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FATORES QUE AFETAM A COMPOSIO E AS CARACTERSTICAS FSICO-QUMICAS DO LEITE*
1. Introduo.
A glndula mamria um dos rgos mais diferenciados e metabolicamente ativos do corpo
animal. Sua diferena no confere nenhuma vantagem especial ao corpo animal, mas sim, ao contrrio,
altamente demandante deste, quando est em plena atividade. O incio da lactao marcado por inmeras
alteraes no metabolismo o qual volta-se quase que totalmente para esta glndula. A redistribuio do
suprimento de sangue marcada pelo incremento na taxa metablica, e tambm pelo aumento na demanda
de nutrientes, e energia para suprimento da glndula. Por outro lado, a inabilidade do animal em ajustar
rapidamente seu metabolismo a lactao levam a desordens metablicas. Tais alteraes denotam a
prioridade que a natureza deu secreo de leite, em detrimento de outros processos metablicos.
O aporte de nutrientes para a o processo de sntese dos componentes do leite so de diferentes
origens:
a) endgeno mobilizao das reservas orgnicas;
b) rao.
A rao compreende todo o alimento recebido em 24 horas e este idealmente deve fornecer todos
os nutrientes em quantidade e qualidade, adequadamente compatveis com a demanda exigida pelo
organismo animal, dentro de um certo sincronismo, sem comprometer seu desempenho. Como a
complexidade relacionada com balano hormonal, energtico e fisiolgico do animal muito dinmico, os
nutricionistas tentam acompanhar estas variaes com o adequado suprimento de nutrientes, para que as
reaes bioqumicas aconteam.
O leite composto por 100.000 tipos de molculas diferentes, o que lhe confere um alto grau de
complexidade, pois cada uma destas molculas apresenta uma funo especfica, propiciando nutrientes ou
proteo imunolgica para o neonato. Contudo, sob aspecto alimentcio para os humanos, o leite assume
papel importante na dieta, devido ao alto valor biolgico de seus nutrientes (protenas, lipdios, glicdios,
minerais e vitaminas), alm de permitir grande variedade de processamentos industriais de diversos
produtos e participar da formulao de outros tantos na alimentao humana.
Devido sua diversidade de constituintes em meio aquoso o leite pode ser considerado:
* Seminrio apresentado na disciplina Bioqumica do Tecido Animal (VET 00036) no Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias da UFRGS, pelo aluno ROBERTO SERENA FONTANELI no primeiro semestre de 2001.
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uma suspenso coloidal de pequenas partculas de casena (micelas de casena ligadas ao clcio
e fsforo);
emulso de glbulos de gordura e vitaminas lipossolveis, que se encontram e suspenso;
soluo de lactose, protenas solveis em gua, sais minerais e vitaminas.
Sob aspecto alimentcio o leite deve ser:
ntegro, isto , no sofrer nenhuma alterao em sua constituio;
incuo, isto , no deve oferecer riscos sade humana, assumindo-se aqui o pressuposto que ele
deve ser obtido de animais sadios e deve ser higienicamente manipulado para que no sofra alteraes
microbiolgicas que afetem sua qualidade.
2. Precursores metablicos para a sntese do leite.
Os ruminantes encontravam basicamente seus alimentos na natureza e estes eram de natureza
fibrosa, o que, evolutivamente, os levou a desenvolverem uma grande capacidade ingestiva acompanhada
por simbiose com microrganismos que fazem a digesto da fibra celuloltica, obtendo da a principal fonte
de energia para o crescimento, produo e reproduo.
Quando um ruminante alimentado com gros e volumosos, todo esses alimentos so misturados
com gua, saliva e outros fludos no rmen. Durante a ruminao, o material ingerido reduzido a
partculas menores para facilitar a digesto (ataque microbiano). Como o rmen possui uma numerosa
flora microbiana, a presena de saliva, gua e temperatura corporal cria o ambiente perfeito para esses
microrganismos multipliquem-se e faam a digesto do alimento no rmen. As bactrias e os protozorios
podem crescer rapidamente ou lentamente, dependendo do tipo e da qualidade dos alimentos ingeridos.
O ponto de partida para a sntese do leite o alimento, principalmente os alimentos de origem
vegetal, ingerido pelos ruminantes (bovinos), para fins de obteno de energia para os processos
bioqumicos de sntese dos elementos constitucionais do corpo ou dos elementos digeridos ou absorvidos
como tais sem que haja uma necessidade de sntese de novo.
2.1 Sntese de gordura e lactose do leite.
O cido actico e cido butrico so os principais precursores da gordura na glndula mamria, se
tomarmos como base a absoro dos cidos graxos volteis (AGV), pela mucosa das papilas ruminais. O
cido a actico principal fonte de energia para os tecidos. J o cido propinico preservado para
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biossntese de glicose e galactose para obteno da lactose. A proporo entre os cidos graxos definida
pelo nvel, ou melhor, pela relao entre concentrado e volumoso. Esta relao tambm define a
predominncia de determinados microrganismos e suas rotas metablicas em nvel de ambiente ruminal.
A amplitude de contribuio do acetato na sntese de lipdios de novo no tecido epitelial fica entre
17% - 45% e para o butirato entre 8% - 25%, o restante provm dos prprios cidos graxos presentes na
corrente sangnea.
Alguns subprodutos do acetato e butirato (corpos cetnicos) tambm podem ser utilizados como
precursores da sntese de gordura do leite. importante lembrar que o segundo cido graxo voltil
produzido no rmen, o propionato, utilizado para sntese de lactose, mas inicialmente precisa ser
transformado em glicose no fgado.
A gordura do leite composta em quase toda sua totalidade por triglicerdeos (98% da gordura
total). Esses triglicerdeos so sintetizados nas clulas epiteliais da glndula mamria, sendo que os cidos
graxos que compem esses triglicerdeos podem vir de duas fontes:
(a) a partir de lipdeos do sangue e
(b) pela sntese de novo nas clulas epiteliais.
As gorduras de origem vegetal so altamente insaturadas (deficientes em tomos de hidrognio),
desta forma, quando ingeridas sofrem uma biohidrogenao no rmen, antes de serem absorvidas pela
corrente sangunea. Os triglicerdios so transportados pelo sangue at a glndula mamria, onde sofrem a
quebra em subunidades de glicerol e cidos graxos livres que podem, ento, ser absorvidos pelas clulas
da glndula mamria.
