Entrevista Com Marie-José Mondzain _ Culture Injection

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  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 1/29

    ltimosPosts

    Entrevista

    com Marie-

    Jos Mondza

    in

    Msica

    Eletrnica

    Gneros

    e Subgnero

    s

    Gustav

    Metzger

    Arte Auto-

    Destrutiva

    11 Papis de

    Parede (Wall

    papers)

    O que seu

    instrumento

    diz

    sobre voc

    15 teses

    sobre

    arte contemp

    ornea

    Arqueologia

    Culture InjectionFilmes, msica e etc.

    Incio 4chan /mu/ lists Arquivo de Textos Filmes Listas Msica Pinturas

    Entrevista com Marie-

    Jos MondzainPublicado em 28 de maro de 2014 por cultureinjection

    Entrevista com Marie-Jos Mondzain

    P: A imagem se

    tornou, nos ltimos

    anos, um dos temas

    tericos em voga:

    dela no se fala

    apenas em termos de

    histria da arte, mas

    tambm em termos

    sociolgicos, de

    teoria das mdias e de

    filosofia poltica. Em

    uma das suas

    entrevistas

    precedentes, a senhora menciona que na poca em

    que o tema da imagem no estava to na moda era

    prefervel falar de semiologia, do campo de

    especialidade que se desenvolve entre a filosofia e

    a gesto dos signos sociais, e que, durante o

    reinado da semiologia, a imagem era abordada em

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    da obra

    de arte

    14 posters

    60s

    Graffiti e

    Street Art

    Linha do

    Tempo e

    Inter-

    relaes

    Msica e

    Crebro

    Sintetizadore

    s (1970-

    1986)

    Eventos

    sociais,

    politicos,

    economicos

    e

    tecnologicos

    de 1750

    a 2100:

    Metr da

    Msica Eletr

    nica

    Inventing

    Abstration

    rvore

    genealgica

    dos

    gneros mus

    icais

    Metr do

    Cinema

    Grfico da

    Fico Cient

    termos de leitura: lia-se as imagens. A senhora

    poderia indicar por que a semiologia da imagem

    finalmente perdeu seu crdito? O que

    supostamente a substitui, no nvel do pensamento

    contemporneo da imagem?

    Marie-Jos Mondzain: O controle industrial e comercial

    das imagens est inteiramente centrado na ideia de que

    preciso que elas sejam de todo co-extensveis ao

    discurso que as habita assim que se vendem ideias,

    pessoas, coisas. A quantidade de produes visveis

    no tem nada a ver com o excesso de imagem que

    designei como seu prprio, como sua propriedade.

    Minha relao com a semiologia e a lingustica de

    curiosidade, de interesse. Mas, ao mesmo tempo,

    sempre vejo que esses textos so com frequncia

    virtuosos do ponto de vista conceitual e que

    desenvolvem os instrumentos de uma microcirurgia dos

    objetos , na maior parte dos casos, redigidos com um

    esprito de inteligibilidade ou de controle que no

    necessariamente revelam uma vontade de poder, mas

    que so, para mim, saberes acadmicos. A imagem

    tratada como um objeto, um objeto do saber que tem

    seus experts e suscetvel de especialidade.

    At um perodo relativamente recente dado que a

    questo da imagem se tornou cada vez mais

    preponderante desde o incio do sculo XX , aqueles

    que escreviam sobre as imagens eram tanto os

    historiadores da arte quanto os industriais da imagem.

    Mas percebamos que a filosofia a no encontrava seu

    regime: deixamos a imagem se desenvolver sem

    colocar questes. Tambm estou muito interessada

    pelas leituras das imagens feitas por historiadores como

    Daniel Arasse ou Georges Didi-Huberman que, de fato,

    integraram aos seus modos de anlise a dimenso

    propriamente filosfica. A leitura renovada de Aby

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    fica

    Linha do

    Tempo da

    Msica Clss

    ica

    Frequncias

    de 26

    instrumentos

    musicais

    Nuvem de

    Livros

    Gneros

    Musicais

    (Grfico)

    Crculos de

    influncia

    Grfico: As

    cores

    predominant

    es de 10

    pintores em

    10

    anos (1895-

    1905)

    Cmeras

    1888-2013

    Da primeira

    Kodak

    GoPro 3

    Infogrfico:

    Guitarras

    (1912-2010)

    Infogrfico:

    Linha do

    Tempo do

    Sculo 20

    (Artes,

    Warburg permitiu uma espcie de oxigenao em

    relao ao aparato bem equipado dos semilogos, dos

    estruturalistas, dos linguistas, que acabaram por asfixiar

    totalmente seu objeto ao reduzi-lo ao estado de coisa.

    Eu diria que, para certos analistas da imagem e da sua

    histria, a redescoberta de Aby Warburg ou o retorno a

    Walter Benjamin so as aberturas libertadoras em

    relao polissemia da imagem. Por polissemia quero

    dizer que a imagem indecidvel, jamais unvoca. Sua

    equivocidade, sua liberdade, seu excesso, nela se

    encontram como uma respirao. Samos do laboratrio

    instrumentalizado e do senhorio.

    Mas por que tambm no estou na mesma posio que

    esses pensadores? De incio, porque no sou

    historiadora da arte e no realizei o mesmo trajeto a

    partir da filosofia. Considerando que a imagem havia

    sido causa de guerras, de destruies e de crimes, que

    pessoas so mortas por sua causa e que outras

    tomaram o poder com ela, optei por olhar para onde

    estavam aqueles que as faziam, aqueles que as

    queriam, aqueles que as destruam, aqueles que as

    defendiam, e queles para quem eram verdadeiramente

    uma aposta de vida e morte. Cheguei a um terreno onde

    estava, de fato, sozinha. Sou parte do que se passa com

    a imagem nos monotesmos. Era preciso, ento, traduzir

    os textos; passei muito tempo na leitura e traduo

    desse primeiro material.

    por isso que, para responder a sua questo

    preciso uma nova leitura da imagem pois a semiologia

    no vale mais nada? , no estou nesse regime da

    questo. Coloquei a questo na sua genealogia: como a

    questo da imagem foi posta? Em que momento a

    imagem se tornou uma questo que provoca aqui a

    repulso, a delao, a idolatria, a glorificao poltica, e

    em outra parte a perverso? Em que momento essa

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    Poltica,

    Teoria,

    Consumo, Ci

    ncia)

    Grfico:

    Cinema

    Contemplativ

    o

    Infogrfico:

    Os

    Coquetis

    dos

    Personagens

    do Cinema e

    da Literatura

    (e

    como fazer)

    O Mapa dos

    Melhores

    Filmes de

    Todos

    os Tempos

    The Soviet

    Nonconformi

    st Art

    (10 Pinturas)

    Categorias

    Art-

    Injection

    Books-

    Injection

    Cinema-

    questo foi atrelada? Passei tempos em lugares um

    pouco solitrios, uma vez que se tratava do mundo

    proto-cristo, bizantino, iconoclasta, e me encontrei na

    comunidade cientfica dos filsofos da antiguidade, para

    os quais a imagem no era um bom objeto, e dos

    historiadores da Idade Mdia oriental, para quem a

    imagem era apenas um problema teolgico. Construir

    um objeto filosfico nessas condies no era simples.

