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inicio castração florais para animais serviços sites de adoção veganismo contato Gato Verde em defesa dos Direitos Animais Índice CÃES E GATOS Achou um Cachorro? Achou um Gatinho? Adaptação de Cães e Gatos Cães, Grávidas e Bebês Como Cuidar de um Gato De Raça? Por quê? Devo Cruzar meu Cão? Dieta Vegetariana para cães e gatos Doenças de Cães Doenças de Gatos Gatos X Alergias Gatos, Grávidas e Bebês Gravidez Psicológica Guarda Responsável – São Francisco na Porta do Céu Hospital Veterinário Público Luto por um Animal Perdidos: Como Procurar Quer doar um cão/gato? REDES DE PROTEÇÃO Sobre Gatos CASTRAÇÃO Benefícios Castração Gratuita COMPORTAMENTO CANINO Ansiedade de Separação Cães Agressivos Cães Ciumentos ÉTICA NA ALIMENTAÇÃO: O FIM DA INOCÊNCIA - Sônia T. Felipe... http://www.gatoverde.com.br/veganismo/etica-na-alimentacao/ 1 of 15 13/01/2014 14:01

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Ética no Comer - Sônia Felipe

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iniciocastraçãoflorais para animaisserviçossites de adoçãoveganismocontato

Gato Verde

em defesa dos Direitos Animais

Índice

CÃES E GATOSAchou um Cachorro?Achou um Gatinho?Adaptação de Cães e GatosCães, Grávidas e BebêsComo Cuidar de um GatoDe Raça? Por quê?Devo Cruzar meu Cão?Dieta Vegetariana para cães e gatosDoenças de CãesDoenças de GatosGatos X AlergiasGatos, Grávidas e BebêsGravidez PsicológicaGuarda Responsável – São Francisco na Porta do CéuHospital Veterinário PúblicoLuto por um AnimalPerdidos: Como ProcurarQuer doar um cão/gato?REDES DE PROTEÇÃOSobre Gatos

CASTRAÇÃOBenefíciosCastração Gratuita

COMPORTAMENTO CANINOAnsiedade de SeparaçãoCães AgressivosCães Ciumentos

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Cães CompulsivosCães HiperativosCães LambedoresCães MedrososCães PossessivosCães que BrigamCães que Cavam o JardimCães que PulamCompulsão AlimentarCoprofagiaDesobediência x LiderançaEnsinar a Ficar SozinhoEnsinar a não subir nos móveisEnsinar a usar o BanheiroEnsinar com Reforço PositivoEnsinar Sem BroncaLatidos ExcessivosPassear Sem Puxar a GuiaTreinando pessoas para seus cães

COMPORTAMENTO FELINOAdaptação de GatosBrigas entre GatosGatos AgressivosGatos CompulsivosGatos EstressadosGatos MedrososGatos que MordemGatos que Picam CoisasProblemas AlimentaresXixis Fora da Caixa?

DIREITOS ANIMAIS10 razões pelos Direitos Animais – Tom ReganLivros IndicadosPetiçõesVEDDAS – Ativismo

FLORAIS PARA ANIMAISANIMAIS e o MEDO DE FOGOSFicha de Dados

LEISAnimais em CondomíniosAntes de Denunciar…Apologia ao crime é crimeComo DenunciarConstituição – Artigo 225Decreto Lei 24.645/34Experimentação Animal e as LeisInvasão de domicílio para resgate de animalLei 14.146/06 SP – Tração AnimalLei 14.483/07 SP – Regulamenta o comércio e adoção de cães e gatosLei 14.761 SP – Placa InformativaLei Federal 9.605/98PARECER JURÍDICOQuantificação de Animais por Residência

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ÉTICA NA ALIMENTAÇÃO: O FIM DAINOCÊNCIASônia T. Felipe*

As “sociologias da alimentação” investigam as variáveis sociais que influenciam os hábitos alimentareshumanos.1 Os padrões morais ou práticas e costumes consagrados por determinada sociedade, que, via deregra, pensamos influenciar apenas nossas práticas sexuais e sociais, estão profundamente ligados à formapela qual os humanos inventam e preservam estratégias para obter e garantir seu alimento. Pode-se dizerque a escolha da matéria que será transformada em comida e servida à mesa, em balcões de lanchonetes,cafés, embalagens para viagem, supermercados e feiras, revela a moral de determinada sociedade e a éticaque rege as escolhas individuais.

Para não deixar dúvida sobre o sentido do termo “ética”, aqui empregue, é bom que seja distinguido dotermo “moral”. Enquanto moral é o conjunto de “valores” preservados numa determinada cultura,podendo ser, portanto, relativa à uma cultura e não a outras, ética é a determinação de fundamentar aação em bases não relativistas. O que é certo ou errado fazer, da perspectiva ética, não muda de culturapara cultura, de região para região, de classe para classe, sexo para sexo, religião para religião, a menosque circunstâncias prementes coloquem os humanos em condições tais que seus atos de sobrevivência nãopossam mais ser considerados atos livres. Cada uma das influências morais tem seu próprio código moral.Mas, quando falamos de ética na alimentação, estamos falando do projeto humano de buscar um princípiomoral não relativo, aplicável à ação de comer, que possa ser aceito como válido por indivíduos formadosmoralmente em diferentes padrões culturais.

A fim de não perdermos de vista o conceito de ética a partir do qual este texto foi elaborado, é bom

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lembrar que um princípio ético deve atender a, pelo menos, três requisitos formais: 1. Poder ser aceito porsujeitos capazes de concluir um raciocínio após examinar premissas lógicas [validade universal]; 2. Servirpara orientar as decisões em casos de naturezas distintas [generalidade]; 3. Permitir seu empregoindependentemente do grau de poder político, religioso e econômico do agente moral [imparcialidade].Mas, uma ética cujos princípios atendam a essas exigências ainda continua formal. Para superar aformalidade desses critérios, a ética deve, fundamentalmente: 4. Promover o bem daqueles que sãoatingidos pelas decisões morais [finalidade].

