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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MÁRINGA – UEM DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DISCIPLINA: Engenharia Bioquímica PROFESSOR: Toni PRODUÇÃO DE ÁLCOOL PRODUÇÃO DE ÁLCOOL Acadêmicos: Cáudia Duca Aline Fernanda Franciele Pelissari Luiz Henrique Fasolin Ticiana Bougo

Eng Bioquímica - Produção de Etanol

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Texto sobre a produção de etanol

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MÁRINGA – UEMDEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS

DISCIPLINA: Engenharia BioquímicaPROFESSOR: Toni

PRODUÇÃO DE ÁLCOOLPRODUÇÃO DE ÁLCOOL

Acadêmicos: Cáudia Duca Aline Fernanda

Franciele Pelissari Luiz Henrique Fasolin

Ticiana Bougo

Maringá, 09 de dezembro de 2005.

Page 2: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

1. Introdução

O Brasil tem larga experiência na produção de álcool combustível. O Programa

Nacional do Álcool desencadeado no final dos anos 70, decorrente da crise do petróleo, gerou

uma série de tecnologias próprias, tornando o nosso país líder mundial nesse sentido. Não

poderia deixar de ocorrer, portanto, o desenvolvimento de processos visando à produção de

linhagens melhoradas da levedura Saccharomyces cerevisiae, responsável pela produção de

etanol. Linhagens mais produtivas, com características desejáveis para produção de etanol e

com monitoramento na indústria por técnicas de marcação molecular, foram desenvolvidas em

vários laboratórios, salientando-se mais uma vez os da ESALQ/USP, em Piracicaba. Por

tecnologia do DNA recombinante, os laboratórios de pesquisa das universidades de Brasília e

da USP desenvolveram em conjunto linhagens de leveduras contendo genes de amilases

capazes de utilizar o amido, por exemplo de mandioca ou batata-doce, na produção de etanol.

Essas leveduras manipuladas geneticamente estão sendo aperfeiçoadas e poderão desempenhar

um importante papel na produção de etanol. A tecnologia do DNA recombinante tem sido

também usada por esses e outros laboratórios brasileiros e do exterior na clonagem e

seqüenciamento de genes de interesse industrial em fungos.

O homem vem utilizando a fermentação alcoólica desde a mais remota antiguidade; há

mais de 4.000 anos os egípcios fabricavam pão e produziam bebidas alcoólicas a partir de

cereais e frutas. Entretanto, apenas recentemente é que se pôde relacionar a fermentação com a

levedura, fungo amplamente distribuído na natureza e com capacidade de sobrevivência tanto

em condições aeróbias como anaeróbias.

Assim, a humanidade por longo período se beneficiou desse organismo, mesmo sem

saber de sua existência, notada pela primeira vez por Antonie van Leewenhoek (1623-1723),

ao observar amostras de cerveja em fermentação, com seu microscópio rudimentar.

Depois da formulação da estequiometria da fermentação por Gay-Lussac (1815),

Pasteur (1863) demonstrou a natureza microbiológica da fermentação alcoólica como um

processo anaeróbio, ou seja, a vida se manifesta na ausência de ar (oxigênio). A partir daí, e

principalmente durante as primeiras décadas de 1900, as pesquisas culminaram com a

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elucidação das reações enzimáticas responsáveis pela transformação química do açúcar em

etanol e gás carbônico no interior da levedura.

Devido à importância econômica dos processos biotecnológicos envolvendo a levedura

Saccharomyces, quer na panificação, na produção de cerveja, vinho e outras bebidas

alcoólicas, quer, como no caso do Brasil, na produção de um combustível alternativo e

renovável, tal organismo pode ser considerado o eucariótico ( célula com núcleo organizado e

processos metabólicos compartimentalizados) mais estudado e cujo metabolismo é o mais

conhecido. Mesmo assim o homem ainda se maravilha com as recentes descobertas sobre os

mecanismos de regulação metabólica, em leveduras.

2. Importância

No Brasil, as indústrias de álcool e açúcar estiveram sempre intimamente ligadas,

desde o tempo do descobrimento. Deduz-se que a produção de álcool iniciou na Capitania de

São Vicente porque nela foi montado o primeiro engenho de açúcar do País, após a vinda das

primeiras mudas de cana-de-açúcar, trazidas da ilha da Madeira em 1532. Certamente,

transformava-se o melaço residual da fabricação do açúcar em cachaça e, diretamente da

garapa fermentada produzia-se aguardente. Por séculos, as bebidas destiladas foram o único

álcool produzido. A indústria de álcool industrial desenvolveu-se na Europa, nos meados do

século 19; no último quarto desse século iniciou-se a produção de etanol no Brasil, com as

sobras de melaço da indústria de açúcar, que ampliava sua capacidade produtiva.

O álcool etílico de biomassa, para uso combustível ou industrial, inclusive na produçde

algumas bebidas industriais (nesta análise não inclui cachaça, rum, vodka, whisky, bourbon,

conhaque, etc).

    A produção e o consumo mundial de etanol cresceu 2,77%  ao ano entre 1997 e 2003. 

Em 2003, a produção mundial atingiu 38,72 bilhões de litros, destacando-se o Brasil e

os Estados Unidos como maiores produtores mundiais, com 14,75 e 11,50 bilhões de litros

respectivamente.

 No Brasil, a produção cresceu de 0,55 para 15,3 bilhões de litros, entre 1975 e 2004.

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A Alemanha e, principalmente a França, deram grande contribuição ao

desenvolvimento das técnicas de fermentação alcoólica, de destilação e de construção de

aparelhos de destilação. Utilizava-se o etanol para fins farmacêuticos, para a produção de

alguns produtos químicos derivados, para bebidas e como fonte de energia térmica, por

combustão, em algumas atividades.

A I Grande Guerra (1914/1918) contribuiu para o desenvolvimento da produção em

grande escala. Naquele período usou-se o álcool como combustível líquido de motores de

explosão.

Em 1929 a grande crise internacional colocou em xeque as economias de todos os

países e, no Brasil, a indústria açucareira não ficou a salvo. Sobrava açúcar e cana e faltavam

divisas para a aquisição de combustível líquido. A primeira destilaria de álcool anidro foi

instalada e o Governo Federal, em 1931, estabeleceu a obrigatoriedade da mistura de 5% de

etanol à gasolina (Decreto 19.717), como medida de economia na importação de combustível

e para amparar a lavoura canavieira. Por muitos anos não houve álcool suficiente para misturar

a todo o combustível consumido. Durante a guerra de 1939 a 1945, faltou gasolina e fez-se

necessário substituí-la por gasogênio ou álcool. Terminada a guerra, voltou a importação de

gasolina e o combustível alternativo perdeu sua importância. Entretanto, continuou-se a

misturar etanol à gasolina em larga escala.

A crise internacional do petróleo que se deflagrou em 1974, fez com que se iniciasse,

no Brasil, uma nova fase na produção de etanol. Na busca de alternativas para combustível

líquido, o álcool adquiriu uma importância sem paralelo. Dos 700 milhões de litros por ano,

em pouco tempo a indústria passou a produzir 15 bilhões de litros, para abastecer uma frota de

mais de 4 milhões de automóveis, que se movem com álcool puro e também, para misturar a

toda gasolina usada no País. Com a utilização desse combustível alternativo, ampliou-se o

parque canavieiro, fez-se a modernização das destilarias anexas, a instalação de unidades

autônomas, a criação de grande número de empregos diretos e indiretos e uma rápida e

importante evolução na construção de motores para esse combustível. O plano de

desenvolvimento da produção de álcool no Brasil, denominado de Proálcool, não foi uma

solução improvisada para a crise de combustíveis; não foi mais do que a continuidade e

evolução de um programa de uso do álcool como combustível, iniciado em 1931. Com o

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abaixamento do preço do petróleo no mercado internacional, perdeu-se o interesse político

pela produção.

3. Vias de obtenção

Obtém-se etanol por três maneiras gerais: por via destilatória, por via sintética e por via

fermentativa.

A via destilatória não tem significação econômica no Brasil. Aplica-se

esporadicamente em certas regiões vinícolas para controle de preço de determinadas castas de

vinho de mesa.

Por via sintética, obtêm-se a partir dos hidrocarbonetos não-saturados eteno e etino, de

gases do petróleo e da hulha. Nos países onde a indústria petroquímica está muito avançada é

a forma mais econômica de produzir álcool.

A via fermentativa é a maneira mais importante para a obtenção do álcool etílico no

Brasil. Mesmo que venha a haver disponibilidade de derivados de petróleo que permitam a

produção de álcool de síntese, a via fermentativa ainda será de grande importância para a

produção de álcool de boca, sob a forma de aguardente. As bebidas fermento-destiladas

possuem características próprias de aroma e sabor, conferidas por impurezas decorrentes do

processo fermentativo.

Um dos fatores que torna a produção do etanol por fermentação uma das formas mais

importantes de sua obtenção é o grande número de matérias-primas naturais existentes em

todo o país.

Na obtenção do álcool por via fermentativa distinguem-se três fases distintas: o preparo

do substrato, a fermentação e a destilação.

O preparo do substrato é o tratamento da matéria-prima para dela se extraírem os

açúcares fermentescíveis. Difere para as distintas matérias-primas.

A fermentação é o processo comum a todos os substratos, cujo princípio é a

transformação dos açúcares em etanol e dióxido de carbono. As variações entre os processos

de fermentação são apenas em detalhes.

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Na destilação, recupera-se o etanol geralmente em duas operações. Uma para separar

do substrato fermentado, uma mistura hidroalcoólica impurificada com aldeídos, ésteres,

álcoois superiores, ácidos orgânicos. Outra para separar as impurezas do etanol.

3.1. O metabolismo no interior das células

A transformação do açúcar (glicose) em etanol e gás carbônico envolve 12 reações em

seqüência ordenada, cada qual catalisada por uma enzima específica. Tal aparato enzimático

está confinado no citoplasma celular, sendo portanto nessa região da célula que a fermentação

alcoólica se processa. Essas enzimas, referidas como glicolíticas, sofrem ações de diversos

fatores (nutrientes, minerais, vitaminas, inibidores, substâncias do próprio metabolismo, pH,

temperatura e outros), alguns que estimulam e outros que reprimem a ação enzimática,

afetando o desempenho do processo fermentativo conduzido pela levedura (BORZANI, et al,

2001).

De forma mais simples:

A levedura e outros microorganismos fermentam a glicose em etanol e CO2. A glicose

é convertida em piruvato pela glicólise e o piruvato é convertido em etanol e CO2 em um

processo de dois passos.

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No primeiro passo, o piruvato sofre a descarboxilação em uma reação irreversível

catalisada pela piruvato descarboxilase. Esta reação é uma descarboxilação simples e não

envolve a oxidação do piruvato. A piruvato descarboxilase requer Mg2+ e tem uma coenzima

firmemente ligada, a tiamina pirofosfato.

No segundo passo, através da ação da álcool desidrogenase, o acetaldeído é reduzido a

etanol, com a NADH, derivado da atividade da gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase,

fornecendo o poder redutor. A equação geral da fermentação alcoólica e produção do etanol é:

Glicose + 2ADP + 2Pi → 2 etanol + 2CO2 + 2ATP + 2H2O

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A piruvato descarboxilase está caracteristicamente presente nas leveduras de cervejaria

e padaria e em todos os outros os organismos que promovem a fermentação alcoólica,

incluindo algumas plantas. O CO2 produzido na descarboxilação do piruvato pelas leveduras

de cervejaria é o responsável pela carbonatação característica do champanhe.

A reação da piruvato descarboxilase na fermentação alcoólica é dependente de tiamina

pirofosfato (TPP), uma coenzima derivada da vitamina B1. A ausência desta vitamina na dieta

humana leva a uma condição conhecida com beribéri, caracterizada por acúmulo de fluídos

corporais (inchaço), dores, paralisias e, em última instância, morte. A tiamina pirofosfato

desempenha um importante papel na clivagem de ligações adjacentes a um grupo carbonila

(como ocorre na descarboxilação dos a-cetácidos) e nos rearranjos químicos envolvendo a

transferência de um grupo aldeído ativado de um átomo de carbono para outro. A parte

funcional da tiamina pirosfosfato é o anel tiazol. O próton em C-2 do anel é relativamente

ácido e a perda deste próton acídico produz um carbânion que é a espécie ativa nas reações

dependentes de TPP. Este carbânion facilmente adiciona-se a grupos carbonila e o anel tiazol

são assim posicionados para agir como um "escoadouro de életrons", que facilita fortemente as

reações, como esta, de descarboxilação catalisada pelo piruvato descarboxilase

(http://www.virtual.epm.br/material/tis/currbio/trab99/alcool/fermentacao.htm).