Ocorre uma grande remoo de triglicerdeos da corrente sangunea pela glndula mamria, os
quais so utilizados para a sntese de gordura que ser secretada no leite. Os cidos graxos de cadeia longa
podem ser transferidos diretamente do sangue para a glndula mamaria, mas a maioria dos cidos graxos
encontrados no leite de cadeia curta (menos de 16 carbonos), os quais so sintetizados na superfcie
externa do retculo endoplasmtico liso, ocorrendo, ento a formao de microgotculas de gordura. Com
a fuso de vrias microgotcolas ocorre a formao de vrias gotcolas maiores que so recobertas por uma
bicamada de membrana plasmtica e so secretadas por meio de sua fuso com a membrana apical da
clula epitelial.
Devido a sntese de gordura do leite ser um processo dinmico, mudanas na dieta podem alterar a
proporo entre os cidos graxos para a sntese do leite. Como exemplo, quando so utilizadas grandes
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quantidades de alimentos concentrados, ocorre uma diminuio da proporo de sntese de cido actico
em relao ao cido propinico, o que leva a uma diminuio da sntese total de gordura pela glndula
mamria.
Pesquisas mostram que dietas que produzem uma proporo de AGV no rmen de
aproximadamente 65% de acetato, 20% de propionato e 15% de butirato, iro resultar na produo de leite
com nveis adequados de gordura.
Tabela 1. Composio dos cidos graxos da gordura do leite de vacas holandesas.
cidos graxos % em relao a gordura total Butrico (C4) 2,8 Caprico (C6) 2,3 Caprlico (C8) 1,1 Cprico (C10) 3,0 Lurico (C12) 2,9 Mirstico (C14) 8,9 Palmtico (C16) 24,0 Palmitolico (C16:1) 1,8 Esterico (C18) 13,2 Olico (C18:1) 29,6 Linolico (18:2) 2,1
Fonte: Campbell e Marshall (1975), apud Fonseca e Santos (2000). A glicose sintetizada atravs da neoglicognese no fgado a partir do propionato, aminocidos e
glicerol. A glicose o principal precursor da lactose, contribuindo com cerca de 60 a 70% da sntese da
lactose. O restante da glicose utilizado nas clulas secretoras para a sntese de protena, glicerol ou
outros precursores para sntese de gordura .
A lactose contribui com 50% do volume total de leite devido sua capacidade osmtica, fazendo
com que a gua passe do sangue para o lmen. Cada grama de lactose arrasta dez vezes seu volume em
gua. Desta forma, a enzima lactose sintetase apresenta uma importante funo no controle do volume do
leite. Essa enzima composta de duas subunidades, alfa-lactalbumina e galactosiltransferase, sendo
indicadoras do potencial gentico, em presente estas variaes.
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Tabela 2. Glicdios do leite. Glicdios mg/100mL Lactose 5000 Glicose 14 Galactose 12 Mioinositol 4,5 N-acetilglicosamina 11 cido N-acetilneuramnico 4-5 Oligossacardeos de lactose 0-0,1
Fonte: Homan e Wattiax, (1996), apud Fonseca e Santos (2000). 2.2 Sntese de protenas do leite.
O ruminante supre suas necessidades proticas atravs da protena do alimento ingerido que passa
intacta pela degradao ruminal e digerida como tal pelo sistema digestivo do animal (abomaso e
intestinos) e pela protena microbiana sintetizada a nvel ruminal a partir do NNP, da protena degradvel
da dieta e outros nutrientes.
A fermentao ruminal extremamente importante pois est diretamente ligada produo e
composio do leite.
Os aminocidos e peptdios absorvidos a nvel intestinal sero disponibilizados para snteses de
protenas ou transaminados ou utilizados para sntese de glicose atravs da neoglicognese, sendo formada
a uria por desaminao, a qual secretada pela urina, pelo leite ou reciclada via saliva nos ruminantes.
Para a sntese da protena do leite so utilizados os aminocidos presentes na corrente sangnea
pelas clulas alveolares. As albuminas e imunoglobulinas, por estarem presentes no sangue so
transferidas diretamente para as clulas secretoras da glndula mamria.
O tecido de secreo da glndula mamria em lactao constitudo por 4 lbulos, cada qual
contendo inmeros alvolos. Cada alvolo, por sua vez, contm uma camada simples de clulas secretrias
que secretam o leite para a luz do alvolo. Os precursores do leite entram em cada clula atravs da
membrana basal, enquanto os componentes do leite so ejetados atravs da membrana plasmtica apical.
No retculo endoplasmtico rugoso (RER), rico em ribossomos, ocorre a sntese de polipeptdeos. No
complexo de Golgi, grupos prostticos so adicionados e s protenas so empacotadas com outros
componentes sintetizados para a secreo. Desta forma, so formadas as vesculas secretrias, as quais
contm protenas e outros constituintes no lipdicos. Depois de formadas, estas vesculas se movem para
a regio apical da clula e descarregam o seu contedo na luz do alvolo mamrio.
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A glndula mamria incorpora uma quantidade de aminocidos totais ligeiramente maior que os
que os so secretados formando parte das protenas do leite. Mas esta quase equivalncia no pode ser
aplicada a cada aminocido individualmente. Alguns dos aminocidos essenciais (como metionina e
fenilalanina) se incorporam somente em quantidades suficientes para cumprir a secreo com as protenas
do leite. Outros se incorporam em quantidades em excesso e alguns em quantidades inferiores que as que
se apresentam nas protenas do leite. As clulas mamrias equilibram os aminocidos absorvidos e os
secretam por interconverso de um para outro e por sntese a partir dos intermedirios do ciclo do cido
ctrico e da via glicoltica.
Todas as provas disponveis indicam que as protenas do leite bovino (casena, alfa-lactalbumina e
beta-lactoglobulina) so sintetizadas nos ribossomos do retculo endoplasmtico rugoso por mecanismos
de sntese protica em geral perfeitamente estabelecidos.
As protenas do leite de vrias famlias bovinas apresentam variantes controladas geneticamente
com uma ou mais diferenas na seqncia de aminocidos, como conseqncia de mutaes que tm
ocorrido nos genes durante a histria da espcie.
Tabela 3. Aminocidos essenciais e no-essenciais
para a sntese de protena do leite. Essenciais No-essenciais Metionina Glutamato
Fenilalanina Tirosina Leucina Asparagina Treonina Ornitina
Lisina Aspartato Arginina Alanina
Isoleucina Glutamina Histidina Glicina Valina Serina
Citrulina Fonte: Homan e Wattiax (1996), apud Fonseca e Santos (2000).
