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1 ESTUDO DO PROCESSO CONSTRUTIVO DE UMA LAJE PRÉ-FABRICADA COM VIGOTAS TRELIÇADAS Rogério Roberto Costa, Estudante de Engenharia Civil, Centro Universitário do Norte UNINORTE, Manaus/AM. José Roberto De Queiroz Abreu, Orientador no Centro Universitário do Norte UNINORTE, Manaus/AM RESUMO As Lajes com vigotas treliçadas estão ganhando cada vez mais espaço no mercado da construção civil. Elas fazem parte do grupo dos pré-moldados, que assim como eles, também possui a economia e a praticidade como principal característica. Uma das principais vantagens desse tipo de laje, é a capacidade que ela possui de vencer grandes vão livres, a agilidade no processo de montagem e a redução da mão de obra. O presente estudo tem como principal característica relatar de forma entendível e eficaz o processo construtivo de uma laje treliçada. Sobrelevando os principais problemas que geralmente ocorrem durante as etapas de execução, como também as principais vantagens. A metodologia aplicada para esse artigo foi um estudo de caso, onde foram coletadas informações diretamente do canteiro de obra. Onde por intermédio de entrevistas com os funcionários e a realização de formulários foi possível obter as informações necessárias para a elaboração deste trabalho. O estudo constitui-se também de revisão de literatura, de análise de literatura publicada em artigos, livros, tcc, monografias e normas. Com essa pesquisa será possível perceber o quão vantajoso é o uso de lajes com vigota treliçadas. Palavras-chave: Vigotas treliçadas, laje pré-fabricada, construção civil.

ESTUDO DO PROCESSO CONSTRUTIVO DE UMA LAJE PRÉ … · 3 Com as lajes pré-moldadas o processo é diferente, pois elas são fortemente recomendadas quando se deseja vencer grandes

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ESTUDO DO PROCESSO CONSTRUTIVO DE UMA LAJE PRÉ-FABRICADA COM

VIGOTAS TRELIÇADAS

Rogério Roberto Costa, Estudante de Engenharia Civil, Centro Universitário do Norte –

UNINORTE, Manaus/AM.

José Roberto De Queiroz Abreu, Orientador no Centro Universitário do Norte –

UNINORTE, Manaus/AM

RESUMO

As Lajes com vigotas treliçadas estão ganhando cada vez mais espaço no mercado da

construção civil. Elas fazem parte do grupo dos pré-moldados, que assim como eles, também

possui a economia e a praticidade como principal característica. Uma das principais vantagens

desse tipo de laje, é a capacidade que ela possui de vencer grandes vão livres, a agilidade no

processo de montagem e a redução da mão de obra. O presente estudo tem como principal

característica relatar de forma entendível e eficaz o processo construtivo de uma laje treliçada.

Sobrelevando os principais problemas que geralmente ocorrem durante as etapas de execução,

como também as principais vantagens. A metodologia aplicada para esse artigo foi um estudo

de caso, onde foram coletadas informações diretamente do canteiro de obra. Onde por

intermédio de entrevistas com os funcionários e a realização de formulários foi possível obter

as informações necessárias para a elaboração deste trabalho. O estudo constitui-se também de

revisão de literatura, de análise de literatura publicada em artigos, livros, tcc, monografias e

normas. Com essa pesquisa será possível perceber o quão vantajoso é o uso de lajes com vigota

treliçadas.

Palavras-chave: Vigotas treliçadas, laje pré-fabricada, construção civil.

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1. INTRODUÇÃO

As lajes treliçadas são muito utilizadas nos dias de hoje, principalmente em

construções residenciais e comerciais. Elas fazem parte do grupo dos pré-moldados e possui

como principal característica a economia e a praticidade no seu processo construtivo, apesar de

sua facilidade de execução, é de extrema importância que se tenha cuidados especiais durante

esse processo.

Mas, antes de adentrarmos nos parâmetros conceituais das lajes treliçadas em

específico, é de extrema relevância colocarmos os conceitos e definições de lajes, destacando

os principais tipos existentes no mercado. Segundo a NBR 6118:2003, item 14.4.2.1, tem-se

por definição estrutural que lajes ou placas são “elementos de superfície plana sujeitos

principalmente a ações normais a seu plano. As placas de concreto são usualmente denominadas

de lajes”.

Segundo BARROSO (2011), diz que a laje se define em projeto como “a concepção

de espaço, este definido por um plano de apoio – a laje – sobre a qual iremos construir e elaborar

este espaço”.