Convém ressaltar que a levedura Saccharomyces é um aeróbio facultativo, ou seja, tem

a habilidade de se ajustar metabolicamente, tanto em condições de aerobiose como de

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anaerobiose. Os produtos finais da metabolização do açúcar irão depender das condições

ambientais em que a levedura se encontra. Assim, enquanto uma porção do açúcar é

transformado em biomassa, gás carbônico e água em aerobiose, a maior parte é convertida em

etanol e gás carbônico em anaerobiose, processo denominado fermentação alcoólica. Os

carboidratos considerados substratos para a fermentação, tanto podem ser endógenos como

exógenos, estes últimos fornecidos à levedura.

O objetivo primordial da levedura, ao metabolizar anaerobicamente o açúcar, é gerar

uma forma de energia (ATP, adenosina trifosfato) que será empregada na realização dos

diversos trabalhos fisiológicos (absorção, excreção e outros) e biossínteses, necessários à

manutenção da vida, crescimento e multiplicação, para perpetuar a espécie. O etanol e o gás

carbônico resultantes se constituem, tão somente, de produtos de excreção, sem utilidade

metabólica para a célula em anaerobiose. Entretanto, o etanol, bem como outros produtos de

excreção (como o glicerol e ácidos orgânicos) podem ser oxidados metabolicamente, gerando

mais ATP e biomasa, mas apenas em condições de aerobiose.

Na seqüência de reações enzimáticas de produção de ATP, e intrínsecas à formação do

etanol, rotas metabólicas alternativas aparecem para propiciar a formação de materiais

necessários à constituição da biomassa (polissacarídeos,lipídios, proteínas, ácidos nucléicos e

outros), bem como para a formação de outros produtos de interesse metabólico, relacionados

direta ou indiretamente com a adaptação e sobrevivência.

Dessa forma, juntamente com o etanol e o gás carbônico, o metabolismo anaeróbio

permite a formação e excreção de glicerol, ácidos orgânicos, álcoois superiores, acetaldeídos,

acetoína, butilenoglicol, além de outros compostos de menor significado quantitativo.

Simultaneamente ocorre o crescimento das leveduras (formação da biomassa).

Estima-se 5% do açúcar metabolizado pela levedura seja para gerar tais produtos

secundários da fermentação, resultando num rendimento de 95% em etanol, conforme já

observado por Pasteur em condições adequadas de fermentação. Entretanto, em condições

industriais, nas quais fatores químicos, físicos e microbiológicos afetam a levedura,

rendimentos de 90% normalmente são obtidos, o que implica em desvios de 10% do açúcar

processado para a formação de outros produtos que não o etanol. Levando-se em consideração

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as reações responsáveis e a estequiometria das mesmas, pode-se calcular o equivalente em

açúcar consumido para a formação de cada um dos produtos da fermentação, incluindo a

biomassa (Tabela 1).

Tabela 1 - Proporção dos diversos produtos da fermentação alcoólica em g/100g

de glicose metabolizada, de acordo com várias fontes e para diferentes eficiências

fermentativas.

Produtos da

Fermentação

Pasteur

95%

Jackman, 1987

90-95%

Basso et al., 1996

85-92%

Etanol 48.5 45.0-49.0 43.0-47.0

Gás carbônico 46.5 43.0-47.0 41.0-45.0

Glicerol 3.3 2.0-5.0 3.0-6.0

Ácido succínico 0.6 0.5-1.5 0.3-1.2

Ácido acético --- 0.0-1.4 0.1-0.7

Óleo fúsel --- 0.2-0.6 ---

Butilenoglicol --- 0.2-0.6 ---

Biomassa (massa seca) 1.2 0.7-1.7 1.0-2.0

Fonte: Borzani, et al., 2001

A formação de glicerol, o mais abundante dos componentes orgânicos secundários da

fermentação, está acoplada à manutenção do equilíbrio redox celular, o qual é alterado quando

da formação de ácidos orgânicos, biomassa e da presença de sulfito no mosto. A formação de

glicerol também está relacionada a uma resposta ao estresse osmótico, quando de

concentrações elevadas de açúcares ou de sais no mosto.

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Já as razões fisiologias que levam a levedura a produzir e excretar o ácido succínico (o

segundo produto orgânico mais abundante) ainda são discutíveis; admite-se que sua formação

se deve a um meio fermentativo inadequado. Entretanto, parece que sua formação e excreção

conferem às leveduras maior competitividade com as bactérias contaminantes, numa

fermentação industrial.

4. Fatores que afetam a fermentação

Diversos fatores, físicos (temperatura, pressão osmótica), químicos (pH, oxigenação,

nutrientes minerais e orgânicos, inibidores) e microbiológicos (espécie, linhagem e

concentração da levedura, contaminação bacteriana), afetam o rendimento da fermentação, ou

seja, a eficiência da conversão do açúcar em etanol. Geralmente as quedas na eficiência

fermentativa decorrem de uma alteração na estequiometria do processo, levando à maior

formação de produtos secundários (especialmente glicerol e ácidos orgânicos) e biomassa.

4.1. Agente de fermentação

As leveduras são os microrganismos mais importantes na obtenção do álcool por via

fermentativa. Bactérias, entre as quais a Zymomonas mobilis, são tidas como capazes de

produzir etanol mas, economicamente, as leveduras ainda são os agentes largamente usados. A

levedura da fermentação, alcoólica é a Saccharomyces cerevisiae, da qual foram selecionadas

varias linhagens, tidas como por muito tempo como espécias: Saccharomyces ellipsoideus, S.

carlsbergensis e S. uvarum. Cada linhagem (isolada de meios diferentes) de vinho, de cerveja

ou de mostos de destilarias tem suas características próprias, afetadas pelas condições em que

o processo fermentativo se desenvolve.

O desempenho do processo fermentativo é enormemente afetado pelo tipo de levedura

que o executa.

As fermentações se iniciam com uma determinada levedura, com culturas puras

fornecidas por instituições especializadas ou pelo uso de leveduras de panificação produzidas

por diferentes fabricantes, prensadas ou granuladas. As culturas puras são apenas isoladas ou

obtidas através de melhoramento genético. Com o tempo, as linhagens que dão início ao

processo tem duração efêmera, são substituídas por leveduras comuns à região da destilaria,

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comumente denominadas de leveduras selvagens. Essa substituição foi confirmada pela

técnica da cariotipagem, ou seja, pela identificação de leveduras, pela separação eletroforética

do DNA cromossômicos intacto.

Leveduras “selvagens” foram isoladas e selecionadas com as características de

dominância e persistência ao longo da safra, e com as habilidades fermentativas desejáveis, de

alta eficiência na produção de etanol, baixa produção de glicerol e alta tolerância a diversos

fatores estressantes. Usando-as no processo industrial mostram-se capazes de sobreviver ao

longo da safra, exibindo bom desempenho fermentativo. A pratica da seleção regional já é

corrente em destilarias. Essas leveduras constituem-se em excelente material genético para a

incorporação da biotecnologia.

A técnica da cariotipagem demonstra que os fermentos ditos “caipiras”, usados pelos

pequenos fabricantes regionais de aguardente, se constituem em bom inoculo, pois se

constituem de leveduras regionais, desenvolvidas com técnicas artesanais.

4.2. Nutrição mineral e orgânica

As leveduras, organismos saprófitas, exigem uma fonte de carbono elaborada – glicose

ou outro açúcar – que fornece a energia química e o esqueleto carbônico de suas estruturas

celulares, constituídas predominantemente de carbono, oxigênio e hidrogênio.

Algumas vitaminas, como tiamina e ácido pantotênico, também são exigidas. O meio

deve igualmente, fornecer nitrogênio, fósforo, enxofre, potássio, magnésio, cálcio, zinco,

manganês, cobre, ferro, cobalto, iodo e outros elementos em quantidades diminutas.

A levedura Saccharomyces cerevisiae utiliza o nitrogênio nas formas amonicial

(NH4+), amídica (uréia) ou amínica (na forma de aminoácidos), não tendo habilidade

metabólica para aproveitar o nitrato e com pouquíssima ou nenhuma capacidade de utilizar as

proteínas do meio.

O fósforo é absorvido na forma de íon H2PO4-, forma predominante em pH 4,5,

enquanto o enxofre pode ser assimilado do sulfato, sulfito ou tiossulfato. A sulfitação do caldo

no processo de fabricação de açúcar, bem como o ácido sulfúrico empregado no tratamento do

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fermento, parecem fornecer quantidade suficiente de enxofre para a levedura, pois sua

exigência desse elemento é pequena.

A Tabela 2 apresenta as concentrações dos principais nutrientes minerais para uma boa

fermentação alcoólica. Tais nutrientes podem já estar presentes no mosto, sendo

desnecessárias adições. Entretanto, podem ocorrer teores inadequados e deficiência de alguns

e concentrações excessivas de outros.

Tabela 2 – Concentrações de nutrientes minerais no mosto para se obter

adequada fermentação alcoólica.

Nutrição mineral Concentração em mg/lNutriente

mineralConcentração em mg/l

NH4+ 40 - 5900 Co++ 3,5

P 62 – 560 Co++ ** 10

K+ 700 – 800 Zn++ 0,5 – 10

Ca++ 120 Cu++ 7

Mg++ 70 – 200 Mn++ 10 – 33

SO4- 7 – 280 Mn++ * 10 (10 – 80)

Na+ 200 Fe++ 0,2

Fontes: AMORIM, 1977; *LIMA, 1953; * * LIMA, 1962

4.3. Temperatura

As leveduras são mesófilas. As temperaturas ótimas para a produção industrial de

etanol situam-se na faixa de 26 a 35ºC mas, não raramente, a temperatura nas destilarias

alcança 38ºC. Á medida que a temperatura aumenta, aumenta a velocidade da fermentação,

mas favorece a contaminação bacteriana, ao mesmo tempo que a levedura fica mais sensível à

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toxidez do etanol. Por outro lado, temperaturas elevadas permitem maior perda de etanol por

evaporação em dornas abertas. Tais aspectos justificam o controle da temperatura no processo

industrial.

4.4. pH

As fermentações se desenvolvem numa ampla faixa de valores de pH, sendo adequada

a entre 4 e 5. Os valores de pH dos mostos industriais geralmente se encontram na faixa de 4,5

a 5,5, com boa capacidade tamponante, especialmente os preparados com melaço. No processo

de fermentação com reutilização da levedura, faz-se seu tratamento com ácido sulfúrico em

pH de 2,0 a 3,2, durante aproximadamente uma hora, visando a redução da carga microbiana.

A fermentação alcoólica inicia com valores de pH baixos, finalizando com valores de 3,5 a

4,0. Fermentações conduzidas em meios mais ácidos resultam em maiores rendimentos em

etanol, pelo fato de restringir o crescimento do fermente, com a conseqüente redução da

produção de glicerol, ao mesmo tempo que reduz a contaminação bacteriana. Entretanto,

fermentações alcoólicas desenvolvem-se bem em níveis mais elevados, em substratos de alto

poder tampão, como os melaços, em pH 5,8/5,9. Os caldos de cana fermentam sem correção

da acidez, em pH natural que varia de 5,2 a 6,8. Pelo descrito, a tolerância à acidez é uma

característica importante para as leveduras industriais.

4.5. Inibidores da fermentação

O processo fermentativo pode ser inibido não só pelos seus próprios produtos, como o

etanol, como por diferentes substancias que podem fortuita ou deliberadamente estar presentes

nos mostos. Assim, alguns minerais como potássio e cálcio podem se apresentar em

quantidades excessivas, que acarretam efeitos negativos à fermentação, quando se emprega

elevada proporção de melaço. Recentemente, o alumínio foi identificado como elemento

estressante da levedura, em condições de fermentação industrial, acarretando queda simultânea

da viabilidade e dos teores de trealose da levedura.

A sulfitação do caldo de cana para sua clarificação pode resultar em melaços com

elevados teores de sulfito, que pode acarretar efeitos tóxicos à levedura, comprometendo a

fermentação, bem como aumentar a acidez do álcool obtido. Entretanto, em fermentação com

Page 15: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

elevada contaminação bacteriana pode resultar em benefício, porque ele exerce controle sobre

as bactérias.

4.6. Concentração de açúcares

Aumentando-se a concentração de açúcares, aumenta-se a velocidade de fermentação,

a produtividade e, dentro de certos limites, acarreta-se menor crescimento do fermento e

menor formação de glicerol por unidade de substrato processado. Entretanto, elevados teores

de açúcar acarretam um estresse osmótico da levedura, de tal sorte que existe, dependendo do

processo de fermentação, uma faixa de concentração considerada ideal.

4.7. Concentração de inoculo

Maiores concentrações de levedura na dorna permitem fermentações mais rápidas, com

maior produtividade e com maior controle sobre as bactérias contaminantes, alem de restringir

o crescimento da própria levedura. Por outro lado, elevado teor de levedura exige energia de

manutenção maior, isto é, maior consumo de açúcar para manter as células vivas. Como

conseqüência, resulta em maior competição pelos nutrientes do meio, minerais e vitaminas,

diminuindo a viabilidade do fermento. Daí, existir um teor ótimo de levedura na dorna,

dependendo das condições do processo industrial.

