20
GERALDO ALTHOFF O senador da paixão dos BRASILEIROS A atuação do relator da CPI que condenou o futebol brasileiro JULHO/2014

Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho de conclusão de curso do acadêmico de jornalismo Arão Josino. A grande reportagem conta a atuação do relator da CPI do Futebol do Senado Federal.

Citation preview

Page 1: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF O senador da paixão dos BRASILEIROSA atuação do relator da CPI que condenou o futebol brasileiro JULHO/2014

Page 2: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

A CPI do Futebol do Sena-do Federal representa um marco para o esporte

brasileiro. Diferente da maioria das comissões instaladas no Congresso Nacional, esta garantiu um relató-rio consistente, objetivo e que con-quistou grandes avanços no futebol. O Estatuto do Torcedor pode ser considerado a legislação esportiva mais importante do nosso país. A Comissão também incriminou 17 dos principais cartolas e municiou com indícios de irregularidades o Banco Central, resultando na aplica-ção de multas a clubes de futebol, e a Receita Federal que executou 40 procedimentos fiscais, alcançando um montante de R$ 129 milhões devolvidos aos cofres públicos. A aprovação por unanimidade do

relatório que condenou, por exem-plo, Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), comprova a qualidade de um trabalho investigativo que durou 14 meses e foi alvo constante de amea-ças de morte e tentativas de suborno. No entanto, a vitória por unani-

midade na aprovação do relatório e a repercussão da CPI não foram suficientes para impedir o poder de alguns dos indiciados, como Ri-cardo Teixeira e Eurico Miranda,

GERALDO ALTHOFF

EXPEDIENTE

CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE SÁ DE SANTA CATARINA

JULHO/2014

Curso de Comunicação Social Habilitação em JornalismoTrabalho de Conclusão de Curso Semestre 2014/1

Crédito da foto de capaAGÊNCIA SENADO/GA

Produção, reportagem e ediçãoARÃO JOSINO

Diagramação MAIARA GONÇALVES

Revisão ANA CAROLINA VILELA SCHMITT

OrientaçãoBILLY CULLETON e REGINA ZANDOMÊNICO

2 JUL/2014

Arão Josino da Silva

EDITORIAL

COMPOSIÇÃO DA CPI

Se não fosse o senador Geraldo Althoff, que eles não tinham como atacar, não teríamos aquele resultado André Eduardo Fernandes

Consultor Jurídico do Senado - Pág. 3

“ “

Trabalhamos em silêncio na busca das assinaturas para não despertar a CBF Senador Alvaro Dias - Pág. 4

“ “

[A fonte] chegou a falar em R$ 3 milhões,mas eu preferi dizerque não acreditava Senador Alvaro Dias - Pág. 6

“ “ [A atuação do senador Althoff] foi

perfeita... Ele foi de uma disciplina que poucos relatores eu vi terem André Fernandes - Pág. 8

“ “

Recebi ameaça de morte, a minha

família também. Estava cumprindo um papel que não podia mais voltar atrás

Senador Geraldo Althoff - Pág. 10

“ “

Nós não teríamos alcançado o resultado que alcançamos se não tivéssemos um

homem como Geraldo Althoff na relatoria Senador Alvaro Dias - Pág. 19

“ “que continuam com influência na gestão do futebol brasileiro. É possível afirmar que parte das CPIs instau-radas neste país viram pizza, não pelos relatórios apresen-tados, mas pelas consequências, responsabilidade do Judiciário.Se a vitória da CPI do Futebol de-

pendesse exclusivamente da execu-ção de medidas criminais contra os 17 indiciados, poderíamos dizer que a mesma teria tido um resultado pí-fio. O fato da CPI ter garantido avan-ços na legislação brasileira, além de ter dado sustentação em processos do Banco Central e da Receita Fede-ral, por exemplo, foi mais uma con-quista dos trabalhos investigativos.Com um jornalismo cada vez

mais sensacionalista, bons exem-plos são esquecidos pelas redações. “Geraldo Althoff: o senador da pai-xão dos brasileiros” destaca a atua-ção do relator da CPI que, além de investigar as mazelas do futebol, buscou aprimorar a legislação do esporte. Em um país que políticos estão em descredito com a popula-ção, a integridade inabalada do re-lator senador Geraldo Althoff pode ser considerada o alicerce do resul-tado exitoso da CPI do Futebol.

Page 3: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

Comissão investigou as mazelas do esporte brasileiro

INICIATIVADerrota do Brasil para a França na final da Copa do Mundo de 1998 põe a mostra os problemas do futebol

GERALDO ALTHOFF

3JUL/2014

O futebol brasileiro vivia um dos momentos mais difí-ceis da história. A nação

brasileira, apaixonada e sempre uni-da pelo futebol, estava tomada pelos sentimentos de tristeza e frustração. O final da Copa do Mundo de 1998, quando o Brasil foi derrotado por 3 x 0 pela França, não só acabou com o sonho da conquista do pentacampe-onato, como pôs à mostra as mazelas do futebol brasileiro. Ficava claro, naquele momento,

que os interesses econômicos do fu-tebol estavam acima do sentimento de paixão dos brasileiros. Ricardo Teixeira, na época presidente da Con-federação Brasileira de Futebol (CBF), era protagonista das reportagens que colocavam em evidência a desorgani-zação e a interferência política e eco-nômica que a modalidade sofria. Os números da Fundação Getúlio