Já GUIMARÃES (2010), afirma que as lajes serão classificadas como elementos

estruturais planos com preenchimento horizontal e que possuirá duas grandes dimensões que

delimitará a área de determinado compartimento. Esses elementos estruturais terão como

função receber as cargas provenientes da construção, e distribuí-las para os apoios. A meio

destas cargas estão a própria carga da laje e da estrutura, as cargas acidentais e as cargas

variáveis provocadas na laje pela utilização de carros, móveis, pessoas e variados tipos de

equipamentos.

Após definido os conceitos de laje, se faz necessário destacar os principais tipos de

lajes utilizados no mercado, que são: as lajes maciças e as pré-moldadas.

ARAÚJO (2003), diz que as lajes maciças são placas com espessura uniforme, sendo

apoiada ao longo de suas extremidades. Esses apoios podem ser concebidos por alvenarias ou

por vigas, sendo muito utilizada onde os vãos são relativamente pequenos em predominância

nos edifícios residenciais. Nada impede o seu uso em vão maiores, porém, na tentativa de

alcançar a resistência ideal para a estrutura, ela acaba ganhando pesos desnecessários para a

edificação, desperdiçando material e impactando nos custos.

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Com as lajes pré-moldadas o processo é diferente, pois elas são fortemente

recomendadas quando se deseja vencer grandes vãos sem o auxílio de pilares e vigas

intermediárias, dando maior flexibilidade aos ambientes.

Segundo a NBR 9062 (2001), diz que as lajes pré-moldadas pode ser definido como

elemento pré-fabricado, ou seja, elemento este que é executado industrialmente, mesmo em

instalações temporárias em canteiros de obra, sob condições rigorosas de controle de qualidade,

onde os elementos são produzidos em usina ou instalações analogamente adequadas aos

recursos para produção e que disponham de pessoal, organização de laboratório e demais

instalações permanentes para o controle de qualidade, devidamente inspecionada pela

fiscalização do proprietário.

Já CHAVES (2012), diz que as lajes pré-moldadas são constituídas por vigas pré-

fabricadas de concreto armado, nas quais se apoiam elementos de material leve. Esses

elementos podem ser lajotas de concreto, de cerâmica ou a mais utilizada de EPS. Sobre as

vigas pré-fabricadas e os elementos de material leve, aplica-se uma camada de concreto, de

modo a cobri-los completamente. Geralmente, são usadas para reduzir tempo e mão de obra na

edificação, pois esse modo de construção é um processo construtivo rápido e econômico.

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2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo desta pesquisa fica localizada no Condomínio Residencial

Renaissance na zona centro-sul da Cidade de Manaus, na Avenida Dr. Theomario Pinto da

Costa, nas proximidades da Praça das Letras, coordenadas (3°05’48’’S 60°01’45’’W). A obra

estudada fica dentro das dependências do condomínio, especificamente ao fundo da área de

lazer, onde será construído a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), conforme figura abaixo.

Figura 01

Fonte: google maps

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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Esta pesquisa tem como principal objetivo analisar o processo construtivo de uma laje

pré-fabricada com vigotas treliçadas.

3.2 Objetivos específicos

• Identificar os principais problemas decorrentes do processo construtivo da laje;

• Apresentar as principais vantagens;

• Relatar as etapas do processo construtivo da laje;

4. METODOLOGIA

Para a elaboração deste trabalho, foram feitos estudos em livros, revistas, artigos,

normas, trabalhos científicos e monografias, todos com temas relacionados ao assunto. Logo

em seguida foi feito um acompanhamento do processo construtivo de uma laje com vigotas

treliçadas onde por intermédio do acompanhamento foi possível traçar o seguinte fluxograma

do processo de execução.

Fonte: Elaborada pelo autor

Fabricação das vigotas

treliçadas

Montagem do escoramento

Posicionamento das placas

treliçadas

Posicionamento dos

enchimentos

Armaduras de distribuição e

negativas

Concretagem

Cura do concreto

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4.1 Conceitos gerais e técnicos quanto às lajes pré-moldadas

4.1.1 Lajes pré-moldadas

Segundo a NBR 6118 (2004) no item 14.7.7, diz que as lajes pré-moldadas são as lajes

moldadas no local ou com nervuras pré-moldadas, cuja zona de tração para momentos positivos

está localizada nas nervuras entre as quais pode ser colocado material inerte”. Elas são formadas

basicamente por uma parte pré-moldada de concreto armado (que são as conhecidas vigotas),

por elementos de enchimentos (blocos cerâmicos ou poliestireno expandido-EPS), e por uma

capa de concreto moldada no local, cuja função é de garantir a distribuição dos esforços atuantes

no elemento, aumentar sua resistência à flexão e nivelar o piso.

