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Escolas João de Araújo Correia N.º 25 Junho 2020 ensar(es)

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ÍNDICEEditorialA. Marcos Tavares

Dia Mundial da FilosofiaTurma do 10.ºF

A força da PalavraJoão Rebelo

O elogio da amizadePedro Miranda

ParódiasXana Carvalho

Pequenas, grandes vidas…Hélder Fonseca

Refugiados: Sim ou Não?Luís Cardoso

A liberdade da pobrezaDiana Silva

Talvez em jeito de despedida... HastaAntónio Marcos Tavares

VírusJosé Artur Matos

Rothko e o fascínio do abismoAlexandra Magalhães

Vamos ficar bemJoana Mourão

Às vezes desvaneces-te na paisagemCarla Cabral

Contando de zero até...Carla Cabral

Greta ThunbergAndré Azevedo

O mar e PortugalBeatriz Lamas

Covid-19 - O Antes e o DepoisConceição Dias

O SonhoMaria Rita Ferreira

Projeto 40 dias 40 fotosAlunos de Artes 10.º, 11.º e 12.º Anos

Coma bem, ajude o seu coração!Alunos do 9ºC

A mentiraJoão Tiago Ribeiro

A PrimaveraGonçalo Sol. 3.4, CE Alagoas

Covid-19Laura. 3.4 CE, Alagoas

A Fada TristonhaClara Sofia Dinis . CE Alameda, turma 4.3

Covid-19 na vida das criançasMartim Cardoso . CE Alameda, turma 4.3

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Como devemos viver em sociedade?Valentina Poiares . CE Alameda, turma 4.1

A importância da amizadeMafalda . CE Alameda, turma 4.1

A pena de morteAriana Lopes

What if?Fernanda Sousa

A Juventude e a PolíticaNuno Vasques

Cultura como lixo ou razão de vida?Matilde Carvalho

Êxodo contemporâneoJoana Teles

Época forrada de silêncio e de saudadeEmília Craveiro

Mulheres na políticaRita Alves

Alimentos geneticamente modificadosJoana Santos

A agitação é liberdadeMariana Columbano

GhoutaCarlos Carvalhosa

O burguês do Covid 19Manuel Ferreira

Sonho...M. Eugénia Monteiro

Medicina AlternativaGabriela Borges

Clonagem HumanaJoão Matos

O reconhecimento facialLeonor Lopes

O palco da vidaAna Paula Lopes

O Último MistérioRafaela Costa

Astronomia e Mitologia com ArteSónia Lopes

Escola: Sucesso e insucesso escolar. Luís M. Gomes

“Clarim da Verdade”. 4.ª PartePedro Babo

Carta para o Meu TioLeonor Pina

Chiu… sou livre!Leandro Andrade

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Covid-19: um alerta da mãe Natureza?1. Nos seus vinte e um anos de vida, a Pensar(es) pela primeira vez não é publicada em versão impres-

sa. Teve os seus momentos de só papel, depois em papel e on-line e agora só em versão on-line. As circunstâncias são conhecidas: a humanidade enfrenta uma grande adversidade e muitos serviços estão suspensos.2. A doença que o novo corona vírus traz consigo, a Covid-19, representa a mais séria ameaça dos últi-mos tempos. O ser humano, apesar dos enormes progressos médicos, científicos e tecnológicos, defronta um inimigo insidioso e intangível que ainda não conseguiu compreender, quanto mais vencer.3. As consequências que já se veem e outras que se adivinham questionam o sistema e o estilo de vida de todas as comunidades. O modo como perspetivamos os demais, a organização financeira, económica e política, a hierarquia de valores, provavelmente irão sofrer profundas alterações. Espera-se que para melhor. O maior receio já nem é o vírus, mas o «outro». O vírus não tem vontade própria, não se transmite por sua iniciativa; o vírus é transmitido pelo «outro», que é seu portador. Parece que a famosa asserção de Sartre, em Huis Clos (1944), - «o inferno são os outros» - se revela aqui de uma forma bem trágica. É na presença do outro que sentimos o medo. O «outro» revela-nos a nossa fragilidade, a nossa impotência, a nossa radical finitude, o nosso destino. Tem-se enaltecido, e bem, a solidariedade que se vive nestes momentos, mas simultaneamente assiste-se a atitudes de profundo egoísmo e de indiferença face às necessidades das outras pessoas. Se a pandemia permanecer por longo tempo, vade retro!, receio que sejam os sentimentos mais negativos a prevalecer.4. As consequências mais positivas (se é que se pode falar de algo positivo nesta pandemia), devidas sobretudo à interrupção de diversas atividades, têm sido as relativas ao ecossistema. Deixando de lado a discussão sobre a origem deste novo corona vírus (se provém de um animal, se é resultado de intencionalidade ou de descuido humano…), dou comigo a pensar, com uma certa dose de naturalismo, ao estilo de Espinosa, e seguindo um pouco a linha de Boaventura Sousa Santos num recente ensaio, se esta pandemia não poderá ser interpretada como um aviso da mãe Natureza. Esta, cansada de tantas agressões, observando o perigo constante em que se coloca toda a vida na Terra, olhando por ela abaixo e vendo como responsável o «bicho» Homem, não terá decidido mandar um aviso bem forte, de que é necessário e urgente mudar? De que a continuar como antes será a catástrofe final?5. Queremos associar este 25º número da Pensar(es) (qual «vigésima quinta hora», tempo fora e para além do tempo) a este alerta. Não nos descuidemos, aproveitemos a ocasião para mudar radicalmente o nosso estilo de vida, as nossas atitudes face ao todo que é a «mãe Natureza».

ESJAC, PRG, junho de 2020 - A. Marcos Tavares

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Baseando-nos na Tese da Alegoria da Caverna:

Os seres humanos vivem acorrentados à sua própria ignorância, sem que disso tenham consciên-cia, vivendo a ilusão de um conhecimento pouco seguro baseado na superficialidade dos seus sen-tidos.

Criamos um cenário de escuridão na Biblio-teca Escolar (Ajudados pelo11.ºB)

Convidámos os alunos do 9º ano a participar nes-ta atividade: ao aperceberem-se dessa condição de cárcere, de escuridão em que as sombras pare-cem reais e o real parece estranho, levámo-los a descobrir a luz da reflexão, da crítica e da au-tonomia que pode levar o ser humano, todavia, a libertar-se. Não sem antes, fazer um esforço árduo e doloroso, “ percorrendo um caminho rude e ín-greme”, de soltar cada um dos grilhões a que está acorrentado (hábitos, preconceitos, comodismo, etc.).

Depois de se libertarem, os ex prisioneiros têm a obrigação de regressar e resgatar da condição de encarceramento os restantes prisioneiros. Devem ajudá-los a tomarem consciência da sua ignorân-cia e torná-los voluntariosos na sua libertação. (Afinal, quem é que gosta de ser ignorante?).

Relacionamos com a Filosofia (finalidade da atividade)

Tal como acontece na Alegoria da Caverna, quando nos iniciamos na atividade filosófica, de-vemos aprofundar a verdadeira natureza do que nos cerca e descobrir os objetivos pelos quais vale a pena viver.

O filósofo, tal como o prisioneiro que se pretende libertar, consciente da sua condição de ignorân-cia, deve ter uma atitude empenhada e compro-metida com a procura da verdade, da fundamen-tação do conhecimento, ter vontade de ir sempre mais além, isto é, duvidar e examinar para melhor agir. Depois desta vertente teórica temos de pôr em prática a filosofia.

Objetivo cumprido, com êxito!

* Com orientação da Prof.ª Estela Ferreira

Dia Mundial da FilosofiaTurma do 10.ºF*

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Descobri que afinal os nossos afetos ainda se mantêm, se calhar mais fortes. O que está a acontecer é que se moveram para as palavras e para as

intenções e significados nelas contidas.Deixamos de precisar tanto das mãos e da boca. Agora precisamos mais de palavras que afastem o medo, a hostilidade e isso está de facto, a aconte-cer cada vez mais. Como dizia G. Gusdorf, ”a es-sência da palavra reside em nós e não em si mesma”.As nossas palavras exigem que as justifiquemos e creio que o que está a acontecer é uma nova autonomia da linguagem humana, nos meios que agora tem ao seu dispor, e são cada vez mais e mais sofisticados.Esta nova aventura da procura de convergência de sentido humano, realça a justeza das palavras tão profundamente procurada no “Crátilo” de Platão, por exemplo.Cada vez mais o senso comum tem de ceder o lugar ao bom senso, tão identificado também por Descartes. Cada palavra por mais simples revela em cada um de nós um Pensamento Total que ultrapassa o próprio pensamento do eu.Revela-se assim, uma outra linguagem de ver-dade com uma pura intenção de acesso à huma-nidade e às essências conceptuais.Haverá uma nova consciência da atividade do julgamento humano, cada vez mais chamado a assegurar uma participação na linguagem do Ser,

A força da PalavraJoão Rebelo . Professor de Filosofia

como diria Heiddeger.Tal preocupação de ter a palavra como novo meio e instrumento de profundos afetos estará a ganhar agora cada vez mais força até porque fo-mos forçados a deixar de lado os meios habituais. Cada vez mais precisamos uns dos outros mas só os podemos captar com a linguagem e a Palavra. Haverá uma outra inserção da pessoa no mundo da realidade, numa constante renovação, onde o sentido acaba por ser novo como nova e mais forte é a sua intenção.

A Palavra, Carl Dreyer, 1955

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Para António Lebres, Bruna Meneses, Eduardo Leite, Inês Lachado, Inês Teixeira, João Gonçalves, João Pinto, Margarida Almeida, Rui Adriano - meninos de ouro que conheci na Escola Dr. Araújo Correia e que torna(ra)m os dias agraciados. E a todos os colegas – na pessoa da Profes-sora Fernanda Sousa – que fizeram o ano letivo 2015/2016 tão significativo.

1.Na encíclica “Deus é Amor”, o Papa Ben-to XVI distinguiu três formas de que o amor se reveste, recorrendo a três vocábu-los gregos para as expressar: eros – o amor

entre homem e mulher, a atracção sensual -, agapê – o amor tipicamente cristão, aquele que colo-ca o outro em primeiro lugar e philia – o amor da amizade. Estas experiências de amor, bem entendido, não se encontram cindidas (“o eros sem o ágape degenera, caindo em qualquer coisa meramente instintiva, ao passo que o ágape sem o eros transforma-se numa enfadonha abstracção idealista”,T.Halík): no amor da amizade (philia), por exemplo, há, não raro, o desejo do primado do outro (sobre mim) (agapê).2.“De todos os bens que a sabedoria procura para a felicidade, o maior é a aquisição da amizade” – considerava Epicuro, prosseguindo uma linha que conhecera em Ética a Nicómaco, de Aristóte-les, um significativo impulso (a amizade é, mes-mo - dirá o fundador do Liceu -, o mais necessário à vida humana, sendo que esta se entenderá per-feita quando se é amigo por aquilo que cada um é

O elogio da amizadePedro Miranda . Professor de EMRC

- não por uma utilidade ou um prazer. A amizade perfeita significa querer bem ao outro como a si mesmo). De facto, o amor amical gozou, sem-pre, de grande apreço, em todas as culturas. A Bíblia celebra esta relação «absolutamente in-dispensável à vida, porque sem amigos ninguém quereria viver, embora rico de todos os outros bens» (Ben Sirá). Nas Escrituras, o choro de Da-vid por Jónatas, tornou-se arquétipo civilizacion-al quanto ao lamento pela perda do amigo.3. O Presidente do Conselho Pontifício da Cultura, Gianfranco Ravasi, não tem dúvidas em afirmar que “embora tenha uma componente sentimen-tal, a amizade ultrapassa a sexualidade e o eros; supera o utilitarismo e o interesse, e instala-se no campo da livre doação, da comunhão e da intimidade de vida e de experiência”. Elemento capital na amizade cristã é o reconhecimento que ela é, em última instância, um reflexo da amizade de Deus por cada uma das suas criaturas, e de Cristo pelos seus discípulos.E, em realidade, Deus vem até ao homem so-mente através dos homens, como ensinou Jo-seph Ratzinger. A presença de Deus no mun-do cumpre-se sempre e quando assumo a responsabilidade (ética) pelo outro. O rosto do outro, o rosto de cada pessoa, remete-nos para o Outro com maiúsculas, e, por isso, tem a inscrição “Não matarás” aposta à fronte (Levinas). Mais: cuidarás, abraçarás, chorarás com. O amigo é o intermediário perfeito deste apelo. Porque é dis-

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so que se trata. Completava Ratzinger a fórmu-la inicial: “os homens só chegam uns aos outros através de Deus”. O apelo, o desejo, a sede de cui-dar, acolher, caminhar lado a lado com o próximo encontra-se profundamente arreigada em nós, rumor de um Amor que nos precede (dom que nos liberta de toda a tentação egotista). O amigo é aquele que sabe escutar.4.Ora, a vivência cristã é profundamente arreiga-da no corpo e só é possível fazer uma experiência espiritual – e a amizade contém, também, evi-dentemente, essa dimensão - passando pela me-diação corporal, isto é, também pela experiência física. É por isso que tanta falta nos faz, por estes dias, o toque, o abraço, um afago, uma carícia. Quando o seu melhor amigo morre, Montaigne, excepcional homem de letras da história ociden-tal, prostrado, deixa uma das mais inesquecíveis páginas sobre a profundidade que a amizade pode atingir: ele - diz-nos - está em tristeza pro-funda com o desaparecimento de Étienne La Boétie, “porque era eu, porque era ele”. O homem ou a mulher imune à amizade, desprovida de amigos, seja por acidente ou por desígnio, assinala Steiner, é um exilado, um sonâmbulo. Amizades ab-sorventes, da mais extrema intensidade, podem me-drar durante a infância. Fidelidades inamovíveis são marca da adolescência. Trocam-se palavras-passe, inventam-se linguagens secretas, representam-se rituais de confiança. A amizade autêntica exulta pelos louros conquistados por um amigo. As in-timidades contra mundum tornam-se mais vitais do que quaisquer rotinas familiares. As amizades antigas têm o seu encanto peculiar. Até no seu ocaso, a amizade é o enigma da graça permitida ao homem (caído). Em realidade, a amizade “é a bonificação da existência humana, a sua recom-

pensa imerecida (...) Nada suplanta "ser-se amigo de um amigo" (na expressão jubilosa de Schiller). A amizade autoriza-nos a dizer "Eu sou porque tu és" (George Steiner). Assim também a nossa relação com o Deus-Amor, em Jesus Cristo, em cujo abraço vamos, a quem devemos a existência, Ele que nos sustenta: “eu sou porque Tu és”.

5.Animae dimidium meae - «Metade da minha alma», assim é o amigo, na imortal sentença de Horácio, poeta maior de Roma antiga. No socalco dos dias, forjamos cumplicidades e até uma ética da amizade – “quem lhe há-de exigir muito, senão os amigos? Quando você saltar e saltar bem, eu di-rei sempre: agora mais alto! O homem é para o impossível, o possível todos os bichos o fazem”, escreveu Agostinho da Silva a um amigo, amante da sabedoria -, o amigo emerge sólido e rocho-so, como âncora imprescindível à vida. E, no en-tanto, não há lei científica que determinasse que aquele concreto amigo fosse o meu: “ora, o amigo não é o necessário: é o eleito, o gratuito. Com razão dizemos: «Um amigo é um irmão que es-colhemos». Eu escolho, eu sinto-me escolhido: trânsito do gratuito sem porquês.”( José Tolenti-no de Mendonça”).6. Na sobrecarga dos dias, poderão advir olheiras e cansaços, dores e sofrimento. Mas no amigo, mora sempre a promessa da alegria: “ao lado do teu amigo, nenhum caminho será longo”, reza um ditado popular japonês. Ou, como de modo inspirado, no-lo legou José Tolentino de Men-donça, que ensaiou uma teologia da amizade, “O AMIGO É A PROVA DE QUE DEUS NUN-CA NOS ABANDONA”.

Os Intocáveis, Olivier Nakache, Eric Toledano, 2011

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Sinto que, cada passo que dou,Um engano me surge.Não adianta fugir, nemMentir a mim mesma,Tudo me parece seguroE afinal de seguroNão tem nada,Tudo superficial.Vagueio numa miragem urbana.Chego ás vezes a duvidarDa minha existênciaPergunto até se istoNão é um sonho, um sonho?!Um pesadelo!?...Ando descontente comO meu descontentamento.Uma coisa que eu tenhoA certeza, é que resta-meMuito tempo para pensarNa solidão, que me invadeCada vez mais.Gostaria de conhecerO meu destino, nãoO mudaria, mas desperta-meUma grande curiosidade.Por vezes procuroEm mim o destino.Porque acho que o destinoSou eu, sou eu que o faço.

