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ALFRED HITCHCOCK

INTRODUÇÃO Ao livo

13 HISTÓRIAS DE ARREPIAR

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Eu gostaria de ocupar este espaço parapromover um projeto que me é muito caro.Como todo mundo sabe, eu seria o último areclamar de qualquer coisa que fomente osangrento, o fantástico, o fantasmagórico, ohorrível.Sempre que chamado a colaborar com uma novarevista de horror ou a endossar um novo produtomedonho, nunca me fiz de rogado. Por maiorque tenha sido meu sucesso, nunca hesitei emoferecer algumas palavrinhas de estímulo aalgum humilde assassino de machadinha ou a umpobre coitado que gosta de pisotear suas vítimas.Sendo assim, provavelmente será uma surpresapara meus discípulos saber que sou a favor da

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abolição do Halloween, o Dia das Bruxas(vésépera de Todos os Santos). Surpresa ou não, ofato é que tenho influentes agentes em postos-chaves, lutando para que a festividade sejaextirpada do calendário e substituída por algumaoutra coisa. Afinal, nenhum adulto em seu juízoperfeito pode deixar de concordar que o Dia dasBruxas se transformou numa chaticeinsuportável. Somente o Dia do Papai conseguesuperá-lo em matéria de tédio e hipocrisia.Embora as origens do Dia das Bruxas estejammergulhadas nas trevas da pré-história, de ummodo geral todos concordam que as raízes seencontram nos festivais da colheita romana edruida. O momento de colher os frutos do verãoassinalava o prenuncio do inverno, o qual, comoqualquer pessoa com um mínimo de pensamento

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poético é capaz de imaginar, representasimbolicamente a morte da natureza.As Forças das Trevas, oficialmente, obtinhamassim a supremacia, no Dia das Bruxas,espalhando a confusão e o terror pelos campos.Duendes e gnomos, harpias e megeras, fantasmase espíritos, bruxos e feiticeiros disseminavam oterror e a desolação entre os campônios. Esses es-píritos das trevas desencadeavam sua virulênciana época da Saturnália, continuavam amanifestar-se pelos Idos de Março e não seaquietavam até os dias oficiais do renascimentoda natureza, comemorado no Dia das Mães. AsForças do Mal voltavam então para o fundo daterra, onde ficavam a imaginar novos terrorespara o outono seguinte.Essas terríveis incursões foram um tanto

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modificadas no Século VI, quando Bombazine, oSereno, um patriarca druida, instituiu o Dia deAção de Graças, como uma festividadepreventiva. Espertamente, ele pressentiu que esseferiado iria quebrar o impulso das festividadesque duravam o inverno inteiro, de tal forma quesomente alguns demônios mais empedernidossobreviveriam para o aparecimento na Vésperado Ano Novo.A Walpurgisnacht (véspera de 1.° de Maio)também está envolvida nessa história, mas nãoposso deter-me agora para explicar como.O costume de pregar peças nos outros, no Dia dasBruxas, surgiu quando os humanos, ciumentos(como sempre) dos poderes possuídos peloselementos sobrenaturais, desejaram semear omesmo tipo de devastação e terror sobre pessoas

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e propriedades. Tal inveja, estimulada pelaenergia liberada com o fim da colheita elubrificada pelos vinhos e bebidas alcoólicasfeitas de cereais, abundantes naquela estação,inspirou a população rural a causar uma grandevariedade de danos. Sobrepondo-se a todas asdemais tropelias, havia a ameaça que hoje éconhecida como Trick or Treat (Travessuras ouRegalos).A palavra trick tem suas raízes na palavra gregatrichinos (de cabelos), vem do latim tractare(tratar). Torna-se evidente, portanto, que ocostume remonta a um tempo em que as pessoasiam visitar as casas e gritavam “Cabelos ouTraio” para os moradores. Não faz muito sentidopara nós, é verdade, mas, afinal, muito poucacoisa daquele tempo o faz.

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Pois bem, as coisas transcorreramtranqüilamente dessa maneira, durante mil etantos anos, somente afetadas pelas Cruzadas epela Guerra Sino-Japonesa. Mas esses diasalegres e despreocupados teriam um fim abrupto,com o advento dos Estados Unidos. Nessemomento, o que de pior havia na naturezahumana e merecidamente prevalecera durantequase toda a história conhecida desfigurou-secompletamente, criando-se condições totalmenteadversas ao florescimento das Forças das Trevas.Não tenho a menor idéia do que há com osEstados Unidos da América que faz com que asfestividades mais respeitáveis se desvirtuem, aochegar às nossas bandas. Além do mais, trata-sede um problema irrelevante aos objetivos doestudo que ora estou apresentando.

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Não vou entrar em detalhes sobre as atrocidadesque meus companheiros e eu costumávamoscometer, mas direi que, no meu tempo, osmeninos demonstravam um gênio impressionantepara aumentar os sofrimentos deste mundo e asvariedades pelas quais podiam ser infligidos.Quando batíamos na porta de uma casa eberrávamos “Trick orTreat!” esperávamos sertratados com nada menos que todo o conteúdo docofre na parede ou o equivalente em balas edoces. Se tal não acontecia, perpetrávamos trlcksou travessuras na mesma escala do ataque doscomandos a Dieppe ou o Motim dos Sipaios.Alabardas, arcos, clavas, ácidos corrosivos,azagaias, boleadeiras e garrotes eram alguns dosinstrumentos com que executávamos nossavingança. Quando voltávamos para casa,

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deixávamos atrás de nós um cenário que separecia com o deuma comunidade costeira apósum maremoto, com carros aninhados em cima deárvores, trilhos de trens retorcidos comogrampos, em torno dos postes telefônicos.Em contraste com isso, observe-se agora umatípica comunidade moderna no Dia das Bruxas.Com várias semanas de antecedência, oscomerciantes locais começam a abastecer suasprateleiras tanto com os petrechos para oterrorismo como com os meios para impedi-lo. Oscomerciantes sempre foram oportunistas emtempos de distúrbios civis e não agem de maneiradiferente nessa ocasião. Não favorecem a nenhumdos lados e encorajam a ambos. Ossupermercados são terra de ninguém, onde osoponentes se misturam, em torno da fonte única

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de suprimentos.No arsenal ofensivo, encontramos armas tãotemíveis como trajes de gaze representandofeiticeiros, monstros, duendes; e irrelevânciascomo piratas, freiras e ratos do campo. Hátambém máscaras de gaze de vampiros,esqueletos, gatos pretos e as celebridades orareinantes na televisão. E ainda há sacolas decompras, em cores alegres, para se recolher apilhagem. Isso sem falar nas inevitáveis caixas degiz, de cores suaves.No lado da defesa, há material destinado aassustar ou apaziguar os diabinhos, comoesqueletos de papelão e outros implementossemelhantes, abóboras de papier-mâché com ousem lâmpadas elétricas, imensos estoques dedoces, fabricados com os formatos de

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personagens familiares da demonologia, taiscomo Drácula, Quasímodo e o Pato Donald. Tudoé exibido na maneira apropriada para a melhorvenda das mercadorias.Todos os produtos estão expostos de forma a seexigir o mínimo esforço da imaginação.Como são as mães que compram as coisas que ascrianças usam no Dia das Bruxas, não é deadmirar que a festividade se caracterize hoje porser totalmente inofensiva. Na verdade, asegurança é a preocupação básica e todosconspiram para que ninguém saia machucado,fique assustado ou mesmo vagamente confuso.A Câmara de Comércio local seleciona as paredesque as crianças podem riscar com giz. Meninos emeninas são devidamente instruídos para o fatode que dar sustos em adultos pode provocar

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ataques cardíacos. E como as crianças nãoquerem carregar pelo resto de suas vidas aresponsabilidade pela morte de um adulto,tratam de limitar sua assombração a gemidosbem modulados, quase tímidos e envergonhados.Os motoristas são alertados a guiar com maiscautela do que o habitual, porque os pequenosterroristas podem não ver a aproximação doscarros pelos cantos de suas máscaras.Aumentando-se as precauções, as mães tratam decosturar insígnias fosforescentes nas mangas oupernas das calças das crianças. Os policiais sãoconvocados em peso para a ocasião, mas não paraimpedir a violência e a pilhagem e sim paraajudar os saqueadores a atravessarem as ruas.Organizam-se festas para mantê-los inteiramentelonge das ruas, proporcionando-se brincadeiras

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como morder a maçã pendurada de um barbante,sem auxílio das mãos, a fim de que as criançaspossam dar vazão a seus impulsos diabólicos.Um pequeno grupo de crianças mais ousadas, quenão se deixam intimidar pelos pais preocupados,percorre as ruas, provocando uma confusãoinfernal peculiar às crianças americanas doséculo XX. Disfarçadas em fantasmas, ratos docampo ou Ben Caseys, essas crianças vão de portaem porta a murmurarem “Trick or Treat!”,sempre esperando plena cooperação. Não têm amenor idéia do que possam fazer, caso encontremalguma resistência. Mas jamais deparam com amínima resistência e a cooperação éabundantemente oferecida. Mães e pais recebemas crianças com gritinhos de admiração edivertimento diante das fantasias, apressando-se

