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mm*0*n*át<mmimm* t mmmytm+mtu mjm i. --— *_*>-*««-i H. SU TCíBMJi- E-BJIIBi. SE EDS1 J.WEIBISICm-J) Il®4_# PUBLICAO-SE SEIS NÚMEROS MENSAES COM QUATRO _rZ&UXlI2-7 0fl Dai ultimas Moda- ilu Parir Em 1,0, U, 10, 21 b 20 nn cada mkz illi Mima S**J5$a_ ASSIGNA-SE «NA 1.1 A RI A UNIVERSAL ._i l>i: E. k H. LAEMMEnf «i-tAJA •_ V^.««»Li_3> Rua da Quitanda N.» 77 Por um atino Hs. 12$, por 6 n.fr.ft U$. 7$ ESPELHO FLUJfflf-IENSE ou NOVO GABMETE DE LE1TÍÍB.4 É.<&J&&É_ 2-**<S>2£S£-£--_- a ^SS&B&a&S /' SBHP<&, HISTORIA DK CAGLIOSTRO. (continuação.) Ora pois, disse lhe o Geral, que conhecera o mundo outr'ora, e não era homem que se deixasse enganar por uma apparencia de conversão, trata-se de bem empregardes o vosso tempo aqui: a oração não excluo o trabalho, e, pois que tendes intelligen- cia , é preciso que sirva para alguma cousa; om conseqüência ,ficareis desde hoje ligado a frei Joaquim , boticário da casa, que vos fará adquirir conhecimentos úteis. Frei Joaquim era urn homem excellente, muilo versado nas sciencias naturaes, sem- pre prompto a servir, e tendo somente um defeilo, o de crer na alchimia e na pedra philosophal. Balsamo lhe agradou logo á primeira vista por causa de sua vivacidade, de sua concepção fácil e prompta. Debaixo da direcção d'este bom religioso, José to- mou gosto ao estudo da chimica; estava encantado de caminhar incessantemente do conhecido ao desconhecido , e, a exem- pio dc frei Joaquim, seu mestre, sonhou em breve a possibilidade de surprender a natureza no facto, e engendrar maravilhas. Ambos trabalhavam com ardor, e passa- vam-se poucos dias sem que fizessem algum descobrimento novo e importante; por isso o convento dos Benfratelli de Cartagirone foi em breve tido em grande reputação em toda a Sicilia, por todas as espécies de cosméticos e deelixires a que se attribníam virtudes quasi maravilhosas, o alguns dos quaes tinham realmente um merecimento incontestável. Isto dava muilo dinheiro a communidade, e permittia a frei Joaquim consagrar sommas assaz consideráveis â suas experiências, particularmente a pro- cura da pedra philosophal. Balsamo con- tinuou a coadjuval-o com ardor ; mas, ao mesmo tempo qüe se ia desenvolvendo o seu amor pela sciencia, o joven noviço sentia crescer sua aversão pela vida monas- tica; por isso não era tido por muito devoto pelos religiosos da ordem, e não lhe eram poupados os castigos, o que não era pro- prio a reconcilial-o com o claustro. Um dia que Balsamo estava no labora- torio, chegou frei Joaquim; seu rosto trans- luzia de alegria. ²José ! meu caro José I exclamou elle depois de ter fechado a porta, o tenho emfim esse segredo que deve mudar a face do mundo!... Alegra-te, meu filho, esta noitej, a grande obra se effeituarâ aqui, c tu serás presente.... Sim, quero asso- ciar-te á minha gloria, tu que me tens ajudado com tanto ardor nos meus tra- balhos. ²Estaes porém bem certo de vos não terdes deixado seduzir por enganosas ap- parencias? perguntou Balsamo. ²Não conservo a menor sombra duvida, meu amigo; posso fazer ouro, e o farei esta noile mesmo a teus olhos. Até agora,* eu não tinha tido a matéria prima em quantidade sufficiettte, porque não é indifferente operar sobre uma quanliàade

ESPELHO FLUJfflf-IENSEmemoria.bn.br/pdf/349569/per349569_1843_00011.pdf · dos metaes que se lhe juntam não se opera si não em certas proporções; mas agora tenho tudo o que me

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H. SU TCíBMJi- E-BJIIBi. SE EDS1 J.WEIBISICm-J) Il®4_#

PUBLICAO-SE

SEIS NÚMEROS MENSAESCOM

QUATRO _rZ&UXlI2-7 0fl

Dai ultimas Moda- ilu Parir

Em 1,0, U, 10, 21 b 20 nn cada mkz

illi

Mima S**J5$a_ASSIGNA-SE

«NA 1.1 Vü A RI A UNIVERSAL._ i

l>i: E. k H. LAEMMEnf«i-tAJA •_ V^.««»Li_3>

Rua da Quitanda N.» 77

Por um atino Hs. 12$, por 6 n.fr.ft U$. 7$

ESPELHO FLUJfflf-IENSEou

NOVO GABMETE DE LE1TÍÍB.4É.<&J&&É_ 2-**<S>2£S£-£--_- a ^SS&B&a&S /' SBHP<&,

HISTORIA DK CAGLIOSTRO.(continuação.)

