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X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 O QUE E COMO ENSINAR GEOMETRIA NAS SÉRIES INICIAIS Cassia Sales – [email protected] 1 Denise Medina – [email protected] 2 Resumo: O ensino de geometria nas séries iniciais deve levar o aluno a olhar e interpretar geometricamente o mundo que o cerca. Nesse sentido, optamos trabalhar a geometria em múltiplas perspectivas, apresentando situações em que há necessidade de um olhar mais apurado sobre as formas encontradas no cotidiano escolar e não escolar do aluno. Trata-se de perceber, no âmbito da geometria, o que está por trás daquilo que olhamos e muitas vezes não percebemos ao nosso redor. As atividades desenvolvidas no minicurso utilizam materiais manipuláveis diferenciados, procurando levar o aluno a descobrir intuitivamente propriedades e regularidades nas formas geométricas, a descrever relações espaciais e realizar transformações geométricas, imprescindíveis para que, mais tarde possam chegar mais naturalmente à abstração. A ênfase do trabalho geométrico está na exploração, observação, visualização, classificação e representação de entes geométricos com vocabulário adequado, retirados de lugares que olhamos em nosso cotidiano. Palavras-chave: Geometria, materiais manipuláveis, séries iniciais. 1 Mestre em Educação Matemática pela Uniban. Professora da rede privada de São Paulo. Colaboradora na elaboração e produção de materiais pedagógicos. 2 Doutoranda da FEUSP. Mestre em Educação Matemática pela PUC SP. Integrante do GHEMAT – Grupo de Pesquisa em Historia da Educação Matemática do Brasil.

Geometria nas séries iniciais

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O QUE E COMO ENSINAR GEOMETRIA NAS SÉRIES INICIAIS

Cassia Sales – [email protected] 1

Denise Medina – [email protected] 2

Resumo:

O ensino de geometria nas séries iniciais deve levar o aluno a olhar e interpretar geometricamente o mundo que o cerca. Nesse sentido, optamos trabalhar a geometria em múltiplas perspectivas, apresentando situações em que há necessidade de um olhar mais apurado sobre as formas encontradas no cotidiano escolar e não escolar do aluno. Trata-se de perceber, no âmbito da geometria, o que está por trás daquilo que olhamos e muitas vezes não percebemos ao nosso redor.

As atividades desenvolvidas no minicurso utilizam materiais manipuláveis diferenciados, procurando levar o aluno a descobrir intuitivamente propriedades e regularidades nas formas geométricas, a descrever relações espaciais e realizar transformações geométricas, imprescindíveis para que, mais tarde possam chegar mais naturalmente à abstração.

A ênfase do trabalho geométrico está na exploração, observação, visualização, classificação e representação de entes geométricos com vocabulário adequado, retirados de lugares que olhamos em nosso cotidiano.

Palavras-chave: Geometria, materiais manipuláveis, séries iniciais.

1 Mestre em Educação Matemática pela Uniban. Professora da rede privada de São Paulo.

Colaboradora na elaboração e produção de materiais pedagógicos. 2 Doutoranda da FEUSP. Mestre em Educação Matemática pela PUC SP. Integrante do GHEMAT –

Grupo de Pesquisa em Historia da Educação Matemática do Brasil.

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Em grande medida, podemos dizer que nas séries inicias o ensino de geometria não

é priorizado, podendo deixar lacunas importantes na educação do aluno. Embora elementos

geométricos estejam presentes em nossa realidade, a grande maioria das atividades

escolares não foca a atenção nas formas encontradas no entorno da criança, nem educam

seu olhar para perceber regularidades.

Em nosso trabalho, observamos que, na maioria das vezes, as atividades

geométricas limitam-se ao ensino das formas prototípicas sem reflexão de suas

características e de seus atributos e não atributos.

Assim, pretendemos nesse minicurso problematizar possibilidades de diferentes

abordagens com utilização de materiais diversos para a construção dos conceitos

geométricos nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

Embasados na afirmação de que hoje podemos trabalhar a geometria muito além do

papel e do lápis, é necessário explicitar qual, entre as várias definições de material

manipulável, vamos considerar neste trabalho.

Destacamos que o uso do material concreto em sala de aula deve possibilitar tanto

construir conceitos a partir de sua manipulação como desconstruir, a fim de permitir a

análise dos elementos que constitui o todo.

Diante disso, corroboramos com SERRAZINA e MATOS (1996) que definem

materiais manipuláveis como objetos ou coisas que o aluno é capaz de sentir, tocar,

manipular e movimentar. Estes podem ser concretos ou podem ser objetos que são usados

para representar uma idéia.

Nessa perspectiva, todos os materiais utilizados nas atividades do curso, como

ferramentas, são considerados manipuláveis.

Que geometria trabalhar?

O indivíduo, desde seus primeiros anos de vida, desenvolve conceitos geométricos

e raciocínio espacial em ações que realiza a partir da exploração do espaço e dos objetos

que lhe rodeia. Por meio dessa interação com o entorno adquire e processa conceitos sobre

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formas e espaço. Esses conceitos rudimentares já constituem base para o conhecimento

geométrico e o raciocínio espacial que deverá ser desenvolvido à medida que o indivíduo

cresce (ME, 2008, p10). Segundo o National Council of Teachers of Mathematics

(NCTM), o ensino e aprendizagem de geometria têm por objetivo:

“Analisar características e propriedades de formas geométricas

bidimensionais e tridimensionais, desenvolvendo argumentos matemáticos a

cerca das relações geométricas;

Identificar localizações e descrever relações espaciais recorrendo à

geometria de coordenadas e a outros sistemas de representação;

Utilizar transformações geométricas e usar simetrias para analisar situações

matemáticas;

Visualizar, utilizando o raciocínio espacial e as ferramentas geométricas na

resolução de problemas” (NCTM, 2000, p.41).

