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Felipe Fonseca do Carmo
NOVO POLO PARA CONSERVAÇÃO EM GEOSSISTEMA FERRUGINOSO
NA REGIÃO DO RIO PEIXE BRAVO, NORTE DE MINAS GERAIS.
Orientadora: Dra. Claudia Maria Jacobi
Belo Horizonte - MG
2012
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ecologia, Conservação e Manejo
da Vida Silvestre (ECMVS) da Universidade
Federal de Minas Gerais para a obtenção de título
de Mestre.
“Hoje me sinto mais forte, mais feliz
quem sabe, só levo a certeza de que
muito pouco eu sei, ou nada sei.”
Renato Teixeira e Almir Sater
AGRADECIMENTOS
Esta é a parte mais crítica da dissertação, pois temo em esquecer alguém que contribuiu
para o fim deste trabalho. Portanto, aos que não consegui lembrar, deixo minha
gratidão, não por falta de apego as pessoas, mas por ser um indivíduo distraído mesmo.
Agradeço aos financiadores: CAPES, FAPEMIG e US Fish & Wildlife Service.
Agradeço aqueles que me deram abrigo, comida e bons bate-papos em minha visita. Ao
Francisco Lobo (Chico) pela hospedagem em Campinas, fundamental para minha busca
literária na UNICAMP e na SBE, muito obrigado pelo presente. Ao senhor Bruno Mota
(Quelé) pelo abrigo em Ouro Preto, fundamental para o bom descanso e últimas
consultas na biblioteca.
Ao Ministério Público de Minas Gerais através da Coordenadoria Regional das
Promotorias do Rio São Francisco, Sub-bacia do Rio Verde Grande e Bacia do Rio
Pardo (PJSF) e com o Núcleo Interinstitucional de Estudos e Ações Ambientais do
Norte de Minas (NIEA-NM), pela oportunidade de conhecer e realizar este trabalho
nesta área que está apenas no início de uma longa jornada de disputas.
À Polícia Militar Ambiental do município de Taiobeiras (MG) pelo imprescindível
apoio logístico/proteção e pela amizade durante esses dois anos, onde tivemos o
privilégio de conhecer pessoas que ainda acreditam na boa índole.
Aos vários amigos que ajudaram de alguma forma na elaboração, construção, pitacos e
conversas para a realização deste trabalho: Bruno Lelis, Iara Campos, Professor Mário
Cozzuol, ao amigo Rodrigo Parisi (Dino) pelas conversas durante o mestrado e pela
ajuda em campo.
Aos professores Francisco Buchmann (UNESP) e Heinrich Frank (UFRGS), pelos
ensinamentos e colaborações sobre as primeiras Paleotocas descobertas no norte de
Minas Gerais.
Ao amigo Nilson Ferreira, pelos ensinamentos que nunca poderão ser pagos, agradeço
pela confiança e proteção dadas a mim e a meu irmão nas andanças pelo norte mineiro.
A todos os moradores do Vale do Peixe Bravo e região, pelas conversas e
esclarecimentos. Espero poder ajudar a todos vocês com este trabalho e pelos que virão.
À minha família pelo apoio em todo meu curso de biologia e principalmente neste
mestrado, desculpem pela bipolaridade em alguns casos, espero não ter decepcionado.
Aproveito para agradecer meu irmão Flávio, por ter sido meu orientador/estagiário em
vários momentos na biologia e especialmente neste mestrado, poucos tiveram este
privilégio de ter um pesquisador do seu nível como ajudante.
Agradeço a minha orientadora Professora Claudia Jacobi, por permitir um grupo de
estudos em sistemas ferruginosos em seu laboratório, obrigado por nos receber e
orientar de forma exemplar.
Agradeço especialmente a uma companheira e amiga pelo acolhimento em sua vida
diante de tantas dificuldades, nunca poderei retribuir da mesma forma. Obrigado Marina
Catão pela sua generosidade e amor.
E finalmente, tenho que agradecer aos senhores Syd Barrett, Roger Waters, Nick
Mason, Richard Wright e David Gilmour, pelos ensinamentos e trilhas sonoras de uma
vida.
ÍNDICE
Resumo .............................................................................................................................1
Abstract .............................................................................................................................2
1 – Introdução ................................................................................................................ 3
2 – Objetivos .....................................................................................................................9
3 – Métodos
3.1 – A região do Peixe Bravo ..........................................................................................9
3.2 – Prospecção e mapeamento das cavidades do Vale do Peixe Bravo ...................14
3.3 – Atributos e caracterização preliminar da relevância nas cavidades do Vale do
Peixe Bravo......................................................................................................................17
3.4 – Diagnóstico e mapeamento das paleotocas do Vale do Peixe Bravo .................19
3.5 – Atual estado de conservação dos geossistemas ferruginosos do norte de Minas
Gerais ..............................................................................................................................19
4 – Resultados
4.1 – Novo sítio espeleológico em carste ferruginoso ....................................................21
4.2 –Atributos relevantes das cavidades do Vale do Peixe Bravo .................................34
4.3 – Registros deixados pela megafauna extinta em rochas ferruginosas do norte de
Minas ..............................................................................................................................41
4.4 – Vale do Peixe Bravo, uma área prístina com os dias contados? .........................48
5 – Discussão ..................................................................................................................58
6 – Conclusão .................................................................................................................69
7 – Referências Bibliográficas ........................................................................................71
Anexo 1 - ........................................................................................................................82
Anexo 2 - ........................................................................................................................86
Anexo 3 - ........................................................................................................................90
Anexo 4 - ......................................................................................................................116
LISTA DAS FIGURAS
Figura 1 - Mapa da localidade de estudo. As manchas cinza representam os
afloramentos ferruginosos conhecidos para a região. A foto destaca a canga
couraçada. (Adaptado de SIAM-2011. Disponível em:
www.siam.mg.gov.br/webgis/mineracao)..............................................................10
Figura 2 - Exemplo de escarpa de canga encontrada no Vale do Peixe Bravo,
ultrapassando 20 metros de espessura. A seta indica um veículo de escala.
(Retirado de Carmo et al., 2011a)..........................................................................11
Figura 3 - Depósitos de ferro do neoproterozóico. No Brasil ocorrem: 8 – Grupo
Jacadigo no Maciço de Urucum, Corumbá – MS; 9 – Grupo Macaúbas,
Porteirinha – MG; 10 – Formação Puga – MS. (Retirado de Vilela,
2010)......................................................................................................................11
Figura 4 - Abundância comparativa entre os depósitos de ferro do Arqueano-
Paleoproterozóico e Neoproterozóico (Editado de Vilela, 2010)..........................12
Figura 5 - Limites do semi-árido brasileiro. A estrela representa a região de estudo deste
trabalho. (Editado do Relatório Final do Grupo de Trabalho Interministerial para
Redelimitação do Semi-Árido Nordestino e do Polígono das Secas,
2005)......................................................................................................................12
Figura 6 - Percentual de armazenamento de água no solo. As setas indicam a região
pesquisada nesta dissertação. (Editado do Relatório Final do Grupo de Trabalho
Interministerial para Redelimitação do Semi-Árido Nordestino e do Polígono das
Secas, 2005)...........................................................................................................13
Figura 7 - A) Floresta Estacional Semidecidual, representada pelas Matas de Galeria,
sendo freqüente a ocorrência de monjoleiros (Pterodon cf. emarginatus Vog.
FABACEAE). B) Floresta Estacional Decidual. C e D) Vegetação sobre canga,
com elementos arbóreos comuns a Floresta Estacional Decidual e com predomínio
de espécies subarbustivas e suculentas. Ocorrem ainda espécies de Campo
Rupestre e Caatinga. (Fotos: Flávio F. Carmo, 2010)............................................14
Figura 8 - Mapa de Potencialidade de ocorrência de cavernas baseado na litologia. A
coloração vermelha representa rochas com alta propensão de ocorrência de
cavidades, mais de 80%. A seta indica a área de estudo, com coloração amarelo e
verde claro, indicando rochas de baixa e média propensão para ocorrências de
cavernas (Editado de CECAV, 2010, base de
dados).....................................................................................................................15
Figura 9 - O acesso a algumas cavernas exigiu o uso da técnica de rapel. (Fotos: Flávio
F. Carmo, 2010).....................................................................................................16
Figura 10 - Exemplos de vestíbulos avistados pela equipe, mas sem a possibilidade de
visitação. (Fotos: Felipe F. Carmo, 2010)..............................................................17
Figura 11 - Esquema do princípio da descontinuidade. Neste caso a caverna foi dividida
em nove condutos mensuráveis (A, B, C, D, E, F, G, H e I). Em cada conduto é
conferida em linha reta a maior medida possível. Após isso, os segmentos são
somados gerando o desenvolvimento linear da
caverna...................................................................................................................17
Figura 12 - Representação do perímetro selecionado para o cálculo de área utilizando o
programa Google Earth Pro. A) Imagem da canga 31 visualizada através do
Google. B) A mesma canga com o contorno manuseado, tendo como referência o
limite da couraça visualizada (mancha escura). Nota-se que o limite da canga foi o
contato com a mancha de vegetação, que pode estar recobrindo mais área de
canga no local.........................................................................................................21
Figura 13 - Distribuição das cavernas em três padrões de morfologia. Representação de
planta baixa............................................................................................................24
Figura 14 - Porcentagem das cavidades com registros de alguns atributos avaliados na
caverna e em seu entorno.......................................................................................25
Figura 15 - Espeleotemas observados nas regiões de maior estabilidade ambiental, zona
afótica da caverna. A) Composição semelhante aos Microtravertinos. B)
Escorrimento. (Fotos: Flávio F. Carmo, 2011)......................................................25
Figura 16 - Estruturas semelhantes à espeleotemas. A) Lapa dos Dois Salões,
composições côncavas no solo da cavidade. B) Lapa dos Cactos, com estruturas
semelhantes a estalactites. (Fotos: Felipe F. Carmo, 2010)..................................26
Figura 17 - A) Caverna inserida no diamictito hematítico. B) Paredes formadas por
bandamentos hematíticos. C) Gruta inserida na canga. D) Caverna em rocha
alterada. (Fotos: Flávio F. Carmo, 2010)...............................................................32
Figura 18 - A) Rebaixamento da couraça de canga, semelhante ao processo de
dolinamento. B) Zona freática rasa. A seta indica o nível da lâmina d’água. C)
Drenagem intermitente em algumas cavidades, atestada pelo canal impresso no
substrato. D) Cúpulas de dissolução no teto de algumas cavernas sinalizando uma
conexão vertical com o epicarste (escala 1 metro). E) Pequeno conduto horizontal
na parede de algumas cavidades (escala 15 centímetros). (Fotos: Flávio F.
Carmo)....................................................................................................................33
Figura 19 - Escarpa de canga mostrando (linha pontilhada) redes de tubos que
provavelmente são formados por drenagem subterrânea. (Foto: Felipe F. Carmo,
2010)......................................................................................................................34
Figura 20 - Comparação das dimensões entre cinco cavernas do Peixe Bravo. A)
Caverna do Lajedo II (164 metros). B) Caverna do Lajedo I (156 metros). C)
Caverna do Lago (98 metros). D) Caverna dos Três Buracos (36 metros). E) Lapa
do Abrigo (9 metros)..............................................................................................38
Figura 21 - Espeleotemas encontrados na Caverna do Lago. A) Escala 15 cm. B) Escala
10 cm. C) Escala 20 cm. D) Escala 10 cm. E) Escala 10 cm. (Fotos: Flávio F.
Carmo, 2011) .........................................................................................................40
Figura 22 - Caverna Teto de coral. A) Entrada da cavidade. B) Salão central com
destaque para o único conduto da caverna. C) Paleotoca, com uma extensão de 10
m. D) Final do conduto, onde nota-se uma ampliação no volume o que pode
indicar uma câmara de giro. (Retirado de Carmo et al., 2011b)............................43
Figura 23 - Caverna Teto de Coral. Marcas de garras. A e B) Registro nas paredes. C)
Registro no teto. D) Partes do conduto possuem uma textura lisa, identificado
como a superfície de polimento devido ao atrito do animal. (Retirado de Carmo et
al., 2011b)..............................................................................................................44
Figura 24 - Croqui da caverna Teto de Coral, com destaque para o conduto onde foram
aferidas as medidas de largura e altura a cada metro linear a partir do eixo central
da galeria. As marcas de garras foram identificadas apenas nos primeiros cinco
metros do conduto, indicadas pelas setas vermelhas. (Editado de Carmo et al.,
2011b)....................................................................................................................44
Figura 25 - Caverna dos Três Buracos. A) Foto do único conduto da caverna, com
larguras distintas, seguindo um desenvolvimento retilíneo. B, C e D) Registros de
marcas de garras nas paredes. Nota-se que há registros diretamente na canga (C),
fato notável devido à dureza desse litotipo. (Retirado de Carmo et al.,
2011b)....................................................................................................................45
Figura 26 - Caverna do Mocororô. A) Entrada da caverna com grau de inclinação
descendente e com grandes blocos de abatimento. B) Entrada para o salão central.
C) Salão central, a seta mostra uma pessoa como referência de altura. D)
Passagem atualmente estreita para o último conduto onde foi registrada a maior
altura das garras. (Retirado de Carmo et al., 2011b).............................................45
Figura 27 - Caverna do Mocororô. As marcas de garras foram observadas em toda a
extensão das paredes internas da caverna. A barra branca indica 1 metro.
(Retirado de Carmo et al., 2011b)..........................................................................46
Figura 28 - Caverna do Mocororô. Registro das marcas das garras alcançando 3,1
metros de altura. (Retirado de Carmo et al., 2011b)..............................................46
Figura 29 - Caverna do Mocororô. Conduto formado pela megafauna pleistocênica. As
marcas de garras foram registradas em todo o seu interior, incluindo o teto da
galeria. Nota-se uma forma circular do conduto. (Retirado de Carmo et al.,
2011b)....................................................................................................................47
Figura 30 - Croqui da caverna do Mocororô, destacando o conduto onde foram aferidas
as medidas de largura e altura, tomadas a cada metro a partir do eixo central da
galeria. (Editado de Carmo et al., 2011b)..............................................................47
Figura 31 - Ranhuras nas paredes da caverna do Mocororô. A) Tipo I. B) Tipo II.
(Fotos: Flávio F. Carmo, 2010)..............................................................................48
Figura 32 - Separação dos oito setores para análise em escala local. A) Rio Peixe Bravo,
separando os setores 1 e 2. B) Córrego das Éguas, separando os setores 4 e 5. C)
Córrego Poções, separando os setores 2 e 3. D) Canyon do córrego Forquilha,
separando os setores 5 e 6...........................................................................................48
Figura 33 - Percentual do grau de ameaça obtido para as cangas do Peixe Bravo. QA
(Quase Ameaçada), VU (Vulnerável), EN (Em Perigo), CR (Criticamente em
Perigo)....................................................................................................................51
Figura 34 - Contribuição de cada item avaliado no protocolo para o Grau de Degradação
nas cangas. QA (Quase Ameaçada), VU (Vulnerável)..........................................51
Figura 35 - Contribuição de cada item avaliado no protocolo para a Qualidade
Ambiental nas cangas. QA (Quase Ameaçada), VU (Vulnerável)........................52
Figura 36 - Situação das 41 cangas analisadas no Vale do Peixe Bravo em relação à fase
de concessão mineraria. Req. (requerimento), Aut. (autorização).........................52
Figura 37. Setor 1 - Possui duas cavidades de relevância máxima.................................54
Figura 38 - Setor 2...........................................................................................................54
Figura 39 - Setor 3. Com duas cavidades de relevância máxima....................................55
Figura 40 - Setor 4. Com uma cavidade de relevância máxima......................................56
Figura 41 - Setor 5...........................................................................................................56
Figura 42 - Setor 6...........................................................................................................57
Figura 43 - Setor 7. Possui uma cavidade com presença de fauna
troglomórfica..........................................................................................................57
Figura 44 - Setor 8. As cangas se encontram próximas a monocultura de
eucalipto.................................................................................................................58
Figura 45 - Mapa geológico da região do Vale do Peixe Bravo. Em destaque (colorido)
o geossistema analisado. (editado de VILELA, 1986)...........................................65
Figura 46 - Perfil geológico do geossistema. A imagem de cima indica o litotipo do
perfil, com ênfase nas rochas ferruginosas. A imagem de baixo mostra a
porcentagem de ferro nos pacotes rochosos. (editado de VILELA,
1986)......................................................................................................................66
Figura 47 - Importância do geossistema ferruginoso para manutenção e obtenção de
água dos moradores do Peixe Bravo. (Fotos: Flávio F. Carmo,
2011)......................................................................................................................67
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Dimensão das cangas e área do caminhamento. Em destaque (negrito) estão
representadas as cangas onde houve registro de cavernas.....................................22
Tabela 2 - Identificação, dimensão, litotipo e localidade das cavernas do Peixe Bravo.
