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UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO
UNESP/FCL - Araraquara
Formao e rompimento dos laos afetivos
ARARAQ UARA 2010
Formao e rompimento dos laos afetivos
Monografia apresentada para o Curso de
Psicopedagogia Clnica e Institucional para
obteno do Ttulo de Psicopedagoga Clnica e
Institucional
Discente: Alessandra Fabiana Giliolli Goos
Orientador: Prof. Dr. Paulo Rennes
ARARAQ UARA
2010
DEDICATRIA
Dedico este trabalho aos meus queridos pais Vicente e Nadir Meca, sem os quais
eu no teria conseguido concluir meu curso de ps-graduao; ao meu orientador Prof.
Dr. Paulo Rennes cuja pacincia e compreenso foram indispensveis para a concluso
deste trabalho; ao meu marido Luis Fernando Giliolli Goos e minha filha Jlia Meca
Giliolli Goos pela tambm pacincia e compreenso da minha ausncia nesse perodo; e
a todos os amigos que direta ou indiretamente contriburam para que essa monografia se
realizasse, em especial minha grande amiga Cristiane Guzzi.
Os artistas nos permitem permanecer vivos quando
as experincias da vida ameaam destruir nosso
sentido de uma existncia real e viva.
D.W.Winnicott
RESUMO: Esse trabalho tem por objetivo expor as consequncias das formaes dos
vnculos afetivos para a vida de uma criana em desenvolvimento. Baseando-se em
pesquisas bibliogrficas, autores como Dolto, Dowlby, Campos e, principalmente,
Winnicott foram explorados. Segundo Winnicott, os vnculos afetivos que so formados
desde o nascimento do beb so de extrema importncia para o desenvolvimento
emocional sadio de uma criana e, consequentemente, para que ela se torne um adulto
completo e sem problemas. O papel que a me desempenha primeiramente com o beb
de maneira insubstituvel, o papel da famlia com um todo, da escola e, por conseguinte,
da interao da criana com a sociedade de fundamental importncia para seu
crescimento saudvel. Entre esses papis, o de maior grandeza dar-se com a famlia
estruturada e sem desajustes conflitantes para a criana. De acordo com Dolto, a
separao do casal na famlia constitui o maior eixo de desajuste ao qual a criana
reagir de maneira problemtica, acarretando consequncias srias em sua vida futura.
At mesmo o luto teria um papel menor do que o problemtico resultado de uma
separao; principalmente, se esta no for pacfica. Campos, na sequncia, vem
colaborar na teoria de anlise do desenho onde possvel investigar e reconhecer os
retratos da famlia na expresso que a criana cria com a folha em branco, expresso
esta reveladora e conclusiva em muitos casos de investigao de transtornos de
aprendizagem e personalidade. Nesse sentido, com esse estudo ser possvel no s
observar melhor as condutas dentro de uma famlia, desde o nascimento da criana, e
conduzir de modo mais assertivo o seu desenvolvimento emocional produzindo, desta
forma, adultos mais saudveis em suas emoes, como tambm solucionar problemas
quando os vnculos afetivos sofreram deficincias ou mesmo rupturas em seu
desenvolvimento.
PALAVRAS-CHAVE: vnculo afetivo; me; famlia; desenvolvimento emocional;
separao; desenho.
SUMRIO
1. Introduo..........................................................................................................01
2. A formao da criana Os laos afetivos..............................................................03
2.1. Como so construdos os vnculos afetivos no mundo da criana...........................03
2.2. A deficincia na formao dos vnculos afetivos e/ou seu rompimento..................18
3. Quando os pais se separam..................................................................................24
4. Conseqncias para a vida da criana na escola e ou no meio social em que est
inserida.................................................................................................................33
5. Problemas e transtornos de comportamento decorrentes da deficincia da formao
e/ou rompimento dos laos afetivos.........................................................................39
6. A personalidade da criana e sua estrutura familiar percebida atravs da anlise do
desenho feito pela criana.......................................................................................44
7. Consideraes finais...........................................................................................56
8. Referncias Bibliogrficas.....................................................................................58
1. Introduo
Esse estudo tem por objetivo estudar como os laos afetivos se formam desde o incio
da vida do indivduo; sua construo ao longo dos anos; sua boa formao; deficincias
nessa construo e at mesmo as conseqncias de uma ruptura desses laos,
principalmente, nos casos de separao dos pais e destruio da estrutura familiar to
necessria criao dos vnculos afetivos saudveis.
Nesse estudo ser mostrado como so formados os laos afetivos desde antes do
nascimento do beb e quais as consequncias que podemos consequentemente, observar
na criana maior ou mesmo no adolescente quando esta formao teve um bom
embasamento e, portanto, obteve sucesso ou quando negligenciada essa formao,
esperamos graves consequncias, delinquncia juvenil e, at mesmo adultos com srios
problemas de personalidade e transgresso s leis e que acabam desenvolvendo a
insanidade mental em casos mais especficos. Outros problemas aparecem j na vida
escolar da criana, comprometendo seu desenvolvimento tanto no aspecto emocional,
como tambm no que concerne s dificuldades de aprendizagem, em especial o
transtorno de dficit de ateno que contribui muito para o agravamento do referido
problema.
Como embasamento terico dessa pesquisa foi utilizado as teorias de D. W. Winnicott
sobre a formao dos laos afetivos na vida da criana, desde o seu nascimento at a
fase escolar; a famlia como principal personagem atuante nessa formao e a vida em
sociedade, principalmente na escola onde o papel da criana, dos colegas e do professor
no foi esquecido. Freud, antes mesmo de Winnicott, j abordava o tema dos vnculos
afetivos, no to especificamente, mas j tateando esse terreno, uma vez que a estrutura
da famlia e o papel da criana nesse contexto eram diferentes e,
portanto, talvez por essa razo, a abordagem no tenha sido to especfica em relao
interao da famlia com a criana.
Franoise Dolto, mais especificamente, nos fornece materiais quanto ao problema da
separao dos pais, inferindo, assim, um desfazimento da estrutura familiar, acarretando
graves problemas para a criana principalmente se mal administrado.
Outro autor de importncia a ser considerado John Bowlby que trata tambm da
formao e rompimento dos laos afetivos, em especial os problemas de comportamento
que isso acarreta.
No que concerne a anlise do desenho, o principal embasamento terico veio de Dinah
Martins de Souza Campos usando o teste do desenho como instrumento de diagnstico
da personalidade auxiliando, assim, todos os envolvidos na pesquisa quando mostrava-
se necessrio mais dados sobre a criana para entender seu processo de sofrimento por
conta de muitos fatores em sua vida, principalmente em relao desconstruo dos
laos afetivos. Essa desconstruo muitas vezes cria bloqueios na criana que s
consegue expressar-se atravs da folha em branco. Sua expresso oral muitas vezes
reprimida pelo turbilho avassalador de emoes pelas quais atravessa em casa, na
escola e na sociedade.
2. A formao da criana Os laos afetivos
2.1. Como so construdos os vnculos afetivos no mundo da criana
Um adulto normal, mentalmente e emocionalmente saudvel, o que todos
desejamos ser. A construo deste indivduo comea, segundo Winnicott, desde o
nascimento do beb e seu primeiro contato com sua me. (WINNICOTT, 2008)
Refiro-me, aqui, exclusivamente, a me, mas sei perfeitamente que principalmente com
as grandes mudanas que ocorrem atualmente na sociedade, afetando principalmente as
relaes familiares, poderamos chamar essa me de cuidador ou cuidadora,
simplesmente aquele que cuida do beb. Entretanto, como a boa ou a m formao dos
vnculos afetivos da criana dependem da dedicao constante e ininterrupta daquela
que cuidar do beb, Winnicott (2008) atribui me quem melhor realizar essa
recompensante tarefa como veremos mais a seguir.
Contudo, acontecimentos fatais durante uma existncia nos acometem e para tanto
quando uma me vier a faltar, no por negligncia, mas por uma fatalidade, o pai ou
mesmo a av ou ainda algum outro membro da famlia que se dispuser a tomar conta do
beb que ficou sem a me e o fizer com total dedicao, no poder ser acusado,
inconsequentemente, de no ter cumprido sua tarefa de maneira que a me, ela mesma,
tivesse realizado esse feito. Nesse sentido e entendendo da mesma forma que Winnicott
(2008) afirmara, usarei, aqui, a palavra me para designar aquela que cuida do beb,
prov seu sustento fsico e emocional.
A mulher est grvida. Antes mesmo que ela tome conhecimento desse novo mundo
que surge em sua vida, o beb j comea a ganhar vida, forma e percepo das coisas
que o cerca e, quando mais desenvolvido, do mundo exterior ao ventre materno.
desde o mais remoto incio desta existncia que esse pequeno ser reage s emoes
pelas quais a me passa. Sero nove meses em que o beb vai se acostumando a ouvir as
vozes daqueles que estaro por perto quando chegar hora dele nascer. As emoes da
me no so menos percebidas. Quando a grvida est tranquila e satisfeita, o beb
sente que seu mundo est em perfeita harmonia. So inmeras conexes neurais,
enzimas e hormnios liberados na corrente sangunea que realizam maravilhas na
formao do feto. Calmo, tranquilo e sem agitao, ele se desenvolver de modo que
nada o atrapalhe. Isso determinar a maneira tranquila que ocorrer o parto, caso a me
no possua nenhuma doena pr-existente; determinar, tambm, a tranquilidade dos
intervalos das mamadas e at a qualidade do sono do beb. Durante os nove meses, tudo
de aflitivo pode comear a ser trabalhado de modo que tudo ocorra com tranquilidade e
contribua para uma vida boa para o beb. Um beb que teve sua gestao na sintonia
de uma perfeita ordem ser um beb que dorme bem, sem interrupes desnecessrias
ao sono. Ele acordar sem estar ansioso ou agitado para mamar. Apenas estar com
fome e, ento, sem ansiedade, pegar o seio da melhor maneira ou poder ser guiado
pela me, tranquilamente, para que isso ocorra sem problemas. Ser apenas fome e no
nsia por mamar. Sendo assim ele no acorda vrias vezes antes do tempo adequado
para se alimentar, como se o leite da me no fosse suficiente para saciar sua fome.
Com a fralda limpa e a fome saciada, a criana tranquila no tem motivos para acordar
de um sono que tem a funo de prover tudo o que seu organismo precisa para crescer
forte e saudvel.