Cunha (2012) diz que os elementos de enchimento podem ser de blocos de concreto,

blocos cerâmicos ou blocos de poliestireno expandido. Já os elemento pré-fabricado podem ser

encontrados em concreto armado, concreto protendido e em forma de treliça.

Esse tipo de laje é amplamente utilizado, já que seus elementos de enchimentos e as

vigotas, por serem pré-fabricadas, facilitam no processo de montagem e servem de fôrma para

a capa de concreto que é confeccionada no local da obra. Quando comparada com as lajes

maciças, essa característica também traz reduções na quantidade de escoras utilizadas,

proporcionando economia de material e de custo final para a obra. Abaixo segue uma

representação da laje pré-moldada.

Figura 02

Fonte: maisengenharia.wordpress.com

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Conforme citado acima, irão existir três tipos de elementos pré-fabricados. Porém, esse

estudo irá particularizar apenas os elementos formados por vigotas treliçadas, por serem o

objeto de estudo dessa pesquisa.

4.1.1.1 Vigotas com armação treliçada

Conforme a NBR 14859-1, item 3.1.1, diz que as vigotas “são constituídas por

concreto estrutural, executadas industrialmente fora do local de utilização definitivo da

estrutura, ou mesmo em canteiros de obra, sob rigorosas condições de controle de qualidade.

Englobam total ou parcialmente a seção de concreto da nervura longitudinal.

CUNHA (2012) diz que as vigotas são formadas pela armação treliçada e pela base de

concreto, podendo ainda inserir armadura adicional dependendo do carregamento e

dimensionamento da laje. Ela irá ser o produto final que deverá ser entregue pelo fabricante ao

cliente, juntamente com os blocos de enchimento e um projeto de montagem. Ela é

dimensionada não somente para resistir aos esforços após a concretagem da laje, mais também

deve ter a rigidez para resistir ao transporte e montagem. A figura 03 representa o formato de

uma vigota treliçada.

Figura 03

Fonte: obramax.com .br

4.1.1.2 Armação treliçada

Segundo o Manual Técnicos de Lajes Treliçadas, “a armação treliçada é uma estrutura

metálica espacial prismática em que se utilizam fios de aço (CA60), soldados por eletrofusão

ou caldeamento, de modo a formar um elemento rígido composto de duas treliças planas,

inclinadas e unidas pelo vértice superior”.

Já a NBR 14862 (2002), diz que as armaduras treliçadas são armaduras de aço pronta,

pré-fabricada, em forma de estrutura espacial prismática, constituída por fios de aço paralelos

na base (banzo inferior), os quais resistem às forças de tração oriundas do momento fletor

positivo e um fio de aço no topo (banzo superior), que colabora como armadura de compressão

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durante a montagem e concretagem da laje treliçada, e pode colaborar na resistência ao

momento fletor negativo interligados por eletrofusão (caldeamento) aos dois fios de aço

diagonais (sinusóides), com espaçamento regular (passo), conforme indicado nas figuras 04 e

05.

Conforme o Manual técnico de Lajes treliçadas, as armaduras treliçadas iram possuir,

altura, base, passo saliência inferior, comprimento e diâmetro dos fios. A altura (h) é a distância

entre a superfície limite inferior (face inferior da saliência inferior) e a superfície limite superior

(banzo superior), perpendicular à base e no eixo da seção treliçada, dada em mm. A base (b) é

a distância entre as faces externas entre os fios que compõem o banzo inferior, dada em mm, e

mede entre 80 e 120 mm. Passo (p) é a distância entre eixos dos nós entre os aços que compõem

a armação treliçada, dada em mm, e tem sempre 20 mm. A saliência inferior é a distância entre

a face inferior do banzo inferior e a superfície limite inferior da armação treliçada.

Figura 04

Fonte: NBR 14862, 2002

Figura 05

Fonte: NBR 14862, 2002

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Geralmente, as armações são fabricadas em três comprimentos: 8, 10, e 12 metros,

pois a partir desses valores é possível obter os comprimentos de vãos mais comuns em projetos.