Ora pois, disse lhe o Geral, que conhecerao mundo outr'ora, e não era homem quese deixasse enganar por uma apparenciade conversão, trata-se de bem empregardeso vosso tempo aqui: a oração não excluoo trabalho, e, pois que tendes intelligen-cia , é preciso que sirva para alguma cousa;om conseqüência ,ficareis desde hoje ligadoa frei Joaquim , boticário da casa, que vosfará adquirir conhecimentos úteis.

Frei Joaquim era urn homem excellente,muilo versado nas sciencias naturaes, sem-pre prompto a servir, e tendo somente umdefeilo, o de crer na alchimia e na pedraphilosophal. Balsamo lhe agradou logo áprimeira vista por causa de sua vivacidade,de sua concepção fácil e prompta. Debaixoda direcção d'este bom religioso, José to-mou gosto ao estudo da chimica; estavaencantado de caminhar incessantementedo conhecido ao desconhecido , e, a exem-pio dc frei Joaquim, seu mestre, sonhouem breve a possibilidade de surprender anatureza no facto, e engendrar maravilhas.Ambos trabalhavam com ardor, e passa-vam-se poucos dias sem que fizessem algumdescobrimento novo e importante; por issoo convento dos Benfratelli de Cartagironefoi em breve tido em grande reputação emtoda a Sicilia, por todas as espécies decosméticos e deelixires a que se attribníamvirtudes quasi maravilhosas, o alguns dos

quaes tinham realmente um merecimentoincontestável. Isto dava muilo dinheiro acommunidade, e permittia a frei Joaquimconsagrar sommas assaz consideráveis âsuas experiências, particularmente a pro-cura da pedra philosophal. Balsamo con-tinuou a coadjuval-o com ardor ; mas, aomesmo tempo qüe se ia desenvolvendo oseu amor pela sciencia, o joven noviçosentia crescer sua aversão pela vida monas-tica; por isso não era tido por muito devotopelos religiosos da ordem, e não lhe erampoupados os castigos, o que não era pro-prio a reconcilial-o com o claustro.

Um dia que Balsamo estava no labora-torio, chegou frei Joaquim; seu rosto trans-luzia de alegria.

José ! meu caro José I exclamou elledepois de ter fechado a porta, já o tenhoemfim esse segredo que deve mudar a facedo mundo!... Alegra-te, meu filho, estanoitej, a grande obra se effeituarâ aqui,c tu serás presente.... Sim, quero asso-ciar-te á minha gloria, tu que me tensajudado com tanto ardor nos meus tra-balhos.

Estaes porém bem certo de vos nãoterdes deixado seduzir por enganosas ap-parencias? perguntou Balsamo.

Não conservo a menor sombra déduvida, meu amigo; posso fazer ouro, e ofarei esta noile mesmo a teus olhos. Atéagora,* eu não tinha tido a matéria primaem quantidade sufficiettte, porque não éindifferente operar sobre uma quanliàade

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maior ou menor: para fazer ouro, é pre-ciso ouro primeiramente, e a transmutação?dos metaes que se lhe juntam não se operasi não em certas proporções; mas agoratenho tudo o que me é necessário: aquitens, olha! -

A estas palavras, frei Joaquim tirou debaixo de seü habito um sacco de couro,desatou os cordões, e fez rolar sobre a mezajunto da qual se achava uma quantidadeconsiderável de moedas de ouro e deprata.

— E agora, um cadinho, José! querocomeçar já e já a operação, porque istorequer tempo, e como bastarás tu paraactivares o fogo durante as duas ou tresprimeiras horas, eu poderei tomar um poucode descanço.

As moedas de ouro e de prata foramlançadas em um immenso cadinho ; freiJoaquim juntou-lhes outras substancias,depois o cadinho foi posto ao fogo, e obom religioso se retirou a um gabineteonde costumava descançar. Logo que Bai-samo se viu só, ao pé deste montão deouro e de prata que ia em breve entrar emfusão, sentiu-se atormentado de uma ten-tação terrível.

Já mais de vinte vezes , pensou elle,tem-se frei Joaquim julgido a ponto deoperar a grande obra, e sempre se temsabido mal.... Pode ser, e até é provávelque o mesmo succeda d'esta vez, e n%stécadinho ha com que viver vida tão alegrelonge dos frades e do c^Wento!.... Queposso tétner? frei Joaquim não me poderáaccusar, porque não ousará confessar quepossuiu tão avultada somina....

f E raciocinando assim, Balsamo, em vezde activar o fogo, tinha tirado o cadinho^a fornalha; pegou no sacco de couro que0 frade tinha deixado em cima da'meza,metteu dentro as peças de ouro é de prata,ejpòr meio de uma corda, amarrou-o de-baixo cie seus vestidos.

