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Cordialidade e civilidade em raízes do Brasil * http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_12/ rbcs12_01.htm George Avelino Filho (*) AVELINO , George. . Cordialidade e Civilidade em Raízes do Brasil . Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 5, n. 12, 1990. O objetivo de Raízes do Brasil, dentro do leque de questões que mobilizou o debate intelectual nos anos 30, é o de tentar compreender a sociedade brasileira a partir da questão da existência ou não de um "tipo próprio de cultura". Entretanto, antes de procurar definir este tipo, caberia investigar até que ponto ainda nos encontramos dentro dos padrões legados pela colonização ibérica, "(...) único esforço bem sucedido, e em larga escala, de transplantação de uma cultura europeia para uma zona tropical e subtropical" (Holanda, 1936, p. 3) . O livro é aberto com a discussão sobre as sociedades ibéricas. Estas são analisadas a partir de sua posição geográfica nas fronteiras da Europa, intermediárias entre a Europa e a África e zonas de transição do continente. Uma posição limítrofe que será de grande importância para a compreensão do lugar específico ocupado pela cultura de tais sociedades no interior do chamado "europeísmo" (1). A característica principal deste tipo de mentalidade foi, segundo Sérgio Buarque de Holanda, o desenvolvimento extremado da "cultura da personalidade", que se definia pelo valor dado à autonomia do homem e à ausência de qualquer tipo de dependência; uma espécie de "individualismo radical" que produz uma situação de luta e competição constantes na busca da auto-superação e acréscimo de prestígio pessoal. Outro aspecto de interesse foi a ausência, quase geral, do princípio de hierarquia,

FILHO, AVELINO. Cordialidade e Civilidade Em Raízes Do Brasil

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Sociologia, historicidade, Pensamento Social Brasileiro Sérgio Buarque de Holanda.

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Cordialidade e civilidade em razes do Brasil *

http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_12/rbcs12_01.htmGeorge Avelino Filho (*)AVELINO, George. .Cordialidade e Civilidade em Razes do Brasil. Revista Brasileira de Cincias Sociais, So Paulo, v. 5, n. 12, 1990.O objetivo deRazes do Brasil, dentro do leque de questes que mobilizou o debate intelectual nos anos 30, o de tentar compreender a sociedade brasileira a partir da questo da existncia ou no de um "tipo prprio de cultura". Entretanto, antes de procurar definir este tipo, caberia investigar at que ponto ainda nos encontramos dentro dos padres legados pela colonizao ibrica, "(...) nico esforo bem sucedido, e em larga escala, de transplantao de uma cultura europeia para uma zona tropical e subtropical" (Holanda, 1936, p. 3) .

O livro aberto com a discusso sobre as sociedades ibricas. Estas so analisadas a partir de sua posio geogrfica nas fronteiras da Europa, intermedirias entre a Europa e a frica e zonas de transio do continente. Uma posio limtrofe que ser de grande importncia para a compreenso do lugar especfico ocupado pela cultura de tais sociedades no interior do chamado "europesmo"(1).

A caracterstica principal deste tipo de mentalidade foi, segundo Srgio Buarque de Holanda, o desenvolvimento extremado da "cultura da personalidade", que se definia pelo valor dado autonomia do homem e ausncia de qualquer tipo de dependncia; uma espcie de "individualismo radical" que produz uma situao de luta e competio constantes na busca da auto-superao e acrscimo de prestgio pessoal. Outro aspecto de interesse foi a ausncia, quase geral, do princpio de hierarquia, enfraquecendo as formas de organizao que tinham por base a solidariedade e a ordenao. "Em terra onde todos so bares no possvel um acordo coletivo durvel, a no ser por uma fora exterior respeitvel e temida." (Holanda, 1936, p. 5).

Nestes termos, a cultura da personalidade obstculo a qualquer forma de associao que tenha por base os interesses. A possibilidade de unio se d muito mais atravs dos sentimentos, e so estes que forjam o nico tipo de disciplina possvel nessa situao: a obedincia cega. Esta, na medida em que no se estrutura sobre qualquer tipo de contrato ou lealdade tradicional, a nica que pode existir num ambiente cujo apelo emocional intenso, e onde o exerccio constante da fora apresenta-se como necessidade.

A colonizao realizada pelos portugueses no teve um carter metdico e racional. Pelo contrrio, o colonizador portugus se distinguiu justamente pela sua capacidade de adaptao e identificao core a nova terra e seus nativos; de forma a pouco interferir em seu cotidiano e ser capaz de repetir a sua rotina. Foi esta capacidade plstica a razo de seu sucesso frente a um meio natural desconhecido, e teria sido a ausncia desta capacidade o motivo do fracasso da tentativa de colonizao holandesa no Nordeste.

