con tinu a vivo até ás 9 h o
ras, tendo começado ás 4. N ào pude conter-me aos prim ei
ros tiros da nossa artilharia, e com o não tinham os orde m de
marchar, fui visitar a bateria e apreciar os meus collegas de
bordo que não estranhavam o elem ento , e b atiam -se c om co
ragem ao lado dos valentes officiaes do exercite.
<c Ah i estava o m odes to e brioso 1.° ten en te A br eu , qu e
com todo o sangue frio. verificava as pontarias dos seus che
fes de peça e ordenava.lhes de atirar; figurava não menos o
1.° tenente Barros, que enthusiasticamente dava vivas a cada
tiro.
Era de notar e m uito o 1.° tenen te M artin s, essa pérola
da nossa marinha, dando sobejas provas de bravura.
« Ainda se conservam viva s na m inha m em ória as palavras
que me dirigio. «F reit as, me diz elle , con segu i m uito da
guarnição d'estas duas raiadas , nen hu m hom em se chega á
trincheira quando vem a bala inim iga . » E foi essa idé ia
precipitada que causou a morte. Os inim igo s nào tinham e s
poletas de artilharia, trabalhavam com morrão, de modo que,
quando o applicavam ás peças que estavam descobertas, a n -
nun ciavam com antecedê ncia o tiro. Ao passo qu e os offi
ciaes e guarniçòes abrigavam-se m uitas vezes ás trincheiras
que haviam feito com saccos de terra, o 1.° t en en te M artins
apresentava-se sempre a peito descoberto, junto ás suas pe
ças.
<< F oi geralm ente sen tida a m orte d'esse bra vo official, e
aquelles que de perto o con hec iam , viram expirar com el le
algumas esperanças para a regeneração da nossa marinha. Se
existisse alguns annos m ais , seria um dos m ais fortes e ste io s
da corporação; para isso sobrava-lhe inte iligen cia, app licaçà o,
energia e bravura. Com sua morte perdeu a armada um dis-
( •) H a e n g a n o : n ã o c h e g a v a m a 3 , 0 0 0 .
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tincto official, a sociedade um cidadão hon rado e o pa iz u m
filho prestixaoso.
« Pe las 9 horas da man hã a infantaria recebeu ordem de
accomuietter a cidade, deven do a brigada do coronel Sam
paio atacar pelo norte e d o tenente-co rone l R esin por les te .
As duas brigadas, que até então se conservavam unidas, dis
seram-se adeos cheias de fé e confiança uma na outra, e
marcharam.
•« Seg uiam na frente linh a de atiradores, que alguns passo s
distantes da bateria já nos annunciavam balas da mosquetaría
inimiga. Carregamos então a marche-marche até meio cami
nho, ond e nos foi preciso fazer u m a peq uena parada, e perder
não pouca ge nte ; tinham os um fosso a transpor Passa m ol-o
sem grande difficuldade, pois que a sua profundidade excedia
a pouco mais de uma braça.
ct A lcan çam os as primeiras ruas m eia hora depois do
ataque, e já tinhamos vencido o
terreno
mais arriscado.
Agora de casa em casa, de uma Tua a outra, iamos distin
guin do m elhor as trincheiras, até que por fim app roxim a-
m o- n os d'ellas a tiro de pistola. E stávamos na primeira rua
do norte parailela á praça ; era a m esm a a q ue no dia 6
havíamos chegado por cam inho diverso. Su bim os ás sotéas
dos sobrados que por ahi encontramos, n'ellas plantamos
bandeiras brasileiras, e fazendo brecha s no s parapeitos por
ellas feriamos ao inimigo.
« Passamos os dias 31 e 1.° debaixo de fogo seg uid o.
D urante a noite era elle quasi tão viv o com o duran te o dia ;
as pontarias eram então feitas para os ponto s on de se da vam
as exp losõ es. Com este fogo conse cutiv o obtivem os fatigar os
sitiados, que no fim do segundo dia de ataque mostraram-se
menos vigorosos.
« No dia 2 pela madrugada tocam os um dos can tões que
defendiam a praça, ficando á direita uma trincheira e um
fosso,
com que não contávamos, porque havíamos derrubado"
as paredes dos edifícios, e gan háv am os terren o por dentro
d'elles.
« Eram 5 horas da m an hã do dia 2 , quan do Leand ro
Gomes mandou pedir ao almirante uma suspensão de armas
por oito horas , para acu dir aos feridos e en terrar os m ortos ;
obtendo im m ediatam ente com o resposta — qu e n'esse espaço
de tempo as tropas aluadas estariam de posse da c id a d e .—
Foi isso bastante para lavrar o de san im o nas fileiras in im ig a s.
« Pelas 8 horas ap rese ntou -se em um cantão de oeste o
coronel colorado Saldanha, que se achava preso entre os
bíancos, e pede que cessemos o fogo, porque vão render-se
os da cidade.
« Cessamos de facto o fogo, mas fomos investindo pela cidade,
apoderando-nos do s pon tos principaes, e receb end o os prisio-
neiroe que se nos apresentava m , rogando que lhe s gara n-
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tisse-mos a vida. M uitos d 'en tre elles, officiaes su pe rior es, com
bastante servilismo o faziam, pois que chegaram a dizer que
como escravos serviriam a bandeira brasileira d'alli em diante,
«t Eram esses os herdes de Pa ysa nd ú, qu e tão cobard em ente
se entregavam a inim igos civilisados e generosos. O s qu e
poucos antes cha m avam -nos de cobardes, escravos, e as qu e
rosos, agora saudav am ao va len te Barão de T amandaré» e á
bravura das tropas brasileiras.
« Quando entram os p ela cidade, o imp erial marinheiro
A lexandre José da S i lva, que tantas provas deu de bravura,
tirando de u m a sotéa o nosso pavilhão, foi corren do a M atriz
e collocou-o no al to do zimborio, aba tend o a ban deira oriental-
blanquilha que al l i se achava.
« Pa ysa nd ú era nosso, custa ndo -nos a victoria cerca de
400 ho m ens fora de co m bate , dos qu ae s m ortos 150, pouco
mais ou m enos . E L eandro Gomes ? V ejamol-o .
« Quando no ataqu e de
6
de Dezembro, d iziam algunsjornaes do Rio da Prata, o vento dissipava fumo de milhares
de bombas que se cr usavam, appa recia impávido o vu lto de
L eandro Gomes dictando ordens aos seus soldados. A gora é
o mesmo Leandro Gomes que por entre o pó levantado pelo
exercito brasileiro aprese nta seu vulto pallido e tre m ul o, pe
dindo que seja levado ao chefe brasileiro. Observando-lhe um
dos officiaes colorados que o cercavam qu e deveria an tes en
tregar-se aos seus com patriotas, embo ra inim igos polí ticos,
approvou el le a idéa, pedindo sempre que lhe conservassem
a vida.
« Em quan to nossas forças m arch ava m , alguns colorados
prat icavam um assassinato na pessoa de L eand ro Go m es, que
como cobarde supplicava aos seus algozes.
« A ssim finalisou aqu elle qu e dizia : — S ó será rend ida
Pay sand ú qua ndo o m eu cadáver ro lar sobre as cinzas d'esta
Sebastopool da America do Sul.— Francisco José de Freitas, 1.°
tenente d 'armada. »
Os alliados fizeram 700 prisioneiros, 15 peças de artilharia,
e grande qua ntidad e de mu nições de g ue rra ainda foram e n
contradas. Todos os officiaes foram postos em liberdade, em
nu m ero de 18. Per to de 200 soldados obtive ram licença
para irem para suas famílias.
No ma is forte da acção do dia 2 u m a sen ho ra orien tal ,
de rara formosura, verda deira he roin a, atravessou pelo m eio
dos com batentes e foi obter do Barão de T am and aré ca pitu
lação para um cantão commandado por seu marido; aquém
assim salvou a vida e a m ais 50 com patriotas . O gra nd e n u
me ro de feridos da divisão bras ileira foram tratar-se em
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Buenos Ayres, em um hospital que ò doramandante da
força naval tin ha mandado preparar com anteced ência. A s se
nhoras d'aquella capital visitavam diariamente os feridos bra
sileiros, levando-lhe fios e outro s objectos para o seu tra ta
mento.
D O C U M E N T O S
R E L A T I V O S
A O
A S S A L T O
E T O M A D A DE P A Y S A N D Ú .
« Comm ando em chefe da força nav al do Brasil no R io d a
Prata. — Bardo da corveta
Nüherohy,
em M ontevidéo, 2 de
Fevereiro de 1 8 6 5 .
« I llm . e Ex m . Sr.—A proveito a pa rtida do paquete nacio
nal
Oyapock
para dar con ta detalhada a
Y.
Ex. das operações
feitas contra Paysandú pelas nossas forças combinadas de
mar e terra, aluadas com o gene ral D. V enancio Flores,
commandante em chefe do exercito oriental; as quaes termi
naram pela tom ada d'aquella im portante praça militar no dia
2 do mez findo.
i Peço desculpa a V. Ex. por não ter logo dado parte
d*este glorioso feito d'armas. Para escrever esta brilhante pa
gina da h istoria pátria, precisava o conhecimento da^ ver
dade em toda a sua extensão. Desejava-o fazer com critério
e justiça, porque se ella interessa á honra do paiz, não im
porta menos ao credito dos valentes officiaes, marinheiros e
soldados que expuseram . suas vidas para salvar a dignida de
nacional orlendiaa, e que por isso tem direito a uma menção
que os assignale pelo seu comportamento na acção, a qual
deve ser baseada na certeza dos factos occorridos, e não fun
dada somente nas informações do momento, que não podem
ser averiguadas, e que ordinariamente trazem o cunho da
afeição pessoal, ou de o utra s sy m pá tria s e affinidades, e pro*
duzem injusta apreciação do merecimento relativo.
« Hoje com mais clama e reflexão posso referir os aconteci
me ntos, e dizer ao meu governo os nom es d'aquelles que
mais se distinguiram, que concorreram para o trium ph o de
nossas arm as por serviços de toda a espécie, para qu e os con
temple na distribuição dos prêmios merecidos pelas virtudes
militares que manifestaram, e para q ue os recom m ende á es
tima, publica.
« Julga ndo oppo rtuno, por considerações políticas de q ue
V, Ex. está ao facto, a oceasião de r eu nir as-forças de d e
sembarque da esquadra do m eu com ma ndo ás do gen eral
Flore», que estava acam pado com perto de 3,000 h om en s na s
immediaç#es d'aquella cidade, pelo lado do arroyo Secco, para
a t a c a i
- a , aproveitando o effeito moral da rendição da Villa
do Salto, que se tinha entreg ue facilmente aqu elle gene ral
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alguns dias antes; decidi esse desembarque, que se effectuou
no dia 4 com toda a commodidade , a uma légua de d is tan
c ia dos in imigos . Dispunha o genera l Flores nas suas t ropas
de 800 infantes , e de 7 peças de art i lh aria , 3 das qu aes eram
raiadas . Pe la minha par te apresentava um cont ingente de 400
praças, tirado
dos
vapores
Recife, Belmon te, Parn ahyba, Araguay
e
Ivahy,
a lém de u m a reserva de 100 ho m ens que dev ia
desembarcar .
« A que lla força se co m pu nh a de 200 praças do 1.° bat a
lhão de infantaria , qu e t inh a vin do da corte reforçar as
guarnições da esquadra, de 100 soldados do batalhão naval ,
e 10 0 i m p e r i a e s m a r i n h e i ro s . A c o m p a n h a v a -a u m a b a t e ri a
de tres peças de cam pan ha de cal ibre 12, com sua com pe
tente dotação, commandada pe lo 1 .° tenente Antônio da S i lva
Teixeira de Frei tas , secretario ajudante de ordens d 'es te com
mando. Es ta ba ter ia t inha também uma es ta t iva para lançar
foguetes a Congrève , a cargo do 2 . ° tene nte M iguel A ntônio
Pe stan a. Co m m and ava toda esta força o capitão do 1.° ba ta
lhão de infantar ia Francisco M aria dos G uim arães Pe ix oto .
» Para comple tar a sua organisação, seg uiam -o os 2 .
0 S
c i rur
g i õ e s D r . L u i z A l ve s d o B a n h o , e J o a q u i m d a C o st a A n t u n e s ,
com am bulânc ias , ca ixa de ins t ru m ento s e tud o qu ant o era
necessário para o primeiro curat ivo dos feridos no campo.
« A relação n . 1 contém o n o m e de tod os os officiaes e
p ra ç a s q u e e n tã o s a lt a ra m , e q u e m a n i fe s t a ra m o m a i o r e n t h u
s i a s m o , p r i n c ip a l m e n t e q u a n d o , fo rm a n d o -o s e m q u a d ra d o ,
f iz - lhe u m a enérgica a l locução, lem bra nd o- lhe s a m issão de
h o n ra q u e v i n h a m d e s e m p e n h a r n o E s t a d o O r i e n t a l ; t e n d o
o prazer de ouvir n 'essa oceasião m in ha s ul t i m as palav ras
serem cobertas dos mais vivos applausos a Sua Magestade o
Im pe rad or, á familia im per ial , á naçã o brasi leira , ao exerci to
e á a rmada .
« Devo francamen te d eclarar a V . Ex. qu e a maior diffi-
culdade que encontrei na organisação d 'es ta fotça, foi conter
o ardor com que todos que riam fazer parte d 'e l la . A ssim é
qu e para satisfazer o m ais possivel tão nob res desejos, qu e
m e ench iam d e org ulho por m e ver á frente de jov ens tão
br iosos , t ive que d esem barcar a lgu ns co m m an da nte s de navios ,
officiaes de fazenda e todo o m eu esta do -m aio r, ficando só
no momento da acção . Tinhamos infantar ia e a r t i lhar ia , e
ape nas no s faltava a cavallaria. A ' vista d' isto , o estan cieiro
b ra s il e iro J o s é B o n ifác io M a c h a d o q u e c o m m a d a v a u m e s q u a
drão de 160 com patrio tas que form avam no exerci to l ibe r
tador ; pedio- ine uma bandeira nac ional , e ve io immedia ta-
mente reunir-se á nossa gente .
a A ntes de tenta r-se o a taque da praça , fo i in t im ad o o
com m andan te d^ l la , que era o coronel D . L eand ro Gom es ,
para render-se com as hon ras da g u er ra ; e preveni aos co m m an
dantes dos navios de g ue rra es trang eiros , qu e se ach avam no
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— SOI —
porto, que este ataque teria lugar depois do prazo de 48 hora*,
q u e marcava para evacuação dá praça, pelas famílias que não
se quisessem expor ás tristes eventualidades da guerra.
4
« Aquelle
coronel, que tinh a dentro de suas l>em orga ni-
sadas trincheiras perto de 1,400 ho m ens , como finalm ente se
soufee qu an d o se tomou a praça; num eros os officiaes, e en tre
elles alg un s de reconhecido valor, como o coronel L uc as
Pires , q ue constituio-se a a lm a da defesa, abu ndân cia de m u
nições ae guerra e de boca, algumas fortificâções bem colio-
c a da s ,
guarn eoidas com 7 peças de artilharia de 18 e 1 2 , e
q u e contava com o aux ilio do exercito blan co, que estava
em campanha, e que se dizia em marcha, assim como com
a v ia d a dos Paraguayos , e de a lguns bandos de E nt re -R io s ;
repolho a ' intimação com arrogância, atirando sobre o par-
lam entario dous tiros , qu e declarou ser sua ún ica resposta.
S abia elle, além d'isso, que o iriam accomm etter apenas 1,300
a ±,400 infantes a peito descoberto ; pois qu e a cavallaria
não podia en trar em acção, e nào pensava que o fogo das
can ho ne iras alcansass e suas fortificâções situ adas a ma is deduas mil varas hespanh olas, da posição mais próxima q ue
podiam occupar no r io.
« No dia 6 pela m adr ug ada mov eu-se a no ssa força com a
do gen eral Flo res, para inv estir os postos avançados do
inimigo ; e arrojou logo para o interior da praça todas as
partidas e gu erril ha s q ue ainda permaneciam fora ; tal foi o
denodo da carga com que os acGommetteram. Nas partes em
detalhe que junto remetto por copia a V. Ex. estão mencio
nados os factos occorridos em cada um dos pontos atacados,
e da lingu age m since ra e franca d'ellas translu z os esforçosde valor e biza rria qu e foram praticados n'este com bate me
mo rável por nossas torças de m ar e terra. A arti lharia de
cam pan ha desm onto u-se toda depois de algum fogo. pela
fraqueza de seus repa ros , e a estativa de lança r foguetes a
Congrève f icou inutil isada, porque uma bala a entortou.
« Não o bs tan te a resistência dos sitiados, n ossos soldad os e
alliados gan hav am visivelm ente terreno e tom aram posições
vantajosas para inco m m od ar o inim igo . N'esta carga de in
fantaria, o capitão Peixo to foi feria o em u m ded o, ten do
além d'isso O utra bala lhe partido a espada. N ào obs tant e,
este official pe rm an ec eu sem pre á frente de sua força. Er a
tempo de começar o bom bardea m ento da p raça, para obr igar
a
calar-se a sua artilh aria , que fazia um terrível fogo sobre
os nossos.
* Por tanto ás 7 horas e 3 m inu tos da m an hã começou a
canhoneira Araguay, on de m e ac hav a com o chefe da divisão
Pereira Pin to , a atir ar bom bas de 68 sob re as fortificâções,
sendo
logo segu ida pelo fogo da Belmonte, da Parnnfujba e
que t inh am toma do posição favorável n o dia anter io r .
N este mom ento determin ei ao 1,° tenen te Euzebio José A ntu ne s,
50
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secretario e ajudante de ordens, qu e assumisse inte rina m en te o
commando da canhoneira Parnahyba durante o bom bardea
m ento , e qu e dirigisse o fogo ; a n d o o qu al. este official
veio continuar a desem penhar a m eu, lad o os deveres de
seu cargo.
« Nao pôde V . Ex. calcu lar o effeito prodigioso causad o
pela artilharia d'estes qu atro nav ios, qu e a ah i a pouco fazia
calar todas as peças do inim igo . A s pontarias foram dirigidas
com uma precisão admirável, que honram aos nossos artilhei
ros navaes, e aos officiaes de b ord o, de tal sorte qu e as
bombas iam estourar exactamente nos fortes, ou no centro 4 a
p ra ça ; espalhando a m orte e a destruição por toda a parte
onde chegavam seus estilhaços. Conforme m inha recom m en-
daçao , só se fazia fogo sobre os edificios qu e o inim igo ti
nha convertido em fortificâções e onde tinia seus mais te
míveis balua rtes. O s outros edificios eram poup ados o m ais
possivel, e pouco soffreram como depois se verificou. Co ns
tou d epois, que este bom bardeam ento pôz fora de com bate
a mais de
1 5 0
homens,
e
que tinha atacado bastante a gu ar
nição da praça, desmoralisando-a ; po rque a fez com prehe nde r
qu e nos canhões dos navios encon trava u m adversário com
que não contava.
« Pouco antes de começar o fogo dos navios, e logo que
app areceu no porto um a força de cavallaria colorada, conforme
estava combinado com o general Flores, desem barquei á frente
dos
1 0 0
imperiaes marinheiros da reserva e de um a peça de
12,
os quaes seguiam para a linha de combate commandadospelo
1 .°
tenente João Baptista de O liveira M ontaurv, m eu
ajudante de ordens, prorompendo em vivas enthusíasticos.
Esta força occupou a posição que lhe foi de term inada pelo
general, e ahi permaneceu até á noite, batendo-se sempre com
o cantão que lhe ficava em frente. M archo u com ella o
2.° cirurgião Dr. Balduino Athanasio do Nascimento, o pra
tico Etc hebarne , que se offereceu para to m ar u m fuzil, e por
tou-se com valor, e o voluntário Joa qu im M arques L isboa
Júnior .
« A's 2 horas da tarde o inimigo estava reduzido ao recintoda praça; mas nossos marinheiros e soldados estavam fàfo
gados,
por tantas horas seguidas de fogo, debaixo de um sol
ard en te, e não tinham os tropas frescas para prosegu ir nas
vantagens que podiamos obter sem reserva para apoiai-as.
« Conservamo-nos por conseg uinte a té á noite nos pontos
tomados. Então resolveu o general abandonar alguns paira,
não enfraquecer a nossa força, espaihando-a por uma Unha.
tão extensa a gu arn ece r, no que con corde i. Por isso fez
convergir parte d
v
ella para o porto onde acampou , e ou tra
parte iicou guarnecendo a artilharia, que pennaneceu no campo
em que operou.
<c Desde esse dia tinh am os um pé na cidade. S e o coronel
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— 505 —
Leandro Gomes t ivesse o menor sentimento de humanidade,
para com os desgraçados hab itantes que ainda existiam alli
dentro, e um pouco de amor pátrio para poupar a seu paiz
a ru ín a d'elle, teria comprehenaido que não lhe restava sen ão
a alternativ a, ou de tentar romper a linha do sitio para nos
fazer recu ar, ou pedir um a capitulação honro sa. Nã o ob s
tan te elle proseg uio na sua lu ta infruetífera e hom icida. E stava feito o reconhecimento que projectavamos, no qual tive
mos perdas mui pequenas, relativamente ás do inimigo, e á
desp roporçã o de nossas forças ás d'elle. Estas perda s li m i
taram-se a 6 homens mortos e a 2 5 feridos.
« No dia 7 mandei desembarcar duas peças de calibre
32 e uma de 68 da 6.
a
class e, para collocal-as em bate ria
na em inência da Boa V ista, que dom ina a praça pelo lado do
norte . Esta operação, executada du ran te a noite pelo 1.° t e
nente commandante do Recife, A ntônio Carlos ae M ariz e
Barros, e apoiada por um destacamento de 100 praças do l.o
batalhão de infantaria , commandado pelo tenente Eduardo Emi-
liano da Fonseca, foi vivamente incommodado pelo fogo de
fuzilaria e de artilharia do inimigo, a que não respondemos,
e que nenhum mal causou.
« N a m an hã do dia 8 rom pia esta bateria , protegida por
saccos de arêa , u m mag nifico fogo sobre o forte de S eb ast op oo l;
a matr iz e a com m andan cia era acom panhada pelas c an ho
neiras Belmonte e Parnahyba. que de espaço em espaço ati ra
vam algum as bom bas. En tretan to t inha m archado toda a nossa
forçai para emprehender um acommettimento em um ponto
mais-
vu lne ráv el, porq ue o inim igo acabava de sorprehender
e de degollar barbaram ente um a partida de 40 O rientaes
nossos alliados; e fiquei no posto com o meu estado-maior,
e uma gu arda de 30 imper iaes mar inh eiros com m andad a pelo
1.° tenente Antônio Severiano Nunes, que servia de defesa
aos infelizes feridos, qu e jaziam n o ho spita l de san gu e, q ue
estabeleci n a capitania do porto , *e qu e eram assistidos, nã o
só pelos tres médicos acima mencionados que entraram em
combate, como pelo chefe de saúde Dr. Cláudio José Pereira
da S ilva, e 2.° cirurgião D r. Jo ão A drião Chav es, e 1.° pha r-
maceutico 2.° tene nte A lbino Gonçalves de C arvalho, os qu ae s
todos
merecem os m aiores elogios, pela hum an id ad e, zelo e
perícia com que cumpriram o seu dever sagrado.
