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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, FEVEREIRO/2015 - ANO XVIII - N o 217 O ESTAFETA Foto Arquivo Pró-Memória Num rápido passeio pela Serra da Mantiqueira, observamos que nos últimos anos a exploração imobiliária vem ocorren- do de maneira insidiosa, mas constante. A construção de casas para veraneio tem acon- tecido em diversos lugares. Muitos sonham em ter uma casa no campo, onde possam desfrutar da paisagem e do clima serranos. Acontece, porém, que o frágil bioma mata atlântica não suporta o impacto causado pelo homem, que ameaça o pouco que resta desse patrimônio natural. Além disso, a cons- trução em área de manaciais gera imper- meabilização do solo, remoção florestal e aumento de lançamento direto de lixo e es- goto em cursos d’água. Apesar de a Mantiqueira ser considera- da área de proteção, da existência do códi- go florestal e de inúmeras outras leis para proteger o meio ambiente, a fiscalização por parte dos órgãos responsáveis é precária, além de serem feitas vistas grossas frente aos agravos. Assim, é fácil concluir que grande parte da falta de água na região ob- servada nos últimos anos é decorrente da relação predatória do homem com a nature- za. Insistir neste erro é um caro preço a ser pago em troca do conforto. Para interromper essa situação, torna-se necessário maior eficiência à fiscalização flo- restal, o que só deverá ocorrer se houver ampliação e melhor aparelhamento dos efe- tivos da polícia florestal em locais de impor- tância estratégica. A fauna e a flora não são os únicos re- cursos naturais a sofrer agressões na Mantiqueira. Mananciais, várzeas, solos agricultáveis e conjuntos paisagísticos tam- bém precisam ser defendidos da dinâmica fundiária. O parcelamento indiscriminado das propriedades deve ser fiscalizado e a expansão urbana tem de ocorrer dentro de parâmetros ambientais aceitáveis. A perda da Mata Atlântica nas encostas serranas e a ocupação dos mananciais crescem e po- dem contaminar toda a água ainda disponí- vel. É importante mudar a visão da socieda- de brasileira para que ela deixe de conside- rar a água apenas como um bem a ser con- sumido e passe a entendê-la como suporte para a vida. Pensar a Mantiqueira é se em- penhar, cobrando das autoridades a execu- ção de um plano de manejo para a região serrana. É trabalhar para a recuperação de nossas nascentes, o que envolveria, entre outras ações, o pagamento por serviços ambientais a proprietários que possuam nascentes em suas terras. É o chamado in- vestimento em infraestrutura verde – inter- venção que não traz resultados a curto pra- zo, mas que precisam ser iniciados. Recom- por com espécies nativas áreas degradáveis faz-se necessário. Plantar florestas é plan- tar água. Água para o futuro Para assegurar a disponibilidade de água de qualidade para as gerações futuras, é necessário recompor e/ou preservar as matas ciliares, além de garantir a conscientização de que a água é o suporte da vida. No último dia 18 de fevereiro, acon- teceu em Brasília, DF, a abertura oficial da Campanha da Fraternidade de 2015. Promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a campanha deste ano tem como tema “Fraternidade: Igre- ja e Sociedade”. Durante a cerimônia de abertura foi lida mensagem do Papa Francisco aos fiéis brasileiros, em que ele afirma que a “Igreja não pode ser indiferente às ne- cessidades dos que estão ao seu redor”. Francisco disse, ainda, que a Campanha quer ajudar a aprofundar o diálogo en- tre a Igreja e a sociedade, como propos- to pelo Conselho Ecumênico Vaticano II, encerrado há 50 anos. Neste momento em que a o Brasil se vê mergulhado em escândalos de corrup- ção, é preciso que a sociedade se mobi- lize posicionando-se contra os desvios de recursos públicos que afrontam as pessoas de bem e os princípios cristãos. Por trás de grande parte desses desvios estão políticos pouco afeitos a valores éticos e morais, que se corrompem bus- cando alçar o poder a qualquer preço. Infiltrada nas administrações, a corrupção, como um câncer, produz metástases, adoecendo os órgãos pú- blicos. Em função dos bilhões desvia- dos, deixa-se de investir em educação, saúde, saneamento básico, segurança, empregos etc. Em decorrência desses vícios, o país atravessa momentos tur- bulentos. A corrupção concorre para a baderna e a violência urbana. O narco- tráfico se infiltra por toda a sociedade aliciando jovens, enquanto outros mer- gulham no submundo das drogas. Vive- mos momentos em que os valores são subvertidos. Carecemos de lideranças e de homens públicos probos, nos quais a população possa se mirar. A corrupção é fruto, entre outros, do egoísmo e do desamor. Devido a isso, uma das ações da Campanha da Frater- nidade 2015 é coletar assinaturas para o projeto de Reforma Política. Se não hou- ver mudanças significativas na forma de escolha de nossos representantes, con- tinuaremos assistindo a toda forma de corrupção. Buscar o poder a qualquer preço, como fazem partidos e políticos, dando as costas para a sociedade, é con- correr para que a sociedade se torne cada vez mais desigual. A falta de fraternidade e de amor cris- tão colabora para o caos em cuja dire- ção caminhamos. O lema da Campanha da Fraternidade desse ano – Eu vim para servir – conclama todos a arregaçar as mangas e se empenhar para mudanças colocando-se a serviço do próximo.

FEVEREIRO 2015

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Edição de número 217, de fevereiro de 2015, do informativo O ESTAFETA, órgão da Fundação Christiano Rosa, de Piquete. Com esta edição, O ESTAFETA entra em seu 18º ano de circulação ininterrupta.

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, FEVEREIRO/2015 - ANO XVIII - No 217

O ESTAFETAFoto Arquivo Pró-Memória

Num rápido passeio pela Serra daMantiqueira, observamos que nos últimosanos a exploração imobiliária vem ocorren-do de maneira insidiosa, mas constante. Aconstrução de casas para veraneio tem acon-tecido em diversos lugares. Muitos sonhamem ter uma casa no campo, onde possamdesfrutar da paisagem e do clima serranos.Acontece, porém, que o frágil bioma mataatlântica não suporta o impacto causadopelo homem, que ameaça o pouco que restadesse patrimônio natural. Além disso, a cons-trução em área de manaciais gera imper-meabilização do solo, remoção florestal eaumento de lançamento direto de lixo e es-goto em cursos d’água.

Apesar de a Mantiqueira ser considera-da área de proteção, da existência do códi-go florestal e de inúmeras outras leis paraproteger o meio ambiente, a fiscalização porparte dos órgãos responsáveis é precária,além de serem feitas vistas grossas frenteaos agravos. Assim, é fácil concluir quegrande parte da falta de água na região ob-servada nos últimos anos é decorrente darelação predatória do homem com a nature-za. Insistir neste erro é um caro preço a serpago em troca do conforto.

Para interromper essa situação, torna-senecessário maior eficiência à fiscalização flo-restal, o que só deverá ocorrer se houverampliação e melhor aparelhamento dos efe-

tivos da polícia florestal em locais de impor-tância estratégica.

