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FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECÉM-NASCIDOS PARA UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL RECIFE 2013

FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

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Page 1: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO

REPRESENTACcedilAtildeO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER

DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA EQUIPE

MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA

NEONATAL

RECIFE

2013

FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO

REPRESENTACcedilAtildeO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE

RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA EQUIPE

MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA

NEONATAL

Orientadora Prof a Dr a Rosemary de Jesus Machado Amorim

Coorientadora Prof a Dr a Iracema da Silva Frazatildeo

RECIFE

2013

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de

Mestrado em Sauacutede da Crianccedila e do

Adolescente do Centro de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade Federal de

Pernambuco orientada pela Prof a Dr a

Rosemary de Jesus Machado Amorim

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

grau de mestre

Ficha catalograacutefica elaborada pela

Bibliotecaacuteria Mocircnica Uchocirca CRB4-1010

S246r Sarmento Fernanda Isabela Gondim

Representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para uma equipe multidisciplinar de terapia intensiva neonatal Fernanda Isabela Gondim Sarmento ndash Recife O Autor 2013

77 f il quad 30 cm Orientadora Rosemary de Jesus Machado Amorim Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco

CCS Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente 2013

Inclui referecircncias apecircndices e anexos 1 Morte 2 Receacutem-nascido 3 Terapia intensiva neonatal 4

Profissionais da sauacutede 5 Pesquisa qualitativa I Amorim Rosemary de Jesus Machado (Orientadora) II Titulo 6176 CDD (22ed) UFPE (CCS2014-149)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

REITOR

Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado

VICE-REITOR

Prof Dr Silvio Romero Barros Marques

PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO

Prof Dr Francisco de Souza Ramos

DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho

VICE-DIRETORA

Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos

COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS

Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

COLEGIADO

CORPO DOCENTE PERMANENTE

Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)

Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)

Prof Dr Alcides da Silva Diniz

Profa Dra Ana Bernarda Ludermir

Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira

Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto

Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho

Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro

Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva

Profa Dra Luciane Soares de Lima

Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos

Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees

Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira

Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim

Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli

Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho

Profa Dra Sophie Helena Eickmann

(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)

(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)

CORPO DOCENTE COLABORADOR

Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima

Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga

Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda

Profa Dra Cleide Maria Pontes

Profa Dra Daniela Tavares Gontijo

Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes

Profa Dra Rosalie Barreto Belian

Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho

SECRETARIA

Paulo Sergio Oliveira do Nascimento

Juliene Gomes Brasileiro

Janaiacutena Lima da Paz

Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee

Tudo que sou devo a vocecircs

Ao meu marido

Meu companheiro haacute 17 anos

Que seja para sempre

E a minha filha Letiacutecia

que ainda no meu ventre

tornou-me mais sensiacutevel

agrave temaacutetica desse estudo

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha

vida

Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos

exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim

Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia

da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos

ainda mais completos

Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho

Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas

Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de

casa

Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que

dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema

Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e

conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia

A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa

me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos

Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora

professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada

pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos

Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo

acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade

Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela

paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com

presteza

Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes

entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho

Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias

compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo

Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa

Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais

pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado

Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste

Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias

iniciais

Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca

Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e

vencemos

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

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qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

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palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

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unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

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the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

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Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

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realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 2: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO

REPRESENTACcedilAtildeO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE

RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA EQUIPE

MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA

NEONATAL

Orientadora Prof a Dr a Rosemary de Jesus Machado Amorim

Coorientadora Prof a Dr a Iracema da Silva Frazatildeo

RECIFE

2013

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de

Mestrado em Sauacutede da Crianccedila e do

Adolescente do Centro de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade Federal de

Pernambuco orientada pela Prof a Dr a

Rosemary de Jesus Machado Amorim

como requisito parcial para obtenccedilatildeo do

grau de mestre

Ficha catalograacutefica elaborada pela

Bibliotecaacuteria Mocircnica Uchocirca CRB4-1010

S246r Sarmento Fernanda Isabela Gondim

Representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para uma equipe multidisciplinar de terapia intensiva neonatal Fernanda Isabela Gondim Sarmento ndash Recife O Autor 2013

77 f il quad 30 cm Orientadora Rosemary de Jesus Machado Amorim Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco

CCS Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente 2013

Inclui referecircncias apecircndices e anexos 1 Morte 2 Receacutem-nascido 3 Terapia intensiva neonatal 4

Profissionais da sauacutede 5 Pesquisa qualitativa I Amorim Rosemary de Jesus Machado (Orientadora) II Titulo 6176 CDD (22ed) UFPE (CCS2014-149)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

REITOR

Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado

VICE-REITOR

Prof Dr Silvio Romero Barros Marques

PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO

Prof Dr Francisco de Souza Ramos

DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho

VICE-DIRETORA

Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos

COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS

Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

COLEGIADO

CORPO DOCENTE PERMANENTE

Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)

Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)

Prof Dr Alcides da Silva Diniz

Profa Dra Ana Bernarda Ludermir

Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira

Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto

Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho

Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro

Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva

Profa Dra Luciane Soares de Lima

Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos

Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees

Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira

Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim

Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli

Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho

Profa Dra Sophie Helena Eickmann

(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)

(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)

CORPO DOCENTE COLABORADOR

Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima

Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga

Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda

Profa Dra Cleide Maria Pontes

Profa Dra Daniela Tavares Gontijo

Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes

Profa Dra Rosalie Barreto Belian

Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho

SECRETARIA

Paulo Sergio Oliveira do Nascimento

Juliene Gomes Brasileiro

Janaiacutena Lima da Paz

Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee

Tudo que sou devo a vocecircs

Ao meu marido

Meu companheiro haacute 17 anos

Que seja para sempre

E a minha filha Letiacutecia

que ainda no meu ventre

tornou-me mais sensiacutevel

agrave temaacutetica desse estudo

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha

vida

Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos

exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim

Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia

da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos

ainda mais completos

Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho

Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas

Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de

casa

Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que

dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema

Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e

conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia

A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa

me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos

Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora

professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada

pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos

Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo

acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade

Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela

paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com

presteza

Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes

entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho

Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias

compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo

Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa

Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais

pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado

Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste

Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias

iniciais

Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca

Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e

vencemos

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

REFEREcircNCIAS

ALBA M El meacutetodo ALCESTE y su aplicacioacuten al estuacutedio de las representaciones

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TORRES WC GUEDES WG TORRES RC A Psicologia e a Morte Rio de

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 3: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

Ficha catalograacutefica elaborada pela

Bibliotecaacuteria Mocircnica Uchocirca CRB4-1010

S246r Sarmento Fernanda Isabela Gondim

Representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para uma equipe multidisciplinar de terapia intensiva neonatal Fernanda Isabela Gondim Sarmento ndash Recife O Autor 2013

77 f il quad 30 cm Orientadora Rosemary de Jesus Machado Amorim Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco

CCS Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente 2013

Inclui referecircncias apecircndices e anexos 1 Morte 2 Receacutem-nascido 3 Terapia intensiva neonatal 4

Profissionais da sauacutede 5 Pesquisa qualitativa I Amorim Rosemary de Jesus Machado (Orientadora) II Titulo 6176 CDD (22ed) UFPE (CCS2014-149)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

REITOR

Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado

VICE-REITOR

Prof Dr Silvio Romero Barros Marques

PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO

Prof Dr Francisco de Souza Ramos

DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho

VICE-DIRETORA

Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos

COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS

Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

COLEGIADO

CORPO DOCENTE PERMANENTE

Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)

Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)

Prof Dr Alcides da Silva Diniz

Profa Dra Ana Bernarda Ludermir

Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira

Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto

Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho

Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro

Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva

Profa Dra Luciane Soares de Lima

Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos

Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees

Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira

Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim

Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli

Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho

Profa Dra Sophie Helena Eickmann

(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)

(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)

CORPO DOCENTE COLABORADOR

Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima

Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga

Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda

Profa Dra Cleide Maria Pontes

Profa Dra Daniela Tavares Gontijo

Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes

Profa Dra Rosalie Barreto Belian

Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho

SECRETARIA

Paulo Sergio Oliveira do Nascimento

Juliene Gomes Brasileiro

Janaiacutena Lima da Paz

Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee

Tudo que sou devo a vocecircs

Ao meu marido

Meu companheiro haacute 17 anos

Que seja para sempre

E a minha filha Letiacutecia

que ainda no meu ventre

tornou-me mais sensiacutevel

agrave temaacutetica desse estudo

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha

vida

Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos

exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim

Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia

da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos

ainda mais completos

Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho

Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas

Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de

casa

Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que

dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema

Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e

conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia

A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa

me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos

Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora

professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada

pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos

Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo

acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade

Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela

paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com

presteza

Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes

entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho

Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias

compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo

Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa

Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais

pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado

Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste

Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias

iniciais

Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca

Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e

vencemos

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 4: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

REITOR

Prof Dr Aniacutesio Brasileiro de Freitas Dourado

VICE-REITOR

Prof Dr Silvio Romero Barros Marques

PROacute-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E POacuteS-GRADUACcedilAtildeO

Prof Dr Francisco de Souza Ramos

DIRETOR CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

Prof Dr Nicodemos Teles de Pontes Filho

VICE-DIRETORA

Profa Dra Vacircnia Pinheiro Ramos

COORDENADORA DA COMISSAtildeO DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO DO CCS

Profa Dra Jurema Freire Lisboa de Castro

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

COLEGIADO

CORPO DOCENTE PERMANENTE

Profa Dra Mariacutelia de Carvalho Lima (Coordenadora)

Profa Dra Maria Eugecircnia Farias Almeida Motta (Vice-Coordenadora)

Prof Dr Alcides da Silva Diniz

Profa Dra Ana Bernarda Ludermir

Profa Dra Andreacutea Lemos Bezerra de Oliveira

Prof Dr Deacutecio Medeiros Peixoto

Prof Dr Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho

Profa Dra Estela Maria Leite Meirelles Monteiro

Profa Dra Giseacutelia Alves Pontes da Silva

Profa Dra Luciane Soares de Lima

Profa Dra Maria Gorete Lucena de Vasconcelos

Prof Dr Paulo Saacutevio Angeiras de Goacutees

Prof Dr Pedro Israel Cabral de Lira

Profa Dra Rosemary de Jesus Machado Amorim

Profa Dra Siacutelvia Regina Jamelli

Profa Dra Siacutelvia Wanick Sarinho

Profa Dra Sophie Helena Eickmann

(Leila Maria Aacutelvares Barbosa - Representante discente - Doutorado)

(Catarine Santos da Silva - Representante discente -Mestrado)

CORPO DOCENTE COLABORADOR

Profa Dra Ana Claacuteudia Vasconcelos Martins de Souza Lima

Profa Dra Bianca Arruda Manchester de Queiroga

Profa Dra Claudia Marina Tavares de Arruda

Profa Dra Cleide Maria Pontes

Profa Dra Daniela Tavares Gontijo

Profa Dra Margarida Maria de Castro Antunes

Profa Dra Rosalie Barreto Belian

Profa Dra Socircnia Bechara Coutinho

SECRETARIA

Paulo Sergio Oliveira do Nascimento

Juliene Gomes Brasileiro

Janaiacutena Lima da Paz

Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee

Tudo que sou devo a vocecircs

Ao meu marido

Meu companheiro haacute 17 anos

Que seja para sempre

E a minha filha Letiacutecia

que ainda no meu ventre

tornou-me mais sensiacutevel

agrave temaacutetica desse estudo

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha

vida

Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos

exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim

Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia

da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos

ainda mais completos

Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho

Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas

Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de

casa

Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que

dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema

Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e

conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia

A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa

me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos

Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora

professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada

pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos

Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo

acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade

Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela

paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com

presteza

Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes

entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho

Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias

compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo

Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa

Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais

pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado

Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste

Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias

iniciais

Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca

Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e

vencemos

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 5: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

Dedico este trabalho ao meu pai e agrave minha matildee

Tudo que sou devo a vocecircs

Ao meu marido

Meu companheiro haacute 17 anos

Que seja para sempre

E a minha filha Letiacutecia

que ainda no meu ventre

tornou-me mais sensiacutevel

agrave temaacutetica desse estudo

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha

vida

Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos

exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim

Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia

da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos

ainda mais completos

Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho

Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas

Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de

casa

Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que

dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema

Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e

conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia

A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa

me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos

Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora

professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada

pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos

Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo

acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade

Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela

paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com

presteza

Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes

entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho

Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias

compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo

Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa

Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais

pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado

Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste

Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias

iniciais

Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca

Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e

vencemos

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

REFEREcircNCIAS

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TORRES WC GUEDES WG TORRES RC A Psicologia e a Morte Rio de

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 6: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

AGRADECIMENTOS

Agrave Deus e Agrave Nossa Senhora minha matildee do ceacuteu por encher de becircnccedilatildeos a minha

vida

Aos meus pais Fernando e Agdaci pelo amor pelos ensinamentos e pelos

exemplos Vocecircs satildeo tudo para mim

Ao meu marido Nilton Ceacutesar pelo amor pelo companheirismo e pela renuacutencia

da nossa convivecircncia em prol dos meus sonhos e desafios Com nossa filha seremos

ainda mais completos

Agraves minhas irmatildes Larissa e Laiacutesa pelo apoio e carinho

Aos familiares que torceram e torcem pelas minhas conquistas

Agrave ldquoNaninhardquo que abriu as portas do seu lar e foi meu apoio nas horas longe de

casa

Agraves amigas de residecircncia meacutedica Becca e Carol das reflexotildees e laacutegrimas que

dividimos nasceu agrave necessidade de estudar esse tema

Aos amigos da 26 a Turma de Mestrado com quem dividi anguacutestias desafios e

conquistas Vou sentir saudade da nossa convivecircncia

A amiga de mestrado Thaiacutes Helena que ainda nas ideacuteias iniciais dessa pesquisa

me ajudou trabalhando com o meu tema na disciplina de Meacutetodos Qualitativos

Agrave minha orientadora professora Rosemary Amorim e agrave minha coorientadora

professora Iracema Frazatildeo pelos ensinamentos pela paciecircncia e pelo carinho Obrigada

pela confianccedila e pelo enriquecimento dos uacuteltimos dois anos

Ao corpo docente da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pelo

acolhimento pelos ensinamentos pela compreensatildeo e pela disponibilidade

Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela

paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com

presteza

Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes

entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho

Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias

compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo

Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa

Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais

pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado

Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste

Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias

iniciais

Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca

Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e

vencemos

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 7: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

Aos funcionaacuterios da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente pela

paciecircncia diante das minhas ansiedades e pela disponibilidade de sempre me ajudar com

presteza

Aos colegas de profissatildeo e de trabalho que abriram seus coraccedilotildees e suas mentes

entregando-se as entrevistas que permitiram a realizaccedilatildeo desse trabalho

Aos meus pequeninos pacientes e suas famiacutelias pelas dores e vitoacuterias

compartilhadas Foram dessas histoacuterias e anguacutestias que nasceu essa dissertaccedilatildeo

Agrave Maternidade Frei Damiatildeo por ter acreditado na proposta dessa pesquisa

Ao Hospital Municipal do Valentina principalmente a diretora Fernanda Morais

pelo apoio que permitiu que eu chegasse ao fim desse mestrado

Agrave professora Faacutetima Santos pelas contribuiccedilotildees e orientaccedilotildees sobre o Alceste

Agrave professora Ana Augusta por ter participado desse trabalho desde as suas ideias

iniciais

Agrave professora Elizabeth Cordeiro pelas suas contribuiccedilotildees na banca

Agradeccedilo a todos que de alguma forma contribuiacuteram Juntos somos fortes e

vencemos

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

REFEREcircNCIAS

ALBA M El meacutetodo ALCESTE y su aplicacioacuten al estuacutedio de las representaciones

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TORRES WC GUEDES WG TORRES RC A Psicologia e a Morte Rio de

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 8: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

