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Estudo das potencialidades econômicas

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MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDASECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL – SDT

SECREATARIA DA AGRICULTURA FAMILIAR – SAF ORGANIZAÇÃO DAS NACÕES UNIDAS PARA A AGRICULTURA E A ALIMENTAÇÃO-FAO

INSTITUTO REGIONAL DA PEQUENA AGROPECUÁRIA APROPRIADA – IRPAAARTICULAÇÃO SINDICAL DA BORDA DO LAGO DE SOBRADINHO – ASS

ESTUDO DAS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS

TERRITÓRIO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO - BA

Sistemas Produtivos da Agricultura Familiar:

Caprino-ovinocultura e Fruticultura de Sequeiro e Irrigada

Organização: Elisabete de Oliveira Costa SantosSílver Jonas Alves Farfán

JUAZEIRO/BAAbril de 2008

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Page 4: Estudo das potencialidades econômicas

Fórum do Território Sertão do São Francisco

Núcleo Executivo:

Articulação Sindical Rural da Região do Lago de Sobradinho – ASS

Associação dos Vereadores da Borda do Lago de Sobradinho – A VEBLASA

Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba – CODEVASF

Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA

Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais – SASOP

Instituições Animadoras:

Articulação Sindical Rural da Região do Lago de Sobradinhho – ASS

Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA

Articulador:

João Régis da Silva Neto

Consultor:

Cláudio Gustavo Lasa

Organização:

Elisabete de Oliveira Costa Santos

Sílver Jonas Alves Farfán

Fotos Capa:

João Zinclar, Arquivo IRPAA, CODEVASF.

Revisão:

Valdelice Leal Rodrigues

Diagramação:

Lourival Rodrigues de A. Neto

Impressão:

Gráfica Franciscana

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Page 6: Estudo das potencialidades econômicas

SUMÁRIO

RESUMO EXECUTIVO ..............................................................................................07

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................0 9

2.TERRTÓRIOS DE IDENTIDADE – ESTADO DA BAHIA..........................................11

3. TERRITÓRIO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO ......................................................12

4. ESTUDO DAS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS - EPE PARA O

TERRITÓRIO.............................................................................................................17

5. DESEMPENHO DA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA FAMILIAR ..............................17

5.1 Estrutura fundiária e reforma agrária .....................................................................18

5.2 Fundos de Pasto no Território Sertão São Francisco .............................................2 5

5.3 Infra-estrutura Hídrica ..........................................................................................2 6

5.4 Pecuária ...............................................................................................................3 0

5.5 Agricultura de Sequeiro .........................................................................................37

5.6 Agricultura Irrigada ................................................................................................53

5.7 Assalariados Rurais ..............................................................................................72

5.8 Crédito do PRONAF ..............................................................................................76

5.9 Comercialização ...................................................................................................81

6. Organizações Sociais .........................................................................................83

7. ANÁLISE E PROPOSTAS AOS SISTEMAS PRODUTIVOS ...................................8 4

7.1 Caprino-ovinocultura ............................................................................................8 8

a) Produção ................................................................................................................88

b) Transformação ......................................................................................................9 0

7.2 Fruticultura ...........................................................................................................9 2

a) Produção ................................................................................................................92

b) Transformação .......................................................................................................9 5

7.3 Comercialização ...................................................................................................97

8. ANÁLISE EXTERNA .............................................................................................100

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................102

Referências Bibliográficas .......................................................................................103

ANEXOS ..................................................................................................................109

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Page 8: Estudo das potencialidades econômicas

RESUMO EXECUTIVO

A política de desenvolvimento territorial rural é uma concepção inovadora de

planejamento e desenvolvimento que vem sendo implementada pelo Ministério do

Desenvolvimento Agrário-MDA, através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial-

SDT, que prioriza a Agricultura Familiar e outras categoriais rurais tradicionalmente

esquecidas, enfrentando problemas como as desigualdades regionais, degradação

ambiental, pobreza, exclusão social e a estagnação econômica. O Território Sertão do

São Francisco fica no noroeste baiano, submédio São Francisco, abrange 10

municípios compreendendo: Casa Nova, Sento Sé, Remanso, Pilão Arcado, Campo

Alegre de Lourdes, Sobradinho, Juazeiro, Curaçá, Uauá e Canudos.

O Fórum do Território formado em 2004 propôs em conjunto com a FAO e a STD a

realização deste Estudo das Potencialidades Econômicas - EPE, com o objetivo de

aprofundar o diagnóstico de dois sistemas produtivos prioritários escolhidos e

legitimados pelos atores sociais: a caprino e ovinocultura e a fruticultura de sequeiro e

irrigada. Este estudo pretende informar às secretarias de agricultura e, sobretudo à SDT

sobre as prioridades para investimentos no Território.

O diagnóstico da caprino e ovinocultura, atividade tradicional e amplamente difundida

no Território, indica problemas prioritários na etapa da produção a partir dos seguintes

limitantes: má distribuição das terras para os agricultores, falta água e alimento em

quantidade e qualidade suficiente para os criatórios, sobrepastoreio e desmatamentos.

Na etapa da transformação o contexto é mais escasso, não existem abatedouros

municipais, os produtos como a carne, a pele e o esterco não são beneficiados. A

comercialização da carne é feita através da venda do animal vivo a atravessadores e,

da mesma forma a pele e o esterco, onde a menor parte fica com o criador. Parte do

Território está situada na área conhecida como Zona Tampão de isolamento da febre

aftosa, o que limita ainda mais o comércio dessa produção.

A fruticultura de sequeiro, resultante de iniciativas recentes a partir do extrativismo, vem

se desenvolvendo por meio da instalação de unidades de processamento do umbu e

maracujá do mato, gerenciadas por cooperativas e associações de agricultores

familiares, articuladas na Rede Sabor Natural do Sertão. Essa Rede instituiu uma

logomarca única e vem definindo estratégias de produção e comercialização,

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Page 9: Estudo das potencialidades econômicas

principalmente para o Programa de Aquisição de Alimentos da CONAB, onde a

produção é fornecida como complemento à merenda escolar, creches e hospitais. A

Rede é articulada com o CONSEA/BA, que conseguiu recentemente a isenção do

ICMS nas operações institucionais. Os problemas desse sistema produtivo estão

associados ao pouco aproveitamento da produção, colheita predatória, baixos preços

da fruta in natura praticados pelos atravessadores e à ausência de investimentos do

Governo nas várias etapas desse sistema produtivo: produção, processamento e

comercialização.

A fruticultura irrigada é uma atividade relativamente recente no Território, advinda da

ação governamental para aumentar a oferta de energia e recursos hídricos,

potencializando solos e especificidades climáticas da região com a implantação da

fruticultura irrigada nos perímetros, envolvendo agricultores familiares e empresários

agrícolas. Embora a dinâmica econômica gerada com essa atividade seja muito

valorizada, os problemas advindos desse sistema produtivo para a agricultura familiar,

referem-se aos endividamentos, dependência de capital de giro e da ação

governamental, além da dependência do pacote tecnológico insumizado que envolve

mecanização e agrotóxicos e adubos químicos.

A partir desse diagnóstico, este estudo propõe ações estratégicas, estruturantes e

específicas para ambos os sistemas produtivos, principalmente o fortalecimento das

organizações e da rede social de relacionamento em torno da produção, do

processamento e da comercialização, fortalecendo o modelo agropecuário familiar

agroecológico, adequado às condições do Semi-árido, alicerçado no planejamento e

gestão das ações territoriais entre Governo e sociedade.

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Page 10: Estudo das potencialidades econômicas

1 - INTRODUÇÃO

Com a ampliação dos estudos e pesquisas sobre a territorialidade no Brasil, surgem

várias concepções para definir Território. O Ministério do Desenvolvimento Agrário -

MDA tem considerado “Território” como um espaço físico, geograficamente definido,

geralmente contínuo, compreendendo cidades e campos caracterizados por critérios

multidimensionais, tais como o ambiente, economia, sociedade, cultura, política, as

instituições, a população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam

interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um

ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial.

Em 2003, foi criada a Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT que está

vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e tem como finalidade desenvolver

ações que visem à promoção do desenvolvimento de Territórios rurais no Brasil,

priorizando a Agricultura Familiar e outras categoriais rurais tradicionalmente

esquecidas. A estratégia da busca do desenvolvimento por meio da abordagem

territorial é uma concepção inovadora, que procura enfrentar problemas que persistem

atingindo muitos espaços e grupos sociais. O objetivo mais especificamente, é mudar a

realidade do “Brasil - rural”, enfrentando as desigualdades regionais, a degradação

ambiental, a pobreza, a exclusão social e a estagnação econômica, ainda presente em

muitos lugares desse país. (www.territoriosdabahia.org.br).

Com o objetivo de identificar oportunidades de investimentos e prioridades temáticas,

definidas a partir da realidade local de cada Território, possibilitando o desenvolvimento

equilibrado e sustentável entre as regiões, o governo da Bahia passou a reconhecer,

em seu Planejamento Territorial, a existência de 26 Territórios de Identidade,

constituídos a partir da especificidade dos arranjos sociais e locais de cada região. Sua

metodologia foi desenvolvida com base no sentimento de pertencimento, onde as

regiões, as organizações e as comunidades, também contribuíram para essas

definições.

A política de desenvolvimento territorial no Território Sertão do São Francisco, teve

início no segundo semestre de 2004, através de um amplo processo de sensibilização

nos dez municípios, que culminou na realização de uma assembléia na cidade de

Juazeiro, com a participação de 117 representantes de órgãos públicos municipais,

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Page 11: Estudo das potencialidades econômicas

estaduais, federais e organizações da sociedade civil. Naquele evento, sob a

orientação de representantes do MDA e da FAO, foram constituídos o Fórum Territorial,

composto por quarenta instituições (vinte e duas da sociedade civil, dezoito do poder

público), o Núcleo Diretivo, Eleição de instituições para execução das atividades de

animação, pesquisa e diagnósticos, territorial com o objetivo principal de construir o

Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável. Naquele momento também foi

eleito um articulador territorial, que junto com as instituições indicadas posteriormente

foram contratadas pela FAO para receberem apoio e exercerem seus papéis.

De forma gradativa, os dez municípios foram se firmando enquanto suas identidades, e

hoje o Estado reconhece o Território com o número 23, com os contornos espaciais

conforme pode ser observado no Quadro 1, Figura 1 e 2, um dos Territórios de maior

área geográfica do Estado da Bahia.

Em 2006, foi construída de forma participativa a matriz do Plano Territorial de

Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS com apoio da SAF/MDA e FAO que é

constituído de seis eixos temáticos: regularização fundiária; fomento ao

desenvolvimento sustentável da agropecuária; gestão ambiental; educação, cultura e

lazer; saneamento e moradia e comunicação social.

Com o objetivo de aprofundar o eixo sobre fomento ao desenvolvimento sustentável da

agropecuária foi elaborado de forma participativa este Estudo das Potencialidades

Econômicas do Território, contendo diagnóstico e proposições mais detalhadas sobre

dois sistemas produtivos potenciais: caprinovinocultura e fruticultura de sequeiro e

irrigada. A escolha dos sistemas produtivos aqui abordados é resultado de um processo

de discussão e indicação por parte do Colegiado Territorial. Vale ressaltar que no

Território existem outros sistemas produtivos de grande importância sócio-econômica,

e que se faz necessário realizar outros estudos com o intuito de viabilizar de forma

sustentável esses sistemas produtivos.

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Page 12: Estudo das potencialidades econômicas

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Figura 1. Mapa dos Territórios do Estado da Bahia. Fonte: SEI/BA

01 - METROPOLITANA DE SALVADOR

02 - AGRESTE DE ALAGOINHAS/LITORAL NORTE

03 - RECÔNCAVO

04 - BAIXO SUL

05 - LITORAL SUL

06 - EXTREMO SUL

07 - PORTAL DO SERTÃO

08 - BACIA DO JACUIPE

09 - PIEMONTE DO PARAGUAÇU

10 - VALE DO JEQUIRIÇÁ

11 - MÉDIO RIO DE CONTAS

12 - ITAPETINGA

13 - VITÓRIA DA CONQUISTA

14 - SERTÃO PRODUTIVO

15 - BACIA DO PARAMIRIM

16 - CHAPADA DIAMANTINA

17 - IRECÊ

18 - PIEMONTE DA DIAMANTINA

19 - PIEMONTE NORTE DO ITAPICURU

20 - SISAL

21 - SEMI-ÁRIDO NORDESTE I

22 - ITAPARICA

23 - SERTÃO DO SÃO FRANCISCO

24 - VELHO CHICO

25 - OESTE BAIANO

26 - BACIA DO RIO CORRENTE

Fonte: Coordenação Estadual dos Territórios, 2007

2 - TERRITÓRIOS DE IDENTIDADEESTADO DA BAHIA

Page 13: Estudo das potencialidades econômicas

3 - TERRITÓRIO SERTÃO DO SÃO FRANCISCO

O Território Sertão do São Francisco localizado no norte da Bahia tem o Rio São

Francisco como principal elemento geográfico, histórico, social, econômico e cultural,

um dos marcos da sua identidade, junto com a cultura sertaneja e catingueira, Figura 2.

O leito do rio corta o Território de ponta a ponta, são 420 km percorrendo o Território. Por

causa da construção da Barragem de Sobradinho e a formação do Lago a região ficou

subdividida em duas partes, acima da barragem onde estão os municípios de Casa

Nova, Sento Sé, Remanso, Pilão Arcado e Campo Alegre de Lourdes, e abaixo da

barragem onde estão os municípios de Sobradinho, Juazeiro, Curaçá, Uauá e

Canudos. Desses municípios apenas Campo Alegre de Lourdes, Uauá e Canudos não

são banhados pelo Rio São Francisco, e no caso de Canudos, este pertence à bacia

hidrográfica do Rio Vaza Barris.

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Figura 2. Mapa do Território Sertão do São Francisco. Fonte: EMBRAPA Semi-árido

Quadro 1. Municípios do Território Sertão do São Francisco e área ocupada.

Sento Sé 12.629

Pilão Arcado

Casa NovaCuraçá

Juazeiro

Remanso

Canudos

UauáCampo Alegre de Lourdes

Sobradinho

11.761

9.697

6.476

6.415

4.712

3.000

2.962

2.766

1.328

61.746TOTAL

MUNICÍPIO 2Km

Fonte: IBGE.

Page 14: Estudo das potencialidades econômicas

O Território tem como característica apresentar apenas um rio permanente, o Rio São

Francisco. O Rio Salitre até uns 50 anos atrás era um rio perene e de lá para cá se

tornou temporário, mostrando a grande fragilidade ambiental a que está sujeito o bioma

do Território. O Rio Vaza Barris é um rio temporário que nasce em Canudos e só é

perene no seu baixo curso por sofrer influência das marés.

Existem inúmeras ilhas no leito do Rio São Francisco, umas habitadas outras não.

Algumas delas são ocupadas por tribos indígenas. Em Juazeiro as ilhas são

frequentemente cultivadas e freqüentadas por turistas, sendo as principais a Ilha

Massangano, Ilha do Rodeadouro e Ilha da Amélia. A Ilha do fogo fica em frente à

Juazeiro e apóia a ponte Presidente Dutra que liga Juazeiro a Petrolina, é a principal via

de ligação de Juazeiro com os municípios de Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado e

Campo Alegre de Lourdes, além de permitir o fluxo de transporte que vem do sudeste

para boa parte do Nordeste e o Norte.

No Lago de Sobradinho existem muitas ilhas não habitadas, o movimento de afluência e

defluência (sobe e desce da cota do lago) não permite um planejamento sistemático

para melhor utilização agrícola desses espaços. Em Pilão Arcado, muitas ilhas são

cultivadas com culturas de subsistência: mandioca, feijão, batata doce, milho, sorgo e

capim. A maioria das ilhas serve de ponto de apoio para os pescadores artesanais que

percorrem todo o Rio e o Lago.

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Figura 2. Imagens da identidade sócio-cultral no Território Sertão do São Francisco.Fotos: CODEVASF

Page 15: Estudo das potencialidades econômicas

O Lago Sobradinho foi concluído na década de 70 e teve um período de grande

produção de peixe, atraindo pescadores de várias regiões do Nordeste. Após esse

período houve uma redução drástica da produção do lago, que frustrou investimentos,

tais como os terminais pesqueiros de Pilão Arcado e Remanso. A crise produtiva do lago

muito provavelmente foi devido à grande pressão de pesca, a uma esperada

estabilização produtiva do lago e a interrupção da piracema, devido à barragem não

conter escada para os peixes.

Os perímetros irrigados surgiram após a construção da Barragem de Sobradinho e a

grande quantidade de recursos públicos investidos definiu o que hoje se chama o pólo

irrigado de Juazeiro e Petrolina, causando por um lado a atração de capital privado,

aumento da produção de riquezas e por outro lado, um crescimento desigual do ponto

de vista social, pois essas cidades passaram a inchar, e essa população que veio

trabalhar ou apenas atraída pelas possibilidades, vive em bairros periféricos que não

receberam investimentos básicos, constituindo bairros pobres, desestruturados e até

miseráveis.

Hoje os perímetros irrigados ficam todos no município de Juazeiro e se chamam:

Mandacaru, Tourão, Curaçá, Maniçoba e Salitre, este último ainda em construção.

Configuram áreas rurais diferenciadas, especialmente pela presença de grandes

empresas que cultivam uva, manga e cana-de-açúcar, esta última praticada por uma

única grande empresa que ocupa aproximados 17.000 hectares no perímetro Tourão, a

AGROVALE. A estruturação dessas atividades foi desenvolvida pela CODEVASF 6ª SR

que ainda hoje presta serviços na manutenção dos perímetros, na assistência técnica e

no controle e cobrança dos serviços de fornecimento de água e dos investimentos já

realizados.

A região de sequeiro, que ocupa a maior parte das áreas do Território, caracteriza-se em

grande parte por agricultores e criadores que possuem minifúndios e utilizam

coletivamente áreas abertas para o pastoreio do gado caprino, ovino e bovino, e são

áreas chamadas de fundo de pasto. Essa forma de uso coletivo da terra Prática foi

desenvolvida durante a história da ocupação dos sertões, principalmente após a

quebra do ciclo da cana-de-açúcar no Agreste pernambucano e a migração das

atividades para o sudeste.

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Page 16: Estudo das potencialidades econômicas

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O sistema tradicional de uso comum de terras em Fundos de Pasto é um sistema

reconhecido na Constituição do Estado da Bahia de 1989, Artigo 178. Representa um

modo eficaz de convivência de milhares de famílias do Semi-árido baiano. Através da

prática agrosilvopastoril, do extrativismo, da pequena agricultura, da religiosidade, das

relações entre famílias e comunidades, foi possível construir uma cultura que, por si só,

expressa a alma da comunidade sertaneja, além de assegurar a dignidade e o direito de

viver na terra. Hoje existem no Território aproximadamente 226 associações de fundos

de pasto regularizadas e procurando adquirir o direito das suas terras tanto para uso

coletivo como individual. A forma de ocupação e utilização das terras em fundos de

pasto caracteriza o Território e mostra caminhos para definições do aspecto fundiário na

região.

Na divisa com o Piauí fica a Serra Dois Irmãos, limite divisório dos Estados e que ao

mesmo tempo define uma realidade semelhante dos dois lados, são regiões periféricas

e excluídas da maioria das políticas sociais, de saúde e educação, que acontecem nas

sedes dos municípios e no município pólo da região, Juazeiro. Nesta Serra que vai de

Casa Nova a Campo Alegre de Lourdes, margeiam pelo lado do Piauí vários municípios

menores que se assemelham pelo alto grau de exclusão.

A calha do Rio São Francisco abriga a região ribeirinha onde a agricultura de vazante e

a pesca são as atividades principais e mais antigas da região. Além dessas atividades o

rio foi o primeiro meio de transporte que serviu à colonização do interior do Nordeste. A

pesca artesanal movia-se em sincronia com as grandes e pequenas cheias do Rio, as

várzeas e lagoas marginais funcionando como berçários naturais para a reprodução

dos peixes que subiam na piracema.

Os pescadores também são agricultores, criadores de caprinos, de abelhas e artesões,

atuam no comércio de peixes em ilhas, balneários, praias e mantêm grande parte da

cultura local com as festas religiosas, samba de veio, marujadas, dança de São

Gonçalo e festas de pescadores. Pode-se dizer que os pescadores são os verdadeiros

guardiões do Rio.

Embora relativamente organizada, em colônias de pescadores, a classe dos

pescadores enumera vários problemas limitantes que colocam a atividade em risco,

entre eles os que estão relacionados com a degradação das matas ciliares e da

Page 17: Estudo das potencialidades econômicas

caatinga, poluição das águas com agrotóxicos, metais pesados, e desequilíbrios

químicos decorrentes da agricultura e dos esgotos urbanos ao longo do rio.

Existem no Território várias comunidades consideradas de origem quilombola, porém

não são comunidades reconhecidas. A cultura das populações rurais e das periferias

urbanas tem uma forte ligação com a cultura africana, sendo evidente nos grupos de

capoeira e samba de veio na ilha Massangano e Rodeadouro e nas sedes dos

municípios, além de outras manifestações culturais e gastronômicas.

Embora haja indicações importantes da pesquisa e sobre as prioridades de

preservação ambiental, ainda não existem áreas de preservação oficiais instaladas.

Em Canudos, Glória, Macururé, Jeremoabo e Paulo Afonso, existe a Reserva Ecológica

Nacional Raso da Catarina, com 99.772 hectares, com o objetivo principal de

preservação da arara-azul-de-lear (Andorhynchus leari). Os principais problemas no

parque são: desmatamento, particularmente da palmeira do licuri, alimento principal da

arara-azul-de-lear, a caça e o tráfico de animais silvestres.

As unidades de conservação que estão em estudo para serem instaladas no Território

são: o Parque Boqueirão da Onça, que ainda não foi definido seus contornos, mas que

inicialmente atingiria os municípios de Juazeiro, Sobradinho e Grande Parte de Sento

Sé; a Área de Proteção Ambiental – APA dos Brejos de Pilão Arcado e Barra, também

está em estudo pelo órgão estadual de meio ambiente, mas ainda não foi definido como

tal, neste caso atingirá o município de Pilão Arcado.

As principais estradas da região são precárias e ligam apenas sete municípios, sendo

elas: Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova, Sobradinho Juazeiro e Curaçá, ficando

Campo Alegre de Lourdes, Canudos e Uauá, atendidas por estradas de terra nem

sempre preservadas. As estradas asfaltadas são precárias porque não dispõem de

acostamento, são pavimentações de segunda qualidade com piche e areia, de modo

que requerem reparos anuais, pois não resistem às chuvas nem ao transporte pesado,

além de apresentarem irregularidades que as tornam perigosas. A única BR

pavimentada que passa pelo Território e que mesmo assim têm problemas de

manutenção serve apenas à Juazeiro, fazendo a ligação com Salvador e interligando à

Petrolina. As estradas vicinais nos municípios que ligam às comunidades rurais se

encontram geralmente em péssimas condições de conservação, o que dificulta o

acesso e o escoamento da produção.

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Page 18: Estudo das potencialidades econômicas

4 - ESTUDO DAS POTENCIALIDADES ECONÔMICAS–EPE PARA O TERRITÓRIO

O Estudo das potencialidades econômicas é um Diagnóstico aprofundado da base

sócio-econômica da agricultura familiar do Território, a partir do Plano Territorial de

Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS. O objetivo é qualificar os projetos que

chegam às secretarias de governo estadual e federal, servindo para reunir em

dimensão “Territorial” informações municipais ou regionais, contendo dados

sistematizados e propostas prioritárias para o sistema produtivo, legitimadas pelos

atores sociais do Território em oficinas municipais e territoriais. O estudo propositivo

também pretende informar especificamente à Secretaria de Desenvolvimento Territorial

- SDT sobre as prioridades para investimentos no Território.