Agora, disse comsigo, só me falta,para viver como principe, poder safar-medaqui.

Abriu uma janella que dava para ojardim, e tenteou os varões: todos estavamsólidos, mas alguns estavam cimentadossómeiíte no gesso, e depois de um quartode hora de trabalho conseguiu com umafaca arrancar dous. Saltar no jardim,ganhar o muro do claiístro e eseala!-o pormeio das latadas que se elevavam quasi

até em cima, foi para o noviço obra dealguns minutos. Ainda fiei Joaquim dormiaprofundamente, e já Balsamo que tinhaprimeiro comprado roupa para não serreconhecido, estava muito longe de Car-tagirone. Voltou immediatamenle a Paler-mo; porém, bem resolvido a não compro-metter mais a sua independência, não foiá casa de sua mãe, e se alojou num dosmelhores hotéis da cidade.

O joven Balsamo estava muito longe deter uma physionomia agradável; mas eravivo, ardente, dotado de muita astucia edestreza; além d'isso gastava sem contar,o que teria bastado para lhe fazer acharbom numero de companheiros de diverti-mento, e os conhecimentos que adquirirano convento dos Bmfratelli lhe davam aomesmo tempo os meios de ser bem acolhidodas mulheres, e de ganhar dinheiro. Empouco tempo se estendeu pois a sua repu-tação em Palermo, e, passando de boccacm bocca, o seu merecimento cresceuprodigiosamente. Attribuia-se aos cosme-ticos que elle compunha uma efficaciamaravilhosa; asseverou-se que elle possuíao segredo de um elixir capaz não só deimpedir de envelhecer, sinâo lambem deremoçar os velhos os mais decrépitos. Bai-samo fazia assim mentir o provérbio:Ninguém é propheta no seu paiz. Não erapreciso tanto para lhe fazer reconquistaras boas graças de sua familia; e por issoum deseus tios se apressou a offerecer-lheum quarto em sua casa, o que Joséacceitou.

Tudo ia o melhor possivei; mas o amordos divertimentos não tardou a arraslrarBalsamo a graves desmanchos: elle se ligoucoma rnocidade mais dissoluta da cidade,e tornaram-se taes os seus gastos, que oprodueto da venda de seus cosméticos nãopodia mais fazer-lhes face; era de todasas más rixas, e se achava ligado com osrapazes mais devassos que se arruinavamdescontando o futuro. Uma rnanhãa tinha-seelle levantado, quando viu entrar em suacasa um de seus companheiros de aiver-timento, o marquez de Maurigi, jovenfidalgo que, tendo apenas vinte e quatroannos de idade, já tinha dissipado umafortuna immensa;

— Ah! meu caro Balsamo, exclamou omarquez, ameaça-me uma grande des-graça n'este momento! meu tio, o condede Mefferido, um dos mais incos fidalgo»

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i8&i?iRiMara> i?^Tors(nDÈra!ííS3ss

da Sicilia, está a expirar; os médicos já oabandonaranü!

E será isso uma desgraça? disse Bal-samo sorrindo-se; pois o conde de Mefle-rido tem filhos?

Nem um; mas eslá irritado contramim por causa do que elle chama o meumáo comportamento, apezar de ter tidovida dissipada na sua mocidade, e eu acabode saber que por testamento legou hontemtoda a sua fortuna ao convento dos Car-tuxos, cujo superior é seu primo em oitavoou décimo gráo.

Diaboí o caso é grave!.... O condeestá em seu perfeito juizo?

Suas faculdades inlellectuaes estãomuito enfraquecidas, bem como suas fa-culdadesphysicas; é um homem estragado,uma alampada que se apaga por falta deazeite, eis tudo. Mas não ha nada tãoimplacável como sejam esses libertinosmeio convertidos por uma decrepitudeprematura.Si assim é, meu caro marquez, pode-remos fazer-vos o obzequio de chamal-o amelhores sentimenlos.

¦—Seria possivel?...Vou fazer alguns preparativos: vindebuscar-me no decurso do dia pira meapresenlardes a vosso lio; creio poder res-ponder-vos pelo bom suecesso.

Algumas horas depois, era José intro-duzido pelo marquez no aposento do mo-ribundo.

Meu caro tio, disse Maurigi, aquivos trago um medico de uma seiencia, deum talento prodigiosos, o qual se desvanecede vos restituir não só a saúde, sinão tam-bem as forças da mocidade.

O conde, que estava estendido sobreum sofá, levantou penosamente a cabeça,lançou um olhar amortecido a Balsamo ,e articulou com muito custo algumas pa-lavras de polidez; depois sua cabeça recahiusobre o travesseiro.