DL (Desenvolvimento Linear), Alt. (Altitude),Can. (Canga), Mun. (Município),
C. (Caverna), G. (Gruta), L. (Lapa), ffb (formação ferrífera bandada), RPM (Rio
Pardo de Minas), RM (Riacho dos Machados), GM (Grão-Mogol), SM
(Serranópolis de Minas). Abaixo são indicadas as formações rochosas
predominantes nas áreas de cada caverna, nas escalas de 1:100.000 e 1:1.000.000,
consultado em CPRM: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
(http://www.cprm.gov.br/). O item Visual Campo, refere ao litotipo predominante
onde a caverna foi formada....................................................................................27
Tabela 3 - Amostragem das cavernas em meses secos e chuvosos.................................26
Tabela 4 - Composição química de rochas (determinada por fluorescência de raios-X)
onde algumas cavernas estão inseridas. Valores em porcentagem. (retirado de
Carmo et al., 2011a)...............................................................................................31
Tabela 5 - Relevância das cavernas do Vale do Peixe Bravo. Ext.(Extensão em metros),
DN (Dimensões Notáveis), EU (Espeleotemas Únicos), GUR (Gênese Única ou
Rara), (μ+σ), média da extensão (37,72 m) + desvio padrão (46), * (Atributos
acentuados sob enfoque local e significativos sob enfoque regional)....................35
Tabela 6 - Substratos onde foram encontrados paleotocas e crotovinas* no
Brasil......................................................................................................................41
Tabela 7 - Distribuição das cangas por setor...................................................................49
Tabela 8 - Classificação do estado de conservação das cangas do Peixe
Bravo......................................................................................................................50
Tabela 9 - Valores médios de cada critério avaliado, em referência ao número de pontos
totais que cada um poderia alcançar.......................................................................50
1
Resumo
As formações ferruginosas no Brasil compreendem um sistema geoecológico que se caracteriza
como um dos mais importantes para conservação, em função do alto grau de endemismos já
relatados para sua flora; das milhares de cavernas catalogados nesta última década; e de sua
importante contribuição como área de recarga de aqüíferos. Devido ao crescimento do
mineralnegócio, novas fronteiras de exploração são cogitadas para a expansão dessa atividade.
Em Minas Gerais, o novo polo minerador pretendido fica na região norte do estado, no Vale do
Peixe Bravo, o qual abriga uma biodiversidade que se destaca em meio ao semiárido brasileiro.
As áreas de cangas norte-mineiras estão inseridas em sistemas ferruginosos que propiciam uma
geodiversidade distinta das já registradas para a região do Quadrilátero Ferrífero, maior polo
minerador de ferro do país. O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico ambiental do
geossistema ferruginoso, relatando pela primeira vez, em escala local, a qualidade ambiental das
cangas; assim como uma prospecção inicial da área em busca dos primeiros registros de
cavidades para esta região. No total, foram realizadas vistorias em 41 cangas, e cadastradas 25
cavernas na região pesquisada pelo projeto. Em análise realizada por meio de um protocolo de
avaliação ambiental, todas as cangas vistoriadas mostraram um nível excelente de preservação,
em que os maiores fatores de impactos presentes foram pequenas estradas de prospecção
mineral, devido aos estudos geológicos realizados na década de 70 por mineradoras. Além
disso, apenas em duas cangas foram registradas pequenas manchas de capim exótico (Melinis
minutiflora) e pequenos desmates nas adjacências, provocados por agricultura familiar. Dentre
as cavidades vistoriadas, cinco apresentaram relevância máxima, de acordo com o protocolo de
avaliação preconizado pela Instrução Normativa nº 2/09. Essas cavidades obtiveram tal
qualificação devido à presença de espeleotemas únicos (uma cavidade); gênese rara (duas
cavidades); e dimensões notáveis (duas cavidades). Ainda, foram registrados, pela primeira vez
no país, indícios paleontológicos dentro de cavernas de litotipo ferruginoso. Apesar de ser uma
área prístina, o vale do rio Peixe Bravo encontra-se em ameaça iminente de degradação, pois
está localizado totalmente sobre títulos minerários, dentre os quais alguns já se encontram em
fase de Requerimento de Lavra. Portanto, essa dissertação traz um refinamento dos atributos
geoecológicos dessa área, o que a torna uma ferramenta para que os tomadores de decisão
possam priorizar e planejar adequadamente as futuras áreas protegidas a serem implantadas na
região.
Palavras-chave: geossistema, canga, cavernas, conservação.
2
Abstract
Ferruginous formations in Brazil comprise a geo-ecologic system characterized as one
of the most important for conservation, due to the high degree of endemisms already
related for its flora; the thousands of caves catalogued in the last decade; and its
important contribution as a recharge area for aquifers. Because of the growing mineral
business, new frontiers of exploration are considered for the expansion of this activity.
In Minas Gerais, the newest intended mining centre lies in the north of the state, at
Peixe Bravo Valley, which harbours a biodiversity that stands out amid Brazilian
semiarid region. The areas of cangas in northern Minas Gerais are inserted into
ferruginous systems that provide a geo-diversity distinct from those already recorded for
the Quadrilátero Ferrífero region, the largest iron mining centre of the country. The aim
of this study was an environmental diagnosis of the ferruginous geo-system, reporting,
for the first time on a local scale, the environmental quality of the cangas, as well as an
initial exploration of the area in search of the first records of caves in this region. In
total, inspections were conducted in 41 cangas, and 25 caves were recorded in the area
surveyed by the project. In an analysis performed using an environmental assessment
protocol, all inspected cangas showed an excellent level of preservation, in which the
greatest impacts detected were small roads of mineral exploration, due to geological
studies conducted in the 70's by mining companies. Furthermore, in only two cangas
there were records of small patches of exotic grass (Melinis minutiflora), and little
adjacent deforestation, caused by family farms. Among the caves inspected, five were
of maximum relevance, in accordance with the evaluation protocol recommended by the
Normative Instruction No. 2/09. These caves obtained such classification because of the
presence of unique speleothems (one cave); rare genesis (two caves); and notable
dimensions (two caves). Yet, paleontological evidences inside ferruginous lithotype
caves were recorded for the first time in Brazil. Although it is a pristine area, the valley
of the Peixe Bravo River is at imminent threat of degradation, since it is located entirely
on mining titles, some of which are already in stage of Mining Application. Therefore,
this dissertation brings a refinement of the geo-ecological attributes of that area, making
it a tool for decision makers to prioritize and properly plan future protected areas to be
implemented in the region.
Key words: geo-system, canga, caves, conservation.
3
1 – Introdução
A questão geoecológica das formações ferruginosas
As formações ferruginosas no Brasil se destacam como um dos sistemas
geoecológicos mais importantes para conservação, e por estarem intimamente ligados as
maiores jazidas de ferro do país também são passíveis de uma extinção a curto prazo
(JACOBI et al., 2011). No Brasil, as formações ferríferas são caracterizadas por rochas
sedimentares que exibem valores superiores a 15% de ferro (KIMBERLEY, 1978).
Associadas às formações ferríferas, em seu topo, encontram-se normalmente couraças
ferruginosas denominadas cangas (DORR & BARBOSA, 1963; VASCONCELOS et
al., 2008). Os extensos platôs de canga que recobrem as serras ferruginosas exercem
uma importante contribuição para a manutenção de relevos, visto que são muito
resistentes frente à erosão comparados com outros litotipos (SILVA & SALGADO,
2009; VARAJÃO et al., 2009).
A heterogeneidade de ambientes descritos para esse sistema como cavernas,
lagoas, brejos, lajeados, fendas, poças e escarpas, permitem que as cangas apresentem
uma condição ambiental e ecológica que se destacam em relação às paisagens
adjacentes, normalmente constituídas por fisionomias florestais ou savânicas (JACOBI
et al., 2007). Apesar de haver um mosaico de ambientes, estudos dedicados a este
ecossistema têm recebido maior atenção principalmente no que diz respeito à sua flora
associada (JACOBI, et al., 2007; VIANA & LOMBARDI, 2007; MOURÃO &
STEHMANN, 2007; MOURÃO et al, 2007; JACOBI et al, 2008; JACOBI & CARMO,
2008 ; JACOBI & CARMO, 2009). A riqueza de plantas endêmicas em regiões de
canga também é relatada em Jacobi e colaboradores (2011).
Recentemente, também houve um interesse pelas cavernas ferruginosas no
Brasil. Silva e colaboradores (2011), indicam que cavernas ferruginosas, comparadas a
outros litotipos (calcário, quartzito, granito) se destacam por possuírem uma fauna
endêmica distinta dessas outras cavidades, incluindo sua riqueza relativa.
Considerando que os primeiros trabalhos científicos voltados especificamente
para estas cavernas de litotipo ferruginoso em nosso país tenham sido publicados a mais
de 40 anos (SIMMONS, 1963), apenas nesta última década foi reconhecida a
importância dessas formações do ponto de vista espeleológico (AULER & PILO, 2005).
4
Em meados da década de 80, trabalhos de arqueologia e bioespeleologia foram
realizados nas cavernas ferruginosas da Serra de Carajás/PA, onde se iniciou um
cadastramento espeleológico para esse litotipo pelo Museu Paraense Emílio Goeldi com
a participação do Grupo Espeleológico Paraense (MOREIRA & PAIVA, 1988;
PINHEIRO & MAURITY, 1988).
O número de cavidades em minério de ferro no Brasil, que em 2005 era
quantificado em pouco mais de 300 registros, alcança hoje 1.998 ocorrências no Brasil
(CECAV, 2012). Porém, cavidades que se inserem em Unidades de Conservação
Integral, são representadas por somente 42 cavernas no Parque Estadual da Serra do
Rola Moça, Minas Gerais (STÁVALE, 2007). Esse salto no conhecimento dessas
cavidades é creditado à intensa exploração mineral das áreas de minério de ferro, que
estimulam e determinam prospecções espeleológicas detalhadas. Desde então, o avanço
do mercado ligado ao minério de ferro, juntamente associado ao rigor dos órgãos de
licenciamento ambiental em relação aos empreendimentos minerários, têm
proporcionado um crescimento cada vez mais intenso dos estudos geoespeleológicos em
áreas de ocorrência do minério de ferro e canga no Brasil (AULER & PILÓ, 2005).
Desta forma, ao promover mais estudos e conhecimentos sobre as cavernas
ferruginosas, as empresas de mineração também se vêem obrigadas a investir em
pesquisa científica, como já foi feito para região de Carajás (VALENTIM & OLIVITO,
2011) e para o Quadrilátero Ferrífero (OLIVEIRA, et al., 2011).
A mineração de superfície é um dos fatores dominantes de uso do solo e, como
conseqüência, de alteração da paisagem nos geossistemas ferruginosos do Brasil
(CARMO, 2010). A questão mineral no país deve ser discutida e reavaliada caso exista
interesse em preservar tais geossistemas e toda sua importância sobre a manutenção do
equilíbrio ecológico e suas dinâmicas entre o meio epígeo e hipógeo como definido em
Sotchava (1977). Essa mudança não deve ser creditada somente a um aumento de
estudos ecológicos e sim numa mudança na base legal de concessão de lavra que,
historicamente, já apresentou mudanças na percepção de quem deve ter o direito de
usufruir desse recurso natural não renovável, assim como da real e prioritária
participação e opinião pública adjacente aos empreendimentos.
5
O contexto da mineração de ferro no Brasil
O ferro é o metal mais utilizado pela sociedade, devido à sua disponibilidade nas
grandes jazidas encontradas pelo mundo e suas características físicas, como
maleabilidade, resistência mecânica, ductilidade, entre outras (FONTES, 2003). No
Brasil, a prática de extração do minério de ferro em larga escala se deu no início do
século XX, substituindo a exploração mineral de pedras preciosas e do ouro, sustentadas
desde tempos coloniais (PEREIRA, 1967).
No fim do século XIX, por convite de Dom Pedro II, o geólogo francês Claude-
Henry Gorceix inicia uma jornada de estudos geológicos em Minas Gerais. Os estudos
aprofundam a região do Quadrilátero Ferrífero onde, após alguns anos de pesquisa,
destaca que não somente o ouro e os diamantes são produtos das minas do Brasil, mas
deveria ser dado atenção também ao ferro “...que assegurará de modo durável a
prosperidade da Província de Minas Gerais ”(QUARESMA, 1987).
Gorceix foi responsável pela abertura da Escola de Minas de Ouro Preto no ano
de 1876 onde, junto com seus primeiros alunos, começaram a apresentar seus resultados
pioneiros, os quais mostravam que essa região dispunha de um subsolo promissor na
exploração de ferro (MENEZES, 2005; VILLAS-BOAS, 2010). Em 1910, numa
reunião do Congresso Internacional de Geologia em Estocolmo, a informação de que
havia subsolos riquíssimos no Brasil, Ásia, África e países da América Latina, gerou
uma corrida de minas cativas, liderada pelas economias avançadas (PEREIRA, 1967).
Com isso, em 1912, o Congresso Nacional brasileiro decide abrir livre
exploração internacional para exportação das riquezas do subsolo (VILLAS-BOAS,
2010). Fato que gera uma longa discussão jurídica para criar um marco regulatório
sobre a exploração de ferro no Brasil. Rangel (1973) resume a história da exploração
brasileira de minério em quatro períodos: período experimental (1902/1934), período
inicial (1935/1947), período de exportação regular (1948/1959) e período de exportação
em grande escala (1960/atual).
Cada período vai sofrer influência e intervenções do governo vigente à época,
relativo à questão de exploração mineral no Brasil. Dessa forma, Epitácio Pessoa,
presidente do Brasil no ano de 1919, decide realizar um contrato de exploração mineral
na região de Itabira com uma empresa dos Estados Unidos. Em 1920 é criada a empresa
6
Itabira Iron Ore Company. O contrato assinado foi negado pelo Tribunal de Contas,
pois ¨...atentava frontalmente contra os interesses nacionais...¨ (VILLAS-BOAS,
1995a). Para evitar tais perigos, até o final dos anos 30, o país expunha um arcabouço
jurídico completo sobre a regulação da atividade mineradora (NODARI, 1987).
Durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930 – 1945), o país segue uma
linha nacionalista, uma fase de interação entre Estado e economia, e torna-se prioritária
a questão mineral brasileira, ponto defendido por Getúlio, que não permitiria a
exploração de recursos naturais nacionais por estrangeiros (PEREIRA, 1967). A
Constituição de 1934 incorpora o bem mineral ao patrimônio da Nação, sendo
propriedade inalienável da mesma e em 1937 é criada uma nova Constituição, onde
Vargas reforça a questão da soberania nacional, vedando completamente a participação
de estrangeiros no setor mineral (NODARI, 1987; VILLAS-BOAS, 2010).
Villas-Boas (1995a) relata que após mudança de governo, o então presidente
Dutra assina em 1948 um acordo bilateral entre Brasil - Estados Unidos, que possibilita
um controle sobre o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) pelo Bureau
of Mines que, através de capitais americanos, realiza um estudo detalhado sobre a
geologia das ricas regiões em minério do estado de Minas Gerais. As décadas de 50 e 60
constituem uma nova realidade para a exploração mineral, principalmente durante o
governo de Juscelino Kubitschek, que começa a esboçar uma Geopolítica dos minérios
que visava utilizar os recursos naturais como moeda de troca para promover o
crescimento industrial brasileiro, tendo como promessa o sonho de modernização e
desenvolvimento que deveria alcançar a todos. Desta forma o Brasil deixa para trás a
visão nacionalista e independente e se torna associado às economias externas (VILLAS-
BOAS, 1995b).
A constituição de 1967 extingue a preferência do proprietário na exploração ou
na partilha dos lucros, que era garantido pela constituição de 1946, deixando o dono da
terra como agente passivo da mineração (PEREIRA et al., 1987). Os governos militares
(1964 – 1985) adquirem uma postura de abertura ao capital estrangeiro junto com um
estímulo à exportação de bens minerais sem qualquer precaução quanto ao caráter
estratégico do minério ou à agregação de valor.
7
Ainda hoje, a política mineral do ferro é praticamente sustentada pela
Constituição de 1967, não havendo grandes alterações na Constituição de 1988. Essa
política que atrai investidores privados, em sua quase totalidade estrangeiros, é guiada e
subordinada pelo aumento da demanda internacional dessa commodity. Dessa forma, a
comunidade presente em regiões de grandes jazidas de exploração, vivencia todas as
transformações ambientais, de infraestrutura, de movimentos populacionais, e foi
perdendo sua voz durante toda transformação política sobre a questão mineral
(FERNANDES et al., 2007).
A mineração bate à porta do sertão mineiro.
O norte de Minas abriga cerca de 1,5 milhões de habitantes, se destacando
historicamente como a região de maior participação da agricultura familiar em sua
ocupação (D’ANGELES FILHO, 2005). Essa região é bastante peculiar no estado de
Minas Gerais. Suas características econômicas, culturais e sociais, parecem uma
extensão do nordeste brasileiro, assim como os seus indicadores de subdesenvolvimento
(MOREIRA, 2010).
