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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO DO PEDAGOGO DIANTE DE ALUNOS QUE PRATICAM E DOS QUE SÃO ALVOS DE BULLYING
Marcia Aparecida de Sousa 1
Dorcely Isabel Bellanda Garcia 2
Resumo
Este artigo é resultado da implementação do projeto “Estratégias de ação do pedagogo diante de alunos que praticam e dos que são alvos de bullying”, desenvolvido junto aos alunos do 6º ano, do Colégio Estadual Bento Munhoz da Rocha Neto – EFMP e teve como objetivo buscar alternativas para melhorar a qualidade das relações interpessoais entre os estudantes e comunidade escolar, discutindo, refletindo e prevenindo a ocorrência do bullying na escola. O tema bullying na escola foi escolhido por ser muito divulgado na mídia atual, mas pouco trabalhado nas escolas e, diante do comportamento agressivo, principalmente entre estudantes do período vespertino, tornou-se relevante um aprofundamento sobre a temática. Para tanto, recorreu-se a uma literatura produzida nesta área numa abordagem crítica, já que a escola, além de transmitir conteúdos escolares, deve preocupar-se com o desenvolvimento de relações saudáveis e dar oportunidade a todos de desenvolver o seu potencial intelectual e social e ainda por acreditar que a prevenção é a melhor forma de evitar a propagação do bullying no contexto escolar. A pesquisa foi desenvolvida mediante estudos teóricos e aplicação de questionários respondidos por alunos e docentes sobre o bullying na escola. As análises dos dados presentes neste artigo sobre o projeto desenvolvido apontam para a necessidade de articular algumas questões para preparar o profissional da educação envolvidos no processo de ensino e aprendizagem a lidarem com as manifestações do bullying e com a agressividade e retomar com os alunos os valores éticos já esquecidos, como o pedido de desculpas. Desta forma, eles poderão contribuir para que o ambiente escolar se torne um ambiente em que o diálogo é o principal instrumento de aprendizagem. As estratégias de ação do pedagogo desenvolvidas neste trabalho nos deram pistas da necessidade de novas ações que contribuam para que reflexões sobre o fenômeno bullying ganhe espaço no ambiente escolar.
Palavras-chave: Bullying. Estratégias de ação. Ambiente escolar.
1 Professora da rede pública de educação do Estado do Paraná. Licenciatura em Pedagogia pela
UNESPAR. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional de 2010. 2 Professora da Universidade Estadual do Paraná-Campus de Paranavaí. Licenciatura em Psicologia
e Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Orientadora.
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1 INTRODUÇÃO
O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE possibilita aos
professores da rede pública estadual de educação do Estado do Paraná subsídios
teórico e metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais que
resultem em revisão da própria prática pedagógica e, consequentemente, mudanças
qualitativas no cotidiano da escola pública paranaense.
Desta forma, o artigo contempla as atividades previstas no transcorrer do
PDE: o aprofundamento teórico, a reflexão sobre a prática pedagógica, as
discussões virtuais em torno do projeto e do material didático via Grupo de Trabalho
em Rede (GTR) e a implementação, desenvolvida junto aos alunos do 6º ano
matriculados no Colégio Estadual Bento Munhoz da Rocha Neto – EFMP.
Partindo do pressuposto de que os alunos, com maior frequência, estão se
envolvendo com o bullying seja como autores, alvos ou como expectadores que,
apesar de não sofrer as agressões, ficam sem ação com o que veem e indecisos
sobre o que fazer. Atos como colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, sacanear,
humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, assediar, tiranizar, dominar, agredir,
bater, chutar, empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences acontecem a toda hora no
ambiente escolar. Por acreditar que as medidas adotadas pela escola para controlar
essas ações, se bem aplicadas e envolvendo toda a comunidade escolar,
contribuem positivamente na amenização da violência no ambiente escolar, traçou-
se enquanto objetivo principal buscar alternativas para melhorar a qualidade das
relações interpessoais entre os estudantes e comunidade escolar, discutindo,
refletindo e prevenindo a ocorrência do bullying na escola.
Abordar alguns conceitos, estudos e discussões referentes à temática
apresentada aos alunos e professores e buscar encaminhamentos que contribuam
para a diminuição dessa prática abusiva; utilizar estratégias de ação que promovam
a conscientização de toda a comunidade escolar em relação à prática do bullying;
enfrentar as fragilidades e problemas que o bullying provoca, tanto no âmbito escolar
como no social; mediar os saberes necessários para que os educandos possam
compreender e identificar comportamentos de violência entre a turma e mostrar o
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que é uma brincadeira e o que é bullying constituíram os objetivos específicos.
Para atingir estes objetivos, buscou-se um referencial teórico, destacando-se
autores como Arrieta, Ballone, Bandeira, Camacho, Constantini, Dreyer, Fante,
Lopes Neto, Olweus, Pereira, que discutem o tema bullying e a violência em
ambientes escolares e foram imprescindíveis ao trabalho desenvolvido.
Visando a implementação do projeto, foi elaborado um material didático na
forma de unidade didática para ser aplicado com os alunos, intitulado “Estratégias de
ação do pedagogo diante de alunos que praticam e dos que são alvos de bullying”. A
unidade didática teve como função nortear o desenvolvimento das estratégias
metodológicas adotadas, sendo possível, assim, atingir os objetivos propostos.
A primeira ação desenvolvida foi a observação durante sete dias do espaço
escolar interno e externo em diferentes horários e situações, com a atenção voltada
para os acontecimentos que envolvem as relações humanas que ali se estabelecem.
Os locais observados foram sala de aula, recreio, intervalo entre uma aula e outra,
quadra de esportes, refeitório, calçadas exteriores, sala dos professores e banheiros,
com o objetivo de saber como se dá as relações humanas nesses locais. A segunda
ação foi à distribuição de questionários semiestruturados aos funcionários, equipe
técnico pedagógica e alunos. A terceira e principal ação foi à aplicação da
intervenção junto aos alunos, as quais serão apresentadas.
2 ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2.1 Conceito e caracterização histórica do bullying
A violência nas escolas vem crescendo muitas vezes pela omissão e silêncio
dos envolvidos ou ainda pelo aval dos adultos, que acham normal e próprio da
adolescência. Para Fante (2005), o bullying escolar é uma das formas de violência
que mais cresce no mundo e como consequência compromete a saúde emocional, a
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qualidade das relações humanas, a construção da cidadania e o bom
desenvolvimento do processo educacional.
