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Gerhad F. Hasel - Teologia Do Antigo Testamento

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Os anos recentes têm testemunhado uma enorme quantidade de publicações da erudição bíblica...Os anos recentes têm testemunhado uma enorme quantidade de publicações da erudição bíblica, procedentes tanto da Europa como dos Estados Unidos. Em muitos casos, abordagens contraditórias expressas nessas fontes têm causado confusão, mesmo entre os próprios especialistas, quanto á natureza, ao método e a função da teologia tanto do Antigo quanto do Novo testamento. GERHARD HASEL. em seu livro, Teologia do Antigo Testamento: Questões básicas no Debate Atual, oferece uma ampla análise da literatura disponível nesse vasto campo do conhecimento teológico.O texto desta edição, revisto, atualizado e ampliado é uma investigação criteriosa e lucidamente articulada, considerando as maiores tendências na área da teologia bíblica. HASEL, aqui, provê sua avaliação dos métodos passados e atuais, a partir do que ele apresenta uma nova abordagem para a teologia bíblica. Vigoroso em sua defesa da validade das Escrituras como a Palavra de Deus, o autor inclui neste trabalho os mais significativos estudos das últimas décadas. Sua bibliografia, com centenas de títulos pode ser considerada uma das mais abrangentes publicadas até o momento.

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Sumario

Abreviaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

Prefacio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Introduc;:ao 9

1. Origens e Desenvolvimento da Teologia do AT 13

2. 0 Problema da Metodologia 27

3. A Questao da Hist6ria, Hist6ria da Tradic;:ao e Hist6ria daSalvac;:ao 43. ,

4. 0 Centro e a Teologia do AT 57

5. A Relac;:aoEntre os Testamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 77

6. Sugest6es Essenciais Para Se Elaborar uma Teologia do AT. 95

Bibliografia Selecionada 107

lndice dos Autores 115

lndice dos Assuntos 119

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Abreviaturas

AUSSCBQEOTH

EvThFRLANT

lOBJBLJBROaG

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RScPhThSBTTAT

ThLZThZTOT

VTWMANT

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Andrews University Seminary StudiesCatholic Biblical QuarterlyEssays on Old Testament Hermeneutics, ed. Claus Wester-mann (Richmond, Va., 1963).Evangelische TheologieForschungen zur Religion und Literatur des Alten undNeuen TestamentsInterpreter's Dictionary of the Bible (Nashville, 1962)Journal of Biblical LiteratureJournal of Bible and ReligionOffenbarung als Geschichte, ed. W. Pannenberg (2. a ed.;G6ttingen, 1963)The Old Testament and Christian Faith, ed. B. W. Ander-son (New York, 1963)G. von Rad, Old Testament Theology (2 vols.; New York,1962, 1966)Revue des Sciences Philosophiques et TheologiquesStudies in Biblical TheologyG. von Rad, Theologie des Alten Testaments (5. a ed.;Miinchen, 1966)Theologische LiteraturzeitungTheologische ZeitschriftW. Eichrodt, Theology of the Old Testament (2 vols.;Philadelphia, 1961, 1965)Vetus TestamentumWissenschaftliche Monographien zum Alten und NeuenTestamentZeitschrift fiir alttestamentliche WissenschaftZeitschrift fiir Theologie und Kirche

..

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Pre/acio

Temos presenciado uma torrente de estudos sobre teologia do ATdesde 0 lanc;:amento deste livro em 1972. Situam-se entre eles cinconovas teologias, sen do tres da autoria de eruditos europeus e duas deamericanos, mas todas divergem entre si sobre prisma e metodo.Alem disso, foi divulgado grande numero de artigos e ensaios queabordam aspectos importantes dessa disciplina.

o fa to de a primeira edic;:ao ter-se esgotado com surpreendenterapidez comprova sua ampla utilizac;:ao por professores e alunos erevela seu valor como introduc;:ao ao atual debate sobre a natureza,func;:ao, metodo e escopo da teologia do AT. Procuramos, nestaedic;:ao revista, apresentar capHulos atualizados, com 0 acrescimo decomentarios sobre pontos de vista divulgados na literatura recente.Complementando esta tarefa primordial, adicionamos um novo capi-tulo sobre a origem e 0 desenvolvimento das teologias biblica e do AT,expondo os motivos do debate em curso e mostrando um panoramadas divers as etapas da conturbada hist6ria da disciplina. Incorpora-mos uma ampla bibliografia, que abrange, principalmente, a litera-tura atual. Este e um testemunho vigoroso da importancia do assuntopara 0 pens amen to teol6gico de hoje.

Gostaria de expressar meu reconhecimento e gratidao aos professo-res que me expuseram a teologia biblica enquanto discipulo e aosmeus alunos que contribuiram estimulando debates. Agradec;:o espe-cialmente ao Sr. Marlin J. VanElderen, editor-chefe da Wm. B. Eerd-mans Publishing Company, cujo encorajamento e apoio desempenha-ram papel fundamental na rapida publicac;:ao desta edic;:ao revista.Nao posso deixar de agradecer tambem aqueles que executaram ser-vic;:osde datilografia e tarefas congeneres, colaborando, assim, para aconcretizac;:ao deste volume.

Seminario Te076gicoUniversidade Andrews

GERHARD F. HASEL

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A teologia do AT encontra-se, inegavelmente, em crise. As ultimasmonografias e artigos de estudiosos europeus e americanos' demons-tram que problemas fundamentais e quest6es cruciais continuamsem soluc;:ao e objeto de intenso debate. Embora date de seculos, ateologia do AT hoje nao sabe ao certo sua verdadeira identidade.

George Ernest Wright nos fala de sua mudanc;:a de opiniao em TheOT and Theology (New York, 1969), afirmando: "Devo concordarcom Eichrodt ... " (p. 62). Anteriormente, em seu conhecido estudoGod Who Acts: Biblical Theology as Recital (SBT, 8; London, 1952),ele concordava com os conceitos teol6gicos de Gerhard von Rad,referen tes a essencia da teologia do AT. 2 Por ou tro lado, 0 te610gofrances Edmond Jacob retorna ao incessante debate sobre a natureza,func;:ao e metodo da teologia do AT em seu ultimo livro, Grundfragenalttestamentlicher Theologie (Stuttgart, 1970), no qual ele prosseguefundamentando e defendendo sua posic;:ao.3 0 mesmo se da com 0erudito holandes Th. C. Vriezen. A segunda edic;:ao inglesa de seulivro An Outline of OT Theology (Newton, Mass., 1970)4 - inteira-mente revista e ampliada - coloca nova enfase no conceito de

1 Veja a Bibliografia, p. 107.2 The OT and Theology, p. 61 e s. Veja tambem os seguintes ensaios de WriRht:

"Reflections Concerning OT Theology", Studia Biblica et Semitica. FestschrIft Th.e. Vriezen (Wageningen, 1966), p. 376-388; e "Historical Knowledge and Revela-tion", em Translating and Understanding the ~T. Essays in Honor of HerbertG. May, ed. H. T. FrankeW. L. Reed (New York, 1970), p. 279-303.

3 A nova edi,ao francesa de ThenloRie de I A T (2. a edi,iio. Neuchatel. 1(68) abordatambem, em seu pref£icio, os problemas aqui em discussao. Sao pertinentestambem dois artigos recentes de Jacob: "Possibilites et limites d'llne theologiebiblique", Revue d'Histoire et de Philosophie Religieuses, 46 (1966), p. 116-130; e"La theologie de l'AT", Ephemerides theologicae lovanienses, 44 (1969),p.420-432.

4 A segunda edi~ao inglesa baseia-se na 3. a ed. holandesa de 1966 e inc1ui ainda ex-certos da literatura publicada ap6s 1966.

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comunhao. B. S. Childs analisa, em sua ousada e incisiva monogra-fia, Biblical Theology in Crisis (1970), a essencia, os sucessos e os fra-cassos do chamado Movimento Teol6gico Biblico nos Estados Uni-dos, que diz-se ter atingido 0 fim de seus dias.5 Ele tambem prop6euma nova metodologia para se abrac;:ar uma "nova teologia biblica". 6

Algo congenere europeu a monografia de Childs foi escrito pelote610go alemao Hans-Joachim Kraus; sua obra Die Biblische Theo-logie. Ihre Geschichte und Problematik (1970) se preocupa essencial-mente com a hist6ria da disciplina na Europa a partir de 1770.7 Estevolume indispensavel exp6e pormenorizadamente problemas cruciaisda mesma (p. 307-395).

The Path of Biblical Theology, de Wilfred 1. Harrington, OP,retrata "0 metodo, 0 escopo e 0 ambito da teologia biblica". Eleexamina as teologias do AT e do NT, baseando-se, principalmente,em teologias representativas, mas nao tem tanto sucesso quandoaborda as relac;:6es complexas e contradit6rias da teologia biblica.Nesse ponto, Kraus demonstra muito mais percepc;:ao e sensibilidadeem relac;:ao as quest6es e problemas. Harrington, no entanto, apresen-ta importantes aspectos da contribuic;:ao cat6lica romana.

Err quatro an os foram escritas cinco novas teologias do AT,recorde este nunca antes alcanc;:ado e dificil de ser repetido no futuro.A. Deissler, erudito cat6lico, desenvolve sua teologia do AT sob 0titulo The Basic Message of the OT,8 revelando, de imediato, umapostura teol6gica contraria a de G. von Rad, a saber, que 0 AT possuium centro unificador: Deus e seu relacionamento com 0 mundo e como homem. 9 A mensagem fundamental do AT consiste em seu testemu-nho do Deus unico, nao-secular, supratemporal, santo e pessoal,exibido nas paginas de Genesis, Exodo, Deuteronomio, nos escritosdos profetas e tradic;:6es sacerdotal e da sabedoria. W. Zimmerli 10

5 A data exata do "fim" do Movimento Teol6gico Biblico como for~a dominante naAmerica e maio de 1963, segundo se acredita; e tambem a data da publica~ao deHonest /0 God de J. A. T. Robinson; veja Biblical Theology in Crisis (Filadelfia,1970), p. 85 e 91, de B. S. Childs. Verifique as analises e criticas de M. Barth, em"Whither Biblical Theology", Interpretation, 25/3 Uulho de 1971), p. 350-354, e,emAUSS, 10(1972),179-183, de GerhardF. Hasel.

6 Veja especial mente os capitulos 5 e 6, intitulados "The Need for a New BiblicalTheology" e "The Shape of a New Biblical Theology", do livro de Childs, p. 91-96e 97-122.

7 E surpreendente que Kraus mencione tao poucas vezes nomes de eruditos anglo-saxoes (p. 2, 4, 5, 334, 336, 344, 373 e s.). Embora trate detalhadamente de muitodo que R. C. Dentan abordou (veja a Bibliografia), aparentemente ele nao se referenem uma vez ao estudo dele.

8 Die Grundbo/schaf/ des AT(Freiburg i. Br., 1972).9 Neste ponto ha concordancia com a tese proposta por W. Zimmerli em sua analise

de OTT de von Rad em VT, 13 (1969), p. 109.10 Grundriss der all/estamentlichen Theologie (Stuttgart, 1972). Repare na ampla

discussao desta obra feita por C. Westermann, em "Zu zwei Theologien des AT",EvTh, 34 (1974), p. 102-110.

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compartilha com Deissler da convicc;:ao de que um centro unico podeservir de linha de orientac;:ao. A teologia do AT "e toda express6es doAT acerca de Deus"," e, portanto, "0 dever lda teologia do ATJ eapresentar um AT que descreva Deus no sentido que the e maispr6prio".12 Em Outline of OT Theology, Zimmerli considera 0 ATum "livro comunicativo (Buch der Anrede)" , 0 que evidencia adistancia que vai entre ele e von Rad, para quem 0 AT e um "livro dehist6ria (Geschichtsbuch)" .130 tomo intitulado Theological FoundingStructures of the OT, de G. Fohrer,14 ap6ia-se fundamentalmente noduplo conceito do governo de Deus e de sua comunhiio com 0 homem.Afigura-se aqui a influencia de Th. C. Vriezenl5 e M. Buber.'6A obra de Fohrer carece de uma estrutura coerente.17 0 mesmopode-se dizer do livro de J. L. McKenzie, A Theology of the OT(Garden City, 1974), que principia com um capitulo sobre "Culto"(assunto nem sequer men cion ado por Zimmerli), discutindo, emseguida, "Revelac;:ao", "Hist6ria", "Natureza", "Sabedoria", "Ins-tituic;:6es Politic as e Sociais", e conc1uindo com "0 Futuro de Israel".Em vez de adotar uma linha de orientac;:ao (um centro, conceito outema) ou alguma estrutura em especial, McKenzie seleciona "t6picosespecificos", "normalmente escolhidos de acordo com estudos einteresses pessoais ... "18 Por conseguinte, seu livro esta longe de serum guia completo de teologia do AT e nem pretende se-Io. Contras-tando com estas quatro teologias, que pretendem ser meramentedescritivas, esta a obra de C. R. Lehman, Biblical Theology I: OldTestament (Scottdale, Pa., 1971). A teologia do AT e aqui considera-da parte integrante da teologia biblica, estando alicerc;:ada no "con-ceito fundamental de revelac;:ao progressiva" e na "suprema unidadeda Biblia". 19 "A teologia biblica estuda a revelac;:ao de Deus nodecorrer da hist6ria biblica", ou seja, "0 desvendamento da revelac;:aodivina acerca das alianc;:as registradas nas Escrituras. "20 Lehman,portanto, combina a hist6ria da religiao de Israel com a teologia doAT, sob 0 titulo de teologia biblica.

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11 Zimmerli, Grundriss, p. 7.12 P.9.13 G. von Rad, OTT, II, p. 415.14 Theologische Grundstrukturen des AT (Berlim, 1972). Note tambem a discussao

de Westermann, EvTh, 34 (1974), p. 96-102.15 Especialmente no tocante ao conceito de "comunhao" - nucleo do AT segundo

Vriezen (infra, Capitulo IV) e na coletanea "The Personal Structure" (p. 133 e ss.).16 Isto se evidencia no princ!pio da "correlacao" e na grande enfase na "fe dos

profetas" .17 Essencialmente. nlio ha nenhuma rela,ao entre os capitulos 1-3 e 4-7.18 McKenzie, A Theology of the OT, p. 23.19 Lehman, Biblical Theology I: Old Testament, p. 8.20 P.37.

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Toda essa contribuic;:ao recente em forma de monografias indicaque 0 debate sobre a natureza, func;:ao, metodo e configurac;:ao dateologia do AT continua aceso. As ultimas obras sobre 0 assuntodemonstram que a carreira dessa disciplina, e, no sentido maisamplo, da teologia biblica, ainda nao terminou. Os ultimos progres-sos vem acarretando ainda maiores complicaC;:6es.

Todo exegeta e te610go responsavel continuara a pesquisar osproblemas basicos determinantes do carater da teologia do AT (e doNT) e, conseqiientemente, da teologia biblica. Nossa exposic;:ao naopretende ser completa, mas procura tocar em pontos que, em nos soentender, sao problemas primordiais ainda sem soluc;:ao. Procuramosenfocar a origem e 0 desenvolvimento da teologia biblica primeira-mente, e·da teologia do AT, a fim de salientar as origens das quest6esfundamentais desse debate que vem-se desenrolando. Assim, nossaenfase em quest6es cruciais - nuc1eo desses problemas fundamentais- esta bem apoiada. Baseados neste exame, apresentaremos, noultimo capitulo, nossas sugest6es para 0 estudo da teologia do AT.

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Origens e Desenvolvimentoda Teologia do AT

o proposito deste capitulo e examinar as principais tendencias dahist6ria das teologias biblica e do AT desde suas origens ate seurenascimento ap6s a Primeira Guerra Mundial. 1 Esta pesquisahist6rica visa apresentar 0 fundamento do debate em curso sobre 0

ambito, prop6sito, natureza e func;:ao da teologia do AT. Como esta eparte integrante da teologia biblica, nao pode ser estudada separada-mente.

A. Da Reforma ao Iluminismo. 0 principio protestante "sola scrip-tura" / que transformou no grito de guerra da Reforma contra ateologia escolastica e a tradic;:ao eclesiastica, preparou 0 terreno parao desenvolvimento subseqiiente da teologia biblica atraves de suaconciamac;:ao a livre interpretac;:ao das Escrituras (sui ipsius inter-pres).3 Nao foram os reformistas que criaram 0 termo "teologiabiblica" nem a abrac;:aram como disciplina, como veio a ser entendidaposteriormente.

o termo "teologia biblica" tem duplo sentido: (1) pode caracterizara teologia que est a arraigada no ensinamento das Escrituras e nelasfundamentada ou (2) pode caracterizar a teologia inerente a pr6priaBiblia.4 Neste ultimo caso, trata-se de uma disciplina teol6gica

1 Entre as melhores hist6rias sobre teologia biblica, destacam-se: R. C. Dentan,Preface to OT Theology (2." ed.; New York, 1963); H. J. Kraus, Die biblischeTheologie. Ihre Geschichte und Problematik (Neukirchen- Vluyn, 1970); 0_ Merk,Biblische Theologie des NT in ihrer Anfangszeit (Marburg, 1972); C. T. Fritsch,"New Trends in OT Theology", Bibliotheca S'Jcra, 103 (1946), p. 293-305;E. Wuerthwein, "Zur Theologie des AT". ThR, 36 (1971), p. 185-208.

2 Visando 0 emprego deste principio no periodo da pre-Reforma, veja H. Oberman,The Harvest of Medieval Theology (2." ed.; Grand Rapids, Mich., 1967), p.201,361-363,377,380-390.

3 G. Ebeling, "The Meaning of 'Biblical Theology''', Word and Faith (Londres,1963), p. 81-86.

4 W. Wrede, Uber Aufgabe und Methode der sogenannten NeutestamentlichenTheologie (Giittingen, 1897), p. 79; Ebeling, Word and Faith, p. 79-81; K. Sten-dahl, "Method in the Study of Biblical Theology", The Bible in ModernScholarship, ed. J. P. Hyatt (Nashville, 1965), p. 202-205; Merk, BiblischeTheoiogie, p. 7.

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especifica, cuja origem e desenvolvimento descreveremos sumaria-mente.

A hermeneutica "sola scriptura" de Lutero e s<!uprincipio do "wasChristum treibet" aliados ao dualismo "letra-espirito"5 0 impediramde desenvolver uma teologia biblica_ O. Glait e Andreas Fischer,representantes da Reforma Radical, desenvolveram, nos primordiosde 1530, um metodo que prefigurava 0 da futura teologia biblica. 6

o termo "teologia biblica" s6 apareceu pel a primeira vez cem anosapos a Reforma na obra Deutsche Biblische Theologie (Kempten,1629) de Wolfgang Jacob Christmann, da qual nao existem exempla-res hoje em dia.

7Ja a Theologia Biblica (Daventri, 1643) de Henricus

A. Diest pode ser adquirida; e 0 primeiro documento a propiciarvislumbres da natureza de uma disciplina, que entao nascia. Com-preendia-se que a teologia biblica consistia em "textos de prova" dasEscrituras, extraidos indiscriminadamente dos dois Testamentos, demodo a apoiar os tradicionais "sistemas de doutrina" -da ortodoxiaprotestante primitiva. A func;:ao auxiliar da "teologia biblica", emcontraposic;:ao a dogmatica, foi solidamente estabelecida por Abra-ham Calovius - um dos representantes mais destacados da ortodoxiaprotestante - ao intitular de "teologia biblica" 0 que antes erachamado de theologica exegetica. 8 Em seus trabalhos, os "textos deprova" biblicos, conhecidos por dicta probantia e mais tarde porcollegia biblica, tinham a func;:ao de apoiar a dogmatica. A contri-buic;:ao duradoura de Calovius foi atribuir a teologia biblica 0 papelde disciplina auxiliar das doutrinas do protestantismo ortodoxo. Estepapel de disciplina auxiliar da dogmatica ortodoxa evidencia-se nostrabalhos de teologia biblica de Sebastian Schmidt (1671), JohannHiilsemann (1679), Johann Heinrich Maius (1689), Johann WilhelmBaier (1716-19) e Christian Eberhard Weismann (1739).9

o retorno ao dominio da Biblia, caracteristica do pietismo alemao,deu novo curso a teologia biblica_ 10 Nesse movimento, esta tornou-se

5 G. Ebeling. "Die Anfiinge von Luthers Hermeneutik". LihK. 48 (1951).p. 172-230, esp. 187-208.

6 G. F. Hasel, "Capito, Schwenckfeld and Crautwald on Sabbatarian AnabaptistTheology", Mennonite Quarterly Review, 46 (1972), p. 41-57.

7 Mencionado em M. Lipenius, Bibliotheca realis theologica omnium marteriarum(Frankfurt, 1685), tomo !, col. 1709, e aludido pela primeira vez por Ebeling emWord and Faith, p. 84, n. 3.

8 Calovius, Systema locorum theologicorum I (Wittenbergae, 1655).9 Schmidt, Collegium Biblicum in quo dicta et Novi Testamenti iuxta seriem

locorum comunium tlzeologicorum explinatur (Strassburg, 1671); Hiilsemann,Vindiciae Sanctae Scripturae per loca c/assica systematis theologici (Lipsiae,1679); Maius, Synopsis theologiae judicae veteris et nova (Giessen, 1698); Baier,Analysis et vindicatio illustrium scripturae (Altdorf, 1716-19); Weismann, Insti-tutiones theologiae exegetico-dogmaticae (Tuebingen, 1739).

10 O. Betz, "History of Biblical Theology" ,IDB, !, 432.

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um instrumento de reac;:ao a arida ortodoxia protestante." PhilippJacob Spener (1635-1705), um dos pais do pietismo, combateu 0

escolasticismo protestante munido da "teologia biblica". 12 A influen-cia do pietismo se faz sentir nas obras de Carl Haymann (1708),J. Deutschmann (1710) e J. C. Weidner (1722), que se valem dateologia biblica para fazer frente aos sistemas ortodoxos de dou-trina_13

Ja em 1745 a teologia biblica sofre uma nitida separac;:ao da teologiadogmatica (sistematica), passando a ser entendida como fundamentodesta ultima.14 Isto denota sua libertac;:ao do simples papel de auxiliarda dogmatica. A possibilidade de a teologia biblica rivalizar com adogmatica e se converter numa disciplina total mente independenteesta inerente nesse progresso. Estas tendencias eram patrocinadaspelo racionalismo da era do iluminismo.

B. A Era do Iluminismo_ Uma concepc;:ao completamente nova doestudo da Biblia desenvolveu-se sob divers as influencias na era doiluminismo (Aufklarung). Em primeiro lugar e antes de mais nada,deu-se a reac;:ao do racionalismo a qualquer forma de sobrenatura-lismo.'5 A razao humana tornou-se 0 padrao definitivo e a fonteprincipal de conhecimento, isto e, a autoridade da Biblia comoregistro infalivel de revelac;:ao divina fora rejeitada. A segunda grandecontribuic;:ao do periodo iluminista foi 0 desenvolvimento de umanova hermeneutica: 0 metodo historico-critico,16 cujo lugar estaassegurado atualmente no liberalismo e em movimentos subseqiien-tes_ Em terceiro lugar, submeteu-se a Biblia a critica literaria radical,

11 Dentan, Preface to OT Theology, p. 17; Merk, Biblische Theologie. p. 18-20;Kraus, Biblische Theologie, p. 24-30.

12 P. J. Spener, Pia Desideria (Frankfurt, 1675), traduzido e editado por T. G.Tappert (Filadelfia, 1964), p. 54 e s.

13 Haymann, Biblische Theologie (Leipzig, 1708); Deutschmann, Theologia Biblica(1710); Weidner, Deutsche Theologia Biblica (Leipzig, 1722).

14 Segundo artigo sem assinatura em J. H. Zedler, ed., Grosses vollstimdigesUniversallexikon (Leipzige Halle, 1745; reimpresso Graz, 1962), vol. 43, col. 849,p. 866 e s., 920 e s. d. Merk, Biblische Theologie, p. 20.

15 0 deismo ingles, representado por John Locke (1632-1704), John Toland (1670-1722), Matthew Tindal (1657-1733) e Thomas Chubb (1679-1747), e que enfatiza-va a supremacia da razao sobre a revela~ao, teve seu paralelo no continente na"ortodoxia racional" de Jean A. Turretini (1671-1737) e nas pessoas de S. J.Baumgarten, J. S. Semler (1725-1791), J. D. Michaelis (1717-1791). Veja W. G.Kiimmel, The NT: The History of the Investigation of its Problem (Nashville,1972), p. 51-72; H. 1. Kraus, Geschichte der historisch-kritischen Erforschungdes AT(2." ed.; Neukirchen- Vluyn, 1969), p. 70 e ss.

16 G. Ebeling, "The Significance of the Critical Historical Method for Chl!fCh andTheology in Protestantism", Word and Faith, p. 17-61; U. Wi1ckens, "Uber dieBedeutung historischer Kritik in der Bibelexegese", Was heisst Auslegung derHeiligen Schrtft? eds. W. Joest et al. (Regensburg, 1966), p. 85 e ss.; J. E. Ben-son, "The History of the Historical-Critical Method in the Church", Dialog, 12(1973), p. 94-103; K. Scholder, Ursprunge und Probleme der Bibelkritik in 17.Jahrhundert. Ein Beitrag zur Entstehung der historisch-kritischen Theologie(Munich,1966).

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o que se deve a 1. B. Witter e J. Astruc, entre outros. Por ultimo, 0racionalismo, por sua pr6pria natureza, foi levado a abandonar aconcepc;:ao ortodoxa da inspirac;:ao da Biblia, de forma que ela veio aser considerada um mere documento antigo, que deve ser estudadocomo todos os outros documentos antigos.'7

Anton Friedrich Biisching, parcialmente levado pelo pietismo efortemente influenciado pelo racionalismo, deixa patente, em suasobras, pela primeira vez, que a teologia biblica tornara-se -rival dadogmatica.18 Critica-se a dogmatica protestante, tambem conhecidacomo "teologia escolastica", por suas especulac;:6es vazias e teoriasestereis. G. Ebeling bem sumariou: "A 'teologia bib liea' deixou deser uma disciplina auxiliar da dogmatica, tornando-se agora rivaldesta. "19

Um grande incentivador da "revoluc;:ao da hermeneutica"20 foi 0racionalista Johann Solomo Semler (1725-1791), cuja obra, emquatro volumes, Treatise on the Free Investigation of the Canon(1771-75), trazia a afirmac;:ao de que a Palavra de Deus e as SagradasEscrituras nao sao identicas,21 sugerindo que nem toda a Biblia eresultado de inspirac;:ao,22 sen do um mere documento hist6rico, quedevia ser examinado, como qualquer outr~ documento congenere,por meio de uma metodologia exc1usivamente historica e, portanto,critica.23 Assim, conc1uiu-se que a teologia biblica nao passava deuma disciplina historic a, que se contrapunha a dogmatica tradi-ciona1.24

Gotthilf Traugott Zachari~ (1729-1777) deu um grande passo emdirec;:ao a separac;:ao entre a teologia biblica e a dogmatica, em suaobra, em quatro volumes, sobre a primeira (1771-75).25 Influenciadopela nova orientac;:ao ditada pela dogmatica e pela hermeneutica, eleprocurou elaborar um sistema de ensinamentos teol6gicos baseando-se num minucioso trabalho de exegese. Cada livro das Escrituras

17 A pessoa-chave eJ. S. Semler, que, em sua obra em quatro volumes, Abhandlungvon der freien Untersuchung des Kanons (1771-75), combateu a doutrina ortodoxada inspira~ii.o. Kraus, Geschichte, p. 103 e ss.

18 A. F. Biisching, Dissertatio inauRuralis exhibens epitomen theologiae e solis li-teris sacris concinnatae (Goettingen, 1756); idem, Epitome Theologiae (Lemgo-viae, 1757); idem, Gedanken von der Beschaffenheit und dem Vorzug derbiblisch-dogmatischen Theologie vor der scholastischen (Lemgo, 1758).

19 Ebeling, Word and Faith, p. 87.20 Dentan, Preface, p. 19.21 Kiimmel, The NT: The History, p. 63.22 G. Hornig, Die Anfonge der historisch-kristischen Theologie (Gottingen, 1961),

p. 56 e ss.23 Merk, Biblische Theologie, p. 22.24 Hornig, Die Anfonge, p. 57 e s.; Merk, Biblische Theologie, p. 23 e s.25 G.T. Zacharia, Bib/ische Theologie oder Untersuchung des biblischen Grundes

der vornehmsten theologischen Lehren (Gottingen e Kiel, 1771-75); Dentan,Preface, p. 21; Kraus, Biblische Theologie, p. 31-39; Merk, Biblische Theologie,p.23-26.

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possui epoca, importancia e finalidade pr6prias. Zacharill., contudo,ateve-se a inspirac;:ao da Biblia/6 tal como J. A. Ernesti (J 707-1781)/7seguindo 0 metodo de exegese biblica deste.28 A exegese hist6rica ea compreensao canonica das Escrituras nao entram em conflito,segundo a concepc;:ao de Zacharill., porque 0 "aspecto hist6rico ficaem segundo plano na teologia". 29 Desta forma, nao e necessario sefazer distinc;:ao entre os Testamentos - ha uma relac;:ao de reciproci-dade entre eles. Essencialmente, 0 interesse de ZacharHI. permaneciacentrado no sistema dogmatico, cujas impurezas ele desejava ex-purgar.

As obras de W. F. Hufnagel (1785-89)30 e do racionalista C. F. vonAmmon (1792)31 pouco se distinguem em estrutura e prop6sito da deZachariiL A teologia biblica de Hufnagel consiste numa "coletanea,mediante analise hist6rico-critica, de textos de prova biblicos, emapoio a dogmatica. "32 Von Ammon, por sua vez, adotou as ideias deSemler e dos fil6sofos Lessing e Kant, apresentando 0 que mais seassemelhava a uma "teologia filos6fica". Digna de nota e a sua maiorapreciac;:ao do NT,33 sendo esse 0 primeiro passo para um tratamentoindependente da teologia do AT,l4 adotado quatro anos mais tardepor G. L. Bauer.

o ne610go e racionalista Johann Philipp Gabler (1753-1826), quenunca escreveu ou mesmo pretendeu escrever uma teologia biblica,contribuiu de forma decisiva e marcante para 0 desenvolvimento danova disciplina, com sua palestra de abertura na Universidade deAltdorf, em 30 de marc;:o de 1787.35 Esse ana marcou para a teologiabiblica 0 inicio de seu papel de disciplina exc1usivamente hist6rica,totalmente independente da dogmatica. Gabler da sua famosa de-finic;:ao: "A teologia biblica possui um carater hist6rico: ela trans miteo que os escritores sacros pensavam de temas divinos; ja a teologia

26 Zacharia, Biblische Theologie, !, p. VI.27 J_ A. Erncsti, Institutio interpres Novi Testamenti (Leipzig, 1761); Kummel.

TheNT: The History, p. 60es.28 Kraus, Biblische Theologie, p. 35.29 Zachariii, Biblische Theologie,!, p. LXVI.30 W. F. Hufnagel, Handbuch der biblischen Theologie (Erlangen, vol. !, 1785;

vol. II, 1789).31 C. F. von Ammon Entwurf einer reinen biblischen Theologie, 3 vols. (Erlangen,

1792). Cf. Kraus, Biblische Theologie, p. 40-51.32 D. G. C. von Colin, Biblische Theologie (Leipzig, 1836), !, p. 22.33 Kraus, Biblische Theologie, p. 51.34 Dentan, Preface, p. 26.35 J. P. Gabler, "Oratio de iusto discrimine theologicae biblicae et dogmaticae

regundisque recte utriusque finibus" ["About the Correct Distinction of Biblicaland Dogmatic Theology and the Right Definition of their Goals"], em Kleinetheologische Schrzften, eds. Th. A. Gabler e J. G. Gabler (Ulm, 1831), II,p. 17<)-198. Tradu~ao completa para 0 alemao em Merk, Biblische Theologie,p. 273-284; tradu~ao parcial para 0 ingles em Kummel, History, p. 98-100.

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dogmatic a possui um carater didatico: ela transmite as ponderac;:6esfilosoficas de determinado teologo acerca de temas divinos, levan doem conta sua capacidade, epoca e regiao em que viveu, e orientac;:aoou escola, entre outras coisas_"36 Sua perspectiva indutiva, historica edescritiva da teologia biblica apoia-se em tres considerac;:6es essc,,-ciais: (1) A inspirac;:ao deve ser deixada de lado, porque "0 Espiritode Deus decididamente nao destruiu 0 atributo da compreensao epercepc;:ao inerentes aos santos".37 0 que import a nao e a "autoridadedivina", mas "apenas 0 que eles [autores biblicos] pensavam". 38(2) Cabe a teologia biblica coligir diligentemente as concepc;:6es eideias de cada escritor da Biblia, porque ela nao contem as ideiasapenas de um unico individuo. Por essa razao, as opini6es dos autoresbiblicos precis am ser "extraidas pacientemente das Sagradas Escritu-ras, orden ad as apropriadamente, relacionadas devidamente aos con-ceitos gerais e comparadas detalhadamente umas com as outras_ .. "39Isto pode ser realizado atraves da aplicac;:ao sistematica do metodohistorico-critico, aliado a critica literaria, historica e filos6fica.40

(3) A teologia biblica como disciplina historica e obrigada, pordefinic;:ao, a "fazer distinc;:ao entre as diversas fases das religi6esantiga e nova. "41 A tarefa principal e investigar quais conceitos saorelevantes para a doutrina crista, isto e, quais se "aplicam ao dia dehoje" e quais "perderam sua validade" _42Estas dec1arac;:6es progra-maticas trac;:aram 0 futuro da teologia biblica (AT e NT), apesar de 0

programa de Gabler a respeito ter side condicionado por sua epoca eapresentar consideraveis limitac;:6es.43

George Lorenz Bauer (1755-1806),44 disdpulo de 1. G. Eichhorn,foi 0 primeiro a compreender a finalidade de uma teologia biblicarigorosamente hist6rica_ Deve-se a ele a publicac;:ao da primeirateologia do AT: Theologie des Alten Testaments (Leipzig, 1796).45Atribui-se a ele, devida ou indevidamente, ter dividido a teo-logia biblica em teologia do AT e do NT. 46 A Theologie des AT de

36 "Oratio", em Kleine theoiogische Schriften, II, 183 e 184. Cf. R. Smend,"1. P. Gablers Bergrundung der biblischen Theologie", EvTh, 22 (1962), p_ 345-367; Kraus, Biblische Theologie, p. 52-59; Merk, Biblische Theologie, p. 29-140.

37 Kleine (heologische Schnften, II, p. 186.38 P. 186; Kummel, History, p. 99.39 P. 187; Kummel, History, p. 100.40 Merk, Biblische Theologie, p. 68-81.41 Gabler, "Oratio", em Kleine theologischl' Schriften, II, p. 186; Kummel, History,

p.99.42 P. 191; Kummel, History, p. 100.43 Merk, Biblische Theologie, p. 87-90,111-113.44 Veja especialmente Kraus, Biblische Theologie, p. 87-91, e Merk, Biblische

Theologie, p. 141-203.45 Pouco tempo depois ele publicou a obra em quatro volumes Biblische Theologie

des Neuen Testaments (Leipzig, 1800-1802).46 Gabler havia proposto esse tratamento independente em sua palestra de abertura

em 30 de mar~o de 1787.

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Bauer possui estrutura triplice: (1) teologia, (2) antropologia e(3) cristologia, 0 que revela sua subordinac;:ao ao sistema da teologiadogmatica. Ele, que era um racionalista de linha historico-critica,47destacou-se no desenvolvimento da teologia biblica (AT e NT)grac;:as a aplicac;:ao sistematica do metodo historico-critico, aliado aenfase racionalista no argumento historico.48 Sua recomposic;:ao histo-rico-critica dos diversos testemunhos biblicos levantou, entre outrosproblemas, 0 do vinculo entre os Testamentos - objeto de intensodebate hoje em dia. Alem disso, 0 carater de disciplina historica dateologia biblica - vigorosamente sustentado por Gabler e conseqiien-temente por Bauer e outros - volta a ser debatido hoje, bem como 0

problema da natureza da narrativa. Nem por isso Gabler e Bauerdeixam de ser os responsaveis pela independencia da teologia biblica edo AT quanto a disciplina.

C. Do Iluminismo a Teologia Dialetica. Mostramos como a teolo-gia biblica se libertou na era do iluminismo do papel de disciplinaauxiliar da dogmatica, passando a rivaliza-Ia. Em seguida, a novadisciplina sucumbiu a diversas correntes filosoficas, sendo dominadapel as mesmas, experimentou 0 desafio das ciencias biblicas conserva-doras e foi finalmente eciipsada pelo metodo da historia das religi6es(Religionsgeschichce)_ Na epoca da teologia dialetica (logo apos aPrimeira Guerra Mundial) ela ganhou vida nova_

As primeiras decadas do seculo XIX registraram 0 surgimento dediversas obras importantes. Gottlob Ph Chr. Kaiser publicou tresvolumes sobre teologia biblica entre 1813 e 1821. 49Racionalista queera, repeliu toda sorte de sobrenaturalismo e procurou delinear 0

desenvolvimento historico-genetico da religiao do AT. Foi ele 0

primeiro a adotar a perspectiva da historia das religi6es, subordinan-do todos os aspectos biblicos e nao-biblicos ao principio da "religiaouniversal" .

A obraBiblische Dogmatik (1813) de W_ M. L. de Wette, discipulode Gabler, marcou 0 inicio do abandono do racionalismo. Tendoadotado a filosofia kantiana de J. F. Fries, tornou-se 0 primeiroteologo da Biblia a combinar a teologia biblica com um sistemafilosofico.50 Sua alta sintese de fe e sentimento obedecia a um"desenvolvimento genetico" da religiao desde 0 hebraismo, viajudais-mo, ate 0 cristianismo. 51

47 Merk, Biblische Theologie, p. 202_48 P. 199.49 G. P. C. Kaiser, Die biblische Theologie, 3 vols. (Erlangen, 1813, 1814, 1821).

Cf. Dentan, Preface, p. 28 e s.; Kraus, Biblische Theologie, p. 57 e s.; Merk,B]bilsche Theologie, p. 214-216.

SO Kraus, Biblische Theologie, p. 72.51 Merk, Biblische Theologie, p. 210-214.

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Ii:·1

'I,I'

iI

ii~SrITUTO ADVENTISTA DE ENSINvARTUR NOGUEIRA· SP

D. C. von Colin, racionalista moderado, em sua obra BiblischeTheologie, de dois volumes, public ada em 1836, trata, em suaprimeira parte, da "Teologia Biblica do AT" YAqui ele reagefortemente ao fato de ter de Wette agregado filosofia a teologia biblica.Apresenta tambem uma teologia biblica e historica impregnada deteocracia. Assim como outros que 0 precederam, sofreu a pressao doparticularismo e do universalismo e fez um esboc;:o da evoluc;:aohistoric a hebraismo-judaismo-cristianismo.

