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Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
— Lógica da soberania, lógica da governamentalidade e nascimento dos Estados Modernos. O papel da educação escolar: universalização e obrigatoriedade; igualdade e
estratificação. Dia 8 de abril
— Breve histórico dos conceitos de biopoder e biopolítica. População, biopolítica e normalização. A governamentalidade como grade de inteligibilidade da segurança, do
liberalismo e dos neoliberalismos. Do imperativo do consumo e horror stati dos liberais ao imperativo da competição e servĭtus stati dos neoliberais. Dia 9 de abril
— A Educação como braço do Estado a serviço do neoliberalismo no Brasil contemporâneo. O novo vocabulário: diferença, inclusão, competição, avaliação,
volatilidade, flexibilização, performatividade, virtuosismo, endividamento, incompletude e inacabamento, presentificação, precariedade e precariado. Dispositivos e processos
contemporâneos de subjetivação. Dias 10 e 11 de abril
ModernidadeA Modernidade, de modo muito resumido e simplificado, pode ser
entendida menos como um período histórico e mais como uma “forma de vida” marcada pela fé na razão/racionalidade, no progresso e no modelo de Homem e sociedade “inventados” pelo Iluminismo europeu, no século
XVIII.
Idade Média
Modernidade
Contemporaneidade
crises novos cenários novos atores
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Contemporâneo / Pós-moderno / Hipermoderno
Talvez tudo o que possamos dizer com algum grau de segurança é o que o pós-moderno não é. Certamente não é um termo que designa
uma teoria sistemática ou uma filosofia compreensiva. Nem se refere a um sistema de ideias ou conceitos no sentido convencional;
nem é uma palavra que denota um movimento social ou cultural unificado. Tudo o que podemos dizer é que ele é complexo e
multiforme, que resiste a uma explanação redutiva e simplista.
(Usher & Edwards, Postmodernism and education, 1994, p. 7)
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Problemas de nomenclaturaOs nomes dados ao momento atual variam em função dos critérios usados
para caracterizar o que veio antes - a própria Modernidade
Pós-Modernidade (J.-F. Lyotard)
Hipermodernidade, Era do Vazio (G. Lipovetsky)
Neomodernidade (S. P. Rouanet)
Modernidade Líquida (Z. Bauman)
Modernidade Tardia (A. Giddens)
Modernidade Reflexiva (U. Beck)
Modernidade Avançada
Contemporaneidade – é uma palavra mais temporal e menos comprometida com a caracterização da Modernidade...
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Topoi do Contemporâneo
Liquidez (fluidez, flexibilidade, impermanência)
Volatilidade (descarte, hiperconsumo, comprismo)
Colapso do tempo (presentificação) adultez precoce infância não-realizada
adultez não-realizada
Performatividade (aparência, espetacularização)
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Topoi
Vazio (existencial) e endividamento
Imaterialidade (Ford) (Gates e Job)
Precariado (compulsório ou facultativo)
Vida administrável vida gestionável
Individualismo
Desencanto despolitização ourepolitização
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Novo vocabulário, novas ênfases, novos mitos
Competição: superação, novos desafios
Adaptação: tradução > tradição docilidade flexibilidade, resiliência
MultidãoA massa é uma aparição tão enigmática quanto universal que, de repente, está lá onde antes nada havia. Algumas pessoas podem estar reunidas, cinco, dez ou doze. Nada foi
anunciado, nada esperado. De repente, fica tudo preto de gente. (Elias Canetti. Massa e poder)
Império
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Novo vocabulário, novas ênfases, novos mitos
Novas geometrias:paredes redes
nomadismo e ênfase nos não-lugares disciplina controle (controlatos)
Celebração da diferença: diferentes, sim; porém iguais...
Segurança perigo risco (perigo calculável)
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Novo vocabulário, novas ênfases, novos mitos
assepsia geralpoliticamente correto (de mendigo a cidadão em situação de morador de rua)
Comunitarismosociedade comunidade
Infomaniaequalização entre informação, conhecimento e sabedoria
multiculturalismo (exacerbado)
autoempresariamento
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Alguns autores . . .
