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ir . . QÇ.rpW~._.._. DA «GEOGRAFIA» COLECÇÃO AMPHITHEATRVM Série suplementar de «STVDIVM GENERALE» Ix E STR ABÂO: LIVRO H PRIMEIRA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA NOVA EDIÇÃO CRiTICA por FRANCISCO JOSÉ VELOZO e JOSÉ CARDOSO APRO VEL—L CENTRO DE ESTUDOS HUMANÍSTICOS (Anexo à Universidade do Porto) PORTO —1965

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DA «GEOGRAFIA»

COLECÇÃO

AMPHITHEATRVMSérie suplementar de «STVDIVM GENERALE»

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E STR ABÂO:

LIVRO HPRIMEIRA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA NOVA EDIÇÃO CRiTICA

por

FRANCISCO JOSÉ VELOZO e JOSÉ CARDOSO

APROVEL—L CENTRO DE ESTUDOS HUMANÍSTICOS

(Anexo à Universidade do Porto)

PORTO —1965

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deixa prever suas atribuições e eseopos, quer dizer, alinha no roldas Ciências Humanas, de que outras e tantas expressões tem mani[estado, nos dezoito anos de vida que já conta.

De seus colaboradores mais di~rcctos e devotados — sem quaisqucrjnte~esscs materiais de seu constante préstimo —--—figura o ilustrenome de Francisco Veloso, humanista de estirpe rara, jurista proficientíssimo e letrado preclaro, criador e restaurador de obras cultiwais inesquecíveis, como, na parceria com outros seus pares, aAssociação Jurídica, o Clonvivium e a Associação Luso-Britânica,também na cãpitai minhota; e ali, ainda, da já notável revistaScientia ivridica.

Jsstudwso, ;nteg;o, infat~gavel, o li; l’1,ancisco Vcloso, Juiz deDueito e Conegedo~ F~es~dente em Lisboa, picstou, com o aunltop cstsmos?sszmo na edição deste zolume, um inoludatel se; viço aoCent; o de Lstuclos Humanlbtwos, que ja Izom a; a com out; as p~ ovascultu, ais e, cj; aças a Deus, continua a honi a;

[Podaria e por outros meios e lugares, o seu profwndo, como respeitável saber, se alargam e exprimem, de modo sempre distintíssimo.Por isso as suas especulações acerca da vida bracarensee da de Portugal, em sua feição histórica, são guias e fachos dosestudiosos dos Suevos, de 8. Martinho de Dume, das marcas isldmicas na Ibéria, das raízes da Nacionalidade, do monaquismopeninsular e pré-português (v. g. 8. Fruetuoso), dos Oestrín;.nios,da gencse toponimtea dc Portucale e tantos outw& pontos delicados,mas fundamentais, ela nossa grande História.

E, de par, seus conceituados estudos jurídicos — ouvinws jáchamar-lhes lições de direito — sõbre Direito agrário, História elaJu;:isprudêi~cia ou, Direito islâmico.

Helenista e latinista, não lhe é esh anho o idioma a; abc, e»; queé ia inest;e, cultu;a esta a favo; ccc; lhe e a da; bom anpo c estutu,aa todos os seus estudo~, em que tais conhecimentos são indispensáveis.

Medievalista que honra a escola dos historiadores nacionais,confrade na lida de cabouqueiros de Aquém-Douro, um Rev. MárioMartins c um Sérgio Pinto, quer nas especulações de valiosostrabalhos, quer na preparação e execução de Colóquio e «ondressosque deixaram fama na História Cultural portugucsa destes qLltimos25 anos, o insigne Corregedor Dr. Francisco’ José Vclôso merece

aqui esta expresstio piWliea de admiração pelo seu talento, como ade gratidão pelo trabalho oferecido ao Centro, do qual nada quise que este apenas lhe paga com aquelas palavras que só poderiamdizer-se baixinho e suavemente, por serem do coração: bom-haja!

Mas não satisfaria isso e, portanto, aqui vai esse bem-hajaampliado, alto e bom som, nestas palavras do responsável da vidacultural deste Centro, que o Instituto do Alta Cultura e a CâmaraMunicipal do Porto fundaram e mantêm há dezoito anos. Isto nãoé lisonja, nem acto pragmático, é pura Justiça, tanto mais altaquanto é feita a um jurista que a honra e ao Humanismo nacional,no jeito de outros eméritos jurisconsultos, como António de Sonsaele Macedo, António Ribeiro dos Santos, de berço tripeiro ou doforo portuense, Marcelino de Matos ou Pinto de Mesquita, paraevocar apenas portuenses mortos; e vinco portuense porque o é elenascimento o digníssimo magistrado e historiador.

Se é o Centro de Estudos Humanísticos que lavra nestas laudastais palavras, conceba-se que elas são a da própria cidade que lhefoi berço e que ele tanto realça, onde quer que passe e onde querque se revelem seu talento e sua probidade.

Este agradecimento do Porto ao Dr. Francisco Veloso por todaa sua obra incide agora, particular mente, no que vaie estoutrovolume de Amphitheatryin Está de envolta o seu nome ilustrecom o de outro eapacíssimo estudioso e docente, o Dr. José Cardoso,humanista ele quase irreverente modéstia, cujo talento latinista eheienista tem dispensado ao Centro serviços inestimáveis. Prazaa Deus que a sua saúde, neste momento deficiente, se restabeleçaeU modo a, que pai a contento de seus amigos e admi, ado~ es —e inapreciável benefício do Gentio de Estudos Humanísticos da Universidade do Porto, regresse ao seu trabalho digno de respeito e muitaadmi; ação

A ambos, cótc imenso, infindavel e ~tncei o b ado do coi ação13cm hajam!

Luís dc Pina

P E E E Á O 10

O trabalho, que segue, é o que ficou da tentativa de unia ediçãocrítica, que vão se chegou a realizar por falta de materiais e escassezde tempo, mas de que os autores não desistiram inteiramente. Pareceuque, mesmo assim, de alguma utilidade ele seria, embora desacompanhado do texto grego da Geografia de Estrabão.

O Dr. José Cardoso foi acometido, no decurso da elaboração dasua tradução e notas, por grave doença de olhos, que o impediu derever uma e outras. Isto, necessàriamente, afectará o valor da obra.

Pela minha parte, sinto-me responsável também pelo seu trabalho,não só pela troca de impressões com que me honrou aquele distintohelenista, mas porque ele me confiou a revisão histórico-crítica doseu texto e a elaboração do índice e corrigenda.

Para confronto da tradução, notas e comentários, deve consultar-seo texto contido na edição de Adolf Bch’ulten, Estrabón — Geografiade Iberia, Barcelona, 1952, fascículo VI das Fontes HispaniaeÀntiquae. Por mais acessível, tomou-se como base, embora o Dr. JCardoso pudesse, como nós, servir-se da edição crítica de Müller,a que faz referência na segunda parte. Como comentário, emborao de ,Schulten seja dou tissimo, parece-nos porém mais equilibradoo do douto Professor espanhol D. António Garcia y Bellido, Espaflay los espafioles hace dos mil anos según la Geografia de Estrabón,Buenos Aires, 1945, que nos forneceu inuimeras indicações valiosaspara a interpretação do texto, e todas as mais que se referem naIntrodução e no resto da presente obra.

Resta-vos (the last but not the least) agradecer ao eminenteDirector do Centro de Estudos Humanísticos, Prof. Dr. Luís dePina, a quem a cultwra do Norte do País tanto deve, a oportunidade que nos deu de publicar este ensaio, integrando-o na colecçãoAmphitheatrum.

Francisco José Velozo

INTRODUÇÃO

1. Estrah5o e. a sua Geograíla.

Estrabão, natural de Amasia, na Capadócia, região da ÁsiaMenor, deve ter vivido entre 63 a. O. e 19-20 d. O. ou entre 58a. O. e 25 da nossa era. Escreveu em grego a sua Geografia, deque ora publicamos o livro III, referente à Península Ibérica.

Parece ter estado em Roma à roda de 29 a. O.; ele mesmo dizter viajado desde a Sardenha até a Arménia, e do Mar Negroaté aos limites da Etiópia e do Egipto. Devia ser isto por cercado ano 24 a. O. Em 20 a. O. está em Roma de novo.

Eis os factos da sua biografia, que se têm indicado (MendesCorreia, Os Povos Primitivos da Lusitânia, Porto, 1924, pág. 114;A. Garcia y Beffido, Espafía y los espa4loles hace dos mil aMos,pãgs. 27 e segs.; Adolfo Schulten, l3strabón — Geografia de Ibéria,pãgs. 1 e segs.).

Estrabão procura reabilitar a velha geografia homérica, posterior porém à fenícia (3, 2, 12-14, págs. 28-32), no que em geralo acômpanhamos (cfr. o nosso estudo Oestrymnis-Atlântida,Campo El.íieo, Braga, 1953-1950, pág. 24).

Acompanhamos Estrabão também, quando nos afirma que asprimeiras notícias da Península Ibérica se devem aos Fenícios(3, 2, 14, nesta edição pág. 32), no que concorda com Rufo FestoAvieno (Ora Maritima, vv. 80-84, 383 e 412-414, com referênciaaos vv. 9, 11, 16-17, 22-23, 32-50 e 331), e que Píteas, cujaobra — ou algum outro périplo marselhês — é erradamente considerada por alguns como fonte de Avieno, pouco aproveitaao estudioso, e induziu em erro Artemidoro (3, 2, 11, pág. 27)

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e todos quantos «o acreditaram, por não conhecerem os lugaresdo Ocidente e Norte do Oceano~ (3, 4, 4, pág. 51).

Esta última expressão, a nosso ver, seria inexplicável, se opróprio Estrabão, contra o que se tem dito, não houvesse pisadoterras ibéricas.

Não que as percorresse todas.Ele mesmo o dá a entender, escrevendo, àcerca do conjunto

peninsular, que havia certas mudanças nas populações, de temposa tempos, e algumas regiões pouco exploradas — pelos civilizados,evidentemente —, em contraste com outras famosas, de quemuitos autores falaram, sobretudo gregos, «sempre loquazes~(3, 4, 19, págs. 69-70)... Tirante estas zonas mais conhecidas,o mais, em paragens bárbaras e afastadas, que para Estrabãosão as do Norte (3, 1, 2, pág. 4; 3, 3, 8, pág. 45; 3, 4, 18, págs.68-69), é pouco conhecido, e por isso o nosso autor só deles tratapor testemunhos, os quais «nem são seguros, nem muitos~ (3, 4,19, pág. 69).

Sirva isto já de aviso aos estudiosos, para lerem com as devidascautelas esta obra, de que nem sempre se tem feito uso discretoe acertado.

Mesmo assim — continua o sábio geógrafo antigo, — aos escritores gregos se tem de recorrer, antes de tudo, pois «os escritoresde Roma imitam [na descrição da Península] os gregos>, traduzindo-os, e «da sua lavra pouco acrescentam digno de interesse[ou: «no resto mostram-se pouco interessados~], de modo que,quando há lacunas naqueles, não são preenchidas)> pelos romanos(ibüL, pág. 70).

Muito embora hoje não possamos completamente pensar assim,~or nos faltarem textos, — quiçá alguns dos muitos que foramqueimados no incêndio de .Alexandria, ordenado por Júlio César,on pereceram no de Roma, ateado por Nero, — temos de concordar em que isso, não poucas vezes, é ainda verdade.

Ora o relevo, que dá à Bética, chamando-lhe predominantementeTurdetânia (3, 1, 6, pág. 8), os pormenores que refere, designada-mente sobre as características étnicas — fenícias — dos seus habitantes (3, 2, 13, págs. 29-30), certamente os das cidades quevisitou, indicam-nos que Estrabão aportou a esses lugares. Elemesmo diz, sem alegar autoridade alheia, antes como quem viu

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e observou, que os moradores destes, «principalmente os que habitam junto do Bétis, transformaram completamente a sua vida,para o estilo de vida dos Romanos, nem se lembrando sequerdo idioma próprio» (3, 2, 15, pág. 33, notas 199 e 200, versãoque preferimos).

Melhor veremos isto no decurso do ligeiro comentário que segue.Fique porém já este apontamento, para que o leitor saiba distinguir o testemunho directo do indirecto, distinção que tem na1-Tistória, como na vida dos Tribunais, a maior importância.

Outra advertência aqui se impõe. A de que o nosso autor —

—como todos aliás — não se priva de aludir, de onde a onde, aodescrever certa região, a outras distantes, por lhes achar algumasemelhança, ou encontrar usos e costumes parecidos. Veremos noentanto que não está na sua intenção misturar, nem confundirPovos e países. Estrabão é um escritor ordenado, culto e viajado,que não descai nos delírios de certos escólios, nem cometeu certamente os erros que achamos ainda nas cópias (manuscritos)que conhecemos.

Como escreve (larcia y Beifido, «os códices de Estrabão chegados até nós apresentam todos um texto muito corrupto» (op.cit, pág. 33). Schulten, servindo-se da obra de W. Aly, EcueBeitrage ZUT Sirabo- Uberlieferung (Heidelberga, 1931), diz-nos quedo séc. VI «data o palimpsesto da Biblioteca Vaticana, o códicemais antigo de todos)>, que «porém só possui 68 páginas». Segundoainda Carcia y BeBido, os dois melhores códices «acham-se emParis. O primeiro é uma cópia do sécifio XI, e, infelizmente, nãocontém senão os nove primeiros livros. O segundo contém osdezassete, embora com alg-umas lacunas; trata-se de cópia dosséculos XIII-XIV» (iMitem). Agrupam-se, diz ainda Schfflten,em duas fam’lias: a primeira, que compreende o primeiro doscódices parisienses, designa-se pela letra A; à segunda, que contém os livros 10 a 17, pertence o de Veneza, codex iliareianus640, sendo designada pela letra 13 (ibidem).

Basta compulsar uma edição crítica, como a de Müller porexemplo, para se ter a noção das dificuldades que a restituiçãodo texto estrabónico oferece. Aliás o Dr. José Cardoso sobeja-mente o acentua na 2.a parte do seu trabalho.

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Dizíamos porém que o geógrafo abre, do quando em quando,uns parênteses, para lembrar o que se passa em outros lugaresou com outras gentes, a propósito dos que directamente descreve.Assim, ao falar da riqueza mineira da lética-Turdetânia (3, 2,9, pág. 25), citando Demétrio de Falero —por não querer truncara sua transcrição, alude à Lusitânia e aos últimos dos seus Povos,no Noroeste da Península, na actual Galiza, e bem assim às Cassitérides e até às Ilhas Britânicas e a Marselha. Referindo-se àmesma região da Bética, fala (3, 2, 13, pág. 31) nas llhas dosAfortunados, as actnais Canárias, mas corrige qualquer equívoco,ao localizá-las em frente da Costa marroquina (cfr. Oestrymniscit., pág. 119 e nota 474, sobre as confusões do nome daquelas).Ele mesmo denota a sna intenção, ao acabar o capítulo II, dedicado à Bética, com a frase: — «Isto, o que tinha a dizer acercada Turdetânia~ (3, 2, 15, pág. 33). Não há engano. Outro parêntese, devido à citação de Possidónio e relativo aos LusitanosCalaicos e aos Lacões, achamos também no capítulo IV, tratandoporém da região além do Calpe (3, 4, 3, pág. 49), etc.

Duvidosa é a autoria do passo do capitulo dedicado à Lusitânia, o III, em que o texto chegado até nós, falando das dançasdos Lusitanos, vem depois com isto: — «Na Bastetânia, as ?flut1Ie-res dançam também misturadas com os homeus, dando-se mttuamente as mãos~ (3, 3, 7, pág. 43). Estrabão não mencionara antesdança das mulheres. A não ser que o copista ou copistas omitissealguma coisa, — o que não é impossível, — do original. E a Bastetânia ficava longe da Lusitânia (3, 4, 2, pág. 48). Parece portanto integração de algum escólio no próprio texto da cópia,

- coisa muito frequente em manuscritos antigos, como é sabidodos especialistas.

2. A Lusitânia noutros autores.

Como é natural, interessa-nos, acima de tudo, não só averiguaro que foi para os antigos a Lusitânia como Povo, Orei ou Nação,para podermos interpretar e valorizar devidamente o que Estrabãodiz a esse respeito, mas também apurar as vicissitudes, por quepassou a província romana deste nome.

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Parece pois necessário situar o testemunho do geógrafo gregono conjunto de provas, que uos ficaram, de outra origem. Só pelaconcordância dos testemunhos é possível atingir a verdade histórica.

Comecemos pois, a-fim-de não nos dissiparmos nem extraviarmosfàcilmente, ao delimitar Povos e regiões na geografia estrabónica,por investigar o que se encontra eni textos mais antigos, coetâneose posteriores, de comprovada autoridade.

Damos eutretanto como averiguado que toda a zona ocidentalda Península Ibérica, particularmente desde uma linha, quemais ou menos sobe, arqueando para o interior, deste a foz dosRios Tinto e Odiel, além Guadiana, na região da actual Huelva,até à foz do Rio Eo, na Galiza espanhola, para Oeste, chegandoao Oceano Atlântico, se chamou, em eras antiquíssimas, Oestrymnis, e Oestrymnii (Estrímnios) os seus habitantes, que foramdepois conhecidos por Gynetes, G~unctes ou Conii, provàvelmentepor estarem ao pé do grande mar Oceano (O-Keanos). Julgamostê-lo provado noutro lugar (Oestrymnis cit., passim). Ê esteo subsolo, o substracto, em que vai surgir, ua época das lutascom Roma e do domínio posterior do Império, a nossa Lusitânia.

Era ela uma região extensa.

Estrabão, como a exemplificar o asserto da superioridade dosgeógrafos gregos sobre os latinos, diz-nos da Península Ibéricao seguinte, altamente elucidativo (3, 4, 19, pág. 70):

«Aliás, a maior parte dos nomes mais conhecidos são gregos.Assim [dizem] que os antigos [geógrafos] denominaram Ibériatoda a região [até] além do Ródano e do istmo apertadoentre os dois golfos gauleses; ao passo que os actuais põemas suas fronteiras nos Pireneus, e dizem que Iberia e Hispaniasão sinónimas. [Outros também] chamaram Iberia tão sômenteà região para cá do Ebro. E outros ainda, [mais antigos], aestes mesmos chamam Igletes, os quais habitavam umapequena região, como diz Asclepíades de Mirlea. Porém, osRomanos, chamando indistintamente Hispania ou Iberia toda[a Península], denominaram uma parte Ulterior, a outra

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Citerior. Todavia, algumas vezes, fazem outra divisão, seprecisam mudar a administração, de harmonia com as circunstâncias~.

É lição inteiramente conforme com outras autoridades, comoem outra obra julgo haver mostrado, apoiado em numerososautores antigos e modernos (Oestryrnnis, pãgs. 27, 34, 44, 61,64, 66, 117, 128, etc., e notas 53, 102, 103, 131, 254, 264, 276,467, 503, etc.).

Ibe.ria, na acepção de Península Ibérica, é generalização, feitapelos Gregos, do nome duma região, que primitivamente assimdenominaram por ser habitada por Iberos, gente que pertenciaà mais vasta Nação ou Povo dos Oestrymnii, e que na mais altaantiguidade achamos acantonada desde a zona do Ródano atéao Sul do Ebro (Hiberu8 fluvius, chamado antes Oteum), comona zona de Huelva (Olba ou Olbia), onde corre o Rio Tinto(também denominado Hibenss). Ao tempo de Scilax (FeripL, 3),ou seja, no séc. IV a. O., os Iberos do Sul da França achavam-semisturados com os Lígures, até junto do referido rio Ródano.

Sendo 1-Ber a forma própria do nome daquele Povo ou tribo,em que achamos o radical precedido do artigo estrímnio do plural,igual ao berbere ainda, — 1 —, a forma Iberia mantém aqueleartigo, provàvelmente por mera eufonia. O termo em grego eragrave (Iberia), e tornou-o esdrúxulo a prosódia romana (Ibéria),que suspeitamos explique a palavra portuguesa Beira. Neste caso,teríamos nas nossas Beiras o assento mais antigo dessa facçãodos Estrímnios, Povo que irradiou de Oeste para Leste, praticando o primeiro Drang nach Osteu da História.

Os Romanos abandonaram a expressão Iberia, e adoptaramHispania ou Hispaniae (plural derivado da distinção das províncias Citerior e Ulterior), não porque tivesse o significado amplo,que lhe davam, antes da chegada deles, mas por comodidade.Generalizavam por seu turno o nome de uma região, a da futuraAndaluzia, a que os Estrímnios chamaram assim, por ser, nasua linguagem, dominada por 1-Sepan, os Sepes, Sephes, Sepher(Caldeus) ou Befes, de que dá notícia extensa o poema de Avieno,Ora maritima.

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Tudo isto na citada obra referimos e estudámos, permitindo-nosremeter o leitor curioso para ela e autores aí mencionados (cfr.especialmente, págs. 97 e segs.). Sobre a persistência do nomeSpania ou Hispania, na Idade Média, para designar só a Bótica,ou melhor, a Andaluzia, v. Alfredo Pimenta, Idade Média, Lisboa, 1946, págs. 21 e seg&.

Muito mais haveria que dizer sobre o assunto, mas o que aífica é suficiente para o nosso intento.

O texto mais antigo, que chegou até nós, relativo aos limitesgerais ou confrontações da Lusitânia, é de Caio Júlio César, noDe Belio Civili, livro 1, para o qual — que saibamos — pela primeira vez chamou a atenção Leite de Vasconcelos (Religiões daLusitânia, vol. III, Lisboa, 1913, págs. 146-147), e cujo valorreconheceu também Schulten (Los cóntabros y astwres y su guerracon Roma, Madrid, 1943, pág. 202). O grande Mestre português,no seguro epítome, que fez, das guerras em que os Lusitanosandaram envolvidos, diz-nos (op. eit., pág. 142) que «em 61C. Júlio César, ao sair da pretura, obteve o governo da Ulterior,e alguns feitos importantes cometeu na Lusitânia~. Sabido é queo mesmo César, segundo o mesmo historiador sintetiza (op. eit.,pág. 144), «beneficiou o Sul da Lusitânia, de certo por aí se termanifestado primeiro a influência romana, e haver conseguinte-mente menos repugnância a ela: Ebora reeebeu o título de Liberalitas Julia; Olisipo o de Felicitas Julia; Scallabis o de Praesidiu’mJulium; Norba, na Lusitânia espanhola, o de Oaesarina. .

E resume ainda:«Conta Dião Cássio que ele (César), vendo que podia extinguir

as guerriffias e alcançar glória, tomou pretexto para acometeros montanheses do Hermínio, obrigando-os a descer das montanhas para a planície, para que não se servissem de um localinexpugnável por natureza para fazerem correrias. Os Povosvizinhos, receosos de César, transportaram para a outra margemdo Douro os filhos, as esposas e as cousas mais preciosas; entretanto César tomou-lhes as cidades, ou, como hoje diríamos, oscastros, e deu-lhes batalha. Os bárbaros (Lusitanos) puseram-lheadiante os gados, mas César deixou-os, bateu o inimigo, e venceu-o. Em seguida, continua o mesmo historiador, César usou de

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estratagemas para atacar os bárbaros do Hermínio; perseguiu-osaté ao Oceano, fugindo eles para uma ilha, e sucedendo váriosepisódios. Por fim César mandou vir de Gades navios, e subjugousem dificuldade os bárbaros na ilha. Daqui passou para Brigâncio,cidade da Caliecia, e submeteu-a. .— Esta é a notícia mais desenvolvida, que temos, da estada de César na Lusitânia; com elaconcordam as de outros autores, uns mais antigos que Dião,outros mais modernos: T. Lívio, Plutarco, Suetónio, Júlio Obsequente)>.

Este panorama habilita-nos a conhecer o teatro das operaçõesde Júlio César. Movendo guerra aos Lusitanos, este foi, semdúvida, o assento dos Lusitanos que guerreou. Poderíamos alargaro quadro, conjecturando, ainda com José Leite de Vasconcelos(op. cit., págs. 144-145), que «foi, mesmo, talvez fundada por ele,entre o Tagus e o Anas, uma nova colónia: Paz JuUa. Pelo menosparece relacionarem-se com O. Júlio César todos estes epítetosgeográfico-nobiliárquicos. Pode ainda juntar-se-lhe Caesarobriga(Lusitânia espanhola), nome formado segundo o processo dagramática céltica». Preferimos no entanto deixar o assunto emsuspenso, até melhor prova, e passar a examinar os limites daLusitânia, segundo o De Beilo CiviI4.

Diz este (1, 38-39):

«38. Adventu Vibullil Rufi, quem a Pompeio missus inHispaniam demonstratum est, Afranius et Petreius et Varro,legati Pompeil (quorum unus tribus legionibus HispaniamCiteriorem, alter a saltu Castulonensi ad Anam duobuslegionibus, tertius ab Ana Vettonum agrum Lusitaniamquepari numero legionem obtinebat), offlcia inter se partiuntur,uti Petreius ex Lusitania per Vettones cusu omnibus copiis adAfranium proficiscatur, Varro cum iis, quas habebat, legionibus, omnem TJlteriorem Hispaniam tueatur. His rebusconstitutis, equites auxiliaque toti Lusitaniae a Petreio,Celtiberis, Cantabris, barbarisque omnibus, qui ad Oceanumpertinent, ab Afranio imperantur. Quibus coactis, celeriterPetreius per Vettones ad Afranium pervenit. Constituuntcommuni consifio, bdilum ad Ilerdam, propter ipsius lociopportunitatem, gerere.

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39. Erant, ut supra demonstratum est, legiones Afraniitres, Petreii duae, practera scutatae Oiterioris provinciae, etcetratae Ulterioris Hispaniae cohortes circiter LXXX, equitumutriusque provinciae circiter V milia~.

Sublinhamos as expressões relevantes. Tentemos traduzir:

«38. Tendo Vibúlio Rufo, que dissemos enviado dePompeio à Hispânia, chegado aí, Afrânio, Petreio e Varrão,Legados de Pompeio, — o primeiro dos quais, com três legiões,defendia a 1-lispânia Citerior; o segundo, com duas legiões,desde a serra de Castulão até ao Ana; e o terceiro, com igualnúmero de legiões, desde o Ana, o território dos Vetões e aLusitánia, —repartem entre si as tarefas, de modo que Petreiomarchasse da Lusitânia, através dos Vetões, até junto deMrânio com todas as suas tropas, e que Varrão com as legiões,que tinha, ficasse a proteger toda a 1-lispânia Ulterior.Dispostas assim as coisas, Petreio manda vir de toda aLusitânia, e Afrânio dos Celtiberos, dos Cântabros e de todosos bárbaros da beira do Oceano cavaleiros e auxiliares.E, reunidos estes, Petreio ràpidamente, atravessando osVetões, chega até junto de Mrânio. Resolvem então, porcomum conselho, fazer guerra a Ilerda, por causa das vantagens do local.

39. Eram, como acima se disse, três as legiões de Afrânio,e três as de Petreio, além de cerca de 80 coortes da província (Jiterior, armadas de adarga, e cerca de 5 mil cavaleirosde cada urna das ditas províncias~.

Corria então o ano de 49 a. O. (Leite de Vasconcelos, op. cii.,pág. 146).

A simples e despreeoncebida leitura do passo transcrito elucida-nos que o governo militar da Lusitânia começava, nessaaltura, na foz do Ana, Anas ou Guadiana (português antigo:Odiana, do Úr. uadi mais Ana; a forma actual é de influênciaespanhola).

Petreio governava militarmente a zona que ia desde a fozdesse rio para Leste, chegando à Serra de Castulão. Esta zona

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constituiu o que em tempos de Estrabão se chamou Turdetânia,e posteriormente Bética: este nome inspirava-se no do rio Bétis,hoje Guadalquivir, aquele no dos primitivos habitantes.

Ora Petreio, em vez de caminhar directamente daí para o Norteao encontro de Afrânio, veio ao Ocidente; ou para não chocarcom tropas inimigas, ou, mais plausIvelmente, pala buscar reforçosde cavalaria: na verdade, César dá a entender isto, ao referirque, juntando-se os exércitos, o de .Afrânio e o de Petreio, astropas reujildas ficaram constituídas por 5000 cavaleiros das duasprovíncias. A Lusitânia era a província ocidental, já por 49 a. O.Assim Petreio atravessou o Ana, rio que a Oeste lindava coma província do seu governo (Turdetânia ou Bética), e foi ter como governador da Lusitânia, que o era também dos Vetões (estesdistintos dos Lusitanos, e ficando-lhes a Leste), o romano Varrão.Petreio entrega-lhe o governo da Bética, e logo, à frente daslegiões que de lá trouxera, parte da Lusitânia no sentido Oeste--Leste.

Cruza, pois, o território dos Vetões, segundo informa César,mostrando assim que estes não ocupavam qualquer parte daLusitânia, mesmo considerada como circunscrição administrativaromana, como nota, muito adequadamente, Leite de Vasconcelos(op. cii., pág. 147). E chega então junto de Afrânio, governadorda Flispânia Citerior, somando as suas forças às dele.

Temos portanto, em época muito anterior a Estrabão, a Lusitânia no Algarve, limitada pelo Guadiana.

Aproximemos deste um outro testemunho, igualmente decisivo.Trata-se do célebre Mapa de Agripa, «o Orbis Fictus de Agripa,

pintado por ele no Pórtico de Vipsânia Pola, irmã de Agripa,em Roma. Esta obra fundamental não a começou o próprio Agripa,nem a viu terminada, mas foi, sem dúvida alguma, a alma dela.Parece ter sido planeada por César, mas não foi empreendidaverdadeiramente senão com o seu sucessor, Augusto, que, coma colaboração de administradores civis e principalmente militaresdo Império, logrou reunir quantidade suficiente de dados, dosquais resultou, ao fim de muitos anos, a confecção do citadomapa pintado, a que é atribuído o nome do principal colaboradore animador, o genro de Augusto, Agripa. À morte deste (ano

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12 a. O.), Augusto fez terminar a obra, que já é citada depoisda sua morte (em 14 da nossa era), pelo geógrafo grego Estrabão,que redigia ou retocava a sua famosa obra (...). O Orbis Pietusera acompanhado por um texto explicativo, redigido por umautor desconhecido. Este texto continha comentários e aclaraçõesdo gráfico pintado no Pórtico de Vipsânia Pola, com as divisõesque este continha, assim como as suas medidas e com outrosdados justificativos e informativos, expostos talvez ao modo dositinerários)> (A. Garcia y Beilido, La Espalia dei Sigio Prime,”’de iVuestra Era, seg’yu P. Meia y O. Plinio, ?.iadride, 1947, págs.101-102).

A este mapa se reporta Plínio, na sua Waturaiis Historia (4,118), quando escreve:

«Licsitamam cum Ãstitria ei Cailaccia patere... .dgrippaprodit (Agripa mostra que a Lusitânia, com a Astúria e aCauaecia, se estendem por...».

Com razão conclui Schulten, o falecido Mestre de Erlangen,eminente jurista, doubié de historiador e arqueólogo, que «a Astúriae a Galécia estavam unidas em 27 antes de Oristo com a Lusitânia’> (ioc. cii.).

A força do argumento apreender-se-á melhor, se tomarmos ematenção que Plínio descreve a Península numa época em quejá a parte norte da Lusitânia fora amputada e reunida a todasas demais regiões setentrionais da Península (Hispânia Citerior)a-fim-de com todos esses territórios se formar uma província essencialmente militar, como o reclamavam a resistência dos Povosao invasor romano e as rebeliões, que Roma por seus generaisreprimiu e sufocou. Daí a referência separada à Astúria e à Cailaeeia, ao vê-las unidas aiuda à Lusitânia no mapa de Agripa.

Mais tardia ainda que o mapa de Agripa é a descrição da I’enínsula Ibérica e das suas províncias, Povos e regiões, feita por ~íela,geógrafo romano. Aí, como hemos-de ver, acha-se a mesmanotícia.

Pompónio Mela nasceu em Tingentera, na Bética, como elepróprio diz na sua Chorographia (2, 96), obra que devia ter ter-

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minado por 43 ou 44 da nossa era, o que poderá permitir o cálculode que teria nascido nos últimos anos de Augusto (Garcia y BeBido,op. cii., págs. 19-20).

Escreve este autor do séc. 1, no livro II, capítulo VI:

«[Hispania] tribus autem est distineta nominibus: parsqueejus Tarraconensis, pars Bactica, pars Lusitania vocatur.Tarraconensis altero capite Calhas, altero Baeticam Lusitaniamque contingens, mari latera objicit Nostro, quameridiem; qua septentrionem spectat, Oceano. Tuas fiuviusAuas separat, et ideo Baetica maria utraque prospicit; adOccidentem, Àtlanticum; ad meridiem, Nostrum. LusitaniaOceano tantummodo objecta est, sed latere ad septentriones,fronte ad occasum».

O que quer dizer, sine vila htterprctatione, como preferia 5. Francisco de Assis da observância do Evangelho pelos seus frades...:

«[A Hispânia] distingue-se porém por três nomes; e uma daspartes dela [na verdade] cbama-se Tarraconense» (entenda-se:«ilispânia Tarracouense»), «outra Bética» (entenda-se, poistambém é adjectivo: «Hispânia Bética»), «e outra Lusitânia.A Tarraconense, atingindo num dos extremos as Gálias enoutro a Bética e a Lusitânia, dispõe as suas praias em frentedo Nosso Mar, por onde olha ao Sul; e por onde olha aoNorte, em frente do Oceano. Aquelas outras)> (Bética e Lusitânia), «separa-as o rio Anas, e portanto a Bética fica voltadapara ambos os mares: a Ocidente, para o Atlântico, ao Sulpara o Nosso)) (Mare Nostrum). «A Lusitânia olha sõrnentepara o Oceano, sendo que à ilharga (ou «à banda») para oNorte, e de fronte para Ocidente».

A leitura inocente desta obra de Pompónio Mela mostra-nos,sem dificuldade, que a situação, que ele encara, é ainda a deuma Lusitânia, que se estendia desde o Algarve, da foz doGuadiana (Anas), ao Mar Cantábrico, ao Oceano, que ao Nortelhe banhava um dos lados, como se estendia ao longo da suafrente ocidental.

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Que assim 6, resulta ainda da descrição da Lusitânia, quemais adiante encontramos no mesmo autor. Depois de se referirextensamente à Bética, sua terra natal, diz.nos ele, no Livro 111,capítulo 1:

«At £‘u$itania trans A nam, qua mare Atianticum spectat,primum ingenti impetu in altum abit: deinde resistit, ac semagis etiam, quam Baetica, abducit. Qua prominet, bis insemet recepto mari, in tria promontoria dispergitur. Anaeproximum, quia lata sede procurrens, paulatim se ao sualatera fastigat, Cuneus ager dicitur: sequens, Sacrum vocant:Magnum, quod ulterius est. Tu Ouneo sunt Myrtili, Balsa,Ossonoba: in Sacro Lacobriga et Portus Hannibalis: in MagnoEbora. Sinus intersunt: et est in proximo Salacia; in alteroUlysippo, et Tagi ostium, amnis gemmas aurumque generantis.Ab his promontoriis in ifiam partem, quae recessit, ingensflexus aperitur: in eoque sunt Turduli veteres Turdulorumqueoppida: amues autem Monda in medium fere ultimi promontorii latus effluens, et radices ejusdem alluens Durius. Fronsilia aliquandiu rectam ripam habet: dein modico flexu accepto,mox paululum eminet: tum reducta iterum, iterumque recta(var. recto) margine jacens, ad promontorium, quod Celticumvocamus, extenditur. Totam Celtici colunt, sed a Puno adflexum ()rovii: fluuntque per eos Avo, Celadus, Naebis, Miuius,et ciii Oblivionis cognomen est Limia. Flexus ipse Lambriacam urbem amplexus, recipit fluvios Temam et Viam (Laeronet filam?). Partem, quae prominet, Praesamarchi habitant,perque eos Tamaris et Sars flumine longe orta decurrunt;Tama.ris, secundum Ebora portum; Sars juxta turmem Augustititulo memorabilem. Cetera super Tamarici Neriique incoluntin eo tractu ultimi. Hactenus enim ad occidentem versa litorapertinent. Deinde ad septentriones toto latere terra convertitur a Celtico promontorio ad Scyticum usque. Perpetuaeius ora, nisi ubi modici recessus ac parva promontoriasunt, ad Cantabros pene recta est. In ea primum Artabrisunt, etiam nunc Celticae gentis; deinde .Astures. In Artabrissinus, ore angusto admissum mare non angusto ambituexcipiens, Abobricam urbem et quatuor amnium ostia incingit,

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XVIII

duo, etiam inter accolentes, ignobilia sunt; per alia duoDucanaris et Libyca» (<d~leaurus et Ivia» propõe Garcia yl3ellido, op. cit., págs. 37 e 56).

Passa depois aos Ástures.Traduzimos:

«Logo a Lusitânia, além Anas, onde olha o mar Atlântico,primeiro sai, com grande rompante, pelo mar dentro, paraseguidamente se retrair e recolher mais ainda do que aI3ética. Ali onde faz a saliência, abrindo-se duas vezes aomar, divide-se em três promontórios. Chama-se Campo Cúneoo mais próximo, porque, partindo duma base larga, gradualmente se vai estreitando de cada lado» (em cunha); «Sagradochamam ao seguinte, e Magno ao que está mais afastado.No Cúneo ficam Mértola, Balsa e Ossónoba, no SagradoLacóbriga e o Porto de Aníbal, e no Magno Ebora. Chamam--nos [depois] a atenção» flintersuni», i’h. )eutro) «uns golfos,e no primeiro está Salácia, noutro Lisboa e a desembocadurado Tejo, rio que gera pedras preciosas e ouro». (ii meu ver,falta aqui referência aos cabos da Roca e Carvoeiro e à Feninsutlade Lisboa, presum~ve1tienie erro ou omissão de copista).«Passando estes promontórios, naquela parte, que se retrai,faz-se uma grande curva, onde estão os Velhos Túrdulos eos ópidos dos Túrdulos e bem assim os rios Monda — quedesagua quase ao meio do lado do último promontório — eDouro — que banha a raiz (ou: fim) dele. A dita costa tem[a seguir] por algum espaço a riba rectilínea; depois, tendofeito pequena reentrância, logo um tanto avança; entãorecolhida de novo, e de novo disposta em margem recta,estende-se até ao promontório que chamamos Céltico: todaesta habitam os Célticos~,. (Aqui actualizamos ou corrigimosa pontuação, de modo a poder atingir-se um sentido, aliástransparente; sentido que, diga-se de passagem, impõe revisãocritica do texto latino). «Porém desde o Douro até à [dita]reentrância habitam os Gróvios, e por entre eles correm oAvo, o Celadus, o Naebis, o Minho e esse, cujo nome querdizer Esquecimento (Oblivio), o Limia. Na própria reentrância

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fica a urbe de Lambrica, e desaguam os rios lema e Via(Laero e Ulha?). Na parte que avança, habitam os Presa-marcos, e por entre eles correm o Tamaris e o Sars, riosnascidos perto; o Tarnaris atrás do porto de Ebora; o Rars,junto de uma torre conhecida pelo nome de Augusto. Noresto vivem os Tamáricos e os Nérios, lá para as derradeirasdessas paragens. O que até aqui dissemos, respeita à Costavoltada a ocidente. Depois a terra volta todo o seu litoralpara o Norte, desde o promontório Céltico até ao Scytico.A linha contínua dele» (i. ~, do litoral ou lado) «é quase recta,salvo onde há leves recessos e pequenos promontórios. Nelaficam primeiro os Artabros, ainda da gente céltica; depoisos Ástures. Nos Artabros, um golfo de apertada embocadura,mas recebendo em seu largo âmbito o mar, abrange a urbeAbóbrjca e as fozes de quatro rios, dois [dos quais] poucoafamados, mesmo entre os habitantes; por outras duas desem.bocam o Ducanaris (Meaurics?) e o .Libyca (Ivia)~.

Releve-se-nos o extenso da transcrição e também da tradução.Esta, como interpretação necessária, porém. E a primeira, parase ver claramente que MeIa não estabelece fronteira da Lusitâniano Douro, antes segue até aos Ástures sem qualquer interrupção.E isto, tendo começado no Guadiana. Se se entender que estesegundo trecho, por si só, não basta para tirar ilação segura deque a Lusitânia ia até ao Cantábrico, contudo nenhuma razãohá para dúvidas, em face do primeiro trecho transcrito, daautoria de Pompónio Nela.

Tais eram os limites da Lusitânia, pois, ao tempo em que foiescrita a Ohorographia, também conhecida pelo nome latino:De .çitu orbis.

Plinio já termina a sua Lusitânia no Douro, como dissemos,— sinal de que escreveu depois da nova divisão provincial terretirado à Lusitânia a parte norte, para a integrar na HispániaCiterior ou Tarraconense. Plínio, na verdade, é posterior a Meia(Carcia y Beilido, op. cit., pág. 92). Ignoramos se esta divisãofoi definitiva, quanto à. Lusitânia, desde logo. Dúvidas há, como

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se vai ver, pois Antomno, escritor que viveu depois de Plimo,ainda nos apresenta a antiga

Mais tarde, ma surgir uma nova provincia, a Galécia (Cailaccia),com a capital em Biacara Augusta Essa abiangeria, tal comoa primitiva provincia romana da Lusitama, os próprios Ástuies,no Conventus Asturwensw, as Astúrias ocidentais

Não quer isto dizer que os Ástures fossem Lusitanos Pbmodistingue, já o vimos, a Oatlaccut da Astiuia E Estiabão, comovamos ver, dá nos a origem do nome dos Caflacos, dizendo quefoi apelativo tomado pelos Lusitanos, em grande parte, e distingue os bem das gentes astuiianas

Poiém, Antomno Pio, no Provm&ut,urn Rornanorum kbeltus(do seu JUne; «9w), do qual diz — <au quo sunt regtones XI continentes in se O et XIII Pi ovineias> —, dá nos o elenco das regiõesItália, Gália, Africa, Hispâma, fina (Illyrwurn), Trácia, Ásia,Oriente, Ponto, Egipto e Britânia E, na parte respectiva, aspartes da «região~ da Hispâma

« Hispaniae Provmciae VIITarraconensis — Oarthaginensis — Baetica — Lusitania, tu

qua est Gallaeeia — Tnsulae Baleares — Tmgitana transfretum,quod ab Oceanum infusum terras intrat, inter Calpem etAbilam~ (Itvn Ant, pág 30)

Aquela Gatictecta tem sido emendada para Ementa, api esentadacomo variante Manifesto é o intmto de confundir, ou a confusãodesta versão Não havia razão para, numa divisão das P9 ovincws,se falar em Ementa, uma cidade ou rnans?o, que no devido lugarAntonino Pio refere, ao descrever as vias d’i Peninsula Acresceque a notabilidade da Lusitâma galaica, depois das campanhasde Bruto e de Augusto, reclamava do probo geógrafo mençãoespecial. Finalmente, se se suprimir, teríamos em Antonino umaomissão inexplicável, atento o que nos dizem Plínio (mapa deAgripa) e Mela, nos passos transcritos, onde se não omite a referência aos Calaicos, bem como o que adiante se verá de Estrabão.A expressão <dn qua est Gallaecia» corresponde inteiramente ao

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mapa de Agripa, na alusão de Plínio. Enfim, só Caracala (214)iria criar a província da Gailaccia, que não existira antes nunca.

Tempo é de, munidos dos elementos que aí ficam, enfrentarmoso texto de Estrabão, acompanhando-o na sua descrição daPenínsula.

3. O texto de Es(rab-Jo: A) Ibéria.

No capítulo 1, traça Estrabão as linhas gerais da geografia daIbéria. Descreve-a de Oeste para Leste, considerando-a o começodo Orbe (conhecido), à semelhança de outros escritores antigos,que por ela principiavam também a geografia do mundo: porex. o cartaginês Himilcão, cujo périplo foi aproveitado por Avieno,no seu poema didático Ora jllaritirna (cfr. os vv. 54 e segs., e 80e segs.), e outros (v. o cit. nosso estudo Oestrymnis, págs. 39e segs.). Quanto à origem dos nomcs Iberia e Hispania, relembrenios aqui o que ficou escrito supra, n.° 2, segundo o testemunhode Estrabão.

Dizendo o nosso autor, neste capítulo, a que nos estamos referindo (1, 2, pág. 3), que as planícies têm fraca porção de terraarável, faz uma generalização evidente, que talvez provenha de,no seu tempo, a agricultura ser na Península, como todos sabem,incipiente.

O mesmo se diga da pobreza da região setentrional, poucoexplorada ainda, e da sua aspereza. O que se tem de entendercum grano salis, no que respeita à Lusitânia, mesmo a setentrional, segundo o cotejo com os passos em que o mesmo Estrabãose lhe refere como país próspero, com rios auríferos (3, 3, 4,pág. 38) e rico em gados e ouro, prata e muitos outros metais(3, 3, 5, pág. 40), tendo a particularidade, que revela, a nossover, certo adiantamento, de a sua gente comer sentada em bancos,ao contrário dos orientais (3, 3, 7, pág. 43).

Não deixaremos de observar ainda que, no passo em apreço(3, 1, 2, págs. 4), Estrabão emprega a expressão «mais além dasColunas,,, para aludir ao Ocidente peninsular, como quem olhassedo lado de Roma, o que é natural como ponto de referência

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daquela época, — muito embora dissesse a Ibéria a primeiraparte da terra, então conhecida.

Comparando a Península a uma pele de boi, o geógrafo dizdepois que os Pireneus lhe formam o lado oriental (3, 1, 3, pág. 4);o leitor deve ter isto em mente, — pois as coordenadas eramnaquele tempo deficientes, — para bem compreender a descriçãoestraboniana. Talvez qne assim acontecesse no célebre mapa deAgripa, patente em Roma, no seu tempo, e que portanto Estrabãopodia ter visto. Essa cordilheira alonga-se, na visão aludida, dosul para o norte, e separa da Ibéria ou Península Ibérica a OéUica,(ibici.), chamada pelos Romanos GaZua.

Estreitam-se a Céltica e a Ibéria nos Pireneus, continua o nossoautor, e aí há dois golfos: um do lado ocidental, banhado peloOceano; outro do lado oriental, banhado pelo Àlare Nostrum,O ((Nosso Mar», — entenda-se, dos Romanos. Esta referência,achamo-la também em Himilcão-Avieno (Or. Mar., vv. 146--151), onde se chama ao Mar Interno, do lado mediterrânico,Sardo. O golfo oposto é o da Gasconha ou de Biscam.

O lado sul da Península, para Estrabão (tbul., pág. 5), estende-sedo extremo dos Pireneus às Colunas de Hércules ou iléracles(à grega), hoje Estreito de Gibraltar, onde se fecha o Mar Internodos Romanos, hoje Mediterrâneo, e começa o Exterior, hojeAtlântico; e daí ao Cabo Sagrado, ou de São Vicente. Cumpreter em mente, urna vez mais, tal «planificação» geográflca, aoler e interpretar o grande escritor grego da época de Augusto.Tudo isto é o lado sul. Ivias distingue-se o que está aquém, doque está além das Colunas (cfr. 3, 2, 1, pág. 12), e mesmo o queestá aquém e além Gitadiana (ibid.), o que é importante paraa definição da Lusitânia de Estrabão.

Enfim o lado ou costa ocidental, de certo modo paralela aosPireneus, vai do Cabo Sagrado (gr. Hieron) ao dos Artabros,((a que chamam lente» (ibid.). Este nome aparece transformadoem Nerion na edição de Xylander, que Schulten adopta. Repusa lição dos códices, por vários motivos, e em especial porque eratopónimo corrente, como se vê, por exemplo, de Pompónio Mela,que menciona um rio lenta (forma latina), na Lusitânia setentrional ou galaica (3, 1, 248).

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Finalmente, o lado ou costa norte da Península vai deste cabooutra vez aos Pireneus.

Tudo isto nos lembra muito Ilimilcão-Ávieno (vv. 80 e segs.).À seguir, Estrabão diz (3, 1, 4, pág. 5): — <(Tornando à des

crição, intentamos entrar em pormenores, e começamos pelo CaboSagrado~. É o método dos geógrafos clássicos. Considera, de acordocom a geografia do seu tempo, como o ponto mais ocidental daEuropa, e mesmo de toda a terra habitada o Cabo Sagrado, emparalelismo com os últimos cabos da Líbia, isto é, África, na nossalinguagem moderna, habitada pelos Maurúsios (illaurnsioi), emlatim Mauritani, — que eram o que hoje chamaríamos Marroquinos, ou, com mais propriedade étnica, os i3erberes. E diz sero Cabo de São Vicente mais ocidental do que a costa mauritana.

Não podendo avançar mais para Oeste, recua o nosso autor,desde o Cabo Sagrado (gT. Hieron), até à região adjacente, segundodiz, chamada «à latina Cuneum, que quer dizer eunhIa~. Á explicação baseia-se em mera homofonia. Provém das gentes que viviamna região, os Cónios, Citnei, Cynetes ou Cunetes (gr. Kyneoi,Kynetes; no texto aparece, para a região, o nome Xyneon. No Cód.Paris, cit. por Müller, Kynaioi, nome dos habitantes). Á regiãoé porém a que vai da ba’a de Lagos para Leste, e não apresentaa forma de cunha, como todos sabem.

Serve-se Estrabão neste lugar de Ártemidoro, depois, ao descrever o Cabo ou Promontório Sagrado. Ártemidoro esteve naPenínsula em 100 a. C. Ácerca deste passo, escreve J. Leite deVasconcelos, na sua obra clássica, Religiões da Lusitânia (tomo II,Lisboa, 1905, pág. 10), o seguinte:

«O pi~omontório faz saliência pelo mar a dentro; o geógrafogrego Ártemidoro, que vivia no século 1 antes de Cristo, e queesteve ali, menciona a existência de três ilhotas do cabo; porémelas são tão pouco importantes, que Ávieno só se refere a duas(uma das quais nem mesmo tinha nome)’>.