Depois da sntese das protenas ocorrem algumas reaes que coletivamente poderiam ser
chamadas processamento ou modificao ps-traducional. As protenas do leite, como as outras
secrees, so sintetizadas com um peptdeo chefe que depois ligado por sintetases especficas. Esse
fenmeno tem sido demonstrado perfeitamente para a alfa-lactalbumina. O peptdeo chefe intervm de
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alguma forma na transferncia da protena, desde o retculo endoplasmtico rugoso at o Complexo de
Golgi.
Outra modificao ps-traducional a fosforilao de certos radicais de serina e treonina da
casena. Esta reao catalisada por proteina-quinases que atuam no Complexo de Golgi. O fosfato
transferido d ATP para a protena formando o grupo -CH2-O-PO3H. Os radicais serila e treonila que
devem fosforilar-se vm determinados pela seqncia de radicais vizinhos. A fosforil-quinase reconhece a
seqncia Ser/Thr-X-Glu/SerP, de tal maneira que o Glu ou SerP proporcionem um stio aninico de
reconhecimento.
A glicosilao das protenas, catalisadas pelas glicosiltransferases, tambm ocorre no Complexo de
Golgi. Primeiro, a N-acetil glicosamina se une por seu C-1 ao nitrognio amdico de um radical asparagil
ou ao oxignio hidroxlico de um radical seril ou treonil. Na continuao, adiciona outras unidades
glicosiladas (galactsil, N-acetilneuraminil) por transferncia desde os acares dos nucleotdeos, para
formar unidades de oligossacardeos unidas na protena.
A kappa-casena do leite de vaca est glicosiladas, bem como uma pequena frao da alfa-
lactalbumina e uma variante rara da beta-lactoglobulina.
Outra modificao ps-traducional a formao de ligao dissulfeto ao interagir os dois radicais
cistenil dentro ou entre as cadeias polipeptdicas. Desconhece-se o stio da clula onde isso ocorre.
Contudo, no se sabe qual dos dois processos oxidativos de ligaes -S-S- catalisado enzimaticamente.
Nos casos onde duas ou mais ligaes -S-S- intramoleculares so possveis, eles so formados entre
radicais cisteinilos.
Evidentemente, a seqncia dirige a dobradura do polipeptdio para que os grupos tiol particulares
se justaponham e possam reagir formando ligaes -S-S-. A alfa-lactalbumina e a beta-lactalbumina so
protenas lcteas com proeminentes e caractersticas ligaes dissulfeto que so de grande importncia ao
determinar estruturas e propriedades.
O controle gentico da biossntese das protenas do leite atestado pelo fato de que o contedo
protico total do leite e as propores das protenas individuais variam algo entre as distintas raas de
vacas. O contedo protico aumenta (mas as propores dos componentes proticos permanecem
constantes) quando se administram dietas ricas em concentrados, uma vez que estas aumentam a
proporo de propionato sobre acetato no rmen e diminuem a produo de gordura lctea. A
administrao de protenas em quantidades maiores do que as necessrias na dieta animal no altera o
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contedo de protenas do leite nem as propores dos componentes, mas aumenta o contedo de
nitrognio no-protico do leite.
As protenas sintetizadas nas clulas mamrias so transportadas para a membrana apical, via
vesculas de Golgi e descarregadas por exocitose no lmen.
As principais imunoglobulinas encontradas no leite de todas as espcies so IgG, IgA e IgM. A
mais importante do colostro e do leite de bovinos a IgG1, mas tambm contm quantidades menores de
IgG2 as quais so sintetizadas por todo o organismo e transportadas pelo sangue at a glndula mamria.
A IgA e a IgM presentes no colostro das vacas, so encontradas em quantidades muito maiores no colostro
do leite de outras espcies, sendo produzidas pelas clulas plasmticas (especificamente linfcitos
ativados) localizado na glndula mamria adjacente ao epitlio secretor. As rotas pelas quais as molculas
de imunoglobulinas chegam ao leite no so suficientemente conhecidas. As provas disponveis sugerem
uma rota de transporte atravs de clulas secretoras que so altamente especficas para cada classe de
imunoglobulina.
Algumas protenas presentes no leite no so sintetizadas na glndula mamria, sendo
transportadas pelo sangue at entrarem no lmen alveolar. A albumina encontrada no leite produzida no
fgado e sua concentrao no leite reflete a concentrao no sangue. As imunoglobulinas so transportadas
para o leite via sangue e vasos linfticos de origem do bao e linfonodos. Linfcitos B produtores de
anticorpos podem se alojar na glndula mamria para auxiliar na sntese de imunoglobulinas do colostro.
Tabela 4. Protenas do soro do leite.
Protena Funo Concentrao (mg/L) -lactalbumina sntese da lactose 700 -lactalbumina 3.000 Albumina 300 Imunoglobulina funo imune 600 Lactoferrina carreador de ferro 18 Ceruloplasmina carreador de cobre Traos Outras enzimas vrias
Fonte: Homan e Wattiax (1996), apud Fonseca e Santos (2000).
A casena representa cerca de 80% da protena presente no leite, sendo secretada pelas clulas
alveolares na forma de micelas, que so agrupamentos molculas de casena ligadas a ons como fosfato
de clcio. Normalmente, a casena no afetada pela pasteurizao, permanecendo estvel. Entretanto,
quando h acidificao (diminuio do pH) do leite ocorre a desestruturao das micelas de casena e
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formao do cogulo. Isto pode ocorrer tambm no leite alcalino como no caso da sndrome do leite
anormal (SILA). As protenas do soro so aquela solveis na gua presente no leite, ao contrrio da
casena que se encontra em suspenso na forma de micelas.
2.3 Minerais no leite.
Embora o leite contenha vrios minerais trao, os principais minerais encontrados no leite so
aqueles necessrios para o desenvolvimento do esqueleto do bezerro. Esses minerais envolvidos no
crescimento dos ossos so principalmente o clcio, o fsforo e, em menor escala, o magnsio. O contedo
desses minerais bastante aumentado no leite quando comparado concentrao sangunea (cerca de 10
vezes mais). Isso se torna possvel, pois o clcio e o fsforo so ligados aos aminocidos das molculas de
casena.
