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GOVERNO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE

DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Sonia Maria Furlan Sossai

ARTE E TECNOLOGIA: PERSPECTIVAS DE APRENDIZAGEM

MARINGÁ - PR 2013

ARTE E TECNOLOGIA: PERSPECTIVAS DE APRENDIZAGEM

Artigo desenvolvido por Sonia Maria Furlan Sossai, professora de Arte da rede Estadual de Educação do Estado do Paraná e concluinte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2012, sob a orientação da professora Ms. Fabiane Sartoretto Pavin da Universidade Estadual de Maringá.

MARINGÁ 2013

ARTE E TECNOLOGIA: PERSPECTIVAS DE APRENDIZAGEM

Sonia Maria Furlan Sossai

Fabiane Sartoretto Pavin

RESUMO

Esta pesquisa visa uma aproximação das tecnologias com o ensino de Arte por

meio de um estudo teórico/prático a fim de contribuir na formação dos

professores e no desenvolvimento de práticas pedagógicas que evidenciem

possibilidades de entrecruzar as artes visuais com as tecnologias digitais. O

estudo parte da obra “o grito” do artista expressionista Edward Munch, visto

que a mesma apresenta significativas representações no contexto artístico,

seja relacionada à pintura, ao desenho, as instalações, a fotografia ou às

imagens digitais.

Palavras-Chave: Arte e Tecnologia; Arte Contemporânea; Expressionismo.

Introdução

O estudo é uma proposta de diálogo entre arte e tecnologia a fim de

contribuir na formação de professores. O interesse deste estudo surgiu das

inquietações como professora de artes visuais e por acreditar que as práticas

pedagógicas possam estar interligadas aos desafios do mundo

contemporâneo.

A arte precisa ser um espaço de criatividade, reflexão e pesquisa, a

partir da contextualização histórica entrelaçada com o cotidiano. Este

entrelaçamento da história da arte com as tecnologias se deve ao fato de que

percebemos melhor empenho e interesse dos alunos, e conseqüentemente,

aulas mais atraentes.

A pesquisa tem por objetivo contribuir na formação de professores de

Arte do município de Douradina/PR através de estudo teórico sobre as

tecnologias fundamentado em autores e artistas que perpassam por este

universo tecnológico. A partir deste estudo, os professores participantes do

projeto vivenciarão práticas utilizando diferentes recursos tecnológicos como

ferramentas as quais poderão auxiliá-los nas aulas de Arte.

O acesso as tecnologias como, por exemplo, a câmera fotográfica

digital, aparelho celular, o computador, entre outros, é freqüente entre os

alunos. Neste sentido, quando fazemos referência ao contexto, reconhecemos

a possibilidade dos alunos contribuírem com o conhecimento que possuem

destes recursos como troca de informações entre alunos e professores. Porém,

o que estamos propondo é uma aproximação dos referenciais teóricos sobre

arte e tecnologia e de um conhecimento prévio destes recursos disponíveis nas

escolas e entre os alunos e que possa contribuir para o processo criativo.

Desde a Pré-História percebemos diferentes manifestações e

representações da arte através da diversidade de materiais, suportes e

técnicas. Sobre o entrecruzamento da arte com as tecnologias Santos (2005),

relata que:

Algumas referências sobre a arte e tecnologia podem ser encontradas no início da história da humanidade, com o surgimento dos instrumentos, artefatos e ferramentas desenvolvidas pelo homem. Desde as primeiras manifestações reconhecidas, um longo percurso foi trilhado, em que o artista, ao mesmo tempo em que desencadeava a descoberta de novos materiais, meios e técnicas, criava e utilizava-se deles para fazer arte. (SANTOS, 2005, p. 34).