Esse distanciamento do norte mineiro com a parte central do estado, se verifica
pelo modo que a história de ocupação ocorreu, gerando duas culturas, duas
mentalidades, duas identidades. Moreira (2010) define que a cultura mineira é
identificada pela sociedade que se formou vinculada à mineração de ouro, diamante, e
hoje do ferro. A outra é reconhecida e personalizada pela obra de João Guimarães Rosa,
sobre uma sociedade que aprendeu a conviver com o sertão ou gerais. Porém, Costa
(2003) destaca que a primeira, mineira, foi dependente da segunda, geraizeira, para
poder se consolidar. Isso porque a atração e adensamento populacional provocado pela
mineração dependiam do abastecimento da agricultura e pecuária provindas do norte de
Minas.
As populações tradicionais norte-mineiras possuem uma história de convivência
com os ecossistemas locais. Dayrell (1998) relata que “seus membros desenvolveram
agrossistemas complexos, fruto de uma interação historicamente construída entre
natureza e sociedade. Populações que são detentoras de um saber tradicional, um
capital humano construído em anos de experimentação e coevolução de suas práticas
de transformações do meio”.
8
No entanto, esse equilíbrio na paisagem geraizeira é danificado a partir da
década de 1970, com a implantação do projeto desenvolvimentista no Brasil
(MOREIRA, 2010). Onde havia agricultura familiar dos geraizeiros, ergueu-se uma
floresta exótica de eucalipto e pinus para subsidiar o pólo siderúrgico mineiro. O
pensamento geopolítico dos militares no período da ditadura, em prol da segurança
nacional, permitiu a ocupação dos espaços considerados “vazios econômicos”
(MOREIRA, 2010).
Assim foi formada uma nova paisagem que afetou os pilares da sustentação da
agricultura familiar tradicional, desenvolvida em séculos de convivência com os
ecossistemas e com os seus limites agroambientais (COSTA, 2006). Segundo Costa
(2006), os recursos naturais, biodiversidade, solos e água, entraram em um rápido
processo de deterioração.
Martinez-Alier (2007) define que em termos históricos os conflitos
socioambientais ocorrem principalmente em função do choque entre populações locais e
o avanço do capitalismo global. A história recente do norte de Minas Gerais exibe como
a sobreposição de territórios em expansão ou retração gera condições com potencial de
conflito, que pode permanecer latente ou eclodir, dependendo de fatores tais como
organização coletiva, liderança local, apoio externo, cobertura da imprensa e incidentes
violentos (CARVALHO & SAWER, 2009).
Atualmente, o norte de Minas Gerais se encontra em uma nova fase, abraçada
pela mineração. A atividade que propiciou a ocupação mineira pretende levar todo o
desenvolvimento gerado no Quadrilátero Ferrífero (JORNAL ESTADO DE MINAS,
2011a) para o sertão das gerais. Adicionados ao desenvolvimento, o norte de Minas
abrigará também todos os passivos ambientais e sociais que tal atividade também
deixou na região do Quadrilátero Ferrífero (SANTOS, 1973; CARMO, 2010).
Desta forma, o presente trabalho, foi realizado devido uma parceria entre o
Ministério Público de Minas Gerais através da Coordenadoria Regional das Promotorias
do Rio São Francisco, Sub-bacia do Rio Verde Grande e Bacia do Rio Pardo (PJSF) e o
Laboratório de Interação Animal-Planta, ICB-UFMG, para a realização de um
diagnóstico ambiental dos geossistemas ferruginosos na região conhecida como Vale do
Peixe Bravo. O principal interesse desse diagnóstico ambiental é relatar numa escala
9
local, a qualidade de um geossistema ferruginoso onde ainda não há intervenção em seu
relevo por mineradoras e indicar localidades que podem ser de interesse para
conservação.
2 – Objetivos
Este trabalho pretende expor os atributos geoambientais de uma nova área
metalífera, de forma a auxiliar na proposição de Unidades de Conservação na região do
Vale do Rio Peixe Bravo. Como objetivos específicos buscaram-se:
Prospectar e cadastrar novas cavernas em litotipo ferruginoso em uma área onde
não havia registros de ocorrências desse litotipo.
Atribuir valores de relevância para as cavidades encontradas, tomando como
referência o Decreto Federal 6640 (2008), e a Instrução Normativa Nº 2/MMA
(2009).
Avaliar o atual estado de conservação e grau de ameaça das cangas do Peixe
Bravo.
Indicar áreas-alvo para a investigação e conservação do geossistema ferruginoso
da região do Peixe Bravo.
3 – Métodos
3.1 - A região do Peixe Bravo
A região do estudo, conhecida por Vale do Rio Peixe Bravo, abrange quatro
municípios do setor norte de Minas Gerais: Rio Pardo de Minas, Riacho dos Machados,
Serranópolis de Minas e Grão Mogol. Estes foram alvo do estudo por possuírem em
comum, superfícies aplainadas de altitude (VILELA, 1986) com afloramentos
ferruginosos, também conhecidos como canga (Fig.1).
A geologia do norte mineiro investigada é representada pelas unidades do Grupo
Macaúbas (Supergrupo São Francisco), constituído predominantemente por diamictitos,
quartzitos e filitos. Esse grupo é ainda subdivido em duas unidades litoestratigráficas:
uma unidade basal denominada Formação Rio Peixe Bravo e uma superior denominada
Formação Nova Aurora, onde se encontram presentes as cangas (VIVEIROS et al.,
10
1978; NOCE et al., 1997; UHLEIN et al., 2007). A formação Nova Aurora atinge uma
espessura de até 600 m, sendo constituída por diamictitos hematíticos, quartzitos
hematíticos e xistos hematíticos subordinados (VILELA, 1986). Parte de toda essa
sequência de litotipos hematíticos está sob uma extensa cobertura de canga, que
freqüentemente atinge cerca de 30 m de espessura (Fig.2). Superficialmente, as cangas
apresentam fragmentos detríticos de minério rico e se encontram em altitudes que
variam entre 850 e 950 metros (VIVEIROS et al., 1978; VILELA, 1986).
Figura 1. Mapa da localidade de estudo. As manchas cinza representam os afloramentos
ferruginosos conhecidos para a região. A foto destaca a canga couraçada. (Adaptado de SIAM-
2011. Disponível em: www.siam.mg.gov.br/webgis/mineracao)
A formação e evolução das cangas do norte de Minas Gerais contam uma
história distinta das formações ferruginosas conhecidas para o Quadrilátero Ferrífero
(MG) ou Carajás (PA). A formação Nova Aurora está entre os raros depósitos de ferro
do neoproterozóico de origem glacio-marinhas (Fig.3) (VILELA, 2010). Esses
depósitos são mundialmente conhecidos devido, entre outros fatores, a sua ocorrência
distinta na tabela do tempo geológico, aproximadamente 1,0 Ga após a formação dos
últimos grandes depósitos de ferro do paleoproterozóico (1,8 Ga) (Fig.4).
11
Figura 2. Exemplo de escarpa de canga encontrada no Vale do Peixe Bravo, ultrapassando 20
metros de espessura. A seta indica um veículo de escala. (Retirado de Carmo et al., 2011a)
Figura 3. Depósitos de ferro do neoproterozóico. No Brasil ocorrem: 8 – Grupo Jacadigo no
Maciço de Urucum, Corumbá – MS; 9 – Grupo Macaúbas, Porteirinha – MG; 10 – Formação
Puga – MS. (Retirado de Vilela, 2010)
12
Figura 4. Abundância comparativa entre os depósitos de ferro do Arqueano-
Paleoproterozóico e Neoproterozóico (Editado de Vilela, 2010).
O Vale do Rio Peixe Bravo está inserido na região do Semi-Árido brasileiro,
caracterizado pelo déficit hídrico e isoieta das precipitações médias anuais de 800 mm,
de acordo com o relatório do Ministério da Integração Nacional (2005), que fornece
uma redelimitação do semi-árido (Fig.5).
Figura 5. Limites do semi-árido brasileiro. A estrela representa a região de estudo deste
trabalho. (Editado do Relatório Final do Grupo de Trabalho Interministerial para Redelimitação
do Semi-Árido Nordestino e do Polígono das Secas, 2005).
13
Outro fator importante que esse relatório descreve para as regiões do semi-árido
é a análise de alguns parâmetros de solo, tal como a capacidade de campo (capacidade
do solo de reter água após período de déficit hídrico gravitacional). Essa característica
do solo se torna fundamental para regiões que possuem escassez ou regime de chuva
curto, como o próprio semi-árido. A Figura 6 representa o percentual de armazenamento
de água no solo (valores médios de 1970-1990) no mês mais seco e no mês mais úmido.
Para a região do Peixe Bravo, o mapa mostra que o solo possui alta capacidade de
retenção, ou absorção, em meses chuvosos, com percentual entre 60 a 70% de
armazenamento de água. No entanto, em meses secos, essa capacidade de
armazenamento se encontra baixa, chegando a 10% de retenção. Isso demonstra uma
perspectiva de déficit hídrico para a região nos meses sem chuva.
Figura 6. Percentual de armazenamento de água no solo. As setas indicam a região pesquisada
nesta dissertação. (Editado do Relatório Final do Grupo de Trabalho Interministerial para
Redelimitação do Semi-Árido Nordestino e do Polígono das Secas, 2005)
A região está localizada no encontro de dois biomas importantes no Brasil, o
Cerrado e a Caatinga (SIAM, 2011). Localmente foram diagnosticadas as seguintes
fitofisionomias presentes no Vale do Peixe Bravo (Fig.7).
14
Figura 7. A) Floresta Estacional Semidecidual, representada pelas Matas de Galeria, sendo
freqüente a ocorrência de monjoleiros (Pterodon cf. emarginatus Vog. FABACEAE). B)
Floresta Estacional Decidual. C e D) Vegetação sobre canga, com elementos arbóreos comuns a
Floresta Estacional Decidual e com predomínio de espécies subarbustivas e suculentas. Ocorrem
ainda espécies de Campo Rupestre e Caatinga. (Fotos: Flávio F. Carmo, 2010)
3.2 – Prospecção e mapeamento das cavidades do Vale do Peixe Bravo
Apesar de já haver trabalhos e artigos realizados para a região, em sua maioria
investigando a geologia local (VIVEIROS et al., 1978; VILELA, 1986; NOCE et al.,
1997; UHLEIN et al., 2007; VILELA, 2010), não se conheciam registros de cavernas
para as cangas norte-mineiras até o ano de 2010 (AULER & PILÓ, 2005; CECAV,
2010). De acordo com o Centro Nacional de Estudos e Manejo de Cavernas (CECAV),
nas localidades onde existem as formações ferríferas há um potencial muito alto (acima
de 80%) de existirem cavidades naturais subterrâneas. Porém, segundo o mapa de
potencialidades de cavernas deste mesmo órgão (Fig. 8), a região do Rio do Peixe
Bravo se encontra como baixa a média propensão de formação de cavernas.
15
Figura 8. Mapa de Potencialidade de ocorrência de cavernas baseado na litologia. A coloração
vermelha representa rochas com alta propensão de ocorrência de cavidades, mais de 80%. A
seta indica a área de estudo, com coloração amarelo e verde claro, indicando rochas de baixa e
média propensão para ocorrências de cavernas (Editado de CECAV, 2010, base de dados).
Os primeiros registros de cavidades para a região foram realizados por Carmo e
colaboradores (2011) numa primeira descrição do carste ferruginoso do Peixe Bravo. O
mapa e a localização de uma caverna são seu primeiro documento e um subsídio para
sua preservação (AULER & ZOGBI, 2005). Desta forma, não havendo muitas
referências sobre a existência de um sistema cárstico, o maior interesse na prospecção
foi de realizar o maior número de cadastros de cavernas para a localidade, juntamente
com um primeiro mapeamento, mensurando o desenvolvimento linear e realizando um
croqui simples do contorno de cada cavidade.
Devido à grande área ferruginosa encontrada, aproximadamente 500 km² (entre
15°50’ e 16°15’ S e 42°37’ e 42°52’ W), o caminhamento realizado teve como principal
foco as escarpas de canga, isto, devido à grande ocorrência de entradas de cavernas
ferruginosas atreladas ao processo erosivo nas escarpas, ou quebra da canga
(SIMMONS, 1963; PILÓ & AULER, 2005). Como as áreas de cangas eram distantes
16
entre si e o projeto tinha restrição de dias em campo, não foi possível realizar uma
vistoria mais ampla nas regiões com presença de cangas. Para o acesso à base de
algumas escarpas foi necessária a utilização de técnicas de rapel (Fig. 9). Os
deslocamentos realizados neste trabalho dependeram de poucas estradas abertas
(resquícios das antigas prospecções realizadas na área ainda na década de 60 e 70), e de
pequenas trilhas indicadas por moradores da região. Devido ao difícil acesso, vários
vestíbulos (possíveis entradas de cavernas) foram avistados, porém sem sucesso de
visitação (Fig. 10).
Figura 9. O acesso a algumas cavernas exigiu o uso da técnica de rapel. (Fotos: Flávio F.
Carmo, 2010)
Para o mapeamento e diagnóstico do desenvolvimento linear das cavernas
acessadas foi utilizado o princípio da descontinuidade de acordo com Rubbioli e Moura
(2005), onde o tamanho final da caverna é o resultado da soma das medidas de cada
conduto (Fig.11). Quando encontrada, era tomado o ponto de referência da entrada da
caverna através de aparelho SPG (Sistema de Posicionamento Global).
17
Figura 10. Exemplos de vestíbulos avistados pela equipe, mas sem a possibilidade de visitação.
(Fotos: Felipe F. Carmo, 2010)
Figura 11. Esquema do princípio da descontinuidade. Neste caso a caverna foi dividida em nove
condutos mensuráveis (A, B, C, D, E, F, G, H e I). Em cada conduto é conferida em linha reta a
maior medida possível. Após isso, os segmentos são somados gerando o desenvolvimento linear
da caverna.
3.3 – Atributos e caracterização preliminar da relevância nas cavidades do Vale do
Peixe Bravo de acordo com o Decreto nº 6640, de 7 de novembro de 2008
O grande aumento na demanda por estudos de impacto ambiental de
empreendimentos de mineração gerou certa pressão para a adequação na legislação
ambiental relacionada ao patrimônio espeleológico brasileiro, provavelmente para
18
amenizar o aparente antagonismo entre o crescimento econômico do país e a
preservação dos sítios espeleológicos. As cavidades naturais subterrâneas deixaram de
ter um status de Bem da União (Constituição de 1988) que garantia proteção integral de
todas elas. Em 2004 foi instituída a Resolução CONAMA Nº 347, que dispõe sobre a
proteção do patrimônio espeleológico e condiciona o licenciamento ambiental de
atividades degradadoras a uma análise de atributos de relevância nas cavernas inseridas
em áreas que venham a ter esse tipo de atividade. Apesar de ser um avanço para os
estudos ambientais, pois agora havia parâmetros para avaliar as cavidades, a legislação
sobre cavernas e sua área de influência ainda atravancavam vários empreendimentos,
incluindo projetos minerários (MEDEIROS, 2010). Com isso, para adequar o
desenvolvimento econômico à preservação de sítios espeleológicos, foi necessário a
criação do Decreto 6640 em novembro de 2008.
Esse decreto define relevância para as cavidades, sendo que a classificação
adquirida pela caverna, que pode ser de máxima, alta, média ou baixa relevância, é
definidora do seu grau de proteção e compensação. Os atributos a serem analisados
dependem de estudos multidisciplinares com focos geológicos, ecológicos, biológicos,
hidrológicos, paleontológicos, cênicos, histórico-culturais e socioeconômicos.
Somente cavernas consideradas de máxima relevância ganham proteção plena,
sendo negado qualquer tipo de degradação em seu interior e ao seu entorno. Cavernas
de grau alto podem ser suprimidas, mas o empreendedor é obrigado a conservar outras
duas cavidades, também de alta relevância, com os mesmos atributos que a elevou para
tal classificação, de preferência na mesma região espeleológica. Já cavidades de média
e baixa relevância podem ser derrubadas sendo que o CECAV deverá expor medidas
compensatórias junto ao empreendedor referente à conservação de cavernas naturais,
não necessariamente próximas à área do empreendimento.
No decreto 6640, são expostos 11 atributos que caracterizam as cavidades como
máxima relevância sendo que basta apenas a presença de um deles para sua
classificação. Para a avaliação foram utilizados os quatro primeiros (gênese única ou
rara; morfologia única; dimensões notáveis em extensão, área ou volume;
espeleotemas únicos) já que se trata de avaliações que são relatadas com presença ou
ausência, sem a necessidade de mais visitações. Os outros atributos que dependiam de
19
coletas biológicas ou sazonalidade não foram avaliados, isso porque muitas cavernas
foram aferidas apenas uma vez.
Em complemento ao decreto 6640 de 2008, foi promulgada a Instrução
Normativa Nº2/2009 (IN), pelo Ministério de Meio Ambiente, que estabelece a
metodologia para a análise de relevância, assim como os atributos que caracterizam uma
caverna como de máxima, alta, média e baixa relevância (Anexo 1). Essa metodologia
também foi utilizada para a classificação das cavernas do Peixe Bravo.