Todavia, aquele beb que teve uma me agitada, ansiosa, preocupada e, at mesmo,
irritada e nervosa durante toda a sua gestao, ter todos os requisitos para um parto
difcil ou mesmo com srios problemas. Esse beb com uma gestao sempre agitada
onde a me passava a ele todos os hormnios e enzimas de sua nsia ou estresse
aprendeu a sempre estar ansioso, esperando algo eminente acontecer. Seu sono ser
sempre agitado, marcado por despertares repentinos e, ento, consequentemente, o beb
no conseguir distinguir se nesses intervalos de sono, j hora de mamar porque est
com fome ou ansioso demais para esperar pelo tempo aproximado entre uma mamada
saudvel e outra. Dotado, ento, de uma ansiedade extrema, ser at mesmo dificultoso
o processo de pegar o seio da me de maneira correta de modo a no engolir ar demais e
leite de menos, causando, desse modo, clicas, e sem a quantidade de leite correta, o
que culminar em fome e em despertares mais frequentes para uma nova mamada.
Sabemos, claro, que este no seria o nico fator contribuinte para o surgimento das
clicas, mas, sim, o entendemos como um grande determinante e/ ou agravante.
Vimos de maneira simples como o beb influenciado desde o ventre materno.
Passaremos, ento, para a fase aps o seu nascimento, logo nas primeiras mamadas.
A mulher que prezava sua liberdade para trabalhar fora e se divertir nas horas de lazer,
vai cedo descobrir que a privao de tudo em benefcio de um pequeno e indefeso ser
vai agora reger toda a sua vida. Esse pequeno ser ser como escreveu Melaine Klein
sua majestade, o beb. Todas as suas necessidades sero atendidas pela me, mesmo
cansada, de maneira pronta e inquestionvel. No importa se a me ou no uma
mulher inteligente, instruda ou to pouca experincia de vida que possuir. A verdade
que nada disso conta para o fato de ser, ou no, uma boa me. No estranho que algo
to importante como ser me dependa to pouco de uma inteligncia?
Para que os bebs se convertam, finalmente, em adultos saudveis, em indivduos
independentes, mas socialmente preocupados, dependem totalmente de que lhes seja dado um
bom principio, o qual est segurado, na natureza, pela existncia de um vnculo entre a me e o
seu beb: amor o nome desse vnculo. Portanto, se voc ama o seu filhinho, ele estar
recebendo um bom princpio. (WINNICOTT, 2008, p. 17)
Quanto alimentao do beb, muito se tem discutido durante a histria, visto
que nos tempos mais remotos, acreditava-se que se, por exemplo, o beb tinha
raquitismo ou algum problema intestinal, era devido ao leite materno no ser bom.
Hoje, com a quantidade de informaes que dispomos, sabemos bem que no h nada
melhor para a alimentao do beb que o leite materno e do ponto de vista nutricional,
sabemos que aquela me que, por ventura, tiver algum problema em que ela no possa
amamentar o beb, tambm no h motivo para pnico se ela puder comprar um bom
leite no mercado. No h o que temer quanto nutrio, os leites disponveis no
mercado possuem toda a sorte de nutrientes que o beb precisa. Mas seria a alimentao
somente o ato de nutrir?
No s Winnicott, mas precisamente ele, discutiu muito a importncia da
amamentao para a relao entre a me e o beb. Essa prtica considerada a primeira
e mais significativa relao na construo dos laos afetivos. Todo o processo fsico
funciona precisamente porque a relao emocional se est desenvolvendo
naturalmente. (WINNICOTT, 2008, p.33)
Imaginem afastar um beb do contato de sua me por alegaes de que se
precisam fazer exames ou tomar vacinas ou, ainda, preencher informaes
desnecessrias naquele precioso momento em que o beb se desliga da me no
nascimento e procura o reencontro de maneira desesperada. O que deveria ser crucial
neste momento?
Nada pode ser mais importante para me ou para o beb que o contato entre me
e filho. a relao mais profunda de amor e, portanto, um dos mais importantes
alicerces para a segurana e tranquilidade do beb. A amamentao no um ato
mecanizado e para que produza o efeito esperado, no deve ser mecnico o
procedimento realizado, em outras palavras, a amamentao no ter o mesmo efeito se
a enfermeira der a mamadeira desinteressadamente e, aps terminar, devolver o beb
para me ou ainda pior: coloc-lo para dormir. Onde estaria o estabelecimento de
vnculo afetivo neste ato mecanizado? Ou mesmo nos hospitais, onde insistem em
embrulhar o beb que no pode usar as mos para sentir o contato com sua me? Na
amamentao todo cenrio criado em torno da me e seu beb importante. A
vivacidade com que a me toma o beb nos braos, o carinho com que o abraa e
conversa com ele, o ato de deixar suas mozinhas livres para que toque seu seio, seu
prprio rosto, esse contato, essa relao entre me e filho, extremamente importante
na construo dos laos afetivos iniciais.
Para que a amamentao se torne, de fato, o primeiro importante passo para a
formao dos vnculos afetivos, a amamentao s poder ter horrios estabelecidos
quando essa relao que deve ser incentivada ocorrer de maneira natural. Se o beb
quiser mamar e sua me no o fizer porque ainda no a hora, quero dizer, no chegou
o prximo horrio da mamada (a cada trs horas, aproximadamente), o beb sentir uma
grande angstia, uma ansiedade que s restabelecida se a me decidir amamentar o
beb, quando exigido, por um certo perodo, voltando aos horrios regulares quando
possvel, sem presso. A base de aceitao da realidade externa o primeiro perodo
em que a me obedece s necessidades do beb de maneira natural e a aceitao de um
mundo exterior a ele comea a se formar tranquilamente. A alimentao infantil bem
sucedida parte essencial para a educao da criana.
Por outras palavras, a nica base autntica para as relaes de uma criana com a me e o pai,
com as outras crianas e, finalmente, com a sociedade, consiste na primeira relao bem
sucedida entre a me e o beb, entre duas pessoas, sem que mesmo uma regra de alimentao
regular se interponha entre elas, nem mesmo uma sentena que dite que um beb deve ser
amamentado ao peito materno. Nos assuntos humanos, os mais complexos s podem evoluir a
partir dos mais simples. (WINNICOTT, 2008, p.36)
Ao cabo dos nove meses, aproximadamente, o beb inicia suas brincadeiras de
atirar as coisas que tem na mo no cho e espera que sempre tenha um adulto que possa
apanh-las. Essa brincadeira, em especial, nos mostra que o beb est apto a se
desvencilhar de algumas coisas; se a amamentao teve xito, o beb por si s ser
capaz de produzir um desmame tranquilo. a capacidade que o beb tem de abandonar
as coisas e nos aproveitando disto, a hora perfeita para introduzir um desmame sem
problemas, sem que parea obra do acaso, mas uma evoluo nos vnculos j
estabelecidos. Nesse caso a amamentao com sucesso produziu, ao longo do perodo,
experincias mais que suficientes para que o beb tenha bons sonhos e timas
recordaes, habilitando-o a aceitar os riscos de maneira mais saudvel. O desmame a
demolio gradual das iluses, que parte das tarefas que devem ser realizadas pelos
pais. (WINNICOTT, 2008)
Quando observamos um beb que adquire algo que quer, brinca um pouco e
depois o abandona, jogando no cho como de costume um beb fazer, conclumos que
esta criana foi de uma ponta outra da experincia, podendo viv-la desde o seu
comeo, seu meio e seu fim e iniciando uma conscincia sobre o tempo total. Quando
estamos apressados e ansiosos, no permitimos ao beb vivenciar acontecimentos
completos e o desenvolvimento e a noo de tempo deste ficam prejudicados. essa
vivncia que permite ao beb construir a conscincia de que o que est em marcha ter
um fim. O meio dos acontecimentos s poder ser tolerado se houver a idia de que
existe comeo e fim. Dessa forma a me propicia a capacidade para o beb ser capaz de
desfrutar todas as experincias.
Essa riqueza de experincias sobre o que o beb quer fazer ou o que quer segurar
ou soltar, no sabemos precisamente quando comea, visto que podemos observar um
beb de apenas trs meses tentando levar seu dedo ou sua mo ao seio da me, mas por
volta dos seis meses, quando essas preferncias ficam mais claras, nesta poca que a
me deve ser precisa sobre o que proibir para que a criana no fique sem saber seus
limites. Sabendo que o beb colocar tudo boca, deve a me deixar perto dele somente
coisas que ele possa levar boca, para que toda a ao do beb para descobrir o mundo
no se transforme numa eterna sequncia de sonoros nos, confundindo-o. A me,
desta forma, evita que o beb fique desorientado sobre o que bom ou mal para se tocar
e aos poucos vai dizendo pequenas falas como quente, isto corta, at que ele
aprenda o que realmente no deve fazer porque representa perigo. Sempre que for
possvel, a me deve explicar o porqu das coisas ao seu filho de maneira a produzir
entendimento e no obedincia cega s ordens.
Desfrute encontrando o que h para encontrar, medida que aparece da pessoa que o vosso beb
, porque ele precisa isso de voc. De modo que voc esperar, sem pressa, precipitao ou
impacincia, que o beb queira brincar. isso, sobretudo,o que indica a existncia de uma vida
interior pessoal no beb. Se ele encontrar em voc uma correspondente disposio ldica, a
riqueza ntima do beb desabrochar e as brincadeiras entre a me e o beb tornam-se a melhor
parte das relaes entre ambos. (WINNICOTT, 2008, p.88)
Uma evoluo onde a famlia fornece bases para a segurana da criana, sem
desvios ou entraves, proporcionar indivduos saudveis emocionalmente.
Quanto ao desenvolvimento da moralidade na criana, o incio se d aos seis
meses de vida quando surge a necessidade de separao do objeto por parte da criana
quando o atira ao cho. Inicia-se, portanto, a capacidade de destruio. essa a hora em
que a me tem a oportunidade de integrar os impulsos de atacar e destruir e de dar e
compartilhar, humanizando a moralidade do beb. Essa dedicao sem pressa e de
maneira humana com que a me integra esses sentimentos no beb vai formando,
gradualmente, na criana a noo de responsabilidade, que a esta poca ainda o
sentido de culpa. Essa fase dura dos seis meses aos dois anos e a me por perto para
mediar essa relao e essa confuso de sentimentos desordenados que surgiro, ir
definir a idia, por parte da criana, que ela pode amar e odiar um objeto ao mesmo
tempo.