Ficamos a saber também por Ártemidoro, citado por Estrabão,que havia ali uma cerimónia ou costume, de carácter aparentemente religioso ou piedoso, porque era precedida de uma libação.O que subia ao alto do promontório (um dos locais, como toda acosta de Sotavento do Algarve, dos mais belos do mundo), ~‘ol

tava e mudava as pedras amontoadas, aqui e além. Não haviaestátua, nem deus de barro ou pedra. O voto era por certo a umEnte inominado, porventura ligado à recordação do Oceano porqualquer motivo, e cuja representação não fariam, senão por essemisterioso olho isolado, que nos chamados «ídolos-placass (é sempre arbitrária a designação do que não se conhece .., a muitosséculos de distância, e sob o pó de seculares preconceitos), descobertos nas nossas antas ou dólmens, evoca algum Ser, a quemnão escapam nunca os actos dos mortais, um Ser que tudo vê.Daí também, segundo supomos, a referência, que Estrabão trazmais além, ao «ateismo~ dos Lusitanos galaicos (3, 4, 10, págs. 65),informação desmentida por outras fontes clássicas e pela arqueologia, e (sem dúvida proveniente de não costumarem representarnem simbolizar as suas divindades», diz (Jarcia y Bellido (op. ciL,pág. 171, nota 274); mas que traduz igualmente que, acima dessasdivindades menores, os — digamos — génios das fontes, dos rios,dos bosques, etc., adoravam, como todos os Povos primitivos, umSer supremo, o verdadeiro e único Deus, do monoteismo originário, como nota a mais autorizada investigação. Não ocultamos,porém, que tudo isto são conjecturas, pois, logo a seguir, Estrabãonos diz que, de noite, os deuses, segundo a crença local, ocupamo sítio, motivo por que não se pode ali subir de noite, a sacrificar.Ao que poderíamos opor, no entretanto, que o termo deuses tinhana linguagem greco-latina significado mais vago do que na actual,abrangendo o que hoje poderíamos chamar anjos, antepassados,virtudes, heróis (ou santos); e que Estrabão já antes dissera quea forma de culto era diferente do sacrificio (ctr Frauz Konig,Ohristus und die Rt ligionen der Ente, Viena, 1952, e Gilbert Murray,Five Etages of Orce/a Retigion, 3.~ ed., Nova Torque, 1955, passim).

Éforo, citado antes, nasceu à volta de 408, e terminou a suaobra por 330 a. O.

Ficamos a saber, por Estrabão, que Artemidoro visitou a região,que havia de ser portuguesa, nessas épocas remotas. De Éforonada podemos dizer.

Este mentiu, diz Estrabão, porque não há no Cabo Sagradotemplo nem altar de iléracles (Hércules). Teria porventura estado

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Estrabão no local? Tão categórica afirmação fá-lo acreditar, aomenos como possível.

Possidónio (gr. Poseidonios), natural da Síria, esteve em Marselha em 100 a. O., donde passou à Península por 90 a. O., seguindoa costa mediterrânica, provàvelmente; residiu em Gadira (Cádiz),e chegou mais acima de Sevilha, regressando por mar à Itália,conforme nota eruditamente Garcia y Beifido (op. cii., pág. 61e 63). Parece ter estado sõmente nesses lugares, não tendochegado à nossa zona, pois, a respeito do que se passa noOceano, louva-se apenas no que viu em Gadira (Estrabão, 3,1, 5, págs. 6-7).

Gadira (gr. Gadeira), grande empório mediterrânico, é a actualCádiz, no sul da Espanha actual. Corresponde à antiga Tartesso.Os Cartagineses, como os Tinos, ou sejam os Fenicios de Tiro,antes deles, chamavam-lhe Gadir (o r é desinência do plural,acrescentada a um radical indígena) e os Romanos Gades (coma terminação romana es, acrescento ao radical) (cfr. Oestryrnnis,p. 26, etc.). O que não impede que tenha mudado de lugar, aalguma distância, como tantas vezes sucedeu, e ainda sucede,com os povoados.

4. E) A Ocidental Praia (eLo hesperion pleuron»).

O lado, praia, costa ocidental da Ibéria começa, diz Estrabão,(3, 1, 6, pág. 7), no Cabo Sagrado, e dilata-se, pelo sul, até à fozdo Anas. Mais unia vez se manifesta aqui a distinção, que Estrabão faz, das zonas de aquém e além Guadiana, como dissemosacima. Quem ler seguidamente esta parte (ibid., págs. 7-9), logoverá que, a partir do Anas ou Guadiana para Leste, a região éoutra, não é a «praia ocidental», ou «lado ocidental», como seconsignou na tradução.

Queremos aqui notar que a divisão em parágrafos não constado original da Geografia de Estrabão. Por isso, não poucas vezes,o leitor é induzido em confusões por uma ou outra arbitrariedadedos intérpretes e editores.

Aqui justamente há uma dessas incongruências. O parágrafo

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XXVI

6.° deveria abrir no começo da página 8, e não onde está, napágina 7; conservou-se para não alterar radicalmente nesta tentativa a tradição escolástica. Na verdade, quando Estrabão diz:— «Nas regiões altas habitam os Carpetanos, os Oretanos e muitosdos Vetões. .~ (pág. 8), desviou a sua atenção para Leste, poissempre parte do Ocidente para o Oriente, como notámos já, emelhor se verá adiante, pela localização destes Povos, segundoo mesmo autor.

Na referência ao lado ocidental, Estrabão diz que ele se dilataaté ao estuário do Tejo. Este passo contradiz, até certo ponto— ao menos tomado à letra, — o já atrás comentado, do mesmoEstrabão (3, 1, 3, pág. 5), que põe o termo do lado ocidental noextremo noroeste da Galiza. Suspeitamos por isso, dada a correcção da tradução do Dr. Cardoso, que há interpolação naspalavras «até ao estuário do Tejo~, que os códices, que nos restam,apresentam.

Poderá ser no eutauto que na mente de Estrabão estivesse ocircunscrever-se, na sua descrição, à zona que vai até ao Tejoe ao Anas! Pode ser. Basta ver todo o capítulo III (págs. 34 esegs.), dedicado à, como dizia Camões, talvez influenciado, <(Ocidental Praias, ou lado ocidental da Ibéria, o qual chega ao extremonorte, ao litoral do Mar Cantábrico (3, 3, 2, págs. 36, etc.). Tudoé possível, dado que os Lusitanos se estendem principalmente doTejo para o Norte, segundo Estrabão, falando deles como Povo,dirá (3, 3, 3, págs. 36).

Esta descrição do lado ibérico ocidental, termina-a o geógrafo,dizendo (3, 1, 6, págs. 7) que os Romanos trouxeram da outrabanda do Tejo, isto é, da margem norte, para a zona de entreTejo e Guadiana, alguns dos Lusitanos. Tal notícia condiz comPtolomeu (2, 5), que atribui à população lusitana, nesta região,no Àlentejo, Paz ~Ju1ia (Beja) e Jutia Aiijrtitis (Mértola), esta sobreo Guadiana e entre Ebura e Augusta Ementa (Ménida).

Apiano (Ibérica, 6, 10, 57) fala nos «Lusitanos do outro ladodo Tejo», isto é do sul do Tejo, que em 153 a. O., sob o comandode Cauceno (Kaukainos na forma grega), invadiram os Cónios(Kyneoi), que eram súbditos romanos, e ocuparam a cidade

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destes, Conistorgis (ou Conistorsis), onde (ibid., n.° 58) tambémhibernou Sérvio Galba, vindo de Carmona — que portanto ficavana mesma via —, onde se refugiara, derrotado pelos Lusitanos.Estes Cónios, sujeitos aos Romanos, não se devem confundir,assim, com os Cónios do lado ocidental da Ibéria, inimigos,como os Lusitanos, dos Romanos, segundo se vê do próprio Apiano,mais adiante (6, 12, 68), e por isso guerreados por Serviliano,que, depois de os subjugar, marchou contra os Lusitanos e Viriato,em 142 a. O. Não era pois o país cónio ou cinético, a Oeste doGuadiana, lugar para quartéis de inverno, mas hostil.

Testemunho importante, porque Apiano esteve na Península(Histór€a Romana, proémio, 12).

Adiante faremos a isto mais detida referência (n.° 7, infra).

5. O) A Bética ou Turdetânia.

Concebendo uma região montanhosa, menciona Estrabão depois(3, 1, 6, pág. 8) os seus habitantes: Carpetanos, Oretanos e, emparte, Vetões. Mas refere-a, afinal, para logo descrever a regiãoque lhe fica ao Sul: a Bética, assim chamada do rio que por elacorre, o Bétis, hoje Guadalquivir; e também chamada Turdetânia, do nome dos seus habitantes, que Políbio distingue dos Túrdulos, seus vizinhos a Norte — a meu ver, os primitivos habitantes,que os Heracleus e Penícios obrigaram a refluir para as montanhas,tal como sucedeu com as migrações do Norte de África, que obrigaram a refugiarem-se os Berbercs no Atlas.

Esta região, di-lo Estrabão bem claramente, fica para Leste doAnas,. e vai até à Oretânia e às Colunas de Hércules ou Héracles,o Estreito de Gibraltar. Não confunde, pois, com o lado ocidental da Ibéria, a Ocidental Praia Lusitana, de Camões. Ilegítimoportanto abrir um parágrafo ou subdivisão deste capítulo nadescrição do Cabo Sagrado, como já referimos.

Quando o geógrafo pois nos fala da cultura dos Turdetanos,da sua escrita e da sua história, poesia e leis em verso, com cercade 6000 anos, refere-se à sua Turdetánia, e não à zona oeste doGuadiana.

No entanto, há aqui uma notícia importante: a de que havia

xxvm

várias escritas ou alfabetos (digamos assim para facifidade decompreensão) na Ibéria, onde mais do que uma língua se falava,— nota ele, em que pese aos que procedem hoje em dia, emmatéria ifiológica, como se acontecesse o contrário.

Estrabão, como vimos, sómente nos fala dos Cónios do Algarve.Em outra obra (Ocstrymwis cit, págs. 42 e segs.), julgamos terdemonstrado qual a extensão dos Túrdulos ou Turdetanos, que,partindo da zona de entre Douro e Vouga, onde ficaram os TnrcluliVetcrcs (Velhos ou Antigos), vieram dar ao território alentejanoe algarvio, expandindo-se pela costa, até às Colunas, em épocaanterior às invasões heracleia e fenícia. Os Cónios eram o mesmoPovo, assim chamado por estarem à beira do Oceano, pois significa «oceânicos~, e assim, com o mesmo nome, se designavam todasas populações que ficavam no Ocidente ibérico (op. cii., págs. 19e segs., e 115 e segs).

Ao mar para fora das Colunas chamavam os antigos Exterior;e Interno ou Interior ao Mediterrâneo. Assim faz Estrabão também.

Carteia, em vez de Calpe, «antiga e famosa cidade)>, (3, 1, 7,pág. 9), é emenda avisada que faz Casaubonus à lição dos códices.Aceitamo-la, embora, como refere Schulten (ap. cii., pág. 145),haja notícia de um certo caipis oppidum (G. G. liinorcs, pág. 34).

Timóstenes de Rodes, aí falado, escreveu um tratado sobreos portos, cerca de 280 a. C-, e esse escritor, segundo Estrabão,informa que inicialmente se denominava tal cidade Heracleia.Teríamos assim três nomes: Calpe, Heracleia e Carteia, para amesma cidade, o que não é fenómeno único na região. Veja-seo que sucedeu com os nomes de Cádiz. E, fora dela, com o nossoAernini’urn (Coimbra), transformado em Ooiimria (Conimbrica)pelos Árabes.

Mantemos (3, 1, 8, pág. 9) a lição Atentaria dos códices, queé a de Ptolomeu e Marciano. A lição licitaria é corruptela ouforma devida a evolução (v. pág. 8, nota 34).

Tingis, a seguir referido, é Tânger, e Zélis é Arzila, em Marrocos.Os Romanos levaram os seus habitantes para a Península Ibérica,

XXIX

na costa fronteira, e com eles fundaram Júlia Joza (ou Joza),que, segundo Carcia y Bellido (op. cit., pág. 69-71), é Tarifa.Significativo é o outro nome desta cidade J’ulia Transdu eta(i. é, transferida).

Calpe é o Penedo de Gibraltar (Fefiónj; Carteia localiza-sea Nordeste de Algeciras, sobre a baia; Menlária talvez estivesse namargem oriental do rio Vaile, ensina também o ilustre Mestre(op. ci&~ pág. 69).

O nome de Heracleia não parece devido à ânsia de hehmizar&tieamente (o termo é de Garcia y Beilido) a Península. Devetraduzir a recordação de posse ou até fundação de Hércules, ochefe oriental, porventura fenício, que comandou as populaçõesde Cempsos, Sefes, e Dragaues, vindas da Ásia Menor, do ImpérioPersa, à Península Ibérica.

Belão, mencionado também no lugar em apreço, é um rio.Porém, segundo o eminente arqueólogo Garcia y Belildo (ibid.),o nome corresponde a Bolonia, despovoado perto de Tarifa (gr.Belon, lat. Belo e Baelo).

A seguir, diz Estrabão (3, 1, 9, pág. 10), vem o porto de Menesteue o estuário que bordeja Asta e Nabrissa.

Asta é Asta Regia, em que o segundo termo, «Régia~, devetraduzir o primeiro.

Nabrissa, acentuado assim, à latina, é Yábrissa, em grego.Nos códices lê-se porém Nábrassis. É Nebrija ou Lebrija, no Sulda Espanha.

Quanto ao porto de Menesteu, escreve Garcia y Beifido (op.cii., pág. 71): «Menesteu era o chefe das tropas atenienses emTroia. Segundo uns, morreu diante dessa cidade; mas outrosdizem que em Atenas, depois de ter percorrido o mundo e fundadocidades na Aio/ris da Ásia Menor, no sul da Itália e em Espanha.Estrabão cita com o seu nome o porto (quiçá o Fuerto de SantaMaria, em frente de Cádiz) e um oráculo, e, segundo Filóstrato,era venerado pelos Gaditanos, que faziam em sua honra sacri1 ícios~.

xxx

Falando do rio Bótis (Guadalquivir) achamos neste ponto umareferência, interessanti ssima para nos, Portugueses, em Estrabão,(3, 1, 9, pag 10 in fine), a de uma cidade chamada Ebura, interpondo se entre as embocaduras daquele no e as entradas deoutros estuários, ceitamente no porto de huelva, onde os RiosTinto e Odiei desaguam

i~’hais além, outra vez, o Guadian’t, com suas embocadurasComo se apreende facilmente, — e na leitura dos geografos

antigos é necessário ter em atenção constantemente o sentidoem que se deslocam na sua descrição, — o nosso autor voltaatras, a foz do Guadiana, seguindo piovavelmente so pela costa,onde ficava esta Ebw a, nome celta (~Castellum~, segundo Mela,3, 4) correspondente ao da poituguesa Eboi a, no Alentejo, fundação romana colonizada com Lusitanos (<oppidum», segundoPlimo, 4, 117), conhecendo se porém outia, na costa alentejana,com o mesmo nome (Mela, 3, 8), e outra ainda na Gahza (id,3, 11), para não falai em Eburobntttitm (Plinio, 4, 113), na Lusitânia de entie Tejo e Douto

Chegado ao Guadiana, Estrabio menciona, em sua viagem deregresso, mais além, o Promontorio ou Cabo Sagrado, terminandopor mdicar as suas distâncias do Guadiana, da desembocadurado Guadalquivir e de Cádiz

6 D) Liiuiíes da Betica—Turdetinia, e suas gentes

bmboia tendo prestado ja Estiabin à Turdetânn Bótica aatenção que se tem visto, a descução dela começa precisamenteno capitulo Ii

Como ja dissemos, Estrabão não ultrapassa o Guadiana, paraOeste, pata o território português De modo que todas as coriecções feitas com o intuito de modificar esta sua atitude, e muitassão, têm de sei rejeitadas O geogiafo, logo de entrada (3, 2, 1,pag 12), estabelece os limites desta iegião, fixando os a Nortee Poente no Guadiana, a Leste em algumas tubos dos Caipetanose Oretanos, ao Sul confina ‘t com os Bastetanos (Sudeste na geografia actual), que ocupam a estreita faixa costeira entie Calpe

XXXI

(Petlón de Cibraltar) e Gadira (Cádiz), e com o Mar Exterioraté ao curso do Anas ou Guadiana.

As confusões nasceram do passo que diz imediatamente:

«Integram-se ainda na Turdetânia os Ilastetanos, que jámencionei, as tribos de além Anas e a maioria dos vizinhos(ibid.)~.

Diga-se antes de mais que Bastetanoi é emenda de Astetanoi,Astetanos, habitantes de Asta ou Hasta Régia, em plena Turdetânia-Bética. «Astetanos~, diz o original.

Não há pois nisto contradição.A alusão às «tribos de além Anas~ tem produzido a apressada

conclusão de que Estrabão integrou o nosso Algarve (o porquenão o Alentejo?) na Turdetânia que descreve.

Estrabão tem proskcintai, que se traduziu «integram-se). Porémo sentido exacto é o de Plinio (3, 13): jura (Cordubam) petunt.Trata-se de uma referência pura e simples à administração romana,e não a qualquer afinidade nacional ou tribal.

Estas «tribos de além Anas», impõe o elemento sistemático deinterpretação textual que se procure saber, por outros passos, quaissão, visto que não as especifica o autor aqui. E o próprio Estrabãonos diz que os Povos de além Anas, para o Norte, eram Túrdulos,e no seu território haviam os Romanos fundado Ementa Augusta,ou Mérida (3, 2, 15, pág. 33), futura capital da futura provínciada Lusitânia; e identifica Túrdulos com Turdetanos expressamente(3, 1, 6, pág. 8).

Ptolomeu, nas suas conhecidas Tábuas, declara, por exemploque os Turdetanos detêm o interior e o (que fica) junto da Lusitânia (pág. 39).

Não pode haver confusão portanto. Estão excluídos os Povosdo nosso Algarve da Turdetânia ou Bética de Estrabão. Esteo sentido de um passo de Plínio, atrás invocado, que tem originado também dúvidas injustifieadas, pois não trata dos Lusitanos.Diz Plínio (3, 13):

«Quae autem regio a l3aete ad fiuvium Anam tendit extrapraedicta 1~aeturia apellatur in duas divisa partes totidemque

xxxu

gentes: (corrigimos a pontuação, substituindo por dois pontosuma vírgula) Celticos qui Lusitaniam attingunt, Hispalensisconventus, Turdulos qui Lusitaniam et Tarraconensem accolunt, jura Cordubam petunt~.

Isto quer dizer:

«Porém, a região, para além da descrita, que se estendedesde o Bétis até ao rio Ana, divide-se em duas partes eoutras tantas cividades (tribos ou nações): os Célticos, doConvento (jurídico) hispalense que chegam até à Lusitânia, eos Ttdulos que habitam a Lusitânia e a Tarraconense, edependem da jurisdição de Corduba».

Ptolomeu, num passo imediatamente anterior ao já citado,diz-nos (loc. cii.) que acima, isto é, ao Norte dos Bastulos, ouBastetanos, no hintcrla’nd (mediterranca) para os lados da Tarraconense, viviam Túrdulos. Logo, para o Norte, e não para Oeste.

Não façamos confusão, onde Estrabão não incorreu nela. Convêm apenas reter que a província da Lusitânia, com as colonizações romanas feitas com Lusitanos, abrangeu também Túrdulos perto. Se eles estavam ao tempo de Plínio abrangidos noConvento jurídico de Córdova, situação em que se manteriam pormuito tempo talvez, isso não impedia que a Lusitânia, pelassuas gentes mais importantes, os habitantes das cidades, os Lusitanos, embora os dos campos fossem Tilrdulos — o grosso da população (aliás afim da lusitana, como se tem visto) —, se pudessecstendcr até aí; problema que aliás não exarninarcmos agora.

Certamente que, a crer no fidedigno testemunho de Ptolomen(cap. V), os habitantes de Balsa, Ossonoba, do PromontórioSacro, de Caifipo, Salacia e Caetobrix ou Cetóbriga eram Túrdulos,como o eram, segundo Pl’uio, os moradores da margem sul dafoz do Douro, que todos incluem entre os Lusitanos. Mas temosde distinguir entre afinidades e unidade nacional. Esta só existiriaaquém Anas, por todo o Ocidente peninsular, cimentada pelaslongas e gloriosas guerras contra Roma.

xxxnI

O capítulo III, dedicado à Bética-Turdetânia, menciona váriaslocalidades, como Itálica, que ficava em Santiponce, perto deSevilha (Hispalis), lupa, actual Alealá dei Rio, perto da mesmacidade, Ástigis, hoje Ëcija, Cármon, hoje Carmona, Munda, provàvelmente Montilla (o nome de Munda aparece também naLusitânia, dado ao Mondego, o que não admira por ser nomeestrímnio), Atégua, que é Teba la Vieja; Urson, Osuna de hoje;Ilcúbis, como quer Klotz, ou Tukis do original, aquela preferidapor estar na região da guerra, esta em latim Tucci ou Itucci(veja-se o 1 do artigo estrímnio plural), hoje Martos; Uha é Montemayor; Aspávia, cidade da guerra referida, é também emendade Klotz ao nome que se acha no original: Aigua. A guerra dosfilhos de Pompeio, mencionada aqui, foi feita contra César.

Na região dos Célticos, que, coiuo vimos, tinham o porto deNbuia, ficava também, mais para o interior, Conistorsis (3, 2,2, pág. 11), que se tem corrigido para Conistorgis, em face deurna lição de 4.piano (Ibo., 57-58) e Salústio (Ilisi., 1, 119),mas que bem pode ser a melhor forma. Ninguém sabe ao certoonde ficava, nem a origem do seu nome, em que no entanto sepretende ver um composto do nome dos Cómos. Sabemos queficava entre os Célticos, numa zona dominada pelos Romanosjá em 153 a. (~., e que foi invadida pelos Lusitanos sob o comandode (auceno, seu general, mas que, segundo Apiano, ficava emterra dos (‘ónios. Flavia portanto uma certa mistura, de Celtase (1ónios nessa região. Provàvelmente a todos designavam já porCeltaq, ao tempo de Estrabão. Avieno chama Cónios também aestes povos entre o Anas e o l3étis.

Estrabão (tbid.) fala também de Asta, Mesas de Asta, pertode Jerez, e depois de (‘astulão, Cazlona de hoje, ruínas; Sisápon,Almadén; lietúria, que então designava a região junto do Bétis,e que depois foi a que se estendia a sul de Badajoz.

Ónoba, citada mais além (3, 2, 5, pág. 17), é outro nome dehuelva.

Sónoba, alguns corrigem para Ossónoba. Mesmo que assimseja, é de manter a preciosa forma original, como noutro lugarjulgamos ter provado. Ménoba (~Jfamoba em gr.) tem sido iden

L

XXXIV

tificada com Ménace (Afainake), com alguma razão. Se assim for,esta cidade ficava além da Turdetânia e do Calpe, pois aí é referida por Estrabão (3, 4, 2, pág. 48), que a coloca ainda mais longedo que Málaca (Málaga), no mesmo passo (ihid.).

Pode acontecer que o nosso autor, guiado pela rima, juntasseaqui todas as terras terminadas em -voba, ao aludir a estuários.Confirma esta hipótese o facto de não falar de Ossónoba na regiãoalém Anas, hoje portuguesa, onde sabíamos que ficava, e deOnoba ter o sobrenome ou apelativo de Astnarin, que lhe davamos latinos, traduzindo o nome indígena.

Haveria assim aqui uma paragem, uma consideração geral,à laia de parêntese, como em tantos outros lugares.

Mas ainda poderia aventar-se a hipótese de ~Wonoha não ser anossa Ossonoba.

Adiante fala do carvalho, que abunda em toda a Ibéria, também (3, -1, 7, pág. 20), e faz referência, por comparação, a outrasregiões longínquas.

Mais à frente (3, 2, 9, pág. 25), como já vimos, cita um passode Demétrio, e, a propósito de minas de estanho, lembra as dosLusitanos Ártabros, que são os últimos (Noroeste da Galiza actual),onde também há ouro e prata.

Cartago Nova (3, 2, 10, pág. 25) é Cartagena.

Tem imenso interesse a reabilitação da geografia homérica, feitapor Estrabão ainda neste capítulo, a terminar (3, 2, 12-13, págs28-31). Noutro lugar estudámos o assunto com mais desenvolvimento.

As primeiras notícias da Península devem-se, diz Estrabão,aos Fenícios, que, antes da época de Homero, possuíam o melhordela (3, 2, 14, pág. 32), e, no seu tempo, constituiam o grossoda população da Bética (3, 2, 13, págs. 29-30). Também nos lugares convizinhos à Turdetâffla havia Fenicios, diz Estrabão (ibictj.Devem ser os povos vizinhos, que referiu atrás sem menção especial (3, 2, 1, pág. 12). Aos Fenícios de Tiro alude expressamente,embora sem os localizar, falando da região além Calpe (3, 4, 5,pág. 52).

Já tocámos nisto acima, no n.° 1.

7. E) A Lusitânia de Estrabão: 1) Célticos e Primitivos Túrdnlos

Chegamos enfim à descrição da região portuguesa.Começa de novo Estrabão (3, 3, 1, pág. 34), pelo Cabo Sagrado,

para logo subir até ao Tejo. Explica-se isto porque já antes aludira, no capítulo 1, dedicado à geografia geral da Ibéria (3, 1,4-6, págs. 5-7), às populações que aí havia, segundo ele: Lusitanos e Célticos (3, 1, 6, pág. 7).

Interessa aqui abrir um parêntese, para voltar atrás, ao capitulo 1, atentando nesta última referência.

Estrabão dissera (3, 1, 6, pág. 7):

«Na faixa litorânea contígua ao Promontório Sagrado temcomeço não só a costa (lado) ocidental da Ibéria, que sedilata até ao estuário do Tejo, senão que a costa (lado) meridional que se prolonga até outro rio, o Anas, e sua embocadura.Um e outro destes rios correm das partes do Levante. Mas,ao passo que o Tejo, muito maior que o outro, se dirige emlinha recta para o Poente, o Anas infiecte para o Sul, e delimita uma «mesopotâmia~, que é povoada na sua maior partepelos Célticos e alguns dos Lusitanos a quem, de além daoutra banda do Tejo, para ali transplantaram os Romanos~.

Sobre as dificuldades que pode oferecer este passo, no que respeita a afirmar-se nele que a costa ocidental vai até ao Tejo, e ameridional até ao Anas, já atrás nos referimos, no n.° 4 destaIntrodução. Cremos que Estrabão quis fazer referência especiala esta região entre Tejo e (*uadiana, para, no lugar próprio, maisadiante, falar do resto com mais vagar.

Ptolomeu, no capítulo V do liv. II das suas Tábuas, descreveaquilo que ele chama Lusitânia, com um significado evidentementeadministrativo, romano, pois na altura já a parte norte foraamputada, e integrada na Tarraconense, para quebrar a resistência da velha Orei de Viriato. Esse significado administrativonão impede porém que se possam achar as linhas gerais da Naçãolusitana, em confronto com o testemunho de outros autores,principalmente Estrabão e os alegados acima no n.° 2 destaIntrodução.

XXXVI

Ora o citado Ptolomeu informa ali que viviam na Lusitâniaos Turdetanos. Sob esta epígrafe, menciona Balsa, Ossónoba,o Promontório Sagrado, a foz do rio Calipo (Cailipo), Salácia e.Kaitobrir (Cetóliriga, Caetobrix), como dissemos há pouco (supra,n.° 6). Depois, sob a epígrafe «Os Lusitanos», ternos o Promontório Barbarion, Olios Hippon (var. Olioseipon), isto é, Olisipo(em Estrabão llolosis), a foz do Tejo, os montes ou Promontórioda Lua, a foz do Monda ou Munda, a foz do rio Vacna, e a fozdo rio Douro. Logo a seguir, Ptolomeu diz que os Turdetanosocupam os lugares em torno do Promontório Sagrado, e que,deles, na Lusitânia interior estão Fato .Ju lia (Beja) e Julia JlfyrLuis (Mértola); mas acrescenta que, no interior da Lusitânia também, ou seja no Alentejo ficam os Célticos. A Norte destes estão osLusitanos em Évora (Ebura) e daí para cima, Scalabis, Aeminium,etc., sem esquecer, mais para Leste, no curso do Onadiana, EmentaAugusta (Ménida). Faz depois referência aos Vetões, mas estes,como acima se viu, andaram apenas ligados ao governo militarLusitânia de princípio, até serem nela integrados, mormentequando a Lusitânia foi cortada pelo Douro.

Como se vê, Ptolomeu conhece Lusitanos ao Sul do Tejo, ebem a Sul, designadamente em Évora. Mas não deviam estareles a Sul do Tejo sômente desde a colonização romana, pois jáem 153 antes de Cristo, sucedia que «os Lusitanos do outro lado(Sul) do Tejo, sob o comando de Cauceno, malquistando-se também (corno os do Norte do Tejo) contra os Romanos, invadiramos Cónios (da Bética) que eram súbditos dos Romanos e apoderaram-se durna grande cidade deles, Conistorgis, e, perto dasColunas de Héracles, atravessaram o Oceano, e enquanto unsdevastavam uma parte da África, outros assediavam a cidadede Ocilis» (Arzila, em ár. Ai-Gila), ou Okilis, informa Apianona sua História das Guerras Ibéricas, ou Iberica (lherike), livro VI,cap. X, 57.

Estes Lusitanos estavam acantonados a Sul do Tejo.

Marco Terêncio Varrão nasceu em 116 a. (1. e faleceu em 27a. O. (Garcia y Bellido, La Espaíia (lei siglo piiinero, cit., pág. 219).Plínio, citando este autor vetusto, diz: «db Aaa ad SacrE m .L~isi

xxxvU

tani~~ (4, 116), ou seja que «desde o Anas ao Promontório Sacro[estão] os Lusitanos~.

Deixemos porém ainda a questão em aberto.

Referindo-nos aos Celtas da Lusitânia, convém anotar a opiniãode Plinio, de que os Celtas da Bética deviam ter vindo dos Celtiberos da Lusitânia, como o revelavam manifestamente a suareligião, língua, nomes de cidades e pessoas, com que se distinguiam na Bética (3, 13):

«Celticos a Celtiberis ex Lusitania advenisse manifestumest sacris, lingua, oppidorum vocabulis quae cognominibusin Baetica distinguuntun.

Não diz Plínio que os Célticos da Bética provinham dos daregião do nosso Alentejo e Algarve, pois os que aí estavam eramCélticos e não Celtiberos; não há referência alguma a queeJes fossem Celtiberos.

Não damos muita importância a esta notícia, que é isolada deoutros testemunhos. Plínio foi procurator da Hispânia Citeriorno tempo de Vespasiano. Distinguia bem os Célticos dos Celtiberos certamente. A i.eferência «a Celtihcris~ parece interpolação,pois os Ccltiberos estavam bem longe, mesmo para Plínio. Emqualquer caso, trata-se de uma consideração válida apenas paraa Lusitânia espanhola.

Na última parte da sua descrição da Lusitânia — da Lusitânia,note-se bem — Estrabão traz esta informação preciosa (3, 3, 5,pág. 39):

«Os últimos são os Artabros, que habitam na vizinhançado Cabo, que chamam Nério, e que é o termo dos lados(costas) oriental e boreal (norte) [da Lusitânia]; perto deste[mesmo Cabo vivem ainda] os Célticos, parentes daquelesoutros que habitam. nas cercanias do Aiias. Sem dúvida, diz-seque estes e os Túrdulos, após ter atravessado o rio Limea

xxxv1JI

numa sua expedição [contra estes Povos], ali se rebelaram;e que, após esta rebelião, como o chefe se perdesse, por alimesmo ficaram dispersos; e que por esse motivo o rio sechamou também Letes».

Conforme noutro lugar escrevemos (Oestrymnis, págs. 123-124),«por este relato de uma velha tradição histórica, ouvida porEstrabão, sobre a invasão dos Celtas, ficamos a saber que osCeltas, antes da vinda dos Romanos, se aliaram com os Túrdulosdo Sul da Pen’nsula, e juntos com eles atacaram o Noroeste,sendo desbaratados porém pelos seus próprios aliados nas margensdo rio Lima, pelo que dispersaram, fixando-se os núcleos principais no Cabo Nério e ao pé do Guadiana. Ainda no século VIhavia uma diocese no extremo Noroeste da Galiza, que se chamava Britónia, com um Bispo JIIailoc, nomes que acusam a presença dos Celtas Bntoni ou Britcvnni, como revelam a mesmaorigem os topónimos portugueses e galegos, Bretoa, Bretonha,etc. A cidade de Bntonnia foi destruída pelos Muçulmanos em716, às ordens de A bde Alaziz. Nunca dominaram pois os Celtas,limitando-se a ser hóspedes dos Povos autóctones, que acabarampor os assimilar por completo».

Em nota (486), dissemos também que «Schulten, Fontes, IV,pág. 206, escreve, mexplicàvelmente: — «Estes Célticos, que deramo nome ao prom. Oelticnrn, são parentes dos da região Bactuna,de que se trata no cap. 1, 6, e bem podem ter vindo para aquicomo auxiliares de Bruto, e ficar depois da partida do seu chefe».Sobre a origem dos Célticos da Galiza, v. s’upa, nota 379, é nossaopinião também que os Célticos do NO. não deviam ter vindoda Betúria. Aliás basta ler o que diz Estrabão, que está falandoda Lusitânia e não da Bética, sendo portanto da Lusitânia osCélticos que são a sua origem, ou seja do Alentejo. O que nãoimpede que houvesse parentesco com outras tribos celtas, daBética ou de outro lugar Não fala Estrabão da passagem doUma? Não inculca porventura isto o caminho do Sul para oNorte, e portanto desde o Alentejo ?» Diga-se de passagem quea hipótese de estes Celtas serem soldados de Bruto não tem qualquer apoio.

Afastando-nos um pouco do que escrevemos na citada nota

-J

XXXIX

379, afigura-se-nos agora claro que os Túrdulos, com que se aliaramos Célticos do Mias, da parte lusitana e não bótica, pois só daquelase trata, não são os do Sufi de Portugal ou os da Bética, qualquerque fosse a ideia que Estrabão teve da vetusta informação a quese reporta. São necessàriamcuio os convizinlios do Douro, osTurduli Veteres, que aquele rio scparava dos Calaicos.

Para bem se compreender o que dizemos, e ilustrar quantoatrás ficou indicado sobre a distribuição desdes Povos, convémaqui transcrever Pfnio, O. Plinius Secundus, em sua NaturalisHistoria, livro III, capítulo XXXIV, que descreve com pormenora Lusitânia:

«34. A Pyrenaei promontorio Hispania incipit angustiornon Gauiae modo, verum etiam semetipsa, ut diximus,immensum quantum hine oceano, illinc Iberico mare comprimentibus. Ipsa Pyrenaei juga ab cxortu aequinoctiali fusain occasum brumalem, breviores latere septemtrionali quammeridiano Hispanias faciunt. Proxirna ora citerioris est,ejusdemque Tarraconensis situs: a Pyrenaeo per oceanum,Vasconum saltus. Olarso: Vardulorum oppida: Morosgi,ivienosca, Vesperies, Amanum portus, ubi nuno Flaviobrigacolonia. Civitatum IX regio Cantabrorum, flumen Sanda,portus Victoria Juliobrigensium. Ah eo loco fontes Iberiquadraginta milha passuum. Portus Blendium. Orgenomesciet Cantabris. Portus eorum Vereasueca. Regia Asturum,Noega oppidum: In peninsula, Paesici. Rt deinde conventt?sLucensis, a fiumine Navilubione, Cibarci, Egovarri cognomineNamarini, ladoni, Arrotrebae, prornontorium Celticum. Amnes:Florius, Nelo. Celtici cognomine Ncriac, supcrque Tarnarici,quorum in peninsula tres arae Sestianae Augusto dicatae:Capori, oppidum Noela, Celtici cognom’ine Praesarnarci, Cilcui.Ex insulae nominandae, Corticata, et Aunios. A Cilenis,convcnt’us Bracarum, Heleni, Gravii, casteilum Tyde, Graecorum sobolis omnia. Insulae Cicae. Insigne oppidum Abobrica.Mftius amnis, IV lvi pass. ore spatiosus. Leuni, Seurbi. Bracarum oppidum Augusta, quos supra (iallaeeia (Gatlaeci).Flumen, Limia: Durius amnis ex maximis Hispaniae, ortusin Pelendonibus, et juxta Numantiam lapsus, deiu per Are-

XL

vaeos Vaccaeosque, disterminatis ah Asturia Vettombus,a Lus2tama Gallacis, ibi quoque Turdulos a Bracans areens.Omnisque dieta regio a Pyrenaeo metailis jefeita, anri,argenti, feriu, plumbi mgri albique.

35. A Diino Luntan ,a vic~pit: Turduli vetores, Paesuri:flumen Vacca. Oppidum Talabrica. Oppidum, et fumouAemimum. Oppida Conimbrica, Coilipo, Eburohrut um. Exeurrit demde m alto vasto cornu promontoritm, quod ahÁrtabrum appellavere, alii Magnum, multi Olisiponense, ahoppido, terias, inaiia, caelum disterminans. Tilo finitur Ilispaniae latus, et a circuitu ejus incipil trons

Septemtrio lune, oceanusque Gailicus, occasus illinc, ei,oceanus Atlanticus.

Promontoru exeursum LX M prodidere, ali XC M pass.Ad Pyienaeum indo fiou pauci XII qmnquagmta milha, eUibi gentem Artabrum, quae nunquam fuit, marnfesto errore.Arrotrebas enim, quos ante Celticum dixirnus promontorium,hoc in loeo posuere litteris permutatis.

Erratum et m amnibus inelytis. Ah limo, quem supradiximus, CC M pass. (ut auetor est Varro) abest Aernimus,quem alibi quidem intelhgnnt, eU Limaearn vocant, Oblivionisantiquis dictus, multumque fabulosus. Ah Durio TagusCC M passuum interveniente Munda. Tagus aurifer areniscelebratur. Ah co CLX II passuum proiiiontw ~nm Sacriune media prope ilispama fronte prosilit. XIVC M pass. indoad Pyrenaeum medium colligi Varro tiadit. Ad Anani vero,quo Lusitantam a Bactica discrevz,nus, CXXVI M passuum:a Gadibus CII M pass. additis. Gentes: Celtiei, Turduli, eUcirea Tagum Vettones. Ab Ana ad Sacrum Lusitaiu. Oppidamemorabilia a Tago in ora, Olisipo equarum e Pavonio ventoeonceptu nobile: Salada cognominata urbs Imperatoria:Merobrica: Promontorium Sacrum: et alteruin Cuneus.Oppida: Ossonoba, Balsa, Myrtilis.

Universa provmcia dividitur in conventus tres, Emeritensem, Pacensem, Scalabitanum. Tota populorum XLV, inquibus coloniae sunt quinque, mumeipium civium Romano-rum: Latii antiqui tria: stipendiaria, XXXVI: Colouiae:Augusta Ementa, Anae fluvio adpositae: Metaifinensis,

XLI

Pacensis, Norbensis, Caesariana cognomine. Contributa suntin eam Castra Julia, Castra Caeciiia. Quinta est Sealabis,quae Praesidiurn Julium vocatur. Municipium civium Romanorum Olisipo, Felicitas Julia cognominatum. Oppicla veterisLatii: Ebora, quod item Liberalitas Julia, et Myrtilis, acSalacia quae diximus. Stipendiariorum, quos uominare nonpigeat, praeter jam dictos iii Baeticae cognomiuibus, Augustobrigenses, Aeminienses, Áranditani, Arabricenses, Balsenses, Caesarobricenses, Caperenses, Caurenses, Colarni, Cibilitani, Concordienses, Elbocori, Interamnienses, Lancienses,J[irobricenses qui Geltici cognominantur, Medubricenses quiPlumbari, Ocelenses, Turduli qui Bardili et Tapori. Lusitan’iam c~tm Ast?U’ia et Gailaccia patere longitudine DXL 11,talitudine DLXXXVI 111, Agrippa prodit

Releve-se-nos o extenso da transcrição, cuja importância éescusado encarecer. Como de costume, traduzimos, para auxiliaro estudioso, O leitor deve reparar em que toda a descrição feitapor Plínio se desenvolve de Norte para Sul, mas por uma formadiferente daquela, a que hoje estamos habituados: como se omapa estivesse voltado debaixo para cima, isto é, com o Norteem baixo e o Sul por cima. Posto isto, leiamos em português:

«34. A Hispânia começa no Promontório do Pireneu, nãosó mais estreita do que aO Mia, mas do que ela mesma, pois é ali,como dissemos, que de uni lado o Oceano e de outro o Maribérico a comprimem imensamente. Essas cordilheiras doPireneu, dilatadas desde o Levante equnocial ao Ocasobrumal, tornam as llispânias mais estreitas do lado setentrional do que do meridional. A primeira é a costa Cituiore a saa região Tarraconcse. [Seguindo] do Pireneu por beirado Oceano, [achamos] as solvas dos Vascões, Olarso, asfortalezas (oppida) dos Vardulos, os Morosgos, Menosca,Vespérie, o Porto Amavam (dos Amanes~?), onde ora é acolónia de Flavióbriga. A região dos Cântabros [tem] 9 clvidades. [Segue-se] o rio Sanda, o Porto Victoria Jutiobrigensinin. Desse lugar ~s nascentes do Ebro [vão] 40.000 passos.Porto Biendium [depois], os Orgenomescos e os Cântabros,

L

XLIJ

e o Porto deles Vereasueca. [Adiante] a região dos Ásturese a fortaleza de Noega. Na península, os Pésicos. E, depois,o Convento Lucense, a partir do rio Navilubion (Návia com osAlbíones, quer Garcia y Beilido, op. cit., pág. 140, o queestaria exacto): os Cibarcos, os Egovarros, cognominadosNamarinos, os Jadões, e os Arrotrebas, [com] o Pro ,nontórioCéltico. Os rios Flório e Nelo. Os Célticos cognominados .Wérios.E «cii ia destes (Sul) os Tamarcos, em cuja península foramdedicadas a Augusto as três Aras Sestianas. Os Caporos,a fortaleza de Nela; os Célticos cognominados Presamarcos,e os Cilenos. Entre as ilhas devem ser mencionadas as deCorticata e Áunios. Adiante (para Sul) dos Cilenos, [fica]o Convento dos Brácaros; os Helenos, os Grávios, o castelode Tui (Tyde), todos descendentes de Gregos. As ilhas Sicas.A famosa fortaleza de Abóbrica. O rio IV[inho, com a largurade 4000 passos na foz. Os Leunos e os Seurbos. A fortalezaAugusta dos Brácaros, e acima destes (para Sul) os Galaicos.Rio Lima. O rio Douro, um dos maiores da Hispânia, quenasce nos Pelendões, e corre junto a Numância, depois pelosArévacos e Vaceus, separando os Ástures dos Vetões, e daLusitânia os Galaicos, precisamente onde divide os Túrdulosdos Brácaros. E toda esta região, desde os Pireneus, é abundante de ouro, prata, feno, e chumbo negro e alvo.

35. Começa no Douro a Lusitânia: [Eis] os Velhos Túrdulos,os Pesuros, o rio Vouga. A fortaleza de Talábrica. Emínio,fortaleza e rio. A fortaleza de Conímbrica, Colipo e Eburobrittium. Depois (para Sul) avança pelo mar dentro, com vastacabeça, um promontório, que uns chamam Artabro, outrosMagno, e mujtos Olissiponense, da fortaleza [deste nome],cortando terras, mares e céu. Com ele acaba o flanco da llispânia, e, dobrando-o (para sul, sempre!), começa a frente dela.

Por uma parte vai para o Norte, para o Oceano Gaulês,por outra para o Ocidente, para o Oceano Atlântico.

[Dá-se] ao Promontório uma extensão de 60 000 passos;outros [atribuem-lhe] 1 250 000, colocando aí o Povo dosArtabros, com erro manifesto. Pois o Arrotrebas, que antesdissemos ser o Promontório Céltico, vieram a colocá-lo aqui,com certa alteração nas letras.

XLIII

Também se errou acerca de rios célebres. À distância de200 000 passos do MinJio, de que acima falámos, fica, segundoVarrão, o Emínio, que alguns colocam mais longe, e chamamLimea, denominado pelos antigos «do Esquecimentos (Oblivio),contando dele muitas fábulas. Do Douro dista 200 000 passoso Tejo, metendo-se-lhes de permeio o Munda. O Tejo é celebrado por levar ouro em suas areias. A 160 000 passos dele,o Promontório Sagrado avança, quase a meio da frente daHispânia. Afirma Varrão que daí até ao meio do Pireneu vão1 400 000 passos. Até ao Ana, porém, onde separamos a Lusitânia da Bética, 126 000 passos, e (fica) a mais 102 000 passosde Gades. Povos: Célticos, Túrdulos, e, ao pé do Tejo, Vetões.Desde o Ana até ao [Promontório] Sagrado [habitam] osLusitanos. Fortalezas notáveis, a partir do Tejo (para Sul),na costa: Olisipo, celebrada porque as suas éguas concebemdo vento Favónio; Salácia, cognominada urbe Imperatória;Meróbriga. [Logo] o Promontório Sagrado. O outro (a seguir,para Leste) é o Cúneo. Fortalezas: Ossónoba, Balsa, Mértola.

Toda a província [da Lusitânia] se divide em três Conventos: o Emeritense, o Pacense e o Escalabitano. Conta aotodo 45 Povos, entre os quais há cinco colónias, um município [com o direito] dos cidadãos romanos, três [com o] doantigo Lácio, e 36 estipendiários. São as colónias: AugustaEmérita, colocada junto do rio Ana; Metalinense; Pacensee Norbense, cognominada Cesariana, a que pagam tributoCastra Júlia e Castra Cecilia; a quinta é Seatabis, que éapelidada Presídio Júlio. Olisipo é município [com o direito]dos cidadãos romanos, e cognomina-se Felicitas Júlia. Fortalezas [com o direito] do velho Lácio: Ebora, que também[se denomina] Liberalidade Júlia, e Mértola, bem comoSalácia, de que já falámos. Entre os estipendiários, dos quese poderia citar sem dificuldade, aparte os que têm nomesjá referidos quanto à Bética (i. é, semelhantes aos de lá),[contam-se]: os Augustobrigenses, Eminienses, Aranditanos,Arabricenses, Balsenses, Cesarobricenses, Caperenses, Caurenses, Colamos, Cibilitanos, Concordienses, Elcobórios, Interamnenses, Lancienses e Mirobricenses, que se chamam Célticos; os Medubricenses, conhecidos também por Plumbários,

XLIV

os Ocelenses, os Túrdulos chamados Bardilos e os Taporos.Agripa (no seu mapa) mostra qi~e a Liesilánia, icnida à Asttfriae à Galécia, se estende por uma longitude de 510 000 passose uma latitude de 586 000.. .~.

Já atrás acentuamos a importância desta união da Galécia eAstúria à Lusitânia no mapa de Agripa.

Os Célticos da margem do Anas, que Estrabão encontravatambém na Galiza, estão aqui bem definidos. Acontece que Estrabão se refere apenas aos da Lusitânia, e não a quaisquer outros,ao falar da Galiza, povoada de Lusitanos (3, 1, 6, pág. 7 e 3, 3,5, pág. 39). Como os Túrdulos estavam logo na margem sul doDouro, e Estrabão não diz que fossem os do Sul da Lusitânia,podemos conjecturar que os aliados dos Celtas, que com elesinvadiram a Gailaccia, fossem os Lia duli T7eteres, os PrimitivosTúrdulos, e não outros. Mas se eram os do Sul, então não podiamdeixar de ser os que com os Célticos conviviam na Lusitânia.Trata-se portanto de uma expedição lusitano~celta, ou só lusitana,abrangendo nesta designação os Povos que viviam na Lusitânia.

Que Celtas havia na faixa ocidental~Plínio enumera-os de sobejo no passo transcrito. ~ presença

de portos e terras chamados, na Galiza, Ebura, e Eburolnitiinmna Lusitânia, inculca-nos que eram do nosso Alentejo esses Celtas,e não do Algarve, permitindo-nos classificá-los de Eburones,Eburões, como acima dissemos, no n.° 5. Uma ou duas terrascom o nome de Brigantia na Gailaccia, (cfr. a actual Bragança),levam-nos a entender que esses Celtas abrangiam tambémuma tribo ou facção dos Brigantes, Povo bem conhecido, porexemplo, na Inglaterra romana, e em outros lugares. Enfim aBritónia ou Britannia do extremo Norte, como de outros lugaresportugueses e galegos, mostra-nos que não foram os CaIU, comosucedeu na Celtiberia, mas os Briíanni que demandaram a nossaterra e nela se estabeleceram.

Célticos eram no Sul de Portugal os habitantes dc localidadeimportante junto do rio Mira, que podia ser Odemira (Mirobrica)Ebora ou Ebura; talvez Lacóbriga, referida por Ptolomeu, cidade

XLV

bem célebre nas lutas entre Lusitanos e Romanos. Na Galizaos Artabros ou Arrotrebas, os Nérios, os Prestamarcos, e os habitantes da Ebura galaica. Eram parentes entre si.

Plínio diz-nos que o Convento jurídico ((dos Bracaros tem 21civiclades (tribos) e 285 Povos tributários, entre os quais, alémdos Brácaros prôpriamente ditos, podem nomear-se sem enfadoos Bíbalos, os Goelerni, os Gailueci, os Equnesi, os Lilici e os Querqiterni>~ (iYat. Hisi., 3, 26). Sabido que o convento bracarenseabrangia, grosso modo, as actuais províncias do Entre-Douro-e-Minho e Trás-os-Montes, vejamos onde estavam esses Caliacci,sirieto sensic.

O mesmo Plínio, descrevendo o Noroeste peninsular desde acosta setentrional para o sul, alude ao Gastelhtm Tyde, actualTui, e logo menciona o ópido dos Brácaros, denominado Augusta,ou seja Bracara Augusta, ou Augusta Bracarum, que o mesmoé (a atestá-lo numerosas inscrições). «Acima> do ópido referido,encontramos uma região, a que, em sentido restrito, se chamaGallaeeia, ainda no seu tempo. Tem sido um quebra-cabeçasa interpretação deste acima. Mas sem razão. Pois logo melhorexplica o nosso autor onde ficava, ao dizer que, depois de separaros Vetões da Astúria, o rio Douro separava da província da Lusitânia, já amputada do norte, os Galiacci, precisamente onde também separava os Túrdulos dos Brácaros. Os Gallaeci são Brácaros.‘J’icrduli Vcteíes ficavam a sul cio Douro,diz o mesmo Plínio aseguir (4, 35):

«A Durio Lusitania incipit: Turduli veteres, Paesuri:Flumen Vacca».

