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Eu e o Mestre da Montanha um livro para todos que ouvem e veem Luis Carlos de Morais Junior 1

Eu e o Mestre da Montanha.doc

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Page 1: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Eu e o Mestre da Montanhaum livro para todos que ouvem e veem

Luis Carlos de Morais Junior

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Page 2: Eu e o Mestre da Montanha.doc

La visión del mundo liberado del humanismo puede ser bella, esto es, misteriosa y viva. Al cuerpo le gustan los momentos en los que puede más que la razón; en eso consiste la actitud natural, tan difícil de conseguir.La poesía nació y nace perpetuamente de la visión de que, por ejemplo, el viento no es asunto de masas de aire caliente y frío, sino de poder.

(B. Dubant y M. Marquerie, Castaneda un salto a lo desconocido. Barcelona: Ediciones Indigo, 1988.)

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Page 3: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Diário de leitura

Bananas e outros bichos

Tv a mil pelo pesadelo que você quer

Porque não sabe desaprender

Calor pra Carlos

E todos os outros seres nomeados curtirem

Igual um couro de percussão na Orquestra Sinfônica

Um poema estranho atrás do outro

Porque ela te acha estranho

O estranho mundo de caras de Carlos

O cara mais comum do mundo

Leio o jornal da sua alma

Que fala aceita a alegria

Do momento o aqui agora

E a beleza de viver numa pilha

Como se fosse possível

Viver fora da ilha

A vida é uma ilha grande

E se você quiser saber alguma

Coisa a mais, simplesmente não responde

Anjos deuses ets nada se comunica

Mas a gente tem as bananeiras e as tvs

A instalação tropicália

Dentro do labirinto

E a sua ilha é bonita filha

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Page 4: Eu e o Mestre da Montanha.doc

É bendida é pedrita é feita de arenito, granito

E afeição, pois é, pois sim, então,

Faz todo o sentido do mundo você (como eu da mesma forma

também sinto)

Nunca querer sair desse recinto, dessa casca de noz,

Porque o ser se faz na paz e guerra

De sua voz

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Page 5: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Ouro

Nada é real tudo é cruzeiro

Ou dólar ou ien ou marco ou euro

Tudo vale tanto quanto preza

Se você acredita nele, se o despreza

Ou valoriza, se você xinga

Ou reza, se é o índio do Xingu

Bem pode ser a rã e aranha na moringa

Ou o cágado que foi prà festa no céu

Escondido na viola do urubu

Se você odeia é o mundo

Fazendo um barulho feio

No seu peito

No seu jeito

Só seu, só seu

O seu mundo

Ah

Mas se você ama

Então todos os anjos riem e tocam harpa

E não há farpa na cama, pedra ou carma

Que você queira trocar por seu amor

Esse é o segredo

Da abelha

Da flor

Do nosso amor

Do bebê

Que ontem nasceu

E agora dança alegre

Ao léu

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Page 6: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Cheio dessa alegria sem medida

Que é o seu

Labirinto laboratório

Que traz dentro e fora

Porque tudo é um

Aqui e agora

Na harmonia infinita

Desse zoom

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Page 7: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Só mente

Então

Eu faço versos

Porque sinto que faço universos

Quando vejo você

O mestre da montanha me falou

(E falou em chinês!)

(Mas eu leio até mesmo a língua mais difícil)

(O hieróglifo dos seus olhos):

– É simples assim, meu filho

Quando você acha que sente, e todo

É porque sente

E todo sentimento é uma semente

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Page 8: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Leio-lhe

Eu leio não porque seja culto ou escovado

Eu na verdade corcoveio igual cavalo no campo

Quando te leio lista de frases soltas ao cacaso

Pelos céus multimplicados da proesia

E quando eu leio-lhe eu sinto que o jacinto brota

E a gruta escura do incônscio pede água-marinha e pede mais

E eu fico na folhinha na manhã que clareia tudo que li-spector

Eu vejo seus olhos que brilham igual faróis de milha e eu estou perto

De mim de ti quando te leio no recreio e no recheio

Do que escreves como escravo e senhor do verbo-verso-ser ebulição

Eu leio seus tantos desmetidos que são como uma montanha

livrositioblog

E eu fico feliz porque ler é igual escrever/ser/nadar/viver e é tão

enorme

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Page 9: Eu e o Mestre da Montanha.doc