Não raro, dependendo das condições do processo, da concentração de nitrogênio

amoniacal no mosto e da taxa de recirculação do fermento, são atingidas concentrações

excessivas de levedura. A utilização de ácido benzóico mostra-se capaz de reduzir o

crescimento excessivo da levedura, ao mesmo tempo que diminui a formação de glicerol e

aumenta o rendimento da fermentação. Entretanto, devido à redução da formação do ácido

succínico pela levedura, esta não exerce ação antagônica às bactérias e, no transcorrer dos

reciclos fermentativos, inviabiliza a utilização pratica do ácido benzóico nas fermentações

correntes.

4.8. Contaminação bacteriana

Desde que a fermentação industrial, pela dimensão do processo não é conduzida em

condições de completa assepsia, a contaminação bacteriana, principalmente de Lactobacillus e

Page 16: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Bacillus, está sempre presente e, dependendo de sua intensidade, compromete o rendimento do

processo fermentativo. As altas temperaturas de fermentação favorecem a contaminação

bacteriana, o aumento do tempo de fermentação e o estresse da levedura. A contaminação

bacteriana associa-se ao aumento da formação de ácido láctico e, embora não haja uma

confirmação definitiva sobre as causas da floculação da levedura, considera-se, na industria,

que essa contaminação é o principal responsável pelo acidente da fermentação alcoólica.

4.9. Antissépticos

No Brasil não é usual esterilizarem-se os mostos nas destilarias de álcool e de

aguardente. Quando se faz a clarificação do caldo por aquecimento, há uma redução dos

microrganismos, mas não é esterilização, pois após a clarificação, o meio é resfriado e

colocado em dornas sem os cuidados necessários para manter um ambiente livre de

microrganismos. As contaminações encontram um caminho aberto. Para controlar o problema

das contaminações, aconselha-se o uso de antissépticos, capazes de criar ambiente favorável

ao desenvolvimento das leveduras e desfavorável a outros microrganismos.

Cada antisséptico atua de uma forma diferente, agindo sobre um ou mais grupos de

microrganismos. Alguns agem favoravelmente às leveduras, ao mesmo tempo que inibem

bactérias e fungos.

Os antissépticos não são largamente usados; há restrições, porque existe possibilidade

de deixarem resíduos nos destilados. Pentaclorofenol foi usado durante alguns anos nas

proporções de 0,01 a 0,05 g por litro de mosto, com bons resultados, porém seu uso hoje é

proibido. O hexaclorofeno em dose de 4mg por litro de mosto contribui para boas

fermentações. Sulfato de cobre e colofônia também são citados na literatura, como bons

antissépiticos. O ácido sulfúrico que se adiciona nos mostos em fermentação, é um

antisséptico

4.10. Antibióticos

Pela mesma razão por que se empregam os antissépiticos, usam-se antibióticos nas

fermentações industriais para produção de etanol. Sua ação esterilizante decorre de suas

propriedades bacteriostáticas. A penicilina é um bom inibidor de contaminações, como o

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emprego de 500 a 1000 U.I. por litro de mosto, observando-se apreciável aumento de

rendimento em álcool nos mostos tratados. A aplicação é econômica, não exigindo

modificações nas técnicas e nos aparelhamentos usados; as fermentações são mais puras e

regulares. Pode-se usar também cloranfenicol, tetraciclina e clorotetraciclina. A escolha do

antibiótico depende de seu custo no tratamento.

5. Matérias primas, composição e conservação

Qualquer produto que contenha açúcar ou outro carboidrato, constitui-se em matéria-

prima para obtenção de etanol. Entretanto, para que seja viável economicamente, é preciso

considerar-se seu volume de produção, o rendimento industrial e o custo de fabricação.

Há várias maneiras de classificar as matérias-primas para a produção de etanol, mas

qualquer um dos critérios que se adote deixa algo a desejar. Podem-se classificá-las em

matérias açucaradas, grupando cana, beterraba, melaços, mel-de-abelha e frutas; em matérias

amiláceas e feculentas, grupando amido de grãos, a fécula de raízes e tubérculos; e em

matérias celulósicas, incluindo palhas, madeiras, resíduos agrícolas e resíduos sulfíticos de

fábricas de papel.

Entre as matérias açucaradas, costuma-se distinguir as diretamente fermentescíveis e as

não diretamente fermentescíveis. As primeiras são os monossacarídeos existentes nos sucos de

frutas. Sua importância industrial reside na produção de etanol em bebidas como o vinho e a

cidra. As não diretamente fermentescíveis são os dissacarídeos, que fermentam após uma

hidrólise, à qual se dá o nome de inversão e que se realiza normalmente por ação de enzimas

do agente de fermentação. A sacarose é o representante mais importante dos componentes da

cana de açúcar e dos melaços. O processo de alcoolização é fácil, não exige conhecimentos

profundos e a matéria-prima que se usa nas indústrias nem sempre é pura.

As matérias amiláceas e feculentas fermentam após uma hidrólise, que se chama de

sacarificação, pela qual o amido infermentescível se transforma em açúcar fermentescível. A

alcoolização processa-se através de técnicas industriais mais complexas, em alguns casos, à

semelhança de trabalhos de laboratório.

Page 18: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

A massa de matérias celulósicas disponível é vultuosa, mas ainda não oferece, para o

País, condições econômicas para a produção de etanol. O processo de hidrólise, necessário

para sacarificar a celulose é complexo, e o teor de açúcares fermentescíveis obtenível é

inferior ao encontrado nas matérias-primas sacarinas.

A matéria-prima de importância econômica imediata para a produção do etanol

industrial são os melaços e a cana de açúcar; para a preparação de bebidas destiladas, a cana

de açúcar e as matérias amiláceas, particularmente o amido.

5.1. Composição das matérias-primas:

a) Melaços:

Denominam-se melaços os resíduos da fábrica de açúcar que não são mais utilizados

para a separação da sacarose. Eles se originam nas usinas de açúcar, pela centrifugação das

massas cozidas para a separação dos cristais de açúcar.

No Brasil, afora uma pequena percentagem oriunda da fabricação de açúcar

demeraram para a exportação, os melaços provem da fabricação de açúcar cristal branco, para

o consumo direto, após processo de industrialização, no qual clarifica-se o caldo de cana-de-

açúcar. Conforme o tipo de processamento de açúcar, pode-se ter melaço de primeira, mel rico

de primeira, mel pobre de primeira, melaço de segunda, mel rico de segunda, mel final,

também chamado de mel residual ou esgotado. O melaço que sai da usina como resíduo da

turbinagem das massas cozidas para obtenção do açúcar, que vai para a destilaria, qualquer

que seja sua composição, chama-se, no Brasil, mel final. Sua composição é de,

aproximadamente, 20% de água, 62% de açúcares, 8% de cinzas, 3% de materiais

nitrogenados e 7% de outros, como gomas e ácidos. Na fração de açúcares distinguem-se 32%

de sacarose, 14% de dextrose e 16% de levulose.

O mel final obtém-se nas usinas em proporções muito variáveis segundo o processo de

fabricação, excesso de cana de açúcar e outros fatores. Admite-se comumente, uma produção

de 25 a 40 litros por tonelada de cana consumida na indústria, mas essa proporção pode atingir

50-60 litros por fenômenos de estiagem, geadas e outros.

Page 19: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

b) Cana-de-açúcar:

O açúcar predominante é a sacarose. Os açucares redutoras compõem-se

primordialmente de glicose e frutose. Esses açúcares se encontram em proporções quase iguais

nas canas imperfeitamente maduras. À medida que avança o amadurecimento, seus teores

diminuem, podendo não ser detectados nas canas perfeitamente maduras. O teor de frutose

diminui primeiro, até desaparecer. Por influência dos fatores que influem na composição da

matéria-prima, a cana-de-açúcar pode conter: 74,5% de água, 14% de açúcares (12,5 de

sacarose, 0,9 de dextrose e 0,6 de frutose), 10% de fibras e o restante dividido entre matérias-

primas, compostos nitrogenados, ceras, pectinas e ácidos.

O caldo obtido pela moagem da cana-de-açúcar encerra entre 78 e 86% de água, 10 e

12% de sacarose, 0,1 e 2% de açúcares redutores, 0,3 e 0,5% de cinzas e entre 0,5 e 1,0% de

compostos nitrogenados. O pH do caldo varia entre 5,2 e 6,8.

A cana-de-açúcar é uma cultura plurianual, com colheita anual. De maneira geral, ela é

economicamente produtiva por três anos consecutivos. Dependendo da região e dos cuidados

agriculturais, esse período pode ser estendido. Admite-se que a média do rendimento agrícola

atinge entre 85 e 100 toneladas por hectare por ano, em grandes culturas e em condições

normais. A tonelagem da primeira colheita é a maior e decresce anualmente, até a reforma

canavial.

A proporção de caldo produzido pela moagem varia de 50 a 100% do peso da cana,

isto é, uma tonelada produz de 500 a 1.000 litros de caldo; comumente admite-se a média de

850 litros. A extração em caldo depende do preparo da cana para a moagem, número de

esmagamentos e porcentagem de embebição usada. Primordialmente depende do

processamento, se para produzir açúcar ou álccol, e do custo do balanço térmico. A embebição

extrai mais sacarose, mas dilui o caldo normal, aumenta o volume em operação e, em

conseqüência, aumenta o gasto de vapor.

Page 20: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

c) Milho:

O milho limpo, ventilado, em condições de armazenamento, apresenta-se com 9 a 15%

de água, 59 a 70% de extrativos-não-nitrogenados, 5 a 15% de material protéico, 1,5 a 8,5%

de material celulósico e 1,3 a 4% de cinzas.

d) Milho sacarino:

Durante a vigência do programa de incentivo à produção de álcool, no Brasil, após o

ano de 1979, pensou-se em utilizar como matéria-prima uma variedade de milho com reservas

de açúcares em seu colmo. O teor de sólidos totais do caldo do colmo chega a 18 o Brix, com a

presença de açúcares, sobretudo de sacarose. A redução do estímulo oficial à produção de

etanol paralisou o interesse por maiores estudos dessa matéria-prima.

e) Sorgo sacarino:

Dentre as variedades de sorgo, algumas apresentam um caldo açucarado em seu colmo,

com teores de açúcares semelhantes ao da cana-de-açúcar. Não só possui um alto teor de

açúcares fermentescíveis, como produz alta tonelagem de colmos por hectare, em um período

agrícola inferior ao da cana-de-açúcar. Entretanto o período da colheita é mais curto também,

conduzindo a problemas de utilização industria. A redução do estímulo oficial à produção de

etanol também reduziu o interesse por mais estudos dessa matéria-prima.

f) Mandioca:

As raízes frescas contém de 67 a 75% de água, de 18 a 23% de fécula e o restante

distribuído entre material protéico, celulose, graxas e cinzas. Encontram-se variedades

melhoradas, que acusam teores de amido superiores a 30%.

O volume de álcool produzido por uma tonelada de mandioca é superior ao produzido

por uma tonelada de cana-de-açúcar, porém a produtividade agrícola de mandioca não

compete com a da cana-de-açúcar. Outros fatores, como a maior dificuldade de preparação dos

mostos, e a falta de resíduo combustível, desaconselharam seu uso.

Page 21: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

g) Resíduos celulósicos:

A disponibilidade de resíduos celulósicos, representada por palhas, folhas, resíduos de

exploração madeireira e outros, despertaram o interesse para seu uso como matéria-prima para

produção de álcool. Entretanto, fatores como dificuldade de preparação de mosto, presença de

elementos tóxicos nos substratos hidrolisados de celulose, capazes de dificultar a fermentação

alcoólica, somados ao baixo rendimento em açúcares fermentescíveis (2 a 3%) e alto volume

de resíduos da destilação, reduzem, no Brasil, as possibilidades de seu emprego para a

produção de etanol.

h) Outras matérias-primas:

A literatura é rica em informações sobre matérias-primas adequadas para produção de

etanol. Arroz, centeio, cevada, milheto, trigo, batata, batata doce e tupinambo podem produzir

álcool, mas ainda não têm importância econômica no Brasil. A cevada e o arroz são usados

em cervejarias. A batata doce foi experimentada durante a vigência Proálcool.

5.2. Conservação da matéria-prima:

Na indústria faz-se um aprovisionamento de matéria-prima para um período de

operações mais ou menos longo, em depósitos próximos à destilaria. O melaço conserva-se em

reservatórios fechados de chapas de ferro, com capacidade compatível com a produção da

destilaria.

O volume aproximado de armazenamento de melaço calcula-se pela fórmula

V = TCD . MTC. FS, (1.1)

em que V é o volume, em litros; TCD as toneladas de cana moídas por dia; MTC o volume de

melaço em litros, produzido por tonelada decana, variável entre 30 e40; e FS o fator de

segurança, representado por 30 dias de produção no mínimo.

