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Genero Digital No Ensino de Lingua Portuguesa
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UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Letras
Adriana Yoshiko Shiiya
Eliane Cristina Betti Delmanto
Valéria Consentino Flausino
GÊNERO DIGITAL
NO ESTUDO DA LÍNGUA PORTUGUESA
LINS – SP
2010
Adriana Yoshiko Shiiya
Eliane Cristina Betti Delmanto
Valéria Consentino Flausino
GÊNERO DIGITAL
NO ESTUDO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Letras, sob a orientação da Prof.ª Lídia Helena Gomes de Oliveira.
LINS – SP
2010
Adriana Yoshiko Shiiya
Eliane Cristina Betti Delmanto
Valéria Consentino Flausino
GÊNERO DIGITAL
NO ESTUDO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,
para obtenção do título de Licenciado em __________________________.
Aprovada em: _____/_____/ _____
Banca Examinadora:
Prof.ª Orientadora: ________________________________________________
Titulação: _______________________________________________________
_______________________________________________________________
Assinatura:_________________________________
1º Prof.(a): ______________________________________________________
Titulação: _______________________________________________________
_______________________________________________________________
Assinatura: ________________________________
2º Prof.(a): ______________________________________________________
Titulação: _______________________________________________________
_______________________________________________________________
Assinatura: ________________________________
À minha família e aos meus amigos, em
especial, aos meus pais, à minha irmã e ao meu
noivo que me deram força, estímulo e me
impulsionaram a buscar vida nova a cada dia, além
de terem aceitado privarem-se de minha companhia
em horas de estudos, concedendo-me a
oportunidade de me realizar e crescer ainda mais
Adriana Yoshiko Shiiya
Ao meu querido irmão, meus pais, sogros,
marido, professores, às minhas colegas de sala que
se tornaram grandes amigas e a todos aqueles que
me apoiaram e incentivaram para a realização deste
tão almejado sonho e, principalmente, às minhas
amadas filhas Giovanna e Giulia, que se
sacrificaram, tendo que compreender a minha
ausência por tantas e tantas vezes
Eliane Cristina Betti Delmanto
A Deus dirijo minha maior gratidão. Mais do
que me criar, deu propósito à minha vida. Vem dEle
tudo o que sou, o que tenho e o que espero.
Aos meus pais, Roberto e Tereza, que mais
do que me proporcionar uma boa infância, formaram
os fundamentos do meu caráter, por serem a minha
referência de tantas maneiras e estarem sempre
presentes na minha vida de uma forma
indispensável.
Ao meu esposo, Onivaldo, companheiro
incondicional, a quem amo, por me fazer sentir tão
querida, e também por todo apoio e compreensão de
sua parte.
Aos meus familiares, amigos, e
especialmente, aos meus filhos, Roberta, Diego e
Robson, tão amados, dos quais me ausentei quando
estive em busca de realizar meu sonho.
À Olivia, minha amiga e irmã, pelo incentivo e
orações que vieram, principalmente, quando mais
delas precisei e foram essenciais para mim
Valéria Consentino Flausino
AGRADECIMENTOS
A DEUS pela oportunidade e pelo privilégio que nos foram concedidos
em compartilhar tamanha experiência e ao frequentar este curso, cuja
relevância de temas incorporam-se, em profundidade, a nossas vidas.
Às nossas famílias pela paciência em tolerar a nossa ausência.
À nossa Orientadora, Prof.ª Lídia Helena Gomes de Oliveira, pelo
incentivo, simpatia e presteza no auxílio às atividades e discussões sobre o
andamento e normatização desta Monografia de Conclusão de Curso.
A todos os professores, principalmente às professoras Ed e Silvani, pelo
carinho, dedicação e entusiasmo demonstrado ao longo do curso e por
contribuírem para a construção de nossos novos conhecimentos e
aprendizagem durante essa árdua caminhada de nossas vidas.
EPÍGRAFE
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida e viver com paixão, perder com
classe e vencer com ousadia, porque o mundo
pertence a quem se atreve e a vida é muito curta
para ser insignificante.
(Charles Chaplin)
RESUMO
Esse estudo aborda o Gênero Digital que está cada vez mais presente na vida de todos e tem sido indispensável na realização de diversas atividades sociais. A escrita digital tem desencadeado mudanças que refletem o seu impacto na identidade do sujeito, principalmente, nos jovens que estão em plena formação escolar. As novas tecnologias têm causado uma revolução, principalmente, na área linguística, propiciando assim, o surgimento de novos gêneros. Como todo processo de transformação passa por processos históricos globalizados, levam-se em consideração estudos específicos sobre gêneros textuais e gêneros digitais, com destaque para Crystal (2005), Caiado (2007), Marcuschi (2008) e Sousa (2007). Busca-se por meio desse trabalho analisar a escrita desses jovens no ambiente virtual, enfocando a escrita digital utilizada nos “scraps” do Orkut e nos “chats” do MSN; comparando-se assim, o tipo de escrita utilizado na área virtual e a escrita formal no ambiente escolar. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a de campo, sendo realizada por meio de aplicação de questionários e estudo comparativo de casos. Palavras-chave: Gênero Digital. Gênero Textual. Escrita. Leitura.
ABSTRACT
This study is about the Digital Genre that’s been increasingly present in everyone's life and has been indispensable for the achievement of several social activities. Digital writing has been unleashing changes that reflects its impact on the identity of the subject, especially, in young people who have been in full training school. New technologies have been causing a revolution, especially, in the linguistic area, thereby providing the emergence of new genres. As every procedure of transformation passes through historical process of globalization, it takes the specific studies on textual and digital genres into consideration, with prominence to Crystal (2005), Caiado (2007), Marcuschi (2008) and Sousa (2007). It tries by this research to analyze the writing of these young people in the virtual environment focusing the digital writing used on the "scraps" in Orkut and on the “chats” in MSN; thereby comparing the type of writing used in the virtual area and formal writing in the school environment. The methodology used was the bibliographical and field research that was done through the application of questionnaires and comparative study of cases.
Keywords: Digital Genre. Textual Genre. Writing. Reading.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................11
CAPÍTULO 1 – GÊNERO TEXTUAL....................................................................13
1.1 DEFINIÇÃO DE GÊNERO E TIPO TEXTUAL ............................................13
1.2 AS NOVAS TECNOLOGIAS E OS NOVOS GÊNEROS TEXTUAIS ..........17
CAPÍTULO 2 – GÊNEROS DIGITAIS ..................................................................22
2.1 A REVOLUÇÃO DA LINGUAGEM..............................................................22
2.2 OS TIPOS DE GÊNEROS DIGITAIS..........................................................25
2.2.1 O e-mail ................................................................................................26
2.2.2 O chat ou sala de bate papo .................................................................27
2.2.3 Vídeo-conferência interativa .................................................................27
2.2.4 Listas de discussão...............................................................................28
2.2.5 Blogs (Weblogs)....................................................................................28
2.2.6 Redes Sociais ou Sites de Relacionamento .........................................28
2.3 OS SITES MAIS USADOS: ORKUT, TWITTER, FORMSPRING, FACEBOOK, MSN MESSENGER ........................................................................29
2.3.1 ORKUT .................................................................................................29
2.3.2 TWITTER..............................................................................................29
2.3.3 FORMSPRING......................................................................................30
2.3.4 FACEBOOK ..........................................................................................30
2.3.5 MSN MESSENGER ..............................................................................30
CAPÍTULO 3 – ESCRITA DIGITAL X ESCRITA FORMAL .................................32
3.1 A INFLUÊNCIA DA ESCRITA DIGITAL SOBRE A NORMA CULTA ..........32
3.2 ALGUMAS TÉCNICAS DA ESCRITA DIGITAL ..........................................38
CAPÍTULO 4 – PESQUISA DE CAMPO..............................................................43
4.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS E DADOS ESPECÍFICOS .....................43
4.2 ANÁLISE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS.................................43
4.2.1 A Notação Escrita nos Scraps (Orkut) e nos Chats (MSN) ..................43
4.2.2 A Notação Escrita no Ambiente Escolar ..............................................47
CONCLUSÃO.......................................................................................................50
REFERÊNCIAS ....................................................................................................51
11
INTRODUÇÃO
Atualmente, vivemos na chamada sociedade da informação em um
tempo cuja comunicação é mediada por computador e as questões de
linguagem representam um papel fundamental na vida “pós-moderna”.
Essa nova era marcada pelo surgimento de novas formas midiáticas,
principalmente pela Internet, tem proporcionado grandes mudanças em todos
os aspectos diretamente ou indiretamente relacionados a elas, como
conceitualmente o tempo e o espaço, além de propiciar uma mudança no
suporte de leitura e escrita.
Os gêneros têm sofrido uma grande revolução e transformação devido
ao aparecimento da era digital. Com isso, surgem novos gêneros digitais,
provenientes de gêneros já existentes. Esse processo é designado, por
Bakhtin, de “transmutação”, fenômeno que explica a formação dos gêneros
complexos, os quais são originados dos gêneros primários que, ao se
transmutarem de uma esfera para outra, geram novos gêneros com um estilo
similar ao domínio discursivo que o absorveu. Segundo Fiorin (2008, p. 65):
Não só cada gênero está em incessante alteração; também está em contínua mudança seu repertório, pois, à medida que as esferas de atividade se desenvolvem e ficam mais complexas, gêneros desaparecem ou aparecem, gêneros diferenciam-se, gêneros ganham um novo sentido. Com o aparecimento da internet, novos gêneros surgem: o chat, o blog, o mail, etc.
Esses novos gêneros surgem mediante uma necessidade sócio-
comunicativa e atratividades exercidas pela mídia eletrônica.