Vargas apontavam que o país do fu-tebol movimentava cerca de R$ 16

bilhões por ano. A pesquisa ainda mostrava que no Brasil havia 501 clubes profissionais registrados na CBF e 13 mil times amadores em atividade. Calculava-se em 11 mil o número de jogadores federados, além de 2 mil que atuavam no exte-rior. Na época, a estrutura física do futebol brasileiro contava com 308 estádios com capacidade total de 5 milhões de lugares. Diante de tantas denúncias de

irregularidades, sabendo da impor-tância econômica e social do futebol brasileiro, o Senado Federal passa-va a investigar clubes, entidades e dirigentes da modalidade. Era esco-lhido para assinar o relatório da CPI o senador Geraldo Althoff (PFL/SC). A CPI do Futebol foi cercada por

tentativas de suborno e ameaças de morte. O senador Geraldo Althoff e família receberam segurança da Polícia Federal durante o processo. Grandes estrelas do futebol brasilei-

ro, como os jogadores Zico, Edmundo e o Sócrates, foram interrogadas pela CPI. A cada depoimento, cresciam os indícios de irregularidades. As man-chetes dos mais importantes veículos de comunicação do Brasil destaca-vam as investigações. Após 14 meses de trabalho, fina-

lizando um relatório de 1.600 pági-nas, o Senado apresentou, no dia 04 de dezembro de 2001, os resultados das investigações. “Se não fosse o senador Geraldo Althoff, que eles não tinham como atacar, não terí-amos aquele resultado. Eles vascu-lharam a vida do senador do início ao fim, da infância até ele chegar aqui”, revelou o consultor jurídico do Senado Federal, André Eduardo Fernandes. Foram indiciados 17 dos principais cartolas do futebol brasi-leiro, com acusações de apropriação indébita, sonegação fiscal, falsidade ideológica, gestão temerária, evasão de divisa, lavagem de dinheiro.

CPI do Futebol: um MARCO!

BANCO DE IMAGENS/GA

Page 4: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

Diante de denúncias sobre ilega-lidades cometidas por gestores de clubes, jogadores, empresários e téc-nicos do futebol brasileiro, o sena-dor paranaense Álvaro Dias (PSDB), de forma sigilosa, em setembro de 2000, articulou a instalação da Co-missão Provisória de Investigação (CPI) do Futebol no Senado Federal. “Trabalhamos em silêncio na busca das assinaturas para não despertar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Quando eu iniciei esse traba-lho poucos acreditavam porque a CBF, toda pode-rosa, tinha uma grande influência nos três poderes, especialmente no legislativo”, con-fidenciou o sena-dor paranaense.

GERALDO ALTHOFF

4 JUL/2014

Senado tratou instalação da CPI do Futebol em SIGILOFoco era não chamar atenção de dirigentes da CBF

Eram questões de interesse público, cabia ao parlamento brasileiro investigar as denúncias

André Eduardo Fernandes Consultor Jurídico do Senado

“ “

Os fatos revelavam a prática de sonegação de Imposto de Renda, eva-

são e elisão fis-cais, apropriação indébita de contri-buição previden-ciária e, especial-mente, a situação financeira dos clu-bes brasileiros de

futebol. “Eram questões de interesse público, cabia ao parlamento brasilei-ro investigar as denúncias”, comen-tou o consultor jurídico do Senado Federal, André Eduardo Fernandes. O requerimento de criação da

CPI foi apresentado em 14 de se-tembro de 2000 e a instalação da Comissão aconteceu em 19 de outu-bro do mesmo ano.

SESSÃO Geraldo Althoff (relator), Alvaro Dias (presidente) e Gilberto Maestrinho (vice-presidente)

AGÊNCIA SENADO/GA

Álvaro Dias apresenta requerimento de

criação da CPI

Instalada a CPIdo Futebol

CPI interrogao técnico de futebol, Wanderley Luxemburgo

Ex-jogador de futebol Sócrates presta depoimento durante reunião ordinária da CPI

CPI ouve depoimento do

treinador e ex-jogador Arthur Antunes Coimba,

o Zico

Aprovada quebra de sigilo bancário e fiscal e depoimento deRicardo Teixeira

14/09/2000

19/10/2000

30/11/2000

22/02/2001

13/12/2000

24/04/2001

LINHA DOTEMPO

Page 5: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

COMPOSIÇÃO DA CPI

PRESIDENTESenador Álvaro Dias(PSDB / PR)

RELATOR Senador Geraldo Althoff(PFL / SC)

Senador Maguito Vilela(PMDB / GO)

Senador Gerson Camata(PMDB / ES)

Senador Antero de Barros(PSDB / MT)

Senador Bernardo Cabral(PFL / AM)

Senador Geraldo Candido(PT / RJ)

VICE-PRESIDENTESenador Gilberto Mestrinho

(PMDB / AM)

Senador João Alberto Souza (PMDB / MA)

Senador Gilvan Borges (PMDB / AP)

Senador Lindberg Cury (PFL / DF)

Senador Sebastião Rocha(PT / AP)

Senador Jonas Pinhero (PFL / MT)

GERALDO ALTHOFF

5JUL/2014

Paralelo ao Senado, na Câmara dos Deputados os parlamentares também se articulavam para insta-lar uma CPI que investigaria o fu-tebol brasileiro. O requerimento de criação havia sido apresentado em 11 de março de 1999. Na época que foi apresentado o requerimento de criação da CPI do Senado os depu-tados propuseram a instalação de apenas uma comissão de investiga-ção, que seria uma CPMI (Comissão Provisória Mista de Investigação), porém o Senado manteve a propos-ta inicial. Fernandes revela que a maior preocupação dos senadores

era a influência que a CBF tinha no Congresso Federal através da Ban-cada da Bola, liderada por Eurico Miranda, então deputado federal e presidente do Vasco. “Se fosse uma comissão mista a possibilidade de contaminação era muito maior”, completa o consultor jurídico. A investigação da Câmara, ba-

tizada de CPI da Nike, foi instala-da em 17 de outubro de 2000. Na composição, a CPI contava com a participação de Eurico Miranda, que meses depois vinha a ser um dos indiciados pela CPI do Senado Federal.

INTEGRANTES 13 senadores participaram da CPI do Futebol que durou mais de um ano

AGÊNCIA SENADO/GA

Câmara dos Deputados propôs comissão mista de investigação

Presidente do Flamengo Edmundo Santos Silva presta depoimento

Então tesoureiro da CBF, Ariberto

Pereira dos Santos Filho é ouvido pela CPI

João Guilherme dos Santos

Almeida tenta subornar senador Geraldo Althoff

Entrega do relatório final da CPI ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro

Senador Geraldo Althoff apresenta relatório final

Entrega do relatório final da CPI ao presidente da Câmara Federal Aécio Neves

22/05/2001

01/12/2001

11/12/2001

30/08/2001

04/12/2001

04/12/2001

Page 6: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

Tentativas de SUBORNO para sabotar CPI

Dias denuncia pressão contra relatório

Depoimentos polêmicos, provas que não deixavam dúvidas. A CPI do Futebol era realidade no Senado. A cada sessão, novos suspeitos eram in-terrogados. A credibilidade do sena-dor Geraldo Althoff, relator da comis-são, dava ainda mais consistência as investigações. Em entrevista, André Eduardo Fernandes, que assessorou os trabalhos da CPI, destacou a atu-ação do relator da comissão, revelan-do que grande parte do sucesso da investigação se deve ao fato da vida pública de Althoff não ter indícios de irregularidades.Diante da ameaça de desmanche

dos esquemas fraudulentos do fu-tebol brasileiro, iniciou-se nos bas-tidores uma grande movimentação com o objetivo de evitar que o resul-

CONGRESSO Supostas malas de dinheiro teriam

circulado pelos corredores do Senado com o objetivo de comprar votos

contra a investigação

ANA VOLPE-AGÊNCIA SENADO/GA

GERALDO ALTHOFF

6 JUL/2014

tado da CPI tivesse efeito. De acordo com o senador Alva-

ro Dias houve uma grande pressão para derrotar o relatório do sena-dor Althoff. Ele revela, ainda, que uma fonte do futebol paulista havia confidenciado que supostas malas de di-nheiro estariam sen-do preparadas para comprar os votos da CPI. “Eu me anteci-pei e fui tribuna di-

zer que havia sido informado sobre a denúncia, mas que não acreditava. Aquilo foi essencial para que gerasse um grande constrangimento e evi-tasse que alguém tivesse a ousadia de votar contra o relatório do sena-

dor Althoff. [A fonte] chegou a falar em R$ 3 milhões, mas eu preferi dizer que não acreditava”, dis-se pela primeira vez o senador.

[A fonte] chegou a falar em R$ 3 milhões, mas eu preferi dizer que não acreditava

Alvaro DiasSenador e presidente da CPI

“ “

Page 7: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

Os dias que antecederamo RELATÓRIO finalAlthoff recebeu proposta de homem ligado à CBF

PÓ BRANCO EM TOM DE AMEAÇA

No fim de semana que antecedeu a leitura do relatório final da CPI do Futebol o senador Geraldo Althoff es-tava em Tubarão, município da região Sul de Santa Catarina, finalizando o documento que apresentava o indi-ciamento de 17 dos principais carto-las do futebol brasileiro. As denúncias eram graves e des-

montavam esquemas nos maiores clu-bes de futebol, além da CBF. Um nome até então desconhecido pela mídia nacional passaria a ganhar destaque a partir daquele dia. Tratava-se de João Guilherme dos Santos Almeida, que ha-via desembarcado na cidade do relator com o objetivo de sabotar o relatório final da CPI do Futebol.

O suposto enviado da CBF procu-rou o senador. Althoff preferiu não re-cebê-lo, despachando o assessor para a conversa. Mais tarde, relatou ter ou-vido uma proposta de suborno para que Althoff alterasse o relatório final para não prejudicar Ricardo Teixeira. Em troca, João Guilherme entregaria uma suposta mala com dinheiro. O se-nador, ao ser informado sobre a con-versa, chamou a Polícia Federal.

Minutos depois, João Guilherme foi para o hotel San Silvestre, em Tu-barão, e fez uma ligação que durou um minuto e 56 segundos, para um número do Rio de Janeiro. O titular da linha que recebeu o telefonema era Carlos Eugênio Lopes, diretor do de-partamento jurídico da CBF. Em 2003, João Guilherme dos

Santos Almeida foi acusado pelo Mi-nistério Público Federal por tenta-tiva de suborno ao senador Geraldo Althoff. Em 2005, a Justiça Federal condenou João Guilherme pelo cri-me de corrupção ativa, com pena de três anos de reclusão, substituída por prestação de serviços à comunidade e multa de 120 salários mínimos.

Era 25 de outubro de 2001. Pouco menos de dois meses antes da apre-sentação do relatório final da CPI do Futebol, os senadores Alvaro Dias e Geraldo Althoff receberam, por cor-respondência enviada de Nilópolis (RJ), um pó branco em tom de ame-aça contra as investigações que os parlamentares comandavam. A substância era muito seme-

lhante ao Anthrax, bactéria que nos EUA havia matado cinco pessoas em onda de ataques iniciada uma sema-na após o atentado às Torres Gême-as em 11 de setembro de 2001. Na época, as correspondências enviadas aos senadores Dias e Althoff foram interceptadas pela Polícia Federal e encaminhadas a um laboratório. A substância era inofensiva. SENADOR Álvaro DiasSENADOR Geraldo Althoff

PEDRO FRANÇA-AGÊNCIA SENADO/GA

JOSÉ CRUZ-AGÊNCIA SENADO/GA

GERALDO ALTHOFF

7JUL/2014

João Guilherme dos Santos Almeida foi acusado pelo Ministério Público Federal por tentativa de suborno ao senador Geraldo Althoff

Page 8: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

A CPI porum TRIZAlthoff chegou a cogitar renúnciada posição de relator da comissãoEra 13 de dezembro de 2000.

Em uma estratégia para garantir a presença de todos os membros da CPI, o então presidente da CBF Ri-cardo Teixeira era o interrogado daquela manhã. O objetivo de ga-rantir o plenário lotado na última reunião ordinária do ano era votar 56 requerimentos para quebras de sigilos bancário e fiscal de clubes, dirigentes, federações, empresas e da CBF. “Nós ganhamos por um voto.

Aquela votação foi determinante

para o futuro da CPI”, revela André Eduardo Fernandes, consultor ju-rídico do Senado. Entre os dirigen-tes que tiveram os sigilos quebrados estava Ricardo Teixeira e o então deputado federal Eurico Miranda, na época presidente do Vasco.Em votação acirrada, com resul-

tado de seis a cinco, a reunião foi considerada pelo próprio senador Geraldo Althoff a “mais tensa da CPI”. André Fernandes, que asses-sorou a comissão, confidenciou os bastidores daquela sessão: “eles

jogaram pesado. Foi determinante aquela vitória”. André ainda conta que o senador

Althoff havia revelado que se os re-querimentos não fossem aprovados, ele renunciaria a relatoria. “Eu mes-mo disse ao senador que se aquele requerimento não fosse aprovado, a CPI iria se tornar chacota. Iriamos enxugar gelo. Ele renunciaria a re-latoria como ato continuo daquela derrota. Se eles ganhassem aquela votação, eles ganhariam o jogo”, revelou.