Wilhelm Vatke (1806-1882)53 considerava a fase "racionalista" dateologia biblica necessaria, mas ultrapassada. Ele foi 0 primeiro aadotar a filosofia hegeliana da tese (religiao natural), antitese (reli-giao espiritual = religiao hebraica) e sintese (religiao absoluta ouuniversal =cristianismo), em seu livro Die biblische Theologie. DieReligion des Alten Testaments (Berlim, 1835). Ele argumentava que 0metodo de ordenac;:ao dos tflementos do AT nao podia se basear emcategorias, como esta na Biblia, devendo ser livremente determina-do;54 a partir disso formular-se-ia 0 dogma da independencia sobe-rana do AT segundo a perspectiva da historia das religi6es. 55 Tresanos apos a divulgac;:ao do livro de Vatke, que posteriormente exerceuforte influencia sobre 1. Welihausen,56 Bruno Bauer (1809-1882)57publicou uma segunda teologia do AT, sob 0 prisma da historia dasreligi6es, fundamentada no hegelianismo - ele havia chegado aconclus6es diametralmente opostas as de seu mestre Vatke.58

Em meados do seculo XIX, foi desencadeada uma fortt:! reac;:aoconservadora contra a perspectiva racionalista e filos6fica da teologiado AT (e biblica), por parte daqueles que contestavam a validade dometodo historico-critico e dos que tentavam aliar uma apreciac;:aohist6rica moderada ao reconhecimento da revelac;:ao divina. EmChristology of the OT (1829-35),59 E. W. Hengstenberg contesta aaplicac;:ao da metodologia historico-critica a Biblia e pouca distinc;:aofaz entre os Testamentos.

52 Biblische Theologie, 2 vols. (Leipzig. 1836). Cf. Kraus, Biblische Theologie,p.60-69.

53 L. Perlitt, Vatke und Wellhausen (Berlim, 1965).54 W. Vatke, Biblische Theologie. Die Religion des AT(Berlim, 1835), p. 4 e s.5S Kraus, Biblische Theologie. p. 93-96.56 Dentan, Preface, p. 36.57 B. Bauer. Die ReliRion des Alten Testaments in der geschichtlichen Entwicklung

ihrer Priflcipien, 2 vols. (Berlim, 1838).58 0 hegelianismo moderado tam bern esta presente em L. Noack, Die Biblische

Theologie. Einleitung ins Alte und Neue Testament und Darstellung des Lehrge-haltes der biblischen Bucher (Halle, 1853). Ele fez uma estranha combina~ao deideias da pesquisa hist6rico-critica de de Wette e Vatke para 0 ATe de F. C. Baurpara 0 NT.

59 0 original em alemao, ChrislOlogie des Alten Testaments (Berlim, 1829-35), foitraduzido pela primeira vez para 0 ingles em 1854. Constituia-se numa reliquiaate ser reimpresso recentemente por MacDonald Publ. Comp., P.O. Box 6006,MacDill AFB, Florida 33608.

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As teologias do AT de J. C. F. Steudel (1840),60 H. A. C.Haevernick (1848)61 e G. F. Oehler (1873-74),62 public ad as postuma-mente, evidenciam uma apreciac;:ao historic a moderada, que fazjustic;:a a autoridade e inspirac;:ao do AT. Steudel insistia no metodohistorico-gramatical, porem rejeitava 0 pernicioso historico-critico.Ele conservou a doutrina da origem divina do AT, mas rejeitou aperspectiva limitada da doutrina da "inspirac;:ao verbal". 63"Criticavaduramente a subjetividade dos hegelianos"64 e, nao obstante, foirotulado de "sobrenaturalista racional". Sua concepc;:ao de teologiado AT incluia a orientac;:ao dogmatica Deus-Homem-Salvac;:ao. Hae-vernick adotou 0 seguinte conceito de desenvolvimento da religiaodo AT: "religiao primitiva-Iei-profetas" e conservou 0 padrao Deus-Homem-Salvac;:ao. Procurou, ao mesmo tempo, fazer distin<;:ao entreas Testamentos e neutralizou os axiomas dogmatico-ortodoxos.

Deve-se a Oehler a contribuic;:ao mais importante e duradoura. Elefoi 0 primeiro, depois de Gabler, a publicar um volume que abordavaem profundidade a teoria e 0 metodo de interpretac;:ao da teologia doAT sob 0 aspecto teologico e biblico.65 Seu volumoso Theology of theOT foi divulgado em frances e ingles.66 Oehler reagiu a pressaomarcionita iniciada por F. Schleiermacher com a depreciac;:ao do ATe tambem a uniformidade absoluta do AT e do NT defendida porHengstenberg.67 Todavia, ele mesmo nao abria mao da unidade dosTestamentos. Ha unidade na diversidade.68 Ele aceitou a separac;:aoentre a teologia do AT e do NT,69 mas insistia que a primeira soganhava sentido quando no contexto mais amplo do canon. A teologiado AT e uma "ciencia hist6rica apoiada na exegese historico-gra-matical. que tem por tarefa reproduzir 0 conteudo dos escritosbiblicos levando em conta as regras da lingua da epoca em questao,bem como um exame dos escritores sacros e de sua condic;:aoindividual".70 A apreciac;:ao mais apropriada da teologia biblica e a"historico-genetica", segundo a qual a exegese historico-gramatical, enao a historico-critica, deve ser aliada a um "processo organico de

60 J. C. F. Steudel, Vorlesungen uber die Theologie des AT, ed. G. F. Oehler(Beriim, 1840).

61 H. A. C. Haevernick, Vorlesungen uber die Theologie des AT, ed. E. Hahn(Eriangen, 1848).

62 G. F. Oehler, Theologie des Aleen Testaments, 2 vols. (Tuebingen, 1873, 1874).63 Steudel, Vorlesungen, p. 44-51, 64.64 Dentan, Preface, p. 42.65 G_ F. Oehler, Prolegomena zur Theologie des Alten Testaments (Stuttgart, 1845).66 Tradu~OeS em ingles por E. D. Smith e S. Taylor (Edinburgh, 1874-75) e G. E.

Day (New York, 1883).67 Oehler, Theologie, J, p. 3 e 4.68 P. 29-31, 70.69 P.33.70 P.66.

Biblioteca UniversitBriaUNASP 21

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evoluc;:ao" da religiao do AT.71 0 estudo de teologia do AT de Oehlere considerado "0 mais nota vel retrato da teologia biblica sob 0 prismada historia da salvac;:ao do seculo XIX". 72 Contudo, encontra-se"hoje praticamente ultrapassado, em grande parte porque Oehlertentou aplicar 0 metodo genetico", 73influenciado por Hegel. 74

Uma parte expressiva da reac;:ao conservadora foi desencadeada naescola da historia da salvac;:ao por teo logos como Gottfried Menken(1768-1831),75 Johann T. Beck (1804-1878)16 e especial mente J. Ch.Konrad von Hofmann (1810-1877).77 Esta escola do seculo XIXtinha por principios (1) a historia do povo de Deus "relatada naPalavra", (2) 0 conceito de inspirac;:ao divina da Biblia e (3) 0 resulta-do (preliminar) da relac;:ao entre Deus e 0 homem personificado emJesus Cristo. Von Hofmann descobriu, nas paginas da Biblia, 0

relato continuo de uma historia de salvac;:ao na qual 0 Senhor ativo daHistoria e 0 Deus triuno, cujo intento e redimir a humanidade.Como Jesus Cristo e 0 tema principal da his tori a da salvac;:ao etambem aquele que a prove de sentido,78 0 AT nao pode deixar deconter enunciac;:6es historico-salvificas. Cabe a teologia do AT daressa explicac;:ao. Cada livro da Biblia possui lugar proprio e l6gico nahistoria da salvac;:ao. A Biblia nao deve ser considerada meramenteuma colec;:ao de textos de prova au urn reposit6rio de doutrinas, mas,sim, um testemunho do papel de Deus na Historia, que so terminaracom sua consumac;:ao escatologica. A influencia da escola da hist6riada salvac;:ao no desenvolvimento das teologias do AT e do NT tem sideexpressiva e faz sentir-se ainda hoje, embora de formas completamen-te novas e diversas.79

Imediatamente antes de a teologia do AT ter side eclipsada pelaconceituac;:ao da historia das religi6es - responsavel por seu golpefatal - foi publicada a monumental obra em quatro volumes,

71 P.67e68.72 Kraus, Biblische Theologie, p. 106.73 Dentan, Preface, p. 45 e s.74 Oehler, Prolegomena, p. x.75 A importancia de sua posi~ao nessa escola foi demonstrada por Kraus em

Biblische Theologie, p. 240-244.76 P.244-247.77 J. Ch. K. von Hofmann, Weissagung und Erfullung im Alten und Neuen Testa-

ment (Niirdlingen, 1841-44), idem, Der Schriftbeweis (Niirdlingen, 1852-56); idem,Biblische HermeneUlik, eds. 1. Hofmeister e Vo1ck (Niirdlingen, 1880), trad. ingl.,Interpreting the Bible (Minneapolis, 1959).

78 WeissagungundErfullung,!, p. 40.79 No campo da teologia do AT sao patentes as influencias de O. Procksch, Theologie

des AT (GUtersloh, 1950), p. 17-19,44-47; G. von Rad, OTT, II, 357 e ss., entreoutros (veja abaixo, Cap. III). No campo da teologia do NT, veja G. E. Ladd,A Theology of the NT (Grand Rapids, Mich., 1974), p. 16-21, onde sao apontadoseruditos da atualidade que usam esse metodo.

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magnum opus, de Henrich Ewald.80 Durante uma gerac;:ao inteira ainfluencia conservadora de Ewald impediu que 0 escolasticismoalemao aceitasse a reconstruc;:ao modernista da religiao israelita,popularizada por Wellhausen.81 Ferdinand Hitzig (1807-1875)82 eAugust Dillmann (1823-1894),83 alunos de Ewald, escreveram teolo-gias do AT publicadas postumamente. Ewald defendia a abordagemsistematica de sua materia; Hitzig escreveu uma "historia de concei-tos"; e Dillmann uma "historia da revelac;:ao" com enfase na historiada salvac;:ao.

o ana de 1878 marcou 0 inicio do triunfo do metodo da historia dasreligi6es (Religionsgeschichte) sobre a teologia do AT com a publica-c;:aode Prolegomena to the History of Israel, de Julius Wellhausen(1844-1918). A partir dai, a teologia do AT (e a biblica) foi grande-mente influenciada (1) pela datac;:ao mais recente do documento P(sacerdotal), por parte da critic a do Pentateuco, sugerida por K. H.Graf e A. Kuenen, e popularizada por Wellhausen,84 e (2) pelopanorama inteiramente novo da evoluc;:ao da historia da religiaoisraelita, reconstruido com base na nova datac;:ao de elementos do AT,fixada pela escola de Graf, Kuenen e Wellhausen. Outra caracteristi-ca distinta da escola da historia das religi6es e 0 metodo historico-genetico do desenvolvimento evolucionario. Esta nova escola harmo-nizava-se com a tendencia intelectual da epoca, "propagada porHegel e Darwin, de que os principios da evoluc;:ao eram a chavemagica que destrancava todos os segredos da Historia". 85 Nessanova era, 0 termo teologia biblica e usado (mal usado) nas publica-c;:6esde August Kayser (1886),86 Hermann Schultz (cinco edic;:6es de1869 a 1896),87 C. Piepenbring (1886),88 A. B. Davidson (1904)89 e

80 H. Ewald, Die Lehre der Bibel von Gott oder The%gie des Alten und NeuenBundes (Leipzig, 1871-76). Os volumes I-III foram traduzidos e tern 0 tituloOld and New Testament Theology (Edinburgh, 1888).

81 SegundoJ. Wellhausen, con forme cita<;ao de A. Bertholet, "H. Ewald", Die Re-ligion in Geschichte und Gegenwart (Tuebingen, 1901), II, p. 767.

82 F. Hitzig, Vorlesungen uber Biblische Theologie und messianische Welssagun-gen des Alten Testaments, ed. J. J. Kneucher (Karlsruhe, 1880); d. Dentan,Preface, p. 49; Kraus, Biblische Theologie, p. 107-110.

83 A. Dillmann, Handbuch der alttestamentlichen Theologie, ed. R. Kittel (Leipzig,1895); d. Kraus, Biblische Theologie, p. 110-113.

84 R. J. Thompson, Moses and the Law in a Century of Criticism Since Graf(Leiden, 1970), p. 53-101.

85 Dentan, Preface, p. S1.86 A. Kayser, Die Theologie des Alten Testaments in ihrer geschichtlichen Entwick-

lung dargestellt, ed. E. Reuss (Strassburg, 1886). A ultima edi~ao recebeu novotitulo: Geschichte der israelitischen Religion (Strassburg, 1903).

87 H. Schultz. A/rrestamenliiche Then/ogie (Braunschweig, 1869). Na 2. a ed .. de 1878.Schultz adota a teoria de Wellhausen. A 4. a ed., de 1889, foi traduzida com 0titulo de Old Testament Theology (Edinburgh, 1892). AS." ed. alema foi editadaem Giittingen, em 1896.

88 C. Piepenbring, Theologie de J'Ancien Testament (Paris, 1886). A ed. em inglesfoi editada em New York, em 1893.

89 A_ B. Davidson, The Theology of the OT, ed. S. D. F. Salmond (Edinburgh, 1904).

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Bernhard Stade (1905),90 ao passo que Rudolf Smend (1893) foi maispreciso.91

Por mais de quatro decadas a teologia do AT permaneceu eclipsadapel a Religionsgeschichte. 92A maturidade do historicismo do metododa historia das religioes dera 0 golpe mortal na unidade do AT, quepassou a ser encarado como uma coletanea de elementos de diversasepocas, consistindo apenas nas reflexoes dos israelitas ace rca dereligioes pagas diversas. Esta perspectiva exerceu influencia parti-cularmente nefasta sobre a teologia do AT e sobre a compreensao domesmo sob todos os aspectos. Alem disso, "0 vinculo essencial eintrinseco entre 0 Antigo eo Novo Testamentos reduziu-se, por assimdizer, a uma tenue conexao historic a e a uma relac;:ao de causa, deforma que 0 que se atribuia a causas externas, fugindo completamen-te a uma demonstrac;:ao segura, passou a ser explicado por umahomogeneidade verdadeira, ja que esta se apoiava na realidade". 93Foi necessario um "verdadeiro ato de bravura" para romper "atirania do historicismo sobre os estudos do AT"94 e para redescobrir ereavivar essa teologia.

D. 0 Reavivamento da Teologia do AT. Varios fatores, sem contaro Zeitgeist em transic;:ao, propiciaram 0 reavivamento da teologia doAT (e do NT) nas decadas que se seguiram a Primeira GuerraMundial. R. C. Dentan aponta tres fatores principais que concorre-ram para 0 "renascimento da teologia do AT": (1) uma perdageneralizada de fe no naturalismo evolutivo; (2) a reac;:ao contra aconvicc;:ao de que a verdade historica podia ser obtida atraves dasimples "objetividade" cientifica ou que essa mesma objetividadepudesse realmente ser alcanc;:ada; e (3) a tendencia do retorno aoconceito de revelac;:ao da teologia dialetica (neo-ortodoxa).95 Verifi-cou-se que 0 historicismo do liberalism096 era totalmente descabido euma nova perspectiva fazia-se entao necessaria.

o primeiro indicio claro do reavivado interesse pel a teologia do ATsurgiu em 1922 com a publicac;:ao do volume Theologie des AltenTestaments, de E_ Konig. Ele, que tinha em alta conta a credibilidade

90 B. Stade, Bib/ische Theologie des Alten Testaments (Tuebingen, 1905).91 R. Smend, Lehrbuch der alttestamentlichen Religionsgeschichte (Freiburg-

Leipzig, 1893).92 Ate 1922, com a publica~ao de E. Konig, Theologie des Alten Testaments kritisch

und vergleichend dargesteUt (Stuttgart, 1922), nao houve nenhuma teologia doAT "que procurasse estudar seriamente 0 assunto" (Eichrodt, OTT, I, p. 31).

93 Eichrodt, OTT, I, p. 30.94 Eichrodt, OTT, I. 31.95 Dentan, Preface, p. 61.96 Veja especialmente C. T. Craig, "Biblical Theology and the Rise of Historicism".

JBL, 62 (1943), p. 281-294; M. Kiihler, "Biblical Theology", The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge (reimpressao, Grand Rapids. Mich.,1952). II, p. 183 e ss.; C. R. North, "OT Theology and the History of HebrewReligion", Scottish Journal of Theology , 2 (1949). p. 113-126.

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do AT, rejeitou a doutrina evolucionista da religiao do AT deWelihausen e rec1amou 0 uso correto do metoda hist6rico-gramaticalde interpretac;:ao. Sua teologia do AT e, contudo, "hibrida", pelo fatode conjugar a hist6ria do desenvolvimento da religiao israelita comum historico de elementos teologicos especificos da fe do AT. 97

A decada de 20 e caracterizada por um intenso debate sobre anatureza da teologia do AT_98 Em 1923, W. Staerk99 levantou 0problema da relac;:ao entre a Religionsgeschichte, a filosofia dareligiao e a teologia biblica. 0 importante ensaio de C. SteuernagellOO

surgiu dois anos mais tarde, pleiteando a autonomia de uma teologiado AT exc1usivamente historica, como complemento da historia dareligiao de Israel. Em 1926, 0_ EissfeldtlOI entrou na discussao, aoafirmar que a teologia do AT nao era uma disciplina historica, alemde depender da fe do te610go, sendo, portanto, subjetiva. ao passoque 0 estudo da religiao de Israel era historico e objetivo. Estadicotomia entre conhecimento e fe, objetividade e subjetividade,entre 0 relativo e 0 normativo foi frontalmente atacada num ensaio deW. Eichrodt,102 que conservou-se aferrado a historia e consideravainsatisfatorias as afirmac;:6es de Eissfeldt. Ressaltou ainda que aheranc;:a deixada por Gabler - uma teologia do AT sob a forma dedisciplina historica - estava essencialmente bem fundada e afirmavaque nao existia uma historia da religiao de Israel inteiramente livre depressuposic;:6es. A subjetividade esta presente em toda ciencia, por-que nao e possivel que 0 processo de selec;:ao e organizac;:ao sejaexc1usivamente objetivo.

A "era de ouro" da teologia do AT comec;:ou na decada de 30 e seestende ate a atualidade. E. Sellin (1933) e L. Kohler (1936) editaramtrabalhos expressivos sobre teologia do AT - ambos seguem aorientac;:ao Deus-Homem-Salvac;:ao.103 W. Eichrodt (1933-39) inaugu-rou 0 metodo dissecativo, baseando-se em um principio unificador, 104

97 Konig, Theologie des AT, p. 1.98 Pesquisas. veja N. W. Porteous, "aT Theology", The OT and Modern Study,

ed. H. H. Rowley (London, 1951), p. 316-324; Emil G. Kraeling, The OT Sincethe Reformation (New York, 1955)' p. 268-284; Dentan, Preface, p. 62-71; e paradetalhes abaixo, Capitulo 2.

99 W. Staerk, "Religionsgeschichte und Religionsphilosophie in ihrer Bedeutungfur die biblische Theologie", ZThK, 4 (1923), p. 289-300.

100 C. Steuernagel, .,Alttestamentliche Theologie und alttestamentliche Religions-geschichte", Vom Alten Testament. Festschrift fUr K. Marti, ed. K. Budde(Beiheft, ZAW, 41; Giessen, 1925), p. 266-273.

101 O. Eissfeldt, "Israelitisch-jiidische Religionsgeschichte unci alttcstamentlicheTheologie", ZA W, 44(1926), p. 1-12.

102 W. Eichrodt, "Hat die alttestamentliche Theologie noch selbstiindige Bedeutunginnerhalb der alttestamentlichen Wissenschaft?" ZA W, 47 (1929), p. 83-91.

103 E. Sellin, Theologie des Alten Testaments (Leipzig, 1933); L. Koehler, Theologiedes AT(Tuebingen, 1936), trad. como OT Theology (Londres, 1957).

104 W. Eichrodt, Theologie des AT, 3 vols. (Leipzig, 1933, 1935, 1939), trad. comoTheology of the OT, 2. vols. (FiladeIfia, 1961, 1967).

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e W. Vischer (1934) publicou seu primeiro volume de The Witness ofthe OT to Christ .105 H. Wheeler Robinson tambem deu sua importan-te colaborac;:ao.106 Figuram entre as principais contribuic;:oes para ateologia do AT os trabalhos de W. e H. Moeller (1938), P. Heinisch(1940), O. Procksch (1949), O. 1. Baab (1949), G. E. Wright (1952,1970), Th. C. Vriezen (1949). P. van Imschoot (1954), G_ von Rad(1957, 1960), J. B. Payne (1962), A. Deissler (1972), G. Fohrer(1972), W. Zimmerli (1972) e 1. L. McKenzie (1974).'07 Trabalhoscom 0 titulo de "teologia biblica" foram publicados por M. Burrows(1946), G. Vos (1948), J. Blenkinsopp (1968) e C. R. Lehman(1971).'08 E. J. Young (1959) e 1. N. Schofield (1964), por sua vez,editaram estudos concisos sobre metodologia do AT, seguindo aslinhas conservadora e moderada, respectivamente.'09 B. S. Childs fezum exame indispensavel do "Movimento Teologico Biblico" naAmerica, que, embora decorresse da teologia biblica europeia, resul-tou basicamente da batalha travada entre os fundamentalistas e osmodernistas de 1910 ate a decada de 30, nos EUA, devido a contro-versia por eles gerada em torno da Biblia. 110

Nenhum dos principais problemas da teologia do AT (e biblica) eobjeto de consenso. As questoes basicas tem sido amplamentedebatidas por eruditos de diferentes origens e escolas de pensamento.A pesquisa historic a deste capitulo salienta os principais origin adoresdessas questoes do atual debate sobre teologia do AT, assunto esseabordado nos capitulos que se seguem (2 a 5).

105 W. Vischer, Das Christuszeugnis des AT(Ziirich, 1934), trad. (Londres, 1949).106 H. W. Robinson, Inspiration and Revelation in the OT (Oxford, 1946); idem,

Record and Revelation (Londres, 1938), p. 303-348.107 P. Heinisch, Theologie des AT (Bonn, 1940), trad. Theology '?f the OT (College-

ville, Minn., 1950); O. Procksch, Theologie des AT (Giitersloh, 1949); O. J.Baab, The Theology of the OT (Nashville, 1949); G. E. Wright, God Who Acts:Biblical Theology as Recital (Londres, 1952); idem, The OT and Theology (NewYork, 1970); Th. C. Vriezen, Hoofdlijnen der Theologie van het Oude Testament(Wageningen, 1954),2." ed. re\'. ingl. All Outline of OT Theology (Newton,Mass., 1970); P. van Imschoot, Theologie de J'AT (Tournai, 1943), trad.Theology of the OT (New York, 1965); J. B. Payne, The Theology of the OlderTestament (Grand Rapids, Mich., 1962); A. Deissler, Die Grundbotschaft des AT(Freiburg i. Br., 1972); G. Fohrer, Theologische Grundstrukturen des AT (Ber-lim, 1972); W. Zimmerli, Grulldriss der alttestamentlichen Theologie (Stuttgart,1972); J. L. McKenzie, A Theology of the OT(New York, 1974).

108 M. Burrows, An Outline of Biblical Theology (FiladeJfia, 1946); G. Vos, BiblicalTheology (Grand Rapids, Mich., 1948); J. Blenkinsopp, A Sketchbook of BiblicalTheology (Londres, 1968); C. R. Lehman, Biblical Theology I: OT (Scottdale,Pa., 1971).

109 E. J. Young, The Study of OT Theology Today (Londres, 1959); J. N. Schofield,Introducing OT Theology (Filadelfia, 1964).

110 B. S. Childs, Biblical Theology in Crisis (Filadelfia, 1970), p. 13-87.

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oProblema da Metodologia

o problema fundamental da metodologia, alem de incluir umaserie de questoes basicas, nao e objeto de consenso entre os teologosda Biblia. Atualmente encontram-se em voga cinco metodos paraestudo da teologia do AT perfeitamente distintos. Entretanto, nao saotodos mutuamente exclusivos. Embora cada teologo empregue ummetodo especifico para estudar a teologia do AT, pode utilizar-se deoutr~ como complemento. Assim, torna-se por vezes dificil estabele-cer a relac;:ao entre 0 metodo e 0 teologo_ Procuramos associar osteologos que utilizam uma metodologia diversificada aos metodos quemais caracterizam seus trabalhos ou em cujo desenvolvimento sedestacaram.

A_ 0 Metodo Descritivo. Este metodo, que teve por patronosGabler, Wrede e Stendahl,l e defendido, na atualidade, por E. Ja-

o discurso de abertura de Johann Philipp Gabler, "Oratio de iusto discriminetheologiae biblicae et dogmaticae, regundisque recte utriusque finibus", na Univer-sidade de Altdorf, em 30 de mar~o de 1787, marcou 0 inicio de uma nova fase noestudo da teologia biblica com a afirma~ao de que "a teologia biblica tern caraterhist6rico [e genere hislOrico] por apresentar 0 que os escritores sacros pensavamace rca de temas divinos ... " (em Gab/eri Opuscu/a Academica II,[1831], p. 183 e s.).Cf. R. Smend, "J. Ph. GablehS Begriindung der biblischen Theologie", EvTh, 22(1962), p. 345 e ss. 0 ensaio Uber Aufgabe und Methode der sogenannten Neutes-tamentlichen Theologie (Giittingen, 1897), p. 8, volta a enfatizar 0 "carMer rigoro-samente hist6rico" da teologia do NT (biblica). 0 poderoso e incisivo artigo deKrister Stendahl, "Biblical Theology, Contemporary", em IDB, !, p. 418-432,seguido de seu ensaio "Method in the Study of Biblical Theology", em The Bible inModern Scholarship, editado por J. Philip Hyatt (Nashville, 1965), p. 196-209,apresenta argumentos em favor da rigorosa distin~lio entre "0 que denotava" e"0 que denota".

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cob/ G. E. Wright.3 P. Wernberg-M511er4 e P. S. Watson,S entreoutros. Afirma-se que 0 teologo da Biblia deve se deter na descric;:ao"do que 0 texto denotava", e nao "do que denota", conformedistinc;:ao feita por Stendahl. 6 0 progresso da teologia biblica dependeda aplicac;:ao rigorosa desta distinc;:ao/ que deve ser entendida como a"cunha"8 que separa, de uma vez por todas, a apreciac;:ao descritivada Biblia da normativa empregada pelo teologo sistematico, cujafunc;:ao e traduzir 0 seu significado para 0 presente. Esta ultima tarefa- "0 que denota" hoje - nao deve ser considerada parte integrantedo metodo estritamente descritivo e historico.

B. S. Childs9 condena 0 metodo descritivo, em virtude das limita-c;:oesque este impoe. A tarefa descritiva nao pode ser encarada comouma etapa imparcial que conduz a interpretac;:ao teologica genuina.o texto, diz Childs, e "um testemunho que transcende a si mesmodo intento divino de Deus". Precisa ocorrer a "transic;:ao do nivel detestemunho para 0 da propria realidade" .'0 Stendahl admite que atarefa descritiva e "capaz de expor a transcendentalidade do proposi-to e func;:ao dos textos biblicos atraves dos seculos ... "" mas nega que

2 E. Jacob afirma, em Theology of the OT (Londres, 1958), p. 31, que a teologiado AT e urn "tema rigorosamente hist6rico". Sustentou recentemente, levado porcerta cautela, que nenhum me to do po de gozar de primazia sobre outro, porqueuma teologia esta sempre "unterwegs" (Grundfragen alttestamentlicher Theologie,p. 17) e ha diversos caminhos para se abordar a teologia do AT (p. 16). Ao mesmotempo prega que cabe a teologia do AT apresentar ou exprimir 0 conteudo dopr6prio AT (p. 14).

3 Wright, em God Who Acts, p. 37 e s., afirma finalmente que acredita ser a teolo-gia biblica uma "disciplina hist6rica" melhor definida como uma "teologia narra-tiva, na qual 0 homem confessa sua fe narrando os acontecimentos que moldaramsua hist6ria e atribuindo-os a obra redentora de Deus". Este Wright, que agora seharmoniza mais com Eichrodt do que com von Rad, apega-se a concep~ao de quea teologia biblica e uma "disciplina descritiva". Ver "Biblical Archaeology Today",de G. E. Wright, em New Directions in Biblical Archaeology, ed. D. N. Freedmane J. C. Greenfield (New York, 1969), p. 159.

4 Wernberg-Miiller (ver a Bibliografia), p. 29, defende uma "teologia descritiva,imparcial" .

5 "The Nature and Function of Biblical Theology", Expository Times, 73 (1962),200:"Como disciplina cientifica, a teologia biblica deve ser meramente descritiva ... "Veja a critica de H. Cunliffe-Jones, em "The 'Truth' of the Bible", ExpositoryTimes, 73(1962), p. 287.

6 !DB. I, p. 419.7 Stendahl adota aqui a posi~ao dos colaboradores da Universidade de Upsala do

livro The Root of the Vine: Essays in Biblical Theology, ed. A. Fridrichsen(Londres, 1953), que concordam ter a teologia biblica carater fundamentalmentedescritivo e hist6rico, devendo ser distinguida das pondera~Oes normativas pos-teriores.

8 Em Biblical Theology in Crisis, p. 79, Childs objeta a dicotomia reafirmada porStendahl, uma vez que ela insere uma "cunha entre as disciplinas teol6gicas ebiblica" que 0 Movimento de Teologia Biblica procurou remover.

9 "Interpretation in Faith: The Theological Responsibility of an OT Commentary",Interpretation. 18 (1964), p. 432-449.

10 P.437,440e444.11 The Biblie i;, Modern Scholarship, p. 203, n. 13.

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ao teo logo da Biblia cabe explicar essa realidade. Childs, contudo,insiste que "0 que 0 texto 'denotava' depende muito de sua relac;:aocom aquele a quem foi dirigido", Ele argumenta que "quandoencaradas no contexto do canon, as duas perguntas - 0 que 0 textodenotava e 0 que denota - apresentam-se inseparavelmente ligadas eestao sujeitas a interpretac;:ao da Biblia como Escritura" .'2 A. Dullesapresenta argumento semelhante ao mencionar 0 "embarac;:o criadopela separac;:ao radicaL., entre 0 que a BibJia quis dizer e quer dizer".Enquanto Stendahl atribui valor normativo a tarefa de decifrar 0 quea Biblia quer dizer, Dulles sustenta que 0 valor normativo deve seratribuido tambem ao que ela quis dizer. Se assim for, a dicotomia deStendahl achar-se-a debilitada, pois "a possivel adoc;:iio de umaapreciac;:ao descritiva 'objetiva' ou descompromissada - caracteristi-ca esta das mais interessantes da posic;:ao tomada por Stendahl - eeliminada.'3 Argumentos semelhantes foram apresentados porR. A. F. MacKenzie, C. Spicq e R. de Vaux.'4

Talvez devamos nos lembrar das palavras de O. Eissfeldt: "Naopodemos penetrar na natureza da religiao do AT a partir de baseshistoricas_"15 De que maneira pode 0 me to do descritivo nao-norma-tivo, com sua limitada enfase na Historia, nos conduzir a plenitudeda realidade teologica contida no texto? Por definic;:ao e pressuposi-c;:ao, 0 metodo historico e descritivo e limitado a tal ponto que atotalidade da realidade teol6gica do texto nao vem a tona. Sera que ateologia biblica precisa se restringir ao papel de "primeiro capitulo"da teologia historica? Se aquela tambem possui carater normativo,considerando que 0 que a Biblia denotava e normativo por si so, entaonao seria de se esperar que ela extrapolasse a mera descric;:ao do queos textos biblicos denotavam? A teologia biblica nao pretende tomar 0

lugar nem competir com a teologia sistematica, uma vez que esta e12 Biblical Theology in Crisis, p. 141.13 "Response to Krister Stendahl's Method in the Study of Biblical Theology",

The Bible in Modern Scholarship, p. 210 e s. Stendahl, e claro. contesta a possibi-lidade de uma "objetividade absoluta" (lDB, I, p. 422; The Bible in Modern Scho-larship, p. 202). Ele esta plenamente certo ao ressaltar que a relatividade daobjetividade humana nao justifica que demos "vazao as nossas tendenci:ls" nem.insistimos em dizer. nos permite executar urn trabalho exclusivamente descritivo.

14 R. A. F. MacKenzie, em "The Concept of Biblical Theology", Theology Today, 4(1956), p. 131-135, esp. 134: "A objetividade cientifica, lria - no ser.tido de racio-nalista - e totalmente incapaz de cap tar c muito menos pesquisar os valores rell-giosos das Escrituras. Em primeiro lugar e preciso haver a devo<;.1i.o,0 reconhecl-mento por Ie da origem e autoridade divinas do livro, para que 0 crente possaempregar, adequada e proveitosamente, as tecnicas mais fidedignas das cienciassegundarias, sem ~equer violar sua autonomia caracteristica ou mesmo fugir aoideal cient[fico." C. Spicq, citado por Harvey (ver a Bibliografia), p. 18 e s. R. deVaux, "Method in the Study of Early Hebrew History". em The Bible in ModernScholarship, p. 15-17; "Peut-on ecrire une 'theologie de l'AT?" Bible et Onent(Paris, 1967),p.59-71.

15 "Israelitisch-judische Religionsgeschichte und alttestamentliche Theologie", ZA W.44 (1926). 1-12; cr. a critica de W. Eichrodt. infra, n. 27.

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constituida de sistemas formados segundo categorias proprias, comou sem ajuda da filosofia. A teologia sistematica precisara aindaaprofundar sua reflexao sobre a aplicac;:ao da teologia e da pregac;:ao adiversidade de quest6es contemporaneas com que se defronta todocristao. Ela sempre tera lugar assegurado no pensamento cristao.Mas, em contraste com a teologia sistematica, sera que a teologiabiblica nao precisa extrair seus proprios principios expositivos daBiblia, ao inves de extrai-los de documentos ec1esiasticos ou da filoso-fia escolastica e moderna? Nao seria porventura uma das func;:6es dateologia biblica enfronhar-se na natureza transcendental dos textosbiblicos, em seu prop6sito e func;:ao ontol6gicos e teol6giLCls atravesdos seculos, sem definir antecipadamente 0 carater da realidadebiblica?

B. 0 Metodo Confessional. Parece natural a argumentac;:ao de queo metodo confessional e a unica opc;:ao viavel para se ~hegar a umasoluc;:ao do problema da metodologia. Ele se op6e diametralmente aometodo descritivo hist6rico, que, para muitos, resulta apenas nahistoria da religiao de Israel,16 e nao numa teologia do AT.'7 0 me-todo confessional baseia-se amplamente na distinc;:ao metodol6gicaprecisa de Eissfeldt entre Religionsgeschichte, que diz-se ser umadisciplina totalmente "imparcial", 18 em que crente e descrente podem

16 Th. C. Vriezen, em The Religion of Ancient Israel (FiladeIfia, 1967), p. 7: "A fina-Iidade do que se segue e descrever urn quadro da religiao de Israel tendo em vistanao apenas seu desenvolvimento historico, mas tambem sua essencia e carater cen-tral" (0 grifo e meu). Segundo G. Fohrer, Geschichte der israelitischen Religion(Berlim, 1969), p. 7 e s., "a descri~ao da hist6ria da religiao israelita deve incluiro relato do desenvolvimento da mesma como a mera hist6ria de uma mera religiaodentre outras, sem envolver-se no julgamento de valores teol6gicos ou ressaltarpontos de vista apologeticos."

17 Jacob, Theology of/he OT, p. 24.18 Em Interpretation, 17 (1964). p. 432 e ss., Childs atribui 0 termo "critica impar-

cial" a aprecia~ao exclusivamente descritiva da Biblia conforme 0 metodo hist6rico-critico. Este tipo de interpreta~ao que ele defende define previamente a posturado pesquisador em rela~ao a Escritura como de neutralidade para com suarevela~ao suprema. G. E. Wright (em Trallslating and Understanding the OT,p. 298 e ss.) critica 0 emprego do termo "critica imparcial" para caracterizar 0metodo hist6rico-critico, uma vez que nenhum erudito faz uma descri~iio "impar-cial". Este seu argumento, sem duvida alguma, e valido. 0 metodo hist6rico-critico, entretanto, alega estender-se desde 0 principio, por exc1uir 0 aspecto divinoe de revela~1i.o. Se Childs insinua, com sua enfase, que a exegese s6 pode originar-se e permanecer no "ambito da fe" (definida por Jesus Cristo para os cristaos),en tao e for~oso admitir que 0 metodo hist6rico-critico nao inclui nenhuma posturareligiosa ou de "fe" (d. G. Ebeling, "The Significance of the Critical HistoricalMethod for Church and Theology in Protestantism", em Word and Faith [Fila-deIfia, 1963], p. 17-61, esp. 47 e 50). Sendo assim, afigura-se entao que 0 metodoempregado para a simples descri~ao e demasiadamente limitado para propiciaruma ampla compreensao teol6gica. Pode-se acrescentar, parenteticamente, queG. von Rad, na 5." edi~ao alema de sua Theologie des AT (Munchen, 1966),I (doravante citado como TAD, menciona uma "scheinbar exakt arbeitendenGeschichtswisenschaft", que, entretanto, e limitada por nao se utilizar de umahip6tese que considera 0 elemento "Deus".

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trabalhar juntos em harmonia, e a teologia do AT, que deve serestudada pelo prisma da fe.19 Th. C. Vriezen adotou a distinc;:ao deEissfeldt. 0 trabalho de teologia do AT do primeiro e um exemplotipico do metodo confessional. Vriezen afirma que a teologia do AT euma "ciencia teologica crista" que segue "padroes teologicos" e seapoia "em sua premissa teologica crista".20 G. A. F. Knight concor-da.

21Seu livro pode ser considerado um exemplo mais radical do

emprego desse metodo. R. de Vaux tambem adotou a enfase dometodo confessional, sustentando que "a teologia e a ciencia da fe...Teologo cristao que sou, aceito 0 Antigo Testamento como a Palavrade Deus, palavra do meu Deus."22

o metodo confessional, contudo, sofre tambem de graves deficien-cias_ Acaso nao estao os seus defensores sob 0 dominio de umadicotomia antiquada? Eissfeldt acredita que 0 problema da teologiano contexto conternporaneo e 0 atrito entre 0 absoluto e 0 relativo,entre transcendencia e imanencia, acrescentando que, no que tangea ciencia biblica, este problema geral tem-se restringido ao atritoentre hist6ria e revelac;:ao, conhecimento e fe. Deve-se provavelmenteao passado luterano de Eissfeldt 0 fa to de ele c1assificar a faculdadedo conhecimento como ativa e a da fe como passiva. Sustenta que,para 0 bem tanto do conhecimento quanto da fe, ambos deveriamconservar-se rigorosamente separados. As duas faculdades sao legiti-mas e necessarias, mas nao pode haver nenhuma mistura entre elas.No campo da religiao, esta separac;:ao entre conhecimento e fesignifica que, pelo prisma do conhecimento, a religiao do AT deveriaser tratada em termos de historia, como Religionsgeschichte, comourna disciplina totalmente imparcial e objetiva, que permita amembros de diferentes ramos da fe crista e ate mesmo membros deoutras religioes trabalharem juntos em harmonia; ja pelo prisma dafe, a religiao do AT deve ser encarada como a verdadeira religiao,revelac;:ao de Deus, teologia do AT - um tema exc1usivamenteconfessional. 0 debate que se seguiu as proposic;:oes de Eissfeldtdemonstrou que suas distinc;:oes metodologicas, que no toclC' saofundamentais para aqueles que utilizam 0 metodo confessional,sofrern. por urn lado, de urn positivismo historico superad023 e, por

19 Eissfeldt, ZA W, 44 (1926), p. 2 e ss.20 An Outline of OT Theology 2 , p. 147 e s. Deve-se notar, contudo, que com rela~1i.o

it exposi\lio de seu trabalho, Vriezen harmoniza-se mais com Eichrodt.21 A Christian Theology of the OT(2." ed.; Londres, 1964), p. 7: "Uma Teologia do

Antigo Testamento e escrita a partir do pressuposto ... de que 0 Antigo Testamentonao e nada men os do que a Escritura crista." Jacob, em Grundfragen alttestamen-tlicher Theologie, p. 14, critica Knight por seu duvidoso paralelismo Israel = Filhode Deus - Jesus = Filho de Deus e sua tentativa, nada persuasiva, de provar aunidade dos dois Testamentos.

