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GEOGRAFIA EM MÚLTIPLAS ESCALAS DO LOCAL AO GLOBAL AUTORA: MARCORI, Sandra Juraci Professora de Geografia da rede pública do Estado Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE-2007) E-MAIL: [email protected] RESUMO A necessidade de produção de um material didático que viabilizasse a disseminação de conhecimentos geográficos sobre o local, dada a inexistência do mesmo na maioria dos municípios do estado do Paraná, motivou um grupo de professores da rede estadual de ensino, participantes do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), a desenvolver um trabalho intitulado Geografia em múltiplas escalas do local ao global. Esse trabalho foi realizado em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL). O objetivo principal da produção do material didático-pedagógico foi o atendimento das demandas educacionais do ensino de Geografia, nos níveis fundamental e médio, tendo como foco a escala local de análise geográfica. O material foi elaborado a partir de três eixos estruturantes: limites, arranjos territoriais e dinâmica populacional. Assim, os docentes de cada um dos nove municípios do estado do Paraná (Borrazópolis, Cambé, Cambira, Califórnia, Ibiporã, Londrina, Sertanópolis, Porecatu e Uraí) elaboraram o material didático que, têm em comum o tema e os eixos, diferenciando-se quanto aos conteúdos. Vale salientar que o referido material pretende subsidiar o ensino de geografia na escala local, servindo como material complementar ao livro didático para os professores da rede estadual de ensino. Palavras-chave: Geografia, Material Didático, Município, Local. ABSTRACT The necessity for producing didactical material for the viable dissemination geographic understanding of the local, this information does not exist in most of the municipalties in the state of Paraná, motivated a group of professors from various state institutions of learning to participate in the Developmental Educational Program. To begin working to initiate Geography in multiple levels from local to global. This work came to be by working in partnership with the Universidade Estadual de Londrina (UEL) (The State University of Londrina) . The principal objective for the project of the didactic-pedagogic material was created to meet the education demands for teaching Geography at the fundamental and intermediate levels being focused the geographic analysis at local level. The material was created to begin from three structural axes: limits, territorial features and population dynamics.

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GEOGRAFIA EM MÚLTIPLAS ESCALAS DO LOCAL AO GLOBAL

AUTORA: MARCORI, Sandra Juraci

Professora de Geografia da rede pública do Estado Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE-2007)

E-MAIL: [email protected]

RESUMO

A necessidade de produção de um material didático que viabilizasse a disseminação de conhecimentos geográficos sobre o local, dada a inexistência do mesmo na maioria dos municípios do estado do Paraná, motivou um grupo de professores da rede estadual de ensino, participantes do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), a desenvolver um trabalho intitulado Geografia em múltiplas escalas do local ao global. Esse trabalho foi realizado em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL). O objetivo principal da produção do material didático-pedagógico foi o atendimento das demandas educacionais do ensino de Geografia, nos níveis fundamental e médio, tendo como foco a escala local de análise geográfica. O material foi elaborado a partir de três eixos estruturantes: limites, arranjos territoriais e dinâmica populacional. Assim, os docentes de cada um dos nove municípios do estado do Paraná (Borrazópolis, Cambé, Cambira, Califórnia, Ibiporã, Londrina, Sertanópolis, Porecatu e Uraí) elaboraram o material didático que, têm em comum o tema e os eixos, diferenciando-se quanto aos conteúdos. Vale salientar que o referido material pretende subsidiar o ensino de geografia na escala local, servindo como material complementar ao livro didático para os professores da rede estadual de ensino.

Palavras-chave: Geografia, Material Didático, Município, Local.

ABSTRACT The necessity for producing didactical material for the viable dissemination geographic understanding of the local, this information does not exist in most of the municipalties in the state of Paraná, motivated a group of professors from various state institutions of learning to participate in the Developmental Educational Program. To begin working to initiate Geography in multiple levels from local to global. This work came to be by working in partnership with the Universidade Estadual de Londrina (UEL) (The State University of Londrina) . The principal objective for the project of the didactic-pedagogic material was created to meet the education demands for teaching Geography at the fundamental and intermediate levels being focused the geographic analysis at local level. The material was created to begin from three structural axes: limits, territorial features and population dynamics.

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Therefore the professors of each of the nine municipalities of the State of Paraná (Borrazópolis, Cambé, Cambira, Califórnia, Ibiporã, Londrina, Sertanópolis, Porecatu and Uraí) elaborating on didactical material that is in common with the axes issue, being different related to the contents. Is good to remember that the referred to material will be used to reinforce the teaching of geography at the local level, serving as complementary material of didactical book for the professors of many state institutions of learning.

Key words: Geography, Didactical material, Municipality, Local.

INTRODUÇÃO

Este texto é resultado de estudos e reflexões de um grupo de

professores de geografia da rede pública de ensino do estado do Paraná,

participantes do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Por meio do

referido programa, pudemos desenvolver um material didático-pedagógico a partir

de reflexões sobre a própria prática pedagógica. O mesmo foi elaborado para

atender as necessidades de ensino e aprendizagem de conteúdos geográficos,

respectivamente, de professores e alunos do ensino básico.

Esclarecemos que optamos por elaborar o material didático focado

na escala local, tendo em vista a sua quase total inexistência. Além disso,

compreendemos que, no trabalho com os saberes geográficos dos estudantes, há

que se partir da escala local para, em seguida, dependendo da abrangência

geográfica do fenômeno, ampliar os níveis de análise escalar e, dessa maneira,

dialogar com as escalas regional, nacional e mundial, geralmente apresentadas nos

livros didáticos adotados pelas escolas públicas. Na elaboração do referido material

tivemos como base três eixos estruturantes: limites, arranjos territoriais e dinâmica

populacional. A opção pelos mesmos se deu em função de que se constituem em

elementos fundamentais para a compreensão do espaço hodierno. Leituras e

discussões sobre diversos teóricos, que investigam e apontam encaminhamentos e

discussões para as possíveis superações das dificuldades encontradas por

professores e alunos em sala de aula, fundamentaram as reflexões sobre: como

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contribuir para que os últimos possam formar autonomamente seus próprios

conceitos, como trabalhar com conteúdos geográficos apresentados de maneira

abstrata e descontextualizada, a importância de ter como ponto de partida do

processo de ensino e aprendizagem o cotidiano dos estudantes. Estas reflexões

conduziram os estudos e investigações sobre o município.