Divergindo nesse aspecto - da colonizao espanhola - que procurava, com variados graus de intensidade, superpor sua cultura cultura local, de forma a torn-la um prolongamento da sua -, a colonizao portuguesa teve uma feio marcadamente prtica, concreta e pouco espiritual. Ela foi obra do tipo aventureiro - o audacioso que segue uma tica de valorizao elos esforos que tenham compensao imediata e no tem limites em sua capacidade de explorao -, em detrimento, mas no excluso, do tipo trabalhador, que valoriza o esforo metdico e persistente rumo compensao final, bem como a estabilidade, a paz e a segurana pessoal. Esta incapacidade de abstrao, discriminao e planejamento resulta numa sociedade desorganizada, agitada apenas por pendncias entre faces ou famlias.

A ausncia de projeto, de dedicao permanente, e a busca da riqueza fcil, expressivas no tipo aventureiro, deram colonizao portuguesa um ntido aspecto de explorao comercial; de "feitorizao muito mais do que de colonizao", que se exprime no apenas na ocupao restrita ao litoral, de fcil comunicao com a metrpole, como tambm no predomnio inconteste do rural sobre o urbano. Mais do que uma imposio do meio, a fora esmagadora do ruralismo principalmente uma realizao do esforo colonizador portugus. Da a fraqueza das cidades, j que elas podem ser concebidas como uma habitao essencialmente antinatural. O meio urbano impe planejamento, investimento e trabalho constantes para a manuteno de sua vitria sobre a natureza. Ele tem um carter secundrio, artificial, exigindo para si mais do que a pura e simples explorao da terra.

"(...) a cidade que os portugueses construram na Amrica no produto mental, no chega a contradizer o quadro da natureza, e sua silhueta confunde-se com a tinha da paisagem. Nenhum rigor, nenhum mtodo, sempre este abandono caracterstico, que se exprime bem na palavra desleixo (...)" (Holanda, 1936, p. 62) .A virtual inexistncia de cidades e a limitao mercantil dos objetivos da metrpole conformaram o domnio rural como uma unidade autnoma e auto-suficiente. Mas o que distinguiu este tipo de domnio foi o papel central ali exercido pelas relaes familiares, entendidas num sentido amplo. A famlia colonial organizou-se, de maneira semelhante quelas da Antiguidade Clssica, (...) estreitamente vinculada idia de escravido, e em que mesmo os filhos so apenas os membros livres desse organismo inteiramente subordinado ao patriarca (...)'' (Holanda, 1936, p. 87). Este princpio de autoridade, oriundo da esfera domstica; foi, segundo Srgio, um dos suportes mais estveis da sociedade colonial.

A fora do princpio patriarcal de autoridade tem uma contrapartida psicolgica: o ambiente domstico acompanha o indivduo mesmo quando este se situa fora dele. quando o privado transborda para o pblico."A nostalgia desse quadro compacto, nico e intransfervel, onde prevalecem sempre e necessariamente as preferncias fundadas em laos afetivos, deixou vestgios patentes em nossa sociedade, em nossa vida poltica, em todas as nossas atividades." (Holanda, 1936, p. 89).O homem cordial a sntese de todo esse processo. A herana ibrica, especfica dentro da Europa, consegue manter-se estruturada enquanto viso de mundo, passando ao largo das grandes transformaes que abalaram a sociedade europia, como a Reforma protestante e as revolues cientficas, e apontaram para o caminho de uma maior racionalizao das relaes sociais. Tal caminho francamente distinto daquele trilhado pela cultura da personalidade. Esta resistia a qualquer tipo de viso de mundo que, ao fundamentar-se num princpio abstrato e ordenador, exigia disciplina para sua consecuo. Ser esta cultura, de limitada capacidade de abstrao, objetivao e planejamento, que engendrar o processo de colonizao de uma forma quase anrquica. Ele ser estruturado em grandes propriedades monocultoras e escravistas, fechadas em si mesmas, com maior relao com o exterior da colnia, a Metrpole principalmente do que com seus vizinhos. Da a fora do princpio mais bsico de autoridade, a autoridade patriarcal, e sua exigncia indiscutvel de obedincia e submisso.

A quase inexistncia de uma mo-de-obra livre e de um grupo social intermedirio entre senhores e escravos dificultava o surgimento de uma viso de mundo alternativa e mais afeita ao processo de "desencantamento" pelo qual passou o mundo europeu. Desta forma, a vida domstica e familiar oferecia: o parmetro para qualquer tipo de contato. Isto significou o predomnio de relaes humanas mais simples e diretas, que manifestavam horror a qualquer, forma de distncia social e procuravam sempre uma maior aproximao - uma maior intimidade - com a pessoa ou objeto, de maneira a torn-los mais familiares, mais concretos e mais acessveis:

A fora da cordialidade foi to grande entre ns que penetrou em terrenos classicamente constitudos sobre uma relao impessoal. Um dos exemplos utilizados por Srgio o do "mundo dos negcios", lugar por excelncia do clculo e do nmero, onde passa a existir uma tendncia devido limitao das relaes pelo pequeno crculo de comrcio - a tornar conhecidos o vendedor e seus compradores, e confuso entre o cliente e o amigo na figura do fregus.

