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EXPERIENCIANDO A SEQUÊNCIA DIDÁTICA NO GÊNERO DE TEXTO CONTO FANTÁSTICO
Autora: Donatília duzolina Rocha de Paula 1 Orientador: Antonio Carlos Aleixo 2
Resumo
Este artigo apresenta o procedimento metodológico Sequência Didática como uma
possibilidade para o desenvolvimento das práticas discursivas de oralidade, leitura e
escrita, numa experiência realizada com 45 alunos do 8º ano, do Colégio Estadual
de Campo Mourão. Este trabalho também expõe e analisa alguma produção dos
teóricos que o fundamentam : conceitos do ISD, do Interacionismo Sociodiscursivo.
Bronckart (2007),da teoria dos Gêneros Discursivos, Bakhtin (2003),da teoria
Histórico-Cultural , Vigotski (2009),e de estudos sobre Sequência Didática, Dolz,
Noverraz & Schnewly (2004). Torna-se importante destacar que o ensino do gênero
de texto Conto Fantástico, focaliza a leitura dos mini contos de Marina Colasanti,
tecendo atividades de linguagem e propondo a leitura como atividade
transformadora e emancipadora. O trabalho também apresenta fundamentos em
Rodrigues (1988) e Todorov (1992) para o ensino das nuances e características
que permeiam o Conto fantástico, tornando a compreensão desse gênero de texto
acessível aos estudantes em atividades desenvolvidas a partir da leitura e análise
de textos de Marina Colasanti e abordagens menores sobre outros autores . O
artigo destaca a relevância do trabalho interativo (ou dialógico), cumprindo a
finalidade de contribuir na resposta às necessidades de formação intelectual e à
aquisição de conhecimentos que favoreçam a transformação social de todos os
sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem.
Palavras- Chave: Sequência Didática; gênero de texto Conto Fantástico; leitura.
Professora da Rede Publica Estadual do Estado do Parana, Especialista em educação Especial,graduada em Letras pela UEM. E-mail: [email protected]
2 Professor Assistente do Departamento de Letras da FECILCAM, Mestre de Estudos Literários pelaUNESP, Campus de Araraquara. E-mail:[email protected]
2
2.Introdução
Este trabalho, decorre da observação participativa do processo de
aprendizagem de alunos de um oitavo ano em sala de aula, analisa as dificuldades
na interação professor/aluno e os procedimentos metodológicos que interferem nos
resultados de apreensão dos conteúdos. Intenciona, assim, discutir a metodologia
Sequência Didática para o ensino do gênero de texto Conto Fantástico, buscando
comprovar a sua efetividade nas atividades didáticas, observando se oferece
melhor aproveitamento na formação de leitores, se contribui para que os
estudantes sejam capazes de avançar na leitura de textos dos níveis inteligível e
compreensível, para o alcance do nível interpretável,se favorece a compreensão
das relações implícitas entre enunciado e enunciação; com o intuito de fomentar a
leitura e o estudo de obras literárias de maior complexidade .
É importante destacar que estudantes das séries finais do Ensino
Fundamental1 apresentam dificuldades de leitura compreensiva, de gêneros de
textos, conforme relatos coletados em Conselhos de Classe e Reuniões
Pedagógicas, onde são apresentadas aos professores estatísticas sobre o baixo
desempenho dos estudantes na área de Língua Portuguesa, evidenciando a
necessidade de intervenções pedagógicas com vistas a diminuir a evasão e a
repetência ocasionadas por esse problema
Dado o exposto, justifica-se um trabalho com base no método Histórico-
Dialético e em metodologias e concepções do Interacionismo Social e sua relação
com a linguagem (BRONCKART, 2007), a ser desenvolvido em forma de
Sequência Didática ( DOLZ, NOVERRAZ & SCHNEUWLY, 2004), que, por serem
inovadores e colocarem o professor e o aluno num plano dialógico, abririam
perspectivas para o desenvolvimento integral do educando. Este procedimento
metodológico consiste na organização dos momentos significativos que orientam
para o processo de ensino de um determinado gênero, ensinando a planejar as
atividades em diferentes etapas, conforme demonstra o esquema abaixo, criado
pelos referidos autores:
3
Apresentação
dasituação
Produção
inicial
Módulo I Módulo II Módulo III Produção
final
Apresentação da situação:
Momento em que se constrói a representação do gênero, percebendo os conhecimentos que o aluno possui sobre ele, trazendo informações sobre o produtor, o destinatário, suportes em que circula, sobre a sua importância e, principalmente, construindo um objetivo final para esse estudo com os alunos (um encontro literário, uma apresentação, postagem em blog ou similar, coletânea, entre outras possibilidades). Ainda neste momento, pode-se trazer um texto do gênero pretendido para discussão e reconhecimento do gênero pelos estudantes.
Produção inicial:
Nessa etapa, o aluno elabora o primeiro texto, evidenciando ao professor as suas representações do gênero. A primeira produção fornece os subsídios necessários para a elaboração dos módulos, visando a que o aluno domine o gênero.
Módulos:
Nessa fase são mobilizadas as três capacidades de linguagem para a leitura e/ou produção:
a. Capacidade de ação: mobiliza os seguintes conhecimentos: representação do contexto físico, representação/interação comunicativa e conhecimento de mundo - conforme se depreende do trecho abaixo:
b. Capacidade discursiva: essa capacidade considera como o falante/produtor mobiliza modelos discursivos essenciais para a compreensão e/ou produção de um texto. Assim, as atividades discursivas elaboradas pelo professor devem considerar a infraestrutura geral do texto, os tipos de discurso e as sequências que o constituem.
c. Capacidade Linguístico-discursiva: prende-se à arquitetura interna dos textos e considera quatro aspectos: a operação de textualização: (conexão, coesão verbal e nominal); vozes enunciativas: diferentes vozes presentes nos textos – autor, narrador, personagem; outros; operação de construção de enunciados e as escolhas lexicais.
