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filipe-de-abreu-das-neves
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Ela caminhava vagarosamente pela beira da praia, ainda cedo,
com suave Sol e sentia a gostosa água em seus pés. Por dentro,
para si mesmo cantarolava uma velha canção de amor “chanson
d’amour” de seu tempo de mocinha. No rosto a suavidade da paz interior. Mas bem no íntimo,
sentia-se incompleta.
Na direção oposta, também caminhando sob as marolas da água deliciosa do mar, vinha ele, um pouco mais rápido que ela, como
quem estivesse fazendo exercício. Cruzaram um pelo outro. Os olhos se encontraram.
Num relance rápido, mas intenso. Ela olhou para trás e viu que ele havia diminuído seus passos e também olhava
para ela.Sentiu um misto de vergonha por ter sido
“pega” e ao mesmo tempo, teve vontade de ousar e sorriu, porém continuou em seu
passo lento, na mesma direção que estava caminhando.
Seu coração batia mais forte, e ficou sentindo-se envaidecida por ter sido
admirada.
Ele, sem saber bem o que deveria fazer, ficou mais
lento, parou e decidiu fazer a tentativa de falar
com ela...arriscou voltar e alcançá-la.
Quando perto, o coração dos dois batiam
descompassados, nervosos, inseguros e
tensos. Ela, já não esperava mais nenhum
romance, embora o desejasse, ainda com
intensidade.
Ele, temendo ser rejeitado, pois já não acreditava mais que
pudesse ser admirado. Ela era baixinha, miúda,
longos cabelos, nem tão magra quanto desejava; ele moreno, alto, magro, cabelos negros, muito lisos, com ligeiros fios
brancos, nas têmporas e caindo sobre a testa com o vento.
Os olhos novamente se cruzaram e desta vez o coração de ambos disparou. Por poucos momentos caminharam lado a
lado, no mesmo compasso... Ele sem bem saber o que dizer,
apresentou-se e perguntou o nome dela.
Convidou-a para tomar uma água de côco e assim começaram a trocar idéias, conversaram e não viram o
tempo passar.
Marcaram de se encontrar à noite. Ela preparou-se durante o
dia, tanto física como emocionalmente para um
encontro que nem tinha certeza se aconteceria realmente. Ele passou a tarde contando as
horas, esperando o momento do provável encontro. Esmerou-se
no barbear, escolheu várias camisas e nada satisfazia.
Ela foi ao salão, fez o cabelo mas ao chegar em casa, escovou tudo para ficar bem simples como sempre fora; ela não
gostava de chamar a atenção. Deixou os cabelos soltos, e sentiu-se
mais verdadeira. Usou um vestido vaporoso, azul claro, pondo-se bem à
vontade, como se nada estivesse acontecendo.
Mas sabia que aquele vestido lhe caia muito bem, e ficava muito elegante, com
simplicidade. Dentro dela, no entanto, parecia viver
um sonho antigo, já vivido, mas sem esperanças de voltar a sentir a mesma
sensação. Encontraram-se.
Sorriram e deram-se as mãos, que ela as retirou, meio sem jeito, como se fosse uma
menina, mas ele estava decidido, não a deixaria fugir,
não entendeu direito, mas sentiu que era ela, aquela que
tanto desejou encontrar na vida.
Pegou novamente suas mãos e com delicadeza, porém
firme, não a deixou soltar. Ela se permitiu assim ficar,
com o peito acelerado, pensou que ali estava o início
de um sonho de amor.
Para ambos, aquela era uma ocasião muito especial, pois
estariam realizando um sonho que já não acreditavam mais ter
o direito, a realização de um grande sonho de amor.
Ele, um pouco atrevido, apertou suas mãos e abraçou-a, sabendo
que teria que ser delicado e cauteloso, ou perderia, o que para
ele, era também, um sonho que não pensava mais realizar.