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www.impactus.org Setembro | Outubro 2008 N.º 12 ISSN 1646-0030 | Mensal 5 euros opinião internacional: FAO, World Food Programme, World Bank, IMF, EU Nuclear, renováveis e efIciência energética - Entrevista: Pedro Sampaio Nunes e Nuno Ribeiro da Silva Global Green - Empresa Portuguesa galardoada com o prémio EUBIA da Associação Europeia de Indústria de Biomassa Energia das ondas: um Futuro de Portugal - Frank Neumann, Centro de Energia das Ondas energias alternativas e o crescimento da população mundial: fome ou desenvolvimento económico?

Energias renováveis

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www.impactus.org Setembro | Outubro 2008 N.º 12IS

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opinião internacional: FAO, World Food Programme, World Bank, IMF, EUNuclear, renováveis e efIciência energética - Entrevista: Pedro Sampaio Nunes e Nuno Ribeiro da SilvaGlobal Green - Empresa Portuguesa galardoada com o prémio EUBIA da Associação Europeia de Indústria de BiomassaEnergia das ondas: um Futuro de Portugal - Frank Neumann, Centro de Energia das Ondas

energias alternativas e o crescimento da população mundial: fome ou desenvolvimento económico?

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Editorial J. Delgado Domingos

Sumário

Apoio Institucional

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Editorial

Directores Sofia SantosRita Almeida Dias

Director de Desenvolvimento de NegóciosBruno CachaçoSustentare, LdaAv. Eng.º Duarte Pacheco – Amoreiras – Torre 2, piso 8 sala 71070-102 LISBOA – PORTUGALTel.: (00351)213849390 \ Fax.: (00351)213849399

Conselho EditorialAntónio Nogueira LeiteCharles BuchananCarlos BorregoClara Cidade LainsConstança PenedaFernando M. S. CarvalhoFernando Ribeiro MendesFrancisco de la Fuente SánchezJoão CarvalhoJoão ReisJoão SoaresJoanaz de MeloJorge Rocha de MatosJosé Delgado DomingosJosé Eduardo MartinsLuís LealMário Melo RochaPaulo Ferrão

Parceiros InternacionaisCSR China, GreenBiz, CSR-news, GreenLeaf Publisher, Acquisti & Sostenibilitá, Responsible Investor, Lisboa E-nova, EcoCasa, Portal das Energias Renováveis. Participação externa nesta ediçãoJosé Delgado Domingos, Maria Kadlecikova, Donald O. Mitchell, Manuel Aranda da Silva, Felix Fisher, Ferran Tarradellas, Michael Hopkins, Nuno Ribeiro da Silva, Francisco Ferreira, Brandão Pinto, Pedro Sampaio Nunes, Frank Neumann, Paulo Caetano, Ashok Hansraj, Agostinho Miguel, João Saraiva, João Dinis. Design/ Paginação e Ilustração de capaRita [email protected]

Tradução/RevisãoJoão Inácio

FotografIaRita Botelho, Wave Energy Centre, Ashok Hansraj

Marketing,Pulicidade e AssinaturasTel.: (00351)213849390 Fax.: (00351)[email protected]

ImpressãoFernandes & Terceiro, Lda

Tiragem1000 copiesISSN 1646-0030Legal Deposit Reference number 210016/04 PropriedadeSustentare, Lda

Im))pactus é propriedade da Sustentare - Uma empresa portuguesa especializada em consultoria, com um conselho editorial independente que disponibiliza a participação da sociedade civil.

Energia e Produção Alimentar no Mundo

Maria Kadlecikova

Manuel Aranda da Silva

Donald O. Mitchell

Felix Fisher

Ferran Tarradellas

Michael Hopkins

EfIciência Energética - referências

DesafIos da Energia - Visão Portuguesa Agostinho Miguel and João Saraiva

Pedro Sampaio Nunes

Nuno Ribeiro da Silva

Paulo Caetano

Francisco Ferreira

Cascais Energia

Álvaro Brandão Pinto

REPORTAGEM- Global Green

Frank Neumann

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Editorial

J. Delgado DomingosProfessor Catedrático no IST, membro

do Conselho Editorial da Im))pactus

No âmbito dos debates públicos sobre a adesão à CEE, a revista “Vida Rural” convidou-me, em 1986, para escrever um artigo que foi publicado sob o título de “Energia, Agricultura e a CEE”, no qual alertava para as consequências de não ponderar devidamente as implicações do custo e da disponibilidade da energia na reconversão da agricultura portuguesa aos paradigmas da PAC então vigente. As questões “Energia, Produção de Alimentos e Sistema Alimentar” tinham já sido por mim abordadas em 1978 e muitos outros trabalhos se lhe seguiram no Instituto Superior Técnico [1] sobre a situação portuguesa. Se o refiro é apenas para sublinhar que a actual crise alimentar (e as que irão seguir-se...) é uma inevitável consequência do modo como se estruturou e difundiu o sistema alimentar nos países desenvolvidos. A população mundial é hoje sete vezes superior à que existia há cerca de dois séculos e continua a crescer. Tal foi possível pela utilização crescente dos combustíveis fósseis, sobretudo do petróleo, mas tal sucesso tornou-a também criticamente dependente do seu custo. Sucede também que a generalização deste sistema de produção e distribuição de alimentos aos países emergentes, associado ao aumento da população mundial, fisicamente incompatível, a prazo, com os recursos disponíveis sobretudo de petróleo e gás natural. Em termos simples e genéricos, este tipo de estrutura origina o consumo anual de cerca de 800 kg de petróleo (ou equivalente em energia) para alimentar cada habitante. Enquanto fonte primária de energia, o petróleo poderá vir a ser substituído por outras fontes. Todavia, o petróleo é também uma matéria-prima fundamental na produção de fertilizantes, herbicidas, fungicidas e tantos outros produtos indispensáveis para o funcionamento do sistema alimentar (industrial) tal como o conhecemos e no qual se podem genericamente identificar três sectores fundamentais: a exploração agrária, o processamento e transporte da sua produção, e o consumo final.

Na exploração agrícola, são sobretudo importantes os consumos originados a montante na produção dos fertilizantes. Acresce,

geralmente em menor grau, o consumo directo em máquinas agrícolas (incluindo equipamentos de bombagem). No seu conjunto representam, todavia, a menor parcela do custo total em energia despendida para ter os alimentos na mesa do consumidor. A título indicativo, valores recentes para Portugal e na Lezíria do Tejo [2]variam entre os 0.14 Tep/ton (girassol) e os 0.08 Tep/ton (milho). Tendo em conta as taxas de conversão em proteína animal, os tep/ton de carne são muito superiores (e variam acentuadamente com o animal considerado). Uma dieta rica em proteína animal é por isso muito mais sensível ao custo da energia do que uma dieta vegetariana. O modo como a subida do preço do petróleo se reflecte no custo em euros sofre consideráveis distorções relativamente aos factores puramente físicos devido às políticas fiscais e de subsídios que vigoram nos diferentes países. Retenha-se, todavia, que o efeito da subida do custo da energia é diferido no tempo consoante o sector em causa e só reflecte de imediato os custos directos. Por exemplo, o efeito indirecto através dos fertilizantes só surgirá na próxima cultura e o da maquinaria utilizada só quando ela for substituída o que ocorrerá, em média, apenas uns anos depois.

O facto de a menor parcela do custo em energia ser na exploração agrícola, põe em realce as outras parcelas, e nelas o transporte, no que é comum a muitas outras actividades e remete para o problema básico do ordenamento do território e da espacialização das actividades económicas.

Clarificada a influência directa e indirecta do preço do petróleo no custo dos produtos alimentares é necessário ter em conta o efeito de outros factores explicativos da crise actual, uns puramente conjunturais, outros estruturais. Na crise actual, há certamente movimentos especulativos, que exploram e amplificam desequilíbrios de mercado. Em termos de mercado, verificou-se nos últimos anos uma acentuada procura de cereais e de produtos destinados a rações

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animais, provocada pela alteração da dieta alimentar de muitos milhões de consumidores nas economias emergentes, associada a um aumento do nível de vida, sobretudo na China, que se traduziu, nomeadamente, no crescente aumento do consumo de carne. Este aumento não foi acompanhado pelo aumento correspondente da produção e traduziu-se na redução dos stocks mundiais de cereais seguidamente agravada por quebras de produção devidas a situações climatéricas desfavoráveis. Neste contexto, o crescente desvio de cereais para a produção de biocombustíveis foi sumariamente apontada como a principal responsável, mas sem justificação convincente, na situação actual, salvo em casos pontuais.

Em si mesma, a produção de biocombustíveis raramente se poderá justificar em termos puramente energéticos ou ambientais, salvo no caso de aproveitamento de resíduos e mesmo então tendo em conta que a sua matéria orgânica não retornará ao solo, onde contribuiria para manter a sua fertilidade. Como combustível de substituição nos transportes, o seu contributo será sempre marginal, em termos globais. Na maioria das vezes, a sua sustentabilidade económica é artificial pois depende inteiramente de subsídios directos ou indirectos, nomeadamente de natureza fiscal. Acresce que, a vir a expandir-se, irá inevitavelmente competir, como já sucede, com terrenos necessários para produção alimentar. Politicas fiscais e de subsídios, como as da PAC no passado, podem inspirar o fomento dos biocombustiveis para escoar excedentes na produção agrícola, mas tal irracionalidade económica, ditada por motivos políticos, é insustentável a prazo.

O fomento dos biocombustíveis, pelo menos a nível europeu, tem o seu quê de análogo com a energia nuclear, subitamente na agenda política a pretexto da subida no preço do petróleo e da dependência externa. O absurdo do pretexto reside no facto de a energia nuclear só servir para a produção de electricidade e de a utilização do petróleo ser residual na produção de electricidade. A nível europeu e mundial

(tal como em Portugal), a produção de electricidade é feita sobretudo com base no carvão. Como as reservas de carvão existentes são ainda enormes e geograficamente dispersas, a segurança do abastecimento e as reservas existentes são um não problema, pelo que os pretextos invocados não convencem apesar da cruzada contra o carvão inspirada na quase religião das alterações climáticas. Em rigor, a questão central não está na oferta de energia mas na sua procura, incluindo o tipo e origem geográfica dos alimentos. Mas actuar sobre esta vai contra a cultura vigente e os hábitos estabelecidos. Felizmente ainda existem recursos em combustíveis fósseis em quantidade suficiente para que seja possível uma transição para novas formas de organização económica e social que preservem e expandam o melhor que nos trouxe a civilização actual. A procura de energia que hoje temos não é sustentável e a subida dos preços é um aviso muito sério. Seguindo-se aos avisos do primeiro e segundos choques petrolíferos, este será porventura o último aviso antes do esgotamento físico das reservas de combustíveis. Por isso é preferível encarar desde já e a sério o problema da energia no seu multifacetado conjunto, em vez de semear ilusões com miragens tecnológicas ou condicionar as opções invocando supostos cataclismos.

“Em si mesma, a produção de biocombustíveis raramente se poderá justificar em termos puramente energéticos ou ambientais, salvo no caso de aproveitamento de resíduos

e mesmo então tendo em conta que a sua matéria orgânica não retornará ao solo, onde contribuiria para

manter a sua fertilidade.”

[1] Muitos dos documentos de síntese encontram-se em http://jddomingos.ist.utl.pt.[2] Tiago Domingos et al“Avaliação da sustentabilidade da agricultura de regadio da lezíria do Tejo e vale do Sorraia”, 2008. Note-se que estes são, certamente, dos melhores para a nossa agricultura.

por José Delgado Domingos.

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Maria KadlecikovaRepresentante para a Europa

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ambiente se reuniram para debater as importantes ligações existentes entre esses sectores”, afirmou a propósito do encontro Alexander Müller, Director do Departamento de Ambiente e Gestão de Recursos Naturais da FAO.

Apesar de existir uma preocupação legítima de alguns grupos de que a bioenergia possa comprometer a segurança alimentar e provocar danos ambientais, esta pode também ser uma importante ferramenta para melhorar o bem-estar das populações rurais se os governos tiverem em consideração as preocupações relativamente ao ambiente e à segurança alimentar. Em termos de segurança alimentar, a bioenergia só faz sentido se soubermos onde se encontram as populações com carências alimentares e aquilo de que necessitam de forma a melhorar as suas vidas. Em termos ambientais, devemos garantir que tanto os grandes como os pequenos produtores de bioenergia tenham em consideração todos os impactos positivos e negativos. Os governos têm um papel fundamental a desempenhar ao definirem normas de desempenho. As organizações internacionais tais como a FAO podem também desempenhar um papel importante ao proporcionarem um espaço de debate neutro e também apoio político. É necessário um compromisso internacional para garantir que a segurança alimentar não é negligenciada e que os recursos naturais são usados de forma sustentável.

I.: 3. De acordo com Ban Ki Moon, a subida do preço dos alimentos irá afectar os objectivos do Milénio. Concorda?M.K.: Temos de admitir que os impactos negativos são inevitáveis a curto prazo. É difícil prever o que irá suceder a seguir. Mas temos de assegurar que as organizações internacionais e os governos têm as ferramentas necessárias para enfrentar este desafio a médio e longo prazo.

Os preços dos produtos de base agrícola aumentaram significativamente em 2006 e continuaram a aumentar de forma ainda mais acentuada em 2007. Os períodos de preços altos não são casos raros nos mercados agrícolas, apesar das fases de alta de preços serem tendencialmente mais curtas do que as de baixa. Aquilo que diferencia o estado actual dos mercados agrícolas é a simultaneidade da subida acentuada de praticamente todos os produtos agrícolas destinados à alimentação humana e animal. Consequentemente, os preços elevados das colheitas agrícolas, a nível internacional, atingiram toda a cadeia de abastecimento alimentar, contribuindo para os aumentos do preço de retalho de produtos básicos tais como o pão, as massas alimentares, a carne e o leite. Esta intensa subida dos preços foi acompanhada por uma volatilidade dos preços maior do que as registadas no passado, especialmente no sector dos cereais e oleaginosas, acentuando a incerteza nos mercados.

Os factores que conduziram a um cenário de reduzida oferta mundial, aumento da procura e forte aumento dos preços ficaram a dever-se tanto ao lado da oferta como ao da procura. Entre eles incluem-se quebras na produção por motivos climáticos, uma redução gradual mas contínua dos níveis mundiais de stocks de cereais desde meados dos anos 90 (cerca de 3,4% por ano), o aumento do preço dos combustíveis que afectou a produção, o transporte e a transformação dos produtos agrícolas e a

Im))pactus: 1. Plantações de milho para biocombustíveis. Onde é que esta febre nos vai levar? E quais são os seus perigos?Maria Kadlecikova: A bioenergia é a principal fonte de energia para a maioria da população mundial que vive em extrema pobreza e a utiliza sobretudo para cozinhar. Têm acesso limitado a outras formas de energia, tais como a electricidade ou os combustíveis líquidos. Este tradicional uso da biomassa para a produção de energia, em particular através de resíduos agrícolas e florestais, está relacionado com impactos negativos ao nível da saúde.

Mas um tipo diferente de bioenergia está a ganhar destaque através do recurso a culturas de rendimento e da transformação tecnologicamente avançada da biomassa em biocombustíveis. A bioenergia é encarada como uma fonte de energia renovável, e também como uma forma de proporcionar um rendimento e oportunidades de emprego às populações dos meios rurais. A bioenergia surgiu como um factor-chave tanto a nível de desenvolvimento como ambiental.

Ao mesmo tempo, ficou demonstrado que a utilização sustentável de bioenergia requer o equilíbrio entre muitos factores, incluindo a possível concorrência entre a segurança alimentar e a segurança energética, a concorrência pela utilização dos recursos hídricos, os efeitos no desenvolvimento rural, nos mercados agrícolas e nos preços dos bens alimentares, assim como os impactos no meio ambiente, na biodiversidade entre outros. Este equilíbrio tem de ser alcançado a nível local, nacional e internacional, com base em informação e compreensão adequadas. A gestão, mobilização e implementação do conhecimento a nível nacional é um dos factores fundamentais desta abordagem.

A Conferência de Alto Nível da FAO e outros encontros de alto nível confirmaram que a comunidade internacional está a considerar a utilização recessiva de milho para biocombustíveis como um risco potencial de curto prazo. Alguns países deram até início a uma reavaliação mais exacta dos seus stocks o que pode resultar numa manutenção do preço do milho nesta época de colheitas.

A Plataforma Internacional de Bioenergia da FAO, bem como o seu apoio à Parceria Global de Bioenergia (GBEP), da qual alberga o secretariado, e o envolvimento no projecto Bioenergy Wiki são alguns dos mecanismos no terreno que asseguram que os principais parceiros, accionistas e grupos de interesse trabalham de forma a garantir que a segurança alimentar, a segurança energética, o desenvolvimento rural e a mitigação das alterações climáticas não são objectivos que se excluem mutuamente.

I.: 2. Quais são os limites e os objectivos a defInir relativamente à plantação de cereais para a produção de biocombustíveis? E quem deverá fIxar esses limites? Entidades supranacionais, tais como o Banco Mundial ou o G8?M.K.: Alguns dos maiores especialistas internacionais reuniram-se em Roma, em Abril, para analisar o impacto ambiental e alimentar da indústria da bioenergia, que está em rápida e crescente expansão, e concordaram quanto ao facto dos governos poderem utilizar a bioenergia como uma força positiva para o desenvolvimento do mundo rural.. “Foi a primeira vez que especialistas em bioenergia, segurança alimentar e

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mudança na estrutura do lado da procura.

Os aumentos significativos dos preços dos combustíveis e dos alimentos terão forçosamente um impacto negativo na balança comercial dos países importadores, a maioria dos quais é pobre; actualmente, 82 países fazem parte da lista de Países de Baixo Rendimento com Défice Alimentar (PBRDA).

Para limitar o impacto da subida dos preços dos cereais no consumo alimentar a nível interno, os governos dos países importadores e exportadores de cereais implementaram várias medidas. Por exemplo, a União Europeia pôs fim à retirada obrigatória às margens dos terrenos, a Federação Russa aumentou os impostos sobre as exportações, a Ucrânia pensa incluir o trigo na lista de produtos com o preço sob controlo do estado, na Mongólia o governo eliminou o imposto de valor acrescentado sobre a importação de trigo e farinha.

A médio e a longo prazo, os preços elevados são também uma oportunidade para relançar a agricultura dos países em desenvolvimento através de investimentos públicos de longo prazo e de programas que irão, por sua vez, induzir o investimento do sector privado em resposta a um maior rendimento bruto que se poderá ou não traduzir em maiores lucros. A FAO tem trabalhado com vários países concedendo-lhes apoio em ambas as frentes; as implicações económicas dos preços elevados dos bens alimentares a nível familiar e o facto da elevada rentabilidade do investimento na agricultura se constituir como uma oportunidade para reforçar o sector.

