Fortificações e Povoamento no Norte de Portugal (Séc. IX a XI)

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    Fortificaes e Povoamento no Norte de Portugal (Sc. IX a XI)

    Mrio Jorge Barroca*

    ABSTRACT:The author characterizes the time when the first castles were built in the North of Portugal duringthe last three decades of the 9th century (circa 870-900) and correlates this event to the Christianconquest process. The earliness of this process in the valley of river Douro is emphasized and themajor evolution of the encastelamento (castle building) in the North of Portugal is presented,with identification of the 50 castles documented until the year 1000. Two major groups of militarystructures are identified: castles built by the Counts and castles built by the local communities. Theauthor also characterizes the military process of the Reconquista (reconquest): first the progressup to river Mondego and the formation of the County of Coimbra (878); then the campaigns of al-Mansur and the Christian retreat to river Douro (986-997); finally, the definitive conquest of the

    Beiras (1057-1058) and Coimbra (1064). At last, the Author describes the new territorialorganization of Terrae, due to Fernando Magno, which had crucial importance in the developmentof the Romanesque castles.

    O presente texto serviu de base a uma comunicao que apresentmos ao Seminrio PoblamientoRural en el Norte de la Pennsula Ibrica (Siglos V-X). Continuidades, rupturas, transformaciones, que,coordenado pelos Professores Doutores Angel Fuentes e Jorge Lopez Quiroga, decorreu na Casa deVelzquez, em Madrid, em 22 e 23 de Fevereiro de 1999. Como as Actas do Seminrio continuam,infelizmente, a aguardar edio, e como, mesmo depois de elas sarem dos prelos, a sua divulgao em

    Portugal ser certamente escassa, optamos por publicar aqui o texto do contributo apresentado a esseencontro. O tema que ento tratmos foi, aparentemente, um pouco marginal temtica desse encontro,centrada no estudo dos problemas do povoamento rural no Norte da Pennsula Ibrica entre os Sc. V eX. Entendeu a organizao deste Encontro que o nosso contributo poderia ser interessante, e por issogostaramos de deixar expresso o nosso reconhecimento pelo amvel convite que nos foi endereado paraparticipar nessa reunio cientfica. evidente, de resto, que uma correcta compreenso do povoamentorural na fase final destas centrias dever passar pelo entendimento das estruturas fortificadas que

    181

    Nova Srie, Vol. XXV

    * Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Via Panormica, s/n, 4150-564PORTO.

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    asseguraram, a cada momento, a estabilidade necessria fixao das comunidades humanas numadeterminada zona.

    O primeiro problema que se coloca nos estudos de Castelologia Medieval , naturalmente, definir omomento em que surgem os primeiros castelos. Durante muito tempo as necessidades de defesa foramsuplantadas pelo recurso fortificao dos povoados. Aconteceu assim desde a Idade do Bronze e doFerro, quando os povoados se rodearam de espessos sistemas muralhados, e foi esta a opo pelo menosat Alta Idade Mdia. A Crnica de Idcio, magnfico testemunho dos conturbados tempos vividos nosSc. IV-V, revela-nos como era sistemtica a opo pelos povoados fortificados. Efectivamente, nestaCrnica, que relata eventos ocorridos entre os anos de 379 e 469, encontramos diversas referncias apovoados defendidos por muralhas, designados genericamente por oppida. Encontramos, igualmente,diversas referncias a cidades, herdadas do perodo romano. Mas no encontramos uma nica refernciaexplcita a um castelo. A leitura de Idcio revela-nos, ainda, uma sociedade etnicamente dividida, com umafixao territorial diferenciada, tendo as populaes hispnicas conseguido preservar na sua posse as maisimportantes cidades enquanto que os povos germnicos se viram obrigados a optar por uma implantao

    essencialmente rural. Idcio explcito quando se refere aos ... hispnicos, espalhados pelas cidades epidos ... e aos ... Brbaros, dominadores das provncias ... (HYDACE: I, 49, pp. 117-119). Orelacionamento entre invasores e invadidos foi quase sempre problemtico. Ao longo da Crnica, de umaforma cclica, afloram conflitos entre suevos e hispano-romanos, com os primeiros a atacar e pilhar ascidades ou os povoados fortificados detidos pelos segundos. No entanto, ao longo destes noventa anos, toconturbados e to ricos em eventos militares, no encontramos nenhuma referncia explcita a um castelo.

    Podemos, por isso, dizer sem qualquer receio que o castelo, na acepo restrita do termo - isto ,enquanto estrutura amuralhada rodeando um pequeno ptio, servindo de abrigo a uma guarnio militarque tem por misso velar pela segurana de um territrio mais vasto - foi uma inveno dos temposmedievais e, particularmente, da Reconquista. Deles no encontramos traos, nem documentais nemarqueolgicos, antes da Invaso Muulmana de 711, mas j temos notcias seguras a partir das primeiraspresrias de Afonso III das Astrias (866-910). Procuremos caracterizar melhor o momento ondeaparecem os primeiros castelos no espao actualmente portugus.

    Nos meados do Sc. IX, a fronteira crist estava, na zona ocidental da Pennsula, posicionada novale do rio Minho, que fora alcanado com a presria de Tuy, por Afonso Betotes, em 854. Quando AfonsoIII das Astrias subiu ao trono, em 866, a fronteira crist continuava posicionada neste vale. No entanto,pouco depois inaugura-se uma fase particularmente dinmica do ponto de vista militar, que aproveita umaconjuntura favorvel para as foras crists. Em 868 dava-se a presria de Portucale, por Vmara Peres, ecom ela a fronteira avanava at margem direita do rio Douro. A presria do Porto ficou memorizada noChronicon Laurbanense, um dos registos analsticos que chegou at aos nossos dias, facto que espelha a

    importncia do evento: Era DCCCCVI Prenditus est Portucale ad Vimara Petri. (PMH, Script.: p. 20).O Conde Vmara Peres morreria em 873, cinco anos depois da presria do Porto: Era DCCCCXI.

    venit rex Adefonsus in Vama (sic) et in VI die Vimara mortuus est. (PMH, Script.: p. 20). Mas asconsequncias da sua actuao prolongaram-se muito para alm desta data. A partir de Portucale deu-sea reorganizao de todo o territrio de Entre-Douro-e-Minho: o repovoamento de Braga, a partir de 870(onde o prprio Vmara Peres teve interveno directa, figurando no diploma que estabelece os limites deBraga - LF 16); a fundao de Guimares (vila que surge a partir da quint condal de Vmara Peres,referida desde 879); e com a presria de outros lugares mais modestos. De algumas dessas presriaschegaram-nos notcias documentais, como o caso da presria de Negrelos (hoje S. Miguel do Paraso,conc. de Guimares), realizada por Lucdio Vimaranes, o filho de Vmara Peres (PMH, DC 5, de 870), ou

    da presria de Lardosa (lugar da freg. de Rans, conc. de Penafiel), realizada por Muzara e Zamora, doismorabes certamente vindos de Sul (PMH, DC 9, de 882).