Nós somos resultadoDaquilo que fazemos.O tempo de alguma coisaEstá a acabar, e eu,Sinto-me desesperar,Pois estou dependenteDo tempo de alguma coisa.Estou triste? Ou serei triste?Talvez problemas de Personalidade,Quem sabe…Estou perdida no meioDe uma agitação plena,E louca sou eu,Sinto-me preparada.Tudo isto…Paródias…

Xana Carvalho (2000)

* 1.º prémio Poesia, ESJAC 2000. Texto inédito

Paródias*

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“Só havia três coisas sagradas na vida: a infância, o amor e a doença. Tudo se podia atraiçoar no mundo, menos uma criança, o ser que nos ama e um enfermo. Em todos esses casos a pessoa está indefesa”.

Miguel Torga

O T.P é um aluno com 11 anos de idade, de estatura média, olhos claros, grandes e expressivos; um menino alegre, ativo e de riso fácil. Tem um

problema de saúde, com o qual vive desde que nasceu, mas que só foi descoberto aos seus três meses de existência. Não consegue pronunciar, diz ser muito difícil aquilo que tem. Chama-lhe a “doença do fígado” porque assim, os meus co-legas percebem bem!” O nome científico da doença é Glicogenose por défice de Glicose- 6. Doença rara com 1 ou 2 pessoas com o mesmo caso, em Portugal. A prevalência é desconheci-da. A incidência anual à nascença é de cerca de 1/100,000. O tipo (a) afeta 80% dos doentes. A existência de outros tipos (c, d) não foi confir-mada.A doença pode manifestar-se ao nascimento por hepatomegalia ou, mais frequentemente, entre as idades de três a quatro meses por sintomas de hipoglicemia induzida pelo jejum. Os doentes têm fígado aumentado, atraso do crescimento, osteopenia, por vezes osteoporose, rosto redondo com bochechas cheias, nefromegalia e epistaxis

Pequenas, grandes vidas… Hélder Fonseca . Psicólogo

frequentes devido a disfunção plaquetária. Além disso, no tipo b, infeções e doença inflamatória intestinal são causadas por neutropenia e dis-função dos neutrófilos. As complicações tardias são hepáticas (adenomas e, mais raramente, hepatocarcinoma) e renais (proteinúria e por vezes insuficiência renal). Entre os vários perío-dos de estadia no hospital, entre o vaivém de casa para o hospital e do hospital para casa, T. retém apenas algumas recordações, imagens, lembranças. Lembro-me que, “em pequenino não comia, tive de ser alimentado por uma sonda”. “Lembro-me que só podia comer pela seringa porque não podia comer comida normalmente, nem aos pedaços…. Mesmo com a seringa, era preciso ter cuidado, no caso de passar um pedaço maior de comida, podia entupir.”As alterações psicológicas, seja nesta ou em outra doença, são clinicamente bastante significativas. São vários os períodos em que a criança passa por situações de isolamento, tristeza, irritabili-dade, desmotivação, desinteresse e incertezas. T. repete, vezes sem conta, ao longo da conversa, que é igual a todos os meninos e meninas da sua escola, mas que, ao mesmo tempo, é diferente… “Não sei explicar…”.No controlo e tratamento, a orientação visa evitar a hipoglicemia (refeições frequentes, alimentação entérica noturna através de sonda nasogástrica, e mais tarde adição de amido cru oral), acidose

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(restrição da ingestão de frutose e galactose, suple-mentação oral de bicarbonato), hipertrigliceri-demia (dieta, colestiramina, estatinas), hiperurice-mia (alopurinol) e complicações hepáticas. Deve ser iniciada a proteção renal através de inibidores da enzima conversora, caso seja detetada mi-croalbuminúria. “O que mais me deixava triste era o facto de ver os meus colegas comer e eu não poder” Ser mais gordo por causa da doença. “Nunca consegui emagrecer, porque esta doença leva-me a que eu coma de duas em duas horas. A minha glicose não vai até ao sangue e por isso, a minha alimentação é muito controlada”.T. sabe, de forma sistemática, as refeições que pode e deve fazer, o que pode e não pode ingerir e quando ingerir. Sabe quais as causas e conse-quências de não respeitar este regime. Tem tudo muito presente e sabe quais são os limites. Os seus dias, em termos de alimentação e cuidados, são sempre os mesmos. Tem-nos memorizados, sabiamente. “Normalmente, a primeira refeição do dia é por volta das 7h, e como 25g de pão com fiambre de frango e farinha Maizena com leite de soja. Tomo a medicação. O principal é o Cálcio; senão tomar passo o dia a cair, tenho também colesterol e ferro. – Tomo na totalidade, cinco medicamen-tos por dia. Tenho dias em que fico aborrecido porque detesto tomar medicação, mas sei que

tem de ser assim”. Nesta doença a osteoporose pode exigir bifosfonatos.O principal objetivo do tratamento é a prevenção da hipoglicemia e da acidose láctica usando ali-mentos de alimentos ricos em glicose ou amido (amido é prontamente digerido em glicose). Para compensar a incapacidade do fígado de fornecer açúcar, a quantidade total de carboidratos na dieta deve aproximar-se à taxa de produção de glucose de 24 horas. A dieta deve conter aproxi-madamente 65-70% de carboidratos, 10-15% de proteínas e 20-25% de gordura.“Por volta das 10.30h tomo farinha Maizena com leite de soja. Às 11.30h, dependendo dos valores, como 1 bolacha de água e sal ou 2, com água. Às 12.30h, almoço, as minhas refeições têm de ser sempre pesadas e não podem ultrapassar 36g de arroz, 50g de massa, 75g de vegetais, 90 g de peixe (qualquer um) e 90 de carne (brancas). Às 14.00h volto a comer farinha Maizena com leite de soja. Às 16.30h, tenho de comer um iogurte de soja natural com 2 bolachas de água e sal. Por volta das 18.30h, outra vez, farinha Maizena e água. ÀS 20h, janto 45g de arroz ou massa 62g e vegetais 75g com 100g de carne ou 100 de peixe. Depois, por volta das 22.30h, de novo a Farinha Maizena e o leite de soja e às 3h, termino como começo, com a farinha Maizena e o leite de soja”.Pelo menos um terço dos carboidratos deve ser

imagem in: http://www.danonebaby.com.br/saude/primeira-consulta-pediatra/

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10 ensar(es)fornecido durante a noite, de modo que uma criança pequena não passe mais de 3-4 horas sem ingestão de carboidratos. Isso pode ser feito pela infusão contínua de glicose ou com refeições constantes, inclusive de madrugada. Deve-se evi-tar outras formas de açúcar (frutose e lactose) e de gorduras. A elevação persistente do ácido úrico acima de 6,5 mg/dl demanda tratamento com alopurinol para prevenir a depósitos dolorosos de ácido úrico nos rins e nas articulações. O fígado e os rins devem ser monitorados anualmente e hemo-gramas devem ser feitos regularmente.- “Já não posso ver Farinha Maizena e leite de soja à minha frente”, diz com um sorriso conta-giante. O transplante de fígado, realizado com base no fraco controlo metabólico ou hepatocarcinoma, corrige a hipoglicemia, mas o envolvimento re-nal pode continuar a progredir e a neutropenia nem sempre é corrigida no tipo b. O transplante de rim pode ser realizado em caso de insuficiên-cia renal grave. “Mesmo fazendo um transplante posso ficar numa cadeira de rodas, ficar sem an-dar, sem falar, entre outras coisas piores”.“Eu tenho noção que posso ter um problema de repente e morrer a qualquer momento. Há ado-lescentes que têm tendência para o álcool, drogas ou tabaco. Eu sei que não posso. Nem choco-lates!” A morte precoce é geralmente causada por complicações metabólicas agudas da hipoglice-mia, da acidose metabólica, por hemorragia ou por infeções. O mal funcionamento de uma bomba de infusão de glicose pode causar hipo-glicemia e acidose fatais.“Eu gozo a vida, eu gozo todos os momentos. Há amigos que tem problemas e não dão valor

à vida. Eu dou. Eu estudo, tento ter boas notas. Sou amigo do meu amigo. E sinto que sou valoriza-do por eles”.A sobrevivência à idade adulta era rara, mas com os avanços no tratamento e diagnóstico está se tornando cada vez mais frequente. Os sintomas tendem a melhorar à medida que as crianças pro-gridem para a idade adulta. “Sei que não posso jogar futebol, mas eu adoro e o lugar que mais gosto é o da baliza, mesmo quando sei que posso estar sujeito a levar uma bolada e ter um problema grave. Mas eu também mereço ter uma vida normal, como a dos meus colegas”. Com uma gestão adaptada, o prognóstico é melhor: os doentes têm uma esperança de vida quase normal. A gestão emocional e o equilíbrio emocional na infância, quando se passa por um processo destes, tende a oscilar muitas vezes. O humor acusa registos alternados entre a excitação e a depressão. O isolamento aumenta, bem como as suas dúvidas. A tristeza persegue, mesmo em ambientes de alegria e de festa. As crises existen-ciais instalam-se. Ficamos de mal com o mun-do, com quem gostamos, com quem somos mais próximos e as dúvidas instalam-se, como que de um balão de pensamento se constasse, em tom de perseguição, em que a maior pergunta é sempre “porquê a mim?” O T. faz esta pergunta a si próprio todos os dias, mesmo sabendo que é retórica, mesmo sabendo que ninguém lhe vai saber responder. Sentimo-nos uma gota no meio do oceano, quando comparados com esta criança. Desejamos este mundo e o outro, quan-do o dele é simples, pequeno e merecido:“O meu maior sonho, o meu maior desejo, era poder ficar saudável”.

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O que é um refugiado? Um refugiado é um in-divíduo que se vê obrigado a sair do seu país e so-licitar refúgio no estrangeiro.Existem diversas razões pelas quais as pessoas se veem obrigadas a sair da sua casa, por exemplo, se viveram num país que tem um sistema político autoritário e sem liberdade de expressão, ou se a sua região foi devastada por confrontos bélicos e até existem refugiados ambientais quando ocor-rem fenómenos naturais extremos.Segundo a ACNUR, em 2018 existiam 25.9 mil-hões de refugiados. Metade dos refugiados são crianças e muitas delas deslocam-se sozinhas, sem qualquer adulto a acompanhá-las. 67% dos refu-giados são oriundos de apenas cinco países: Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Myanmar e Somália.Os países que acolheram mais refugiados são a Turquia, Paquistão, Uganda, Sudão e Alemanha. Contudo, verifica-se uma desigual distribuição dos refugiados entre Países Desenvolvidos e Países em Desenvolvimento, os primeiros apenas acolheram 16%.A entrada de refugiados tem múltiplos benefícios. Por exemplo, evitam o despovoamento dos países que tem taxas de natalidade baixas e evitam o envelhecimento da população. Fazem trabalhos e têm empregos que os naturais do país não se dispunham a fazer como, por exemplo, trabalhos agrícolas; também auxiliam no aumento de recei-tas fiscais. Acresce que trazem conhecimento e

Refugiados: Sim ou Não?Luís Cardoso . Aluno do 12.ºA

contribuem para o aumento da diversidade cul-tural.Os obstáculos da entrada destes refugiados podem ser explicados de diversas maneiras, nomeadamente o facto de que muito deles só quererem ir para os países mais ricos ou onde já existem comunidades do seu país de origem. De 2015 a 2018, Portugal recebeu 1600 refugiados. No entanto, 45% destes já abandonaram o país. Outra razão válida é a não aceitação das regras dos países acolhedores.Os naturais dos países acreditam que estas pessoas contribuem para o aumento do desemprego e que podem ser focos de criminalidade. Assim sendo, a vinda de refugiados pode resultar num aumento da discriminação e xenofobia por parte dos na-tivos.Em suma, acolhimento ou não de refugiados é um tema polémico. Na minha opinião, temos de per-mitir a entrada destes refugiados, porque, segundo a declaração Universal dos Direitos humanos, to-dos os seres humanos têm direito à segurança, à liberdade e a um lar.

imagem: Erdem Sahin/EPA

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“Quem não é capaz de ser pobre, não é capaz de ser livre”

Victor Hugo, escritor francês (1802-1885)

O autor desta expressão, Victor-Ma-rie Hugo, nasceu a 26 de fevereiro de 1802 em Besançon e faleceu a 22 de maio de 1885 em Paris, França.

Victor Hugo foi um escritor, romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estilista e ativista pelos direitos humanos, um francês de grande atuação política no seu país. Victor é o autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.Esta expressão mostrou-se um grande desafio. Comecei por sublinhar duas palavras que con-sidero ideias-chave: “pobre” e “livre”. Trata-se de palavras que apresentam diversos significados. Para pobre, os significados encontrados foram pobreza, pessoa necessitada; pessoa que produz pouco, estéril; pessoa que inspira piedade, coita-do; pessoa que é de pouco valor, sem qualidade; pobre de espírito, pessoa simples, ingénua, pessoa cujas ideias ou atitudes se revelam superficiais, limitadas, tacanhas; pessoa pouco apegada aos bens materiais; entre outros.De todos os significados, considero dois mais im-portantes ou que, de certa forma, a meu ver, são os que explicam melhor esta frase. O primeiro

A liberdade da pobreza Diana Silva . Aluna do 12.º C

significado é pobreza, sendo que, se repararmos, os ricos, quanto mais têm, mais querem e mesmo que tenham posses para ter tudo o que querem e viverem uma vida sem dificuldades, facilitada, nem sempre conseguem alcançar a felicidade, pois para uma pessoa se sentir totalmente feliz,

imagem: Caim matando Abel, Peter Paul Rubens, 1608

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13 ensar(es)tem de também sentir-se ou ser livre, ver para além do dinheiro e dos bens materiais.Assente este significado, podemos referir outro, o de pobre de espírito, que como eu já referi, é uma pessoa simples e pouco apegada aos bens mate-riais, isto é, é uma pessoa que se contenta com o pouco que tem, que é grata todos os dias. Claro que, se a pessoa pudesse ter um pouco mais, ela teria, mas sente-se bem com o que tem e com o que pode ter, vê sempre o lado bom, sente-se feliz à sua maneira. Este segundo significado lembrou-me o poema de Fernando Pessoa, “Ela canta, pobre ceifeira”, pois o mesmo diz que gos-taria de ser como a ceifeira, uma vez que ela não racionaliza, é inconsciente dos seus atos, e isso faz com que ela se sinta feliz e livre.Passando à análise da palavra “livre”, encontrei os seguintes significados: pessoa que tem liberdade, que goza a sua liberdade política, civil e religio-sa; pessoa que não está privada da sua liberdade física, solto; pessoa que decide ser ela própria, in-dependente; entre outros.Novamente selecionei o significado que eu con-siderei mais correto para ilustrar o termo “livre” na frase que encima este texto. Considero, assim, que livre é uma pessoa que tem liberdade para tomar as suas próprias decisões, ser indepen-dente, autónomo e, assim, fazer o que quer e o que está ao seu alcance, como se costuma dizer, “Eu quero, eu posso, eu tenho”, e se pararmos de dar importância aos outros e nos focarmos no que realmente queremos, nós conseguimos. Por exemplo, aqueles que se vangloriam por algo a

que, na verdade, não dão a mínima importância, esses são, na minha opinião, uns mimados, pois por terem de tudo consideram-se superiores e agarram-se muito aos bens materiais, não dando valor ao que realmente importa, perdendo deste modo a liberdade da simplicidade.Então, “Quem não é capaz de ser pobre”, porque se agarra a algo desnecessário e não dá a mínima relevância ao que realmente importa, “não é capaz de ser livre”, independente, tomando as próprias decisões.Concluindo, julgo fundamental lembrarmo-nos de que, por vezes, ao nos importarmos mais com o dinheiro, acabamos por perder o que realmente importa, como as pessoas que mais amamos e os momentos mais simples e inesperados, pois aquele simples pedaço de papel transforma as pessoas. Com isto, lembro-me de uma frase que uma vez me foi dita: “Torna alguém rico e real-mente saberás como ele é.”.Daqui se conclui que podemos até ser ricos, mas se não formos pobres em espírito e se deixarmos o dinheiro transformar-nos, nunca seremos livres, mesmo tendo tudo o que queremos e podemos, pois podemos ficar sós e ter apenas interesseiros ao nosso lado. O dinheiro compra muita coisa e, sinceramente, hoje em dia não se faz nada sem dinheiro, mas este não compra amor verdadeiro, felicidade e liberdade.Por isso, atrevo-me a completar: “Quem não é capaz de ser pobre, não é capaz de ser livre; quem não é capaz de ser livre, não é capaz de ser pobre”.