Produção final:
4
É a etapa quando o aluno elabora a reescrita final do seu primeiro texto, incorporando a ele as modificações,apreendidas durante a aplicação dos módulos, que julgar necessárias, para melhor adequá-lo ao gênero de texto estudado.
3. Fundamentação teórica
Ao considerar os seres humanos como sujeitos históricos que utilizam a
linguagem como instrumento de interação para construir novas realidades _ este
trabalho busca fundamentos sobre os Gêneros Discursivos (BAKHTIN, 2003), o
método Histórico-Cultural (VIGOTSKI, 2009), o Interacionismo Sociodiscursivo
(BRONCKART, 2007) e na Sequência Didática (DOLZ & SCHNEUWLY, 2004) e
(NASCIMENTO, 2009), com o objetivo de auxiliar os estudantes a desenvolverem
as capacidades de ação, discursivas e linguístico-discursivas; condições
necessárias para o ensino do gênero de texto "Conto fantástico", considerando o
contexto sócio-subjetivo de produção, o plano discursivo e as características
próprias do gênero.
Para alcançar esse objetivo, considera-se que a linguagem será dialógica e
considerará as diferenças histórico-sociais, para, assim, desenvolver a capacidade
comunicativa dos alunos.
(...) O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados orais e escritos, concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo temático, quer pelo estilo de linguagem, ou seja, pela seleção de recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas acima de tudo, por sua construção composicional.(BAKHTIN, 2003, p.261)
O excerto orienta para uma prática docente centrada em análise minuciosa do
gênero de texto empírico. Dessa forma, o trabalho docente evidencia ao aluno a
percepção de que os gêneros discursivos não se esgotam, sofrem constante
atualização, são carregados de ideologia e permeiam a realidade.
Bakhtin diferencia esses gêneros discursivos em primários (produzidos em
condições de comunicação discursiva, advindos de situações cotidianas) e
secundários (aqueles que decorrem de um maior desenvolvimento cultural, podendo
ser reelaborados a partir dos gêneros primários).
5
Para ele, incluindo-se a posição que assumimos, os gêneros literários mais
adequados para refletir a individualidade do falante estão no âmbito da literatura de
ficção - fator relevante para o projeto que intenciona explorar o aspecto ficcional e
objetiva ensinar noções de estilística.
Dessa forma, parece oportuno citar o trabalho de Rodrigues sobre o gênero
de texto Fantástico, onde a autora explicita sobre a origem do termo fantástico
provindo do termo latino “ phantasticu”, oriundo do grego “phantastikós”, derivados
ambos de “phantasia”, que, ainda segundo Rodrigues: “… aplica-se, portanto,
melhor a um fenômeno de caráter artístico, como é a literatura,cujo universo é
sempre ficcional por excelência, por mais que se queira aproximá-lo do real”, (1988,
p.9).
Outro estudioso desse gênero de texto, Todorov (1992), faz referência à
necessidade de normas para nomear textos como fantásticos e também para
analisá-los. Dentre essas regras, considera que a literatura fantástica implica numa
integração do leitor no mundo das personagens, que deve ser percebido como um
universo de criaturas vivas, onde os acontecimentos fazem o leitor hesitar entre uma
explicação natural ou sobrenatural para os acontecimentos (o efeito do fantástico é
criado por essa hesitação), podendo essa incerteza ser experimentada também
pelas personagens. Ainda se percebe que o texto fantástico é permeado pela
ambiguidade que, geralmente, torna-se expressa pelo uso de modalizações e do
pretérito imperfeito.
De acordo com estudos do referido autor, há subgrupos desse gênero de
texto: estranho puro, maravilhoso puro, fantástico estranho, fantástico-maravilhoso e
fantástico puro; essas variações decorrem de características peculiares, embora
todo fantástico esteja ligado à ficção e ao sentido literal.
Para a consecução do Projeto que desenvolvemos, consideram-se também
aspectos da teoria Histórico-Cultural de Vigotski (2009), em abordagem apontada
por Tuleski, a qual analisa a formação das funções superiores:
Ele demonstra quanto o pensamento verbal opera um salto qualitativo de todas as demais funções. Esta forma de pensamento, que tem seu auge na formação de conceitos ou pensamento generalizante, o qual se estrutura por volta da adolescência é o responsável pela intelectualização de todas as funções e domínio da própria conduta.
( TULESKI 2008, p.156-157)
6
No trecho, a autora destaca que o uso funcional das palavras e outros signos
está relacionado a capacidades como: atenção, representação, inferência, abstração
e síntese . Porém, o pensamento verbal constitui-se no processo final e globalizante
de todas elas. Por essa razão, torna-se necessário elaborar atividades para
desenvolver essas funções na Escola, considerada espaço fundamental para o
desenvolvimento das funções humanas superiores , para a apropriação da cultura
acumulada através das gerações e também veicular uma Educação que, segundo
Duarte, (2004), " produza necessidades cada vez mais elevadas nos estudantes".
Ainda, num aprofundamento sobre a teoria de Vigotski, a unidade entre o
pensamento e a linguagem reside no significado da palavra e esse significado
consiste numa generalização ou conceito _ "é a unidade da palavra com o
pensamento", (2009, p.398).