Tabela 5. Concentrao de minerais no leite.
Mineral mg/100mL Concentrao relativa ao sangue Clcio 125 10 Magnsio 12 10 Sdio 58 1/7 Potssio 138 5 Cloro 103 3 Fsforo 96 10 Sulfato 30 - Elementos traos 0,1 -
Fonte: Waghor e Baldwing (1984), apud Fonseca e Santos (2000).
As concentraes de sdio, potssio e cloreto no leite constituem o segundo maior determinante do
volume de gua presente no leite pela presso osmtica desses ons, complementando o efeito da lactose
na determinao do volume de gua presente no leite.
Esto presentes ainda, o alumnio, arsnio, boro, cobalto, cobre, ferro, mangans, molibdnio,
silcio, zinco, bromo, iodo e outros.
2.4 Vitaminas no leite.
As vitaminas so compostos essenciais que so exigidos na dieta. A maioria da vitaminas
hidrossolveis (complexo B), sintetizada pelos microorganismos do rmen e, dessa forma, os nveis de
vitamina do leite refletem os nveis presentes no sangue. As vitaminas lipossolveis (A, D, E e K) esto
associadas aos glbulos de gordura do leite.
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3. Fatores que afetam a composio da gordura e como manipul-los.
So vrios os fatores que influenciam o teor de gordura no leite. A gordura por seu mecanismo de
sntese e sem interferentes o componente de maior variao, oscilando 2 a 3 unidades percentuais.
Conhecer estes fatores, permite interferir ou corrigir eventuais problemas, principalmente os de ordem
nutricional.
Tabela 6. Composio de vitaminas no leite.
Vitaminas mg/L A 0,2 - 0,5 D3 0,1 - 1,0 E 1 - 2 K 0,02 - 0,2 Tiamina (B1) 0,3 Riboflavina (B2) 0,1 - 1 Pirodoxina (B6) 0,3 - 1 Cianocobalamina (B12) 3 - 10 Niacina 0,6 - 1,2 cido Pantatnico 3 - 4 cido Flico 1 - 5 Colina 150 - 250 Biotina 20
Fonte: Trujillo e Lopez (1990), apud Fonseca e Santos (2000).
3.1 Raas (gentica).
A Tabela 7 resume a variao racial da composio de leite, j bastante conhecida.
Tabela 7. Variao da gordura no leite em vrias raas.
Raa % gordura % protena Relao protena/gordura Holands 3,64 3,20 0,88 Jersey 4,73 3,78 0,80 Pardo Suo 4,02 3,56 0,89 Fonte: Carvalho (2000).
3.2 Relao volumoso: concentrado.
Desde a dcada de 1930, sabe-se que o teor de gordura diminui na medida em que o teor de
concentrados se eleva na dieta. A hiptese tradicionalmente empregada para explicar a relao entre
excesso de concentrado e baixa gordura centraliza-se na alterao da proporo de cidos graxos
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produzidos no rmen. O aumento de concentrado eleva a produo de cidos, concorrendo para a reduo
do pH ruminal. Sob pH ruminal menor do que 6,0 a degradao de fibra bastante prejudicada,
diminuindo a produo de cido actico em contraposio ao cido propinico, que aumenta. Sendo o
cido actico o principal precursor da gordura do leite, a sua reduo estaria ento diretamente relacionada
queda da gordura do leite. Dados de pesquisa tm mostrado que a reduo na gordura do leite ocorre
principalmente quando a proporo molar de cido propinico passa de 25% ou a relao
acetato:propionato baixa de 2,2:1.
No entanto, novas teorias tm sido postuladas colocando em dvida esta preposio. A teoria
atualmente mais explorada, a do acmulo de cidos graxos trans (AGT) reduzindo a gordura do leite, ser
abordada mais adiante em detalhes.
A literatura recomenda, de forma geral, que as dietas no contenham mais do que 60% de
concentrados em base seca, sob o risco de reduo de pH ruminal. No entanto, tal recomendao muito
simplista, uma vez que inmeros outros aspectos da dieta afetam a gordura do leite.
Tabela 8. Efeito do teor de concentrado na gordura do leite em
dietas com elevada quantidade de gordura insaturada.
50% de concentrado 80% de
concentrado % de gordura do leite 3,36 2,49 kg de gordura 1,06 0,68
Fonte: Griinari et al., 1998), apud (2000).
3.3 Fibra efetiva.
Fibra efetiva aquela que estimula a ruminao e, com isto, a produo de saliva, sendo
geralmente relacionada ao tamanho de partcula.
Estabelece-se que cerca de 20% das partculas de fibra tenham pelo menos 4 cm de comprimento.
Outras recomendaes de balanceamento sugerem que a dieta no deva conter menos de 21% de FDN
proveniente de forragens, que a ingesto mnima de FDN efetivo seja de 0,9% do peso vivo do animal e o
teor de FDN total deve ser de no mnimo 28% da MS total, sendo 75% deste proveniente de forragens no
muito picadas.
Cerca de 50% ou mais das vacas que esto deitadas devem estar ruminando. Essas vacas
necessitam, em mdia, de 600 minutos de ruminao diria para manter a gordura do leite, resultando em
25 minutos/hora ou 42% do tempo.
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3.4 Tipo de concentrado.
Assim como a efetividade da fibra, tambm importante a proporo de volumosos na dieta. O
tipo (composio) de concentrado mais decisivo do que o teor deste na dieta. Concentrados com elevado
teor de amido tendem a deprimir mais a gordura do leite do que concentrados com elevado teor de fibra
digestvel, por exemplo.
Ainda em relao ao processamento, prticas como a floculao a vapor e o armazenamento na
forma de silagem de gros midos tendem a elevar a taxa de digesto do amido e, com isto, tendem a
deprimir a gordura do leite.
Tabela 9. Extenso da digesto ruminal de vrias fontes de amido.
Ingrediente (gro seco) Extenso da digesto ruminal (%) Aveia 88 a 91 Trigo 88 a 90 Cevada 86 a 88 Tapioca 84 a 86 Batata 82 a 84 Arroz 80 a 82 Milho 75 a 77 Sorgo 66 a 70
Adaptado de Mertens (1992), apud Carvalho (2000).
3.5 Fornecimento de gordura.
A incluso de lipdios ao redor de 5% a 7% na MS da dieta tende a gerar aumento na produo de
leite em funo da elevao no teor de energia da dieta, visto que a gordura 2,25 vezes mais energtica
do que glicdios e protenas.