Eacute impossiacutevel conhecer o homem sem lhe estudar a

morte porque talvez mais do que na vida eacute na

morte que o homem se revela Eacute nas suas atitudes e

crenccedilas perante a morte que o homem exprime o

que a vida tem de mais fundamental

(Edgar Morin)

ldquoEu canto a dor

Canto a vida e a morte

Canto o amorrdquo

(Muacutesica ldquoO cantadorrdquo de Dori Caymmi e Nelson Motta

cantada por Elis Regina)

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 9: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

RESUMO

Esse estudo teve como objetivo conhecer as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer

de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici Foi realizada entrevista semi-estruturada com as

perguntas norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer

dos receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural

eou acadecircmico influenciam ou influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais Foi realizada anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical com o auxiacutelio

do software Alceste A amostragem se deu por saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram

dos dados trecircs classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a

finitude da vida as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte

representa o fracasso do profissional que luta para salvar vidas A falta dessa temaacutetica

na academia possivelmente gera conflitos que repercutem na representaccedilatildeo da morte e

do morrer A religiosidade e as vivecircncias do cotidiano privado e do trabalho foram

importantes para o lidar desses profissionais com a finitude Essa pesquisa demonstrou a

necessidade de educaccedilatildeo permanente e de inclusatildeo da temaacutetica da morte e do morrer na

academia na perspectiva de construir estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade

Palavras-chave Morte Receacutem-nascido Terapia intensiva neonatal Profissionais da

sauacutede Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

REFEREcircNCIAS

ALBA M El meacutetodo ALCESTE y su aplicacioacuten al estuacutedio de las representaciones

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TORRES WC GUEDES WG TORRES RC A Psicologia e a Morte Rio de

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 10: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

ABSTRACT

This study aimed to identify the social representations of death and dying newborns for

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit It is a qualitative research theoretical

framework of social representations theory of Moscovici To make this study the

authors made semi-structured interviews with the guiding questions What comes to

mind when you think about death and dying of newborns that you watched What

aspects of your sociocultural context and or academic influence or influenced your

way of dealing with death and dying in this situation There were 28 interviews of

professionals in a Neonatal Intensive Care Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil

including doctors nurses practical nurses physiotherapists speech therapists

psychologists and social workers It was make the lexical and content analysis with the

help of the software Alceste Sampling occurred by theoretical saturation speech There

were three classes the face of death and dying living with the finitude of life

sociocultural influences and academia Death is the failure of professional fighting to

save lives The lack of this theme in the university possibly generating conflicts that

affect the representation of death and dying Religiosity and daily experiences private

and at work were important for these professionals deal with finitude This research

demonstrated the need for continuing education and inclusion of the theme of death and

dying in the university in the perspective of building coping strategies of terminally

Keywords Death Newborn Neonatal intensive care Health professionals Qualitative

research

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 11: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

SUMAacuteRIO

1 APRESENTACcedilAtildeO13

2 REVISAtildeO DA LITERATURA17

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER18

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA23

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS26

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO31

31 ABORDAGEM DO ESTUDO32

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO33

33 SUJEITOS DO ESTUDO34

34 COLETA DE DADOS35

35 ANAacuteLISE DOS DADOS35

36 ASPECTOS EacuteTICOS39

4 RESULTADOS40

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS57

REFEREcircNCIAS60

APEcircNDICES65

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA66

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE67

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)68

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA70

ANEXOS75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA78

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

REFEREcircNCIAS

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 12: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

13

Apresentaccedilatildeo

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

REFEREcircNCIAS

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TORRES WC GUEDES WG TORRES RC A Psicologia e a Morte Rio de

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 13: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

14

1 APRESENTACcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo natural e biologicamente necessaacuterio

continua a ser um fenocircmeno cujo conceito representa um grande desafio Essa

dificuldade encontra-se no fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel

e influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim a morte incomoda por desafiar a ilusoacuteria onipotecircncia humana Ela pode

ter vaacuterios significados de acordo com agrave formaccedilatildeo estrutural cognitiva e religiosa de

cada sujeito Entretanto na sociedade contemporacircnea ocidental e capitalista a finitude

da vida eacute pouco discutida sendo excluiacuteda gradativamente do acircmbito social (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito com a morte e o morrer torna-se ainda mais complexo quando esta

ocorre ainda no iniacutecio da vida visto que essa situaccedilatildeo contradiz a ordem natural dos

fatos de que os mais velhos morrem primeiro e que os filhos devem enterrar os pais

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Este contexto cria uma negaccedilatildeo da morte e do morrer

principalmente na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e

vitalidade Quando consideramos os receacutem-nascidos essas questotildees satildeo ainda mais

complexas pois as maternidades satildeo locais de vida e natildeo de morte (SANTOS 2009)

Estas relaccedilotildees conflituosas com a morte se refletem tambeacutem no acircmbito

acadecircmico em que a temaacutetica do morrer e sua vivecircncia satildeo de certa forma relegadas ou

excluiacutedas da formaccedilatildeo dos profissionais que atuam na aacuterea da sauacutede Esse fato faz com

que esses profissionais sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano

que envolvem o processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Assim cria-se um paradoxo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das

praacuteticas de assistecircncia agrave sauacutede principalmente no que se refere agraves Unidades de Terapia

Intensiva A assistecircncia nestas unidades envolve tecnologias complexas pessoal

capacitado e pacientes graves Este ambiente exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas que levam a uma visatildeo estereotipada desses profissionais

como desumanos frios tecnicistas e incapazes de demonstrar afeto (SILVA

VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte afeta os

profissionais que lidam com o morrer Estudos que trabalham com temaacutetica da morte e

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

76

ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

77

ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

PESQUISA

Page 14: FERNANDA ISABELA GONDIM SARMENTO...Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4-1010 S246r Sarmento, Fernanda Isabela Gondim. Representação social da

15

do morrer demonstram sentimentos como tristeza fracasso frustraccedilatildeo perda e

impotecircncia para alguns profissionais e estudantes da enfermagem (BRETAS

OLIVEIRA YAMAGUTI 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA

RIBEIRO KRUSE 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010b)

Os profissionais de sauacutede que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

podem exercer suas atividades ateacute o final da vida dos bebecircs e apoacutes a morte dos mesmos

incluindo-se as relaccedilotildees com a famiacutelia nesse momento difiacutecil Por essas razotildees fazem-

se necessaacuterios estudos que abordem a morte e o morrer na perspectiva desses

profissionais na tentativa de trazer esse assunto agrave discussatildeo permitindo a melhor

compreensatildeo desse fenocircmeno para posteriormente ser possiacutevel a construccedilatildeo de

estrateacutegias de enfrentamento e cuidado para profissionais pacientes e familiares

Essa curiosidade e necessidade acadecircmica em discutir e estudar a morte e o

morrer de receacutem-nascidos nasceu justamente da minha praacutetica como intensivista

neonatal das conversas e laacutegrimas na passagem de plantatildeo das aguacutestias partilhadas

diante da morte que surpreende o iniacutecio da vida da necessidade de enfrentar essas

situaccedilotildees e seus conflitos da preocupaccedilatildeo com um cuidar que vai aleacutem do ldquosalvar

vidasrdquo Mas como enfrentar algo negado e pouco discutido Eacute preciso primeiro

conhecer

Foi nesta perspectiva que nasceu a pergunta condutora desta dissertaccedilatildeo ldquoQual

a representaccedilatildeo social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos assistidos por elesrdquo

Aleacutem do objetivo geral de conhecer essa representaccedilatildeo social este estudo teve

ainda os objetivos especiacuteficos de compreender qual o significado da morte e do morrer

desses receacutem-nascidos para estes profissionais conhecer os sentimentos deles em

relaccedilatildeo agrave morte e o morrer destes bebecircs perceber como se daacute o enfrentamento desta

problemaacutetica e identificar os elementos do contexto soacutecio-cultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na forma de lidar destes profissionais com a morte e o

morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Portanto esta dissertaccedilatildeo inclui-se na aacuterea de concentraccedilatildeo de Educaccedilatildeo e Sauacutede

da Poacutes-graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente da Universidade Federal de

Pernambuco na linha de pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Recursos Humanos na Aacuterea de

Sauacutede Ela seraacute apresentada inicialmente com um capiacutetulo de revisatildeo sobre o tema e o

referencial teoacuterico seguindo-se de um metodoloacutegico e um de resultados que seraacute

16

apresentado na forma de artigo original conforme modelo proposto pelo programa de

poacutes-graduaccedilatildeo com a ressalva de unir resultados e discussatildeo devido a sugestatildeo da

banca Esse modelo geral para o artigo foi utilizado porque o perioacutedico para publicaccedilatildeo

ainda natildeo foi definido

17

Revisatildeo da literatura

18

2 REVISAtildeO DA LITERATURA

21 O TEMA DA MORTE E DO MORRER

A morte representa um fenocircmeno inerente agrave existecircncia humana entretanto

conceituaacute-la ainda permanece como um desafio para os seres humanos e a ciecircncia Essa

dificuldade encontra-se no fato de o conceito de morte ser relativo complexo mutaacutevel e

influenciaacutevel pelo contexto situacional social cultural e comportamental (SANTOS

2009)

Assim o significado da morte modificou-se no decorrer das transformaccedilotildees

soacutecio-histoacutericas da humanidade Na Idade Meacutedia a morte significava a passagem para a

vida eterna ela era vista como um fenocircmeno natural intriacutenseco a vida e se dava em casa

com o apoio e a participaccedilatildeo da famiacutelia (COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Mas com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia essa compreensatildeo foi

sendo modificada e a morte comeccedilou a ser hospitalizada (SALOMEacute CAVALI

EPOacuteSITO 2009 ARIEgraveS 2012) Esta hospitalizaccedilatildeo natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo

das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de tecnologias avanccediladas que

prolongam a morte crendo que estatildeo prolongando a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Esta transformaccedilatildeo no lidar com a finitude da vida iniciou-se aproximadamente

a partir da metade do seacuteculo XIX quando o abismo entre a individualidade e o mundo

capitalista repercutiu sobre os conflitos da morte e do morrer Neste periacuteodo histoacuterico o

homem vivo pode quase tudo e a morte representa a interrupccedilatildeo do projeto humano de

transformar o mundo portanto significa impotecircncia e fracasso Uma forte preocupaccedilatildeo

da eacutepoca da transiccedilatildeo para modernidade e das sociedades industriais foi colocar os

mortos juntamente com o lixo cada vez mais longe do meio urbano e do conviacutevio

social Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor do morrer

(TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006 ARIEgraveS

2012) Jaacute no seacuteculo XX houve a continuidade desta profunda transformaccedilatildeo na maneira

de lidar com a morte a qual deixa de ser parte inalienaacutevel do curso da vida passando a

ser ocultada do cotidiano Assim ocorreu a supressatildeo do luto e dos sentimentos que

deram lugar a exigecircncia do falso controle sobre a situaccedilatildeo pelo fato de a sociedade natildeo

suportar ver os sinais da morte e do morrer (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

19

Este contexto soacutecio-histoacuterico de negaccedilatildeo da morte influencia tambeacutem a

formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de

certa forma relegadas ou excluiacutedas de sua formaccedilatildeo a qual termina enfatizando

aspectos teoacutericos-teacutecnicos principalmente no que se refere ao paradigma positivista e

cartesiano (COMBINATO QUEIROZ 2006) Tal fato faz com que esses profissionais

sintam-se despreparados para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o

processo do morrer (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Para eles a morte

representa o maior vilatildeo de seu trabalho pois em geral eles satildeo treinados para prolongar

a vida (COSTA LIMA 2005) portanto natildeo se encontram preparados para enfrentar a

finitude (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este conflito eacute ainda mais complexo quando envolve a morte e o morrer de uma

crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

Este abismo entre a formaccedilatildeo acadecircmica e o cotidiano das praacuteticas de assistecircncia

a sauacutede no processo do morrer satildeo ainda mais frequentes nas Unidades de Terapia

Intensiva (UTI) pois estes setores envolvem tecnologias complexas pessoal capacitado

e pacientes graves em um ambiente de tensatildeo que exige a tomada de decisatildeo raacutepida e a

adoccedilatildeo de condutas imediatas Essa rotina da atitude teacutecnica leva a uma visatildeo

estereotipada desses profissionais como desumanos frios tecnicistas e incapazes de

demonstrar afeto (SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a)

No entanto este ambiente de tensatildeo e conflito entre a vida e a morte tambeacutem

afeta os profissionais de sauacutede que passam entatildeo a evitar o contato com a morte o outro

e seus sentimentos Entretanto este processo de distanciamento nem sempre eacute efetivo e

pode gerar a perda na qualidade do cuidar do paciente e seus familiares e ateacute mesmo o

adoecimento do profissional com consequumlecircncias tambeacutem em sua vida iacutentima

(COMBINATO QUEIROZ 2006) levando a problemas de sauacutede fiacutesica e mental no

trabalhador (FOGACcedilA et al 2009)

Mas essa omissatildeo da temaacutetica do morrer natildeo ocorre apenas na vida cotidiana e

no senso comum ela tambeacutem ocorreu na ciecircncia Segundo Turato (2005)

20

ldquoo pensamento cientiacutefico moderno como se sabe

nasceu haacute quase quatro seacuteculos com Galileu A ele

se deve o legado de ter conferido autonomia agrave

Ciecircncia distinguindo-a da Filosofia e da Religiatildeo

delimitando assim qual seria seu objeto objetivo e

meacutetodo (observaccedilatildeo experimentaccedilatildeo e induccedilatildeo) A

ciecircncia estabeleceu-se desde entatildeo no objeto

especiacutefico das coisas da natureza ou seja no estudo

das leis que enunciam as ligaccedilotildees dos fenocircmenos

entre si enquanto a filosofia deveria ocupar-se das

questotildees ontoloacutegicas (do ser enquanto ser) e por

fim a religiatildeo manteria as chamadas verdades

religiosas como seu objetordquo

Assim a morte eacute excluiacuteda das coisas da natureza e passa a integrar o grupo de

objetos da Filosofia e da Religiatildeo Desta maneira mesmo quando abordada pela ciecircncia

o rigor cientiacutefico vigente exigia a quantificaccedilatildeo para comprovaccedilatildeo desse processo Esse

fato excluiu da perspectiva cientiacutefica aspectos importantes do morrer que natildeo podiam

ser quantificados devido agrave proacutepria natureza do objeto Isso reflete nas publicaccedilotildees sobre

essa temaacutetica principalmente no que se refere agrave aacuterea da sauacutede que soacute comeccedilaram a se

diversificar apoacutes os estudos de Elisabeth Kuumlbler-Ross nas deacutecadas de 60 e 70 como por

exemplo os claacutessicos Sobre a morte e o morrer (1969) e Morte estaacutegio final da

evoluccedilatildeo (1975) Apesar de outros autores como Osler e Feifel a terem precedido

(COMBINATO QUEIROZ 2006) foi a partir das discussotildees desses e de outros

trabalhos que a Tanatologia aacuterea do conhecimento que envolve o cuidado de pessoas no

processo de morte desenvolveu-se (TORRES GUEDES TORRES 1983 KOVAacuteCS

2008 SANTOS 2009 DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Atualmente essa aacuterea do

conhecimento cientiacutefico passou a ser denominada Biotanatologia pois passou a ser

compreendida como ldquoa ciecircncia da vida vista pela oacutetica da morterdquo (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

No Brasil merece destaque os trabalhos de Maria Helena Perreira Franco

coordenadora do Laboratoacuterio de Estudos sobre o luto da Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo de Maria Juacutelia Koacutevacs do Laboratoacuterio de estudos sobre a

morte da Universidade de Satildeo Paulo e de Wilma Torres que em 1980 atraveacutes da

Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas construiu o programa pioneiro em Estudos e Pesquisas em

Tanatologia (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Entretanto embora estes avanccedilos venham ocorrendo observa-se que apesar das

discussotildees dos anos 60 e 70 a morte voltou a ser pouco estudada na deacutecada de 90

quando entatildeo no seacuteculo XXI talvez pelos adventos dos cuidados paliativos dos