É importante esclarecer que não se trata de um material elaborado

visando a substituição do livro didático. Pretendemos com o mesmo auxiliar e

enriquecer as aulas de geografia, contribuir com uma educação voltada ao

entendimento do espaço geográfico vivenciado pelos nossos alunos, atuando,

dessa maneira, no processo de ensino e aprendizagem na perspectiva da

construção de conceitos e noções tendo como ponto de partida o diálogo com o

espaço de vivência do estudante.

Porque ensinar geografia em múltiplas escalas?

Um dos fundamentos teóricos e metodológicos da ciência

geográfica e do seu ensino é o uso de conceitos e categorias para analisar e fazer

a leitura dos elementos responsáveis pela produção dos espaços geográficos em

múltiplas escalas. Contudo, é necessário refletir sobre como os conceitos podem

estar a serviço da comunicação, do entendimento e da solução dos problemas nas

diferentes fases de atividade dos processos intelectivos dos estudantes, a fim de

alcançar os objetivos pedagógicos do ensino de geografia. Dessa maneira, faz-se

necessário, “[...] o estabelecimento da tensão dialética entre os conhecimentos não-

formais e os científicos (a geografia da vida na escola).” (KATUTA, 2007, p. 3). É

por meio do diálogo entre os conhecimentos cotidianos e os conceitos científicos

que ocorre a compreensão dos arranjos espaciais.

Alcançar esta compreensão pressupõe o desenvolvimento de um

conjunto de saberes, noções e habilidades que visam auxiliar o estudante a

compreender a lógica da ordenação das paisagens: 1 Observação do entorno

identificando a ordenação territorial da distribuição dos fenômenos; 2 Descrição dos

fenômenos observados em sua ordenação territorial; 3 Identificação qualitativa do

significado da ordenação territorial dos fenômenos; 4 Reconhecimento da

ordenação espacial, isto é, o desvendamento do jogo de determinações que

definem a construção das paisagens; 5 Associação dialética entre: forma e

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conteúdo, tempo e espaço, qualidade e quantidade, localização e significado; 6

Identificação topológica e toponímica enquanto ferramentas analíticas e sintéticas.

(Adaptado de: Proposta Curricular do Amapá, s.d., p. 58).

A reflexão sobre a contribuição que a geografia pode dar na

formação do aluno e em sua compreensão da realidade e do mundo, assim como

para o seu posicionamento crítico diante dos acontecimentos ocorridos e os

elementos presentes na formação das paisagens, está relacionada com os

objetivos pedagógicos e educacionais da área em questão. Se quisermos que o

aluno entenda e atue na sociedade em uma perspectiva de sua democratização, é

preciso respeitar e considerar saberes, experiências e significados já vivenciados e,

entre estes, quais são pertinentes para a formação de conceitos e a construção de

conhecimentos geográficos. Acreditamos que tendo como ponto de partida o

cotidiano, o local, para em seguida, transitar por outras escalas como a nacional

e/ou global, dependendo do fenômeno, é possível desenvolver o raciocínio

geográfico e o senso crítico, proporcionando aos nossos alunos uma melhor

compreensão da espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos em

suas dinâmicas, interações e contradições. “A escolarização auxilia no processo de

construção de conceitos científicos que altera significativamente o conteúdo e a

estrutura dos conceitos cotidianos” (KATUTA, 2007, p. 1).

Com este intuito elaboramos o material didático considerando o

processo de formação de conceitos: “Movimento do pensamento que oscila entre

duas direções: do particular para o geral – do geral para o particular.” (KATUTA,

2007, p. 1).

Compreender e explicar as mudanças atuais do espaço geográfico,

o processo de globalização nas suas manifestações espaciais e contradições,

levando em conta as especificidades históricas e geográficas de cada lugar, são

temas constantemente abordados pela geografia. Cavalcanti, ao analisar a

discussão teórico-metodológica sobre o lugar na concepção histórico-dialética, faz

as seguintes considerações:

[...] a compreensão da globalização requer a análise das particularidades dos lugares, que permanecem mas não podem ser entendidas nelas mesmas. O que há de específico nas particularidades deve ser encarado na mundialidade, ou seja, o problema local deve ser analisado como problema global, pois há na atualidade um 'deslocamento' (no sentido de des-locar) das relações sociais. (CAVALCANTI ,1998, p. 90).

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A questão que se impõe, assinalada por diversos geógrafos, é a

necessidade de entender a importância da escala local no mundo atual, por isso,

ganha destaque a consideração da dimensão do cotidiano nos estudos de

geografia. Diante das complexidades mundiais, dos sistemas que podem ser

apropriados pela lógica do capital para atingir seus objetivos de acumulação e

reestruração econômica, a compreensão da espacialidade dos fenômenos exige

uma análise em múltiplas escalas.

Em função de tantas informações que nos chegam por diversos

meios de comunicação que ampliaram a nossa possibilidade de saber o que está

acontecendo no mundo por meio de imagens e sons, não é possível ensinar e

aprender geografia desconsiderando as condições atuais do processo de

globalização. No entanto, a principal preocupação reside na anuência sobre como

abordar o conteúdo geográfico de forma tal que a compreensão do mesmo possa

fazer com que os alunos consigam, utilizando várias formas de linguagem, expressar

e representar as dimensões geográficas dos fenômenos em diferentes tempos e

escalas, entendendo que é no espaço geográfico que as sociedades constroem as

paisagens.

Assim, é importante a utilização de diversas linguagens que podem

auxiliar na leitura das paisagens que nos cercam e na compreensão das

geograficidades dos lugares para, a partir daí, estabelecer as relações entre os

espaços regionais, nacionais e mundiais. Este foi um aspecto importante de nossas

reflexões para a elaboração do material didático. Segundo KATUTA (2005, p. 01):

A paisagem é apreendida por meio de diferentes linguagens que, cada qual a seu modo, em função de suas malhas e teceduras específicas, apreendem, ordenam e apresentam os elementos paisagísticos. Tais linguagens, por sua vez, podem e devem ser utilizadas pelos geógrafos nos seus infinitos processos de construção discursiva em torno da questão da ordenação dos territórios.

Para compreender como a espacialidade do mundo interfere nos

mais variados aspectos, sejam eles de ordem política, econômica, social ou cultural,

os quais são apresentados pelos livros didáticos de geografia, é fundamental que se

estabeleça um diálogo com a dimensão espacial do cotidiano.

Segundo Santos (1996, p. 257):

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Com o papel que a informação e a comunicação alcançaram em todos os aspectos da vida social, o cotidiano de todas as pessoas assim se enriquece de novas dimensões. Entre estas, ganha relevo a sua dimensão espacial, ao mesmo tempo em que esse cotidiano enriquecido se impõe como uma espécie de quinta dimensão do espaço banal, o espaço dos geógrafos.