Est "invaso" ocorre mesmo em relao forma clssica de "desencantamento do mundo": a sistematizao religiosa. A necessidade de intimidade manifesta-se na recusa do ritual religioso e na liberao da obrigao, rigor e disciplina do culto. Essa aproximao, essa familiarizao que marcava o culto nas capelas das grandes fazendas, transformava a entidade sagrada em um amigo pessoal; e entre amigos no h por que no abandonar o rigor e as formalidades. Ao liberar o fiel de todo o esforo de enquadrar-se no ritual coletivo, nossa religiosidade perde seu sentido conto tal e afasta-se das caractersticas clssicas de abstrao e sistematizao do mundo.

A uma religiosidade de superfcie, menos atenta ao sentido ltimo das cerimnias do que ao colorido e pompa exterior; quase carnal em seu apego ao concreto e em sua rancorosa incompreenso de toda a verdadeira espiritualidade transigente, por isso mesmo, e pronta a acordos, ningum pediria certamente que se elevasse a produzir qualquer moral social poderosa. Religiosidade que se perdia e se confundia em um mundo sem forma, e que, por isso mesmo, no tinha foras para lhe impor uma ordem." (Holanda, 1936; p. 108).Portanto, a religio entre ns no apenas no representou um esforo de totalizao do mundo como fracassou no sentido de organizar os indivduos sob a gide de uma tica racionalizada - um princpio supra-individual de organizao onde estariam sistematizadas as relaes humanas.A dificuldade de abstrao gerada pela socializao no ambiente domstico traduz-se tambm nos empecilhos encontrados para a instituio de um Estado burocratizado. A organizao estatal, estruturada sobre um corpo burocrtico de funcionrios, exige a adoo de regras precisas e impessoais. Desta forma, sua legitimidade a emanao de um princpio racional e abstrato e, logo, acima de qualquer tipo de vontade singular. Para constituir-se, tal Estado tem como pressuposto exatamente uma ruptura com a mentalidade domstica que distingue a cordialidade. Caso contrrio, repete-se um roteiro conhecido: a apropriao do impessoal pelo pessoal, do abstrato pelo concreto, do objetivo pelo subjetivo, do coletivo pelo particular, do pblico pelo privado.

No ltimo captulo deRazes do Brasil, Srgio introduz o processo pelo qual a herana colonial se desagregava: uma revoluo lenta, quase imperceptvel, cujo incio era difcil precisar, mas que a partir de 1888, com a Abolio, assumira um rumo irreversvel em direo ao fortalecimento e emancipao dos centros urbanos frente ao ruralismo anterior. A ascenso das cidades rompia com a ordem social anterior, as grandes propriedades rurais e escravistas, e criava condies para o surgimento de uma nova sociedade: urbana e industrial. Entretanto, desagregao dos pressupostos sociais da herana ibrica no correspondia uma nova mentalidade capaz de impulsionar definitivamente o novo sistema. Tal descompasso expressava-se na passagem de uma relao adequada entre a estrutura social colonial e a cordialidade, para uma situao onde as mudanas naquela estrutura condenavam o antigo tipo de sociabilidade sem lograr substitu-lo por algo de novo.Srgio no concebe a cordialidade como carter nacional, ou qualquer tipo de "essncia" que permaneceria ao longo da histria. A exposio da cultura ibrica antes da discusso do processo de colonizao procura evitar o erro de se ver a sociabilidade cordial como um produto tpico da estrutura social da colnia. O ruralismo, a recusa de hierarquias, a fora do ncleo familiar e todas as outras caractersticas que compem a cordialidade j eram conhecidas dos colonizadores portugueses. A cordialidade o resultado direto da materializao da "cultura da personalidade" na colnia; somente com o processo de urbanizao que a cordialidade, junto com a influncia ibrica, comea a enfraquecer-se.Herana ibrica, ruralismo e cordialidade so coisas que andam juntas. O impasse aparece na transio entre uma mentalidade remanescente e outra por surgir. Mas se no pensamos numa simples substituio, qual o papel, ainda que evanescente, a ser desempenhado pela cordialidade na constituio de uma cultura nacional adequada aos novos tempos? A noo de civilidade(2)tem aqui uma importncia bsica, na medida em que ela o polo oposto desta tenso, e Srgio a utiliza de duas maneiras.A primeira delas quando entende a civilidade, nos moldes weberianos(3), como o processo de racionalizao e impessoalizao das relaes humanas; e onde a civilidade seria a representao da prpria "jaula de ferro" (Weber, 1981). Neste caso, a cordialidade lhe contraposta como representao de relaes humanas mais afetivas, vivas e menos abstratas. Se, ainda dentro desta tradio da sociologia alem, entendemos a impessoalizao e a formalizao rgida das relaes humanas como produto do "desencantamento do mundo", podemos conceber a cordialidade como algo fora desse processo de racionalizao e umbilicalmente ligada cultura ibrica. Seguindo a vertente modernista que desenvolveu uma crtica civilizao moderna, podemos perceber que a cordialidade, enquanto manifestao de nossa "verdadeira realidade", coloca a possibilidade de uma alternativa em relao ao processo clssico da racionalizao/impessoalizao sofrido pelas culturas europias(4). Isto se expressaria nas crticas importao das mscaras e artifcios que compem a civilidade, consideradas entre ns como caricaturas e afetaes e como formas que no combinam com o seu contedo.