Para tornar mais compreensível o que foi escrito acima, podemos fazer um experimento mental.Geralmente a ética é identificada com a postura da beneficência e da não-maleficência, com o princípioda justiça equitativa, com o princípio do respeito à autonomia individual, e assim por diante. Abeneficência, a não-maleficência, a justiça e a autonomia podem ser compreendidas então comoprincípios éticos que servem para nos ajudar a tomar decisões de caráter moral. No entanto, emboracompreendamos minimamente o que cada um desses princípios representa em nossa formatação moral,nem sempre conseguimos ver claramente de que modo nossas práticas cotidianas devem ser orientadaspor eles. Se pretendemos que nossas decisões e ações sejam éticas, no sentido de que atendem às quatroexigências expostas acima, essas decisões e ações devem ser de tal ordem que possam ser reconhecidascomo válidas por qualquer sujeito capaz de raciocinar de modo coerente; devem ser ações cujo sentido erazão de ser possam ser ampliados também para outras decisões de cunho moral; devem ser decisõesimparciais, no sentido de que a decisão tem valor moral independentemente do sujeito que a toma; e,finalmente, não são decisões tomadas visando beneficiar o sujeito da ação moral, mas o paciente dessaação.

Quando aplicamos os critérios éticos à nossa dieta, encontramos um vazio moral. O modo pelo qual nosalimentamos só pode ser considerado “moral” no sentido latino do termo, quer dizer, o que ingerimos édeterminado pelo costume ou padrão da cultura na qual nascemos. Mas, será que as decisões e açõesrelativas ao ato de comer podem ser consideradas universalmente válidas? Será que temos algum princípioético para orientar nossos atos diários ligados à ingestão de alimentos? Será que esse princípio pode serpronunciado claramente em público? Será que o princípio que rege nossas escolhas alimentares é umprincípio imparcial? Será que nossas escolhas alimentares “beneficiam” os que são diretamente afetadospor elas? Examino a seguir duas das escolhas alimentares mais comuns na comunidade moral dosvegetarianos.

Ética no ato de comer

Talvez o ato de comer seja, entre tantos outros já analisados pela sociologia, a antropologia, a economia ea ciência política, o único considerado realmente natural, o que nos leva a pensar que, se comer é algo“natural”, nesta prática não cabe qualquer consideração ética. A filosofia não trata da questão do“comer”. Se é natural, então não há questão filosófica alguma para ser tratada, pensam os filósofos. Fazeruma reflexão ética implica em raciocínios que nos tiram do conforto da moralidade naturalizada. Estaadmite como “valor” a ser preservado tudo o que se mantém pelo costume. Considera-se que aquilo queconsegue manter-se como prática institucional em uma dada sociedade tem força e valor suficientes paracontinuar a ser mantido. A alimentação e as regras de ingestão, a forma como o alimento é apresentado aocomedor e a mecânica de sua produção, tudo isso é considerado “natural”. Então, concluímos, quandocomemos não praticamos qualquer ato imoral.

Comer, nas sociedades industrializadas e nos grandes centros urbanos, no entanto, deixou de ser umaprática que interessa investigar apenas do ponto de vista antropológico e sociológico, isto é, com métodosmeramente descritivos, destituídos de qualquer crítica e despidos de quaisquer juízos de valor.

O uso das mulheres para serviço dos homens, o sequestro dos africanos e sua venda como mercadoriapara o serviço das lavouras dos brancos em toda a América, o uso e extermínio dos animais e a destruiçãodos ecossistemas naturais estiveram todos na mesma categoria de ações humanas, consideradas“necessárias” ao bem da “humanidade”, ao longo da história. Nossa moral tradicional nos ensina que onde

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há “necessidade” não há liberdade. Onde não há liberdade não há possibilidade de “juízos de valor”. Se aslavouras de algodão e cana-de-açúcar não podiam ser cultivadas senão pela mão-de-obra escravizada,então, concluíam intuitivamente os conservadores, a instituição da escravatura era necessariamentejustificável do ponto de vista moral.

Seguindo a mesma lógica conservadora, os apologistas da dieta-padrão norte-americana, disseminada aoredor do planeta, entendem que, se a demanda por produtos de origem animal não desaparece, então ainstituição da produção de animais para o abate ou derivados é moralmente justificável. Nos dois casos, aescravização de humanos e a escravização de animais não-humanos, a “necessidade” é considerada umargumento suficiente para justificar moralmente a instituição. Mas, o que ninguém investiga são as causasde tais “necessidades”.

A inocência moral do costume de escravizar africanos nas lavouras e negócios euro-americanos acabou nasegunda metade do século XIX. Do mesmo modo, acabou a inocência no uso do trabalho das mulherespara agregar poder econômico, moral e político aos homens. Nossa era é a do fim da inocência moral noato de comer animais e seus derivados. Embora continue a ser “natural” comer, já não há nada de naturalno conteúdo de qualquer refeição que resulta de processamento industrial. O argumento de que a aboliçãoda moral onívora é uma utopia, porque todos estamos enraizados em práticas cotidianas que a sustentam,segue a mesma lógica de defesa da escravização de africanos e exploração das mulheres.

