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Ano I n. 01 jan. jul. 2010
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Resenha
ORLANDI, Eni P. Linguagem, cincia, sociedade: o jornalismo cientfico.In Cidade dos Sentidos. Ed. Pontes, Campinas, SP, 2004. pp. 129 a 147.
Lucilene de Oliveira1
Neste artigo, Orlandi discute sobre o funcionamento da divulgao cientfica que circula
na sociedade e como essa divulgao produz efeitos de conhecimento sobre a cincia, pois
funciona, tambm, como uma verso desta.
A autora faz, portanto, uma reflexo sobre o jornalismo cientfico, forma de divulgaoda cincia, e sobre como o discurso cientfico, atravs dele, compreendido pelo sujeito-
leitor. A autora desconsidera os discursos pessimistas ou otimistas a respeito da relao
cincia e novas tecnologias de linguagem comumente em circulao no meio acadmico, e
prope uma reflexo em que essas questes se relacionem ao processo de produo do
conhecimento.
Para discutir essas questes a pesquisadora considera trs fatores importantes:
interatividade, informao e comunicao. Ela considera a linguagem, quanto informao,incompleta, ou seja, nem sujeitos e nem sentidos so completos em sua constituio, e, desta
forma as informaes so, tambm, insuficientes, em relao quantidade. Em relao
qualidade da comunicao, afirma a autora que a linguagem no produz sentidos literais
porque a linguagem serve para comunicar e no comunicar. (p. 130). Quer dizer, a
linguagem no seria usada apenas com o objetivo de comunicar e informar literalmente as
informaes, pois ela funciona na relao com o poltico, com a subjetividade, com a
ideologia (p. 130). Quanto interao, Orlandi explica que somos sujeitos e no animais eminterao, por isso ocupamos espaos histrico-sociais onde significamos, sendo a histria
um lugar que o homem simbolicamente produz sentido(s).
Orlandi lembra que pensar novas tecnologias de linguagem tambm pensar novas
tecnologias de escrita. E ela a define [a linguagem] como uma forma de relao social.
Assim, o modo de escrita do texto, a forma da autoria, a maneira de significar, em relao ao
1
Acadmica do 4. semestre do curso de Licenciatura em Letras da UNEMATPontes e Lacerda. BolsistaPROBIC, sob orientao da Prof Ms. Silvia Regina Nunes. [email protected]
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]8/6/2019 fronteira_digital_n1_2010_res_2
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conhecimento e prtica das tecnologias de linguagem desencadeiam, atravs da linguagem,
vrios outros processos de transformao.
Outra questo importante que a autora discute o que acontece na relao entre a
cincia e a prtica das novas tecnologias de linguagem, que resulta na divulgao cientfica e,
consequentemente, no efeito-leitor produzido pelo discurso desta.
interessante, esclarecer, consoante a autora, a noo de efeito-leitor da divulgao
cientfica. Ele refere-se apropriao coletiva do conhecimento e caracterizao do sujeito
social urbano com as novas tecnologias e, como confirma Orlandi, ns somos sujeitos de
direito e sujeitos de conhecimento, em nossa forma social histrica. (p. 133). Ns somos,
ento, sujeitos que participam da constituio da sociedade urbana, no processo da
divulgao cientfica socializando o conhecimento e ao mesmo tempo publicizamos a cincia
atravs do jogo da significao produzido pelo divulgador de cincia (jornalista) ou pelo
leitor de cincia, seja ele um leitor ingnuo ou especialista.
Esta publicizaao da cincia, a pesquisadora designa como efeito de exterioridade, ou
seja, o discurso de divulgao cientifica passa a funcionar como discurso cientfico em nosso
meio social. A cincia ocupando um lugar que no o dela, ocupando um lugar social e
histrico no cotidiano do sujeito. (p. 135).
Na produo de sentidos, Orlandi descreve trs funcionamentos: a constituio, a
formulao e a circulao da cincia pala divulgao cientfica. Na divulgao cientfica, a
relao entre a constituio e formulao dos sentidos transforma a cincia, pelo sujeito, em
apenas informao e no em conhecimento; j a circulao, com o seu modo de acontecer
interfere na constituio de sentidos, conhecimento/informao.
No podemos esquecer que a passagem de uma discursividade (cincia) para outra(divulgao cientfica) cria outra forma de discurso, sendo a divulgao cientfica
textualizao jornalstica. A autora ainda acrescenta que, conforme a ideia de Rocqueplo, a
divulgao cientfica uma forma de tornar acessvel ao pblico o discurso cientifico. Assim,
na passagem de um discurso para o outro h metaforizaro e historizao, ou seja, a
transferncia de sentidos que se constitui na determinao histrica.
O discurso cientfico tambm encenado pelo jornalismo cientfico, e este tem como
objetivo, segundo Orlandi, trazer para o seu leitor um determinado efeito de qualidade eeficcia. Deste modo, o leitor, critica a pesquisadora, pensa ter acesso direto a cincia ou ao
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dizer do cientista, mas na verdade, o leitor tem acesso apenas ao que o divulgador/jornalista
interpretou. Porm, para a autora, ser leitor de cincia importante para garantir o efeito de
exterioridade da cincia e preciso que os leitores compreendam a cincia.
H tambm, neste processo, uma didatizao do discurso cientifico, quer dizer, ele
transforma-se em discurso relatado na divulgao cientfica. A escola, de acordo com
Orlandi, tambm afetada por esse funcionamento atravs da mdia. Isso produz efeitos
como os de que a escola no seria um lugar em que haja relao com o processo de produo
do conhecimento. A autora diz que o conhecimento funciona como uma mercadoria devido
ao efeito de informatividade da cincia, produzido pela mdia. A escola transforma-se,
portanto, em um lugar de midiatizao do conhecimento e no de produo de conhecimento.
O sujeito, portanto, no deve ser visto somente como um lugar em que sabe sobre
alguma coisa (tem informao sobre) em sua relao com a cincia, com as tecnologias de
linguagem e a divulgao cientfica. Devemos nos preocupar, de acordo com Orlandi, com a
ideia de que o sujeito deve se relacionar com um lugar de produo de conhecimento e
tambm fazer parte da produo deste processo.