Lopes Neto (2005) conceitua bullying como todas as atitudes agressivas,
intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou
mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro
de uma relação desigual de poder. Pode ocorrer de diversas formas: verbal, moral,
sexual, física, social, material, psicológica e virtual. A última, denominada
cyberbullying, é decorrente das diversas ferramentas tecnológicas, como a internet,
os celulares e as câmeras fotográficas, com a falsa crença do anonimato e da
impunidade (FANTE, 2005).
De acordo com a Associação Brasileira Pais, Infância e Adolescência
(ABRAPIA, 2004), o primeiro pesquisador a realizar estudos específicos sobre o
bullying foi o professor Dan Olweus, da Universidade de Bergen, na Noruega, no
início dos anos 70. Olweus pesquisou inicialmente 84.000 estudantes, 300 a 400
professores e 1000 pais entre os vários períodos de ensino. O procedimento
adotado em seus estudos para coleta de dados foi o uso de questionários, que
serviram para fazer a verificação das características e extensão do bullying, bem
como avaliar o impacto das que já vinham sendo adotadas.
Os primeiros resultados obtidos por Olweus foram divulgados em 1989, e
verificou-se que um em cada sete estudantes estava envolvido em bullying. Em
1993, o professor publicou o livro “BULLYING at School”, apresentando e discutindo
o problema. Os resultados de seu estudo foram projetos de intervenção e uma
relação de sinais ou sintomas que poderiam ajudar a identificar possíveis agressores
e vítimas. Essa obra deu origem a uma campanha anti-bullying na Noruega, que
reduziu cerca de 50% das ocorrências nas escolas.
Já no Brasil, Lopes Neto (2002) fundou a ABRAPIA com o programa Educar
para Paz, em que apresenta um conjunto de estratégias psicopedagógicas que se
fundamentam sobre os princípios de solidariedade, tolerância e respeito às
diferenças. Com o apoio financeiro da Petrobrás e em parceria com o Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatísticas (IBGE) e a Secretaria de Educação do
Município do Rio de Janeiro, a ABRAPIA realizou uma pesquisa no período de
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novembro de 2002 a março de 2003, através de questionários distribuídos a alunos
de 5ª a 8ª série de 11 escolas, sendo nove públicas e duas particulares, com o
objetivo de caracterizar o fenômeno bullying nas escolas citadas. O resultado foi
publicado no livro “Diga Não ao Bullying”, editado pela ABRAPIA em 2003.
Dos resultados obtidos, destaca-se que 40,5% dos 5785 alunos de 5ª a 8ª
séries participantes admitiram estar diretamente envolvidos em atos agressivos na
escola. Houve um pequeno predomínio do sexo masculino (50,5%) sobre o sexo
feminino (49,5%). Na pesquisa, foram identificados os principais tipos de bullying
praticados, entre os quais se destacam os apelidos, as agressões, a difamação, o
pegar e/ou quebrar pertences e a exclusão.
Os locais onde ocorrem práticas de bullying são os mais variados. Nos
estudos de Nogueira e Chedid (2003) observou-se que o local mais comum de
ocorrência de maus-tratos é o pátio de recreio (78% dos casos) e os corredores
(31,5% dos casos). No Brasil, os estudos da ABRAPIA (2002) apontam a sala de
aula como o local de maior incidência deste tipo de violência.
Fante (2005) também apresenta outros fatores que podem propiciar o
comportamento bullying como, por exemplo, os meios de comunicação, que
banalizam a violência e que influenciam a formação da identidade da criança, bem
como o modo de afirmação dos pais que adotam como práticas educativas maus
tratos físicos e explosões emocionais violentas.
Os professores não percebem os problemas e muitas vezes também
demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do
seu dia, sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos em seu ambiente profissional.
Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do
quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao
comportamento indisciplinado de alguns alunos.
De acordo com Arrieta (2000), os educadores devem construir na escola,
junto com os alunos e comunidade, um ambiente favorável à aquisição dos
conhecimentos historicamente sistematizados, a formação humana com
desenvolvimento cognitivo e a formação do cidadão sujeito de sua própria história e
que seja atuante no meio em que vive e, portanto, emocionalmente saudável.
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2.2 Bullying no contexto escolar
Todos os dias, alunos sofrem com um tipo de violência que vem mascarada
na forma de “brincadeira”. Pesquisas revelam que esses comportamentos, antes
considerados inofensivos, podem acarretar sérias consequências ao
desenvolvimento psíquico dos alunos, gerando desde baixa autoestima até, em
casos mais extremos, o suicídio e outras tragédias.
De acordo com Ballone (2005), alunos que sofrem bullying podem crescer
com sentimentos negativos, tornando-se adultos com sérios problemas de
relacionamento. Para Lopes Neto (2005), as crianças e adolescentes podem ser
identificados como vítimas, agressores ou testemunhas, de acordo com sua atitude
diante de situações de bullying. Não há evidências que permitam prever qual papel
adotará cada aluno, uma vez que pode ser alterado de acordo com as
circunstâncias.
Segundo Fante (2005), a vítima pode apresentar prejuízos na aprendizagem
como déficit de concentração, queda do rendimento escolar, desinteresse pela
escola, reprovação e evasão escolar. Pode apresentar também prejuízos emocionais
como tristeza, angústia, ansiedade, transtorno mental, depressão, pensamento de
vingança e de suicídio, além de adotar características antissociais.
Já o agressor pode manifestar distanciamento dos objetivos escolares, ter
dificuldade de adaptação às regras escolares, supervalorizar a conduta violenta
como forma de obtenção de poder, consolidar condutas autoritárias e delituosas,
bem como exibir condutas agressivas e violentas na vida adulta.
Para os espectadores, sejam eles alunos, pais ou a comunidade escolar,
podem acarretar ansiedade, insegurança, aflição, tensão, irritabilidade, medo de se
tornar a próxima vítima, prejuízos no processo de socialização, desenvolvimento de
atitudes de conivência, intolerância, individualismo e dificuldade de empatia.