A criana torna-se gradativamente apta a tolerar o sentimento de angstia (culpa), a respeito dos
elementos destrutivos nas experincias instintivas, porque sabe que haver uma oportunidade de
recompensar e reconstruir [...] O equilbrio a implcito acarreta um sentido de justo e de errado
mais profundo do que quaisquer normas meramente impostas pelos pais. (WINNICOTT, 2008,
p.108)
At agora muito da construo da sade mental de uma criana foi atribuda
me, mas somente para explicar seu papel. Sabemos perfeitamente que o pai constitui
um papel no menos importante na consolidao de todo o amor e dedicao que a me
vem construindo atravs de seu primeiro contato com o beb que a amamentao.
Toda me sabe que no dia a dia com o beb muita coisa se aprende e aquilo que possa
parecer sem sentido ou importncia para quem est fora, extremamente interessante
para a me dividir com seu companheiro e mesmo ouvir-lhe a opinio, mesmo que
ainda no concorde. Quando o beb cresce, a riqueza de detalhes aumenta e ento os
vnculos entre me e pai se estreitam cada vez mais.
Quando o pai entra em cena, esperado pela me que o beb reconhea no pai
sentimentos que ele associa a me como carinho, ternura, prontido, pacincia, ou seja,
se o pai tiver afinidade nas aes com a me, rapidamente o beb aceitar esse novo ser
em sua vida, e ser um grande alvio para me poder compartilhar isso com seu
companheiro e seu beb. No momento em que o pai est em casa e participa das
brincadeiras das crianas, oferece com suas habilidades diferentes recursos para que a
criana possa intercalar em diferentes momentos de suas brincadeiras acrescentando
sempre novos elementos.
Essa no a nica maneira em que o pai se torna importante. Um lar onde h unio
entre os cnjuges promove paz e segurana social ao desenvolvimento do beb e a
criana cresce segura e feliz
O pai tambm o ser humano que apia e sustenta a me em sua autoridade com a
criana promovendo estabilidades nas relaes triangulares.
A criana est constantemente predisposta a odiar algum e se o pai no estiver presente para
servir-lhe de alvo, ela detestar a me e isso confundi-la-, visto ser me que a criana mais
profundamente ama.(WINNICOTT, 2008, p.130)
Quando pai e me unem-se na criao do filho est montada a base para um bom lar e,
por conseguinte, para o desenvolvimento normal da criana. Mas o que chamaramos de
uma criana normal? Seria aquela que nunca se zanga, no demonstra raiva ou
frustrao ou mesmo no tem seu momento que os pais chamariam de rebeldia?
Mesmo a criana sadia de corpo e com intelecto excelente, no necessariamente
considerada normal. O que precisamos saber se sua personalidade e seu carter se
desenvolvem de maneira adequada. Se seu desenvolvimento emocional foi
comprometido ou houve algum problema, a criana precisar ter um retrocesso e se
comportar como um beb ou criana menor. Por exemplo, quando a criana volta a
urinar na cama noite para chamar a ateno dos pais ou afirmar seu direito como
indivduo no caso de protesto contra a severidade que lhe foi imposta. O mesmo ocorre
at mesmo na fase adulta quando observamos que algum se comporta como criana
birrenta ou ameaa ter um ataque do corao quando se sente frustrada ou com raiva.
Para um indivduo normal, h outras maneiras de enfrentar uma frustrao.
As pessoas precisam recuperar sentimentos que pertenceram infncia a qualquer custo,
devido intensidade com que foram vividos, da a necessidade de regresso infncia
sempre que no se consegue resolver os conflitos. Se esses sentimentos da infncia
foram bem resolvidos, o ser humano adulto sabe como lidar com os problemas que tiver
medida que for crescendo.
A criana deve sempre lanar mo de todos os recursos que estiverem ao seu alcance
para se proteger da raiva, da angstia e da frustrao. Pior ser a criana que bloqueada,
no usar desses recursos para frear seus sentimentos considerados ruins. Enquanto a
criana sentir repulsa, raiva e descontrole em face de algo que a incomoda, ela estar
protegida mentalmente. As crianas que os pais exigem obedincia cega, quando
chegarem adolescncia, possuiro um sentimento de rebeldia que dificilmente ser
controlado.
A esses recursos, normalmente empregados pelas crianas, que chamamos sintomas, e
dizemos que uma criana normal capaz de ter qualquer espcie de sintomas, em circunstncias
apropriadas. Mas com uma criana doente, no so os sintomas que constituem a dificuldade;
o fato de que os sintomas no esto cumprindo sua tarefa e constituem tanto um incmodo para
a criana como para a me. (WINNICOTT, 2008, p.144)
Veremos, ento, como se concretizam as primeiras experincias de
independncia da criana. O to simples bicho de pelcia de que a criana se apropria e
elege como preferido, que todas as pessoas que cuidam de crianas observam, constitui
uma riqueza de elementos para apreender como a criana elabora suas relaes com o
mundo exterior a ela e suas relaes de independncia.
Esse novo objeto pode ser um bicho de pelcia, pode ser o n que a criana fica
fazendo no paninho ou o cobertor que ela esfrega no rosto at dormir, entre tantos os
tipos que observamos, e que constitui sua primeira possesso, algo que ela tem afeto e
que no pertence a ela como seu dedo ou sua mo. o que chamamos de objeto
transitrio. sua primeira relao com o outro, com o mundo. Quando isso acontece
sabemos que tudo vai bem quanto ao desenvolvimento da criana. o desenvolvimento
do sentido de segurana e da sua relao com algo externo a ela.
claro que existem crianas que no necessitam deste objeto porque talvez
precisem da me em pessoa o tempo todo, ou porque pularam essa parte de transio no
desenvolvimento, fato esse que no quer dizer que a criana no esteja se
desenvolvendo de maneira saudvel.
No o tamanho ou o tipo de objeto escolhido pela criana que importa. O que
realmente tem valor so a textura e, principalmente, o cheiro que esse objeto adquire.
Os pais logo aprendem que no se deve lavar este objeto. Ele ficar sujo e fedido para
muitos, mas h, a, uma razo especial.
Esse o objeto criado pela imaginao da criana, sua primeira criao do
mundo e visa supri-la de afeto e segurana quando a me no est por perto, na hora de
dormir, entre outras situaes de angstia pelas quais a criana passe. Por esta razo ele
no deve ser simplesmente apresentado pela me ou por outro membro da famlia. Isso
rouba da criana a capacidade de criar e ento o primeiro sentido do objeto transitrio se
perde.
As tcnicas usadas pela criana em momentos de separao ou aflio so sem
fim. Pode ser o bichinho que a agrade, pode ser o cobertor ou mesmo uma fralda macia,
entendendo, assim, que sempre esse objeto usado ser de textura macia para
proporcionar conforto, que uma das suas funes. s vezes pode ser uma extenso da
me como seu cabelo que a criana enrola e termina por esfregar no rosto at adormecer
ou mesmo o murmurar de alguns sons que podem acalm-la at que durma.
a partir do interesse da criana nos objetos transitrios que ela desenvolve a
capacidade de cuidar dos brinquedos e dos animais no futuro.
Em estado saudvel, esses fenmenos transitrios evoluem para a capacidade de
brincar que um sintoma do desenvolvimento saudvel da criana. Aos poucos eles
simplesmente desaparecem para dar lugar s brincadeiras, que transitam entre o mundo
exterior e o sonho.
Dentre muitos dos problemas que a criana pode manifestar no decorrer da
infncia como, por exemplo, acessos de clera, gritos noturnos, hbitos de asseio, entre
outros, est o terrvel hbito de roubar que deixa a me extremamente preocupada e sem
ao. At onde apenas uma fase ou algum problema na formao dos laos afetivos
ocorreu?
de se esperar que a me considere apenas uma fase, toda a boa criana pega
suas moedas e se diverte com elas, ou at mesmo mexe em sua bolsa, vez ou outra, e
esparrama tudo. A me sabe que essa apenas uma fase e at se diverte com isto.
Mas para aquela me que j tem outro filho adulto com propenso ao roubo, v esta
mesma cena com terror nos olhos. Toda sorte de preocupao ser transferida para o
filho menor no sentido de impedir que o pior acontea e a histria se repita.
Talvez, ser necessrio que os pais estabeleam certas regras para manter o lar em
ordem, como de costume ouvir que a criana no deve pegar acar e outras
guloseimas na despensa, sem o consentimento prvio da me.
Entretanto, h a criana que rouba algo e no desfruta daquilo que roubou, como h
aquela que rouba por prazer e a sim h motivos para uma grande preocupao. Uma
criana assim est doente. Ela no est buscando o objeto roubado, mas a pessoa de
quem esse objeto foi roubado.
Quanto s crianas em que o ato de roubar apenas passageiro, deve haver tolerncia
por parte dos pais que tentam passar por essa fase da maneira mais ajuizada possvel, e
de saber tambm que pode ser uma boa hora para estabelecer uma quantia em dinheiro e
ensinar a criana a us-lo com sabedoria. Os pais que compreendem essa questo no
cairo em sermes para com a criana de modo a permitir que ela comece a mentir
criando assim um real problema.
Considerando, assim, tudo o que foi mencionado at agora, constata-se/ baseia-se no
princpio de que conhecer a criana desde o incio estreitar no s os laos de afeto,
mas tambm os laos de compreenso mtua tanto para entender o choro de um beb
bem como um momentneo afastamento do seu filho com os problemas peculiares da
adolescncia. Se essa relao foi bem construda, desde o incio, ser mais fcil entender
e ajudar seu filho.
O que significativo a experincia individual de desenvolvimento desde beb a uma criana e
um adolescente, numa famlia que continua existindo e que se considera capaz de enfrentar os
seus prprios problemas localizados os problemas do mundo em miniatura. Em miniatura,
sim... mas no menor no que respeita intensidade de sentimentos e riqueza de experincia,
menor apenas na acepo relativamente secundria da quantidade e complexidade.
(WINNICOTT, 2008, p. 199)
Sabemos que a alimentao no a nica maneira de se estabelecer uma relao boa
com a criana, entretanto a primeira e uma das mais importantes. Sendo assim, se essa
relao for bem embasada a criana ser capaz de construir sua relao com a me de
maneira que essa relao possa superar todas as frustraes e revezes da vida, at
mesmo a perda por separao. (WINNICOTT, 2008)
Dentre as muitas situaes ideais j expostas, existem algumas outras situaes a serem
consideradas a respeito da construo positiva dos laos afetivos, ou seja, quando estes
se aliceram no lar ideal.