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a entregar-lhes sacos de pipoca, doces e tostões. Aoperação é rápida e bem organizada. Torna-seimpossível determinar se existe prazer ousofrimento na troca efetuada. As crianças,encarando aquelas oferendas de paz como algoinvariável e rotineiro, guardam o saque em suassacolas, indiferentes, partindo em busca dapróxima vítima.Assim, podemos dizer que o Dia das Bruxas é defato muito perigoso. Em nenhuma outra ocasião operigo para uma juventude saudável torna-semais patente. Parece que esquecemos que os trêselementos principais da psicologia de umacriança são a imaginação, o desafio e o instinto dedestruição. Dêem a uma criança um doschamados brinquedos pedagógicos. Se a criançativer um mínimo de espírito, irá destruir

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rapidamente o brinquedo e encontrará coisasinteressantes e variadas para fazer com a caixaque o continha.As crianças não querem cooperação e supervisãono Dia das Bruxas; querem ser desafiadas a cadapasso do caminho. Não querem ganharguloseimas, a menos que isso custe alguma coisaao doador, em angústia mental. Não queremfestas controladas nem ruas bem iluminadas; nãoquerem trajes pré-fabricados ou lugaresespecialmente designados onde possam destruirpropriedades sem valor. Elas querem,simplesmente, provocar uma confusão dosdiabos, atemorizar de fato.Não estou assumindo a posição de que as criançassão monstros puros, porque sou sensato obastante para saber que não existe nada puro

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neste mundo. Mas creio que é vital quereconheçamos uma acentuada tendência em todacriança normal e saudável a ser rude e mal-educada. O Dia das Bruxas oferece uma excelenteoportunidade para que as crianças dêem vazão àssuas atitudes anti-sociais, reprimidas durantetodo o resto do ano. Se suprimirmoscompletamente tal possibilidade, estaremoseliminando uma fonte vital de criatividade. Issopode causar o aumento de alunos reprovados naescola secundária, problemas alcoólicos,socialismo radical e uma incidência 31 por centomais elevada de cáries dentárias, botulismo ecalvície precoce. Vamos, portanto, devolver a essafestividade as suas características anteriores deindignidade e desrespeito. Ou então encontremosuma alternativa apropriada. Já temos o Dia das

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Mães e o Dia dos Pais. Assim, o melhor substitutoseria o Dia das Crianças, completando-se atendência para a idolatria das crianças, que vemaumentando desde que as leis do trabalho infantillibertaram a nata da nossa juventude.

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UMA QUESTÃO DE ÉTICA

James Holding

Naquela ocasião, seu contato no Rio era um homemchamado simplesmente Rodolfo. Talvez Rodolfotivesse outro nome. Mas, se tal acontecia, ManuelAndradas não o sabia. Ele devia encontrar-se comRodolfo na Rua do Rosário, na esquina do Mercadodas Flores. Enquanto esperava, na calçada estreita, ascostas apoiadas na parede de um prédio, Manuel ficoucontemplando, cheio de admiração, uma cesta deorquídeasroxas que estava sendo vendida num estandede flores, do outro lado da rua. Como sempre, tinha o

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estojo da máquina fotográfica pendurado no ombroesquerdo. Rodolfo apareceu pouco depois e passourapidamente por Manuel, murmurando-lhe “siga-me”pelo canto da boca. Era um homem indefinível, quasemaltrapilho. Manuel seguiu-o, por entre a multidãoque saía às ruas na hora do almoço, até um pequenocafé nas proximidades. E ali, tomando um cafezinho,eles ficaram frente a frente. Manuel concentrou suaatenção no café preto na pequena xícara. Rodolfo éque iniciou a conversa:

—Gostaria de fazer uma pequena viagem,Fotógrafo?

Manuel deu de ombros.— Até Salvador, na Bahia, Fotógrafo. É uma lindacidade.— Já me disseram isso. O serviço tem prazo?— Não há prazo. Mas gostaríamos que fosse

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executado o mais depressa possível, Fotógrafo. Manuel era conhecido por seus contatos apenascomo O Fotógrafo. E ele era de fato um fotógrafo. Dosmelhores, diga-se de passagem. - O preço? Ao formular a pergunta, Manuel levantou os olhoscastanhos para fitar Rodolfo, ao mesmo tempo quetomava um gole do cafezinho. — Trezentos mil cruzeiros. Manuel quase perdeu ofôlego. — Seu chefe deve estar precisandodesesperadamente do serviço...Rodolfo sorriu, se é que se podia chamar de sorriso oligeiro arreganhar dos lábios.— Talvez... Mas isso não é da minha conta. O preço ésatisfatório?— Perfeitamente satisfatório. E muito generoso, paradizer a verdade. As despesas por fora, é claro. E umterço adiantado.

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— Está certo.O homem chamado Rodolfo rabiscou com um coto delápis no verso do cardápio do café, entregando-o aManuel. Escrevera um nome e um endereço.Automaticamente, Manuel decorou-os. Depois, dobrouo cardápio e rasgou-o em pedacinhos, os quais meteuno bolso do seu terno escuro impecável. E franziu orosto. Observando a expressão dele,Rodolfo perguntou:— Qual é o problema?— É uma mulher — murmurou Manuel, em tom dedesaprovação.Rodolfo soltou uma risada.— Negócios são negócios, não é mesmo?— É que eu prefiro quando são homens.Terminaram o café e se levantaram, saindo para arua. Ao se despedirem, Rodolfo apertou a mão deManuel, deixando nela um maço de notas.

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No caminho de volta a seu estúdio, Manuel parou numbotequim e tomou um copo de suco de caju. Achavaque era muito melhor do que café para acalmar osnervos.semSeis dias depois, Manuel desembarcou na Bahia, tendoviajado num cargueiro velho e enferrujado, que ali fezescala, a caminho do norte, para pegar umcarregamento de cacau, couro e mamona.Sem querer atrair atenção, Manuel seguiu a pé, porentre o movimento intenso da Cidade Baixa, até oElevador Lacerda, encostado num penhasco alto. Oelevador levou-o rapidamente até a Cidade Alta,deixando-o diante da praça principal. Dali, por cimados flamboyants vermelhos que cresciam na encosta,Manuel tinha uma vista espetacular do porto, repletode navios e fervilhante de atividade.No saguão escuro do Palace Hotel, na Rua Chile, ele seregistrou com o seu próprio nome, Manuel Andradas.E durante dois dias comportou-se exatamente como o

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faria um fotógrafo que tivesse ido a Salvador a serviçode uma revista. Levando sempre duas máquinasfotográficas, visitou os pontos turísticos de Salvador,tirando inúmeras fotografias de tudo o que lhechamava a atenção, desde a fachada da Igreja daOrdem Terceira até o mural em tons azuis, ao estiloMondrian, do novo Hotel da Bahia. No terceiro dia,depois de fixar sua imagem como um fotógrafoinocente e inofensivo, Manuel preparou-se paraexecutar o serviço que o levara à Bahia.Por volta de uma hora da tarde, ele pôs um calção noestojo de couro, juntamente com duas máquinasfotográficas, saindo do hotel. Subiu pela Rua Chile atéa praça lá em cima, onde estavam estacionados inúme-ros ônibus, suportando com uma indiferença mecânicao dilúvio de propaganda e música que se derramavade alto-falantes. Subiu num ônibus com o letreiro RioVermelho e Amaralina e sentou-se na parte de trás,um homem pálido e de ossos salientes, de aparência

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bastante comum, exceto pelas mãosdesproporcionalmente grandes e pelos antebraçosextremamente musculosos. Nenhum dos passageirosbarulhentos e apressados, que em seguida entraramno ônibus, lotando-o a um ponto excessivo, lançou-lheum olhar mais do que de passagem. Manuel fechou os olhos e pensou no trabalho quetinha pela frente. Sentiu o ônibus partir, ouviu osoutros passageiros falando com animação. Mas nãoabriu os olhos. Como era o nome? Ele se recordavaperfeitamente. Eunicia Camarra. Exatamente. Oendereço? Amaralina, Bahia. Exatamente.Eunicia Camarra... Uma mulher. Quem seria ela? Oque teria feito, para que alguém no Rio — o clienteanônimo e desconhecido de Manuel — desejasse queela fosse anulada? Era essa a palavra que Manuelsempre usava, ao pensar no que fazia. Uma pessoaanulada... Seria ela uma amante infiel? Ou umamulher que rejeitara uma proposta de casamento?