Como quem diz:

«A Lusitânia começa a partir do Douro (para Sul). OsVelhos Túrdulos, os Pésicos. Rio Vouga~.

Não devemos pois, na mesma orientação, caminhar senão donorte para sul. Aquele supra misterioso significa que Plínio estavaa ler um mapa colocado com o norte geográfico em baixo, e não

j. ~....

no lugar em que hoje usamos. Já o dissemos. Podia ser o mapade Agripa, que ele ia seguindo. Note-se que, ao falar dos Tamar008 (e. 34), Plmnio di-los também <acima», super, isto é a Sul dosNérios ou Nérias, antes dos Galaicos, onde usa o termo supra.

Pela zona do oppidum bracarense Plínio fala do Lima e doDouro. Não há alusão ao Gávado: omissão e confusão. Daí ajunção dos dois rios. Tudo isto ficava, depois de amputada aLusitânia do Norte, na Tarraconense, que começava nos Pireneus(Plínio, 4, 34).

8. A Lusitânia de Estrabão (continuação): II) A Província e oPovo.

O nosso Estrabão não dissente de todas as notícias contidasnoutros autores, antes com elas está conforme no seguinte passo(3, 4, 20, pág. 70):

«Actualmente, das províncias atribuídas em parte ao Povoe ao Senado, e em parte ao Imperador romano, a Béticapertence ao Povo, para onde é enviado um Pretor (atrategos)com um Questor (tarnias) e um Legado (presbeutes). E osseus limites, para Oriente, fixam-se em Castulão».

Aqui nos surge a zona sob o comando de Petreio, a que Césarfez referência no trecho do De Beilo Civili (v. supra n.° 2). Ao tempoas campanhas de César ainda não tinha esse nome, ao que parecededuzir-se do mesmo trecho, antes transcrito.

Prossigamos porém com Estrabão (ibid., págs. 70-72):

«O resto [da Ibéria ou Península Ibérica] pertence a César,que para ali envia dois Legados: um Propretor (interpretaçãode Schulten; o texto diz outra vez strategos) e o outro Procônsul (liypatikos; rigorosamente, «Cônsul»: é interpretaçãode Schulten). O Propretor tem a seu lado um Legado, eadministra a justiça entre os Lusitanos que limitam com aBética e se estendem até ao rio Douro e à sua foz. Com efeitoa8sim chamam ao presente, com propriedade, esta regido.

XLVil

O demais — e é a maior parte da Ibéria — [está] sob omando do Procônsul, que dispõe dum exército considerávelde três legiões e de três Legados. Um destes, com duas legiões,vigia tudo o mais além do Douro para o Norte, a que os antigoschamavam Lusitanos, e os de hoje Galaicos, bem como osÁstures e os Cântabros~.

Este é o passo mais importante da Geografia de Estrabão, nadelimitação da Lusitânia, e que não pode por isso ser subordinadoa outro qualquer. Constitui a chave da interpretação dos demais.

Primeiramente, observe-se que a expressão «com propriedade~traduz, por sugestão nossa, entre dois sentidos discutidos (v. pág. 71,nota 596), o termo grego idios. Estrabão considerava acertadoo chamar assim a região confinante com a Bética. Compreende-setalvez a sua opinião, se pensarmos que ele já dissera atrás queos Romanos tinham trazido para a «mesopotâmia*, entre Tejoe Guadiana, Lusitanos, para estabelecer colónias de romanizados(3, 1, 6, pág. 7); e que, ao referir-se aos Povos que tinham originàriamente este nome, Estrabão os aponta situados desde oTejo ao Cantábrico, fazendo assim uma referência, como diríamoshoje, étnica (3, 3, 3, págs. 36-37). Por outro lado, o parentescodas gentes de aquém e além Tejo não pode ser negado. A faixacéltica do Alentejo não lograva disfarçar que, tal como nas margens do Douro, havia Túrdulos no extremo Sul; nem que os Celtas,além do extremo NO., estavam em outros lugares, na Lusitânia.Aos Turd ali Vcures não é regateado o nome de Lusitanos. Compropriedade se poderia dar também aos «novos)> esse nome, porconseguiuLc, de Lusitanos. Acresce que, segundo atrás se mostrou,desde os tempos de César, e antes, desde a vitória de Pompeusobre Sertório, a província romana da Lusitânia vinha das embocaduras do Anas e do Cabo Sagrado até ao Cantábrico.

Admitimos porém que o passo é duvidoso, e que também fazsentido o entendimeuto de Schulten (Estrabón, pág. 116): «Porque tal é o conceito particular que da Lusitânia se tem no tempoactuali. Segundo isto, Estrabão teria dito pura e simplesmente,sem procurar insinuar mais nada, que houvera mudança na delimitação da Lusitânia, quebrando-a no Douro. Mas, mesmo assim,

XLVIII

lá está, no texto citado, que os Lusitanos lindam com a Bética,o que dá o mesmo.

Confessamos que ora nos parece melhor uma interpretação, oraoutra...

Notemos por fim que os Lusitanos do Douro para o Norte,que os antigos (Mapa de Agripa, César, etc.) não conheciam deoutro modo, então tinham passado a chamar-se Calaicos ouGalaicos também.É a zona de partida das guerras lusitanas todo o Ocidente penin

sular, desde Viriato a Sertório, as mais longas que Roma suportou.

Passando agora ao exame do capítulo III da Geografia de Estrahão, com os esclarecimentos que ficam dados, devemos preliminarmente advertir o leitor de que no original dos códices há apenas duas divisões, a dos livros e a dos capítulos; a dos parágrafos,secções ou números é feita pelos intérpretes e tradutores, nemsempre com muita felicidade, como vamos verificar mais uma vez.

Torna-se necessário ter presente, segundo todos os verdadeiroslustoriadores sabem, que um trecho se deve interpretar sistemàticamente, ou seja, em correlação com os demais, que tratam domesmo assunto, e sobretudo com os que dão as razões das coisas.

Cheia de erros de cópia e interpolações, nos manuscritos conhecidos que no-la conservaram, a Geografia de Estrabão tem sidoobjecto, ao longo dos tempos, de inúmeras correcções e até) ~~daptações a teses preconcebidas. Tudo isto cria enormes dificuldades,ao intérprete como ao tradutor. Verdadeiros enigmas persistem.Outros vêm sendo paulatinamente desvendados.

O capítulo terceiro, já o dissemos, começa no Cabo Sagradonovamente. Refere-se a Salácia (que seria Alcácer do Sal), antesde chegar ao Tejo, além de outras cidades, cujo nome não indica(3, 3, 1, pág. 3-1). Mas tudo passa um pouco por alto, para se deterna descrição do Tejo. Sobe à Ilha junto da cidade de i~Iorão,Tejo acima, a Ilha de Almourol (de ai- JJorón). Da cidade, l3rutofez base de operações contra os Lusitanos. Na foz do rio fortificouHolosis, Olios-Hippon, Olioseipon ou Olisippo, Lisboa.

XLJX

O Tejo, diz Estrabão, — e esta referência tem a maior importância, «corre da Celtibéria, onde tem as Nascentes, através dosVetões, dos (1arpetanos e dos Lusitanos, até ao Ocidente...))(3, 3, 1, pág. 36).

Não é licito pois duvidar de que os Carpetarios e Vetõeà estavam a leste dos Lusitanos. Fixe-se bem isto.

Continua porém (ibidj:

até ao Ocidente equinocial, correndo primeiro até certaaltura, paralelo ao Anas e ao Hétis; depois afasta-se (lestes,que infiectem para o litoral sul».

Logo a seguir, num parágrafo que os intérpretes abriram, e éo segundo do capítulo (3, 3, 2. pág. 36), encontra-se isto:

«Os Povos que habitam para cima das partes niencionadas .

Diz o Dr. J - Cardoso, na nota 228, que estas partes mencionadassão as Colunas. Pode entender-se também a expressão reportadaao <(litoral sul», de que imediatamente antes falara Estrabão, eonde refere desaguarem o i\nas, e, mais além, o l3étis.

Também se podem considerar como ((partes mencionadas», asque já mencionou antes: a Bética ou Turdetânia, actual Anda-luzia.

Estes parênteses são necessários, para se compreender bem queEstrabão não atrapalha as noticias que recolheu, nem baralhaas regiões (la Península, a qual, segundo cremos, visitou.

Note-se porém que o termo «partes» é correcção de Schulten,pois o que está nos códices é «serras». Diz porém o douto investigador que Estrabão antes não falara em serras, o que é verdade.Mas isso mesmo nos faz suspeitar de que falta aqui alguma coisa.Qualquer lembrança ao menos do que ficou dito no capítulo 1,número 6, págs. 7 da tradução), ou no final do n.° 3 do capítulo II,na parte que se refere ao Anas e à Betúria (páginas 15 da mesma).

Continuemos:

«Dos Povos que habitam para cima das partes (serras?)mencionadas, são os Oretanos os que ficam mais a sul e se

L

L

estendem at( a costa compreendida dentio das Oolunas,a seguir a estes, os Carpetanos, para o norte; depois os Vetõese os Vaceus, ai; aves dos quais co~ ;e o Dom o, que é vadeável~01 altuia de Aconcia, cidade dos Vaceus E os ultimos sãoos Galaicos, que ocupam em grande parte as montanhas~ (3,3, 2, pág 36)

Vemos o Douio, a peiconei o terntono dos Vetões e dos Vaceus,e por último o dos Galaicos, que não estavam só alcandoradosem montanhas, mas tinham, além de outro, um território que eramontanhoso. Recorde-se a lição de Plínio (supra n° 7). Estes povoscalaicos são os actuais trasmontanos e minhotos (de Entre-Douroe Minho) Na veidade, explica Estiabão, logo a seguir (ibid )

«L foi poz 1sso~ (entenda se poi habitaiem um teiritono emgrande parte montanhoso, como o autor dissera antes) «que,tornando se mais dificeis~ [os Galaicos] «de combatei, deiam ocognome)) [de Calaico] «ao vencedo; dos Lusitanos, e fizeiam quese chamassem Galaicos a maio; pamte dos Lusitauon

Não é so em bstiabão que se encontia a ieferencia aos habitantes da zona, que vai do Douro ao Cantábuco, como Lusitanos,segundo já vimos

Refei indo se as campanhas de Scxto Junio l3ruto, pelo anode 138 a C , Apiano ([bei 12, 71) menciona o L°th3s entie osnos dft Lusitânia, desciexendo (sbid, 72) depois as campanhasdo geneial iomano para norte do Domo, até esse no, que c o Lima,atingindo depois o Ywaos (conupçflo de Msn;os), que c o i~1inho,e os Po’os biáeaios, tudo isso na guena contra Viriato, movidasupenoimente pOi Cepião, que dexastaia também o teiritorio dos(“ilaicos (ztzcl , 70) Estes Galaicos, iefendos ~0i um autoi posterioi a amputação da Lusitânia do Noite, de~em sei os queformaiam, tomados cm sentido lato, a piovincia iom~na daGaliacema, sob Caiacala, e não a primitiva tnbo deste nome, queficava na 7onnt ocidental lusitana, não longe de Braga e pai iSuldesta cidade confinando coni o Domo

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No passo, que vimos apreciando, de Estrabão (3, 3, 2, pág. 36),há, depois de se falar de regiões ocidentais, alusão à Oretânia,a que se referira no início do parágrafo. No imediato, escreve(3, 3, 3, pág. 36):

«Entretanto, o que [vai] do Tejo para o Norte é a Lusitânia, a maior das Nações ibéricas, e a guerreada pelos Romamos durante mais tempo.

Ora o flanco meridional desta região, cinge-o o Tejo, comoao ocidental e ao setentrional o Oceano, e enfim ao orientalos Cântabros, os Ast~tres, os Vetões e os Vaceus, povos bemconhecidos, não merecendo referência os demais pela suapequenez e obscuridade, [o que dizemos] sem embargo de,ao contrário do que é corrente, hoje a [todos] estes [Povos]alguns chamarem Lusitanos».

As cópias que chegaram até nós, todas da mesma origem afinal,dizem, em vez da expressão sublinhada: «os Carpetanos, os Vetõese Vaceus e Galaicos».

Não hesitei na correcção, que é da minha responsabilidade,por tudo o que ficou exposto e transcrito de vários autores, emuito especialmente por causa da localização dos Oarpetanossegundo Estrabão (3, 1, 6; 3, 2, 1; 3, 2, 3; 3, 3, 2; 3, 4, 12, e 3,4, 13), e à identificação dos Galaicos com os Lusitanos do Norte— esta consabida (3, 4, 20; 3, 3, 1; e 3, 3, 2); porque o mesmoEstrabão, ao indicar os limites antigos dos Lusitanos, fá-los separardos Ástures e os Cântabros (3, 4, 20), como já vimos, em consonâucia com outros autores, e fluialmente porque o próprio contexto o indica, dizendo imediatamente antes o passo transcritoque tudo quanto vai do Tejo até ao Norte, ao Oceano, é Lusitânia.

Outra interpolação corrigi no texto em apreço, conforme tudovai exposto nas notas 235 e 237a, que são da minha responsabifidade.

Tudo assim ficará muito harmónico, não só com o próprioautor mas com as demais fontes históricas. Trata-se de umaexigência da crítica interna, que talvez tivesse poupado muitasconjecturas e muita tinta.

Não vamos agora alongaa~-nos no comentário do texto de Estra

LII

bão relativo à Lusitânia. São muitos os autores que do mesmose têm ocupado, procurando localizar os vários acidentes orográficos, rios, cidades e Povos. Nosso intento foi apenas introduziro leitor e orientá-lo, para que não se dissipe nem confunda, esaiba o que está a examinar. Assim, pusemos especial cuidadoem delimitar a Lusitânia, e localizar as gentes que na 1-listóriatomaram o nome de Lusitanos.

Trata-se de um nome ainda misterioso quanto à sua origem,e quanto à sua atribuição. Não há texto que diga mais do quejá lemos. Porventura é sinônimo de «Cavaleiros», segundo aventamos noutro lugar (Oestrymwis, cit., págs. 27 e segs.).

Estrabão indica-nos um conjunto, grande, de Povos ou cividades, que, do Tejo para o Norte principalmente, esse nome tomavam. Mas há no nosso autor referência aos Povos do Sul de Portugal como Lusitanos. Essas referências abundam em outrosautores, mais antigos. Célticos do Sul, havia-os também no Norte.Eram oriundos dos do Norte (dos «Velhos») os Túrdulos do Sul,e oriundos do Sul os Célticos do Noroeste, e talvez os Ebu2-onesde Eburobrittium. A. existência dos Célticos, a cortar a continuidade étnica a Sul do Tejo, que antes se verificava em todo o Povocónio ou estrímnio, levou Estrabão quiçá a terminar a Lusitâniano Tejo, ou a começá-la &, segundo a posição relativa do observador. Mas a unidade era flagrante, como os Romanos, ao traçaremas suas províncias, já em tempo de Pompeio, haviam reconhecido.Que essa unidade era anterior, revela-o o episódio de Cauceno,capitaneando os Lusitanos do Sul do Tejo, e demonstram-notodas as guerras lusitanas, de Viriato a Sertório.

Uma nota:Repusemos, sob nossa responsabilidade, a lição dos códices:

Bétis, para o rio Minho (cfr. nota 251), pelos motivos expostosnoutra obra (Oestryni nis cit., págs. 48 e segs.).

9. Uma hipótese.

Por fim, não resistimos a formular uma hipótese, por imperativo de lógica.

Esta notícia de Estrabão sobre a «Nação lusitana», começando-a

LIII

no Tejo, parece-nos suspeita, em que pese a quantos a tem tido(e nós com eles) por uma bíblia

Na verdade, ela não condiz perfeitamente com as dos outrosautores que consultámos e aqui extractámos, ao longo destaIntrodução.

i\Jém disso, parece estar também em contradição com o própriotexto de Estrabão, que considerámos chave da sua interpretação(3, 4, 20, pág. 70 da trad), e onde se fala de uma Lusitâniaque começa no Ánas, antes da sua amputação da parte calaica.

Por outro lado, o passo, em que Estrabão faz limitar a suaantiga Lusitânia, a sul, pelo Tejo, é aquele que foi mais manipulado pelos interpoladores, como já vimos.

Enfim, as nossas suspeitas avolumam-se, se lembramos que jáantes, no nP 4, desconfiámos de interpolação, onde o texto,que nos ficou, como de Estrabão, fala, a despropósito, no Tejo,como termo do lado ocidental da Ibéria (3, 1, 6, pág. 7 da tradj.

Mas, se não há erro, então o bom do geógrafo teria, por confusão, querido apenas aludir ao litoral sul de Portugal .. ondetodos os outros sempre começavam a Lusitânia, e ele fazia oTejo chegar.

Eis um problema, como se vê, em aberto, porque o testemunhoé isolado e duvidoso. Por enquanto, ficamo-nos na «geometriaeuclidiana», isto é, com o sentir tradicional.-.

Francisco José Velozo

L~ PARTE

TRADUÇÃO DA (‘GEOGRAFIA DE ESTRABÃO,segundo a edição de Adolfo Schulten (1952), E NOTAS

por

JosÉ CARDOSO

GEOGRAFIA

LIVRO III

CAPÏTULO 1

1. Depois de havermos traçado (‘) um primeiro esboço daGeografia (2), convém fazer a seguir a deseriç~o dos pormenores,já que assim o prometemos: e parece que a nossa obra, até estaaltura, está bem ordenada (3).

Pela mesma razão, se há-de começar de novo pela Europa, epor estas suas regiões, pelas quais anteriormente começamos.

2. Corno deixámos dito, a sua primeira parte (4) é a ocidental, a Ibéria.

Desta, o mais dela é pouco povoado (5), visto que (os naturais)lhe habitam, na maior parte, as montanhas, as florestas e asplaulcies, que tem camada humosa fraca, e sao desigualmenteirrigadas.

(1) A tradução literal seria: —«Parece-nos conveniente, a nós, que fizemos o primeiro esboço...

(2) Este vocábulo significa, em razão dos próprios elementos constitutivos, «descrição da terra»; e dai que se possa tomar na acepção de Terra.

(~) .[kh~t~plcrOat infinito perfeito méd.-pass. do verbo ~.LEpI~W, que em rigor significa«fazer em partes, dividir, partir’> e, depois, «seccionar por planejamento, arrumar porassuntos».

(4) Mópos’, em rigor, «parte»; porém, neste, como em tantissimos outros lugaresdeste livro, significará regiâo.

(5) O adv., que está no grego, habilita-nos a fazer a tradução literal: «é escassamentehabitada»; ou ainda: «6 fãcilmente habitada,>. Note-se o contraste,

uI,i,z-s.

A região setentrional é não só excessivamente áspera, mastambém fria (°) e oceânica; e além disso não contacta (7), nemtem comércio (8) com as demais regiões, de modo que esta é aregião que mais difícil dc habitar se mostra (°). Tal é esta região.Em contrapartida, a do sul e quase toda ela prospela, e partioularmente a que esta mais alem das Colunas.

Isso ficará claro, quando se descei’ a poimenores, depois de 4se lhe esboçar primeiro a configuração o o tamanho.

3. A Ibéria assemelha-se, sem duvida, a urna pele distendidano sentido longitudmal, do poente para o nascente, com as patasanteriores para leste: e, por outro lado, no sentido da largura,do norte para o sul a

O comprimento é duns 6.000 estádios; a sua maior largura,de uns 5.000, embora haja pontos onde é de muito menos de3.000, sobretudo por altura dos (10) Pirenéus, que formam o ladooriental.

Sem duvida, esta cordilheira continua, que se alonga do meiodia para o setentriao (11), separa a Céltica da Ibéna. E, sendoquer a Céltica quer a Iberia de laigura desigual, a parte maisestreita da largura de cada um dos territorios está entre oNosso Mar e o Oceano, ou seja a parte, que está juntodos dois lados dos Pirenéus, e que forma dois golos: um juntodo Oceano, outro do Nosso Mar. O Golfo Céltico, a que chamamtambém Gaulês, é mais reentrante, e torna o istmo mais estreitoque do lado ibérico (12).

(6) A tradução literal do passo seria «a região setentrional e absolutamente friaalem da aspereza da sua acidentação»

(7) A expressão ~~-pouetÀn#vZa ~tpricrov significaria a letia «tendo-se tornadoinsociavel». (<que não se confunde com>)

(8) O adjectivo &ycr&i-Àescroç significa a letra, «não entrelaçado)); depois, teráa ideia de <(não ter relações comerciais com>) (repaie-se no dativo)

(9) A tradução literal sera mostra-se exageradamente com dificuldade de (ou para)habitação (= de ser habitada)

(10) A preposição 7i-pc~ç com dativo significa prõpriamente «diante de>)(li) A tradução literal sera <(estendida do sul para o norte>)(12) Ou. <(em relação ao (lado) iberico»

III, 1, 3-4.

Formam os Pirenéus o lado oriental da Ibéria; o ladosul, dos Pirenéus às Colunas, o mar que se estende até nós e odemais (deste lado), até ao chamado Cabo Sagrado, o Mar Exterior, O terceiro é o lado ocidental, de certo modo paralelo aosPirenéus, que se estende do Cabo Sagrado ao Cabo dos Ártabros,a que chamam leme (~ órion ?). O quarto lado vai daqui aocabo setentrionM dos Pirenéus.

4. Tornando à descrição, intentamos entrar em pormenores,e começamos pelo Cabo Sagrado (gr. Hierón). Este é não só oponto mais ocidental da Europa, mas ainda o de toda a terrahabitada, já que o mundo para ocidente é limitado pelos doiscontinentes, com (os últimos) cabos da Europa e com os primeiros (cabos) da Líbia, dos quais uns são habitados pelos Iboros, outros pelos Maurúsios (13).

O litoral ibérico prolonga-se, polo referido promontório (maisque a Costa Líbica), cerca duns 1.500 estádies. E à região,adjacente a este (mesmo Cabo) chamam à latina Cii.neum, quequer dizer «cunha».

Este promontório, com sua proeminência pelo mar dentro,compara-o Axteniidoro, que, segundo diz, esteve no lugar, a umbarco, e afirma que dá relevo à comparação a existência de trêsilhotas, das quais uma sugere a forma do csporao, e as outrasduas, que tem pequenos ancoradouros, as auriculas da proa.E ajunta que não existe aí nem templo nem altar, já de Héracles(Éforo neste ponto mentiu), já de qualquer outro deus, mas sim,em muitos sítios, grupos de três ou quatro pedras, que, segundocostum~ gentílico, os forasteiros voltam e mudam, depois defazerem uma libação.

Não é porém permitido fazer sacrifícios nem subir a esse local,de noite (já que, acrescenta, deuses vêm então ocupá-lo), antes

(13) O antecedente do relativo será ~lcpot~, que significa n~o já cabos, mas extremidades (dos continentes europeu e libico ou africano); daí que deva entender-se quenão são os cabos que suo habitados e, sim, esses territórios extremos.

16 111,1,4-5

os que chegam, para o visitar (‘9, têm que pernoitar uniu lugarejo vizinho, e subir depois de dia; mas precisam de lov~,r água,por causa da escassez dela.

a. Pode ser que isto seja assim, e que se deva acreditar; uaose deve dar, porém, grande crédito ao que escreveu, baseado nosrelatos da multidão ou de gente vulgar (10),

Com efeito, segundo Possidónio, o vulgo diz que o Sol, ao longoda costa oceânica, no ocaso, se torna maior, ao iuesmo tempoque faz um ruído, como que o mar a iechinar, por aquele se extinguir, quando se afunda no profundo.

Mas ele diz que isso não corresponde à verdade, bem comoo afirmar-se que a noite suceda bruscamente ao pôr do Sol, jáque sobrevóni não seiu interrupção, e sim um pouco depois,coiuo adrega de suceder em todos os demais grandes mares. Aliásnas regiões, em que se esconde por detrás dos montes, devidoao crepúsculo (‘°), o dia prolonga-se um pouco mais, após o ocasodo Sol (11); ao passo que aqui (16) nao se segue intervalo apreciavol,conquanto nao desçam biuscamcnte as trevas, como adrega doser na% vastas plamcies. Mas ajunta Possidonio que a impressão de o Sol aumentar de grandeza, quer no seu nascimentoquer no ocaso, nos grandes oceanos, se deve ao facto de havermaior evaporação de água; e de a nossa vista receber essasimagens do Sol, reflectidas (‘°) e ampliadas, como se por vidros (20)

fôra, através das núvens desse vapor, do mesmo modo que o Sol

(14) A cxpressâo jii-i Bjav ‘?KELV ( ~pxeaOat) que é poética (cfr v g Eur., lfem Aul , 427) significa «vir para visitar alguma coisa»

(15) À letra «o que disse como a multidio e o vulgo», dai que possa entender-seo seguinte «consoante as tradições populares»

(16) O grego tem ~rapa~wnuftóç significa em principio «iefracç≥o da luz»(17) Claro que o sentido do texto grego sera este «nào obstante o sol ja se haver

posto»(18) Entenda-se «na costa oce~nica»(15) Segundo o texto de Muller, por canudos(20) Segundo o texto grego, o que se refrange nilo sao as imagens do Sol, e sim

a vista do observador

L

JIT, 1. 5-6,

ou a Lua, ao nascerem ou ao pôr-se no ocaso, quando observadoatravés duma nuvem seca e ténue — altura ciu que esse astrose mostra arroxeado.

Possidónio diz que se convenceu da falsidade daquelas asserções, quando passou trinta dias em Gr~diraa observar o pôr doSol (21). Mas, na opinião de Ártemidoro, o Sol, no ocaso, amplia-seumas cem vezes, e a noite cai repentinamonte.

A darmos crédito às suas próprias palavras, não é de admitirque ele tenha observado o fenómeno no Promontório Sagrado,já que ninguém — na sua opinião — lá sobe de noite; donde,que lá não tenha subido ao pôr do Sol, dado que a noite se seguiria imediatamente ao dia. Tampouco lhe seria possível observar talfenómeno em qualquer outra plaga do litoral oceânico, pois queGadira debruça-se sobre o mar Oceano, e Possidónio e muitosoutros verificaram aí o contrário (22).

O. Na faixa litorânea contígua ao Promontório Sagrado temcomeço não só o lado ocidental da Ibéria, que se dilata até aoestuário do rio Tejo (Tágos), senão que o lado sul, que se prolonga até outro rio, o Anas e sua embocadura. Um e outro destesrios correm das partes do levante (23). Mas, ao passo que o Tejo,muito maior que o outro, se dirige em linha recta (24) para opoente, o Aiias inficdte para o sul, e delimita urna emesopotâmia»que é povoada na sua maior parte pelos Célticos e alguns dosLusitanos a quem, de além da outra banda do Tejo, para alitransplantaram os Romanos.

(21) À letra será: «depois de ter passado... e ter observado o pôr do Sol».(22) O v. &vrr~iaprvpc’w significa prôpriamente «testemunhar o contrário»; tra

duzi-o, contudo, por «testemunhar o contrário», visto como o sentido da frase será:não obstante Gadira ser uma cidade do litoral oceânico, todavia, Possidónio e outrosgeógrafos, que aí estiveram, verificaram que a noite não sucede imediatamente ao dia,mal o Sol mergulha no Oceano — como diz Artemidoro.

(23) Pretende-se tão-sõmente dizer-se que ambos estes rios vêm do nascente, têmo seu curso orientado um no sentido este-oeste, outro este-sul.

(24) A expressão j,y’€õüdaç significa em linha recta, directamente; daí que massimplesmente deva entender-se: o Tejo corre directo para o poente (sentido este-oeste).

8 TH,I,6

Nas legiões altas habihni os Caipetanos, os Oictanos e muitos (2o) dos \T0j ões Est~ iegi~o e, sem du~ ida, medianamentepiospela, poxém, ieg≤~o eontigua, que se estendo pala O nascento e paia o meio dia, n’to é nada infeiioi i nenhuma outiada tona habit~da, enquinto a pi-eço e qualidade dos piodutosda teria e do mai E esti é aquela xegiao atia~ és da qual coneo no B4tis, que começa nis pai tes onde o Mias eo Tejo tem suasfontes, e que, em extensIo, figurb entie estes dois nos (-°) Contudo, do mesmo modo que o Mias, tamb(m o Bétis corso, aopimeipio, em direcção ‘~o poente, p’~ia mfleetn em seguid’~ p°3no meio dia, e desaguai 110 mesmo htoial que ‘iquele 110À aludida iegi~o elr,mo~m B~tiea, do nome do no, c Tiude

tâma, do nome & seus h~bitantes, a estes Tiudehnos e Tiudulos,supõem uns que s~o um mesmo povo, e outios não Da opnuaodestes ultimos u Polibio que afinua que os Tuidulos Co po~ 05~ innhos, 1)010 noite, dos Tuidetanos

Hoje em dia não ha distmçio alguma entie estes dois po~ osEstes são leputados os mais cultos dos Ibeios, possuem mu~esc~ift (-‘), e ttm ~ sua histona ( 8), a sui poesia e as suas leisem ;uso, iellns de & 000 anos, dizem Tamb(m os deni’~is Ibeiostun ~ sui esenta, pon~m, apresenta mais que uma fonua, assimcomo h~ mais que um i lmgu’b (2J)

E esta regiao, situada aquém do Mias, estende-se para levante,~,té Oietaiui, e, do lado sul, ‘~té t p~i te do lii onl oceaiuco quev’u da foz do An’is às Comias

(-°) Ev~vot do gr.~go ‘tlem de outr’ts ‘icepçoes comporti ide ,mme,osos ipireceno texto com genitivo partitivo.

(26) Estrabão diz do Bétis (= Guadalquivir) /.t~uos (irora1iaç) d,x#oZv roth-wv

(irorcqi&v), «é um rio médio entre estes dois rios», i. e., o seu percurso é menor queo do Tejo, mas maior que o do Anas (o que não é bem exacto).

(27) A expressão ,caL ypaj.sj.sai-tic~7 xP&vraL traduzida à leira dá: «servem-se daarte escrita>); daqui que deva entcnicr—se : têm um alfabeto, uma escrita, uma literatura (por amplificação).

(28) O grego dá: ríjs sraÀat~ç ~sn5js~jç avyypci/.t/Lara — o que quer dizr: escritura (escrito) de lembranças antigas. (Cfr. no latim: ,eru,n gesumnun ,mwmoriu)

(29) Faz o A. alusão à existência dos vários alfabetos e ~ diversidade de línguasdos povos da Península.

m, 1, 6-7-8. 9

Urge, porém, falar-se de tal região anais cireunstanoiadali1~ine,assim corno das regiões que com ela confinam, a-fim-de ficarmosa conhecer sua situação privilegiada e sua fertilidade.

7. Entre a orla litorânea, em que o Bétis e o Mias desaguam,e o extremo da Maurúsia, o mar Atlântico, preenchendo estemeio (30), forma o estreito das Colunas, através do qual o MarInterior (31) comunica com o Exterior (32).

Aqui fica situado o monte dos Bastetanos, a que também chamam Bástulos, a saber: o Calpc, de não grande perfinetro, masdo grande elevação e alcantilado, de tal maneira que ao longe seassemelha a uma ilha.

Fica a direita do quem navega do ~ osso Mar pan o Mar Extenor. A uns quarenta estádios, em frente desta escarpa, fica situadaOarteia, antiga e famosa cidade, que outrora fora um porto dosIberos. Há quem diga (33) que foi Héraclcs quem a fundou, eTimóstenes, que está no número desses, afirma até que antigamente se chamava Heracleia, e que apresenta vestígios dumagrande muralha e de estaleiros.

8. Vem a seguir a cidade de Menlária (30), com indústria desalga de peixe, e, mais além (35), a cidade e o rio Boião. Daquise navega, mormente, para Tíngis, na Maurúsia; tem tambémsalgação. Zélis ora também vizinha da cidade de Tíngis, masos Romanos transplantaram-na para a costa oposta com parteda população tingitana; enviaram também uma colónia romanae deram à cidade o nome de Júlia loza.

(30) O grejo diz: eZç ~6 /Iera~é JpiTZ,TTOV r~ A’TÃaVTIK6V WÀayoç, o marAtlântico, que se precipita para o intervalo, m$io (das costas ibérica e maurúsia,marroquina).

(31) O actual Mar Mediterrâneo ou Mmc Internu,n dos Romanos.(32) O Oceano Atlântico.(33) À letra: alguns dizem que ela é fundação de l-Iérãcles,>.(34) Há outra lição: McÀÀapía, i. e., Melaria ou Melária, atendendo a que o do

grego é breve. Deri~aria de /dÀt-7os, mel; dai que McÀÀapla fosso a «cidadedo mel».

(35) A letra: depois disto.

10 111,1, 8-9.

Segue-se depois Gadira, ilha separada da Turdetânia por umestreito canal, que dista do monte Calpe cerca de setecentos ecinquenta estádios — outros dizem oitocentos. Esta ilha, que omnada difere das outras pelo valor dos seus habitantes na arte denavegar e por sua amizade aos Romanos, experhuentou tal incremento (36) em prosperidade de toda a ordem (37), que, erguendo-seembora no extremo da terra babitada, é a mais afamada de todasas cidades. Mas voltaremos a falar nela quando tratarmos dasdemais ilhas.

9. Vêm depois o chamado porto de Menesteu e o estuáriocine bord.eja Asta e Nabrissa (38). Chamam-se estuários as anfractuosidades da costa que se enchem com a água do mar nas maréscheias, o que, como nos rios, proporcionam a navegação parao interior das terras e para as cidades que ficam nas suas margens. Imediatamente a seguir vem a desembocadura do Bétis,dividido em dois braços. A ilha compreendida entre estes doisdeltas tem, no litoral, de latitude cem estádios, ou mais, segundoalguns outros- l~ aqui que se encontra o oráculo de Menosteu,e onde se ergue a «Torre de Copião~, edificada sobre um rochedoa que banham ao derredor as vagas, edificação admiràvelmentoconstruída e, como o Farol (de Alexandria), destinada a servira segurança dos mareantes. Ja que as aluvioes arrastadas pelorio Betis formam baixios, e as cercanias estao semeadas do escolhes, de tal maneira houve necessidade de pôr um sinal bemvisível do largo. Neste ponto começa a navegação interior doBétis e a cidade de Ebura e e templo de Vénus (39), a que chamam

(36) A expressão jqrí6oaw ~xetv. que já aparece em Platão, significa em principioser capaz de progresso.

(37) O grego tem e~ç lr&uav ei3rvxlav. em toda a prosperidade.(35) Actual Nebrija.(39) O grego ~oJrJ~c3poç (de ~&s-~wró~. luz e ~op~ oflernânefa de do v.

trazer) significa em princípio «que traz ou produz luz»; depois, substantivado (J dan5p)«estrela da manhã, planeta Vénus, que traz ou anuncia a luz do dia».

111,1,9 li

Lux divina (40). Mais além, abrem-se as entradas de outros estuários; e, depois, o rio Mias, também com duas embocaduras,ambas navegáveis (41)~

Depois, por último, o Promontório Sagrado, que dista de Gadiramenos de dois mil estádios. Na opiniao de outros, do Cabo Sagradoà foz do Mias sáo sessenta anilhas, e daqui à dcsembocadnra doBótis cem, e daqui a Gadu’a vao setenta.

(40) Quer dizer: «Luz Divina». Além da lição 8tovZva~, «divina», há estoutra:

8ouflíav, «dúbia, indecisa».(41) O grego tem o~ e’~ az3r&v dvd,rÀovç, «e a navegação interior (= entrada, subida)

a partir de elas (embocaduras»>.

CAPITULO Ii

A Turdetânia, que o rio l3étis irriga, adrega de estar situada (42)

na margem de cá do Anas, da parte de cima da costa. É limitada,ao norte o ao poente, pelo rio Anas; ao nascente, por algumastribos dos Carpetanos e dos Oretanos; ao sul, Pelos povos Bastetanos, que ocupam a estreita faixa costeira entre Calpe e Gaclira,e pelo Mar Exterior até ao curso do Aaias.

Integram-se (43) ainda na Turdetânia os Bastctanos, que j~mencionei, as tribos do além (‘64) Anas e a maioria dos vizinhos.

A extensão desta região, quer em longitude quer em latitude,não excede (45) os dois mil estádios. As cidades são porém numerosíssimas (46), pois que dizem existir umas duzentas; contudoas mais famosas são as origidas junto aos rios, quer nos estuáriosquer no litoral, cm virtude do seu tráfego comercial (47).

São muito florescentes Córduba, fundação de Marcelo, e, pelafama e poder, a cidade dos Gaditanos: esta distingue-se pelas suasempresas marrhimas e pela sua ahança com os Romanos (8);

(42) O grego tem rcpicetaOat uv~tflalv€t -n5v Tovp8ip-avíav~ o que literalmente quer dizer: «Sucede que a Turdetânia está situada sobre», <(da parte de cima».

(43) O V. 71pÓJK€LfLaL significa prôpriamente «estar situado junto de; prender-sea, depeader de».

(44) ~ significa «fora de», <(afora».(45) À letra: não tem mais de 2.000 estádios.(46) O grego diz ¶À~6oÇ, multidão.(47) Xpcía pode significar «comércio habitual, relações; necessidade», além de

muitas outras acepções.(48) O grego dá Stà r~ 7rpo&e~aQat <Pw1zaíocç Krrrà uv,LfLaxíaç~ pelo facto

de se haver posto ao lado dos Romanos segundo a aliança do guerra.

TIl, 2,1-2 13

aquela pelo valor e extens~o do seu local, que domina uma grandeparte do curso do Bétis. A Córduba desde o princípio que a povoamescolhidas gentes dos Romanos e de indígenas; e esta foi a primeira colónia que os Romanos para ali enviaram. Depois destacidade e da dos Gaditanos, é importante a cidade de Híspalis (49)

também fiuidaç~o dos Romanos. O seu empório ainda hoje perdura; porém, é mais importante que ela Córduba (no original:Bétis), por haver tido a hom’a de acolher (50) recentemente soldados de César, a despeito de n~o estar muito bem povoada (51).

2. A seguir a estas cidades vêm Itálica e Ilipa no Bétis, e maisalém, Ástigis (no original: Astinas), Cármon e Obúlcon; e aindaas cidades onde foram vencidos os filhos de Pompeio, a saber:Mu.nda, Atégua (no original: Atetua), Úrson, Ucúbis (no original:Tukis — Tucci de Plinio), Ilha (no original: Inlia) e Aspávia (noscód. Aigua — Aegna e Esgua), — todas elas vizinhas de Córduba.

sem embargo, Munda que, em certa medida (02) é a metrópoledesta região. Esta cidade dista 1.400 (no original: 0.400) estádiosdc Oartoia, aonde se acolheu Gncu, depois da sua derrota.

Daqui levantou ferro, e aportou (53) a mii lugar montanhosoda costa, onde foi morto (51). E seu irm~o Sexto salvou-se, fugindodc Córduba (55), e, depois de haver lutado algum tempo (56) entre

(49) Sevilha.(50) O grego dá ,-4; rt ~ KaI T(Z j,rouo~aat— que é manifestamente uma

hendiades: pela honra e por haver acolhido (aboletado) donde; pela honra de haver aboletado... Por isso duvido do sentido que Scluolten dá a rtpfl: por su distinció,,.

(51) Convém observar que se trata dum passo duvidoso. Segundo a edição criticade Schulten, de que me estou servindo para fazer esta tradução, o sentido é este, conquanto tenha de edtender-se (ainda segundo o mesmo Schulten) que a rivalidade setravou entre Córduba e Gadira. Há, porém, outras lições (Cfr. Espãna y los Espaiioleshace dos ,,,il alias de Garcia y Bellido e Geografia de Estrabão trad. de GabrielPereira).

(52) O grego tem -rpdn-ov ~ rtva: acus. de relação, que traduzido à letra significade certo modo.

(53) À letra: tendo navegado e sai daqui...(54) A forma 8tEc/iOópTJ aor. 2.° pass. do v. 3rcufrOeípo~. significa foi destruido.(55) O grego diz ~,c Kop8ófl-qç uw6eíç, salvo de Córduba.(56) À letra: durante um tempo pequeno, breve.

14 111,2,2-3

os Iberos, sublevou mais tardo a Sidiia; depois, escorraçado dali,passou-se à Ásia onde perdeu a vida depois de preso peios generiis de Antonio, em iWileto Entie os CQirnos, a cidade maishmosa é a de Conistoigis (no ouginal Conistoisis) Junto dosestuános, existe ‘unda a cidade de Asta (no onginal Mast~),ionde os Gaditanos fiequentemente se encontiam (57), já que distido entreposto da ilha n~o muito mais de 100 estádios.

3. As margens do Bétis s~o muito povoadas (5~; pode subir-se (59) o rio num percurso aproximado de 1.200 estádios doOceano a Córduba e até a lugares um pouco mais acima (desteponto). As terras ribeirinhas, como as insuas do rio, est~o amanhadas com todo o esmero (69). Ajunte-se a isto o deshunbra-mento da paisagem, que provém dos bosques e de outras plantações admiràvelmente tratadas (°‘).

Porém, até Híspalis sobem barcos de grande calado — ai 500estádios; e até a cidades mais acima do curso do rio, como lupa,barcos de inferior; a Córduba só barcaças de rio, que agora seconstroem com peças unidas umas às outras, ao passo que outrorase fabricavam dum só tronco. Na parte do seu curso superiorjá perto de Castulão (original: Cl~ston), o rio deixa de ser navegável. E paralelos ao rio desdobram-se da banda do norte linhassinuosas de montanhas, que daquele se aproximam mais ou menos,de grande preuhid~o de metais. Abunda principalmente a prata,nas regiões de lupa e de Sisápon, a Velha e a Nova (62). E na

(57) Evvlact: 311 pessoa do plural do pres. ind. do v. uvuírna que em princípiosignifica <(enviar juntamente; lançar um contra o outro; compreender».

(58) O grego 7rc1pOtK€~Tc1L 8? bqT€~ ,TÀEIUTWV d Bctinç significa: O «Bétis éhabitado junto (de suas margens) pelo maior número (de povos))>.

(59) O grego tem dva,TÀEZraL, 3•11 pess. sing. do pres. ind. méd, do v. &vainVw,«subir a corrente dum rio».

(6O) O grego dá JfdpyauTa.t~ 311 pess. sing. do perf. méd.-pass. de v.que, neste caso, significa prõpriamente «cultivar a terra».

(61) O grego dá &,rE7rov7)/.ae’vwv (do v. &710V/w cuidar, trabalhar) xwp(wv;dos lugares muito bem tratados.

(62) O grego dá ~r’3v r~ TTEZÀÍLt6V ÀEyÓ/LEPOY icaL TI~V vJ°v, i. e., Sisápon, achamada Antiga e a (chamada) Nova.

111,2,3-4 15

região das chamadas Cótinas há minas simultônemente de cobroe ouro (6~). Estas montanhas ficam à esquerda de quem sobe o rio;à direita, estende-se uma vasta e elevada planície, não só fértil,mas também coberta de grandes arvoredos e excelente parapastos (64). O Ánas é navegável; não, contudo, com barcos tãograndes ncm em tão grande extensão. Todavia, as montanhas,que jnnto às suas margens se erguem, encerram em seu seiometais, — montanhas qne se estendem até ao Tejo.

Os lugares, onde abundam os minérios, é forçoso serem ásperose estéreis (65), quais os que ficam junto à Carpetânia, (cód.: Carpitânia), e, sobremodo, aos Celtiberos. Tal é a Betúria de planíciesadnstas, que se desdobram ao longo do Anas.

4. A Tnrdetân.ia é urna região feracíssima, já que produzfrntos de toda a qualidade e, igualmente, em grande quantidade (66). Toda esta riqueza se duplica com a exportação, já queo excedente de frutos fàdilrnente se vende, dada a afluência debarcos mercantes (67). Fazem-se estas transacçí5es devido à existência de cursos finviais e de estuários (68) semelhantes, comodissemos, a rios, e navegáveis do mesmo modo, em barcos nãosó de grande mas de pequeno tamanho, desde o Oceano até àscidades do interior. Ë, com efeito, plana em grande extensão,toda a faixa costeira entre o Cabo Sagrado e as Colunas.

(63) XaA,cós TE ~ta yEvv&ra~ ,ca~ ~pwrÓ~. i. e. à letra: nasce simultâneamentecobre e ouro.

(64) O grego dá os adjectivos: d~icap~rov. abundante em frutos; JLEyCLAó6EV8poV.

de grandes árvores; c~flo~-ov, abundante em pastos.(65) Permita-se-nos, a propósito, chamar a atenção para a corte na Aldeia,

diálogo VII, de Rodrigues Lobo, em que ele descreve a natureza de lugares onde abundam minérios, mâximamente o ouro.

(66) O grego dá ira (L~ópov. gen. de 7r~L~opos. «que produz Ludo» e iroÀv~ópovgen. de iroAt44os’. <(que produz muito».

(67) O grego dá simplesmente r63 ~TÀ>~OEL vavicÀrjptáw. i. e,, à multidão de barcosfretados».

(66) A tradução literal será: são os rios e os estuários.., que fazem (facilitam) isto(as transacções de frutos).

16 111,2,4

Nesta região aparecem com frequência reentrâncias (semelhantes a consideráveis gargantas e ainda a leitos fluviais) que seestendem por muitos estádios, desde o mar até ao interior dasterras. Estas rias, é a preamar que as enche, de maneira que sepodem subir j~ não menos que os rios, mas até melhor (69). Poisa sua navegação é parecida com a fluvial, visto que nãohá obstáculos e o mar a favorece (70), na maré cheia, comoo faz a corrente dos rios. As marés vivas são maiores aqui do queem outras partes, porquanto o mar, empurrado do oceano paraa estreita boca, que a Maurúsia e a Ibéria formam, recebe umaimpulsão, e fàcilmente penetra as terras que cedem à sua irrupção. Algumas de tais rias esvaziam-se nas marés baixas; as águasnoutras não se esgotam inteiramente; outros dos esteiros contamilhas no seu seio.

Tais são, pois, as obras que ficam entre o PromontórioSagrado e as Colunas, onde (71) a prêamar é mais viva (72)

que nos demais sítios (73). Estas marés (74) proporcionam certasvantagens aos navegantes, já que tornam os esteiros mais numerosos e maiores e, muitas vezes, navegáveis numa extensão deoitocentos (no original: oito) estádios; de tal maneira que, até certoponto, tornam todo o país navegável e fácil para exportaçãoe importação de mercadorias. Apresentam, contudo, uni inconveniente: sem dúvida a navegação fluvial, devido à impetuosidade da prêamar, que choca com violência com a corrente dosrios, representa um não pequeno perigo para as embarcações,

(62) Uma tradução daria: (...) de modo que os barcos podem subir por essas riascomo por rios, mas fazendo-o com maior facilidade ainda.

(70) O grego dá o v. J~~ovp(Cw, «impelir com ajuda dum bom vento».(71) O texto grego tem ~xovcrcu. i. e., as quais (obras) têm.(72) O grego ~,,-f3og~ c~po~rcpav significa prôpriamente crescimento (das águas,

das marés) mais impetuoso, mais forte.(73) Repare-se que o pron. indef. aÀÀoç, acompanhado do artigo, significa «o resto,

o demais,>. Observo ainda que a preposição rrapà em lTap& raç (&vaxóuctç) nãome parece introduza o 2.° termo de comparação que está implícito no comp.u~po8orJpav; decerto, terá de pensar-se num 4 (ou até possivelmente numsubentendido; de contrário, parece-me que deveria esperar-se um rapà a~ Jvaxóaee.&,se ~rapd equivalesse a 4.

(79 Prôpriamente J,,-(Sogts-, prôpriamente crescidas (de águas, maré).

111,2,4-5 17

assim para as que descem como para as que sobem (71). Em contrapartida, nos estuários, o que é perigoso é o refluxo, já que,anàlogamente às marés vivas, também as marés baixas se tornam perigosas, porquanto, em razao de sua mesma velocidade,muitas vezes deixam o barco em seco.

E os gados (72) que se encaminham para as ilhas fronteiras àsabras, são, pois, umas vezes arrastados, outras interceptados;e, quando porfiam de voltar atrás, não o logram e, sim, 1x.recem.Contudo, diz-se que as vacas, acostumadas a estes fenómenos (7~),

aguardam o retroceder da maré, e so entao passam para terrafirme.

5. Os indígenas, conhecedores da natureza da região e sabendoque os estuários têm o valor (74) de rios, nas suas margens fundaram cidades poderosas e outros povoados, do mesmo modoque nas imediações dos rios. Perteuce ao uúmcro destes Asta,Nabrissa, Ónoba, Sónoba, Ménoba e outras mais. E oscanais, que bá onde quer, contribuem para que cheguemmercadorias de muitas partes e saiam para muitas outras,tanto dos indígenas uns com os outros quanto com os povosestranhos (75).

Do mesmo modo, nas -frequentes (76) inundações, são úteis oscontinentes, porquanto, separados por istmos que impedem a suacomunicação, se tornam navegáveis, de tal modo que se podoatravessar dos rios para os estuários, e vice-versa. Todas as transaeçoes se fazem com a Itaha e Roma, pois a navegaç;-o ate asColunas e boa, se exceptuarmos alguma dificuldade ao derredor

(7’) O grego apresenta os dativos KaraKofLt~o/tjvatç ‘caí d,’a,co1it~o1jJyat~

(VaVKÀ-qpíarç) i. e., para os barcos que descem os rios ou para os que os sobem.(7°) Estrabão diz ~owc~5jtara. «animais que pastam (bois, ovelhas..(7°) O original grego dá Tàç 3~ floôç ... rer~pipcu(aç aujtflati~ov: porém que as

vacas, depois de terem observado o sucesso...(74) o v. ~ significa pràpriamente prestar serviço.(75) O final deste periodo está um pouco embrulhado; no entanto o sentido é este:

transacções que os indigenas fazem uns com os outros, através desses canais, ou comoutros povos (os de fora da ibéria, como o texto parece querer insinuar).

(76) O grego dá ç,,4 ,yoÀó que vale dizer; <(sobre o muito, geralmente».

2

IS uI,2,$-6

do estreito; e excelente é a navegação do Nosso Mar, onde, semdúvida, as travessias chegam a bom termo, mercê da bonançado clima, mormente em navegação de altura (77), o que é preferível para navios de carga. Mais: os ventos no alto mar sopramnuma direcção fixa (78). E, além disso, com a extinção da pirataria, é favorável a actual paz, e cio tal modo que os navegantesdisfrutani duma segurança absoluta.