Uma situao que merece ser observada com muito carinho o brincar da criana, onde
ela exercita muitas de suas fantasias e tambm traz o mundo real para ser experimentado
e retratado por ela da maneira que esta concebe o mundo exterior.
Um dos grandes exemplos disso o brincar de casinha ou de papai e mame.
Quando a criana experimenta o brincar de casinha, ela est recriando o mundo real em
que vive. Ela distribuir as tarefas de acordo com que so cumpridas em sua prpria
casa. Haver um dos cnjuges retratado por um e outro; outra pessoa ser o filho e filha,
e assim por diante. Vivero por algumas horas como se fossem adultos com grandes
responsabilidades e deveres, arrumaro a casa e at mesmo mantero uma estrutura
onde seus filhos podero exercer sua prpria expontaneidade. Algumas crianas iro
recriar a situao em que vivem se esta no for ideal. Podero tambm retratar uma
vida de novela, aquela que gostariam de ter no lar se no a tiverem de fato. O
importante que depois de viverem tudo isto como adulto, elas guardaro os
brinquedos e iro jantar como crianas normais e gulosas, brigando por um copo de
suco a mais do que o permitido. Se a criana tem um lar adequado, pode continuar a
descobrir sua espontaneidade. Se na vida real elas possuem timos pais e no precisam
se preocupar com isso, podem continuar a serem pais e mes eles prprios s nas
brincadeiras. Sabemos que isso saudvel; se as crianas podem brincar assim juntas,
no precisaro mais tarde que lhes ensinem formar um lar. J conhecem o essencial.
(WINNICOTT, 2008, p. 117).
2.2. A deficincia na formao dos vnculos afetivos e/ou seu rompimento
Desde o primeiro captulo podemos observar que criana faz-se necessrio
amor e dedicao para um desenvolvimento adequado. Alm disso, ela vai precisar de
um lar estvel, onde encontre alm de amor e dedicao, um lar com atitudes
consistentes, com rotinas para que a criana saiba construir seu mundo sem surpresas
grandes quando ainda no hora. A criana cujos pais souberem que para criarem um
filho de maneira saudvel no necessrio nenhum profundo conhecimento ou
inteligncia alm do normal, mesmo porque algum que possuir o conhecimento em
anatomia no vai garantir que seu filho seja saudvel, essa pessoa deve saber que para
tanto s necessrio amor profundo e dedicao, ateno total quele ser que precisa de
amor para se desenvolver e que se isso no lhe faltar, com certeza teremos uma base
slida de construo da personalidade onde ningum nem nada no mundo podero
destruir. exatamente dessa forma que se formar um indivduo com perfeita sade
mental para enfrentar as adversidades da vida.
[...] se a me no souber ver no filho recm-nascido um ser humano, haver poucas
probabilidades de que a sade mental seja alicerada com uma solidez tal que a criana, em sua
vida posterior, possa ostentar uma personalidade rica e estvel, suscetvel no s de adaptar-se
ao mundo, mas tambm de participar de um mundo que exige adaptao. (WINNICOTT, 2008,
p.118)
Importante tambm se faz a me permitir que o filho viva suas experincias
salvaguardando seus direitos dentro de casa. necessrio para incio que a criana tenha
seu espao, seu mesmo, onde ningum tenha que dizer a ela o que pode fazer ou no ou
mesmo como algo deve ser feito. Um espao s dela, um canto onde possa brincar sem
se preocupar se vai sujar ou bagunar, um lugar, uma parede s sua que possa pintar e
rabiscar, se expressar sem preocupaes. Nesse local reservado, ela se sentir com
direito e segurana para realizar suas idias, fantasias, brincar e crescer saudvel. J
vimos como a brincadeira, o brincar fundamental para a criana. Garante Winnicott
(2008) que grande a compensao quando a me permite que a criana tenha seus
direitos assegurados, desta forma, no incio e, mais tarde, aumentando os direitos e
responsabilidades das crianas, deixando, por exemplo, que a criana planeje ou ajude a
organizar seu aniversrio, um passeio ou qualquer outra responsabilidade dada a ela que
a permita viver como indivduo onde a famlia confia e, portanto, cresce de maneira
maravilhosa.
Podemos tambm observar que a criana, como j dito anteriormente, precisa de um
ambiente estvel e seguro, com rotinas e horrios estabelecidos para sua segurana
interior. As crianas no gostam de uma confuso que no cessa, nem da total baguna
que a falta de rotina se caracteriza. Isso faz com que se sintam inseguras para se
desenvolverem, sentindo-se o tempo todo dependente dos pais. No h segurana para
voarem sozinhas e, portanto, para que se arriscarem? A criana pode ento ser lesada se
a me no se mostrar preocupada com os seus direitos. A me que no dependente e
suficientemente confiante de seu papel como mulher e me, saber deixar seu filho ter
direitos, crescer de maneira progressiva, saudvel. claro que o outro extremo, aquela
me que permite que os filhos faam tudo como querem, de igual ou pior modo
prejudicial para todos, principalmente para a criana, que perde sua maior orientao
para a vida.
Outro assunto j mencionado anteriormente a importncia do afeto, tambm tema
central deste trabalho. Quanto a esse assunto temos a obrigao de levar em
considerao a ausncia da me, seja por qual motivo for.
A criana pode ficar sem a me por algum tempo sem se perceber uma mudana
imediata uma vez que a criana conserva, durante algum tempo, dentro de si a imagem
viva da me. Mas se a me de quem essa criana depende se tornar ausente por um
limite de tempo que excede a capacidade da criana de conservar dentro de si a imagem
viva da me, isso far com que o objeto transitrio que a criana usa para acalmar-se
quando a me no est por perto, perca seu significado e a criana torna-se, ento,
incapaz de us-lo. Aqui se perdeu toda rea intermediria de contato afetivo. Acaso a
me retorne ao lar, a criana tem que reconstruir todo o afeto novamente e isso leva um
determinado tempo, para que depois, aps confiar novamente na me e ter seus vnculos
afetivos restabelecidos, essa criana possa recomear a usar os objetos intermedirios.
Os roubos por crianas privadas desse contato e que esto recuperando-o podem ser
considerados como fazendo parte da busca de um objeto transitrio, que se perde atravs da
morte ou desaparecimento da verso interiorizada da me. (WINNICOTT, 2008, p.193)
Entretanto, quando a fase do roubo se torna um pouco mais compulsiva, pede tato e
ateno por parte dos pais. No incio devem ser tolerantes e depois devem dispensar
certa dose de ateno todos os dias. necessrio que os pais no perguntem o porqu
das coisas o tempo todo, pois ao exigirem uma explicao a qualquer custo, estaro
forando a criana que j rouba a tambm mentir e ento o crculo vicioso s aumenta e
intensifica a ponto de tornar-se de fato um grande problema. A criana no pode dar a
explicao simplesmente porque a ignora e o resultado poder ser que em vez de sentir
uma culpa insuportvel, ela opte sem perceber por mentir compulsivamente.
De qualquer maneira toda a criana que sofreu um desilusionamento est apta a fazer
coisas sem um por que; criam confuses, roubam pequenas coisas, recusam-se a defecar
no momento apropriado, cortam as flores do jardim, pintam as paredes etc.
Falando em retroceder, e isso s vezes faz-se necessrio, assistimos por diversas
vezes o retorno ao estado de beb em crianas mais velhas. Alguma dificuldade impediu
a marcha do progresso e, ento, a criana sente necessidade de regressar ao terreno
protegido da infncia, a fim de restabelecer os direitos infantis e as leis de
desenvolvimento natural segundo Winnicott (2008). Uma das regresses tpicas voltar
a chupar o dedo, fato este que a criana usava como objeto transitrio quando beb.
Como sabemos, o objeto transitrio , segundo Winnicott(2008), a base de toda a vida
cultural do ser humano adulto e faz parte do desenvolvimento emocional normal. Se
quando beb houver uma privao desta tcnica como objeto transitrio, tal ocorrncia
poder acarretar em inquietao e insnia. Isso faz parte tambm da formao do afeto,
que se perdida, revela uma criana carente e demonstrar, quando mais velha, uma
tendncia a ser anti-social ou at mesmo uma propenso delinquncia.
Outro problema que pode se manifestar devido falha na formao dos vnculos
afetivos a deficincia no processo de holding.
O holding descrito por Winnicott como uma fase em que a me ou substituta:
Protege da agresso fisiolgica.
Leva em conta a sensibilidade cutnea do lactente... e a falta de conhecimento por parte deste da existncia de qualquer coisa que
no seja ele mesmo.
Inclui a rotina completa do cuidado dia e noite adequada a cada beb e segue tambm as mudanas instantneas do dia-a-dia que
fazem parte do crescimento e do desenvolvimento do lactente, tanto fsico quanto psicolgico.O holding (segurar) inclui
especialmente o holding fsico do lactente... Cf. D. W. Winnicott, O ambiente e os processos de maturao, Ed. Artes Mdicas,
Porto Alegre, 1983. (N.R.T) (Winnicott, 2005, p. 26
O desenvolvimento, em poucas palavras, uma funo da herana de um processo de
maturao, e da acumulao de experincias da vida; mas esse desenvolvimento s pode ocorrer
num ambiente propiciador. A importncia deste ambiente propiciador absoluta no incio, e a
seguir relativa; o processo de desenvolvimento pode ser descrito em termos de dependncia
absoluta, dependncia relativa e um caminhar rumo independncia. (WINNICOTT, 2005,
p.27)
Outro aspecto que ainda vale mencionar a formao do ego. Quando a relao me-
filho sadia, o ego formado um ego reforado segundo as palavras de Winnicott
(2008). um ego capaz de desenvolver defesas e organizar padres pessoais fortemente
desenvolvidos e embasados em padres hereditrios. com esse ego muito forte que a
criana logo se torna ela mesma. Se o ego da me fraco, o ego da criana torna-se
reativo ao ambiente. A criana no se desenvolve no aspecto pessoal e suas reaes so
mais contra os revezes ambientais do que devido a fatores e urgncias internas. Como j
mencionado, um ego reativo e no ativo. Ele simplesmente reage aos fatores
ambientais e no age por condies internas ou fatores genticos. Os bebs que no
recebem um desenvolvimento egico, so bebs propensos inquietude, estranhamento,
apatia, inibio e complacncia. com o desenvolvimento de um ego forte que as
crianas podem comear a formar suas memrias e expectativas.