    Mas penso, em parte, ter conseguido, isto , ter

    convencido de que havia uma construo filosfica do

    objeto chamado imagem naquele momento. E desse

    momento que preciso partir. Eis a a gnese.

    P: Passemos s questes de conceitos para

    mencionar seu percurso terico e especificar o

    vocabulrio imagem, cone, dolo, constitutivo de

    sua obra. Nos seus livros Image, icne, conomie e

    Le commerce des regards, a senhora emprega os

    conceitos cone e dolo para falar da imagem e

    de suas razes religiosas. Ainda que esses dois

    termos sejam muito prximos, eles so de

    significaes opostas: a senhora indica que cone,

    imagem da paz, d sua legitimidade ao dolo, o qual

    funciona como um funil do olhar. Ao mesmo tempo,

    a senhora afirma que A imagem independente do

    regime da verdade. A senhora poderia especificar

    a distino que a faz entre o cone, o dolo e a

    imagem em geral?

    Em vez de dizer a imagem em geral, diria que imagem

    um termo genrico, designa o gnero cujas espcies

    seriam o cone e o dolo. Mas isso tambm no de

    todo verdade.

    Voltemos, assim, s palavras. Uma vez que estamos

    conversando em lngua francesa, somos obrigados a

    passar por tal lngua para falar de coisas que foram

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    Cinema

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    Cinema de

    boca em

    boca

    Cinema

    pensadas primeiramente em hebraico, em grego e,

    ento, em latim. Esses termos no se recobrem de todo:

    a palavra imagem no a traduo do latim imago,

    esta que no a traduo do grego eikon. Ento

    vamos, aqui tambm, tomar as coisas de modo

    histrico, ir ao terreno histrico onde as coisas se

    colocaram e aconteceram, em situao de crise, onde a

    imagem se constituiu como questo ao mesmo tempo

    filosfica e poltica. importante saber que as coisas

    primeiramente foram ditas em grego. Mesmo que, nas

    igrejas ortodoxas, chamemos eikon os objetos que

    vemos nas igrejas ortodoxas e que so chamados

    cones, a palavra eikon, em grego, no um

    substantivo. Quando Plato ou, mais tarde, os padres da

    Igreja falam de eikon, eles no designam uma coisa.

    Eles designaram um modo de apario no campo do

    visvel, pois o eikon, em grego, anlogo a uma forma

    verbal no particpio presente. Quando um grego quer

    dizer a coisa, a coisa icnica, ele toma a raiz dessa

    palavra, eikon, e a coloca no neutro, pois eikon uma

    ramificao verbal no particpio presente ativo e no

    feminino. Quando ele a coloca no neutro para as

    coisas, em grego, o neutro termina normalmente com

    ma ela se torna eikonisma, como apeikasma,

    fantasma. Tomemos o exemplo do verbo fazer (pratto,

    prattein): se voc utiliza a palavra prxis, a ao,

    uma palavra no feminino, como eikon; mas a coisa

    pragma, que deu pragmtico, e prxis deu prtico. O

    grego distingue o estatuto da coisa da ao que a traz

    existncia: poisis o gesto de criar, poima o

    poema. Ao contrrio, as palavras no neutro tambm

    terminam com on como eidolon, que fez dolo e

    designam, no visvel, as operaes das coisas, dos

    objetos, na sua consistncia opaca e presente, no seu

    efeito de real. Ergon no poisis, nem todo fabricante

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  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

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    e

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    Voltemos agora ao eikon, que foi traduzido por cone.

    Da minha parte, prefiro traduzir por semblante, pois a

    traduo literal de eikon semblante[1], no particpio

    presente, a coisa aparente. O segundo sentido da

    palavra eikon semelhante[2]: semblante, aparncia

    do outro, portanto, semelhante, quanto ao retorno da

    aparncia[3]. muito importante compreender que o

    grego diferencia as operaes do visvel das operaes

    do sensvel e que, se o platonismo rejeitou as imagens,

    em grande parte salvo em alguns casos, como no

    Timeu, em que a imagem serve viso cosmolgica do

    mundo porque a aparncia coloca um problema

    ontolgico filosofia. Pois se uma coisa que parece no

    , ela no tem um estatuto ontolgico de verdade. Ela

    inapreensvel. Plato no confunde eikon e eidolon, e

    coloca o eikon ao lado daquilo que parece. E, de fato,

    para ele ainda ontologicamente insuficiente.

    insuficiente porque sobre aquilo que parece no se

    pode construir um saber. O que Plato v a de todo

    justo e eu o defendo: no h saber sobre a imagem.

    Para Plato sua fraqueza, para mim sua fora e seu

    destino poltico. Como analisei em meu livro Le

    commerce des regards, a filosofia platnica s

    reconhece dignidade quilo que permite construir um

    saber e uma verdade, associando o ser das coisas

    verdade do discurso sobre tal ser das coisas, o que faz

    com que, ontologicamente, a imagem no possa ter seu

    lugar na dignidade metafsica de uma verdade sobre o

    ser. Mas Plato diz, apesar de tudo, que essa aparncia

    no no-ser: uma insuficincia. O fato de que a

    aparncia no seja nem ser nem no-ser coloca o

    prprio Plato em dificuldade: ele diz que verdade que

    a imagem no Ontos m onta. ontologicamente

    que ela no tem ser. Assim, ela participa, ela ao

    mesmo tempo on e m onta, ela est entre o ser e o

    no-ser. O fato de ser entre o modo do eikon: ser

    entre, entre o ser e o nada, esse modo de apario

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    do mundo que coloca o olhar em crise, que faz com que

    ns vejamos nos inquietemos, duvidemos, suspeitemos.

    Ao mesmo tempo, talvez isso tenha a ver pensa

    Aristteles, mais do que Plato com os regimes

    daquilo que os homens partilham na cidade, das coisas

    pouco certas, verossimilhanas, dos regimes opinativos

    da palavra, das ignorncias sobre o amanh, das

    contingncias, das fragilidades: partilhamos muito mais

    fragilidades e dvidas do que certezas em uma cidade.