21

transplantes e da modificaccedilatildeo do conceito de morte gerados pela morte encefaacutelica esse

assunto retornou a pauta cientiacutefica (SILVA RIBEIRO KRUSE 2009)

Pesquisa feita em bases da Biblioteca Virtual de Sauacutede (BIREME-

wwwbiremebr) em junho de 2011 demonstrou a escassez de artigos relacionados a

perspectiva desta dissertaccedilatildeo Para sua realizaccedilatildeo foram utilizados os seguintes

descritores (DeCS MeSH) isoladamente direito de morrer ou direito a morrer atitude

frente agrave morte morte tanatologia Esses descritores foram selecionados a partir de

consulta a toda a lista de descritores relacionados ao tema em estudo Os descritores

representaccedilotildees representaccedilotildees sociais anaacutelise de conteuacutedo e finitude da vida natildeo foram

encontrados Foram considerados como criteacuterios de exclusatildeo os artigos com mais de

cinco anos natildeo disponiacuteveis na forma de texto completo que natildeo estivessem em

portuguecircs inglecircs ou espanhol e que estivessem repetidos Apoacutes o primeiro resultado

utilizou-se o limite ldquoreceacutem-nascidordquo Os resultados podem ser observados no Quadro 1

QUADRO 1 Resultado de pesquisa em bases da BIREME realizada em junho de

2011

DESCRITORES

Resultado

Limite

receacutem-

nascido

Textos

completos

com limite

receacutem-

nascido

Publicado

nos

uacuteltimos

cinco

anos

Selecionados

pela

temaacutetica

desse estudo

apoacutes leitura

de resumos

Direito de

morrer ou

Direito a morrer

4539

64

3

3

0

Atitude frente agrave

morte

12939 358 30 9 4

Morte 10761 349 31 6 2

Tanatologia 394 6 1 1 1

Foi entatildeo realizada leitura dos sete textos completos entretanto dois foram

excluiacutedos por repeticcedilatildeo e quatro por se tratarem na verdade de carta ao editor ou

publicaccedilatildeo de opiniatildeo ou debate natildeo se constituindo portanto em artigos cientiacuteficos

Dessa maneira o resultado final foi que apenas um artigo abordava a temaacutetica da morte

de receacutem-nascidos na perspectiva desta dissertaccedilatildeo considerando-se os criteacuterios de

exclusatildeo descritos anteriormente Entretanto este artigo de Silva e colaboradores (2010)

22

trabalhou apenas as percepccedilotildees da enfermagem e atraveacutes da fenomenologia enquanto

essa dissertaccedilatildeo objetivou compreender a representaccedilotildees social da equipe

multiprofissional

Devido agrave escassez de artigos encontrados foi realizada pesquisa mais ampla a

partir da leitura dos tiacutetulos de textos completos antes do uso do limite ldquoreceacutem-nascidordquo

Nesse processo foram selecionados mais trecircs artigos relacionados agrave temaacutetica desse

trabalho mas que natildeo se referem ao periacuteodo neonatal Aleacutem disso esses trabalhos

citados a longo desta revisatildeo de literatura traziam as percepccedilotildees e representaccedilotildees da

equipe de enfermagem e de estudantes de enfermagem natildeo abordando outras classes

profissionais

Um outro aspecto importante no lidar com a finitude encontra-se nos dilemas

que vecircm trazendo a perspectiva da bioeacutetica para estudos sobre a morte e o morrer Tais

discussotildees tornaram-se mais intensas com as mudanccedilas na abordagem do cuidar que

passaram a dar ecircnfase agrave humanizaccedilatildeo agrave qualidade de vida ao cuidado com o luto e agrave

autonomia dos pacientes e familiares no processo de morte Outros aspectos polecircmicos

incluem as discussotildees sobre distanaacutesia (prolongamento da morte e do sofrimento)

ortotanaacutesia (ldquomorte lsquocorretarsquo ou humanardquo) e eutanaacutesia (ldquoboa morterdquo) (CATLIN

CARTER 2002)

Na neonatologia estes conflitos eacuteticos satildeo ainda mais intensos pois se incluem

nesse debate a questatildeo dos limites de viabilidade e da relevacircncia das sequelas

apresentadas por prematuros extremos ou receacutem-nascidos malformados na tomada de

decisatildeo de ateacute onde investir na manutenccedilatildeo da vida (EVANS LEVENE 1998

MARBA SOUZA COSTA 2003 TYSON STOLL 2003 CONWAY MOLONEY-

HARMON 2004 BOYLE FLETCHER 2007 CUTTINI et al 2009)

Estudo fenomenoloacutegico realizado por Silva e colaboradores (2010a) teve como

objetivo compreender os sentimentos de profissionais de enfermagem que vivenciavam

a morte e o morrer de receacutem-nascidos em unidades de terapia intensiva neonatal Nos

resultados emergiram sentimentos de culpa inconformaccedilatildeo insatisfaccedilatildeo fracasso

negaccedilatildeo auto-reprovaccedilatildeo baixa autoestima e desamparo Esses sentimentos

demonstraram as dificuldades destes profissionais em lidar com o conflito da morte Os

autores ainda afirmaram que a vivecircncia cotidiana dos profissionais de enfermagem com

a finitude natildeo foi suficiente para preparaacute-los para a morte de um receacutem-nascido o que

levou a dificuldades em lidar com o morrer Eles concluiacuteram que pouco se conhece

23

sobre a vidamorte que se enfrenta diariamente nas unidades de terapia intensiva

neonatal

Portanto fazem-se necessaacuterios estudos que busquem compreender a

representaccedilatildeo social da morte e do morrer no ambiente da unidade de terapia intensiva

neonatal Para tanto precisa-se considerar natildeo apenas as representaccedilotildees deste fenocircmeno

para enfermeiros mas para toda a equipe multiprofissional envolvida neste processo

Foi justamente a lacuna deste conhecimento que motivou a realizaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo

22 A FOMACcedilAtildeO ACADEcircMICA E A FINITUDE DA VIDA

Para compreender a exclusatildeo da morte e do morrer da formaccedilatildeo acadecircmica faz-

se necessaacuterio conhecer o processo histoacuterico da formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede no

Brasil

O modelo pedagoacutegico dos cursos de graduaccedilatildeo adotado na deacutecada de 60 no

Brasil fundamentava-se em um curriacuteculo riacutegido miacutenimo que baseava-se em disciplinas

com carga horaacuteria e conteuacutedos fixos Dessa maneira objetivava-se uma uniformidade

curricular no paiacutes com ecircnfase na especializaccedilatildeo e no uso de tecnologias complexas sem

um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo atendia agraves demandas

da sociedade atual (BRASIL 2001a 2001b SOARES AGUIAR 2010) Esse modelo

marcado pelas influecircncias das escolas francesas formava profissionais para o mercado

de trabalho vigente e centrava-se no conhecimento teacutecnico-cientiacutefico em detrimento de

aspectos humaniacutesticos da formaccedilatildeo acadecircmica (OLIVEIRA 2010) Assim prevaleceu

no Brasil por deacutecadas o paradigma flexneriano que valorizava uma formaccedilatildeo bioloacutegica

hospitalocecircntrica focada no individual baseada em aulas teoacutericas e na passagem de

conhecimento fragmentados que deveriam ser acumulados (SOARES AGUIAR 2010)

Essa realidade repercutiu e ainda repercuti em vaacuterios aspectos da atuaccedilatildeo dos

profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma maneira integral

interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica (BRASIL 2001a 2001b)

Entretanto as mudanccedilas na sociedade brasileira e no mundo levantaram

questionamentos e criacuteticas sobre esse processo pedagoacutegico e a necessidade de

mudanccedilas Entre os fatos que contribuiacuteram para essas transformaccedilotildees podemos citar

a) A Assembleia Mundial de Sauacutede que em 1977 estabeleceu a meta de lsquosauacutede

para todosrsquo no ano de 2000rsquo

24

b) A Reforma Sanitaacuteria no Brasil (1986) a 8ordf Conferecircncia Nacional de Sauacutede

a Constituiccedilatildeo de 1988 a criaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Sauacutede e a Lei

Orgacircnica da Sauacutede (1990) que colocou a necessidade da formaccedilatildeo de

profissionais que respondessem as demandas da sociedade e fez dos serviccedilos

de sauacutede campos de ensino-aprendizagem fortalecendo o viacutenculo entre

assistecircncia gestatildeo e formaccedilatildeo

c) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional no 9394 que conferiu agraves

Instituiccedilotildees de Ensino Superior a possibilidade de flexibilizaccedilatildeo de seus

curriacuteculos

d) A Conferecircncia Alma-Ata (1998) que priorizou a atenccedilatildeo primaacuteria a sauacutede

como meta

e) Vaacuterias experiecircncias eou programas inovadores no campo da formaccedilatildeo de

profissionais de sauacutede (OLIVEIRA 2010)

Esses acontecimentos culminaram no Brasil com a construccedilatildeo das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos Graduaccedilatildeo que trouxeram aspectos

importantes para a mudanccedila na formaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede Essas diretrizes

consolidaram a flexibilizaccedilatildeo dos curriacuteculos acadecircmicos ressaltado a formaccedilatildeo de

profissionais generalistas voltado para atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e as necessidades da

sociedade Para tanto faz-se necessaacuterio uma educaccedilatildeo mais flexiacutevel ativa e criacutetica

Nesse sentido as diretrizes apontam para o lsquoaprender a aprenderrsquo a indissociabilidade

entre ensino pesquisa extensatildeo e assistecircncia aleacutem da necessidade de um modelo que

envolva as inovaccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas mas sem deixar de enfatizar tambeacutem o

social a cultura e a eacutetica

Entretanto muitas satildeo as dificuldades para implantaccedilatildeo efetiva dessas diretrizes

Isso se deve agrave necessidade da mudanccedila de atitude por parte de discentes e docentes

incluindo a ruptura de paradigmas pedagoacutegicos enraizados por deacutecadas em nossa

sociedade Esse processo de transformaccedilatildeo envolve a necessidade de uma educaccedilatildeo

emancipadora que rompe as relaccedilotildees de poder entre professores e alunos o que natildeo soacute

intimida alguns professores mas tambeacutem muitos alunos que natildeo estatildeo habituados a

atuar como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem (FERNANDES et al

2008) Consequentemente existem resistecircncias agraves mudanccedilas com reforccedilo agrave dicotomia

entre pensar e fazer ao autoritarismo a fragmentaccedilatildeo do conhecimento ao tecnicismo e

25

agrave pouca reflexatildeo sobre a docecircncia Essa resistecircncia demonstra a necessidade de

formaccedilatildeo dos docentes para as novas exigecircncias pedagoacutegicas a fim de possibilitar a

efetivaccedilatildeo da proposta das Diretrizes Curriculares (ITO et al 2006)

Entretanto apesar dos avanccedilos e reflexotildees observa-se ainda uma natildeo

contextualizaccedilatildeo da morte e do morrer nessas mudanccedilas pedagoacutegicas Ainda se enfatiza

o processo sauacutede-doenccedila quando dever-se-ia refletir sobre o processo integral da vida o

que inclui a morte (BRASIL 2001a 2001b)

Em seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo organizado por Wilma Torres e

colaboradores em 1980 um dos aspectos discutidos foi a formaccedilatildeo dos profissionais da

aacuterea de sauacutede que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte encontram-se

despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nesta perspectiva algumas estrateacutegias

de enfrentamento foram elencadas como (a) a necessidade de mudanccedila na estrutura e

no clima curricular dando igual ecircnfase aos conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de

interrelacionamento humano centrando-se no cuidar com o paciente (b) a importacircncia

do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea da sauacutede (c) o enfrentamento dos

proacuteprios sentimentos frente agrave morte por esses profissionais (TORRES GUEDES

TORRES 1983)

Entretanto ainda observa-se a exclusatildeo da morte e do morrer das reformas

pedagoacutegicas devido aos significados construiacutedos ao longo do tempo em relaccedilatildeo a esta

temaacutetica Isso pode ser observado em revisatildeo feita por Silva e colaboradores (2009) a

partir de artigos publicados na Revista Brasileira de Enfermagem e na Revista Gauacutecha

de Enfermagem com os unitermos morte morrer e cuidados paliativos selecionou 44

artigos publicados entre 1937 e 2005 Apoacutes uma anaacutelise agrave luz de Michel Foucault esses

autores observaram as seguintes influecircncias histoacuterico-sociais que levaram agrave modificaccedilatildeo

do significado e do lidar com a morte

a) Morte silenciada e ocultada (1937-1979) recalcamento e adiamento da morte

presa pelo natildeo envolvimento emocional prima pela importacircncia de

procedimentos teacutecnicos e de higiene

b) Travando uma luta contra a morte (1980-1989) avanccedilo da terapia intensiva

prolongando a morte demonstram-se os sentimentos de medo fracasso tristeza

impotecircncia depressatildeo e culpa diante da morte Mas essa eacute uma fase de

disciplinamento e negaccedilatildeo da morte

26

c) A morte em cena multiplicidade de facetas (1990-1999) negaccedilatildeo e

racionalizaccedilatildeo do morrer mas surge espaccedilo para os sentimentos dos

profissionais que devem ser trabalhados mas os meacutedicos ainda natildeo se incluiacuteram

nesse processo iniciam-se as discussotildees sobre a formaccedilatildeo profissional

d) Morte e Cuidados Paliativos mudanccedila no paradigma (2000-2005) traz as

reflexotildees das praacuteticas dos cuidados paliativos Retoma-se a autonomia do

paciente no morrer a humanizaccedilatildeo e o cuidado multiprofissional com

envolvimento da famiacutelia

Nesse contexto essa dissertaccedilatildeo buscou compreender as representaccedilotildees da

morte e do morrer dos profissionais que vivem as transformaccedilotildees dessa temaacutetica que

ocorreram a partir da deacutecada de 90

23 A TEORIA DAS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

A ideacuteia de que os indiviacuteduos e grupos sociais satildeo seres pensantes que natildeo se

limitam a receber informaccedilotildees mas tambeacutem satildeo capazes de processar construir e

teorizar a realidade social representa uma forma de olhar a constituiccedilatildeo dos

comportamentos e das instituiccedilotildees Foi justamente atraveacutes do questionamento das

teorias que ignoravam estas concepccedilotildees de indiviacuteduo pensante construtor da sociedade

e inserido em um contexto social que influencia o seu pensar que nasceu a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais proposta por Moscovici (VALA MONTEIRO 2006)

Este autor propotildee a anaacutelise do processo atraveacutes dos quais as pessoas interagindo

socialmente constroem teorias que tornam possiacuteveis a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo de

comportamentos Portanto as representaccedilotildees sociais nascem natildeo apenas das teorias

cientiacuteficas mas tambeacutem sofrem influencias da cultura das ideologias das experiecircncias

e das interaccedilotildees interpessoais (JODELET 2005)

Assim as representaccedilotildees sociais satildeo definidas por Moscovici como um

conhecimento elaborado e partilhado socialmente criado na vida cotidiana atraveacutes da

comunicaccedilatildeo interindividual contribuindo para construccedilatildeo de uma realidade comum ao

coletivo (MOSCOVICI 2010)

Neste sentido as representaccedilotildees sociais refletem a situaccedilatildeo de um grupo social

seus projetos problemas estrateacutegias e relaccedilotildees com outros grupos orientando