22 Bibleet Oriente. p. 66.23 Ver Kraus. Die Biblische Theologie, p. 311.

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outr~, de uma separac;:ao artificial e insustentavel entre conhecimentoe fe.24 0 teologo dcve ser prevenido para nao assentar sua estruturateol6gica em bases que se tornam obsoletas com a mudanc;:a depremissas filosoficas.25 As questoes que continuam sem solw;aodizem respeito a se uma teologia do AT escrita pelo "prisma da fe"deveria se-Io pelo prism a de minha fe (Eissfeldt, de Vaux), da fe cristaou da fe neotestamentaria. Devemos perguntar ainda: ''Como podeuma teologia confessional do AT alegar objetividade?" Por acaso umte610go de formac;:ao luterana nao escreveria uma teologia do ATvalida apenas para luteranos e outro de formac;:ao catolica uma paracatolicos, etc.? E evidente que uma teologia do AT deve conservar-seindependente do dominio confessional ou doutrinario.

C. 0 Metodo Dissecativo. Este metodo tem na figura de W. Eich-rodt a sua mais notavel personificac;:ao. Sua obra monumental foi umadas principais contribuic;:oes para a teologia do AT neste seculo.26

Foi ele que, ja em 1929, rec1amou uma reorienta<;ao radicaJ,27 a fimde veneer 0 impasse a que a aplicac;:ao do principio hist6rico-geneticolevara 0 desenvolvimento da teologia do AT, desde Georg L. Bauer(1755-1806) ate Emil Kautzsch (1911), sob a influencia do histo-ricismo.28

Bem insiste Eichrodt que em toda ciencia M certa subjetividade.Historiadores tem reconhecido que existe, inevitavelmente, subjetivi-dade em toda pesquisa historica que fac;:ajus ao nome. 0 positivistaerra quando procura remover toda filosofia das ciencias a bem daobjetividade. Nao se pode ser um verdadeiro historiador quando seignora a filosofia da Historia. 0 trabalho do historiador sera sempreregido por um principio de selec;:ao - subjetivo, sem duvida - e poruma meta - igualmente subjetiva - que confere perspectiva ao seutrabalho. Eichrodt reconhece que a Historia e incapaz de dar a ultimapalavra sobre a veracidade ou falsidade, sobre a validade ou invalida-de de qualquer coisa. Ele argumenta que, embora 0 te610go do ATfac;:auma apreciac;:ao existencial que, pelo mcnos em parte, determinao elemento de subjetividade presente em sua descric;:ao da religiao do

24 Eissfeldt explica que e necessario que se veja a relat;ao que ha do atrito entre"conhecimento e fe" com 0 atrito entre 0 absoluto e 0 relativo e entre transcenden-cia e imanencia, que ele considera 0 problema da teologia.

25 H. J. Iwand, "Urn den rechten Glaub!:!n", Gesammelte Aufsatze (G6ttingen, 1959),p. 174; cr. Kraus, p. 313 e s.

26 W. Eichrodt, Theology of the OT, trad. l.A. Baker (2 vols.; Filadelfia, 1961, 1965).Doravante citado como TOT, I e II.

27 W. Eichrodt. "Hat die alttestamentliche Theologie noch selbstandige Bedeutungin dcr alttestamentlichen Wissenschaft?" ZAW, 47 (1929). p. 83-91. Nota sobre 0desenvolvimento do debate em The OT and Modern Study, de Porteous, p. 322e ss.; e em The OT Since the Rt!jormation, de E. G. Kraeling (New York, 1969).p. 270 e S5.

28 Cf. Dentan, Preface, p. 26-57; Kraus, Die Bib/i~che Theologie, p. 88-125.

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AT, nao ha base para a acuSa9aO de que a teologia do AT tem caraternao-cien tifico.

A teologia de Eichrodt perma,nece aferrada a Hist6ria. Ele sustentaque 0 te610go do AT precisa ser guiado por um principio de selec;:ao epor um principio de congenialidade. A grande tarefa sistematicaconsiste em se fazer uma dissecac;:ao atraves do processo historico e as-sim desnudar 0 esqueleto da religiao. Seu objetivo e "compreender aunidade estrutural da crenc;:a do AT ... [e1 iluminar seu mais profundosignificado" .29 Convicto de que a "tirania do historicismo"30 pre-cisava terminar, explica ele que "a irrupc;:ao e 0 estabelecimentodo Reino de Deus neste mundo" e "0 que une indivisivelmente asesferas do Antigo e do Novo Testamentos". Mas, alem desse fluxohistorico do Antigo para 0 Novo, "ha uma corrente de vida fluindoem direc;:ao oposta do Novo para 0 Antigo Testamento". 31 0 princi-pio de selec;:ao da teologia de Eichrodt revela-se no conceito dealianc;:a, e a meta que confere perspectiva encontra-se no NT.

Deve-se a Eichrodt 0 rompimento definitivo do tradicional esquemaDeus-Homem-Salvac;:ao, extraido do dogmatismo vezes a fio pelosteo logos da Biblia.32 Sua maneira de tratar a esfera do pensamento doAT procura levar "0 principio historico a operar lado a lade com 0sistematico, como complemento". 33 Eichrodt descobriu 0 principiosistematico no conceito de alianc;:a, e aquele tornou-se 0 elementodominante e unificador de sua teologia do AT. 34 As tres categoriasprincipais que representam a estrutura basica da magnum opus deEichrodt, a saber, Deus e 0 povo, Deus e 0 mundo e Deus e 0 homem,decorreram da combinac;:ao do principio historico com 0 principio daalianc;:a.35A dissecac;:ao sistematica por ele adotada e feita de forma arevelar 0 desenvolvimento do pensamento e organizac;:ao dentro de seusistema. 0 emprego do conceito de alianc;:a como agente de uniaotorna 0 metodo dissecativo, ate certo ponto, artificial, uma vez que 0ATe menos suscetivel a sistematizac;:ao do que Eichrodt faz crer.

29 TOT, I, p. 3l.30 Ibid.31 1, p. 26.32 As teologias do AT e de E. Konig (Stuttgart, 1922), E. Sellin (Leipzig, 1933) e

L. Kohler (Tiibingen, 1935) estavam subordinadas ainda, em maior ou menor grau,ao esquema Teologia-Antropologia-Soteriologia da teologia sistematica, que pre-valeceu no periodo p6s-Gabler da teologia biblica.

33 Eichrodt, TOT, I, 17 e ss.34 I, p. 32.35 H. Schultz, Alttestamentliche Theologie. Die Offenbarungsreligion in ihrer vor-

christlichen Entwicklungsstufe (5." ed.; Leipzig, 1896), ja prenunciava Eichrodt naestrutura~ao sistematica da segunda parte de sua teologia do AT. Eichrodt, emTOT, 1.33, n. 1, confessa dever ao esb~o de Otto Procksch, Theologie des AT(Giitersloh), p. 420-713, a c1assifica~ao de tres categorias principais por eleadotada.

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Este seu metodo apresenta graves problemas. Encontram-se neledescric;:oes de ..desenvolvimentos historicos"36 segundo a perspectivahist6rico-religiosa, mas raramente pelo prisma do NT! Isto e parti-cularmente surpreendente, ja que ele afirma que existe uma "relac;:aoreciproca entre 0 Antigo e 0 Novo Testamentos" e insiste que sem essarelac;:ao "nao chegamos a uma definic;:ao correta do problema dateologia do AT". 37 Neste aspecto, seu trabalho mal chega a ser ummelhoramento dos metodos anteriores da hist6ria das religioes. Alemdo mais, 0 principio sistematico, i.e., 0 conceito de alianc;:a de que sevale Eichrodt, procura abarcar a diversidade de ideias do AT. E nesteponto que reside 0 problema do metodo dissecativo. Sera que 0conceito de alianc;:a ou 0 conceito de comunidade de Vriezen ouqualquer outr~ conceito e suficientemente abrangente para englobara diversidade de ideias do AT?38 Em linhas gerais, sera que 0 AT eum mundo de ideias ou crenc;:as que pode ser assim sistematizado?39Acaso nao se perde a perspectiva ampla da Hist6ria com a divisao emapreciac;:oes tematicas segundo um denominador comum? Nao serauma deficiencia fundamental do metodo dissecativo - ferramenta depesquisa que e - 0 fato de ele se dividir entre a sintese hist6rica e osindicadores teol6gicos?

Parece inevitavel que 0 te610go da Biblia precise. em ultimaanalise, ser, de certa forma, sistematico_ E forc;:oso admitir que suareflexao e elucidac;:ao pessoais modificam 0 sentido de termos, temas econceitos biblicos; portanto, ele deve exercer um controle rigorososobre si mesmo, para nao sucumbir a tentac;:ao de limitar a Palavra deDeus as suas claras e nitidas id6ias, que podem estar longe de seassemelhar ou mesmo se identificar com 0 testemunho biblico. Sera

36 Como exemplos, a hist6ria do conceito de alian~a e a hist6ria da transmissaoprofetica em TOT, !, p. 36 e ss. e 309 e ss. A expressao "desenvolvimento hist6rico"e empregada pelo pr6prio Eichrodt, !, p. 32.

37 !, p. 26.38 Visto que Wright, The OT and Theology, p. 62, veio a apoiar recentemente 0

conceito da alian~a como agente fundamental da narrativa dos atos de Deus e,portanto, a metodologia de Eichrodt, e preciso que se recorde suas censuras ante-riores ao mesmo conceito. Wright afirmou em Studia Biblica et Semitica, p. 377:"E improvavel, entretanto, que urn unico tema, seja ele qual for, seja suficiente-mente abrangente para englobar varia~oes diversas." Cf. a critica da cifra/simboloda aJianc;a de Norman R. Gottwald, "W. Eichrodt, Theology of the OT", emContemporary OT Theologians, p. 53-56.

39 Wright, em Swdia Bib/ica et Semitica, p. 383, argumenta que "a aprecia~ao darevelac;ao de Deus que se baseia em eventos n1l0 pode ser sistematizada, poisengloba tanto a narrativa confessional da atividade divina como as dedu~oes econc1usoes a que uma comunidade de adoradores, em sua diversidade de situac;oeshist6ricas, chega". W. Richter, "Beobachtungen zur theologischen Systembildungin der alttestamentlichen Literatur anhand des 'kleinen geschichtlichen Credo''',em Wahrheit und Verkulldigung. M. Schmaus zum 70. Geburtstag (Milnchen,1967), p. 175, assevera que "nenhuma teologia do Antigo Testamento pode dispen-sar urn principio abrangentt: ljue oriente sua estrutura~ao".

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que nao e impossivel fazer-se justic;:a a natureza multiforme dotestemunho biblico, ao se ten tar captar as riquezas dos testemunhosbiblicos atraves de uma unica perspectiva, regida por um unicoconceito, seja ele alianc;:a, eleic;:ao, Reino de Deus, governo de Deus,comunhao ou qualquer outra coisa? A natureza do testemunhobiblico, diversificada e rica que e, exige uma apreciac;:ao a altura doselementos em questao.

D. 0 Metodo Diacronico. Gerhard von Rad desenvolveu uma novametodologia para estudo da teologia do AT que merece destaque.4o

Por falta de um termo mais apropriado, chama-lo-emos de metododiacronico.41 Sua teologia do AT precisa ser entendida como ateologia das tradic;:6es hist6rica e profetica, Embora ele prefacie suateologia das tradic;:6es com um esboc;:o da historia do jeovismo e dasinstituic;:6es sagradas israelitas conforme reconstituida pelo metodohistorico-critico, ele afirma que "a investigac;:ao historica busca umminimo irrefutavel, ao passo que a perspectiva querigmatica pendepara uma maxima teologica". Para von Rad, isto significa que 0emprego desse minimo numa teologia do AT nao pode fazer justic;:a aoconteudo deste, 0 te610go do AT precisa reconhecer que 0 "quadroquerigmatico" pintado pela fe de Israel acha-se tambem "fundamen-tado na historia autentica, nao tendo sido, assim, inventado" _42 Naverdade, "os testemunhos de Israel partem de um nivel tao profundode experiencia historica que a pesquisa historico-critica e incapaz dealcanc;:ar" _43 Desta forma, 0 objeto de uma teologia do AT e, acima detudo, "esse mundo de testemanhos", e nao "um mundo de fe

40 G. von Rad, OT Theology (2 vols.; New York, 1962, 1966). doravante citado comoOTT. I e II. Varias criticas relevantes sao mencionadas por G. Henton Davies."Gerhard von Rad. OT Theology", em Contempnrary OT Theolngiarls. p. 65-89.Os seguintes artigos tratam amplamente dos problemas levantados por vonRad: F. Hesse, "Die Erforschung der Geschichte als theologische Aufgabe",Kerygma und Dogma, 4 (1958), p. 1-19; "Kerygma oder geschichtliche Wirklich-keit?" ZThK. 57 (1960), p. 17-26; "Bewahrt sich eine 'Theologie der Heilstat-sachen' em AT? Zum Verhaltnis von Faktum und Deutung?" ZThK, 81 (1969),p. 1-17; V. Maag, "Historische und ausserhistorische Begrundung alttestamentli-c~er Theologie", Schweizer Theologische Umschau, 29 (1959), p. 6-18; F. Baum-gartel, "Gerhard von Rads Theo10gie des AT", ThLZ, 86 (1961), p. 801-816,895-908; Ch Barth, "Grundprobleme einer Theologie des AT", EvTh, 23 (1963),p. 342-372; M. Honecker, "Zum Verstiindnis der Geschichte in Gerhard vonRads Theologie des AT .... EvTh. 23 (1963). p. 143-168; H. Graf Reventlow."Grundfragen einer alttestamentlichen Theologie im Lichte der neueren deut-sche~ Forschung". ThZ. 17 (1961). p. 81 e ss.; Gerhard F. Hasel. "The Problemof HIstory in OT Theology", AUSS, Il (1':170), p. 23-50; Harvey, Biblical Theology

4 Bulletin. 1(1971), p. gess.I Este .te:mo e empregado por Harvey, p. 5. para que possamos compreender a

descn,ao de se,oes 10llgiludinais do AT. enfocando especial mente a sequenciacrorlol6gica das diversas tradi,oes e livros em contraste com 0 metodo dissecativo

42 e sua organiza,ao tematica.43 TAT, I, p. 120; OTT, I, p. 108.

T2~T, I, p. 120. OTT, 1. nao contem est a frase. uma vez que foi traduzida da. edl~ao alema.

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sistematicamente organizado" ou um mundo de ideias.44 Esse mundode "testemunhos", isto e, "0 que 0 proprio Israel testificou de Jave", 43a saber, "a palavra e feitos de Jave na Historia",46 nao consiste nemem pura revelac;:ao superior nem em pura percepc;:ao e exposic;:aoinferiores; ele e "regido pela fe", e tem, por conseguinte, caraterconfessional".47 Estas afirmac;:6es de ordem confessional da "ativida-de continua de Deus na Hist6ria"48 formam 0 tema apropriado deuma teologia do AT. E evidente que von Rad levou a teologiaquerigmatica a irromper no campo de estudos do AT. 49

Von Rad enfatiza um "quadro querigmatico" mais completo, comsuas mais profundas dimensoes de realidade, cabendo a teologia doAT esc1arece-Io. Entretanto, esse tipo de tratamento teol6gico basea-do em testemunhos do AT confessionais e querigmaticos nao continuadesvinculado da reconstituic;:ao hist6rico-critica da hist6ria de Israelna medida em que nao coincide com 0 quadro querigmatico da fe e dahistoria do AT? E exatamente isto que von Rad gosta de demonstrar.Em sua opiniao, a reconstituic;:ao que 0 historiador faz da hist6ria deIsrael e pobre e, portanto, nao serve de base para esc1arecer arealidade plena contida nos testemunhos do AT, que deve ser apreocupac;:ao do te610go que 0 estuda. Por esse motivo, sua teologia seconcentra na interpretac;:ao do AT, ao inves de se basear na interpre-tac;:ao historico-critica de acontecimentos cuja historicidade nao e aquestao. Embora este seja um passo na direc;:ao certa, a hist6ria quevon Rad emprega normalmente nao consiste em testemunhos do AT,porque nao passa de historia das tradic;:6es ou de experienciashist6ricas, que influenciam as tradic;:6es. Precisaremos retornar a esteponto crucial de seu diligente trabalho teol6gico, pois ele suscita 0problema da relac;:ao entre Traditionsgeschichte e Historie e Heils-geschichte.

Von Rad trouxe nova luz sobre a questao da exposic;:ao da teologiado AT. "Recontar [Nacherzahlen] continua sendo a forma maislegitim a de exposic;:ao teologica do Antigo Testamento. "50 0 que von

44 TAT, !, p. 124; OTT, I, p. 111. Aqui von Rad faz uma aprecia~ao contraria 11de Eichrodt.

45 TAT, !, p. 118; OTT, I, p. 105.46 TAT, !, p. 127; OTT, !, p. 114.47 TAT, !, p. 119; OTT, !, p. 107.48 TAT, !, p. 118; OTT, !, p. 106.49 Eichrodt, TOT, !, p. 515. Veja aqui tambem a interpreta~ao de von Rad por

O. Cullmann, Salvation in History (New York, 1967), p. 54 e ss. Quanto 11 aprecia-~ao e emprego de von Rad por Cull mann, veja Kraus, Die Biblische Theologie.p. 186 e ss.

50 TAT, !, p. 135; OTT, !, p. 121. "Recontar" tern sido defendida por Ch. Barth,EvTh, 23 (1963), p. 346, como a forma mais adequada de se apresentar 0 AT; H.-J.Stoebe, "Uberlegungen zur Theologie des AT", Gottes Wort und GOfles Land.H. -W. Hertzberg zum 70. Geburtstag, ed. H. Graf Reventlow (Gottingen, 1965), p.206; F. Mildenberger, Die halbe Wahrheit oder die ganze Sclmft (Miinchen.1967), p. 79 e ss.

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Rad entende por "recontar"? Como deve proceder 0 te610go ou 0pregador? Deve apenas narrar, i.e., contar novamente 0 que 0 AT jarelatou, sem oferecer a traduc;:ao teologica para 0 homem moderno?

~ evidente que von Rad adotou 0 conceito de "recontar" por serecusar a formular um novo sistema. Em seu ponto de vista, qualquersistema e estranho a natureza do AT. Nisto concordamos plenamentecom ele. Von Rad e tambem incapaz de definir um "centro [Mitte] "51

para 0 AT. Por essas raz6es, ele se limita a narrar 0 que 0 AT relataacerca de seu pr6prio conteudo. Ele salienta que, uma vez que Israelpronunciou seus testemunhos querigmaticos e confessionais em ter-mos historicos, nao podemos proferi-Ios de nenhuma outra forma quenao seja recontando a narrativa. 0 problema que este metodoacarreta para a teologia aplicada e imenso.

Tendo em vista esse problema, F. Baumgl1rtel pergunta comoalguem pode falar legitimamente em termos teologicos acerca deOseias 1-3, por exemplo, se apenas recontar 0 que esta dito ali. Comose da 0 processo de recontar? De que maneira e ele uma exposic;:aoteol6gica legitim a do AT. onde quer que se aplique?52 Pode-sepresumir que a critica a noc;:ao ambigua de renarrar tenha leva dovon Rad a desenfatiza-Ia nos ultimos anos.53

E. 0 Mhodo da "Nova Teologia Bfblica". Entre as mais recentesapreciac;:oes metodol6gicas da teologia biblica como um todo, nitida-mente delineadas, encontra-se 0 instigante metodo desenvolvido porB. S. Childs. 54 A designac;:ao "metodo da Nova Teologia Biblica" ejustificada pelo seu alicerce contextual. 55 0 motivo de inc1uirmos estemetodo no ambito da teologia do AT pode residir no fato de que estacontinua fazendo parte da teologia biblica. 56 Cabe aqui um importan-

51 TAT, II, p. 376; OTT, II, p. 362; d. Hasel, A USS, 8 (1970), p. 25-29.52 ThLZ, 86 (1961), p. 903 e s.53 A teoria do Nacherzah/en dissipa-se completamente no importante artigo de von

Rad: "Offene Fragen im Umkreis einer Theologie des AT", ThLZ, 88 (1963),p.401-416.

54 Sobre a necessidade e estrutura da "nova Teologia Biblica", veja Biblical Theologyin Crisis, p. 91-122, do mesmo autor.

55 Na primeira edi~ao deste mon6grafo tinhamos preferido denominar 0 metodo deChilds de "0 Metodo de Cita~ao do NT" (p. 25-28), baseando nossa justificativana alega~Ao de que as classifica~bes devem "partir de passagens especificas doAntigo Testamento citadas no Novo" (Childs, Biblical Theology in Crisis,p. 114 e s.). Entretanto, 0 interesse de Childs nAo se limita it teologia do AT; eleengloba a teologia biblica como tal. W. E. Lemke afirma que 0 que Childs eoutros "estao fazendo nessa area pode muito bern ser qualificado ... de metodo'canonico', ja que 0 trabalho teol6gico transcorre nos dois sentidos: do Antigo parao Novo Testamento, e vice-versa. alem de incluir tambem passagens do Antigo Tes-tamento que nao foram citadas explicitamente no Novo" (Interpretation, 28 [1974],p. 106). Nlio obstante, a rela~ao de reciprocidade entre os Testamentos tambem edefendida por Eichrodt, OTT, I, 26, entre outros (veja, adiante, 0 Capitulo 5)que ainda compoem teologias do AT utilizando-se de metodos diferentes.

S6 Vela. adiante, 0 Capitulo 6.

:n

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te esc1arecimento. No entender de Childs, "a teologia biblica e umadisciplina diferente tanto da teologia do AT quanto do NT .. _ ela euma disciplina caracteristicamente crista, que faz parte da teologiacrista porque adota como Escritura tanto 0 AT quanta 0 NT" YIsso nao quer dizer que nao ha mais lugar para a teologia do AT."Existe 0 campo legitimo da teologia do AT ... [cuja] essencia e adescric;:ao. "58 Precisaremos vol tar a este ponto mais adiante.

E evidente, por esse metodo, que Childs considera "a utilizac;:ao decitac;:6es do Antigo Testamento no Novo .. _ um importante passo dateologia biblica no sentido de adotar com seriedade 0 contexto de todoo canon". 59 Embora este nao deva ser tido como 0 unico metodo, eledecorre da preocupac;:ao de adotar seriamente 0 canon biblic060

como contexto da teologia biblica.61 Childs propos "a tese de que 0canon da igreja crista e 0 contexto mais adequado para a teologiabib liea" .62 A conseqiiencia desta tese foi "a rejeic;:ao do metodo queaprisiona a Biblia no ambito do passado hist6rico. "63 Pode-se presu-mir que Childs estivesse se referindo ao metodo hist6rico-critico,pois mais tarde ele afirmou que "0 metodo historico-critico nao eapropriado para se estudar a Biblia na acepc;:ao de Escrituras daIgreja, porque nao parte do contexto correto". 64 Em outr~ pontoexplica: "Na medida em que 0 emprego do metodo critico ergue umacortina de ferro entre 0 passado e 0 presente, ele e inapropriado parase estudar a Biblia considerando-a Escritura da Igreja. "65 0 proble-ma do Movimento de Teologia Biblica foi sua apreciac;:ao dasEscrituras "a partir de uma comoda posic;:ao extrinseca ao texto", 66

a saber, a critica historica liberal e suas "pressuposic;:6es hermeneuti-cas liberais". Essa apreciac;:ao metodol6gica impr6pria deve sersup Ian tad a por uma aceitac;:ao irrestrita de todo 0 canon da Escritu-ra.67 "0 estudo da teologia biblica a partir do contexto do canon

57 Comunicado particular do Prof. Childs, datando de 25 de set. de 1973.58 Ibid.59 Childs, Biblical Theology in Crisis, p. 117e s.60 Nao ha nenhuma indica~ao se 0 canon aqui mencionado e 0 aceito pelos

protestantes ou 0 pelos cat6licos romanos.61 Childs, Biblical Theology in Crisis, p. 99-106.62 P.99.63 P. 99 e s.64 P. 141.65 P. 141 e s.66 P. 102.67 Childs opoe-se aqui a todos aqueles que defendem a ad~ao de urn canon dentro

do dinon. Por exemplo: Wright, The OT and Theology, p. 168 e 174, e capaz demencionar os livros principais da Biblia que contern 0 "verdadeiro canon" e oslivros marginais que s6 tern senti do quando relacionados aos principais. Fohrer,Theologische Grundstrukturen, p. 270, reduz 0 AT a "mensagem dos profetas",cuja correspondencia encontra-se no NT. Veja tambem 0 estudo de J. A. Sanders,Torah and Calion (Filadelfia. 1972).

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requer 0 reconhecimento do carater normativo da tradic;ao biblica.' '68

A palavra-chave aqui e "normativo", e parece contrastar com aescola de linha "descritiva", que tranca a Biblia no passado e faz daexperiencia humana moderna 0 prumo. Contrastando com essecontexto hist6rico do passado, Childs insiste que 0 contexto canonicoexige a aceitac;:ao das Escrituras como norma. "A Biblia, quandocompreendida como Escritura da Igreja, serve de veiculo para Deuscomunicar a si mesmo a sua Igreja e ao mundo. "69 0 recurso aocanon da Igreja envolve "0 entendimento das Escrituras comoveiculo de uma realidade divina que, de fato, contou com um povo naantiguidade, no passado historico, mas que continua a confrontar aIgreja atraves das paginas das Escrituras". 70 A Biblia define asquest6es de vida e morte e assinala a reac;:ao da comunidade. 71

Como Childs ve a relac;:ao mUtua entre os Testamentos? Ele insistena interpretac;:ao do NT a luz do AT, e vice-versa_ 72 Ha uma"corrente dialetica entre os Testamentos" que, contudo, nao pode seridentificada. "Os dois Testamentos conservam suas identidadespr6prias de Antigo e Novo, mas, por outr~ lado, nao podem serseparados, como se 0 Novo nao precisasse mais d0 Antigo_ "73 Hauma reciprocidade na leitura do testemunho de Jesus Cristo no NT,a luz do AT, e na lei tura do AT a luz do NT. 74 Childs afirmou, semhesitac;:ao: "0 Antigo Testamento, no contexto do canon, nao e 0testemunho de um estagio primitivo de fe e nem precisa ser cristiani-zado. Em seu contexto hist6rico, ele e um testemunho de JesusCristo. "75 Segue a explicac;:ao de como 0 AT revela Jesus Cristo: "AsEscrituras nao serviram de interessantes 'fontes' de informaC;:6eshist6ricas acerca de Jesus de Nazare, mas, sim, de testemunho de quea salvac;:ao e a fe da velha aIianc;:a eram identicas as reveladas emJesus Cristo. "76

E 6bvio que 0 metodo proposto por Childs e uma alternativa radicalpara a apreciac;:ao hist6rica da teologia biblica que a dominou desdeque Gabler deu sua definic;:ao em 1787 _Para Childs, a "Nova TeologiaBiblica" deve basear-se no contexto do canon da Igreja crista, sendo,portanto, uma disciplina teol6gica crista. Se com G. von Rad ateologia querigmatica irrompeu no campo de estudos do AT, entaocom Childs 0 metodo teol6gico do canon biblico foi reincorporado de

68 Childs. Biblical Theology in Crisis. p. 100 (0 grifo e dele).69 P. 104.70 P. 100.71 P. 101 e s.72 P. 109.73 P. 111.74 P. 162es.75 P. III.76 P. 105.

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uma nova forma77 a teologia biblica_ A legitimidade da premissacontextual de Childs e sustentada por G. M. Landes.78 Os recentesmonografos de James D. Smarf9 e 1. A. Sanders,80 embora naotragam nem de longe a enfase canonica de Childs, tambem tratam doconteudo teol6gico da Biblia e da func;:ao do canon em sua interac;:aocom a comunidade.

Precis amos vol tar agora as questoes metodologicas suscitadas porChilds. Ele insiste que a teologia biblica e caracteristicamente crista,sendo, portanto, de natureza teologica, e nao hist6rica. Por outr~lado, a teologia do AT (e do NT) e fundamental mente descritiva e,assim, historica, em vez de teologica. Em outras palavras, a teologiabiblica e "normativa", mas a teologia do AT (e do NT) nao 0 sao. SeEissfeldt introduziu uma cunha entre a teologia biblica - que emseu entender tem cunho meramente confessional - e a historia dareligiao de Israel, que tem carater historico e objetivo, entao afigura-se que Childs fez 0 mesmo entre a "Nova Teologia Biblica" canonicaproposta, que e normativa, e a teologia do AT (e do NT), nao-norma-tiva e fundamentalmente descritiva. Sera que tal dicotomia entre a"Nova Teologia Biblica" e a teologia descritiva do AT (ou do NT)pode ser mantida? Nao poderia haver uma teologia biblica do AT (oudo NT) de carater normativo? Parece nao haver motivo para umanegativa, dadas as premissas adotadas por Childs.

o emprego de citac;:oes do NT pela "Nova Teologia Biblica" deChilds e, sem duvida, um elo fraco de ligac;:ao entre os Testamentos.A despeito das divers as form as de emprego do AT no NT, a riquezae diversidade do primeiro sao tamanhas que fogem as citac;:oes do NT.Childs refuta precipitadamente a perspectiva da Heilsgeschichte, 81

embora admita que "a enfase na continuidade da hist6ria daredenc;:ao que une as duas alianc;:as [Testamentos] certamente propiciaimportante discernimento" Y Em suma, 0 metodo de citac;:oes deChilds e parcial demais para expressar a plena natureza da relac;:aomUtua entre os Testamentos. Afigura-se que s6 uma perspectivavariada e adequada.

Childs deu maior importancia a funr;ii.o do canon para a "NovaTeologia Biblica". Mas, e quanto a estrutura ou ambito do canon?Um catolico romano que possuisse urn canon mais amplo do que um

77 Nao e por acaso que Childs defende 0 metodo de K. Barth. que se baseia num"contexto teol6gico dedarado, a saber •... o contexto do canon cristao" (p. Ill).

78 G. M. Landes. "Biblical Exegesis in Crisis: What Is the Exegetical Task in aTheological Context?" Union Seminary Quarterly Rel'iew, 26 (1971). p. 273-298.esp.291.

79 J. D. Smart. The Srrange Silence of the Bible in the Church (FiladeIfia. 1970).repudia a perspectiva "descritiva" de K. Stendahl.

80 Sanders, Torah and Ca II 011 , p. xx.81 Childs. Biblical Theology in Crisis. p. 102.82 P.240.

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protestante nao desenvolveria uma "Nova Teologia Biblica" diferenteda de seu colega? Sendo este 0 caso, como realmente parece ser, naoestamos falando entao de um retorno a uma nova teologia biblicaconfessional - confessional pelo menos na medida em que a comu-nhao varia de canon para canon ?83

Esses comentarios acerca do metodo da "Nova Teologia Biblica"tem a finalidade de provocar novas ponderac;:oes e debates. A tensaoentre a perspectiva hist6rico-descritiva e a canonico-teol6gica e umdos maiores desafios da hermeneutica, no debate atual sobre teologiabiblica, e continuara a estimular ponderac;:6es criativas no futuro.

83 Verifique tambem as relevantes observa,oes sobre forma,ao. natureza. prop6sito eambito do ciinon e sua rela,ao com a tcologia biblica feitas por 1. Barr. The Bibleill (/zeModem World (Londres. 1973).p. 150-167.

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A Questiio da Historia,Historia da Tradiriio e Historiada Salvariio

Uma serie de quest6es relativas ao devido conhecimento da Hist6riatem side 0 centro das atenc;:6es grac;:as a teologia de von Rad emparticular. 1 Ele exp6e 0 problema da forma mais critica, fazendo 0

contraste antitetico das duas vers6es da hist6ria de Israel, isto e, a da"pesquisa critica modern a e a da definida pela fe de Israel". 2 Javimos que 0 quadro da historia de Israel, conforme reconstituidopelo metodo hist6rico-critico, nas palavras do pr6prio von Rad,"busca um minimo irrefutavel, ao passo que a perspectiva querigma-tica r da his tori a de Israel moldada pel a sua fe) pende para umamaxima teoI6gica". 3 Von Rad considera a dicotomia dos do is quadrosda historia de Israel um "problema hist6rico complexo". 4 Asseverou,contudo, enfaticamente, que 0 tema de uma teologia do AT precisatratar do "mundo de testemunhos"s origin ado na fe de Israel, i.e.,do quadro querigmatico da historia de Israel, pois no AT "nao habrutafacta em absoluto; tem-se historia em termos de interpretac;:ao,de reflexao apenas". 6 0 ponto crucial, segundo a argumentac;:ao devon Rad, e a ausencia de premissas de fe ou de revelac;:ao nopanorama hist6rico-critico da hist6ria de Israel, uma vez que este

1 Veja Hasel, A USS, 8 (1970)' 29-32, 36-46.2 Esta frase acha-se na 1." ed. de TAT, I. 8; infelizmente esse trecho nao foi

traduzido em OTT.3 TAT, I, 120; OTT, I, 108.4 TAT,!, 119; OTT, !, 106.5 TAT,!, 124; OTT, I, 111.6 Este foi 0 argumento de von Rad, "Antwort auf Conzelmanns Fragen". E.~Th, 24

(1964), p. 393, em sua alterca,ao com Hans Conzelmann, pento em NT, Fragenan Gerhard von Rad", EvTh. 24 (1964), p. 113-125.

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metodo nao considera a hipotese do elemento "Deus",1 Israel,contudo, "s6 poderia entender sua hist6ria como uma estrada quepercorreu sob a direc;:ao de Jave. Para ele, a historia se limita arevelac;:ao do pr6prio Jave atraves de atos e palavras."8 Von Radrejeitou a opc;:ao de considerar nao-historico 0 quadro querigmaticoou de considerar historico 0 quadro hist6rico-critico. Ele sustentaque "a apreciac;:ao querigmatica tambem ... esta fundamentada nahistoria real, nao tendo sido inventada". No entanto, ele se :-efere as"experiencias hist6ricas primitivas" da historia da antiguidade emtermos de "poesia hist6rica", "lenda [Sage], "hist6rias poeticas"9que encerram "anacronismos". 10 0 importante para von Rad nao e"que 0 cerne hist6rico esteja envolto em ficc;:ao", mas que a experien-cia do panorama de fe do narrador, depreendida da saga, e "hist6ri-ca"" e resulta num grande enriquecimento de seu conteudo teol6gico.Para von Rad, a enfase do metodo da hist6ria das tradic;:6es volta a serdominante.

Embora 0 problema das apreciac;:6es dicotomicas da historia deIsrael nao seja novo,12 a posic;:ao que von Rad assumiu vem gerandoum debate intenso, acalorado ate. Von Rad presumiu que as duasperspectivas divergentes da historia de Israel podiam, "por ora", 13

simples mente colaborar juntas com a teologia do AT, esc1arecendo 0

quadro querigmatico e ignorando, em grande parte, 0 hist6rico-cri-

7 ThLZ, 88(1963), p. 408 e ss.; OTT, II, p. 417.8 ThLZ, 88 (1963), p. 409. A tradu~ao destas frases em OTT, II, p. 418, nao reflete

com nitidez a enfase original. 0 problema da rela~ao entre palavra e evento,palavra e atos, etc., recebe aten~ao especial em Hasel, A USS, 8 (1970), p. 32-36.

9 TAT, I p. 120-122; OTT, I, p. 108 e s.10 OTT, II, p. 421 e S.; ThLZ, 88 (1963), p. 411 e s.11 OTT, II, p. 421.12 Por volta do fim do seculo 19, 0 escolasticismo em geral corrigiu 0 quadro biblico,

ao perceber que este entrava em choque com 0 conhecimento hist6rico, mas nao sedeu conta do problema teol6gico consideravel que ai podia estar encerrado (Cf. C.Westermann, "Zur Auslegung des AT", Vergegenwartigung. Aufsatze zur Ausle-gung des AT [Berlim, 1955], p. 100). Opositores do Wellhauseanismo reconhece-ram a profunda separa,ao. A. Kiihler, Lehrbuch der Biblischen Geschichte A/tenTestameflls (Erlangen, 1875). I, iv, fez distin,ao entre disciplina teol6gica e secularde hist6ria biblica, argumentando que e fun~ao do te610go "estudar e recontar 0curso da hist6ria do AT como os autores do AT 0 entendiam". Os dois quadrosdevem permanecer lado a lado, mas independentes urn 00 outro. J. Kiiberle,"Heilsgeschichtliche und religionsgeschichtliche Betrachtungsweise des AT",Neue Kirchliche Zeitschr(ft, 17 (1906), p. 200-222, ao contrario, s6 quer atribuirvalor teol6gico a hist6ria real de Israel verificada pela metodologia modema.J. Hempel, "AT und Geschichte", em Studien des apologetischen Seminars, 27(Giitersloh, 1930), p. 80-83, acredita que urn relato erroneo, mas objetivo acercado passado po de nao contrariar a realidade da revela,ao divina. Continua sendofa to que Deus agiu, mesmo que nao se saiba como. G. E. Wright, God Who Acts,p. 115, estabelece a distin~ao entre hist6ria e narrativa da hist6ria por fe, em queas discrepancias, contudo, sao urn "mero detalhe" (p. 126). A teologia precisaabordar e transmitir vida, razao e fe, que sao parte de urn todo.

