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Estudo de Ácaros plumicolas em Calopsitas
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1
DANIELA DUARTE ALVES DE ALBUQUERQUE
ESTUDO DE CAROS PLUMCOLAS (ACARI: ASTIGMATA) EM CALOPSITAS
(NYMPHICUS HOLLANDICUS KERR, 1792)
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Clnica e Reproduo
Animal da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para
obteno do Grau de Mestre. rea de
concentrao: Clnica Veterinria.
Orientador: Prof. Dr. SVIO FREIRE BRUNO
Co-orientadores: Prof. a Dr.
a BEATRIZ BRENER FIGUEIREDO
Dr. RUBEM F. S. MENNA BARRETO
Niteri
2010
2
DANIELA DUARTE ALVES DE ALBUQUERQUE
ESTUDO DE CAROS PLUMCOLAS (ACARI: ASTIGMATA) EM CALOPSITAS
(NYMPHICUS HOLLANDICUS KERR, 1792)
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Clnica e Reproduo
Animal da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para
obteno do Grau de Mestre. rea de
concentrao: Clnica Veterinria.
Aprovado em 24 de fevereiro de 2010.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. SVIO FREIRE BRUNO - Orientador
Universidade Federal Fluminense
Prof. a Dr.
a BEATRIZ BRENER FIGUEIREDO
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. DALTON GARCIA DE MATTOS JUNIOR
Universidade Federal Fluminense
Niteri
2010
3
Deus, por mais
essa oportunidade
de evoluo;
Aos meus pais, os
mais maravilhosos
do mundo;
quele que hoje
tenho certeza, se
tornou meu anjinho
da guarda, meu
amor eterno.
4
AGRADECIMENTOS
Deus, Meu Mestre Espir it ual, por me dar foras todos os dias, me
ajudando a entender e a sup erar as dificuldades dessa vida. Que a sua Luz
cont inue me guiando sempre pelo caminho do bem. Amm.
Aos meus quer idos pais, Sergio e Adr ia, pelo apo io incond icional e por
tudo de maravilhoso que vocs me proporcionam nessa vida. Por todos os
ensinamentos e valores t ransmit idos: honest idade, generosidade, humildade,
para que eu me tornasse a pessoa que sou ho je. Agradeo e reconheo o
esforo que vocs sempre fizeram, sendo o meu alicerce, para que eu pudesse
caminhar com segurana e completar cada etapa da minha vida. Tenham
certeza que a herana mais valiosa que vocs podem deixar para mim o
estudo e o conhecimento. Muito obr igada! Amo muito vocs!
Aos meus pais de corao, Maggy e Ubiratan, pelo car inho, pela fora,
pelo incent ivo, pela preocupao com essa filha que post ia, mas que ama
muito vocs.
Aos meus quer idos irmos, Guilherme, Antonio Augusto e minha
irmzinha Adr iana, por sempre estarem ao meu lado (mesmo que de longe)
torcendo por mim.
Agradeo especialmente ao meu amigo e or ientador Pr of. Dr. Svio
Freire Bruno, por fazer parte da minha formao como profissional e como ser
humano, desde os meus pr imeiros passos, durante a graduao em Medicina
Veter inr ia. Obr igada pe lo apo io e por suas sbias palavras, me mantendo
calma, nos momentos em que as co isas se tornavam difceis durante nossa
jornada no mundo da Acaro logia, porm, sempre conseguia encontrar um
caminho e uma so luo. Muito obr igada pelo car inho, por sempre acredit ar na
minha capacidade, pela pacincia em me escutar, pelo desejo de me ver
crescer profiss ionalmente. Tenho imensa admirao pela sua dedicao a vida
acadmica e pelo br ilhante pro fissional que voc . Agradeo por todos esses
anos de aprendizagem e tenho certeza que se me tornei a pro fissional Mdica
Veter inr ia que sou ho je, devo muito a voc.
minha co-orientadora Prof.a Dr.
a Beatr iz Brener, pela sua ateno,
dedicao e pr incipalmente pela pacincia de ficar horas a fio no microscpio
ident ificando cada set inha dos nossos quer idos caros, para que chegssemos
5
as espcies. Obr igada pela amizade, pelas conversas, por me acalmar nos
momentos em que o lhava no microscpio e tudo parecia ser igual ou muito
diferente de tudo que j t nhamos ident ificado. Muito obr igada por tudo!
Ao meu co-orientador e grande amigo Dr. Rubem F. S. Menna Barreto,
por aceitar me co -orientar prontamente, por mergulhar de cabea no mundo da
Acaro logia e por fazer as imagens mais incr ve is e fantst icas desses
minsculos seres. Obr igada pela pacincia, por sempre tentar fazer com que
tudo sasse perfeito , pelos conselhos, pela sua dedicao e pela sua ajuda
sempre. Obr igada por estar presente nesse momento importante da minha vida
e que os nossos quase 15 anos de amizade se tornem infinitos!!!!
Ao Dr. Fabiano Borges Figueiredo do Inst ituto de Pesquisa Clnica
Evandro Chagas IPEC, Fiocruz, uma pessoa muito especial que conheci,
atravs da nossa grande amiga Marinex e que agradeo muito por fazer
parte da minha vida e da minha formao profissiona l. Muito obr igada pelos
ensinamentos durante o s quase do is anos que t rabalhamos juntos, pelas
conversas, pelos conse lhos e por jud iar bastante de mim durante o trabalho
de campo. No tenho palavras para agradecer sua ajuda, me ensinando a
clar ificar os caros, montar as lminas, . . .sempre com sat isfa o, alegr ia e boa
vontade.
Ao Prof. Dr. Rodolpho de Almeida Torres Filho, da Faculdade de
Veter inr ia da UFF, pela ajuda com as anlises estat st icas, por abr ir u m
espacinho para os meus quer idos caros na sua agenda to concorr ida, pela
pacincia e boa vontade.
Ao pesquisador Dr. Sergey V. Mironov do Zoological Inst itute, Russian
Academy o f Sciences, pela co laborao na ident ificao das espcies de
caros plumco las.
toda a equipe do Setor de Animais Selvagens da Faculdade de
Veter inr ia da UFF pela ajuda na co leta das minhas amostras de penas, pela
pacincia, pr inc ipalmente nos meus momentos de est resse e pelo car inho.
Adoro demais todos vocs!!!! Agradeo em especial a Camila Longa, Elisa
Macedo, Let cia Matos, Mar iana Leite e Marce la Albuquerque.
Rodr igo Mexas, do Laboratrio de Produo e Tratamento de Imagens
do IOC - Fiocruz, pela sua ajuda com as fotos da microscopia pt ica.
6
minha madr inha Gilma, que mesmo morando a quase 2000 Km de
distncia, nunca se esquece de mim. Obr igada pe lo car inho e pela torcida
sempre.
s minhas amigas de repblica, em especial, Michelle Nana, Camila
Mascarenhas (Comila) e Melissa (Paoquinha) pe la amizade, pela companhia,
pelas r isadas, pelas conversas. . .Comila sempre nos t razendo vdeos
int eressantes e educat ivo s. Desejo muito sucesso pra vocs!!!
TODOS os meus amigos por entenderem minha ausncia durante essa
jornada, pelos telefonemas no atendidos, pela pressa durante os
encontros, . . .muito obr igada pela amizade sincera de vocs, pelo car inho, pelas
mensagens, pelo apo io e pela torcida. Vocs esto no meu corao.
Aos meus filhos bichos, Tico, meu filho de penas e aos meus filhos de
bigodes Veludinha (Pinga), e em especial ao Leo (minha paixo) e ao Lelo
(Amarelo) pelas a legr ias que me proporcionam diar iamen te, com suas
br incadeiras e t ravessuras, que s vezes me matam de preocupao,
pr incipalmente depo is de comer mais de meio metro de barbante. . .Minha vida
no ter ia a menor graa sem vocs!!!! Amo meus filhotes!!!!
Ao Programa de Ps-graduao em Clnica e Reproduo Animal da
Faculdade de Veter inr ia da UFF, pela bo lsa de estudos concedida at ravs do
CNPq.
7
Todos os seres vivos so membros de comunidades ecolgicas ligadas umas s outras numa rede de interdependncia.