    Plato gostaria que o rei fosse filsofo e que o

    matemtico fosse filsofo e, portanto, que o matemtico

    fosse o rei e o filsofo, ou seja, ele gostaria que tudo

    isso fabricasse um poder um pouco slido; enquanto o

    interesse do pensamento aristotlico buscava

    compreender a poltica como um regime de fragilidade e

    de dvida, de inconstncia, de ignorncia, pois a vida

    poltica temporal e, assim, ligada morte do passado

    e ignorncia do futuro, e o presente era feito,

    trabalhado, por essa desapario das coisas e por essa

    ignorncia do que vem. E a imagem esta a, entre todas

    essas coisas que so partilhadas pelos cidados.

    Portanto, o eikon, esse regime de aparncia, antes de

    ter sido um objeto, foi designado pela lngua grega, com

    desconfiana ou esperana, como um regime singular

    da aparncia e da verossimilhana, da doxa e do

    endoxon.

    Quanto aos dolos, sem dvidas preciso esperar uma

    reflexo mais aprofundada dos Padres da Igreja para

    lhes dar um estatuto no corao do pensamento da

    imagem. O dolo um objeto que mediatiza as relaes

    entre os viventes e os mortos, entre os poderes ocultos

    e as impotncias reais. Ele no o antnimo do cone,

    antes do debate doutrinal sobre a imagem. Por razes

    que enunciei em minhas obras a saber, que h uma

    crise do olhar na produo das imagens entre instncias

    do poder , sou tocada pelo fato de que a imagem,

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    nesse debate, denunciada, criticada ou defendida de

    acordo com a questo: o eikon e o eidolon so a

    mesma coisa ou so coisas diferentes? Os

    iconoclastas dizem que todo eikon no se deixa

    conhecer como eidolon, portanto, h idolatria. A

    resposta dos iconfilos, triunfante e que penso ser

    extremamente interessante , que o nico meio de

    salvar o regime da imagem dizer que entre eikon e

    eidolon h incompatibilidade, uma distino definitiva;

    h mesmo uma contradio. Eikon designa uma

    relao, eidolon designa um objeto. E, portanto, os

    iconfilos puderam dizer aos iconoclastas: vocs que,

    ao destrurem os cones, so idlatras, uma vez que

    diante da fragilidade e aparncia do cone vocs veem

    apenas o objeto. Assim, vocs tm um olhar idlatra

    para aquilo que no deveria ser seno um objeto. seu

    olhar que reifica o objeto da fragilidade, da aparncia.

    Fazemos referncia ao dois lados da questo sobre o

    dolo. Mas se quisermos verdadeiramente responder a

    tais questes o que um olhar que reifica? e o que

    um olhar que respeita a fragilidade do cone? , a

    cada vez, vamos encontrar apenas a palavra imagem

    por ser lida. Da a reflexo sobre a imagem.

    Ora, quando em francs dizemos imagem, h um

    desconforto que encontramos tambm nas lnguas

    anglo-saxnicas, as quais no nos auxiliam muito , pois

    a grande reflexo de fundao feita em grego e

    encontrou a sutileza de um desdobramento plural das

    palavras em latim. O francs exige muita explicao a

    onde o grego, que a respeito disso tambm se explicou,

    encontra palavras para especificar os regimes: tanto

    articulados quando incompatveis uns com os outros. Se

    pesquisarmos sobre o latim imago teremos mais

    nuances, sabendo que o interessante do latim imago

    que muito ligado s prticas funerrias e, portanto,

    sem dvida ligado experincia da morte, do

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

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    desaparecimento e do que retido daqueles que no

    esto mais aqui. Mas percebemos que a imago flutuou

    entre os latinos, tanto que, no latim medieval, palavras

    diferentes circularam e se esforaram para dar conta da

    dimenso espiritual da imago. Santo Agostinho e os

    padres latinos, necessariamente, precisam se ocupar

    da imagem por razes teolgicas evidentes, uma vez

    que a encarnao uma estrita questo de visibilidade

    da imagem. Encontraremos reflexes muito sutis e

    apaixonantes a respeito de signum, de species,

    figura, fictio, res picta, a coisa pintada, res ficta, a

    coisa imaginada. Entre imago e imagines

    acontecero tambm idas e vindas.

    Assim, como dar conta dessas vibraes lexicais

    quando escrevemos em francs? E quem escreve em

    francs? Todo esse tempo que passei trabalhando entre

    noes gregas que faziam distines de extrema

    sutileza, para, em seguida, falar de imagem a meus

    contemporneos, era preciso retrabalhar os efeitos do

    prprio vocabulrio. A maior parte do tempo fui obrigada

    a dizer: chamo visibilidades o modo no qual aparecem

    no campo do visvel objetos que ainda esperam sua

    qualificao por um olhar. Irei chamar imagem o modo

    de apario frgil de uma aparncia que se constitui a

    olhares subjetivos, em uma subjetivao do olhar. A

    imagem efetivamente, no meu lxico, o que constitui

    o sujeito. O eikon o modo de apario dos signos que

    permite a estes se constituir para permitir a partilha do

    simblico. O dolo o modo sob o qual pode

    totalmente se afundar e se aniquilar a questo do

    desejo, quando o desejo de ver d a si mesmo o objeto

    de sua completa satisfao, digamos, de seu gozo. E,

    assim, quando os antigos criticam o dolo, preciso no

    se esquecer jamais de que h essa suspeita, de todo

    legtima, em relao a objetos que se consomem e que

    consomem o sujeito. O dolo ento aquilo que ameaa

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 10/29

    a subjetividade, uma vez que essa relao de

    consumo passional, fusional e fantasmtica. Nesse

    sentido, o desejo de destruio inseparvel do destino

    dos dolos. Finalmente, quando coloco imagens no

    plural, designo o conjunto de produes do visvel s

    quais ainda no dei qualificao, ainda no sabendo a

    quais operaes do olhar elas vo dar lugar.

    P: Vrias vezes a senhora colocou em evidncia o

    fato de que a imagem encontra seu lugar entre a

    viso e a representao, que ela necessita de uma

    construo, uma formao prvia do olhar de um

    sujeito falante (e que ela , nesse sentido,

    inacessvel aos olhares dos outros mamferos, por

    exemplo). Trata-se, assim, no caso do olhar

    humano, de uma competncia cultural. A senhora

    poderia especificar qual a natureza da relao

    entre o sujeito e a imagem?