O fornecimento de gordura insaturada em quantidades semelhantes ou elevadas provoca a reduo
significativa neste parmetro. leos vegetais (leo de soja, milho, girassol, canola) e marinhos (peixe) so
exemplos de gordura altamente insaturada.
A gordura saturada, por sua vez, menos ativa ruminalmente, da o menor efeito na composio do
leite, efeito este que ainda menor no caso das chamadas gorduras protegidas. A gordura protegida recebe
esse nome por estar envolvida por uma capa de protena (formaldedo tratado), que protege a mesma da
degradao ruminal, ou ser constituda por sabes de clcio (alternativa mais comum).
O conceito do efeito da toxicidade de cidos graxos insaturados sobre bactrias celulolticas pode
ser mais bem entendido pela comparao entre o leo de soja e o sebo tratado na Tabela 10.
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Tabela 10. Efeito de diferentes fontes de gordura na produo e composio do leite.
Suplemento % na dieta kg de leite/dia % de gordura % de protena % de lactose Sebo hidrogenado 2,7 + 2,3 -0,37 -0,16 -0,01 leo de soja 2,7 +2,2 -0,86 -0,34 +0,06 cidos graxos livres 3,4 +1,5 +0,1 -0,09 +0,04 Triglicerdeos livres 3,4 +1,8 -0,27 -0,24 +0,02 Triglicerdeos protegidos 4,7 +1,7 -0,40 -0,24 -0,04
Sebo protegido 12 -0,7 +0,71 -0,33 -0,15 Adaptado de Sutton (1989), apud Carvalho (2000). O fornecimento de sementes de soja e algodo, apesar de conter alto teor de cidos graxos
insaturados, apresenta poucos riscos sade ruminal se respeitados os limites de uso. A razo disto que
este leo tem sua taxa de degradao reduzida por estar contido na semente. Por esta razo, recomenda-se
no moer a soja em gro, apenas quebr-la em 3 a 4 partes e fornecer o caroo integralmente.
3.6 Consumo da matria seca e produo de leite.
Bachman (1992) sugere que a ingesto maior de uma dieta corretamente balanceada tende a elevar
a produo de leite sem alterar a composio do mesmo. Para que a proporo de componentes seja
mantida, necessrio que todos os precursores de gordura e protena estejam em propores otimizadas.
Se isto no ocorrer, provvel que o teor de algum componente no se mantenha.
3.7 Aditivos.
H dois tipos de aditivos que afetam a gordura do leite. O primeiro grupo engloba os tamponantes
ou alcalinizantes (bicarbonato de sdio e xido de magnsio, respectivamente). Staples & Lough (1989)
obtiveram aumento de 0,22 unidades percentuais de gordura quando vacas recebendo dietas base de
silagem de milho foram suplementadas com bicarbonato de sdio, ao passo que, em dietas base de
gramneas ou leguminosas tal efeito foi varivel.
O outro grupo de aditivos que afetam a gordura do leite envolve os chamados modificadores
ruminais, dos quais fazem parte a monensina sdica (comercialmente conhecida como Rumensin) e
lasalocida (Taurotec).
Estes aditivos elevam a eficincia da converso de alimento em nutrientes por reduzir as perdas de
metano e gs carbnico. Em contrapartida, h aumento na produo de cido propinico e reduo de
14
actico. Como o acetato precursor da gordura do leite, o fornecimento de monensina ou lasalocida tende
a reduzir o teor percentual de gordura do leite.
O problema de ordem prtica que vacas em incio de lactao tambm so suscetveis acidose
ruminal em funo da elevada produo de leite e alta ingesto de concentrados. inclusive provvel que
hajam vacas com cetose e com acidose em um mesmo rebanho.
3.8 Estao do ano - interao com stress trmico.
Sob stress trmico, a perda de CO2 via respirao maior do que sua produo, levando ao
abaixamento da presso de CO2 (pCO2), refletindo em aumento no pH sanguneo. Este aumento eleva as
perdas de lcalis por via renal, como mecanismo de compensao para manter o pH prximo da
neutralidade. A reduo nos nveis de CO2 e lcalis compromete a reserva de tamponantes da saliva,
podendo gerar menor pH ruminal em animais sob estresse trmico.
Alm disso, sob stress trmico, os animais reduzem voluntariamente o consumo de fibra,
especialmente aquela de qualidade inferior, cuja fermentao ruminal produz calor. A reduo da
porcentagem de fibra na dieta induz diminuio da ruminao e conseqentemente da produo de saliva
que atua como importante tamponante ruminal. Alm disso, o aumento da proporo de concentrado na
dieta ocasionado pelo consumo seletivo, leva ao aumento da proporo de cido propinico em relao ao
cido actico, importante precursor da gordura do leite. Conseqentemente, no stress, por calor, diminui o
teor de gordura no leite.
3.9 Teoria dos cidos graxos trans (AGT) na reduo da gordura do leite.
A baixa gordura pelo fornecimento de leo insaturado ocorria por outras razes que no o perfil de
AGV ruminal.
Em reviso sobre o assunto, Erdman (1996), cita que Davis e Brown (1969) notaram que vacas
alimentadas com dietas que diminuam a gordura do leite, aumentavam a proporo de cidos graxos
C18:1 no leite, principalmente os ismeros trans. Ainda Erdman (1996), lembra que Selner e Schultz
(1980) demonstraram que utilizando gordura vegetal como fonte de cidos graxos trans, ocorria queda na
produo de gordura do leite quando mais de 500 g eram fornecidas. A literatura j apontava tambm que
dietas altas em concentrado que reduziam a gordura no leite poderiam elevar o teor de AGT no leite. Com
15
isto, comeou-se a ventilar a possibilidade de que a presena de AGT no leite seria a causa comum para a
queda na gordura do leite. Restava saber como e porque este AGT era produzido.
cidos graxos trans so conhecidos por serem produzidos por 2 vias. Uma seria atravs da
fermentao ruminal bacteriana (biohidrogenao) e a outra pela hidrogenao qumica de gorduras
vegetais. Sabe-se que a gordura insaturada presente nos alimentos ou fornecida via leo altamente
txica s bactrias celulolticas. O processo de biohidrogenao nada mais do que a atuao de bactrias
ruminais com o intuito de incorporar ons H na gordura, a fim de satur-la. por esta razo inclusive que
os tecidos de animais ruminantes possuem gordura com alto grau de saturao.