Michel Foucault Peter SloterdijkZygmund Bauman Ulrich Beck
Alain Touraine Gianni VattimoAnthony Giddens Charles Lemert
Gilles Deleuze Nikolas RoseCornelius Castoriadis Hanna Arendt
David Harvey Paul VirilioRichard Sennett Michel Wieviorka
Antonio Negri Michael HardtGilles Lipovetsky Octavio Ianni
Jean-François Lyotard Jean BaudrillardGiorgio Agamben Robert Castel
Gert Biesta Paolo Virno
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
— Lógica da soberania, lógica da governamentalidade e nascimento dos Estados Modernos. O papel da educação escolar: universalização e obrigatoriedade; igualdade e
estratificação. Dia 8 de abril
— Breve histórico dos conceitos de biopoder e biopolítica. População, biopolítica e normalização. A governamentalidade como grade de inteligibilidade da segurança, do
liberalismo e dos neoliberalismos. Do imperativo do consumo e horror stati dos liberais ao imperativo da competição e servĭtus stati dos neoliberais. Dia 9 de abril
— A Educação como braço do Estado a serviço do neoliberalismo no Brasil contemporâneo. O novo vocabulário: diferença, inclusão, competição, avaliação,
volatilidade, flexibilização, performatividade, virtuosismo, endividamento, incompletude e inacabamento, presentificação, precariedade e precariado. Dispositivos e processos
contemporâneos de subjetivação. Dias 10 e 11 de abril
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Para pensar de outros modos
“Mas teremos disponíveis as palavras certas para nomear tantas situações novas?”
“Temos de procurar as novas categorias que podem tornar inteligíveis as destruições e
subversões, mas também as iniciativas que vivemos.”
“As ideias mais difundidas num passado recente já nada nos explicam e soam oco.”
Alain Touraine (Pensar de outro modo)
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Extremo 1
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Extremo 2
Toda manhã, por mais de 200 dias por ano, os alunos chegavam à escola de elite sul-coreana, onde eu ensinava
inglês, às 7:40. Os professores e tutores infantis os esperavam na entrada para verificar seus cabelos
(comprimento e estilo; permanente e tintura eram proibidos) e uniformes (camisetas para dentro, saia na altura dos
joelhos e sapatos formais). Depois, eles subiam as escadas para as suas salas, onde esfregavam o chão, escovavam as
mesas, limpavam as janelas e jogavam o lixo fora. A jornada escolar começava às 8:00 horas, tinham um intervalo de 10 minutos, uma pausa para o almoço de 50 minutos e 1 hora
para o jantar às 17 horas.(John Rogers, Herald Tribune, 20/3/2012)
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Para pensar de outros modos
O pensar de outros modos “exige de nós um duplo esforço:
1º - tentar formular o mais coerente e claramente possível as formas de pensamento capazes de nos explicar nossa situação e
nossas condutas;
2º - voltar ao passado e criticar as representações da vida social cuja influência predominante nos impediu, por muito tempo, de fazer
penetrar uma maior clareza nas realidades sociais.”
Alain Touraine (Pensar de outro modo)
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Para pensar de outros modos
A radicalização do “pensar de outros modos”
1. colocar-se fora do arco platônico
2. dar as costas às metanarrativas iluministas
3. assumir apenas o a priori histórico
4. afinar-se com o neopragmatismo
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Para pensar de outros modos
1. colocar-se fora do arco platônicoDar as costas à doutrina dual de Platão
Compreender a alegoria da caverna (República e Timeus) como um recurso heurístico e não como uma verdade revelada
“A verdade é deste mundo” (Foucault)
Esquecer a transcendência
Dar outro estatuto à Filosofia“Mas o que é filosofar hoje em dia — quero dizer, a atividade filosófica — senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento? [Eu pergunto] se
ela não consiste, ao invés de legitimar aquilo que já se sabe, num empreendimento de saber como e até que ponto seria possível pensar de outro
modo? ” (Foucault)
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Para pensar de outros modos
2. Dar as costas às metanarrativas iluministasNão se trata tanto de argumentar contra as metanarrativas iluministas, mas sim
de desnaturalizá-las, mostrar seu caráter contingente (são datadas e localizadas, culturalmente inventadas) e deixá-las de lado ou para trás.