A fauna e a flora não são os únicos re-cursos naturais a sofrer agressões naMantiqueira. Mananciais, várzeas, solosagricultáveis e conjuntos paisagísticos tam-bém precisam ser defendidos da dinâmicafundiária. O parcelamento indiscriminadodas propriedades deve ser fiscalizado e aexpansão urbana tem de ocorrer dentro deparâmetros ambientais aceitáveis. A perdada Mata Atlântica nas encostas serranas ea ocupação dos mananciais crescem e po-dem contaminar toda a água ainda disponí-vel. É importante mudar a visão da socieda-de brasileira para que ela deixe de conside-rar a água apenas como um bem a ser con-sumido e passe a entendê-la como suportepara a vida. Pensar a Mantiqueira é se em-penhar, cobrando das autoridades a execu-ção de um plano de manejo para a regiãoserrana. É trabalhar para a recuperação denossas nascentes, o que envolveria, entreoutras ações, o pagamento por serviçosambientais a proprietários que possuamnascentes em suas terras. É o chamado in-vestimento em infraestrutura verde – inter-venção que não traz resultados a curto pra-zo, mas que precisam ser iniciados. Recom-por com espécies nativas áreas degradáveisfaz-se necessário. Plantar florestas é plan-tar água.

Água para o futuro

Para assegurar a disponibilidade de água de qualidade para as gerações futuras, é necessário recompore/ou preservar as matas ciliares, além de garantir a conscientização de que a água é o suporte da vida.

No último dia 18 de fevereiro, acon-teceu em Brasília, DF, a abertura oficialda Campanha da Fraternidade de 2015.Promovida pela Conferência Nacionaldos Bispos do Brasil, a campanha desteano tem como tema “Fraternidade: Igre-ja e Sociedade”.

Durante a cerimônia de abertura foilida mensagem do Papa Francisco aosfiéis brasileiros, em que ele afirma que a“Igreja não pode ser indiferente às ne-cessidades dos que estão ao seu redor”.Francisco disse, ainda, que a Campanhaquer ajudar a aprofundar o diálogo en-tre a Igreja e a sociedade, como propos-to pelo Conselho Ecumênico VaticanoII, encerrado há 50 anos.

Neste momento em que a o Brasil sevê mergulhado em escândalos de corrup-ção, é preciso que a sociedade se mobi-lize posicionando-se contra os desviosde recursos públicos que afrontam aspessoas de bem e os princípios cristãos.Por trás de grande parte desses desviosestão políticos pouco afeitos a valoreséticos e morais, que se corrompem bus-cando alçar o poder a qualquer preço.

Infiltrada nas administrações, acorrupção, como um câncer, produzmetástases, adoecendo os órgãos pú-blicos. Em função dos bilhões desvia-dos, deixa-se de investir em educação,saúde, saneamento básico, segurança,empregos etc. Em decorrência dessesvícios, o país atravessa momentos tur-bulentos. A corrupção concorre para abaderna e a violência urbana. O narco-tráfico se infiltra por toda a sociedadealiciando jovens, enquanto outros mer-gulham no submundo das drogas. Vive-mos momentos em que os valores sãosubvertidos. Carecemos de lideranças ede homens públicos probos, nos quaisa população possa se mirar.

A corrupção é fruto, entre outros, doegoísmo e do desamor. Devido a isso,uma das ações da Campanha da Frater-nidade 2015 é coletar assinaturas para oprojeto de Reforma Política. Se não hou-ver mudanças significativas na forma deescolha de nossos representantes, con-tinuaremos assistindo a toda forma decorrupção. Buscar o poder a qualquerpreço, como fazem partidos e políticos,dando as costas para a sociedade, é con-correr para que a sociedade se torne cadavez mais desigual.

A falta de fraternidade e de amor cris-tão colabora para o caos em cuja dire-ção caminhamos. O lema da Campanhada Fraternidade desse ano – Eu vim paraservir – conclama todos a arregaçar asmangas e se empenhar para mudançascolocando-se a serviço do próximo.

Página 2 Piquete, fevereiro de 2015O ESTAFETA

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira Netto

Redação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Imagem - Memória Foto Arquivo Pró-Memória

A década de 1940 foi uma das de maiorexpansão e produção da Fábrica PresidenteVargas. Com a deflagração da II GuerraMundial, na Europa, em setembro de 1939,o Brasil, a princípio, manteve-se neutro.Mais tarde, com o torpedeamento de navi-os mercantes brasileiros no litoral nordesti-no, pressionado pela opinião pública, o paísentrou no conflito.

Com a guerra se estendendo ao Atlânti-co Sul, os brasileiros se prepararam para umperíodo de racionamentos e carestia.

Devido à importância estratégica da Fá-brica, Piquete foi considerada zona de guer-ra e os operários foram conclamados a umesforço especial. Atenderam de imediato aochamamento da Pátria, passando a trabalhardiuturnamente.

A Fábrica, que sempre foi o esteio dasForças Armadas, com a guerra teve sua res-ponsabilidade aumentada, passando a pro-duzir de maneira extraordinária. O que seobservava em suas oficinas naquele perío-do eram união, determinação e energia atéentão nunca vistos. Esses esforços resulta-ram num acúmulo e enriquecimento de no-vos valores e experiências.

Confiada ao saber e ao patriotismo deuma plêiade de oficiais tecnicamente prepa-rados, a administração do coronel WaldemarBrito de Aquino contava com mestres vete-ranos e experientes nas lides industriais daprodução de pólvoras, explosivos, ácidos eoutros produtos. Nesse período, o passadoe o presente se confundiam, consagrandoum acervo de conquistas até então nuncavisto. Muito dessas conquistas se deve ao

carisma de seu diretor, cuja integridade mo-ral e intelectual e comprovada cultura técni-co-militar o tornaram credor do respeito eestima de todos os seus auxiliares – milita-res e civis – e da confiança absoluta de seussuperiores hierárquicos, que bem o distin-guiram como depositário desse preciosopatrimônio que é a FPV. Aquino conhecia aFábrica e seus antigos operários desde 1932,quando pela primeira vez chegou a Piquete.Foi graça a esse carisma, à sua força e deter-minação à frente dessa indústria bélica quea Fábrica se superou no período crítico porque passava o mundo.

Em março de 1945, a guerra na Europa seaproximava do fim. Havia regozijo e alegriaentre a população. A Fábrica havia cumpri-do, de maneira surpreendente, ao chamadodas Forças Armadas. Mobilizou-se a fim deservir à causa da segurança do país. Dissose orgulhavam seus operários. O esforço deguerra empreendido por Piquete não haviasido pequeno. Os explosivos aqui produzi-dos concorreram para a libertação de gera-ções de europeus e o alijamento do totalita-rismo que ameaçava o Velho Continente. AFábrica de Piquete tinha, pois, excelentesmotivos para rejubilar-se naquele aniversá-rio e sua diretoria comemorava sua alta pro-dutividade e os resultados alcançados.