    Nas nossas sociedades de hoje, encontramo-nos diante

    da designao massiva da palavra imagem a tudo o

    que produzido no visvel: fotos, obras de arte,

    publicidades, televiso, cinema, documentos. Todos so

    imagens. Sim, mas em que so eles imagens? Sob

    qual ttulo? Pelo meu trabalho, gostaria de dar conta dos

    regimes de pensamento que foram fundadores em

    relao definio da imagem: fundadores no quanto

    ao seu estatuto de objeto, mas quanto quilo a que ela

    remete nas operaes do olhar a ela dirigido por um

    sujeito. As coisas se esclarecem a partir do momento

    em que classificamos a imagem na relao que ela tem

    com o olhar do sujeito, com o cruzamento de olhares e

    com a troca, a circulao de signos, distinta do

    comrcio das coisas, daquilo que chamo o comrcio de

    olhares. o olhar do sujeito que d imagem seu

    estatuto de eikon, de eidolon, de fantasmata, de

    fantasma; a maneira de construir o olhar que reifica

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 11/29

    ou no seu objeto. Posso tomar os maiores lugares do

    olhar e da apario frgil da histria da arte e deles

    fazer objetos idoltricos. E justo por isso que os

    artistas surrealistas, em particular, os dadastas, lutaram

    contra a arte burguesa, necessariamente idlatra e que

    reifica a arte como mercadoria. Por meio dos objetos de

    arte, eles jogaram e atacaram os dolos da cultura

    burguesa para mostrar que estes so operaes do

    olhar que foram lentamente desqualificadas pelo

    comrcio dos objetos. Eis as coisas que nos concernem

    de modo vital hoje.

    Minha abordagem faz um apelo a cada um de ns,

    enquanto sujeitos, a nossa potncia subjetiva de

    qualificao do visvel; a neste reconhecer signos em um

    campo de signos que circulam; a dizer que o que

    chamamos de imagem pode ser, ou no, constituinte ou

    destituinte dos sujeitos que as olham.

    a que as coisas se complicam na definio, pois

    preciso explicar em que, antropologicamente, a imagem

    constituinte da relao entre os sujeitos, e do prprio

    sujeito. A fim de dar conta da abordagem patrstica e

    dos efeitos bastante modernos que ela poderia ter para

    ns, e do interesse que por ela poderamos ter para

    nutrir nosso pensamento da imagem, o problema

    mencionado me obrigou a me dirigir antropologia e

    psicanlise. Ambas me fizeram ver como,

    genealogicamente do ponto de vista filogentico (a

    constituio da humanidade) de um lado, ou

    ontogentico (a constituio do sujeito humano na sua

    individualidade e singularidade) do outro , a questo

    da imagem era parte envolvida na gnese do sujeito. E

    assim compreendia que um sujeito que era privado de

    imagens, que no podia construir uma imagem de si,

    havia produzido na nossa sociedade, to plena de

    imagens, uma verdadeira patologia da imagem. Isto ,

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 12/29

    que havia um sofrimento, uma patologia, um abuso do

    olhar, que fazia com que houvesse uma destituio da

    imagem, um abuso do narcisismo primrio: como nos

    constitumos a ns mesmos na imagem que temos de si

    em relao a um outro sujeito, em relao ao olhar de

    um outro sujeito? A psicanlise, a psicopatologia, os

    textos sobre a psicose, muito me esclareceram sobre o

    fato de que a imagem era uma aposta constituinte para

    os sujeitos na sua relao matricial, na sua origem.

    Filogeneticamente, tambm, percebia que, no fundo, a

    prpria humanidade assinalava-se como humanidade

    por inscrio dos signos que, antes de dar testemunho

    de uma linguagem ou mesmo de uma escritura,

    designavam o modus imaginis, o modo da imagem,

    como primeiro gesto de separao. Tornando-se a

    condio necessria ao acesso de cada um de ns s

    operaes simblicas da palavra, a imagem pode ser

    um separador, um operador de separao. Um beb,

    por exemplo, que no tem nenhum meio de construir e

    apreender sua prpria imagem sinestsica e visual ao

    mesmo tempo uma criana que jamais ter acesso

    palavra. E, assim, nos autismos, nas afasias, nas

    psicoses infantis, tratamos e retomamos as coisas pela

    questo da imagem: fazemos desenhar. Recomeamos

    pela construo da imagem.

    Se o sujeito se constri, ento compreendemos que o

    que os Padres designavam pela palavra eikon era algo

    constituinte das relaes entre os sujeitos. Desse modo,

    o que constituinte do poltico, isto , do viver juntos, no

    sentido grego, assim o porque constituinte dos

    procedimentos, dos protocolos de subjetivao. No h

    sujeito sem imagem. muito importante. O dolo torna-

    se, no seu processo de reificao, muito mais o modo

    pelo qual o visvel no produz o sujeito, mas o reduz ao

    estado de objeto: o dolo o que reifica o sujeito, ao ser

    uma reificao da imagem.

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

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    nesse sentido que digo que h uma verdadeira

    patologia da imagem, a qual faz com que aqueles que

    no tm imagem de si mesmos, seno por meio de

    objetos, sejam reduzidos ao estado de objeto e

    persuadidos de que a apropriao e o consumo dos

    objetos que vo lhes permitir construir uma imagem de

    si mesmos. Do ponto de vista inicial do sofrimento

    social de hoje, pedir o reconhecimento de identidade

    peloo consumo dos objetos produz violncias. Isto ,

    algum que no tem nenhum meio de se fazer

    reconhecer em um campo social por um outro olhar,

    procura chamar a ateno desse olhar pelo consumo de

    objetos que lhe do uma identidade em relao ao olhar

    do outro. Para ele sero precisos Nike, Lacoste etc.. O

    consumo das marcas torna-se um marcador identitrio.

    De uma s vez, vamos nos tornar qualificados,

    identificados, pelos objetos que estamos altura de

    consumir. Fazemos de ns mesmos objetos e

    pensamos ser esse tornar-se objeto o nico meio de

    obter o olhar do outro e um processo de

    reconhecimento, portanto, de dignidade. Estamos em

    uma histria de loucos: as pessoas tornam-se

    criminosas porque no tm nenhuma imagem de si

    mesmas. Esto em uma tal desqualificao interna que

    vem como uma dor absoluta, que engendra uma

    violncia absoluta, que d vontade de matar, de morrer.

    P: Com o objetivo de especificar o papel cultural do

    eikon, voltemos mais uma vez terminologia. No

    seu livro Image, icne, conomie, a senhora dirige

    sua ateno para o fato de que, nos contextos no

    cristos (clssicos e pagos), a palavra

    oikonomia designava tudo o que era gesto e

    administrao, ao mesmo tempo dos bens

    (economia) e das visibilidades (ikonomia). A

    senhora assinala igualmente que o termo

    economia tornou-se, no momento da crise

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

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    iconoclasta bizantina, o leitmotiv da defesa icnica.

    A senhora poderia elucidar as razes dessa

    retomada do termo economia no contexto

    cristo?