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Trezentos mil cruzeiros eram uma soma considerável.Seria uma mulher da qual o cliente de Manuel tinhaciúmes? E será que o cliente de Manuel não seriatambém uma mulher?Manuel, evidentemente, jamais sabia dos verdadeirosmotivos para os serviços dos quais era incumbido.Depois de executado o serviço, pelos meios que lheparecessem mais apropriados e práticos, Manuelficava na ignorância das razões por que haviamcontratado seus serviços profissionais. E assim eramelhor. Manuel preferia não se envolveremocionalmente com seu trabalho. Fazia cadatrabalho eficientemente, sem muito alarde, evitandoimiscuir-se nas questões morais ou éticas.Manuel afastou Eunicia Camarra dos pensamentos eabriu os olhos. O ônibus seguiu para o interior poralgum tempo, proporcionando a Manuel rápidosvislumbres de amplas extensões de terra vermelha,jardins coloridos, matas tropicais luxuriantes. O

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ônibus inverteu a direção e novamente se aproximoudo mar. Manuel sentiu a brisa fresca que soprava domar entrando pelas janelas do ônibus e secandocompletamente o suor que lhe escorria pelo rosto.Manuel saltou na parada do ônibus em Amaralina, aolado de um abrigo circular, de teto de colmo, a poucosmetros da praia. À sua frente havia um café, a tintadas paredes inteiramente removida, pela açãointerminável do vento e da areia da praia. Ali perto,um homem sorridente, exibindo dentes muito brancos,vendia cocos para meia dúzia de colegiais. Cortava aparte de cima dos cocos com um facão, para quepudessem tomar a água adocicada.As vozes das crianças, extremamente alegres porqueas aulas haviam terminado por aquele dia, soavamjoviais aos ouvidos de Manuel, enquanto ele passavalentamente pelo café, encaminhando-se para umpavilhão de banhistas, quase em ruínas, onde vestiu ocalção. Pegando o estojo com as câmaras,

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encaminhou-se para a praia. Não havia muita gente na praia. Ele viu um casaldeitado na areia, por trás de alguns rochedos,completamente alheio ao que se passava em volta. Àdireita, havia um pequeno grupo de banhistas,mergulhados na água até a cintura, que soltavamgritos estridentes de prazer quando eram atingidospelas ondas espumantes. À esquerda, mais ao longe,Manuel podia ver os prédios de Ondina, quasemergulhando na baía cor de safira. E à frente dele,perto da água, brincavam na areia as mesmas criançasque pouco antes estavam comprando cocos.Manuel foi sentar-se na areia, perto das crianças, como estojo das câmaras nas mãos. As meninas usavamuniforme colegial azul e branco e eram todas mais oumenos da mesma idade, 12 ou 13 anos. Manuel sorriupara elas e cumprimentou-as com uma expressãomuito séria:

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—Boa-tarde, senhoritas.Não fez mais do que isso. Não se adiantou, não tentouforçar o contato. Manuel era sutil demais para isso.Ao retribuírem o cumprimento, as meninas viram oestojo das câmaras nas mãos dele. Imediatamente,demonstraram intenso interesse, em especial a meninaloura que parecia ser a líder do grupo.Ela se aproximou de Manuel e perguntou:— Isso é um estojo de máquina fotográfica? Será quepoderia mostrá-la? Quer tirar uma fotografia de nós?Bate fotos a cores? Qual é o tipo de filme que achamelhor? Poderia mostrar para mim como ajustar a lente, a fim de que eu possa tirar uma fotografiatambém?Ela falou tão esbaforida e suplicante, com umacuriosidade infantil tão intensa, que Manuel não pôdedeixar de rir, contra a sua própria vontade.

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— Mais devagar, senhorita, por favor. Fez perguntasdemais, ao mesmo tempo. De fato, o estojo tem umacâmara. Mais de uma, aliás. E podem dar umaolhadela nelas, mas tomem todo cuidado para nãodeixar entrar nenhum grão de areia.Ele entregou o estojo com as câmaras à menina lourae todas as outras se reuniram ao redor dela, falandoanimadamente. A menina que pedira o privilégio dever as câmaras abriu o estojo.— Mas que maravilha — exclamou ela. — É umaLeica! Não é uma máquina muito cara? Minha avótem umEla remexeu o estojo mais um pouco.— Ei, também tem uma máquina minúscula! — disseela, erguendo a Minox de Manuel. — Eu nunca tinhavisto uma máquina tão pequena assim!Manuel continuou sentado na areia, calmamente,deixando que as meninas examinassem seuequipamento, embora as observasse com atenção,

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para evitar qualquer ameaça de dano. Só depois dealgum tempo é que ele disse:— Vou tirar agora uma fotografia de vocês.Elas ficaram imóveis, muito compenetradas, sorrindono momento em que Manuel tirou a fotografia. Amenina loura perguntou:— Vai nos mandar a fotografia? Minha avó gostariade vê-la.— Claro que vou. E nada cobrarei por ela, embora euseja um fotógrafo profissional e costume cobrar altopelos meus serviços.— Muito obrigada.Manuel sacudiu a cabeça para a menina,compreendendo, com satisfação, que conquistara aamizade daquelas meninas e elas teriam agora o maiorprazer em responder a todas as perguntas que fizesse.E Manuel tinha muitas perguntas a fazer, sobreAmaralina, sobre as casas em que elas moravam, osvizinhos, os amigos dos pais, sobre uma mulher

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chamada Eunicia Camarra. Mas não havia pressa. Amenina loura perguntou:— Não vai dar um mergulho, moço? Se for, podedeixar que tomaremos conta de suas máquinas. Efique tranqüilo que nada acontecerá com elas.A menina apelou para as companheiras, queconcordaram em coro.— É uma boa idéia — disse Manuel. — Muitoobrigado por ficarem guardando minhas máquinas.Ao se levantar para entrar na água, Manuel cometeuseu primeiro erro. Mas estava sentindo muito calor,com o corpo suado, e um mergulho seria um alívio,apesar de ele não ser um bom nadador. Quanto àscâmaras, poderia ficar tranqüilo, pois as meninastomariam conta, até sua volta.— Tome cuidado junto daquelas pedras, pois tem umacorrenteza muito forte ali — avisou a menina loura.

Manuel mal a ouviu, pois estava pensando em outras

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coisas. Somente depois que mergulhou e deu algumasbraçadas, afastando-se da praia, é que compreendeuplenamente a advertência da menina. Nesse momento,porém, já era quase tarde demais. Manuel sentiu-seimpelido por uma correnteza forte demais, à qual nemsuas mãos grandes e os braços musculosos podiamresistir. A cabeça afundou e ele engoliu água.E pensou, estupidamente, que teria sido melhorcontinuar com calor e suado, do que refrescar-se a talpreço. E logo em seguida ele deixou de pensarinteiramente.Ao abrir os olhos, Manuel ficou ofuscado com o azulintenso do céu. Estava deitado de costas na areia. Aodesviar os olhos doloridos, ele focalizou o corpoesquelético e nu da menina loura, parada ali perto,prestes a enfiar o uniforme sujo pela cabeça, a fim decobrir a pele molhada.

Perto dela estavam duas outras meninas, também

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vestindo os uniformes sobre os corpos molhados.Manuel deixou escapar um grunhido abafado esentou-se bruscamente.As meninas soltaram gritinhos nervosos e terminaramrapidamente de se meter nos vestidos.— Não olhe, moço! — gritou a menina loura,alegremente. — Espere que a gente termine de sevestir. Caímos na água sem maiôs.As vozes alegres das outras meninas juntaram-se àdela, como periquitas irrequietas. Manuel sacudiu acabeça, tossindo e cuspindo água na areia. A meninaloura explicou:— Nós avisamos, moço, que há uma correntesubmarina muito forte naquele ponto! Mas não nosdeu atenção!A menina censuravam de maneira gentil, mas Manuelpercebeu que ela estava profundamente satisfeita porele ter ignorado a advertência, proporcionando-lhe aoportunidade maravilhosa e excitante de salvá-lo,

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juntamente com as amigas.— Todas nós somos excelentes nadadoras, moço,porque moramos aqui em Amaralina. Mas o senhornão sabe nadar muito bem.Ela sorriu alegremente e acrescentou:— Mas conseguimos tirá-lo da água, Maria, Letícia eeu. As outras fugiram.Manuel Andradas sentiu-se invadido por uma emoçãointensa, pouco familiar.— Senhoritas, eu lhes devo minha vida. E agradeço dofundo do meu coração.As meninas ficaram embaraçadas. Manuel olhou paraa menina loura, que estava passando os dedos peloscabelos molhados, e perguntou, com uma premoniçãode desastre:— Como se chama?— Eunicia Camarra. E qual é o seu nome?