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    Quatro anos mais tarde, em 872, o Conde Odorio presuriava a cidade de Chaves, no alto Tmega,e, a partir deste ponto, dava-se incio ao processo de repovoamento da zona Norte de Trs-os-Montes, emtorno dos frteis terrenos da veiga de Chaves. O protagonismo de Odorio chegou at ns graas a umanotcia redigida um sculo mais tarde, encerrada numa doao de 982 onde se regista que o conde,digno bellatori , ergueu vicos e castelos, amuralhou cidades e povoou vilas:

    ... data est terra ad populandum illustrissimo viro domno Odoario digno bellatori, in EraDCCCCX, a principe serenissimo domno Adefonso, qui venit in civitate Flavias, secus fluviumTamice, vicos et castella erexit, et civitates munivit, et villas populavit, atque eas certis limitibusfirmavit, et terminis certis locavit, et inter utrosque habitantes divisit ... (BARRAU-DIHIGO1989: p. 172; AZEVEDO L. G. 1939: II, p. 88)1.Julgamos que o Castro da Curalha (freg. da Curalha, conc. de Chaves) poder ser exemplo de um

    desses povoados que Odorio ergueu no Alto Tmega, depois de ter assumido o controle de Chaves. Estepovoado, que Santos Jnior escavou ao longo de vrios anos2, revelou abundante esplio associado aestruturas habitacionais e a um urbanismo claramente medieval. Na realidade, ao invs do que entendiaSantos Jnior, que sempre classificou a Curalha como um simples povoado castrejo, parece-nos evidente

    que se trata antes de um povoado medivico. As suas casas, adoptando sistematicamente plantasrectangulares, com ngulos rectos, adossam-se umas s outras, erguendo-se comprimidas num espaoreduzido, e encostam-se muralha, tudo opes evitadas em povoados castrejos. Por seu turno, o esplioexumado na sua maioria tardio, compreendendo materiais tardo-romanos e altimedivicos, comosigillatas claras e estampadas, e um conjunto muito importante de materiais medievais, da Reconquista,onde se contam as cermicas cinzentas ornamentadas com cordes plsticos com dedadas, incises eoutras gramticas decorativas tipicamente medievais. Acrescentemos, finalmente, que o Castro da Curalhaainda se encontra documentado em [1169-1175] (LF, 503). Todos estes dados revelam que o Castro daCuralha teve uma reocupao tardia, da Reconquista, que foi a responsvel pelo seu urbanismo, sendodesta forma um testemunho da reorganizao do povoamento da zona da civitas de Chaves, processo

    encetado por Odorio a partir de 872.Seis anos mais tarde, em 878, era a vez do Conde D. Hermenegildo presuriar, ainda em nome deAfonso III, a cidade de Coimbra, na margem Norte do rio Mondego:

    ... Era DCCCCXVI. prendita est Conimbria ad Ermenegildo Comite. (PMH, Script.: p. 20).Na sequncia desta reconquista outros pontos a Sul do Douro seriam igualmente repovoados por

    ordem de Afonso III. o caso da civitas de Viseu, que as Crnicas Rotensis eAd Sebastianum, declaramexpressamente ter sido povoada por iniciativa daquele monarca asturiano:

    ... Rudis namque nostris temporibus quum civitas Viseo et suburbis eius iussum nostrumesset populatus. (CRN. AST.: pp. 122 e 123).E o mesmo ter acontecido a Lamego, como se regista na Crnica Albeldensia, e cujo castelo est

    documentado na posse das foras crists em 952 (PMH, DC 65). O esforo militar de Afonso III foi, comose sabe, registado laudatoriamente nas crnicas asturianas, que, para a rea hoje portuguesa, referem asconquistas de Porto, Angia, Braga, Chaves, Lamego, Viseu e Coimbra3.

    1 A figura do Conde Odorio foi estudada por BALIAS PEREZ 1995: pp. 35-51.2 Sobre as escavaes na Curalha veja-se SANTOS JNIOR 1980-85 e SANTOS JNIOR 1984. Para uma reviso actualizada da Curalha

    vd. TEIXEIRA 1996: pp. 77-78 e 167-168.3 Na Crnica Rotensis refere-se a conquista de ... Portugale, Anegiam, Bracaram metropolitanam, Viseo, Flavias ... - CRN. AST.: p. 132;

    na Crnica Ad Sebastianum so mencionados Portucalem, Bracaram metropolitanam, Viseo, Flavias ... - CRN. AST.: p. 133; na Crnica

    Albeldensia mencionam-se a conquista e povoamento de Coimbra (... Conimbriam ab inimicus possessam eremavit et Gallecis postea populavit ...)e depois o povoamento de Braga, Porto, Viseu e Lamego - CRN. AST.: pp. 176-177.

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    Este momento mpar da Reconquista revela-se ainda mais notvel quando comparado com acronologia da fixao nos principais pontos do vale do Douro na zona leonesa: Zamora seria retomada em893, Simancas em 899, Toro em 900, Burgo de Osma em 912. Ao fim de uma dcada de movimentaesmilitares (868-878), a fronteira crist tinha progredido perto de 200 km para Sul ao longo da fachadaatlntica, passando do vale do rio Minho para o vale do Mondego e englobando pontos to importantes

    como Montemor-o-Velho, Coimbra e Viseu. Mas, medida que se avanava para o interior, a fronteirarecuava: ela contornava o macio da Serra da Estrela pela encosta Norte mas no devia ultrapassar o valedo Rio Ca para Leste. Acreditamos, mesmo, que a fronteira estaria estacionada neste alcandorado vale.Na realidade, a Ocidente do Ca encontramos uma srie de castelos - como Trancoso, Sernancelhe,Longroiva, Numo, etc - que estavam na posse das foras crists no Sc. X. A Leste do Ca, pelo contrrio,conhecemos alguns testemunhos muulmanos para essa poca e mesmo para fases mais avanadas(como o caso da cisterna muulmana de Castelo Rodrigo, com o seu arco ultrapassado quebrado, doSc. X) (BARROCA 1999).

    Deste modo, podemos dizer que, no territrio actualmente portugus, pouco depois de 878, afronteira crist estava posicionada ao longo do vale do Mondego, at alcanar o Ca, seguindo pelo curso

    deste rio at ao Douro. A reconquista de Zamora, ocorrida apenas em 893, 15 anos depois de Coimbrae 25 anos depois do Porto, confirma como o posicionamento da fronteira no vale do Douro leons foi umprocesso mais moroso. Este vasto espao do Entre-Douro-e-Mondego permaneceu na posse das forascrists durante mais de um sculo, at s investidas de al-Mansur nos finais do Sc. X, em 986, 987,995 e 997, que trouxeram a fronteira crist de novo at ao vale do Douro. este primeiro domnio cristo,to prolongado, que ajuda a explicar a presena de tantos testemunhos pr-romnicos no Centro dePortugal, desde vestgios avulsos at templos morabes mais ou menos bem conservados (como os casosde S. Pedro de Balsemo, Prazo, S. Pedro do Sul, Viseu, Frguas e S. Pedro de Lourosa) 4.

    neste contexto poltico-militar que surgem as primeiras referncias documentais a castelos noNoroeste de Portugal. No sabemos se as populaes autctones j possuam algumas estruturas

    defensivas erguidas antes da chegada dos presores de Afonso III (866-906). Se as tinham, a escassadocumentao da poca no o deixa transparecer. Mas pouco depois das primeiras presrias assistimosao aparecimento de referncias documentais a estruturas castelares. Na realidade, a mais antiga notciaque se conhece para um castelo em Portugal remonta ao ano de 870. Na presria da villa Negrelus(hoje S. Miguel do Paraso, Guimares) declara-se que esta vila est no territorio Bracharensis urbiumPortugasensis ... subtus mons Caballus prope rivulum Have (PMH, DC 5). A expresso subtus mons,sob o monte, muito caracterstica da documentao medieval portuguesa e, como Carlos Alberto Ferreirade Almeida teve ensejo de demonstrar (ALMEIDA 1978: pp. 25-27; ALMEIDA 1992: pp. 382-383), nocorresponde apenas a uma relao de dependncia topogrfica (que muitas vezes nem sequer existe), massobretudo a uma dependncia de carcter administrativo e militar. O Mons Caballus, sob o qual se

    enquadrava a villa de Negrelos, corresponde hoje a N. S. do Monte (Cavalos, freg. Conde, conc.Guimares) e era um desses primitivos castelos roqueiros. Encontra-se documentado desde 870 at, pelomenos, o ano de 1013 (PMH, DC 221) (ALMEIDA 1978: p. 35, N 53).

    Pouco depois desta primeira referncia seria a vez de, num documento de 875 relativo Igreja deS. Martinho de Soalhes (Marco de Canaveses), se citar o Mons Genestaxo:

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    4 A igreja morabe de S. Pedro de Lourosa, datada do ano de 912 por meio de uma inscrio (BARROCA 1995: II, pp. 33-35, Insc. N 3),espelha a fuga, para Norte, de comunidades morabes fugindo vaga de intolerncia que acompanhou a ascenso ao poder de Abd Al-Rahman III

    (912-961), um processo que deu origem a outros clebres monumentos morabes (como o caso da Igreja de S. Miguel de Escalada, junto a Len,datada de 913).