    Para mim, foi uma descoberta saber que os Padres da

    Igreja tinham, depois de So Paulo, construdo toda a

    doutrina do eikon sobre algo que eles opunham

    teologia. A imagem uma relao econmica, isto ,

    anti-teolgica. A economia a dimenso real, histrica,

    a dimenso temporal do olhar. Ela designa essa

    negociao ininterrupta dos olhares entre o que est

    presente e o que est ausente. dizer que s h vida

    dos signos numa relao com a ausncia e em uma

    separao da presena. magnfico que a economia

    tenha se tornado o conceito operatrio dessa

    construo, pois isso toca a totalidade das trocas

    humanas e vai, efetivamente, do comrcio e circulao

    de signos at o comrcio das coisas e a circulao das

    mercadorias. A mesma palavra! A que isso se refere?

    nossa responsabilidade tica e poltica no campo do

    visvel. Cabe a ns escolher. Os objetos, nisso, no

    podem nada. Eles no fazem nada, eles no matam,

    eles esperam.

    Ora, a palavra economia no uma inveno dos

    cristos, mas retomada do grego clssico: foi muito

    utilizada por Xenofonte, por Aristteles. Ela designa toda

    a gesto e administrao domstica e, em Aristteles,

    tomada nas suas relaes com a administrao da

    cidade. Como, para Aristteles, o modelo familial

    permanece o modelo da economia poltica, passamos

    da gesto e administrao do patrimnio pelo pai,

    gesto e administrao dos bens e servios no campo

    social. E mesmo o oikonomos era j um intendente.

    ele que est encarregado de gerir, administrar, regular,

    compatibilizar, velar, pelo equilbrio na produo, na

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

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    difuso, no gasto.

    A palavra economia foi traduzida ao latim

    essencialmente por duas palavras: dispositio e

    dispensatio. Dispositio como o grego systema;

    o conceito de organizao que est por trs e a partir do

    qual encontramos o sentido na oikonomia: a

    organizao. O grande oikonomos na teologia Deus,

    o grande organizador, o ordenador do mundo, o

    arquiteto cosmolgico. tambm por que a economia

    foi identificada to rapidamente com a providncia, com

    o cosmos, em grego, querendo dizer ao mesmo tempo

    a ordem, a beleza e o mundo. Estamos em um mundo

    onde s podemos admirar e anotar a inteligibilidade, a

    regularidade, a ordem e a beleza cosmos. A origem

    desse cosmos um oikonomos: uma entidade, um

    princpio de organizao racional e esttico sem falha.

    por isso que oikonomia se tornou pronoia,

    providncia.

    Mas, a partir do momento em que essa providncia, no

    mundo cristo, entregou-se ao exerccio histrico

    admirvel da economia, produzido pela imaginao

    crist da encarnao, a providncia e a ordem do

    mundo foram mudadas. Em todos os casos, eles se

    implementam sobre um outro regime do que o que

    conhecemos da teologia cosmolgica: aquele da

    histria dos homens como gasto de Deus (Dispensatio).

    Tal mudana devida encarnao, esta que consiste

    em duas coisas fundamentais. Um, a temporalizao da

    divindade que nasce, vive e morre: a divindade se torna

    temporal e histrica; dois, a divindade, que no visvel,

    torna-se visvel. Temporalizao e visibilidade so as

    duas caractersticas da encarnao. A partir do

    momento em que Deus que a quis, em que a

    providncia que organiza isso, ser preciso integrar

    essa histria, essa narrao, oikonomia, e dizer que

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 16/29

    esse fenmeno da encarnao faz parte do plano geral

    da divindade, que se torna um plano no simplesmente

    invisvel, inteligvel e csmico, mas histrico e vivvel.

    Assim, eikonomia cuja homofonia, em grego, com

    oikonomia assinalei, pois, para os grego, oi e ei

    so ambos pronunciados i , o direito do cone, a lei

    do cone, tambm a lei da casa, a nova habitao. Ele

    se fez Verbo, Ele se fez Pai e Ele veio habitar entre ns.

    Desse modo, essa lei da habitao, do oikos e do

    cone, que so completamente homofnicos; e, penso,

    no apenas homofnicos: eles so sinnimos. No

    podemos separar o registro icnico do registro histrico

    e do registro providencial, de gesto e de administrao

    do mundo. Apenas como compreenderam muito bem

    os latinos ao dizer que h no somente dispositio,

    reorganizao, mas tambm dispensatio, gasto essa

    economia , ao mesmo tempo, em um regime

    computvel, um investimento, com tudo o que isso

    representa de perdas e benefcios. E, numa boa

    economia, preciso que o gasto seja um investimento

    que traga benefcios. Por consequncia, a ressurreio

    o modo pelo qual a perda ser superada por um

    benefcio incalculvel, incomensurvel, que a

    Redeno. H a uma economia, um investimento e um

    gasto pois no pouca coisa enviar um filho, uma

    imagem, e entreg-lo paixo e morte: um grande

    risco econmico assumido pela prpria divindade. Mas

    tal risco bem gerido, uma vez que isso dura at agora

    e que um caso que no conheceu a bancarrota.

    P: A aposta de seu livro Image, icne, conomie era

    a de desvelar as fontes do imaginrio

    contemporneo na querela iconoclasta na poca

    bizantina (725-843). Ainda que falemos com

    frequncia em relao s guerras das imagens

    do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, em

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 17/29

    Nova York, poderamos mencionar tambm a

    recente lide seguida publicao das caricaturas

    de Maom em um jornal dinamarqus. Para a

    senhora, podemos identificar a censura

    contempornea iconoclastia bizantina? H

    diferenas entre essas duas estratgias de

    eliminao das imagens?

    Todo poder tem suas imagens e recusa ao contra-poder

    ter sua visibilidade. Aqui estamos perto da problemtica

    iconoclasta: quem toma o poder tem o monoplio da

    imagem e de sua significao. E, portanto, interrompe a

    busca icnica do outro, ou o censura.

    Entretanto, a iconoclastia bizantina no era uma

    censura: era uma maneira de destruir uma instncia de

    poder, recusando as imagens queles que delas se

    serviam para tomar o poder, justo por reconhecer que tal

    era o poder das imagens. Essa prtica consistiu em

    suprimir imagens retirando uma categoria do poder que

    se queria eliminar, mas para substitui-lo por imagens do

    poder que se queria constituir. E aquele que as destruiu,

    ao mesmo tempo, compreendeu bem que as imagens

    tinham um poder, uma vez que atribuiu a si mesmo o

    poder de fazer suas prprias imagens. Os iconoclastas

    no so an-icnicos: eles so contra as imagens

    religiosas, as imagens no campo da Igreja, para

    desenvolver um imaginrio profano, um imaginrio do

    poder; h at mesmo uma arte iconoclasta. Assim, no

    se trata de uma eliminao das imagens, mas de uma

    eliminao do outro enquanto utiliza suas imagens para

    tomar o poder.