Manuel despachou as outras meninas, com seus

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agradecimentos, mas convenceu Eunicia a ficar maisum pouco na praia, em sua companhia.— Gostaria de tirar novamente uma fotografia sua —explicou ele.— Mas sozinha. Quero ter um bom retrato da moçaque salvou minha vida.Pela primeira vez em sua carreira, Manuel descobriuque estava encarando uma vítima em perspectiva comum sentimento que ia além da objetividade fria. Aoolhar para Eunicia, ele sentia o coração palpitar, algoa que não estava acostumado. Era uma emoção feitade gratidão, admiração, simpatia e, estranhamente, deternura. Como se ela fosse sua própria filha, pensouManuel, vagamente. Depois de tirar diversas fotos damenina, em poses infantis e encantadoras, Manuel lhedisse, num impulso súbito:— Agora, mostre-me como eu estava parecendoquando me tirou da água e arrastou-me até a areia.

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Rindo deliciada, a menina estendeu-se na areia,assumindo a pose de uma boneca de trapos. Os braçosficaram caídos ao longo do corpo, inertes, as pernasesticadas, os olhos fechados, voltados para o céu, a boca entreaberta. Manuel inclinou-se e, usando aMinox, tirou uma fotografia dela assim.E durante todo o tempo, eles não pararam deconversar.— Mora aqui com seu pai e sua mãe? — perguntouManuel.— Oh, não! Minha mãe e meu pai já morreram. Vivocom minha avó, naquela casa grande lá no alto dacolina.Ela apontou para a casa.— É uma casa realmente grande. Sua avó deve seruma mulher rica.Sendo assim, é de admirar que você tenha salvado avida de um pobre fotógrafo.

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A menina ficou indignada e declarou veementemente:— Minha avó é antes de tudo uma grande dama. Mas,como o senhor disse, é também muito rica. Afinal decontas, quando estava vivo, meu avô era o maiornegociante de diamantes do Brasil.— É mesmo?— É o que minha avó sempre diz.— Então tenho certeza de que é verdade. E morasozinha naquela casa com sua avó? — Manuel fitou amenina por um momento, em silêncio, antes decontinuar: — Não tem irmãos ou parentes que façam companhia a vocês duas?— Ninguém — disse ela, com tristeza, para logodepois acrescentar, subitamente animada: — Mastenho um meio-irmão no Rio. Ele já é um homemidoso agora, acho que tem mais de 30 anos. Apesardisso, é meu meio-irmão. Nossa mãe era a mesma,embora tivéssemos pais diferentes. Está entendendo?

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Na verdade, Manuel estava começando a entendertudo.— E sua avó não gosta muito do seu meio-irmão, nãoé?— Não. Ela diz que ele é um homem mau. Ummentiroso e trapaceiro, uma desgraça para a família.Minha mãe fugiu de casa e casou-se, quando era aindamuito jovem. Meu irmão Luís nasceu dessecasamento.Tenho pena dele, porque seu pai está morto, assimcomo o meu. De vez em quando eu escrevo para ele,mas não conto para a minha avó.— É perfeitamente compreensível que não queira queela saiba — concordou Manuel, gravemente.— Minha avó se recusa a ajudá-lo por qualquer meioque seja. Nem mesmo lhe dá dinheiro. E eu sei que eleestá sempre pedindo. Mas minha avó sempre nega.

— Talvez ela deixe algum dinheiro para ele, em seu

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testamento.— Não, senhor, não vai deixar nada. Eu é que vouficar com tudo. Minha avó diz que Luís não ficarácom um só tostão, enquanto houver uma pessoa vivana família. Ela não tem a menor paciência com meu irmão Luís. Coitado do Luís! Eu acho que ele é muitosimpático. Irei ao Rio, para visitá-lo e cozinhar paraele, assim que minha avó me der dinheiro bastante.— Nunca se encontrou com ele?— Nunca. Só o conheço de fotografia. No ano passado,ele me mandou uma carta com uma fotografia sua. Foia carta em que perguntava se minha avó já haviamudado de atitude com relação a ele. E eu lhe envieiuma fotografia minha. Luís é um homem muitobonito.— Como é o nome todo dele?— Luís Ferreira.

— E ele trabalha?

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— Claro que trabalha. No escritório do Hotel Aranha.Depois de trocar de roupa, Manuel levou Eunicia parao café e, num impulso de generosidade a que nãoestava habituado, comprou-lhe uma garrafa derefrigerante de laranja. A menina bebeu rapidamente.Depois foi para casa, explicando que a avó ficariapreocupada, se demorasse mais. Ao despedirem-se,Manuel disse:— Não sabe como lhe sou grato pelo que fez, Eunicia.E talvez eu lhe possa prestar um pequeno serviço, emretribuição.Manuel continuou sentado no café, sozinho, depoisque a menina se foi, num banco sem conforto, ao ladode uma mesinha, contemplando o mar encapelado.Pediu três doses de Cinzano e tomou-as rapidamente,uma depois da outra, pensando no problemainesperado. Trezentos mil cruzeiros! Mas o problematodo, pensou ele, sombriamente, reduzia-se agora auma simples questão de ética.

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Como ele gostaria de tomar naquele momento umcopo de suco de caju!Manuel Andradas voltou para o Rio de avião, naquelamesma noite. Seguiu do aeroporto diretamente para oseu estúdio, revelando o filme da Minox, que batera naBahia. Examinou com cuidado os minúsculosnegativos, com uma lente de aumento, antes deselecionar um e fazer uma ampliação. Ligou para otelefone anônimo que o poria em contato com Rodolfoe marcou um novo encontro para a manhã seguinte,na Rua do Rosário. Depois, foi deitar-se e teve umsono tranqüilo.No dia seguinte, ele mostrou a fotografia ao homemchamado Rodolfo, comentando com desaprovação:— Não era uma mulher, mas uma criança.Rodolfo examinou a foto de Eunicia. A menina estavacaída na areia da praia de Amaralina, inerte,indubitavelmente morta. Ele assentiu, satisfeito.

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— Creio que esta fotografia é prova suficiente.Rodolfo continuou a fitar a fotografia por mais algumtempo e depois sorriu.— Posso ficar com esta fotografia? Vou entregá-la aquem de direito. E se estiver tudo bem, tornaremos anos encontrar amanhã, aqui mesmo, às 3 horas datarde.Ele foi embora com a foto. E no dia seguinte, às 3horas da tarde, encontrou-se novamente com Manuel,na esquina do Mercado das Flores, parando apenas otempo suficiente para apertar-lhe a mão e dizer:— Bom trabalho. Foi satisfatório.Desta vez, ele deixou na mão de Manuel um maço denotas ainda maior do que no primeiro encontro.Manuel embolsou as notas quase que distraidamente efez sinal para um táxi. Mandou que o motorista olevasse à praia de Copacabana, saltando umquarteirão antes do Hotel Aranha, na AvenidaAtlântica. Depois de pagar o táxi, ele contemplou a

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praia larga, povoada àquela hora da tarde por umamultidão de banhistas, tão numerosos quanto formigas num torrão de açúcar derrubado no chão. Depois,atravessou a rua e entrou numa cabina telefônicapública, ligando para o Hotel Aranha.Um momento depois estava falando com o SenhorLuís Ferreira, um dos funcionários do hotel, numa vozdeliberadamente abafada.— Trouxe-lhe um recado da Bahia, Sr. Ferreira.Encontre-se comigo na praia, em frente ao hotel,dentro de 10 minutos. Ao lado do vendedor de pipas.Manuel não esperou por uma resposta, desligandoimediatamente e saindo da cabina. Depois, caminhoupela praia até a altura do hotel, esgueirando-se porentre os milhares de adoradores do sol e do mar, espa-lhados pela areia. Foi postar-se nas proximidades dohomenzinho moreno que vendia pipas em forma degaivotas para as crianças, apenas mais um integranteanônimo daquela multidão de feriado. Pelo canto dos

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olhos, ficou observando a entrada do hotel.Não demorou muito para que visse saindo pela portado hotel um homem ligeiramente encurvado, o queixopequeno, os cabelos louros bem ralos. O homematravessou a avenida, desviando-se dos carros, e aproximou-se do vendedor de pipas. Parou ali,olhando para as pessoas ao redor, com uma expressãopreocupada. A praia estava apinhada. Qualquer umadas milhares de pessoas podia ser o mensageiro quelhe trouxera um recado da Bahia. Ele olhou para orelógio de pulso, verificando se já haviam passado os10 minutos a que Manuel se referira. Manuel tevecerteza então de que aquele homem era de fato LuísFerreira, o meioirmão de Eunicia Camarra.Manuel encaminhou-se na direção dele, por entre aconfusão de banhistas. No caminho, tirou a mão dobolso, onde estava escondido um dardo cortado aomeio, com uma ponta de metal fina e comprida, dotipo que ele costumava lançar contra um alvo de

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cortiça. A ponta do dardo estava muito afiada, quasecomo uma agulha. Metade da haste de madeira foraserrada, a fim de que pudesse caber facilmente namão de Manuel, ficando de fora apenas cincocentímetros da ponta de metal, na qual ele passarauma substância escura e pegajosa.Havia diversos fregueses reunidos em torno dovendedor de pipas.Quatro rapazes jogavam bola a poucos metros dedistância. Um homem gordo e uma mulher magraestavam deitados na areia, quase aos pés de Ferreira.Aproximando-se de Ferreira, Manuel pareceutropeçar no pé estendido do homem gordo.Cambaleou um pouco e pisou com toda força no pé deLuís Ferreira. Manuel esticou os braços para a frente,como se procurasse recuperar o equilíbrio. E, nessemomento, espetou a ponta do dardo no pulso deFerreira, logo abaixo da manga do casaco.