3.4 – Diagnóstico e mapeamento das paleotocas do Vale do Peixe Bravo
Paleotocas são estruturas de bioerosão em ambiente continental encontradas na
forma de túneis. Essas estruturas eram de moradia temporária ou permanente, atribuídas
a escavação por mamíferos fossoriais gigantes que habitavam a América do Sul durante
o Terciário e o Quaternário (BUCHMANN et al., 2003; 2009). A presença de
paleotocas é mencionada em grande maioria para a região sul, principalmente para os
estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e poucas ocorrências no estado de São
Paulo e Paraná (BERGQVIST & MACIEL, 1994; BUCHMANN et al., 2003;
BUCHMANN et al., 2008; FRANK et al., 2008a,b; BUCHMANN et al., 2009;
FRANK, 2010).
Nos condutos de cavidades no Vale do Peixe Bravo onde foram observados
registros de icnofósseis (marcações deixadas por fauna extinta) foi realizada a
topografia -metro a metro- da largura e da altura, seguindo Buchmann e colaboradores,
2009. Foi ainda mensurado o desenvolvimento linear de cada caverna e confeccionado o
croqui de planta baixa. Medidas da altura que as garras atingiram em relação ao piso do
conduto foram tomadas, no intuito de buscar um possível tamanho do animal, assim
como a análise dimensional da largura que essas marcas de garras atingiram para
comparar com medições já realizadas em trabalhos de outras paleotocas no Brasil.
3.5 – Atual estado de conservação dos geossistemas ferruginosos do norte de Minas
Gerais
A região do Peixe Bravo, apesar do conhecimento de jazidas de minério de ferro
através de levantamentos na década de 70 promovidos pela Companhia Vale do Rio
Doce (CVRD) (VIVEIROS et al., 1978), ainda não sofre impactos advindos de
20
atividades de extração mineral, como acontece historicamente no Quadrilátero Ferrífero.
Porém, com a crescente demanda mundial por esse mineral, o norte de Minas torna-se
foco de especulação de tal forma que ganha o título de novo Polo Mineral do Norte de
Minas Gerais, cujas reservas geológicas foram estimadas em 20 bilhões de toneladas,
colocando-as entre as maiores jazidas no mundo (SEDE, 2011). Essa realidade se torna
presente ao se constatar que pelo menos 350 Km2 da região já foram outorgadas pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) às empresas mineradoras de
ferro (CARMO et al., 2011a).
Para qualificar e quantificar o atual estado de conservação das áreas de cangas
do Peixe Bravo, foi utilizado um Protocolo de Avaliação Ambiental (Anexo 2),
elaborado por Carmo, 2010, que em seu trabalho avaliou as cangas do Quadrilátero
Ferrífero. O protocolo permite quantificar dados sobre o sistema ecológico e seu estado
de conservação a partir da análise da estrutura da paisagem, área de ocorrência, perda e
degradação de hábitats e a vulnerabilidade. Esse protocolo utiliza 13 indicadores, os
quais são agrupados em três itens: Grau de Ameaça, Grau de Proteção e Qualidade
Ambiental. Cada item possui uma pontuação específica que ao final são somadas
podendo chegar ao valor de 45 pontos. A pontuação de cada item segue esta
distribuição: Grau de Ameaça pode atingir até 31 pontos (69%); Grau de Proteção pode
chegar a cinco pontos na distribuição ou 11%; e o item Qualidade Ambiental pode
representar até 20% da pontuação final, ou nove pontos. As pontuações de cada item e a
pontuação final, correspondente a soma dos valores de cada item, permitem avaliar um
gradiente de integridade ambiental das cangas e entorno. A pontuação final permite
enquadrar as cangas em quatro categorias de ameaça, adaptadas da IUCN (2001) em:
Quase Ameaçada: menor que 16 pontos;
Vulnerável: entre 17 e 29 pontos;
Em Perigo: de 30 a 39 pontos;
Criticamente em Perigo: a partir de 40 pontos.
Dessa forma, uma pontuação total igual a zero indica a melhor situação, ou seja,
um afloramento com ausência de ameaças, localizado em uma unidade de conservação
de proteção integral e com a melhor integridade ambiental. O oposto disso, uma canga
que receba pontuação igual 45 pontos, caracteriza uma situação bastante crítica,
21
apresentando um grau máximo de ameaça, não localizada em unidade de conservação e
com severas intervenções antrópicas na paisagem.
Cada canga aferida teve sua área calculada utilizando o programa Google Earth
Pro, através da ferramenta “Polígono” (Fig. 12), assim como a perda de hábitat
(intervenções físicas no substrato ferruginoso, derivados de remoção ou alteração da
canga), onde foi utilizada a ferramenta “Régua” desse mesmo programa, seguindo
Carmo, 2010.
Figura 12. Representação do perímetro selecionado para o cálculo de área utilizando o programa
Google Earth Pro. A) Imagem da canga 31 visualizada através do Google. B) A mesma canga
com o contorno manuseado, tendo como referência o limite da couraça visualizada (mancha
escura). Nota-se que o limite da canga foi o contato com a mancha de vegetação, que pode estar
recobrindo mais área de canga no local.
4 – Resultados
4.1 – Novo sítio espeleológico em carste ferruginoso
A região do Peixe Bravo se torna um novo foco de estudos em carste ferruginoso
no Brasil, abrangendo uma área de aproximadamente 500 Km2. Ao todo, foram
amostradas 41 cangas na região o que totalizou uma área de 393,66 hectares de
afloramento (Tabela 1).
22
Tabela 1. Dimensão das cangas e área do caminhamento. Em destaque (negrito) estão
representadas as cangas onde houve registro de cavernas.
Canga Área (ha) Perímetro
(Km) Latitude Longitude
1 3,76 1,97 16°00'41.03"S 42°42'12.55"W
2 8,3 2,07 15°58'44.65"S 42°43'34.00"W
3 4 2,23 16°04'26.31"S 42°45'17.12"W
4 4,8 1,66 16°04'35.29"S 42°42'16.43"W
5 48,7 6,04 16°13'39.47"S 42°50'7.88"W
6 11 1,78 16°11'36.44"S 42°48'40.26"W
7 25,8 5,88 16°12'48.83"S 42°50'9.03"W
8 2,2 0,66 16°02'49.36"S 42°42'51.28"W
9 19,8 6,05 16°04'25.27"S 42°45'3.55"W
10 13 3,53 16°04'10.98"S 42°43'53.09"W
11 2,4 0,89 16°04'6.86"S 42°44'45.46"W
12 14,6 2,8 16°05'2.84"S 42°43'25.53"W
13 2,5 0,91 16°02'36.05"S 42°43'0.14"W
14 13,3 4,18 16°01'58.81"S 42°44'45.34"W
15 6,7 2,61 16°01'25.20"S 42°44'31.52"W
16 3,4 1,51 16° 04'0.10"S 42°42'33.43"W
17 2,8 1,09 16° 3'21.44"S 42°44'51.16"W
18 2,2 1,09 16°02'22.96"S 42°44'38.68"W
19 1,3 0,75 15°55'38.78"S 42°40'45.95"W
20 15,8 3,36 15°57'30.03"S 42°42'12.02"W
21 2,1 1,04 16°00'49.57"S 42°42'14.24"W
22 0,5 0,41 16°04'05"S 42°39'49,7"W
23 0,6 0,47 16°05'8.72"S 42°43'22.29"W
24 0,6 0,32 16°04'12.47"S 42°39'50.15"W
25 4,5 1,47 16° 1'34.65"S 42°44'32.57"W
26 16,8 3,73 16°02'2.98"S 42°42'42.07"W
27 3,5 1,06 16°06'50.40"S 42°46'48.91"W
23
28 98,8 8,98 16° 7'10.57"S 42°46'39.46"W
29 11,3 2,95 16° 4'50.77"S 42°41'58.11"W
30 2,1 1,12 16°05'3.96"S 42°41'35.73"W
31 3,4 1,39 15°59'02,3"S 42°43'23,5"W
32 18,5 5,81 15°59'23.22"S 42°43'47.02"W
33 0,8 0,48 16° 5'23.29"S 42°43'15.15"W
34 0,7 0,36 16° 3'26.54"S 42°44'48.08"W
35 0,6 0,31 16° 4'20.27"S 42°42'16.13"W
36 1,9 0,83 15°57'7.92"S 42°41'50.18"W
37 2,9 0,75 16° 3'32.25"S 42°44'56.72"W
38 12 1,71 16° 6'42.07"S 42°47'0.39"W
39 0,4 0,31 16° 3'37.43"S 42°44'48.87"W
40 0,3 0,24 16° 3'14.50"S 42°44'45.02"W
41 5 2,15 15°58'35.07"S 42°43'23.56"W
Total 393,66 86,95
Foram localizadas 25 cavernas na região, sendo que 20 cavernas estavam
associadas às cangas e cinco cavidades não estavam inseridas nestes afloramentos. As
20 cavidades associadas estavam distribuídas em 13 cangas da região,
A Tabela 2 mostra a localização das 25 cavidades analisadas no Peixe Bravo.
Em todos os quatro municípios da área de estudo foram encontradas cavernas. A
distribuição dessas por localidade foi: Rio Pardo de Minas (12 cavernas), Riacho dos
Machados (9 cavernas), Serranópolis de Minas (3 cavernas) e Grão Mogol (1 caverna),
sendo esta última o ponto de extremo sul.
A menor cavidade encontrada foi a Gruta Pequena com cinco metros de
extensão enquanto a maior foi a Caverna do Lajedo II, medindo 164 metros. A média de
tamanho das cavernas mensuradas foi de 37,72 metros (± 46). Em relação à morfologia
foi possível separar em três padrões (Fig. 13) seguindo Piló e Auler, 2009: irregular
(contendo mais de um salão), retilíneo (um salão) e abrigo (quando a largura da
entrada foi maior que a profundidade da caverna). Em relação ao tamanho das cavernas
diagnosticadas, houve um maior número de cavidades com extensão menor que 40
24
metros (18), seguidos de cavidades que compreendiam entre 41 a 100 metros (5) e
apenas duas com dimensão superior a 100 metros.
Figura 13. Distribuição das cavernas em três padrões de morfologia. Representação de planta
baixa.
A caracterização das cavidades e de seu entorno é apresentada em forma de
painéis (Anexo 3), com o objetivo de sistematizar as informações de forma mais
dinâmica. Foram expostos dados de tamanho, formato, depósitos químicos
(espeleotemas), presença de corpos d’água, presença de gotejamento, presença de
degradação em seu interior, impactos antrópicos em seu entorno, e informações
complementares que auxiliem na identificação e qualificação das cavernas. Uma síntese
dessas informações é representada na figura 14. Algumas cavidades serão mais bem
detalhadas quando for descrita a relevância de alguns atributos encontrados no Peixe
Bravo.
25
Figura 14. Porcentagem das cavidades com registros de alguns atributos avaliados na caverna e
em seu entorno.
A deposição química, presente em 80% das cavernas, foi representada
predominantemente por espeleotemas do tipo coraloide, comuns em cavidades
ferruginosas descritas para as regiões de Carajás e Quadrilátero Ferrífero (MAURITY &
KOTSCHOUBEY, 2005; PILÓ & AULER, 2005; CUNHA JR et al., 2007;
ATZINGEN et al., 2009). Os coraloides estavam inseridos mais próximos a zona de
entrada, onde há maior fluxo de ar, enquanto ao adentrar para zonas mais profundas, de
cavernas que possibilitavam maior estabilidade ambiental, foi encontrado espeleotemas
do tipo escorrimento, cortinas, e estruturas semelhantes a microtravertinos (Fig.15).
Figura 15. Espeleotemas observados nas regiões de maior estabilidade ambiental, zona afótica
da caverna. A) Composição semelhante aos Microtravertinos. B) Escorrimento. (Fotos: Flávio
F. Carmo, 2011)
26
Alguns espeleotemas presentes na Caverna do Lago serão apresentados no item
4.2, devido a sua raridade, o que contribuiu para classificação da relevância dessa
caverna. Apenas em cinco cavidades não ocorreram espeleotemas. No entanto, a Lapa
dos Dois Salões e a Lapa dos Cactos mostravam estruturas semelhantes a deposição
química (Fig. 16). Porém, houve dúvida se essas estruturas também poderiam ter origem
por erosão (piping), ou seja, se seriam estruturas rochosas que persistiram ao
intemperismo enquanto a matriz mais friável foi carreada.
Figura 16. Estruturas semelhantes à espeleotemas. A) Lapa dos Dois Salões, composições
côncavas no solo da cavidade. B) Lapa dos Cactos, com estruturas semelhantes a estalactites.
(Fotos: Felipe F. Carmo, 2010)
Os itens corpo d’água e gotejamento foram avaliados devido à importância que
esses componentes exercem sobre a dinâmica estrutural das cavernas. A visitação em
algumas cavidades se deu apenas em uma oportunidade, ficando o registro de presença
ou ausência limitado à estação na qual houve o trabalho de campo. Nesse caso, ao
separar as cavidades visitadas nos meses secos (julho, setembro e abril) e meses
chuvosos (novembro, dezembro e fevereiro) tem-se o seguinte resultado na Tabela 3.
Tabela 3. Amostragem das cavernas em meses secos e chuvosos.
Jul/Set/Abr Nov/Dez/Fev Total
Nº de cavernas visitadas 18 7 25
Presença de gotejamento 3 5 8
Presença de corpo d'água 2 2 4
27
Tabela 2. Identificação, dimensão, litotipo e localidade das cavernas do Peixe Bravo. DL (Desenvolvimento Linear), Alt. (Altitude),Can. (Canga), Mun.
(Município), C. (Caverna), G. (Gruta), L. (Lapa), ffb (formação ferrífera bandada), RPM (Rio Pardo de Minas), RM (Riacho dos Machados), GM (Grão-
Mogol), SM (Serranópolis de Minas). Abaixo são indicadas as formações rochosas predominantes nas áreas de cada caverna, nas escalas de 1:100.000 e
1:1.000.000, consultado em CPRM: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (http://www.cprm.gov.br/). O item Visual Campo, refere ao litotipo
predominante onde a caverna foi formada.
NP12na (1000-630 Ma) Nova Aurora : Quartzito Ferruginoso, Metadiamictito, Metapsamito. Localmente: Metadiamictitos com intercalações de metassiltitos,
quartzitos (médios a grossos, localmente finos e micáceos) e filitos, com domínio daqueles com matriz metassiltítica, e clastos de granitos/gnaisses, quartzitos,
quartzo e de rochas carbonáticas. Nas porções mais orientais os clastos dos metadiamictitos diminuem de tamanho e aumentam o grau de arredondamento.
NP12naf (1000-650 Ma) Nova Aurora - Formação Ferrífera : Formação Ferrífera Bandada. Localmente: Metadiamictito rico em hematita com níveis de
quartizito, filito e formação ferrífera tipo Raptan e raro anfibolito
NP12nar (1000-630 Ma) Nova Aurora - formação ferrífera: Formação Ferrífera Bandada tipo Rapitan
NP1pb (1000-850 Ma) Rio Peixe Bravo: Filito, Quartzito, Metassiltito, Mica xisto. Quartzito com intercalações de filito, grafita filito e metaconglomerado
NQdl (23-5 Ma) Coberturas detrito-lateríticas ferruginosas: Aglomerado, Areia, Argila, Laterita. Coberturas de solos residuais argilo-arenosos e argilo-
siltosos, total ou parcilmente lateritizados, exibindo cangas ferruginosas escuras a marrom-avermelhadas. Podem conter, ainda, níveis de areia e argila
compactas.
Nome DL (m) Ponto GPS Alt. (m) Geobank (CPRM) Visual Campo (litotipos predominantes) Can. Mun.
