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Universidade de Brasília ALBER SILVA SANTOS ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE – UMA ABORDAGEM CRITICO SUPERADORA Itabuna - Bahia 2007

ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE - ufrgs.br · A presente pesquisa, neste aspecto, procura analisar esta formação profissional, relacionando-a posteriormente com a especialização precoce,

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Universidade de Brasília

ALBER SILVA SANTOS

ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE – UMA ABORDAGEM CRITICO

SUPERADORA

Itabuna - Bahia

2007

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ALBER SILVA SANTOS

ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE - UMA ABORDAGEM CRITICO SUPERADORA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profª. Ms. Welington Araújo

Itabuna – Bahia

2007

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SILVA SANTOS, Alber Especialização Precoce – Uma Abordagem Critico Superadora. Itabuna - Bahia, 2007. 75 p. Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007 1. Especialização precoce 2. Desenvolvimento Multilateral 3. Implicações.

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ALBER SILVA SANTOS

ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE - UMA ABORDAGEM CRITICO SUPERADORA

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:

Professor Mestre WELINGTON ARAÚJO Presidente Universidade Federal de Feira de Santana

Professor Mestre JOÃO DANILO B. de OLIVEIRA Membro Universidade Federal de Feira de Santana

Faculdade Social da Bahia

Itabuna (Ba), 03 de Agosto de 2007.

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Para Solange e Rebeca

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AGRADECIMENTOS

Minha gratidão ao Deus eterno, razão de minha vida. A Ele seja toda a

honra, toda a gloria e todo o louvor. Agradeço pois ate aqui tem me sustentado.

Sou muito grato aos meus pais Alberto Carlos e Beatriz, pelo apoio

indispensável prestado a todo o momento.

Agradeço a todo o corpo docente do CEAD-UNB, pelo primoroso

trabalho, em especial ao tutor Marcelo Teles, pelas interações

estabelecidas e apoio constante.

Um agradecimento especial ao meu orientador, profº ___ Welington

Araújo (UEFS) quanto a orientação da monografia.

O meu muito obrigado ao secretario de esportes de Itabuna-Ba,

Ricardo Xavier, pela liberdade que nos concedeu em realizar de forma

plena esta pesquisa.

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Aos monitores entrevistados, meu eterno agradecimento, pela valiosa

contribuição sem a qual não seria possível esta pesquisa.

Aos meus tios Lande e Vane, que de maneira gentil e cordial se

mantiveram pacientes em todo o transcorrer do curso quanto ao uso de seu

computador para a digitação e envios de trabalhos inclusive esta

monografia. Insiro também meus primos: Cibele, Graziela e Isaac.

E por fim e não menos importante, porem muito especiais, á minha

mulher Solange e a nossa linda filhinha Rebeca, razão de todas as minhas

lutas e conquistas.

OBRIGADO A TODOS!!!!!!!!!!!!

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“O essencial é saber ver Uma aprendizagem de desaprender.

Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê.

Vê com o pasmo essencial que tem uma criança ao nascer.

Sentir-se nascido a cada momento Para o eterno movimento do mundo...”

Alberto Caeiro

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RESUMO

Resumo é o elemento obrigatório, é a apresentação concisa dos pontos relevantes da monografia: principais idéias da pesquisa, conteúdo, finalidade, metodologia, resultados e conclusões (Elabore ao final da conclusão da monografia).

As frases devem ser expressas de forma clara, concisa e objetiva. A primeira frase deve sintetizar o tema principal do trabalho como se fosse o título. O conteúdo deve ser livre de julgamento de valor. A extensão não pode ultrapassar de 500 palavras. Evitar uso de parágrafos.

Ao final do resumo apresentar:

PALAVRAS CHAVES: representam o conteúdo do estudo.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1.1 – Pirâmide demonstrando abordagem seqüencial de treinamento para um desenvolvimento multilateral .........................................................................................29

Figura 1.2 – Relação entre desenvolvimento multilateral e treinamento especializado em diferentes faixas etárias...................................................................................................30

Tabela 1 –Comparação entre especialização precoce e desenvolvimento multilateral......................................................................................................................31

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 15

3 MÉTODO .......................................................................................................................37

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 61

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 65

APÊNDICES E ANEXOS ................................................................................................68

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1 INTRODUÇÃO

Percebe-se que nos dias atuais, a pratica da educação física

experimenta mudanças profundas, no que se refere a pratica docente.

Constatamos inúmeras publicações de trabalhos científicos onde o foco volta-

se para os aspectos educacionais e novas propostas pedagógicas, tendo como

objeto de estudo a cultura corporal. Porem a historia mostra que as coisas nem

sempre foram assim. A educação física passou e passa por profundas

modificações á décadas.

A presente pesquisa, neste aspecto, procura analisar esta formação

profissional, relacionando-a posteriormente com a especialização precoce, de

alunos do programa segundo tempo, núcleo vila olímpica com idades entre 07

e 09 anos. Contudo a delimitação do tema apresenta-se da seguinte maneira:

A relação entre a especialização precoce com crianças de 07 a 09 anos da

cidade de Itabuna-Ba, participantes de programa segundo tempo – núcleo vila

olímpica – e a formação profissional de seus monitores. A analise histórica

torna-se importante para refletirmos sobre a pratica atual, para isto traçamos

um referencial que se estende a partir do inicio do século XX. Mesmo não

sendo participantes diretos do inicio do processo histórico, somos integrantes

diretos dele, entendendo que, se somos fruto da historia, podemos intervir e

mudar o rumo da historia. Talvez não tenhamos conhecido pessoalmente os

seus personagens, porem somos cientes e receptores de alguma forma de

seus feitos.

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O problema da pesquisa surgiu fruto de uma percepção que nos

incomodava: perceber a dificuldade que os monitores tinham em trabalhar com

crianças em idade menor. Então questionamos: como ocorre a pratica precoce

em esportes? O que leva os monitores a desenvolverem esta pratica? De que

forma esta pratica pode influenciar o desenvolvimento da criança? De que

forma a formação ainda não concluída dos monitores pode inferir, para que os

mesmos utilizem estas praticas?

Temos certeza que são questionamentos pertinentes frente ao que

vivenciamos no dia-a-dia.

Não tendo a hipótese como necessariamente uma teoria inicial,

entendemos que o levantamento da(s) mesma(s) é sumariamente importante.

Cremos que um dos motivos que estão relacionados a elaboração de

programas precoce, é a formação profissional. Os alunos antes mesmo de

entrar para a faculdade, possui uma visão, talvez influenciada pela sua própria

experiência de vida, de que educação física, é área onde exclusivamente

buscam-se os altos níveis de rendimento (tático, técnico e físico), independente

do local de atuação (escolas, clubes, academias, etc...), onde os mais aptos

sempre são selecionados. Aliado a isto, pode-se também deduzir que

influencias dos meios de comunicação e da mídia, sejam fortes no caráter

destes.

Nosso objetivo Geral compreende: Analisar, quais as causas que levam

os professores, do programa segundo tempo, no município de Itabuna-Ba,

núcleo vila olímpica, a realizarem atividades caracterizadas como Treinamento

Precoce, com os alunos de 07 a 09 anos de idade.

Nossos objetivos específicos são:

- identificar nos elementos históricos da educação física brasileira quais

influencias permeiam na atualidade.

- descrever a formação do profissional de educação física ao longo da historia.

- verificar se um dos fatores que levam os professores a proporem aulas

especifica esta relacionada à sua formação em processo de iniciação ou

conclusão.

- descrever o que os monitores pensam ou entendem à respeito de

desenvolvimento motor, e suas implicações na aprendizagem da criança.

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- propor medidas para mudança e reflexão sobre formação profissional, e sua

pratica de atuação.

Sabemos que a especialização precoce pode estar acontecendo, pela

primeira observação da realidade, que inicialmente realizamos. As

conseqüências desta perspectiva podem ser desastrosas e irreparáveis, por

isto a realização desta pesquisa torna-se relevante, pois busca questionar e

analisar como o processo histórico influenciou e influencia a pratica da

Educação Física identificando as possíveis causas de uma manifestação

precoce. Justifica-se também o fato de contribuir para uma possível reflexão do

assunto, possibilitando contribuir com a pratica profissional de muitos monitores

que trabalham com crianças.

Os dados utilizados para a construção da pesquisa serão através de

entrevista face a face, com os monitores do núcleo. Nela identificaremos quais

as possíveis razões para a especialização precoce. Este instrumento oferece

vantagens frente ao uso do questionário. Nele o índice de coleta de

informações é bem maior. Outros instrumentos que serão utilizados na

confecção e complementação da pesquisa é o recurso da pesquisa

bibliográfica. Aqui os procedimentos serão realizados da seguinte maneira:

- Coleta do material

- Leitura e retirada dos pontos relevantes

- analise e conclusão dos dados.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA 2.1 Formação Profissional do Professor de Educação Física: Uma Analise Histórica.

“A pesquisa histórica na Educação Física brasileira, tem experimentado,

nos últimos anos algo que ate bem pouco tempo atrás era difícil de si

imaginar. Observa-se hoje tanto quantitativa quanto qualitativamente, um

volume de produções das mais diferentes temáticas e das mais variadas

localidades” (Pires, 2001. p.03)

A presente pesquisa procura esta inserida neste ramo de produções as

quais Pires acima se refere, e que tiveram seu grande salto na década de

1980, onde começa a se configurar um novo quadro para a Educação Física

brasileira. De acordo com Daolio (1995)

“...somente a partir do inicio da década de 1980, com a

redemocratização do país, é a Educação Física começou a ser discutida

de forma mais contundente, levando ao conhecimento de que sua pratica

escolar é problemática e visando a uma redefinição de seus objetivos,

conteúdos e métodos de trabalho” (p.77)

Tais discussões surgiram devido às contradições que a todo o momento

aconteciam na pratica educacional. Foi neste momento da historia que a

formação do profissional de Educação Física começa a ser contestada.

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2.1.1 Caminhos da Historia Para a Construção de Uma Escola Superior

Segundo o professor Inezil Penna Marinho (1943 apud Pires, 2001 p. 19) foi

em 1902 que se deu inicio às primeiras tentativas de sistematização da

Educação Física. Nesta época o Brasil iniciava sua transição de sociedade

escravista para uma formação social capitalista. Segundo Daolio (1995, p. 50) “houve a necessidade de construção de um homem nacional que respondesse pela tarefa de

autonomia crescente que a nova nação ansiava”. Esta primeira iniciativa resultou com a criação de uma escola de esgrima,

com sede no batalhão de caçadores, no Quartel da Luz em São Paulo, com

formação básica em ginástica, tendo a iniciativa do coronel Pedro Dias de

Campos. Mas tarde em 1909 o coronel francês Paul Bologny, comandante da

missão francesa, contratado pelo governo de São Paulo, propôs a criação da

escola de Educação Física da Força Policial.

Em 1905 com o projeto do deputado Jorge de Morais, pleiteava-se a

criação de duas escolas: uma civil e outra militar, para a formação de formação

de profissionais em Educação Física, porem apesar de aprovado não se

concretizou.

No ano de 1922, é fundado o Centro Militar de Educação Física que

posteriormente daria origem à Escola de Educação Física do Exercito

(EsEFEx) no Rio de Janeiro que segundo Pires (2001, p. 20) “ seus cursos eram

predominantemente oferecidos para militares e eventualmente, civis podiam realizar o curso”

Podemos observar, e analisar que neste primeiro momento, a formação

profissional da Educação Física esta diretamente ligada ao militarismo. O

método francês já era aqui a matriz pedagógica para a Educação Física está

diretamente ligada ao militarismo. O método francês já era aqui a matriz

pedagógica para a Educação Física. Segundo Goellner (1996, in Ferreira Neto,

p. 133) “a chegada do Método francês no Brasil data do inicio do século (1907) quando o

governo contratou uma missão militar francesa para ministrar instituição militar à Força Publica

do Estado de São Paulo”.

Foi neste mesmo método que em 1933, serviu de matriz de matriz teórica

para a criação da EsEFEx, que segundo Goellner (1996, in Ferreira Neto) foi a

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formadora do pensamento pedagógico da época e serviu como fonte de

inspiração para a criação da Escola Nacional de Educação Física e Desporto

(ENEFD) em 1939.

Como dissemos acima, no inicio do estudo, o Brasil passava por um

processo de transformação, onde os comportamentos dos homens e mulheres

brasileiros deveriam mudar em prol do fortalecimento e desenvolvimento da

nação. Esta transição

“... passava a exigir, também, novas posturas diante da vida; novos

comportamentos de homens e de mulheres. É o período de expansão

industrial, dos investimentos na educação das elites, da consolidação de

uma raça genuína, forte, audaz que incorporasse os ideais da

construção de um Brasil novo. Período das atitudes pioneiras, dos

investimentos grandiosos, da colaboração nacional, do engrandecimento

da Pátria.” (Goellner, 1996, in Ferreira Neto, p.135)

Ainda falando da EsEFEx, a autora Sônia de Deus Rodrigues Bercito (1996,

in Ferreira Neto, p. 151) explana que

“Essa escola, que teve sua criação consolidada em 1933, foi grande

responsável pela difusão da Educação Física nas duas décadas que se

seguiram à sua fundação. Nela matriculavam-se civis, vindos de todo o

país, que ali realizaram a sua formação profissional”.

Todos esses acontecimentos vieram precedidos da nomeação de Getulio

Vargas para presidente, na famosa “Revolução de 30”. Esse movimento

desencadeou vários outros, entre eles generalizavam-se uma luta de classe,

nos seus vários setores, porem foram sufocados pela Revolução. Para

Goellner (1996, in Ferreira Neto, p. 135).

“... não é muito difícil entender porque o Método Francês teve plena e

oficial aceitação no governo Vargas. Se fazia premente assegurar a

política emergente que contava com o apoio do Exercito e o Método

Francês continha elementos adequados para tal..., privilegiava também

um caráter nacionalista”.