Entretanto, se a civilidade pode ser caracterizada como composta de relaes artificiais e padronizadas, em oposio s relaes familiares baseadas no afeto e no sangue, existem as exigncias imperativas das novas condies de vida - um processo pelo qual "a lei geral suplanta a lei particular" -, que se manifestam na urbanizao e na industrializao. A inadaptao da formao domstica a essa nova situao flagrante. A civilidade, agora, apesar de ainda ser vista como mscara, o instrumento que permite a individualizao das pessoas e sua integrao de forma autnoma em um todo mais amplo: o "mundo" ou asociety.

Norbert Elias (1973, 1975 e 1982) discute a civilidade a partir do que ele chama de processo civilizatrio. Ele parte da oposio entre o conceito alemo de cultura e o de civilizao utilizado por ingleses e franceses, e considera que o elemento-chave desta oposio a formao de umasocietycentralizada e unificada que assume a funo de paradigma a ser imitado.

Ausente na Alemanha, pelo prprio esfacelamento do territrio em diversos pequenos Estados, asocietyteve - principalmente no caso da corte francesa, o objeto do estudo - um papel de grande importncia no surgimento e consolidao da idia de Nao, e imprimiu, em determinados perodos, sua marca lngua, s artes, s estruturas emocionais e s maneiras desses povos. Nesse sentido, a constituio dessasociety, desse centro poltico, econmico e intelectual, confunde-se com o prprio processo civilizatrio.

Para Elias, este processo de civilizao compreenderia no s a tendncia monopolizao do poder, como tambm uma nova sociabilidade que se forma naquele processo. A corte, ento, o objeto privilegiado para este tipo de estudo, na medida em que sintetiza os dois aspectos do problema. Ela o ncleo central dasocietyem formao, a sede do poder, cuja constituio exigiu uma transformao dolorosa e radical dos antigos modos de vida.

"Exige-se, pois, do nobre uma regulao nova e mais profunda, um condicionamento do comportamento que a vida dos cavalheiros antiga no postulava e no permitia. esta a conseqncia da dependncia bem maior dentro da qual se encerra o gentilhome: ele no mais o homem relativamente livre, o senhor de sua casa, que considera sua casa como os limites (cadre) verdadeiros de sua vida. Ele serve o prncipe. Ele assegura o servio mesa. Ele encontra muita gente e preciso que ele respeite escrupulosamente a posio de cada um. Deve aprender a medir com preciso seus atos e gestos. Deve controlar sua linguagem e suas opinies. O novo espao vital e a nova forma de integrao impem aos homens uma nova autodisciplina, uma conteno infinitamente mais forte." (Elias, 1973, p. 314, traduo minha).

Richard Sennett (1978) retira a civilidade da corte e a coloca no espao urbano. Para ele, a civilidade a engrenagem que faz funcionar a sociabilidade no meio urbano do Antigo Regime(5); as formas de sociabilidade impessoais que permitiam o contato e o relacionamento num mundo novo, povoado de estranhos. Assim, preciso saber guardar as distncias necessrias, de maneira a aliviar o outro da carga do prprio eu e tornar prazerosa a relao social. Base deste tipo de mundo poltico, a civilidade definia-se no desempenho de determinados papis, de maneira que o artificial torna-se o meio de expresso, a ponte que permite o contato entre os desconhecidos.

exatamente esse carter artificial e artstico da civilidade que ser explorado por Sennett. A civilidade seria o exerccio de um jogo que teria como pressuposto a utilizao de mscaras por seus participantes, de forma a garantir-se as distncias necessrias para o seu pleno desenvolvimento.

Foi com o surgimento das grandes cidades industriais, a partir do sculo XIX, que a deteriorao do antigo mundo pblico aconteceu, acompanhada da valorizao da idia de personalidade que concebe o indivduo a partir da sua singularidade. A nova concepo de indivduo no mais impessoal e deve levar em considerao a particularidade de cada um. Ele visto agora como algo nico, uma personalidade cuja identidade se localiza no conhecimento de sua histria pessoal e de suas emoes particulares(6), e este conhecimento exige sua retirada do mundo pblico. O homem procura suas emoes, sua verdade escondida, e perde a habilidade de relacionar-se em pblico, de medir as distncias, de desempenhar seu papel.