Abaixo, será apresentada uma tabela para consulta, com as padronizações das treliças

e solicitações de treliças especiais. Na primeira coluna, mostra os variados tipos de modelos de

treliças, diferenciados pela altura (h) e pelas suas linhas: leve (L), média (M), reforçada (R) e

pesada (P). Na segunda coluna, obedecendo os critérios da NBR 14862, especifica a treliça

(TR) discriminando novamente sua altura e na sequência o diâmetro dos seus fios.

Tabela 01

Fonte: Livro “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”

4.1.1.3 Armaduras Complementares

Segundo a NBR 14860-1 (2002), item 3.1.3, diz que as armaduras complementares são

armaduras adicionadas na obra, quando dimensionadas e disposta de acordo com o projeto da

laje. Podem ser:

• Longitudinais: utilizada quando da impossibilidade de fazer a integração de toda a

armadura passiva na pré-laje;

• Transversais: são armaduras que irão compor as armaduras inferiores das nervuras

transversais de travamento (caso haja necessidade);

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• De distribuição: são armaduras que são posicionadas na capa de concreto nas duas

direções transversal e longitudinal, com seção de no mínimo 0,9 cm²/m para aços CA

50, CA 60, contendo 3 barras por metro e tela soldada. Esse tipo de armadura tem como

funções: combater os efeitos da retração, consolidar a estrutura da nervura com a capa,

efetuar um controle da abertura de fissuras e efetivar a distribuição das cargas pontuais;

• Superior de tração: são armaduras dispostas sobre os apoios nas extremidades das pré-

lajes, no mesmo alinhamento das nervuras longitudinais (NL) e posicionadas na capa.

Proporcionam a continuidade das nervuras longitudinais e destas com o restante da

estrutura, o combate à fissuração e a resistência ao momento fletor negativo, de acordo

com o projeto da laje;

• Outras; são utilizadas para atender às necessidades particulares de cada projeto,

especificadas caso a caso.

4.1.1.4 Capa

Conforme NBR 14860-1 (2002) diz que capa é “placa superior da laje cuja espessura

é medida a partir da face superior do elemento de enchimento, formada por concreto

complementar”.

4.1.1.5 Concreto complementar

Segundo a NBR 14859-1 (2002) diz que o concreto complementar é o concreto

adicionado na obra, com a resistência, trabalhabilidade e espessuras especificadas de acordo

com o projeto da laje e as especificações de execução. Deve ser:

• Complementação das pré-lajes para a formação das nervuras e das nervuras transversais;

• Formação da capa;

Já o Manual Técnicos de Lajes treliçadas, diz que o concreto complementar é o

elemento que irá compor a mesa da nervura de maneira a resistir aos esforços de compressão

da laje em serviço e também em distribuir as cargas nas nervuras. Deve ter, no mínimo 3 cm de

altura, e em edifícios de múltiplos andares, utilizando uma altura mínima de 5 cm, este elemento

pode absorver esforços de vento dando maior rigidez à estrutura.

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4.1.1.6 Elementos de enchimento

SILVA (2012), diz que elementos de enchimentos são constituídos por materiais

inertes, maciços ou vazados, usualmente cerâmicos, de concreto ou poliestireno expandido

(EPS) e devem atender os requisitos da norma quanto ao desempenho, propriedades e

utilização. Estes são dispostos entre as vigotas com a função de substituir parte do concreto da

região tracionada e servir como fôrma para o concreto complementar fresco, diminuindo o peso

próprio da laje e o volume de concreto.

Apesar de não contribuir estruturalmente para a laje, a boa qualidade deste material é

de extrema importância principalmente durante a fase da montagem e concretagem da laje. Já

que os blocos de enchimentos serão os responsáveis por transferir o peso do concreto ainda

fresco às vigotas, que se apoiam sobre a linha de escora. Por conta disto, torna-se essencial,

traçar uma resistência mínima para este material, de modo que não comprometa essa função.

Segundo o Manual Técnico de Lajes treliçadas, diz que a resistência dos elementos de

enchimento deve ser tal que suporte uma carga mínima de 1,0 KN ou 100 KG, o suficiente para

suportar esforços de trabalho durante a montagem e concretagem da laje.

Os blocos de enchimento mais utilizados na atualidade são os blocos cerâmicos e os

blocos de poliestireno expandido (EPS). O EPS possui o peso mais leve como enchimento,

porém o cerâmico tem um custo menor. Uma outra característica do EPS é o alto grau de

isolamento térmico e acústico. Esses materiais possuem em suas extremidades laterais uma

espécie de dente de encaixe, cuja função é de garantir o posicionamento de suas bordas nas

vigotas. Assegurando que não ocorra o vazamento de concreto. A grande maioria dos blocos de

enchimentos possui chanfros na região dos seus vértices superiores, no intuito de reforçar a área

de concreto, e aumentar a resistência das nervuras.