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    ... baselica Sancti Martini Episcopi, que est fundata in Villa de Suylanes, subtus monsGenestaxo, secus rivulum Gallina, et flumen Dorio, territorio Anegia ... (PMH, DC 8).O monte Gesta (freg. Paos de Gaiolo, conc. Marco de Canaveses) encontra-se documentado at

    pelo menos 1087 (PMH, DC 688) (ALMEIDA 1978: p. 37, N 83).A partir de ento, as referncias a castelos multiplicam-se a um ritmo crescente. Bastar registar

    que, at aos fins do Sc. X, ou seja, at ao ano 1000, num universo total de 183 documentos5, 71 delespossuem referncias a castelos (38,8 %), correspondendo a um total de 50 estruturas castelares distintas.Os quadros que preparamos (Quadros 1 e 2) ilustram a progresso deste fenmeno que, como j tivemosoportunidade de sublinhar noutros estudos nossos, se reveste de uma grande novidade (BARROCA 1990-91: p. 91 e ss.; BARROCA 1997: pp. 14-15).

    N de Doc.

    (PMH, DC) N de Doc. c/ ref. a Castelos Percentagem

    870-900 11 3 27, 3 %

    901-925 18 7 38,8 %

    926-950 32 5 15,6 %951-975 52 27 51,9 %

    976-1000 70 29 41,4 %

    TOTAL 183 71 38,8 %

    Quadro 1 - Documentos at ao Ano 1000 que referem castelos.

    N de Doc. N Castelos referidos Totaisc/ ref. a Castelos cumulativos

    870-900 3 4 4

    901-925 7 7 10

    926-950 5 4 12951-975 27 30 37

    976-1000 29 22 50

    TOTAL 71 - -

    Quadro 2 - Evoluo do nmero de castelos referidos at ao Ano 1000.

    O aparecimento do castelo no Noroeste de Portugal, no ltimo quartel do Sc. IX, na sequncia dasprimeiras presrias astur-leonesas, e o modelo de organizao do espao adoptado desde ento soprocessos que apresentam um estreito paralelismo, quer em termos de cronologias quer em termos de

    solues arquitectnicas, com o que outros autores tm vindo a detectar noutras zonas da Pennsula.Referimo-nos, concretamente, aos estudos de Jos Avelino Gutierrez Gonzlez para a zona de Len e deFrancesc Fit para a zona da Catalunha, e sntese de Andr Bazzana sobre o aparecimento do castelonas zonas setentrionais da Pennsula Ibrica, apresentada no 16 Colquio Chateau Gaillard (GUTIERREZGONZLEZ 1989: p. 173; GUTIERREZ GONZLEZ 1995: p. 46; FIT 1989: pp. 195-196; FIT 1993:p. 8; BAZZANA 1994: pp. 34-35). As cronologias apontadas por Bazzana para a zona oriental daPennsula no diferem, de resto, muito das cronologias que Helena Catarino encontrou para a zonameridional portuguesa (CATARINO 1997-98: II, pp. 579-587).

    5 Tomamos como universo de estudo apenas os diplomas publicados nos PMH, DC.

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    A cartografia das 50 estruturas fortificadas documentadas em Portugal at ao ano 1000 (Fig. 1)revela uma concentrao significativa na parte terminal do curso do rio Douro, correspondendo grossomodo ao Douro Litoral, abrangendo ambas as margens do rio e alcanando, no interior, os contrafortesdas Serras do Maro e de Montemuro. Nesta zona concentram-se 47 % das estruturas castelaresconhecidas para o ltimo quartel do Sc. IX e todo o Sc. X. Fora desta zona, salientemos a presena de

    outras concentraes igualmente significativas: uma na parte inferior do vale do rio Ave, em torno da fozdeste rio, com 6 castelos que permitiam o controle destas terras frteis e o domnio do curso fluvial; outraconcentrao em torno do eixo Braga-Guimares, com um total de 6 castelos; finalmente, um pequenoconjunto de estruturas castelares entre o Vouga e o Mondego, relacionadas com a presena de forascrists em Coimbra, onde contabilizamos 3 castelos at ao ano 1000 mas que, dobrada a centria,rapidamente aumentariam de nmero. Julgamos que merece igualmente destaque a quantidade decastelos que, at ao ano 1000, escolheram montes com ocupaes castrejas para se implantar (pelomenos 11 exemplos, ou seja 22%) e o nmero de castelos que se posicionaram nas imediaes de viasromanas ainda em uso (pelo menos 6 casos). Deixamos de lado a concentrao de castelos no Leste doterritrio cristo, onde se erguiam 10 castelos condais, de que nos ocuparemos mais frente.

    Zona N Castelos

    Entre-Lima-e-Cvado 1

    Entre-Cvado-e-Ave 12

    Entre-Ave-e-Douro 12

    Entre-Douro-e-Vouga 11

    Entre-Vouga-e-Mondego 3

    Beira Interior 11

    TOTAL 50

    Quadro 3 - Distribuio geogrfica dos castelos portugueses dos Sc. IX-X

    A distribuio geogrfica dos castelos portugueses at ao ano 1000 revela dois aspectos queimporta sublinhar. Em primeiro lugar, o facto do aparecimento dos primeiros castelos no Norte de Portugalacontecer na zona do Douro Litoral, que foi palco das primeiras presrias de Afonso III, e atingir aqui,desde cedo, um grande dinamismo. Em segundo lugar, o facto de s numa fase mais tardia ter alcanadoas zonas mais setentrionais do Entre-Douro-e-Minho. Na realidade, a penetrao dos castelos at aos finsdo Sc. X revela-se muito diminuta na zona a Norte do vale do Ave. Esta perspectiva encontra-secomprovada num precioso documento dos PMH, o clebre DC 13, sobre o qual Carlos Alberto Ferreira deAlmeida lanou luz definitiva ao identificar a sua localizao e quase toda a sua microtoponma6. Trata-sede um documento do ano de 906, que regista uma composio entre o Bispo de Iria, Sisnando, e o Bispode Coimbra, Nausto, sobre a partilha de bens que ambos bispados detinham em Silva Scura. O espaoda ... ecclesia et villa vocabulo Sancta Eolalia que scita est in Silva Scura ... descrito com umpormenor invulgar, sendo enumerados 25 moradores e diversas propriedades (2 vrzeas, 6 linhares, 26campos, 2 arroteias, 4 pomares e 1 vinha, sendo mais de uma dezena de propriedades vedadas). Aimportncia deste documento para a Castelologia reside no facto de, em 906, quando se fez umlevantamento to exaustivo e minucioso desta zona, no se ter registado nenhum castelo. No entanto, um

    6 Durante muito tempo entendeu-se que o PMH, DC 13 dizia respeito a guas Santas (Maia) ou a guas Santas (Pvoa de Lanhoso). FoiCarlos Alberto Ferreira de Almeida quem, em 1970, dissipou todas as dvidas, demonstrando que se trata de St. Eullia de Rio Covo, freguesia do

    concelho de Barcelos - cf. ALMEIDA 1970: pp. 97-107. O mesmo autor j anteriormente se tinha debruado sobre este diploma - ALMEIDA 1966:pp. 635-642.

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    sculo mais tarde, nos incios do Sc. XI, existiam aqui dois castelos: o castelo de Mides (a Ocidente) eo castelo de Penafiel de Bastuos (a Oriente), este ltimo documentado pelo menos desde 1018 (LF 68).Deste modo, o DC 13 corrobora a ideia de que a progresso dos castelos para o corao do Entre-Douro-e-Minho, e nomeadamente para a zona a Norte do vale do rio Ave, foi um acontecimento mais tardio doque o panorama que se desenha para o espao compreendido entre o Ave e o Douro e, de uma maneirageral, para a zona do vale do Douro.