Os dados do Estudo das Potencialidades Econômicas têm origem em dados primários

de censos e pesquisas publicadas e dados secundários resultantes da coleta de

informações diretamente da realidade local. Os dados secundários tiveram como

metodologia a realização de oficinas municipais orientada por questões previamente

definidas, assim como o desenvolvimento de projetos específicos de diagnóstico e

intervenção na realidade. Finalmente os dados foram agrupados por consultores que

propuseram a montagem de diagnósticos específicos e de propostas, priorizando os

dois sistemas produtivos escolhidos.

5 - DESEMPENHO DA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA FAMILIAR

Para uma boa compreensão da agropecuária familiar do Território é necessário fazer

uma divisão de temas, apenas didática, composta de: estrutura fundiária e reforma

agrária, fundos de pasto, recursos hídricos, pecuária, agricultura de sequeiro,

agricultura irrigada, assalariados rurais, crédito do Pronaf e comercialização, com o

foco nos dois subsistemas priorizados pelo Fórum do Território para este Estudo. Esse

capítulo, além de oferecer uma visão geral sobre as atividades rurais familiares, será

fundamentado os elementos técnicos e organizacionais para em seguida adentrar nas

propostas dos dois sistemas priorizados.

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Page 19: Estudo das potencialidades econômicas

5.1 - Estrutura Fundiária e Reforma Agrária

A questão fundiária é uma questão bastante polêmica não só na região do TSSF, mas

em todo o país. A garantia da terra e em quantidade suficiente é a base para a

Convivência com o Semi-árido e para qualquer desenvolvimento sustentável. Existe no

Território uma série de dificuldades provocadas principalmente pela má distribuição das

terras, que favoreceu desde a ocupação portuguesa a formação de latifúndios, em

contraposição aos minifúndios ocupados pela maioria dos agricultores familiares.

São duas realidades bastante distintas, as áreas irrigadas que se concentram às

margens do Rio São Francisco e as áreas de sequeiro utilizadas principalmente para a

criação de caprinos e ovinos. Segundo o Zoneamento Agroecológico desenvolvido pela

EMBRAPA o uso das terras do Semi-Árido deve ser da seguinte forma:

– 4% para irrigação

– 16% para agricultura de sequeiro

– 44% para extrativismo e pecuária com animais de médio porte

– 36% para áreas de extrativismo e reserva ambiental obrigatória por não ter aptidão

natural para agropecuária.

Conforme a realidade se apresenta, Figura 4, e a proposta da EMBRAPA, se percebe

que a grande vocação da região é a criação de animais de médio porte, principalmente

cabras e ovelhas. No Território essa criação se dá tradicionalmente através das áreas

de uso coletivo conhecida como fundo de pasto. Aqui está o maior rebanho de caprinos

do país vivendo no regime semi-extensivo.

O documento “Fundo de Pasto que Queremos”, 2005, descreve que “Os Fundos de

Pasto” constituem um sistema de ocupação coletiva de terras por comunidades usadas

em pastoreio extensivo e hoje semi-extensivo, área livremente utilizada por

condôminos, ausência de delimitação com cercas e sim por variantes, residências

típicas do sertão nas áreas das posses individuais, roçados de subsistência individuais

de cada família, forte grau de parentesco e compadrio ente os membros das

comunidades, características culturais próprias de cada comunidade: festas,

artesanato, rezas e o cuidado com a caatinga e animais.

Esta ocupação dá-se na forma de Sistema Agrosilvopastoril e é de fundamental

importância para milhares de famílias (estima-se em mais de 20.000) de agricultores da

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Page 20: Estudo das potencialidades econômicas

Bahia, mais precisamente nas regiões norte-nordeste e baixo médio São Francisco.

Esse formato de ocupação concorre decisivamente para a viabilização da economia

familiar nessas micro-regiões e para a manutenção de um modo de vida nascido da

relação destas comunidades com o clima semi-árido.

19

Page 21: Estudo das potencialidades econômicas

Entretanto, se for confrontado com a realidade, grande parte destas áreas já se

encontram em dificuldades de suportar a grande quantidade de animais existentes,

mesmos sendo abertas, causando o super-pastoreio.

Não existe um levantamento dos dados relativos ao número de estabelecimentos rurais

por estratos de área, as condições dos produtores (proprietários, arrendatários,

posseiros), o uso das áreas e ao grau de concentração da terra, através do qual seja

possível caracterizar com relativa segurança a estrutura agrária dos municípios que

compõem o Território. Apesar disso, dados preliminares disponíveis já permitem

compor o quadro das especificidades da questão agrária na região.

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Figura 4. Imagens da realidade produtiva no Território Sertão do São Francisco.

Fotos: CODEVASF, IRPAA.

Page 22: Estudo das potencialidades econômicas

Segundo dados da CDA, INCRA e IBGE, 55,10% das terras da Bahia são devolutas,

isto é, terras públicas mas que não estão registradas em nome do Estado. No caso do

Território do Sertão do São Francisco, esse percentual é de 78,12%, porque, ainda

segundo a CDA, dos 6.174.600 hectares correspondentes a área total dos dez

municípios, apenas 1.350.937 (21,87%) estão “legalizados” (propriedade privada,

propriedade do Estado da Bahia ou da União); 4.823.663 de hectares são terras

devolutas, o que pode ser observado na Tabela 1.

Estão cadastradas na CDA 226 associações de Fundo de Pasto, sendo que grande

quantidade delas (68) está em Uauá, e a menor (02), em Sento Sé, e o total das áreas

por elas ocupadas (202.771ha) corresponde a 4,20% das terras devolutas existentes

no Território, Tabela 1.

Além dos fundos de pasto, um levantamento preliminar aponta a existência de nove

assentamentos da reforma agrária. Esses dados demonstram que quantitativamente a

reforma agrária tradicional é ainda tímida em relação aos fundos de pasto, indicando

que o caminho da regularização fundiária pelo segundo caminho poderá ter uma

grande importância devido a seu forte apelo de identidade cultural.

Em todos os municípios do Território têm-se diversas áreas passíveis de

desapropriação, são latifúndios que poderiam estar dando lugar a agricultores (as)

familiares, e daí cumprindo a função social da terra como reza a Constituição Federal.

21

Fonte: Fundo de pasto que queremos, 2005.

Tabela 1. Ocupação espacial das áreas das associações de Fundos de Pasto no

Território Sertão do São Francisco.

Page 23: Estudo das potencialidades econômicas

Por outro lado a concentração fundiária não foge à realidade estadual e nacional, ou

seja, existem muitos minifúndios ocupando a menor parte das terras e uma pequena

quantidade de latifúndios ocupando a maior parte das terras, como pode ser visto na

Tabela 2 que trata da distribuição de imóveis rurais registrados e concentração

fundiária. Se o fato de existir muita terra devoluta facilita a utilização das terras em

regime de fundo de pasto, por outro lado esse mesmo fator facilita a apropriação

indébita dessas terras por grileiros, do que pode ser deduzido que a sobra da grilagem e

dos latifúndios oficiais é que vem sendo utilizado em regimes de fundos de pasto. Essa

realidade vem causando conflitos pela terra, entre agricultores e grileiros, os primeiros

vêm atuando organizadamente em associações com apoio das organizações

representativas.

Não raramente esses conflitos resultam até em homicídios, como aconteceu há alguns

anos no município de Curaçá, vitimando agricultores envolvidos na regularização

fundiária de uma área de fundo de pasto. Em outros casos como foi no assentamento

Canaã em Remanso, antes da área ser regularizada pelo INCRA, quando os

acampados tiveram que suportar vários despejos feitos pela polícia a mando da Justiça,

muitas vezes em clima de muita tensão, usando até fogo para destruir os

acampamentos.

Já nas áreas irrigadas a realidade fundiária é muito distinta das áreas de sequeiro. Será

abordado neste estudo como se comportam algumas questões nessas áreas. A

irrigação é um conjunto de tecnologias que possibilita uma maior produtividade em um

espaço mínimo de terra. Na região do TSSF é possível ter até três colheitas ao ano

numa mesma área irrigada.

A partir dos anos 60 o Governo Federal iniciou o programa de geração de energia

elétrica com a construção de hidrelétricas no São Francisco e o programa de irrigação

no Baixo Médio, conhecido como Vale do São Francisco.

22

Page 24: Estudo das potencialidades econômicas

Para atrair a iniciativa privada o Governo criou projetos pilotos de irrigação constituídos

por lotes familiares de seis hectares, em média, associado ao pacote tecnológico da

revolução verde, baseado no uso de agrotóxicos, adubos químicos e mecanização. O

Governo subsidiou toda a infra-estrutura e a produção. Como resultado inicial os

colonos tiveram sucesso com culturas de ciclo curto e foram atraídos grandes grupos

empresariais, nacionais e internacionais. Com a chegada das empresas de irrigação e

a consolidação da região como um pólo de desenvolvimento, o governo cortou os

subsídios às famílias de irrigantes e “emancipou” os perímetros irrigados, passando a

se dedicar a construir a infra-estrutura (canais, estradas e aeroporto) para atender a

grande irrigação de exportação.

Hoje a realidade dos pequenos irrigantes é dramática, boa parte das terras está

esgotada e já não produz como antes; por conta da interferência direta do Estado as

famílias pouco desenvolveram a cultura do cooperativismo e a profissionalização para

o mercado; é alarmante o índice de câncer na população do pólo de irrigação e fora dos

perímetros onde também pratica a agricultura irrigada, principalmente entre os

trabalhadores rurais. O retrato econômico das famílias de colonos é que estão

endividadas, falidas, contaminadas por agrotóxicos e sem perspectivas, mesmo tendo

terra e água. Os jovens das áreas irrigadas abandonam a propriedade e buscam

subempregos na cidade. No vale existem aproximadamente 15 mil famílias irrigantes,

destas, 80% devem ao banco e apenas 10% têm a propriedade agrícola como única

fonte de renda.

Por outro lado é grande a pressão das famílias sem terra para conseguirem uma área

23

Tabela 2. Distribuição em módulos fiscais de imóveis rurais registrados e concentração fundiária.

Fonte: INCRA.

Page 25: Estudo das potencialidades econômicas

irrigada. Em especial o MST tem reivindicado novos projetos de irrigação familiar. O

governo vem planejando o investimento em grandes projetos de irrigação para grandes

empresas como é o caso do Projeto Salitre e o Projeto Pontal, transposição do Rio São

Francisco, construção de grandes barragens em Curaçá, a expansão de empresas

agrícolas, principalmente com monocultura (cana-de-açúcar) sugerem a utilização de

mão de obra barata das famílias sem terra. O avanço desses grandes projetos contribui

para a degradação ambiental e a expulsão das famílias rurais de suas terras,

aumentando a concentração fundiária.

Apesar das dificuldades a região tem um grande potencial social que são as

associações, cooperativas e o movimento Sindical, que constituem atores sociais

fundamentais para discutir propostas de produção, de comercialização e regularização

fundiária.

O principal movimento de luta pela terra com a política de assentamento na região é o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Parte dos assentamentos já

tem o Plano de Desenvolvimento do Assentamento - PDA elaborado, mas ainda não

foram executados, na maioria falta água, falta assistência técnica, crédito, etc. Em

relação aos acampamentos a situação ainda é mais complexa.

O Projeto de Assentamento Bangüê, em Curaçá, com 40 famílias assentadas em 5.600

hectares, sendo 140 hectares por família é uma novidade nesse contexto. O PDA

construído através de convênio com o IRPAA, já encontra-se em fase de implantação.

Neste assentamento a habitação, água e energia encontram-se contemplados através

do Programa Operacional 2006 do INCRA, sendo que a energia faz parte do programa

“Luz para Todos”. Esse assentamento se diferencia de outros já instalados na região

devido ao maior número de hectares para cada família, o que se justificou devido à

qualidade da vegetação da caatinga e do solo da região do assentamento, porém o

INCRA demonstra resistir em concordar com esse critério, justificando sua opinião por

causa da grande pressão das famílias sem terra. É uma discussão entre qualidade de

reforma agrária e quantidade de famílias assentadas.

Existem no município de Sobradinho diversas áreas concedidas através de crédito

fundiário, mas, parte delas está desocupada e na maioria os trabalhadores

endividados, criando uma situação que exige um estudo mais aprofundado sobre a

situação atual.

24

Page 26: Estudo das potencialidades econômicas

5.2 - Fundos de Pasto no Território Sertão do São Francisco

A ocupação histórica das terras no norte do estado da Bahia é marcada por um sistema

de uso comum das terras, os denominados Fundos de Pasto que representa também

uma forma de resistência e lutas pela posse da terra por parte dos pequenos produtores

rurais.

Através da prática agrosilvopastoril, do extrativismo, da pequena agricultura, das

relações entre as famílias e comunidades, da religiosidade, entre outros aspectos, foi

construída uma cultura que expressa um jeito particular de viver e produzir no sertão

baiano.

Nos fundos de Pasto há vários níveis de organização: familiar, comunitário, regional e

estadual, por onde as famílias dos trabalhadores rurais que vivem nos fundos de pasto

expressam suas potencialidades, dificuldades e demandas. E para representá-los e

legitimar essa estratégia esse movimento social constituiu associações comunitárias,

articuladores regionais e uma articulação estadual dos fundos de pastos.

Os trabalhadores das Associações de Fundo de Pasto se encontram bem articulados e

organizados em torno dos seus pleitos, com uma história de lutas junto ao poder público

há mais de 20 anos, mas isso não significa que os problemas da categoria estejam

resolvidos.

A organização dos Fundos de Pastos, sempre passou por dificuldades, sobretudo no

que se refere à conquista da posse e titulação de suas terras. Antes existia na região a

sede do INTERBA - Instituto de Terras da Bahia, que propiciava uma relação próxima

das associações com o Estado. Essa relação já não era satisfatória e com a extinção

desse órgão e a concentração em Salvador através da Coordenação de

Desenvolvimento Agrário – CDA, os entraves aumentaram consideravelmente.

O ano de 2002 é considerado como um grande marco para os Fundos de Pastos,

porque naquele ano, quando em um seminário estadual foi criada a Articulação dos

Fundos de Pastos, que apesar das adversidades tem cumprido politicamente um papel

interessante que se traduz em alguns avanços, como: titulação de terras; demarcação

de áreas devolutas; fundos de pastos reconhecidos como áreas de comunidades

25

Page 27: Estudo das potencialidades econômicas

tradicionais; convênios com INCRA e CDA; convênios para implantação de infra-

estrutura para as áreas; fortalecimento das mobilizações; entrega de títulos coletivos

(municípios de Canudos mais de 40% das associações já receberam); criação de um

Núcleo de referência dos Fundos de Pastos no INCRA em Salvador, e construção e

elaboração do Projeto Fundo de Pasto que queremos.

Entretanto, mesmo reconhecido por Lei, os Fundos de Pasto sofrem com programas

governamentais que vão contra a lógica de ocupação e produção em sistemas de

Fundo de Pasto, a exemplo do Programa Minha Roça, do governo estadual que

promoveu a titulação individual das áreas sem considerar a realidade dos Fundos de

Pastos, desarticulando a dinâmica das associações, acabando por reforçar o

minifúndio até mesmo o latifúndio.

Outras dificuldades que os fundos de pastos vêm enfrentando se referem à

desarticulação dos Órgãos Estaduais; centralização da sede dos órgãos de apoio em

Salvador; falta de articulação com os poderes locais; INCRA de Pernambuco que tem

jurisdição em parte da Bahia não conhece e nem reconhece a dinâmica de Fundo de

Pasto. Além dos grandes Projetos que estão em andamento e que vêm causando

impactos diretamente nos Fundos de Pastos: Carvoarias, Grandes Barragens,

Mineradoras, Projetos de Irrigação, Parque Boqueirão da Onça, que não estão

considerando a realidade dos Fundos de Pastos.

Nesse contexto mais amplo, se faz necessário uma maior participação das associações

de Fundo de Pasto nas políticas de desenvolvimento territorial, através do Fórum do

Território Sertão do São Francisco para defender suas demandas e seus pleitos.

5.3 - Infra-estrutura Hídrica

A estrutura hídrica no Território, não é diferente do restante do Semi-árido, onde a

distribuição dos recursos hídricos existentes é o maior problema, seja da água dos rios,

lagos ou subterrânea. O Território dispõe da maior fonte de água doce do Nordeste, o

Rio São Francisco, e nele está localizado um dos maiores lagos artificiais do mundo em

espelho de água. Essa abundância de recursos hídricos não confere ao Território uma

situação muito confortável. Basta observar a ausência de adutoras nos povoados e

26

Page 28: Estudo das potencialidades econômicas

cidades fora da sua margem, como a sede de Campo Alegre de Lourdes. O retrato mais

fiel desse contraste são as comunidades a poucos quilômetros do rio que não tem

acessos à esse bem essencial.

A lógica da barragem de Sobradinho é a geração de energia para o desenvolvimento

econômico e para abastecer as grandes cidades do Nordeste, em detrimento do

atendimento das populações ribeirinhas e da caatinga que já habitavam o Território.

A condição climática semi-árida somada à ausência de rios afluentes permanentes na

vasta área do Território faz com que o lago seja uma imensa área de perda de água por

evaporação, devido ao imenso espelho de água. Esse fenômeno amplia mais ainda o

grande contraste da má distribuição das águas do Rio.

Dentre outras barragens de menor porte está o açude Pinhões, no interior de Juazeiro,

no Rio Curaçá e o açude Cocorobó, em Canudos no Rio Vaza Barris. Além desses

açudes existe uma quantidade desconhecida de outras pequenas barragens e uma

quantidade ainda maior de barreiros e caldeirões de pedra, construídos por iniciativas

individuais e de comunidades, onde os lajedos propiciam essa estratégia. Existem

algumas barragens subterrâneas em funcionamento no Território, nos municípios de

Curaçá, Uauá e Canudos. Será necessário fazer posteriormente um levantamento

completo desses recursos hídricos superficiais.

Devido à esse quadro pouco democrático de distribuição das águas, durante muitas

décadas, a distribuição de água ainda é feita através de carros pipas, um instrumento

de dominação política utilizado nos municípios do Território. Na década de 80,

paróquias, diocese e Ong´s deram início a construção das cisternas familiares para a

captação das águas das chuvas, o que tem causado algumas modificações nesse

cenário de dominação. As iniciativas de construção de cisternas se multiplicaram,

sobretudo nos últimos 10 anos como será demonstrado a seguir.

A estratégia de construção de cisternas, com capacidade de armazenamento de 15.000

litros de água, com a instalação de calhas para aparar as águas das chuvas nos

telhados residenciais, tem sido a forma mais democrática de levar água doce e de

qualidade para a população difusa que vive nas áreas de caatinga. Existe uma grande

quantidade de programas não governamentais e governamentais que vêm construindo

essas cisternas no Território desde a década de 90. Várias tecnologias estão

27

Page 29: Estudo das potencialidades econômicas

disponíveis para a construção desses reservatórios, sendo as principais: a cisterna de

placas no modelo “Pintadas”; a cisternas de tela e arame e; cisterna de Alambrado,

sendo as duas últimas desenvolvidas pelo IRPAA.

A partir de 1999, com a fundação da Articulação no Semi-árido Brasileiro – ASA, em

Olinda, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o combate à desertificação, as

iniciativas se multiplicaram aqui no Território. A principal característica das ações da

ASA é que as construções das cisternas são acompanhadas de um intenso processo de

capacitação para convivência com o semi-árido, gestão de recursos hídricos e políticas

públicas, processo que envolve cada família beneficiada.

Não existe um levantamento que contabilize o total dessas cisternas construídas e em

funcionamento, pois elas vêm sendo construídas por paróquias, dioceses, Ong´s,

Programa um milhão de cisternas da ASA, Prefeituras, Governo do Estado e Federal.

Apenas as cisternas construídas pelo programa da ASA somam 6.649, em oito

municípios do Território, Tabela 3. Estima-se que exista pelo menos o dobro desse

número que foram construídas pelas outras iniciativas. Cada cisterna abastece uma

família com aproximadamente cinco pessoas, que é a média do número de habitantes

por família nos dez municípios do Território. Segundo informações prestadas pela

gerente do P1MC – Programa Um Milhão de Cisternas, no Território, seriam

necessárias aproximadamente 20 mil cisternas para atender toda a demanda, ficando

visível a necessidade de ampliar essa estratégia.

Recentemente vem sendo implantado no Território mais um programa da ASA, um novo

programa que visa atender a demanda de terra e água para a produção familiar

chamado P1+2. Esse programa vem construindo cisternas tipo “calçadão” que tem a

capacidade de armazenar 50.000 litros de água proveniente das enxurradas das

chuvas, para ser utilizada na produção de alimentos tipo hortaliças e fruteiras para as

famílias. Esse programa já construiu 41 cisternas desse tipo e instalou as estruturas de

produção, Tabela 3. Esse tipo de cisterna também vem sendo construída pelo

Programa Dois Irmãos a partir de uma iniciativa da CODEVASF.

Os subsolos da maior parte do Território são cristalinos, ou seja, rocha primária, que

conseguem reter água da percolação das chuvas, apenas nas suas fendas, portanto,

em pequenas quantidades e sujeitas a concentração de sais devido ao contato com as

28

Page 30: Estudo das potencialidades econômicas

rochas. Essa é a causa da grande quantidade de poços abertos que contém água sem

condições de consumo. As águas subterrâneas são pouco exploradas, existindo

aproximadamente 904 poços perfurados, entretanto, não se conhece a quantidade

real, nem os que estão instalados e em funcionamento, Tabela 3 a seguir.

A bomba popular ou volanta, inventada há cerca de 20 anos por um voluntário holandês

na África, teve sua aplicação no semi-árido brasileiro em 2001 numa ação conjunta

entre Cáritas, IRPAA, Obra Kolping e SASOP e com apoio financeiro da Comunidade

Européia. A partir de 2005 com a integração da iniciativa à Articulação do Semi-árido -

ASA foi possível ampliar o Programa Bomba D’água Popular para outros Estados. A

bomba manual é indicada para ser instalada em poços tubulares de até 80 metros de

profundidade. Sua instalação, após a base de concreto pronta, leva menos de duas

horas. Em profundidade de 40 metros, produz 1.000 litros/hora, ou seja, em 12 horas

são produzidos 12.000 litros de água. Já foram instaladas 16 bombas em quatro

municípios do Território, de acordo Tabela 3.

Tabela 3. Cisternas familiares, poços tubulares, bomba popular e cisterna calçadão nos municípios do Território Sertão do São Francisco.

Fonte: CODEVASF, CPRM, SRH, ASA, Dois Irmãos.

29

Page 31: Estudo das potencialidades econômicas

Embora o Território esteja às margens do maior Rio do Nordeste e do maior lago artificial

do mundo, observa-se que a quantidade de água disponível ainda é insuficiente, seja

para produção agropecuária ou consumo humano.

De um modo geral, o problema é causado pela ausência de estruturas de captação,

armazenamento e distribuição da água, sobretudo para as populações do meio rural e

da borda do lago. Essa situação tem provocado uma série de problemas para a

população afetada, principalmente o sofrimento das famílias para transportar água a

longas distâncias, limitação da produção, êxodo rural, entre outros.