A FAO continuará a apoiar a produção para dar resposta às crises alimentares e às fases de preços elevados dos bens alimentares nos PBRDA. A FAO tem trabalhado em conjunto com vários países no sentido de desenvolver os seus produtos financeiros e de gestão de risco relacionados com o sector agrícola. Para além da concepção de uma estratégia de agricultura sustentável de longo prazo, esta cooperação inclui a criação de laços mais estreitos entre instrumentos financeiros e de garantia mais eficientes para o sector agrícola, bem como a troca de produtos e ferramentas de gestão de risco indexados ao clima.

I.: 4. Em 2030 a população mundial atingirá um valor tão elevado que será necessário aumentar a produção de alimentos em 50%. Como poderá ser evitada uma crise mundial?M.K.: Terão de ser utilizadas todas as ferramentas disponíveis. Podemos enfrentar os desafios através de formas adequadas de investimento, de sistemas sustentáveis de produção, de gestão de risco, através do desenvolvimento de espécies mais resistentes, da utilização de energia renovável, de métodos de gestão ambiental apropriados e, ainda, através do recurso a métodos de produção e produtos tradicionais, de adaptação às mudanças climáticas, da cooperação, solidariedade e compreensão internacionais e, por último, através de reformas comerciais. A declaração saída da Conferência de Alto Nível reiterou ainda que os bens alimentares não devem ser utilizados como instrumento de pressão política e económica. Deve também ser referido que até ao momento não têm sido utilizados de forma eficaz os terrenos agrícolas disponíveis, nomeadamente no Cazaquistão, na Federação Russa e Ucrânia. Além disso, nestes países e também na Moldávia a colheita média de cereais poderá ser aumentada de forma significativa através da utilização de tecnologias modernas e da gestão integrada de pragas.

I.: 5. É correcto afIrmar-se que a utilização de culturas agrícolas para a produção de biocombustíveis agravará a desFlorestação e colocará em perigo a segurança alimentar?M.K.: Se a gestão sustentável dos recursos naturais for um factor fundamental do desenvolvimento, então os impactos negativos serão evitáveis. É essencial abordar os desafios e as oportunidades resultantes dos biocombustíveis na perspectiva mundial da segurança alimentar, da energia e das necessidades de desenvolvimento sustentável. Estamos convictos de que são necessários estudos aprofundados para garantir

que a produção e a utilização de biocombustíveis decorre de acordo com os três pilares do desenvolvimento sustentável tendo em consideração a necessidade de alcançar e garantir a segurança alimentar mundial. Estamos ainda convencidos da vantagem resultante da troca de experiências sobre as tecnologias, as normas e os regulamentos relativos aos biocombustíveis. Desafiamos as organizações intergovernamentais, incluindo a FAO, no âmbito das suas competências e áreas de experiência, em conjunto com os governos, os parceiros, o sector privado e a sociedade civil para que se envolvam na promoção de um diálogo internacional, coerente, real e orientado para os resultados sobre os biocombustíveis no contexto das necessidades da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável. No entanto, deve ser cuidadosamente estudado o impacto da produção e utilização da bioenergia nos recursos naturais em especial na degradação dos solos.

I.: 6.Quais as conclusões da conferência da FAO que terminou a 5 de Junho sobre a crise alimentar?M.K.: O mais importante foi o facto dos participantes terem reafirmado as conclusões da Cimeira Mundial da Alimentação de 1996, que adoptou a Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial e o Plano de Acção da Cimeira Mundial da Alimentação, e o objectivo, confirmado pela Cimeira Mundial da Alimentação cinco anos depois, de alcançar a segurança alimentar para todos através de um esforço contínuo para erradicar a fome em todos os países, com o objectivo imediato de reduzir para metade o número de pessoas subalimentadas até 2015, assim como o nosso compromisso de atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Os participantes da conferência concordaram em enfrentar os desafios resultantes da bioenergia, das mudanças climáticas e da actual subida dos preços dos bens alimentares que estão a ter impactos adversos na segurança alimentar, especialmente nos países em desenvolvimento e nos países em transição, ainda para mais devido aos indicadores de que os preços dos bens alimentares se vão manter elevados nos próximos anos.

Os conferencistas foram unânimes na necessidade da comunidade internacional agir de forma urgente e coordenada de modo a combater os impactos negativos dos elevados preços dos bens alimentares nos países e populações mais vulneráveis do mundo. Estamos plenamente convencidos de que serão necessárias medidas dos governos, com o apoio da comunidade internacional, a curto, médio e longo prazo, para fazer face às necessidades de segurança alimentar a nível mundial e familiar. Os participantes da conferência desafiaram todos os doadores e o Sistema das Nações Unidas a aumentar o seu auxílio aos países em desenvolvimento, em particular aos países menos desenvolvidos e a todos aqueles que são afectados de forma mais negativa pela subida do preço dos bens alimentares. Os parceiros de desenvolvimento foram convidados a participar e a contribuir para as iniciativas internacionais e regionais relativas aos elevados preços dos alimentos, nomeadamente, no âmbito da iniciativa da FAO lançada a 17 de Dezembro de 2007, em apoio a medidas levadas a cabo pelos próprios países. Os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) reafirmaram o compromisso de concluírem de uma forma rápida e bem sucedida a Agenda de Desenvolvimento de Doha da OMC e reiteraram a sua vontade de alcançar resultados abrangentes e ambiciosos que sejam catalisadores da melhoria da segurança alimentar nos países em desenvolvimento.

A declaração exorta os governos, todas as instituições financeiras, os doadores e a comunidade internacional, no seu todo, a abraçar por completo um enquadramento político centrado nas pessoas e que apoia as populações pobres de zonas rurais, peri-urbanas e urbanas e as condições de vida nos países em desenvolvimento, e o aumento do investimento na agricultura. A este respeito, a FAO lançou a sua Iniciativa sobre a Subida do Preço dos Produtos Alimentares no âmbito da qual 54 países são apoiados através da distribuição de sementes e fertilizantes. No contexto da próxima fase de actividades de médio prazo, será prestada atenção ao reforço das capacidades institucionais em relação à produção, marketing e melhoria das capacidades de comercialização de bens alimentares.

por Maria Kadlecikova, Representante para a Europa e Ásia Central da FAO.

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Preço dos Produtos Alimentares Uma questão de curto prazo ou de consequências globais?A A subida dramática dos preços dos produtos alimentares nos últimos 12 meses criou uma ameaça a segurança alimentar a nível do globo e uma ameaça para a estabilidade socioeconómica de muitos países . Se não houver uma resposta global e multifacetada mais de 100 milhões de pessoas através de todos os continentes estarão em risco de não poderem comer o mínimo necessário para sobreviverem . Esta situação afecta milhões da população urbana mais pobre em particular nos países mais frágeis economicamente. Esta situação também afecta dezenas de milhões de habitantes de zonas rurais onde vivem 75% da população mais pobre do mundo. A subida do preço dos produtos alimentares conjugada com a subida do preço do petróleo esta a levar a uma grande pressão inflacionista em todos os países e a aumento nos desequilíbrios na balança de pagamentos dos países mais pobres e importadores de produtos alimentares e combustível . Embora os preços de alguns produtos alimentares tenham recentemente estabilizado a um nível alto , em médio termo o custo do petróleo, mudanças de clima e degradação dos recursos naturais manterão os preços dos produtos alimentares altos por um longo período. A dramática subida de preços dos produtos alimentares não resulta dum choque climático imediato ou de uma emergência. Ela é devida ao efeito acumulativo ao longo dos últimos anos de varias variáveis entre as quais são de realçar a crescente aumento da procura destes produtos devido ao crescimento da população, a melhoria do nível de vida em países como a China e a Índia e consequente diversificação das dietas e aumento to consumo de carne e proteínas, progressiva redução de stocks a nível mundial, crescente uso de cereais para a produção de combustível e estagnação do aumento da produtividade na produção agricultura devido a redução de investimentos na investigação agronómica. Mais recentemente o aumento do preço dos produtos petrolíferos tem um grande impacto no preço de fertilizantes combustíveis e outros produtos críticos para a produção de produtos alimentares agravando a situação. Este impacto ainda não se fez sentir na sua extensão máxima e restringe a resposta que seria de esperar de um aumento rápido da produção por parte dos produtores como resposta aos preços mais altos ao produtor. Só em 2008 a FAO prevê que o mundo gastara US $ 1,035 em importações de Alimentação isto e US $ 215 biliões mais do que em 2007.

A subida dos preços dos produtos alimentares trás consigo o perigo de instabilidade politica em alguns países onde manifestações e distúrbios já tiveram lugar em grande escala. Este perigo e particularmente agudo em países de frágeis democracias acabados de sair de situações de conflito onde as instituições políticas e sociais são frágeis e terão dificuldades financeiras de responder rapidamente com medidas que acalmem o pânico social derivado da subida rápida dos preços. Outros países que serão bastante afectados são aqueles que já se encontram devido a conflitos seco ou outros desastres em situações Humanitárias precárias . Exemplo deste tipo de países são a Somália ou a Etiópia ou conflitos prolongados caso da Somália ou secas consecutivas caso da Etiópia reduziram significativamente a capacidade do pais alimentar a sua população. Vários relatórios das Nações Unidas indicam que se a ajuda alimentar não duplicar nos próximos meses iremos assistir a fomes em alguns destes países. Medidas de restrição das exportações ou estabelecimento de novas taxas de exportação de produtos alimentares por parte de países tradicionalmente exportadores de cereais e outros produtos alimentares vieram aumentar as dificuldades e criar pânico nos mercados internacionais de comercio de produtos alimentares levando a especulação nos mercados de cereais deste modo aumentando as dificuldades dos países mais frágeis de terem acesso a compra de produtos alimentares.

Como enfrentar o problema da subida dos preços?Não há soluções mágicas para o problema já que como explicamos antes e uma combinação de problemas complexos que se acumularam e levaram ao rebentar da crise. Apenas um aumento rápido da produção alimentar e consequente oferta no mercado internacional poderá levar a uma estabilização dos preços. Como vimos o crescimento da população que continuara nas próximas décadas – apenas por volta de 2050 a população tendera a estabilizar a um nível de cerca de 9 biliões de habitantes cerca de 40% mais do hoje. E de esperar também que o melhoramento do nível de vida

das populações mais pobres nas próximas décadas leve a um crescimento do consumo e procura de produtos alimentares. Os aumentos de produtividade agrícola que na década de 70 eram de cerca de 3% anuais foram se reduzindo e hoje não são superiores a 1% nos países mais desenvolvidos e grande produtores de cereais . Apenas a entrada de novas áreas em produção ou o aumento de produtividade em países onde a produtividade agrícola ainda bastante baixa em particular em África e alguns dos países da ex União Soviética incluindo a Rússia poderão responder a crescente necessidade de produtos alimentares .

Uma das respostas necessárias e o crescimento maciço dos investimentos em investigação agronómica combinado por investimentos significativos em infra-estruturas de produção agrícola nos países com potencial de crescimento da produção. Isto implica ajustamentos urgentes as politicas de ajuda ao desenvolvimento de forma a privilegiar na ajuda ao desenvolvimento os investimentos na agricultura e criação do ambiente mais favorável nestes países ao investimento privado na produção de bens alimentares. Mesmo que este tipo de medidas aconteçam urgentemente a resposta do ponto de vista de produção demorara algum tempo a fazer sentir os seus efeitos nos mercados internacionais e nos preços e só terão um impacto profundo a médio e longo prazo.

Entretanto milhões de pessoas correm o risco de cair na extrema pobreza...Pelo menos 135 milhões de pessoas sofrerão dramaticamente com a subida dos preços e entrarão na categoria daqueles vivendo em extrema pobreza defendida como aqueles que vivem com menos de 1 dólar por dia. Esta categoria de pessoas gasta mais de 50% do seus rendimentos em alimentação e extremamente vulnerável as alterações dos preços de alimentação. Medidas imediatas para estabilizar a situação e reduzir o impacto da subida dos preços nas camadas mais vulneráveis da população são necessárias e urgentes. O não introduzir estas medidas urgentemente pode levar a um instabilidade generalizada em muitos países e ter como consequencias perturbações serias no crescimento económico destes países e consequente seria instabilidade politica e social. Esta instabilidade pode gerar novos conflitos e tensões afectar a paz e segurança em muitas regiões com efeitos em todos os países do mundo.

Que medidas a curto prazo para estabilizar a situação e reduzir a consequencias nos países mais frágeis?A resposta imediata a crise passa por um conjunto de medidas . A combinação destas medidas poderá criar o espaço político para as soluções de longo prazo mencionadas antes. Quais as medidas necessárias:

Aumentar a assistência alimentar as camadas em risco de entrarem numa situação de fome em países que já tenham uma situação humanitária extrema. Caso da Somália Afeganistão, Etiópia , Haiti etc.. Isto significa duplicar a assistência alimentar durante o ano de 2008 e manter esse nível nos próximos anos;Introduzir ou alargar esquemas de protecção social dirigidos as camadas mais vulneráveis , Contrariamente aos países mais desenvolvidos os sistemas de assistência social ou não existem ou são bastante reduzidos nos países mais afectados. Este e o momento de introduzir um mínimo de programas de assistência social que em primeiro lugar devem ser dirigidos as crianças com menos de dois anos e as suas mães mas que podem ser alargados através do uso das cantinas escolares as crianças em idade escolar em particular das escolas primarias. Estas medidas podem incluir programas de apoio nutricional, transferências financeiras ,cantinas escolares e programas de criação de emprego com mão de obra intensiva (plantação de arvores, limpeza de lixo, recuperação de infra-estruturas escolares degradadas etc..).O objectivo destes programas devera ser proteger as camadas mais vulneráveis e deste pode reduzir medidas de subsídios globais que não distinguem aqueles que mais necessitam daqueles que não necessitam e que custam imenso ao Estado e não podem ser mantidos por muito tempo a não ser com o risco de destabilizar os balanços macroeconómicos;Promover a produção agrícola dos pequenos camponeses das zonas mais afectadas através de subsídios a sementes melhoradas acesso a fertilizantes e outros insumos agrícolas;Rever taxas que penalizam o comercio de produtos agrícolas alimentares;Tornar disponível aos países mais pobres grandes importadores de petróleo e produtos alimentares meios financeiros concessionais de apoio a balança de pagamentos e a importação de produtos alimentares;Restringir o uso de cereais para a produção de biocombustível .

Este conjunto de medidas urgentes pode ser financiada pelos governos dos países afectados com o apoio dos países que hoje beneficiam da escalada de preços que são essencialmente os países produtores de petróleo em particular os países do Médio Oriente e os países grande exportadores de produtos agrícolas nomeadamente a União Europeia e Estados Unidos. Se não houver uma acção concertada mundial que ajude a estabilizar a situação podemos estar a entrar numa década de grande instabilidade com consequencias imprevisíveis na paz a nível mundial.

por Manuel Aranda da Silva, WFP Senior Advisor, Ex-ministro do Governo Moçambicano

Manuel Aranda da SilvaWFP Senior Advisor, Ex-ministro do

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Donald O. MitchellEconomista no departamento de Economia e Desenvolvimento do Banco Mundial

“Tentamos, de facto, dar resposta às verdadeiras necessidades. Podemos não conseguir ajudar em todas as situações tanto como gostaríamos, mas tentamos seguramente responder às necessidades dos pobres de todos os países e estamos muito activos em vários países que prosseguem políticas que agradam a determinados países, mas tentamos apoiar o máximo de casos possível. Por isso, não creio que estejamos a tentar impor um forte juízo político ao responder às necessidades dos pobres..”

Donal O. Mitchell insistiu que o Banco Mundial está ‘’ envolvido de forma muito activa na análise das mudanças climáticas a nível mundial e respectivos impactos, e estamos preparados para auxiliar os países a adaptarem-se a esses mudanças.A subida dos preços dos alimentos é um problema muito grave e sério que criou dificuldades a muitas pessoas que vivem na pobreza e que gastam pelo menos metade dos deus rendimentos em alimentação. Tendo em conta que esta é uma grande preocupação para o banco, este tem estado muito activo e envolvido na concepção de políticas de auxílio à pobreza e também aos países.’’

O Banco Mundial contabilizou 33 países onde estão previstos movimentos sociais violentos devido ao aumento do preço dos alimentos, isto foi ‘’Baseado num inquérito efectuado, a partir da sede do Banco Mundial, a economistas que trabalham nesses países, disse-nos Donald O. Mitchell. Ele expressou-nos a sua preocupação relativa à relação entre a busca de lucro e a fome mundial: “ Ele expressou-nos a sua preocupação relativa à relação entre a busca de lucro e a fome mundial: ‘’O aumento da utilização de culturas alimentares nos EUA e noutros países é uma grande preocupação, especialmente quando esses países estão a utilizar terrenos excedentários que não estão disponíveis para a produção de biocombustíveis e também quando existe uma concorrência directa com as culturas alimentares’’.

‘’O Banco Mundial tem sido extremamente rápido a actuar. Temos tentado auxiliar os países para que estes consigam enfrentar a subida dos preços dos bens alimentares e prestar auxílio aos mais desfavorecidos que foram afectados pela crise alimentar. Julgo que temos sido extremamente rápidos a actuar e fizemos muito, mas há sempre algo mais que pode ser feito e não estamos sozinhos a enfrentar estes problemas, mas o banco tem sido extremamente sensível a estas questões e parece-me injusto afirmar que não temos actuado com rapidez. Demos início a inúmeras acções para tentar ajudar os países a enfrentar todas as consequências dos elevados preços dos alimentos, incluindo o auxílio aos pobres, ajudando os países no financiamento das importações de produtos alimentares quando tal se revela necessário, contribuindo para melhorar a capacidade produtiva dos pequenos agricultores para que dessa forma possam contribuir para aumentar a produtividade dos seus próprios países e, ao mesmo tempo, beneficiar da subida do preço dos alimentos no caso de serem produtores e ajudar também os consumidores a enfrentar as consequências dos elevados preços dos alimentos.”

by Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt). As opiniões expressas neste artigo são as do autor e não representam necessariamente as do Banco Mundial ou políticas do Banco Mundial.

Uma menor produção agrícola, alterações climáticas, mais consumo de carne e o uso dos cereais para biocombustiveis tem levado a um aumento dos preços dos alimentos. O trigo subiu 120%, o arroz subiu 75% e as familias mais pobres gastam cerca de 80% do seu orçamento em alimentos.

O alto preço dos bens alimentares é uma luta diária para mais de 2 biliões de pessoas. Os preços altos ameaçam um aumento da sub nutrição, que já é causa de morte pra mais de 3.5 milhões de crianças por ano. Estima-se que cerca de 100 milhões de pessoas estão na pobreza nos últimos 2 anos e é esperado que os preços se mantenham altos até 2015.

em África…21 de 36 países que se encontram numa crise de segurança alimentar estão na África Sub Sahariana, de acordo com a FAO. A região importa 45% do seu trigo e 84% de arroz. África Ocidental, o ‘Corno de África’ e estados frágeis estão especialmente vulneráveis; Choques relacionados com alterações climáticas e guerras civis aumentam o impacto em alguns países.

e na Ásia…A maioria dos países do Sul Asiático são importadores de alimentos e sofreram vários choques nestas trocas. Uma saca de 2Kg de arroz custa agora metade do orçamento diário de uma familia pobre do Bangladesh ou Indonésia, o aumento de 10% no preço do arroz significa mais 2 milhões de pessoas que entram na pobreza, de acordo com um estudo recente.

