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RAE - Revista de Administração de Empresas ISSN: 0034-7590 [email protected] Fundação Getulio Vargas Brasil Mezzomo Keinert, Tânia Margarete Reseña de "A emoção e a regra" de Domenico De Masi (Org.) RAE - Revista de Administração de Empresas, vol. 40, núm. 2, abril-junio, 2000, pp. 112-115 Fundação Getulio Vargas São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=155118191012 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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  • RAE - Revista de Administrao de EmpresasISSN: [email protected] Getulio VargasBrasil

    Mezzomo Keinert, Tnia MargareteResea de "A emoo e a regra" de Domenico De Masi (Org.)

    RAE - Revista de Administrao de Empresas, vol. 40, nm. 2, abril-junio, 2000, pp. 112-115Fundao Getulio Vargas

    So Paulo, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=155118191012

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    Sistema de Informao CientficaRede de Revistas Cientficas da Amrica Latina, Caribe , Espanha e Portugal

    Projeto acadmico sem fins lucrativos desenvolvido no mbito da iniciativa Acesso Aberto

  • 112 v. 40 n. 2 Abr./Jun. 2000

    F

    de Domenico De Masi (Org.)Rio de Janeiro/Braslia : Jos Olympio/UnB Editora, 1999. 6. ed. 419 p.

    por Tnia Margarete Mezzomo Keinert, Professora do Departamento de Administrao Geral eRecursos Humanos da EAESP/FGV, Mestre e Doutora em Administrao pela EAESP/FGV,

    com Especializao na Universit Bocconi (Itlia).E-mail: [email protected]

    azer uma resenha dar pistas para a lei-tura ou para uma possvel leitura daobra. A emoo e a regra, como colet-

    nea, um trabalho difcil de se resenhar, inclu-sive porque, como salienta o organizador, nose trata de uma obra conclusiva, mas antes umaapresentao de experincias quase um rela-trio de pesquisa na qual foi possvel desti-

    lar apenas algumas primeiras, tmidas conclu-ses, que passamos ao leitor em forma de hi-pteses. Mas isso no reduz a importncia dotrabalho, muito pelo contrrio: lanado no Bra-sil no incio de 1999, o livro j se encontra nasexta edio.

    com esse trabalho que Domenico De Masitorna-se especialmente conhecido no Brasil e

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    onde lana suas formulaes mais genricas,depois aprofundadas teoricamente em A socie-dade ps-industrial (So Paulo : Editora Senac,1999. 2. ed.) e retrabalhadas em O futuro dotrabalho: fadiga e cio na sociedade ps-indus-trial (Rio de Janeiro/Braslia : Jos Olympio/UnB Editora, 1999).

    Domenico De Masi professor de Sociolo-gia do Trabalho na Universit La Sapienza, deRoma, tendo atuado tambm como administra-dor e consultor. Sua rea de pesquisa a socie-dade ps-industrial e seus desdobramentos,como a questo da criatividade, o mercado detrabalho, as equipes ideativas, a valorizao dosrecursos humanos, o teletrabalho, o tempo li-vre. O estilo carismtico e provocativo, mistu-rado s doses de humor e cinismo que De Masiadota em suas palestras e entrevistas, , emgrande parte, responsvel pela alta procura porseus trabalhos nas livrarias.

    Como bom napolitano, De Masi um mes-tre na relao com o pblico e com a mdia.Suas freqentes visitas ao Brasil tm nos per-mitido conhecer tambm particularidades so-bre seu estilo de vida, como, por exemplo, ofato de ele tirar frias trs meses por ano e fi-car isolado numa pequena vila no litoral da It-lia, longe tambm do pequeno centro urbano,dispondo, porm, de fax, e-mail e Internet...No estaria ele trabalhando? Tudo bem, poisisso comprova uma de suas teses: a de que oslimites entre trabalho, lazer e tempo livrese tornaram menos ntidos na sociedade ps-industrial.

    Como citado anteriormente, A emoo e aregra resulta do trabalho de um grande gru-po de pesquisadores que tem acompanhadoDomenico De Masi nos ltimos anos. Atual-mente, esses pesquisadores pertencem Esco-la de Especializao em Cincias OrganizativasS3, fundada por De Masi, a qual privilegiao estudo da sociedade ps-industrial e das or-ganizaes de alto contedo criativo. Tal qualum relatrio de pesquisa, a obra expe idiasainda frescas e contraditrias, de grande valordocumental mais que propriamente analti-co , podendo gerar insights e material paraoutras pesquisas.