No Território não falta água, ela existe em abundância, seja da chuva, superficial ou

subterrânea, o que falta são estratégias de distribuição dessa água, em conjunto com

um processo de capacitação em gestão de recursos hídricos, convivência com o semi-

árido e políticas públicas, a exemplo dos programas desenvolvidos pela ASA.

5.4 - Pecuária

Como já foi dito, em grande parte do Território ocorre o uso coletivo de áreas abertas

para pastoreio do gado caprino, ovino e bovino, são as chamadas áreas de fundo de

pasto, que caracterizam o Território e trazem elementos importantes para este estudo. A

participação econômica da pecuária nesses municípios é muito relevante, lidera a

economia no Território. As participações mais significativas do segmento agropecuário

são encontradas nos municípios de Sento Sé (58,4% do PIB é representado pelo setor

agropecuário), Casa Nova (com 46,0%), Remanso (43,8%) e Pilão Arcado (com

44,2%). (SEI, 2000).

Entretanto, a região Semi-árida e o bioma caatinga padecem de um intenso processo

de degradação. As áreas em processo de degradação de intensidade baixa a severa, já

somam mais de 20 milhões de hectares, correspondendo à cerca de 20% da região

Semiárida. As causas deste processo são quase todas de origem antrópica, e estão

associadas, principalmente, a práticas inadequadas de exploração de seus recursos

físicos e biológicos, destacando-se entre elas, os sistemas de cultivo espoliativos, o

superpastoreio da caatinga e o extrativismo predatório. A degradação dos recursos

hídricos locais também tem ocorrido pela destruição da cobertura florestal, em

decorrência de desmatamentos e queimadas, inclusive de matas ciliares (Silva &

30

Page 32: Estudo das potencialidades econômicas

Guimarães Filho, 2006).

De forma semelhante a outras regiões, a produção é fortemente dependente das

condições climáticas. Na estação chuvosa, época em que ocorre a produção agrícola e

há maior oferta de forragem nativa para os animais, há também o excesso de pastoreio.

Como a crescente pressão sobre os recursos naturais compromete a existência destas

comunidades e de seus meios de produção, torna-se importante adotar um manejo

racional da caatinga (Campanha & Holanda, 2007).

Os sistemas de produção agrossilvipastoris que integram a exploração de lenhosas

perenes com culturas e pastagem, formato inspirado no modelo tradicional, vêm sendo

pesquisados como alternativas ecologicamente sustentáveis para o semi-árido. O uso

de espécies arbóreas, tanto no campo agrícola, como no pastoril, constitui garantia de

manter ativa a circulação de nutrientes e o aporte significativo de matéria orgânica,

condição essencial para se cultivar, de maneira continuada nos solos tropicais. Para o

Nordeste, as técnicas de manipulação da caatinga utilizadas nos sistemas

agrossilvipastoris, como raleamento, rebaixamento e/ou enriquecimento,

proporcionam o desempenho sustentado da pecuária (Campanha & Holanda, 2007).

Uma dessas pesquisas conduzidas pela Embrapa Caprinos (Campanha & Holanda,

2007) prevê que: i) “os Campos de Pesquisa Participativa no semi-árido baiano servirão

como referência de manejo da caatinga, para situação regional. A adoção da tecnologia

de manejo da Caatinga, associada ao manejo conservador da pastagem, direciona

para uma exploração pastoril sustentável, capaz de garantir a geração de renda e a

melhoria da qualidade de vida do produtor rural e ii) espera-se que apropriação do

modelo de produção em sistema agrossilvipastoril, por parte dos produtores do semi-

árido baiano possibilite o fortalecimento da agricultura familiar, e a atenuação das

perturbações sofridas pelos sistemas agropecuários em anos de seca, assegurando

condições financeiras necessárias à reprodução social da família e de seus meios de

produção. E ainda, possibilite a diminuição dos processos de degradação ambiental da

caatinga”.

A Região Nordeste concentra 90% do efetivo de caprinos do Brasil, a maioria das

explorações pratica um sistema de produção pouco tecnificada, utilizando animais de

descarte desqualificados para atender as exigências do mercado consumidor das

31

Page 33: Estudo das potencialidades econômicas

grandes cidades, em termos de regularidade, qualidade e preço dos produtos cárneos,

o que provoca um desequilíbrio entre a oferta e demanda e, conseqüentemente,

oscilações de preços (Souza, 2007). Por outro lado essa produção atende bem o

consumidor local das cidades de pequeno e médio porte do Território baiano em estudo.

A Bahia possui o maior rebanho do nordeste como pode ser visto na Tabela 4.

32

Tabela 4. Estimativa dos rebanhos caprinos e ovinos (cabeças) no Nordeste e no Brasil, em 2003.

Fonte: ANUALPEC, 2003.

Estado / Região Ouvidos Caprinos

Maranhão

Piauí

Ceará

Rio Grande do Norte

Paraíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia

Total do Nordeste

Total do Brasil

168.700 330.738

1.466.739 1.397.082

1.622185 768.140

393.409 339.425

350.482 553.775

791.408 1.384.304

98.323 48.965

96.393 12.203

2.950.475 4.136.700

7.938.114 8.971.333

14.672.366 9.569.315

Se for observada a Tabela 5, que indica a distribuição das principais atividades

pecuárias praticadas no Território, fica evidente que metade da produção de caprinos

do Estado da Bahia fica no Território, e que além dos caprinos, existe uma considerável

a produção de ovinos e de galináceos, embora esse último não seja objeto do estudo,

servindo apenas para comparações. Se a produção está inadequada para o

abastecimento externo pode se deduzir que essa produção serve primordialmente ao

abastecimento interno do Território.

As deficiências de qualidade da carne que atenda às exigências do mercado das

grandes cidades estão relacionadas com as dificuldades de manejo da criação e

principalmente da pouca disponibilidade de alimentação e de fornecimento de água,

que fazem com que as criações não consigam engordar tecnicamente no tempo

previsto para atingir o rendimento econômico de carcaça, conforme prevêem os

estudos de viabilidade econômica.

Page 34: Estudo das potencialidades econômicas

33

Os três municípios que detêm os maiores rebanhos: Remanso, Casa Nova e Juazeiro

juntos somam mais de 60% dos caprinos, 54% dos ovinos, do total do Território. Já em

relação às aves, Campo Alegre de Lourdes, Sento Sé, Pilão Arcado e Remanso somam

52% do total do Território, Tabela 5.

Tabela 5. Efetivo dos rebanhos, segundo Municípios do Território Sertão do São Francisco. PPM - Pesquisa da Pecuária Municipal. 2005.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2005.

Outro tipo de criatório potencial na região que se consorcia com o formato da agricultura

familiar de sequeiro é a criação de abelhas do gênero Apis, a apicultura. A seguir está

colocada a Tabela 6, que mostra a atividade em todos os municípios, com destaque

para Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado e Remanso.

Tabela 6. Produção de mel, segundo Municípios do Território Sertão do São Francisco. PPM - Pesquisa da Pecuária Municipal. 2005.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal, 2005.

Page 35: Estudo das potencialidades econômicas

O consumo de carne caprina no Brasil apesar de ser ainda muito baixo, tem

experimentado um incremento animador, principalmente nas grandes cidades.

Enquanto o consumo per capita é estimado em menos de 1,0 kg no Brasil, o consumo

em países Árabes e da Europa varia de 4,0 a 8,0 kg (Dantas, 2001), não se conhece o

consumo per capita no Território, mas pode ser um valor bem elevado devido ao

consumo ser muito popular. Somente nos últimos anos, as carnes ovinas e caprinas

estão sendo encontradas em supermercados, açougues e restaurantes “finos” das

grandes cidades, quebrando o paradigma do consumo apenas rural e em pequenas

cidades do interior (Couto, 2001).

O principal destino da produção local é para o autoconsumo e o mercado local, o que

aceita a utilização de animais de descarte desqualificados em relação à preferência de

grandes supermercados. Por outro lado, contraditoriamente, nos restaurantes

conhecidos como “Bode Assado”, há uma clara e justificada preferência pelo consumo

de carne de ovinos, já que essa oferece melhor sabor dentre as variadas condições

locais do criatório, de modo que a carne de caprinos deve servir mais ao autoconsumo

dos criadores que os ovinos.

A produção de carne e a produção de peles de ovinos e caprinos são atividades

complementares. De fato, a pele de boa qualidade pode agregar até 30% do valor do

animal destinado ao abate pago ao produtor segundo Couto Filho (1999). A escassez

de carne e pele faz com que abatedouros, frigoríficos e curtumes para pequenos

ruminantes instalados no país trabalhem com alta margem de ociosidade, chegando,

em alguns casos, a operar com valores inferiores a 10% da capacidade instalada

(Barros & Simplício, 2001). Por outro lado, o mercado consumidor está demandando

carcaças e peles de animais jovens e de boa qualidade (Barros et al.,1997).

Sobre a indústria beneficiadora de peles, a geração de emprego na Tabela 7 observa-

se a dimensão desse mercado. O mercado brasileiro, em 2003, era comprador de carne

e de pele de ambas as espécies. Embora haja capacidade ociosa nos curtumes, a

percentagem de utilização varia de 14 a 71%. Em Juazeiro apenas 50% da capacidade

era utilizada em 1999 (Banco do Nordeste).

34

Page 36: Estudo das potencialidades econômicas

Para Medeiros (2003 citado por Sousa 2007), a cadeia produtiva de carne caprina no

Brasil é ainda bastante frágil, havendo deficiência de entrosamento e de conhecimento

dos problemas dos diferentes atores em relação às dificuldades das diversas áreas que

compõem a cadeia. Para o Território essas afirmativas se verificam a partir da ausência

de uma assistência técnica mais constante, ausência de estruturas de abate, projetos

de fornecimento organizados, planejamento coletivo e individual dos criadores.

Em relação à etapa da transformação o principal limitante é que não existem

abatedouros para caprinos ou ovinos em nenhum dos municípios do Território. Em

Juazeiro existe um abatedouro com estrutura frigorífico, construído com recursos

públicos há vários anos, mas, até o momento não funcionou. O abatimento de caprinos

e ovinos para o consumo residencial e nos restaurantes, é portanto todo feito de uma

forma clandestina, ocorrendo nas ruas e avenidas das cidades, situação flagrante que

denuncia a ausência de investimentos públicos no setor.

A mesma situação não se observa para o abatimento de bovinos, pois existem

abatedouros e fiscalização em cada município. Fica evidente neste caso que a atenção

dos investimentos públicos valorizou o rebanho bovino, não por acaso, pois esse é o

tipo de criatório praticado pelos médios e grandes proprietários, dando mais um

exemplo do ciclo vicioso da aplicação de investimentos públicos até hoje, os mesmos

Tabela 7. Distribuição, quantidade média de peles beneficiadas anualmente e número de empregados dos curtumes instalados no nordeste.

35

Estado Produção / AnoIndústria Empregados

MaranhãoPiauí

CearáRio Grande do NorteParaíbaPernambucoAlagoasSergipeBahia

* TOTAL

-Coobrasil

EuorpaCV Couro

J. Mota-

Moderno--

BrespelCampeloOutras

12

-1.200.000

900.000900.000400.000

-900.000

--

1.400.0001.400.000

500.0007.600.000

-320100100

70-

285--

285415100

1.665

Fonte: Couto Filho (1999). Leite & Simplício (2002).

Page 37: Estudo das potencialidades econômicas

não vieram para apoiar a agricultura familiar.

Por outro lado, inexiste uma legislação apropriada para permitir de forma legal o

beneficiamento e o consumo de carne de caprinos e ovinos secas ao sol, como é

culturalmente utilizada em todos os municípios do Território. Esse fator porém, limita o

planejamento de um empreendimento que vise atender esse segmento. Serão

necessárias pesquisas para desenvolver essas tecnologias de modo que venha

possibilitar uma normatização pelos órgãos competentes.

Parte do Território que envolve os municípios que têm fronteira com o Piauí, Pilão

Arcado, Campo Alegre de Lourdes e Casa Nova, são tratados como Zona Tampão, para

garantir que o Estado seja livre da Febre Aftosa, vez que o Piauí e Pernambuco ainda

não estão certificados como livres da Aftosa. Por causa desse sistema de defesa, a

Agência de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, definiu que os criatórios não podem

ser comercializados em Juazeiro ou Sento Sé, limitando que a produção só poderá ser

consumida internamente, ou comercializada para o Piauí ou Pernambuco. Para isso

existem diversas barreiras sanitárias controlando o transporte de carnes e animais nas

fronteiras.

Se registra que aproximadamente 600 caprinos e ovinos vivos saem por semana da

zona tampão para Petrolina. Essa é uma exportação de parte importante da produção e

que mereceria um estudo mais aprofundado para ser quantificado e qualificado. Sabe-

se também de maneira não oficial, que são comercializadas para São Paulo e Rio de

Janeiro, aproximadamente 30 toneladas por mês de carne seca de caprinos e ovinos,

produto que sai dos municípios de Uauá e Canudos. Além disso, aproximadamente 6

toneladas de caprinos e ovinos vivos saem por semana legalmente de Uauá e

Canudos.

Cabe registrar que também inexistem iniciativas planejadas para o aproveitamento do

leite, couro e esterco dos caprinos, importantes subprodutos com tecnologias

conhecidas. Registra-se uma iniciativa mais recente de instalação de unidade de

compostagem de matéria orgânica na localidade de Salitre em Juazeiro, e de

beneficiamento de leite no município de Uauá.

Finalmente, não poderia deixar de incluir um grande limitante que é o roubo da criação

36

Page 38: Estudo das potencialidades econômicas

de caprinos e ovinos, que ocorre em todo o Território, em maiores quantidades em

Remanso e Casa Nova. É um problema muito importante que tem a ver com a

fiscalização sanitária e o policiamento. Ambos os serviços são dificultados devido às

extensas áreas dos municípios e às áreas de fronteiras com o Piauí e com o Lago de

Sobradinho, que facilitam a ação de bandidos.

A partir das análises acima, os principais limitantes do sistema produtivo estão na etapa

da produção. Nesse sentido podemos indicar a seguinte relação:

1. Pouca disponibilidade de terras nas mãos dos agricultores familiares;

2. Pouca regularização fundiária considerando as áreas de fundos de pasto;

3. Pouco planejamento dos criatórios devido à ausência de assistência técnica e

planejamento;

4. Escassez de pastos nativos e reservas alimentares para os períodos secos do

ano;

5. Ausência de legislação apropriada para a legalização do consumo da carne

seca;

6. Ausência de matadouros e demais estruturas de resfriamento da carne;

7. Ausência de unidades de beneficiamento de leite;

8. Ausência de unidades de beneficiamento do couro caprino e produção de

artefatos pela agricultura familiar;

9. Ausência de unidade de beneficiamento de esterco;

10. Roubo de animais (caprinos e ovinos).

Mais adiante, no capítulo “Análise do Sistema Produtivo” serão tratadas as

possibilidades e proposições à cerca do sistema produtivo da caprino-ovinocultura,

seus produtos e subprodutos para o Território.

5.5 - Agricultura de Sequeiro

A agricultura de sequeiro que ocorre na maior parte do Território, se apresenta

prioritariamente como agricultura de subsistência em roças dependentes das chuvas,

cultivadas com milho, feijão, mandioca e em menores quantidades o sorgo, gergelim,

abóbora, girassol, mamona dentre outras, embora sempre haja a estratégia de se

vender o excedente da produção no mercado local.

37

Page 39: Estudo das potencialidades econômicas

O Território tem uma dinâmica de perdas constantes de área colhida com as culturas

tradicionais, como acontece na maior parte do Semi-árido, devido às chuvas serem

irregulares tanto em quantidade, quanto no tempo e na distribuição espacial. Quando

mais se precisa a chuva falta. Costuma-se dizer que as boas safras ocorrem somente

de dez em dez anos. Muitas dessas culturas estão em crise crônica, como é o caso do

milho, voltado para auto-consumo, mandioca, mamona, feijão, fumo e algodão. Por

outro lado, apresentam incremento por sua vez, cebola, mamão, manga, banana,

melão e melancia. Muitas dessas culturas são produzidas com a técnica da irrigação

nas áreas mais próximas do rio, e nos açudes existentes nos municípios de Juazeiro,

Sento Sé, Curaçá e Canudos.

1Por outro lado a incorporação do produtivismo no Vale ainda não foi capaz de alterar a

estrutura da área colhida na região. Permanecem nas primeiras colocações, em termos

de área colhida, o milho, o feijão e a mandioca. Como já demonstrado, apesar de

ocuparem pouca área, são culturas intensivas na produção por hectare e que têm valor

relativo muito maior (Couto Filho, 2004).

A seguir, no Quadro 2, podem ser observados os dez principais produtos da agricultura

familiar, embora não sejam dados recentes, são microdados que permitem ver as

principais produções dos municípios que não tiveram seus perfis agropecuários muito

alterados nas últimas décadas, com exceção dos municípios de Juazeiro e Casa Nova.

Inicialmente podemos constatar a pecuária de médio e pequeno porte com 45 posições

de importância (amarelo), seguido das culturas de sequeiro com 38 posições (verde) e

por último das culturas tipicamente irrigadas 17 (cinza).

Quadro 2. Dez principais produtos da agricultura familiar nos municípios do Território Sertão do São Francisco. 2000.

Fonte: INCRA / FAO, 2000.

38

1 Modelo Produtivista. Esse modelo, grosso modo, caracteriza-se pela busca do aumento dos rendimentos físicos por hectare com menores custos, baseando-se na utilização intensiva de insumos químicos, máquinas e equipamentos, na monocultura e na produção em grande escala de commodities. Foi difundido pelos EUA e por alguns países da Europa, a partir dos anos 60, especialmente no hemisfério sul, por meio da conhecida Revolução Verde.

Page 40: Estudo das potencialidades econômicas

Pode-se dizer que, na Bahia, o modelo produtivista veio a se instalar, de fato, no final

dos anos 1980 e início dos anos 1990. A implantação do modelo produtivista tem

provocado alterações significativas na produção agropecuária. Em busca de ganhos de

produtividade, são utilizadas novas técnicas de produção, intensificam-se a

monocultura em grande escala, o uso de máquinas, equipamentos, sementes

melhoradas geneticamente, agroquímicos, irrigação. Também são características do 2

produtivismo a produção de commodities , a concentração fundiária e a desocupação

da mão-de-obra. (Couto Filho, 2004).

O modelo produtivista realmente está se implantando e substituindo trabalhadores por

máquinas, especialmente nos estabelecimentos de maior extensão, onde a

monocultura, as máquinas e outros insumos se adaptam melhor. A crise dos produtos

tradicionais da agricultura na Bahia sofre impactos negativos com a incorporação do

modelo produtivista, dito “moderno”, sobretudo os impactos para a agricultura familiar,

ele destaca que no vale do São Francisco verifica-se um forte incremento da posse de

terras nas mãos de poucos. Fato semelhante ocorre no Extremo Oeste (Couto Filho,

2004).

Porém, um olhar mais próximo da realidade do Território, percebe-se que a

“modernização” incorporada nos perímetros irrigados, em alguns poucos municípios,

não interferiu diretamente na agricultura familiar tradicional. Existe uma linha divisória

muito clara entre as duas realidades. Essa análise também é fundamentada pelo autor

Couto Filho (2004) com a informação de que os agricultores familiares na Bahia, não

foram incorporados ao processo de modernização produtivista. A categoria ocupa 85%

da mão-de-obra agrícola e 38% das terras responde por 40% do Valor Bruto da

Produção – VPB e tem os instrumentos para minimizar os impactos negativos do

modelo de produção dominante, está de fora tanto do processo de modernização

quanto de outros processos que permitam o seu desenvolvimento econômico e social.

Portanto pode-se supor que, fora dos perímetros irrigados e margens do Rio ou do

Lago, as características da agricultura familiar continuam sendo tradicionais e “em

crise”. As novidades nesse setor estão vindo a partir da “modernização” e valorização

39

2 Commodities, palavra em inglês que se refere a produtos em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização, possuem cotação de preço unitário e "negociabilidade" global, portanto, as oscilações nas suas cotações têm impacto significativo nos fluxos financeiros mundiais.

Page 41: Estudo das potencialidades econômicas

de atividades que dependem de produtos nativos e adaptados às condições naturais da

região, inspirados pelas experiências incentivadas por uma rede de instituições que

congrega sindicatos, associações, cooperativas, pastorais da Igreja, organizações

não-governamentais e mais recentemente com o apoio do Estado.

Esse conjunto de atividades congrega a caprino e ovinocultura, mandiocultura,

apicultura e o extrativismo de frutas aliado ao seu beneficiamento, tais como o umbu e o

maracujá do mato. Essas atividades se adaptam ao formato das comunidades

tradicionais organizadas em associações de produtores e de fundos de pasto. Todas

essas atividades são compatíveis com o ambiente de sequeiro, sua resistência e

adaptação às condições climáticas da região e permitem aos agricultores familiares

experimentar uma modernização diferente daquele modelo produtivista anteriormente

descrito.

A partir de 2003, com o governo Lula políticas sociais como o Programa de Aquisição de

Alimentos, direcionado para a agricultura familiar, vem movimentando valores

expressivos referentes à compra de alimentos para a merenda escolar nos municípios

do Território. Trata-se de produtos beneficiados de umbu, maracujá do mato, goiaba,

carne de caprinos, derivados da mandioca, peixe etc. Na Tabela 8 pode ser observada

a movimentação do programa com 30 produtos diferentes sendo fornecidos para a

merenda escolar, apenas no Território. A soma de R$ 2.249.192,20 em 2007 é

significativa e dá uma amostra bastante representativa do que significa a

potencialidade da agricultura de sequeiro com a valorização de seus produtos

tradicionais, aliando a segurança alimentar à geração de renda, ambos localmente.

O Programa de Aquisição de Alimentos – PAA tem a finalidade de incentivar a produção

e comercialização da agricultura familiar, garantindo a compra de parte da produção

pela CONAB. Os produtos são destinados à merenda escolar e às pessoas em situação

de insegurança alimentar e nutricional, além de possibilitar a formação de estoques

estratégicos de alimentos.

No fim de 2007, os agricultores familiares da Bahia passaram a ser beneficiados com a

isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços – ICMS,

para os produtos beneficiados vendidos para o Programa de Aquisição de Alimentos da

Agricultura Familiar – PAA. A estimativa é que, somente em novembro e dezembro de

40

Page 42: Estudo das potencialidades econômicas

2007, a economia tenha sido de R$ 800 mil.

A medida adotada pelo Governo do Estado da Bahia foi uma reivindicação conjunta das

organizações dos trabalhadores, do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e

Nutricional da Bahia – CONSEA-BA, da Superintendência Regional da Companhia

Nacional de Abastecimento – CONAB/SUREG-BA, com apoio da Secretaria de

Desenvolvimento Regional e Combate à Pobreza, da Delegacia Regional do Ministério

do Desenvolvimento Agrário – MDA e de deputados estaduais.

A mudança vale para os produtos que passam por algum tipo de beneficiamento, pois

os alimentos não processados, como hortifrutis, não são taxados. O Decreto nº 10.543,

de 30 de outubro/2007, transfere para a CONAB/SUREG-BA a responsabilidade de

pagar o ICMS antes cobrado das associações e cooperativas de agricultores familiares

assistidas pelo PAA. Porém, como as aquisições de alimentos do PAA destinam-se à

doação, a CONAB também fica isenta desse imposto.

Para a CONAB, os produtores que trabalham com o beneficiamento de frutas, por

exemplo, a alíquota era de 17%. O objetivo dessa isenção é retirar o encargo do

pequeno agricultor. Com isso o imposto (sobre produtos beneficiados) tornou-se

diferido, ou “repassado a diante”, o que acaba tornando a operação seguinte isenta,

uma vez que as mercadorias são destinadas à doação no âmbito do PAA. O valor

máximo estabelecido, por agricultor familiar, para a aquisição de produtos é de R$ 3,5

mil por ano.