Há um século e meio atrás também dizia-se que a escravidão não poderia ser abolida porque representariaa ruína da economia e da política internacional. Na verdade, escreve Fox, “[h]ouve um tempo não muitolonge, no entanto, no qual muitas pessoas não apenas pensavam que a escravidão fosse algo justificável emesmo sancionada por Deus, e estavam seguras de que elas – e a sociedade – não poderiam sobreviversem ela. O que isso significava era que seu estilo de vida, bem-estar econômico, e posição de poder eprivilégio não poderiam sobreviver sem ela, o que é algo bem diferente. [...] Mas ninguém afirma que autilidade social da escravidão foi maior no tempo em que existiu. [...] Quando todos os benefícios e danosrelevantes são levados em conta, fica evidente que a escravidão era uma instituição viciada eirremediavelmente cruel. [...] Mas somente há pouco tempo alguns ousaram sugerir que os animais sãorotineiramente tratados como escravos e que há nisso um grau comparável ao da escravização humana.”2

Nos últimos quarenta anos a dieta humana sofreu transformações em todos os seus aspectos: de regionalpassou a ser global. Com essas transformações deixou de ser típico de uma região comer certos alimentos.Também deixou de ser típico de cada região prepará-los de modo peculiar. Processados, todos osalimentos passaram a ser oferecidos a todos os olhos e estômagos, disseminando com isso asconsequências da padronização que o processamento de alimentos sofre nesse terceiro milênio dacivilização judaico-cristã.

Se a quarta exigência da ética, sua finalidade, é buscar o benefício para aqueles que são afetados pornossas ações, as práticas humanas de alimentação devem passar também pelo crivo da ética, a exemplodas práticas econômicas e políticas que antes garantiam a um grupo privilegiado os benefícios de seusempreendimentos escravagistas e machistas, ao mesmo tempo em que para os afetados por essesempreendimentos nada se oferecia. Comer deixou de ser simplesmente um ato imposto por uma“necessidade natural”. Na verdade, o que se come, hoje, passou a ser imposto pelos “interessesindustriais”.

O ato de comer perde a aura de inocência no momento em que os humanos têm à sua disposição as maisdiversificadas fontes naturais de nutrientes vegetais, mas insistem em encher seu prato de pedaços decarcaças que constituíram organismos de indivíduos animais que viveram uma experiência particular devida. Não há inocência alguma no ato de comer, quando o buffet do qual nos servimos oferece aoscomedores uma variedade de preparados nos quais os produtos derivados do abate intensivo de animais eos subprodutos dos restos desse abate são apresentados lado a lado com produtos não derivados deanimais. A inocência acaba quando, mesmo tendo diante de si alimentos nutrientes de origem vegetal, ocomedor “escolhe” pôr em seu prato porções derivadas de animais. “Humanos têm a capacidade depensar e sentir eticamente [escreve Michael Allen Fox]. Dessa perspectiva, não somos animais que não

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podem agir a não ser do modo ditado pela natureza; somos seres que podem deliberar e fazer escolhas.Apelar para nosso lugar “natural” na cadeia alimentar, ou para a “naturalidade” de comer animais, dadoque rotineiramente eles se comem uns aos outros, é abdicar precisamente da responsabilidade deraciocinar e assumir as consequências de nossas ações.”4

A inocência perdida

Ovos, leite, laticínios, carnes e outros alimentos ou produtos de origem animal, tais quais a gelatina e omel, por exemplo, são considerados alimentos ricos em proteínas, cálcio e minerais, e declaradosimprescindíveis à saúde do organismo humano. Ao impor o padrão alimentar que atende largamente aosinteresses do agronegócio, dominante ao redor do planeta desde a década de 70 do século XX, amoralidade na qual fomos formatados nos forçou à “inocência” em nossas escolhas dietéticas. Jamais, emqualquer programa de TV que aborde a questão da alimentação e saúde, são apresentadas aotelespectador as cenas que estão no ar sem serem transmitidas ao vivo em todos os galpões deconfinamento completo de aves, suínos e bovinos, e nos abatedouros que os degolam e esquartejam emritmo industrial, mecanizado.

Essa pretendida inocência no ato de escolher o que se coloca no prato não é típica apenas dos onívoros.Considerando-se a classificação dos tipos de escolha alimentar praticados hoje ao redor do planeta, feitaem The New Vegetarians, de autoria de Paul R. Amato e Sonia A. Partridge, encontramos igual resistênciamoral naqueles que se dizem vegetarianos, mas incluem em sua dieta produtos de origem animal, taisquais, leite, ovos, mel, gelatina, etc. Na lista de vegetarianos os autores citam: “(1) Ovo-lacto-vegetarianos, consomem ovos e laticínios, menos carne; (2) lacto-vegetarianos, consomem laticínios, masnão ovos e carnes; (3) ovo-vegetarianos, comem ovos mas não laticínios e carnes; (4) veganos, nãocomem carnes, laticínios e ovos (e geralmente também não usam mel); (5) vegetarianos macrobióticos,vivem de grãos integrais, vegetais marinhos e do solo, leguminosas e missô (uma pasta altamente proteicafeita de grãos e soja fermentados); (6) higienistas naturalistas, comem alimentos vegetais, combinamalimentos, e praticam jejuns periódicos; (7) crudívoros, comem apenas alimentos crus de origem vegetal;(8) frugívoros, consomem frutas, nozes, sementes e certos vegetais; e (9) semivegetarianos, incluempequenas porções de peixe e ou frango em sua dieta.”4

Para que melhor possam compreender porque acima escrevi que não há uma diferença fundamental entreos onívoros e os demais comedores que incluem produtos de origem animal em sua dieta, especialmenteleite e ovos, gostaria de lembrar que a questão ética implicada na consideração da dieta inclui em todos oscasos a morte não justificada de animais. Ao contrário do que os ovo-lacto-vegetarianos pensam, comerprodutos derivados do leite e comer ovos adquiridos da rede de comércio de alimentos implica em torturare matar animais, e em número maior do que geralmente se supõe.

Por que não se pode ser inocente ao “comer” ovos?

