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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO LETRAS-LÍNGUA PORTUGUESA ANÁLISE DO DISCURSO PROFESSOR: MS. DENILSON SOUZA SILVA ALUNO: YURI LUIS GONÇALVES PEREIRA TURMA: 1LLPV0/A Fichamento sobre o texto: Bakhtin , M . Gêneros do Discurso. 1. O PROBLEMA E SUA DEFINIÇÃO As atividades humanas estão diretamente ligadas à linguagem. O uso da língua se dá em forma de enunciados que, por sua vez, demonstram as condições de produção e finalidades específicas de cada campo. O conteúdo temático, o estilo, a construção composicional interligam-se na construção do todo do enunciado e são determinados, igualmente, pela especificidade de cada campo da comunicação. A expressão Gêneros do Discurso se explica pelo fato de cada campo de utilização da língua elaborar seus tipos relativamente estáveis de enunciados. Constata-se a diversidade inexorável dos gêneros do discurso e, além desta característica, pode-se perceber a heterogeneidade de cada gênero. Esta heterogeneidade torna os traços gerais dos gêneros, abstratos e vazios. Mas isso se explica, quando se considera que a questão geral dos gêneros do discurso nunca foi, de fato, apresentada. Os gêneros discursivos primários e secundários surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado.

Fichamento sobre o texto de Bakhtin, M. Gêneros do Discurso

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Page 1: Fichamento sobre o texto de Bakhtin, M. Gêneros do Discurso

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁCENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃOLETRAS-LÍNGUA PORTUGUESAANÁLISE DO DISCURSOPROFESSOR: MS. DENILSON SOUZA SILVAALUNO: YURI LUIS GONÇALVES PEREIRATURMA: 1LLPV0/A

Fichamento sobre o texto: Bakhtin, M. Gêneros do Discurso.

1. O PROBLEMA E SUA DEFINIÇÃO

As atividades humanas estão diretamente ligadas à linguagem. O uso da língua se dá em

forma de enunciados que, por sua vez, demonstram as condições de produção e

finalidades específicas de cada campo.

O conteúdo temático, o estilo, a construção composicional interligam-se na construção do

todo do enunciado e são determinados, igualmente, pela especificidade de cada campo da

comunicação.

A expressão Gêneros do Discurso se explica pelo fato de cada campo de utilização da

língua elaborar seus tipos relativamente estáveis de enunciados.

Constata-se a diversidade inexorável dos gêneros do discurso e, além desta característica,

pode-se perceber a heterogeneidade de cada gênero. Esta heterogeneidade torna os

traços gerais dos gêneros, abstratos e vazios. Mas isso se explica, quando se considera

que a questão geral dos gêneros do discurso nunca foi, de fato, apresentada.

Os gêneros discursivos primários e secundários surgem nas condições de um convívio

cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado.

A diferença entre os gêneros primários é vasta, por isso, deve-se descobrir e definir a

natureza do enunciado através de análises das duas modalidades. A relação entre os

gêneros primários e secundários junto aos processos de formação histórica esclarecem a

natureza do enunciado.

Os estilos, de forma geral, estão intimamente ligados ao enunciado e aos gêneros do

discurso.

“Todo enunciado (...) é individual e por isso pode refletir a individualidade do falante”

(BAKHTIN, pg. 265). Isto, porém, não é uma regra, haja vista que alguns gêneros que se

apresentam como uma forma padronizada.

O estudo da natureza do enunciado e da diversidade de formas de gêneros dos enunciados

nos diversos campos da atividade humana é de enorme importância para quase todos os

campos da lingüística e da filologia.

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Estudos mais aplicados sobre os estilos e gêneros são indispensáveis para a elaboração

eficaz de questões estilísticas.

A gramática e a estilística convergem e divergem em qualquer fenômeno de linguagem,

combinam-se organicamente com base na unidade real do fenômeno da língua.

O Enunciado como unidade real da comunicação discursiva.

2. O ENUNCIADO COMO UNIDADE DA COMUNICAÇÃO DISCURSIVA. DIFERENÇA ENTRE ESSA UNIDADE E AS UNIDADES DA LÍNGUA (PALAVRAS E ORAÇÕES)

A lingüística do século XIX, sem negar a função comunicativa da linguagem, colocou-a em

segundo plano. A função da formação do pensamento se estabelece como o plano primeiro

ou primário e independente da comunicação.

Outras concepções colocavam em plano primário a função expressiva, que se resume à

expressão do mundo individual do falante, ou seja, a língua é deduzida pela necessidade

que tem o homem de se expressar.

A linguagem era considerada somente do ponto de vista do falante, sem levar em

consideração os ouvintes que participam diretamente da comunicação discursiva. Mas

quando se considera a participação do outro, este obtém o papel de simples ouvinte, cuja

função é compreender passivamente o falante.

Ao perceber e compreender o significado (lingüístico) do discurso, o ouvinte ocupa uma

posição responsiva de discordância ou concordância, de completude ou aplicação.

Toda compreensão esboça uma resposta, logo, o ouvinte se torna falante. O próprio

período de compreensão depreende-se como uma preparação para a resposta.