“O Banco Mundial tem sido extremamente rápido a actuar. Temos tentado auxiliar os países para que estes consigam enfrentar

a subida dos preços dos bens alimentares e prestar auxílio aos mais desfavorecidos que

foram afectados pela crise alimentar.”

“ O Banco Mundial tem sido extremamente rápido a actuar. Temos tentado auxiliar os países para que estes consigam enfrentar

a subida dos preços dos bens alimentares e prestar auxílio aos mais desfavorecidos que

foram afectados pela crise alimentar.”

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Felix Fischer Representante do FMI

em Maputo, Angola

Os preços elevados dos alimentos são actualmente uma preocupação humanitária e ameaçam impedir que se alcancem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. São também uma fonte de desafios macroeconómicos que afectam os orçamentos, as balanças comerciais e, obviamente, os rendimentos a nível mundial. Mesmo que recentemente os preços tivessem baixado dos valores mais altos de sempre, estes teriam permanecido substancialmente acima dos níveis registados nos últimos anos. O resultado é um golpe devastador para os pobres espalhados por todo o mundo, que gastam frequentemente metade dos seus rendimentos em alimentação.

O problema dos preços elevados dos bens alimentares irá muito provavelmente acompanhar-nos durante os próximos tempos. Esta subida dos preços resulta, em parte, de um forte crescimento do lado da procura que não é mais do que um reflexo do crescimento do rendimento per capita nos mercados emergentes. Há já alguns anos que o mundo tem vindo a consumir mais alimentos do que produz, fazendo com que os preços tenham aumentado e as reservas atingido níveis historicamente baixos. Além disso, o ciclo do preço dos bens alimentares está irrefutavelmente correlacionado com o ciclo do petróleo. O custo dos fertilizantes e do transporte são afectados pelo preço do petróleo que aumentou de forma dramática num curto espaço de tempo, e mesmo que baixasse dos máximos históricos já registados, o preço do petróleo permaneceria elevado.

A subida dos preços dos alimentos foi agravada pelo ressurgimento de restrições ao comércio. É também, em parte, resultado do aumento da produção de biocombustíveis. O FMI estima que os biocombustíveis tenham sido responsáveis por quase metade do aumento do consumo das principais culturas alimentares em 2006 e 2007. A quantidade de bens alimentares armazenados a nível mundial é suficiente para suprir a procura actual, mas as restrições ao comércio, o açambarcamento por parte dos governos, o controlo de preços e outras políticas proteccionistas criam

entraves à necessária distribuição mundial de alimentos e estimulam o aumento do preço do petróleo. No entanto, todos os países dependem do comércio livre para alimentar as suas populações. A conclusão da Agenda de Doha poderia desempenhar um papel fundamental a este respeito, pois permitiria reduzir as barreiras e distorções comerciais e promover o comércio de produtos agrícolas. A liberalização agrícola conduziria à estabilização mundial dos preços dos produtos o que levaria a investimentos de longo prazo na produção agrícola.

Para além de preocupações humanitárias os preços elevados dos produtos agrícolas são também responsáveis por desafios macroeconómicos. Estima-se que o preço elevado dos alimentos e do petróleo tenha um impacto directo nas balanças comerciais dos países da África subsaariana que poderá atingir, em média, cerca de 1% do PIB em 2008, enquanto que em alguns países, como por exemplo o Malawi, esse impacto negativo poderá atingir 4% do PIB. O impacto inflacionista dos recentes aumentos dos produtos alimentares é uma preocupação especialmente para os países em desenvolvimento e para as economias emergentes, onde o aumento do preço dos alimentos foi responsável por cerca de 70% da inflação global, em 2007. Os decisores políticos têm que definir o ritmo a que aumentam os preços dos produtos alimentares, a forma de prevenir que estes aumentos conduzam a expectativas inflacionistas cada vez mais elevadas, e como solucionar qualquer falta de financiamento resultante da balança de pagamentos e do saldo orçamental.

O FMI recomendou, de uma forma geral, que as respostas políticas sigam alguns princípios gerais, começando pelos mais urgentes: proporcionar alimentos àqueles que mais deles necessitam e reforçar as redes de segurança social através de transferências e subsídios dirigidos aos grupos mais vulneráveis. Para além disso, a transição para preços domésticos mais elevados tem de acabar por ser permitida, podendo no entanto ser gradual. A primeira fase de aumento do preço dos alimentos e do petróleo não necessita

Existe saída para a crise alimentar e petrolífera?O Fundo Monetário Internacional (FMI) orienta os países na resposta política macroeconómica a um nível optimizado

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“A subida dos preços dos alimentos foi agravada pelo ressurgimento de

restrições ao comércio. É também, em parte, resultado do aumento

da produção de biocombustíveis. ”

por Felix Fischer, Representante Permanente do Fundo Monetário Internacional em Maputo, Moçambique. As opiniões expressas neste artigo são as do autor e não representam necessariamente as do FMI ou políticas do FMI.

da intervenção de uma política monetária de reequilíbrio, mas antes de uma política firme para combater as expectativas inflacionistas e impedir que as primeiras fases de aumento de preços não se transformem em inflação generalizada. Outra das medidas recomendadas inclui o investimento em infra-estruturas e na melhoria do acesso ao financiamento para investimento na agricultura. Por último, as medidas devem também combater as causas da crise: tais como a distorção dos mercados agrícolas mundiais e regionais que desencorajam a produção em países de baixo rendimento; algumas políticas de biocombustíveis; e, ainda, os elevados preços da energia que levam ao aumento do custo dos fertilizantes e do transporte dos produtos alimentares.

A segurança alimentar é um dos principais objectivos de qualquer governo e as políticas recomendadas pelo FMI pretendem apoiar este objectivo. No entanto, os países não devem ter como meta a auto-suficiência alimentar. Devem, pelo contrário, ter como objectivo a produção onde as vantagens comparativas sejam maiores. As políticas de auto-suficiência são na maioria dos casos ineficazes, provocam a distorção dos mercados e consomem recursos escassos que, caso contrário, poderiam ser aplicados nas áreas da saúde e educação. A segurança alimentar pode ser alcançada de uma forma mais barata através de estratégias de seguros, incluindo estratégias que envolvam a comercialização de futuros sobre mercadorias.

A maioria dos países recorre a algum tipo de subsídios. Recomendamos a eliminação de subsídios generalizados, tais como os subsídios aos combustíveis, pois são tendencialmente regressivos e dispendiosos. Ao invés, as políticas adequadas para dar resposta a este problema devem incluir transferências direccionadas sobretudo para os mais pobres. A maioria dos países tem numerosas necessidades sociais e económicas e recursos escassos, assim seria inapropriado utilizá-los para apoiar o consumo dos ricos.

O FMI, em cooperação com outros parceiros de desenvolvimento, respondeu rapidamente à crise disponibilizando aconselhamento político, avaliação do impacto da crise na balança de pagamentos, assistência técnica e apoio financeiro. Os programas apoiados pelo FMI são concebidos para facultar rápido apoio financeiro que permita fazer face às necessidades da balança de pagamentos e para proporcionar margem de manobra orçamental que permita identificar as despesas prioritárias dos governos, não colocando em perigo a estabilidade macroeconómica. No final do mês de

Julho de 2008, 9 dos 18 países africanos mais afectados tinha já recebido assistência financeira adicional do Fundo, quer sob a forma de alargamento do Programa de Financiamento para Redução da Pobreza e Crescimento (PRGF) – Benin, Burkina Faso, República Centro-Africana, Guiné, Madagáscar e Malawi – ou no contexto de novos acordos – Burundi, Mali e Níger. Inúmeros pedidos para alargamento das ajudas ou novos acordos, incluindo no âmbito do Mecanismo para Choques Exógenos (ESF) do FMI, estão a ser debatidos. Ao mesmo tempo que as autoridades controlam a sustentabilidade a longo prazo das suas políticas, podem investir em programas fundamentais para manter as populações bem nutridas.

No entanto, a margem orçamental necessária para permitir o financiamento sustentável de medidas compensatórias. Para muitos países pobres a ajuda necessária será proveniente da comunidade internacional que satisfará essas necessidades. O financiamento externo suplementar pode desempenhar um papel fundamental, ajudando a financiar importações indispensáveis e concedendo alguma margem de manobra para os países implementarem os ajustes necessários e permitir o aumento das despesas com a agricultura e as redes de segurança social.

Para um país como Moçambique que possui uma imensidão de terrenos férteis inutilizados, a actual crise alimentar afigura-se claramente como uma janela de oportunidade para aumentar a produção agrícola. As políticas a implementar devem ser capazes de solucionar as limitações dos agricultores de forma a aumentar a produção.

Quando se define um conjunto de respostas políticas e o seu ritmo de implementação para fazer face à actual crise alimentar e petrolífera é importante ter em consideração as implicações em termos de desenvolvimento e redução da pobreza. A comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para assegurar que a subida dos preços não provoca dificuldades excessivas seja em que parte do mundo for, mas ao mesmo tempo é necessário que os mercados respondam produzindo mais alimentos e fazendo-os chegar aos mais necessitados.

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“A comissão quer assegurar-se de que os preços dos alimentos não sofrerão quaisquer impactos negativos, sendo que a directiva inclui um sistema de monitorização que obrigará a Comissão a analisar, a cada dois anos, o impacto da política de biocombustíveis, os preços dos bens alimentares e as condições sociais dos trabalhadores. ”

países em desenvolvimento mais atingidos.

I.: 2. Renováveis vs. nuclear. Berlusconi afIrmou recentemente que o futuro da Europa pode passar pelas centrais nucleares… Qual destas opções poderá fazer face aos problemas associados às emissões de CO2?F.T: Apesar de nem todos os países europeus terem optado pela energia nuclear, esta representa mesmo assim 30% da electricidade produzida na UE e é a maior fonte de energia disponível com baixas emissões de carbono. A UE deveria proceder ao desenvolvimento de um quadro mais avançado para a energia nuclear, incluindo a gestão de resíduos e o desmantelamento, respeitando os Estados-Membros que optem, ou não, por esta forma de energia.

I.: 3. A energia verde produzida a partir dos cereais constitui actualmente uma das opções para a produção de energia com menor emissão de CO2.Poderá o continente africano ser encarado como um potencial “celeiro mundial”?F.T.: A Comissão sublinha a necessidade de um desenvolvimento coordenado de biocombustíveis sustentáveis através da UE. É de especial importância definir esses objectivos agora, dado que os produtores darão em breve início à concepção de veículos que, no futuro, funcionarão com base nesses combustíveis. Apesar dos biocombustíveis serem mais dispendiosos do que outras formas de energias renováveis, são actualmente a única forma de reduzir significativamente a dependência do petróleo no sector dos transportes, nos próximos 15 anos. E a Comissão irá definir condições extremamente humilhantes para assegurar que os combustíveis utilizados na UE são produzidos de acordo com critérios de sustentabilidade.

Este é o motivo pelo qual, pela primeira vez, a Comissão definiu critérios de sustentabilidade que asseguram aos consumidores europeus que os biocombustíveis utilizados na Europa, e que recebem apoios, são sustentáveis. O público precisa de ter a garantia de que os biocombustíveis que compra não aumentam as emissões de gases com efeito de estufa, não contribuem para a destruição de florestas tropicais ou de outras áreas ricas em biodiversidade, não contribuem para a escassez de alimentos e não são demasiado caros.

I.: 4. Existe algum perigo dos principais produtores de cereais pararem a sua exportação?F.T.: Não creio que a nossa política de biocombustíveis tenha um grande impacto nos mercados de cereais. O objectivo da UE (10% até 2020)

Im))pactus: 1. Actualmente a energia é o principal tema de debate a nível mundial. Qual é o maior problema: a necessidade de aumentar a produção ou uma melhor racionalização e poupança na forma como os agentes económicos a utilizam?Ferran Tarradellas: O mundo depara-se com um enorme desafio energético e ambiental, um desafio particularmente difícil para a Europa. Estima-se que a procura energética aumente para mais do dobro até 2030, e que a procura de petróleo cresça 40% durante o mesmo período. A Europa já importa, actualmente, metade da energia que consome e prevê-se que este valor aumente para 2/3 até 2030 a não ser que sejam tomadas medidas.

Os potenciais efeitos da dependência europeia face à importação de energia são graves. Com os preços do petróleo a aproximarem-se dos 150 dólares por barril, a factura energética da União Europeia (UE) pode aumentar 170 mil milhões de euros ou 350 mil milhões de euros adicionais que sairão dos bolsos dos cidadãos da UE. A Europa está particularmente vulnerável a um choque provocado pela subida dos preços, e tal como a Agência Internacional de Energia referiu “a capacidade e vontade de investimento dos maiores produtores de petróleo e gás natural, de forma a satisfazerem a procura mundial, são particularmente incertas.”

Apesar do impacto da importação europeia de energia ser motivo de preocupação, as consequências ao nível da segurança poderão ser terríveis. As reservas de petróleo e gás natural são cada vez mais controladas por monopólios de um punhado de países, e as acções mais recentes de alguns destes monopólios sugerem que a segurança energética é uma questão de contornos geopolíticos. A diversificação dos abastecimentos energéticos da Europa é uma prioridade urgente.O crescente aumento do consumo de energia não é apenas uma ameaça à economia europeia e à estabilidade política, é também uma questão que se interliga aos desafios ambientais, nomeadamente às mudanças climáticas. Prevê-se que as emissões mundiais de dióxido de carbono (CO2) – que representam 75% de todos os gases com efeito de estufa – aumentem 55% até 2030, prevendo-se ainda que as emissões provenientes da UE aumentem 5%. O impacto deste cenário no ambiente, na economia e no modo de vida dos cidadãos europeus seria tremendo. Por exemplo, um aumento de seis metros no nível do oceano provocaria a submersão de vastas áreas das cidades de Barcelona, Veneza, Amesterdão, Londres, Estocolmo e Lisboa, seria responsável pelo agravamento da falta de água em várias regiões do Sul da Europa, e poderia dar origem a um fluxo de milhões de refugiados provenientes dos

Ferran TarradellasPorta-Voz do Comissário

Europeu de Energia Andris Piebalgs

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I.: 7. A UE defIniu a meta de 10% em biocombustíveis até 2010. Este objectivo é, ou não, contraditório tendo em conta a crise alimentar?F.T.: Tal como já referi anteriormente, o objectivo da UE (10%, até 2010) implica um aumento do consumo de produtos agrícolas destinados a biocombustíveis de 4 milhões de toneladas por ano. Em 2006, de acordo com dados da FAO, o consumo mundial de cereais foi de 2.200 milhões de toneladas. É difícil compreender de que forma um aumento anual de 4 milhões de toneladas poderá condicionar os preços num mercado de 2.200 milhões de toneladas. Tem sido referido que talvez seja a produção de milho nos EUA a impulsionar os preços elevados que se registam actualmente, mas, mais uma vez, os dados demonstram o inverso. O aumento da procura de matéria-prima para a produção de biocombustíveis, nos EUA, entre 2006 e 2007, foi de 12,5 milhões de toneladas. Mais uma vez não se compreende de que forma 12,5 milhões de toneladas podem ter impacto num mercado de 2.200 milhões de toneladas. De facto, mesmo que a produção norte-americana de milho, tenho dado resposta à procura de biocombustíveis, os EUA aumentaram a produção de bioetanol e aumentaram a exportação do milho excedentário. Ao contrário do que habitualmente se supõe, os biocombustíveis não provocaram uma redução do milho existente no mercado, mas antes um aumento. De facto, não é o milho mas sim o arroz o cereal acusado do aumento dos bens alimentares, e o arroz nunca é utilizado para a produção de uma única gota de biocombustíveis. Na verdade, a nível mundial, o produto agrícola mais utilizado para a produção de biocombustíveis é a cana-de-açúcar, no Brasil, onde metade dos veículos utiliza um bioetanol à base deste açúcar. Mas, curiosamente, o preço do açúcar não sofreu os aumentos vertiginosos de outros produtos agrícolas, bem pelo contrário, neste momento é mais baixo!

Logicamente, devem existir outras causas para os aumentos dos preços dos bens alimentares. Os especialistas sugerem que o aumento dos preços, a nível mundial, se deve a vários factores: o principal é o dólar fraco (a ajuda alimentar é comprada com dólares… uma das razões para o menor poder de compra do PAM este ano, quando comparado com anos anteriores); o aumento da população mundial; as baixas colheitas em muitas regiões do planeta; o aumento da procura na Ásia oriental – à medida que se alteram os hábitos de alimentação (aumento do número de refeições diárias e aumento do consumo de carne); restrições às exportações na Ucrânia e na Rússia (são habitualmente dos maiores fornecedores mundiais) e por último, mas não menos importante, o aumento do preço do petróleo (com efeitos indesejáveis nos custos dos transportes). Não nos esqueçamos que uma das poucas ferramentas ao dispor da Comissão para fazer baixar os preços do petróleo é, precisamente, os biocombustíveis.

implica um crescimento no consumo de produtos agrícolas destinados a biocombustíveis de 4 milhões de toneladas por ano. O consumo mundial de cereais ronda as 2.200 milhões de toneladas por ano. Por isso, não compreendemos como é que um aumento de 4 milhões de toneladas por ano pode condicionar um mercado de 2.200 milhões de toneladas.

I.: 5. Quais são os limites e os objectivos que devem ser defInidos relativamente à plantação de cereais para biocombustíveis? E quem deverá defInir esses limites? Organizações supranacionais tais como o Banco Mundial, o G8 ou a UE?F.T.: A comissão quer assegurar-se de que os preços dos alimentos não sofrerão quaisquer impactos negativos, sendo que a directiva inclui um sistema de monitorização que obrigará a Comissão a analisar, a cada dois anos, o impacto da política de biocombustíveis, os preços dos bens alimentares e as condições sociais dos trabalhadores. Um dos principais responsáveis pelos elevados preços dos alimentos é precisamente o preço alto do petróleo. Uma das poucas ferramentas de que a Comissão dispõe para fazer baixar os preços é precisamente a utilização dos biocombustíveis. Consequentemente devemos colocar num dos pratos da balança as oportunidades e no outro as apreensões. Não devem ser esquecidos os benefícios que os biocombustíveis podem provocar nos países em desenvolvimento. A FAO e outras organizações, tais como o Banco Mundial, reconheceram que os biocombustíveis podem fazer disparar o investimento na produtividade agrícola nos países do terceiro mundo. Mas para que tal suceda, os agricultores desses países necessitam de uma segurança de investimento que só objectivos vinculativos podem proporcionar.