Também não se trata de não tomar partido, de não assumir juízos de valor, mas sim de não começarmos nossas análises tomando um juízo como dado e
autodemonstrado.
Praticar a hipercrítica
Minha opinião é que nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso, o que não significa exatamente o mesmo que ruim. Se tudo é perigoso, então temos sempre algo a
fazer. Portanto, minha posição não conduz à apatia, mas ao hiperativismo pessimista. (Foucault, Sobre a genealogia da ética).
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Para pensar de outros modos
3. Assumir apenas o a priori histórico
Todas as forças que, em alguma época, foram consideradas motores da história foram descobertas depois como tendo sido produzidas historicamente,
ou seja, a partir da história.
Todas as minhas análises são contra a ideia de necessidades universais na existência humana. Elas
mostram a arbitrariedade e qual espaço de liberdade podemos ainda desfrutar e como muitas mudanças
podem ainda ser feitas.(Michel Foucault)
O mundo é contingente. “Teima” em não ser nem necessário nem dialético.
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Para pensar de outros modos
4. Afinar-se com o neopragmatismoOs 3 nãos...
não ao fundacionismonão há ganchos no céu nem âncoras na terra;
ex.: multiculturalismo radical
não ao essencialismonão há nada não-relacional;
ex.: a pergunta “que é mesmo isso?” não faz sentido
não ao representacionismo/realismo- a linguagem primordialmente não representa, mas cria/institui aquilo que fala
- não interessa o que estiver fora do entendimento humanoex.: realidade = materialidade + sentido (atribuído pela linguagem)
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Para pensar de outros modos
4. Afinar-se com o neopragmatismo
O mundo não está à espera de uma descrição; ele se faz na própria descrição que o descreve
mostrar ≠ provarrigidez ≠ rigor ≠ exatidão
noção ≠ conceitoteoria (coisa) ≠ teorização (ação)
Não há leitura isenta (desinteressada ou neutra)
Não há descrição isenta (desinteressada ou neutra)
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Foucault para pensar de outros modos
dominações...
• PoderNão como “coisa” que se possua, mas como uma ação sobre ações e tão mais
econômico (efetivo, eficaz, eficiente) quanto mais estiver sustentado em “correias” de saber. A vontade de poder/potência está na base da vontade de
saber. O poder tem uma racionalidade interna à sua própria ação. O poder implica consentimento com sentimento, de modo que na sua forma idealizada
não dá lugar à resistência. Ex.: no limite, a sedução.
• ViolênciaTambém pode ser uma ação sobre ações, mas sempre é diretamente sobre um corpo, sem se preocupar com a economia. A violência tem uma racionalidade
externa à sua própria ação; para quem sofre a sua ação, ela é irracional. A violência implica resistência e até mesmo conta com e precisa da resistência. Ex.:
no limite, o estupro.
Dois conceitos importantes
subjetividade — em termos de como cada um se vê e age como um duplo em si mesmo: como sujeito e como
objeto de si
identidade — em termos de como cada sujeito se identifica ou liga (ou não se identifica ou liga) com os
outros sujeitos e, em função disso, se compreende e atua no interior de uma cada vez mais complexa trama social
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Sujeito como invenção moderna
Sujeito a-histórico (desde sempre aí) X sujeito histórico
A relação entre sujeito e objeto como invenção moderna
O sujeito tem sempre uma dimensão reflexiva (o sujeito se faz como um objeto de si mesmo: sub-jectāre – colocar debaixo e colocar para cima)
O sujeito é sempre um duplo, culturalmente construído
Tecnologias de subjetivação (reflexivas: ver-se, narrar-se, julgar-se)
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Foucault para pensar de outros modos
conduções...