PLENÁRIO Senado foi palco da maior investigação já realizada no esporte brasileiro

ANA VO

LPE-AG

ÊNCIA SE

NAD

O/G

AAN

A VO

LPE-AG

ÊNCIA SE

NAD

O/G

AAN

A VO

LPE-AG

ÊNCIA SE

NAD

O/G

A

GERALDO ALTHOFF

ENTREVISTA

GA - Como foi a atuação do se-nador Geraldo Althoff na CPI?

Fernandes - Foi perfeita. O se-nador Althoff teve a humildade de aceitar os conselhos dos as-sessores. Ele foi de uma disciplina

8 JUL/2014

fundamental, disciplina que pou-cos relatores, até hoje, eu vi terem. A outra grande capacidade dele foi à política, conseguindo construir maioria na comissão. Isso era muito difícil, afinal o futebol envolve mui-to dinheiro, além do interesse de poderosos que pressionavam os se-nadores, mas ele conseguiu ter essa habilidade. Tiveram muitas amea-ças e ofertas. Ele resistiu. Ele salvou aquela CPI.

GA - O que mais o surpreendeu?Fernandes - Não me surpreendo

com nada nessa casa. Já vi de tudo, absolutamente de tudo. Mas era um outro momento, foi uma conjunção astral única. A grande derrota para

nós, assessores da CPI, foi ele não ter voltado ao Senado naquela eleição. Geraldo Althoff deu credibilidade a essa CPI que mudou o futebol brasileiro.

GA - Como conseguiram a unanimidade da aprovação do relatório final da CPI?

Fernandes - O trabalho, coor-denado pelo senador Althoff, foi muito bem feito. Quando o senador Althoff conseguiu a segurança da maioria dos votos, os demais sena-dores que poderiam votar com a CBF ficaram constrangidos. Foi essa habilidade do senador Althoff de construir a maioria que garantiu a unanimidade.

André Eduardo Fernandes é consultor ju-rídico efetivo do Senado Federal. Na

CPI do Fute-bol, Fernandes

atuou como assessor da comissão. Em entrevista o advogado relata os bastidores da CPI e a atuação do senador Geraldo Althoff.

Page 9: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

9JUL/2014

Nascido em 16 de junho de 1947 em Tubarão, municí-

pio localizado no Sul de San-ta Catarina, Geraldo Althoff é formado em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), titu-lado pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria e ad-ministrador público pela Uni-sul (Universidade do Sul de Santa Catarina).

Althoff iniciou carreira política em 1988, quando eleito vereador de Tubarão. Foi suplente de deputado federal em 1990 e eleito em 1994 suplente do senador Vilson Kleinubing. Em no-vembro de 1998, com a mor-te de Kleinubing, assumiu a vaga no Senado, onde foi relator da CPI do Futebol e vice-presidente do Conselho de Ética. O mandato de sena-dor catarinense encerrou em janeiro de 2003.

Atual secretário de Assun-tos Estratégicos do Governo de Santa Catarina e professor da Unisul, Althoff também ocupou o cargo de secretá-rio de Estado de Articulação Nacional e foi o primeiro se-cretário de Estado da Defesa Civil de Santa Catarina.

MAIARA GONÇALVES/GA

O senador da PAIXÃO dos brasileiros

O senador da PAIXÃO dos brasileiros

Page 10: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

ENTREVISTASenador Geraldo Althoff revela os bastidores da CPI do Futebol

GERALDO ALTHOFF

10/11 JUL/2014

Composta por 13 senadores, a CPI do Futebol foi instalada a partir do re-querimento apresentado pelo senador Alvaro Dias. Os membros da comis-são foram indicados pelas bancadas. O PFL apresentou quatro senadores para a CPI, um deles deveria assumir a função de relator da comissão. O sena-dor Geraldo Althoff conta que colocou o nome à disposição do líder da ban-cada, senador Hugo Napoleão, para integrar a comissão: “eu já havia parti-cipado da CPI do Judiciário e me inte-ressava o papel investigativo”. Althoff relata como aconteceu a indicação para assumir a relatoria: “o senador Hugo Napoleão aventou a possibilida-de de eu ser o relator. Eu não cheguei a articular para ocupar essa função, mas como caberia ao meu partido in-dicar o relator, quase que por exclusão eu imaginei que assumiria”.Em entrevista, o parlamentar catari-

nense destacou os atributos que os se-nadores que ocupam as funções de re-lator e presidente de uma CPI devem ter: “quem se dispõe a ocupar cargos como estes sempre terão a vida extremamen-te investigada, além de um processo contra muito forte”. Althoff, que assumiu o Senado após a morte do então senador Vilson Kleinu-bing, revelou o descrédito que teve quando iniciou os trabalhos investiga-tivos: “hoje eu posso dizer uma coisa, ninguém acreditava em um resultado positivo da CPI pela inexpressão do relator, isso eu não tenho dúvidas. Eles

me deram um limão, eu tive que arran-jar água e açúcar para fazer a limona-da”, conta o senador Geraldo Althoff.

FAMÍLIAPai de três filhos, a grande expo-

sição do senador Geraldo Althoff du-rante as investigações mexeu com a rotina da família: “as implicações de ordem pessoal, familiar, não estavam em minha programação em momen-to algum. Nunca imaginei que pu-desse acontecer”. Althoff revelou que mesmo sabendo que a CPI tratava da “maior paixão dos brasileiros”, ele não

tinha ideia que a repercussão midiá-tica poderia ser tão grande, nem mesmo imaginava que a co-missão pudesse che-gar aonde chegou.

“Toda CPI é assim, a gente sabe quan-do termina, mas não como termina”. Geraldo Althoff conta que diante

das ameaças que recebeu durante o processo de investigação coube à Polí-cia Federal fazer a segurança dele: “eu acabei tendo que ser sempre acompa-nhado, as vezes sabendo, as vezes não sabendo. Dentro do próprio Senado a

polícia era muito cuidadosa”. O sena-dor completa que no inicio dos traba-lhos da comissão ele não imaginava que a família tivesse que passar por essa situação: “com a minha família eu realmente não sabia que pudesse chegar nesse ponto. Teve um momen-to que a Polícia Federal começou a se envolver diretamente na segurança deles porque as ameaças chegavam a esse nível também”.