Assim, o 15 de Março daquele ano foidiferente. Uma programação especial foi ela-borada. A cidade acordou com uma salva detiros de canhão e a banda da FPV percorreuas ruas da cidade numa alvorada festiva,conclamando os moradores a participaremde um desfile cívico. Às 9h, após o haste-

amento da Bandeira Nacional num palanquemontado em frente ao parque zoológico,aconteceu o desfile, presenciado por toda apopulação, que compareceu para prestigiara Fábrica. Do desfile participaram alunos doDepartamento Educacional da Fábrica e dosgrupos escolares da FPV e Antônio João,os operários e o Contingente de Vigilânciada FPV. Em seu discurso alusivo à data, ocoronel-diretor, Waldemar Brito de Aquino,reverente, reconheceu e agradeceu os es-forços dispendidos por todos naqueles di-fíceis anos de guerra. Aquino se referiu aoprogresso por que passou o estabelecimen-to e às obras sociais pelas quais vinha seempenhando para que se efetivassem. Emseguida, mestres e operários foram home-nageados.

À tarde, um campeonato de futebol le-vou o operariado para o Campo do Estrela.Aquele dia festivo culminou com bailes noCassino dos Oficiais e no Contingente.

15 de Março de 1945

O Cel. Aquino ladeado por Mestres da FPV quando das comemorações dos 36 anos daquela indústria bélica, em 15 de março de 1945.Foto tirada em frente ao busto do Duque de Caxias, à entrada do Parque Zoológico e Jardim da Infância.

O ESTAFETA Página 3Piquete, fevereiro de 2015

FlorianoGENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Luiz Flávio Rodrigues

FIAT

E foi assim...

Estava eu. Do nada, no nada e nada

fazendo. E então tudo fiz. Assim num re-

pentino clarão. Não houve estrondo, o que

muito surpreendeu a todos que ainda não

havia. Apenas fiz. Foi preciso um gesto,

pois sem ação não há feito ou feitio. E o

feito foi saindo como um rio, as águas que

fiz depois rojando por sobre as primeiras.

E tudo se foi fazendo por si só. Assim, num

poderio próprio que a criação adquire. A

entropia de tudo que se fez daquilo já feito

nem era verdade. O já feito se organizou

em outros feitos e tinha suas regras priva-

tivas de feitura.

Mas veja, caro amigo, filho e sobra de

gestação, sempre existe aquele que dá as

costas aos procedimentos. E por que não

se daria o novo? E, enquanto tudo se de-

senrolava, eu vi que paradigmas eram que-

brados. E surgia, e surgia, e surgia aquilo

que nem pensei. O acaso fez sua vez. E do

que criei e foi se criando emoldurava-se

sempre o belo. Mas havia o feio e o medo-

nho. Eles também se criaram do que havia.

Me divertia muito olhar tudo aquilo. Era

apenas um clarão. Hoje muitos dizem que

eu – um déspota, discricionário e ditador

– mandei  fazer isso e aquilo. Que nada.

Fiz aquele clarão que ninguém viu. E de-

pois? Depois veio o divertido, o inusita-

do, o engraçado, o fazimento inesperado.

Tudo até era fazível. Mas pouco fiz por

mim mesmo. Toda a coisa se fez por fazer.

Lembro-me de que teve algumas que

irromperam e – obra de escolha ou circuns-

tância – logo se foram. Tempo? Tempo foi

só uma consequência do fazer. Assevero

que tempo nem tem lado. Passado e futu-

ro? Antes e depois? Nada! O tempo é re-

bento do clarão. Pois é isso mesmo, queri-

do abrolho de um ramo desse clarão. Não

me venha pleitear pagamento daquilo que

foi fazimento do acaso. Sendo você feitio

como tudo, por certo traz consigo a mu-

dança. Você, criatura que já há, e nunca

houve antes, de nada tenha certeza. Lem-

bre-se: a certeza que temos é apenas a de

nossa vontade. De resto, nosso engenho

está apenas no clarão. O que daí eclode

nem eu sei.

Fluminense roxo, como gosta de se de-clarar, Floriano Peixoto sempre foi apaixo-nado por futebol. Filho de Antônio Francis-co Peixoto e de Durvalina Magalhães Peixo-to, é o caçula entre seis irmãos. Nasceu pró-ximo ao Campo do Estrela, em 2 de junho de1935: “De casa, podia assistir aos jogos etreinos”, conta. Por essa época, o antigocampo era cercado por um bambual. Acom-panhou as diversas reformas por que pas-sou o estádio. As torres que ainda hoje ilu-minam os jogos noturnos foram instaladaspor seu pai, em 1939.

Floriano cursou o Grupo Escolar da FPV,cujo diretor era o professor Melquíades.Afirma que sua família foi a primeira a semudar para a Vila Duque de Caxias, onderesidiram por cerca de vinte anos. Seu pai,responsável por ligar e desligar a chave ge-ral de iluminação da rua, escolheu a casa denúmero 154, que ficava próxima ao transfor-mador. Aos poucos foram chegando as de-mais famílias: Odilon, Soares, Giffôni,Junqueira, Escobar, Viana, Alagão, Botelho,Meirelles, Miragaia... Todas com muitos fi-lhos. Seu vizinho à direita era a família deDurval Viana e Joaninha, com os filhosDjalma, Dario, Donato, Dorijalma, Deosdete.À esquerda, Hermógenes Junqueira e Ma-ria, com os filhos Zeca, Bodoi, Sílvio,Terezinha e o Quinzinho.

A Vila Duque era uma festa, uma gran-de família. Memoráveis foram as festasjuninas e os Carnavais lá organizados pe-las famílias. Com os meninos da Vila,Floriano jogava futebol num campo de vár-zea, atrás do Cine Estrela. O time era o“fluminense” e o treinador o Zé Balbino.Quando menino, conta: “ou eu jogava fu-tebol ou caçava passarinho na mata daFábrica”. Nos finais de semana, frequenta-va o cinema e ia ao parque zoológico. Mos-tra na mão direita uma cicatriz deixada pelo“Gabriel”, um dos macacos do zoológico.“Fui salvo pelo Bodoi, que me levou parafazer curativo no Hospital”, diz.

Frequentador assíduo do Estrela, contaque, pra ele, o melhor jogador que passoupor aquele campo foi o Orlando Siriri: “Era

um craque! Chutava com as duas pernas.Gostaria de ter jogado como ele!” Florianoassistiu ao Estrela Futebol Clube ser cam-peão em 1948. Acompanhou todo aquelecampeonato e cita alguns jogadores do es-quadrão estrelino: Orlando Siriri, Luiz deBarros, Tôto, Muriaé, Macaé, Adeodato,Bacalhau, Edward...