Em relação à questão da linguagem utilizada no ambiente virtual,
observamos diversas modificações na forma escrita; a escrita digital é muito
diferente da escrita formal, devido à necessidade de comunicação no mais
curto espaço de tempo possível, em ambientes síncronos com vários
interlocutores; expressa também o caráter “falado” ao que compulsoriamente
12
tem de ser escrito, além de proporcionar uma grande interação e criar vínculos
afetivos entre os usuários. Com isso, a escrita digital tem que ser breve e
concisa, ou seja, uma escrita abreviada que causa modificações no próprio ato
de ler e de escrever das crianças e dos jovens.
Com todas essas transformações mencionadas e pela crescente
presença dessa tecnologia no dia-a-dia dos adolescentes e da sociedade em
geral, é preciso refletir sobre as mudanças que a Internet trouxe em relação à
escrita.
Esse trabalho descreve mudanças da escrita na era digital e sua
influência em relação à escrita formal e reflete também sobre o impacto do
avanço tecnológico na identidade do sujeito.
O foco do trabalho são os novos gêneros digitais que se têm configurado
como novos desafios para a comunidade educacional no ensino da língua
portuguesa, apontando para a necessidade de mudança de antigos
paradigmas em relação ao ensino da escrita formal.
Como todo processo de transformação passa por processos históricos
globalizados, levam-se em conta estudos específicos sobre gêneros textuais e
gêneros digitais, com destaque para Caiado (2007), Crystal (2005), Marcuschi
(2008) e Sousa (2007).
Três objetivos mais amplos destacam-se como ponto de partida para a
produção desse trabalho: o primeiro, a discussão acerca da noção de gênero
textual discutida por diversos teóricos, inclusive no que se refere à
transmutação dos gêneros. O segundo objetivo, a discussão em relação à
mudança revolucionária da linguagem e a comunicação, através do ambiente
digital com seus diversos tipos de gêneros digitais. O terceiro objetivo refere-se
à influência da escrita digital em relação à escrita formal.
O último objetivo corresponde a um caráter mais específico, consiste em
realizar uma análise comparativa entre a escrita formal e a escrita digital com
os jovens nos seus diferentes ambientes, envolvendo a análise de scraps
escritos no site de relacionamento como o Orkut ou os chats realizados no
MSN e as anotações feitas em cadernos, avaliações escolares, produção de
texto, etc. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a de campo
sendo realizada por meio de aplicação de questionários e estudo comparativo
de casos.
13
1 GÊNERO TEXTUAL
1.1 DEFINIÇÃO DE GÊNERO E TIPO TEXTUAL
Segundo Aristóteles, os gêneros textuais se dividiam em três categorias.
Depois, passaram a designar-se categorias literárias bem definidas que foram
ampliando-se e subdividindo-se. Atualmente, a concepção de gênero textual
engloba toda e qualquer produção textual. Essa flexibilização do conceito de
gênero atingiu um grau tão elevado que ficou difícil caracterizar essa categoria
que chamamos de gênero textual. Portanto, o estudo e a reflexão sobre o
gênero textual não é só importante, mas fundamental por ele ser tão antigo
quanto à linguagem na qual está envolto.
Partimos da ideia de que a comunicação oral só é possível por algum
gênero textual. Para compreender a distinção entre gêneros e tipos textuais,
Marcuschi (2005, p. 22-23) aborda algumas definições dos seguintes autores:
Douglas Biber, John Swales, Jean-Michel Adam, Jean-Paul Bronckart:
a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Seus tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante.
14
Antes de continuarmos a falar de gêneros textuais, seria importante
definir mais uma noção que é a expressão domínio discursivo. Para Marcuschi
(2005, p. 23-24):
Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade humana. Esses domínios não são textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante específicos. Do ponto de vista dos domínios, falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc., já que as atividades jurídica, jornalística ou religiosa não abrangem um gênero em particular, mas dão origem a vários deles[...].
Em relação às observações acima, não se deve confundir texto e
discurso, pois não são a mesma coisa. Pode-se dizer que texto é uma entidade
concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual.
Discurso é aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância
discursiva. Assim, o discurso se realiza nos textos. Em outros termos, os textos
realizam discursos em situações institucionais, históricas, sociais e ideológicas.
Para a noção de tipo textual: predomina a identificação de sequências
linguísticas típicas; de gênero textual: predominam os critérios de ação prática,
circulação sócio-histórica, funcionalidade, conteúdo temático, estilo e
composicionalidade; dos domínios discursivos são as grandes esferas da
atividade humana em que os textos circulam.
É importante ressaltar que os gêneros são entidades comunicativas e
não entidades formais, pois os gêneros são formas verbais estáveis realizadas
em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios
discursivos específicos.
Marcuschi (2008, p. 16) em seu trabalho destaca algumas afirmações de
Bazerman:
Apesar de nosso interesse em identificar os gêneros e classificá-los, parece impossível estabelecer taxonomias e classificações duradouras, a menos que nos entreguemos a um formalismo reducionista. Pois, as nossas identificações de
15
formas genéricas sempre terão curta duração. As classificações são sempre recortes do objeto e não agrupamentos naturais, por isso são sempre de base teórica. Os gêneros são o que as pessoas reconhecem como gêneros a cada momento do tempo, seja pela denominação, institucionalização ou regularização. Os gêneros são rotinas sociais de nosso dia-a-dia.
Os gêneros textuais não se caracterizam como formas estruturais
estáticas e definidas, pois são fenômenos sócio-históricos e culturalmente
sensíveis, então seria meramente impossível fazer uma lista fechada de todos
os gêneros. Alguns estudiosos alemães de linguística chegaram a nomear mais
de 4000 gêneros, por isso, qualquer teoria com uma classificação geral dos
gêneros não foi adiante.
Então, no estudo dos gêneros textuais devemos voltar nosso foco
principalmente para o funcionamento da língua e para as atividades culturais e
sociais. Assim, os gêneros não devem ser vistos como estruturas rígidas e
imutáveis, mas sim como formas culturais e de conhecimento, concretizadas na
linguagem, das ações sociais em um determinado contexto e em uma
determinada época, ou seja, o gênero textual é dinâmico e mutável no tempo.
Atualmente, existe uma grande quantidade de teorias de gêneros sendo
aquelas que procuram classificar os gêneros preferencialmente pela forma ou
estrutura perderam espaço para as que buscam observar os gêneros
justamente naquilo que lhe é mais peculiar, ou seja, seu lado dinâmico,
processual, social, interativo e cognitivo.
O estudo do gênero não deve ser feito para classificá-lo e catalogá-lo de
forma rígida, mas sim para realçar sua principal característica, a fluidez, que
possibilita de uma forma dinâmica e interativa, pois o gênero transmuta-se e
recria-se constantemente, acompanha as transformações da linguagem,
conforme o contexto histórico, social, científico, religioso e cultural.
Devemos considerar os gêneros textuais como uma parte constitutiva de
uma sociedade numa determinada época, visto que ao invés de ser uma forma
pré-concebida com uma estrutura rígida em que se inserem as manifestações
sociais, os gêneros surgem das manifestações sociais de uma determinada
época que, ao se reiterarem em determinado espaço de tempo, fazem surgir
16
um novo gênero textual. Daí o porquê de se dizer que não se identifica um
gênero pela sua forma, mas sim pela sua repetida manifestação.
Vale a pena ressaltar o que Swales diz a respeito da expressão gênero,
segundo Marcuschi (2005, p. 29-30), “hoje, gênero é facilmente usado para
referir-se a uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou
escrito, com ou sem aspirações literárias”. Os gêneros são os reflexos das
estruturas sociais decorrentes e típicas de cada cultura, sendo assim, a
variedade cultural traz consequências significativas para a variação de
gêneros.
Todos os textos se manifestam sempre num ou noutro gênero textual,
pois qualquer trabalho com texto deve ser feito baseado nos gêneros, sejam
eles orais ou escritos.
Os gêneros textuais distribuem-se tanto na oralidade quanto na escrita,
desde os mais formais aos mais informais, em torno de todos os tipos de
contextos e situações da vida cotidiana. Mas há alguns gêneros que só são
recebidos na forma oral apesar de sua origem ter originado da forma escrita,
como é o caso das notícias de televisão ou rádio. Ouvimos as notícias, mas
antes elas foram produzidas na forma escrita e são lidas (oralizadas) pelo
apresentador ou locutor.
Para Biber (1988), por meio dos objetivos dos falantes e no tópico
tratado que os gêneros são geralmente determinados, sendo assim uma
questão de uso e não de forma. Pode-se dizer que os gêneros textuais
baseiam-se em critérios externos (sócio-comunicativos e discursivos), e
enquanto os tipos textuais baseiam-se em critérios internos (linguísticos e
formais).
Em relação ao gênero textual é necessário que tanto a sua produção
quanto ao seu uso sejam adequados a cada situação. Para Marcuschi (2005, p.
34)
[...] é um caso de adequação tipológica, que diz respeito à relação que deveria haver, na produção de cada gênero textual, entre os seguintes aspectos: • natureza da informação ou do conteúdo veiculado; • nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc.)
17
• tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira, solene etc.) • relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social, formação etc.) • natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas.
É possível que essa relação obedeça a parâmetros rígidos devido às
rotinas sociais presentes em cada situação cultural e social, de modo que sua
desatenção poderia acarretar problemas. É importante que se leve em
consideração todos os aspectos citados acima para que seu uso seja
adequado a determinada situação.
1.2 AS NOVAS TECNOLOGIAS E OS NOVOS GÊNEROS TEXTUAIS
No Ocidente, os gêneros textuais estão sendo estudados há pelo menos
vinte e cinco séculos, portanto, não é um assunto novo, se considerarmos que
sua observação sistemática iniciou-se em Platão. Segundo Marcuschi (2008), o
estudo dos gêneros textuais encontrava-se concentrado na literatura desde os
tempos mais antigos. Ele surgiu com Platão e Aristóteles, tendo origem em
Platão a tradição poética e em Aristóteles a tradição retórica, agora ultrapassa
as fronteiras e vem para a linguística.