A abolio das distncias suprime tambm a capacidade de uma ao coletiva motivada a partir de dados objetivos e da fixao clara dos interesses comuns. A expresso ativa requer esforo humano, e este esforo pode ter xito somente na medida em que as pessoas limitem o que elas expressam para outra (...) (Sennett, 1978, p. 262; traduo minha). A civilidade a sntese destas formas comuns de expresso, a capacidade de aperfeio-las e objetiv-las e que torna possvel serem reconhecidas por todos. Essa capacidade expressiva permite uma ao comum embasada em interesses claros e definidos e no o carter vago, amorfo e opressor da emoo. Quando a procura dos interesses comuns substituda pela busca da identidade comum a partir de uma emoo comum, nega-se a civilidade e a possibilidade de admitir o outro como diferente, j que isto, paradoxalmente, exige a distncia e a diferena. o uso das mscaras que permite a abstrao das circunstncias pessoais e o livre curso da sociabilidade. Se esta ltima pode ser considerada como um jogo, a civilidade constitui-se nas regras deste jogo, cujo reconhecimento garante sua existncia prtica.

Tanto Elias na corte, como Sennett na cidade colocam como condio principal para o surgimento da civilidade a quebra do localismo e da intimidade. A conteno dos impulsos pessoais leva criao de formas artificiais de sociabilidade, reconhecidas por todos, e capacitao do indivduo em lidar com seu exterior de forma mais neutra do ponto de vista afetivo. Assim, forja-se o indivduo civilizado, capaz de determinar de forma independente seus interesses e constituidor de um espao pblico.Por meio dessa estandardizao das formas exteriores da cordialidade, que no precisam ser legtimas para se manifestarem, revela-se um dos mais decisivos triunfos do esprito sobre a vida. Armado dessa mscara, o indivduo consegue manter sua supremacia ante o social. E, efetivamente, a polidez implica uma presena contnua e soberana do indivduo." (Holanda, 1936, p. 102) .O que salta aos olhos justamente a incompatibilidade entre a civilidade - ou polidez, na citao acima - e a cordialidade. Isto porque esta ltima, como vimos, produto de uma socializao atravs da famlia patriarcal, onde a idia do domstico tinha uma amplitude quase ilimitada. Da a dificuldade que o "homem cordial" tem de distinguir entre um espao pessoal e outro impessoal, entre dois tipos de linguagens inteiramente diferentes, e sua rejeio a qualquer tipo de sistema abstrato e coletivo, exigente e disciplinador(7). Ele incapaz de compreender a necessidade do ritualismo como algo que deve ser visto e compreendido por todos e a necessidade da distncia e da artificialidade como condio para a socializao das pessoas em um mundo distinto do ambiente familiar.O localismo, o apego ao concreto, o sentimento que particulariza tornam a, socializao cordial imprpria para a constituio do pblico. neste aspecto que Srgio, observa a inadequao deste tipo de formao com as necessidades dos novos tempos, onde a ordem familiar foi abolida. Isto explica a fora do patrimonialismo entre ns, onde no existiu aquela ruptura clssica entre famlia e Estado, e onde este ltimo ainda conduzido como um prolongamento da vida domstica.

A idia de cordialidade, repito, no pode ser compreendida de forma alguma como carter nacional ou qualquer tipo de essncia imutvel, mas como um conceito til para o bom entendimento do nosso passado colonial e de sua crise. Alm disso, Srgio no concebe a cordialidadecom um bem extico; perdido pelas sociedades, mais racionalizadas, do qual ns seramos os "felizes guardies". Ele no se deixa convencer, pelo menos no plenamente, como veremos, pelas "verdades" do sentimento e da emoo. Ao colocar a civilidade como o tipo oposto ao da cordialidade, ele percebe as nossas dificuldades s portas do mundo moderno.

A oposio cordialidade-civilidade tem sua leitura mais simples e conhecida na oposio entre a cordialidade representada por uma emoo verdadeira e natural, o "fundo emocional rico e transbordante)" que caracteriza, o ambiente familiar, e a civilidade como mmica, artifcio e impessoalidade. Tratar-se-ia, simplesmente, de valorizar a relao cordial em oposio esterilizao dasemoesrealizada pela racionalizao advinda do capitalismo.

Mas, felizmente para ns, Srgio um autor mais complexo. Tratando a cordialidade de forma objetiva, ele capaz de apreend-la como conceito-sntese da nossa herana colonial e constatar que est "cultura herdada" est se esfacelando pelas modificaes que se operam na estrutura social. A cordialidade torna-se passado. Entretanto, a discusso da influncia dos nossos ancestrais , ainda um dado de grande importncia na anlise do processo que se desenvolve. Se recuperarmos a sua crtica ao intelectualismo e racionalizao, que pressupem a reduo e morte da espontaneidade e da pluralidade da vida, poderemos entender a discusso a partir do problema de como modernizar-se sem objetivar e reduzir s relaes sociais. Este aspecto se coaduna com a concepo modernista de recuperar no passado a especificidade da cultura nacional, de forma a relacion-la e integra- l - como contribuio particular - ao moderno e ao universal. O estudo e compreenso da vida e morte da herana colonial podem abrir as portas a uma possibilidade de modernizao que evite os caminhos clssicos do "absolutismo da razo".