Animais de quaisquer espécies nascem em liberdade física, quer dizer, o nascimento representa o corte dosuprimento recebido ao longo da gestação, não importa se esta se dá num útero, ou num ovo. Podemosdefinir um animal como o tipo de ser vivo que ao nascer tem sua fonte de provimento suspensa, e passa adepender do provimento que deve chegar do ambiente natural e social que o cerca. Para viver, todoanimal precisa aprender a identificar a matéria que contém nutrientes necessários ao seu desenvolvimentoe sustento, e reconhecer a matéria que não os contém. Animais, portanto, são distintos dos vegetais, porterem de prover seus organismos num ambiente aberto, o que requer liberdade física. Isso tem seu ladobom, e seu risco. Depender de nutrientes exteriores mas não colados ao corpo, força o animal aprocurá-los. Tal procura é parte do processo de construção da mente específica do animal, seja elehumano, ou, não-humano. Se o animal for privado da liberdade de “mover-se para autoprover-se”,destruiu-se o que o caracterizaria. Tudo o que se fizer a ele daí por diante já não o ajudará a ser um animal“feliz”. Por isso, leis bem-estaristas de proteção aos animais criados em confinamento completo são tãohipócritas quanto o é a lei do “abate humanitário”.

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Galinhas não fogem à regra da condição de serem animais. Mas as que são forçadas a nascer para servir àindústria dos ovos, têm sua liberdade física completamente atrofiada pelo processo industrial de produçãoao qual estão submetidas. Menos de um dia após nascerem, os pintainhos são jogados numa esteira rolantepara a “escolha” dos machos, que são descartados. O descarte pode ser feito jogando-se todos num sacoplástico, que ao encher será fechado, levando-os à morte por sufocação, ou numa máquina de triturar,vivos. Muitos podem estar perguntando: por que os matam e não os criam para abate? Porque os machosque nascem dos ovos selecionados para a produção de galinhas “poedeiras” não prestam para a indústriada carne do frango. Eles demoram muito para crescer. Com base nos dados de 2002, pode-se estimar que,só nos Estados Unidos, são mortos pela indústria de ovos algo em torno de 300 milhões de pintainhosmachos por ano.5

A agonia das aves produzidas na indústria de ovos não acaba com o descarte brutal dos pintainhos machosno primeiro dia após o nascimento. Neste dia começa o tormento dos pintainhos fêmeas. Este tormentodurará até dois anos e meio, em média. Para começar, todas são levadas à máquina que corta um terço deseu bico, e cauteriza o toco que ali resta. A lâmina em brasa faz o serviço, conduzida por um trabalhadorque não tem autorização da empresa para anestesiar o bico do pintainho fêmea. A parte do bico cortada écompletamente enervada. Sem anestesia, o processo doloroso pode prorrogar-se de 5 a 6 semanas,conforme o descreve Erik Marcus.6 Os animais também não recebem analgesia após o procedimento.

A razão da debicagem é o confinamento ao qual essas fêmeas serão condenadas para o resto de suasvidas. Devido ao grande número de galinhas alojadas num só galpão, e ao fato de que estarão confinadasnum espaço que não chega ao de uma caixa pequena de sapatos, elas estressam de tal modo que passam abicar tudo o que estiver ao seu alcance. Na indústria de ovos não há atendimento individual às aves. Semuitas forem bicadas formar-se-ão ferimentos que as levarão a infecções e à morte. Não recebendoqualquer tratamento veterinário personalizado, aves bicadas morrem aos montes.

Aos 120 dias de vida as pequenas aves destinadas ao processo de postura são levadas para oconfinamento definitivo, do qual sairão mortas por exaustão, ou destinadas ao abate, quando estiverem“gastas”. O espaço que recebem nos galpões de confinamento não permite sequer que possam esticar asasas. E assim, sem qualquer possibilidade de exercício físico, são forçadas a viverem mais 800 dias, semjamais terem ciscado a terra, colhido insetos e minhocas, comido areia, ou formado grupos sociais e vividonesses grupos de forma prazerosa, uma necessidade específica das galinhas.

O piso aramado das gaiolas nas quais as galinhas são alojadas tem o formato de grade, para permitir que osexcrementos caiam. Os arames causam ferimentos nos pés. Quando as feridas cicatrizam, o tecido seforma envolvendo o arame. Com os pés aderidos ao arame, as galinhas são impedidas de se levantarem oude trocarem de posição. Quando o tecido se rompe com o peso do corpo e o esforço do animal paralivrar-se da algema, os pés caem no vão aramado. Se a galinha não consegue mais voltar à posição usual,ela morre sufocada, de fome ou de sede, pois não consegue alcançar os servidouros de água e comida.7

O fato de serem forçadas a pôr ovos ininterruptamente leva a uma perda enorme de cálcio. Aconsequência mais dolorosa é a fratura óssea. Dado que as galinhas não recebem tratamento médicoindividualizado, tais fraturas são a causa de pelo menos 30% das mortes de “poedeiras”. Esse é opercentual de galinhas com fratura óssea que chegam ao local do abate.8

A agonia das galinhas poedeiras não tem fim. Devido ao esforço diário para expelir os ovos, um dos malesmais dolorosos e fatais para elas é o prolapso do útero. Ao sair, o ovo acaba puxando junto o útero, quenão tem como voltar para seu lugar, a não ser com ajuda médica. Mas, para restabelecer a posição normal,o procedimento pode levar até 1 hora. Dado que o acidente ocorre em grande número de “poedeiras”, oscustos do pagamento de 1 hora de trabalho por animal, para o veterinário colocar o útero manualmente devolta em seu lugar, tornam o negócio inviável. As galinhas que sofrem prolapso do útero morrem emagonia. Essa agonia torna-se ainda maior quando as outras começam a bicar e devorar o útero prolapsado.Somente nos Estados Unidos morrem mais de 2 milhões de galinhas por ano, por prolapso não tratado. Amorte em agonia dura, no mínimo, dois dias.