27

comunicaccedilotildees e comportamentos Estas representaccedilotildees satildeo criadas pela interaccedilatildeo social

logo natildeo decorrem apenas da experiecircncia individual (VALA MONTEIRO 2006)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dessas representaccedilotildees sociais Moscovici explicitou dois

processos a objetivaccedilatildeo e a ancoragem A objetivaccedilatildeo refere-se agrave forma como os

elementos constituintes da representaccedilatildeo social adquirem materialidade e tornam-se

uma realidade natural caracterizando um pensamento social Nesse percurso ocorrem

trecircs momentos (a) a construccedilatildeo seletiva processo em que os sujeitos selecionam as

informaccedilotildees circulantes que consideram uacuteteis a cerca do objeto essa seleccedilatildeo natildeo eacute

neutra e aleatoacuteria ela depende do contexto social e exprime os interesses e valores de

um grupo (b) a esquematizaccedilatildeo quando os elementos satildeo organizados estruturalmente

assumindo uma dimensatildeo imagineacutetica e figurativa que materializa o conceito (c) a

naturalizaccedilatildeo processo em que os conceitos retidos nos esquemas figurativos assumem

relaccedilotildees e tornam-se materializados e naturais construindo o senso comum Para a

objetivaccedilatildeo e portanto construccedilatildeo do conhecimento dois aspectos satildeo ainda

igualmente importantes a personificaccedilatildeo que representa a utilizaccedilatildeo de personagens

que simbolizam a ideacuteia crenccedila ou teoria e a metaforizaccedilatildeo em que as metaacuteforas satildeo

utilizadas para transmitir um conteuacutedo essencial de forma aceitaacutevel para os valores do

grupo (VALA MONTEIRO 2006)

Jaacute a ancoragem refere-se ao processo atraveacutes do qual o natildeo-familiar torna-se

familiar atraveacutes do qual uma representaccedilatildeo social organiza relaccedilotildees sociais Esse eacute um

processo dinacircmico que pode anteceder ou sequenciar uma objetivaccedilatildeo ou ambos Pode

anteceder no sentido que ao realizar uma objetivaccedilatildeo os sujeitos natildeo satildeo uma taacutebua

rasa e portanto apresentam no seu universo mental aspectos que influenciam nessa

objetivaccedilatildeo e nela se ancoram Por outro lado ao realizar a objetivaccedilatildeo esses sujeitos

iratildeo utilizar o senso comum construiacutedo em seu contexto ancorando-o assim em seu

meio social suas relaccedilotildees e comportamentos Concretiza-se assim atraveacutes dessa

ancoragem a funccedilatildeo social das representaccedilotildees Entretanto essa ancoragem tambeacutem

pode transformar o meio social Dessa maneira a ancoragem passa a transformar as

proacuteprias representaccedilotildees em um processo ciacuteclico que permite as mudanccedilas (ldquoum

processo de reduccedilatildeo do novo ao velho e reelaboraccedilatildeo do velho tornando-o novordquo)

(VALA MONTEIRO 2006)

Portanto de forma controlada ou automaacutetica consciente ou inconsciente as

representaccedilotildees dos seres humanos influem em seus comportamentos Assim as

28

representaccedilotildees sociais modelam ou constituem o contexto de nossas accedilotildees ou

comportamentos Elas incluem modos desejaacuteveis de accedilatildeo constituem o significado do

objeto estiacutemulo e seu contexto datildeo sentido e justificam comportamentos ou seja define

o ldquonormalrdquo ou ldquopadratildeordquo para o grupo (MOSCOVICI 2010)

Diante desta compreensatildeo da Teoria das Representaccedilotildees Sociais por entender

que essas representaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave temaacutetica da morte influenciam na atitude dos

profissionais de sauacutede diante da situaccedilatildeo de finitude da vida este foi o referencial

teoacuterico adotado nesta dissertaccedilatildeo Estas representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de

teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das ideologias formalizadas dos grandes eixos

culturais das experiecircncias e das comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno

das sociedades a produccedilatildeo dos sentidos (VALA MONTEIRO 2006)

Assim para compreender as representaccedilotildees sociais da morte e do morrer eacute

preciso estudar suas vaacuterias faces A literatura traz duas principais vertentes que

influenciam na construccedilatildeo desse processo a concepccedilatildeo materialista e a espiritual Para

os materialistas a morte representa o fim de tudo Eacute desta concepccedilatildeo que nasce a

necessidade de realizar funerais despedidas guardar objetos e lembranccedilas dos que se

foram na tentativa de mantecirc-los vivos nas memoacuterias Jaacute para os espiritualistas existem

duas grandes correntes a reencarnacionista que crecirc na morte como uma passagem para

um niacutevel espiritualmente mais evoluiacutedo e a redencionista que crecirc que Jesus Cristo

como redentor traz para morte a completude do que faltou a vida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO

2010)

Para a construccedilatildeo da representaccedilatildeo social da morte e do morrer na cultura

ocidental hegemocircnica na sociedade capitalista DacuteAssumpccedilatildeo (2010) traz alguns

aspectos que podem influenciar esse processo a saber

a) O culto agrave juventude e ao consumismo a poliacutetica consumista vecirc os jovens como

potenciais consumidores jaacute os idosos satildeo os precavidos que natildeo seguem seus

impulsos de consumo e beiram a morte Os mortos natildeo consomem nada Eacute

preciso negar a morte rejeitaacute-la e temecirc-la

b) O progresso o culto agrave agilidade agrave velocidade O morrer e a morte satildeo a parada

satildeo limitadores e deve ser abominados

c) Pragmatismo Tudo tem que ter valor praacutetico A morte soacute tem esse sentido

quando se pensa nos funerais e nas heranccedilas No mais a morte e o morrer satildeo

inuacuteteis

29

d) Apego no sentido de ldquoser donordquo A morte e o morrer trazem a lembranccedila que

natildeo haacute controle sobre a vida satildeo inimigos das posses

e) Tecnologia meacutedica a hospitalizaccedilatildeo e medicalizaccedilatildeo da morte e do morrer O

uso inadequado de tecnologias avanccediladas que prolongam a morte crendo que

estatildeo prolongando a vida

Estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2007) revelou os seguintes

elementos sobre a representaccedilatildeo da morte e do morrer para estudantes de enfermagem

a) Conceitos da morte passagem incoacutegnita separaccedilatildeo finitude e etapa da vida

b) Medo da morte medo do sofrimento medo da hospitalizaccedilatildeo medo de ficar

sozinho medo de espiacuteritos medo de morrer cedo medo de perder a figura

parental

c) Lidando com os familiares mostra a preocupaccedilatildeo e dificuldade que o estudante

de enfermagem enfrenta ao relacionar-se com os familiares de quem morreu

d) Cuidado com o corpo poacutes-morte a emoccedilatildeo presente no momento do preparo do

corpo eacute identificada como triste deprimente impressionante fim de luta e

sofrimento estressante e angustiante chato aleacutem de um mal necessaacuterio

e) Idade Revelou que eacute mais faacutecil a aceitaccedilatildeo da morte quando se trata de ser

humano adulto ou idoso

f) Sentimentos em relaccedilatildeo agrave morte indiferenccedila tristeza impotecircncia medo de

expressar sentimentos e culpa

Estes autores concluiacuteram neste estudo que existe pouco preparo para lidar com

as questotildees da morte e do morrer o que demonstra a necessidade da abordagem dessa

temaacutetica no ensino (OLIVEIRA BREcircTAS YAMAGUTI 2007)

Salomeacute e colaboradores (2009) em estudo fenomenoloacutegico realizado com

profissionais de sauacutede que trabalham em unidades de emergecircncia tambeacutem apresentaram

resultados semelhantes aos expressos por estudantes As confluecircncias temaacuteticas

extraiacutedas dos discursos nesse estudo foram

a) umlExpressando sentimentos diante da morte do pacienterdquo Os sentimentos mais

comuns foram impotecircncia perda tristeza e frustraccedilatildeo Mesmo trabalhando haacute

algum tempo na emergecircncia os profissionais natildeo se habituam com a morte e

natildeo compartilham esses sentimentos com seus colegas

30

b) umlVivenciado o preparo do Corpordquo O preparo do corpo eacute visto como um

procedimento teacutecnico e que necessita de uma postura eacutetica mas tambeacutem gera

anguacutestia por promover a reflexatildeo da finitude da vida do proacuteprio profissional

c) umlSignificado da Morterdquo Impotecircncia perda descanso eterno fatalidade

d) umlCrenccedilas relacionadas agrave morterdquo Influenciadas pela cultura religiatildeo e educaccedilatildeo

do profissional As falas trouxeram o temor da morte medo de espiacuteritos

Esses autores concluem que todo profissional durante sua formaccedilatildeo aprende e

ateacute mesmo na colaccedilatildeo de grau faz um juramento no qual assume seu compromisso

com a vida pela sua preservaccedilatildeo e com o cuidado humano

Estes estudos mostram a importacircncia das representaccedilotildees sociais de estudantes e

profissionais no lidar com a morte e o morrer Portanto para construccedilatildeo de estrateacutegias

de enfrentamento e para efetiva mudanccedila de paradigma no lidar com a finitude faz-se

necessaacuterio compreender essas representaccedilotildees

31

Percurso Metodoloacutegico

32

3 PERCURSO METODOLOacuteGICO

31 ABORDAGEM DO ESTUDO

A pesquisa qualitativa eacute referida como a abordagem que busca compreender os

significados e a intencionalidade ligada aos fatos agraves relaccedilotildees e agraves estruturas sociais

permitindo alcanccedilar a realidade social para aleacutem do que pode ser quantificado

caminhando para o universo das significaccedilotildees motivaccedilotildees aspiraccedilotildees crenccedilas e valores

(MINAYO 2004) Com a delimitaccedilatildeo do objeto de estudo dessa pesquisa a abordagem

qualitativa mostrou-se mais adequada aos objetivos desse trabalho visto que buscava-se

conhecer a representaccedilatildeo social da morte e do morrer o que envolve realidades sociais

natildeo quantificaacuteveis vivecircncias pessoais e coletivas sentimentos e significaccedilotildees

Por essa razatildeo o referencial teoacuterico utilizado nesse estudo foi a Teoria das

Representaccedilotildees Sociais por esta propor a anaacutelise dos processos atraveacutes dos quais os

indiviacuteduos em interaccedilatildeo social constroem teorias sobre os objetos sociais que tornam

viaacutevel a comunicaccedilatildeo e a organizaccedilatildeo dos comportamentos (MOSCOVICI 2010) Estas

representaccedilotildees alimentam-se natildeo somente de teorias cientiacuteficas mas tambeacutem das

ideologias formalizadas dos grandes eixos culturais das experiecircncias e das

comunicaccedilotildees quotidianas referindo-se a um fenocircmeno comum a todas as sociedades a

produccedilatildeo dos sentidos

Trata-se de uma forma de pensamento socialmente formada e compartilhada

com o objetivo de construir uma realidade comum a um grupo social (JODELET

2005) Eacute um conjunto de conceitos proposiccedilotildees e explicaccedilotildees criado na vida quotidiana

no decurso da comunicaccedilatildeo interindividual equivalentes na nossa sociedade aos mitos

e sistemas de crenccedilas das sociedades tradicionais (MOSCOVICI 2010)

Diante do exposto essa eacute uma pesquisa descritiva e exploratoacuteria com abordagem

qualitativa e com o referencial teoacuterico das Representaccedilotildees Sociais Essa opccedilatildeo justifica-

se pela coerecircncia com a pergunta condutora objeto e objetivos do estudo

33

32 CENAacuteRIO DO ESTUDO

O estudo ocorreu na cidade de Joatildeo Pessoa capital do Estado da Paraiacuteba Uma

cidade de 211474 km2 localizada no litoral do Nordeste brasileiro e que possui 723515

habitantes (BRASIL 2011)

Segundo dados do IBGE (Estatiacutesticas do Registro Civil de 2009) a Paraiacuteba eacute o

segundo Estado do paiacutes com a maior taxa de mortalidade neonatal (16 casos de morte

neonatal 1000 receacutem-nascidos) Portanto a morte de receacutem-nascidos eacute uma situaccedilatildeo

enfrentada corriqueiramente pelos profissionais de sauacutede que atuam na assistecircncia desta

faixa etaacuteria nesse Estado

A Maternidade Frei Damiatildeo fundada em 1986 constitui-se em um serviccedilo de

referecircncia para gestaccedilotildees de alto risco no Estado da Paraiacuteba Por localizar-se proacuteximo a

BR 101 eacute esta instituiccedilatildeo que aleacutem dos pacientes da capital recebe tambeacutem muitos

casos provenientes de outras cidades do Estado Em 1996 esta maternidade recebeu o

tiacutetulo de ldquoHospital Amigo da Crianccedilardquo (UNICEF) e em 2001 foi fundada sua Unidade

de Terapia Intensiva Neonatal Esta unidade possui atualmente sete leitos e sua equipe

constitui-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros vinte e um teacutecnicos de

enfermagem cinco fonoaudioacutelogos e quatro fisioterapeutas aleacutem de psicoacutelogos

assistentes sociais nutricionistas e auxiliares do Banco de Leite Humano Natildeo haacute

disponibilidade de terapeuta ocupacional e os doze psicoacutelogos e dezessete assistentes

sociais do serviccedilo datildeo apoio agraves demandas da unidade neonatal

A estrutura fiacutesica desta unidade consiste em um salatildeo que conteacutem todos os sete

leitos (incubadoras ou berccedilos aquecidos) exceto o isolamento que fica em um quarto agrave

parte Haacute um balcatildeo para prescriccedilatildeo meacutedica de onde eacute possiacutevel ver todos os pacientes

uma ala de expurgo um corredor onde ficam os materiais que natildeo estatildeo sendo

utilizados balcatildeo para preparo de medicaccedilotildees copa e repousos para os profissionais

sendo separados para meacutedicos teacutecnicos de enfermagem e teacutecnico em radiologia Haacute

ainda um repouso partilhado por enfermeiros fisioterapeutas e fonoaudioacutelogos

Os setores da psicologia e do serviccedilo social ficam no preacutedio da maternidade mas

fora da unidade Haacute uma enfermaria destinada agraves matildees acompanhantes de receacutem-

nascidos Existe uma antessala com algumas cadeiras antes da entrada na UTI mas com

a extensatildeo da unidade neonatal esse espaccedilo ficou comprometido e o acolhimento aos

familiares passou a ser feito na recepccedilatildeo do hospital A estrutura fiacutesica natildeo eacute

34

humanizada nem acolhedora Natildeo haacute um local para conversa individual e reservada com

familiares As notiacutecias de oacutebito acabam sendo dadas no salatildeo da unidade geralmente

proacuteximo ao leito do RN

Pela peculiaridade de ser o serviccedilo de referecircncia mais antigo de um Estado com

altos iacutendices de mortalidade neonatal e de receber casos de toda a populaccedilatildeo estatal esta

unidade foi selecionada para o estudo

33 SUJEITOS DO ESTUDO

A populaccedilatildeo em estudo constituiu-se de dezesseis pediatras dez enfermeiros

vinte e um teacutecnicos de enfermagem cinco fonoaudioacutelogos quatro fisioterapeutas doze

psicoacutelogos e dezessete assistentes sociais

Os criteacuterios de inclusatildeo foram aceitar participar livre e esclarecidamente da

pesquisa fazer parte das classes profissionais supracitadas na populaccedilatildeo e atuar na

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal escolhida para o estudo Essas classes

profissionais foram selecionadas por esses trabalhadores participarem mais ativa e

diretamente da assistecircncia aos receacutem-nascidos e seus familiares incluindo a vivecircncia

partilhada por eles das situaccedilotildees de morte no ambiente de trabalho

Foram excluiacutedos os nutricionistas os auxiliares de Banco de Leite Humano os

burocratas e os funcionaacuterios de serviccedilos gerais por estes trabalhadores natildeo entrarem em

contato direto com os pacientes e portanto vivenciarem a morte e o morrer de receacutem-

nascidos em outra perspectiva

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso (MINAYO 2004 FONTANELLAS RICAS TURATO 2008) da equipe

multiprofissional portanto quando as entrevistas demonstraram conteuacutedo redundante e

as informaccedilotildees colhidas indicaram o discurso e a representaccedilatildeo social do grupo a coleta

de dados foi finalizada

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente mas com inclusatildeo do

mesmo nuacutemero de representantes de cada uma das categorias profissionais envolvidas

no estudo a fim de se manter a homogeneidade da amostra em relaccedilatildeo agraves influecircncias da

formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional Apoacutes a coleta de quatro entrevistas de cada profissatildeo

ou seja vinte e oito entrevistas construiu-se um banco de dados de tamanho adequado

para avaliaccedilatildeo do software Alceste Realizou-se entatildeo uma anaacutelise inicial que