13 TAT, I, p. 119; OTT, I, p. 107.

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tico. Franz Hesse, ao adotar a tese de von Rad de que 0 AT "e umlivro de historia [Geschichtsbuch]", 14imediatamente aplicou-a contrao ultimo, ao argumentar que precisava ser dada uma enfase teol6gicaexc1usiva a hist6ria de Israel reconstituida pelo metodo historico-critico.'5 Isto, por si so, e teologicamente relevante.'6 Nossa fe precisabasear-se no que "realmente aconteceu, e nao no que se dec1ara teracontecido e que precisamos admitir que nao ocorreu daquelaforma".17 Hesse volta-se contra 0 que ele pr6prio chama de "duplici-dade" de von Rad, a saber, que a historia secular deve tratar dahist6ria de Israel, ao passo que a versao querigmatica tem relevanciateoI6gica.'8 Ele salienta a diferenc;:a entre as duas perspectivas dahist6ria de Israel com termos como: "real" e "irreal" ou "correta" e"incorreta". Insiste que a versao da hist6ria de Israel definida pel apesquisa hist6rico-critica tem relevancia teologica por si so porque 0

quadro que 0 pr6prio Israel pinta, quando contrastado com osresultados da pesquisa hist6rico-critica, mostra-se nao apenas sujeitoa erros, como, de fato, os apresenta com freqiiencia. Uma teologia doAT deve consistir em "mais do que uma mera descric;:ao da tradic;:aodo Antigo Testamento ... Nossa fe baseia-se no que ocorreu nostempos do Antigo Testamento, nao no que se dec1ara ter ocorrido ...o querigma nao e formador de nossa fe, mas a realidade hist6ricasim. "19 Hesse procura, desta forma, derrubar a dicotomia das duasvers6es da hist6ria de Israel, ao identificar nitidamente a apreciac;:aohist6rico-critica da hist6ria de Israel com a da historia da salvac;:ao.20

Ele afirma: "A 'historia da salvac;:ao' esta presente em tudo que 0povo de Israel experimentou no decorrer dos seculos, em tudo querealizou e em tudo que sofreu. Esta [historia da salvac;:ao] nao anda demaos dadas com a hist6ria de Israel, nao pertence a uma esfera'superior', mas, embora nao seja identica a historia de Israel, existe;podemos dizer entao que, com a historia de Israel, nela e atraves dela,Deus conduz sua historia da salvac;:ao ate 0 'telos' Jesus Cristo, isto e,por meio e por tras do que acontece, do que realmente aconteceu. "21

Hesse sustenta que "uma separac;:ao entre a historia de Israel e ahist6ria da salvac;:ao do Antigo Testamento e, assim, impossivel",porque "a historia da salvac;:ao oculta-se na hist6ria de Israel, pormeio dela e por tras dela". 22 Conc1ui-se entao que toda a "historia do

14 TAT, II, p. 370; OTT, II, p. 415.15 ZThK, 57 (1960)' p. 24 e s.; ZA W, 89 (1969), p. 3.16 ZA W, 89 (1969), p. 6.17 ZThK, 57(1960), p. 26.18 Kerygma und Dogma, IV (1958)' p. 5-8.19 ZThK, 57 (1960)' p. 24 e s.20 Veja tam bern Honecker. p. 158 e s.21 Kerygma und Dogma, IV, p. 10 (0 grifo e dele).22 P. 13.

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povo de Israel e seus aspectos sao os objetos da pesquisa teo-l6gica... "23

Hesse fundamenta a hist6ria da salvac;:aounicamente na versaohistorico-critica da hist6ria de Israel, insistindo na "factiC'idade doque e relatado", de forma que "0 testemunho de Israel acerca de suapr6pria hist6ria nao deve nos interessar na medida que pretende sertestemunho da Hist6ria, porque varia com a historicidade do que foitestemunhado".24 Afigura-se que 0 querigma do AT, bem como aversao querigmatica da hist6ria de Israel, devem ser julgados confor-me a historicidade de seu testemunho.25

Deve-se admitir que a apreciac;:ao historico-critica da historia deIsrael desempenha um papel historico na atualidade. A enfase parcialde Hesse deve-se, entretanto, a sua singular confianc;:ana historiogra-fia moderna. Ele ate torna-se vltima do positivismo historico. Aparen-temente, ele nao percebe que a versao hist6rico-critica da historia deIsrael ja e hist6ria interpretada, isto e, interpretada com base empremiss as hist6ricas e filosoficas. Tanto von Rad16 quanto F. Milden-berger7 salientam este ponto. Outra dura critica a tese de Hesse dizrespeito a sua tentativa de atribuir a apreciac;:aohistorico-critica dahist6ria de Israel um papel hist6rico no NovoTestamento. "A historiaem que Deus conduz Israel a meta 'Jesus Cristo' deve ser pesquisadacom base na historia concreta ... "28 Mas a hist6ria do AT, naconcepc;:aomoderna do metodo hist6rico-critico, era desconhecida naepoca do NT. A esse respeito, James M. Robinson comentou que"relacionar apenas essa hist6ria vista pelo angulo hist6rico-critico,com a meta 'Jesus Cristo', e encara-la por uma perspectiva nao-histo-rica".29 J. A. Soggin c1assifica 0 esforc;:ode Hesse de "uma comodaretirada para 0 abrigo da historiografia moderna, na medida em queele procura evitar 0 risco que a propria Palavra encarnada de Deusassumiu.30 Eva Osswald ressalta que Hesse busca uma soluc;:aoexc1usivamente historica para 0 problema e, portanto, a hist6ria como

23 P. 19.24 ZThK, 57 (1960), p. 25 e s.25 Kerygma und Dogma, IV, p. 17-19.26 Von Rad assinala que a versao que a historiografia moderna da da hist6ria de

Israel ja e hist6ria interpretada; TAT, II, p. 9: "Auch das Bild der modernenHistorie ist gedeutete Geschichte und zwar von geschichtsphilosophischen Pramis-sen aus, die fur das Handeln Gottes in der Geschichte keinerlei Wahrnehmungs-moglichkeiten ergeben, weil hier notorisch nur der Mensch als der Schopfer seinerGeschichte verstanden wird."

27 Goltes Tal im Wort (Giltersloh, 1964), p. 31, n. 37.28 Kerygma und Dogma, IV, p. 11.29 "The Historicality of Biblical Language", The OT and Christian Faith, ed. B. W.

Anderson (New York, 1963), p. 126.30 "Alttestamentliche Glaubenszeugnisse und Geschichtliche Wirklichkeit", ThZ, 17

(1960), p. 388; "Geschichte, Historie und Heilsgeschichte", ThLZ, 89 (1964),p. 721 e ss.

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palco da atividade de Deus cai para segundo plano.31 Na minhaopiniao, nao e metodologicamente possivel abstrair eventos ou fatosconcretos da tradic;:ao confessional-querigmatica de Israel por meio dometodo historico-cri tico e en tao c1assificar esse "aeon tecimen to real"de "ac;:ao de Deus", tornando-o, conseqiientemente, teologicamenterelevante.32

A proposito d~ perspectiva de Hesse, e interessante notar que 0

panorama hist6rico-critico da hist6ria de Israel nao e uniforme emabsoluto_ Devemos nos lembrar que esse metodo produziu duasvers6es da proto-hist6ria, a saber, a versao da escola de Alt-Noth e ada escola de Albright-Wright-Bright,33 sem falar nas concepc;:6es deMendenhall. 34 Alem disso, ha uma carrada de problemas ainda semsoluc;:ao, levantados por estas apreciac;:6es historico-criticas da historiade Israel, de forma que e ilusao falar-se de uma ou da apreciac;:aocientifica da hist6ria de Israel, pois tal coisa ainda nao existe.3S As-sim, a tentativa de alicerc;:ar a teologia unicamente na famosa apre-ciac;:ao hist6rico-critica de Israel fracassa, em virtude de deficienciascriticas e insuperaveis.

Walther Eichrodt tambem objeta veementemente ao fato de vonRad estabelecer tal dualismo entre os dois quadros da hist6ria de Is-rael. Ele acredita que a separac;:ao entre esses dois quadros "foi taoviolenta .. _ que parece impossivel daqui por diante restaurar suacoesao original". Von Rad diluiu a "verdadeira historia de Israel",transformando-a em "poesia religiosa"; pior ainda, Israel e que acomp6e, "em flagrante contradic;:ao aos fatos". 36Parece que a reac;:aonegativa de Eichrodt originou-se de sua distinc;:ao entre os "fatosextrinsecos" da historia da salvac;:ao do AT e a "experiencia internadecisiva", isto e, "0 dominio de Deus sobre 0 espirito humano atravesde sua invasao do intimo". 37E neste ponto, na criac;:ao e evoluc;:ao do

31 "Geschehene und geglaubte Geschichte", Wissenschaftliche Zeitschrift der Univer-sitatJena, 14(1965), p. 707.

32 Veja a critica incisiva de Mildenberger a Hesse, em Gottes Tat im Wort, p. 42,n. 67. Tendo em vista essas observa~oes, e dificil entender como 1. M. Robinson,"Heilsgeschichte und Lichtungsgeschichte", EvTh, 22 (1962), p. 118. pode falarda "solidez da posi~1i.o de Hesse" em contraposi~1i.o a de von Rad.

33 Veja especialmente M. Weippert, Die Landnahme der israelitischen Stamme inder neueren wissensclzaft/ichen Diskussion (FRLANT, 92; Giittingen, 1967),p. 14-140; R. de Vaux, Die Patriarchenerzalzlungen und ihre Religion (2." ed.;Stuttgart, 1968), p. 126-167; e R. de Vaux, "Method in the Study of Early HebrewHistory", The Bible ill Modern Scholarship, p. 15-29; alem da rea,ao de G. E.Mendenhall, p. 30-36.

34 "The Hebrew Conquest of Palestine", Biblical Archaeologist, 25 (1962), p. 66-87.Repare na analise critica devida ao fato de ser da escola de Alt-Noth, Weippert,Die Landnahme, p. 66-69.

35 Soggin, ThZ, 17(1961), p. 385-387.36 TOT, I, p. 512 e s.37 TOT, I, p. 15.

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povo de Deus, na consciencia do relacionamento da alianc;:a, queocorre a experiencia "decisiva", "sem a qual todos os fatos extrinse-cos tornam-se mito". 38Aqui, pois, esta 0 "ponto de origem de todosos relatos posteriores da Hist6ria; aqui estao a oportunidade e anorma para todas as afirmac;:6es sobre 0 discurso e os feitos deDeus" .39Na realidade, contudo, a fe de Israel esta "fundamentadaem fatos da historia" e s6 assim ela pode gozar de "autoridade parareger".40 Depreende-se entao que, no entender de Eichrodt, umareconciliac;:ao das duas vers6es da historia de Israel nao e apenaspossivel, como absolutamente necessaria, no interesse da fidedigni-dade do testemunho biblico.41

Friedrich Baumglirtel reconhece a debilidade do ponto de partidade von Rad, mas nao tanto na questao da importancia da confissao deIsrael para a fe crista. Esta questao nao pode ser solucionada atravesda pesquisa hist6rica; deve se-Io teologicamente.42 Sua critica diri-ge-se a tentativa de von Rad de solucionar a questao teologica dosignificado do AT para a fe crista fenomenologicamente servindo-seda interpretac;:ao da hist6ria e da tradic;:ao. Segundo Baumglirtel,nenhuma das duas vers6es da hist6ria de Israel tem qualquer relevan-cia teol6gica para a fe crista. Por que? Porque 0 problema e que todoo AT e "0 testemunho de uma religiao nao-crista". 43 "Encaradohistoricamente, ele nao pertence a religiao crista.44 No entender deBaumglirtel, 0 erro de von Rad esta na suposic;:ao de que os testemu-nhos de Israel acerca das ac;:6es de Deus na Hist6ria podem seradotados a primeira vista e considerados relevantes para a igrejacrista. A oportuna reac;:ao de outr~ teologo do AT, Claus Wester-mann, nao chegou a ser um exagero: "Basicamente, ele lBaumglirtelJadmite, entao, que a igreja poderia passar tambem sem 0 AntigoTestamento. "45 A esta altura, 0 principal ponto fraco da critic a de

38 TOT, I, p. 15 e s.; tambem Eichrodt. Theologie des AT, IIIIIl (4." ed.; Giittingen,1961), p. XII. E lamentavel que grande parte do exame que consta na introdu~aoda edi,ao alema tenha sido omitido na edi,ao em ingles.

39 Theologie des AT, llII1l, p. VIII.40 TOT,l,p.517.41 TOT, I, p. 516: " ... Sabe-se que no AT nao estamos lidando com uma transform a-

ma~ao anti-hist6rica do curso da Hist6ria em con to de fada ou poema, mas comuma interpreta,ao de acontecimentos reais ... Tal interpreta,ao e capaz de, por meiode uma representa,ao parcial ou exagerada em algum aspecto, captar e represen-tar 0 verdadeiro significado do even to com mais precisao do que uma cronicairrepreensivel do curso exato da Hist6ria."

42 "Gerhard von Rads "Theologie des AT''', ThLZ. 86 (1961), p. 805.43 "Das hermeneutische Problem des AT", ThLZ, 79 (1954), p. 200; "The Hermeneu-

tical Problem of the OT". em Essays on OT Hermeneutics, ed. C. Westermann(Richmond, Va., 1963), p. 135. Mencionado daqui por diante comoEOTH.

44 EOTH, p. 145.45 "Remarks on the Theses of Bultmann and Baumgiirtel", EOTH, p. 133.

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Baumgll.rtel a von Rad est a em sua contestac;:ao da relevancia do ATpara a fe crista.

Johannes Hempel e Eva Osswald buscam outra soluc;:ao para 0

problema. Johannes sustenta que mesmo "urn relato erroneo masobjetivo do passado - 0 que contribui para a falta de confiabilidadeda tradic;:ao humana"46 - pode ser um testemunho da atividade deDeus, ainda que seja apenas um testemunho fragmentado. Segundoele, continua sendo fato a atividade de Deus no decorrer da Hist6ria,mesmo que nao se saiba como ele atuou. A investigac;:ao desse "como"tambem e tarefa do historiador, como disse Hempel. 47Osswald nao ecapaz de acompanha-Io. Ela acredita que "nao e sempre que se podedefinir com clareza a atuac;:ao de Jave para com IsraeL Assim, 0 unicotestemunho que resta e que Jave operou em Israel. "48 A distinc;:ao en-tre 0 fato de "ter" ocorrido e "como" ocorreu,49 comum em estudos doNT,50 dificilmente pode ser considerada a soluc;:ao do problema, pais,em ultima analise, sua alegada veracidade est a vinculada exclusiva-mente a historiografia moderna. Esta, contudo, nao e capaz decomentar os atos de Deus. SI Isto Osswald admite. "Certamente naoe possivel se fazer comentarios acerca de Deus com a ajuda da cienciacritic a historiografia I, pois nao hit como se chegar a uma determina-da dec1arac;:ao teologica a partir da historiografia - ciencia objetivaque e_"52 Torna-se, assim, forc;:oso indagar £e 0 pr6prio testemunho

46 SlUdiell des apologetischen Seminars, 27, p. 80 e s.47 Geschichtell und Geschichte im AT bis zur persischen Zeit (Giitersloh, 1964),

p. 38: "[0] historiador [tern] uma dupla tarefa ao lidar com 0 material historicodo AT: Ele precisa pesquisar as ocorrencias que deram origem a fe de Israel aolongo da atividade historic a de seu Deus, que a moldou e vern modificando com 0passar dos seculos. Isto significa que ele precisa investigar se a alega~iio deveracidade dessas expressoes se verificam. Ele precisa pesquisar as expressoes defe de Israel que tiveram papel ativo na forma~ao de sua tradi~ao historica e agoratambem como testemunho de acontecimentos especificos."

48 Osswald, p. 709.49 M. Sekine, "Vom Verstehen der Heilsgeschichte. Das Grundproblem der alttesta-

mentlichen Theologie", ZA W, 75 (1963), p. 145-154, segue a distin~ao de Hempel.entre dicta, i.e., dec1ara~oes biblicas, efacta. fatos historicos. A primeira dependesempre da ultima; na Biblia, nao podem ser separadas. Assim, 0 objeto de umateologia biblica e facta dicta, ou seja, fatos dec1arados que constituem a historiada salva,ao. Ate 0 momento, alguns tern colocado uma enfase unilateral em facta(ex: Hesse. Eichrodt) ou em dicta (von Rad, Rendtorff). Ate agora os esfor,os nosentido de eliminar a disparidade entre os dois tern sido infrutiferos. No AT, 0pensamento existencial associa facta e dic,ta com tipologia. Portanto. a tipologiaestrutural e urn metodo relevante. Deve-se inquirir se isso nao consiste no acrescimode elementos estranhos ao material.

50 0 debate acerca da "nova empreitada" do Jesus historico bern exemplifica essedilema.

51 A. Weiser, "Vom Verstehen des AT". ZAW, 61 (1945/48), p. 23 e S., explica que 0conhecimento racional da Historia esta limitado it dimensao temporal-espacial eque a dimensao do conhecimento de Deus so po de ser a1can~ada atraves do conheci-mento da fe. Cf. Osswald, p. 711: "A fe nao e determinada por eventos historicosisolados. mas por Deus, 0 5enhor da Historia."

52 Osswald. p. 711.

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biblico nao confere maior dimensao a um evento, pois encara eapresenta a realidade em func;:aoda historia em que Deus efetua asalvac;:aode seu povo.53

A esta altura suscitou-se a questao da pertinencia de se enfatizarou os fatos historicos ou 0 querigma confessional, que, obviamente,tambem se apoia em fatos. A. Weiser e Hempel54 reconhecem que arealidade historica e a expressao querigmatica, i.e., fato e interpreta-cao formam uma unidade no AT.55 Georg Fohrer defende que, seexiste uma unidade fundamental entre fato e interpretac;:ao, evento epalavra, entao nao devemos atirar um contra 0 outr~, porque osautores do AT se utilizaram de tradic;:6esque consideravam "histori-cas".56 Hempel explica que os narradores da Biblia desconheciam 0atrito entre relato e evento, patente ao homem moderno. Isso naotinha a menor importancia para eles, pois estavam convencidos daveracidade do que ocorrera.57 Osswald acredita que a autenticidadedo que aconteceu era pressuposto obrigatorio apenas para 0 autorprimitivo, e nao para 0 homem moderno, que tem feito muitasindagac;:6espor meio da historiografia moderna.58 Recaimos na ques-tao de qual parametro e usado para determinac;:aoda "veracidade".Considerando 0 testemunho biblico, 0 metodo historico-critico acar-reta uma crise de objetividade e autenticidade ao exc1uira hipotese doelemento "Deus", do qual a Escritura da testemunho. Indaga-se,

53 Este e 0 argumento de W. Beyerlin, "Geschichte und 'heilsgeschichtliche' Tradi-tionsbildung im AT," VT, 13 (1963), p. 25, com respeito a tradi~1i.o de Gideao esua realidade hist6rica.

54 A. Weiser, Glaube und Geschichte im AT und andere ausRewahlte Schriften(Miinchen, 1961), p. 2 e 22; J. Hempel, "Die Faktizitat der Geschichte im bibli-schen Denken", em Biblical Studies in Memory of H. e. Alleman (Locust Valley,N. Y., 1960), p. 67 e ss.; Geschichten und Geschichte, p. 11 e ss. Veja tambemR. H. Pfeiffer, "Facts and Faith in Biblical History", JBL, 70 (1951), p. 1-14;J. C. Rylaarsdam, "The Problem of Faith and History in Biblical Interpretation",JBL, 77 (1958), p. 26-32: C. Blackman, "Is History Irrelevant for the Christian Ke-rygma?" Interpretation, 21 (1967), p. 435-446; C. E. Braaten, History and Herme-neutics (Filadelfia, 1966); "The Current Controversy on Revelation: Pannenbergand His Critics", Journal of Religion, 45 (1965), p. 225-237; 1. Barr, "RevelationThrough History in the OT and in Modern Theology", Interpretation, 17 (1963),p.193-205.

55 W. Pannenberg, "The Revelation of God in Jesus Christ", Theology as History(New Frontiers in Theology. III; New York, 1967), p. 127, defende tambem que"precisamos restaurar hoje a unidade original dos fatos e seu significado". Istoequivale a dizer que "em prindpio, 0 significado original de todo evento acha-seem seu contexto de ocorrencia e de tradi~110 ... " Diz ainda que "0 conhecimentoda hist6ria em que a fe se baseia tern a ver com a veracidade e fidedignidade doselementos de que ela depende ... Tal conhecimento ... assegura 0 fundamcnto da fe"(p.269).

56 "Tradition und Interpretation im AT", ZA W, 73 (1961), p. 18.57 Hempel, Biblical Studies, p. 67 e ss.; "Faktum und Gesetz im alttestamentlichen

Geschichtsdenken", ThLZ, 85 (1960)' p. 823 e ss.; Geschichten und Geschichte,p. 11 e ss.

58 Osswald, p. 710.

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entao, se nao se faz necessario desenvolver, a fim de veneer essedilema, uma nova serie de conceitos,59 mais adequados a naturezadinamica e a realidade integral dos textos que reconhecidamenteencerram a unidade entre facta e dicta, fato e interpretac;:ao, evento epalavra, ocorrencia e significado.

Wolfhart Pannenberg, agora professor de teologia sistematica emMunique, tem empreendido gran des esforc;:os para atacar 0 problemados dois quadros da hist6ria de Israel e da hist6ria da salvac;:ao(Heilsgeschichte). Ele tem feito criticas veementes a posturas teol6gi-cas atuais, baseando-se na considerac;:ao, deduzida do AT, de que"a historia constitui 0 mais amplo horizonte da teologia crista" _60

Afigura-se que Pannenberg ap6ia todo 0 seu program a teologico emsua suposic;:ao de que a Hist6ria e "realidade em set} todo". 61 A His-t6ria engloba a realidade do passado e do presente do homem.62 Eleinvestiga a evoluc;:ao dessa concepc;:ao de que a Historia e "realidadeem seu todo" desde 0 Israel primitivo ate 0 presente. Cpntesta aindaa conhecida distinc;:ao entre fatos historicos e seu significado, avalia-c;:aoe interpretac;:ao, por parte do homem. Ele acredita que este pro-

59 Von Rad, TAT, I, p. 120, chama a nossa aten~ao para a observa~ao "de que aexpressao de Israel e oriunda de urn nivel profundo de experiencia historica que ainvestiga~1i.o historico-critica e incapaz de sondar".

60 Esta frase abre 0 ensaio "Heilsgeschehen und Geschichte", Kerygma und Dog-ma, V (1959), p. 218-237, 259-288, cuja primeira parte foi traduzida como "Re-demptive Event and History", EOTH, p. 314-335. As seguintes colabora~oes dePannenberg sao relevantes para 0 nosso de9ilte: "Kerygma und Geschichte",SlUdien zur Theologie der alttestamentlichen Uberlieferungen, ed. R. Rendtorffund K. Koch (Neukirchen, 1961), p. 129-140 (doravante citado como Studien);Pannenberg, ed., Offenbarung als Geschiclzte (2." ed.; Gottingen, 1963; doravantecitado como OaG); apareceu em ingles como Revelation as History (New York,1968); Panncnberg, Jesus - God and Man (Filadelfia, 1968); Grundfragen syste-macischer Theologie (Gottingen, 1968). Hans-Georg Geyer escreveu criticas dignasde nota sobre Pannenberg e seu grupo, "Geschichte als theologisches Problem",EvTh, 22 (1962), p. 92-104; Lothar Steiger, "Offenbarungsgeschichte und theolo-gische Vernunft", ZThK, 59 (1962), p. 88-113; Giinther Klein: "Offenbarung alsGeschichte?" Monatsschnft fur Pastoraltheologie, 51 (1962), p. 65-88, a quePannenberg retrucou em "Postscript'· da 2." ed. de OaG, p. 132-148; Klein,Theologie des Wortes Gottes und die Hypothese der Universalgeschichte. Zur Aus-einandersetzung mit Wolfhart Pannenberg (Beitrage zur Evangelischen Theo-logie, 37; Miinchen, 1964); Hesse, "Wolfhart Pannenberg und das AT", NeueZeitschrift fUr syscematische Theologie und Religionswissenschaft, 7 (1965),p. 174-199; Gerhard Sauter, Zukunft und Verheissung. Das Problem der Zukunftin der gegenwanigen theologischen und philosophischen Diskussion (Ziirich/Stuttgart, 1965), p. 239-251; R. L. Wilken, "Who Is Wolfhart Pannenberg?"Dialogue, 4 (1965), p. 140-142; D. P. Fuller, "A New German Theological Move-ment", Scottish Journal of Theology, 19 (1966), p. 160-175; G. G. O'Collins,"Revelation as History", Heythrop Journal, 7 (1966). p. 394-406; R. T. Osborn,"Pannenberg's Programme", Canadian Journal of Theology, 13 (1967), p. 109-122; H. Obayashi, "Pannenberg and Troeltsch: History and Religion", Journal ofthe American Academy of Religion, 38 (1970), p. 401-419.

61 EOTH, p. 319.62 Pannenberg, Grundfragen sysremarischer Theologie, p. 391.

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cedimento familiar a historiografia moderna resulta da influencia dopositivismo e do neokantismo. Pannenberg sugere que, para comba-ter tal distinc;:ao artificial, "devemos restaurar hoje a unidade originaldos fatos e seu significado". 63 Isto equivale a dizer que, "teorica-mente, 0 significado original de todo evento acha-se em seu contextode ocorrencia e de tradic;:ao ... "64 A meta de Pannenberg, a luz dessaanalise, e criar uma situac;:ao de forma que a fe possa apoiar-se emfatos hist6ricos comprovados, a fim de que seja preservada de subjeti-vidade, auto-reparac;:ao e engano pr6prio. 6S

Pannenberg enfatiza a tese da "revelac;:ao encarada como histo-ria" .660 objetivo da "atividade de Jave na Historia e ser conhecido -revelac;:ao. 0 prop6sito de sua atuac;:ao e que .. _Jave sera revel ado em~eus atos ao cumprir seu voto". 67A conexao entre os Testamentos econstituida pela unica hist6ria, a saber, a historia universal, "que estaarraigada na unidade do Deus que opera nao s6 aqui como em todaparte e permanece fie I as suas promessas". 68 Na hist6ria universal,tem-se que "0 destino da humanidade, desde a criac;:ao, vem-sedesvendando de acordo com um plano divino". 69Ele expande, assim,a historia da salvac;:ao (Heilsgeschichte), tornando-a identica a histo-ria universal.70 Quando a "realidade em seu todo"71 e tida comohist6ria universal, nada pode ser exc1uido desse todo. A revelac;:ao deDeus e, portanto, 0 significado inerente da Hist6ria, e nao algo quelhe foi acrescentado.72

Enquanto von Rad deixa em aberto a relac;:ao entre historia dasalvac;:ao e Historia, Pannenberg, com sua concepc;:ao homogenea dahistoria universal, enquadra a historia da salvac;:ao na categoria amplade historia universal. Parece, portanto, impossivel manter-se umadisjunc;:ao radical entre os dois quadros da hist6ria de Israel ou entre 0passado e 0 presente ou entre 0 presente e 0 futuro. Desse modo,Pannenberg amplia a concepc;:ao modern a de historia, a fim deincorporar a realidade plena ao metodo hist6rico-critico, que, pela

63 Supra. n. 55.64 Pannenberg, Theology as History, p. 127.65 P. 269: "0 conhecimento da historia em que a fe se baseia tern a ver com a veraci-

dade e fidedignidade dos elementos de que ela depende; isto pressupoe-se no atoda confian,a e. portanto. tern precedencia logica sobre 0 ato de fe no que dizrespeito ao seu conteudo. Mas isso nao significa que 0 resultado subjetivo de talconhecimento seja de alguma forma uma condi~ao para partilhar-se da salva~1i.o;ao contraIio, ele assegura 0 fundamento da fe."

66 Este e 0 titulo da cole~ao de ensaios programaticos em Revelation as History(New York. 1968).

67 EOTH, p. 317.68 P.329.69 Pannenberg, Revelatioll as History. p. 132.70 P. 133.71 EOTH, p. 319.72 Revelatioll as History. p. 136.

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propria definic;:ao, achava-se limitado. Toda a teologia de Pannenbergparece trocar a historicidade radical do presente pela contemplac;:aodo todo. H. Obayashi afirma que a concepc;:ao de Pannenberg daHistoria como realidade plena, a despeito de seu pretense caraterhistorico, afasta-se da questao ontol6gica classic a e enquadra-a numfim dos tempos ontol6gicos. "73 "Se a teologia da Heilsgeschichtefugiu da Historia e abrigou-se num porto seguro, Pannenberg partiudesse mesmo porto e readentrou a Hist6ria, tao-somente para desco-brir em sua natureza, imensa e inexaurivel que e, uma integridadeinata, em que 0 fim desempenha 0 irresistivel papel de imunizar 0

significado do presente. "74Um aspecto positivo a ser apontado e que Pannenberg procura

defender a concepc;:ao de realidade transcendente que E. Troeltsch,alem de nao empregar, relegou a escolha pessoal. 75 Segundo Pannen-berg, pressup6e-se uma realidade transcendente na compreen-sao e na existencia humanas.76 Sua critica ao metodo historico deTroeltsch, cujo principio de analogi a se baseia numa pressuposic;:aoantropocentrica unilateral, e valida.77 Pannenberg emprega um meto-do hist6rico-critico sintetico, que enfatiza a unidade original dos fatos eseu significado, alem de um antropocentrismo metodol6gico, cujopressuposto, diz-se, tem a capacidade de englobar a esfera dotranscendental. 78

Rolf Rendtorff,79 membro do "circulo de trabalho" de Pannen-berg, juntamente com Ulrich Wilckens80 e Dietrich RBssler,sl proposque se estabelecesse uma relac;:ao entre a hist6ria da salvac;:ao e aapreciac;:ao historico-critica da historia de Israel. Combinar-se-ia acorrente divisao, "historia de Israel", "hist6ria da tradic;:ao" e

73 Obayashi, p. 405; cr. W. Hamilton, "Character of Pannenberg's Theology", Theo-logy as History. p. 171S.

74 P.413.75 E. Troeltsch, Gesammelte Schn/ten (Tubingen, 1922), Ill, 657 e ss.76 Grundfragen systematischer Theologie, p. 283 e s.77 Pannenberg, "Heilsgeschehen und Geschichte", Grundfragen systematischer Theo-

logie, p. 46-54; d. Obayaschi, p. 407 e s.78 Grundfragen systematischer Theologie, p. 54.79 Rendtorff e 0 teologo do AT do grupo cujos escritos relevantes para a presente

questao sao: "Hermeneutik des AT als Frage nach der Geschichte", ZThK; 57(1960), p. 27-40; "Die Offenbarungsvorstellungeil im alten Israel", OaG, p. 21-41;"Die Entstehung der israelitischen Religion als religionsgeschichtliches und theo-logisches Problem". ThLZ, 88 (1963). cols. 735-746; "Alttestamentliche Theologieund israelitisch-judische Religionsgeschichte", Zwischenstation. Festschnft furKarl Kupisch zum 60. Geburtstag, ed. Helmut Gollwitzer and 1. Hoppe (Munchen,1963), p. 208-222. Digna de nota tambem e a critica de Arnold Gamper a Rend-torff, "Offenbarung in Geschichte", ZThK, 86 (1964), p. 180-196.

80 "Das Offenbarungsvertandnis in der Geschichte des Urchristentums", OaG,p.42-90.

81 D. Rossler, Gesetz und Geschichte. Untersuchungen zur Theologie der judischenApokaiyplik und der pharisaischen Orthodoxie (WMANT. 3. 2. a ed .. Neukirchen.1962).

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"teologia do AT', em um novo genero de pesquisa escolastica.Como todas estas sao englobadas pela tradic;:ao, ele transporta 0

termo "tradic;:ao" para 0 centro de seu debate. Explica ainda que.. a hist6ria de Israel abrange eventos extrinsecos, que sao freqiiente-mente objeto da pesquisa historico-critica da Historia, e aqueles,divers os e estratificados, que the sao inerentes e que chamamos detradic;:ao" .82 0 metodo historico-critico, portanto, deve ser transfor-mado e ampliado de forma a verificar tambem a revelac;:ao de Deusna Hist6ria. Nao e de se surpreender que Rendtorff tenha muito ad:zer sobre a relac;:ao entre palavra e evento. Ele tem a convicc;:ao deque "a palavra desempenha um papel essencial na ocorrencia darevelac;:ao". Isto nao significa, porem, que a palavra tem preemi-nencia sobre a ocorrencia. Muito pelo contrario, a palavra nao precisaser 0 mediador entre 0 evento e aquele que 0 vive, porque "0 pr6prioeven to pode e deve propiciar 0 reconhecimento de Jave aquele que 0

testemunha e encara como operac;:ao de Jave" .83

Apesar de inc1uir 0 termo "tradic;:ao" em seu vasto horizonte,Rendtorff nao progride mais do que von Rad, que 0 empregou comosubtitulo em seus dois volumes de teologia do AT. Faz-se necessarioperguntar que relevancia tem a hist6ria da tradic;:ao- Sem duvidaalguma, ela promove a exposic;:ao e interpretac;:ao biblico-teologicas,mas persiste a duvida se esse metodo, mesmo com uma perspectivamais ampla, pode ser instituido como "canon" do pensamentobiblico-teologico. H.-J. Kraus comentou, em tom de critic a , que"0 estranho otimismo que acredita que com 0 termo magico 'hist6riada tradic;:ao' pode-se tratar tanto de fe quanta de hist6ria faznecessaria a consolidac;:ao do programa 'revelac;:ao encarada comohistoria' " .84

Tendo em vista essa situac;:ao, Kraus salientou corretamente que"um dos problemas mais dificeis da apreciac;:ao e exposic;:ao da'teologia biblica' eo do ponto de partida, do significado e func;:ao dapes'luisa hist6rico-critica". 85 0 ponto de partida da teologia de vonRad tem cunho nitidamente hist6rico-critico, como se evidencia nofato de que sua teologia e uma teologia das tradic;:6es. Esta apreciac;:aosuscita muitas quest6es. Um ponto crucial do problema e a relac;:aoentre historia da tradic;:ao e hist6ria da salvac;:ao. Deixe-me ilustrar 0que quero dizer. Os profetas de Israel descreveram com realismo as

82 Rendtorff, Studien, p. 84.83 OaG, p. 40. Zimmerli rebateu Rendtorff em "'Offenbarung' im AT", EvTh, 22

(1962), p. 15-31, ao que Rendtorff respondeu com "Geschichte und Wort im AT",EvTh, 22(1962), p. 621-649. Robinson fez urn sumario do debate em "Revelationas Word and as History", Theology as History, p. 42-62.

84 Die Biblische Theologie, p. 370.85 P.363.

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tradic;:6es primitivas; 0 velho fez-se novo. Desenvolveu-se entre eles"um pensamento critico de selec;:ao, combinac;:ao e ate mesmo derejeic;:ao de informaC;:6es da rica tradi~ao ... "86 Von Rad denominaesse processo de "ec1etico-carismatico" Y E quanta a esse "pro-cesso" que propiciou 0 desenvolvimento de um "curso linear daHist6ria",88 que, por sua vez, apresenta novos acontecimentoshistoricos? A duvida e se um acontecimento biblico e um acon-tecimento hist6rico-tradicional. Em outras palavras: Sera que aestrutura horizontal das tradic;:6es e 0 "processo" decisivo a seradotado .numa teologia do AT e por ela explicado? Sera que a teologiada hist6ria das tradic;:6es realmente tem carater de teologia do AT?A finalidade dessas indagac;:6es criticas nao e subestimar 0 direito eimportancia da pesquisa historico-tradicional. No entanto, nao sepode fugir da responsabilidade de atacar a questao do ponto departida metodologico da teologia do AT, se ele se origina ou nao dometodo historico-tradicional. Parafraseando Kraus, afigura-se que ateologia do AT so e teologia do AT89 pelo fato de "aceitar 0 contextotextual do canon como verdade hist6rica, que carece de expiicac;:ao einterpretac;:ao sumarias".90 Se esta e func;:ao da teologia do AT, entaonao deve ser considerada "hist6ria da revelac;:ao", "historia dareligiao" ou "hist6ria da tradic;:ao", como pode ser 0 caso. 91

Na opiniao do autor, parece exeqiiivel nao basear a "hist6ria dasalvac;:ao" no metodo hist6rico-critico (Hesse) nem amplia-lo a pontode revelar a realidade integral (Pannenberg, Rendtorff), pois osprincipais acertos a serem feitos, em termos de pressuposic;:ao efilosofia, transformariam 0 metodo de tal forma que seu caraterhist6rico-critico, como e atualmente entendido, seria eliminado_ Noentanto, a despeito de nossas avaliac;:6es do desenvolvimento dasteologias de Pannenberg e seu grupo, a proposta de que "precisamosrestaurar hoje a unidade original dos fatos e seu significado"92 mereceseria considera<;ao como novo ponto de partida para se sobrepujar adicotomia modema, por meio da qual a historiografia dividiu a

86 TAT, II, p. 118; OTT, II. p. 108.87 TAT, 11, p. 345. Cf. Baumgartel, ThLZ, 12(1961), p. 901-903.88 TAT, II, p. 118; OTT, 11, p.l08.89 Ebeling, Word and Faith, p. 79 e S., assinala a ambigiiidade do termo "teologia

biblica", que pode significar tanto a teologia inerente it Biblia quanto a teologiaque tern carater biblico e se harmoniza com a Biblia. A mesma distin~ao pode seraplicada it teologia do AT. Esta significa a teologia inerente ao AT, e, portanto,rec1ama carater normativo.

90 Die Biblische Theologie, p. 364 (0 grifo e dele).91 Vriezen, An Outli/le ofOT Theology 2 • p. 146 e S.; e Kraus tambem, "Die Bib/ische

Theologie, p. 364 e S. Kraus explica que este nao e mais urn "biblicismo"; e parteda dificil fun~ao teologica de continuar a verificar e explicar procedimentosmetodologicos.

92 Pannenberg. Theology as History. p. 127.

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hist6ria de Israel, sob influencias tao ultrapassadas e duvidosas comoo positivismo e 0 neokantismo_ 93 A fe, portanto, nao seria definidapela "linguagem dos fatos"94 nem por provas de acontecimentoslevantadas pelo metodo hist6rico-critico, mas, sim, pelo fato dalinguagem, que restabelece a unidade original entre evento e palavra esua enfase para 0 ouvinte. Assim, quando falamos da operac;:ao deDeus na hist6ria de Israel, nao ha motivo para limitarmos essaoperac;:ao a alguns meros fatos - brutafacta - que a critica historicapode verificar com ajuda de outras evidencias hist6ricas. Nao etambem conveniente nem adequado empregar-se a linha hermeneuti-ca de von Rad, porque nenhum dos dois sistemas tem levado a cienciaa uma compreensao plenamente aceita da realidade hist6rica, devidoa serias limitac;:oes, restric;:oes e impropriedades metodol6gicas, hist6-ric as e teologicas. Os atos de Deus acompanham toda a carreira deIsrael na Historia, inc1uindo as mais diversas e altamente complexasformas de evoluc;:ao e transmissao de suas confissoes. Precis amos,portanto, utilizar um metodo que leve em considerac;:ao essa hist6riana integra, reconhecendo a unidade original dos fatos e seu significa-do, alem de ter a devida concepc;:ao do que e realidade integral.

93 Christoph Barth. teologo do AT. contesta, em "Grundprobleme einer Theologiedes AT", EvTh, 23 (1963), p. 368. a metodologia critica, que considera toda "cau-salidade super-humana e sobrenatural" nao-historica, bern como 0 "metodo ra-cional-objetivo". que acredita ser capaz de distinguir, sem grande dificuldade.historia "real" de historia "interpretada".