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Na realidade, o que se pensava neste contexto era a culminância de todos

para o discurso “nacional-patriotico”, onde todos deveriam contribuir como

agente de transformação da nação, já que, o Brasil precisava de uma

identidade.

A formação de profissionais civis um pouco antes foi discutido, em 1927

pelo deputado Jorge Novais, que contestou a não aprovação de seu projeto em

1905, que apesar de aprovado, no Brasil ainda não estavam postas as

condições objetivas nem subjetivas, para criação de duas escolas.

Em 1929 aconteceu segundo Pires ( 2001) o I Congresso Brasileiro de

Eugenia, onde neste foi aprovado a organização de escolas superiores de

Educação Física com que justificava de preparar o professores que lidariam

com a cultura física nacional. Esse projeto contemplava assim os ideais de

regeneração do povo brasileiro, que estava sendo inserido no país.

No inicio da década de 1930 surgem os primeiros departamentos e escolas

de Educação Física no âmbito civil e estadual em São Paulo e no Espírito

Santo. Mas neste ultimo, no ano de 1931, que é criado o primeiro curso civil

reconhecido. Surge através do empenho do tenente Laurentino Borino, onde o

curso era voltado para a formação de normalista especialista. Apesar de vários

cursos terem surgidos ate aqui, não havia ainda nenhum ligado a Universidade.

Apesar de exercer grande força na orientação da Educação Física do

Método Francês, os militares não hegemonizaram o direcionamento das

atividades físicas. Houve grande influencia do Método Higienista. Segundo

Goellner (1996, in Ferreira Neto, p. 137) “a Educação Física, que vinha de uma

tradição militar, absorve a influencia do pensamento medico-higienista reforçando aqueles

valores grandiosos presentes numa sociedade que buscava se legitimar”.

A escola do inicio do século XX, quando também se pensava em uma

renovação educacional, foi também alvo desta ordem que se estabelecia no

país. Ela poderia colaborar basicamente na formação de mão-de-obra para

suprir a industrialização emergente.

Na escola foi implantada exatamente a Educação Física “...militarizada,

disciplinadora, voltada quase que exclusivamente para o físico, com baixo nível de reflexão

teórica, utilizando meios (Método Francês)” ( Betti, 1988 apud Goellner, 1996, in

Ferreira Neto, p. 139).

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Tais praticas da Educação Física permearam nas escolas brasileiras ate

meados dos anos 60. Porem este método já estava desprestigiado no cenário

internacional, pois o esporte já estava mais evidenciado, tornando-se e sendo

um fenômeno social. No Brasil o esporte também tinha seu espaço, porem

ainda a orientação militarizada persistia, devido a seus conteúdos favorecerem

o caráter técnico e doutrinário que cabia para a construção da nova nação

brasileira. Segundo Goellner (1996, in Ferreira Neto, p. 142 op cit)

“Não podemos esquecer que o Método Francês foi importado pelo

governo brasileiro para qualificar o exercito; posteriormente tornou-se

obrigatório nas instituições escolares onde traduziu a mesma orientação,

representando uma transposição e aproximação, ao nível das atividades

físicas e de sua doutrina, do trabalho realizado na caserna para a

escola.”

Como afirmamos não havia ainda nenhum curso superior de Educação

Física ate meados do século XX, porém em 1935 no VII Congresso Nacional

de Educação, que dedicou sua temática central à Educação Física, pensava-se

nesta possibilidade. Neste evento é aprovada a criação de uma Escola

Nacional de Educação Física ligado a uma Universidade, que seria anexada a

Universidade do Rio de Janeiro, articulada com a faculdade de Educação,

Ciências e Letras a ser criada. Este foi primeiro grande passo para a criação da

Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD).

Houve muita resistência, em relação a essa indicação, por parte dos

intelectuais, que julgavam não ser necessária formação universitária a uma

profissão como a Educação Física, pois sua formação dava ênfase ao físico em

detrimento do intelectual. Mas isto não foi de muita relevância, pois este projeto

era de interesse do governo, através dos seus ideais da época. Segundo

Goellner (1996, in Ferreira Neto) o VIII Congresso Nacional de Educação

determinou significativamente os caminhos da ENEFD, onde os militares

tomam lugar de centralidade, considerando que a escola é fundada no auge do

período do Estado Novo.

De acordo com Pires (2001) em 1937 através de um projeto elaborado pela

Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional, é criado o Conselho

Nacional de Desportos, o Instituto Nacional de Educação Física e a Escola de

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Educação Física e Desportos. Segundo o mesmo autor “...podemos observar que a

Educação Física estava destacada com um papel muito singular, ligado desta forma a um

projeto de segurança nacional” (Pires, 2001, p. 23). “Algo muito mais complexo do que

simples preocupação com uma disciplina escolar” (Melo, 1996 apud Pires, 2001 p. 23).

Segundo Goellner (1996, in Ferreira Neto, p.115-116) afirma que

“No primeiro momento argumentei que a Universidade brasileira é

sujeitada, em 1937, com o advento do Estado Novo, a um modelo

centralizado sem precedentes, que objetiva dar suporte ao Estado

Nacional, passando a educação e a escola a assumir a junção de

Aparelho Ideológico do Estado... inviabilizando a ascensão da proposta

para um saber critico.”

Todos os processos e organização para a criação foram tutelados pelos

militares, devido a sua atuação na área desde a EsEFEx.

2.2 - Atuação Profissional

A partir das fontes consultadas, percebemos que a formação profissional

tinha como bases temáticas militares e higienistas. O que no momento nos

interessa saber é como todo este contexto estar perceptível na pratica da

Educação Física atual, analisar sua práxis e propor novas formas de atuação

profissional.

O nosso campo de trabalho não se restringe somente aqueles que

passaram por uma formação superior, pois temos um grande contingente de

professores não formados.

Neste capitulo procuraremos analisar algumas das situações mais

comuns que se apresentam nas instituições escolares e esportivas, carregadas

de uma enorme bagagem histórica.

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2.2.1 O consenso e o conflito Os paises de terceiro mundo, em especial os da América Latina e Brasil,

passam por momentos difíceis economicamente falando. O ingresso destes

paises às praticas mercantilistas mundiais, prenuncio do capitalismo, geraram

tal situação. Com isso as desigualdades sociais agravaram-se mais ainda, e no

Brasil podemos observar tais fatos, através da concentração de terras,

concentração e transferências de rendas, etc. Para Oliveira (1994) os fatores

de ordem econômica interrelacionam-se com todas as dimensões da

sociedade, apesar de não esgotar as possibilidades de entendimento do real.

Nestes paises as ideologias impedem que haja uma luta entre as classes

sociais. Segundo Oliveira (1994) o imobilismo diante da situação de um quadro

dessa natureza não pode ser creditado apenas à utilização de atitudes

repressoras por parte das classes beneficiadas. É daí que surge a cultura do

consenso com o objetivo de criar uma conformidade diante das classes

desfavorecidas.

Então não é por acaso que a ENEFD, no inicio de sua criação, visava uma

formação extremamente técnica dos seus alunos. Se analisarmos novamente o

quadro de disciplinas que ela oferecia, veremos com mais precisão este

objetivo. Rodrigues (1987 in Daolio, 1995) afirma que o homem não consegue

aprender o mundo tal qual o mundo é sua objetividade porque sua percepção

esta intimamente a sua humanidade, que, por sua vez, esta restrita à forma

como cada sociedade “treinou” os órgão dos sentidos dos seus sentidos dos

seus indivíduos.

A sociedade deveria ser mudada. Era necessário romper com o corpo

produzido por quase três séculos de colonização. A partir de 1930 o Brasil dá

um grande salto nas suas relações capitalistas, proporcionando às camadas

populares o ingresso no sistema como força de trabalho. A partir de 1964,

depois da intervenção militar, cresce a indústria no Brasil gerando a necessária

qualificação de força de trabalho. É nesta época que cresce o numero das

escolas superiores estendendo-se para os cursos de formação dos professores

de Educação Física.

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A ENEFD que surgiu no ano de 1939 era de fundamental importância

para a propagação destas ideologias, visto que recebia vários alunos de todo o

Brasil, que posteriormente ao termino do curso retornavam aos seus estados,

para atuarem como professores. Afinal a ENEFD foi criada para ser uma escola

padrão.

Desta maneira a Educação Física não abria questionamentos sobre

aspectos sociais até o inicio dos anos 1980. Este fato se refletia nas produções

cientificas da época, influencias pela ordem técnico-biológica. Faria Jr. (1987)

ao analisar estas pesquisas, entre 1975 a 1984 verificou que havia uma grande

predominância dos aspectos biológico-técnicos que somavam um total de

64,54% das produções, enquanto produções de âmbito

filosófico/sócio/antropológico resumiam-se em 6,46% dos trabalhos

investigados.

O homem, objeto desta Educação Física, era adaptado à ordem oficial,

adquirindo um caráter reprodutivista. O homem biológico era totalmente

dissociado do social. Daolio (1995, p.35) afirma que “se houve um desenvolvimento

interativo entre os componentes biológicos e socioculturais, um afetando o outro igualmente,

não é possível separar esses dois aspectos”.

O homem que estavam sendo idealizado era puramente uma maquina que

deveria assumir o seu papel sem questionamento. Com as técnicas de controle

social os burgueses estruturaram a sociedade, “tudo em nome da saúde, da ordem e

do progresso” (Soares, 1990 in Oliveira, 1994, p.19).

Os fenômenos eram vistos como regidos pelas leis naturais, assim sendo

como a competitividade causada pelo capitalismo. De acordo com Oliveira

(1994) esta postura conservadora, norteada pela ideologia liberal, ou

neoliberal, veicula uma visão de mundo apoiada numa ótica do consenso.

Até o inicio da década de 1980, não havia uma oposição forte, contra o

conservadorismo que tinha a Educação Física. Na década de 1970 a Educação

Física encaixava-se dentro da educação tendo ainda as tendências militaristas

e higienistas, desta vez via didática. Segundo Oliveira (1994) essa postura

tecnicista vinha ao encontro da censura e da repressão imposta à sociedade

brasileira. Estas oposições conservadoras inviabilizaram o debate-ideológico,

pois “só recentemente, em particular em 1977 para cá, é que o pensamento pedagógico de

esquerda ganhou força no Brasil. Com a chamada abertura política do pais foram editadas

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obras nacionais e traduções que antes era censuradas” (Gadotti, 1987 in Oliveira, 1994

p. 18).

Nesta época, os alvos da critica baseavam-se nos valores criados

durante vários anos.

Cada vez mais essas discussões ganharam força, tendo vários frutos

positivos como, por exemplo: um aumento na produção teórica, refletia na

influencia de sua pratica. Com a pedagogia do conflito foi possível através da

condenação à pedagogia do consenso acusa-la do imobilismo político dos

professores de Educação Física. Os profissionais consensuais alegavam que a

Educação Física e política eram dissociados e rotulavam os outros

profissionais de militantes políticos. Oliveira (1994) afirma que a pedagogia

consensual não se sustenta mais com a energia de antes. As contradições da

pedagogia do consenso cedem terreno para o surgimento daquela que se lhe

opõe: a pedagogia do conflito.

Não queremos nos aprofundar muito netas discussões, acerca do

consenso X conflito, porem ela é relevante para entendermos como a historia

que abordamos até aqui, pauta-se em elementos, ideologias, que apesar de

mostrar os “benefícios” não contesta o estabelecido.

2.2.2 O esporte escolar

Analisando a luz da historia, veremos que na década de 50, a disciplina

Educação Física se caracterizava basicamente pela influencia da instituição

militar. Após este período ela passa a sofrer também, uma grande influencia da

instituição esportiva. Segundo Bracht (1999, p. 22) “mas uma vez a Educação

assume os códigos de uma outra instituição, e de tal forma que temos então, não o esporte da

escola e sim o esporte na escola, o que indica sua subordinação aos códigos/sentidos da

instituição esportiva”. Nessa perspectiva o esporte que já era bastante difundido na nossa

Educação Física a partir da década de 60, teve mais ascensão por razão do

estado. Foi a partir deste período que a Educação Física entra na planificação

estratégica dos governos ditatoriais passando a ser subordinada ao esporte.

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Hoje em todo país podemos constatar que existe um predomínio do esporte

sobre os demais conteúdos. O que se objetiva hoje é o aperfeiçoamento da

técnica e do físico. Bracht (1992) destaca que na maioria destas aulas onde o

esporte é iniciado e desenvolvido, o professor deixa de considerar as

estratégias que permitem a participação de todos os alunos com as mesmas

oportunidades, e passa a preocupar-se com os alunos que apresentam melhor

rendimento, com o ensino das regras internacionais dos esportes, e em

desenvolver nos e suas equipes o espírito de competição para a obtenção de

vitórias. De acordo com Bruhns

“Essa sobrevalorização do esporte, muitas vezes leva os profissionais da

área de Educação Física a não perceberem a dimensão educativa lúdica

do esporte, em que os mais “poderosos” merecem atenção e os inimigos

abatidos, traduzem-se em pontos ganhos, transformando-se nos traços

inúteis naturalmente eliminados” (1993, p. 46).

Outro aspecto dessa esportivizaçao sãos os jogos escolares, competições

que reúnem estudantes de varias escolas para confrontarem-se em

campeonatos. A conseqüência disto é o professor de Educação Física passa a

ser valorizado, pela comunidade escolar, simplesmente pelo numero de

conquistas esportivas da escola (troféus, medalhas). Em busca desta

valorização perante a comunidade escolar, o profissional da cultura corporal e

esportiva, deixa de considerar vários aspectos que poderiam fazer destes

eventos uma pratica realmente educativa.