Deve-se colher e moer a cana-de-açúcar o mais rápido possível, sendo ideal cortar e

moer no mesmo dia. Admitem-se até três dias de conservação para as canas colhidas sem

queimar. As que são queimadas antes de colher, para eliminar a palha, têm período de

Page 22: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

conservação mais curto. Quanto mais dilatado for o tempo entre corte e moagem, maiores são

os riscos de deterioração física, química, enzimática ou microbiana, que prejudicam a

fermentação futura do caldo, rendimento e qualidade do produto.

O milho pode-se conservar por longo período, para utilizar durante todo o ano. A

produção agrícola restringe-se a um período, mas as indústrias trabalham por muitos meses,

até todo o ano.

Consegue-se a conservação do cereal pelo controle das condições sanitárias e das

condições climáticas. As primeiras relacionam-se com presença de insetos e microrganismos,

que combatem por substâncias que afungentam os insetos, que os matam, e as que matam os

esporos de fungos. Os fatores climáticos controlam-se por dessecação até a umidade máxima

de 15%. O armazenamento faz-se em silos de diversos tipos, que permitem o controle da

umidade e temperatura.

5.3. Preparação dos meios:

As matérias-primas adequadas à fabricação do etanol, fornecem amido, glicose e

mistura de sacarose, glicose e frutose. No Brasil produz-se pequena porção de álcool de milho,

pra bebidas e mínima quantidade de álcool vínico. A quase totalidade do álcool industrial

produz-se com cana-de-açúcar e melaço, que contêm predominância de sacarose em mistura

com dextrose e levulose.

Os mostos , ou seja, os substratos açucarados que se obtêm dessas matérias-primas,

requerem preparação prévia adequada, de acordo com suas características, antes de passarem

aos recipientes de fermentação, ou dornas.

O preparo dos mostos nas destilarias faz-se em dependências que contam com tanques

de medição, balanças, diluidores mecânicos, depósitos de sais minerais e de anticépticos,

aquecedores ou resfriadores, medidores de ácido e outros acessórios.

Preparo dos mostos de melaço: Diluindo-se convenientemente com água, o melaço

constitui o mosto. Entre nós, não se faz diluição com vinhaça para produção de álcool

industrial, recomendando-se essa prática para as fábricas de rum. A diluição faz-se de modo

intermitente ou contínuo, em misturadores especiais. Dos dois tipos, os contínuos são os de

Page 23: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

pior desempenho no ajuste das concentrações, pois os melaços têm ar ocluso, diferentes

viscosidades e temperaturas que dificultam seu escoamento uniforme. Apesar disso, são muito

difundidos. As concentrações dos mostos, nas destilarias brasileiras, são comumente expressas

em graus Brix, diluindo-se os melaços para graduação entre 15 e 25ºBrix, com médias de 18-

20ºBrix.

Mostos muito diluídos fermentam mais rapidamente e sujam menos os aparelhos de

destilação, mas exigem maior volume útil de dornas, mais consumo de vapor, maior espaço

nas salas de fermentação, mais mão-de-obra, maior consumo de água de diluição, exigem um

período maior de safra e favorecem as infecções, além de outros inconvenientes. Por outro

lado, os muito concentrados ocasionam maiores perdas em açúcares infermentados, maior

temperatura durante a fermentação, sujam mais os aparelhos de destilação e outros

inconvenientes, ao lado das vantagens de diluírem o período de safra e diminuírem a exigência

em volume de dornas de fermentação.

Preparo do mosto de caldo de cana de açúcar: O caldo que se obtém do

esmagamento das canas nas moendas, misturando com água de embebição, é rico em sacarose

e em açúcares redutores e está convenientemente diluído para sofrer a fermentação alcoólica.

Eventualmente, pode-se diluir mais.

Em instalações mais requintadas, que trabalham o caldo diretamente, faz-se aquecimento,

decantação e filtração do caldo para precipitação e separação de colóides, gomas e materiais

nitrogenados. O caldo nessas condições torna-se um mosto mais limpo, fermenta melhor,

espuma menos e suja menos as colunas de destilação. Resfria-se o caldo e envia-se às dornas.

Esse sistema é de uso limitado no Brasil.

Preparação dos mostos de materiais amiláceos: É necessário sacarificar os

amiláceos (grãos) e feculentos (raízes e tubérculos), porque os agentes de fermentação

alcoólica não possuem enzimas amilolíticas. A sacarificação é o processo de transformação do

amido ou fécula em açúcares fermentescíveis. Realiza-se por via química, biológica ou por

ação direta de enzimas, mas as destilarias comumente usam a via biológica.

A sacarificação faz-se por ação enzimática do malte ou pela ação microbiana de certos

fungos no processo Amilo.

Page 24: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

5.4. Sacarificação do malte

Preparo do malte: Malte é um cereal germinado em condições especiais de umidade,

temperatura e aeração. Durante a germinação ocorrem modificações físicas, bioquímicas e

químicas no cereal, causadas por fenômenos vitais. Caracterizam-se, respectivamente, pela

germinação do embrião, secreção de enzimas e transformações que elas ocasionam. Tais como

a solubilização do amido, difusão, absorção e dissolução das substâncias solubilizadas.

Nas cervejarias e fábricas de uísque prepara-se o malte com cevada. Nas destilarias de

álcool usa-se malte do próprio milho. A maltagem, embora seja uma operação complexa,

esquematiza-se como segue.

a) Limpeza e classificação dos grãos em peneiras, ventiladores, aparelhos magnéticos e

classificadores.

b) Maceração, para propiciar adequadas condições de umidade. Procede-se em cubas

próprias, com água limpa a 10-120 C, na proporção de uma parte de grãos para três de

água, renovando-se o líquido a cada 8-12 h e promovendo-se o arejamento da cuba a

cada renovação de água , para ativar a respiração dos grãos e acelerar a germinação. A

maceração a baixa temperatura é mais lenta, mas conduz a uma germinação mais

homogênea; a operação finda-se quando os grãos tiverem absorvido água

correspondente a 40-50% de seu peso, o que se dá em 40-60 h para a cevada e 60-70 h

para o milho.

c) Germinação, que é a operação final, na qual controlam-s permanentemente o

fornecimento de ar, a umidade e a temperatura, de 150 C, aproximadamente. Durante

essa etapa ativa-se uma série de enzimas, das quais a amilofosfatase, a amilopectinase,

a -amilase e a -amilase desempenham papel importante na sacarificação. A maltase

é outra enzima que desdobra a maltose formada em duas moléculas de glicose.

A germinação industrial faz-se em salões próprios ou em germinadores, nos quais faz-se

uma periódica movimentação do cereal, para evitar acúmulo de dióxido de carbono, elevação

de temperatura e dessecação dos grãos.

Page 25: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Interrompe-se a germinação quando as gêmulas dimensões de ¾ do comprimento do grão,

momento que coincide com o máximo poder sacarificante. Daí parte para a preparação do leite

de malte ou para a secagem do material maltado em secadores especiais, para sua conservação

prolongada. O malte verde tem maior poder sacarificante, mas conserva-se mais dificilmente.

Sacarificação: Para que se possa fazer reagir as enzimas sobre o material amiláceo, é

necessário que este se encontre sob forma de goma, ou como se costuma dizer, geleificado.

Pra isso os grãos passam por uma série de operações que inicia por uma pesagem e prossegue

com moagem, hidratação e cozimento.

Do armazenamento encaminha-se a matéria-prima para moinhos, onde é fragmentada

em pedaços de 3-4 mm, evitando-se um maior fracionamento para não dificultar a operação

posterior de cozimento. A seguir, faz-se a hidratação com água acidulada de pH 4,5-5,0, a 55 a

650 C, até a absorção de 40-50%, o que se consegue em 13-15 h. Passa –se o material

hidratado para os cozedores, onde se procede ao máximo de desagregação do produto, na

forma coloidal de goma. Para facilitar a solubilização das matérias protéicas e o cozimento do

amido ou da fécula, opera-se sob pressão de 3 atm, aproximadamente, e em presença de

solução de ácido clorídrico de pH 5,5, com adição de 200-300 litros de água por 100 Kg de

grãos hidratados. O tempo de cozimento, assim como a pressão e a temperatura, varia de

acordo com a natureza do amido, podendo-se estabelecer 3 h como parâmetro indicativo.

Após a obtenção da goma está-se em condições de proceder à sacarificação,

colocando-se em contato com o malte. Pela ação das enzimas amilolíticas dos grãos

germinados produz-se maltose, dissacarídeo diretamente fermentescível e dextrinas, não

fermentescíveis. A relação maltose-dextrinas varia por influência da concentração de amido no

produto que se deseja sacarificar, concentração de enzimas sacarificantes, duração da ação

enzimática, reação do meio e temperatura. Os três primeiros fatores são econômico-limitantes.

A reação do meio favorável é pH 5,5-5,7 e a temperatura mais conveniente para obtenção de

maior porcentagem de maltose situa-se entre 40 e 600 C. Após o cozimento resfria-se a massa,

adicionam-se de 7 a 15% de leite de malte e mantém-se o conjunto sob agitação e temperatura

constantes por 1h, aproximadamente. Eleva-se a temperatura lentamente para 650 C, resfria-se

para 28-300 C, efetua-se a correção do mosto e envia-se às dornas para fermentar.

Page 26: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Sacarificação por ação microbiana: Usam-se nesse processo fungos com propriedades

amilolíticas. Por meio deles, com técnica e assepsia apuradas, transforma-se economicamente

o amido em açúcares fermentescíveis. As espécies que mais usam são Amylomyces rouxii,

Aspergillus oryzae, Chlamydomucor oryzae, Rhizopus japonicus e Mucor delemar.

Comumente se associa o fungo com uma levedura que realize a fermentação alcoólica

dos açúcares, de preferência leveduras puras e selecionadas.

Preparo do inoculo: Prepara-se um meio com 20 g de material amiláceo em 1 litro de

água, autoclava-se a 2 atm por 20 mim, resfria-se e inocula-se com uma suspensão de esporos.

Incuba-se por 3- dias a 35-380 C, obtendo-se um inoculo para 100 mil litros de mosto.

Preparo do mosto: Prepara-se uma goma de amido de maneira semelhante à que se

descreveu e descarrega-se a massa fluida para a autoclave intermediária, onde se adiciona água

até obter-se densidade de 1,06 a 1,08. Esteriliza-se e passa-se às dornas de capacidades

variáveis, providas de agitação mecânica, injeção de água, ar estéril e vapor, termômetros,

manômetros, sistema de refrigeração, funil de inoculação, purgador de dióxido de carbono e

outros acessórios. Resfria-se o mosto e inocula-se com o fungo.

Após 24 h de agitação e injeção de ar, o fungo desenvolveu-se perfeitamente e o mosto

estará sacarificado, tendo o amido se transformado em maltose e glicose. Então, faz-se a

inoculação da levedura à temperatura de 30-320 C.

Após 40 h da inoculação do fungo, tem-se um substrato com 9 a 12% de açúcares, que

se desdobram pela ação da levedura em um tempo total de 72 a 96 h. Após a fermentação,

separa-se o álcool em colunas de destilação especiais, pois o substrato fermentado é muito

espesso.

Em geral as fases do processo fermentativo são:

Preparação dos substratos: As matérias-primas de interesse nacional destinada à fabricação do

álcool fornecem glicose, mistura de sacarose, glicose e levulose, e outras fornecem o amido.

Os substratos açucarados ou mostos que se obtêm dessas matérias-primas requerem uma

preparação prévia adequada, de acordo com suas características para passarem aos recipientes

de fermentação ou dornas.

Page 27: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

O preparo dos mostos nas destilarias faz-se em seções que constam de tanques de

medição, balanças, diluidores mecânicos, depósitos de sais minerais e de anti-sépticos,

aquecedores ou refrigerantes, medidores de ácido e outros acessórios.

Preparo de mostos de melaço: Diluindo-se convenientemente com água, o melaço constitui o

mosto. Entre nós, não se faz diluição com vinhaça para produção de álcool industrial,

recomendando-se essa prática para as fábricas de rum. A diluição faz-se de modo intermitente

ou contínuo, em misturadores especiais. Dos dois tipos, os contínuos são os de pior

desempenho no ajuste das concentrações, pois os melaços têm ar acluso, diferentes

viscosidades e temperaturas que dificultam seu escoamento uniforme. Apesar disso, são muito

difundidos. As concentrações dos mostos, nas destilarias brasileiras, são comumente expressas

em graus Brix, diluindo-se os melaços para graduação entre 15 e 25 ºBrix, com médias de 18-

20 ºBrix.

Mostos muito diluídos fermentam mais rapidamente e sujam menos os aparelhos de

destilação, mas exigem maior volume útil de dornas, mais consumo de vapor, maior espaço

nas salas de fermentação, mais mão-de-obra, maior consumo de água de diluição, exigem um

período maior de safra e favorecem as infecções, além de outros inconvenientes. Por outro

lado, os muito concentrados ocasionam maiores perdas em açúcares fermentados, maior

temperatura durante a fermentação, sujam mais os aparelhos de destilação e outros

inconvenientes, ao lado das vantagens de diminuírem o período de safra e diminuírem a

exigência em volume de dornas de fermentação.