Quanto às vítimas, para Fante (2005), elas apresentam características e
classificações diferenciadas. A vítima típica é pouco sociável, sofre repetidamente as
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consequências dos comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico
frágil, coordenação motora deficiente, extrema sensibilidade, timidez, passividade,
submissão, insegurança, baixa autoestima, alguma dificuldade de aprendizado,
ansiedade e aspectos depressivos. Sente dificuldade de impor-se ao grupo, tanto
física quanto verbalmente.
Por sua vez, a vítima provocadora refere-se àquela que atrai e provoca
reações agressivas contra as quais não consegue lidar. Tenta brigar ou responder
quando é atacada ou insultada, mas não obtém bons resultados. Pode ser
hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, de modo geral, tola, imatura, de
costumes irritantes e quase sempre é responsável por causar tensões no ambiente
em que se encontra. A vítima agressora reproduz os maus-tratos sofridos. Como
forma de compensação, procura outra vítima mais frágil e comete contra esta todas
as agressões sofridas na escola ou em casa, transformando o bullying em um
círculo vicioso.
Olweus (1993) relata que para um aluno ser identificado como vítima ou
agressor os professores devem ficar atentos a alguns comportamentos: a vítima na
escola, durante o recreio, está frequentemente isolada e separada do grupo, ou
procura ficar próximo do professor ou de algum adulto; na sala de aula tem
dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou ansioso; nos
jogos em equipe é o último a ser escolhido; apresenta-se comumente com aspecto
contrariado, triste, deprimido ou aflito; desleixo gradual nas tarefas escolares;
apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada,
de forma não natural; falta às aulas com certa frequência e perde constantemente os
seus pertences.
O agressor na escola faz brincadeira ou gozações, além de rir de modo
desdenhoso e hostil; coloca apelidos ou chama pelo nome e sobrenome dos
colegas, de forma malsoante; insulta, menospreza, ridiculariza, difama; faz ameaças,
dá ordens, domina e subjuga; incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dão socos,
pontapés, beliscões, puxam os cabelos, envolve-se em discussões e
desentendimentos; pega materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences
dos outros colegas, sem consentimento.
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Diante do exposto se percebe a grande importância das escolas tomarem
algumas medidas e buscarem alguns encaminhamentos capazes de prevenir o
bullying.
2.3 Programas Anti Bullying
Segundo Lopes Neto (2005), campanhas anti bullying foram desenvolvidas
em diversos países da Europa como Itália, Alemanha, Portugal e Espanha. Esse
programa recebeu o nome de Project: Nature and Prevention of bullying, com o
objetivo de diagnosticar as causas e naturezas do bullying e da exclusão social nas
escolas; verificar as causas desses problemas em diferentes sociedades e culturas;
verificar as consequências em longo prazo, até a vida adulta; avaliar os programas
de intervenção prósperos e identificar modos de prevenção desses problemas por
meio da integração de diferentes metodologias de estudo.
Entre os aspectos observados na campanha, destaca-se o fato de que a
maioria dos agressores estuda na própria sala da vítima, principalmente nas séries
iniciais. Observou-se também que os meninos tendem a ser agredidos por meninos
enquanto as meninas são agredidas por ambos os sexos e as agressões ocorrem
principalmente durante os recreios e na sala de aula.
Após levantamento desses dados, foram implementadas ações envolvendo
professores, pais, autoridades educacionais e alunos, visando estabelecer as
diretrizes necessárias para o desenvolvimento de estratégias que pudessem ser
executadas por todos. A principal ação desenvolvida foi a sensibilização da
comunidade escolar para apoiar os alunos alvos de bullying, fazendo-os se sentirem
seguros para falar sobre a violência que vinham sofrendo. O Programa destacou
dois importantes aspectos: o número expressivo de crianças envolvidas em práticas
agressivas seja como alvos, autores ou testemunhas, e a constatação de que o
número de alvos é sempre superior ao número de autores.
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A partir destes trabalhos, vários estudos foram realizados com a finalidade de
verificar o fenômeno sobre diversos aspectos. No Brasil, como reflexo dos trabalhos
europeus, encontram-se alguns estudos sobre bullying no ambiente escolar
realizadas recentemente. Entre eles está o trabalho realizado pela Professora Marta
Canfield e colaboradores, em 1997, que procurou observar os comportamentos
agressivos apresentados pelas crianças em quatro escolas de ensino público em
Santa Maria (RS) usando uma forma adaptada pela própria equipe do questionário
de Dan Olweus.
Além do trabalho da professora Marta Canfield estão também as pesquisas
realizadas pelos professores Israel Figueira e Carlos Neto em 2000/2001 para
diagnosticar o bullying em duas escolas municipais do Rio de Janeiro usando uma
forma adaptada do modelo de questionário do TMR (Training and Mobility on
Research). Há também as pesquisas realizadas pela professora Cleodelice
Aparecida Zonato Fante em 2002 nas escolas municipais do interior paulista, visando
ao combate e à redução de comportamentos agressivos.
Não existem soluções simples para se combater o bullying, pois se trata de
um problema complexo e de causas múltiplas. Portanto, cada escola deve
desenvolver sua própria estratégia para reduzi-lo. Agir precocemente tão logo seja
identificado na escola e manter atenção permanente sobre isso é a estratégia ideal.
“A única maneira de se combater o bullyng é através da cooperação de todos os
envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais” (ABRAPIA, 2005, s/p).
A ABRAPIA ainda sugere etapas a serem seguidas para implantar um
programa anti bullying na escola. Primeiramente, aplicação de um questionário de
pesquisa com a participação de todos os alunos da escola antes de receberem
qualquer tipo de informação sobre o bullying. Apenas um pequeno texto,
apresentado no momento da aplicação, tenta situar os estudantes dentro de
conceitos sobre os quais se deseja obter opiniões. Os resultados dessa aplicação
vão determinar a prevalência, incidência e consequências deste fenômeno em cada
escola.
Nem mesmo os professores devem estar cientes sobre o tema. No
momento da aplicação do instrumento, deve-se entregar a cada um deles uma carta,
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explicando o objetivo da pesquisa e fornecendo algumas orientações sobre a
metodologia utilizada. O questionário deve ser aplicado simultaneamente em todas
as turmas de um mesmo turno, evitando a troca de informações nos corredores ou a
possível intimidação de alguns alunos-alvos de bullying.