41

Page 43: Estudo das potencialidades econômicas

42

Tabela 8. Contratos para fornecimento de produtos da agricultura familiar para merenda escolar através do Programa de Aquisição de Alimentos em 2007, por municípios do Território Sertão do São Francisco.

Vale destacar que a conquista da isenção desse imposto trará um grande alívio para os

participantes do programa e certamente atrairá mais interessados, que por sua vez

estimulará a organização e estruturação de unidades de beneficiamento do segmento.

Esse fato, embora novo, tem potencial para desencadear uma novidade no setor

agropecuário baiano.

Fonte: CONAB, 2007.

Page 44: Estudo das potencialidades econômicas

43

Ainda falando do sucesso dessas experiências, é importante destacar, somente para

exemplificar, algumas das associações e cooperativas pioneiras que tomaram a

iniciativa de aceitar o desafio de adequar-se à burocracia padronizada que a CONAB,

como qualquer outro órgão público da esfera federal, exige desses grupos. Tabela 9, a

seguir.

Tabela 9. Associações e Cooperativas envolvidas com o PAA no Território, em 2007.

A fruta principal do beneficiamento desses grupos é o umbu, produto muito consumido

pelos sertanejos. Atualmente seus subprodutos têm ganhado espaço nos mercados

nacional e internacional, pois o fruto é raramente consumido “in natura”, em outras

regiões do Brasil ou do mundo (Campos, 1986; Oliveira, 2005). De acordo com dados

do IBGE (2000), em 1990, a produção brasileira de umbu, concentrada na região

Semiárida, era de 19.861 toneladas, e caiu para 10.207 toneladas, em 1999, sendo a

Bahia o estado maior produtor.

Como a maior parte da produção de umbu é resultado do extrativismo, plantios

comerciais são praticamente inexistentes e os frutos comercializados são resultantes

do extrativismo (Santos, Nascimento & Oliveira, 1999), o que significa que os frutos são

Instituição Município NºSócios

Produtos

Page 45: Estudo das potencialidades econômicas

coletados na caatinga por famílias de catadores que caminham longas distâncias para

fazer a colheita.

Esse extrativismo vem sendo prejudicado pelo desaparecimento gradativo dessa

fruteira. Queiroz et al. (1993) identificaram quatro causas de desaparecimento da

vegetação nativa do trópico semi-árido: formação de pastagens; implantação de

projetos de irrigação; produção de energia para atividades diversas como padarias,

olarias e calcinadoras e queimadas. Outro fator de pressão é a pecuária extensiva

praticada na região, que tem dificultado a substituição natural das plantas velhas por

novas plantas do umbuzeiro. Estas causas, em conjunto ou isoladamente, têm

contribuído não só para a diminuição da coleta do umbu, como também para o

desaparecimento da variabilidade genética da espécie (Santos, Nascimento & Oliveira,

1999).

Além dessas causas citadas existe ainda a prática histórica, que ainda hoje acontece no

Território e tem dificultado a atividade da coleta das frutas nativas que é a apropriação e

cercamento de áreas devolutas por latifúndios, proibindo e impedindo a atividade das

famílias dos agricultores familiares.

Os autores (Queiroz, Goedert & Ramos, 1999) concluíram que há 17 grupos diferentes

de umbuzeiro, independentemente da região de origem. Esta importante variabilidade

genética encontra-se dispersa por todo o semi-árido brasileiro, porém as ecorregiões

de Porteirinha–MG, Irecê–BA e Livramento–BA, que são indicadas para a prospecção,

as plantas com frutos de maior peso da polpa, boa relação polpa/fruto e com teor de

sólidos solúveis acima de 12,5°Brix.

Não existem relatos da ocorrência do umbuzeiro em outras regiões do mundo, sendo,

essa espécie, segundo Prado e Gibbs (1993), árvore endêmica do Semi-árido

brasileiro. Um grande conjunto de informações e tecnologias foi disponibilizado nesses

últimos anos, para a exploração racional do umbuzeiro. No sertão nordestino, o cultivo

em escala agronômica não só do umbuzeiro, como também a possibilidade de sua

utilização como porta-enxerto de outras Spondias, poderá viabilizar uma fruticultura

competitiva e diversificada em condições de sequeiro absoluto ou com algumas

irrigações no ano.

44

Page 46: Estudo das potencialidades econômicas

Uma pesquisa conduzida por Araújo & Neto, 2002 da EMBRAPA, mostram que os

métodos de enxertia por garfagem em fenda cheia e à inglesa simples apresentaram

maiores índices médios de pegamento, de 97,1 e 92,4%, respectivamente. O material

vegetativo, (garfos) colhido nas diferentes fases fenológicas da planta-matriz, não

afetou o índice de pegamento do processo da enxertia, o que amplia a oferta de mudas

ao longo do ano devido à oferta de material propagativo.

Outro estudo conduzido por Campos, 2007 na Universidade do Estado da Bahia–UNEB

em Juazeiro, conclui que a alta concentração de ácido cítrico no fruto verde do

umbuzeiro (figa), permite se fazer um mix com outros sucos, servindo o suco do umbu

como conservante natural. A refrigeração mostra-se eficiente na conservação de frutos

pós-colheita, onde o tempo máximo de prateleira em condições naturais, foi de seis dias

e em condições de câmara fria foi de 14 dias, oportunizando colocar o fruto in-natura em

outros mercados, tanto interno como externo, dependendo do meio de transporte

utilizado. Os resultados mostraram que quando a polpa e a casca do umbu são

submetidas ao cozimento, os teores de fenóis aumentam e os teores de nitrato

diminuem, fato que favorece a industrialização deste fruto.

Outras pesquisas reforçam a importância dessa cultura na região, trazendo

informações sobre abelhas visitantes das flores do umbuzeiro que são encontradas em

teses que tratam das comunidades de abelhas da caatinga (Castro, 1994 e Carvalho,

1999). Castro (1994), estudou as abelhas, polinizadores potenciais do umbuzeiro

identificando as abelhas nativas Frieseomelitta lânguida (moça branca) e Trigona

spinipes (arapuá) como os principais visitantes florais. Estudos do Laboratório de

Biologia e Ecologia de Abelhas (LABEA) da UFBA pretendem aprofundar as

observações sobre as flores do umbuzeiro e dos polinizadores potenciais no intuito de

elaborar um plano de manejo de polinização desta importante espécie nativa das

caatingas, além do maracujá, goiaba e a manga.

Outra pesquisa conduzida por Drumond et. al. (2003), sobre o plantio consorciado do

umbuzeiro com a palma forrageira em regime de sequeiro, concluíram que o consórcio

não afetou o desenvolvimento das culturas em relação ao plantio isolado. A vantagem

do plantio consorciado do umbuzeiro com a palma forrageira é evidenciada pela

produção de outra cultura, na mesma área, sem afetar a cultura principal. A

consorciação do umbuzeiro com a palma forrageira proporciona uma melhoria no

45

Page 47: Estudo das potencialidades econômicas

Além das pesquisas da EMBRAPA já citadas, a

Agrícola – EBDA , vem realizando a produção e distribuição de mudas de variedades de

umbu-gigante na região que compreende os municípios de Brumado, Livramento de

Nossa Senhora e Dom Basílio. Em 2007, mais de 20 mil mudas foram distribuídas

visando ao cultivo econômico. A área plantada totalizou 280 hectares com a fruteira.

Segundo Francisco Bastos Cardoso, assessor técnico da empresa, a EBDA já instalou

164 Unidades de Observação (UO), em propriedades de agricultores, com áreas de 0,5

a 1,0 hectare, cada, perfazendo 8.700 mil mudas plantadas em áreas de experimento,

beneficiando 164 agricultores familiares. “A nossa intenção é estimular estes

agricultores a se organizarem em associações para facilitar a difusão de

conhecimentos relacionados à produção de mudas de qualidade, cultivo de forma

racional e econômica e preservação do umbuzeiro, onde o maior beneficiado será ele

próprio”, disse Cardoso.

Nas Unidades de Observação está sendo avaliado o plantio do umbuzeiro em

espaçamentos diversos, tanto em regime de sequeiro quanto irrigado, com adubação

química e orgânica, e em consórcio com outras culturas como a mandioca, a mamona e

a palma.

Para atender à demanda foram instalados dois viveiros de mudas, um em Livramento

de Nossa Senhora e outro em Dom Basílio, com mudas produzidas a partir de um

Banco de Germoplasma (preservação de genótipos e identificação de materiais

promissores) formado pela própria empresa, com 20 variedades novas (planta matriz),

e 142 exemplares destas plantas, tendo como base o Banco de Germoplasma da

Embrapa Semi-Árido.

Além da realização de pesquisas, estão sendo acompanhados 62 agricultores da

região, com assistência técnica no processo tecnológico de produção de mudas de

qualidade e no cultivo racional de umbuzeiro. “Uma muda de qualidade, produzida

tecnicamente, vai garantir produção, produtividade e qualidade do fruto, o que significa,

para o agricultor, maior renda”, esclareceu o técnico.

Empresa Baiana de Desenvolvimento

46

sistema de produção do pequeno agricultor porque haverá um ganho adicional com a

produção de alimento para os animais.

Page 48: Estudo das potencialidades econômicas

Quanto à comercialização da produção, como as áreas instaladas ainda não estão

produzindo - a produção de uma planta nova começa após o sexto ano -, foram feitos

alguns contatos com mercados de Salvador e disponibilizados frutos gigantes, das

plantas-mãe, para observar o comportamento do consumidor. Segundo Francisco

Cardoso, todos os frutos colocados à venda foram adquiridos em tempo recorde

(menos de quatro horas), com preço acima de R$ 8,00/kg. “Consideramos um

excelente valor para os frutos gigantes, e esperamos que em pouco tempo as plantas

comecem a frutificar para que os agricultores familiares possam colher lucros”, disse (A.

Imprensa EBDA, 2008).

“Umbu da Bahia rumo à França”. (Jornal A Tarde - 24/09/2007)

O mercado francês vai receber esta semana 3,33 mil caixas de doce cremoso

de umbu, fruto do trabalho de 200 famílias no norte da Bahia. A Cooperativa de

Produtores de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) com estrutura de fábrica

e mini-fábricas nos municípios que compreendem a cooperativa, está

comercializando atualmente R$ 120 mil em beneficiamento para a França e

tem faturamento anual de R$ 800 mil. Em um contêiner, foram colocadas as

oito toneladas de doces que abastecerão a rede de supermercados francesa

Alter Eco Commerce Équitable. O contêiner com os produtos da cooperativa

saiu esta semana de Uauá, passou por Salvador e seguiu para a Europa pelo

porto da capital.

De acordo com o gerente comercial da Coopercuc em Uauá, Egnaldo Gomes

Xavier, a cooperativa com suas 15 unidades produtivas espalhadas nos três

municípios têm capacidade para produzir até 330 toneladas ao ano de

produtos beneficiados, mas fecha o ano com 180 toneladas. “Precisamos de

mais consolidação de mercado e melhorias na estrutura das minifábricas para

conseguir chegar ao nosso limite de produção”, assinala Xavier.

Para retratar bem a realidade e o potencial do beneficiamento de frutas no Território, foi

transcrito abaixo um texto publicado recentemente no Jornal A Tarde.

47

Page 49: Estudo das potencialidades econômicas

Ampliação. Ele diz que a região de Uauá, por exemplo, tem condição

de abastecer grande parte do mercado e que a capacidade é de 12

plantas de umbu por hectare, com produção de 150 kg a 200 kg.

“Muito se perde por não ter tanto mercado quanto necessário”.

“Saem cerca de seis caminhões por dia de Uauá com frutos para as

fábricas de polpa das regiões de Feira de Santana, Salvador e

Sergipe”, informa o gerente da Coopercuc. Egnaldo Xavier explica

que tudo seria diferente se houvesse ampliação de mercado para o

produto que é genuinamente nordestino, típico do Semi-árido e hoje

agrega valores a diversas famílias que aprendem a conviver com a

região e o que ela oferece. “As mudanças que aconteceram na vida

das famílias têm que ser creditadas ao esforço de se descobrir

formas de convivência com o Semi-árido e de inserir os produtos no

mercado internacional”, assegura Jussara Dantas de Souza, sócia

fundadora que atualmente é gerente comercial da COOPERCUC.

Lucro das famílias com a produção do doce é de 35%. Na avaliação

de Jussara Dantas de Souza, gerente comercial da Coopercuc, o

sucesso da aceitação do umbu no mercado internacional se deve em

especial às ONG´s Instituto Regional da Pequena Agropecuária

Apropriada (IRPAA) e à Horizont3000. Ela explica que o crescimento

profissional da cooperativa, criada em 1997, mas oficializada em

2004, representa a força de trabalho das famílias do Semi-árido, com

apoio alem das ONG´s também do Ministério do Desenvolvimento

Agrário e do movimento Slow Food, que se contrapõe ao Fast Food e

pensa em qualidade alimentar.

“Existem na Bahia 625 mil pessoas que vivem da agricultura familiar

e o exemplo da Coopercuc é hoje o carro-chefe do que pode dar

certo dentro do sistema cooperativista”, afirma. A Coopercuc financia

os insumos (açúcar, rótulo e embalagem) para as famílias que

trabalham no período de safra entre os meses de dezembro a abril e

as mesmas entram com matéria-prima e mão-de-obra, basicamente

familiar.

48

Page 50: Estudo das potencialidades econômicas

A Figura 5 expressa o crescimento do beneficiamento do umbu e o crescimento das

vendas entre os anos de 2001 e 2007, evidenciando os resultados concretos que

podem ser alcançados por outras instituições do Território que poderão no futuro

atingirem com desempenho semelhante.

Vale destacar, que os grupos organizados do Território constituíram a Rede Sabor

Natural do Sertão. Essa Rede congrega todos os grupos do Território e até de

instituições de Territórios vizinhos, e vem servindo para estimular o beneficiamento de

frutas nativas produzidas agroecologicamente; melhoria da renda das famílias por meio

da agregação de valor; padronização e melhoria da qualidade e imagem dos produtos

da agricultura familiar; capacitação das instituições para multiplicar e acompanhar os

grupos de produção; apropriação de novos conhecimentos e informações;

credibilidade e auto-estima para o trabalho; orientar produtores sobre produção de

mudas; relações comerciais com preços justos; cooperativas e associações com plano

de negócio elaborado e fazendo a gestão de suas entidades; fortalecimento da Marca

Sabor Natural do Sertão e fortalecer a articulação entre as entidades que fazem parte

da Rede Sabor Natural do Sertão.

49

Figura 5. Evolução da prática do processamento do umbu entre os anos 2001 a 2007.referente aos municípios de Curaçá, Canudos e Uauá.

Fonte: Coopercuc.

Page 51: Estudo das potencialidades econômicas

Hoje fazem parte da Rede Sabor Natural do Sertão diversas instituições, o quadro

abaixo mostra alguma delas:

1. Associação dos Apicultores de Sento Sé/BA;

2. Associação de Várzea Grande, Oliveira dos Brejinhos/BA;

3. Associação dos Produtores de Gunhães, Juazeiro/BA;

4. Associação de Produtores das Lages, Sento Sé/BA;

5. Articulação Sindical da Borda do Lago de Sobradinho, Remanso/BA;

6. Ai-Bi , Jaguarari/BA;

7. APROAC – Juazeiro/BA;

8. Cooperativa Agropecuária Familiar de Curaçá, Uauá, Canudos - COOPERCUC,

Uauá/BA;

9. Centro de Assessoria do Assuruá – CAA, Gentio do Ouro/BA;

10. COAPRE, Remanso/BA;

11. AMOMA, Remanso/BA;

12. CONVIVER, Mirandiba/PE;

13. CECOR, Serra Talhada/PE;

14. COOPERVIDA, Juazeiro/BA;

15. CAATINGA, Ouricuri/PE;

16. CÁRITAS, São Raimundo Nonato/PI;

17. COAPICAL, Campo Alegre de Lourdes/BA;

18. Diocese de Rui Barbosa (Programa de Desenvolvimento Integrado) BA;

19. FUNDIFRAN, Xique-Xique/BA;

20. Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA, Juazeiro/BA;

21. Serviço de Assessoria as Organizações Populares- SASOP, Remanso/BA;

22. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remanso/BA;

23. Pólo Sindical, Petrolândia/PE.

Parte dos entraves da experiência está na comercialização, pois os mercados

funcionam dentro de uma estrutura lógica e dinâmica, concentradora e excludente. As

experiências de comercialização apontam para uma grande dificuldade em se

organizar a produção frente à demanda da comercialização, para garantir qualidade,

quantidade e regularidade dos produtos agroecológicos. O principal limitante é devido à

falta de planejamento da produção, não existem muitas organizações dos agricultores e

agricultoras capazes de assumir todo o processo com eficiência.

50

Page 52: Estudo das potencialidades econômicas

Existem várias limitações no âmbito da transformação e comercialização da produção,

a legislação e os órgãos oficiais, que dificultam e restringem a atuação dos produtores e

produtoras familiares na transformação e beneficiamento da produção agroecológica,

pois as políticas estão direcionadas para as grandes indústrias de processamento, falta

de tecnologia de transformação e de assessoria técnica adequadas às unidades

familiares de processamento, capacidade insuficiente de gestão das unidades de

transformação e comercialização, ausência de políticas públicas, particularmente

crédito e incentivos fiscais, voltadas para a produção e transformação agroecológica

familiar.

Outra fruteira em potencial é o Maracujá do mato (Passiflora cincinnata Mast.). Uma

pesquisa recente conduzida por Araújo (2007), pesquisador da EMBRAPA Semi-árido,

objetivando conhecer sua variabilidade genética obteve acessos da planta que, pela

alta produtividade de frutos, podem ser recomendados para cultivos experimentais em

áreas de produtores.

Segundo o pesquisador da EMBRAPA Francisco Pinheiro de Araújo, existe ainda

possibilidades com as frutas do araticum, a goiabinha e o croatá. Todas elas, que já são

pré-domesticadas ou selvagens, apresentam como característica comum a tolerância à

seca e a comercialização em feiras livres, nas regiões onde ocorrem de forma

espontânea na vegetação nativa. O croatá é uma planta da caatinga da mesma família

das bromélias que apesar de crescer por quase todo Nordeste é uma espécie pouco

conhecida da caatinga. Os frutos que produz têm a forma ovóide de coloração amarela,

com muitas sementes, e rico em vitamina C. O araticum, por sua vez, é da mesma

família da pinha e produz um fruto de sabor similar.

Outro estudo apontado como promissor para apoiar a implantação de uma fruticultura

comercial nas áreas dependentes de chuva do semi-árido é o aproveitamento do

sistema radicular e dos xilopódios do umbuzeiro como base para fixação (enxertia) de

outra planta da sua mesma família (Spondia), a exemplo do cajá, ciriguela, cajá-manga

ou cajarana e umbu-cajá. Desta forma, oferecendo o seu mecanismo que confere

grande tolerância à seca por parte do umbuzeiro às outras espécies para conseguirem

sobreviver e produzir nas condições de sequeiro.

Testes realizados no Campo Experimental da Embrapa Semi-Árido revelam que a

51

Page 53: Estudo das potencialidades econômicas

associação das duas plantas dessa maneira não apresenta qualquer

incompatibilidade. Pelo contrário, o cajá-manga, a ciriguela e o umbu-cajá frutificaram

apenas um ano após serem enxertados.

Segundo Araújo, as frutificações neste período não representam produções numa

escala que possa ser considerada comercial. No entanto, indicam a viabilidade técnica

do estudo e indicam as possibilidades do plantio comercial dessas espécies enxertadas

por parte dos agricultores familiares com investimentos muito baixos. Os negócios em

torno do umbuzeiro, embora sejam ainda marcados pelo extrativismo praticados por

famílias empobrecidas do Semi-árido, são estimados em cerca de seis milhões de

dólares por ano. (Fonte: Marcelino Ribeiro – Jornalista EMBRAPA Semi-árido).

Em 2003, o Banco do Nordeste financiou e a EMBRAPA elaborou o Zoneamento

Pedoclimático da Cultura do Cajueiro (Anacardium occidentale L.) no Estado da Bahia

(Aguiar, 2003), que foi executado com objetivo de possibilitar a identificação de áreas

aptas, para o desenvolvimento da cultura, em relação ao clima e ao solo.

O objetivo deste trabalho foi classificar as áreas quanto à aptidão pedoclimática para a

cultura do cajueiro, empregando nível de manejo C (cultivo com emprego de alta

tecnologia), no Estado da Bahia como um todo, e estimar a porcentagem de áreas aptas

para a cultura do cajueiro por município. Este estudo representa um material básico

para orientar órgãos financiadores e de planejamento, para racionalização do cultivo do

cajueiro no Estado da Bahia. Embora esses estudos tenham sido dirigidos à aplicação

de alta tecnologia, pode servir de referência para a cultura de sequeiro.

Resumindo as principais limitações desse sistema produtivo podemos enumerar as

seguintes questões:

1. Pouco aproveitamento do umbu das safras nativas;

2. Faltam investimentos públicos para produção e beneficiamento;

3. Baixos preços da fruta in natura;

4. Colheita irracional prejudicando as plantas e conseqüentemente a produção;

5. Falta de planejamento da produção;

6. Legislação e os órgãos oficiais, que dificultam e restringem a atuação;

7. Falta de tecnologia de transformação e de assessoria técnica adequadas às

unidades familiares de processamento;

52

Page 54: Estudo das potencialidades econômicas

5.6 - Agricultura Irrigada

Até a década de 60 as comunidades ribeirinhas do TSSF praticavam uma agricultura

rudimentar aproveitando a vazante do rio para produção de mandioca, batata doce,

feijão e arroz. A produção era comercializada nos municípios próximos e para

municípios mais distantes, através das embarcações que navegavam no Rio São

Francisco. As famílias ribeirinhas mesclavam as atividades de agricultura de vazante e

a pesca.

Até então a presença do Estado era muito tímida. A partir da construção da barragem de

Sobradinho, uma das mais importantes ações públicas na paisagem do Território,

iniciou-se o preparo para a agricultura irrigada. Em menos de 30 anos do início dessa

atividade se percebe a geração de riquezas e a contribuição dessa atividade para uma

importante atualização na identidade do Território, apesar dos problemas

consequentes desse processo de “modernização”.

A agricultura irrigada é a tradução mais visível na paisagem da ação do Estado e é

também a fonte principal da riqueza de alguns municípios do Território. De fato, as

culturas irrigadas exerceram uma influência considerável na elevação do PIB,

principalmente pelas principais culturas que atendem tanto ao mercado interno como

ao mercado externo. Em 2003, a produção de manga e uva provenientes da região do

sub-médio São Francisco representaram 90% e 99%, respectivamente, das

exportações brasileiras de frutas (Barros, 2007). A irrigação no vale do São Francisco

gera em torno de 250 mil empregos diretos (Silva; Resende & Silva 2000).

O tamanho da área dos perímetros irrigados em Juazeiro e Petrolina sob a jurisdição da

CODEVASF somam 41.457 hectares, sendo que 20.509 hectares (49,4%) estão em

Juazeiro, como se vê na Tabela 10. As áreas de irrigação dos empreendimentos

53

Mais adiante, no capítulo “Propostas aos Sistemas Produtivos” serão tratadas as

proposições à cerca do sistema produtivo da fruticultura de sequeiro, seus produtos e

subprodutos para a agricultura familiar do Território.