A partir desta afirmação, destacamos que quando falamos de tecnologia

remetemos a inúmeros momentos da história da humanidade, pois ela

acompanha a evolução humana. A mesma autora na sua tese de doutorado

“Tecnologia em sensível emergência com o entorno” (2004), destaca os

avanços tecnológicos evidenciados nas diferentes áreas do conhecimento

consideradas importantes para a realização da pesquisa. Segundo ela:

Na medida em que a história segue seu curso, a tecnologia e seus avanços são evidenciados em diferentes áreas de conhecimento, nas Ciências Sociais, Exatas e Humanas. Na arte a tecnologia surge como um caminho para conduzir o artista a criar, (...) então a finalidade técnica pode dar um lugar a um fazer humano, através do fazer maquínico da tecnologia. (SANTOS, 2004, p. 25).

O conceito de tecnologia apresentado é para que possamos reconhecer

sua associação permanente com a Arte e com isso percebermos que as

transformações ocorridas especialmente na sociedade do conhecimento

exigiram uma ruptura nas antigas práticas docente, reprodutiva e

conservadora.

Com isso, reconhecemos que a as possibilidades a partir dos recursos

digitais, não são diferentes, uma vez que os artistas fazem uso desses

recursos para aprimorarem e diversificarem sua arte, como pode ser observado

na evolução da câmera fotográfica e na arte digital.

Neste sentido, a proposta se pauta na necessidade de se entrelaçar a

Arte com as tecnologias com o intuito de apresentar subsídios aos professores

para que eles atuem de forma crítica e inovadora para vivenciar e promover

diferentes aprendizagens e práticas com seus alunos no cotidiano escolar,

fazendo com que os mesmos reconheçam as possibilidades de utilizar a

tecnologia como ferramenta para as aulas de Arte.

O estado do Paraná disponibiliza nas escolas biblioteca, laboratório de

informática, TV pendrive, tablet, lousa digital, entre outros recursos e

ferramentas que os professores possam utilizar para a elaboração das suas

aulas. De acordo com Moran (2004), o professor de novas tecnologias na

educação possui inúmeras opções de trabalho e possibilidades de organizar

suas aulas. Portanto, o que percebemos é de que os professores não se

sentem seguros ou preparados para explorar estes recursos.

A escolha da obra “O Grito” do artista expressionista Edward Munch, se

deve ao fato da mesma apresentar uma significativa representação no contexto

artístico através de diferentes materiais e técnicas e por proporcionar um

grande apelo visual para a arte contemporânea.

O movimento expressionista a qual a obra faz parte surgiu no século XIX

e início do século XX e através dela é possível aproximar o observador da

expressão de sentimentos como: o medo, a dor e angústia.

Portanto, proporcionar estudo teórico e atividades práticas como:

pintura, desenho, interpretação de imagem, representação teatral, música,

dança, entre outros conteúdos a partir de tecnologias digitais, oportuniza aos

participantes do estudo reconhecer-se como membro construtor de seus

próprios caminhos e assim, a arte deixará de ser distante da realidade,

justificando-se a relevância desse trabalho.

A Arte diante das TICs

Desde o início da civilização, com o surgimento dos hieróglifos até os

dias de hoje o homem sempre utilizou de alguma tecnologia para se comunicar.

Segundo a Revista Educatrix (2012) “a palavra tecnologia surgiu

aproximadamente no século XVII para designar o estudo das técnicas”.

(Revista Educatrix, 2012, p.12). Nas artes não é diferente, a tecnologia vem

acompanhando todos os períodos e linguagens artísticas. Para Nara Cristina

Santos (2005):

No contexto histórico que contribui para as transformações hoje evidenciadas na área das artes, as relações entre arte e tecnologia, no campo da visualidade, podem ser encontradas já a partir do Renascimento com a perspectiva geométrica ou, se pretendêssemos retornar ainda mais no tempo, as primeiras descrições de câmera obscura. (SANTOS, 2005, p. 34).

No Brasil, Waldemar Cordeiro foi o precursor das experiências artísticas

vinculadas à tecnologia informática no final dos anos 60. Com a popularização

do computador pessoal nos anos 80, muitos artistas incorporam este recurso

nas suas criações, seja na manipulação de imagens como na obra “Mona/Léo”

(1987) da artista Lillian Schwartz, ou explorando a interatividade como é o caso

do trabalho de Suzete Venturelli, Gilberto Prado, Diana Domingues, entre

outros.