O livro

Eu me sinto um mosqueteiro

Um cavaleiro

Um príncipe

Um rei

Faço kung fu

Danço com a donzela

Canto serenata na janela

E dou um show de rock’n’roll

Duelo no velho oeste

Sou um cabra da peste

Um missionário um rebelde

Um astronauta e um ator

Tudo quando eu pego o livro

E assim me sinto tão livre

E leio o livro e tenho o livro

Na vida pra sempre comigo

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Page 10: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Pares

Eu te peço transparência

Não sei por que peço

Você fala paciência

Uma remessa de pressa

Pro teu endereço

Dura a chuva

Duro o vento

E eu aqui me alimento

Dessa minha onisciência

De você

No seu momento

O meu alento é te ver

Mesmo que seja na tela transparente

Do querer

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Page 11: Eu e o Mestre da Montanha.doc

trans/lation

formerly there were/words/swords of flight

and lights inside or around <computers> and on the street poles and on

now she brings all the light in her eyes

the fight of the sea the bright of the sky

antigamente havia espadas de luz

e nus <computadores > postes da rua

agora ela traz toda a luz nos olhos seus

a cruz do céu do mar o azul de Deus

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Page 12: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Compre zumbis

Os vendedores tratam mal

As coisas são de péssima qualidade

Os preços são escorchantes

E todos compram sem parar

Como se precisassem

Essa é a fábrica semântica

Dos zumbis da consumação

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Page 13: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Liç ão

Ele veio pelo veio d’água ao lado

Que corria gelado da montanha idem

E olhou pra mim, quando ele olha

Fundo assim a gente vê o mundo

Em tudo que há no mundo

E em mim

Ele me disse: rapaz, você pensa

Que tudo pesa, mas tudo reza,

Tudo é uma leve e harmoniosa nota musical

E assim você se sente sempre igual

E diferente

Em si de si de tudo que há

Em si

E ele me falou

Ouça Samba pa ti

Do Santana

E veja a imagem da capa

E entenda

As coisas do dia a dia

São a lenda

E tudo que você pensa

E não há como sustentar

Nenhuma certeza mesquinha

Principalmente o preconceito

Em volta de todo preconceito há amor

E só amor

E o amor não liga pra jeito

Raça credo cor grana bacana

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Page 14: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Saber ou parecer ou ter ou ser

O amor é o que é

E o que acontece com a gente

O tempo inteiro

Na mente

Na alma

E no coração

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Page 15: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Lua vermelha

por que a lua está vermelha

brilhando num céu de chumbo

está linda mas dá medo

me faz pensar em você

talvez por causa do segredo

talvez por causa do seu mundo

e do meu mundo congeminados

num outro lugar

uma caverna subterrânea

coisa de super herói

ou pior de supercivilização dänikenha do passado/futuro

presa por prendedores de diamante e fogo puro

você na minha caverna

você pichada no meu muro

você na minha noite sem parar

e eu abro e olho a janela

e vejo a lua vermelha

parecendo uma lanterna

um fogo de nunca apagar

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Page 16: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Oi

Oi

O que foi?

O que não foi?

Então uma menina vira

Duas meninas e uma revira

O mundo e agora brinca

De vida

De mãe

A coisa mais linda

É a alegria

Que essa menina trouxe pra você

Pra sua aura linda

De mulher

E de bebê

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Page 17: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Balaio geral

Tanto lavrar esse campo

É a nota que repito sem cessar

Em todos os meus cantos.

Eu quero descansar, mas o descanso

Me cansa muito mais do que tentar,

E eu vou continuar,

Pois quero tanto

Ver florir esse encanto

Ver florescer meu pomar.