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Ferreira nem sentiu. A picada da agulha foi ignoradadiante da dor intensa da pisadela no pé. Ele puloupara trás, esbravejando. Manuel pediu desculpas porsua falta de jeito e afastou-se, perdendo-se namultidão alguns segundos depois.Não se apressou em demasia, para que o notassem,mas também não perdeu tempo em sair dali. Nãoolhou para trás. Nem mesmo quando saiu da praia,alguns quarteirões depois, caminhando rapidamentepela Avenida Atlântica, na direção do centro dacidade. Em nenhum momento, ele olhou para o lugarem que deixara Ferreira. Para quê? Não havianecessidade. Ele sabia perfeitamente o que estavaacontecendo lá atrás.O curare da ponta do dardo já deveria ter concluídosua ação fatal.O corpo de Ferreira devia estar caído na praia, aindadespercebido, provavelmente, por entre tantos corposestendidos na areia. Os terminais nervosos dos

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músculos de Ferreira já deviam estar paralisados einúteis. O coração dele logo deixaria de bater parasempre, paralisado pelo veneno mortal. Em trêsminutos ou até menos, Ferreira estaria morto. Isso erainevitável. A menina loura da Bahia, que de forma tãoestranha despertara a capacidade de afeto de ManuelAndradas, há muito adormecida, estava agora a salvode qualquer perigo.Manuel permitiu-se uma risadinha, a caminho docentro da cidade. Se alguém salva sua vida, pensou ele,então você lhe deve uma vida em troca. E se alguémpaga por uma morte, então você lhe fica devendo umamorte pelo dinheiro que recebeu.Ele sorriu, os olhos castanhos fixados diretamente àsua frente.Aquela questão de ética, no final das contas, não tinhasido tão difícil assim

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OUÇA-ME, POR FAVOR!

Fletcher Flora

— Acorde! — disse a voz. Freda abriu os olhos e fitou o teto, esperando quea voz dissesse mais alguma coisa. Mas só houve osilêncio. O que não era nada inquietante, pois haviaocasiões em que a voz não lhe falava por horas e horasa fio, voltando a fazê-lo subitamente, em algummomento estranho e inesperado, com instruçõesespecíficas para fazer isso ou aquilo, de uma maneiradeterminada e em tal ou qual momento. No princípio, Freda ficara assustada com a voz.Mas só no princípio. Não demorara a compreenderque não havia absolutamente motivo algum para ficar

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assustada, mui to pelo contrário. Passara então aaguardar ansiosamente a voz, sempre muito atenta,pois nunca sabia quando ela iria falar. Ocasiões haviaem que a voz lhe falava quando estava sozinha. Mashavia também muitas vezes em que lhe falava quandoestava em companhia de outras pessoas, até mesmoconversando. Freda parava de falar no mesmoinstante, às vezes no meio de uma frase, escutandoatentamente o que a voz lhe dizia. O que era sempre desconcertante para a pessoa oupessoas com quem Freda estava falando. Para Freda,tal situação era bastante divertida, um tanto cômica,algo de que poderia rir, embora secretamente. Um fato estranho era o de que a voz, emborafalasse sempre com muita clareza, jamais era ouvidapor qualquer outra pessoa, além da própria Freda.Outro fato estranho, cada vez mais estranho, era o deque jamais havia necessidade de responder à vozfalando alto. Bastava pensar as palavras que a voz

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queria ouvir, pois a voz escutava atentamente erespondia. Desse modo, Freda podia manter longasconversas com a voz, sem que qualquer outra pessoaporventura presente pudesse ouvir. Mas tais coisas só eram estranhas na medida emque eram excepcionais, certamente além da crença dealguém que não as tivesse experimentado. Mas eram realmente realidades admissíveis. Nadahavia de sobrenatural nelas, como a presença de luzna escuridão e um mundo de sons abaixo dos níveis deaudição. Fora a voz que levara Freda àquela cidade, aondechegara na noite anterior, e àquele quarto de hotel,onde acabara de despertar. A voz dissera a Freda oque fazer, exatamente quando e como. Mas Fredasabia perfeitamente o que deveria fazer ao final,depois de todas as pequenas coisas que deveriam serrealizadas antes. E era para fazer tal coisa que Fredaviera àquela cidade, naquela ocasião. Viera matar um

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homem chamado Hugo Weiss. — É melhor você sair logo da cama — disse a voz. Era um aviso gentil. Não havia na voz o menorvestígio de raiva diante da preguiça de Freda, nemmesmo uma insinuação de impaciência. A voz era sempre gentil, invariavelmente suave, deuma beleza pungente, com um sussurro de tristeza aimpregnar a pronúncia das vogais e consoantes, comouma brisa ligeira a murmurar por entre as árvores, aocrepúsculo. “Tem razão, está mesmo na hora”, pensou Freda. Freda levantou-se e dirigiu-se ao banheiro,acendendo a luz. Seu rosto, refletido no espelho porcima da pia, parecia o rosto de outra pessoa, não o deuma estranha, mas o de uma pessoa que Fredaconhecera há muito tempo, em outro lugar, e da qualnão conseguia lembrar-se muito bem. Sentiu pena daquele rosto e da pessoa a quempertencia. Subitamente, teve vontade de chorar e de

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dizer ao rosto como estava sentindo pena. Em vezdisso, porém, Freda tirou o pijama e tomou um banhode chuveiro. Voltou ao quarto e vestiu-se, começandoem seguida a escovar os cabelos. Sentou-se na beira dacama, escovando-os em movimentos rápidos e curtos,a cabeça primeiro inclinada para um lado, depois parao outro. E, enquanto escovava os cabelos, Fredacomeçou a pensar na voz, que não lhe estavarespondendo agora, e em Hugo Weiss, a quem iamatar. A voz lhe dissera que assim o fizesse, na primeiravez em que lhe falara. Fora nessa ocasião que Fredacompreendera, pela primeira vez, como Hugo Weissera um demônio monstruoso. Freda estiveragravemente doente, com acessos de febre alta. Passadaa doença, quase não havia o que fazer durante o longoperíodo de convalescença, exceto pensar, ler e esperarque os dias e noites compridos passassem. Na manhãdaquele dia em particular, Freda abrira o jornal que a

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mãe levara a seu quarto. E lá estava, na primeirapágina, um retrato de Hugo Weiss. Freda já tinha ouvido falar nele antes, é claro, poisnão havia quem não soubesse a respeito de HugoWeiss. Mas era a primeira vez que Freda via umafotografia de Hugo Weiss ou pelo menos ao que selembrava. Ele estava sendo investigado por um grandejúri, por sua ligação com uma organização criminosa,supostamente internacional. Somente a cabeça e osombros dele apareciam na fotografia, que certamentedevia ser a ampliação de um instantâneo tirado narua ou algum outro lugar, pois Hugo Weiss jamaisiria sentar-se docilmente num estúdio fotográfico oupermitir vo luntariamente que seu retrato fossebatido em qualquer outro lugar. Ele era incrivelmente feio, o que, por si só, nadatinha de condenável. Mas a feiúra dele era anormal,quase aterrorizante. O rosto de Hugo Weiss é umaobscenidade brutal, pensou Freda. Sentada em seu

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quarto, Freda estudara com atenção a fotografia dojornal, o nariz achatado, com as narinas à mostra,parecendo buracos escuros abertos na carne com umferro em brasa, a boca parecendo uma chaga emcarne viva prestes a sangrar, a pele áspera, marcadapela varíola. Os olhos estavam quase por completoocultos pelas pálpebras abaixadas. Freda sentiu, emsua própria carne, um calafrio sutil, estranhando queum homem tão monstruosamente marcado por umafeiúra diabólica pudesse ter adquirido, à sua maneira,um poder tão grande sobre outros homens. Nomomento em que estava pensando nisso é que Fredatinha ouvido a voz pela primeira vez. — Hugo Weiss deve morrer — disse a voz. — Evocê é que deve matá-lo. Freda compreendera, instantaneamente, que nãose tratava de uma alucinação. A voz era real. Elapodia ouvi-la. A voz falava-lhe com extrema clareza,suavemente, de um ponto logo atrás de seu ouvido

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direito. Freda compreendeu que seria inútil tentarconvencer-se, mesmo que assim o desejasse, de que avoz não passava de um eco dos seus própriospensamentos. Assim, depois do choque inicial de medoe espanto, Freda passou a aceitar a voz comtranqüilidade, quase como se a estivesse esperando,inconscientemente, ao longo de todos aqueles anos. “Mas por que sou eu que devo matá-lo?”, pensouFreda. — Porque foi você quem finalmente merespondeu. “Ninguém mais quis escutar?” — Não se trata de escutar, mas sim de ouvir. “Somente eu, entre todas as pessoas do mundo, éque posso ouvi-la?” — Pelo menos você é a primeira. “O que me dá a capacidade de ouvi-la e a você opoder de fazer-me ouvir? Será que minha doençarecente tem algo a ver com isso?”