Edmund Couchot (2003) relata que na década de 90 o Brasil assistiu

uma expansão das criações artística tecnológica, onde surgiram novos

conceitos estéticos que expressam as particularidades da cultura digital,

estabelecendo assim uma relação mais imediata entre a arte e o público,

fazendo o mesmo participar da construção da obra.

Este percurso das tecnologias e em especial os recursos da informática

não podem mais ser ignorados, dentro ou fora do contexto artístico. Para

Teruya (2006), “desde a infância, os estudantes convivem com algum tipo de

mídia eletrônica como o rádio, a televisão, o aparelho de som, e alguns

possuem computador, ou trabalham com ele, e outros navegam na internet”.

(TERUYA, 2006, p. 93). A autora enfatiza que não podemos ignorar a

importância dos recursos oferecidos pelas novas tecnologias nas escolas.

Segundo ela:

Estes recursos da informática pretendem melhorar o processo de ensino, porque oferecem auxílio pedagógico e material atualizado tanto para o educador quanto para os alunos. O computador é considerado um recurso que facilita a aprendizagem mas exige dos docentes uma fundamentação teórica e metodológica para trabalhar no ambiente informatizado. (TERUYA, 2006, p. 93).

Partindo da ideia de que as TICs contribuem para o processo de ensino-

aprendizagem deve-se levar em consideração que esses recursos podem e

devem ser utilizados a partir de uma intenção e dos objetivos que o professor

quer atingir, não apenas usar por usar as tecnologias, mas verificar quais

destes recursos poderá enriquecer sua aula e lhe dará aparato como

ferramenta educativa.

A proposta de interligar os conteúdos referentes à disciplina de Arte com

as tecnologias é para que possamos expandir os conceitos e criar estratégias

através de práticas diversificadas e atrativas, pois, segundo Teruya (2006), “os

mediadores midiáticos fascinam os jovens e podem enriquecer o ambiente de

aprendizagem ao combinar sons, palavras e imagens no processo de

apropriação da informação e do conhecimento”. (TERUYA, 2006, p.104).

Neste sentido, acredita-se na formação e na troca de experiências para

que os professores sintam-se capacitados e aptos para explorar estas

estratégias de ensino. A respeito das tecnologias na educação Allegretti (1998)

afirma:

A tecnologia na Educação encontrará seu espaço, desde que haja uma mudança na atitude dos professores, que devem passar por um trabalho de autovalorização, enfatizando seu saber para que possam apropriar-se da tecnologia com o objetivo de otimizar o processo de aprendizagem. E a mudança de atitudes é uma condição necessária, não só para os professores, como também para os diretores e demais colaboradores, pois estes devem conceber a sua posição e a sua autoridade de forma diferente–como agentes formadores, incentivadores, atuando sobretudo como mediadores do processo e co-participantes do trabalho escolar. (ALLEGRETTI, 1998, p.19).

Complementando o autor acima citado, Libâneo (2009), relata: “uma das

novas atitudes docentes diante das realidades do mundo contemporâneo é o

professor assumir o ensino como mediação, que a define simplesmente, como

a aprendizagem ativa do aluno com a ajuda pedagógica do professor”.

(LIBÂNEO, 2009, p. 13). O mesmo autor argumenta que o papel de mediador é

orientar, propor, articular os diferentes saberes, promover condições no

processo de aprendizado. Isso não quer dizer que o professor tenha que

abandonar o seu sabe e suas metodologias, elas precisam ser repensadas,

considerando o conhecimento do professor e dos alunos para a construção do

conhecimento.

Para esse entrelaçamento da arte e tecnologia é necessário que o

professor conheça algumas ferramentas e saiba usá-las na formação

continuada, para integrá-las à prática pedagógica. Como enfatiza Teruya

(2006), o entrecruzamento das tecnologias com as artes exige dos professores

fundamentação teórica e metodológica.