Correção dos mostos: Conhecendo-se as propriedades biológicas das leveduras e suas

exigências nutricionais, torna-se simples fazer o tratamento dos mostos para obter

fermentações regulares, homogêneas e puras. Os mostos para obtenção de cerveja não se

corrigem. Para vinho, admite-se a adição de anidrido sulfuroso. Para as fermentações para a

porção de álcool em destilarias, a correção depende da natureza dos mostos. Os substratos de

origem amilácea, pela sua própria preparação, sofrem esterilização e, quanto ao mais,

usualmente se adicionam fosfatos, mais comumente o superfosfato em sua fração solúvel na

proporção de 1g por litro de substrato. Se necessário, corrige-se a acidez com ácido sulfúrico.

Para substrato de melaço, normalmente faz-se apenas a diluição. Em casos especiais,

adicionam-se fosfatos e sais de amônio na proporção de 1g por litro de mosto.

Page 28: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Quando se trabalha com caldo de cana direto, faz-se uma correção mais cuidadosa para

oferecer à levedura condições de nutrição que normalmente não se encontram no caldo.

Juntam-se fosfatos, sais de amônio e vitaminas. Após a correção, os substratos podem ser

inoculados e inicia-se o processo de produção do etanol.

Preparo do inoculo: Nas pequenas cantinas e nas pequenas destilarias de aguardente,

comumente usam-se os microrganismos selvagens, que acompanham os caldos. Nas

instalações de grande capacidade, usam-se leveduras selecionadas com tolerância a altos

teores de etanol e com boa velocidade de fermentação. Usam-se também, em grande escala,

quiçá maior que as leveduras selecionadas, as leveduras de panificação, prensadas e secas.

Quando se parte de tubos de culturas selecionadas, procedentes de instituições

especializadas, prepara-se o inoculo com a inoculação subseqüente de volumes de substrato

em quantidades e concentrações crescentes, na proporção de 1:5 ou 1:10, até atingir o volume

útil de fermentação da indústria. Nesse tipo de preparo do inoculo, ilustrado na figura 1

distingue-se uma etapa de laboratório e outra industrial. Na primeira, parte-se de um tubo de

cultura, inoculam-se 100 ml de um substrato com 5 ºBrix, corrigido e esterilizado. Após o

perfeito desenvolvimento, passa-se para 500 ml a 7 ºBrix, preparado como anteriormente, e

assim por diante, até atingir um volume suficiente para inocular aparelhos de cultura pura na

indústria, em concentrações que não ultrapasse 13 ºBrix. Estes são fermentadores providos de

dispositivos de esterilização, arejamento, inoculação, tomada de amostras, refrigeração,

aquecimento e outros acessórios. São proporcionais ao volume das dornas principais de

fermentação, geralmente fornecendo a elas 10% de seu volume total.

Page 29: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Figura 1 – Esquema da preparação do inóculo

Tão logo se mistura o inoculo ao mosto corrigido, inicia-se o processo de fermentação

alcoólica dos açúcares fermentescíveis, nele contidos. Embora não se possam estabelecer, com

rigidez, os limites de separação entre as fases, pode-se distinguir, numa fermentação alcoólica,

uma fase preliminar, uma fase tumultuosa e uma fase final ou complementar.

A fase preliminar (fase lag) inicia-se no momento do contato do levedo com o mosto.

Caracteriza-se por multiplicação celular intensa, pequena elevação de temperatura e pequeno

desprendimento de dióxido de carbono. Nessa fase, garante-se a produção de grande

quantidade de células de poder-fermento máximo, o que se consegue em temperatura baixa e

mosto convenientemente preparado. Sua duração é de 4 a 6 horas e varia de acordo com o

sistema de fermentação que se usa na destilaria.

A fase tumultuosa caracteriza-se pelo desprendimento volumoso e intenso de dióxido

de carbono, conseqüência da existência de um número suficiente de células para desdobrar os

açúcares fermentescíveis do mosto. A temperatura eleva-se rapidamente, a densidade do

mosto reduz-se e elevam-se a percentagem de álcool e acidez. O substrato agita-se como em

Page 30: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

ebulição. Os inconvenientes da elevação exagerada de temperatura corrigem-se com

refrigeração. O desprendimento de dióxido de carbono é evidente. O aspecto da espuma difere

para cada raça de levedura e para cada tipo de substrato. No caldo de cana não-clarificado, é

espessa, viscosa e volumosa. A ponto de transbordar em dornas abertas. Ao contrário das

fermentações de substrato de melaço, não reagem bem á adição de antiespumantes comumente

usados na indústria de álcool. Nos mostos de melaço, com óleo vegetal misturado com ácido

mineral, as espumas cedem com facilidade. A fase tumultuosa ou principal dura de 12 a 16

horas.

A fase complementar, que leva de 4 a 6 horas para se complementar, caracteriza-se

pela diminuição da intensidade do desprendimento do dióxido de carbono, maior tranqüilidade

no liquido e diminuição da temperatura. Nessa fase, a concentração de açúcares chega ao fim.

Embora se note aumento da proporção dos álcoois superiores do começo ao fim da

fermentação alcoólica, acredita-se que, na fase complementar, esse aumento seja mais notável,

por motivos vários.

Gráfico de Consumo e Produção:

6. Verificação prática da pureza das fermentações

A fermentação alcoólica industrial é um processo fermentativo rústico, que certas

vezes se processa em condições tecnicamente adversas. Canas cortadas a muitos dias, secas,

infeccionadas com diversos tipos de microorganismos, mostos sujos de terra, são fatos muito

mais comuns em uma destilaria do que se possa pensar. A rusticidade do processo se deve,

inegavelmente, à capacidade biológica das leveduras, bastanto que se lhe dêem condições de

Page 31: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

concentração adequada, nutrientes e alguns desinfetantes, para que o processo se desenvolva

satisfatoriamente. Entretanto, as contaminações apresentam-se com freqüência, prejudicando o

rendimento econômico. Esse inconveniente contorna-se com supervisão constante, para evitar

ou suprimir as infecções. O controle das fermentações faz-se por tópicos, conforme se discute

a seguir.

Tempo de fermentação: Nos processos fermentativos descontínuos, a medida de sua duração

média varia de acordo com a forma como se conta o tempo, se ao entrar o mosto em contato

com o inóculo ou após encher as dornas. O tempo é mais curto em mostos de melaço e de

caldo de cana e mais longos nos mostos de amiláceos. Fixando-se os tempos médios gastos em

uma destilaria, de acordo com os procedimentos técnicos que se adotam, uma alteração para

mais ou para menos, é um sinal de importância relevante na observação da fermentação.

Odor da fermentação : O aroma das fermentações puras é penetrante, ativo, e tende para odor

de frutas maduras. Cheiro ácido, a ranço, ácido sulfídrico e outros, indica irregularidade.

Aspecto da espuma: Embora varie com a natureza do mosto, temperatura e raça da levedura, a

espuma apresenta-se com aspecto típico e característico, nas mesmas condições de

fermentação. Alterações nessas características indicam irregularidade.

Drosófilas: Infalivelmente, quando há infecção acética, aparecem “moscas do vinagre” em

número proporcional à contaminação.

Temperatura: Já se viu que durante as fases da fermentação a temperatura varia. Nota-se que a

temperatura de um mosto aumenta no decorrer do processo, tendo-se que usar dispositivos de

refrigeração para mantê-la nos níveis adequados até o final. Alterações importantes na curva

de temperatura, do início ao final da fermentação, são um indício de possíveis defeitos.

Densidade do mosto: Durante a fermentação a densidade do mosto decresce segundo uma

curva condizente com as fases da fermentação. De sua observação percebem-se as alterações

da marcha fermentativa.

Açúcares no mosto: Consomem-se de acordo com a curva da densidade. A irregularidade no

consumo indica defeitos na fermentação.

Page 32: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Acidez no substrato em fermentação: Do começo ao final da fermentação nota-se um

acréscimo na acidez titulável. Não deve haver grande diferença entre a final e a inicial.

Quando a acidez final for maior que o dobro da inicial é sinal de má fermentação.

7. Importância dos nutrientes

As leveduras, organismos saprófitas, exigem uma fonte de carbono elaborada – glicose

ou outros açúcares – que fornecem a energia química e o esqueleto carbônico de suas

estruturas celulares, constituídas predominantemente de carbono, oxigênio e hidrogênio.

Algumas vitaminas, como tiamina e acido pantotênico, também são exigidas. O meio

deve, igualmente, fornecer nitrogênio, fósforo, enxofre, potássio, magnésio, cálcio, zinco,

manganês, cobre, ferro, cobalto, iodo e outros elementos em quantidades diminutas.

A levedura Saccaromyces cerevisiae utiliza o nitrogênio nas formas amoniacal,

amídica ou amínica, não tendo habilidade metabólica para aproveitar o nitrato e com

pouquíssima ou nenhuma capacidade de utilizar as proteínas do meio.

O fósforo é absorvido na forma de íon H2PO4 - forma predominante em pH 4,5,

enquanto o enxofre pode ser assimilado do sulfato, sulfito ou tiossulfato. A sulfitação do caldo

no processo de fabricação de açúcar, bem como o ácido sulfúrico empregado no tratamento do

fermento, parecem fornecer quantidade suficiente de enxofre para a levedura, pois sua

exigência desse elemento é pequena.

A Tabela 3 apresenta as concentrações dos principais nutrientes minerais para uma boa

fermentação alcoólica. Tais nutrientes podem já estar presentes no mosto, sendo desnecessário

adição. Entretanto, podem ocorrer teores inadequados e deficientes de alguns e concentrações

excessivas de outros (BORZANI, et al., 2001).

Page 33: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Tabela 3 - Concentrações de nutrientes minerais no mosto para se obter adequada

fermentação alcoólica.

Nutrição

Mineral

Concentração

(mg/L)

Nutrição

mineral

Concentração

(mg/L)

NH4+ 40 – 5900 Co2

+ 3.5

P 62 – 560 Co2+** 10

K+ 700 – 800 Zn2+ 0.5 – 10

Ca2+ 120 Cu2

+ 7

Mg2+ 70 – 200 Mn2

+ 10 – 33

SO4- 7 – 280 Mn2

+* 10 (10 – 80)

Na+ 200 Fe2+ 0.2

Fonte: AMORIM,1977, *LIMA,1953, **LIMA, 1962

8. Sistemas de fermentação

Há processos descontínuos e contínuos; os contínuos são relativamente recentes,

embora seu uso industrial tenha se iniciado na década de 1940. Embora tenha-se ensaiado usar

processo de fermentação contínua anteriormente, o interesse pelo seu uso despertou após o

estímulo à produção de etanol decorrente da crise econômica causada pela alta dos preços do

petróleo na década de 1970.

Nos processos descontínuos distinguem-se quatro tipos de fermentação industrial, que

se denominam de sistema de cortes, sistema de reaproveitamento do inóculo (ou de “pé de

cuba”), sistema com culturas puras e sistemas de recuperação de leveduras, também

denominado de reciclagem ou de reciclo de leveduras.

Page 34: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Sistema de cortes. Depois que se faz a primeira fermentação, divide-se o volume de

mosto fermentado por dois recipientes, completa-se os dois e deixa-se fermentar. Um envia-se

para a destilaria e o outro serve para produzir o inóculo (ou “pé”) para mais dois, e assim por

diante.

Sistema de reaproveitamento do inóculo. Após a fermentação deixam-se decantar as

leveduras, retira-se o substrato fermentado para a destilação, trata-se o inóculo precipitado no

fundo da dorna, ao qual se denomina de pé-de-cuba, e se realimenta com novo mosto.

Sistema de cultura pura. Denomina-se também de sistema clássico de fermentação, no

qual parte-se de um tubo de cultura pura para cada ciclo de fermentação, seguindo-se todas as

fases de preparo do inóculo, nas etapas de laboratório e industrial, até às dornas de

fermentação, nas quais se juntam o inóculo e o mosto. É uma técnica trabalhosa, que não se

usa a não ser em trabalhos experimentais. Nesse sistema não ocorre o problema de

substituição de linhagens.

Sistema de recuperação de leveduras. Nesse sistema, posto em prática nos meados da

década de 1930 e amplamente usado no Brasil, após a fermentação passa-se todo o vinho por

centrífugas, nas quais se separa um líquido espesso, com a aparência de um creme, que recebe

a denominação de creme ou de leite de leveduras. Esse leite, que corresponde de 10 a 20% do

volume da dorna, envia-se para purificação em um tanque onde dilui-se com mesmo volume

de água e coloca-se em agitação por 3 a 4h, após o tratamento com ácido sulfúrico até pH 2,2

a 3.2. depois do tratamento envia-se o leite tratado para outra dorna, na qual reinicia-se nova

fermentação após realimentação com novo mosto.