E dia e noite e noite e dia eu assim prossigo

Porque o quero

E o erro nessa vida, se nessa vida erro há

Meu filho, meu amigo,

É somente não tentar.

Porque

Tudo é semente

Semear

Se se

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Page 18: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Chama, atenção

Comer bombom nesse bosque

Minha maçã proibida, como e penso: ELA

Mas até o doce tem caroço

E aí eu penso nela

Ela usa uma tiara amarela

Seus cabelos são lisos como ondas do mar

Eu gosto dos seus olhos que eu vejo da janela

Pra conjugar pra soletrar pra declinar o verbo armar

Olho dentro da geladeira: um caracol

Eu penso puxa caraca

Abra a janela e é dia de janeiro e nasce o sol

Mesmo ainda sendo dezembro (o tempo não para)

Tudo me faz pensa numa moça mais louçã

O mestre da montanha me diz: vai ler

Vai ver tv, deixa de ela de lado,

Quando menos cutucar a onça

Com sua vara longa de poeta

Mais ela vai desabrochar o ser dela e o que ela é

Da forma mais

Completa

E isso é ar água fogo terra

Metal madeira elixir e quintessência

E uma coisa boa e é e é a guerra

E é o amor e é a paz

A algo mais

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Page 19: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Retrospectiva 2012

Pássaros nas árvores são plásticos

E sonoros e suaves

Me fazem pensar em você

Ao ligar o meu velho rádio a lenha

Eu ouço os cânticos e as cantigas de amor

E vejo sua boca

A me beijar

Como eu quero te ver

Mesmo que seja só pra te falar

O quanto fico contente

Quando você comigo

Está

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Page 20: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Princesas

Mestre da Montanha

Oh grande amigo sábio

Você pode me explicar

Durmo tarde, acordo cedo

Sempre tenho que trabalhar

Arrumar coisas pra fazer

E acontecer, bordar e pintar

O sete e o todos números astrais

Racionais e irracionais

E tudo de bom que é uma bomba

De fatos e fótons e festas de arromba

E eu ainda quero mais

Mas durmo tarde acordo cedo

E ela está até no sonho

Parece uma princesa e um ogro, ergo

Um dragão

E todo o reino com todos os seus monstros

E todas as coisas lindas

E passarinhos

Prendas pedras

Etc e tal

– Olha pra ver

Se ela enviou

Algum signo pra você

E assim

Sim

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Page 21: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Calor

Está calor

E todos com medo

Mesmo que riam

Em muitos casos os risos

São signos do medo

Ou da ira

que coisa triste

diria alguém convencional

que coisa divertida

diria uma pessoa jovem de hoje em dia

que coisa sem sentido

como tudo

diria um despoeta que não sabe

o que faz o que quer ou o que fala

esse cara que cala

ele não sabe avaliar – de verdade

mas mesmo assim mostra

sua vontade de lutar

por alguma amostra

de mar

gem

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Page 22: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Omniversos

Era um chupacabra ou um diabo

Um et ou um calendário maia

Ele rasgou notas de dez mil sestércios

Porque era louco por um rabo de saia

Mas a dulcineia não quer papo com romeu

E o mundo vira e revira sem nenhum sentido

Rolando pelo espaço nobre e plebeu e tu e eu

E tudo que você inventar, e é por isso

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Page 23: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Pra te ver

Sonho de olhos fechados

E abertos

Voo por todo meu quarto

Estou desperto

Fico bem e passo mal

Eu não a ver de novo

Meu povo

É ridículo, é ruim,

É surreal

Eu digo isso por mim

Por outro lado é muito

Natural

O nosso amor

Cresce em minha alma como trigo

Ou matagal

E faz cantar a alma

Pela noite e pelo dia e pelo portão

De uma hora que não é noite e nem é dia

Mas que enche de alegria

E desejo

O coração amante

Do seu beijo

O nosso amor é festa

O nosso amor é uma floresta

E uma criança brincando

O nosso amor é o mundo se amando

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Page 24: Eu e o Mestre da Montanha.doc