Possidónio afirma, contudo, que observou algo de peculiar nasua torna-viagem da Ibéria, a saber: que naquele mar sopramate o golfo da hardonha ventos periodicos dc Leste (70), e que porisso levou tres meses a chegar penosaniente a Itália (se), depoisde haver sido arrastado para as ilhas Gimuésias, as Sardenhase outras regioes da Libia, que ficam em frente daquelas.

6. Da Turdetânia exporta-se trigo, muito vinho e azeite, nãosômeitt e em quantidade, mas ainda cm c1ualidade (81); e aindacera, mel, peixe, muita quermes e vermolhao nada uiferiorao da terra de Sínope. Os barcos eoustroem4los aquimesmo dc madeira indígena. Além disso, há sal fóssil e nãopoucos rios salgados. E faz-se, tanto aqui, como na outra costaalém das Cohuias, não pequena saiga dc peixe a qual nãoé inferior à da torra pôntic1’ . Antigamente importava-se também daqui grande quantidade do tecidos para vestidos; hoje,porém, lã, mais procurada que a dos (loráxios (82), já que é extre

(77) O texto tem ,,-eÀayi~ovrt. i. e. para o que navega em pleno mar alto.(70) O grego tem ~ovus,, ,-dgtv, i. e. têm tinia ordem; dai que possa entender~se

ventos de direcção fixa ou regtilares.(“) O grego diz simplesmente: e3pot &,]aíaL, os etiros... ventos periódicos.(90) O grego tem ,-ptu~v fn7oLv Icwr&prLt j.tdÀtç, que chegou a custo, em três

meses, à Itália ,cwroJpw ~ + aeu.. chegara, aportar a...(01) O grego diz: -fl-oÀÔ ... «o~ ,caÀAtwrov, n’lo só muito, mas ainda o melhor.(02) Acerca deste passo há pelo monos duas liçees: uma, a que adoptei; outra, a

de Schulten, organizador da ed. critica de que me sirvo. É a seguinlo: «Fero hoy (vienesolo) lana, más que (dei pais) de los Koraxios». O original grego diz laeõnieamente:

S~ ~pta jx&ÀÀov ‘r~P icopae&v~ umas aettia’niente (importam-se) lãs mais.., doque do pais dos Coráxios (maïs... procuradas que as dos Coráxios?)

L

III, 2, 6 19

inamente bela (89. Mas, por um carneiro reprodutor, paga-se,à certa, um talento. E há também abundância de tecidosfinos (84), que os Saltietas fabricam. A abundância degados de toda a espécie é enorme, assim como a decaça. São raros, porém, os animais daninhos, se exceptuarmos oscoelhos (85), a que a alguns chamam «leberídas~. Oomo se alimentam de raízes, destroem plantas e semontes; mas isto acontecequase por toda a Ibéria, e a praga estende-se até Massália, e,inclusivê, às ilhas. Dos habitantes das Gimnésias se diz que enviaram mil dia uma embaixada a Roma, pedindo outras terras, jáque se viam expulsos das suas por estes animais, e se sentia~incapazes de lhes dar caça, em virtude da sua muita abundância.E para unia invasão tão grande, que nem sempre se verifica,mas que se propaga Como espécie de praga, ta] a de serpentesou de ratos dos campos, urge quiçá tal recurso; ao passo quecontra um pequeno número se inventaram diversos métodos decaça. E assim também (86) criam adrede furões (87) que a Líbiaproduz; depois de os açatinarem, introduzem-nos nas luras. Estes,com as garras, arrastam para for? os coelhos que logram apanhar,ou obrigam-nos a fugir para o exterior, e entao os caçadores (88),

a sua saida brusca, apanham-nos. A tonelagem e. o numero decargueiros (89) dao ideia da abundancia das exportaçoes da Turdetama. Sem duvida, os maiores navios de carga navegam destasparagens para Dicearquia e Óstia, porto do Roma, e o seu númeronão é inferior ao dos barcos que vêm da Líbia.

(8’) O grego ,ccd iTrcpfloMJ TIÇ ~UTt roü «aÀÀouç dava a tradução literal:e existe um certo excesso de beleza, ou ainda: a beleza é excessiva.

(84) O original grego também autoriza a tradução: de grande qualidade são ostecidos finos...

(85) Estrabão diz prôprianierne yeoipóxwv Àayt3&vv kbrezflas que escalam a

terra...(86) A locução gr. Icai 8,~ ical ã letra significa e natwabne,ue tan,bé,,,.(87) O texto tem yaÀâç &ypíaç, doninhas selvagens.(88) O grego diz ~ ~ECTÓ3TEÇ (nora. p1. do part. perf. de ~iar~~ifl. os que estão

postados à frente de.(9 vavKÀ2~ptov = navio de frete.

20 111,2,7

7. E, ge tais são as terras interiores da Turdetânia, poderádizer-se que o litoral com estas compete ainda mais, em razaodas riquezas do mar. Em geral, toda a espécie de ostras e conchasexcedem, sem duvida, em numero e tamanho, as de todo o marexterior; mas especialmente aqui, porquanto maiores sao (09) ~

preamares e baixa-mares, as quais parece serem a causa do seuaumento em número e tamanho, devido ao exercício (91). O mesmosucede (92) com toda a espécie de cetácios—orcas, baleias e botos—— que, ao respirar (93), dão de longe, aos que observam, a impressão e o aspecto duma coluna de nuvens.

Também os congros oferecem um aspecto monstruoso (ei), osquais excedem em muito aos nossos, quanto a tamanho, e asmoreias e outros aos das respectivas especies. Em Oarteia, ao quedizem, há búzios e múrices de dez cólilos; e, nos lugares maisafastados (mais próximos do mar extenor), moreias e cengros demais de oitenta minas; polvos de um talento; lulas de dois covadosdo comprimento; e tudo o mais nesta proporção (95). E tambémaqui aflui muito atum (vindo) do Mar Exterior, gordo e pesado.É que se alimenta de certa espécie de landes de carvalho quenasce no mar, e que, nao obstante ficar rasteira, produz frutosabundantissimos. Esta arvore abunda também na terra, por todaa Ibéria, tem raizes grandes como se foram dum robusto carvalho,mas é mais baixa, devido ao tronco pequeno.

Produz tal abundância de frutos que, após o seu amadureci

(iO) O texto apresenta um gen abs causal ,~,-c Ica~ T&V irÀi,~i,ivpi’awv i<cd

TWV d/L1TL&TEWV aéCo,t/vwv~ i e crescendo (= porque crescem, aumentam) aspraei- e baixa-mares

(ii) Estrabão parece querer dizer que, visto como os fluxos e refluxos são maiores

que no Mar exterior, as ostras e demais conquiferos, em razAo desses movimentos demaior amplitude (que implicam exercwlo) aumentam em tamanho e em numero

(“) O grego j,~ 6’a~rw~ E~XEt K&t ¶Ep~, -habilita-nos a traduzir da mesmamaneira se tem (= acontece) acerca de

(i3) O texto tem tão-so Jv dva4.vu~~urus i-aw trata-se dum gen abs com valor

temporal, conquanto em principio devesse ser relativo e apresentar-se talvez assimoT dva~vcr4aawr€s’ çbatvovral’rtç ~4,tç

(“) O grego diz prõpriamente d~roUjpLo6vTaL. i e, tornam-se selvagens(9 Tradução livre de Kc4 rà rrapairÀi~cta que pode significar e tudo o

mais semelhante ou (os demais peixes) semelhantes aos caiamares

-a

111,2,74 21

meuto (‘9, a costa, tanto a do interior corno a do exterior dasColunas, fica coalhada de glandes que as preiamaros arrojam; masa do interior das Colunas aparece sempre com tamanho menore em mais quantidade (97). E Políbio diz que estas bolotas chegam até ao litoral do ~jáeio, a não ser que (afirma ele) tambémas produza a Sardenha e as coslas vizinhas desta. E quanto maisse aproxima das Colunas o atum oriundo do Mar Exterior, tantomais se adelgaça, em virtude de faltar a cera. Diz (Polibio) queeste animal é como que um porco marinho, em razao de darproforencia a bolota, e de com ela principalmente se cevar;a tal ponto que, havendo abundância de laudos, abundará oatum (°‘)

8. Conquanto esteja a referida região (da Turdetânia) provida de recursos tão grandes, poder-se-á elogiar e admirar mais,que não menos, a abundância de seus minérios, visto como, adespeito de todo o país dos Iberos estar cheio deles, nem todasas regiões são assim tão férteis e ricas (99), e mormente as queabundam em minerais. Raro acontece, ser uma região prósperaem ambos os produtos (i00); e raras vezes também sucede que a

(90) O grego diz tão-só—,ae,-& T5~V &K/L75t’. Ora dK~L~5 significa: «1) parte aguda

dum objecto: 1) ponta; 2) gume; II) o ponto mais alto de: 1) força e 2) poder; 3)o momento em que uma cisa está em ordem (sazonada?); 4) momento oportuno (efr. Dictionmaire Grec-Français, BailIy, s/v). Não me parece, pois, bem traduzidir dicfn5 pormaré alta ou viva, corno faz Garcia Beilido. Melher será dar a tal vocábulo a acepçãode maturaçâo, amadurecimento, como o fez Gabriel Pereira (Évora, 1878) e Schulten,fase.’ VI das Fontes Hispaniae Antiquae.

(97) O grego habilita-nos a fazer a tradução que apresentamos ou estoutra: encon

tra-se (aparece) cada vez (= também seitipie mais) menor ou inferior. É que aparecemdois comparativos, um adjectivo e um advérbio: este tanto pode estar com o adjectivocomo estar empregue em sentido abstracto e a modificar o verbo; daí que ~taÀÀov sejatambém mais, em sentido numérico, isto é, maior quantidade. Contudo, porque maisabaixo se diz que o atum adelgaça à medida que se aproxima do mar interior dasColunas, por falta de ceva, parece mais acertado aceitar a segunda tradução que damosem nota.

(78) O grego tem: ~op&ç TE 7~~Ç flaÀóvov ycvo1dnjç, ~opàv ~ -r~2v Oóvvtvv

um gen. absoluto com valor de oração condicional e um no inf.; portanto:«que, havendo produção de bolota, haverá produção de atum».

(99) O texto tem ez33a4iwv~ isto é, feliz.(iQO) O texto diz Jacônicamente: <(raro prosperar em ambas (as coisas)’>.

22 III, 2, 8

mesura regi~o esteja pictórica dc toda a e~péeic dc minério, numapequena área. Mas a Turdetânia, e a região convizinha, não hápalavras com que se lhe possa elogiar justamente esta virtude (1~1).

Oom efeito, nem oiro nem prata nem cobre nem ferro nativosem nenhuma parte da terra, nem em tanta quantidade nem assimtão bom, se explorou (102) até hoje. Mas o ouro, não só o extraemde minas, mas ainda dos cursos de água (103), Rios e torrentesarrastam areias auríferas, que frequentemente aparecem tambémem lugares desprovidos de água; o ouro, no entanto, neste sítiosnão se vê, ao passo que nos locais irrigados reluzem as palhetasde ouro (101). Irrigando, porém, os lugares secos com água quese pode conduzir, fazem que o brilho do ouro reluza (‘°~); abrindopoços e utilizando outras técnicas, por lavagem da areia obtêmouro. Hoje são mais frequentes os lavadouros de ouro (106) do quea exploração mineira. Os Gauleses, contudo, pretendem que sãomais importantes as suas minas do monte Cemene e as que existem nas faldas dos Pirenéus; no entanto são mais apreciadas asdah (da Ibéria) (107). Dizeni que algumas vezes, nas pepitas deouro, se encontram bolas de meia hbra, a que dao a designaçaode «palai» (108) e que se purificam com pouco trabalho (109). Diz-se

(101) A saber: a sua fertilidade do solo, a sua riqueza pesqueira e a sua abundância

de minérios.(102) Noto-se o perfeito ~e,~raarat com valor resultativo: <(explorou-se e continua

a explorar-se»:(103) Estrabão usa a forma verbal av’pEraL que em princípio significa tão só «arras

tar, carregar (falando de pepitas de ouro)» (cfr. flailly, Dict. Grec-Français, slvj.(104) ~1t~y~ia significa prôpriamente «pó de ouro, grão de ouro>).(101) À letra tão.sõmente : «torna,,, brilhante o brilho do ouro,>.(106) ~pvao~rAóatov é «o lugar onde se lavam os minérios para arrancar as pepi

tas de ouro» (Bailly, ibidem, sJv.).(107) A frase grega é mais completa e diz que «os Gauleses julgam que entre eles

as minas no monte Cemene são mais importantes».(108) Conservo a designação grega, visto que o vocábulo é peninsular e sem corres

pondente no grego; ao menos, os melhores léxicos da lingua helénica, como ode Bailly,não registam o vocábulo. Poder-se-ia aportuguesar a terminação— « palas » —, porquea do texto deve ser a grega, ignorando nós como terminaria a palavra no idioma local,

(‘°‘) O grego tem y.oKpé2s~ t(ctO4UEWS aeo,se’vag, isto é: «exigindo urna pequenapurificação>’.

lii, 2, 8-9 23

também que se topam bolitas semelhantes a mamilos, ao fenderas pedras; e que, fundido o ouro, e depurado com uma certa terraaluminosa, fica um resíduo chamado «electrão> (110). E que, seesta mistura de prata e ouro se funde de novo (“), por um lado,a prata se queima, por outro, o ouro Doa, já que esta massa fàciimente se funde. E é por isso que se funde mais com palha, porquea chama, sendo branda, é a mais própria para o ouro, que seliberta, e fàcilmente se liquefaz (112); ao ~~550 que o carvão, peb~sua veemência, consozue muito ouro, pois o funde exageradamentee o volatiliza.

Nos arroios (113), o ouro extrai-se e lava-se ali perto em cubasou escavam-se poços e lava-se a terra retirada. Os fornos da pratafazem-nos altos, de modo que o fumo do minério, que é pesadoe deletério, se volatilize.

Algumas minas de cobre chamam auríleras; donde se vê que,ao princípio, se extraiu ouro delas.

9. Possidónio, lonvando a abundância e excelência de minérios, não prescinde da sua costumada retórica; antes, levado doentusiasmo, cai em exagerações (114),

Afirma, sem dúvida, que acredita na lenda, segundo a qual (115),

tendo-se tini dia incendiado as florestas, a terra, porque compostade prata e orno, se fundiu e se derramou (110) pela crosta, pelo

(110) A tradução literal seria: «e que do ouro cozido e depurado por uma certa

terra aluminosa)>...(111) À letra seria: «Sujeito de novo ao fogo este (electrão), que tem uma mistura

de prata e ouro»...(122) É dificil adaptar o esquema da frase grega ao da versão portuguesa; daí que

tenhamos traduzido livremente, O sentido é este: «a palha produz uma chama brandaque, assim sendo, está mais a propósito pan o ouro que...»

(113) ~eZOpov significa prõpriamente: «corrente de água, leito dum rio; riacho»

(Bailly, ibidem, s/v.).(114) O texto diz sômente: «entusiasma-se com exageros».(111) O grego tem &r~. isto é, a saber; portanto, a oração é integrante e serve de

aposto a(110) Dv. ~K~JW significa pràpriatnente «fazer ferver»; dai a comparação sugestiva

entre a água contida num vaso que ao ferver trasborda do mesmo, e os metais que,uma vez fundidos, irromperam da crosta,

ri À~‘-1 111,2,9

facto de todo o monte e toda a colina sei’ «um material (“) de

moedase, ali acumulado por pródiga fortuna. Em suma, ajuntaele, quem quer que observe estes lugares, poderá afirmar quesão «os tesouros inexauríveis da Natureza ou os armazéns eternosdum Impérioe, já que o país é, segundo diz, não só rico 110 quemostra, como ainda no que oculta (119; e, na verdade, o seu (119)

subsolo parece ser regido, não por Hades, mas por Plutão (120).

Tal o que diz deste assunto em seu estilo floreado, como setambém ele próprio tirasse duma mina muito da sua linguagem...

E, falando da actividade dos mineiros, refere o dito de (Demétrio)Falério, que~afirm~~, acerca das minas de prata da Ática, queos homens as exploram com tanto afã, como se esperassem extrairo próprio Plutão. Mostra, pois, que o ardor e o amor do trabalhodestes (Turdetanos) são semelhantes (aos dos mineiros áticos),na escavação de sinuosas e profundas galerias, esgotando (1201)

frequentcnwnte, os veios (121) que nelas encontram, pormeio dos tomilhos (122) egípcios. Mas que o resultado destes nãoé de forma alguma o mesmo que o dos mineiros áticos, já quepara os últimos parece ser uni enigma a exploração mineira,porquanto quanto recolhem, diz, não o tomam, o quanto têm,

(117) Tradutores há que traduzem £fÀi] por ,nontâo; a verdade, porém, é que, em

principio, o vocábulo, além de significar bosque e floresta, tem a acepção de n,caeHal.Parece-me que é este o melhor significado que há-de dar-se ao vocábulo. A ideia é esta:no destino generoso deixou naqueles montes tal riqueza de minérios, que seria ummaterial para fazer (no sentido próprio e no de ganhar) moedas,>.

(110) O que autoriza esta tradução é não só a conjunção copulativa o~ ~ vov

dÀA& ,ca(, mas sobrettido o prefixo ,5,,-~ que existe no vocábulo trnd,rÀovroç, isto é,«i-qw:u á produtos subterrâneos» (l3ailly, ibidem s/v.). A subterrâneo, omito,opõe-se o que está à vista.

(>00) irap’hcelotç significa pràpriamcnto entre aqueles. O texto em rigor também

não diz subsoh’_ antes olugar debaixo da teria, subterrâneo’>.(120) O texto diz mais exactamente: «parece ser, não Hades, mas Plutão,>.(120 a) « Esgotando », francê.; poniper.(121) O texto diz em rigor «rio»; dai leio de água, rio subterrâneo, lençol de água(122) O vocábulo K0XÀZaS significa em rigor caracol, parafuso em esphal.

III, 2, 940 25

o perdem (123). Mas para os Turdetanos a exploração itiiiit,iico (~4)

é sumamente proveitosa, visto que, por um lado, os exploradoresdo cobre extraem da terra urna quarta parte do cobre puro, e poroutro, os proprietários de minas de prata exploram em três diasum talento euboico.

E diz que o estanho (125) não se encontra à superfície, comoo aflriuam os historiadores, mas que se extrai cavando (120); e queaparece em estado nativo nos (povos) barbaros que estao acimada Lusitania e nas Ilhas Cassrterides, e que e transportado, dospovos da Britânia, para Marselha. Acrescenta que entre osArtabros, que são os últimos da Lusitânia, para norte e poente(’27),a terra tem aforamentos de prata, estanho e orno branco (comefeito está misturado com a prata); que os rios arrastam estaterra, que mulheres amontoam com onxadas e lavam em penei-ias (128) sobre um cesto. Tais coisas refere (129) este sobre as minas.

10. Diz-nos Políbio, ao mencionar (130) as minas de prata dosarredores de Cartago sova, que são muito grandes; que distanida cidade cerca do vinte estádios; que ocupam uma área de 400estádios; que nelas trabalham 10.000 operários (131), e que no seu

(‘“) O sentido deste enigma, que melhor diríamos provérbio (atribuido aos pesca-dores, segundo Schulten) significará: «Não lograram o que esperavam, e em contrapartida perderam o que possuiam». Esforço, trabalho e dinheiro, já que as minas nãorenderiam o que esperavam.

(121) No texto diz-se, 7~oÓTotÇ para estes (os Turdetanos), e simplesmente Àuar,-eÀ~

proveitowa, tendo de subentender-se aAAc(au que vem supra.(‘“) Ou cassiterite, como se diz em grego.(120) A lera «que é escavado,>.(127) Isto é «que ficam» situados no extremo da I.usitânia, para os lados de noroeste.(120) A letra: filtros tecidos.(320) O grego tem o perfeito, eZptjicc, disse: porém devido ao seu valor resultativo,

pode e deve traduzir-se pelo presente. Afirmou e a afirmação continua válida.(1>0) O texto tem ~LV7)U&EIÇ, part. aor: pass. do v.~ qtie em rigor significa

«fazer recordar: lembrar-se de; trazer ã lembrança, fazer menção de» (cfr. D(c.° GregoPortuguês do P.° Isidro Pereira, s’v.).

(‘>‘) O grego diz &vQpo~n’wv dpya~opJvwv, i. e., homens que trabalham;obreiros ou operÚrios.

26 iii, 2, 10-11

tempo (132) iendiani ao povo romano 25.000 dracmas por dia.Mas omito o restante do tiabalho de exploração mineira, porque é demasiado longo (para contar) (133). Do mineral de prataarrastado das correntes (131) diz Polibio que é pisado e joeiradoem erivos, sobre água, e que de novo se pisam os sedimentose outra vez, depois do filtrados e derramadas as águas, épisado. O qumto sedimento, diz, prende-se (113) e dá a pratapina, depois de separado 00 humbo.

Ainda hoje há mulas de prata; não são, contudo, públicas, nemah nem em oulros lugares, mas passaram a propriedades (136)

particulares. No entanto, as minas de ouro, na sua maioria, sãopropriedade pública. Em CastulSo e outras locabdades há umminério especial de chumbo fóssil (‘9. Este chumbo traz associada urna pequena porção de prata, tão pequena que não valea pena purificá-la (128).

ii. Não muito longe de Castulão fica também o monte, a quedão a designação de «Argiro » (139) em virtude das minas de prata,que nele existem, e donde, ao que se diz, mana o BéHs.

(331) O texto diz tão-so T~ra, 1 e, efltao.

(“) O texto neste ponto e demasiado conciso, o sentido, porem, e fac,! Omiteentão tudo o demais que Polibio refere acerca da exp!oração mineira, visto que seriademasiado !ongo (~aicpà ‘y&p iu’rt) fazê-lo

(121) O adj verba! aup’nj’v~ do verbo csv’pw. significa prõpriamente arrastado (pe!a

corrente dum rio ou de qualquer curso de água)(135) O texto diz prõpriamente depois de fundido(130) O texto diz possessão(52’) Ha quem faça esta tradução ha nunas de chumbo fossil que são pei lenço de

penuculates Assim traduz Schu!ten parece-me, contudo, que a tradução que damosno trecho, sugerida pe!a de Garcia BeI!ido, se enquadra me!hor no contexto, em razãodo periodo seguinte Em verdade o adj ~6toç significa «proprio, particu!ar, privado))e dai «lia mina pafliculofl), no entanto, o adj ,afigura-se-me, não imp!ica posse e, sim,qualidade, caiactel V. nota 596.

(138) Também este ponto e controverso, mas parece-me que esta interpretação, que

damos, traduz com mais rigor a ideia de Estrabão que era esta a porção de prataassociada ao chumbo era tão pequena, que não havia ainda vantagem em purificá-la

(1h) Ou «Argifero», le, <(Serra da Prata».

TU, 2, 11. 27

Mas Polibio assevera que tanto este corno o Ánas descem daCeltibéria, e se afastam uni do outro cerca de 900 estádios.

Com efeito, os Celtiberos, em consequência do aumento do seupoderio (140), estenderam o seu nome a toda a região confinante(’41).Parece que os antigos ao Bétis chamavam Tartesso, e a Gadirae às ilhas próximas Eraia. E é por isso que crêem que Estesicoro,falando acerca do pastor Gerião, afirmasse «haver ele nascidoquase em frente da famosa Erítia, no reccsso dum rochedo,junto das nascentes do rio Tartesso, inesgotáveis e do raízesargêntease. E, como as desembocaduras do rio são duas, existiaantes, diz-se, no espaço intermédio, urna cidade (142), qne chamavam Tartesso, do nome do rio (143), c que se chamava Tarténisa região que hoje habitam os TúMulos. Eratóstenes assegura quese chamava Tarténis também a região vizinha do Calpe, e «ilhaafortunadae a Eritia. Aritemidoro, refutando-o, diz que isto é umerro (134) de Eratóstenes, como também o afirmar que de Gadiraao Promontório Sagrado vai uma distância de cinco dias denavegação, quando não é, na verdade, de mais de 1.700 estádios;que as preiamares só chegam até aqui (145), ao passo que se fazemsentir a volta de toda a torra habitada; e que as partes setentrionais da Ibéria são mais acessíveis pela Céltica do que navegando (146) pelo Oceano; e quantas outras coisas afirmou, dandocrédito, em sua jactância, a Píteas!

(140) O texto diz meramente a~~~~O/o’rcç (nom. p. do par. aor. pas. do v.

crescer, aumentar), tendo sido aumentado.(141) A tradução livre da literal que seria: tornaram també,n toda a legião confi—

tiante homónima cicies próprios.(042) A contextura da frase grega é mais complexa: autoriza-nos, porém, a fazer

mos esta tradução literal: «E sendo (= como fossem) duas as desembocaduras do rio,dizem que no espaço entre (as duas fozes), se estabeleceu antes unia cidade,>.

(143) À letra: «homónima do rio>).(144) À letra: «que isto é dito falsamente por ele (Eratóstenes)».(141) À letra: são tiniltadas até «gol.(146) O texto diz: «do que para os que navegam pelo Oceano».

L

28 III, 2, 12

12. O poeta (117), que tantas coisas cantou, e de tantas deunotecia (146), clã ensejo (a supor) que neuhiuu destes lugares écicie (140) ignorado, se porvelltllrPd se quiser tirar conclusões certas (110) de ambas (as atitudes), a saber: do que diz de pior e doque diz de melhor e com mais verdade (151) acerca destas parageu.S.

Não é tão exacto quando diz (152) quo esta fica uo extremo doOcidente (15>), onde, como elo próprio diz, mergulha no Oceano (151)

«a luz brilhante do sol que arrasta atrás de si sobre a terra fértila noite escura’).

Mas como a noite é de mau agouro e evoca a ideia deum lugar próxiluo ao fIndes e este, por sua vez, confina como Tártaro (155), poderá supor-se que (o poeta), ouvindo falarde Tartesso, associou, em consequência disso, este nome ao deTártaro (116), a mais aPastada das regiões subterrâneas, não semo embelezar de muita ficção, como é de uso dos poetas (157). Assimtambém não obstante saber que os Cimérios habitavam cm regiõesnórdicas e sombrias junto ao l3ósforo, os localizou porto do fIndes,acaso em razão dum certo ódio comum dos~ ~1óuios contra aquelepovo.

(14’) Por antenemásia—Hornero. Também nós metonimicamente dizemos o épico,

quande nos referimes a Camões.t’4<) Não faria sentido lima tradução literal deste passo: O texto diz: ,ro~ó~wveÇ

1 tÇ (tT l(U~ ii oÀuíorwp: «sendo (equivalente a: usando) dc palavras variadas e muitosábio». O adj. ,,~oÀó~wvoç compõe-se de dois elementos: 7roÀ’j, ,miilo, rdrio, e(de ~wv4’~ voz, pelaria, ritmo mesmo. Por seu turno, o adj. ~roÀv1c’rwp compõe-Setambém de dois clemsnlos ,roÀó e Zo~-wp. relacionado com o v. Zcrafhat.sabe,, conhecer.

(140) O grego cl overia ter o dativo ético (ou até corto ponto, ageate da passiva)

javrG,.(1)0) O texto tem o adv. dp6ók , i. e., rectamente.(111) A’A~OJarepov significa prôpriamente mais verdadeiro; quando, porém, falta

o segundo termo de comparação, o adj. pode traduzir-se pelo respectivo subs. abst.regido de «com», a designar modo.

(102) A tradução literal seria: diz pior que esta fica.(113) À letra: «que esta é a última (a mais extrema) para o ocaso (ou poente))>.(114) Tradução 1 itcral : cai.(1>5) Tradução livre correspondente a estoutra: «mas como a noite é evidentemente,

algo de mau agotiro e algo qtie se aproxima do Hades, e o Hades é vizinho <lo Tártaro...)>(1>0) Ou ã letra: «transformou esta palavra em Tártaro...».(107) Ou então: «acrescentando-se também ficção, salvando o poético».

L

iii, 2, 12-13 29

Dc resto, diz-se que no tempo do Hoauero (158), ou pouco antes(lelo, houve um ataque dos Cimérios contra a Eólia e a Jónia.Do mesmo modo, tomando sempre os seus mitos de factos históricos., identificou as Planetas às Ciancias (158). Já que as irnagiua como escolhos perigosos, como dizem ser as Cianeias, que, poressa razão (100), se chamam também Simplégadas; é por isso quecolocou a travessia de Jasão através delas. Também o estreitodas Colunas e o (la hietha lhe sugeriram o nuto das Planetas.Com menos razão, pois (161), poderia alguém, a partir da ficçãopoética do Tártaro, fazer alusão, ainda que velada (102), ao seuconhecimento da região de Tartesso (163).

13. Com anais razão poderá deduzir-se do seguinte o conhecimento oceânico em Homero (16.2): a expedição de Héracles, quechegou até estas paragens (105), e a dos Feníeios deram-llj.e a ideiada sua riqueza e da bonomia de seus habitantes.

Já que estes foram de tal modo submetidos pe)os J)’eníoios cIuehoje em dia a maior parte das cidades da Turdetânia e dos luga

(118) Ou: «durante Homero».(210) Tradução: «e fez as Planetas semelhantementc âs Ciancias».(100) À letra: «de que (do qual facto) se chamam também...»(101) O texto: irp~ç ~av &~ 7-3 ~ i. e., para algo pior, certamente.,.(102) O verbo a~víauojzaL significa «dizer alguma coisa ve’adamente»; daí que se

tenha traduzido assim.(‘“) Ou, como diz o texto: «dos lugares que ficam nos arredores de Tartesso,,.(104) À frase grega é demasiado concisa e sintética, e de tal arte que mais há-de

adivinhar-se que traduzir-se. Estrabão diz tão-sàmente: irp6ç 3~ r3 fl~ÀTtOY ~Ic

‘,-o~S,-<~v que, todavia, deverá completar-se dcst’arte: ,,-p6ç 8≥ ,‘6 fl/Ártov E,~pay~aaioncUoLr3 ~ à~ T~V TÓ7rLO1) /IV2~/L7)V T&l) ‘<ar ‘QKEaI’OV], hc roórwv, i. e.,«mas para mzlhor coisa poderá alguém aludir ao conhecimento dos lugares oceãnicosdo seguinte (~ das seguintes provas). Note-se o contraste entre ,~-p3ç ~v 6,~ r3 ~~pov,para pior, pois (= com menos razão) do último período do parágrafo anterior e-trpàs 3J r6 ~Àrtov, mas para melhor (= com mais razão, mais acertadamente) doprincipio deste parágrafo 13. A jflv, por um lado opõe-se ~, por outro; a

o pior, o melhor. A concisão em última análise, deve-se, pois, à simetria(em nossa modesta opiniâo).

(‘“) Ou simplesmente: que chegou até aqui.

L~.

30 rn, 2, 13.

res con-rizinhos s~o habitados por eles. E a expediç~io de Ulisses,que chegou aqui e que foi narrada por ele, também essa meparece lhe deu pretexto a transformar, na Odisseia (166) como naIliada, os sucessos em poesia e narraçao fabulosa (167), como usamfazer os poetas (108), Com efeito, nao so os lugares da Italia e daSicifia e alguns outros mostram vestígios (169) de tais expedições,mas também na Ibéria existe unia cidade Odisseia e um templo aAtena e mil outros indícios das daquele (Tilisses) e de outrosheróis, que sobreviveram à guerra de Tróia, que por igual (170)

foi catastrófica para vencidos e vencedores da cidade (171). Já queestes n~o alcançaram senáo tuna vitória cadmeia (172), porquantoarruinaram as suas casas (173), e coube a cada uni urna pequenaparte dos despojos. Aconteceu, pois, aos que se salvaram dosperigos, terem de se voltar para a pirataria, Troianos (17-8) e Gregos: aqueles, em razao da sua haver sido devastada; estes, porvergonha, parecendo a cada um (‘°) «ser vergonha permanecerlongo tempo (longe dos seus) e voltar de novo para a sua companhia, de mãos vazias’> (176). Registaram-se também as andanças deEneias e de Antenor e dos 1-lenetos; o do mesmo modo os deDiómedes e de Menolau e de Menestcu (177) e de muitos outros.

(1~) Estrabão diz: transformou a Odisseia de (coisas) acontecidos (sucessos) cm

poesia... Ulisses, em grego é Odysseus.(167) Ou tão-só: ficção poética, ou matéria fabulosa.(108) À letra: narração fabulosa, habitual dos poetas.(108) À letra: se mostra.(170) O texto diz: br’ ~cijs-.(171) Que causou dano aos atacados e aos que tomaram Tróia,(172) O texto diz «a8jzeiav viln~v J-rJyxavov ~~p~dvot (part. pcrf. mcd. pass. dc

arpcv, levantar), estes, por acaso, alcançaram uma vitória cadmeia. Repare-se nouso do v. ‘rv’y~&vw + part: aquele traduz-se como se fora um adv., este, como sefora o verbo principal.

(172) O texto diz prõpriamente: «destruidas (= arruinadas) para eles casas>,.(174) Interpretação de Schulten.(175) O texto tem: jKjrprov ,rpoÀaf3cWroç. presumindo (= porque presumo)

cada um.(170) O texto diz: tão-só: voltar vazio.(177) O texto diz: «Ulisses», Schulten diz que não faz sentido a repetição deste

nome e corrige, inspirando-se no e. 1, 9.

m,2,13 31

Por consequência, o poeta, que conhecia tais expedições aosextremos da ibéria e que estava informado das suas riquezas (os Fenícios, sem dúvida, deram-nas a conhecer) e outrasvirtudes desta região, colocou aqui o «país dos bem-aventurados»e o «Campo Elísio» (178), donde, segundo diz Proteu de Menelau,

— «porém os imortais enviar-te-ão para o Campo Elísio,para o cabo do mundo, onde vive o louro Radamanto, ondea vida para os mortais é completamente feliz (179). Não háentão nem neve nem inverno rigoroso nem muita chuva,mas sempre o Oceano solta as harmoniosas brisas do Zéfiro,para refrescar os homens».

Som dúvida, a pureza do ar (180) e o sopro benigno do Zéfiro sãopróprios desta região, que é ocidental e quente; e a sua situação (181) nos confins da terra, onde afirmamos Homero imaginouo Hades, (fica bem). O que acrescenta acerca do Radamanto (182),

inculca uma regiao proxima de Mmos, de quem diz ah via Mmos,o nobre filho de Zens, com o ceptro de ouro, a adniiüstrar justiçaaos mortos. E os poetas, que vieram depois, repetiram coisassemelhantes a estas, como a expedição para (se apoderar dos)bois de Gerião, e, igualmente, de outra para roubar os pomos deouro das Hespéridcs. Citam (188) também umas llhas dos Mortunados (188) que sabemos ainda hoje ficam não muito longe daextremidade da M.aurúsia, que fica em frente de Gadira.

(170) O texto diz prõpriamente: «planície elésia,>.(110) À letra: fácil.(180) Ei3dcpov, i. e., o ar puro.(181) A Letra: «o estar nos confins da terra)>.(882) O texto diz ~rc ‘Pa8d,rnvOv$ lrapaTEOeíÇ (part. nor. pass. do irapaTlOfl.

expor, relatar).(183) KWroVOf4d~OVTE~ i. o., nomeando, citando.(104) ~ i. e., feliz.

32 111, 2-14

14. Mas as primeiras notícias deveram-se aos Fenícios (185),

que, antes da época de Elomero, possuiam o melhor n~o só daIbéria, scnáo que da Líbia, e continuaram a ser (186) senhores destasregioes, ate que os Romanos quebraram a sua hegemonsa. Dariqueza ibérica é também testemunho o seguinte: segundo dizemos historidores, os Cartagineses que vieram no exército de Barca (169,

encontraram os habitantes da Turdetânia (188) utilizando colhas (169)

e toneis de prata. Poderá ainda supor-se que os homens daqui,devido à sua muita felicidade, se chamaram macróbios (190), sobretudo os chefes, e que por isso Anacroonte (1908) tenha dito assim:

<(Eu cá nem queria o corno de Amalteia (181), nem reinarcento e cinquenta anos em Tartesso».

Heródoto recolheu até o nome do rei, e chama-o Argantónio (192); [com efeito, assim ou de maneira parecida há-de interpretar-se o que diz Anacreonte (193), ou mais coneretamente nãoreinar muito tempo em Tartessos) (101). Alguns chamam Tartessoà actual Carteia (195)

(“a) Estrabão diz: «E digo que os Fenícios foram os informadores,>. O voe.0~z,~vvr,~ç significa em princípio, «delator, denunciador» (P.° Isidro Pereira, Dic.°Grcgo-Portwgnës, 5/v.).

(186) Note-se a construção do v. StwrcÀja, + pari: aquele traduz-se por um dav.

(= sem cessar); este, pelo verbo principal (foram, ficaram, continuaram a ser).(1(7) Entenda-se Amilcar Barca.(108) O texto tem ‘rot)s- Jv rfl Tovp8~p-avía, «os da Turdetõnia>,.

(‘°‘) O texto tem~ (dat. p1. regido por xpwí~~&ov): prateleira; grade deníangedoura; mangedoura.

(1(9) O adj. fsaKpct/wv significa <(longevo; que dura muito tempo; velho; imortal

(cfr. Dic.° Gr.-Porr. P.° Isidro Pereira, s/v.).(100 a) Anacreonte, poeta lírico, o terceiro dos grandes poetas mélicos monódi

cos, nasceu em Téos, por volta de 570 a. J. C.(111) Ou cornucópia (corno da abundõncia).

(“‘) À letra: chamando-o Argantónio. O grego em uma or. infinitiva, dependenteainda de iisroÀafloc &‘~vrtç.

(1*0) O texto diz só: o de Anacreonte,(1~) Tudo o que está incluso nos colchetes constitui uma interpolação da ed. cri

tica de Schulten, que não existo em outras edições.(115) Também este peflodo não se lê em outras edições.

W,2,T5 33

15. Em consequência da prosperidade (199 do país, os Turdetanos têm costumes dóceis e civilizados, assim como o~ Célticos,em virtude da vizinhança, segundo disse Políbio, pelo seu parentosco (197), mas estes (os Célticos) menos, porquanto, na sua maioria, viveiu em aldeias (198). Contudo, os Turdotanos, e principalmente os que habitam junto do Bétis romanizaram-se completamente (199), chegando ao ponto do se esquecerem mesmo do idiomanacional (200). A maior parte deles fizeram-se Latinos e receberamcolonos romanos, de modo que pouco faltou para que todos sejam,Romanos. As cidades agora colonizadas tais como — Pax-Augustaentre os Célticos; Emérita Augusta entre os Túrdulos; Cesaraugusta (2009 à roda dos Celtiberos, e algumas outn~s colónias,oferecem uma transformação na sua constituição política (201).

E chamam-se «togatie quantos Iboros adoptaram tal teor devida (202); e no numero destes contam-se até os Coltiberos, queantes eram tidos na conta dos mais selvagens de todos. Isto o quetinha a dizer acerca da Turdetârnja (201).

(106) O grego tem um dativo de causa.(107) O texto diz: consanguinidade.(198) O texto tem icwpn78óv (~Qoç), ã maneira aldeti, segundo costume aldeão.(190) A frase grega é muito mais prolixa; traduzida à letra, dirá: transformaram-se

completamente para o estilo de vida dos Romanos.(209) O texto diz: «nem se lembrando ainda do idioma próprio».(100 a) Caesaraugusta, Kataapauyoówra.(101) À letra: «das constituições do Estado escolhidas,>. A trad. de Schulten omito

esta referência, na ed. de 1952, que consultámos.(102) À letra: chamam-se Togati os Iberos que são de uma tal ideia.(101) O texto grego tem só: 7-aBra p?v 1r6p2 ro6rwv estas coisas (tinha a dizer oti

sejam ditas) acerca destes (os Turdetanos).

CAPÍTULO III

1. Quem começa (204) de novo desde o Cabo Sagrado até à outraparto da costa, que fica junto ao Tejo, depara-se-lhes um golfo.Depois topa com o Promontório Barbário e, perto deste, asembocaduras do Tejo, e até essas praias, em linha recta (205),

são mil (206) estádios. Aqui há também ostuários, dos quais umde mais de 400 estádios contados a partir do referido promontório (207), ao longo do qual [se estabeleceram cidades e Sa]lácia (2o8).

O Tejo, na sua foz, tem acaso 20 estádios e grande profundidade,de tal arte que barcos de 10.000 talentos (208) o podem subir. Formadois esteiros nas planícies, que marginam o rio, todas as vezesque há marés vivas, de tal modo que inunda esses campos mmtaextensão de 150 estádios e os torna navegáveis (210). No estuário

(204) O texto diz: n)v &p~2~~v Áapfidvoua~~ i. e., «para os que começam... fica

(= depara-se-lhes) uma enseada». Compare-se a expressão r~~/v dpy~v Àap.fl~vetv coma equivalente em latim initiuno tapete: ambos significam tomar inicio, daí começar.

(205) O texto diz: em navegação directa.(206) Este número não existe em todas as edições criticas.(20?) O texto diz: ~-~pyov. i. e., torre, cidadela.(200) Todo o passo contido dentro dos colchetes é omisso em outras edições, com

excepção das silabas finais de (Eu) Àa,c(a. Assim, outros autores entre os quais GarciaBellido, traduzem: «por onde (pelo qual estoiro) os navios chegam até Salácia». Se oscôdices têm Àoacia, trata-se de um nominativo, função, pois, de sujeito. Parece,pois, razoável a reconstituição de Schulten.

(200) O texto diz: ~ 3~ T%o~ ,ca~ r~ v,-Àd-roç ?XEL TOG UT~LaTOS EZICOCI irov

a~a8lwv lca~ 1-~ flcíüoç 1i4’a c~ are jivptaywyoZ~ &va~rÀeZuOat, «...de modo quepode ser subido (por barcos) que transportem l0.CO0 ânforas ou outros objectos».O adj., que aparece no texto significa cm principio: «qui porte ou peut porter unecargaíson de 10.000 amphores ou autres objects» (cfr. Bailly, Dictionaire grec.français, sjv.).

(210) Ou à letra: «de modo que se derrama (travasa ou trasborda) por sobre a

planície em 150 estádios e a faz navegã’el».

111, 3, i. 35

superior há urna ilhota de cerca de 30 (211) estádios de compriincuto, e do largura um ROUCO inferior (212), Muito rica em olivais (211) e de belos vinhedos. E fica sita junto de Morão (214), cidadebom situada num cerro perto do rio. Pista (215) do mar uns 500estádios; é rodeada (216) de férteis campinas, e tom facilidades dcnavegação (217), mesmo para barcos de grande tonelagem, até boaparte do rnu’so do rio, porque o resto do rio é navegável parabarcos fluviais. Para cima de Morão a distância navegável é aindalnaios’ (219)

Foi esta cidade que Bruto, denominado o Calaico, utilizou (219)

como base de operações, para guerrear os Lusitanos, a quem der-lotou (220), Na faz do rio (221) fortificou Hólosis (222), para terlivre a navegação rio acima e o transporte de provisões (221); detal modo que, de todas as cidades ribeirinhas (29 do Tejo, estas (225)

são as mais importantes. O rio abunda em peixe e ostras (226),

(211) Schulten diz que é erro; são três tão-só.(212) Ou à leira: «deixando (com) a largura um pouco do comprimento».(213) e,3jÀa~ov, rica em olivais. Segundo a edição de Schulten «muito arborizada».

V. porém a nota 550.(114) Nos cádices lê-se Àóyov &,roÀt,r€Zv.(215) O texto diz: d#ECT~UOJ’ (part. perf. no ac. fem. sin. de d~ícrsjpt.distarde).(216) Ou: tendo unia região boa (= fértil) ao redor de si.(117) À letra: tem navegações rio acima (= subidas no rio) fáceis mesmo para

barcos grandes até muito (do curso do rio), e, quanto ao resto (do curso) para barcosfluviais,

(218) Ou ainda: a subida é ainda mais além de Morão.(219) O texto diz: Bruto, denominado o Cilaico, servindo-se desta cidade para base

de operações, combateu os Lusitanos. ‘Op~~)fljpíov signiFica «lugar do qual fazei,,as san/das os soldados para a titia» (cfr, Dic.° 0,-Port,, P.° Jsidro Pereira, s/v.).

(220) À letra: «e derrotou estes (= os Lusitanos)».(121) O texto diz ~cíOpotç: o voe, tem, além de outras acepções, a de Ir/ir, do rio.(223) Ou Olisipón (Olisipão) e não O!!5/pana, como corrigem geralmente os edito

res, e é o ae.°: Olisipo ou Olissipo, à latina. Nos cód. Nó/os/ri “QÃogw (acusati~o), que corresponde à forma que adoptamos no texto, pelos motivos indicadosna Intrrodução.

(113) A letra: «para que tivesse navegações rio acima livres e os transportes das

coisas necessárias»,(221) Ou: «que rodeiam o Tejo».(111) Ou sejam: Morão (ou Mo,’ón, nom.°, e não Mo,’o,,a, ac.°) e J-lólosis

(Olissipo).(220) Ou: «o rio é muito piseíeola e está cheio de Osiras>,.

36 III, 3, 1-3.

Corre da Celtibéria, onde tom as nascentes (227), através dos Vetões,dos Carpetanos e dos Lusitanos, até o Ocidente equinocial, correndo primeiro até certa altura, paralelo ao Ãnas e ao Bótis,depois afasta-se destes, que infectem para o litoral sul.

2. Os povos que habitam para cima (228) das partes mencionadas, são os Oretanos os que ficam mais a sul e se estendematé à costa compreendida dentro das Colunas (220) a seguir aestes, os Carpetanos, para o norte; depois, os Vetões e os Vaceus,através dos quais corre o Douro, que é vadeável (230) por alturade Ácôncia, cidade dos Vacens. E os ultimos são os Calaicos, queocupam em grande parte as montanhas. E foi por isso que, tornando-se mais difíceis do combater, deram o cognome ao vencedor (231) dos Lusitanos, e fizeram que se chamassem Calaicosa maior parte dos Lusitanos. Da Orctâauila, as cidades (232) maispoderosas são Castulão e Oria.

3. Entretanto, o que (vai) do Tejo para o norte é a Lusitânia, a maior das nações ibéricas (233), e a guerreada pelosRomanos durante mais tempo (234)

Ora o flanco meridional desta região, cinge-o o Tejo, comoao ocidental e ao setentrional o Oceano, e enfim ao oriental

(227) A letra: «corre, tendo as origens da (lugar donde) Celtibéria...».

(~“) O texto diz: (<e os povos que estão acima das referidas partes (entenda-se dascolunas), os Oretanos, por um lado, são os mais meridionais».

(220) Entenda-se: «do Estreito das Colunas, para o lado de Roma>).(230) À letra: «que tem um vau ou passagem)’.(231) Bruto, em virtude destas campanhas, mereceu o cognome dc Calaico ou

Galaico.(232) É curioso que o texto fala só na cidade que tem a preeminência, que domina,

no singular.(223) jQyog também significa «poro; nação, tribo; raça>).(134) O texto tem ~5,r6 ‘Pw~iatwv ,roAe1wO&, i. e., «guerreada (ou comba

tida) pelos Romanos».

111,3,3 37

os (lântabros, os Ástures, os Vetões e os Vaceus (235), —

povos bem conhecidos, —nilo merecendo referência os demais—pela sua pequenez e obscuridade (23~)_, (o (1110 dizemos),som embargo do, ao contr&io do que é eorrente(237), hojea (todos) estes (povos) aiguns chaniaiem Lusitanos (237 3). Alongitude da Lusitânia é de três mil estádios; a sua latitude,um pouco inferior, desde o lado oriental até à costa oposta (236).

A parte oriental é elevada e áspera, m?js para baixoaté ao mar todo o país é iuna planura, interrompidaapenas poi raras iuoutanhas de pequena altura (239). Ëpor isso que Possidónio diz que Aristóteles erradamente (2~0)

justifica as marés altas e baixas pela costa da ibéria o da Mau

(“) O texto conhecido diz: «os Carpetanos e os Vetões e Vaceus e Calaicos »,A correcção é feita de acordo com a Introdução a esta obra, em referência à localização dos Carpetanos segundo o próprio Estrabão (cfr. III, 1,6; 2,1; 2,3; 3,2; 4,12e 4,13); à menção dos Cãntabros também no livro IIJ, 4,20, onde Estrabão insisteem que os Calaicos são Lusitanos, embora tiltimamente excluidos da provincia romana da Lusitãnia; etc. V. nota 237 a

(230) O texto tem &aoeía, i. e,, vida obscura.(237) Passo controverso. Em razão talvez do advérbio vOu que tanto pode estar

com ‘roZ~ vOu (auyypa~et~) i. e., «contràriamente aos historiadores modernos», quantocom gv2ot; e então será: «contràriamente às (coisas ditas) os historiadores modernos,>...Há discrepância de sentido, consoante a ligação que se vir no referido advérbio.

(227 ~) . V. a nota 235. Suprimiu-se no texto o seguinte, considerado interpola

ção: «Porém os Calaicos confinam a leste com os povos dos Ástures e comos Iberos, e os demais com os Celtiberos,>, por os Calaicos nunca terem confinado com os Iberos, nem mesmo com os Celtiberos, como já se quer emendar(cif. III, 3, 7); ser evidente o desejo do interpolador de fazer coincidir, aliás comerro, a Lusitânia primitiva com a de Augusto; ser este passo a transposição dareferência aos Ástures, embora, conforme Casaubono procura explicar, estes limitesnão digam respeito aos Lusitanos, mas aos povos confinantes. V. Introdução.

(220) Tradução literal: a qual (largura) forma—a o facto oriental para (= até) a costa

contrdria.—O original diz, por manifesto erro, 300 estádios, quanto à longitude.(239) A tradução literal será: «mas a região subjacente (a esta) é toda ela uma pla

nura até ao mar, excepto umas poucas montanhas pequenas>).(240) Ou: não direitamente.

38 III, 3, 3-4

rú,ia (241); com efeito o mar (diz Aristóteles) tem movimentosde fluxo e refluxo, porque as costas são altas e escarpadas o recebem, rechaçam com força as ondas (242). Para dizer a verdade,é justameute ao contrário, pois a maior parte da costa é baixae arenosa (243)

4. O país de que falamos, é próspero, e grandes e pequenosrios o atravessam, todos vindos das bandas do nascente e paralelos ao Tejo. Á maior parte deles são navegáveis e têm pepitasde ouro (244). Depois do Tejo os rios mais conhecidos são o Mundas,navegável em pequenos trechos (245), e o V~cua em idênticascircunstâflcias.