8. Capacidade insuficiente de gestão das unidades de transformação;

9. Ausência de políticas públicas, particularmente crédito e incentivos fiscais.

Page 55: Estudo das potencialidades econômicas

privados além daqueles que estão dentro dos perímetros chegam a mais de 60.000 ha.

E, segundo Graziano (1989), não há empreendimentos particulares totalmente

independentes dos grandes investimentos públicos ou projetos públicos. Apesar de

esses empreendimentos privados estarem fora dos perímetros irrigados, eles foram

beneficiados pelos investimentos públicos, principalmente em serviços públicos de

infra-estrutura fundamentais para viabilizarem seus empreendimentos, além de

contarem com os incentivos proporcionados pelo Governo, sendo um deles o “acesso a

recursos financeiros em condições privilegiadas” (Dourado et al., 2006)

A área irrigável nos perímetros destinada à agricultura familiar (18.503 ha) somam

44,6% da área total irrigável conforme a Tabela 10. Em média, o lote familiar possui 6,5

ha. A orientação das atividades nesses lotes é de cultivos de mercados globais, as

mesmas culturas praticadas pelas unidades empresariais, em sua maioria variedades

de manga e uva para exportação. Barros (2007), afirma que esse foi um processo de

globalização econômica e os agricultores familiares sofreram um processo de 3

descampesinização , inserindo-se, mesmo de forma marginal, no modelo de produção

capitalista, sendo que tudo isso só foi possível devido à apropriação dos recursos

hídricos.

Tabela 10. Áreas dos perímetros públicos de irrigação, em operação, sob a jurisdição da Codevasf em Juazeiro e Petrolina.

Fonte: Codevasf, 2005 (adaptado por Barros 2007).

54

3 Descampesinização, termo utilizado por Lênin (1988) definir processo de descaracterização dos camponeses que deixam de ser camponeses, na sua concepção clássica, com o movimento de mudanças ocorridas na agricultura. Nesse processo de descampesinização há uma subordinação do seu trabalho ao capital no sentido de que já não são produtores independentes. Graziano da Silva, (1982, p. 135) chama o processo de descampesinização de “tecnificação” por entender que é precisamente um processo de desenvolvimento das técnicas capitalistas de produção no campo. Para mostrar a importância da AF camponesa na Europa, Ploeg (2006) utiliza o conceito de recampesinização que vem atualmente sendo empregado na Europa para valorizar o termo camponês, mantido como tabu durante muitos anos, agora está reemergindo até mesmo no discurso político, na atualidade (Ploeg, 2006 citado por Barros, 2007)

Page 56: Estudo das potencialidades econômicas

A região do Submédio São Francisco foi beneficiada pelos grandes investimentos do

Governo, nas obras pioneiras da infra-estrutura hidroagrícola (Sampaio & Sampaio

2004). Em 1998 a FADC/UFPE (citado por Barros, 2007) fez uma estimativa do capital

público investido nos perímetros. Esse capital foi algo em torno de R$ 650 milhões, a

preços de 1998, nos seis perímetros implantados (incluindo a infra-estrutura de

irrigação de uso comum e as benfeitorias realizadas nos lotes). A área implantada até

1988 era de 46.729 hectares, o que corresponde a uma média de R$ 14.419 por hectare

implantado.

Não resta dúvida, que o sentido fundamental da política de irrigação no Submédio São

Francisco foi a modernização agrícola com um pólo agroindustrial. Os dados

apresentados nas Tabelas 11 e 12 sobre o volume de produção de uva e manga

exportadas pelo Brasil, demonstram a decisiva participação do agropolo nesse quadro

geral (Barros, 2007).

A geração de empregos também representa a consolidação do pólo. Por exemplo, na

cultura da uva, são gerados até cinco empregos por ha. Desta forma, em 2000, nos

perímetros irrigados administrados pela Codevasf, com uma área cultivada de 76.553

hectares, foram gerados, aproximadamente, 230 mil empregos, sendo 76,5 mil

empregos diretos e 153,5 mil empregos indiretos (CODEVASF, 2001, citado por Barros,

2007).

55

Tabela 11. Exportações de uvas no vale do São Francisco

Fonte: Valexport, 2004.

Participação

Page 57: Estudo das potencialidades econômicas

Tabela 12. Exportações de mangas no Vale do São Francisco

Fonte: Valexport, 2004.

Existe uma marcante diferença entre os perímetros implantados pela CODEVASF e os

que foram implantados pela CHESF ou pelo DNOCs. O primeiro trouxe a perspectiva

empresarial, tanto que os agricultores de Juazeiro, como de Petrolina, não costumam

se autodenominarem agricultores familiares, se consideram mais como pequenos

empresários. Já os perímetros do Sistema Itaparica organizado pela CHESF e pelo

DNOCs como ação reparatória pela inundação das áreas, a perspectiva é mais de

projetos sociais e produtivos, e a agricultura familiar é melhor percebida.

A seguir será feita uma breve análise sobre a situação da agricultura irrigada familiar

implantada nos perímetros irrigados.

Perímetro de Irrigação Curaçá

O Perímetro está localizado a 75 km ao leste da sede do Município de Juazeiro. Sua

principal via de acesso é a Rodovia Estadual BA-210 que liga as cidades de Juazeiro a

56

Atualmente as áreas irrigadas estão localizadas nos perímetros: Curaçá, Maniçoba,

Mandacaru, Tourão, todos dentro do município de Juazeiro, Pedra Branca no município

de Curaçá e o perímetro implantado pelo DNOCs em Canudos com água do açude

Cocorobó. Os perímetros são compostos por grandes e médias empresas e colonos, a

infra-estrutura de fornecimento da água e sua manutenção são controladas pela

CODEVASF em parceria com algumas organizações locais, aos agricultores familiares

é fornecida assistência técnica pelo mesmo órgão. A maioria dos colonos ainda paga

sua dívida referente à titulação do lote e ao chamado K-1 (amortização pela infra-

estrutura pública nos perímetros).

Page 58: Estudo das potencialidades econômicas

Tabela 13. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas de pequenos produtores do perímetro Curaçá, em 2006.

Fonte: PLANTEC, 2006.

57

Curaçá. De acordo com a CODEVASF (1999), numa área aproximadamente de 15 mil

hectares foi implantado o Perímetro de Irrigação Curaçá com áreas empresariais e

áreas de colonização, estas últimas exploradas em 266 lotes de produtores familiares,

caracterizados por uma grande diversidade, sendo direcionado a estes últimos o

serviço de assistência técnica e extensão pela CODEVASF. Atualmente essa

assistência e extensão rural é realizada através de uma empresa contratada PLANTEC

– Planejamento e Engenharia Agrícola Ltda. A partir do relatório de 2006 da referida

empresa, estão baseados as informações mais atuais sobre os perímetros irrigados,

que estão apresentados a seguir.

No Perímetro de Irrigação Curaçá existe duas organizações que administram os

serviços de bombeamento e distribuição da água para os lotes; a União dos Produtores

do Perímetro Irrigado de Curaçá – UPROPIC e o Distrito de Irrigação de Curaçá – DIC.

O DIC fornece água para as áreas empresariais implantadas e também para

agricultores familiares, enquanto a UPROPIC trabalha exclusivamente com os lotes

agrícolas de agricultores familiares.

Page 59: Estudo das potencialidades econômicas

Além das organizações que administram a água no Perímetro, existem duas

organizações criadas para estabelecer e praticar a comercialização dos produtos de

seus associados, no Perímetro: a CAMPIC (Cooperativa Agrícola Mista do Perímetro

Irrigado Curaçá), fundada em 1987, que atualmente passa por dificuldades na

comercialização da produção dos seus cooperados; a AFRUPEC (Associação dos

Fruticultores do Perímetro Curaçá) foi fundada em 2004, a partir da CAMPIC, que vem

realizando atividades similares na comercialização de manga, coco e mamão com

melhores resultados.

No perímetro de irrigação Curaçá existe uma importante diversidade com 14 cultivos

perenes e 03 temporários, com destaque para a melancia, bem como grande

importância econômica com o cultivo de 2.150 hectares que proporcionam um valor de

produção de 11,6 milhões de reais, demonstrados na Tabela 13.

Perímetro de Irrigação Maniçoba

Situado a 15 km de Juazeiro, o serviço de operação e manutenção do bombeamento e

da distribuição da água para irrigação é realizado pelo Distrito de Irrigação de Maniçoba

– DIM. A seguir na Tabela 14 pode ser visto o perfil produtivo desse perímetro.

Tabela 14. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas de colonização de pequenos produtores do perímetro Maniçoba, em 2006.

Fonte: PLANTEC, 2006.

58

Page 60: Estudo das potencialidades econômicas

Existe também no Perímetro Maniçoba, três associações de pequenos produtores que

têm como objetivo a melhoria do processo de comercialização e de obtenção de

créditos, junto às instituições oficiais: a Associação Manga Brasil, a Associação dos

Produtores Rurais de Lagoa da Pedra e a Associação de Produtores Rurais de Campo.

A Associação Manga Brasil foi fundada em 2004, hoje conta com 58 associados, e vem

desenvolvendo atividades que promovem ganhos na comercialização da produção dos

seus sócios.

O Perímetro de Irrigação Maniçoba tem uma característica peculiar de ocupação, uma

área historicamente concebida com 242 lotes de pequenos produtores e uma Unidade

de Produção de Mudas e Difusão de Tecnologia – UPMDT, e outras duas áreas

representadas por duas associações: Associação dos Produtores Rurais da Lagoa da

Pedra, com 54 produtores e Associação dos produtores Rurais de Campos, com 69

produtores, resultado da ocupação de lotes empresariais que foram desativados e

colocados à disposição dessas organizações pela CODEVASF. Para a avaliação dos

dados de produção, foi feita uma divisão dos resultados específicos das áreas de

colonização e das associações, a fim de evitar distorções na análise produtiva

econômica de cada situação, em função de suas especificidades.

No perímetro de irrigação Maniçoba existe uma importante diversidade de oito cultivos

perenes e três temporários, bem como grande importância econômica com o cultivo de

2.133 hectares que proporcionam um valor de produção de 12,2 milhões de reais,

demonstrados na Tabela 15.

Existe no Perímetro a Associação Manga Brasil. É uma Associação dos pequenos

agricultores composta com 62 associados. Surge com o objetivo de realizar a

comercialização dos produtos dos agricultores. Atualmente comercializa a produção

para o mercado dos grandes centros: São Paulo, Brasília, Minas Gerais, Redes de

Supermercados e clientes locais (empresas). A comercialização é feita pela própria

associação, sem a interferência de atravessadores.

59

Page 61: Estudo das potencialidades econômicas

60

Tabela 15. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas das associações de pequenos produtores do perímetro Maniçoba, em 2006.

Fonte: PLANTEC, 2006.

Perímetro de Irrigação Mandacaru

A administração dos serviços de operação e manutenção, é realizada pelo Distrito de

Irrigação Mandacaru – DIMAND.

Além da organização que administra o Perímetro, existe também a Cooperativa

Agrícola Mista dos Produtores Irrigantes do Mandacaru – CAMPIM, criada com o intuito

de melhorar o processo de comercialização dos produtos de seus associados no

Perímetro. Apesar das dificuldades comuns que vem caracterizando a atuação das

cooperativas nos perímetros irrigados, o sistema de cooperativa ainda consegue sub-

existir, estando numa fase de reordenação da sua estrutura administrativa. Nesse

período, a CODEVASF, através da Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER vem

dando suporte, objetivando ampliar a atuação da comercialização tanto no mercado

interno como externo, bem como apoio na reestruturação da entidade.

No perímetro de irrigação Mandacaru existe uma diversidade de nove cultivos perenes

e oito temporários, com destaque para a olerícola melão, cebola e diversos cereais,

bem como grande importância econômica com o cultivo de 484 hectares a que

proporcionam um valor de produção de 2,5 milhões de reais, demonstrados na Tabela

16, abaixo.

Page 62: Estudo das potencialidades econômicas

61

Tabela 16. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas dos pequenos produtores do perímetro Mandacaru, em 2006.

Fonte: PLANTEC, 2006.

Perímetro de Irrigação Tourão

A administração dos serviços de operação e manutenção é realizada pela Associação

dos Usuários do Perímetro Irrigado de Tourão – AUPIT.

Além da organização que administra o Perímetro, existe mais uma instituição criada

com o intuito de melhorar o processo de organizativo dos produtores, e principalmente,

de estabelecer a comercialização dos produtos de seus associados, A (Cooperativa

Agrícola Mista dos Produtores Irrigantes do Perímetro Tourão – COAMPIT, que apesar

das dificuldades ainda consegue atuar de forma a subsidiar os seus associados no

campo da comercialização. A CODEVASF, através da contratação dos serviços da

ATER vem dando suporte do ponto de vista técnico para a comercialização, levando

agentes de venda para os mercados interno e externo discutirem com representantes

da cooperativa, objetivando ampliar a atuação da mesma no âmbito da

comercialização.

Page 63: Estudo das potencialidades econômicas

62

Tabela 17. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas cultivadas pelos pequenos produtores do perímetro Tourão, em 2006.

No perímetro de irrigação Tourão existe uma diversidade de cinco cultivos perenes e

cinco temporários, com destaque para as olerícolas cebola, melão e tomate, bem como

grande importância econômica com o cultivo de 277 hectares que proporcionam um

valor de produção de 2,6 milhões de reais, demonstrados na Tabela 17.

Projeto de Irrigação Pedra Branca

Perímetro implementado pela Chesf através do sistema Itaparica. O lago de Itaparica

se estende desde os municípios de Petrolândia/PE e Glória/BA até a cidade de Belém

do São Francisco/PE e o Povoado Barra do Tarrachil/BA, situados a cerca de 150 Km da

barragem, cobrindo uma superfície de 83.400 hectares dos estados da Bahia e

Pernambuco. Na Tabela 18 pode ser observado o perfil geral do perímetro de irrigação

“Pedra Branca”.

O denominado programa reassentamento de Itaparica surgiu da necessidade de

deslocar famílias e infra-estrutura regional das áreas que foram ocupadas com a

construção da barragem/hidrelétrica de Itaparica, assim como de oferecer formas de

sobrevivência e “compensar” o impacto causado sobre aproximadamente 10.338

famílias que moravam na área inundada, das quais 4.100 na zona urbana e 6.238 na

área rural, entre elas 200 famílias da Comunidade Indígena Tuxá. Dentre essas famílias

Fonte: PLANTEC, 2006.

Page 64: Estudo das potencialidades econômicas

63

Tabela 18. Perfil do Projeto Pedra Branca no Sistema Itaparica.

Fonte: CHESF, 1985.

existiam os proprietários com titulação, sem titulação, posseiros, arrendatários,

meeiros e outros ocupantes sem propriedade legal das terras.

A população rural diretamente atingida foi estimada em 21.220 pessoas, e a urbana em

18.835, perfazendo um total de 40.055 pessoas. Incluindo a população afetada

indiretamente, o total estimado era de 80.000 pessoas, à época (1987).

O projeto Pedra Branca situa-se na margem direita do Rio São Francisco, nos

municípios de Abaré e Curaçá no extremo norte do Estado da Bahia, na margem direita

do Rio São Francisco, divisa dos Estados da Bahia e Pernambuco e seu centro

geométrico distancia cerca de 10,3 km do rio (captação) e cerca de 70,0 km das sedes

municipais.

A rede de drenagem da área é constituída por alguns riachos e córregos, dentre os

quais destacamos o Riacho Maravilha, Riacho dos Pereiros, Riacho da Pedra Preta,

Riacho do Bom Passar e Riacho do Icó. Merece destaque ainda a existência de

inúmeras lagoas na área.

Page 65: Estudo das potencialidades econômicas

No perímetro de irrigação Pedra Branca existe uma diversidade de seis cultivos

perenes e pelo menos cinco temporários, com destaque para a banana, manga, goiaba

e amendoim, demonstrados nas Tabelas 19 e 20 a seguir.

64

Tabela 19. Demonstrativo do tipo de exploração produtiva econômica nas áreas do perímetro Pedra Branca, em 2004.

Tabela 20. Demonstrativo da exploração produtiva econômica nas áreas dos pequenos produtores do perímetro Pedra Branca, em 2004.

Perímetro Irrigado Vaza Barris

O Perímetro Irrigado Vaza Barris, situado no Município de Canudos, foi construído pelo

Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS na Bahia, na década de

1950 a 1970. Possui uma área total de 5.031.4679 ha, sendo 1.976 ha implantadas. É

administrado pelo próprio DNOCS através da Associação do Distrito de Irrigação do

Vaza Barris.

FONTE: Relatórios de Acompanhamento de ATER (até setembro de 2004)

Page 66: Estudo das potencialidades econômicas

Na área irrigada vive aproximadamente 500 a 600 famílias que cultiva em maior escala

a cultura de banana (em média 1.000 há), coco e melão. Variedades de hortaliças a

exemplo de coentro, alface, pimentão, tomate e quiabo também são cultivadas pelas

famílias, inclusive para produção de sementes.

No Perímetro possui uma fábrica de doce com capacidade para processamento de 600

kg/dia, que produzia doce de banana, mas por motivos diversos está parada:

equipamentos são insuficientes e falta manutenção; falta de gestão da unidade e de

capacitação das famílias envolvidas no processo de produção e falta de estrutura para

a comercialização. Compete a administração da fábrica à Cooperativa dos Irrigantes do

Vaza Barris.

Possui também no Perímetro a Associação das Artesãs do Vaza Barris, que trabalha

com a fibra da bananeira, inclusive sendo comercializada para outras cidades do

nordeste.

Observa-se a necessidade de realização de estudos para identificação do

potencial produtivo e a qualificação da base atual da economia neste município.

Projeto de Irrigação Salitre

No município de Juazeiro, está em fase de implantação o Projeto Salitre com cerca de

29.210 hectares e será destinado para a irrigação com o cultivo de frutas para atender o

mercado interno e externo.

Encontra-se concluído o projeto executivo da primeira adutora, de 700 mm e 4 km de

extensão, com custo estimado em R$ 3,2 milhões e que possibilitará atender as áreas

atualmente irrigadas situadas abaixo da rodovia 210. A outra derivação, que irá atender

as áreas atualmente irrigadas situadas acima da rodovia, ainda depende de

detalhamento.

“A primeira etapa do projeto Salitre prevista para ser concluída em julho de 2009,

irrigará 5.084 hectares (ha) de boas terras da margem direita do Rio São Francisco. A

exploração será feita por pequenos produtores, para os quais se destinarão 255 lotes

com área total de 1.710 hectares, e por empresários, que produzirão em 75 lotes com

65

Page 67: Estudo das potencialidades econômicas

área total de 3.374 hectares. A seleção e o assentamento dos colonos, o processo de

licitação para escolha dos empresários e o início da produção do projeto estão previstos

para até maio do próximo ano” informa o presidente da Codevasf.

Para dar continuidade a implantação do Projeto Salitre, serão investidos algo em torno

de R$ 251,5 milhões, recursos provenientes do PAC até 2010, para viabilizar a irrigação

de toda área, o que está prevista para ser implementado em cinco etapas. Já foram

concluídas as obras civis das estações de bombeamento 1, 2 e 3 e 90% dos canais de

irrigação da primeira etapa, além da aquisição de equipamentos. Em 2007, o total de

recursos do Programa para esse perímetro alcançou a cifra de R$ 71,5 milhões. Fonte:

Agecom.

Atualmente a área encontra-se ocupada com 800 famílias de trabalhadores sem terra

desde o dia 1º de abril de 2007. A direção do Movimento dos Trabalhadores sem Terra

tenta negociar, com o Incra e com a Codevasf, a doação e assentamento das famílias

nesta área, após a dotação de infra-estrutura e implantação de projeto de irrigação.

Além desses perímetros apresentados, outros projetos irrigados foram implantados ou

realizados estudos de viabilidade, nos municípios do Território nos últimos 20 anos,

como se pode observar no Quadro 3, mas por diversas razões não estão em operação.

A Câmara da Fruticultura de Juazeiro com o objetivo de organizar e desenvolver a

cadeia produtiva da fruticultura, em documento recentemente lançado denuncia o

descaso com o setor da fruticultura, indicando como os principais problemas a

supervalorização da moeda nacional e aumento dos custos dos insumos, que aliado à

dependência das exportações provocaram perdas de mais de 50% e indica ainda,

graves problemas como o modelo de irrigação por sulco de infiltração, e uma brutal

diferença cobrada pela água fornecida aos produtores, quando 1.000 m³ custam R$

38,94 em um perímetro, em outro o preço chega a R$ 77,37.

Como conseqüências, alegam que o setor está reduzindo o número de safras de uva de

duas para uma safra ao ano, sofrendo uma descapitalização do setor, grandes volumes

de demissões e desaquecimento da economia. Como caminho, sugere renegociações

dos financiamentos de custeios junto aos bancos, para dar condições de se

readequarem ao novo ciclo produtivo.

66

Page 68: Estudo das potencialidades econômicas

Resumindo os principais limitantes apresentados pelos agricultores familiares

irrigantes são:

1. Alto custo de produção, sobretudo devido o preço elevado das tarifas de água e

energia elétrica;

2. Descapitalização dos agricultores;

3. Produtores como meeiros e arrendatários;

4. Concentração de safra em certos períodos do ano;

5. Grande número de atravessadores nos perímetros;

6. Dificuldade de acesso ao crédito;

7. Grande distância dos principais centros consumidores;

8. Sistema de irrigação deficiente e inadequado;

9. Pouco conhecimento sobre os processos de exportação da produção;

10. Faltam estruturas de beneficiamento da produção;

11. Experiência com beneficiamento das frutas é inicial;

12. Não se consideram agricultores familiares;

13. A visão de empresário, dependente do capital e do estado.

67

Quadro 3. Projeto de irrigação que foram implantados ou realizados estudos, nosmunicípios do Território.

Fonte: Superintendência de Irrigação-SIR; SEI 200Notas: (1) Estudos de Pré-viabilidade, viabilidade e básicos; (2) Projeto básico e executivo.

Page 69: Estudo das potencialidades econômicas

A Pecuária nas Áreas Irrigadas

Esta atividade desempenha importante papel pela integração das atividades com a

produção de carne, leite e esterco. Esse último produto, o adubo orgânico, constitui um

dos elementos mais importantes em relação ao processo de produção conduzido nas

áreas irrigadas, porém essa produção interna é insuficiente para atender a demanda

existente. Como a agricultura irrigada vem sendo conduzida em reduzida articulação

com explorações pastoris, a demanda de esterco, especialmente no Vale, é suprida de

outras áreas, a custos elevados (CODEVASF, 2006).

O consumo de esterco nas áreas irrigadas é abastecido principalmente pelos criadores

das áreas de sequeiro e de fundo de pasto, que fornecem o subproduto a preços baixos.

Porém, a participação do intermediário e o custo com transporte elevam o preço do

produto. Segundo relatório da PLANTEC a utilização de esterco animal recomendada 3varia de 7 a 22 m por hectare de plantio de fruteiras, e o custo unitário é de

3aproximadamente R$ 22,00 / m .

A demanda por esterco nas áreas irrigadas é constante e crescente. Há uma

preocupação ambiental que merecerá maior aprofundamento que se refere ao fato que

as constantes transferências de esterco provavelmente estarão provocando

empobrecimento dos solos das áreas de origem e, considerando que as áreas de

origem na sua maioria são de agricultores familiares pobres, o problema tende a

agravar-se também socialmente. Os dados sobre as ofertas e demandas totais de

esterco não existem, por esse motivo não foram aqui incluídos.