Através da compreensão da dimensão geográfica de aspectos do

cotidiano podemos, talvez, contribuir para o necessário entendimento da relação

entre espaço e movimentos sociais, enxergando na materialidade, componente

imprescindível do espaço geográfico, que é, ao mesmo tempo, uma condição para a

ação, uma estrutura de controle, um limite e convite à ação. Nada fazemos hoje que

não seja a partir dos objetos que nos cercam. Cada lugar hoje, mesmo que

guardadas suas especificidades geográficas, deve ser analisado e interpretado com

vistas à sua relação com o espaço global. Para o aluno, é importante que os

conteúdos geográficos lhes dê possibilidades de reconhecer no local, no seu espaço

de vivência os aspectos da modernização, da mundialização atual, que podem estar

presentes nas diferentes esferas espaciais da sociedade local.

O estudo da geografia em múltiplas escalas, do local ao global, em

um movimento pendular infinito, é uma proposta que busca compreender os

fenômenos geográficos e dar significado ao que se ensina nas escolas, de maneira

tal que os conteúdos possam ser apreendidos com mais facilidade porque se

encontram vinculados ao cotidiano dos nossos alunos e por eles podem ser

reconhecidos, analisados e discutidos contribuindo com a construção do

conhecimento e dos conceitos geográficos.

Cada tema trabalhado no material sobre a geografia em múltiplas

escalas inclui uma variedade de dados e informações sobre o município. Estão

apresentados em diversas linguagens, na forma de textos, tabelas, mapas e gráficos

que se consubstanciam com um dos objetivos: o de ampliar a visão e a

interpretação dos fenômenos geográficos e auxiliar os alunos a compreenderem a

lógica da ordenação das paisagens, o que permitirá a compreensão das

geograficidades, ou a efetivação da alfabetização geográfica, o que significa

reconhecer o significado da localização dos fenômenos nos lugares (KATUTA,

2007).

O conceito de geograficidade, que Moreira (2004) define como o

combinado ser-espaço-tempo, indica que: “Todo ente para ser geográfico tem que

estar localizado, donde a geograficidade começar na localização no espaço. A

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localização espacial é essencial e a paisagem um seu pressuposto” (MOREIRA,

2004, p. 193). O espaço é compreendido aqui como substrato da existência e

sobrevivência humana. Pelo trabalho, o Homem estabelece suas relações com o

meio, cujo produto é a paisagem, que manifesta essa relação e a condição do ser-

estar-espacial-do-homem-no-mundo. Por isso, os fenômenos podem ser

compreendidos a partir da sua organização, localização e distribuição no espaço.

É preciso ainda esclarecer que adotamos o conceito de geograficidade como um

conceito necessário para a compreensão e contextualização das diferentes relações

que as sociedades estabelecem no tempo e no espaço. Sobre isso Moreira (2004, p.

193) chama-nos a atenção ao apontar a geograficidade como sendo:

[...] o produto mais acabado do movimento mediante o que o trabalho traz a dimensão natural e a dimensão social para unidade integral do ente-no-mundo, dimensionando-a como a sua totalidade. O que faz da geograficidade um outro modo de dizer dos recortes reais de espaço das sociedades diferencialmente localizadas na superfície terrestre, a sociabilidade que vai dar ao ente seu sentido e significado de ser-no-mundo.

Estamos habituados a tratar os conteúdos geográficos a partir da

mesma abordagem que fazem os autores dos livros didáticos que, geralmente, têm

como ponto de partida uma geografia nas escalas regionais, nacionais e mundiais, o

que, não raro, compromete a compreensão e o interesse dos alunos que não se

vêem inseridos nesses espaços, por não terem desenvolvido habilidades para

observar, descrever, identificar, reconhecer e associar os elementos responsáveis

pela produção dos espaços em múltiplas escalas e as determinações que definem a

construção das paisagens, principalmente daquelas que os cercam. Portanto,

acreditamos que a utilização do material didático em questão permitirá apoiar o

processo de aprendizagem, a fim de que ele se realize de forma mais satisfatória

para professores e alunos.

Eixos estruturantes

Os eixos estruturantes do material elaborado definiram-se a partir

de discussões em torno do objeto de estudo da ciência geográfica, ou seja, a

organização e produção do espaço geográfico, por meio de reflexões sobre a

própria prática pedagógica e os conhecimentos, conceitos ou práticas que

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identificam e organizam o campo de estudo da geografia, tendo como horizonte as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (2006).

Toda a elaboração do material didático, da construção do roteiro que

conduziu o levantamento de dados, a ordenação das idéias e a fase final do

trabalho, foi orientada a partir de três eixos estruturantes: limites, arranjos territoriais

e dinâmica populacional e, a partir deles, procurou-se abordar aspectos da

geografia local, fundamentais para a compreensão dos arranjos espaciais locais.

Estes temas foram escolhidos pela abrangência, possibilidades de análise e

articulação com os conteúdos presentes nos livros didáticos, com os saberes e

conteúdos previstos pelas Diretrizes Curriculares do estado, elementos

fundamentais na definição da linha de desenvolvimento do material didático.

A referência inicial para análise e desenvolvimento dos eixos

estruturantes, partiu do entendimento de que a geografia desenvolveu uma

linguagem própria, e conceitos específicos que precisam ser apreendidos e

trabalhados no ensino, no processo de aprendizagem, para tanto, é preciso também

considerar os conceitos cotidianos, representações já formadas, aos quais se têm

atribuído grande importância. Cavalcanti (1998, p. 88) afirma:

Seja como ciência, seja como matéria de ensino, a Geografia desenvolveu uma linguagem, um corpo conceitual que acabou por constituir-se numa linguagem geográfica. Essa linguagem está permeada por conceitos que são requisitos para a análise dos fenômenos do ponto de vista geográfico.

É importante salientar que no trabalho com cada tema buscamos

informações locais sobre diversos aspectos: Limites – apresentamos subsídios para

a construção de conceitos de divisas, fronteiras, extensões do município e de sua

caracterização física (Clima, relevo, hidrografia, vegetação) relacionando tais

informações com outros espaços. Arranjos Territoriais – neste item enfatizamos a

estrutura fundiária, a estrutura urbana, o uso do solo rural e urbano, considerando a

dimensão da realidade local como significativa e necessária para a efetiva

compreensão do espaço geográfico, isto é, a partir do estudo do local, pode-se

construir uma visão mais crítica e ampla do mundo. Dinâmica Populacional – este

item traz o diagnóstico das características do povoamento, as migrações e a

estrutura populacional que imprimiram marcas no município, produzindo novas

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territorialidades e relacionando com as mudanças políticas e econômicas ocorridas

em escala nacional e mundial.