• GovernoGoverno (gouverne, em francês) refere-se a uma instância administrativa,
hierarquizada, quase sempre centralizada e muitas vezes burocrática. Ex.: o governo de uma nação, o lugar (físico e simbólico) ocupado pelo(s)
governante(s).
• GovernamentoGovernamento (gouvernement, em francês) refere-se à ação de governar, isso é,
de um/uns conduzir os outro(s). Aqui, a etimologia revela-se muito útil, na medida em que conduzir deriva de cum + ducĕre = levar com (a aquiescência e
até cooperação do outro). Governa melhor (mais economicamente) o governante que conta com a colaboração do(s) governado(s). Ex.: o governamento que cada
um de nós é capaz de exercer sobre os demais.
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Foucault para pensar de outros modosFoucault para pensar de outros modos
• EducaçãoComo ação ou processo de acolhimento e de condução dos recém-chegados a
uma cultura.
kwel < colligo, colligěre < colher, acolher, cultivar, cultura, cultuar, dar colo, colonizar, colônia, inquilino...
deuk < duco, ducěre < duque, conduzir, introduzir, produzir, traduzir, induzir, educar...
Assim, a educação é uma forma de acolhimento e colonização...
• EscolaComo maquinaria (conjunto de máquinas) educacional de:
- sequestro e governamento- produção e reprodução (material, simbólica, de subjetividades etc.)
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Na oficina de Foucault
As ideias e os conceitos não estão num armazém à nossa espera; ambos são invenções do pensamento, para pensar. As noções são ferramentas provisórias. Os conceitos são ferramentas permanentes. Pensar a marteladas.
A “fidelidade infiel” não religiosidade, mas “vontade de verdade”; assim, no lugar do divino/sagrado, apenas o profano.
Ferramentas & atmosfera (éthos)
Num 1º momento, a Modernidade se constituiu num imenso esforço de dessacralização das práticas e do pensamento. Mas, na medida em que a lógica
da soberania precisa do sagrado, logo esse foi contrabandeado de volta e reinstalado, dissimuladamente, na Pedagogia e na Ciência modernas (Segunda
Modernidade). Assim, a Pedagogia nasceu como uma prática inovadora (discursiva e não-discursiva), dentro de um movimento reacionário, em que foi
reposta e ressignificada a articulação do (neo)platonismo com elementos da tradição judaico cristã.
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Na oficina de Foucault
A Pedagogia moderna
neoplatonismo
confluências Pedagogia moderna
trad. judaico-cristãs
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Na oficina de Foucault
As 7 pragas da Pedagogia Moderna
transcendentalismo
finalismo
catastrofismo denuncismo
salvacionismo
prometeísmo metodologismo
prescritivismo reducionismo
messianismo
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Situação da Razão Política no pensamento de Foucault
- A sempre problemática periodização . Mesmo assim. . .
- Os 3 domínios:
ser-saber – HL (1961), NC, PC, AS
arqueologia
ser-poder – HL, OD (1970), VP (1975) Cursos no Col. de France
genealogia
ser-consigo – HL, HS (1976 a 1984) Cursos no Col. de France
arqueogenealogia, anarqueologia
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Os cursos de Foucault no Collège de France
Questões a observar:
Caráter dos CursosO exercício de prestação de contas
Cursos como pensamento em movimento
Variedade e profundidade das fontes trabalhadas
Clareza e logicidade das exposiçõesA constante preocupação didática
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Os cursos de Foucault no Collège de France
Grupo 1Núcleo: história moderna das disciplinas, da norma e do biopoder
1970-1971 (Vontade de saber) até 1974-1975 (Os anormais)
Grupo 2Núcleo: Política, biopolítica, governamentalidade
1975-1976 (Em defesa da sociedade) até 1979-1980 (Do governo dos vivos)
Grupo 3Núcleo: governamento de si e dos outros, ética e subjetivação
1980-1981 (Subjetividade e verdade) até 1983-1984 (A coragem da verdade)
ano
curso
f
e
p
obs.