« O
gra nd e efe i to m oral que quer ía m os consegu ir es tava
wcancado.
Nossas . tropas reconheceram sua superioridade sobre
É úiimigo,
e mostravam-se dispostas a maiores empresas .
*odia*mos por tan to , tentar o assa lto , com espera nça de co m -
leto t r ium ph o, porque nos constava que os s i t iados a té t in h am
J M de espole tas fulminantes , e que usavam de phosphoros
^ .c e ra . M as era prec iso contar com gran des perdas , ,e jaáo
| | P Gxpftr os nossos marinheiros, que com tanta tJUfficuldade
s&bstituero, e são necessários para
a
c on t inua ç ã o
da cam-
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p a n h a , q u e a i n d a a g o r a p r i n c i p i a . A l é m d i s s o não h a v i a nos
n a v i o s se n ã o o n u m e r o s u f fi c ie n te d e b o m b a s p a r a a t i r a r ,
q u a n d o r e s o l v ê s s e m o s o a s s a l t o ; e t a m b é m o g e n e r a l F l o r e s
c a r e c i a
de
p r o j e c t í s p a r a
s u a
a r t i l h a r i a r a i a d a ,
e d e
p ó l v o r a
e
c a r t u x a m e .
« N ' e s t a e m e r g ê n c i a r e s o l v e m o s e n t r e t e r o tempo p a r a a g u a r
d a r
o
e x e r c i t o i m p e r i a l ,
q u e j á
e s t a v a
e m
m a r c h a
n o
> E s t a d o
O r i e n t a l : fiz p a r t i r o s e c r e t a r i o e a j u d a n t e d " o r d e n s 1.° t e
n e n t e A n t u n e s n a Parnahyba p a r a B u e n o s A y r e s , a f im d e p r o
v e r - s e n ' a q u e l l e p o r t o d o s n a v i o s q u e a l l i t i n h a m o s , d e t u d o
q u a n t o p r e c i s á v a m o s .
« N o ' f i m d e 72 h o r a s a q u e l l e o ff ic ia l s e a c h a v a d e v o l t a
a o a c a m p a m e n t o , t r a z e n d o m u i t o s r e c u r s o s b e l l ic o s , g r a n d e
p a r t e d o a r r r a m e n t o e m u n i ç õ e s q u e a c o r v e t a Bahiana c o n -
d u z i o d a c o r t e , a q u a l p o r u m a f el iz c o i n c i d ê n c i a , c h e g o u
a q u e l l e p o r t o n o m e s m o d i a q u e a q u e l l a c a n h o n e i r a ; 100 p r a
ç a s
d o
b a t a l h ã o n a v a l
e d e
i m p e r i a e s m a r i n h e i r o s t i r a d o s
d a s
g u a r n i ç õ e s d o Paraense e d a Nitherohy; d u a s p e ç a s d e c a l i b r e
3 0 d ' e s t e n a v i o , e o u t r a s d u a s d e s e i s d e d e s e m b a r q u e ; o
1.° t e n e n t e H e n r i q u e F r a n c i s c o M a r t i n s , a q u e m e u d e s t i
n a v a o c o m m a n d o i n t e r i n o d a r e f e r i d a c a n h o n e i r a , e a d i -
r e c ç ã o d a b a t e r i a q u e s e i a e s ta b e le c e r e m ' t e r r a c o m a q u e l
l a s p e ç a s ;
os
t r e s
2 .°
s
c i r u r g i õ e s a l u m n o s p e n s i o n i s t a s L u i z
d a S i l v a F l o r e s , J u s t i n i a n o d e C a s t r o R e b e l l o e F e l i p p e P e
r e i r a C a l d a s ,
q u e
v i e r a m s e r v ir
n a
e s q u a d r a ,
e
f o r a m l o g o
e m p r e g a d o s n o h o s p i t a l d e s a n g u e e m P a y s a n d ú , o n d e p r e s
t a r a m b o n s s e r v i ç o s .
«
A o
m e s m o t e m p o
n ã o
p a s s a v a
u m só d i a e m q u e n ão
fizé ss em o s p a r t i r c o r r e i o s p a r a o c o m m a n d a n t e e m c h e f e d o
e x e r c i t o e p a r a o g e n e r a l N e t t o , c o m c o m m u n i c a ç õ e s , c h a
m a n d o - o s a t o d a a p r e s s a a- P a y s a n d ú , e d a n d o - l h e s i n f o r
m a ç õ e s c e r t a s d a m a r c h a d o e x e r c i t o d o g e n e r a l S á a , q u e
v i n h a e m s o c c o r r o d a p r a ç a .
« No d ia 14 c h e g o u p e la m a n h ã a o a c a m p a m e n t o o m a j o r
d o
2 .°
r e g i m e n t o
d e
c a v a l l a r i a J o s é A n t ô n i o C o r r ê a
d a
C â m a r a ,
c o m o f f i c i o s d o g e n e r a l e m c h e f e e i n f o r m a ç õ e s v e r b a e s , q u e
m e o r i e n t a v a m
d a
p o s i ç ã o
em q u e s e
a c h a v a
o
e x e r c i t o
e o
d i a p r o v á v e l
e m q u e
e l l e e s t a r i a c o m n o s c o .
A
e s s a h o r a
j á
e u s a b i a
q u e o
g e n e r a l N e t t o
n a
m a n h a s e g u i n t e c h e g a r i a
c o m 1,200 h o m e n s , m a s t o d o s d e c a v a l l a r i a ; o q u e se n o s
c o l l o c a v a
e m u m a
p o s i ç ã o v a n t a j o s a p a r a
s e
o f i e re c e r c o m
b a t e a o g e n e r a l S á a c o m c e r t e z a d e t r i u m p h o , n ã o m u d o u a
n o s s a a t t i t u d e
d e
e s p e c t a t i v a
e m
r e l a ç ã o
á-
p r a ç a . R e a l i s o u - s e
c o m e f f e i t o , a i n c o r p o r a ç ã o d ' e s t a f o r ça n a o c e a s i ã o e s p e r a d a ,
e
foi
e l l a a c a m p a r
a o
n o r t e
de
P a y s a n d ú ,
d o
l a d o
d e S .
F r a n
c i s c o .
« C o m o e r a n e c e s s á r i o t e r t o d a a f o rç a d e s e m b a r c a d a 'so fc
o c o m m a n d o
d e u m
o f fi c ia l s u p e r i o r ,
d e i
e s t a c o m n n s s ã o
ao
s o b r e d i t o m a j o r C â m a r a ; e p a r a p r o v i d e n c i a r d e p r o m p t o
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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~ ovo ^
sobre qualquer acon tecime nto, estive sempre dia e noite no
acampamento com os officiaes do meu estado-maior. Era
preciso oonserval-o na mais activa vigilância, para frustrar
qualquer sorpreaa do inimigo, com que eu contava a todos
os momentos. Elle não se animou a isso nem uma só vez,
porque já tinha reconhecido qu e a peito descoberto, fora das
trincheiras com que se protegia, não podia resistir ao arrojo
dos nossos. Portanto não nos facilitou o ensejo de entrar
com elle na praça, desejando arden temente um a tentativa
d'este gênero, que nos daria mais um triumpho.
> E ntretanto o general F lores tev e parte ae que o general
Sáa , com m andante do exercito de operações do governo de
Montevidéo, havia passado o Rio-Negro com perto de
3,000
hom ens. D eliberamos levantar o sitio e marchar sobre ell e.
Reem barquei prorn^tamente a artilharia pesada que estava
em terra, os feridos e todo e material que hav ia n o aca m
pamento ; e a nossa força com os officiaes ind ispe nsá veis ,
seguio o exercito alliado até o Rabão, cinco léguas distante
de Paysandú, aonde elle parou, por terem chegado noticias
posteriores, que referiam que aquelle exercito h avia repassado
o Rio-Negro para o sul.
« D ous dias apenas respiraram os defenso res de Pay san dú
livres de nossa presença ; o genera l F lores com as u ltima s
noticias retrogradou sobre seus passos, e veio occupar as
mesmas posiçõe s, que aquelles abandonaram logo que nos
avistaram.
« N o dia 29 chegou também o marechal M enna Barreto
com uma divisão do 'nosso exercito de operações, forte de
mais de
6,000
homens (*), entre os quaes
2,000
infantes, poucomais ou menos, e um parque de artilharia de 12 peças.
« A.
posição do inim igo tornou -se a m ais critica possivel.
Ainda assim não quiz capitular, quando recebeu intimação
para isso. Preparou-se tudo para romper novamente as hos
tilidades. O exercito m ontou suas baterias em posição bem
escolhida, a esquadra praticou o m esm o assestando as duas
peças Whitworth de 30, de que já f iz menção, e que eram
commandadas pelo 1.° tenente He nriqu e José M artins, além
das duas de 32 do commando do i.° tenente Barros.
« A artilharia volante da esquadra co m pu nh a-s e de duas
peças de Whitworth de calibre 6, commandadas pelo 1.° te-
nente An tônio da Silva Teixeira d e F reitas, e de 12 d e bronze
q u e
seguiam os pelotõ es confiados a vários officiaes de ma
rinha.
« No dia 3 1 de D ezembro pela mad rugada, a dou s tiros
de p ec ad o forte Sebastopool, nossas baterias começaram um
fogo nutrido incessantem ente, que não deixou m ais o s sitia
dos
descançar, nem p arar em su as baterias. N 'este dia a m a-
H
En ganou-se, foram 4,500.
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— 506 —
rinha chorou a m orte do bravo e activo 1.° ten ente M artins,
que levou um a bala de artilharia na cabeça, na oceasião em
que verificava a pontaria de uma. de suas peças. Foi uma
perd a bastante sensivel para nó s, e eu ou so recom m enda r a
familia d'este valente official á protecção de S ua M agestade
o Imperador, e do governo imperial.<( Co ntinua o fogo quasi sem in terru pç ão em todo o dia
3 1
de Dezembro e no
1 . °
de Jan eiro . Ao am anhecer do dia
2 , sahio da praça um indivíduo chamado Moreira que nos
informou ter m orrido no dia anterior o general L ucas Pires,
ue era o sustentaculo da defeza ; e nos apresentou uma nota
o com m andan te d'ella pedindo em nome da hum anidad e
uma suspensão dehostilidades por
8
horas, para enterrar os
mo rtos e cuidar dos feridos. Estáv am os respondend o a esta
nota, declarando-lhe que mesmo em nome da humanidade,
lhe deviamos recusar esta concessão, porque ella lhe daria
temp o de reparar os estragos soffridos, e pro lon gar u m a re
sistência inú til, que provocaria novo derram am ento de sa n -
u e ,
acerescendo que antes das
8
horas estariamo s senhores
a pra ça ; quando appareceu A tanasildo S aldana, qu e era
prisioneiro ha mais de um an no , querendo saber, em nom e
do dito general, nossa decisão. N'essa resposta dissemos tam
bém que se elle se rendesse á discripção seria tratado bem
pelos alliados.
« Entretanto o fogo continuava por toda a parte, e nossas
tropas foram avançando e chegaram ao interior da praça,
quan do o general L eandro Gomes escrevia sua resposta a esta
ultima concessão, que não pôde concluir porque foi aprisio
nado pelo coronel Bello, que o entregou ao coronel oriental
Goyo S oares, em virtude de reclama-lo este em nom e do g e
neral em chefe, e preferir aquelle seguil-o. D'ahi a poucos
m om entos éramo s informados cVaquelle facto, e de qu e o g e
nera l L eandro Gom es, com dous ou tres officiaes, tin na m sido
fuzilados.
« Não pude conter a indignação que se apoderou de mim
por ver man char assim um a tão esplendida vic toria Grande
era a affrònta que tinhamos a vingar, innumeros os insultos
qu e o Brasil e os Brasileiros soffreram d'este ho m em . Com
tudo, eu queria que sua vida fosse respeitada como havia
positivamente recommendado, com uma solicitude que não
disfarçava, para mo strar a nossa relig ião , e os princípios da
civilisação moderna.
« Mas a fatalidade impellio a seu destino, fazendo-o deixar
pelo seu orgulho a protecção da band eira brasileira, sem se
recordar que os ódios políticos são sempre mais crué is que
os nacionaes.
« Curüpro um acto de rigorosa justiça registrando que nosso
distincto alliado, o general Flores, mostrou-se igii^lmente
mui sentido por este desagradável facto, e tratou dé proce-
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— 5 0 7 —
der a um inquérito sobre e lle; porque a par d'esta versão, cor
ria a de qu e, aqu elle chefe do exercito o rienta l hav ia sido
morto em combate.
« A ssim concluio-se a batalha, na qual tom am os
7 0 0
pri
sioneiros, entre elles alguns officiaes, mais de 2 ,000 espingar
das, 1 5 peças de artilharia, m unições, band eiras, e t c , o qu e
tudo foi entregue ao general em chefe do exercito oriental.
Encontramos também na praça muitos mortos e feridos.
« Talvez pareça extraordinária a generosidade dos vencedo
res, concedendo a liberdade a um tão crescido num ero de
prisioneiros. Revela porém notar que procedemos assim com
reflexão. Co nsultado s os officiaes pelo corone l A costa, chefe
do estado m aior do general Flores, se e stavam promp tos a
%
dar a sua palavra de nonra, de que não serviriam mais na
presente guerra contra o Brasil, nem contra aquelle general,
responderam promptamente que sim, e deram repetidos vivas
a elle e a mim, porque não esperavam tão humano procedi
men to dos seus adversários. Queriam até assignar um com
promisso por escripto, qu e de nad a valeria para qu em nã o
soubesse respeitar a sua palavra, e que por isso rejeitamos.
« Quan to aos soldados foram quasi que em totalidade e n
grossar as fileiras do general Flores, que d'esta forma tem
procedido sempre, convertendo os seus prisioneiros, nos mais
fieis e dedicados com panheiros de trabalho . Com esta m edid a
de elevado alcance, poderemos encontrar diante de nós agora
em M ontevid éo, um a vin ten a de officiaes qu e ten ha m sido
perjuros, e que como taes serão tratados; mas desarmamos
muitos ódios, e forçamos ao respeito os nossos próprios an-
tagonistas, que não acharão m a l um pretexto para tra n s
formar em uma questão de raça um assumpto de reparação
nacional, e com elle levantar-nos m ais inim igo s.
<( Nã o m e toca descrever a V . Ex . esta br ilh an te operaçã o
de nossas forças de mar e terra, reunidas ás tropas briosas
do exercito alu ad o, em bora teste m un ha ocular d'ella.
<( O distincto m arechal com m and ante em chefe do nos so
exercito, terá natu ral m en te referido a V . Ex . os actos de
heroísmo e de bravura praticados por nossos soldados e ma-
ip nh eí ro s , e pelos valentes com panheiros da crusada q ue
acompanham o general Flores, nosso bravo alliado, atacando
;
a sangue frio posições bem defendidas, ga nh an do terre no
passo a passo, de casa em casa, debaixo de um chuveiro de
baias que os nao estacava.
« M arinha e exercito, bem como O rientaes all iados, todos
porfiavam em ajudar-se mutuamente, em cooperar para o fim
commum — qu e era a posse d 'aquella pra ça , já regad a por
tanto sangue precioso.—A parte im po rtan te que nos cou be
a
1
ette triump ho deixo-a á apreciação com pete nte do m esm o
marechal, que no fim da luta me dirigio o officio junto por
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« Declarando pois a V. Ex. que todos os officiaes e praças,
que tomaram parte nas operações cumpriram o seu dever,
mantendo illesa, e robustecendo ainda a reputação de
gloria
que a armada
e
o exercito imperial
têm
sabido conquistar,
repito o que é publico e notório, o que exige a mais severa
justiça.
Todos elles são dignos de receber a remuneração
honrosa que Sua Magestade o Imperador costuma distribuir
sempre com generosidade aos seus leaes soldados.
« I l lm. e E x m . Sr. conselheiro Francisco Xavier Pinto
Li ma , ministr o e secretario de estado dos negóc ios da mari
nha.—Barão de Tamandoré. »
O officio do vice-almfíante brasileiro, acima transoripto, dá
al gun s esclarecimen tos útei s ao fim a que nos propusemos
escrevendo a historia d'esta guerra.
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•
L I V R O D É C I M O S E G U N D O .
CONTINUAÇÃO DA CAMPANHA ORIENTAL.
M A R C H A DO EXERCITO SOBRE MONTEVIDÉU
N o
dia 12 de
J a n e i r o ,
dez
d ias dep ois
de
t o m a r - s e P a y
s a n d ú , m a r c h o u o e x e r c i t o p a r a F r a y - B e n t o , d i s t a n t e 7 l é g u a s
d ' a q u e l l a p r a ç a , o n d e se e n c o r p o r o u com os b a t a l h õ e s que t i n h a m
c h e g a d o da c o r t e . Ahi e m b a r c o u a in fantar ia n o dia 14, s e
g u i n d o por t e r r a a c a v a l l a r i a e a art i lhar ia até S a n t a L ú c i a ,
l u g a r em que d e s e m b a r c o u o e x e r c i t o , s e g u i n d o d e p o i s p a r a
a s i m m e d i a ç õ e s de M o n t e v i d é o .
O c o n s e l h e i r o P a r a n h o s v e i o de B u e n o s - A y r e s e s ta b e l e c er -
se na V i l l a da União para f i car perto do l u g a r o n d e ia se
proceder a n o v a s o p e r a ç õ e s , e p o d e r i n f o r m a r - s e dos a c o n t e
c i m e n t o s que d e v i a m s e g u i r - s e p a r a se t o m a r M o n t e v i d é o .
M I S S Ã O
DO
C O N S E L H E I R O J O S É M A R I A
DA
S I L V A P A R A N H O S .
A n t e s de s a h i r de B u e n o s - A y r e s d i r i g i o ao g o v e r n o a r g e n
t ino a n o t a s e g u i n t e :
DECLARAÇÃO E MANIFESTO DE GUERRA.
« M i s s ã o e s p e c i a l
do
B r a s i l . — B u e n o s - Á y r e s ,
19 de
J a n e i r o
de
1865.
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ct O abaixo assignado, envia do extraordinário e m inistro
plenipotenciario de Sua Magestade o Imperador do Brasil ,
em missão especial na Republica Argentina, tem a honra de
solicitar a séria e bene vo la atten ção de S . E x. o Sr . D .- K u -
fino de E lizalde, ministro das relações exterio res, para a co m
münicação que passa a fazer-lhe em n om e e por ordem d o
governo imperial.
< r O governo argentino conhec e perfeitam ente, em * suas
cauzas e origem, o conflicto que sobreveio entre o governo
do Brasil e o de M onte vidé o, be m com o a dissençã o interna
que, ha quasi dous annos, f lagella a sociedade oriental, pre
judicando os interesses legitimes de todos os neutros, e par
t icularmente ao Império pela sua immediata vizinhança com
aquelle Estado.
<( As reclamações que o go vern o imp erial apresen tou ao de
M ontevidéo, como sabe o Sr. D . R ufino de E lizalde, ve r
savam sobre factos notórios, graves, tão repetidos e por talmo do filiados u ns aos outros, que não só justificavam o
ultimo appello dirigido á rasão e á just iça do governo ori
ental, mas até tornavam bem patente* a lon ga nim ida de d e
que usara o gov erno imperial e m face de tantos aggra vos
recebidos mesmo depois de sua generosa alliança de 1852.
a
Fora long o e supérfluo referir aqu i todo s os factos de
violênc ias e clamorosa injustiça praticados nas pessoas e pr o
priedades de subditos brasileiros, residentes no Estado Ori
ental, desde a época a que o abaixo assignado se cir cuin s
creve, omittindo o quadro ainda mais triste dos soffrirnentos
que tiveram lugar durante o dom inio m ilitar do general
Oribe.
a N ão são delictos ordinários, contra os qua es fosse de todo
impotente a policia da Repu blica, os aggravos de q ue se
queixa o governo imp erial. A questão nasceu de um a s u c -
cessáo de factos e de um concur so de circum stanc ias, qu e
dão o caracter de hostilidade intencio nal e sys tem atic a ao s
vexa m es com m ettidos contra os pacíficos residen tes bra sileiros .
Trata-se de crimes em que os próprios agentes da auto rida de
ublica apparecem compromettidos como autores, ou co-réos,
e crimes qu e, por um a notável coin cidên cia, se tem re
produzido quando no governo da R epu blica predominam os
sentimento s de um passado que , no interesse de am bos o s
paizes, devera ser para todo sempre esquecido.
cc O governo imperial e a sua legação em M ontevidéo
foram solicitos em protestar e reclamar contra taes ab us os ,
mas,
animados sempre de sentimentos os mais benevolos,
confiaram nas seguranças que lhes eram dadas, não poucas
vezes dissimulan do a seus próprios olh os a flagrante ant i-
these dos factos com as prom essas soleftines do go ver no d a
Republica. Tanta moderação e be nev olên cia podiam ter o
effeito de um acoroçoam ento inv olun tário ao mal que se
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tinha em vista evitar, mas o governo imperial não desejava
demover-se do seu propósito pacifico e amigável, e esperava
do tempo e da acção espon tânea do governo o riental a ces
sação de u m estado de cousas que era prejudicial a am bos
os paizes, e cujas sérias conseqü ências não podiam escapar
a mais confiada previsão.
« Desgraçadamente, porém, a experiência veio demonstrar quea prudência e iutentos benevolos do governo imperial não
eram correspondidos, e nem ao m enos justam ente interp re
tados.
L ong e de attender aos reiterados avisos e protestos qu e
tão am igavelm ente lhe eram dirigidos, o governo oriental pre
parava-se para legitimar o procedimento de seus criminosos
agentes com uma reconvenção ao Brasil , que ainda quando
assentasse sobre factos todos reaes e provados, não poderia
revestir o caracter politico que se revela nos atten tado s de q ue
tem sido victimas os sub ditos brasileiros na cam panh a orie nta l.