O nosso amor é puro

E claro

O nosso amor é raro e precioso

É uma joia

Uma alegria

Uma semente

Uma doce melodia

O nosso amor é um rútilo cristal

Que brilha com a luz

Que vem do sol

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Page 25: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Pra te ver 2

Bê, toda vez que você não responde

Você é como uma onda que faz

Um colear endoidecido de anaconda

E me tira a paz

Cê, toda vez que você sorri

Debaixo da chuva dos meus beijos

Na tempestade dos meus braços e desejos

Meus abraços e afagos, você ri

E eu fico feliz

Ah!, sim meu nome é Luis

O homem que tem fome de você

E conta horas minutos dias meses

Pra te ver 2

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Page 26: Eu e o Mestre da Montanha.doc

“Helena”?

Entre na gruta, me disse,

Havia um castelo ali, mas agora era uma caverna,

E eu suspeitei que a magia

Dominava suas falas

E seus atos

Adentrei e vi estranhos

Desenhos sobre a parede

Tudo parecia um sonho

Bom demais

Puro prazer

Esses desenhos fascinantes

Essas escritas futuristas

Que eu via na página de pedra

Que ela mostrava pra mim

E ainda mostra

Esta visão

Me acompanha como um sentimento

Constante e fluente

Pura fascinação

Suas palavras exotéricas

Eu não pude compreender

Mas mesmo assim entendi tudo

Quando ela me revelou

O seu nome:

– Eu sou a Helena

Ela falou

E eu concordei

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Page 27: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Alhos e bugalhos

Onions são cebolas

São duas palavras estranhas

Como será que se diz isso

Em todas as línguas do mundo

Pare e pense na palavra

Onion

Lembra tanta coisa

É como uma cebola que se descasca

E tem outra camada sob outra camada

E assim ao infinito

Mesmo que a sua percepção

Pare num certo momento

Tipo seu choro

Tipo seu paladar

Mas da cebola em si não dá pra falar

Pense nessa palavra

C/e/b/o/l/a

É como o universo inteiro numa bola

Ou como omniversos numa bolha

Uma prima dona ou uma mulher morena

Mesmo sendo romana ou portuguesa

Mesmo sendo japa helena iorubá nagô jê tupi

Brasileira

A cebola é a união do vão e da certeza

E vá a gente dormir com essa clareza

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Page 28: Eu e o Mestre da Montanha.doc

desconversa

na minha maluquice escrevo sem parar

pra nada

pra nadar

no fogo

do pensamento

da amada

sentimento

desrepresado

mas desprezado

mesmo sendo pesado

mas muito mais prezado

por mim

então

tenho que ser a corda e caçamba

de mim

it is que o planeta inteiro é uma bolinha de papel

pelo menos podia ter umas 99999999999 de vc

aí uma ficava com medo

e sobravam....

conta complicada

999999999999998

algo assim

ia ser bem melhor

pra todo mundo

e pra você

e pra mim

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Page 29: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Bela

É como se eu fosse um professor

E os alunos me jogassem balinhas

E bolinhas de papel

Quando me viro pro quadro

É pior, é como se fossem flechas

Que chovem de todos os lados

Envenenadas com curare

E com tochas de fogo anexadas

Arremessadas por cunhãs

Todas as madrugadas

E manhãs

Ou melhor

Como se fossem garrafas no mar

E uma santas guerras de confetes

Serpentinas

Perfumes de meninas

Que enlouquecem o salão

Todos os mascarados

E o salão inteiro sou eu

Todos os mascarados são eu

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Page 30: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Quando eu a vejo seja ao virtual

Ou ao vivo eu só desejo

Que esse amor radioativo

Esse amor de bomba atômica

Não desperdice seus mísseis

Sua guerra sem sentido

E venham todas pra mim

Todas as suas mensagens

Imagens

Todos os seus carinhos

Beijinhos

Essa vontade de amar

Sem fim

Que eu bem sei

Meu bem

Que você sente também

Minha cunhã

Meu grande bem

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Page 31: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Preconceitos