    Nas experincias analisadas pelo autor naobra, procura-se evidenciar relaes entre cria-

    tividade, inovao e execuo. Outro ponto emcomum que de todas elas se busca destilarcaractersticas ou particularidades organizacio-nais que explicariam o seu sucesso. De acor-do com De Masi, so apresentados 13 gruposclssicos chamados a compor uma casusticadas modalidades organizativas experimentadasna arte e na cincia europia entre a metade dosculo XIX e a metade do sculo XX. Cadaexperincia analisada segundo uma caracte-rstica peculiar:

    Bom gosto e bom senso na produo emsrie: a Casa Thonet;

    Um congresso permanente: a EstaoZoolgica de Npoles;

    Uma rede internacional na Siclia liberty:o Crculo Matemtico de Palermo;

    Uma cooperativa cientfica: o InstitutoPasteur de Paris;

    Um lobby pacifista e elitista: o Grupo deBloomsbury;

    Uma cooperativa de artistas e arteses:a genial idade pol i tcnica da WienerWerksttte;

    Um grupo de discusso aberta sobre a lin-guagem e a cincia: o Crculo Filosfico deViena;

    Uma ponte entre artesanato, arte, indstriae academia: a criatividade racional daBauhaus;

    Uma organizao itinerante: o Instituto dePesquisa Social de Frankfurt;

    Uma equipe de cientistas: Enrico Fermi eo Grupo da Rua Panisperna;

    Uma equipe multidisciplinar: o InstitutoCentral de Restaurao de Roma;

    A parceria criativa: a Escola de Biologiade Cambridge;

    Os europeus fora da Europa: o ProjetoManhattan em Los Alamos.

    A escolha dessas experincias deve-se aofato de que esses 13 casos, alm de serem qua-se todos famosos pela sua genialidade criativa,pareceram-nos particularmente originais porsuas caractersticas organizativas. Reconstru-mos a histria de cada um atravs dos docu-mentos encontrados e dos testemunhos vivosque conseguimos obter. Sem dvida, a com-

    2000, RAE - Revista de Administrao de Empresas / EAESP / FGV, So Paulo, Brasil.

    A emoo e a regra: os grupos criativos na Europa de 1850 a 1950

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    plexidade e a viso panormica fornecida soo que torna esse trabalho interessante, alm deexplorar uma grande diversidade de organiza-es que no as industriais clssicas do in-cio deste sculo.

    No entanto, a hiptese central do trabalhocausa um certo espanto pelo seu europesmo(ou ento pelo seu antiamericanismo) dividin-do o mundo (mesmo a sociedade pr-industrial)em (apenas) duas partes: enquanto os EstadosUnidos realizavam o grande esforo terico-prtico que, juntamente com o scientif icmanagement, teria levado descoberta dosprincpios e das leis que marcariam o trabalhoexecutivo da produo em srie, a Europa per-corria um caminho autnomo, buscando e pra-ticando modalidades originais para organizaro trabalho criativo desenvolvido de forma co-letiva. Estes esforos levaram a admirveis ca-sos concretos que, alm de representar a snte-se de uma longa experincia histrica acumu-lada construindo templos, catedrais e palcios,abrindo oficinas de arte, fundando mosteiros eacademias, antecipavam tambm formas futu-ras de organizao ps-industrial, funcionaispara a criatividade. Primeiramente, estas for-mas flexveis e frgeis por sua prpria natu-reza pareceram perdedoras em relao aoprepotente avano dos modelos industriais. Mashoje, que a organizao da fbrica tradicionalexauriu seu ciclo histrico, que a linha de mon-tagem comea a ser pea arqueolgica, que preciso organizar o tempo livre, a atividade ar-tstica e cientfica, os esforos e os exemplosda velha Europa voltam a emergir como patri-mnios preciosos para inspirar as estruturas eas funes dos grupos empenhados no trabalhoidealizador.

    Em se tratando de criatividade, espirituali-dade e esttica valores supostamente ps-industriais ou, ainda, de grupos frgeis e fle-xveis, tambm caractersticos da nova era ,cabe perguntar por que no tentar recuper-lasem outras culturas, como s ligadas negritu-de, ou cultura oriental, ou, ainda, s comuni-dades nativas latino-americanas.

    O trabalho adota uma postura bastante cr-tica ao modelo americano, especialmente sproposies de Taylor relativas ao controle e racionalizao do trabalho industrial. Alm dis-

    so, aponta a burocracia como a grande inimigada criatividade, matadora de idias. No en-tanto, nenhuma meno feita Fayol, um eu-ropeu que deu grande contribuio organiza-o da produo, o grande planejador, o pre-cursor do burocrata.1

    Fayol a prpria anttese da flexibilidade,conforme coloca Mintzberg (1994): Quase umsculo depois que Henri Fayol, um dos primei-ros planejadores, observou que o verdadeiropropsito do planejamento no encorajar a fle-xibilidade, mas reduzi-la, ou seja, estabeleceruma clara direo atravs da qual os recursospossam ser aplicados de maneira coordenada,emergem demandas de flexibilizao e de me-canismos de adaptao capazes de incorporarum ambiente mutvel.