94 Pannenberg. OaG. p. 100 e 112.

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o Centro e a Teologia doAT

A questao da existencia do que pode ser considerado 0 centro (doalemao Mitte) do AT e de suma importancia para 0 estudo da teologiado AT e para a compreensao deste. Essa questao desempenha papelimportante, as vezes critico, na exposic;:ao da teologia do AT_

Nao e necessario verificarmos a evoluc;:ao do problema nos ultimosdois seculos, quando surgiram apreciac;:6es bastante divergentes dateologia biblica_ I A publicac;:ao da teologia de Eichrodt projetou aquestao para uma nova dimensao. No seu entender, 0 "conceitocentral" e "simbolo apropriado"2 que garante a unidade da fe biblicae a "alianc;:a". "0 conceito da alianc;:a", explica Eichrodt, "ganhouesta posic;:ao central no pensamento religioso do AT a fim de que, aooperar como agente externo, a unidade estrutural do AT possatornar-se mais facilmente visivel". 3 Ele nao 0 considera um "conceitodoutrinario que colabora para a formac;:ao de uma colec;:ao completade dogmas, mas, sim, a caracteristica descri(:iio de um processo vivo,que iniciou-se em determinada epoca e em determinado lugar, a fimde revelar uma realidade divina singular em toda a historia dareligiao".4 Assim, a teologia de Eichrodt consiste numa das maisimpressionantes tentativas de compreender 0 AT como urn todo,partindo nao apenas de um centro, mas tambem do conceito unifica-dor de "alianc;:a"_

I Gostariamos de chamar a aten,ao para 0 recente estudo resumido de R. Smendsobre 0 assunto Die Mitte des A T(Ziirich, 1970), p. 7, 27-33.

2 TOT, I. p.13es.3 TOT,I,p.17.4 TOT, I. p. 14 (0 grifo e dele). A centralidade da alian~a para a religiao do AT ja

possuia defensores muito antes de Eichrodt: August Kayser, Die Theologie des ATin ihrer geschicht/ichen Entwicklung dargestellt (Strassburg, 1886), p. 74: "A con-cep,ao dominante dos profetas, a ancora e 0 alicerce da religiao do AT em geral,e a no~ao de teocracia ou, utilizando a expressao do proprio AT, a n~ao dealian~a." G. F. Oehler, Theologie des AT (Tiibingen, 1873), I, p. 69: "0 funda-mento da religiao do ATe a alian,a por meio da qual Deus recebeu a tribo escolhi-da, a fim de realizar seu plano de salva~ao."

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Afigura-se que as descobertas do alicerce legal da alianc;:a mosaica,incentivadas especialmente por G. E. MendenhalJ,S reforc;:am aindamais a enfase de Eichrodt. 0 debate que se seguiu, entretanto,arrefeceu de certo modo 0 entusiasmo iniciaL6 Agora, G. Fohrer jaacredita que a alianc;:a entre Jave e Israel nao teve qualquer influenciasobre Israel entre 0 fim do seculo XIII e 0 fim do seculo VII a.c., 7 aoque Eichrodt reagiu.8 Fohrer tem uma visao muito limitada desseponto. A importancia do tema da alianc;:a no AT nao deve sernegada, mas a pergunta crucial permanece de pe: "Sera que 0

conceito da alianc;:a e amplo 0 suficiente para englobar adequada-mente a realidade integral do AT? S6 e possivel responder-se comuma negativa. Permanece a duvida se qualquer conee ito isolado podeou deve ser empregado para produzir uma "unidade estrutural damensagem do AT", uma vez que este resiste, por natureza, a talsistema tizac;ao.

Varios eruditos acreditam que 0 AT possui outros centros_ E. Sellinadotou como principio de orientac;:ao de sua teologia do AT asantidade de Deus. "E isto que caracteriza a natureza mais profundae intima do Deus do AT. "9 Sellin argumenta que seu estudo sepreocupa "apenas com a longa e unica linha que termina noEvangelho: a palavra do Deus eterno nos escritos do AT" . 10 Enquantoa religiao nacional e ritualista da crenc;:a popular aponta principal-mente para 0 passado e 0 presente, a religiao etica e universal dosprofetas aponta para 0 futuro, para a vinda do Santo, trazendo juizo esalvaC;ao, sendo ambos decorrencia da santidade de Deus. 11

Ludwig Kohler, a semelhanc;:a de Eichrodt e Sellin, possui seuconceito central favorito, a saber, que Deus e 0 Senhor_ 12 No seu

5 Law and Covenant in Israel and the Ancient East (Pittsburgh, 1955); "Cove-nant".lDB. I. p. 714-723.

6 Ha urn reSllmo do debate em "Covenant in the OT: The Present State of In-quiry". de D. 1. McCarthy. CBQ, 27 (1965)' p. 217-240, e em Der Goltesbundil1l AT(2a ed.: Stuttgart. 1967; trad. em ingles The OTCovenam [Oxford, 19721Este ultimo inclui uma ampla bibliografia.

7 "AT - 'Amphiktyonie' und 'Bund'?" ThLZ, 91 (1966), p. 893-904; "Der Mittel-punkt einer Theologie des AT', ThZ, 24 (1968). p. 162 e s. 1. Perlitt, Bundestheo-logie im AT (WMANT. 36: Neukirchen- Vluyn. 1971). acredita que a teologia daalian,a do ATe Un! fruto tardio da cren~a israelita que se deve it criati\':dadeteol6gica do movimento e da epoca deuteronomista. Isso explica. portanto. 0"silencio acerca da alian~a" por parte dos profetas do seculo VIII.

8 W. Eichrodt. "Prophet and Covenant: Observations on the Exegcsi5 of Isaiah".Proclamation and Presence: OT Essays in Honor of G. Hemoll Davies, ed. 1. I.Durham e 1. R. Porter (Richmond. 1970)' p. 167-188, sustenta que a alian~aoriginal entre Jave e Israel n1l0 foi mencionada pdo profeta Isaias porque ele n110queria discutir Ulll conceito que era tao imponante para a sua propria fe. Com re-ferencia a toda a questao. \'eja R. E. Clements. Prophecy alld Covenant (SBT, 43:Londres. 1965).

9 Theologie des A T(2." ed.: Leipzig, 1936). p. 19.10 P. J.11 P.21-23.12 OTTheology, trad. A. S. Todd (Filadelfia. 1957). p. 30.

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entender, a dec1arac;:ao fundamental e decisiva da teologia do ATdeveria ser que Deus e 0 Senhor. "Esta afirmac;:ao e a espinha dorsalda teologia do Antigo Testamento.'''3 0 governo e rei'nado de Deussao meros corolarios do seu senhorio. 14

Hans Wildberger e da opiniao de que "0 conceito central do AT e aeleiCao de Israel como povo de Deus". 15 Horst Seebass enfatiza 0"governo de Deus" .16Gunther Klein defende 0 "reino de Deus comoconceito central"17 tanto no AT quanta no NT. Georg Fohrerresponde a questao - 0 AT the serve de origem e funciona comoeixo, em torno do qual tudo 0 mais giral8 - com urn "conceitoduplo",19 "a saber, 0 governo de Deus e a comunhao entre Deus e 0homem" .20 Estes dois p610s funcionam como focos de um ec1ipse21e "constituem 0 elemento unificador das diversas"22 expressoes evariac;:oes teol6gicas do AT a partir do que pode-se elaborar umateologia do ATe do NT. 0 ATe 0 NT nao devem, portan to, serrelacionados em termos de promessa e cumprimento ou fracasso erealizac;:ao, mas, sim, "pela relac;:ao de principio e continuidade[Beginn und Fortsetzung 1".2J Servindo-se desse centro de duploemprego e com base nessa dupla relac;:ao, nao ha motivo para sedesvalorizar ou reinterpretar 0 AT - sua singularidade pode seraceita seriamente_

A nova edic;:ao da teologia de Vriezen, totalmente revista e reescrita,apresenta relac;:ao, pelo menos em um aspecto-chave, com as aprecia-c;:oesde Fohrer. Embora Vriezen assevere explicitamente que Deus"e 0 ponto focal de todos os escritos do Antigo Testamento" e defendavigorosamente que "a teologia do Antigo Testamento precisa centra-lizar-se no Deus de Israel como 0 Deus do Antigo Testamento que serelaciona com 0 povo, com 0 homem e com 0 mundo ... ,"24 deve ficarbem entendido que 0 elemento central de sua estrutura de teologia do

13 P.35.14 P.31.15 "Auf dem Wege zu einer biblischen Theologie", EvTh, 19 (1959), p. 77 e s.16 "Der Beitrag des AT zum Entwurf einer biblischen Theologie", Wort und

Dienst, 8 (1965), p. 34-42.17 "'Reich Gottes' als biblischer Zentralbegriff'. Ev Til. 30 (1970), p. 642-670.18 "The Centre of a TheoloRY of the OT", Nederduitse Gereformeerde Theologiese

Tydskrift. 7 (1966), p. 198; 0 mesmo artigo foi publicado em alemao. com notas depe de pagina. com 0 titulo: "Der Mittelpunkt einer Theologie des AT". ThZ. 24(1968), p. 161.

19 "Das AT und das Thema 'Christologie'''. EvTil, 30 (1970). p. 295: "Em meio abusca do centro da teologia do AT surge 0 conceito duplo do governo de Deus ede sua comunhao com 0 homem."

20 ThZ. 24(1968), p. 163(0 grifoe dele).21 EvTh, 30 (1970)' p. 295.22 ThZ, 24 (1968). p. 163; E"Til, 30 (1970), p. 295.23 ThZ, 24(1968). p. 163.24 An Outline of OT Theology2. p. 150 (0 grifo e meu).

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AT e 0 conceito de "comunhao".25 Ele 0 chama de "noc;:ao basica","ideia radicular essencial" /6 "icteia fundamental"27 ou "pedra angu-lar"18 da mensagem do AT. Por que Vriezen prefere 0 conceito decomunhao ao conceito de alianc;:a empregado por Eichrodt? Eleacredita que a alianc;:a nao estabeleceu entre as duas partes uma"relac;:ao contratual", mas, sim, uma comunhiio - com Deus ... "29Acrescenta ainda que "nao podemos nos certificar de que a comu-nhao entre Deus e 0 povo era considerada desde 0 principio umacomunhllo pactual". 30Como na concepc;:ao de Vriezen e tambem nade Fohrer,31 0 NT concorda plenamente com 0 AT no sentido de que acomunhao e 0 "ponto fundamental da fe", decorre, no entender doprimeiro, que a noc;:llo fundamental da "comunhao entre Deus e 0

homem e 0 melhor ponto de partida para um estudo de teologiabiblica do Antigo Testamento, "devendo ser estruturado tendo-se esteaspecto em mente".3l Esta ultima tentativa de Vriezen, portanto,consiste na combinac;:ao do metodo dissecativo com 0 seu metodoconfessional. A semelhanc;:a entre a teologia do AT de Eichrodt e a deVriezen esta no fato de que ambos ado tam metodologias complemen-tares. A diferenc;:a entre os dois estudiosos e que Eichrodt empregasua versao de metodo dissecativo com auxilio do conceito de comu-nhllo, mas sem se desaferrar da hist6ria. Ele, portanto, prefere alinha descritiva e Vriezen a confessional. Este obtem a uni<ladeestrutural unicamente por intermedio do conceito de comunhao.

o recente estudo de Rudolf Smend sobre 0 centro do AT reavivoua f6rmula de Wellhausen: "Jave, Deus de Israel; Israel, povo deJave. "33 Se est a f6rmula particularista for aceita, argumenta Smend,en tao 0 atributo entre Deus e Israel po de vir a luz numa teologia do

25 Na p. 8, Vriezen escreveu que a parte principal de seu livro (Caps. 6-11) sofreuuma importante transforma,ao, uma vez que ele "procurou estabelecer a 'comu-nhao· ... como centro de todas as explana,oes".

26 P. 160.27 P. 170.28 P. 164.29 P. 169.30 P.351.31 EvTh, 30 (1970), p. 296-298.32 An Out/ine ofOT The%gyl, p. 175.33 Die Mille des AT, p. 49 e 55. 1. Wellhausen, Israelitisch-judische Religion.

Die K ultur der Gegenwart 1/4: J (Leipzig, 1905). p. 8, afirma que a frase: "Jave, 0Deus de Israel e Israel, povo de Jave" tern "sido por todos os tempos a suma essen-cia da religiao israelita". Bernhard Duhm, Die Theologie der Propheten (Leipzig,1875), p. 96, argumentou que 0 "conteudo integral da religiao profetica veio atona" com a dupla formula: "Israel. povo de Jave e Jave. Deus de Israel". B. Sta-de, Biblische Theologie des AT (2." ed.; Tiibingen, 1905), I, p. 31, defendeque "Jave, Deus de Israel" e "a ideia central da religiao de Israel". Martin Noth,Die israelitischell Personennamen im Rahmen der gemeinsemitischell Namenge-bung (2.' ed.; Hildesheim, 1966), p. 81, acredita que a "natureza caracteristica"da religiAo israelita vern a lume com a "afirma~ao de que Jave e 0 Deus de Israele que Israel e 0 povo de Jave".

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AT. A esta altura e importante salientar que Smend, assim comoFohrer antes dele, reconheceu que um unico conceito e incapaz defazer justic;:a ao testemunho diversificado e multiplo do AT. Eleprefere entao esta f6rmula a um unico conceito, porque por meiodela e possivel abordar um importante ponto de atrito do AT. 0 pro-prio Smend, contudo, admite que a f6rmula nao expressa 0 centro detodo 0 AT, alem de ter valor nitidamen te limitado no que diz respeitoao canon das Escrituras cristas do AT e do NT. 34 Desconsiderandoesta ultima questao, a formula seria deveras particularista, pois emmeio ao atrito entre Jave e seu povo, que e 0 seu foco, nao e possivelcomentar a enfase universalista do AT, i.e., a atividade de Jave juntoao mundo, e vice-versa. Jave nao e somente 0 Deus de Israel; etambem 0 Senhor do mundo.35

Smend argumenta que 0 AT deveria ser estudado com base em seucentro.36 Dificilmente se poderia fazer qualquer objec;:aobem fundadaa este principio, mas deve-se estar alerta para nao se cair na tentac;:aode transformar um unico conceito ou determinada f6rmula numavarinha magica abstrata que combine todas as expressoes e testemu-nhos do AT num sistema unificado. Smend, mesmo tendo cienciadeste perigo, emprega sua formula particularista de tal forma que elapassa a ser a chave para a ordenac;:ao sistematica dos elementos, dosassuntos, dos temas e das ideias do AT.37 Esta medida extrapola oslimites que precisam ser impostos ao emprego e significado de umcentro do AT, seja ele qual for. Deve-se sempre estar alerta para naose violar os limites inerentes a qualquer especie de centro. K. H. Mis-kotte advertiu corretamente que um centro nao deveria "se transfor-mar na eterna essencia expressiva do Antigo Testamento". 38 Cadauma das propostas ate agora apresentadas merece bastante credito.Ao mesmo tempo, cada uma del as parece ser deficiente. Sao deficien-tes porque tentam abordar 0 AT em termos de um unico conceitofundamental ou de uma f6rmula limitada para organizar, dispor esistematizar a mensagem do AT em toda a sua diversidade evariedade, continuidade e descontinuidade, quando justamente essasua natureza multiforme resiste a tal procedimento.

Neste ponto, 0 NAo categ6rico de Gerhard von Rad a questao darelac;:ao entre 0 centro do AT e 0 estudo da teologia do AT e muitoimportante. A posic;:ao por ele adotada merece uma analise maisdetalhada, uma vez que sustentou sem sombra de duvida que "combase no proprio Antigo Testamento, e realmente dificil solucionar a

34 Die Mille des A T, p. 55-58.35 Seebass, Wor und Dienst, 8 (1965). p. 38-41, fala de Jave como urn "Welther-

schergott" .36 Die Mille des AT, p. 49.37P.54es.38 Wenn die GOtter schweigen. Vom Sinn des A T(3." ed.; Miinchen, 1966), p. 127.

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questao de sua unidade, pois ele nao possui um centro [Mitte]como 0 Novo Testamento". 39 Enquanto 0 NT tem Jesus Cristo comocentro, 0 AT e desprovido de um.40 "Nao seria suficiente" Jave ser 0

centro do AT, 41 Por que? "Ao contrario da revelac;:ao em Cristo, arevelac;:ao de Jave no Antigo Testamento divide-se numa longa serie deexpressoes de revelac;:ao distintas que diferem grandemente em con-teudo, Ele parece estar desprovido de um centro que tudo determinae que poderia propiciar a interpretac;:ao dessas expressoes distintas,bem como estabelecer a conexao teologica correta entre elas. "42Poste-riormente von Rad nao nega com tanta rigidez um centro do AT. Naverdade, ele admite que "se pode dizer que Jave e 0 centro do AntigoTestamento",43 "Deus era 0 centro", disse von Rad, "da concepc;:ao(bem flexivel em termos teologicos) de hist6ria dos escritores dahistoria primitiva de Israel" ,44 Entretanto, e neste ponto que seorigin a a sua duvida: "Afinal de contas, que especie de Jave e este?"45Ele e do tipo que se oculta cada vez mais em cada expressao de auto-revelac;:ao? A melhor resposta para est a pergunta esta no procedimen-to metodologico de von Rad.

Von Rad parte de uma especie de centro secreto, revel ado em suatese fundamental, a saber, que a revelac;:ao do pr6prio Deus se daatraves de sua atuac;:ao na Historia: "E na Historia que Deus revela 0

j", segredo de sua pessoa. "46 Von Rad tem nesta tese um "instrumento

39 TAT, 11, p. 376; OTT, II, p. 362. Anteriormente, von Rad, "Kritische Vorarbei-ten zu einer Theologie des AT", Theologie und Liturgie, ed. L. Hennig (Miinchen,1952), p. 30. afirmou 0 seguinte: "Precisamos, portanto. ser confrontados cons-ciente e insistentemente pelo misterioso fenomeno da falta de urn centro no AT.Ele se localiza nos caminhos ou, como Isaias definiu para to do 0 AT, na 'opera~ao'deJave(ls. 5:19; 10:12; 22:12)." ThLZ, 88(1963), col. 405, n. 3a: "0 que se pre-tende com essa questao quase universal da 'unidade'. do 'centro' do AT? E taoevidente assim que seu surgimento se deva a conditio sine qua non de uma teolo-gia do AT? E em que esfera sera tal unidade (cuja existencia e aceita desde 0principio) demonstrada? Na area das experiencias hist6ricas de Israel ou em seumundo de conceitos? Ou sera esse postulado nao tanto do interesse do conheci-mento hist6rico ou teol6gico e mais urn principio filos6fico e especulativo quefunciona como uma premissa conscientemente aceita?"

40 TAT, II, p. 376 e S.; OTT, II, p. 362.41 OTT, II, p. 362 e s.42 TAT, I, p. 128; OTT. I, p. 115. Por outro lado, vemos, na mesma pagma, que

von Rad afirma que a teologia do AT tern "seu ponto de partida e seu centro ...[na] atua,ao de Jave em forma de revela~ao".

43 ThLZ. 88 (1963). p. 406. Vriezen, An Outline of OT Th eology 2 , p. 150, n. 4,parece enganar-se ao insinuar que von Rad pode fazer de Cristo 0 centro do AT.

44 ThLZ, 88 (1963), p. 409.45 Col. 406.46 Dei minha tradu~iio dessa frase-chave extraida de TAT, II, p. 349: "Der Ort,

an dem Gott sein Personengeheimnis offenbart, ist die Geschichte." Parte de seusignificado perde-se com a tradu,ao de OTT, II. p. 338: " ... que e na hist6ria queDeus revela 0 segredo de sua pessoa." Von Rad nao adota a distin~ao habitualque se faz no alemao entre Historie e Geschich., . Ele emprega 0 termo Geschichte,praticamente excluindo HislOrie, que, de acordo com 0 indice, s6 aparece uma vez;TAT, II, p. 8.

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heuristico de avaliac;:ao"47 que the permite verificar a relevanciateologica e a legitimidade de todas as dec1arac;:oes, de todos ostestemunhos de fe do AT.

Von Rad foi categ6rico ao acentuar que 0 AT nao e um livro quedescreve fatos historicos como "realmente aconteceram". Afirmou:"0 Antigo Testamento e um livro de historia [Geschichtsbuch l; elefala da hist6ria de Deus e Israel, de Deus e as nac;:oes e de Deus e 0

mundo desde a sua criac;:ao ate os ultimos tempos, isto e, ate 0

tempo em que 0 dominio do mundo e entregue ao Filho do Homem(Dan. 7:13 e S.)."48 As primeiras confissoes (0 Credo de Deut. 26) jahaviam sido determinadas historicamente, i.e., "elas conectam 0

nome deste Deus com dec1arac;:oes acerca de uma intervenc;:ao naHistoria". Von Rad explica: "Essa historia po de ser descrita comohistoria da salvac;:ao [Heilsgeschichte 1 porque da forma que e apresen-tada entende-se que a propria criac;:ao foi um ato de redenc;:ao de Deuse porque, conforme 0 que os profetas predisseram, a vontade queDeus tem de salvar atingira sua meta, a despeito de muitas expres-soes de julgamento. "49 Como resultado dessa perspectiva, os escritosdos Salmos e de sabedoria do AT ganham a posic;:ao de "resposta deIsrael"50 as suas experiencias primitivas com Jave. Os profetas do AT,por outr~ lado, nao sao reformistas trazendo uma mensagem total-mente diferente. "Ao contrario, eles se consideravam porta-vozesde tradic;:oes sagradas antigas e notorias que reinterpretavam para seupr6prio tempo e era. "51Torna-se evidente, portanto, que von Rad usaseu conhecimen to da historia do AT como um plano hermeneu tico deinterpretac;:ao do AT_ 0 tipo de historia a que se refere von Rad eformulado da melhor forma pelo deuteronomista, cuja apreciac;:ao dahist6ria e descrita da seguinte maneira: "A hist6ria de Israel consistenum curso de eventos [Zeitablauj] que adquiriu seu peculiar caraterdramatico a partir do c1ima gerado por profecias constantementeproc1amadas e seu cumprimento correspondente. "52 Isto explica porque os temas relativos a sabedoria e aos ritos ficam para tras nateologia do AT de von Rad,53 pois sua concepc;:ao de hist6ria nao sepreocupa nem com a historia secular nem com a historia da fe e dosritos, focalizando-se unicamente "no problema de como a palavra deJave operou na Hist6ria". 54Expresso em termos fundamentais, isso

47 Esta frase origina-se de Martin Honecker, "Zum Verstiindnis der Geschichte inGerhard von Rads Theologie des AT", EvTh, 23 (1963), p. 145.

48 TAT, II, p. 370; OTT, II, p. 415.49 TAT, II, p. 370 e s.; OTT, II, p. 357 e s.50 TAT, 1,366 e ss.; OTT,!, p. 355 e ss.51 TAT, II, p. 185; OTT, II, p. 175.52 TAT. !, p. 352; OTT, !, p. 340.53 Honecker, p. 146.54 TAT, !, p. 354; OTT, !, p. 343.

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significa que a "teologia deuteronomista da Historia foi a primeira aformular c1aramente 0 fenomeno da historia da salvac;:ao, isto e, deum curso de historia talhado e conduzido ao cumprimento por umapalavra de julgamento e salvac;:ao continuamente nela injetada". 55

Von Rad tambem interpreta a mensagem profetica com base nessecentro, a saber, a teologia deuteronomista da Hist6ria.56 Por isso,uma das maiores conquistas da profecia "foi restituir a fe a dimensaoem que Jave se revelou por excelencia, a saber, a da Historia e a dapolitica" Y 0 avanc;:o significativo dos profetas em relac;:ao a tradic;:aoda historia da salvac;:ao que lhes foi transmitida - norteada nopassado - consiste em inaugurarem 0 futuro como palco da atividadede Deus.58 Esta projec;:ao dos atos de Deus para 0 futuro, que e tidacomo "uma atribuic;:ao de carater escatologico aos conceitos daHistoria" ,59 apanha as antigas tradic;:oes confessionais e as inc1ui, coma ajuda da "interpretac;:ao criativa", 60 no horizonte de um novo eventode salvac;:ao. "A projec;:ao das antigas tradic;:oes para 0 futuro foi 0unico meio possivel para os profetas fazerem dec1arac;:oes concretassobre um futuro que inc1uia Deus. "61 0 cunho escatol6gico damensagem profetica esta na negac;:ao das antigas bases historic as dasalvac;:ao e no fato de nao continuar apegada a atos historicos dopassado; "a salvac;:ao foi subitamente transferida para 0 futuro". 62

Desta forma, 0 querigma dos profetas se desenrola em meio as tensoesgeradas por tres fatores: "a nova palavra escatologica que Jave dirigea Israel, a antiga tradic;:ao da eleic;:ao e a situac;:ao pessoal do povo aoqual 0 profeta se dirigiu, quer esta linha tenha acarretado penalidade,quer tenha demandado conforto. "63

Em suma, von Rad adquiriu sua compreensao da Historia a partirda teologia deuteronomista, segundo a qual a historia da salvac;:ao econduzida a sua meta, a seu cumprimento, por intermedio dapalavra de Jave. Isto pode surpreender se levarmos em conta que apesquisa de von Rad partiu do Hexateuco, passando depois aos

55 TAT, !, p. 356; OTT, !, p. 344.56 Afigura-se que von Rad tinha conhecimento do problema da interpreta~ao unila-

teral de profecias, uma vez que ele questiona 0 quanto 0 profeta era "urn homemespiritual que mantinha urn relacionamento religioso direto com Deus" e urnproclamador da "ordem moral universal". Com toda certeza sera necessario queurn dia as questOes abordadas por critic as anteriores voltem a ser levantadas,embora por meio de pressuposi~Oes teol6gicas diferentes" (TAT, II, p. 311; OTT,II, p. 298).

57 TAT, II, p. 192; OTT, II, p. 182.58 TAT, II, p. 129 e ss.; OTT, II, p. 115 e ss.59 TAT, II, p. 125 e ss; OTT, II, p. 112 e ss.60 TAT, II, p. 313; OTT, II, p. 300.61 TAT, II, p. 312; OTT, II, p. 299.62 TAT, II, p. 131; OTT, II, p. 118.63 TAT, II, p. 140; OTT, II, p. 130.

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profetas - os derradeiros interpretes dos eventos de salvac;:ao trans-mitidos. Von Rad, contudo, interpreta a concepc;:ao escatol6gica ciaprofecia com base no centro definido pela teologia deuteronomistada Historia e, as:;im sendo, e ligada a confissao primitiva daheilsgeschichtiiche. Desta forma, ele introduz na teologia do AT naoapenas urn contexto hist6rico-relativo, mas tambem um determinadocentro hist6rico-teo16gico - 0 da teologia da hist6ria do historiadordeuteronomista - que constituem um esquema hermeneutico deter-minante_

Parenteticamente, podemos salientar que uma analise completa docentro determinado por von Rad na Historia deve incluir um examede sua explanac;:ao sobre a hist6ria da salvac;:ao, desde a tensao quesofre entre promessa e cumprimento ate ter sua consumac;:ao noeven to "Cristo". Isto, contudo, nos afastaria do ambito da questaoem foco. Com vistas em nosso objetivo aqui, basta destacar que 0 queesta em questao e 0 carater inter-relativo de uma metodologia dupla:primeiro, a "analogia estrutural", que consiste na "interligac;:aopeculiar entre revelac;:ao atraves de palavra e revelac;:ao atraves deevento";64 e, segundo, 0 "pensamento tipologico", que nao se baseia"em mito e especulac;:ao, mas, sim, na Hist6ria e na escatologia". 6S

As questoes que tal metodoiogia suscita nao podem ser abordadas aesta altura.66 Em resumo, faz-se necessario dizer que von Radconc1ui que a gloriosa consuma~ao da hist6ria da salvac;:ao se da como evento "Cristo", em virtude da conjugac;:ao de tres concepc;:oes: 0

centro da hist6ria deuteronomista, a preeminencia de even to sobrepalavra e a interpretac;:ao da historia con forme seu delicado transcur-so entre promessa e cumprimento.

Como vimos acima, von Rad acredita ter achado 0 centro quepermitira libertar 0 AT que se achava trancado na teologia deutero-nomista da Historia_ Este, na verdade, e 0 seu esquema hermeneuticopara interpretar todo 0 AT. Contudo, ele nao conseguiu justificar 0

direito de se utilizar tal centro como chave de carater hermeneutico;isto e, ele se satisfez com 0 emprego fenomenol6gico desse centrocomo metodo para se estudar a teologia do AT. Deve-5e perguntar se,valendo-se desse mesmo direito, nao seria possivel empregar-se 0

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64 TAT, II, p. 376; OTT, II, p. 363; d. 0 comentfllio de Hasel, "The Problem ofHistory in OT Theology", A USS, 8 (1970)' p. 32-35.

65 TAT, II, p. 378; OTT, U. p. 365.66 Com respeito a estas questoes, veja Hans Walter Wolff, "Zur Hcrmeneutik

des AT". EvTh, 16 (1956), p. 337-370; "The Hermeneutics of the OT", EOTH,p. 160-199; "Das Geschichtsverstandnis der alttestamentlichen Prop he tie" , EvTh,20 (1960)' p. 218-235; "The Understanding of History in the O.T. Prophets",EOTH, p. 336-355; Walther Eichrodt, "1st die typolC'gische Exegese sach-gemasse Exegese?" VT Supplement, IV (1957). p. 161-180; "Is Typological Exe-gesis an Appropriate Method?" EOTH, p. 224-245; Jiirgen Moltmann, "Exegeseund Eschatologie in der Geschichte", EvTh, 22 (1962). p. 61, n. 75.

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famoso metodo Sacerdotal, para interpretar 0 AT, ou mesmo 0

universalismo apocaliptico da Historia, do grupo de Pannenberg.67

Von Rad admitiu de duas formas, inadvertidamente, a existenciade um centro no AT. Por um lado, ele pr6prio opera com um centro:a teologia deuteronomista da Historia, e, por outr~ lado, admitiurecentemente que e correto dizer que "Deus era 0 centro daconcepc;:ao (bern flexivel em termos teol6gicos) de hist6ria dos escrito-res da historia primitiva de Israel" .68Afigura-se entao que 0 "Nao"inicial de von Rad a questao do centro do AT nao dizia respeito tantoao centro em si, mas, sim, ao fa to de se fazer de tal centro "um prin-cipio filos6fico e especulativo, que funciona como uma premissaintencionalmente estabelecida"69 para 0 estudo da teologia do AT.Devemos considerar seriamente a cautela de von Rad, embora elemesmo, em ultima analise, desobedec;:a aos pr6prios gritos de adver-tencia. Mesmo assim, devemos a ele por nos convidar a procurarnovamente um centro e redefinir sua func;:ao com mais precisao. Naodevemos nem vol tar a um est agio de discussao anterior a von Rad70

nem evitar sua posic;:ao; devemos e excede-lo.Ate aqui temos restringido nosso debate, basicamente, a esforc;:os

que propoem um unico conceito, tema, noc;:aoou ideia como 0 centrodo AT, como principio unificador que permite os elementos diversifi-cados do AT serem compilados numa teologia sistematizada. A estaaltura e necessario tambem mencionarmos algumas apreciaC;:6esrecentes que nao se enquadram no padrao acima, mas discutem 0

problema do centro e da unidade do AT_ W. H_ Schmidt publicou umestudo conciso sobre 0 primeiro mandamento, onde ele expressa suaL'ullvic<;aode que devido a "alegac;:ao [da exclusividade e singulari-.Iade de J ave no 1 _.. primeiro mandamento, este ... pode ser emprega-do como elo de ligac;:ao entre epoca passada e futura, e, ao mesmotempo, fornecer uma soluC;ao para a velha questao da 'unidade' ou'centro' do Antigo Te~t:>.me!1to e seu~ t:1ivers0s testemunhos". 71_Nestas bases, deve ser possivel desenvolver-se uma teologia do AT

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67 Pannenberg fala do conceito do universalismo apocaliptico da Hist6ria em termosde uma "universalgeschichtliche Konzeption" e de urn "universalgeschichtlichesSchema", em Kerygma and Dogma, V (1959). p. 237, e em seu "Geschichtsvers-tandnis der Apokalyptik", OaG, p. 107; d. U. Wilckens, OaG, p. 53 e s.;e Rossler, Gesetz and Geschichte, p. 111 e ss. Critica a Rossler, veja PhilippVielhauer, "Apocalypses and Related Studies: Introduction", Edgar Hennecke,NT Apocrypha, ed. Wilhelm Schneemelcher, trad. R. McL. Wilson (Filadelfia,1965)' p. 581-607, esp. a p, 593,

68 Von Rad, ThLZ, 88(1963). p, 409.69 Col. 405. n. 3a.70 Parece ser este 0 caso de 5mend, Die Mille des AT, p. 49-55, ao reviver a f6rmula

de Wellhausen.71 W. H, 5chmidt, Das erste Gebot, Seine Bedeutung fur das Alte Testament

(Munchen, 1969), p. 11. A defesa do primeiro mandamento como elo de liga,ao

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tomando como centro a exclusividade de Deus, expressa no primeiromandamento.72 Este "mandamento fundamental [Grundgebot] "73

da apoio a Historia, e vice-versa.74 Portanto, este mandamento e suaulterior influencia nao dizem respeito a urn Ser eterno ou a umaestrutura definida; continuam, sim, relacionados a Hist6ria.75

Schmidt argumenta que a apreciac;:ao por meio de urn unico conceitomencionada acima prove um principio de organizac;:ao que permiteos elementos do AT serem ordenados de forma sistematica, for-mando uma "determinada especie de ... estrutura". 76 Sua apreciac;:aodifere das outras pelo fato de que ele procura algo "especifico [e]especial" /' algo exclusivo e sem qualquer analogia no OrientePr6ximo primitivo e assim 'genuinamente' israelita". 78

Walther Zimmerli adotou urn centro muito semelhante ao propostopor Schmidt, conforme foi esboc;:ado no ultimo Festschrift79 de vonRad e analisado em sua recente teologia do AT.80 Zimmerli acredita

entre epoca passada e futura, isto e, em termos cronol6gicos, apoia-se na convic-~ao de Schmidt de que esse mandamento foi formulado somente apos a tom adade Canaa - uma epoca em que Israel entrava em conflito com as religioes viz i-nhas (p. 13; d. D. Knierim, "Das erste Gebot", ZA W, 77 [1965], p. 20-39;H. Schulz, Das Todesrecht im Alten Testament [Berlim, 1969J. p. 58 e ss).o centro "cronologico" de Schmidt apresenta uma seria incoerencia, se esseprimeiro mandamento for datado, como pensa a maioria dos estudiosos, comosendo do tempo de Moises (d. F. Baumg'rtel, "Das Offenbarungszeugnis desAllen Testaments im Lichte der religionsgeschichtlich-vergleichenden For-schung". ZThK. 64 [1967], p. 398; S. Herrmann, "Mose", EvTh, 28 [19681p. 322; idem, Israels Aufenthalt in Agypten; W. Harrelson. "Ten Command-ments", IDB [Nashville, 1962], IV, p. 572; W. Zimmerli, Der Mensch und seineHoffnung im Alten Testament [Giittingen, 1968], p. 67; G. Fohrer, Geschichteder israelitischen Religion (Berlim, 1969), p. 74; 1. J. Stamm e M. E. Andrew,The Ten Commandments in Recent Research [Londres, 1967], p. 22 e ss.; Th. C.Vriezen, The Religion of Ancient Israel (Filadelfia, 1967), p. 143; W. F.Albright, Yahweh and the Gods of Canaan [Garden City, N.Y., 1968], p. 173 e174; etc.).

72 Schmidt, Gebot, p. 49-55.73 P.51.74 P. 50 e S.: "Portanto, a exposi~ao completa (de uma teologia do AT) ganha uma

trilha comum quando se desenvolve a historia do AT como a historia do primeiromandamento, ao se questionar em que parte e 0 quanto esse mandamento seexpressa nos diferentes escritos literarios. Desta forma, os metodos historico esistematico podem se encontrar."

75 P.50.76 Ibid.77 P.51.78 P.50.79 W. Zimmerli, "Alttestamentliche Traditionsgeschichte und Theologie". Probleme

biblischer Theologie. Gerhard von Rad zum 70. Geburtstag, ed. Hans WalterWolff (Munich, 1971), p. 632-647.

80 W. Zimmerli, Grundriss der alttestamentlichen Theologie (1972)' p. 10 e s.Veja a rea~ao de C. Westermann em "Zu zwei Theologien des AT", EvTh, 30(1974), p. 102-110.

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tambem que a frase "Eu sou Jave, teu Deus" (Ex. 20:2) "prove '.lmverdadeiro fundamento para tudo que se seguiu a ela". 81 f' a essechamado que Israel respo~de em louvor: "Tu ... Jave" (Deut. 26:1).Nesta resposta "evidencia-se urn centro exclusivamente adotado emtoda a hist6ria da tradi<;ao e interpretac;:ao do AT". Segundo Zimmer-Ii, "a tarefa confiada ao estudo teologico do AT e a de dcscrever a'teologia do AT' por meio de uma investigac;:ao de sse Senhor operante,do unico Senhor do mundo e de Israel, con forme 0 testemunho destaprimeira parte da Biblia, desde a criac;:ao do mundo_ .. ate a epocapes-exilio" .R2 Enquanto Schmidt enfariza 0 "Eu ... Jave" de Exodo20, Zimmerli destaca a resposta confessional: "Tu_ .. Jave", deDeuteronomio 26, que se baseia no "Eu ... Jave" anterior.83 TantoSchmidt quando Zimmerli ressaltam a multiplicidade dos testemu-nhos - do nome do Senhor - da hist6ria da tradic;:ao_84 Concord amtambem que esse reconhecimento nao permite a formac;:ao de umcorpo de doutrinas impotente.6S•

o primeiro problema dos centr~s propostos por Schmidt e Zimmer-Ii esta na justificativa da escolha desse mandamento em particular.Por que deve ser 0 primeiro mandamento, e nao 0 segundo ouqualquer outro? Schmidt defende 0 centro que propos com base emsua falta de analogia com a reiigiao e \) pensamento do OrientePr6ximo primitivo.B6 Mas essa mesma falta de analogia nao se aplicatambem a outros mandamentos? Nestas bases seria possivel defendercom 0 mesmo vigor 0 mandamento sobre 0 sabado como centro doAT. Este tambem testemunha aspectos singulares de Jave. Ele e 0

Criador dos ceus, da terra e do mar (Ex. 20:8-11); ele estabeleceu essedia como dia de descanso pelo fato de ele proprio ter descansado; ele 0

proveu com uma benc;:ao especial e 0 s:llltificou, separando-o dosoutros (Gen. 2:2.3); ele e lave, seu Deus, cuja preocupa<;ao nao selimita ao bem-estc,r de Israel, mas se estende aos escravos, estran-geiros e aos animais (Ex. 20:8-11; Deut. 5:12-15). Este mandamentotam bern na\) encontra analogia no Oriente Pr6ximo primitivo. 0 pro-blema e que esse tipo de argumento em favor de urn centro para 0 ATapresenta deficiencias insuperaveis, evidentemente_ Alem do mais, sefosse possivel descobrir se os au tores dos diversos livros do ATtiveram a in ten<;ao de provar a exc1usividade de Jave, ao registrar seustestemunhos, seria de duvidar, com base no que temos a nossadisposi<;ao, que a resposta fosse afirmativa_ Isto nao nega que 0

8i Zimmerli. em Probleme. p. 639.82 P.640.83 P. 639 e 641.84 P. 641-647: Schmidt. Gebot. p. 50 e s.85 Zimmerli. em Probleme. p. 640; 5chmidt. Gebot. p. 50-52.86 Schmidl. Gebot. p. ~O.