C. do Mocororô 84,0 16° 00' 35.7''S
42° 42' 13.1''W 941 NP12nar
canga/rocha alterada;
diamictito cinza e diamictito hematítico 1 RPM
G. Pequena 5,0 16° 04' 25.7''S
42° 45' 01''W 930 NP1pb Canga 9 RM
G. da Boca Larga 13,2 16° 04' 25''S
42° 45' 01''W 930 NP1pb Canga 9 RM
G. do Triângulo 6,4 15° 58' 54.7''S
42° 43' 40.7''W 950 NP12na Canga 2 RPM
C. da Fortaleza 9,6 16° 00' 39.9''S
42° 42' 13.3''W 946 NP12nar canga/rocha alterada 1 RPM
C. dos Três Buracos 36,0 16° 02' 48.6''S
42° 42' 52.6''W 767 NP12na canga/rocha alterada 8 RPM
28
L. do Abrigo 9,0 16° 02' 36''S
42° 43' 08''W 758 NP12na canga/rocha alterada 13 RPM
G. do Muro 9,6 16° 02' 35.8''S
42° 43' 01''W 770 NP12na canga/rocha alterada 13 RPM
L. dos Dois Salões 7,4 16° 03' 59''S
42° 42' 34''W 720 NP12na indefinido 16 RPM
G. do Desmoronamento 8,4 16° 03' 59''S
42° 42' 33''W 720 NP12na canga/rocha alterada 16 RPM
L. dos Cactos 30,0 16° 03' 57''S
42° 42' 34.1'W' 714 NP12na indefinido ffb RPM
G. da Serra 9,0 16° 05' 9.4''S
42° 43' 11.4''W 760 NP12na rocha alterada ffb RM
C. da Chaminé 47,4 16° 05' 7.6''S
42° 43' 20.7''W 797 NP1pb canga/rocha alterada 23 RM
C. do Lago 98,0 16° 04' 56.1''S
42° 43' 21.3''W 797 NP12na, NP1pb canga/rocha alterada; rochas carbonáticas? 12 RM
C. Teto de Coral 43,0 16° 05' 5.1''S
42° 43' 20''W 760 NP1pb canga/rocha alterada 12 RM
C. do Boi 9,0 16° 21' 49''S
42° 44' 27''W 660 NP12nar formação ferrífera bandada ffb GM
C. do Meloso 8,0 16° 06' 56''S
42° 47' 14''W 870 NP12na formação ferrífera bandada ffb RM
C. do Morro Grande 94,0 16° 08' 26.75''S
42° 47' 2.82''W 709 NP1pb canga/rocha alterada; formação ferrífera bandada; 28 RM
C. da Nascente do Córrego das Canoas 28,0 16° 01' 57.08''S
42° 44' 41.83''W 860 NP12nar canga/rocha alterada 14 SM
G. do Pau-de-urubu 13,0 16° 02' 21''S
42° 44' 33''W 884 NP12na canga 18 SM
G. das Maritacas 37,0 16° 05' 03''S
42° 41' 35''W 860 NP12nar
canga/rocha alterada;
diamictito cinza e diamictito hematítico 30 RPM
C. do Lajedo I 156,0 15° 59' 03''S
42° 43' 25''W 890 NP12na canga/rocha alterada; rochas carbonáticas? 31 RPM
29
C. do Lajedo II 164,0 15° 59' 3.51''S
42° 43' 24.63''W 880 NP12na canga/rocha alterada 31 RPM
G. da Carne-de-vaca 8,0 16° 05' 5''S
42° 43' 15''W 760 NP1pb canga/rocha alterada 12 RM
G. do Córrego das Canoas 10,0 16° 01' 54''S
42° 44' 13''W 800 NP12na canga/formação ferrífera bandada ffb SM
30
Das três cavidades com gotejamento nos meses secos, apenas uma (Caverna do
Mocororô) não registrava presença de corpo d’água. Porém, essa caverna continha em
seu interior um pequeno canal de drenagem intermitente (Fig.18), que demonstra uma
dinâmica hídrica provavelmente sazonal, devido à grande umidade do solo observada.
Atrelado a isso, percebe-se que em meses chuvosos a porcentagem de cavernas com
presença de gotejamento foi de 71,4%, um valor muito superior aos 16,6% nos meses
secos. O gotejamento em meses chuvosos é comum em cavernas ferruginosas devido à
alta porosidade da rocha e proximidade da superfície (PILÓ & AULER, 2009).
Quanto aos impactos internos, constatados em cinco cavernas, pode-se inferir
que são de baixa magnitude, pois não foi registrada nenhuma degradação que pudesse
interferir na estrutura de cada cavidade. Em três cavernas, os impactos associados
podem também conferir o status de importância histórica para cada uma. Na Lapa do
Abrigo e na Gruta do Muro, o impacto visualizado foi uma construção de um pequeno
muro, feito de clastos de canga. Esse muro foi considerado como impacto, uma vez que
não faz parte das estruturas naturais da caverna. Os moradores da região alegam que a
construção data do início do séc. XX, provavelmente por refugiados da “revolta”, que
fez parte da Revolução Prestes, nos anos de 1920, o que também o qualifica como
registro histórico, caso seja confirmada essa informação. Silva (2005) faz menção em
um pequeno trecho de seu livro sobre essa passagem pelos lados do norte de Minas
Gerais.
Na Caverna da Fortaleza, o impacto notório foi a presença de carvão em um
pequeno conduto, indicando uma antiga fogueira. Da mesma forma, os moradores
indicam esta cavidade também como refúgio durante a passagem da Coluna Prestes.
Assim como na Gruta do Muro e na Lapa do Abrigo, havia um pequeno muro
construído na frente da Caverna da Fortaleza, porém, foi indicado como impacto
externo neste trabalho.
Outros dois impactos observados foram fezes de gado dentro de uma caverna
(Gruta da Serra) devido à busca por salitre, também segundo relato dos moradores, e o
uso de um cano para captação de água na Caverna do Lajedo I.
Os impactos externos diagnosticados no entorno das cavidades foram: área de
pasto próximo da entrada (Caverna do Morro Grande), presença de capim-gordura no
31
entorno da caverna (Caverna do Mocororô e do Meloso), desmate de vegetação nativa
próximo à entrada (Gruta do Triângulo), presença de gado (Lapa dos Cactos),
agricultura familiar a menos de 100 metros da entrada (Caverna do Lago e Gruta da
Serra), desmate na canga, em cima da cavidade (Gruta Pau-de-urubu) e estradas na
canga, em cima das cavernas (Caverna do Mocororô, Fortaleza, Lajedo I, Lajedo II,
Gruta da Boca Larga e Gruta Pequena). Não foi percebido influência dos impactos
externos nas estruturas das cavernas.
A maioria das cavidades diagnosticadas desenvolveu-se na interface canga/rocha
alterada (material intensamente alterado e enriquecido em ferro, cuja rocha-mãe ainda
não foi identificada). Foram ainda observadas cavernas na interface canga/diamictito
ferruginoso e em formações ferríferas bandadas. Duas cavidades (Lapa dos Dois salões
e Lapa dos Cactos) não tiveram o litotipo determinado. A Tabela 4 caracteriza parte da
composição química de alguns fragmentos de rocha coletados nas cangas do Peixe
Bravo. Destaca-se a composição do xisto hematítico com valores de 99,1% de hematita,
observados em alguns trechos da Caverna do Morro Grande. A Figura 17 ilustra os
litotipos de algumas cavernas visitadas.
Tabela 4. Composição química de rochas (determinada por fluorescência de raios-X) onde
algumas cavernas estão inseridas. Valores em porcentagem. (retirado de Carmo et al., 2011a)
SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO TiO2 P2O5 Na2O K2O MnO
Xisto hematítico 0,55 0,38 99,1 <0,01 <0,1 0,12 0,02 <0,1 0,05 <0,01
Canga 8,44 2,71 80,6 0,04 <0,1 0,24 0,52 <0,1 0,03 0,03
Rocha alterada 39,1 8,12 39,5 0,06 0,21 0,41 2,24 0,14 0,88 0,02
32
Figura 17. A) Caverna inserida no diamictito hematítico. B) Paredes formadas por bandamentos
hematíticos. C) Gruta inserida na canga. D) Caverna em rocha alterada. (Fotos: Flávio F.
Carmo, 2010)
No Vale do Rio Peixe Bravo foram visualizadas macroformas características de
um sistema cárstico como aquelas indicadas por Hardt (2004) compostas por
desfiladeiros (canyons), paredões com aspecto ruiniforme e cavernas. Pequenas
depressões doliniformes foram encontradas na superfície das cangas. No interior de
algumas cavernas foram observadas cúpulas de dissolução no teto e canais
desenvolvidos perpendicularmente ao plano das paredes (Fig. 18) que se assemelham
aos tubos cilíndricos descritos por Wray (2009). De acordo com esse autor, o conjunto
de pequenos condutos cilíndricos constitui uma drenagem freática, que indica um
sistema cárstico em processo de formação. A sua presença é pouco documentada para
litotipos não carbonáticos, havendo algumas menções em quartzito e arenito. Já nos
geossistemas ferruginosos estudados neste trabalho ficam nítidas as presenças de
feições que demonstram a presença de corpos d’água freáticos nas grandes escarpas de
cangas (Fig.19).
33
Figura 18. A) Rebaixamento da couraça de canga, semelhante ao processo de dolinamento. B)
Zona freática rasa. A seta indica o nível da lâmina d’água. C) Drenagem intermitente em
algumas cavidades, atestada pelo canal impresso no substrato. D) Cúpulas de dissolução no teto
de algumas cavernas sinalizando uma conexão vertical com o epicarste (escala 1 metro). E)
Pequeno conduto horizontal na parede de algumas cavidades (escala 15 centímetros). (Fotos:
Flávio F. Carmo)
34
Figura 19. Escarpa de canga mostrando (linha pontilhada) redes de tubos que provavelmente são
formados por drenagem subterrânea. (Foto: Felipe F. Carmo, 2010)
4.2 – Os relevantes atributos das cavidades do Vale do Peixe Bravo
Essa parte do trabalho pretende classificar algumas cavernas da região estudada
de acordo com metodologia indicada no Decreto Federal 6.640 e da Instrução
Normativa Nº2/09. No entanto, as classificações das cavernas dependem de estudos
multidisciplinares, onde a relevância final de cada cavidade é feita através de
comparações locais e regionais. Essa nova metodologia indicada pelo CECAV e
Ministério do Meio Ambiente veio pela demanda de melhores formas de averiguar o
estado de conservação e importância espeleológica de regiões que normalmente estão
sobre impacto e/ou pressão de algum tipo de intervenção antrópica, independente da
intensidade da degradação.
A Tabela 5 sintetiza a classificação das cavernas do Peixe Bravo. Para isso,
foram escolhidos atributos do Decreto e da Instrução Normativa supracitados, que
podem ser avaliados com apenas uma visitação na cavidade, sendo conferida apenas a
presença e ausência.
35
Tabela 5. Relevância das cavernas do Vale do Peixe Bravo. Ext.(Extensão em metros), DN (Dimensões Notáveis), EU (Espeleotemas Únicos), GUR (Gênese
Única ou Rara), μ+σ (média da extensão + desvio padrão), * (Atributos acentuados sob enfoque local e significativos sob enfoque regional).
Caracterização das cavidades (utilizando parâmetros da IN nº2)
Cavidade Litotipo Ext. DN EU GUR (μ+σ) (m) *
C. do Mocororô canga/rocha alterada;
diamictito cinza e diamictito hematítico 84 ausente ausente
presente
(máxima) > (alta)
G. Pequena canga 5 ausente ausente ausente < (média)
G. da Boca Larga canga 13,2 ausente ausente ausente < (média)
G. do Triângulo canga 6,4 ausente ausente ausente < (média)
C. da Fortaleza canga/rocha alterada 9,6 ausente ausente ausente < (média)
C. dos Três Buracos canga/rocha alterada 36 ausente ausente ausente < (média)
alta (presença de registro
paleontológico + média
projeção horizontal)
L. do Abrigo canga/rocha alterada 9 ausente ausente ausente < (média)
G. do Muro canga/rocha alterada 9,6 ausente ausente ausente < (média)
L. dos Dois Salões indefinido 7,4 ausente ausente ausente < (média)
G. do Desmoronamento canga/rocha alterada 8,4 ausente ausente ausente < (média)
L. dos Cactos indefinido 30 ausente ausente ausente < (média)
G. da Serra rocha alterada 9 ausente ausente ausente < (média)
C. da Chaminé canga/rocha alterada 47,4 ausente ausente ausente < (média)
C. do Lago canga/rocha alterada; rochas carbonáticas? 98 ausente presente
(máxima) ausente > (alta)
C. Teto de Coral canga/rocha alterada 43 ausente ausente presente
(máxima) < (média)
C. do Boi formação ferrífera bandada 9 ausente ausente ausente < (média)
C. do Meloso formação ferrífera bandada 8 ausente ausente ausente < (média)
C. do Morro Grande canga/rocha alterada;
formação ferrífera bandada; 94 ausente ausente ausente > (alta)
36
C. da Nascente do
Córrego das Canoas canga/rocha alterada 28 ausente ausente ausente < (média)
G. do Pau-de-urubu canga 13 ausente ausente ausente < (média)
G. das Maritacas canga/rocha alterada;
diamictito cinza e diamictito hematítico 37 ausente ausente ausente < (média)
C. do Lajedo I canga/rocha alterada; rochas carbonáticas? 156 presente
(máxima) ausente ausente > (alta)
C. do Lajedo II canga/rocha alterada 164 presente
(máxima) ausente ausente > (alta)
G. da Carne-de-vaca canga/rocha alterada 8 ausente ausente ausente < (média)
G. do Córrego das Canoas canga/formação ferrífera bandada 10 ausente ausente ausente < (média)
37
A avaliação dos atributos indica que cinco cavernas (20%) são classificadas
como de máxima relevância. A seguir, serão expostos as cavernas e seus atributos que
as elevaram para o maior grau de relevância.
Caverna do Mocororô
Essa caverna apresentou como atributo, de acordo com o Decreto 6.640 e
Instrução Normativa Nº2: I - gênese única ou rara;
Na instrução Normativa, a indicação do conceito para esse atributo é:
Cavidade que, no universo de seu entorno (escala local ou regional) e litologia
apresente algum diferencial, com relação ao seu processo de formação e
dinâmica evolutiva.
A Caverna do Mocororô apresentou em seu interior um conduto que teve sua
origem (gênese) de formação rara, através de processos por bioerosão (mais detalhes no
item 4.3 desta dissertação). Ao avaliar esse tipo de formação por bioerosão comparando
com registros semelhantes em outras cavernas no país, é demonstrado que esse tipo de
formação em rochas ferruginosas se torna inédito para todo Brasil (Tab.6). Quando se
faz uma comparação regional (Vale do Peixe Bravo) e com cavidades de mesmo litotipo
(neste trabalho é considerado todas as cavidades da região como rocha ferruginosa),
esse atributo só é encontrado em mais uma caverna, exposta logo abaixo.
Caverna Teto de Coral
Também foi classificada como de máxima relevância pelo mesmo atributo que
caracterizou a Caverna do Mocororô, gênese única ou rara.
Caverna do Lajedo I e Caverna do Lajedo II
Essas duas cavernas serão retratadas em uma mesma análise de relevância. O
atributo que foi diagnosticado para ambas e que as qualificam com grau máximo de
relevância, segundo o Decreto é:
III - dimensões notáveis em extensão, área ou volume;
38
O conceito desse atributo de acordo com a Instrução Normativa é:
Cavidade que apresente em sua totalidade ou em parte dela, grande extensão
(horizontal ou vertical), área ou volume relativo ao enfoque local ou regional.
A Figura 20 representa, proporcionalmente, as dimensões de cinco cavernas do
Peixe Bravo. Apoiando-se na escala do desenho, fica nítido que as dimensões das
Cavernas do Lajedo I e II, se sobressaem em relações às outras. A caverna C (Caverna
do Lago) é a terceira maior cavidade da região, com 98 metros de extensão já
mensurados. Essa figura visualmente mostrar que, mesmo que o mapa não tenha sido
realizado com um grau de detalhamento e precisão recomendado, as duas maiores
cavernas Lajedo II e I (respectivamente 164 e 156 metros de extensão) se destacam em
relação às outras cavidades. Nota-se que o termo utilizado no Decreto e na Instrução é:
dimensão notável, o que torna relativo o termo notável.
Figura 20. Comparação das dimensões entre cinco cavernas do Peixe Bravo. A) Caverna do
Lajedo II (164 metros). B) Caverna do Lajedo I (156 metros). C) Caverna do Lago (98 metros).
D) Caverna dos Três Buracos (36 metros). E) Lapa do Abrigo (9 metros).
A média da extensão das cavernas do Peixe Bravo ficou em 37,72 (± 46).
Portanto, as dimensões das duas maiores cavernas, em ordem decrescente, representam
4,34 e 4,13 vezes o valor da média. Como o termo notável não possui definição clara,
ou alguma diretriz que informe quanto maior que a média a caverna deve se apresentar
39
para obter o valor de notável extensão, foi definido neste trabalho que esses valores se
ajustam ao atributo.
Caverna do Lago
No Decreto Federal e na IN, há um atributo que classifica uma cavidade natural
como máxima relevância apenas pela presença de:
IV- espeleotemas únicos;
Na IN, a descrição do que seria ¨únicos¨, é:
Cavidade que apresente espeleotemas, individualmente ou em conjunto, pouco
comuns ou excepcionais, em tamanho, mineralogia, tipologia, beleza ou
profusão, especialmente se considerados frente à litologia dominante da
cavidade ou sob os enfoques territoriais considerados (local ou regional).
