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12 Glossário sobre termos de Espiritualidade Maia da Guatemala Por Julio David Menchú Cruz Tradução de Maristela Zancan Ajaw: Deus, que é Criador e Formador, que é dualidade e dividiu seu coração em dois para estar conosco, os humanos: Uk'u'x kaj (Coração do Céu), Uk'u'k Ulew (Coração da Terra). Ajq’ij: Guia espiritual maia, literalmente o que leva a conta dos dias. No plural, Ajq’ijab’. É a pessoa que serve como intermediária entre Ajaw, a natureza e a pessoa, que exerce sua função como tal, de maneira nata e inata, em benefício da coletividade. Altar Sagrado: O espaço ou circunscrição física onde se realiza o ato cerimonial como manifestação de fé e espiritual do ser humano, localizado nos lugares sagrados Cacau (Theobroma cacao L): Bebida cerimonial que se prepara tostando em uma chapa ou frigideira as amêndoas de cacau, em seguida moendo-as na pedra, e logo se prepara uma infusão. Se deve esclarecer que não é chocolate, mas uma bebida muito forte e amarga. Também se usou o cacau como moeda, e cada Cidade-Estado mantinha o monopólio sobre a produção do mesmo. Nas cerimônias se usa para queimar no Nahual Toj para pagar as multas e fazer oferendas. Cerimônia Maia ou Xukulem: Forma de aproximar-se de Ajaw Criador e Formador, constitui o rito litúrgico por excelência dos maias. Pode ser por meio da queima de resinas, velas e oferendas em poços naturais ou rios. Estas podem ir acompanhadas ao som de marimba, de tun (espécie de tumbadora escavada em um tronco de árvore), de chirimía (flauta doce típica da região maia) , de caracol (grande concha usada como instrumento de sopro que produz um assovio), de tambor, de harpa e de violino, por ser parte integral das cerimônias.

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Glossário sobre termos de

Espiritualidade Maia da Guatemala Por Julio David Menchú Cruz

Tradução de Maristela Zancan

Ajaw:

Deus, que é Criador e Formador, que é

dualidade e dividiu seu coração em dois para

estar conosco, os humanos: Uk'u'x kaj (Coração

do Céu), Uk'u'k Ulew (Coração da Terra).

Ajq’ij:

Guia espiritual maia, literalmente o que leva a

conta dos dias. No plural, Ajq’ijab’.

É a pessoa que serve como intermediária entre

Ajaw, a natureza e a pessoa, que exerce sua

função como tal, de maneira nata e inata, em

benefício da coletividade.

Altar Sagrado:

O espaço ou circunscrição física onde se realiza

o ato cerimonial como manifestação de fé e

espiritual do ser humano, localizado nos lugares

sagrados

Cacau (Theobroma cacao L):

Bebida cerimonial que se prepara tostando em

uma chapa ou frigideira as amêndoas de cacau,

em seguida moendo-as na pedra, e logo se

prepara uma infusão. Se deve esclarecer que

não é chocolate, mas uma bebida muito forte e

amarga. Também se usou o cacau como moeda,

e cada Cidade-Estado mantinha o monopólio

sobre a produção do mesmo. Nas cerimônias se

usa para queimar no Nahual Toj para pagar as

multas e fazer oferendas.

Cerimônia Maia ou Xukulem:

Forma de aproximar-se de Ajaw Criador e

Formador, constitui o rito litúrgico por

excelência dos maias. Pode ser por meio da

queima de resinas, velas e oferendas em poços

naturais ou rios. Estas podem ir acompanhadas

ao som de marimba, de tun (espécie de

tumbadora escavada em um tronco de árvore),

de chirimía (flauta doce típica da região maia) ,

de caracol (grande concha usada como

instrumento de sopro que produz um assovio),

de tambor, de harpa e de violino, por ser parte

integral das cerimônias.

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Cholq’ij ou Tzolkín:

Este calendário Cerimonial ou sagrado

relacionado com os movimentos da Lua, tem um

ciclo de 9 meses, ou 260 días. É usado

atualmente pelos Ajq’ijab’, para fazer a

recontagem dos dias sagrados com base nos 20

Nahuales ou energias combinadas com os

numerais de 1 a 13.

Chol’ab ou Ab:

Ano solar de 365 dias, composto por 18 meses de

20 dias, mais um último mês de 5 dias chamado

Wayeb. Este calendário está ligado às atividades

agrícolas, que traz a conta dos períodos das

estações, os ciclos de chuva, a época de

semeadura e colheita do milho sagrado como

alimento dado pelo coração do céu e da terra;

os ciclos de caça, pesca. Também para fazer o

controle de pragas e doenças nas colheitas.