O estudo dos gêneros textuais tem sido feito continuamente, por meio de
análise à abundante diversidade das fontes e perspectivas dos temas sobre o
assunto. Devido ao interesse crescente de estudiosos de diversas áreas, o
estudo de gêneros textuais tem-se tornado cada vez mais interdisciplinar.
Na verdade, a interdisciplinaridade está hoje cada vez mais presente no
estudo dos gêneros textuais, em especial, na linguagem em funcionamento e
nas atividades culturais e sociais. Desde que não idealizamos os gêneros como
modelos e estruturas rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação
social corporificadas na linguagem, os quais somos levados a ver os gêneros
como entidades dinâmicas cujos limites e demarcação se tornam fluidos. Para
Marcuschi (2008, p. 154):
18
[...] é impossível não se comunicar verbalmente por algum gênero, assim como é impossível não se comunicar verbalmente por algum texto. Isso porque toda a manifestação verbal se dá sempre por meio de textos realizados em algum gênero.
Seguindo seu conhecimento pode-se afirmar que o gênero textual
centraliza-se no trato sociointerativo da produção linguística.
Consequentemente estamos submetidos a uma grande variedade de gêneros
textuais, de modo que sua identificação torna-se completamente difusa e
aberta, sendo eles inúmeros, tal como lembra muito bem Bakhtin (apud
MARCUSCHI, 2008), mas não infinitos.
Segundo Carolyn Miller (apud MARCUSCHI, 2008, p. 159):
Os gêneros são formas verbais de ação social estabilizadas e recorrentes em textos situados em comunidades de práticas em domínios discursivos específicos. Assim os gêneros se tornam propriedades inalienáveis dos textos empíricos e servem de guia para os interlocutores, dando inteligibilidade às ações retóricas. Resumidamente, poderia dizer que os gêneros são entidades: a) dinâmicas b) históricas c) sociais d) situadas e) comunicativas f) orientadas para fins específicos g) ligadas a determinadas comunidades h) ligadas a domínios discursivos i) recorrentes j) estabilizadas em formatos mais ou menos claros.
Compreendendo-se o dinamismo e a complexidade variável dos gêneros
textuais, como já foi mencionado antes, torna-se improvável sabermos se é
possível contá-los, pois como são sócio-históricos e variáveis, não há como
listá-los, por isso é muito difícil fazer uma classificação de gêneros. Pode-se
dizer que os gêneros textuais são a nossa forma de inserção, ação e controle
19
social cotidiano, por isso há essa imensa pluralidade de gêneros. Tal como
frisava Bakhtin (apud MARCUSCHI, 2008, p. 190):
Os gêneros são apreendidos no curso de nossas vidas como membros de alguma comunidade. Nesse caso, os gêneros são padrões comunicativos socialmente utilizados, que funcionam como uma espécie de modelo comunicativo global que representa um conhecimento social localizado em situações concretas. Sociedades tipicamente orais desenvolvem certos gêneros que se perdem em outras tipicamente escritas e penetradas pelo alto desenvolvimento tecnológico.
Totalmente vinculados à vida cultural e social, os gêneros textuais são
fenômenos históricos que cooperam para ordenar e solidificar as atividades
comunicativas do dia-a-dia, incontornáveis em qualquer situação comunicativa.
As necessidades e atividades sócio-culturais estão emparelhadas, bem como
na relação com as novas tecnologias, o que é compreensível ao considerarmos
a existência de um grande número de gêneros textuais hoje em relação a
antigas sociedades antes do surgimento da comunicação escrita.
Segundo Marcuschi (2005), na atual ascensão da denominada cultura
eletrônica, com o telefone, o gravador, o rádio, a TV e, especialmente o
computador e o seu mais revolucionário surgimento, a internet, observamos
uma explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto na
oralidade como na escrita.
Ainda segundo Marcuschi (2005), é notório o fato de que os gêneros
textuais interagem funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem.
Caracterizam-se muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas e
institucionais do que por suas propriedades particularmente linguísticas e
estruturais. Devem ser contemplados em seus usos e condicionamentos sócio-
programáticos caracterizados como práticas sócio-discursivas. São de difícil
definição formal e devido à existência de diversas formas, às vezes não
possuem denominações unívocas e, assim como surgem, podem desaparecer.
A utilização de novos gêneros pelo uso das tecnologias e suas
interferências nas atividades comunicativas diárias, tais como o rádio, a
televisão, o jornal, a revista, a internet, têm uma presença marcante. Assim,
20
aparecem novas formas discursivas, tais como editoriais, artigos de fundo,
notícias, telefonemas, telegramas, tele mensagens, teleconferências,
videoconferências, reportagens ao vivo, cartas eletrônicas (e-mails), bate-
papos virtuais (chats), aulas virtuais (aulas chats) e assim por diante.
Em geral, os gêneros desenvolvem-se de maneira dinâmica e novos
gêneros surgem como desmembramento de outros, isto é, esses novos
gêneros não são inovações independentes, mas criados mediante outros
gêneros já existentes, de acordo com as necessidades ou as novas
tecnologias. Nem sempre temos algo completamente novo, mas derivado,
como, por exemplo, os chats surgindo como uma forma de conversação por
meios eletrônicos, ou os blogs surgindo dos diários de bordo. Esse estado de
coisas mostra o quanto os gêneros são dinâmicos e sua facilidade de
adaptação, principalmente na área linguística.
Marcuschi (2005, p. 20) em seu trabalho destaca a observação que já
notada por Bathkin que falava “na transmutação dos gêneros e na assimilação
de um gênero por outro gerando novos.” Como se pode notar, a tecnologia
propicia o aparecimento de diversas inovações, mas que na realidade não são
absolutamente novas. Como por exemplo, o caso do telefonema, que tem
semelhança com a conversação, mas que, pelo telefone, realiza-se com
características próprias. A diferença entre uma conversação face a face e um
telefonema possui estratégias peculiares. O e-mail (correio eletrônico) gera
mensagens eletrônicas semelhantes as que têm nas cartas (pessoais,
comerciais etc.) e nos bilhetes. Contudo, o e-mail tem identidade e linguagem
própria, diferente das cartas e dos bilhetes convencionais.
O principal aspecto desses e de outros gêneros emergentes é a nova
relação que surge com os usos da linguagem como tal. De certa forma,
propiciam a redefinição de alguns aspectos centrais na linguagem em uso,
como por exemplo, a relação entre a oralidade e a escrita, aproximando-as
cada vez mais.
Segundo Marcuschi (2005, p. 21):
Esses gêneros que emergiram no último século no contexto das mais diversas mídias criam formas comunicativas próprias
21
com um certo hibridismo que desafia as relações entre oralidade e escrita e inviabiliza de forma definitiva a velha divisão dicotômica ainda presente em muitos manuais de ensino de língua. Esses gêneros também permitem observar a maior integração entre os vários tipos de semioses: signos verbais, sons, imagens e formas em movimento.
Dessa forma, os novos gêneros são semelhantes aos gêneros que já
existem, e esses já têm o seu determinado uso e funcionalidade, enquanto que
os novos dentro de um novo quadro comunicativo investem em seus novos
objetivos.
Para Marcuschi (2005), os gêneros textuais não devem ser
caracterizados, nem definidos por aspectos formais, sejam eles estruturais ou
linguísticos e sim, pelos aspectos sócio-comunicativos e funcionais, mas
também, não se deve desprezar a forma e as funções, pois em muitos casos
são elas que determinam o gênero. Contudo, haverá casos em que será o
próprio suporte ou o ambiente em que os textos aparecem que determinam o
gênero presente. Sendo assim, é necessário cautela em relação ao predomínio
de formas ou funções para a determinação e identificação de um gênero.
Atualmente é muito comum, encontrar os novos gêneros dentro de
novas tecnologias, particularmente na mídia eletrônica (digital). Diante disso, a
escola futuramente deverá se preocupar em ensinar como se produz um e-mail
e outros gêneros do discurso do mundo virtual.
22
2 GÊNEROS DIGITAIS
2.1 A REVOLUÇÃO DA LINGUAGEM
Na década de 1990, a Internet revolucionou o caráter linguístico. Embora
a Internet tenha surgido na década de 1960, para e-mails e bate-papos, as
pessoas só começaram a usá-la depois de 30 anos. Mas, em um tempo
relativamente curto, as pessoas adquiriram e dominaram essa nova tecnologia.
Nesse novo ambiente virtual, as pessoas se depararam com uma nova
forma linguística, cheia de gíria e jargão, onde podiam mudar a língua formal e
infringir regras convencionais de ortografia e pontuação. A velocidade com que
as inovações linguísticas surgiam e circulavam era impressionante.
Uma nova forma de comunicação humana surgiu com a Internet, a qual
alguns chamam de comunicação mediada por computador (CMC), outros de
comunicação eletrônica ou ainda de “netspeak”. A Internet não só revolucionou
e mudou o caráter linguístico, mas também todo o contexto social, educacional
e tecnológico.
Segundo Tom Erickson (apud MARCUSCHI, 2008, p. 198), o estudo dos
gêneros na comunicação virtual é muito interessante porque “a interação on-
line tem o potencial de acelerar enormemente a evolução dos gêneros”, o qual
visa à natureza do meio tecnológico e os modos como se desenvolve. O
ambiente virtual propicia “uma interação altamente participativa”, o que obrigará
a rever algumas noções já consagradas.
De modo geral, a comunicação mediada por computador abrange todas
as formas de comunicação e os gêneros que surgem nesse contexto. Um
conjunto específico de novos gêneros textuais desenvolvido no contexto da
mídia virtual tem sido analisado nas três últimas décadas do século XX. Daí
surge um novo tipo de comunicação conhecido como comunicação mediada
por computador (CMC) ou comunicação eletrônica, que desenvolve uma
espécie de “discurso eletrônico”.