Com o sistema de reaproveitamento de inóculo, por muito tempo usado nas destilarias

de aguardente, e com o sistema de recuperação de células, reduz-se muito o tempo de

fermentação, porque diminui substancialmente a fase inicial. Nesses sistemas coloca-se o

substrato em contato com uma elevada concentração de leveduras (3x109 cél/L, ou mais), que

permite que se entre rapidamente na fase tumultuosa do processo fermentativo, com vantagens

econômicas.

Page 35: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Em cada um desses sistemas variam os métodos de alimentação dos inóculos e de

enchimento das dornas, de acordo com a orientação técnica, disponibilidade de dornas,

processo descontínuo ou contínuo e outros fatores de cada instalação.

9. Fermentação alcoólica contínua

A fermentação contínua, faz-se, em sua forma mais simples, alimentando uma dorna

com fluxo contínuo de meio em uma determinada concentração, retirando-se dela, de forma

contínua, o vinho que se encaminha para a destilação ou para as dornas de espera, onde

termina o processo e daí para a destilaria. A Figura 2 esquematiza alguns sistemas de

fermentação contínua, nos quais as salas de fermentação tradicionais de fermentação

descontínua podem transformar-se.

As modificações nas salas de fermentação das destilarias de álcool iniciaram-se com a

adaptação das instalações de fermentação existentes. Instalaram-se ligações entre as dornas

que trabalhavam de forma intermitente, por carga e descarga, de modo que o mosto em

fermentação repasse da primeira à última da série de recipientes. O mosto em fermentação saía

pela base de uma dorna e entrava lateralmente na seguinte, continuamente até a última, de

onde seguia para a destilaria. A alimentação de mosto fazia-se na primeira ou nas duas

primeira dornas, e a circulação de uma para outra dorna por vasos comunicantes ou por meio

de bombas. Em algumas instalações recolhia-se o mosto fermentado da última dorna em

dornas de espera, onde terminava a redução dos açúcares fermentescíveis e dali conduzia-se

para a destilaria. A recuperação das leveduras fazia-se para a renovação do lêvedo e

reinoculação nas primeiras dornas onde se fazia a entrada de mosto.

Na literatura estrangeira destacam-se os trabalhos iniciais de ALZOLA e MARILLER.

Posteriormente a tecnologia evoluiu, passando-se a construir instalações de

fermentação especialmente projetadas para fermentação contínua. Inicialmente projetaram-se

equipamentos para a fermentação alcoólica de melaços de beterraba e de cana-de-açúcar. Para

o trabalho com cana-de-açúcar, faz-se necessário clarifica-lo.

Page 36: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

No Brasil, dois pesquisadores, MATOS e BORZANI, se preocuparam em estudar a

fermentação contínua, principalmente o último, que deu origem a gerações de pesquisadores

na área.

Depois que se estabeleceu o Proálcool, os fabricantes de álcool brasileiros

demonstraram interesse pelos processos contínuos e instalaram algumas destilarias com

aparelhos de fermentação dotados de apenas um fermentador, ao mesmo tempo em que

fizeram-se adaptações em destilarias existentes, providas do sistema convencional de

fermentação descontínua. Dentre as inovações tecnológicas surgiu o processo Biostil, patente

sueco-brasileira, no qual, além da fermentação contínua se conseguiu uma redução do volume

de vinhaça, pois usava-se o resíduo da destilaria dos mostos. Além de processo contínuo, é um

sistema que fermenta mostos com alta pressão osmótica.

Figura 2 – Esquemas de instalações de fermentação por processo contínuo

Os esquemas da Figura 2 representam as instalações de fermentação por sistema

contínuo, como desenvolvidas originalmente:

Page 37: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

a) Desenho 1→ Todas a dornas ligadas entre si, como se fora uma única, do fundo de

uma à metade da seguinte. As primeiras recebem a alimentação e as demais operam como de

fermentação final;

b) Desenho 2 → Dornas divididas em dois grupos: dornas ligadas pelo fundo para

fermentação principal e, as demais, pelo fundo de uma e metade da altura da subseqüente, para

a fermentação final;

c) Desenho 3 → Dornas divididas em dois grupos: dornas ligadas pelo fundo e pelo

meio, para fermentação principal e as demais, de espera, para fermentação final.

d) Desenho 4 → Processo Amatos: dois fermentadores principais alimentados por

baixo e um decantador para fermentação final. O processo não é perfeitamente contínuo. Na

realidade, os dois fermentam independentemente e descarregam o vinho para o decantador,

alternadamente, assim que a fermentação no seu corpo estiver terminada. A fermentação é

muito rápida, porque o volume de inóculo ocupa praticamente a metade do volume útil de

cada fermentador. A descarga faz-se intermitentemente para o decantador.

Processo Biostil: Esse projeto, patenteado pelas indústrias Alfa-Laval e hoje

controlado pela Nobel Chematur, foi introduzido no Brasil pela Construtora de Destilarias

Dedini, S/A – CODISTIL. O projeto, representado esquematicamente na Figura 3, além da

continuidade do processo fermentativo, alia a fermentação em meio de alta pressão osmótica.

Com o retorno de vinhaça para auxiliar na diluição do melaço, o processo apresenta uma

vantagem adicional, que é a de reduzir sensivelmente o volume de vinhaça que se obtém da

destilação. O volume reduz-se de 10 litros (número médio geral) de vinhaça por litro de

álcool, para volume da ordem de 2 litros por litro de álcool.

Page 38: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Figura 3 – Esquema de funcionamento do processo Biostil

Em resumo, o processo inicia-se com uma levedura do gênero Schizosaccharomyces,

tolerante a alta pressão osmótica. O inóculo é colocado em contato com o mosto, preparado

com melaço ou xarope de cana-de-açúcar em um único fermentador, provido de agitação e de

uma fraca aeração, para garantir a multiplicação da levedura. Á medida que o processo se

desenvolve, o mosto em fermentação tem sua temperatura continuamente controlada pelo

trocador de calor Tvi. O vinho VI é continuamente centrifugado; o leite de leveduras retorna ao

fermentador único e o vinho deslevedurado Vi encaminha-se à coluna de destilação através do

trocador Tvn, onde se aquece refrigerando a vinhaça VR que vai ao fermentador, no qual dilui o

melaço ou xarope. Na coluna de destilação é retirado o álcool de cabeça Ac e na coluna de

retificação o etanol ET. Na base da coluna de destilação escoa a vinhaça residual VN.

Esse processo, de alto desempenho, não está sendo amplamente usado no Brasil,

porque é mais adequado ao trabalho com meios de melaço e de xarope e, atualmente as

destilarias brasileiras trabalham principalmente com caldo e com mosto misto.

10. Salas de fermentação

Denominam-se salas de fermentação as construções onde se abrigam as dornas abertas

ou fechadas, as centrífugas, os pré-fermentadores, os tanques de tratamento do fermento e

outros equipamentos ligados ao processo de fermentação.

Page 39: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Sua construção se faz segundo preceitos técnicos e de engenharia, variáveis para cada

região, de acordo com as condições de clima, de forma que se obtenha sempre o máximo de

higiene, controle de temperatura, iluminação e ventilação adequadas e escoamento de

resíduos.

Devem-se fazer construções suficientemente amplas para que o equipamento se instale

com espaços livres à volta, permitindo acesso fácil para assepsia, reparos, substituições e

modificações.

Com o aumento da capacidade de produção das destilarias, modificou-se o conceito de

sala de fermentação. Para destilarias que produzem mais de 1.000 m3 de etanol por dia,

projetam-se instalações para trabalhar com dornas fechadas, instaladas a céu aberto.

As construções fechadas abrigam equipamento mais sensível e todo o sistema de

automação, que não se encontra em grande parte das destilarias.

11. Recipientes de fermentação

No Brasil, trabalha-se com dornas abertas e fechadas, construídas de aço-carbono,

cilíndricas, com altura igual a duas vezes o diâmetro, em média.

O controle da temperatura de fermentação faz-se por meio de trocadores de calor de

placas, que eventualmente podem servir como aquecedores do mosto em fermentação.

O volume dos recipientes de fermentação varia; tecnicamente recomenda-se que seja

harmônico com a capacidade dos destiladores. Na prática, considera-se conveniente que

tenham a capacidade de duas a duas vezes e meia a capacidade horária de destilação.

Com base na riqueza alcoólica dos vinhos (7 a 9%), torna-se fácil calcular o volume

total de recipientes de fermentação e o volume de cada um. Este varia em função do sistema

de fermentação que se adota. Para simplificar, admite-se um volume total na proporção de

1:12, isto é, 1 volume de álcool para 12 volumes úteis de dornas. Nos sistemas clássico e de

cortes, a relação é de 1:24. No sistema contínuo calcula-se o volume em função do fluxo

horário de vinho a destilar e da eficiência do processo.

Page 40: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

As dornas distribuem-se e assentam-se de forma a permitir o acesso fácil aos registros

e a toda sua volta para reparos, substituições, modificações e higiene.

12. Destilação

A destilação é uma operação pela qual um líquido, por efeito de aquecimento, passa

para a fase gasosa e, em seguida, volta ao estado líquido por meio de resfriamento. Quando se

trata de uma única substância, o líquido destilado tem a mesma composição do líquido

original. Quando se trata da ocorrência conjunta de líquidos imiscíveis, o destilado encerra o

líquido que tem ponto de ebulição mais baixo. No caso de líquidos perfeitamente miscíveis, os

vapores destilados se compõem de uma mistura de vapores dos dois, com predominância

daquele de menos volatilidade. Com uma série de destilações é possível separar os dois

líquidos em estado de pureza, desde que não se forme mistura azeotrópica. Denomina-se

azeotropismo ao fenômeno que ocorre numa mistura de líquidos, em uma determinada

concentração, na qual se formam vapores com todos os componentes, em um ponto de

ebulição inferior ao de qualquer um dos integrantes da mistura. Nessa concentração não é

possível separar os componentes por destilação.

Durante a destilação dos vinhos, para a obtenção do álcool, há a formação de mistura

azeotrópica, que impede a obtenção do etanol puro apenas pela destilação.

Após a fermentação, os meios açucarados passam a denominar-se vinhos, com uma

constituição variável, mas encerrando sempre substâncias gasosas, sólidas e líquidas. As

primeiras representam-se principalmente pelo dióxido de carbono, que se dissolve em pequena

proporção. Os sólidos se fazem presentes pelas células das leveduras alcoólicas, de bactérias

contaminantes, sais minerais, açúcares infermentados e impurezas sólidas em suspensão.

Os líquidos mais importantes são a água e o etanol, em porcentagens que variam de 88

a 93% e 12 a 7%, respectivamente, nos vinhos comuns. Os álcoois amílico, isoamílico,

propílico, butílico, isobutílico, aldeídos, ácidos, furfurol, ésteres e ácidos orgânicos constituem

outra parcela de líquidos de pequena importância em relação ao volume, mas grande efeito na

qualidade dos destilados, sobretudo no caso de aguardentes, nas quais se denominam de

impurezas voláteis. A glicerina também se forma durante a fermentação.

Page 41: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Desse material impuro e heterogêneo separa-se o etanol por destilação, em grau de

pureza e concentração variáveis. Nessa operação geram-se vapores de álcool e água, que

depois de resfriados formam um líquido de concentração superior a do vinho, e isento de

substâncias sólidas.

Em relação à maneira de conduzi-la, a destilação classifica-se em intermitente e

contínua. A primeira realiza-se em alambique e se restringe a pequenas destilarias de

aguardente ou de bebidas alcoólicas de vinhos.

Toda a produção de álcool realiza-se em sistema contínuo. As destilarias de aguardente

que, para serem econômicas, devem trabalhar com produções superiores a 2.000 litros por

hora, operam com aparelhos contínuos.

Há uma diferença entre as colunas de destilação para aguardentes e as para a produção

de flegma industrial, ou seja, o destilado que, a seguir, se submeterá à nova destilação, para

purificação e concentração do álcool. Este se obtém em colunas que se denominam de alto

grau.

As aguardentes são misturas hidroalcoólicas, com uma percentagem de álcool ao redor

de 50%, com aroma e sabor (buquê) característicos, que dependem das impurezas voláteis (já

citadas), que acompanham o destilado e que fazem parte da fração líquida dos vinhos,

juntamente com a água e o etanol. Obtêm-se em colunas de baixo grau.

12.1. Destilação descontínua

Quando se realiza uma destilação intermitente, faz-se uma carga no aparelho, esgota-se

o vinho de seu componente álcool por aquecimento, evaporação, condensação e refrigeração,

descarrega-se o resíduo ou vinhaça, faz-se nova carga, e assim por diante. Esse tipo de

destilação realiza-se em alambiques simples, de um só corpo ou em aparelhos de dois e três

corpos, nos quais gasta-se menos calor, porque recupera-se parte dele fazendo a condensação

dos vapores destilados com o líquido que se destilará na próxima carga e, em conseqüência,

estará preaquecido para nova operação.