A outra perspectiva de encarar a polaridade, compreend-la a partir da incompatibilidade entre a cordialidade e a democracia, entre a vida domstica e a vida democrtica. Vimos como a socializao dentro da famlia patriarcal gera indivduos incapazes de distino entre o subjetivo e o objetivo e como a viso de mundo moldada naquele ambiente carrega emocionalmente qualquer tipo de relao. Isto obstaculiza as formas de associao que se embasam em interesses objetivos e na separao entreopblico e o privado. A civilidade j no mais um smbolo de impessoalidade, cria condio de existncia do poltico e de uma sociedade democrtica.Ora, o diagnstico de Srgio sobre as transformaes que estavam ocorrendo podia levar concluso de que estas favoreceriam o surgimento de uma prtica democrtica entre ns. Entretanto, a urbanizao no era seguida por uma transformao efetiva em nossa cultura. Ainda nos orientamos pelo modelo poltico do Imprio.

"O trgico da situao est justamente em que o quadro formado pela monarquia ainda guarda seu prestgio, tendo perdido sua razo de ser,etrata de manter-se como pode, no sem grande artifcio. O Estado brasileiro preserva como relquias respeitveis algumas das formas exteriores do sistema tradicional depois de desaparecida a base que as sustentava. Uma periferia sem um centro. A maturidade precoce, o estranho requinte de nosso aparelhamento de Estado, uma das consequncias mais tpicas dessa situao." (Holanda, 1936, p. 141) .Dessa forma, o que era antes "solidez orgnica" - um Estado forte que, na inexistncia deumtecido social organizado, se impunha s rivalidades e sectarismos e cujo aparelho era apropriado e controlado pelos grandes senhores rurais - torna-se uma esquizofrenia com o declnio do ruralismo. A obedincia caducava como princpio de disciplina, provocando uma "instabilidade constante de nossa vida social". Entretanto, ainda nos movemos dentro do mesmo quadro de pensamento poltico, j que no foram construdas alternativas a ele. O Estado entre ns continua a ter "uma fora assombrosa em todos os departamentos da vida nacional". Ele, ainda reconhecido como o poder patriarcal, a que se recorre para resolver as pendengas,aquem se pede algo, se reclama ou se critica, mas que deve ser obedecido incontinenti. Ainda nos portamos como sditos que se sentem muito mais como oobjeto da interveno do Estado do que como cidados que procuram participar e influenciar, nas suas decises (8). Tal atitude se relaciona com o carter difuso e longnquo que o aparelho estatal tem para ns; com nossa incapacidade de abstrao; com as dificuldades em pensar o Estado a partir de princpios constitutivos abstratos, de forma a reconhecer-mo-nos como cidados.

A incompatibilidade entre a cordialidade e a ao coletiva organizada e estvel se refletiria tambm no fenmeno do caudilhismo. Este, na medida em que se constitui sobre uma relao emocional, seria a anttese do impersonalismo liberal democrtico. O caudilho, na sua relao com seus liderados, destri qualquer tipo de distanciamento crtico. Ele encarna o pai poderoso e exige a obedincia irrestrita. No caudilho consubstancia-se a cultura da personalidade, o poder externo co-ator como a nica forma de unificao, ainda que esta unificao tenha uma definio pouco clara e responda muito mais aos "sentimentos" do que a interesses objetivos definidos.

A importncia da civilidade deve-se ao fato de que ela aparece como uma possibilidade real de superao da cultura da personalidade e de criao de um espao poltico no sentido mais abrangente do termo. Em outras palavras, ao romper-se o localismo familiar ganha-se o "mundo" o cosmopolitismo, criando-se o campo necessrio para um contato interindividual mais amplo, condies necessrias para a vigncia da vida democrtica.

Assim, Srgio detecta a distncia entre o "Brasil real" e o "Brasil legal". Todavia, a sua postura no-ideolgica traduz-se no carter aberto do livro e, como venho tentando provar, na sua riqueza. Srgio se abre inclusive para uma sada autoritria. O autoritarismo encarregar-se-ia de forjar um novo tipo de cultura mais afeito civilidade. Mas, ao considerar a desagregao da herana ibrica com a perda de espaos do ruralismo(9), ele prefere apostar no diverso, no movimento e na observao do desenrolar da crise que identificou. Alm do mais, seria difcil concretizar este tipo de "autoritarismo iluminado", cujos dirigentes no poderiam estar ligados cultura cordial.