Fritjof Capra
8
SUMRIO
LISTA DE ILUSTRAES, p. 10
RESUMO, p. 13
ABSTRACT, p. 14
1 INTRODUO, p. 15
2 REVISO DE LITERATURA, p.17
2.1 CAROS PLUMCOLAS, p. 18
2.1.1 Classificao taxonmica, p. 18
2.1.2 Aspectos morfolgicos gerais, p. 17
2.1.3 Ciclo de vida, p. 21
2.1.4 Dieta, p. 21
2.1.5 Colonizao no hospedeiro, p. 22
2.1.5.1 Anatomia da pena, p. 22
2.1.5.2 Localizao no hospedeiro, p. 23
2.1.6 Co-evoluo dos caros plumcolas e seus hospedeiros, p. 24
2.1.7 Relao entre os caros plumcolas e seus hospedeiros, p. 26
2.2 CAROS PLUMCOLAS DE CALOPSITAS, Nymphicus hollandicus Kerr, 1792
(AVES: PSITTACIFORMES: CACATUIDAE), p. 27
2.2.1 Grupo genrico Psittophagus Gaud e Atyeo, 1996, p. 28
2.2.2 Dubininia melopsittaci Atyeo e Gaud, 1987, p. 29
3 MATERIAL E MTODOS, p. 33
3.1 COLETA DO MATERIAL E AVALIAO CLNICA DAS AVES, p. 33
3.2 QUANTIFICAO DOS CAROS PLUMCOLAS E PRESERVAO DAS
AMOSTRAS, p. 35
3.3 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS, p. 36
3.3.1 Microscopia ptica, p. 36
3.3.2 Microscopia eletrnica de varredura, p. 36
3.4 CHAVE PARA IDENTIFICAO DOS CAROS, p. 37
9
3.5 ANLISE ESTATSTICA, p. 37
4 RESULTADOS, p. 38
5 DISCUSSO, p. 58
6 CONCLUSES, p. 63
7 OBRAS CITADAS, p. 64
8 ANEXOS, p. 70
8.1 APROVAO DO COMIT DE TICA EM PESQUISA ANIMAL (CEPA) DA
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, p. 71
8.2 BANNER APRESENTADO NO XVIII SEMINRIO DE INICIAO CIENTFICA E
PRMIO VASCONCELOS TORRES DE CINCIA E TECNOLOGIA, DA
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, REALIZADO EM NITERI, EM 2008, p. 72
10
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Aspecto dorsal de um caro Mesostigmata com indicao das regies do corpo (de
Krantz, 1970, adaptado por Flechtmann, 1975), p. 19
Figura 2 - Anatomia da pena. 2A: Anatomia de uma pena de contorno: 1) raque (haste) 2)
clamo 3) umbculo posterior 4) pena posterior. Parte pencea (seta branca). Parte plumcea
(seta preta). 2B: Viso dorsal das penas de vo: rmiges primrias (algarismos romanos),
secundrias (algarismos arbicos). a) grandes coberteiras secundrias b) grandes coberteiras
primrias c) mdias coberteiras secundrias d) pequenas coberteiras secundrias e) coberteiras
marginais (Cooper e Harrison, 1994), p. 23
Figura 3 Grupo Genrico Psittophagus. Psittophagus galahi, aspecto dorsal. 3A: macho; detalhe do solendia 1 no genu III (crculo).3B: fmea; detalhe do solendia 1 no genu II (crculo azul), par de estruturas fortemente esclerotizadas, em forma de C na regio sejugal (seta preta) e na regio posterior do opistossoma (seta azul); setas h1 (crculo preto);
(Mironov et al., 2003b), p.30
Figura 4 Grupo Genrico Psittophagus. Nymphycilichus perezae, aspecto dorsal. 4A: macho.4B: fmea; par de estruturas fortemente esclerotizadas, em forma de formato ovalado
na regio sejugal (seta preta) e na regio posterior do opistossoma (seta azul), (Mironov et al.,
2003b), p. 31
Figura 5 Dubininia melopsittaci, aspecto dorsal. 5A: macho.5B: fmea (Gaud e Atyeo, 1996), p.32
Figura 6 - Coleta de amostras de penas. 6A: Corte de rmige primria da asa direita. 6B:
Corte de pena de contorno da regio do peito. 6C: Corte de pena de contorno da regio do
dorso. 6D: Corte de pena coberteira inferior da cauda, p. 34
Figura 7 - Quantificao dos caros plumcolas. 7A: Imagem ventral de uma pena de
calopsita apresentando caros entre as barbas, junto regio da raque. Microscpio ptico
aumento de 40X. 7B: Imagem ventral de uma pena de calopsita apresentando caros entre as
barbas. Microscpio ptico aumento de 40X. Material depositado no Setor de Animais
Selvagens, UFF, p. 36
Figura 8 - MEV. 8A: Imagem das penas fixadas em fita dupla face, estando face oposta da
fita fixada ao stub. 8B: Imagem da pena aps o processo de metalizao, revestida por uma
camada de ouro, p. 37
Tabela 1 - Total de calopsitas (Nymphicus hollandicus Kerr, 1792) atendidas pelo Setor de Animais
Selvagens do HUVET-UFF, no perodo de maro de 2008 a maro de 2009, p. 39
Figura 9- Nymphicilichus perezae. 9A: macho; ausncia do par de estruturas arredondadas,
fortemente esclerotizadas, na regio sejugal (rea assinalada com crculo). 9B: macho; regio
opistossomal, com detalhe do escudo histerossomal (H) e ausncia de solendia 1 no genu III (rea assinalada com crculo). 9C: fmea; pares de estruturas arredondadas, fortemente
esclerotizadas, na regio sejugal (seta preta) e na regio posterior do opistossoma (seta
branca). 9D: fmea; regio opistossomal, detalhe do escudo histerossomal (H) e ausncia de
solendia 1 no genu III (rea assinalada com crculo). MO. Barras = 50 m, p. 41
11
Figura 10- Nymphicilichus perezae. 10A: fmea ( esquerda) e macho ( direita). 10B:
fmea. MEV. Barras = 50 m, p. 42
Figura 11 - Nymphicilichus perezae macho. 11A: aspecto dorsal; escudo prodorsal (PD),
escapular (E), histerossomal (H), setas escapulares internas (cabea de seta preta) e externas
(cabea de seta branca). 11B: aspecto ventral; regio genital (seta branca) e regio anal (seta
preta). MEV. Barras = 50 m, p. 43
Figura 12 - Nymphicilichus perezae fmea, aspecto dorsal; escudo prodorsal (PD), setas
escapulares internas (cabea de seta preta) e externas (cabea de seta branca) e escudo
histerossomal (H). MEV. Barra = 50 m, p. 44
Figura 13 - Nymphicilichus perezae fmea, aspecto dorsal; gnatossoma e escudo prodorsal
(PD). MEV. Barra = 10 m, p. 45
Figura 14 - Nymphicilichus perezae macho, aspecto ventral; regio genital (seta preta) e
escudos adanais (seta branca). MEV. Barra = 20 m, p. 46
Figura 15 - Dubininia melopsittaci. 15A: macho; femurgenu III (cabea de seta). 15B:
macho; regio posterior do opistossoma, detalhe do tarso IV, com um comprimento inferior
metade do comprimento da tbia (seta). 15C: fmea. 15D: fmea; epmeros anteriores em
forma de v (seta preta) e regio do oviporo (seta branca). MO. Barras=100 m, p. 47
Figura 16 - Psittophagus sp. 16A: macho; ausncia do par de estruturas arredondadas,
fortemente esclerotizadas, na regio sejugal (rea assinalada com crculo). 16B: macho; regio
opistossomal, detalhe do solendio 1 no genu III (cabea de seta). 16C: fmea. 16D: fmea; pares de estruturas em forma de C, fortemente esclerotizadas na regio sejugal (cabea de seta) e na regio posterior do opistossoma (seta). Escudo histerossomal (H). MO. Barras =
100 m, p. 48
Figura 17 Formas imaturas de caros plumcolas. 17A e 17B: larvas, entre as barbas da
pena. 17C: larva, regio propodossomal, escudo prodorsal (PD). MEV. Barras = 50 m, p. 49
Figura 18 - Distribuio dos caros plumcolas (Acari: Astigmata) nas penas. 15A: caros
entre as barbas e junto raque da pena. 15B e 15C: caros entre as barbas da pena. Barras A e
B = 250 m. MEV. Barra C= 100 m, p. 50
Figura 19: Espcies de caros plumcolas e suas interaes nas calopsitas, atendidas no pelo
Setor de Animais Selvagens do HUVET-UFF, no perodo de maro de 2008 a maro de 2009,
p. 51
Figura 20 - Percentual de caros plumcolas machos e fmeas encontrado nas amostras de
penas positivas coletadas de calopsitas (Nymphicus hollandicus Kerr, 1792) entre maro de
2008 e maro de 2009 no HUVET-UFF, p. 52
Figura 21 Percentual de machos e fmeas referente a cada espcie de caro plumcola
avaliada nesse estudo, p. 52
12
Figura 22- Distribuio dos caros plumcolas pelas diferentes regies do corpo das
calopsitas infestadas, atendidas pelo Setor de Animais Selvagens do HUVET-UFF, entre
maro de 2008 e maro de 2009, p. 53
Figura 23 Distribuio de cada espcie de caro plumcola por regio do corpo das aves infestadas, atendidas pelo Setor de Animais Selvagens do HUVET-UFF, entre maro de 2008
e maro de 2009, p. 54
Figura 24 - Ovo de caro plumcola (Acari: Astigmata). 24A: junto barba da pena, no
detalhe textura da casca. 24B: junto barba da pena se rompendo. MEV. Barras = 20 m, p. 55
Figura 25 - rea de malopcia na regio da cabea. 25A: paciente 26. 25B paciente 27, p. 57
Figura 26 - Leso na regio das brbulas. 26A: amostra de pena da asa direita do paciente 1
(um). 26B: amostra de pena da asa direita do paciente 24. Microscpio ptico 40X, p. 57
13
RESUMO
Nas aves as penas constituem um habitat propcio sobrevivncia e reproduo de uma
grande diversidade de caros. O objetivo do presente estudo foi, primariamente, identificar e
estabelecer prevalncia das principais espcies de caros plumcolas (Acari: Astigmata) nas
calopsitas, Nymphicus hollandicus Kerr, 1792 (Aves: Psittaciformes: Cacatuidae) atendidas
pelo Setor de Animais Selvagens no Hospital Veterinrio da Universidade Federal
Fluminense (HUVET-UFF), Niteri, Rio de Janeiro. Em adio, correlacionou-se a presena
destes artrpodes ao eventual quadro clnico de prurido apresentado pelas aves, assim como,
de dermatopatias e malopatias. Complementarmente, foi realizada a identificao de caros
machos e fmeas das distintas espcies e relatada as infestaes concomitantes destas nas
calopsitas. O grau de infestao nas diferentes regies do corpo das aves: asa esquerda (AE),
asa direita (AD), peito, dorso e cauda tambm foi avaliado, de acordo com a quantidade de
caro presente nas penas coletadas de cada regio. Para tal, as amostras foram categorizadas
em escore 1 (at dez caros), escore 2 (entre 11 e 30 caros) e escore 3 (acima de 30 caros).
Foram analisadas 177 amostras de penas, coletadas das cinco regies do corpo supracitadas,
de 36 calopsitas, no perodo de maro de 2008 a maro de 2009. Destas, 22 (61,11%)
encontravam-se infestadas por caros plumcolas. A espcie de caro mais prevalente foi
Nymphicilichus perezae (32,43%), seguida da Dubininia melopsitaci (21,62%). O gnero
Psittophagus sp. foi encontrado em 13,51% das amostras. Formas imaturas, incluindo
representantes dos trs gneros de caros identificados, representaram 32,43%, estando
presentes em todas as amostras avaliadas. Em 22,73% das calopsitas infestadas foi detectada a
presena concomitante de N. perezae e D. melopsittaci; em 9,1% a presena de N. perezae e
Psittophagus sp.; e em 4,55%, a presena de N. perezae, D. melopsittaci e Psittophagus sp.
Atravs do teste no paramtrico de Kruskal Wallis observou-se que as regies das asas,
direita e esquerda, apresentaram um maior grau de infestao, predominando o escore trs em
50% das amostras em ambas as asas. Nas regies do peito, dorso e cauda houve predomnio
do escore um. A presena do N. perezae ocorreu em quase 50% das amostras da AE (47,83%)
e da AD (48%), no sendo detectado, entretanto, em amostras provenientes das regies do
peito e da cauda. O gnero Psittophagus sp. no foi encontrado nas amostras provenientes do
dorso e do peito, estando presente nas regies da cauda (21,43%), AD (20%) e AE (8,70%). A
espcie D. melopsittaci, ocorreu em quase todas as regies avaliadas, exceto na AD. Sua
presena foi mais freqente nas regies da cauda (64,29%), peito (50%) e dorso (50%).