Para o autor, o ponto máximo dessa descoberta consiste na capacidade de os
significados se desenvolverem - conceito em oposição àquele estabelecido pelas
teorias anteriores as quais consideravam o pensamento como espiritual, dissociado
da linguagem. Também de acordo com o psicólogo "o desenvolvimento semântico
ocorre do todo para a parte, da oração para a palavra, ao passo que o aspecto
externo transcorre da parte para o todo, da palavra para a oração.”
Assim, respectivamente, coexistem o aspecto semântico interior e o aspecto
físico e sonoro exterior, podendo ser avaliadas disparidades entre eles,
principalmente, através de conceitos gramaticais. Esse conhecimento permite ao
professor atuar de forma significativa na ampliação do léxico dos estudantes por
meio de atividades associativas.
Na mesma vertente, entende-se que o Interacionismo Sociodiscursivo
(BRONCKART, 2007, p.13), contribui para o ensino ao considerar "as ações
humanas como ações significantes, ou como "ações situadas", cujas propriedades
estruturais e funcionais são, antes de mais nada, um produto da sua atualização." _
dado que é nesse âmbito que a consciência humana e as capacidades mentais são
elaboradas através de ações da linguagem, fatos que direcionam para o estudo da
linguagem nas dimensões discursivas e /ou textuais.
Para Bronckart, o Interacionismo Sociodiscursivo corresponde a uma posição
epistemológica geral que engloba correntes da filosofia e das ciências humanas que
partilham o conceito de que é o processo histórico de socialização que determina as
condutas humanas pela emergência ou pelos instrumentos semióticos. Interessa
para o desenvolvimento de Projeto, o conhecimento do sentido dialético do
7
desenvolvimento da atividade humana que se realiza através da linguagem e da
cooperação social _"o agir comunicativo" (Habermas), possibilitando um novo olhar
sobre a prática pedagógica que se exige atualizada, dialógica, reflexiva e crítica e a
caracterização do texto como qualquer produção de linguagem "situada, acabada e
auto-suficiente do ponto de vista da comunicação", bem como as condições de
produção e o conteúdo temático; a ação da linguagem (oral e escrita) e o
empréstimo do intertexto; nos mundos discursivos e tipos psicológicos e
mecanismos de textualização.
Dado o exposto, os autores da linha teórica do ISD afirmam ser adequado
elaborar as atividades de linguagem na forma de Sequência Didática, objetivando
uma prática transformadora:
Dados empíricos corroboram a nossa tese de que esse dispositivo didático contribui para uma conscientização à necessidade de repensar o ensino e a aprendizagem da escrita em uma perspectiva que ultrapassa a decodificação de fonemas, grafemas, sintagmas, frase, indo em direção ao letramento (que implica a aquisição da leitura e escrita).
NASCIMENTO (2009, p.68) :
Assim, o desenvolvimento da sequência didática com ênfase na leitura,
objetivaria elevar a capacidade compreensiva do aluno para além da simples
decodificação, da relação mecânica entre o autor e o literário, ampliando o
conhecimento de sentidos mais profundos contidos nos textos e também das
ideologias que os permeiam, possibilitando, dessa maneira, uma leitura crítica,
reflexiva e também emancipadora.
Considerando o exposto, este trabalho relata e teoriza discutindo as
atividades pedagógicas com o gênero de texto Conto Fantástico, desenvolvido a
partir de textos de Marina Colasanti e construído coletivamente e de maneira
dialética, valorizando o conhecimento do aluno e estabelecendo mediação, de forma
ativa, para que ocorra a aprendizagem do conhecimento científico.
4. Metodologia
O Projeto teve base no método Histórico-Dialético, objetivando o ensino do
gênero de texto Conto Fantástico a alunos de oitavo ano do Colégio Estadual de
Campo Mourão, numa adaptação da metodologia denominada Sequência Didática,
8
fundamentada em Dolz, Noverraz & Schnewly (2004) e Nascimento (2009), por meio
do encadeamento das seguintes estratégias de ação:
Identificação de um problema nas aulas de Língua Portuguesa, procurando
abordá-lo através de uma proposta pedagógica em sintonia com os pressupostos
teóricos das DCE de Língua Portuguesa (2008); reconhecimento dos sujeitos da
pesquisa em documentos da Escola (ficha individual do aluno, análise de notas);
produção de texto; definindo-se a elaboração de Sequência Didática a partir de
gênero de texto complexo para alunos de 8° ano, do Ensino Fundamental, visando
desenvolver as capacidades de ação, capacidade discursiva e linguístico-discursiva;
finalizando com a avaliação das práticas realizadas e dos resultados obtidos na
produção deste artigo científico.
5. Análise dos dados
O processo de construção desse trabalho teve início em agosto de 2010 com
encontros de orientação, definição do projeto, a realização de pesquisa bibliográfica
e a realização do Projeto de Implementação Pedagógica __ passos concluídos em
dezembro do mesmo ano.
Numa segunda etapa, houve a revisão bibliográfica e orientação para a
Produção Didático-Pedagógica, no período que se estendeu de fevereiro a julho de
2011.
Na terceira etapa, sob supervisão do Professor Orientador, de agosto a
setembro, realizou-se a intervenção pedagógica na escola e ainda o Grupo de
Trabalho em Rede (GTR) que transcorreu de outubro a novembro de 2011.
Apresentada a dimensão que situa historicamente a pesquisa e a sua
aplicação, algumas considerações acerca da proposta didático-pedagógica se fazem
necessárias, assim como também se faz necessário traçar o direcionamento, o
objetivo que a atividade pretende alcançar e discutir.