Floriano Peixoto jogou no Estrela nasdécadas de 1950 e 1960. Os treinos aconte-ciam à tarde. Como chutava com as duaspernas, “fui ponta-esquerda, volante, meia-esquerda...”, afirma. Tentou jogar como seuídolo, Orlando Siriri, afirma. Quando rapaz,por meio de sua irmã Deolinda começou atrabalhar no Armazém Reembolsável Geral,da FPV – “Meu chefe era o senhor José deCastro Ferreira”, diz. Acrescenta, ainda: “Eracomo um pai. Mandava mais do que o majorresponsável. Havia organização e discipli-na como em poucos lugares”. Floriano con-ta que os funcionários deixavam a lista decompra do mês; ele, juntamente com os de-mais colegas, separavam os pedidos. Che-gou a separar 35 pedidos num dia – “foi um

recorde!” Cita funcionári-os: Raimundo Chagas,Heroína, Geny, Mabel,Mesquita, Clarice... Flo-riano deixou a Cantina e,por sete anos, trabalhouem São Paulo, no depó-sito da FPV, no Belen-zinho. Ao retornar a Pi-quete, foi trabalhar noCassino dos Oficiais,onde se aposentou.

Casado há mais dequarenta anos com Elzada Encarnação Peixo-to, Floriano é uma me-mória viva de um perí-odo do Estrela e dePiquete.

Time do Estrela

O ESTAFETA Piquete, fevereiro de 2015Página 4

Este artigo começa por levantar doispensamentos básicos:

1º - a Terra é a nossa casa.2º - somos vocacionados à vida e à con-

servação da espécie.A Terra é a nossa casa, isto é,

nosso habitat. Nela nascemos,desenvolvemos nossas ativida-des. Produzimos, consumimos.Nela morremos e nossos despo-jos voltam a ela, como restos or-gânicos – transformados, incor-porados à superfície e novamen-te aproveitados num ciclo vicio-so mas vitorioso nas demandasvitais – motu perpetuo para nosfazer acostumar com os ritmos sa-zonais, fisiológicos e físicos.

O ser humano, ocupante pri-vilegiado do espaço terrestre, trazao nascer o código de adaptação e reagecom suas forças ao embate natural, ao qualse somam experiências e hábitos adquiridospela educação, vontades próprias, pesqui-sas e investigações científicas e culturais.

Saber viver em uma casa implica emconservá-la, conhecê-la, mantê-la em con-dições adequadas às necessidades. Saberquais as ameaças. Evitar os abusos de con-sumo, lixo, uso da natureza. Organizar oabastecimento das fontes energéticas.

Se somos vocacionados à vida, é preci-so criar, manter e encontrar maneiras demantê-la. Para isso somos dotados de inte-ligência, talentos, inclinações e vontades.Fazê-las funcionar a serviço dos humanos éprivilégio da espécie, o que não desfavoreceas demais. Pelo contrário, as demais espéci-es nos seus diferentes tipos e níveishierarquizam órgãos, funcionamentos, rea-ções. A vida, então, nas diferentes formas édesafio a ser vencido.

Parece ser difícil notar abusos na escalaanimal e vegetal, que não humana. Já nahumana, em diferentes graus culturais e eta-pas civilizatórias, o abuso acontece. Tantomaior quanto menor a preocupação em re-conhecer os meios ambientais, do ar, água eterra. A poluição é o acompanhante mais fre-quente das máquinas evoluídas usadas pe-los humanos para produzir, se movimentar,

abastecer e formar conglomerados.Hoje, os excessos manifestados de tem-

peraturas, umidade, graus de secura, des-gastes hidrográficos ameaçam as próprias

vidas que delas dependem. Áreas deser-tificadas dramatizam as paisagens.

Que fizemos da Terra?O planeta está desgastado. Parece que

os abusos se acentuaram para alterar nega-tivamente o equilíbrio vital.

Não nos demos conta do mal que fize-mos e continuamos a fazer sem tréguas.

Para não ir longe, olhemos à nossa vol-ta. O veranico de Maximiano, dos cerca de20 dias de janeiro de cada ano, se manifes-tou intenso e feroz no calor, desta vez mui-to seco.

Os eucaliptos ganham espaço e a secase acentua. O solo já gretado do eucaliptal éuma prova. Os pequenos mananciais, asnascentes dos riachinhos da encosta serra-na vão minguando e já estão morrendo.

Nas catadupas das chuvas torrenciais,parecem renascer, mas têm vida curta. Tor-nam-se temporários. Da Mantiqueira, “a ser-ra que chora” dos indígenas, vai desapare-cendo a rica e densa mata heterogênea paraceder ao imperativo e pontiagudo aglome-rado alinhado do eucaliptal.

A mata do morro onde se instala oloteamento da Vila Santa Isabel cede, cadavez mais, lugar à ocupação humana, que seexpande e precisa de moradia. Belíssimamata heterogênea, de árvores altas, para aqual levei, um dia, um pai de família e seus

O que fizemos da Terra?

O mundo vem passando por um esgo-tamento dos recursos naturais e, conse-quentemente, transformações no clima, queafetam diretamente a qualidade de vida dohomem e põem em risco a sobrevivência deoutros seres vivos.

Para transformar essa realidade, muitospesquisadores, políticos e instituições têmdiscutido sobre a questão da susten-tabilidade – uma forma de vida em harmo-nia econômica, social e ambiental. No en-tanto, é preciso que haja, por parte da po-pulação, engajamento em ações sustentá-veis. A estiagem intensa por que passa osudeste brasileiro e a decorrente falta de

pequenos filhos, e, lá dentro, nos perdemos,e encontrei a saída seguindo ensinamentosrecebidos. Hoje está cada vez mais reduzi-da. Fantásticas aquelas árvores altíssimas

que emitiam cipós alongados seenraizando para, numa espécie dedossel, dar firmeza ao edifícioarbóreo. Vai se reduzindo. No fu-turo, serão somente casas?

A verticalização das constru-ções dos apartamentos ameniza,um pouco, essa demanda por es-paço. O cemitério deverá ser, tam-bém, verticalizado?

A penúria geral se manifestano nosso rio, tão importante eixoda cidade. Cada vez mais seco oantigo caudal da minha infânciae juventude.

Nós, crianças, adorávamosentrar no rio até a água pelos joelhos.

Nas grandes cheias, víamos pela jane-la da cozinha do casarão do avô passaremmóveis, peças de madeira e até capivarasque aportavam os quintais abertos. Onosso tinha paredão. Víamos o bicho láembaixo!

Divertíamo-nos, espremidos na janela.Hoje, o rio é uma corrente exígua, mal

cheirosa, que, vez por outra, sofre uma trom-ba d’água e ameaça casas e gentes.

Mas é um rio praticamente morto.Faço votos para que a população en-

contre o caminho de uma solução melhorpara nossos problemas, contribuindo comos poderes constituídos no esforço de re-cuperar o meio ambiente prejudicado.

Que possa ser compreendido que a emis-são de gases estufa a partir da queima decombustíveis fósseis, o que aumenta o aque-cimento global. Carlos Nobre, o mais desta-cado climatólogo brasileiro, enfatiza a ne-cessidade de que o Brasil busque urgente-mente desenvolver sistemas e infraestruturaresistente ao aumento dos extremos climáti-cos. Para ele, é preocupante a relativa dimi-nuição recente dos preços do petróleo e gás,que, se persistir, irá causar um inevitávelaumento das emissões. Como evitar a cala-midade que se anuncia?