Somente 9,1% das aves acometidas por caros plumcolas apresentaram rea de malopcia. A
presena de prurido no foi observada ao exame clnico das calopsitas infestadas, assim como,
a presena de penas com alterao em sua colorao, mesmo nas regies de escore 3. Os
resultados desse estudo sugerem que diferentes espcies de caros plumcolas, inclusive, de
distintos gneros, possam viver na mesma ave, sem uma competio aparente. Alm disso,
sugerimos que na relao entre os caros plumcolas e as calopsitas possa haver
temporariamente um equilbrio. Dessa forma, danos aparentes no so percebidos no
hospedeiro. Relatamos pela primeira vez no Brasil a presena das espcies de caros
plumcolas Nymphicilichus perezae, Psittophagus sp., Dubininina melopsittaci Mironov e
Galloway, 2002, Psittophagus sp. Gaud e Atyeo, 1996 e Dubininina melopsittaci Atyeo e
Gaud, 1987 infestando exemplares de Nymphicus hollandicus Kerr, 1792.
Palavras-chave: caros plumcolas, Nymphicus hollandicus, Nymphicilichus perezae,
Psittophagus sp., Dubininina melopsittaci.
14
ABSTRACT
Feathers are an excellent habitat to the survival and reproduction of wide diversity of mites.
The presence of these arthropods was directly related to some birds dermatits as well as to their feathers injuries. In this framework, feathers from cockatiel Nymphicus hollandicus Kerr, 1792 (Aves: Psittaciformes: Cacatuidae) were collected at the Wild Animals Sector of
the Veterinary Medicine College - Universidade Federal Fluminense, Niteri, Rio de Janeiro.
In the present work, the main mites species (Acari: Astigamta) was identified and the prevalence characterized. Males and females of each mites species were identified and concomitant infestations were reported. The evaluation of the infestation intensity in different
areas of the birds bodies (left wing, right wing, chest, back and tail) was also performed, being a subjective scoring system established (scores 1-3): (1) up to ten mites in the same
feather; (2) between eleven to thirty mites; and (3) more than thirty mites. This study was
carried out between march 2008 to march 2009, analyzing 177 samples of the feathers
collected from 36 cockatiels (five different body areas). 22 birds (61.1%) were infested by
mites, being the prevalent specie Nymphicilichus perezae (32.4%), a representative of the
generic group Psittophagus, followed by Dubininia melopsittaci (21.6%). The genus
Psittophagus sp. was presented at 13.5% of samples. Immature stages (larva and nymphs)
were presented in all body regions evaluated (32.4%), and include the generic group
Psittophagus and D. melopsittaci. Concurrent infestations of N. perezae and D. melopsittaci
occurred in 22,73% of the cockatiels; N. perezae and Psittophagus sp. in 9,1% ; and N.
perezae, D. melopsittaci and Psittophagus sp. in 4,55%. The non-parametric Kruskal Wallis
test showed that wing feathers (right and left) were more infested, being predominantly the
score 3 in almost 50% of the samples. In the chest, back and tail, the score 1 was the most
abundant. The N. perezae presence occurred in 47.8 % and 48% of the left and right wings
samples, respectively. However, this mite was not detected in chest or tail samples.
Psittophagus sp. occurred in samples of the tail (21.4%), right wing (20%) and left wing
(8.7%), although it is absent in back and chest feathers. The occurrence of D. melopsittaci was
observed in almost all body areas tested, except to the right wing. The high frequency of this
mite was detected in tail (64.3%), chest (50%) and back (50%). Few birds (9.1%) with
absence of feathers in some body region were affected by mites, and a feather-picking
behavior was not observed during the clinical examination of the infested cockatiel, as well as
no alterations in feather color changes were detected in the infestation focus. Our data pointed
to different mite species, even from different genus, living in the same bird without an
apparent competition. Furthermore, a relationship between mites and cockatiels could be
suggested, showing no apparent injuries to the host. This work is the first contribution in
Brazil to the identification of Nymphicilichus perezae Mironov e Galloway, 2002;
Psittophagus sp. Gaud e Atyeo, 1996 and Dubininia melopsittaci Atyeo e Gaud, 1987 in
cockatiel Nymphicus hollandicus Kerr, 1792.
Keywords: feather mites, Nymphicus hollandicus, Nymphicilichus perezae, Psittophagus sp.,
Dubininia melopsittaci.
15
1. INTRODUO
Uma grande var iedade de ectoparasitos acomete no s aves silvestres e
ext icas de vida livre, mas tambm as aves de companhia. A presena desses
art rpodes pode ocasionar nas aves diversos processos patolgicos, que vo
desde alteraes comportamentais, leses na pele e nas penas, problemas
reprodut ivos s doenas virais e bacter ianas t ransmit idas pelos mesmos
(STORNI et al. , 2005) Os caros p lumcolas (Acar i: Ast igmata), juntamente
com os pio lhos mal fagos (Insecta: Phthiraptera: Amblycera ou Ischnocera)
const ituem os parasitos mais comumente encontrados nas aves (VALIM,
2006).
No Brasil, existem poucos estudos sobre a eco logia e a ident ificao
dos caros plumco las (LYRA-NEVES et al. , 2003; KANEGAE et al. , 2008).
Os pr imeiros t rabalhos sobre caros de pena no Brasil apresentaram um
enfoque unicamente taxonmico e foram publicados por Herbet F. Ber la no
meio do sculo passado (KANEGAE et al. , 2008).
Embora muitos pesquisadores tenham descr ito os caros plumco las
como parasitas, outros estudos apontam uma relao de comensalismo e
eventualmente mutualismo entre eles e as aves. O presente t rabalho tem por
objet ivo ident ificar e est abelecer prevalncia das pr inc ipais espcies de
caros plumco las (Acar i: Ast igmata), presentes nas calopsit as, Nymphicus
hollandicus Kerr, 1792 (Aves: Ps it taciformes: Cacatuidae ) atendidas pelo
Setor de Animais Selvagens no Hospit al Veter inr io da Unive rsidade Federa l
Fluminense (HUVET-UFF), Niter i, Rio de Janeiro.
16
Neste contexto, como anlise complementar, prope -se, ident ificar
quando possve l, machos e fmeas das diferentes espcies de caros
plumco las; quant ificar e avaliar o grau de infestao n as diferentes regies
do corpo das aves e correlacionar a presena destes art rpodes ao eventua l
quadro clnico de prur ido apresentado pelas aves, assim como, s leses na
pele (dermatopat ias) e nas penas (malopat ias). Outrossim, relatar possve is
infestaes concomitantes entre dist intas espcies de caros plumco las nas
calopsitas estudadas.
Tais anlises favorecero uma maior compreenso pelo clnico, em
especial, da relao interespecfica parasito -hospedeiro, bem como, dos
possveis danos que estes caros podem causar as aves.
17
2 REVISO DE LITERATURA
A clnica de aves vem se tornando uma especializao cada vez mais
relevante dentro da Medic ina Veter inr ia, considerando a freqncia desses
pacientes como animais de companhia (ALBUQU ERQUE et al. , 2006). Bruno
et al. (2004) realizaram um levantamento dos animais atendidos pelo Setor de
Animais Se lvagens, entre junho de 2000 e junho de 2004 na Po liclnica
Veter inr ia da Universidade Federal Fluminense - UFF, at ingindo um nmero
de 241 aves, em sua maior ia das ordens Passer iformes e Psit taciformes,
representando 42,81% do total de animais atendidos no Setor, correspondendo
as ectoparasitoses a 15%.
Os ectoparasitos de aves inc luem uma var iedade de insetos, carrapatos e
caros que infestam penas, pele, sistema respiratrio e ninhos, podendo deix -
las suscept veis a infeces secundr ias ( STORNI et al. , 2005). Podem afetar
as aves diretamente alimentando -se de las e indiretamente, servindo como
vetores de protozorios, bactr ias e vrus ( STORNI et al. , 2005).
2.1 CAROS PLUMCOLAS
Os caros plumco las (Acar i: Ast igmata) compem o grupo mais
diverso e numeroso de art rpodes simbit icos associados s aves e co m
exceo dos pingins (Sphenisciformes), ocorrem em todas as outras ordens
de aves (GAUD e ATYEO 1996; MIRONOV et al. , 2003a; KANEGAE et al. ,
2008).
18
Existem no mundo mais de 2400 espcies descr itas, porm, esse
cont ingente representa, menos que 20% das espcies existentes
(SCHMSCHKE et al. , 2002; MIRONOV et al. , 2003a).
2.1.1 Classificao taxonmica
De forma geral, os caros esto reunidos na subclasse Acar i da classe
Arachnida e dist r ibudos em trs ordens: Acar iformes, Parasit iformes e
Opilioacar iformes (FLECHTMANN, 1975; 1985; PROCTOR et al. , 2000). Os
caros plumco las pertencem ordem Acar iformes, subordem Ast igmata
Canestr ini, 1891 e s superfamlias Analgoidea, Pterolicho idea e Freyano idea
(GAUD e ATYEO, 1996).
2.1.2 Aspetos morfolgicos gerais
Os caros dist inguem-se dos outros art rpodes por possurem um corpo
const itudo por uma pea nica, sem segmentao; apresentarem o
gnatossoma, est rutura que subst itui a cabea dos outros art rpodes, onde
situam-se a abertura bucal e as peas bucais, associado ao fato de
apresentarem um estgio de desenvo lvimento denominado de larva, co m
apenas t rs pares de patas ( FLECHTMANN, 1975; SERRA-FREIRE et al. ,
2006).
Apesar de no apresentarem uma marcada segmentao pr imr ia, as
diferentes regies do corpo de um caro so classificadas de acordo com o
observado na Figura 1 ( FLECHTMANN, 1975).
19
O gnatossoma no deve ser confundido com a cabea, uma vez que o
crebro localiza-se no idiossoma, regio posterior ao gnatossoma (SERRA-
FREIRE et al. , 2006). O gnatossoma considerado um tubo pelo qual o
alimento encaminhado ao esfago, const itudo de um par quelceras, um par
de palpos e o subcaptulo (ATYEO e BRAASCH, 1966; SERRA -FREIRE et
al. , 2006). O par de quelceras, dotado de dentes, est localizado super ior e
lateralmente abertura buca l (FLECHTMANN, 1975). Estes, juntamente com
os palpos, que so simples, const ituem os rgos preensores ( FLECHTMANN,
1975; SERRA-FREIRE et al. , 2006). O subcaptu lo a est rutura bsica que
suporta a poro dorsal das quelceras e dos palpos (ATYEO e BRAASCH,
1966).
Os caros pertencentes subordem Ast igmata possuem movimentos
lentos, corpo pouco esclerot izado e em sua grande maior ia mensuram entre
0,3 a 0,7 mm (GAUD e ATYEO 1996; SERRA-FREIRE et al. , 2006).
O exoesqueleto forma-se a part ir de uma camada no diferenciada de
tecido, sendo recoberta por uma fina camada de cut iculina e na maior ia das
espcies esse tegumento no se apresenta de espessura uniforme, sendo
coberto por camadas mais espessas que const ituem os escudos ou placas
(FLECHTMANN, 1975; SERRA-FREIRE et al. , 2006). Na superfc ie da
Figura 1: Aspecto dorsal de um caro Mesostigmata com indicao das regies do
corpo (de Krantz, 1970, adaptado por Flechtmann, 1975).