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— Não sei as respostas às suas perguntas. Qual é aexplicação para qualquer milagre, a não ser que nãose trata absolutamente de um milagre, mas apenas oefeito raro de causas naturais que nãocompreendemos? Eu falo e você ouve e isso é obastante. “E quem está me falando?” — Não posso dizer. “Por quê?” — Porque eu também não sei. Como uma voz, soumeramente a expressão de um imperativoinconsciente. Expresso tal imperativo, mas não possoter conhecimento da fonte do qual deriva. “Não tenho muita certeza se consigocompreender.” — Isso não tem a menor importância. Voltarei alhe falar, mais tarde. Fora assim o início de seu relacionamento com avoz. Freda jamais pensara em matar alguém antes e

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era realmente extraordinário que ela pudessecomeçar a pensar a respeito agora, com umaserenidade indiferente, como se fosse outra pessoa apensar e planejar, outra pessoa a ouvir a voz e aconviver inteiramente à vontade com aquelespensamentos de morte violenta. Aparentemente, nãohavia qualquer pressa. A voz jamais instara ou forçara Freda a promessas eatos que ela não estava preparada para assumir.Freda começou, um tanto lentamente, a reunir todasas informações que podia encontrar, a respeito deHugo Weiss. Havia bem poucas informações, a maiorparte não digna de muito crédito, pois Hugo Weissera um personagem astucioso e sorrateiro, preferindo agir por intermédio de outros e sempre permanecendonas sombras do anonimato. Era o filho de umoperário. Pela astúcia, traição e crueldademaquiavélica, expressando-se através de umapersonalidade estranhamente compulsiva, num corpo

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horrendo e atrofiado, ele se transformara no homemmais poderoso do Estado. Controlava a cidade ondevivia. Controlava o governador do Estado e oslegisladores. Havia gente influente em Washingtonque escutava com atenção quando ele falava. E HugoWeiss sempre falava em sussurros, por trás dascortinas, nos bastidores.

A investigação do grande júri, evidentemente, nãolevara a nada. Uma das testemunhas morrera emcircunstâncias misteriosas, outra havia perdido amemória, uma terceira desaparecera. De qualquermaneira, era muito duvidoso que o grande júriconseguisse indiciar Hugo Weiss. Tudo começara na primavera. Naquele verão, avoz voltou freqüentemente, falando a Freda quandobem lhe aprazia, sem qualquer coerên cia de tempo oulugar. No outono, Freda reiniciou suas atividadescomo professora de uma turma do sexto ano, numa

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escola elementar perto de sua casa. Ocasionalmente, avoz a visitava durante as horas de aula, o que às vezesera bastante embaraçoso. Era necessário ficar quietapor instantes, completamente imóvel, a fim de ouvir oque a voz dizia, já que, ela falava baixinho. Taismomentos de súbito alheamento, quando Fredapermanecia sentada como uma estátua de pedra, erampercebidos pelos alunos, como não podia deixar deacontecer. Freda receava estar adquirindo areputação de esquisita, mas era-lhe impossívelexplicar que aqueles lapsos aparentes eram naverdade normais e necessários, pois ninguémcompreenderia. Depois de algum tempo, Fredadescobriu que não mais se importava com o que osoutros pudessem pensar a seu respeito. A esta altura, Freda já não tinha a menor dúvida,se é que algum dia tivera, de que terminaria matandoHugo Weiss. Não se sentia messiânica por causa disso.Era simplesmente algo que tinha de ser feito. Por

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algum tempo, Freda ainda se inquietou com asconseqüências possíveis que teria de sofrer. Mas logodescobriu que era incapaz de pensar além do ato dematar Hugo Weiss, como se sua vida também fosseterminar naquele instante, tornando-a eternamenteinvulnerável a qualquer ofensa terrena. De noite,deitada em sua cama, no quarto às escuras, Freda sedivertia ao pensar em Hugo Weiss, onde quer que eleestivesse, fazendo o que estivesse fazendo, numa totalinconsciência de que, em breve, iria morrer pelasmãos de uma mulher que nunca vira e que jamaischegaria realmente a conhecer. Era divertido, muitodivertido mesmo. E Freda ria baixinho para si mesma,na escuridão, um mero sussurro no quarto silencioso.O rosto de Hugo Weiss flutuava acima dela como umaobscenidade ectoplásmica, horrendo e diabólico. Em março, Freda comprou um revólver, calibre32, explicando ao dono da loja que isso lhe daria umasensação de segurança, embora jamais tivesse

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disparado uma arma, em toda a sua vida. Alegou que,como morava sozinha com a mãe numa casa grande,parecia-lhe uma insensa tez não ter qualquer tipo deproteção. O comerciante concordou que era uma boamedida e sugeriu que Freda praticasse com o revólver,nos campos ao redor da cidade, nas tardes dedomingo. Ele vendeu diversas caixas de balas para orevólver. Freda levou a munição e o revólver paracasa, guardando-os com cuidado numa gaveta dapenteadeira em seu quarto. Mas não praticou tiro ao alvo nas tardes dedomingo, pois isso não era necessário. A necessidadeque houvesse seria devidamente providenciada,quando chegasse a ocasião própria. Em princípios de junho, logo depois que as aulasterminaram, para as férias de verão, o longo períodode espera chegou ao fim. E terminou bruscamente,sem qualquer aviso prévio, numa tarde de sol, na salade leitura da biblioteca pública. Freda tinha ido até lá

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sem nenhum motivo em particular, exceto o de que abiblioteca pública era um bom lugar para se ficar,quieto e repousante, com os raios de sol entrandoinclinados pelas janelas altas. Freda ia até láregularmente, até o mais longe de que conseguialembrar-se. Estava sentada sozinha a uma mesa, juntoà janela, com um livro aberto à sua frente. Mas não seestava concentrando no livro, mal percebendo aspalavras escritas, entre os longos intervalos dedevaneios. Mais tarde, não pôde recordar-se do nomedo livro ou de qualquer coisa que lera. — Está na hora de entrar em ação — disse a voz,súbita e suavemente. “Para fazer o quê?”, pensou Freda. — Está na hora de matar Hugo Weiss. Jáesperamos tempo suficiente. “Como?” — Com o revólver. Não comprou o revólver? “Comprei. O revólver e as balas.”

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— Isso é ótimo. Vai ser muito simples. Você verá. “O que devo fazer?” — Em primeiro lugar, é claro, você tem de ir paraa cidade onde ele está. “E depois?” — Vá para um hotel. Mais tarde, na ocasiãoapropriada, irá até o escritório dele. Ele recebe látodos os tipos de pessoas, a maioria à procura defavores. Ninguém achará estranho que você tenha idotambém. Já sabe onde fica o escritório dele? “Já. Fica na parte sul da cidade, perto da estaçãoferroviária. Na Euclid Street.” — É isso mesmo. Pelo que estou vendo, andoupreparando-se devidamente. “Não encontrarei a menor dificuldade para vê-lo?” — Provavelmente não. Ele faz questão de receberpessoalmente todas as pessoas que lhe vão pedirfavores. É uma fraude. Dessa forma é que consegue

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manter seu poder. “E o que acontecerá comigo depois?” — Não se preocupe com isso. Não se preocupe commais nada, além daquilo que precisa fazer. Tendo formulado a pergunta, o que lhe iriaacontecer posteriormente, Freda sentiu por uminstante um medo terrível. No momento seguinte,porém, o medo se desvaneceu. Ela se levantou,devolveu o livro à prateleira e saiu da biblioteca.Chegando a casa, disse à mãe que decidira passar umou dois dias na outra cidade, bem maior, coisa quefazia ocasionalmente, desde que alcançara a idadesuficiente para viajar sozinha. Subiu para o seu quarto e arrumou uma malapequena, com algumas roupas e o revólver carregado.Não tinha a menor sensação de ter chegado a umponto crítico de sua vida, de ser o início de qualquercoisa ou o fim de alguma coisa. Nem mesmo sentiu queera uma mudança radical em sua vida, em relação ao