Em um segundo momento, uma vez analisados os resultados, todo o corpo
docente deve ser informado e incentivado a discutir suas implicações, definindo que
estratégias devem ser utilizadas durante o processo de divulgação e sensibilização
dos alunos. Segundo a ABRAPIA, após analisados os resultados, deve-se criar um
grupo de trabalho composto por representantes de todos os segmentos da
comunidade escolar, incluindo professores, funcionários, alunos e pais. Com base na
realidade percebida por seus membros e com o auxílio dos dados da pesquisa,
serão definidas coletivamente as ações a serem priorizadas e as táticas a serem
adotadas.
As propostas, definidas pelo grupo de trabalho, poderão ser submetidas a
todos os alunos e funcionários, incentivando sugestões sobre os compromissos e
ações que a comunidade escolar deverá adotar para a prevenção e o controle do
bullying. Nesta etapa é necessária a definição da relação final dos compromissos e
prioridades que poderão ser feitas em assembleia geral, contando com todos os
alunos, professores e funcionários. Diversas cópias deverão ser afixadas em vários
locais da escola como forma de divulgação aos pais por meio de cartas e reuniões.
De acordo com Fante (2005), conclui-se que a instituição de ensino precisa
prevenir o fenômeno violência que está acontecendo no ambiente escolar, impedindo
o seu crescimento.
[...] Entretanto, para que isso aconteça, seus profissionais devem ser capacitados para atuar na melhoria do ambiente escolar e das relações interpessoais, promovendo a solidariedade, a tolerância e o respeito às características individuais, utilizando estratégicas adequadas à realidade educacional que envolve toda a comunidade escolar (FANTE, 2005, p. 169).
11
Neste sentido, Pereira (2002) acrescenta que a escola deveria educar para a
liberdade com igualdade de direitos e obrigações em que os direitos de um
determinam onde começam os direitos dos outros.
Dessa forma, se a escola ensinar seus alunos a respeitar as diferenças, trabalhando a prática de valores, será possível criar um ambiente sadio aos educandos. Ambiente capaz de articular competências e habilidades sociais em todos àqueles que estiverem inseridos nesse processo de humanização dos sujeitos (BANDEIRA, 2003, p. 33).
Portanto, é necessário um conjunto de esforços, distribuindo
responsabilidades e envolvendo todos os participantes do processo educativo.
3 A INTERVENÇÃO NA ESCOLA
A primeira ação do projeto foi às observações durante sete dias do espaço
escolar interno e externo em diferentes horários e situações, com a atenção voltada
para os acontecimentos que envolvem as relações humanas que ali se estabelecem.
As observações aconteceram durante o recreio e os comportamentos mais
recorrentes observados que caracterizaram o bullying foram alunos maiores que
discriminavam os menores, xingando, empurrando, colocando apelidos e tirando-os
da fila da merenda. No intervalo entre as aulas, os alunos ficavam encostados nas
paredes do corredor da escola e passavam as mãos nas nádegas de meninas e de
meninos, chamando-os por apelidos obscenos.
Nas aulas de educação física o bullying acontecia claramente, pois na hora
de montar os times o aluno “gordinho” ficava sempre por último e dificilmente era
escolhido e, quando era, a bola nunca chegava até ele. Observou-se também
durante as aulas que os alunos que apresentavam desempenho escolar satisfatório
e tiravam boas notas discriminavam claramente os que possuíam algumas
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dificuldades de aprendizagem, colocando apelidos, isolando-os e não
compartilhando dicionários ou livros didáticos da escola.
De acordo com Guareschi e Silva (2008), colocar apelidos, ofender, zoar,
gozar, sacanear, humilhar, discriminar, excluir, ignorar, amedrontar, empurrar, chutar
e bater são situações que confirmam a prática do bullying.
Seguindo as estratégias das ações propostas no projeto, o trabalho foi
iniciado com a aplicação de um questionário com o objetivo de realizar uma
avaliação diagnóstica do professor, equipe técnico-pedagógica e funcionários a fim
de levantar dados. O questionário foi elaborado com oito questões e aplicado para
vinte indivíduos dos diversos segmentos da escola. Para visualização dos
resultados, utilizou-se a forma gráfica para retratar as respostas dos professores.
Questão 1: O que você entende por violência na escola?
A primeira questão teve por objetivo verificar o que os indivíduos que
trabalham nos diversos segmentos da escola classificam como violência dentro da
escola. O gráfico 1 mostra as respostas obtidas dos vinte entrevistados. As cores
demonstram quais das violências foram mais citadas.
Questão 2: Das violências citadas, quais você já observou em sua escola?
Observou-se nesta questão que os entrevistados excluíram a quebra
intencional de equipamentos da escola e a pichação em ambientes escolares.
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Questão 3: Você sabe o que significa a palavra Bullying?
Esta questão foi levantada para entender se o entrevistado conseguiria
relacionar as duas perguntas anteriores com a prática do bullying. Os vinte (20)
indivíduoas responderam que sabem o significado do termo bullying.
Questão 4: O que você faz quando presencia algum tipo de bullying dentro da
escola?
A maioria dos entrevistados interfere na hora e ainda encaminham para a
equipe pedagógica tomar as providências necessárias. Porém, há os que se omitem
e não tomam nenhuma atitude.
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Questão 5: O que você faz quando presencia algum tipo de violência nos
arredores da escola?
Aqui as respostas coincidem com a questão 4, porém, fora dos muros da
escola, acrescentou-se a opção de chamar a patrulha escolar. Um dos entrevistados
relatou que se o confronto for no período diurno, interfere. No entanto, no noturno,
chama a patrulha escolar.
Questão 6: Onde frequentemente os alunos se maltratam?
A maior incidência foi o pátio da escola e dentro da sala de aula.
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Questão 7: Você acha esta escola violenta?
Doze dos entrevistados declaram que, apesar das práticas assinaladas nas
questões, não consideram a escola violenta, tendo em vista que são fatos isolados e
possíveis de serem revertidos, desde que a direção e equipe pedagógiaca tomem
providências no ato da verificação da violência.
Já oito indivíduos acham a escola violenta, diante de agressões físicas que
estão ocorrendo frequentemente no ambiente escolar, fatos que em anos anteriores
ocorriam com menor frequência.
Questão 8: Deixe alguma sugestão para melhorar as relações humanas na
escola.