20
cut cula encontramos diversos anexos, como as glndulas e est ruturas
semelhantes pelos, como as cerdas, quando se apresentam mais espessas e as
setas, quando mais delgadas (FREITAS et al. , 1978). As cerdas e setas
apresentam-se sob as formas mais var iadas e com diversas funes como,
rgos quimiorreceptores, rgos tteis ou at mesmo funcionando como
proteo a ataque de predadores, assim como, auxiliando a fixao do caro a
pena (PROCTOR, 2003; SERRA-FREIRE et al. , 2006).
Os caros apresentam trs pares de patas no estdio larvar e quatro
pares nos estdios de ninfa e adulto, sendo cada pata formada basicamente por
seis segmentos: coxa, t rocnter, fmur, genu ou patela, t bia e tarso (SERRA -
FREIRE et al. , 2006). As coxas so fundidas com a face ventral do corpo,
formando apdemas sobre o tegumento que delimitam as reas coxais
(FLECHTMANN, 1975). Os remanescentes das apdemas formam os
epmeros, placas esclerot izadas que proporcionam maior ponto de apoio,
permit indo a a lavancagem dos msculos que iro propiciar os movimentos das
patas (ATYEO e BRAASCH, 1966; SERRA-FREIRE et al. , 2006). O tarso na
maior ia das vezes termina por uma carncula ou em ventosas
(FLECHTMANN, 1975).
O dimorfismo sexual caracter izado no estgio adulto, havendo uma
tendncia ao desenvo lvimento de machos heteromrficos, os quais apresentam
a cut cula mais escura e as patas do terceiro par hipert rofiadas (PROCTOR,
2003; SERRA-FREIRE et al. , 2006). A abertura genit al feminina, o oviporo,
situa-se ventralmente, apresentando comumente do is pares de d iscos genit ais
e um apdema esclerot izado anter ior ao oviporo denominado epiginum ,
raramente ausente (GAUD e ATYEO, 1996). Os machos mostram um rgo de
cpula, o edago e geralmente apresentam ventosas anais ( FLECHTMANN,
1973; 1975).
A respirao dos caros realizada at ravs do tegumento, embora em
algumas formas sejam observados ductos semelhantes a t raquias
(FLECHTMANN, 1975; SERRA-FREIRE et al. , 2006).
21
2.1.3 Ciclo de vida
O ciclo de vida inc lui as fases de ovo, larva, protoninfa, t r itoninfa e
adulto (PROCTOR, 2003). Os Ast igmata so caros ovparos, embora possam
reter os ovos at que a larva ou mesmo a ninfa se forme ( FLECHTMANN,
1973). Os ovos so fixados as barbas das penas ( FLECHTMANN, 1973).
Entre os estgios de protoninfa e t r itoninfa pode ocorrer o estgio
deutoninfa l, tambm denominado de hipopus, o qual no se alimenta e se
apresenta bastante resistente, servindo para a conservao e disseminao da
espcie (FLECHTMANN, 1975).
De acordo com Serra-Freire et al. (2006) a formao da deutoninfa
ocorre mais freqentemente entre os Ast igmata de vida livre, ou seja, nos
caros encontrados em cerea is e farelos, por exemplo, do que em espcies de
hbitos parasitr ios, como os caros de pena.
2.1.4 Dieta
Os caros de pena se alimentam pr incipalmente de leo proveniente da
glndula uropigia l, de descamaes, p len e fungos que aderem s barbas das
penas (PROCTOR et al. , 2000). Galvn et al. (2008) e Lindstrm et al. (2009)
correlacionaram uma maior p resena de caros plumco las ao tamanho da
glndula uropigial, indicando que os caros so mais abundantes nas espcies
de aves com maior glndula uropigia l.
Part culas de penas so raramente encontradas no intest ino dos caros
plumco las, uma vez que seu aparelho bucal mais efic iente para raspar do
que para mast igar (PROCTOR et al. , 2000). Suas quelceras so geralmente
pequenas e com uma musculatura pouco desenvo lvida, exist indo poucas
evidncias de que sejam realmente capazes de roer penas intactas (P ROCTOR,
2003).
22
2.1.5 Colonizao no hospedeiro
2.1.5.1 Anatomia da pena
Segundo Banks (1992), as penas so de or igem epidrmica,
desenvo lvendo-se no inter ior de um fo lculo. A poro basal da pena o
clamo, um cilindro oco que contem remanescent es de mater ial medular que
esteve presente durante o desenvo lvimento da pena (ROMER, 1985). Sua
cont inuao acima da superfcie da pele denominada vexilo, sendo este,
formado pela raque (ou haste), a qual a cont inuao do clamo e pelas
barbas (ROMER, 1985; BANKS, 1992). Diferentemente do clamo, a raque
uma est rutura s lida, apresentando em seu int er ior uma po lpa esponjosa
cornificada, repleta de ar (GETTY, 1986).
Obliquamente, de ambos os lados da raque, pro longam-se os ramos
pr incipais destas, as barbas, que esto int imamente conectadas umas as outras
pelas brbulas, formando uma superfc ie cont inua a o lho nu (ROMER, 1985).
Atravs de um complexo sistema de ganchos, os hmulos, cada brbula
engancha-se a brbula vizinha (COOPER e HARRISON, 1994). Os caros de
pena se mantm entre as barbas, apresentando poucos movimentos
(FLECHTMANN, 1975).
As penas de contorno, as quais cobrem todo o corpo da ave e auxiliam
no vo, so dividias em: coberteiras, pequenas penas de contorno encontradas
nas asas e na cauda; em rmiges, encontradas nas asas e pr inc ipais
responsveis pelo vo; e em rectr izes, semelhantes s rmiges, porm
encontradas na cauda (SICK, 1988; COOPER e HARRISON, 1994). Outros
t ipos de penas so as plumas, loca lizadas logo abaixo das penas de c ontorno;
as semiplumas, as filoplumas, as cerdas e as plumas de p (GETTY, 1986;
SICK, 1988; COOPER e HARRISON, 1994). De acordo com Cooper e
Harr ison (1994) as rmiges podem ser divididas em pr imr ias, as que
emergem da regio do metacarpo, contadas do se nt ido proximal para distal e
em secundr ias, que emergem da regio da ulna, contadas no sent ido dista l
(carpo) para proximal (cotovelo) (Figura 2).
23
2.1.5.1 Localizao no hospedeiro
No corpo das aves, os caros plumco las so ad aptados a certos micro -
habitats localizando-se pr incipalmente nas penas das asas (SCHMSCHKE et
al. , 2002). De acordo com Gaud e Atyeo (1996) muitas espc ies vivem na
superfcie ventral das penas da asa e da cauda, outras preferem penas
menores, como as plumas. Roda e Far ias (1999) relatam que alguns grupos de
caros apresentam preferncia por determinados locais do corpo das aves,
pr incipalmente pelas rmiges e rectrizes, permanecendo na superfcie ventra l
destas. Atyeo e Gaud (1987) relatam a espcie de caro Dubininia
melopsittaci Atyeo e Gaud, 1987, ocorrem preferencia lmente, nas pequenas
penas do corpo na regio do dorso e nas penas coberteiras da cauda.
Os caros plumco las apresentam var iaes morfo lgicas de acordo com
a sua localizao nas penas do hospedeiro (ATYEO e GAUD, 1979). Segundo
Dabert et al. (1999) tais art rpodes podem ocupar quatro t ipos de micro -
habitats no corpo das aves: penas de contorno, plumas, int er ior do canho da
A
B
Figura 2: Anatomia da pena. 2A: Anatomia de uma pena de contorno: 1) raque (haste) 2)
clamo 3) umbculo posterior 4) pena posterior. Parte pencea (seta branca). Parte
plumcea (seta preta). 2B: Viso dorsal das penas de vo: rmiges primrias (algarismos
romanos), secundrias (algarismos arbicos). a) grandes coberteiras secundrias b)
grandes coberteiras primrias c) mdias coberteiras secundrias d) pequenas coberteiras
secundrias e) coberteiras marginais (Cooper e Harrison, 1994).
24
penas das asas e da cauda e superfcie da pele. Essa especificidade
topogrfica permit e que diferentes espcies, inclusive, de dist intos gneros,
vivam na mesma ave sem uma compet io aparente ( GAUD e ATYEO, 1996).
Mudanas de temperatura, umidade, aerao, exposio luz,
disponibilidade de alimento, comportamento migr atr io, assim como, a
influncia mecnica do movimento das penas, induzem o movimento dos
caros plumco las em relao ocupao dos vr ios micro -habitats no corpo
de seu hospedeiro (BEHNKE et al. , 1995; BLANCO et al. , 1997; DABERT e
MIRONOV,1999; PROCTOR, 2003).
Figuero la (2000) realizou um estudo com Passer iformes na Califrnia,
observando uma diminuio da prevalncia de caros plumco las nos meses do
inverno nas aves avaliadas. Wiles et al. (2000) relatam que em determinadas
circunstnc ias de temperat ura e umidade, os caros podem se redist r ibuir nas
penas do hospedeiro, migrando das penas de vo durante os meses do inverno,
para as penas tercir ias, em busca de calo r e umidade.
Outras pesquisas em Passer iformes revelam um comportamento
adaptat ivo dos caros plumco las em relao s penas que esto em processo
de muda, observando que o nmero de caros menor nas penas de vo
pr imr ias e secundr ias que j esto prontas para cair, em relao s penas
que j esto totalmente desenvo lvidas aps a muda (J OVANI e SERRANO,
2001). Pap et al. (2005) at ravs de um estudo com uma espc ie de andor inha
(Hirundo rustica) relatam a hiptese dos caros plumco las possurem a
habilidade de perceber a vibrao produzida pela pena, demonstrando que ela
cair, durante o processo de muda, evit ando dessa forma sua permanncia
nessa pena.
2.1.6 Co-evoluo dos caros plumcolas e seus hospedeiros
Acredita-se que os caros de pena t iveram como ancestrais os caros
que habitavam os ninhos das aves no per odo Cretceo h 13 0 165 milhes
de anos at rs (ATYEO e GAUD, 1979). Existem diversas hipteses e
alternat ivas para explicar a origem e evo luo dos caros plumco las
associados aos seus hospedeiros ( DABERT e MIRONOV, 1999).
25
Por um longo per odo, os caros passaram por int ensas alteraes em
sua morfo logia e bio logia, para que pudessem co lonizar as penas, se
adaptando a temperatura e umidade encontrada nelas, bem como, o est resse
fs ico que ocorre na superfcie das mesmas (DABERT e MIRONOV, 1999;
PROCTOR, 2003). O surgimento de novas est ruturas, como rgos acessr ios,
auxiliando na sua aderncia ao hospedeiro, assim como, a regresso de
est ruturas externas, so modificaes importantes, so fr idas pelos caros
relacionadas ao processo de adaptao e especific idade destes aos seus
hospedeiros (GALVO e GUITTON, 1989; FAIN, 1994).