E depois destes, o Douro, que, vindo de longe (240), corre pertode (Mi) Numância e de muitas outras cidades (248) dos (Jeltiberose Vaccus, e é navegável por barcos de grande porte num cursode cerca de oitocentos estádios. Há ainda outros rios; e depoisdestes, o Letes (259), a que alguns chamam Limea e outros Beião (250),

Também este corre do país dos Celtiberos e dos Vaceus. Depoisdeste, o Bétis (251) (alguns chamam-lhe Minio), de longe o maiordos rios da Lusitânia, que também é navegável até 800 estádios.

(241) Ou: «sem razão acusa a costa das preia e baixa-mares». Note o uso do verbo

ainda/Lar que é da linguagem juridica e rege acus. (de pessoa, normalmente), e genitivo de coisa.

(242) Ou: «recebendo (as quais costas) e devolvem duramente as ondas». É curioso

o verbo usado por Estrabão com o sentido de rechaçar: &vpa,ro6íSw/u devolver emtroca.

(242) A frase grega é pouco maleável; a tradução literal seria, pois, pouco correcta.

Ei-Ia: «com efeito que pelo contrário, na sua maioria (a maior parte delas), são baixase arenosas, dizendo rectamente».

(244) Ou: «a maior parte têm subidas no seu curso fáceis e muitíssima areia aurifera».(238) Ou: «tendo pequenas subidas (= sendo de pequena navegabilidade)’>.(248) ,iaicpdOev. i. e., de longe.(247) irapà com acus. pode significar cerca de, ao longo de’.(244) O texto diz: Ka’rocxL’ag , i. e., colónias.(240) O texto diz: o do esquecimento (ri ,-í~ç zt4Or~s’).(250) À grega: Lirnaia e Belión.(251) Corrige-se para «Bénis». À grega: Saiais, Nos cád., porém Baitís. (Bétis).

V. a Introdução.

III, 3, 4-5 39

Mas Possidónio diz que este rio corre (lo país cantábrico. Dianteda sua foz existe (259 uma ilha com dois molhes (253) que formamdocas.

Possui urna disposição natural digna de louvor (255), porquantoos rios correm entre arribas escarpadas (255) e capazes de recebernos seus leitos o luar nas marés altas, de modo que nem estravasam nem inundam os campos marginais. Este rio foi o termoda expedição de iruto. Mais além ainda há muitos outros riosparalelos aos atrás citados.

5. Os últimos são os Artabros, que habitam na vizinhança docabo (~6), que chamam Nório, e que é o termo dos lados orientale boreal; perto deste (mesmo cabo vivem ainda) os Célticos,parentes daqueles outros que habitam nas cercanias do Ánas (257).

Sem dúvida, diz-se que estes e os Túrdulos, após terem atravessado o rio Limea (258) numa sua expedição (contra estes povos),ali se rebelaram (250); e que, após esta rebelião, como o chefe seperdesse (260), por ali mesmo ficaram dispersos (281); e que poresse motivo o rio se chamou também Letes. Têm os Artabrosmuitas (202) cidades estabelecidas (203) numa baía, a que os marinheiros, que a frequentam (264), dão a designação de Porto dosArtabros. Actualmente, aos Artabros chama-se-lhes Arótebros (265)

(252) O texto tem: irpo’,cet-rat. i. e., jaz diante de(253) Ou: quebra-mar.

~254) À letra: é justo louvar a natureza...(255) Ou: têm arribas elevadas.(256) À letra: «os últimos, os Artabros habitam ao redor do Cabo...».(257). À letra: «parentes dos sobre o Anas». Note-se o uso semelhante ao do artigo

junto duma preposição para indicar a pessoa (neste caso o rio) com a sua comitiva oua própria comitiva (cfr. P.° A. Freire, G,.am.” Grega, p. 185, 355 edição).

(255) Ou: após a travessia do rio Lima (ou Limia).(25~ O verbo cractd~w significa também «revoltar-se; estar dividido; dividir-se

(por divergência de opinião ou parecer)».(200) Ou: feita (= dada) a perda do guia ou chefe.(201) Ou: após terem sido dispersos.(202) O adj. uv~vdç que apare.~ no texlo também comporta a ideia de populoso.(253) O texto diz GVV0LICOUfLJVUÇ ,cdÀ-,rw i. e., que coabitam um golfo.(251) À letra: a que os que navegam e ulilizam estes lugares...(255) Ou: «os contemporâneos chamam aos Artabros, Arótebros,

40 III, 3, 5

Ë à volta de 30 o número de povos que habitam a região compreendida entre o Tojo e os Ártabros. Oom ser o país rico (266)

em frutos, em gados, cm ouro, em prata e em muitos outrosmetais (267), todavia, a maior parte deles, renunciando a viverda torra (268), passam a vida no banditismo e numa guerra contínua de uns com os outros, ou, atravessando o Tejo, com os seusvizinhos, até que os Romanos lhes acabaram com este viver (209),

subjugando-os, e fazendo da maior parte das suas cidades (simplesaldeias), e até reagrupando (270) melhor a algumas. Estavam osmontanheses nesta anarquia (271), como é natural, visto que,vivendo niiseràvelmente e possuindo poucos (haveres), apeteciamo dos outros. E, como estes, para se defenderem deles (272), fatal-incute descuravam as suas próprias tarefas (273), de tal modo que,em vez de agricultarem a terra, também andavam continuamenteem guerras (274). Assim, acontece que a terra abandonada (2’5)

perdeu frutos que cresciam espontâneos (276), e ficou povoada demalfeitores.

(206) O texto tem um gen. absoluto, de sentido manifestamente concessivo.(207) O texto diz tão-só: numa multidão de (metais) quase tão numerosa.(200) O texto tem ,-à~ d77-3 n7r v’3~ d~&reç ~part. aor. no nom. p.l do v.

eximir-se; subtrair-se a; repelir, abandonar, etc.) fiuou. subtraindo-se à terra.(200) À letra: até que os Romanos os impediram (de assim agirem).(270) o v. uvvouct~w, além de outras acepções, comporta a de «reconstruir uma

cidade; associar, unir». Dai que se possa entender no duplo sentido de: «associar denovo algumas aldeias ou cidades, reformando-as». Parece ser este o sentido do passo.

(271) Ou: os montanheses é que chefiaram esta ilegalidade.(272) O texto joga com ol (dÀÀ&rpeot), as estranhas e ro~rotç, estes, os mon

tanheses.(21>J Note-se o adjectivo ~lcvpot~ de d, que indica negação, e KVpOL~ senhor de,

com gen. Por isso: que não eram senhores dos próprios trabalhos...(274) O texto tem só ~~roÀó~iovv~ imperfeito activo de qroÀcjt&,,, andar em guerra;

contudo, este imperfeito parece-me designar aqui que a acçiïo se repete, se praticahabitua/mente (cfr. Gran~J’ Gr., Re A. Freire, p. 229, 3,2 cd.).

(273) O texto diz prõpriamente descurado, negligenciado.(276) O texto diz: «a terra abandonada e sendo estéril (ou privada) dos bens natu

rais (que a natureza dá, com valor passivo) foi habitada (o texto tem o imp. pres.) porbandoleiros».

111, 3, 6 41

O. Os Lusitanos, segundo dizem, são excelentes para armaremboscadas (277) e descobrir pistas (278); são ágeis, rápidos e dostros (270). Usam um pequeno escudo de dois pés do diâmetro,côneavo para diante, suspenso com taiabartes do couro: comefeito, não possuem, nem braçadeira (280) nem asa (281). Além disso,usam ainda punhal ou gládio (282)• A maior parte usa couraças delinho; poucos (233), cotas de malha e um capacete de tríplice cimeira,ao passo que os demais têm olmos de nervos. Os peões (284) usamtambém polainas de couro, e cada um traz diversos dardos (~);e alguns, lanças com ponta do cobro. Dos que habitam junto dorio Douro, diz-se que alguns vivem à maneira dos Lacedemónios,untam-se duas vezes ~1o dia (288), e tomam banhos de vapor quefazem com pedras ao rubro (287); que tomam banhos de água friae se alimentam uma só vez ao dia (288), sendo a refeição limpae frugal (280). Os Lusifiauos fazem sacrifícios (290), observam asentranhas sem as arrancarem, examinam também as v€ias do

(277) O grego diz ~.Ve6pcv1-LKoóç, adj. formado do v. ~vc8peów (esta, ou pôr-se me

e,nboscada) : o ad]. significa «próprio pala emboscado, (osidioso» (cfr. BailIy, ob. citada).(278) O grego diz deep€vv~yrttcoóç~ ad]. formado do v. ~EpEvvÓw prociuw cem

cuidado: o ad~. significa, pois, «próprio para investigações ou buscas aprofundadas»(cfr. Bailly, obra citada).

(27i~ O grego diz c,3EgeÀ(Krovç, i. e., que evolui fâcilmente (cfr. Bailly, ibidem).(200) Significa prõpriamente «argola manzeira» (vd. R° Isidro Pereira, Dic.° Ge.

P-ort.).(281) Outros dizem: fivela. O voc. JvrtÀa~4 significa: «cc qui sert à choisir tine

chose (arme, poignée)» (cfr. Bailly, ibidem).(202) •0 texto diz ~o~r1ç, «cutelo de sacrifício ou de cozinha; espada curta e cortante

dos oricntais» (idem, íbidem).(281) Ou: raros.(201) Ou: infantes (soldados (te infantaria).(302) Ou: pequenas lanças.(280) À letra: utilïzando duas vezes os lugares onde se esfregam com azeite ou óleo,

no Ginásio.(287) O grego diz iruptatç ~pw~von & ÀíOojv 8LaTflSpwv, utilizando banhos

de vapor (ou ainda: estufas) devido a pedras igniscentes.(288) O grego diz povorpoGvraç, i. e., não fazendo seníio uma refeição ou não

tomando senão unia espécie de alimento (cfr. Bailly, ob. cit., s/v.).(200) O texto tem tcaOapíÚJç. limpameate e frugalmente.(280) À letra: os Lusitanos silo «sacrifiqueiros», i. e., gostam de fazer sacrifícios.

42 III, 3, 6-7

peito (291) o adivinham pela simples apalpação (292). Fazem também augúrios observando as ontianhas dos prisioneiros (23),

depois de os cobrirem com capas (294). Depois, quando as entranhas são feridas (295) pelo arúspice, fazem uma primeira piodiçãopela queda da vítima (296). Cortam a mão direita aos prisioneirose oferecem-na aos deuses.

7. Todos estes anontanheses são frugais: bebem só 6~gua,dormem no chão e usam o cabelo comprido (297) à maneira dasmulheres; porém, em combate, effigem a frente com uma banda (299).

Comem sobretudo carne de bode e sacrificam a Ares bodes, prisioneiros e cavalos. Fazem também hecatombes dc cada espéciede vítimas, ao modo dos Grcgos, que, no dizcr de Pindaro, «sacrificam tudo aos ccntoso (299) Praticam ainda exercícios físicos oucem anuas ou a cavalo (300), exercitando-se para o pugilato, e acarreira, e as escaramuças (301), e os combates campais (302).

Os montanheses durante dois terços do ano (303) alimentam-se do

(291) O texto tem ~rÀevpó. 1. e., «costas, flanco, pleura».(202) A letra: apalpando.(203) O texto diz tão-só: através dos prisioneiros ou: por meio dos prisioneiros.(294) Edyos é em principio «saio ou saiote gaulês» (cír. Bailly, ibideni).(295) O grego diz aor, 2.° pass. no conj. do v. STÀ4TTW. ferir, bater. Note

o conj. com &rav, caso eventual.(296) O texto diz tão-só: adivinha primeiramente pela queda.(297) O texto diz: «tendo-se esparzido a espessa cabeleira à maneila das mulheres

(yvvaticGw 8[ic~v). como quem diz: «usam espessa cabeteira esparzida (sobre os ombrose as costas)». Note a construção pouco vulgar de 6.í~op’ com genitivo.

(208) À letra: mas combatem cingindo a fronte com uma mitra, O v. usado é

i. e., cingir com bandó.(309) À letra: como Píndaro diz que «sacrificios aos centos (x cem) quanto a tudo».

Note-se o acus. de relação ,,‘dp,-a.(300) A tradução mais afeiçoada ao giro grego seria: praticam lutas gímnicas quer

hopliticas quer hípicas.(303) O grego diz: 6taicpofloAruj.sQ que significa prôpriamente escaramuça. No

entanto, o v. 8taKpofloAlCol.LaL. que está na raiz do substantivo, implica a ideia delançar de longe (dardos e outros projécteis rejeitáveis).

(302) O texto tem: a7r08pfl66v ttdxv i. e., para luta em companhias, em manípulos.(303) A expressão ré. 8~o ~dp7), que aparecem em Tucídides e Demóstenes, signi

fica 2/3.

III, 3, 7 43

lande de carvalho. Secam-nas, trituram-nas, moem-nas e fazemcom elas pão (301), que pode guardar-se durante muito tempo (309.

Bebem também cerveja (306). Vinho, têm falta dele, e o pouco quelogram, ràpidamonte o eonsomem nos banquot~s familiares (3~7).

Em vez de azeito, usam manteiga. Tomam as sua.s refeiçõessentados em bancos construídos ao redor das paredes, onde osconvivas tomam os prmeiros lugares segundo a idade e a categoria social (308). A comida circula de mão em mão (300). Enquantobebem (310), bailam e fazem coros ao som da flauta e da trombeta,dando saltos no ar e caindo de joelhos (311). Na Bastetânia asmulheres dançam também misturadas com os homens, dando-semútuamente as mãos. Andam todos vestidos de preto, e no gefal,com os sagos com que dormem nos seus leitos de palha (312).

Servem-se de vasos de madeira, como os Celtas. As mulheresusam saias e vestidos com adornos florais (333). No interior (3~1),

em vez de moedas, utilizam a troca de mercancias (315), ou dãolâminas de prata recortadas (316). Aos condenados à morte, dos-

(304) O texto: secando-as (= depois de as secarem), triturando-as, moendo-as e

fazendo pão delas.(303) À letra: de modo que é depositado (~ guardado) para (muito) tempo.(305) À letra: utilizam ainda uma espécie de cerveja. ~z3Qoç em grego é uma «deco

cção de cevada; espécie de cerveja; cerveja de povos do norte» (cfr. Bailly,i bidem, s/v.)(307) Ou: carecem de vinho, e o feito ràpidamente o consomem, banqueteando-se

com os parentes.(308) Ou: tomam a presidência (ou presidem) segundo a idade e a dignidade. O v.

,cóO,)/Lat significa realmente presidir, ocupar o primeiro lugar. O sentido do passo serápois, presidirá a tais banquetes o mais idoso e o de maior prestigio social, e assimsucessiVameflte.

(300) Ou: (<a refeição é servida à roda».(310) À letra: <(durante a bebida».(311) À letra: «mas não só saltando, como também».(352) O grego diz urcfla8oKon-oDct~ i. e., «dormem em leitos de palha».(3~) b8v~ta significa vestido; ~ é vestido, mas também roupa branca. Con

tudo, é difícil extremar b8v~ta de ~aO,jç.(314) O texto tem: ol S~ Àtav ≥p ~ciOcZ (-roncZ) i. e., «os (que vivem) em lugar

demasiado profundo (em relação ao litoral, claro)»; daí, interior.(3~~) O grego ~op-ríov também significa «carga de um navio» (cfr. P.~ Isidro Pereira,

Dic.° Grega-Port., s/v.).(310) O texto tem e-aD &pyvpoø ~Àdu~aroç diror4zvovreç i. e., separando da

prata pequena lAmina, dão-na.

44 III, 3, 7

pon1ian~nos dum precipício (317); aos parricidas, lapidam-nos forado termo das cidades (318) Casam-se com uma só mulher comoos Gregos (319). Aos enfermos, como antigamente os Egípcios (320),

expõem-nos ao longo dos caminhos (321), p~a consultarem os quesofreram do mesmo mal (322). Antes da expediçí~o de Bruto (39,usavam embareaçõos de corno, em virfttde das inundaçõos (324)

através de chareos (325). mas hoje até barcos feitos de um sótronco sAo já ($20) raros. O seu sal é vermelho púrpura ($27), mas,triturando-o, torna-se branco (320).

Tal é a vida dos povos montanheses que, como disse, habitamo lado setentrional da Ibéria ($29) a saber: os Galaicos, e os Ásturese os Oântabros até aos Vaceus e os Pirenéus, já que idêntica é avida de todos eles (330). Desagrada-me citar mais nomes (331),

(317) O v. JcaTa~rerpow significa despenhar o lapidar.(310) Note-se a hendíades do texto que diz: fora dos limites ou das cidades.(310) O texto diz tão-só: casam-se como os Gregos.(320) O texto tem Aiydwrcor. Egípcios; contudo, Garcia Bojudo, Schulten e Gabriel

Pereira traduzem por Assírios, por entenderem ser erro de Estrabão, comparando-ocom Heródoto, 1, 197. Note-se ainda o actos. de relação r3

(321) O v. rporÉO-qp~t~ que aparece no texto, signiftca de si expôr à vis/a (além cio

ter muitas outras acepções).(322) À letra: para (ou: por causa de) consulta aos que experimentaram a moléstia

(igual à sua).(323) O texto diz: ~ ~STi Bpozírov0 até (ao tempo de) Brtoto.(324) O texto tem 61~ n~~cj1upl8a~~ por causa das preamares. A preposição

bcà com acus. implica a ïdeia de causa e não a de meio ou lugar por onde, como algunstradutores entendem. Poderá é talvez implicar duração, e dai: durante as prea,nares.

(323) A palavra r~ayo& significa «terreno pantanoso; lamaçal; água pouco pro

funda» (cfr. Dic.° Gr.-Port., p~e Isidro Pereira s/v.).(320) Interpolação da edição critica de Schulten. O passo é controverso; no entanto,

segundo a edição deste famoso arqueólogo e historiador germãnico, parece que a tradução exacta é a que fazemos.

(327) A letra: «os sais são roxos (ou: purpurinos).(320) O texto tem: rpt~QbrE~ (part. aor. pass. de rpifloa triturar), «depois deter

sido triturado».(329) O giro da frase grega é algo de diferente; contudo, esta tradução é a que melhor

corresponde à sua estrutura e ao seu conteúdo.(330) O grego emprega o plural flhor. vidas, e djsoet8etç. de teor semelhante.(330) À letra: «temo exagerar quanto a nomes».

L

rn, 3, 7-8 45

fugindo à sua escrita desagradável (332), porque a ninguém agradará ouvir falar (333) cio Pleutauros e i3arduetas, o AIót.rigas,e outros nomes piores e mais obsctuos que estes.

8. À rudeza e selvagismo destes povos (331) resulta (335) nãosó dos seus costumes guerreiros (336), mas também do seu afastamento. Sondo longos os caminhos por tona e por mar, para chegaraté eles (337), não tendo re1aç~os com outros, perderam toda a,;ociabilidade e luunanidade (339. Porém, hoje sofrem menos destemal, em virtude da paz o da presença dos Rornano~. Àquelesquo gozam meno~ destes benefícios (339), conservam uni caráctermais feroz e brutal (340). Possuindo alguns semelhante índole nãosó por causa da pobreza do solo, senão que da existôncia deserras (311), é natural que ta1 estado de incultura se acentuassemais (~32). Mas, como disse, hoje acabaram todas (estas) guerias (343). Som dúvida os próprios C&tabros, que ainda no nosso

(332) Evitando o desagradável da grafia (da forma).(333) À letra: «já que a ninguém por prazer é ouvir dizer...».(334) Ou: «o inculto e o selvagem...».(335) Note-se o perf. av~.iP€<P~,cc com valor resultativo; dai o seu valor de pres.(330) À letra: «nilo sã porque guerreiarn...».(337) O texto diz muito lacõnicamente: «com efeito, (é) longa a navegação até eles,

e os caminhos».(338) Ou: <(não estando misturados com (outros) perderam o sociável e o hunmno».(330) Ou: ((aqueles aos quais isto sucede menos...».(34v) À letra: «são mais difíceis e mais bestiais».(341) O texto, contudo, diz tão—só: «havendo uma tal (disposição natural) para

alguns (destes povos), devido não só à magreza do solo dos lugares (que habitam),senão que também por causa das (muitas) montanhas, é natural que..

(342) O texto tem dreiria e j,rtreipeuüat: &ro~ría sïgniflca em princípio a quali

dade ou estado de qualquer coisa que não é normal; no caso concreto, o atraso naescala social e cultural, daí incultura. ‘EITLTEIycgú~ dar intensidade, dar força,aumentar» (cfr. s/v. Dic.° gr.-poit. Isidro Pereira». O sentido será pois: «devido ao acidentado solo e à pobreza do mesmo, estes povos de montanha eram mais rudes do queaqueles outros que habitavam a planície e lugares férteis e amenos, que não ásperose rtides de climas.

(343) O texto diz ~oÀc/hoüyra ,ratha i. e., todas as coisas que guerreiam.

46 in, 3, 8.

tempo (~4) se dedicam sobremaneira ao bandoleirismo, e os vizinhos destes, César Augusto submeteu-os; e, assim, em vez dedevastarem as terras dos aliados do povo romano (~5), hoje emdia os Gonlacos e os Plontuísos, que dominaram junto das fontesdo Ebro, pegam em armas ao lado dos Romanos (340). E Tibério,por vontade (347) de César Augusto, a quem sucedeu, mandando (348)

para estes lugares um exército de três legiões, a alguns deleslogrou já torná-los não só pacíficos, como também civilizados.

(311) O texto tem vøv, i. e., agora.(343) Ou tão-só: em vez de devastarem os aliados dos Romanos.(340) O texto diz: sorvem como soldados em favor dos Romanos.

(“‘) O texto tem: ~-d &,ro8EtxÜ~v (floiiÀ~J/La) ~vró ,-oO ZEfiacroD: vontade(ou coisa) revelada por César Augusto. Note que serve de aposto.

(348) Ou: colocando nestes lugares.

CAPITULO 1V

1. Falta descrever o litoral da Ibéria que vai das Colunas até aos Pirenéus, no Nosso Mar (319), e toda a regiãointerior que jaz acima da costa (~°), de largura desigual (351) e dumcomprimento (352) com pouco mais de 4000 estádios. O (comprimcnto) da costa tem ainda mais (~3) dois mil estádios, Gomoestá dito (354). Diz-se que do Ca]pe, o penhasco (‘9 junto dasColunas, até à Nova Cartago (356) são 2200 estádios, e que estafaixa litorânia é habitada pelos Bascttauos, a que tambémchamam Bástulos (357), e em parte ainda pelos Oretanos. Daí(de Caitagena) até ao Ebro, outros tantos (estádios), aproximadamentc, e que neste (troço da costa) vivem os Edetanos (359.

(310) Tradução literal: «a restante (descrição) é o litoral (que se estende) das Colunas

aos Pirenéus através de (ou: sobre) nós (ou seja: o Maje NOS/rum, O Mar Tirreno»>.(350) O texto diz: ratn]ç (sc. T• À., 7rapaÀíaç) €pkEtfLb’rJ fLeudyata

,r&aa, i. e., «todo o interior suprajacente a esta costa)>.(335) Note-se o acus. de relação q~ vrÀd’ro~ com que fazemos concordar

ivcbjiaÀo~, desigual, que em principio é nome predicativo do sujeito.ç’39 Note o acus. de relação.(~3) Note que o adv. ~ junto ao comparativo 7rÀeZov tem valor rcforçativo e

significa ainda mais (cfr. P. António Freire. Gram. Gr., 3,3 edição, pág. 206).(354) À letra: e disse-se (= está dito) em 2000 estádios. Há-de reparar-se no valor

resultativo do perfeito ~ip~p-at. eStá dito e no compl. de meio ou modo 3cuxtÀíot~a~a8 íot~.

(‘~) A Ectra tão—só: a montanha.(flo) Ou: Cartagena. O grego diz: Kap~78dva Njav que Garcia Bellido manteve

em Karchedón Néa.

(‘“) A prosódia mais rigorosa será: Bastulos com acento no u.(‘~) Ou tão-só: que os Edetanos possuem esta (costa).

48 III, 4, 1-2.

Do Ebro aos Pirenéus o aos Trofeus (250) Pornpeianos ostende-seurna faixa de 1600 estádios em que vivem (alguns) poucos dosEdetanos (360), ocupando o resto os chamados Indicetas, queest~o divididos em quatro grupos.

2. Se começarmos pela parte que tem início no Calpe, toparemos com a cordilheira de montanhas (361) da Bastetânia e dosOretanos, a qual é povoada (362) de densos bosques e corpulentasárvores, e separa o litoral do interior.

Há também ali (303), em muitos lugares, minas de 0w-o e outrosmetais. Málaga é a primeira cidade nesta parte da costa e distatanto do Calpe (364) quanto Gadira (desta). Ë o entreposto comorcial dos Númidas (365) que vivem no litoral oposto (365 ~) e possui grau-dos fábricas de salga. Há quem julgue que Málaca é o mesmo queMénace (366), a qual ouvimos dizer que era a última das cidadesdos Fócios, para o Ocidente. Mas n~o é assim, porquanto estafica mais longe do Galpe e foi destruida (367), conservando, porém,os vestígios de (haver sido) cidade grega; ao passo que Málagafica mais perto (308) e apresenta planta fenícia (369). Segue-se (370)

(355) ‘Ai%O~jjrn pode empregar-se em vários sentidos e, entre eles, no de «offrande

religieuse (statue, trépied); tout objet qui perpetue un souvenir, monument» (cfr.Bailly,, oh. cli.).

(360) O texto diz tão-só: que (são) mil (estádios) e que (ali) vivem poucos dos

Edetanos.(361) A letra: para os que comecem segundo a parte (que vai) do Calpe, existe uma

cordilheira montanhosa.(“9 O texto diz i. e., que tem, que possui.(363) Note-se que o texto diz ,ccinaflOa, i. e., também ali.

• (064) Repare-se na correlativa de Zuov ... 8o~ov, tanto.., quanto. Repare-se também

no acus. de medida (para designar a distância) e no gen., a indicar o ponto a partir doqual a mesma se conta.

(365) Designação grega: Nómadas.(365 a) À letra: é o empório para os Nómadas na costa oposta (em África).(066) Ou: «alguns julgam ser esta (Málaca) o mesmo que Ménace (Mainake»>.

Note-se aõn5v (em vez de a~ró) com dai (cfr. P.° A. Freire, Oram!’ Grega, 3.’~edição, p. 202, n.° 333, obs. 2),

(367) O grego diz~part. perf. mcd. pas. de KWTaUKd7rTW destruir.(368) Subentendido: «do Calpe».(365) Ou: «como planta fenícia,).(370) Ou: «E depois...»

III, 4, 2-3 49

a cidade dos Exitanos, da qual as próprias conservas recebemo nome (371).

3. Depois desta, fica Ábdera, que também é colónia fenícia (372).

Sobre estes lugares, na região montanhosa, está Odisseia e nelao templo de Atena, como o disse Possidónio, .Artemidoro e Asclepiados de Mirlciz que na Turdetânia foi professor de Gramática(~’~)e escreveu (378) uma descrição pormenorizada dos povos destamesma região.

Este autor diz que estão pendurados no templo de Atenasescudos o esporões de navios, dos de Ulisses; que entre os Calaicosviviam alguns dos que fizeram a expedição com Teucro; que porali existiam cidades, uma chamada Hélenos (375), outTa Anfílocos (376); que Anfioco ali morreu e que os companheiros se dispersaram para o interior (377), (Asclepíades) afirma que se contaque alguns dos companheiros de Héracles (378) e os (que partiram)da Messóffla colonizaram a Ibéria. Este (autor) o outros dizertambém que os Lacões subjugaram (378) mna parte Ca Cautábria. E mencionam também aqui a cidade de Ocola, fundaçãode Ocelas (350), na sua passagem (381) para Itália na companhia de

(371) À letra: «com o nome da qual até as conservas (de peixe) são ditas (ou: conhecidas)».

(39 Ou tão-só: «ela própria fundação dos Fenicios,,.(373) À letra: «homem que ensinou...»(374) o grego diz: b8E8wKc4ç, part. perf. art. de b’B~8witt entregar (ao papel).(373) Ou à grega: Hélleaes.(236) Ou ao modo grego: Amp/,ilochoi.(377) O texto tem dois genitivos absoltitos que podem traduzir-se com valor causal

ou temporal.(278) Ou tão-só: «alguns dos com Héracles»; note-se que o artigo junto à prep ~‘crd

em gen. significa alguém com a sua comitiva ou a própria comitiva (cfr. Ora,,,. O,’.,3,3 edição, A. Freire, p. 185).

(370) O texto diz tão-sômente: ocuparam.(380) Tanto Garcia y Bellido como Schulten conservam, nas suas traduções, a forma

grega Okellas que em português dá normalmente Ocelas. Poder-se-ia supor que oantropónimo teria origem no v. dK~ÀÀw que significa aportar a. Existiu um filósofopitagórico assim chamado,—Ocelo Lucano (cfr., Bailly, Dic.° Grcc.-Françots, s/v.).

(383) O texto diz: ,-oØ vera ‘A8)r4vopoÇ ... 8iaflóvi’oç, i. e,, do que atravessou.

com Ante~or...

E

50 111, 4, 3-4.

Ántenor e dos filhos deste. E na Líb~, dando crédito (352) aosnegociantes de Gadira, alguns, como t ambéni o afirmou Artemidoro, acreditam que os que habitaiu sobi e a Maiuúsia, juntodo~ Etíopes Ocidentais, são chamados Lotófagos poi se ahiuentarem de lótus, ceita erva (383) — raiz, que lhes apaga a sede (381),

conquanto não bebam, porque escas.seia a água (3S~; os quaisestendeni-se até à região para lá de Cuene. há outros tambéma que chamam Lotofagos, os que habitam em Meninge (386), urnadas duas ilhas que ficani em frente da pequena Sirte.

4. Ninguém poderá estranhar que o poeta (liomero) conte oque existe sobre os errores de Uhisses deste modo 1 ão i omanesco (387),

que situa fora (do estreito) das Colunas, no Mal Atlântico, amaior parte dos sucessos que iefere acerca do mesmo: porquantoa região explorada fica próxima não só daqueles lugares, comotambém de outras coisas por ele forjadas de modo que não com-pôs uma fábula inverosímil (388); nem (será de admirar) se (359)

alguns, adnutindo a veracidade (3~) destas mesmas lustórias e agiande erudição do poeta, transformaram em ci&ncia a sua poesia,como o fez Orates de Malós e alguns outros. Porém, outros

(383) O texto tem ¶poU~~OVTE~ imporia, porem, subentender vo5v, e, então

a expressão ~poc~~OVTE~ [voOv] significara dw,do atenção a(3i3) O autor diz ,~av. i e, «herbe, gazon pour la nourriture dos bestiaux, herbe,

co gen. d’ou ~erdure, feudlage verto (cfr Bailly, ibidem, sjv)(384) O texto tem o~ 6e4tcvot. i e • não tem necessidade de bebida (ou agua

potavel) Como, porem, isso acontece em virtude dessa ~erdura-raiz, que e o lotus,daI que se traduza como ficou no texto

(~~5) Ou tão-so em virtude da falta de agua, não tendo bebida

~“) Ou com a grafia grega «Memnx»(387) Tradução livre do seguinte nem alguem se maravilhará nem (sairão maravi

lhadas) as coisas acerca da vagabundagem de Ulisses, (da autoria) do poeta (Homero)que (as) imaginou desta maneira

(388) O sentido do texto, é o seguinte as façanhas obradas pelo rei da lendária

Itaca, realizaram-se nestes lugares, e as demais ctrcunstãncias aduzidas por ele, Ulissesnão diferem essencialmente da verdade histórica

(fl9 Repare-se que es subentende Oav&ta~oi av depois da disjuntiva O~%T€, anote-Se

ainda a oração completiva de d e indic (cfr P A Freire, Gr Grega, 3 a cd, p 241,° 402).(iiO) O texto diz tão-só acreditando em

[

ifi, 4, 45 51

tão grosseiramente entenderam tal escopo (do poeta), que nãosó embrulham o poeta de todo este tão grande saber, como sefora um cavador ou um segador, mas também tomaram porloucos OS (1110 lograram entender (301) a sua obra (392). Contudonenhum filólogo (393) nem matemático (301) teve coragem de propora defesa ou rectificação — ou qualquer outra coisa semelhante

do que fora dito por aqueles (395). Todavia, a mim ao menosme parece possível não só defender como também corrigir (306)

muito do que aqueles disseram, e sobretudo aquelas afirmações (397) com que Píteas induziu em erro (308) os que o acreditaram por não conhecerem os lugares do ocidente e uorte doOceano (399).

JVIas deixemos isto, porque necessitaria investigação especiale larga (100)

6. Há-do acoitar-se (‘101) que a causa das audanças dos Gregospelos povos bárbaros está na divisão destes em pequenas partese remos, que não estavam miituamentc unidos entre si (12), emvirtude da sua presunção (403), e de tal modo que, devido a isto,

(391) O texto diz tão só: &çrn1.tbovç, os que entenderam. Note-se a regência do gen.

(a”) O texto tem realmente srpayps-rela que, entre outras coisas, significa precisamente obra histórica, (cfr. BaiIly, obra citada, s/v.).

(~“1 O texto diz gramático, que, na época alexandrina, era, na verdade, um filólogo.(304) O t-~xto diz pràpriamente: nenhum dos destros acerca de assuntos especula

tivos (ou matemáticos).(393) Refere-se Estrabão a Crates e ãqucles que aceitaram a ciência homérica.(306) À letra: levar para a correcção.(397) O texto diz tão só: estas coisas.

(“‘) À letra: enganou. Há-de reparar-se no ac. de relação &aa.(308) À letra: (situados) janto ao Oceano. Da orla niaritima, pois — acrescentaremos

nós.(400) À letra: porque teria uma palavra própria e larga.(401) À letra: alguém poderá julgar ou supor.(402) Ou: que só tinham relações íntimas uns com os outros. Para tela çôes intimas,

usa Estrabão dum termo assaz sugestivo: ~,n7rÀoK,~, que está na raiz do verbonÀ~,rw, entretecer.

(403) O texto usa duma palavra curiosa: aôúó3eta, «confiança excessiva, presunção,

arrogância «(efr. P.c Isidro Pereira, Dic.o Gr. Port., 51v.). Refere-se Estrabão áquiloa que vulgarmente chamamos bairrismo, regionalismo; e foi por isso que Garcia yJ3ellido traduziu o termo, e muito bem, a nosso parecer, por orgulho local.

52 iii; 4; 5-6,

ficaram enfraquecidos (401) em relação aos estranhos que os atacavam. E esta obstinação alcançava maiores proporções entre osIberos, os quais possuiam (um carácter) não só versátil (405) mascomplexo. Levavam vida de aventureiros e bandoleiros, arriscando-se a pequenas (empresas) e não se entregando a grandescometimentos, por não (serem capazes de) aparelhar grandesreforços nem alianças (406). Sem dúvida, se tivessem queridocoligar-se, na guerra, uns com os outros, não teria sido possívelsubjugar a maior parte do seu país, nem aos Cartagineses, devidoà sua superioridade (107), nem antes mesmo - aos Tírios, e depois,aos Celtas que actualmente são chamados (leltiberos e Berões,nem ao bandoleiro Viriato, nem a Sertório, nem, depois disso,a alguns outros que cobiçaram aumentar o seu poderio (108).

E aos Romanos, para fazerem guerra aos iberos, por partes, triboapós tribo (109) submetendo já runa, já outra (410), até que sujeitaram a todos, ao cabo de duzentos ou mais anos. E agoia voltoà descrição.

(L Depois de Ábdera (111) vem Nova Cartago (412), fruidaçílo deAsdrúbal, que sucedeu a Barca, pai de Aníbal, de longe a maispoderosa das cidades desta (faixa litorânia). Possui urna bela

(404) Ou: se enfraqueceram.(405) À letra: astuto por natureza.(400) Korvwvía significa pràpriamcnte «relações cstreitas entre povos ou pessoas».(407) A expressão & ,rcpLovuíaç também significa «~ profusão, com os seus pró

prios recursos” (cfr. Bailly, o. c., s/v.). A tradução literal é até a seguinte: que chegaram em profusão.

(4~~) A tradução literal parece—me ser a seguinte: ainda que alguns outros desejaram

um poder maior. Parece-me que existe aqui uma or: concessjva e não relativa. Note-setambém a construção normal de v. ~,rrOv~te~w com genitivo.

(400) O texto diz «ctü’ &aa,-,jv ~~i’ 3vvau~€lay cada potência, um por um: há-dc

notar-se a disrr(buítirklade. digamos, implicita na prep. ,cwra+ acus.°. Repare-se no modismo latino quoque cite, cada dïa, como quem diz no dia-a-dia, i. e., na sucessão dos dias.

(410) Há-de notar-se a reciprocidade &ÃÀo,-’~Áovç.(411) É curioso observar que segundo o texto de Schulten, a tradução deveria

ser: depois, vem Ábdera e Nova Cartago. Porém o próprio Schulten traduziucomo nãs.

(412) Ou Carcedónia: a actua] Cartagena.

III, 4-6 53

posição fortificada, muralhas bem edificadas, e está guarnecida (413)

de portos e urna lagoa e minas de praia, àcerca das quais (jáatrás) falámos. Além disso, na cidade e nos arredores (114) existemmuitas fábricas cio salga. E também o maior hiteq~osto comercial das (mercadorias que vêm) cio mar para os (lugares) do interior, e daqui para todos (os Povos) estranhos. Na orla marítima(que) daqui (parto) até o Ebro, a metade da distância, encontra-se o rio Súcron, a sua foz e urna cidade do niesmo nome,o qual corre da serra contígua à cordilheira que sobrepuja Málacae a região de Nova Cartago. É vadeável (115) e flui quase paralelo aoEbro, rnas fica a menor distância de Nova ()artago que do Ebro.Entre o Súcron e o Ebro existem três pequenas cidades dos Massaliotas (situadas) não muito longo do rio (Súcron); contudo,desi;as, a mais conhecida é Hemoroscopino (419, que têm na acrópole (417) um templo (dedicado) a Ártemis de Êfeso, muito -venerado.Dele se serviu Sertório como base naval (419. É sem dúvidaum lugar bem fortificado e próprio para a pirataria, já que évisível de muito longe para os que dele se acercam, a navegar (419).

Chama-se Diânio, o mesmo que A.rtemísio (420). No seu derredor

(41~ Segundo o contexto, trata-se de compl. circunstanciais de meio ou modo cio

v. ~ «guarnecer, embelezar. »(414) À letra: aqui e nos lugares próximos.(419) À letra: é transitável a pó.(416) Ou, ao modo grego: Hemeroscopeion. Em principio, é um nome comum que

significa: lugar de guarda durante o dia (cfr. Bailly, o. c., sfv.). Na verdade o vocábulocomp6e-se de três elementos: 4,~pa, dia; raiz JKOTTE observar; coy, lugar. Segundo adefinição nominal, é, pois, o lugar onde se observa durante o dia. Mas possivelmentepensava-se também no voc.° iEpd v, templo. E não se esqueça que sempre os sacerdotesse preocuparam com a Astronomia, ou mais pràpriamente: a Astrologia. A seguir,Estrabão fala realmente, no ~ep&’. no templo dedicado a Ártemis.

(117) O texto diz tão-só &IcpcL que pode significar altura, cume; cidadela; promontó

rio (cfr. P.c Isidro Pereira, Dic.° G,.-Port.). Parece-me que hão-de excluir-se asduas definições extremas para aceitar a de cidadela, acrópole.

(416) Ou á letra: ao qual utilizou Sertório como lugar do qual fizessem os seus sol

dados as sortidas (= do qual fizesse quartel-general) para as pugnas no mar.(419) O texto diz 7rpou7rÀ~oVaL. i. e., para os que navegam para junto (dele).(420) Isto é: ‘Apre p&Lov (icpóv) templo de Artemis.

r54 IJI, 4, 6-7.

existem importantes minas de ferro e os ilhéus de Planésia (421)

e Plumbária (422), Para o interior, uma lagoa (4~3) que tem umperímetro de 400 estádios. Já perto de Cartagena, aparece-nosdepois a ilha do Héracles, a que chamam Escombraria, dosescombros (424) (ali) pescados, com que se prepara o melhor garo (425).

Dista de Nova Oartago 24 estádios. ~lais atrás, para o outro ladodo Súcron, a quem vai para a embocadura do Ebro,( depara-se-lhe)Sagunto, fundação dos Zacmntios, que (426) Aníbal arrasou, à margem do tratado com os Romanos, (o que) deu origem à segundaguerra contra Cartago. Próximo ficam as cidades de Quersoneso, Oleastro e Cartalia. E na própria passagem (427) do Ebro,a colónia Dertossa. O Ebro, que tem as suas fontes nos Gântabros,corre para o meio dia, através duma grande planura, pararelaaos montes Pirenéus.

7. Entre as bocas (425) do Ebro e os extremos dos Pirenéusonde se erguem os Trofeus (429) Pompeianos, a primeira cidadeé Tarrácon. Não tem porto de luar, mas está levantada numgolfo e assaz provida de (tudo) o mais; e, ao presente, não é menospovoada (436) do que Nova Cartago, visto que possui excelentes con

(421) De ,rÀdp,jatç, error, vagabundagem? Ou de plana, lat. e yi~aoç, ilha, gr.?(412) De plunibuin. chumbo.(422) O texto diz kpvoücíÀacuav que além de lagoa, significa salina.(424) O voc.° gr. ax .tflpov significa prõpriamente «cavala, espécie de atum)) (cfr.

Bailly, o. c., S/v.). Não vamos, contudo, chamar a ilha cavalaria...(425) Isto é: uma espécie de salmoira, O Dic.° de Port. de Almeida e costa—Sampaio

e Meio regista o voc.° galo e define: «Espécie dc lagosta; salmoira feita dos intestinosdo gato’). Não fala, contudo, da cavala.

(4~) Há-de reparar-se na anacolutia. É que ~y, que é compl. directo do v. ,ctztau,c&

é prôpriamente sujeito de que significa em princípio, arar a, ligara. À letraseria, pois: a qual lhes ligou a segunda guerra contra os Cartagineses.

(427) Ou: vai,.(420) O voe.0 &npon~ usado neste, passo por Estrabão, significa prôpriamente

«desvio, digressão’); daí a ideia de braço de mar.(420) Ou: ex-votos, monumentos consagratórios ou votivos.(430) O texto diz e3avBpot3aa do v. e,3av8pJw i. e., «abundar em homens bons e

fortes». Repare-se no valor intensivo do ~ e no radical J.v~p do dv4p&-v8po’~.varão.

L

III, 4, 7-8. 55

dições naturais iam a estadia dos Pretores (431) e é qual metrópole n~o só das (terras) (432) daquém do Ebro, como ainda damaior parte das de alóm-Ebro. Perto ficam também situadasas ilhas Gimnósias e a de Éllro, importantes (433) ilhas, (as quais)explicam a situaç~io favorável da cidade. Eratóstenes revela quetambém possui um porto de abrigo, embora n~o tenha um bomancoradouro, como afirma Artemidoro, que o contradiz.

8. E toda (a orla marítima), das Colunas até este ponto (434)

rareia em portos de mar; mas a que parte dali já (tem) bonsportos, e é prósporo o país dos Lectanos e Lartoleetes e de outrostantos (povos) até Einpórion. A qual foi fundada (435) por Massaliotas e dista dos Pirinéus, e dos limites entre a Ibéria e a Céltica,cerca de 200 estádios. Toda esta (faixa litorânia) é úbere, e possuiexcelentes portos. Nesta mesma região (430) fica também (situada)Rodes, uma pequena cidade dos Emporitas, mas, consoanteoutros (437), fimdaç~!o dos Ródios. Também ali (4~), como cmEmpórion, veneram Ártemis de Éfeso. E diremos a razão (de tal),quando falarmos (439) acerca de Mass~lia. Os Emporitas habitaram primeiro uma pequena ilha, que fica situada em frente,a que agora clianiam Cidade Velha (446), actualmente; actualmente,

(431) O texto diz: ~yE/Lth)W1)~ i. o,, «dos comandantes, dos chefes, dos guias>. Praetor

é designação romana, de prae, à frente, i, do v. ire com mais o suL lar, que indicao agente da acção. Praetor era, pois, «o que ia à frente, adiante», o chefe, o comandan~e, o guia, portanto.

(432) O texto tem 7235-, o que implica que há-de subentender-se xdpa «pais, região».(423) Estrabão diz ciCe4Àoyot; i. e., dignas de serem memoradas ou fa!adas de

J~to5- digno e Àoyos-, do v. Àc’yw, dizer, falar.(434) J14’~~p~ ~e5po significa tão-só: até aqui.(435) O texto diz «riujia, fundação.(436) À letra: Aqui mesmo.

(“) À letra: mas alguns dizem que (é)...(430) O texto tem ,cdvraflOa, contracção de ~al, também, e jvTaüOa, ali, ali

mesmo.(‘“) O texto diz Jv -rot5- (irpdyjzvaw c’povJL&ots’), i. e., nas coisas a dizer.(440) Isto é: ~aÀacà ,ydAtç. = Palaiópolis, ou PaleÓpolis.

r56 III, 4, 8-9.

vivem (já) na terra firme (191). É uma dupla cidade, dividida poruma muralha, que tinha antes por vizinhos alguns dos Indicetas, os quais, a despeito de terem forma própria de governo (442)

quiseram, contudo, possuir um recinto comum com os gregos,para (maior) segurança; e este (recinto era) duplo, separado aomeio por um muro. Mas, com o tempo, uniram-se para uma sóadministração pública (443), misto de leis (444) bárbaras e gregas,o que aconteceu também com muitas outras (cidades).

9. Perto corre um rio, as nascentes (do qual) ficam nos Pirenéus; e a foz serve de porto aos Emporitas. Os Emporitas sãohábeis na fabricação do linho (445), Possuem as terras do interior (‘549, umas ferazes e outras tão-só produtoras de esparto (447),

(do género) de junco palustre e mais sem utilidade; pelo quea (esta) planura (448) lhe chamam Juncária. Alguns deles habitam também a (região que vai) do alto dos Pirenéus até ao Moimento de Pompeu, por onde passa a via (419) da Itália à chamadahispânia Exterior, mais concretamcnte: à l3ética. Esta via apro

(441) ‘I-In€tpor. além de terra firme, significa continente, Europa, Epiro.(441) O texto diz: icalirepzat’çt 7i-oÀV1-Evd(L€voL~ i. e., embora governando-se separa

damente. Há-de reparar-se no valor concessivo do participio acompanhado de ~aí~rep(cír. do P.~ António Freire, 3.’ cd., Oram. G,’.9. p. 252, n.° 424, O reparo de Schultenà tradução deste passo feita por Garcia y Bellido, tem, a nosso parecer, cabimento.É, porém, deselegante a maneira por que o faz, a propósito deste ex.° como doutros.Deixa transparecer demasiado a sua emulação contra o honesto e sábio investigadorespanhol.

(4~) Isto é: uniram-se num só Estado. ~roÀh-€v&a significa «actos de governo».(441) Nd~u1.to~ no plural, significa: os usos. Dai, o direito consuetudinário.(443) O texto diz: Àwovpyo~ i,coaicaç, i. e., são hãbilmente tecelões. A voz Àtvovpyós;

(de Àíyov, linho e ~pyov. trabalho) significa, antes demais, que trabalha 0111,1,0. O advérbio ~Kav&s-, capanneute, poderosamente co,,veflieIlteIfle?lte.

(4311) Ou tão-só: a terra interior.(447) £,rap’ro~dpov, de a~rdprov~ esparto e raiz, no grau alongado o, do v.

~e’pw, produzir. Repare-se aïnda no jogo estilístico: r~v jLJv...T~~JV 3J i. e., uma...outra.., ou ainda: por um lado uma., por outro a outra...

(448) À letra: e chamam-(lhe) «Campo Junqueiro» (ou Juncário).(449) Ou tão-só: pelos quais (cimos dos Pirenéus) caminham da Itália para a cha

mada Ibéria Ulterior (ou: Exterior).

~, 4 9 ____~L__..

xirna-se do mar em parte e em parte se afasta (400), sobretudonos tramos ocidentais (451). Da Memória Pon~peiaua vai a Tarrácon, (passando) pelo Campo Juncário, pelos Béteros e pela4planhcie Maratónia», (assim) denominada à latina, por produzirmuito máraton (funcho). De Tarrácon (a via encaminha-se) parao vau do Ebro, na cidade de Dertossa. Daqui, depois de passar (452)

por Sagúnton e pela cidade de Setábis, (a via) afasta-se um poucodo Mar e atinge o chamado «Campo Espartário» (153), como quem(diz (454) «Campo) de Junco» — um grande campo sem água (455)

— que produz esparto, com que fazem cordas (456), que exportam (457) para toda a parte e, sobretudo, para a Itália. Antigamentea via passava por meio do «Campo (Espartário») e de Egelastae era difícil e larga (455); hoje rasgaram-na a~ longo do litoral (459,nílo tornando senão numa pequena parte ao «juncal» (46v) e estendendo-se na mesma direcção que o troço exterior (461), para Castulão e Obúlcon, para dali seguir o rumo de Córduba e Gadira, os mais importantes entrepostos comerciais da Ibéria.Obúlcon dista de Córduba à roda de 300 estádios. Os historiadoresdizem que César chegou de Roma a Obúlcon e ao acampamento

(450) Note o valor resultativo do pcrí., i. e., empregue com valor de presente.(151) À letra: nas partes (ou troços) para a véspera.(49 bexOeZua (d8óç), part. aor. pron. do v. tendo sido conduzido, i. e.,

depois de conduzir.(113) Ou: Esparteiro,(111) O texto diz tão-só cLç &y: cumpre completar e dizer: cb~ ~v (6Z 785’ E~1TOt),

como se álguéon dissesse.(‘51) À letra: Este (campo) é grande e sem água.(410) À letra: próprio para obras de junco. De u~oZvo~~ junco e oKtdç, pró

prio para entrelaçar.(457) Ou tão-sã: exportada.(458) À letra: Sucedia que antes a via através do meio do campo e de Egelata era

difícil e larga.(“‘) Ou tão-só: para os lugares junto ao Mar.(400) À letra: tocando sàmente no (Campo) Junqueiro.(101) À letra: estendendo-se para o mesmo que a anterior (via). Repare-se no dativo

irpo’rdpa depois do pronome aérd (cfr. Oram.” Or., A, Freire, p. 202, a.° 333,obs. 2, 33 cd,).