AMEAÇASDurante os 14 meses de investi-

gação, o senador Geraldo Althoff foi vítima de ameaças e tentativas de suborno com o objetivo de impedir o resultado final da CPI: “recebi amea-ça de morte, a minha família também. Eu estava cumprindo um papel que eu não podia mais voltar atrás. E nós estávamos num processo de investi-gação com cada vez mais sustenta-ção”. Questionado se algum momento teve medo de prosseguir nas investi-gações, o senador Althoff foi enfáti-co: “não. Eu não tive esse sentimento. Partindo sempre do principio que ca-chorro que late não morde”. Mesmo enfrentando os problemas

causados pela exposição gerada pela

RELATORCom morte do senador

Vilson Kleinubing , parlamentar catarinense assumiu vaga no Senado no ano de 1998

Ninguém acreditava em um resultado positivo da CPI do Futebol pela inexpressão do relator“ “

MAIARA GONÇALVES/GA

Page 11: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

De médico e vereador da pacata cidade de Tubarão, no Sul de Santa

Catarina, a sena-dor da República e relator da CPI do Futebol, com destaque nos grandes veículos de comunica-ção. A mudança repentina mu-dou a rotina da família de Geraldo Althoff. “Perdemos a identidade. Foi tudo muito estranho, ele era médico na nossa cidade e rapida-mente passou a dar entrevistas no Jornal Nacional”, revelou Luciana Althoff, filha de Geraldo Althoff que na época da CPI tinha 13 anos. Luciana conta que a pressão

durante os 14 meses de investiga-ção fez com que a família se isolas-se: “Eu e meus irmãos evitávamos atender telefone e não podíamos ficar em casa sozinhos. Mesmo a cidade sendo pequena, não po-díamos sair de casa. Foi estranho, antes podíamos ir a escola a pé, sozinhos, depois passamos a ser vigiados o tempo todo. A polícia sempre ficava na nossa rua”. A se-gunda filha do relator da CPI desta-ca ainda a habilidade do pai: “Tudo o que ele assume, faz bem feito. O que mais me impressiona é a capa-cidade de adaptação dele”.

A CPI NA FAMÍLIA

CPI, o senador Geraldo Althoff revelou que em momento algum pensou em recuar nas investigações porque havia conquistado o controle da comissão: “uma CPI para ser exi-tosa precisa ter três variáveis bem claras: assessoria de efetiva qualidade, tempo para as investigações e ter sustentação financei-ra pelo Senado. Esse controle me trouxe segurança para continuar firme nas investigações”.

INVESTIGAÇÕESPara executar o trabalho da co-

missão, a CPI contou com a participa-ção de 10 assessores exclusivos, en-tre eles um representante da Polícia Federal e outro do Tribunal de Contas da União. A equipe também era com-posta por consultores jurídicos do Senado Federal. Para Althoff, a desor-ganização do futebol foi o que mais surpreendeu: “não só a desorganiza-ção nos clubes, mas principalmente nas entidades promotoras do futebol, como a CBF. Aquilo tudo é uma caixa preta”, revela o relator da CPI.Para Geraldo Althoff, o depoimen-

to mais impressionante da CPI foi o de Wanderlei Luxemburgo: “aquele depoimento trouxe implicações ne-gativas para ele, inclusive deixou de ser técnico da seleção brasileira. Ele foi com certo desdenho à CPI”. Para o senador, outro depoimento emblemá-tico foi do então presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Edmundo dos Santos Silva, que acabou deixando o cargo por conta do resultado da CPI.

RESULTADOSA aprovação por unanimidade do

relatório final é destacada pelo senador Geraldo Althoff como a grande vitória da CPI. “Conquistamos este resulta-do primeiro pela maneira séria como a CPI foi conduzida, segundo porque quem escreveu o relatório não tinha in-teresse nenhum no processo, terceiro porque apresentamos um bom relató-

rio”, destaca Althoff. O senador consi-dera a relatoria da comissão a princi-pal contribuição dos anos que atuou no Congresso brasileiro: “para quem

foi cumprir meio mandato de senador, mandato considera-do por muitos como uma simples comple-mentação, acho que foi uma grande con-tribuição”.

Althoff acredita que o futebol brasi-leiro passou por uma grande transfor-mação a partir dos resultados obtidos pelas investigações: “a CPI eviscerou o futebol. Principalmente a gestão. Essa evisceração foi dolorosa, mas neces-sária. O que renovou foi o Estatuto do Torcedor, ele passou a ser um referen-cial”. Durante a entrevista, o senador ci-tou a declaração do jornalista esportivo Juca Kfouri, que na época disse que “a história do futebol brasileiro seria divi-da por dois momentos, um antes e ou-tro depois da CPI do futebol”.Com a aprovação do relatório final

da CPI, cabe ao Legislativo enviar o documento investigativo para que o poder Judiciário faça os encaminha-mentos necessários. Althoff garan-te que o relatório eficaz e detalhado assegurou que a CPI do Futebol não terminasse em “pizza”, expressão usa-da para identificar comissões que não obtiveram resultados exitosos. “Aquilo que nos cabia fazer foi feito. A investi-gação, execução do relatório e a dispo-nibilização do relatório, principalmen-te para o Ministério Público Federal. Daqui para frente não nos cabe fazer juízo de valores“. Quando questiona-do sobre o fato de cartolas indiciados pela CPI, como Ricardo Teixeira, conti-nuar na linha de frente do futebol bra-sileiro, o senador foi enfático: “a con-

O futebol tem que começar a mudança pelas entidades responsáveis pela modalidade“ “

Recebi ameaça de morte, a minha família

também. Estava cumprindo um papel que não podia mais voltar atrás

“ “

sequência disso, essa não nos cabe, é de responsabilidade do Judiciário”.Para o relator o futebol brasileiro,

ainda precisa mudar a forma como ocorre a gestão das entidades e clu-bes: “o futebol tem que começar a mu-dança pelas entidades responsáveis pela modalidade. A mudança começa na CBF e nas federações. A primeira mudança é que a diretoria tenha direi-to a uma só reeleição. O futebol só vai mudar pela mudança da gestão”.