I.: 6. Como será possível, a longo prazo, atingir o equilíbrio entre a oferta e a procura de bens alimentares e de combustíveis ecológicos?F.T.: A Comissão considera que os benefícios de longo prazo dos biocombustíveis em termos de emissões de CO2, de segurança de fornecimento e de novas oportunidades agrícolas (na UE e a nível mundial) pode ser alcançado adoptando os seguintes princípios: um objectivo limitado (10%); critérios de sustentabilidade robustos e o último, mas não menos importante, uma aposta dos biocombustíveis de segunda geração. Se não se perderem de vista estes princípios, creio que não haverá lugar a desequilíbrios nos mercados dos biocombustíveis e de bens alimentares. No entanto, comprovar se este facto é, ou não, verdadeiro será o papel do sistema de monitorização que a directiva Renováveis implementará.

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IntroduçãoAl Gore efectuou um óptimo trabalho ao conseguir trazer o debate ambiental para a ordem do dia. Mas se, ao menos, tivesse feito o mesmo esforço em relação a outra questão fundamental – a área social – quando teve oportunidade, o mundo seria actualmente um local bem melhor. Estou-me a referir às eleições presidenciais de 2000, onde acabou por desistir cedo demais, mesmo após ter obtido a maioria dos votos e sabendo que a contagem dos votos na Flórida tinha sido manipulada. Se tivesse continuado a lutar, recusando aceitar a derrota até à recontagem dos votos, então o maior desastre dos últimos sete anos – a guerra do Iraque, com um custo avaliado em 1.5 mil milhões de dólares – não teria acontecido. O 11 de Setembro teria ocorrido, mas estaríamos numa posição moral bem mais confortável, em relação ao terrorismo, do que aquela em que nos encontramos neste momento devido à presença desastrosa de George W. Bush na Casa Branca. É a isto que me refiro quando relembro que as questões de cariz social não devem ser completamente dominadas pelo debate ambiental.

Um e-mail que recebi recentemente estava imbuído da mesma linha de raciocínio. No grupo de discussão de RSE, CSR Chicks, a Ulrika escreveu “Olá membros do grupo de discussão, será que algum de vocês me saberá aconselhar relativamente a um seminário ou conferência de boa qualidade sobre Investimento Socialmente Responsável (ISR)? O ISR parece estar muito centrado em “Investimentos Ecológicos” e em questões ambientais. O que eu procuro é uma conferência acerca de ISR, mas centrada em direitos humanos, direitos laborais, corrupção e também sobre ambiente.”

TendênciasNum recente inquérito mundial às empresas sobre questões político-sociais, da autoria da McKinsey [1], mais de metade dos participantes escolheu o ambiente, incluindo as alterações climáticas, como um dos três temas que mais irá atrair a atenção dos políticos e do público nos próximos cinco anos, em comparação com 31% no anterior inquérito.

A minha opinião Parece claro que o aquecimento global é um dos principais temas do momento. Curiosamente, a comprovação de que as emissões de carbono contribuem para o aquecimento global ainda decorre. Por exemplo [2], John Christy, Professor de Ciências da Atmosfera na Universidade de Alabama, é de opinião que a ciência não é totalmente fidedigna, até porque fazer previsões é uma “ciência” difícil e salienta que “quantificar o aquecimento que terá ocorrido devido ao aumento da emissão de gases de efeito de estufa e afirmar aquilo que poderemos esperar no futuro, são respostas ainda repletas de enorme incerteza, na minha opinião”.

A minha opinião, tal como a de muitos outros, é a de que se trata de uma ameaça demasiado importante e, por isso, se deve destinar 1% do PIB, anualmente, para tornar o nosso planeta num local mais ecológico, tal como foi sugerido pelo Relatório Stern. Mas sejamos racionais acerca deste tema e actuemos onde possam ocorrer os maiores impactos.

A preocupação com o ambiente não é algo de novo. Os avisos de catástrofe mundial vieram da equipa liderada por Donella Meadows no livro “Os Limites do Crescimento” publicado em 1971. Mas os seus autores tiveram o cuidado de referir que existiam outras catástrofes e a falecida D. Meadows, com quem tive o privilégio de trabalhar, era nessa altura uma entusiasta defensora da redução da pobreza na Índia.

As questões ambientais são algo sobre o qual é fácil entusiasmarmo-nos. Durante a Guerra Fria, nos anos 70, a única instituição internacional criada para estabelecer uma ponte entre o Ocidente e o Oriente foi o Instituto Internacional para a Análise de Sistemas Aplicados (IIASA) [3]. Ficou sedeada nos arredores de Viena, com o objectivo de aplicar a técnica de análise de sistemas aos problemas ambientais transfronteiriços – um sector considerado, na época, como não político! Actualmente, como é óbvio, esta instituição trabalha na criação de modelos de aquecimento global e 17 cientistas do IIASA foram os autores e revisores do Quarto Relatório de

Michael HopkinsDirector, MHC International Ltd.

Será que o pilar AMBIENTAL da RSE foi sobrevalorizado?

energia e produção alimentar - crítica

“Apelo a todos aqueles que se preocupam com a futura catástrofe provocada pelas Alterações Climáticas, para que incluam não só medidas de cariz Ambiental mas também de Desenvolvimento Socio-Económico, dado que ambas as áreas estão intimamente interligadas e caso não sejam tomadas medidas haverá consequências gravosas para todos nós.”

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Avaliação do Painel Internacional sobre as Alterações Climáticas (PIAC) concluído recentemente.

Como os leitores saberão, defendi recentemente num artigo mensal [4] que devemos escolher cuidadosamente as nossas catástrofes mundiais! Escrevi o seguinte: “… na tentativa de solucionar a potencial catástrofe do Aquecimento Global, estar-se-á a desviar a atenção da catástrofe da pobreza e do subdesenvolvimento?”

Pode a RSE ser o motor?

Acredito que a RSE é o motor que poderá estabelecer a ligação entre todos estes conceitos. A minha definição de RSE é actualmente a seguinte: “tratar os principais stakeholders das organizações de uma forma responsável”. Não a vou aqui defender dado que lhe dediquei um longo capítulo no meu livro “CSR and International Development – Is Business the Solution” (Earthscan, Londres, 2007) [5].

Assim, a RSE abrange a maioria dos stakeholders e as principais áreas de âmbito social, económico e ambiental. Em parte alguma, até à data, é possível encontrar uma avaliação tão abrangente sobre quais devem ser as prioridades. Para as empresas é muitas vezes evidente quem são os seus principais stakeholders e quais devem ser as suas prioridades de RSE. No entanto, as prioridades perdem clareza quando as empresas tentam ir ao encontro das preocupações

da comunidade mais vasta na qual se inserem e desejam saber qual a forma correcta de cuidar dos seus colaboradores que muitas vezes se encontram em locais remotos e inóspitos.

De facto, as grandes empresas, tal como já referi inúmeras vezes nos nossos artigos mensais, têm responsabilidades que vão muito para além das suas habituais dietas. Podem também, em alguns casos (consultar o artigo mensal, na MHCI, sobre RSE e o Complexo Militar Industrial), afectar de forma negativa questões fundamentais. Logo, a minha principal tese é a de que as grandes empresas não deviam ir ao extremo do entusiasmo em relação às questões ambientais sem também terem em consideração as principais questões sociais e, como é óbvio, as suas próprias questões económicas. Geralmente, não se pretende que as empresas deixem de ter lucro pois, como é evidente, acabariam por definhar e morrer, o que não tem qualquer utilidade para os apoiantes da RSE. Que questões sociais são estas? Quais são as implicações entre estar centrado nas questões ambientais comparativamente às questões fundamentais de cariz social? Qual a relação entre a degradação ambiental e a precariedade social e a pobreza?

Apelo a todos aqueles que se preocupam com a futura catástrofe provocada pelas Alterações Climáticas, para que incluam não só medidas de cariz Ambiental mas também de Desenvolvimento Socio-Económico, dado que ambas as áreas estão intimamente interligadas e caso não sejam tomadas medidas haverá consequências gravosas para todos nós.

Michael Hopkins é Professor de Responsabilidade Social Empresarial na Middlesex University Business School e Director Executivo da consultora de RSE e grupo de reflexão MHC International Ltd.. Entre os seus livros já publicados encontram-se “The Planetary Bargain: Corporate Social Responsibility Matters” (Earthscan, 2003) e “Corporate Social Responsibility and International Development: Is Business the Solution?” (Earthscan, 2006).

“As empresas e o público são bombardeados com a necessidade de se tornarem mais ecológicos – reduzir as emissões de dióxido de carbono, comprar produtos orgânicos e produzidos localmente, poupar água – e,

sem surpresa, a parte “social” da RSE não está a ser alvo de toda a atenção que merece. ”

por Michael Hopkins com agradecimentos a Ivor Hopkins e a Jawahir Adam da MHCi pelos comentários e alterações à versão preliminar.

[1] Avaliar o impacto das questões de cariz social: A McKinsey Global Survey, Novembro, 2007[2]Citado pela BBC a 13 de Novembro de 2007. Consultar http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7081331.stm[3] http://www.iiasa.ac.at/docs/history.html?sb=3[4] MHCi Monthly feature consulte www.mhcinternational.com[5]Michael Hopkins: CSR and International Development – Is Business the Solution? (Earthscan, Londres, Dezembro 2006, cuja versão revista será publicada pela Earthscan em Outubro de 2008).

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A eficiência energética tem de ser vista como uma necessidade, como algo inerente ao desenvolvimento e crescimento sustentável. É por isso que assistimos a países, empresas e particulares, por todo o Mundo, a dar o próximo passo em busca de uma importante transformação energética.

Esta transformação terá que se assumir como um compromisso mundial, onde os Estados devem estabelecer metas e objectivos delineando um plano; onde as empresas e privados devem antecipar-se e por elas promover a sua eficiência energética reduzindo custos e transformando a sua energia; e onde cada um de nós pessoalmente tem de assumir responsabilidades e encontrar soluções adequadas.São já muitos os estudos, planos ou manuais de eficiência energética que podemos encontrar. Da Comissão Europeia temos o Livro Verde sobre eficiência energética [1] procurou identificar opções e facilitar planos de acção concretos a nível comunitário, nacional, regional e local. Pretendeu promover a eficiência energética pelos vários países Europeus, fornecendo aos Estados os ‘’incentivos e instrumentos que estes necessitem para avançar para as acções’’. Mais recentemente a International Energy Agency lançou um documento com recomendações, inserido no plano de acção do G8, que não podia ser mais claro ao afirmar:’’Saving energy is the most rapid, least costly way to reduce energy demand, CO2 emissions and energy supply investment needs’’ [2].

Estamos numa fase de aprendizagem e de experiência, entenda-se: boas práticas energéticas, e identificação de formas inovadoras de poupar energia reduzindo as emissões e os custos. Encontramo-nos assim em plena transformação\evolução energética. Exemplo disso é o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética(PNAEE), que Quercus e LPN classificaram de “pouco ambicioso”, e que prevê a redução do consumo de energia em 10% até 2015 partindo de 4 áreas: transportes, residencial e serviços, indústria e Estado, apostando também fortemente nas renovavéis. Temos por outro lado estudos de empresas privadas que analisam o consumidor europeu ,e o Português em particular, onde facilmente se conclui que existe uma preocupação e intenção de tomar medidas, mas existe ainda uma grande discrepância entre atitude e verdadeiro comportamento, sendo que os custos financeiros prevalecem sobre as preocupações ambientais como principal razão para a redução do consumo energético. Não podemos esquecer que, nos últimos

6 anos, a economia Portuguesa tem tido periodos de recessão económica e abrandamento, o que tem implicações muito concretas na diminuição do poder de compra do cidadão.

Ao nível das empresas encontramos o Manual de boas práticas de eficiência energética, publicado pelo BCSD, bem como estudos de privados que analisam a eficiência energética em PME’s; em Portugal conclui-se que a manutenção e exploração de equipamentos consumidores de energia são as áreas com maior potencial de poupança.Temos ainda análises aos lares Portugueses onde percebemos que os mais jovens demonstram ter hábitos energéticos mais eficientes e que quanto maior o nível socio-económico,maior a eficiência energética do lar.

A eficiência e poupança energética é vista por muitos como a ‘’4ª energia’’, ganhando às renováveis, combustiveis fósseis e nuclear considerando o desempenho energético, sustentável e o económico. Temos depois outra variante, a dimensão social do tema, onde será imprescindivel a criação de uma cultura de hábitos comportamentais de eficiência energética, ainda distante, talvez fruto das circunstâncias económicas adversas.

Impõe-se então às empresas, particulares e sociedade de uma forma geral , que analisem as ineficiências energéticas, que ajam perante elas, modificando a forma como consomem energia, reduzindo assim a sua factura energética e emissões associadas. É possível hoje realizarem-se auditorias energéticas, que permitem a identificação de mecanismos e tecnologias que permitirão reduzir a factura de energia da sua empresa, condomínio e habitação. Que esta revolução energética já iniciada nos leve a uma nova era de energia, assegurando um futuro verdadeiramente sustentável.

EfIciência Energética Analisar, Agir e Transformar, por Bruno Cachaço

efIciência energética - referências

by Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt).

[1] (http://ec.europa.eu/energy/efficiency/doc/2005_06_green_paper_book_pt.pdf ).[2] (http://www.iea.org/textbase/papers/2008/G8_EE_2008.pdf ).

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Todos nós já ouvimos falar no “…dá-lhe uma cana de pesca e ensina-o a pescar…” em oposição a “…dá-lhe peixe para comer…” como sendo uma metáfora de que é muito mais interessante aprender a resolver os problemas do que a ter a solução na mão sem qualquer esforço. As energias renováveis permitem a todas as comunidades agir de acordo com o ecossistema em que estão inseridos. O conceito de desenvolvimento sustentável pode resumir-se no seguinte conceito: não usar o que não temos. Esta forma de pensar levanta grandes questões aos padrões de vida actuais em que estamos habituados a viver independentemente do ecossistema que nos rodeia. O facto de passarmos a utilizar os recursos energéticos que nos rodeiam, apostando na descentralização, no equilíbrio ecológico, respeito pelo meio ambiente e sustentabilidade (por oposição a monopólios e a centralização) são a aposta clara para podermos viver em verdadeira harmonia.

As energias renováveis caracterizadas no seu todo englobam: solar fotovoltaico e térmico; eólica; biomassa e biocombustíveis; hídrica; oceano, ondas e marés; geotermia. Todas estas fontes de energia existem em diferentes proporções no planeta Terra e o uso delas todas constitui a fórmula para que possamos aproveitar a energia disponível em cada ecossistema sustentavelmente. Desde calor, electricidade, passando por força motriz e indo mesmo ao armazenamento temos tudo o que necessitamos.Grande parte dos problemas mundiais da humanidade actualmente foram criados por nós próprios e a solução afigura-se algo complexa no mundo actual com todos os seus vícios. As Energias Renováveis e o seu uso resolverão grande parte dos problemas nos chamados países em desenvolvimento, porque poderão ter energia disponível com base nos seus recursos e não nos recursos dos países desenvolvidos (sejam eles tecnológicos ou mesmo em matérias primas). O seu desenvolvimento será à medida das suas necessidades versus disponibilidade. A verdadeira “cana de pesca” é ensinar “como construir uma cana e quais os princípios básicos”!

Portugal é um país abençoado: ameno, com amplos recursos solares, eólicos, em biomassa, hídricos, de marés, do oceano e mesmo geotérmicos. No entanto somos totalmente dependentes dos combustíveis fósseis, para lá da grande hídrica – apenas válida na componente de produção de electricidade – e não apostámos em qualquer outra forma de energia renovável para lá dos diversos mini projectos de investigação que existem. Recentemente a energia eólica saltou para os jornais como campeã das renováveis a par do

solar fotovoltaico e dos biocombustíveis. No entanto a abordagem tem sido economicista e portanto todo o investimento tem vindo de fora com os dividendos a não ficarem em Portugal, nem o know how associado. Os portugueses não têm qualquer relação com as renováveis e os grandes problemas da nação actualmente: aumento do preço dos combustíveis fósseis (todos estão indexados ao petróleo), desemprego, aumento do custo de vida podiam todos ter uma resposta diferente caso o investimento nos recursos nacionais tivesse sido feito a par de formação de quadros nestas áreas.

Mesmo neste panorama sombrio as Energias Renováveis começam a fazer parte do léxico dos portugueses. Os “painéis solares” no Alentejo, “as ventoinhas” na zona do oeste e norte do País são já citados por muitos, mas vejamos a real evolução da produção de energia eléctrica de acordo com a DGEG:

As energias renováveis e o impacto na economia mundial

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Estamos perto do topo e devemos estar contentes, mas pense-se em quantos de nós estiveram e estão ligados ao sector das renováveis; Que o consumo energético não é electricidade apenas; Quantos colectores solares térmicos temos instalados no nosso país? Que uso fazemos da geotermia? Porque continuamos a negligenciar as ondas do nosso mar? E as marés?

Fala-se também no aumento da fome e escassez de alimentos (cereais) a nível mundial e uma das formas de energia renovável – os biocombustíveis – estão na sua origem, mas se observarmos o que se passa na realidade vemos que os países desenvolvidos querem irredutivelmente continuar agarrados aos seus estilos de vida e os pobres têm de ver o seu milho e outras culturas alimentares serem utilizadas para produzir combustível para os automóveis dos norte-americanos e europeus. Mais uma vez o desenvolvimento

sustentável é um slogan e não um estilo de vida. Pode custar, mas temos de ser capazes de perceber que existem limites! Tecnologicamente precisamos de evoluir, necessitamos de nos especializar e crescer numa vertente de independência e sermos capazes de nos sustentar e progredir em termos da nossa qualidade de vida.

Ou seja podemos resolver o nosso problema com os nossos recursos e ao mesmo tempo poder ter algo em que podemos exportar conhecimento e tecnologia, bem como partilhar a nossa experiência com outros povos.

O crescimento eólico deu-se de pouco menos de 100 MW de potência instalada em 2000 para mais de 2000 MW em finais do ano de 2007, isto significa um aumento de 20 vezes em apenas 20 anos. O fotovoltaico de 1,2 MW para 14,5 MW, em 7 anos quase 14 vezes.

Mas temos de ir aos menos falados: biomassa sem co-geração de 8 para 24, 3 vezes em 7 anos, biogás de 1 para 12,4, 12 vezes. Comparemo-nos com a Europa:

por Agostinho Miguel e João Saraiva, Portal das Energias Renováveis (www.energiasrenovaveis.com).

Fonte: DGEG.(PCH – Pequenas centrais hídricas > 10MW)

Fonte: DGEG

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Im))pactus.: 1. Pode-nos dar uma ideia do estado actual em que se encontra a energia nuclear em Portugal? Pedro Sampaio Nunes.: A energia nuclear em Portugal continua e ser uma possibilidade real, e eu diria agora uma inevitabilidade face à evolução do contexto energético mundial, que se encontra devidamente estudada desde o Plano Nuclear que culminou com o Livro Branco dirigido ao Governo em 1983, e sobre o qual acabou por não haver nenhuma decisão na altura. Esse Livro Branco foi o culminar de um processo em que o País se preparou durante décadas, e de que resultou hoje ainda em funcionamento o Instituto de Tecnologia Nuclear, onde funciona o Reactor de Sacavém para fins de investigação.