    O documento de Soalhes, de 875 (DC 8), para alm de conter uma das primeiras refernciasdocumentais a castelos, encerra uma outra enorme novidade: a referncia ao territrio de Angia. Narealidade, depois das presrias de Afonso III, assistimos a uma reorganizao do territrio incorporadodentro dos limites cristos, a qual passou pela criao das civitates. No se trata, aqui, de uma simplesreferncia a povoados urbanos, a cidades. Certamente que a expresso civitas tambm foi utilizada nessaacepo, conhecendo-se documentos onde Braga, Porto e Coimbra so tratadas como civitates. Mas, emmuitos outros documentos, do ltimo quartel do Sc. IX, do Sc. X e do Sc. XI, sobretudo da zona dovale do Douro, surgem referncias a civitates que nunca corresponderam a cidades - nunca foram sede

    de bispado nem sequer atingiram dimenso urbana digna de relevo - mas que, apesar disso, continuarama ser designadas como civitates. o caso das civitates de Angia e de St. Maria, que nunca tiveram umadimenso urbana significativa. Por outro lado, flagrante que, muitas vezes, a expresso civitas no sereporta a um local mas antes a um territrio. Na realidade, estas civitates eram amplos espaos territoriaisque, do ponto de vista militar, estavam confiados ao controle de uma estrutura militar que, muitas vezes,se revestia de caractersticas arquitectnicas muito incipientes. A organizao territorial imposta porAfonso III no Douro Litoral no se afasta, portanto, muito da que o mesmo monarca instituiu noutras zonasdo seu reino, nomeadamente com as mandationes ou os commissa galegos7.

    A Civitas era ou poderia ser um comitatus, tinha o seu territrio prprio, e, idealmente, estavasob a responsabilidade de um conde ou de um commissarius da administrao central. (ALMEIDA1992: p. 377).

    A primeira civitas a ser referida na documentao foi Angia, a mais bem documentada de todasas civitates que Afonso III criou na zona actualmente portuguesa. A primeira referncia documental paraAngia remonta a 875 (PMH, DC 8) e este territrio permanecer operacional durante mais de doissculos, entrando em decadncia apenas a partir dos meados do Sc. XI, mais concretamente a partir dadcada de 60 do Sc. XI. A Crnica Rotensis regista, indirectamente, a criao de Angia quando declaraque Afonso III, juntamente com seu irmo Fruela, tomou muitas civitates, nomeadamente as de Porto,Angia, Braga, Chaves e Viseu:

    ... Qui cum fratre Froilane sepius exercitu mobens multas civitates bellando cepit, id est,Lucum, Tudem, Portugalem, Anegiam, Bracaram metropolitana, Viseo, Flavias ... (CRN. AST.:

    p. 132).A civitas de Angia implantava-se num pequeno esporo sobranceiro confluncia dos rios Tmega

    e Douro. No seu local ergue-se hoje a Capela da Senhora da Cividade (freg. de St. Maria de Eja, conc.de Penafiel), que conserva um topnimo bem significativo. Desde h muito conhecida dos historiadores apartir das numerosas referncias documentais (mais de meia centena de documentos, balizados entre 875e os fins do Sc. XI), a sua estrutura arquitectnica seria identificada por Carlos Alberto Ferreira de

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    7 Sobre as civitates do territrio portugus vide, entre outros, ALMEIDA 1988: pp. 150-151; ALMEIDA 1989: pp. 43-48; ALMEIDA 1992:

    pp. 377-378; BARROCA 1990-91: pp. 91-93; MATTOSO 1992: I, pp. 468-470. Sobre as diferentes acepes da palavra civitas veja-se ESTEPADIEZ 1978; e sobre os commissa galegos LOPEZ ALSINA 1988: pp. 220-227.

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    Almeida e valorizada por este e outros autores8. A civitas de Angia ergueu-se num pequeno esporosituado na periferia de um povoado castrejo romanizado, que teve uma ocupao tardia, que se estendeupelo menos at ao sc. V-VI j que aqui se recolheu Sigillata Clara D. No temos, no entanto,comprovao arqueolgica de que o povoado tenha sofrido uma reocupao durante a Reconquista, comoparece sugerir a presena da vizinha civitas. Gozando de uma notvel situao topogrfica, a civitas de

    Angia vigiava o curso final do Tmega e parte do vale do rio Douro. Da velha estrutura militar aindarestam alguns vestgios, nomeadamente uma muralha em talude, definindo uma plataforma de exguasdimenses, com valores extremos na ordem dos 24 por 30 metros. A sua implantao no terreno,ocupando um esporo perifrico ao monte principal, onde se ergueu o povoado castrejo, no pode deixarde recordar o exemplo do Porto, sede de outra das civitates de Afonso III, onde o povoado civil selocalizava num monte e a sede militar numa colina perifrica: o povoado principal no Morro da PenaVentosa, em torno do plo religioso, onde depois se construiu a S romnica; o plo militar num pequenoesporo perifrico, a Nordeste, que a toponmia urbana memorizou como a Cividade e que foi quasetotalmente destrudo em 1950-53.

    Para alm de Angia, temos conhecimento, documental e arqueolgico, de outras civitates criadas

    por Afonso III ou pelos seus sucessores: Porto (desde c. 868), Braga (desde c. 870), Chaves (desde c.872), Lamego (a. de 906), Viseu (a. de 906), St. Maria (Feira) (a. de 977), Seia e Coimbra (desde c.878) foram igualmente sede de civitates. E, apesar de carecermos de comprovao documental,acreditamos que Lanhoso, Guimares, Maia e Montemor-o-Velho tambm possam ter sido.

    A civitas de Santa Maria (freg. de St. Maria da Feira, conc. da Feira), revela-se particularmenteimportante pelos vestgios arquitectnicos ainda sobreviventes. Criada ao longo do Sc. X - uma vez que omitida em documento de 902 mas j se documenta em 977 (PMH, DC 120) - esta estrutura militarganhou particular importncia quando a zona do vale do Vouga voltou a ser um espao de fronteira, depoisdas investidas de al-Mansur contra Coimbra e o vale do Mondego, nos fins do Sc. X (em 986 e 987).Significativamente, a civitas perderia progressivamente a importncia adquirida quando, em 1064, coma campanha de Fernando Magno, as foras crists voltam a ocupar, agora de forma definitiva, a cidade de

    Coimbra e o vale do Mondego. Ainda se conservam alguns vestgios da sede da velha civitas, agoraintegrados dentro do permetro do Castelo de St. Maria da Feira, na zona da chamada Torre deMenagem. No entanto, essa Torre de Menagem apresenta uma srie de anomalias que no podemdeixar de ser sublinhadas. Em primeiro lugar, por ser uma construo muito larga, com c. 20 x 13,8metros, ultrapassando muito as dimenses mximas das Torres de Menagem dos castelos portugueses.Depois porque essa construo define um ptio, com 9 x 14,9 metros, no interior do qual se localiza umacisterna, o que igualmente anmalo numa Torre de Menagem. Finalmente porque possui cinco torreesadossados (quatro dos quais desde a primeira fase). Todos estes aspectos revelam que no se trata deuma vulgar Torre de Menagem. Acrescentemos o facto de, na parte inferior dos seus muros, junto dosalicerces, possuir um aparelho construtivo claramente pr-romnico, com uma organizao no-isdoma,compreendendo silhares com cotovelos, pequenas cunhas e bastantes silhares almofadados. Finalmentesublinhemos que, como Antnio Nogueira Gonalves e Carlos Alberto Ferreira de Almeida tiveramoportunidade de salientar, a sua porta de entrada foi, outrora, munida de um arco ultrapassado, tendoesse perfil sido alterado com uma reforma empreendida no Sc. XVII (GONALVES 1978: pp. 10-14;ALMEIDA 1988: pp. 161 e 163). Todos estes aspectos revelam-nos que o ncleo central do Castelo daFeira corresponde velha estrutura condal, que foi objecto de reconstrues ao longo dos sculos, e quefoi adaptada a residncia nos fins da Idade Mdia, mas que conseguiu preservar, intacto, o permetro da

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    8 ALMEIDA 1981-82: pp. 131-133; BARROCA 1990-91: pp. 92-93; LIMA 1993: pp. 31-39 e 118-119. Pode, assim, ser rectificada a nota

    que, na mais recente edio das Crnicas Asturianas, regista Angia como localidade no identificada do Norte de Portugal (cf. CRN. AST.: p. 207,nota 40).

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    obra condal do Sc. X. Na realidade, possvel acompanhar a fase mais antiga ao longo das quatroparedes da velha construo. Este aspecto muito importante, porque mostra que a organizao destaestrutura, formando um ptio sub-rectangular, com quatro torrees (j que o torreo central da paredeoposta entrada resulta de acrescento posterior), remonta 2 metade do Sc. X. Desta forma, a primeirafase da civitas de St. Maria constitui um paralelo precioso para a primeira fase do castelo de Lanhosoque, na fase do Sc. X, optou por erguer trs torrees equidistantes na fachada voltada ao acesso.