— Senhor conde, disse José por seuturno, por meio do descobrimento queíiz, eu poderia metter a desordem nomundo; domando a morte, faria nascermales mil vezes mais horriveis; por issojurei aos Santos Evangelhos que não em-pregaria o meu descobrimento sinão afavor de seis pessoas. Fui o primeiro qued'elle íiz uso, e podeiVver o que cFahiresultou, porque ha quasi um século que

isto me aconteceu, e eu já linha perto decincoenta annos.

ü conde levantou de novo a cabeça, eolhou mais altentamente para 6 pretendidodoutor; depois fez uin movimento quopareceu annunciar um sentimento de sur-preza bem natural.

Cedendo às soUicilaçÕcs do senhormarquez, vosso sobrinho, continuou Bal-samo tirando um (Vasquinho da algibeira ,consenti em admittir-vos no numero do»meus seis eleitos.

0 carão livido do crédulo ancião pareceuanimar-se levemente: era um naufrago acujos olhos sc offerecia uma taboa de sal-vação. Balsamo deitou em um copo algumasgottas do conteúdo de seu frasquinho, alho apresentou :

Bebei, disse-lhe, eno mesmo instanteo effeito não tardará a se fazer sentir, maiserá pouco duradouro. Seremos obrigado*a dar-vos novas doses.

O moribundo engoliu a beberagem semhesitar; tres ou quatro minutos depois,levantou a cabeça sem esforço, seu olhar sevivificou; doce calor lhe aqueceu os mem-bros gelados, seu pulso bateu com maisforça, e a voz lhe tornou.

Meu Deus! exclamou elle, não estouilludidopor um sonho?... Doutor, parece-me que já não estou doente....

Depois levantou-se; suas pernas, quodesde muito o não podiam mais sustentar,tinham de súbito recobrado força, e elas-ticidade bastantes para lhe permittirem daralguns passos.

INão! não! não é um sonho! proseguiuelle; a força e a mocidade me tornam....Doutor, que poderei fazer para vos provartoda a minha gratidão?

Balsamo inclinou-se e se retirou, pro-mettendo voltar d'ahi a algumas horas.

Quando tornou a apparecér no quartodeMeíferido, um sorriso affectuoso animouo pallido semblante do enfermo, que, porter perdido grande parte das forças qut;lhe dera o elixir, não deixava por isso deconservar todas as illusões. Mas o audazaventureiro recebeu friamente esta mostrade benevolência.

Senhor Conde, disse com tom severo,acabo de saber uma cousa que, si a tivesseconhecido mais cedo, me teria certamenteimpedido de pensar em curar-vos. Asse-veraram-me dous frades que fizeste^ umtestamento que desherda o vosso sobrinho

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i EBSffffiEíIHt© F&WMIML^SIS

em proveito de seu convento. Si assim é,devo retirar-me, porque semelhante actoè uma injuria feita ao meu melhor amigo.

Esse acto existe, senhor, respondeuo enfermo , mas não é irrevogável, e estouprompto a annullal-o. Todavia, si me res-tituirdes a saude, si o vosso remédio tema eflicacia que lhe atlribuis, nâo vejo queproveito pôde meu sobrinho tirar da anni-quilação de tal titulo. Seria melhor que eulhe desse parte de meus bens em minhavida, e estou disposto a fazêl-o.

O meu remédio, senhor, pode pre-$ervar-vos da morte que cansaria o enfra-quecimento dos órgãos; entretanto, umaccidente tal como uma queda, um tiroou uma estocada, pôde tirar-vos a vida,a despeito de todos os esforços da sciencia.O vosso sobrinho não pensa de modonenhum em despojar-vos de uma fortunaque podeis gozar ainda por muito tempo,e, não querendo eu mesmo acceitar reconvpensa alguma do bem inapreciavel que vosdestinava, não teria consentido em queelle a recebesse. Dirigi-vos, senhor, aputro medico.

Doutor! doutor! exclamou o débilancião, em nome do céo, não me ahan-doneis. Eu reconheço quanto fui culpado£m desherdar um sobrinho que me amava,que pensava em prolongar a minha vida....Vou annullar esse testamento, eu vol-oprometto....

Si taes são as vossas disposições sinrceras, senhor conde, ponde-assem demoraem execução; eu voltarei amanhãa demanhãa. Mas não vos esqueçae§ que ellasmo devem mais ser mudadas sem meuconsentimento, quando eu vos tiver res ti-tuido a saude, porque aquelle que dá a vidapódci tambem tiral-a.

Pito isto, Balsamo sahiu,Qoando tornou no dia seguinte, tudo

ixa via sido ^ fei to como elle o pedira. Mos-frou-se satisfeito, e apresentou o seu fras-quinho ap velho que bebeu de uma veztpdo o conteúdo. Este remédio enérgicoproduziu ainda mais effeitp do que na ves-pera; porém a reacçao foi terrivel: duashgp||^^pi| estava o conde num estadode atòriia que lhe não deixava o podernem de se mexer, nem mesmo de fallar,e na*tarde do mesmo dia em que julgaraconquistar a immortalidade, deu o ultimoInspiro. Balsamo, que aguardava este resql-

tado, não o linha abandonado, e lhe fechouos olhos.