Para isso, o professor pode encontrar muitos desafios: dificuldades em

conhecer o recurso tecnológico, reconhecer de que maneira poderá entrecruzar

o conteúdo com as tecnologias, horário para explorar as ferramentas

disponíveis na escola, a falta de manutenção das TICs, entre outros. Esses

desafios fazem parte do processo e devem ser enfrentados de maneira

harmônica e cautelosa para fortalecer o papel do professor, pois segundo

Moran (2009), “as mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de

educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas,

entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar”. (MORAN, 2009, p.16).

Teruya (2006) declara que “atualmente, não é mais possível tratar as

práticas de ensino sem pensar nas mensagens midiáticas que circulam nos

diferentes meios de comunicação”. (TERUYA, 2006, p.96). Neste sentido, o

que estamos propondo neste estudo é a formação dos professores de Arte

para que sintam-se preparados para enfrentar a realidade tecnológica a qual

estamos inseridos.

Arte e Expressão

Sobre o ensino da arte os PCNs, (1997), cuja função era propiciar

subsídios à elaboração do currículo, afirma que a arte é importante e

significativa para o ser humano. Ela oportuniza o conhecimento e significados

de imagens, símbolos, registros históricos, provoca reflexões, amplia a visão de

mundo e permite criar e recriar saberes.

Nesse contexto a arte expressionista assume formas radicais em que a

expressão do sentimento tinha mais valor que a razão. Esse conceito pode ser

percebido na obra “O Grito” de Edward Munch, que faz parte deste movimento.

Assim, o expressionismo segundo Proença (1994), foi um movimento

que demonstrou uma reação à arte impressionista. Para os artistas

expressionistas esse movimento artístico deveria ser representado não apenas

pela beleza ou pela cor, mas sim por representar a exteriorização de conflitos

interiores que fazem parte da natureza humana.

Enquanto os impressionistas pintavam ao ar livre para expressar os

efeitos de luz, cor, sombra, os expressionistas não se limitavam às técnicas,

e sim à liberdade de expressão e dos sentimentos nas ações do homem com

a problemática da sociedade moderna. Seguindo esse pensamento Gombrich

(2006) diz:

O Movimento Expressionista encontrou seu solo mais fértil na Alemanha, onde conseguiu por certo, despertar a cólera e o espírito vingativo do “homenzinho”. Quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, a arte moderna foi banida, e os grandes lideres do movimento foram exilados ou proibidos de trabalhar. (GOMBRICH, 2006, p. 567).

Os artistas expressionistas utilizavam cores fortes e vibrantes.

Deformavam propositalmente as criações fazendo com que os seres reais

revelassem seu mundo exterior e imaginário para despertar a atenção dos

observadores. De acordo com Rossetto (2008) Edwar Munch (1863-1944) foi

um importante pintor expressionista que iniciou suas obras na Alemanha e teve

sua vida marcada por acontecimentos trágicos os quais representou na arte,

criando obras de imagens desfiguradas, com forte atitude e expressividade. Os

temas abordados nas obras de Munch eram relacionados aos sentimentos e

tragédias humanas como angústia, morte, depressão, medo, que estão visíveis

ao observarmos a obra “O Grito”.

Segundo a autora acima citada In: LDP (Livro Didático Público de Arte),

(2008), na obra “O Grito”, Edward Munch, o artista consegue expressar a teoria

apresentada:

O Grito de Munch traduz o grito da natureza humana, um horizonte conturbado por uma das maiores e mais antigas sensações humanas: o medo. Para Edvard Munch a arte não deveria representar o mundo das aparências, e sim o mundo interior das pessoas. A paisagem natural e substituída por uma paisagem interior que mais parecia um turbilhão de emoções como podemos observar na obra o Grito. (ROSSETTO, 2008, p. 27).

A particularidade na arte de Munch está na representação da sua

sinceridade em suas manifestações artísticas, colocando em sua arte

sentimentos que de uma ou outra forma faz o espectador refletir sobre a

mesma.