Page 12: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

12 JUL/2014

Futebol movimentava mais de US$ 370 BI no mundoNo Brasil modalidade faturava US$ 16 bilhões por anoNo relatório final da CPI, o senador

Geraldo Althoff revelou números sur-preendentes que evidenciavam a di-mensão do futebol na economia mun-dial. De acordo com os dados da revista Forbes, revelados nos anos de 1998 e 1999, o setor movimentava, por ano, mais de US$ 370 bilhões em ingressos, licenças para transmissão, royalties de marcas, merchandising e marketing, além de salários e produtos, empre-gando 450 milhões de pessoas, direta e indiretamente, de acordo com a FIFA. “O futebol é uma atividade essen-

cialmente econômica, gerador de em-prego e renda, não apenas uma paixão do povo brasileiro, mas uma atividade

econômica que se melhor gerenciada certamente contribuirá muito mais com o desenvolvimento do país”, enfa-tiza o senador Alvaro Dias. No Brasil, os dados também eram

significativos. O relatório apresentou números da Fundação Getúlio Vargas, que apontava no Brasil 501 clubes pro-fissionais registrados na CBF e 13 mil times amadores em atividade. Calcula-va-se em 11 mil o número de jogadores federados, além de 2 mil que atuavam no exterior. Na época, a estrutura física do futebol brasileiro contava com 308 estádios com capacidade total de 5 mi-lhões de lugares.Mesmo mobilizando milhões de

torcedores, jogadores e funcionários, o país do futebol movimentava, se com-parado com os US$ 370 bilhões movi-mentados no mundo, apenas cerca de R$ 16 bilhões por ano. Os clubes bra-sileiros, por exemplo, geravam uma re-ceita anual de aproximadamente US$ 182 milhões, muito inferior aos valores movimentados por países europeus, como Inglaterra, com US$ 1 bilhão, e Itália, com US$ 700 milhões anuais. “A realidade do futebol brasileiro,

em constante crise gerencial e finan-ceira, torna evidentes as disfunções existentes na estrutura e na organi-zação do setor”, denuncia o senador Althoff em seu relatório.

BANCO DE IMAGENS/GA

TRABALHOEm 1998, esporte empregava450 milhões de pessoas direta ou indiretamente

Page 13: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

13JUL/2014

Vitória de GOLEADAPor unanimidade senadores aprovaram relatório da CPI

SENADORES Relatório final apresentado por Geraldo Althoff é

aprovado por 12 votos a zero

Considerada a maior investiga-ção já realizada no esporte brasi-leiro, a CPI do Futebol teve o rela-tório final, apresentado no dia 4 de dezembro de 2001, aprovado por unanimidade. Foram 14 meses de trabalho, resultando em 1.600 pá-ginas que detalharam as mazelas da modalidade esportiva. “Particularmente o futebol, por

sua dimensão como fenômeno de massa em nosso país, como elemen-to repleto de significações simbó-licas, culturais, políticas e econô-micas, estava por merecer atenção especial do Parlamento brasileiro”, escreveu o senador Geraldo Althoff no relatório final da CPI.O relatório sugere, com base nas

quebras dos sigilos bancário e fiscal dos investigados, o indiciamento de 17 dos principais cartolas do fute-

bol brasileiro. Dos treze senadores que integraram a comissão, doze votaram a favor do relatório final. De acordo com o regimento interno do Senado Federal, o presidente da Comissão de Investigação só deve votar em caso de empate. O senador Gilvam Borges foi o

único a votar favorável com restri-ções, fazendo duras críticas ao tra-balho da CPI. “Só havia um senador que poderia votar contra, mas até ele votou favorável. Político quando percebe que perdeu, vai para o lado que ganhou. A própria Confedera-ção Brasileira de Futebol (CBF) viu que não teria condições de ganhar aquela votação. O relatório era tão bom que os senadores não tinham como se contrapor, as informações eram objetivas”, confidenciou o con-sultor jurídico, André Fernandes.

Nada terá valido a pena se não sairmos deste inquérito com a cultura que envolve o futebol realmente transformada e a consciência da sociedade realmente amadurecida. Essa é a contribuição que a CPI do Futebol espera estar legando. Que o panorama desvelado no curso das investigações e os mecanismos legais indicados para a correção dos desvios proporcionem o pleno desenvolvimento do futebol brasileiro como atividade desportiva social e economicamente relevante. Esse é o nosso desejo, essaé a nossa esperança.

Geraldo Althoff, durante apresentação do relatóriofinal em dezembro de 2001

AGÊNCIA SENADO/GA

Page 14: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

RESULTADOS da CPI doFutebol

GERALDO ALTHOFF

14 JUL/2014

C onsiderada pelos jornalistas esportivos “um marco no futebol brasileiro”, a CPI do Futebol trouxe impor-tantes avanços na gestão da modalidade esportiva.

No quesito criminal, a comissão indiciou 17 dos principais cartolas do futebol brasileiro, entre eles o presidente da CBF Ricardo Teixeira. As denúncias, entre outros fatos, são de apropriação indébita, sonegação fiscal, falsidade ideológica, gestão temerária, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.Tratando de avanços na legislação brasileira, o Estatuto do

Torcedor pode ser considerado a maior conquista da CPI. O documento, escrito após a apresentação do relatório final da comissão, foi fruto dos resultados obtidos pelos senadores. A legislação, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Sil-va no início de 2003, garantiu uma série de direitos e deveres aos torcedores brasileiros. Com o relatório final apresentado pelo Senado, outros re-

sultados importantes foram obtidos, como procedimentos fis-cais da Receita Federal e multas aplicadas pelo Banco Central. O Flamengo, por exemplo, recebeu uma multa de US$ 13,1 milhões. Os resultados da CPI também repercutiram na Justi-ça suíça. Com as denúncias, dois dirigentes de futebol, entre eles Ricardo Teixeira, foram obrigados a devolver dinheiro de propinas em acordo para encerrar a investigação. A CPI ainda garantiu avanços na formação e incentivo a

atletas olímpicos e paraolímpicos, além da exigência de diplo-mas de nível superior para técnicos e monitores.

O CAMPEÃO DA CPI

Na semana passada, o Senado aprovou, por 12 votos a zero, o relatório da CPI do Futebol. O documento pede o indiciamento de dezessete cartolas por crimes como apropriação indébita, evasão de divisas, sonegação, lavagem de dinheiro e estelionato. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, é o líder em acusações. Veja as mais graves.