Os blocos de enchimentos irão possuir algumas alturas padronizadas que serão

aplicadas em função da altura total da laje pré-fabricada. Conforme tabela abaixo.

Tabela 02

Fonte: Livro “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”

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4.2 Conceitos gerais e técnicos quanto ao sistema de escoramento

Segundo a NBR 15696 (2009) diz que os escoramentos são “estruturas provisórias

com capacidade de resistir e transmitir às bases de apoio da estrutura do escoramento todas as

ações provenientes das cargas permanentes e variáveis resultantes do lançamento do concreto

fresco sobre as fôrmas horizontais e verticais, até que o concreto se torne autoportante”. De

modo geral, o principal objetivo dos escoramentos é de garantir que não ocorra nenhum

problema durante a concretagem.

O sistema de escoramento é montado por guias-mestre e pontaletes, podendo ser

metálicos ou de madeira, com cerca de 30 cm de cutelo, com base em 3 pernas ou mais na

divisão do vão. Sob as pernas são colocados reforços para que não penetrem no chão (cunhas

de madeira) mais antes o chão deve ser preparado, em nível e compactado. Afim de se evitar

recalques prejudiciais provocados no solo ou na base de apoio do escoramento provocadas pelas

cargas por este transmitidas. A NBR 15696 (2009) afirma que, deve-se prever o uso de lastro,

piso de concreto ou pranchões, no intuito de corrigir irregularidades e melhorar a distribuição

das cargas, assim como cunhas ou hastes reguláveis, para ajustes de níveis. Também são

colocadas guias para o contraventamento e uma tábua de espelho que transfere as cargas

construtivas aos pontaletes. A figura 06 apresenta a etapa de escoramento.

Figura 06

Fonte: Livro “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”

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Os escoramentos devem ter rigidez para assegurar o formato e as dimensões das peças

da estrutura projetada, respeitando minimamente as tolerâncias indicadas pela norma NBR

14931. Eles devem também ser suficientemente estanques, de modo a impedir a perda de pasta

de cimento, admitindo-se como limite o surgimento do agregado miúdo da superfície do

concreto, conforme a norma NBR 15696 (2009).

Um ponto muito importante durante a execução dos escoramentos é a previsão das

contra-flechas. Segundo a NBR 14859-1 (2002), diz que a contra-flecha é o deslocamento

vertical intencional aplicado nas vigotas durante a montagem, por meio do escoramento. Ela é

utilizada como recurso para compensar as consequências indesejáveis das deformações devidas

à ação das cargas nas lajes. Geralmente, elas são requisitas pelo fabricante das treliças ou

conforme normas disponíveis em catálogos. A tabela abaixo apresenta algumas contra-flechas

aplicadas em função do vão da laje.

Tabela 03

Fonte: https://polyconcreto.jimdo.com/escoramento/

4.3 Processo executivo das lajes com vigotas treliçadas (estudo de caso)

Neste tópico será apresentado o estudo de caso da execução da laje com vigotas

treliçadas executada em um condomínio residencial na cidade de Manaus-AM. Serão

detalhados o processo construtivo, os principais problemas decorrentes da execução e no final

será apresentada as principais vantagens que esse método construtivo pode nos oferecer.

O processo executivo das lajes nervuradas treliçadas segue as normas da NBR 14931

de execução do concreto igualmente as de laje maciça simples e além disso também as normas

da NBR 9062 de execução de pré-moldados.

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4.3.1 Etapa 01: processo de fabricação das vigotas treliçadas

Nessa etapa foram produzidas as vigotas treliçadas. Na grande maioria das vezes, as

vigotas são produzidas em indústrias e empresas especializadas em pré-moldados, onde o

cliente tem a oportunidade de comprar diretamente da empresa o produto pré-fabricado,

agilizando no processo de montagem da laje. Mas, elas podem também, ser produzidas in loco.

Na obra estudada, optou-se por utilizar a fabricação das vigotas no canteiro de obras, no intuito

de obter economia com a racionalização do uso dos materiais e da mão de obra.