Para Gombrich (2006):

(...) a obra o Grito de Munch é um cenário de angústia, onde uma pessoa com o rosto deformado parece a gritar. O que perturba e deixa perplexo o público em relação a arte expressionista talvez seja menos o fato da natureza ser distorcida do que implicar um distanciamento da beleza. (GOMBRICHI, 2006, p. 564)

Nas obras expressionistas percebe-se que os artistas alimentavam

sentimentos fortes a respeito do sofrimento humano. Munch afirma que sua

arte não representa o mundo surreal de aparências e sim o mundo interior de

sentimentos melancólicos. Sendo o expressionismo uma arte subjetiva.

A Revista Veja (1994) apresenta uma reportagem relatando que a obra

“O Grito” de Edward Munch representa o estado de espírito do artista. Munch

declara em seu diário:

Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol, o céu ficou súbito vermelho sangue, eu parei, exausto e inclinei-me sobre a mureta-havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fiorde negro-azulado. Meus amigos seguiram caminho enquanto eu me detive, apoiando-me num corrimão, tremendo de medo-e senti o guincho enorme, infinito da natureza (...). (Revista Veja, 23 de fevereiro, 1994, p.105).

São infinitas as possibilidades que a arte permite ao ser humano

vivenciar. Nesse estudo serão apresentadas algumas considerações para a

reflexão sobre o ensino da arte “vivenciada” na escola, e até mesmo a arte

“praticada” nos espaços informais, onde muitos passam pela experiência de

“visualizar”, “vivenciar” e “praticar” a arte.

Sabe-se da importância da arte na formação do aluno, porém esta se

concretiza mediante propostas de ensino-aprendizagem adequadas, coerentes

e fundamentadas nas bases de um ensino de arte diferenciado, dinâmico,

atrativo e significativo, não deve existir apenas como uma disciplina do

currículo, mas sim pela sua presença viva no cotidiano escolar.

Para Martins (1998), os professores de Arte devem despertar nos alunos

a imaginação criadora, segundo ela:

Quanto mais o aprendiz tiver oportunidade de re-significar o mundo por meio da especificidade da linguagem da arte, mais poder de percepção sensível, memória significativa e imaginação criadora terá para formar consciência de si mesmo e do mundo. Desvelar/ampliar, como termos interligados, são ações que se auto-impulsionam, como pólos instigadores para poetizar, fruir, conceituar e conhecer arte elaborando sempre novas relações com o já sabido. (MARTINS, 1998, p. 8).

Segundo as DCEs (2008), as aulas de arte precisam ser um importante

trabalho educativo, estimula a criatividade e contribui para a formação da

personalidade do indivíduo. O ensino da Arte envolve várias áreas de

conhecimento (teatro, música, dança e artes visuais) e é através dessas

expressões artísticas que se possibilita a reflexão.

Construindo caminhos: teoria e prática no ensino da arte

A pesquisa aconteceu em dezesseis encontros, sendo oito presenciais e

oito on-line. Antes de cada execução das atividades prática realizávamos

discussões em torno dos temas.

Primeiramente divulgamos o Curso de Formação nas escolas do

município de Douradina/PR para a inscrição dos professores interessados.

Após a divulgação realizamos a seleção dos inscritos respeitando os critérios

estabelecidos que priorizava os professores que atuam na disciplina de Arte

nas diferentes escolas do município. Atendendo a solicitação da Secretaria de

educação de Douradina P/R, foram abertas mais vagas para representantes da

biblioteca do município e do CRAS (Centro de Referencia de Assistência

Social), por perceber que o curso contribuiria para o trabalho desses

profissionais.

No primeiro encontro presencial realizamos a explicação do formato do

curso, (virtual/presencial) cadastramos os e-mails dos professores,

preenchemos as ficha de presença e apresentamos o cronograma. O curso

aconteceu duas vezes na semana, (as quintas-feiras e aos sábados) e as

atividades virtuais seriam encaminhadas a cada quinze dias para que os

participantes pudessem organizar a sua rotina de trabalho.