Mais recentemente, e desde 2004 um grupo privado decidiu investir na possibilidade de construir e operarar reactores nucleares de potência.Para tal fim foi criada uma empresa, a ENUPOR, Energia nuclear de Portugal SA, que promoveu o estudo de pré-viabilidade de um reactor comercial em Portugal.

I.: 2. Existe uma clara ruptura deste Governo com o nuclear, as opções pelas renováveis parecem-lhe acertadas? P.S.N.: As opções pelas renováveis seriam acertadas na medida em que houvesse uma noção tecnicamente correcta do seu real potencial e custo, com as tecnologias disponíveis actualmente, e do seu contributo para ajudar a solucionar a grave dependência que o País tem de importação de energia primária. Ora essa noção infelizmente não existe, e o que estamos a assistir é uma mobilização maciça de recursos que se vão buscar à economia, onerando de forma hoje já dificilmente recuperável a competitividade do nosso tecido produtivo, peloapoio indiscriminado dado a essas forma de energias, partindo do principio que se poderia cobrir de forma significativa a nossa dependência por uma produção endógena não-nuclear. Ora isso deveu-se à grande influência de uma escola de pensamento em temas de energia activamente anti-nuclear, e que foi já em 1983 determinante para o abandono do Plano Nuclear.

Ora a realidade mostra-nos que apesar deste enorme esforço em prol das renováveis, com um reflexo cada vez mais impportante na factura eléctrica nacional, as renováveis têm vindo sistematicamente a diminuir a usa presença no “mix” eléctrico, pelo que Portugal tem continuado a depender cada vez mais da sua geração fóssil, e também de forma crescente de importações de Espanha – e esta de origem nuclear.

A contribuição das renováveis era de 80% noa anos 70, passou para 40 % nos anos 80, e para 30 % nos anos 90. Desde 2000 foi em média de 28,5 % e actualmente é de 27%, embora se anuncie de uma forma enganadora que já tenhamos atingido os 39% da Directiva Renováveis o ano passado e que iremos cumprir os 45 % anunciados pelo Governo para 2010. Parece-me totalmente impossível que isso venha a acontecer, a não ser que tivéssemos dois anos excepcionalmente

chuvosos em 2009 e 2010. A chamada correcção da hidraulicidade que é realizada para os valores reais que referi, é feita de forma incorrecta mesmo em relação à declaração sueca anexa a essa directiva que a prevê, e está a induzir a opinião pública em erro.

I.: 3. Estamos a assistir a uma reactivação de centrais por parte de alguns países, nomeadamente os ingleses. Como entende este facto? P.S.N.: Estamos a assistir a uma reactivação do interesse pela energia nuclear em todo o Mundo. No Reino Unido está em curso o processo de substituição das centrais nucleares em fim de vida, nomeadamente as de tecnologia mais obsoleta, como as centrais Magnox, por centrais de terceira geração, como nos EUA e em França. Na Ásia o ritmo de construção nunca abrandou, nomeadamente no Japão, China, Índia e Coreia do Sul. Este país, com uma superfície semelhante á de Portugal, e uma situação geográfica parecida – numa península e apenas com um fronteira – tem 20 reactores em funcionamento e planeados mais oito. Em 2005 estavam em construção 24 reactores nucleares em todo o Mundo, estavam encomendados 40 e planeados 73. Hoje estão em construção 36, estão encomendados 93 e planeados 218. Se há uma verdadeira revolução industrial e energética no Mundo hoje em dia, ela está em curso na energia nuclear e nos biocombustíveis. É por essa via que a Humanidade vai resolver o forte aperto em que se encontra durante as próximas três décadas.

I.: 4. A energia nuclear, é em sua opinião e ainda, um tabu? Como se compreende se a nível energético e económico é uma opção viável? P.S.N.: Em Portugal não é já um tabu, mas existe um forte preconceito baseado na falta de informação e de conhecimento sobre esta matéria, e no receio dos políticos de abordarem um tema em que receiam uma discussão aberta, devido à influência da escola de pensamento de que fiz já referência, de velhos lutadores contra o nuclear assentes numa concepção ideológica e não científica, das questões energéticas.

I.: 5. Quanto a localizações de uma possível central nuclear em Portugal, quais seriam as possíveis? O ideal seria uma proximidade com água e com Espanha. Existe abertura por parte das autarquias e condições de aceitação social para um projecto deste nível? P.S.N.: Existem múltiplos factores que determinam a escolha da localização ideal de uma central nuclear. O ideal seria fazê-la junto ao mar para evitar a construção de torres de arrefecimento. Mas considerações ligadas à realidade do mercado ibérico de energia apontam hoje para uma localização mais próxima dos grandes centros de consumo nesse mercado, e por isso os estudos mais recentes

Pedro Sampaio NunesAdministrador da GreenCyber,SA

“Energia nuclear em Portugal continua e ser uma possibilidade real, e eu diria agora uma inevitabilidade face à evolução do contexto (...)”

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apontam para uma localização mais próxima da fronteira. Das várias autarquias contactadas, algumas mostraram uma boa aceitação, a exemplo do que se passa em Espanha ou em França, em que existe uma espécie de concurso para fazer a selecção de entre as várias autarquias candidatas.

I.: 6. Entende esta fase das renováveis como de transição para o nuclear? P.S.N.: Não, investir nas renováveis é absolutamente necessário para manter um contacto com o desenvolvimento tecnológico em curso, e entrar em força quando a curva de aprendizagem dessas tecnologias lhes der capacidade competitiva. Agora, investir nas renováveis para lhes dar escala e assim construir essa capacidade competitiva, é um erro enorme de alocação de recursos, num País que os não tem em abundância. Agora eu estou certo que o futuro se fará por um tandem renováveis-nuclear, e dependendo da evolução tecnológica, sobretudo na área dos materiais, poderíamos eventualmente ver o nuclear como uma transição para as renováveis e não o contrário. No futuro tudo dependerá de como a tecnologia dos materiais poder resolver as barreiras à larga disseminação do fotovoltaico e da viabilização da fusão nuclear.

I.: 7. Podemos afIrmar que existem investidores nacionais interessados neste projecto?P.S.N.: Não só pode afirmar, como ter a certeza que existem vários investidores interessados na energia nuclear civil em Portugal, a exemplo da Finlândia, onde o Governo terá que decidir entre os vários candidatos ao 6º e 7º reactor naquele país. Esse interesse deriva da enorme vantagem competitiva que tem actualmente a energia nuclear na Europa, sendo a forma mais importante de geração eléctrica no

continente, com um terço de toda a geração de electricidade. Existe hoje na energia eléctrica uma Europa a duas velocidades: o centro do Continente fortemente nuclearisado – a França, a Bélgica, a Suiça, a Suécia, etc. - e depois os países da Peninsula Ibérica que estão a tentar resolver o problema com uma aposta muito forte nas renováveis. Uma vez que a actividade económica depende sempre da energia em maior ou menor grau, esse facto obrigou a que os países ibéricos tenham entrado numa subsidiação encapotada das tarifas eléctricas, criando défices tarifários explosivos, e que em Espanha atingem já o valor inacreditável de 15 mil milhões de euros. Ora essa factura, quer venha a ser paga pelos consumidores quer pelos contribuintes, representa um ónus tremendo para a economia desses países, e a meu ver, o principal obstáculo futuro à retoma económica do nosso País.

I.: 8. A segurança ainda é um factor problemático na energia nuclear? P.S.N.: Se a segurança fosse um factor problemático na energia nuclear, não existiria seguramente interesse privado em investir nessa forma de energia. A realidade é que as estatísticas mostram que de todas as formas de geração eléctrica com significado, a energia nuclear é, de longe, a mais segura. O único acidente sério e com consequências fatais em 50 anos de energia nuclear, Chernobil, está hoje bem conhecido quer nas suas reais consequências, muito inferiores ás propaladas na altura pela comunicação social, quer na impossibilidade de se repetir com a tecnologia actual.

por Pedro Sampaio Nunes, Administrador da GreenCyber, SA.

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Nuno Ribeiro da SilvaPresidente Endesa Portugal

Faz todo o sentido África ser um alvo para a implementação dos mecanismos de CDM e de mitigação de CO2. Neste contexto, faz sentido olhar para África , porque é realmente um continente onde o solo está sub utilizadissímo do ponto de vista de potencial agrícola, e portanto plantações, florestação, usos que sejam sorvedores de CO2 tem todo o sentido. E todos ganham com esta abordagem. No que toca às soluções convencionais, África tem também um potencial enorme e mal conhecido associado ao limitadissímo conhecimento aí existente - quando comparado ao da Europa ou da Ásia -sobre “ onshore”, “offshore”, potencial de carvão, gás natural e petróleo. É um continente muito pouco explorado sobre o ponto de vista do potencial de petróleo, gás e mesmo carvão. É precisamente nestes pontos que China essencialmente aposta. A China, nos programas que tenta estabelecer com os governos africanos, aposta essencialmente nos combustíveis fosseis tradicionais.

I.: 3. Existirá o perigo, de mais uma vez, África vir a ser explorada para satisfazer uma necessidade dos países ricos, sem que exista uma preocupação evidente prática com o factor humano e social? Se sim, quais são as medidas que têm necessariamente de existir? N.R.S.: Tem a ver com os dirigentes africanos. Nós temos hoje uma série de países em África que estão a viver dos combustíveis fosseis, como o Gabão, a Nigária e Angola. É expectável que surja uma Guiné Equatorial, estando São Tome e Moçambique a começar a concessionar, com bons prémios, zonas de prospecção e pesquisa no offshore Moçambicano, na Tanzânia, etc. Há um problema de gestão interna. Não é apenas um problema do ocidente pois países que têm rendas petrolíferas no médio oriente, independentemente de não serem propriamente transparentes, as populações usufrem muito mais do que acontece na Nigéria em Angola ou no Gabão e do que vai acontecer na Guiné Equatorial e por aí fora. Os países constituiram, companhias nacionais, como acontece na Nigéria com a NNPC e em Angola com a Sonangol, portanto não é um problema dizer que as companhias trasnacionais e as multinacionais aparecem e apoderam-se dos recursos nacionais... é mal gerido, e os dirigentes locais sao oportunistas, portanto não é tanto um problema ocidental e de séc .19 conferência de Berlim como aconteceu, no quadro colonial, em que se chegava e tirava o ferro os metais e as coisas da 1ª revolução industrial. Agora é um problema deles.

I.: 4. A União Europeia defIniu como meta que os biocombustíveis passem a representar 10% das necessidades de combustiveis para transportes até 2020. Não será uma meta contraditória face à crise alimentar que se vive?

Im))pactus: 1.Energia verde proveniente da queima de cereais, constitui hoje uma das opções para a produção de energia com menos emissões de CO2. O continente Africano pode ser visto como um potencial ‘’Celeiro’’ Mundial ? Nuno Ribeiro da Silva: Dois pontos prévios, não esqueçamos que os biocombustíveis sao um paliativo relativamente à problemática dos combustíveis para os transportes, aparecem como um sucedaneo aos derivados do petróleo. O problema fundamental dos transportes está associado ao anacronismo do motor de explosão. Como tal a grande questão que hoje se coloca, sendo também uma oportunidade ao fim de um século, é promover-se uma alteração ao nível dos transportes que têm vindo a utilizar o motor de explosão, até porque, pelas leis da física e da termodinâmica, não pode ter um rendimento superior a 15% . Para dar uma ideia, a eficiência do Sr. Ford à cem anos é a mesma eficiência dos motores dos carros modernos - sao leis da física, é a termodinâmica. Portanto não esqueçamos que biocombustíveis é apenas um paliativo, é apenas um interludio, um intervalo num problema crítico que está ligado ao abandono definitivo do motor de combustão. E portanto continuar a apostar em combustíveis para motores de explosão é errado. Dito isto, e ligando os biocombustíveis às questões do conflito com os produtos alimentares, faz sentido produzir biocombustíveis nos sitios em que existem as condições bioclimáticas, disponiblilidade de terra e as eficiências de processo, nomeadamente a fotossíntese, que nao conflituem com a produção de produtos agrícolas com vocação alimentar. Nessas condições faz todo o sentido produzir alcóol e gasolinas derivados da cana de açúcar. O que não faz sentido é forçar, por razões meramente economicistas e no sentido de subsidiação, a produção de milho, por exemplo, no middle west nos EUA. Resumindo, nao tenhamos a ilusão que os biocombustíveis são um adiar da questão crítica e decisiva para o Mundo, e que se prende com a capacidade em abandonar, ao fim de um século, os bons serviços que o motor de explosão produziu, e ir produzindo biocombustível em locais específicos sem se entrar em conflito com a produção alimentar e onde a eficiência do processo, sob o ponto de vista energético, faz sentido. Para ter uma ideia, produzir alcóol com base na cana do brasil tem uma relação de 1 para 8, produzir alcóol com base no milho do middle west americano tem uma relação de 1 pra 2 , portanto não faz sentido.

I.: 2. Poderá África constituir uma forte solução para os problemas energéticos da economias desenvolvidas e em grande crescimento como a China?N.R.S.: A questão aparece na sequencia da anterior. Faz sentido desenvolverem-se programas em África não numa óptica de produção intensiva e de monocultura de biocombustíveis , mas essencialmente associada aos mecanismos de Kyoto para o CO2.

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dos objectivos fundadores da ERSE em causa, quando o governo diz no diploma que define os preços em anos excepcionais, sem especificar o que sao anos excepcionais. E tem estado a criar anos excepcionais todos os anos, uma vez que quando, sob o ponto de vista político, se sente desconfortável em actualizar os preços que reflitam o aumento dos custos de produção e electricidade. Portanto, nomeadamente em Portugal, se é correcta a política que tem sido seguida a nível dos preços dos derivados do petróleo e ao nível de preços da electricidade? Afirmo que não.

I.: 6. Como vê a introdução de portagens nas cidades, parece-lhe uma boa medida a tomar?N.R.S.: Claro, é uma medida correctíssima, é uma das medidas... há muita experiência e muita prática no uso de dezenas de intrumentos políticos, para mitigar o uso do transporte particular. No nosso caso é escandaloso pois nas deslocações casa-trabalho-casa não deve haver nenhum país na Europa que tenha taxas na ordem dos 90% de um carro uma pessoa. Logo este tipo de medidas é essencial, nomeadamente se as portagens vão em abono de apoiar o uso dos transportes públicos. Existem muitas medidas para desencentivar o uso do trasnporte particular nas cidades e estimular o uso do transporte público e penalizar quem opta por levar o seu transporte particular para a cidade. É óbvio que é um ‘luxo’ que tem de ser pago - quem quiser paga quem não quiser não paga. É um ciclo vicioso, por exemplo, no caso da CARRIS tem uma penalizaçao brutal pelo facto de ter as ruas de Lisboa completamente condicionadas, o que lhes dá uma velocidade comercial miserável, de 15 km\h . É todo um efeito cascata, não só para as pessoas. Para o sector, diminui enormemente o investimento, pois os autocarros passam a fazer muito mais serviço em menos tempo porque não estão parados no trânsito. É todo um processo lógico, tirar os carros da cidade e por os transportes públicos rodoviários a funcionar e a circular. É uma medida crucial e a grande oportunidade histórica de o fazer, porque as pessoas percebem isso.

I.: 7. Concorda com opinões que nos dão conta das difIculdades em ganhar concursos à GALP e EDP por exemplo? N.R.S.: Está no programa do governo e na resoluçao do conselho de

N.R.S.: É um pouco, mas na linha do que já falamos, na Europa, que tem vindo a ser posta de parte o célebre setaside em termos de terrenos e com a diminuição do uso de solos para produçao agrícola (até por produzirmos manteiga subsidiada e leite subsidiado, etc), a reforma da PAC deu estímulos para diminuir a área agrícola. Quando a Europa coloca este objectivo de aumentar contributo dos biocombustíveis, pode fazer todo sentido sob vários pontos de vista. Quando a Europa pode aproveitar terrenos que não estão a ser utilizados e, pelo contrário, estavam a ser subsidiados para ser abandonada a actividade agrícola, pode introduzir nesses terrenos culturas energéticas. E nessa caso faz todo o sentido. Estamos por um lado a criar rendimento para as zonas rurais e por outro a contribuir para uma autoprodução de combustíveis para mitigar a dependência dos derivados do petróleo no quadro europeu. Em resumo, esse objectivo tem sentido , os terrenos que têm estado a ser desactivados no âmbito da reforma da PAC permite trasnportar ou transferir rendimento para o espaço rural sem conflituar com as regras da OMC e contribuir para resolver um problema europeu.

I.: 5. Concorda com as políticas actuais para fazer face ao aumento do preço dos combustiveis?N.R.S.: Os países produtores e países emergentes como a China, a India, entre outros, estão a subsidiar os preços dos combustíveis, o que é um disparate absoluto e os resultados sao dramáticos porque, no fundo, o consumo continua a crescer de uma maneira colossal e não se transmite às pessoas os sinais, através do preço, que levem a um uso racional, nem se está a introduzir uma serie de mecanismos que reflictam o que é efectivamente o custo das matérias primas e do consumo desses bens. Ao nível Europeu e até mesmo da OCDE, mas para a Europa em particular, o reflexo de aumento dos custos nos preços é correctíssimo, é a unica atitude a ter, embora os Estados estejam a ganhar mais dinheiro, como o nosso, porque como se sabe os impostos (quer o IVA quer o imposto sobre os produtos petrolíferos) são ad valorem. A partir do momento em que aumenta o custo do produto - embora a percentagem do IVA e do ISP seja muito próxima (que é cerca de 50% no gasoleo e 60% na gasolina) - o valor aumenta porque é ad valorem. Mas é a política certa a ter e não se deve mitigar e’’ tentar tapar o sol com a peneira’’. Energia e preços não é só gasolina, gasóleo e gás natural. Aí, no plano da electricidade, nomeadamente no nosso país comete-se um ‘crime’, e a lei da semana passada é a expressão desse crime, colocando alguns

“Faz sentido produzir biocombustíveis nos sítios em que existem as condições bioclimaticas, disponiblilidade de terra e as eficiencias de processo, nomeadamente

a fotossintese, que nao conflituem com a produçao de produtos agricolas com vocação alimentar.... O que não faz sentido é forçar, por razões meramente

economicistas e no sentido de subsidiação, a produção de milho, por exemplo, no middle west nos EUA”.

“O estado tem estado a criar anos excepcionais todos os anos, uma vez que quando, sob o ponto de vista politico, se sente desconfortavel em actualizar os preços que reflitam o aumento dos custos de produçao e electricidade”.

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ministros de 2005 que a Galp e EDP serão os operadores relevantes energéticos em Portugal, portanto não há mercado em Portugal. Aliás o diploma da semana passada é expressão disso. O governo decidiu proteger a EDP e a Galp, e os portugueses pagam para a EDP e Galp. Se do lado Espanhol houvesse uma retaliação não seria de surpreender, pois o governo espanhol tem tido uma atitude perante a EDP e Galp muito mais aberta do que o governo Português relativamente as empresas espanholas. O governo Português, que tem ganho muito com a relação íntima que mantém com a EDP, optou por esta via.