Das sugestões apresentadas, destacam-se as seguintes:
Palestras com pessoas que não fazem parte do convívio escolar;
Projetos para melhor a autoestima dos alunos e que enaltecem os valores
morais e a ética;
Fazer revistas periódicas nas bolsas dos alunos;
Tentar fazer com que a patrulha escolar seja mais presente no ambiente
escolar;
Conhecer o histórico familiar dos alunos.
Para os alunos, foi aplicado um questionário sobre o bullying contendo
um total de 5 questões objetivas, sem que o fenômeno fosse ainda definido para os
eles como medida preventiva para não influenciar as respostas do questionário. Esta
coleta permitiu verificar os resultados abaixo com 60 alunos do 6º ano do ensino
fundamental, dos quais 32 são do sexo feminino e 28 do sexo masculino.
“O que é violência?” foi o primeiro dos questionamentos realizados, sendo
que a agressão física foi citada por 45 dos alunos; 36 alunos citaram as ameaças
dentro da escola; os insultos foram citados por 28 alunos e ser roubado entrou nas
respostas de 24 alunos. Sobre ter sido agredido por elementos da escola, 28
responderam que já foram agredidos e 32 alunos disseram que não. No entanto, 54
16
alunos responderam que já viram alunos sendo agredidos.
Querendo entender ainda mais o que pensam estes alunos sobre violência,
foram questionados os motivos que levam as pessoas a serem violentas. Neste
caso, as respostas foram por ordem de incidência: influência de colegas, ser
provocado, para chamar a atenção, para imitar alguém da família ou do colégio e,
por último, por brincadeira.
Entre os locais mais comuns onde acontecem as cenas de violência, o pátio
da escola foi o local mais citado, seguido por lado de fora da escola, sala de aula,
quadra de esportes, voltando da escola para casa e, por fim, 6 alunos declararam
nunca ter visto cenas de violência.
Após a investigação dos questionários e a confirmação da prática do bullying
no espaço escolar, foi iniciada a execução do material previamente elaborado em
forma de Unidade Didática, modalidade pedagógica escolhida para a intervenção.
Foram seis encontros semanais em que sujeitos da intervenção, no caso alunos do
6º ano, num total de vinte (20) participantes, compareceram na escola no turno da
manhã para o desenvolvimento das atividades propostas. Vale ressaltar que a
participação de apenas 20 alunos se justifica por ser em turno contrário ao de aulas e
que muitos já frequentam neste mesmo horário as salas de apoio de matemática e
de português.
A primeira ação com os alunos teve por objetivo principal caracterizar
algumas atitudes consideradas violentas. Para tanto, foi entregue um quadro com as
palavras “humilhar”, “excluir”, “socar” e “isolar” e quatro espaços em branco, onde
eles deveriam completar com palavras que caracterizavam atitudes violentas já
observadas na escola. As palavras que se repetiram na maioria das atividades foram
“bater”, “empurrar”, “apelidar”, “falar mal”, “chutar”, “odiar”, “agredir” e “brigar”.
Para abordar o tema bullying, as respostas foram aproveitadas e foi inserido
o conceito de Lopes Neto (2005), que o descreve como todas as atitudes agressivas,
intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente e são adotadas por
um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia. São executadas
dentro de uma relação desigual de poder e pode ser manifestado nas formas verbal,
físico e psicológico.
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Para buscar maior entendimento por parte dos alunos sobre o bullying, tais
como o que é, como ocorre, quais são sua s consequências, quem são os autores e
vítimas, as principais consequências e como ajudar as vítima do bullying, eles foram
levados ao laboratório de informática para fazer uma pesquisa no endereço
eletrônico http://www.observatóriodainfancia.com.br/IMG/pdf/doc-197.pdf. Após a
pesquisa, os alunos fizeram um glossário dos conceitos pesquisados, acima citados.
Na sequência, cada aluno fez um desenho de uma situação agressiva que já
observou no pátio do colégio ou nas extremidades do mesmo. Os desenhos e o
glossário elaborados no encontro anterior compuseram um varal de ideias, onde
foram fixados os conceitos de acordo com cada desenho construído. A atividade foi
bem produtiva, tendo em vista que os desenhos e os conceitos foram feitos em
momentos diferentes e, assim, eles tiveram que montar uma forma de quebra-
cabeça para relacioná-los.
Em outra etapa foi exibido o desenho “Por gentileza, bullying não”. Antes da
exibição, foi pedido para que os alunos anotassem o tema central do desenho, o que
se quer demonstrar, o que mais chama a atenção e como amenizar o problema
apresentado. Depois da exibição, os alunos formaram cinco grupos que foram
denominados G1, G2, G3, G4 e G5 para refletirem e responderem as questões
acima, das quais serão destacados os relatos do G1 e G2:
O desenho mostra um menino apelidado de Nerd que sofre bullying. Ele fica tão assustado que não quer mais sair de casa e acha que ninguém gosta dele. Gostamos muito da música do desenho e achamos que ele não deveria ter se calado. Se tivesse contado para alguém, não teria sofrido tanto (G1).
O tema central é o bullying que alguns meninos e meninas sofrem por algum motivo. No desenho que assistimos, o menino sofre muito, mas no final o que se quis mostrar foi que devemos viver em paz. Gostamos muito de toda a história e da música também e para ajudar todos os que passam por isso, as escolas deveriam fazer um trabalho de conscientização (G2).
Cabe observar que os alunos participantes não possuem maturidade para
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elaborar um texto formal e as respostas aqui apresentadas foram intermediadas pela
autora.
Uma nova etapa foi desenvolvida de forma sequenciada com a anterior, em
que foram exibidos alguns trechos do filme “Bullying” (2009), que relata a história de
um garoto de 15 anos que perdeu o pai e ele e sua mãe e decidem mudar de cidade
para começar vida nova, onde tudo acontece. Como as cenas são violentas para
alunos do 6º ano, foram selecionados apenas alguns trechos que mostram o
sofrimento do adolescente e a forma que se mantém calado para não preocupar sua
mãe.
A estratégia utilizada foi à mesma da anterior, ou seja, depois da exibição, em
grupo, os alunos fizeram uma reflexão sobre o que assistiram e desta vez serão
destacados os relatos dos grupos G3, G4 e G5.