A proposta virtual teve como objetivo oportunizar aos professores

leituras de textos de teóricos que utilizam uma abordagem crítica, visando

promover o desenvolvimento à medida que eles fossem apropriando-se da

experiência histórico-social. Não apenas como repetição decorrente de

conteúdos em sala de aula, mas com o acesso aos resultados dessas

experiências realizadas e consolidadas nos conhecimentos produzidos.

Sugerimos a leitura de parte das Diretrizes Curriculares da Educação

Básica do Paraná - Arte (2008), a fim de reconhecer o papel da Arte na escola.

Os participantes fizeram uma síntese das idéias destacando as questões

norteadoras deste estudo que parte do desenvolvimento de estratégias de

mobilização a partir da exploração das tecnologias como recurso metodológico

para aguçar a curiosidade do professor de aprender e pensar as diferentes

possibilidades de expressar e produzir arte utilizando as tecnologias como

apoio.

Segundo depoimentos, os professores compreenderam que o ensino da

Arte passou por vários processos de mudanças, identificando em cada uma

delas alguns avanços e transformações, rompendo com barreiras e propondo

diferentes maneiras de difundir a Arte.

O texto: “A contemporaneidade da docência em Artes Visuais e as

Novas Tecnologias”, do autor Ayrton Dutra Corrêa e Simone Witt Matté, In:

Oliveira, Hernández (2007), questiona a formação do professor na atualidade, o

pluralismo cultural, a diversidade na formação dos professores, a docência na

sala de aula com o uso das tecnologias e a necessidade da formação

continuada. A partir desta leitura construímos um mapa conceitual (construído

por cada participante) que representasse o amplo significado da palavra

“tecnologia” no ambiente escolar, destacando as dificuldades que os

professores possuem para trabalhar com as tecnologias.

Muitos fizeram um “desabafo” quanto às dificuldades da utilização do

laboratório de informática que nem sempre está funcionando, e todos os

participantes relataram que utilizam o editor de texto Microsoft Office Word para

realizar suas atividades.

Outra atividade virtual foi à realização da análise de um programa

televisivo. Cada professor escolheu uma notícia/reportagem relacionada a uma

das áreas de conhecimento da Arte (música, teatro, dança ou artes visuais)

que mais chamasse sua atenção a fim de reconhecer a influência das mídias

na formação de opiniões. Os participantes relataram suas impressões e

apresentaram para o grupo suas conclusões em um dos encontros presenciais.

A reflexão a partir do texto: “Despertando sensibilidades na formação de

professores de Arte”, de Marilda Oliveira de Oliveira, da obra: “Arte, Educação

e Cultura” (2005), instigou os professores quanto à prática metodológica

utilizada, incentivando os participantes a buscar aprofundamento teórico-

metodológico nas áreas de conhecimento da arte, através da troca de ideias e

experiências de cada participante. Durante as atividades virtuais as dúvidas e

inquietações eram discutidas nos encontros presenciais.

Alguns encontros presenciais foram realizados no laboratório da Escola

Drummond de Andrade – Douradina P/R. A primeira atividade prática

utilizamos o computador e o softwer Paint, um aplicativo que pode ser utilizado

como ferramenta de aprendizagem e através dele foi possível: visualizar,

desenhar, colorir, editar, criar, através da edição e tratamento digital

utilizando ferramentas que poderão dar suporte ao professor na preparação

de suas aulas.

Apresentamos um tutorial com várias ferramentas desse aplicativo,

permitindo usar a imaginação e realizar sua obra, seja ela de criação ou

releitura de imagem. Dando continuidade assistimos o vídeo da artista Tatiana

Goldring que produz de maneira criativa através do softwer Paint.

Na sequencia trabalhamos com o programa WEB- Audacity, um

software de edição de áudio, que pode ser utilizado para melhorar a qualidade

dos arquivos de áudio digital. Com ele é possível gravar sons, capturar áudio

de outros softwares, criar e adicionar sons por síntese, abrir arquivos de

diversos formatos, convertê-los para outro tipo de formato de áudio, salvá-los e

até mesmo realizar mixagens de várias pistas para um arquivo final mono,

estéreo ou surround (embora não seja uma função específica dele).