Por outro lado, existiu uma afirmação de agricultores familiares das áreas irrigadas de

que eles não são os principais consumidores de esterco caprinos, mas sim as áreas

empresariais, e que os agricultores familiares utilizam mais o adubo químico que o

orgânico, provavelmente por questões financeiras. Mas essa afirmação carece de

confirmação em estudos posteriores.

Também existe em menor proporção a criação de abelhas. O consórcio objetiva

aumentar a polinização das fruteiras e a produção de mel. Existem alguns apicultores

que oferecem o serviço de colocação de colméias racionais em áreas de fruticultura

durante a floração.

68

Page 70: Estudo das potencialidades econômicas

Meio Ambiente

A atividade da agricultura irrigada funciona a partir de um modelo convencional, que

depende da utilização de insumos químicos, seu controle não é realizado pelo poder

público de maneira satisfatória, de modo que existem sérios problemas de poluição e

contaminação das águas disponíveis para o Território. O controle seria exercido se

houvesse, por exemplo, a obrigatoriedade do receituário agronômico, um documento

assinado por técnico habilitado, na hora da venda dos produtos.

O mercado brasileiro de agrotóxicos girou em torno de US$ 4,495 bilhões e de US$

4,244 bilhões de dólares nos anos de 2004 e 2005, respectivamente, segundo o

Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal – SINDAG. Nesses

valores não estão incluídas as vendas para os usos em pecuária. Desse total, em 2005,

40,8%; 30,9% e 23,7% foram para o mercado de herbicidas, fungicidas e inseticidas,

nesta ordem. A cultura da soja é a líder do total utilizado (50%), acompanhada por

algodão (10%); milho e cana-de-açúcar (7%); tratamento de sementes (4%); trigo, café

e citros (3%) e arroz (2%). As demais culturas, entre as quais as hortaliças e as frutíferas 4correspondem a 11% do mercado (Fórum Permanente para Adequação Fitossanitária ,

2007). Na Figura 6 pode ser observado os quantitativos da destinação de embalagens,

que demonstra uma parte do problema sendo resolvido.

69

Figura 6. Destinação final mensal de embalagens vazias de agrotóxicos 2005 / 2006 / 2007 no Brasil. Base dezembro 2007 (ton). Fonte: INPEV.

4 Com o objetivo de criar um espaço aberto à sociedade brasileira para discutir as necessidades e propor ações de adequação fitossanitária para o sistema agrícola nacional, foi instalado em 17 de setembro de 2007 o Fórum Permanente para Adequação Fitossanitária, por iniciativa da EMBRAPA e do MAPA.

Page 71: Estudo das potencialidades econômicas

As vendas de defensivos agrícolas efetuadas no período de janeiro a outubro de 2007,

comparativamente ao mesmo período do ano anterior, registram alta de 26%, ou seja,

saltaram de R$ 6,1 bilhões de reais para R$ 7,7 bilhões. A elevação se verificou em

todas as classes de produtos – herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas e outros. A

explicação para os resultados está principalmente no aumento dos investimentos em

tecnologia por parte dos produtores. Outros fatores diretamente associados ao

desempenho do setor são: o aumento da área plantada nas principais culturas; os

preços favoráveis das commodities agrícolas no mercado internacional; e a redução

dos preços dos defensivos em relação à safra passada – este último fator certamente foi

o que motivou a aplicação de defensivos agrícolas de alta tecnologia. Para a direção do

Sindag, a melhora dos indicadores também tem relação com o rigor das autoridades no

combate aos agrotóxicos ilegais. Os números apontam para recuperação de vendas do

setor entre 2006 e 2007, já que ao final de 2006 as vendas oscilaram negativamente,

em 14,7%, na comparação com o período de 2005. SINDAG 2007, Figura 2.

70

Quadro 4. Comparativo da destinação final e evolução em percentual de Janeiro à Dezembro. Base: dezembro 2007 (Kg).

Fonte: INPEV.

A seguir, no Quadro 4 podem ser vistos alguns dados sobre o recolhimento de

embalagens vazias de agrotóxicos no Brasil e por estados, onde a Bahia aparece com

15,2%. Em seguida uma nota do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para

Defesa Vegetal que mostra uma evolução do mercado entre 2006 e 2007,

correlacionando inclusive com a redução do uso de agrotóxicos ilegais vendidos no

país, um segundo problema relacionado.

Page 72: Estudo das potencialidades econômicas

Não foram encontrados dados sobre a venda e o recolhimento de embalagens de

agrotóxicos para os municípios do Território, o que poderá ser objeto de um

levantamento posterior mais detalhado. Esse levantamento permitirá medir o grau do

risco de contaminação das águas, dos solos, dos alimentos que são produzidos na

região e conseqüentemente a saúde da população.

O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, depois da China e da Índia. O

cenário mercadológico internacional sinaliza que cada vez mais será valorizado o

aspecto qualitativo e o respeito ao meio ambiente na produção de qualquer produto. A

Comunidade Européia, principal importadora de frutas do Brasil, estabeleceu como

exigência, para os próximos anos, que a continuidade das importações de frutas estaria

condicionada à adoção de um sistema que tivesse em seu bojo fatores relacionados

com a qualidade, a sustentabilidade, a avaliação da conformidade do processo

produtivo e a rastreabilidade.

Por isso a região do Vale do São Francisco forçadamente vem adotando um sistema de

monitoramento. A Produção Integrada de Frutas – PIF, é um sistema que possibilita a

produção de alimentos mais seguros e de melhor qualidade, contendo quatro pilares

básicos de composição: organização da base produtiva, sustentabilidade do processo,

monitoramento do sistema e informação.

Diante desse novo perfil exigido pelo mercado devido a mudanças de hábitos

alimentares dos consumidores e da necessidade de obtenção de alimentos seguros, a

região vem em alguns setores, sobretudo aqueles que produzem para exportação,

substituindo a produção convencional de frutas para o Sistema de Produção Integrada.

Não quer dizer com isso que o sistema está sendo adotado por todas as empresas e

agricultores do Vale. O que ainda se observa no geral é um modelo de produção

encharcado por toneladas de agroquímicos que são despejados todos os dias nos

solos e nas plantações sem nenhum controle, principalmente na produção que é

destinada ao mercado local, onde as exigências são menores.

O crescimento dos programas de exportação de frutas, considerando que a praga

mosca-das-frutas é a principal restrição fitossanitária ao comércio internacional

frutícola; e considerando ainda a necessidade de controle e erradicação da referida

praga fez com que o Ministério da Agricultura resolvesse em portaria, criar o grupo de

71

Page 73: Estudo das potencialidades econômicas

trabalho com finalidade de elaborar e acompanahr o Projeto de Implantação da Técnica

de Insetos Estéreis para instalação da biofábrica de Ceratistis capitata. Essa técnica é

importante porque consiste na produção em escala do próprio inseto praga, porém

estéreis, que são soltos nos pomares atingidos e quebram o ciclo reprodutivo,

minimizando a necessidade da utilização de inseticidas químicos. A Biofábrica

Moscamed Brasil, uma OSCIP, funciona no distrito industrial de Juazeiro desde março

de 2006.

Além dessa iniciativa vale identificar o aumento pelo interesse na agricultura

agroecológica entre os fruticultores familiares das áreas irrigadas. Existem diversas

iniciativas de agricultores e uma cooperativa de agricultores orgânicos. Porém as

dificuldades estão relacionadas com a técnica e o financiamento da produção. Algumas

delas já vêm tentando obterem selos de certificadoras tais como a COOPERVIDA e

APROAC, ambas de Juazeiro. Além dessas instituições existem diversas iniciativas

individuais. Um estabelecimento comercial instalado em Petrolina se propõe a prestar

serviços e vender produtos para a agricultura orgânica. Existem pesquisadores na

EMBRAPA e UNEB que vêm pesquisando sobre esse modelo tecnológico.

5.7 - Assalariados/as Rurais

A região do Vale São Francisco, que se beneficia da irrigação, tem grande parte da sua

produção agrícola destinada à exportação, atrai investidores de várias partes do Brasil

e do mundo que utilizam-se da abundância de mão-de-obra a baixos custos, o que se

deve ao grande fluxo migratório originário das áreas de sequeiro dos próprios

municípios do Território, além de diversos municípios baianos e de outros estados como

Pernambuco, Piauí, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

A maioria desses (as) trabalhadores (as) são pessoas que vivem ou viviam na zona

rural e que por uma ou outra razão não conseguiram implementar um sistema de

produção em sua propriedade, de forma que garantisse a sua permanência, levando a

abandonar temporariamente e migrarem para as regiões da irrigação em busca de um

trabalho remunerado como único meio de sobrevivência. Entre estes, há muitos casos

de famílias que possuem uma parcela reduzida de terra, sendo impossível desenvolver

qualquer atividade produtiva de forma sustentável, outros que tiveram que abandonar

suas propriedades para dar lugar ao empresariado ou ao latifundiário.

72

Page 74: Estudo das potencialidades econômicas

As mulheres constituem 60% da mão-de-obra utilizada no cultivo de vários produtos

agrícolas e desempenham um importante papel na agricultura irrigada do Vale do São

Francisco. Chegam às empresas da irrigação movidas pelos mesmos motivos que

levam as famílias de modo geral e, com um motivo a mais: a busca da autonomia.

Historicamente a mulher no Semi-árido brasileiro tem sido vítima da submissão, do não

reconhecimento do seu trabalho, da sua capacidade e cidadania. Na família,

normalmente assume os trabalhos domésticos, os quais além de não remunerados não

são reconhecidos como trabalho. A decisão de sair do mundo doméstico em busca de

um trabalho remunerado, mesmo tendo que assumir uma dupla ou tripla jornada de

trabalho, se dá principalmente pela busca da autonomia financeira e da cidadania.

A absorção da mulher pelas empresas agrícolas de Juazeiro e de todo o Vale não se dá,

entretanto, sem discriminação, sendo permeada por uma racionalização baseada nas

diferenças de gênero e idade. Diante deste quadro, as condições de trabalho da mulher

idosa são as mais precárias. No processo de seleção das trabalhadoras, as empresas

dão preferência às mulheres com idade até 35 anos e excluem àquelas com idade

superior, do acesso ao trabalho assalariado com vínculo empregatício, trabalho fichado

na linguagem local, justificando essa exclusão na baixa produtividade das

trabalhadoras idosas. Em conseqüência de tal situação, as trabalhadoras idosas têm

que enfrentar o trabalho de diaristas, trabalho avulso, o qual é caracterizado pela

ausência de vínculo empregatício e pelo desrespeito aos direitos trabalhistas, entre

eles, a sindicalização e a aposentadoria (Branco & Vainsencher, 2001).

Outro agravante é que o contingente feminino é visto, também, como mais submisso e

dócil que o masculino. Nesse sentido, alguns encarregados deixam transparecer como

tiram proveito das históricas desigualdades de gênero, enquanto as trabalhadoras

expressam a vulnerabilidade de tal condição, diante do mercado de trabalho. “As

mulheres exigem menos, a gente paga qualquer coisa e elas aceitam. Parece que elas

têm mais receio de perder o emprego, a preciosa fonte de renda, do que os homens, aí

elas fazem tudo para agradar”. Ainda de acordo com proprietários a preferência se dá

também pelo fato das mulheres possuírem mais habilidade e responsabilidade; “elas

têm mãos pequenas e delicadas – características físicas fundamentais para um bom

desempenho na fruticultura”, segundo os empregadores.

A mão-de-obra da classe dos trabalhadores e trabalhadoras rurais assalariados na

73

Page 75: Estudo das potencialidades econômicas

Tabela 21. Ocupação da mão-de-obra agrícola (EHA) por hectare (ha), segundo as culturas pesquisadas, Microrregião de Juazeiro/BA Bahia, 2002

A categoria dos (as) assalariados (as) no Território Sertão do São Francisco é

representada pelos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais – STRs de Juazeiro, Curaçá,

Casa Nova, Sobradinho e Sento Sé. Também pelo Sindicato dos Trabalhadores

Assalariados nas Agroindústrias do Vale do São Francisco – SINTAGRO.

Repensar o processo de desenvolvimento a partir da categoria dos assalariados rurais

pode se tornar uma grande soma de investimentos nesse setor, com grande retorno

econômico. Mas até hoje, os trabalhadores sequer conseguem negociar velhas pautas

de reivindicações. "Se existisse uma justa distribuição de renda, não haveriam pessoas

para serem exploradas", afirma ROCHA, do SINTAGRO.

Um problema constante nas relações trabalhistas na região norte do Estado é a super

jornada de trabalho. Há trabalhadores que saem de casa às 5h30 da manhã e só voltam

às 02h00 da madrugada seguinte, ou seja, ficam mais de 20 horas à disposição das

empresas. Além disso, existe uma “cultura” das empresas, e algumas financiadas com

recursos do Governo brasileiro, de deter carteiras de trabalho dos funcionários e,

quando a pessoa é demitida ou pede demissão, descobre que não tem nenhum direito

garantido.

Outro aspecto é a utilização de agrotóxicos pelos trabalhadores sem que estejam

devidamente protegidos, conforme prevê a Lei de segurança do trabalho. "A maior

74

microrregião de Juazeiro na década de 90 era mais ocupada pela melancia, uva e

melão segundo pode ser visto na Tabela 21.

Page 76: Estudo das potencialidades econômicas

dificuldade é conseguir um médico para atestar que um trabalhador foi intoxicado ou

que veio a falecer devido a utilização de um agrotóxico com o qual trabalhou" segundo

ROCHA.

De acordo MEIRA, do STR de Juazeiro, existem em média 150 mil trabalhadores

assalariados nos 12 municípios do eixo Bahia/Pernambuco, ao redor de Juazeiro e

Petrolina, sendo que mais de 50% desse total está vulnerável aos agrotóxicos

aplicados nas culturas. “Não existe local para fazer o exame que detecta a intoxicação,

não existe equipamentos que proteja 100% o trabalhador. Os equipamentos são

produzidos para utilização na Região Sul (região fria) e quando usados no Nordeste,

região quente com altas temperaturas se torna desconfortável o que leva a rejeição por

parte dos trabalhadores”.

Em discussões com os/as trabalhadores/as assalariados/as, os mesmos expõem o

quadro em que se submetem na realidade atual, sendo possível pontuar as seguintes

questões:

1. Falta ambulância nas empresas para atendimento nos casos de emergências;

2. Falta atendimento qualificado nos postos de saúde;

3. Falta Equipamento de Proteção Individual – EPI;

4. O INSS não atende com eficiência;

5. Jornadas excessivas de trabalho;

6. Testes para admissão nas empresas vão além da capacidade física dos

candidatos;

7. Os contratos temporários prejudicam a vida dos/as trabalhadores/as no que diz

respeito aos benefícios e novas oportunidades de trabalho;

8. Empresas que chamam pessoal para fazer teste trabalhando o dia todo, não

pagam pelo dia trabalhado e depois dispensam os trabalhadores, alegando que

não há vagas para todos;

9. Trabalho avulso (diarista), por dias e até meses seguidos;

10. Trabalhadores vítimas de lesões por esforço repetitivo;

11. Trabalhadoras constantemente sendo vítimas de assédio sexual;

12. Transportes superlotados, além do que a lei permite e, em péssimo estado de

conservação;

13. Doenças decorrentes do uso indiscriminado de agrotóxicos com pessoal dentro

da área e aplicação sem EPI´s.

75

Page 77: Estudo das potencialidades econômicas

Grande parte dos trabalhadores (as) vive nos bairros pobres da cidade (conhecidos

como invasões) em condições precárias e não têm garantia dos direitos básicos: não há

investimento em saneamento básico; não há uma moradia digna ou falta moradia, duas

e até três famílias moram numa mesma casa.

Por outro lado as escolas em que os filhos desses trabalhadores estudam estão em

condições precárias: falta merenda escolar, falta material didático, péssimas condições

de higiene, professores sem qualificação adequada. A situação precária da educação

tem a ver com o trabalho infantil, que tira crianças das escolas e ficam expostos a

situações de riscos a exemplo da prostituição, uso de drogas e violência nos bairros

periféricos.

O grande contingente atraído pelo trabalho nas fazendas, a partir dos investimentos

públicos, não encontrou em Juazeiro, principalmente, investimentos na mesma altura

em relação a urbanização e serviços básicos de educação, saúde, saneamento e

assistência previdenciária.

Diante do cenário de marginalidade os/as trabalhadores/as apresentam um conjunto de

fatores necessários para a melhoria das condições de trabalho da classe:

1. Necessidade de constantes fiscalizações nas empresas agrícolas;

2. Que o SUS disponibilize exames para detectar as doenças ocupacionais;

3. Fiscalização constante nos transportes utilizados pelas empresas;

4. Acabar com Banco de Horas;

5. Que o INSS comunique as empresas os tipos de exames que o trabalhador

precisa fazer para esclarecer as lesões decorrentes de acidentes (doenças

ocupacionais);

6. Redução das jornadas de trabalho para 06 horas;

7. Discussão e definição dos critérios de distribuição das casas populares nos

municípios.

5.8 - Crédito do PRONAF

O volume total de créditos do PRONAF aplicados no Brasil, em 2006, foi da ordem de

R$ 7,4 bilhões, onde 26,5% desses recursos foram dirigidos para Região Nordeste (R$

76

Page 78: Estudo das potencialidades econômicas

1,9 bilhão).

O Nordeste apesar de concentrar 50,3% dos estabelecimentos rurais familiares

existentes em todo País, alocou apenas ¼ do montante total de recursos

disponibilizados pelo PRONAF nacionalmente. Destes, 15% de estabelecimentos

familiares encontram-se na Bahia que, em 2006, garantiu o atendimento da demanda

por crédito de apenas 37% do contingente da agricultura familiar de todo o Estado

(5,9%), conforme mostra a Tabela 22.

O crescimento do montante de crédito aplicado em 2006, no Estado da Bahia, foi de

30,3% o que corresponde a um incremento proporcional ao volume financiado em

relação à média regional de crescimento de 35,4%, de acordo com a Tabela 23. No

ranking de tomadas de crédito do PRONAF em 2006, com relação ao ano de 2005, na

região Nordeste, o estado da Bahia continua em primeiro lugar com 434 milhões, o

estado do Maranhão em segundo com 322 milhões, o estado do Ceará em terceiro

lugar com 275 milhões e Pernambuco em quarto lugar com 252 milhões no volume de

recursos aplicados em 2006.

Observando as operações do PRONAF nos municípios do Território, observa-se a

Tabela 24, a seguir, onde fica evidente o crescimento das operações de crédito,

principalmente entre 2005 e 2006, e que os municípios que mais utilizam o PRONAF

são Curaçá, Casa Nova, Juazeiro e Sento Sé. O percentual da utilização do crédito pelo

Território no ano fiscal de 2006 representou apenas 5,4% do total para o Estado.

77

Tabela 22. Estados do Nordeste, participação da agricultura familiar e créditos do PRONAF em 2006.

Fonte: IBGE e MDA* (1) participação relativa da AF, tendo por base os 4.200.000 estabelecimentos familiares existentes no Brasil* (2) participação relativa da aplicação do crédito por estado, em 2006.

Page 79: Estudo das potencialidades econômicas

Em 2006 foram 6.666 contratos no Território que representaram R$ 22.555.148,33 de

onde podemos obter uma média geral de R$ 3.383,00 e em 2007 foram 4.682 contratos

que representaram R$ 23.422.766,52 média geral de R$ 5.002,00, demonstrando um

crescimento no valor geral dos contratos e nos valores unitários.

78

Tabela 23. Estados do Nordeste, incremento na captação de créditos do PRONAF, por Estado (2005 e 2006).

Fonte: MDA

A informação mais detalhada nos dados originais por municípios mostra um quadro

quase inverso em relação ao ranking da produção pecuária, indicando que a produção

de caprinos nos municípios mais produtores utiliza menos crédito que municípios que

exercem mais a agricultura irrigada. É provável que a capacidade de mobilização do

crédito é diferenciada nos municípios e nas diferentes atividades. Será útil conhecer

mais fundo essa realizada através de estudos mais específicos.

Tabela 24. Número de contratos e montante do crédito rural do PRONAF por modalidade e ano fiscal.

FONTE: BACEN (Somente Exigibilidade Bancária), BANCOOB, BANSICREDI, BASA, BB, BN E BNDES. Dados atualizados até BACEN: Até BASA: Até 12/2007; BB: Até 11/2007; BN: Até 12/2007e BNDES: Até 07/2006 - Últimos 3 meses sujeitos á alterações. Data da Impressão: 29/01/2008 10h22min:29

Page 80: Estudo das potencialidades econômicas

Por outro lado, os investimentos feitos pela Coordenadoria de Ação Rural – CAR, que

geralmente impactam na produção familiar de sequeiro, estão demonstrados na Tabela

25. A base de dados refere-se aos convênios, vigentes a partir de 1º de janeiro de 1996

até 2007, disponível no site www.car.ba.gov.br e permitem ver a distribuição dos

recursos a partir dos tipos de investimentos e a distribuição nos municípios do Território.

Esses investimentos tiveram como fonte, recursos internacionais bastante expressivos

para a agricultura familiar, embora muitos desses investimentos não estejam em

funcionamento e serviram em várias situações provavelmente como instrumentos

políticos. Algumas situações chamam a atenção. Uma delas são os investimentos em

agricultura irrigada em Sento Sé, que consumiram mais de 3 milhões de reais e até hoje

não entrou em funcionamento.

Outra situação que indica falta de planejamento para investimentos nas vocações

naturais do Território é que os investimentos em beneficiamento da carne de caprino,

frutas nativas, pescado ou mel de abelhas são irrisórios ou inexistentes. Por outro lado o

maior percentual dos investimentos foram para recursos hídricos e eletrificação rural, o

que indica acertos nos programas.

Vale salientar que os recursos investidos pela CAR, são bastante expressivos para o

segmento da agricultura familiar, e devem ser alvo do planejamento Territorial para os

próximos anos, dedicando-se mais à estruturação produtiva e de beneficiamento nas

prioridades definidas.

Finalmente é necessário destacar a disparidade flagrante na distribuição dos

investimentos que pode ser observada na Tabela 26, onde o município de Pilão Arcado

ficou em extrema desvantagem em relação aos outros municípios. Juazeiro, Uauá,

Sento Sé e Curaçá juntos ficaram com 59% dos recursos investidos durante os últimos

11 anos.

79

Page 81: Estudo das potencialidades econômicas

Tabela 25. Recursos investidos no Território através da CAR entre 1996 e 2007, por atividade.

80

Tabela 26. Recursos investidos no Território através da CAR entre 1996 e 2007, por município.

Fonte: CAR / SEAGRI, 2008.

Fonte: CAR / SEAGRI, 2008.

Page 82: Estudo das potencialidades econômicas

5.9 - Comercialização

O principal mercado de comercialização do Território é o Mercado do Produtor, em

Juazeiro. Localizado a 5 km do centro da cidade. Existe desde a década de 80, é um

entreposto hortifrutícola re-expedidor, o maior do interior do país; o seu volume de

comercialização é duas vezes e meia maior que o Ceasa de Salvador e uma vez e meia

o Ceasa de Recife. Comercializa produtos de mais de 20 municípios do Estado da

Bahia, de outros estados do Nordeste e do Sul.

O principal público abastecedor do Mercado do Produtor são os pequenos agricultores

irrigantes dos perímetros e ribeirinhos de Juazeiro e Petrolina que não conseguem

acessar os mercados do Sul e Sudeste ou as exportações, seja por falta de volume de

produtos, de qualidade e ou regularidade na oferta.