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As galinhas que não sofrem ferimentos nos pés por causa da grade de arame sobre a qual têm que ficar empé, as que não sofrem de fraturas devido à descalcificação óssea, e as que não morrem em agonia porprolapso do útero, seguem em vida forçadas pelas doses maciças de ração e exposição à luz artificial,pondo ovos ininterruptamente. Quando sua produtividade diminui, e o empresário não pode baixar onúmero de ovos oferecidos ao mercado por dia, elas são enviadas para o abatedouro, virando alimentosprocessados (sopas, pós, e embutidos). Se o empresário fornece para consumidores com alguma variaçãona demanda, as “poedeiras” passam por um “choco” forçado, o que as leva a renovar a carga hormonal evoltar aos níveis de produtividade anteriores. “Durante o choco forçado, descreve Marcus, as galinhas nãorecebem qualquer alimento por sete a quatorze dias. A luz é diminuída para imitar as condições doinverno, estressando o corpo por antecipação da primavera. Muitas semanas após o choco forçado aprodutividade volta aos níveis lucrativos normais. Mas o choco forçado tem um custo alto. Mata as avesmais fracas, e sem dúvida causa a todas, sofrimento – durante o choco elas perdem até 30% de seu pesocorporal.”9

Dado que o valor comercial das galinhas “gastas” é baixíssimo, há produtores que sequer se dão aotrabalho de as vender para abatedouros. Nos Estados Unidos há produtores que as colocam simplesmenteem contêineres e os enterram, sem antes matá-las. Em San Diego, Califórnia, um produtor foi denunciadoporque os vizinhos o viram usando o triturador de madeira para triturar as galinhas “gastas” vivas. Noinquérito, o produtor reconheceu ter praticado isso com 30 mil galinhas. O médico veterinário, Dr. GreggCutler, membro do comitê de bem-estar animal da American Veterinary Medical Association, emboratenha declarado não haver autorizado os produtores a usarem o triturador de madeira para dar fim àsgalinhas “gastas”, afirmou concordar com tal método de extermínio. Há produtores que se livram dasgalinhas em lixões.10 Comer ovos, portanto, não é uma forma “mais ética” de cuidar de sua dieta. Por trásde um ovo estão todas as cenas descritas acima, e outras que não dá tempo para descrever aqui.

Mas, pode estar pensando quem é ovo-vegetariano, o que haveria de errado em comer ovos de galinhascriadas soltas nas fazendas de produção orgânica?

As galinhas produzidas nas fazendas orgânicas são irmãs dos pintainhos machos mortos no primeiro dia devida. Analogamente ao que se passa com as galinhas confinadas em gaiolas para a postura de ovos,também as galinhas criadas soltas nas fazendas orgânicas são enviadas para o matadouro quando nãopõem ovos na quantidade suficiente para manter o negócios dos ovos rentável ao produtor. Se não foremmandadas para a morte, essas galinhas orgânicas podem viver até oito ou nove anos, ao contrário das quesão abatidas ao fim do período de postura. Mas, para que suas vidas não implicassem dor e sofrimento, epara que suas mortes não fossem uma execução sumária, as galinhas criadas soltas deveriam recebercuidados médicos, ter espaço para viverem bem, seguindo os padrões do bem próprio da espéciegalinácea, e alimentação nutritiva. Os custos desses três cuidados tornariam o ovo da galinha orgânicaquatro vezes mais caro a unidade, segundo Marcus.11 Singer chega a referir-se a sete vezes mais caro opreço de um ovo de galinha orgânica, do que o de galinha confinada.12

Ao final da vida de uma galinácea usada para pôr ovos, teriam sido consumidos aproximadamente 500 Kgde grãos,13 o que tem seu equivalente em excrementos acumulados, contaminação do solo, das águas desuperfície e do lençol freático, do ar e multiplicação dos microorganismos, bactérias e viroses fomentadacom a densidade populacional galinácea. O espaço para manter vivas todas as galinhas que deixam debotar ovos de forma eficiente teria que ser também, pelo menos, quatro vezes maior do que o necessáriopara manter vivas as galinhas “ativas”.

Cientes dos custos altíssimos que a produção orgânica e ética de ovos representa, os produtores nãochegam a adotar o princípio ético da não-maleficência e da beneficência em relação à vida das galinhasusadas para a fabricação de ovos. Nos Estados Unidos, afirma Singer, não há produtores de ovos orgânicosgenuínos. Lá, chegou-se apenas ao meio do caminho da abolição. O que se faz é aumentar o espaço dasgaiolas, ou confinar as poedeiras em ambientes fechados mais amplos. Raras são as que podem ciscar forado galpão nos meses da primavera.14 De qualquer modo, todas são enviadas à morte ao fim do cicloprodutivo. Comer ovos é, portanto, ser favorável à matança das galinhas que os põem.

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Ao mesmo tempo em que parecem mais éticos do que os produtores de ovos que mantém as galinhasconfinadas em gaiolas do tamanho da caixa de um sapato, os produtores orgânicos seguem os mesmospadrões capitalistas de produção, pois os consumidores de ovos de galinhas soltas não se incomodam como fato de que as galinhas que põem ovos para eles são mortas como as demais ao final de seu ciclo depostura “eficiente”. Comer ovos, portanto, não pode ser considerado mais ético do que comer carne ouseus derivados. Dor, sofrimento e morte compõem o cenário de cada ovo, apesar de sua aparência tãoinocente e lisinha.

Por que não é inocente “comer” leite e laticínios?

Analogamente ao que ocorre com o consumo “inocente” de ovos, o consumo de leite e derivados tambémnão deixa margem alguma para a “inocência” na escolha dietética. É bom lembrar, logo de início, que“todas” as vacas “leiteiras” são abatidas, sem dó nem piedade. O que as diferencia das condenadas ao“corte” não é que elas “pelo menos, podem viver”, e sim que a vida dolorosa à qual são condenadas duramuito mais tempo do que a vida à qual são condenados os indivíduos destinados à indústria da “carne”.