    A organizao do territrio do Norte de Portugal em civitates no impediu que se multiplicassemos castelos erguidos por iniciativa das populaes. Na realidade, as civitates, enquanto lugares centraisde um territrio, conviviam com diversas outras estruturas de defesa e refgio, erguidas pelas populaes.De resto, o perodo de maior dinamismo do incastelamento corresponde, precisamente, ao momento emque as civitates estruturavam esta regio do ponto de vista militar e administrativo. Compreende-se queassim fosse: os territrios das civitates eram demasiado amplos para serem eficazmente defendidos apartir de um nico local fortificado. S para referir o exemplo de Angia, que conhecemos melhor porpossuirmos documentao mais abundante, podemos dizer que o territrio desta civitas se estendia por

    ambas as margens do Douro ao longo de cerca de 30 km, desde o rio Sousa at ao rio Ovil, abrangendodiversos concelhos da actual diviso administrativa portuguesa (a Norte do Douro os concelhos deParedes, Penafiel, Marco de Canaveses e Baio; a Sul do Douro os concelhos de Castelo de Paiva eCinfes) (AZEVEDO P. A. 1898: pp. 208-215; BARROS 1954: XI, pp. 226-263; MERA e GIRO 1943:pp. 255-263; ALMEIDA 1981-82; BARROCA 1990-91; LIMA 1993). Dentro do seu mbito geogrfico,Angia chegou a comportar pelo menos 16 outras estruturas defensivas, de menores propores, queconviveram com a civitas e foram toleradas por esta9. A documentao da poca designa invariavelmenteestas estruturas secundrias por monte,alpe ou castrum. Como Carlos Alberto Ferreira de Almeida teveoportunidade de sublinhar, estas designaes correspondiam a pontos fortificados, a pequenos castelosroqueiros erguidos no alto de montes (ALMEIDA 1978; ALMEIDA 1989: pp. 38-54; ALMEIDA 1992: pp.

    371-385). Na maior parte dos casos os trabalhos defensivos eram sumrios, compreendendo o corte depedra, a deslocao de terras para criar desnveis, e a construo de muralhas, por vezes em talude eapenas revestidas de pedra na face exterior. Nalguns casos, mais raros, os trabalhos envolveram tambma criao de fossos. O aparelho de construo destes castelos revela-se incipiente: eram construdos empedra seca (ou mamposteria), com pedras mal aparelhadas e de grandes dimenses, sem recurso aargamassa. Estes castelos de refgio, erguidos entre penedos granticos, com arquitecturas poucoelaboradas, desconhecendo a maioria das solues da arquitectura militar medieval (como o caso dostorrees adossados aos panos de muralha), foram-se multiplicando de forma crescente ao longo do Sc.X mas, sobretudo, ao longo do Sc. XI, quando chegam a ultrapassar as trs centenas em todo o Noroestede Portugal. Efectivamente, nesta ltima centria que se detecta um maior dinamismo no processo deincastelamento do Entre-Douro-e-Minho e da zona Norte das Beiras. Mas este processo escapa j cronologia da nossa abordagem.

    Paralelamente s civitas e aos castelos de iniciativa das populaes, detectamos no espaoportugus um outro grupo de fortificaes, que resultam da iniciativa condal. neste grupo de castelos

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    9 Entre 875 e 1123 coexistiram dentro do territrio da civitas Anegia os seguintes castelos: Genestazo (Gesta, Soalhes, Marco deCanaveses), Petroselo (Peroselo, Penafiel), Gavano (Monte dArcas, Souselo, Castelo de Paiva), Aradrus (Monte Aradros ou Monte de Santiago,Alpendorada, Marco de Canaveses), Bendoma (Vandoma, Paredes), Serra Sicca (St. Adrio, Real, Castelo de Paiva), Ordines (Ordins, Lagares,Penafiel), Gustodias (Real, Castelo de Paiva), Eiras (Montedeiras, Marco de Canaveses),Asperonis (Esporo, Rio de Moinhos, Penafiel), Castro de Boi(Castro de Boi, Manhuncelos, Marco de Canaveses), Maurenti (Moirinte, Torro, Marco de Canaveses), Monte Muro (Montemuro, Castro Daire-Cinfes),

    Castro Malo (Castro Mau, Marco de Canaveses), Lebor (Monte do Facho, Peroselo, Penafiel) e Salgueirus (Salgueiros, Guilhufe, Penafiel). Para asidentificaes administrativas seguimos LIMA 1993: pp. 141 e ss.

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    que iremos encontrar os maiores requintes arquitectnicos. O primeiro exemplo de um castelo condalportugus , obviamente, o Castelo de Guimares, fundado por D. Mumadona Dias entre 950 (VMH 5) e957 (PMH, DC 71; VMH 8), para defesa do Mosteiro de Guimares10. Uma dcada mais tarde, em 968(PMH, DC 94; VMH 14), num aditamento ao seu testamento, Mumadona doaria o castelo ao cenbiovimaranense, declarando que o fundara para defesa do Mosteiro das ameaas dos gentios (reportando-

    se certamente a muulmanos ou a normandos)11:... laboravimus castellum quod vocitant Sanctum Mames in locum predictum Alpe Latito quodest super huius monasterio constructum et post defensaculo huius sancto cenobio concedimuscum fratribus et sororibus in ipso monasterio persistentibus ... (PMH, DC 97 = VMH 14).Os dados documentais conhecidos revelam-nos, portanto, que a construo do primeiro castelo de

    Guimares foi iniciativa da condessa quando j se encontrava viva do conde Hermenegildo ou MendoGonalves, que morreu antes de 950 (MATTOSO 1981: p. 140). No entanto, dessa primeira fortificao,erguida nos meados do Sc. X, no restam hoje vestgios.

    Na mesma poca em que Mumadona erguia o castelo de Guimares, uma sobrinha sua, D. FlmulaRodrigues, detinha um notvel conjunto de fortificaes na Beira interior, a Ocidente do rio Ca. D.

    Flmula Rodrigues era filha de D. Rodrigo Tedones e de D. Leodegndia Dias (MATTOSO 1981: p. 153).Era, assim, descendente de duas famlias condais: a de D. Afonso Betotes, presor de Tuy em 854 (dequem era bisneta pelo lado paterno); e a de D. Diogo Fernandes, povoador da regio de Lamego (de quemera neta pelo lado materno). Em 960, sentindo-se doente, decidiu fazer uma ampla doao de bens aoMosteiro de Guimares, onde entrou como devota. Entre esses bens contam-se 10 castelos:

    ... nostros castellos id est Trancoso, Moraria, Longobria, Nauman, Vacinata, Amindula, Pena deDono, Alcobria, Seniorzelli, Caria, cum alias penellas et populaturas que sunt in ipsa Stremadura... (PMH, DC 81 = VMH 11).Estes castelos localizam-se na Beira interior, a Leste do territrio da cidade de Lamego e a Ocidente

    do rio Ca, correspondendo ao espao compreendido entre os rios Tvora e Ca. Constituam, assim, auma mancha geogrfica coerente, que penetra quase 50 km a Sul do Douro (tendo em conta o exemplomais meridional, Trancoso). Eram, verdadeiramente, nesta zona do interior, a Estremadura, a fronteira doespao detido pelas foras crists a Sul do Douro. A identificao dos castelos referidos no diploma de960 oferece algumas dificuldades mas julgamos que podem ser todos localizados: Trancoso correspondehoje a Trancoso; Moraria a Moreira de Rei; Longobria a Longroiva; Nauman a Numo; Vacinatacorresponder a Muxagata (?); Amindula a Meda; Pena de Dono a Penedono; Alcobria a Alcarva;Seniorzelli a Sernancelhe; Caria a Caria (CINTRA 1984: pp. XXXVI-XXXVII; BARROCA 1990-91: pp. 94-98). Vrios destes castelos apresentam ainda hoje estruturas medievais (como o caso de Numo,Moreira de Rei, Longroiva e Penedono), mas esses vestgios correspondem a reformas romnicas ou atposteriores. H, no entanto, um caso excepcional em que a estrutura que existia no tempo de D. Flmula,em 960, ainda se conserva. Referimo-nos torre morabe do Castelo de Trancoso, que tivemos

    oportunidade de identificar e valorizar pela primeira vez em 1990-91, uma construo que remonta aosmeados do Sc. X. Trata-se de uma torre bastante larga, de planta sub-quadrangular e com c. 12 metrosde lado, que adopta um perfil tronco-piramidal, com porta de acesso rasgada no 1 andar e munida dearco ultrapassado, que recorda, com as devidas distncias, o exemplo da Torre de D. Urraca emCovarrubias (Burgos) (FONTAINE 1973: pp. 207-211; SANCHEZ TRUJILLANO 1976: pp. 665-682). A