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Os que me conhecem sabem que sou dado a emoções fortes e, às vezes, não muito bem controladas. Sou inelutavelmente primário. Os

estudiosos da caracterologia diriam que me enquadro predominantemente no tipo «ner-voso».Se calhar não devia dizer, pelo esforço que todos estamos a fazer, mas digo: estou a ficar cheio de confinamentos e de «permanecer em casa». Fui feito para estar com os amigos, para a alegria, para a festa. Sinto falta de um copo com os amigos. Sinto saudades de tomar um café no bar da escola, no meio da algazarra, das tolices, das «bocas» dos colegas. Sinto sau-dades dos sorrisos, de todos, mas sobretudo de algumas colegas. Foi no meio destas emoções, desta nostal-gia, que me decidi a escrever este texto, como catarse, até porque pode muito bem acontecer que seja o último, para a nossa Pensar(es). Da minha parte, é talvez o único texto «confes-sional», como lhe chamaria um querido amigo, mas é ditado pelo meu primarismo emocional.Sou professor há 42 anos. Nesta minha «vida de professor», para parafrasear António Nóvoa, não corri muitas escolas, ao contrário de alguns colegas de hoje que vagabundeiam por meio país, ou pelo país inteiro. Em serviço letivo efetivo, passei apenas por 5. De todas

Talvez em jeito de despedida... HastaA. Marcos Tavares . Professor de Filosofia

guardo ótimas recordações e histórias que não é hora de contar. Em todas fui bem recebido e com todos me dei bem. De ninguém guardo qualquer ressentimento, como espero que o mesmo aconteça em relação a mim. Claro que quero destacar a que considero como «minha escola», não só por nela estar ininterruptamente nos últimos 34 anos, mas também pelas amizades e pelas cumplici-dades que se construíram. Mais de metade da minha existência pertence à ESJAC. Aqui trabalhei, aqui convivi, aqui fui feliz (não sei por que carga de água estou a colocar o ver-bo no tempo pretérito, mas já que saiu, assim fica). Momentos menos entusiásticos foram alguns, mas isso já passou. Como sou pessoa de emoções à flor da pele, apetece-me destacar, neste meu percurso, três grandes amores: em primeiro lugar, os meus alunos; depois, os meus colegas; em terceiro lugar a Pensar(es). Alunos foram várias centenas: intelectualmente alguns mais brilhantes do que outros; mas huma-namente todos eles pessoas sãs e educadas. Atentos uns, brincalhões outros, distraídos muitos, mas todos respeitadores. Procurei dar-lhes o melhor de mim. Gostei muito da síntese que um deles, há tempos, fez do que para a vida aprendeu comigo: primeiro, que a dignidade humana é o valor supremo e su-premo critério valorativo – é bom, é valioso, o que defender a dignidade da pessoa e con-correr para a superior realização humana (já agora, a propósito, permita-me o leitor uma tirada em latim: “homo sum et nihil humani a

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me alienum puto”); segundo, que nada nos cai do céu aos trambolhões e, para se conseguir algo de válido, há que arregaçar as mangas e partir para a luta. De facto, quase podíamos resumir a filosofia nestes dois princípios. O meu segundo amor foram os colegas, por quem sempre fui tratado com carinho e sim-patia, naturalmente mais por uns do que por outros, mas sem guardar mágoas de ninguém. Como agora se diz, os meus colegas, na sua imensa maioria, «levo-os comigo para a vida».O meu terceiro e mais recente amor é a revis-ta Pensar(es) que, desde maio de 1999, con-grega e aglutina os outros amores.Foram épicos aqueles primeiros meses de 1999 e todo o ano 2000. Nascida sobretu-do da criatividade da Ana Paula Lopes, teve imediatamente a adesão entusiástica dos co-legas de Filosofia de então: Manuel Ferreira, Nair Gomes, Alexandra Magalhães, Estela Ferreira, Licínio Costa e eu. Não havia as possibilidades que há hoje. Sobretudo não tínhamos ainda acesso a esses maravilhosos instrumentos como o Google e a Wikipédia, com os milhões de imagens que nos apre-sentam em segundos. Recolhidos e digitados os textos, o problema era a sua ilustração. Durante dias lá íamos nós, de malas às cos-tas, literalmente, carregadas de manuais, de enciclopédias, de livros de arte, de tudo o que pudesse ser fonte de imagens, ora para casa da Nair ora para casa da Alexandra, até às tantas da madrugada. Claro que sempre, fielmente, acompanhados de uns petiscos e umas cervejolas (as senhoras, já se sabe, be-

biam uns suminhos!).Embora coordenada por professores de Fi-losofia, nunca se viu a Pensar(es) como re-vista de Filosofia, mas como revista da escola, aberta a toda a comunidade escolar e a todas as sensibilidades. Daí o plural destacado na própria capa: Pensar(es).Assistiu-se a uma receção entusiástica nos primeiros anos, até pela novidade que rep-resentava. Choviam textos, quer em prosa quer em verso, mais do que suficientes para a construção de dois números anuais, quando a previsão era de um. Contudo, com o de-senrolar do tempo e, talvez, sem o acicate da novidade, os textos foram rareando e a minha missão, nesses anos, foi quase a de «mendi-gar» a matéria prima da revista. Costumo dizer que publicar um texto é como desvelar a alma. E há um natural receio de revelar aquilo que nos vai na alma.Mas, enfim, lá se foi fazendo e não falhou um único ano. Graças ao empenho de uns quan-tos colegas e de muitos alunos. Salvo o do José Artur Matos, não refiro outros nomes, para não cair no perigo de esquecer alguém, mas há um núcleo duro que esteve sempre presente.A minha esperança no futuro da Pensar(es) funda-se em grande parte na boa vontade destas almas.O esforço pela continuidade da Pensar(es) é uma manifestação do amor pelos alunos, pe-los colegas, pela escola. Por isso, o amor por ela cimenta os outros amores.Hasta…

Imagem: Artur Matos

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Que estranho todos se afastarem de ti, como se estivesses doente.

SOPRARSenti um sopro no pescoço… dei dois passos em frente e voltei-me para trás. E já estavas co-lada a mim sorridente e descontraída, como se soprar no pescoço de alguém fosse a coisa mais natural do mundo, como se a distância não fos-se recomendável e continuássemos a viver como sempre, assim, aos beijinhos e aos abraços. Como se não tivesses de cuidar de ti e dos outros, como se não tivesses responsabilidades. Chamaste-lhe ato de liberdade e eu ato imprudente. Discuti-mos e fizemos aquilo que era normal – ir cada um para seu canto sofrer de amor.

MUSSOLINIEnquanto Mussolini subia ao poder e a máqui-na repressora se instalava, Anna Magnani foi proibida de dizer a palavra “liberdade” em palco. No dia seguinte disse “ar puro, necessitamos de ar puro”.

CAMINHARPensavas que caminhar e olhar o horizonte seria seguro. E foste, fizeste o percurso mais longo, já era fim de tarde, o sol estava a desaparecer no

Vírus José Artur Matos . Professor de Artes Visuais

horizonte, as videiras estavam a estoirar de sei-va, os pâmpanos a desabrolhar num verde pálido, como tudo aquilo que nasce envolto em dúvida e sem saber ao que vem.

SOLIDÃOO facto de teres a vida adiada e todos te dizerem que deves evitar o contacto social, foi estranho. Estavas por demais habituado a fazê-lo sem que isso fosse uma obrigação, mas agora que todos se afastavam, sentiste-te só e desamparado, não porque ninguém estivesse disponível para ti, mas porque ninguém queria estar contigo.

MEDO“O medo devora a alma” é o título de um filme de Fassbinder. Sempre o viste como intolerância distante, como coisa que não nos acontece a nós.

NOITEAgora somos todos reclusos e a casa tornou-se o único lugar seguro. Mas as noites tornaram-se mais tormentosas, a insónia fez a sua aparição e começamos a colocar tudo em causa. Confronta-mo-nos com o significado de existir, questiona-mos todas as opções e temos tempo para isso.

DIAPor sorte, os dias têm estado ensolarados e isso deu-te algum alento. Foi possível acreditar que

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esta primavera precoce iria ofuscar o mundo conspurcado em que todos mergulhávamos. Mas sabias bem, que isso não era verdade e as coisas só podiam piorar.

EXPONENCIALOs responsáveis pela saúde diziam nas rádios e nas televisões, que estávamos a entrar na fase ex-ponencial e que de agora em diante todos os dias seria pior. Ficaste assustado e só conseguias ver zeros e uns, sequências genéticas absolutamente ilegíveis e matrixes da vida real.

SAÚDEComo não te consideravas entre aqueles que es-tavam dentro do perfil de risco maior, sonhaste ajudar os outros, os velhinhos, os excluídos da so-ciedade injusta em que vivemos. Por momentos sentiste-te solidário, boa pessoa, assim como as boas pessoas são. Mas morreste de medo, quando te cruzaste com um indigente, que cuspiu para o chão mesmo à tua frente, e disse: Porra para a m... do Vírus.

GLÓRIAApesar de tudo, existe glória nestes dias cinzentos, nestas tardes que passam devagar, na melancolia com que olhamos as ruas vazias, no desconcerto em que todos mergulhámos. Na vida frugal que vamos levando. No silêncio das noites. Na atenção maior que damos às pequenas coisas. No ressur-gimento da arte, meio catártico e redentor que ajuda a aguentar a estocada. Na importância que iniciámos a dar às janelas, ao olhar para fora, que mais não é um meio de vermos para dentro. Agora, das vidraças da janela vemos as coisas crescerem, a natureza a explodir nesta primavera providencial. É inusitado ficarmos tão fascinados, espantados mesmo, com a magia do que resiste e vive, à margem da nossa luta.

15 de março de 2020

Imagem: Artur Matos

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O pintor Mark Rothko (1903 – 1970) situa-se na esteira de um romantis-mo que extravasa épocas, exaltando a paixão, o imaginário, a sensibili-

dade, privilegiando a alma fáustica e dionisíaca em detrimento da apolínea. Sendo a pintura e a música consideradas “artes românticas”, caminham no sentido de superar a finitude da forma simultaneamente às fronteiras do tempo e do espaço.1 O artista elege a experiência trágica como a fonte da sua arte. Encara a pintura como um jogo de mostração afastando-se do paradigma representativo, colocando-a ao nível expressivo da literatura ou da música. A sensibilidade de Rothko, como criador de superfícies melódi-cas, evoca a era do romantismo alemão desde Schubert a Brahms. Como Nietzsche estava convicto que a música é a verdadeira linguagem da emoção, como Schopenhauer defendia que a mesma constitui uma necessidade elementar enquanto linguagem universal. Rothko encara as suas telas como dramas onde as personagens constituem formas e sombras. O artista como “fazedor de mitos” povoa as suas pinturas de tragédia e drama. Caminhando no sentido da depuração, corta com a figuração e

1 D’Angelo Paolo, La estética del romanticismo, Visor, Madrid, 1999.

Rothko e o fascínio do abismo Alexandra Magalhães . Professora de Filosofia

Orange and Yellow, Mark Rothko, 1956

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pinta superfícies imensas onde o observador poderá entrar, mergulhar, encontrar-se consi-go próprio. A opção do artista pelos campos de cor de enorme dimensão permitirá ao fruidor da sua pintura rever-se nela como num espelho, permitindo um acesso das suas emoções mais profundas, diluindo-se na cor o observador /observado. A arte para Rothko é essencialmente expressão, utilizando a cor enquanto instrumento material impulsionador de sensações/emoções visceral-mente humanas. As próprias cores são considera-das “actrizes” e despoletam uma experiência quase do âmbito do sagrado. Na linha do pensar do sublime de Schlegel encontramos nas telas de Rothko o infinito representado no finito. Pin-tura de silêncios e da pura potência, pintura de um quietismo inquietante, da serenidade de-sassossegada, do obscuro luminoso,2 paradoxo, oximoro que combina com a tragédia, melanco-lia, razão e temor de um Witz contemporâneo. Nas telas respira-se uma estranheza inquietante (unheimlich) heideggeriana, sublime e trágico tecem a catarse. Na linha de Vico, o sublime de Rothko é, essencialmente, criador de uma lin-guagem ou sistema de ficções. Sem monstros e deuses, a arte não pode representar o nosso

2 Costa, Carlos Couto Sequeira, Tópica Estética, Filosofia Música Pintura, Colecção Arte e artistas, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2001, pág. 14.

drama.3 Das telas de Rothko desprendem-se mistérios, exorcizando a figura, o artista parte para o figural e cria corpos de intensidade. Cri-ador de emoções, na tentação/repulsa pelo abis-mo da condição autenticamente humana da existência, antecipando a vertigem e a libertação (?) na emoção da profundeza do Logos.

3 Saint Girons, B., Le Sublime de l ’Antiquité à nos jours, Paris, Éd. Desjonquères, 2005, pág. 154.

Imagem: Rothko Chapel, Houston, EUA

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ficar no nosso devido lugar. Este tempo tirou-nos um bem único: a nossa liberdade, mas também nos permitiu acreditar: em nós, em ti, nos outros, no mundo! Acreditar que somos e vamos ser capazes de vencer. Se tivesse que eleger algo que sentisse que esta falta de liberdade me retirou, elegeria o abraço!!!! Abraço sinal de vida, de ternura, sinal de amor e até de arte, tornando cada momento belo, dis-solvendo pensamentos e até alguma dor. Gosto da definição do abraço como encontro de dois corações, tornando aquela partilha como o melhor lugar do mundo para se viver, ainda que por instantes. Sinto saudades de muitas sensações, mas num abraço restituo o que me falta: abraços longos, momentos únicos, uma entrega desprovida de perspetivas racionais e deterministas da vida.Acredito que somos apaixonados por abraços... provavelmente pela segurança e tranquilidade que demostram e traduzem. Sendo sinceros... sentem-se, sem nada se dizer, na subtileza de um misticismo de ternura e carinho. É a poesia entre duas pessoas, num silêncio em que se partilham segredos mudos, onde o coração sente sem nada ser explicado. A proteção, o respeito, a despedi-da.... num charme de fazer com que a eternidade seja estreita em apenas um único momento. A união de duas pessoas no mesmo instante, nessa partilha de sensações e sentimentos... num olhar tímido, onde o abraço apega-nos como se de um abrigo se tratasse. Voltaremos a ter tempo para abraçar quem amamos, sentir a presença e a proximidade de quem nos é querido, voltar a dar asas aos nossos sonhos, de sorrir sem receios...Haverá tempo para recomeçar, para sentir e fes-tejar. Haverá tempo de voltarmos a sair à rua, haverá tempo para voltarmos a estar todos juntos…Mas até lá, protege-te e protege os outros... A Distância não diminui a nossa/vossa importân-cia...Por ti, por mim, pelos teus e por todos.... Vamos ficar bem…

Muito se tem dito e explanado sobre esta pandemia e as repercussões que advêm da mesma. Muitas te-orias de conspiração, muitas críti-

cas, muitas publicações nas redes sociais, mas, tal como o nosso Torga disse um dia: “A vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum Homem.” Resta-nos olhar para esta situação e tirar algumas aprendizagens. Nestas últimas semanas fomos confrontados com uma nova maneira de ver o Tempo! Este Tempo fez-nos parar ... fez-nos esperar em prol de um bem-comum, um bem-maior. Todos sentimos que crescemos no amor na e pela humanidade. É o tempo como aquele que hoje vivemos que nos obriga a abrandar na correria do nosso dia-a-dia, na esperança de um recomeço. Foi-nos pedido para ficar em casa, foi a melhor forma de ajudar os outros. Em breve estarás na tua escola, a ouvir o toque da campainha, a ver os teus professores e a conviver com os teus colegas... Vamos ficar bem e as vossas rotinas serão as mes-mas, provavelmente com uma nova maneira de pensar: afinal a humanidade tem muito a apren-der sobre a vida e sobre aquilo que desejamos fazer com ela. Numa altura em que a humani-dade pensava obter todas as respostas, até para as questões mais filosóficas, eis que o universo nos desafia com novas questões e faz-nos recuar e

Vamos ficar bem Joana Mourão . Professora de Filosofia

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As coisas caem. Partem-se. Estilhaçam-se. Tornam-se progressivamente mais pe-quenas. Detritos. Poeira. Pó. O que an-tes era um todo desvanece-se, vai com o

vento, transforma-se numa outra paisagem. Pedras, corações, larvas.

Tu sabes. Ou talvez não. Há uma fenda por onde a dor se entranha e invade. Uma acidez que te corrói e deforma, tornando-te uma coisa árida e inóspita.

Coleciono indícios, espectros, emaranhados de coisas, na esperança de que algo surja e me redima. Mas há imagens na minha cabeça. Os-sos e vértebras carcomidos. Carrosséis. Peixes espetados em arpões. Todo um círculo de in-significâncias, podridões, ocos.

Às vezes desvaneces-te na paisagemCarla Cabral . Professora de Artes Visuais

Faz frio cá fora. O ar condicionado do prédio em frente enche a noite. Tu lavas pratos na cozinha. A gata retorna a casa. Vou-me levantar. Lavar a cara, os dentes. Pôr o creme. Sei lá. Fechar a porta de mansinho.

Imagem: Carla Cabral

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O mundo está estropiado e não, não vai ficar tudo bem. E a tua única certeza é a de que o medo devora a alma*.

* Título de um filme de Rainer Werner Fassbinder, 1974

Nunca nada será como dantes. Ainda assim nada mudou. A aorta e a veia cava continuam a bombear sangue e o oxigénio continua a chegar aos pul-

mões. Mas há excrescências que crescem no corpo - nestes dias de reclusão os ossos latejam, aguçam-se, teimam em querer romper a carne. Nada de grave, pensas. Continuas a respirar.