Nos Ast igmata pode-se observar, que alm da especificidade por
determinada regio do corpo da ave, a especific idade do hospedeiro
freqentemente notada (GAUD e ATYEO, 1996). Considerando essa
especif icidade em um contexto filogent ico, raramente uma mesma espcie de
caro ser encontrada em um gnero de ave diferente daque la a qual se
adaptou (GAUD e ATYEO, 1996).
O hbito de viver em grupo favorece a aquis io e o acmulo de
ectoparasitas nas aves devido grande proximidade e os numerosos contatos
fs icos entre os membros do grupo ( PROCTOR e OWENS, 2000; PROCTOR,
2003; POULIN, 1991). Jovani et al. (2001) sugerem que os caros plumco las
tambm se ut ilizam de outros ectosimbiontes, como as moscas, po r exemplo,
como modo de t ransmisso entre as aves.
Esse alto grau de espec ific idade do hospedeiro um pr -requis ito para
a co-especiao entre o hospedeiro e seus simbiontes (PROCTOR e OWENS,
2000). A comparao de filogramas dos caros de pena e seus hos pede iros
pode algumas vezes, ser t il para checar hipteses no que diz respeito
filogenia das aves e presumir a exist ncia de co -especiao entre eles
(DABERT e MIRONOV, 1999).
Embora exista uma congruncia entre a filogenia de categor ias
super iores de caros de penas e seus hospedeiros, esse conhecimento deve ser
ut ilizado com cautela na ident ificao dos caros plumco las, uma vez que,
contaminaes acidentais podem ocorrer, levando a presena de tais parasitos,
especficos de uma determinada espcie de ave, em outra ave, vivendo nesta
regularmente (GAUD e ATYEO, 1996).
26
2.1.7 Relao entre os caros plumcolas e seus hospedeiros
A relao interespecfica entre os caros de pena e seus hospedeiros
tem sido freqentemente denominada parasitr ia (HARPER , 1999; PROCTOR,
2003). Por definio o parasit ismo se estabelece como uma relao na qua l
um membro, o parasita, se beneficia usando o recurso do outro membro, o
hospedeiro (PROCTOR e OWENS, 2000; COUTO, 2007). De acordo com
esses autores, o parasita no precisa matar o hospedeiro para conseguir se
beneficiar, porm este lt imo, so fre efeitos negat ivos.
caros plumco las, entretanto, no so apontados como ectossimbiontes
causadores de danos est ruturais na penas (PROCTOR, 2003). Flechtmann
(1975) relata que mesmo quando as infestaes so intensas, parecem no
causar danos aos hospedeiros.
Figuero la (2000) at ravs de um estudo exper imental com chamarizes
(Serinus serinus) demonstrou que ectosimbiontes, incluindo os caros, tm
um impacto negat ivo na caract er st ica e no desenvo lvimento da plumagem.
Thompson et al. (1997) associaram a uma intensa infestao por caros
plumco las em tent ilhes (Carpodacus mexicanus) alteraes na cor e no
cresc imento da plumagem, inter fer indo na expresso dos caracteres sexuai s
secundr ios, ut ilizados para at rarem as fmeas na poca da reproduo.
M ller (1992) considera que o desequilbr io entre os genes que codificam
resistncia ao parasita e a expresso dos caracteres sexuais seja responsvel
por esses efe itos. Entretanto, Blanco et al. (1999) no encontram uma relao
entre a intensa infestao por caros na penas de pint assilgos ( Carduelis
cannabia) e a a lterao na intensidade do pigmento caroten ide nos machos
dessa espcie.
Harper (1999) tambm observa uma correlao ne gat iva entre severas
infestaes de caros nas penas e a condio corporal das aves, assim como, o
br ilho da plumagem em diversas espcies de pssaros. Porm, outros estudos
com Passer iformes no apontaram efeitos negat ivos entre a carga parasitr ia e
massa corporal das aves (RZSA, 1997; BLANCO et al. , 1999; DOWLING et
al. , 2001; LINDSTRM et al. , 2009).
27
Embora muitos pesquisadores tenham descr ito os caros plumco las
como parasitas, outros estudos apontam uma relao de comensalismo e
eventualmente mutualismo entre eles e as aves (ATYEO e PREZ, 1990 ;
PROCTOR e OWENS., 2000; BLANCO et al. , 2001). Gaud e Atyeo (1996)
consideram que entre os Ast igmata existe uma relao de comensalismo co m
seus hospedeiros. Blanco et al. (1997) sugerem que os caros plumco las
devam ser benficos s aves, controlando o crescimento de fungos e bactr ias
sobre as penas.
Processos patolgicos ocasionados por caros de pena esto muit as
vezes rest r itos as aves mant idas em cat iveiro, na maior ia das vezes
impossibilitadas de voar, levando a um aumento na dens idade da populao de
caros plumco las, acarretando em episdios de prur ido e bicamento nas penas
(PROCTOR, 2003). Blanco e Fr as (2001) observaram uma var iao na
prevalncia de caros de penas em andor inhas ( Hirundo rustica) antes e aps
o processo de migrao, relatando uma maior abundncia de caros nas aves
antes da migrao. Greiner e Ritchie (1994) relatam que o caro de pena no
patognico ao hospedeiro ao qual, evo lut ivamente, ele se adaptou, podendo
causar problemas clnicos em outros hospedeiros.
Gaud e Atyeo (1987) relatam que severas infestaes podem causar um
quadro de irr itao no hospedeiro provavelmente relacionado movimentao
dos caros sobre a pele e as penas das aves. Radford (1953) relata que a
maior ia das espcies de caros plumco las movimenta -se lentamente e apenas
quando se sentem ameaados tornam-se mais at ivos.
2.2 CAROS PLUMCOLAS DE CALOPSITAS, Nymphicus hollandicus Kerr,
1792 (AVES: PSITTACIFORMES: CACATUIDAE)
A ca lops ita, Nymphicus hollandicus Kerr, 1792 (Psit tasiformes:
Cacatuidae), um psitaciforme de or igem australiana que fo i t razido para o
Brasil na dcada de 70, sendo, nos dias de ho je, amplamente cr iado como
animal de companhia em nosso pas (UNIVERSO AVES, 2009; FORSHAW,
2006).
28
Em se t ratando da ordem Psit taciformes tem-se relatado a presena de
caros plumco las (Acar i: Ast igmata) pertencentes a diversas famlias:
Apionacar idae, Dermoglyphidae, Proctophyllodidae, Psoroptoididae,
Ptyssalgidae, Pyroglyphidae, Xo lalgidae, Ascouracar i dae, Falculifer idae e
Pterolichidae (GAUD e ATYEO, 1996). Porm, a famlia Ptero lichidae
apresenta o mais diverso grupo de caros plumco las associados aos
psitacdeos (MIRONOV et al. , 2003b). Os caros de penas da famlia
Pterolichidae associados aos Ps it taciformes so representados por t rs grupos
genr icos: Protolichus , Rhytidelasma e Psittophagus (GAUD e ATYEO, 1996 ;
MIRONOV et al. , 2003b). De acordo com Mironov et al. (2003b) o grupo
genr ico Psittophagus o menor em espcies at ho je descr itas, sendo
conhecido em exemplares da famlia Psittacidae e da famlia Cacatuidae, a
qual pertencem as calopsit as (Nymphicus hollandicus Kerr, 1792).
A espcie Dubininia melopsittaci Atyeo e Gaud, 1987. (Analgo idea:
Xolalgidae) descr ita em exemplares de per iquito a ustraliano, Melopsi ttacus
undulatus Shaw, 1805 (Ps it taciformes: Psit tacidae), sendo especfica deste
hospedeiro, tambm ser relatada, uma vez que fo i ident ificada nas aves
analisadas no presente estudo. Esta espcie j fo i descr ita em exemplares de
M. undulatus or iundos da Austrlia, Europa, fr ica e Amrica do Norte.
2.2.1 Grupo genrico Psittophagus Gaud e Atyeo, 1996
Or iginalmente, fo i estabelecido dentro da famlia Falculifer idae (GAUD
e ATYEO, 1996) , sendo poster iormente removido para a famlia Ptero lichidae
(MIRONOV e GALLOWAY, 2002). Inclui os gneros Psittophagus Gaud e
Atyeo, 1996; Nymphyci lichus Mironov e Galloway, 2002 e Psittaculobius
Mironov e Galloway, 2003b.
Mironov et al. (2003b) relatam que os gneros Psittophagus e
Nymphycilichus so rest ritos a famlia Cacatuidae e que o gnero
Psittaculobius fo i o pr imeiro do grupo genr ico Psittophagus a ser descr ito
em membros da famlia Psit tacidae.
caros do grupo genr ico Psittophagus (Figura 3) dist inguem-se
claramente dos outros caros da fa mlia Pterolichidae por apresentarem, nas
29
fmeas, do is pares de uma est rutura fortemente esclerot izada, de formato
arredondado ou em forma de C, estando um dos pares localizados
lateralmente na regio sejugal e o outro na parte posterior do opistossoma
(GAUD e ATYEO, 1996) . Os machos que so bem menores que as fmeas,
no apresentam essa est rutura, de funo desconhecida ou podem apresentar
apenas um par na regio sejugal ( GAUD e ATYEO, 1996). Os caros desse
grupo so diagnost icados pelos seguintes carac teres: em ambos os sexos as
setas vert icais internas ( vi), assim como as setas histerossomais d1 e e1 so
ausentes; o ngulo poster ior do subcaptulum e a base dos epmeros I e II so
fortemente esclerot izados e cupules ia so bem desenvo lvidas (GAUD e
ATYEO, 1996). Nos machos os lobos opistossomais so curtos, todas as setas
do histerossoma exceto ps1 so simples, os apdemas genit ais so ausentes e
os discos anais no apresentam membrana est r iada ( GAUD e ATYEO, 1996).
Nas fmeas o epiginum ausente e o escudo histerossomal se desenvo lve
somente na metade poster ior do histerossoma, no se estendendo at a
margem poster ior do opistossoma (GAUD e ATYEO, 1996).
O gnero Nymphicilichus (Figura 4) considerado der ivado do grupo
Psittophagus , porm difere das outras espcies do grupo pela ausncia da seta
h1 e da so lendia 1 nos genus II e III, alm de apresentar significat iva
reduo do escudo histerossomal (MIRONOV et al. , 2003b).
A espcie Nymphicilichus perezae fo i descr ita por Mironov e Galloway,
2002 em exemplares de calopsit as, o nico hospedeiro at ento conhecido,
provenientes da Nova Zelndia e so freu correes em sua descr io origina l
por Mironov et al. (2003b).