III, 4, 9-10.

(que ali tinha) em vinte e sete dias, quando foi fazer a guerra(que se desenrolou) à volta de Munda.

10. Eis (a fisionomia dc) todo o litoral desde as Colunas atéaos limites da Ibéria com a Céltica. A região interior, sobrejacentea este, — refiro-me à (que se estende) ao sul (462) dos Pirenéuse do lado setentrional, até à AstÚria — é delimitada principalmente por duas serras (463). Destas, uma corre paralela aos Pirenéus,começa (464) nos Cântabros e termina junto (à costa) do NossoMar: chamani-llie Idúbeda (405).

A outra (parte (466) do meio da costa) para o poente, inclinando-se(depois) IMira o sul e para a costa (que se inicia) nas Colunas.Esta, ao princípio (067) é uni desnudo oiteiro, atravessa o chamado«Campo Espartárioe, junta-se depois, com as serras revestidasde florestas (468), que dorninani Nova Cartago e a região que circundaMMaca. ~ a sena de Oróspeda (169). Entre os Pirenéus e a Idúbeda,corre o rio Ebro, paralelo a uma e outra cordilheira, alimentando-se dos rios que delas descem, e de outras águas. No Ebrofica a chamada cidade de Cesaraugusta e a de Celsa, uniacolónia que tem unia passagem por uma ponte de pedra (470).

Esta região está habitada por muitas tribos, sendo a mais nomeada

(402) O texto diz Jvróç, i. e., «detrás de; no interior, dentro; neste lado de» (cfr.pe Isidro Pereira, Dic.° Gr.-PorL, s/v.).

(402) jpoç, em principio, signiFica até tão.sõmente montanha.(~4) Ou: tem início desde os Cãntabros.(401) Não obstante ler Idubeda em Schulten, a prosódia grega autoriza-nos a tra

duzir por Idúbeda, como Garcia y Eellido.(406) O texto usa o particípio presente ~ no neutro, partindo.(407) Nos (seus) começos...(468) O texto diz tão-só: com a floresta subjacente a.(460) À letra: chama-se Orospcda ou Oróspeda p&a mesma razão da nota 465.(470) Note-se o genitivo, a indicar o lugar por onde,

III, 4, 10. 59

a dos lacetanos, cujo território (471) começa nos contrafortesdos Pirenéus (172) estende-se para a planície (473) e atinge as corcanjas de herda e OsGa (cidade) dos fleigetas não muitolongo do Ebro. Nestas mesmas cidades, e em Calagúixis acidade dos Vascões, em Tarrácon, no litoral, e em Homoroscopion, fez Sertório, depois de haver sido expulso da Celtibéria,a sua última guerra; e foi em Osca que morreu. Foi nos arredoresdc flerdo. que, mais tarde, Afrânio e Petreio dois generais (474)

de Pompeu, foram vencidos pelo divino César. Para quem canilnha para o poente, Ilerda dista do Ebro 100 estádios; de Tarrácon, para quem vai para o sul, 400 estádios; de Osca para oNorte, 540.

Por esta mesma região, passa a via (que vai) de Tarráconaos últimos dos Vascões, junto do Oceano, a Pompélon e atéà cidade de Oiáson, (erguida também) nas costas do mesmoOceano. Chega até à própria fronteira da Aquitânia com a Ibériae modo 2400 estádios (175). Os Jacetanos ficam (na região) ondeprimeiro Sertório lutou contra Pompeu, e, mais tarde, Sexto,filho de Pompcu, contra os generais de Césav. Ao norte da lacetânia, fica a tribo dos Vascões, onde se ergue a cidade de Pompélon como quem diz (476) «a cidade de Pompeu».

11. A vertente ibérica dos Pirenéus está povoada de florestascom árvores de toda a espécie e (sobretudo de folha) persistente;em contrapartida, a do lado da Céltica, é nua. A região intermédia

(471) À letra: ((esta (Iribo) que começa...»(479 Ou: na região situada ao longo da cadeia dos Pirenéus (?rapwpEta. de

rapd. ao longo de; 6poç, monte; ~a, suf., qualidade).(473) Para os pIamos.(474) Ou: lugar-tenentes, embora JTpar,)ydç não comporte, era principio, tal

acepção.(471) À letra: ((Por estes (lugares), de Tarrácon aos Vascões extremos, junto do

Oceano, em Pampélon, e até à cidade de Oiáson, no mesmo Oceano, fica a via de2400 estádios, (chegando) junto da própria fronteira da Aquitãnia e da Ibéria».

(4fl) O grego diz: e5ç b lroJL: sv-~jrónoÀtç há-de subentender-se alas e dizer:

4v (4 r.s cZirot) i. e, como se (alguém dissesse).

E

60 111, 4, 11-12

tem vales que podem ser perfeitamente habitados. E os Corretanos, de raça ibérica, liabil am-nos lia sua maior parte.

F~stes preparam presuntos excelentes que rivalizam com osdos Canlábricsos e que lhes (177) proporcionam não pequenos lucros.

12. A queni pa~~ além de Idúbeda, surge-lhe mniediatamentea Celtibéria, (região) grande e de vário aspecto (178). Na sua maiorextensão (479) é áspera c banhada por rios (480). Já que atravésdesta região corre o Ana e o Tejo e uma série de outros rios, amaior part e dos quais desaguam no Mar Ocidental, depois dehaveleni lido início na [Celti ibéria. Dos quais o Douro, (que)passa perto de (851) Numnância e Sergúnem; e o l3étis, que, nascendo na Orospeda, corre para a l3ética, através da Oretânia.Ao norte dos Ooltiberos (482), ficam os Berões que confinamcom os Cântabros-Coniscos, nascidos da imigração dos Celtas,cuja cidade é Vária que se ergue no passo do Ebro. São tambémvizmhos dos Bardietas que hoje se chamam Bardnlos. Para ooeste babitani alguns dos Vacous, e ainda dos Vetões e Carpetanos (48~). Na parte mendional vivem os Oretanos e os outrosque povoam Oróspeda, Bastetanos e Edetanos. Para o Lestefica Idúbeda.

13. Dos próprios Celtiberos (que) estão divididos em quatropartes, os mais fortes são os Arévacos (853), paia o Nascente e Sul,

(177) Ou aos homens(878) Irregular, desigual(170) A letra, na maior parte dele(480) qroTa~t&cÀvcroç, i e, irorajidç, rio e K?vrzn-&, adj verbal do v

KÀÓW, banhar, lavar(4h) ~rapd com ams significa «cerca de, ao longo de)>(482) A letra Das bandas dos Celtiberos, para o Norte, habitam os Berões (ou

Berones)(882 a) O interpolador a que se fez referência nas notas 235 e 237 a, para coa

certar os passos respectivos. intercalou aqui, antes dos Vaceus, os Ástures e osCalaicos A frase ficou <(Para O oeste habitam alguns dos Ástuo es e dos (‘alaicos edos Vaceus, e ainda dos Vetões e Carpetanos» Acerca da interpolação e da neLes- 1sidade de correcção, v as notas cits e a introdução

(403) Ou tão só. Aruacos, Árvacos

61

confinando com os Carpetanos e as nascentes do Tejo. A suacidade mais afamada é Numância. Deram provas do seu valorna guerra Celtibérica contra os Romanos, que durou vinte anos (484).

Com efeito, muitos exércitos com os seus chefes foram aniquilados, ao passo que os Numantinos, apesar de cercados, resistiramherôicarnente até final (485), com excopçâo duns poucos que, àtraição, entregaram a cidade (486), Os Lusões, que ficam situados do lado Nascente (487), chegam também às fontes doTejo. Aos Arévacos pertencem também as cidades de Segedae Palância (488), Numância dista para cima de 800 estádiosde Cesaraugusta a dual dissemos se ergue nas iimrgens doEbro. Segóbriga e Bilbilis são cidades da Celtibéria, nosarrabaldes das quais se gueriearam Metelo e Sertóxio. Políbio,ao talar das taibos dos Vaceus e dos Celtiberos, bem como dosseus territórios, cita, entre outras cidades (489), também as deSegesania e Intercacia. Possidónio assevera que Marco Marcelologrou um tributo de 000 talentos~ daí que seja possível conjecturar-se que os Celtiberos eram não só munerosos mas tambémpossuidores de abundantes riquezas (490), emboi a habitassem uma

(404) A letra: feita no vigésimo ano, corno quem diz durante vinte anos.(409) Tanto Garcia y Bellido corno Schulten traduziram deste modo o passo: «os

Numantinos acabaram por deixar-se morrer de fome». Poderá ter acontecido assim.O texto diz, porém, tão-só: &Elcapr€~pflcav i. e., resistiram pacientemente. O v.ataicaprcpsw na média-passiva. comporta, na verdade, a acepção de monco’, masnão.. à fomc. O v. simples ;cap7-Epéw assenta no adj. mcap’r€pd~ «forte, sólido;firme, paciente» (cfr. Dic.° Grego-Português, de Isidro Pereira, S. J., 2.L cd.; s/v.).

Ora ‘r6 uapi-cpdv significa a força, a violência (ibidem). Parece, pois queEstrabão pretendia estabelecer o contraste entre o soçobrar dos bem disciplinadose fortes exércitos de Roma, frente ao denodo, ao ânimo viril e resistente dumatribo desorganizada, posto que forte e poderosa.

(186) O texto diz tão~só : muralha.(487) O texto diz: Os Lusões são orientais (ficam do lado da aurora), tocando também,(190) Ou à Castelhana: Palancia. Mas, se dizemos Numância, pela mesma razão

havemos de dizer Palãncia.(480) A letra: reune às outras cidades...(400) O v. Eõvrop/w já de si significa «possuir abundantes riquezas» (cfr. Isidro

Pereira, ibidem). Note o gen.

L..

62 iu,4,13

região pouco próspera. Quando Políbio escreve (401) que TibérioGraco destruiu 300 cidades deles, (Possidónio), sarcàsticamente (492)

afirma que o homem (103) adula (491) com isso a Graco, chamandocidades a (simples) tones, como (usa fazer-se) nas pompas triunfais (495). E com razão ctiz que isso não é crível, já que generaise historiadores fàciimente são levados a esse logro, embelezandoas suas façanhas, porque aqueles que afirmam que as cidadesdos Ibetos são mais de mil, parece-me que caem no mepmo exagero (496), chamando cidades a aldeias em ponto grande (497). Nema natureza da região é pIopíc~a pan muitas cidades, em virtudeda sua grande pobreza, da sua lonjura (496) e da sua falta de cultura; nem o género de vida (499) de seus habitantes nem as suasactividades — com a excepção (500) das (cidades situadas) nolitoral do Nosso Mar — admitem tal coisa. Os que habitamas aldeias vivem no estado selvagem (501). No mesmo estado 502)

vive a maioi parte dos Iberos. Mas nem as próprias cidades exercemfàcilmente o seu influxo civilizados (593), quando a maior parte dapopulação vve nos bosques e ameaça a tranquilidade dos seusvizinhos (504)

(401) Note o genit. absoluto: HoÀvJ3lov 3’di,dvro9, i. e., e dizendo Polibio...(49~ O texto diz KWJLW&Zv , i. e., fazendo rir.(4~~) Polibio.(404) O v. ~ap(~ogat significa prõprianiente «agradar a; (lar gosto a; compra

zer. etc.)> (cfr. Isidro Pereira, ibidem).(40~) Nos cortejos triunfais.(406) À letra: parece-me que são levados para isto ( este engano).(407) Schulten, não sei bem porquê, fez de jtcydÀa~. grandes, atributo de ,r~ÀEtç,

quando, na verdade, o é de ,aí~taç, aldeias. Traduzimos como Garcia y Beilido.(400) Ou: afastamento.(400) À letra: as vidas.(509) ~ew, i. e., fora a, para além de.

(~°‘) À letra: são selvagens.(502) À. letra: tais são a maior parte dos lberos.(503) Ou: civilizam.(504) Tradução livre do seguinte: quando é superior o povoamento dos bosques,

para necessidade dos vizinhos.

III, 4, 14-15 63

14. Além dos Celtiberos, para o sul, ficam os que povoama Oróspeda e a bacia do Súnon (505): os Sedetanos até Nova Car[ago e os Ilastetaiios e Oretanos quase até Málaca.

15. Todos os Iberos, por assim dizer, combatem oom a pelta(506)armados à ligeira (507), como convém aos seus hábitos de bando-leito (509), e usam, como dissemos dos Lusitanos (509) um pequenodardo, uma funda e um punhal (510).

Com as forças de infantaria (511) estava também misturada (512)

a cavalaria. Os cavalos eram adestrados (513) de moMo a subirmontanhas (514) e a rapidamente ajoelhar, a determinada ordem(51j,quando isso fazia mister. A Ibósia cria muitas coisas e cava1ossolvagens. Há sítios com ]agoas onde abruidam aves, a saber:cisnes e outras espécies análogas (510), e ainda muitos abetardos.Os rios produzem castorcs, mas o (óleo) castóreo n~o tem o mosmopoder (purgal:ivo) que o pôntico (517). Com efeito, as qualidadesmedicinais (518) síio próprias (só) do do Mar Negro, como (sucedo)com muitos outros (produtos). Assim, seguido Possidónio, tão

(501) A letra: a região ao redor do Súcron.(500) A letra: são peltastos, i. e., combatem com a pelta ou escudo ligeiro.(50?) Ou tão-só: ser ligeiro, i. e., armador de equipamento ligeiro.(500) Ou tão-só: «ligeiros quanto a armamento por causa do (~ próprio para)

bandoleirismo,,, KoDr/sor ica-ra ~~ significa, realmente, <(ligeiro quanto aarmamento»; e r&ç À7)u-rEIaç, «por causa da(s) pirataria(s)».

(503) À letra: «quais dissemos são os Lusitanos,>.(510) Também significa: eimitarra; faca, cutelo para os saerificios.(511) Ou Lão-sõmente: com as forças pedestres.(512), Note o valor resultativo, i. e., com valor de imperfeito, de irap jt4iuc’ro, mais-

-que-perfeito mcd. pass. de ~rapa~dyvvjir. misturar. O v. rege dativo.(519 O texto grego tem o gen. absoluto que traduzimos como se fora oração subor

dinante.(554) O texto diz 4c~fiarctv, imp. pass. de dpctfia’r&v, de 5poç, montanha; fia,

idiea de ir; suf.° ,-~, que implica a ideia de agente de acção. ‘Opcrfiá-s-~s será «o quesobe a montanhas».

(551) ‘A,rà lrpoaróyparoç, i. e., devido a uma ordem pràviamento combinada.

O prefixo ,rpdç, implicarã essa ideia de anterioridade, e a raiz-Tay. do v. -r&rrwdiz — ordenar.

(550) O texto diz só: pa7rÀi~ata, i. e,, coisas semelhantes (aos cisnes).(99 Note o dat. depois de a*~v, pouco frequente,(515) Ou: o medicinal, i. e., a «medicinalidade,,. -

64 ifi, 4, 15-16

-sàmento o cobre de Chipre (MD) produz a cadarna (529, o vitríoloazul e o arsénico branco (521). Possidónio diz também quo próprioda Ibéria é nâo só não serem negras as gralhas, corno amda os cavalos dos Oeltiberos, sendo embora ligeiramente pigarços, mudaremde cor, sempre que são transportados (522) para fora da Ibéria (523).

E que se parecem com os (cavalos) dos Fartos, mas que sãomais velozes e têm uma carreira melhor que (todos) os outros.

16. Há também uma grande abundância (521) de raízes boaspara tmt tiraria. Quanto à oliveira, à vinha, à figueu a e a outrasplantas semelhantes, toda a costa ibérica do Nosso Mar produzem em abundância assim como também a cosi a contígua doMar Exterior. Em contrapartida, a costa oceânica septentrionaltem falta delas (525), devido aos fuos excessivos; e no iesto (dopaís), na maior parte por negligência dos homens e por viveremsem preocupações (526), mas mais pelas necessidades e impulsosbestiais, com costumes miseráveis. Porque nmguém dirá (527) quevivem com asseio os que se lavam com urma pütiida, conservada (5~) em depósitos, e aqueles, tanto homens como mulheres

(519) Melhor Cipio(920) Ou calamina(121) a7rd8toinov, significa em principio somente «escorias de metias)>, segundo

Bail!y que cita precisamente este passo de Estrabão(522) Note o conjunttvo aor pass ja€raxütZutv (do v lavar para alem de)

com a oração temporal que e tanibem condtcional Trata-se do caso eventual comcom ~, (cfr A Freire, G,am a , 3’ ed ), pag 253.

(523) O texto diz ~ç ‘ri~v ~w ‘Ifrjpio_v i e , da Iberia para alem (para fora)

Schu’ten traduz «para a Hispãnia Ulterior)’ Garcia y Bellido «para as zonascostetras da Iberia»

(524) Ou tão—so multidão(5~) Estrabão diz dq.torpet. i e , «não tem parte em» Assim, tendo so a costa

cantábrica falta de oliveiras, legitima-se a tradução por nos feita atras, v nota 221(526) À leira não para passatempo

(‘“) Ou julga(129) O texto diz tio-sóS envelhectda

a 4, 16. 65

deste povo, que com ela esfregam (529) os dentes, como, segundodizem, (fazem) os Oântabros e seus vizinhos. Este costume e ode dormir no chão é tanto dos Iberos como dos Celtas. Algunsautores dizem ainda que os Calaicos são ateus, mas que os Cclbiberos e os outros povos que lindam com eles pelo norte, fazemsacrifícios a uma divindade inominada, nas noites de plenilÚiio (530)

em frente às portas das suas casas, dançando e cantando ~.i31),

festejando (532) o deus, a noite inteira (533), com toda a fani’iia.Os Vetões (534) quando entraram pela primeira vez (535) num ~campamento romano e viram alguns centuriões (530) a passear paratrás e para diante (537), nas ruas, (supondo) que estavam tomados de loucura, ensinaram-lhes (530) o caminho para as tendas,convencidos como estavam de que se deve (539) ou estar sossegadamente sentado), (549) ou a combater.

(“‘) O v. u~rn5~<w significa «enxugar; limpar».(530) lJavaEÀ400tç. diz o texto: noites de lua cheia; plenilúnio.(531) 0v. xope~Jo.4 significa «dançar em coro; festejar com um coro de dança (a um

deus); cantar dançando cm coro» (cfr. Bailly, Dictionaire GrJc-Foançais s/v.).

(a”) O v. iravvvxíØo~ significa «velar toda a noite; celebrar uma festa dc noite»(l3aiIIy ibidem).

(55~ O texto diz zÓwrcup~ adv., i. e., de noite.(534) Continua a oração infinitiva dependente de ~yto~ •.. ~ag1, expressão que já

está muito atrás.(535) Não há dúvida de que srp&rov pode tomar.se em sentido adverbial e significa

então: pela primeira vez; importa, todavia, dizer que a locução 8,-e 7rpc~rov. é umaconjunção temporal que equivale à corresponte latina: a! pri,,mn, ou até o/E pri01100,

logo que. Não faz mister traduzir primou, que em principio seria um advérbio.(5~~) O texto diz: alguns dos taxiarcos. Note o genitivo partiUvo.(557) À letra: a ir e a vir, por causa do passeio, nas ruas. 0v. &vaicd,2777w, além da

acepção de «recurvar, dobrar», significa precisamente: ir e rir (cfr. Bailly, ibidem).(530) O v. 4ye’ojzat também significa ensinar.(5~~) O texto diz tão-sàmente; d,ç Mot’, que, sem mais, nos parece tratar-se dum

ocas, absoluto, construção raríssima em Grego. O P.0 António Freire, na sua excelenteGramática Grega (cfr. p. 259, n.° 443, x), diz que ° acusativo absoluto se encontra «comos verbos e expressões impessoais, como: 4tdv, srnpàv. sendo permitido, sendo possível;3~ov, sendo preciso; 8o,co6v parecendo bem; ~rpoa~-axO~v, tendo sido prescrito; Eip~favov, tendo sido dito». Trata-se, pois, dum acusativo absoluto.

(540) Sentado segundo o sossego.

5

r

66 nI, 4, 17

17. Também à conta de costume bárbaro se há-de ter o adorno,que MtemidOrO descreve, de certas mulheres. Segundo este, emalgumas regiões, usam colares de ferro com «corvos’) (5.10”) reGiasvados sobre a cabeça e caindo para a frente, muito para diante.Destes «corvoso, quando querem, (fazem) descer (541) um véu, e detal modo que dá ao rosto um pequeno sombreado (542) quandodesdobrado. E que juigam (que isto) é um adorno. Noutras regiões,urnas usam um tamborete (541), arredondado por ‘altura da nucae ciugindo (514) a cabeça até às orelhas, e crescendo (545) pouco apouco (546) em altura e largura; outras rapam de tal modo o cabelodo alto da cabeça (517), que (lhes) brilha mais que o (próprio) rosto.Outras ainda põem em cima da cabeça cobenazite de um pé dealtura, (à roda da qual) enrolam o cabelo, adornaudOo em seguidacom um véu negro. A par com estes estranhos costumes, viram-see descreveram-se muitos (outros) acerca de todos os povos dalbéria em geral, especialmente dos do Norte, não só uo que dizrespeito à sua valentia, como tambéni à sui~ crueldade e bestialtemeridade. Com efeito, durante a guerra contra os Cântabros,mães mataram os filhos, autes que fossem feitos prisioneiros,e uni rapazinho até, tendo sido feitos prisioneiros pais e irmãos,para obedecer a uma ordem do pai (545), matou-Os a todos, com umferro que apanhou à mão (M9). Uma mulher (fez o mesmo) a seus

(540 a) Segundo Bailly, além de corvo, ave, significa «n(om) de divers objets recour

bés comme te bec du corbeau» (efr. Dict. ~~~~_FraioçaiS, sfv.).(541) O v. ,capaU~r~W significa: arrasta? para baixO de ~ de cima para

baixo, e ~ arrastar, além de outras acepções.(549 Ou: urna pequena sombra.(54’) Outros dizem: pandeireta. Porém, 1-V1MTdVLOV significa «pequeno tambor,

timbal, tímpano».(544) O v. a4n’yyw significa prõpriamente «abraçar, apertar».(545) Kwr’ o’Àíyov~ diz o texto.(544) O v. e’gvintatw significa «renverser» en arriêrc (BaitlY, ibidem); «cair para

trás; derribar para trás» (Isidro Pereira, o. e.).(547) 7rpoKo’fttøV além de crina, significa «perruca e tufo de crinas que cai sobre

a fronte dum cavalo» (cfr. Bailly, ibidem).(545) Note o genitivo absoluto: ,ccÀEv’uaVTOS TO~ i. e., depois de o pai

haver ordenado.(540) Ou tão-só: tendo-se assenhorcado dum ferro. Note o genitivo dc ,cvptcv’w e a

sinédoque; ferro, por faca ou punhal.

El, 4-17 67

companheiros de cativeiro (~°). Certo homem, chamado por (unssoldados) embriagados, deitou-se a ele próprio ao fogo. Estes(traços) são comuns aos povos Célticos como aos Trácios e Citas,como comum é a bravura tanto dos homens como das mulheres.São as mulheres que agricultam a terra. Quando dão à luz (551)

deitam os maridos no seu (próprio) leito em vez delas e cuidamdeles com solicitude (552), São elas próprias, quando (adrega) dedarem à luz nos trabalhos do campo (553), que muitas vezes lavame enfaixam (551) (o recém-nascido), afastando-se para junto dumriacho. Possidónio assegura que na Ligúria, um seu hóspede deMassália, Carmólio, lhe contou que, tendo assalariado (555) homense mulheres para uma cava (555), umas das mulheres, tendo sentidoas dores do parto, se afastou uni pouco do trabalho, e que, depoisde haver dado à luz, voltou imediatamente à sua faina, a fimde não perder a sua jorna (557). Embora elo próprio tivesse reparadoque (a mulher) trabalhava com enorme dificuldade (550), (só) maistarde (559) soube a razão, que antes desconhecia (560), e (conta que),depois de lhe pagar, a mandou embora. Levando a criança a umafontezita, lavou-a e enfaixou-a nos pauos que tinha, e levou-apara casa sã e salva.

(550) À letra: os juntamente prisioneiros, co-prisioneiros.(~1) À letra: depois de darem à luz...(512) Ou: tendo dado à luz, cuidam dos maridos, depois de os terem deitado no

seu leito, em vez delas próprias. O v. &aicopjoj significa «fazer ofício de criado, 5cr.vir» (cfr. .Diao Grego-Português de Isidro Pereira, s/vj; daí que se traduza por c,ddarsolicira,nente de...

(5~~) À letra: nos campos. Dai fainas campestres.(554) Ou: (o) envolvem nos cueiros.(555) O texto diz: assalariou.(5fl) isto é: para lhe cavarem um campo.

(‘à’) Nunca decerto a JLtaOdç, que em principio significa «salário, soldo, recompensa»(cfr. Isidro Pereira, ibidem), caberia com tanta propriedade a acepção de «jorna oujornal» que aqui se lhe dá.

(55~) ‘Einiro’vwç, i. e., penosamente. Note o valor intensivo ou superlativo do

pref. J,,-í; ,róyoç já significa «trabalho; canseira; sacrifício)>.(550) ‘~‘W~ ~ e., depois, mais tarde.(560) À letra: não conhecendo antes a causa, que mais tarde soube. Note-se ainda

completiva &,-~, que está subentcadido, jtdüot: depende de 3nfln~uacOaL. mais, acjma.

68 III. 4, 18

18. Tão-pouco é coisa peculiar aos Iberos o irem montados nomesmo cavalo dois homens (561), uni (dos quais), nos combates,luta a pé. Nem tão pouco era coisa oxclusiva deles a praga (562)

de ratos, a que frequentemente se seguiam doenças pestfieras.Isto foi o que aconteceu aos Romanos, na Oantábria, e a talponto que àqueles que caçassem ratos (568), davam prónilos, consoante o número das que apresentassem (561); (e mesmo assim)salvaram-se a custo. E acrescia a escassez de trigo e outras coisas.O trigo, tiveram que pcnosamcnte o trazer (565) da Aquitânia,em virtude das dificuldades do teneno (566). Da loucura dos Cântabros, fala-nos (cloquentemente) este (episódio), a saber: algunsprisioneiros, cravados na cruz (567), entoavam hinos de vitória (568).

Tais (actos) serão a prova dum certo selvagismo dos seus costumes. E, do mesmo jeito, não são testemunho de menos civilização, posto que não do selvajaria, os seguintes (factos), a saber (569):

que entre os Oânt~lbros os maridos dêem o dote (570) às mulheres;que as fflhas é que ficam como herdeiras; e que os irmãos tomam

(561) À letra: Não é peculiar dos Iberos nem isto, o serem transportados, ao mesmo

tempo, dois homens, nos cavalos.(565) Ou tão-sã: nem era exclusivo deles a multidão dos ratos, da qual frequente

mente doenças pestilenciais se seguiam.(363) É curioso o v. jivo&~pe’w, 1. e., caçar ratos: de pa5s-gvo’~ rato, e

caçar.(361) A expressão —~rp~c ,rshpov diro8€txü/v (part. aor. pass. do &,ro6ei,cvvjn

mostrar) —- significa, quando traduzido Ü letra: em relação com a medida apresentada.(565) O v. jnta~rtCoj.iat, que aparece no texto, significa, ((aprovisionar-se de viveres;

prover-se de» (cfr. Isidro Pereira, o.c.. s/v.). O núcleo da palavra está em aZros, «trigo;farinha; pão; alimento sólido» (idem, ibidem).

(500) A palavra Svaxwpia significa «dificuldade dum lugar, dum terreno (ibidem):

de Sóç, negação, e x~pa região, terra, pais».(567) ‘AVa~TCWS1y&rES (part. perf. ad. de avan~yvu,u, «cravar, crucificar»)—

E7TI T&V a’ravpG’v : crucificados, cravados nas cruzes.(568) Curioso é o v. ITaLLVV(CW que vale o mesmo que ~atavl~w i. e., entoar o péan:

é que o verbo, que é causativo, assenta em 7TaLdv, «péan, canto de vitória», etc. (ibidem).(560) O texto diz: otov, 1. e., qual, como.(570) O texto diz ¶potica. acus, dum subst. muito raro ¶pote-llpoZKd$~ «pre

sente; dote; presente de casamento» (Bajlly, o. c. s/v.); de ~rpd, em favor de, parajunto de, e a raiz do v. ~,c-vj-o-~at. segundo o mesmo ilustre e sapientissimO lexicógrafo e helenista.

III, 4, 18-19 69

mulher (571) a inculcas destas. Sem dúvida é uma espécie dc«matriarcado» (572). E isto n5o é lá muito civilizado... Costumeibérico é também usarem um veneno (575) que obtêm duma ervaparecida com o aipo, (que dá uma morte) sem sofrimento, demodo que o têm (sempre) pronto para os acontecimentos imprevistos; (como costume é) o consagrarem-se aos seus chefes (571),

a tal ponto que se entregam à morte por eles (575).

19. Alguns (autores), como dissemos, asseveram que este paísestá dividido em quatro partes; porém outros afirmam que emcinco. Contudo, nào é fácil (576) assentar nisto, em virtude dasmudanças (da populaç~o) e por serem desconhecidas (577) estasregiões. Com efeito, nos lugares conhecidos e famosos, (conhecem-se bem) as migrações, as divisões do país, as mudanças dosnomes e quaisquer outros pormenores semelhantes (578), porquefoi tratado (579) por muitos, sobretudo por Gregos, que s~o os maisloquazes de todos. Quanto a (regiões) bárbaras e afastadas (500),

de pequena extensão (581) e dispersas, os testemunhos nem s~oseguros nem muitos. Quanto (fica) longe dos gregos, cai numa

(571) À letra: que os irmãos são entregues a suas mulheres por estas (as filhas).(871) À. letra: com efeito, (a mulher) tem urna certa «ginecocracia»: poder da mulher:

de yvv4-yvvaucdç. mulher; e icparlcc (de Kp&ro~, poder, força), poder; governo.Governo da mulher, pois.

(57~) Ou: e também no costume se servem dum veneno ibérico, indolor.(174) O texto diz: olç ~v ~rpoaOZvrat, i. e., aqueles a cujo serviço acaso estejam.

Observe-se que a oração relativa é condicional e está no caso eventual. Note o conj.aor. ,hed. O/j5yraj com a partícula ~y (cfr. A. Freire, Gram.° Grega, 3.’ cd.,p. 256, a.° 4,38).

(575) Ou só: morrem em vez deles.(576) Ou: seguro, exacto.(877) O texto diz tão-só: ~ ... ‘fl~V d8oEíav 7GW TOITWV, i. e., em virtude da

obscuridade dos lugares.(576) À letra: qualquer outra (coisa) de semelhante.(h7~) Ou: é repetido. 0v. Qp ,‘\jcv, acaso palavra onomatopaica, assenta em

«murmúrio, rumor».(500) Note o part. perf. med. pass. &pE7o7rca~jya do v. bcroiriCw «afastar,

deslocar,,, y. que assenta em r&7.os~, lugar.(061) Ou: torras pequenas.

70 Iii, 4)19-20

(maior) ignorância. Os escritores dc Roma imitam os Gregos;mas com pouco proveito (582), j~ que traduzem o que dizem osHelenos, e da sua lavra(583) pouco acrescentam digno de interesse(584),de maneira que, quando há lacunas naqueles (nos Grogos), nãosão preenchidas pelos outros (os Romanos).

Aliás, a maior parte dos nomes (geográficos) mais conliecidos (585), são gregos. Assim, (dizem) que os antigos (geógrafos)denominaram «Ibéria» toda (a região até) além do Ródano e doistmo apertado entre os dois golfos gauleses; ao passo que os actuaispõem as suas fronteiras nos Phenéus (586) e dizem que «Ibéria»e «Hispânia» são anónimas. (Outros também) chamaram«Ibéria» tão-sómente à região para cá do Ebro. E outros ainda,(mais) antigos (587), a estes mesmos chamam «Igletas», os quaishabitavam uma pequena região, como diz Asclepíades de Mirleia.Porém, os Romanos chamando indistintamente «Hispânia» ou«Ibéria» toda (a península), denominaram uma parte «Ulterior», aoutra «Giterior». Todavia, algumas vezes, fazem outra divisão (588),se precisam mudar a administração, de harmonia com ascircunstâncias (588)

20. Actualmente, das províncias atribuidas (590) em parte aopovo e ao Senado e, em parte, ao Imperador Romano, a Bética

(582) Ou: mas não para muito.(~~3) Ou: de si mesmas.

• (584) Se bem interpretamos, Estrabão diz textualmente: mostram-se pouco ávidos

de aprender. #tÀcs8~n.tov (interpolação de Schu]ten) significa, ((que gosta de saber,ávido de aprender» (cfr. Bailly, s/v., que cita como único exemplo o de Estrabão 14).De ~íÀoç amigo, e Ei8?5~uov; €~&jjiwv. por sua vez assenta na raiz d& saber.

(585) À letra: (tantos) quantos são os mais conhecidos.(580) Ou: colocam os Pirenéus como fronteira.(587) Também há-de entender-se, e talvez melhor: Estes (= os que diziam que a

ibéria era tão-só a região aquém-Ebro) diziam que antigamente estes mesmos(= os habitantes da referida zona) se chamavam «Igletas».

(558) Ou: dividem-na doutro modo.(509) Ou: fazendo a administração segundo as ocasiões. O pensamento de Estrabão

é este: a divisão territorial é função da conveniência de novo regime administrativo.(09) Ou: designados.

lii, 4, 20 71

pertence ao povo, para onde é enviado ani pretor (591) com umquestor (592) e um legado (593). E os seus limites para o Oriente,fixam-se perto de Castulão. O resto (da Ibéria) pertence a César,que ouvia (594) para ali dois legados; um propretor e outroprocônsul (595). O propretor tem a seu lado um legado. e adnilnistra a justiça entre os Lusitanos que lindam com a J3ética e seestendem até ao rio Douro e à sua foz. Com efeito, assimchamam, ao presente com propriedade, (596) esta região.Ali fica Augusta Emérita O demais — e é a maior parteda Ibéria — (está) sob (o mando) do qiroeônsub~ que dispõedum exército considerável de três legiões (597) e de três legados.Um destes com duas legiões, vigia toda (a região situada) dooutro lado do Douro (598) para o Norte, a cujos habitantes (599)

(591) A palavra a’rparqyo’r significa «general, chefe do exército». Segundo Bailly,

obr. cit. 51v., equivale ao cônsul, em Roma. Schullen diz que significa preto’, mastraduz por procônsul, porque desde 1970 pretor na Península Ibérica era praetorproconsule, citando Mommsen, Staatsrecht, li, 652, 657. O. y Beilido traduz porpretor.

(5fl) ‘rafLlaç é o «intendente, tesoureiro; ecónomo; à Rome, questeur» (cfr. B’ailly,

o. c., sjv.).(5~~) rrpccflevr~~ «à Ro,ne, lieutenant du consul ou du préteur (lat. legatus (cfr.

Bailly, ibidem.)(5~) A letra: por ele próprio são enviados...(595) ~ significa consular, «consularis» em latim.(5~~) i&wç. Sobre a importância deste elemento, que as traduções nem sempre

têm relevado, e que significa que Estrabão considerava acertado o chamar assim aregião confinante com a Bética, v. Introdução. O advérbio também significa «particularmente». (Isidro Pereira. ob. cit., s/v.). Dai traduzir Schulten (ob. cit.. págs.116): «Porque tal es ei concepto particular, que Lusitania tiene en ei tiempo actual».É evidente o circunlóquio, ou a liberdade da tradução do passo, que em grego diz:icczÀoüat ‘yàp o&w rbvxopav raórqv i8ícoç e’v rc~p irapdnt. Não se trata deum conceito particular, de ela se chamar assim, particukzr;nente ou em especial, porque em particular e em especial está o autor a tratar das regiões peninsulares; mas sim co,?! propriedide ou sem ela. O que faz sentido com o problema daidentificação das regiões, exposto no n.° 19, como tudo se nota na Introdução. V.também a nota 137.

(507) ‘ràyjsct significa «corpo de tropas; à Rome manipule, = manipulus, Pai. 6

24, 5; ou legion 135. 71, 9» (cfr. Bailiy, o. c., s/v.).(3~) O texto diz prõpriamente: mais além do Douro.(599) À letra: a qual os antigos chamavam.

72 111,4,20

os antigos (geógrafos) chamavam Lusitanos, e os de hoje, Galaicos.bem como com os Ásturos e os Cântabros (000).

Através (do território) dos Ástures corre o rio Melso e umpouco mais longe (fica) a cidade de Noiga e, perto desta, umaabra do Oceano que separa os Ástures dos Cântabros. A serraque se segue (°°‘) até aos Pirenéus, é inspeccionada pelooutro legado com a outra (602) legião. O terceiro (legado)tem (a seu cargo) o interior e administra os assuntos dos já chamados Togati (603), como quem diz «pacificados» e transformadosem (gente) civilizada e ao modo itálico, com a sua toga (601). Estessão os Celtiberos e os que habitam perto e de ambos os lados doEbro, até às partes vizinhas (605) do Mar. O próprio procônsulpassa o inverno nesta (região) costeira, administrando justiçatanto em Nova Cartago como em Parr~con; ao passo que de verãopercorre (a província) inspecionando sempre o que precisa sercorrigido (606). Há também procuradores (007) de César, da ordemequestre, que pagam aos soldados o soldo (608) para sua mautença (609)

(000) Estrabão associa esses povos, pelas razões indicadas na Introdução.(001) À letra: a (região) a seguir situada ao longo das montanhas (= dos Ástures

e dos Cântabros) até aos Pirenéus.(602) Isto é: a terceira.(003) Isto é: togados, que usam toga.(001) Ou: no seu hábito (= vestido ou manto) «togal».(002) Ou: junto ao Mar.(006) À letra: inspeccionando sempre algumas (das coisas) que precisam de correcção.(607) ‘Ern”i-po~roç. significa prõpriamente «administrador, intendente; governador,

tutor» (cfr. Isidro Pereira, o. o., s/v.).(000) Ou: que distribuem o salário aos soldados.(600) Ou: para governo da vida. A palavra Stouço7uLç, origem de diocese, significa

«administração da casa; governo, direcção» (cfr. Isidro Pereira, ibidem).

CAPITULO V

1. Das ilhas que ficam em frente (~°) da Ibéria, as duasPitiussas e as Ginmésias, também chamadas Balcárides (011),

ad.rega de estarem situadas diante da costa (612), entre Tarrácone Súcron, em que fica situado Sagúnton. As Pitiussas estãomais internadas no mar (613) e sitas a oeste das Gimnésias (614).

Uma delas (das Pitiussas) chama-se Ebuso, com uma cidade domesmo nome. O perímotro desta ilha é de 400 estádios, de latitude e longitude sensivelmente iguais (615). Em contrapartida,Ofiussa (616), que fica lerto (de Ebuso), é deserta e muito menorque esta. Das Gimnésias, a maior tem duas cidades, Palma ePolência, uma situada a leste, Polência, a outra, a poente. O comprimento da i]ha é de pouco menos (617) de 600 estádios; a latitude200. Porém, Arteniidoro aponta uma largura e um comprimentoduplos.

A (ilha) menor dista de Polência cerca de [duzentos] e 70 estádios. Quanto a tamanho (618), fica a uma grande distância da

(010) 1~poKcLpJvwv, i. e., das que jazem em frente de.(611) À letra: «chamam-nas também Baleárides,,.(012) Há-de notar-se o gen. ~rapaÀía.ç, dependente do irpó que está em 7TpOKEZ

aOat(0133 Ou: são mais marítimas. Como quem diz: afastam-se mais da costa.(014) O gen. pcZv Pvjw~uiwv, que parece tratar-se dum segundo termo de com

paração, deve, contudo, ser um genit. objectivo de Jcn~pav.(001) irapcápaÀoç, i. e., «presque sembiable» segundo Bailly que dá como único

exemplo abonatório este passo de Estrabão (cfr. Dia. Grec-Français, s/v.).(°‘°) 1. e.,: a outra das Pitiussas.(817) À letra: deixando um pouco (menos) de 600 estádios.(016) MJycOos’ também significa «grandeza, força, poder».

E....74

111, 5, 1

maior (°~°); mas quanto a fertilidade (~°), é nada inferior a esta.Com efeito, ambas são férteis e estão dotadas de excelentesportos (629, com recifes à entrada, de modo que aqueles que (nessesportos) entram, têm de usar de precaução (622). Devido à fertilidadeda terra, os seus habitantes (623), como os de Ebuso, são pacificos.Mas, como alguns poucos malfeitores se tivessem coligado (621)

com os piratas do mar, ganharam todos má fama (625), e foi enviadocontra eles (628) Metelo, cognominado o Baleárico, o qual fundoutambém as (mencionadas) cidades. Em virtude (desta) mesmafertilidade foram atacados, e a despeito de (serem homens) paeíficos, são considerados, contudo, os melhores fundibulários.

E, segundo dizem, especialmente nisto se exercitaram (627),

desde que os Fenícios ocuparam as ilhas. Dizem que estesforam até os primeiros (a ensinar) os habitantes (626) a vestirtúnicas lacticlávias (629). Iam para os combates de cintura

(610) 1. e.,: é de muito menor extensão. Não há ideia de distância no espaço, como

a nossa tradução pode fazer supor.(620) ‘Aper4 significa em princípio «valor; capacidade, aptidão; virtude)) (cfr.

Isidro Pereira, Dic.0 Grego-PortUguês, 5/v.).(69 O adj. e~À4tevor quer dizer: ((de bons portos» (ibidem).

(°9 Ou: de modo que para os que entram tem de haver precaução. Note-se o genitivo, irpoao~j~ atenção, dependente do inf. 8eZv, ter necessidade.

(012) Ou: não só os habitantes d(estes) lugares.

ç°’4) Ou: tendo.se reunido alguns poucos malfeitores aos piratas nos mares.(625) ‘~tEfi)t4O~UaV. 3~1 pessoa do plural do aor. pass. ind. do v. 6raflcíÀÀw

(caluniar, acusar, atacar, ibiden2); quer dizer: foram acusados.(626) Ou: passou até eles.(027) 1. e.: exercitaram-se especialmente (= de maneira especial) em aLirar a funda...(620) O texto diz: &vOp<~~ovs~ i. e., os homens (das ilhas).(62’) A expressão XLT~~V ,,-ÀaTóa7)~sos~ segundo Bailly, equivale a estoutra latina

túnica laticlávia. O substantivo laticlávio significa «dignidade que dá o direito de usaro laticlavio». Laticlávio significa, por seu turno, (<barra de púrpura que os senadoresromanos usavam sobre a toga como distintivo da sua dignidade>) (cfr. Dic.° de Português de Almeida Costa e Sampaio e Meio, e Dictionnaire Iilustré ~0tin-FranÇaiSde Félix Gaffiat, s/v.);~ oçcompõe.se dos dois elementos seguintes: irÀwrt,largo e ~ sinal, listra.

Traduzi assim, em face do texto organizado por Schulten, que tem ol3rot ... Àc’yov’ra:7rpruiTOL. Note a oração infinitiva e a construção pessoal; depois aparece avQpb~rovrque é compl. directo, e não sujeito da oração infinitiva que, outras traduções, talvez mais lógicas, inculcam. Q,Y’rot, estes, os Fenicios; outros entendem:

75

nua (530) tendo numa das mãos um escudo de peie de cabra (631) e(na outra) um pequeno dardo (632) com a ponta endurecida aofogo (633) e, raro, ainda guarnecido de um pequeno ferro delança (611). À roda da cabeça (usam) três fundas de junco negroou de crina ou de nervos; [melânci anis é uma espécie de juncocom que se entretecein as cordas.

Filetas (diz) numa elegia (635): «a sua túnica é miserável esuja (63~; em volta dos delgados quadris enrolam um mandil (517)

de junco negro», como se (a cintura) estivesse cingida com junco (619)]:

uma grande (639) para atirar longe (040); outra pequena, para tiroscurtos; e (ainda) outra média, para (lançamentos) intermédios. Desdemeninos se treinavam no manejo da funda (641), e dc tal modoque (as mães) não davam pão aos filhos, sem que com a mesma

os naturais da ilha, É estranho, na verdade, que fossem Fenícios a ensinar hábitosromanos, a menos que se traduza ~ TrÀal-va4fsovç por «túnicas de largasbandas ou listras».

(030) O adjectivo /j~wa’ros significa «sem cinto; de cintura nua; não cingido

com armaduras» (cfr. BaiIly).(631) Há-de reparar-se na sinédoque: o texto diz só: cabia.(032) Ou: lança.(031) O v. rl-upaK’r~w significa «endurecer ao fogo, pôr ao rubro a ponta (dum

dardo, etc.») (cír. Isidro Pereira, .Dic.° Grego-Português, sjv.).(034) O particípio AcÀoyxw,zbov (part. perf. mcd. pass. de Àoyxów) que

concorda com atcóynov já de si significa «guarnecido dum ferro de lança». De modoque utB4pw p~tscp&. «com um pequeno ferro», é redundância.

(015) Outras lições dão: 0Ep~1-qveia. i. e., hermeneia, hermenêutica; interpretação,

explicação; expressão, elocução» (Isidro Pereira, ibidem). Schulten emendou, porém,bara JÀØEÍa

(050) çrE7TLvw/Â~VOÇ, part. perf. mcd. pass. do v. rnvdw engordurar.(017) ico’p~/2a. i. e., «fragmento, inciso membro dum periodo, etc.».(038) Há-de reparar-se no gen. abs. <5ç (i~óoç) 4~wu1sbov axoívJ.s i. e., como (se

a cintura) estando cingida com junco. Todo este longo perêntesis não passa dum escófio que, com o tempo, e em edições ulteriores, xlguns autores acabaram por encorporarno texto.

(030) MaKpo’KwÀos~ «de membros compridos; flg. falando duma funda de corda

comprida ou de longo alcance» (cfr. BailIy, o. c., sJv.).(040) MaKpo/3oÀía, i. e., (<acção de lançar ou atirar longe» (ibidem). Por sinal

Bailly dá como único ex.° este de Estrabão.(045) Ou tão-só: com as fundas,

E76 iii, 5, 1-2

o tivessem ganho (642). Foi por isso que Metelo, navegando paraestas llhas, mandou estender (~3) peles (644) sobre as cobertas donavio (645), como protecção contra (os projécteis das) fundas.Levou como colonos 3.000 dos Romanos da Ibéria.

2. À fertilidade da torra, acresce o facto de aí tampouco (646)

se encontrar nenhum dos animais daninhos (647). Com efeito,segundo dizem, nem sequer existem coelhos (648) indígenas (649),

mas que um macho e urna fêmea trazidos da costa em fronte (650)

deram origem à prole (651), Esta foi tão numerosa ao princípio,que minaram (652) e derribaram casas e árvores, e os seus habitantes, corno disse, se vh’am obrigados a recon’er aos Romanos.Todavia, presentemente, a facilidade de lhes dar caça (653) nãodá azo a que os danos sejam de maior, antes a que os possuidores de terras, as fruam com proveito. Estas (são), com efeito,(as ilhas) para cá das chamadas Colunas Heracleias (654).

(042) Há-de reparar-se na expressão o~8’~ÀÀwç ... &EV ,-oO ~-v~etv; o~a’~ÀÀwç 4,onstrução semelhante à do texto, significa já de si «no,, autrement que» (cfr. BailIy,bidem, s/v.). Compare o latim nojo aUtor qualto.

(043) Ou tão-só: estender.(011) O voe.0 3E’ppLs- também significa «coberta de couro para proteger os naviso

de guerra» (cfr. Bailly, o. e., s/v.).(045) ~ significa pràpriamente <(ponte do navio (vd. Bailly e Isidro

Pereira, o. c., s,Iv.). Do v. ,ca-~-ciarpcbvvv,am 011 tcwraaTope<vvupL, i. e., <(estendersobre, cobrir» (cfr. Isidro Pereira, o. c., s/v.).

(646) O texto diz 8~ç, fâcilmente.(047) Etvojióvwv, i. e., que danifica, prejudica? Notar o v. act. do part., que é médio

e não passivo.(018) AaytSev’ç significa «pequena lebre» (cfr. Isidro Pereira, o. c,, s/v.).(010) Entenda-se: são indigenas, i. e., ali nascidos.

(°>°) À letra: da (costa) situada do outro lado.(051) À letra: mas que a prole foi feita por um macho e uma fêmea trazidos do lado

em frente.(012) O texto diz: ~,c r~ç ôn-ovoj4ç, devido a mina.(013) E131zE7a~ i. e., fácil de dominar, de vencer (vd. Bailly e Isidro

Pereira, o. e., s/v.).(054) Ou: das Colunas de (Héracles).

77

3. Junto destas (69 ficam dois ilhéus, a um dos quais chamamilha de Hera. Alguns confimdem (656) estas com as Colunas. Ficaiora das Colunas Gadira, acerca da qual mais não dissemos (657)

seno que dista de Calpe uns 750 estádios e que se encontra (653)

perto da foz do Bétis. Há, porém, muita coisa a dizer acerca desta(ilha). São, com efeito, os seus homens que enviam para o NossoMar, como para o Mar Exterior, os barcos de comércio (659) maisnumerosos e de maior tonelagem (°°°), conquanto não habitemuma ilha grande, nem muito da costa em frente, nem sejam senhores (651) de outras ilhas, mas a maior parte viva no mar e (alguns)poucos fiquem em casa (662) ou habitem (663) em Roma. Contudopela sua popnlação (604) parece que não será inferior (655) a nenhnmacidade, excepbuando Roma, já que ouvi dizer que num dos últinos (666) censos, se contaram (667) 500 cavaleiros gaditanos (669)

quantos não (são) nenhuns dos Ttahotas, com excepção dos Patavinos. Mas, apesar de serem tão numerosos, habitam uma ilha,de pouco mais (669) de 100 estádios de longitude; e a largura hápontos em que é dum estádio (670). Primeiramente (671) habitaram

(655) 1 e., das Colunas de Hercules(056) À letra, chamam a estas Colunas(~3) Ou: dissemos tão-sàmente

(“9 Ou está estabelecida(059 NavicÀ~piov i e , navio fretado.(0~0) À letra os maiores(001) Note a construção do v eõiropSw, i. e , «possuir abundantes riquezas, abundar,

poder, ter o meio de, alcançar, adquirir, etc» (cfr Isidro Pereira, o c , sfv), comgenitzi’o

(662) OiKovpe<w significa precisamente «guardar a casa, viver isolado, inactivo»

(ibidem)(003) O v Stcvrplflw quer dizer «passar o tempo», alem das excepções vulgares

de «gastar, consumir, perder, destruir, etc» (ibidem)(~4) O texto diz. ~ o e, «multidão, numero, etc» (ibidem)(665) Ou não parecera ser inferior a nenhuma das cidades, afora Roma(000) A letra (feito) segundo nos, i e , no nosso tempo(007) Ou, se avaliaram(068) Ou 500 homens como cavaleiros gaditanos(069) 0w não muito maior que 100 estádios, quanto a comprimento.(676) Ou quanto ã largura, ha onde (e) dum estádio(073) À letra, ao principio.