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que fora antes. Freda sabia que havia um trem quepartia para a outra cidade às 5 horas da tarde. Depoisde arrumar a mala e despedir-se da mãe, ela pegouum táxi e foi para a estação, chegando com váriosminutos de antecedência. Isso acontecera no dia anterior. Agora, Fredaestava num quarto do hotel em que se hospedara.Olhou para o relógio e viu que eram 9 horas damanhã. Parou de escovar os cabelos e levantou-se,vestindo o casaquinho leve que usara no trem. Ficouparada por um momento, a cabeça ligeiramenteinclinada para a frente, numa atitude de abstração,como se, agora que estava preparada para partir,tivesse esquecido para onde devia ir e com quepropósito. Depois, com súbita determinação, tirou orevólver carregado da mala, guardou-o na bolsa e,saindo para o corredor, desceu. Foi pela escada,ignorando o elevador. Caminhava lentamente, nãocomo alguém relutante em chegar a seu destino, mas

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como se fosse um passeio a esmo, sugerindo que nãotinha qualquer destino específico. Na verdade, Freda tinha bastante tempo. Do hotelao escritório de Hugo Weiss, a distância era de quasedois quilômetros. Não seria muito sensato, pensou ela,chegar lá cedo demais. Do saguão do hotel passoupara a sala de café, sentando-se a uma mesinha nosfundos. Uma garçonete levou-lhe o cardápio do caféda manhã, mas Freda não estava com a menor fome,embora nada tivesse comido desde a hora do almoçodo dia anterior. Pediu apenas uma xícara de café. Etomou o café tão devagar que estava frio antes dechegar à metade. Continuou sentada diante da xícarade café frio por mais 10 minutos, antes de partir.Àquela altura, passava um pouco de 9:30 horas. Chegando à Euclid Street, com a boisa debaixo dobraço e ainda caminhando como se passeasse semnenhum destino específico, Freda virou para o sul, nadireção do escritório de Hugo Weiss. Não podia

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recordar-se com exatidão de como descobrira oendereço do escritório. Provavelmente era algo que ela sabia há muitotempo. Afinal de contas, era um local famoso e emvárias ocasiões fora divulgado pelos jornais. Era oprimeiro escritório que Hugo Weiss tivera e também oúnico, duas salas escuras num prédio quase em ruínas,no bairro pobre da cidade. Era uma prova da vaidadedele o fato de ali ter permanecido, ao longo de todosaqueles anos, exercendo o seu poder cada vez maior eamealhando uma fortuna fantástica, no mesmo lugarem que começara. Era outra fraude, pensou Freda.Uma mentira. Uma ilusão de humildade, de ummonstro de vaidade. Percorrendo a rua, Freda sentia-semaravilhosamente bem dispos ta, quase exultante.Tinha a impressão de que era gasosa, mal tocando acalçada de concreto com os pés, prestes a se erguer eflutuar a cada passo. Já se sentira daquela maneira

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algumas vezes, quando era menina, especialmentebem cedo, nas manhãs de primavera, quando selevantava antes dos outros e saía sozinha para oquintal. Na vitrina de uma loja viu um vestido leve doazul mais claro possível, exatamente o tipo de vestidopara a garota exuberante que ela fora outrora e que jánão era mais. Ficou parada diante da vitrina, contemplando ovestido, por vários minutos, apertando a bolsa debaixodo braço, sentindo o revólver que estava dentro dabolsa. Depois, virou-se e afastou-se, chegando logo emseguida a determinado prédio quase em ruínas dobairro pobre da cidade. Na rua, diante do prédio, avoz voltou a lhe falar, pela última vez. E, comosempre, era uma voz de pungente beleza, impregnadapor um sussurro de tristeza. — Aqui está você finalmente. Demorou bastante achegar. “Tem razão”, pensou Freda. “Bastante tempo...”

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Ela continuou a esperar, a cabeça ligeiramenteinclinada para o lado. Mas a voz não tornou a falar.Depois de um ou dois minutos, Freda foi até aentrada do prédio e seguiu por um corredor escuro,do qual saía uma escada estreita, imersa emsombras, que levava ao segundo andar. Freda subiu a escada, hesitando por um momentolá em cima, virando-se em seguida na direção da rua epercorrendo um corredor estreito, onde havia duasportas, com vidro fosco na parte de cima, sem nadaescrito. Freda passou pela primeira porta e foi para a queficava mais perto da rua, abrindo-a e entrando numasala pequena, que parecia exibir um certo orgulhopor seu despojamento miserável. O chão eradescoberto, escurecido e engordurado por muitascamadas de cera. Encostadas em três paredes, haviauma dúzia de cadeiras de madeira. Numa cadeiraestava sentado um velho, num terno listrado de

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algodão, sujo e amarrotado, as mãos encarquilhadascruzadas sobre o colo. Em outra cadeira, na paredeoposta, estava uma mulher de cabelos louros,lustrosos, usando uma pele caríssima a lhe envolver osombros, com uma expressão entediada ecuidadosamente distante. Aqueles dois pareciam ser as únicas pessoa nasala. Mas Freda viu, um instante depois, que haviauma terceira, um homem sentado atrás de umamesinha, junto a uma porta, na quarta parede. Tinhaum rosto magro, com um nariz comprido, por cimada boca quase sem lábios. Era um homem perigoso,capaz de matar, o que era tão perceptível quanto umcheiro ou um som. Embora ele estivesse ali servindocomo recepcio nista, era evidente que sua funçãobásica era de guarda-costas. Fitando-o, Fredaexperimentou uma sensação de incomensurávelsuperioridade, um sentimento inebriante de exultação,que era o clímax da exaltação que experimentara

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durante todo o caminho até aquele lugar. Ninguém,pensou ela, ninguém poderia impedi-la de levar atermo o que ela fora fazer ali. Ninguém, absolutamente ninguém... — Eu gostaria de falar com o Sr. Weiss — disseFreda ao homem. — Seu nome? — Freda Bane. O homem levantou os olhos para fitá-la, com umbrilho de desdém, tornando a baixá-losimediatamente, contemplando as mãos bem abertassobre a mesa, como se estivessem dedilhando cordassilenciosas de um teclado invisível. — Tem hora marcada? — Não. Mas vim de muito longe, de outra cidade.E gostaria de vê-lo apenas por uns poucos minutos. Émuito importante. — É sempre importante, sempre... O homem deu de ombros, cruzando os dedos.

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— Sente-se numa das cadeiras vagas. Ele areceberá. Sempre recebe todo mundo. Freda foi sentar-se na cadeira mais próxima.Ficou empertigada, os tornozelos juntos. A bolsaestava no colo, debaixo de suas mãos. Podia sentir orevólver lá dentro. Em determinado momento, chegoua entreabrir a bolsa, o suficiente para enfiar uma dasmãos e sentir o aço frio. Foi um gesto extremamente íntimo e excitante,como tocar a carne da pessoa amada. Freda quasegemeu de tanto excitamento. Ela deve ter ficadomuito distraída e distante, pois levou algum tempopara perceber que o velho não mais se encontrava nasala e a mulher de cabelos louros e abrigo de pelesestava cruzando a porta para a sala contígua ondedesa pareceu. Freda continuou sentada na cadeira,sempre empertigada, mas não mais exultante comoantes. Continuava serena e com um sentimento queera mais de resignação que outra coisa qualquer.

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Pouco depois, o homem atrás da mesa fitou-a esacudiu a cabeça ligeiramente, na direção da porta aseu lado. — Pode entrar agora — disse ele. — Obrigada. Freda ficou imaginando qual o sinal que elerecebera para saber que estava na hora de deixá-laentrar. Talvez houvesse alguma pequena luz nafrente da mesa. Devia ser alguma coisa que não fizesseo menor ruído. Levantando-se, segurando a bolsa comas duas mãos, à sua frente, Freda encaminhou-se paraa porta e passou para a sala contígua, da qual amulher de cabelos louros devia ter saído diretamentepara o corredor. E dentro daquela sala, por trás de uma velhaescrivaninha de carvalho escuro, dois metros além dechão sem tapete, estava sentado Hugo Weiss, a quemFreda iria matar a tiros, exatamente dali a 16segundos.

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Ele era tão baixo que apenas a cabeça e os ombroseram visíveis acima da escrivaninha. Mas quandoFreda se encaminhou em sua direção, Hugo Weisslevantou-se subitamente e contornou a mesa paracumprimentá-la, o corpo raquítico e atrofiado àmostra, o rosto horrendo bem visível, quando eleparou, iluminado pela luz que entrava através daúnica janela da sala. Era o mesmo rosto que Fredavira no jornal e flutuando como uma visãoectoplásmica no quarto escuro de sua casa, um rostode uma feiúra obscena. Havia uma única diferença,que Freda pôde perceber à luz fraca que entrava pelajanela, uma diferença que a deteve por algunssegundos: a diferença estava nos olhos. Freda via àsua frente olhos suaves e gentis, os olhos de umamulher oprimida pelo sofrimento. — Meu nome é Freda Bane — disse ela, sentindo,naqueles segundos finais, que era de uma importânciafundamental que se identificasse.