Portanto, para que haja reduo na gordura do leite so necessrias 2 situaes:
a) ambiente ruminal alterado pela falta de fibra ou excesso de gros;
b) presena de gordura insaturada na dieta, gerando AGT pela biohidrogenao incompleta.
3.10 Monitoramento a campo.
A Tabela 11 traz um resumo dos aspectos que contribuem para a elevao e reduo dos teores de
gordura no leite. De forma geral, a baixa porcentagem de gordura relaciona-se a dietas alto teor de
concentrados, que conduzem a acidose ruminal. Neste cenrio, geralmente observa-se vacas magras
apesar da alta ingesto de energia, diarrias, consumo flutuante de matria seca, fezes com cheiro cido,
alta incidncia de deslocamento de abomaso (> 3% dos partos), laminite, abcessos no fgado, juntas
inchadas e edemas de bere.
4. Fatores que afetam a protena e sua manipulao.
De uma forma em geral, a estratgia que visam ao aumento das protenas no leite tm como
princpio o maior suprimento de aminocidos na glndula mamria. O potencial para um aumento
relativamente baixo pois a variao percentual varia em apenas 0,4 a 0,6 unidades, no mximo. A
vantagem que as medidas que aumentam o teor de protena, tambm elevam a produo total de leite, o
que j no ocorre com a gordura. O fornecimento de excesso de protena na dieta, normalmente aumenta o
teor de NNP no leite sem alterar o teor de protenas. Certos casos em que a protena est em excesso na
dieta levam a problemas reprodutivos.
4.1 Aminocidos disponveis.
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A sntese de protenas pelas clulas da glndula mamria est relacionado com o suprimento de
aminocidos essenciais. Dentro deste aspecto o aminocido limitante para sntese compromete toda a
cadeia protica, que deveria de ser produzida. Caso este aminocido seja suprido, outro poder a vir a ser
limitante. Como as protenas so compostas por inmeros aminocidos dificilmente se ter uma situao
na qual no haja limitao de algum aminocido. Da a dificuldade da elevao do teor de protenas do
leite.
So considerados aminocido limitantes, a metionina e a lisina, que mantm uma relao de 1:3,
respectivamente. A participao percentual na contribuio destes aminocidos em relao aos demais
aminocidos essenciais de 15% de lisina e 5% de metionina.
Tabela 11. Aspectos que determinam o teor de gordura do leite.
O que aumenta o teor de gordura no leite O que reduz o teor de gordura no leite Baixa produo de leite Alta proporo de concentrados
Alto teor de fibra na dieta (FDN >35%) Baixo teor de FDN efetiva (< de 21%) Perda de peso excessiva no incio da lactao (> 0,9
kg/dia) Alto teor de glicdios no estruturais na dieta
Fornecimento de gordura ruminalmente inerte ou saturada (resposta varivel)
Alimentos muito modos ou de rpida degradao ruminal
Baixo teor de concentrado Subprodutos fibrosos no lugar de volumosos Tamponantes em dietas a base de silagem de milho,
includos entre 0,75 e 1,0% da MS Dietas midas (> 50% de umidade)
Subprodutos fibrosos no lugar de concentrados ricos em amido
Fornecimento de mais de 3,0 kg de concentrados por vez (em rebanhos sem rao completa)
Fornecimento de rao totalmente misturada em comparao ao fornecimento do concentrado
separado do volumoso
Alto teor de gordura insaturada na dieta (> 6 g/100 g de FDA)
Cultura de leveduras (inconsistente) Utilizao de ionforos Manejo de alimentao: espao de cocho suficiente
(0,80 m/vaca), vrios tratos dirios Mudanas bruscas na dieta, sem adaptao prvia
Stress trmico Fonte: Carvalho (2000).
A resposta positiva suplementao protica efetiva quando quantidades adequadas e
balanceadas de aminocidos e que escapam da degradao ruminal, apresentem composio em termos de
aminocidos mais prxima possvel da protena do leite. Nota-se que na Tabela 12 a protena microbiana
possui a composio mais prxima com a protena do leite.
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Usando o conceito de aminocido limitante, fica evidente que cada kg de protena microbiana que
entra no intestino tende a produzir mais protena no leite do que cada kg de protena de outra fonte. Por
esta razo e pelo fato do custo de produo da protena microbiana ser bem inferior as das fontes de
protena no degradveis, geralmente obtidas por tratamentos trmicos ou includas nas protenas animais,
a principal estratgia de produo de produo de protena do leite envolve a maximizao da fermentao
ruminal. Alm disto, quando mais desbalanceada for a fonte de protena no degradvel em relao ao
leite, menos efetivo ser seu fornecimento.
4.2 Maximizao da protena microbiana.
A principal fonte de combustvel para a produo de protena microbiana se d pela ingesto de
glicdios fermentveis, notadamente amido, acares solveis, pectina e fibra digestvel. No entanto, deve-
se ter um adequado suprimento de amnia, peptdeos, aminocidos e outros cofatores sincronizados para o
pleno crescimento microbiano.
Tabela 12. Composio de aminocidos essenciais da protena do leite, protena
microbiana e protenas de alimentos. Fonte Arg His Ile Leu Lis Met Fen Tre Trip Val
g/100g de aminocido Leite 3,7 2,7 6,0 10,0 8,3 2,7 5,3 4,6 1,4 6,7 Protena microbiana 5,1 2,0 5,7 8,1 7,9 2,6 5,1 5,8 4,2 6,2
Silagem de milho 1,7 0,8 2,8 6,5 1,8 0,8 3,0 2,5 - 5,2
Farelo de soja 6,9 2,2 5,1 6,9 5,9 1,3 4,5 3,5 1,4 4,9
Glten de milho (60%) 2,8 1,8 3,4 14,1 1,5 2,8 5,7 3,0 ,04 4,0
Farelo de peixe 4,8 2,1 4,2 7,4 7,0 2,7 3,4 3,5 1,1 5,1
Farelo de sangue 4,8 6,2 0,9 13,4 9,1 0,9 6,7 3,5 1,1 7,9
Cevada 3,9 1,8 3,2 6,2 4,1 1,4 4,8 2,8 1,3 4,8 Fonte: Polan (1992), apud Carvalho (2000).