A caverna do Lago apresentou um conjunto de espeleotemas (Fig.21) que teve
um destaque local e regional, não havendo aparição em outras cavidades do Peixe
Bravo. Os espeleotemas encontrados nessa cavidade se tornam únicos pela forma com
que alguns deles se apresentaram (D e E), semelhantes a “dentes”, com distribuição
uniforme e linear. Outros (A e C) se destacam pela coloração esbranquiçada que
contrasta com a parede da caverna. Essa coloração pode indicar sua composição
peculiar e rara em cavidades ferruginosas, uma vez que a Caverna do Lago está inserida
em formações rochosas que possuem elementos ferruginosos e carbonáticos em sua
constituição (ver Tabela 2). Na figura 21B é encontrado um grande número de
espeleotemas semelhantes a estalagmites, “bolotas” que chegam a atingir 10 centímetros
de diâmetro que, comparados com os coraloides arredondados já encontrados em outras
cavernas ferruginosas, se destacam pelo tamanho excepcional. Com isso, a relevância
dessa caverna se torna máxima, devido aos espeleotemas pouco comuns em tamanho,
mineralogia e tipologia.
40
Figura 21. Espeleotemas encontrados na Caverna do Lago. A) Escala 15 cm. B) Escala 10 cm.
C) Escala 20 cm. D) Escala 10 cm. E) Escala 10 cm. (Fotos: Flávio F. Carmo, 2011)
41
Cavidades de relevância alta
Algumas cavidades da região ainda puderam ser qualificadas como sendo de
alta relevância, utilizando apenas os dados coletados. O artigo 7º da IN2/09, em seu
atributo define como cavidade de alta relevância aquela que possuir:
Alta projeção horizontal da cavidade em relação às demais cavidades que se
distribuem na mesma unidade espeleológica.
Essa alta projeção é defina na IN2/09 a partir da média (μ) de desenvolvimento
das cavidades na unidade espeleológica somada ao desvio padrão (σ). Esse valor é utilizado
para distribuir as cavidades da região em alta relevância (aquelas que obtiveram
desenvolvimento linear acima desse valor) e média relevância (aquelas que não alcançaram o
valor de corte). No caso das cavernas do Peixe Bravo o valor indicado pela soma foi: 37,72 +
46 = 83,72.. Portanto, a Caverna do Morro Grande, com 94 metros de extensão, foi
classificada como de alta relevância. As demais cavidades que também apresentaram
dimensões superiores a 83,72 metros já foram classificadas como sendo de máxima
relevância.
Outra cavidade que recebeu o grau de alta relevância foi a Caverna dos Três
Buracos, nesse caso devido ao atributo IX - Presença de registros paleontológicos, do
artigo 8º dessa mesma IN. Nessa cavidade foram encontrados registros de icnofósseis.
4.3 – Registros deixados pela megafauna extinta em rochas ferruginosas do norte
de Minas
Entre as 25 cavidades estudadas nesta dissertação, em três delas foi
diagnosticada a presença de icnofósseis (registros fósseis indiretos da atividade e/ou
presença de um espécime extinto). A presença de paleotocas no Vale do Rio Peixe
Bravo se torna importante por ser o primeiro registro no Brasil em rochas ferruginosas.
A Tabela 6 indica as localidades e litotipos onde já foram encontradas paleotocas no
Brasil.
Tabela 6. Substratos onde foram encontrados paleotocas e crotovinas* no Brasil.
Icnofóssil Substrato Estado
Crotovina¹ sedimento aluvial RS
42
Crotovina² areias quartzosas RS
Crotovina5 basalto alterado RS
Crotovina5 sedimento aluvial RS
Crotovina5 areia síltico-argilosa RS
Crotovina5 granito alterado RS
Crotovina5 sedimento aluvial SP
Crotovina5 metacalcário alterado SP
Paleotoca4 basalto alterado RS
Paleotoca5 sedimento aluvial RS
Paleotoca5 basalto alterado RS
Paleotoca6 arenito eólico RS
Paleotoca³ siltito permiano SC
Paleotoca³ arenito jurássico SC
Paleotoca7 diamictito hematítico MG
Paleotoca7 formação ferrífera alterada MG
Paleotoca7 canga/saprólito MG
¹Bergqvist & Maciel (1994); ²Buchmann et al.(2003); ³Buchmann et al. (2008); 4Frank et al.
(2008a,b); 5Buchmann et al. (2009);
6Frank (2010);
7Carmo et al. (2011b).
*crotovinas são
paleotocas preenchidas por sedimentos.
As três paleotocas foram formadas em litotipos distintos, porém com uma base
ferruginosa. Para melhor compreensão elas serão caracterizadas individualmente.
Caverna Teto de Coral (16º5’7.45’’S e 42º43’20.72’’W)
Essa caverna, com altitude de 760 metros, possui uma entrada em formato de
portal, ou seja, altura maior do que a largura (Fig. 22). Contém uma projeção linear de
40 metros, onde há um salão central amplo e um único conduto, com cerca de 10
metros, localizado na parte distal e identificado como uma paleotoca devido ao seu
formato cilíndrico e registros de icnofósseis (Fig. 23). Está inserida em formação
ferrífera alterada com grande concentração de sílica na rocha.
As medições no conduto indicaram uma altura máxima de 2,5 metros e uma
mínima de 1,8 metro. A largura máxima e mínima, respectivamente, foram 3,7 e 2,2
metros. A Figura 24 mostra a localização da paleotoca dentro da cavidade.
Caverna dos Três Buracos (16º2’48.59’’S e 42º42’52.64’’W)
É uma caverna com altitude de 767 metros, formada por apenas um conduto
linear, com comprimento de 37 metros. Sua formação ocorre no contato canga/saprólito
e seu desenvolvimento acompanha a linha de drenagem da escarpa de canga.
43
Provavelmente toda a cavidade seja uma paleotoca devido às marcas de garras
encontradas em seu interior (Fig.25).
Caverna do Mocororô (16º00’36.74’’S e 42º42’13.13’’W)
Cavidade com altitude de 941 metros. Inserida em diamictito ferruginoso, possui
80 metros de extensão linear e amplos condutos irregulares, atingindo uma altura
máxima de 5 metros no salão central (Fig.26). Em toda sua extensão interna havia
marcas de garras. Alguns setores apresentaram riscos paralelos bem definidos, mas a
grande maioria estava em disposição aleatória (Fig. 27). A menor altura dessas marcas
de garras foi no nível do solo e a maior a 3,1 metros (Fig .28). Apenas um conduto
apresentou marcas em suas laterais e no teto possuindo formas circulares, o que
caracterizou sua formação como sendo de origem biológica (Figs. 29 e 30).
Figura 22. Caverna Teto de coral. A) Entrada da cavidade. B) Salão central com destaque para o
único conduto da caverna. C) Paleotoca, com uma extensão de 10 m. D) Final do conduto, onde
nota-se uma ampliação no volume o que pode indicar uma câmara de giro. (Retirado de Carmo
et al., 2011b)
44
Figura 23. Caverna Teto de Coral. Marcas de garras. A e B) Registro nas paredes. C) Registro
no teto. D) Partes do conduto possuem uma textura lisa, identificado como superfície de
polimento devido ao atrito do animal. (Retirado de Carmo et al., 2011b)
Figura 24. Croqui da caverna Teto de Coral, com destaque para o conduto onde foram aferidas
as medidas de largura e altura a cada metro linear a partir do eixo central da galeria. As marcas
de garras foram identificadas apenas nos primeiros cinco metros do conduto, indicadas pelas
setas vermelhas. (Editado de Carmo et al., 2011b)
45
Figura 25. Caverna dos Três Buracos. A) Foto do único conduto da caverna, com larguras
distintas, seguindo um desenvolvimento retilíneo. B, C e D) Registros de marcas de garras nas
paredes. Nota-se que há registros diretamente na canga (C), fato notável devido à dureza desse
litotipo. (Retirado de Carmo et al., 2011b)
Figura 26. Caverna do Mocororô. A) Entrada da caverna com grau de inclinação descendente e
com grandes blocos de abatimento. B) Entrada para o salão central. C) Salão central, a seta
mostra uma pessoa como referência de altura. D) Passagem atualmente estreita para o último
conduto onde foi registrada a maior altura das garras. (Retirado de Carmo et al., 2011b)
46
Figura 27. Caverna do Mocororô. As marcas de garras foram observadas em toda a extensão das
paredes internas da caverna. A barra branca indica 1 metro. (Retirado de Carmo et al., 2011b)
Figura 28. Caverna do Mocororô. Registro das marcas das garras alcançando 3,1 metros de
altura. (Retirado de Carmo et al., 2011b)
47
Figura 29. Caverna do Mocororô. Conduto formado pela megafauna pleistocênica. As marcas
de garras foram registradas em todo o seu interior, incluindo o teto da galeria. Nota-se uma
forma circular do conduto. (Retirado de Carmo et al., 2011b)
Figura 30. Croqui da caverna do Mocororô, destacando o conduto onde foram aferidas as
medidas de largura e altura, tomadas a cada metro a partir do eixo central da galeria. (Editado de
Carmo et al., 2011b)
As ranhuras nas paredes mostram dois padrões de tamanho: tipo I, sulcos mais
finos com 1 cm de largura e 0,8 cm de profundidade, que foram os mais encontrados
nas paredes, e tipo II, ranhuras com largura de 2 cm e 1,8 cm de profundidade (Fig.
31).
48
Figura 31. Ranhuras nas paredes da caverna do Mocororô. A) Tipo I. B) Tipo II. (Fotos: Flávio
F. Carmo, 2010)
4.4 – Vale do Peixe Bravo, uma área prístina com os dias contados?
Foram avaliadas, através do protocolo (Anexo 2), 41 cangas totalizando uma
área de aproximadamente 391,7 hectares com média de 9,5 ha por canga. A maior canga
analisada teve uma área de 98,8 ha e a menor 0,3 ha. Para a região do Peixe Bravo
optou-se por distribuir as áreas visitadas em oito setores, separados por
descontinuidades geológicas e/ou vales com redes hidrográficas (Fig.32). O número de
cangas por setor e as respectivas áreas estão representados na Tabela 7.
49
Figura 32. Separação dos oito setores para análise em escala local. A) Rio Peixe Bravo,
separando os setores 1 e 2. B) Córrego das Éguas, separando os setores 4 e 5. C) Córrego
Poções, separando os setores 2 e 3. D) Canyon do córrego Forquilha, separando os setores 5 e 6.
Tabela 7. Distribuição das cangas por setor.
Nº de
cangas Área Total (ha)
Setor 1 7 54,2 cangas: 2, 19, 20, 31, 32, 36, 41.
Setor 2 4 26,7 cangas: 14, 15, 18, 25.
Setor 3 12 62,3 cangas: 3, 9, 10, 11, 12, 17, 23, 33, 34, 37, 39, 40.
Setor 4 5 27,36 cangas: 1, 8, 13, 21, 26.
Setor 5 5 22,2 cangas: 4, 16, 29, 30, 35.
Setor 6 2 1,1 cangas: 22, 24.
Setor 7 3 114,3 cangas: 27, 28, 38.
Setor 8 3 85,5 cangas: 5, 6, 7.
O setor 3 teve o maior número de cangas vistoriadas (12) porém, a maior área
em canga ficou com o setor 7 (114,3 ha), devido à canga 28, que possui uma área de
98,8 ha, 86,4% deste setor.
Em relação ao estado de conservação, o protocolo indicou que 18 cangas se
encontram na classe Quase Ameaçada e 23 cangas foram classificadas como
50
Vulneráveis (Tab. 8). A média dos valores calculados nos 13 critérios de avaliação
indicados no protocolo constam na Tab. 9.
Tabela 8. Classificação do estado de conservação das cangas do Peixe Bravo.
Classificação Cangas
Quase Ameaçada 4, 8, 11, 13, 15, 16, 17, 22, 23, 24, 26, 29, 30, 32, 34, 35, 37, 40
Vulnerável 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10, 12, 14, 18, 19, 20, 21, 25, 27, 28, 31, 33, 36, 38, 39, 41
Tabela 9. Valores médios de cada critério avaliado, em referência ao número de pontos
totais que cada um poderia alcançar.
Critérios Pontuação Máxima Pontos Alcançados
Perda de habitat 5 1,07
Exposição direta impactos canga 3 1,56
Fogo canga 3 0,19
Plantas exóticas invasoras canga 3 0,29
Exposição direta impactos entorno 3 2,02
Estradas 3 2,44
Agricultura/Pecuária 3 0,68
Cidade/Condomínio/Indústria 3 0
Mineração 5 0
Grau de Desproteção 5 5
Área de canga 3 1,78
Heterogeneidade Ambiental 3 2
Fitofisionomias 3 0,85
Total 45 17,88
Observa-se que a média da região (17,88) enquadra as cangas do Peixe Bravo
como Vulneráveis. O maior valor alcançado nos critérios foi no Grau de Desproteção,
já que nenhuma canga se encontra dentro de Unidades de Conservação, tanto de
Proteção Integral quanto de uso sustentável. Em segundo lugar, com média de 2,44
pontos alcançados, está o critério Estradas, que neste trabalho considerou estradas de
qualquer dimensão. Os itens condomínio, cidades, indústrias, bem como mineração não
foram detectados na região, conferindo nota zero para ambos.
A Figura 33 mostra a média obtida no protocolo para a avaliação das classes de
ameaça nas cangas do Peixe Bravo. A primeira coluna representa as cangas Quase
51
Ameaçadas (QA), e possui uma pontuação distribuída de forma uniforme entre os três
níveis de ameaças apontados (Grau de Degradação, Grau de Desproteção e Qualidade
Ambiental). A segunda coluna, representada pelas cangas Vulneráveis (VU), registra
mais pontos na categoria Grau de Degradação, responsável por 50% da pontuação total
da coluna. As categorias de ameaça Em Perigo e Criticamente em Perigo não foram
registradas para o Vale do Peixe Bravo.
Figura 33. Percentual do grau de ameaça obtido para as cangas do Peixe Bravo. QA (Quase
Ameaçada), VU (Vulnerável), EN (Em Perigo), CR (Criticamente em Perigo).
Ao analisar o critério Grau de degradação (Fig. 34), que no protocolo é avaliado
por sete itens, tem-se que nas cangas QA, o item que mais contribuiu para a pontuação
média foi estradas, com 38,6% (1,7 pontos). Como as cangas do Peixe Bravo já são
prospectadas desde a década de 70, é observado em quase todas elas algum resquício de
estrada de prospecção, o que leva esse item a liderar o critério Grau de Degradação.
Apesar de contribuir com a maior porcentagem de degradação, as estradas quantificadas
no protocolo podem ser de qualquer dimensão, muitas delas apenas resquícios de
aberturas realizadas para prospecção, mas que foram somadas devido à provável
reutilização dessas pelas empresas mineradoras que já indicam interesses pelas jazidas
de ferro do Peixe Bravo.
Na coluna VU, aparecem três itens que não foram encontrados para as cangas
QA, sendo eles fogo, plantas exóticas e presença de agropecuária. Nesta coluna também
52
é registrada uma maior contribuição para a Degradação das cangas através de estradas
(26,5%).
Figura 34. Contribuição de cada item avaliado no protocolo para o Grau de Degradação nas
cangas. QA (Quase Ameaçada), VU (Vulnerável).
A Figura 35 representa os resultados da análise para o critério Qualidade
Ambiental. Na primeira coluna, o item que mais pontuou foi Área de canga, que de
acordo com o protocolo, indica que essas cangas possuem menor área em relação às
cangas da segunda coluna. A área total das cangas classificadas como QA foi de 79,7
ha, equivalendo a 20% da área total das cangas mensuradas no Peixe Bravo.
Figura 35. Contribuição de cada item avaliado no protocolo para a Qualidade Ambiental nas
cangas. QA (Quase Ameaçada), VU (Vulnerável).
Apesar de os impactos observados nas cangas do Vale do Peixe Bravo serem de
baixa magnitude, podendo considerar que a região está em bom estado de conservação,
53
o grau de vulnerabilidade dessas se torna presente uma vez que todas as 41 cangas estão
sobre títulos minerários. Cerca de 61% das cangas (25) estão sobre títulos na fase de
requerimento de lavra (Anexo 4). A figura 36 mostra a situação das cangas em relação
aos processos minerários.
Figura 36. Situação das 41 cangas analisadas no Vale do Peixe Bravo em relação à fase de
concessão mineraria. Req. (requerimento), Aut. (autorização), ha (hectares).
A seguir, são indicados os setores separadamente, mostrando alguns dados de
cada um que serão utilizados para uma discussão local mais adiante.
O setor 1 (Fig. 37) é composto por sete cangas vistoriadas, sendo que seis se
encontram em estado Vulnerável (2, 19, 20, 31, 36, 41), e uma canga qualificada como
Quase Ameaçada (32). Possui ainda três cavidades, onde duas se enquadram como
relevância máxima (Lajedo I e Lajedo II). No total foram aferidos 54,2 ha de canga. A
canga 36 foi a que recebeu o maior número de pontos no protocolo, 25 em 45. De
acordo com moradores dessa área, já foram catalogadas mais de 40 nascentes, todas
provindas das cangas. Este fato torna o quadro ainda mais preocupante, pois todo o
setor está em fase de Requerimento de Lavra, mostrando o interesse imediato das
mineradoras nessa área.
54
Figura 37. Setor 1. Possui duas cavidades de relevância máxima.