Limites

A compreensão dos limites do município, da sua divisão político-

administrativa e caracterização física (clima, relevo, hidrografia, vegetação),

conduziram as reflexões sobre este tema, no qual foi imprescindível o uso e

interpretação da linguagem cartográfica. Os objetivos principais e específicos desse

eixo foram delimitar divisas e fronteiras, áreas e extensões do município, identificar

as características físicas do município e distinguir seus aspectos ambientais em sua

inter-relação com as atividades humanas.

Para desenvolvê-lo foi necessário retomar alguns conceitos, noções

e conteúdos, entre eles, limites, perímetro urbano, vegetação, relevo, solo,

hidrografia e clima do município, assim como foi importante o levantamento de

várias questões que permitissem a compreensão, análise e interpretação dos

dados, figuras, mapas e outros recursos que pudessem ser trabalhados nas salas

de aula. Como afirma Pereira (2003, p. 15): “O papel fundamental da Geografia no

ensino básico é o de proporcionar aos alunos os códigos que os permitam decifrar a

realidade por meio da espacialidade dos fenômenos, ou seja, alfabetizar

geograficamente.”

Cada um dos temas trabalhados neste eixo contou com a análise de

material já existente, produzido por profissionais que atuam na área da ciência

geográfica, no ensino da geografia e por órgãos e secretarias públicas (Prefeitura

Municipal de Londrina, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina,

Instituto Agronômico do Paraná, Paranacidade, Sanepar, Comurb, entre outros).

Estes materiais ricos em informações e dados sobre o município, foram levantados

em diversas pesquisas e visitas aos locais citados e, posteriormente analisados e

organizados. Vários mapas, tabelas e gráficos foram levantados e, quando

necessário, reorganizados de maneira tal que pudessem facilitar a compreensão a

fim de serem aproveitados como material de apoio em sala de aula.

Dada a relevância dos conhecimentos e representações

cartográficas para a análise dos conteúdos e conceitos geográficos abordados

neste eixo, e o interesse que o mapa geralmente desperta em nossos alunos,

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consideramos a possibilidade de potencializar esse interesse a fim de utilizá-lo

como suporte na construção do conhecimento. Isso para que o aluno, ao estudar o

ambiente em que vive, aprenda, com o auxílio dos mapas, a fazer a leitura das

geograficidade dos fenômenos do ambiente a fim de associá-las às transformações

provocadas pela ação do ser humano na sua relação com o meio ao longo dos

tempos.

Entendemos que os mapas e cartas geográficas são instrumentos

fundamentais da linguagem e análise geográfica. Por isso, algumas atividades

foram elaboradas considerando que a compreensão dos mesmos deve ser um

processo de decodificação que envolve elementos essenciais como o título, a

escala, as coordenadas geográfica e a legenda, para que a leitura e a interpretação

dos fenômenos representados possa se realizar. As múltiplas possibilidades de

conhecimento do local com as atividades propostas e a leitura dos mapas

apresentados foi uma forma de ampliar a utilização desta linguagem bem como a

visão da cartografia pois reconhecemos que, em sua maior parte, os mapas são

utilizados como mero recurso ilustrativo. Cabe aqui uma referência à Moreira citado

por Katuta (2007, s.p.), em seus estudos sobre a importância das imagens na

geografia, em que ele afirma:

O mapa é o repertório do vocabulário geográfico. E trata-se da melhor representação do olhar geográfico. O mapa é a própria expressão da verdade de que todo fenômeno obedece a um princípio de organizar-se no espaço. [...] O mapa é o fiel da sua identidade. [...] as nervuras do mapa são as categorias mais elementares do espaço: a localização, a distribuição, a extensão, a latitude, a longitude, a distância, e a escala, palavras do fazer geográfico.

Os textos que foram elaborados e que precedem as representações

cartográficas foram organizados para fornecer informações sobre os aspectos

físicos da realidade local a fim de articulá-las com os conhecimentos geográficos

construídos e apreendidos no cotidiano. Espera-se ainda que a escolha desses

temas e o tratamento dado aos mesmos nesta proposta auxilie professores e

alunos, a refletir e reconhecer suas próprias práticas sócio espaciais, uma vez que,

as práticas sociais cotidianas, como argumenta Cavalcanti (1998, p. 135), são

repletas de espacialidade:

Se as práticas sociais cotidianas são carregadas de espacialidade, de geografia, sua realização não ocorre sem o conhecimento dela. [...] a qualidade dessas práticas, rumo a uma prática reflexiva e crítica, pode se alterar quando se altera o conhecimento da espacialidade. [...] o ensino de

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geografia tem a função de lidar com a espacialidade e com o conhecimento geográfico de cada um para provocar neles alterações no sentido de uma ampliação. Isso é possível pela reflexão e pelo exercício de abstração propiciado com o tratamento de conhecimento científicos.

O ensino da geografia pode ser facilitado quando o aluno percebe-se

como parte do contexto estudado, isto é, quando se dá uma aprendizagem das

geograficidades do seu espaço de vivência. Partindo do singular, do local, é

possível estabelecer um diálogo entre as escalas estadual, regional, nacional e

mundial para, a partir destas, novamente retornar ao local. Bertanini (1985, p. 118),

escreve: “Estudar o espaço vivido significa superar a dimensão do espaço

extensão, ou espaço suporte das atividades, para acolher a noção de

representação do espaço, como espaço construído através do olhar das pessoas

que o vivem-habitam.”

A aplicação dos conteúdos e do material didático referente aos

estudos dos limites do município e dos demais conhecimentos associados a este

eixo, em sala de aula, nos fez perceber um maior envolvimento e interesse dos

alunos que participam das aulas expondo idéias e conhecimentos relacionados ao

bairro onde moram, aos locais que freqüentam e às observações do cotidiano

sobre a vegetação, o clima, o solo, o relevo etc. Demonstraram mais entusiasmo,

enriquecendo as aulas com informações que obtiveram por meio do diálogo com os

familiares, as fotos de família, os registros, as experiências e conhecimentos que

antes eram desprezados e que passam a ser valorizados pelos alunos, dada a

importância que, pouco a pouco, vão sendo reconhecidas. Isso porque a utilização

do referido material tornou possível a compreensão da relação entre os

conhecimentos geográficos não formais e os científicos.

Foi interessante notar como os alunos assumem uma postura mais

crítica, perdem o constrangimento e sentem-se inseridos na realidade. Ao expor

suas próprias opiniões, às defendem e, sem dúvida, praticam um dos princípios e

exercícios básicos da cidadania.