Neste sentido, quando maior a ingesto de concentrados ou volumoso de elevada qualidade, maior
a produo microbiana e maior a produo de protena microbiana. H de ser ter em mente que esta
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estratgia leva ao aumento da produo de leite tambm. Desta forma, o aumento da % de protena
pequeno, porm havendo uma elevao significativa da quantidade de protena produzida.
Estima-se que para cada 1 MCal de energia lquida h um aumento de 0,015% de protena no leite.
Desta forma, a adio de gros contribuem para um efeito positivo na formao de cido propinico, que
propicia maior formao de aminocidos, especialmente o cido glutmico que um aminocido essencial
limitantes e a prpria elevao do nvel de energia.
Todavia, h um limite na utilizao dos concentrados (gros) em funo da diminuio do pH
ruminal prejudicando o desenvolvimento das bactrias celulolticas e causa a reduo da produo de
protena microbiana.
4.3 Protena no degradvel no rmen e aminocidos protegidos.
A protena no degradvel poder ter efeito positivo desde que seja complementar a protena
microbiana. Se o perfil de aminocidos for inferior ao necessrio para a sntese de protena no leite, o
efeito pode ser negativo.
O uso de aminocidos protegidos ainda incipiente pelo seu custo em relao ao benefcio e de
uma maneira geral no precisa a avaliao do perfil final de aminocidos que chegam a intestino.
4.4 Protena bruta (PB).
Em funo de que cada 1% de PB incrementado no teor de protena na dieta (quando esta tem
entre 9-17%), contribui para 0,02% na protena do leite (50 vezes menos), pode-se dizer que a variao da
PB na dieta afeta muito mais a produo de leite do que sua composio. A protena solvel no rmen
um item importante para dar supor ao crescimento microbiano. Em geral recomendado que 30% da
protena fornecida seja solvel no rmen.
A utilizao de dietas com alto teor de protena , com grande frao de rpida degradao ruminal
sem o adequado suporte de energia faz com que haja um aumento do NNP no leite, o que pode ser aferido
pela presena elevada de uria no leite. O teor de nitrognio urico no leite (MUN) altamente
relacionado com o de uria no sangue que, por sua vez, reflete o excesso de protena degradvel no rmen
ou a falta de glicdios fermentecveis no rmen. A Tabela 13 resume vrias situaes que alteram o valor
normal no MUN (12 mg/dl).
19
4.5 Gordura.
A adio de gordura na dieta geralmente leva a uma reduo no teor de protena do leite em torno
de 0,1 a 0,3 unidades percentuais, ou cerca de 0,07% para cada 450g de gordura adicionada. Uma
explicao encontrada para tal fato que os microrganismos do rmen no so aptos para a utilizao da
gordura como fonte de energia para o seu desenvolvimento, afetando a sntese de protena microbiana e
conseqentemente o fornecimento de aminocidos para a composio da protena do leite. Outras
hipteses so que existe algum tipo de atuao da gordura no transporte de aminocidos para a glndula
mamria, h uma reduo na liberao da somatotropina, o consumo cai e a gordura geralmente substitui
os glicdios no suprimento de energia para o animal, reduzindo o alimento das bactria ruminais. Estas
hiptese so mais consistentes que a primeira, pois a depresso ocorre com todos os tipos de gorduras e
no apenas aquelas ruminalmente ativas (insaturadas).
Tabela 13. Fatores que afetam o valor de MUN. Protena do leite % MUN baixo (18)
< 3,0% Deficincia de protena. Deficincia de protena
solvel e degradvel
Deficincia de protena. Deficincia de CHO
fermentecvel no rmen. Deficincia de aminocidos
essenciais
Excesso de protena. Excesso de protena solvel no
rmen ou degradvel. Deficincia de CHO
fermentecveis no rmen. Desbalano de aminocidos.
> 3,2%
Suprimento adequado de aminocidos.
Deficincia de protena solvel e degradvel.
Excesso de carboidrato ruminal
Balano adequado de aminocidos.
Balano adequado de CHO fermentecveis no rmen
Excesso de protena solvel no rmen ou degradvel. Deficincia de CHO
fermentecveis no rmen.
4.6 Aditivos.
O fornecimento de niacina tm o objetivo de melhorar o balano energtico no incio da lactao,
reduzindo a mobilizao de gordura corporal dos animais e diminuindo, desta forma, o teor de cidos
graxos livres n circulao sangnea. Segundo pesquisadores, a niacina afeta a fermentao ruminal
aumentando a sntese de protena microbiana e reduzindo a concentrao de uria no rmen. Outros
trabalhos comprovam o aumento da produo de protena microbiana (PBM) e produo do propionato,o
que leva a um aumento de dos nveis de glicose sangnea e reduo do risco de cetose.
20
Tabela 14. Efeitos da niacina na produo e composio do leite em dietas com e sem o oferecimento de gordura.
Dieta n de estudos Leite (kg) Gordura (%) Protena (%) Normal 19 +0,76 +0,156 +0,06 Com gordura 5 -0,39 -0,044 +0,10
Adaptado de Hutjens (1992).
A adio de ionforos (monensina e lasalocida, entre outros) maximiza a eficincia de produo de
AGV no rmen, atravs da diminuio de perdas de energia via metano e gs carbnico e aumento da
proporo de propionato (h tambm sobre a seletividade da flora por seqestro do H+ livre). Com o
aumento de propionato aumenta a disponibilidade de alguns aminocidos que favorecem a sntese de
protena do leite. H tambm a reduo da disponibilidade de acetato, o que reduz a gordura do leite e
indiretamente eleva a protena do leite em termos percentuais. H que se conhecer, porm, que tanto no
caso da niacina como no caso dos ionforos, o aumento pequeno.
O fornecimento de somatotropina bovina (bST), est relacionado negativamente com o teor de
protena do leite, em funo de um srie de fatores, entre eles o desbalanceamento na quantidade dos
precursores (aminocidos) em proporo correta, utilizados pela glndula mamria, em comparao a
disponibilidade aumentada de compostos para sntese de lactose e gordura. O fornecimento de bST leva a
um aumento na quantidade de leite fludo produzida, como resultado da sntese de lactose, contendo teores
elevados ou normais de gordura, causando, em contra partida, uma depresso na quantidade de protena
produzida.
4.7 Estao do ano interao com estresse trmico.
Assim como a gordura, sob estresse trmico, a protena tambm tm uma tendncia a reduzir o seu
teor no leite, embora no de forma to drstica.