Quando o beb percebe que seu objeto impiedosamente atacado o mesmo objeto
amado, surge o estgio da preocupao.
De acordo com a teoria de Melaine Klein, a criana agora obrigada a lidar com dois
conjuntos de fenmenos. Uma coisa boa foi atacada e provocou um sentimento
satisfatrio na criana. Algo de bom foi formado dentro dela. Mas tambm tem que lidar
com a culpa que emerge deste fato. Surge, ento, uma sada para o problema: a criana
torna-se capaz de dar em troca, reparar, consertar, devolver aquilo que na fantasia dela
foi roubado. Quando tudo vai bem, no se desenvolve um sentido exclusivamente de
culpa, mas desenvolve-se outro bem mais importante, um sentido de responsabilidade.
A culpa s deve vir tona quando o sentido de reparao se torna insuficiente.
De acordo com as idias de Franoise Dolto (2003), quanto menos existe o sentimento
de culpa, mais existe o da responsabilidade entre os seres humanos.
importante salientar que dificuldades nesse campo, associadas represso de conflitos
dolorosos, do origem a vrias manifestaes neurticas e distrbios de humor de
qualidade psictico que viro a se tornar material para a loucura propriamente dita.
3. Quando os pais se separam
Talvez um dos mais fortes rompimentos dos laos afetivos para uma criana,
com exceo morte dos pais, seja a separao de seus progenitores.
Principalmente quando acontece numa idade em que a criana j possui
entendimento para saber, a seu modo, quais sero as implicaes que ela supostamente
acredita que sofrer, acarretando, assim, e de fato, srios conflitos e danos na sua
formao e sade mental futura.
para a criana toda sua segurana e estabilidade que esto se rompendo, seu
mundo como ela conhece despedaando; parecidamente ou ainda de maneira pior que
como mencionado no captulo anterior, acontece num holding ineficiente, a sensao de
despedaamento do seu mundo, uma destruio do seu universo que ela ter que
aprender a reconstruir de novo. Tanto melhor se tiver a ajuda dos pais que se
divorciarem de maneira a entender que no podem se separarem dos filhos, mas s do
parceiro, esses sim podero contribuir um pouco com a reconstruo do mundo da
criana.
Entretanto, sabemos ser essa uma tarefa pouco existente entre os casais que se separam.
Eles se separam e esquecem que tem um filho para cuidar, no s fsica e materialmente
que o assunto que os pais mais se preocupam, mas principalmente esquece-se de sua
sade mental, seu estado emocional, suas emoes e aflies prprias do processo em
que foram inseridos.
importante ressaltar que essa criana ao permanecerem num lar de brigas e discusses
constantes no constitui tambm um lar saudvel. Para a criana torna-se um constante
estado de insegurana que parece no ter fim. Os casais acreditam que se separando
daro a eles prprios e a criana uma tranquilidade maior. Em casos extremos, acredito
ser essa a soluo desde que o divrcio seja realizado com conscincia e sem grandes
alardes, onde a criana seja realmente levada em considerao e tudo seja pensado de
maneira a benefici-la ou, ao menos, exista o cuidado de no prejudic-la ainda mais
dado os outros conflitos que tal situao, em si, j ir ocasionar.
Vale ressaltar que s e somente s em casos realmente extremos de intolervel
convivncia o processo de separao seja aceitvel para a criana. Qualquer outro
desentendimento que o casal venha a ter preciso pensar se pelo menos a convivncia
amistosa ainda possvel at que a criana atinja um estado de maturidade para
entender que essa a melhor sada para os pais e aceitar a situao, caso contrrio, as
perdas e desvios de caminhada rumo a um ambiente saudvel de desenvolvimento que
tanto Winnicott (2008) aconselha e pessoalmente concordo, estaria rudo.
Durante o divrcio a criana vive vrias dissociaes com maior ou menor grau de
desestruturao. Uma das mais importantes e que deve ser mencionada a dissociao
no nvel espacial, que repercute ao corpo e no nvel da afetividade, atravs de
sentimentos dissociados, de acordo com Franoise Dolto (2003). Se a criana puder
permanecer na casa onde seus pais estavam unidos, h uma mediao e o trabalho do
divrcio feito de maneira melhor para ela. Caso sua casa tenha de ser abandonada, um
dos pais a deixa ou mesmo a criana tem que se mudar com um dos cnjuges, a criana
vivencia os dois nveis de dissociao mencionados.
Se caso a criana seja obrigada a deixar a escola com a qual j estava habituada, surge a
mais um nvel de dissociao, a do grupo em que vive. Ela ficar por certo bastante
dividida e ter atraso escolar.
Igualmente prejudicial o fato de a criana deixar a escola no decorrer do ano letivo
porque foi morar em outro lugar. abalado o ser individual que se encontra dividido e
desestruturado pela separao dos pais e seu ser social, separando-se do grupo no qual
est inserida.
Em confluncia com isso, costuma-se seguir uma tentativa, em vo, de amenizar o
processo de separao dizendo criana que um dos pais viajou. Ora, a criana
inteligente o suficiente para perceber que aquele que viajou no voltou como volta de
viagem qualquer pessoa, temos, a, ento, outra dissociao do contexto tambm social,
pois se ela continuar na mesma escola, no saber o que dizer aos seus amigos. aquela
criana aptica que mal fala e brinca em sala de aula, absorta em seus pensamentos,
alheia ao que se passa na escola. Num processo lingustico no pode haver fala se a
criana est fragmentada, muito menos concentrao quando a criana tem algo muito
mais importante e aflitivo para pensar do que prestar ateno no que a professora
ensina. A criana se encontra fragmentada em todos os aspectos. um comportamento
caracterstico da criana abalada por completo, o mesmo ocorre quando um dos pais
adoece seriamente ou mesmo na morte de um deles.
Os pais que esto se separando evocam as desestruturaes bruscas da afetividade da
criana e no sabem se e como devem contar o fato a elas. O fato que sempre as
crianas devem ser comunicadas sobre este fato desde o incio que ele venha ocorrendo.
Elas precisam saber como ficar sua condio de filho, com quem ficar e todas as
outras coisas que o juiz determinar. Quando o divrcio escondido, passa ser algo
errado, acompanhado de um sofrimento muito maior e desnecessrio do que ele j
impe. Os pais devem humanizar esse fato, se responsabilizarem por ele, para que a
criana no sinta somente o estado de angstia e pressintam o divrcio pela variao de
humor dos pais. Quando nada explicado criana ela acredita que como os pais
voltaram atrs na palavra dada de ficarem casados, tambm um dia renunciaro a
criana, o que no verdade, mas que se no for bem conversado, distorce o equilbrio
da criana.
Segundo Franoise Dolto (2003), os atos nos seres humanos so sempre precedidos de
projetos antes de serem executados. Portanto, se os pais contam aos filhos sobre o
divrcio e logo passam ao, isto se torna traumatizante para a criana que j vive um
processo de separao que, por melhor que seja conduzido, j suficientemente
traumatizante e estressante. importante salientar que a notcia do divrcio seja dada
pelo pai e pela me juntos, a criana precisa saber que o divrcio um mal menor, ele
vai tirar a doena, o mal que aflige o casal, para trazer a paz, a sade da relao, pelo
menos deveria ser essa a atitude em relao a esse fato.
Muitos pais dizem no contar para as crianas porque no vem sentido, uma vez que
no dia seguinte fazem as mesmas perguntas como se no soubessem o que se passa ou
como se no tivessem ouvido nada a respeito. que quando algo difcil demais de
assumir, as crianas tem a necessidade de inventar. Alis, muitos adultos que no
aceitam o divrcio fazem o mesmo, fato esse, portanto, que no justifica recriminar,
ento, uma criana. Quando a realidade se faz intolervel, necessria a fuga para a
fantasia ou to somente uma fuga. A criana inventa que nada est errado ou diferente
com seus pais; outras vezes no admite que outra pessoa fale a respeito disto ou ainda
criam a fantasia de que o pai ou a me viajou ou outra coisa parecida.
O que no verdadeiramente falado, no humanizado, segundo Franoise Dolto
(2003), e o ser humano aprecia o valor da humanizao.
Outra comum confuso acerca do divrcio o fato dos pais acharem que privar a
criana da convivncia de um dos cnjuges seria melhor para ambos.
No se protege a segurana da relao privando o filho do conhecimento do outro genitor. Ao
contrrio, isso constitui a enorme promessa de uma enorme insegurana futura, e que j estaria
presente desde a instaurao de tal medida, visto que isso uma anulao de uma parte da
criana atravs da qual lhe indicado, implicitamente, que esse outro algum desvalorizado e
falho. (DOLTO, 2003, p.52)
Muitas coisas se passam com as crianas durante o processo de separao dos
pais. So frequentes as dores de cabea, de barriga, os surtos de febre, entre outras
coisas. Trata-se de uma linguagem que a criana no pode expressar verbalmente, ento
o inconsciente se estrutura como uma linguagem. Esses sintomas no so um mau sinal.
Somente faz-se necessrio adaptar essa linguagem tornando-a compreensvel de
maneira que a criana possa se expressar atravs de palavras e no de sintomas, de
maneira psicossomtica. De acordo com Franoise Dolto (2003), isso no se deve ao
comportamento pessoa de cada um, mas a uma situao. As situaes que acontecem
com o divrcio em si, so normalmente desestruturantes para a criana pequena, porque
as etapas de seu desenvolvimento afetivo coincidem com as aflies pelas quais seus
pais esto passando, numa poca em que os pais deveriam estar principalmente
garantindo sua segurana emocional para um futuro mentalmente sadio.
Outro fato que perturba a criana e abala suas estruturas futuras so os pais que no
podem ou no querem contribuir financeiramente, mas ficam presos necessidade de
ver esses filhos sem serem capazes de ganhar dinheiro para eles. Esses pais
desenvolvem na criana a idia de menosprezo pela noo de responsabilidade.