I.: 7.1. Relação com Espanha segundo governo é muito saudável...N.R.S.: O governo Espanhol tem estado muito distraído mas sabe o que se passa, mas isso é entre governos. Para mim e eu posso parecer parcial, o que acontece é que quer a EDP quer a Galp não são empresas públicas, se o fossem formalmente em que o capital fosse público, ainda podia dizer, como português, que perdia dum lado ganhava doutro. Mas não. A Galp tem 8% capital público directa ou indirectamente e a EDP tem um quarto. Portanto os portugueses estao a pagar para os previlégios que Galp e EDP têm.

I.: 8. A energia nuclear deveria ser uma aposta imediata? Seria uma boa solução para os transportes(hidrogénio)?N.R.S.: Isto é um tema para uma grande conversa...

I.: 8.1.Acha portanto que faz falta uma discussão séria?N.R.S.: Séria , objectiva e complexa! Eu tenho uma fórmula... eu prefiro que a China e a India que são mercados eléctricos em crescimento aceleradíssimo façam nuclear em vez de fazer carvão, prefiro. Em Portugal actualmente( nuclear so serve para fazer electricidade), electricidade tem 25% do consumo final de energia, da produção electrica 40% vem de renováveis, o que signigfica que falamos de 13% do problema energético do país. Tendo em conta que o sistema eléctrico Português é mais do que maduro, não faz o mínimo sentido fazer uma central nuclear em Portugal, sob o ponto de vista económico e técnico. E ninguém consegue construir uma central em Portugal sem subsídios. Depois há outra questão, inerente à questão inicial, que é pressupor que os transportes se reconvertem a electricidade. Na minha opinião, o problema eléctrico deixaria de ser 25% para passaria a ser cerca de 60% do consumo final de electricidade. E aí temos um problema novo. Aí discutia o nuclear em Portugal, mas nao no contexto actual. Ou seja, se os transportes, passassem a consumir energia, por via directa (veículos usarem electricidade directamente, carregadores, baterias etc) ou indirecta através do hidrogénio ( para produzir hidrogénio é preciso centrais eléctricas), o consumo final de energia passaria de 25% para 25%+38% (consumo actual de energia final)e portanto falariamos em 60% (que é o consuno

final de energia sobre a forma eléctrica) consumo final energia sobre a forma eléctrica. Nestas circunstâncias parece-me que faz sentido pensar na questão do nuclear. Mas pensar e discutir... ainda não é linear. Hoje, tal como estamos, sob o ponto de vista económico é um disparate. Sob o ponto de vista técnico é uma estupidez. E sob o ponto de vista ambiental é um wishfull thinking. Eu não tenho preconceitos sobre isto, aliás é possível identificar 15 países civilizados da europa que

não têm nuclear. Quando algumas pessoas dizem que a maior parte do contributo da produção de electricidade na Europa vem do nuclear, isso é mentira. Basta olhar para os dados e número que se conhecem. E em ultima instância discuto o problema da segurança do nuclear...

I.: 8.2. A segurança ainda é um problema...N.R.S.: Sem dúvida claro, eu andei em Chernobyl 3 vezes... sob o ponto de vista económico e técnico o nuclear não cabe em Portugal. Mas mesmo indo para a discussão esotérica da segurança, o que digo é que num acidente de uma mina de carvão, explosão duma refinaria, podem existir fatalidades, mas é um acidente que controlamos. Mas quando se dá um acidente nuclear embora a probabilidade seja muito baixa, é algo que nos não temos anticorpos, mecanismos para controlar esse acidente. Esse é um problema qualitativamente diferente. Mas focalizando a questão no ponto de vista económico e técnico, e eu tenho os números pois a minha empresa opera 8 centrais nucleares, o nuclear não é barato e, tecnicamente, não entra no sistema eléctrico portugues sem subsídios.

I.: 9. Ao nível do sector fInanceiro e do papel que este deve desempenhar, os bancos deveriam promover empréstimos diferenciados pera investimentos e consumos com menos emissões de CO2 e menos consumo energético? N.R.S.: Tem todo o sentido que haja essa diferenciação. Com a entrada recente em vigor da directiva sobre as responsabilidades ambientais, estas preocupações são reflectidas directamente no risco dos clientes e do empréstimo. Faz todo o sentido ter condições diferenciadas para o financiamento ao investimento e à actividade das empresas, considerar esses requisitos ambientais, nomeadamnete as emissões. Já nao se trata apenas de um voluntarismo das instituições financeiras em terem o arauto da promoção de soluções mais nacionais e mais friendly do ponto de vista ambiental, é uma questão que mesmo na analise de risco faz sentido. A banca, e num quadro de ser uma entidade que supostamente no plano da analise do risco equaciona rodos os parametros, tem hoje objectivamente razões para fazer uma diferenciação. Discriminação relativamente a empresas e projectos que têm menos risco ambiental, lá está, a directiva ambiental acciona um conjunto de responsabilidades sobre as empresas e sobre os gestores. Estamos a falar de sinais que a legislação assimilou e materializa sob o ponto de vista de mercado e que afecta o risco dos emprestimos e da exposição da banca.

por Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt).

desafIos da energia - visão portuguesa

Eng. Nuno Ribeiro da Silva, formado em Engenharia e Economia e Mestre em Economia Politica e Planeamento Energético pela Universidade Técnica de Lisboa, é actualmente presidente da Endesa Portugal.

“Hoje, tal como estamos, sob o ponto de vista económico é um disparate. Sob o ponto de vista tecnico é uma estupidez. E sob o ponto de vista

ambiental é um wishfull thinking… Quando alguém diz que a maior parte do contributo da

produçao de electricidade na europa vem do nuclear, isso é mentira. ”

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Não há dia que não se fale neste assunto desde há uns meses para cá: o aumento vertiginoso do preço dos cereais está a causar uma crise, inclusive de cariz humanitário, de proporções gigantescas, havendo quem chegasse a referir o receio de que tal aumento viesse a aumentar a pobreza também em Portugal. A verdade é esta: no último ano o aumento médio do preço dos cerais foi de 75%. Só o trigo registou um aumento de 130% no mesmo período e o preço do arroz está o dobro do que estava no início do ano, a bater recordes com preços nunca vistos em Abril. O Banco Mundial salienta que devido a este aumento de preços, só neste último ano mais de 100 milhões de pessoas estão sem comida e em muitos países está a haver revoltas nas ruas por causa dos preços exorbitantes e por não haver comida suficiente para a sobrevivência.

A razão mais comummente apontada para o aumento do preço dos cereais é a respectiva utilização para produção de biocombustíveis, em virtude das políticas agressivas nesta área da UE e dos EUA. Mais do que esta ser a razão mais comummente apontada é, na realidade a única de que se fala.

Contudo, é necessário também apresentar outros argumentos que explicam esta crise e que retiram o ónus da crise humanitária à única solução e alternativa real e funcional a curto prazo aos combustíveis fósseis. Temos vivido nos últimos 30 anos uma quebra total de estrutura de exportação e importação mundial de cereais com a perda de cerca de 75% da biodiversidade por causa de monoculturas industriais que causam esgotamento do solo, das reservas de água e desertificação. Ao mesmo tempo, as alterações climáticas, que são agravadas pela agricultura industrial, também têm um efeito significativo na redução de quantidades de cereais produzidos em muitos países (como o Quénia e Moçambique, embora do ponto de vista global 2007 tenha sido um ano com produções record).

Além destes factores existem outros como o aumento da procura de comida e ração na China e Índia (em que mais de 2,5 biliões de pessoas estão agora a ganhar capacidade económica para se alimentar) e/ou o aumento incrível do preço do petróleo que torna a agricultura industrial mais cara. Igualmente não podemos esquecer o impacto de alguns factores de produção como pesticidas e fertilizantes, cujo forte aumento da procura pode potenciar o aumento da produtividade levou a um aumento significativo dos respectivos custos, com efeitos directos nos

preços finais dos cereais. Tão ou mais importante ainda são os sempre debatidos e controversos subsídios à agricultura nos EUA e na Europa, que tem levado à destruição de milhares de pequenas explorações agrícolas sustentáveis nos países em desenvolvimento, precisamente aqueles onde o aumento do preço dos cereais tem impactos mais gravosos. Cerca de 70% dos países em desenvolvimento são importadores líquidos de produtos agrícolas, a maior parte em resultado directo destas políticas.

Finalmente, não pode deixar de ser referido, por ser talvez a causa maior, que, com o colapso dos mercados financeiros em virtude da crise do sub-prime, houve um forte desvio dos capitais especulativos para as commodities agrícolas – actualmente, os fundos de investimento controlam cerca de 60% do comércio de trigo.Na realidade, enquanto 100 milhões de pessoas passam agora fome por causa do aumento do preço dos cereais, os lucros das 6 maiores traders de cereais (4 dos EUA, uma do Japão e uma de Singapura) aumentaram entre 30 e 92% em 2007.

Desta forma, e como se pode verificar, existem vários factores que estão a afectar os preços de cereais à volta do mundo, pelo que a discussão não se deverá limitar nem tão pouco centrar na promoção dos biocombustíveis. Nada terá maior interesse dos que realmente ganham com este aumento do preço dos cereais, do que culpar uma medida fundamental para o combate às alterações climáticas pelo aumento da fome no Mundo.

Arriscaria mesmo a afirmar que os biocombustíveis poderão vir a ser, ao contrário do que se tem especulado, a solução para a crise dos cereais, e não só, pois devido às necessidades das empresas de biocombustíveis, produções dedicadas destas matérias-primas, poderão vir a utilizar solos abandonados e mão-de-obra em países em vias de desenvolvimento, suprindo assim as necessidades locais de cereais e proporcionado às populações empregos e desenvolvimento.

Paulo CaetanoAdministrador da Ecoprogresso

Como se os biocombustíveis explicassem tudo...

por Paulo Caetano, Administrador de Ecoprogresso.

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Francisco Ferreira QUERCUS, com contributos do Grupo

de Energia e Alterações Climáticas

transportes até 2020. Não será uma meta contraditória à crise alimentar que se vive?Q.: No passado dia 7 de Julho o Comité de Ambiente do Parlamento Europeu reviu em baixa a meta dos biocombustíveis para 2020, isto mostra um sinal de viragem das próprias instituições europeias em relação a esta matéria.

O Comité do Ambiente do Parlamento Europeu, acordou, por votação em Estrasburgo, uma meta de 4% relativa à incorporação de biocombustíveis em 2015, sendo que para 2020 o objectivo é alcançar uma taxa entre os 8 e 10%. Na base desta medida estão os assumidos efeitos negativos associados a alguns destes combustíveis alternativos, quer em termos ambientais, quer sociais.

Mais ainda, os deputados do Parlamento Europeu sustentaram ainda que a meta para 2020 de bio-energia deve prever uma incorporação entre os 40 e os 50% de veículos eléctricos ou movidos a hidrogénio a partir de energias renováveis, biogás e biocombustíveis de 2ª geração.

Existe agora uma maior preocupação no que respeita à produção de biocombustíveis e ao conflito que podem causar em termos de alimentação e de conservação da natureza. Este é um sinal político claro de reduzir a utilização de culturas energéticas para a produção de biocombustíveis.

É preciso não esquecer que a meta portuguesa é ainda mais ambiciosa do que a europeia, fixando a incorporação de biocombustíveis nos transportes em 10% até 2010. Esta meta no entender da Quercus também devia ser revista, mais ainda agora com a revisão em baixa da meta europeia. Apesar de não ser um aspecto crítico em termos ambientais, vários fabricantes de veículos noutros países têm-se recusado a assegurar a garantia dos automóveis adquiridos face a uma utilização desde já tão extensa dos biocombustíveis. Em Portugal, a taxa actual de incorporação é de 4% e para se conseguir cumprir os 10% até 2010, estabelecidos pelo actual Governo no âmbito do Programa Nacional paras as Alterações Climáticas, tal será feito à custa de importação.

I.: 5. Como assiste ao trabalho desenvolvido pelo actual Governo na área da Energia, e nomeadamente das renováveis? Como vê o atraso no concurso para as 15 centrais eléctricas de biomassa?Q.: A capacidade instalada para produção de electricidade por fontes renováveis passou de 4800 MW em 2001 para 7700 MW em 2008.

A energia eólica continua a ganhar peso na produção de electricidade. Entre 2004-2005 a energia eólica cresceu 121%, entre 2005-2006, 67% e entre 2006-2007 cresceu 38%; no contexto das energias renováveis, a energia eólica representou cerca de 28% da produção em 2007.

Im))pactus: 1.Energia verde proveniente da queima de cereais, constituiu hoje uma das opções para a produção de energia com menos emissões de CO2. O continente Africano pode ser visto como um potencial “Celeiro” mundial?Quercus: A questão não pode ser colocada nestes termos, pois a queima de cereais não é uma energia verde. A utilização de cereais para a produção de biocombustíveis – que é disso que estamos a falar – pode ser sob determinados critérios, uma substituição parcial dos combustíveis fósseis nos automóveis.

No passado dia 7 de Julho o Comité de Ambiente do Parlamento Europeu aprovou novas metas mais contidas de utilização de biocombustíveis nos transportes.

A utilização de biocombustíveis não pode ser a forma a única ou grande aposta de redução de emissões nos transportes. O investimento no desenvolvimento tecnológico é um factor fundamental e o que contribui para um desenvolvimento mais sustentado ao médio-longo prazo.

I.: 2. Poderá África constituir uma forte solução para os problemas energéticos das economias desenvolvidas e em grande crescimento como a China?Q.: Mais uma vez África não poder ser vista como um celeiro mundial para a produção de biocombustíveis. África precisa de produzir alimento para a sua população e é com este ponto que os países desenvolvidos devem preocupar-se em ajudar África. Poderão existir algumas zonas onde determinadas culturas não alimentares e em espaços onde o impacte ambiental seja reduzido e devidamente avaliado se consigam cumprir os exigentes critérios de sustentabilidade e de rendimento efectivo em termos de dióxido de carbono evitado face aos combustíveis fósseis. Porém, generalizar esse facto para um Continente que já sofre as consequências do aquecimento global e que lida com uma grave crise social, económica e política, deve ser feito com cuidado.

I.: 3 Existirá o perigo de, mais uma vez, África vir a ser explorada para satisfazer uma necessidade dos países ricos, sem que exista uma preocupação evidente e prática com o factor humano e social? Se sim, quais são as medidas que têm necessariamente de existir?Q.: Perigo há sempre. Mas por isso é que as atenções de vários Governos impondo critérios de transparência e sustentabilidade ambiental ao desenvolvimento e a actuação das Organizações Não Governamentais (ONG) são aspectos chave. Neste tema específico de biocombustíveis tem sido desenvolvido trabalho conjunto entre ONG de Ambiente e Desenvolvimento, precisamente para melhor acompanhar de forma integrada este assunto e reduzir os riscos de más práticas.

I.: 4. A EU defIniu como meta que os biocombustíveis passem a representar 10% das necessidades de combustíveis para

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As centrais de biomassa em nosso entender deviam funcionar em co-geração, ou seja, produzir calor e electricidade. É sabido que a eficiência de uma central a biomassa em co-geração é muito maior que uma de produção de electricidade e a sua localização poderia atender a este factor para que muitas empresas que requerem vapor estivessem numa área próxima.

O Governo tem de pensar a energia como um pacote global: não pode pensar nas barragens para armazenar energia renovável de eólica, sem estudar alternativas. Não pode pensar em centrais em biomassa apenas para prevenir incêndios. A política energética requer uma maior concertação.

I.: 6. Parece-lhe que ainda se vive um tabu à volta da energia nuclear? No Reino Unido estão a reactivar centrais que já tinham desactivado e muitos dizem ser a aposta certa… Q.: Não há tabu à volta do nuclear. A Quercus em 2007 participou em debates por todo o país, promovidos por várias entidades, onde foi discutido o nuclear, infelizmente porém numa discussão mais limitada e nem sempre global de todo o sistema energético do país com a Quercus desejaria.

Rapidamente podem ser enumeradas 15 razões para contestar a energia nuclear:

1. Portugal tem uma enorme oportunidade na conservação de energia e eficiência energética2. O potencial de implementação das energias renováveis em Portugal é enorme3. A energia nuclear serve para produzir electricidade e esta representa apenas cerca de 20% do consumo de energia final do país4. A energia nuclear é muito mais cara5. A falácia da produção limpa em termos de emissões de gases de efeito de estufa6. Segurança de abastecimento comprometida - Potencialidade de descentralização oferecida pelas energias renováveis é contrariada por uma central nuclear7. A energia nuclear só é viável à custa de enormes subsídios governamentais – Portugal apoia muito mais investigação no nuclear que na conservação de energia e renováveis8. Portugal ficará dependente de tecnologia importada e cara; é mais uma dependência, neste caso perigosa, de outros países9. Cenários oficiais mostram que a Europa não aposta no nuclear e Portugal iria estar em contra-ciclo10. Longevidade dos resíduos e herança para as gerações futuras11. Riscos associados ao transporte e armazenamento dos resíduos nucleares12. Tempo de construção previsto13. Custo de desmantelamento das centrais e suas consequências ainda não estão suficientemente avaliados

14. Secretismo e estímulo ao militarismo15. Dificuldade em encontrar uma localização

I.: 7. Ao nível dos transportes, nomeadamente o rodoviário, parece-lhe correcta a aposta que Sócrates quer fazer nos carros eléctricos? E portagens nas cidades? Q.: A aposta nos carros eléctricos é necessária mas o seu impacte vai demorar bastante tempo em termos de substituição de parte da frota automóvel e não pode ser encarada como a chave da resolução dos problemas ao nível das emissões dos transportes. É preciso fazer uma aposta clara e forte na rede de transportes colectivos e conseguir transferir passageiros do transporte individual para o transporte colectivo. No último relatório de execução das medidas previstas no Plano Nacional para as Alterações climáticas é referido que o investimento realizado no alargamento da rede de metropolitano de Lisboa e Porto não teve o efeito esperado, ou seja, não houve a transferência de passageiros esperada do transporte individual para o transporte colectivo. É aqui que se tem de actuar.

I.: 8 E ao nível da aviação, que soluções a curto prazo terão as companhias? Muitas já começaram com despedimentos e a cortar rotas devido ao aumento dos combustíveis… Q.: A aviação em 2012 entra para o Comércio Europeu de Licenças de emissão, tal como outros sectores já estão. Serão novas regras mas que todos terão as mesmas regras. Provavelmente os preços das viagens de avião vão subir, mas é importante apostar no desenvolvimento ferroviário para o transporte de pequenas e médias distâncias (dentro da Europa, por exemplo). De resto, são os elevados preços do petróleo que estão a determinar a mudança de paradigma no transporte aéreo que necessariamente vai ter que ter um peso menor e preços mais elevados.

I.: 9. Que papel tem o sector da construção, o mais poluente, na factura energética portuguesa? Poderá este sector agir como dinamizador de boas práticas ao nível da efIciência energética?Q.: O sector da construção é efectivamente um dos mais poluentes, apenas sendo ultrapassado pelo sector dos transportes. De acordo com dados da DGEG (Balanço Energético de 2005, Energia Final), o sector que mais consome energia final é o sector dos transportes (35%), sendo o sector dos edifícios (residencial e serviços) responsável por 30% do consumo de energia final – e continua a verificar-se um aumento nestes dois sectores.