Desta maneira o professor deixa perceber o seu aluno como um ser

social, capaz de interagir através das diferenças que cada aluno traz na sua

historia de corpo. As leis naturais de certo modo tornam-se alicerce, assim

como o processo de seleção pela força ou destreza. Daolio (1995) afirma que “tornar-se impossível pensar a natureza como exclusivamente biológica e desnivelada da

cultura”. O que queremos dizer é que o aluno não é respeitado em sua

totalidade. A sua cultura e repertorio motor são desprezados. Daolio (1995)

afirma que o homem não é qualquer homem e sim uma espécie particular

homem. São estas particularidades que precisam ser respeitadas, em

detrimento da biologização das aulas. De acordo com o autor acima referido, “conceber o corpo como puramente biológico, é pensá-lo – explicita ou implicitamente – como

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natural, e consequentemente, entender a natureza do como anterior ou pré-requisito da cultura”

(p. 41).

Assim a Educação Física nesta perspectiva reforça cada vez mais o

caráter de esportivizaçao. Porem se voltarmos os olhos para a formação

empregada aos alunos da ENEFD perceberemos que o quadro que estamos

discutindo, esta muito fundamentado, mesmo que de maneira indireta. A

ENEFD é apenas um exemplo da influencia construída historicamente, sendo

ela o auge do ideal governamental da época. O que queremos dizer é que alem

do respaldo histórico, fortemente influenciado da pratica educacional de todo o

país, criou-se uma escola para sistematizar este conhecimento por toda a

nação. Esta sobrevalorização do esporte, alem de seu respaldo histórico,

ganha mais um aliado, através dos meios de comunicação tornando a

Educação Física uma área sem identidade própria, e se identifique com os

modismos propagados pela mídia. De acordo com Silveira (1994 in Ferreira

Neto), este caráter de esportivizaçao da escola

“- Reforça os valores da competição em detrimento dos valores de

cooperação;

- Reforça o individualismo em detrimento da solidariedade;

- Privilegia atividades repetitivas e mecânicas em detrimento da

liberdade de movimento, da criatividade e da liberdade;

- Privilegia a ação exclusivamente diretiva do professor em detrimento do

dialogo e da liberdade de expressão;

- Desenvolve exclusivamente as modalidades esportivas mais

conhecidas e que desfrutam do prestigio social, como voleibol, o

basquetebol, etc...;

- Privilegia um conhecimento de determinadas modalidades esportivas,

exclusivamente a execução da técnica estática dos seus fundamentos

como: passe, o drible, a cortada, etc...;

- Reforça a idéia de ascensão social através do esporte;

- Privilegia seletividade, como já dissemos anteriormente, são

marginalizados em benefícios dos talentos;

- Proporciona a veiculação e reprodução da ideologia dominante através

do seu principio sócio-educativo.”

Em relação ao principio sócio-educativo que se espera do esporte, ainda é

equivocado. Na verdade o que acontece, nesta perspectiva de educação, é que

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ainda aqui a idéia de socialização é pensada, porém Bracht (1992) nos atenta

para a seguinte conclusão: “a socialização através do esporte pode ser considerada uma

forma de controle social, pela adaptação dos praticantes aos valores e normas dominantes

como condição alegada para a funcionalidade e desenvolvimento da sociedade”.

E em relação à educação o mesmo autor comenta

“Assim como vemos, realmente o esporte educa. Mas a educação aqui

siguinifica, levar o individuo a internalizar valores, normas de

comportamentos que lhes possibilitarão adaptar-se a sociedade

capitalista. Em suma, é uma educação que leva ao acomodamento e não

ao questionamento. Uma educação que ajusta, ou lança uma cortina de

fumaça sobre as contradições da sociedade capitalista”. (Bracht,

1992)

2.2.3 Especialização precoce Segundo Adriano de Souza e Scaglia (2004) especialização precoce seria

“o processo que objetiva alcançar rendimentos esportivos (performance)

em uma determinada modalidade (ou função desenvolvida no interior

dessa) o mais rapidamente possível, não levando em consideração as

possíveis limitações impostas pela idade dos jovens praticantes e

excluindo qualquer necessidade de diversificação do estímulos e ofertas

de outras manifestações de jogos” (p.16)

A historia nos mostra que a Educação Física sempre esteve atrelada à

diferentes códigos/sentidos da instituição esportiva. Atualmente constatamos o

alto predomínio do esporte, como se outros conteúdos não importasse mais.

Como uma das mais variadas conseqüências deste caráter de

esportivizaçao, esta a especialização precoce. Muitos professores preocupados

com o rendimento e os resultados recorrem cada vez mais à este tipo de

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procedimento didático. As pressões também impostas por pais e pela

sociedade configuram este quadro. Freire (2004) afirma que

“A busca compulsiva pelos resultados de alto nível move muitos pais e

treinadores a descobrir, entre crianças futuros campeões. Obcecados

pela idéia de formar campeões, esses treinadores podem comprometer

inúmeras possibilidades de vida de uma criança, especialmente

retirando-lhes o direito de brincar”. (p. 36)

A eficácia de muitos professores é avaliada pelos resultados das

competições infantis e juvenis. É notório, percebermos que devido a grande

inclusão cada vez mais cedo, de crianças em competições divididas e

separadas por faixas etárias e categorias, e segundo Filin (1996, p.24) o

professor diante destas determinações precisa força o treinamento

especializado e levar frequentemente os atletas aos resultados somente nas

competições infantis e juvenis. O mesmo autor admite que

“Frequentemente os treinadores não levam em consideração a faixa

etária ótima para atingir os altos resultados, e, em conseqüência disso,

inadissivelmente forçam a preparação dos seus atletas preocupando-se

em levá-los ao alto resultado já na idade juvenil, não pensando no futuro

do atleta, durante a passagem dos grupos juniores para os dos adultos”.

(1996, p.24)

Muitos destes resultados alcançados nestas fases, não garantem que o

aluno ira progredir posteriormente. Gallahue (2003) comprova a inabilidade do

treinamento precoce.

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É sempre possível observar um desenvolvimento extremamente rápido

em alguns jovens atletas. Nesses casos é importante que o técnico resista à

tentação de desenvolver um programa de treinamento especializado. Bompa

afirma que “Uma base ampla e multilateral de desenvolvimento físico, especialmente em

relação à preparação física geral, é uma condição básica para atingir um nível altamente

especializado de preparação física e maestria técnica”. (2002, p.32)

Devemos nos atentar em perceber que o processo ensino-aprendizagem-

treinamento (EAT) proposto por Greco e Brenda (2005), não visa apenas a

preparação para o esporte de alto nível, mas também preparação para a

conscientização de que a atividade física é um meio para alcançar uma vida

salutar. Isto acontece quando o professor deixa de considerar a formação

biopsico-social das crianças, que estão sob sua responsabilidade, e buscam

por resultados, medalhas e campeonatos. Os mesmos autores, numa posição

criticam aos objetivos que apenas aspiram rendimentos máximos, fazem a

seguinte afirmação: “Nos aceitamos o EAT com crianças adolescentes como um passo

dentro do processo; repudiamos quando o EAT toma como único objetivo atingir rendimento

máximo independente da idade do aluno”.(2003, p.13)

Ou seja, a formação do aluno ou atleta, em qualquer etapa deve ter

como objetivo alem das competências técnicas-táticas, a competência humana.

O professor Daniel Mutti (1999) afirma que “os professores devem ter conhecimento

pedagógico suficiente para aplicar atividades em que a criança passa (...) obter o

desenvolvimento motor... (p.73)”.

A figura 1.1 sugerida por Bompa (2002, p.33) ilustra a abordagem

seqüencial de treinamento, comum nos países do leste europeu.

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Maturação Alto desemp.

Atletas Juvenis Treinamento Especializ.

Infância Desenvolvimento Multilateral

Figura. 1.1 – Período de um treinamento de muitos anos

“A base da pirâmide, que podemos considerar o fundamento de qualquer

programa de treinamento, representa um desenvolvimento multilateral.

Quando este desenvolvimento alcança um nível aceitável, principalmente

em relação ao desenvolvimento, que o leva ao ponto máximo de carreira

atlética, ou seja, ao treinamento para o alto nível de

desempenho”.(Bompa, 2002 p. 32).

A abordagem a longo prazo não exclui a especificidade do treinamento.

Ela pode ser presente nos seus três níveis de desenvolvimento, porem em

proporções diferentes. O desenvolvimento multilateral nos primeiros anos de

desenvolvimento, ira formar uma base sólida que evita lesões por estresse,

monotonia e supertreinamento. Outra figura 1.2 sugerida por Bompa (2002)

mostra a relação entre o desenvolvimento multilateral e o treinamento

especializado em diferentes faixas etárias.

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Figura. 1.2 – Relação entre desenvolvimento multilateral e treinamento especializado em diferentes faixas etárias

O mesmo autor relata em seu livro “Periodização: teoria e metodologia do

treinamento”. O resultado de três estudos longitudinais executados em três

paises diferentes, demonstram a validade desse principio. Esta pesquisa

realizada por Harse (1982 in Bompa 2002) onde teve o seu foco na ex-

Alemanha Oriental, durou 14 anos para ser concluída. O trabalho consistiu em

separar em 2 grupos uma grande quantidade de garotos com idades entre 9 e

12 anos. O primeiro grupo treinou com uma abordagem similar a da América do

Norte: especialização precoce em dado desporto, baseada em exercícios e

métodos de treinamento especifico.

O segundo grupo seguiu um treinamento geral em que as crianças

praticam uma variedade de outros desportos e de habilidades especificas. Os

resultados (tabela 1.1) provam que uma base bem feita leva ao sucesso

atlético.

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Filosofia de Treinamento

Especialização Precoce Programa Multilateral - Rápido desenvolvimento do desempenho.

- Melhor desempenho atingido com cerca de

15-16 anos devido à rápida adaptação.

- Desempenho inconsistente nas

competições.

-Por volta dos 18 anos os atletas estão

saturados

- Suscetível a lesões devido à adaptação

forçada.

- Baixo desenvolvimento do desempenho.

- Melhor desempenho aos 18 anos ou mais,

acompanhado da maturação fisiológica e

psicológica.

- Desempenho consistente nas competições.

- Longa vida atlética.

-Poucas lesões.

Tabela 1.1 – Comparação entre especialização precoce e desenvolvimento Multilateral.

Pesquisas realizadas por Rolf Carlson (1988 in Bompa 2002, p.34),

com tenistas de suecos, onde se analisou a experiência anterior e o padrão de

desenvolvimento, concluiu que é importante enfatizar um engajamento

esportivo multilateral e um treinamento, que não se assemelha ao treinamento

profissional na infância e adolescência. É importante e necessário que a

criança nas fases iniciais sejam beneficiadas com ambientes ricos e

diversificados, que lhe permitam realizar e experimentar diversas formas de

movimento. É esta base diversificada que ira garantir o bom desenvolvimento

esportivo na fase adulta. Segundo Rodrigues (1993 in Mutti, 1999 p. 71) há um

longo processo para a criança chegar ao domínio de habilidades complexas e,

para isso as experiências com os movimentos fundamentais como andar,

correr, saltar, lançar, rolar, etc. são de grande importância e vão servir de base

para a aquisição de habilidades das etapas seguintes. O desenvolvimento

motor será tanto maior quanto maior for a variedade de experiências motoras

que a criança vivenciar. O que não se adquiriu no tempo hábil do

desenvolvimento motor da criança, jamais será recuperado totalmente.

Alem das questões de privação do ambiente, queremos destacar que

alem desta, o treinador erra em forçar os alunos a valorizarem difíceis tarefas

de treinamento, e ainda pior com uma intensidade alta que excede o potencial

de adaptação deles. Bompa (2002) descreve que sobre estas circunstancias,

os atletas experimentam um processo de recuperação fisiológica inadequada

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que os leva a exaustão. Esse tipo de programa também pode afetar o

crescimento natural de um individuo e, algumas vezes a saúde pessoal. Em

relação a este assunto, o abordaremos com mais detalhe no tópico posterior,

onde analisaremos as implicações que podem promover o uso do treinamento

precoce.

2.2.3.1 Implicações da pratica desportiva precoce A preparação precoce geralmente leva a uma sobrecarga do organismo

e não contribui para o seu desenvolvimento posterior. Segundo Filin (1996).

“Nos primeiros anos de pratica desportiva, não devemos ter como

objetivo o aprofundamento da especialização no desporto, qualquer que

ele seja. As sessões desportivas devem-se processar de forma variada

com um insignificante aprofundamento da especialização no desporto

escolhido. A preparação variada realizada com as crianças garante o

processo constante dos resultados durante muitos anos de treinamento”.

(p.37)

Devemos nos atentar para o fato de que a preparação variada não é o

objetivo, mas é o efetivo para a formação dos fundamentos simples da

especialidade o que garante a maior eficácia desportiva no futuro. O que

constatamos, é que nem sempre as ações caminham nesta direção. Podemos

destacar como exemplo, a modelo norte americana. Os seus especialistas

apressam os jovens para a realização somente das habilidades e do

desenvolvimento físico especifico a um desporto.

Como afirma Bompa (2002, p.32) essa abordagem limitada pode

conduzir a lesões por estresse (overuse).

Além destas implicações Mutti (1999) nos alerta para outros dois

fatores: o psicológico e o fisiológico.

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2.2.3.1.1 Implicações Fisiológicas Como mencionamos anteriormente, umas das razões em se iniciar o

treinamento precoce, é a ansiedade de muitos pais, atrelados à pressão que o

treinador sofre, pois muitas vezes a eficácia de seu trabalho é medida pelo

resultado das competições , que as federações cada vez mais insistem em

realizar, como vistas a detectar futuros talentos esportivos. Mutti (1999, p.80)

relata que muitas crianças, a maioria na faixa etária de 6 a 12 anos, procuram

ou são levadas aos clubes, onde submetem-se a treinamentos visando futuras

competições. O treinamento muitas vezes é intensivo assim como a sobrecarga

do mesmo. Leite (1983 in Mutti 1999) estudando sobre as implicações do

treinamento precoce no desenvolvimento e crescimento infantil cita que...