Englobando quatro cangas, com área de 26,7 ha (Fig. 38), o setor 2 possui três
cangas em estado Vulnerável (14, 18, 25), onde na canga 14 está localizada a cavidade
Nascente do Córrego das Canoas, que apesar de não ter atingido grau de relevância que
a proteja, possui em seu interior um lago perene que inicia um pequeno córrego que em
sua jusante é utilizado para abastecimento de água de várias famílias que residem
próximo a essa canga. A outra canga estudada (15) foi diagnosticada como Quase
Ameaçada. Todo o setor está sob pedido de Autorização de Pesquisa.
Figura 38. Setor 2.
O setor 3 (Fig. 39) obteve o maior número de cangas vistoriadas, 12 no total,
sendo que seis foram classificadas como Vulneráveis (3, 9, 10, 12, 33, 39) e seis Quase
55
Ameaçadas (11, 17, 23, 34, 37, 40). Nove cangas desse setor estão sob requerimento de
Lavra, porém, a canga 12, onde estão inseridas duas cavernas de relevância máxima
(Lago e Teto de Coral), está em processo de Autorização de Pesquisa, o que aponta para
um desfecho minerador. Num total de 62,3 ha de área de canga, foram visitadas seis
cavidades. Nesse setor houve o registro da menor pontuação atingida no protocolo, 11
pontos para a canga 17, que está no grupo das cangas em Requerimento de Lavra.
Figura 39. Setor 3. Com duas cavidades de relevância máxima.
No setor 4, foram percorridos 27,36 ha de canga distribuídos em cinco
afloramentos nesse setor (Fig. 40). Também houve o registro de cinco cavidades nessa
área, onde foi qualificada uma caverna de relevância máxima (Mocororô) e outra
cavidade com indicações paleontológicas (Três Buracos). O setor está em bom estado
de conservação e também sob Requerimento de Lavra, o que gera um grau de ameaça
iminente. A parte leste desse setor já se encontra sobre pressão devido a degradação
provocada pela prática de monocultura de eucalipto, comum no norte de Minas.
56
Figura 40. Setor 4. Com uma cavidade de relevância máxima.
Todas as cangas do setor 5 (Fig. 41) foram classificadas como Quase Ameaçadas
(4, 16, 29, 30, 35) e apenas uma (4) está sob Requerimento de Lavra. Num total de 22,2
ha foram encontradas 3 cavidades. Esse setor está inserido numa localidade conhecida
como “cabo do guarda-chuva”, devido o formato que o geossistema se mostra, e é uma
das áreas mais preservadas da região do Peixe Bravo.
Figura 41. Setor 5.
As duas cangas vistoriadas no setor 6 se enquadraram como Quase Ameaçadas
(Fig. 42). Não houve registro de cavidades. As cangas somam 1,1 ha e estão sob
Autorização de Pesquisa. Esse setor está inserido no extremo leste da região.
57
Figura 42. Setor 6.
O setor 7 teve três cangas vistoriadas (Fig. 43) com área total de 114,3 ha, a
maior obtida entre os oito setores. Isso foi devido à presença da canga 28, que possui
uma área de 98,8 ha e onde está inserida a caverna do Morro Grande, única analisada no
setor, apresentando fauna troglomórfica em seu interior (ver anexo 3). Todo o setor está
sob Requerimento de Lavra.
Figura 43. Setor 7. Possui uma cavidade com presença de fauna troglomórfica.
No setor oito também foram aferidas apenas três cangas com área total de 85,5
ha (Fig.44). Duas delas obtiveram 25 pontos no protocolo (5, 6). Esse setor é o que
apresenta impacto antrópico mais próximo, devido à monocultura de eucalipto. As
cangas se encontram sob Autorização de Pesquisa.
58
Figura 44. Setor 8. As cangas se encontram próximas a monocultura de eucalipto.
5 – Discussão
Carmo (2010) indica a região do Peixe Bravo como área-alvo para investigação
da diversidade biológica e de estudos para conservação de sistemas ferruginosos em
Minas Gerais, onde menos de 270 ha de cangas ocorrem em UC’s de proteção integral.
Na região do Quadrilátero Ferrífero a degradação ambiental e vulnerabilidade das
cangas colocam estas como criticamente ameaçadas, onde 80% das cangas estão
criticamente em perigo e 76% (102 cangas com área total estimada em 8.714 ha) estão a
menos de 0,5 Km de uma cava de mineração (CARMO, 2010). O Peixe Bravo, por
ainda não sofrer impactos diretos da mineração, traz a oportunidade de realizar estudos
de longa duração para uma melhor compreensão sobre os processos que formam as
feições cársticas ferruginosas que ainda são pouco relatadas e compreendidas (PILÓ &
AULER, 2010).
Ao analisar as feições geológicas e de relevo do Peixe Bravo podemos
considerar que as macro e microformas são típicas de ambientes cársticos. As
fisionomias rochosas da região evidenciam um processo de dissolução que é de
fundamental relevância na construção da morfologia da paisagem, sendo possível
levantar a hipótese de que a dissolução geoquímica teve papel pronunciado na feição do
relevo regional (CARMO et al., 2011a). Uma análise geomorfológica do Vale do Peixe
Bravo demonstra a existência de uma considerável rede de drenagem subterrânea ou
parcialmente subterrânea. A presença de lagoas e drenagens perenes e temporárias no
59
interior de algumas cavernas caracterizam algumas zonas hidrológicas comuns em
feições cársticas, seguindo Ford e Willians (1989), modificado em Hardt e Pinto (2009):
zona vadosa subcutânea e de percolação por drenagem, zona de oscilação (epifreática) e
zona freática rasa.
Hardt e colaboradores (2009) buscam uma definição mais ampla de carste,
deixando a análise litotípica da feição e partindo para uma caracterização fisionômica
do relevo. Com isso, é possível afirmar que a paisagem regional apresenta elementos
morfológicos típicos das paisagens cársticas. Ou seja, a dissolução foi de fundamental
importância na construção da paisagem natural. Vale ressaltar que, geneticamente, esta
é uma característica relevante da área estudada, pois estas feições de dissolução são
muito mais evidentes do que em outros geossistemas ferruginosos, como por exemplo, o
Quadrilátero Ferrífero, MG. O conceito morfológico de carste, que independe do
litotipo (sensu Hardt et al., 2009), cita exemplos de carste em formações ferríferas no
Gabão. No Brasil, vários trabalhos já descreveram feições cársticas em áreas ferríferas
na Serra de Carajás (MAURITY & KOTSCHOUBEY, 2005; ATZINGEN et al., 2009)
e no Quadrilátero Ferrífero (SIMMONS, 1963; PILÓ & AULER, 2005; SILVA &
SALGADO, 2009).
Dentre as feições cársticas do Peixe Bravo, pode-se destacar as cavernas
encontradas nesta área. O fato de cavidades não terem sido encontradas em todas as
cangas vistoriadas (25 cavidades em 13 das 41 cangas) não implica em ausência de
cavernas nas mesmas. Devido ao pouco tempo disponível para visita às cangas, as
cavidades vistoriadas foram aquelas indicadas pontualmente por moradores. Com isso,
fica claro o potencial da região quanto a um número superior de cavidades do que o
exposto neste trabalho.
De forma geral se têm relatado para outras regiões ferruginosas cavidades muito
rasas, condutos estreitos e superficiais em relação ao platô de canga (SIMMONS, 1963;
PINHEIRO & MAURITY, 1988; AULER & PILÓ, 2005; FERREIRA, 2005;
ATZINGEN et al., 2009). No Peixe Bravo, as cavernas se destacam pelo volume.
Mesmo nas cavidades com desenvolvimento inferior a 40 metros, foram registradas
alturas de salões que atingiam 6 metros. Esta característica física também pode ser
relatada para a zona de entrada. As cavidades ferruginosas são conhecidas pelas suas
60
entradas estreitas nas bordas de canga devido a processos erosivos, ou pequenas
entradas verticais onde o manto da canga sofre um colapso sobre parte de um conduto
incluso, provavelmente formado por processo de dissolução, gerando assim uma entrada
(SIMMONS, 1963). O que se tem encontrado nas cavernas do norte de Minas são
entradas que superam os sete metros de altura.
Em relação aos espeleotemas encontrados nas cavidades do Peixe Bravo os mais
comuns foram coraloides, corrimentos e crostas, que já foram relatados em outras
regiões do Brasil (MAURITY & KOTSCHOUBEY, 2005; PILÓ & AULER, 2005;
CUNHA JR et al., 2007; ATZINGEN et al., 2009; PILÓ & AULER, 2009). Piló e
Auler, 2009, pesquisando as cavernas de Carajás, relatam que há maior intensidade de
coraloides em locais com fluxo de ar mais acentuado (zona de entrada), o que foi
observado também para as cavernas do Peixe Bravo. Esses autores ainda propõem uma
gradação tipológica de espeleotemas influenciadas por incidência de luz, fluxo de ar e
soluções. Nas cavernas do Peixe Bravo, essa gradação de espeleotemas também foi
observada. Na Caverna do Lago, foram registradas algumas estruturas ainda não
descritas em outras áreas já estudadas e também não encontradas em outras cavidades
no Peixe Bravo, o que conferiu máxima relevância para essa caverna.
Outro aspecto de destaque para algumas cavidades da região norte de Minas
Gerais são os primeiros registros de paleotocas em substrato ferruginoso no Brasil, com
grandes dimensões. Trabalhos sobre o tema, indicam seções elípticas ou circulares com
0,7 a 3,0 m de diâmetro (BUCHMANN et al., 2003; 2009), enquanto as paleotocas do
Peixe Bravo atingiram larguras de até 4,5 metros e alturas de até 2,5 metros.
Buchmann e colaboradores (2010) relatam um padrão de ranhuras com três ou
quatro riscos paralelos que chegavam a ter três a quatro centímetros de largura. Na
caverna do Mocororô também foi encontrado conjuntos de ranhuras paralelas (tipo I),
com três riscos, que atingiam uma largura de sete centímetros. Tal registro se torna
importante, pois, mais uma vez, são dimensões ainda não relatadas para paleotocas.
As paleotocas encontradas no Brasil se enquadram na classificação de cavidades
naturais subterrâneas, ou seja, são cavernas (FRANK et al., 2010), portanto devem ser
resguardadas pelos parâmetros legais de proteção do patrimônio espeleológico. Segundo
Frank e colaboradores (2010), as paleotocas são classificadas de acordo com seu grau de
61
preservação e abundância em quatro tipos: a) formado pelas paleotocas integralmente
preservadas, sem preenchimento e cuja seção é praticamente circular, sem apresentar
feições de colapso de teto nem de erosão do piso; b) formado por paleotocas que
sofreram a erosão por águas correntes; c) formado pelas paleotocas parcialmente
preenchidas por sedimentos; d) formado por paleotocas integralmente preenchidas,
denominadas de crotovinas.
O que se observou nas cavidades do Vale do Rio Peixe Bravo foram paleotocas
do grupo (a), ou seja, integralmente preservadas, e por isso consideradas raras. Além
disso, duas dessas estruturas foram encontradas no interior de cavernas consideradas
amplas para os sistemas ferruginosos, uma situação até então não descrita, em que o
animal aproveitou a abertura de uma caverna já existente, e iniciou novas estruturas e
condutos. Buchmann e colaboradores (2010) destacam a importância das paleotocas por
representarem um grande potencial paleontológico, provavelmente contendo fósseis em
seu interior. No caso das paleotocas do Peixe Bravo, por se tratarem de estruturas
ocorrentes dentro de cavernas, o potencial paleontológico aumenta, uma vez que os
condutos das cavernas se encontram em zona afótica e distante da entrada, o que
dificulta a ação do intemperismo, facilitando a preservação de possíveis fragmentos
fósseis. Além disso, a caverna do Mocororô apresenta uma alta taxa de sedimentação no
solo, o que pode ter encobrido possíveis registros fósseis.
Trabalhos já realizados (BUCHMANN et al., 2003; FRANK et al., 2008ab;
BUCHMANN et al. 2009; BUCHMANN et al., 2010) utilizando dados de dimensões
das galerias, marcas de escavação e marcas de osteodermos presentes ao longo das
galerias sugerem pelo menos dois escavadores: a) mamíferos Xenartros dasipodídeos
(tatus-gigantes) no caso de galerias com diâmetro entre 0,7 e 1,4 m, e b) mamíferos
Xenartros milodontídeos (preguiças-gigantes) no caso das galerias com diâmetro de até
4 m. Devido as grandes dimensões das paleotocas do Peixe Bravo, pode-se inferir uma
ocupação por preguiças-gigantes. Essa inferência pode ser sustentada também pelas
marcações de garras que atingiram altura de até 3,1 metros, pois nenhum tatu gigante da
megafauna alcançaria tais alturas.
Dentre as cavidades do Peixe Bravo 20% se enquadram como máxima
relevância, o que de acordo com a legislação vigente, estariam protegidas de impactos
62
internos e em seu entorno. Porém, o uso da IN para classificação da relevância final e as
prerrogativas jurídicas que o Decreto 6.640, juntamente com a IN, propõe como
metodologias para indicar o status final de conservação de uma caverna deixa claro que
o objetivo é de preservação unitária, ou seja, o único alvo de preservação é restrito a
cavidade e seu entorno imediato. O entorno imediato, ou área de influência de uma
caverna, é definido segundo a IN, como: área que compreende os elementos bióticos e
abióticos, superficiais e subterrâneos, necessários à manutenção do equilíbrio
ecológico e da integridade física do ambiente cavernícola. Alguns autores questionam a
possibilidade de uma análise eficiente sobre os atributos a serem avaliados utilizando
apenas as metodologias indicadas na IN. De acordo com Trajano e Bichuette (2010),
uma das maiores falhas da IN é focar os estudos somente na caverna, e não no
ecossistema como um todo, o qual extrapola geograficamente o território da cavidade,
ignorando a existência de outros habitats subterrâneos igualmente relevantes.
Ao se isolar uma cavidade e sua área de influência, no caso de cavernas de
relevância máxima, a legislação prioriza uma conservação física da cavidade, o que gera
uma barreira, um limite, impedindo um fluxo de dispersão da fauna cavernícola. Uma
das principais características de cavernas ferruginosas é justamente a rede de
canalículos, cavidades centimétricas (MAURITY & KOTSCHOUBEY, 2005) que, pelo
Decreto, não são consideradas cavernas, devido ao seu pequeno espaço. Nos sistemas
ferruginosos, a ocorrência de grande quantidade de canalículos que formam extensas
redes de espaços intersticiais (micro e meso-cavernas) conectados a macro-cavernas
propiciam aos sistemas subterrâneos ferruginosos grandes extensões de habitats (SILVA
et al., 2011). Compartimentos sub-superficiais provavelmente podem atuar permitindo
uma migração da fauna através de espaços intersticiais entre macrocavernas,
aumentando a riqueza através do balanço entre os processos de colonização e extinção
(SILVA, 2008). As cavernas ferruginosas apresentam-se como espaços subterrâneos
relativamente superficiais. Tal condição, associada à presença de canalículos, possibilita
um trânsito mais freqüente de elementos da fauna de sistemas epígeos (habitats
lapidícolas) e hipógeo, permitindo uma alta biodiversidade (FERREIRA, 2005).
A perda de habitat é a maior causa de ameaça à diversidade biológica
(NOVACEK & CLELAND, 2001). No caso dos geossistemas ferruginosos essa perda é
representada pela detonação de canalículos, que dificilmente são mensurados como área
63
de influência para manutenção do equilíbrio ecológico nas cavernas, e cavidades que
não se enquadram como sendo de máxima relevância, mas contribuem com a
manutenção de uma diversidade beta nas cangas (SILVA et al., 2011). Além disso, ao
se conservar somente as cavidades, outro problema que vem a tona é a fragmentação de
hábitats. Uma visão antropocêntrica da definição de caverna (LOBO, 2008), não
corresponde à verdadeira dimensão de um hábitat subterrâneo. Ao prescrever que o
ambiente cavernícola é definido pelo espaço que abriga pelo menos o tamanho de um
humano (DECRETO 6.640), a preocupação da manutenção do equilíbrio ecológico da
fauna cavernícola é paradoxal. Ao se conservar várias cavernas sem a preocupação de
manter suas conectividades, o Decreto e a IN permitem um aumento na fragmentação de
hábitat, que também é umas das causas mais importantes para a degradação da
biodiversidade local (WILCOVE et al., 1986). Portanto, deve prevalecer um
pensamento sobre a real preocupação em conservar o sistema subterrâneo, levando em
consideração os processos e dinâmicas que permitem a evolução e manutenção do
geossistema, e não uma conservação pontual, que se torna paradoxal aos seus
princípios.