À volta o mundo treme. Paras. Observas. Há ex-crescências que crescem na alma. Medos e buracos negros, que se multiplicam e expandem até a pele abrir brechas. E ainda assim continuas a respirar. Num estertor, debilmente, em segredo, enquanto escutas lá fora o teu mundo a oscilar.

Tomas fôlego e devagarinho contas a partir de zero, e não paras de contar…

os km de muros os bairros de lata os campos de detenção os conflitos armados

as inundações, as secas, o trabalho escravo, o tra-balho infantil, os sem abrigo, os explorados, os violentados, os marginalizados, os abandonados, as valas comuns, os presos políticos, as execuções arbitrárias, os genocídios sistemáticos, os crimes ambientais, as ditaduras instaladas, as ditaduras mascaradas, as pseudodemocracias…

Contando de zero até...Carla Cabral . Professora de Artes Visuais

Imagem: Carla Cabral

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tente combater as alterações climáticas.Por um lado, existe uma fação de críticos, entre os quais os Presidentes dos EUA, do Brasil ou da Rússia que atacam pessoalmente Greta e referem que ela simplifica demasiado as questões ambien-tais complexas.Por outro lado, são muitas as pessoas que apoiam Thunberg, sendo eu uma delas, pois revejo-me na base do pensamento desta adolescente e nos seus princípios em relação a esta questão ambiental.Em suma, a preponderância de Greta Thunberg tem vindo a aumentar com o passar do tempo fa-zendo dela “o poder da juventude”

Nos dias de hoje, a ativista ambiental mais conhecida e influente é Greta Thunberg, uma sueca que com apenas 17 anos já foi eleita personalidade do

ano pela revista americana Time.Há pouco mais de um ano, Greta ausentava-se das aulas para protestar junto do parlamento sueco, exigindo aos políticos do seu país mais ações para mitigar as mudanças climáticas. A ativista pedia ao governo sueco para reduzir as emissões de car-bono, consoante o Acordo de Paris, manifestando-se do lado de fora do parlamento durante o horário escolar, segurando uma placa onde se podia ler: “Greves escolares pelo clima”.A ambientalista continuou com as greves sema-na após semana, todas as sextas-feiras (“Fridays for future”), começando a ganhar cada vez mais atenção quer a nível nacional como in-ternacional e a influenciar pessoas a realiza-rem protestos semelhantes noutros países, mes-mo sendo estes reprovados pelos seus principais políticos. Greta também manifestou a sua revolta nas redes socias, participou na manifestação “Er-ga-se pelo clima” em frente ao parlamento euro-peu e abordou as Nações Unidas para a cúpula das alterações climáticas.A meu ver, o facto de esta jovem ambientalista ter arranjado uma causa para os jovens, que hoje em dia têm tudo de “mão beijada”, é importantíssi-mo, pois faz com que esta geração “lute” por algo e

Greta ThunbergAndré Azevedo . Aluno do 12.ºB

Instagram gretathunberg

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O mar ainda hoje é sinónimo da época áurea de Portugal, a dos Descobri-mentos, pois graças à nossa aventura marítima o nosso país foi, em tem-

pos idos, a maior potência económica do planeta, centro de um império maior do que alguns con-tinentes e é por isso que o português é ainda hoje a sexta língua mais falada do globo.Tudo isto está ainda muito presente no imaginário coletivo português, inclusive o nosso hino na-cional começa com as palavras “heróis do mar”. O que muitas vezes é esquecido é que jazem hoje no fundo do território marítimo português (que é algumas vezes maior do que o continental) fon-tes de grande riqueza.O território luso encontra-se numa posição óti-mo para pesquisas científicas, nomeadamente o estudo geológico dos fundos oceânicos, das falhas, da parte da dorsal médio-oceânica que é portuguesa, do rift que atravessa os Açores, da microplaca este arquipélago (que se encontra no ponto de contacto de três grandes placas) e de fenómenos sísmicos e vulcânicos. O mar portu-guês é ainda lar de inúmeras formas de vida e de ecossistemas únicos como as fontes hidrotermais, locais onde, segundo a maioria dos biólogos, avida terá surgido pela primeira vez e que têm até hoje uma relevância singular.Da mesma forma, o interesse económico do mar português não deve ser ignorado: no seu leito

O mar e PortugalBeatriz Lamas . Aluna do 12.º B

encontram-se vastos depósitos de terras raras e outros elementos, de grande valor, ao nível mais superficial da crosta. Além disto, o turismo por ele gerado é igualmente, uma importante fonte de capital para o país.Em suma, depois de um passado glorioso anco-rado no mar é nas águas portuguesas que se en-contra o futuro de Portugal, já que elas encerram ímpares tesouros científicos e monetários.

Getty Images

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É impossível, quanto a mim, dada a realidade que atualmente vivemos, não parar para refletir sobre esta ameaça microscópica e latente que paira sobre

as nossas cabeças e nos impele a adotar novas rotinas individuais, novos desafios profissionais, novos comportamentos sociais, até ontem ab-surdos e disparatados em seres instintivamente gregários, carentes de toque, de afetos e de comu-nicação, como é o caso do ser humano.Bombardeados diariamente com novos vocábu-los, ressuscitados para retratar esta tão inesperada atualidade, o termo Covid-19 ou SARS-cov-2, assume um papel preponderante nesta termino-logia e lidera, qual tirano ditador, nações inteiras, completamente indiferente e alheio a fronteiras, completamente desrespeitoso e alheio a credos, a raças, a cores de pele, completamente desapegado e alheio a ideologias… Tornou-se o novo senhor do mundo, este inimigo invisível e age tal como um imperador: impassível perante a devastação e a dor humana… Ironia do destino… não precisou de bomba atómica para fazer valer a sua vontade…Que déspota é este Covid-19 que veio para ficar? Como se atreve ele, esta “coisinha microscópica” a confrontar os donos do mundo, as vigorosas potências mundiais, parando as suas economias, colocando em banho maria toda uma forma de vida?

Covid-19 - O Antes e o DepoisConceição Dias . Professora de Inglês

Bom, cientificamente falando, os coronavírus são uma família de vírus que pode causar doença no ser humano; a infeção causada por tais agentes pode assemelhar-se a uma gripe comum, dado a sintomatologia que o individuo afetado apre-senta. Este “afamado” Covid-19 tem a particu-laridade de ser totalmente desconhecido pela comunidade médico científica que, e apesar dos esforços levados a cabo, ainda não conseguiu a tão almejada vacina que irá pôr um fim (preciso acreditar que sim) na dizimação desenfreada que este Covid-19 está a causar em todo o mundo. Resulta, deste facto, a perigosidade deste vírus que, aliada a uma rápida propagação e múltiplas mutações no decurso da sua existência, apenas permite tratamentos sintomáticos e de suporte de órgãos; é isto o que milhares de heróis anónimos, têm vindo a fazer nesta batalha desigual pela sobrevivência, totalmente entregues à sua causa e sempre, sempre em prol do bem comum. São estes os verdadeiros arautos da Esperança num mundo desesperançado… os Anjos Brancos como muitos legitimamente lhes chamam.Num curtíssimo espaço de tempo, este vírus tor-nou-se uma emergência internacional e o mun-do assiste, incrédulo, à declaração emitida pela Organização Mundial da Saúde, que a onze de março, o eleva a pandemia. Pronto, caiu a ficha e agora?Efetivamente, temos um mundo antes do Covid-19;

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é aquele que todos nós tão bem conhecíamos e que tão pouco valorizávamos… lembram-se? Lem-bram-se mesmo? Que sina a nossa, de não saber-mos ser felizes com o que temos, de querermos sempre mais e mais e mais quando, como agora se vê, é preciso tão pouco….Esta pandemia “obrigou” a humanidade a abran-dar, a estipular prioridades, a traçar novos obje-tivos e, parafraseando os nossos jornalistas, a reinventar-se…. e como se tem reinventado, meu Deus, como…Esta pandemia, atrevo-me a dizer, forçou a hu-manidade a ver a sua singela condição humana, uma condição finita, breve e transitória… algo não muito aprazível de ser visto ou sentido, eu sei, mas que deve forçosamente ser visto e senti-do, sob pena de sermos tudo, menos humanos…Esta pandemia deu um “basta” na prepotência vi-gente, na intolerância face à diferença, na neglicência perante os mais idosos e desfavorecidos, na su-premacia das nações, no materialismo reinante, no egoísmo de cada um, na injustiça social, no xenofobismo, no lucro a qualquer preço, no or-gulho, na vaidade e em muitos outros conceitos pouco dignificadores da condição humana, a bem da verdade…Como pessoa crente que sou, tenho e sempre tive fé na humanidade (os meus alunos podem cor-roborar esta crença); como tal acredito, piamente,

que esta pandemia não foi em vão… quero acreditar que não foi.Eu quero acreditar…Eu quero acreditar que Deus, ao colocar um planeta inteiro no mesmo barco, quis dizer algu-ma coisa, quis dar uma nova oportunidade, quis dar uma lição de vida.Eu quero acreditar…Eu quero acreditar que o Homem, ao sofrer toda esta provação, saberá tirar elações, saberá definir as suas prioridades com outra clareza, saberá qual a sua missão na terra.Cabe a cada um de nós fazer uma introspeção consciente e cuidada do que já aconteceu, do que está a acontecer, do que irá acontecer de futuro; continuamos a ter uma narrativa aberta…Eu quero acreditar…Eu quero acreditar que o mundo, depois do Covid-19 será um recomeço a todos os níveis, com muitas páginas em branco para colorir… o mundo depois do Covid-19 será, mais uma vez, reinventado.Gostaria de terminar esta reflexão, agradecendo a todos aqueles que fazem e continuam a fazer a diferença com a sua dedicação, a sua perseverança, o seu trabalho, o seu compromisso e nos ajudam a ter fé e a acreditar na humanidade.A todos os heróis anónimos Muito Obrigada.

Foto: AFP

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Esta noite sonhei com o mar.Sonhei com a pureza do azul que encanta o olhar.

Sonhei com as ondas, com os rochedos, com os corais,Com a água que se confunde com a imensidão do céu,Aprofundando-se no abismo infinito da LuaQue quem me dera que fosse meu.

Também o mar não é meu, mas eu pertenço-lhe.

Serei continuamente um tripulante de um navio à deriva, em busca de algo,Mas sem estar realmente à procura de nada.Por isso o mar acolhe-me.

E eu deixo-me ir.

Entrego-me à sua suavidadeE é assim que ele toma controlo dos meus sonhos.

Sonhei que o mar estava revolto,Impaciente com a sua própria espera,Cansado da sua calma inicial,Não suportando mais a própria beleza ou brandura do princípio.

É então que, Naquele momento,Era a vez dele de procurar por algo, eu sabia, Mas o quê?Seria como um peregrino errante, como eu,Sem qualquer santuário frio para acalorar o espírito? Seria uma demanda em busca do norte das estrelas Ou uma travessia rumo ao sul da Atlântida?

As ondas, cada vez mais revoltas (ou insurgentes?),Reviram-se em volta do navioA tripulação correO comandante grita ordens ao infinito da escuridão da noiteA água invade o navio e é assim que sinto apenas uma frescura bruta a levar-me o corpo, A puxar-me.

Já não oiço o comandante,Nem a correria do convés,Apenas o abraço do mar que me leva até si.A frescura é tanta

Provavelmente morri.

Depois, acordo. Saio da camarata, olho em volta e cumprimento o mar.

Maria Rita Ferreira, 12.º C

O So

nho

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Parar. Olhar. Percecionar. Sentir. Imaginar. Refletir. Agir. Comunicar. Durante 40 dias os alunos de artes dos 10º, 11º e 12º anos da ESJAC registaram em fotografia aspetos das

suas vivências em confinamento, publicadas diariamente entre 24 de março e 2 de maio, no Instagram e no Facebook do grupo. Vê on line/Segue-nos: Instagram: Artes.na.ESJACFacebook: Artes Esjac (https://www.facebook.com/artes.esjac.7/)

Fotografias de:Alice Cardoso, Anabela Lopes, Ana Sofia Silva, Bruna Mendes, Bruna Camilo, Diana Ribeiro, Diogo Moinhos, Inês Fonseca, Jéssica Damas, Joel Alexandre, Maria Barros e Marisa Gouveia.

Projeto 40 dias 40 fotosAlunos de Artes 10.º, 11.º e 12.º Anos

Fotomontagem: Carla Cabral

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número de mortes, pelo que, uma boa alimen-tação, a prática do exercício físico, evitar o stresse, deixar de fumar, manter vigilância médica, são boas práticas que contribuem para diminuir as doenças cardiovasculares.

* Disciplina de Ciências Naturais com supervisão da Prof. ª Teresina Bezerra.

O colesterol é produzido pelas células do nosso corpo, cerca de 75%, e 25% tem origem na dieta alimentar, so-bretudo em alimentos de origem

animal que ingerimos. Um exame de sangue pode detetar os níveis de “colesterol total” , o HDL- lipoproteína de alta densidade e LDL- lipoproteína de baixa densidade. O HDL, considerado “bom colesterol” é capaz de retirar o colesterol LDL, ou “ mau colesterol” das artérias, ao contrário, o LDL ajuda a gordura a acumular-se nas artérias. O nível de colesterol depende de vários fatores: genéticos (de que faz parte o hipercolesterolémia familiar), a idade, os estilos de vida que prati-camos, nomeadamente, alimentação, rotinas de atividade física, stress, entre outras.O colesterol ocorre naturalmente em alimentos de origem animal e a sua principal fonte são as gorduras saturadas (carne vermelhas, carnes gor-das, manteiga, gema de ovo, queijo, entre outros.), alimentos estes que contribuem para o aumento do colesterol, pelo contrário, existem alimen-tos que permitem conter o colesterol dentro dos limites aconselháveis, nomeadamente, peixes ricos em ômega 3 (sardinha, atum, cavala…); também os alimentos ricos em fibras solúveis como as frutas, verduras, rebentos de soja, aveia, feijão, e outros, ajudam a reduzir o colesterol.O colesterol é responsável por um elevado

Coma bem, ajude o seu coração!Alunos do 9ºC*

Imagem: https://blog.unilabs.pt/saude/colesterol/

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benéfica. É o caso de um bombeiro que resgata uma criança de uma casa em chamas e mente, dizendo que os seus pais estão bem, protegen-do-a de sofrer um trauma maior ou de um médico que mente a um paciente com uma doença grave para lhe elevar o ânimo. Chamamos-lhes menti-ras piedosas, por poupar alguém de um desgosto ou sofrimento. Porém, infelizmente, nos dias de hoje, as que predominam na nossa sociedade moderna são a mentira enganosa e maliciosa e são tão fre-quentemente utilizadas que parecem banais em alguns setores da sociedade e nos meios de co-municação.Na mentira enganosa, o mentiroso pretende prejudicar ou aproveitar-se da vítima em seu próprio benefício. Ou seja, na tentativa de vender um carro, por exemplo, o vendedor diz que este está em perfeito estado, não revelando que o motor está em vias de gripar. Na falsifi-cação, são apresentadas, por interesse próprio e de forma intencional, falsas informações como sendo verdadeiras.Na mentira maliciosa, o mentiroso pretende vingar-se ou obter vantagem ou lucro. Este tipo de mentira costuma ser usada como arma em situações competitivas. As pessoas que as in-ventam pretendem destruir o caráter e a rep-utação das suas vítimas. As figuras públicas do mundo da televisão e os políticos são os princi-pais alvos. Quantos de nós já ouvimos, na véspera das eleições, “fake news” que desacreditam um can-didato de um determinado partido? Atualmente, com as redes sociais, há mais espaço para fazer circular mentiras que, de tanto se repetirem, peri-gosamente se tornam verdades.Ética e moralmente a mentira é sempre condenável, pelo que, sempre que recorrermos a ela, devemos questionar-nos acerca da sua le-gitimidade, sem nos prejudicarmos a nós ou aos outros.

A mentira faz parte da rotina de to-dos nós. É um ato instintivo de preservação do ser humano do ponto de vista psicológico e é de tal forma

importante que até celebramos o dia das menti-ras no dia 1 de abril.Será que somos a única espécie a fazer uso dela? Aparentemente não. Muitos animais enganam outros para sobreviver. Há espécies de flores que exalam cheiro para desencadear a polinização e o camaleão camufla as suas características quando se sente ameaçado.A mentira pode ser compreendida sob duas pers-petivas: uma, que a admite como um comporta-mento bom, que busca a harmonia, a paz e que conforta pessoas; outra, que a vê como geradora de conflitos, como imoral e inaceitável por ser utilizada para enganar pessoas e trazer vantagens a quem a usa.Quem nunca teve de mentir à mãe dizendo que aquela sobremesa era maravilhosa?Quem nunca teve de dizer à tia gordinha que aquele vestido lhe ficava lindamente?Já imaginaram dizer ao namorado, à mulher, à sogra ou ao amigo o que realmente pensam de-les? Certamente, o convívio seria insuportável se disséssemos unicamente o que pensamos.Se entendermos a mentira como uma estratégia que nos ajuda a conviver melhor na nossa relação com os outros, então podemos dizer que ela é

A mentiraJoão Tiago Ribeiro . Aluno do 11.ºA

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Centro Escolar das Alagoas

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Centro Escolar das Alagoas

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à caverna onde ele vivia, entregaram-no à sua mãe, que também estava preocupada com o seu desaparecimento. Ela ficou muito feliz por terem trazido o seu filho de volta e convidou-as para lancharem com eles. Algum tempo depois foram embora e enquanto caminhavam de regresso a casa davam enormes gargalhadas, ao recordarem aquela aventura. Perceberam que ao fazer os outros felizes, também elas se sentiam felizes!Quando voltaram à escola, todos ficaram espan-tados, porque a Flora estava a sorrir pela primeira vez. Ficaram muito atentos, enquanto ela expli-cava como se tinha transformado numa fada feliz e todos passaram a chamá-la Fada Sorridente.A partir desse dia, quando chega à escola recebe abraços de toda a gente, mas brinca sempre com a sua melhor amiga, a fada Florinda.