___________________ - 111,5,3

uma cidade muito pequena (672), mas Balbo, o Gaditano, quealcançou o triunfo (673) erigiu lhes (674) outra que chamam NovaDe ambas (surgiu) Didinia (675), que não tem mais de 20 estadiosde perunetio e não sente necessidade de espaço vital (676) Semdúvida, poucos ai vivem, visto que muitos (677) passam ‘b maioiparte do tempo no mar e alguns habitam a costa em fiente, esobretudo, em virtude da sua fertilidade (678), na ilhota que fic~diante de Gadu a, à qual fizeram como que a «Antipohse daDidima (670), porque o lugai lhes ~igradou (600) Porém, em pioporção, são também poucos os que habitam esta (ilha) e o poitoque Balbo lhes edificou na tena firme fiontena (681) Á cidadefica na parte ocidental da ilh’t (682), e, perto desta, no extiemo,o templo de Crono, junto da ilhota O santuáiio de lléiacles estávoltado paia o outro lado, para o nascente, onde sobietudo ailha se ‘iproxima (063) do continente, e tanto que o estieito nãotem mais de um estádio (684) O templo (de Héracles) diiem quedista da cidade dozo milhas, fa7endo igual o numero d’bs milMse o dos tialnlhos (de Héracles) Mas (a distância) é maioi, e maisou menos o compiimento da ilha (685) Á longitude da ilha vaide poente a levante

(073) Ou absolutamente pequena(673) Ou depois de ter triunfado Também se diria o triunfador(074) ~rpocc’terLaE i e fundou(073) 1 e dupla gemea(676) Ou nem está apertada ou oprimida (a despeito da pcqlicncz da ilha)(677) O texto diz ITÍVTaÇ i e todos(678) Ou por causa da natureza feliz ou louça(670) Ou Cadiz(803) Ou comprazendo se com o lugar(601) Ou no outro lado em fronte da terra firme(681) Ou jaz para as partes ocidentais da ilha a cidade(663) Note a construçao ,-vyxavEt avvalrrovua (cfr A rreirc G,arn Greb

3~ed p 257 n044l)(804) Ou deixando um estreito de cerca de um cstadio(508) Ou quase tanto quanto ha de comprimento da ilha

III, 5, 4-5. 79

4. Ferécides parece que identifica Gadira com Eritia (686)

na qual se localiza o mito de Gerião (687). Outros (parece quea identificam) com a ilha situada em frente (688) desta cidade,(da qual está) separada por um estreito dum estádio, por verema excelência das pastes (688) e pelo facto do leite das ovelhas, queali paseem n~o fazer soro. Em virtude da gordura, têm de misturar muita água, quando fabricam o queijo (690), (A tal pontoo leite é gordo), que o animal em cinquenta dias sufoca (601), seo n~o sangrarem (682). A erva, que pascem, é seca (603), mas engordamuito (o gado). Conjectiu’am alguns que foi deste (facto) (604)

que se inventou o mito dos bois (695) de Geri~o... (606) (Contudo)(hoje), duma maneira geral, todo o litoral está habitado (607),

õ. Falando da hmdaç~io de Gadira (688), os Gaditanos recor

(086) Ou: Eriteia, forma mais próxima da sua origem grega que está no radical do

verbo E’pcv’Ow. i. e., enrubescer, pôr ao rubro, tornar vermelho.(687) Ou: na qual se fingem as (lendas) acerca de Oerião,(088) ~mpafleflÀ~ja6n~, acusativo feminino singular do part. perf. pass. de rapa

paÀÀw. significa prôpriamente «estendidos ao longo de)>... Rege dativo, que no texto,aparece.

(080) O texto diz EtJ~oTo9. i. e., «abundante em pastos» (cfr. P.° Isidro Pereira,

o. e., 81v.).(000) À letra: fazem o queijo depois de misturarem o leite com muita água, em

virtude da gordura.(601) À letra: afoga-se.

• (092) Ou: se alguém não deixar correr (depois de abrir a veia) algo de sangue.(803) Note a atracção sintáctica: fio’rav~p, que é sujeito da oração principal passou

para a oração relativa, devido à atracção, e foi para o mesmo caso do relativo, ~v.(004) Não se vê razão para Schulten traduzir por gordo, já que o pensamento de

Estrabão é bem claro: foi de facto de as pastagens engordarem sobremodo os gados,que alguns supuseram que Eritia tinha sido residência de Gerido e seu armentio.

(Gfl) flouicdÀta significa «rebanho de bois; rebanho de gado maior; armentio»,(600) Aqui, uma lacuna.(607) Note o valor resultativo do pf. med. paSs. UVV(jKtU’TaL. Existe uma lacuna;

contudo, o sentido do passo parece claro: hoje em dia já não há essa abundância deforrager, antes a costa esta habitada.

(600) Ou: dizendo tais coisas (= o seguinte) acerca da fundação de Gadira, os

Gaditanos...

80

dam (090) um oráculo que, dizem, foi dado (700) aos Tinos, o qualordenava enviassem uma colónia às Colunas de Héracles.E (dizem) que aqueles que foram enviados (701) para exploraç~o (702) (do lugar), quando chegaram (703) ao estreito junto doCalpe, supondo que os promontórios que formam o estreito eramo termo da terra habitada e da expediç~o de Héracles, e que esteseram as Colunas, de que falara o oráculo (701), desembarcaramnum lugar (705), aquém do estreito, onde hoje fica a cidade dosExitanos. Porém, como aqui tivessem feito sacrliucios e as vítimasn~o houvessem sido propícias, tornaram (706). Tempo depois (707),

os enviados passaram além do estreito uns 1.500 estádios, (chegando) a uma ilha consagrada a Heracles, situada junto de Onoba,cidade da Ibéria. Julgando que aí ficavam as Colunas de Heracles,fizeram sacrifícios ao deus; todavia, porque outra vez as vítimasn~o fossem favoráveis, se tornaram à sua pátria. Os que chegaram na terceira expedição fundaram Gadira (708) e erigiram umtemplo para as bandas do Nascente da ilha, e a cidade no lado Ocidental. E foi por isso que as uns pareceu que as Colunas eram ospromontórios do Estreito, a outros Gadira, e ainda a outros queficam mais além de Gadüa, fora (do Estreito). Alguns tomaramas Colunas pelo Calpe e AbDica (709), montanha da Líbia que se

(608) Note o valor resultativo do perf. mcd. pass. j.djpn7vrac e o genitivo~

regido por este verbo.(709 O texto diz: o qual dizem foi feito aos (= para os) Tinos, ordenando...(701) Note o part. aor. pass. lrcM#Oév,ts, substantivado e a servir de sujeito

duma oração infinitiva que depende de que se encontra já atrás.(709) Note a construção bastante rara de ± gen., a designar causa.(703) Repare-se na acepção raríssima do v. yíyvo~aL que neste passo significa

«chegar a». Costuma, porém, vir acompanhado de acusativo regido de ~irl; no textoesse acusativo está regido de Kwrá, a designar mais lugar onde do que aonde.

(704) À letra: e que o oráculo denominara Colunas a estes mesmos promontórios.(700) Ou: aportaram a um lugar.(700) Note as orações infinitivas dependentes dum que já fica muito para

trás. Repare-se ainda nos genitivos absolutos com valor dc temporal-causal.(707) xpo’ ,5cr’repov. diz o texto.(700) Só agora termina a série de infinitos dependentes de fraul.

(‘9 Ou: Abilix (Abilice), à latina.

III, 5, 5. 81

ergue fronteira e que Eratóstenes afirma se ergue no Metagónio,povo númida (710)

Outros identificaram-uns com os ilhéus (que ficam) perto dume doutro (dos promontórios), a uma das quais chamam ilha deHera. Artemidoro diz que existe a ilha e o santuário de Hera,mas (não) assegura que haja qualquer outra nem um monteAbifica nem uma tribo metagónia. Há quem transfira para aquimesmo as Planetas e as Simplégadas, conjecturando que estassão as Colunas que Pindaro denomina «Portas de Gadira», aoafirmar que Hóracles aqui chegara, ao concluir os seus trabalhos (711). Dicearto, Eratóstenes, Polibio e a maior parte (dosautores) gregos localizam as Colunas à volta do Estreito. Os Iberose os Líbios asseveram que ficam em Gadira, já que em nada separecem com Colunas os lugares das imediações do Estreito.Outros afirmam ser as colunas de bronze de oito côvados dotempo de Héracles em Gadira, onde se inscreveram (712) os gastos (713) da edificação do templo.

Como os que ali chegaram, terminaram a sua navegação efizeram sacrifícios a Héracles, (isso) deu azo a que se proclamasseque estas eram o limite da terra e do mar (714). Também Possiduniojulga que esta iuterpretação (715) é a mais verosímil (716), ao pr7soque supõe serem o oráculo e as várias expedições uma mentirados Fenícios. Porém, acerca das expedições, quem poderá sustentar que hão-de contestar-se ou aceitar-se, sendo uma hipótesee outra admissíveis (717)? Todavia, dizer-se que as ilhotas ou os

(710) Grego: nómada.(711) À letra: dizendo que Héracles chegou a estas tmimas. Como quem diz: ulti

mando os seus trabalhos. Note a forma dcftxüat, inf. perL de i#<IcP~o,2aL, chegar.(7fl) ‘avaypd~w também significa «gravar em».

(‘9 ‘AvdÀw1.ta, i. e., gasto, no singular.(714) À letra: os que terminaram a sua navegação chegando ãs quais (colunas) e

sacrificando a Héracles, prepararam se proclamasse que isto era o termo da terra edo mar.

(715) O texto diz A≤yov. i. e., palavra.(710) ,rcOaz’óv quer dizer: «crivei, digno de crédito; fidedigno’>.(717) À letra: acerca das expedições, pois, quem poderá sustentar algo para a cen

sura ou para a fé, (nelas) não sendo absurda nenhuma das duas partes (ou hipóteses).

6

82 1H, 5, 5-6

montes não se parecem a colunas e procurar-se os limites domundo (7h7a) e dos trabalhos (720) de Héracles junto das prõpriamente chamadas cohmas, (isso) tem alguma razão de ser, vistoque havia o costume antigo de colocar tais padrões (719), comoos Reginos puseram uma colunazila no Estreito de (Messina),em forma duma pequena tone (720) e a chamada Torre de Pelorofica defronte deste colunelo. E os chamados Altares de Filenos(erguem-se) a meio da tona que jaz entre as Sutes. No Istmode Corinto lembia-se existia antes uma estrela, a qual os Jónios,que subjugaram a Ática e a Megárida, depois de haverem sidoescorraçados (721) do Peloponeso, exigiram juntamente com os queocuparam o Peloponeso, gnvando no (lado) voltado para aMegárida:

«Isto não é o Peloponeso, mas a Jónia»;

o no outro lado:«Isto é o Peloponeso e uão a Jónia».

Alexandre levantou como teimo da sua expedição à Indiaaltares, nos últimos lugares das índias Orientais onde chegou (722),

imitando (assim) Héracles e Dióniso. Esse era o costume.

O. Mas também é natural que os lugares tivessem recebidoo próprio nome (723) de (tais) palrões e principalmente quando

(717 a) Ou: da (terra) habitada(718) À letra das expedições(718) 6poç que em princípio significa «baliza, limite» (cfr em port. horizonte),

do v ~ limitar, balizar ) tem aqui a acepção de «coluna com uma inscrição»e dai, padrão

(720) O texto diz tão-so uma certa (= uma especie de) torrezita(721) Note-se o part aor pass ~eÀaO/vreç. do v c’ØeÀav’vw «impelir para

fora de, expulsar » (cri Isidro Pereira, o c , s/v(222) À letra Alexandre como limites da sua expedição mdiana, levantou altares

nos lugares, aos quais ultimos dos lados para (as partes) orientais chegou Note a atrac-çâo do mli (no superlativo) ,5a’rdTovç para a relativa Este por sua ~ez tem o genpartitivo ‘Iv8Jiv.

(29 A palavra rzpoaflyopia pode traduzir-se muito bem por «chamadoiro, deno

minação».

>

III, 5, 6. 83

a acção do tempo os destruiu (724). Som dúvida, os Altares doFilem) hoje (já) não existem, mas o lugar passou a ter essadesignação (725). Segundo dizem, tampouco se vêem na ÍndiaColunas de Héracles ou de Dióniso (726) o, contudo, os Maccdónios,taudo-so-lhos falado e mostrado certos lugares (727) cm que encontraram algum sinal do que se conta de H&acles ou Dióniso,acreditaram que tais lugares eram Colunas. E assim ninguémduvidará de que os primeiros (conquistadores) usavam comomarcos (da sua expedição) uma espécie de altares ou torres oupequenas colunas, erguidas pela mão do homem (728) nos lugaresderradeiros (729) e mais visíveis (730) aonde chegaram os estreitose os montes que os sobrepujam e as ilhitas (são sítios) excelentespara assinalar (731) o extremo (732) ou o começo de lugares); (natural é) que, depois que estes monumentos artificiais desapareceram (733), o nome tivesse passado a designar os lugares, quer r<opretenda aludir às ilhotas quer aos alcantis que formam o estreito.Com efeito, é já difícil distinguir isto, a saber: a qual dos doisdeve atribuir-se (tal) nome, já que as Colunas se parecem tantocom umas como com outros (7M). E digo que se assemelham, porque

(734) A trai justalinear será: Mas é natural também que os lugares recebessem

a própria designação, principalmente quando o tempo destroi os marcos (= padrões)postos. Há-de notar-se o valor condicional da proposição temporal. Trata-se do chamado caso eventual que exige o conj. + ~,. Por isso, a melhor maneira de traduzirseria verter a oração como se fora condicional (cfr. P.° Á. Freire, Gramatica Gregd,3,a cd., p. 253, n.° 429).

(786) Ou: o lugar recebeu o nome (de Altares de Fileno)(720) À letra: nem na fndia dizem que se vêem jazendo Colunas nem de Héracles

nem de Dióniso.(727) À letra: referidos e mostrados certos lugares...(780) O adj. ~ p&c/njroç significa «trabalhado à niflo»: de ~ mão e

adj. verbal do V. iCtí(LVW, trabalhar.(‘~°) Note a atracção sintúctica do adj. éa~r&rouç que passou para a or. ielativa.

Poderia ser a concordar com ‘ró,rwv, antecedente de o~jç.(720) Vd. nota anterior.(731) ‘Airo8~Àoflv é o iaf. presente do v. diro8,~Àów, «manifestar, expor».(778) ‘Euxai-ía, i. e., «extremidade, último confim,>.(733) O texto tem um gen. absoluto; por isso, a tradução literal seria: desapareci

das (~ depois de haverem desaparecido) as memórias feitas pela mão do homem.(‘“~ Kefere.se Estrabão ~s ilholas e aos promontórios de Calpe e Ábila.

iii, 5, 6

estão sitos em tais sítios que manifestamente assinalam confins (385)

pelo que chamam «bocae a este Estreito (78~) e a muitos outros.A boca é o princípio para os que entram e extremo para os quesaem (737). Os ilhéus que ficam na boca (do estreito), que têm (umaforma) bem debuxada (733) e precisa, quenquer poderá compará-losnem a Colunas. Como do mesmo modo (se podem comparar)até os montes sobranceiros ao Estreito que são de tal modoaguçados que (semelham), obeiseos ou colunas (739). Pmndaroacertadamente falará deste modo de Porias de Gadha, se acasose pensar que as Ooltmas (ficam) no Estreito (740), já que as bocasse parecem a poitas. Todavia, Gadira não tem urna situaçãogeográfica tal (741) que marque (742) uni extremo, antes fica situadaalgures no meio dum litoral grande que forma urna enseada (743).

Menos lógico me parece relacionar as colunas do templo de Héracles com as próprias (Colunas) (744). Sem dúvida, é mais criveIque a fama deste nome seja maior não por provir de negociantes,mas de (745) generais, como (sucedeu) com as Colunas da Índia;e do mesmo modo também a epígrafe, a que aludem, não aludindoa uma edificação sagrada mas à soma dos gastos, contradiz (tal)

(7~>) Note a oração reIativa~con5ec0tí~’tt.(730) 1. e., de Calpe.(737) O texto diz: é principio para entrar e extremo para sair. Note-se a substan

tivação dos infinitos e, ainda, que significam entrar ou sair navegando. Assentam nosubs. .,rÀoOg, navegação.

(738) E?nr€piypa~0~o i. e., bem circunscrito, de tamanho conveniente.(71O~ À leira como do mesmo modo (se podem comparar) até os montes sobraE

ceiros , o [si teu .‘ t~ ‘e cv tiene 001 tini ia 1 eminência qual têm) as peqt’eTlas colti lias004 as Coltinas

Se as (oltiiias se sobrcptlsC%5e111 no [si reil o. Note o’ chamado caso potenciat~o esq ueOEL tio qual e o seguinte: na or. principal lisa-se o optativo com e na eond ocioaal o opt. com ~ (cfr. P.° A. Freire, o. e., p. 250).

(741) À letra: não está situado em tais lugares, que...(742) Ou: mostre.(703) O adj. KoÀ7rcb37)~ quer dizei: «que tem muitos golfos ou baias>) (cfr. Isidro

Pemeira, o. c., s/v.); contudo nós acrescentamos: ,coÀ,i-c~&jç vem de j<~~7roç» golfo,baía, enseada, e de d8,1s relacionado com ~i8oÇ, «forma, aspecto>).

(711) À letra: o facto de transportar (entende-se: relacionar com) para as próprias

as colunas do templo de Héracles ali, é menos lógico, como me parece.(7~) À letra: não governando mercadores mas generais. Note o gen. absoluto,

111, 5, 6-7 85

versão. Porquanto a> Colunas de Héracles devem ser uni menu-monto comemorativo das suas façanhas e não dos gasto’5 dosFenícios (746)

7. Políbio diz que no templo de Héracles em Gadira existeuma fonte (com algumas esGaleiras para descer a água pott%vel)(’47)o que esta tem movimentos contrános ao fluxo e refluxo do mar(’48),esvaziando-se nas prêamares e enchendo-se nas marés vazantes.Explica (o fenómeno dizendo) que o ar (749) saindo (750) das profundezas (751) à superfície da terra, por uni lado, tapada a saída (755)

pela água do mar (~3) durante as marés vivas, é impedido (de seescapar) pela saída natural (7a5), e que, recuando para o interior (753),

obstrui as condutas da fonte e provoca a falta de água (756); p01

outro, liberta de novo (a passagem), saindo pela sua via natural (757) franqueia as veias da fonte, de tal maneira que (a água)brota (750) abundantemente. Todavia. Arternidoro, couquantorefute esta (teoria) e dê ao mesmo tempo uma explicação sua,

(“) À letra, e preciso, com efeito, que as Colunas de Heracles sejam um monumento comemorativo da grandeza de sua obra, e não do gosto dos Fenicios.

(747) À letra tendo uma descida de poucos degraus para (ou ate) a agua potítvel(748) À letra e que a qual se opõe aos fluxos e refluxos do mar(749) irvcOpsa significa «venio, sopro, respiração» (do v ,rvdw, soprar)(750) ‘EKITZR’Tov diz o trecho quer dizer (o vento) que sai de(79 fldüor tambem designa «o alto mar,>.(755) Note o gen abs. KaÀVØE1U’q~ 1i~v aén~~~ i e, ocultada a propria (saida

ou superfície) Repare-se que ,caÀu4sOciu>7ç e o genitivo do singular feminino do pariaor pass do v ,caÀt5,rrw , «ocultar, esconder»

(“) gOj.ui, i e, onda e, depois, mar, ãgua do mar.(‘“) À letra e repelido por tais saidas naturais(755) J. e, das condutas naturais que estabelecem a comunicação com o mar.

(‘>‘) À~4’v8pta, i e, falta de agua. de ÀELTTW deixar, e i’J3cvp, agua Baillyda como ex o Estrabão (~74O)

(737) Note a forma etWvnop~5uav~ nominativo do singular neutro do part aor

activo do v ei)Ouirop&s ir por caminho recto Repare na concordância cora irvEüpa(753) Notea oração consecutiva com ov no inf. &vaflÀóerv paralelo de ivaflÀó~ctv~

«sair, brotar, saltar com ruido» (cfr. Isidro Pereira, ob. citada, s/v.).

L

86 III, 5, 7

e recorde (759) ainda a opinião do historiador Silono (760) não, meparece que diga coisas dignas de serem mencionadas (765), ignoranteque é nesta matéria, o que (aliás) acontece também ao próprioSileno (763). Por seu turno, Possidónio, alegando que esta narrativa é fa1sr~, assevera que existem dois poços no tempo de Héraeles, e um terceiro na cidade. Dos poços do Herácliono menor, tiraudo água continuamente, esgota-se (afirma ele) e,deixando de tirar ágtia (763), enche-se novamente: por outro lado,o maior, tirando-se água durante todo o dia, diminui, mas, comotodos os dentais poços, enche-se de noite, visto que ninguém aextrai (764). E, porque muitas vezes a maré vazante coincide (765)

om o momento em que este se enche (766) acreditou-se levianamente, da parte dos naturais, nesta «antipatia (767)». Que se acreditou neste facto, disse-o Possidónio, e nós encontrámo-lo (768)

narrado entre as coisas maravilhosas. Ouvimos dizer que existemainda (outros) poços, parte (769) diante da cidade, nos hortejos,parte dentro (da mesma); sem embargo, em virtude da má qua

(750) Note o valor concessivo dos particípios ELVTEL7TO~V (part. aor. de dVTL

-À/yw) Oe’tç (part. aor. segundo de rW,7~a, par) e /LV2)COEI~ (part. aor. pass.de jitpv4cicw, lembrar-se de, recordar...).

(‘°°) Outros dizem Silano.(762) De recordação, de memória.(762) Como se (fosse) ignorante acerca destas coisas, e também o próprio Sileno.

Note a comparativa hipotética.(763) O texto diz tão-só: intervalando (a extracção da água).(764) Ou: já não a extraindo (ninguém).(765) Ou: cai.(766) Ou: com a ocasião do enchimento (deste); £v,alTÀ4pcsatç i. o., acção de

encher conjuntaniente.(767) O sentido do helenismo ou grecismo é este: fenómeno que significa movi

mentos contrários, i. e., os movimentos de exaustão ou enchente do poço eram contrários aos do fluxo e refluxo das águas do mar.

(760) O texto diz: ¶apEtÀ7~a~Ev (perfeito activo de irapaÀajtflóvw): cfr. com

accepimus do latim que também significa ouvimos dizer e recebemos (de alguém) algumrelato.

(760) Note a alternativa expressa por rà JL≥1) ... Tà 3~, parte.. parte; não só...

mas também. (Cfr. P.~ A. Freire, o, c., p. 185).

II 1, 5, 7 87

lidado da água (770), abunda’in (771) pela cidade cisternas de águadas chuvas (772). Se contudo algum destes poços revela o fenómenodos ((movimentos contrários» (779, não sabemos. Se é verdade queo fenómeno ocorre, as causas hão-de procurar-se no número dosproblemas difíceis (774), Já que é natural que as coisas se passem (775), como diz Poilbio, (como) provável é ainda que algunsdos veios das fontes (776) aumentados (777) de fora, afrouxem (778)

e desbordem as águas, em vez de as impelir, pelo leito natural,até à fonte (779). J~ forçoso qne (os veios) sejam abastecidos (780)

na maré alta (789, E se, como assevera Artemidoxo, o fenómenoda prêa e baixa-mares (782) é parecido à inspiração e expiração,(o mesmo) ocorreria com as águas correntes (783), as quais, poruns condutos, a cujas bocas chamam fontes ou mananciais, vêmnaturalmente à supeifície (784) o, através de outros, são arrastadas

(770) O texto tem i. e., «insalubridade dum lugar, mau odor» (cír.

Isidro Pereira, o. e., 5/v.); contudo, Schulten traduz por falta. O vocábulo parece quenão comporta a ideia de escassez.

(771) À letra: prevaleceu.(772) O texto diz Àcuaca,íov, gen. de ÀaKKatoç que já de si quer dizer: de

ci.ster,,a.(77~ 1. e.,: «da antipatia».(774) Ou: como entre as coisas dificeis.(775) Cir. o esquema o~Srwç ~xctv com o latino: se habere + advérbio.(370) O texto diz só: injyaíwv7 i. e., (das veias) mananciais ou de fontes.(777) Note o part. aor. pass. vortcOeíuas- (do v. vor/~oj, «humedecer, molhar»)

no acs. plural feminino.(778) O texto diz xavv0000at, inf. pres. pass. de xavvo’w «abrandar, afroixar».(778) À letra: e dão às águas mais o desbordo para os lados do que (as) empuxam

através (ou: segundo) o antigo leito, para a fonte. Note a expressão: 7TapÓKXvcLv6t8o’i’a~, i. e., dar o extravasamento, extravasar, por consequência. O único ex.’registado por flailly, relativamente a~ (do v. rrczp&Xcn, de 7rap~ ++ JK + x~w) é este de Estrabão.

(780) Noríreaoat, i. e., ser alimentado de água. O v. significa prõprianiente «hu

medecer, molhar)).(782) A letra: transbordando o mar. Note o gen. absoluto, com valor temporal,

e o emprego de onda por água do mar.(782) À letra: o que ncontece acerca das marés vivas e mortas...(783) Ou: haveria (ou: poderia haver) alguma (inspiração ou expiração) das águas

correntes.(788) Ou: têm o seu escoamento, por natureza, até à superficie.

88 - III, 5. 7-8

para as profundidades do mar. (Diz) que levantando-se o marde modo que haja preamar (785), sempre que se dá a, 1301 assimdizer, expiração (786), (a água) abandona a sua via natural, parade novo voltar a clii, quando o mal retrocede (787).

8. Não sei como é que, dizendo Possidónio que os Fenícios nodemais eram argutos, nisto lhes atribui mais estupidez que sagacidade (788). Sem dúvida, o dia e a noite medem-se pela rotaçãodo sol, estando este já abaixo do horizonte (789), mostrando-se jáacima do mesmo. Segundo ele, o movimento do Oceano tem unicurso como o dos astros (790), com um período diurno, um períodomensal e um período anual, de harmonia com a lua. É que, quandoesta percorre (799 acima do horizonte a extensão dum signo doZodíaco, o mar começa a subir e a invadir a terra, como se podever (792) até que a lua alcance um meridiano (793); ao passo que,quando o astro declina (795), de novo o mar retrocede pouco apouco (795), até que a lua dista do seu ocaso um signo do Zodíaco.Em seguida (o mar) permanece nesta situação tanto tempo quantoa lua demora a alcançar (796) o seu próprio ocaso, o ainda mais

(785) À letra: e que aquele (o mar) levantando-se (tanto) que trasborda... o v.

~jpq1vp&s quer dizer: ((estar preiamar, trasbordar» (cfr. Isidro Pereira, o. e., s/vj(786) Ou: quando se faz como que a expiração. Note a temporal-eventual.(707) À letra: e de novo (a água) se retira para o leito próprio, quando também

o mar toma a sua retirada.(780) Ou: reconhece nisto mais a estupidez que a sagacidade deles.

t’80) Da terra, diz o texto. Note os genitivos absolutos: 5wroç b~Àiov). estandoo sol e #atv0P~~’0hJ9 mostrado.

(700) A letra: apresenta um caminho (ou giro ou revolução) semelhante ao dos astros.(781) «‘Y.~.ep~xw quer dizer: «elevar-se acima, nascer (referido a astros)» (cfr.

Isidro Pereira, o. e., s/v.).(709 À letra: perceptlvelmente visivelmente.

(“9 O texto diz tão-só: ~t~p’ jicuovpav7~J€W~~ i. e., até à chegada (da Lua)ao seu meridiano.

Note que o verbo jicaovpavJo) significa ((alcançar o meridiano)>.(704) Note o genitivo absoluto.(701) Ka’r’dÀtyoV. diz Estrabão.(704) O texto diz: durante tanto tempo quanto (= durante o qual) a Lua se aproxima

do próprio ocaso.

III, 5, 8 89

tempo, tanto quanto girando (~97) abaixo da terra a Lua se afastado horizonte o espaço dum signo do Zodíaco. Depois, (o mar)sobe de novo até (a Lua) alcançar o seu meridiano inferior (798),

para retroceder (709) de novo, até a Lua, avançando para o nascimento, distar do horizonte um signo do Zodíaco.

O mar estaciona, até que o astro se ergue (800) acima da terraa altura duma constelação zodiacal, e volta a subir (801). Talé o período diurno. sogundo ele (802). Quanto ao período mensal,(diz que se verifica), porque as marés (803) maiores ocorrem (804)

por altura das sizígias (805), Depois diminueni até ao quarto crescente (800). Sobem outra vez até ao plenilúnio, baixando novamenteaté ao quarto minguante (807), Outra vez sobem até à lua nova (808)

(seguinte) As subidas s~o maiores tanto em tempo como em velocidade (809). Quando aos períodos anuais (810) diz que se infoimoncom os (laditaflos (911), os quais diziam que é sobretudo durante

(~7) ,civ,jOetaa, i e , Lendo siclo mo’ ida(‘09 À letra Ate a chegada (da Lua) ao seu meridiano, abaixo da terra

Meuovpdin7p.a quer dizer «situation d’un astre parvenu au meriden» (cfr Baifly, oe, s/v) Vem do Verbo /acuovpavJw. de jcJaoç, meio e o,)pavóç céu

(~~9) O texto assinala mais unia oraçao mnfinitiva que ainda depende de ~>ja(, quase

no principio do paragrafo(900) Merewpca&fl~ 3 pessoa do singular do aor conj na passiva do verbo

i o , «elevar no ar» (cfr flailly, o c , s!v)(001) Ou e que de novo sobe Note mais outra oraçao infinitiva Estrabão continua

a citar, alias a transcrever as opiniões de Possidónio(90.1) À letra (Po~sidonio) diz que este e o periodo dum dia(00S) ,raÀippotcci~ m e • os fluxos e refluxos(BOi) yvowrcu. são feitos, nascem(009 ~ diz o texto quer dizer as conjunções dos astros(000) ME’XPL ~xoro’/.tov i e, ate a metade da Lua, i e, o primeiro ou ultimo

quarto (cfr l3ailly, o e, s/v) AixSrojzor9 de Slxa~ ao meio, em duas partes, r6po~.cortado, do verbo r4ww. cortar

(007) ~~>ç 3ixoTd,aou ~Ocv’dSo~0 i e • ate a metade da lua consumida Rela

cionar ~Otm’aç com o verbo ((consumir, gastar»(000) Ou neomenia O texto diz a~~i5uetç, i e , as subidas do mar.(009) À letra (diz) que as subidas se tornam maiores não so em tempo como ainda

em rapidez(SiO) Note o acus de relação

(a”) Note a construção dc 7~uO~gOai, môn. aor. do v. qrvvOívw que rege acusa-

E90 m. s, a

os solstícios do Verão (812) que as baixa e preiamares são maiores (813), Supõe ele que (as marés) diminuem desde os soistíciosaté ao equinócio (do Outono), e que sobem até aos soistíciosdo Inverno. Em seguida diminuem até ao equinócio da Primavera.Novamente aumentam até ao solstício do verão. ; Sendo estesos períodos de cada dia e cada noite; subindo e baixando o marduas vezes por dia e por noite, e isto com regularidade (814), comoé possível que muitas vezes o encher do poço coincida (815) comas marés vazantes, e raro a exaustão (do mesmo)? Ou (esta sedê) com frequência, mas não com tanta (816) ? E, se (ocorre) tantasvezes, (como se explica) que os habitantes de Gadira não tenhamsido capazes de observar (817) isto que acontece todos os dias,e, sim, os períodos anuais por (fenómenos) (8)8) que ocorrem urnasó vez por ano? i\ias, que (Possidónio) lhes deu crédito (819),

deduz-se (820) do facto de ele supor por seu turno (821), que asdescidas (822) e subidas do mar sucedem de solstício a solstício,

tivo e genitivo; aqui aparece com genitivo de pessoa regido de ‘zrap&. o que é normal(cfr. P.’ A. Freire, o. e., p. 210. obs. a). Gaditanos, à latina, são os Gadiritas, ~grega, do texto.

(818) Ka.’rà OE~Wa~ rpoiràs’~ durante os solsticios estivais, O voe. ‘rpoir4

significa em principio, «volta, mudança, fuga)> (cfr. Isidro Pereira, o. e., s/v.).(833) Ou: aumentam. Note a completiva regida de d,ç + opt.(814) TEray(.dvwsl i. e., ordenadamente. A tradução literal desta frase o giro da

qual é difícil trasladar literalmente para português, é esta: subindo e baixando o mar,duas vezes, e ordenadamente não só com tempos diurnos mas também nocturnos...

(855) À letra: suceda no mesmo tempo...(8)8) O texto diz iucíKLç i. e., «um número igual de vezes)>.(81?) O texto diz: ~r?~ L,cavoz~ç yEv~uOaL rqpijuat. i. e,, não tenham tornado

capazes de observar...(818) Nole o complemento circunstancial de causa (a causa.origem) em genitivo

regido de &; compare com o latim que, em idêntica circtinstãr’cia, usa abl. com ex.(vide P. A. Freire, Grarns’ Latina, pág. 175).

(819) Note a antecipação da subordinada completiva e o dativo az3’rotç regido por

lrw’TEv’Et, acredita, dá crédito.(820) O texto diz 3~~~03’ (sc. roB’rd Ju’rtv), isso é evidente...(821) À letra: devido ao que supõe também. Processo braquilógico equivalente a

este outro: por causa das coisas pelas quais supõe também ele...(881) .M’cíwuo~, i. e., diminuição.

III, 5, 8-9 91

e que depois, novamente, umas e outras (823) voltam a variar (824).

Contudo, não é verosínul que, sendo eles (bons) observadores,não tenham visto o que (realmente) acontecia, e hajam acreditadono que não sucedia.

9. Possidónio diz que Seleuco, oriundo das margens do MarEritreu (925), afirma que nestes fenómenos existe irregularidade ousemelhança, em função das diferenças dos signos do Zodíaco.Com efeito, quando a Lua se encontra (826) nas constelações equinociais, aqueles fenómenos, diz, são iguais (827), ao passo que,nas constelações do solstício, existe irregularidade, quer nonúmero quer na velocidade (das marés); nos signos intermédios,existe irregularidade ou regularidade (828), consoante (a Lua) seaproxima dos solsticiais ou equinociais (829). Ele próprio nos dizque, encontrando-se, no solestício do verão, por altura do plenilúnio, no templo de Héracles em Gadira, sõmente vários dias (830),

não pôde (881) observar (882) as diferenças anuais. Todavia, durantea lua nova daquele mês, foi-lhe dado observar, em tipa, umagrande diferença na subida (833) do Bétis, em relação aos anteriores,durante os quais nem chegava (884) a metade das arribas, ao passoque, então, a água subiu tanto que os soldados fizeram aguada (835)

(823) 1. e, as subidas e as descidas.(824) À letra (tornam-se) retrocesso.(823) Ou tão-só: o do Mar Eritreu.(826) Note o genitivo absoluto com valor temporal.(827) À letra: os fenõmenos igualam-se.(828) O texto diz só: &vaÀoyla, analogia, relação.(820) Koa-à ,-os~ç uvvcyytajtoós-. em relação às aproximações (da Lua). Bailly

assinala este vocábulo neste passo de Estrabão.(830) ,i-À€lovç i3~t/pa~, i. e., durante numerosos dias.(831) 6t$vaaOat, inf. pres. de Sóva/xt, poder.(811) O texto diz CVVEZV&t, inf. aor. act. de cuvínju (entender) e não inf. pre

sente do v. como à primeira vista possa parecer.(833) Ti7ç &vaKo,ri~ç, i. e., do refluxo ou «eau qui séjourne aprôs une inondation»

(cfr. Bailly, o. c., s/v.).(834) c”/3pc~e, diz o texto: trata-se do imperfeito de flpe~~w. i. e., «molhar, hume

decer)>.(881) O v. na média quer dizer «prover-se de água» ~cfr. Isidro Pereira,

o. c., s/v.).

L92 m, 5, 9-lo

aí mesmo (e lupa dista do mar cerca de 700 estádios). Inundando-seas planuras à baixa-mar uns 30 estádios para o interior, durantea maré cheia (839 e de tal modo que se formam até ilhas — diz(Possidónio) que mediu a altura da base do templo de Gadirae a do molhe que fica em frente do porto, e que nem (sequer)estão cobertos com dez côvados. Ivias, se se acrescentar o dobrodisto, durante marés acaso mais altas (837), (nem mesmo) assim,diz, se obteria a altura da maré viva, que aparece (838) nas pia-miras. Escreve-se que este fenómeno é comum a toda a costaoco 4ioa. Mas este (Possidónio) assevera que o que se passa (830)

com o rio Ebro é novo e singular, a saber: que sobe sem chuvanem neve (840), quando as nortadas (833) são fortes e que a causaestá no lago através do qual ele corre, visto como as águas dolago são arrastadas pelos ventos.

10. (Possidónio) escreve que em Gadha existe também umaárvore, cujas franças se fleetem até aochão (842) e que frequentemente apresenta (843) folhas com a forma de espadas (844) de unicôvado de comprimento e quatro dedos de largura. Nos arredores deNova Cartago, uma árvore, diz, deixa extrair (845) dos acúleos umafibra com que se fazem os mais belos tecidos. Também nós encontramos (840) no Egipto uma (outra) semelhante à de Gadira, nodobrar dos ramos, mas de folhas diferentes e sem fruto (837) —

(838) Pela maré cheia, à letra.(037) 1Tapaií~7Jt~ i u «accroisseiflent par tpposition augment ition (vicie Bailly

o c s/v)(038) A letra que oferece a grandezi di cheia nas planuras(838) A letra o (c’tso) do rio Ebro(840) Ou com efeito que tnnsbordi muit is ~ezes sem chuvas num nuvus(041) Ou os ventos do norte Observe se a temporal condicion ii(84 ) A letra que tem os ramos curvidos para o solo(043) Ou tendo(044) Comp gc#oec3i~s com x,fóide (cfr -ipendice xifoode)(04 ) O texto diz a#icvaL i e «linçar arrojar deixar escipar emitir » (cfr

Isidro Pereira o e s/v)(046) OtSa,aev ; e vimos E primeira pessoa do plural do pref oi8a sei

tomado na acepção primeira de ver Cfr com o ior EiSov (lat vidi) Repare se undaque o atico diz Zu~aev otSa1aev era contudo q forma di KotvYj

(047) Ou diferente nas folhas e nao tendo fruto

111, 5, 10-11 93

o que, diz (Possidónio, a de Gadira), tem — também na Capadócia se fazem tecidos (848) de fibras espinhosas, mas não é nenhumaárvore que dá o espinho, de que (se extrai) a fibra, pelo contrário,um arbusto (849) rasteiro. Acerca da árvore de Gadira acrescenta-se ainda isto (850), a saber: quebrando um galho (861), correlátex, e, se se cortar uma raiz (852), produz-se uni líqmdo vermelhocomo o zarcão (883) Tal (é o que se diz) acerca do Gadira.

11. As (ilhas) Cassitérides são dez e jazem perto umas dasoittras, para o norte do porto dos Ariabros no mar (854). Umadelas está deserta; as demais, habitam-nas homens de mantonegro, que vestem (855) túnicas até aos pés, cingidas pela alturado peito (856), e eammham com bordões, à maneira dos Eríniosda tragédia (grega) (857). Na sua maioria vivem da criação do gado,como os povos nómadas.

Além disso (838), têm minérios (859) de estanho e chumbo, pelosquais (860), bem como pelas peles (dos gados), trocam com osmercados es vasos (861), sal e objectos de bronze (862). Ao princípio

(848) I5CfrQ.IVETUL. i e • se tecem(Mi) Bo-rdvrj quer dizer «erva, pasto))(850) Ou à arvore de Gadira narra-se mais ainda isto(i51) Note o genitivo absoluto ,cÀd&v d~,-o,cÀw1ac’vou (part pres mcd pass

do v &ll-oKÀdco, no gen)1 »9 4í~,1ç TEfLV0fLJVfl~ gtil absoluto com ‘aIo, ond ,ciona 1t~’’i À Ieir-i uso miolo OU ,,iicao) liquido

• 1 ]lEÀa). ~ ~ diz o LexiO i e niaritiiila ~

i Ev~ e8 uxdre ~ 11am pI o rol masculino do pau i i asj i~ o de b’8 ów testil(586) HEp’c ‘rà cr~pva tanto se pode traduzir por a volta da peito como por —

po’ aluna do peito Note-se ainda o plural pelo singular(857) Ou semelhantes as Erinias tragicas (= da Tragedia)(8~8) 4? diz o texto e(8*8) pJraÀÀov tanto significa ~nnia como ,nine,io ou nwtal(850) Ou tanto por estes como pelas peles(800) xdÀKw,La~ entre outras muitas acepções, tem a de «,ase pour garder (e via»

(efr Baully. o c , s/~ )(062) ,cípa~ao~~ «todo o objecto de cobre ou bronze)) (ibidem)

-

94 iii, 5, 11

só os Fenícios de Gadira (863) exploravam este comércio (864), porqueocultavam a rota a todos (os demais). Um dia que uns Romanos (865) seguiam de perto um (destes) navegantes (866), para conhecerem aqueles mercados (867), o marítimo, por zelo nacional (088),

adrede atirou o barco para um baixio, arrastando para a mesmaruína também os que o seguiam. Salvou-se, porém, do naufrágioe recebeu do governo (860) o preço (870) dos carregamentos queperdera (871). Todavia os Romanos, depois de várias tentativas (872),

acabaram por descobrir (873) a rota. E quando Públio Crassochegou aos seus territórios (874) e soube que os minérios se podiamcavar (875) a pouca profundidade e que os homens eram pacífico~,deu a conhecei pormenorizadamente (876) tal navegação (877) aos

(fl3) 1. e., (saidos) de Gadira. Trata-se dum lugar donde, para se frisar a ideia de

transacções comerciais feitas através do Oceano pelos Fenicios que partiam de Gadirapara as Cassitérides.

(864) c’piropía. em princípio, significa, «cononoerce par ,ner» (cfr. Bailly, ibidem,

sjv.); comércio marítimo, pois.(802) ~pó~rovre~~ part. pres. com valor causal.(886) Ou: seguindo de perto os Romanos a um certo navegante. NaóicÀrjpoç

significa também «armador ou proprietário dum navio; piloto, arrais» (ibidem).(867) 8irwç ... yvotcv; oração final com o verbo no optativo. Trata-se do optativo

aor. do v. ytyvcbuiccv.(808) O texto diz tão-só: #Q~»°. por zelo.(802) O texto diz &~soaia, i. e., em nome do Estado, püblicamente.(870) Notar que ~ além de honra, comporta a ideia de preço, valor.(071) Note ~y, gen. de dn-/flaÀ : o prefixo dird exige essa construção, que implïca

a ideia de esbulhamento de, lançar de...(872) ~ (part. pres. de 7rE(p~fta( experimentar) ,roÀMictç,, tentando

muitas vezes.(873) O prefixo j,c que está em ~g4ia6ov (3.1 pessoa do plural do aor. segundo

do verbo &~avO4,<z, saber (= ter aprendido) por experiência, cfr. Bailly), é que nosautoriza a traduzirmos desta sorte.

(074) &a/3ag j,r’a~roós’, i. e., tendo passado até eles.(Ofl) Note-se a oração participial ~skaÀAa o’pvrro’j~Eva dependente de ~yvw.

i. e,, que os metais se cavavam.(876) & ~rEptoclaç , i. e. à profusão.(877) Este mar, diz o texto.

III, 5, ~ _____________

que a queriam praticar (878), conquanto fosse maior que a viagematé à Britânia (878)

Tal (o que há a dizer) acerca da Ibéria e das ilhas que ficamsituadas na sua vizinhança.

(870) Note a expressão Jpyí~eaÜat OóÀaucav i. e, «pratiquer la mer comme

marchand ou comme pécheur» (cír. Bailly, o. c., sfv.). Parece que não será de excluiresta ideia neste passo, já que J,re’6ecEe (aor. act. de ~rt&EíKvv/.u), em principio,significa <(mostrar! explicar, expor abertamente» e rege também, regra geral (não sempre, claro), oração infinitiva. — que nos parece se poderá ver, desde que se entendaque ~O~Àovatv, (dativo plural do part. pres. de ~Oe~Àw) como que é sujeito de~1TL6€ÉKVV/2t

(078) ‘rfg 8tetpyoúaijs’ (se. OaÀórnjç). do que o mar separado (de nós) até

à Bretanha.Trata-se do segundo termo de comparação; 8tetpyo’iays. gent. singular do part.

pres. do v. St€lpyw. separar por um obstáculo (vales, braço de mar, etc.) (vd. Bailly,o. e., dv.).

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CAPITULO 1

§ 4.° — Corays, transcrito por MüIler (vide Strabonis Geographicarum Tabu]ae XV,vol. Ii, p. 951, Paris 1858), numa nota a este passo diz raw; ~y4’paTrro ¶ÓÀULTOZS ‘r,7ç Arflv’~yç ~ TOZS’ irpd ‘n3ç A~flzh7ç, i. e., <(antigamente tanto se escrevia‘roEç r~s At/31hç (com os [cabos ou extremos, ?r/pacrt segundo o mesmo Corays]da Líbia) como T0ZÇ ~ Tí~S Atflv’i~s’ (com os [cabos ou extremos] em frenteda Líbia).

Müller acha o passo tão escuro que exclama: «~Era~ópEuÜaL quid velitnon assequor; fuisse puto ~craaTp€’çbEcOaL», não abranjo o significado de,LLETt2ØE’pEaOcLL (neste ponto); julgo (por isso) que (devesse) serMe’raa’rpí~ecrOat. mudar de um lugar para outro, em vez de ~era~JpeaOat;na verdade, mais de harmonia com as versões que se costuma dar a estapassagem. Xilandro, autor de outra edição critica, sugere a’rt’4€aOar, fazerlibações, em vez de arpc’~EaOat que dá Schulten na sua edição critica, Além dasanotações aos velhos ØTP€t#ECOUL e ~ETa#JPECO&L. acerca dos quais existem asmaiores discrepâncias, convirá aludir ainda à forma, assinalada por Schulten comasterisco, que nesta edição, por que nos guiámos, encontramos grafada u,yop~o7rot~7uapSvwv que vertemos por depois de [os forasteiros] fazerem uma libação. (No contexto exerce a função de agente da passiva). Acerca desta forma as opiniões são as maisdíspares. Corays e Meinecke sugerem u,rov8ov’oi,jaa~aJvwv, lição aproveitada porSchulten. Gronovius lembra ci3~o~ronjuapJvwv Ou E15!(&Ç 2rot71aafavwv, depoisde fazerem preces. Müller propõe a leitura ~ev8ono a~aJvcrn’, pelos que fingem.De tudo o exposto, resulta que as opiniões divergem e que, por consequência, o passoé escuro e traduzido de diversos modos, por certo sem se acertar com o sentido primitivo do texto.

Müller e Meinecke propõem J~t$afz’ctp (subir até...) que nos parece melhorliç~o que a de Sculten

§ 5~o — Em lugar de & ‘,5óÀwv, através de vidros ou pequenas lentes de vidro(jaAos, em principio, é toda a pedra transparente, cír. Bailly o. e.), Müller dá avariante & ‘a~ÃeZv, i. e., através de tubos ou canudos.

§ 9~o — Existem outras variantes. Müller propõs a leitura A0OK€p 8ovflüw,Luz dúbia (como quem diz a luz indecisa do poente que atira a tarde para a noite, asclaridades, que se extinguem, e as penumbras, que se adensam, para as trevas da mestranoite). Outros lêem AoD,cçt SsflivaM (sie), «quum hoc nomine Veneris planetaeeultum fuisse constet», já que consta que ao planeta Vénus se tenha rendido culto sobesta invocação» (vid. o. e., p. 951).

Müller acerca dos dados ~2~KovTa •.. c’Kwràv ... Jfl~o~n5tcovrca ... que ele

100

próprio incorporou na sua edição critica, diz que estão errados e que se deveriamcorrigir para JØwr~v ... &?5Icovra . .- jfl8o1rn~icoirra ... (aliquatenus rectiora baberes, si legeres, até certo ponto, a coisa estaria mais certa, se acaso se lesse...). Acrescenta que os números os foi buscar Estrabão a qualquer autor de Roma, mas fé-lomuito errõneamente (hi numeri e Romano auctore perfil pessime haben!). Contudo,Punho—que herdou muita coisa de Varrão, que por sua vez em números, extensões,comprimentos, latitudes... seguiu provávelmente a Agripa,—dá os números seguintes:126 mil passos do Cabo Sagrado ao Guadiana e 102 mil passos do Guadiana a Cádis.«Quare fieri potest ut Strabonis numeri refingendi sint in hunc modum». É por issoque é possivel deverem os números de Estrabão tornar-se desta seguinte maneira:[jKwr6v Ka~] ~‘ ICEI1 EZKO&L (i. e., 126) ... je~Kovra [7re’wre (i. e., 65)Jn Prà tcai rpcd] KoflEI Ci. e., 37). Hipótese engenhosa, e com algum interesse,talvez,

CAPÍTULO II

§ 2.’— Também acerca da distância Munda-~arteia há discrepâncias. Kramer.citando Müller, diz: «Strabonem scripsisse arbitror rpuíKovra ICEIl rp.~ unde, A inA mutato. alter error ortus est; alteri siglum Sex praeeedenti aliqua ratione ansam dedit.Abest enim Munda a Carteia 400 fere stadia,,, julgo que Estrabao escreveu ‘rpufKovTa.cai rp. (330 ou tão-só trinta e trinta?), do que, mudado o A em A, resultou um erro;e a sigla S devido ao 5 precedente deu origem a um segundo. Sem dúvida, o Mundadista de Carteia à roda de 400 estádios (o. c. pp. 951-952).