Segundo Marcuschi (2008, p. 200), a importância de se estudar esses
gêneros textuais reside em pelo menos quatro aspectos:
23
1 – são gêneros em franco desenvolvimento e fase de fixação com uso cada vez mais generalizado; 2 – apresentam peculiaridades formais próprias, não obstante terem contrapartes em gêneros prévios; 3 – oferecem a possibilidade de se rever alguns conceitos tradicionais a respeito da textualidade; 4 – mudam sensivelmente nossa relação com a oralidade e a escrita, o que nos obriga a repensá-la.
Segundo Crystal (2005, p.77), a Internet, a maior rede de computadores
do mundo, fornece serviços que possibilitam que as pessoas entrem em
contato com outras através de três funções principais que podem ser
identificadas:
1. A world wide web (ou web) é a manifestação dessa rede mais amplamente encontrada – a reunião total de todos os computadores ligados à Internet que possuem documentos mutuamente acessíveis pelo uso de um protocolo-padrão (o protocolo de transferência de hipertexto, ou HTTP em inglês) [...].
2. Mensagem eletrônica (ou e-mail) é o uso de sistemas de computador para transferir mensagens entre usuários – agora empregado principalmente para se referir a mensagens enviadas entre caixas de correio particulares [...]. É de caráter extremamente diverso, abrange mensagens pessoais e institucionais de extensão e propósitos variados.
3. Grupos de bate-papo são discussões contínuas sobre um assunto específico, organizados em “salas” em determinados sites da Internet, em que os usuários de computador interessados no tópico podem participar [...].
Essas três funções e sua diversividade de modalidades facilitam e
dificultam o nosso meio de comunicação, pois tudo o que se conhecia da língua
falada e escrita não se realiza mais daquela forma, pois surgem novos
conceitos, novas oportunidades e principalmente a transmutação da escrita.
A introdução da escrita leva a uma cultura letrada nos diversos
ambientes em que a mesma atua. Tudo indica que hoje, a importante inserção
24
da escrita eletrônica tem conduzido a uma cultura eletrônica, cujo fenômeno é
designado como letramento digital e que deve ser levado a sério, pois veio para
ficar. Segundo Yates (apud MARCUSCHI, 2005, p. 15), com as novas
tecnologias digitais, ocorre-se uma espécie de “radicalização do uso da
escrita”. Com isso, “nossa sociedade parece tornar-se textualizada, isto é,
passa para o plano da escrita”.
Em relação à escrita da linguagem na Internet, Crystal (apud
MARCUSCHI, 2005, p. 19) ressalta três aspectos que devem ser verificados:
(1) do ponto de vista dos usos da linguagem, temos uma pontuação minimalista, uma ortografia um tanto bizarra, abundância de siglas, abreviaturas nada convencionais, estruturas frasais pouco ortodoxas e uma escrita semi-alfabética; (2) do ponto de vista da natureza enunciativa dessa linguagem, integram-se mais semioses do que usualmente, tendo em vista a natureza do meio com participação mais intensa e menos pessoal, surgindo a hiperpessoalidade; (3) do ponto de vista dos gêneros realizados, a Internet transmuta de maneira bastante complexa gêneros existentes, desenvolve alguns realmente novos e mescla vários outros.
A comunicação feita na Internet, isto é, a escrita utilizada em seu meio
aproxima-se muito da oralidade, principalmente no caso dos chats (bate-
papos), dos e-mails e dos blogs.
Portanto, vale a pena refletir sobre uma observação de Danet (1997,
p.7):
Num período de talvez 50 anos, nossa compreensão da natureza do letramento e da função social dos textos escritos terá mudado tão radicalmente que pouco de nós estarão vivos para testar ‘como as coisas eram’ no final do século XX. Por isso é vital produzir agora investigações sobre as atitudes as práticas de letramento na cultura impressa enquanto ainda é possível fazê-lo [...].
Isso leva-nos a pensar se o uso da escrita digital utilizada em seu meio
poderá alterar a própria forma de se escrever. Como ressalta Marcuschi
25
(2005), talvez sim, pois a linguagem oral sofre uma mudança constante devido
ao fato de a usarmos a todo o momento, com relação à escrita se passarmos a
usá-la também com tanta frequência poderá começar a sofrer mudanças mais
frequentes e velozes. Não é impossível de se pensar que talvez no futuro seja
possível existir várias formas de escrita, isto é, várias grafias dependendo do
contexto de uso dessas escritas.
A linguagem digital possui uma grande versatilidade linguística, com
características diversas, o qual é um tipo de linguagem que não é submetida a
correções ou revisões, isto é, não há regras. Como se pode ver na escrita dos
bate-papos (chat) ocorre muito o uso de abreviações, sendo uma grande parte
dela artificial e passageira, pois só serve para aquele determinado momento.
Mas, há ainda aquelas que se fixam e são utilizadas em seu meio.
Em relação às escritas das novas tecnologias digitais e a escrita formal,
Halliday (1996, p. 354) afirma que, “sob o impacto das novas formas de
tecnologias”, presenciamos uma nova situação que “está desconstruindo toda a
oposição entre a fala e a escrita”.
Ainda segundo Halliday (1996, p. 355) em relação aos processadores de
texto não demorará muito em que, “a distância entre a fala e a escrita terá sido
largamente eliminada”, pois o autor é o controlador de seu texto.
Com isso, a distância entre a fala e a escrita vai desaparecendo e com o
surgimento dessas novas gerações já digitalizadas, principalmente, em relação
ao letramento digital, possa acontecer o que Anderson (apud HALLIDAY, 1996,
p. 355) dizia: “Crianças que aprendem a escrever usando o processador de
palavras tendem a compor seu discurso escrito numa maneira que é mais
parecida coma fala do que com os tradicionais exercícios da escrita.”
2.2 OS TIPOS DE GÊNEROS DIGITAIS
Os gêneros da mídia virtual pelo uso da escrita eletrônica têm um papel
histórico, social e tecnológico, cujas formas textuais nessa escrita são variáveis
e versáteis, isto é, estão sempre em transmutação.
26
Há diversos gêneros emergentes nos ambientes virtuais, entre os mais
conhecidos e estudados podemos citar:
2.2.1 O e-mail – Funciona como um correio eletrônico e assemelha-se a
alguns gêneros bem conhecidos de todos: da carta, do bilhete do memorando,
da conversa informal, da carta comercial, do recado e, até mesmo do
telegrama, e dependendo do objetivo do mesmo, pode ser formal ou informal.
O e-mail é uma forma de comunicação escrita assíncrona entre os
interlocutores, mas possibilita uma rapidez enorme na troca de informações,
independente da distância em que os mesmos se encontram. Em geral, os
interlocutores são conhecidos ou amigos, nesse caso o anonimato é raro, pois
consiste em uma violação de normas do gênero. Com isso, essa característica
o diferencia dos bate-papos. De um modo geral, segundo Marcuschi (2005, p.
40), um e-mail é constituído das seguintes partes:
1) endereço do remetente: automaticamente preenchido 2) data e hora: preenchido automático 3) endereço do receptor: deve ser inserido (quando não for
uma resposta) 4) possibilidade de cópias a outros endereços: a ser
preenchido (visível ou não ao receptor) 5) assunto: precisa ser preenchido a cada vez ou se adota o
que veio no caso de uma resposta 6) corpo da mensagem com ou sem vocativo, texto e
assinatura 7) possibilidade de anexar documentos com indicação
automática ao receptor 8) inserção de carinhas, desenhos e até mesmo de voz.
Ainda em relação ao e-mail, Jonsson (apud MARCUSCHI, 2005, p. 41)
relata que:
[...] as mensagens eletrônicas podem partilhar as propriedades da carta tradicional, mas podem partilhar as propriedades do telefonema ou a comunicação face a face. Consequentemente, os e-mails transgridem os limites entre as noções tradicionais de comunicação oral e escrita.
27
2.2.2 O chat ou sala de bate papo – O chat difere do e-mail por ser
síncrono e permite um diálogo centrado basicamente na escrita, entre duas ou
mais pessoas. Caracteriza-se também pela fugacidade do texto que se
encontra em constante atualização, o que permite uma nova forma de
comunicação, através da escrita centralizada. Todos os participantes das salas
de bate-papo têm que criar um apelido (nickname) que será utilizado no
ambiente virtual.
O chat permite que uma pessoa converse com outras ao mesmo tempo,
proporcionando assim, uma enorme interatividade entre o uso do mesmo. O
fato de permitir o diálogo por meio da escrita, sem que os interlocutores
precisem necessariamente estar presentes, promove a criação de mecanismos
e estratégias que representam o diálogo face a face, com isso, pressupõe-se a
presença de marcas da oralidade nas conversas dos chats, a reprodução de
frases curtas, abreviações, entre outras características peculiares à modalidade
oral.
Por isso, a linguagem utilizada nas salas de bate-papo possui
características únicas: inúmeras abreviaturas criadas (tb, vc...) devido à
necessidade da rápida comunicação; a presença da “escrita fonética”, através
da qual se escreve do modo como se fala (kero, naun...) e por isso dá
prioridade aos fonemas das palavras e não à ortografia das mesmas; os
enunciados são curtos e a linguagem é completamente informal e ainda há a
presença do caráter homofônico (100sação, bonitaD+, etc).
Há diversos tipos de chats: chat aberto, reservado, agendado, privado,
aula-chat e entrevista com convidado. Em relação ao último item citado, o
funcionamento desse tipo de entrevista é semelhante ao do chat aberto, a
diferença é que o único que responde é o entrevistado. Todos os que acessam
podem enviar suas perguntas, ver as perguntas dos outros e as repostas do
entrevistado.