Dóli de Castro Ferreira

água em muitas cidades são consequênciasde agravos ambientais do passado que re-percutem hoje em nossas vidas.

Sem água potável, o alicerce da vida noplaneta, a sociedade humana desaparece.

Apesar de o Brasil ser o país que possuias maiores reservas de água potável domundo, não podemos nos descuidar da pre-servação de nossas nascentes e das práti-cas de uso que evitem ou, pelo menos, re-duzam o desperdício.

Devido à falta de conscientização dapopulação nas cidades, a maioria das pes-soas não sabe de onde vem a água que con-some. Para elas, as torneiras são como ins-

trumentos mágicos que fazem “brotar”água das paredes. Isso cria a falsa percep-ção de fartura, de disponibilidade eterna.Com isso vem o desperdício.

A fim de reverter essa situação, é fun-damental que as escolas proponham paraos alunos, em suas práticas pedagógicas,uma conscientização sobre a importânciada água. Sua disponibilidade e qualidadedependem de hábitos de consumo e de me-didas de proteção dos mananciais.

O desenvolvimento, o desperdício, odesmatamento, as queimadas e a poluiçãosão as maiores ameaças ao acesso à águapotável.

O acesso à água potável está ameaçado

O ESTAFETA Página 5Piquete, fevereiro de 2015

Em 2015, comemoram-se 100 anos da ele-vação da Vila Vieira do Piquete à condiçãolegal e política de Cidade de Piquete (1915).Aos cidadãos e cidadãs piquetenses pas-sa-se a solicitar que providenciem asmelhorias necessárias para dar ao lugar afeição de cidade, cujo título emancipatórioregistra. Melhoria do arruamento, códigosde uso do espaço, controle de animais sol-tos, coberturas de telhas ao invés de pa-lhas, limpeza, e higiene, quer pública, querdoméstica.

Nos inícios do século XX, as casas erammuito simples, de praticamente um únicomodo de construção, de tijolos ou, ainda,várias somente de barro socado e coberturade palha, o que chamávamos sapé, piso dechão não assoalhado. Sem forros, emboraseja demonstrado que essas casas poderi-am ter boa aeração, protegessem das chu-vas e das fortes variações térmicas, que,segundo parece, não eram tão fortes comoas de agora, alteradas pelas agressões aomeio ambiente. Mas, a proliferação de inse-tos e pequenas animais agressores poderiater livre passagem, já que o cuidado com olixo não é até hoje tão respeitado por umapopulação carente de processos educativos,portanto, mal sensibilizada pelas tímidascampanhas ligadas a cuidados higiênicos.É mais comum ao brasileiro não suficiente-mente esclarecido se apiedar de figuras ne-gativas quanto à higiene mostradas na tele-visão do que admitir ser necessário evitarque essas figuras se repitam.

Foi assim o caso do “sujismundo”, umafigura repelente que meus alunos, emboraadultos, numa escola de ensino supletivo,dele se apiedassem (principalmente as mu-lheres, carentes de tudo), e de modo geraloptassem por votar nele em eleições desa-creditadas.

Uma somatória de erros que hoje, pare-ce, se avolumaram. Corrupção é o nome maisgeneralizado.

Pois bem. Em 1915, Piquete é catego-rizada como cidade. Uma estrutura adminis-trativa começava a se delinear. No camposocial, muito por fazer, principalmente no

trato educacional e de higiene. 100 anosdepois, nossa presidenta Dilma Rousseff,empossada pela vitória eleitoral da reelei-ção (2014) por mais 4 anos no poder admi-nistrativo federal, propõe como lema “UmaPátria Educadora”. Ainda em tempo, paraque nossa cidade possa almejar um futuromelhor, de se impor como uma polis verda-deira, a cidade propriamente dita, e se equi-parar ao progresso econômico de suas vizi-nhas valeparaibanas e, principalmente, tor-nar sua população jovem mais afeita ao tra-balho. Longe dos riscos da ociosidade, prin-cipalmente os menos privilegiados pela fa-mília dependente das benesses do Estado.

Pois bem, dizíamos: em 1915, Piquete ain-da estava preso a conflitos políticos gera-dos numa sociedade de lideranças rurais,proprietários de terras ou capitais (ou crédi-tos a esses atrelados). O voto de cabresto,comandado pelos fazendeiros, amargava asdisputas eleitorais quando a ideia decivilismo no seu amplo contexto animava osespíritos mais liberais contra o conser-vadorismo mais ferrenho herdado da antigaestrutura agrária. Estávamos no período re-publicano, mas não propriamente democrá-tico, que seria a ideia republicana por suasorigens. Aqui, como no Vale do Paraíba emgeral, a arcaica estrutura agrária permaneciaatrelada aos tratos imperiais, fortementehierarquizada nos baronatos e na antiganobreza de trocas de favores.

O município que se encabeçava pela ci-dade de Piquete muito pobre recebera a ins-talação da Fábrica de Pólvora. Esta arregi-mentava a força de trabalho entre os menosprivilegiados, os brancos pobres e os ex-escravos e distinguia os letrados (poucos)nos cargos burocráticos.

À medida que a preparação da mão deobra requerida pela indústria instalada cres-cia, mais gente entrava para os quadros daprodução de pólvora. A cidade começava acrescer e diversificar suas funções.

Militares e civis organizavam-se comocomponentes da sociedade e em equipamen-tos demarcados nas áreas de construçãodefiniam o arcabouço do sítio urbano. Pré-

Em Piquete, há 100 anos (1915 – 2015)dios mais sofisticados eram construídos euma Vila Militar definia-se por uma infraes-trutura bem equipada nos serviços de água,esgoto e iluminação pública e doméstica. Anomeada Vila Militar da Estrela despontavacom um traçado urbano planejado dadocomo pioneiro em toda a região valepa-raibana. Admirados os que a visitavam peloserviço de esgoto e de água, pelo calçamento– quando o resto da cidade carecia deste –e um novo modelo de organização social im-posto pelo militarismo. Definia-se dentro daurbe uma divisão de áreas que do oficialatoacadêmico emergia como modo de opera-ção (modus operandi).

Afinal, a engenharia militar do Exércitovem de uma tradição desde os tempos colo-niais e imperiais, quando a organização doespaço representava a forma de poder e re-queria um trabalho cartográfico preciso ebem fundamentado.

Continuaremos essas reflexões paraabordar a modernização que o militarismopassou a exigir.

Dóli de Castro Ferreira

Em 1906, a então Vila Vieira do Piquete

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O ESTAFETAPágina 6 Piquete, fevereiro de 2015

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Tentações vocacionais...Pijama, camisa social

e gravataEdival da Silva Castro

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

Vestido à risca, garboso e brioso, meuquerido pai impunha sua personalidade.

De sorriso enternecedor e descontraídoabaixo dum bigode encorpado, cativava aspessoas como por encanto. Seus quase doismetros de altura caíam-lhe perfeitos no cor-po magricela.