« Esta allegaçã o não é vã, S r: m inistro : a ausên cia de todo
sentimen to ho stil á R epublica do Urug uay por parte do
Brasil, e o sincero desejo do governo d e S ua M agestade e m
reprovar e reprim ir, den tro dos limites de sua soberan ia e
jurisdicção, qualquer ofíensa aos cidadãos orientaes, sem dis-
tincção de classe nem de partidos, é um a verdade que se
deduz incontestáve l m en te de actos os ma is significativos.
cc Pa ra p roval-o ah i estão os serviços qu e a R epublica re
cebeu do governo imperial durante o periodo a que o abaixo
assignado se refere; as ordens terminantes expedidas ás auto
ridades locaes a respeito de cada um dos factos de nu nc iad os
pelos reclam antes or ien tae s; finalmente, a inicia tiva ou a ac ei
tação amigável de vários accordos diplom áticos, ten de nte s a
prevenir os conflictos próprios de dou s povos visi nh os, e tão
intimamente relacionados, como são o Brasil e o Estado
Oriental.
« T ud o, porém , foi baldado ; a situação dos B rasileiros re
sidentes na cam pan ha do Estado O riental, tornou -se de dia
em dia mais afflictiva, e, como era natural, peiorou conside
ravelmente logo que a guerra civil ateou-se de novo no seio
n'aquelle Estado, Com os perigos d 'esta conjectura, despertou-se
n'elles o resentim ento de todas as offensas an terior e?, alg un s
mostraram sympathias pela causa da revolução, e nas f ron
teiras da provincia de S . Pedro do Rio Grande do Sul , seu-
uo-se a repercussão do grand e abalo porq ue pa ssav a a R e
publica.
« Nào obstante o espir ito host i l ao Bra si l , qu e pare cia do
minar na poli t ica do governo da Republica, e as sympathias
|u e por es te m esmo mo tivo se m anifes tavam entre os res i
dentes brasileiros á favor da revolução, o governo de Sua
Majes tade não an imou aquel le pronunciamento ; pe lo con-
t r m o
r
procurou reprimil-o e manteve-se perfei tamente neutro
*a luta intern a dos partidos orienta es.
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« A missão extraordinária confiada ao zelo e illusir ação do
conselheiro José Antônio Saraiva, teve por fim principal este
dup lo pensamento : — assegurar a neu tralidad e do Im pé rio , e
dar garantias de segu rança á vida e propriedad e dos subditos
brasileiros, — ún ico m eio de dissip ar os seus receios e acal
mar os seus naturaes resentimentos.
« Fácil era conseguir este proposto resultado, se o governo deMontevidéo o houvesse quer ido . Sabe , porém, o Sr . D. Ru-
fino de Elizalde como aquelle governo recebeu a missão de
paz enviada pelo Brasil , e S . Ex. pôde também testemunhar
que dos esforços do env iado brasileiro, tão ge ne ros am en te se
cundados pelo governo argentino , de combinação com o r e
presentante de S . M. Britanuica nesta capital , ter ia sahido a
paz intern a da R epublica O riental e o accordo amigável qu e
procurava o Brasil, se o governo de M ontevidéo não fosse o
primeiro a desconhecer a gravidade de sua situação e a im
prudência de suas injuriosas denegações ao Brasil.
cc Esgotados os m eios pacificos, já n ão restav a ao go ve rno
imp erial se não o recurso extremo da força. O governo de S ua
M agestade assim o declarou francamente ao de M ontevidéo
em seu
ultimatum
de
4
de A gosto u lt im o , e, para dar largo
tempo á reflexão d*esse governo, limitou a principio as suas
represálias a medidas coercitivas das menos rigorosas que au-
torisa a pratica das nações civilisadas.
cc En tretanto a este procedimento respondia o go ver no de
Montevidéo com irrisão e novas provocações ao Brasil, pro
curando contra este e contra o governo argentino allianças e
apoio por toda p ar te ; planos, S r. ministro , que hoje estão
patentes aos olhos de todo m un do , sendo qu e já se manifestaram
em actos da m ais directa hostilidade ao Brasil por parte da
Republica do Paraguay.
« A historia e o direito das gentes nos ens ina m qu e, quando
as conten das internaciona es chegam á em ergência de um ul
timatum, e a este segue-se o rom pim ento das relações diplo
máticas e ao emprego reciproco de represálias, a conseqüência
immediata, prevista e inevitável é a guerra.
cc
A guerra, era , por tanto , o estado em que se achav a o
Brasil com o governo do M ontev idéo, posto que attenu ada
em seus effeitos le^aes pela extrema moderação do governo
imperial: o qual, so depois de constrangido pelo procedimento
caaa vez m ais aggrav ante da parte offensora, recorreu a
medidas de maior rigor, quaes o bloqueio dos portos do Salto
e Paysand ú, sobre a costa do Uru gua y, e o ataque d'esta
ultima praça, assignalada para ser o centro das hostilidades
que se machinavam contra o Império.
o O governo de M ontevidéo allegou ignorar a natureza e
alcance de seus próprios actos, mas apenas vio de facto rea-
lisada a sua alliança com o governo paraguayo, entregou
w
se
ao mais frenético enth usias m o, iançando-nos pela sua im -
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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prensa official as mais affrontosas diafribes, fechando os seus
por tos ao com m ercio pacifico dos dou s paizes, e ofierecendo
a civilisação moderna esse repugnante espectaculo da queima
dos autographos dos tratados subsistentes entre o Império e
a Republica.
K E m presença de todos os factos e circum stancia s qu e o
abaixo assignado acaba de recordar, o estado de guerra entre
o
Brasil e o g ov ern o de M ont evid éo não é de certo um facto
novo e imprevisto, cuja superveniencia exigisse novas mani
festações da parte do go verno imperial ao da R epub lica A rg en
tin a, em cuja illustração e amizade elle tanto confia. O objecto
d'esta commünicação, Sr. ministro, é def inir a nova posição
que os acontecimentos crearam ao governo imperial relativa
mente á luta interna da Republica Oriental .
« O gov erno de Sua Magestade, como o abaixo assignado já
obs erv ou , calando seu int imo juizo sobre as causas que ori
ginaram um a nova guerra civil n'aquelle Estado l imitro phe,
e dominando as apprehensões que não podia deixar de susci
tar- lhe a serie de tantos attentados impunemente perpetrados
contra os residen tes brasileiros, se hav ia prescripto á m ais
prudente neutralidad e entre o general F lores e o gover no de
Montevidéo. Não procedia assim porque lhe fosse indifferente
a pacificação da Republica, mas por fidelidade ás máximas
de sua polit ica externa, que não admiüe as intervenções se
não como casos raros e excepcionaes.
« H oje , por ém , essa neutralidade nao é mais compat ive l
com a se gura nça e interesses essenciaes do Bra sil , e de facto
cessou, com o segur am ente o terá notado o governo argen t ino,
desde os succe ssos qu e se produziram em frente de Pa ys an dú ,
onde as armas do Brasil se acharam naturalmente all iadas
és do exeic i to oriental que commanda o general Flores .
a 0 g ov ern o im per ial tem hoj e o direito e o dever de
não l imitar-se á s imples reparação de seus próprios aggravos,
na luta armada a que o provocou o governo de M on tevid éo.
« N ão só a - hum anid ade , m as t am bém a su a segurança
exige que el le contribua ao mesmo tempo para o restabele
cimento da paz da Republica.
« O govern o imperial preencherá esta dupla m issão proce
dendo de accordo com o gener al F lore s , a quem reconh ece
como bel l igerante legit im o e nob rem ente dedicado aos m ais
sagrados interesses da sua pátria.
« Tal é a del iberação que o go ver no imperial ju lgou co n
veniente manifestar of f ic ialmente ao gov erno arg en t ino , pres
tando ass im a homenagem do seu respeito aos pactos exis tentes ,
e aos sen t im en to s de reciproca conf iança e est im a que tem
encontrado da parte do mesmo governo argent ino.
« O abaixo ass ignad o aproveita-se d 'esta oppo rtunidade para
renovar a S. Ex. o Sr. D . R ufino de E liza lde os pro testo s
da sua perfeita est ima e alta consideração.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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« A S . Ex. o Sr. D . R ufião de E lizalde, m inistro e secretario
de estado das relações exteriores da Republica Argentina.-—
José M aria da Silva Paran hos. »
O governo argentino respondeu n'estes termos;
cc Buenos-Ayres, 30 de Janeiro de 1865.
« O
abaixo assignado, ministro e secretario de estado das
relações exteriores da Republica Argentina, tem a honra de
responder á nota de 19 do corrente, que lhe dirigio S. Ex.
o Sr. conselheiro José Maria da Silva Paranhos, enviado ex
traordinário e ministro plenipotenciario de Sua Magestade o
Imperador do Brasil.
« D epois que o governo de Sua M agestade o Impera dor do
Brasil dignou-se fazer ao argentino as declarações mais sin
ceras e solemnes sobre sua politica no conflicto que desgra
çadamente surgio com o governo de Montevidéo, assegurando
a fiel observância dos tratados com a Republica Argentina
que garantem a soberania e independência da Republica Oriental
do Uruguay, só restava ao mesmo governo argentino cumprir
com os deveres da m ais stricta neutr alidad e, que se imp uzera
n'esta questão por altas considerações que eram superiores
ás justas causas que podiam autorisar o aban dono de sua
politica de neutralidade.
cc Com prehendeu, poré m, S. Ex. o Sr. Presiden te da R e
publica que, mesmo dentro dos limites d'essa neutralidade e
apezar da posição excep cional qu e a tal respeito lhe fora
feita por actos injustificáveis do gover no de M on tev idé o, os
maiores interesses dos povos do R io da Prata e de todos os
neutros lhe impunham o dever de não deixar de fazer
quanto lhe fosse possivel para alcançar um a soluçã o am i
gável das questões que tinham de produzir numerosos males
se se debatessem pelas armas. T en tou por tanto u ni accordo
que infelizmente não logrou alcançar, vend o frustradas as
esperanças mais legitimas e os mais decididos esforços.
« Desde então creou-se para elle
-
um a situação que o tem
impedido de propender a evitar as calamidades d e um a gu er
ra que vivamente deseja ver concluída.
« D isposto entretanto a aproveitar qualquer oceasiã o q ue
se lhe offereça de poder realizar os seu s m ai s arde ntes d e-
zejos com êxito provável, tem que agradecer a S. Ex. o Sr.
Paranhos a com mü nicação que se servio passar ao abaixo
assignado e expressar a confiança qu e abriga o gov ern o ar-
gentiuo na política justa e elevada do governo de S ua M a
gestade o Imperador do Brasil, e de qu e, qualquer que seja o
curso qu e siga o co nflicto em q ue se acha com o governo de
Montevidéo e o resultado da guerra q ue su rg io, nen hum a att enu a-
Çáo soffrerá a indepe ndên cia e sobera nia da R epublica O ri
ental do Uru gua y, garantidas por tractados e decla raç ões
solem nes que é mui satisfactorio vêr reiterar de um m odo
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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tão expresso e categórico em a nota a que responde o ab a i
xo assignado.
« Fazendo os mais ardentes votos pela conclusão do conflicto
que tantos males cau sa, de m odo que sejam os m eno res
possiveis, cu m pre o gove rno a rgentino com o agradável dever
de reiterar a S. Ex. o Sr. Paranhos a expressão de sua mais
alta e distinota consideração e estima.
« A S . Ex. o Sr . conselheiro José M ana da Si lva P ara nh os .
enviado extraordinário e ministro plenipotenciario de Sua
Magestade o Imperador do Brasil .—
ttup.no de Elizalde.»
Com a mesma data dirigio o conselheiro Paranhos outra
nota ao corpo diplomático em Buenos-Ayres.
<< M issão espec ial do Brasil.— Bu eno s-A yres 19 de Ja ne iro
de
1 8 6 5 .
« O abaixo assignado, enviado extraordinário e ministro ple
nipotenc iario de S ua M agestade o Im perador do Brasil , a cre
ditado em missão especial junto á Republica Argentina, tem
a ho nra de dirigir-se ao S r ministro de para m a
nifestar-lhe em nom e e ordem do governo imperial a posição
ac tua l do " 'Brasil relativam ente ao gover no de M ontev idéo.
« Um a num eros a população brasi leira habita, como sabe o
Sr. ministro, a campanha do Estado Oriental do Uruguay,
onde exerce a indu stria pastori l e m anté m u m com me rcio
reciprocamente ut i l com a provincia d e S . Pedro do Rio
Grande do Sul , terri tório brasi leiro l imitrophe,
« Esses pacificos e indu striosos hab itante s foram victim as
da mais cruel preseguição no largo periodo que durou a famosa defensa de M ontevidéo , susten tada contra o gene ral
Oribe e seu al l iado o governador Rosas.
« L ibertada a R epubl ica do Ur ugu ay da m ão de ferro que
sobre ella pesa ra por ta nto s an no s, e operado este feliz ac on - .
tecimento m edia nte o generoso concurso do Brasi l , era de
esperar que os Brasi leiros encontrassem no terri tório oriental ,
se não o acolhim ento que a boa indole de seus na tura es
dispensa a todos os estrang eiros, pelo m eno s a protecção lega l
que lhes não podia ser recusa da. O governo impe rial assim
o acreditou , e n 'esta confiança descansou por mu ito tem po ,
a t é que um a nova ser ie de a t t en t ados i m pun es ve i o con ven
cei -o do co ntr ario , revela ndo um propósito host i l , da pa rte
das próprias autoridades, á nacionalidade brasi leira.
« 0 governo de Sua Magestade o Imperador não imputa, o
que fora insensato, ás autoridades da Republica, a responsabi
lidade de todos os delictos perp etrad os n'es tes últi m os an n os
eontra os subdi tos bras i lei ros na campanha or iental ; mas tem
os mais sér ios fundam entos para queixar-se e reclamar en er
gicamente a respeito de crimes em que os próprios agentes
ao poder publ ico appa recem culpa dos, como autores e c ú m
plices, ou pela mais suspeitosa negligencia. Estes factos,
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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por sua successão e grav idade , constituem um estado de
cousas inquietador para a população brasileira de um e outro
lado da fronteira com m um , e assum em um caracter ainda
mais ameaçador, quando combinados com actos do governo
supremo da R epu blica , qu e parecem ter sido dictados pelo
mesmo pensamento de hostilidade aos próprios Brasileiros.
<( Collocados n'esta situa ção os su bd itos brasileiros residen tes
no Estado Oriental, e reapparecendo de novo a guerra civil
sobre o solo da Republioa, calamidade que dura ha quasi
dous annos, era de receiar que elles, possuídos da idéa de uma
perseguição systematica por parte das autoridades que os de
viam proteger, se transv iassem da lin ha pacífica qu e lhes
traçava o procedimento de governo imperial e prestassem seu
apoio á revolução.
(( O governo de Sua M agestade proc uro u prev enir esse des
vio de sua natura lidade , qu e, posto devido a u m a preo ccup a-
ção,
infelizmente, assaz fundada, seria a seus olhos uma falta
grave e indesculpável. O s esforços do govern o im perial co n
seguiram que a grand e m aioria dos residentes brasileiros não
tomasse parte, nem directa nem ind irectam ente, n a questão
interna da soledade oriental, a que eram e deviam conser
var-se estranhos. ) $ | | sijfa
« A ssim procedendo, era direito e dever do governo imp e
rial exigir ao mesmo tempo do governo da Republica medidas
que tranquilUsassem os Brasileiros domiciliados no Estado
O riental, reparand o os dam nos j á soffridos, e dan do -lhes g a
rantias de segurança para o futuro.
« A missão diplomática confiada ao consum mad o critério do
conselheiro José A ntônio S araiva tinha por objecto o duplo
pensamento de manter a neutralidade do Brasil na contenda
civil da R epublica e obter justiça e garan tias pa ra os su b
ditos brasileiros, com razão sobresaltados e profundamente
resentidos de seus contínuos e graves soffrimentos.
a Desg raçadam ente, essa missão de paz, m al acolhida desde
o seu principio pelo governo de M on tevid éo, vio afinal frus
trados todos os seus esforços. A s reclam açõe s bras ileiras foram
repeli idas com um a acintosa reconvenção e a mediação con -
june ta dos representantes do B rasil, da Republica A rgen tina e
da In glaterra, a bem do restabelecim ento da paz in ter na da
Republica, nào teve melhor exitõ. Era, porém, obvio que a
cessação da guerra civil teria acalmado todos os ânimos e
dado lugar ao ajuste amigável das differenças do go ve rno
oriental com os do Brasil e da Republica Argentina, governos
visinhos e garantes da independência e integridade iPaquelle
Estado intermediário.
« O governo de M ontevidéo, tomado das mais deploráveis,
hallucinações de par tido , des atten de u a todos os conselhosda razão, não deixando ao governo imperial outro recurso hon
roso senão o da força, para resalvar a sua dig nid ad e e ü *
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segu rar protecção, no presente e no futuro, aos su bd itos bra
sileiros.
« Esta resolução extrem a, mas indeclináv el, foi an nu nc iad a
aquelle governo que a recebeu com a mesma obstinação, e
m al interpretand o a repug nânc ia oom que o Brasil lançava
m ão das m edidas coercitivas, provocou-o a proceder com m ais
ene rgia, e porfim levou o conflicto ás su as m ais grav es
conseq uenc ias.
« Pretextando intentos que não existiam
;
nem pôde existir
por parte do Brasil contra a independência da Republica do
u ru g u a y , excitou os mais sediços e vulgares preconceitos
con tra o Im pério , a l liou-se ao governo do Parag uay e pro
curou, no interesse de suas paixões exaltadas, accender o
espirito de discórdia entre a familia arge ntin a. O seu de lirio
cheg ou ao pon to de escandalizar a civilisação do nosso século
com as scenas ina ud itas de um auto de fé, a que foram
eon dem nad os os autog rapho s dos tratados sub sistentes entre
o Império e a Republica .
« Como bem com preh end e o S r , o Brasil não podia
deixar de proseguir na guerra a que o provocou o governo
de M ontevidéo, nem m ante r a sua pol it ica de neu tra l idad e,
quanto ao conf l ic to interno da Republica . Esta neutra l idade
tornou-se inco m patíve l, nã o só com o f im a que o gov erno de
S ua M agestade se t in ha proposto em suas ju stas reclam açõe s,
mas a té com a segurança do Império, hoje ameaçado por
dous inim igo s que se a lu aram para feril-o em sua dign idade
e desconhecer os seus direitos.
a
O gov erno imp er ia l , por tanto , con t inua em gu er ra como gove rno d e M ontevidéo, e tem resolvido concorrer tam bé m
com as su as a rm as e com os seus conselho s para a pacificação
interna da Republica , procedendo de accordo com o general
Flores, a qu em considera como legi t imo b el l ige ran te e crê
possuido da mais nobre dedicação á sua pátr ia . O governo
de S ua M ages tade espera qu e n ' es ta con junc tura , como em
outras análogas, poderá conseguir o seu legi t imo e benevolo
empenho, por m an e i ra qu e mereça as. sym pathia s de todo s
os governos am igos , objecto que tem sem pre em vista no s
mais importantes actos de sua vida interna e externa .
« O abaixo assigna do tem a h o n ra d e offerecer ao S r
as expressões do seu alto apreço , e rog a ao S r se di gn e
d ar c o n h e c im e n t o d a p r e s e n te n o t a á l e g a çã o d e . . . . e m
Montevidéo .
« A o S r . . . . — J o s é M aria da Silva Paran hos. »
As legações es t range i ras respo nde ram no m esm o sen t id o ,
que f icavam in teir ad as do qu e se pas sav a e
o
l e v a r i a m a o
conhecimento dos seus governos.
0
estado de desordem e de exci taçâo
contra o
Bras i l em
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— 5*8 —
q u e e x i s ti a o g o v e r n o d e M o n t e v i d é o , t i n h a l a n ç a d o m ã o d e
m e d i d a s " e x t r e m a s , j u l g a n d o a c h a r n ' e s s e s e x c e s s o s a s u a s a l
v a ç ã o o u c o n s e r v a ç ã o ; v e n d o o e x e r c i t o á s s u a s p o r t a s , q u e s e
a u g m e n t a v a e d i s p u n h a a t o m a r a p r a ç a á f o rç a , c o n f o r m e
t i n h a a c o n t e c i d o á d e P a y s a n d ú , e n o p o r t o o s n a v i o s d e
g u e r r a b r a s i le i r o s q u e t i n h a m d e s t r u í d o c o m s e u s g r o s s o s
c a n h õ e s a s m u r a l h a s e e d i f i c io s d ' a q u e l l a c i d a d e . W e s t a s c i r
c u m s t a n c i a s , d e a p e r t o o u . d e d e s e s p e r o , r e c o r r e u a o c o r p o
d i p l o m á t i c o a l l i r e s i d e n t e , p a r a i n t e r v i r e h a v e r s u s p e n ç ã o d e
h o s t i l i d a d e s a t é s e re a l i z a r a p a c i f i c a ç ã o d a R e p u b l i c a ; o
a u x i l i o q u e e s p e r a v a d o P a r a g u a y p a r a p o d e r s u s t e n t a r a g u e r r a
c o n t r a o B r a s i l, n ã o a p p a r e c i a ; p r o c u r o u o g o v e r n o d e A g u i r r e
a q u e l l e u l t i m o r e c u r s o q u e l h e r e s t a v a pa r a s a h i r d a s i t u a ç ã o
e m q u e s e a c h a v a . O m i n i s t r o i t a l i a n o d i r i g io a o c o m m a n
d a n t e d a e s q u a d r a b r a s i l e ir a a n o t a s e g u i n t e :
« L e g a ç ã o d e S u a M a g e s t a d e o R e i d T t a l i a . — M o n t e v i d é o
2 9 d e J a n e i r o d e 1 8 6 5 .
cc S r . B a r ã o . — F u i e n c a r r e g a d o p e l o s m e u s c o l l e g a s d o c o r p o
d i p l o m á t i c o d e r e m e t t e r a V . E x . a c ó p i a d e u m a n o t a q u e
a c a b o d e d i r ig i r a S . E x . o S r . c o n s e l h e i r o P a r a n h o s . E n c a r
r e g a m - m e i g u a l m e n t e d e e x p r e s s a r a V . E x . a e s p e r a n ç a d e
q u e p o r s e u l a d o V . E x . s e p r e s t a r á á r e a l i z a ç ã o d a o b r a d e
c o n c i l i a ç ã o e p a c i f i c a ç ã o q u e e m p r e h e n d e m o s , s u s p e n d e n d o a s
h o s t i l i d a d e s . C o n s i d e r a r i a m o - n o s t e l iz e s s e n o s s o fim f o s s e a l
c a n ç a d o . R o g o e n t r e t a n t o a V . E x . d e a c e i t a r a s s e g u r a n ç a s
d o s s e n t i m e n t o s d a m i n h a m a i s a l t a c o n s i d e r a ç ã o .
cc A S . E x . o S r . v i c e - a l m i r a n t e B a r ã o d e T a m a n d a r é » c o m
m a n d a n t e e m c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s b r a s i l e i r a s n o R i o d a
P r a t a . — Baphael U lysse Barbolan i.»