Neste sentido, Diamantino Pereira (2003, p. 10) afirma:

A alfabetização, para a geografia, somente pode significar que existe a possibilidade do espaço geográfico ser lido e, conseqüentemente, entendido. Pode transformar-se, portanto, a partir disso, em instrumento concreto do conhecimento, em uma janela a mais para possibilitar o desvendamento da realidade pelo aluno.

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Sob essa perspectiva, o conteúdo apresentado neste eixo poderá

ser abordado como um conhecimento necessário para o desdobramento de outros

temas, enfatizando que o espaço geográfico deve ser compreendido como resultado

da relação Homem X Meio. A elaboração do material didático foi uma forma de

apresentar contribuições que possibilitem a análise e o diálogo entre os diferentes

níveis de escalas (local, regional, nacional e global) com o objetivo de utilizar a

linguagem geográfica para mostrar como e por que os fenômenos se distribuem e se

relacionam no espaço.

As abordagens dos conteúdos deste eixo, assim como dos demais,

devem considerar o princípio da complexidade com um tratamento relacional dos

conteúdos, respeitando a maior ou menor capacidade de abstração do aluno, bem

como sua capacidade de trabalhar com conceitos científicos. Caberá ao professor,

nos diferentes níveis de ensino, fundamental e médio, abordar os conteúdos de

maneira a articular as geograficidades dos aspectos naturais, econômicos, sociais,

políticos e culturais, nas diversas escalas geográficas e nas relações urbano-rurais.

O eixo intitulado “Limites” traz conhecimentos que permitem analisar os fenômenos

na escala local e que podem e devem ser articulados e relacionados, quando

possível, às escalas mais amplas que estimulem reflexões sobre os arranjos

espaciais de maneira contextualizada e não isolada.

Arranjos Territoriais

O tema Arranjos Territoriais teve como propósito auxiliar o aluno a

observar o entorno e a identificar a ordenação territorial dos fenômenos, para que

possa compreender seus significados. Para tanto, enfatizamos a estrutura fundiária

e urbana, o uso do solo rural e urbano, considerando a dimensão da realidade local

e a importância desses temas e outros a eles relacionados, na compreensão de uma

ampla gama de aspectos que constituem o espaço geográfico, que auxiliem a

construir os conceitos básicos da geografia (paisagem, região, lugar, território,

natureza, sociedade), fundamentais na compreensão das relações sócio espaciais

nas diversas escalas geográficas.

Parte-se de uma realidade local, delimitada pelas fronteiras do

município, com a finalidade de investigar sua constituição espacial a fim de que se

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possa compará-la com outros lugares, distantes ou próximos e tornar possível a

leitura dos seus arranjos territoriais.

Ao se fazer a leitura dos arranjos territoriais do município foi

necessário recorrer a um referencial teórico, bem como a conceitos geográficos que

sustentassem nossas reflexões e interpretações.

Em se tratando da composição conceitual da ciência geográfica, é

importante esclarecer que, historicamente, sempre esteve marcada por

interpretações diversas, vinculadas a uma determinada visão dos fatos e fenômenos

e assumindo, consequentemente, posições filosóficas e políticas distintas. Portanto,

é preciso cuidado ao tratar conceitos que são constantes referências nos currículos,

nos livros didáticos e nas salas de aula e que, tantas vezes são retomados,

historicizados e ressignificados em função das mudanças que marcam novos

períodos e exigem outros entendimentos e interpretações dos espaços geográficos e

de seus arranjos territoriais.

Nesse sentido, ao abordarmos o tema Arranjos Territoriais

consideramos uma análise a partir das leituras e notas de Callabi e Indovina (1973,

p. 01) sobre as forças que atuam na configuração dos territórios atualmente: “As

relações capitalistas de produção tendem a se ampliar e abranger toda a sociedade;

são estas relações e o desenvolvimento das forças produtivas que dão a

configuração específica ao território”.

Para o desenvolvimento do tema foi imprescindível um estudo das

relações capitalistas que marcaram e estabeleceram os arranjos territoriais no

município a partir do seu povoamento, no contexto da ordem econômica e política

agrícola mundial que delineava e destacava a importância da agricultura para

economia brasileira na época, e que definiram a divisão territorial do trabalho com

reflexos até os dias atuais. ”Território é um conceito ligado à idéia de relações de

espaço e poder. É no território que ocorre a normalização das ações, tanto globais

quanto locais.” (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÂO, 2006, p. 28). O

território é, portanto, resultado de condições e forças internas e externas, sendo

parte de uma totalidade espacial. O conceito de território é fundamental para a

análise e compreensão do espaço geográfico e pode auxiliar os alunos a

entenderem a lógica da ordenação espacial dos fenômenos e das paisagens, as

relações sócio-históricas e espaciais do modo capitalista de produção, bem como as

questões políticas, econômicas e culturais materializadas no espaço geográfico.

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Para o estudo dos arranjos territoriais do município, foi elaborada

uma série de questões para serem trabalhadas com os alunos, com o objetivo de

refletir sobre os vários aspectos relacionados ao tema, de modo que a abordagem

seja parte da construção dos conhecimentos e permita a compreensão dos arranjos

territoriais. Com este intuito, um conjunto de linguagens como mapas, gráficos,

tabelas, croquis, fotos, imagens, etc. foram utilizados, isso porque, conforme, Katuta

(2004, p. 2), “[...] apesar da riqueza da linguagem escrita, existem aspectos da

geograficidade dos entes que somente podem ser capturados e apresentados por

imagens.”

O desenvolvimento do tema demandou o levantamento de

informações sobre as características da agricultura no município e a sua importância

na economia do país, assim como sua participação no equilíbrio da balança

comercial. Destacamos os produtos agrícolas produzidos no local, seu destino, os

indicadores de uso do solo tais como a área ocupada com lavouras permanentes,

temporárias, pastagens, matas e reflorestamento.

Com essa análise, introduzimos algumas considerações acerca da

inserção do município no contexto da industrialização e da introdução de

equipamentos modernos no campo, cujas conseqüências foram novas condições de

produção e de trabalho para as famílias de trabalhadores rurais, as quais foram

obrigadas a mudar seus hábitos e costumes e entrar no ritmo destas atividades

chamadas modernas, o que implicou em redução das ocupações agrícolas

familiares, bem como dos empregos temporários e permanentes no campo, entre

outras mudanças.

As considerações anteriores permitiram uma reflexão sobre as

mudanças no padrão de distribuição da população rural e urbana no Paraná,

caracterizada pela diminuição da população residente no campo, a perda

populacional de parte dos municípios paranaenses, cuja base era essencialmente

agrícola.