Era uma vez uma Fada, chamada Flora. Ela estava sempre muito triste, por isso, chamavam-lhe Fada Tristonha. Ficava ainda mais triste quando diziam isso,

porque afinal ela só queria ter amigos mas nin-guém gostava dela. Um dia, a Flora, a Fada Tristonha, decidiu dar um passeio pelo parque e encontrou uma fada. Como queria muito conhecê-la, foi ter com ela. O seu nome era Florinda e, também era um pou-co tristonha, tal como Flora. Conversaram du-rante longas horas, partilhando as suas preocu-pações e alegrias, que eram poucas, tanto para uma como para a outra. A partir desse dia ficaram as melhores amigas, pois tinham muitas coisas em comum. Viveram muitas aventuras juntas, naquela floresta mágica, repleta de cor, frescura e alegria do cantar dos passarinhos, mas Flora ain-da continuava triste.Numa bela tarde, foram as duas dar um passeio pela floresta. Estavam muito descontraídas à bei-ra do lago a apreciar os cisnes que nadavam silen-ciosamente, nas águas límpidas e transparentes, quando ouviram um ruído vindo de uma árvore imensa. Ficaram cheias de medo, mas como juntas se sentiam mais protegidas e mais fortes, resolveram aproximar-se, com muito cuidado. Viram que era um dragão bebé, que estava com fome e perdido da sua mãe. As duas fadas foram com o dragão procurar comida. Quando chegaram

A Fada TristonhaClara Sofia Dinis . CE Alameda, turma 4.3

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e dos seus familiares em muitas das suas rotinas diárias.Quero voltar a ir à escola para brincar com os meus colegas. Quero voltar a ir à natação. Que-ro voltar a poder fazer tudo o que eu gostava e deixei de fazer. Espero que num futuro próximo todas as minhas rotinas, bem como a de todas as crianças do mundo voltem ao normal.

Por causa desta pandemia, as crianças deixaram de ir à escola, de brincar com os colegas, ir de férias… Não podemos sair de casa, temos de cumprir o dis-

tanciamento social para o vírus não se espalhar. Todos nós temos escola por tecnologia, na Plata-forma Teams, evitando o contacto físico e ao mesmo tempo, evitar contágios.Deixamos de ir à missa, à catequese, de ir a sítios que gostamos, como centros comerciais, estádios, praias, parques infantis… Não podemos visitar a família, principalmente os avós, porque eles não têm muitas defesas contra o vírus, devido a outros problemas de saúde, tais como, diabetes, problemas respiratórios e cardíacos.As crianças, com o encerramento dos desportos, deixaram de poder ir aos seus treinos e com-petições. No meu caso deixei de praticar natação. Há crianças que deixaram de praticar as suas atividades culturais como a música, a dança, o teatro, deixando assim de poder ir aos ensaios em grupo e consequentemente, não há apresentações ao público. Aos domingos as crianças almoçavam em restau-rantes, faziam o seu passeio de carro e iam visitar museus e outros lugares de interesse histórico, tais como castelos, palácios e igrejas. Mas com o aparecimento da Covid-19 deixaram de o poder fazer, por causa do encerramento desses espaços. Assim ficou muito transtornada a vida das crianças

Covid-19 na vida das criançasMartim Cardoso . CE Alameda, turma 4.3

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O importante da amizade não é ter amigos, mas sim saber o que existe dentro de cada um deles. Cada amigo novo que ganhamos na

vida, enriquece-nos, não pelo que nos dá, mas pelo quanto descobrimos sobre nós próprios. São gestos, palavras e sentimentos que fazem com que a amizade se torne importante. Ela nasce de um sorriso, cresce aos poucos e quando é bem respeitada torna-se quase impos-sível de acabar. Devemos tratar os nossos amigos com todo o cuidado, como se fossem uma jóia preciosa de grande valor que não encontramos em todos os lugares. Eu tenho muitos amigos, tenho a certeza que a nossa amizade é muito forte e sincera. Todos eles vão continuar na minha vida, porque são mui-to importantes para mim e sei que posso contar com eles para sempre. Para mim a amizade é muito importante! A amizade é:

Amor Alegria Partilha Carinho Cumplicidade Respeito

Viver em sociedade é uma necessidade essencial de todos os seres humanos. Nenhum ser humano consegue viver sozinho, completamente isolado, pois

todos precisam uns dos outros para satisfazer as suas necessidades, sejam elas de natureza ma-terial, como a alimentação ou a necessidade de cuidados em caso de doença ou de acidente, ou então de natureza afetiva e espiritual. Mas para obter todos os benefícios que a vida em sociedade proporciona, é preciso que as pessoas tenham consciência dos seus direitos, dos seus deveres e também das regras da sociedade. Para isso é pre-ciso que desde cedo, desde os primeiros anos de vida, quando começam a viver em conjunto com outras pessoas, na família, na creche, na escola ou em qualquer outro lugar em que as pessoas interajam entre si, como brincar, estudar, praticar desporto, trabalhar, ou em outras atividades, to-dos tomem consciência de que devem respeitar os outros, assim como todos têm o direito de serem respeitados.É muito importante que as pessoas se lembrem de que viver em sociedade é uma necessidade e um direito de todos, tendo também a consciên-cia de que todos os seres humanos têm o mesmo valor, não havendo qualquer justificação para que uns pretendam ser melhores do que os outros, sen-do injusta qualquer espécie de discriminação en-tre as pessoas. Mas é preciso também que todos estejam conscientes de que viver em sociedade significa ter direitos e deveres especialmente o dever de respeitar os outros e de agir com espíri-to de solidariedade. Além disso, viver em socie-dade deve ser entendido como uma possibilidade de agir racionalmente, nunca usando a violência contra pessoas. O ser humano é um ser racional, o que significa que ele deve usar a inteligência e a boa vontade para que a vida em sociedade seja justa, para que todos vivam em paz, harmonia e amizade.

A importância da amizade

Como devemos viver em sociedade?

Mafalda . CE Alameda, turma 4.1Valentina Poiares . CE Alameda, turma 4.1

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fator determinante na redução da criminalidade.Portugal foi o primeiro Estado soberano moderno da Europa a abolir a pena de morte. Em 1911 houve a abolição para todos os crimes, incluindo os militares, porém, em 1916, foi readmitida a pena de morte para a traição em tempo de guer-ra, devido à entrada na Primeira Grande Guerra. Após essa data, apenas em 1976 houve a abolição total, pela Constituição da República Portuguesa.Pelo exposto, existem pontos a favor e contra a pena capital, depende da perspetiva de cada um e da avaliação de cada crime, pois todos os crimes são distintos e requerem julgamentos distintos.

A pena de morte, também chamada de pena capital, é uma sentença aplicada pelo poder judiciário que consiste na execução de um indivíduo condenado

pelo Estado. O tema “pena de morte” é um assunto que exige uma análise de todos os pontos de vista, diga-mos que essa sentença se adapta com os países, de acordo com a organização política de cada um. A pena de morte é uma punição extrema, degradante e desumana. Viola o direito à vida, qualquer que seja o método de execução utiliza-do – eletrocução, enforcamento, câmara de gás, decapitação, apedrejamento ou injeção letal. A execução irá garantir que os criminosos não cometem mais crimes, é defendido que os crimino-sos são um problema na sociedade, deste modo, considera-se que estes indivíduos devem ser eliminados, até que não haja mais pessoas a come-ter os mesmos erros. Um outro ponto a favor da pena capital é que a partir do momento em que se ouvissem relatos de execuções, iria começar a haver receio em cometer certos crimes.Porém, considerando a vida um direito básico do indivíduo, levar alguém à morte pelos seus crimes seria muito inadequado, além de já serem conhe-cidos casos de julgamentos que conduziram à execução de pessoas que não são de facto culpa-das. É também dito que em países com pena de morte que o medo de ser condenado não é um

A pena de morteAriana Lopes . Aluna do 12.º B

Imagem: Lusa/AG

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“Are we all lost stars trying to light up the dark?” Maroon 5-Lost stars

E se?E se, do silêncio esmagador que em-bate na porta, do olhar fugidio e receo-so que se cruza com o teu atrás da más-

cara, sentisses, em arrepio de pele, que não estás só? Que nunca estiveste ou estarás?E se visses, ao fechar os olhos de luz, que o Tem-po é só convite suave e eterno de asas brancas?E se te visses Universo em expansão, uno e múl-tiplo, ausente de aqui e agora?E se a única música que sentisses tua fosse a da Vibração?E se te lembrasses de um Eu real que ainda não chegou?E se “confinamento” fosse apenas a Terra a acordar para se recordar de quem é? E se o teu coração a pulsar for também o meu e o dela?E se os nossos limites forem apenas as nossas crenças?E se o único real for o Amor?What if we are all lost stars searching for home?

What if?Fernanda Sousa . Professora de Inglês

Imagem: https://pxhere.com/

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António Costa, tem uma visão diferente, dizen-do que há um desinteresse por parte dos jovens, reforçando que são os partidos que tem de en-contrar novas medidas de mobilização juvenil, tal como o Facebook e outras redes sociais. Referiu, ainda, que os partidos tradicionais, partidos do governo, devido ao modelo de ativismo pouco ideológico, atraem poucos jovens.Em suma, torna-se cada vez mais importante tomar medidas para controlar este declínio sis-temático, uma vez que a posição da faixa etária mais jovem em relação à política irá traduzir-se numa quebra na qualidade da democracia em Portugal. É urgente incutir valores nos jovens para descobrirem e explorarem o mundo da política, estarem informados, serem críticos e formarem as suas próprias opiniões. Pensamos na Democracia como um direito adquirido des-de que nascemos. Esquecemo-nos que, acima de tudo, é um dever, uma responsabilidade que nos foi deixada pela luta e perseverança dos nos-sos antepassados.

O trabalho com jovens pode ser certa-mente importante na política, pois estes podem desempenhar um papel positivo na construção de uma socie-

dade pacífica, coesa e segura. Podemos identificar um decréscimo nas partici-pações a nível político e notar que os jovens estão mais interessados em atividades de lazer. A crise económica tornou mais evidente a relevância do trabalho na vida quotidiana o que, conse-quente e paradoxalmente, veio criar uma cres-cente valorização dos tempos de entreteni-mento.O desinteresse dos jovens pela política, nos dias de hoje, revela-se na abstenção que se verifi-ca atualmente. Em 2019, dos jovens dos 18 aos 22 anos registados para votar pela primeira vez, apenas cerca de 7% se dirigiram às urnas. Para além da vasta abstenção nos atos eleitorais, esta é também a faixa etária que menos participa na atividade política,Em 2019, o Presidente da República, professor Marcelo Rebelo de Sousa, questionou os parti-dos sobre os motivos do abandono da política por parte dos jovens, pedindo aos mesmos para reverem as suas formas de funcionamento, de modo a identificar o porquê dos jovens não se encaixarem na política.Mas serão os partidos os verdadeiros culpados deste abandono? O atual Primeiro Ministro,

A Juventude e a PolíticaNuno Vasques . Aluno do 12.ºA

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“Para a ditadura internacional das agências de rating, a cultura pode ser lixo. Mas para a dignidade hu-mana, a cultura deve ser uma razão

de vida.” trata-se de uma célebre citação de Vasco Graça Moura, político e escritor português con-decorado e premiado pelos seus discursos e obras.Esta frase foi retirada de um artigo escrito por ele em janeiro de 2012, quando Portugal enfren-tava uma confusão de valores que colocava as questões culturais a ocuparem um lugar supér-fluo nas preocupações dos responsáveis políticos. Vasco Moura era contra esta medida e defendia que uma reflexão aprofundada sobre o papel da cultura iria ter uma evidente utilidade na ultra-passagem do estado em que Portugal se encon-trava.Esta confusão de valores teve início devido a uma iniciativa de uma agência de rating, neste caso a Moody’s, que colocou Portugal no nível lixo, a pior classificação possível. As agências de rating, ou agências de notação financeira, são empresas privadas que qualificam tanto outras empresas como governos ou países segundo o risco de pagamento das suas dívidas. Esta avaliação, que colocou o nosso país no lixo, levou-nos a assumir um papel de indiferença perante a nossa cultura, de modo a focarmo-nos nas questões financeiras.De certa forma, estou de acordo com esta me-dida porque, neste caso, estávamos a preservar a

Cultura como lixo ou razão de vida?Matilde Carvalho . Aluna do 12.ºC

saúde financeira do nosso país, o bem maior e, de facto, neste tipo de situações, os fenómenos culturais são sempre postos de lado porque não são a principal preocupação do governo. Por outro lado, vou de encontro à opinião de Vas-co Graça Moura, que defendia a preservação da grande herança cultural europeia e os clássicos de todos os tempos, que, e passo a citar, “… são uma espécie em vias de extinção. Os Estados não os prezam especialmente. Os governos têm reduzi-da consciência da sua importância. As escolas não proporcionam o desejável contacto com eles. Os programas-quadro têm acabado por não os con-siderar devidamente.”.Para passar à análise da segunda parte da frase, é necessário rever o conceito de cultura. A cultura é uma parte essencial de nós. É o conjunto das nossas crenças, do nosso conhecimento, dos nos-sos costumes, hábitos, moral, leis e arte. E tudo isto é adquirido à nascença e, como é obvio, muda consoante o ambiente em que estamos inseridos. Este conceito é muito abrangente e encontra-se em praticamente todo o lado. O nosso método de ensino é próprio da nossa cultura, a nossa ma-neira de vestir é própria da nossa cultura, a nossa maneira de agir é própria da nossa cultura. É cla-ro que, no meio disto, há toda uma diversidade, pois nem toda a gente se veste de igual forma ou age de igual forma, mas é importante realçar que essas manifestações de diferença também são cultura.De facto, este esquecimento da cultura, para além de não ter resolvido o problema, levantou uma onda de descontentamento. Há, portanto, que repensar e priorizar aquilo que realmente im-porta, já que a cultura é algo que não pode ser esquecido. Com isto, pretendo afirmar que estou de acordo com esta frase e que, realmente, para a dignidade humana, a cultura deve ser uma razão de vida.

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Por motivos como a perseguição política, um conflito bélico ou outra situação que potencia o risco da vida do ser humano, cerca de 70,8 milhões de pessoas oriun-

das de países como a Síria, Afeganistão, Somália, Sudão e Sudão do Sul viram-se obrigados a abandonar as suas casas e, consequentemente, pedir refúgio e auxílio noutras nações no final de 2018. Estes, que fogem da fome, da guerra e da miséria e buscam a sobrevivência, são chamados de refugiados. A problemática da dinâmica dos fluxos de refu-giados é extremamente controversa. No que con-cerne às identidades apoiantes da entrada destas pessoas, argumentos como o desenvolvimento da economia nacional, o pagamento de impostos, o mérito de uma segunda oportunidade para viver dignamente e um aumento da heterogeneidade da população – sociedade multiculturalista- que deverá levar a um crescente espírito de tolerân-cia, são predominantes. Em adição, a entrada de novos jovens poderá conduzir ao aumento do empreendedorismo, o qual compreende variados benefícios. Em contraste, aqueles que se opõem à entrada dos refugiados no seu país apresentam pontos de vista diferentes. Defendem que existe uma valorização superior dos refugiados em relação à população residente, pois são fornecidas casas a estes migrantes, enquanto que os sem-abrigo

Êxodo contemporâneoJoana Teles . Aluna do 12.ºB

autóctones se mantêm na rua. Adicionalmente, alegam que muitos terroristas podem vir camu-flados na comunidade migrante e causar muitos danos materiais e humanos em território nacional em caso de terrorismo.São diversas as opiniões que concernem à pas-sagem – ou não – dos refugiados nas fronteiras de diversos países europeus. Como cidadã eu-ropeia, considero que os refugiados bem inten-cionados devem poder passar todas as fronteiras geográficas, visto que são apenas pessoas que buscam uma segunda oportunidade para poder viver dignamente. Advogo ainda que devem ser acolhidos, sendo fornecidos com um espaço para viver e uma pensão temporária, para serem ca-pazes, deste modo, de recomeçar. Porém, defendo que, para se tornarem cidadãos europeus, devem ser contribuintes líquidos e culturais. Concluindo, considero que a solidariedade e a humanidade devem ser a prioridade de todos nós, pois quando a alma é grande, a Humanidade triunfa.