O c o m m a n d a n t e d a s f or ça s n a v a e s d o I m p é r i o n o R i o d a
P r a t a r e s p o n d e u a o m i n i s t r o i t a l ia n o d o m o d o s e g u i n t e :
cc C o m m a n d o e m c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s d o B r a s i l n o R i o
d a P r a t a . — B o r d o d a c o r v e t a
Nitheroky,
n a b a r r a d e S a n t a »
L ú c i a , 3 0 d e J a n e i r o d e 1 8 6 5 .
a I l l m . e E x m . S r . — O a b a i x o a s s i g n a d o , c o m m a n d a n t e e m
c h e f e d a s f o r ç a s n a v a e s d o B r a s i l n o R i o d a P r a t a , a c a b a d e l e r
c o m t o d o o i n t e r e s s e q u e m e r e c e , a n o t a q u e S . E x . o S r .
R a p h a e l U l y s s e B a r b o l a n i , m i n i s t r o r e s i d e n t e d e S u a M a g e s
t a d e o R e i d ' I t á l i a , d i r i g i o a S . E x . o S r . e n v i a d o e x t r a o r
d i n á r i o d o B r a s i l e m s e u n o m e , e n o d e s e u s c o l l e g a s d o
c o r p o d i p l o m á t i c o e m M o n t e v i d é o , e d e q u e s e d i g n o u d a r -
l h e c o n h e c i m e n t o ; n a q u a l p e d e u m a s u s p e n s ã o d e h o s t i l i
d a d e s p o r m a r e p o r t e rr a , d e i x a n d o - s e a s c o u s a s n o
statu
f * e *
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— 5 . 9
—
até ao dia 15 de Fev ereiro próximo , em q ue, na fôrma da
constituição oriental, se deve renovar o poder executivo da
Republica,
« A preciando no seu devid o valor as considerações que
S. Ex. apresenta para justificar a conveniência d'esta deli
beração, o abaixo assignado sente não estar autorisado a
tom ar a gr ave responsabilidade do acto que V. Ex. reclama ;
porqu e el le prejudicará essenc ialm ente ás operações de guerra
por mar e por terra, que tem o rdem de seu governo para
exec utar . Po r isso fará am anhã marchar o exercito imperial
sobre Mo nte vid éo , (*) com o estava determinado, e se apre
sentar á com a esquadra de seu com ma ndo no porto d'essa
capital, e então terá a satisfação de entender-se pessoalmente
co m os Sr s. com m an da nte s das forças navaes estrangeiras, e
com V . E x. e seu s collegas, se se dignarem honral-o com a
sua attenção para provar-lhes que, se se acha firmemente
disposto a co ntinu ar a fazer a guerra, qu e o governo im
perial a c e it o u ^ e a qu e foi provocado, franca e efficazmente
co m o o Brasil tem incontestável direito, e pela fôrma com
que m ode rna m ente tem sido feita pelas grandes potências da
E uropa em toda a parte do m und o, onde tem levado sua s
armas ; não m en os inclinado está a conciliar, no ma is po s
sivel, os direitos de belligerante com os deveres de humani
dade. N ão obs tan te, para mostrar a V. E x. e a seus collegas
o s bons desejo s de que se acha possuído de que a questão ,
hoje tão complexa do Estado Oriental com o do Brasil, depois
da guerra injusta e desleal que no s está fazendo seu alu ado ,
o Pa rag ua y, que tala desassombradamente nossas povoações
e nosso s cam po s da indefesa provincia de M atto Grosso,
cheg ue a um a solução honrosa e digna para os bellígerantes,
conforme a n ecessidade universal de paz, o abaixo assignado
expede u m vapor ás ordens do E xm . Sr. enviado extraordi
nário do Brasil, e o convida a uma conferência no porto de
M ont evid éo, na qual ouvirá os conselhos de sua luze s e
exp eriên cia, e no em tanto apro veita a opportunidade para
renova r a V . Ex . os seu s protestos de consideração e res
peito.
« A S. E x. o Sr. Raph ael U lyss e Barbolani. —
Barão de
tamandaré. »
O ministro italiano em M ontevidéo pedio suspensão de hos
tilidade em n om e do corpo diplomá tico ao vice-a lmira nte bra
sileiro, n a nota qu e fica transcripta ; o vice-alm irante de u-lh e
a resposta q ue acabam os de vôr. Para o m esm o fim o füciou
(*) Não se pôde deixar de notar que o visconde de Tamandaré diz: — f a r á
m a r c h a r a m a n h ã
o exercito sobre Montevidéo.
—
Parece que era elle
o c o m -
m a n d a n t e d o
exercito;
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— 5 2 0 —
á missão especial do Brasil, no Rio da Prata, enviando-lhe
a no4 seguinte :
« Legação de Sua M agestade o Rei dlta l ia .— M on tev idé o,
29 de Janeiro de 1865.
« O abaixo assignado, m inistro residente de
S u a
Magestade
o
Rei d'Italia,'
foi
encarregado por seu s collegas do corpo
diplomático em Montevidéo, de dirigir a seguinte commüni
cação a S. E x. o Sr. conselh eiro Jo sé Maria da Silv a Par a
nhos, enviado extraordinário e ministro plenipotenciario de
Sua Magestade o Imperador do Brasil, acreditado em missão
especial junto á Republica Argentina.
« Considerando que o poder executivo da Republica Oriental
do Uruguay de ve, nos termos da con stituição , ser .renovada
a 15 de Fevereiro próximo e que o novo governo, l ivre de
todos os antecedentes pessoaes e de todos os empenhos ante
riores, poderia achar-se em condições mais favoráveis a uma
solução pacifica das differenças qu e condu ziram a um a s i
tuação tão lamentável a todos os interesses, os membros do
corpo diplomático concordaram no juizo de que o melhor
m eio de chegar a um a solução tão desejada, seria qu e a
eleição do novo chefe do govern o p udesse verificar-se co m
toda a calma e re gularidade nec essá rias.
« E m conseqüên cia d'isto o corpo diplomático expressa o
voto de que
o
representante de Sua Magestade
o
Imperador
do Brasil concorra para a realisação de u m ac on tec im en to
tão salutar, combinando em um a suspensão de hostil idade spor mar e por terra, e deixando as cousas no
statu quo,
até
a data supra mencionada.
« O corpo d iplomático folga de esperar, que no inte rva llo,
a obra da pacificação poderia ser accelerada por uma me
diação aceitável por todas as partes, e que seria o melhor
meio de evitar as complicações internacionaes, que arrastarão
quasi infallivelmente operações de guerra, dirigidas contra uma
cidade essencialmente com mercial, com o é M onte vidé o, e onde
os interesses e habitantes estrangeiros estão em t&o grande
maioria.
« Confiando nos se ntim ento s de con ciliação e hum anid ade ,
tanto quanto nas luzes de S. Ex., o abaixo assignado e seus
collegas l isongeam-se de acreditar que o Sr. conselheiro Pa
ranhos acolherá com a deferencia que merece este passo, não
menos conforme á necessidade universal da paz q u e ao pen
samento de seus governos.
• O abaixo assignado aproveita a oceasião para renovar a
S. Ex. a segurança da sua mais alta consideração.
« A S. Ex. o Sr. conselheiro José Maria da Silv a P ara
nhos.—Raphael Ulysse Barbolan i. »
Nào era só pelo desejo de haver paz entre o Brasil e o
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— 321 —
Estado Oriental, que o corpo diplomático residente em Mon
tevidéo se esforçou n'esta mediação para com o ministro bra
sileiro ; nem também com intenção de proteger o gov ern o
de Aguirre. Era principalmente por querer livrar aquella cidade
de um bombardeio por mar e terra, com o que os negociantes
estrangeiros teriam muito prejuizo, ou perderiam tudo quanto
tivessem; o corpo diplomático queria evitar este estrago, e
novas complicações entre os seus governos e este Império;
queria chegar a este rim por qualquer modo. Foi muito bem
emprehendida aquella negociação considerando-a, ou pelo lado
do interesse commercial, ou por principio de humanidade ;
mas o direito de fazer a guerra para desaffrontar a honra nacio
nal estava acima de todas as considerações. 0 conselheiro Para
nhos respondeu ao ministro italiano com a nota que se segue :
« Missão especial do Brasil. — Buenos-Ayres, em 3 1 Ja ne i
ro de 1 8 6 5 .
a O abaixo assignado, enviado extraordinário e ministro ple
nipotenciario de Sua Magestade o Imperador do Brasil, acre
ditado em missão especial junto á Republica Argentina, tem
a honra de responder á nota que S. E x . o Sr. Raphael
Ulysse Barbolani, ministro residente de Sua Magestade o
rei de Itália, lhe d irigio em data de 2 9 do corrente, por si
e em nome de seus collegas, membros do corpo diplomáticoresidente em Montevidéo.
a O Sr . Barbolani observa em sua referida nota que o
poder executivo da Republica Oriental do Uruguay, nos
•termos da constituição respectiva, tem de ser renovado no
dia
15
de Fevereiro próximo, e que o novo governo, livre
de
todos os antecedentes pessoaes e todos os empenhos an
teriores, poderia achar-se em condições mais favoráveis a um a
solução
pacifica das differenças que trouxeram uma situação
tão lamentável para todos os interesses.
« F undados n'esse pcesupposto, diz o Sr. Barbolani, os
membros do corpo diplomático de M ontevidéo são tod os
concordes
em pensar qu e o melhor m eio de chegar a essa
solução
tão desejável, seria dar lugar a que a eleição do
novo
chefe do governo se pudesse fazer com toda a calma e
regularidade
necessária.
« Em conseqüên cia d'este pensam ento, o m esmo corpo d i
plomático ennuncia o voto de que o representante de Su a
Magestade o
Imperador do Brasil concorra para a realização
íe um
acontecimento tão salutar, prestando
-se á
suspensão
te hostilidades por mar e por terra, e deixando as cousas
*o*tatuquo,
até a
data
supra menoionada.
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522 —
cc o corpo diplomático, con clue o Sr . m inistro , abriga a
esperança de que n'este intervallo a obra da pacificação po
deria ser acceierada por u m a m ediaçã o aceitável para todas
as partes, e que seria o m elho r m ei o de evitar as com pli
cações internacionaes, que, é qu asi in fallivel, provirão de
operações dirigidas contra um a cidade esse ncia lm ente c o m
mercial, como é a de Mo ntevidé o, na qua l os interesses e
habitantes estrangeiros se acham em grande maioria.
cc
O Sr . B arbolani termina su a nota exprimindo', em ter
m os os ma is benevolos para com o abaixo assignado, a
confiança que elle e seu s dign os collega s nutriam de que
seria acolhida pelo representante do Brasil, com a deferencia
que merece, uma tentativa que S.S . E.E x. consideram não
meno s conforme com a n ecessidade universal de paz, que
o pensamento de seus respectivos governos.
« O abaixo assignado acolheu com a deferencia qu e deveaos senhores membros do corpo diplomático de Montevidéo,
e tomo u na mais séria consideraç ão a idéa sugge rida por
S.S . E.Ex. e os m otivos em que a fundam .
« O abaixo assignado passa a manifestar, com a urgên cia
e franqueza que as circumstancias exigem, todo o seu pen
samento sobre a dita suggestão. Felizmente, hontem mesmo,
data em que o abaixo assignado recebeu a nota do S r. Bar
bolani, chegaram-lhe communicações do Sr. almirante Barão
de Tam andaré, comm andante em chefe da esquadra imperial,
que o ha bilitam para conhecer o parecer d'este e a sua i n
teira conformidade de vistas com o E x m . Sr . Brigadeiro
general D . Ve nan cio F lores, chefe das forças orienta es qu e
se acham alliadas ás do Brasil na gu erra actual*
« Os direitos da hum anida de e os interesse s gera es, em
nome dos quaes faliam os Srs. membros do corpo diplomá
tico de M ontevidéo, sempre encontraram e encontrarão da
parte do governo imperial as m ais decididas sy m pa th ias , e
toda a possivel deferencia; m as são esses m esm os direitos e
interesses que, no caso vertente, se oppõem a qualquer tem
peramento, cuja eventualidade mais provável seja a prolonga-
ção do mal que se quer evitar, e o progresso de seus tristes
e perniciosos effeitos.
« A dissenção civil que dilacera o E stado O rientai, e a guerra
a que o governo de M ontev idéo provocou o Brasil, já directa-
mente, já por meio da sua alliança com o governo do Pa
raguay, te m custado m uit o sa ng ue precioso e prejudicado
interesses num erosos e de alta m on ta, não em M ontevidéo
som ente, m as em todo o Estado Oriental e em todo o Bra sil.
«
As circulares que o abaixo assignado teve a honra de di
rigir ao corpo diplom ático acreditado jun to á R epu blica A r
gentina, assignaiam claram ente e assás justificam a posição
do Brasil em face dos gov erno s c om qu em se acha em estado
de guerra. Por sua parte, os go ver no s de M on tev idéo e da
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Rep ublica do Paraguay, nào deixam também a menor o W d a
sobre os sentimentos que os dominam, e sobre os seus pla
nos de implacável hostilidade ao Império.
« Quando tanto sangue
j á
tem corrido nos campes do E s
tado Oriental e na província brasileira de Matto G ro sso ;
quando uma grande
parte
da nação or iental está votada aos
ódios politicos que reinam em Montevidéo; quando os c o n
sideráveis interesses nacionaes
é
estrangeiros, que representa
a paz do Br asil, tão injusta e cruelm ente perturbada pelos
seus actuaes inimigos, exigem a prompta cessação de tão la
mentável estado de cousas,
q
abaixo assignado não pôde coni-
prehender a opportunidade. justiça e efficacia da medida ora
iniciada pe los illustrados mem bros do corpo diplomático de
Montevidéo.
v
V
« A
guerra é uma calamidade que todos deploram, e que
a todos prejudica, mas, infelizmente, a guerra é ainda uma
necessidade indeclináve l na yida das nações. A de que se
trata é um caso extrem o, cuja responsabilidade não poderá
ser com razão imputada ao governo de Sua Magestade, nem
ao procedimento dos seus representantes no Rio da Prata.
« A
cidade e a população pacifica de Montevidéo não mere
cem m en os contemplação ao abaixo assignado do que ao Sr.
Barbolani e aos seus illustres collegas, mas a cidade de Montevi
déo, convertida em praça de guerra pelo inim igo do Brasil,
nãoj pôde hoje gosar de u ma imm unidade que
o
direito das
gentes não concede, que nenhum belligerante poude ainda
adm ittir e que tornaria interm inável a luta que se deseja
fazer cessar.
« A
medida suggerida em
a nota
do Sr. Barbolani, como
podendo conduzir a uma solução pacifica da crise em que o
govern o de M ontevidéo se collocou para com
o
do Brasil,
não poderia inspirar ao abaixo assignado a menor confiança,
ainda quando assentasse em principios verdadeiros. O Sr . Ba r-
bolani, po rém , com eça por suppôr a existência de u m facto
impossivei, qual a organisaçao de um governo eleito em
Montevidéo no dia 15 do mez próximo futuro, de conformi
dade còm a constituição da Republica Oriental.
« Onde estão as condições iegaes d'esse novo governo, sendo
certo que expirou o mandato dos que deviam elegel-o, e não
se pôde proceder a novas eleições de representantes e sena
dores, em quanto durar a guerra civil?
« Ainda adniittindo-se que em M ontevidéo se pud esse or ga
nisar constitucionalmente um novo governo, e que este fosse
dotado da necessária ab negação e prudência, não lh e seria
permittidb corresponder ás justas exigências da situação actua l.
« Quando a população pacifica d*aquella cap ital fo ge,
n ã o
atterrada p elos sitiadores, entre os qu aes m uitas das ia mi lias
e m i g r a d a s
vão procurar abrigo, mas pelo
furor
dos que dominam dentro da praça, não é dado razoavelmente esperar as
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mesmas influencias, qu e tanto terror causam , se prestassem
açificamente a um a solução estável para a Rep ub lica e
onrosa para o Brasil.
« O abaixo assignado não o es pe ra ; e, pois, procedendo
conforme a sua consciência e ás instrucções do seu governo,
nào pode acceder por parte do Brasil, á medida proposta petos
illustres membros do corpo diplomático de Montevidáo. O
abaixo assignado considera efse meio irrealisavel, incompatível
com os direitos e a defeza do Im pér io, e até contrario aos
interesses especiaes dos neutros. Seguramente estes perderiam
com a prolongação da guerra o seu maior cncarn içam ento,
conseqüências necessárias de uma medida que teria por effeito
animar os inimigo s do Império, e dar-lhes tempo para nov os
preparativos e para novas aggressões no Estado Oriental, na
provincia de S. Pedro do R io Grande do Su l e em M atto
Grosso.
cc
O abaixo assignado se compraz em crer q ue . S. E x. o
Sr. Barbolani e seus collegas farão inteira justiça a estes sen
timen tos e conv icções, que o abaixo» assignado lhes expressa
por si e em nome do seu governo, bem com o espera que
os Srs. ministros apreciarão em sua verdadeira luz a gravi
dade das circumstancias actuaes, e os legítimos motivos que
determinaram a
resolução
do Brasil, já annun ciada do m odo
o m ais solem ne e deferente perante os representantes de todos
os governos amigos.
cc
O abaixo assignado tem a honra de renovar a S. E x. o
Sr. Raphael Uilysse Barbolani as seguranças de sua mais
distineta consideração.
« A S .
Ex. o Sr. Raphael U lysse Barbolani.—José M aria da
Silva
Paranhos.
»
A resposta do conselheiro Paranhos, que acabamos de trans
crever, dirigida ao corpo diplomático de Montevidéo, foi
baseada no principio de qu e, as offensas feitas ao Brasil
não podiam esperar pela eleição de um no vo presidente, o
que era duvidoso conseguir-se emq uanto durasse a guerra civil.
Respondeu que eram bem conhecidas as inte nç ões dos g o
vernos do Estado Oriental e do Paraguay de hostilisarem ao
Império.
Que depois de serem assassinados tantos Brasileiros no
Estado Oriental e em Matto-Grosso, n&o se podia corapre-
hender a efficacia de tal medida proposta pelo corpo diplo
mático de M ontevidé o. Mostrou o conselheiro Paranhos que
o governo de Aguirre era de tal natureza, que a população
pacifica da cidade fugia para o exercito sitiador, onde achava
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aco lhim ent o para livrar-se do furor dos que dom inava m na
cidade, Que observando as inroucçtfes que tinha, nâo podia
ann uir á med ida proposta pelos illustres mem bros do corpo
diplomático de Montevidéo.
BU tfhi, as rasões do enviado do Brasil conv encer am aos
membros do corpo diplomático, *fc(ue não era possivel haver
uma cessação de hostilidades pélás razões por elles allegadas,
e
rias uircàinstâncias em qu e se a chava
a
Republica.
O g a b i n e t e de 31 de agosto de 1864 queria que Montevi
déo fosse tomad a pela forÇa das arm as, julg an do que a di
plomacia ahi não inf lúiâ se nào como um a cousa muito se
c u n d a r i a ; n ào sabia os meios de'defe za que t inha aquella
p r a ç a ,
nem também o estado do nosso exercito, acampado á
vi sta de M on tev idé o para estabelecer 6 sitio e tomar a praça
de assalto.
F e l i z m e n t e o enviado brasileiro no Rio da Prata, tinha 'já
n ' e s s é tempo perfeito conhecimento do estado dos negócios;
en te nd eu , e com razão, que tinha ainda m uito que fazer
a n t e s q u e
se pin cipia ssem ' as hostilidades contra a praça, a
qual tinha sufficientes meios para se defender.
O
povo
do partido do governo de Aguirre, ou partido blanco,
log o qu e teve noticia de que a praça de Pa ys an dú foi. to
m a d a pelo exercito do Bras i l , rompeu em excessos extraordi
n á r ia . A lgu ns exaltados gritararrt^ha ru a: — A ba ix o o governo;
mat a os Br a s i le i r os — ; os s inos tocaram reb ate; o povo reunio-
se n as praças, a guarda nacional correu para os q ua rté is; foi
uma scena de tumulto e confuzão que o governo não pôde
conter.
O rga nisou -se um a jun ta de salvação publica, cuja primeira
ex igê nc ia foi a exoneração do rtíínistro da guerra, irm ão d e
Leandro Gomes, que se t inha mostrado frouxo; subst ituio-o
una Su sv iella , que era reco nhecido com o um lou co . D ahi por
diante rein ou comp leta anarchia n'aquella infeliz cidade, O
general Sáa , qu e t inha marchado com 3,000 ho m en s das tres
armas para ir soecorrer Paysandú, reoolheu-se a Montevidéo
com pouca gente , e foi n om eado com ma ndan te em chefe do
e x e r c i t a d a capital .- •© celebre coion el M assa, que se t inha
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conservado até então estranho á luta, foi nomeado para com-,
mandar a defeza da cidade velha.
N ão faltaram assassinos e degolladores ao governo blan co,
disse a correspondência de B ue no s-A yre s; a imprensa declarou
que não se devia dar quartel, acon selhou o pun hal e outras
armas d'esta classe. A guirre decretou lut o pela m orte dos d e
fensores de Paysandú; mandou recrutar todos os homens e
crianças; isto fez com que a em igração fosse extraordinária
para Buenos-Ayres.
Para contrabalançar a influen cia da jun ta de salvação p u
blica, Aguirre nomeou um conselho de estado permanente,
composto de dez membros»
Como o governo precisava de muito dinheiro para se sus
tentar, além dos impostos estabelecidos, impoz m ais um em
préstimo aos bancos Mauá e Commercial, da quantia de
500,000
pezos, qu e foram recebidos em presta ções de
80,000
pezos por m ez ; dando por isso curso forçado ao seu pap el
emittido por estes estabelecimentos por seis mezes.
O Banco Mauá cedeu logo a esta exigência, que foi um
roubo offieial; e o Banco Com mercial im itou -o d epois. I m -
mediatamente correram os possuidores de taes notas ao troc o,
e foi tal a pressão que exerceram e a irritação que mani
festaram quando se lhe recusou o troco em m etal, que
desembarcaram forças das estações estrangeiras para proteger
estas casas de credito, que soffreram muito em sua reputa
ção com a condescen dência que tiveram . O Banco brasileiro
deu dinheiro ao governo de Aguirre para comprar munições
de guerra, destinadas a serem empregadas contra as tropas
brasileiras.
O govern o de Aguirre, debaixo da influen cia da sociedade
popular, mandou preparar partidas de aventureiros, com
mandadas por Basilio Munhoz e outros, para invadirem a
provincia do Rio Grande.