O Mercado do Produtor opera todos os dias da semana, com 66 (sessenta e seis) itens

em oferta, sendo 44 produzidos na região do São Francisco e 22 oriundos de outros

estados. Os produtos estão assim distribuídos: 25 variedades de hortaliças; 30

variedades de frutas; 03 tipos de cereais; 05 tipos de especiarias, 03 tipos de gêneros

alimentícios, desde os tradicionais produtos das áreas irrigadas do Vale do São

Francisco as frutas de clima temperado como maçãs, peras, ameixas do extremo sul e

especiarias, alcançando um público alvo de mais de 1 (hum) milhão de pessoas em

vários estados. No seu dia de maior movimentação, circulam em média 8.000 (oito mil)

pessoas, 600 (seiscentos) caminhões – carregam e descarregam, 1.100 (hum mil e

cem) carros menores e aproximadamente 240 (duzentos e quarenta) carroças de

tração animal.

Opera com média mensal de 80.000 toneladas comercializadas. Semanalmente o

Mercado do Produtor é freqüentado por uma população de aproximadamente 35.000

pessoas e 10.000 veículos. O Mercado do Produtor de juazeiro é o quinto entreposto de

hortifrutigranjeiros do país em volume de negócios.

O destino principal das mercadorias são as cidades pequenas, médias e grandes, e as

regiões metropolitanas do nordeste e norte do país, para onde consegue remeter

aproximadamente 2.000 caminhões/mês, alcançando uma população média de 45

milhões de consumidores. O Mercado do Produtor de Juazeiro é o promotor da

81

Page 83: Estudo das potencialidades econômicas

economia regional, gerando anualmente um volume de negócios em torno de mais de

40 milhões de reais. Estima-se que os vinte e seis estados da Federação e o Distrito

Federal são clientes ou consumidores dos produtos do Mercado do Produtor de

Juazeiro.

Os principais mercados de caprinos e ovinos estão nas dez sedes municipais do

Território, onde são comercializados nas feiras livres ainda vivos. Nos dias de feira

existem atravessadores que ficam nas entradas das cidades e abordam cada veículo

que chega do interior, imediatamente fazem ofertas e compram os caprinos, ovinos,

galinhas e outros produtos em menores quantidades. Outra parte desses produtos

segue para as feiras onde é comercializado.

As frutas nativas beneficiadas seguem o caminho das compras do Programa de Acesso

aos Alimentos – PAA, e são entregues diretamente nas escolas, creches etc. Uma

pequena parte é comercializada em pequenas lojas mantidas pelas cooperativas como

ocorrem em Remanso e em Juazeiro. De um modo geral a comercialização fica nas

mãos dos atravessadores como pode ser visto na Figura 7.

82

Figura 7. O atravessador é uma estrutura que ocupa a cadeia de serviços na comercialização. Figura: Valtércio E. da Silva

Page 84: Estudo das potencialidades econômicas

Tabela 27 – Organizações Sociais existentes no Território e Municípios de atuação

83

6 – Organizações Sociais

Estão relacionadas na Tabela 27, um demonstrativo do Capital Social existente e que

contribui para o desenvolvimento da agricultura familiar no Território. As Entidades

relacionadas não representam a totalidade das organizações existentes no Território.

MUNICÍPIO

Associações Diversas

Articulação Sindical

ADAC

AGRORGAN

APROAC

ASA

ADRA

Centrais de Fundos de Pastos

COAPICAL

COAPRE

COOPERVIDA

COOPERBRAN

COOPERCUC

COAPSERE

CPT

CPP

Colônias de Pescadores

FETAG

IRPAA

Instituto Velho Chico

Instituto Memorial de Canudos

Cam

po A

legr

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Lou

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cado

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Casa

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MST

Naenda

Pastorais Sociais

Rede de Mulheres

STRs

SASOP

Sintagro

UARJ

UASA

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X X X XXX X X

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X X XXX X X

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X X X XXXXXXX

X

X

X X X X X X X

X

X X X XXXXXXX

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X X X XXXXXXX

X X X X

X X X X

X

X

Page 85: Estudo das potencialidades econômicas

7 - ANÁLISE E PROPOSTAS AO SISTEMA PRODUTIVO POTENCIAL

Parte considerável da capacidade de trabalho da família rural no Semi-árido está hoje

comprometida com atividades não agrícolas. Esta constatação é de fundamental

importância para se conceber o sentido das intervenções na região. Como neste

espaço, essencialmente no bioma caatinga, as possibilidades de produção animal e

vegetal em larga escala estão fortemente condicionadas à gestão coletiva dos recursos

naturais e às restrições decorrentes das dotações destes recursos, deve pensar em

fomentar atividades não agrícolas e a diversificação das atividades produtivas nos

estabelecimentos rurais, como parte do elenco de possibilidades de geração de renda

(Baiardi & Mendes, 2007).

Aprofundar este conhecimento e mostrar o potencial da pluriatividade nas várias formas

em que se combina a atividade agrícola e pecuária de médio e pequeno porte, com a

pequena indústria (caseira ou não), com o artesanato, com os serviços diversos -

compatível com a agricultura sustentável, é missão de suma importância no

equacionamento dos problemas de geração de ocupação e renda no território. Nesta

perspectiva, agricultura familiar no território deixa de ter um destino de exclusão e

marginalidade, para se transformar em uma categoria de grande potencial, expresso

por meio da diversificação das atividades.

Entretanto, convém se ter claro que esta transformação não se dá apenas com esforços

dos próprios estabelecimentos integrantes da categoria. É preciso investir esforços

conjuntamente onde se articula a própria categoria, as forças sociais e organismos

governamentais existentes no território, forças externas que possuem atuação direta e

indireta e as políticas públicas governamentais.

Para dinamizar a economia local é necessário planejar estratégias macro que

possibilite a coesão social e governamental, com vista a desenvolver uma proposta

com base nos princípios da Convivência com o Semi-árido. Para tanto se faz

necessário:

1. Articular e integrar as políticas públicas;

2. Aplicar as políticas públicas a partir das demandas de cada município e com a

participação efetiva das bases;

84

Page 86: Estudo das potencialidades econômicas

3. Estimular a diversificação das atividades econômicas locais, aliando produção e

processamento à comercialização

4. Aliar produção à recuperação e conservação dos recursos naturais

5. Apoiar o desenvolvimento da agropecuária familiar diversificada de base

agroecológica e orgânica dentro de uma rede de instituições púbicas e privadas

integradas, envolvendo prioritariamente o gerenciamento e articulação,

assistência técnica e capacitação, comercialização da produção, certificação

orgânica participativa e gestão ambiental, tendo em vista que o modelo

convencional aplicado, tem demonstrado não garantir sustentabilidade

econômica, social e ambiental.

6. Investir no desenvolvimento da economia solidária, na capacidade

organizativa e no poder de articulação local.

A partir das estratégias macro serão descritas a seguir componentes considerados

estruturais e básicos para implementar o desenvolvimento das potencialidades

econômicas no Território:

1. Estrutura Fundiária: promover a discriminação e arrecadação das terras

públicas e a redistribuição com as famílias com pouca ou sem terra. A discriminação e

regularização fundiária poderá ser através do formato de fundos de pasto e onde não

houver cultura associativa, na forma tradicional. Caberá aos órgãos responsáveis CDA

e INCRA, em estreito diálogo com as organizações representativas, Articulação

Estadual de Fundos de Pasto, União de Associações de Fundos de Pasto, Associações

de fundos de pasto e Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra, definir as prioridades

já indicadas pelo movimento na sua pauta de reivindicações e acelerar os processos de

regularização fundiária. A estruturação agrária é essencial para permitir o

dimensionamento das atividades econômicas no território com sustentabilidade e

garantir a permanência das famílias em suas regiões de origem.

Realizar estudos discriminatórios das propriedades para arrecadar as terras públicas e

destinar as mesmas em tamanho suficiente aos trabalhadores sem terra ou com pouca

terra, conforme prevê a Constituição Estadual. Identificar, discriminar e titular as terras

das comunidades quilombolas. Instalar na região um núcleo operacional da CDA para

agilizar a execução das ações de discriminação, titulação e aumentar o número de

procuradores do estado.

85

Page 87: Estudo das potencialidades econômicas

2. Estrutura Hídrica: expansão da oferta de água de superfície e subterrânea para

atender com qualidade e quantidade suficiente o desenvolvimento dos sistemas

produtivos, por meio de construções e instalações de sistemas adequados de

captação, armazenamento e distribuição da água em todos os municípios do território,

seja no sistema produtivo de sequeiro ou irrigado

3. Estrutura Física: reestruturação das rodovias federais e estaduais e estradas

vicinais. Reestruturação da malha hidroviária e aeroportuária, de modo a garantir o

escoamento da produção dos agricultores familiares

4. Assessoria Técnica: assegurar programas de assessoria técnica e extensão

rural suficiente e adequada á realidade climática, agroecológica e cultural das famílias,

incluindo as comunidades tradicionais do território. Inclui-se aqui o componente da

capacitação continuada de agricultores(as) e técnicos(as), focada na produção, no

processamento, na comercialização, gestão ambiental, gestão organizacional,

elaboração de projetos de investimentos e custeio, bem como acompanhamento da

sua execução. Reestruturação de programa de assessoria técnica baseado em

Agentes Comunitários Rurais – ACR´s de modo que atenda a crescente demanda junto

as suas bases.

5. Política de Crédito: redirecionamento e adequação da política de crédito de

modo a atender as inovações dos sistemas produtivos e em condições de

financiamento coerentes com a realidade socioeconômica das famílias e comunidades

tradicionais, mediante acompanhamento da execução técnica e financeira

6. Pesquisa e Extensão: apoio à pesquisa e disseminação, com foco no

desenvolvimento sustentável das atividades potenciais

7. Gestão e Articulação: Organização de Núcleos (diretivo e técnico) que serão

responsáveis pela condução política e técnica das ações de desenvolvimento. Esse

componente tem fundamental importância devido a necessidade de cumprir com a

responsabilidade de coordenar e monitorar as ações advindas do conjunto de

instituições. Estes Núcleos devem estar munidos das informações já reunidas nos 03

(três) estudos (Plano do Território, Estudo Propositivo e Plano Safra), onde mostram as

principais problemáticas do território e de que forma as ações a serem realizadas

86

Page 88: Estudo das potencialidades econômicas

87

Estes núcleos terão ainda como função, garantir governabilidade e participação do

público beneficiário, valendo-se do exercício de mobilização constante, com poder

político e técnico junto aos executores diretos das ações.

poderão contribuir com a mudança dos indicadores de desenvolvimento.

9. Gestão ambiental: Desenvolver Programas de Revitalização da Bacia do Rio

São Francisco e das suas microbacias, revitalização da caatinga e de áreas

degradadas com o plantio de mudas de espécies nativas nas áreas de preservação

permanente das propriedades, matas ciliares, borda do lago de sobradinho, olhos

d`água, nascentes e brejos.

Desenvolver estudos de mercado local, regional, internacional e institucional para

subsidiar novas estratégias de comercialização da produção.

Manejo de áreas da caatinga com finalidades preservativas e extrativista com o plantio

de frutas nativas, lenha, manejo de pasto nativo, criação de abelhas nativas e

africanizadas, madeira, plantas medicinais e eco-artesanato.

8. Estruturação de Redes: estruturar Redes de produção e comercialização

agroecológica regional para atender aos mercados local, regional e internacional,

incluindo estoques públicos, mercado institucional, com programações voltadas para o

consumidor, tendo como propósito incorporar a re-educação alimentar, visando o

aumento do consumo de produtos orgânicos através da informação e sensibilização do 5

consumidor, por meio de campanhas educativas de “marketing” .

A partir da definição dos componentes estruturais, serão definidas as ações prioritárias

para o desenvolvimento dos sistemas produtivos priorizados neste estudo: a caprino-

ovinocultura e a fruticultura. As propostas que seguem, foram discutidas e

fundamentadas nos debates sobre Desenvolvimento Territorial coordenados pelo

5 O conceito contemporâneo de Marketing engloba a construção de um satisfatório relacionamento a longo prazo do tipo ganha-ganha no qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que desejam. O marketing se originou para atender as necessidades de mercado, mas não está limitado aos bens de consumo. É também amplamente usado para "vender" idéias e programas sociais. Técnicas de marketing são aplicadas em todos os sistemas políticos e em muitos aspectos da vida (Wikipédia, A Inciclopédia Livre).

Page 89: Estudo das potencialidades econômicas

88

IRPAA e Articulação Sindical da Borda do Lago de Sobradinho nos dez municípios,

onde contou com a participação de agricultores e agricultoras familiares e suas

organizações, a exemplo de Associações, Sindicato dos Trabalhadores Rurais,

Colônias de Pescadores, Articulação dos Fundos de Pasto, Rede Sabor Natural do

Sertão, Quilombolas, Indígenas, Assalariados. Além de propostas que foram

apresentadas para a consolidação do Plano Plurianual – PPA do Governo do Estado da

Bahia.

As ações prioritárias apresentadas para o sistema produtivo da caprino-ovinocultura e

fruticultura de sequeiro e irrigada estão organizadas em três eixos: produção,

processamento e comercialização sendo que o último está descrito de forma conjunta

para os dois sistemas produtivos, já que pouco difere nesse aspecto podendo ser

planejado e gerenciado de forma conjunta.

7.1 - Caprino-ovinocultura

a) Produção

A produção de caprinos e ovinos apresenta entraves e limites conhecidos, para

amenizar esses problemas se faz necessário priorizar:

i. Incentivo ao manejo sustentável da caatinga. A produção de massa da

folhagem da parte aérea da vegetação da caatinga e extrato herbáceo perfaz

cerca de 4,0 toneladas por hectare/ano, porém, com variações significativas

em função da realidade climática, da localização, do tipo de solo e vegetação.

A manipulação da vegetação nativa onde necessário, a elaboração de mapa

de uso e plano de manejo das áreas destinadas a produção agropecuária,

resulta em maior disponibilidade de forragem, no incremento real da produção

contribuindo para o dimensionamento dos criatórios.

Page 90: Estudo das potencialidades econômicas

ii) Além da pastagem nativa, deverá ser incentivada a ampliação de cultivos de

forrageiras a exemplo da mandioca, sorgo, guandu, leucena, palma,

maniçoba, melancia de cavalo, gliricídia entre outras, para a utilização

sobretudo, nos períodos de estiagens.

iii) Incentivo ao armazenamento de alimentação em qualidade e quantidade

suficiente para suprir as necessidades nutricionais dos rebanhos, para isso

são necessários equipamentos como máquinas trituradeiras, silos e galpões

para o armazenamento.

iv) O manejo dos rebanhos deverá ser orientado para aprimorar os cuidados

básicos no manejo sanitário de crias novas e durante a prenhes, fazer controle

das verminoses orientando para o uso dos produtos fitoterápicos, com o

incentivo à manutenção da limpeza dos apriscos. Esse trabalho deve ser

orientado para envolver grandes áreas para ter efeito de escala satisfatório.

Também deverá adotar reforços das barreiras sanitárias e gestões junto aos

estados vizinhos do Piauí e Pernambuco, em vistas de criar condições para

que a região deixe de ser uma zona tampão, e com isso permitir a saída da

produção para outras regiões.

v) Estruturação física dos criatórios deve ser incentivada, através da

construção de apriscos cobertos, com a instalação de divisórias para

maternidade, quarentena e separação de animais jovens. Dentro dessa

estruturação física, é necessário ampliar a rede de abastecimento de água

para os criatórios. Nesse sentido, é feita a perfuração e instalação de poços

tubulares, construção de tanques profundos, caxios, cisternas ao lado dos

apriscos para permitir o abastecimento de água para os animais.

vi) Melhoramento genético progressivo, a partir da seleção de matrizes e

reprodutores e com a introdução gradativa e orientada de material genético

melhorado e adaptado às condições climáticas da região. A partir desse

melhoramento genético deverá organizar duas linhas de trabalho, criação de

corte, já consolidada, e a iniciação da caprinocultura de leite, iniciando a oferta

de material genético melhorado e adaptado para a produção de leite.

89

Page 91: Estudo das potencialidades econômicas

vii) Assessoria técnica que atenda no dia-a-dia a demanda dos/as

criadores/as, auxiliando no monitoramento dos indicadores de produção e

auxiliando os serviços de controle preventivo de doenças. Periodicamente

deverão ser oferecidas capacitações para os criadores/as e aperfeiçoamento

para as equipes técnicas.

i) Atualmente o abate de caprinos e ovinos, geralmente para o abastecimento

local, acontece em locais inapropriados por falta de abatedouros, e em

seguida por falta de vigilância sanitária. Diante do grande volume de abate de

animais em cada município e o forte costume da população no consumo

dessa carne, é imperioso que o Estado ofereça a instalação de abatedouros

apropriados à animais de médio porte dimensionados para as necessidades

de cada município, e que o poder público municipal faça valer o serviço

eficiente de vigilância sanitária dos mesmos, para fazer cumprir as Portarias

Ministeriais de n .º 304 e 145, de modo a oferecer à população produtos de

boa qualidade, prevenindo doenças, combatendo o abate clandestino, além

de agregar valor ao produto, dessa forma beneficiar os criadores e

consumidores.

ii) A instalação de unidades de frigorífico com beneficiamento da carne e

90

b) Transformação

Os produtos e sub-produtos da caprino-ovinocultura são cinco: carne, leite, pele,

miúdos e esterco. Desses, o leite é o produto menos aproveitado nos municípios do

território inclusive para o consumo “in natura”. De modo geral a transformação desses

produtos é mínima, não existem estruturas que permitam um beneficiamento suficiente

e adequado.

As principais propostas que o território coloca em pauta são: i) instalação de unidades

de abatedouro público em cada município; ii) instalação de unidades de frigorífico com

beneficiamento da carne de caprinos e ovinos; iii) instalação de unidades pioneiras de

beneficiamento de leite; iv) instalação de fábricas de compostagem para a produção de

adubos orgânicos; v) instalação de curtumes pioneiros micro regionais; vi) instalação

de fábrica de artefatos de couro.

Page 92: Estudo das potencialidades econômicas

miúdos de caprinos e ovinos com logística necessária para realizar o abate,

trabalhar o pré-processamento e o processamento, a conservação, o

transporte e até a comercialização, é de fundamental importância para

agregar valor aos produtos beneficiando diretamente aos criadores, além de

melhorar a qualidade dos produtos para o consumidor local, alcançar

mercados institucionais como a CONAB e EBAL e, permitir o envio de produto

para outros mercados consumidores, como Juazeiro, Petrolina e as capitais

mais próximas.

Neste sentido já existe em Juazeiro uma estrutura de abatedouro/frigorífico

mas, para a região é considerada de grande porte ficando, operando com

capacidade ociosa, o que onera os custos e inviabiliza sua operação. Esta

estrutura foi construída e equipada, mas não funciona. Cabe ao Território junto

ao Estado através da Secretaria de Agricultura discutir e encaminhar o seu

funcionamento, que poderá atender não só o município de Juazeiro, mas

também a outros municípios do território.

iii) A instalação de unidades de beneficiamento de leite para a fabricação de

queijos, doces, iogurte, pasteurização entre outros deve ser incrementada,

pois não existe uma cultura de consumo de leite de caprinos e seus derivados

consolidada nos municípios, porém essa limitação está relacionada com a

falta de manejo da criação adequado para essa finalidade e a qualidade

genética que também não é adequada. Porém o grande potencial dessa

atividade permite investimento em unidades de beneficiamento, que agregará

maior valor ao leite. No município de Uauá foi construída uma unidade de

processamento, com capacidade de 500 l/dia, devido a falta de alguns

equipamentos está operando com capacidade ociosa. O potencial produtivo

da região está acima dessa capacidade por isso, faz se necessário ampliar

sua capacidade para potencializar e diversificar sua produção. Também é

necessário discutir e encaminhar procedimentos para a viabilização dos

serviços de inspeção SEE/SIF, uma vez que a falta desse serviço é colocada

como limitante na comercialização dos produtos.

iv) A instalação de fábricas de compostagem para a produção de adubos

orgânicos, também se justifica pelo grande rebanho existente e

conseqüentemente grande produção de esterco. Ao lado desse potencial

91

Page 93: Estudo das potencialidades econômicas

estão as propriedades com cultivos anuais e os possíveis bancos forrageiros

que irão demandar grandes quantidades desse material, em função da baixa

fertilidade dos solos na região. O excesso pode ser comercializado para a

agricultura irrigada, grande consumidora desse sub-produto. A idéia é agregar

valor ao esterco de modo que seja maior a rentabilidade para os criadores.

v) A pele geralmente é vendida por preços baixos para atravessadores que se

encarregam de fazer a entrega nos dois grandes curtumes em Juazeiro e

Petrolina. Esse ciclo que desfavorece a rentabilidade dos criadores, poderá

ser melhorado se houver a instalação de curtumes pioneiros micro-regionais,

que sirvam para o beneficiamento prévio e permitam o beneficiamento final

com o incentivo ao artesanato. Esses curtumes deverão utilizar tecnologia

menos impactante para o meio ambiente, com insumos naturais.

vi) Instalação de fábrica de artefatos de couro, em que grande parte da pele

produzida na região não é contabilizada para os criadores na hora da

comercialização. Quando os animais são comercializados vivos, a pele é

levada pelos atravessadores sem contabilizar no preço do animal. Mesmo

quando são abatidos e a pele vendida à parte, o valor pago pela unidade é

muito baixo. Depois de passar por uma rede de intermediários, a mesma é

levada para os curtumes, onde é processada e exportada para outras regiões

do país e do mundo, para a fabricação de artefatos como bolsas, sapatos,

jaquetas, cintos e outros. Será possível no próprio território trabalhar o

processamento da pele e a industrialização na forma de bolsas, carteiras,

chapéus, cintos, mantas e outros.

7.2 - Fruticultura

a) Produção

O trabalho com a fruticultura no Território compreende o extrativismo e beneficiamento

de frutas nativas – fruticultura de sequeiro, como umbuzeiro (Spondias tuberosa

Arruda), maracujazeiro do mato (Passiflora cincinnata Mast.), buriti (Mauritia flexuosa

L.) entre outras, e a fruticultura irrigada nos perímetros públicos e em propriedades

dispersas às margens do Rio São Francisco.

As mais antigas experiências associativas da agricultura familiar são as atividades já

92

Page 94: Estudo das potencialidades econômicas

relacionadas das áreas de sequeiro. As experiências dos perímetros irrigados são mais

recentes, representam um segmento novo, incentivado pelo Governo, e que caminha

numa visão empresarial, moldada pelas ações de órgãos governamentais e

prestadores de serviços de assistência técnica. Porém o formato dessa produção tem

ganhado espaço e serve, sobretudo ao mercado de “frutas in natura”, que é

comercializado nos mais diversos espaços, sendo o principal canal o mercado do

produtor de Juazeiro, e em alguns casos enviado para exportação. Embora o potencial

da agricultura irrigada familiar seja grande, suas relações com a dinâmica do Território

ainda são inconsistentes, sendo que esses agricultores utilizam de outras formas de

articulação entre si e suas organizações.

As pesquisas já apresentadas pelos órgãos da região, mesmo que ainda não ofereçam

um conjunto tecnológico completo para o cultivo das fruteiras nativas, sobretudo do

umbu e maracujá nativo, mas oferecem várias informações técnicas para o cultivo e

material genético potencial, que indica iniciar urgentemente incentivos para o plantio

racional e diversificação das culturas cultivadas em áreas de sequeiro.

i) Plantio racional em áreas de caatinga para aumentar e qualificar a

produção, bem como reverter o quadro de deterioração das populações das

fruteiras. Esses plantios deverão se dar preferencialmente em áreas de

domínio dos agricultores familiares ou em áreas coletivas de fundos de pasto,

localizadas o mais perto possível das unidades de beneficiamento ou das

residências dos agricultores / catadores. Devido a essas variedades ser uma

planta que compõe o cardápio de caprinos e ovinos, esses plantios devem ter

o apoio de projetos para que seja colocada proteção com divisórias

individuais, ou coletivas até que as plantas atinjam porte suficiente para

suportar o pastejo.