Quando se executa uma destilação descontínua, realiza-se uma destilação simples,

vaporizando-se primeiro as substâncias mais voláteis do que a água e o álcool. O primeiro

Page 42: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

destilado é uma mistura de água, etanol, bases voláteis, aldeídos e ácidos e denomina-se, na

prática, destilado de cabeça. Depois de sua separação, os vinhos emitem vapores mais ricos

em etanol, com menos quantidade de impurezas voláteis e chamado destilado de coração.

Finalmente, quando já quase se esgotou o etanol do vinho, passam vapores mais

impuros, que se constituem de etanol, água e impurezas menos voláteis, como os álcoois

superiores. É o destilado de cauda.

O destilado que se recolhe como produto final da destilação é uma mistura de produtos

de cabeça, de coração e de cauda, ou apenas destilação de coração, separando-se de 10 a 20%

do total, conforme o destino do destilado.

No Brasil, não se separam cabeças e caudas na produção de aguardente. A aguardente é

um destilado de 50% de álcool em volume, aproximadamente. As primeiras porções do

destilado contém mais de 60% de álcool em volume; à medida que a destilação continua,

enfraquece-se o destilado, que é recolhido quando atinge concentração de 40 a 50%. No vinho

que resta no aparelho de destilação ainda existe uma pequena porção de álcool que se perde

na vinhaça. Para não perdê-la, continua-se a destilar até não haver mais álcool e recolhe-se o

destilado à parte, com a denominação de água fraca. A água-fraca junta-se à carga seguinte

para recuperar-se o álcool que contém. Os aparelhos de dois e três corpos evitam essa perda,

ao mesmo tempo que recuperam calor na operação, como já se explicou. Em outros países, as

técnicas de destilação simples são diferentes. Em alguns casos, destila-se o vinho até eliminar

todo o álcool e redestila-se o líquido de baixa concentração de álcool, separando-se as frações

e recolhendo-se um destilado de alta concentração, com 60% ou mais de álcool, para o preparo

de bebidas, para envelhecimento ou outra finalidade.

12.2. Destilação contínua

Realiza-se em colunas de destilação, fazendo-se a alimentação contínua do aparelho com

vinho, retirando-se continuamente a vinhaça pela base e o destilado no topo.

A separação dos componentes secundários, que se constituem de todas as substâncias

que não o etanol, faz-se pelo topo do aparelho, pela base, ou lateralmente em alturas

determinadas, segundo a natureza das impurezas.

Page 43: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

As colunas de destilação constituem-se de gomos cilíndricos superpostos, contendo

separações transversais às quais se dá o nome de pratos ou bandejas. Os gomos e as bandejas

formam como que uma série de aparelhos de destilação simples, superpostos, um destilando

seus vapores para o outro, para cima, através de calotas, e recebendo o líquido residual do

imediatamente superior, descendo por meio de tubos, que recebem a designação de

O aquecimento das colunas faz-se pela base, de forma direta, por injeção de vapor d

´água por meio de tubos perfurados, ou indiretamente por meio de serpentinas ou trocadores

de calor.

O aquecimento das bandejas faz-se pelo calor dos vapores do vinho que ascendem na

coluna. Esses vapores, emitidos por uma mistura de etanol e água, são mais ricos em álcool

que o vinho. Condensando-se no prato imediatamente superior, enriquecem o vinho ali contido

e o aquecem à ebulição, gerando vapores mais ricos, e assim por diante. A temperatura da

coluna diminui da base para o topo, ao mesmo tempo que a riqueza alcoólica aumenta na

mesma direção.

Os vapores que saem na parte superior da coluna dirigem-se para um condensador, no

qual passa vinho frio, continuamente em seu caminho para o topo da coluna de destilação.

Nesse condensador os vapores alcoólicos condensam-se e transferem calor para o vinho. Daí,

a sua denominação de preaquecedor de vinho, ou de "esquenta-vinho". O condensado se

divide em duas partes, uma que volta à coluna e outra que segue para o resfriador,

equipamento da coluna que resfria o destilado por circulação de água. Daí, para fora do

circuito. O retorno de parte do destilado à coluna é denominado de refluxo, retrogradação ou

deflegmação, cuja função é auxiliar a manter vapores ricos em álcool na cabeça da coluna.

Se se faz a alimentação da coluna pelo topo, os vapores que ali se emitem não são muito

concentrados e a coluna é denominada de baixo grau. Se a alimentação faz-se pela altura

média do aparelho, divide-se a coluna em dois troncos: um de esgotamento, abaixo da

alimentação, e outro de concentração, acima da alimentação. A coluna chama-se de alto grau,

os vapores são mais ricos em etanol, e geralmente mais puros.

Numa coluna de destilação, a graduação alcoólica maior ou menor obtém-se em função

do número de pratos superpostos. Um número maior eleva mais a concentração alcoólica dos

Page 44: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

vapores.

Numa coluna de baixo grau emitem-se vapores de concentração relativamente baixa, e

normalmente recolhem-se depois de condensados, sob a forma de mistura com as impurezas

voláteis de cabeça. As impurezas de cauda eliminam-se parcialmente pela base, na vinhaça.

Nas colunas de alto grau, normalmente se retiram os produtos de cabeça do

condensador deflegmador, e o destilado, ou flegma, parcialmente purificada, retira-se

lateralmente do tronco de concentração. As impurezas de cauda eliminam-se parcialmente nas

vinhaças, as quais descarregam-se continuamente na base, por meio de sifão. Este, regula a

permanência de líquido na base da coluna, para receber o aquecimento e gerar vapores para

aquecer o vinho na primeira bandeja.

13. Retificação

Da destilação dos vinhos obtém-se o flegma, que é um líquido alcoólico mais rico do que o

líquido que o originou, mas em estado impuro. A retificação é a operação pela qual separa-se o

álcool das impurezas que o acompanham no flegma. Freqüentemente confunde-se retificação

com concentração, porque trabalha-se com flegma de concentração alcoólica média, que se

eleva durante a retificação. Ao mesmo tempo em que se concentra o líquido alcoólico, faz-se

sua purificação.

As impurezas voláteis, mesmo em mínimas quantidades porcentuais causam grande

efeito, comunicando características tais que o álcool não se presta à fabricação de licores,

perfumes e outros usos industriais.

As substâncias impurificantes têm ponto de ebulição inferior ou superior a do álcool e,

segundo essa característica, separam-se como produtos de cabeça ou de cauda. O ponto de

ebulição não é, entretanto, condição suficiente para a separação por destilação fracionada,

porque nos aparelhos de destilação formam-se misturas azeotrópicas com a água e o etanol e

entre as próprias impurezas, de forma que produtos de ponto de ebulição mais alto podem vir a

se constituir em produto de cabeça.

Os autores clássicos do estudo da retificação do álcool etí1ico são Sorel e Barbet, que

atribuíam a separação das impurezas à solubilidade no álcool concentrado e quente. Uma

Page 45: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

impureza seria de cabeça, se sua proporção na mistura, em relação à de álcool absoluto (100%

de etanol) do mesmo líquido alcoólico, fosse maior que 1 e seria de cauda se a proporção fosse

menor que 1. Modernamente se explica a retificação pela formação de misturas azeotrópicas.

13.1. Prática da retificação industrial

Atualmente faz-se apenas retificação industrial contínua, em aparelhos que possuem

colunas que se denominam depuradora, destiladora, retificadora e de repasse final. A Figura 4

esquematiza um conjunto de aparelhos para retificação a partir do vinho.

Figura 4 – Esquema de instalação de destilação e desidratação de álcool,

usando benzol como arrastador

Na coluna depuradora A não há um tronco de concentração. É basicamente uma coluna

de baixo grau, com poucos pratos. Obtém-se baixa concentração alcoólica no destilado, com o

máximo de eliminação de produtos de cabeça. De acordo com Barbet, o coeficiente de

solubilidade é sempre maior do que um. Separam-se, nessa coluna aldeídos, ésteres, bases

voláteis e ácidos. Na coluna B, destiladora, obtém-se flegma parcialmente purificado na

coluna A. A coluna destiladora pode também possuir um tronco de esgotamento e um de

concentração, tirando-se o destilado lateralmente, como na coluna A da Figura 5. No topo

Page 46: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

separam-se substâncias de cabeça e, com a retrogradação constante, outras impurezas

concentram-se na base, com coeficiente de solubilidade Barbet menor que um.

Figura 5 – Esquema de uma coluna de retificação direta do vinho

Na retificadora (coluna C da Figura 5), o flegma com 40 a 50% de álcool em volume,

aproximadamente, penetra na parte inferior e, com destilações sucessivas em mais de quarenta

bandejas, aumenta a graduação alcoólica até o topo. Com as deflegmações constantes,

acumula-se na base grande quantidade de impurezas de menor volatilidade, as quais se retiram

lateralmente nas faixas de concentração de 40 a 50% e de 55 a 65% de álcool em volume.

Separam-se em um decantador, sob a forma de mistura de diversas substâncias, com o nome

de óleo fúsel, na qual predominam os álcoois amílico e butílico. Não se fazendo a separação

lateral, a concentração eleva-se muito e o produto que era de cauda ascende na coluna,

podendo passar a ser de cabeça. .

Fazendo-se uma retirada lateral na zona de concentração de 90 a 92% de álcool etí1ico

em volume, pode-se separar uma fração de impurezas constituídas por ésteres pesados, como

isovalerianatos e isobutiratos.

Na coluna de repasse final (D na Figura 5), devido à máxima concentração de etanol que

Page 47: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

se pode obter por destilação, acumulam-se no topo impurezas de coeficiente de solubilidade

maior que 1. O álcool eh1ico puro retira-se na base como cauda, e as impurezas como cabeças,

no topo. Na prática, pode-se substituir a coluna de repasse final por uma extração lateral no

topo da retificadora, em local correspondente a 4 ou 5 bandejas abaixo da cabeça da coluna.

Não se consegue fazer purificação completa do álcool eh1ico pela retificação, por

influência de vários fatores como, por exemplo, marcha imperfeita da operação, dificuldade de

separar as cabeças por excesso de deflegmação em separar as caudas, variação da temperatura,

pureza das fermentações, oscilações na composição dos vinhos, reações químicas de

esterificação, combinação e decomposição. Para produzir álcool retificado mais puro, usa-se

neutralizar o álcool com solução alcoólica alcalina, evitando-se uma alcalinização excessiva,

que pode conduzir a prejuízos, favorecendo a decomposição de aminas e sais amoniacais.

Na retificação há sempre perdas de álcool, variáveis com diversos fatores, alguns dos

quais retrocitados.

14. Desidratação do etanol

Não se pode, apenas por destilação, obter álcool eb1ico com concentração superior a

97,2% em volume (95,6% em peso), porque, nessa concentração, a mistura de etanol e água é

azeotrópica.

Os processos industriais para desidratação classificam-se em químicos e físicos. Os

primeiros baseiam-se no emprego de substâncias químicas, como óxido de cálcio, acetato de

sódio, carbonato de potássio e outros, que são capazes de absorver a água do etanol retificado

no estado de vapor ou líquido.

Os processos físicos baseiam-se na variação da pressão, destilação de mistura

hiperazeotrópica obtida por processos químicos, absorção de vapores usando corpos sólidos,

atmólise, destilação em presença de um terceiro corpo e uso de absorventes regeneráveis, que

fracionam a mistura azeotrópica pela absorção de água ou de álcool e na separação do etanol

por membranas, denominadas de peneiras moleculares. A maioria das destilarias ainda usa o

processo de arrastamento do álcool em presença de uma terceira substância volátil, motivo

porque permanece a sua descrição relativamente detalhada.

Page 48: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

14.1. Processo de desidratação com uso de arrastadores

Nesse processo, introduz-se uma terceira substância capaz de formar mistura azeotrópica

com a água e o etanol, de ponto de ebulição inferior ao da mistura azeotrópica binária.

Adicionando-se a uma mistura homogênea uma terceira substância insolúvel num dos

dois componentes, provoca-se a separação de dois estratos. Adicionando,e benzol à mistura de

água e etanol, separam-se camadas de água-álcool e de benzol-álcool.

Submetendo-se à destilação uma mistura de líquidos mutuamente insolúveis, a

temperatura de ebulição é inferior a dos dois componentes, porque a tensão dos vapores

resultantes é a soma das tensões parciais para qualquer proporção das substâncias.

A mistura de 91,7 partes de benzol e de 8,13 partes de água ferve a 69,25°C, enquanto

que o ponto de ebulição do benzol puro é 80,2°C e o da água 100°C, ao nível do mar.

Enquanto houver ebulição, a temperatura e a composição dos vapores permanecem constantes.

Isso explica porque consegue-se separar a água de uma 1Ístura hidroalcoólica com o auxílio de

um corpo transportador.

Adicionando-se 50% de benzol, em peso, à mistura etanol-água com 95% de benzol em

volume durante a destilação, consegue-se o arraste da mistura ternária benzol-etanol-água

(74,1-18,5-7,4) a 64,85°C, à formação de mistura azeotrópica binária benzol-etanol (67,74-

32,26) a 68,24°C e a destilação do álcool anidro (ou absoluto) a 78,35°C.