1971
A vontade de saber
x
x
1972
Teorias e instituições penais
1973
A sociedade punitiva
X
1974
O poder psiquiátrico X
X
X
1975
Os anormais
X
X
X
1976
Em defesa da sociedade
x
x
x
Título original:É preciso defen der a
sociedade
1977
—
1978
Segurança, território e população
x
x
x
1979
Nascimento da biopolítica
x
x
x
1980
Do governo dos vivos
x
x
Excertos. Edição organizada por Nildo
Avelino
1981
Subjetividade e verdade
x
1982
Hermenêutica do sujeito
x
x
x
1983
O governo de si e dos outros
x
x
x
Conhe cido como O go verno de si e dos
outros I
1984
A coragem da verdade
x
x
x
conhe cido como O go verno de si e dos
outros II
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PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
— Lógica da soberania, lógica da governamentalidade e nascimento dos Estados Modernos. O papel da educação escolar: universalização e obrigatoriedade; igualdade e
estratificação. Dia 8 de abril
— Breve histórico dos conceitos de biopoder e biopolítica. População, biopolítica e normalização. A governamentalidade como grade de inteligibilidade da segurança, do
liberalismo e dos neoliberalismos. Do imperativo do consumo e horror stati dos liberais ao imperativo da competição e servĭtus stati dos neoliberais. Dia 9 de abril
— A Educação como braço do Estado a serviço do neoliberalismo no Brasil contemporâneo. O novo vocabulário: diferença, inclusão, competição, avaliação,
volatilidade, flexibilização, performatividade, virtuosismo, endividamento, incompletude e inacabamento, presentificação, precariedade e precariado. Dispositivos e processos
contemporâneos de subjetivação. Dias 10 e 11 de abril
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Soberania e governamentalidade
A questão política central sempre é como governar os homensNuma perspectiva histórica do Ocidente, essa questão mostra-se em 3
fases que seguem 3 “modelos” distintos:
Modelo da Soberania Estado de Justiça (I. Média até séc. XVI), baseado num sistema de
código legal
Modelo da Disciplina Estado Administrativo (séc. XVII e XVIII), baseado em tecn. Disciplinares. As disciplinas regulam e têm, no seu horizonte, a autorregulação.
Modelo da Segurança Estado de Governo (séc. XIX e XX), baseado em dispos. de segurança
O Estado de Governo requer o atingimento da autorregulação.
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
A governamentalidade
Para compreender o conceito de governamentalidade, é preciso conhecer sua gênese a partir da pastoral cristã medieval e do esgotamento do
“modelo príncipe” (cuja função primordial sempre foi a de conservar o território).
Pastorado cristãoNa tradição oriental hebraica, o pastor não se ocupa do território, mas de suas ovelhas, as conduzindo, alimentando e protegendo, conhecendo cada uma em
sua individualidade (omnes et singulatim), vigiando-as e salvando-as. O pastorado hebraico é de caráter nômade. Na tradição cristã, essas tarefas se mantêm, mas
se sedentarizam e se institucionalizam (na Igreja: ekklēsia = a assembleia ou reunião dos pastores + ovelhas).
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A governamentalidade
Deslocamento do pastorado e articulação com o declínio do “modelo príncipe”
No séc. XVIII, o pastorado cristão se articula com o declínio da lógica principesca (que se tornou cada vez menos econômica frente às explosões e
dispersões populacionais) e se expande para o campo político. Nessa articulação, a ênfase no território dá lugar à ênfase nos indivíduos. O Imperial dá lugar ao
Estatal: “Roma, enfim, desaparece” (Foucault, STP). O grande problema político deixa de ser a legitimidade do soberano e passa a
ser o conhecimento e o desenvolvimento das forças do Estado. Isso implica a criação de um novo ente (a população) e de um novo saber acerca desse novo ente (a Estatística). Essas são as condições de possibilidade para a criação da
Economia Política, um tipo de saber que é capaz de sustentar as intervenções no campo da Economia e das populações.
O soberano é mandado para casa, mas permanece a lógica da soberania, agora deslocada para um novo registro: o Estado Moderno.