0 governo ma ndou remover a pólvora do Cerro para as
abobadas, armazéns no porto de Montevidéo; esta mudança
causou grande susto em toda a po pulação , p rincipalmen te na
estrangeira; seus agentes diplom áticos empregaram todos os
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e s f o r ç o s p a r a a l i v r a r d o í m m e n s o p e r i g o d 'a q tt el la m i n a
q u e , s e r e b e n t a s s e , n a o d e i x a v a e m p ó u m a s ó c a s a d a c i
d a d e . O m i n i s t r o i n g l e z f ez u m p r o t e s t o , n o q u e f oi i m i t a d o
p e l o s s e u s c o l l e g a s , c o n t r a a e x i s t ê n c i a d a p ó l v o ra n a c i d a d e :
h o u v e q u a s i u m r o m p i m e n t o c o m o g o v e r n o , q u e p o r fim
c e d e u á s r e c l a m a ç õ e s d o c o r p o d i p l o m á t i c o . Á u g m e n t a r a m a s
f o r t i f i c â ç õ e s f o r a d a c i d a d e , e t u d o p a r e c e u i n d i c a r u m a s é r i a
r e s i s t e m i a . O s F r a n c e z e s d i r i g i r a m a o s e u r e p r e s e n t a n t e u m a
r e p r e s e n t a ç ã o p e d i n d o - l h e p a r a i n f l u ir s o b r e o g o v e r n o , a f i m
d e p o u p a r M o n t e v i d é o á s o rt e q u e t e v e P a y s a n d ú ; d e c l a r a
r a m q u e n o c a s o d e d e s t r u i ç ã o d e s u a s p r o p r i e d a d e s e d e
s u a s f a m i l i a s , s ó t o m a r i a m o s c o n s e l h o s d o d e s e s p e r o . T a l
f o i a s i t u a ç ã o d e M o n t e v i d é o e m q u a n t o o e x e r c i t o b r a s i l e i r o
m a r c h o u p a r a s e a p p r o x i m a r d o s s e u s m u r o s ,
U m m e z a n t e s , t i n h a - s e p r o n u n c i a d o o g o v e r n o d e A g u i r
r e c o n t r a o B r a s i l d e u m m o d o i n f a m e , m a n d a n d o q u e i m a r
o s t r a t a d o s q u e e s t a v a m e m v i g o r , n o d i a 1 3 d e D e z e m b r o
d e 1 8 6 4 , e m u m a p r a ç a c o m t o d a s a s f o r m a l i d a d e s q u e i m a
g i n a r a m ; f o i o ú n i c o m o d o q u e t e v e a q u e l l e g o v e r n o d e
n o s f a z e r a g u e r r a .
D ' e s t e a c o n t e c i m e n t o d á c o n t a o e x - m i n i s t r o d e e s t r a n g e i
r o s J o ã o P e d r o D i a s V i e i r a , n o s e u r e l a t ó r i o d e 1 8 6 5 , a
p a g i n a 2 2 , d o m o d o s e g u i n t e :
« O s n o s s o s t r a t a d o s d e 1 3 d e O u t u b r o d e 1 8 5 1 e s u a s
m o d i f i c a ç õ e s d e 1 5 d e M a i o d e 1 8 5 2 , a n n u l l a d o s e c a n c e l -
l a d o s p o r d e c r e t o d ' a q u e l l e g o v e r n o d e 1 3 d e D e z e m b r o d o
a n n o f i n d o , t i n h a m s i d o q u e i m a d o s e m a u t o d e f é c o m a
m a i o r o s t e n t a ç ã o e s o l e m n i d a d e n a p r aç a d e M o n t e v i d é o .
P o r e s t e d e c r e t o e o u t r o d a m e s m a d a t a , u n h a m s i d o a b e r t a s
a s á g u a s d a L a g o a M i r i m a o s n a v i o s e c o m m e r c i o d e t o d a s
a s n a ç õ e s , e f e c h a d o s o s p o r t o s d a R e p u b l i c a á b a n d e i r a
m e r c a n t e d o I m p é r i o .
« O g o v e r n o d a C o n f e d e r a ç ã o A r g e n t i n a h a v i a j á d e c l a r a d o
a o n o s s o m i n i s t r o e m m i s s ã o e s p e c ia l q u e , c o n t i n u a n d o a
p r e s t a r - n o s o s e u a p o i o m o r a l , e a r e c o n h e c e r o d i r e i t o c o m
q u e p r o c e d í a m o s , m a n t e r - s e - h i a c o m t u d o n e u t r a l n a q u e s t ã o ,
c o n v e n c i d o d e q u e e r a e s s a a p o s i ç ã o q u e l h e i n d i c a v a ,
a l é m d e o u t r a s c o n s i d e r a ç õ e s p o n d e r o s a s , a c o n v e n i ê n c i a d e
e v i t a r m a i o r e s c o m p l i c a ç õ e s i n t e r n a c i o n a e s .
« p o i s , c o n s e g u i d a a t o m a d a d e P a y s a n d ú , r e s o l v e r a m
o% c h e f e s d a m a r i n h a e e x e r c i to i m p e r i a l , d e a c c o r d o c o m e
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— 329 —
« T r i u m p h o u c o m effeito esse v o t o , e o S r . T h oro az Villalha
a s s u m i o p r o v i s o r i a m e n t e a p r e s i d ê n c i a d a R e p u b l i c a , s e n d o
u m d o s s e u s p r i m e i r o s a c t o s d e t e r m i n a r a s u s p e n s ã o d a s h o s
tilid ad es p o r p a r t e d a g u a r n iç ã o d a p r a ç a , o q u e deu lu g a r a
que f o s s e m t a m b é m s u s p e n s a s a s o p e r a ç õ e s m i l i t a r e s p o r p a r t e
d a s f o r ç a s a i l i a d a s .
<< C o m p r e h e n d e n d o e a v a l i a n d o b e m a s i t u a ç ã o d e s e s p e r a d a
d a R e p u b l i c a , e c o n v e n c i d o d e q u e c o m n e n h u m o u t r o au
x i l i o , a l é m d o s s e u s p r ó p r i o s m i n g u a d o s r e c u r s o s , p o d i a c o n t a r
a p r a ç a p a r a r e s i s t i r , o S r . V i l l a l b a , c o m o m e d i d a d e s a l v a
ç ã o p u b l i c a e n o i n t u i t o d e e v i t a r a s c a l a m i d a d e s e h o r r o r e s
d e u m b o m b a r d e a m e n t o e a s s a l t o à c i d a d e , q u e , s e n a o s e
r e n d e s s e o u c a p i t u l a s s e , s e r ia i n e v i t a v e l m e n t e t o m a d a á f or ça
d e a r m a s , e x t i n g u i o a l e g a ç ã o o r i e n t a l n o P a r a g u a y , e t r a c t o u
d e e n t a b o l a r n e g o c i a ç õ e s p a ra o r e s t a b e l e c i m e n t o d a p a z i n
t e r n a d a R e p u b l i c a , s e n d o n ' e st e e m p e n h o s e c u n d a d o p e l o
S r . B a r b o l a n i , r e p r e s e n t a n t e d a I t á l i a , e o r g â o o f fi c ia l d o o o r p o
d i p l o m á t i c o a l l i a c r e d i t a d o .
<t O r e s u l t a d o d ' e s t a s n e g o c i a ç õ e s c o n s t a d o p r o t o c o l l o c e l e
b r a d o a 2 0 d e F e v e r e i r o n a V i l l a d a U n i ã o , e a s s i g n a d o p e l o
g e n e r a l D . V e n a n c i o F l o r e s , e p e l o S r . M a n u e l H e r r er a y O b e s ,
n a q u a l i d a d e d e c o m m i s s a r i o d o g o v e r n o o r ie n t a l ; t e n d o o
S r .
c o n s e l h e i r o P a r a n h o s , c o m o m i n i s t r o d o B r a s i l , a s s is t id o
á s n e g o c i a ç õ e s , e d a d o o a s s e n t i m e n t o e g a r a n t i a d o I m p é r i o
ao q u e p e l o m e s m o p r o t o c o l l o s e a j u s t o u .
o O c o n v ê n i o d e 2 0 d e F e v e r e i r o , q u e e s t á n o d o m í n i o p u -
b l i c o ,
e q u e e m s u a i n t e g r a e n o o n t r a r o i s e n t r e o s a p p e n s o s
d ' e s t e r e l a t ó r i o , t r o u x e e m r e s u l t a d o a t e r m i n a ç ã o d a g u e r r a ,
t a n t o c i v i l c o m o e s t r a n g e i r a , e a c e r t e z a d a r e a l i s a ç â o d a s
c o n s e q ü ê n c i a s d a a l l i a n ç a c o m o g e n e r a l F l o r e s , q u e , c o l l o c a d o ,
e m v i r t u d e d o m e s m o c o n v ê n i o , á t es ta d o g o v e r n o p r o v i s ó
rio d a R e p u b l i c a , e s t a v a h a b i l i t a d o a d ar i n t e i r a e x e c u ç ã o a o s
c o m p r o m i s s o s s o l e m n e s q u e c o n tr a h ir a p ar a c o m o I m p é r i o ,
e q u e c o n s t a m d a s n o t a s r e v e r s a e s d e 2 8 e 3 1 d e J a n e i r o
t r o c a d a s e n t r e o n o s s o r e p r e s e n t a n t e e o m e s m o g e n e r a l , n o t a s ,
q u e i g u a l m e n t e a c h a r e i s e m s u a i n t e g r a n o s a p p e n s o s a q u e
j á m o r e f e r i .
« C o m t u d o o g o v e r n o i m p e r i a l j u l g o u o c o n v ê n i o d e 2 0 d e
F e v e r e i r o d e f i c i e n t e p o r n ã o h a v e r d e v i d a m e n t e a t t e n d i d o a
g r a v e s e f f e n s as , c o m m e t t i d a s n o u l t i m o p e r í o d o d a a d m i n i s
t r a ç ã o A g u i r r e , t a e s c o m o a s i n q u a l i f i c á v e i s c o r r e r i a s d o g e
n e r a l M u n h o z e c o r o n e l A p p a r i c i o , q u e , m a n d a d o s p e l o g o
v e r n o d e A g u i r r e p ar a e x e r c e r a c t o s d e v a n d a l i s m o c o n t r a a
p o p u l a ç ã o i n ò f f e n s i v a r i o - g r a n d e n s e , d e p o i s d e u m a t a q u e
i n f r ú e t i f e r b s o b r e
a
c i d ad e d e J a g u a r à o , c o m m e t t e r a m
em suas
í m m e d i a ç õ e s o s n i r. is h o r r o r o s o s a t t e n t a d o s ; o i n s u l t o i r rogado
á bandeira
n a c i o n a l ; e o i n s ó l i t o p r o c e d i m e n t o d o s p r i s i o n e i
r o s
de
P a y s a n d ú , q u ê , s o b
a
p a l a v r a d e h o n r a ,
postos
e m
liberdade por
u m a c t o g e n e r o s o
do
c h e f e b r a s i l e ir o , r e c o l h e u -
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— 530 —
do-se a Montevidéo, empunharam de novo as armas contra o
Impé r io .
d S em emb argo d*esta deficiência, con sider and o to dav ia as
já mencionadas vantagens resultantes do convênio, o governo
imperial prestou-lhe o seu assentimento e approvaçao.
u Por Decreto de 3 de M arço do co rrente a nn o, o S r. co n
selheiro Par an ho s foi dispensad o da missão de qu e estava en
carregado no Rio da Prata, e por Decreto de 11 do mesmo
mez, foi nomeado o Sr. conselheiro Francisco Octaviano de
A lmeida R osa, em missão especial jun to do Estado O riental
do U rug uay e da Confederação A rgen tina.
« Co ncluin do, é-me grato recorda r q ue , se fomos enérgicos
no Estado O riental, nu nc a deixamos de ser hum an os e mo de
rados,
procurando sempre atten der aos direitos e legítim os in
teresses dos n eutro s, e deixan do fora de toda a du vid a o res
peito que consagramos á indep endência e integridade do mes
mo Estado. Nos dous bloqueios de Pay sand ú e S alto não se
effectuou uma só presa.
« M ereceram con stantem ente toda a con sideração e as m aio
res deferencias os agentes diplomáticos e os chefes das forças
navaes estrangeiras.
« Não ha um só h abitante pacifico do Estado O riental , qu e
tenha de queixar-se de acto alg um de violência ou de vex am e
praticado pelas forças imperiaes , entr etan to qu e m ais de um a
acção hu m an itária , m ais de u m rasgo de gen eros idad e, alli
se acha m registrados para fazer o seu m erecido elog io. »
A té aq ui é o qu e diz o relatório de estrange iros de
1 8 6 5 .
A ntes d e estabelecer o sitio de M ontevidé o, o gen eral Flores
dirigio uma nota ao H O S S J encarregado da missão especial, o
conselheiro Par anh os. na qual lhe assegurou qu e as reclama
ções,
qu e motivaram o
ultimatum
de
4
de Agosto, seriam
satisfeitas e attendidas com rigorosa justiça e inteira lealdade;
valendo aquella declaração como empenho de honra, e como
acto da soberania or ien tal. O nosso encarreg ado d a m issão
especial respondeu que aceitava as declarações do general
Flores no s m esmo s term os , e com o caracter de com prom isso
internacional que o dito general lhe deu. Estas duas notas,
que são peças officiaes muito importantes para o caso de que
tratamos, convém transcrevel-as integr alm ente.
« Quartel Gen eral do Exercito L ibertador.— Co lorado, 28 de
Janeiro de
1 8 6 5 .
« Sr, M inistro. — A all iança entre o Brasil e a gra nd e
maioria da nação orien tal , qu e me cabe a ho nra de rep re
sen tar, como genera l em chefe do exercito l ibe rta do r, está
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— 551 —
feita. E lla existe de ha m uito noa sentimentos e nas co n
veniências reciprocas; hoje existe também nos factos, porque
o triumpho de Paysandú foi sellado como o generoso sangue
dos bravos de uma e outra nacionalidade.
« Sempre fia justiça ás nobres intenções do governo do Brasil;
sem pre confiei no seu respeito á independência de m inha
pátria, e na força dos principios de justiça e liberdade que
professam o povo brasileiro, e o seu illustre monarcha.
< i
H oje , p orém, tenho novos penhores de seus generosos
sentimentos para com o povo oriental, que tanto amo, e
sinto o dever de dar uma demonstração dê meu reconheci
mento, e de quanto desejo estreitar a solida amisade entre os
Orientaes e os Brasileiros.
cc Como general em chefe dos Orientaes que compõem o
exercito libertador, e representa em nossa honrosa cruzada a
arande m aioria de m eus compatriotas, cabe-m e a honra de
ar ao Brasil a segurança de que as suas reclamações que
motivaram o
ultimatum
de 4 de Agosto ultimo, serão atten -
didas com rigorosa justiça e inteira lealdade, valend o esta
m in ha declaração com o empenho de honra e acto- solem ne e
perfeito da soberania oriental, logo que esta seja lioertada da
tacção que hoje a opprime.
« Os autores e cúm plices notórios de de lid os com mettidos
contra as pessoas de subditos brasileiros residentes em m eu
paiz, serão pun idos com toda a severidade das leis da R e
pub lica, sendo destituídos imm ediatamente, e sem prejuízo
dos respectivos processos criminaes os que ainda exerçam
cargos públicos.« Serão suspen sos de seus empregos civis ou m ilitares, su b-
mettidos ao julgamento ordinário, todos os indiciados de
delic tos contra os m esm os residentes, unia vez que a legação
im peria l tenha fornecido ou forneça? a respeito d e taes ind i
víd uo s, fundam ento bastante para que o governo do m eu
paiz possa conscien ciosam ente dar este exem plo de sua se-,
vera justiç a, e do grande apreço em qu e tem um a perfeita
intelligencia e amisade com o Império ao Brasil.
« Os subditos brasileiros que tenham sido forçados a qual
quer serviço publico por autoridades da R epu blica, serão
postos em liberdade, e indemnisados dos prejuízos que ten ham
soffrido, tão depressa esta reparação possa ser ordenada pe lo
abaixo assignado, ou por quem o substitua no exercicio do
poder supremo d? Republica.
« O bservar -se-ha strictamen te o accordo celebrado pelos
dou s gove rnos em notas reversaes de
28
de Novembro e
3
de
Dezembro de
1857,
a respeito dos certificados de nacion a
lidade , passados pelos respectivos agentes co ns ul ar es ; bem
com o o outro accordo sem elhantem ente estabelecido por notas
de
1
e
7
do dito mez de Dezembro, relativo ao alistamento
para o serviço militar dos dous paizes.
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<c C onsíderar -se-ha com força de le i, e terá ple na execnçâo
desde logo, o accordo de 8 de M aio de 1858, pelo qua l o
governo da Republica, e m virtude de u m compromisso àe
honra, garantio ás reclamações brasileiras provenientes de
prejuízos da antiga guerra civil, o mesmo processo
e a
mesma equidade que concedeu ás reclamações franeezas
e
inglezas da mesma origem.
« Os tratados, cujos autographos foram entregues ás c b a m-
mas pelo furor dos dom inadores de M ontev idéo , continuarão
a ser fielmente respeitados com o leis da R ep ub lica , a que
está
ligada a sua palavra de honra , e que a m bos os paizes Xmx
o dever de sustentar e cumprir,
u O general em chefe do exercito libertador não só c u m
prirá os ajustes preexistentes acima indicados, mas ainda se
prestará com igua l boa fé a celebrar qua esque r outros accordos
necessários para reatar as relações de boa visinhança e de
reciproca segurança entre os dous povos.
« Contrahindo, Sr. m inistro, em nom e da grande maioria
da nação oriental, que represen to, estes sagrados comp ro
missos, eu o faço, como observei a V . E x,, levado pelos
estímu los de nossa civilisação, e em cum prim ento dos de -
veres inteinacionaes, taes quaes os comprehendeu sempre
o governo oriental em suas épocas de grata recordação.
« Ao transmittir a V . E x . estas declarações, não peço nenhuma
segurança de reciprocidade, porque nào desejo tirar a este acto
o seu caracter de espontânea reparação devida ao Brasil, e
porque estou certo de que o illustrad o gover no brasileiro ha
de attender com a m esm a nobreza a quaesquer reclamações
fundadas, que lhe tenham sido ou sejam de futuro aprese n
tadas em nome da Republica.
« O abaixo assignado assegu ra por ultim o ao g over no de
Sua Magestade o Imperador do Brasil, que a Republica
Oriental, desde já, e com a maior razão quando íôr de todo
libertada de seus actuaes oppressores, prestará ao Império
toda a cooperação que esteja ao seu alcan ce, conside rand o
como um empenho sagrado a sua alliança com o Brasil na
guerra deslealmente declarada pelo governo paraguayo, cuja
ingerência nas questões internas da Republica Oriental é
un ia p retenção ousada e injustificável.
« O abaixo assignado se compraz em reiterar a V. E x. as
expressões de sua distineta consideração e apreço.
« A S .
Ex. o Sr. conse lheiro José Maria da Silva Paranhos.
— Venancio
Flores.
« M issão especial do Brasil. — Bu eno s-A yres, em 31 de
Janeiro de 1865.
« Illm . e E xm . Sr.— O ab aixo assign ado , enviado extraor**
dinano e ministro plenipotenciario de Sua Magestade o Im-
erador do Brasil, acreditado em m issão especial junto á R epu *
lica Argentina, teve a honra de receber a nota q ue S. Ex .
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— 355 —
9 brigadeiro ge ner al D . V enan cio Flore s lhe dirigio em
data de 28 do corrente.
« P ela referida no ta, o S r. general manifesta seus sen ti
m en tos am igá veis e justos para com o Brasi l, e contrahe em
Bome da nação oriental, como seu órgão fiel e competente,
no caracter de autoridade suprema e descripcionaria de que
se ach a revestido, o com promisso solemne de satisfazer ásreclamações do
ultimatum
brasileiro de 4 de A gosto, en u m e
radas na suppracitada nota, e de fazer respeitar todas as esti
pulaç ões vigentes e ntre o Im pério e a -R epublica.
« No intu ito de evitar futuros mo tivos de desavença en tre
os.
do us Esta dos e ass en tar sobre bases, sólidas as suas boas
relações de visinba nça, o S r . general assegura que o governo
ori en tal se prestará d e bom grado a quae sque r outros ajustes
ne ces sário s par a se con segu irem aquelles objectos, tão dignos
da previsão e solicitude de ambos os governos.
« O S r. gen eral accrescenta qu e considera um dever de
ho nr a, além de ser um a me dida de segurança vi tal para a
Republica, a al l iança d^sta com o Brasi l na guerra já decla
rad a pelo governo pa rag ua yo , o qual pela sua parte tem pro
cedido com o al liado do governo de M ontevidéo. A quella al liança
é tam bé m u m em penh o solemnemente contrahido pelo S r .
general , no seu caracter de poder supremo discripcionario, e
se fará tão effectiva na pratica quanto for possivel á Repu
blica, nos termos qu e ul terio rm ente se accordar entre os do us
governos .
« O abaixo assignado leu com a mais int im a satisfação a
referida n ota de S . Ex. o S r . general D. V enanc io Flo res, e
agradece ndo em no m e do governo impe rial os conceitos justos
e am igáveis em que ab un da essa espontânea manifestação, aceita
igualmente as declarações de S . * Ex. nos mesmos* term os e
com o cara cter de comprom isso internacion al qu e S. Ex. lhes
deu. Essas declarações são dignas do espiri to ae just iça e da
recíp roca est ima e confiança que devem presidir ás relações
dos dous governos .
ct O abaixo assignado assegura por sua parte ao S r. ge ner al ,
a inda que S . Ex . o não exija, que o governo do Im pe ra do r
tom ará sem pre a peito gara ntir aos cidadãos o rientaes a pro
tecção de qu e elles careçam sob a jurisdic ção d o B rasil , e
que nunca aesat tendeu, nem jamais deixará de pres tar-se de
boa fé, a quasquer legit imas e fundadas reclamações do go
verno oriental , ou de seus concidadãos. E' convicção do go
vern o imp erial qu e, fora de tão rasoaveis e hon rosa s cond ições,
a paz dos don s Estados será um bem precário e seus m ú
tuos in teresses não poderão at t ingir o dese nvo lvim ento qu e
ambos os governos devem desejar .
« O abaixo assignado se compraz em aproveitar esta oppor
tun ida de para renovar a S . Ex, o S r . general D . V ena ncio
Flore s as expressões de sua perfei ta est im a e al ta co nsid era çã o.
Rã
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554 —
<c A
S Ei
Sr. brigadeiro general D. Venancio Flores
commandante em chefe do exercito libertador.—José
aria
da Silva Paranhos »
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L I V R O D É C I M O T E R C E I R O .