Teixeira é suspeito de lavar carca de R$ 5 milhões por meio de fraudes contábeis. A maior parte do dinheiro veio de um paraíso fiscal para contas de uma empresa do cartola.

LAVAGEM DE DINHEIRO

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

SONEGAÇÃO DE IMPOSTOS

EVASÃO DE DIVISAS

Teixeira e toda a diretoria receberam cerca de R$ 7 milhões em salários da CBF desde 1998. O estatuto da entidade proíbe a remuneração. A CPI também descobriu que o cartola usava dinheiro da CBF para pagar advogados em causas pessoais.

As declarações de imposto de renda de Teixeira não conferem com a movimentação bancária. Há dinheiro em contas que não aparecem em declarações ao Fisco.

A CPI acusa Teixeira de forjar a compra de uma casa de Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, como forma de enviar, ilegalmente, cerca de US$ 500 mil a um paraíso fiscal.

FONTE: INFOGRÁFICO DA REVISTA VEJA PUBLICADO EM 12/12/2001

Page 15: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

15JUL/2014

OS 17 INDICIADOS PELA CPI

RICARDO TEIXEIRAPresidente da Confederação

Brasileira de Futebol (CBF)

ACUSAÇÕES: Apropriação indébita, evasão de divisas,

relapsa e gestão ruinosa.

JOSÉ SALIM Diretor de Marketing da CBF

ACUSAÇÕES: apropriação indébita, evasão de divisas,

relapsa e gestão ruinosa.

MARCO ANTONIO TEIXEIRA

ACUSAÇÕES: Apropriação indébita, evasão de divisas,

relapsa e gestão ruinosa.

EURICO MIRANDA Deputado Federal e Pres.

ACUSAÇÕES: falsidade

dinheiro e evasão de divisas.

ANTONIO SOARES CALÇADA

ACUSAÇÃO: ter prestado

MÁRIO CUPELO

ACUSAÇÃO: ter prestado

ACUSAÇÃO: ter prestado

EDMUNDO SANTOS SILVA

ACUSAÇÃO: apropriação

dinheiro, evasão de

DUNSHEE DE ABRANCHES

ACUSAÇÃO: ter prestado

ACUSAÇÃO:

REINALDO PITTA

ACUSAÇÃO: ter prestado

Federal.

EDUARDO VIANA Presidente da Federação

do Rio de Janeiro

ACUSAÇÃO:

EDUARDO JOSÉ FARAH Presidente da Federação Paulista de Futebol

ACUSAÇÃO: apropriação indébita

PEDRO YVES SIMÃO

ção Paulista de Futebol

ACUSAÇÃO: apropriação indébita e evasão de

Presidente da Federação Mineira

ACUSAÇÃO: gestão

ACUSAÇÃO: Apropriação

de divisas.

JOSÉ PAULO FERNANDES

Santos

ACUSAÇÃO: apropriação

OBSERVAÇÃO:

Page 16: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

16 JUL/2014

Para proteger e defender os di-reitos do público nos estádios e ginásios esportivos do Brasil foi aprovado pelo Congresso Federal em 2003, o Estatuto do Torcedor, escrito a partir dos resultados das investigações da CPI do Futebol. “O senador Althoff participou de reuni-ões importantes com especialistas do direito e do esporte e criamos um grupo de trabalho, envolvendo representantes da CPI e do ministé-rio do Esporte, para discutir esses projetos”, contou o senador Dias. O projeto de lei que deu origem

ao estatuto foi enviado ao Congres-so em 2002, no fim do Governo de Fernando Henrique Cardoso. “O Es-tatuto do Torcedor foi graças ao re-sultado da CPI. O Althoff teve papel fundamental, porque ele costurou com o ministro do esporte e com o presidente Fernando Henrique para que saísse a proposta do Estatuto do Torcedor em 2002, logo após a CPI”, relata André Eduardo Fernandes, consultor jurídico do Senado. Para evitar a superlotação nos

estádios e ginásios, todos os assen-tos passaram a ser numerados, mi-

nimizando, desta forma, situações como a ocorrida no Maracanã em 1992 quando a superlotação deixou três mortos e 90 feridos na decisão do Campeonato Brasileiro entre Fla-mengo e Botafogo. Também se garantiu mais rigor

no combate aos preços abusivos de alimentos e bebidas dentro dos está-dios. “A principal legislação desporti-va vigente neste País teve origem na CPI do Futebol”, destacou Dias. Com o Estatuto os torcedores ficaram am-parados pelos órgãos de defesa do consumidor, como o Procon.

ESTATUTO do TORCEDORfoi elaborado a partir da CPI

Page 17: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

17JUL/2014

DEMAIS RESULTADOSFormação de atletas olímpicos e paraolímpicos;

Impedimento de flexibilização das exigências em eleições de entidades esportivas;

Fim da cobrança do direito de arena para emissoras de rádio;

Alteração do efeito suspensivo da punição de atletas;

Exigência de diploma de nível superior para técnicos e monitores;

Garantia de acesso livre de todos os cronistas aos eventos esportivos.

Indícios de ilegalidades na negociação de atletas com o exterior por parte de clubes de futebol fizeram com que o Banco Central aplicasse multa em entidades esportivas. As penalidades aconteceram pelo fato das operações em moedas estrangeiras não serem conduzidas em bancos autorizados a operar em câmbio no Brasil. Veja as multas aplicadas em alguns clubes:

Vasco da Gama: US$ 1,350 milhãoFlamengo: US$ 13,100 milhõesFluminense: US$ 420 milCorinthians: Y 41,86 milhões (ienes japoneses)Portuguesa de Desportos: US$ 957,742 milAtlético Paranaense: US$ 71,500 mil*As multas aplicadas são equivalentes à moeda nacional.

Com o relatório apresentado pela CPI, o Ministério Público Federal ofe-receu as denuncias cabíveis à Justiça. As ações decorrentes tramitam na Justiça Federal. Foram instaurados 17 processos contra dirigentes de clubes.