5. Caractersticas qumicas do leite.
Alguns critrios fsico-qumicos so normalmente utilizados pelas indstrias de laticnios para
avaliar os cuidados dispensados ao leite pelo produtor. Esses critrios so bastante teis para controlar o
rendimento industrial e a qualidade do produto acabado. Entretanto, se utilizado de forma inadequada, tais
critrios podem penalizar injustamente os fornecedores da matria prima, uma vez que tais parmetros so
influenciados no s pelos cuidados dispensados ao leite, mas tambm por caractersticas individuais dos
rebanhos, tipo de alimentao, poca do ano, condies climticas, formas de transporte do leite e outros.
21
Tabela 15. Aspectos que determinam o teor de protena no leite.
O que aumenta o teor de protena no leite O que diminui o teor de protena no leite Dietas com gordura abaixo de 2,5% Falta de glicdios no estruturais na dieta (< 35%)
Dietas com gordura 0,4 unidades abaixo da protena Falta de protena solvel (< 30% da PB) Baixa produo Falta de protena degradvel (
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Tabela 17. Variaes na acidez titulvel no leite de diferentes raas. Acidez titulvel (graus Dornic) Raa nde amostras Mdia Amplitude
Holandesa 297 16,1 10-28 Ayrshire 229 16,4 8-24 Guernsey 153 17,2 12-30 Jersey 132 17,9 10-24
Tabela 18. Efeito da variao na concentrao de CO2 sobre o pH e a
acidez titulvel no leite. Tratamento Descarbonatado Controle Carbonatado
CO2 (mg/L) 0 109 210 pH 6,61 6,49 6,35
Acidez titulvel (graus Dornic) 14,6 16,7 19,8
5.2 Ponto de congelamento.
Julius Hortvet, foi o primeiro a utilizar a avaliao da temperatura de congelamento do leite para
detectar fraudes por adio de gua.
Pela legislao brasileira vigente, considerado normal o leite que apresentar ponto de
congelamento entre -0,530 e -0,560 graus Hortvet.
Graus centgrados= 0,96418 * graus Hortvet + 0,00085.
Graus Hortvet= 1,03711 * graus centgrados 0,00085.
Tabela 19. Contribuio dos componentes do leite responsveis pelo seu ponto de congelamento.
Ponto de congelamento Componentes Em graus Hortvet Em % Lactose -0,309 57,2 Cloretos -0,111 20,6 Citrato -0,036 6,7 cido ltico -0,031 5,7 Outros -0,053 9,8 Total -0,540 100
Fatores no fraudulentos que afetam o ponto de congelamento: gentica e produo, estgio de
lactao, idade do animal, estado fisiolgico, momento da ordenha, intervalo ordenha a anlise, nutrio,
sanidade, estresse calrico, tipo de transporte, tamanho do rebanho.
23
6. Sndrome do leite anormal.
A sndrome do leite anormal caracteriza-se por um conjunto de alteraes na composio do leite
ou as mudanas de alguma caracterstica qumica que afete sua qualidade (Ceballo, 2000).
Os diversos estudos desenvolvidos at a atualidade permitem estabelecer com clareza as
concentraes mdias e a taxa de variao dos componentes lcteos na presena da sndrome (SILA). A
conformao do critrio da SILA leva em conta as especificaes mnimas da qualidade do leite cru
estabelecidas internacionalmente e no prprio pas, assim como, a experincia precedente da qualidade do
leite, associada por um lado aos sistemas de alimentao e, por outro, com a freqente apario de
problemas de baixo teor de slidos e densidade no leite cru e alteraes no tratamento trmico do leite.
Para uma melhor interpretao estabelecem-se os indicadores mais sensveis e suas possveis
associaes aos transtornos mais comuns (vide Tabela).
Tabela 20. Alterao dos indicadores do leite na SILA.
Indicador Valor mdio Variao SILA Acidez (% cido lctico) 0,145 0,10 - 0,18 6,74 Prova lcool (70% v/v) Neg. Neg. - Pos. DP a Pos Densidade (g/ml) 1,0295 1,026 - 1,032
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na qualidade do leite, sendo que o mesmo tambm pode ocorrer com outras fontes de alimentao com
alto nvel de glicdios de fcil fermentao e baixo contedo de protenas, ou vice-versa, o que foi
comprovado por Ponce (1996).
Tabela 21. Indicadores de alteraes na composio do leite e a alterao relacionada. Indicador de alarme Tipo de alterao Densidade, protena, lactose Depresso nos slidos Acidez titulvel, pH Alterao na capacidade tamponante Prova do lcool Alterao na estabilidade trmica Clcio, fsforo e magnsio Alterao no equilbrio mineral Casena, relao casena/protena, NNP Alterao nos processos/qualidade de produtos
No Rio Grande do Sul verifica-se uma sndrome de leite anormal caracterizada pela baixa
estabilidade da protena ao teste do lcool e, em muitos casos, o leite apresenta reao positiva a acidez
pela alizarina e tambm, a acidez em graus Dornic, o que difere da SILA que ocorre no caso cubano.
Estudos conduzidos para determinar os fatores relacionados estabilidade da protena do leite
verificam que, o aumento da concentrao de ons clcio (clcio livre) associado com a elevao da
acidez influenciam marcadamente a estabilidade, sendo retardado com a adio de ons fosfato e do
citrato. Por sua vez, os testes de estabilidade em lcool e ao calor no so testes confiveis ou
merecedores de confiana. A ao do lcool tem sido atribuda como desidratante e desnaturante, mas no
h evidncias a este ttulo. A estabilidade do leite a prova do lcool em relao ao pH possui um
comportamento sigmoidal.
7. Bibliografia. CARVALHO, M. P. de. Manipulando a composio do leite: gordura. 1 Curso online sobre qualidade do
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RODRIGUES, P. H. M. Fatores no microbiolgicos afetando acidez do leite e outras caractersticas. 1 Curso online sobre qualidade do leite. Milkpoint. 2000. 16p.
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VAN SOEST, P. J. Nutritional Ecology of the Ruminant. Cornell University Press. Ithaca and London. 1994. p271.
YOUNG, C. P. Relatrio de estgio em alimentos. Pontifcia Universidade Catlica do Paran. Curitiba. 1995. 40p.
WONG, N. P. Fundamentals of Dairy Chemistry. 30a Ed. New York: Van Nostrand Runhold Company. 1988. 346p.