DISCURSO
DO CONSELHEIRO PARANHOS E
MEDIAÇÃO
DO
GOVERNO
ARGENTINO.
Em seguida transcrevemos o discurso do conselheiro Para
nhos sobre o que acoilteceu antes do convênio de 20 de Fe
vereiro,
e a correspondência do ex-ministro dos negócios
estrangeiros com o mesmo conselheiro Paranhos, bem como
a mediação do governo argentino offerecida ao oriental e por
este regeitada.
Diz o conselheiro Paranhos na sua defeza a pag. 35:
« A cooperação da esquadra e a força oriental, que era mui
limitada, porque o exercito do general Flores achava-se frac-
cionado para acudir a diversos pontos, não davam aos sitia-
dores a superioridade precisa para o resultado que se desejava
alcançar — vencer rapidamente, sem grande eífusão de sangue,
e sem causar grandes damnos á cidade sitiada. Isto pelo que
toca á força; mas, como já ponderei, o general Menna Bar
r e t o ,
hoje Barão de S. Gabriel, queixava-se de que lhe fal
tavam munições, e foi em conseqüência d'esta queixa que
em data de 13 dé Fevereiro, da Villa da União, di rigi -me
ao nobre ex-ministro dos negócios estrangeiros n*estes termos:
« — O nosso general ainda me falia em falta de muni ções;
náo cómprehendo como possa ser isso, depois do que a V. Ex.
tenho dito a respeito do nosso exercito.—
« O 1.° contingente de voluntários que chegou estava ar
mado á Mime, mas não conhecia o uzo d'este a rmamento e
o general declarava que era indispensável adestrar ainda
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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aquel la ge nt e . A es tas e i reuu is taneia s aecrescia o es tado de
saúde do nosso general , que inspirava ser io cuidado.
« O S r . Ba r ã o de S . G a br ie l , c u ja b r a v ur a , e i r c um s pe c ç ã o
e patr iot ismo merecem os maiores e logios , foi encar regado
d 'aque la comm issão m il i tar qu an do soff ria grave enfe rmid ade .
M il i tar br ioso, desde qu e se lhe offereceu o co m m an do d e
um a expedição em paiz es t rang eiro, n ão olh ou para o se u es
tado de mo lés t ia , suje i tou-se a ordem do go vern o i m p er ia l .
Nas marchas forçadas que teve de fazer para acudir aos
nossos bravos de Paysandú, que a haviam atacado com força
insuf f ic iente , a sua saúde mais se aggravou. Depois d 'aquel la
victor ia pensou elle poder regr essa r a o seio de su a familia
para t ra tar -se ; m as , vendo qu e não pod iamo s para r u m só
ins tante , por r jue nossos inimigos cont inuavam a armar-se ea
fort if icar-se em M ontev idéo, que , po r tanto, era urg ente m ar
cha r sobre aque l la praça , res ig no u-se de b oa vo ntad e, e m a r
chou para a segund a em preza .
« M as tanta dedicação não era suff iciente, fal tavam ao
i l lus t re general as forças phis icas , e demais es tava inquie to ,
porque nào t inha a inda todos os e lementos necessár ios para
a em preza de h on ra qu e via dia nte de s i .
« M ui to antes hav ia eu escr ipto ao nob re ex -m inis t ro dos
negócios estrangeiros, assim como ao nobre ex-presidente do
conselho, mostrando-lhes qu e o exerci to não t inh a eng en he iro s .
T ornou S . Ex. o S r . ex-pres iden te do c onselho qu e os hav ia
no R io G rand e, e perg unto u-m e porq ue não foram para o
Estado O r ienta l? Dei- lhe a resposta qu e poder ia dar o senado;
c a le im e .
« Cabia ao gov erno im pe rial , q ue sabia qu al era o estado
de saúde do nosso gen eral , ou te l -o dispen sado depois da
victor ia de Pa ys an dú , ou facili tar- lhe a se gu nd a em preza,
visto q ue elle sacrificava até a próp ria vida , não lhe deix an do
faltar nen hu m dos e lementos necessár ios para o fim qu e se
t inha em vis ta .
« J á ponderei ao senado que es távam os ameaçado s da in
vasão paraguaya: e , pos to que não fosse então julgada pro
vável, bastava ser possivel p a ra qu e sobre es ta hy potn ese
devêssemos proceder e precaver-nos. Os factos recentes estão
pr ova ndo que a que l la inva s ã o nã o e r a um a s im ple s a m e a ç a ;
e se a nossa cam pa nh a no Estado O r ienta l se prolongasse ,
se es tivéssemos a inda em luta com a p raça de M ontev idéo,
é mais que provável que a invasão paraguaya ter ia apparecido
antes em nosso terr i tór io e no Estado Oriental . Então os Pa
ragu ayo s encontrar iam todos os e lemen tos de apoio, qu e lhes
proporcionavam o governo de Aguir re , o par t ido blanco, e
talvez par te do par t ido federal (argentino); estavam ainda na
campanha, sem se saber em que ponto, as forças do general
M unh oz, qu e podiam fazer jun cçào com aquel les seus a l l iados .
V enceriamos sem du vid a em M ontev idéo por me io dá força.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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como
vencemos sem o seu emprego effectivo, mas a demora
até «|ue chegassem os contingentes precisos para o ataque, e
fosse bem adestrada parte da nossa força, podia ser*nos muito
prejudicial. Expunha-nos a graves contingências, ou se con
sidere somente o mal que podia vir-nos do Paraguay, ou se
considere igua lmen te o dam no que d
1
ahi resultaria para os
interesses neutros, que de certo levantariam clamores e pro-
curariam fazer pressão para que resolvêssemos a
questão
de
um modo amigável, entretanto que uma solução q u e tiào fosse
imposta pela superioridade de nossas forças, n ã o
podia
ser
aceita, porque nào nos
ofíereeeria
garantias s u f n . d e n t e s .
<t Nas ctrcum stancias aétuaes do m undo nào
b.i*ta
que um
governo iuvoque os direitos de belligerante.
Certamerue
com
pete a cada governo sustentar a sua dignidade e seus l e g í
timos interesses, quando o julge necessário*, por meio da forca;
mas hoje em dia, relacionadas como estão todas as nações,
no ponto a que tem chegado a civilisação e fraternidade hu
mana, cumpre ao governo que recorre á força, que se lança
em um a guerra, ter os. m eio s precisos para terminal-a o mais
brevemente que fôr possivel ; quando não, os
interesses
neutros
clamam, e a opinião publica força-o a receber alguma tran-
sacção que traga a paz.
c< A dem ora, po is, do sitio de Montevidéo , nos traria re
clamações dos agentes diplomáticos estrangeiros; po ieriam os
sustentar e sustentaríamos o nosso direito,
m a s
talvez não
pudéssemos resistir á proposta de mediação que olferecesse
uma solução prompta e honrosa para o Brasil, e m b o r a não
tão satisfactoria, como a q u e poderíamos obter
p o r
m e i o
de
nossas a r m a s , ou sem intervenção estranha.
« D e s d e a mediação tentada pelo Sr. C onselheiro Saraiva
d e accordo c om o o ministro britannico e o das relações ex te
riores da Republica Argentina, que não só o corpo diplomá
tico de Montevidéo, como alguns patriotas orientaes, esforça
ram-se para mover o governo de Aguirre a um arranjo pa
cifico ;
c o n c e B
3
r a m - s e
e tentaram-se novos planos de media
ção.
A qu i está u m a brochura que mostra todo esse trabalho
da parte do illustrado Sr. D. André Lamas, do corpo diplo
mático de Montevidéo, e do ministro britannico em Búenos-Aynes, com
o
fim de evitar o ataque de Montevidéo, e a
conseqüente ruína de grandes interesses estrangeiros, nos
quaes tern uma boa parte os próprios Brasileiros.
«O Sr. D . André Lamas procurou sempre induzir o go -
ve m o de Aguirre a aceitar a mediação do governo arg entin o;
esta era a mediação que se julgava mais possivel e a ceita
r e i
pêlo Brasil;.•' Náò a po liam os peremptória meu te recusar, se
nos fosse offereciáa, porque o governo argentino nos tinha
preetado bons officios de a m ig o ; a sua neutralidade para
eom o governo de Monteviueo nunca foi perfeita, o que
nada tinha de desairoso para o m esm o govern o arg entin o,
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— 539 —
triotico empenho de realizar a mediação argentina; aqui tenho
os docum entos impressos que provam essas diligencias. Q go
verno de M ontevidéo , porém, m allogrou todas as tentativas
feitas n'esse sentido; depois de dar esperanças aos negocia
dores,
rom peu abso lutam ente, declarando-lhes que não aceitava
a mediação argentina, porque era suspeita de parcialidade a
favor do B rasil, que não a aceitava ainda porque M ontevidéo
podia resistir e devia resistir a todo custo.
« Não obstante esta recusa, as disposições do governo ar
gentino eram tao benevolas e tão generosas para com a Re
publica O riental, que o general M itre não desistio do seu
in te nt o, conservou sem pre a esperança de q ue a voz da razão
fosse ouv ida em M on tev idé o; de sorte que respondendo á
carta em que o Sr. D. André Lamas lhe communicava a re
cusa definitiva e absoluta do governo de Aguirre, declarou que,
apezar de ta nta obstin ação , seus bons officios ficavam sem pre
á disposição da Republica Oriental.
« E , de feito, o governo argentino mando u para o portode M ontevidéo a sua esquadra, indo ao lado do alm irante o
distincto redactor da
N a ç ã o
Argentina, o Sr. Dr. José M aria
Gu tierres, não para observar os nossos passos, m as para pre s
tar o que estivesse ao seu alcance, quer a um , quer a ou tro
lado,
isto é, par a aproveitar qualq uer op portunidade em qu e
a mediação argentina pudesse ser empregada com bom êxito.
«c O general M itre havia dado a inda um outro exemplo de
moderação e longanimidade para com o governo de M onte vi
déo. Quando as nossas forças se approxiniavam d'aquella capital,
a em igração para Bueno s-A yres foi extraordinária ; a ge nte
pacifica qu e p ôde fugir de M ontevidéo fugio. O gov erno a r
gen tino acudio logo em favor d'esses emigrados, nom eand o
uma commissão, que dotou com os meios pecuniários neces
sários, para offerecer-lhes hospedagem, sem distincção de côr
politica, fossem amigos ou inimigos do governo argentino.
Que razões teria este governo para tanta moderação e gene
rosidade ? Deixo ao senado apreciar as razões ind uctiv as
d'esse procedim ento, que de certo tinha por movei fins no bre s,
díctados por uma politica previdente, que não queria romper
para todo o .sempre com o partido blanco, antes conservar-se
estranha aos partidos da Republica visinha, para não tornar
impossivel a boa ha rm on ia entre os dous paizes, qua lque r
que fosse o partido alli do m ina nte . S e, pois, o sitio de M on
tevidéo se prolongasse, se nos mostrássemos impotentes para
resolver a questão com brevidade, a mediação arg en tina app a-
receria, já por im pu lso próp rio, já a instâncias do corpo dip lo
mático de Montevidéo. E nào podiamos, como ninguém
deixa rá de recon hec el-o, tratar de resto aquelle am igável offe-
recimento.
« 0 senado conhece as circumstancias em que se achava a
nossa força militar, e os perigos que nos cercavam. Veja-
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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mos agora quaes
a s
i n s t r u cç õ e s c o m p l e m e n t a r e s que r eceb i do
gove rno imper ia l , qua es os se us des ígnio s mani f es to s quanto
ao desenlace
d a
ques t ão
que i a se r
d e c i d i d a
e m
M o n t e v i d é o .
a
A
q u e i m a
d o s
t r a t a d o s ;
a
l i be rdade dada
a o s
p r i s i o n e i
ros ;
todos
os factos d e P a y s a n d ú ; o s furores d o pa r t i do blanco
e m M o n t e v i d é o ; a expedição d e M u n h o z c o n t r a a nossa f ron
te i ra ; tudo
e r a
sabido
d o
gove rno imper i a l an t e s
de 20 de
Feve re i r o : pe l a s mi nh as co ran iun i caçOes , pe l a s q u e recebia
do R i o G r a n d e do Su l , e , finalmente, pe la i m p r e n s a do Rio
de Jane i ro ,
o
gove r no imper i a l e s t ava
a o
c o r r e n t e
d e
todos
aquel les successos. Q u e i n s t r u c ç õ e s m a n d o u e n t ã o ao s e u p l e
n ipo t enc i a r io , pa ra e s t e com pre hen de r
o se u
s u b l i m e p e n s a
m e n t o .
«. Pois
b e m ; o
s e n a d o
va i ver
c o m o p e n s a v a
o
g o v e r n o
i m
per ia l , como auxi l i ava ao se u p l e n i p o t e n c i a r i o , e se era p o s
sivel
q u e
es te , pe la cor respondência
q u e
t ivera
com o
nobre
e x - m i n i s t r o
d o s
negócios es t rangei ros ,
e c o m o
nob re ex -p re
s iden t e do conse lho, a t inasse com o que o gov e rn o imper i a l
diz
t e r
q u e r i d o
ou com o que
mani fes t ou pe lo
Diário Official
no di a 2 d e M a r ç o , e s t r a n h a n d o q u e eu n ã o h o u v e s s e a t i e n -
dido em 20 de Feve re i ro , n a Vil la d a U n i ã o , á s obse rvações
que elle aqui
n a
cor te fizera m u i t o s di as de po is .
«
N a
l e i t u r a
d e
a l gu ns ext rac tos
d o s
d e s p a c h o s
e d a
c o r
r e spondênc i a pa r t i cu l a r e conf idencia i com os n o b r e s e x - m i
ni s t ros ,
n à o
have rá des l ea ldade ;
n ã o
re fer i re i
se nã o o q u e
pôde
s e r
t raz ido
á
d i scussão
s e m
i nconven ienf
. 3 ,
q u e r p a r a
o
paiz, quer para os nobr es ex-mi nis t r os .
cc Com eç ar ei
por ler
a lguns t r echos
d e u m
officio
que em
11 d e Dezembro d i r ig i d e B u e n o s A y r e s a o nobre ex -min i s t ro
dos negócios est rangeiros .
« — H a dias se m e falia a m e d o e m t en t a t i vas de um a r ranjo
que evi te
o
a t a q u e
a
M o n t e v i d é o .
N ã o
r eceb i , po ré m, abe r tu
ras formaes ou au to r i sadas , e i n c l i n o - m o a c r e r q u e t o d a a
t r a n s a c ç ã o ,
q u e n ão
se ja in ic iada
sob a
i n f luenc i a mora i
d o
nosso exerci to, poderia ser-nos desvantajosa o ú em prez a pr e
m a t u r a
«—
O
gove rno a rgen t ino ab r iga a l gu m pe ns am en to
a
esse
r e s p e i t o ; ma s nã o m*o man i f e s tou a ind a , e pelo q u e t enho
perceb ido , agua rda
a
a p p r o x i m a ç ã o
d a s
nossas forças
d e
t e r ra .—
« Ao depois mani festei tod o o p e n s a m e n t o d o gove rno
a r g e n t i n o ,
de
conformidade
co m o q u e j á
t iv e hoje
a
honra
de expor
ao
senado.
« E m ca r t a de á8 de Deze mbro , e sc r ip t a t a mbé m d e Buenos*
Ayres, disse
ao
nobre ex -min i s t ro
d o s
negóc ios e s t r ang e i ro s :
«— E u er a e so u h o m e m de paz, mas por a m o r da paz mesmo
a guerra
é
a l gum as vezes
u m a
necess idade .
N ó s
es tamos
n'este caso.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 432/448
— 544 —
«— Na questão oriental, mais do que a guerra, preoccupa-me
o ajuste final, em que se envolvera necessariamente a questão
interna, porque o general Flores hoje é nosso alliado, e
convém que a sua causa fique triumphante.
«— Á tomada de M ontevidéo não é cousa fácil, mas creio
que nossos elementos de guerra, já aqui reunidos e que vão
chegando, serão bastantes.— (*)« Em carta de 13 de Fevereiro, escripta da V illa da União
(Montevidéo), dizia o que ha pouco referi:—0 general Menna
Barreto ainda me falia em falta de munições 1 Não compre-
hendo como isso possa ser, depois de tudo quanto tenho
escripto sobre o nosso exercito.—
« Eis agora o que me disse o nobre ex-ministro dos negó
cios estrangeiros, como additamento ás suas instrucções pri
mitivas; em differentes despachos.
« Em
2 2
de Dezembro:—Urge desembaraçar-nos das ope
rações militares do Uruguay, afim de empregar-mos a nossa
acção contra o Paraguay.—E mais adiante.
«— Em fim , no theatro dos acontecimentos está certo o
governo imperial que V. Ex., de accordo com os chefes das
nossas forças de terra e mar, procederá do modo mais con-
sentaneo e proveitoso para as operações da guerra.—
« Em
7
de Janeiro:—Fico inteirado do resultado definitivo
das conferências que teve V. Ex. com o governo argentino
a respeito do Estado Oriental e da Republica do Paraguay
no ponto de vista das suas instrucções; e apezar da resposta
negativa d'aquelle governo á alliança proposta, o governo
imperial não pôde deixar de louvar a pericia e zelo comque V. Ex. se houve nas discussões, e espera, etc.—
« — Q
governo imperial confia que V. Ex. saberá, nas cir
cumstancias diffíceis em que nos achamos, tirar todo o par
tido que porporcionam taes noticias (allude ás noticias da
invasão paraguaya), interessando na luta o governo argentino,
tanto mais quanto me parece que este governo não poderá
por muito tempo conservar-se na posição de neutralidade
imperfeita, que deseja. Os acontecimentos o hão de forçar a
mudar de politica, e a má vontade do Paraguay contra o
governo da Confederação não é menor do que a que vota
ao Império.—
«.— Quanto á Republica" O riental do U ruguay, refiro-me ás
instrucções que levou V. Ex. d'esta corte e ás minhas ultè-
riores communicações depois que chegou V. Ex. ao theatro
dos acontecimentos; não podendo, nem devendo o governo
imperial dar-se por satisfeito em quanto não forem attendidos
Ç JN ão eram bastantes, porque nfio tínhamos artilharia para destruir as trí n
cheira» que existiam á roda do Montevidéo.
55
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 433/448
todos os interesses do Im pério (evidentem ente isto se
refere
ás reclamações que motivaram a guerra,) despresados" e vili
pendiados pelo actua l governo de M ontevidé o e anteriores ad m i
nistrações.
«—
Não
devem ser esquecidos os últimos successos ri aquella praça,
rompendo tão descommunalmente por todos os compromissos
solemnes da Republica para com o Império.—
« Nã o deviam ser esquecidos os últim os successos d'aq uella
praça, isto é, a qu eim a dos tratad os e o rom pim ento das
relaçO es com merciaes ; queira o senado no tar os termos pr e
ciosos d'esses desp achos, e a luz qu e de rra m am qu an to ás
intenções do governo imperial .
« Em 10 de Janei ro . — Il l m . e Exm . Sr . Tenho presen t e o
officio que, sob n. 3 e a data de
2 9
de Dezem bro u l t im o , V. Ex.
dirigio-me, informando haver o governo da Republica Orien
tal do Ur ug ua y, por decreto de 13 do referido m ez, fechado
os seus portos á ban deira brasileira, e declarados nullos ps
tratados celebrados em 1851 com o Im p é ri o ; orden ando em
seguida a queima dos mesmos, o que se verificou a 18.
« — In teira do do conteú ao do officio de V . E x. a que ora
respondo, e das considerações que faz sobre esse acto* de re
qu intad a violência do governo orien tal, e de posse dos im
pressos que rem ette, on de se en con tra a int eg ra dos citados
decretos e a narraçã o do acto da qu eim a dos autographos
d'aquelles tratados, reitero-lhe as seg uran ças da m inh a p er
feita estima e distineta con sideraç ão. — João Pedro Dias Vieira.
« —A S . Ex. o Sr . José M aria da S i lva Paranhos .—
« E m
2 2
de Ja ne iro . — A ccuso a recepção do officio reser
vado de V . E x . de 7 do corrente, sob n. 15, em add ita-
mento ao ostensivo que me dirigio na mesma data, sòb n.
5,
relatando o triumpho que, com a tomada da praça de Pay
sandú no dia
2 ,
alcançámos contra o governo de M ontevi
déo e seu s defensores ; e, inteira do de tud o qu an to refere a
respeito do fuzilamento do coronel L eand ro Gom es e outros
chefes do mesm o lado, depois de prisione iros, e das refle
xões que lhe suscitou tão reprovado procedimento, tenho em
resposta de communicar-lhe que o governo imperial julga
conveniente qu e V . E x. solicite do gen eral Flores a pu nição
de Goyo Soares e dos outros subordinados do mesmo gene
ral,
que concorreram para ser levado a effeito um seme
lhan te atten tado , qu e tanto de slus tra a victoria que obtive
mos era Paysandú.
a
— 0
governo imp erial n ao pôde deixar també m de cen su
rar que se houvesse dado plena liberdade a um tfio avultado
num ero de officiaes prisioneiros, e qu e iriam n atu ra lm en te
augmen tar o num ero dos nossos inim igos em M ontevidéo.
Cumpria que fossem
tratados
com a
bencvpfencia
que
n os
carac-
urisa, mas como prisioneiros, emquanto durasse
a
luta.
—
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 434/448
«
A
respeito cPeste despacho devo observar
que o
governo
imperial aesapprovou, como
eu
pensava,
e
sen tio m uito
as
circumstancias que se deram com os prisioneiros de P a y s a n d ú :
deplorou a morte violenta de L eandro Gomes e de alguns
de seus companheiros depois do combate . O governo
imperial então
se
mostrava
tão
generoso,
que
recommendou
ao ministro
e ao
almirante brasileiro
que
obtivesse
a
puniçãodo coronel Goyo Soares,
a
quem
se
attribuiam aquellas execu
ções. Entretanto este facto não tinha dado lugar a uma a v e
riguação rigorosa, era objecto de varias versões. Acredito que
o facto deu-se, mas a sua veracidade não estava bem c o m
provada.
« L eandro Gomes
não
devera
ser
fuzilado
por
aquelle
modo, se o foi ,* mas,
pelo
que fez em
Paysandú, podia
ser
executado
por
sentença
de um
conselho
de
guerra
;
tratou
cruelmente aos prisioneiros, sobre as trincheiras de Paysan
dú mostrou as cabeças ainda quentes de soldados brasileiros,
a quem mandara degolar
; de
seus máos precedentes orig i
nou-se
o
grande odio
que lhe
votava
o
coronel Goyo Soares,
cuja familia fora victima
das
crueldades d'aquelle chefe
blanco. »
«
E'
ainda para -notar
que
alguns factos
de
Paysandú, como
o acontecido
com o
vapor
Villa dei Salto, não
agradaram
ao
governo imperial,
mas
este calou
o seu
desagrado,
que não
passou
de
despachos muito reservados; procedimento
bem di
verso
do que
depois
de 20
de Fev ereiro teve
com o
pobre plenipo
t e n c i a r i o . . . . T a m b é m
a 20 de
Fevereiro
a
questão oriental
estava decidida;
o
fructo estava colhido, podia-se quebrar
um
dos instrumentos
que
ajudaram
a
colhêl-o.