35

demonstrou a saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso da equipe multiprofissional sendo portanto

finalizada a coleta de dados com vinte e oito sujeitos

34 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados pela teacutecnica da entrevista individual semi-estruturada

a partir das seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Que aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico influenciam ou

influenciaram a sua maneira de lidar com a morte e o morrer nessa

situaccedilatildeo

As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 sendo realizada

em uma visita a cada participante no dia do plantatildeo do profissional no horaacuterio em que

o mesmo natildeo estava com atribuiccedilotildees laborativas Com o intuito de manter o ambiente

relacionado ao contexto da pesquisa as entrevistas foram realizadas na proacutepria unidade

de terapia intensiva neonatal no local escolhido pelo entrevistado no ambiente em que

ficaria mais agrave vontade para conversar

As entrevistas foram transcritas no mesmo dia da coleta ou no dia seguinte para

permitir ao pesquisador recordar detalhes mais sutis Os entrevistados receberam

coacutedigos para preservar o anonimato

Apoacutes as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da

amostra (APEcircNDICE A) Esse instrumento foi formulado pela pesquisadora com

variaacuteveis que foram consideradas importantes para compreensatildeo do contexto das falas

Optou-se pela coleta apoacutes as entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos

entrevistados

35 ANAacuteLISE DOS DADOS

Para a anaacutelise dos dados foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas

36

qualiquantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada) Tal

software recorre agrave anaacutelise das coocorrecircncias das palavras nos textos para organizar e

sumarizar informaccedilotildees consideradas relevantes possuindo como referecircncia em sua base

metodoloacutegica a abordagem conceitual dos ldquomundos lexicaisrdquo (CAMARGO 2005

OLIVEIRA et al 2007 GOMES OLIVEIRA 2008 OLIVEIRA et al 2008) Esse

meacutetodo foi construiacutedo por Max Reinert em 1979 com a finalidade praacutetica de permitir o

avanccedilo nos meacutetodos de anaacutelise de dados linguiacutesticos mas com um fundamento teoacuterico

que o sustenta (ALBA 2004 GOMES OLIVEIRA 2005) Para Reinert (2010) todo

discurso expressa um mundo lexical constituiacutedo de um grupo de palavras que

independentemente de sua construccedilatildeo sintaacutetica repete-se durante o discurso referindo-

se portanto a algo similar (ALBA 2004)

Assim a anaacutelise de dados textuais ou a estatiacutestica textual utilizada pelo Alceste

visa descobrir a informaccedilatildeo essencial contida em um texto de uma maneira automaacutetica

atraveacutes da extraccedilatildeo objetiva do mundo lexical (palavras mais frequentes) do corpus

(documento que quer se analisar no caso um banco de dados que pode se constituir de

entrevistas textos diversos ou outros materiais) Para o uso do programa este corpus

deve ultrapassar 1000 linhas de 70 caracteres (CAMARGO 2005 REINERT 2010)

Inicialmente apoacutes a digitaccedilatildeo das entrevistas foi realizada a preparaccedilatildeo do

corpus que se constitui na formataccedilatildeo do banco de dados em regras proacuteprias do

programa como por exemplo o uso do siacutembolo sublinhado ( _ ) para palavras com

hiacutefen ou que devam ser analisadas agrupadamente (ex receacutem_nascido) e o uso de letras

maiuacutesculas para as intervenccedilotildees do entrevistador no texto a fim de evitar anaacutelise lexical

equivocada Tambeacutem faz parte da formataccedilatildeo a divisatildeo do corpus em unidades de

contexto iniciais (UCI) que devem ser separadas pelo siacutembolo estrelado () As UCI satildeo

as divisotildees naturais do corpus no caso cada uma das entrevistas sendo que um corpus

natildeo pode ultrapassar 10000 UCI Elas satildeo separadas pelo usuaacuterio do software por

linhas estreladas nomeadas a partir de coacutedigos escolhidos pelo pesquisador com as

caracteriacutesticas (variaacuteveis) extraiacutedas do formulaacuterio de caracterizaccedilatildeo da amostra

(APEcircNDICE A) Essas variaacuteveis foram agrupadas para cada umas das UCI permitindo a

posterior correlaccedilatildeo das mesmas com as categorias temaacuteticas (REINERT 2010) No

APEcircNDICE B encontra-se um exemplo da formataccedilatildeo utilizada

Antes do iniacutecio da anaacutelise o programa construiacutedo em francecircs utiliza-se de um

dicionaacuterio da liacutengua em que se encontra o banco de dados para reconhecer as raiacutezes das

37

palavras (ALBA 2004) Esta substituiccedilatildeo de palavras pela forma padratildeo dos dicionaacuterios

de liacutenguas incluiacutedos no Alceste chama-se lematizaccedilatildeo (REINERT 2010) A seguir o

programa agrupa as palavras em principais (substantivos adjetivos verbos e alguns

adveacuterbios) e conectivos (artigos conjunccedilotildees preposiccedilotildees e pronomes) Uma anaacutelise

inicial eacute realizada com as palavras principais que satildeo reduzidas a suas raiacutezes chamadas

de morfemas lexicais Esta reduccedilatildeo das palavras eacute realizada para enriquecer as relaccedilotildees

estatiacutesticas de coocorrecircncia pois elimina a variabilidade das formas das palavras (como

por exemplo uma anaacutelise separada de palavras em sua forma singular ou plural)

privilegiando dessa maneira o significado essencial das palavras do discurso (ALBA

2004)

Durante a anaacutelise de um corpus jaacute formatado o Alceste agrupa as raiacutezes

semacircnticas definido-as por classes levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo da palavra dentro

de um dado contexto Cada classe eacute composta de vaacuterias Unidades de Contexto

Elementares (UCE) que representam as frases que satildeo discriminadas pela pontuaccedilatildeo

natural das mesmas ou por marcaccedilotildees proacuteprias do usuaacuterio (CAMARGO 2005

REINERT 2010) Nesse trabalho foi utilizada a pontuaccedilatildeo do proacuteprio discurso

A seguir o programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Esta anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

agraves caracteriacutesticas de cada classe Assim atraveacutes da anaacutelise fatorial das correspondecircncias

o Alceste faz um estudo dos resultados gerando representaccedilotildees graacuteficas entre elas o

dendrograma (REINERT 2010) A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pela pesquisadora (CAMARGO 2005)

A anaacutelise de conteuacutedo constitui-se em um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das

comunicaccedilotildees que visa obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo

do conteuacutedo das mensagens indicadores que permitam a inferecircncia de conhecimentos

relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo dessas mensagens Nesta o texto eacute um

meio de expressatildeo do sujeito no qual aquele que o analisa busca categorizar as

38

unidades de texto que se repetem inferindo uma expressatildeo que as represente (BARDIN

2011)

Dessa maneira a partir do universo lexical expresso no dendrograma e dos

trechos de entrevista selecionados pelo software a pesquisadora retornou a leitura

exaustiva das entrevistas para realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo com o auxiacutelio do

Alceste Esse processo permitiu natildeo apenas a nomeaccedilatildeo das categorias temaacuteticas

elencadas nas classes demonstradas pelo Alceste mas tambeacutem contribuiu para

construccedilatildeo de subcategorias para essas classes

Assim atraveacutes da anaacutelise de conteuacutedo do universo lexical exposto pelo Alceste

foi possiacutevel elencar as categorias temaacuteticas (CAREGNATO MUTTI 2006) que

expressaram elementos da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos

para os entrevistados

Portanto o Alceste ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preacute-concepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados

39

36 ASPECTOS EacuteTICOS

Esse estudo respeitou o preconizado pela Resoluccedilatildeo no 19696 do Conselho

Nacional de Sauacutede Ministeacuterio da Sauacutede a qual norteia princiacutepios eacuteticos para pesquisa

com seres humanos

A coleta de dados foi iniciada apoacutes aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco

(CEPCCSUFPE n 46311 ndash CAE 04490172172-11 ndash SISNEP FR 473607 ndash

ANEXO A) com a anuecircncia da chefia da Maternidade Frei Damiatildeo (cenaacuterio do estudo)

e das coordenaccedilotildees multiprofissional e meacutedica deste serviccedilo

Durante o processo de construccedilatildeo da pesquisa foi sugerido por preacute-banca e

banca a mudanccedila do tiacutetulo da dissertaccedilatildeo Essas mudanccedilas foram apreciadas pelo

CEPCCSUFPE com parecer favoraacutevel (ANEXO B e C)

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APEcircNDICE C) Natildeo houve qualquer ocircnus para os profissionais que natildeo desejaram

participar da pesquisa As gravaccedilotildees foram e seratildeo utilizadas apenas pela pesquisadora e

orientadoras da pesquisa natildeo havendo qualquer divulgaccedilatildeo auditiva desse material nem

acesso por outras pessoas natildeo envolvidas nesse trabalho cientiacutefico aleacutem disso os

participantes receberam coacutedigos para preservar o anonimato e a privacidade As

gravaccedilotildees seratildeo guardadas em meio digital por no miacutenimo cinco anos ficando esse

material sob a responsabilidade da pesquisadora

A participaccedilatildeo como entrevistado possibilitou aos profissionais uma

oportunidade de falar livremente sobre um assunto polecircmico para a nossa sociedade a

morte Essa escuta representou uma beneficecircncia direta para os participantes que ainda

puderam participar do serviccedilo de escuta de servidores caso sentissem necessidade de

trabalhar melhor essa temaacutetica com o apoio da psicologia

Os resultados obtidos seratildeo publicados para informaccedilatildeo e benefiacutecios de

profissionais estudantes e acadecircmicos interessados na aacuterea temaacutetica bem como da

sociedade como um todo (benefiacutecio indireto) Aleacutem disso esses resultados tambeacutem

seratildeo levados ao serviccedilo que participou do estudo contribuindo assim a partir das

discussotildees que possam surgir para construccedilatildeo coletiva de um grupo de Cuidados

Paliativos e Humanizaccedilatildeo da Morte pela instituiccedilatildeo

40

Resultados

41

4 RESULTADOS ARTIGO ORIGINAL

ldquoA DOR QUE A GENTE NAtildeO SABE EXPLICARrdquo - REPRESENTACcedilAtildeO

SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE RECEacuteM-NASCIDOS PARA UMA

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

RESUMO O objetivo desta pesquisa qualitativa foi conhecer as representaccedilotildees sociais

da morte e do morrer de receacutem-nascidos para profissionais de uma Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal Para tanto utilizou-se o referencial teoacuterico da Teoria das

Representaccedilotildees Sociais de Moscovici sendo realizadas entrevistas com as perguntas

norteadoras O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos

receacutem-nascidos assistidos por vocecirc Que aspectos do seu contexto sociocultural eou

acadecircmico influenciam ou influenciaram na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo Foram entrevistados 28 profissionais de uma Unidade de

Terapia Intensiva Neonatal de Joatildeo PessoaParaiacutebaBrasil entre eles meacutedicos

enfermeiros teacutecnicos de enfermagem fisioterapeutas fonoaudioacutelogos psicoacutelogos e

assistentes sociais A anaacutelise foi realizada com o auxiacutelio do software Alceste e a

amostragem se deu pela saturaccedilatildeo teoacuterica do discurso Emergiram dos dados trecircs

classes o enfrentamento da morte e do morrer a convivecircncia com a finitude da vida

as influecircncias socioculturais e da academia Observou-se que a morte representa o

fracasso do profissional que luta para salvar vidas Os entrevistados relataram falta

dessa temaacutetica na academia o que possivelmente gerou conflitos e sentimentos que

repercutiram no significado da morte e do morrer A religiosidade e as vivecircncias do

cotidiano privado e do trabalho foram importantes para representaccedilatildeo social dessa

finitude Esse estudo demonstrou a necessidade da educaccedilatildeo permanente e da

abordagem dessa temaacutetica na academia para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento

da terminalidade

Palavras-chave morte receacutem-nascido terapia intensiva neonatal profissionais da

sauacutede pesquisa qualitativa

ABSTRACT The purpose of this qualitative study was to understand the social

representations of death and dying newborns for professionals in a Neonatal Intensive

Care Unit For this we used the theoretical framework of social representations theory

of Moscovici and interviews with guiding questions What comes to mind when you

think about death and dying newborns you watched What aspects of their sociocultural

context and or academic influence or influenced your way of dealing with death and

dying in this situation We interviewed 28 professionals in a Neonatal Intensive Care

Unit of Joatildeo Pessoa Paraiacuteba Brazil including doctors nurses practical nurses

physiotherapists speech therapists psychologists and social workers The analysis was

performed with the aid of the Alceste software and sampling was done through

theoretical saturation speech Data emerged three classes the face of death and dying

living with the finitude of life sociocultural influences and academia It was observed

that death is the failure of professional fighting to save lives Respondents reported a

lack of this theme in the gym possibly generated conflicts and feelings that affected the

meaning of death and dying Religiosity and daily experiences in private life and at

work were important for social representation of this finitude This study demonstrated

42

the need for continuing education for these professionals to build coping strategies of

terminally

Keywords death newborn neonatal intensive care health professionals qualitative

research

INTRODUCcedilAtildeO

A morte apesar de ser um processo inerente agrave existecircncia humana continua a

representar um desafio em relaccedilatildeo a sua conceituaccedilatildeo ou compreensatildeo Essa dificuldade

deve-se ao fato do significado da morte ser relativo complexo mutaacutevel e influenciaacutevel

pelo contexto situacional social cultural e comportamental dos seres humanos

(SANTOS 2009)

Com o passar do tempo e o avanccedilo da tecnologia as mudanccedilas na compreensatildeo

da morte levaram a sua hospitalizaccedilatildeo (SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isso

natildeo apenas afastou a participaccedilatildeo das famiacutelias mas tambeacutem levou ao uso inadequado de

tecnologias avanccediladas que prolongam a morte na tentativa de prolongar a vida

(DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim ao longo da histoacuteria a morte e o morrer tornaram-se interditos o que

reflete na exclusatildeo desse tema da formaccedilatildeo de profissionais de sauacutede (SALOMEacute

CAVALI EPOacuteSITO 2009) e na escassez de trabalhos cientiacuteficos principalmente

quando se considera seus aspectos qualitativos

Nessa perspectiva apesar de lidarem cotidianamente com a morte e o morrer os

profissionais que atuam em terapia intensiva mostram-se despreparados para vivenciar a

finitude da vida o que gera inuacutemeros conflitos que repercutem no cotidiano e na

qualidade do trabalho desses profissionais (COMBINATO QUEIROZ 2006

SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a

2010b) Esses conflitos satildeo ainda mais complexos quando envolvem a morte e o morrer

de uma crianccedila Isso decorre devido ao senso comum partilhado tambeacutem por esses

profissionais de que a ordem natural dos fatos eacute os mais velhos morrerem primeiro e os

filhos enterrarem os pais (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Essa compreensatildeo cria o paradoxo

da morte na infacircncia pois essa fase da vida representa tempos de sauacutede e vitalidade

(SANTOS 2009)

43

Considerando essa problemaacutetica esse estudo tem como objetivo geral conhecer

a representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multiprofissional de Terapia Intensiva Neonatal

MEacuteTODO

Este estudo utilizou a abordagem qualitativa (MINAYO 2004) e o referencial da

Teoria das Representaccedilotildees Sociais de Moscovici (JODELET 2005 MOSCOVICI

2010) O cenaacuterio de estudo foi uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da cidade de