A inexistncia de uma cultura democrtica faz da nossa democracia um mal-entendido, afetao superficial sem maiores conseqncias. No h democracia sem vida democrtica. Este o ataque que lana aos liberais, que acreditavam no poder das leis sem perceber que havia uma diferena entre a lei que feita e a lei que seguida. Somente o intelectualismo exacerbado dos liberais pode acreditar que se pode determinar a vida plural do tecido social."Se no terreno poltico e social o liberalismo revelou-se entre ns antes um destruidor de formas preexistentes do que um criador de novas; se foi sobretudo uma intil e onerosa superafetao, no ser pela experincia de outras elaboraes engenhosas que nos encontraremos um dia com nossa realidade. Poderemos ensaiar a organizao de nossa desordem segundo esquemas sbios e de virtude provada, mas h de restar um mundo de essncias mais ntimas que, esse, permanecer sempre intacto, irredutvel e desdenhoso das invenes humanas. Querer ignorar este mundo ser renunciar ao nosso prprio ritmo espontneo, lei do fluxo e do refluxo, por um compasso mecnico e uma harmonia falsa." (Holanda, 1936, p. 161).

As afinidades entre a cultura familiar-cordial e a concepo liberal podem ser encontradas tanto no individualismo exacerbado do personalismo, como na repulsa s hierarquias. Mas um exame mais detalhado revela uma profunda incompatibilidade entre o ideal impessoal liberal - a felicidade para o maior nmero - e o carter restritivo do afeto que, inexoravelmente, funda-se em preferncias. A cultura liberal democrtica estaria baseada numa idia absurda do amor como algo numrico e em sua crena na vontade da maioria, "subordinando assim, sub-repticiamente, os ideais qualitativos quantidade". Para Srgio, ela a representao pura da civilidade, cuja despersonalizao desconsidera as diferenas qualitativas e fundamenta-se na fora dos nmeros. Isto tudo s tem sentido numa sociedade cuja histria guarda profundas diferenas em relao nossa.

No entanto, e este o problema central do livro, o processo irresistvel de transformao das estruturas sociais e as novas influncias advindas disto - primado do meio urbano e do cosmopolitismo - fortaleciam, ou pareciam fortalecer, a civilidade entre ns. S que nada indicava que as novas condies levariam ao surgimento de uma sociedade liberal. Muito pelo contrrio, o que se via era um amalgamento entre a cordialidade e as instituies liberais que levava a uma utilizao bizarra destas ltimas.

No h instituies democrticas sem cultura democrtica. Ento, o que significa esta idia de cultura democrtica? Em termos abstratos ela pressuporia a existncia histrica da civilidade e do processo de racionalizao-individuao que lhe caracterstico. Desta maneira, forjam-se formas impessoais de sociabilidade que permitem a interao no cotidiano e que, de alguma maneira, se relacionam com os princpios gerais que regulam o conjunto da sociedade.

Mas formular uma cultura ideal, que seria a base de um sistema democrtico, no significava um novo equvoco intelectualista? No. Pois para Srgio a questo da definio ainda aberta. No se trata de uma substituio necessria entre a cordialidade e a civilidade, determinada pelo carter das mudanas em curso. Cordialidade e civilidade so tratadas como tipos-ideais de duas formaes culturais diferentes, com processos de constituio diferentes. Assim, a ascenso do urbanismo, com o conseqente enfraquecimento da cordialidade, apesar de favorecer, no determinava a hegemonia da civilidade entre ns.

O problema do resultado da interpretao destes dois princpios no tem soluo terica. No se trata simplesmente de encontrar uma combinao equilibrada entre os dois, quando no se sabe nem mesmo se tal combinao possvel. Da o carter aberto da obra, onde a realidade produto de uma tenso entre os dois conceitos. Evitar o intelectualismo apreender como esse processo vai se resolvendo, de maneira diversa, na vida prtica.

(Recebido para publicao em agosto de 1989)

Notas(*) George Avelino Filho - Pesquisador-assistente do CEBRAP e mestrando em Sociologia na USP.

1 - Richard Morse (1988) procura discutir este problema. Ele distingue duas opes de desenvolvimento da cultura ocidental, a partir das possibilidades inscritas numa herana medieval comum. A "opo ibrica" teria passado ao largo das revolues religiosas e cientficas, que constituem a "opo inglesa":

2 - A palavra "civilidade" aparece poucas vezes emRazes do Brasile no pode, a rigor, ser considerada como um conceito definido no livro de Srgio. Entretanto, sua eleio como plo oposto cordialidade no me parece desmesurada, j que acredito que ela representa bem uma idia que recorrente no texto.

3 - A relao entre Weber eRazes do Brasilmereceria um estudo parte. Em texto bem posterior (Holanda, 1979), Srgio relembra seus primeiros contatos com o pensamento social alemo e a influncia importante exercida pela obra de Weber nos anos de formulao e realizao de Razes do Brasil. O leitor com conhecimento razovel da obra daquele autor pode perceber sua presena em vrios momentos do livro de Srgio, alm das referncias explcitas existentes ao longo do texto.