« Despacho de 22 J a n e i r o : — Não julgo ocioso ponderar que
o
bombardeamenlo
contra uma praça commercial importante,
como a de Montevidéo, e onde a propriedade e os interesses
estrangeiros são mais valiosos que os nacionaes, só
devemos
empregar
em
caso
de
absoluta necessidade,
para evitar grandes
perdas de vidas ou complicações provenientes de auxílios ex
te rnos , que possam peiorar a situação em que nos achamos,
ou ainda tornar muito demorado
o
cerco.—
« Outro de 6 de Fevere i ro: — Li com interesse o officio
reservado de V. Ex. de 2 5 do mez próximo passado, n. 18,
assim como o ostensivo da mesma data, n. 6 , e tenho em
resposta a satisfação de communicar a V". Ex. que o governo
imperial approva completamente o theor do manifesto dirigido
ao governo argentino, e da circular ao corpo diplomático, re
lativamente á resolução de ataoar de accordo com o general
Flores a capital em
desforço
dos
aggravos recebidos
do
governo
de Montevidéo; e no
intituito
ao
mesmo tempo
de
restabelecer
a
paz na
Republica, pondo termo
á
luta civil,
que a
dilacera
ha quasi dous annos.
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 435/448
<c — M erecei» igu alm ente a approvaçáo do gov erno imp erial
o modo como se houve V. Ex. com o genera l Flores na con
ferência de Fr ay -B en to s, e o com prom isso d'ella resu ltante ,
tendo reconhecido n 'este acto mais uma prova da intell igen-
oia e zelo com que Y . Ex . desem penh a a hon rosa missão
que lhe foi confiada no Rio da Prata.
« — A m uda nça operada no corpo diplomático residente em
M ontevidéo, como bem observa V . Ex . , deve ser pr inc ipal
m ente attribu ida á gravidade dos successos a á attitud e franca
e decidida do Império.
<( — A ccuso a recepção dos officios reserv ado s de V . Ex. de
26 e 27 de Janeiro ultimo, sob ns. 19, 20 e 21, e do osten
sivo sob n. 7 d'aquella primeira data, enviando copia da cir
cular relativa ao pérfido proced ime nto do govern o do Para
guay para com o Império, e do caracter selvagem que elle
quer imprim ir á sua guerra contra o B rasil ; e em resposta
tenho a declarar-lhe, quanto a este ultimo officio, que o govern o imp erial approva a resolução tomad a por V . Ex . sobre
este assum pto, em face das tristes n oticias ult im am en te re
cebidas de M atto Grosso, e quan do o Barão de Ta m andaré
julga que pôde estabelecer o bloqueio das Tres Bocas.
cc — O governo imp erial fica inteira do , pelo qu e toca á gr a
vidade da situação em que nos achamos collocados,
e o vigor
e a rapidez que ella exige em n ossa acção; e approva o modo
como se hou ve V . Ex . na conferência com o general M itre,
visto como, declinando a mediação d'este nas circumstancias
actuaes, foi interprete fiel do pensamento do mesmo gover
no, por mais de uma vez manifestado a V. Ex.—
cc
R eleva aqu i observar qu e eu não havia declinado abso
lutam ente a mediação arg e n ti n a ; apenas pon derei as difficul
dades que se oppunham a um accordo que não fosse deter
m inado pelo em prego de nossas forças, e pedi ao general M i
tre qu e, se chegasse o caso de offerecer-nos a sua m ediação ,
se collocasse ern no sso l ug ar, como bom am igo , para ver bem
qual a única solução hon rosa e estável para o Brasil. E ntr e
tanto o governo imperial resp on dia -m e; — A pprovo o modo
como V . Ex. se hou ve, declinando a mediação.— Nada mais.M as se a mediação tornasse a apparecer ? Em qu e casos e
em que condicções poderia ser aceita? ou cu m pr ia regeital-a
in limine?
Ne nhu m a instrucçâo dava o governo .
« Carta de 22 de Dezembro de 1864 do ex-m inistro de es
trangeiros ao conselheiro Paranhos:
a — Desde qu e fizemos sacrifícios, e qu e pelos esforços
e pela presença de nossa força é qu e se põe termo á lu ta
oriental, cumpre tirar d'estas circumstancias toda a vantagem
possivel, em favor dos
interesses brasileiros. Urge que nos desem
baracemos
quanto antes da luta no Estado Oriental, e com as
forças que a esta ho ra ahi já devem estar, com os auxílios
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 436/448
que pelo Cruxeiro do Sul e pelo Apa tem de partir d 'aqui
até depois de amanhã directamente para Buenos Ayres, estou
qu e tem os elem entos mais qu e sufücientes para atacar M on
tevidéo. O que cumpre é combinar o plano e pôr de accordo
com o general Flores os nossos generaes de terra e mar, afim
de haver unidade de pensamento e de acção. Temos motivos
de
sobra para justificar o ataque con tra a cap ital, e ainda o gon er-
nicho de Aguirre nos
offereceu
mais um com o auto de, fé dos
nossos tratados. Ao Barão me dirijo n'esta data recom mo ndan
do q u e o ouça sobre a direcção politica da gu erra, porq ue
V . Ex. é ahi qu em está d'ella encarregado , e faço-o de mo do
que não lhe onendo absolutamente a sua susceptibilidade.—
« Em 26 de Deze mb ro:
<c
— Deus queira, pois , q ue , se já não estiverm os, estejamos
dentro em breve desembaraçados do Estado Oriental, para
cuidarmos ser iamente do L opes. Estude V . Ex. os meios
prátic os de levar a effeito este pen sam en to, e vá pondo logo
em execução os que forem d'isso susceptíveis, que eu estou
que o general Mitre não ha de querer ncar atraz.—
« Em 7 de Janeiro de 1 8 6 5 :
cc — N o m eu conceito é fora de duvida que o interesse do
Império, no desenlace da questão oriental, é que fique trium-
phante a causa do general Flores,
nosso alliado, já que não
podem os deixar de envolver-nos na questão interna de M on
tevidéo. Se afastarmo-nos d'esta l inha de conducta, receio
muito que nos exponhamos aos mesmos inconvenientes que
nos resultaram do accordo celebrado entre os generaes Ur
quiza e Oribe na guerra passada.
cc — O Brasil com metteria um grave e rro, se, depois dos
sacrifícios qu e tem feito, n ão se prevalecesse da occazião pa ra
tirar todo o proveito em favor
dos Brasileiros
no Estado Oriental.
Como V. Ex. , também penso que as forças que ahi temos
reu nid as são suffícientes para pôr termo á luta do U ru g u ay :
e se podermos dispensar o
bombardeamento
de M ontevidéo, ainda
com algum sacrifício, melhor será para evitarmos duvidas com
os alm iran tes estrangeiros. S ei perfeitamente qu e, declarada
a guerra , para o que temos os mais justos motivos, estava-
m os no nosso perfeito direito, blod uean do e bom bardeandoM on tev idé o, para forçal-a a re nd er- se ; mas somos fracos
para estarmos a brigar com o gênero humano, e bom será,
em quanto puder-mos, evi tarmos mais complicações e desa
venças. Pelo que toca ao Sr, Tamandaré, officialmente digo
quanto basta para conhecer o meu pensamento sobre o seu
p r o c e d i m e n t o . Façam os Paraguayos o que quizerem, não po
dendo batel-os ao mesmo tempo que os
blancos
d e M o n t e v i
d é o , só havemos tratar séria e exclusivamente d'aquelles de
pois de desembaraçados do Uruguay .—
« Ju lg ue o senad o da impressão qu e estas ul t im as palavrasdeviam causar -me .
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 437/448
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 438/448
« Em. relação aos prisioneiros de Pa ysa nd ú, som ente se m e
disse que não deviam ter sido. soltos, mas conservados n'aquella
condição em quanto durasse a luta no Estado Oriental, sendo
tratados com a benevolência que nos caracterisa. Todavia o
nobre ex-ministro dos negócios estrangeiros articula em seu
relatório, como uma das dificiencias do convênio de 20 de
Fevereiro, que justificam a desfeita do decreto de 3 de Março,
o meu procedimento para com os prisioneiros de Paysandú.»
cc R ecom m endava S. E x. — que se tirasse o maior partido
das circumstancias —: mas com o? O pensamento que sobre-
sah ia, com o solução para o passado e para o futuro, era que
o general F lores, em cuja amizade e lealdade justam ente c on
fiávamos, substituisse na presidência da Republica o no sso
inimigo ; que o partido blanco e seu governo cahissem. A ex
pedição e os attentados de Munhoz em nossa fronteira eram
também sabidos do governo imp erial: o que se me disse a
este respeito? Nada; absolutamente nada.
« Extractos da carta datada em
24
de Fevereiro, recebida a 7
de Março:
« — Perm itia qu e cham e sua attenção para a necessidade de
effectuar-se qua nto antes o bloq ueio das Tres Bocas, aprovei
tando-se para isso os vapores que ora seguem, ainda no caso
pouco provável de não estarmos de posse de M ontev idéo.
Urge que vedem os ao cacique o recebimento de qualquer
recurso da Europa. Como
V . E x .
sabe, estava assentado que
o bloqueio devia fazer-se antes m esm o de estarmos ha bili tados para com eçar as hostilidades contra o Paraguay de um
modo mais directo e positivo. Com as noticias recebidas hontem
pelo Princeza de Joinville, que d'ahi partio na tarde do dia 17,
muitas pessoas ficaram com receio de que a luta terminasse
por um pastel.
« — Com effeito, depois dos desacatos que temos sofírido e
dos sacrifícios que temos feito, da necessidade que temos de fazer
de Mon teridéo n osso prin cipal cen tro dás operações contra o Pa
raguay, qualq uer accordo que não seja a capitulação da praça,
seg un do as leis da guerra, fora u m verdadeiro fiasco. Cada
vez torna-se m ais popu lar a idéa de pôr termo por m eio das
armas ás nossas questões com o Paraguay e Ur ugu ay. A s
offensas e insu ltos qu e tem os soffrido só se podem apagar
com o sangue d'aquelles que os comm etteram, é o pen sa
mento de todos os Brasileiros, que dentro em breve se tradu
zirá em factos. —
« O senado vô que a ling ua ge m d*esta carta, escripta em
24 de Fevereiro, não está de accordo com os despachos e
cartas anteriores; e que, ainda quando esta carta me tivesse
chegado ás m ãos an tes d o dia 20 de F evereiro, não bastava
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
http://slidepdf.com/reader/full/guerra-do-paraguai-vol-1 439/448
— 548 —
e l l a p a r a q u e e u c u m p r i s s e u m a o r d e m d e s a n g u e , q u e e m
n e n h u m c a so c u m p r i r i a , s e e n t e n d e s s e q u e e r a d e s h u m a n a .
O n o b r e e x - m i n i s t r o d i z i a - m e a n t e s q u e o b o m b a r d e a m e n t o
s ó e m c a s o d e a b s o l u t a n e c e s s i d a d e , q u e o d e v í a m o s e v i t a r ,
a i n d a c o m a l g u m s a c r i f í c i o ; n a s u a c a r t a d e 2 4 d e F e v e r e i r o
i n s i n u a v a - m e q u e d e v í a m o s v i n g a r c o m o s a n g u e d e n o ss o s
i n i m i g o s o s i n s u l t o s q u e e l l e s n o s h a v i a m f e i t o S e n d o a s s i m ,
c o m o e v i t a r o b o m b a r d e a m e n t o d e M o n t e v i d é o ? O n o b r e e x -
m i n i s t r o d e s e j a v a e s s a l u t a t e r m i n a d a q u a n t o a n t e s , m o s t r a -
v a s s e g e n e r o s o p a r a c o m o s p r i s i o n e i r o s d e P a y s a n d ú , q u e
r i a a p u n i ç ã o d e G o y o S o a r e s , a n h e l a v a u m a s o l u ç ã o p a c i fi c a
c o m o f o i a d e 2 0 d e F e v e r e i r o , s e g u n d o o j u i z o d o n o b r e
e x - m i n i s t r o e d e s e u s c o l l e g a s . V o u l ê r a g o r a o e x t r a c t o d e
u m a c a r t a q u e S » E x . o S r . e x - p r e s i d e n t e d o c o n s e l h o (*)
d i r i g i o - m e e m d a t a d e 2 2 d e J a n e i r o :
« — C o m o V . E x . , p e n s o q u e s e d e v e p o u p a r o s a n g u e d e
n o s s o s s o l d a d o s , p o r q u e a s b a t a l h a s q u e n ã o s e r v e m p a r a
c o n s e g u i r o fim ' q u e l e g i t i m a a g u e r r a s ã o i m m e n s o s a s s a -
s i n a t o s . E ' r e a l m e n t e p a ra l a m e n t a r q u e n ã o h o u v e s s e m m a
c h a d o s e o u t r o s i n s t r u m e n t o s p a ra r o m p e r c e r c a s , n e n h u m
e n g e n h e i r o p a r a r e c o n h e c i m e n t o , a b e r t u r a s d e t r i n c h e i r a s , e t c .
O a r s e n a l d o R i o G r a n d e p o d i a e d e v i a te r f o r n e c i d o o s m a
c h a d o s , e , q u a n d o o s n ã o h o u v e s s e , e ra f á ci l t ê l - o s o« e x e r
c i t o o b t i d o . Q u a n t o a o s e n g e n h e i r o s , d i z - m e o S r . m i n i s t r o d a
g u e r r a q u e n o R i o G r a n d e o s h a v i a . P o r q u e n ã o m a r c h a r a m ?
L a m e n t o o a s s a s si n a t o d e L e a n d r o G o m e s , c u j a v i d a c o m o
p r i s i o n e i r o d e v i a se r i n v i o l á v e l , m a s a c o n c e s s ã o d e l i b e r d a d e
a o s c e m c o m p a n h e i r o s d ' el le , p á ra i r e m a u g m e n t a r o n u m e r o
d e a s s a s s i n o s d e C a r r e ra s , e a m a n h ã d e r r a m a r e m o s a n g u e
b r a s i l e i r o , é g e n e r o s i d a d e q u e s e n ã o p ô d e l o u v a r n e m a p p r o -
v a r , e n e m r e p e t i r ,
cc — A o t e r m i n a r , d e v o d i z e r a V . E x . q u e o g o v e r n o p r o
c u r a o b t e r t o d o s o s m e i o s p a r a a t a c a r o P a r a g u a y p o r m a r
e p o r t e rr a , e v e n c e r a r e s i s t ê n c i a d a s s u a s f o r t a l e z a s . Q u a e s
q u e r q u e s e j a m o s sa c r if íc i o s q u e a s i t u a ç ã o i m p o n h a a o
I m p é r i o , c u m p r e f a z ê l -o s r e s o l u t a m e n t e , d e m o d o a a p r o v e i -
t a l - o s ,
p a r a q u e a m a n h ã n ã o r e c o m e c e m o s a s m e s m a s i n t e r
m i n á v e i s l u t a s . —
« A g o r a 0 3 e x t r a c t o s d e o u t r a c a r ta c o n f i d e n c i a l d o n o b r e
e x - p r e s i d e n t e d o c o n s e l h o , d a t a d a d e 6 d e F e v e r e i r o :
« — A l e g r a m - r a e a s n o t i c i a s d a s n o s s a s o p e r a ç õ e s n o E s t a d o
O r i e n t a l , e e s t o u a n c i o s o p e l a n o t i c i a d a t o m a d a d e M o n t e
v i d é o .
Estou porém , suspeiioso, que o tyramn ete do Paragua y tente
uma diversão, o u p e l a p r o v i n c i a d o R i o G r a n d e o u p e l o E s
t ad o O r i e n t a l , e a d m i r o m e s m o q u e j á o n ã o t e n h a f e i t o ,
c o m o m e i o d e d e m o r a r o u d i f i c u l t a r a j u s t a v i n g a n ç a d o
B r a s i l , q u e t ã o i n f a m e e a t r o z m e n t e p r o v o c o u . A s n o t a s d e
(*) Francisco
J o s é
Furtado.
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V . E x . c o r r e sp o n d e r a m c o m p l e t a m e n t e ã m i n h a e s p e c t a t i v a ,
e f o l g o c o m o fa v o r á v e l a c o l h i m e n t o q u e a h i t i v e r a m . A. r e-
s o l u ç ã o d e
V . Ex.
d e i r c o l l o c a r - s e e m u m d o s a r r a b a l d e s
d e M o n t e v i d é o , c a r a a e u d i r a q u a l q u e r e m e r g ê n c i a q u e e x i j a
a s u a í Ü u s tr a d a" i n t e r v e n ç ã o , n ã o p o d e d e i x a r d e s e r a p p r o -
v a d a e l o u v a d a p e l o g o v e r n o i m p e r i a l . —
a P o r t a n t o , s e g u n d o o n o b r e e x - p r e s id e n t e d o c o n s e l h o ,
a s b a t a l h a s q u e n ã o s e r v e m p a r a c o n s e g u i r o fim q u e s e t e m
e m v i s t a c o m a g u e r r a , s ã o i m m e n s o s a s s a s s in a t o s . »
O s e x t r a c t o s d o s o f f i c io s e c a r t a s q u e a c a b a m d e l e r - s e ,
m o s t r a m q u a e s e r a m a s i d é a s d o g a b i n e t e d e 3 1 d e A g o s t o
s o b r e a g u e r r a q u e s e f a z ia n o E s t a d o O r i e n ta l . A q u e l l e m i
n i s t é r i o m o s t r o u n ã o e s t a r n o c a s o d e s a t i s fa z e r á s e x i g ê n
c i a s d a s i t u a ç ã o , e m q u e e n t ã o s e a c h a v a o p a i z ; s i t u a ç ã o
q u e t i n h a s i d o c r e a d a p e l o s s e u s a n t e c e s s o r e s , m a s q u e e l l e
n ã o s ó a s u s t e n t o u c o m o a a g g r a v o u .
A e s t e r e s p e i t o d i z o c o n s e l h e i r o P a r a n h o s o s e g u i n t e , a
p a g i n a 1 0 1 d o s e u p r i m e i r o d i s c u r s o n o s e n a d o :
« P a r e c e q u e o g o v e r n o i m p e r i a l n ã o c o n h e c e a h i s t o r i a
c o m t e m p o r a n e a d o E s ta d o O r i e n t a l I g n o r a o g o v e r n o i m p e
r i a l q u e o p a r t i d o colorado n ã o é u m t o d o c o m p a c t o , q u e h a
n ' e l l e u m a f r a c çã o d e h o m e n s i l lu s t r a d o s q u e s e t e m m o s
t r a d o d e s a f f e c t o s a o B r a s i l e a o g e n e r a l F l o r e s ? S e f o s s e m o s
v i n g a t i v o s o u d e m a s i a d a m e n t e e x i g e n t e s , s e h u m i l h á s s e m o s
o n o s s o a l u a d o , e s t r a g á s s e m o s a s u a f or ça m o r a l , o q u e d e
v í a m o s e s p e r a r ? q u e e s s a f r a c çã o d o p a r t i d o
colorado,
a d h e -
r i s s e e b a t e s s e p a l m a s a o B r a s i l ?
ct O a s s e d i o d e M o n t e v i d é o e r a c o u s a a s s e n t a d a , e c o n s e
q ü ê n c i a n e c e s s á r i a d o a t a q u e d e P a y s a n d ú , q u e l e v a r a a i r r i
t a ç ã o d o i n i m i g o a o s e u u l t i m o a u g e ; a t é a s p e s s o a s m a i s
a l h e i a s a o s s e g r e d o s o f fi ci ae s o t i n h a m p r e v i s t o e d a v a m
como c o u s a s a b i d a e i n f a l l i v e l . O d i p l o m a t a b r a s i l e i r o m a i s
d e u m a v e z p o n d e r o u a o g o v e r n o i m p e r i a l q u e n ã o l h e
i n q u i e t a v a m s e n ã o a s d i f f i c u ld a d e s p o l í t ic a s q u e p o d i a m s u r g i r
e m f r e n t e d e M o n t e v i d é o , o n d e a q u e s t ã o i a s e r d e c i d i d a
p o r b e m o u p e l a f o r ç a . E o m i n i s t r o d o s n e g ó c i o s e s t r a n
g e i r o s , q u e t i n h a n a s u a m e n t e a q u e l l a s i n g u l a r i s s i m a r e s
t r i c ç ã o d e p o d e r e s d i p l o m á t i c o s , n a d a d i z i a n * e ss e s e n t i d o a o
s e u d e l e g a d o ; e , p e l o c o n t r a r i o , a p p r o v a v a q u e e l l e s e f o s s e
c o i l o c a r n a s i m m e d i a ç õ e s d e M o n t e v i d é o , e r e c o m m e n d a v a - l h e ,
d e s d e a t o m a d a d e P a y s a n d ú , q u e p u z e s s e d e a c c o r d o o s
g e n e r a e s a l l i a d o s , e a c c e l e r a s s e a s o p e r a ç õ e s m i l i t a r e s . D e s o r t e
q u e O d i p l o m a t a p o d i a a t é i n g e r i r - s e n o q u e p a r t i c u l a r m e n t e
i n c u m b i a a o s g e n e r a e s , e s ó n ã o p o d i a e x e r c e r a s f u n c ç ô e s
p r ó p r i a s d e r e p r e s e n t a n t e d o B r a s i l , q u a n d o a q u e s t ã o v i e s s e
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—
5 5 0
— .
a terminar, como felizmente terminou, por via diplomática.
« Cumpria ao governo imperial tel-o declarado francamente
e desde o principio , se por acaso o ex-ministro do Brasil
em missão especial houvesse sido chamado pára ir acom pa
nhar o V isconde de T aman daré na qualidade de simples
commissario diplomático, como o Conde de M artignac acom
panhava outr'ora o Principe Du que de A ngouleme, a 'ultima
vez que a França interveio de mão arm ada nas luctas civis
de H espan ha. Não era este, porém, nem podia ser, o pensa
mento do governo imperial no caso de que se trata. »
Pela correspondência acima transcripta e que foi publicada
pelo conselheiro Paran hos, bem como pelos factos que se
encontram no lugar competente, vê-se qu e, assim como o
ministério de
3 1
de Agosto não dirigio como convinha a
campanha de
1 8 6 4
contra o Estado O riental, também foi
infeliz com as nomeações de alguns individuos, que foram
ter' uma parte importante n'aquella campanha do Uruguay.