Só porque sou negro

Só porque sou estrangeiro

Só porque sou ET

Não quer dizer que você não possa me amar

Não quer dizer que eu não ame você

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Page 32: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Montanha gelada

Ela chafurda

No ódio

No tédio

No rádio

Não quer esquecer

Não quer se aquecer

Não quer lembrar

O Mestre da Montanha Gelada

Me falou:

– Se vira

(Isto que quer dizer

Vira a cabeça pra outro lado)

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Page 33: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Comingo

o mestre é o máximo

mas também é o mínimo

e ele não quer ser isso

nem aquilo

ele só é

e ele não perde nunca a paciência

é uma parede bem construída

mas parece até que se impa-

cientou comigo

com minha mania de querer

namorar essa menina

ele subiu

a montanha gelada

sem falar nada e tudo

ficou mais frio sem sua

alegria calada

e sua fala que brilha

e ressoa pela tarde

toda

eu vou pra beira do rio

e falo mesmo comigo e me digo

ela é mais nova que eu

mas chega uma época

em que quase todo mundo o é

e eu me dediquei tanto à gaia ciência

a cultivar os campos da demência

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Page 34: Eu e o Mestre da Montanha.doc

e não aprendi a falar

a conversar

e convencer

e convencer pra quê?

o que é verdade arde

com a força de mil bilhões de sóis

e nunca estamos sós

quando sentimos o amor

esse fogo interior

que alegra a nossa vez

e ilumina nossa voz e nossa noz

eu vou sonhar com ela

e isso já é uma riqueza

sonhar que ela é a uma

aquela que eu sonhei

que esse sonho bendito

nasce no meu infinito

e acorda amanhã

comigo

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Page 35: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Oh! ...e o mestre respondeu

Você fala bem

Essa é sua arte

As palavras podem conquistar

Mas são só parte

Do berenguedém

Você ama ela

Mas ama mais a si mesmo

Isso está tão claro nessa janela

Que é o seu jeito

Que a gente percebe

Mesmo que não queira

E ela então

Bem

Volte seu coração

Pros sentimentos mais simples

Quem sabe um dia assim

Você consiga fazer um caminho

Que ligue os seus corações

Porque não há senões

Pra se sentir feliz

Quando o que a gente diz

Vem da nossa fonte

O chafariz que jorra

O sentimento aos montes

Quando tudo é tranquilo

E cheio de verdade

Que não há como duvidar

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Page 36: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Do que brilha

Como a luz solar

E vai ficar na cara

Na fala no olhar

Nos vossos narizes

Quando essa pessoa rara

E você souberem se olhar

E puderem ser felizes

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Page 37: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Comentário esportivo

Meu querido Fluminense

O Fluminense me domina

Meu querido Grêmio

Até a pé nós iremos

O problema não são os chutes

As bolas que batem no gol

As traves as travas as claves

E as clavas escravas

O problema é a fábrica de embalagens

Que empacota as mentalidades

Somos todos iguais mas há em nós

Algo a mais

Ou será se nós somos apenas uns robôs

Programados pra torcer pra gritar gol

E se calar diante de tudo que não for

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Page 38: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Canção de amor

O nosso amor tá guardado

Eu tenho pressa

Mas ele tem a calma

Do que sabe que é, que tem que ser

O nosso amor é levado

Como uma criança de olhos grandes

Esses seus olhos profundos e brilhantes

Se confundem pra mim

Com os olhos do nosso amor

O nosso amor é uma criança

Mas tem todas as idades

Ele tem a certeza

Da beleza, da correnteza,

Da leveza de uma canção de amor

Que toca rápido num instante

Mas fica o dia todo com você

E você não pensa em comer

E você não precisa beber

E você nem consegue dormir

Igual a mim, aqui, agora

Pensando em você

E o nosso amor

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Page 39: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Coisas boas