Grande parte das vacas produzidas para fornecer leite pode viver, pelo menos uma parte de suas vidas, aoar livre, pastando. Mas isso não implica concluir que suas vidas são boas, ou que tomar o leite tirado delasnão tem qualquer implicação ética relevante. As vacas que vivem em lugares muito quentes e secos sãogeralmente mantidas em confinamento, pois não há grama que as possa alimentar convenientemente.Nesse caso, elas são alimentadas mecanicamente por aparelhos que despejam ração e servem água. Nãohá para o animal qualquer chance de escolher o que vai comer. Quando confinadas em galpões,geralmente estes recebem um número muito maior do que o conveniente para garantir o bem-estar físicodo animal e permitir que forme seu grupo social ou estabeleça a hierarquia social necessária ao seubem-estar emocional. As vacas são presas por uma coleira e assim mantidas, com as cabeças próximas aocomedouro. Elas não têm liberdade de mover-se, trocar de lugar, escolher o melhor ângulo para receber acomida.

As vacas, escrevem Singer e Mason, “possuem intensa vida emocional. Elas formam laços de amizadecom duas, três, quatro ou mais vacas e, se puderem, passam a maior parte do tempo juntas, muitas vezeslambendo e cuidando umas das outras. Por outro lado, elas também podem desenvolver antipatia poroutras vacas e guardar ressentimento por meses ou até anos.15

A vaca destinada à produção de leite vive grávida 9 de cada 12 meses. Em média, tiram-se 20 litros deleite por dia de cada uma dessas vacas. “Para aumentar ainda mais a produção do leite [escrevem Singer eMason], [há produtores que] aplicam injeções, duas vezes por mês, de BST, ou somatotrofina bovina, umhormônio de crescimento geneticamente desenvolvido. O BST foi proibido no Canadá e na UniãoEuropéia em função das preocupações com a saúde e o bem-estar das vacas leiteiras, mas é amplamenteutilizado nos Estados Unidos. Ele aumenta a produção de leite em cerca de 10%, mas o local da injeçãopode ficar inchado e sensível. O BST também pode aumentar problemas de mastite, uma infecçãomamária dolorosa que aflige cerca de uma em cada seis vacas leiteiras.16 Os dois estresses acumulados epraticamente ininterruptos, gravidez e lactação, esgotam o metabolismo das vacas. Somente nos EstadosUnidos são abatidas anualmente mais de um milhão de vacas em razão de sua fraqueza para continuar aproduzir o leite ou manter mais uma gestação. Quem bebe leite, come iogurte e queijos, deve lembrar-sedessas mortes também, não apenas da morte da própria vaca que será abatida depois de ser explorada pordois ou três anos pela extração de seu leite. Somadas às mortes das mães, é preciso contar os 9% debezerros que morrem antes do “desmame”, por terem sido gestados em condições de extremo cansaço efraqueza das mães. Essas mortes ocorrem no primeiro ou segundo dia do nascimento.17

Os bezerros, na indústria do leite, são amamentados apenas por dois dias, enquanto o leite é colostro.18 Afinalidade para a qual nascem não é para que possam gozar suas vidas, mas causar o disparo hormonal noorganismo de suas mães, que as leva à produção de leite. Nascidos, os bezerros que sobrevivem aodesmame no segundo dia de vida, quando acaba o colostro, ou são abatidos, ou enviados para a indústriada vitela, que os manterá num caixote sem luz solar, sem espaço para que possam pular, mover-se ou

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prover-se, e sem alimentação nutritiva, pois o objetivo é que sua carne fique pálida e macia, ao gosto doscomedores humanos.

Por isso, quem toma leite, come iogurte e queijo deve ter em mente a morte das vacas por exaustão, oabate delas quando não são mais eficientes na produção de leite, e a morte de todos os seus filhos, seja porfraqueza, seja após sua sobrevida nos caixotes escuros da indústria de vitela. Afirmar, portanto, queconsumir leite não implica em “matar” ou “torturar” animais é uma impropriedade. Implica, sim. Sequeremos ser éticos em nossa dieta, é preciso conhecer a realidade da produção de leite.

Cada vaca é usada para gestar, no mínimo, três vezes. Nove meses de gestação, três meses de pausa enova inseminação artificial. Cada parto representa para a mãe a dor e o sofrimento de ver seu filhoarrancado dela no primeiro, segundo ou terceiro dia de vida. Markus sugere que “o trauma causado poressas separações é uma razão pela qual algumas vacas acabam sendo mandadas para o matadouro maiscedo. Na maior parte dos casos, as vacas são levadas para o abate, ou porque ficaram doentes, ou porquea quantidade de leite caiu abaixo dos níveis tolerados pela margem de lucro dos produtores. Mas, em pelomenos 1% dos casos, as vacas são mortas por perderem sua doce disposição psicológica, por tornarem-seperigosas. Quando levadas para a ordenha mecânica, algumas dão coices nos trabalhadores que operam asmáquinas de tirar leite. Uma vaca leiteira pode pesar meia tonelada, e seu coice pode ser mortal. As vacasque repetidamente tentam escoicear os trabalhadores são enviadas para a morte, pois são perigosas, nãoimportando quanto leite produzem.”19

O tempo médio de vida de uma vaca, escrevem Singer e Mason, pode ser de até 20 anos, mas asdestinadas a produzir leite vivem apenas de 5 a 7 anos. Elas são abatidas quando cai a produção do leite.Cada vez que dão à luz, passam pela mesma agonia de terem seus filhos levados embora nos três primeirosdias de vida. A mãe fareja os resíduos de sangue e placenta que lambeu do filhote, e muge por dias oumesmo semanas. Muitas sofrem este luto a ponto de entrarem em depressão.20

Além do sofrimento pelo qual passam as vacas leiteiras ao terem seus filhos tirados dela e ao terem que sesubmeter a uma nova gestação passados três meses após encerrada a anterior, o consumo de leite tambémresponde pelo alto volume de poluição aérea nas regiões nas quais as vacas são criadas. Na digestão dadieta não natural à qual são forçadas para produzirem mais leite, seu sistema digestivo produz uma imensaquantidade de gás metano, responsável pelo aquecimento global.21 Os dejetos depositados a céu abertosão poluidores do ar, do solo e das águas, além de contaminarem o lençol freático da região leiteira. Tudoisso torna o consumo de leite anti-ético.