Joatildeo Pessoa-PB- Brasil A populaccedilatildeo do estudo envolveu meacutedicos enfermeiros

teacutecnicos de enfermagem psicoacutelogos assistentes sociais fisioterapeutas e

fonoaudioacutelogos dessa unidade Teacutecnicos de radiologia nutricionistas e auxiliares do

banco de leite e de serviccedilos gerais foram excluiacutedos por natildeo terem contato corriqueiro

com os pacientes Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente mas respeitando o

mesmo nuacutemero de participantes de cada categoria profissional Foi realizada entrevista

semiestruturada com as seguintes perguntas norteadoras

A O que lhe vem agrave mente quando vocecirc pensa na morte e no morrer dos receacutem-

nascidos assistidos por vocecirc

B Quais os aspectos do seu contexto sociocultural eou acadecircmico que

influenciaram ou influenciam na sua maneira de lidar com a morte e o

morrer nessa situaccedilatildeo

A entrevista foi realizada na unidade de terapia intensiva neonatal em uma visita

a cada participante no dia do plantatildeo do profissional sendo as mesmas gravadas Apoacutes

as entrevistas foram coletados dados do instrumento de caracterizaccedilatildeo da amostra Esse

instrumento foi formulado pelos pesquisadores com variaacuteveis que foram consideradas

importantes para compreensatildeo do contexto das falas Optou-se pela coleta apoacutes as

entrevistas para evitar induccedilatildeo nas respostas dos entrevistados

A amostragem foi intencional e se deu pelo criteacuterio de saturaccedilatildeo teoacuterica do

discurso da equipe multiprofissional o que ocorreu apoacutes quatro entrevistas de cada

categoria com um total de 28 entrevistados (MINAYO 2004 FONTANELLAS

RICAS TURATO 2008)

Para anaacutelise dos discursos foi utilizado o software Alceste (do francecircs Analyse

Lexicale par Contextedrsquoun Ensemble de Segments de Texte Em portuguecircs Anaacutelise

Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto) versatildeo 2010 que permite

44

realizar anaacutelise do conteuacutedo presente nas entrevistas por meio de teacutecnicas quali-

quantitativas de tratamento de dados textuais (anaacutelise lexical mecanizada)

(CAMARGO 2005 GOMES OLIVEIRA 2005 OLIVEIRA et al 2007 OLIVEIRA

et al 2008)

Esse programa computa para cada classe uma lista de palavras que satildeo

caracteriacutesticas de uma associaccedilatildeo expressando-a por um valor de Qui-Quadrado (χ2)

Quanto maior o valor do χ2 mais importante eacute a palavra para a construccedilatildeo estatiacutestica da

classe (FERREIRA et al 2006) Assim o Alceste faz uma anaacutelise de conteuacutedo

mecanizada atraveacutes da teacutecnica hieraacuterquica descendente (THIENGO OLIVEIRA

RODRIGUES 2003 CAMARGO 2005) Essa anaacutelise eacute entatildeo apresentada sob a forma

de dendrograma que traz similaridades e discrepacircncias em relaccedilatildeo aos mundos lexicais e

as caracteriacutesticas de cada classe A lista de palavras do dendrograma eacute a fonte baacutesica

para construccedilatildeo das classes as quais geram as categorias temaacuteticas a partir da anaacutelise de

conteuacutedo feita pelos pesquisadores (CAMARGO 2005 BARDIN 2011)

Esse trabalho foi aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de

Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal de Pernambuco (CAAE 04490172172-

11)

RESULTADOS

Do total de 28 entrevistados 393 (1128) tinham entre 20 e 30 anos de idade

todos eram do sexo feminino (natildeo havia homens na equipe) a maioria casada (54 -

1528) com filhos (607 - 1728) e com orientaccedilatildeo religiosa catoacutelica (714 - 2028)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo 54 (1528) fizeram graduaccedilatildeo em escolauniversidade

puacuteblica 50 (1428) tinham mais de 10 anos de formada 428 (1228) possuiacuteam

especializaccedilatildeo na aacuterea de pediatria eou neonatologia 786 (2228) trabalhavam

apenas em serviccedilos puacuteblicos e 871 (1628) tinham entre 1 a 5 anos de trabalho em

Terapia Intensiva Neonatal Metade das entrevistadas tinha vivenciado a morte de

alguma crianccedila em sua vida pessoal

A anaacutelise lexical realizada pelo Alceste identificou 28 unidades de contexto

iniciais (UCI) que equivale ao nuacutemero de entrevistas incluiacutedas no corpus de anaacutelise

Este foi dividido em 693 unidades de contexto elementar (UCE) dimensionadas pelo

programa a partir da pontuaccedilatildeo do discurso Foram classificadas para anaacutelise 543 UCE

representando um aproveitamento de 7835 do material

45

As UCE foram divididas em trecircs categorias discursivas ou classes (Figura 1)

com um dendrograma que demosntrou a divisatildeo das UCEacutes em dois blocos que

corresponderam agraves respostas agraves duas perguntas norteadoras da entrevista

Posteriormente o primeiro bloco sofreu uma nova divisatildeo Portanto as classes 1 e 2

possuem significados semelhantes e que as diferenciam da classe 3 visto que esta

uacuteltima classe originou um grupo distinto na primeira segmentaccedilatildeo das UCE O Quadro

1 demostra as palavras relevantes de cada classe com seu respectivo valor de χ2

Figura 1 ndash Classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente (dendrograma) da representaccedilatildeo

social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de

terapia intensiva neonatal ndash ParaiacutebaBrasil 2013

A partir da anaacutelise do dendrograma da leitura exaustiva das entrevistas e da

avaliaccedilatildeo das UCE de cada classe observou-se que cada uma das classes expostas pelo

software poderiam ainda ser divididas em subcategorias como demostra o Quadro 2

PERCEPCcedilOtildeES SOBRE A MORTE

E O MORRER

Praacuteticas e

reflexotildees

Influecircncias socioculturais

de acadecircmicas

Classe 1

O enfrentamento

da morte e do

morrer

197 UCE (36)

Variaacuteveis

descritivas

Casadas Psicoacutelogas e enfermeiras

Classe 2

A convivecircncia

com a finitude

da vida

79 UCE (14)

Variaacuteveis

descritivas

Teacutecnicas de enfermagem

Classe 3

As influecircncias

socioculturais e

da academia

267 UCE (50)

Variaacuteveis

descritivas

Formaccedilatildeo puacuteblica Trabalho em

instituiccedilatildeo puacuteblica Psicoacutelogo

46

Quadro 1 ndash Palavras mais relevantes dos discursos e seus χ2 para construccedilatildeo das

classes da representaccedilatildeo social da morte e do morrer de receacutem-nascidos para equipe

multidisciplinar de terapia intensiva neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE Palavras relevantes (χ2)

Classe 1 ele (33) Deus (47) nossa (20) darfazer (14) bebecircs (13) meacutedico (13) saber

(12) carinho (12) amor (11) forccedila (11) passa (11) dor (9) fim (9) lutar (9)

Classe 2 indo (60) oacutebito (55) mecircs (53) passou (53) casa (51) luta (41) sobreviver

(37) matildee (35) nascer (35) repente (30) triste (26) missatildeo (24) voltar (24)

bichinho (24) feliz (23) batalha (18) cumprir (17)

Classe 3 minha (56) acho (47) morte (32) formaccedilatildeo (23) religi(16) famiacutelia (15)

relaccedilatildeo (14) partir (11) falta (10) primeira (9) faculdade (9) lidar (8)

religi- = religiatildeo religiosa religiosidade religioso(s)

Quadro 2 ndash Divisatildeo em subcategorias das classes da representaccedilatildeo social da morte e

do morrer de receacutem-nascidos para equipe multidisciplinar de terapia intensiva

neonatalndash ParaiacutebaBrasil 2013

CLASSE SUBCATEGORIAS

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do

morrer

A vontade de Deus

Cuidado paliativo e terminalidade

Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da

vida

Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

Relatos de vivecircncia

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da

academia

Vivecircncias familiares

Formaccedilatildeo acadecircmica

Cotidiano do trabalho

Religiosidade

Classe 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Nesta classe prevaleceu o discurso de psicoacutelogas e enfermeiras Seu conteuacutedo

abordou o enfrentamento da morte e do morrer com ecircnfase em aspectos religiosos na

47

praacutetica dos cuidados paliativos e sentimentos que emergem com o morrer dos receacutem-

nascidos Esse conteuacutedo fez com que o dendrograma trouxesse no universo lexical da

classe 1 substantivos como amor carinho dor forccedila meacutedico bebecirc Deus aleacutem de

pronomes relacionados aos mesmos Observaram-se tambeacutem verbos como lutar dar e

fazer A vontade divina foi um elemento frequente como retrata o trecho a seguir

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar

porque ali foi feita a vontade de Deusrdquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Entre os elementos relacionados aos cuidados paliativos emergiu o controle da

dor e do sofrimento a limitaccedilatildeo terapecircutica como a ordem de natildeo reanimar os conflitos

eacuteticos envolvendo distanaacutesia e eutanaacutesiaortanaacutesia Entretanto prevaleceu ainda o

discurso da esperanccedila na sobrevivecircncia mesmo em casos terminais

Entre os sentimentos expressos pelos profissionais destacaram-se frustraccedilatildeo

ansiedade culpa depressatildeo perda fragilidade sofrimento aliacutevio vazio nada tristeza

impotecircncia inutilidade insucesso decepccedilatildeo incapacidade falha medo choque

responsabilidade fim passagem missatildeo naturalidade e natildeo-naturalidade Tambeacutem

houve o relato de frieza desumanizaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo das accedilotildees diante da morte

Classe 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Emergiu desta classe elementos do profissional de sauacutede como aquele que luta

para ldquosalvar vidasrdquo

ldquo[] a gente batalha luta faz tudordquo (E15 ndash

Teacutecnica de enfermagem)

Tambeacutem foram frequentes relatos de vivecircncias incluindo histoacuterias que

marcaram a vida profissional dos entrevistados Este contexto fez com que as palavras

de maior qui-quadrado fossem substantivos como luta missatildeo batalha oacutebito bebecirc

matildee aleacutem de verbos adveacuterbios e pronomes que remetem as situaccedilotildees do cotidiano

Entre as variaacuteveis descritivas desta classe destacou-se a predominacircncia das teacutecnicas de

enfermagem

Classe 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Esta classe representou as influecircncias socioculturais e da academia na maneira

como esses profissionais lidam com a morte e o morrer Destacou-se a religiosidade as

48

vivecircncias pessoaisfamiliares os aprendizados com o cotidiano do trabalho e os

aspectos relacionados agrave formaccedilatildeo acadecircmica tanto durante a graduaccedilatildeo como nas

especializaccedilotildees ou residecircncias

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei

a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial

para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash Assistente

social)

Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo acadecircmica foi evidente o relato da falta de preparo e da

natildeo abordagem da temaacutetica da morte e do morrer

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado

agrave morte Era soacute vida vida vida e anatomia

histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Os profissionais com formaccedilatildeo e trabalho em instituiccedilotildees puacuteblicas foram os que

mais contribuiacuteram para construccedilatildeo da classe 3

DISCUSSAtildeO

No decorrer das transformaccedilotildees sociais e histoacutericas da humanidade o conceito e

a forma de lidar com a morte foi sendo modificado (ARIEacuteS 2012) Com o avanccedilo das

tecnologias meacutedicas a morte deixou de ser um processo natural da vida e passou a ser

hospitalizada e cercada de tecnologias que levam ao prolongamento do sofrimento

(COMBINATO QUEIROZ 2006 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009

DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010) Constroacutei-se assim o medo a negaccedilatildeo e o silecircncio ao redor

do morrer (TORRES GUEDES TORRES 1983 COMBINATO QUEIROZ 2006)

Este processo de negaccedilatildeo e silenciamento foi percebido nas entrevistas Tal

realidade jaacute era relatada por Elizabeth Kuumlbler-Ross em seus estudos das deacutecadas de 60 e

70 e permanece presente ateacute a atualidade (KUumlBLER-ROSS 1998)

Aleacutem da negaccedilatildeo os sentimentos que emergiram do discurso dos profissionais

que participaram deste estudo tambeacutem foram relatados em outros trabalhos realizados

com enfermeiros teacutecnicos de enfermagem e estudantes aleacutem de profissionais de sauacutede

que trabalhavam em serviccedilos de emergecircncia (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

49

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA RIBEIRO KRUSE 2009

SILVA VALENCcedilA GERMANO 2010a 2010b)

Entretanto estes sentimentos natildeo chegaram a gerar uma classe e ficaram

restritos a uma subcategoria da classe 1 Uma possiacutevel causa para natildeo formaccedilatildeo de uma

classe que abordasse esses leacutexicos seria a utilizaccedilatildeo de termos distintos o que leva a

perda da forccedila estatiacutestica da palavra na constituiccedilatildeo das classes e revela uma limitaccedilatildeo

da Anaacutelise Lexical Isso demonstra a importacircncia da anaacutelise dos pesquisadores sobre os

resultados do software e da leitura exaustiva das entrevistas para correta interpretaccedilatildeo

dos dados

Apesar dessa caracteriacutestica do Alceste este software foi escolhido para a anaacutelise

desta pesquisa porque o mesmo ajuda na exploraccedilatildeo da estrutura e da organizaccedilatildeo do

discurso aleacutem de permitir o descobrimento de relaccedilotildees entre universos lexicais e

caracteriacutesticas dos sujeitos entrevistados que seriam difiacuteceis de se encontrar em uma

anaacutelise de conteuacutedo tradicional realizada apenas atraveacutes da construccedilatildeo das grelhas de

Bardin Outro aspecto importante no uso desse software eacute a possibilidade de anaacutelise de

um banco de dados com maior nuacutemero de entrevistas e a exploraccedilatildeo dos dados sem os

riscos de interferecircncias das preconcepccedilotildees do pesquisador Aleacutem disso a anaacutelise dos

mundos lexicais realizada pelo Alceste eacute considerada uma ferramenta adequada para o

referencial teoacuterico das representaccedilotildees sociais pois a partir das similaridades

contradiccedilotildees ou associaccedilotildees dos mundos lexicais pode-se extrair as representaccedilotildees dos

sujeitos eou de seus grupos (ALBA 2004)

Para determinar se o corpus teve um bom desempenho Camargo (2005) sugere

que haja um aproveitamento de 75 das UCE o que significa que esse percentual foi

utilizado na construccedilatildeo da classificaccedilatildeo hieraacuterquica descendente Este valor eacute calculado

pelo software e demonstrado no quadro de siacutentese da anaacutelise o que representa uma

informaccedilatildeo importante sobre a consistecircncia do banco de dados O aproveitamento das

UCE desta pesquisa foi de 7835 o que comprova um banco de dados consistente

Outra justificativa para natildeo construccedilatildeo de uma classe temaacutetica que abordasse os

sentimentos dos profissionais seria a maior dificuldade dos profissionais falarem sobre

seus proacuteprios sentimentos e acabarem elaborando um discurso que se centra mais nos

sentimentos voltados para a assistecircncia como carinho dor amor e cuidado Isso

demonstra uma certa fuga dos sentimentos por eles vivenciados como frustraccedilatildeo

tristeza dor fracasso perda culpa Assim ocorre o distanciamento do profissional o

50

que inclui o sentimento de frieza e a automatizaccedilatildeo do trabalho para evitar o sofrimento

Neste processo de automatizaccedilatildeo o discurso dos entrevistados remete agrave ideia das linhas

de produccedilatildeo e iraacute se objetivar e ancorar no modelo capitalista e industrial da sociedade

ocidental

Muitos destes sentimentos e significados vatildeo nascer de elementos que emergem

na classe 2 que traz a caracterizaccedilatildeo do profissional como aquele que deve lutar para

salvar vidas No modelo ocidental e capitalista de sociedade que valoriza a produccedilatildeo o

resultado e o pragmatismo a morte deve ser combatida (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Assim prima-se pela excelecircncia que no caso da situaccedilatildeo de finitude eacute vencer a morte

com o consumo de toda a tecnologia e conhecimento cientiacutefico necessaacuterios para atingir

essa meta Assim os profissionais creem que estatildeo prolongando a vida quando na

verdade estatildeo prolongando o morrer (DacuteASSUMPCcedilAtildeO 2010)

