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Artigo Original Uso da gabapentina no tratamento da dor neuropática diabética Gabapentin in diabetic neuropatic pain managemant Najla Zambelle El Halabi Almeida Kátia Guedes Rodrigues Nádia Costa de Miranda Alex Perazo Clínica de Endocrinologia e Metabologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. Lenira Cristina Stella Luciana N. Lopes Gomes Stella Maria Pedrossian Vecchiatti Clínica de Endocrinologia e Metabologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. Endereço para correspondência: Najla Zambelle El Halabi Almeida - Rua Apeninos, 664 - conjunto 22 - CEP 01533-000 - São Paulo - SP - Fax (11) 3262-1763 - E-mail: [email protected] Unitermos: gabapentina, dor neuropática, pé diabético. Unterms: gabapentin, neuropatic pain, diabetic foot. Numeração de páginas na revista impressa: 142 à 144 INTRODUÇÃO O desenvolvimento de neuropatia periférica no curso do diabetes mellitus concorre para o comprometimento da qualidade de vida do paciente, não apenas por propiciar o maior risco de ulcerações e amputações como também pela debilidade secundária à dor neuropática. Este fato se mostra relevante, sobretudo pelas estimativas de que 45% dos portadores de diabetes desenvolvem a neuropatia periférica(1,2,3). Depois do ajuste glicêmico, diversos tratamentos são propostos para alívio da dor, como os antidepressivos tricíclicos, que se mostram eficientes, entretanto associados a contra-indicações e efeitos colaterais limitantes do uso. Vários estudos têm sido propostos objetivando o uso da gabapentina como alternativa terapêutica. A gabapentina é um anticonvulsivante que provavelmente tem seu mecanismo de ação ligado aos receptores do ácido gama-amino-butírico (GABA) na modulação da dor(1,4) e tem mostrado benefícios na neuropatia da infecção por HIV, nevralgia pós-herpética e distrofia simpático-reflexa(4).

Gabapentin A

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Page 1: Gabapentin A

Artigo OriginalUso da gabapentina no tratamento da dor neuropática diabéticaGabapentin in diabetic neuropatic pain managemant

Najla Zambelle El Halabi AlmeidaKátia Guedes RodriguesNádia Costa de MirandaAlex PerazoClínica de Endocrinologia e Metabologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.Lenira Cristina StellaLuciana N. Lopes GomesStella Maria Pedrossian VecchiattiClínica de Endocrinologia e Metabologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.Endereço para correspondência: Najla Zambelle El Halabi Almeida - Rua Apeninos, 664 - conjunto 22 - CEP 01533-000 - São Paulo - SP - Fax (11) 3262-1763 - E-mail: [email protected]

Unitermos: gabapentina, dor neuropática, pé diabético.Unterms: gabapentin, neuropatic pain, diabetic foot.

Numeração de páginas na revista impressa: 142 à 144

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de neuropatia periférica no curso do diabetes mellitus concorre para o comprometimento da qualidade de vida do paciente, não apenas por propiciar o maior risco de ulcerações e amputações como também pela debilidade secundária à dor neuropática.

Este fato se mostra relevante, sobretudo pelas estimativas de que 45% dos portadores de diabetes desenvolvem a neuropatia periférica(1,2,3).

Depois do ajuste glicêmico, diversos tratamentos são propostos para alívio da dor, como os antidepressivos tricíclicos, que se mostram eficientes, entretanto associados a contra-indicações e efeitos colaterais limitantes do uso.

Vários estudos têm sido propostos objetivando o uso da gabapentina como alternativa terapêutica. A gabapentina é um anticonvulsivante que provavelmente tem seu mecanismo de ação ligado aos receptores do ácido gama-amino-butírico (GABA) na modulação da dor(1,4) e tem mostrado benefícios na neuropatia da infecção por HIV, nevralgia pós-herpética e distrofia simpático-reflexa(4).

A dose proposta tem variado entre 900 e 3600 mg por dia, divida em três tomadas diárias(1,2).

Este trabalho tem por objetivo observar a resposta terapêutica a gabapentina de pacientes portadores de neuropatia diabética com quadro de dor neuropática, acompanhados em ambulatório especializado de pé diabético.