Por que não é inocente “comer” vitela?

A indústria da vitela é um subproduto da indústria do leite. Quem consome leite tem responsabilidade pelaseparação brutal de mães e filhos após o parto, produção, comercialização, confinamento, morte econsumo de bezerros usados pela indústria de vitela. Se não houvesse inseminação artificial para garantira oferta de leite, não haveriam bezerros sofrendo por quatro a seis meses após o nascimento.

Segundo Singer e Mason, “os bezerros são separados da mãe logo após o nascimento, [...] mantidosanêmicos, não receb[em] alimentos fibrosos, não t[êm] possibilidade de exercitar-se e [são] mantidos embaias tão estreitas que não consegu[em] se virar.” [EA, p. 2]. O bezerro destinado ao abate parafornecimento de “carne de vitela” vive apenas 16 semanas. Mas, este tempo tão curto de vida nãorepresenta para ele menor agonia. O animal é forçado a viver na semi-escuridão, numa baia tão estreitaque ele jamais pode girar seu corpo. Além do mais, conforme o descrevem Singer e Mason, o bezerro ficaamarrado pelo pescoço. Sem o afeto da mãe, e impedido de fazer vínculos com outros de sua espécie, oanimal também não pode alimentar-se de forma específica. Recebe uma “mistura líquida de produtos deleite em pó, amido, gordura, açúcar, antibióticos e outros aditivos. Sua dieta é deliberadamente tão baixaem ferro que ele desenvolve uma anemia subclínica.”22 Essa carne tem um tom rosado e é tão macia quepode ser cortada sem o uso de facas. Mas, para agradar à vista e ao palato do comedor humano, “obezerro não terá acesso à palha ou feno para o leito – se tivesse, seu desejo natural por fibras e por teralgo para mastigar o induziria a comer a palha e o feno e, como eles contêm ferro, também isso alteraria a

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cor de sua carne. As baias de madeira e a corda no pescoço são parte do mesmo plano. Se a baia fosse demetal, ele a lamberia e, se pudesse se virar, lamberia a própria urina – novamente, para satisfazer suanecessidade de ferro.”23

Ética para com os animais, o ambiente físico natural e para consigomesmo

Ao abandonar a moral do comedor tradicional, o sujeito pode temer ameaçar seu bem próprio em nome dobem-estar dos animais e do planeta, este ameaçado, por sua vez, pelo consumo de carne, ovos e laticínios.O interesse próprio acaba por configurar um pseudo-dilema moral: como o que estou acostumado a comer,ou deixo de comer o de costume e busco nutrientes em outras fontes de origem apenas vegetal? Vouadoecer? Vou perder a força mental, a resistência física e a energia sexual? Vou gastar mais dinheiro comcomida do que se comprasse alimentos de origem animal? Confrontado pela primeira vez cominformações que não lhe permite mais manter a própria inocência em relação a seu padrão dietético, ocomedor padronizado tradicional fica assombrado com tais questões.

Donna Maurer aponta duas formas complementares na argumentação antropocêntrica em favor dovegetarianismo: uma, enfatiza a autoridade de quem decide abolir o consumo de produtos de origemanimal, e os princípios em nome dos quais os vegetarianos passam a viver: liberdade, escolha e nãocoerção, por um lado, e reprovação de ações injustas e discriminatórias, por outro. Outra, enfatiza osriscos e ameaças à saúde e bem-estar humanos, o equilíbrio ecológico e o suprimento adequado decomida.24 Mas, o vegetariano pode superar o antropocentrismo em sua argumentação e modo de comer.

Michael Allen Fox, por sua vez, lista argumentos que sustentam a decisão de tornar-se vegetariano, quevão desde a própria saúde até o aperfeiçoamento espiritual e religioso, a saber:

“1. Saúde

2. Sofrimento e morte dos animais

3. Preocupação moral imparcial e desinteressada

4. Preocupação ambiental

5. Manipulação da natureza

6. Fome mundial e injustiça social

7. Formas interconectadas de opressão

8. Compaixão e similitude entre espécies

9. Ahimsa ou não-violência universal

10. Argumentos espirituais e religiosos”.25

De qualquer modo, conforme Fox bem o reconhece, quase todos os argumentos estão fundados em umanova concepção do estatuto moral de animais não-humanos na comunidade de sujeitos morais. “Daperspectiva moral [escreve Fox], isso implica que aqueles que desejam defender o consumo de carnedevem demonstrar que não estão fazendo nada de errado ou são indiferentes ao sofrimento e dano, outerão de concordar que tal sofrimento e danos devem ser mitigados ou eliminados de modoconvincente.”26 Devido à dificuldade em argumentar em favor de qualquer dessas duas direções, temosum caso em que a responsabilidade pela argumentação cabe aos que defendem o consumo de carne, não ocontrário. Mas, devido ao fato de que a maioria das pessoas não tem oportunidade de ouvir os argumentoscontrários ao consumo de carne, os vegetarianos não podem se dar por satisfeitos e esperar o fracasso dos

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comedores de carne em justificar o que estão fazendo. Se há argumentos racionais convincentes quepodem ajudar as pessoas a optarem pelo consumo exclusivo de alimentos de origem vegetal, os veganosnão podem furtar-se à responsabilidade moral de apresentarem publicamente esses argumentos. Omitir-senão é a melhor estratégia, nem do ponto de vista político da necessidade que os animais ora têm de seremdefendidos da agressão humana, nem do ponto de vista moral, considerando-se que a distinção entreanimais humanos e não-humanos é justamente a liberdade para fazer e deixar de fazer o bem e o mal.Discutir publicamente os fundamentos da escolha vegana possibilita que os onívoros e os ovo-lacto-vegetarianos possam pensar um pouco a respeito de seus hábitos de consumo alimentar.