Na mesma epocha, um individuo cha-mado Marano, que era o mais rico ourivesde Palermo, veio ler com o nosso aven-turciro. Era um homem muito crédulo ,que tinha já gasto muito dinheiro paraconseguir operar a transmutação dos me-taes. Tinham-lhe dito que Balsamo possuíao segredo que elle procurava com tantoardor, e elle foi visitar, o joven e sábioalchimista, para lhe propor uma associação.José fez alguma difficuldade: disse ao ou-rives que temia assustal-o pela sommaconsiderável que exigiriam os trabalhospreliminares.— Fallae, fallae, meu caro, disse Ma-rano; graças ao céo, sou rico, e estoucm estado de adiantar tudo quanto fôrnecessário.

Balsamo pediu primeiramente duzentasonças de ouro indispensáveis, disse elle,para a composição de certo licor de cujaperfeição dependia todo o resto. Maranoos deu com a melhor vontade do mundo.

É incontestável que n'essa epocha jáBalsamo tinha adquirido conhecimentospositivos. Os cosméticos que compunha,sem obrarem prodígios, tinham proprie-dades notáveis, e continuavam a ser muitoprocurados. No entanto a morte do condede Mefferido e as circunstancias que a ti-nham acompanhado faziam alguma sen-sação na cidade; a justiça se inquietou,e a liberdade de José foi ameaçada. Deoutro lado, o crédulo Marano, que, inde-pendentemente das primeiras duzentasonças de ouro , tinha dado mais outrascento e cincoenta ao seu astuto sócio, iacomeçando a achar que os preliminaresda grande ofira marchavam muito lenta-mente; queixou-se primeiro , e depoisameaçou, Balsamo comprchendeu que jánão estava em segurança eu* Palermo , e,sentindo-se com as algibeiras bem rechea-das pela gratidão de seu amigo # marquez,e pela credulidade do ourives seu sócio,partiu secretamente para Messina. Fpin'esta cidade que elle travou amizade comesse Àltotas, do qual fallou depois comode um ente «dotado de faculdades sobre-naturaes, Era um Grego muito erudito,ao qual eram familiares todas as linguasorientaes. Embarcaram-se juntos, viajaramno Arcbipelago, foram ao Egypto, visita-ram as pyramides, discorreram pela Ásia,

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KSSTOISKO) TOTOnraMSJE s>e por uma parte da África. Parece que,durante o curso de suas viagens, Balsamotinha varias vezes mudado de nome; ocerto é que, tendo chegado a Malta, apre-sentou-se ao gran-mestre Pinto com o nomedc conde de Gagliostro. O gran-mestre,que se occupava de chimica, acolheu gra-ciosamente estes dous aventureiros, e osadmittiu no seu laboratório onde elles fize-ram experiências muito curiosas. Foi n'esselaboratório que Gagliostro e Altotas con-seguiram dar a certos estofos de canhamotodas as apparencias da seda , e esle desço-brimento lhes fez ganhar muito dinheiro.

(Continua.)

©^E&&@(De diversos modos se lem contado a

maneira porque Rossini compoz Otello ,um de seus primores. Eis como AlexandreDumas conta essa anedocta em suas Im-pressões de Viagv:m9 tão notáveis pela varie-dade dos objectos, elegância de estilo , egraça do dialogo.)

Rossini chegava apenas a Nápoles, jáprecedido por grande reputação, e a pri-meira pessoa que encontrou desembarcandoda carruagem foi, como se pode prf sumir,o empresário de S. Carlos. Barbaja correupara o maestro com os braços abertos, eo coração na mão, e sem lhe ciar tempode andar nem de fallar, disse-lhe:

Venho fazer-te tres offerecimentos, eespero que nenhum recusarás.

Eslou ouvindo , respondeu Rossinicom esse sorriso que lhe é usual.

Offereço-te meu hotel para te hospe-dayes e tua comitiva.

Aceito.OfFcrcço-te minha meza para ti e para

teus amigos.Aceito.OlTereço->te a oceasião de escreveres

unia opera para mim e para meu theatro.Não aceito.

-r-Como! recusas trabalhar para mim?,4t- Para todos. Não quero mais compor

muSica.Tu estás louco, meu caro.Tenho dito.

*; ';> ' ' v,

Entao que vieste fazer a Nápoles?j— Comer maccaronis, e tomar sorvetes:

são cousas de niihha paixão.Mandarei preparar-te sorvetes pelorçieu sorve teiro, queé o pmmeiro de Toledo,

'.i'-''A£'_1-. ¦ " ¦ '*¦:..'

c far-te-hei eu mesmo maccaronis, dos quaesme darás novas.— Diabo! o negocio vae-se tornando

grave.Mas tu me darás uma opera em troca.Veremos.Podes levar um, dois, seis meie* ,

todo o tempo que desejares.Sejam seis mezes.Está dito.Vamos cear.