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    10 Sobre o Castelo de Guimares veja-se BARROCA 1996: pp. 17-28; PINA 1933; DGEMN 1937; BARROCA 1990-91: pp. 94 e 114-115.11 A poca em que Mumadona Dias fez a doao foi marcada por invases normandas ou vikings (966-971). Conhecemos notcias de ataques

    no Sul da costa atlntica da Pennsula Ibrica em 966 (Alccer do Sal, Lisboa, Silves) (DOZY 1881: II, p. 288). No Noroeste da Pennsula, em 970

    d-se a conquista e pilhagem de Santiago de Compostela, tendo as foras invasoras permanecido na Galiza at ao ano de 971 (DOZY 1881: II, pp.295-297; MACHADO 1931; CHAO ESPINA 1965: pp. 229-245).

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    torre de Trancoso apresenta o caracterstico aparelho de construo no-isdomo, cheio de cotovelos,rolhas e cunhas, com vrias pedras almofadadas, denunciando a tcnica de construo morabe. Notemos, por isso, dvidas em classific-la como obra do Sc. X. Esta torre seria mais tarde incorporadadentro do permetro do castelo romnico de Trancoso, onde passou a exercer as funes de Torre deMenagem.

    Para alm de Trancoso apenas encontramos vestgios coevos do tempo de D. Flmula no castelo deSernancelhe. Aqui, a fortificao de D. Flmula ergueu-se num monte sobranceiro ao ncleo histrico davila, no longe do largo da Igreja paroquial. O monte sofreu desaterros e corte de pedra, para realar asdiferenas de cota e dificultar os acessos, e, no seu alto, foi erguida uma muralha definindo umaplataforma de dimenses relativamente modestas. A muralha, com aparelho no-isdomo, ignora torrees.A meia encosta, aproveitando uma pequena plataforma voltada a Leste, foram implantadas estruturas dehabitat. Quer aqui, quer na zona superior do Monte do Castelo, recolhemos recentemente cermica da AltaIdade Mdia, que denuncia uma possvel ocupao anterior, dos Sc. VII-VIII, e cermica da Reconquista.

    Infelizmente, para os outros castelos de D. Flmula no possumos vestgios de arquitectura militarque possam ser associados ao Sc. X.

    A doao de D. Flmula refere, para a zona compreendida entre o Tvora e o Ca, trs nveisdistintos de estruturas de povoamento: castellos,penellas epopulaturas. J vimos que os castelos foramnomeados de forma individual o que deve ser entendido como espelho da sua importncia mas, tambm,um reflexo do facto de serem menos numerosos. Eram eles, erguidos por iniciativa condal, que deviamostentar as arquitecturas mais elaboradas. No entanto, e como nos ensina o caso de Trancoso, nemsempre a expresso castellum deve ser associada a uma estrutura do tipo do castelo cristo do Norte. EmTrancoso no passava de uma robusta torre. Ora, conhecemos diversas referncias a torres ao longo doSc. X, que revelam que esta opo deve ter sido relativamente usual12. Abaixo dos castellos, D. Flmulacolocou as penellas. Seriam, seguramente, menos importantes que os castelos e mais numerosas queestes: por isso no houve possibilidade (nem talvez vontade) de as individualizar. Pelo que nos ensina adocumentao da poca, diramos que as penellas correspondem ao que vulgarmente chamamoscastelos roqueiros, castelos erguidos por iniciativa das populaes e coroando os montes. Finalmente,aspopulaturas seriam a unidade-base do povoamento agrupado nesta zona. Ou seja, corresponderiam aosncleos de povoamento concentrado, s nossas aldeias. Abaixo deste patamar teramos as unidadesindividuais de povoamento, os casais, que D. Flmula j no referiu13.

    Ressalvemos, no entanto, que os castelos das Beiras que D. Flmula entregou ao Mosteiro deGuimares em 960 podem no ter sido erguidos por sua iniciativa. Na realidade, muitos dos bens entodoados tinham chegado s suas mos por herana paterna. Deste modo, eles podem ter sido erguidos poriniciativa de D. Rodrigo Tedones, nobre que se encontra documentado entre 928-33 e 939.

    A doao de 960 conduziu estes dez castelos para a posse do Mosteiro de Guimares, que os

    deteve durante mais de trs dcadas. No entanto, com a aproximao dos finais da centria, as forascrists enfrentaram um perodo desfavorvel. A reorganizao militar que al-Mansur implementou em 980traduziu-se num reforo do poder muulmano e numa srie de vitrias. Na rea que hoje constitui Portugalso conhecidas quatro campanhas decisivas. Uma, em 986, contra Condeixa; outra, em 987, contraCoimbra e Montemor-o-Velho, que voltam a cair na mo das foras muulmanas, mantendo-se em seupoder durante quase 80 anos, at 1064. Os Annales Portucalenses Veteres registaram a queda de

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    12 Veja-se, por exemplo, a torre de Miranda (Miranda do Corvo) que se cita em documento do Mosteiro de Lorvo, datado de 998 (PMH,DC 179).

    13 Sobre as villae vejam-se as recentes snteses de ALARCO 1998: pp. 89-119, sobretudo pp. 110-117; e MATTOSO 1992: I, pp. 460-462.

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    Coimbra em 987: In Era T XXV Almanzur accepit Colimbrian IIII Kalendas Iulli. (ACMA: p. 27). Umadcada depois das campanhas contra o baixo vale do Mondego, al-Mansur investiu em 995 contra ocastelo de Aguiar de Sousa, a Leste da cidade do Porto, que, apesar das suas extraordinrias condiesdefensivas, foi igualmente conquistado. A Chronica Gothorum memorizou esses eventos: Era MXXXIIIAlmanzor cepit Castellum de Aguilar quod est in ripa Sause in Portugalensia provincia. (PMH, Script.:

    p. 9). Alguns anos mais tarde, em 997, al-Mansur conduziu a clebre campanha contra Santiago deCompostela. Nessa altura os seus exrcitos atravessaram a Beira portuguesa, passando por Viseu e porLamego, juntando-se no Porto a outro ramo do exrcito que se deslocou por via martima. Julgamos quefoi por esta ocasio que os castelos da Beira voltaram ao poder muulmano. Na realidade, no relato dacampanha de 997, da autoria de Ibn Idhari (Al-Bayano lMogrib), regista-se que al-Mansur saiu deCrdova a 3 de Julho de 997 e se dirigiu a Viseu onde reuniram-se-lhe grande nmero de condes quereconheciam a sua autoridade (PEA: II, p. 257). Este pormenor revela que a civitas de Viseu, se no foiconquistada por al-Mansur, estaria pelo menos do seu lado. Mais frente, ao relatar o regresso dosexrcitos vitoriosos, Ibn Idhari escreve que al-Mansur continuou a marcha at fortaleza de Lamego,que antes havia conquistado (PEA: II, p. 261; DOZY 1988: III, pp. 186-187). Tudo parece indicar,

    portanto, que a conquista muulmana de Lamego ter ocorrido no quadro da campanha de 997, quandoas tropas rumaram a Norte. Por essa altura, os restantes castelos da Beira devem ter passado para o ladomuulmano. O certo que em fins do Sc. X o Mosteiro de Guimares tinha perdido todos os seus castelosda Beira. E a fronteira crist, que se tinha fixado no vale do Mondego em 878, recuara para a zona doEntre-Douro-e-Vouga. neste contexto que a civitas de Santa Maria, conservada na posse das forascrists, ganha uma nova importncia estratgica. Ao dobrar o ano 1000, seguindo-se pelo vale do Douro,o domnio muulmano volta a documentar-se na margem Sul do rio a montante de Resende, depois deultrapassado o sistema montanhoso da Serra de Montemuro. Os castelos de Crquere, de S. Martinho deMouros, de Lamego e os dez castelos de D. Flmula voltaram posse das foras muulmanas e sregressariam aos domnios cristos com a campanha das Beiras de Fernando Magno, em 1055-1058.