Mas como trabalhar essa geometria?

Os materiais concretos nas atividades geométricas

A concepção das atividades, a fim de concretizar e desenvolver conceitos

matemáticos é constituída por situações, utilizando materiais manipuláveis, que reduzam o

trabalho mecânico e penoso. O uso dos materiais pretende ainda encorajar a formulação de

conjecturas, na procura de novos caminhos para solucionar problemas.

A dinâmica de sala de aula, com o uso de materiais diversos, propicia o diálogo

entre os alunos: a provocação originada pela tentativa de validação de suas estratégias de

resolução favorece discussões, levando os alunos a aprenderem uns com os outros, sempre

tratando à matemática como um todo, presente em todos os ramos da sociedade.

As atividades com jogos e materiais concretos, são propostas a fim de permitir aos

alunos chegarem por si a algumas conclusões que possibilitem o desenvolvimento do

raciocínio, com criatividade.

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As atividades em que representamos concretamente determinado conceito

matemático permitem também, novos olhares para o mesmo conteúdo, o que possibilitará a

compreensão em vários registros de representação.

Eis algumas atividades que utilizam o geoplano como material concreto.

- Atividade com geoplano quadrangular: os alunos devem construir polígonos, observando

e analisando algumas de suas características, por exemplo, número de lados e de vértices.

Esta atividade permite que os alunos discutam o que é um polígono e reconheçam alguns

polígonos não prototípicos.

Figura 1. Polígonos construídos no geoplano quadrangular.

Observe que os polígonos representados acima têm 70 e 12 lados respectivamente.

- Atividade com geoplano circular: os alunos devem construir figuras a partir de pontos

destacados na circunferência.

Em um primeiro momento privilegie a construção de figuras mais simples.

Figura 2. Figuras simples construídas no geoplano circular.

Para num segundo momento construir figuras mais complexas.

Figura 3. Figuras complexas construídas no geoplano circular.

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Esta atividade permite perceber figuras inscritas na circunferência.

As mídias digitais no ensino de geometria

O uso das mídias digitais na escola deve incluir o ensino de geometria, pois

possibilita uma interação direta entre o indivíduo e os conceitos. Funciona como um

instrumento facilitador da aprendizagem, além de respeitar o ritmo de cada indivíduo, já

que as atividades são desenvolvidas individualmente ou em pequenos grupos de alunos.

SCHEFFER et al (2006, p.15) afirmam que nos ambientes computacionais a ordem em que

os conceitos são trabalhados se inverte, pois a experimentação ocorre antes da construção

de conjecturas e conceitos, promovendo atividades investigativas e uma interação maior

entre os estudantes e entre os estudantes e os professores.

Um aspecto importante nas atividades desenvolvidas em ambiente virtual é a

agilidade dos programas, suas interações em tempo real com o usuário e os movimentos

dos objetos na tela, que, muitas vezes, são reversíveis (SALES, 2009, p.29). Estas

características permitem um dinamismo nas atividades propostas e uma resposta, em tempo

real, do sucesso ou não nas atividades realizadas, levando os alunos a confirmarem suas

conjecturas ou formularem novas conjecturas.

Eis um exemplo de atividade sobre simetria que utiliza um software matemático.

Nesta atividade os alunos movimentam as figuras reroduzidas a partir da figura inicial

(cachorro ou tigre), encaixando-as de modo a pavimentar o plano. O encaixe só é

confirmado (mudando a cor da figura) quando a mesma se encaixa perfeitamente na outras

figuras do plano.

Figura 5. Atividades de simetria em ambiente computacional.

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Figuras retiradas do site: www. pagesperso-orange.fr (acesso em 19/03/10)

Esta atividade permite que os alunos discutam, de maneira intuitiva, simetria de rotação e

translação.

Considerações finais

Sabemos que os materiais manipuláveis por si só não são suficientes para garantir a

aprendizagem, mas sim as relações e conjecturas que são estabelecidas durante a realização

das atividades propostas é que permitem que os conceitos que se desenvolvam a partir dos

objetivos propostos.

Esperamos que as discussões e atividades propostas no minicurso possam oferecer

um novo olhar sobre as práticas do ensino de geometria em sala de aula, visto que este

“olhar” sobre o que nos rodeia é influenciado pelos conhecimentos geométricos que

adquirimos e aprimoramos ao longo de nossas vidas.

Referências

MATOS, José Manuel; SERRAZINA, Maria de Lurdes. Didáctica da Matemática.

Lisboa, Universidade Aberta, 1996.

PORTUGAL. Ministério da Educação. Direcção-Geral de Inovação e de

Desenvolvimento Curricular: Geometria. Lisboa, 2008.

NCTM. Principles and Standards for School Mathematics. Reston: NCTM, 2000.

POPEY, David. Perplexing Perceptions. Metro Books: New York, 2009.

SALES, Cassia. Explorando Função através de representações dinâmicas: narrativas

de estudantes do Ensino Médio. 2009. 144f. Dissertação (Mestrado em Educação

Matemática) – Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2009.

SCHEFFER, N. F. et al. Matemática e tecnologias: modelagem matemática. Erechim,

Edifapes, 2006.