“...o trabalho muscular intenso e excessivo pode ocasionar perturbações

no desenvolvimento normal da criança, principalmente no ritmo de

crescimento em estatura e no desenvolvimento somático e funcional,

dependendo da intensidade dos danos caudados por tensões repetidas,

o crescimento em estatura pode experimentar modificações irreversíveis

pela obstrução precoce das cartilagens”. (p.80)

A atividade física é importante, tanto como um ambiente que permita à

criança a participar destas atividades. Segundo Gallahue (2003, p.249)

“crianças ativas têm menos gordura corporal em proporção à massa magra

corporal”. O mesmo autor cita que geralmente a atividade física produz efeitos

positivos sobre o crescimento, exceto em casos de nível excessivo de

exercícios, o que pode acarretar como descrevemos anteriormente,

implicações futuras. Seefeldt e Goulde (1980 in Gallahue 2003, p.250), indicam

que vários estudos apontam níveis de crescimento reduzidos na altura e peso

de jovens envolvidos em programas de treinamento de moderados a

intensivos.

As razões para a não aplicação de sobrecarga em crianças, entre outras

esta relacionada ao crescimento, pois o mesmo encontra-se em sua fase

evolutiva, sugerindo que o risco de lesões e fadigas nas zonas de crescimento

que situadas nos ossos longos entre a parte tubular e as apófises articulares, é

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a base de importantes saliências ósseas, servem de ponto de inserção para os

tendões formando igualmente a placa de cobertura das vértebras. Ou seja, a

estrutura óssea da criança não esta preparada para suportar uma exigência

muito grande do sistema muscular, estando sujeita a sérias lesões se isso

ocorrer.

Mutti (1999) cita ainda que:

“O ponto mais fraco de toda uma cadeia suscetível de lesões encontra-

se nas uniões musculos-tendinosas, inserções dos tendões ou ligamento

nos ossos e principalmente as epífises, que estão atuando como “centro

de crescimento ósseo”, com profusa irrigação sanguínea, sendo mais

suscetíveis de sofrerem lesões do que as diáfises”. (p.80-81)

Da mesma forma os sistemas vasculares e respiratórios também ficam

suscetíveis a perturbações funcionais de desenvolvimento. Treinamentos que

visam resultados precoces podem trazer danos, limitando de modo irreversível

o sistema cardiovascular.

2.2.3.1.2 Implicações Psicológicas

Lucena (2001, p. 5) cita que crianças a partir de 08 anos têm mais

facilidade para participar de atividades em grupo, que segundo Gallardo (1998,

p. 89) as questões que estão entre 6-7 anos, ainda apresentam dificuldades

para se organizar no trabalho em grupo, embora bem menos que nas fases

anteriores. Segundo o mesmo autor:

“Do ponto de vista cognitivo-afetivo, a criança de 8-9 anos apresenta

algumas características que a diferencia de uma outra no inicio do

Ensino Fundamental. Nesse momento evolutivo dá-se a passagem dos

jogos de faz-de-conta, próprios de estagio pré-operatório,..., para outros

com regras ou marcados pela construção mais conceitual”. (1998, p.

95)

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Estes jogos permitem uma situação favorável ao desenvolvimento,

quando tem dupla qualidade de serem lúdicos e exclusivamente infantis, sendo

de caráter espontâneo, para que possa permitir o desenvolvimento a vida

social entre crianças. Por outro lado, se a iniciação desportiva especializada

tiver caráter competitivo, o treino provocará mudanças de mesma intensidade

em indivíduos diferente. Questões como diferenças musculares, ósseas,

biológicas, não são consideradas. Leite (1983 in Mutti 1998 p. 81) menciona

que a atividade realizada pela criança dever ser livre e sem pressão. A

variedade de atividades e habilidades empregadas em um simples jogo, o

prazer em realizar-lo será mais e mais será o valor educacional.

A inserção de crianças em competições é bastante prejudicial, como já

mencionamos, porém esta é uma pratica realizada com bastante naturalidade,

inclusive incentivada por meio de comunicação. Uma das conseqüências é o

peso de sensações negativas, decorrentes de erros influenciados pela falta de

preparo da criança para absorver a situação, trazendo também como

conseqüência o medo. Daí advem uma serie de alterações: aumento da

freqüência cardíaca e pressão arterial, aumento do ritmo respiratório e tensão

muscular.

Deacom (1978 in Mutti 1998, p.82) diz que algumas crianças iniciadas

precocemente em determinadas praticas esportivas se desgastam cedo e se

desiludem a respeito da atividade física (síndrome de saturação esportiva),

demonstrando, às vezes, aversão à sua pratica, quando deveria está no auge.

É aconselhável que crianças abaixo de 12 anos não participem de

competições onde haja a presença de expectadores e que ultrapassem o

espaço geográfico comunidade em que vive. Isto porque muitos pais punem o

fracasso ou exaltam de forma exagerada a vitória, produzindo desta forma

crianças mais ansiosas em presença do publico. A falta de experiência pode

gerar inquietação e agitação desnecessária na criança. Devido à maturidade

psíquica não esta desenvolvida, a sensação de fracasso pode ser perigosa.

Diauto (1974 in Mutti 1998 p. 82-83) afirma que de modo algum deverão

ser admitidas as competições de grande responsabilidade, pela sua

importância e transcendência, bem como os grandes desfiles, a disputa de

valiosos troféus, etc. O autor defende a idéia de que as competições para a

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faixa etária de 6 a 12 anos deve-se restringir a um simples confronto de

capacidades e habilidades, que proporcione alegria aos participantes e que o

fato de superar ou ser superado não implique na “dor da derrota” ou na “gloria

da vitória”.

2.2.4 O tempo certo Para se evitar a especialização precoce é necessário em primeiro lugar

uma boa formação do professor, e mais do que isso respeitar a individualidade

e as etapas de cada criança. Frequentemente observamos na TV nos

noticiários esportivos “exemplos” de ex-atletas e atletas promovendo aulas em

comunidades ou escolas especializadas, sem o menor conhecimento cientifico.

Afirmam proporcionar um futuro esportivo como oportunidade de vencer pelo

esporte. Acontece que contraditoriamente muitos ou quase todos não atingem

o sonho. Têm-se então dois problemas: a frustração por não ter atingindo o

alvo e a privação em não experimentar outras experiências de movimento, o

que acarreta em ambos, prejuízos na formação dos alunos.

Acontece nestes casos uma especialização pré-matura em determinada

modalidade, sem o menor critério na estrutura temporal. Concluo com o que

Melo (2001) comenta:

“tudo tem o seu tempo certo para acontecer. Se tentarmos apressar o

processo da aprendizagem sem que o praticante esteja pronto para

responder corretamente aos estímulos dados, a aprendizagem não

ocorrerá, podendo ocorrer, isto sim, uma desmotivação e uma perda

muito grande (talvez irreparável) no processo ensino-

aprendizagem”.(p.33)

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3 MÉTODO Até o presente momento a nossa pesquisa procurou desenvolver um

referencial histórico, objetivando embasar o foco do trabalho. Através deste,

percebemos como a Educação Física sofreu e vem sofrendo influencia de

varias instituições em diferentes épocas. Esta mesma historia (descrita

anteriormente) nos faz perceber que a Educação Física até meados da década

de 80 era caracterizada pelos aspectos biológicos, refletindo nas inúmeras

produções cientificas neste sentido, desconsiderando muitas vezes aspectos

culturais e sociais.

Certamente muito diferente do contexto dos meados do século passado,

percebemos atualmente que resquícios deste tempo ainda estão muito

sobressalentes nos dias atuais. Esta percepção se da pela observação das

praticas de muitos professores, aspectos estes discutidos anteriormente no

cap. 03, refletindo o processo de esportivizaçao em detrimento do lúdico.

A partir deste referencial outrora comentado, começaremos a delimitar o

nosso campo de investigação, tendo como motivação inicial o trabalho dos

monitores do Programa Segundo Tempo da cidade de Itabuna-Bahia, que

atuam no núcleo Vila Olímpica com crianças de 07 a 09 anos de idade.

Inicialmente nosso intuito era entrevistar os 12 monitores que exerciam

funções neste núcleo, porem percebemos durante a interação com os mesmos,

que 50% deles era composta de professores em processo de graduação, ou

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seja, ainda não haviam concluído o curso, ou estavam ainda no inicio do curso

superior em Educação Física. À estes últimos direcionamos o foco da nossa

pesquisa na tentativa de associar a sua formação ainda incompleta com as

dificuldades que advem desta situação. Kipnis (2004) infere que o trabalho

poderia torna-se dispendioso e complexo se a amostra se resumisse a toda

população escolhida.

Selecionamos os monitores cuja unidade amostral foi o núcleo Vila

Olímpica, localizado no bairro São Caetano. A forma de seleção foi a não

probabilística acidental, recorrendo aos monitores aptos no local de trabalho.

Os requisitos para a escolha dos mesmos, foi o fato de estarem em processo

de formação acadêmica e atuarem com turmas que compreendiam faixas

etárias entre 07 e 09 anos. Neste ponto vale destacar que os monitores

selecionados atendem aos requisitos desejados anteriormente.

A coleta de dados se deu através de questionário constituído de 10

perguntas divididas em 02 aspectos: o primeiro estende-se da questão 01 a 05

e pretende obter informações sobre os fatores motivacionais em relação a

opção pela Educação Física; o segundo que segue da questão 06 a 11,

procura enfatizar como se dá a sua atuação profissional dentro do Programa

Segundo Tempo. O nosso intuito é relacionar como ambos estão relacionados.

O questionário versa das seguintes questões:

1- Quando começou o seu gosto pela Educação Física?

2- O que levou você a optar pelo curso de Educação Física?

3- Qual a sua atual situação na faculdade?

4- O curso que você esta cursando, de alguma forma relaciona-se com a

idéia que você fazia do mesmo antes de cursa a faculdade?

5- Você sente que ainda é necessário, obter mais aprendizado, ou

aperfeiçoamento para uma melhor capacitação profissional?

6- Em relação a sua atuação no Programa Segundo Tempo: você sente

dificuldades em lidar com as turmas com crianças em faixa etária de 07

a 10 anos de idade?

7- Quais são elas?

8- Quais os conteúdos que você costuma trabalhar com elas?

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9- O que você entende ser necessário a uma criança nestas faixas etárias,

visando o futuro das mesmas?

10- Qual o seu conceito de treinamento Precoce?

11- Fale-me um pouco sobre a estrutura de sua aula.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de junho e julho do

ano de 2005, antes do encerramento do programa no dia 28 de julho do

mesmo ano, com um torneio que envolveu todos os núcleos da cidade. O

tempo utilizado nas entrevistas ficou em torno de 15 a 25 minutos,

realizadas no próprio local de trabalho. As respostas foram anotadas na

folha de questionário à medida que eles respondiam.

Nossa hipótese (a de que a elaboração de programas de formação

precoce, realizadas por 50% dos monitores do núcleo Vila Olímpica da

cidade de Itabuna-Bahia, esta relacionada a formação ainda incompleta

destes) permitiu a construção da pesquisa em torno do problema proposto

inicialmente.

O pressuposto metodológico que norteou a nossa pesquisa

qualitativa foi o processo indutivo, que contribuiu para descrever

simultaneamente vários fatores que compõe nossa validade, buscando uma

contextualização, compreensão e interpretação do fenômeno estudado.

3.1 Caminhos para a construção da pesquisa Como mencionamos anteriormente, a nossa unidade amostral foi o

núcleo Vila Olímpica. Este conta com a participação direta de 12 monitores

e 06 coordenadores. Inicialmente pensamos em entrevistar todos os

monitores, porem a um anterior contato com os mesmos, percebemos que

nem todos tinham o nível superior completo. Constatamos que 50% dos

monitores não eram formados.

Direcionamos então o nosso foco para o segundo grupo. Como

pressentimos a entrevista com os acadêmicos, de certo modo, foram quase

sempre parecidas. Acreditávamos que a razão para isto deve-se ao fato de

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todos trazerem consigo requisitos de atividades escolares fundamentadas

em principio de esportivização, e influencias de meios de comunicação de

massa, que ainda não foram suficientemente contestadas.

O nosso primeiro passo foi solicitar do coordenador do núcleo

autorização para realização da pesquisa. Este contato inicial foi

caracterizado pela sua informalidade, sem a necessidade de preenchimento

de formulário e afins. O mesmo não fez objeções, pois entendia que o

mesmo era necessário para a conclusão do curso. Mas de certa forma esta

autorização facilitou e nos credenciou para dar-mos seguimento com a

pesquisa.

Dado o primeiro passo, fomos diretamente aos monitores

relacionados.

3.2 O contato com os monitores

Após a autorização do coordenador iniciamos o contato com os

monitores. Como a coordenação era situada no próprio local, onde também

funciona a Secretaria de Esportes do município, não tivemos dificuldades

em contactar os professores. Ali mesmo solicitamos a colaboração deles

informando-os de todo o processo que desenvolveríamos juntos. Durante a

semana procuramos aqueles que ainda não havíamos tido contato.

O agente facilitador foi o fato de atuarmos no mesmo núcleo, e o fator

amizade foi pertinente. Os nossos encontros eram quase que diários. Eles

se mostraram disponíveis, porem questionaram sobre os detalhes da

pesquisa. Tendo o conhecimento de que seus nomes seriam expostos, se

mostraram contrario, apesar de ainda quererem colaborar. Em comum

acordo resolvemos que somente seriam descritas as iniciais dos nomes,

sexo e idade alem dos dados coletados nas entrevistas.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com Kipnis e David (2005) “a sessão resultado é a parte mais

importante do relatório de pesquisa, pois apresenta o que você encontrou e sua contribuição ao

conhecimento” (p. 85).