Foram executados 40 procedimentos fiscais em decorrência da CPI do Futebol, sendo 24 procedimentos de fiscalização e 16 proce-dimentos de diligência, cujo resultado alcan-çou o montante de R$ 129.400.386,04. “São recursos oriundos de crimes contra o sistema tributário nacional”, discursou o senador Alvaro Dias no plenário do Senado Federal.

Os encaminhamentos da investigação

Denúncias da CPI do Futebol repercutem na Justiça suíçaAs denúncias apresentadas pela CPI do Futebol em dezembro de 2001

voltaram à pauta em 2011, quando a emissora de televisão inglesa BBC revelou que dois dirigentes de futebol foram obrigados a devolver dinhei-ro de propinas em um acordo para encerrar investigação criminal na Su-íça, em 2010. João Havelange, ex-presidente da Fifa, e Ricardo Teixeira receberam

US$ 9,5 milhões em propinas da empresa de marketing ISL para garan-tir contratos de exclusividade em transmissões e patrocínios da Copa do Mundo. Os pagamentos da ISL foram feitos a uma empresa chamada Sa-nud, baseada no principado europeu de Lichenstein. O que chama a aten-ção dos investigadores é que a Sanud remeteu dinheiro para o Brasil como se fizesse empréstimos para Teixeira, mas o cartola nunca pagou de volta, um indício de que a Sanud pode ter sido criada apenas para transferir o dinheiro das propinas para o Brasil. “O que a imprensa internacional denuncia hoje, a CPI do Futebol de-

nunciou aqui em 2001. Esta denúncia surgiu exatamente das investiga-ções da CPI do Futebol e, provavelmente, seu relatório final é que motivou a abertura de inquérito na Suíça para as investigações que acabaram le-vando o senhor Ricardo Teixeira a devolver dinheiro de propina, conforme anunciou a BBC”, afirmou o senador Alvaro Dias.

Page 18: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

18 JUL/2014

Com a derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1998 as mazelas do futebol brasileiro ganharam as manchetes dos veículos de comunicação do país. Com a CPI do Futebol instaurada no Se-nado Federal no final de 2000 a modali-dade esportiva passou a ter ainda mais destaque na imprensa. Dos veículos locais, aos nacionais. Reportagens eram exibidas por importantes programas jornalísticos, como o próprio Jornal Nacional e o Globo Repórter. As revistas semanais, como a Veja e a Época, noticiavam a CPI. Os jornais impressos detalhavam a investigação que condenou a maior paixão dos brasileiros.Neste artigo publicado pelo jornal O

Globo em 22 de novembro de 2000, inicio dos trabalhos da CPI, o senador Geraldo Althoff, relator da comissão, destacou a importância das investigações e os obje-tivos almejados pelo Senado Federal. No texto, Althoff destaca que é “inadmissível que a maior paixão nacional esteja sendo utilizada de maneira espúria, ludibriando a boa fé das pessoas”.

Opinião REPERCUTEem todoo Brasil

Page 19: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

“Esse modelo de futebolprecisa ser SUBSTITUÍDO”Senador Alvaro Dias destaca influência da CBF no Congresso

DIVULGAÇÃO/GA

GERALDO ALTHOFF

19JUL/2014

A pós apresentar o reque-rimento de instalação do CPI do Futebol no Senado

Federal, Alvaro Dias foi escolhido presidente da Comissão, sendo o responsável pela coordenação das investigações. Formado em História pela Universidade Estadual de Lon-drina, Dias iniciou a carreira política elegendo-se vereador de Londrina em 1968. Excerceu diversos cargos eletivos naquele Estado, como gover-nador. Atualmente, Alvaro Dias excer-ce o segundo mandato de senador.

Qual foi o maior desafio da CPI?Alvaro Dias - Romper com a re-

lação promiscua que existia entre a Bancada da Bola (grupo de parla-mentares ligados ao futebol) e a CBF. A composição da CPI de certa forma teve influência da CBF, mas tivemos a possibilidade de concretizar uma parceria que tinha o mesmo objetivo que era de revelar com seriedade as eventuais mazelas existentes na ad-ministração do futebol.

Podemos afirmar que a CPI foi um divisor de águas no futebol do Brasil?

Alvaro Dias - Cronistas esportivos fizeram essa afirmação. A administra-ção do futebol brasileiro passou a ter dois momentos, um antes e outro de-pois da CPI. No que diz respeito à legislação do desporto a CPI foi profícua. Teve ori-gem nela o Estatuto do Torcedor.

Mesmo sendo protagonistas da CPI os cartolas Ricardo Teixeira e Eurico Miranda continuam fortes no futebol brasileiro...

Alvaro Dias - A CPI produziu in-diciamentos que alcançaram 17 cartolas. Os inquéritos judiciários foram instaurados e concluídos com a confirmação de delitos que foram praticados por eles. As ações judiciais foram propostas pelo MPF. Os fatos levantados pela CPI deram origem a uma investigação na Europa.

O que o senador Geraldo Althoff representou para a CPI?

Alvaro Dias - Nós não teríamos alcan-çado o resultado que alcançamos se não tivéssemos um homem como Geraldo Altho-ff na relatoria. Não fosse a seriedade dele, a dedicação a este trabalho, não conseguirí-amos este resulta-

do. Ele resistiu à pressão, às provo-cações, resistiu a todas as tentações possíveis para que o relatório fosse consistente e tivesse esse conteúdo.

No ano em que o mundo se volta ao Brasil em razão da Copa do Mun-do, o que falta ao nosso futebol?

Alvaro Dias - Ainda falta muita seriedade. Nós precisamos estabe-lecer a rotatividade na direção das entidades do futebol. Esse modelo é ultrapassado, é ele que possibilita a permanência dos mesmos por muito tempo. Esse modelo ainda tem que

ser substituído. Com a CPI nós não tivemos condições de mudar em virtude da constitucionalidade. Essa alteração tem que partir do pró-prio mundo do fu-tebol, estabelecen-do outras normas para a sucessão nos clubes e nas entidades.

COMANDO Após apresentar requerimento de instalação, Dias foi escolhido presidente

Page 20: Geraldo Althoff: O senador da paixão dos brasileiros

GERALDO ALTHOFF

20 JUL/2014

CPI do Futebol foi DESTAQUE nos PRINCIPAIS veículos do país

RIO DE JANEIROJornal O Globo

SÃO PAULOJornal Folha de São Paulo

SÃO PAULORevista Veja