Para a realização desta etapa, foram necessários o uso de armações treliçadas, formas

metálicas, concreto, óleos desmoldantes e espaçadores. O processo inicia com a aplicação de

óleo desmoldante nas fôrmas metálicas. O uso do desmoldante facilita na hora da desforma e

garante um acabamento liso e totalmente sem bolhas na superfície das vigotas. Na grande

maioria das vezes, o operário por falta de conhecimento técnico acaba utilizando esse material

de forma incorreta, ou exagerando na aplicação ou aplicando material insuficiente, gerando

desperdícios desnecessários e causando danos estruturais nas vigotas no momento da realização

desfôrma.

Após a aplicação do óleo desmoldante e seguindo as orientações dos cálculos

estabelecidos pelo departamento de engenharia. São colocados os espaçadores, as ferragens de

distribuição e as treliças, com altura e largura requisitadas em projeto.

A próxima etapa consiste na concretagem das treliças, onde se utilizou um concreto

com resistência característica de 25 MPa. Segundo a NBR 14859-1 (2002), diz que o concreto

que compõe as vigotas pré-moldadas deve atender às especificações das NBR 6118, NBR 8953,

NBR 12654 e NBR 12655. A resistência característica à compressão será a especificada pelo

projeto estrutural, sendo exigida no mínimo classe C20. O concreto da classe C20 corresponde

à resistência característica à compressão aos 28 dias, de 20 Mpa. Assim sendo, a resistência

característica utilizada está dentro dos padrões estabelecidos nas normas.

Após o processo de concretagem, as vigotas passaram por um procedimento de cura

que consiste inicialmente em receber hidratamento com água nas primeiras 24 ou 36 horas. Em

seguida a vigota foi desformada e armazenada para concluir o seu processo de cura, conforme

figura abaixo.

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Figura 07

Fonte: Registro do autor

4.3.2 Etapa 02: processo executivo do escoramento

Para esse processo de escoramento, os construtores optaram por utilizar escoras de

madeira (madeirites, tábuas e pernamancas) por serem mais econômicas e de fácil utilização.

Como a laje possuía um vão variando de (3,40m a 5m), foram utilizadas apenas duas fileiras de

pontaletes, respeitando as orientações do “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”.

O primeiro passo consistiu em realizar o nivelamento e a compactação do terreno. De

modo que fosse possível a realização do nivelamento das escoras (garantindo o perfeito

alinhamento e nivelamento do material), e que permitisse as condições ideais para realizar a

construção das escoras, sem que ocorresse a inconveniente situação dos afundamentos dos

pontaletes no solo mal compactado. Para esse último caso usa-se cunhas de madeira como base

para os pontaletes afim de garantir a estabilização do mesmo.

Em seguida, com o solo nivelado e compactado deu-se início a montagem das escoras

realizando todos os processos de contraventamentos e travamentos dos pontaletes, impedindo

qualquer deslocamento que venha a ser gerado durante a concretagem da laje. Os construtores

se atentaram também em deixar uma altura adicional dos escoramentos no intuito de possibilitar

a execução das contra-flechas necessárias para a laje. Segue abaixo figura do processo

executivo das escoras.

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Figura 08

Fonte: Registro do Autor

4.3.3 Etapa 03: Posicionamento das vigotas treliçadas e dos blocos de enchimento

Após o termino da construção dos escoramentos, é dado início à colocação das vigotas,

que devem sempre ser apoiadas sobre a linha de escoramento. A colocação das vigotas deve

seguir as especificações sinalizadas em projeto, respeitando os espaçamentos e o sentido de

locação em relação ao vão. Para auxiliar na colocação, na grande maioria das vezes, é usado o

material de enchimento como conferência de gabarito, que foi exatamente o que os construtores

fizeram. O material de enchimento utilizado foi o EPS. Na medida em que se colocava as

vigotas, os blocos de enchimento eram igualmente colocados, sempre no intervalo de duas

vigotas. Após terminado as primeiras fiadas de blocos de EPS era inserido uma outra vigota,

que no mesmo instante era iniciado a colocação de outra fiada, e assim seguia colocando a

primeira fiada de cada carreira de mais uma vigota correspondente ao vão até que o pano de

laje seja completo por vigotas espaçadas pelos blocos de enchimentos. A figura 09 ilustra esta

etapa no processo.

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Figura 09

Fonte: Registro do autor

4.3.4 Etapa 04: Instalação das armaduras de distribuição e negativas

Com a laje totalmente preenchida com as vigotas e os blocos de enchimento, é dado o

momento para a colocação das ferragens de distribuição e as ferragens negativas. Vale ressaltar

que para esta etapa, é de suma importância que seja dada a devida atenção às orientações e

recomendações estipuladas pelo projeto estrutural. O não cumprimento desta etapa, pode gerar

problemas irreversíveis para a laje.