Há certo desconforto em relação ao desconhecimento do papel ativo do outro no processo

da comunicação discursiva, o que gera a utilização de termos imprecisos, causando, por

conseguinte uma indefinição e confusão.

A indefinição terminológica e a confusão em um ponto metodológico central no

pensamento lingüístico são o resultado do desconhecimento da real unidade da

comunicação discursiva.

Os limites de cada enunciado concreto são definidos pela alternância dos sujeitos do

discurso, ou seja, pela alternância dos falantes.

Todo enunciado tem um princípio e um fim absolutos. O falante termina seu enunciado

para passar a palavra a outro ou dar lugar à sua compreensão ativamente responsiva.

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Nos gêneros secundários a tese sobre alternância dos sujeitos do discurso parece ser

refutada. O falante elabora a questões no âmbito do seu enunciado, responde-as, faz

objeções e refuta suas próprias objeções.

A oração é um pensamento relativamente acabado, imediatamente correlacionado com

outros pensamentos do mesmo falante no conjunto de seu enunciado.

A alternância dos sujeitos do discurso é a primeira peculiaridade constitutiva do

enunciado como unidade da comunicação discursiva, que o distingue da unidade da língua.

A segunda peculiaridade do enunciado é a conclusibilidade, uma espécie de aspecto

interno da alternância dos sujeitos do discurso.

Esta inteireza acabada do enunciado e determinada por três elementos intimamente

ligados no todo orgânico do enunciado: exauribilidade do objeto e do sentido; projeto de

discurso ou vontade de discurso do falante; formas típicas composicionais e de gênero

do acabamento.

A vontade discursiva do falante se realiza antes de tudo na escolha de um certo gênero do

discurso. A intenção discursiva do falante é aplicada e adaptada ao gênero escolhido.

A diversidade dos gêneros é determinada pelo fato de que eles são diferentes em função

da situação, da posição social e das relações pessoais.

Saussure considera o ato de enunciar como puramente individual ao sistema da língua e

como fenômeno puramente social e obrigatório ao indivíduo, ignora os gêneros do

discurso.

A oração enquanto unidade da língua é desprovida da capacidade de determinar imediata

e ativamente a posição do falante. Somente após tornar-se um enunciado pleno é que

adquire esta capacidade.

Como a palavra, a oração possui conclusibilidade de significado e conclusibilidade de

forma gramatical, mas essa conclusibilidade de significado é de índole abstrata e por isso

mesmo tão precisa: é o acabamento do elemento, mas não do todo.

Só quando a oração funciona como um enunciado pleno, é que se torna a expressão do

falante individual em uma situação concreta de comunicação discursiva.

Todo enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva. É a posição ativa do falante

nasce ou naquele campo do objeto e do sentido. Por isso cada enunciado se caracteriza por

um determinado conteúdo semântico-objetal.

O estilo individual do enunciado é determinado principalmente pelo seu aspecto

expressivo.

Um dos meios de expressão da relação emocionalmente valorativa do falante com o objeto

da sua fala é a entonação expressiva que soa nitidamente na execução oral. A entonação

expressiva é um traço constitutivo do enunciado.

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O gênero do discurso não é uma forma da língua, mas uma forma típica do enunciado. No

gênero a palavra ganha certa expressão típica.

A expressão do gênero da palavra é impessoal como impessoais são os próprios gêneros

do discurso. Todavia, as palavras podem entrar no nosso discurso a partir de enunciações

alheias, mantendo em menor ou maior grau os tons e ecos dessas enunciações individuais.

A palavra existe para o falante em três aspectos: como palavra da língua neutra e não

pertencente a ninguém; como palavra alheia dos outros, cheia de ecos de outros

enunciados; e, por último, como a minha palavra.

A experiência discursiva individual de qualquer pessoa se forma e se desenvolve em uma

interação constante e contínua com os enunciados individuais dos outros.

A oração enquanto unidade da língua possui uma entonação gramatical específica e não

uma entonação expressiva. A oração só adquire entonação expressiva no conjunto do

enunciado.

O enunciado, seu estilo e sua composição são determinados pelo elemento semântico-

objetal e por seu elemento expressivo, isto é, pela relação valorativa do falante com o

elemento semântico-objetal do enunciado.

Os enunciados não são indiferentes entre si nem se bastam cada um a si mesmos; uns

conhecem os outros e se refletem mutuamente uns nos outros. Cada enunciado é pleno de

ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da

esfera de comunicação discursiva.

O enunciado é pleno de tonalidades dialógicas e sem considerá-las é impossível entender

até o fim o estilo de um enunciado.

Um traço essencial (constitutivo) do enunciado é o seu direcionamento a alguém, o seu

endereçamento. Cada gênero do discurso em cada campo da comunicação discursiva tem

a sua concepção típica tem a sua concepção típica de destinatário que o determina como

gênero.

A análise estilística só é possível como análise de um enunciado pleno e só naquela cadeia

da comunicação discursiva da qual esse enunciado é um elo inseparável.