Os resultados serão apresentados, comentados e discutidos por ordem

de entrevista, progressivamente. Os monitores são identificados pelas letras A,

B, C, D, E e F, inicialmente. Outros dados sobre os mesmos estão explicitados

nos anexos do projeto.

As cinco primeiras questões nos darão de maneira clara informação

sobre os aspectos motivacionais que estão por trás da escolha profissional e se

de algum modo esta pode esta associado a sua pratica.

4.1 Conhecendo os monitores

Quando questionados, na primeira questão, sobre quando tiveram inicio

o gosto pela Educação Física, percebemos quase que uma uniformidade nas

respostas. Notamos também certo prazer em tratar sobre o passado, mesmo

que este fosse recente. Exceto o monitor C, todos tiveram infância e

adolescência ambientadas com o esporte, alem das boas experiências vividas.

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Todos tiveram acesso a Educação Física escolar, o que também pode esta

relacionado a escolha vocacional dos monitores pesquisados. O fator

motivacional esta explicito nos seus comentários

“Desde sempre, pois sempre pratiquei natação, bale, etc. desde criança

(A)

Eu sempre joguei futebol, em escolinhas de base, assisto muitos jogos, e

sempre gostei de esportes (B)

Creio que por influencia de meu pai (...) sempre assistir jogos de Futebol

pela TV e sempre que possível acompanho (...) o campeonato baiano

(D)

Acho que na minha época de estudante, quando fazia Educação Física

na escola. (E)

Eu pratico atividade física desde minha infância, na escola era a aula

com a qual eu mais me identificava. (F)” [ANEXO]

É perceptível a associação da historia com a Educação Física a locais

onde as atividades são dirigidas. O interessante dar-se pelo fato de nenhum

deles ter mencionado jogos ou brincadeiras que não estivessem atrelados a

instituições formais, ou seja, atividades que fossem realizadas livremente sem

interferência de instrutores ou professores. Outra associação pode estar no fato

de todos sem exceção desfrutarem de condição de vida mais favorável, o que

permite aquisição de matriculas nestas instituições, suprindo a falta de

atividades livres, como exemplos em ruas e praças. A exceção, como

mencionamos anteriormente, ficou por conta do monitor C, que demonstrou

certa aversão a área. “(...) eu nunca gostei muito desta área, pois pela falta de habilidades

que tinha no meu tempo de estudante, procurava ficar sempre a parte

das aulas. Percebia que não havia nada de interessante, e os

professores eram muito rígidos” [ANEXO]

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Certamente, a(s) escola(s) que estudou, também centravam-se em

aprimoramento das capacidades técnicas, sem a busca da liberdade de

expressão.

A historia nos mostra um significativo aumento a partir da década de 70

do numero de atividades esportivas. Segundo Brito e João (2004) “Por trás disso,

estava todo um propragandismo olimpista de detecção de talentos (...) O esporte e as

atividades físicas nunca foram tão exploradas como mecanismo de propaganda

política”.(p.74)

Tafarel (1980), explica que nos dias de hoje em decorrência de um forte

projeto histórico, prevalecem e ainda continua o uso de métodos diretivos,

tendo como característica o autoritarismo do professor.

A escolha vocacional, esta influenciada por todo este contexto onde o

esporte era algo constante. Quase todos associaram esta opção á primeira

resposta.

“O gosto pelos esportes (A);

O meu gosto pelos esportes, ou seja, fazer aquilo que gosto (B);

O meu gosto por futebol (...) sonho em ser técnico (D);

O fruto desta minha historia com o esporte (F).” [ANEXO]

As exceções ficaram por conta dos monitores C e E. O monitor C

diferentemente de E demonstrou não ter gostado de esportes na resposta da

questão 01.

“Por duas razões: a primeira era a concorrência, que achava que seria

baixa, a segunda (...) não me identificava com os outros cursos visto que

inicialmente meu interesse era apenas pelo titulo. Imaginava ser um

curso mais fácil para concluir (C)

Eu tenho um irmão formado em Educação Física, ele sempre me

influenciou(...) (E)” [ANEXO]

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Percebe-se na resposta de C, que a Educação Física ainda é vista por

muitos como um curso secundário e mais que isso sendo fácil para concluir.

Tal estigma pode estar diretamente ligado a visão de totalidade do quadro em

que a área construiu historicamente e que ainda é reproduzido na atualidade.

Isto produz uma visão na maioria da sociedade de que os seus conteúdos são

inferiores aos de outros cursos justamente pela falta de critério com que ela é

trabalhada. Muitos profissionais antes de ingressarem na faculdade de

Educação física, o fazem levados por esta visão outrora experimentada. Isto

pode gerar conflitos e frustrações.

A analise das próximas questões segue a seqüência proposta no inicio:

pesquisar a historia de vida dos monitores pré-universidade, o que influenciou a

opção vocacional; e na seqüência das questões 03, 04 e 05 veremos: qual a

situação atual na universidade, se os mesmos sentem haver necessidade de

uma busca por melhor capacitação e aperfeiçoamento profissional e por fim

qual a atual visão que têm do curso. O nosso objetivo é confrontar estas

primeiras perguntas com as duas primeiras, ou seja, se a realidade atual esta

confrontando a visão anterior.

Quando questionados sobre o que pesam do curso percebe-se também

uma unanimidade em comentar as idéias que tem hoje. Foi notório perceber

certa exaltação misturada com decepção nestas respostas, pois elas apontam

um desapontamento sobre aquilo que ele pensavam e queriam. Cada um teve

motivações contestadas diferentemente.

“(...) eu não sabia das diferenças entre bacharel e licenciatura. Para mim

Educação Física era Educação Física” (A) [ANEXO]

Este monitor é o único que cursa bacharel, e sua formação para a área

não-formal da Educação Física o deixa desapontado, pois sente dificuldades

em elaborar aulas e também ministra-las, pois trata-se de alunos com idades

baixas. Observemos outras respostas.

“(...) não compreendia que houvesse tantos debates em relação a

atuação profissional. (...) pensava que o curso visava apenas ensinar

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esportes, através de treinamentos, (...) as aulas do meu tempo de

estudante se resumiam a treinar para disputa dos torneios. (B)

(...) minha vivencia antes da faculdade, retrata nada do que vejo agora.

(...) pensava que aprenderíamos regras oficiais, treinamento... ( C )

Tudo o que eu falo os professores questionam, dizem que esta errado.

D)

Eu imaginava que tanto o curso como a atuação seriam tarefas básicas,

pois minha Educação Física escolar se resumia a jogar. (E)

O inicio do curso é mais teoria. (...). Eu imaginava segurar uma bola no

primeiro dia de aula. (F)” [ANEXO]

Podemos observar que o entusiasmo inicial das duas primeiras questões

dá lugar agora a confrontos com o que vivenciam hoje, pois aquilo que

imaginavam submetem-se a teorias e conceitos. Infelizmente estas

contestações só acontecem nas Universidades, na grande maioria dos casos.

Isto de certo modo gera dificuldades no exercício da profissão, principalmente

nos acadêmicos, pois os conflitos internos são intensos. Por isto a quinta

questão questiona se os mesmos sentem necessidade de se aperfeiçoarem

mais, frente às dificuldades encontradas do seu estado de estudante. O

monitor bacharel questiona o fato de seu curso não oferecer subsídios para a

atuação no Segundo Tempo.

“Sim, pois o fato do meu curso ser bacharel, percebo uma enorme

desvantagem em relação aos outros monitores que fazem licenciatura.”

(A) [ANEXO]

Também foi unânime e natural reconhecerem que devem se capacitar

mais. Daolio (1995) afirma que “Mais do que opiniões individuais, as entrevistas

reafirmam a construção social das representações dos professores, indicando uniformidade e

regularidade no grupo” (p.77). O interessante é notar que no inicio, não existia

preocupação com teorias, etc. Este reconhecimento da condição de

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profissionais incompletos é bom, pois abre espaço para a busca constante do

aperfeiçoamento, frente a verdadeira realidade encontrada na Universidade.

4.2 A pratica profissional dos monitores Após o diagnostico inicial, onde foi observado os fatores motivacionais

dos monitores, para a escolha profissional, bem como sua historia de vida

interrelacionando-se mutuamente, direcionaremos o foco do nosso estudo á

pratica profissional dos mesmos frente ao Programa Segundo Tempo. Nosso

intuito é observar, a partir deste ponto, como as possíveis relações abordadas

no tópico anterior, podem de uma certa maneira estarem presentes nas suas

atuações como professores, que já tiveram contato com os conhecimentos

científicos, e que por sua vez ainda não concluíram o curso.

Para esta analise, selecionamos 05 questões, que dão continuidade á

entrevista. As mesmas seguem a ordem que vai da pergunta 06 a 11. Estas

procurarão descrever quais as principais dificuldades encontradas por eles, nas

aulas ministradas a alunos entre as faixas etárias de 07 a 09 anos de idade.

Sabe-se que as turmas iniciais necessitam de profissionais altamente

capacitados, pois a falta das competências pode trazer prejuízos irreparáveis

ao desenvolvimento motor e humano, porem não é isto que vê na realidade.

Queremos verificar se a possível falta de formação completa é o fruto destas

dificuldades. Prosseguindo analisaremos os conteúdos trabalhados, e o

pensamento dos monitores quanto ao futuro dos alunos, sendo garantidos

sobre a visão dos professores. Por fim as questões centrais da pesquisa: a

pratica do treinamento precoce e modelo das aulas dos monitores. Estas serão

uma espécie de comprovação ou não de tudo o que já foi abordado e discutido.

A primeira questão referente a este tópico, é a que busca tratar das

possíveis dificuldades relacionadas as turmas correspondentes ás faixas de 07

a 09 anos de idade. Todos demonstraram algum tipo de dificuldades, uns mais

outros menos.

“Muita, pois acredito não ter experiência suficiente. (A)

Principalmente com eles. (C)

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Total. (D)

Muita dificuldade, pois não possuo experiência nenhuma. (F)” [ANEXO]

O monitor E, foi quem menos demonstrou dificuldade, alegando ser uma

turma mais fácil para trabalhar que as dos alunos mais velhos.

As dificuldades mencionadas na sétima questão são muitas. Os

monitores foram muito enfáticos nestas respostas, demonstrando, já as

primeiras formas de adversidades. Relacionamos abaixo algumas delas.

- Agressividade dos alunos;

- Falta de domínio de certas técnicas;

- Experiência;

- Seleção de conteúdos;

- Desatenção dos alunos;

- Paciência esgotada;

- Não conseguir desenvolver o conteúdo;

- Desgaste.

Apesar da unanimidade da questão ser quase completa, esta conteve

respostas distintas, refletindo as dificuldades individuais dos mesmos.

Certamente que a falta de experiência, gera desconforto em lidar com certas

situações, o que acarretar impaciência e desgastes físicos e psicológicos. No

que diz respeito à falta de domínio de técnicas dos alunos detectamos o caráter

puramente esportivizado das aulas, que busca justamente o aperfeiçoamento

destas habilidades. Desta forma o conteúdo passa a ser tão somente voltado

para as quatro principais modalidades esportivas de quadra (vôlei, basquete,

futsal e handebol). Não que o ensino destes conteúdos seja errado, ate mesmo

porque são manifestações construídas historicamente, manifestações culturais

do jogo. A atenção deve-se dar na metodologia de ensino, principalmente com

crianças na faixa etária aqui pesquisada. Freire (2004) infere que

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“...nem tudo o que se fará poderá ser entendido como esporte, mas tudo

será entendido como jogo, ou seja, praticas lúdicas que, se ainda não se

configuram como esporte, têm como objetivo ensinar aquilo que

socialmente se entende como esporte. Inúmeros jogos serão realizados

para ensinar o futebol, assim como inúmeros jogos serão realizados para

ensinar voleibol e atletismo, e assim por diante” (p. 109)

É preciso que as crianças aprendam a refletir sobre sua pratica, e não

apenas vivenciada. Desta forma, procuramos organizar os conteúdos a serem

trabalhados em ordem crescente, de complexidade, conforme as capacidades

motoras, cognitivas e afetivo-sociais dos alunos e os objetivos da Educação

Física escolar. O jogo deve ser ingrediente principal do conteúdo. Antunes

(2003) afirma que o

“...professor jamais poderá em suas ambições e sociais esquecer o

aspecto do prazer e da alegria. A infância não pode ser vista apenas

como ante-sala da vida adulta, precisa ser reconhecida como uma fase

admirável que deve apreciada em si mesma, razão pela qual a alegria e

o prazer de jogar precisam sempre caminhar lado a lado com os

propósitos da aprendizagem” (p.15)

Ou seja, criança deve ser tratada como criança e não como adultos em

miniaturas e os conteúdos elaborados devem contemplar isto, adoção de

características lúdicas. Esta questão dos conteúdos, também foi questionada

aos monitores, procurando identificar com quais conteúdos eles trabalhavam

nas suas turmas, e percebemos que a escolha destes, era influenciada pela

escolha dos alunos. O principal conteúdo foi o Futsal para os meninos e

handebol para as meninas. Este quadro foi configurado pela não resistência

dos professores as pressões dos alunos em fazer aquilo que queriam.

“Antes eu procurava trabalhar com basquete, porem eles tinham muita

dificuldade, e também reclamavam, ate mesmo resistiam em não

participar da aula em sinal de protesto pelo fato de não trabalhar com

Futsal.” (A)

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Percebemos que ele cita a dificuldade dos alunos em desenvolver os

conteúdos do basquete. A falta de domínio das técnicas não deve ser vista

como empecilho para o professor, mas como o primeiro passo para inúmeras

possibilidades. A idealização do aluno pronto e acabado, certamente gerava

frustração.