    Para alm de Guimares e dos castelos de D. Flmula, so conhecidos outros castelos de iniciativa

    condal, como o caso do castelo de Vermoim (Vila Nova de Famalico) que em 1016 sofreu um sangrentoassalto de Normandos durante o qual faleceu o Conde D. Alvito Nunes: Era MLIV VIII Idus Septembrisveniunt Lormanes ad castellum Vermudii, quod est in provincia Bracharensis. Comes tunc ibi eratAlvitus Nuniz. (PMH, Script.: p. 9)14. Mas reservaremos a nossa ateno para um derradeiro exemplo:o notvel castelo de Lanhoso (Pvoa de Lanhoso).

    O Castelo de Lanhoso ergue-se no alto de um enorme afloramento grantico, com desnveis abruptosde vrias dezenas de metros. A estrutura militar apresenta uma fase inicial, do sc. X, uma reforma nosfins do Sc. XI, ordenada pelo Bispo bracarense D. Pedro (1070-1091), e finalmente uma reforma gtica,promovida por D. Dinis na passagem do Sc. XIII para XIV (BARROCA 1990-91: pp. 111-114). Antes dainterveno da DGEMN, nos anos 30 deste sculo15, o acesso ao alto do monte do Castelo de Lanhosocontinuava a fazer-se, como nos tempos medievais, por meio de um ngreme caminho pedonal queterminava, na parte superior, numa srie de degraus escavados na rocha. Estes conduziam directamente nica porta do sistema muralhado, enquadrada por torrees quadrangulares. No pano de muralhavoltado ao nico acesso possvel existiam outros torrees, mas nas restantes zonas a muralha de Lanhosoignorava esses mecanismos complementares de defesa. Nesta linha de muralha encontramos aparelho de

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    14 Segundo Rui de Azevedo, possvel que este ataque normando tenha tido lugar em 1015 (AZEVEDO R. 1973: pp. 85-88).15 Sobre o restauro deste castelo veja-se DGEMN 1942. Durante o restauro foi rasgada a estrada de acesso ao alto do monte, e colocaram-

    se a descoberto vestgios de um povoado castrejo, a meia encosta, o qual foi escavado por Carlos Teixeira - TEIXEIRA 1939; TEIXEIRA 1940a; TEIXEIRA

    1940b. O Castro de Lanhoso ter tido uma ocupao tardia, a julgar pelo aparecimento de uma numisma suvica de prata (cf. BARRAL y ALTET 1976:pp. 167-168, N S-14) .

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    construo com as habituais caractersticas pr-romnicas: negao da isodomia, silhares com cotovelos,pequenas cunhas, pedras almofadas. Ultrapassado este primeiro sistema defensivo, tinha-se acesso a umptio amplo, na sua maior parte constitudo pelo prprio afloramento rochoso, e, na extremidade Norte,erguia-se a alcova militar. Esta apresentava a fachada Sul munida de trs torrees de plantaquadrangular, equidistantes, erguidos sobre uma larga sapata envolvente. A porta de entrada, volta aOcidente, era enquadrada por dois outros torrees. A muralha da alcova delimita um ptio sub-trapezoidal, dentro do qual foi construda uma estrutura habitacional, da qual restam diversos pilares. Aolongo de quase toda a muralha, acompanhando a zona de alicerce e preenchendo os interstcios entre asrochas, encontramos aparelho de construo pr-romnico. Deste modo, o Castelo de Lanhoso era,inicialmente, composto por uma cerca relativamente ampla, com uma nica porta de acesso, e, naextremidade do ptio, na zona com cotas mais elevadas, possua uma Alcova. Esta zona sofreu umareforma nos fins do Sc. XI, assinalada por uma inscrio do Bispo D. Pedro (BARROCA 1995: II, pp. 96-98, Insc. N 32). Podemos, portanto, atribuir essa reforma ao perodo que medeia entre os anos de 1070e 1091, datas extremas do governo deste prelado frente da diocese de Braga (COSTA 1959: I, pp.26-30; COSTA 1990: pp. 407-424). Esta inscrio revela-se fundamental porque ajuda a datar a

    primeira fase do castelo, remetendo-a para o Sc. X ou para a primeira metade do Sc. XI. A excelnciados mecanismos defensivos de Lanhoso, desde o seu singular sistema de acesso at s estruturasreformadas pelo Bispo D. Pedro no ltimo quartel do Sc. XI, ajudam a compreender o motivo porqueD. Teresa decidiu eleger este Castelo para seu refugio quando teve de fugir aos exrcitos de D. Urracae de Diego Gelmirez, em 1121. Lanhoso era, nessa altura, o melhor castelo da regio de Braga e,certamente, um dos melhores do Entre-Douro-e-Minho. Mas de nada lhe valeu j que, como se sabe,D. Teresa se viu obrigada a assinar a capitulao, no chamado Tratado de Lanhoso, de 1121(MATTOSO 1992: II, pp. 50-51).

    tempo de concluir. Os finais do Sc. X e o primeiro quartel do Sc. XI ficaram marcados por umaconjuntura militarmente desfavorvel para as foras crists, onde aos sucessos califais se aliaram uma

    srie de ataques normandos que assolaram a costa atlntica. Esta situao contribuiu para acentuar osentimento de insegurana entre as populaes do Entre-Douro-e-Minho e, particularmente, do DouroLitoral. Em resposta, o processo de incastelamento incrementou-se ainda mais. Ao longo da primeirametade do sc. XI multiplicam-se, nos documentos, as referncias a castelos com uma particularincidncia precisamente nesta rea mais meridional do Entre-Douro-e-Minho e do primeiro CondadoPortucalense. Alguns clculos mais recentes apontam para a existncia de quase 300 castelos no Entre-Douro-e-Minho, numa densidade por vezes equivalente da rede paroquial (ALMEIDA 1992: p. 379). Noentanto, a conjuntura militar, desfavorvel para as foras crists, viria a modificar-se radicalmente. Em1031 o desaparecimento do Califado de Crdova e a fragmentao do poder muulmano, com aconstituio das primeiras Taifas (1031-1090), inaugura uma nova fase mais favorvel s foras crists,

    que aproveitaram para empreender uma srie de campanhas militares em diversas frentes. No territrioactualmente portugus, esta nova fase seria marcada, nos meados da centria, pela Campanha dasBeiras, encetada por Fernando Magno. Em 1055 era reconquistada Seia, um pouco a Sul do Mondego,na encosta Norte da Serra da Estrela. Depois, entre 1057 e 1058, Fernando Magno promove umacampanha militar que, partindo de Sul, haveria de conduzir conquista de uma srie de estruturasmilitares, assegurando de novo o domnio da Beira. Os primeiros castelos a serem reconquistados foramos castelos que D. Flmula doara ao Mosteiro de Guimares, que foram tomados entre 1055 e 1057.Depois de atingido o Douro, as foras crists dirigiram-se a Lamego, que reconquistam definitivamente em1057. No ano seguinte, em 1058, reconquistam S. Martinho de Mouros, um importante castelo junto doDouro, de que sobrevivem vestgios muito importantes. Finalmente, dirigindo-se para Sul, reconquistaramdefinitivamente Viseu (1058). A campanha militar incluiu ainda outras estruturas, como o caso doscastelos de Travanca e de Penalva (hoje Travanca, freg. do conc. de Mangualde, e Castelo de Penalva,freg. do conc. de Penalva do Castelo). A Crnica Gothorum relata-nos este momento decisivo:

