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7/24/2019 Figueiredo Brasil
1/4
Fidelinode Figueiredo
na
origemdosestudos
de
Literatura
Portuguesa
no
Brasil
A N T N I O S O A R E S AMOR A
O
s
idealizadores
da
Universidade
de So
Paulo
estvamos
entono
comeo
dos
anos
30
partiram
do
princpio que,
para fundarumainstituiodeensino superior que contri-
busse, efetivamente, para
a
renovao
da
cultura brasileira,
era
indis-
pensvel
criar,
na sua
base,
umafaculdade
voltada
ao
mesmo tempo para
a
docncia
e a
pesquisa
ou,
mais explicitamente, para
a
formao
de
jovens orientados para
a
produo original
no
campo
da filosofia, das
cincias
ou das
letras
e
para,
com o
esprito
de
pesquisa
ou
especulativo,
atuar
no ensino. E esta a razo porque, para os quadros docentes dessa
faculdade,
queveioadenominar-se Filosofia, CinciaseLetras, foram
convidados,
no
Brasil
e no
estrangeiro,
de
preferncia especialistas
que
se vinham distinguindo por suas contribuies para o progresso do
conhecimento e se mostravam interessados na formao de discpulos.
Correspondendo
a esse
modelo,foram
contratados em Portugal, para a
pesquisae o ensino nas reas da lngua e da literatura portuguesa, dois
professores, Rebelo Gonalves, jovem professor da Faculdade de Letras
de
Lisboa,
que
comeava
a
impor-se como brilhante
fillogo e
Fidelino
deFigueiredo, j com renome internacional, peloseu trabalhona re-
novao
da
crtica,
da
histria
e da
teoria literria
em
Portugal
e
pela
ao
que desenvolvera na criao dos estudos de literatura portuguesa
na
Espanha
(Universidade Central de Madri) e nos Estados Unidos
(UniversidadedaCalifrnia,emBerkeley).
Contratado,em
1938 (1), para ministrar
um
curso
de
literatura
luso-brasileira, Fidelino de Figueiredo, tologoiniciou suas atividades
de ensino e pesquisa, solicitou a Universidade trs medidas que consi-
derava
essenciais ao desempenho do programa de ao que se imps: a
primeira,
a
instalao
de um
gabinete
de
trabalho, indispensvel
ao
exer-
ccio de seu tempo integral na instituio; a segunda, a efetivao do
desdobramento da cadeira em dois cursos: Literatura Portuguesa (que
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erasua especialidade e,portanto, ficaria a seu cargo) e Literatura Bra-
sileira, que,
a seu
ver, deveria,
portodasas
razes,
ficar sob a
respon-
sabilidade de um
professor nacional (2);
e
como terceira medida,
a
criao de umalinhade publicao destinada a recolher a produo cr-
tica
da
cadeira
e a
promover suas relaes
com
congnere produo
nacional
ou
estrangeira.
O
gabinete
de
trabalho
em que
Fidelino
de
Figueiredo comeou
a
escrever
sua
produo paulista
e
onde,
de
1938
a
1939,
era
normalmente encontrado, criou
na
cadeira
de
Literatura Por-
tuguesa da USP a tradio do ensino e da pesquisa em efetivo tempo
integral na Faculdade. Quanto s publicaes da cadeira, recorde-se que
j
em fins de
1938 Fidelino
de
Figueiredo publicaria
num
boletim
da
Faculdade,intitulado Letrasn
1
os resultados de suas ltimas pesqui-
sasde documentos sobre a ambincia herica em Portugal, no sculo
XVI
(3).
E a
separao
dos
cursos
das
literaturas
de
lngua portuguesa,
emque sempre insistiu, acabou por se
fazer
em 1940. Apesar de extre-
mamente dedicado s aulas, ao convvio universitrio, s suas pesquisas,
sua a no
campo
da
teoria literria
e ao
intenso relacionamento epistolar
como mundo (4), Fidelino deFigueiredo ainda participou do pro-
grama de difuso cultural paraque tambm estava voltadaaUniver-
sidade de So Paulo e, neste sentido, deu regular colaborao im-
prensa (5).Em 1939, para atender ao interesse de grande audincia de
profissionais do ensino, dacrtica e da biblioteconomia, deu, na Bi-
blioteca Pblica Municipal de So Paulo, quatro conferncias sobre as
ltimas
tendnciasdabibliografia,dahistoriografiae dacrtica liter-
rias,logoeditadas numvolume, Aristarchos desabida influnciana
crtica
brasileira
e
portuguesa,
bem
como
no
ensino
da
literatura,
que
ento comeava a expandir-se no Brasil, no curso superior, ou de Letras.