2.2.3 Vídeo-conferência interativa – É um tipo de gênero que se
assemelha ao bate-papo com convidados, mas tem um tema específico e
tempo certo de realização com parceiros definidos. As vídeos-conferência são
28
síncronas e têm como finalidade discussões relacionadas ao trabalho ou a fins
educacionais.
2.2.4 Listas de discussão – Esse gênero é muito comum na
comunidade acadêmica, entre grupos de estudantes universitários que criam
lista para debater sobre um determinado tema, em torno de interesses em
comum. São gêneros que utilizam uma comunicação assíncrona e operam via-
e-mails como forma de contato. Há sempre um moderador, espécie de
webmaster cuja função é gerenciar o envio de mensagens e a entrada de
novos membros. Ele é quem direciona as mensagens e faz a triagem, pois
pode acontecer de alguns participantes remeterem mensagens que não estão
dentro do assunto em questão.
2.2.5 Blogs (Weblogs) – A palavra Blog é a abreviatura do termo
WebLog. Segundo Sartori Filho (apud MARCUSCHI, 2005, p. 60), trata-se de
“um diário eletrônico que as pessoas criam na Internet”, onde as pessoas
escrevem sobre si, sua família, seus gostos, suas ideias, visões do mundo,
sentimentos e crenças, etc.
O blog é utilizado principalmente pelos adolescentes, cujo objetivo é
compartilhar um pouco de sua vida com os seus amigos e com o público em
geral. A linguagem geralmente é informal e segue uma ordem cronológica que
pode sempre ser atualizado. Os usuários dos blogs utilizam um tipo de
linguagem criada por eles que possui expressões típicas e características
próprias.
Os blogs são data-dados, consistem de fotos, músicas, links e seus
textos têm estrutura leve, pois geralmente são breves, descritivos e opinativos.
Apesar de ter um caráter assíncrono, é um ambiente muito interativo e
participativo, pois os leitores podem interagir com o “blogueiro” enviando
comentários ou críticas.
2.2.6 Redes Sociais ou Sites de Relacionamento: Atualmente, dentro
do imenso cenário digital, existem também as redes sociais ou sites de
relacionamento que a cada dia aumenta mais o número de usuários.
29
Uma Rede Social contém várias aplicações dentro dela, dá-se ênfase
aos recados, fotos e vídeos que podem ser compartilhados com amigos
autorizados ou não autorizados de acordo com suas configurações de perfil de
usuário. Os mais conhecidos são o Orkut, Facebook e o Twitter, mas existem
outros similares a eles. Um dos grandes problemas que ocorrem nesses sites
são os “FAKES”, isto é, são os usuários falsos que criam perfil e o utilizam para
poluir o ambiente virtual com propagandas ou, até mesmo, com vírus.
2.3 OS SITES MAIS USADOS: ORKUT, TWITTER, FORMSPRING,
FACEBOOK, MSN MESSENGER
2.3.1 ORKUT (Rede Social ou Site de Relacionamento)
É um dos maiores e mais utilizados sites de relacionamento do mundo,
cuja rede é formada por pessoas, grupos ou outras unidades. O orkut , que é
gratuito, é um sistema filiado ao Google e foi criado em 24 de janeiro de 2004,
cujo objetivo é de ajudar os seus membros a conhecer pessoas e manter
relacionamentos, além da troca de informações entre pessoas que possuem
algum interesse em comum, a formação de comunidades, a troca de e-mails,
etc.
A sua forma de comunicação é assíncrona e cada membro tem uma
página individual com o seu perfil, uma página de recados, depoimentos, álbum
de fotos, etc. Os recados no orkut são chamados de scraps e o tipo de
linguagem utilizada é a digital, uma forma, predominantemente, dialógica, por
isso, ela é totalmente informal.
2.3.2 TWITTER (Rede Social ou Site de Relacionamento)
Rede Social que permite aos usuários enviar e receber atualizações
pessoais de outros contatos em “Tweets” (textos de até 140 caracteres), por
meio de website, SMS ou softwares específicos. As atualizações são exibidas
30
no perfil do usuário em tempo real e também enviadas a outros usuários
seguidores que tenham assinado para recebê-las.
Foi criado em 2006 e alcançou seu auge nos dois últimos anos. Tornou-
se uma grande ferramenta para divulgação do meio artístico e comercial devido
à grande facilidade de comunicação, pois uma única postagem pode chegar a
um número indeterminado de seguidores sem custo algum, além de
estabelecer a possibilidade de um diálogo através das postagens entre os
usuários.
2.3.3 FORMSPRING (Rede Social ou Site de Relacionamento)
É um site voltado para postar perguntas dentro de um grupo de usuários
identificados ou não, para que os mesmos respondam-nas ou excluam-nas.
Todas as respostas são gravadas no perfil do usuário e ficam abertos para
qualquer um que entrar na rede social e quiser ler.
2.3.4 FACEBOOK (Site de Relacionamento)
O Facebook é uma comunidade social de relacionamento que liga
pessoas que vivem, estudam ou trabalham em torno do indivíduo e que
provavelmente ele não conhece. Permite publicar fotos, notícias, ver novidades
de seus amigos, publicar vídeos e mandar mensagens. Foi fundado por Mark
Zuckerberg em 2004, um ex-estudante de Harvard.
No início, a adesão ao Facebook era restrita apenas aos estudantes da
Universidade Harvard, depois ela expandiu-se até atingir o mundo inteiro. É
ainda o maior site de fotografias dos Estados Unidos, que é a sua principal
característica, com mais de 60 milhões de novas fotos publicadas por semana
ultrapassando todos os sites voltados à fotografia. E ainda permite aos seus
usuários criar vídeos.
2.3.5 MSN MESSENGER (Chat)
31
É o programa de mensagens instantâneas mais usado na Internet e foi
criado pela Microsoft Corporation em 1999. O seu principal serviço permite que
as pessoas conversem com outras através de mensagens instantâneas pela
Internet. O programa permite um usuário da Internet relacionar-se com outro(s)
que tenha(m) o mesmo programa em tempo real, e há uma lista de amigos
"virtuais" onde é possível verificar quando eles entram e saem da rede, isto é,
quando estão on-line ou off-line. Ele foi fundido com o Windows Messenger e
originou o Windows Live Messenger.
Esses sites são os mais conhecidos e usados dentro do ambiente virtual,
cada um tem uma característica própria, o que permite a seus usuários
conhecer pessoas do mundo inteiro e manter algum tipo de relacionamento
entre eles, por meio de mensagens, fotos, vídeos, anúncios e outros. Dentro
desse imenso ambiente virtual é possível fazer de tudo um pouco e um pouco
de tudo.
32
3 ESCRITA DIGITAL X ESCRITA FORMAL
3.1 A INFLUÊNCIA DA ESCRITA DIGITAL SOBRE A NORMA CULTA
A escrita tem um papel fundamental na Internet, ou seja, no mundo
virtual, pois a tecnologia digital depende totalmente da escrita. Com isso, é
inevitável não perceber que a escrita nos gêneros digitais possui características
específicas, a qual muitos a caracterizam como uma “fala por escrito”.
A comunicação mediada pelo computador difere-se totalmente da escrita
convencional, pois a escrita no meio digital não é necessariamente estática,
devido às diversas opções de técnicas disponíveis que permitem ao texto
mover-se pela tela, além de existirem possibilidades de interferir, mudar o texto
de várias maneiras que não estão disponíveis na escrita tradicional.
A escrita presente nos e-mails e nos bate-papos, chamada de
“netspeak”, sofre uma pressão para que seja realizada de forma rápida, por
isso ela carece daquela construção planejada e elaborada que ocorre na
escrita tradicional.
A maioria das pessoas manda mensagens sem nenhuma revisão e não
se importa com os erros ortográficos, com os erros de digitação, isto é, o uso
irregular da maiúscula, a falta de pontuação e outras anomalias.
Para Crystal (2005) tudo isso é irrelevante no ambiente virtual porque
não interfere no entendimento. Esse novo estilo de escrita faz com que as
pessoas sejam naturais e ousadas, além de se sentirem com mais liberdade
para escrever, pois assim mostram seu próprio estilo. Ainda segundo Crystal
(2005, p. 89):
Se recebo um e-mail de M no qual ele escreve errado uma palavra, não concluo por causa disso que “M não sabe escrever”. Simplesmente noto que M não é um bom digitador ou que estava com pressa. Sei disso porque faço a mesma coisa quando estou apressado.
33
Diante do que foi dito anteriormente, todas as pessoas em um ambiente
virtual pensam do mesmo modo e seguem a mesma postura, ninguém corrige,
nem analisa os erros de outras pessoas, pois o importante é o que a
mensagem traz em si e a sua essência.
Mas, ainda existem aqueles usuários que têm o mesmo cuidado de
revisar o que escreveram em suas mensagens do mesmo modo que teriam em
um ambiente fora da Internet.
Entende-se que o “netspeak”, em geral, não é uma linguagem falada que
foi escrita, mas uma linguagem escrita que foi levada em direção à fala. A
comunicação no meio virtual não é igual à fala ou à escrita, porém há algumas
propriedades presentes em ambas. Na verdade, o “netspeak” é visto como um
novo tipo de comunicação porque ele faz o que nenhum desses meios faz. É o
resultado de contato entre a fala e a escrita, isto é, é mais do que um híbrido de
fala e escrita.
O hibridismo está constantemente presente no ambiente virtual, pois a
escrita no mesmo ocorre sobre a influência da fala, isto é, a escrita é feita do
modo como as pessoas falam e não do modo como realmente seria correto nas
regras da língua culta. Dessa forma, podemos dizer que as novas tecnologias
eletrônicas afetam e mudam os hábitos de ler e escrever. Pela natureza da
relação e pelas condições de produção desse meio de comunicação, as
pessoas não utilizam uma escrita rebuscada e formal, que seria inadequada
nesse ambiente, mas um novo gênero discursivo, principalmente, nas salas de
bate-papo.