2.2.2 Dubininia melopsittaci Atyeo e Gaud, 1987.
O gnero Dubininia pertence famlia Xolalgidae Dubinin, 1953 e a
subfamlia Ingrassiinae. Machos e fmeas da famlia Xo lalgidae apresentam o
femurgenu, que a fuso do fmur com o genu, em todos os pares de patas
(GAUD e ATYEO, 1996). Os machos da espcie Dubininia melopsittaci
apresentam o tarso IV muito curto, com um comprimento infer ior metade do
comprimento da t bia (GAUD e ATYEO, 1996). Nas fmeas as setas
30
histerossomais d1 e e1 so ausentes, as setas h2 e h3 apresentam comprimento
semelhantes e a seta sR no t rocnter do terceiro par de patas fina e no
ult rapassa o gnu (GAUD e ATYEO, 1996) . Entre as espcies de Dubininia
somente a D. melopsittaci (Figura 5) possui a conexo dos epmeros
anter iores em forma de V (ATYEO e GAUD, 1987).
Figura 3: Grupo Genrico Psittophagus. Psittophagus galahi , aspecto dorsal. 3A:
macho; detalhe do so lend ia 1 no genu II I (crculo).3B: fmea; detalhe do so lend ia 1 no genu II (crculo azul), par de est ruturas fortemente esclerot izadas, em forma de C na regio sejugal (seta preta) e na regio posterior do opistossoma (seta azul) ; setas h1 (crculo preto); (Mironov et
al. , 2003b).
A B
31
A B
Figura 4: Grupo Genrico Psittophagus. Nymphycilichus perezae , aspecto dorsal.
4A: macho.4B: fmea; par de est ruturas fortemente esclerot izadas, em
forma de formato ovalado na regio sejugal (seta preta) e na regio
posterior do opistossoma (seta azul), (Mironov et al. , 2003b).
32
A B
Figura 5: Dubininia melopsittaci, aspecto dorsal. 5A: macho.5B: fmea (Gaud e
Atyeo, 1996).
33
3. MATERIAL E MTODOS
3.1. COLETA DO MATERIAL E AVALIAO CLNICA DAS AVES
Foram co letadas amostras de penas de 36 calopsitas, Nymphicus
hollandicus Kerr, 1792 (Psit aciformes: Cacatuidae) atendidas pe lo Setor de
Animais Selvagens no Hospital Veter inr io da Universidade Federal
Fluminense UFF (HUVET-UFF), Niteri, Rio de Janeiro, no per odo de
maro de 2008 a maro de 2009. As a ves pe r t enc ia m a pa r t icu la r e s , que a s
adqu ir i r a m em estabelecimentos comercias ( Pet Shops) ou cr iadouros da
regio de Niter i, RJ e foram levadas pelos mesmos ao atendimento no
HUVET-UFF. Foram co letadas amostras de penas, de calopsit as com idade a
part ir de t rs meses, por j possu rem o empenamento completo, no sendo
feit a nenhuma dist ino quanto ao sexo das mesmas. reas de malopcia e
dermatopat ia foram avaliadas at ravs da observao do paciente durante a sua
avaliao clnica.
Para a realizao do exame clnico e co leta das amostras, as calopsitas
foram cont idas mecanicamente sem a ut ilizao de qualquer t ipo de sedat ivo.
A co leta fo i realizada de forma aleatria, sendo as penas cortadas na base da
raque e amostradas de c inco regies do corpo das aves: asa esquerda (AE),
asa direit a (AD), dorso, peito e cauda (Figura 6).
34
Com relao s penas das asas, foram coletadas amostras de rmiges
pr imr ias e na regio da cauda, foram co letadas amostras das coberteiras
infer iores da cauda. Aos pacient es que chegaram ao HUVET-UFF em estado
grave de sade (n=2), fo i exig ida uma conteno manual rpida a fim de
estabiliz- los, no sendo, portanto realizada a co leta de penas das cinco
regies preconizadas, ou realizada apenas a coleta de uma das regies. N esse
lt imo caso, fo i dada a preferncia em coletar amostras provenientes das
penas de uma das asas. As penas co letadas foram submet idas temperatura de
um congelador domst ico, var iando entre 18 o e 23 oC, permanecendo sob
essa temperatura por no mnimo 24 horas at quatro dias no mximo. Aps o
A B
C D
Figura 6: Coleta de amostras de penas. 6A: Corte de rmige primria da asa
direita. 6B: Corte de pena de contorno da regio do peito. 6C: Corte de pena de
contorno da regio do dorso. 6D: Corte de pena coberteira inferior da cauda.
35
per odo mnimo de congelamento estabelecido, os caros vinham a bito,
facilitando dessa forma a contagem dos mesmos.
3.2 QUANTIFICAO DOS CAROS PLUMCOLAS E PRESERVAO
DAS AMOSTRAS
As penas foram analisadas ao microscpio pt ico em sua superfcie
ventral, sendo realizada a contagem dos caros presentes em cada pena
avaliada (Figura 7). O grau de infestao fo i categor izado considerando a
tcnica de Behnke et al. (1995 e 1999). O resultado desta avaliao p ermit iu o
mapeamento das regies do corpo das aves mais acomet idas por esses
art rpodes. De acordo com a quant idade de caro presente nas penas, estas
foram classificadas em escore 1 (at dez caros), escore 2 (entre 11 e 30
caros) e escore 3 (acima de 30 caros). Amostras de penas com escore 3
foram fixadas em glutaraldedo 2,5% em 0,1 M de so luo cacodilato de sdio
(pH 7,2) e em etano l 70 GL. Amostras de penas que apresentaram escores 1 e
2 foram fixadas apenas em etano l 70 GL. As amostras fixadas em
glutaraldedo 2,5% em 0,1 M de so luo cacodilato de sdio (pH 7,2) foram
encaminhadas ao Laboratrio de Bio logia Celular do Inst ituto Oswaldo Cruz
IOC/FIOCRUZ onde foram processadas e analisadas at ravs da microscopia
elet rnica de varredura (MEV). As amostras acondic ionadas em etano l 70 GL
foram encaminhadas ao Laboratrio de Parasito logia do Inst ituto Biomdico
da UFF, processadas e analisadas at ravs da microscopia pt ica (MO).
36
3.3 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS
3.3.1 Microscopia ptica
Os caros acondicionados em etano l 70 GL foram removidos das penas
diretamente para a lmina de microscopia com auxlio de um est ilete. Esses
caros foram clar ificados em hidrxido de potssio 10%, por cinco minutos,
lavados em etano l 70 GL e ut ilizado Lactofeno l de Amam para finalizar o
processo de clar ificao (FLECHTMANN, 1975). Realizou-se a montagem do
mater ial a ser analisado entre lmina e lamnula, contendo uma gota de
Lactofeno l de Amam, sendo feit a a lutagem com esmalt e de unha inco lor.
3.3.2 Microscopia eletrnica de varredura
As amostras de penas fixadas em glutaraldedo 2,5% em 0,1 M de
so luo cacodilato de sdio (pH 7,2) foram submet idas a uma segunda fixao
em so luo de tet rxido de smio (OsO 4) 1% por 60 minutos. Aps esse
int ervalo de tempo, foram desidratadas at ravs de uma sr ie ascendente de
A B
Figura 7: Quantificao dos caros plumcolas. 7A: Imagem ventral de uma pena de calopsita
apresentando caros entre as barbas, junto regio da raque. Microscpio ptico aumento de
40X. 7B: Imagem ventral de uma pena de calopsita apresentando caros entre as barbas.
Microscpio ptico aumento de 40X. Material depositado no Setor de Animais Selvagens, UFF.
37
acetonas 30%, 50%, 70%, 90% e 100%, permanecendo quinze minutos em
cada uma dessas etapas. Em seguida foram secas pelo mtodo do ponto crt ico
com CO2 e fixadas em fita dupla face . A face oposta da fit a fo i ut ilizada para
fixao da amostra em stubs , passando estas, pelo processo de metalizao no
qual foram revest idas com uma camada de ouro, sendo em seguida examinadas
em microscpio elet rnico de varredura (Figura 8).
3.4 CHAVE PARA IDENTIFICAO DOS CAROS
A nomenclatura e classificao dos caros plumco las seguiram Atyeo e
Gaud (1987), Gaud e Atyeo (1996) e Mironov et al. (2003a e 2003b). A
confirmao dos espcimes do Grupo genr ico Psittophagus fo i realizada pelo
pesqu isador Dr. Sergey V. Mironov do Zoological Inst itute, Russian Academy
of Sciences,
3.5 ANLISE ESTATSTICA
Foram feitas anlises descr it ivas dos resultados. O teste no
paramtr ico de Kruskal Wallis fo i ut ilizado para avaliar a dist r ibui o de
caros plumco las entre as diferentes regies do corpo das aves (asa esquerda,
asa direit a, dorso, peito e cauda).
A B
Figura 8 MEV. 8A: Imagem das penas fixadas em fita dupla face, estando face
oposta da fita fixada ao stub. 8B: Imagem da pena aps o processo de metalizao,
revestida por uma camada de ouro.
38
4. RESULTADOS
Foram analisadas 177 amostras de penas, provenientes de 36 calopsit as
(Nymphicus hollandicus Kerr, 1792) encaminhadas para o atendimento pelo
Setor de Animais Selvagens do HUVET -UFF, entre maro de 2008 e maro de
2009, por motivos dist intos (Tabela1).
39
Tabela 1: Total de calopsitas (Nymphicus hollandicus Kerr, 1792) atendidas pelo
Setor de Animais Selvagens do HUVET-UFF, no perodo de maro de 2008 a maro
de 2009.
Paciente Motivo do atendimento
1 Consulta de rotina
2 Ferida na regio peitoral
3 Conjuntivite
4 Abscesso no membro inferior esquerdo
5 Estresse e alterao comportamental
6 Clamidiose
7 Prolapso de cloaca
8 Fratura no membro superior direito
9 Consulta de rotina
10 Consulta de rotina
11 Clamidiose
12 Fratura no canho da pena da asa direita
13 Coccidiose
14 Consulta de rotina
15 Consulta de rotina
16 Fratura no membro inferior direito
17 Fratura no canho da pena da asa direita
18 Consulta de rotina
19 Consulta de rotina
20 Sexagem
21 Sexagem
22 Sexagem
23 Clamidiose
24 Giardase
25 Consulta de rotina
26 Trauma na regio da cabea
27 Consulta de rotina
28 Consulta de rotina
29 Luxao mero coracide direito
30 Sexagem
31 Sexagem
32 Desnutrio
33 Consulta de rotina
34 Consulta de rotina
35 Corte das penas das asas
36 Abscesso na face
40
Todas as calopsitas foram adquir idas de cr iadouros de aves ou
estabelecimentos comercias ( Pet Shops) da regio de Niter i e no convivia m
com outras espcies de psitacdeos em ambiente domic iliar.