A delicadeza do diplom ata brasileiro fez com que tudo se
acabasse decorosamente, pois que assim era necessário para
acudir aos negócios públicos, apezar de algumas difficuldades
filhas da desordem administrativa que então havia.
O exercito brasileiro estava longe de M ontevidéo, o que
assim convinha para evitar encontros com as guerrilhas que
sahiam da praça, em quanto não se principiavam as hostili
dades, posto que a vanguarda era formada pela tropa do
general Flores.
Depois do desembarque do nosso exercito em Santa Lúcia,
reinou dentro da cidade um a desordem continuada entre os
membros do governo de Aguirre e todos os do seu partido;
este,
arrastado por Carreras, tomou medidas extraordinárias e
extravagantes, impossíveis de realisar, as quaes já mencio
namos. .
Diz uma correspondência de Montevidéo de 1 4 de Fevereiro
de
1 8 6 5 ,
publicada no
Jornal
do
Commercio
de 2 1 do mesmo
mez;
o O corpo diplomático, e os almirantes estrangeiros que
observam estes factos, e conhecem perfeitamente a posição
do governo, vendo a energia e firmeza do almirante brasi
leiro,
que tem sustentado com dignidade os seus direitos conto
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beiligerante, por mais empenhados que tenham estado em
embaraçar a acção do Brasil, recuaram da attitude falsa em
qu e se iam colloca ndo , transformando-se de neutra es, que
devem ser, em alliados do partido blanco, que com astuoia
procurava compromettôl-os.
« D'esta forma
a
nossa acção ficou com pletam ente livre,
e o governo de Montevidéo, que depositava na resistência d'elles
uma grande esperança, teve mais um cruel desengano, que,
reunido á convicção que vai calando em todos os espíritos
de que o Paraguay não vem em seu auxilio, completamente
o d esanlentou . Por isso Aguirre procurou transformar em m edia
dores ofliciosos os que não pôde converter em instrumentos
dóceis de sua politica, emquanto que Carreras trabalha por
arrebatar-lhe o poder. Consta de uma maneira quasi fora de
duv ida, que o alm irante francez e o chefe da estação ita
liana apresentaram ao Barão de Tamandaré proposições de
paz da parte de Aguirre, que não duvida ceder
á
força do
dest ino.
F a r á
que se realise o projecto que está em elabora
ção, o referido Barão ampliou o prazo da sahida dos navios
e das famílias até amanhã
1 5 ,
ás
10
horas do dia.
« Aguirre não quer continuar no poder além d'esse dia em
que termina seu mandato. Deve, por conseguinte, eleger-se
hoje quem o substitua. Esta eleição, evidentemente illegal, é
signal da luta entre moderados e exaltados. Se estes vencerem,
Carreras assume a dictadura e sustenta uma criminosa resis
tência que reduzirá Montevidéo a ruínas, Se vencerem, porém,
os moderados, o presidente nomeado entregará a praça ao ge
neral F lores, que formará um* govern o provisório com m em br os
do seu partido, ficando o partido blanco sem influencia al
guma. Em uma ou outra hypothese o triumpho é infall ivel
dentro de poucos dias, e seria preferível a verificação da se
gund a, para poupar grand es m ales, e a effusão de u m san gu e
precioso. A luta entre as duas facções dissidentes já tem-se
ensaiado.
cc
H a poucos dias tentou N in R ey s, um dos ch efes dos
exaltad os, sub levar a guarn ição, un ido a nm corone l Corio-
lano Marquez, que fugio da cadêa de Buenos-Ayres
h a
a l -um tem po , por estar condem nado á m orte. Para realisação
e seu plano, que consist ia em estabelecer um governo mili
tar, ou um a dictadura, man dou imp rimir um a proclamação
em q ue incitava o povo a eleg el-o. Aguirre soube d is to e
não só m and ou supprimir a proclamação, com o prender
aqu elles dous heróes; que hoje estão no Cerro. Para m aior
segurança, foi m udado o coronel Len guás, qu e era o com m an
dante d'essa fortaleza, e dedicado a N in R ey s, pelo co ro
nel Grolfarini, sen do aqu elle cham ado á defeza das lin h as .
« Este acto de Aguirre, effectuado sem resistência e contra
a vontad e de Carreras, parece indicar qu e o lado m oderad o
tem elementos com que possa
c o n t a r
para supplan tar os exa l-
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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tados,. Estes, porém, por seu lado deram logo uma demons
tração de vigor, que con trab alan ça aqu ella. Com o inten to
de reanim ar os ânim os da gua rniç ão, q ue estão mu i aba ti
dos,
e de moral isal -a , o minis t ro da gu erra, que é od ou do
do D. Jac int ho SuSV iela, projectou u m a bac cha nai, qu e teve
lugar no dia 9 de Fevereiro, a ti tulo de festejar-se a noticia
official da vinda de um gran de exercito pa rag ua yo , com o
próprio presidente Lopez a frente, e de uma .victoria alcan
çada em Jag uarã o peto general D . Basil io M un ho z, um dos
chefes dos salteadores qu e m arc ha ram pa ra infestar nossas
fronteiras.
« N 'esta victoria , se gun do as p artes officiaes d'a qu ell e chefe
elle nos t inha tomado um a bandeira, que rem ett ia, e nos
tin ha feito gran de da m no ; não se apoderand o da villa de
Jagu arão em attenção á reclamaçã o do vice-con sul francez,
ue lhe pedio para poupal-a a um assal to, em conseqüência
a grande população estrangeira que n 'el la residia. A m en
tira era por dem ais tran spa ren te para ser acred itada, e bem
patente ricava outro fito que se queria alcançar, que era fa
zer um a censu ra ao corpo diplomá tico por não ter con segu i
do aqu i a neutralisação de parte da cidad e, com o obtivera
all i um simples vice-consul . Esta garantia era ardentemente
desejada, porqu e permittia a guarnição da praça recon centrar-
se toda nas linhas, sem temor de um ataque nos flancos ou
na retaguarda.
« No mesm o dia em qu e isto propalava-se em M ontevid éo,soubemos aq ui no acampa mento pelos jorna es de Jag uar ão ,
que M unh oz tinh a sido batido depois de sitiar a villa por tres
dias, pe rdend o m ais de oitenta praças. En tre tan to a festa teve
lug ar, e para que se veja o modo porq ue nossa b andeira
acaba de ser tratada em M ontevidéo, transcrevo a descripção
da Reforma Pac ifica. E' um insu lto que excede a todos qu e
nos collocaram as arm as na mão e que não h a de ficar im
pune :
«. —O trophéo qu e nos enviou do .theatro de suas façan has
o invicto gen eral M unh oz, passeou hontem por nossas ruas
humilhado ante o sol de nosso estandarte, e precedido de uma
banda de musica, capitaneada pelo ministro da guerra. A
bande ira brasileira percorrèo todos os pontos da lin ha e as
casas de nossos princ ipae s chefes, sendo arra stad a á vista da
esquadra inimiga, que teve oceasião de apreciar a resolução
do povo, e a maneira com que está disposto a responder a
sua. agressão. Na residência do general L am as se deteve a
com itiva, e a reun ião pedio que elle pisasse aque lla band eira
de igno m inia, ludibrio do m un do culto e insígnia de uma
corte de piratas. O general L ama s pisou a ba nde ira, sellando
com este acto solem ne sua consagraç ão á cauza da pátria*
e
a firmeza e a tempera de su a alm a. E m casa do general
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Dias,
o patriota ministro da guerra deu um caloroso viva á
independência, concluindo com estas expressões Guerra até
a morte àbs aggressores da independência guerra sem tré
gua até triumphar.—Estas enthusiasticas exclamações encerram
um programma vasto, que a actividade e patriotismo do mi
nistro da guerra realisará. O povo victoriou no ministro o
democrata ardente, o zeloso sustentaculo da bandeira da R e
publica. Este acto solemne ha de ter conseqüências que
promptamente havemos de apreciar,—
K Pôde contar (continua o mesmo correspondente) que se
até ao dia 15 a cidade não estiver em nosso poder, submissa
e arrependida d'estas scenas selvagens, ellas hão de ser vin
gadas com o castigo dos infames que ousaram manchar o
pavilhão aurí-verde. No acampamento e na esquadra, quando
se teve conhecimento d'esta provocação, uma agitação elec-
trica abalou a todos nossos soldados e marinheiros, que de
sejam ver se o general Lamas, que pisa bandeiras, é capaz
de bater-se; este cobarde que tem ^ido sempre derrotado,que não sabe o que é pundonor militar, nem brios de cida
dão. Bem depressa se conhecerão as conseqüências d'este in
sulto que indignou não só aos Brasileiros, como aos Orien
taes que marcham a nosso lado, que estão envergonhados do
seu paiz ; e o que é m ais, que sua capital seja o theatro de
factos tão oppostos á civilisação moderna. 0 general Forey,
ainda recentemente no México, quando intimou a rendição
da praça de Puebla, declarou que, se ella não se rendesse
antes do assalto, que passaria toda a guarnição a fio de es
pada. Entretanto alli não se degolavam os prisioneiros fran
ceses? nem se commettiam outras atrocidades. Esta lingua
gem faííava-se a um povo que combatia pela sua liberdade,
pelas instituições de seu paiz. Seremos mais compassivos com
as feras que fizeram de Montevidéo o seu covil? Quereremos
ser mais humanos e civilisados do que a França? Estes ex
cessos dos exaltados dão mais fundamento ainda á -existência
de um a negociação qualquer para a entrega da praça, a qual
elles procuram por todos os modos tornar impossivel.
« O senador Estrazulas, que
é
um dos mais salientes do
seu partido, acaba de fugir vergonhosamente para Buenos-
Ayres, deixando sós seus amigos n'esta oceasião de apuro. Em
M ontevidéo vociferaram horrivelmente contra esta deserção, e
Palomeque, capitão do porto, ao dar parte d'ella-, classificou
aquelle senador como cobarde e infame. O ministro da guerra
mandou publicar e registrar esta nota. Não foi só Estrazulas
que se poz a salvo. Tem tido muitos companheiros e dos
ma,ís notáveis do partido blanco. Â certeza de que a praça
seria atacada por mar e por terra produzio um grande medo
em toda a população. Logo que os ministros estrangeiros pu
blicaram a notificação do nosso almirante, e suas respostas,
e convidaram seus compatriotas a emigrar, ninguém se ju l-
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gou ma is seguro em casa . Er a um quadro triste e desolador
ver a y famílias se precipitarem para os caes afim de e m bar
car p/om piamente. O s vapores largavam para Buenos-A yres
com 4 0 0 a 5 0 0 pessoas. Q uem nã o pôde ir para alli refu-
giou-se na ilha íta ta , no Cerro ou no Bucê o. O s vapores de
guerra i tal iano, francez, hespauhol e inglez, occuparam-se in
cessantemente *na conducção dè passageiros para o Bucêo.
« Como se os males de um a m uda nça assim precipitada
não fossem ba stan tes para affligir a e sta infeliz pop ulaç ão, os
vapores exploraram a situação e aug m enta ram o preço, das
assagens. O s carregad ores, os carretilheiros e os p atrões dos
otes procederam da mesma sorte, praticaram as maiores
extorções, sem qu e a p olicia nem o govern o lh es puzesse u m
freio,
porque se aprazia em vêr erguerem -se obstáculos á
emigração das famílias.
cc Nào obstante, M ontevidéo está de se rto ; ma is de
1 5 , 0 0 0
pessoas foram para Buenos-A yres; a V illa da U niã o, as qui n
tas , as chou pana s, tudo regorgita de habitantes.
cc
O general Flores tem sido incan sável para d ar abrigo a
todas estas familias ; por sua parte o governo argentino corre
também em auxilio dos emigrados pobres.
« Entretanto o governo de M ontevidéo, que p rocurou em
baraç ar a torre nte de emigração qu e ao principio se dirigia
para Buenos-Ayres, espalhando pelos jornaes que alli existia
o cholera e o typh o produz idos pelos hospitaes de san gu e
dos Brasileiros, tento u affastal-a da Un ião, diz en do qu e todo
o nosso exercito estava morrendo de dysenteria.
cc No dia 10 á noite fizeram os blancos um exercicio geral
em que fingiram um a defeza em toda a linha. Esteve b on ito
o espectaculo, que durou 20 minutos. N'esta festa morreram
um official e dous soldados, e ficaram feridos tres; o que
não será qu and o o negocio fôr ao sério 1
cc Não se pen se, porém , qu e não seja possivel a praça re
sistir. Ella o pode fazer por algum tem po , mas sem v an ta
gens para a causa.
« H ontem sahio um a part ida comm andada por L engu ás, e
quasi que sorprehendeu no Bucêo uma guarda avançada do
7.° de infantaria qu e alli se ac hav a, e qu e incorporou-se á
força, deixando ao inimigo algumas mochilas, que foram le
vadas em triump ho por todas as ruas de M ontevidéo.
« Consta qu e os sitiados têm feito varias m inas, e que
agora estabeleceram u m fortim defronte do cemitério in gi ez .
Nossa artilharia se encarregará de arrazal-o.
cc A caba de chegar noticia da praça de que A guirre en tre
gou a presidência a Thomaz Villalba, nomeado pelo simula
cro do senado , que se co nvo cou . E' a verificação do pri-
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m e i r o p o n t o d a n e g o c i a ç ã o e m q u e l h e f a l l e i : v a m o s a v ê r
s e s e r e a l i z a m o s o u t r o s ,
« O
novo
p r e s i d e n t e
é
h o m e m p e r te n c e n te a o l a d o m o d e
r a d o d o p a r t i d o b l a n c o , e j á figu rou n o p a r t i d o c o l o r a d o ,
d e v e n d o a s u a p r i m e i ra n o m e a ç ã o d e c h e f e p o l í t ic o , d e M e r
c e d e s a o g e n e r a l F l o r e s . Q u a n d o o S r . C o n s e l h e i r o S a r a i v a
n e g o c i a v a a p a z , e r a e l l e u m d o s i n d i g i t a d o s p e l o g e n e r a l
F l o r e s p a r a o m i n i s t é r i o . p H
« D e B u e n o s - A y r e s a n o t i c i a m a i s i m p o r t a n t e é d a j u d i -
c i o s a r e s p o s t a d a d a p e l o p r e s i d e n t e M i t r e a o e n v i a d o d o P a
r a g u a y , q u e v e i o s o l ic i t a r p e r m i s s ã o p a r a a p a s s a g e m d o
e x e r c i t o p e l o t e r r i tó r i o c o r r i e n t i n o . M i t r e r e c u s o u p o s i t i v a * ?
m e n t e e s t a p e r m i s s ã o ; m a s d e c l a r o u q u e o P a r a g u a y p o d i a
t r a n s p o r t a r p e l a v i a f l u v i a l d o P a r a n á o s e u e x e r c i t o , a s s i m
c o m o o B r a s i l p o d i a fa ze r o m e s m o p o r e s t e c a m i n h o , p o r
p o s s u í r e m o s d o u s p a iz e s t e r r e n o s b a n h a d o s p o r a q u e l l e
r i o .
a O
Pais
( f o lh a d e M o n t e v i d é o ) p u b l i c a u m a n o t a d o P r e
s i d e n t e d o P a r a g u a y d a t a d a d o 1.° d o c o r r e n t e ( F e v e r e i r o d e
1 8 6 5 ) , e m q u e s e l ê o s e g u i n t e t r e c h o :
« — M e u g o v e r n o e s p e r a q u e o p a t r i o t i s m o d o p o v o o r i e n t a l
e s e u s r e c u r s o s h ã o d e p e r m i t t i r a o d e V . E x . s u s t e n t a r a
s i t u a ç ã o a t é q u e o e m p e n h o d o s d o u s p a i z e s p o s s a s a l v a r a
n a c i o n a l i d a d e o r i e n t a l e o s f u n d a m e n t a e s p r i n c í p i o s , c u j a s a l
v a g u a r d a p ô z e m a r m a s a R e p u b l i c a d o P a r a g u a y . — »
N ' e s t a s c i r c u m s t a n c i a s s e a c h a v a a p r a ç a d e M o n t e v i d é o n o s
m e z e s d e J a n e i r o e F e v e r e i r o d e 1 8 6 5 , e m q u a n t o o e x e r c i t o
b r a s i le i r o m a r c h a v a d e P a y s a n d ú s o b r e a q u e l l a c i d a d e , v i n d o
a c a m p a r n a p r o x i m i d a d e d a V i l l a d e S a n t a L ú c i a .
O g o v e r n o d e A g u i r r e n a s u p p o s i ç ã o b e m f u n d a d a d e q u e
o e x e r c i t o b r a s i l e i r o i a a t a c a r a p r a ç a , t i n h a - a c e r c a d a d e
t r i n c h e i r a s c o m 2 6 p e ç a s d e a r t i l h a r ia , m u i t a s m i n a s , q u e
d e v i a m f a ze r e x p l o s ã o a o m e s m o t e m p o , e m a i s d e 4 , 0 0 0
h o m e n s p a r a a d e f e n d e r .
A n t e s d o n o s s o e x e r ci t o c h e g a r a S a n t a L ú c i a , m a n d o u
A g u i r r e u m a f or ça d e 1 , 50 0 h o m e n s d e c a v a l la r i a , c o m m a n
d a d a p o r B a z i l i o M u n h o z e A p p a r i c iÒ , i n v a d i r a f r o n t e i r a d o
R i o G r a n d e , ú n i c o m o d o q u e t e v e a q u e l l e g o v e r n o d e n o s
h o s t i l i s a r n a c r it ic a» p o s i ç ã o e m q u e s e a c h a v a , p o i s s a b i a q u e
a q u e l l a p r o v i n c i a e s t a v a s e m f o rç a o r g a n i s a d a p a r a l h e r e s i s t i r .
C o m e f f e i t o , n o d i a 2 7 d e J a n e i r o fo i a c i d a d e d e J a g u a r ã o
a c c o m m e t t i d a p o r a q u e l l a t r o p a , d a q u a l s e d e f e n d e u c o m
g r a n d e c u s t o p e l a f a lt a d e g u a r n i ç ã o q u e d e v i a t e r , e s t a n d o o s
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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— 556 —
dous batalhões de infantaria de linha o 2 . ° e o
1 0 °
no lugar
que apontamos; os habitantes do campo por onde passaram os
O rientaes, soffreram bastante em suas propriedades.
Eis aqui o que diz o presidente d'aquella provincia, em
data de
1 1
de Fevereiro de
1 8 6 5 ,
á missão especial do Brasil
em Buenos-Ayres:
ct No dia 2 7 do passado foi a nossa fronteira do Jaguarão
invadida por uma força oriental de 1 , 5 0 0 homens, sob as or
dens dos chefes militares Bazilio M unhoz e A pparicio. S obre
esta fronteira tinham os dous corpos de cavallaria com cerca
de
5 0 0
hom ens. A tacados quasi que de surpresa por forças
mui superiores, as forças brasileiras tiveram de recuar, sus
tentando guerrilhas até á cidade de Jaguarão, para onde re
colheram-se.
ct
Protegida por ligeiras trincheiras, que apressadamente ha
viam sido feitas, a guarnição de Jaguarão rechassou as forças
invasoras, as quaes não podendo tom ar a cidade no primeiro
assalto, recuaram e estabeleceram uma espécie de sitio, man
dando um emissário ao commandante da guarnição para que
se rendesse, ao que teve formal resposta negativa.
« Estavam ancorados no Jaguarão dous vapores de guerra
da esquadrilha d'esta provincia, que muito auxiliaram a de
feza da cidade, fasendo algun s tiros bons. O inimigo teve seis
mortos e vinte feridos. Das forças brasileiras, um morto no
ataque, outro poucos dias depois dos ferimentos graves quehavia recebido e quatro levemente feridos.
« A noite d'esse mesmo dia retiraram-se repassando a fron
teira. No trajecto saquearam as casas, arrebataram a cavalhada
que encontraram, e levaram cerca de 3 0 escravos, dos quaes
alguns tem fugido para as casas de seus senhores.
ct
Confesso a V.
E x
que não me persuadi que estando o
exercito brasileiro na campanha oriental, com forças um pouco
num erosas de cavallaria e as forças coloradas, qu e pudesse
uma força inimiga de 1 , 5 0 0 homens atacar-nos impunemente
em qualquer ponto das fronteiras. Defender as extensas fron
teiras da provincia de invasões rápidas de forças um pouco
avultadas é materialmente impossível.
ct Tínhamos, como disse, dous corpos na fronteira de Jag ua
rão, e a fronteira de Bagé estava gnarnecida por outros dous
corpos, esperando-se alli todos os dias alguns dos corpos que
estavam em marcha. Em Bagé estavam dous batalhões de
linha. Note-se que quando vieram da corte esses dous corpos,
eu ponderei ao general Lopo a conveniência de estacionar
um d'elles em Jaguarão até segunda ordem. R espondeu-se-me
que as ordens recebidas do general em chefe era para fazer
marchar os dous para Bagé.
« Hoje estão em Bagé a brigada de S. Gabriel com
1,000
7/18/2019 Guerra Do Paraguai Vol 1
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hom ens* © os do us corpos que acima me referi com mais
500 h om en s. Com estes corpos e com os dous da fronteira
de Ja gu ar ão , vou organisar um a divisão ligeira para cujo
com m ando convidei o Barão de Jacu hy . »
Às forças qu e sob o comm ando de M unhoz e A pparicio
vieram á cidade de Ja gu arã o, retiraram -se depois na direcção
do dep arta m en to do Cerro L argo. A hi recebeu M unhoz a
orde m de obedecer ao novo Preside nte do Estado O rienta ,
bem como a força do seu commando, o que elle curaprio;
m an d o u os soldados e gu arda s nacionaes para os seus respec
tivos departamentos, ficando a sua divisão dissolvida.
S U B M I S S Ã O D O S C A U D I L H O S M U N H O Z £ A P P A R I C I O .
<c E xm . S r. Pre sid en te da R epub lica, Brigadeiro General
D . Venancio Flores.
« Balija, 2 de Março de 1 8 6 5 .
— E x m .
senhor—O general abaixo
assign ado tem a hon ra de levar ao conhecimento de V . Ex.
que hontem, ás
4
horas da tarde, chegou a seu poder
a*
nota
do ex-presidente da Republica D. Thomaz Villalba, datada
de
2 1
de Fe ve rei ro ul tim o, na Qual faz saber ao abaixo assig
nad o a paz celebrada com V . E x . e S. Ex. o Sr. ministro
do Bra sil, e dispõ e ao mesm o tempo que receba e obedeça
ás ordens de V. Fx.
« Em conseqüência d'isso, acatando a referida resolução, e
conformando com a paz celebrada, o abaixo assignado e as
forças sob seu com m ando subm ettem-se desde já ao governo