Percebemos que Jordi era feliz antes de se mudar e quando chegou à nova cidade, no colégio, um menino valentão chamado Nacho não “foi com a cara dele” e começou a bater nele e humilhá-lo sem motivo, sempre na frente de outros alunos. Ele era zoado todos os dias, então o tema do filme é o bullying (G3).
Convém ressaltar que os alunos não sabiam o nome do filme que estavam
vendo e só foram exibidos alguns trechos com o objetivo de levá-los a compreender
que só é caracterizada como bullying a agressão repetida, intencional e sem motivo.
O grupo foi orientado a responder em que momento o filme deu a entender que o
tema central é o bullying. De acordo com Carvalho (2005), o bullying ocorre
principalmente entre alunos e é sustentado pela relação desigual de poder, que no
filme é demonstrado pela superioridade física do agressor.
O Jordi foi zoado, ameaçado, chutado, recebeu apelidos, socos, na frente de um monte de “muleque” e ninguém o defendeu. Uns ficaram rindo, outros observando calados. Não contaram para os professores e nem o próprio Jordi teve coragem de contar (G4).
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O comentário do grupo deu subsídio para abordar os diferentes papéis no
bullying, pois, segundo Gareschi e Silva (2008), para que ocorra o bullying é
necessário que exista uma vítima, que é alvo das agressões e da violência, o autor,
que é quem pratica o bullying através de atos, e o espectador, que assiste o que
acontece, geralmente sem saber o que fazer. Vale ressaltar que a cena escolhida
para exibição diferenciava bem os três papéis presentes na prática do bullying.
O menino agredido começou a faltar às aulas e está mudando também. Ele começou a bater no vizinho dele, que antes era seu amigo. O que vimos é que o pai do Nacho bate nele, ele bate no Jordi, o Jordi bate no vizinho. E o vizinho, tentando defender o Jordi, foi bater no Nacho (G5).
A declaração acima foi feita quando questionamos o grupo G5 sobre a frase
“Agressão gera agressão?”. A resposta deveria ser baseada em cenas exibidas no
filme. Como se pode notar, houve a percepção de que atitudes violentas geram
outras atitudes violentas. Diante da resposta apresentada pelo grupo, questionamos
se a história de Jordi poderia ser diferente e também se caso a história se passasse
com eles, o que fariam.
Sim, o Jordi poderia ter contado logo no primeiro dia para mãe dele, ou para o vizinho, ou ainda para alguém da escola. Mas ele ficou com medo e o Nacho aproveitou para bater mais ainda. Com nós? Ah! não seria igual, a gente ia reagir e contar para nossa mãe e para orientadora. Mas conhecemos gente que não conta (G5).
Neste momento aproveitou-se para falar sobre o papel da pedagoga no
ambiente escolar, onde é possível intermediar as relações interpessoais entre os
alunos. Ressaltou-se ainda que o diálogo entre os pares previne a ocorrência do
bullying em qualquer escola.
A última cena exibida foi à mãe do Jordi indo ao colégio para tentar saber o
que está acontecendo com o filho, já que o vizinho a alertou que o menino estava
sendo agredido constantemente e por isso não queria mais ir ao colégio e estava se
tornando calado e agressivo. A coordenadora a atende e diz que está tudo certo na
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escola e que naquele ambiente não havia a prática do bullying. Para comprovar sua
fala, chama alguns alunos e os questiona se alguém sofre algum tipo de assédio ou
agressão. Todos se calam, Jordi por medo e os outros porque não querem se tornar
vítimas também.
Neste sentido pode-se dizer que a escola se omitiu, tendo em vista que não
aprofundou a investigação. Olweus (1993) relata que para um aluno ser identificado
como vítima ou agressor, professores devem ficar atentos a alguns comportamentos.
Vítima na escola, durante o recreio, está frequentemente isolado e separado do
grupo, ou procura ficar próximo do professor ou de algum adulto; na sala de aula,
tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou ansioso; nos
jogos em equipe é o último a ser escolhido; apresenta-se comumente com aspecto
contrariado, triste, deprimido ou aflito; desleixo gradual nas tarefas escolares;
apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada,
de forma não natural; falta às aulas com certa frequência; perde constantemente os
seus pertences. Desta forma, percebe-se que a ação realizada não foi suficiente
para detectar a prática, mas se tivesse conhecimento do que é o bullying, a escola
poderia ter continuado a investigação.
Vale ressaltar que o filme mostra pontos importantes que merecem
destaque, no entanto, não é apropriado para faixa etária dos alunos participantes
deste estudo. Desta forma, a exibição não foi continuada e só foi relatado em linhas
gerais que Jordi sofreu calado, até que não suportou mais e deu fim a própria vida.
Para aliviar a tensão, a próxima ação foi mostrar o clipe da música “Mais
uma vez”, de Renato Russo, destacando o seguinte trecho:
Tem gente que está do mesmo lado que você,/ mas deveria estar do lado de lá/ Tem gente que machuca os outros/ Tem gente que não sabe amar/ Tem gente enganando a gente/ Veja nossa vida como está,/ Mas eu sei que um dia a gente aprende/ Se você quiser alguém em quem confiar/ Confie em si mesmo (Renato Russo, Mais uma vez).
Na sequência, foi pedida apenas uma reflexão dos seguintes
questionamentos: O que fiz de bom para mim mesmo hoje? Pratiquei algum bem a
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outra pessoa? Deixei de ajudar o próximo? Magoei alguém? O objetivo foi mostrar
que os atos devem ser analisados, pois as ações humanas podem ser benéficas ou
prejudiciais ao próximo. No convívio social, é fundamental respeitar os limites de
cada indivíduo.
Outra ação realizada foi à leitura do gibi “Gritos no silêncio”, adaptado da
Turma do “Nosso amiguinho” da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Os alunos
receberam o gibi, fizeram a leitura e as atividades recreativas sugeridas nas últimas
folhas. Foi um momento de lazer, tendo em vista o linguajar simples, mas eficiente
para mostrar como os apelidos podem magoar uma pessoa. De acordo com Ballone
(2005), alunos que sofrem bullying podem crescer com sentimentos negativos,
tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamento.
A próxima etapa foi a exibição do DVD “Eu quero paz”, que apresentou uma
forma de combater a violência através da cultura da paz. O DVD mostrou ações
contra a violência e como denunciá-la. Baseados no que foi assistido, partiu-se para
a última fase do projeto, que foi montar cartazes e folders promovendo a paz no
ambiente escolar.