Os efeitos linguísticos desse novo meio de comunicação têm causado
uma revolução e também têm preocupado e horrorizado alguns observadores
que veem essa nova forma de escrita (netspeak) um sinal de deterioração dos
padrões. Muitos pensam que as crianças do futuro não terão capacidade de
escrever corretamente devido a tal influência.
Os autores, tais como Martins e Nogueira (apud MAGNABOSCO, 2009)
defendem que esse novo tipo de escrita pode ser prejudicial ao ensino da
Língua Portuguesa uma vez que o aprendizado da escrita estaria condicionado
à memória visual. Segundo ele, com o aparecimento de novas e diferentes
grafias, muitos jovens, que ainda estão em formação, ficarão constantemente
34
em dúvida do que realmente é correto ou errado, o que pode ainda ocasionar a
construção de vícios irreversíveis em relação à ortografia.
Segundo Caiado (2007 p. 37):
A norma ortográfica, atualmente, é considerada difícil, discriminatória, complicada do ponto de vista do cidadão, que para se comunicar “bem”, para pertencer à camada privilegiada da população, economicamente falando, deve escrever sem “erros ortográficos”, ou seja, deve escrever segundo a norma ortográfica vigente no país.
Essa norma, segundo Morais (apud CAIADO, 2007 p. 37), “contempla
aspectos regulares e irregulares”. Diante disso, pode-se dizer que esses erros
não são todos iguais, variam de pessoa para pessoa, pois cada um vem de
naturezas diferentes, tem um conhecimento diferente. Para escrever e falar
bem seguindo as normas é necessário que o aprendiz tenha certo nível de
escolaridade, além de ainda depender do lugar, do tipo de escola, do corpo
docente, de diversos fatores. Realmente não é fácil, pois é tudo cheio de
regras, e a maioria das pessoas realmente não tem prazer em aprendê-las,
aprendem porque é necessário e exigido para que se tornem pessoas cultas.
Por outro lado, o meio digital traz uma nova visão e compreensão sobre
a escrita, principalmente, dos adolescentes, pois há uma diversividade de
interação entre eles, além de, escrevem com liberdade, com espontaneidade,
sem seguir uma norma. Com isso, percebem que esta escrita pode ser aceita e
entendida porque gera compreensão no meio digital.
Para Caiado (2007, p. 39), essa situação dialógica virtual encontra-se
cada vez mais crescente, e, para alguns estudiosos da linguagem,
preocupante: a ortografia digital. “O que muda na alfabetização, no letramento
escolar, nos processos educacionais de internalização das formas de
comunicação nesta cultura digital?”
Observa-se que no blog, no e-mail e no chat os adolescentes usam o
letramento digital, cujas palavras são abreviadas, simplificadas, reduzidas, a
pontuação é irregular, não há acentuação gráfica e há o alongamento das
vogais e consoantes.
35
Alguns observadores acreditam que essa renúncia deliberada ao uso da
escrita formal da Língua Portuguesa ocorre porque o adolescente já é capaz de
redescrever seus conhecimentos ortográficos e muitas vezes se torna
intencional, no caso da escrita digital.
Em relação ao processo de Redescrição Representacional, segundo
Caiado (2007, p. 38):
Consiste na redescrição do conhecimento que a mente armazenou ao longo do desenvolvimento do indivíduo. Isto quer dizer que aqueles indivíduos que apresentam um comportamento eficiente em determinada área são capazes de redescrever esta área, utilizando a flexibilidade e a criatividade cognitivas para tal fim. Assim, a transgressão de informação é possível, pois o conhecimento sobre determinada área já se encontra estabilizado na mente humana.
Com isso, é possível dizer que a escrita digital configura uma
transgressão intencional da norma ortográfica da Língua Portuguesa.
Os usuários da escrita digital produzem notações inadequadas porque já
possuem discernimento das regularidades e irregularidades da língua, ou seja,
do que está certo ou errado. Desse modo, eles conseguem brincar, jogar com
as normas e regras ortográficas, porque são capazes de ir além, eles mudam,
criam, flexibilizam o conhecimento ortográfico devido a sua criatividade
cognitiva proporcionada pela redescrição representacional.
Por outro lado, há adolescentes que se encontram em um nível de
conhecimento inferior em relação à norma ortográfica da Língua Portuguesa e
com isso, poderiam ser influenciados pela escrita digital. Esses adolescentes
apesar de transgredirem a norma ortográfica propositalmente no ambiente
virtual, teriam mais dificuldade para adequar sua escrita no ambiente escolar.
Pode-se afirmar que o meio digital traz muitas mudanças, novos
conceitos, entendimentos sobre a escrita, especialmente em relação aos
adolescentes. Esses jovens de hoje estão sempre à procura de coisas novas,
diferentes, são ávidos por interação, e dentro do mundo virtual conseguem tudo
isso e muito mais. Eles se comunicam através da escrita digital, com isso,
desfazem-se da crença e das regras impostas pelas instituições de ensino, de
36
que apenas a escrita formal, isto é, a escrita correta das palavras pode gerar
sentido e comunicação.
O estilo da escrita digital, ou seja, o “netspeak” tem gerado muitas
discussões de que esse tipo de linguagem pode influenciar decisivamente a
escrita dos alunos no ambiente escolar. Apesar de que alguns internautas,
principalmente os adolescentes, têm o conhecimento de que essa forma de
escrita os fazem sentir-se integrados dentro desse grupo, de uma “tribo”, e para
poder interagir nesse ambiente é necessário utilizar outra forma de linguagem,
isto é, de escrita. Segundo Bernardes e Vieira (2005, p. 56-57), o recorte de
uma conversa entre dois adolescentes ilustra essa afirmação:
“25. <[lilijf]> vc freqüenta esse canal há muito tempo? 26. <[Rolls_]> é eu nunca tinha visto seu Nick 27. <[Rolls_]> a tem mais de um ano 28. <[lilijf]>ah, ta!!!!!!!!!!!!!![...] 29. <[Rolls-curioso]> aki eu escrevo tudo errado aki na net percebeu????? 30. <[lilijf]> mas naun e pra ser assim? 31. <[Rolls_-_]> a todo mundo escreve HERRADO 32. <[lilijf]> hehehe 33. <[Rolls_-_]> num é só mim 34. <[Rolls_-_]> hah 35. <[Rolls_-_]> aa 36. <[lilijf]> hahahahahaha 37. <[Rolls_-_]> poxa 38. <[lilijf]> pq vc acha que essa escrita ficou assim? 39. <[lilijf]> aki ni chat 40. <[Rolls_-_]> é ki vai mais rápido 41. <[lilijf]> e, tb acho 42. <[lilijf]> mas to me acostumando ainda 43. <[Rolls_-_]> a copiando todo mundo 44. <[lilijf]> eh 45. <[Rolls_-_]> saca 46. <[Rolls_-_]> pó vou tentar parar 47. <[lilijf]> parar o q? 48. <[Rolls_-_]> outro dia já ia botando Rolls na minha prova 49. <[Rolls_-_]> é mole 50. <[lilijf]> hahaha 51. <[lilijf]> ce acostuma ne? 52. <[Rolls_-_]> di escrever errado 53. <[Rolls_-_]> é já acostumei 54. <[lilijf]> já escreveu outras coisas como aki na net na hora de escrever no papel/ 55. <[Rolls_-_]> não ate aki não 56. <[Rolls_-_]> mas sempre quase 57. <[lilijf]> entendi”
37
Como se pode notar os adolescentes usam variedades distintas, quando
escrevem na escola ou na internet, isto é, conseguem discernir os tipos de
escritas e aplicá-las em seus diferentes ambientes. Segundo Pereira e Moura
(apud SOUSA, 2007), ao analisarem e interpretarem o tipo de escrita utilizada
em salas de bate-papo, constataram que os internautas, por conhecerem a
escrita formal, consideram inadequada usá-la no ambiente virtual, devido à
forma de interação que a mesma exige e, utilizam, então, uma “escrita teclada”,
que veicula os sentidos específicos de uma interação informal, dinâmica e
realizada em um novo suporte.
Se um jovem usa a Internet para enviar mensagens ou para se
comunicar com os amigos, então, ele possui certo conhecimento ou domínio
desse modo de escrever e lidar com programas e computador. Se ele domina,
também, outras maneiras de operar, com papel, caneta, softwares e tinta,
demonstra uma ampliação de seu letramento. Dessa forma, ele saberá
empregar corretamente cada tipo de comunicação em dada situação, seja ela
de máquina ou de seu próprio punho.
O problema pode surgir quando o jovem domina apenas um deles. Um
jovem que frequenta o ambiente virtual provavelmente domina a escrita digital.
Se ele consegue alterar o seu modo de escrever quando se transfere para
outro ambiente, ainda está tudo bem. O problema é quando ele emprega um
único modo para todos os ambientes, como não seria capaz de adequar os
diferentes usos de escritas em seus ambientes.
Muitos temem pela “decadência” da Língua Portuguesa no seu estilo
formal, mas para Sousa (2007, p. 201) esse temor é inoportuno, “pois os meios
eletrônicos não estão atingindo a estrutura da língua no que diz respeito aos
seus aspectos nucleares, a fonologia e a sintaxe.”
Segundo Marcuschi (2005), ao analisar a linguagem no ambiente virtual
é preciso dar maior importância ao papel que as condições externas (sociais,
culturais, históricas e tecnológicas) exercem sobre o uso da linguagem, ao
invés das condições internas (formais ou estruturais) observadas na superfície
textual.