Este programa possui licença livre (GNU GPL) para as três plataformas:

Linux, Windows e MAC. A versão trabalhada como base para essas dicas,

detalhes, descrições e para os tutoriais do segundo volume é a 1.3.5 da

plataforma Linux.

Durante a instalação apresentamos o tutorial do programa. Em seguida

realizamos planejamento teórico e técnico para a produção de um programa de

rádio. Iniciamos com uma prévia roteirização.

Optamos por um programa de variedades, e nele foi possível inserir

elementos característicos de outros gêneros radiofônicos. Uma característica

frequente dos programas de variedades é o seu caráter descontraído e

informal, incorporando entrevistas, documentários, debates, informações, entre

outros. O grupo percebeu que o planejamento na produção radiofônica implica

a escolha do tema, de um formato adequado aos objetivos pedagógicos,

pesquisa de conteúdo, escrita do roteiro, definição de pessoas a serem

entrevistadas e a realização das entrevistas (se for o caso), seleção de

sonoplastia, trilha e efeitos sonoros e só assim, editar e posterior veiculação e

projeção da voz que também são elementos fundamentais para uma boa

locução no rádio.

Escolhemos o tema do próprio curso: "Estudo do movimento

expressionista a partir da utilização de recursos tecnológicos" para organizar o

programa. Compreendemos que o programa de rádio e a escolha do assunto

em sala de aula devem ser realizadas com a concepção de que se estará

trabalhando com um meio de comunicação que estimula a imaginação, e sem

imagens, isso implica na escolha detalhada da sonoplastia, identidade e

familiaridade com o assunto e, principalmente, a utilização clara dos objetivos

pedagógicos.

Foram realizadas várias atividades contemplando a fotografia. Para

trabalhar a expressão facial, conteúdo este proposto na disciplina de arte e que

vai de encontro com o movimento expressionista que estamos abordando,

construímos um mural com a obra “O Grito” com o rosto do personagem

recortado para que os participantes colocassem o seu próprio rosto e

representasse as diferentes expressões faciais, como o medo, angústia, raiva,

etc. À medida que os participantes faziam às expressões fotografamos e

montamos um mural com cada expressão. Reconhecendo nesta prática a

expressão presente no movimento expressionista como exercício de criação e

imaginação, pois o processo de aprendizagem artística aconteceu na medida

em que os professores interiorizavam e se familiarizava com o movimento.

Apropriando-se da fotografia trabalhamos a atividade “tela viva”.

Iniciamos o estudo apresentando o artista brasileiro Cândido Portinari,

considerado um dos maiores pintores expressionistas brasileiros. Suas

obras retratavam questões sociais de grupos menos favorecidos.

Escolhemos a obra “Os Retirantes” e a partir dela recriamos cenários,

figurinos e as expressões que a obra contemplava. Foi possível explorar

estilos de épocas diferentes, inventar novas cenas, interferir ou interpretar a

obra. A integração da linguagem do teatro com as artes visuais possibilitaram

ao grupo uma leitura ampla da obra, valorizando o saber e viabilizando a

integração das diversas áreas de conhecimentos da arte. Após a conclusão da

atividade montamos um grande painel com as fotografias.

Realizamos pesquisa detalhada da obra “O Grito”, como por exemplo: sobre o

artista Edward Munch, ano de sua produção, materiais utilizados, o movimento a

qual a obra faz parte, elementos formais, como cor, formas, entre outros aspectos.

Através destas atividades os participantes perceberam a sua capacidade

de desenvolver análise crítica, identificar o implícito e o que não está implícito

na obra relacionando com os aspectos históricos e culturais.

Foi distribuído para os participantes pequenas peças recortadas para

que coletivamente montássemos um quebra-cabeça em tamanho aproximado

A2. As peças quando juntadas formaram a obra “O Grito”.