Neste sentido a morte representa o maior vilatildeo do trabalho do profissional de

sauacutede (COSTA LIMA 2005) que natildeo se encontra preparado para enfrentar a finitude

(SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009) Isto leva agrave supressatildeo do luto e dos

sentimentos o que daacute lugar a existecircncia de um falso controle sobre a situaccedilatildeo

(OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI 2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009)

Este contexto se objetiva e se ancora em uma formaccedilatildeo profissional que divulga

e reforccedila esses valores fazendo com que a morte e sua vivecircncia sejam de certa forma

relegadas ou excluiacutedas da academia (COMBINATO QUEIROZ 2006) o que foi

observado na classe 3 Tal fato faz com que esses profissionais sintam-se despreparados

para lidar com as situaccedilotildees do cotidiano que envolve o processo do morrer o que vem

sendo demonstrado tambeacutem em outros estudos (OLIVEIRA BRETAS YAMAGUTI

2007 SALOMEacute CAVALI EPOacuteSITO 2009 SILVA VALENCcedilA GERMANO

2010a 2010b)

Assim a academia reforccedila a imagem do profissional que luta para salvar vidas

Isto provavelmente gerou na populaccedilatildeo em estudo elementos da representaccedilatildeo social

da morte e do morrer que se objetivam e se ancoram em um contexto beacutelico que eacute

revelado na anaacutelise lexical com palavras como batalha missatildeo e lutar principalmente

na classe 2 Um dos entrevistados chega a descrever o profissional de sauacutede como

ldquofortalezardquo em um processo de concretizaccedilatildeo do abstrato ou seja a ideia do

comportamento eacute transformada em uma forma concreta que constitui a realidade

51

Neste sentido ao se deparar com a morte dos receacutem-nascidos os profissionais

de sauacutede sentem a anguacutestia da constataccedilatildeo de sua proacutepria finitude e a frustaccedilatildeo do

insucesso Esse despreparo impulsiona os profissionais agrave crenccedila em Deus como uma

autoridade sobrenatural capaz de transformar realidades e solucionar problemas Assim

a morte eacute objetivada na vontade de Deus e se ancora neste universo divino que isenta o

profissional das responsabilidades das tomadas de decisotildees e dos desfechos da morte e

do morrer

Isso demonstra a forte influecircncia da religiatildeo judaico-cristatildeo na construccedilatildeo da

sociedade brasileira o que leva a sua utilizaccedilatildeo nos processos de formaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais em diferentes temaacuteticas do cotidiano (RANGEL QUEIROZ

2008) Vale aqui salientar que 714 das entrevistadas declarou-se de orientaccedilatildeo

catoacutelica Esse fato provavelmente contribuiu para forccedila dessa objetivaccedilatildeo e ancoragem

Entretanto no ambiente de terapia intensiva em que a tecnologia pode prolongar

a morte e o sofrimento natildeo reconhecer a terminalidade e a necessidade de cuidados

paliativos construiacutedos coletiva e eticamente pode levar agrave praacutetica da distanaacutesia

prolongando o sofrimento de receacutem-nascidos e suas famiacutelias o que foi observado em

algumas falas

A objetivaccedilatildeo e a ancoragem na religiosidade foi tatildeo marcante neste trabalho

que fez com que esse aspecto apesar de mais forte nas classes 1 e 3 permeasse a

construccedilatildeo de todas as classes temaacuteticas marcando a representaccedilatildeo social da morte e do

morrer nesse estudo Assim para esses profissionais a religiatildeo serve de apoio para a

compreensatildeo dos conflitos que permeiam a morte e para defesa do profissional sendo

este aspecto partilhado com os familiares em suas atividades laborativas o que inclui o

estiacutemulo agrave esperanccedila em um Deus milagroso que pode vencer a morte quando o

profissional perde a batalha

Esta atitude por parte dos profissionais tambeacutem foi observada em estudo de Lira

e colaboradores (2012) que buscou compreender as representaccedilotildees sociais de familiares

que recusavam a doaccedilatildeo de oacutergatildeos para o transplante Neste trabalho os autores referem

que este comportamento dos trabalhadores em trazer para a famiacutelia um discurso que se

objetiva e ancora na esperanccedila em um Deus milagroso que tudo pode resolver incluindo

a morte levam a crenccedila na reversibilidade de um paciente terminal o que influencia no

natildeo consentimento dos familiares para doaccedilatildeo de oacutergatildeos A partir destes resultados

podemos inferir que no processo de terminalidade dos receacutem-nascidos esta evocaccedilatildeo

52

de Deus como esperanccedila tambeacutem suscita duacutevidas nos familiares levando ao prejuiacutezo do

processo de aceitaccedilatildeo da morte

Apesar de tal constataccedilatildeo natildeo se observou nenhum relato de reflexatildeo na

academia ou no ambiente de trabalho sobre a espiritualidade ou religiosidade na sauacutede

mostrando que a sua utilizaccedilatildeo perfaz praacuteticas que se alimentam mais do senso comum

do que dos processos criacuteticos de aprendizagem

Observa-se ainda a ancoragem natildeo apenas na religiatildeo mas em um modelo

medicocecircntrico de decisatildeo Assim o discurso dos meacutedicos permeou os conflitos das

praacuteticas de cuidados paliativos em relaccedilatildeo agraves decisotildees e aos julgamentos de suas

atitudes Jaacute os demais profissionais preocuparam-se com aspectos dos cuidados do

conforto e aliacutevio da dor ou seja da assistecircncia reforccedilando o modelo que centra-se

ainda na figura do meacutedico como uma figura de poder e lideranccedila na equipe

Para entender este fato faz-se necessaacuterio compreender que o modelo pedagoacutegico

dos cursos de graduaccedilatildeo adotado por deacutecadas no Brasil fundamentava-se em um

curriacuteculo riacutegido com ecircnfase na especializaccedilatildeo na medicina e no uso de tecnologias

complexas sem um equiliacutebrio entre praacutetica e teoria e que consequentemente natildeo

atende agraves demandas da sociedade Esta realidade repercute em vaacuterios aspectos da

atuaccedilatildeo dos profissionais entre eles as dificuldades em trabalhar a sauacutede de uma

maneira integral interdisciplinar e eacutetico-humaniacutestica As Diretrizes Curriculares

Nacionais dos Cursos de Sauacutede trouxeram aspectos importantes para a mudanccedila desta

realidade entretanto muitas satildeo as dificuldades que vecircm sendo enfrentadas para a sua

efetiva implantaccedilatildeo (BRASIL 2001a 2001b)

Apesar de 50 dos entrevistados terem mais de dez anos de formados e

portanto terem tido acesso a uma formaccedilatildeo ainda sem a perspectiva das novas diretrizes

em relaccedilatildeo agrave tomada de decisatildeo e agrave lideranccedila notou-se nesse estudo que o discurso de

profissionais formados ateacute cinco anos tambeacutem continham elementos do modelo meacutedico

de decisatildeo Este fato demonstra a necessidade de efetivaccedilatildeo das novas diretrizes e da

construccedilatildeo de processos de aprendizagem para profissionais que jaacute se encontram no

mercado de trabalho para que os mesmos se adequem agraves novas exigecircncias da

sociedade

Aleacutem da religiosidade e da formaccedilatildeo acadecircmica a classe 3 tambeacutem faz

referecircncia agraves praacuteticas nos estaacutegios e residecircncias ao cotidiano de trabalho e agraves vivecircncias

familiares Observa-se que as praacuteticas constituiacuteram-se em ferramentas importantes de

53

aprendizagem Entretanto sem um planejamento didaacutetico ou uma reflexatildeo criacutetica em

relaccedilatildeo ao vivenciado corre-se o risco do pragmatismo quando na verdade deveria

haver praacutexis e educaccedilatildeo permanente

Seminaacuterio sobre ldquoA Psicologia e a Morterdquo realizado na Universidade de Satildeo

Paulo e organizado por Wilma Torres e colaboradores em 1980 jaacute discutia a formaccedilatildeo

dos profissionais da aacuterea de sauacutede em relaccedilatildeo agrave morte e o morrer Estes autores

afirmaram que apesar de lidarem direta e frequentemente com a morte os profissionais

de sauacutede encontravam-se despreparados devido agraves distorccedilotildees curriculares Nessa

perspectiva algumas estrateacutegias de enfrentamento foram elencadas como (a) a

necessidade de mudanccedila na estrutura e no clima curricular dando igual ecircnfase aos

conhecimentos teacutecnico-cientiacuteficos e de interrelacionamento humano centrando-se no

cuidar com o paciente (b) a importacircncia do estudo e da pesquisa em tanatologia na aacuterea

da sauacutede (c) o enfrentamento dos proacuteprios sentimentos frente agrave morte por estes

profissionais (TORRES GUEDES TORRES 1983) Entretanto os resultados desta

pesquisa demonstram que pouco se avanccedilou na construccedilatildeo dessas estrateacutegias para

populaccedilatildeo em estudo

CONCLUSOtildeESRECOMENDACcedilOtildeES

Compreender a representaccedilatildeo social dos profissionais de Unidade de Terapia

Intensiva Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem-nascidos representa uma

importante passo para construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade e da

promoccedilatildeo de cuidados paliativos Entretanto observa-se ainda uma escassez de

trabalhos na literatura que abordem essa temaacutetica principalmente em relaccedilatildeo a

percepccedilatildeo da equipe multidisciplinar e da vivecircncia da morte e do morrer na faixa etaacuteria

neonatal

Por meio deste estudo foi possiacutevel observar que a formaccedilatildeo acadecircmica das

diversas profissotildees entrevistadas segundo os relatos dos participantes natildeo abordou

adequadamente a temaacutetica da morte e do morrer Este fato levou a dificuldades destes

profissionais ao lidar com esta situaccedilatildeo limite o que gerou sentimentos negativos e que

interferiram em suas vidas privadas e no cotidiano do trabalho incluindo a vivecircncia natildeo

trabalhada do luto

Aleacutem disso a formaccedilatildeo acadecircmica apesar dos avanccedilos ainda reforccedila uma

concepccedilatildeo medicocecircntrica de tomada de decisotildees e a imagem do profissional de sauacutede

54

como aquele que luta para salvar vidas Assim a morte representa o fracasso do

trabalho destes profissionais que desamparados pela ausecircncia de praacuteticas educativas e

interdisciplinares passam a fazer uso do seu conhecimento empiacuterico para enfrentar a

situaccedilatildeo principalmente no que se refere a suas concepccedilotildees religiosas e suas vivecircncias

com a morte e o morrer na vida privada e no trabalho

Entretanto esta praacutetica baseada no pragmatismo e natildeo na reflexatildeo criacutetica e

consciente pode gerar consequecircncias graves para os profissionais os familiares e os

receacutem-nascidos como por exemplo a abordagem e o acolhimento inadequado das

famiacutelias e o prolongamento da morte e do sofrimento de pacientes

Portanto os resultados deste estudo apontam para a necessidade de se

desenvolver praacuteticas de educaccedilatildeo permanente nos serviccedilos e de mudanccedilas curriculares

na academia atraveacutes da construccedilatildeo de espaccedilos de aprendizagem capazes de desenvolver

estrateacutegias de enfrentamento da finitude

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57

Conclusatildeo e

consideraccedilotildees finais

58

5 CONCLUSAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo permitiu a abordagem da representaccedilatildeo

social dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal sobre a

morte e o morrer de receacutem-nascidos por eles assistidos

Ainda na construccedilatildeo da revisatildeo foi possiacutevel observar a escassez de trabalhos

que abordem esta perspectiva principalmente no que se refere aos estudos qualitativos

As pesquisas encontradas natildeo traziam as representaccedilotildees de todas as classes profissionais

que atuam nesse tipo de assistecircncia Este fato demonstra a importacircncia e motivaccedilatildeo para

realizaccedilatildeo deste trabalho

A utilizaccedilatildeo do software Alceste representou uma ferramenta essencial para a

realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo dos discursos natildeo apenas por permitir a utilizaccedilatildeo de

um nuacutemero significativo de entrevistas mas tambeacutem por fornecer dados importantes

que natildeo seriam percebidos com a utilizaccedilatildeo da anaacutelise manual atraveacutes de grelhas

Apesar dos avanccedilos das discussotildees sobre as praacuteticas em cuidados paliativos os

resultados deste trabalho demonstram que a populaccedilatildeo estudada pouco evoluiu nesta

perspectiva Muitas satildeo as dificuldades que contribuem para essa realidade

O proacuteprio discurso dos entrevistados demonstrou a falta da temaacutetica da morte e

do morrer na formaccedilatildeo acadecircmica e no ambiente de trabalho o que fez os profissionais

se sentirem despreparados para lidar com a finitude Aleacutem disso o modelo ainda

predominante da formaccedilatildeo dos mesmos demonstrou fundamentar-se na representaccedilatildeo

social do profissional de sauacutede como aquele que luta para salvar vidas Essa perspectiva

levou a sentimentos e significados como perda fracasso e culpabilizaccedilatildeo

Observou-se tambeacutem um modelo de assistecircncia ainda centrado nas decisotildees dos

meacutedicos e na utilizaccedilatildeo da religiosidade e das vivecircncias do cotidiano do trabalho e da

vida privada como referecircncias para a construccedilatildeo da maneira de lidar com a morte e o

morrer Este fato demonstrou que o lidar com a finitude baseou-se muito mais no

pragmatismo que na praacutexis ou seja natildeo houve um processo criacutetico e reflexivo sobre

estrateacutegias de enfrentamento da terminalidade na populaccedilatildeo estudada

Esta realidade pode levar a consequecircncias importantes para profissionais

familiares e receacutem-nascidos visto que pode gerar o prolongamento do sofrimento

desses pacientes e a abordagem inadequada das famiacutelias

Portanto os resultados deste estudo alertam sobre a necessidade de se

desenvolverem processos de educaccedilatildeo permanente de profissionais e estudantes sobre

59

a temaacutetica da morte e do morrer Para tanto faz-se necessaacuterio natildeo apenas as reformas

curriculares mas a construccedilatildeo de espaccedilos de diaacutelogo entre profissionais e familiares na

academia e nos serviccedilos Assim seraacute possiacutevel dar os primeiros passos rumo agrave

construccedilatildeo de estrateacutegias de enfrentamento da finitude que se baseiem em uma

construccedilatildeo coletiva eacutetica compromissada e efetiva

60

Referecircncias

61

REFEREcircNCIAS

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65

Apecircndices

66

APEcircNDICE A ndash INSTRUMENTO DE CARACTERIZACcedilAtildeO DA AMOSTRA

IDADE ______

SEXO ( ) Feminino ( ) Masculino

ESTADO CIVIL_________________________________

FORMACcedilAtildeO (ANO ndash LOCAL) ___________________________________________

ESPECIALIZACcedilAtildeO_____________________________________________________

TEM FILHOS ( ) Sim ( ) Natildeo

JAacute VIVENCIOU A MORTE DE UMA CRIANCcedilA EM SUA VIDA PESSOAL

( ) Sim ( ) Natildeo

Caso a resposta seja sim qual o parentesco___________________________________

Haacute quanto tempo isso aconteceu ___________________________________________

Qual a idade da crianccedila __________________________________________________

RELIGIAtildeO________________________________________

HAacute QUANTOS ANOS TRABALHA COM UTI NEONATAL __________________

QUAIS OS SERVICcedilOS EM QUE VOCEcirc TRABALHA

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

67

APEcircNDICE B ndash EXEMPLO DE FORMATACcedilAtildeO DE UM TRECHO DE

ENTREVISTA PARA BANCO DE DADOS DO ALCESTE

e_01 prof_2 id_1 sex_1 ec_1 for_2 tfor_1 esp_1 fil_2 viv_2 relig_1

trab_3 ttrab_2

O_QUE_LHE_VEM_Agrave_MENTE QUANDO VOCEcirc PENSA NA MORTE E NO

MORRER DOS RECEacuteM_NASCIDOS ASSISTIDOS POR VOCEcirc Acho que

o_que_vem_a_mente assim eacute o sentimento da famiacutelia natildeo eacute Como assim como a

gente passar para eles Porque assim pode ser uma criatura minuacutescula que passou

muito pouco pelo conviacutevio da famiacutelia mas eacute um sentimento que ningueacutem aceita natildeo eacute