Para esse fim, considerou-se a seguinte pergunta; Qual seria a metodologia
de trabalho mais adequada para a consecução de atividades didáticas que
pudessem oferecer melhor aproveitamento na formação de leitores?
Como possibilidade de resposta, a metodologia da Sequência Didática
(DOLZ, NOVERRAZ & SCHNEWLY, 2004) vem apontando resultados bastante
9
significativos já demonstrados por vários autores: Cristóvão (2008), Nascimento
(2009), apenas considerando nomes paranaenses.
No fazer pedagógico, segundo o procedimento da Sequência Didática, o
professor se apóia nos gêneros discursivos de Bakhtin (2003), na teoria Histórico-
Cultural de Vigotski (2009), nos conceitos do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD),
de Bronckart (2007) e na metodologia da Sequência Didática, proposta por Dolz,
noverraz & Schnewly (2004).
Este artigo descreve as ações de linguagem desenvolvidas a partir dos
autores citados e inicia-se considerando o esquema apresentado por Dolz, Noverraz
& Schnewly (2004, p.98):
Apresentaçãodasituação
Produção
inicial
Módulo I Módulo II Módulo III Produção
final
A partir desse esquema, os autores oferecem referências claras para que
o professor organize as suas atividades didáticas.
. Um trabalho organizado em forma de Sequência Didática propõe o ensino
visando ao domínio de gêneros que sejam adequados e relevantes para cada ano
ou série escolar.
Assim este artigo pretende discutir o processo de aplicação e os resultados
obtidos com a implementação de uma Sequência Didática fundamentada no Conto
Fantástico que teve seu desenvolvimento pautado nas orientações propostas por
Dolz, Noverraz & Schnewly. Após selecionar o gênero de texto a ser trabalhado,
fez-se um estudo sobre o mesmo, iniciando-se a elaboração da Sequência Didática,
elaborando as atividades adequadas para cada uma de suas etapas, na sguinte
ordem:
10
Apresentação da situação:
Momento em que se constrói a representação do gênero, percebendo os
conhecimentos que o aluno possui sobre ele, trazendo informações sobre o
produtor, o destinatário, suportes em que circula, estudo de um ou mais textos do
gênero pretendido para discussão e reconhecimento do gênero pelos estudantes
sobre a sua importância e, principalmente, construindo um objetivo final para esse
estudo com os alunos (um encontro literário, uma apresentação, postagem em blog
ou similar, coletânea, entre outras possibilidades.
Nessa primeira etapa, o professor levou o gênero de texto Conto Fantástico
para discussão com os alunos, aferindo os conhecimentos reais que apresentavam
sobre o assunto através de questionamentos. Nesse momento de interação, os
alunos expressaram suas opiniões sobre como percebem esse gênero, narraram
textos fantásticos de seu repertório, foram tecidos comentários sobre os meios de
suporte desses textos, a quem se dirigem, a percepção da intertextualidade, da
finalidade, a forma e espaços em que circulam socialmente e quais temas são
frequentes nesse gênero de texto.
Dentro desse contexto, os estudantes foram motivados a definir um objetivo
para o estudo a ser realizado e optaram pela dramatização dos contos a serem
produzidos por eles.
Para finalizar, o professor explicou que os estudos sobre literatura fantástica,
versariam sobre textos de Marina Colasanti, em sua maioria retirados do livro
“Contos de amor rasgados”, publicado no ano de 1986, e também incluiu nessa
etapa material biográfico, a leitura de trechos do livro "Minha Guerra alheia", da
referida autora, oferecendo ainda outras pesquisas que permitiram ampliar o
contexto de produção dos textos para os estudantes. Na sequência, procedeu-se à
leitura e estudo de um dos contos da autora.
Produção inicial:
Nessa etapa, os alunos elaboraram o primeiro texto, evidenciando ao
professor as suas representações do gênero. Torna-se válido ressaltar que a
primeira produção forneceu os subsídios necessários para a elaboração dos
módulos visando ao domínio do gênero pelos estudantes.
11
Para Nascimento (2009) e também para Dolz, Noverraz & Schnewly (2004), a
primeira produção consiste num grande momento da sequência, pois a partir dela
serão levantadas as dificuldades discursivas e linguístico-discursivas dos
estudantes, diagnosticando, assim, a zona de desenvolvimento real dos mesmos.
Com base no exposto, observou-se durante a análise da Primeira Produção
do gênero de texto Conto Fantástico,que, num universo de 45 alunos, 25 estudantes
produziram textos adequados ao gênero, 14 distanciaram-se completamente do
gênero de texto proposto e 6 alunos deixaram de realizar a primeira produção por
estarem ausentes ou não desejar fazê-lo naquele momento. No que se refere à
produção escrita foram percebidos problemas relevantes para a elaboração dos
módulos da SD:
•Textos muito próximos da oralidade;
• Ausência de características próprias do gênero;
•Uso de mecanismos inadequados de conexão;
•Uso indevido da coesão verbal e nominal;
•Léxico reduzido;
•Dificuldades ortográficas.
Considerando esse levantamento de dados, o professor pesquisou atividades
para auxiliar os alunos a desenvolverem as práticas discursivas visando ao
domínio do gênero de texto Conto Fantástico.
Após a referida análise dos textos, o professor devolveu os originais aos
alunos com os comentários que se fizeram necessários, retendo cópias dos
mesmos. A partir desse momento os estudantes deram início às atividades
propostas, orientados para aperfeiçoar ou produzir (aqueles que deixaram de fazê-
lo) os contos durante o processo de aplicação da SD.