O responsável pela instalação (ferreiro), iniciou a etapa com a instalação das ferragens

de distribuição. O material utilizado foram telas pré-fabricadas de aço soldado, constituídas por

fios de aço CA-60 nervurado, material de alta resistência mecânica, sobreposto e soldados entre

si em todos os pontos de cruzamento, formando malhas quadradas. O processo consistiu

basicamente em colocar as ferragens no sentido transversal às vigotas, tendo apenas o devido

cuidado em posicionar as telas de modo que ficasse no meio da capa, evitando o máximo do

possível para que elas não fossem amarradas ao fio superior da treliça. A figura 10 ilustra o

processo de colocação das armaduras de distribuição.

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Figura 10

Fonte: Registro do autor

Com as ferragens de distribuição instaladas, encerra-se essa etapa do processo com a

colocação das armaduras negativas. O procedimento é simples, porém deve-se seguir

rigorosamente as orientações de locação das armaduras (contidas no projeto estrutural) para que

ela seja colocada apenas nas regiões onde o momento negativo irá atuar. Geralmente essas

regiões são sobre vigas e na passagem de uma laje para outra, conforme figura abaixo.

Figura 11

Fonte: Registro do autor

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4.3.5 Etapa 5: Concretagem da laje

Nessa etapa é praticamente o encerramento do processo de montagem da laje. É a etapa

mais importante e delicada da obra, pois qualquer erro que tenha sido executado nas atividades

anteriores pode acarretar em seríssimos problemas que podem prejudicar a concretagem.

Antes da realização da concretagem foi realizado uma limpeza na laje despejando

água, de modo que fosse removido qualquer indício de partículas ou resíduos existentes na laje.

A água serve também para saturar os blocos e as nervuras, para que no momento do

despejamento do concreto, a nata do concreto não seja perdida para esses elementos. Nessa

etapa deve-se ter o cuidado para não jogar água concomitantemente com o concreto, pois isso

pode acarretar na modificação da resistência característica do concreto.

Com a laje livre de impurezas e totalmente saturada é dada a partida para iniciar a

concretagem. O concreto foi espalhado preenchendo todos os espaços vazios, principalmente

nos encontros entre as vigas e os blocos de enchimento (EPS) garantindo a solidez do conjunto.

Nessa etapa foi fundamental o uso do vibrador, pois ele garantiu o total adensamento do

concreto na laje. As figuras 12 e 13 ilustram a etapa da execução da concretagem.

Figura 12

Fonte: Registo do autor

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Figura 13

Fonte: Registro do autor

Abaixo segue alguns pontos que foram colocados para que a concretagem da laje fosse

executada sem a ocorrência de problemas, que foram:

• O devido cuidado no lançamento do concreto para que não ocorresse

sobrecargas na laje em pontos isolados.

• Nunca pisar diretamente sobre os blocos, evitando possíveis acidentes com a

quebra dos EPS.

• Colocar tábuas sobre as vigotas no sentido transversal para auxiliar no trânsito

sobre a laje.

• Verificar na medida do possível o Slamp do concreto, para que ele esteja

sempre atendendo a resistência característica solicitada pelo projeto e que

esteja com uma boa trabalhabilidade para a concretagem.

4.3.6 Etapa 06: Cura do concreto

Após terminado a concretagem da laje, é iniciado o processo de cura do concreto. A

cura do concreto é a técnica que visa à hidratação do concreto com o objetivo de diminuir os

efeitos da evaporação prematura da água na estrutura concretada, que tem como consequência

o surgimento de fissuras e trincas. A NBR 14931 (2004), diz que enquanto não atingir o

endurecimento satisfatório, o concreto deve ser curado e protegido contra agentes prejudiciais

para: evitar a perda de água pela superfície exposta, assegurar uma superfície com resistência

adequada e assegurar a formação de uma capa durável. A norma NBR 14931 (2004) fala

também que para elementos estruturais de superfície como as lajes, a cura deve ocorrer até que

o concreto alcance a resistência à compressão igual ou superior a 15Mpa.

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O tratamento de cura para a laje estudada durou algo em torno de sete dias. Durante

sete dias consecutivos o servente realizava o processo de hidratação da laje. Ele molhava a laje

com frequência no intuito de evitar o seu ressecamento. O procedimento era realizado três vezes

ao dia, sempre respeitando os horários indicados que eram por volta das 8h, 12h e 15h. A figura

14 ilustra o processo de hidratação da laje.