Tendo colaborado tambm na
fundao
da Universidade do Bra-
sil,
no Rio de
Janeiro, onde organizou,
em
1940
e
1941,
o
curso
de
Literatura Portuguesa daFaculdade NacionaldeFilosofia, hoje Facul-
dade
de
Letras
da
UFRJ, Fidelino
de
Figueiredo
retomou,em
1942,
suas
atividades
na USP e, em um
decnio, completou
o
projeto
do
curso
iniciadoem 1938:
fezpublicar
mais
oitoboletinsde Letras sendo trsde suaautoriae
doiscom seuprefcio;
formouumcorpodeassistentes econtinuadores, levando dois ao
doutoramentoe,destes,um livre docncia;
apartirde1946 deu ao seucurso dois nveis,um delicenciaturae
outrodeespecializao (mais tarde transformado em ps-gradua-
o);
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convencido de que uma cadeira tinha limitados recursos de pesquisa
eensino, props
Faculdade
de
Filosofia, Cincias
e
Letras,
em
1948,
a
criao
de um
Instituto
de
Literatura,
depronto
aprovado,
mas por
dificuldades
materiais s instalado, com algumas
modifi
caes,
em
1955, como
Institutode
Estudos
dos
Portugueses
da USP
(hoje
Centro
de Estudos Portugueses), instituio que inspirou a
criao
de
vrios centros semelhantes
no
pas;
participando, mais uma vez, do programa de difuso cultural da
Universidadede SoPaulo deu,em1942, naBiblioteca PblicaMu-
nicipalde SoPauloe novamenteparaum grande pblico, em qua-
tro
conferncias destinadas
a
comemorar
o
centenrio
do
nascimento
de
Antero
deQuental, umademonstraodecomo entendiaeensi-
nava
a crtica: no como
biografia
ou impresses pessoais de leituras,
mas
como
uma ''direo de
esprito
(6).
E sempre convencido da importncia das idias, manteve, at
1947, suacolaborao jornalsticanoBrasil.
Em dezembro
de
1951,
ao
viajar para Portugal
por
motivo
de
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doena que lheveioser fatal em1967,Fidelino deFigueiredo podia
estar certodeque,em SoPaulo, deixaraumcentro deestudos de li-
teratura portuguesa, orientado
e
potencializado para
uma fecunda
pro-
duo, para sua disseminao noB rasile para um amplo relacionamento
internacional.
Estava cumprida
sua
misso
no
Brasil.
Notas
Rebelo Gonalves,quelecionouna USP de1935ao fim de1937,teve importante papel
nacontrataodeFidelinodeFigueiredo.Vejam seapropsito suas cartasaFidelinode
Figueiredo, escritas
de
1935
a
1937,hoje
na
correspondncia passiva
de
Fidelino
de
Figueiredo (v. nota 4)
2 O desdobramento da cadeira de literaturaluso brasileiraem duas disciplinas autnomas
foi
propostoem
1936
e embora logo aprovado pela congregao da Faculdade, s veio
a efetivar se em1940.V. Anurio 1936FaculdadedeFilosofia, Cinciase Letras,
Universidade
de SoPaulo,
1936,
p.125-127.
3
O sBo letins
concebidos paraser o
reflexo
dasatividades
cientficas
decada cadeirada
Faculdadede Filosofia, Cincias e Letras,foramcriados em1936.Fidelino de Figueiredo
inicioua
srie
dos
boletins
de
Letras:
A
pica portuguesa
no
sculo XVI.
Com
apndices
documentares.SoPaulo, Letras n1,1938.
4 Uma simples leitura do catlogo da correspondncia
passiva
de Fidelino de Figueiredo
d idiadesuas relaes literrias.Oacervo dessa correspondncia (perto de11.500
cartas, bilhetesetelegramas) estnoCentrodeEstudos Portugueses da USP e seu ca-
tlogo, feito porHertiFerreira,fo ipublicadoporJlio Garcia Morejnem
Dos
c o l e c c i o
nadores
de
angustia.
Assis-SP, Faculdade
de
Filosofia, Cincias
e
Letras,1967,
p.
77-111.
5
Toda
a
colaborao jornalstica
de
Fidelino
de
Figueiredo est colecionada
em sua bi-
blioteca, doada
Faculdade
de
letras
da
Universidade
de
Lisboa. Pequena parte dessa
colaborao
foi
republicada pelo Autor
em
alguns
de
seus livros, como ltimas
aventuras
ecultura intervalar.Orestante,que temgrande interesse, aguarda republicao.
6 V. Fidelino de Figueiredo,
Aristarcho.Quatro
confernciassobre metodologia da crtica
literria.
SoPaulo, Departamento MunicipaldeCultura, ColeodoD.C.,v.XXIII,
939
Antnio
So aresA mo ra
Professor
Emrito
da
USP.