Eacute um sentimento assim que ningueacutem quer ningueacutem quer perder natildeo eacute Todo_mundo

quer mesmo que venha ali com algum problema com sem enxergar sem tipo com

como digo assimcom alguma deficiecircncia mais grave mas todo mundo quer todo

mundo quer criar natildeo eacute (CRIAR DITO COM EcircNFASE) Ningueacutem aceita a morte

Acho que hoje a morte ela eacute mal aceita e tambeacutem mal trabalhada Eu tava vendo ateacute

uma questatildeo ai que a gente fala a questatildeo da grade curricular que a gente profissional

de sauacutede a gente natildeo trabalha com isso a gente natildeo tem uma cadeira que fale da morte

Hoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei faz cinco anos e natildeo

existe isso natildeo fala a gente natildeo se entende com a morte Entatildeo a gente vem assim a

gente vem para o hospital a gente vem trabalhar e vocecirc tem que saber lidar com aquilo

ali vocecirc tem que saber lidar com a morte Sem vocecirc ter trabalhado isso natildeo eacute Agraves vezes

assim ateacute o pessoal fala que o profissional_de_sauacutede ele eacute desumano que o

profissional_de_sauacutede eacute muito frio mas natildeo eacute natildeo Eacute que a gente lida tanto com aquilo

ali que a gente tem que saber cuidar a gente tem que saber trabalhar com aquilo ali A

gente tambeacutem natildeo pode absorver o problema de todo o mundo por exemplo a gente

natildeo pode absorver cada cada tristeza daquela matildee para a gente Que a gente taacute ali como

profissional natildeo eacute Acho que eacute mais ou menos isso

68

APEcircNDICE C ndash TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ECLARECIDO

(TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS DA SAUacuteDE

PROGRAMA DE POacuteSGRADUACcedilAtildeO EM SAUacuteDE DA

CRIANCcedilA E DO ADOLESCENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar como voluntaacuterio de um estudo sobre

a morte e o morrer de receacutem nascidos (RN) A seguir vocecirc teraacute informaccedilotildees sobre essa

pesquisa podendo ainda tirar qualquer duacutevida com a pesquisadora Se vocecirc concordar

em participar deveraacute assinar ao final desse documento e natildeo receberaacute nenhuma espeacutecie

de pagamento por isso Uma coacutepia seraacute entregue a vocecirc Caso natildeo deseje participar ou

se quiser desistir em qualquer momento vocecirc natildeo seraacute penalizado de nenhuma maneira

INFORMACcedilOtildeES SOBRE A PESQUISA

TIacuteTULO Percepccedilatildeo dos profissionais que atuam em Unidade de Terapia Intensiva

Neonatal sobre a morte e o morrer de receacutem nascidos

PESQUISADORA RESPONSAacuteVEL Fernanda Isabela Gondim Sarmento

ORIENTADORA Rosemary de Jesus Machado Amorim

COORIENTADORA Iracema da Silva Frazatildeo

CONTATO

Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Ciecircncias da Sauacutede

Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sauacutede da Crianccedila e do Adolescente ndash Primeiro Andar

Av Professor Morais Rego 1235 Vaacuterzea Recife ndash PE

Telefone (81) 2126-8514

Email da pesquisadora fernanda_ufpbyahoocombr CONTATO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM PESQUISA

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa do Centro de Ciecircncias da Sauacutede da Universidade Federal

de Pernambuco Av da Engenharia sn Preacutedio do CCS - 1o andar - Cidade Universitaacuteria

CEP 50740-600

Telefone (81) 2126-8588

O objetivo principal do estudo eacute conhecer a percepccedilatildeo dos profissionais que

atuam em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) sobre a morte e o morrer de

receacutem-nascidos (RN) por eles assistidos Para tanto pretende-se compreender como os

profissionais de UTIN se sentem diante da morte desses RN qual o significado destas

mortes para eles perceber como se daacute o enfrentamento dessa situaccedilatildeo e identificar os

elementos do contexto sociocultural eou acadecircmico que influenciaram a forma de lidar

com esse fato

Para alcanccedilar esses objetivos seraacute realizada entrevista com os profissionais

(meacutedicos enfermeiras teacutecnicasauxiliares de enfermagem fonoaudioacutelogos

fisioterapeutas psicoacutelogos e assistentes sociais) que trabalham na UTIN da Maternidade

69

Frei Damiatildeo e que desejarem participar do estudo Essa entrevista seraacute gravada mas soacute

os pesquisadores teratildeo acesso a esse material sendo completamente preservado o

anonimato e a privacidade Essas gravaccedilotildees seratildeo guardadas sob a responsabilidade dos

pesquisadores por um periacuteodo miacutenimo de cinco anos Participar da pesquisa

possibilitaraacute com que vocecirc possa falar dos problemas enfrentados na sua profissatildeo

diante da morte assunto ainda pouco discutido nesse meio profissional Por tratar da

morte haacute o risco de emergirem sentimentos ou lembranccedilas desagradaacuteveis Para

amenizar essa questatildeo caso sinta necessidade o serviccedilo de psicologia dessa instituiccedilatildeo

estaacute disponiacutevel para atendecirc-lo Aleacutem disso se vocecirc desistir ou natildeo quiser participar da

pesquisa nenhuma espeacutecie de dano lhe seraacute causado

Os resultados desse estudo seratildeo publicados em revistas e eventos cientiacuteficos

mas em nenhum momento vocecirc seraacute identificado Espera-se que a discussatildeo sobre esse

assunto possa trazer reflexatildeo e melhorias na atividade profissional ficando a

pesquisadora responsaacutevel por trazer a instituiccedilatildeo os resultados desse trabalho para que

estrateacutegias de enfrentamento possam ser coletivamente construiacutedas

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Li e entendi todas as informaccedilotildees deste estudo sendo devidamente informado(a)

e esclarecido(a) pela pesquisadora sobre esse estudo e seus procedimentos assim como

possiacuteveis riscos e benefiacutecios decorrentes de minha participaccedilatildeo Foi garantido que posso

retirar meu consentimento a qualquer momento sem que isso leve a qualquer

penalidade Dou livre e esclarecidamente meu consentimento e participarei desse

estudo ateacute que decida o contraacuterio

Joatildeo Pessoa ______ de _______________ de 2011

_______________________________________

Fernanda Isabela G Sarmento

Pesquisadora Responsaacutevel

_______________________________________

Entrevistado

_______________________________________

Testemunha

_______________________________________

Testemunha

70

APEcircNDICE D ndash EXEMPLOS DE UCEacuteS DE CADA CLASSE TEMAacuteTICA

CLASSE 1 ndash O enfrentamento da morte e do morrer

Subcategoria ndash A vontade de Deus

ldquoAquilo que Deus quer aquilo que eacute permissatildeo de Deus para viver e aquilo que eacute

permissatildeo de Deus para levar para ele Que nem tudo que Deus tem eacute nossordquo (E8 ndash

Assistente social)

ldquoDeus quer que aquela crianccedila natildeo fique no mundo estaacute entendendo Eacute que vocecirc faz

tudo Agraves vezes tem a melhora agraves vezes a piora mas natildeo tem jeito de sairrdquo (E4 ndash

Enfermeira)

ldquoA morte natildeo eacute uma coisa que vocecirc vai querer que vocecirc vai fazer Se morreu naquele

dia foi justamente Deus que quis e natildeo vocecircrdquo (E12 ndash Teacutecnico de enfermagem)

ldquoMotivar aquela matildee mostrar para ela que eacute coisa de Deus natildeo eacute nossa Que os

meacutedicos fazem tudo Eles estatildeo ali para fazer tudo o que pode e o que natildeo poderdquo (E7

ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoNas coisas de Deus ningueacutem sabe do amanhatilde [] A gente nunca sabe porque para

Deus nada eacute custosordquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoEntatildeo enquanto profissional eu tenho que aceitar porque ali foi feita a vontade de

Deusrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

Subcategoria ndash Cuidado paliativo e terminalidade

ldquoEu procuro fazer de tudo para que aquela crianccedila se sinta mais confortaacutevel sinta o

carinho da gente Tanto que a gente procura aqui fazer todo o nosso trabalho de aliviar

o sofrimento da dor de passar carinho para elesrdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de

enfermagem)

ldquoEle precisa ele merece ser tratado com amor com o mesmo carinho que eacute cuidado o

outro o que tem a vida o que vai sairrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

ldquoTem bebecircs que natildeo que se vocecirc ainda tem uma esperanccedilazinha ele ainda tem uma

chancezinha com certeza reanimaria ateacute o fim Mas aqueles que todo mundo jaacute sabe

que pela doenccedila ou pelo quadro cliacutenico mesmo que tem uma morte encefaacutelica ou coisa

assim eu acho que natildeo deveria ser reanimado natildeordquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoEntatildeo eu acho que um bebecirc que geralmente estaacute vegetado ali natildeo tem prognoacutestico de

vida merece ser cuidado ser tratado com amor com carinho como se ele fosse um

bebecirc normalrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e enfermeira)

71

Subcategoria ndash Sentimentos em relaccedilatildeo agrave finitude da vida

ldquoAiacute a gente tem que estar preparado mas na verdade para esse lado da morte

ningueacutem estaacute preparadordquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente acha que ele vai ter alta e ele morre Eacute uma decepccedilatildeo eacute um baque para

genterdquo (E26 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEntatildeo eu encaro isso (a morte) assim natildeo com naturalidade A gente sofre mas a

gente tem que se habituar com aquilo e dar apoio aquela matildeerdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoNatildeo destrata-lo ou deixar de trata-lo por ser uma crianccedila terminal Mas confesso

para vocecirc que eacute desestimulante Eacute aquela crianccedila que vocecirc olha assim e diz que natildeo

aguenta mais olhar para ela A anguacutestia que daacute eacute vocecirc saber que ali eacute o fim e vocecirc natildeo

tem o que fazerrdquo (E25 ndash Meacutedica)

ldquoEacute um sofrimento soacute natildeo eacute Eacute meacutedico enfermagem psicoacutelogo todo mundo sentindo

aquilo ali Eacute aquela dor Eacute uma dor que a gente natildeo sabe explicarrdquo (E7 ndash Psicoacuteloga e

enfermeira)

ldquoMas sempre a gente tenta dizer dar aquela esperanccedila de que vai melhorar que vai

sair que tenha paciecircncia que vai se recuperarrdquo (E8 ndash Assistente social)

ldquoNatildeo eacute aceitar a morte mas eacute saber que a gente sempre vai lidar com aquilo ali E a

gente tem que ser a gente profissional eacute um pouco desumano natildeo eacute (E1 ndash Enfermeira)

CLASSE 2 ndash A convivecircncia com a finitude da vida

Subcategoria - Lutando para ldquosalvar vidasrdquo

ldquoA gente fica traumatizada porque natildeo eacute o que a gente quer A gente luta luta luta e o

bichinho acaba indo a oacutebitordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoEu sinto assim um vazio uma tristeza quando a gente perde um bebecirc porque a gente

luta por elerdquo (E11 ndash Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquo[] agraves vezes a gente batalha luta faz tudo que a gente pode mas termina o bichinho

indo embora e a gente fica sem fazer nada natildeo eacuterdquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoA gente batalha para ver se ele sobrevive fica mais uns diasrdquo (E15 ndash Teacutecnica de

enfermagem)

Subcategoria ndash Relatos de vivecircncias

72

ldquoTeve um bebecirc aqui que a gente passou 8 meses com ela e terminou a bichinha indo a

oacutebitordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoFicou o dia inteiro assim saturando 6-11 praticamente estava mortordquo (E20 ndash

Enfermeira)

ldquoQuando eu entrei para caacute passou mais ou menos uns seis meses para eu ver o oacutebito

de um receacutem-nascido porque toda vez que tinha um oacutebito eu nunca estava de

plantatildeordquo (E15 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoE nesse dia aconteceu e eu nunca tinha feito o pacote que a gente faz nunca tinha

feito de um receacutem-nascidordquo (E13 ndash Teacutecnica de enfermagem)

ldquoJaacute aconteceu de bebecircs que eu estava atendendo que jaacute estavam sem ajuda de suporte

ventilatoacuterio jaacute estavam com o quadro estaacutevel de ter uma piora e vir a morrerrdquo (E16 ndash

Fonoaudioacuteloga)

CLASSE 3 ndash As influecircncias socioculturais e da academia

Subcategoria ndash Vivecircncias familiares

ldquoEntatildeo eu acho que isso (a vivecircncia de perdas familiares) contribuiu mais para o que

eu entendo da morte ou pelo que eu estou esperando do que a minha formaccedilatildeo

acadecircmicardquo (E27 ndash Fisioterapeuta)

ldquoEu acredito que seja em relaccedilatildeo as mortes que eu vivenciei na minha famiacutelia que eu

hoje posso lidarrdquo (E24 ndash Fonoaudioacuteloga)

Subcategoria ndash Formaccedilatildeo acadecircmica

ldquo[] na minha formaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Popular em trabalhar junto com a comunidade

eu jaacute via o ambiente familiar como um ambiente de parceria de estar junto da gente

toda hora Entatildeo isso aiacute eu aprendi bem E aiacute para tudo para minha formaccedilatildeo toda

saiu assim ou eu entro em parceria com a famiacutelia ou eu natildeo sei trabalharrdquo (E17 ndash

Meacutedica)

ldquo[] nem estaacutegio tinha entatildeo a gente natildeo tinha essa preparaccedilatildeo Eu natildeo tive essa

vivenciardquo (E5 ndash Fisioterapeuta)

ldquo[] uma das preceptoras foi dar a notiacutecia comigo para a famiacutelia Foi aiacute que eu

percebi que era uma reponsabilidade minha tambeacutemrdquo (E2 ndash Meacutedica)

ldquoa gente falou na faculdade muito pouco sobre isso inclusive a gente natildeo tem uma

aula natildeo tem uma disciplina aonde a gente entre e bote isso em discussatildeordquo (E11 ndash

Enfermeira e teacutecnica de enfermagem)

ldquoHoje em dia estatildeo incluindo na grade curricular Mas eu me formei a cinco anos e

natildeo existia isso natildeo falava A gente natildeo se entende com a morterdquo (E1 ndash Enfermeira)

73

ldquoA questatildeo do estaacutegio mesmo foi muito importante para saber lidar melhorrdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu lembro muitos professores Eu lembro que na eacutepoca da minha residecircncia toda vez

que tinha que dar a notiacutecia de morte pra alguma famiacutelia eu corria laacute para junto deles

para ver o jeito que eles iam falarrdquo (E18 ndash Meacutedica)

ldquoNatildeo tinha na grade curricular nada relacionado a morte Era soacute vida vida vida e

anatomia histologiardquo (E1 ndash Enfermeira)

Subcategoria ndash Cotidiano do trabalho

ldquoEu aprendi muito na praacutetica quando eu comecei a trabalharrdquo (E19 ndash Psicoacuteloga)

Subcategoria ndash Religiosidade

ldquoEu acho que a questatildeo da religiatildeo eacute primordial para saber lidar com a morterdquo (E14 ndash

Assistente social)

ldquoEu sempre tive uma formaccedilatildeo catoacutelica acredito na ressureiccedilatildeo acredito que existe

outra vidardquo (E21 ndash Fonoaudioacuteloga)

74

Anexos

75

ANEXO A ndash OFIacuteCIO DE APROVACcedilAtildeO DO COMITEcirc DE EacuteTICA EM

PESQUISA

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ANEXO B ndash PRIMEIRO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

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ANEXO C ndash SEGUNDO OFIacuteCIO DE MODIFICACcedilAtildeO DE TIacuteTULO DA

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