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primeiro mandamento ou que a resposta de Israel tiveram umafunc;:ao importante e fizeram historia em Israel. S6 que isso nao esuficiente para qualifica-Io como 0 centro do AT.

Paremos um minuto para tecermos algumas considerac;:6es funda-mentais. Todos a quem nos referimos ate 0 momento concordambasicamente que um unico conceito, tema, noc;:ao ou ideia biblicospode servir de centro, que, por sua vez, funcionaria como principio deorganizac;:ao para uma especie de estrutura sistematica numa teologiado AT. E tudo isso com base numa pressuposic;:iio tflcita enraizada empremissas filosoficas oriundas da teologia escolastica da epoca medie-val. Afigura-se que a esta altura 0 estudo da teologia do AT encontra-se sujeito a uma pressuposic;:ao filosofica-especulativa, que alega queos elementos multiformes e multiplos do AT, em sua rica diversidade,enquadram-se e podem ser sistematicamente ordenados e dispostospor meio de um centro. Suscita-se agora uma questao hermeneuticafundamental - e, no meu ponto de vista, extremamente critica - asaber, se um unico conee ito central, embora extraido do materialbiblico, e suficiente e apropriado para acarretar uma ordenac;:ao doselementos do AT em termos de uma "unidade estrutural" sistemati-zada.87 Surpreendentemente, ate alguns daqueles que adotam edefendem efetivamente urn centro como principio de organizac;:aorespondem com uma negativa.88 G. E_ Wright asseverou, com todafranqueza: "Deve-se admitir que nenhum tema e suficientementeabrangente para englobar todos os pontos de vista, variados quesao. "89 Tal reconhecimento, alia do a incoerencia de sua aplicac;:ao,demonstra a forc;:a da premissa teologica sobre muitas teologias doAT. E patente que mesmo 0 mais bern estabelecido centro, ouformula, acabara revelando-se parcial, inadequado e precario, quan-do nao totalmente erroneo, conduzindo, conseqiientemente, a equivo-cos.900 fenomeno do crescente numero de novas propostas relativas aconstituic;:ao do centro do AT e a forma como favorecem estruturassistematizadas dos testemunhos, variados e multiplos que sao, e por sis6 um testemunho vigoroso da patente ineficiencia de urn unicoconceito, tema, noc;:aoou ideia para esta tarefa.

87 Eichrodt. TOT, J, p. 31. Zimmerli volta a suscitar essa questao em "Erwagungenzur Gestalt einer alttestamentlichen Theologie", ThLZ, 98 (1973), p. 81-98.

88 Entre os opositores da "unidade estrutural" das ideias basicas do AT encontram-se: Artur Weiser, Glaube und Geschichte im AT (Miinchen, 1961). p. 196 e S.;Barth, EvTh, 23 (1963), p. 350 e ss.; Honecker, EvTh, 23 (1963). p. 144 e ss.;von Rad, OTT, II, p. 362; idem, "Kritische Vorarbeiten zur einer Theologie desAT", Theologie und Liturgie, ed. L. Hennig (Munich, 1952). p. 30; Kraus.Biblische Theologie, p. 128.

89 Wright, Interpreter's One- Volume Commentary on the Bible, p. 983. Kohler.OT Theology, p. 9, escreveu: "0 Antigo Testamento nao fornece nenhum esque-ma de compila~ao disso que chamamos de teologia do AT."

90 Barth. EvTh, 23 (1963). p. 351.

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Em face da inegavel impropriedade de um unico conceito, tema,no~ao ou ideia como centro, por meio do qual os diversos elementosdo AT poderiam ser ordenados n~ma estrutura sistematiu.da, algunsestudiosos tem sugerido e desenvolvido sistemas empregando con-cepc;:oes mais amplas. E agora que 0 "conceito duplo" de G. FotTer,do "governo de Deus e de sua comunhiio com 0 homem", 91 que,diz-se, chega a ser "0 elemento unificador da diversidade"92 dos doisTestamentos, apresenta sua colaborac;:ao. Como Fohrer publicourecentemente sua teologia do AT, Theologische Grundstrukturen desAT (1972), e possivel analisar-se a conveniencia de seu "conceitoduplo". lnfelizmente, 0 esforc;:o de Fohrer nao chega a ter sucesso,embora esteja na direc;:ao certa. A correlac;:ao que estabelece entreDeus e 0 homem ainda e muito acanhada. Ele nao foi capaz deestruturar sua teologia do AT na propria proposta_ A escatologia doAT foi menosprezada.93 A teologia sapiencial foi abordada com muitabrevidade, se comparada com os t6picos de seu metodo! 0 AT edemasiadamente variado, para poder ser manipulado adequadamen-te por um "conceito duplo" .94

S. Herrmann parece ter escolhido uma base mais ampla, dada asua proposta de que 0 livro de Deuteronomio se apresenta "comocentro da teologia biblica". 95Afigura-se aqui a influencia da concep-~ao de von Rad de que 0 Deuteronomio precisa ser instituido comocentro do Testamento do AT, em todos os aspectos".96 Uma teologiado AT, disse Herrmann, precis:! estabelecer seu centro em Deutero-nomio, porque e ali que" as questoes fundamen tais da teologia do ATestao concentradas in nuce" _97Em Deuteronomio, "ideias centrais"98e "elementos estruturais"99 singulares, tais como "unidade de culto"e "pureza de ritos" (d. A. Alt), adorac;:ao exc1usiva a Jave, unidade deIsrael, eleic;:aoe alian~a, posse da terra, etc_, foram combinados r:um"sistema israelita unificado e harmonico, para orientar as pessoas e avida" e "sao as chaves para a compreensao das tradic;:oes historicasisraelitas, da estrutura do Pentateuco e de sua conjugac;:ao de hist6riae lei. Ainda por cima, estes sao os pontos de partida da evolw;-ao -posterior a Josue - de Israel e do judaismo em desenvolvimento_"IOO

91 Fohrer, ThZ, 24 (1968), p. 161 e s.92 Fohrer,EvTh,30(1970),p.295.93 Fohrer. Theologische Grur.dstrukturen des A T, p. 262-273.94 Veja agora especialmente C. Westermann, "Zu zwei Theologien des AT", EvTh.

30(1974). p. 96-102.95 S. Herrmann. "Die kons(ruktive Restauration. Das Deuteronomium ats Mitte

biblischer Theologie", Probleme bib/ischer Theologie, p. 155-170.96 Studies in Deuteronomy (1953).97 Herrmann, em Probleme, p. 156.98 P. 160.99 P. 162.

100 P. 166.

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Esta concentrac;:ao de ideias do AT em Deuteronomio e "definitiva-mente a linha de orientac;:ao"lol para qualquer teologia do AT, a des-peito de quanto venha a ser distinta. Herrmann, portanto, surge coma mais ampla concep<;ao de um centro para 0 AT. Este e um passo nadirec;:ao certa, mas sera que e suficiente? Nem todas as teologias econcepc;:oes do AT se expressam em Deuteronomio. Acreditamos quemesmo Deuteronomio e um centro precario, alem de ser muitolimitado. Alem disso, precisamos nos acautelar da particular penden-cia de Herrmann para Deuteronomio, bern coma de von Rad,Zimmerli e Smend_ Pode ocorrer, com 0 passar do tempo, queDeuteronomio tenha que abdicar de sua atual supremacia, em favorde outra enfase, como aconteceu nos prim6rdios da pesquisa do AT,quando a enfa.se no Tetrateuco teve que ser abandonada. 102

o que fazer entao? Um pequeno esboc;:o sera suficiente paraapontar a direc;:ao no sentido de uma soluc;:ao frutifera. 0 grande nu-mere de sugestoes acerca do centro do AT indica nao apenas a diiicul-dade e sutileza do problema, 103 como tambem a natureza subjetiva delal empreendimento. Premissas filosoficas e especulativas que argu-men tam que os testemunhos multiplos e diversos do AT podem serordenados numa estrutura sistematizada por meio de urn centro unicoou duplo devem ser radicalmente questionadas. Em outras palavras.o carater e 0 estilo da revelac;:ao de Deus, por m ~io de eventos epalavras.104 nao pode ser sistematizado de tal forma_ Nao se tor-nara porventura to do centro que deva servir de principio de or-ganiza9ao para todo 0 mundo de revelac;:ao e experiencia do ATum tour de force? "A unidade estatica de uma sistematiza9ao naopode definir a unidade dinamica do crescimento e desenvolvimento dafe e da adorac;:ao do Antigo Testamento."los Aqueles que sistema-tizam com base num determinado centro tem, obviamente, quesobrepor tal centro aos inumeros encontros entre Deus e 0 homem, ao

101 P.167.102 Smend, Die Mille des AT, p. 13.103 A afirma~1i.o de Dentan (Preface 10 OT Theology, p. 117) continua sen do apro-

priada: "Nenhuma questao atormenta mais aqueles que escrevem sobre teoiogiado AT" do que "a questao do principio unificador".

104 Wright, The Interpreter's One- Volume Commentary on the Bible, p. 984,entre outros, enfatiza exc!usivamente a revela~ao de Deus "por meio de eventos".Isto, contudo, e parcial e precisa ser complementado pelo reconhecimento de queha muito no AT que tam bern "gira em torno da palavra". Zimmerli, VT, 13(1963), p. 108 e s., bern enfatizou esse aspecto: "A simples palavra do profetaencerra nao apenas a palavra de Deus, como e a Palavra de Deus" (p. 109, 0 grifoe dele). J. Barr, Old alld New in Interpretation (New York, 1966), p. 15-23, co-menta a rela~ao entre "palavra" e "ato" (evento) no AT e conc1ui que a enfase na"palavra" pode merecer prioridade" (p. 23). Quanto a este problema, vejaHasel, "The Problem of History in Old Testament Theology", AUSS, 8 (1970).p. 32-35 e 41-46, eo Capitulo 3 deste livro.

105 P. Fannon, "A Theology of the OT - Is it Possible?" Scripture, 19 (1967), p. 52.

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Iongo de tanto tempo, e sao capazes de tratar adequadamente apenasdaquelas partes do rico testemunho biblico que se enquadram nosmol des de seu centro, seja ele qual for. Seria judicioso, em termos demetodologia, adequado, em termos de hermeneutica, e correto,teologicamente, perder-se de vista, negligenciar ou desconsiderarcompletamente apreciac;:6es, aspectos e enfases teologicas, por nao seenquadrarem nos mol des de um determinado centro escolhido comoagente de unificac;:ao?

Os teo logos da Biblia que optarem pela sistematizac;:ao do materialbiblico mediante 0 esquema Deus-Homem-Salvac;:ao (Teologia-Antro-pologia-Soteriologia) - tomado emprestado da teologia sistematica(dogmatica)106 - tem empregado uma estrutura extrfnseca, baseadaem classificac;:6es de ideias estranhas a teologia biblica. A apreciac;:aoda Biblia que procura uma chave intrinseca, proveniente do pr6priomaterial biblico, pode ser considerada, por si so, adequada parauma teologia ou teologias contida ou contidas na pr6pria Biblia. Damesma forma, a busca do ceJ1tro do AT (e do NT) que se fundamentanos testemunhos biblicos intrinsecos nao apenas se justifica, comoprecisa ser incentivada ao maximo. Conceitos, temas, ideias ouno<;6es unicos, tais como "alianc;:a", 107"eleic;:ao" ,108"comunhao", 109"promessa", 110"0 reino de Deus", III "0 governo de Deus""2 "a san-

106 Entre os que escolheram 0 esquema da teologia sistematica de uma forma ou deoutra encontram-se: Sellin. Theologie des AT (Leipzig, 1938); Kohler. OT Theo-log\' (1957): O. Baab. The Theology of the OT (Nashville. 1949); E. Jacob.Theolugy of the OT (Londres, 1958); G. A. F. Knight, A Christian Theology ofthe OT (Londres. 1959); P. van Imschoot, TheoloRie de I'AT, 2 vols. (Tournai,1954-56). cujo primeiro foi traduzido: Theology of the OT (New York. 1965);1. B. Payne. The Theology of the Older Testament (Grand Rapids, Mich .. 1962);R. C. Dentan. The Kllowledge ufGod in Allcient Israel (New York. 1968).

107 Eichrodt. e Wright seguindo-se a ele. The OTand Theology, p. 62; F. C. Prussner."The Covenant of David and the Problem of Unity in OT Theology". Transitionsill Biblical Scholars/lip. ed. 1. C. Rylaarsdam (Chicago. 1968). p. 17-44. com ple-menta a concep,ao da alian,a do Sinai, como centro da teologia do AT, com a daalian,a davidica. A posi,ao suprema da alian~a no AT como urn todo e contestadapor meio de uma perspectiva estrutural por P. Beauchamp. "Propositions surI'alliance de l'A T. comme structure centrale", Recherches de Science Religieuse.58 (1970). p. 161-194. F. C. Fensham. "The Covenant as Giving Expression tothe Relationship between OT and NT". Tyndale Bulletin, 22 (1971). p. 82-94.defende a alian,a como centro que une 0 ATe 0 NT.

108 Wildberger.EvTh.19(1959).p. 77es.109 Vriezen. An Outlille of OT Theology'. p. 8 e Cap. 4.110 W. C. Kaiser. "The Centre of OT Theology: The Promise", Themelios, 10

(1974). p. 1-10: idem. "The Promise Theme and the Theology of Rest",Bibliotheca Sacra, 130 (1973). p. 135-150. Kaiser nao conseguiu demonstrar que 0

"tema da promessa" predomina sobre outros temas do AT e supera todos osproblemas associ ados a escolha de urn unico conceito unificador.

111 Deve-se agora a Klein. EvTh. 30 (1970). p. 642-670, e a H. Schultz. muito antesdele. OT Theology (Edinburgh. 1892). 1. p. 56.

112 Seebass. Won und Diellst. 8 (1965). p. 34-42.

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tidade de Deus", 113"a experienda de Deus", 114"Deus e Senhor" liS eoutros, tem demonsirado que formam uma base muito limitada parase estruturar uma teologia do AT (ou biblica) sern relegar aspectosessenciais da fe do AT (ou biblica) a uma posic;:ao inferior e semimportancia_ Foram, portanto, sugeridos conceitos duplos, como:"0 governo de Deus e sua comunhiio com 0 homem", 116 "Jave, Deusde Israel; Israel, pavo de Deus""7 e reino-alianc;:a, 118 na e3peranc;:a deque estas concepc;:6es mais amplas propiciem mais espac;:o para 0

testemunho integral do AT (01,1 biblico). Entre essas sugest6es maisgenerosas, encontram-se tambem as que sustentam que todo 0 livrode Deuteronomio"9 ou a "fe criada"120 constituem 0 horizontecompleto da teologia do AT (ou biblica)_ Nao se chegou ainda anenhum consenso com relac;:ao a esses centr~s nem se chegara nunca.o interessante e que praticamente todas essas propostas tem, numaspecto de Deus e/ou em sua atividadejunto ao mundo ou ao homem,um denominador comum. Inadvertidamente, isto destaca 0 fato deque 0 AT e, em essencia, teocentrico, assim como 0 NT e cristocentri-co. Em suma, Deus e 0 centro unificador e dinamico do AT. 121

Mediante a afirmac;:ao de que Deus e 0 centro unificador e dinamicodo AT, faz-se necessario lembrar que 0 AT (ou 0 NT) nao menciona aexistencia, a natureza e a atividade de Deus em termos abstratos. mNo entanto, "Deus e 0 inkio, 0 centro e 0 fim do Antigo Testamen-to".123 A existencia de Deus nao e apenas pressuposta, mas tambemprovada pela revelac;:ao multiforme de si mesmo. A maneira comoDeus desvenda a si mesmo assume a forma da revela.;:ao de suanatureza em ac;:6es relativas ao mundo e ao homem. 0 AT tala deDeus, com respeito a sellS atos e palavras relativos a homens e na-;oes,

113 J. Hanel, Die Religion der Hei/igkeit (Giitersloh, 1931), p. iii, e Sellin, Theologiedes AT, p. 19.

114 Baab, TheoloRY of the OT, p. 22.115 Kohler, OT Theology, p. 30.116 Fohrer, ThZ, 24 (1968), p. 163 (0 grifo e dele).117 Smend, Die Mille desAT, p. 4ge55.118 R. Schllackenburg, NT Theology Today (New York, 1965).119 Herrmann, em Probleme, p. 155 e ss.120 H. H. Schmid, "Schopfung, Gerechtigkeit und Heil. 'Schopfungstheologie' als

Gesamthorizont bib!ischer Theologie", ZThK, 70 (1973), p. 1-19. esp. a p. 15:"A fe da cria~ao, isto e, a fe que Deus criou e que sustenta 0 mundo com suasdiversas determina~oes, nao e urn tema marginal da teologia biblica - e 0 seutema basico."

121 Entre os que afirmam que Deus e 0 centro do AT figuram: Jacob. GrundfraRenalttestamentlicher Theologie, p. 18-24; Baumgartel, ThLZ, 86 (1961), p. 896;Reventlow, ThZ, 17 (1961), p. 96; J. Lindblom. Werden wid Wesen des AT(Berlim. 1936), p. 131; A. Heschel, Man Is Not Alone (New York. 1951). p. 12':1;Miskotte. Wenn die GOller schIVeigen, p. 139; A. Deissler. "Der Gotl des AT'.Die Frage nach GOIl, ed. 1. Ratzinger (2." ed.; Freiburg i. Br .. 1973). p. 45-58.

122 Fohrer, ThZ, 24(1968), p. 161.123 Jacob. Grundfragel' aittestamentlicher The%gie, p. 18.

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I

III"

na cria<;ao,124 natureza e hist6ria. Deus se apresenta e se identificaatraves de grandes manifestac;:6es, que envolvem atos e palavras, e e aisso que Israel responde em louvor e adorac;:ao; e ai tambem que aliteratura biblica se originou. Deus e exibido como 0 Deus domundol2s e de Israel, por ter se ligado ao homem e a Israel demaneira especial por meio da eleic;:aoe da alianc;:a. Mas ele tambem seligou de maneira especial a humanidade, pois 0 homem foi criado aimagem de Deus, 0 que indica, entre outras coisas, sua relac;:ao intimacom seu Criador.

Em cada etapa do AT Deus mostra-se ativo. Sua atividade possuiaspectos e relac;:6es amplas. Nao obstante, um dos maiores reconheci-mentos do AT para com Deus e sua operac;:ao de salvac;:ao.126

Quantitativamente, a operac;:ao de salvac;:ao de Deus em favor deIsrael vem-se manifestando desde a misericordiosa redenc;:ao daescravidao no Egito, pass an do pelo tempo dos juizes e reis e ganhandonovo impeto na libertac;:ao do exilio na Babilonia_ Contudo, a salvac;:aode Deus nao se restringe apenas a entidade nacional de Israel, poisnos Salmos 0 que predomina e a salvac;:ao pessoal. Alem disso, asalvac;:ao e redenc;:ao divinas nao se limitam a Israel. Deus salvou Noedo diluvio. 0 intento divino de salvac;:ao estende-se a todas as nac;:6es ea todos os homens (Jon.; Is. 40-66; Ez_; etc.). 0 "Eu" divinoressurgel27 no julgamento e na salvac;:ao - com vistas ao mundo e aIsrael, ao crente e ao descrente - como 0 autodesvendamento e arevelac;:ao do proprio Deus, que conduz e guia os homens na Historia aurn futuro promissor. Jave prometeu que sua presenc;:a os guiaria.'28

A fe em Deus conduz a atitudes corretas no presente e a confianc;:a nofuturo, uma vez que se confie na expressao do poder de Deus nopassado. Os profundos testemunhos do AT atestam a preocupac;:ao deDeus com 0 homem, atestam suas palavras e atos relativos a Israel eas nac;:6es, 0 seu prop6sito de consertar a brecha entre ele e 0 homem

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124 Schmidt, ZThK, 70 (1973), p. 1-19, vai longe demais, ao afirmar que a fe da"cria~ao" e a teologia sao 0 "tema basico" do AT como tais. Sua colabora~aofoi apontar urn aspecto lamentavelmente negligenciado do testemunho e realidadeintegrais do AT.

125 R. Knierim, "Offenbarung im AT", Probleme biblischer Theologie, p. 228 e s.,mostra que a experiencia da realidade do AT inclui a revela~ao de Jave no mundoda natureza, 0 que 0 levou a ser reconhecido como 0 Deus do mundo.

126 Zimmerli mal aborda esse ponto, Grundriss der alttestamentlichen Theologie,p. 19. Cf. Westermann, EvTh. 30(1974), p. 105e s.

127 F. Baumgartel, "Die Formel ne' urn jahwe", ZA W, 73 (1961), p. 277-290;H. W. Wolff, DodekaprophelOn-Amos (Neukirchen-Vluyn, 1967), p. 123 e s.,165 e s .. 169 e s. A formula "Eu sou" pela qual Deus anunciou a si mesmo ternrelevancia (d. K. Koch, The Growth of the Biblical Tradition [New York, 1969],p. 10. 21 e 31). Veja 0 valioso resumo de H. D. Preuss, ]ahweglaube und Zu-kunftserwartung (Stuttgart, 1968)' p. 19 e ss.

128 Veja aqui 0 tema da presen~a de Deus como expressa a frase " ... Eu estarei con-tigo." Cf. H. D. Preuss, " ... ich will mit dir sein!" ZA W, 80 (1968), p. 139-173.

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apos a queda, a restaurac;:ao de sua comunhao e harmonia com 0homem e entre 0 homem e seu semelhante. Assim, 0 homem est asendo constantemente conduzido para 0 futuro. Essa historia - "amoda" de Jave129 - conduz a um conhecimento cada vez maisprofundo e completo de Deus e a uma crescente expectativa de uma jaimpressionante revelac;:ao final de Deus.

Uma teologia do AT que reconhece Deus como 0 centro unificadore dinamico nao se sente forc;:ada a fazer dele um principio estatico deordenac;:ao.'30 Quando Deus e 0 centro unificador e dinamico, 0 ATpermite que os escritos biblicos ou conjuntos de escritos falem por simesmos, pais suas teologias individuais podem emergir. A teologiasapiencial e a teologia da criac;:ao, entre outras, nao sao forc;:adas a seenquadrar num centro, conceito, tema, ou noc;:ao, unilinear e restriti-vo, a custa de se relegar gran des trechos a uma posic;:ao inferior oude negligencia-Ias de vez.

Uma teologia do AT que reconhece Deus como 0 centro unificadore dinamico torna possivel a descric;:ao das diversas e ricas teologias e aexibic;:ao dos diversos temas, noc;:6es e ideias longitudinais_ Ao dec1a-rarmos Deus como 0 centro unificador e dinamico do AT estamosdec1arando tambem que este centro nao pode ser forc;:ado a se sujeitara um principio estatico de ordenac;:ao sobre 0 qual uma teologia do ATpode ser estruturada_ Embora esta dec1arac;:ao signifique que previ-mos 0 que mais tarde descrevemos como 0 surgimento da "unidadeintrinseca oculta", 131 precisamos permitir que os escritos biblicosindividuais ou conjuntos de escritos exibam suas proprias teologias.Da mesma forma, a teologia sapiencial, a teologia da criac;:ao, etc_,podem assumir sua posic;:ao de direito, nao sendo relegadas a umaposic;:aoinferior ou sendo completamente desconsideradas.

A questao do centro do AT toea fundamentalmente a natureza daunidade e continuidade do AT. Quando se reconhece Deus como 0

centro unificador e dinamico do AT, pode-se falar de unidade econtinuidade do AT no seu sentido mais fundamental. A unidade e acontinuidade tem sua origem em Deus, na diversidade da revelac;:ao desi mesmo por intermedio de atos e palavras. Ao mesmo tempo, 0 ATmostra-se um "livro aberto", que transcende a si mesmo. 0 NTtambem testifica a centralidade de Deus e de sua obra de juizo esalvac;:ao para com Israel e 0 mundo_ Precis amos parar aqui, uma vezque esses aspectos comuns dos dois Testamentos vieram a lume. 0 ca-pitulo seguinte comenta aspectos importantes da relac;:ao entre 0 ATeo NT no debate atuaL

129 Preuss,Jahweglaube und Zukunftserwartung, p. 71-108.130 G. F. Hasel, "The Problem of the Center in the OT Theology Debate", ZA W. 86

p. 19. Cf. Westermann, EvTh, 30 (1974), p. 105 e s.127 F. Baumgartel, "Die Formel ne' urn jahwe", ZA W, 73 (1961), p. 277-290;

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A Relariio Entre os TestamentosPara todo te610go cristao a teologia do ATe e precisa continuar a

ser parte da teologia biblica. ApreciaC;:6es diversas da teologia do ATe do NT vem sendo feitas desde 0 ana de 1797, quando GeorgLorenz Bauer publicou a primeira Theologie des alten Testaments.G. Ebeling volta a nos lembrar que cabe a teologia biblica estudara relac;:ao mutua dos Testamentos e "explicitar 0 seu entendimentoda Biblia como um todo, i.e., deixando de lade todos os problemasteologicos decorrentes da investigac;:ao da unidade intima do testemu-nho multiplice da Biblia". I E ai que se suscitam as quest6es de conti-nuidade e descontinuidade, de interpretac;:ao exclusivamente do ATpara 0 NT ou do NT para 0 AT ou reciprocamente do AT para 0 NT,e vice versa. 0 essencial nessa questao nao e uma mera articulac;:aodo problema teologico da inter-telac;:ao dos do is Testamentos, mastambem a investigac;:ao da natureza dessa uniao ou desuniao, se e devi-da a linguagem, a concepc;:6es ou ao conteudo_ Nao e necessaria, a estaaltura, a apresentac;:ao de um esboc;:ocompleto das posturas atuais dosteologos acerca desses problemas.2 Vamos nos limitar a estudosexpressivos, recentes, que refletem as principais posturas.

1 Word and Faith, p. 96.2 Os seguintes estudos preocupam-se com esse problema em especial: A. A. van

Ruler, The Christian Church and the OT, trad. de G. W. Bromiley (Grand Ra-pids. 1971); S. Amsler, CAT dans f'eglise (Neuchatel, 1960); J. D. Smart,The Interpretation of Scripture (Filadelfia, 1961); P. Grelot, Sens chretien deJ'AT (Tournai, 1962); B. W. Anderson, ed., The OT and Christian Faith(New York, 1963; doravante citado como OTCFl; C. Westermann, The OT andJesus Christ (Minneapolis, 1970); R. E. Murphy,"The Relationship Between theTestaments", CBQ, 26(1964), p. 349-359; "Christian Understanding of the Or-.Theology Digest. 18 (1970). p. 321 e s.; F. Hesse, Das AT als Buch der Kirche(Gutersloh, 1966); K. Schwarzwaller, Das AT in Christus (Zurich, 1966); "DasVerhaltnis AT-NT im Lichte der gegenwartigen Bestimmungen", EvTh. 29 (1969),p. 281-307; P. Benoit e R. E. Murphy, eds .. How ..Does the Christian Confrontthe OT? (New York, 1967); A. H. 1. Gunneweg, "Uber die Pradikabilitat alttes-tamentlicher Texte". ZThK, 65 (1968), p. 389-413; N. Lohfink, The ChristianMeaning of the OT (Milwaukee, 1968); H.-D. Preuss, "Das AT in der Verkun-digung der Kirche", Deutsches Pfarrerblatt, 63 (1968), p. 73-79; Kraus. Die Bi-blische Theologie, p. 193-305. Bibliografia complementar pode ser encontradanestes estudos.

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Alguns estudiosos confirmam 0 problema da relac;:ao entre osTestamentos ao qualificarem 0 AT como livro de uma religiaonao-crista. Rudolf Bultmann tem 0 merito de procurar a conexaoentre os Testamentos no curso efetivo da hist6ria de Israel. 3 So que eleestabelece essa conexao de tal forma que a hist6ria do AT torna-seuma historia de fracassos. 0 emprego da distinc;:ao luterana "lei/evangelho",4 aliado a um cristomonism05 moderno, levam-no aencarar 0 AT como um "malogro [Scheitern J da historia", que setorna por esse mesmo fracasso uma especie de promessa.6 "0 AntigoTestamento nao consiste mais em revelac;:aopara a fe crista como erae ainda e para os judeus." Para os cristaos, "a hist6ria de Israel naoe hist6ria de revelac;:ao".7 "0 Antigo Testamento, portanto, e apressuposic;:ao do Novo"8 - nada mais nada menos do que isso.Bultmann defende uma total descontinuidade teol6gica entre 0 AT e 0NT. A relac;:aoentre os dois Testamentos "nao tem qualquer reievan-cia teologica em absoluto". 9 Mesmo assim, no seu entender, essahist6ria tem carater promiss6rio justamente porque 0 fracasso dasesperanc;:asbaseadas no conceito de alianc;:a,0 fracasso do governo deDeus e de de seu povo tornam evidente que "a situac;:aodo homemjustificado surge apenas como decorrencia desse malogro [Schei-tern l" _10 Como resposta a essa postura, Walter Zimmerli acertou aoperguntar se, no que diz respeito ao NT, "as esperanc;:ase a historiade Israel se encontram apenas abaladas". "Nao ha, por acaso,cumprimento aqui mesmo em meio ao abalo?" Ele reconhece perfei-tamente que 0 conceito de fracasso ou abalo torna-se 0 meio pelo qualBultmann "exalta a mensagem da hist6ria acerca do Cristo, inter-pretando-a em termos existencialistas ... " Zimmerli aponta, nao semrazao, que 0 conceito do simples quebrantamento da hist6ria.de Israelleva, inevitavelmente, a uma concepc;:ao nao-historica do evento"Cristo", ou seja, a um "novo mito em torno de Cristo". 11 Ele salientaque ate 0 AT contem um aspecto desse abalo - os pr6prios profetastestemunharam a liberdade que Jave tem de "traduzir legitimamentesua promessa atraves de seu cumprimento, e tal interpretac;:ao [de Javel

3 Cf. Bultmann, em EOTH, p. 50-75, e em OTCF, p. 8-35.4 OTCF, p. 22-30.5 Neste ponto, a critica de Wright, The OT and Theology, p. 30-38, e especial-

mente importante.6 Bultmann, EOTH, p. 73: " ... 0 malogro da historia na realidade resulta numa

promessa." Sobre este assunto, veja Barr, Old and New ill Interpretation,p. 162 e s.; "The OT and the New Crisis of Biblical Authority", Interpretation, 25(1971), p. 30-32.

7 Bultmann, EOTH, p. 31.8 OTCF, p. 14.9 P. 13. Cf. a critic a de Westermann em EOTH, p. 124-128.

10 Bultmann, EOTH, p. 75.11 "Promise and Fulfillment", EOTH, p. 118-120.

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pode surpreender ate mesmo 0 profeta". 12 W. Pannenberg observouque 0 motivo de Bultmann nao enxergar qualquer continuidade entreos Testamentos "certamente tem relac;:ao com 0 fato de que ele naoparte das promessas e sua estrutura, que, para Israel, sao 0 funda-mento da Historia ... promessas, portanto, que resistem justamente amudanc;:as".13

Friedrich Baumgartel, assim como Bultmann, esta convicto dadescontinuidade entre os Testamentos.'4 Baumgartel, contudo, naoe capaz de acompanhar a tese de Bultmann do fracas so total. Eleadmite uma "promessa basica [Grundverheissung]" duradoura.15Todas as promessas (promissiones) do AT "nao tem nenhumarelevancia para nos", 16 exceto a eterna promessa basica (promissum):"Eu sou 0 Senhor teu Deus. "17 Ele abandona completamente asprovas profeticas, por considera-las inaceitaveis para a nossa cons-ciencia historica. Alem disso, 0 unico significado do AT - segundo 0

seu ponto de vista - esta na exemplificac;:ao por meio de sua frustrada"hist6ria da salvac;:ao e desastre" da vida do homem sob a lei. Comotal, 0 AT contem 0 "testemunho de uma religiao extrinseca aoevangelho".'8 "Encarado pelo prisma historico, seu lugar nao e nareligiao crista", 19pois 0 AT "e 0 testemunho de uma religiao nao-crista".20 Neste ponto Baumgartel se aproxima da posic;:ao de Bult-mann, ao estabelecer a relac;:ao entre os dois Testamentos em termosda dicotomia luterana leilevangelho. Baumgartel, portanto, sustentaque a· historic ida de de Jesus Cristo nao esta fundamentada no AT,mas na Encarnac;:ao apenas.21 Pode-se reconhecer que por essaperspectiva "a historicidade de Jesus Cristo cai por terra, quando 0

mesmo acontece com a historia de Israel". 22 C. Westermann salien-tou que Baumgartel praticamente admite "que a Igreja poderiapassar tambem sem 0 Antigo Testamento".23 Von Rad atacou 0

conceito nao-historico de "promessa basica", ao c1assificar como"um atrevimento sem medida" sua separac;:ao de promessas e profe-cias hist6ricas especificas_ 24

12 P. 107.13 Pannenberg, "Redemptive Event and History", EOTH, p. 325 e s.14 F. Baumgartel, Verheissung. Zur Frage des evangelischen Verstandnisses des

A/tell Testaments (Giitersloh. 1952), p. 92.15 F. Baumgartel, "The Hermeneutical Problem of the OT", EOTH, p. 151.16 P. 132.17 P. 151.18 P.156.19 P. 135; d. ThLZ, 86 (1961), p. 806.20 EOTH. p. 145.21 P.156.22 Pannenberg, EOTH, p. 326.23 "Remarks on the Theses of Bultmann and Baumgartel", EOTH, p. 133.24 "Verheissun~", EvTh~ 13 (1953), p. 410. Veja tambem a critica incisiva de Gunne-

weg a Baumgiirtel em ZThK. 65 (1968). p. 398-400.

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Franz Hesse, ex-aluno de Baumglirtel, faz 0 mesmo, ao sintetizarinumeras promessas numa unica promessa basica.25 As promessasfalharam no AT, e isto se deve a pesada mao de Deus, que levou Israela endurecer seu corac;:ao.A transformac;:aoda palavra de Deus em seuoposto e uma advertencia e um testemunho dialetico da atividade deDeus em Israel que tem seu ponto culminante na cruz de Cristo.26Hesse faz suas mais duras critic as teologicas ao AT com base naconsiderac;:aode que certas informac;:oes historic as nao concordamcom os fatos.27 Portanto, 0 AT s6 tem significado para 0 cristao pordireciona-Io para a salvac;:aodo NT.28 As criticas a Baumglirteltambem se aplicam a Hesse. De nada adiantara, como aconteceudiversas vezes no caso de F. D. E. Schleiermacher9 e ainda acontececom BaumglirtePOe Hesse/I considerar os argumentos do NT sobre 0

cumprimento de profecias uma mera justificativa anti-semita, cujarelevancia se restringe ao periodo do NT.J2 Engana-se q1.lemacredita,como Bultmann, que a finalidade das "provas das Escrituras" e"provar" 0 que so pode ser aceito por fe ou abordar e criticar 0

metodo de citac;:oes do NT pela perspectiva da critica literariamoderna.33 Contra essa postura limitada e necessario que se sustenteque as citac;:oesdo NT pressupoem a unidade da tradic;:aoe mencio-nam palavras-chaves e conceitos e ideias fundamentais, a fim deevocar 0 contexto amplo do AT.

Contrastando diretamente com a posic;:aoque acabamos de descre-ver, encontram-se aquelas que enfatizam primordialmente 0 AT,fazendo com que seja inteiramente relevante teologicamente.Wilhelm Vischer pretende que a exegese do AT seja dominada peloNT, tornando assim 0 AT totalmente relevante.34 "Rigorosamentefalando, apenas 0 Antigo Testamento pode ser considerado 'Escri-tura', ao passo que 0 Novo Testamento traz as boas-novas de que 0

conteudo das Escrituras - 0 significado de todas as suas palavras, 0

seu Senhor e executor - surgiu agora em carne. "35 Em bases muitosemelhantes, A. A. van Ruler explica que "0 Antigo Testamento e e

25 Das AT als Buch der Kirche, p. 82.26 "The Evaluation and Authority of the OT Texts", EOTH, p. 308-313.27 P.293-299.28 P.313.29 The Christian Faith (2 vols.; New York, 1963).30 Verheissung, p. 75 e ss.31 Das ATais Buch der Kirche, p. 82 e ss.32 Pannenberg, EOTH, p. 324.33 Bultmann, EOTH, p. 50-55 e 72-75.34 Das ChrislUszeugnis des AT. Das Gesetz (7." ed.; Zollikon, 1946); ha uma tra-

du~ao para 0 ingles com 0 titulo: The Witness of the OT to Christ (Londres, 1949).35 Christuszeugnis, p. 8. Cf. Schwarzwiiller, EvTh, 29 (1969), p. 281-285, que apre-

senta uma avalia~iio condescendente da importancia de Vischer para a teologiacontemporanea.

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continua sendo a verdadeira Biblia". 36 0 NT nao passa de "seuglossario explicativo [WOrterverzeichnis l".37 Na dialetica estrita,"0 NovoTestamento interpreta 0 Antigo assim como este interpreta 0

Novo".38 0 centro de toda a Biblia nao e reconciliac;:ao e reden-c;:ao,mas 0 reino de Deus. Neste aspecto, 0 AT tem especialimportancia - ele confere legitimidade, fundamento, interpreta-c;:ao,ilustrac;:ao,historicizac;:aoe escatologizac;:ao.39Assim, van Rulerreduz a relac;:aoentre os Testamentos ao denominador espiritual doreino de Deus, estudando 0 NT com extrema parcialidade, semperceber a distinc;:aoentre teocracia e escatologia.40

A posic;:aode Klaus Schwarzwllller merece breve menc;:ao.Sua tese ede que 0 AT se relaciona ao NT em termos da regra: "metodo deprova e resultado". 41 0 AT s6 pode ser compreendido partindo-se deCristo, pois e para ele que aponta. "0 evento 'Cristo' pressup6e ahistoria da antiga alianc;:ae refere-se a seus testemunhos. "42 Ate 0

momento, sua posic;:aoteve pouco reflexo.No computo geral, e necessario dizer que as apreciac;:6escristolo-

gico-teocraticas da unidade dos Testamentos acarretam certas dificul-dades, porque reduzem e praticamente eliminam a natureza diversi-ficada dos testemunhos biblicos. Elas provocam uma reduc;:ao davariedade do pensamen to do AT, e este torna -se um fraco reflexo doMessias que ha de vir. Nesse ponto, 0 clamor insistente do "cristo-monismo"43 e valido. G. E. Wright, J. Barr e R. E. Murphy44

parecem conseguir satisfazer a necessidade de se delinear a relac;:aoentre os Testamentos por meio da perspectiva da Trindade. Estapreserva 0 sensus litteralis do testemunho do ATe evita 0 desenvolvi-mento de um metodo hermeneutico baseado unicamente no empregoque 0 NT faz do AT. Uma vez que se percebe 0 verdadeiro significadode Cristo no contexto da Trindade, pode-se dizer que Cristo e 0 pontode destin~ e ao mesmo tempo 0 guia para 0 verdadeiro entendimento doAT. Certa vez W. Vischer levantou uma questao que continua sendo

36 Van Ruler, The Christian Church and the OT, p. 72.37 P. 74, n. 45.38 P.82_39 P.75-98.40 Th. C. Vriezen faz uma critica severa it postura de van Ruler, em "Theocracy and

Soteriology", EOTH, p. 221-223.41 Das AT in Christus, p. 51-56.42 EvTh,29(1969),p.305.43 Wright, The OT and Theology, p. 13-38. Ele se opOe a que se dissipe a tensao

entre 0 AT e 0 NT por meio de urn "novo tipo de monoteismo centrado em Cristo"("Historical Knowledge and Revelation", Understandind and Translating the OT,p.302).