4 - Em outro artigo (Avelino, 1987), que pode ser considerado como o ponto de partida deste, procurei analizarRazes do Brasila partir da atividade intelectual de Srgio como modernista e discuti a ausncia de fecho programtico na obra. Esta ltima caracterstica, que a distinguia da maior parte das obras do perodo, no meu modo de ver resultava das dificuldades de conciliar uma defesa da espontaneidade nacional, plural e desarmnica, com um programa democrtico e toda a sua carga de instituies e leis abstratas.

5 - Sennett, aparentemente, no conhece o trabalho de Elias, cuja divulgao nos Estados Unidos relativamente recente. Por isso ele desconsidera a corte como local onde foram forjadas as novas formas de sociabilidade, sendo obrigado a discuti-las quando j consolidadas e onde sua colaborao era encarada como prazer e arte. Outra questo, e talvez mais importante, que ele no concebe a corte como um local onde se reuniam e inter-relacionavam aristocratas e burgueses, e cujo carter modelar das relaes humanas tende a permanecer mesmo aps a queda do Antigo Regime. Ao considerar a civilidade como produto de uma reunio de estrangeiros que caracterizaria a cidade no sculo XVIII, Sennett ignora as relaes entre os mundos pblicos, aristocrtico e burgus. Um autor importante nestas ltimas questes Reinhart Koselleck (1965), cujo livro procura discutir como o Iluminismo gerado dentro do Estado Absolutista e termina por quebrar o monoplio do pblico que fundamentava este Estado.

6 - Numa comparao com Elias, a idia de psicologizao do indivduo que muda de sentido. Ela deixa de ser a observao das verdadeiras motivaes e impulsos da prpria ao e das dos outros, encobertas por uma conduta exterior controlada, onde separam-se o ato e o agente, o ato e suas motivaes. No entanto, essa observao, diferentemente da moderna psicologia, no visa examinar o homem em si, mas na sua relao com os outros; diferentemente da poca do culto personalidade, o homem no se examinava como se os traos essenciais de pessoa existissem fora de sua relao social. Da o aspecto prtico da auto-observao e o seu correlato na necessidade de observao dos outros, j que os dois tipos de observao se destinavam a produzir um conhecimento til para a ao na corte. Ver Elias (1975, pp. 246-7).

7 - Costa Lima (1986), de cuja obra s tomei conhecimento com um atraso imperdovel, parece, neste ponto, ter uma intuio semelhante minha.

8 - Carvalho (1988, principalmente pp. 146-7) discute problema semelhante em sua anlise dos movimentos populares do incio do sculo no Rio de Janeiro.

9 - Oliveira Vianna, por exemplo, ao separar o ruralismo da herana ibrica, entende o primeiro como caracterstica de uma civilizao nacional brasileira. Desta maneira, levado concluso da insolubilidade do problema da separao entre as leis e a cultura do povo. A modernizao para ele, diferentemente de Srgio, inevitavelmente iria precisar do instrumento autoritrio. Para uma anlise do chamado "autoritarismo instrumental", veja-se Santos (1978). Srgio procura demarcar suas diferenas em relao a Oliveira Vianna em uma nota de Razes do Brasil (veja-se pp: 166-9).

* Texto apresentado para discusso no GT Pensamento Social Brasileiro do XII Encontro Anual da ANPOCS, Aguas de So Pedro, SP, outubro de 1988.

BibliografiaAVELINO FILHO, George. (198), "As Razes deRazes do Brasil".Novos Estudos Cebrap, n. 18 pp. 33-41.

CARVALHO, Jos Murilo de. (1988),Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a Repblica que No Foi. So Paulo, Companhia das Letras.

COSTA LIMA, Luiz. (1986),Sociedade e Discurso Ficcional. Rio de Janeiro, Editora Guanabara.

ELIAS, Norbert. (1973),La Civilization des Moeurs. Paris, Calmann-Lvy.

_____________ (1975),La Dynamique de l'Occident. Paris, Calmann-Lvy.

_____________ (1982),La Sociedad Cortesana. Cidade do Mxico, Fondo de Cultura Econmica.

HOLANDA, Srgio Buarque de. (1936),Razes do Brasil.Rio de Janeiro, Jos Olympio.

__________________________(1979),Tentativas de Mitologia, So Paulo, Perspectiva ( Srie Debates n. 161) .

KOSELLECK, Reinhart. (1965),Critica y Crisis del Mundo Burgus. Madri, Ediciones Rialp.

MORSE, Richard. (1988),O Espelho de Prspero. Traduo de Paulo Neves, So Paulo, Companhia das Letras.

SANTOS, Wanderley Guilherme dos. (1978),Ordem Burguesa e Liberalismo Poltico. So Paulo, Duas Cidades.

SENNETT, Richard. (1978),The Fall of Public Man.Nova Iorque, Vintage Books.

WEBER, Max. (1981),A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo. Traduo de M. Irene e Tams Szmrecsnyi, Braslia, Pioneira/Editora da UnB.