    Ademais, em Bizncio, a imagem no um pretexto. Ao

    contrrio, ela a aposta do poder e a prpria razo da

    crise: todos queriam tomar o poder com suas prprias

    imagens e suprimir as imagens do outro para tomar-lhe

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 18/29

    o poder. Isso quer dizer que a imagem , nesse

    momento, reconhecida como portadora de um poder de

    convico, de submisso e de representao do poder

    do qual se quer privar seu adversrio.

    Quando as caricaturas de Maom so proibidas, isso

    no feito por que se quer tomar o poder, suprimir um

    poder s imagens. em um contexto de todo diverso,

    em uma outra paisagem poltica, que a do terror

    ideolgico. Muitos no foram enganados por esse

    histria de censura das caricaturas de Maom, dizendo

    que a produo e a denncia das caricaturas eram uma

    operao de propaganda nos dois sentidos. A questo

    da imagem era a extremamente secundria: nem

    mesmo eram caricaturas que faziam rir, com algum um

    interesse grfico. Apenas se aproveitou de uma

    manchete visual por meio da caricatura para inflamar um

    conflito ideolgico que somente a mscara de um

    conflito de tipo econmico. O Isl e as convices

    religiosas so hoje a aposta sob a qual se opem

    potncias econmicas no mercado do pio, do petrleo,

    das armas. Ora, em vez de dizer que, neste momento,

    as pessoas morrem por causa do pio, do petrleo e do

    mercado das armas, criou-se uma martiriologia

    terrificante, ao dizer que as pessoas se matam porque

    h um choque de culturas, uma incompatibilidade de

    culturas. Mesmo no momento das caricaturas de

    Maom, dizia-se que o conflito advinha da fratura cultural

    entre os regimes de religies. Ora, para mim, tudo isso

    era apenas simulacro, uma montagem teatral para

    esconder as apostas polticas do conflito.

    Tomemos um outro exemplo, aquele dos Budas de

    Bamiyan: eles estavam ali h muitos sculos, em um

    pas islmico que, at a, neles no viam inconvenientes.

    Para eles eram dolos, o Deus dos outros, e isso no

    lhes concernia uma vez que no retirava ateno das

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

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    sua prpria divindade. Somente a partir do momento em

    que o outro se tornou inimigo eles notaram que aqueles

    Budas de Bamiyan faziam parte do patrimnio mundial

    da cultura, defendido pela Unesco, representante da

    cultura ocidental com a qual eles esto em guerra.

    Decidiram atacar o Ocidente, toc-lo onde declara seus

    mais altos valores. A saber, no quiseram matar o

    budismo, mas atacar a ideia que o Ocidente faz da obra

    de arte e do patrimnio cultural. tambm por isso que

    filmaram a cena da destruio. Eu recebi uma imagem

    em que o filme da destruio objeto de um auto-de-f:

    filma-se o auto-de-f do filme para fazer um filme de

    auto-de-f das imagens.

    Estamos a em uma espcie de circularidade das

    visibilidades e o 11 de setembro de 2001 foi a frmula

    exemplar do mesmo princpio que : uma vez que

    vocs so uma sociedade espetacular, ns tambm

    iremos fazer espetculo e fazer de vocs os

    espectadores privilegiados da sua destruio Eles

    sabem que Hollywood inseparvel dos modos

    narrativos escolhidos pelo Pentgono para construir

    suas narraes guerreiras e sua legitimidade. So os

    cenaristas de Hollywood que fornecem ao Pentgono os

    cenrios para contar aos jovens soldados e convenc-

    los da grandeza heroica e legtima de seu sacrifcio no

    Iraque. As pessoas gostam que para elas sejam

    contadas suas histrias. George Bush disse em um

    discurso: People like stories. Ento a eles contamos

    histrias. E como os militares no sabem contar

    histrias, pedimos para que Hollywood escreva histrias

    que iremos contar aos militares. No mundo islmico, em

    guerra econmica e financeira com os Estados Unidos,

    acontece de modo similar. Estamos em uma gesto

    espetacular: a organizao econmica e industrial do

    espetculo torna-se o sujeito de narraes que so

    lendas no sentido em que fazemos lendas em torno de

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 20/29

    imagens, para torn-las compreensveis que precisam

    ser contadas para legitimar operaes estritamente

    imperialistas, de um lado e do outro. O cone de Bin

    Laden inesgotvel dos dois lados.

    Assim como a imagem foi verdadeiramente uma grande

    aposta no momento da guerra iconoclasta, tambm a

    gesto industrial do espetculo coloca-se como pano de

    fundo aos verdadeiros contextos do conflito. Mas

    tambm no o contrrio da iconoclastia, porque na

    questo da iconoclastia, a denncia dos dolos faz parte

    da problemtica escondida do poder. Hoje assistimos a

    uma gesto industrial dos dolos. Cada um quebra os

    dolos do outro pois o prprio dos dolos, de modo

    contrrio s imagens, que podemos quebr-los. Os

    Padres j haviam compreendido muito bem que no

    podemos quebrar a imagem, pois a imagem no um

    objeto. Quando vocs destroem um cone, vocs no

    destroem a imagem. Vocs atacam a sacralidade, mas

    isso no pode atacar a imagem: vocs destroem o

    objeto. A imagem indestrutvel.

    P: Em 2002 a senhora participou de um projeto de

    exposio Iconoclash, concebido e realizado pelo

    filsofo Bruno Latour e pelo artista Peter Weibel. A

    aposta terica da exposio era chamar a ateno

    para a problemtica da produo e destruio das

    imagens existentes nos trs domnios culturais

    diferentes: a cincia, a arte e a religio. A senhora

    era membra do comit cientfico desse projeto;

    como a senhora o julgaria em face do pensamento

    terico da imagem nos nossos dias?

    Essa exposio, para mim, foi um pouco um problema,

    pois a problemtica que Bruno Latour queria apresentar

    provinha diretamente de meu trabalho sobre a economia

    icnica e a iconoclastia. Sem dvidas foi por isso que

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 21/29

    ele me associou ao projeto: porque a maneira com a

    qual abordei a questo da iconoclastia havia sugerido

    que ele poderia abordar o conjunto da problemtica da

    imagem em campos diferentes sob o signo da

    positividade da prpria destruio e da reversibilidade

    das interpretaes da violncia no campo da criao.