Fazia dos amigos aliados do coração.De andar macio, procurava apoiar os pés

de leve no chão, devido aos calos. Por isso,calçava sapatos de tricê. Aí estava seu mai-or charme: a cadência do andar o tornavaelegante.

Pelo inverno, além do terno impecável ede um chapéu de feltro cinza, ostentava umaenorme capa que lhe ia até os pés. Era rarover alguém vestir-se daquela maneira; aspessoas cruzavam com ele e, admiradas, pa-ravam, olhavam e diziam:

– Eh, seu Noriva, já vai para a sessão daCâmara?

Como era querido dos transeuntes!Era pai bondoso, honroso e disci-

plinador: às vezes ralhava-nos com um sim-ples olhar.

Certa tardinha, eu e ele fomos até ao fun-do do quintal apanhar goiabas. Lá existiauma goiabeira com frutos de polpa verme-lha, que eram chamariscos ao paladar.

Lembro-me como hoje: papai de ternocinza, camisa social branca e gravata bran-ca listrada de cinza, dirigia-me na colheitados frutos:

– Pega aquela! Olha lá em cima, debaixoda folha, uma amarelinha!

Foi justamente a amarelinha que se des-prendeu do galho e se espatifou no chão.Papai, sem notar, pisou sobre a mesma, es-corregou, levou um tombo e se enlameoutodo. Eu quis rir, mas contive-me devido àdureza da queda.

Com os braços abertos, como coisa quequeria voar, calça e paletó enlameados, pi-sando esquisito, saiu resmungando:

– Que m...! Que m...!Descendo da goiabeira, comecei a falar

sozinho:– Puxa vida, um barrão danado no quin-

tal e o papai de terno e gravata... Queria oquê?

Aí despenquei a rir.Sua fama de vestir-se bem o deixou vai-

doso. Tanto é que nas horas de repouso ofazia de pijama, camisa social e gravata.

Bateu um feriado na quinta-feira, outrana sexta e o resto foi um emendão só.Folgança de quatro dias. Três seminaristasde um Liceu de São Paulo aproveitaram paraconhecer Brasília, recém-inaugurada. Con-seguiram carona em um avião da FAB que láos deixou. Início dos anos 60... Aos maisperspicazes, dá chance de concluir que eraépoca em que padre não podia andar sembatina. Se para estes era assim, para os se-minaristas a barra deveria ser ainda maispesada. Isso, pelo menos, é o que se imagi-na.

Em terras brasilienses, o trio embatinadoviu o que viu ou o que tinha de interessantepara pré-padre ver. Nem sei se esbarrarampelos aglomerados lá dos ex-candangos. Éprovável que não!

Todos sabem que relógio em feriado rodamais que pneu de carro de Fórmula 1 emgrande prêmio! Quando se deram conta, avolta seria no dia seguinte. Chegaram até arodoviária para marcar passagem. Retorno,com a grana de cada um mesmo. À noite,algum diabinho desgarrado conseguiu fu-rar a área protetora do trio ou surpreendeuo anjo da guarda deles tirando uma pestanae induziu-os a praticar algo fora do “script”:viaja à paisana. Pensado à noite, executadona manhã seguinte...

Primas horas de domingo, apresentarampassagem ao motorista, tomaram assento jádeterminados a esperar... Bateu a hora dapartida e o ônibus neca de movimento. Dezminutos além e o chofer do lado de foraaguardando ordens para por pra rodar... Vinteminutos... Trinta... Passageiros começarama bronquear e até o condutor do veículo es-tava irritado. Um deles achou por bem son-dar o que estava provocando aquele atraso.Voltou com a notícia de que estavam aguar-dando a chegada de três padres que haviammarcado passagem na véspera e que nãoapareciam...

Imaginem a cara dos três pecadores!Apresentaram-se ao motorista explican-

do-lhe serem eles os de ontem... Apenas semas vestes clericais. Por fim, o ônibusestradou, e a trinca, meio no enruste, prova-velmente vinha desfiando contas de um ro-

sário implorando compreensão daquelesolhares belicosos dos outros usuários.

Capital paulista!Desceram no antigo ponto da Cometa e

tomaram um taxi rumo ao Liceu. Meus ami-gos, nem tentem prever o que aquele diabi-nho de linhas atrás havia aprontado aosfuturos padres! O carro rodava pelas ruasda Pauliceia e o motorista, através doretrovisor, começou a estranhar uma movi-mentação incomum no banco traseiro, ondeestavam os três assentados. Pelo espe-lhinho, via pano preto entrado pela cabeçade um, manga em braço de outro, um mexe-mexe anormal acompanhado de alguma coi-sa parecida com mantos negros. Que pen-sou o homem do volante? Não sei! A ape-lação, sim: aquela do mais vale prevenir...Pisou no acelerador e foi direto ao primeirodistrito policial que estava em seu trajeto.Chegou e deu uma freada de fazer criançanascer antes da hora. Os três foram arre-messados para o piso do estreito corredor-zinho, inteiramente embolados. No queparou, o chofer abriu sua porta e disparouposto adentro aos berros de socorro. Deimediato, cinco soldados armados cerca-ram o carro. Diante das ordens e dos canosencostados no corpo, o trio conseguiudesembaralhar-se e tremelicante saiu docarro.

Introduzidos no distrito, terminaram decompor-se com as sotainas negras. Diantedo delegado, brancos como cera e suandoem cascatas, trocaram tudo em miudinho prohomem da lei. Finalmente, “tudo tomou seulugar, depois da banda passar”.

Como os três não seguiram a carreiraeclesiástica (hoje são distintos cavalheirosbem casados), podemos admitir que aquelechifrudinho, que furou o cerco de purezadaqueles seminaristas lá em Brasília, deveter-lhes aberto os olhos e a consciência paraos problemas vocacionais.

Devem ter passado horas de meditaçãoe reflexão, concluindo que o negócio delesera correr pela raia de fora. Caíram nesta dolado de cá, onde todo mundo peca e, comodizem os amigos, em conlusão, ninguém fazpenitência.

A Fundação Christiano Rosa, a direção de O

ESTAFETA e seus colaboradores dividem com vocês,

caríssimos leitores, a satisfação de comemorar

18o ano de circulação de seu órgão informativo.

Garantir o resgate e a divulgação da história de Piquete,

além de defender os ideais e objetivos da Fundação, é a

motivação para continuar esse trabalho, já reconhecido em Piquete

e em toda a região. Que venham muitas edições ainda!

O ESTAFETA na maioridade!

O ESTAFETAPiquete, fevereiro de 2015 Página 7

O Brasil pulsa sob clima de histeria. Onovo governo, chefiado por Dilma Rousseffe representado por uma coalizão de quaseuma dezena de partidos, iniciou-se debaixode uma chuva de críticas. Oferecendo umasaída pela direita à crise financeira – fazen-do os trabalhadores pagarem pelairracionalidade do sistema econômico – ecom a imagem combalida graças à OperaçãoLava-Jato, que investiga crimes cometidosno seio da maior estatal brasileira, o gover-no petista vê-se sob uma avalanche de pe-didos de impeachment e cassação de man-dato, num ritual um tanto macabro que dáespaço a invocações à ditadura, interven-ção militar e outras aberrações do gênero.