“Antes, levava brincadeiras, jogos lúdicos, estafetas, etc, porem o

repertorio acabou, e pela sistêmica insistência deles para jogar futsal,

dividido a turma em equipes, conométro o tempo e faço o papel de juiz

enquanto eles jogam. (B)

Foi determinado (...) que devemos trabalhar com as quatro principais

modalidades de quadra (...). porém os garotos só querem jogar futebol

(...) passamos quase todo programa dando futsal para os meninos e

baleado para as meninas (...) (C)

Futsal para os meninos e baleado e handebol para as meninas. (D)

(...) com os conteúdos do futsal, basquete, vôlei e handebol. A cada três

meses trabalho com uma modalidade. (E)

Futsal, pois é o que a maioria deles querem”. (F)

Sabemos que a marca registrada do Brasil é o futebol, e isto certamente

provoca esta pressão por parte dos alunos. A construção histórica do estilo

nacional proporcionou que o futebol se tornasse um esporte tão fascinante para

a sua população. Porém o seu ensino, não deve ser pautado na imitação de

ritmos pré-estabelecidos, e sim contemplar um desenvolvimento unilateral do

ser humano. Infelizmente as crianças, influenciada por toda sorte de

informações não se interessam em aprender o esporte de maneira que não

seja baseada no treino e no rendimento.

Escobar (2005) observa que dois critérios devem ser usados para a

seleção dos conteúdos. O primeiro não deve pautar apenas pela busca do

incremento de uma futura elite esportiva. Segundo a autora este critério nunca

demonstrou eficácia devido talvez a falta de visão do futuro, realizando seleção

às pressas. O segundo critério é que os esportes selecionados devem

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considerar as atividades que encerrem um maior potencial de universalidade e

compreensão dos elementos culturais gerais que nos circundam.“ (...) vulgarmente chamada “escolha das modalidades” – a ser ensinada na escola é o da seleção

com base nas práticas da moda imposta pelo mercado”. (2005, p. 34)

Em relação ao futuro destas crianças, os monitores foram questionados

sobre o que pensam a respeito da nona questão. Todos os monitores,

naturalmente esperam pela boa formação como cidadãos de seus alunos. As

respostas apontam para este ideal, mas será que os caminhos para alcançar

estes objetivos estão certos? Segundo Daolio (1995) “ essa concepção de

Educação Física como trabalho de preparação do cidadão está ancorada nas duas grandes

influências sofridas por ela no Brasil ao longo da sua história, a militar e a médica” (p.86)

“... em relação ao futuro formar homens e mulheres de bem. (B)

Formar o cidadão do futuro. (D)

Tirá-las das ruas afastando-as da marginalidade, para que no futuro

sejam homens e mulheres de bem. (F)” [ANEXO]

Pensar o aluno desta forma é pensa-lo como primordialmente biológico.

Esta concepção, que se estende desde meados do séculos XIX e início do

século XX, ganhou força a partir do governo Vargas ( Estado Novo), onde a

preocupação era a formação de pessoas capazes de engrenar o processo

econômico visto que muitas indústrias chegavam ao país. Esta perspectiva

difundida pelos métodos eugenista e higienista defendida inicialmente, sendo

posteriormente substituível pelo modelo esportivo nacional tem hoje a forma da

modernidade capitalista. Além da formação do cidadão há aqueles que

defendem as aulas de treinamento, entendendo desta forma assegurar um bom

futuro aos alunos, só que desta vez profissionalizando-os no esporte.

Observemos o comentário do monitor.

“É necessário o aprimoramento das técnicas e da disciplina, pois se

queremos formar atletas de elite é necessário treinar, visto que muitos

deles não nasceram sabendo, e devemos compensar esta deficiência

treinando. Devemos encaminhar desde cedo qual a modalidade que

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percebemos que a criança se sairá melhor no futuro, e trabalhar estas

bases de preparação” (A) [ANEXO]

O método descrito pelo professor, demonstra o quão longe ele está dos

objetivos do Programa Segundo Tempo.

“O Programa Segundo Tempo(...) visa também colaborar para a inclusão

social, o bem-estar físico, a promoção da saúde e do desenvolvimento

intelectual de crianças e adolescente, principalmente dos que se

encontram em situação de vulnerabilidade social” (Escobar, 2005,

p.29)

Está explícita na fala do monitor, uma abordagem no treinamento precoce,

pois seus objetivos é aprimorar as técnicas dos alunos. O mesmo trata a falta

de certas habilidades como deficiência. Busca também direcionar a criança o

mais rapidamente, para especialização naquela modalidade que compreende

ter a criança mais aptidão. Em discordância a esse pensamento Escobar

(2005) compreende que nessa faixa etária (6 a 12 anos) a ação pedagógica

deverá priorizar a participação voluntária das crianças e a oferta de atividades

deve ser a mais rica possível, atraente, mas com cuidado de não atropelar

outros possíveis interesses da criança. Entendemos que o monitor além de

promover uma especialização precoce, os objetivos não condizem com as

necessidades das crianças, comprometendo o desenvolvimento motor da

criança. A preocupação com o futuro esportivo também pode ser perigosa pois

a teoria da pirâmide tem demonstrado resultados pífios.

“ Possibilitar que muitos deles vençam na vida através do esporte, sendo

quem sabe grandes atletas” (D) [ ANEXO]

Alguns pensam ser necessário às crianças ter os momentos do Programa

Segundo Tempo como um refúgio da situação de risco que elas vivem.

“... por se tratarem de crianças de baixa renda, e por estarem expostas a

riscos, oportunizar o tempo para afasta-las deste problemas. (B)

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Tira-las das ruas, afastando-as da marginalidade... (F) [ANEXO]

Certamente este tempo é muito precioso para muitas crianças que por

vezes só têm estes momentos de fuga da realidade que vivem. Por isto o

mesmo deve ser o mais rico possível considerando todos os aspectos das

crianças, buscando objetivar uma formação ampla e que contemple a

necessidade dos alunos.

Apenas dois monitores entendem o aluno como um ser todo integrado.

“ Eles devem experimentar o máximo possível de experiências corporais,

para que no futuro o repertório motor seja amplo. (E)

Brincar sempre. (C) “ [ANEXO]

É possível notar que apesar, do desejo dos professores serem de certo

modo o melhor na visão dele, é perceptível uma certa contradição em seus

comentários, onde ao mesmo tempo falam em cidadania, e a buscam com

métodos diretivos. Daolio (1995) infere que

“É interessante notar a contradição entre o discurso dos professores, que

defendem a formação do cidadão, e a sua postura diretiva nas aulas

quando buscam o movimento eficiente. Essa contradição revela a noção

de cidadania que permeia o discurso dos professores, é muito mais

ligada ao cumprimento de normas e regras do que visando à crítica e a

autonomia dos alunos” (p.89)

4.3 Especialização precoce A décima questão do nosso questionário se refere justamente á

especialização precoce, objeto de estudo de nossa pesquisa. Todo o caminho

ate aqui percorrido, buscou de forma indireta observar a possibilidade de existir

praticas precoces no núcleo Vila Olímpica na cidade de Itabuna com crianças

de 07 a 09 anos de idade. O que podemos perceber ate o presente momento, é

um possível direcionamento para estas praticas. Esta analise é notória no que

se diz respeito ao processo histórico, que apesar dos discursos na década de

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1980, o direcionamento das aulas pouco mudou. Outro aspecto notado é visto

na interação existente no questionário. O discurso apesar de ser diferente do

de décadas atrás se configura como uma repetição maquiada, mantendo

praticamente os mesmos princípios, agora maquiada pela modernidade

capitalista.

A comprovação da especialização precoce é real, e as modalidades

usadas para este principio sãos o Futsal e o handebol. As razões discutidas

anteriormente demonstra a fuga dos monitores em não lidarem com certas

situações, para as aulas diretivas.

Nas entrevistas é possível notar, quando questionados sobre a visão

historicamente construída, ainda difundida, e que permeia o pensamento de

muitos, é discutida e contestada, o que significa já existir uma noção critica

sobre o que foi historicamente pré-estabelecido. Porem este acesso ao novo

conhecimento ainda não é suficiente para acontecer na pratica estas

superações.

A questão 10 nos mostra qual o conceito que os monitores possuem sobre

o que seja especialização precoce.

“...seria forçar a criança a desempenhar tantas alem de sua capacidade

física...(A)

É aplicar carga demasiada. (C)

Dar treinamento muito forçado para crianças, pois muitas delas não

detem estruturas adequadas. (D)

Forçar os alunos a fazer algo que não conseguem fazer em função da

idade. (F)” [ANEXO]

Para comentar o conceito dado pelos monitores, vamos recorrer ao que

já foi dito sobre especialização precoce. Anteriormente verificamos que

especialização precoce seria o processo que visa alcançar rendimentos

esportivos em um curto período de tempo, em uma determinada modalidade

esportiva, excluindo qualquer necessidade de diversidade de estímulos, e que

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estas praticas podem provocar implicações negativas tanto fisiologicamente

quanto psicologicamente.

O comentário dos monitores ate certo ponto esta correto mas não esta

completo. A visão reduzida permite integra-la somente é sobrecarga de

treinamento, ou seja, se a carga de treinamento for baixa, não há

especialização precoce, o que seria um pensamento equivocado. A

sobrecarga é apenas um dos recursos daqueles que submetem os alunos a

isto. Em relação ao assunto comenta o monitor.

“È o profissional elaborar planilhas de treinamento onde os exercícios e

as aulas não sejam compatíveis com as estruturas ósseas e musculares

dos alunos, podendo ate causar lesões e prejuízos no desenvolvimento

pela atividade rigorosa”. (E) [ANEXO]

Esta preocupação foi abordada anteriormente por Mutti (1999). Filin

(1996) reafirma a colocação quando infere que “a preparação precoce leva a uma

sobrecarga do organismo e não contribui para o seu desenvolvimento posterior” (p.37).

Apesar do conceito, verificamos que o desenvolvimento das aulas acontece

justamente da forma anteriormente criticada. O discurso não condiz com a

pratica, pois muitos alicerçados pela influencia histórica ainda não foram

capazes de superar a vivencia individual.

A questão 11 do questionário confirma de maneira detalhada como a

preparação com a especialização precoce é realizada.

“Como estou trabalhando agora com o Futsal, depois do alongamento

trabalho com o fundamento. (...) A cada dia trabalho um fundamento

diferente, para depois aplicar no segundo momento da aula com o jogo

livre, onde colocarão em pratica o que aprenderam. (A)

...no final reservo de 10 a 15 minutos para trabalhar os aspectos técnicos

que apresentam deficiência. (B)

...explico o que é parte interna do pé e que iremos realizar atividades

com esta parte. Este é o segundo momento aperfeiçoar os gestos,

trabalhar os fundamentos. (D)” [ANEXO]

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A preocupação eminente dos monitores é a aprendizagem do gesto

técnico e do aperfeiçoamento dos mesmos. O objetivo pretendido é a busca de

uma melhor aptidão dos alunos. Daolio (1995) destaca que

“Pensando o corpo como exclusivamente biológico, os professores

entendem-no como natural, como se fosse anterior a cultura e, portanto,

o mesmo em todo e qualquer lugar. Em decorrência dessa suposição

eles negam que os alunos chegam (...) possuindo técnicas corporais,

que por isto mesmo, devem ser-lhes ensinadas.” (p.94)

Os professores agindo nesta seqüência não conseguem perceber que os

corpos diferem entre si, devido a fatores socioculturais. Não compreendendo as

técnicas como integrantes de uma realidade sociocultural. Nesta visão sempre

haverá corpos melhores, mais fortes e capazes e em contraposição corpos

mais fracos, piores e menos capazes. Assim não percebendo o aluno como

uma totalidade construída nas relações sociais e culturais, determina aquilo

que o mesmo deve aprender. A sua pratica certamente se desvinculara do

contexto de vida de seus alunos. O valor maior é dado ao conhecimento

sistematizado não levando em consideração o conhecimento corporal que o

aluno trás em si. O jogo passa a ser aprendido/ensinado por partes. Explica-se

e treina as partes para depois joga-lo. Scaglia e Rangel (2004) defendem que

“Não se aprende a arremessar para depois se aprender a jogar

queimada; o arremesso é aprendido durante o jogo. Os jogos coletivos

foram criados desta maneira, as pessoas aprendiam jogando. Somente

mais tarde, com a técnica e a ciência, é que se passou a ensina-los com

decomposição das partes”.(p.168)

Como a preocupação esta apenas no esporte institucionalizado, o aluno

não tem a oportunidade de experimentar outras formas de jogos e se

especializam em poucos gestos motores. O importante é a capacitação,

mostrando a prevalência de um modelo tecnicista. Sabemos que a tradição

positivista ainda caracteriza a pratica da Educação Física, conduzindo a

criança pelos caminhos definidos pelo modelo liberal-captalista. Desta forma

Gallardo (1998) infere

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“...o conhecimento é construído em grande parte pelas mãos do

professor, aquele que sabe. Assim a repetição dos exercícios, a

uniformização dos movimentos e o adestramento do corpo parecem

constituir, muitas vezes, a preocupação metodológica mais freqüente nas

aulas de Educação Física.” (p.34)

O monitor E, apesar de sua preocupação em não elaborar atividades

técnicas, como os demais, opta por realizar atividades pré-desportivas. O seu

objetivo é trabalhar determinado desporto, por um período de tempo sem que

haja uma preocupação inicial em aprimoramento e refinamento de capacidades

físicas e técnicas.