    Isso permitiu a ele com a cumplicidade amigvel de

    muitos tericos e artistas fazer uma exposio de todo

    atual, isto , na qual era possvel ver formas crticas,

    formas de ironia, formas de destruio, no sentido crtico

    e sarcstico, dadasta, surrealista ou cientfico. Mas em

    vez de ser um espao onde colocar em crise a crena

    em todos os nveis, por fim, isso produziu uma

    exposio de arte contempornea: a ensima

    exposio de arte contempornea na qual experts em

    arte contempornea arranjaram-se, bem ou mal, para

    impor um certo nmero de artistas como emblemticos

    dessa positividade da destruio e dessa turbulncia.

    Penso que, apesar da abundncia das obras e dos

    textos, isso dissimulou mal uma fraqueza terica e uma

    organizao consensual sobre a questo da destruio:

    a exposio Iconoclash atraiu o mundo, queria fazer

    sorrir e ser ao mesmo tempo muito epicurista e

    agradvel, pois o projeto dizia respeito a um grupo de

    pessoas talentosas e cmplices, as quais tinham

    estabelecida uma colaborao de longa data. Nada de

    conflitual, no podendo dar manifestao sua

    dimenso verdadeiramente poltica. Por certo muito

    excitante para Bruno Latour, que de uma grande

    inteligncia filosfico-especulativa, dizer que se tornou o

    curador que preside eventos de cultura e de arte que

    cobrem, cada vez mais, todos os campos: a religio, a

    cincia, a arte. um poder. Mas ele estava proibido de

    falar do Islam em Iconoclash. O assunto demasiado

    delicado! Enquanto poderamos, ao contrrio, ter feito

    uma seo extremamente interessante sem

    indignidade, por outro lado para dizer que era agora

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 22/29

    ou nunca o momento de produzir um espao de reflexo

    positiva sobre a interdio e a destruio. Mas os

    responsveis tinham medo de que os terroristas

    chegassem a Karlsruhe! Isso no desqualifica o que foi

    mostrado, mas devo dizer que a ambio da empresa

    revela um desejo de cobrir uma totalidade. Hoje as

    exposies so eventos no mercado da comunicao

    cultural. As ideias circulam, os objetos deixam-se

    reconhecer, mas no certo que o pensamento tenha

    tido tempo de se renovar verdadeiramente. Em muitos

    casos, a publicao programtica de um conceito no

    contribui ao avano do pensamento. Entretanto,

    estamos contentes por ter visto objetos admirveis que

    jamais teramos podido ver de outro modo, pois se

    encontram do outro lado do mundo ou so

    desconhecidos da maior parte das pessoas E mesmo

    se o objeto parece incongruente nesse lugar, e se o

    curador da exposio decidiu fazer dela algo

    completamente diferente, podemos nos contentar por t-

    la visto.

    O historiador pode fazer vrias ligaes, pode se tornar

    expert das articulaes entre as imagens: por exemplo,

    entre os magnficos quadros do sculo XV que estavam

    em Iconoclash. No tenho nada contra, mas, torn-los

    solidrios a um sistema esquecer que eles excedem

    tal sistema. E quando eles so co-extensivos ao

    sistema, eles no so mais operantes. por isso que

    as exposies temticas so tomadas por um paradoxo

    interno: serem obrigadas a justificar a co-extensividade

    do conceito aos objetos que so apresentados e, se os

    objetos forem muito bem escolhidos, eles excedem em

    muito o projeto. Assim, eles fazem aparecer o carter

    inoperante.

    O que acho mais interessante, como modo de reunio

    dos objetos, a exposio das colees de alto nvel.

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 23/29

    Somos convidados a seguir um olhar colecionador que

    pde, durante uma vida, comprar coisas: tentamos

    entrar na histria de um olhar, apreender o fio de uma

    sensibilidade com suas aberturas, seus riscos, seus

    transbordamentos. Vi a exposio da doao Daniel

    Cordier, em Toulouse, onde est tudo o que ele

    acumulou durante sua vida: pode ter a um tronco de

    rvore, um objeto das Novas Hbridas, um talism, um

    objeto da vida quotidiana, um quadro de Matta,

    desenhos de Henri Michaux. Histria de um olhar que se

    exerce em toda uma vida. H obras de arte no meio de

    tudo aquilo que uma vida pde recolher de bonito, de

    surpreendente, de improvvel ou de inquietante.

    P: Finalmente, eu me permitiria colocar-lhe uma

    ltima questo concernente fotografia. No seu

    livro Image, icne, conomie a senhora fala da

    fotografia a fim de coloc-la em paralelo com a

    imagem aquiropita (a imagem que no feita pela

    mo do homem). A senhora assinala que, uma vez

    que todo gesto fotogrfico coloca a questo da

    impresso, a inveno da fotografia foi acolhida

    como confirmao da possibilidade de produzir a

    imagem aquiropita pelo artefato e de fabricar as

    impresses fetiches, tais como o Santo Sudrio e o

    Vu de Vernica. A senhora poderia indicar qual a

    natureza da relao entre essas imagens

    supostamente verdadeiras e a demanda de

    veracidade da fotografia documental?

    A questo da impresso muito ligada ao fato de que o

    texto ao qual voc faz aluso consagrado construo

    do Santo Sudrio de Turim. Portanto, a uma fotografia

    de tipo impressa e na qual se joga com a impresso

    fotogrfica e a impresso de um corpo real. Dizendo

    que a fotografia, que j uma impresso, tinha

    fotografado uma impresso que, ela mesma, era o

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 24/29

    negativo de uma fotografia. , verdadeiramente, a

    fotografia sobreposta, em uma perspectiva indicial da

    fotografia. Hoje, a maior parte da produo fotogrfica

    digital, portanto, no mais indicial. Ela por pixels,

    segundo um sistema binrio, e permite todas as

    manipulaes.

    No que diz respeito veracidade da fotografia, ainda na

    poca em que era indicial, era j uma arte do falso, no

    sentido do simulacro habitado pela crena do

    espectador. As imagens no tm realidade ontolgica.

    Eu disse h pouco, mesmo antes de falarmos sobre

    fotografia: o estatuto do eikon uma aparncia. Assim,

    o fato de que a fotografia possa ser uma puno em um

    estado do mundo no d a prova desse estado do

    mundo por causa da fotografia.

    Para compreender melhor, remeto a um filme de Jean

    Eustache que se chama Les photos dAlix. Esse filme,

    absolutamente genial, consiste em mostrar uma jovem

    fotgrafa que mostra a um jovem, filho de Jean

    Eustache, fotos que ela tirou. Ela diz o que h, a data, a

    hora, o lugar, a estao, os nomes, quem so as

    pessoas que vemos na foto. H, portanto, uma relao

    com o real: compreendemos que ela tirou essas

    fotografias em Londres, h trs meses, de noite etc..