No ambiente escolar, devemos nos lembrar que os estudantes
geralmente escrevem apenas para uma pessoa, o professor, enquanto que na
38
Internet seu nível de relação é bastante extenso. Utilizando-se da reflexão feita
por Defillippo e Cunha (apud SOUSA, 2007, p. 201) de que nickname escreve
mais que realname:
Pode-se afirmar que na Internet o internauta tem a presença de um outro real, de um outro que dialoga visceralmente com seu interlocutor e que exerce um papel ativo no processo de comunicação verbal. Já na escola esse outro é “minimizado” na figura do professor que irá avaliar a produção textual do aluno.
A notação ortográfica na esfera digital constitui segundo Marcuschi
(apud CAIADO, 2007, p. 41) “uma nova forma de relacionarmos com a escrita,
mesclando elementos característicos da fala com elementos característicos da
escrita, fazendo emergir toda a criatividade e interatividade dos sujeitos”.
Na mesma obra organizada por Freitas e Costa, Defillipo e Cunha (apud
RIBEIRO, 2007, p. 239) aponta a criatividade e o prazer como características
da ação de leitura/escrita de adolescentes:
Depois de meses de observação e interação com internautas adolescentes, percebemos que, nesse novo ambiente, uma nova prática de leitura e escrita surgia, impregnada de criatividade e prazer. Parecia-nos que estávamos entrando em contato com o espaço em que o mundo das letras não era só conhecido e apreciado por esses adolescentes, mas era também transformado e compreendido.
3.2 ALGUMAS TÉCNICAS DA ESCRITA DIGITAL
A linguagem digital não é só outro tipo de escrita, mas também uma
prática social, onde os jovens conhecem e conseguem manter relações sociais
entre eles. Observam-se muitas variedades e mudanças na escrita digital,
abreviaturas, troca de letras, interjeições, onomatopéias, pontuação irregular,
uso dos “emoticons” para poderem se expressar e diante disso os aspectos
39
normativos ortográficos da Língua Portuguesa são deixados para segundo
plano.
Segundo Crystal (2005, p. 91), o fato de que os mais jovens usam
formas abreviadas para se comunicarem através de:
[...] técnicas de rébus (b4 “before” [antes], CUl8er “see you later” [te vejo mais tarde]), abreviações (afaik “as far as I know” [até onde sei], imho “in my humble opinion” [na minha humilde opinião]) ou indicações fonéticas (thx “thanks” [obrigado]) [...].
não é completamente novo ou fundamental, pois a maioria das pessoas tem
usado abreviações há gerações, por exemplo, ttfn (“ta-ta for now”; por ora,
adeus), asap (“as soon as possible”; assim que puder), fyi (“for your
information”; para sua informação).
Entretanto, esse tipo de escrita “perde a graça”, se for usada fora da
tecnologia, seja no computador ou no celular, pois perde todo o estilo, sua
essência e sua identificação de grupo.
Em contrapartida, há o problema de alguns jovens começarem a usar
esses tipos de abreviações em outros lugares onde não convêm e sem
propósito algum, como por exemplo, no ambiente escolar, mais precisamente
em redações escolares, por isso deve ser vigiado e os responsáveis, neste
caso os professores, trabalharem mais em relação a isso, para que essa nova
geração possa discernir quando é viável ou não esses tipos de abreviações.
Segundo Crystal (2005), as variações da escrita digital devido ao seu
sistema extremamente reduzido, possuem três características principais que
valem a pena ressaltar:
O uso das maiúsculas tem uma grande variação. Ou se usa ao acaso o
tipo maiúsculo ou não se usa nada. Mas, o tipo minúsculo é o mais usado em
frases inteiras e em todos os lugares, mesmo em início de frase e em nomes
próprios. Devido ao uso indiscriminado de minúsculas, indica que qualquer uso
do tipo maiúsculo demonstra alguma forma de expressão. Por exemplo, muitas
vezes quando as mensagens são escritas totalmente com letras maiúsculas
são consideradas como “gritos”, palavras em maiúsculas expressam uma
40
ênfase extra (também podem ser usados asteriscos e espaçamento), por
exemplo:
Esse é um assunto MUITO importante.
Esse é um assunto *muito* importante.
Esse é um assunto m u i t o importante.
A pontuação, geralmente, é usada o mínimo possível e na maioria das
vezes nem é usada, principalmente nos e-mails e bate-papos. Há ainda
usuários que são meticulosos em relação ao uso da pontuação tradicional,
depende muito da personalidade de cada um, há aqueles que só a usam para
evitar ambiguidade e outros que devido à velocidade da digitação
simplesmente não a usam.
A prática da ortografia é diferente da forma convencional. Como já foram
mencionados antes, os erros de ortografia encontrados em um e-mail não
significam que a pessoa que os cometeu tenha um nível de escolaridade baixa,
mas apenas uma consequência da imprecisão ao digitar.
As abreviaturas são um dos estilos mais usados na escrita digital, pois
assim, é possível se comunicar (escrever) de uma forma mais rápida, como a
situação exige. Segundo Caiado (2007, p. 40): “As palavras e expressões
notadas nesse gênero são abreviadas ou reduzidas até o ponto de se
converterem em uma, duas ou três letras: ñ (não), aki (aqui), ki (que), hj (hoje),
Tb (também), fds (fim de semana).”
Dentro do ambiente virtual esse tipo de escrita não é considerado
errado, pois é uma forma de identificação e interação, além de ser adequada e
eficiente em seu meio.
Há várias estratégias de redução de palavras e, também, de expressões.
Com base em Santos (apud CAIADO, 2007, p. 40), listamos as seguintes
estratégias:
• Sons das letras iniciais das palavras associados a símbolos matemáticos: D+;
• Escrita consonântica: bjs, tb, td, mt; • Expressões reduzidas a três letras: fds; • A letra K substituindo o dígrafo QU: akeli, aki, eskeceram,
daki; • Subtração das vogais mediais: qm, qnd, tbm.
41
Mais algumas abreviações (em inglês) usadas nas conversas do
Netspeak, segundo Crystal:
Quadro 1: Abreviações usadas nas conversas do netspeak.
afk away from keyboard Ausente do teclado
asap as soon as possible Assim que for possível
a/ s/ l age/ sex/ location Idade/ sexo/ localização
bbl be back later Volto mais tarde
b4 Before antes
cm call me Me ligue
cyl8r see you later Até mais tarde
cya see you Até mais
dur? do you remeber? Você se lembra?
f? friends? Amigos?
Gr8 Great Ótimo/ legal
idk I don’t know Não sei/ não conheço
jam just a minute Só um minuto
j4f just for fun Só por diversão
np no problem Sem problemas
ruok? are you OK? Você está bem?
t + think positive Pense positivo
tx Thanks obrigado
wb welcome back Benvindo de volta
2g4u to good for you Muito bom para você
4e Forever Para sempre
Fonte: (CRYSTAL, 2006, p. 91-91)
Como se pode notar eles criam as suas próprias regras, pois é um
ambiente onde se pode inovar e criar. A cada dia aparecem mais novidades na
escrita digital.
42
Sendo assim, não parece que os jovens estão “escrevendo de forma
inadequada”, mas sim utilizando um processo de refinamento na escrita, o qual
usa o menor número de caracteres possível para economizar tempo na escrita
real. Eles escrevem de forma inadequada porque têm um propósito e intenção
em fazê-lo, devido às condições em seu meio. Portanto, a escrita digital é uma
nova forma de comunicação, na qual o internauta entra em uma realidade
diferente e pode assim criar, inovar e adquirir muitos conhecimentos.
43
4 PESQUISA DE CAMPO
4.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS E DADOS ESPECÍFICOS
A metodologia utilizada para essa pesquisa foi o Estudo Comparativo de
Casos. Optamos por uma metodologia em pesquisa de estudo de caso,
primeiro porque acreditamos no aspecto processual e dinâmico dessa
metodologia e, também, por acreditarmos que seria a forma mais eficaz de
investigar se a maneira como os adolescentes escrevem no meio digital estaria
presente em textos de diversos gêneros, mais formais, como os escritos na e
para a escola: avaliações, cadernos de atividades, exercícios. A nossa intenção
foi a de conhecer a escrita digital dos sujeitos em estudo e aprofundar a análise
dessa escrita digital através dos “Scraps” no Orkut e dos “chats” no MSN.
Participaram desse estudo oito adolescentes, sete meninas e um
menino, aos quais denominaremos de A1, A2, A3, A4 e B1, B2, B3, B4 , sendo
que os primeiros tinham 12 anos e cursavam o 7º ano (6ª série) do Ensino
Fundamental II, e os últimos tinham entre 17 e 18 anos e cursavam o 3º ano do
Ensino Médio. É importante levarmos em consideração que todos estudam em
um colégio privado desde criança e convivem com uma família de nível de
instrução relativamente bom.
O nosso corpus foi constituído de uma entrevista com cada sujeito, de
scraps ou chats postados, por meio de e-mails e atividades realizadas no
ambiente escolar como provas, exercícios e atividades realizadas no caderno
em sala de aula.
4.2 ANÁLISE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS
4.2.1 A Notação Escrita nos Scraps (Orkut) e nos Chats (MSN)
1) Percebemos, através da análise, que não existe um padrão a ser
seguido ou uma “norma ortográfica” no ambiente digital, a escrita é subjetiva,
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isto é, cada sujeito possui uma certa particularidade em relação a sua própria
maneira de escrever. O que foi observado em algumas palavras encontradas
nos scraps e nos chats analisados:
a) não = A1(nao); A4 (ñ ); B1 (nu, num, naum).
b) beijo(s)/ beijão = A2 (bjão); A4 (bjao, bjãoo, bjo); B1 (bjs, bjos); B3
(bjuss); B4 (bjos).
c) o que = A1 (oque); A2 (oke); A4 (oq).
d) de = A4 (d); B1 (di).
e) porque = A2 (porke, pq)
f) que = A4 (q, ke).