“Bem, eu procuro variar o maximo possível. (...). Na aula procuro

proporcionar atividades em envolvam os fundamentos do desporto

trabalhado, ou seja, jogos pré-desportivos com ampla variedade de

movimentos” (E) [ANEXO]

Este procedimento pode ser arriscado. Certamente estes jogos objetivam

o desenvolvimento de maneira prazerosa das habilidades do desporto

trabalhado, porem o risco que corremos é o de cair em um tecnicismo mais

elaborado (sofisticado), com uma nova roupagem (mascarada pelo lúdico),

desta forma, o aluno joga apenas para aprender os gestos técnicos e não a

dinâmica do jogo e mais uma avalanche de valores culturais. (Scaglia e

Rangel, 2004)

Sabemos que os resultados encontrados, por si só determinariam o fim da

pesquisa através de suas comprovações e tudo o que já foi abordado. Este

novo capítulo que poderíamos considerar como opcional, procura discutir

algumas propostas que poderiam ser desenvolvidas pelos profissionais de

Educação Física. Não queremos caracteriza-la como solução da pesquisa, mas

como uma pequena contribuição para a reflexão de uma proposta pedagógica

que pode ser possível.

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4.4 Uma perspectiva pedagógica que pode ser possível Sabemos que a educação brasileira é regida pela ideologia das classes

dominantes, afim de beneficiarem a si mesmo, e isto é uma das obrigações da

escola: torna isto consciente e apontar direcionamentos para mudança,

trabalhando o aluno como um todo, considerando o social, a adjetividade, o

cognitivismo, cultural e motor.

No decorrer da pesquisa nos referenciamos em uma proposta

pedagógica para esporte dentro de uma perspectiva histórica-crítica: “por esta ter

a ver com o antes, com o durante e com o depois e também pela transitoriedade e relatividade

de tudo o que é histórico”. (Guareshi, 1985, p.23)

A pratica pedagógica esportiva cristalizada hoje nas escolas que

possuem pressupostos no passado, invariavelmente, vem reforçando a

reprodução da atual estrutura social, injusta ao nosso ver para com a classe

trabalhadora.

Segundo observação de Bracht (1992) “essas características que o esporte

escolar apresenta não são geradas no seio do próprio esporte, e sim, são reflexos

imediatizados da estrutura social em que se realiza, ou seja, da sociedade capitalista”. (p.64)

Taffarel (1980) complementa dizendo que

“... em decorrência da tradição histórica e da influencia do tradicionais

métodos de ensino das escolas européias e americanas, por muito

tempo prevaleceram e ainda continuam em uso dos tradicionais métodos

diretivos que se caracterizam pelo autoritarismo por parte do professor,

que toma todas as decisões em relação ao processo de ensino-

aprendizagem”. (p.15)

Daí considerando o fato de que o esporte escolar na sua essência, não

possui as características negativas apresentadas hoje por esta pratica, e

também considerando o fato de que o processo de inculcaçao da ideologia

dominante se dá de forma contraditória e conflituosa, pois vivemos em uma

sociedade dividida em classes. Acreditamos que dentro da própria instituição

escolar existem espaços, mesmo limitados para desenvolvermos uma

pedagogia esportiva que tenha um papel diferente da estabelecida pela

ideologia dominante.

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Em relação ao desenvolvimento de uma pedagogia desideologizada,

recorremos ao pensamento de Bracht (1992) quando enfatiza que:

“Neste sentido a tarefa que se impõe, parece-nos a de desenvolver uma

pedagogia desportiva que possibilite aos indivíduos (...), o acesso a uma

cultura corporal esportiva desmistificadora. Permitir ou possibilitar desta

pedagogia, que estes indivíduos possam analisar criticamente o

fenômeno esportivo, situa-lo e relaciona-lo com todo o contexto

socioeconômico, político e cultura”.

Assim, procuraremos posteriormente apresentar algumas possibilidades de

atuação profissional, relacionadas ao conteúdo, a técnica e regra e a relação

professor-aluno.

4.4.1 Em relação ao conteúdo O conteúdo esporte é um patrimônio da humanidade e precisa ser

transmitido e assimilado pelos alunos na escola, “sua ausência impede que o homem

e a realidade sejam entendidas dentro de uma visão de totalidade”. (Soares, 1992, p. 42)

De acordo com Moreira (1993)

“... tomando o esporte como conteúdo a ser tratado na escola, podemos

dizer que para ensina-lo não podemos abrir mão quer seja das ciências

físicas e biológicas, das ciências sociais ou da cultura. Isso porque

ensinar um esporte, enquanto conteúdo escolar, implica considerar

desde os seus fundamentos básicos, os seus métodos de treinamento, o

seu “jogar” propriamente dito ate o seu enraizamento social histórico,

passando é claro pela sua significação cultural enquanto fenômenos de

massa em nossos dias. Desse modo o futebol, o voleibol, o basquetebol

ou outra modalidade esportiva, deixa de ter caráter apenas pratico e

passam a ter um caráter histórico-social.” (p. 217)

O conteúdo deve ser discutido com os alunos e elaborado conforme a

realidade do aluno como complementa Coletivo de Autores (1992)

“Essa seleção e organização de conteúdos exige coerência com o

objetivo de promover a leitura da realidade. Para que isso ocorra,

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devemos analisar a origem do conteúdo e concluir o que determinou a

necessidade de seu ensino. Outros aspectos a considerar na seleção

dos conteúdos é a realidade material da escola, uma vez que a

apropriação do conhecimento da Educação Física supõe a adequação

de instrumentos teóricos práticos, sendo que algumas habilidade

corporais exigem, ainda, materiais específicos”. (p. 64)

Além do reconhecimento do grupo a ser trabalhado, deve-se também

atentar para o material, para se planejar o conteúdo a ser trabalhado.

4.4.2 Em relação à técnica e regra Aqui o ensino da técnica e das regras oficiais deverão relacionar-se com

os interesses e a realidade do aluno, alterando-se as regras pré-estabelecidas,

pelos próprios alunos, oportunizando desta forma a participação de todos.

Segundo Coletivo de Autores (1992) “os gestos técnicos são importantes na

aprendizagem do esporte, desde que, o ensino do esporte não se limite exclusivamente aos

gestos técnicos, pois não é suficiente a técnica para dizer que conhecemos alguma modalidade

esportiva.” (p. 71).

Devemos atentar em entender que nossos alunos são pessoas diferentes,

e com isso, cada um satisfaz-se em realizar técnica em nível diferente. Pode-se

realizar de maneira rudimentar ou próxima ao rigor técnico do esporte de alto

rendimento.

4.4.3 Em relação da relação professor-aluno Aqui fundamentalmente o professor deve abrir expectativas para que o

aluno possa fazer a leitura critica da realidade social complexa e contraditória.

O professor e o aluno devem ter papel ativo no processo ensino-aprendizagem,

diferentemente da forma como acontece nos dias atuais, onde através de um

comando do professor os alunos obedecem sem refletir sobre o que fazem.

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Nossa sugestão é que essa relação se dê através do diálogo para que o ato

educativo seja libertador e não domesticado.

A metodologia indicada é aquela que tem uma visão crítica e

desmistificadora do processo histórico da cultura esportiva, que crie o

conhecimento e que faça o aluno se envolver e se interessar pela atividade que

está realizando.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Educação Física ao longo dos séculos passou e passa por profundas

transformações, que vão desde a sua prática à formação profissional. Estas

questões moveram muitas discussões na década de 1980, onde uma nova

concepção de educação Física começou a se estruturar, baseada no estudo

das influências que o meio físico e social tem sobre o desenvolvimento

humano. Porém percebemos que ainda há muita coisa para ser mudada, como

a pesquisa aponta. Antes dos acontecimentos eram vistos como regidos pelas

leis naturais, o homem biológico era dissociado do homem social.

Após a década de 1950, onde a Educação Física ainda sofria forte

influencia da instituição militar, assume agora os códigos da instituição

esportiva. Os conteúdos do esporte passam a ter uma maior ascensão por

razão do estado, havendo uma exacerbação da técnica em detrimento do

humano. As aulas pautam-se pelo controle físico por meio da repetição de

técnicas, espelhado na mentalidade dos esportes competitivos.

No que se refere a pratica de atividades físicas em nosso país, o corpo dos

indivíduos concebido como corpo-instrumento foi utilizado pela classe

dominante ao longo de varia décadas: na valorização de um modelo especifico

de corpo; quando colocado à servidão da pátria ou quando se tornou um

importante elemento para o mundo da produção, visando o desenvolvimento

da incipiente industria nacional.

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No final dos anos 70 e inicio dos anos 80 trazem a cena uma outra

concepção de corpo: a de corpo-objeto. Esse é o momento no qual podemos

apreender o corpo, apropriado por um sistema que o torna “coisa” e o

transforma assim, por meio de diferentes praticas corporais, esportivas ou não,

em elemento fomentador de toda uma indústria corporal. O corpo é consumido

em modelos, em forma de movimentar-se, em adereços. O corpo-objeto é

consumo, é venda, é lucro.

Este corpo construído historicamente é refletido na construção dos

monitores pesquisados. Todos vivenciaram em suas infâncias alguma pratica

desportiva, ou foram influenciadas por ela. A constatação se da pelo fato de

percebermos que quase sempre alem da escola, foram experimentadas em

instituições esportivas,

Esta experiência, sobrevalorizada pelos códigos do esporte, definiu o

conceito dos mesmos em relação a Educação Física e influenciou a opção

vocacional. O interessante é que essa escolha foi concebida por uma única

verdade: esporte como forma de competição.

Não só os monitores, mas grande parte da população observa a área de

atuação da Educação Física, como meramente capacitadora de aspectos

físicos e técnicos. Os monitores por sua vez, ao entrarem para a faculdade,

têm acesso a uma nova abordagem da Educação Física, gerando em certas

ocasiões conflito de idéias e conceitos. Estes novos conceitos configuram-se

com luz de verdade e quebra de grilhões. Uns resistem em aceitar, pois os

conhecimentos vividos e construídos historicamente contem fortes traços

dentro de si. Os que superaram ainda enfrentam a síndrome da aplicação e

experimentação do novo conhecimento, pois esta transposição e mudança de

conceito na sua pratica enquanto docente não acontece de forma plena. A

balança sempre tende a pender para um dos lados. Como uma criança que

inicia um trabalho esportivo que tem gestos tímidos, tímida também é a

atuação do professor confundido com uma nova perspectiva de atuação, isto

quando a conseguem aplicar.

Os monitores pesquisados, ainda não possuem a sua formação acadêmica

completa, e provavelmente seja justamente isto que os condiciona a

desenvolver atividades focando a especialização precoce de seus alunos. O

conhecimento ate agora experimentado, não produziu mudanças capazes de

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fomentar uma nova abordagem de trabalhar com Educação Física frente aos

alunos de idades de 07 a 09. A especialização inadequada se da no momento

em que o objetivo é aprimorar o aluno em apenas uma modalidade. As

conseqüências é teremos um individuo muito bom é uma determinada

habilidade e tímido em outros gestos, justamente pela privação de

oportunidades em vivenciar outros movimentos. O aluno deixa de ser

considerado como um ser multidimensional (social, afetivo, cognitivo, cultural e

motora).

Certamente que as aulas planejadas pelos monitores, reproduzem de um

certo modo, as aulas vividas pelos mesmos enquanto crianças. Ou seja, a

pratica de especialização precoce, realizadas pelos monitores ocorre da

mesma forma que foram experimentadas por eles em outras épocas.

Apesar do conceito que estes professores têm sobre especialização

precoce, como sendo algo inadequado, não conseguem sistematizar em suas

aulas algo que fuja a estes procedimentos.

A pesquisa não tem como objetivo criticar a utilização de monitores em

processo de formação acadêmica, pois entendemos que com o auxilio do

coordenador, é possível exercer atividade, alem de proporcionar uma rica

vivencia na futura dos monitores. Esta experiência aliada a uma nova

concepção que estão possuindo sobre Educação Física, certamente

proporcionara uma formação consciente.

As novas concepções de Educação Física destacam o aluno como um ser

integrado. Desta forma, a criança deve ser vista como um ser historicamente

situado, dona de um saber que seja importante para a sua vida em sociedade.

Ao mesmo tempo devera ter capacidade critica para situar-se no mundo, para

ser modificado e transformado por ele. É preciso que a criança internalize os

elementos da cultura corporal ou motora. O jogo deve ser caracterizado, pela

liberdade das ações, sendo utilizados como modo de educação.

É preciso superar a idéia de que a técnica deva ser tratada com

instrumento, onde são coletados conjuntos de movimentos considerados

eficientes e perfeitos e divididos em estágios de uma seqüência pedagógica

para o aprendizado. Dessa maneira constrói-se status de padrão de correção,

caracterizando outras formas como errôneas, incompletas ou variantes menos

desejáveis da técnica considerada perfeita. Assim o professor terá estes

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movimentos como únicos a serem alcançados no comportamento corporal de

seus alunos.

Cabe a Educação Física compreender e explicar o corpo, buscando

despertar nos educandos uma consciência corporal que lhes permita

perceberem-se no mundo em que vivem e, possam dessa consciência,

interferirem criticamente no processo de construção da sociedade brasileira.

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APÊNDICES E ANEXOS

Monitor: “A”

Data: 26/06/06

Hora: 08:40 a.m.

Local: Vila Olímpica Itabuna

01. Desde sempre, pois sempre pratiquei natação, balé, etc. Desde criança.

02. O gosto pelos esportes. Como mencionei sempre fiz atividades

regulares, pois meus pais sempre me matriculavam em clubes e aulas

esportivas.

03. Estou no quarto semestre do curso, sem nenhuma disciplina atrasada.

04. Em parte sim. Porém eu não sabia das diferenças entre bacharel e

licenciatura, pra mim Educação Física era Educação Física.

05. Sim, pois o fato do meu curso ser bacharel percebo uma enorme

desvantagem em relação aos outros monitores que fazer licenciatura.

Por isso recorro sempre ao meu coordenador pedindo dicas.