Módulos:
Nessa fase, conforme já afirmamos anteriormente, foram mobilizadas as três
capacidades de linguagem para a leitura e/ou produção:
12
a. Capacidade de ação: mobiliza os seguintes conhecimentos: representação
do contexto físico, representação/interação comunicativa e conhecimento de mundo
- conforme se depreende do trecho abaixo:
(...) refere-se à adaptação das características do contexto e de seu contexto referencial. Envolve as situações de interação de uso da linguagem no contexto compartilhado pelos falantes, permitindo que eles adaptem sua produção de linguagem às situações de comunicação e às características do contexto.”
(DOLZ & SCHNEWLY, 1998,p.77)
b. Capacidade discursiva: essa capacidade considera como o falante/produtor
mobiliza modelos discursivos essenciais para a compreensão e/ou produção de um
texto. Assim, as atividades discursivas elaboradas pelo professor devem considerar
a infraestrutura geral do texto, os tipos de discurso e as sequências que o
constituem, ensinando o aluno a :
• Perceber a organização do texto;
• Reconhecer as diferentes configurações gráficas presentes nos textos;
• Notar características que aproximam ou distanciam o autor do leitor;
• Diferenciar textos pela sua organização.
c. Capacidade Linguístico-discursiva: prende-se à arquitetura interna dos textos e
consideram quatro aspectos:
• Operação de textualização: (conexão, coesão verbal e nominal);
• Vozes enunciativas: diferentes vozes presentes nos textos – (autor, narrador,
personagem; outros).
• Operação de construção de enunciados;
• Escolhas lexicais.
Para minimizar dificuldades apresentadas pelos alunos, foram trabalhados
problemas enunciativos, textuais, linguísticos e relativos ao domínio da escrita,
buscando no desenvolvimento dos alunos através de atividades que estimulassem
as capacidades humanas superiores: atenção, representação, inferência, abstração
e síntese.
Com esse objetivo foram desencadeadas ações de ensino que privilegiaram
os seguintes conteúdos:
•Níveis de leitura: inteligível, interpretável, compreensível;
13
•Elementos do contexto de produção: função social do gênero, locutor,
intencionalidade, informatividade, destinatário, suporte, assunto, tema;
•Tipo discursivo textual dominante (narração);
•Sequências: descritiva, narrativa;
•Os tipos de discurso: direto, direto livre, indireto, indireto livre;
•Mecanismo de coesão por conexão e coesão verbal e nominal;
•Operadores argumentativos;
•Pontuação e paragrafação;
•Ortografia;
•Vozes enunciativas: (diferentes vozes presentes nos textos – autor, narrador,
personagem; outros);
• Operação de construção de enunciados;
• Escolhas lexicais.
Assim, procurou-se contemplar as práticas discursivas: oralidade, leitura e
escrita, desenvolvendo módulos de atividades que privilegiassem as capacidades:
de ação, discursiva e linguístico-discursiva.
Para alcançar o referido objetivo, o Módulo 1 contemplou o estudo de
elementos enunciativos e expressivos presentes no conto " Enquanto o cão espia",
de Marina Colasanti. Foram efetivados estudos sobre o autor empírico do texto, o
espaço social ocupado por ele, o percurso histórico do texto até chegar à sala de
aula. Considerou-se também o mundo do narrar, a presença do narrador-
personagem do conto, a percepção de outras possíveis vozes presentes na
narrativa; destacou-se também a função dos adjetivos no texto e, finalmente as
marcas do fantástico presentes no conto.
No Módulo 2 foram explorados os níveis de leitura,Orlandi (1988):
Para a autora, o sujeito leitor se relaciona com o texto de forma ativa , pois
trata-se de um ser histórico e se relaciona com o texto a partir do seu conhecimento
de mundo. Para esse estudo, partiu-se de um estudo em nível denotativo e
interpretável do texto "Enfim, um indivíduo de ideias abertas", analisando os
elementos da narrativa (situação inicial, problema, ações, resolução e situação
final),avançou-se para o nível compreensível percebendo as relações entre o
autor/leitor/texto, percebendo as metáforas presentes no conto.
14
Em relação ao Módulo 3, optou-se por detalhar o mundo discursivo do narrar,
introduzindo contos de outros autores do gênero fantástico: Franz Kafka, Murilo
Rubião, Edgar Allan Poe, Juan Rulfo, José J. Veiga, entre outros, realizando na sala,
um Circuito de Leitura, abrindo espaço para comentários, dramatizações e reflexões
acerca dos textos lidos.
Teceram-se explicações acerca dos textos considerados como discursos e
a importância de serem compreendidos e relacionados às condições de produção,
aos mundos dos quais procedem: subjetivo, físico ou social, destacando que ao
interagir, os seres humanos utilizam formas do narrar ou do expor. Intencionou-se
também explicar que o mundo discursivo representa o mundo virtual que é
constituído pela atividade de linguagem oral ou escrita e está relacionado ao mundo
ordinário onde se desenvolvem as ações humanas, criando um efeito de
verossimilhança. Ainda reforçando esses conceitos, estudou-se o conto "A quem
interessar possa", de Marina Colasanti.
Cabe destacar o comentário de uma aluna sobre a atividade:
“A atividade no geral foi muito boa, foi interessante poder comentar sobre textos
legais e diferentes, de autores muito bom. Embora não tenha explicado como todo mundo,
mais por vergonha, achei que foi divertido saber o que as outras pessoas leram e
entenderam”.