A finalização do projeto foi à entrega dos folders para todos os alunos e
funcionários do colégio com a seguinte mensagem:
“Não sofra em silêncio! Você tem direito de ter boas lembranças da escola. Nesta escola não se aceita o bullying! Denuncie”.
Cartazes com frases anti bullying foram fixados no pátio da escola, com
imagens de boas relações humanas contendo a mensagem: “Todos nós fomos feitos
à imagem e semelhança de Deus. Deus não quer ver sua imagem e semelhança
brigando, xingando e apelidando. Somos Iguais”. Cartazes com imagens de bullying
e a mensagem “Se você se acha valentão, Cuidado! Valentão acaba no chão” e
frases de efeito foram espalhadas pelos ambientes escolares, como: “Diga não ao
bullying”; “Violência na minha escola, não”; “Diga sim a PAZ”. É importante
mencionar que a construção dos cartazes se iniciou no meio do projeto em uma
atividade intitulada “Colcha de Retalhos”, em que os alunos buscaram as imagens
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utilizadas nos cartazes.
De acordo com Pazio (2009), os educadores devem construir na escola, junto
com os alunos e comunidade, um ambiente favorável à aquisição dos
conhecimentos historicamente sistematizados, a formação humana com
desenvolvimento cognitivo e a formação do cidadão sujeito de sua própria história
que seja atuante no meio em que vive e, portanto, emocionalmente saudável.
Foi pensando desta forma que o projeto foi concluído. Assim, se a escola
ensinar seus alunos a respeitar as diferenças trabalhando a prática de valores, será
possível criar um ambiente sadio aos alunos. Entende-se que a escola não precisa
esperar acontecer à prática do bullying, ela pode se adiantar com projetos que visam
o relacionamento saudável, prevenindo futuros conflitos que resultam na prática do
fenômeno bullying.
4 A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE TRABALHO EM REDE (GTR)
O presente trabalho não foi apenas presencial. Durante a execução do projeto
de implementação, houve a participação virtual de pedagogos de outras escolas, que
também tinham ouvido muito pouco acerca do fenômeno bullying. O GTR,
subsidiado pela Secretaria de Estado da Educação e oferecido a todos os
professores da Rede Estadual de Ensino do Paraná, validou a implementação do
projeto na escola na medida em que trouxe experiências de outros professores de
outras regiões para a problemática trabalhada.
Visando o enriquecimento didático e pedagógico e a socialização do projeto
de pesquisa do professor PDE com os demais professores da rede, este curso se
realizou com atividades à distância, com um total de 15 cursistas, sendo que todos
concluíram o curso.
No início do GTR, acreditou-se que o assunto não despertaria tanto interesse,
mas o retorno foi extremamente positivo diante da participação dos cursistas. A
primeira atividade do GTR foi à análise do projeto de intervenção, em que os
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cursistas deveriam ler, refletir e apresentar as suas considerações, das quais
destacam-se algumas:
[...] Estamos passando por um momento histórico: o da escola inclusiva. Há décadas se vem falando, porém hoje é muito mais efetivo, onde a escola é o espaço da diversidade e, junto com ela, deve reger os princípios de respeito, solidariedade, tolerância às diferenças (A.E, 2011).
Achei muito relevante o tema proposto neste projeto, pois acredito que a melhoria do ambiente escolar aconteça com a participação efetiva de todos os envolvidos, escola-família-comunidade. Essa parceria é fundamental, seja através de encontros periódicos com os pais e alunos, palestras, intervenções de professores em sala e dramatizações, tudo com o intuito de abolir qualquer tipo de agressão, sendo ela física, moral, religiosa, racial ou socioeconômica (M.R.P. V, 2011).
A educação do jovem no século XXI tem se tornado algo difícil devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõe para dedicarem-se aos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte (R.P, 2011).
Precisamos começar a debater e refletir com a comunidade escolar sobre este tema e, assim, buscarmos soluções coletivas, que envolvam todos os atores do processo ensino e aprendizagem. Acredito que pequenas ações, constantes e articuladas, podem diminuir muito o sofrimento de alunos que sofrem agressões constantes, mas não tem como evitá-las. Temos que resgatar os valores universais e pô-los em prática no nosso dia a dia (MP, 2011).
Saber que o projeto agradou professores, colegas de trabalho que atuam em
outros municípios do Paraná, foi um incentivo para desenvolvê-lo com os alunos.
A segunda unidade do GTR abordou o material didático elaborado para
alunos. Neste momento, o professor cursista analisou a produção e compartilhou sua
opinião a respeito. O objetivo é que analisassem a proposta e dessem sugestões ou
críticas que pudessem contribuir para o desenvolvimento do mesmo. Abaixo algumas
das considerações:
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O bullying é uma temática que não pode parar neste GTR. Nós, profissionais da educação que tivemos acesso a este material, devemos disseminá-lo sempre que necessário, tendo em vista que o material indica caminhos, pistas e dá um direcionamento aos profissionais que desejam minimizar a prática do bullying no ambiente escolar (T.S. T, 2011).
As atividades propostas no material didático são de suma importância, pois apresentam sugestões e é um material fácil de ser trabalhado em qualquer escola. A professora soube apresentar ações interventivas no sentido de formar, informar, valorizar os atos de respeito ao próximo, enfim, promove valores há muito esquecidos (O.P. S, 2011).
O material didático produzido apresenta atividades que, além de educativas, trabalham toda a parte de valores para o desenvolvimento psicológico das crianças. São atividades aplicadas de forma interativa e dinâmica. Outro fator de destaque foi jogar o problema para o próprio aluno resolver. O varal de ideias, os vídeos, o gibi e letras de música levam o aluno a refletir as atitudes e consequências que terão que enfrentar caso pratiquem o bullying (P.F.P.O, 2011).
Na terceira e última unidade do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), foram
disponibilizadas as ações da implementação. A tarefa do professor cursista era além
de refletir e opinar sobre a forma com que as ações foram divididas e executadas,
escolher uma das atividades e aplicá-la aos seus próprios alunos, ou então relatar
uma atividade com os objetivos pretendidos e os resultados obtidos. Este foi um
momento importante ao trabalho, tendo em vista, que a proposta estava sendo
executado por colegas que atuam na rede estadual de educação de todo o Paraná.
