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Universidade Federal de Campina Grande Departamento de História e Geografia Componente Curricular : Introdução ao Estudo da História Professor: Gervácio Aranha Aluna: Lays Honorio Teixeira Lorenzo Valla e a doação de Constantino Campina Grande, Abril de 2011

Fichamento de Lorenzo Valla

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Trabalho sobre Lorenzo Valla, estudioso que comprovou a falsificação do chamado "Testamento de Constantino". Feita para uma disciplina de licenciatura em História da UFCG.

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Page 1: Fichamento de Lorenzo Valla

Universidade Federal de Campina GrandeDepartamento de História e Geografia

Componente Curricular : Introdução ao Estudo da HistóriaProfessor: Gervácio Aranha

Aluna: Lays Honorio Teixeira

Lorenzo Valla e a doação de Constantino

Campina Grande,Abril de 2011

GINZBURG, Carlo Relações de força: história, retórica e prova / Carlo Ginzburg ; tradução Jônatas Batista Neto – São Paulo : Companhia das Letras, 2002.

Lorenzo Valla e a doação de Constantino

Aos 37 anos, Lorenzo Valla escreveu o Discurso sobre a falsa e enganadora doação de Constantino. As circunstâncias eram conhecidas, o papa Eugênio VI tentava impedir a ascensão do

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protetor de Valla, Afonso de Aragão, ao trono de Nápoles. Ao denunciar a falsidade de um documento conhecido, Valla construiu um texto de propaganda anti-papal. O alvo da demonstração de Valla era um documento que circulou por toda a Idade Média, o constitutum Constantini [ Decreto de Constantino], que determinava a doação de um terço do Império de Constantino à Igreja de Roma, após sua conversão ao cristianismo. Por muito tempo, a doação de Constantino não foi posta à prova. Dante Alighieri, que aceitava a autenticidade do documento, dirigiu-se ao papa Bonifácio VIII, para lamentar-se que a doação de Constantino tivesse estabelecido as bases da corrupção da Igreja de Roma. Alguns juristas medievais já haviam declarado a ilegitimidade da doação, pois, Constantino não dispor de um Império do qual era apenas administrador. Em meados do século XV, quando Valla escreveu o seu texto, a autenticidade do constitutum Constantini já havia sido posta à prova e aberto a discussões. O texto só foi impresso em 1506 por conta do tom adotado por Valla ao dirigir-se ao papa. Ao ser republicado, em 1518, pelo alemão Ulrich von Hutten, ele havia se tornado um manifesto político que denunciava as ambições e avidez da Igreja católica. Os juízos de Valla sobre o seu próprio texto são dois, o primeiro refere-se ao conteúdo e o segundo sobre as características formais da obra. O discurso também se divide em duas partes. A primeira se baseia numa série de diálogos imaginários entre Constantino, seus filhos e o papa, na qual Valla rejeita a doação de um terço dos domínios imperiais, partindo de um ponto de vista psicológico. E a segunda, tendo em vista erros grosseiros, nas datas e suas contradições demonstra a falsidade da doação. Ao doar parte do Império, Constantino teria ofendido os filhos, humilhado os amigos, descuidando dos seus e ainda teria lesado a pátria, magoado a todos e esquecido até de si próprio, afirma Vallla. Nos últimos 25 anos (na época em que o livro foi publicado) a noção de prova havia sido considerada praticamente um símbolo da historiografia positivista À prova se contraditou a retórica e a insistência sobre a dimensão retórica de da historiografia.Na origem dessa mudança está Nietzsche. Mas essa história de servir-se da retórica como de uma máquina de guerra céptica era mais antiga. Segundo Kristeller, o humanismo não se identificava nem com o melhor conhecimento da Antiguidade clássica nem com uma nova filosofia à Escolástica, porque mais importante era o vínculo dos humanistas com a tradição retórica ocidental. Com isso,o termo “retórica” perdia as conotações negativas, que no passado foi visto como um fenômeno apenas literário, vazio em relação ao Humanismo italiano. A De falso credita et ementita Constantini donatione [A falsa e enganosa doação de Constantino] mostra que Valla não hesita em misturar retórica, filologia, diálogos fictícios e discussões minuciosas de provas documentais na mesma obra. Valla definira o seu próprio texto sobre a doação de Constantino como “declamatio”, vocábulo que Quintiliano designava como um exercício oratório baseado na demonstração alternada de teses contrapostas, incluindo a veracidade ou falsidade de determinado escrito. Valla possuía dois códices da Institutio oratoria. O comentário do texto de Quintiliano já havia sido iniciado em agosto de 1441, de onde resulta que o discurso sobre a chamada doação de Constantino foi redigido quando Valla já havia começado a redigir as apostilas de Quintiliano. A demonstração da falsidade do constitutum segue, de perto, as sugestões de Quintiliano: o documento carece de verossimilhança; é contrariado por outros documentos; inclui dados cronológicos íntimos contraditórios, como a referência a Constantinopla, absurda num documento que se presume ser escrito logo após a conversão de Constantino. O constitutum Constantini entrava na categoria dos textos notoriamente falsificados. Valla reivindicou a complexidade do trabalho do historiador. A retórica de Aristóteles, mediada por Quintiliano, permitiu a Valla escapar às limitações da retórica ciceroniana. Quintiliano evidenciou que dados intimamente contraditórios demonstram a falsidade de um documento. Aos olhos de Valla uma palavra como “ sátrapas” provava ser insustentável a suposta

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data do constitutum Constantini. A tentativa dos humanistas, antiquários, tradutores, copistas e falsários pressupunha uma distância crítica em relação a um passado que se desejava reconstruir ou recriar. Quintiliano havia comparado as palavras às modas; Valla comparou a língua latina ao dinheiro como instrumento que permitiam trocas intelectuais e comerciais de toda sorte. A invenção da moeda favoreceu a circulação dos produtos; do mesmo modo, a existência de uma língua comum – o latim – contribuíra para o desenvolvimento da vida intelectual nas províncias do Império Romano. Tanto para Eusébio quanto para Valla, o Império Romano havia desempenhado um papel providencial. Mas, na aula inaugural de Valla, os logos do primeiro capítulo do Evangelho de São João se transformou na Língua Latina. A aula inaugural de Valla soa hoje como uma profecia da iminente expansão européia: um fenômeno no qual as atitudes ligadas à civilização antiga, tiveram uma parte importante, que apenas começamos a perceber.