Apenas no paciente de nmero 32 no foi realizada co leta de penas de
todas as regies estabelecidas, sendo feit a apenas co leta de penas das asas
esquerda e direit a, devido ao seu estado grave de sade. Do total de calopsitas
avaliadas (n=36), 22 (61,11%) encontravam-se infestadas por caros
plumco las (Acar i: Ast igmata), sendo Nymphicilichus perezae (Figuras 9, 10,
11, 12, 13 e 14), representante do grupo genr ico Psittophagus, a espcie de
caro mais prevalente ocorrendo em 32,43% das amostras posit ivas, se guida
da Dubininia melopsittaci (Figura 15) com 21,62%. O gnero Psittophagus sp.
(Figura 16) representou 13,51%.
As formas imaturas (Figura 17), correspondentes aos estgios de ninfas,
assim como as larvas, inclu indo representantes do grupo genr ico
Psittophagus e da espcie Dubininia melopsittaci representaram 32,43%. No
fo i observado nenhum outro ectosimbionte nas aves avaliadas.
Os caros estavam dist r ibu dos nas penas entre as barbas, junto ou no
a raque (Figura 18).
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
Figura 19: Espcies de caros plumcolas e suas interaes nas calopsitas, atendidas
pelo Setor de Animais Selvagens do HUVET-UFF, no perodo de maro de 2008 a
maro de 2009.
A: ave infestada. A1: N. perezae ; A2 : Psittophagus sp. ; A3: D.
melopsittac i; A4: N. perezae e Psittophagus sp. ; A5: N. perezae e D.
melopsittaci ; A6: N. perezae , D. melopsittaci e Psittophagus sp.
Em 36,36% das calopsitas infestadas por caros plumco las (n=22) fo i
detectada apenas a presena de Nymphicil ichus perezae . Em 22,73%, somente
a presena de Dubininia melopsittaci e em 4,55% apenas caros do gnero
Psittophagus sp. O restante das aves apresentou concomitantemente, mais de
uma espcie de caro. Em 22,73% (n=22) fo i detectada a presena de
Nymphicilichus perezae e Dubininia melopsittaci; em 9,1% a presena de
Nymphicilichus perezae e Psittophagus sp. e em 4,55% a presena desses t rs
gneros juntos (Figura 19).
36,36%
4,55%
22,73%
9,10%
4,55%
22,73%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00%
A1
A2
A3
A4
A5
A6
Pode-se observar um maior percentual de fmeas de caros plumco las
(69,77%) em relao aos machos (30,23%) no total de amostr as posit ivas
(Figura 20). Na avaliao do percentual de machos e fmeas referente a cada
espcie de caro plumco la, obteve-se o predomnio de fmeas em todas as
espcies encontradas (Figura 21).
52
Psittophagus sp.
Figura 20: Percentual de caros plumcolas machos e fmeas encontrado
nas amostras de penas positivas coletadas de calopsitas (Nymphicus
hollandicus Kerr, 1792) entre maro de 2008 e maro de 2009 no
HUVET-UFF.
Psittophagus sp.
Figura 21: Percentual de machos e fmeas referente a cada espcie de caro
plumcola avaliada nesse estudo.
69,77%
30,23%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00%
Fmea
Macho
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
Nymphicilichus perezae Psittophagus sp. Dubininina melopsittaci
Macho
Fmea
Pela anlise estat st ica at ravs do Teste de Kruskal Wallis pode ser
observada uma dist r ibuio diferente dos caros entre as partes do corpo das
calopsitas (Figura 22). As reg ies da asa direit a (AD) e da asa esqu erda (AE)
apresentaram um maior grau de infestao, quando comparadas s outras
regies avaliadas (peito , dorso e cauda), predominando o escore 3 em 50%
53
Figura 22: Distribuio dos caros plumcolas pelas diferentes regies do
corpo das calopsitas infestadas, atendidas pelo Setor de Animais Selvagens
do HUVET-UFF, entre maro de 2008 e maro de 2009.
das amostras em ambas as regies. Nessas mesmas regies (AD e AE) foram
contabilizadas 22,73% de amostr as negat ivas e em 4,55% das amostras
observou-se apenas a presena de ovos. A AE apresentou escore 1 em 22,73%
das amostras e a AD em 18,18% das amostras. O escore 2 no fo i detectado
em nenhuma das amostras avaliadas da AE e correspondeu a 4,55% das
amost ras da AD. Nas regies do peito , dorso e cauda, houve predomnio do
escore 1. Comparando essas t rs ult imas regies, na regio do peito fo i
observado o maior nmero de amostras negat ivas (76,19%), segu ida da regio
do dorso (47,62%) e cauda (33,33%). Compa rando ainda essas regies (peito ,
dorso e cauda), somente na regio do dorso foram detectadas amostras
contendo apenas ovos (4,76%). As regies do peito e do dorso apresentaram
ambas, 4,76% de amostras com escore 2 e na regio da cauda 19,05% das
amostras corresponderam a esse escore. O escore 3 fo i detectado em 14,29%
das amostras do dorso, 9,52% das amostras da cauda e 4,76% das amostras do
peito .
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
AE AD Peito Dorso Cauda
Negativo
Somente ovos
Escore 1
Escore2
Escore3
A dist r ibuio de cada espc ie de caro por regio do corpo da ave
tambm fo i analisada (Figura 23). A presena do caro Nymphicilichus
54
Figura 23: Distribuio de cada espcie de caro plumcola por regio do corpo
das aves infestadas, atendidas pelo Setor de Animais Selvagens do HUVET-
UFF, entre maro de 2008 e maro de 2009.
perezae ocorreu em quase 50% das amostras da AE (47,83%) e da AD (48%),
porm este mesmo caro no fo i detectado em amostras provenientes das
regies do peito e da cauda. Nas amostras or iundas do dorso 12,5%
apresentaram Nymphicilichus perezae. O gnero Psittophagus sp. fo i
encontrado nas regies da cauda (21,43%), AD (20%) e AE (8,70%). Fo i
ausente nas regies do peito e dorso. O caro Dubininia melopsittaci ocorreu
em quase todas as regies do corpo das aves, exceto na AD, sendo mais
freqente nas regies da cauda ( 64,29%), peito (50%) e dorso (50%). Em
4,35% das amostras da AE fo i detectada a presena deste mesmo caro.
Formas imaturas relacionadas a todas as espcies encontradas nesse
estudo, correspondentes aos estgios de ninfas, assim como as larvas, estavam
presentes em todas as regies do corpo das aves, sendo o peito a regio de
maior grau de infestao por estas formas (50%).
Em 4,55% das amostras da AE e da AD foram encontrados apen as ovos
(Figura 24), assim como, em 4,76% das amostras do dorso.
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
120,00%
AE AD Peito Dorso Cauda
Formas Imaturas
Dubininia melopsittaci
Psittophagus sp.
Nymphicilichus perezae
55
56
Do total de calopsit as infestadas por caros (n=22) apenas os pacientes
de nmero 26 e 27, apresentaram malopcia (9,1 %), localizada, em ambos, na
regio da cabea. Nessas mesmas aves, at ravs do exame clnico, no foram
constatadas leses na pele, mesmo nas reas de malopcia (Figura 25). De
acordo com o histr ico desses pac ientes e a no anlise das penas dessa
regio no presente estudo, a presena de malopcia na cabea, em ambos os
casos, no fo i associada aos caros plumco las. No caso do paciente 26, este
fo i at ingido por uma cadeira na regio da cabea, o que culminou com a perda
das penas, imediatamente aps o incidente. No caso do paciente 27, este vivia
em grupo, com mais duas calopsitas, sendo a rea de malopcia, associada ao
constante bicamento da regio por outro membro do grupo.
Os pacientes que apresentaram fratura no canho de pena da asa direit a
(12 e 17), chegaram com histrico de t rauma anter ior a fratura, no sendo,
portanto, fidedigno relacionar tal fato presena dos caros plumco las.
Foram observadas, at ravs da avaliao macroscpica, alteraes na
pele em trs ca lops itas: pacientes 2, 4 e 36. A c alopsita de nmero 2 (dois)
apresentou fer imento na pele na regio peitoral. A ca lops ita de nmero 4
(quatro) apresentou uma nodulao no membro infer ior esquerdo, na regio do
tarsometarso, diagnost icada como um abscesso, assim como, a calopsit a de
numero 36, porm este se apresentou na regio da face.
De acordo com o histr ico do paciente de nmero 2 (do is) a
dermatopat ia apresentada na regio peitoral inic iou aps um trauma so fr ido
pelo mesmo na regio em questo. A alterao na pele apresentada pelo
paciente 4 (quatro) fo i em uma regio do corpo onde no h a presena de
penas e no paciente 36 esta ocorreu na regio da face. Nos do is lt imos casos
citados a cima, nenhuma das regies acomet idas so freu qualquer t ipo de
invest igao para a presena de car os, no sendo poss vel dessa forma,
estabelecer qualquer t ipo de correlao entre a presena do caro e a leso na
pele.
A presena de prur ido e/ou autobicamento no fo i observada durante o
exame clnico nas calopsitas acomet idas por caros plumco las, ass im como
nenhuma alterao na cor ou no arranjo das penas pode ser constatada. Essas
alteraes tambm no foram relatadas no histr ico de nenhum dos pacientes
infestados por caros de pena. Do total de calopsitas infestadas, apenas duas
57
(9,1%) apresentaram-se aba ixo de uma condio corporal adequada (pacientes
24 e 32), sendo esta condio detectada durante o exame clnico, at ravs da
palpao da musculatura peitoral.
Durante a anlise microscpica das penas para quant ificao dos caros
e classificao dos escores, notou-se leses na regio das brbulas em duas
amostras de penas posit ivas da asa direit a dos pac ientes 1 (um) e 24 (Figura
26).
A B
Figura 25: rea de malopcia na regio da cabea. 25A: paciente
26. 25B paciente 27.
A B
Figura 26: Leso na regio das brbulas. 26A: amostra de pena da asa direita
do paciente 1 (um). 26B: amostra de pena da asa direita do paciente 24.
Microscpio ptico 40X. Material depositado no Setor de Animais
Selvagnes-UFF.
58
5 DISCUSSO
A espcie de caro plumco la Nymphicilichus perezae Mironov e
Galloway, 2002, pertencente ao grupo genr ico Psittophagus (Ast igmata:
Pterolichidae), fo i a mais prevalente nas calopsit as, Nymphicus hollandicus,
Kerr, 1792 (Psitaciformes: Cacatuidae) avaliadas neste estudo (32,43%),
entretanto, desde a descr io desta espcie, no h, na literatura consultada,
art igos publicados sobre a sua prevalncia em calops itas.