44 Wright, Understanding and Translating the OT, p. 201-303; Barr, Old and Newin Interpretation, p. 151-154; Murphy, Theology Digest (1970), p. 327.

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crucial: "A interpretac;:ao de todo 0 AT como testemunho do MessiasJesus e correta, ou viola os escritos do AT?"45

A recente volta a tipologia e uma das principais tentativas deesboc;:ara relac;:aoentre os Testamentos. W. Eichrodt46 e G. von Rad47vem apoiando-o fielmente. Eichrodt emprega a tipologia "comouma maneira peculiar de se observar a Hist6ria". Os tipos "saopessoas, instituic;:6es e eventos do Antigo Testamento consideradosmodelos ou prefigurac;:6es divinamente estabelecidos de realidadescorrespondentes na historia da salvac;:aodo Novo Testamento". 48Sua explanac;:aoparece concordar com os pontos de vista tradicionaisdo cristianismo primitivo. Entretanto, ele discorda da perspectiva devon Rad, cuja premissa basica e que "0 Antigo Testamento e umlivro de hist6ria". 49Sao a hist6ria do povo de Deus e as instituiC;:6eseprofecias nele contidas que fornecem os modelos para os antitipos doNT em todo 0 ambito da hist6ria e da escatologia.50 A base que vonRad adota e ampla, como pode ser depreendido de sua relac;:aoentreJose e Cristo como tipo e antitipo.5l

Alguns eruditos abominam a perspectiva tipologica.52 Contudo, :l

sua importancia nao deve ser negada quando nao se transforma nummetodo hermeneutico que se aplica a todos os textos como se fosseuma varinha de condao. A correlac;:aofipologica deve ser rigorosa-mente controlada com base na relac;:aodireta entre varios elementosdo AT e seus elementos correspondentes no NT, para que aprecia-

4S Christuszeugnis, p. 32. E evidente que Vi scher da uma resposta afirmativa. Elec1assifica Jesus de "significado oculto dos escritos do AT (p. 33). Escreveu, emseu livro Die Bedeutung des AT fur das christ/iche Leben (Zurich, 1947), p. 5:"Todo fluxo de vida que 0 AT registra parte dele [Jesus] e para ele. A historia dasvidas de todos esses homens e parte da historia de sua vida. Por isso 0 aspectobiograrico quase nao aparece. 0 que foi escrito acerca deles, na realidade, fazparte da biografia Daquele por quem e para quem vivem." Isto significa quepoderiamos reconstituir a biografia de Jesus a partir do AT. Se a posi~ao de Visheresta correta, entao e dificil entender por que 0 AT fala em primeiro lugar deAbraao e Moises. Por que nao come~a falando de Jesus e por que se refere a ele deforma tao "obscura"?

46 "Is Typological Exegesis an Appropriate Method?" EOTH, p. 224-245.47 "Typological Interpretation of the OT", EOTH, p. 17-39; OTT, II, p. 364-374.48 EOTH, p. 225.49 EOTH, p. 25; d. OTT, II, p. 357.50 OTT, II, p. 365.51 OTT, II, p. 372.52 F. Baumgartel, ThLZ, 86 (1961), p. 809, 897 e 901-906. R. Lucas, "Consi-

derations of Method in OT Hermeneutics", The Dunwoodie Review, 6 (1966),p. 35: "A tipologia carece de urn criterio que the estabele~a seus limites e vali-dade ... Ela e uma teologia de textos biblicos. Em ultima analise, 0 Antigo Testa-mento fica para tras e seu significado e achado nao nos seus testemunhos histori-cos, mas fora, alem deles." Murphy, Theology Digest, 18 (1970), p. 324, acreditaque a tipologia nao tern criatividade suficiente, nao engloba as possibilidades dateologia e, se comparada a Igreja primitiva, "ela e simplesmente menos atraentepara 0 temperamento moderno". Veja tam bern Barr, Old and New in Interpre-tation, p. 103-148, que nao esta disposto a separar a tipologia do simbolismo.

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~6es pessoais arbitrarias e fortuitas nao se infiltrem na exegese.53

Deve-se tomar cuidado para nao se cair na armadilha de empregar atipologia como 0 unico e definitivo plano teologico fundamental quedefine a unidade dos Testamentos. A finalidade principal do argu-mento da unidade tipologica entre os Testamentos nao e descobriruma unidade de fatos historicos entre a prefigurac;:ao do AT e suacorrela~ao no NT,54 embora isso nao deva ser negado em absoluto;sua preocupac;:ao maior e identificar a conexao em termos de umasemelhanc;:a estrutural entre tipo e antitipo. E inquestionavel que aanalogi a tipologica parte de uma relac;:ao na Hist6ria. Por exemplo, aanalogia tipologica entre Moises e Cristo em II Cor. 3:7 e ss. e Heb.3:1-6 parte de uma relac;:ao na Historia, mas a preocupac;:ao nao sao osdetalhes da vida e obra de Moises, e, sim, 0 seu "ministerio" e"gloria" descritos na referida passagem. Tambem e verdade que 0

antitipo do NT excede 0 tipo do AT.55 Mesmo que seja corretoafirmar, pelo menos em parte, que 0 curso da Historia, que une tipo eantitipo, enfatiza a distinc;:ao entre e1es, ao passo que a conexao seevidencia basicamente na sua analogia e correlac;:ao estruturais, issonao deve ser usado como argumento contra a tipologia, a menos queesta seja encarada em termos de um processo historico.56 As con-cepc;:6es da correspondencia tipol6gica caracterizam-se por sua qua-lificac;:ao do evento "Cristo", mas nao tem a capacidade de apresen-ta-Io integralmente em termos de historia do AT. Desta forma, seraonecessarias apreciac;:6es adicionais para complementar a tipol6gica.A Biblia e muito rica em relac;:6es entre Deus e 0 homem, para serlimitada a uma conexao especial. Se por um lado nao podemoshesitar em aceitar referencias tipologicas em casos especificos, toda

53 Com respeito ao emprego correto da tipologia, veja tambern as observa~Oes deH. W. Wolff, "The Hermeneutics of the OT", EOTH, p. 181-186 e de Vriezen,An Outline of OT Theology 2, p. 97, p. 136e s.

54 Von Rad, EOTH, p. 17-19, contudo, sustenta que a aprecia~ao tipol6gica procura"recuperar a correspondencia dos fatos atestados no Novo Testamento", i.e.,descobrir a conexao no processo hist6rico.

55 Eichrodt, EOTH, p. 225 e s.56 f: nesse ponto que Pannenberg, EOTH, p. 327, se desorienta. No seu entender, a

unica analogia de valor e a hist6ria. Ele adota 0 prindpio de "promessa e cumpri-mento" sem perceber que essa "estrutura" (p. 325), como ele a chama repetida-mente, funciona como mais urn exemplo - na maneira como ele a expoe - doemprego de urn principio versatil para substituir a Hist6ria. Pannenberg ressaltaque a liberdade, criatividade e impossibilidade de se fazer previsoes sao caracteris-ticas essenciais da Hist6ria, mas isso s6 ocorre porque 0 cumprimento freqiiente-mente acarreta a "analise" das profecias sob a forma de "interpreta~ao legitima",uma "transforma~ao do conteudo das profecias", cujo "cumprimento difere" daexpectativa dos recipientes originais da palavra profetica (p. 326)_Assim, Pannen-berg admitiu inconscientemente a incompatibilidade da Hist6ria com a sua es-trutura. Mesmo com a postura de Pannenberg, portanto, estrutura e constru~aotendem a substituir a Hist6ria e tornam 0 emprego de sua estrutura de promessa-cumprimento nao-hist6rico.

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tentativa de se encarar 0 to do a partir de um unico ponto de vista deveresguardar-se do desejo de explicar cada detalhe em func;:ao desseaspecto unico e de impor um panorama as diversas relac;:6es possiveis.o que 0 contexto do AT prefigura deve ser preservado de forma quesignificados no NT nao sejam depreendidos dos textos do AT;presume-se, contudo, que seja necessaria uma indicac;:ao clara do NTpara que suposic;:6es fantasiosas e subjetivas, alem de analogiastipologicas arbitrarias, sejam evitadas. Isso equivale a dizer que aquestao do carater a posteriori da perspectiva tipologica nao deveser contida.

Um metodo importante para se abordar a questao extremamentecomplexa da relac;:ao entre 0 ATe 0 NT se da por meio do esquemapromessa-cumprimento, desenvolvido por C. Westermann, W. Zim-merli, G. von Rad e outros.57 0 argumento aqui e que 0 AT contemuma "hist6ria de promessas que frutificam no NT". 58 Isto niiosignifica que 0 AT descreva 0 que foi prometido, e 0 NT, 0 que secumpriuY 0 AT ja testifica de promessa e cumprimento. W.Zimmerli argumenta que a promessa, quando ganha carater decumprimento na Hist6ria, atraves da orientac;:ao e palavra de Jave,volta a ganhar um novo carater de promessa.60 Desta forma, 0cumprimento fica em aberto, apontando para 0 futuro.6l Este aspectoescatologico encontra-se nos dois Testamentos. Westermann obser-vou: "Promessa e cumprimento constituem uma ocorrencia integral,relatada tanto no Antigo quanto no Novo Testamento da Biblia."Tendo em vista 0 carater multiplo da relac;:ao entre os Testamentos,Westermann admite que 0 conceito de promessa apenas nao "possi-bilita abarcar toda a relac;:ao entre 0 Antigo Testamento e Cristo".62Precisamos admitir, numa esc ala mais ampla, que 0 esquema pro-messa-cumprimento nao engloba a relac;:ao integral entre os Testa-

57 C. Westermann, "The Way of Promise through the OT", OTCF, p. 200-224;The OT and Jesus Christ (Minneapolis, 1970); W. Zimmerli, "Promise and Ful-fillment", EOTH, p. 89-122; G. von Rad, "Verheissung", EvTh, 13 (1953),p. 406-413; R. E. Murphy, "The Relationship Between the Testaments', CBQ, 26(1964), p. 349-359; "Christian Understanding of the OT", Theology Digest, 18(1970), p. 321-332.

58 Murphy, Theology Digest, 18 (1970), p. 328.59 Obviamente, e assim que Fohrer, ThZ, 24 (1968), p. 171 e s., ve a estrutura de

promessa-cumprimento. Se este erro for evitado, en tao deixa de haver conflitoentre a categoria de promessa-cumprimento e a de inicio-continua~ao de Fohrer.Essencialmente, uma concorda com a outra, mas enfatizam aspectos ligeiramentediferentes.

60 "Promise and Fulfillment", EOTH, p. 112.61 0 clima entre promessa e cumprim1mto e uma caracteristica dinamica do AT.

Como esta e uma especie de hist6ria interpretada que 0 AT e 0 NT nos apresen-tam, a tentativa de J. M. Robinson (OTCF, p. 129), de rejeitar a categoria depromessa-cumprimento como estrutura externa imposta sobre a hist6ria biblica,malogra.

62 The OTandJesus Christ, p. 78.

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mentos. Por mais que a perspectiva de promessa-cumprimento sejafundamental e prolifica, nao e capaz de descrever a natureza diversi-ficada da relac;:ao entre os Testamentos.

Se levantamos a questao de como 0 AT pode ser relacionadoadequada e corretamente ao NT, entao estamos considerando a priorique existe alguma relac;:ao entre eles. Devemos ter essa considerac;:aoem mente, pois ela e relevante para a questao dos elementos do AT.Nao e fflcil, contudo, chegar-se a ela. Isto e verdade especialmentequando 0 AT e encarado da maneira como von Rad 0 encara: "0 An-tigo Testamento so pode ser estudado como um livro de crescentesantevisoes. "63 Esta afirmativa pressupoe uma determinada com-preensao da hist6ria da tradic;:ao do AT, isto e, daquela que desde 0

principio se focaliza na transic;:ao para 0 NT. A apreciac;:ao de von Radso se justifica em termos de uma linha direta de conexao que seorigina no testemunho da atividade inicial de Deus, pros segue emdirec;:ao a atos de julgamento e avanc;:a para a expectativa da ac;:aorenovada de Deus por meio da qual ele continuara a provar seucarater divino_ E impression ante observar como Israel nunca permitiuque uma promessa fracassasse, como dilatou a promessa de Jave adimensoes infinitas e como transmitiu - sem impor qualquer limiteao poder que Deus tem de vir a cumprir - as promessas ainda semcumprimento a gerac;:oes por vir. Portanto, precisamos perguntarcomo von Rad: "Sera que a maneira como a religiao comparativa lidacom 0 Antigo Testamento em termos abstratos, como um objeto quepode ser corretamente interpretado sem qualquer referencia ao NovoTestamento, nao e ilus6ria segundo 0 ponto de vista cristao?"64 Poroutr~ lado, nao ha nenhum misterio em se atacar a questao da relac;:aoentre os Testamentos. Entao, para comec;:ar, nao partimos do NT ede suas ricas referencias ao AT. Este metodo tem sido adotado comfreqiiencia e mais recentemente por B. S. Childs, como mencionamos<leima. Tern levado tambem, com muita freqiiencia, a uma contras-lea~ao tao exigente dos Testamentos que nao faz justic;:a a grandeflexibilidade hermeneutica da relac;:ao dos dois. Um metodo adequadoprocurara em primeiro lugar mostrar formas caracteristicas de comooAT conduz ao NT. Este podera, entao, com base nessa apreciac;:aoinicial, iluminar 0 conteudo do AT.

Em vista dessas considerac;:oes, afigura-se que 0 unico meio adequa-do de se abordar a natureza muitiplice da relac;:ao entre os Testamen-tos e optar por uma apreciac;:ao diversificada, que use a tipologia deforma prudente e ponderada, que empregue a noc;:ao de promessa-cumprimento e utilize tambem com cautela a perspectiva da Heilsge-

63 TAT, II, p. 331; OTT, II, p. 319.64 TAT, II, p. 333; OTT, II, p. 321.

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schichte.65 Uma apreciac;:aoassim diversificada possibilita a identifica-

crao das diversas conexoes entre os Testamentos e evita, ao mesmotempo, a tentac;:ao de se explicar minuciosamente os inumerostestemunhos por meio de um unico ponto de vista ou apreciac;:aoe,portanto, de impor uma unica estrutura aos testemunhos que testifi-cam outra coisa. Tal metodo levara a identificac;:aode similaridades edissimilaridades, de velho e novo, de continuidade e descontinuidade,etc., sem distorcer nem um pouco 0 testemunho hist6rico e 0 sentidoliteral originais e sem fracassar no grande prop6sito e no contextoquerigmaticos, dos quais 0 proprio AT testifica.

Nao e de surpreender que a questao do contexto mais adequadotenha se tornado crucial no recente debate sobre a natureza complexada relac;:aoentre os Testamentos. 0 proprio von Rad fala do "contextomais amplo a que um fenomeno especifico do Antigo Testamentopertence ... "66 Ele reflete a preocupac;:aode H. W. Wolff, que sustentaque "0 contexto do Antigo Testamento acha-se no Novo e 0 objetivohistorico deste e revelar 0 significado integral do Antigo Testamen-to... "67 Hermann Diem, te610go sistematico, manifestou-se dizendoque "no que tange a interpretac;:ao da Escritura, nao pode havernenhuma duvida se essa interpretac;:ao acompanha 0 testemunhoapost6lico e aprecia 0 AT por este angulo ou se ele e estudado sem quese fac;:apressuposic;:oes,ou seja, sendo encarado como um fenomenoda hist6ria da religiao em geral. .. "68 Mais ou menos na mesma linha,Kurt Fror afirma que "0 canon forma 0 contexto compulsorio de todoo texto e livro dos dois Testamentos". 69 A noc;:aode "contexto" naodeveria ser restringida a de excerto, nem mesmo ao papel de elementode conexao num livro ou trabalho hist6rico. Com respeito as conexoesmais amplas, 0 canon, como fato aceito, ganha relevancia na herme-neutica. "0 primeiro passe para a continuidade da auto-interpreta-c;:aodo texto e dar ouvidos aos outros testemunhos das Escrituras. "70

Hans Joachim Kraus percebeu 0 intento de Eichrodt quando esteenfatizou que "somente quando essa relac;:aoredproca entre 0 Antigoe 0 Novo Testamentos for compreendida poderemos chegar a uma

65 Nao temos condi~oes de abordar as diversas ramifica~oes da perspectiva da hist6-ria da salva,ao, seus pontos fracos e fortes, bern como 0 multiplo emprego quete6logo

sdo passado e do presente fazem dela. Este metodo, contudo, nao deve ser

descartado precipitadamente. Para uma explana~ao atual dessa perspectiva vejaO. Cullmann, Salvation in History (New York, 1967). D. Braum, "Heil als Ge-sChichte", EvTh, 27 (1967), p. 57-76, apresenta sua critica. Veja tam bern a com-preensiva analise de Kraus, Die Biblische The%gie, p. 185-187.66 OTT, II, p. 369.

67 EOTH, p. 181.

68 H. Diem, Theologie a/s kirchliche Wissenschaft (Giitersloh, 1951), !, p. 75; d.seu Was heisst schnftgemass? (Giitersloh, 1958), p. 38 e s.

69 Biblische Hermeneutik (3." ed.; Miinchen, 1967), p. 65.70 Diem, Was heisst schnftgemass? p. 38.

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definic;:aocorreta do problema da teologia do AT e do metodo quepermite soluciona-Io". 71Quanto a Kraus, sua abordagem da questaodo contexto mostra que "a questao do contexto e decisiva para aconexao de textos e temas. Com reiac;:aoa exegese biblico-teologica doAT, pergunta-se: Como 0 Antigo e 0 Novo Testamentos fazemreferencia a certos significados querigmaticos evidentes numtexto?"72

Tendo em vista tal conexao, e muito importante que se esc1arec;:apor que a teologia do AT - e tambem a do NT - esta atada asconex6es dos textos no canon. Alfred Jepsen escreveu "que a interpre-tac;:aodo Antigo Testamento, sendo a interpretac;:ao do canon daIgreja, e determinada por sua conexao com 0 Novo Testamento epelas quest6es que dai decorrem". 73 Quando concebida adequada-mente, a mensagem do AT nao sofre qualquer violac;:ao,pois a questao,o ponto de vista, e essencialmente 0 que 0 interprete depreende do NT.Conhecer a verdadeira questao e ser capaz de descobrir as verdadeirasrespostas. Esta perspectiva nao consiste num retorno a um novo tipode biblicismo. Pelo contrario, precis amos enfatizar veementementeque ocorrencias e significados biblicos nao devem ser procurados nasentrelinhas ou fora dos textos,74 mas, sim, neles, pois os atos epalavras divinos ganharam forma e neles se expressaram. A inter-pretac;:ao biblico-teologica procura estudar uma passagem em seucontexto historico original - 0 Sitz im Leben da situac;:aoem queuma palavra foi pronunciada ou uma ac;:aoocorreu - a conjuntura devida e das relac;:6ese conex6es contextuais das tradic;:6esmais recentes,bem como 0 Sitz im Leben do contexto do livro onde foi preservadoe 0 significado querigmatico amplo. Em todos esses aspectos, 0contexto fornecido dos dois Testamentos influencia na interpreta-c;:ao.75Assim, a questao do contexto nas rela~6es mais evidentes nosdois Testamentos sera sempre um fator decisivo na interpretac;:aobiblico-teologica e na tarefa do te610goda Biblia de estudar a teologiado AT.76

Ha varias correntes principais no debate sobre a relac;:aoentre osTestamentos. A pendencia para 0 marcionismo e seu baixo conceito

71 Eichrodt, TOT, I, p. 26.72 Kraus, Die Biblische Theologie, p. 381 (0 grifo e dele)_73 "The Scientific Study of the OT", EOTH, p_265.74 f: assim que Hesse, Kerygma und Dogma, IV (1958), p. 13, procura assegurar

uma realidade que ele nao acredita que exista ali. F. Mildenberger, GotleS Tat imWort (Giitersloh, 1964), p. 93 e ss., defende a unidade do canon como regra deentendimento, mas desperta uma nova especie de exegese pneumatica.

75 Childs, Biblical Theology in Crisis, p. 99 e ss., tern propagado a relevancia do"contexto canonico mais amplo" como 0 horizonte adequado para a teologia bi-blica e tem-na aplicado it sua pr6pria metodologia.

76 A despeito da enfase de von Rad na interpreta~ao querigmatica-carismatica, suaaprecia~ao segue as linhas da Heilsgeschichte. Sua enfase na tipologia (OTT, II,

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do AT e representada integralmente por A. Harnack, que defendeu 0

descarte do AT, e por Friedrich Delitzsch, que considerava 0 AT umlivro nao-cristao.77 E. Hirsch manifesta um marcionismo brando.Para ele, os Testamentos mantem uma "tensilo antitetica" entre Si.78Bultmann, Baumgll.rtel e Hesse 0 fazem ainda em menor grau.79o extremo oposto dessas posic;:6esconfere total relevancia hist6rica eteologica ao AT para 0 cristao. Ele evidencia-se de diversas formassob van Ruler, Miskote e Vischer.80Em outras palavras, num lade dopendulo estao aqueles que salientam as diferenc;:asentre os Testamen-tos - ha uma desuniao e uma descontinuidade completas entre 0 ATeo NT - e no outr~ lade estao aqueles que enfatizam a unidade semdar lugar a qualquer diferenc;:a.Existe, contudo, uma certa diferenc;:aentre os Testamentos, que nao pode ser negada. A verdade e que haunidade na diversidade.8l

Nos debates mais recentes continuam a surgir enfases divergentessobre a questao da rela\!ao entre os Testamentos. B'. S. Childssustenta que 0 "contexto canonico" e decisivo para a teologia do AT eafirma que "a questao teol6gica em jogo e se existe tal contextocanonico, como a Igreja alega". Ele ressalta que a "apreciac;:aohistorico-critica" da Biblia caiu numa "especie propria de dogmatis-mo, ao alegar sua capacidade exc1usiva de interpretar a Biblia

p. 323 e ss.) pressupOe uma estrutura hist6rica mais amp la, e conecta dois pontosa essa base, como se pode ver pelo reavivamento atual da interpreta~ao tipol6gica.Sobre a rela~ao entre tipologia e hist6ria da salva~ao, veja Cullmann, Salvation inHistory, p. 132-135. A rea~ao negativa de G. Fohrer a n~ao da hist6ria da sal-va~ao ("Prophetie und Geschichte", ThLZ, 89 [1964], p. 481 e ss.) baseia-se nofato de que tanto salva~ao quanto perdi~ao sao parte daquela. A hist6ria dasalva~ao e, em grande parte, uma hist6ria de desastres. No entanto, a continui-dade ainda assim e preservada, pois a proclama~ao da salva~ao e retomada pos-teriormente sem que a prega~ao da mensagem de julgamento desapar~a. A tesede Fohrer - que a meta da atua~ao de Deus e 0 seu governo sobre 0 mundo e anatureza - nao se contrapOe a hist6ria da saiva~ao, sendo parte caracteristicadela.

77 A. Harnack, Marcion: Das Evangelium vom fremden Gott (Leipzig, 1924;2." ed.; Darmstadt, 1960); F. Delitzsch, Die grosse 'Tauschung,2 vols. (Stuttgart,1920-21)_

78 E. Hirsch, Das AT und die Predigt des Evangeliums (Tuebingen, 1936), p. 27,59 e 83.

79 Os seguintes estudos criticam essa postura a partir de angulos bern diferentes:U. Mauser, Gottesbild und Menschwerdung. Eine Untersuchung zur Einheit desAlten und Neuen Testaments (Tuebingen, 1971); G. Siegwalt, La Lei, chemindu Salut. Etude sur la signzfication de la loi de 1 'AT (Neuchatel, 1971); W. Zim-merli, Die Welt/ichkeit des AT (Gottingen, 1971); J. D. Smart, The Strange Si-lence of the Bible in the Church (Londres, 1970); J. Bright, The Authority of theOT(Nashville, 1967), p. 58-79.

80 K. H. Miskotte, When the Gods Are Silent (Londres, 1967); W. Vischer,The Witness of the OTto Christ (Londres, 1949).

81 Alem dos estudos de Amsler, Greiot, Smart, Westermann, Murphy, Schwarzwiiller,Lohfink, Preuss, Kraus, Mauser, Siegwalt, Zimmerli eBright, mencionados nas!Iotas de rodape, 2 e 79 deste capitulo, os seguintes artigos recentes tern especiallmportancia: A. J. B. Higgins, The Christian Significance of the OT (Lon-

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corretamente. "82 A questao do contexto correto e, com certeza, 0problema fundamental da interpretac;:aobiblica. H. J, Kraus conc1uiuque "tal questao e decisiva para a relac;:aode textos e temas" ,83 Eleargumenta que 0 contexto biblico tem grande influencia sobre 0

significado de um tema ou assunto.84

Os teologos do AT tem opini6es totalmente divergentes sobre esseponto_ J.L. McKenzie fez uma auto-avaliac;:ao:"Eu a escrevi [teologiado AT] como se 0 Novo Testamento nao existisse. "85 Sua justificativapara tal procedimento e que os livros do AT foram escritos quando 0NT ainda nao existia. Levando em considera~ao este criterio, seria dese esperar que, a bem da coerencia, as teologias dos respectivos livrosdo AT devessem ser analisadas independentemente de outros livros doAT, escritos posteriormente. Este, contudo, nao foi 0 procedimentoque McKenzie adotou. Afigura-se aqui uma incoerencia metodologi-ca, especialmente quando os escritores do AT sao julgados pela fecrista!

No entender de Fohrer, "nao e necessario fe para compreender-se 0AT",86 0 interprete nao parte de dentro, mas de fora. 0 NT nao temqualquer relevancia para a compreensao do AT. 87Entretanto, istonao significa que 0 interprete lance mao inicialmente de um determi-nado sistema filosofico sem ser por intermedio do metodo hist6rico-critico. 0 AT deve ser analisado e explicado nos mesmos moldes dequalquer livro.88Sera que e aqui que se aplica a advertencia de Child

dres, 1949); P. Auvray et al., L'AT et les chretiens (Paris, 1951); F. V_ Filson,"The Unity of the OT and the NT: A Bibliographical Survey", Interpretation, 5(1951), p. 134-152; H. H. Rowley, The Unity of the Bible (Londres, 1953);E. O'Doherty, "The Unity of the Bible", The Bible Today, I (1962), p. 53-57;D. E. Nineham. ed., The Church's Use of the Bible (Londres, 1963); H. Seebass,"Der Beitrag des AT zum Entwurf einer biblischen Theologie", Wort und Dienst, 8(1965), p. 20-49; H. Cazelles, "The Unity of the Bible and the People of Go<f',Scripture, 18 (1966), p. 1-10; F. N. Jasper, "The Relation of the OT to the New",Expository Times, 78 (1967/68), p. 228-232 e 267-270; F. Lang, "Christuszeugnisund Biblische Theologie", EvTh, 29 (1969), p. 523-534; A. H. van Zyl, "The Re-lation between OT and NT", Hermeneutica (1970), p. 9-22; M. Kuske, Das ATals Buch von Christus (Gottingen, 1971); S. Siedl, "Das Alte und das NT. IhreVerschiedenheit und Einheit", Tubinger Praktische Quartalschrift, 119 (1971),p. 314-324; J. Wenham, Christ and the Bible (Chicago, 1972); F. F. Bruce,The NT Development of OT Themes (Grand Rapids, Mich., 1973); H. Gese,Vom Sinai zum Sion. Alttest. Beitrage zur biblischen Theologie (Munich, 1974),p. 11-30; Harrington, The Path of Biblical Theology (Dublim, 1974), p. 260-336.

82 B. S. Childs, "The OT as Scripture of the Church", Concordia TheologicalMonthly, 43 (1972), p. 713. Veja tambem, do mesmo autor, Biblical Theology inCrisis, p. 99-107.

83 Kraus, Die biblische Theologie, p. 381.84 P.367-371.85 McKenzie, A Theology of the OT, p. 319.86 Fohrer, Theologische Grundstrukturen des AT, p. 31.87 P.29.88 P.31.

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sobre "0 dogmatismo proprio ... " do metodo hist6rico-critico, " ... poralegar sua capacidade exc1usiva de interpretar corretamente a Bi-blia"? Fohrer, todavia, demonstra a relac;:ao dos Testamentos porintermedio do principio de "inicio [AT] e continuac;:ao [NT]". 89

Contrariamente as posturas de Eichrodt, Westermann, Childs, Krause outros, Fohrer nao admite nenhum fluxo de vida do NT para 0 AT.Nao existe nenhuma relac;:ao de reciprocidade entre os Testamentos;s6 uma via de mao unica do AT para 0 NT, em termos de "inicio econtinuac;:ao". 0 valor comprovado dessa posic;:ao esta na recusa deconsiderar tal relacionamento em termos de antiteses, tais como:sombra e realidade, lei e evangelho, letra e espirito, trevas e luz.Contudo, 0 principio do "inicio e continuac;:ao" so pode funcionarcom base na "concepc;:ao profetica de existencia", que "invade epermeia 0 NT". 900 ponto em questao aqui e uma sintetizac;:ao do AT- "a concepc;:ao profetica de existencia" e promovida a posic;:ao deprincipio supremo da fe do AT. Westermann salientou corretamenteque tal sintetizac;:ao nao faz justic;:a a natureza variada da fe do AT econduz, portanto, a um principio parcial de relac;:ao entre os Tes-tamentos.9l

E estranho que a notavel teologia do AT de Zimmerli silencie sobrea questao da relac;:ao entre os Testameritos. Em publicac;:6es anterio-res, ele defendeu vigorosamente 0 principio de "promessa e cumpri-men to" .92 Von Rad explica que 0 cumprimento do NT excede emmuito a promessa do AT, e entre os que defendem com convicc;:ao quetal principio explica a relac;:ao reciproca dos Testamentos figuram:R. E. Murphy, C. Westermann, H. H_ Rowley, 1. D. Smart e W. J.Harrington_ 93

Dois grandes marcos na evoluc;:ao da teologia biblica foram sualibertac;:ao das cadeias do dogmatismo (teologia sistematica) na epocade Gabler e sua libertac;:ao das garras da perspectiva da historia dasreligi6es no inicio deste seculo.94 Um dos grandes marcos do interessemoderno pela teologia do AT esta na inter-relac;:ao dos Testamentos.Varias tentativas que apontam forc;:osamente para 0 fato de que os

89 P. 274-276.90 P.274.91 Westermann, EvTh, 34 (1974), p. 102.92 £OTH, p. 89-122. Em seu Grundriss der aillestamentlichen Theologie, p. 20-24.

ele aborda 0 tema da promessa, mas limita sua analise ao AT exc1usivamente.93 R. E. Murphy, "The Relationship Between the Testaments", CBQ, 26 (1964),

p. 349-359; Westermann £OTH, p. 17-39; 1. D. Smart. The Interpretation ofScripture (Londres. 1961), p. 82-84; H. H. Rowley, The Unity of the Bible(Londres. 1953), p. 9-121; Harrington, The Path of Biblical Theology, p. 334-336e 346.

94 Veja especialmente C. Steuernagel, "Alttestamentliche Theologie und alttesta-mentliche Religionsgeschichte", Festschrift fur K. Mani (ZA W Beiheft, 41; 1925),p.269.

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Testamentos possuem relac;:6es multiplas comec;:am a dar frutos.W. Eichrodt assinalou que existe uma relac;:ao de reciprocidade entreos Testamentos, ou seja, "aliado a esse fluxo historico do AntigoTestamento para 0 Novo ha um fluxo de vida correndo na direc;:aoinversa - do Novo Testamento para 0 Antigo. Esta relaC;ao inversaesc1arece tambem toda a importancia da esfera do pensamento doAT." Segue-se entao a chocante alegac;:ao de que "so se pode chegar auma definic;:ao correta do problema da teologia do AT e do metodoque permite soluciona-Io quando se entende essa relac;:ao dupla entreo Antigo e 0 Novo Testamentos".95 A enfase dada por G. von Rad aocontexto biblico amplo do AT96 tem 0 apoio de H. W. Wolff,97 H. J.Kraus,98 B. S. Childs99 e outros que procuram desenvolver umateologia biblica. 100

A natureza complexa da inter-relac;:ao dos Testamentos exige umaapreciaC;ao multiplice. Nao se espere que um unico conceito, c1assifi-cac;:aoou esquema va abranger as multiplas inter-relac;:6es.101 Entre ascaracteristicas das relac;:6es historicas e teologicas entre os Testamen-tos consta que: (1) Uma particularidade dos dois Testamentos e ahistoria continua do povo de Deus e 0 quadro dos tratamentos deDeus com a humanidade. 102 (2) Nova enfase foi colocada na conexaoentre os Testamentos em termos de citac;:6es biblicas.,03 (3) As inter-relac;:6es dos Testamentos apresentam 0 emprego comum de termosteologicos-chaves.104 "Quase toda palavra-chave teol6gica do Novo

95 Eichrodt;'-TOT. !, p. 26.96 Von Rad, OTI, II, p. 320-335.97 Wolff, EOTH, p. 181: "0 contexto do Antigo Testamento acha-se no Novo, cuja

meta hist6rica e revelar 0 significado integral do primeiro."98 Kraus, Die biblische Theologie, p. 33-36, 279-281, 344-347 e 380-387.99 Veja a nota de rod ape 82.

100 Tanto no campo protestante de estudos quanto no cat6lico ha urn acentuadoaumento no clamor por uma teologia biblica: F. V. Filson, "Biblische Theologiein Amerika", ThLZ, 75 (1950), p. 71-80; M. Burrows, An Outline of BiblicalTheology (Filadelfia, 1946); G. Vos, Biblical Theology (Grand Rapids, Mich.,1948); C. Spicq, "L'avenement de la Theologie Biblique", Revue biblique, 35(1951) p. 561-574; F. M. Braun, "La Theologie Biblique", Revue Thomiste, 61(1953), p. 221-253; R. de Vaux, "A propos de la Theologie Biblique", ZAW, 68(1956). p. 225-227; P. Robertson, "The Outlook for Biblical Theology", Towarda Theology for the Future, eds. D.P. Wells e C. H. Pinnock (Carol Stream, IlL,1971). p. 65-91; Harrington, The Path of Biblical Theology, p. 260-335 e371-377.

101 Nesse ponto concordamos com W. H. Schmidt, "'Theologie des Alten Testa-ments' vor und nach Gerhard von Rad", Verkundigung und Forschung (Bei-heft zur EvTh, 17; Munich, 1972), p. 24.

102 F. V. Filson, "The Unity Between the Testaments", The Interpreter's One-Volume Commentary on the Bible (Nashville, 1971), p- 992.

103 Childs, Biblical Theology in Crisis, p. 114-118; P. A. Verhoef, "The RelationshipBetween the Old and New Testaments", New Perspectives on the OT, ed. J. B.Payne (Waco, Texas, 1970). p. 282; R. H. Gundry, The Use of the OT in St. Mat-thew's Gospel (Leiden, 1967); R. T. France, Jesus and the OT(Londres, 1971).

104 H. Haag, Mysterium Salutis. Grundriss heilsgeschichtlicher Dogmatik, eds.J. Feiner eM. Lohr (1965). !, p. 440-457.

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Testamento deriva de alguma palavra hebraica que foi largamenteempregada e desenvolvida no Antigo Testamento. "105 Entre outroselos de ligac;:ao, unidade nao significa uniformidade, mesmo quandonos referimos a "palavras greg as e seu significado no hebraico". 106(4) A inter-relac;:ao dos Testamentos evidencia-se tambem atraves daunidade fundamental de temas principais. "Cada tema principal doAntigo [Testamento] tem sua correlac;:ao no Novo, sendo de algumaforma ali retomado e esc1arecido. "107Temas como governo de Deus,povo de Deus, experiencia do exodo, eleic;:ao e alianc;:a, julgamento esalvac;:ao, escravidao e redenc;:ao, vida e morte, cria~ao e nova criac;:ao,etc., demandam ponderac;:ao imediata. (5) 0 emprego cauteloso,ponderado; da tipologia e indispensavel para uma metodologia queprocure atacar 0 contexto historico do AT e sua relac;:ao com 0 NT. 108A tipologia deve ser rigorosamente separada de simbolos,,09 pois elaapresenta essencialmente os aspectos historicos e teologicos da rela-c;:aoentre eventos do AT e do NT. A simbologia pouco'se incomodacom 0 carater historico do AT. (6) A categoria promessa/predic;:ao ecumprimento revel a outr~ aspecto da inter-relac;:ao dos Testamen-toS.110Esta e fundamental, critica, nao apenas para a unidade intimado AT e para a compreensao da relac;:ao entre 0 ATe Jesus Cristo,como tambem para a inter-relac;:ao dos Testamentos.111 Por maisimportante que seja essa categoria, ela nao abrange a relac;:ao integraldo AT com 0 NT. (7) Por ultimo, mas nao menos importante, seencontra 0 conceito da historia da salvac;:ao, que une os dois Testa-mentos.ll2 A hist6ria secular e a hist6ria da salvac;:ao nao devem ser

105 J. L. McKenzie, "Aspects of OT Thought", The Jerome Biblical Commentary(Englewood Cliffs, N.J., 1968), p. 767.

106 D. Hill, Greek Words and Hebrew Meanings: Studies in the Semantics of Soterio-logical Terms (Londres, 1967); d. J. Barr, The Semantics of Biblical Language(Oxford,1961).

107 J. Bright, The Authority of the OT (Nashville, 1967), p. 211. Cf. F. F. Bruce,The NT Development of OT Themes (Grand Rapids, Mich., 1973).

108 L. Goppelt, Typos: Die Typologische Bedeutung des AT im Neuen (2." ed.;Darmstadt, 1966); idem, "Tupos", Theological Dictionary of the NT (GrandRapids, Mich., 1972), VIII, p. 246-259; France, Jesus and the OT, p. 38-80;G. W. H. Lampe e K. J. Woollcombe, Essays on Typology (Londres, 1957);Wolff, EOTH, p. 181-190; G. von Rad, "Typological Interpretation of the OT",Interpretation, 15(1961), p. 174-192; John H. Stek, "Biblical Typology Yesterdayand Today", Calvin TheologicaLJoumal, 5 (1970), p. 133-162.

109 Barr, Old and New in Interpretation, p. 103-111, atacou essa interpreta~ao basica.mas Eichrodt, EOTH, p. 227 e s., a defendeu justamente, bern como Lampe,Essays on Typology, p. 30-35, e France, Jesus alld the OT, p. 40 e s.