MÉTODOS

A medicação foi cedida graciosamente e empregada como terapêutica única a 13 pacientes diabéticos com queixa de dor neuropática, acompanhados no ambulatório de pé diabético da clínica de endocrinologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.A posologia empregada foi 1200 mg, dividida em três tomadas diárias, sendo que os pacientes foram orientados a não fazer uso concomitante de analgésicos mas, entretanto, manter as demais medicações em uso.

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A quantificação da dor foi subjetiva pelo paciente, a quem foi orientado descrever a dor dentro de um escore de zero a dez, sendo zero a ausência de dor e dez a dor máxima sentida.O seguimento foi feito por quatro semanas, com subseqüente reavaliação do paciente e da gradação da dor. Os resultados foram baseados na porcentagem de melhora considerando o escore final em relação ao escore inicial de cada paciente.

RESULTADOS

Foram avaliados 13 pacientes, sendo 12 do sexo feminino (92,3%) e um do sexo masculino (7,7%).

A idade cronológica variou entre 47 e 88 anos, sendo a seguinte distribuição por faixa etária: quatro pacientes (30,77%) entre 41 e 50 anos, quatro pacientes (30,77%) entre 51 e 60 anos e cinco pacientes (38,46%) com mais de 61 anos (Tabela 1).

Quanto ao tempo de diabetes, três pacientes (23,08%) tinham menos de cinco anos do diagnóstico, três pacientes (23,08%) tinham entre cinco e nove anos, cinco pacientes (38,46%) entre 10 e 15 anos e dois pacientes (15,38%) mais de 15 anos (Tabela 2).Na primeira consulta em que se instituiu o tratamento com gabapentina, sete pacientes (53,8%) referiam dor com escore 10, quatro pacientes (30,77%) com escore entre 6 e 9, e dois pacientes (15,38%) avaliaram a dor com escore menor ou igual a 5.

Dois pacientes (15%), abandonaram o seguimento, de forma que 11 pacientes foram reavaliados após quatro semanas. Nesta oportunidade, dois pacientes (15%) mantinham dor de escore máximo, um (7,6%) teve escore entre 6 e 9, e oito (61,5%) tiveram escore de dor menor que 5 (Tabela 3).

Com relação a efeitos colaterais, dois pacientes (18,18%) referiram epigastralgia e dois pacientes se queixaram de sonolência. Sete pacientes (63,64%) não atribuíram efeitos colaterais ao uso da gabapentina.

DISCUSSÃO

Em função do pequeno número de pacientes avaliados, embora a maioria mulheres, não se pode afirmar que haja um predomínio do sexo feminino na queixa de dor neuropática pelo diabetes fato, inclusive, que seria díspare em relação à literatura relacionada.

Quanto à idade, o paciente mais jovem neste estudo tinha 47 anos, o que denota o caráter crônico da complicação neuropática periférica, corroborada pelo dado que a maioria tinha mais de cinco anos do diagnóstico de diabetes. Estas observações são concordantes com a literatura, onde a idade média variou entre 53 e 62 anos e a duração do diabetes entre 11 e 14 anos(1,4).

É possível que, se o tempo de seguimento pudesse ser maior, a melhora ou não da dor seria mais claramente associada à medicação, embora mais da metade dos pacientes tenha apresentado melhora no estudo realizado. Há de se considerar que, dentre os dois pacientes que mantiveram dor de escore 10, um deles fez uso irregular da medicação por não compreender a posologia, e o outro apresentava esporão de calcâneo.

Também, a avaliação da dor, apesar de difícil, poderia ser mais objetiva se associada a mensurações de qualidade de vida(6).

CONCLUSÃO

A dor neuropática num indivíduo diabético passível de outras complicações crônicas concomitantes concorre para o prejuízo na qualidade de vida e estado de humor.

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Este fato denota a importância de se apropriar uma medicação para o alívio dos sintomas. Neste sentido, surge a gabapentina como opção terapêutica, visto sua efetividade e segurança quanto a efeitos adversos, embora o custo ainda torne dificultosa sua utilização em larga escala.

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