Outro fator preocupante causado ao centralizar os estudos na cavidade e não no
ecossistema é o de tratar a questão hídrica praticamente sem a importância devida ou de
forma subutilizada (BERBET-BORN, 2010). Segundo Berbet-Born (2010), o
verdadeiro qualificador para o atributo água é ser perene ou intermitente, conforme os
artigos de 7 a 10 da IN. Essa autora atenta que não há uma apreciação que qualifique o
vínculo da água ao contexto hidrogeológico envolvido, de forma que “a água,
parâmetro mais importante da configuração e dinâmica dos ecossistemas cársticos, é
atributo morto na IN 2/09”. Ela ainda faz menção sobre a necessidade de uma análise
mais ampla do território onde está inserida a cavidade, procurando uma perspectiva
organizacional e dinâmica de um “geossistema”. Esse termo foi elaborado por Sotchava
(1977), quem propõe uma análise integrada e tridimensional do ecossistema em análise.
Um dos princípios básicos é a consideração da natureza como sistemas dinâmicos
abertos e hierarquicamente organizados, passíveis de delimitação. Rodrigues (2001)
define esse princípio como articulações entre sistemas abertos (variáveis extrínsecas) e
da interdependência de suas variáveis intrínsecas (identificando-se também
internamente as rotas, trocas de matéria, energia e ciclos). Outro fator importante da
64
análise de um geossistema, é que se torna possível classificar o seu atual estado
sucessivo, assim como prever ou indicar sua dinâmica futura, uma vez que, outro
princípio básico é considerar os fenômenos naturais junto aos fatores econômicos e
sociais que influenciam sua estrutura (RODRIGUES, 2001).
Desta forma, ao apoiar no conceito de geossistema, acreditando que sua
interpretação do território seja mais completa e fidedigna aos processos e dinâmicas,
será feita uma análise da importância do Vale do Peixe Bravo através da junção da
importância dos resultados encontrados nesse trabalho, e não somente a importância
pontual de conservação como preconizado na legislação vigente sobre as cavidades.
Ainda, para indicar áreas-alvo como prioritárias para estudos levou-se em conta a
questão econômica, representada pelos títulos minerários e fases de requerimento, que
são ameaças iminentes para o atual equilíbrio ecológico da área.
A Figura 45 define o que foi compreendido como geossistema no Vale do Peixe
Bravo. Dentre a geologia regional, pertencente ao Grupo Macaúbas, o Membro Riacho
Poções foi escolhido como base do geossistema, por abrigar as rochas ferruginosas de
interesse econômico (Fig. 46). Somado ao Membro Riacho Poções, as cangas também
foram inseridas no contexto de geossistema, devido a que as mesmas abrigarem a parte
biótica da região em sua superfície e agem como conectoras do meio epígeo ao meio
hipógeo através de suas malhas de canalículos.
65
Figura 45. Mapa geológico da região do Vale do Peixe Bravo. Em destaque (colorido) o
geossistema analisado. (editado de VILELA, 1986)
66
Figura 46. Perfil geológico do geossistema. A imagem de cima indica o litotipo do perfil, com
ênfase nas rochas ferruginosas. A imagem de baixo mostra a porcentagem de ferro nos pacotes
rochosos. (editado de VILELA, 1986)
A interpretação dos resultados será realizada por setores, para ao final indicar
aqueles que devem ser alvos de maior detalhe em estudos multidisciplinares, de acordo
com o atual estado de conservação e grau de perigo iminente. O refinamento dos
atributos ecológicos da região se torna fundamental, pois é apresentada pela primeira
vez uma análise em escala local para a área. A compreensão em escala refinada de uma
região com grande geodiversidade é fundamental para a valoração dos processos e
dinâmicas de tal geossistema e imprescindível para que os tomadores de decisão possam
priorizar adequadamente as futuras áreas protegidas (DINERSTEIN et al., 2005).
Compartilhando as idéias de Trajano e Bichuette (2010) e Berbet-Born (2010) sobre a
necessidade de um estudo amplo do ecossistema, tomando nota sobre as dinâmicas e
processos interdependentes que perfazem o geossistema, e não somente uma análise
centrada na cavidade, como preconizado no Decreto 6.640 e IN 2/09, pode-se indicar
com mais acurácia áreas com prioridades de estudos para conservação de geossistema
ferruginoso, incluindo então, cavidades, vegetação, fauna, água e moradores.
Ao conceder uma conservação unitária, fragmentos de áreas em detrimento de
todo o geossistema interligado, o pensamento antropocêntrico muda de direção, pois
67
agora, o meio social dependente desse geossistema é preterido. Sabe-se que os
geossistemas ferruginosos possuem como característica uma grande capacidade de
armazenamento de água, onde as cangas, por recobrirem o geossistema e serem
permeáveis e porosas, agem como conectores desses aqüíferos, tornando-se importantes
áreas de recarga hídrica (CASTRO, 2008; CARMO, 2010). Essa característica é notada
na região do Peixe Bravo, onde todas as famílias do meio rural, inseridas nos setores
vistoriados, dependem e coletam água para consumo diretamente das rochas
ferruginosas (Fig. 47). Portanto, quando o Decreto e a IN conservam apenas fragmentos
de um geossistema, representados pelas macrocavernas, permitem a extinção de todo o
restante desse ecossistema o que pode afetar a dinâmica de reabastecimento do aqüífero,
fato agravado na região por estar inserida no semi-árido. Entretanto, embora o solo da
região se enquadre como propício a déficit hídrico nas estações secas, o que se tem no
Vale do Peixe Bravo é justamente o contrário. A comunidade que reside nessa região
não convive com a falta d’água, nem na estação seca. A capacidade do geossistema em
reter água e explotá-la continuamente em todas as estações do ano faz com que a
chegada da mineração se torne mais preocupante, pois é uma atividade que degrada todo
geossistema.
Figura 47. Importância do geossistema ferruginoso para manutenção e obtenção de água dos
moradores do Peixe Bravo. (Fotos: Flávio F. Carmo, 2011)
O protocolo de avaliação ambiental realizado nas cangas apresentou dois tipos
de situação; cangas caracterizadas como Quase Ameaçadas, isso devido a não existir
áreas de proteção integral na região, e cangas Vulneráveis, que obtiveram essa
68
qualificação devido principalmente à presença de estradas, muitas delas de pequena
dimensão, e exposição direta a impactos no entorno, representados por agricultura
familiar. Portanto, essas cangas indicam de forma geral uma situação de preservação
excelente comparadas aos impactos encontrados para as cangas do Quadrilátero
Ferrífero.
Com isso, podemos destacar os setores 1 e 4, como prioritários para estudo, pois
possuem cavidades de relevância máxima, com registros inéditos de paleotocas e área
total de canga vistoriada com 54,2 e 27,36 ha, respectivamente. O setor 1 mostrou
importância em relação ao serviço do ecossistema ‘recurso hídrico’, havendo mais de 40
nascentes registradas diretamente das cangas. Ainda, todas as cangas estão sob
Requerimento de Lavra, ou seja, última fase de requerimento para o início do processo
de Licenciamento Ambiental. Julgando o interesse econômico cada vez mais presente e
destacado para a região e levando em conta que em outras áreas, como no Quadrilátero
Ferrífero, todas as decisões referentes a pedidos de Requerimento de Lavra foram
aceitos (CARMO, 2010), o grau de ameaça iminente se torna real.
Outro setor que deve ter destaque é o setor 6, que está todo sob Requerimento de
Lavra, e onde está inserida a maior canga da região com 98,8 ha. Apesar de não haver
registro de cavidade de relevância máxima, a Caverna do Morro Grande, classificada
como de alta relevância, apresenta fauna troglomórfica que, se confirmada como fauna
troglóbia, pode avançar seu grau de relevância para máxima.
O setor 3 também possui cavidades de relevância máxima, porém, essas estão
em cangas onde a fase é de Autorização de Pesquisa, portanto, está no início do
processo de requerimentos, o que não diminui sua importância ambiental mas
acrescenta mais tempo para uma investigação mais refinada desse setor.
A urgência em definir áreas prioritárias em geossistemas ferruginosos no Brasil
é causada pelo bom cenário internacional favorável ao mineralnegócio. É previsto que
até 2030 a produção anual de minério de ferro alcance 1,1 bilhão de toneladas (MME,
2010). A especulação da chegada da mineração na região norte mineira já cria um
estado de preocupação para os moradores do Vale do Peixe Bravo. A sobreposição de
posse de territórios já apresenta incidentes violentos. As novas especulações em torno
de grandes jazidas de minério de ferro na região, assim como as especulações sobre
69
investimentos milionários na área (IBRAM, 2011), já criaram um ambiente paradoxal
ao desenvolvimento para a região. Empresas mineradoras, servidores públicos,
empresas de exploração florestal e pessoas civis, são acusadas pela Polícia Federal por
falsificação de documentos públicos e particulares, falsidade ideológica, corrupção ativa
e passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro com objetivos de venda de
terras (JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 2011; JORNAL ESTADO DE MINAS,
2011b,c).
Portanto, a urgência em criar áreas protegidas nos geossistemas ferruginosos
estudados nesta dissertação vai além de uma conservação ecossistêmica e da
biodiversidade desse ambiente em perigo de extinção. Pode ser uma oportunidade única
no que se refere à perspectiva de uso racional e da repartição dos benefícios dos
recursos naturais, sendo um caso no país onde o geossistema ferruginoso contendo uma
megajazida ainda não explorada possa ser alvo de estudos ambientais sistemáticos.
6. Conclusão
As cavidades do Vale do Peixe Bravo se destacam das demais cavernas
ferruginosas catalogadas em outras regiões do Brasil por possuírem características
distintas de geodiversidade em sua formação, dimensões notáveis em seu volume e
espeleotemas inéditos para formações ferruginosas. Ainda é relatada a existência de
registros paleontológicos, expostos pela primeira vez dentre as 1.998 cavidades
ferruginosas já registradas no país. A utilização de substratos ferruginosos na escavação
das paleotocas do Peixe Bravo também demarca uma nova idéia sobre o potencial de
escavação dos animais uma vez que se observam registros de escavação diretamente na
canga, fato notável devido à dureza desses litotipos.
O vale do Peixe Bravo apresenta grandes áreas ferruginosas, com destacadas
características ecológicas que não sofreram desgastes por parte da mineração, sendo
candidatas ideais a se tornarem Unidades de Conservação desses geossistemas
importantes para a biodiversidade e para a sociedade que depende de seus serviços
ecossistêmicos.
Este diagnóstico ambiental da área é de extrema importância, pois relata uma
paisagem ainda prístina, importante para a manutenção do equilíbrio ecológico, e que
pode apoiar o Poder Público em tomadas de decisão. A chegada da mineração no norte
70
de Minas deve ser realizada com todos os critérios ambientais e sociais, pois o termo
cunhado para os mineiros, como povo minerador por natureza, não deve ser extrapolado
para os geraizeiros, que são um povo que convive em harmonia com o ecossistema.
71
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82
Anexo 1. Serão expostos apenas os atributos e respectivos conceitos a serem
considerados para fim de classificação da relevância final da caverna, de acordo com a
IN 2/09.
Atributos e respectivos conceitos para fim de classificação do grau de relevância
máximo das cavidades naturais subterrâneas.
83
Atributos e respectivos conceitos para fim de classificação do grau de relevância das
cavidades naturais subterrâneas entre: alto, médio e baixo.
86
Anexo 2. Ficha de avaliação do protocolo de qualidade ambiental das cangas.
Protocolo de avaliação de cangas
Local/Data:
Coordenadas:
Área do afloramento: Altitude:
Observações:
Responsável:
1 – GRAU DE DEGRADAÇÃO Pontuação
No afloramento 0 2 3 5
1.1 – Perda de habitat (porcentagem da área original do afloramento) 0 % ( ) < 10 % ( ) 10 – 30 % ( ) > 30% ( )
87
1.2 – Exposição direta a impactos 0 1 2 3
Gado, trilha, lixo, construções, prospecção (n° de agentes) 0 ( ) 1-2 ( ) 3 ( ) ≥ 4 ( )
1.2.1 – Fogo (porcentagem da área do afloramento) 0
0 % ( )
1
< 10 % ( )
2
< 20 % ( )
3
> 20 % ( )
1.2.2 – Plantas exóticas invasoras (porcentagem da área do afloramento) 0
0 % ( )
1
< 5 % ( )
2
< 15 % ( )
3
> 15% ( )
No entorno Pontuação
1.3 – Exposição direta a impactos (n° de agentes em até 1 km da borda) 0 1 2 3
Fogo, gado, plantas exóticas invasoras, trilha, lixo, coleta predatória. 0 ( ) 1-2 ( ) 3 ( ) ≥ 4 ( )
1.4 - Estradas 0 1 2 3
Distância em km da borda do afloramento > 1 km ( ) 0,7 - 1 km ( ) 0,2 - 0,7 km ( ) < 0,2 km ( )
1.5 – Uso e Ocupação do solo (Distância em km da borda do afloramento) 0 1 2 3
1.5.1 Agricultura/Pecuária > 1,5 km ( ) 1,1 – 1,5 km ( ) 0,5 – 1 km ( ) < 0,5 km (
)
1.5.2 Cidade/Condomínio/Indústria 0 1 2 3
> 1,5 km ( ) 1,1 – 1,5 km ( ) 0,5 – 1 km ( ) < 0,5 km (
)
88
1.5.3 Mineração (pelos menos um dos itens abaixo) Pontuação
Cava; barragem de contenção; planta industrial; pilha de estéril. 0 2 3 5
> 2 km ( ) 1,6 – 2 km ( ) 1,1 – 1,5 km (
)
< 1 km ( )
Pontuação Grau de Ameaça (1.1+1.2+1.2.1+1.2.2+1.3+1.4.1+1.4.2+1.5.1+1.5.2+1.5.3) = máximo 31 pontos (69 %)
Protocolo de avaliação de cangas
2 – GRAU DE PROTEÇÃO Pontuação
Presença em Unidade de Conservação 0 3 5
Pontuação Grau de Proteção (Item 2) = máximo 5 pontos (11%) Proteção Integral (
)
Uso Sustentável ( ) Não ( )
3 – QUALIDADE AMBIENTAL Pontuação
No afloramento 0 1 2 3
3.1 – Área da canga (hectares) > 8,8 ha ( ) 6,5 – 8,7 ha ( ) 3,5 – 6,4 ha ( ) < 3,4 ha ( )
3.2 – Heterogeneidade Ambiental (número de ambientes na canga) 0 1 2 3
Capão, Poça, Brejos, Canal de drenagem, Caverna,
Paredão.
≥ 5 ( ) 4 ( ) 3 ( ) ≤ 2 ( )
No entorno Pontuação
89
3.3 - Fitofisionomias (Tipos fisionômicos até 1 km da borda da canga) 0 1 2 3
Floresta Estacional Semidecidual; Cerrado; Campo Sujo;
Campo
Limpo; Campo rupestre; Mata de Galeria; Caatinga; Carrasco.
≥ 4 ( ) 3 ( ) 2 ( ) 1 ( )
Pontuação Qualidade Ambiental (3.1+3.2+3.3) = máximo 9 pontos (20%)
Total (item 1+2+3) = máximo 45 pontos
Avaliação do estado de conservação
( ) Criticamente em perigo ≥ 40 pontos
( ) Em Perigo 30 a 39 pontos
( ) Vulnerável 17 a 29 pontos
( ) Quase Ameaçado ≤ 16 pontos
116
Anexo 4. Empresas e fases de concessão para minerar as cangas do Peixe Bravo. Informações
retiradas de DNPM (www.dnpm.gov.br )
Canga Titulo N° Ano Empresa Fase Substância
CA 05 830739 2004 MIBA Autorização Pesquisa Ferro
CA 06 832789 2004 MIBA Autorização Pesquisa Ferro
CA 07 830737 2004 MIBA Autorização Pesquisa Ferro
CA 12 830701 2004 Mtransminas Autorização Pesquisa Ferro
CA 14 807498 1971 VALE Autorização Pesquisa Ferro
CA 15 807498 1971 VALE Autorização Pesquisa Ferro
CA 18 807498 1971 VALE Autorização Pesquisa Ferro
CA 22 831316 2006 MIBA Autorização Pesquisa Ferro
CA 23 830701 2004 Mtransminas Autorização Pesquisa Ferro
CA 24 831316 2006 MIBA Autorização Pesquisa Ferro
CA 25 807498 1971 VALE Autorização Pesquisa Ferro
CA 29 830719 2004 Mtransminas Autorização Pesquisa Ferro
CA 30 830719 2004 Mtransminas Autorização Pesquisa Ferro
CA 33 830701 2004 Mtransminas Autorização Pesquisa Ferro
CA 01 808570 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 02 807499 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 03 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 04 808570 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 08 808570 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 09 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 10 804139 1974 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 11 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 13 808570 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 17 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 19 807501 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 20 807500 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 21 808570 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 26 808570 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 27 801740 1976 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 28 801740 1976 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 31 807499 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 32 807499 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 34 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 36 807500 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 37 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 38 801740 1976 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 39 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 40 807497 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 41 807499 1971 VALE Requerimento lavra Ferro
CA 16 830711 2010 Mtransminas Requerimento Pesquisa Ferro
CA 35 830711 2010 Mtransminas Requerimento Pesquisa Ferro