Como as verdades não são estáticas edependem sempre das relações intrincadasentre passado, presente e futuro, é preciso,primeiro, saber como chegamos aqui. E pas-mem! O PT, ao contrário do que imaginamou querem alguns, não inventou a roda dacorrupção no Brasil. A falcatrua na políticabrasileira vem de águas profundas e seuberço se localiza na própria fragilidade dasinstituições democráticas do país. Os avan-ços iniciados pela revolução de 30 – quealém de promulgar os direitos trabalhistasatravés de Getúlio Vargas, também criou aJustiça Eleitoral, os órgãos fiscalizadores eos partidos nacionais – sofreram um durogolpe em 1964, com a tomada ilegal do po-der pelos militares. As instituições republi-canas, que até então vinham se desenvol-vendo, caíram por terra e o período que semanteve até o fim da ditadura foi marcado,ao contrário do que dizem alguns, pelacorrupção na sua acepção mais ampla e durada palavra. Afinal, nada mais corrupto doque um governo que assassina opositores

e estabelece a tortura como política de esta-do. Além, é claro, da sistemática ocorrênciadas tradicionais maracutaias com dinheiropúblico – vide a megaconstrução daTransamazônica, mal planejada e até hojesem término, que conta com centenas dedenúncias nunca investigadas. Arefundação das instituições democráticasbrasileiras pela Constituição de 88 estabe-leceu, sem dúvida, avanços consideráveisno combate à corrupção. Os três poderesvoltaram a ganhar independência e os ór-gãos fiscalizadores passaram, mais uma vez,a existir de fato. Ainda assim, nossas insti-tuições políticas seguem carecendo de mu-danças. Enquanto, por exemplo, persistir ofinanciamento privado de campanha, que,literalmente, dá aos empresários a oportuni-dade de comprarem deputados, e as eleiçõesseguirem inchadas de partidos sem progra-ma político, com a única pretensão de viveràs custas do dinheiro que sugam, de manei-ra legal e ilegal, das instituições públicas,continuará difícil não associar política comcorrupção.

Ainda sobre impeachment e corrupção,cabe ressaltar um fato óbvio: a repúblicabrasileira, também ao contrário do que pen-sam alguns, não é uma balada de sábado ànoite, daquelas que se abandona caso acerveja esteja quente ou a música entediante.Um país democrático possui leis, institui-ções e mecanismos aferidores da vontadepopular. A escolha da maioria dos eleitorespor um governo, seja ele simpático, desa-gradável ou pitoresco segundo nossosolhos, não pode ser descartada como copoplástico. A constituição estabelece que, paraque se abra um processo constitucional decassação do presidente, é preciso que seja

apontada a execução de um crime por partedo mesmo, seja o crime comum, de respon-sabilidade, por abuso de poder ou violaçãoconstitucional. O que, até agora, investiga-ção nenhuma apontou. Portanto, pelo bemda democracia e do bom senso, é precisocalma com o andor.

Por último, cabe a reflexão derradeira.Derruba-se a presidente. Certo. E depois? Arepública brasileira, assim como não é umabalada, também não tem traços de loteriaesportiva, na qual o prêmio (nesse caso, opoder) se transfere para o segundo que fazmais pontos caso o vencedor estejainviabilizado. Quero dizer: o impeachmentde Dilma não coloca Aécio e seus asseclasno Palácio do Planalto. Na verdade, o su-cessor natural de uma possível queda dapresidente seria o seu vice, Michel Temer,figura central do deteriorado PMDB, aquelemesmo que troca apoios por cargos comoquem troca panelas por bugigangas.

Em suma, é preciso dizer que, na atualsituação dos fatos, qualquer pedido deimpeachment, vindo de quem for – seja dosensandecidos do facebook ou dos parlamen-tares da oposição – representa golpe. Poressência, atenta contra a democracia e criainstabilidade política nas instituições que,a duras penas, homens e mulheres têm seesforçado por construir. A derrubada de umpresidente nem de longe representa a solu-ção dos problemas brasileiros. O que preci-samos, de fato, não é de um novo chefe deestado, mas sim de reformas – urbana, uni-versitária, política, tributária, econômica –que possam, de maneira efetiva, recolocar oBrasil no caminho da justiça social. Pra isso,sim, é necessário e virtuoso ocupar as pra-ças. Rafael Domingues de Lima

Histeria nacional

Jamais dei crédito a horóscopo ou aoutros artifícios divinatórios. Mas confes-so que senti um arrepio na espinha quan-do tomei conhecimento de que GavriloPrinzip, o estudante sérvio que as-sassinou o Arquiduque da Áustria,dando início à Primeira Guerra Mun-dial, havia nascido a 18 de julho, mi-nha data natalícia.

Anos mais tarde sosseguei com-pletamente – também Nelson Man-dela, homem de paz, veio ao mundona mesma data.

Atualmente, um rastro de morteatinge a ilha de Lampedusa, ao sul daItália.

Dada a sua proximidade com ocontinente africano, muitas embarca-ções despejam levas de emigrantesque sonham um futuro melhor na Eu-ropa.

E o que encontram é a morte. Em-barcações precárias se perdem no Mediter-râneo. Morrem nos naufrágios, de fome, desede e de frio.

A Europa, sem encontrar uma soluçãopara o desemprego, não quer receber os afri-canos.

Os mesmos colonizadores que saquea-ram a África, quando recebem seus filhos,criam fortes barreiras para sua ascensãosocial.

Projetos de poderEntão, por que insistem em emigrar? Por-

que os projetos de poder minaram os paísesque se criaram artificialmente após a retira-da dos colonizadores.

Dois grandes crimes brotam dessas lu-tas internas.

O primeiro é o abandono de crianças. Eas que permanecem com suas famílias co-nhecem o triste enigma da sobrevivênciasem dignidade.

A mídia exibiu para o mundo uma crian-ça com uma vasilha de água turva na mãodizendo: “Não sei que gosto tem a águalimpa”.

O segundo crime é o dos privilégios. Ajuventude que se esforça para merecer umlugar ao sol já entendeu que vai ter de cederàs exigências de líderes muitas vezes fanáti-

cos, garantidos pela força das ar-mas.

O futuro tem uma porta só – ada subserviência. Eis o segundocrime.

Na Europa, a atitude de Ga-vrilo Prinzip cobriu o chão de ca-dáveres da guerra e da gripe.

De quantos Mandelas preci-saria a África para salvar seus fi-lhos?

O Sahel é o limite entre as duasÁfricas.

No momento, a única saída é acriação de dois grandes camposde refugiados, um em cada umadelas, com gestão internacional.

Não um campo de fugitivos,cuja única esperança é manter-se vivo.

Mas um campo onde as crianças pos-sam desenvolver seus cérebros e os jovenspossam planejar seu futuro.

Os africanos não podem continuar mor-rendo no Mediterrâneo. As crianças nãopodem continuar a beber água suja. E a es-perança não pode continuar sendo arranca-da do coração dos jovens.