    De Masi critica, especialmente em suas pa-lestras, a americanizao do trabalho (e davida...) no mundo todo. No entanto, essas mes-mas palestras seguem o modelo americano,com horrio para comear e terminar. Certa-mente, esse no o modelo latino, em que setem hora para comear, mas no uma hora exa-ta para terminar, porque provavelmente o en-contro se alongar com conversas e/ou comum almoo com pessoas que no se via h tem-pos, encontradas ao acaso na palestra... Ain-da em relao s palestras, cabe questionar aresignao da platia a burocrticos bilheti-nhos com perguntas (aos quais, obviamente,o autor vem dando respostas em sua abundan-te produo). Mas ser que o debate no seriarealmente mais criativo e, especialmente, picaldo (mais quente) justamente se fosse res-tabelecido o valor das relaes humanas, que,segundo o autor, foram congeladas na soci-edade industrial, como aquelas do managercom sua famlia?

    Nos aspectos conceituais, observa-se quealguns conceitos cruciais para a lgica do li-vro, como, por exemplo, o que se entende portempo ou, ainda, por tempo livre na obra, somuito pouco trabalhados, deixando ao lei-tor duas vagas possibilidades. Em uma de-las, esses dois conceitos seriam muito amplos,relacionados prpria existncia, como o es-toque de tempo de que a pessoa dispe aolongo da sua vida. Esse seria um sentido maispositivo, que nos faria refletir sobre em que

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    e como queremos investir esse ativo. Noentanto, essa mesma viso induz a uma certaracionalizao do uso do tempo (e das rela-es humanas), numa lgica bem mecanicis-ta, tpica do taylorismo e marca da socieda-de industrial. Em algumas passagens, o livronos traz a desconfortvel sensao daquelesmanuais de bom uso do tempo, que nos di-zem, em ltima anlise, a todo o momento:no perca tempo, no pare para falar comseu colega, produza, faa render seutempo, a sociedade competitiva, osoutros esto avanando, faa mais, commenos, etc.

    De Masi defende, por exemplo, que se tra-balhe somente seis horas ao dia e/ou que setire trs meses de frias por ano na praia(acompanhado de fax, e-mail e Internet...).No estaramos trabalhando o tempo todo emvez de reservando mais tempo para o lazer?Da entra a necessidade de dois outros con-ceitos, tambm pouco desenvolvidos: trabalhoe lazer. Ser que realmente trabalhamos me-nos ou a natureza do trabalho que mudou,fazendo com que o clculo em horas nocorresponda s exigncias fsicas, psicolgi-cas e cognitivas colocadas ao trabalhador (sejaele braal ou intelectual)?

    Outro bom exemplo nessa linha a ques-to do teletrabalho, defendida pelo autor. Se-ria essa nova modalidade de trabalho real-mente flexvel e libertadora ou estariamcada vez mais as mes e donas de casa traba-lhadoras fazendo mil coisas ao mesmo tem-po (e, conseqentemente, aumentando ostress e reduzindo a qualidade de vida)? Osnovos meios de comunicao em especial,a Internet e o e-mail estariam contribuindopara intensificar as relaes humanas ou

    estariam isolando as pessoas (agora nem maisse ouve a voz, o e-mail mais eficiente queo telefone, mais preciso, a outra pessoa podeler e responder quando quiser e se qui-ser...)? As relaes pessoais no estariam setornando cada vez mais frias e impessoaissubstituindo-se o contato humano pelo vir-tual (supermercado on-line, amigos na rede,sexo virtual...)?

    Ainda citando um famoso clculo que DeMasi utiliza para demonstrar que trabalhamosmenos e que vivemos mais que nossos pais,avs e bisavs frmula que muitos executi-vos j tentaram utilizar, mas uma conta quenunca d to certo , cabe perguntar se real-mente se pode medir o trabalho e contabilizara vida numa unidade chamada hora. Certamen-te, existem maneiras mais criativas de semedir o trabalho (e a vida)...

    Por fim, fazendo uma comparao comMichael Porter criticado por De Masi emsuas palestras , pode-se observar que os doispossuem, alm de outros pontos em comum(grandes marketlogos, produo de livros emsrie, em que vo repetindo incansavelmenteas prprias idias como numa pregao, des-coberta de um rentvel nicho de estudos epesquisas, cada um sua maneira...), umapreocupao com o excessivo tempo gasto doaeroporto at a cidade de So Paulo (De Masi,em palestra na EAESP/FGV, em 28 de outu-bro de 1999; Porter, na revista Exame, em 3de novembro de 1999). Talvez nossos brilhan-tes visitantes no tenham descoberto, ainda,uma das maneiras mais criativas de se apren-der sobre a realidade local: aproveitar o tra-jeto para conversar com o motorista e sabero que pensa (e o que ouve dizer) o cidadocomum...

    REFERNCIA BIBLIOGRFICA

    MINTZBERG, Henry. The rise and fall of strategicplanning. London : Prentice Hall, 1994.

    1. Uma tima comparao entre o pensamentode Taylor e Fayol encontra-se em Teoria geral

    NOTA

    da administrao, livro de Fernando C. P. Motta(So Paulo : Pioneira,1973) sempre atual.

    A emoo e a regra: os grupos criativos na Europa de 1850 a 1950