Choltun ou Conta Larga (Conta Grande?)

Sistema que conta o passar do tempo

continuamente desde uma data de início. Os

maias clássicos, nossos antepassados,

mantinham uma perfeita contagem do tempo,

usando seu sistema da conta larga, combinando

os dois diferentes calendários acima

mencionados. A Conta Larga iniciou

aproximadamente há 5.000 anos, na data de 4

Ajpu, 8 Kumku, equivalente a 11 de agosto de

3114 A.E.C, e que se repetirá em 21 de

dezembro de 2012, que marca o fim de um

grande ciclo e o começo de outro.

É composto por:

Qi’j : 1 Dia (24.017 horas)

Winaq ou Uinal: 20 Q’ij (20 dias ou 1 mês

Maia)

Tun: 18 winaq (360 dias ou cerca de 1

ano [menos 5 dias de um dos nossos])

Katún: 20 Tuns (7.200 dias ou cerca de

20 anos [19.73 dos nossos])

B’aqtun: 20 katuns (144.000 dias ou

cerca de 400 anos [394,52 dos nossos])

Cosmovisão maia:

Forma de ver o mundo a partir da perspectiva

dos maias, e o traço mais importante da

mesma, pois tudo está relacionado e

amplamente unido no universo; tudo depende de

tudo, e portanto merece respeito.

Chuch-ajaw:

É a pessoa que é o pilar da comunidade, ele é

Ajq’ij dos Ajq’ijab’, é eleito pela comunidade

para ser o seu guia espiritual , ainda que hajam

outros Ajq’ijab’, este constitui a autoridade

legítima.

Ixim:

Milho sagrado (zea mays), do qual fomos feitos.

São 4 cores que temos presentes no nosso corpo:

Vermelho no nosso sangue; Negro em nossos

olhos e cabelos; Amarelo em nosso sistema

linfático e gordura corporal; Branco nos nossos

ossos e dentes. Também representa as cores dos

quatro povos do mundo.

Jun-Winaq:

Ser humano integral

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Kamal be’:

Ajq’ij ou Guia espiritual, normalmente é o

ancião principal de uma comunidad que

comanda e enche de sabedoria as novas

gerações, é digno da confiança da comunidade.

Em geral são os presidentes das associações

e/ou agrupações.

Lugar Sagrado:

Os sítios, monumentos, parques, complexos ou

centros arqueológicos, que constituem espaço e

fonte de energia cósmica e natural, de vida e

sabedoria, para a comunicação espiritual do ser

humano com o Ser Supremo ou Ajaw, e sua

convivência com a natureza, para o

fortalecimento e articulação do presente com

passado e futuro.

Mam:

Avô.

Mam ou carregador (sustentador?) do ano:

Nahual que tem a responsabilidade de trazer e

conduzir o ano sobre seus ombros. Conhecido

como Avô, autoridade, Mam, B'acab’,

Administrador, Governador (não no sentido

ocidental), o Carregador (Sustentador?), e no dia

em que cai o Nahual se celebra o primeiro dia

do ano. Na maioria dos povos na Guatemala são

quatro os Nahuales ou carregadores , que se

sucedem um a cada ano, e coincide com a

energía de quatro Nahuales: E (caminho), Noj

(sabedoria), Iq’ (vento), Kej (Veado).

O dia no calendário gregoriano se irá

modificando na medida em que se tenha que

fazê-lo para coincidir com a energía do Nahual,

porque não existe ano bissexto no calendário

maia. O dia do Nahual carregador em 2012 foi

22 de fevereiro, nos próximos anos será no dia

21 de fevereiro, 20 e assim sucessivamente.

Sempre deve coincidir com a ordem dos

Nahuales indicados. Este dia começa em Zero

Pop, ou primeiro dia do ano. (ver meses maias)

Meses maias

Os meses no calendário maia são constituídos

por 20 dias, um por cada dia do calendário

cerimonial, quer dizer, o mês tem 20 dias e cada

mês tem somente um dia com o mesmo nome.