Fica explícito que os estudantes apreciam atividades nas quais possam
interagir com os colegas de maneira mais livre. Essas atividades permitem o
“desbloqueio” dos alunos, eles se soltam e se tornam mais confiantes ao expor as
suas opiniões sobre o tema.
A questão da intertextualidade e a infraestrutura geral do texto foram temas
abordados no Módulo 4. A intertextualidade foi retomada a partir de uma oficina
realizada sobre os filme "Os Irmãos Grimm", onde os alunos discutiram os
acontecimentos que permeiam a narrativa, perceberam outras histórias dentro da
história principal e ainda os subgêneros do fantástico: fantástico estranho, fantástico
maravilhoso, estranho puro, maravilhoso puro __ampliando, dessa forma, o
reconhecimento do gênero em estudo. A proposição da escrita e representação de
uma história a partir de uma personagem fantástica escolhida pelos alunos foi
acolhida com entusiasmo. Os estudantes se expressaram dramaticamente criando
e representando suas próprias histórias dentro do gênero de forma ativa.
15
Houve comentários do gênero: “Hoje nem pareceu aula, professora”. “
Gostaria de ter mais aulas assim...”.
Considerações assim nos remetem e incentivam para práticas educacionais
mais interativas, onde a voz do aluno seja ouvida e considerada para modificar
práticas educacionais cristalizadas, que orientem para a consideração do aluno
como sujeito agente de sua própria aprendizagem.
No módulo 5, diferenciou-se Paródia de Paráfrase a partir do conto "Perdida
estava a meta da morfose", de Marina Colasanti, e foi trabalhada a infraestrutura
geral do texto com ênfase nos organizadores presentes na narrativa; a estrutura da
sequência narrativa: tempo, espaço, foco narrativo (a questão do narrador),
personagens e também o desenvolvimento dessa sequência, considerando suas
partes; situação inicial, problema, ações, resolução do problema e situação
final,( BRONCKART ,2007, p.221). O módulo 6 também propôs atividades visando
ensinar aspectos essenciais da sequência descritiva, com foco na descrição das
personagens demonstrando como se processa a função e emprego da classe
gramatical do adjetivo na referida sequência.
O Módulo 6 contemplou estudos sobre a estrutura geral do texto ao considerar
e trazer para estudo, mais uma vez, as partes da sequência narrativa; abordar
questões relativas ao léxico, assunto e tema, constituídos no conto fantástico
"Pequena fábula de Diamantina", também da autora mencionada.
Ainda em seguimento às atividades do referido módulo, houve a produção de
um final para o conto "De um certo tom azulado", objetivando analisar e trabalhar a
capacidade de coerência, coesão e conexão dos textos produzidos pelos
estudantes.
O estudo do Módulo 7, centrou-se no conto "A moça tecelã" e caracterizou-se
pela retomada e o aprofundamento dos conteúdos estudados. Nesse momento
questões e conteúdos considerados como essenciais foram revistos: as partes
constitutivas de uma sequência narrativa, observadas na perspectiva da situação de
apenas um conflito que caracteriza o gênero de texto conto; as poucas personagens
presentes no enredo, os elementos indicadores do tempo e do espaço; retomada
dos níveis de leitura a partir do texto; a questão do estilo da autora; o papel dos
organizadores textuais; a percepção de alguns operadores argumentativos; a
análise do discurso direto e indireto no conto, evidenciando o comportamento das
personagens.
16
Esse estudo, apesar de longo e caracterizado pelas retomadas, revelou-se
fundamental para a percepção dos avanços alcançados pelos alunos durante o
processo de implementação do projeto.
Cumpridas as etapas deste percurso, embora os alunos fossem solicitados
ao longo das etapas de aplicação do projeto para que se detivessem sobre os seus
textos iniciais; ao término da implementação, debruçaram-se, mais uma vez, sobre
sua Produção Inicial do gênero de texto Conto Fantástico com o objetivo de finalizá-
la.
Produção final:
É a etapa onde o aluno elabora a reescrita final do seu primeiro texto,
incorporando a ele as modificações que julgar necessárias, apreendidas durante a
aplicação dos módulos, para melhor adequá-lo ao gênero de texto estudado.
Finalizada a implementação dos módulos, quando os alunos desenvolveram
as atividades propostas para o domínio do gênero de texto Conto Fantástico e os
estudantes finalizaram os seus contos, dando a eles uma versão definitiva.
Após o momento descrito acima, a análise dos contos pelo professor
acumulou os seguintes dados:
•Interesse dos alunos em conhecer os contos produzidos pelos colegas;
•Os 45 alunos envolvidos no processo produziram contos;
•05 alunos se distanciaram do gênero proposto;
•Um número expressivo de produções apresentaram relação de intertextualidade
com filmes;
•Outro fator consiste na presença do elemento fantástico imbricado no título: 20
textos, destacando alguns:( O misterioso Jake, Meu unicórnio voador, A menina e
a sereia, A moto invisível, O bebê encantado, Sobrenatural, O candelabro e a
múmia, entre outros;
•Os temas mais recorrentes são os acontecimentos extraordinários, relacionamento,
sere fantásticos, situações que inspiram medo...);
•Percebeu-se desenvolvimento da capacidade de ação, pois os alunos mobilizaram
os conhecimentos necessários, adaptando a sua produção de linguagem ao gênero
de texto proposto;
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•Os estudantes, em sua maioria, organizaram estruturalmente seus textos,
empregaram adequadamente sequências narrativas e descritivas, demonstrando
capacidade discursiva;
•Avanços concernentes à conexão, coesão verbal e nominal, à operação de
construção de enunciados e também nas escolhas lexicais foram observados.