No caso da região Norte do Paraná, esse fenômeno ficou mais

evidente a partir da década de 1980, momento em que a cultura do café já havia

entrado em declínio e a migração, tanto para as cidades maiores como para novas

áreas agrícolas, foi a saída encontrada pelos camponeses. A esse intenso

movimento migratório associamos os impactos ambientais, em particular no que diz

respeito à degradação da flora, destruição da fauna, dos recursos hídricos, em

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função das técnicas de cultivo baseadas em intensa mecanização e larga utilização

de agrotóxicos nas monoculturas que se sucederam.

Dessa maneira, por meio dos textos e questionamentos,

propusemos uma reflexão sobre as transformações das relações entre cidade e

campo, viabilizadas pela adoção de novas tecnologias de produção, somadas à

geração de novas atividades não-agrícolas, dentre essas àquelas ligadas ao turismo

rural que, têm transformado a área em espaço de lazer, criando no campo estruturas

que antes eram típicas do meio urbano. Essas várias formas de organizar o espaço

se integram no processo de produção capitalista industrial.

MOREIRA (2005, p. 3) afirma que:

Uma espécie de fim de divisão de trabalho, técnica e territorial, que recria as relações entre setores econômicos até então estrutural e territorialmente separados, e uma certa homogeneização de valores que expressam um mundo e um modo de vida até então tidos como próprios e privilégio da cidade toma em comum cidade e campo, tornando-os, de novo, um mundo único, desta vez configurado na cultura urbana, que se propaga pelos campos, aí eliminando o que era ainda remanescente da cultura rural do passado.

As diferenças entre cidade e campo, dada a diversidade de usos e

apropriações são enfocadas nos mapas e imagens referentes ao uso desses

espaços, no zoneamento urbano e nos textos que levam à reflexão sobre os fatores

determinantes na configuração e organização desses espaços tais como o poder

aquisitivo da população, a articulação entre poder de regulamentação e a força dos

grupos privados e a especulação imobiliária, fatores que explicam a dinâmica interna

das cidades, assim como a lógica dos vazios urbanos. Dentro dessa proposta,

buscou-se também compreender a participação de cada setor econômico do

município e os fatores que interferem na distribuição espacial das atividades

econômicas.

Entendemos essas questões como pontos essenciais para o aluno

reconhecer a cidade como expressão e produto concreto da realidade social e

econômica do sistema capitalista. Para Callabi e Indovina (1973, p. 4 ) “[...] a cidade,

deste ponto de vista, é um produto total. Ela tem valor de uso e tal valor depende de

necessidades historicamente determinadas, diante de tal valor de uso ela é produto

para a troca, ou seja, ela própria é mercadoria.”

Os dados levantados a respeito dos serviços urbanos, educação,

saúde, lazer, segurança, fornecimento de energia, água, esgoto, meios e vias de

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transporte, coleta de lixo, creches, pontos turísticos, centros de convivência, etc.

foram introduzidos no material didático como elementos para a análise da estrutura

espacial e reflexão sobre o acesso a esses serviços, portanto, à cidadania e à

qualidade vida, e também como suporte para compreender as diversas esferas de

ações e responsabilidades que a elas estão relacionadas, considerando a vivência e

prática cotidiana dos estudantes.

Dinâmica Populacional

A dinâmica populacional é um dos fatores fundamentais para a

compreensão do nosso objeto de estudo, ou seja, a distribuição territorial dos

fenômenos e seus significados na organização e formação dos espaços geográficos.

O intuito é entender como a dinâmica populacional interfere na formação espacial da

sociedade e reportar essa compreensão para o contexto da cidade, do município.

Assim, fizemos um diagnóstico das características do povoamento,

das migrações e da estrutura populacional que imprimiram marcas no município,

produzindo novas territorialidades relacionadas com as mudanças políticas e

econômicas ocorridas em escala nacional e mundial.

As formas espaciais concretas presentes em diferentes territórios

são o resultado da relação Homem-Natureza, que se realiza por meio do trabalho,

relação regulada e controlada pelos mecanismos do capitalismo e historicamente

determinadas por ele.

A dinâmica da população no espaço, no contexto das sociedades

atuais, deve ser compreendida como uma exigência de adaptação às necessidades

de reprodução e acumulação do capital. Assim, os grupos se deslocam motivados

por diversos fatores, mas são principalmente, aqueles ligados ao desenvolvimento

econômico dos lugares os que, em grande parte, desenham as trajetórias de

deslocamento da população no espaço da sociedade moderna. A dinâmica

populacional, em suas expressões espaciais, contribui para a compreensão da

formação de diferentes geograficidades, sendo um dos aspectos da mesma.

Qualquer que seja o ponto de entrada ou de saída dos grupos humanos, estes

obedecerão a lógica sobre a qual se apóia o raciocínio geográfico “[...] de que todo

fenômeno obedece ao princípio de organizar-se no espaço” ( Moreira, 2006, p.174,

apud KATUTA, 2005, p. 3).

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Materializam-se no espaço as transformações dos lugares, as

diferentes formas de viver e se organizar decorrentes do modelo econômico atual,

do desenvolvimento das forças produtivas e do avanço tecnológico. “A

geograficidade é, assim, o ser-estar espacial do ente. É o estado do ser no tempo-

espaço. Um princípio válido e atribuível a qualquer ente – pode ser o homem, um

objeto natural ou o próprio espaço [...]” (MOREIRA, 2004, p. 34).

O diagnóstico da dinâmica populacional do município, das suas

características do seu povoamento, das migrações e da sua estrutura populacional,

as mesmas que imprimiram marcas no município produzindo novas territorialidas,

permite a elaboração de uma leitura das espacialidades, das formas em que os

grupos sociais se organizam no espaço-tempo, dadas suas relações com as

mudanças políticas e econômicas ocorridas em escala nacional e mundial, e

pressupõe o entendimento das geograficidades engendradas pela dinâmica

populacional em escala local.

Esse conhecimento sobre a dinâmica populacional e a formação das

diferentes geograficidades contribui, em larga medida, para o entendimento dos

problemas, tais como: déficit de moradia, carência de infra-estrutura e equipamentos

urbanos em determinados locais da cidade, ocupações irregulares (assentamentos e

favelas), crescimento do setor informal, entre outros. Estes problemas são aqueles

com os quais nos defrontamos atualmente e que requerem políticas públicas

voltadas para as necessidades de rearrumação dos arranjos geográficos do

município.