Ringo é demais

Assim como você também

Meu bem

Todo ser traz

Em si

Um super estar

E isso é bom

Eu só te peço uma coisa

Não fale do ratinho

Da novela imbecil

Do futebol caixinha de represas

Ou da mente malsã da coisa vã

Vamos falar da beleza

Da realeza da certeza da firmeza

Não poste no face boca

Fotos de coisas que você come

Não quero ver essas coisas vomitórias

Seus bolos suas panquecas seus bobós

Que coisa mais antipática

Não poste que você vai comer pizza

Ou outra coisa gosmenta

E uma foto em close

Perguntando: tá servido?

Que piada nojenta

Em vários sentidos

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Page 40: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Meu amigo

Vamos falar da alimentação real

Do sol do sal do sul

Do altro astral

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Page 41: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Vampirego

O abastecimento de poesia

Pode durar indefinidamente

A questão do vampiro é o dente

A questão do amante é a alegria

amor Humor escreveu Oswald de Andrade

E eu escrevo farol sol dente canino

Incisivo moral dente moral

Que eu quero dizer dente cognitivo

Que é um pedacinho pequeno desse farol

Que ilumina sem fim o mar aberto

Que eu descortino quando você está por perto

E viro poeta mesmo que seja no meu sonho

Ou na internet ou na tv ou em outra bobeira qualquer

Fico sempre feliz perto de você

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Page 42: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Ladrão do fogo

O poeta é um tremendo caozeiro, mo mentiroso

Mas suas armações

São tão profundas

E reais

Que ele chega a fingir que finge que seu fingimento

É fingimento só, e nada mais

O poeta é um ser alado

Pregado num sonho

Olhando pro sol

Ele deseja:

Voar

Cantar

Encantar

Contar

Amar

Realizar

E o que a poesia tem com isso?

Tudo: a poesia é a possibilidade infinita

De ser livre e feroz assim

O sol da voz

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Page 43: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Amor

se aquiete esse sentimento

é só a voz do vento em seu ouvido

quando nada faz sentido

aí você está no caminho

não tem pressa não meu filho

a pressa é só uma ilusão

tudo que é bom vem no tempo

é feito de tempo e emoção

as palavras são um misto

do vento do sentir do tempo e da água

ouro precioso esse momento

que está inteiro na palma da sua mão

feito um verso da sua lavra

tesouro que revela o seu coração

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Page 44: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Yeah

Queria

Não tinha

Comi um bombom

Como se fosse

Depois olhei pela janela

Vi um pássaro na planta

Minha alegria suplanta

Era como se fosse

Aí ouvi uma canção

Esse tipo de coisa faz bem

Quando a gente tanto quer

E ainda não tem

E o doce, o canto do passarinho

Mas de alguma forma

A força e o carinho

Deste dia dourado

Trouxeram a sua graça

A canção e tudo de bom

Era é e será

Você em mim

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Page 45: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Sonho lúcido

É sempre assim

Sempre fica uma dura incerteza

E uma amável delicadeza

É sempre sem fim

Mas sempre muito perto

Do não e do sim

E do não

Haja coração

É sempre meia-noite

É sempre meio-dia

É sempre meio dia

E sempre meio noite

Parece uma coisa forte

Como um bebê sorrindo

Parece a vida e um corte

Um bólide que vem vindo

E haja paciência

Calma, precisão

Eloquência

E nada faz sentido

Mas tudo é tão sentido

Que eu falo sempre amigo

E sempre digo amante

E agora é como antes

Sempre será assim

Não sei o que ela quer

Mas a quero e quero tanto

Que quero o que ela quer

Para o meu próprio espanto

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Page 46: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Interior

Sentada naquela banco

Uma moça aí sozinha

Achei você tão bonita

Mas tão triste

Não fique triste, que é isso

Lembre que você traz em si

Seu lar

Seu céu

Seu sol

E seu luar

A sua grande presença

Que vibre a sua crença

Nessa sua alegre criança

Interior

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Page 47: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Homem simples