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Época forrada de silêncio e de saudadeVivemos numa época forrada pela saudade, Sinto a saudade do madrigal e da correria matinal,Dos encontros e desencontros, Do toque que soa sem ponteiros, Sinto a saudade do aluno falador, do aluno que pensa em silêncio,E do aluno que me faz sorrir,Sinto a saudade de quem ensina, de quem educa,Vive em mim a nostalgia das gargalhadas abafadas, Dos desabafos de quem perde a razão ao ir de encontro da emoção.

Estou confinada a uma errância geográfica interior que exala uma sinestesia mórbida,Vejo pela vidraça as metamorfoses quotidianas,O sol silencioso dum exterior epidémico.Ó nostalgia de fins de semana gastronómicos!Vive-se a quimera do mundo conectado por um virtualismo desmedido.Surgem no ecrã rostos conhecidos que nos soam a desconhecidos,É a amálgama da linguagem verbal e não verbal, É o apocalipse da comunicação à distância, E na mente pedagógica sobrecarregada de números, justificações, Acabamos por nos assumir como falhas sem asteriscos. Cogita-se: a tormenta passará.Hoje é resiliência,Opacidade das trevas.

O regresso é mascarado das cores do camaleão.E lá vamos alguns, fazer o dobro de muitos!A atmosfera doentia não mudou mentalidades.E continuam alguns arrastados na voragem da supremacia.O embrião do nosso ensino, dás-nos a sentir o egoísmo da saudade, Amanhã?! Talvez, esperança…

Emília Craveiro, Professora de Português

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Como é possível que numa sociedade que é formada por, mais ou menos, a mesma proporção de homens e de mulheres, estas representem menos de

um terço dos eleitos nos parlamentos nacionais da União Europeia?Os homens não conseguem representar toda a população, sendo necessário haver um equilíbrio entre os géneros. Em 2018, só quatro países da União Europeia tinham governos equilibrados. Em seis, as mulheres representavam menos de 20%, Portugal era um deles. Para contrariar estes números foram criadas quotas, mas, por vezes, não são cumpridas ou as mulheres são remetidas para cargos menos importantes, como acontece na Croácia. Já a Dinamarca tem um dos mais elevados níveis de participação de mulheres no parlamento nacional, sem nunca ter introduzido quotas. Em Portugal existe uma representação mínima de 40% das mulheres, em cargos públicos. Estas quotas geram controvérsia, pois há quem acredite que as quotas são um modo de discriminação do género masculino e que diminuem a liberdade de escolha.Existem variadas causas para a minoria das mulheres na política, sendo o peso familiar uma delas. As mulheres fazem a maior parte do tra-balho em casa, isto tira-lhes tempo para a causa pública. Só as mulheres com ajuda familiar é

Mulheres na políticaRita Alves . Aluna do 12.ºA

que tendem a avançar com uma candidatura. Um exemplo dos problemas entre a vida política e familiar é Jacinda Arden, a primeira ministra neozelandeza, que foi duramente criticada por engravidar durante o seu mandato.As mulheres, neste ramo, deparam-se com várias di-ficuldades, têm de provar o que valem e veem mui-tas vezes os seus lugares ocupados por homens sem mérito, só por serem homens. As pessoas habituaram-se a ver homens nos lugares de topo e tendem a associar características masculinas à liderança. As mulheres que assumem este tipo de cargos são criticadas por agirem como homens ou por não agirem como verdadeiras líderes.Em suma, existe uma desigualdade de género grande neste ramo, para inverter esta tendência, é necessário aliados homens, pois só as mulheres não conseguem provocar a mudança, são ainda poucas as que conseguem vincar neste mundo e encorajar outras.

Imagem: Getty/Mark Mitchell

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Alimentos geneticamente modificados são alimentos produzidos com base em organismos que, através de técni-cas da engenharia genética, sofreram

alterações específicas no DNA. Mas porque é que têm criado tanta controvérsia? Os alimentos transgénicos surgiram como uma promessa de resolver o problema da fome no mundo, de diminuir os custos de produção, de reduzir o uso de agrotóxicos, de aumentar a tolerância das plantas a condições adversas e de oferecer produtos de qualidade superior, ao mesmo tempo potencialmente mais nutritivos e mais resistentes a pragas. No entanto, as alegadas vantagens, se em alguns casos se mostraram reais, em outros não corresponderam às expectativas e trouxeram resultados negativos imprevistos. Cer-tos estudos têm apontado uma série de problemas para o homem e para o meio ambiente que podem derivar do cultivo e consumo destes alimentos, tais como reações alérgicas, intoxicações, for-mação de tumores, declínio da biodiversidade e contaminação genética. Sendo que muitos dos estudos que negam efeitos negativos em geral são produzidos pelas próprias companhias de biotec-nologia num contexto de conflito de interesses, ou são de curto prazo, produzindo resultados pouco confiáveis ou de valor bastante limitado. Em muitos países, o consumo de alimentos transgénicos é legal, enquanto que noutros, a

Alimentos geneticamente modificadosJoana Santos . Aluna do 12.ºA

sua adesão está longe de ser efetivada, como no Japão, cuja comercialização é rejeitada. Con-forme a legislação em vigor, é obrigatório o rótulo de identificação em alimentos genetica-mente modificados com o intuito de alertar o consumidor sobre o que está a consumir. A meu ver, o consumo de alimentos transgéni-cos vai acabar por ser o nosso futuro. A verdade é que são dados como algo negativo, principal-mente porque a América e o Brasil, as maiores fontes dos alimentos transgénicos, têm produzido grandes quantidades destes produtos, sem grandes investigações quanto aos seus efeitos negativos. No entanto, se todos estes efeitos forem devida-mente estudados na tentativa de os remediar, não vejo razão para não se tornarem populares. Em suma, esta é uma tecnologia muito recente, o conhecimento científico sobre os seus riscos ainda é fragmentário e insuficiente, levantando muitas questões sobre os seus efeitos. Contudo, se forem devidamente estudados, serão uma mais valia para um futuro próspero.

Imagem: https://agrocomunica.com/

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A liberdade é um sentimento intrínse-co de autonomia, do poder, da inde-pendência, da livre expressão. Uma palavra que define o fundamental

para a existência, que é, atualmente, definida como o direito de agir segundo o livre arbítrio, conforme a vontade própria, sem prejudicar o outro, uma sensação de livre ação e independên-cia.A propósito da liberdade e da luta pela mes-ma, o “pai” do movimento pelos direitos civis, Frederick Douglass, num discurso inspirador e arauto, disse: “Aqueles que defendem a liber-dade, mas desprezam a agitação são homens que esperam colher sem lavrar a terra; que querem chuva sem trovões e sem relâmpagos; que querem o oceano sem o rugido das suas muitas águas. A luta pode ser moral, ou física, ou ambas. Mas deve ser um desafio. O poder não concede nada sem uma demanda. Ele nunca o fez e nunca fará.”. Sendo assim, a liberdade é uma luta constante e, consequentemente, ocorrem perdas. Este direito é o bem mais precioso do ser humano e foi e é uma grande aspiração, tanto ao longo da história como na idade contemporânea. São incontáveis as manifestações e revoluções que se realizaram em prol deste direito. São incontáveis as mortes e feridos que possibilitaram a nossa livre e paca-ta vivência. Foram necessários quinhentos anos para abolir a escravatura nos países mais impor-

A agitação é liberdadeMariana Columbano . Aluna do 12.ºC

tantes e, mesmo assim, ela ainda existe, sendo o abolicionismo apenas um exemplo da luta pela liberdade.Infelizmente, há pessoas que continuam a não reconhecer a sua importância. Algumas das gerações mais novas e uns tantos das gerações mais velhas continuam a desvalorizar o livre arbítrio e os direitos e deveres que ele acarreta. Muitos porque nunca experienciaram viver sem o mesmo, outros porque culpabilizam a liberdade pela falta de bom senso, pela moral e os com-portamentos impróprios de algumas pessoas. Re-pare-se na assustadora reascensão de movimentos extremistas no mundo; os radicalismos frequen-temente adotados; a prepotência do patriotismo e nacionalismo; a exclusão e indiferença em relação ao outro, que cada vez mais se observa. Já está na altura de pensar em mudar e melhorar, não?Por falar em mudança e melhoria, invoco um sentido mais abstrato da mesma citação, um in-centivo à agitação. Muitas vezes esperamos que os outros façam por nós, que lutem as nossas batalhas, esperando que alguém vá primeiro. À semelhança dos sebastianistas, o mundo está repleto de gente que espera, em vez de fazer para mudar. Por isto, não desprezemos a agitação, pois é necessário “lavrar a terra”. Não fiquemos à espera que a motivação apareça, já que esta é temporária, perdendo-se com as dificuldades. A motivação é apenas um ponto de partida, sen-do preciso definir objetivos. Para atingi-los, a dis-ciplina, a determinação e a insistência são chaves. Deixemos-nos de preguiças e desculpas. Nós conseguimos tudo se lutarmos.O nosso estimado Fernando Pessoa escreveu, sob a forma de Bernardo Soares, no seu grande livro, o seguinte: “Agir, eis a inteligência verda-deira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se o não fizerem ali?”.

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A vida é um mero produto que a morte vai consumir. Do mesmo modo que nós consumimos o que queremos, por vezes, sem pensar duas vezes, a morte

consumir-nos-á a seu tempo.Andamos apenas a evitar aquilo que tem um fim. Pensamos que podemos controlar a incomensu-rabilidade do tempo ou a sua passagem, do mes-mo modo que tentamos inibir a sua chegada. Não podemos adiar aquilo que vai chegar, mais tarde ou mais cedo, daremos pela sua chegada. Incrível como podemos acelerar o nosso consumo, mas não podemos retardá-lo! Podemos ter o maior cuidado com a nossa vivência, o nosso fim não depende exclusivamente de nós. Aquilo que nos rodeia: os interesses sejam políticos, religiosos, meros devaneios, influenciam a nossa duração. Como alguém disse e bem: ”Todos deixamos de ter medo do monstro do armário quando percebemos que o verdadeiro monstro vive dentro de nós”. Podemos evitar originar conflitos que matem milhares de pessoas, ou centenas. As pessoas atribuem a gravidade a uma situação à medida que o número dos que sofrem aumen-ta. Apesar de alguns terem consciência que uma vida vale tanto como duas, não poderão mudar aqueles que assinam o testamento de alguém por meros interesses.O desconcerto deste mundo aumenta! Com o passar do tempo as mentalidades, a nossa

GhoutaCarlos Carvalhosa . Ex-Aluno

consciência deveria ficar mais sensível, mais percetível, mas parece que este mundo, especi-ficamente aqueles que atentam contra a vida de alguém, é marcado pela inconsciência.“Se Paris merece um momento de silêncio, Ghouta merece que o mundo se cale para sem-pre!”. Enganei-me a mim próprio quando pensei que a morte era algo nunca visto. Percebi agora que a morte somos nós.

Imagem: Reuters/ B. Khabieh

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Há momentos na vida que obrigam a “soltar a língua” e a dar eco à voz. Que exigem uma partilha mais vigorosa e contundente do que se

pensa serem as melhores ideias e práticas para a vida em sociedade.Esta circunstância, da pandemia do coronavírus, Covid 19, é um desses momentos. Que intima a que sejamos francos e honestos e que se exponha com clareza, frontalidade e determinação o que intelectualmente consideramos sobre o assunto.Na parte que me toca, fiz o juramento cristalino de dar ao pensamento a fluidez e a liberdade de que necessita para destruir e destilar qualquer es-torvo de carácter inquisitivo. Assim, é de lamentar que só em períodos ditos de crise e de estados de emergência os indivíduos – os mais e os menos responsáveis pessoal e coletivamente – se con-frontem com a necessidade de refletir e de ques-tionar o estado atual da condição humana. É de reprovar que só perante os perigos que agora nos ameaçam, a fatalidade, a catástrofe e a calami-dade, surja a importância de analisar e criticar o pensamento e a conduta humana.Ora, a reflexão crítica é uma urgência que de-veria andar de braço dado com o Homem, tanto nos passadiços da desgraça, do risco, do drama, como nos caminhos da alegria, da confiança e da esperança.Durante demasiado tempo, mais tempo do que

O burguês do Covid 19Manuel Ferreira . Professor de Filosofia

o desejável, andámos desatentos e alienados. Caminhámos e vivemos como se o frenético devir que nos consome não existisse. A acreditar que nada nos acontece, que somos infalíveis, que tudo é fantástico. Nos intervalos, vão-se tecendo laboratorialmente os interesses e ambições pes-soais, anotando os ajustes de contas e contando os ressentimentos. Como diversão, fazemos umas guerras, praticamos a violência e a xenofobia, so-mos racistas e o outro, o próximo, causa-nos ur-ticária. A discriminação e a intolerância estão na moda e são convenientes.Agora, em mais uma época histórica de desas-sossego, causado pelo medo de uma nova doença, abrem-se as feridas e colocam-se a nu as fragili-dades que cosmeticamente têm vindo a ser dis-farçadas e a real pequenez e impreparação do Homem. Agora, numa época de incerteza e de desgraça, fazem-se apelos miraculosos à neces-sidade de fazer balanços, a uma nova ordem e reconstrução, apelos à consciência e responsabili-dade pessoal e coletiva, ao bom senso e à sensatez.Temos para nós que este empenho e dedicação à vida, à sua preservação e valorização, não pode ser pontual. Também consideramos fútil, pobre, de um otimismo bacoco e de uma conversa ligei-ra mensagens que profetizam que “tudo vai ficar bem”.É, assim, ainda a vida. A ruir a cada momento, como se de um castelo de cartas se tratasse. E

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isto, porque, em tempos de aparente normali-dade, nada fizemos para nos precavermos do es-tranho, do invisível, do intruso, da ameaça. Mais uma vez, este fenómeno demonstra que nada ou muito pouco temos aprendido ao longo da História. Com demasiada frequência reincidi-mos nos mesmos erros e asneiras. Continuamos a agir retroativamente, sempre atrás do prejuízo, ignorando o trabalho preventivo, a importância da simulação e da antecipação de fenómenos como forma de garantir a segurança e de estar mais preparados para o inusitado.Cada vez mais é necessário preservar, valorizar e dar qualidade à vida do Homem, não só em

conjunturas de epidemias económicas, financei-ras ou de saúde, mas sempre. Na complexidade de que se reveste a sociedade e o Homem, as perguntas continuam a ser as clássicas: Que tipo de Homem queremos formar? Que evolução pretendemos para o Homem? Sabe o Homem conscientemente o que quer para sua vida? É esta construção social fonte de respeito e de felicidade pessoal e coletiva?Estas são algumas das interrogações que nos po-dem ainda dar vida e ânimo para executar as mu-danças tão essenciais à humanidade e garantir o bem-estar humano.

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Sonho...Balanço,Entre o sono e o sonho.Estremeço...Um que não alcanço,Na noturna inquietude,MitigadaNa infinita existência da Plêiade;Outro em que esmoreçoE esqueço...O intento abandono,Às pedras, pântanos ou espinhos...Busco,Na mente, refúgio:Um mundoMudo,Escuro, medonho...Então, acordo...E sonho...

M. Eugénia Monteiro (Docente 1º CEB, CE Alagoas)

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A medicina alternativa, muito em voga nos tempos modernos, pode ser en-tendida como um conjunto amplo de práticas de atenção de saúde que

fazem parte da própria tradição de cada país e que estão integradas na sociedade.Os procedimentos usados na medicina alterna-tiva são totalmente diferentes dos tratamentos encontrados nos hospitais e são extremamente procurados por pessoas de vários estratos sociais, pois na medicina alternativa o paciente é tratado como um todo, envolvendo características físicas, corporais, emocionais e espirituais.A não resolução de diversos problemas de saúde por parte da medicina convencional impele as pessoas a procurar outro tipo de apoio e resposta. As práticas de acupuntura, aromaterapia, Reiki, osteopatia, hidroterapia, reflexologia, entre outros, são fortemente solicitadas, pois, através de uma forma alternativa, elas representam uma melho-ria na qualidade de vida da população. O facto de os tratamentos serem naturais, com ausência total de químicos, de prevenir doenças, promover a ligação entre o corpo e a mente e a integração e harmonização do organismo contribuiu bene-ficamente para o atual sucesso destas práticas al-ternativas.Porém, não sendo reconhecida cientificamente deve-se ter cuidado em relação às pessoas en-volvidas nesta prática, pois algumas não possuem

Medicina AlternativaGabriela Borges . Aluna do 12.ºB

qualquer formação base ou médica, o que pode causar sequelas nos pacientes a serem tratados. A existência de charlatães pode acarretar graves problemas e riscos para a saúde. É necessário, portanto, separar “o trigo do joio”.O ideal seria haver uma colaboração e interli-gação entre a medicina convencional e alterna-tiva e debater as várias medidas terapêuticas que podem beneficiar, do ponto de vista biológico, psicológico e social, toda uma sociedade.Não é correto anular nem emitir juízos de valor sobre uma prática em relação a outra. Ambas apresentam aspetos positivos e pontos menos favoráveis. Contudo, é inegável que a medicina alternativa está a tornar-se cada vez mais popular, verificando-se casos de sucesso na melhoria dos pacientes.É essencial uma abertura de espírito e analisar as vantagens e desvantagens de ambas as medicinas, pois, em complementaridade, devem contribuir de forma inequívoca para o objetivo final de qualquer prática médica: saúde e bem-estar dos utentes.