É fundamental que o sector da construção (bem como os outros) se torne cada vez mais eficiente, não só ao nível da alteração de comportamentos no sector, mas também ao nível da selecção criteriosa dos seus materiais, sistemas construtivos e ferramentas de trabalho (em sentido alargado).

“Mais uma vez África não poder ser vista como um

celeiro mundial para a produção de biocombustíveis.”

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A eficiência deste sector verifica-se em todo o processo de construção de uma habitação, em que logo no processo de concepção (fase de projecto) devem ser adoptadas boas práticas tendo em atenção o lugar em que se insere, toda a sua envolvente e a exposição solar. Tendo em conta os princípios bioclimáticos, adoptando soluções passivas (sem consumo de energia), o seu desenho, a forma do edifício, os materiais escolhidos (preferindo, por exemplo, materiais locais – diminuindo gastos e emissões nas deslocações –, reutilizar materiais de outras construções, e amigos do ambiente), investir numa envolvente construída bem isolada (quer ao nível das paredes, envidraçados e coberturas) são, entre outros aspectos, factores determinantes para as necessidades de aquecimento/ arrefecimento para alcançar o conforto no seu interior, e melhorando assim o seu desempenho energético. Ainda neste processo, não podemos ignorar os resíduos produzidos ao longo das várias etapas.

Sem dúvida que melhorando a eficiência no sector, através da implementação de boas práticas, será um factor dinamizador e contribuirá para a diminuição da factura energética.

Sendo que o parque urbano tem um período de renovação relativamente longo (ao contrário por exemplo do parque automóvel), a eficiência energética neste sector tem um peso acrescido.

Neste sentido, a criação da Etiqueta de Eficiência Energética para os edifícios vem obrigar a uma maior eficiência energética, em que os novos edifícios logo de raiz não podem ser de classe inferior à classe B-, e procurar fomentar a melhoria da eficiência nos edifícios já existentes, com a obrigação da existência do certificado sempre que um edifício seja transaccionado.

I.: 10. Que papel energético tem o cidadão? Podemos falar de uma responsabilidade social energética? Q.: O cidadão tem um papel determinante nestas questões. Ao falarmos de eficiência energética falamos em exigência, rigor e qualidade. Um cidadão informado e consciente saberá o que procurar e dará preferência, no caso da construção, a edifícios mais eficientes, interferindo assim na eficiência energética.

A etiqueta de eficiência energética, já obrigatória em muitos electrodomésticos, tornou-se numa ferramenta fundamental para os cidadãos, que assim têm conhecimento dos consumos que os equipamentos têm associados à sua utilização, bem como a eficiência na utilização destes recursos, permitindo-lhes fazer uma opção consciente.

Também nos comportamentos temos um papel importante a desempenhar na eficiência energética. O Projecto EcoFamílias 225 (financiado no âmbito do Plano de Promoção de Eficiência no Consumo financiado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE)), que a Quercus desenvolveu em parceria com a EDP, demonstrou a existência de um potencial significativo em consumos desnecessário, em que os consumos de stand-by e off-mode representam uma poupança anual de 35.815 kWh/ano, 5,3% do consumo total de electricidade das EcoFamílias.

É responsabilidade de todos nós procurarmos a eficiência, fazendo as escolhas certas e adoptando boas práticas no dia-a-dia. Estas alterações

partem de nós e fazem a diferença.

I.: 11. Para as empresas que pretendem entrar no mundo das renováveis que condições encontram a nível de benefícios fIscais? ( esta pergunta não é bem para a Quercus…) Q.: Para as empresas que pretendam investir em equipamentos de energias renováveis, existem deduções em IRC, que podem ser feitas por um período de 4 anos.

As energias renováveis já têm diversas aplicações que podem ser adquiridas por um consumidor final, ou cidadão: produzir águas quentes sanitárias (solar térmico), ou produzir electricidade (fotovoltaico e/ou eólico). Actualmente um consumidor pode investir em energias renováveis para produzir electricidade, principalmente no fotovoltaico, e este sistema pode tornar-se rentável se vender toda a energia produzida à rede no regime bonificado do Programa Renováveis na Hora. http://www.renovaveisnahora.pt/ . Quem queira aderir a este programa terá de ter um sistema solar térmico.

Também é possível a dedução em IRS, que este ano (IRS de 2008) é de 777€ e separada do crédito à habitação (para as componentes de energias renováveis com IVA a 12%).

Ainda é preciso que a taxa sobre equipamentos de energias renováveis seja equiparada às energias não renováveis. O consumo de electricidade e gás são taxados a 5% enquanto alguns componentes de energias renováveis – como a instalação dos equipamentos são taxados a 20% de IVA. Não se compreende esta diferença numa altura em que há sinais da parte do governo numa aposta das energias renováveis.

I.: 12. Um estudo da Union Fenosa apresentou uma 4ª energia, a que não se consome, a efIciência e poupança energética como a melhor solução entre renováveis, combustíveis fosseis e nuclear. Como entende esta conclusão? Q.: A eficiência energética é de facto a forma mais barata de “produzir” energia. Um kWh poupado, de acordo com a Entidade Reguladora do Sector Energético (ERSE), é dez vezes mais barato que um kWh a ser produzido, inclusive por energias renováveis.

A aposta na eficiência energética é essencial nesta era de viragem sobre a forma como se olha para o consumo e produção de energia. A Comissão Europeia identificou um potencial de poupança energética pelo melhoramento da eficiência de 20%. Esta é também a meta definida no Pacote Energia Clima para 2020.

A eficiência energética tem um valor económico associado – o do investimento que deixa de ser necessário se aquela energia fosse consumida. É este o enorme valor económico que é necessário dar à eficiência energética para se poder comparar com outras formas de produção de energia.

por Francisco Ferreira , QUERCUS, com contributos do Grupo de Energia e Alterações Climáticas.

“As energias renováveis já têm diversas aplicações que podem ser adquiridas

por um consumidor final, ou cidadão: produzir águas quentes sanitárias (solar

térmico), ou produzir electricidade (fotovoltaico e/ou eólico).”

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saAs alterações climáticas, a escalada do preço do petróleo e o aumento da factura de electricidade trazem constantemente o tema da energia para a agenda do dia, tornando urgente a reflexão e a acção. É neste contexto de contornos ambientais, económicos, e sociais que a Câmara Municipal de Cascais apostou na Agência Cascais Energia, que tem como principais objectivos a promoção do uso racional de energia e eficiência energética e potenciar o aproveitamento de energias renováveis. Através da acção local a um problema global, a Agência Cascais Energia pretende contribuir para o desenvolvimento sustentável do município, combatendo as alterações climáticas e promovendo a coesão social. Na prossecução destes objectivos, a Cascais Energia usa como principal ferramenta de apoio na definição de prioridades na estratégia local: a Matriz Energética do Concelho. Realizada em parceria com o Grupo de Investigação para o Desenvolvimento Sustentável do Instituto Superior Técnico, a Matriz Energética caracteriza os fluxos de energia e identifica as áreas que devem ser alvo de actuação prioritária no município. Considerando o ano de 2005, o Concelho utiliza cerca de 1,2% do total de energia consumida em Portugal, principalmente na forma de gasóleo e gasolina (Combustíveis fósseis). Já o consumo da Autarquia ocorre sobretudo na forma electricidade. O Município é responsável pela emissão do equivalente a cerca de 800.000 toneladas de dióxido de carbono por ano, o que corresponde a aproximadamente 4,4 toneladas por habitante por ano.

Neste contexto, o sector doméstico é o principal responsável pelo consumo de electricidade e gás no Concelho este modo, a Cascais Energia desenvolveu um conjunto de acções inovadoras que visam ajudar o munícipe a melhorar a sua eficiência energética e a utilização de energias renováveis. Os munícipes de Cascais podem solicitar a visita de um técnico que realizará um diagnóstico energético à sua habitação através do projecto “Caça Watts”. Com o auxílio de um software especializado, é feito um levantamento de todos os equipamentos eléctricos e de gás, bem como em alguns casos uma análise termográfica. O proprietário recebe, no final da visita, um relatório que ilustra o padrão de consumos da casa e identifica os pontos de maior desperdício de energia. O relatório faz também uma série de recomendações e simula as poupanças que estas poderão gerar. Cascais tem uma excelente exposição solar, aliada a um parque habitacional com muitas moradias. De modo a potenciar a aquisição de painéis solares térmicos, a Cascais Energia pretende apoiar os munícipes no processo de escolha e instalação de sistemas de energia solar térmica com o projecto “Cascais Solar”. A Cascais Energia estabeleceu protocolos com 10 empresas locais e garantiu condições atractivas para os munícipes, como um desconto no valor de €200 na aquisição do equipamento. Um painel solar térmico evita, em média, a emissão de 1 tonelada de dióxido de carbono por ano. Com 2600 horas de sol por ano, esta é uma fonte de energia que não se pode ignorar. Para a Cascais Energia, é ainda fundamental a disseminação de informação e sensibilização dos munícipes no que diz respeito à eficiência energética e à redução da pegada ecológica. Assim, a Cascais Energia implementará no ano lectivo 2008/2009 um programa educativo abrangendo todas as escolas do Município, contribuindo para o reforço da temática da energia no âmbito escolar e familiar. É importante que o exemplo venha de dentro e por esse motivo a Cascais Energia também promove a adopção de boas práticas na própria autarquia. Através da monitorização de consumos em tempo real e da realização de auditorias nos edifícios municipais, a Agência procura optimizar o consumo de energia e fortalecer a sensibilização dos seus utilizadores.

Destaca-se a Escola Básica 23 Pereira Coutinho, sendo a primeira escola em Portugal a beneficiar desta metodologia inovadora, e utiliza-a para

sensibilizar os seus alunos. Também a futura piscina municipal da Abóboda, tem o acompanhamento da Cascais Energia em todas as fases de concepção do projecto base na optimização energética do equipamento permitirá uma poupança anual estimada de €68,000 e de uma redução de 215 toneladas na emissão de dióxido de carbono. Querendo fazer do Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal, um edifício modelo no Concelho, criando um cenário de consumo sustentado, a agência levou a cabo uma auditoria, a que se seguiu a implementação de medidas de redução de consumos. Como resultado, este é em Junho de 2008, o primeiro edifício municipal do país a receber a certificação energética. No local serão ainda instalados sistemas fotovoltaicos optimizados e aerogeradores urbanos, bem como uma estação de dessalinização solar, uma estação meteorológica e um expositor com informação em tempo real sobre consumo, produção eléctrica e disponibilidade de recursos. Tendo em conta que o sector dos equipamentos de eficiência energética e energias renováveis está a verificar um forte desenvolvimento tecnológico, a Cascais Energia desenvolve projectos em parcerias com instituições europeias, garantindo a troca de experiências e a disseminação de novas tecnologias Salienta-se o Projecto CYBER DISPLAY, do Consórcio Energie Cités com mais 150 membros em 24 países, que visa sensibilizar os munícipes de áreas urbanas para uma utilização mais eficiente dos equipamentos eléctricos, da água e gás. Em cascais, este projecto será implementado em 50 edifícios públicos, desde escolas, edifícios desportivos, edifícios de escritórios, centros de saúde, entre outros. O Projecto PRO-EE (Compras Públicas Eficientes) é parte integrante de um consórcio de 18 países, no âmbito do programa Inteligent Energy, e tem como objectivo desenvolver e implementar, no sector público, procedimentos no processo de compra pública que garantam a eficiência energética das aquisições. No Concelho de Cascais este irá focar as suas atenções na iluminação pública, equipamentos de escritório e veículos, tendo em conta que a iluminação pública representou em 2005, cerca de 80% na factura eléctrica da autarquia. A Cascais Energia colabora ainda no Projecto SMART-SPP que visa a promover o lançamento no mercado de tecnologias inovadoras de alta eficiência que se encontrem na fase final de desenvolvimento tecnológico.Demonstrando a ambição na prossecução da redução da pegada ecológica e na melhoria da eficiência energética, a Autarquia vai aderir ao Pacto dos Autarcas. Este surge no âmbito do Plano Europeu de Acção para Eficiência Energética, que tem prevista uma redução de GEE em mais de 20 por cento até 2020.

Até agora já conta com 95 cidades aderentes, das quais 15 capitais europeias. Para atingir este objectivo a Cascais Energia pretende reforçar e alargar o conjunto de projectos descritos. A meta é ambiciosa mas também necessária, trazendo claras vantagens do ponto de vista da redução dos custos com a energia por parte da autarquia e uma melhoria significativa dos indicadores ambientais e consequentemente da qualidade de vida dos munícipes.

A Cascais Energia irá realizar nos dias 16 e 17 de Outubro no Centro de Congressos do Estoril a conferência internacional “Sustentabilidade Energética: o desafio do século”. A Jornadas pretendem fomentar a discussão da Sustentabilidade energética em torno de quatro painéis: comunidades sustentáveis e o papel das autarquias na eficiência energética, pela discussão necessária sobre a energia nuclear e as alternativas aos combustíveis fosseis e a gestão de energias renováveis para optimizar a sua procura.

Agência Municipal de Energia de Cascais

por Agência Municipal de Energia de Cascais.

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A evolução ocorrida nos últimos tempos a nível mundial demonstrou que existe uma pressão significativa do lado da procura de energia, induzida, entre outras razões, por taxas de crescimento particularmente elevadas das economias de países em vias de desenvolvimento, de que são exemplo a China e a Índia. A satisfação deste acréscimo da procura tem-se feito, na maior parte dos casos, através de tecnologias de produção de energia útil que, para além de apresentarem níveis de eficiência especialmente baixos, utilizam também combustíveis com elevado teor em carbono. A combinação destes dois factores negativos é particularmente evidente na produção de electricidade e põe em causa as desejáveis condições de sustentabilidade deste sector na sua globalidade, pelo que se justifica a implementação urgente de soluções alternativas menos penalizantes. Assim, é de particular relevância a promoção de projectos que assegurem a produção de energia útil, em especial a electricidade, com recurso a menos quantidade de energia primária. Esse objectivo, de primordial importância, pode ser conseguido, no caso da produção de electricidade, com o recurso a centrais de cogeração. Com efeito, esta solução tecnológica de produção de electricidade consubstanciada na promoção de unidades de cogeração, permite que o calor normalmente perdido nas centrais convencionais seja entregue a um consumidor suficientemente próximo e com as necessidades adequadas para permitir tecnicamente esse aproveitamento.

A instalação de Cogeração pode, efectivamente, ser considerada como uma das medidas que concretiza de forma mais eficaz o objectivo de melhorar a eficiência energética do processo de conversão de energia primária em electricidade. Em primeiro lugar porque a situação de partida é francamente má e, por isso, o potencial de melhoria é enorme. Para suportar este entendimento, basta referir que, de acordo com estudos da Agência Internacional de Energia, a eficiência média das centrais convencionais de produção de electricidade baseadas em combustíveis fósseis tem-se mantido praticamente estável ao longo das duas últimas décadas, situando-se numa banda estreita de valores compreendidos entre 35 e 37%. Se a esta baixa eficiência de conversão, se adicionarem cerca de 9% de perdas introduzidas pelas linhas de transporte e distribuição que permitem a entrega da electricidade aos consumidores finais, facilmente se conclui que o sector desperdiça mais do que dois terços da energia primária utilizada na produção desta forma de energia útil. Para reforçar o carácter dramático desta situação, poder-se-á referir ainda que, de acordo com um diagrama da responsabilidade da mesma Agência Internacional de Energia, no qual se resumem os fluxos de energia na globalidade do sector eléctrico, incluindo os que resultam da produção de electricidade com base em centrais nucleares e outras soluções convencionais que utilizam combustíveis renováveis, de um total de 44.555 TWh de energia primária consumida, só 17.219 TWh aparecem sob a forma

de electricidade e apenas 15.623 TWh chegam efectivamente aos utilizadores finais. Estes números definem um rendimento global do sector de 31,5%, o que implica uma percentagem de perdas em todo o processo que tem que ser obrigatoriamente reduzida no futuro próximo. Em segundo lugar, porque a melhoria da eficiência de produção de electricidade induzida pela instalação de uma central de cogeração pode ser significativa, bastando para isso que seja importante o nível de aproveitamento do calor habitualmente perdido nas soluções convencionais. Para se ter uma ideia, o rendimento eléctrico equivalente de uma central de cogeração que entrega directamente electricidade a um consumidor final pode atingir valores entre 55 e 90%, enquanto as melhores soluções convencionais disponibilizam, no mesmo ponto, a mesma electricidade, com um rendimento global de produção e transporte que variará entre 45 e 50%. Esta diferença de rendimentos, que pode chegar a valer 40 pontos percentuais, tem obviamente um impacto extremamente favorável na redução dos consumos de energia primária na produção de electricidade, para além da redução de emissões de CO2 que é induzida por esse menor consumo.

Perante os números e os dados anteriormente apresentados, pode-se legitimamente questionar porque é que continuam a subsistir unidades de produção de electricidade claramente ineficientes e porque é que a cogeração não se tem desenvolvido mais, atendendo à sua eficácia em aumentar a eficiência energética nesse domínio. A primeira razão justificativa que pode ser dada, tem a ver com a impossibilidade prática de encontrar consumidores para toda a energia térmica que é perdida pelas centrais convencionais. A segunda razão é de natureza económica e tem a ver com o facto de, por vezes, a medida de eficiência energética associada a um projecto de cogeração não resultar em redução da factura energética. Com efeito, nem sempre uma acção que permite reduzir os consumos de energia primária, necessários à disponibilização das mesmas quantidades de energia útil, resulta em menores custos para os respectivos consumidores finais. Tal situação, aparentemente contraditória, resulta de distorções do mercado energético, de políticas de diferimento dos custos de produção com a electricidade, de valores diferenciados de investimento específico em função da escala das unidades de produção e de diferentes estruturas de custo de produção para distintas tecnologias que disponibilizam o mesmo produto energético. Por essas razões, é necessário ter políticas pró-activas de desenvolvimento da cogeração, sob pena de se desperdiçar um potencial significativo de poupança de energia primária. A acontecer tal desperdício seria injustificável em quaisquer circunstâncias. No actual cenário de preços elevados de combustíveis seria, no mínimo, recriminável.

por Álvaro Brandão Pinto, Vice-Presidente da COGEN Portugal.

A produção de electricidade e a necessidade da eficiência energética

Álvaro Brandão Pinto Vice-Presidente da COGEN Portugal

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Antecipação do futuro

A Global Green, empresa da área das Renováveis, inovação tecnológica e I&D foi recentemente premiada pelo projecto que está a implantar no concelho de Idanha-A-Nova. Foi-lhe atribuido o EUBIA (European Biomass Industry Association Award), prémio de grande prestigio internacional no “16th European Biomass Conference & Exihb.”, premiando o contributo ao progresso feito nas BioEnergias. De salientar o facto de o prémio só ser atribuido quando o juri encontra um projecto ao qual atribua um valor extremo. O Banco Mundial, a Ford ou o Governo Canadiano são alguns dos anteriores premiados.