O incentivo aos plantios das fruteiras nativas deve ser orientado e

acompanhado pelos órgãos de pesquisa, em vistas de oferecer a

oportunidade de pesquisa participativa e dirigida às necessidades dos

agricultores e suas organizações com vista ao aperfeiçoamento do sistema

produtivo da fruticultura de sequeiro.

93

Page 95: Estudo das potencialidades econômicas

ii) Diversificação das culturas cultivadas em áreas de sequeiro existe

uma diversidade de fruteiras nativas que podem ser melhor utilizadas, como o

araticum, a goiabinha, o croatá e a cultura do caju, baseado no Zoneamento

Pedoclimático elaborado em 2003 pela Embrapa Semi-árido, que indica

largas extensões de áreas preferenciais nos municípios de Pilão Arcado,

Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Canudos, além de áreas de aptidão regular

nos mesmos municípios, incluindo Juazeiro.

O que vem se destacando como potencial para a diversificação das culturas nativas é o

uso do umbuzeiro como porta-enxerto: o gênero Spondias é composto de cerca de

quinze espécies, das quais o cajá (Spondias lutea L.), ciriguela (Spondias. purpurea L.),

cajá-manga ou cajarana (Spondias cytherea Sonn.), umbu-cajá (Spondias sp.),

umbuguela (Spondias sp.) e umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) ocorrem de forma

espontânea ou subespontânea no Semi-árido (Pires, 1990). Os percentuais de

pegamento, quando algumas dessas Spondias foram enxertados em porta-enxertos de

umbuzeiro, oscilaram de 25 a 100% (Santos et al., 1999 e Vasconcellos, 1949), Essa

pesquisa pode ser verificada no Campo Experimental da Embrapa Semi-árido.

Um grande conjunto de informações e tecnologias foram disponibilizados nesses

últimos dez anos pela EMBRAPA, EBDA, IRPAA, Cooperativas e associações afins,

para o cultivo racional do umbuzeiro e processamento dos frutos. No Território, o cultivo

em escala comercial não só do umbuzeiro, como também da possibilidade de sua

utilização como porta-enxerto das demais Spondias, poderá viabilizar uma fruticultura

competitiva e diversificada nas condições de cultivo de sequeiro.

94

O pólo irrigado do Vale do São Francisco é reconhecido pela performance, sobretudo na

produção de frutas que abastece o mercado interno e externo. Desta produção, quase

100% é conduzido sob a ótica técnica convencional com a utilização de agro-químicos

em geral, a produção orgânica se reduz a poucos produtores, não sendo este número

representativo no universo agrícola da região. Porém, para garantir requisitos de

qualidade e sustentabilidade, enfatizando a proteção ambiental, segurança alimentar,

condição de trabalho, viabilidade econômica e a saúde da população, se torna urgente

e necessário:

Page 96: Estudo das potencialidades econômicas

iii) Reformular a concepção dos novos projetos públicos de irrigação, visando

integrar áreas irrigadas com áreas de sequeiro

iv) Implantar sistema público de monitoramento ambiental, com destaque

para a qualidade da água e dos ecossistemas

v) Modernização do sistema de irrigação em todos os perímetros públicos

vi) Promover o desenvolvimento da agricultura orgânica na região do Vale,

sensibilizando os pequenos, médios e grandes produtores, partindo-se de

todas as atividades desenvolvidas na região desde a agricultura irrigada e de

sequeiro, a pecuária, o extrativismo e o processamento dos produtos.

vii) Conscientizar os pequenos, médios e grandes produtores da evolução

crescente do mercado agroecológico, da responsabilidade de cada um em

sustentar o desenvolvimento da atividade com o respeito social e ambiental,

tornar a agricultura orgânica e agroecológica na região um modelo em

produtividade e sustentabilidade ambiental e social. Para isso será

imprescindível o envolvimento das instituições de pesquisa, de assistência

técnica, de educação, de organização social, financeiras, de comercialização

entre outras.

viii) Apoiar a conversão para a produção e certificação orgânica,

implementando a certificação orgânica participativa, envolvendo os

associados das organizações, bem como preparar as condições para a

implantação de uma instituição certificadora local, conforme a legislação

brasileira, mas considerando também as condições locais.

95

b) Transformação

Para agregar valor a produção desses grupos, faz-se necessário ampliar a estrutura de

processamento da produção, inicialmente nos municípios que já atuam no segmento

(Uauá, Canudos, Sento Sé, Remanso, Curaçá, Juazeiro) e posteriormente uma agenda

de ampliação da atividade para novos grupos, desde que estejam organizados para

assumir uma nova etapa, sobretudo a gestão. As demandas são: i) reestruturação de

unidades já existentes e construção e instalação de novas unidades de beneficiamento

de frutas em todos os municípios; ii) construção e instalação de entrepostos para

armazenamento, conservação e comercialização dos produtos da agricultura familiar;

Page 97: Estudo das potencialidades econômicas

iii) aperfeiçoamento dos sistemas eficientes de uso e reuso de água das

unidades de beneficiamento; iv) capacitação e assessoria técnica em gestão

dos empreendimentos; v) implantar áreas de plantio de essências nativas

para fornecimento de lenha de origem sustentável; vii) investimentos na

qualificação e apresentação do produto; viii) instalação de “packin houses”

nos perímetros irrigados para o tratamento e pré-processamento das frutas

que serão comercializadas in natura.

i) Reestruturação e funcionamento de unidades já existentes e construção e

instalação de novas unidades de beneficiamento de frutas descentralizadas,

atenderá aos grupos e associações tanto a aqueles que já estão atuando na

Rede Sabor Natural do Sertão, como os que ainda não atuam, incentivando o

ingresso de novos grupos, permitindo a diversificação, produção em escala e

qualificação da produção, para a agregação de valor aos produtos, e

conseqüentemente a diversificação e aumento de renda das famílias.

ii) Para alcance desses mercados, fora dos municípios, será imprescindível a

estruturação de pequenos entrepostos em cada município do território, e de

um entreposto de porte maior na cidade de Juazeiro, pois além de está

localizada no centro do território reúne todas as condições necessárias para

escoamento da produção, inclusive fazendo interligação com o Aeroporto

Internacional em Petrolina, que tem vôos diários, para oferecer condições de

armazenamento em câmaras frias e conservação transitória, permitindo

abertura de canal de comercialização para outros estados e países.

iii) Instalação e aperfeiçoamento dos sistemas de tratamento uso e reuso da

água das unidades de beneficiamento, considerando a extrema necessidade

desses empreendimentos trabalharem com água em quantidade e qualidade

satisfatória. Também ao fato de que a água de boa qualidade é um bem

escasso e deve ser utilizado da forma mais racional possível.

iv) Capacitação em gestão do empreendimento e da comercialização dos

produtos para os grupos de produção, de modo a garantir o funcionamento

dos empreendimentos com regularidade e sustentabilidade.

96

Page 98: Estudo das potencialidades econômicas

v) Implantar áreas de plantio de essências nativas para fornecimento de lenha

de origem sustentável, podendo ser utilizadas áreas coletivas de fundos de

pasto, utilizando sistemas de extração de lenha sustentável recomendado

pelos órgãos ambientais.

vii) Investimentos na qualificação do produto visando uma melhor

apresentação para o mercado, a exemplo de criação de embalagens

adequadas, rotulagem, designe, comunicação etc.

viii) Instalação de packin house nos perímetros irrigados para o tratamento e

pré-processamento das frutas que são comercializadas in natura.

7.3 - Comercialização

As experiências relatadas neste documento sobre a comercialização mostra um quadro

bastante inicial, com exceção do fornecimento à CONAB. Na maior parte a

comercialização é feita nos municípios, passando dos criadores e agricultores para

atravessadores ou comerciantes que fazem a redistribuição dos produtos em

condições precárias. A melhoria da comercialização dos produtos (carne, pele, leite,

frutas, e produtos processados) poderá se dar diretamente dos produtores para

consumidores, na medida em que forem realizadas melhorias nos sistemas de

produção, em estruturas de processamento, de comercialização e de

operacionalização desses sistemas.

Autores como North (apud. 1990 e 1993) e Willianson (apud.1993) convergem em

afirmar que a performance econômica é sensivelmente melhor quando os custos são

baixos. Como a inserção da agricultura familiar, sobretudo de regiões como o Semi-

árido na sociedade do conhecimento e nos fluxos de comércio global não se dá

individualmente, é imperativo que se constituam instituições / organizações coletivas

em vários modelos e capazes de viabilizar as ações de produção, pós-colheita,

transporte, armazenagem, exportação etc. e que operem com baixos custos de

transação. (Baiardi & Mendes, 2007).

A atual cadeia de serviço dos sistemas produtivos agrícolas e pecuários do território

97

Page 99: Estudo das potencialidades econômicas

está dividida em dois setores: o primeiro é o da produção, está relacionada às

atividades desenvolvidas para fazer produzir, (plantio, tratos culturais e fitossanitários e

colheita). O segundo setor de serviço é o da comercialização, este geralmente é

operacionalizado em duas etapas interligadas e dependentes:

A primeira fase é o da intermediação da compra e venda, espaço que agrega os

corretores de vendas e agentes de vendas. O segundo agrega os intermediários

(atravessadores), que fazem a intermediação da entrega ou revenda para os clientes

atacadistas e varejistas. Ou seja, do ponto de partida do produto (propriedade do

agricultor) até o ponto final (consumidor) a depender do produto que está sendo

comercializado, pode atuar até 14 intermediários nesta rota, cada um deles com

funções e margem de lucro diferentes. Um intermediário pode sobrepor até 100% sobre

o valor inicial do produto, incluindo seus custos de transporte, mão-de-obra etc.

Historicamente nunca foi considerado nos planos/projetos de desenvolvimento da

agricultura familiar o conhecimento específico e a prática da comercialização feita pelos

próprios agricultores/criadores; as infra-estruturas de comercialização construídas e

propostas pelo estado (ceasas, centro de comercialização) sempre favoreceram aos

comerciantes, tanto na execução do serviço como na informação de mercado.

Neste sentido, produtores e profissionais da cadeia de serviços da produção não foram

capacitados para enfrentar as “armadilhas” do mercado, enquanto os comerciantes ao

longo dos anos, profissionalizaram-se, tornando-se senhores desse espaço, definido

como território dos atravessadores, quase que impraticável por pessoas que não

conhecem esse setor. Para amenizar este problema secular e que atinge todos os

seguimentos da produção da agricultura familiar do território, se propõem: i) fortalecer a

Rede de Comercialização existente; ii) estruturação de escritório (base de serviços); iii)

contratação de equipe de comercialização; iv) apoio aos serviços de estudos de

mercado e serviços de “marketing”; v) qualificação e modernização do mercado do

produtor de Juazeiro e centros de comercialização dos municípios; vi) fortalecer as

organizações dos produtores; vii) Possibilitar capacitações e informações contínuas

para os agricultores familiares e equipes de comercialização.

98

Page 100: Estudo das potencialidades econômicas

ii) Estruturação de escritório (base de serviços) de apoio à comercialização e

aquisição de produtos e insumos na cidade de Juazeiro (centro do território) .

iii) Contratação de equipe de comercialização com capacidade de atuar nos

mercados locais, regionais, nacionais e internacional, assim como nos

mercados institucionais como CONAB, EBAL, Prefeituras e Comércio Justo.

iv) Apoio aos serviços de estudos de mercado e serviços de “marketing” para

campanhas de re-educação alimentar e consumo de produtos orgânicos.

v) Qualificação e modernização do mercado do produtor de Juazeiro e os

centros de comercialização existentes em todos os municípios, tendo em vista

a necessidade de atender novas demandas resultantes da implantação de

novos perímetros irrigados, qualificação e expansão dos seus negócios,

priorizando a produção oriunda dos agricultores familiares. Os seguintes

aspectos devem ser priorizados de acordo com a legislação em vigor:

ampliação e reestruturação das instalações físicas, padronização e

classificação dos produtos comercializados, embalagem e rotulagem dos

produtos e inspeção sanitária.

vii) Fortalecer as organizações dos produtores (cooperativas, associações,

grupos organizados) criadas para esta finalidade, para atuar diretamente com

suas bases fazendo a interlocução produtores x organização x produtores, de

modo que possa fortalecer-los e tornar viável a comercialização dos seus

produtos, remunerando-os de forma justa e oferecendo preços mais

acessíveis ao público alvo; traçar planejamento de safras obedecendo à

99

i) Fortalecer a Rede de Comercialização existente (SABOR NATURAL DO

SERTÃO), com corpo técnico próprio (agentes de comercialização), para

atuar na prática da comercialização desde a inter-relação com os agricultores,

a operacionalização da logística de compra e venda até a entrega aos

distribuidores ou consumidor final. Este corpo técnico, com formação voltada

para atender uma estratégia de mercado desejada pelo território, poderá

“substituir” os especuladores e atravessadores desonestos.

Page 101: Estudo das potencialidades econômicas

8 - ANÁLISE EXTERNA

O crítico cenário mundial que interfere no dia-a-dia de cada agricultor(a) do Território

com toda a velocidade da informação através do rádio, televisão e internet, sugere que

cada grupo organizado faça a sua parte para evitar o caos previsto com a escassez de

água e o aquecimento global. Somando a isso, a partir das experiências de sucesso no

Território e de outros sertões vizinhos, deve-se chegar à compreensão de que a

estratégia de valorizar as qualidades dos produtos tradicionais e exclusivos, como se

O organograma apresentado abaixo se refere a uma das estratégias que pode ser

organizada para desenvolver a comercialização dos produtos dos agricultores

familiares no Território:

Figura 8. A Rede de Comercialização Sabor Natural do Sertão passa a ocupar uma parte da cadeia de serviços na comercialização.

100

capacidade produtiva de cada organização, demanda de produtos, períodos

de demanda, volumes e viabilidade técnica de produção.

viii) Possibilitar capacitações e informações contínuas para os agricultores

familiares e equipes de comercialização com referência ao mercado, no

âmbito local, nacional e internacional.

Page 102: Estudo das potencialidades econômicas

faz no mundo inteiro, é, no contexto da globalização, a grande estratégia para alcançar

bem estar e ao mesmo tempo, preservar os recursos da caatinga e do rio, de quem

dependem. Seria a união da preservação do ecossistema com a eqüidade social na

distribuição dos benefícios gerados nas atividades econômicas.

Os produtos do território, com identidade cultural, constituem a alternativa de grande

potencial econômico. Deve-se valorizar mais ainda o que se tem e o que se dispõe,

somar os conhecimentos locais juntos com os conhecimentos científicos necessários

para revelar ao Brasil e ao mundo os potenciais do Semi-árido, desconstruindo a

imagem da fatalidade e da desgraça das secas que foi fixado inadvertidamente pela

mídia.

O potencial da caatinga aqui apresentado não é novidade, mas até agora o que mais se

fez foi importar soluções, artificializar condições climáticas, como é a comparação do

pólo Petrolina/Juazeiro à “Califórnia”, e em nome desse modelo importado foram

investidos mais de R$ 650 milhões em 41.457 hectares (0,67% da área do território),

enquanto que nas demais áreas, não há comparações que possam ser feitas, de tão

pequenos os investimentos.

Porém deve ser aproveitado muito das estruturas que se construiu com a fruticultura

irrigada. Para construir a nova realidade das vocações naturais da caatinga, deve ser

inclusive implementada normas para certificação desses produtos (DOC -

Denominação de Origem Controlada e IGP - Indicação Geográfica Protegida), requisito

para o reconhecimento e proteção de produtos de qualidades e características

exclusivas ou essenciais do meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos

(tradição, cultura).

O Estado da Bahia poderá ampliar muito sua contribuição com a agricultura familiar no

Semi-árido baiano, além da isenção do ICMS nos negócios com a CONAB, se definir

uma legislação específica criando o serviço estadual de selos e certificações de

qualidade, como fez Santa Catarina. “Quem duvidaria, após a fixação e certificação de

um padrão de qualidade, do sucesso de um "cabrito de Uauá", de um "suco de umbu do

São Francisco"? (Clovis Guimarães, pesquisador Embrape Semi-árido).

A carne caprina e ovina e os derivados do umbu compõem uma porta de entrada para

101

Page 103: Estudo das potencialidades econômicas

muitas outras possibilidades do bioma caatinga. Existe um mercado internacional ávido

por esses produtos e por esses valores sociais e ambientais agregados mas, e as

famílias brasileiras? É importante vender para o exterior, e muito mais importante é

fazer chegar o produto ao conhecimento e ao consumo por parte da população local, é

preciso despertar para a valorização do produto nacional, desde o consumo na

merenda dos alunos da escola pública até as mesas da classe média e as mais

abastadas.

9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

As prioridades definidas nesse documento a partir dos dois sistemas de produção

devem ser agrupadas em conjuntos de projetos articulados e coordenados, procurando

aproximar da forma mais adequada as atividades para que ocorra integração entre as

atividades de criação animal e a fruticultura, assim como as outras atividades que são

potenciais no território. Será essencial que a gestão dos projetos advindos a partir

desse estudo propositivo seja coordenada pelo Fórum, de maneira que fortaleça as

organizações e a rede social de relacionamento em torno da produção, do

processamento e da comercialização no modelo agropecuário familiar agroecológico

adequado às condições da região.

Dentre as possibilidades de integração das atividades de agricultura e pecuária que

podem ser ilustradas podem ser citadas: fornecimento de esterco para pomares;

fornecimento de resíduos da agroindústria para suplementação animal; mandiocultura

para produção de raspa de mandioca para suplemento alimentar animal;

disciplinamento da agricultura e criação nas bordas do lago e produção de forragem

para reserva alimentar.

As ações propostas nesse estudo são passíveis de ajustes, embora já contemplem

legitimidade e urgência para serem imediatamente iniciadas, principalmente servindo

de referência para a intervenção de órgãos de desenvolvimento rural como são as

Secretarias de Agricultura e Infra-estrutura municipais, Secretaria da Agricultura e

Reforma Agrária do Estado da Bahia e seus órgãos vinculados: CDA, EBDA, ADAB e o

Ministério do Desenvolvimento Agrário e suas Secretarias.

Para melhor planejamento das atividades desse estudo será imprescindível que se faça

102

Page 104: Estudo das potencialidades econômicas

um amplo diagnóstico das questões fundiárias e de recursos hídricos para subsidiar

ações governamentais estruturantes nesses dois campos, sem os quais poderá haver

muita imprecisão na obtenção de resultados a longo prazo.

Partindo do pressuposto que a agricultura familiar no território se torna sustentável a

partir de um sistema de diversificação de atividades produtivas agropecuária

agroecológica, se faz necessário dar atenção às demais potencialidades econômicas

do Território Sertão do São Francisco: pesca artesanal e piscicultura, apicultura e

meliponicultura, criação de aves caipiras, fruticultura e cana-de-açúcar nos brejos de

Pilão Arcado e Sento Sé, artesanato de couro e madeira, culturas anuais apropriadas

ao clima, recursos minerais, ecoturismo entre outras.

Será essencial que esse documento seja amplamente divulgado em todos os

municípios do território e sirva de referência para o dia-a-dia nas reuniões das

associações, cooperativas e conselhos municipais, servindo como referencial técnico e

político para a definição dos novos projetos. Essa é a principal função desse trabalho.

As recomendações contidas nesse estudo poderão ser revisadas e atualizadas, pois

contém proposições que poderão ser atingidas a curto, médio e longo prazo. De um

modo geral está sendo considerada uma visão de dez anos, tempo suficiente para

executar as propostas e mudar a realidade do território naturalmente, se a cooperação

entre governo e sociedade civil continuar utilizando a proposta do desenvolvimento

territorial como forma legítima de planejamento e execução das ações.

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Page 110: Estudo das potencialidades econômicas

Anexo 1: Áreas de Interesses para Dinamização dos Sistemas Produtivos noTerritório e Órgãos de Apoio.

109

Fruticultura Área Instituições interessadas Órgãos de apoio

Produção

Plantio racional de umbuzeiroem áreas de caatinga

Articulação Estadual Fundos dePasto, Associações, cooperativas

Articulação Estadual Fundos dePasto, Associações, cooperativas

EMBRAPA, CODEVASF, EBDA,PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

EMBRAPA, CODEVASF, EBDA,PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

Diversificação das plantascultivadas em sequeiro.

Transformação

Cmini-fábricas de beneficiamento de frutas

onstrução e instalação de Associações, cooperativas

CAR/SEAGRI, CODEVASF,PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

Construção e entrepostos para armazenamento, conservação e comercialização

instalação de trêsCAR/SEAGRI, CODEVASF

Aperfeiçoamento dos sistemas eficientes de uso e reuso de água das unidades de beneficiamento

EMBRAPA, EBDA, UNEB e UFBA CAR/SEAGRI, CODEVASF

Capacitação em gestão doempreendimento

CAR/SEAGRI, CODEVASF

Implantar áreas de plantio deessências nativas para fornecimento de lenha de origem sustentável

CAR/SEAGRI, CODEVASF EMBRAPA, IBAMA.

Caprinos e ovinos Área Instituições interessadas Órgãos de apoio

Produção

Regularização fundiáriaArticulação Estadual Fde Pasto, Associações

undos CDA e INCRA

Manejo forrageiro da caatinga e reserva alimentar

Articulação Estadual Fundosde Pasto, Associações, Cooperativas

EMBRAPA, SASOP, CAR/SEAGRI,CODEVASF, PRONAF

Controle de doenças eestruturação física doscriatórios

Associações, cooperativasADAB, CAR/SEAGRI, CODEVASF, CERB, PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

Melhoramento genéticoprogressivo

EMBRAPA, CODEVASF, EBDA,PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

Assessoria técnicaCODEVASF, EBDA, SAF/MDA,PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

Transformação

Instalação de unidade de público em cada município

abatedouro CAR/SEAGRI, CODEVASF

Instalação de unidades de com beneficiamento da carne de caprinos e ovinos

frigorífico CAR/SEAGRI, CODEVASF

Instalação de unidades de beneficiamento de leite

pioneiras CAR/SEAGRI, CODEVASF

Instalação de fábricas compostagem de biomassa para a produção de adubos orgânicos

pioneiras de CAR/SEAGRI, CODEVASF

Instalação de curtumespioneiros micro regionais

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas CAR/SEAGRI, CODEVASF

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Associações, cooperativas

Comercialização Área Instituições interessadas Órgãos de apoio

Caprinos eovinos e

Fruticultura

Estruturação de escritório de apoio à comercialização e aquisição de produtos e

insumos, na cidade de Juazeiro

Associações, cooperativasEMBRAPA, CODEVASF, EBDA,PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

Contratação de equipe de comercialização com capacidade

de atuar nos mercados locais, regionais, nacionais e exportações, as

sim como mercados institucionaiscomo CONAB, EBAL e Prefeituras.

CAR/SEAGRI, CODEVASF, PRONAF, Banco do Nordeste e do Brasil

Associações, cooperativasEMBRAPA, CODEVASF, EBDA,PRONAF, Banco do Nordeste e doBrasil

Contratação de serviços de “marketing” para campanhas

de educação alimentar e consumo de produtos orgânicos. Contratação

de serviços de estudos de mercado subsidiando

operações de mercado

Associações, cooperativas

ANEXOS

Page 111: Estudo das potencialidades econômicas