Coisas que eu gosto

Andar pela beira do mar

Sobre a areia de ouro

Da tarde que se desdobra

Em cantos dos elementos

Falar pelos cotovelos

Sentindo a brisa do tempo

Que despenteia os cabelos

E nosso manso sorrir

Sempre a florir os seus olhos

São grandes poços de luz

A sua fala que reluz

O seu olhar me seduz

Gosto de aspirar a chama

Beber a água da fonte

Tocar a minha ruda flauta

E sonhar com você pela noite

Isso é o que eu gosto de fazer

Ah, e eu gosto tanto de você

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Page 48: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Moça me ouça

Moça

Me ouça

Eu quero

Te ver

Feliz

Sorrir

Na poça

D’água

Eu vejo

O brilho

Da lua

A rua

Se enfeita

Pra você

Meu olhar

Te acompanha

A luz

Solar

Te ama

E tudo

Se engalana

Quando vê

Você

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Page 49: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Afoito

Gosto de praia no biscoito

De café na fé que eu tenho de encontrar

Com você pra conversar

Como quem brinca com um bebê

Minha alegria será enorme

Mesmo dormindo meu sonho não dorme

Ah! Como eu quero ver você

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Page 50: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Margem

Bastante bom é acordar de novo

Rindo porque sonhou sem saber o quê

Uma moça como uma mariposa nos sonhos

Nada na flor d’água e se ri pra você

Ah, moça e mariposa, vamos rir juntos

Gente gosta de rir, e isso eu sei por quê

Ando olhando sua alma e fico curioso

Bastante assim de repente, só de te ver

Vindo e indo como uma índia da minha América

Gente assim tão bonita, que me alegra

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Page 51: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Vero

A poesia flui

Pelo universo

Chega até mim

Toda vez que vejo as pérolas

E outras pedras preciosas

Do teu ser

Então como um fio

De um colar infinito

Mas bonito

Essa energia flui

Pros meus versos

E faz sentido

Mas eu fico aqui

Querendo encantar

E só canto

E no entanto

Quero tanto

Versejar

Assim

Esse sentido em mim

É verdadeiro

Como sempre fui

Minha querida

E flui do pensamento

Para a vida

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Page 52: Eu e o Mestre da Montanha.doc

O outro sou eu

Se você escolher um poeta terá mais emoção

Mas moça me faça um favor

Não mostre os versos e os inversos

Que nascem como se fossem flores

No universo

Toda vez que eu vejo

Esse seu jeito meigo

E tão concreto

Não quero que outro cara use meus versos

Eles são incensos que falam só de nós, sós

Leia esses versos a sós

Com minha vista

E a secreta visita

Do seu amigo

Poeta

Eu

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Page 53: Eu e o Mestre da Montanha.doc

sentimento :pares: semente

Entre as brumas do sonho

Ou o denso smog de Avalon

Eu vi você

Como se fosse a fada

A bruxa a moça da varinha mágica

A feiticeira do lago

E do salão

Você dançava uma valsa vienense

Não não era um sonho exatamente

Eu sonho quando saboreio a vida

Igual criança que morde um bombom

Mas no caso dessa neblina opaca

Através da qual o sol luzia

Cheio de cores e alegria

Ela era muito mais um despertar

Um sentimento sutil

Único e ímpar, porém par

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Page 54: Eu e o Mestre da Montanha.doc

Ensonho

Eu vejo você num tempo mágico

Que tem algo do passado e do futuro

E é tipo um presente como um pente

Que penteia as ondas do vento, alimento

Dos sonhos que eu gostaria de ter

Quando sonhasse com esse evento ágil

Eu seria um novo eu e no entanto o mesmo

Mas o antigo era tão novo e tinha tanto

Sentimento quanto encanto pelo jeito

Que você tem de olhar/falar/cantar

A noite inteira você canta no teatro

Mágico e encanto do ensonho

Sem parar

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