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
A governamentalidade
Não há substituições tout court, mas de uma articulação triangular:
disciplinas
população
governamento soberania
“Devemos compreender as coisas não em termos de substituição de uma sociedade de soberania por uma sociedade disciplinar e desta por uma sociedade
de governo. Trata-se de um triângulo: soberania—disciplina—gestão governamental, que tem na população seu alvo principal e nos dispositivos de
segurança seus mecanismos essenciais.” (Foucault, A governamentalidade)
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
A governamentalidade
Com esse neologismo, Foucault designa 3 “coisas”:
1. Conjunto de práticas, instituições, saberes, que tem por alvo a população, como principal saber a Economia Política e como instrumento principal os
dispositivos de segurança.
2. Uma determinada disposição política em que um novo tipo de poder (de governamento) se sobressai acima das disciplinas e da soberania e que levou ao desenvolvimento de uma série de aparelhos específicos de governamento e de
um conjunto de novos saberes.
3. O resultado de um processo histórico, ao longo do qual o Estado de Justiça medieval (passando pelo Estado Administrativo dos séculos XV a XVII) foi pouco a
pouco governamentalizado.
Mais tarde, nas Conferências de Vermont:“Governamentalidade é o encontro entre as técnicas de dominação
exercidas sobre os outros e as técnicas de si. (Foucault, Tecnologias do eu)”
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
A governamentalidade
“Governamentalidade é o encontro entre as técnicas de dominação exercidas sobre os outros e as técnicas de si. (Foucault, Tecnologias do eu)”
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Governamentalidade e Estado Moderno
O Estado Moderno “não é simplesmente uma das formas ou um dos lugares — ainda que seja o mais importante — de exercício do poder, mas que, de um certo modo, todos os outros tipos de relações de poder a ele se referem. Porém, não porque cada um dele derive. Mas, antes, porque se produziu uma estatização contínua das relações de poder. Poderíamos dizer que as relações de poder
foram progressivamente governamentalizadas”. (Foucault, O sujeito e o poder)
Assim, o Estado é o grande locus que, na Modernidade, enfeixa os fluxos sociais de dominação, por onde passam praticamente todas as relações de poder.
Se o Estado é hoje o que é, é graças a essa governamentalidade, ao mesmo tempo interior e exterior ao Estado. São as táticas de governo que permitem
definir, a cada instante, o que deve ou não competir ao Estado, o que é público ou privado, o que é ou não estatal. (Foucault, A governamentalidade)
Governamentalidade, Estado Moderno & Educação
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
PPG-Educação/UFRGS – 2014-1
Programa e cronograma:
– Introdução. Contemporaneidade. Dia 7 de abril
— Para pensar de outros modos. Na oficina de Michel Foucault. Situação da Razão Política nos Estudos Foucaultianos. Dias 7 e 8 de abril
— Lógica da soberania, lógica da governamentalidade e nascimento dos Estados Modernos. O papel da educação escolar: universalização e obrigatoriedade; igualdade e
estratificação. Dia 8 de abril
— Breve histórico dos conceitos de biopoder e biopolítica. População, biopolítica e normalização. A governamentalidade como grade de inteligibilidade da segurança, do
liberalismo e dos neoliberalismos. Do imperativo do consumo e horror stati dos liberais ao imperativo da competição e servĭtus stati dos neoliberais. Dia 9 de abril
— A Educação como braço do Estado a serviço do neoliberalismo no Brasil contemporâneo. O novo vocabulário: diferença, inclusão, competição, avaliação,
volatilidade, flexibilização, performatividade, virtuosismo, endividamento, incompletude e inacabamento, presentificação, precariedade e precariado. Dispositivos e processos
contemporâneos de subjetivação. Dias 10 e 11 de abril
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Biopolítica
Com essa palavra, Foucault designa os modos pelos quais se tenta, desde o séc. XVIII, racionalizar os problemas da prática governamental, a partir dos
fenômenos que se dão nos seres vivos quando tomados em seu conjunto populacional: saúde, natalidade, mortalidade, dinâmica espacial, higiene, etc.