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E assim que acabou de falar, Freda teve aimpressão de que os olhos suaves de Hugo Weiss searregalaram com uma espécie de choque, para logodepois se iluminarem com uma expressão de alívioinfinito. Freda teve a sensação de que Hugo Weisssubitamente reconhecera a voz dela, como se se tivessematerializado de um sonho freqüente, um sonho doqual ele jamais conseguira recordar-se nitidamente aoacordar, até aquele momento. — Entre — disse ele. — Entre. A voz dele era gentil, compatível com os olhos. A voz era sempre gentil, invariavelmente suave, deuma beleza pungente, com um sussurro de tristeza aimpregnar a pronúncia das vogais e consoantes, comouma brisa ligeira a murmurar por entre as árvores, aocrepúsculo.

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Serapião e as Reformas

- Bom dia, aqui que é a firma que tá fichando?- Sim, vamos preencher sua ficha. Nome por

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favor.- Serapião de Oliveira Bras- Muito comprido, não cabe na linha, pode abreviar?- Abrevia o nome do meio- Ok. Serapião de O Bras! Que tipo de serviço o senhor faz?- Faço de tudo, até reforma.- Muito vago, pode dar uma esplanada?- Quer que eu faça uma reforma na esplanada? Pra Saúde eu recomendo o Vivaldo, meu irmão mais espertinho; pra Agricultura, o Agripino, agricultura e pepino, é com ele mesmo, meu irmão caçula. Pra Educação, minha irmã Escolástica, nasceu pra ser professora, nunca repetiu dois anos

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seguidos- O problema tá na Justiça, tem que ser um cara totalmente imparcial e que “não deixa passar uma vírgula”- Virgulino, meu irmão, nunca fez parte de bando nenhum...- Aposto que você tem 23 irmãos, um pra cada predinho daqueles... Segunda Edição:

- Bom dia, já tem o resultado da entrevista de emprego?- Nome?- Serapião de O Bras- Tou vendo sua ficha aqui... O senhor indicou

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um monte de gente, qual o fone de contato deles?- Tem telefone não, eles só falam pessoalmente!- Ok. Pegamos mais uma obra, uma reforma no prédinho da Previdência, indica alguém?- Esperança, minha irmã mais otimista!

- Seu Serapião, a indicação de seu irmão Virgulino pra Justiça não foi muito bem vista- Uai, porque?- Dizem que ele "perde a cabeça" muito fácil. E querem um cara que realmente tranque os criminosos na cadeia.- Meu irmão Trancoso, então...

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Terceira Edição?É que o negócio lá na esplanada muda toda hora...

The day afther

- Seu Serapião, não adianta insistir, "os home" não aceitaram seu irmão Virgulino pra'quele serviço.- Por que? É o cara perfeito, cai como uma luva...- Eles não estão confiando que o Virgulino não pertença a nenhuma facção, além disso aquele namoro dele com a Maria Bonita Recatada e do

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Lar foi muito escandaloso! Aquela foto dela na frente da obra não fez muito bem à imagem dele Mas, falemos do senhor, então. Tão nobre, apenas preocupado com sua família, indicando seus irmãos pro trabalho.- Dizem que a equipe tem que funcionar como uma família, então...- Tou vendo aqui na ficha, o senhor já trabalhou como segurança?- Sim.- Sabe lidar com "suspeito"?- Sim, como manda Jesus, não julgo para não serjulgado.- Perfeito, o senhor vai ser o nosso mestre de obra lá na esplanada!

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- Vou precisar de uns serventes, posso levar os manos Tristão, Antão, Orélio, Jaque (está Parado), e a Florinda?- Os meninos sim, mas nessa obra tá meio complicado prá mulher.. E vamos resolver logo esse negócio antes que vire comédia...- Tá, dá tempo de chamar meu irmão Hilário e a mana Maria das Graças?

- Serapião, pegamos mais uma obrinha.

- Que bom, é grande?

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- Essa é menorzinha, sabe aquele prèdinho da cultura lá na esplanada?- O que foi demolido, para economizar?- Aquele mesmo, vão construir de novo!- E o senhor precisa de um artista pra essa obra?- Na verdade teria que ser um grande astro...- Astrogildo, meu irmão!- Mas ele já está nas pesquisas espaciais- Sem problema, ele acumula, artista só aparece de noite, e se é só pra representar...

- Bom dia Serapião! Tudo bem?- Mais ou menos, preciso falar com o senhor.- Pode dizer, Serapião, sem rodeios!

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- Não dá mais pra mim...- Por quê? Tava indo tão bem!- É mais agora não dá. Aquela obra lá na Transparência não dá pra pegar não... Ninguém da minha família usa isso de transparência...- Logo você, que o maior “traz parente”- E tem mais. Todo dia muda o nome do prédio etem que pintar a fachada. Esse negócio de fachada não é comigo.- Tá bem, pode ir, mas leve junto todo o pessoal que você trouxe, então...– Pensando bem, vamos tentar mais um pouco!

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Frases do machão Zé Pirata

Adoro gay; é um concorrente a menos!

Sou fã da Barra da Saia. Vive trocando de

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mulher, viola, violão, violino, uma mais talentosa que a outra!

Não sei porque, mas sinto uma atração irresistível pela palavra "fêmea".

O bom é quando você pensa que foi e ela ainda está indo.

Um grande pensador disse que a sensualidade é o pedaço descoberto entre a luva e a manga.

Mais vale descobrir uma musa, do que cobrir ummuseu!

Houve um tempo em que "frutinha" era uma

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coisa. Mas hoje tem mulher pera, mulher melão, mulher melancia. Só que eu ainda admiro uma Camila Pitanga.

Duro é quando você pega uma mulher abacaxi...

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BASEADO EM FOTOS REAISZé Pirata viu uma série de fotos, do antes e depois, da fama, da idade, ou do dinheiro e decidiu fazer alguns comentários. Mas para não receber uma série de processos e ficar com menos dinheiro do mínimo que já tem, falou tudo o que tinha vontade, mas não falou de quem. Aí você aplica em quem você quiser..

Ficou mais velho, mas ainda tem a mesma bocarra dentuça de sempre.

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Continua com aquele jeito de viadinho

Tirando o chapéu, ficou muito feio. Vai ver que bonito era o chapéu.

Continua linda! Sempre foi!

Esse fez milagre. De gordo e feio, ficou menos gordo e menos feio!

De ternura, virou um tesão. Quem mandou crescer e tirar a roupa?

Fazia humor, mas hoje virou um drama.

Fez um monte de tatuagens para parecer que é

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homem mas continua com brinquinho e as mãozinhas viradas.

Ela mudou o cabelo para encobrir a testa, mas o rosto continua chupado para baixo.

Essa virou mulher!

Tinha a taça, hoje ele tem a tosse!

De feio, ficou mais feio.

Conseguiu alisar o cabelo, mas continua feio.

Mudou o cabelo,virou apresentador de TV, mas a voz continua a mesma.

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Era uma delicia, ficou deliciosa! Quem mandou fazer foto sem roupa?

Colocou chapéu, cobriu o rosto, no meio do canavial, tão linda que ninguém pensou que era o Zorro.

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BASEADO EM FILMES REAIS

Quando dá vontade de matar o diretor:

Quando ele coloca uma mulher linda no filme e mata ela na primeira cena... Assim num dá... Atéhoje estou chorando a morte daquela vítima do terrorista!

Quando o bandido vence no final e ainda por cima com jogo sujo.

Quando o diretor inventa um filme NOVO

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daqueles que a turma sai com uma maldita câmera defeituosa e vai filmando tudo muito mal filmado para dizer que é real. Não mostra nada até que todo mundo e a paciência do cinéfilo (onde o Zé Pirata achou isso?) estão mortos.

Quando cinco caras começam a disparar metralhadoras e o mocinho com uma única pistola (esse é bom mesmo!) CONSEGUE desviar dos tiros, pulando por aqui e por ali, deitando, rolando como um cão sarnento, até matar todo mundo. Só se for de rir...

Quando o diretor faz tudo às escuras. Escurinho no cinema é bom quando você vai com uma gata

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é quer ficar bem quietinho, apalpando lá e acolá.Mas quando você quer entender o filme e o diretor só filma escuridão, para não ter que gastar com efeitos especiais, dá uma vontade especial de estrangular o dito cujo, bem no escurinho para ninguem ver a cara dele enquantoestá morrendo..

Quando o “mocinho” perde no começo, apanha no meio do filme, é derrotado no final e, só lá naúltima cena atira no bandido. Mas o maldito diretor não mostra se ele acertou…

E vem aquele THE END