A geografia, utilizando e interpretando diversas linguagens, mapas,

gráficos, tabelas e imagens conduz a uma leitura da paisagem e representação das

geograficidades. “Isso ocorre quando a paisagem se revela em sua essência ao

corpo que a experiência como espaço-tempo-mundo, o espaço aparecendo como a

forma de existência do homem-no-mundo.” (MOREIRA, 2004, p. 194).

Para a apresentação dos conteúdos que se referem à dinâmica

populacional, em escala local, procuramos organizar informações e dados

relevantes do município que permitissem a compreensão dos movimentos e

deslocamentos populacionais nessa escala, principalmente, aqueles cujos

resultados foram fundamentais na organização do espaço e na geograficidade do

município.

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O material didático produzido a partir deste tema, teve por finalidade

apresentar e permitir a análise da evolução demográfica da população em diversas

escalas (municipal, estadual, regional, nacional). Disponibilizando dados

principalmente do período de 1970 a 2000, que enfocam as transformações

capitalistas no campo (modernização, mecanização e mudança de culturas),

intensificadas a partir desse período que, aliadas à atração ideológica exercida pelas

cidades, provocaram um grande fluxo migratório em direção aos centros urbanos.

Apresentamos também orientações pedagógicas para a discussão dos fatores e

conseqüências desencadeadas pelos referidos processos na organização da

paisagem e dos arranjos territoriais do município.

Para desenvolver o tema foi necessário coletarmos dados que

permitissem a verificação dos diversos aspectos relacionados à dinâmica

populacional, entre eles, o povoamento, a migração, a evolução da população

urbana, a questão da segurança pública, a qualidade de vida, o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) em diversas escalas geográficas e a composição

etária da população dos municípios.

Ao tratarmos das questões sobre o povoamento, as migrações e a

evolução da população urbana, reconhecemos a complexidade das mesmas que

explicam a dinâmica da população. A humanidade dispõe da possibilidade de

deslocamento nos diferentes territórios da superfície da Terra e vários motivos

impulsionaram os homens a migrarem, como a escassez de alimentos, a busca de

alternativas de sobrevivência, a conquista de novos territórios, crises econômicas,

fugas políticas e religiosas e outros.

As migrações acontecem desde a pré-história e continuam

ocorrendo até nossos dias, permitindo o povoamento do mundo, a expansão,

disseminação ou mesmo a redução e fusão das línguas, das etnias, assim como do

próprio conjunto de conhecimento produzido pelos distintos grupos humanos.

Os movimentos migratórios têm se realizado de forma contínua,

entretanto, em cada período histórico, diferentes motivos direcionaram seus fluxos e

contingentes populacionais. A partir deles, nos propusemos a investigar e apresentar

os processos da formação sócio-histórica-territorial do município e seus fluxos

migratórios desde os primeiros moradores até a atualidade.

No que se refere à apresentação dos processos de ocupação e

organização do espaço urbano do município, evidenciou-se a segregação sócio-

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espacial e os mecanismos e conseqüências desse processo que se espacializam na

paisagem e nos arranjos espaciais.

No material didático destacou-se um dado interessante para análises

e comparações em sala de aula, a existência de municípios que tiveram uma

diminuição da sua população, enquanto outros registraram aumento expressivo,

sendo este último o caso de Londrina. Portanto, o ritmo de crescimento populacional

se comportou de maneira distinta nos municípios do Paraná, dependendo das

oportunidades de emprego e de geração de riquezas e de equipamentos urbanos

que cada localidade ofereceu. Londrina atraiu e atrai pessoas de outros municípios e

até de outros estados, enquanto Sertanópolis, apenas para citar um exemplo, a

partir da década de 1970 teve sua população bastante reduzida. Essa informação

fez com que os alunos expusessem suas opiniões e participassem das aulas com

novos dados de outros municípios vizinhos que conheciam, indagando e

acrescentando informações sobre situações vivenciadas por eles próprios ou

parentes e amigos que vivem em outras localidades próximas ou distantes.

É necessário frisar que os fluxos migratórios estão relacionados às

transformações econômicas, políticas, técnicas, culturais e geográficas que se

territorializam, ou seja, materializaram-se na organização de novas formas

paisagísticas no espaço-tempo.

A partir da apresentação de fatores ligados às condições naturais,

aos arranjos espaciais e à dinâmica populacional, estabelecemos correlações que

interferiram no processo de ocupação dos municípios. Assim como foi possível

identificar a influência das políticas públicas na entrada e saída da população do

município, as investigações possibilitam a análise das tendências atuais dos

deslocamentos populacionais correlacionadas com os arranjos espaciais.

A segurança pública foi outro aspecto inserido no material didático, a

partir dos estudos sobre a dinâmica populacional, objetivando a compreensão sobre

as mudanças que ocorreram nos hábitos da população das cidades,

independentemente de seu porte, provocadas por situações de violência, ou por

manifestações cada vez mais agressivas da insatisfação e exclusão de grupos

sociais, que são amplamente disseminadas pela mídia, geralmente de forma

sensacionalista e indiscriminada.

Em parte, isso se explica porque a base do processo capitalista está

na concentração do capital em poucas mãos, caracterizada pela exploração do

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trabalho, extração de mais valia, divisão de classes, e é nas cidades, espaço

comum de pobres e ricos, onde as desigualdades tornam-se mais evidentes.

Principalmente, aquelas cidades que, graças a sua posição econômica e geográfica,

tornaram-se pólos de atração de milhares de pessoas, incluindo pobres, expulsos do

campo e de outras cidades pela modernização da agricultura e dos serviços.

Partindo dessas considerações, procurou-se apresentar dados sobre a

espacialidade da violência, assim como possibilitar a discussão dos fatores por ela

responsáveis.

Utilizamos também, para efeito de análise e comparação, o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) que é um parâmetro que permite avaliar o nível de

desenvolvimento de um país, região ou cidade e a qualidade de vida da população

com base em indicadores socioeconômicos como: escolaridade, renda per capita e

longevidade. Este índice é estabelecido e utilizado pela Organização das Nações

Unidas (ONU) desde 1990.

No trabalho didático produzido foram utilizados dados referentes ao

melhor e ao pior IDH para as diversas escalas do território brasileiro, possibilitando a

comparação entre eles. O objetivo da utilização dos dados e mapas disponibilizados,

principalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto

Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, foi relacionar o IDH do

Paraná com outros estados, enfatizando os motivos dessa geograficidade e fazer

uma análise comparativa da territorialidade desse índice nas diferentes regiões do

estado, tendo como parâmetro o IDH municipal.