Cada nome do mês corresponde a uma

característica própria de cada mês. O ano tem

18 meses de 20 dias, o que equivale a 360 dias;

mais um mês de 5 dias para completar o ciclo de

365 dias. Se conta de zero a 19 para completar

os 20 dias. Os dias dos meses se contam assim:

0 Kumku, 1 Kumku, 2 Kumku, 3 Kumku, 4

Kumku, 5 Kumku, 6 Kumku, 7 Kumku, 8 Kumku,

9 Kumku, 10 Kumku, 11 Kumku, 12 Kumku, 13

Kumku, 14 Kumku, 15 Kumku, 16 Kumku, 17

Kumku, 18 Kumku, 19 Kumku, 0 Wayeb’, 1

Wayeb’, 2 Wayeb’, 3 Wayeb’, 4 Wayeb’.

Os nomes dos meses do calendário em maia

yucateco são: Pop, Uo, Zip, Zotz, Zec, Xul,

Yaxkin, Mol, Chen, Yax, Zac, Ceh, Mac, Kankin,

Muan, Pax, Kayab’, kumku e Wayeb’. Este é o

sistema menos usado.

Milpa:

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Sistema de agricultura que é usado para não

desgastar a terra, semeando milho, que

consome muito nitrogênio, feijão (leguminosa)

que devolve o nitrogênio à terra e a moranga

verde, que nivela o potencial de hidrogênio da

terra; pode-se semear também na milpa a

pimenta, que funciona como fumigante natural.

Isso constitui a dieta básica na Mesoamérica.

Nahual, Nawal, Q’ij alaxïk, wäch q’ij:

O Nahual é o Espírito ou a Energia que

acompanha os dias do calendário Cerimonial

Cholq´ij. Tem representações nos elementos da

natureza, animais ou elementos. Vai

acompanhado de um número que precede o

Nahual e este indica a quantidade de energia ou

força que acompanha a pessoa nascida neste

dia. Por exemplo: •| Aj (6 junco). Pode buscar

seu Nahual ou informação em:

www.losnahuales.org

Pixab’ em k’iche’ e pxa´ em kaqchikel:

Reunião de aconselhamento que se pratica nas

comunidades, onde se transmitem

conhecimentos das avós e avôs, as anciãs e

anciãos, e as mães e pais de família, os quais

baseados em sua experiência e sabedoria

fundamentam os princípios e valores da

comunidade. Nela normalmente participam os

maiores de 52 anos, devido ao compromisso que

se adquire com esta idade nos âmbitos pessoal,

familiar e comunitário. O pixab’ também se usa

quando há decisões comunitárias a tomar.

Popol Wuj

Livro Sagrado da Espiritualidade Maia. Traduzido

literalmente significa “Livro do Conselho”,

“Livro da Sabedoria” e é conhecido como o Livro

das antigas histórias dos K’iche’s. As melhores

traduções já realizadas são: “Pop Uuj” de Don

Adrian Ines Chavez e “Popol Wuj”, tradução ao

espanhol e notas de Sam Colop, de FyG Editores.

Rabinal Achí ou Xajooj tun (Baile do Tun):

Dança-drama prehispânica que conserva seu

sentido original sem a mistura própria do

catolicismo, ainda que seja encenada em uma

festa cristã, entre 12 e 25 de janeiro, em

Rabinal,no dia da Conversão de São Paulo. É

dançada no átrio da Igreja. O relato na obra se

situa em um momento de conflito entre os

Rabinaleb e os K’iché, duas entidades políticas

importantes dentro da região e época.

Rijlaj Mam ou Maximón (-O Grande Avô)

Divindade ancestral, tão antigo como a

existência dos povos originários. O Grande Avô

foi criado pelo Coração do Céu, pelo Coração da

Terra, pelos Criadores e os Formadores, em um

momento singular da criação do universo, da

humanidade. Comumente é chamado de São

Simão, e este foi um método de resistência,

para poder seguir invocando sua proteção. Se

acredita que foi torturado e queimado vivo pelos

espanhóis no início da invasão espanhola em

Santiago Atitlán

Tuj, Chuj ou Tamascal:

Instalação na casa onde se pratica um banho ou

ducha de tipo ritual para a purificação. É um

banho necessário para as mulheres gestantes e é

praticado pelas terapeutas maias parteiras.

Wayeb´ (maia iucateco), Tz´api´q´ij (maia

k´iche´), Tz´apinq´ij (maia kaqchikel):

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Mês de 5 dias do calendário maia solar. Estes

dias são complementares para o tempo

astronômico, e para complementar o ciclo de

365 dias. São 5 días de reflexão, retiro e

meditação onde se pede perdão pelas faltas

cometidas no ano que termina e para pedir

sabedoria e proteção para o ano que começa.

Julio David Menchu