§ 3°—O códice dá ~aI ?)L&’a~ [ou: ,~~~poç?] ~ &v&rÀovç, a navegaçãoda costa (ou: [ao longo das] costas ou arribas, logo, navegação ribeirinha).

§ 4~0 — 7Tp~ 7(2)7) ¶0TEIfUZV~ segundo Kramer, deveria ser banido ou suprimido(e inclusa ejicienda esse notavit 1Cr. »—diz MUlier, as palavras entre parêntesesdeviam ser suprimidas, notou Kramer. o. c., p. 952).

§ 5.°—No texto de Schulten temos 8tccpyr5j.tcvar iS,r~, ao passo que o de•Müller, que segue Corays, apresenta a lição &€tpyovóva~ 4n6.

MüIIer diz icei ,r~wro~ç air€pya~o~~va~ [,rÀ,~taç] i. e., tornando-os aténavegáveis. Os códices AUC dão ical ,rÀw’r&’~[1aO~s&v?].MtilIer acrescenta: «Quum optimi codd. ~rÀwr~v habeant, Meinekius suspicatur leg.:,rÀw7àv Erà çrESlov]», conquanto os melhores códices tenham irÀwrav (navegável)Meineke [contudo] suspeita que deve ler-se: ~ ,re8tov] (campo navegável). E acrescenta logo: «At seqtlens genitivus co potius facit ut putemus pro 7rÀwràv ohm fuissc

wn~v, turbasquc ortas esse ex male conliatis scripturis, quarum altera erat:,..,rA,~saç,r&v 8tctpyo’vTWV to~S iTó~OVÇ IUOfL~V TTÀWT&V jnetpyaa~LJvwv,altera vero : 8tetpyojsJvous 7~,1a T~V IJOfLÕJV roèç 7T4OV~ 7rAwrot~ç dnpy~aaapSvat». i. e.; Porém o gen. seguinte faz, antes, que pensemos tcr sido antigamente ,rÀwr~v em vez de ,rÀwr3v e que a confusão nasceu de redacções malforjadas, uma das quais era as inundações, tornando-se navegáveis os istmos que

101

separam as passagens (ou comunicações); a segunda, porém (seria): depois de tornaremnavegáveis as passagens separadas pelos istmos.

De tudo o exposto, fàcilmente se deduz que o passo, até certo ponto, está sujeitoao capricho das interpretações, uma vez que os cõdices não reproduzem fielmenteo texto primitivo.

§ 6.0 — Groskurd pensa que existe uma lacuna e que deveria ler-se vi7v 8≥ lipiaj,taÀÀov [KaÀÀIW] ‘r&v icopczeuc&v: actualmente a lã é mais [bela] que a dosCoráxios.

Müller e Schulten não adoptaram, porém, esta lição. Em lugar da leitura de Schulten& TroÀÀarrÀaaLduEwç, Müller apresenta estoutra &,roÀÀa,rÁaamauts- que metedentro do parêntesis.

§ 7.° — Corays propõe Àtjzvaa(av. ãgua estagnada. Porém, Galeno, cd. Kuhn, mostra que correctamente deve ser yujtvauíav. «At recte legi yu~zvaaíav osteadit,Galenus. ed Kuha. v. 6, pãg. 709: Kwrd ‘yap GLW2TflÀ’~V Ica~ dKó/LoVa(OdÀÀaJaV,

2~ uàpf yíverar -rc~v i~<Oówv &r43 Ko.L &yvfwau-rorc’pw’. Porém,Galeno mostrou que rigorosamente se lê yuf,waaiav, ed. Kuhn. v. 6, p. 709: semdúvida, num silente e tranquilo mar a carne dos peixes torna-se (tanto) menossaborosa (ou pior) quanto mais «inexercitada» é.

Kramer não concorda com a introdução da partícula apa e diz: <(seda 4a, nemiaiplacebit: malim ~,‘<~ç» a ninguém agradará (a partícula) Jpa~ prefiriria ~ E Müllerescreve: <(Ego Polybii verbis, quae ob oculos Strabo habuit, insistens legi velim:EZ7TEZV TE ~rapeZvat OaÀó’rrtov>,: Quanto a mim, atentando nas palavras dePolibio, que Estrabão conheceu, prefirirei que se leia: diz-se que existe um (cerdo)

marinho... (o. c., p. 952).

§ 8°—No texto de Müller lê-se d pó77o9 e acrescenta: «corruptum esse recte censent interpretes», os comentadores julgam com acerto que (o passo) está adulterado.

Depois de uma série de considerações judiciosas e atendíveis, acaba por dizer...:<(nullus dubito guia lacuna potius subsit huac in modum explenda...», não duvido deque existe pelo contrário uma lacuna que deve ser preenchida dest’arte—(Segue-sea correcção muileriana do passo).

‘Estamos caídos noutra passagem do texto estraboniano, acerca do qual as opiniõessão várias e controversas.

§ 9•0 — Müller tem lrpouSoKcbsTwv, fazendo, portanto (ao menos, assim ojulgamos),um genitivo absoluto. A verdade, porém, é que nos parece que 1rpou3oIc&~raç. dotexto de Schulten, concorda em género e aõ,mero com dvOpoS~rouç, e até porque existeuma or. comparativa, conquanto hipotética ou condicional. De resto, segundo as próprias palavras de Müller, outro grande critico, Meineke, seguiu a lição dos códices:«codd. lectionem tuetur Meia.» (o. e., p. 953).

Topamos com outro passo acerca do qual as opiniões são as mais controversas.Schultea entendeu ,-à~’ [8~] Àóyov, ao passo que Müller leu i-c3p 6dÀov, artifício.

Outra variante: ‘r3v 8J Ào’yov~ Cas, Siebenk, Cor.; ‘rà ~‘&Àov, Sealiger que

102

pode significar absolutamente, completamente; rà 6~ Àocrr3v, 1Cr. aproximadamentecom o sentido da expressão anterior, acusativos de relação e não sujeitos de €jvatr6v 8’6Àflov leu Corays, o resultado, o lucro, que nos parece ser boa leitura; Meinekeera de opinião que o passo deveria redigir~se: (Meinekius in Vind. Stra. p. 20 legendumputavit:) reis Aiyvwr1o~s dvavrÀoóvrwv KoxÀíaLç r3y OoÀo’p. Ou rai}r3$‘dvar rotírots r~ d [Ãos] ,ca~ rois ‘A-rrucoiç, esgotando água turvacom os tornilhos( bombas em espiral) egípcios. Mas que (o tomilho egípcio?)não tem o mesmo fim entre estes que (possui) entre os Áticos>) (vide obra citada, p. 953):Müller, cremos que com razão (os arqueólogos têm neste caso a palavra) discorda destaoriginal interpretação: Scaliger propõe i-3 8’~8Àov, o prémio, a recompensa! Müller,comentando esta interpretação escreve: verba TON 40/ION manu levissima mutandasunt ia TO 4’A&AON, r3 3’~OÃov. Ide,,,, inquit, utrisque labor, sed “vii ideia

laboris preetnium». As palavras rày 8dÀov, o artifícïo, mão subtil as deve ter mudadopara 7a 8’~OÃov, o prémio, a recompensa. Ambas exercem a inerme actividade, diz;porém o lucro não é igual. E acaba por não resolver o problema da melhor maneira.O passo fica, por consequência, escuro. Schulten e outros entendem que Polibio dizque os Turdetanos são mais felizes na sua exploração que os Áticos. Nós assim entendemos; contudo, a palavra pertence aos arqueólogos, que não presumivelmente aosfilólogos e classicistas.

§ 12.° — Existe também a lição c’u~círqv atcovE u4ri5v~ ouvir dizer qt’e é iMtima(a extrema).

§ 14°—Além de #drvatç há quem leia (com mais acerto?) #~dÃcitç, de taças.Outros lêem voj.uaüivai, foram julgados.Tudo que está entre colchetes aparece no texto estabelecido por MilIler; sem embargo,

«utpote glossam, ejecit Meineke; postrema tamen bror 8€ rap’n)uaóv etc., fortasse in p. 123, 9 transponenda esse suspicatur» (o. c., p. 954), como escólio que são,Meineke suprimiu-as (na sua ed. critica): todavia, as últimas palavras ~pro’ 8~rapn-jaao’v (o que aliás fez Schulten) suspeita que se devem transcrever.

Todo o passo é controverso. Mül[er transcreve as palavras de Corays que escreveuem grego: «~H o~lrw I-LS & ~o’4aet€ rà roø ‘Avatcpiov’ros, «Oõ floóÀofhat~3aurÀ€aDat Zcov r43 ‘Apyavüwvíq., ,-cZ ~uavrr pa’ irfl» 4 &7rÃoliurepov «o,3floõÀopat iroÃz)v y~póvo~ flactÀe&rar n~ç rapr~7caoO’>~ (o. c., pág. 954)).Aquele (passo) de Anacreonte há-de entender-se deste modo: «não quero reinar tantoquanto Argantónio que viveu 150 anos»; ou mais simplesmente: «não quero governarTartessos durante muito tempo)>.

Há ainda outras várias lições do passo, que não transcrevemos, porque se ficambem numa edição crítica, podem e devem omitir-se numa tentativa como anossa. Sabemos muito bem que aos estudiosos da Geografia clássica interessa sobre-modo uma versão o mais fiel possível; contudo, quando as opiniões divergem tanto,melhor é seguir aquela que fez mais calreira ou que parece ser mais feliz.

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CAPITULO III

§ 1.0 — eEKpoÀaL, Müller, saídas.MulIer tem a-rd8tot 3’cia? 8&a.,, os estádios são dez. Repare-se que

Mtiller assinala uma lacuna. «Corays qui deinceps pro corruptis ardBtor 8’ei cri 8&ascripsit g,-cf3~o,. &a,<o’o-tot ~ quum tot fere sint stadia a promontorioBarbario (Cabo Espichel) ad ostia Tagi. Probat haec Groskurdius» (o. e., p. 954).Cor, o qual por seu turno em vez da forma estropiada cn-cí8rot 8’cicjZ &Ica (e osestádios são dez) escreveu cr&8tot 8raKóaLoL &ica (os estádios são 210), visto comotantos são os estádios do Promontório Barbário (Cabo Espichel) ao estuário do Tejo.Groskurd demonstra isto—O passo é também muito controvertido. Depois de citarvárias lições, a certa altura escreve Müller: <(Ego haec omnia nihili esse censeo. Acprimum quidem ut continua esset orae Ibericae mensuratio, dicendum erat quotnamstadia sint a Sacro promontorio ad ostia Tagi; deinde vero eMvnÀoía vox nonpotest ad navigationem referri quae sil a Barbarico promontorio ad ostia Tagi; ibienim alia quam recta navigatio locum habere non potest; contra patet c~6znrÀoíaverbum pertinere ad rectam praeter navigationem sinus illius, quem Strabo a Sacropromontorio a (sic) Tagi ostia patere dicit (ibidem»>. Quanto a mim, penso que tudoisso não vale nada. Já que primeiro, visto como a mensuração do litoral ibérico é continua, deveria dizer-se quantos estádios são do Cabo Sagrado à entrada do Tejo; mas,em seguida, a forma €t3üvÀirola não pode referir-se à navegação que se faz do promontório Barbárico ao estuário do [mesmo] Tejo; com efeito, ai não pode ter lugaroutra [distância feita navegando] além da navegação em linha recta; pelo contrário,a palavra ei3úznrÀoía (em navegação directa ou em linha recta) é manifesto que dizrespeito à navegação em linha recta para além daquela baía que Estrabão diz se recortaentre o cabo Sagrado e a entrada do Tejo.—E continua: «Ejus vero sunt mille stadia,ará&ot A (4 codd.»>, [a distância navegando] é de mil estádios, UTá8LOL A (o códice4, 4.000).

Depois de produzir outras considerações, estabelece o texto que não seguiu, mas queSchulten aproximadamente adoptou.

E~aÀSjÇ Mtiller, fecundo, fértil. As lições são inúmeras; para elas remetemos oleitor (vd. o. c., p. 954, 2.~ coluna).

~rÀevpo~s’ Müller, lados (margens, por extensão). Schulten leu ~cíÜpoL~ que,embora servindo-nos dela para traduzir, não nos parece acertada como a leitura deMüller. Depois de outras lições Müller escreve: «ego manu levissimacorrigo tcÀetOpotsquod Meinekio quoque (vindic p. 25) ia mentem venit» (o. e., p. 954), eu subtilmentecorrijo KÀEWp0LS (nas barras), o que também ocorreu a Meineke.—E continua: «Tagus,in amplum lacum diffusus, ad ipsum exitum in angustas fauces coarctatus, quae aptissime vocaatur 7-à KÀeZOpa roD 1roTafLoi3~ sicuti Bóspori Thracii pars apudDionysium BYZ. et etiam nunc apud nautas ‘r& KÀ€tOpa Ponti vocatur» (ibidem).O Tejo, que se espalha numa ampla enseada, à sua saida é apertado entre estreitapassagem, a que com grande acribia se chama as portas do rio, do mesmo modo (cha.meu) Dionisio de Bizâncio à região da Trácia [que fica junto do) Bósporo (sic), e aindahoje os marinheiros[lhe chamam] ‘rà icÀ€tOpa, as fechaduras ou portas do Ponto.—(Relacione-se o vocábulo com ,ceÀls’-icÀet8o’ç, chave). E ainda: «Similiter Euri

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pides (Medcia 213) Heliepontum ]Tdprov ,À~3a dicit» (ibidem p. 955), cio mesmomodo Luripides, chama ao Helesponto «chave do Ponto>, (ou Mar).

Os codices dao a leitura ~,rc~Eíp,ju€ r~v &Àoutv empreendera > Os dicionarios não registam o voe que parece ser 8Àocrc9 ccvç (relacionado com 3Àoç todointeiro9) Acerca de oÀooï ja depois de escrever estas ultimas palavras temos emMuiler «In urbis nomine ex Codd scriptura oÀoat emendum erat ‘QÀtocrcircóysicut Ptoiemaeus et Martianus habent» com o nome de cidadc oAoct qtie se te nosCodices deve ter provindo de ‘oÀcoatrntiv como tem Plolemeu e Marciano (o ep 955 1 co! ) —Casaubonus emendara E’TTETEL’XLUE rwàç TTØÀELr edificou algumas cidades omitindo o antigo nome de Lisboa

§ 2 ° — Em vez de ~.a€póãv das partes que se le em Schutten Muiler tem o’pá5vdas montanhas O passo e escuro O proprio Muller escreveu «Sed quidni auctorinteiligi votuerit ia roü ‘Ava vuep,ce%teva 4j de quibus dixit p 118 29» Maisque é o que o A quis que se entendesse com (<as montanhas que ficam acima doAnas» de que falou na p 118 2’ (o c p 955) Na realidade muitos dos passos destaobra oferecem a «Jareza» destes Que os criticos compreendam ao menos as dificutdades que o nosso entusiasmo e a nossa boa vontade procurou \encer 1

§ 3 ° — roVç vflv b<o,~ Schulten e Muiler porém «fuit aut ~à vGv quodrecepit Meinekius aut ~ vov quod proposuit Corayus » foi ou os [povos) modernos,o que Meineke aceitou ou de alguns dos [povos?] modernos que propos Corays(p 955) —Contudo Muller seguiu a tiçno -,-oZç v~v

Acerca de 1avplwv traí que Schulten mete dentro de colchetes como não fazendoparte do texto Mulier que introduziu tais vozes dentro do parentese escreve (<ineptaesse post Gosselinum monuerunt editores ejecit ea Meinekius «Error ortus esse videturex voce ~fltrog male repetita» Kramer Quod non assequor tmmo quuum 3 000 stndipertineant usque ad Nerium prom legendum est ,-~ ji≥v o~v ~s~KOÇ [~tr~pcr

(sic) vel &ciç] Neptov 7-pLa~» (ibidem) os editores depois de Gosselin advertiramque [estas palavras] são supérfluas Meineke suprimiu as)> Parece que o erro tem origem no vocábulo p~~trc3~ (longitude) imprõpriamente repetido)> Kramer O que eu(Muiler) não aceito Feto conirario visto como ate ao Cabo Nerion vuo 3 000 estadios,deve ler se a longitude ate [ao cabo] Nerion e de 3 000 estadios

Hi atgumas outras divergencias ainda Remetemos pois o leitor para Muiler

§ 6 ° — Em vez de 81ç duas vezes (ao dia) Metneke propos ~Síotç peculiaresque não parece de todo fora de proposito

§ ‘~ — QjÀívoLç (sic) entrançados em forma de rede ou nialh i Outros IcemKflp&ocs d~ cera ou moles como a cera

Corays te JcEpaJaeoc& de barro e acrescenta em nota 4TEpOL ~ ~rap’4vovv

)?pát~’ELV Kepa9-ívovs’ iriúavrb’rcpov íuws (p 955) outros advertem que seleia IcEpa-rtvovs de chifre (o que e) certamente mais verosimil

Outro dos tais passos acerca do quat as versões sao dispares Muller à discussão

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do adj. dedica-lhe aproximadamente 1/3 de coluna (p. 955, 2.~ col. — p. 956, 1.” col.),Também é muito útil o que Müller escreve acerca do sago (vd. p. 956, 1)’ col.).Diodoro,—citamos Müller,—escreveu: «~opoOar 8? ot3,-ot (Celtiberi, esclarece

Mtiller). uríyovs’ fLe~Àavas rpct>~eZç ~ ~iapwirÀ~jcíov ~~ØvTELÇ r~ ~ptøv ‘ratgaL’yE10L9 Opt~ív» (ibidom), e estes (os Celtiberos) usam saios negros e grosseiros,feitos de uma lã parecida com a crina de cabra.

Em vez de qrdAewv outros lêem 7ro7-ap&v~ dos rios.

§ 8 .°~ Müller lê ddpwv, dos ares, talvez com mais acerto. O passo fica alterado.Segundo a leitura de Müller, a versão é a seguinte: é natural que alguns tendo semelhantes costumes (ou: carácter, índole) devido à magreza dos terrenos e dos ares(ou: clima)...

Müller leu 7rÀ,~v Tovt’aot, excepto os Tuíssos. Ele próprio pós objecções à sua leitura, Mais outra amostra de como é problemática por vezes a tradução conscienciosadeste texto, que sofreu tantas convulsões, que presumivelmente muitos lugares primitivos hão-de estar totalmente ou corrompidos ou deturpados. Leia-se a explanaçiio de MUIler, utilíssima ao geógrafo e historiador, acerca deste passo (p. 956, col.19 col. 2.9.

CAPITULO IV

§ 1.0 — Os códices dizem ~ a partir de.Corays suprime a preposição iv (iv ejecit Cor., diz Müller, p. 957): quer dizer

em vez de aparecer o simples dativo de posse, apareceu o dativo sim, mas regido de ir,,o que é supérfluo. Contudo, talvez possamos ver aqui a chamada tmese 8’ia~-h’ ivpor 8’ive’a’rtv Recorde-se agora que em latim o verbo messe pode reger ou dativoou ablativo com ia, Teremos neste passo semelhante construção? Os classicistas, queforem filõlogos de primeiras águas, que resolvam o problema. Simplesmente quisemossugerir que pode bem tratar-se dum caso de tmese, e então que talvez houvesse de aceitar-se o iv que alguns editores aceitam.

Este passo também foi interpretado de vários modos. Transcreve-se a redacção deCasaubonus: «ijnróp~óv ia’rt ‘roZS ‘r’iv 7~fi lTepalçt lati ‘roZç iv ‘n~ jicaoyalavel ‘ToZÇ /.Lecoyaíotç», existe um interposto entre os [habitantes] da costa fronteirae os do interior.

Os códices ABC têm ‘/~orvlinjç, da Fenicia (o pais das palmeiras).

§ 3.°~ Corays em lugar de ‘rc~v ‘rMroiv escreveu r2v ‘ro’iyLVv [,-oóTwv] [destes]lugares.

Em vez de ‘j-cDv raó’n~ de Schulten e Müller, Xilandro e os códices têmdos desta...

§ 4°—Os códices BC têm inol,~a€, o aor., mais vulgar que o imperf. «Muitasvezes na narração histórica emprega-se o imperfeito como equivalente do aoristo gregoe do nosso perfeito>’ (vd. Gramática Grega do P~° António Freire, 5. L, 3.~ cd.), p. 230.

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Os códices ABC[ têm ~»33’, o que incontestàvelmente alterava o sentido do texto,já que ~ e estes, ao passo que ot~3’= nem, nem sequer.

Os códices e os editores anteriores a Cramer, segundo MUlier (vd. p. 957, 2A col.)têm JyayEZV, inf. aor. de de que ~ é inf. presente.

§ 5.° — O período começado por ‘PwJLaroi ~e i-~ ... é lido e interpretado devários modos. MulIer escreveu: «Itaque locum ita scribi velim»: ‘Pwp~r.zZoí TE TàvKwra /LJ1fl7 7Tp3~ TOI)Ç “I,&~paç ~óÀç~ov ICaO’JKcÍUTflV araraTTovTEs’

~VvacTEiav (ibidem). É por isso que gostaria que se escrevesse (ou entendesse?):Os Romanos fazendo a guerra, território por território, nas partes junto dos Iberos...—E continua: «rei, si inv-is, J~ ,-c7j ... v-4Àçtov Ka.O’JK,jcJTl)v 8LELTÓTTELI) T&V

8vvacrEtc~v)>, enquanto guerreavam cada um dos territórios...

§ 6.°—’raøra quod codd. habent, editiones recte omiserunt; is qui ,-aO’ra primusedit, deinde etiam ~ intulit, quod edit. ante Kr. in mutarunt (ibidem). Aforma rni,-a que os códices apresentam, com razão a omitiram as edições: o primeiro que escreveu ,-a~,-a, depois inculcou ainda a forma «aí, o que os editoresanteriores a Kramer mudaram para i), a.

Em vez do abstracto 4JVfLVcIT7)TL, Corays e outros editores preferem a forma concreta e adjectiva ~pv~v &rq~ muito bem fortificada.

Corays e Meineke lêem ~ em lugar de ~eZ~oy; e com mais razão, aoque nos parece: é que o comparativo em vez do superlativo só se usa quando se (ratade duas pessoas, duas coisas..., como ensinam as gramáticas e!ementares de latime grego

«~1TEpKEL/LE’VWV ex antecedente t5?TEpKEL/L4Vfl ortum, ut jam Xilander vidit»(ibidem): ~7rEpKEt/.LÓI’Wl) (dos lugares situados acima dos suprajacentes), teve origemno antecedente TEpKEL/dV~. como já o observou Xilandro.

Corays propõe: fLaKpi rEpor S≥ -.. ,~ roo “Ifl~pos-~ e dista mais.., do que doEbro (vd. Müller, ibidem).

Xilandro, recebendo a lição dos códices, lê riçrd /Lea~pfipíag a partir do meio-dia(ponto de partida, origem, lugar donde) o que é o oposto de ~1yj ~Eo~~flpíav, parao sul (lugar para onde). Quer dizer: inverte-se o curso do rio.

§ 7,0 — «Fort. ~icfloÀ&v Jeg. esse suspicatur Kr.» (p. 957, 2i’ col.), Kramer suspeita que talvez se deva ler ~KfloÀc~v [entre as] saidas ou bocas.

§ 8.0 — Em vez de 8caxoaíovç (duzentos) de Schulten, Müller tem TETpaKW

~tÀíovç (quatro mil). Xilandro, Corays e Meineke lêem i-€rpaicorsíovç (quatrocentos). Müllcr remata com as palavras: «quae omnia sunt incertissima, quum decomputus ratione, quae varia esse poterat, non constet» (ibïdem), tudo isto é muitoincerto, porquanto o cômputo não está de harmonia com a estimativa, que podia servária.

§ 9.°— A prep. ~ Corays manda omiti-la (E~ ejiciendum monente Corayo,a parecer de Corays, ~- deve suprimir-se).

a—

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§ lO.°—Os codd. dão ,napopíaç que os dicionários nem sequer registam. Registam ~,o’toç, m. 1. irapdipetoç (note o w, contracção do a + o: a da prcp. e ode dpoç, monte, que é o núcleo da palavra). A lição /LEp~av de Schulten é a deKramer e Meineke; apresentam-se, todavia, muitas outras. (Pcrmitimo-nos, no entanto, remeter o leitor para a p. 975, 2.” col., ao fundo).

§ 12.°—Corays e Meineke lêem õ~repflaÀóvrr, dat. sing. masc. do part. aor.aet. de z3ircpfla’ÀÀw, para o que passou além de

Oroskurd lê neste passo uma lacuna e diz que Estrabão deve ter escrito:[Kai ~rap/Àvirpov. Tà 8/ Àotír6v EÇ3~L~LOY] Ka~ ,TOTa/LdKÀVJCOV», (a Ce1tibéria) é áspera (ou acidentada) [e pouco fértil; porém, o resto (da ibéria ou da Ccltiberia?) é feraz] e irrigado de rios.

§ 13°— MUlIer, adoptando a lição de Meineke, tem dTTEKapT?pfluav, 3.” pes.do p1. do aor. act., «eesser de résister, d’oü se laisser mourir (de faim) (vd. Bailly, o. e.,s/u).

§ 15°— MUIler e Meineke (((Malim cum Meinckio, p. 952, 2.” col., quase ao cimo):preferiria, como Meineke...) lêem: ,rÃ,1üdovutv dpvfotç. du~ 8~, etc., abundamem [espécies] ornitológicas; e existem...

Meineke comenta este passo desta forma: «Hae negligentissime a Strabone scriptasunt. Voluit, epinor, iraO dÀÀot~ iroÀÀoZç n~oÀÀà Jc7tv r8ta, (ibidem)»: «Estrabãoescreveu isto com enorme negligência. Quis escrever, suponho eu, como existem muitascoisas peculiares a muitos outros (povos).)> E isto devido a um processo estilístico muitodo gosto dos gregos, a que é uso chamar-se braquilogia, acrescentamos nós.

§ 16.° — Nos codd. ,-~y &TÓÇ, cm vez de ,~ ~ emenda de Schulten,págs. 75. Diz Müller: «m7ç ~IcTàÇ mavelis cum Kramero» (ibidem) preferir-se-iacom Kramer ~ ~KTc~Ç da [cosia do mar] exterior (o Atlântico).

As opiniões dividem-se acerca da interpretação deste passo. Müller para reforçara sua posição acrescenta: «Vites ct oleas in Lusitaniae ora Strabo memoravit, p. 126>)(ibidem), vinhedos e olivais no litoral da Lusitãnia, apontou-os Estrabão, p. 126.

§ 16.°—irapi~ÀOoii additum est ex Epitome (ibidem).

§ 17.” — (<Verba .n~v Te Ka~ dv8ptv ~aI ejicienda esse Groskurdius et Mcinekius censent» (ibid.), Groskurd e Meineke são de opinião que devem suprimir-seas palavras [a coragem] não só dos homens, senão que.

MUIler leu a~,-at ,-~~oüaat, estas, depois de darem à luz... MulIer lê ainda rizcrQ

ovatv KaL Àoóovatv ‘cai a~rapyavoi3atv~ têm os lilhos, lavam-nos e envolvem--nos nos panos. Contudo, MUIler, nas notas, diz: «legas iroAÀa’ctç Àoxeóowrat(ibidem), leia-se: muitas vezes dão à luz.,. Os códices têm ~ que não chega a sernada.

§ 18.°—C. Cor, e Meine. lêem ~.~-at/vtCov, entoam preces (ou soltam lamentações).

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~ ~p ~OEL ... todo este passo é discutido. Müller chega a conjecturar que tenhahavido corrupção do lugar e se deva entender jv O~5’n7 (no támulo) ouno jantar, «vel mie aliquid», palavra do próprio Mtiiler. Conjecturas que nada resolvem. Têm o mérito de agitar opiniões e de provar que este terreno é pouco seguro.Todas as cautelas são poucas, para se não atraiçoar gravemente o pensamento estraboniano.

§ l9.°—°b~ ÀaÀIUTaTOt ... yeyóvaa~v~ ut glossam, ejecit Meinekius» (p. 959):[os quais] são os mais faladores [de todos, este passo], omitiu-o Mcm. como giossa.

§ 20.° .— Outros lêem z5rr’a~roz7, por ele (agente da passiva).Em vez de «velim cum Cor. et Mein.» (ibi.), quereria em Corays e Moi

neke, p.4p-q partes.Cor, lê T~5f ~rnpaÀ~as-~ do litoral.Meineke 1eu:~( ‘r~yJLa’ros ~TtCKO7T€? d 8~ .rpbroç», [o segundo togado] guarda

(com a outra], legião e o terceiro.

CAPÍTULO V

§ l,°—BCE têm ,rvrvou’aaç• Baillly dá a forma ,oøcyaa como feminino doadjectivo ,fli-V6ELÇ-ovç; dccraa; o’ev-oz7 abundante em pinheiros.~ antes de sreÀ~y.cu está omitido no Epitome.Para elucidação do passo, que é interpretado de diferentes maneiras, haverá vanta

gem em conhecer o que escreve MUlIer (vd. p. 959, 1.” col.).3LaKouiouÇ — é aditamento de Cor.. Grosk., Kram. e Mcm., apoiando-se cm

Plinio (3, 5), que diz que estas ilhas distam entre si 30 mil passos ou 240 estádios (ibidem).Leia-se a discussão do passo no mesmo lugar.

Müller, para aclarar o passo em que Estrabão fala do vestuário dos habitantes dasBabares, transcreve Diodoro 5,17: «ro~s~ jyorKoQras yvjtvoi)~ ~ ~aO7~7-os-flroøv ica’ra n~v ToG O~povç J~pav, os habitantes [destas ilhas] andam nus,durante o verão. Traduzimos yvp.vol~ç rfl~ ~uO,~roç flioOv, (trata-se dum or.infinitiva), viver nus quanto a vestido, por andam nus. Repare-se no gen. de relação.

«Indeque Gy,nnesias insuias dietas esse» — acrescenta Müller (p. 959, 2.’ eol.), daique (estas) se chamassem Gimnésias (como quem diz iates).

Kai 7Tc,rvpaKrw/Lh)ov: Müller diz que se deve ler ), ou. Meineke leu:~ [i-fl 8≥ s€e4] TrErr•, tendo na mão direita...

Müller leu fhe2~ayKpatvas que Baitly não regista, mas que supomos ser o mesmoque (..teÀayKpavtvas, feitas de junco. Esta última leitura é a de Kramer e Meinekc,lição que Schulten adoptou.

Todo o passo de Filetas não passa duma interpolação.«Ceterum verba inclusa e margine irrepserunt» (ibidem), de resto (estas) palavras

tiraram-nas da margem e incluiram-nas (no texto).MiiHer aceitou a lição tEppapict’a (tEpjnjveta é a interpretação, hermenêutica).

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Filetas foi mestre do grande poeta alexandrino Teócrito, aquele a quem se atribuiua criação do género bucólico, e preceptor de Ptolenieu Filadelfo. Da sua poesia —

elegias e epilios ou pequenas narrativas épicas—não restam senão escassos fragmentos.Kramer propõe a leitura: ~a€iCwv [pc. dptO~i.~r] Kcd C~E~y ‘rt ‘roce ürog &coS

J ‘roü p4cou~ (ibid.) [o número] é maior e quase tão grande comoé o da Longitude. Mulier diz: «Legendum puto: Jnccrri vel SLE’UTI7ICE vel&a j.t€ZZov» (ibid.), julgo que deve ler-se: dista mais... Os v. grs. significam todos distar.

No fim do parágrafo 4 existe uma lacuna que os vários editores explicam cada uma seu modo.

R~neLemos o leitor para a p. 959, 2.~ col..Em lugar de z5~J’flpxE, os editores antes de Kramer e ainda Casaubonus têm

aor. de ‘5 na’p~w~ existiu, houve, foi.Outros dizem c’njÀl8a, pequena estela funerária. «In margine A prima manus

annotavit haec: Ei-vÀdprov 8≥ icaL vBv ToOTo ,caÀoOus» (p. 960, l.~’ col., aocimo), [No cod.] A, na margem, uma primeira mão escrevou o seguinte: E ainda hojese chama a isto pilastra (ou colunelo, acrescentamos nós).

O cod. B e Ald. têm €‘ir4’pai/iav, 3.’ pess. p1. do aor., escreveram ou gravaram.Os códices em vez de crrpa-reías~ têm a-rpartâç do exército o que também

pode ser.

§ 6.° — Os editt. antes de Kramer lêem a-,jÀtcw. dat. p1. de cy,-,7Àlç (vd. supra).(<&j4or4ov~ ~oLKJvat -ratç ar,~Àarç mavult Kramer,,, ibidem. Kramer pre

fere (ler): [pelo facto de] ambas se parecerem com colunas.O cod. C tem piypair’rov~ fâcilmente circunscrita.

§ T~ — Em vez de 8a~er,~-~yrwv, gen. p1. do part. pres., ABC dão 6taÀ~,rovrwv,gen. p1. do part. aor., depois de deixarem [de tirar água].

Os códices têm ,cacv&ç, de novo.Em lugar de dvpL7r&Oc~av, os codd. dão ayriçrÀo~av navegação (contra o vento

ou a corrente) (vd. Bailly 3.1v.).«avveeatpovrctt, idem perferam voluit Casaubonus» (p. 960, L” col.), levan

tam-se; a mesma coisa erradamente quis Casaubonus.Não parece assim tão fora de propósito. Parece que não será de enjeitar de todo

a ideia de ver a 3.’ pess. do p1. de auve~aípw.Müller adoptou a forma JKEIVV. dat., fem. de ~KEZvoç, aquele; contudo, cscreve:

codd. quod erat retinendum» (ibidem), os codd. [dão] ~KE(VI~V, aquela,— a [forma] que deveria manter-se.

§ S.° —~ ... vwc,-L dat.: com o dia... com a noite, Ald.E depois: ,5 roü 4Alov -uEpLçSopa’~ codd.: o movimento de rotação do Sol.

iro,-J Ald., uma vez.., outra vez.AUCI dão ~w3ta,co6, do Zodíaco.[dva~wpetv] dç r3 rr~Àayoç Cor,, retira-se para o mar- Na verdade, parece

mais plausível o uso da prep. ~lç. a indicar a direcção e o termo do movimento.≥vtavasaíaç, anuais, recomendam Eghi, Cor., Mcm.

110

<(i-&w 1~fLEp7Jaíw~ XPO’’0~~’ ~aL rcZv JJVkTEpLvJiv codd, quod retinendum,in antecedentibus vero pro rcra~jtjpwç legendum esse TE’TcLy/.LIVWV. eodem Kramero proponente, censeo» (ibidem): ora em períodos diurnos ora nocturnos, codd.o que deve manter-se; ao contrário, em vez de TE’Tay)L4LWS (ordenadamente, porordem) deveria ler-se TETav~aE’Vafl’ (1) (ordenada) segundo sugestão do mesmo Kramer,suponho—Este passo é muito controverso. Como já é hábito, ousamos remeter o leitorpara a leitura desta discussão (p. 960, l.a col.). Groskurd, supomos que com razão.recomenda o emprego da preposição &d (na verdade se se quer exprimir uma duração ininterrupta, emprega-se 3~ com gen. ou ¶apa com acus., Gramática Gr. deA. Freire, 3~ cd. p. 193»>.

«rà . .. yLvo/Ic’va recte ejecit Cor.» (ibidem), Cor, com acerto suprimiu [as palavras]

~ 9.°—.- «Lege~cum Corayo; in latinis pro tunc facto lege quac subindefluni» (ibidem), lê em Cor. fazeado-se (ou tornando-se); em latim, em vez de entãofeitas entende as quais se fazem in,ediata,nente,

§ 10.° — «~ç /~jç 7,-oÃÀcLKLs’ )(~yj ØJÀÀa Cor., quod sane mavelis; excodicum lectione 7roÀÃdKc$- referendum ad Tfl)xt)aZa » (ibidem), muitas vezes (inclinadas) para o chão, e as folhas Cor., o que, sem dúvida, se preferirá; segundo a liçãodos Codd, ~~oÀAdKLS, frequentemente, deve referir-se a in,xvaZa.. com a largura deum côvado.—parece.nos mais exacta a lição dos cádices; contudo, não afirmamosnada, categôricameate,

Há quem leia er8o~.s€v, talvez mais exacto; d8o/1Ew~ vimos, ao passo que o~8aiLEvforma arcaica e da KoLv~4 o~afLEv, equivalente à ática ia~tev. significa em rigorsabemos.

§ 1l’°’—’’E~srropdav AR, o mm. que E’pnropíalJ.

Não queremos pôr termo a estes apontamentos, sem testemunhar a nossa gratidfio ás Ex,fllas Colegas Dras D. Maria Antónia Barbosa e D. Maria CeciliaRebelo Vaz, pela revisdo do texto e notas dactilografadas.

3. C.

CORRIGENDA

Pags Lu:hct Onde se lê Deve ler-se

33 9 sejam, sejam36 3 Bens, Báus,47 8 Basettanos Bastetanos48 10 Málaga Málaca48 17 Málaga Málaca53 14 Hemeroscopino Hemeroscopion54 6 Oartago Cartago54 8 Sagunto Sagúnton56 4 gregos Gregos58 15 Idübeda Idúbeda59 3 Osca Osca,59 4 Calagurris Calagúrris,59 8 Petreio Petreio,59 9 Pompeu Pompeio59 18 Pompeu Pompeio59 19 Pompeu Ponipeto59 20 Pompeu Pompeto60 8 Ana Anas61 33 Palancia Palencia63 7 punhal gládio64 2 quo que68 16 Cãntabros Cântabios69 IS gregos Gregos70 1 1 anónimas sinónimas70 15 Romanos Romanos,71 4 legados, legados71 5 legado legado,71 9 Ementa Emérita71 33 especial especial72 2 ásturos Ástures72 15 (a provmcia) (a provincia),75 33 xlguns alguns77 2 ilha TIha78 2 triunfo (6~3) triunfo (87i),

80 12 Heracles Héracles80 18 as a

112

Págs. Linha Onde se lê: Deve ler-se:

8! ii Dicearto Dicearco82 ii exigiram erigiram82 2! palrões padrões83 5 tando-se-lhes tendo-se-lhes83 12 ilhitas ilhotas84 1 confins (‘9 confins (‘9;84 5 quenquer quernquer84 6 nema berna85 5 a água à água85 8 ar(’40)86 12 enche (700) enche (“9,87 7 fontes (775) fontes (775),

89 14 anuais (866) anuais (010),

88 2 preamar prêamar90 1 preiarnares prêarnares90 15 supor supor,91 14 solesticio solstício92 16 aochão ao chão93 1 Gadira, Gadira93 14 nómadas númidas

1

ÍNDICE GERAL

E DOS ASSUNTOS DE MAIS INTERESSE

PÁGS.

PREFÁCIO, por Francisco José Velara 111INTRODUÇÃO, por Francisco José Veloro1. Estrabão e a sua Geografia V

Biografia, p. V. Fontes da «Geografia»; Estrabão veio à Peninsula,p. V. Manuscritos, p. VII. Comparações de Povos e regiões, p VIII

2. A Lusitânia notares autores VIIISubstracto da Lusitânia (Oestrymnis e o Povo dos Cinetas ou Cónios),p. IX. Ibéria e Hispânia (terra dos Sepes), p. IX. O testemunho deJúlio César ácerca da Lusitânia, p. XI. O do Mapa de Agripa, p XIV.O de Pompónio Meia, p. XV. Plinio suprime o Norte à Lusitânia (futuraGalécia), integrado na província militar da Tarraconense, p XIX.Antonino Pio retoma-o para a Lusitânia propriamente dita, p XX.

3. O texto de Estrabão: A) Ibéria XXILinhas gerais, de Oeste para Leste, p. XXI. Generalizações, p XXI.Além e aquém das Colunas de Hércules, para o ponto de vista de Roma,p. XXI. O «mapa» de Estrabão e as suas coordenadas; primeira distinção do território «além» Guadiana (a Oeste): Lusitânia, p XXII.Os pormenores: começo no Cabo Sagrado, p. XXIII. Ritos locais noCabo Sagrado a um Deus supremo? p. XXIII. Artemidoro visitou oCabo Sagrado, e Estrabão também, ao contrário de Possidónio, queandou só por Cádiz e região sevilhana, p. XXIV. Gadir, Gadeira, Gadese Cádiz, p. XXV.

4. 8) A Ocidental Praia (oto hcsperion pletnon») XXVSeus limites no Guadiana (Lusitânia), p. XXV. Errada divisão do textopelos intérpretes, p. XXV. Uma interpolação?, p. XXVI Colonizaçãoromana da zona transtagana com Lusitanos, p. XXVI.

5. C) A Bética ou Turdetânia XXVIILimites desta provincia a partir do Anas ou Ana, para Leste, p. XXVII,Escritas e idiomas da Península, p. XXVII. Os Cónios e os Túrdulos,p. XXVIII. O Mar Exterior e o Mar Interno, p. XXVIII Carteia,p. XXVIII. Menlária, p. XXVIII. Júlia loza ou Transducta, p XXVIII.Calpe, p. XXIX. Heracleia, p. XXIX. flelão, p. XXIX. Porto de Menesteu, Asta e Nabrissa, p. XXIX. A Ebura andaluza e as lusitanas, moradados Celtas Eburões, p. XXX. Retorno ao Cabo Sagrado, ponto dereferéncia para as distâncias geográficas, p. XXX.

~ ~.~—.———.~——--—~.

114 —

pÁos.

6 13) L,,nites da Betwa Tarde/ama, e suas gentes XXXAs tribos de «alem Anas» que pertenciam a Betica não sio as da Lusitania que ficavam a Oeste do rio mas sim as que pertenciam ao coa 4

vento juridico de Cordova e estavam na Espanha actual, a Norte doGuadiana p XXX Cidades da Bettca p XXXIII Conistorgis ouConistorsis cidade dos Celticos da Betica em territorto dos Contosda Betica p xXXIH Outras ctdades e lugates p XXXIII Sonoba ouOssonoba mera refetencia por semelhança, a um porto da Prata Ocidental onde havia Tuidulos porem Lusitanos p XXXIII O carvalhoabunda na Iberia p XXXIV Minas referencia as dos Lusttanosp XXXIV Cartago Nova p XXXIV Reabilitaçio da geografia honierica e fenicia p XXXIV /~

7 E) A Lusuama de Esi, abão 1) Celucos e Vclhos Tu, diiIo~ XXXVLusitanos a Sul do Tejo p XXXV O testemunho de Apiano e de Varrãop XXXVI Os Celticos da Lusitania meridional e os seus nucleosdepois da expedtção na Galecia p XXXVII O testemunho de Plinto 11sobre os Povos da Tarraconense na parte lusitana setentttonal antigae da Lusitania limttada pelo Douro p XXXIX Celtas e Velhos Turdulos na Galecia p XLIV Celtas da Lusttanta não são «Gaili» mas 1«Britanni» p XLIV Os prtmittvos Calaicos sua localizaçio p XLV

8 A Lusuanca de Esu abão (w;itmuação) 1) A P,ovrnc,a e o Foto XLVIA primitiva provincia romana da Lusitania ia do Algarve ao Mar Cantabrico a segunda veto a terminar no Douro p XLVI Nova adveitencta contra os erros de interpretaçao e divisao dos capttulos e contraas interpolaçoes nccesstdade de recorrei ao elemento sistenlatico naexegese p XLVIII Recomeço no Cabo Sagrado p XLVIII O Tejop XLVIII Alusão aos Povos do Leste da Lusitania e por fim aos Lusttanos do Norte ou Calaicos p XLIX Nação lusitana segundo Estrabãodo Tejo para o Norte p LI Betis nome antigo do tio Mtaho p LII

9 Urna hipotese LII

‘PARTE

T~DUÇÃO DA «GEOG~FIA» DE EST~BÃO segundo a edição deAdolfo Schulten (1952) E NOTAS por Jose Cai do~o

Gcog, afia — Livro III — Capttulo 1— Geogi afia da Pie, la 3Capttulo TI — Tarde/atua ou Bet,ca 12Capitulo III — Lusuarna 34 9

Cabo Sagrado embocaduras do Tejo Piomontorio Baibatio p 34Morão e ilha, p 35 Bruto Calaico e as ctdades de Morão e Hólosisopetações contra os Lusitanos p 35 Pescarias p 35 Curso do Tejoe Povos ribeirinhos Celtiberos Vetões Caipetanos Lusttanos Oretanos Carpetanos, Vetões, Vaceus, e Lusitanos Calatcos p 35 Exteasão da Lusttania, e Povos limitrofes p 36 Montanhas e plantcies

1 -j

115

p 37 Possidónio e Aristõteles sobre mares, costas da }beiia e da Maurusia, p 37 Riquezas da Lusitãnia, p 38 Rios Mundas, Vacua, cursodo Douro, desde perto de Numãncia, cidades dos Celtiberos e Vaceus,sua navegação, Letes, tambem chamado Limea e Belião, Minio, tambem chamado Betis, e sua navegabilidade, p 38 Possidonio, p 39Teimo da expedição de Bruto no Rio Minho, p 39Aitabros, Cabo Nerio, Celtieos do NO e sua proveniência do Guadiana e aliança com os Turdulos para uma expedição alem Limea ouLetes, Porto dos Artabros, depois ditos Aiotebios, p 39Povos da Lusitânia (trinta), banditismo dos Lusitanos contra os Romanos, que os domtnaram, p 41 Os Lusitanos, seu caiacter e aptidões,armamento, somelhança aos Lacedemonios, banhos, frugalidade,saci ificios, p 41 Guedelha lusitana, semelhança com os Gregos dePindaro, exercieios, alimentação dos montanheses (lande de carvalho)em dois terços do ano, p 42 Cerveja, escassez de vinho, manteiga emvez de azeite, habitos domesticos refeições, referência a longinquaBastetânia, vestuario preto, leitos de palha, vasos de madeira, comoos dos Celtas, saias das mulheres com adornos florais, troca em vezde moeda, ou lâminas de piata, p 43 Pena de morte, p 43 Pairicidas,pena de lapidação, p 44 Monogamia, a semelhança dos Gregos, p 44Exposição dos enfei nios a borda dos caminhos, para ouvirem os entendidos, como no antigo Egipto, p 44 Embarcações de couro, p 44Barcos de uni so tronco, p 44 Transfoi mação operada nas embarcaçõesapos a expedição de Biuto, p 44 Sal gema, p 44Refeiãncia aos Ástures, Cãntabros, Vaceus e Povos do Norte, ate aosPireneus, p 44 Pleutauros, Baiduetas, Alotrigas e outros nomes desagiadáveis, p 45Perêntese sobie a rudeza dos Povos setentiionais, em especial os C~intabios, os Coniacos e os Plentuisos, que estão junto das fontes do Ebio,e foram dominados por Augusto e Tiberio, p 45

Capitulo IV — Das Colunaç (te Me, tiles ((te ws P1, cHeia 47Alusão aos Calaicos, p 49 Alusão a Seitorio, p 59 Nascentes doAna e do Tejo, p 60 Nova alusão a Sertoiio, gueiia com Metelo, p 61Considerações gerais sobre a Iberia, p 63 Alusão ao armamento dosLtisitanos, p 63 Riqueza ibetica em cavalos, p 63 Aves, p 63 Casiores, p 63 Possidonio, p 63 Raízes boas para tintuiaiia, p 64 Oliveira, vinha, figueiia, sua abundãncia na costa do Mediterrâneo e costaatlântica contigua, p 64 Usos selvagens da população setentiional,menos provida de riqueza agucola, dormem no chão, como os Celtas,p 65Ateismo dos Calaicos, ou sacrificio a unia divindade inominada dosCeltiberos, p 65 Os Vetões e os Romanos, p 65Crueldade dos Povos do Norte, especialmente os Cãntabros, p 66Usos celticos, semelhantes aos dos Tracios e Citas, p 67 Dificuldadesdos Romanos na guerra cantabrica, p 68 Matriarcado, p 69.

116

Divisões da Ibéria, p. 69. Origem dos nomes Ibérico e Hispânia, p. 70.As províncias, p. 70. A Lusitânia, antiga e moderna; amputação recenteda parte calaica, p. 71. Autoridades romanas, p. 72.

Capitulo V — As Baleares, reminiscên elas históricas sabre Tartesso e as IlhasCassitéridesBaleares, p. 73. Excelôncias de Gadira, p. 77. Fenómenos naturais,p. 77. As Cassitõrides são dez e ficam para o Norte do Porto dos Artabros, em pleno mar, p. 93. Sua riqueza em estanho e chumbo, p. 93.

2.~ PARTE:

ADITAMENTOS E CORRECÇOES ÀS NOTAS EM FACE DA EDIÇÃOCRÍTICA DE MULLER (1853.57), por José Cardaso

Ao capítulo 1Ao § 4°, p. 99. Ao § 5°, p. 99. Ao § 9°, p. 99.

Ao capítulo IIAo § 2,°, p. 100. Ao § 3°, p. 100. Ao § 4°, p. 100. Ao § 5°, p. 100.Ao § 6.°, p. 101. Ao § 7°, p. 101. Ao § 8°, p. 101. Ao § 9.°, p. 101.Ao § 12°, p. 102. Ao § 14.°, p. 102.

Ao capítulo IIIAo § 1°, p. 103. Ao § 2°, p. 104. Ao § 3°, p. 104. Ao § 6°, p. 104.Ao § 7.°, p. 104. Ao § 8°, p. 105.

Ao capitulo IVAo § 1°, p. 105. Ao § 3°, p. 105. Ao § 4°, p. 105. Ao § 5°, p. 106.Ao § 6°, p. 106. Ao § 7°, p. 106. Ao § 8°, p. 106. Ao § 9°, p. 106.Ao § 10.°, p. 107. Ao § 12°, p. 107. Ao § 13°, p. 107. Ao § 15°, p. 107.Ao § 16°, p. 107. Ao § 17.°, p. 107. Ao § 18°, p. 107. Ao § 19°, p. 108.Ao § 20°, p. 108.

Ao capitulo VAo § l.°, p. 108. Ao § 6°, p. 109. Ao § 7°, p. 109. Ao § 8.°, p. 109.Ao § 9°, p. 110. Ao § 10°, p. 110. Ao § 11°, p. 110.Agradecimento, p. 110.

COREJGENDA

73

9799

100

103

105

108

111

3•1

*4

o•1

o