A espcie Dubininina melopsittaci Gaud e Atyeo, 1987 (Analgo idea:
Xolalgidae) fo i a segunda mais preva lente neste estudo , estando presente em
21,62% das amostras de penas infestadas por caros plumco las. Gaud e Atyeo
(1987) relatam que essa espcie, que tem como hospedeiro especfico o
per iquito australiano, Melopsittacus undulatus Shaw, 1805 (Psit taciformes:
Psit tacidae) fo i co letada em exemplares destes na Austrlia, sia, sul e norte
da fr ica e nos Estados Unidos. Contudo, no h relatos na literatura sobre a
presena da Dubininina melopsittaci em calopsit as.
O gnero Psittophagus sp. or ig inalmente descr ito em membros da
famlia Cacatuidae, repre sentou 13,51% dos caros avaliados. Embora este
gnero tenha sido descr ito em exemplares da famlia Cacatuidae, no existe
relato na literatura cient fica sobre a sua ocorrncia em calopsit as. Gaud e
Atyeo (1996) relatam que nos Ast igmata a especific idade do hospedeiro
freqentemente notada e raramente uma mesma espcie de caro ser
encontrada em um gnero de ave diferente daquela a qual, evo lut ivamente, se
adaptou. Entretanto, de acordo com Proctor e Owens (2000) ; Proctor (2003) e
Poulin (1991), a manut eno
59
de inmeras espcies de aves num mesmo ambiente favorece a aquis io e o
acmulo de ectoparasitas nesses hospedeiros devido grande proximidade e
os numerosos contatos fsicos entre eles.
Corroborando as observaes dos autores acima cit ados, nen huma das
calopsitas infestadas convivia diretamente com outras espcies de aves, no
ambiente domic iliar, porm todas foram adquir idas em estabelecimentos
comercia is (Pet Shops) e cr iadouros de aves da regio de Nit er i. Dessa
forma, acreditamos que tal pro cesso de contaminao, levando ocorrncia de
ectosimbiontes no especficos as calopsitas avaliadas nesse estudo, como a
Dubininia melopsittaci e o Psittophagus sp. , deva-se pela manuteno destas,
antes de adquir irem um domic lio , prximas a outras esp cies de psit acdeos,
muit as vezes, convivendo na mesma gaio la.
A ocorrncia dessas espcies de caros no especficas de calopsitas,
nas aves avaliadas, ressalta que, embora exista uma congruncia entre a
filogenia de categorias super iores de caros de pe nas e seus hospede iros, esse
conhecimento deve ser ut ilizado com cautela na ident ificao dos caros
plumco las, uma vez que, essas contaminaes acidentais podem ocorrer
(GAUD e ATYEO, 1996).
A anlise estat st ica at ravs do Teste de Kruskal Wallis revelo u uma
dist r ibuio dist inta dos caros, pelas diferentes regies do corpo do
hospedeiro. Observou-se nas amostras de rmiges pr imr ias provenientes das
asas, esquerda e direit a, um maior grau de infestao, pr incipalmente pela
espcie Nymphicilichus perezae , quando comparadas s outras regies
avaliadas: peito , dorso e cauda. Nessas lt imas t rs regies a espcie mais
prevalente fo i a Dubininia melopsittaci . O escore 3 fo i predominante em 50%
das amostras posit ivas das AE e AD. Nas regies do peito , dorso e cauda o
escore 1 fo i predominante, sendo, portanto, as regies com menor
concentrao de caros plumco las. Este perfil parcia lmente com firmado
por Schmschke et al. (2002), ao relatar que os caros plumco las so
adaptados a certos micro -habitats no corpo das aves, loca lizando -se
pr incipalmente nas penas das asas. Roda e Far ias (1999) tambm reforam a
congruncia de nossos achados, quando ressaltam que alguns grupos de caros
apresentam preferncia por determinados locais do corpo das aves,
pr incipalmente pelas rmiges e rectrizes, permanecendo na superfcie ventra l
60
destas. Nesta vertente, somam-se as observaes de Atyeo e Gaud (1987)
quando relatam a preferncia da espcie Dubininia melopsittaci pelas
pequenas penas do corpo na regio do dorso e nas penas coberteiras da cauda.
Os autores supracit ados contribuem ainda para explicar peculiar idades
dos resultados aqui apresentados, os quais revelaram a presena de t rs
gneros dist intos, habitando as calopsitas ava liadas, apresentando cada um
deles, uma dist r ibuio diferente pelas regies do corpo das mesmas.
Essa diferena na dist r ibuio das espcies de caros plumco las pelas
regies do corpo das calopsit as, nos mostra que a especific idade topogrfica
relacionada a cada espcie de caro, permite que diferentes espcies,
inc lusive, de dist intos gneros, vivam na mesma ave sem uma compet io
aparente, como relatado por Gaud e Atyeo (1996).
Nas aves infestadas o predomnio de caros fmeas em relao aos
machos, constatado em nossos result ados, no fo i comentado por nenhum dos
autores consultados.
Embora, 61,11% das calopsitas avaliadas neste estudo est ivessem
infestadas por caros plumco las, nenhuma dessas aves fo i encaminhada ao
atendimento pelo Setor de Animais Selvagens do HUVET -UFF com queixa de
prur ido ou alterao de co lorao das penas (Tabela 1, p.39). Esses dados
diferem das observaes relatadas por Thompson et al. (1997) e Figuero la
(2000). Tais autores apontam uma correlao negat iva entre as infestaes de
caros nas penas e o br ilho da plu magem, assim como, inter ferncia em seu
desenvo lvimento, em diversas espcies de pssaros.
Do total de amostras de penas infestadas avaliadas, apenas duas, ambas
da asa direit a dos pacientes 1 (um) e 24, apresentaram leso em suas brbulas,
constatada durante a avaliao microscpica para quant ificao dos caros.
Apesar do escore 3 ter predominado em 50% das amostras dessa regio, no
se pode afir mar que tais alteraes est ruturais foram decorrentes da presena
dos caros. Isto porqu, de acordo com Procto r (2003) os caros plumco las
no so apontados como ectosimbiontes causadores de danos est ruturais na
penas. Alm disso, seu aparelho bucal mais eficiente para raspar, possuindo
dessa forma, quelceras que so geralmente pequenas e com uma musculatura
pouco desenvo lvida, exist indo poucas evidencias de que sejam realmente
61
capazes de roer penas intactas (PROCTOR e OWENS, 2000; PROCTOR,
2003).
Proctor (2003) assinala que processos patolgicos ocasionados por
caros plumco las esto muit as vezes rest r itos as aves mant idas em cat iveiro,
na maior ia das vezes impossibilit adas de voar, levando a um aumento na
densidade da populao de caros, com episdios de prur ido e bicamento nas
penas. Gaud e Atyeo (1987) relatam que severas infestaes por Dubininia
melopsit taci podem causar um quadro de irr itao e bicamento das penas,
ocasionando leses na pele, em per iquito australiano ( Melopsittacus
undulatus), provavelmente relacionado movimentao dos caros sobre a
pele e as penas. Greiner e Rit chie (1994) relatam qu e o caro de pena no
patognico ao hospedeiro ao qual, evo lut ivamente, ele se adaptou, podendo
sim, causar problemas clnicos, mas em outros hospedeiros. Contrapondo a
exper incia desses autores, observamos que, mesmo nas regies mais
infestadas, ou seja, as que apresentaram escore 3, no fo i constatada a
presena de prur ido e/ou autobicamento durante a avaliao clnica das aves.
Essa condio clnica se repet iu nos pacientes estudados mesmo com a
presena de espcies de caros no especficos as calops itas,
Em diversas espcies de pssaros, Harper (1999) observou uma
correlao negat iva entre severas infestaes de caros nas penas e a condio
corporal das aves. Das 22 calopsit as infestadas, apenas os paciente 24 e 32 se
apresentaram abaixo de uma cond io corporal adequada. A avaliao desse
parmetro fo i realizada at ravs do exame clnico dos pacientes, em especia l,
pela palpao da musculatura peitoral. Embora essas aves est ivessem
infestadas por caros, acredita -se que o baixo escore corporal desses do is
pacientes, estava relacionado enfermidade apresentada por eles, giardase e
desnutr io respect ivamente. Esses dados esto de acordo com outros estudos,
porm realizados em Passer iformes, onde no se fo i observado qualquer efeito
negat ivo entre a carga parasitr ia e massa corporal das aves (RZSA, 1997 ;
BLANCO et al. , 1999; DOWLING et al. , 2001; LINDSTRM et al. , 2009).
Mesmo que a re lao entre os caros de pena e seus hospedeiros seja
denominada parasitr ia, por alguns pesquisadores (HARPER, 1999;
PROCTOR, 2003), outros estudos apontam uma relao de comensalismo ou
at mesmo, mutualismo entre eles e as aves (ATYEO e PREZ, 1990; GAUD
62
e ATYEO, 1996; PROCTOR e OWENS, 2000; BLANCO et al. , 2001). Neste
contexto, Blanco et al. (1997) sugerem que os ca ros plumco las devam ser
benficos s aves, controlando o crescimento de fungos e bactr ias sobre as
penas. Com base nos dados obt idos no presente estudo, podemos suger ir que
na relao interespecfica entre os caros plumco las e as calopsitas existam
momentos de equilbr io. Dessa forma, danos aparentes no so percebidos no
hospedeiro.
De acordo com a literatura cient fica consult ada no h re latos no
Brasil da ocorrncia dessas t rs espcies de caros plumco las:
Nymphicilichus perezae , Psittophagus sp. e Dubininia melopsittaci . Bruno et
al. (2008), apresentando resultados preliminares deste t rabalho, descrevem a
presena de Nymphicilichus perezae em calopsitas em nosso pas.
A presena dos gneros Psittophagus e Dubininina pela pr imeira vez
relatada em calopsit as, no havendo, portanto, em toda a literatura cient fica
at ho je, regist ros sobre estas interaes.
63
6. CONCLUSES
As espcies de caros plumco las Nymphicilichus perezae , Dubininia
melopsittaci e Psittophagus sp. foram reg ist radas pela pr imeira vez no
Brasil;
Pela pr imeira vez na literatura constata -se a presena do gnero
Psittophagus sp. e da espcie Dubininia melopsittaci em calopsit as,
Nymphicus hollandicus Kerr, 1792;
Nymphicilichus perezae fo i espcie de caro plu mco la mais
prevalente na calopsit as, Nymphicus hollandicus Kerr, 1792 avaliadas
no presente estudo;
Diante dos dados obt idos, constatou -se nas diferentes regies do corpo
das aves a ocorrncia de dist intas espcies de caros plumco las,
vivendo no mesmo hospedeiro, sem uma compet io aparente;
Os caros plumco las ident ificados no foram associados s alteraes
clnicas apresentadas pela populao de calopsit as estudada.
64
7 OBRAS CITADAS
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