N'aquella mesma tarde o palácio deBarbaja foi posto á disposição de Rossini;o proprietário eclipsou-se completamente,e o celebre maestro pôde considerar-secomo em sua casa, na mais estricta accepçãoda palavra. Todos os amigos, ou mesmosimples conhecidos, que elle encontravaem seus passeios, eram convidados semceremonia para a meza de Barbaja, cujashonras fazia Rossini com o mais perfeitodesembaraço. Algumas vezes queixava-se ocompositor de não ter encontrado bastantesamigos para convid;d-os para os banquetesde seu hospede. Os máos dias eram aquellesem que apenas reunia doze ou quinze.

Pelo que respeita a Barbaja , fiel ao papelde cozinheiro que se tinha imposto, inven-tava todos os dias novos manjares. Esva-ziava asbotelhas mais antigas de sua adega,e recebia com agracio todos os desconhe-»ciclos que aprasia a Rossini convidar, comose fossem os melhores amigos de seu pae.Mas no fim do banquete, com ar desinte^-ressado, com destreza infinita, e com osorriso nos cantos da boca, inlrodusiaenlre a frueta e o queijo algumas palavrasa respeito da opera pronuHtida, e do bri-lhante triumpho que a esperava.

Apezar porém das precauções oratóriasque tomava o honrado empresário paralembrar a s£u hospede a divida que estelinha conlrahido, suas poucas palavrasprodusiam no maestro o mesmo effeito queas Ires palavras terríveis do banquete cieBalthasar. Assim foi que Piossini, que jánão podia tolerar a presença de Barbada,pediu-lhe com toda polidez que nunca maisapparccesse a sobremeza.

Entretanto os mezes se iam passando, olibrctto eslava prompto havia muito tempo,e nada denunciava que o compositor tivessecomeçado a opera. Aos jantares succ%-diamse os passeios, aos passeios, as par-tidas de campo. A caça, a pesca, a equUtação tomavam o tempo ap nobre maestro,

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mas não se fallava da menor nota de musica.Barbaja tinha vinte vezes por dia accessosde furor, atlaques de nervo, dezejos irrè-sistiveis de fazer alguma cousa de estrondo:continha-se porém, porque ninguém tinhamais fé do que elle no gênio incomparaveidé Rossini.

Barbaja esteve silencioso durante cincomezes com*, a mais exemplar resignação.Na manhãa do primeiro dia do sexto mez,vendo que jà não havia tempo que perder,nem respeito què guardar, leve com omaestro a seguinte conversação em parti-cular :

Então, meu caro, já sabes que sófaltão vinte e nove dias para o praso ajus-tado ?

Que praso? disse Rossini com a snr-preza de um homem a quem se dirigisseuma pergunta incomprehensivel, toman-do-o por ou trem.

¦— O dia 30 de maio.O dia 30 de maio!

E houve a mesma pantomima.Não me promettesle nma opera novaque se deve representar roesse dia?

Ah! prometi!-T- Não le faças de novas, exclama oempresário cuja paciência estava esgotada;tenho esperado tanto, contando com teugênio, e com a extrema facilidade tle trabalho que Deus te deu. Agora é impossivelesperar mais: quero a minha opera.

Não se poderia arranjar alguma operavelha mudando-lhe o titulo?

Que estás dizendo! E os artistas queforam contractados expressamente pararepresentar em uma opera nova.Vós lhes imporeis uma multa,r- E o publico?Fechareis o theatro.—E o rei?

— Dareis vossa demissão.Tudo isso é muito bom a

ponto; mas si nem os artistas, publico, nem o próprio rei me podem for-çar a cümpri-r minhas promessas, deiminhapalavra, senhor, e Dominico Barbaja nuncafaltou; ¥ sua palavra de honra.-— Enlâo é diff<>renle.

—-Assim, tu me promettes começaraníanhãa?

Amanhãa é impossivel; tenho de irpescar em Fusaro.

Bem, disse Barbaja, enterrando as

....

' ¦•¦>'.

¦ ff,.' ¦¦}¦;¦.

¦'-' ff "¦ c :¦ '¦¦¦.:¦ ¦"'.

té certonem o

mãos nos bolsos, não fallemosmaisn^sso.Eu verei que partido devo tomar.

E afastou-se sem mais acerescentar uma"palavra.

Dc noite Rossini ceou com bom appe-tite, e fez honra á meza do empresáriocomo homem qué sc tinha perfeitamenteesquecido dã discussão da manhãa. Aoretirar-se recommcndou muito a seu criadoque o acordasse ao romper do dia, etivesse prompta uma barca para ir a Fu-saro. Depois do que, adormeceu com osomno do justo.

No dia seguinte, estava dando meio dianos quinhentos sinos que possue a bema-venturada cidade de íNapoles, e ainda ocriado de Rossini não tinha subido aoquarto de seu amo; o sol dardejava seusraios a través da gelosias. Rossini, açor-dando em sobresalto, sentou-se na cama,esfregou os olhos e tocou a campainha :ficou-lhe o cordão na mão.