Na sequência, trazemos o conto produzido por uma aluna, para a observação do
desenvolvimento nos textos dos alunos.
PRODUÇÃO INICIAL:
MEU UNICÓRNIO VOADOR
Eu tinha um hunicornio que morava junto comigo. Trabalho ele não dava, pois ficava
o dia todo numa caixa de sapato que fiz para ele.
Reclamar ele nunca reclama, pois na hora de comer ele não tinha preferência comia
tudo o que eu levava.
Mas um dia sem motivo algum ou por descuido meu de deixar a caixa aberta, então
ele de repente abriu as asas e saiu voando pela janela, para nunca mais voltar.
PRODUÇÃO FINAL:
MEU UNICÓRNIO VOADOR
Eu tinha um unicórnio que eu escondia dentro do meu quarto, não ocupava muito espaço, pois morava dentro de uma caixa de sapato onde aliás fiz uma bela casa para ele.
O único problema era alimentá-lo pois não sabia o que um unicórnio comia, e ficava me perguntando: unicórnio come alguma coisa?
Bom eu tinha dúvidas tinha que perguntar, abri a caixinha de sapato olhei para ele, e ele encolhidinho no canto com medo. Então resolvi perguntar sem a menor esperança de que ele me respondesse:
__Você come o que? Perguntei a ele, então fiquei pensando, e agora o que vai fazer? Ele não falava nada. Então estava fechando a caixa ele falou:
__ Eu como grama.
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__ Confesso me assustei, mas fiquei muito feliz, agora eu sabia como cuidar dele. Começamos a nos entender conversávamos, brincávamos, ele se tornou meu melhor amigo.
__Sempre achei que ele era feliz mas na realidade não, ele sentia saudades da liberdade dele, da família. Então resolvi deixá-lo ir e ser feliz.
Então me despedi e abri a janela e ele partiu bateu as asas e voou para ser feliz, depois daquele dia ele voltou para me ver e levou sua mulher e seus filhos, aí sim percebi que a melhor coisa foi eu ter deixado ele partir para ser feliz.
Autora: J T – 8º C
Com as produções em mãos, tornou-se necessário elaborar um instrumento para avaliar os contos escritos pelos estudantes e para esse fim elaboramos uma ficha, disponibilizada a seguir, contendo os elementos-chave que direcionaram a avaliação da Produção Final dos alunos.
AVALIANDO O CONTO FANTÁSTICO
1. A narrativa apresenta características do gênero de texto conto fantástico?
( X )Sim ( )não ( ) parcial
2.Análise das capacidades linguístico-discursivas do texto.
SIM NÃO PARCIAL CONSIDERAÇÕES
• Conexão X
• Coesão verbal e nominal
X
Correção ortográfica X
• AdequaçãoLexical
X
•Pontuação X
3.Análise da qualidade do texto considerando as partes da sequência narrativa:
INADEQUADA ADEQUADA ÓTIMA CONSIDERAÇÕES
Situação inicial X
Complicação
X
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Ações
X
Resolução
X
Situação final
X
04. Considerações sobre o título e o tema.
INADEQUADO ADEQUADO ÓTIMO CONSIDERAÇÕES
Título X
Tema X
A verificação da aprendizagem, com base na ficha acima, demonstrou que a autora do texto não conseguiu articular, no nível enunciativo, as vozes do narrador e da personagem, necessitando de intervenções do professor em atividades posteriores.
Para (DOLZ, NOVERRAZ & SCHNEUWLY 2004, p.97 ), com quem
concordamos, “(...) Uma Sequência Didática tem, precisamente, a finalidade de
ajudar o aluno a dominar melhor um determinado gênero de texto, permitindo-lhe,
assim, escrever ou falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de
comunicação”.
Pode-se considerar que o objetivo da sequência foi contemplado de maneira
satisfatória, 89% dos estudantes produziram o gênero. No entanto, quando
consideramos seres humanos, o fato de 5 pessoas ficarem à margem, exige
reflexão. Desse contingente 3 alunos frequentam Sala de Recurso, os outros
estudantes estavam desmotivados e apresentavam notas baixíssimas em todas as
disciplinas. Uma questão se coloca: Se a implementação do Projeto se situasse no
no início do primeiro semestre, influenciaria na motivação dos alunos e apontaria
para resultados ainda melhores, dado que esse trabalho favorece maior contato
professor/aluno e se embasa na interação?
Uma outra análise deu a perceber a amplitude da ação de linguagem
revelada na participação efetiva dos estudantes durante todo o processo e na
socialização da aprendizagem com outras turmas. Nessa etapa muitos alunos
autores se metamorfosearam em atores e essa nova atividade possibilitou maior
aproximação dos alunos entre si e com o professor, abrindo perspectivas para uma
avaliação diferenciada e ampla das capacidades dos alunos. A referida socialização
contemplou uma apresentação dramática de contos selecionados pelos alunos que
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se organizaram em ensaios, criaram cenários com e sem auxílio do computador e
elaboraram uma mostra do gênero estudado bastante rica, com biografia da
autora, slides, representações, poemas e um Rap do Conto Fantástico, que fez
sucesso.
Em momento posterior à mostra cultural realizada pelos estudantes, houve a
solicitação de uma avaliação geral sobre a Implementação da Produção Didático-
Pedagógica da qual trazemos algumas vozes e questionamento:
•“Eu aprendi o que é conto fantástico, coisa que eu não sabia, aprendi como se faz um
conto, uma coisa diferente que pode virar uma profissão”.