A grande barreira a ser derrubada na tradição moral alimentar é a que associa comer carne animal àevidência de superioridade humana. Seguindo a hipótese de Nick Fiddes, Michael Allen Fox admite: “Aomatar animais por causa de sua carne, tornamos sua subserviência e morte instrumental para nosso própriodesenvolvimento; nós reafirmamos nossa exigência de sermos a espécie dominante ao mesmo tempo emque satisfazemos nossa necessidade básica de comida. Pelo menos até certo ponto, também afirmamos odireito de exercer poder sobre a vida e a morte e de aniquilar o estranho outro.”27

Concluindo

Se levamos a sério os critérios que definem um princípio ético, não podemos admitir que o estilo de nossoshábitos de comedores implique em inflição de agonia e morte a bilhões de animais a cada ano. Matar só éadmissível se for a única saída para salvar a própria vida. Banalizar a vida de seres de outras espécies,como se para cada um deles não fosse valioso estar vivo, é admitir que a própria vida possa ser banalizadapor outros, que igualmente desdenham o valor que o fato de estar vivo possa ter para nós. A ética exigecoerência entre o que se deseja que os outros respeitem, quando se trata de garantir nossa vida,integridade física, emocional e social, e o que devemos reciprocamente ao outro, ainda que esse outro nãotenha o mesmo formato e aparência de um ser da nossa espécie. A imparcialidade, por um lado, nãoadmite que tenhamos pesos e medidas diferentes para avaliar o que tem valor igual. Por outro lado, elanão admite que obtenhamos benefícios e vantagens pessoais às custas da dor, sofrimento e morte deoutros. Não há nada mais anti-ético do que buscar o próprio prazer e bem-estar às custas do sacrifício doprazer e do bem-estar alheio. O que fazemos aos animais, quando comemos ou consumimos produtosfabricados a partir de seus organismos, não pode ser considerado ético. O princípio da não-maleficêncianos proíbe de julgar éticas as ações que separam o benefício de uns, dos custos dolorosos que acabamsendo jogados sobre outros. O respeito à igualdade da condição de sermos todos os vivos vulneráveis àdor e à morte, à angústia e ao sofrimento, é a única saída para o aprimoramento de nosso sentido ético,especialmente à mesa.

Muito obrigada, pela honra do convite.

Sônia. T. Felipe

Palestra proferida no Encontro Temático da SVB-Brasília, 16 e 17 de agosto de 2008.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOX, Michael Allen. Deep Vegetarianism. Philadelphia: Temple University Press, 1999.

MARCUS, Erik. Meat Market: Animals, Ethics & Money. Boston, Ma: Bio Press, 2005.

POLLAN, Michael. O Dilema do Onívoro: Uma história natural de quatro refeições. RJ. Intrínseca, 2007.

POULAIN, Jean-Pierre. Sociologias da Alimentação. Florianópolis: Edufsc, 2006.

SINGER, Peter; MASON, Jim. A Ética da Alimentação: Como nossos hábitos alimentares influenciam omeio ambiente e o nosso bem-estar. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

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Brasília, 16 de agosto de 2008

NOTAS

* Este trabalho é dedicado às organizadoras do IV Congresso Temático da SVB e aos seus participantes,realizado em 16 e 17 de agosto de 2008. Agradeço ao Engenheiro [vegano] Dr. Arno Bollmann a leituraatenta da versão preliminar deste texto, e as sugestões para que algumas passagens fossem escritas commais clareza.

1 POULAIN, Sociologias da Alimentação, 2002.

2 FOX, Deep Vegetarianism, p. 144.

3 FOX, Deep Vegetarianism, p. 149.

4 Apud FOX, p. 55.

5 Cf. Erik MARCUS, Meat Market: Animal, Ethics and Money, p. 16.

6 Ibid., p. 17.

7 Ibid., p. 18.

8 Ibid., p. 19.

9 Ibid., p. 21.

10 SINGER, Peter; MASON, Jim. Á ética da alimentação, p. 115.

11 MARCUS, MM, p. 49-50.

12 SINGER; MASON, EA, p. 119.

13 MARCUS, MM, p. 49.

14 SINGER; MASON, EA, p. 118-119.

15 SINGER; MASON, EA, p. 60.

16 Ibid., p. 60-61.

17 MARCUS, MM, p. 35.

18 Ibid., p. 36.

19 Ibid..

20 Cf. SINGER; MASON, EA, p. 62 ss.

21 Ibid., p. 65.

22 Ibid., p. 63.

23 Ibid., p. 63 e p. 295.

24 Apud FOX, DV, p. 60.

25 Ibid., p. 61.

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26 Ibid., p. 52.

27 Ibid., p. 26.

Sônia T. Felipe é doutora em Teoria Política e Filosofia Moral com pós-doutorado em Bioética-ÉticaAnimal, co-fundadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Violência, ex-voluntária do Centrode Direitos Humanos da Grande Florianópolis, co-autora de ‘A violência das mortes por decreto’(Edufsc), ‘O corpo violentado’ (Edufsc), ‘Justiça como Eqüidade’ (Insular) e ‘Por uma questão deprincípios’ (Boiteux), ‘Ética e experimentação animal: argumentos abolicionistas’ (Edufsc), colaboradoranas coletâneas, ‘O utilitarismo em foco’ (Edufsc), ‘Éticas e políticas ambientais (Univ.Lisboa), ‘Filosofia eDireitos Humanos’ (Edufce), ‘Tendências da Ética Contemporânea’ (Vozes), ‘Instrumento Animal’ (Canal6). É professora e pesquisadora dos Programas de graduação e pós-graduação em Filosofia, e doDoutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas, da UFSC. Investigadora Permanente do Centro deFilosofia da Universidade de Lisboa e Membro do Bioethics Institute da Fundação Luso-americana para oDesenvolvimento, Lisboa.

Texto já publicado em http://www.pensataanimal.net

Ouça palestra de Sônia T. Felipe sobre Ética e Direitos Animais

http://www.veggietal.com.br/palestra-sonia-felipe/

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