2) Utliza-se muito a redução de palavras, até o ponto de se converterem
em uma, duas ou três letras:
A1: q (que); mto (muito); vdd (verdade); pq (por que).
A2: to (estou); pq (por que); mto (muito); amñ (amanhã).
A4: ñ (não); q (que); amñ (amanhã); c (com); mto (muito); agr (agora); td
(tudo); fla (fala).
B1: geo (geografia); cel (celular); pra (para); pq (por que).
B2: pq (por que).
B3: q (que); pra (para); cel (celular).
B4: hje (hoje).
3) No meio digital, há muita occorrência da subtração das vogais mediais
ou da supressão das vogais das palavras, surgindo assim a escrita
consonântica:
A1: td (tudo); vc (você); tbm (também).
A2: tbm (também); vc (você).
A3: vc (você).
A4: qm (quem); tbm (também); vc (você).
B1: tbm (também); vc(você).
B2: vc (você).
B3: vc (você).
B4: vc (você).
45
4) Outra característica da escrita digital é a substituição do dígrafo QU
pela letra K devido à economia da escrita:
A2: oke (o que); porke (porque).
A4: kero (quero); ke (que).
B1: k (que).
5) Ausência de acentos, til e cedilhas:
A1: situacao; amanha, mae, manha.
A2: to, voce, preguica.
A3: tambem, entao, ja.
A4: atletico, seleçao, ate, tecnico, ca.
B1: negocios, ja, amanha, quimica, ta, facil.
B2: sarcastica, video.
B3: horarios, ate, amanha.
B4: abençoe, historia.
6) Em relação ao ditongos nasal –ÃO, muitas vezes é substituído por
AUM, sendo assim, o conceito de economia de caracteres na escrita digital se
desfaz nesse item, pois é muito mais longo escrever AUM do que –ÃO, mas
também foram encontrados o uso de UM, U ou simplesmente AO:
A1: nao.
B1: naum, num, nu (não).
7) Encontra-se muito no espaço digital, o uso de onomatopéias para que
seja possível demostrar as emoções, os sentimentos, o estado de espírito
naquele determinado momento. Cada sujeito ou grupo de amigos expressa a
sua risada de um modo particular:
A1: uahauhauha; ahuahauhauhauah (risada).
A2: ahuahauhauahaa (risada).
A3: uheiuiaehuiaheuiahuieh (grito de alegria).
A4: u.huuuu (grito de alegria)
B1: kkkkkkkkk (risada intensa).
B2: aushauhsuahus (risada); sokasoaksokaoskao.
B3: hahshas (risada).
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B4: hehehe (risada).
8) Foi encontrado em grande quantidade, o uso do alongamento de
vogais e consoantes em determinadas palavras. Segundo Santos (2003) essa
caracterísitica utilizada pelos interlocutores “é a sensação de como
determinada palavra deve ser lida e que intenção ela carrega”, ou seja, houve a
pretensão de chamar a atenção do outro intelocutor por algum motivo ou
apenas para dar ênfase:
A1: ooiee; aaah.
A2: aaaata; corajosaaaa; siim; deussss.
A3: oooooooooi; teeu; tudo booooooom; ook.
A4: viajaaaaaaaar; sonoooo; priminhooooos; brigadaaa; ook.
B1: fedoooooooo; isaaaaaa; oiiiiiiiii; bommmmmm; eitaaaaaa, ficoooooo.
B2: aaaaaaaaaah; ameii; videeeo; oiiiiiiiie; melhoooooor; olhaaaa;
docinhoooos.
B3: oieee; bjusss.
B4: parabéééééns; amooo.
9) Nota-se que alguns trocam a letra E pela letra I e tamém o O pelo U:
A1: amu (amo).
B1: di (de); ti (te).
B3: bjus (beijos).
10) Houve ocorrências de junção de palavras:
A1: oque; atarde.
B1: jaja; daoraaaaa.
11) Em relação aos verbos, principalmente na forma infinitiva, há a
supressão do –r no final:
A2: só de pensa; brigada por me humilha e me faze...;
A4: so falta ganha agr; a gente combina de sai; tenho q estuda.
B1: vo te passa; é só fala um pouco;se eu num desce fala...
B3: ta meio comprido pra espeta q nem ele.
47
12) Através dos símbolos matemáticos e caracteres, eles expressam
sentimentos e emoções:
A1: ; ] piscada; ;] sorriso; o_o esperando ou em atenção; :S (dúvida).
A2: : / ou =/ tédio ou tristeza; =) alegria.
A3: (; piscada.
A4: =/ insatisfação ou tédio; =] alegria.
B2: =)) alegria; =0 sarcasmo ou surpresa; *-* alegria ou satisfação.
B4: =) sorriso; *-* alegria.
4.2.2 A Notação Escrita no Ambiente Escolar
A pesquisa feita sobre as notações no ambiente escolar foi de uma
entrevista com cada adolescente, e uma análise em algumas de suas
avaliações de disciplinas diferentes (história, geografia, filosofia e língua
portuguesa), e também no caderno de língua portuguesa.
Foi feita uma análise percentual dos “erros ortográficos” rastreados nas
produções realizada de cada sujeito no ambiente escolar. Nossa primeira
análise percentual levou em consideração as seguintes variáveis: a quantidade
total de palavras analisadas de cada sujeito e a quantidade de erros
ortográficos encontrados.
Antes de levantarmos qualquer conceito sobre o assunto, são
apresentadas a seguir algumas informações adquiridas através da entrevista
com cada adolescente:
1 – Identificação
2 – Idade
3 – Ano
4 – Tem o hábito de ler
5 – Número de livros lidos por ano
6 - Tempo que fica na Internet por dia
7 – Utiliza a escrita digital no ambiente escolar
8 – Tem que se policiar para não utilizar a escrita digital no ambiente
escolar
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Quadro 2: Informações dos adolescentes sobre seus hábitos de leitura e
escrita.
1 2 3 4 5 6 7 8
A1 12 7º ano EF Sim 7 5-6 h Nunca Não
A2 12 7º ano EF Sim 5 2-3 h Nunca Não
A3 12 7º ano EF Sim 4 6-7 h Nunca Não
A4 12 7º ano EF Sim 5 2-3 h Nunca Não
B1 18 3º ano EM Não 1 2 h Raramente Sim
B2 18 3º ano EM Sim 4 4 h Nunca Não
B3 17 3º ano EM Sim 5 3 h Raramente Não
B4 17 3º ano EM Sim 3 2-3 h Nunca Não
Fonte: Dados obtidos por meio de aplicação de questionário e entrevista.
Em relação ao número de palavras analisadas e o número de
percentagem de “erros ortográficos” encontrados de cada aluno, têm-se o
seguinte levantamento:
Quadro 3: Palavras analisadas e o número de percentagem de
incorreções.
Nº de palavras analisadas
Percentagem de erros ortográficos
A1 1835 0%
A2 1307 0,15%
A3 1403 0%
A4 2725 0%
B1 2116 0%
B2 2992 0,2%
B3 2824 0,14%
B4 2569 0,5%
Fonte: Dados obtidos por meio de palavras analisadas.
49
Observações:
A2 – 2 erros: min (minuto), p (para).
B2 – 6 erros: p (para) 3 vezes, pag (página), Hist (História), doc
(documento).
B3 – 4 erros: tbm (também), org (organização), trab (trabalho), + (mais).
B4 – 13 erros: p (para) 3 vezes, vs (versus) 2 vezes, ñ (não) 2 vezes, +
(mais) 2 vezes, ex (exemplo), pag (página), fev (fevereiro), cap (capítulo).
Diante de todo esse levantamento de dados, constatamos que os
sujeitos envolvidos nessa pesquisa nunca ou quase nunca utilizam a escrita
digital no ambiente escolar, apenas quatro dos oito sujeitos utilizaram-na,
sendo um nível percentual muito baixo: 0,15%, 0,2%, 0,14% e 0,5%.
É importante ressaltar que foram escontrados outros tipos de erros
ortográficos e erros de acentuação, mas que nesse caso são irrelevantes em
nossa pesquisa.
Os dados mostram que esses adolescentes sabem adequar os dois
tipos de linguagem em seu determinado espaço e que não possuem nenhuma
dificuldade em relação a cada tipo de escrita.
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CONCLUSÃO
Como se pode verificar, a escrita formal não é muito utilizada pelos
adolescentes no ambiente virtual, mas sim a escrita digital criada por eles
mesmos, onde não há normas a serem seguidas, nem uma regra ortográfica
digital.
Os adolecentes “escrevem errado de propósito”, intencionalmente, nos
chats e nos scraps, porque já possuem certo grau de conhecimento das
regularidades e irregularidades das regras ortográficas da Língua Portuguesa.
Sendo assim, eles entendem-se, comunicam-se e, principalmente, interagem-
-se por meio da escrita digital no ambiente virtual, assim desfaz-se o mito
imposto de que outras maneiras de escrever não gerem sentido e
comunicação.
Diante da pesquisa realizada, constatamos que os adolescentes
envolvidos na pesquisa sabem discernir a diferença da escrita formal e da
escrita digital, bem como, usá-las no lugar e no tempo adequado a cada
momento.
Essas constatações nos levam a acreditar que a escrita digital e a
tecnologia não irão prejudicar a norma ortográfica da Língua Portuguesa,
desde que a escrita formal seja bem ensinada e utilizada no ambiente escolar.
Por isso, é relevante ressaltarmos que o papel de cada instituição escolar é
essencial para a boa formação de cada sujeito.
A escrita digital é uma evolução na linguagem e na comunicação do ser
humano e ela está aí para ser utilizada e explorada por todos, só é preciso ter o
cuidado de utilizá-la no ambiente adequado e na hora certa.
51
REFERÊNCIAS
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