Cabe apresentar a contribuição de uma das cursistas, que postou uma
atividade digna de ser conhecida e divulgada. A atividade é chamada de “Júri
simulado” e foi desenvolvida baseada em duas atividades propostas neste material
didático, que são o varal de ideias e o vídeo “Bullying” (2009), em que se instigavam
os alunos a sugerir situações para amenizar a problemática apresentada após a
apresentação do vídeo.
Antes de iniciar a simulação do júri, deve-se explicar a turma como ocorre e
quem compõe uma audiência de julgamento público. Abaixo, segue a explicação
detalhada da dinâmica:
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Júri Simulado
Objetivos:
Estudar e debater o tema bullying, levando os participantes do grupo a
se envolver e tomar uma posição;
Exercitar a comunicação e a expressão;
Desenvolver o senso crítico;
Demonstrar um exemplo da prática de bullying.
Participantes:
Juiz: dirige e coordena o andamento do júri;
Advogado de acusação: formula as acusações;
Advogado de defesa: defende o réu e responde às acusações formuladas;
Testemunhas: falam a favor ou contra ao réu, de acordo com o combinado
previamente, pondo em evidência as contradições e principais argumentos;
Corpo de jurados: deve ser constituído com número ímpar de participantes, de
preferência cinco ou sete. O corpo de jurados ouve todo o processo e vota se o réu é
culpado ou inocente. Definem a pena junto com o juiz;
Público: Deve ser dividido em dois grupos, um para a defesa e outro para a
acusação. O público deve ajudar os advogados a preparar os argumentos para
acusação ou defesa.
Passos:
1. Professor apresenta o assunto e a questão a ser trabalhada;
2. Orienta os participantes sobre seus papéis;
3. Preparação do julgamento, mostrando os fatos;
4. Juiz abre a sessão;
5. Advogado de acusação (promotor) acusa o réu;
6. Advogado de defesa defende o réu;
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7. Advogado de acusação retoma a palavra;
8. Intervenção das testemunhas de defesa e de acusação;
9. Jurados decidem a sentença junto com o juiz;
10. Leitura e justificativa da sentença pelo juiz.
Vale acrescentar que esta atividade leva os alunos a pensar como resolver
uma situação e, desta forma, eles acabam se envolvendo emocionalmente com os
fatos.
Como se pode observar, pode-se aproximar dos alunos e fazer com que
entendam a proposta que está sendo trabalhando. Os resultados deste trabalho são
totalmente positivos e estão contribuindo para um ambiente escolar de qualidade a
todos os envolvidos no processo escolar, destacando a criatividade dos professores,
conforme foram evidenciadas nestas breves notações.
5 CONSIDERAÇÃOES FINAIS
Através da intervenção, pode-se constatar a necessidade urgente do resgate
dos valores afetivos, familiares e culturais, tendo em vista os princípios da ética e da
alteridade como coadjuvantes para a instauração de um currículo de formação
humana no contexto educacional como um todo.
A violência não pode se tornar parte do cotidiano escolar, embora para os
que não estão no centro dos acontecimentos possa parecer exagero frente a fatos
corriqueiros como rir de modo desdenhoso e hostil, colocar apelidos, insultar,
menosprezar, ridicularizar, difamar, fazer ameaças, dominar, dar socos, pontapés,
beliscões, puxar os cabelos, envolver-se em discussões e desentendimentos, pegar
materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences dos outros colegas, sem
consentimento. Fatos constatados durante a intervenção. No entanto, para os que
estão expostos às consequências, nada disso é normal e natural.
Às vezes a escola não vivencia atitudes extremas de violência, mas convive
com suas ramificações como indisciplina, incivilidade e principalmente o bullying.
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Neste contexto, professores, funcionários, alunos e pais sentem-se oprimidos diante
de seus efeitos.
O que se percebe é que todos estes aspectos passam pelas relações
interpessoais que se desenvolvem no interior da escola. É fato que esse aspecto,
isoladamente, não dá conta de resolver o problema, nem é o responsável pelos
conflitos acontecerem, mas, sem dúvida alguma, o clima escolar que resulta dessas
relações propicia os acontecimentos citados.
Colaborar para que esse clima seja o mais favorável possível é tarefa de
todos. A família também não pode abrir mão de sua função formadora e precisa
estar atenta, acompanhando o desenvolvimento do filho e, principalmente,
colocando-lhe os limites necessários para que cresça como pessoa saudável, capaz
de conviver com seus pares dentro da grande diversidade que compõe os grupos
humanos.
Diante da pesquisa realizada foi possível constatar que o bullying esta
presente na escola, fala que pode ser comprovada no decorrer da intervenção.
Acreditamos que projetos como este que envolveu a ação do pedagogo, pode
contribuir para reflexões sobre o fenômeno bullying.
Mediante esta realidade, é necessário estudar, analisar, dialogar, verificar o
que pode ser feito, enfim, procurar caminhos para conter, enfrentar e prevenir este
quadro. Não se pode deixar a escola perder a sua identidade, mas sim buscar
alternativas no sentido da prevenção de conflitos no ambiente escolar.
É necessário que seus objetivos sejam repensados, lembrando que o ser
humano precisa estabelecer boas relações de convivência proporcionando
condições favoráveis à aprendizagem e ao desenvolvimento das potencialidades.
Entendemos que as estratégias de ação do pedagogo são fundamentais para tais
mudanças.
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6 REFERÊNCIAS
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BALLONE, G. J. Maldade da Infância e Adolescência: bullying (2005). Disponível em: <http://www.profala.com/arteducesp120.htm>. Acesso em três de setembro de 2010.
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CAMACHO, L. I. Violência e indisciplina nas práticas escolares dos adolescentes. Tese de Doutoramento. Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2000.
DREYER, D. A brincadeira que não tem graça. Portal Educacional: 2005. Disponível em: <http://www.educacional.com>. Acesso em três de setembro de 2010.
FANTE, C. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. Ed. rev. Campinas, SP: Verus editora, 2005.
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LOPES NETO, A. A. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria Online. Vol. 81, nº 5 (supl.), p. 164-172, 2005. Disponível em: <http://www.jped.com.br>. Acesso em cinco de setembro de 2010.
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