Alegando prejuzo financeiro, muitos se refugiam na casa dos pais, causando uma
regresso para a criana que se v ao lado de pais transformados em irmos mais velhos,
machucados pela vida e que j no so modelos de adultos, de acordo com Franoise
Dolto (2003). Morar com os avs no traz nenhuma soluo para a criana. O preo
dessa facilidade ter de ser pago mais tarde.
E dentre todas as palavras que possvel dizer a uma criana, so sobretudo a dos avs ao neto
que podem permitir a este discutir o assunto com eles e, desse modo, relativizar aquilo que nele,
enquanto pequeno, no momento em que est sofrendo com a separao dos pais, o leva a
considerar responsvel ou culpado um ou outro de seus genitores. muito bom que a criana
receba palavras que lhe dem acesso a essa compreenso das relaes do casal, uma
compreenso que lhe chegar com a experincia. (DOLTO, 2003, p. 94)
Quanto guarda da criana, muito se discutido sobre o que melhor ou pior para a
criana. Temos uma opo, a mais comum at os dias de hoje, que a guarda dada a um
nico genitor, onde o outro tem direito a visitas estipuladas, normalmente, pelo juiz ou
em raras ocasies acertadas entre os pais da criana. Temos, ainda, a guarda
compartilhada, tambm chamada de alternada, onde a criana tem dois lares a sua
disposio, devendo ficar um determinado perodo em cada lar, com cada um dos
genitores. Na primeira opo, podemos observar que mesmo estando com um nico
genitor, mesmo contra tudo que foi escrito, crucial ressaltar que se a criana foi desde
pequena criada pelo pai e pela me, mesmo que tendo especial carinho por um deles, ao
ter sido criada, de fato, pelos dois, vai sentir um profundo abalo em suas emoes,
ficando absorta em seus pensamentos e desatenta a tudo o que no for pertinente em
relao separao de seus pais, podendo, ainda, desenvolver na escola um grave
dficit de ateno. O dficit de ateno o problema mais comum a ser desenvolvido
pelas crianas, filhas de um divrcio pacfico, bem realizado ou no. Todas as crianas
em maior ou menor grau vo reagir de alguma forma. Umas ficaro extremamente
agitadas no intuito de chamarem a ateno para si, outras, na mesma tentativa, tornar-se-
o rebeldes, mal comportadas e, quase sem exceo, poderemos encontrar essas crianas
perdidas no tempo e espao, sem ateno ao professor, como muitos diriam, no mundo
da lua, com seu dficit de ateno em maior ou menor intensidade. Outros problemas
de comportamento mais graves surgiro, como veremos mais adiante, tambm oriundos
da separao dos pais ou do divrcio.
A guarda compartilhada ou alternada, no a guarda compartilhada pelo pai e pela me
onde ambos concordam e estabelecem segundo acreditam ser o melhor para a criana,
os dias em que podero visitar o pai ou a me. de acordo com a lei a criana ficar um
tempo estabelecido pelo juiz com o pai e outro com a me. A criana tem dois lares e
no consegue estabelecer-se em nenhum dos dois. No cria vnculos sociais nem to
pouco emocionais. Emocionalmente uma criana desconecta do mundo, carente
afetivamente e perdida, no se enquadrando nos grupos sociais ao qual pertence. Tm
dois lares e ao mesmo tempo nenhum.
A reao mais comum o desenvolvimento da passividade no carter da criana. Ela perde o
gosto pela iniciativa, tanto do ponto de vista escolar quanto do ponto de vista das brincadeiras, e
entra em estados de devaneio que no levam criatividade porque existem devaneios
fecundos, mas aqui no se trata de um deles. (DOLTO, 2003, p. 74)
Muitos pais e principalmente mes privam-se de um novo relacionamento
dizendo faz-lo pelos filhos que no querem ver o pai e, principalmente, a me casada
novamente. As pessoas que agirem assim com seus filhos, os faro bebs por muito
mais tempo. Sero imaturos e no futuro ficaro com as vidas congeladas, segundo
Franoise Dolto (2003), impedidas libidinalmente e afetivamente. Tornam-se
encarregadas deste cnjuge que tudo abdicou pelos filhos, pelo resto de suas vidas
mesmo que porventura consigam se casar.
A relao com os novos parceiros dos pais extremamente saudvel e prefervel
para a criana, filha de pais separados. Se a separao ocorreu quando essas crianas
eram muito pequenas, elas podero viver o complexo de dipo ou reviver uma nova
variao dele, situao no s saudvel como necessria a todas as crianas. Esses
adultos sero para elas modelos e rivais.
Muitas vezes a criana que vive a situao mencionada acima, dir que tem dois pais ou
duas mes. No necessrio impedir-lhes disto. Trata-se de uma autodefesa em relao
curiosidade das outras pessoas.
De fato, quando h problemas com o padrasto ou com a madrasta, provm do genitor
com quem a criana mora. Este genitor no aceita muito bem o direito do outro de ter
um novo relacionamento; a criana, ento, sente que recusando o padrasto ou madrasta
estar mostrando-se a favor do pai ou da me com quem mora. Se no houver este tipo
de interferncia, as coisas se arranjam de maneira muito mais fcil. claro que muitos
filhos desejaro que seus pais, livres um dia dos atuais parceiros, possam se reencontrar.
uma projeo da primeira infncia na idade avanada.
Vrias desorientaes surgiro no decorrer do divrcio e algumas sero para toda a vida.
Os filhos ficaro desorientados em relao a concepo do matrimnio, questionando-se
sobre a possibilidade de casarem no futuro ou se simplesmente o faro no para a vida
toda, mas, simplesmente para divorciarem como seus pais. Tambm quando seus pais
no se casam novamente, ficam na dvida sobre a possibilidade de se tornarem
celibatrios como estes. Para essas crianas, os referenciais de orientao que so
oscilantes.
Outro grave problema oriundo do divrcio quando normalmente a me sacrifica
tudo pela famlia no se casando novamente. Esta atitude da me que sacrificou tudo
pelos filhos, que deu sua vida pelos filhos, repercutir na vida destes filhos no futuro.
Desejosos de compensar esta me, no se casaro eles mesmos para que possam, por
exemplo, dar seu dinheiro a me que tudo fez por ele ou, ainda, no continuar seu
projeto de estudo por ser caro demais e continuar dando despesas a essa me. Esses
filhos iro viver com a me e com outras mulheres se tornaro bloqueadas sexualmente
falando e os meninos, com tendncia homossexual, vivero relacionamentos suprfluos
com pessoas que no deixaram suas mes tambm. Trata-se de neuroses bastante
difceis de suportar e superar.
4. Consequncias para a vida da criana na escola e/ou no meio social em que est
inserida
A famlia, na atualidade, no mais como as grandes famlias do passado. Tinham-se
muitos irmos, primos e todos interagiam e contribuam para a formao da criana em
crescimento.
Antes mesmo que a criana iniciasse a escola propriamente dita, esta j tinha seu crculo
extra-familiar de relaes formadas. Eram vrios coleguinhas na vizinhana com os
quais podiam brincar. A criana ia por si s casa dos amigos e, s vezes, passava o dia
todo em contato com uma ou vrias outras crianas e suas famlias, convivendo, assim,
com diferenas culturais com as quais ela apreendia e aperfeioava em suas relaes e
em seu convvio em grupo.
Hoje, quase s podemos contar com as escolas de educao infantil. No o fato de
delegar escola a tarefa de desenvolver os filhos socialmente, mas dela, em grande
parte hoje, essa responsabilidade. A pequena famlia moderna depende da escola para
que seus filhos possam interagir com outras crianas. No h mais irmos e primos para
brincar. To pouco se tornou seguro brincar com um amiguinho que no se conhece os
pais. A economia onde os desejos individuais so exacerbados e no sobra tempo nem
dinheiro para os filhos e onde a segurana um grande problema a se enfrentar, vemos
que a famlia tende a ser sempre menor at se tornar extinta e a desconfiana que no
nos permite interagir, acabar por matar as relaes sociais como conhecemos.
Ser nessas escolas o lugar onde as crianas desfrutaro de espao e de pessoas
disponveis para lhes dar a ateno necessria e podero, ento, aprimorar suas relaes
sociais. De que outra maneira esta criana pode brincar com outra criana sem
preocupao para os pais que precisam ou que querem trabalhar o perodo todo?
No possvel, bvio, delegar outra pessoa a tarefa que deveria ser desempenhada
na prpria famlia. Entretanto, ainda nestes termos, a escola se faz a instituio mais
capaz de promover o grupo de relacionamento social da atualidade.
tambm na escola que a criana pode ter uma pausa de tudo que vive em casa. Na
escola, a atmosfera emocional menos densa que no lar segundo Winnicott (2008). Isso
propicia criana uma pausa para o desenvolvimento pessoal. H ainda a possibilidade
de a criana viver novas relaes triangulares menos intensas que na prpria casa,
contribuindo para seu desenvolvimento.
A escola, que um apoio, mas no alternativa para o lar da criana, pode fornecer
oportunidades para uma profunda relao pessoal com outras pessoas que no os pais. Essas
oportunidades apresentam-se na pessoa das professoras e das outras crianas e no
estabelecimento de uma tolerante, mas slida, estrutura em que as experincias podem ser
realizadas. (WINNICOTT, 2008, p. 217)
Entre os dois e sete anos de idade, a criana experimentou todos os resultados dos seus
conflitos resultantes das poderosas reaes instintivas que viveu e, a partir dos cinco
anos, aproximadamente, comeam a abandonar, aos poucos, a fantasia consciente e
inconsciente para dar lugar a identificaes maiores com os pais e mes, envolvendo,
assim, excitaes que se expandiro mais quando chegar a puberdade.
Ao mesmo tempo as relaes s agora foram estabelecidas entre seres humanos
integrais.
A consequncia resultante da soluo destes conflitos o sofrimento que a se inicia,
resultando na formao de sintomas, como j foi mencionado, inibies e at
recalques. medida que o desenvolvimento da criana prossegue, ela consegue cada
vez mais expressar seus sentimentos de formas mais diretas. Desse modo, o alvio,
ento, obtido mediante a auto-expresso, ou seja, quer atravs de brincadeiras ou quer
atravs da fala.
Quando a criana entra no maternal, suas capacidades so mais subjetivas do que
objetivas, pois seu processo de maturao ainda est se formando e a capacidade de
percepo exata ainda no est totalmente desenvolvida. Quando a angstia ameaa, a
criana volta facilmente posio infantil de dependncia. Sem a cuidadosa
apresentao da realidade externa que papel dos pais, a criana no possui meios de
estabelecer uma relao satisfatria com o mundo.