A noção de biopoder já está presente no poder disciplinar. Mas o conceito de biopolítica só vai surgir com a emergência da população (séc. XVIII).
Biopolítica e população são correlatos.
É com a emergência da biopolítica que, no século XVIII, se inverte a lógica do “deixar viver, fazer morrer” para a lógica do “fazer viver, deixar morrer”. É nessa
chave que Foucault compreende o “racismo de Estado” como uma forma negativa de promover a vida de um grupo, às custas dos outros.
Biopolítica é o conjunto de disposições racionais do biopoder, cujo objetivo é a segurança da população, em termos de sua distribuição e existência.
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
População, biopolítica, normalização
É no século XVIII que se dá a “invenção” da população, da biopolítica e do liberalismo, tendo o Estado como elemento aglutinador e organizador.
A população deslocou o modelo familiar que pautava o governamento e levou a uma nova definição de economia: não mais como um conjunto racional de medidas da casa (oikos), mas da população. Daí, o surgimento da Economia
Política como um novo conjunto de saberes.
O conceito de população tem 2 faces: a) espacial: densidade demográfica, distribuição territorial etc.
b) existencial: condições e relações de coexistência, taxas populacionais
População & Educação . . .
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
População, biopolítica, normalização
A “invenção” da norma trouxe todo um conjunto de práticas e saberes que permitiram o conhecimento da população em níveis cada vez mais acurados, microfísicos, de modo a facilitar a intervenção e aumentar a segurança do/no
Estado.
Para compreender o poder na Contemporaneidade, é preciso abandonar os registros da soberania e da lei e examinar como e em que níveis atua o poder.
Foucault argumenta que atualmente é pela norma que o poder atua mais incisiva e economicamente. E, ao invés de reprimir uma suposta natureza individual já
dada, o poder da norma constitui, forma, modela nossos eus.
Na Modernidade:
Disciplina – biopoder sobre os indivíduos (individualizante)norma
Biopolítica – biopoder sobre a população (coletivizante)
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
Norma, normatização, normalização, normação
A norma engloba os normais e os anormais, ou seja, todos estão (ou estão colocados) na norma, sob o domínio da norma. O anormal está na norma.
A norma regula a vida dos indivíduos e, ao mesmo tempo, das populações. Assim, vivemos numa sociedade normatizada e de normalização (mas não
normalizada).Normatizar – estabelecer normasNormalizar – proceder a medidas de colocar todos nas faixas de normalidade, definida a partir da própria população. Típica das sociedades de segurança. Assim, no sentido foucaultiano, a Filosofia é uma longa luta contra a norma, de antinormalização.Normação – típica das sociedades disciplinares, em que a norma é pré-definida.As sociedades de normalização são, cada vez mais, sociedades medicalizadas. Eugenismo/racismo de Estado e psicanálise são as duas faces de uma mesma moeda.lei ≠ norma
Governamentalidade, Biopolítica e EducaçãoGovernamentalidade, Biopolítica e Educação
O novo vocabulário
Diferença- O pós-moderno “descobriu” que tudo é diferença. A diferença é; tudo é diferença.- O que chamamos de igualdade ou mesmidade são invenções epistemológicas que contornam ou diminuem a dispersão e possibilitam pensar. Assim, inventamos critérios de semelhança e agrupamos os semelhantes, a fim de fugirmos da dispersão e facilitarmos a memória.- A escola moderna inventou o currículo como o grande artefato que coloca ordem na diferença: seleciona, agrupa, hierarquiza, normatiza, compara e avalia.
Diversidade- Diversidade é o nome ou atributo que se dá para uma realidade em que tudo se mostra como diferença.- Para a Modernidade, a diversidade é um ruído que atrapalha o ideal de pureza; ela se manifesta como curiosidade, exotismo, carnavalização.- Para o pós-moderno, a diversidade é a manifestação de uma materialidade que é pura diferença.
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Liberalismo e neoliberalismo
Economia sob a “lógica da equivalência”:Liberais do séc XVIII – liberdade de intercâmbio, pois a verdade é o (ou está no) mercado. Por isso, o horror ao Estado (horror stati) – Adam SmithLiberais do séc. XX – liberdade de intercâmbio, pois a verdade é o (ou está no) consumo. Ainda o horror stati.