•“Eu achei o projeto muito interessante e legal. Ajudei na organização e nos ensaios, foi
uma experiência muito boa.
• A apresentação foi muito bonita, foi fantástica, os alunos que leram, leram muito bem, os
atores que interpretaram, interpretaram muito bem”.
•“Este projeto ajudou a atribuir notas, a conhecer um pouco sobre um mundo diferente, e
ainda nos divertiu com peças sobre o mesmo e apresentações desde histórias até músicas
sobre este gênero e mais, foi uma apresentação muito boa.. “.
•“O resultado do projeto foi parecido com o do gênero, fantástico.”
•“Esse projeto foi uma maneira de representar as histórias fantásticas que foram escritas
pela escritora Marina Colasanti que brilhou com essas histórias e também tem os Irmãos
Grimm que escreverão muitas historias do gênero fantástico. Mas o importante foi a a
apresentação representando histórias que foram escritas por alunos do 8º ano...”.
•“Eu acho que o conto fantástico ajuda a imaginação de uma pessoa, a usar a sua
imaginação trabalhando a sua mente”.
•“Bom, o conto fantástico nos trouxe o mundo Fantástico mesmo. Discutindo assuntos que
me interessaram muito. Foi muito legal o teatro onde a gente interagiu de uma forma muito
legal, nos conhecemos mais e podemos “insentivar” e levar as pessoas a esse mundo que
nos deixa feliz”.
•“O projeto todo foi muito bom mais o final foi muito melhor por causa das apresentações
dos textos e do Rap que modestia à parte ficou muito bom” .(Comentário do autor).
A maior parte das colocações dos estudantes evidenciam a aprendizagem do
gênero em suas múltiplas faces, demonstrando que os gêneros discursivos são
ações de linguagem que produzem transformação em seus agentes e nas outras
pessoas. Essas falas evidenciam que o conhecimento adquirido conduziu para a
consciência das capacidades desenvolvidas, promovendo a interação e
transformação social
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Um ponto negativo citado por três estudantes foi o de alguns alunos se
repetirem em mais de uma apresentação. Percebeu-se que para esses alunos o
fundamental seria subir ao palco, isso significaria a completude da ação. Um desses
alunos diz:
•“Esse projeto não ficou muito interessante porque as peças não ficaram coordenadas
direito, se a peça fosse minha eu faria cada atuação um personagem...”.
Parece importante ao professor refletir sobre o questionamento do aluno __
evidencia que houve exclusão do aluno, em algum momento, fazendo-se
necessário um olhar sempre atento em relação a toda classe, procurando ensejar
a que todos tenham a oportunidade de se expressarem participando das atividades
propostas e sendo incentivados a isso.
6. Considerações finais
Ao término, parece oportuno colocar que o desvelamento da questão maior do
projeto: Qual seria a metodologia de trabalho mais adequada para a
consecução de atividades didáticas que pudessem oferecer melhor
aproveitamento na formação de leitores? Pode ser respondida
O trabalho desenvolvido mostra que a referida metodologia pode ser aplicada
nas várias disciplinas, podendo assim ser instrumentalizada nas escolas, não como
a única, mas, certamente, como uma boa opção de trabalho para os professores.
Dentre os pontos positivos da atividade com SD, destaca-se a relevância do
trabalho coletivo dos professores, o qual pode acontecer nas horas-atividade
organizadas por disciplinas, momentos em que os professores podem organizar-se
e produzir Sequências Didáticas privilegiando e selecionando os gêneros de texto
considerados importantes para o desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes
no decorrer dos anos escolares. Ensino que cumpra a finalidade de responder às
necessidades de formação intelectual e à aquisição de conhecimentos geradores de
transformação social.
No que se refere ao questionamento, relativo à aplicação da metodologia para
o ensino do Conto Fantástico, os dados colhidos durante a aplicação do
procedimento metodológico Sequência Didática evidenciam que essa metodologia
auxilia significativamente os estudantes no que concerne às práticas discursivas de
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oralidade, leitura e escrita, colaborando efetivamente na formação de leitores mais
competentes, conscientes, críticos e participativos. A aula, em um nível de maior
interação, provoca o professor e o aluno na busca de conhecimento, favorecendo
relacionamento diferenciado do professor com a classe e entre os estudantes, na
sala de aula e fora dela. A aprendizagem não mais se esgota nesse espaço restrito,
pois o uso do procedimento metodológico sequência Didática favorece a formação
de grupos para discussão, produção de textos, organização de apresentações e
dramatizações, pesquisas na biblioteca e na internet __ a linguagem se
redimensiona e se amplia, constituindo-se como Ação.
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Referências
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BRONCKART, Jean Paul. Atividades de linguagem, textos e discursos. 2ª ed. São Pau-lo: Educ, 2007.
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DOLZ,Joaquim, NOVERRAZ, Michèle &SCHNEWLY, Bernard. “Sequências Didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento”. In: Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado das Letras, 2004.
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RODRIGUES, Selma Calasans. O fantástico. 1ª ed. São Paulo: Ática, 1988.
SANT`ANA, Affonso Romano de. Paródia, Paráfrase & Cia. 7ªed.São Paulo:Ática, 2003.
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TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. 2ª ed. São Paulo: Editora Pers-pectiva S.A., 1992.
TULESKI, Silvana Calvo. VIGOTSKI – A construção de uma psicologia Marxista. 2ªed. Maringá: UEM, 2008.
VIGOTSKI, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. Tradução: Paulo Be-zerra. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes,2009.