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Clonar humanos, embora difícil, é uma possibilidade. Porém, existem barrei-ras morais e éticas que impediram que, até hoje, um único ser humano fosse

clonado.Recordemos que existem dois tipos de clonagem: terapêutica e reprodutiva. A primeira consiste em desenvolver pequenos embriões – blastocistos - a partir de uma célula de um indivíduo, de modo a poder aproveitar a potencialidade das células es-taminais. Este processo é útil, pois reduz drasti-camente a taxa de rejeição face ao transplante de células e permite reparar órgãos e tecidos. Contudo, este procedimento poderá requerer cen-tenas de tentativas até ser realizado com sucesso e, mesmo quando tal acontecer, a extração das células do embrião resulta na sua morte, pelo que há quem compare a clonagem terapêutica ao aborto. Além disso, há já mais de uma década que é estudada uma maneira de criar células es-taminais a partir de células da pele, diminuindo ainda mais a necessidade de recorrer a este tipo de clonagem.Apresentando muitas diferenças, a clonagem re-produtiva, já realizada em animais desde 1996 com a ovelha Dolly, consiste em criar um in-divíduo com toda a sua informação genética igual à de outro. Este processo é vantajoso na gestão de gado e na manutenção de espécies. Todavia, no que toca a humanos, as motivações são outras. A

Clonagem HumanaJoão Matos . Aluno do 12.ºA

clonagem reprodutiva teria, em seres humanos, as principais motivações de clonar um ente que-rido falecido, pessoas ilustres ou criar cópias que sirvam como uma reserva viva de órgãos para a necessidade de realizar um transplante. Em nenhu-ma destas situações é respeitada a individualidade do clone nem os seus direitos enquanto pessoa única. Além disso, clonar um ser humano exigiria muitas tentativas, sem garantias sequer de que o clone viveria uma vida longa e saudável.Pelo exposto, concordo que a clonagem reproduti-va permaneça proibida devido às suas implicações, mas apoio a clonagem terapêutica enquanto não forem completamente desenvolvidos métodos al-ternativos.

Imagem: https://biohackinfo.com/

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O reconhecimento facial é uma técni-ca de biometria baseada nos traços do rosto das pessoas e não é segredo que os seres humanos têm uma faci-

lidade para reconhecer os rostos das pessoas com precisão. Esta técnica deixou de ser um assun-to de ficção científica e passou a permitir mais segurança no mundo real, sendo hoje uma das aplicações mais populares do software de análise de imagens.Tal como o reconhecimento da impressão digital e outros meios de análise, também o reconheci-mento facial apresenta vantagens e desvantagens.Os aspetos positivos desta técnica são o facto de prevenir contra o roubo de identidade, uma vez que é algo bastante comum, por exemplo, no Brasil. Este crime consiste na alteração ou omissão de informação relevantes num documen-to público ou privado com o intuito de prejudicar terceiros ou de obter vantagem para si e para os outros. Quantos de nós já foram impedidos de entrar em algum lugar ou impedidos de adquirir algum benefício, porque se esqueceram do cartão de cidadão em casa? Mas, através de uma análise minuciosa dos traços do rosto de um indivíduo, é possível, de forma assertiva e simplificada, fazer a autenticação da nossa identidade em poucos se-gundos, deixando de ser um problema o esqueci-mento de documentos.Contudo, nem tudo é um mar de rosas e Hong

O reconhecimento facialLeonor Lopes . Aluna do 12.ºB

Kong é a prova disso, uma vez que esta estraté-gia trouxe alguns problemas. Desde junho de 2019 que milhares de manifestantes têm toma-do as ruas de Hong Kong em protesto contra algumas medidas impostas pelo governo, entre eles a questão da privacidade. Os manifestantes começaram a derrubar postes com câmaras es-palhadas por toda a cidade, uma vez que aqueles equipamentos possuem tecnologia de reconhe-cimento facial usada por autoridades chinesas para controlar a população. Apesar de o governo alegar que os postes como sistema de reconheci-mento facial são usados para recolher dados do clima e medir a qualidade do ar, os manifestantes duvidam.Analisando os prós e contras, o reconhecimento facial é, no meu ponto de vista, uma invasão da privacidade individual e a nível da justiça pode culpar o inocente por um erro de reconhecimen-to facial, uma vez que este não é 100% seguro nem eficaz.

Imagem: https://www.tudocelular.com/

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Todos somos atores. Homens e mulheres desempenham ao longo da sua vida inúmeros papeis. Todos temos as nos-sas entradas e saídas de cena e um pal-

co onde nos movemos: a escola, a família, o tra-balho, a relação com o outro… o mundo inteiro.Desde que nasce, o indivíduo começa a receber a herança cultural que assegura a sua formação, a sua orientação, o seu desenvolvimento de ser so-cial. Cada cultura, por meio de “imprintings” pre-coces, dos seus modelos de comportamento, da educação, de imperativos e tabus, reprime, inibe ou favorece a atualização de tal ou tal aptidão, de tal ou tal traço psicoafectivo. Ser social e sociável por natureza, o homem vive em grupos mais ou menos restritos, construindo a sua história através de atuações contínuas, de sucessivas representações. É sendo com os outros que o homem se realiza como pessoa, mas porque dotado se instintos de auto-preservação, nem sempre age no mais puro espírito de fraternidade, recorrendo na maior parte das vezes a “máscaras”, tal como no teatro, que lhe possibilitam ocultar ou simplesmente contornar os verdadeiros desejos e anseios para a realização das suas ações. Vivemos tempos anómalos. Por força das cir-cunstâncias os palcos a que nos habituamos deixaram de existir ou foram reestruturados, alguns atores dispensados ou chamados a repre-sentar novos papeis. Nem sempre a mudança é

O palco da vidaAna Paula Lopes . Professora de Filosofia fácil, mas o que carateriza o homem é a sua ca-

pacidade de aprender e de se adaptar. Pois então, aprendamos! Que de uma vez por todas se perceba que nenhum de nós é uma ilha isolada onde tudo existe e nada faz falta. Precisamos uns dos outros, verdadeira-mente! Há máscaras que têm que cair. Não é por agora precisarmos desesperadamente de médicos que vamos para a janela bater palmas, até porque eles não caem do céu! Invista-se na saúde, na for-mação. Reconheça-se também a sua importância e o seu valor quando tudo isto passar. Tenho cá para mim que aqueles que agora se de-dicam a correntezinhas de reconhecimento aos profissionais das mais diversas áreas são os mesmos que, noutras situações, tecem críticas ferozes, in-juriam, reclamam dos supostos benefícios que os outros usufruem. Não há linha da frente e linha de trás: somos uma teia de fios invisíveis que se entrecruzam e se influenciam mutuamente. Já é tempo de aprendermos que numa sociedade ver-dadeiramente justa e equilibrada todos são im-portantes e devem ser respeitados e valorizados. E que, só com o contributo de cada um de nós é possível a manutenção do bem comum. Deixemo-nos de individualismos, de egoísmos! É no coletivo, no ser-com-os-outros, que nos tor-namos verdadeiramente humanos e nos realizamos como pessoas. Este é um bom momento para repensarmos a nossa forma de estar no mundo. Se conseguir-mos aprender algo de significativo, talvez, mas só talvez, numa próxima situação de crise não es-gote o papel higiénico nos hipermercados…

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54 ensar(es)

No livro “O Último Mistério”, “Lynn Sholes e Joe Moore, conhecidos por escreverem em conjunto, apre-sentam-nos uma história extrema-

mente envolvente e repleta de mistérios, aven-turas e teorias que prometem agarrar os leitores.A protagonista Cotten Stone é-nos dada a conhecer como uma jornalista no topo da sua profissão até esta ter toda a sua credibilidade abalada devido ao fiasco da sua carreira: a re-portagem sobre a investigação do suposto fóssil da criação. Após um ano longe de todos os holo-fotes, a protagonista recebe uma nova oportuni-dade, onde viaja até ao Peru a fim de divulgar uma nova civilização inca. Durante a sua estadia, algo inusitado acontece: a descoberta de uma tábua de cristal com cerca de cinco mil anos, que contém hieróglifos que previram o dilúvio, muda todo o rumo da história. Após esta ser desco-berta, toda a equipa de Cotten e também a de escavação são encontradas mortas e somente a jornalista sobrevive como testemunha do aconte-cido e do consequente desaparecimento da tábua. Enquanto Cotten foge pelo Peru e luta pela sua vida, outra tábua é descoberta no Novo México e a sua revelação é uma purificação que viria a acontecer comandada por anjos, mas esta também desaparece.De repente, os suicídios são em massa e em es-cala mundial e a protagonista, após vivenciar di-

O Último MistérioRafaela Costa . Aluna do 11.ºF

versas peripécias para sobreviver, experimenta a luz líquida. Esta experiência mostra-se crucial e foi-lhe proporcionada por Yachaq, um curandei-ro inca. Através dela, Cotten Stone vê-se forçada a encarar o seu destino e reconhece todo o seu poder e capacidades. Assim, a mesma mostra-se obrigada a recuperar todas as tábuas e ainda uma terceira, que contém o segredo para sobreviver. Estas terão de ser recuperadas antes dos caídos, anjos expulsos do céu por Deus, tal como é o caso de Lúcifer, e para isso a protagonista terá de en-frentar o filho de Aurora.Através de uma boa escrita recheada de emoções, “O Último Mistério”, de Lynn Sholes e Joe Moore, revela-se surpreendente e envolvente, mostrando-se capaz de prender qualquer pessoa à leitura.

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55 ensar(es)

Planetas AnõesQuando Plutão foi descoberto, foi pedido à co-munidade que desse sugestões de nomes. Quem sugeriu o nome Plutão foi uma menina de onze anos. Plutão é o deus das profundezas, dos mor-tos, do inferno, da escuridão... Para os gregos era o deus Hades, para onde são encaminhadas as almas. Lete (esquecimento) era o rio que fazia a fronteira entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. As almas ao

Astronomia e Mitologia com ArteSónia Lopes . Professora de Físico-Química

atravessá-lo esqueciam-se da sua existência ante-rior. Quando os romanos começaram a conquista da Península Ibérica, ao chegarem ao rio Lima recusaram-se a atravessá-lo por acharem que es-tavam perante o rio Letes. Foi o seu chefe, Décios Brutos, quem primeiro atravessou o rio e, do outro lado, começou a chamar os seus homens, um por um, pelos nomes. Desta forma convenceu o seu exército a atravessar o rio. Almada Negreiros re-tratou esta lenda num cartão para o hotel Ritz e

3.ªPARTE

Lenda do Rio Letes, tapeçaria de Portalegre, de Almada Negreiros

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56 ensar(es)que a fábrica de tapeçaria de Portalegre tão bem realizou.Plutão está normalmente mais longe do Sol do que qualquer um dos outros planetas; no entan-to, devido à excentricidade da sua órbita, está mais próximo do que Neptuno durante 20 anos dos 249 da sua órbita. Plutão atravessou a órbita de Neptuno a 21 de janeiro de 1979, teve a sua maior aproximação a 5 de setembro de 1989 e permaneceu dentro da órbita de Neptuno até 11 de fevereiro de 1999. Este facto só ocorrerá de novo em setembro de 2 226.

Em 2006, devido à descoberta de outros planetas de dimensões parecidas às de Plutão, levantou-se uma imensa controvérsia que levou a comuni-dade científica a desclassificá-lo. Plutão, Ceres e outros planetas passaram a ter a classificação de Planeta anão.Plutão não era um deus muito bem visto pois raptou Prosérpina, a bela filha de Ceres (deusa das searas). Quando a princesa passeava numa seara, abre-se um buraco no chão e de lá sai Plutão montado numa quadriga e leva-a para as profundezas. A mãe, desesperada, procura pela filha e tanta tristeza deixa a terra improdutiva.Ceres pede a Júpiter que a ajude a ter a filha de volta e este propõe um acordo. Durante meio ano Prosérpina passa o tempo com a mãe e durante outro meio passa o tempo com Plutão. Uma ale-goria às estações do ano. Quando Prosérpina volta para a mãe, esta enche-se de felicidade e da terra brotam lindas flores, primavera, quando regressa à terra, as sementes regressam à terra e toda a natureza adormece, inverno, até à prima-

vera seguinte.Ceres, a deusa das searas e da fertilidade, era irmã de Júpiter. É representada com espigas na mão pois a espiga é o símbolo da fertilidade. Ela está desenhada no céu, é a constelação da Virgem. A estrela alfa da constelação (estrela mais brilhan-te) chama-se espiga. É a segunda maior conste-lação das oitenta e oito em que está dividido o céu, mas é uma das menos povoada de estrelas visíveis a olho nu. No entanto é riquíssima em galáxias podendo algumas serem apreciadas com um pequeno telescópio.Ceres também é o maior asteroide da Cintura de Asteroides. Tem aproximadamente mil km. A Cintura de Asteroides é constituída por pe-quenos corpos sólidos que orbitam o Sol entre as órbitas de Marte e Júpiter. Apesar de pequenos, alguns têm Luas (corpos sólidos ainda mais pe-quenos que orbitam os maiores). O asteroide Ilda é um desses exemplos.Uma outra curiosidade é que existe um asteroide com o nome de Portugal. Tem aproximadamente doze quilómetros.Há várias teorias para a existência desta cintu-ra. Uma afirma que é um planeta que nunca se formou por causa da grande força gravítica de Júpiter. Outra afirma que o planeta se formou, mas não resistiu à força de Júpiter. Mesmo assim, seria um pequeno planeta. Talvez do tamanho da nossa Lua.Para lá de Neptuno existe uma outra cintura, a Cintura de Kuiper, da qual faz parte o planeta Plutão. É um imenso espaço do Sistema Solar ainda por descobrir.

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57 ensar(es)

1. Introdução

Objetivos do estudo:

• Analisar os resultados escolares de 3 dis-ciplinas ao longo dos anos (2011-2018). Limita-se a análise às 3 disciplinas sujeitas a exame nacional no 12º ano: Português, Matemática A e História A.

• Comparar a CIF com os resultados dos Exames e retirar as devidas conclusões;

• Comparar as percentagens de sucesso dos alunos do agrupamento (ESJAC) na classi-ficação final da disciplina com o aproveita-mento nacional nas várias disciplinas;

Sistema educativo português:

O Sistema Educativo Português está dividido em diferentes níveis de ensino.Tem início na Educação Pré-escolar, com um ciclo de frequência opcional dos 3 aos 6 anos de idade. Continua com o Ensino Básico, constituí-do por três ciclos sequenciais:1. O 1.º ciclo de 4 anos (idade esperada de fre-

quência, dos 6 aos 10 anos de idade);2. O 2.º ciclo de 2 anos (idade esperada de fre-

quência, dos 10 anos aos 12 anos de idade;3. O 3.º ciclo com uma duração de 3 anos

(idade esperada de frequência, dos 12 anos

Escola: Sucesso e insucesso escolar Análise dos resultadosLuís M. Gomes . Aluno do 12.ºD

aos 15 anos de idade).4. Segue-se o Ensino Secundário, que cor-

responde a um ciclo de três anos, (idade esperada de frequência, dos 15 aos 18 anos de idade), e que inclui vários tipos de cur-sos, como: Cursos Científico-Humanísti-cos, Cursos Profissionais, Cursos Artísticos Especializados, Cursos com planos próprios (Cursos Científico-Tecnológicos), Cursos de Ensino e Formação de jovens.

Funções da Escola (efeitos intencionais e não intencionais da atividade educativa):

• Instrução (transmissão e produção de conhe-cimentos e técnicas).

• Socialização (transmissão e construção de normas, valores, crenças, hábitos e atitudes).

• Estimulação (promoção do desenvolvimento integral do educando).

Finalidades da Escola (efeitos intencionalmente pretendidos e desejados):

• Finalidade Cultural – ao transmitir todo o património de conhecimentos, técnicas e crenças.

• Finalidade Socializadora – ao integrar os indivíduos na comunidade, através da trans-missão e construção de normas e valores.

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58 ensar(es)• Finalidade Produtiva – ao proporcionar ao

sistema económico e demais sistemas sociais o pessoal qualificado de que necessitam.

• Finalidade Igualizadora – ao procurar corri-gir as desigualdades sociais.

• Finalidade Seletiva – ao certificar positiva-mente ou negativamente as aprendizagens dos alunos.