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    ... Era MCXVI, IIII Calendas Augusti, in die S. Cucufatis, rex Domnus Fernandus cepit civitatemViseum, post ea Geisam, et S. Martinum de Mauris, et Travanca, et Penalviam, atque ceteracastella christianorum vicinatum per annos VIII... (PMH, Script.: pp. 9-10).Significativamente, pouco depois, em 1059, o Mosteiro de Guimares fazia um novo inventrio dos

    seus bens e os castelos de D. Flmula voltariam a ser referidos entre as suas propriedades, revelando deque Fernando Magno voltou a entregar as fortificaes aos monges vimaranenses:

    ... Et in extremis ex alia parte Durio castellos id sunt Trancoso, cum suas villas. Longobria.Terrenio. Moraria. Nauman. Vacinada. Pennadedomno. Amendula. Seniorzelli. Alcobria et Caria.Istas penas cum toto sua devido ... (PMH, DC 420 = VMH 45).Neste novo inventrio figura pela primeira vez o castelo de Terrenio (hoje Terrenho, conc. de

    Trancoso). Para alm destas fortificaes e civitates reconquistadas definitivamente por Fernando Magnoe referidas na Chronica Gothorum, o Monge de Silos acrescentaria ainda o castelo de Tarouca, um poucoa Sul de Lamego, e o castro de St. Justa, hoje conhecido pelo nome de Marialva (AZEVEDO L. G. 1939:III, p. 3). Este extraordinrio momento militar, que se arrastou por 8 anos, anunciou a investida final contraa cidade de Coimbra, que seria tomada em 9 de Julho de 1064 pelas foras leonesas de Fernando Magno:

    Era M. C. II, VI Idus Iulii accepit Fernandus Rex Colimbriam. (ACMA: p. 27)16. No rescaldo deste novoavano da linha de fronteira, as velhas civitates, criadas por Afonso III no Sc. IX, entrariam emdecadncia. Os seus territrios fragmentaram-se em unidades mais pequenas, as terrae, confiadas aogoverno de milites. O territrio da civitas de Angia serve, uma vez mais, de exemplo: a sua unidadequebrou-se a partir de 1062-1066 e deu origem a seis Terras medievais diferentes. A evoluo levaria aque cada um destes territrios, cada terra, tivesse um nico castelo. com este modelo territorial que sedifunde, entre ns, o castelo romnico, que por excelncia o castelo cabea-de- terra. Com esta novafase, que arranca a partir dos meados do Sc. XI e ganha maturidade com o virar de centria, inicia-se aascenso dos Infanes, que rapidamente se guindam aos mais altos lugares da Nobreza, atingindo oestatuto de Ricos-Homens com o findar da centria.

    Porto, Fevereiro de 1999.

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    16 A data da reconquista definitiva de Coimbra foi a 9 de Julho de 1064 e no a 10 de Julho, como algumas fontes medievais declaram(VEIGA 1938).

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    LEGENDA DO MAPA 1:

    CASTELOS PORTUGUESES (SC. IX-X)

    Castelos documentados at ao Ano 1000:

    1 - Castro Mau (Cerzedelo, Ponte de Lima)2 - Mons Latito (Guimares, Guimares)3 - Mons Cavallus (Conde, Guimares)4 - Mons Autino (Sande, Guimares)5 - Monte St. Marta (Falperra, Braga)6 - Monte Asagie (no cartografado)7 - Alpe Alaria (no cartografado)8 - Civitas Albarelios (Alvarelhos, St. Tirso)9 - Castro S. Iohanne (Vila do Conde, Vila do Conde)10 - Castro Bove (Vilarinho, Vila do Conde)11 - Civitas Bogonti (Bagunte, Vila do Conde)12 - Castro Argefonsi (Argifonso, Arcos, Vila do Conde)13 - Monte Terroso (Terroso, Pvoa do Varzim)14 - Mons Custodias (Custias, Matosinhos)15 - Mons Petras Rubias (Pedras Rubras, Moreira da Maia, Maia)16 - Monte Pedroso (Lea, Matosinhos)17 - Castro Mafamudi (Aldoar, Porto)18 - Monte Gundemari (Gondomar, Gondomar)19 - Castello Aquillar (Aguiar de Sousa, Aguiar de Sousa)20 - Monte Bendoma (Vandoma, Baltar, Paredes)21 - Civitas Anegia (Eja, Entre-os-Rios, Penafiel)22 - Mons Ordines (Ordins, Lagares, Penafiel)23 - Monte Petroselo (Pedroselo, Marecos, Penafiel)24 - Monte Aradrus (Magrelos, Marco de Canaveses)25 - Mons Genestazo (Gesta, Paos de Gaiolo, Marco de Canaveses)

    26 - Mons Pedroso (Pedroso, Vila Nova de Gaia)27 - Civitas St. Maria (Castelo da Feira, Feira)28 - Mons Souto Redondo (Souto Redondo, S. Joo de Ver, Feira)29 - Mons Sagitella (Saitela, Moselos, Feira)30 - Monte Codale (Codal, Vale de Cambra)31 - Monte Zebrario (Casteles, Vale de Cambra)32 - Castro Rekaredi (Recarei, S. Vicente de Pereira, Ovar)33 - Monte Fuste (Moldes, Arouca)34 - Monte Vargano (Cinfes) (?)35 - Monte Geronzo (Montemuro, Cinfes)36 - Monte Gavano (Castelo de Paiva, Castelo de Paiva) (?)37 - Monte Lauribano (Lorvo, Penacova)

    38 - Mons Buzaco (Buaco, Luso, Mealhada)39 - Monte Gabro (Vouga - no cartografado)40 - Castellum Lamego (Lamego, Lamego)41 - Trancoso (Trancoso, Trancoso)42 - Moraria (Moreira de Rei, Trancoso)43 - Longobria (Longroiva, Meda)44 - Nauman (Numo, Vila Nova de Foz Ca)45 - Vacinata (Muxagata, Vila Nova de Foz Ca) (?)46 - Amindula (Meda, Meda)47 - Pena de Dono (Penedono, Penedono)48 - Alcobria (Alcarva, Ranhados, Meda)49 - Seniorzeli (Sernancelhe, Sernancelhe)50 - Caria (Caria, Moimenta da Beira)

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    LEGENDA DO MAPA 2:

    FRONTEIRA NO ANO 1000

    Castelos na posse muulmana no ano 1000, depois das Campanhas de al-Mansur:

    1 - Lamego2 - S. Martinho de Mouros3 - Crquere4 - Tarouca5 - Caria6 - Numo7 - Muxagata8 - Longroiva9 - Meda10 - Alcarva11 - Penedono12 - Sernancelhe13 - Terrenho

    14 - St. Justa (Marialva)15 - Castelo Rodrigo16 - Moreira de Rei17 - Trancoso18 - Castelo de Penalva19 - Viseu20 - Travanca21 - Seia22 - Coimbra23 - Montemor-o-Velho24 - Soure25 - Lous

    26 - Aguiar de Sousa

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    LEGENDA DO MAPA 3:

    O TERRITRIO DA CIVITAS DE ANGIA

    Castelos documentados dentro do mbito territorial da Civitas de Anegia entre 870 e os fins do Sc. XI (por ordem

    cronolgica da 1 referncia):1 - Mons Genestazo (Gesta, Paos de Gaiolo, Marco de Canaveses)2 - Mons Petroselo (Pedroselo, Marecos, Penafiel)3 - Mons Gavano (Monte dArcas, Souselo, Castelo de Paiva)4 - Monte Aradrus (Magrelos, Marco de Canaveses)5 - Monte Bendoma (Vandoma, Baltar, Paredes)6 - Serra Sicca (St Adrio, Real, Castelo de Paiva)7 - Mons Ordines (Ordins, Lagares, Penafiel)8 - Mons Gustodias (Real, Castelo de Paiva)9 - Mons Eiras (Montedeiras, Marco de Canaveses)10 - Mons Asperonis (Esporo, Rio de Moinhos, Penafiel)11 - Castro Bove (Castro de Boi, Manhuncelhos, Marco de Canaveses)12 - Mons Maurenti (Moirinte, Torro, Marco de Canaveses)

    13 - Monte Geronzo (Montemuro, Cinfes)14 - Castro Malo (Castro Mau, Marco de Canaveses/Amarante)15 - Mons Lebor (Luzim, Peroselo, Penafiel)16 - Mons Salgueirus (Salgueiros, Guilhufe, Penafiel)

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