Chamou pela janella que dava para opateo: o "palácio

permaneceu mudo cornoum serralho.

Empurrou fortemente a poria de seuquarto • a porta resistiu a seus empurrões:estava murada por fora!

Então Rossini, voltando para a janella,se poz a gritar pedindo soecorro contra atraição e cilada! e não teve si quer a con-solução que o écho respondesse ás suasqueixas, sendo o palácio de Barbaja, oedifício mais surdo que no globo existe.

Só lhe restava um recurso, era saltar dóquarto andar; mas cumpre dizer em lou-vor de Rossini, que esla idéa não lhe veioum só instante á cabeça.

No fim de uma hora, Barbaja mostrouo sou barre le de algodão em uma janellado terceiro andar. Rossini, que não se tinhatirado da janella, teve vontade de lhe ali-rar com uma lelha; contentou-se porémem enchêl-o com maldições.

Dezejaes alguma cousa ? perguntou-lhe o empresário com tom moqueàeo.Quero sahir já e já !Sahireis quando estiver acabada a

vossa opera.Mas isto é um seqüestro arbitrário !Arbitrário si assim vos parece, mas

eü quero a minha opera.Hei-de queixar-me a todos os artistas,

e nós veremos.Eu lhes imporei uma multa,Informarefo publico.

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Fecharei o theatro,Irei até ao rei,Darei minha demissão.

Rossini viu que estava preso em sunspróprias redes. Assim, como homem su-perior, mudando de repente de tom e demaneiras, perguntou com voz caltría :

Aceito o gracejo , e não me enfado; possoporém saher quando me será restituida aliberdade ?

Quando me fôr entregue a ultima.scenada opera, respondeuBarbaja tirandoo barrete.

Eslá bom: mandae esta noite buscara symphonia.

De noile entregaram pontualmente aBarbaja um quaderno de musica sobre oqual estava escripto em letras grandes :Symphonia de Otello.'

O salão de Barbaja estava cheio de ceie-bridades musicaes, no momento em queelle recebeu a primeira remessa de seuprisioneiro. Pozeram-se logo ao piano ,decifraram o novo primor de obra, e con-cluiram que Rossini não era um homem,e que, semelhante a Deus, creava semtrabalho esem esforço, somente pelo actode sua vontade. Barbaja, que parecia louco,arrancou a peça das mãos dos admiradores,e a mandou aos copistas. No dia seguinterecebeu novo quaderno sobre o qual se lia:O primeiro acto de Otello; este novo qua-derno foi igualmente enviado aos copistas,que desempenhavam seu dever com aquellaobediência muda e passiva a que Barbajaos havia acostumado. No fim de tres dias,a partitura de Otello tinha sido entreguee copiada.

O empresário não cabia em si de con-tente; lançou-se ao pescoço de Rossini,deu-lhe as mais ternas e as mais sincerassatisfações pelo slratagema que fora for-çado a empregar, e lhe pediu que rema-lasse sua obra assistindo aos ensaios.

« Irei eu mesmo á casa dos artistas, res-pondeu Rossini com tom solto, e lhes fareirepetir seu papel. Quanto aos senhores daorchestra terei a honra de os receber emminha casa.

Pois bem, meu caro, podes enten-der-te com elles. À minha presença nãoé necessária, e eu admirarei o teu primorno ensaio geral. Torno a pedir-te que meperdoes a maneira porque procedi.

%— Nem mais uma palavra a este res-peito, quando não zang%me.

Assim , alé ao ensaio geral?Sim, alé ao ensaio geral.Chegou emfim o dia do ensaio geral:

era na véspera d'esse famoso 30 de maioque tantos transes custara a Barbaja. Oscantores estavam em seu posto, os músicostomaram logar na orchestra, Rossini sen-tou-se ao piano.

Algumas damas elegantes, e alguns ho-mens privilegiados oecupavam os camarotesdo proscênio. Barbaja, radioso e Irium-phante, esfregava as mãos, c passeava asso-biando pelo theatro.

Tocou-se primeiramente a symphonia.Applausos frenéticos abalaram as abobadasde S. Carlos.

Ro.ssini se levantou c saudou.Bravo! gritou Barbaja. Passemos á

cavatina do tenor.Rossini tornou-se a sentar ao piano,

todo o mundo fez silencio, o primeirorebeca levantou o arco, e começou-se denovo a tocar a symphonia. Os mesmosapplausos, ainda mais enthusiasticos, seera possivel, romperam no fim da exe-cucão.

Rossini se levantou e saudou.Bravo! bravo! repetiu Barbaja. Pas-

semos agora á cavatina.A orchestra poz-sc a tocar pela terceira

vez a symphonia.«—Ora pois! exclamou Barbaja exaspè-

rado, tudo isto é bellissimo, mas nós nãotemos tempo de ficar aqui até amanhãa.Vamos á cavatina.