2. Sucesso e Insucesso escolar – análise de alguns resultados

Resultados nas disciplinas escolhidas- CIF, CE e CFD

• CIF-Classificação Interna Final• CE-Nota de Exame• CFD-Classificação Final da Disciplina

2.1 Português

- 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2018

CIF 12.6 12.8 13.1 13.2 13.1 12.7 12.7

Exame 9.1 11.1 9.8 11.8 11.7 10.1 10.9

%AE Interno [Exame] 44,8% 71,7% 53,2% 78,4% 69,6% 58,0% 70,3%

CFD 11.7 12.4 12.2 12.9 12.7 12.0 12.2

%AE Interno [CFD] 85,7% 90,9% 90,4% 93,8% 91,3% 91,0% 88,3%

%AE Nacional [CFD] 90,2% 92,6% 90,3% 95,2% 93,8% 93% 94%

Analisando a tabela podemos dar evidência a 2 anos por diferentes razões, esses 2 anos são 2011 e 2014.• 2011, visto que é um ano no qual a nota

média em exame foi de 9.1, daí o aprovei-tamento em exame ter sido de 44.8%, no entanto a CFD manteve-se acima dos 10, salientando a importância da CIF na CFD.

• 2014, pois é o ano onde a CIF é maior relacio-nando com as CIF’s dos outros anos, e, ao mes-mo tempo também a CE (exame) é a maior que as outras CE’s, ou seja, 2014 é o ano em

que na disciplina de Português os alunos (em média)“mais” justificaram a sua CIF.

Nesta disciplina, o aproveitamento no contex-to da nossa escola não varia muito do contexto nacional. Ainda assim o nosso aproveitamento na disciplina é geralmente inferior ao aproveita-mento nacional à exceção de 2013 onde o nosso aproveitamento é de 90.4% e o aproveitamento nacional é de 90.3%.

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59 ensar(es)2.2 Matemática A

- 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2018

CIF 13.4 13.2 13.0 12.9 13.7 13.4 13.4

Exame 9.3 9.6 8.1 7.7 10.5 11.6 9.1

%AE Interno [Exame] 44.1% 44.3% 35.7% 30.5% 62.5% 75.9% 42,1%

CFD 12.2 12.2 11.6 11.5 13.0 12.9 12.2

%AE Interno [CFD] 62.7% 77.6% 58,9% 69,5% 84,4% 90,7% 80,3%

%AE Nacional [CFD] 80,3% 84,7% 80,3% 78,0% 88,9% 85,0% 86%

Como podemos constatar, existe uma grande discrepância entre a CIF e a CE (Exame) na disciplina de Matemática A, atingindo o seu máximo no ano de 2014 com uma diferença de 5.2 valores entre as CIF e CE. O aproveitamen-to escolar no exame desse ano foi de 30,5% es-pelhando o que foi dito anteriormente.Só em 2 anos dos 7 analisados neste trabalho a nota de exame ultrapassou a marca dos 10 valores, em 2015 e 2016, coincidindo com o aumento da CFD nesses mesmos 2 anos (13 e 12,9 respetiva-

mente) em relação aos anos anteriores. Ou seja, os alunos nesses 2 anos terminaram o secundário com melhor aproveitamento na disciplina, 84.4% e 90.7% respetivamente, as maiores, consideran-do os vários anos em análise na disciplina.Segundo a tabela podemos concluir que o aproveitamento da nossa escola em 7 anos não é condizente com o nacional sendo quase sempre inferior, à exceção de 2016 onde os nossos 90.7% de aproveitamento superaram os 85% da média nacional.

2.3 História A

- 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2018

CIF 12.4 12.1 12.3 12.2 12.3 12.6 12.2

Exame 5.5 9.4 8.3 7.8 10.3 9.2 8.8

%AE Interno [Exame] 13,8% 58,3% 45,8% 43,3% 65,9% 51,4% 52,9%

CFD 10.4 11.4 11.1 11.1 11.7 11.6 11.3

%AE Interno [CFD] 62,1% 86,1% 75,0% 66,7% 85,4% 83,8% 76,5%

%AE Nacional [CFD] 89,5% 93,7% 89,3% 85,4% 89,7% 86% 87%

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60 ensar(es)Analisando a tabela percebemos que é 2011 o ano onde existe a maior discrepância entre a CIF e a nota do exame na disciplina de história, uma dif-erença de 6.9 valores. A CFD é nesse ano a mais baixa (10.4) dos anos apresentados, salientando a importância dos maus resultados no exame desse ano (13.8% de aproveitamento).Detalhe também para o mau aproveitamento nos exames no geral, sendo 2015 o único ano em que a média ultrapassa os 10. Contudo, a CFD é sempre maior que 10, devido acima de tudo à valorização dada à nota da CIF.O aproveitamento da nossa escola está sempre abaixo do aproveitamento nacional na disci-plina de História, no que toca à CFD. O pico dessa diferença entre %AE-Interno[CFD], e %AE-Nacional[CFD], está em 2011, e é de 27,4%, muito devido ao baixo desempenho nos exames desse ano (média das notas da CE de 5.5, e % de aproveitamento no exame de 13,8%) o que fez baixar a CFD.

Em suma:

Em suma, neste trabalho podemos ver as diferenças entre as várias variantes que resultam no sucesso ou insucesso escolar na nossa escola (ESJAC).Possibilitou também a comparação de 3 diferentes conceitos, a CIF, a nota de Exame(CE), e a CFD para cada uma das disciplinas.Permitiu da mesma forma comparar a “classificação final da disciplina” no contexto nacional, expondo o nosso menor aproveitamento (no geral), nessa ana-logia, em 3 diferentes disciplinas em vários anos.

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61 ensar(es)

A Modéstia o Namoro e o Vestuário

“Modéstia”

No que se refere ao controle sexual da mulher, o Clarim não se perde com meias palavras e o discurso é bem direto para que não haja qualquer dificuldade de interpretação:

«Olham-nos. Desejam-nos. Querem-nos possuir. Pena é, rapariga amiga, que nem todas saibamos impor-lhes a nossa riqueza e virtude. É esta a maior riqueza.»

(A ti rapariga amiga, 9 de Janeiro de 1955)

O principal dever da mulher é proteger a sua reputação sexual de qualquer mancha que a possa desonrar a si e à sua própria família. A defesa da honra feminina realiza-se pela “ver-gonha” (“modéstia”, segundo a terminologia do Clarim), a qual deve pautar toda a vida social da mulher, para que nunca excite o permitido dese-jo masculino. Na presença dos homens a mulher deve manifestar o maior pudor na maneira de se vestir, na forma de andar ou de se expressar. Só assim a sua reputação estará protegida da mais leve suspeita. A modéstia é o primeiro atributo que se espera da mulher educada:

“Clarim da Verdade” O género visto por um jornal paroquial Pedro Babo . Professor de História

«A rapariga que é educada, nota-se em toda a parte. Sabe conversar com delicadeza, isto é, fala baixo, sem muitos gestos e com prudência. Na rua anda moderadamente, sem se preocupar com a vida dos outros, tratando apenas do que lhe diz respeito. (...) No campo, impõe-se pelas suas conversas, santifica o trabalho e auxilia os mais velhos.»

(A ti rapariga amiga, 20-7-1952)

O Namoro Há, segundo o Clarim, momentos particular-mente críticos e suscetíveis de manchar a hon-ra feminina, se a mulher não se proteger ou não for protegida convenientemente. O período mais crítico do ciclo da vida é o do namoro o qual deverá ser regulamentado com o maior cuidado. Deve-se iniciar por volta dos 20 ou 21 anos e não se prolongar por demasiado tempo para que o convívio não leve a um relaxamento de costumes e permita um excessivo contacto físico:

«Esses perigos são reais, ou entram na banalidade, a frivolidade e um certo arrefecimento a assentar arrais no meio de vós, ou, o que é pior ainda, esse vosso convívio levar-vos-á a intimidadades que põem em risco a vossa inocência.»

(O Namoro, 24-10-1954)

4.ªPARTE

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62 ensar(es)De entre as estações do ano, o Verão é a que mais preocupa o Clarim. O vestuário e certos momen-tos como as vindimas, as festas, os bailes ou as sessões de cinema, que caracterizam esta época do ano, são acusados de potenciar a desonra feminina.

O Vestuário Anualmente pelo Verão o Clarim repete os mes-mos conselhos reguladores do vestuário femini-no. Época de colheitas, de festas e de vida ao ar livre é também o período em que a mulher se expõe mais ao contacto com os homens e com o resto da comunidade que a julgará permanente-mente quanto à sua modéstia. Falta de modéstia é não só não respeitar o «mais elementar pudor» como pretender vestir-se de forma diferente da considerada a mais adequada ao seu estrato so-cioeconómico:

“O Verão e a Modéstia” «Usar só aquelas que são próprias da sua condição. Faltaria à modéstia a lavradeira que usasse vestidos próprios das senhoras. Igualmente aquela que, sen-do pobre, quisesse igualar no vestir a rapariga rica.»

(C.V. 24-8-1958)

O Clarim lamenta-se, a propósito de variados as-suntos da degradação de costumes, que Fontelas tem sido vítima como consequência da impor-tação da cidade de hábitos contaminadores da paz e da ordem social. Uma das piores contami-nações verificou-se, segundo o Clarim, na forma de vestir da mulher:

«Raparigas da aldeia, repeli, porém energicamente e com imperturbável dignidade tudo o que na moda há de modesto e provocador. Rapazes também é convosco. Porque há infelizmente muitos rapazes da aldeia que ficam deslumbrados ante umas cabe-cinhas de vento que estiveram alguns anos na cidade e de lá trouxeram umas modas muito provocadoras»

(A moral e a moda, 25-5-1958)

Esta visão idílica do mundo rural que o Clarim apresenta como o último bastião dos bons costumes tradicionais da sociedade portuguesa coincide por completo com a promoção do bom camponês que a propaganda do Estado Novo não se cansava de di-vulgar. A aldeia com a ajuda de certos antropólogos é descrita como um espaço dionisíaco habitado por camponeses tementes a Deus, pacíficos, con-tentes com a sua vida simples e profundos respeita-dores da hierarquia social.

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63 ensar(es)

Querido tio,Como já deve saber, o coronavírus é um vírus muito perigoso que de alguma forma passou dos animais para os humanos. Antes estava só na China, mas agora espalhou-se pelo mundo sen-do declarado já há um mês como uma pandemia.Neste momento, está tudo parado. Há ruas de-sertas devido ao clima de medo que este novo vírus trouxe. Penso que irá ser assim durante al-gum tempo. Lojas, cabeleireiros, escolas, tribunais, igrejas, alfândegas, está tudo fechado.Já foram cancelados milhões de eventos no mun-do.Não podemos sair à rua, e vemos os nossos ami-gos e familiares através de ecrãs, e temos aulas online com os professores. As nossas vidas vão mudar muito. O vírus também vai ter um grande impacto na economia, pois todos os locais de trabalho estão fechados. Há pais que não trabalham para tomar conta dos filhos (pois estes não podem estar com os avós sendo eles um grupo de risco) e se esses pais não trabalharem não recebem dinheiro para sustentar a família. Assim, este vírus, vai levar à pobreza de milhões de pessoas e empresas, de to-dos os países do mundo.Ainda assim há uma coisa muito pior. Sermos contagiados ou contagiar os outros, isso sim, é o que devemos evitar pois o número de casos irá

Carta para o Meu TioLeonor Pina . Aluna do 7.ºB aumentar fazendo assim com que esta pandemia

dure mais tempo do que era previsto (2/3 meses). Para prevenir isso devemos ficar em casa até nos ser dito o contrário pelas autoridades de saúde: lavar muito bem as mãos (dedo a dedo) sempre que chegarmos de algum local com grande foco de contágio (como supermercados); evitar o con-tacto com as pessoas principalmente grupos de risco (como idosos e adultos ou crianças com problemas respiratórios). Cá em casa já traçamos um plano de contingên-cia e sempre que chegamos de algum passeio pe-queno ou do supermercado, desinfetamos tudo dentro de uma casa de banho, a qual ninguém pode usar sem ser para isso. Mas o novo vírus também trouxe algumas coisas positivas, que irão ajudar o planeta. Ontem soube que o mundo está cada vez mais verde e limpo, pois já ninguém anda na rua a poluir o ambiente.E são estes os dias de hoje, tio. Sei que não pode sair do lar portanto, como sei que gosta de pas-sear e viajar pelo mundo, decidi descrever-lhe o que se vê nele.Despeço-me com muitas saudades e espero vê-lo muito em breve. Se precisar de alguma coisa é só ligar ao meu pai. Também pode pedir a al-guma funcionária para marcar uma videocon-ferência para matar as saudades e ver as nossas caras. Aqui está tudo com saudades de o ouvir contar histórias! Um grande beijinho e abraço apertadinhos da sua sobrinha mais velha e que quer ver sempre o seu bem, Leonor.

9 de março de 2020

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64 ensar(es)

Chiu… não ouvem? Algo me tem andado a incomodar e existe dentro destas paredes vitorianas, tão antigas como eu, o velho sábio que

ignora sê-lo, porque o é. Hey! lá está outra vez, este barulho que trespassa os inúmeros volumes de pensamento que fui ad-quirindo á medida que o tempo passava. Já não me lembro porque os comprei, talvez fossem para me sentir menos sozinho. Alguém, algures num tempo longínquo me disse que eram a melhor companhia para um eremita como eu. Haaaaaaa porra, estes barulhos não param! sei e sinto que algo está lá e até nem me preocuparia muito se pelo menos vislumbrasse que raio está dentro destas malditas paredes. Archhhh, outra vez, o som… mas que raio será esta m…, vou descobrir, pegar a enxada deixa-da pelo meu pai e deitar esta caixa de memórias abaixo. Mas… (silêncio) talvez mais tarde, agora a minha cabeça lateja e o corpo anceia por um pouco de vinho. Já agora apresento-me: podem tratar-me por Louie, eu sei, um português chamado Louie é es-tranho. Na verdade, nunca gostei de nomes por-tugueses, por isso decidi dar-me a mim mesmo um pequeno capricho francês. Soa melhor, soa a um bom burguês que paga sempre as suas divi-das a tempo e gosta de manter uma aparência ra-zoável, algo que aqui entre nós, não faço. Tenho

Chiu… sou livre!Leandro Andrade . Ex-aluno

problemas com as finanças e visto os mesmos trapos há 5 dias. Tenho 87 anos e confesso-vos que nunca me apaixonei, nunca soube realmente distinguir as mais bonitas, das mais feias e nunca entrei em desvarios de luxúria desenfreada. Eu que até era bem formoso, não me deixei levar pelas mantras do amor, e sabem que mais, foi pelo melhor, nada de corações partidos, nada de lágrimas, nada de nada. Quem precisa do amor quando se tem Pa-ganini, Vivaldi, Chopin, Bach? Tenho tudo o que preciso para me aquecer no inverno e ninguém a dizer-me o que fazer, SOU LIVRE! Pois é meus queridos jovens, sou livre de tudo, Deus, Diabo, céu, inferno, purgatório… sou livre para viver como quero e como me apetecer seus malditos. Claro que tenho muitos defeitos, sou vil, archh… desculpem outra vez este barulho… onde é que eu ia? claro, sou vil, rezingão, chato e um belíssimo mentiroso. Por isso cuidado com o que escrevo, caros leitores. Sou livre, livre, livre e nunca chorei uma lágrima desde que nasci, nem quando os meus pais morreram, nem quando em pequeno o meu cão desapareceu para o meio do nada. (silêncio)Pois é meus amigos, o barulho que me tem ator-mentado é tão só uma única lágrima a querer sair.

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ensar(es)1999 . 2020

ensar(es)

Coordenação e RedaçãoA. Marcos TavaresJosé Artur Matos

Colaboradores/AlunosAlunos de: 9ºC, 10ºF, Artes 10º, 11º e 12º anos; Adriana Lopes, André Azevedo, Beatriz Lamas, Diana Silva, Gabriela Borges, Joana Santos,Joana Teles, João Matos, João Tiago Ribeiro, Leonor Pina, Leonor Lopes, Luís Cardoso, Luís Gomes, Maria Rita Ferreira, Mariana Columbano, Matilde Carvalho,Nuno Vasques, Rafaela Costa, Rita Alves

Colaboradores/ProfessoresAlexandra Magalhães, Ana Paula Lopes,A. Marcos Tavares, Carla Cabral, Conceição Dias, Emília Craveiro, Estela Ferreira, Fernanda Sousa,Joana Mourão, João Rebelo, José Artur Matos,Manuel Ferreira, Maria Eugénia Monteiro, Pedro Babo, Pedro Miranda, Sónia Lopes, Teresina Bezerra.

Participação EspecialCentro Escolar das Alagoas (turma 3.4)Centro Escolar da Alameda (turmas 4.1, 4.3)

ConvidadosCarlos Carvalhosa, Hélder Fonseca,Leandro Andrade, Xana Carvalho.

Design, paginação e imagem de capaJosé Artur Matos

Agradecimentos Prof.ª Carlota Martins e a turma do 11.ºB, pela colaboração na fotografia de capa

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Património Mundial da Unesco“Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.”

António Barroso

DOURO