Após realizado o tratamento de cura do concreto, o próximo passo é apenas esperar

que a laje atinja o seu período de cura, que segundo a norma NBR 6118, pode durar de 18 a 28

dias. Contados a partir da data de concretagem.

Figura 14

Fonte: Registro do autor

5. RESULTADOS E DISCUÇÕES

Diante do estudo apresentado e da análise realizada do processo construtivo da laje,

foi possível identificar as principais vantagens que esse método construtivo pode nos

proporcionar, que são:

• A redução do peso próprio da laje;

• Redução do tempo gasto para executar a laje em comparação com as lajes

convencionais;

• Possui a capacidade de vencer grandes vãos com quantidade mínima de altura;

• Redução no uso de formas e escoras;

• Redução da mão de obra;

• Facilidade de execução;

• Possui a capacidade de ser executada sem vigas, necessitando apenas de elementos que

evitem a punção de pilares;

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• Possuem menores momentos em grandes vãos quando comparadas com as lajes

maciças;

• Facilidade nas instalações elétrica e hidráulicas;

• Possui melhor isolamento térmico e acústico;

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6. CONCLUSÃO

Este trabalho teve como principal objetivo analisar o processo construtivo de uma laje

pré-moldada com vigotas treliçadas, identificando os principais problemas decorrentes de sua

execução e apresentando as principais vantagens que esse método construtivo pode nos

proporcionar.

Em primeiro momento foram colocados, de forma generalizada, alguns conceitos

fundamentais referentes a lajes. Que conforme foi exposto, são elementos de superfície plana

sujeitos principalmente a ações normais a seu plano. Vimos também, que na grande maioria das

vezes, as lajes estarão classificadas como lajes maciças e lajes pré-moldadas.

As maciças, são as convencionais lajes de concreto armado, definidas como placas

com espessura uniforme, sendo apoiadas ao longo de suas extremidades. E as pré-moldadas,

são as lajes constituídas por elementos pré-fabricados, ou seja, elemento este que é executado

industrialmente.

A laje objeto de estudo para essa pesquisa, foi a laje pré-moldada com vigotas

treliçadas. Que conforme foi definido neste trabalho, é um tipo de laje formada por uma vigota

com armação treliçada, por blocos de enchimentos, por armadura de distribuição e negativa e,

por uma capa de concreto. Esse tipo de laje, é considerada um método construtivo totalmente

vantajoso e revolucionário, pois irá apresentar características que beneficiarão a obra como um

todo.

Diante do que foi colocado neste trabalho, e levando em consideração o

acompanhamento realizado in-loco. Pode-se dizer, que as lajes com vigotas treliçadas é uma

opção de laje que oferece uma gama de benefícios para a sua obra. Disponibilizando recursos

que os métodos convencionais de lajes não oferecem.

Sendo assim, fica constatado no fim desta pesquisa, que o método construtivo

analisado apresentou ser a melhor solução técnica e econômica para esta modalidade, por

apresentar as maiores vantagens e facilidades construtivas.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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estruturas de concreto – procedimentos. Rio de Janeiro. ABNT, 2007.

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execução de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro. ABNT, 1985.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14859 – 1: Laje

pré-fabricada – requisitos – Parte 1; Lajes unidirecionais. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14862:

Armaduras treliçadas eletrossoldadas – requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14931: Execução

de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

ARAUJO, José M. Curso de concreto armado. Editora Dunas. Rio Grande, 2003.

BARROSO, M. C. Notas de aula – Curso técnico em Edificações. Instituto Federal de

educação, Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Norte, 2011.

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Dissertação do mestrado, USP, São Paulo, 1997.

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Universidade Federal de Minas Gerais, 2008.

CHAVES, Roberto. Manual do construtor: para engenheiros, mestres de obras e

profissionais de construção em geral. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia de São

Carlos – USP. São Carlos, 2012.

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nervuradas treliçadas. Trabalho de Conclusão de Curso. Lajeado: Centro Universitário

UNIVATES, 2014.

CUNHA, M. O. Recomendações para projetos formados por vigotas com armação

Treliçada. 2012. 87f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) – Escola de

Engenharia de são Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2012.

Manual Técnico de Lajes Treliçadas. Disponível em:

<http://longos.arcelormittal.com.br/pdf/produtos/construcao-civil/outros/manual-tecnico-

trelicas.pdf>. Acesso em: 01.05.2019