110 Este ponto tern sido sustentado nos 6ltimos anos por H. H. Rowley, C. H. Dodd,G. von Rad e H. W. Wolff: "The OT in Controversy; Interpretive Principles andIllustration", Interpretation, 12 (1958), p. 281-291; idem, EOTH, p. 160-199;Zimmerli, EOTH, p. 89-122; Westermann, The OTand Jesus Christ, e outros.

111 Westermann, The OT and Jesus Christ, p. 78.112 Veja especialmente O. Cullmann, Christ and Time (2." ed.; Londres, 1962); idem,

Salvation in History (Londres, 1967); P. Grelot, Sens Chretiell de 1 'AT (Tournai,1962), Cap. 5.

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consideradas duas realidades distintas. Eventos historic os especificostem maior significado quando observados a luz da revelac;:ao divina -tais eventos sao atos divinos na historia do homem. A hist6ria dasalvac;:ao iniciou-se ap6s a queda do homem, partindo de Adao e todaa humanidade, passando por Abraao, chegando a Cristo e avanc;:andoentao para a meta da Historia - sua consumac;:ao final futura emgI6ria."3

Quando interpretadas corretamente, estas relac;:6es multiplas entreos Testamentos podem elucidar a unidade deles sem impor umauniformidade aos diversos testemunhos biblicos. Ha unidade nadiversidade_

113 Veja a enfase de Vriezen, An Outline of OT Theology, p. 123; Rowley, The Unityof the Bible, p. 109 e s.; Zimmerli, EOTH, p. 114; Verhoef, New Perspectives onthe OT, p. 293.

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Sugestoes Essenciais Para SeElaborar uma Teologia do AT

o nos so esforc;:o de focalizar problemas cruciais ainda sem soluc;:aoque sao os causadores da crise atual da teologia do AT revelou aexistencia de deficiencias basicas nas metodologias e abordagensatualmente adotadas. Inevitavelmente, pergunta-se: "0 que fazeragora?" Nossa analise dos caminhos tomados por te610gos da Bibliaindica que uma perspectiva essencialmente nova precisa ser des envol-vida. Afigura-se que as seguintes propostas essenciais para se estudara teologia do AT indicam a direc;:ao a ser seguida:

(1) A teologia biblica precisa ser entendida como uma disciplinahistorico-teologica, 0 que equivale a dizer que 0 teologo da Bibliaengajado no estudo da teologia do Antigo ou do Novo Testamentodeve reclamar por direito a func;:ao de descobrir 0 que 0 texto quisdizer, alem de esc1arecer 0 seu significado atual. 0 te610go da Bibliaprocura "voltar la", I i.e., ele deseja eliminar a brecha temporal,vencendo 0 lapse de tempo entre sua epoca e a das testemunhasbiblicas por intermedio do estudo historico dos documentos biblicos.A natureza desses documentos, contudo, exige a transposic;:ao do niveJde investigac;:ao hist6rica da Biblia para 0 de investigac;:ao teol6gica,uma vez que eles pr6prios sao testemunhos do proposito eterno deDeus junto a Israel e ao mundo, manifesto por atos divinos, palavrasde julgamento e pel a historia da salvac;:ao. As testemunhas biblicasnao sao apenas testemunhas hist6ricas por pertencerem a determina-das epocas e regi6es; elas sao ao mesmo tempo testemunhas teol6-gicas no sentido de que testificam como palavra de Deus 0 imp acto darealidade e atividade divinas com a historicidade do homem. A tarefado te610go da Biblia e, portanto, interpretar as Escrituras expressiva-mente - usando prudentemente as ferramentas da pesquisa hist6rica

1 Esta expressilo e de G. E. Wright, "The Theological Study of the Bible", The In-terpreter's One- Volume Commentary on the Bible (Nashville, 1971), p. 983.

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e filologica - procurando compreender e descrever, ao "voltar la", 0que 0 testemunho biblico quis dizer, alem de esclarecer 0 seu signifi-cado para 0 homem moderno em seu proprio quadro historico.o teologo da Biblia nao substitui nem compete com 0 te610go

sistematico ou com 0 dogmatista. Este tem e sempre tera que cumprirsua tare fa de empenhar-se em adotar filosofias atuais como base parasuas classifica~6es e temas principais. E bem apropriado que 0teologo sistematico se utilize de categorias filosoficas, porque suasbases diferem das do te610go da Biblia_ Este extrai suas classifica-c;:6es,temas, topicos e conceitos do pr6prio texto biblico. Ele corre 0perigo de introduzir sorrateiramente a filosofia contemporanea emsua disciplina.2 E preciso que se resguarde cuidadosamente dessatentac;:ao.E necessario, portanto, enfatizar-se que 0 teologo da Bibliae 0 teologo sistematico nao competem entre si; suas func;:6es secomplementam_ Ambos precisam trabalhar lade a lado, benefician-do-se mutuamente de seus trabalhos. 0 teologo da Biblia deve exporas categorias, temas, t6picos e conceitos biblicos, que, em contrastecom as "ideias claras e precisas" do te610go sistematico, normal-mente nao sao tao c1aros e precisos. Com muita freqiiencia ascategorias bib lieas apresentam-se mais sugestivas e dinamicas quan-do expressam a rica revelac;:aodo grande misterio de Deus. Conse-qiientemente, a teologia biblica tem algo a dizer para 0 homemmoderno que a teologia sistematica nao tem, e vice-versa.

(2) Entendendo-se que a teologia biblica e uma disciplina historico-teol6gica, depreende-se que seu metodo deve ter carater historico eteol6gico desde 0 inicio. Uma teologia do AT pressup6e uma exegesefundamentada em principios e procedimentos corretos. Esta, por suavez, necessita da primeira. Sem a teologia do AT, a interpretac;:aoexegetica pode facilmente ficar comprometida, ao isolar textos dotodo. Por exemplo, quando se esta familiarizado - tomando por basea teologia do AT - com 0 tema do remanescente na epoca anterior econtemporanea aos profetas escritores, nao se deixara de notar que 0emprego que Amos faz - entre os profetas da epoca pre-exilio - dotema do remanescente, envolve, de certa forma, parcialidade.E quando se conhece a teologia de Amos do remanescente, provavel-mente nao se confundira tal teologia como um todo com uma meraexpressao do aspecto positivo de um remanescente santo, salvo dojulgamento escatologico ou com uma expressao de um remanescente

2 A. Dulles (The Bible in Modern Scholarship, p. 215) afirmou corretamente que"(oda suposta teologia biblica hoje em dia esta tao contaminada com 0 pensamentocontemporaneo individualista, existencial ou hist6rico que sua base biblica torn a-se suspei(a". A esse respeito, Karl Barth e Rudolf Bultmann foram muitas vezesacusados de encontrar grande numero de suas pr6prias ideias filos6ficas favoritasnas Escrituras.

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insignificante e sem importancia do povo eleito de Deus_ 2a Por outr~lado, uma exegese atenta, esclarecida e bem fundada tera sempre acapacidade de analisar com olho critico a teologia do AT_

Vem bem a proposito agora 0 lembrete de H.-J. Kraus de que"uma das quest6es mais dificeis que confrontam a teologia biblicahoje e a do ponto de partida, do significado e da func;:ao da pesquisahistorico-critica" .3 Von Rad, mais perspicaz do que seus predecesso-res que elaboraram teologias do AT neste seculo, compreendeu queo te610go da Biblia nao pode se guiar por um "minimo irrefutavel" seele procura compreender "os profundos niveis da experiencia histori-ca que a pesquisa historico-critica e incapaz de sondar". 4 0 motivo daincapacidade desse metodo de son dar todos os niveis da experienciahist6rica, i.e., a unidade intima de ocorrencia e significado baseadana irrup.;ao da transcendencia na Hist6ria como a realidade final queo texto biblico testifica, esta em sua limitac;:ao para estudar a Hist6ria,devido as suas pressuposiC;:6es.

o metodo hist6rico-critico, originado no lluminismo,5 ve a Historiacomo um sistema fechado, como uma serie continua de causas eefeitos onde nao ha lugar para transcendencia.6 "0 historiador naopode pressupor uma intcrvenc;:ao sobrenatural na relac;:ao de causapara fund amen tar seu trabalho. "7

2a Veia a monografia do autor: The Remmant. The History and Theology of theRl'mnallt Idea from Genesis to Isaiah (2." ed.; Andrews University Monographs.V; Berrien Springs. Mich., 1975). p.173-37!.

3 Kraus. Die Biblisc/n TheoloRie. p. 363: d. a p. 377. A este respeito Childs (BiblicalTheology ill Crisis. p. 141 e s.) escreveu: "0 metodo hist6rico-critico e impropriopara se estudar a Biblia como as Escrituras da 19reja, porque nao parte do contextoexigido ... Quando encaradas no contexto do canon, as questoes do que 0 texto de-notava e 0 que denota ficam inseparavelmente ligadas e sao objeto da interpreta,aoda Biblia como Escritura. Na medida em que 0 emprego do metodo critico ergueuma cortina de ferro entre 0 passado e 0 presente, ele e impr6prio para se estudara Biblia como Escritura da 19reja." Com rela~1i.o a impropriedade do metodohist6rico-critico, tendo em vista a busca do Jesus hist6rico, veja G. E. Ladd,"The Search for Perspective" ,Interpretation, 26 (1971), p. 41-62.

4 TAT, I, p. 120; d. OTT, I, p. 108.5 Isto precisa ser perfeitamente entendido, para que nao se confunda as questoes.

Ebeling, Word and Faith, p. 42: "0 metodo critico e hist6rico originou-se na revo-lus_ao intelectual dos tempos modernos." Sobre todo esse aspecto, veja U. Wi1ckens,"Uher die Bedeutung historischer Kritik in der modern en Bibelexegese", Was heisstAuslegung der Heiligen Schrift? (Regensburg, 1966), p. 85-133. E. Reisner apre-senta sua crltica da suficiencia do metodo hist6rico-critico para a pes qui sa teol6gicaem "Hermeneutik und historische Vernunff', ZThK, 49 (1952), p. 223-238, eE. Kasemann sua defesa em "Vom theologischen Recht historisch-kritischer Exege-se", ZThK. 64 (196'1), p. 259-281; Der Ruf der Freiheit (3." ed.; Munchen, 1968).

6 OTT, Ii, p. 418: "Para Israel. a hist6ria consiste apenas na auto-revela~1i.o de Javepor palavras e atos. Seria inevitavel que este ponto, mais cedo ou mais tarde,entrasse em conflito com a perspectiva modern a da Hist6ria, pois esta consideraperfeitamente possivel montar-se urn quadro de hist6ria sem incluir Deus. Pelo seuprisma, e muito dificil admitir a existencia de atividade divina na Hist6ria. Deusnao tern lugar inerente nesse esquema."

7 R. W. Funk, "The Hermeneutical Problem and Historical Criticism", The NewHermeneutic, ed. J. M. Robir,son e J. B. Cobb. Jr. (New York, 1964). p. 185.

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Da mesma forma, deve ser possivel explicar eventos hist6ricos pormeio de causas historic as antecedentes, alem de serem entendidosatraves de analogia com outras experiencias hist6ricas. 0 metodo,que se gaba de seu carater e objetividade cientificos, torna-se vitim adas proprias pressuposic;:6es dogmaticas e premissas filos6ficas acercada natureza da Hist6ria. C. E. Braaten ve 0 problema da seguinteforma: "0 historiador normalmente comec;:a afirmando a objetividadeexclusiva de sua pesquisa, sem pressuposic;:6es, e termina introduzin-do sub-repticiamente um conjunto de pressuposic;:6es cujas raizesestao fortemente implantadas num Weltanschauung anticristao. "8

Uma teologia biblica cuja apreciac;:ao da hist6ria se baseia numa seriecontinua de causas e efeitos nao pode fazer justic;:a a perspectivabiblica de historia e revelac;:ao nem a reivindicac;:ao de veracidade dasEscrituras.9 Von Rad veio a reconhecer que "um metodo historico-critico aplicado uniformemente pode realmente [nao] fazer justic;:a areivindicac;:ao de veracidade da escritura do AT".1O 0 que se precisasalientar enfaticamente e que existe uma dimensao transcendenteou divina, na hist6ria biblica, que 0 metodo hist6rico-critico e incapazde manipular. "Se todos os eventos hist6ricos precisam, por defini-c;:ao,ser esclarecidos por meio de causas historicas suficientes, entaonao ha lugar para os atos de Deus na Hist6ria, pois Deus nao e umpersonagem historico. "11 Quando se encara a Hist6ria de tal formaque nao se reconhece nela uma intervenc;:ao divina, atraves de atos epalavras, entao nao se pode manusear adequada e corretamente 0testemunho da Escritura. Somos, portanto, levados a concluir que acrise referente a Historia, na teologia biblica, nao e tanto umaconseqiiencia do estudo cientifico das provas, mas, sim, da deficien-cia do metodo historico-critico de lidar com 0 papel da transcenden-cia na Hist6ria, devido as suas pressuposic;:6es filos6ficas acerca danatureza desta.12 Se a realidade do texto biblico testifica umadimensao supra-hist6rica, que transcende as limitac;:6es impostas pelometodo historico-critico, entao e necessario que se empregue ummetodo que verifique essa dimensao e seja capaz de sondar todas ascamadas da experiencia hist6rica e de lidar adequada e corretamentecom a reivindicac;:ao da veracidade da Escritura. 13

8 C. E. Braaten, "Revelation, History, and Faith in Martin Kiihler", em M. Kiihler,The So-called Historical Jesus and the Historic Biblical Christ (FiladeIfia, 1964),p.22.

9 Wallace, ThZ, 19 (1963), p. 90; d. 1. Barr, "Revelation through History in the OTand in Modem Theology", Interpretation, 17 (1963), p. 201 e s.

10 OTT, II, p. 417.11 Ladd, Interpretation, 26(1971), p. 50.12 Von Rad, TAT, II, p. 9: "0 metodo hist6rico nos expoe somente urn asp~cto do

fenomeno multiestratificado da Hist6ria. justamente aquele que nao diz nadasobre a rela~1i.oentre a Hist6ria e Deus."

13 Von Rad, TAT, !, p. 120; OTT, I, p. 108. Osswald, Wissenschaftliche Zeitschnftder Universitat Jena, 14 (1965), p. 711: "Com a ajuda da ciencia critica certamente

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•Afirmamos que o· metodo mais adequado para a teologia biblica

deve ser tanto hist6rico quanto teol6gico desde 0 principio, Presume-se, por demais vezes, que a exegese tem a func;:ao historico-critica deesc1arecer 0 significado de textos individuais e que a teologia biblicatem a func;:ao de reunir esses aspectos isolados num todo teologico,a saber, num processo seqiiencial. H. -J, Kraus rec1ama, com justic;:a,um "processo biblico-teol6gico de interpretac;:ao" em que a exegesesiga a linha biblico-teologica des de 0 principio, 14 Se acrescentarmos aesse aspecto que um metodo adequado e propicio de pesquisa dotexto biblico precisa levar em considerac;:ao a realidade de Deus e suairrupc;:ao na Historial5 - pelo fato de 0 texto biblico testificar adimensao transcendente da realidade historical6 - entao formamosuma base para que as interpretac;:6es hist6rica e teol6gica possaman dar lade a lado desde 0 principio, sem precisarem ser separadasartificialmente por processos seqiienciais.17 Desta forma, e possivel"voltar" ao mundo do escritor biblico, vencendo-se a distanciatemporal e cultural, e procurar entender em termos hist6ricos eteol6gicos 0 que 0 texto quis dizer. Entao torna-se possivel exprimircom mais precisao e maior amplitude 0 significado do texto, para 0homem moderno, em sua conjuntura historica.

Este procedimento metodol6gico nao procura fugir a historia, parabeneficiar a teologia. 0 te610go da Biblia que trabalha com ummetodo tanto hist6rico quanto teol6gico, reconhece plenamente a

nao se pode fazer qualquer afirma,ao acerca de Deus, pois a ciencia objetiva daHist6ria nao conduz a uma verdadeira expressao teol6gica. 0 processo racional deconhecimento da Hist6ria permanece limitado Ii dimensao espacial e temporal. .. "

14 Die Bib/ische Theologie, p. 377.15 Floyd V. Filson tambem defende este ponto em "How I Interpret the Bible", Inter-

pretation, 4 (1950)' p. 186: "Trabalho com a convic,ao de que 0 {mico metodo deestudo realmente objetivo leva em conta a realidade de Deus e sua atua~ao, alemdo fato de que qualquer outro ponto de vista esta carregado de pressuposic;oes, que,de fato, incluem uma nega,ao implicita de toda a fe crista, mesmo que sutilmente."

16 Uma das pressuposi~oes do metodo hist6rico-critico e a aplicac;ao con stante doprincipio da analogia. E. Troltsch escreveu: "A critica do metodo hist6rico-criticos6 e possivel com a aplica~ao da analogia ... A onipotencia da analogia, contudo,implica a identidade, em principio, de todos eventos hist6ricos" (citac;ao de vonRad, OTT, I, p. 107). Von Rad afirma em TAT, II, p. 9, que 0 curso da Hist6riadelineado pelo metodo hist6rico-critico tambem "e hist6ria interpretada em termosde pressuposi~oes hist6rico-filos6ficas, 0 que nao permite qualquer identifica~aoda atua~ao de Deus na Hist6ria, porque 0 homem apenas e considerado 0 criadorda Hist6ria". Mildenberger, GOlles Tat im Wort, p. 31, n. 37, concorda com vonRad e acrescenta que a critica hist6rica "pressupoe uma rela~1i.o fechada de reali-dade que nao admite causas 'sobrenaturais'''.

17 Von Rad, TAT, II, p. 12, fez a seguinte observa,ao acerca desse ponto: "A inter-preta~1i.o teol6gica de textos do AT, na verdade, nao se inicia quando 0 exegeta -perito em critica literaria e hist6ria (ou numa ou na outra!) - cumpre sua tarefa,como se dispusesse de dois processos exegeticos: primeiramente urn hist6rico-critico e depois urn 'teoI6gico'. Uma interpreta~ao teol6gica que procura extrair dotexto uma dec1ara~ao acerca de Deus atua desde 0 principio no processo de com-preensao. "

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relatividade da objetividade humana.IH Por isso, ele tem conscienciade que nao pode permitir nunc a que sua fe 0 leve a modernizar seusobjetos de pesquisa em termos da tradic;:ao e da conformidade da feem que se apoia. Ele deve inquirir 0 texto biblico nos termos deste;ele permite que sua tradic;:ao e 0 conteudo de sua fe sejam desafiados,orientados, avivados e enriquecidos pelas suas descobertas. Reconhe-ce, ainda, que uma perspectiva exc1usivamente filol6gica, lingiiisticae historica nunca e suficiente para desvendar 0 significadc completo.integral, de um texto hist6rico. Pode-se empregar todos os instrumen-tos exegeticos que a pesquisa historica, lingiiistica e filol6gica permitesem nunca se chegar ao amago da questao, a nao ser que se reconl'lec;:aa experiencia essencial dos escritores da Biblia, a saber, fe_ Sem isso,nunca se chegara a um reconhecimento da realidade integral expressano testemunho biblico. Nao queremos fazer da f€: um metodo nempretendemos desconsiderar que os livros biblicos - documentos dopass ado que sao - precisam ser traduzidos 0 mais objetivamentepossivel, atraves do emprego ponderado dos respectivos metodosadequados de interpretac;:ao. 0 que queremos dizer e que a interpreta-c;:aoda Escritura deve tornar-se parte de nossa experiencia, como 0deveria toda in terpretac;:ao. 19 A in terpretac;:ao historico- teol6gica deveestar a servic;:o da fe, se pretende sondar todas as camadas daexperiencia historica e penetrar no significado integral do texto e narealidade nele expressa. Precisamos, portanto, afirmar que quando ainterpretac;:ao procura lidar com dec1arac;:6es e testemunhos ace rca daauto-revelac;:ao de Deus como 0 Senhor dos tempos e eventos, queescolheu revelar-se em ocorrencias concretas, dataveis, por meio deatos e palavras de julgamento e salvac;:ao, entao 0 processo decompreensao de tais dec1arac;:oes e testemunhos precisa ter, desde 0

principio, carater historico e teologico, a fim de captar toda arealidade que veio a tona.

(3) 0 tema do teologo da Biblia engajado num trabalho de teologiado AT e indicado de antemao, visto que ele esta empenhado numateologia do Antigo Testamento. Ele baseia-se exc1usivamente emelementos extraidos do AT. Ele 0 encara pelo prisma da igreja cristacomo parte das Escrituras inspiradas. A introduc;:ao ao AT procurailuminar os estagios pre-literario e literario dC's livros do AT, verifi-cando sua historia de transmissao e formac;:ao, bem como a estruturados textos e a canonizac;:ao do AT. Estuda-se a hist6ria de Israel no

18 Veja tambem Stendahl, !DB, 1. p. 422.19 Restringir-se il filologia, lingilistica e hist6ria. quando no estudo da Epopeia de

Gilgames ou dos anais assirios, sem ao menos cOl1siderar os autores desses do-cumentos. sem nem mesmo temar partilhar da experiencia deles, expressa em laisdocumentos, eo mesmo que deixar passar de vez 0 conceito de realidade que esteshomens alcan,aram e que estrulurou suas vida, e ideias.

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contexto da historia da antiguidade, enfatizando-se especialmente 0

Oriente Proximo primitivo, pois e ai que a arqueologia se revelainestimavel, ao montar 0 quadro hist6rico, cultural e social da Biblia.Cabe a exegese desvendar 0 significado integral de cad a texto.

A teologia do Antigo Testamento questiona a teologia dos divers oslivros ou conjuntos de escritos do AT /0 pois este compoe-se deescritos cuja origem, conteudo, estrutura, proposito e significado saomuito distintos_ A natureza dessas quest6es torna imprescindivel 0

exame do material a mao a luz do contexto que, para nos, eessencial, a saber. a forma como ele se apresentou a nos pel a primeiravez, de uma estrutura verbal que e parte integrante de um conjuntoliterario.lI Assim encarada, uma teologia do AT nao se transformaranem numa "historia da religiao", 22 numa "hist6ria da transmissao datradic;:ao" ou "historia da. revelac;:ao"23 nem numa "teologia de criticada rcdac;:ao" ou coisa do genero. Uma teologia do AT e, em primeirolugar, uma interpretac;:ao e explanac;:ao sumarias dos escritos ouconjuutos de escritos do AT. Isto nao quer dizer que nao ha sentido

20 Esta enfase foi aplicada a teologia do NT especialmcnte por Heinrich Schlier("The Meaning and Function of a Theology of the NT", Dogmatic vs. BiblicalTheology, ed. H. '/orgrimler[Baltimore, 1964], p. 88-90); foi aplicada 11teologiado AT por Kraus (Die Bib/ische Theologie, p. 364). D. J. McCarthy ("The Theo-logy of Leadership in Joshua 1-9". Biblica. 52[1971J.p. 166) e Childs. com enfasepr6pria (Biblical Theology in Crisis. p. 99-107).

21 Os criticos literarios contemporaneos (nao-biblicos) acentuam especialmente a"critica nova". que os alemaes chamam de Werkinterpretation. Cf. W. Kayser.Das sprachliche Kunstwerk (10. a ed.; Bern-Miinchen. 1964); Emil Staiger, DieKunst der Interpretation (4." ed.: Ziirich, 1963): Horst Enders, ed., Die Werkin-terprctation (Darmstadt, 1967). 0 interesse fundamental dos profissionais da"critica nova" e 0 estudo de urn documento literario completo. A "critica nova"insiste na integridade essencial do documento literario como obra de arte, comoKunsnverk. Tal obra deve ser apreciada integralmente; tentar descobrir a hist6riade sua origem e irrelevante. 0 importante e 0 produto literario final na qua/idadede obra de arte. Urn numero crescente de estudiosos do AT vern adotando a enfaseda "critica nova". Figuram entre eles: Z. Adar, The Biblical Narrative (Jerusalem,1959); S. Talmon. '''Wisdom' in the Book of Esther". VT, 13 (1963), p. 419-455;M. Weiss. "Wege der neueren Dichtungswissenschaft in ihrer Anwendung auf diePsalmenforschung". Bib/ica, 42 (1961), p. 225-302; "Einiges iiber die Bauformendes Erzahlens in der Biber'. VT, 13 (1963). p. 455-475; "Weiteres iiber die Baufor-men des Erzahlens in der Biber'. Biblica. 46(1965). p. 181-206.

22 Deve-se evitar c1assificar urn livro como Israelite Religion de H. Rir,ggren (Fila-deJfia. 1966) de teologia do AT. 0 pr6prio Ringgren afirmou que "0 leitor naoencontrara neste livro uma teologia do Antigo Testamento, mas, sim, uma hist6riada religiao israelita ... Os te6logos sentirao falta tam bern de aprecia~Oes baseadasna Heilsgeschichte: essas aprecia,oes tern seu lugar apenas numa explana,aoteol6gica" (p. v).

23 Kraus. Die Bib/ische Theologie, p. 365: "A 'teologia biblica' deveria ser teologiabiblica pelo fa to de aceitar 0 dinon das rela~oes textuais fornecidas como a verda dehistorica. que carece de explica~ao, cuja forma final precisa ser apresentada pormeio de interpreta~ao e sumanza~ao. Esta deveria ser a verdadeira fun~ao da teo-10gJa biblica. Todo esfor~o alternativo nao consiste numa teologia biblica. mas.sim. em 'hist6ria da revela~1i.o'. 'hist6ria da religiao' ou mesmo 'hist6ria das tra-di~oes'" (0 grifo e dele).

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em se cap tar a teologia de tradic;:6es isoladas; entende-se simplesmen-te que isto faz parte de outra tarefa_ 0 processo de explanac;:ao dateologia dos livros do AT ou de seus conjuntos de escritos em suaforma finaJ23a de estruturas verbais de conjuntos literarios tem avantagem exc1usiva de identificar semelhanc;:as e diferenc;:as entre osdiversos livros ou conjuntos de escritos. Isto significa, por exemplo,que as teologias dos escritos profeticos poderao permanecer indepen-dentemente lade a lado. A voz de cada testemunho da atividade deDeus e da auto-revelac;:ao divina pode ser ouvida. Outra vantagemdessa perspectiva - crucial para toda a teologia biblica - e quenenhum esquema sistematico, linha de pens amen to ou abstrac;:aodesmedida e imposta ao material biblico. Como nenhum tema ouesquema e suficientemente abrangente, para englobar os diversospontos de vista do AT, deve-se reprimir 0 desejo de fazer dedeterminado conceito, formula, ideia fundamental, etc., um cen-tro do AT, atraves do qual se produza uma sistematizac;:ao dostestemunhos multiplos e variados do AT. Por outr~ lado, precis amosfrisar que Deus e 0 centro do AT - ele e 0 seu tema central. Ao afir-marmos que Deus e 0 centro do AT, reconhecemos que a Escriturado AT possui um conteudo central, sem cairmos na armadilha desistematizar 0 aspecto da revelac;:ao divina atraves de eventos. Evita-se, assim, que se sistematize 0 que nao pode ser sistematizado e sedeixe de cap tar sua natureza intrinseca.

(4) A apresentac;:ao das teologias dos livros ou conjuntos de escritosdo AT deve preferir nao seguir a ordem dos livros na seqiienciacanonica, pois esta ordem, seja no canon hebraico, seja na LXX, etc.,decorreu, aparentemente, de motivos outros que 0 teol6gico. Emboraseja reconhecidamente dificil de determinar a data de origem doslivros, conjuntos de escritos ou blocos de materiais nesses escritospodem servir de guia para se estabelecer a ordem de exposic;:ao dasdiversas teologias.

(5) Uma teologia do AT procura nao apenas conhecer a teologiados varios livros ou conjuntos de escritos, como procura tambemreunir e apresentar seus principais temas_ Para fazer jus ao nome,a teologia do AT precisa permitir que seus pr6prios temas, topicos econceitos sejam determinados pelo proprio AT. 0 ambito dos temas,topicos e conceitos do AT sempre se impora ao teologo, a ponto desufocar os seus pr6prios, uma vez que as perspectivas do AT sejam

23a A enfase na "forma final" mesmo para a tarefa de exegese e defendida porM. Noth, Exodus: A Commentary (Filadelfia, 1962), p. 18; Landes, UnionSeminary Quarterly Review, 26 (1971), p. 273 e ss. Barr, The Bible in the ModernWorld, p. 163 e ss., salienta corretamente que a "forma final do texto tern impor-tancia primaria, 0 que, provavelmente, devera ser mais amplamente aceito devidoa influencia tanto da 'critica da reda,ao' quanto do estruturalismo".

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perfeitamente compreendidas. Em principio, tal teologia deve penderpara temas, t6picos e conceitos, e toda variedade e limitac;:ao que 0 ATlhes imp6e deve ser apresentada.

Por exemplo, os temas de eleic;:ao refletidos na chamada de Deusa Abraao e em suas promessas a ele e aos patriarcas de Israel, alibertac;:ao divina do cativeiro de Israel na experiencia do exodo e seuestabelecimento na Terra Prometida, a escolha de Davi e as promes-sas que Deus the fez, Siao/Jerusalem como 0 monte santo e lugar dehabitac;:ao divina carecem de uma apresentac;:ao de suas divers asmanifestac;:6es e empregos em cada livro ou conjuntos de escritos,numa teologia do AT. Isto tambem se aplicaria a um conceito taocentral como a alianc;:a mosaica. Tamanha expressao de grac;:a doConcessor da alianc;:a atraiu a correspondencia dos recipientese criou esse relacionamento especial, singular, entre eles e seuDeus. 0 conceito de alianc;:a fornece elementos importantes paraadorac;:ao e ritos, bem como para a proc1amac;:ao dos profetas e para ateologia dos livros historicos. Nestes conceitos, topicos e temas do AT,bem como em outros, ha uma expectativa fundamental, a saber, abenc;:ao fenomenal sobre todas as nac;:6es, 0 novo Exodo, 0 segundoDavi, a nova Jerusalem, a nova alianc;:a - 0 que revela que enecessario entender-se que a fe israelita esta orientada rigorosamentepara 0 futuro. Temas especiais da teologia sapiencial salientam avida e a responsabilidade do homem aqui e agora. Foge ao nossoproposito enumerar os diversos conceitos, temas e t6picos principais.

A apresentac;:ao dessas perspectivas longitudinais dos testemunhosdo AT s6 po de ser feita com base num tratamento diversificado.A riqueza de seus testemunhos pode ser verificada por tal abordagemdiversificada, pois coincide com a natureza do AT. Esta apreciac;:ao etratamento diversificados de temas longitudinais liberta 0 te610go daBiblia do conceito de uma perspectiva unilinear artificial e forc;:ada,determinada por um unico conceito estrutural, seja ele alianc;:a,comunhao, reino de Deus ou qualquer outra coisa, a que todos ostestemunhos do AT, pensamentos e conceitos sao levados a fazerreferencia ou a se enquadrar.

(6) 0 AT responde a inquiric;:ao de sua teologia apresentandoprimeiramente diversas teologias, ou seja, aquelas de cada livro econjunto de escritos, e, em seguida, as teologias dos diversos temaslongitudinais. 0 nome de nossa disciplina - teologia do AT - naoreflete uma preocupac;:ao exc1usiva de apresentar e esc1arecer teologiasdistintas e varias_ 0 conceito prenunciado pelo nome da disciplinatem uma teologia em foco: a teologia do AT.

A meta final dessa teologia e demonstrar se ha ou nao uma unidadeintima que une as divers as teologias e temas, conceitos e t6picoslongitudinais. Esta e uma tarefa extremamente dificil, que acarreta

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muitos riscos. Se por tras da experiencia daqueles que nos deixaramas Escrituras do AT existe uma realidade divina singular, afigura-seentao que ha uma unidade intima, oculta na multiplicidade e varie-dade da reflexao teol6gica, que tambem reuniu os escritos do AT.o objetivo primordial de uma teologia e. portanto, descortir.ar essaunidade intima 0 maximo possivel e torna-Ia transparente.

A tarefa de a1canc;:ar essa meta nao pode ser executada precipitada-mente. Deve fugir-5e da tentac;:ao de descobrir unidade num unicotema ou conceito estruturaL Nesse ponto deve-se suscitar desconfian-c;:a,nao apenas porque a teologia do AT seria reduzida a um unicotema ou conee ito ou a um produto de disseca.;ao, mas porque perder-se-ia de vista a verdadeira tarefa, que e justamente nao deixar passaras varias e variadas teologias. buscando e especificando, ao mesmotempo, a unidade intima que supostamente ur.e os testemunhosmultiplos e divergentes do AT dissimuladamente. Pode-se realmentefalar de tal unidade, que relaciona, enfim, proc1amac;:6es e testemu-nhos teologicos divergentes, a partir do ponto de vista teol6gico, combase numa pressuposic;:ao derivada da inspirac;:ao e canonicidade doAT como Escritura.

Um metodo para atacar a questao da unidade, que parece ser bemeficaz, consiste em se tomar os principais temas e conceitos longitudi-nais e esc1arecer se e como as divers as teologias relacionam-se intrin-secamente entre si. Desta forma, pode-se iluminar 0 vinculo funda-mental da unica teologia do AT. Na tentativa de buscar e esc1arecer aunidade intima, e necessario que se evite fazer da teologia de umlivro ou grupo de livros a norma que determina 0 que e teologia doAT. Por exemplo, nao se pode fazer de determinada teologia daHistoria uma norma para a teologia do AT. 24 Deve-se permitir que asteologias normalmente negligenciadas - 'especialmente aquelas d03textos sapienciais do AT - estejam lado a lado com outras teologias_Elas dao sua contribuic;:ao especial a teologia' do AT, da mesma formaque as mais reconhecidas 0 fazem, porque tambem expressamrealidades do AT. A questao da unidade acarreta tensao, atrito, masisto nan implica. necessariamente, contradic;:ao. Parece que ondenao e possivel haver unidade conceitual, a tensao criativa dai decor-rente seria extremamente benefic a para a teologia do AT.

(7) 0 teologo da Biblia encara a teologia do AT como mais do que a"teologia da Biblia hebraica". 0 titulo "teologia do Antigo Testa-mento" pressup6e 0 contexto mais amplo da Biblia, do qual 0 NovoTestamento e a outra parte. Uma teologia do AT integral precisa

24 Este C 0 caso na abordagem de von Rad in.::lusive. Ele escolheu uma determinadateologia da Hist6ria - a do deuteronomista - para ser a norma principal pararcger sua explana,ao da teologia do AT. Desta forma, as tradi~oes de sabedoriasao for\'adas a passar p.ua segundo plano.

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demonstrar sua relac;:ao basic a com 0 NT ou com a teologia do NT_Para 0 teologo cristao, 0 AT tem carater de Escritura pela sua relac;:aocom 0 outr~ Testamento.

Como mencionado anteriormente, a questao ramificada e a nature-za complexa da relac;:ao entre os Testamentos e sua implicac;:ao para ateologia do AT torn am necessaria a adoc;:ao de uma abordagemdiversificada.24a Esta permite a identificac;:ao das diversas conex6esentre os Testamentos e evita a explanac;:ao dos ricos testemunhos pormeio de uma unica estrutura ou ponto de vista parciaL Este tipo deabordagem tem a vantagem de permanecer fiel tanto a semelhanc;:aquanta a diferenc;:a, a velho e a novo, sem distorcer nem um poucosequer 0 seI'ltido literal e 0 proposito querigmatico do testemunhohistorico original e sem decepcionar no reconhecimento do contextomais amplo, pr6prio do AT_ Assim, os dois Testamentos final menteesc1arecerao um ao outr~ e propiciarao juntos uma compreensao maisampla de suas teologias.

* * *Com base nessas propostas que esboc;:am uma nova apreciac;:ao da

teologia do AT, e possivel elaborar-se tal teologia, evitando-se arma-dilhas e becos sem saida que provocaram sua crise atuaL E possiveltambem que se tenha dado um passo crucial no senti do de sedesenvolver uma teologia biblica, tanto do Antigo quanta do NovoTestamento, tao esperada e comentada.

24a Supra,p.117-127.

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BIBLIOGRAFIASELECIONADA

(Nota: A seguinte lista inc1ui uma sele~ao de trabalhos, tendo sido a maioriadeles escrita ap6s 1950. Demos preferencia, sempre que possivel, a obras querepresentam diversos pontos de vista e/ou que tenham contribuido de uma formaou de outra para 0 debate atual.)

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Page 107: Gerhad F. Hasel - Teologia Do Antigo Testamento

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T~0609~~gQ t~T~~QiT~"~V~~~To

"Trat:.-se de uma seria, independente e estimulante contribuic;:aopara 0 debate ... Sua insistencia sobre a rica variedade do AntigoTestauento e seu repudio de uma tentativa de comprimi-Io numsistem'.l.sao alta mente recomendaveis."

Millar BurrowsJoumal of Biblical Literature

Gerhard F. Hasel/

TEOL-OGIA DO ANTIGO TESTAMENTOQuestoes Fundamentais no Debate Atual

Neste breve volume as principais tendencias d6S estudiosos con-temporaneos do Antigo Testamento sao expostas e analisadas comrara precisao. 0 ;:rof. Hasel prop6e sete sugestivos criterios, quedeterminam 0 que ele chama de uma aproximac;:aomultiforme dateologia do Antigo Testamento, 0 metodo que, a seu criterio, faz amaior justic;:aa questao.

A li'lduc;:aodeste livro foi feita da edic;:aorevisada e ampliada peloautor e inc1ui diversas emendas significativas e um novo capitulosobre flO;; origer.s :Ja tcologia oiblica. desde a Reforma, estabelecendoo·cen'- '') para 0 debate atual.

/

GERHARD F. HASEL e 0 diretor do Departamento de Ant' ~o Tes-tamento no Theological Seminary of Andrews Universi~· !Berrien

Springs, Michigan, EUA. - tft~ll\ll~I~'\\\'\I\I\\,r~8519ex.l 1ed-Teolo!!iado antigo testamento

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Todos os direitos reservados. Copyright © 1987 da Junta de Educac;:aoReligiosa e Publicac;:6es. Edic;:ao em portugues autorizada, mediantecontrato, pela William B. Eerdmans Publishing Co., Grand Rapids,Michigan USA. Copyright © 1972 by William B. Eerdmans PublishingCo. E proibida a reproduc;:ao do texto, no todo ou parcialmente. sem aexpressa autorizac;:ao do editor.

Traduc;:ao do original ingles. Old Testament Theology: Basic Issues inCurrent Debate, Revised Edition, 1975.

221HAS-TEO

Hasel, Gerhard F

Teologia do Antigo Testamento: questbes fundamentaisno debate atuall trad_ de Cesar Bueno Vieira. Rio deJaneiro. Junta de Educa~ao Religiosa e Publica~bes,1987. - 121 p.; 20,5 cm - titulo original: Old Testa-ment theology: basic issues in the current debate.Inclui bibliografia.

1. Velho Testamento - Teologia_ I. Titulo.

Capa: Queila Mallet

Codigo para Pedidos: 22.107Junta de Educac;:ao Religiosa e Publicac;:6es daConvenc;:ao Batista BrasileiraCaixa Postal 320 - CEP: 20001Rua Silva Vale, 781 - Cavalcanti - CEP: 21370Rio de Janeiro, RJ, Brasil

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