Na escola maternal, criam-se condies para que a criana possa desenvolver seu
estgio intermedirio entre o sonho e o real atravs de msicas, brincadeiras, desenhos e
histrias. nesse contexto que a criana toma conscincia de quando livre e de
quando lhe requerido um determinado comportamento em grupo. tambm na escola
maternal em que ela se reconhece como indivduo, sendo chamada pelo seu nome,
sendo vestida e tratada pelo que de fato, tendo, assim, sua individualidade se
afirmando de tal forma que no futuro ela que vai querer aderir s atividades em grupo.
Assim como com a me, as atividades na escola no podero ser mecnicas, elas
representaro a me para criana atravs da alimentao, troca de roupa e at mesmo os
banhos. Dessa forma, anlogo ao vivenciado com a me, tais atividades podero ser
amadas (aceitas), ou rejeitadas (no merecerem confiana).
O papel da professora na escola de vital importncia. Servir para criana e pais
estabelecerem uma relao de segurana e confiana com o novo lugar que a criana
ficar. O seu dever , antes, manter, fortalecer e enriquecer as relaes pessoais da
criana com a prpria famlia, apresentando simultaneamente um mundo mais vasto de
pessoas e oportunidades (WINNICOTT, 2008, p. 220). A escola, antes de qualquer
coisa, representar a liberdade de tempo para que a me se descubra e encontre suas
potencialidades maternas e como indivduo e, ao mesmo tempo, a criana est sendo
cuidada para que se desenvolva e supere os inevitveis problemas psicolgicos com que
o ser humano em desenvolvimento se defronta. O ambiente da escola maternal, assim
como a professora, desempenha um papel importante para o desenvolvimento
psicolgico da criana. tambm na escola maternal que a criana entrar em possveis
conflitos com outros de sua idade, aprendendo a resolver suas frustraes decorrentes
destes possveis confrontos, aprendendo a desenvolver a capacidade de relaes
harmoniosas em seu grupo e principalmente a compartilhar. As brincadeiras,
principalmente entre as crianas, uma atividade criadora essencial para o
desenvolvimento humano e a escola facilitar, e muito, que a criana tenha xito no
terceiro tipo de desenvolvimento que a capacidade de relaes em que diversas
pessoas estejam envolvidas. a professora que ajudar nessa fase que a criana conduza
sua agressividade para canais construtivos e para adquirir habilidades eficazes.
Em todo este perodo existe um processo duplo entre o lar e a escola: quando acontece
um problema em um dos ambientes, automaticamente se transfere como perturbaes
no comportamento para esse outro ambiente.
Colapsos no asseio, dificuldades na alimentao e no sono, atraso na fala, atividade motora
defeituosa, estes e outros sintomas podem-se apresentar como problemas normais do
crescimento ou, numa forma exagerada, como desvios do normal. (WINNICOTT, 2008, p. 223)
At o ltimo perodo de frequncia na escola maternal, haver certa confuso entre o
que certo e errado, entre a fantasia e o fato, entre o que propriedade pessoal e o que
dos outros.
H que se mencionar os dois tipos bsicos de crianas que se inserem na escola. O
primeiro deles anseia pelo ensino propriamente dito. So aquelas crianas que tiveram
todo o processo de desenvolvimento emocional e afetivo necessrios para se tornarem
uma criana sadia emocionalmente. Criadas por pais que assumiram sua
responsabilidade, essas crianas esto dispostas ao trabalho rduo para que possam ter
xito nos exames e um dia terminarem os estudos e trabalharem como seus pais na
profisso escolhida. Esto vidos por lies que lhe ensinaro cada vez mais o que
precisarem.
J o outro grupo composto por crianas com problemas familiares que caracterizaro a
escola como abrigo, ou seja, uma extenso do lar para que se possa desenvolver e
resolver o que no foi conseguido no seio familiar. Elas vo procurar um grupo social
do qual elas possam fazer parte e se sentirem estveis emocionalmente.
Ao professor caberia, portanto, a tarefa de se inteirar da vida de seus alunos antes de
rotul-los com possveis distrbios e mais comumente com dificuldades de
aprendizagem, muitas das quais se caracterizam por reflexos e sintomas j discutidos
anteriormente, que pertencem a uma fase da vida que a criana est vivendo e que com
sorte ser esquecida e superada.
Um dos distrbios de aprendizagem mais diagnosticado entre crianas que apresentam
problemas no lar a sndrome do dficit de ateno.
A ateno o processo pelo qual usamos as estratgias necessrias para captar as
informaes do meio em que estamos inseridos. A ateno est relacionada intimamente
com a percepo e nos permite selecionar e hierarquizar os estmulos recebidos. Com
dficit de ateno, no possvel se concentrar para realizar o que a professora pede em
aula, uma vez que necessria a concentrao no que foi explicado antes por ela. Com a
ateno presa aos acontecimentos desastrosos vivenciados em casa, a criana que no
tem um lar satisfatrio, fica presa aos problemas que afetam sua vida diretamente e no
consegue, portanto, focar a ateno no que aparentemente no lhe urgente como seu
dilema no lar. Isso acarretar uma dificuldade grande em reter conhecimentos que s
so adquiridos mediante a importncia e a necessidade que tem. A desateno pura e
simplesmente tambm acontece nas mesmas circunstancias descritas. Entretanto, a
durao e a intensidade com que essa desateno ocorre que vai caracteriz-la como a
sndrome do dficit de ateno ou no. Contudo, necessrio salientar que essa
desateno leve mesmo no sendo diagnosticada como a sndrome, vai de qualquer
forma contribuir para uma dificuldade de aprendizagem, mais ou menos intensa,
dependendo das circunstncias, atrapalhando, certamente, o desenvolvimento escolar da
criana.
5. Problemas e transtornos de comportamento decorrentes da deficincia da
formao e/ou rompimento dos laos afetivos
Como j foi mencionado anteriormente, o primeiro e mais persistente vnculo afetivo
o da me e seu filho. talvez o nico vnculo que persiste at a vida adulta,
possibilitando afirmao de que a relao entre me e filho, mesmo depois de
separados, quando o filho se torna adulto, o vnculo que nem mesmo a morte dissocia.
Entretanto de uma forma um tanto paradoxal, importante salientar que o
comportamento do tipo agressivo desempenha um papel crucial e decisivo na
manuteno dos vnculos afetivos. Esse comportamento assume duas formas distintas:
primeiro ataques de afugentamento de intrusos e, segundo, a punio de um parceiro
errante, seja ele esposa, marido ou filho. H provas de que boa parte do comportamento
agressivo de um tipo desconcertante e patolgico tem origem em uma ou outra dessas
formas (Bowlby, 2001).
Os vnculos afetivos e os estados emocionais caminham juntos. Sendo assim, muitas das
emoes humanas surgem durante a formao, manuteno e rompimento dos vnculos
afetivos.
Em termos subjetivos podemos descrever que a ameaa da perda gera ansiedade e a
perda real causa tristeza, ao passo que ambas as situaes podem despertar raiva.
Finalmente, a manuteno incontestada de um vnculo experimentada como uma fonte
de segurana e a renovao de um vnculo como uma fonte de jbilo (BOWLBY, 2001).
Portanto, qualquer pessoa interessada em estudar os problemas na formao dos
vnculos afetivos de um indivduo, vai efetivamente se deparar com distrbios de
personalidade que muito frequentemente essas pessoas esto sujeitas a desenvolverem.
Para iniciarmos, comprovadamente produtivo considerar muitos distrbios
psiconeurticos e de personalidade nos seres humanos como um reflexo de um distrbio
da capacidade para estabelecer vnculos afetivos, em virtude de uma falha no
desenvolvimento na infncia ou de um transtorno subsequente (BOWLBY, 2001).
Aqueles que padecem de distrbios psiquitricos psiconeurticos sociopticos ou
psicticos manifestam sempre uma deteriorao da capacidade para estabelecer ou
manter vnculos afetivos, uma deteriorao que, com frequncia, grave e duradoura e,
em muitos casos, primria derivando de falhas no desenvolvimento, que tero
ocorrido numa infncia vivida num ambiente familiar que no foi propcio ao
desenvolvimento do ser humano (BOWLBY), permitindo-nos classific-lo como um lar
que no ideal.
Ao examinarem as possveis causas dos distrbios psiquitricos na infncia, ficou
constatado que o problema encontra-se na ausncia de oportunidades para estabelecer
vnculos afetivos ou, ainda, as repetidas rupturas dos vnculos que foram estabelecidos.
Foi sistematicamente apurado que duas sndromes psiquitricas e duas espcies de
sintomas associados so precedidas por uma elevada incidncia de vnculos afetivos
desfeitos durante a infncia. As sndromes so a personalidade psicoptica (ou
socioptica) e a depresso; os sintomas persistentes, a delinquncia e o suicdio
(BOWLBY, 2001).
No psicopata, a capacidade de estabelecer e manter os vnculos afetivos so dificultosas
ou at mesmo inexistentes. constatado que tais indivduos foram seriamente
perturbados na infncia pela morte, separao ou divrcio dos pais ou, ainda, por outros
eventos que resultam na deficincia ou ruptura dos vnculos afetivos. A incidncia
desses tipos de problemas so maiores nesses grupos do que em qualquer outro.
Adotando como critrio a ausncia da me durante seis meses ou mais, antes dos seis
anos de idade, foi apurada uma incidncia de 41% para os sociopatas e somente 5% para
os restantes. Quando o critrio ampliado, a incidncia aumenta. E, ainda, quando foi
adotada a ausncia da me e do pai antes dos dez anos como critrios para pesquisa, foi
constatado que o ndice sobe para 65%.
Outro grupo psiquitrico que mostra incidncia muito alta de perda na infncia a dos
pacientes suicidas. As perdas ocorrem na infncia, mais precisamente at os cinco anos
de idade, tendo sido causadas no s pela morte de um dos pais como tambm por
ilegitimidade e o divrcio como nos mostra Bowlby (2001).
