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ESPECIAL Os HERBICIDAS na consolida{ão do SPD A evolução ea adaptação às realidades dos produtos para o controle das invasoras, inclusive com sucessivos lançamentos de moléculas, foi fundamental para que o plantio direto se firmasse Dionisio Lui: Pisa Gazziero, Fernando Storniolo Adegas, Decio Karam, Leandro Vargas, pesquisadores da Embrapa ( om a expansão das áreas cultiva- das com soja, milho e trigo no Brasil, começaram a ser observa- dos problemas resultantes do uso do ara- do e da grade: a erosão. Em 1971 inici- avam as primeiras experiências com o plantio direto e entre os pré-requisitos para sua adoção estava necessidade de redução na pressão de infestação de plantas daninhas, especialmente as pe- renes. Estabeleceu-se como regra que no dia da semeadura a área deveria es- tar totalmente livre de plantas daninhas. Isto porque os herbicidas para uso em pós-emergência na soja convencional apresentavam limitações quanto ao ta- manho das ervas a serem controladas. Além disso, os efeitos da mato-compe- tição provocavam danos significativos às culturas. Após um inicio estimulante, em me- ados da década de 1970 o plantio dire- to experimentou um retrocesso. Em 1978, segundo dados da ICI, fabricante dos herbicidas Paraquat e Diquat, mais de 60% dos agricultores que não ado- taram ou que abandonaram o plantio direto atribuíam o fato ao custo, à ine- ficiência dos herbicidas e às dificulda- des com o manejo das plantas infes- tantes. Havia outros problemas é cla- ro, mas plantas daninhas era um dos mais graves. No início dos anos 80, o plantio direto voltou a despertar nova- mente o interesse dos agricultores, pelo aperfeiçoamento de semeadeiras, pela entrada de novos herbicidas no mer- cado, assim como pelo desenvolvimen- to de espécies para produção de palha e cobertura do solo. Dessecação e pré-semeadura - O período de entressafra é o melhor mo- mento para controlar as espécies infes- tantes, especialmente as perenizadas. Com a adoção da semeadura direta, a operação de preparo do solo foi substi- tuída por herbicidas. Paraquat e Diquat foram os primeiros herbicidas a serem utilizados na dessecação. Dessecação é um termo que foi adotado no passado em referência ao uso dos herbicidas do 36 I JANEIRO 2013

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Page 1: ESPECIAL Os HERBICIDAS na consolida{ão do SPD · herbicida não seletivo. Por disputar o mesmo o mesmo mercado que os bipi-ridilos, também foi chamado popular- ... clorimuron eocarfentrazone

ESPECIAL

Os HERBICIDAS naconsolida{ão do SPD

A evolução e a adaptação às realidades dos produtos para o controledas invasoras, inclusive com sucessivos lançamentos de moléculas,

foi fundamental para que o plantio direto se firmasseDionisio Lui: Pisa Gazziero, Fernando Storniolo Adegas, Decio Karam, Leandro Vargas, pesquisadores da Embrapa

(om a expansão das áreas cultiva-das com soja, milho e trigo noBrasil, começaram a ser observa-

dos problemas resultantes do uso do ara-do e da grade: a erosão. Em 1971 inici-avam as primeiras experiências com oplantio direto e entre os pré-requisitospara sua adoção estava necessidade deredução na pressão de infestação deplantas daninhas, especialmente as pe-renes. Estabeleceu-se como regra queno dia da semeadura a área deveria es-tar totalmente livre de plantas daninhas.Isto porque os herbicidas para uso empós-emergência na soja convencionalapresentavam limitações quanto ao ta-manho das ervas a serem controladas.

Além disso, os efeitos da mato-compe-tição provocavam danos significativosàs culturas.

Após um inicio estimulante, em me-ados da década de 1970 o plantio dire-to experimentou um retrocesso. Em1978, segundo dados da ICI, fabricantedos herbicidas Paraquat e Diquat, maisde 60% dos agricultores que não ado-taram ou que abandonaram o plantiodireto atribuíam o fato ao custo, à ine-ficiência dos herbicidas e às dificulda-des com o manejo das plantas infes-tantes. Havia outros problemas é cla-ro, mas plantas daninhas era um dosmais graves. No início dos anos 80, oplantio direto voltou a despertar nova-

mente o interesse dos agricultores, peloaperfeiçoamento de semeadeiras, pelaentrada de novos herbicidas no mer-cado, assim como pelo desenvolvimen-to de espécies para produção de palhae cobertura do solo.

Dessecação e pré-semeadura - Operíodo de entressafra é o melhor mo-mento para controlar as espécies infes-tantes, especialmente as perenizadas.Com a adoção da semeadura direta, aoperação de preparo do solo foi substi-tuída por herbicidas. Paraquat e Diquatforam os primeiros herbicidas a seremutilizados na dessecação. Dessecação éum termo que foi adotado no passadoem referência ao uso dos herbicidas do

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Especial

PlantioDireto

grupo dos bipiridilos, Paraquat e Diquat,que, uma vez absorvidos, sofrem redu-ção pela fotossíntese, formando peró-xido de hidrogênio, que deixa a plantacom aspecto de dessecada.

O glifosato foi disponibilizado nomercado brasileiro em 1976, como umherbicida não seletivo. Por disputar omesmo o mesmo mercado que os bipi-ridilos, também foi chamado popular-mente de "dessecante". Apesar de efi-ciente, na época seu uso foi inibido peloalto custo - no início dos anos 80 erade aproximadamente US$ 25 por litro.Com o passar do tempo, houve umaconsiderável redução, variando atual-mente de US$ 5 a US$ 7 por litro, o queresultou na ampla adoção.