    Mas quando vemos a foto, no vemos nada

    correspondente quilo que ela diz. No incio, h uma

    correspondncia um pouco vaga, mas a credibilidade

    cresce. Em seguida, progressivamente, no correr dos

    18 minutos e 18 fotos, estamos no fim do filme e vemos

    um quarto, uma escrivaninha diante de uma janela, o que

    h sobre a escrivaninha, uma lmpada, um espelho. Ela

    diz: ah, esta foto eu tirei h trs meses em Fez, um

    pr-do-sol em Fez. Podemos reconhecer Fez, dir

    ela, e vemos a escrivaninha e a janela etc..

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 25/29

    Esse filme mostra bem que a foto remete a estados do

    mundo. Em um momento, ela diz eis uma foto: vemos

    que tal foto tirada dentro de um carro, o condutor

    ento tomado pelas costas, h o retrovisor e, no

    retrovisor, vemos longe ao fundo. Esta uma lembrana

    da infncia, a foto de meu pai, enfim, de meu

    padrasto, tal como eu sempre o vi; viajvamos juntos,

    era os Estados Unidos, entre So Francisco e no sei

    mais onde, enfim, era os Estados Unidos; eu estava

    atrs, via suas duas grandes mos no volante e s via,

    de seu rosto, aquilo que se mostrava no retrovisor.

    uma lembrana da infncia. E ela diz: uma

    lembrana da infncia mas no como as crianas delas

    se lembram, e por isso que esta foto uma

    lembrana. Enfim, a foto que fiz recentemente, de uma

    lembrana que tive. Pouco a pouco percebemos que

    estamos vendo uma foto de infncia, mas no como so

    as fotos de infncia: ela fotografou h um ms uma

    lembrana da infncia. No vemos nem seu pai nem os

    Estados Unidos: a foto est na provocao da palavra

    cegueira que exige a composio do olhar. O objeto que

    vemos flutua entre eles como um espectro de um mundo

    que no existe mais, de sua infncia, de um pai que no

    est mais a, de um pas: no vemos por que, sobre

    essa foto, ela tem necessidade de dizer que foi h anos,

    nos Estados Unidos, uma vez que fora h um ms, na

    memria dessa viagem que fez com seu pai. Esse filme

    uma obra-prima sobre a desrealizao do olhar em

    face da imagem.

    Alis, o que ela diz, tecnicamente, sobre os objetos

    verdade. Por exemplo, em certo momento, vemos uma

    foto como duas botas, como as de Van Gogh. Antes que

    as vejamos, vemos a fotgrafa dizer bem, uma foto

    que tirei em Londres, em um pub, gosto muito dos

    pubs, e, de pronto, vemos a foto que mostra, ao lado

    das botas, um vazio. Ela diz: eu estava em p, com

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 26/29

    esses dois homens; com este ela mostra um sapato ,

    com este eu perdi contato, o outro ainda um amigo,

    gosto muito da atmosfera dos pubs. Ela conta uma

    histria. E ento, repentinamente, diz: o que me

    importava nessa foto era, efetivamente, trabalhar com a

    falta de foco na parte de baixo que est desfocada e

    com essa luz branca de fato, tudo est branco que

    descia desde o canto e tambm a, realmente, h uma

    luz branca , uma lembrana da Inglaterra. Sem parar,

    estamos entre o que vemos e o que ela diz mas no

    vemos: a referncia ao quadro de Van Gogh e o que ela

    mostra ao jovem, o que ela faz entender ao mostrar-lhe.

    Essa mudana do que damos a ver, do que damos a

    entender, do que fazemos crer, o regime da fotografia,

    compreendido neste o da fotografia documental.

    O que dizemos, o que escrevemos, o que contamos, de

    modo intrnseco faz parte daquilo que fazemos ver. Se

    mostramos a foto sem dizer nada, sem palavra, como

    um material bruto, ns a damos viso de um outro sem

    construir uma relao entre o ver e o fazer ver por meio

    da palavra e da partilha da crena. A foto no prova o

    real, mas ela sempre coloca em jogo, como toda

    imagem, a relao de confiana e de crena que um

    olhar tem em relao a um outro olhar.

    No meu trabalho sobre o fotojornalismo, dou uma grande

    importncia ao que dito do pas e do momento em que

    uma foto foi tirada, quilo que me do a ver, razo pela

    qual tal foto fora tirada, e ao que ela pode significar para

    quem a tirou. Em muitos casos, penso ser a foto intil,

    desinteressante ou excessiva, pois no se dirige mais a

    mim como algum que partilharia a possibilidade de

    construir, ao mesmo tempo, o que ela quer dizer. Ainda

    que tenha necessidade de um efeito real, a imagem o

    excede, e sobre tal excesso que se constri a

    liberdade do outro, a quem nos endereamos. Mas se

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 27/29

    essa liberdade deixada, preciso ver sobre qual base

    de partilha: h a um caminho dos regimes de crena

    diferentes que podem ir da credulidade confiana, e

    da confiana a uma necessidade de liberdade.

    Acabo de escrever um texto em que homenageio

    Sophie Ristelhueber, pois penso que em seu trabalho

    sobre o Iraque e a Palestina no qual no vemos nem a

    guerra, nem o guerreiros, nem as vtimas ela no

    mostra cenas, nem teatraliza o conflito. Pelo contrrio,

    o que ela no mostra que faz ver e, portanto,

    compreender. Ela se considera totalmente oposta s

    fotos do fotojornalismo: no uma reportagem, um

    objeto poltico e, ao mesmo tempo, suficientemente

    artstico, pois ela compe, trabalha, ela faz as coisas

    no importa como.

    Acho que isso nos esclarece tambm sobre o que

    temos direito de exigir dos fotojornalistas que trabalham

    demasiadamente, como na revista Choc, por exemplo,

    em que vemos at onde pode ir a obscenidade na

    apreenso do real. A obscenidade do real pode ser algo

    lamentavelmente trivial: a pretenso de tudo mostrar,

    em vez de retirar. Assim, como diz Comolli para o

    cinema documentrio: quando vou fazer um

    documentrio, comeo por me perguntar sobre o que

    no vou mostrar. Comeo decidindo o que no

    mostrarei. Comeamos pela retirada, depois vemos o

    que deixamos a ver: construmos o fora de campo. E

    para a fotografia o mesmo: preciso sempre construir

    seu fora de campo.

    Entrevista publicada originalmente em: http://sens-

    public.org/spip.php?article500&lang=fr

  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

    http://cultureinjection.wordpress.com/2014/03/28/entrevista-com-marie-jose-mondzain/ 28/29

    Janeiro de 2008

    (traduo para o portugus: Vincius Nicastro Honesko)

    Curta Les photos dAlix para download:

    http://makingoff.org/forum/index.php?

    showtopic=34622&hl=%2Bjean+%2Beustache

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  • 20/5/2014 Entrevista com Marie-Jos Mondzain | Culture Injection

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