06. Muita, pois acredito não ter experiência suficiente. É muito mais fácil

trabalhar com os maiores do que com ele além do que esta é minha

primeira experiência como professora.

07. Muitas vezes não sei o que fazer para motiva-los. Alguns são

agressivos. Eles não dominam as técnicas, se distraem e se dispersam

rápido demais. Muito agitados.

08. Antes eu procurava trabalhar com basquete, porém eles tinham muita

dificuldade, e também reclamavam, até mesmo resistiam em não

participar da aula em sinal de protesto pelo fato de não trabalhar com

futsal. Muitos alunos principalmente os meninos chegavam equipados

com caneleiras, meiões. Eu não tive como reagir a esta situação, e aos

pouco cedo espaço para a prática do futsal para os meninos e handebol

para as meninas em turma separadas.

09. É necessário o aprimoramento das técnicas, e da disciplina, pois se

queremos formar atletas de elite é necessário treinar visto que muitos

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dele não nasceram sabendo, e devemos compensar esta deficiência

treinando. Devemos encaminhar desde cedo qual a modalidade que

percebemos que a criança se sairá melhor no futuro, e trabalhar estas

bases de preparação.

10. Treinamento precoce seria forçar a criança a desempenhar tarefas além

da sua capacidade física, pois elas se sentirão cansadas. Deve-se

trabalhar com a criança de maneira mais leve e não tratando-as como

adultos.

11. Praticamente sempre a mesma coisa todos os dias. A primeira coisa é o

alongamento. Neste momento aproveito para falar da aula como será

realizada. Como estou trabalhando agora com futsal depois do

alongamento trabalho com os fundamentos, por exemplo, hoje trabalhei

com o passe (face interna e externa do pé, e cabeça). A cada dia

trabalho um fundamento diferente para depois aplicar num segundo

momento da aula com o jogo livre, onde colocarão em prática o que

aprenderam. Pelo menos nesta modalidade eles aprenderão alguma

coisa. Depois deste aquecimento as meninas ocupam uma metade da

quadra e os meninos outra. As vezes jogam juntos.

Monitor: “B”

Data: 27/06/06

Hora: 10:00 a. m.

Local: Vila Olímpica

01. Eu sempre joguei futebol em escolinhas de base, assisto muitos jogos e

sempre gostei de esportes.

02. O meu gosto pelos esportes, ou seja fazer aquilo que gosto.

03. Atualmente estou no quinto semestre, tranquei algumas matérias mas

quero concluir o curso.

04. Eu sempre vi a Educação Física como um leque de muitas opções (

academia, clube, etc.) porem não compreendia que houvesse tantos

debates em relação a atuação profissional. Termos como tecnicismo,

tradicional, cultura corporal são novidades para mim. Antes eu pensava

que o curso visava apenas ensinar esportes através de treinamento, e

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foi com esta motivação que eu decidi para fazer o curso, ate mesmo

porque as aulas no meu tempo de estudante se resumiam a treinar para

a disputa dos torneios.

05. Um bom profissional deve esta a todo o momento se atualizando,

independente onde esteja. Em relação ao Segundo Tempo isto torna-se

constante, pois temos que preparar aulas, conversas com o

coordenador, para executar um bom trabalho.

06. Um pouco, principalmente no inicio, pois eu me estressava muito

quando pedia que executassem algo e alguns não conseguiam.

07. Certamente a experiência conta muito, percebo isto nas interações que

tenho com o meu coordenador. Não sei que conteúdos aplicar, pois o

programa me determina o trabalhar com quatro modalidades, e muitos

não tem desenvolvimento suficiente para jogar. Me frustro quando

percebo que somente o Futsal causa euforia neles, não pela

modalidade, mas pelo fato de não conseguir faze-los tomar gosto por

outras atividades.

08. Antes, levava brincadeiras, jogos lúdicos, estafetas, etc. porem o

repertorio acabou e pela sistemática insistência deles para jogar futsal,

divido a turma em equipes, conometro o tempo e faço o papel de juiz

enquanto eles jogam. Porem sempre depois da aula discuto pontos

relevantes e passo conselhos, discutindo a pratica com o dia-a-dia

deles.

09. Penso ser necessário, por se tratarem de crianças de baixa renda e por

estarem expostos a riscos, oportunizar o tempo para afasta-las destes

problemas. Em relação ao futuro formar homens e mulheres de bem, e

quem sabe algum atleta, porem esta é uma preocupação secundaria.

10. É treinar a criança como se ela fosse um adulto. Por exemplo força que

a criança erga de 40Kg numa mesa extensora. O treinamento para a

criança deve ser ameno, leve e cheio de alegria.

11. Faço a chamada e divido a turma em equipes. As vezes eles escolhem.

Depois faço um pequeno aquecimento, e solto a bola. O jogo termina

quando uma equipe consegue fazer dois gols em menos de 10 minutos.

Muitas vezes para a aula não se resumir só a isto, no final reservo de

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10 a 15 minutos para trabalhar os aspectos técnicos que apresentam

deficiência.

Monitor: “C”

Data: 29/06/2007

Hora: 10:00 a. m.

Local: Vila Olímpica

01. Na verdade eu nunca gostei muito desta área, pois pela falta de

habilidades que tinha, no meu tempo de estudante, procurava ficar

sempre a parte das aulas. Percebia que não havia nada de

interessante, e os professores eram muito rígidos.

02. Por duas razões: a primeira era a concorrência, que achava que seria

baixa e a segunda razão é o fato de não me identificar com os outros

cursos visto que inicialmente meu interesse era apenas pelo titulo.

Imaginava que seria um curso mais fácil para concluir.

03. Estou no quinto semestre.

04. De forma alguma, pois a minha vivencia antes da faculdade não retrata

em nada do que vejo agora. Antes pensava que aprenderíamos regras

oficiais, treinamento, que suaríamos literalmente a camisa, e que o

objetivo ao se formar era de ensinar jogos e regras aos alunos.

05. Certamente que sim. Devemos a cada dia nos capacitar, frente aos

obstáculos que nos adivem a cada dia. Como atuo profissionalmente

percebo que ainda me falta muito conhecimento e experiência. O

conhecimento que detenho ainda não é suficiente para realizar um

excelente trabalho.

06. Principalmente com eles. Parece que quanto menor a idade, mais difícil

é dar aula, pois muitos deles não possuem habilidades nenhuma.

07. Muitos reclamam e acham que nossa aula esta chata. Muitos não

conseguem desempenhar aquilo que pedimos. Há muita desatenção.

Quando realizamos por exemplo uma atividade com bola (futsal) há

muita embolação e muitas outras.

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08. Foi determinado pela secretaria que devemos trabalhar com as quatro

principais modalidades de quadra, ou seja: o futsal, o handebol, o

basquete e o vôlei. Porem os garotos só querem jogar futebol e não

gostam que as meninas participem. Por isto passamos quase todo o

programa dando futsal para os meninos e baleado para as meninas,

inclusive separando-os em turmas.

09. Brincar sempre e quem sabe surgir futuros atletas e campeões.

10. É você força a criança a fazer algo que ela não esta apta a fazer. É

aplicar carga demasiada.

11. A primeira coisa é a chamada, pois quem chega atrasado não joga.

Separo as meninas para o baleado e os meninos para o futsal. Faço

um aquecimento com brincadeiras como pega-pega, etc. Após

aquecidos jogam e vão embora ao final da aula.

Monitor: “D”

Data: 03/07/2007

Hora: 07:50 a. m.

Local: Vila Olímpica

01. Creio que por influencia de meu pai que é flamenguista fanático, e me

fez também ser. Desde criança sempre assistir jogos de futebol pela TV

e sempre que possível acompanho o Itabuna no campeonato baiano.

Creio que foi assim que tudo começou.

02. O meu gosto por futebol, pois sempre sonhei em ser jogador, porem

não tive o dom para jogar, por isto sonho em ser técnico.

03. Estou cursando o terceiro semestre, e ate aqui tenho me saído bem.

04. De forma alguma. Tudo o que os professores questionam, dizem que

esta errado. Eu pensei uma coisa e foi outra. Mas como estou no inicio

do curso espero que muita coisa mude.

05. Com certeza. O que sei ate o momento não é suficiente. Dou aula na

cara dura, aprendendo com as dificuldades. Porem através desta

experiência sei que no futuro será muito valida.

06. Total.

07. Paciência, experiência.

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08. Futsal para os meninos e baleado e handebol para as meninas.

09. Formar o cidadão do futuro, ou através destes programas esportivos

possibilitar que muitos deles vençam na vida através do esporte, sendo

quem sabe grandes atletas.

10. Dar muito forçado para crianças, pois muitas delas não detêm

estruturas adequadas. É preciso desenvolver primeiro os aspectos

técnicos para depois trabalhar com o esporte propriamente dito. Pois

muitas não sabem jogar nada, por isto não se pode dar algo que ela

ainda não domina.

11. No inicio converso, pedindo que se concentrem na aula, falo um pouco

sobre a aula e como quero que façam o que peço. Exemplo: explico o

que é parte interna do pé e que iremos realizar atividades com esta

parte. Nesta aula todos participam: meninos e meninas. Este é o

segundo momento aperfeiçoar os gestos, trabalhar os fundamentos. A

terceira parte é o jogo propriamente dito. As vezes ela não acontece. No

final faço a chamada.

Monitor: “E”

Data: 04/07/2006

Hora: 08:00 a. m.

Local: Vila Olímpica

01. Acho que na minha época de estudante, quando fazia Educação Física

na escola.

02. Eu tenho um irmão formado em Educação Física. Ele sempre me

influenciou para que também cursasse o curso. Isto também me

proporcionou ter gosto pela coisa.

03. Estou quase concluindo o curso. Estou no sétimo semestre.

04. Logo no inicio não. Muita coisa que eu imaginava parece que por um

passe de mágica tomou muita complexidade. Eu imaginava que tanto o

curso quanto a atuação seriam tarefas básicas, pois a minha Educação

Física escolar se resumia a jogar. A diferença é que eu obtive

conhecimentos que nem fazia idéia que existiam.

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05. Sim, pretendo cursa uma pós logo assim que eu me forme. Não só em

relação ao Segundo Tempo, mais em outras áreas de domínio da

Educação Física.

06. Não muita, pois são bem mais fáceis de lidar do que com os maiores.

07. As vezes, tenho de ter paciência, pois os gestos deles são receosos,

tímidos e os conteúdos que tenho fica difícil de passa para eles. Por

exemplo: como posso ensinar basquetebol se não tem altura para

realizar uma cesta? Ai eu tenho que improvisar bambolês amarrados a

trave.

08. Eu gostaria de trabalhar com natação, mas a piscina esta quebrada.

Bem eu trabalho com o espaço que me oferece: quadra poliesportiva ou

seja com os conteúdos do futsal, basquete, vôlei e handebol. A cada

três meses trabalho com uma modalidade.

09. Eles devem experimentar o maximo possível de experiências corporais,

para que no futuro o repertorio motor seja amplo.

10. É o profissional elaborar planilhas de treinamento onde os exercícios e

as aulas não sejam compatíveis com as estruturas ósseas e musculares

dos alunos, podendo ate causar lesões e prejuízos no desenvolvimento

pela atividade rigorosa.

11. Bem, eu procuro variar o maximo possível. Faço a chamada e dou um

rápido aquecimento. Na aula procuro proporcionar atividades em que

envolvam os fundamentos do desporto trabalhado, ou seja, os jogos

pré-desportivos com ampla variedade de movimentos. Em um dia da

semana geralmente na sexta libero a aula para um futsal mais

competitivo para a alegria deles. No final converso sobre a aula, sobre

os acontecimentos e tchau.

Monitor: “F”

Data: 05/07/2006

Hora: 10:00 a. m.

Local: Vila Olímpica

01. Eu pratico atividade física desde minha infância na escola era a aula

com a qual eu mais me identificava.

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02. O Fruto desta minha historia como o esporte. Outra razão é que eu

pensava ser o curso mais fácil, achava que só era pratica e pratica.

03. Estou em pleno vapor no inicio da marcha. Terceiro Semestre.

04. Não, e isto causou um sentimento de frustração e ao mesmo tempo de

alegria. O inicio do curso é mais teoria na filosofia, sociologia, historia,

etc. Eu imaginava segurar uma bola, no primeiro dia de aula.

05. Com certeza, dar aula é mais difícil do que eu pensava. Você tem que

controlar toda uma situação e não simplesmente jogar uma bola e

mandar dividir o baba. Por isto percebo ainda no inicio do curso, diante

de minha atuação precoce como monitor, tenho muito a aprender. Já

estou aprendendo na pratica, mas obter conteúdo é importante.

06. Muita dificuldade, pois não possuo experiência nenhuma. Por isto

sempre converso com o meu coordenador.

07. Primeiro a falta de experiência. Segundo não sei lidar com elas, pois

devido a idade elas não sabem quase nada. Terceira as aulas que

planejo quase sempre não dão certo (peço uma coisa e eles fazem

outra). O quarto é o desgaste é muito grande.

08. Futsal, pois é o que a maioria deles querem. Algumas meninas

reclamam e elas mesmo sugerem baleado para elas.

09. Tira-las das ruas, afastando-as da marginalidade para que no futuro

sejam homens e mulheres de bem.

10. Forçar os alunos a fazer algo que não conseguem fazer em função da

idade.

11. Realizo a chamada, falo um pouco sobre a aula que ira começar e sobre

assuntos concernentes ao dia-a-dia deles, falando sobre educação,

higiene, etc. Como eles sabem muito pouco, e os gestos são tímidos,

procuro trabalhar com fundamentos básicos como: condução, passe,

recepção, chute, etc. dividindo-os em duplas ou trios. Após dominarem

estes em times. Quando termina geralmente falo sobre os erros e

acertos que acontecem na aula, é basicamente isto.

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