Outra condio, que est associada s perdas na infncia, a depresso. Entretanto,
importante salientar que essas perdas no se devem frequentemente por ilegitimidade ou
divrcio dos pais, mas com mais incidncia por morte de um deles. A orfandade tende a
ser maior dos cinco aos dez anos de idade e em alguns casos no terceiro quinqunio da
infncia. Segundo as pesquisas, as indicaes so de que a perda por um dos pais por
morte ocorre com freqncia duas vezes maior num grupo de depressivos do que na
populao em geral. (BOWLBY, 2001, p. 104)
Assim, parece agora razoavelmente certo que, em numerosos grupos de pacientes
psiquitricos, a incidncia de rompimento de vnculos afetivos durante a infncia
significativamente elevada. [...] As maiores incidncias de vnculos afetivos desfeitos incluem
tanto os vnculos com os pais como com as mes, e so observados entre os cinco e os catorze
anos, tanto quanto nos primeiros cinco anos. Alm disso nas condies mais extremas
sociopatia e tendncias suicidas no s provvel que uma perda inicial tenha ocorrido nos
primeiros anos de vida mas tambm provvel que tenha sido uma perda permanente, seguida
da experincia de repetidas mudanas de figuras parentais. (BOWLBY, 2001, p. 104)
H tambm aquilo que chamamos de efeitos em curto prazo de vnculos desfeitos.
Quando uma criana pequena se v entre estranhos e longe da figura dos pais, tal fato
torna-se motivo de grande aflio e comprometimento posterior nas relaes parentais.
Nas crianas separadas dos pais foram observados dois comportamentos antagnicos.
De um lado, crianas desligadas emocionalmente e, noutro, crianas extremamente
dependentes, requisitando ateno dos pais o tempo inteiro. Em sua maioria as crianas
de dois anos que permaneceram desligadas dos pais por uma ou duas semanas,
experimentaram no seu regresso uma atitude distante e desligada da me. No entanto,
quando a criana est longe dos pais nos primeiros dias experimenta um grande
desespero em querer a me e, s vezes, chora muito sua falta. Quando finalmente
regressa parece no reconhecer e at mesmo evit-la. Todo o comportamento de busca
afetiva est ausente e continuar assim por um perodo de tempo, pois essa
reaproximao sempre lenta e gradual e depender do tempo em que durou o
desligamento, como j foi mencionado em captulos anteriores. Quando o vnculo
reatado e o comportamento de ligao se estabelece, a criana torna-se extremamente
ligada a me demandando extensa dedicao de sua parte. Se a me, por sua vez, no se
demonstra disponvel, a criana torna-se muito hostil e com comportamento negativista,
o que no foi notado em crianas que no sofreram separao.
Outro assunto tratado por Bowlby (2001) que o tipo de perda ocorrido durante a
infncia determina o tipo de depresso que a pessoa poder ter na vida adulta.
[...] as mulheres que perderam a me por morte ou separao antes dos onze anos de idade, so
mais propensas a reagir perda, ameaa de perda e outras dificuldades e crises na vida adulta
mediante o desenvolvimento de um distrbio depressivo do que mulheres que no
experimentaram essa perda na infncia. Em segundo lugar, se uma mulher sofreu uma ou mais
perdas de membros da famlia por morte ou separao antes dos 17 anos de idade, qualquer
depresso que se desenvolva subseqentemente susceptvel de ser mais grave do que uma
mulher que no tenha sofrido perdas desse tipo. Em terceiro lugar, a forma assumida pela perda
na infncia afeta a forma de qualquer doena depressiva que possa desenvolver-se mais tarde.
Quando a perda na infncia foi devida a separao, provvel que qualquer doena que seja
subseqentemente contrada mostre caractersticas de depresso neurtica, com sintomas de
ansiedade. Quando a perda se deve a morte, qualquer doena que se desenvolva
subseqentemente poder apresentar caractersticas de depresso psictica. (Bowlby, 2001, p.
111)
Ansiedade, depresso ou at mesmo suicdio so os tipos mais comuns de problemas
atribudos aos rompimentos dos laos afetivos. Sabemos que crianas separadas das
mes at os primeiros cinco anos de idade so frequentes em pacientes mais tarde
diagnosticados como psicopatas ou sociopatas. Sabemos, tambm, que grandes perdas
afetivas (podero acarretar?) acarretaro, mais tarde, problemas potencialmente
perigosos. Entre essas perdas faz-se necessrio citar o luto e o pesar na infncia.
6. A estrutura familiar percebida atravs da anlise do desenho feito pela criana
O desenho infantil considerado uma expresso do modo como a criana
percebe e compreende o mundo, refletindo suas alegrias e frustraes, mostrando-nos
pistas sobre seus problemas e anseios, e que possibilitam traarmos diagnsticos sobre
seus problemas emocionais. Ento, possvel afirmar que o indivduo desenha no s o
que v, mas tambm o que sente.
A rea onde a utilizao do desenho como tcnica projetiva se mostra mais
vantajosa para as crianas. Isto de deve ao fato de que as crianas acham muito mais
fcil expressarem-se atravs de desenhos do que de palavras. Crianas tmidas, de classe
social inferior, as que frequentemente sentem-se inadequadas com relao a sua
capacidade de expressarem-se verbalmente, crianas com deficincia mental e aquelas
com orientao concreta, sentem-se mais a vontade para se expressar e, portanto,
mostra-se muito mais vantajosa a coleta de material para anlise atravs do desenho.
De um modo geral, os indivduos parecem mais intelectualmente conscientes de sua
expresso verbal, enquanto que perdem um pouco desse controle em sua expresso
criadora e motora, no desenho. O emprego do desenho como tcnica projetiva
impulsionou a descoberta de os conflitos mais profundos, frequentemente, se refletem
mais prontamente no papel, segundo Campos (2000). Ressalta, ainda, que os desenhos
apresentam-se como altamente sensveis s tendncias psicopatolgicas, superando as
outras tcnicas projetivas nesse sentido.
Outro fator que se deve levar em considerao so os testes de desenhos aplicados de
maneira coletiva. Foi observado que o teste aplicado em grupo tem como fator de
vantagem uma distncia emocional e fsica muito maior entre o examinado e o
examinador. Esse tipo de teste apresenta consequentemente, uma produo mais fiel que
o teste individual. O teste em grupo serve, tambm, para reduzir a influncia do
examinador no examinado e seus desenhos. Esse maior distanciamento permite evitar a
influncia contaminadora da personalidade do examinador.
Foi concludo que, nas pesquisas em que foram utilizadas a tcnica projetiva do
desenho, os desenhos so os primeiros a indicar sinais de psicopatologias e os ltimos a
perder os sinais da doena depois que o paciente se recupera, superando, assim, outras
tcnicas projetivas.
Essa tcnica tambm mostra eficincia no reteste (termo usado por Campos, 2000). Ela
mais sensvel em relao s mudanas teraputicas e menos influenciada pelas
produes anteriores que podem contaminar o desenho presente. Mesmo que o
indivduo se lembre de outros testes, a presena da folha em branco permite que suas
projees sejam evocadas, desenvolvendo, portanto, uma menor probabilidade de
repeti-las. O mtodo mais usado para a anlise do desenho atravs da explorao dos
traos que representam uma rvore, uma casa e uma pessoa. Essa tcnica tambm
chamada de HTP (house, tree, person) e todas as pessoas j desenharam esses smbolos
e sabem como faz-lo.
Cada um desses desenhos nos d indcios da personalidade e dos desajustes que possui
o indivduo, bem como os possveis problemas pelos quais esto passando. Tanto
adultos quanto crianas revelam muito mais facilmente aquilo que sentem quando se
expressam atravs do desenho.
A casa desenhada, na maioria das vezes, constitui um auto-retrato, expressando as
fantasias, o ego, a realidade, os contatos e a acessibilidade. Expressa, tambm, a
percepo da situao no lar-residncia presente ou desejado para o futuro ou uma
combinao de formas.
O teto da casa pode ser empregado pelo indivduo para simbolizar o lugar que a fantasia
ocupa em sua vida, ao passo que a ausncia deste mostra a falta da fantasia e a quebra
com o mundo exterior.
Com relao s paredes vem-se verificando que a fora e a adequao das paredes da
casa desenhada esto diretamente relacionadas com o grau da fora do ego na
personalidade. Contornos reforados denotam pessoas hipervigilantes; fracos; denotam,
tambm, a existncia de um sentimento de crise iminente da personalidade.
A porta da casa o detalhe por meio do qual do qual o indivduo faz contato direto
com o ambiente. Quando muito pequena denota relutncia em estabelecer contato com
o ambiente e quando muito grande revela indivduos dependentes. Entretanto, se h
nfase na fechadura, vai nos mostrar um indivduo com sensibilidade defensiva,
frequentemente aparente entre os paranides.
A janela assim como a porta, um meio (secundrio) de interao com o ambiente.
Janelas cruas revelam contato direto; so pessoas que no possuem muito tato. Se
possurem grades, vo revelar desejo de proteo e com cortinas nos mostram
indivduos com problemas somticos, narcisistas ou exibicionistas. Contudo, se as
cortinas esto parcialmente abertas denotam interao controlada com o ambiente.
A chamin representada por pessoas bem ajustadas apenas um detalhe na casa.
Contudo, deve ser analisada quanto a sua forma no caso de um indivduo com conflitos
psicosexuais, uma vez que recebe a projeo dos sentimentos latentes da pessoa. J a
fumaa merece mais ateno, pois quando aparece em negrito indica grave conflito. Se
dirigida para um lado como se sofresse ao do vento reflete sentimento de presso e,
frequentemente pode ser associada com as dificuldades de leitura, principalmente
quando os pais pressionam a criana.
Outro detalhe importante no desenho da casa so os acessrios. Casas com rvores,
flores e cercas denotam falta de segurana, tentativa de se proteger, protegendo a casa.
Excesso de jardim indica represso ou desejo sexual feminino. Florzinha e patinho no
desenho da casa mostram imaturidade afetiva.
Para os antroplogos, a maneira como o indivduo v a rvore muito significativa. No
folclore, a rvore simboliza vida e crescimento. No folclore germnico, a rvore tem
suas razes na terra, simbolizando o primitivo; o tronco simboliza o humano e os ramos
buscam o divino. O que sabemos que quando algum desenha uma rvore, ele
seleciona uma entre as incontveis que j viu e sua memria seleciona aquela com a
qual a pessoa tem uma maior identificao. Verificamos que a rvore se projeta durante
o processo tornando-a um verdadeiro auto-retrato. Quando no h galhos, o indivduo
no se expande no relacionamento com os demais. A rvore