Para entender o item “renda per capita”, foram sugeridas algumas

questões com o intuito de chamar a atenção, tanto dos professores como dos

alunos, para a análise do seu cotidiano sócio-espacial, principalmente no que tange

à realidade socioeconômica do município.

O mesmo procedimento foi utilizado para a exploração dos dados e

dos conteúdos sobre a expectativa de vida, fecundidade e mortalidade infantil. A

partir de questões direcionadas aos alunos, buscou-se atingir um nível de

entendimento sobre indicadores que representam características importantes sobre

o comportamento da população do município com a finalidade de compará-las e

relacioná-las com outras escalas de análise.

E ainda pretendendo despertar a compreensão da importância da

escola, da educação como elemento fundamental para o desenvolvimento da nação,

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para as realizações que pretendem mudanças na qualidade de vida e por justiça

social, foram propostas várias questões com o objetivo de proporcionar um repensar

sobre o papel social da escola e sobre as políticas educacionais no âmbito das

escolas públicas.

Para a análise da composição etária e da evolução do crescimento

da população foram utilizados gráficos conhecidos como pirâmides etárias ou

pirâmides de idades.

A partir da apresentação das pirâmides etárias do Brasil, do Paraná

e do município, pretendeu-se destacar os números da natalidade, da mortalidade

infantil e da expectativa de vida dessas populações e, então, possibilitar a

comparação da evolução da pirâmide etária em diversas escalas temporais e

espaciais, bem como o estabelecimento das hipóteses que explicam as respectivas

diferenças.

Os conteúdos introduzidos com o tema sobre a dinâmica

populacional devem induzir nossos alunos a refletirem e concluírem que o futuro de

um país ou região depende de um bom planejamento e de políticas demográficas

bem estruturadas para poder sobreviver e conseguir se desenvolver

economicamente. A abordagem e o estudo do tema é fundamental para que

possamos entender e desvendar as complexidades que produzem a ordenação

espacial da sociedade atual.

O ir e vir da população em busca de sobrevivência e de um mundo

melhor é o que impulsiona esse dinamismo populacional e expressa a sociedade

onde estamos inseridos. Acreditamos que relacionar os conhecimentos dos

estudantes no âmbito da escola e da sala de aula e também aqueles que

cotidianamente são adquiridos através dos meios de comunicação é de extrema

importância sobretudo no que se refere à construção de conceitos geográficos, o

que permite o entendimento da realidade que, por sua vez, pode auxiliar na atuação

dos professores e alunos na produção de um espaço menos excludente.

.

As experiências da implementação do material didático em sala de aula

Em sala de aula, no decorrer do ano letivo de 2008, tivemos

oportunidades de colocar em prática a proposta deste material didático. As idéias

que fundamentaram a construção deste material, assim como, o engajamento na

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reflexão contínua sobre nossa própria prática pedagógica nos auxiliaram a repensar

nosso planejamento, a elaboração dos planos de aulas, principalmente, no que se

refere à seleção e ao tratamento dado aos conteúdos da disciplina de geografia.

É importante lembrar que, a metodologia de ensino proposta neste

material didático tem como objetivo permitir que os alunos compreendam o processo

de transformação do espaço a partir das transformações ocorridas na realidade em

escala local. A contextualização dos conteúdos geográficos devem fornecer os

conhecimentos necessários para “[...] situá-lo historicamente e nas relações

políticas, sociais, econômicas e culturais, em manifestações espaciais concretas,

nas diversas escalas geográficas” (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO,

2008, p. 32).

Ao apresentarmos aos alunos diversos dados, mapas, figuras ou

outros recursos disponíveis sobre o município, após uma série de indagações e

questionamentos que os levaram a refletir sobre o seu cotidiano e seus espaços de

vivência, percebemos que estes passam a ficar intrigados, críticos e reflexivos,

atitudes estas que, para nós professores, foram extremamente novas, uma vez que

o desinteresse pelos conteúdos escolares é fato tantas vezes mencionado nas

reuniões pedagógicas e objeto de estudo de diversos teóricos que escrevem sobre a

educação. Obviamente que não motivamos e atingimos todo o grupo com tal

interesse, mais foi notória a participação e o envolvimento de uma significativa

parcela da turma.

A relevância da proposta também fica exemplificada pelo melhor

desempenho dos alunos quando se dá a avaliação dos conteúdos que foram

estudados e relacionados com a realidade do espaço local, isso porque estes

permitem uma apropriação dos conhecimentos com maior facilidade e clareza.

Considerando as experiências ao utilizarmos o material didático e

que norteou nossas atividades e práticas em sala de aula e, dependendo das séries

com quais trabalhamos e dos conteúdos a serem desenvolvidos, o professor poderá

dar o enfoque e o tratamento que considerar necessário para que a compreensão

dos conteúdos geográficos e a construção dos conceitos básicos da disciplina

possam ser mais facilmente apreendidos. Sob essa perspectiva, o professor poderá

enfatizar a abordagem dos fatos e fenômenos na escala local ou utilizá-los como

material complementar aos conteúdos apresentados no livro didático nas escalas

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regionais, nacionais e mundiais. Segunda Callai, autora citado nas Diretrizes

Curriculares de Geografia do Paraná:

[...] As explicações para entender a realidade estudada exigem um vaivém constante entre os diversos níveis [escalas] de análise, em que se cruzam as interpretações que decorrem do local ou do regional, considerados em sua totalidade, e os níveis nacional e internacional. (CALLAI, 2003, p. 61 apud SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, 2008, p. 34).

À medida que incentivarmos os alunos à constantes reflexões sobre

os diversos aspectos e elementos da organização dos diferentes espaços mundiais,

não podemos esquecer o que nos diz Santos (1996, p. 252) “Cada lugar é, à sua

maneira, o mundo”

Assim, sempre que necessário, retomamos aspectos e elementos

do espaço local (local/global/local) e os conduzimos a uma análise mais ampla do

espaço geográfico, do processo de globalização e, consequentemente, damos um

maior significado aos conteúdos do ensino de geografia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção do material didático em foco nos permitiu ampliar

conhecimentos sobre a geografia do município, desde o início de sua ocupação e

inserção no modelo capitalista econômico brasileiro e mundial, até a sua

consolidação como pólo regional no norte do Paraná e os arranjos espaciais locais

que se estabeleceram para manutenção e desenvolvimento da sua economia,

configurando características sociais, políticas e culturais específicas e distintas.

Esses conhecimentos, ao serem disseminados nos levam a

resultados que incentivam à constante pesquisa e atualização, facilitam o trabalho e

a prática pedagógica e a compreensão do espaço geográfico, dos conceitos e das

relações sócio/espaciais nas diversas escalas geográficas.

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