Apezar porém da ordem do empresário,a orchestra não deixava de continuar amesma symphonia. Barbaja correu aoprimeiro rebeca, e, pegando-o pela gola dacasaca, lhe gritou ao ouvido:

Que diabo tendes que estaes a locara mesma cousa ha uma hora?

Que quereis? disse o rebeca com umphlegma, que teria feito honra a iim Alie-mão, nós tocamos aquiilo que se nos deu.

Pois virae a folha , imbecis !Por mais que viremos, ha somente a

symphonia.Como , ha somente a symphonia ?

exclamou o empresário empallidecendo :então é uma atroz mystificação ?

Rossini se levantou e saudou.Porém Barbaja tinha cahido sem movi-

mento sobre uma cadeira. A prima dona,o tenor, todo o mundo se apressou a to-

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essipsm© immsssLwmmdeai-o. Por um momento o julgaram ata-cado de uma apoplexia fulminante.

Rossini, desolado de ter o gracejo tomadoum caracter tão serio, chega-se a elle comreal; inquietação.

Mas, á sua vista, Barba ja, pulando comoum leão, poz-se a bramar violentamente.

~ Vae-te d'aqui, traidor, sinão comet-terei algum excesso!

Vejamos, vejamos, disse Rossini sor-rindo-se, não haverá algum remédio ?

•—Que remédio, verdugo! É amanhãao dia da primeira representação.

Si a prima dona se achasse indisposta?murmurou Rossini baixinho ao ouvido doempresário.

* — Impossível! respondeu-lhe este nomesmo tom; nunca ella quererá chamarsobre si a vingança e as Íim oa das do publico.

.—- Si a quizesseis rogar um pouco?Seria inútil. Tu não conheces aColbran.

Eu vos julgava na melhor harmoniacora ella.

^MUior razão.Quereis permittir-me que o tente?Faze tudo o que quizeres; porémadvirto-te que é tempo perdido.Talvez.

No dia seguinte lia-se no cartaz de S.Carlos que ficava transferido a primeirarepresentação de Otello por indisposição<|a prima dona. \

Oito dias depois representava-se Oídio.O mundo ^inteiro conhece hoje esta

opera, e por isso nada temos que aceres-centar, Tinham bastado^oito dias a Rossinipara fazer esquecer a obra prima de Shaks-peare.

Depois da descirJa do panno, Barbaja,chorando de emoção, procurava por todaparte o maestro para o apertar sobre seucoração; mas Rossini, cedendo sem duvidaá essa modéstia que assenta tão bem nostriumphadores, se tinha subtrahido à ova-ção da multidão.

No outro dia, Domiitico Barba ja chamoupor se u pon to, que em sua casa p ree nchi aas funeções de criado grave, impacientecqmo estava o digno empresário de apre!-sèiíarla seu hospede as felicitações daVéspera. |

Ú ponto entrou.Vae pedir a Rossini que desça ao meu

f abinete disáe-lhe Barbaja.Rossini partiu, respondeu o ponto.

Como , partiu ?Partiu para Bolonha ao amanhecer.Partiu sem me dizer nada ?Sim, senhor, deixou-vos suas despe-

didas.Pois então vae pedir à Colbran quemo permitta ir fallàr-lhe.

A Colbran?Sim, a Colbran; estás surdo esta

manhãa?Desculpae, mas a Colbran partiu.

;^—Im possivel! ^f^-Ambos partiram na mesma sege. ¦* °Desgraçada! deixa-me para ser amante

de Rossini.Não, senhor, é mulher d'elle.Estou vingado! disse Barbaja.

Alexandre Dumas.

CHARADAS.

Ululavam os Etiros furiosos lA noite umbrosu o inuutlo horrorisava IE Leandro iuíVliz esquecendo a morieConlra o mar, cm cachoes assim lutavaíArrostei o valor de mil guerreiros,¦ om jugo e lança, sempre invulnerável;)Té que cedi, cedendo um v »sto ímpeííò íA espada do heroe mais formidável! '"

CONCEITO.

« Gomo dagente illustre Portügueta« Hade haver quem refuse o pátrio Marte?— Disse o heroe — » irado , e nâo facundo« Ameaçando a terra, o mar, e o mundo.

Ao exercito , passão em tempo próprio; 2Dós moríáes o terror, ninguém me quer 1- Achar-me-ha no relo«ioAquelle que me quizer.

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O mais branco é o melhorMantem-se d'ln rvas e de flores *Sirvo de appellido a alguémfc bom para os bebedores.

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Sirvo e cubro na Missa ao celebrante 2JNobres Lusos em mim acharão morte ; 2Um Portugal da minha cor eapólesÉ costume fazer aos de Ma vor te.

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A significação da Charada inserta no numeroantecedente é : Víeíra.

Riodc Janeiro, 1843. — typographia Universal dè LABMMEBT,rua do J.avradio, 53.