Mas, desde o início, os problemasrelacionados às plantas daninhas noplantio direto não se limitavam apenasao controle, mas também aos custos.Por isso, houve estímulo para a buscade alternativas que pudessem ser utili-zadas em combinação com os "desse-cantes". A mistura desses produtos como 2,4-D foi proposta com o objetivo de

aumentar a eficiência e reduzir custos.Com a diversificação nas áreas de pro-dução, o uso do 2,4-D passou a serquestionado em função dos danos cau-sados a outras culturas, como algodão,uva e hortaliças. Um problema de deri-va da aplicação, que atinge áreas culti-vadas com espécies de alta sensibilida-de ao produto.

A partir de meados dos anos 90 co-meçaram os estudos na busca por al-ternativas ao 2,4-D. O flumioxazin, oclorimuron e o carfentrazone foram se-lecionados para mistura com glifosatona dessecação. Embora o espectro deação desses produtos não seja tão am-plo quando o do 2,4-D, possuem açõesespecíficas que interessam aos produ-tores, como a eliminação da carênciade dez dias entre a aplicação de 2,4-De a semeadura da soja, e a eficiênciaem espécies de difícil controle comotrapoeraba e a corda-de-viola. O glu-fosinato de amônia surgiu bem maistarde como alternativa, mas, devido aocusto e à limitação para aplicação emrelação ao tamanho das ervas, não fez

concorrência ao glifosato. Entretanto,após o aumento das áreas infestadascom buva, seu uso cresceu no merca-do. A dessecação na entres safra sem-pre foi um problema e, para amenizá-10, muitos agricultores passaram a uti-lizar a aplicação pós-colheita, ou tam-bém chamada de outonal.

Novos herbicidas - No início dosanos 80 dois importantes grupos deprodutos foram lançados no mercadobrasileiro. Um deles, os inibi dores daenzimaACCase (setoxidin, cletodin, ha-loxyfop, fluazifop, etc.), ajudou a so-lucionar as dificuldades com o capimmarmelada ou papuã e outras gramí-neas. Posteriormente, biótipos resisten-tes aos inibidores da ACCase começa-ram a aparecer, como resultado do in-tenso uso destes herbicidas. Fato se-melhante aconteceu com os inibidoresda enzima ALS (imazaquin, imazetapir,diclosulan, clorimuron, etc.), que englo-bava herbicidas que controlavam o te-mido amendoim-bravo. Anos depois,além do amendoim-bravo, outras espé-cies, como o picão-preto, tomaram-se

FertilizerLatino Americano

1013A CRU and Argus FMB collaboratíon

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ESPECIAL

novamente um problema, principalmen-te pela manifestação de biótipos resis-tentes a este mecanismo de ação. Umaclara demonstração de havia ocorridomanejo inadequado não só do herbicidacomo também das áreas de produção.

O problema de plantas daninhas noBrasil, no início dos anos 2000, assu-mia novamente proporções preocupan-tes, sendo a pressão de infestação re-sultante do aumento do banco de se-mentes que cresceu favorecido pelopousio e pelas culturas de safrinha,que, na época, por serem considera-das de risco, recebiam pouco investi-mento, inclusive em herbicidas. Nomáximo, utilizavam-se subdoses. Oproblema de plantas daninhas foi seagravando, levando muitos agriculto-res a uma situação complicada, exi-gindo muitas vezes até quatro aplica-ções de herbicidas em uma mesmacultura, quando o correto seria ape-nas uma. Novamente uma clara evi-dência de que as técnicas de manejonão eram adotadas.

Em 2004, a liberação oficial para usoda soja geneticamente modificada pararesistência ao glifosato trouxe alíviopara os produtores que tinham proble-más com as infestantes. Mas os erroscomeçaram quando muitos pensaramque tudo se podia com glifosato. Es-pécies consideradas de baixa importân-cia relativa, como a buva e o capim-amargoso, na época das campanhas

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para a adoção do plantio di-reto, assumem hoje um pa-pel importante na agricultu-ra brasileira. Isso era espe-rado e alertado, pois estasespécies encontram boascondições para se desenvol-verem no plantio direto. Pa-ralelamente, surgiram os bi-ótipos resistentes da buva edo amargoso, além de aze-vém na região mais fria doBrasil.

Não se pode utilizar ina-dequadamente uma molé-cula tão importante como ado glifosato, um herbicidaque trouxe muitos benefí-cios para a agricultura. Acombinação de glifosato eherbicidas com efeito resi-dual na dessecação de pré-semeaduraé uma linha de pesquisa que tem me-recido a atenção, especialmente apósa liberação da soja Roundup Ready.Nesse caso, se objetiva reduzir a pres-são de infestação após a emergênciada cultura. Mas alguns herbicidas pré-

emergentes aplicados junto com osdesseacantes podem ser retidos pelapalha e submetidos a condições de fo-todegradação e volatilização, até quesejam levados ao solo pela chuva.

Uso correto sempre - A formacomo são utilizados os herbicidas é fun-damental para a manutenção da vida útildesses produtos, assim como para apreservação das áreas com sistemaplantio direto no Brasil, fatos que inte-ressam a toda sociedade. Mostra a his-tória que, desde o início do plantio di-reto, o controle das plantas daninhassempre foi um dos maiores desafios naconsolidação deste sistema conserva-cionista. Um problema que deve serabordado com sabedoria, bem maisfácil de ser resolvido quando associa-do a outras práticas, como a rotaçãode culturas e de mecanismo de ação deherbicidas, dose e épocas de aplicação_______ •• adequadas, elimi-

nação do pousio,manejo de entres-safra, espéciespara formação decobertura morta eredução do bancode sementes. (i-il