Para a construção do poema expressionista, primeiramente colorimos

uma folha com as cores que se destaca na obra “O Grito”, a cada cor usada foi

escrito ao lado o que a mesma transmitia, amor, dor, ódio, medo e assim

sucessivamente e em seguida cada professor montou um poema com estas

palavras remetendo as sensações das cores.

Contemplando a linguagem do teatro e da dança, distribuímos revistas com

diferentes imagens, cada professor deveria escolher a imagem que se identificasse e

representar a mesma em forma de dança, mímica, ou qualquer outra representação.

Na sequencia, elaborar dois movimentos que antecedem a cena e dois após a cena,

teatralizando a imagem.

Outra atividade proposta foram às máscaras artísticas produzidas com

folhas de palmeiras, mas devido à estação do ano, não foi possível encontrar

as folhas de palmeira suficiente, então substituímos por papel machê. Aqui, os

participantes deveria expressar-se através da pintura do auto-retrato o seu

“grito”.

A atividade final proposta ao grupo foi uma análise da Produção Didático

Pedagógica, considerando seus limites e possibilidades e aplicação da mesma

na escola onde os professores atuam. Os professores elaboraram um texto

relatando seus anseios, dificuldades encontradas e nesse trabalho percebeu-se

que os professores participantes compreenderam que o ensino da arte

acontece mediante propostas de ensino-aprendizagem adequadas, coerentes e

fundamentadas nas bases de uma proposta de arte diferenciada, dinâmica,

atrativa e significativa.

Percebemos através destes exemplos algumas práticas onde as

tecnologias estão relacionadas favorecendo a proximidade do aluno e ao

mesmo tempo despertando reflexão crítica de um determinado assunto.

A pesquisa auxiliou os professores de maneira significativa, no entanto

algumas dificuldades podem ser apontadas nesse percurso como o fato de

alguns professores não saberem trabalhar com o computador ou conectar na

internet e não possuírem e-mail, sendo necessária uma aula inicial para sanar

estas dificuldades.

Todas as etapas do estudo foram importante e instigantes. Percebemos

o quanto os professores carecem de incentivo e fundamentação para as aulas

teóricas e prática, por isso foi apresentada a esses profissionais os autores que

fundamentaram o desenvolvimento desse estudo para que as práticas

pudessem ser desenvolvidas, muitos deles foram além do proposto ao realizar

atividades extras, já pressupondo que tem a intenção de levar a prática para

suas aulas.

Considerações Finais

De acordo com os objetivos propostos para o desenvolvimento deste

estudo e a partir das ações realizadas percebemos que é possível entrelaçar a

arte e a tecnologia no cotidiano escolar através de simples recursos.

A partir da obra “ O Grito” de Munch, foi verossímil estudar, analisar e

compreender a arte e os princípios para a elaboração de uma metodologia

artístico-educacional. Entrelaçando a teoria com a prática percebeu-se que é

possível desenvolver a sensibilidade artística associando o fazer à apreciação

levando os participantes do estudo a ter contato com as diferentes maneiras de

fazer e representar a arte, tendo as tecnologias como apoio.

Assim conclui-se que é necessário que aconteçam transformações

didático-pedagógicas em ambientes escolares, mesmo com poucos recursos

pode-se tornar o universo da arte atraente e motivador, com uma proposta

criativa e flexível propondo desafios para novas situações.

É possível pensar o ensino de arte na escola por meio de atividades

práticas que levam ao entendimento da arte, como a busca da compreensão de

mundo, com um olhar crítico sobre a realidade em que vive, com possibilidade

de que esse indivíduo reflita sobre à criação de significações que possibilite a

sua transformação como ser humano. Assim sendo, essas atividades dentre

outras, oportuniza aos alunos reconhecer-se como participante e construtor de

seus próprios caminhos.

Lembrando que essa pesquisa pode contribuir para com o trabalho de

outros professores de Arte e áreas afins, no entanto o tema pode ser

aprofundado com outras leituras as quais podem enriquecer esse estudo.

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