Podem-se aconselhar como arrastadores, benzol, ciclohexano, tricloroetileno, formiato de

etila e o cloreto de butila e suas misturas. Os transportadores escolhem - se de acordo com a

facilidade de obtenção, preço, a capacidade de arrastamento de álcool e a facilidade de

recuperação. No Brasil comumente usa-se o benzol como arrastador.

A Figura 4 esquematiza a desidratação com uso de benzol como arrastador. O vinho pré-

aquece no condensador de refluxo V e entra no topo da coluna destiladora A. O flegma passa

lateralmente para a retificadora B e, sob a forma de álcool a 96 % aproximadamente, passa à

coluna C. Aí adiciona-se benzol, criando-se três zonas no interior: uma de mistura ternária

benzol-etanol-água (64,85°C), outra de benzol-etanol (68,24°C) e outra de etanol desidratado

(78,35°C). A mistura ternária passa para o decantador N, através do condensador M. No

Page 49: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

decantador N mistura-se com água, separando-se dois estratos. A camada superior, rica em

benzol, retorna ao topo de C; a inferior, rica em etanol, passa à coluna E. Aí, separa-se a

mistura ternária que vai condensar em M.

Na base de E retira-se uma mistura binária água-etanol, que passa à retificador a D, de

onde retorna álcool retificado à coluna C, através do condensador o. Na base de D elimina-se

água. Na base de C recolhe-se álcool desidratado, com aproximadamente 99,9% de álcool em

volume (99,84% em peso).

Atualmente no Brasil o benzol, que é cancerígeno, está sendo gradualmente substituído

pelo ciclohexano. A descrição do processo é semelhante a do benzol, com a formação de

misturas azeotrópicas ternárias e binárias, com diferenças de temperatura de ebulição, mas de

comportamento semelhante quanto às decantações operações de separação.

14.2. Processo de absorvente regenerável

Durante a destilação, introduz-se um líquido ávido de água, que a absorve do álcool. O

absorvente regenera-se por processos físicos, sem grandes perdas.

A primeira destilaria de álcool anidro que se instalou no Brasil (da Société des Sucreries

Brésiliennes, em Piracicaba, Sp, em 1929) trabalhava por esse processo, conhecido

comumente por processo Mariller (nome do inventor), ou processo da glicerina. Usam-se

como absorventes, glicóis, glicerina e solução de carbonato de potássio em glicerol,

absorvente mais enérgico que a glicerina pura. Com essa técnica obtém-se etanol com 99,9 %

e até 100 % de álcool em volume.

A solução glicerinosa de carbonato de potássio prepara-se com técnica especial,

dissolvendo-se o carbonato de potássio em água, juntando-se a glicerina, e depois

desidratando-se a solução sob vácuo, a menos de 170°C.

14.3. Processo de separação por meio de peneiras moleculares

Com esta denominação está sendo introduzida uma técnica de desidratação do álcool

eh1ico retificado, por passagem dos vapores de álcool entre camadas de resinas capazes de

reter as moléculas de água. Esse processo é mais rápido do que os que usam arrastadores ou

Page 50: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

substâncias absorventes e mais eficiente. Trata-se de uma patente de Hunt/Phoenix,

introduzida pela Construtora de Destilarias Dedini S/A - Codistil. Em descrição sumária, o

processo de desidratação começa introduzindo-se álcool retificado (Alre) em colunas cheias

com resinas próprias (Figura 6). A resina (zeólito) retém as moléculas de água e deixa passar o

etanol com 99,9% de pureza (Alan). O etanol é introduzido nas colunas de resina, sob a forma

de vapor em alta temperatura. Nas destilarias em que se obtém álcool retificado frio, faz-se seu

aquecimento a 175°C (com vapor a 180°C) em aquecedor vertical tubular, antes de passá-lo

pelas colunas de resina. Aí faz-se a retenção da água, e os vapores alcoólicos, que saem por

baixo, seguem para condensadores e refrigerantes.

Figura 6 – Esquema de desidratação com peneiras moleculares

No Brasil, a produção de álcool é feita em um período determinado do ano e as colunas

de resina ficam paradas por outro período, sujeitas a corrosão. Para evitar isso as primeiras

colunas foram construídas de aço inoxidável, ao contrário dm detentores da patente, que

empregam aço carbono, de custo menor.

Nos Estados Unidos são empregadas em destilarias de álcool de milho, normalmente

menos impuro do que o de cana-de-açúcar, e produzido continuamente durante todo o ano,

com menos risco de corrosão.

Page 51: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Para contornar esse inconveniente, a Codistil passou a construir as colunas com aço

carbono, que na entressafra são secas e cheias com nitrogênio, gás inerte, que evita a corrosão.

A utilização de aço carbono reduz em muito o preço do equipamento e, em

conseqüência, o custo do etanol.

Após a safra as colunas mantém-se cheias com a a resina. Ela tem longa duração e são

pequenas as perdas durante o processo. Nos Estados Unidos sua duração é acima de 8 anos.

No Brasil ainda não se tem dados suficientes, mas é possível afirmar que será longa também.

Numa usina que já adotou essa técnica, a perda atingiu 1%, aproximadamente. Para uma

instalação que produz 600 m3 de álcool diariamente, a reposição de resina na safra foi 1

tonelada, para uma carga inicial de 115 toneladas.

O processo de desidratação, com uso de peneiras moleculares, traz a vantagem de

produzir álcool anidro sem resíduos de benzol.

15. Dados da produção de açúcar e de álcool.

O gráfico 1 mostra a evolução da produção a partir de 1975. Até 1985, a produção de

álcool cresceu consideravelmente, impulsionada pelo Pro-Álcool,  enquanto que a de açúcar

estacionou. A queda do preço do petróleo, em meados da década de 80, levou à estagnação da

produção de álcool combustível, somente rompida a partir dos primeiros anos noventa, quando

também cresceu a produção de açúcar, efeitos aparentemente relacionados com a fase

ascendente do Plano Real.

Os dados de produção estão em unidades de anidro equivalente, reduzindo-se o álcool

hidratado pelo fator 0,93 correspondente ao teor alcoólico médio do álcool combustível. A

coexistência dos dois tipos será analisada no item que trata do motor a álcool.

Page 52: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Gráfico 1 – Produção de cana, açúcar e álcool.

A evolução da produção não foi meramente quantitativa, pois os indicadores de

produtividade, vistos no gráfico 2, mostram expressivos ganhos de eficiência.

Gráfico 2 – Produtividade.

Page 53: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

 Os ganhos de produtividade refletem-se no custo de produção, mostrado no gráfico 3,

elaborado a partir de dados obtidos em relatório da UNICA.

Gráfico 3 – Evolução do custo de produção do álcool combustível.

O principal objetivo deste estudo é a avaliação de limites de produtividade, a começar

pela produtividade em t.ART/t cana,  função do trato agrícola (por sua vez, função dos preços

da cana, dos insumos, da demanda de álcool, etc...), da variedade de cana utilizada e da

disponibilidade de água, medida aqui pela precipitação pluvial de cada ano, pois a irrigação

não é prática corrente no Setor. Na tentativa de avaliar, ainda que grosseiramente, o efeito da

disponibilidade de água, elaborou-se o gráfico 3 que retrata as variações de quantidade de

chuvas e as correspondentes variações de teor de ART (no ano seguinte).

Page 54: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

Gráfico 4 – Produtividade em ART versus disponibilidade de água.

Observa-se razoável concordância entre os extremos de chuva e os de produtividade

em ART, parecendo que as exceções, notadamente as 77/78,  80/81 e  93/94, em que os

indicadores variaram em sentidos opostos, são explicáveis pelas variações excepcionais da

demanda de álcool verificadas nesses períodos.

Gráfico 5.

A disponibilidade de água afeta a produtividade da lavoura na forma mostrada no

gráfico 4, vendo-se que essa correlação é mais fraca do que a da  produtividade em ART

(gráfico 3). A falta de correlação clara entre a disponibilidade de água e a produtividade da

Page 55: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

lavoura dificulta a projeção desta produtividade segundo a metodologia descrita em Nota

Técnica anterior. No caso, o ajuste dos dados à equação diferencial logística apresentou

coeficiente de correlação sofrível, como mostra o gráfico 5.

Gráfico 6.

Produtividade da lavoura: Com base no ajuste mostrado, estimou-se em 120 t / ha.ano a

produtividade-limite da lavoura de cana, havendo, pois, espaço para ganhos neste parâmetro.

Todavia, a inspeção da curva de produtividade, vista no gráfico 6, onde a equação escrita na

legenda corresponde à curva ajustada, não coincide  com a que seria esperada (logística),

sugerindo que os fatores externos ao sistema, principalmente os estímulos ao uso do álcool

combustível, são fortes  determinantes da produtividade, pois condicionam a renovação da

lavoura e o uso de fertilizantes e de defensivos. Os três patamares vistos no gráfico

correspondem respectivamente à introdução da mistura gasolina-álcool anidro (1975), à

entrada do álcool hidratado (1980) e ao aumento do teor de anidro na mistura com a gasolina

(1988).

Page 56: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

   

Gráfico 7.

Produtividade industrial: A produtividade industrial deveria partir da massa de ART/t cana

necessária para obter-se uma unidade de álcool anidro (m3). Entretanto, fomos informados de

que o teor de ART tem sido calculado, na compra de cana, através da quantidade de açúcar ou

de álcool produzida a partir de 1 t de cana, ou seja, o teor de ART não é medido diretamente.

Com esta limitação, preferiu-se calcular o volume de álcool correspondente a 1 t de

cana.                 

Gráfico 8 – Evolução da produtividade industrial.

Page 57: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

  A análise sugere haver espaço para o crescimento da produtividade industrial, pois o

valor máximo previsto (gráfico 7) é de cerca de 113 L/t cana, enquanto que o valor alcançado

em 1999 é de 75 l/t. Estudo recente da UNICA (União das Indústrias Canavieiras de S. Paulo)

sobre o potencial de co-geração menciona a produtividade de 83 L/t. Possíveis ganhos viriam,

a nosso ver,  da irrigação da lavoura e da melhor extração dos ART. Todavia,  não

conhecemos estudos de viabilidade econômica  dos aperfeiçoamentos possíveis. Uma fonte do

Setor  menciona, como empecilho à irrigação, a taxação da água para fins industriais,

recentemente introduzida no Brasil.

16. Conclusão

Com todos os dados pesquisados podemos verifcar que a produção de álcool

combustível apresentou considerável aumento, acompanhado de importantes ganhos de

produtividade.  O estudo mostra que o Setor tem respondido positivamente aos estímulos

externos, tanto os governamentais, agora escassos, como os provenientes do mercado de

combustíveis. O custo de produção tem diminuído sistematicamente, fato marcante no

mercado de energia, no qual quase todos os custos são crescentes.

  O estudo mostra haver ainda espaço para o aumento da produtividade da lavoura e da

indústria que poderá fazer baixar ainda mais o custo. Acreditamos que a definição de uma

política energética clara e permanente, que leve em consideração os efeitos do uso do álcool

sobre a geração de empregos, o balanço de comércio exterior, o desenvolvimento tecnológico,

o abatimento do carbono atmosférico e a possibilidade da co-geração, seja suficiente para

firmar a posição do álcool na matriz energética brasileira. 

A capacitação desenvolvida no Brasil para produzir, distribuir e entender os impactos

do uso do etanol na economia é hoje admirada em todo o mundo.

Grandes empresas e governos estrangeiros se debruçam em estudos sobre o etanol para

tentar viabilizar a sua produção em outros países.

O Brasil tem interesse estratégico na abertura de novos mercados para o etanol, na

disseminação do seu uso como combustível, e na transferência remunerada de sua tecnologia.

Isso porque o etanol é a única alternativa viável para substituir parcialmente derivados de

Page 58: Eng Bioquímica - Produção de Etanol

petróleo nas próximas décadas, considerando a aceitabilidade pelo consumidor e aspectos

estratégicos. 

17. Referências Bibliográficas

http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab99/alcool/fermentacao.htm, acesso em 15

de novembro de 2005.

http://ecen.com/eee34/limites_alcool.htm, acesso em 30 de outubro de 2005.

www.bndes.gov.br/conhecimento/ seminario/alcool_discussao.pdf, acesso em 30 de outubro de 2005.

http://www.ufv.br/dbg/trab2002/MELHOR/MHR004.htm, acesso em 30 de outubro de 2005.

http://hiq.aga.com.br/international/web/lg/br/likelgspgbr.nsf/DocByAlias/anal_gaschrom,

acesso em 15 de novembro de 2005.

BORZANI, et al. Biotecnologia Industrial 1ª edição. Vol.3. Editora Edgard Blucher LTDA.

São Paulo. SP páginas 1- 39.

CECCHI, H. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. 2ª edição revisada.

Editora Unicamp. Campinas SP. Páginas 164-167.