Abigayl Lea da Silva

Lampedusa, uma das principais entradas de imigrantes na Europa

(Reprodução)

O ESTAFETA Piquete, fevereiro de 2015Página 8

Coisa medonha foi aquela madrugada.Às quatro da manhã o galo inda não haviacantado, ouvi latidos no lugar. Pouco de-pois o ganso gemia – eram gemidos de mor-te. Bem que a coruja tentou me avisar: du-rante a noite, ela ficou horas piando tristeno pé de Conde. Levantei-me às pressas,corri o quanto pude ao terreiro. Os malfei-tores ainda estavam na cena do crime: eramos três cãezinhos nascidos e criados nasruínas da antiga Casa Paroquial. Estão cres-cendo como bichos do mato. Ninguém con-seguiu domesticá-los. Falta de tentar nãofoi. O que consegui até hoje foi deixar águae ração para que comam e bebam às escon-didas. Os ingratos mataram dois galos mú-sicos, oito galinhas poedeiras, três gansos,dois marrecos, dois patos, cinco patas queestavam botando e deixaram uma patinha àbeira da morte. Sobraram poucas galinhas,um casal de perus e um galo velho, cego deum olho por conta de uma briga, que, rou-co, mal pode cantar. Mandei abrir uma covafunda e sepultar os bichos como se fossemgente. É um jeito de homenageá-los... Mui-tos deles foram meus companheiros desdeque me tornei Vigário em Silveiras. Queriaque morressem de velhos, mas tiveram otempo abreviado pelos cãezinhos. Nem ascascavéis, os gambás e os calangos, quesempre descem do mato para visitar o gali-nheiro, jamais fizeram tamanha mortanda-de.

Os bichos podem ser bons amigos –mesmo as aves domésticas e os passarinhosque vivem soltos criam amor na gente. Háum jacu de papo vermelho que não deixaque se passem dois domingos sem que metenha feito uma visita. Ele mora longe, dooutro lado da cidade, mas não deixa de virsempre que pode. Quando aparece, sirvo-lhe bananas ou quirera... Ele come calma-mente, conversa um pouco e se vai.

O primeiro texto da Bíblia, o capítulo 1de Gênesis, narra a Criação. No verso 29,Deus fala sobre a alimentação do homem eda mulher: “Vejam, eu lhes dou as ervas quesemeiam sementes, ervas que estão sobre aterra inteira; e todas as árvores com frutosque semeiam sementes: será alimento paravocês. E para todas as feras da terra, paratodas as aves do céu e para todo bichinhoda terra que tenha vida dou a relva comoalimento. E assim foi. E Deus viu que tudoera muito bom.” Para Gênesis 1, Deus nosfez vegetarianos e comensais dos bichi-nhos. A Bíblia não é um único livro, há mui-tas divergências, ideias diferentes nos di-versos textos, no que se refere à alimenta-ção, o vegetarianismo não predominou natradição bíblica. É uma pena! Em Gênesis 1,porém, não se pode matar os animais,  nempara comer. As ervas é que nos servem dealimento. Bela intuição.

Da tradição cristã não aprendemos mui-to a guardar a vida dos animais, exceto com

Francisco de Assis. Sempre fomos muitocarnívoros. Na época dos estudos no se-minário, tínhamos um criame de lebres. Euera quem matava os bichinhos. Hoje pensoque é o maior pecado que levarei para Deus.Aprendi isso dos Hare Krishna, ao visitar aNova Gukula, fazenda que possuem emPindamonhangaba. Lá não se matam ani-mais, não se come carne, nem mesmo comsanduíches de presunto se entra naquelafazenda. Coisa bonita! Comungam da in-tuição de Gênesis 1.

Em Gubbio, na Itália, ainda existe numsarcófago junto aos dos frades, na igreja,com os ossos de um lobo que aterrorizou acidade alimentando-se dos animais e até depessoas. Todos andavam armados para sedefender e matar o lobo. Francisco de As-sis, ao passar por lá, ofereceu-se para con-versar com o animal e assim o fez. Ganhoua confiança do bicho, que se tornou amigode Francisco e dos moradores de Gubbio.Eles passaram a alimentá-lo e lhe deram abri-go. O lobo morreu de velhice, querido portodos, sem nunca mais atormentar a nin-guém. Quando se ama as criaturas, elassabem corresponder.

 Tenho tentado conversar com oscãezinhos selvagens... Não possuo ocarisma nem a santidade de Francisco, maspode ser que, aos pouquinhos, consigaconvencê-los a não atacar mais o galinhei-ro. Pe. Fabrício Beckmann

Os bichos podem ser bons amigos

Até há bem pouco tempo, a crise hídricapor que passa o Sudeste brasileiro erainimaginável.

Quando poderíamos pensar que a regiãopudesse enfrentar um período tão grave deseca e que os inúmeros reservatórios seca-riam, expondo o fundo ressequido e trinca-do como no semiárido nordestino?

Bem comum e essencial para a vida naTerra, a água é um patrimônio que deveriaser tratado com grande carinho e reverenci-ado como gerador e mantenedor da vida.

Nossa região, até então consideradagrande produtora de água, viu, em poucosmeses, inúmeras nascentes minguarem oumesmo secarem deixando moradores boqui-abertos. A Mantiqueira, conhecida como a“serra de inúmeras nascentes”, tributária do

Paraíba do Sul, assiste, dia a dia, aos seusmananciais serem duramente castigados.Até pouco tempo atrás, problemas relacio-nados à água eram tratados como questõesde distribuição e de engenharia. Quase nadase falava sobre a necessidade da produçãode água ou a gestão dos recursos hídricos.

Enquanto discursos e debates de pou-co resultados eram tratados em diferentesfóruns por técnicos ditos especialistas, ocuidado com rios e mananciais – fundamen-tal para a disponibilidade de água de boaqualidade – era deixado para segundo pla-no ou mesmo descartado. Sem incentivo,áreas produtoras de água vêm sendo redu-zidas e as margens dos rios desprotegidas.Consequentemente, o volume e a qualidadevêm desaparecendo. Enquanto isso, politi-

camente, nossos governantes pouco ouquase nada têm feito para equacionar de ma-neira incisiva e efetiva o problema. As cida-des crescem e com elas a demanda por re-cursos que se tornam cada vez mais escas-sos.

A crise hídrica por que passamos talvezseja a oportunidade ideal para que a comu-nidade repense a relação que sempre tevecom a água e mude a maneira de utilizá-la.Apesar de não podermos produzir água emindústrias, podemos criar condições favo-ráveis para que o ciclo vital da água se rea-lize de forma intensa. Para isso, é precisorecuperar e preservar áreas de nascentes eproteger os cursos d’água com a ampliaçãoda cobertura florestal em suas margens omáximo possível.

A crise hídrica

Fotos Arquivo Pró-Memória

Projeto da FCR de revegetação de áreas derecarga em Piquete

A Serra da Mantiqueira tem que ser preservada afim de garantirmos água em Piquete

Cachoeira do Jaracatiá, em Piquete Cachoeira do Jaracatiá, em Piquete