Economia soba a “lógica da desigualdade”Neoliberais do séc. XX – liberdade de concorrência, pois a verdade é a (ou está na) competição. Por isso, não mais o horror stati, mas a servidão do Estado ao mercado (servĭtus stati). Dado que a competição será tão mais efetiva quanto mais livre for e quanto mais gente dela participar, todos são bem-vindos: é preciso que todos participem do “jogo”. Para isso, o Estado se faz necessário: incluindo e registrando os jogadores, organizando os cenários do jogo. “O mercado, ou antes, a concorrência pura (que é a própria essência do mercado) só pode aparecer se for produzida; e produzida por uma governamentalidade ativa”. (Foucault, NB, p. 164-165)
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Liberalismo e neoliberalismo
Se, para os liberais, o ambiente sociocultural deve ser livre e espontâneo, exterior às ações dos governos e ao Estado (laissez-faire), para os neoliberais tal ambiente deve ser dirigido e modelado pelos governos e pelo Estado, aos quais caberá produzir a liberdade. Por isso, “o neoliberalismo constantemente produz e consome liberdade. A própria liberdade transforma-se em mais um objeto de consumo” (Veiga-Neto, GNE-FFP, p. 39)
E, na medida em que cabe ao Estado dirigir e modelar os cenários, será preciso lançar mão de práticas e instituições que executem tal tarefa. A maquinaria escolar mais uma vez é convocada para dar conta das demandas do Estado: caberá à Educação (especialmente escolarizada, mas também no âmbito das pedagogias culturais) tanto colocar cada vez mais jogadores no jogo quanto ensinar todos a jogar (segundo suas competências, interesses etc., mas de modo ainda e sempre estratificado). Trata-se de um jogo no qual todos perdem (econômica ou existencialmente).
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Liberalismo e neoliberalismo
Neoliberalismo alemãoNa reconstrução da Alemanha pós-guerra (1948), a Economia não deve combater o Estado, mas orientá-lo, dirigi-lo, a fim de evitar os erros que ele pode cometer (e cometeu, na Alemanha nazista, por exemplo). Em termos da Filosofia Política, a Economia coloca-se acima do Estado, para que possa subjugá-lo e, por fim, colocá-lo a serviço dos interesses dela mesma (assumindo, dissimuladamente, a transcendentalidade do mercado).
Neoliberalismo norte-americano/estadounidense anarcoliberalismoNasce como oposição ao Estado de Bem-Estar Social, aos perigos do socialismo/socialização, do militarismo norte-americano e ao keynesianismo. O neoliberalismo norte-americano é mais do que uma forma de a Economia se conduzir frente ao Estado (e vice-versa): é uma forma de vida, uma forma de a Economia se relacionar com o Estado e seus cidadãos, que “está na alma” de todos e de cada um em particular, tendo a liberdade como imperativo maior.
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Um paradoxo e a sua tensão
Ideal da homogeneidade (estratificada)Para a escola numa episteme que assume a mesmidade, a diferença e o diferente
são o problema
X tensãoIdeal da heterogeneidade
Para a escola numa episteme que assume a radicalidade da diferença, a mesmidade e o mesmo são o problema
O paradoxo: Como conciliar/transferir o ideal de uma episteme para uma outra episteme que lhe é contrária (justamente nessa
idealização)?
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A tensão essencial da Pedagogia Contemporânea
Na escola moderna, a dominação é verticalizada, em nome do contrato social. A inclusão é conformadora, mesmo que feita em
nome do Humanismo; a inclusão nivela e homogeneiza (ainda que em estratos diferentes), promovendo a fusão cultural.
XNa escola contemporânea, as dominações são horizontalizadas,
entre grupos que querem marcar suas diferenças (tribos, comunidades etc.). A inclusão é a garantia de um espaço de trocas
que permitam a manutenção da diversidade, sem querer promover a fusão cultural.