O projecto consiste na implementação de uma unidade inovadora para a produção de Bio-Energias e Bio-Combustiveis, aliando um eficiente sequestro de CO2. O projecto consegue ‘’gerar receitas, que são duas vezes superiores às provindas da melhor solução energetica em termos de alternativas existentes actualmente’’, afirma Ashok Hansraj. Este projecto nasce como uma alternativa à produção de tabaco, tendo-se transformado numa gigante e ambiciosa solução, ou ‘’soluções integradas’’.

Através de melhorias genéticas introduzidas ao longo de 13 anos, chegaram à Cana-de-Açucar Europeia (6ºano em solo português), uma variedade que tem características únicas por ser resistente às condições climatéricas da Europa, mais precisamente dos Países Mediterrânicos, com temperaturas extremas, bem como variedades especiais de Sorgo-Sacarino que têm a particularidade de darem maior volume de produtividade e rentabilidade.

A partir destas novas espécies, ideais para a produção de etanol e biodiesel através de tecnologia de 2ªgeraçao, no aproveitamento dos resíduos agrícolas chegou-se ao conceito de Agro-Biomassa.

O projecto contempla uma unidade de produção de Biocombustiveis uma outra de Trigeração de Bioenergias, electricidade, quente e frio, bem como um Centro de de Investigação e de Inovação Tecnológica de Excelência, que irá assessorar todas as actividades. É importante salientar o papel da Autarquia de Idanha-A-Nova, que desde o início tem vindo apoiar e ao disponibilizar os terrenos (ainda sem licenciamento) e o da Universidade de Castelo Branco, verificação dos resultados (entrará numa fase de produção industrial mais tarde).

1º projecto em Portugal destinado à produção em simultâneos de múltiplo tipo de Bioenergias, próximo da fonte de recursos e no seio dos agricultores;

Promoção da produção endógena e auto-sustentada da oferta das matérias-primas Nacionais;

Área de intervenção Beira Interior: Idanha-A-Nova, Cova da Beira, Castelo Branco e Vila Velha de RódãoInvestimento: 100 milhões de Euros;

Capacidade Produção: 250,000 Litros por dia de Bio-Etanol e de cerca de 20MW de Bio-Energia eléctrica das quais serão injectadas e vendidas como excedentária na ordem de 13,8 MW;

Postos de trabalho: 250 directos; milhares indirectos;

Futura candidatura a um projecto pin plus por sugestão do Governo...

Projecto de uma grande abrangência...

Produção em simultâneo de Bio-Combustiveis e Bio-Energia no aproveitamento da Biomassa enquanto residuos industriais, alívio da dependência exterior de matérias-primas, maior rentabilidade por hectare do que qualquer produção energética (o etanol dá para produzir quatro a cinco vezes mais do que o Biodiesel, p/ha), promoção da inclusão social oferecendo condições atractivas a jovens agricultores (inclusíve formação a agricultores), inversão da tendência de desertificação do interior, oportunidades para a Indústria Portuguesa, implementação ideal em países em vias de desenvolvimento, com ganho extra ao nível de créditos de carbono. ‘’Já fomos convidados por vários grupos internacionais para a implementação deste projecto lá fora, mas fizemos questão que seja fundado como projecto Português, só depois o replicariamos’’.

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‘’É a solução à altura do Fóssil porque de facto gera mais do que uma fonte de energia e em simultâneo num único processo, o Bio-Combustível (Fuel liquido), o Bio-gas e a Bio-electricidade (atravês da Biomassa que em trigeração dá o “CHP - Cool, Heat and Power”), em grande volume, ao contrário das chamadas alternativas convencionais que só geram uma das fontes energéticas e não resultam em desenvolvimento Sócio-Económico auto-sustentado que provê desta nova solução’’.

‘’O Etanol não tem limitações como o biodiesel , tem múltiplas aplicações, com escoamento assegurado em variadíssimos mercados; químicos, farmacêutico, perfumaria, cervejas, bebidas espirituosas, etc.. A nível mundial a necessidade do Etanol é superior à do biodiesel.. Não queremos que alguma destas variedades se destine para a produção alimentar precisamente para não conflituar com a produção de consumo humano ou animal. São plantas destinadas exclusivamente para produção energética e criadas só para esse propósito. São as plantas do futuro excelentes para as tecnologias do futuro. Tenho encomendas 3 vezes superiores do que aquilo que vamos produzir.’’

‘’A Agro-Biomassa, tem sido desvalorizada devido ao alto teor de humidade que contem e os ganhos energeticos nesse estado são insignificativos. Uma das inovações por nós introduzidas foi precisamente resolver esse aspecto conseguindo reduzir a humidade até atingir o nível dos 10% de forma eficaz sem desperdício de energia. Em termos práticos resulta em ganhos de cerca de três vezes mais unidades de energia, logo créditos de carbono, logo maiores receitas, Já lhe chamam de “Carvão-Verde”, uma nova componente para produzir energia de forma tão eficaz como o Carvão, melhor ainda, é amiga do ambiente. ‘’‘’As nossas Inovações, vão desde super-variedades de plantas lignocelulosicas a Cana-de-Açucar e o Sorgo Sacarino, matérias primas para a tecnologia do futuro, ideais para produzir Biodiesel (2ª Geração) ou Bioetanol na tecnologia da 1ª Geração, introduzimos soluções para a multi-geração de energias em cadeia, por equipamentos inovadores que processam multi-matérias-primas e por sistema de multi-processamento, de sacaroses e amidos em cooexistência, ou seja, tanto pode processar Cana-de-Açucar como Milho na mesma unidade, o que é inédito, permitindo assim ter feed-stocks durante o ano inteiro sem interregno, assim como nos euqipamentos de manusuamento e colheita introduzimos, por nossa criatividade, novos métodos que iram permitir com os mesmos equipamentos e tractores fazer a colheita de ambas as espécies de Lignocelulósicas amortizando-os em metade de tempo do que via método tradicional. ‘’ ‘’As nossas Inovações, vão desde super-variedades de plantas lignocelulosicas a Cana-de-Açucar e o Sorgo Sacarino, matérias primas para a tecnologia do futuro, ideais para produzir Biodiesel (2ª Geração) ou Bioetanol na tecnologia da 1ª Geração, introduzimos soluções para a multi-geração de energias em cadeia, por equipamentos inovadores que processam multi-matérias-primas e por sistema de multi-processamento, de sacaroses e amidos em cooexistência, ou seja, tanto pode processar Cana-de-Açucar como Milho na mesma unidade, o que é inédito, permitindo assim ter feed-stocks durante o ano inteiro sem interregno, assim como nos euqipamentos de manusuamento e colheita introduzimos, por nossa criatividade, novos métodos que iram permitir com os mesmos equipamentos e tractores fazer a colheita de ambas as espécies de Lignocelulósicas amortizando-os em metade de tempo do que via método tradicional. ‘’

“Graças à nossa inovadora concepção, de processamento de multi matérias-primas, asseguraremos o escoamento das culturas tradicionais e o melhor aproveitamento da biodiversidade. Apoiados pelo centro tecnológico, iremos introduzir politicas de protecionismo da biodiversidade local contrabalançando com a produção energetica. No caso da Cana de Açúcar esta é amiga do ambiente porque nos dá elevadíssimos niveis de sequestro de CO2, tão bons como os projectos de florestação, cujos custos são muito elevados representando também riscos elevados de incêndios. No caso da nossa Cana de Açúcar esta só precisa de ser plantada de cinco em cinco anos. Faz foto-sintese durante 300 dias ao ano, e não só, é resistente a geadas como a fortes rajadas de ventos e chuvas, que hoje em dia, infelizmente, são já uma constante.”

As questões climatéricas continuam a agravar-se. São necessárias soluções imediatas. “Esta solução acima de tudo é extremamente eficiente no combate do CO2, se gera 3 vezes energia, estamos a falar em 3 vezes ganhos em CO2. É uma solução muito boa para o ambiente, na mitigação do CO2, implementável em todos os países, aproveitamos todos os resíduos quer agrícolas quer Industriais, principalmente porque não compete com a produção dos bens alimentares.”

Decorrem negociações, algumas em fase adiantada, para a concretização da implementação das réplicas do projecto em parcerias e em escala maior, países como Angola, Àfrica-do-Sul e Roménia, com o apoio dos respectivos organismos governamentais, além do interesse já manifesto por uma das mais conceituadas Associações de produtores dos EUA.Futuros Objectivos- ‘’A nível tecnológico ensaiamos, com sucesso, a produção do Hidrogénio na forma mais económica e a utilização de uma solução com Etanol em motores a Diesel …Estamos receptiveis a investimentos e parcerias que possam contribuir na implementação das nossas soluções e inovações, a nível Global.’’

por Ashok Hansraj ([email protected]). (www.eubia.org).

Renewable Energy-Technological Innovation-R&D

Ashok Hansraj na 1ª pessoa: A Biodiversidade não foi esquecida

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Frank Neumann Director Adjunto, Wave Energy Centre – WavEC

A conversão da energia das ondas em electricidade tem sido alvo de intensos esforços de Investigação e Desenvolvimento (I&D) desde os anos 70, contudo só recentemente é que o sector começou a ser alvo de maior interesse a nível político e industrial, bem como do público em geral.

A necessidade cada vez maior de energias renováveis (que não serão tratadas de uma forma mais aprofundada neste artigo) só foi formalmente reconhecida no início do séc. XXI. Aquando do sucesso da energia eólica, também a energia das ondas começou a receber alguma atenção, apesar de alguns problemas de credibilidade relacionados sobretudo com algumas falhas ocorridas no passado.

O renascimento do sector ficou a dever-se a financiamentos públicos no âmbito de projectos de I&D, e rapidamente contou com o envolvimento de alguns parceiros do sector energético e de áreas correlacionadas, bem como do capital de risco, que conduziram ao desenvolvimento relativamente rápido de vários protótipos de mar entre 2001 e 2004. A partir de 2005 houve um aumento significativo de novos conceitos e esforços industriais, sobretudo por parte de PME especializadas o que conduziu à fase actual, que poderia ser designada como a “febre do ouro” pré-comercial deste ramo tecnológico: apesar do mercado não estar (ainda) preparado, pois persistem alguns problemas de utilização no mar e de ligação à rede eléctrica que precisam de ser solucionados com maior detalhe e também a falta de outros requisitos estruturais, existem actualmente mais de 50 produtores a nível mundial que pretendem desempenhar um papel de destaque no futuro mercado. Apesar de boa parte destes produtores ainda se encontrar numa fase de desenvolvimento relativamente inicial, há pelo menos 10 a 20 conceitos que possuem um currículo notável de I&D e/ou desenvolvimento tecnológico, pelo que, em termos tecnológicos, podemos estar a poucos anos de distância do fornecimento de uma grande quantidade de electricidade produzida a partir da energia das ondas. Portugal tem estado tradicionalmente activo no campo da investigação da energia das ondas, sobretudo através do grupo de energia das ondas do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico (IST), no entanto o know-how tinha sido desenvolvido sobretudo na área da modelação e simulação, no âmbito do desenvolvimento e construção da primeira central piloto CAO (Coluna de Água Oscilante) a nível europeu, na ilha do Pico (Açores). Este projecto foi um marco importante nas actividades portuguesas, apesar da sua implementação estrutural ter sofrido inúmeras vicissitudes. A partir de 2000, inúmeros estudos contribuíram para uma melhor percepção do elevado nível de desenvolvimento e das potencialidades da energia das ondas, nomeadamente estudos de viabilidade em termos de dimensão do projecto mas também do potencial socio-económico para Portugal e também para outros países. Um ano mais tarde, Portugal foi o primeiro país a introduzir de forma explícita uma tarifa de alimentação para a tecnologia de energia das ondas. A tarifa, considerada na época uma novidade mundial, nunca foi usada por uma equipa de desenvolvimento, no entanto aparentemente estimulou iniciativas idênticas em muitos outros países, sobretudo no Reino Unido, mas também na Irlanda e mais tarde em Espanha e França.

Em 2003, o mesmo grupo responsável por estes estudos deu início ao Wave Energy Centre – Centro de Energia das Ondas (WavEC; www.wavec.org), uma associação sem fins lucrativos constituída por 15 entidades que têm em comum o objectivo de possibilitar e acelerar a utilização da energia das ondas em Portugal e no estrangeiro. O WavEC já adquiriu muita experiência prática, em primeiro lugar devido à participação nos testes do protótipo à escala real da tecnologia holandesa AWS (hoje uma empresa britânica; www.awsocean.com), mas também devido à recuperação, realização de testes e constante melhoramento da central CAO no Pico, que foi transferida para a WavEC

com esse mesmo objectivo. Para além disso, o Centro começou a ser um dos principais pontos de contacto e participante dos esforços internacionais de I&D (e.g. CORES - Irish floating OWC OEBuoy; Equimar – Pre-Normative Research on EU level), assim como o fundador e orientador de dois projectos europeus de redes de formação para jovens profissionais da energia das ondas (www.wavetrain.info).

Em 2004, o WavEC preparou um estudo abrangente para a Direcção-Geral de Energia e Geologia, em que estimava um potencial nacional de energia das ondas de 5GW na primeira fase da penetração da tecnologia, o que implica uma contribuição eléctrica de até 20% das necessidades de Portugal. No seguimento da ideia e esforços significativos do Director do WavEC, o Prof. António Sarmento, a criação de uma zona de acesso facilitado a licenças e ligações à rede eléctrica para as centrais de energia das ondas começou a ser discutida, para se conseguir colmatar a transição da fase de desenvolvimento tecnológico para a de mercado. O Governo decidiu investigar essa possibilidade através da criação de um grupo de trabalho para o efeito, o qual concluiu essa tarefa com a elaboração de um documento final em 2006; no início de 2007, em resultado desse documento foi elaborada uma proposta de lei para a criação de uma zona-piloto para a energia das ondas, em território nacional: uma vasta área de 320 Km2 ao largo de S. Pedro de Moel, com uma capacidade instalada de 800 MW na primeira fase e 250 MW na segunda fase, incluindo uma estratégia de centralização para o licenciamento e ligação à rede eléctrica nacional. O documento entrou em vigor em Janeiro de 2008 (DL, 5-2008), no entanto até ao final do Verão não se seguiram quaisquer acções.A existência de uma área exclusiva de desenvolvimento esconde várias vantagens:

(i) Os responsáveis pelo desenvolvimento têm poucos entraves ao nível do licenciamento, têm uma tarifa de alimentação garantida e justa, e podem contar com uma infra-estrutura adequada ao desenvolvimento do respectivo protótipo, podendo concentrar-se nos principais problemas – a tecnologia.(ii) O desenvolvimento tem início numa área principal, permitindo o desenvolvimento mais rápido de clusters e, simultaneamente, acompanhar a utilização em larga escala numa fase inicial de um modo controlado e monitorizado.

Infelizmente existem alguns aspectos negativos nesta abordagem: (i) O carácter exclusivo da zona, pode constituir um potencial entrave a outros esforços de instalação de centrais de energia das ondas. De acordo com os conhecimentos existentes actualmente, este tipo de centrais não pode ser instalado num lugar qualquer.(ii) O tempo de espera é excessivo; 2 anos após as recomendações do grupo de trabalho ainda não existe nenhum órgão de gestão e praticamente nada pôde ser feito. Noutros países (Espanha, França, Irlanda), algumas áreas de testes de menores dimensões foram constituídas posteriormente e já estão parcialmente em construção.

Em resultado de uma combinação dos pontos anteriores, existe actualmente (e continuará a existir ainda durante algum tempo) uma zona “cinzenta” para a implementação da energia das ondas em Portugal, pelo menos até à existência de uma zona-piloto. O atraso poderá implicar a perda de investimentos em Portugal de muitas potenciais sociedades de investimento em tecnologia. Se, por outro lado, a implementação da zona-piloto for considerada uma prioridade política a partir deste momento, existem boas hipóteses de ser criado um mercado interno inovador e forte para este novo ramo tecnológico das energias renováveis.

Energia das Ondas: um Futuro de Portugal?

por Frank Neumann, Director Adjunto, Wave Energy Centre – WavEC.

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Roteiro

Websites de Referência em PortugualQuercus Energia http://www.quercus.pt Direcção Geral de Energia e Geologia www.dgge.pt Agência para a Energia www.adene.pt Portal das Energia Renováveiswww.energiasrenovaveis.com Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos www.erse.pt Cogeração em Portugal www.cogenportugal.com Agência Cascais Energia www.cascaisenergia.org Associação de Energias Renováveiswww.apren.ptAssociação Portuguesa de Energia www.apenergia.pt Ministério da Economia e Inovação(Energia)http://www.min-economia.ptInstituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrialwww.ineti.ptSociedade Portuguesa de Energia Solarwww.spes.ptCentro de Energia das Ondaswww.wave-energy-centre.org Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico www.apve.pt

Websites de Referência InterancionaisUnited Nations(Energy) http://esa.un.org/un-energy European Commission (Energy)http://ec.europa.eu/energy/index_en.html European Biomass Industry Associationwww.eubia.org Food and Agriculture Organization (FAO)www.fao.orgWorld Bank (Energy) www.worldbank.org/energy World Food Programme( UN food aid agency) www.wfp.org IMF www.imf.org Europe’s Energy Portalwww.energy.eu European Solar Thermal Industry www.estif.org European Wind Energy Association www.ewea.org European Commission (Energy and Transport) http://ec.europa.eu/dgs/energy_transport/index_en.html

Eventos

Setembro 2008

BioEnergy World Americas 2008, Salvador da Bahia, Brasil.

PowerExpo, Zaragoza, Espanha.

Outubro 2008

Conferência Energias Renováveis, Lisboa , Portugal.

Energy Subsidies, Lessons Learned in Assessing their Impact and Designing Policy Reforms, editor: Anja von Moltke, Colin McKee and Trevor Morgan, GreenLeaf Publishing.

The Business of Sustainable Mobility, From Vision to Reality, editor: Paul Nieuwenhuis, Philip Vergragt and Peter Wells, GreenLeaf Publishing.

Solar Revolution: The Economic Transformation of the Global Energy Industry, por Travis Bradford.

Renewable Energy: Sustainable Energy Concepts for the Future por Roland Wengenmayr and Thomas Bührke.

Earth: The Sequel: The Race to Reinvent Energy and Stop Global Warming por Fred Krupp and Miriam Horn.

Renewable Energy: Techonology, Economics and Environment, por Martin Kaltschmitt, Wolfgang Streicher, and Andreas Wiese.

Livros

16 e 17

24 a 26

7 e 8

RENEXPO 2008, Augsburg, Alemanha.9 a 12

Novembro 2008

Wind Energy Operations and Maintenance Summit, Londres, Inglaterra.

11 e 12

Dezembro 2008

II Congresso de Energias Renováveis, Alternativas e ambiente, Viana do Castelo, Portugal.

11 e 12

Janeiro 2009

World Future Energy Summit, Abu Dhabi, Arabia.19 a 21

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