31
Ricardo Barbosa de Souza EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL SOBRE A DOR E ATIVIDADE DE INDIVÍDUOS COM DOR ANTERIOR DO JOELHO UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Belo Horizonte Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional 2016

EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

Ricardo Barbosa de Souza

EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL SOBRE A DOR E ATIVIDADE DE INDIVÍDUOS COM DOR ANTERIOR DO JOELHO – UMA

REVISÃO SISTEMÁTICA

Belo Horizonte

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional

2016

Page 2: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

Ricardo Barbosa de Souza

EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL SOBRE A DOR E ATIVIDADE DE INDIVÍDUOS COM DOR ANTERIOR DO JOELHO – UMA

REVISÃO SISTEMÁTICA

Monografia apresentada ao curso de Especialização em Fisioterapia Esportiva do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Fisioterapia Esportiva.

Orientador: Prof. Dr. Renan Alves Resende

Belo Horizonte

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional

2016

Page 3: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

RESUMO

A articulação patelofemoral é influenciada pela mecânica do quadril e do complexo

tornozelo/pé. A Síndrome Dolorosa Patelofemoral (SDPF) é uma das patologias mais

frequentes na prática fisioterapêutica. Devido a influência do quadril sobre a mecânica

da articulação patelofemoral, a relação entre fraqueza dos músculos do quadril e a

SDPF tem sido bastante estudada. O objetivo desta revisão sistemática foi investigar

se o fortalecimento dos músculos do quadril aumenta a força e o nível de atividade,

além de diminuir a dor dos portadores da SDPF. Para isso, foram realizadas buscas

por ensaios clínicos aleatorizados, quase-aleatorizados ou controlados nas bases de

dados Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of

Systematic Reviews, MEDLINE, PsycINFO e PEDro. Após uma análise apurada, 12

estudos foram selecionados. Os estudos não foram conclusivos em relação ao

aumento da força, mas demonstraram que o fortalecimento do quadril é eficaz na

diminuição da dor. No geral, o aumento do nível de atividade também foi encontrado

após focar o tratamento no fortalecimento dos músculos do quadril. Fortalecer o

quadril parece de maneira geral estar ligado à recuperação precoce do paciente

quando comparado ao tratamento convencional focado exclusivamente no

fortalecimento dos músculos do joelho.

Palavras-chave: Quadril. Síndrome Dolorosa Patelofemoral. Dor Anterior no joelho.

Fortalecimento. Dor. Função. Fisioterapia.

Page 4: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

ABSTRACT

The patellofemoral joint is influenced by the hip mechanics and the ankle-foot complex.

The Patellofemoral Pain Syndrome (PFPS) is one of the most frequent pathology in

physiotherapeutic practice. Due the influence of the hip on the patellofemoral joint

mechanics, the relationship between weakness of the hip muscles and PFPS have

been studied. The aim of this systematic review was to investigate whether the

strengthening of hip muscles increases strength and level of activity, and reduces the

pain of patients with PFPS. For this, searches for randomized, quasi-randomized or

controlled clinical trials were conducted in the databases Cochrane Central Register of

Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, MEDLINE, PsycINFO e

PEDro. After an accurate analysis, 12 studies were selected. The studies were not

conclusive for strength, but they demonstrated that hip strengthening is effective in

reduce pain. In general, the increase of the level of activity was found after to

concentrate on the strengthening of hip muscles. Strengthen the hip muscles seems

to be linked to early recovery for the patient when compared to the conventional

treatment exclusively focused on knee muscles.

Keywords: Hip. Patelofemoral Pain Syndrome. Anterior Knee Pain. Strengthening.

Pain. Function. Physiotherapy.

Page 5: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................05

2. MÉTODOS....................................................................................................08

2.1. Identificação e seleção dos artigos....................................................08

2.2. Avaliação das características dos ensaios clínicos.......................... 08

2.3. Análise estatística............................................................................. 10

3. RESULTADOS............................................................................................ 11

4. DISCUSSÃO............................................................................................... 19

5. CONCLUSÃO............................................................................................. 26

REFERÊNCIAS ................................................................................................27

Page 6: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

5

1 INTRODUÇÃO

A síndrome dolorosa patelofemoral é a desordem musculoesquelética por

overuse de membros inferiores mais frequentemente encontrada em clínicas de

reabilitação, apresentando prevalência de aproximadamente 12% em jovens adultos

(18-35 anos) do sexo feminino fisicamente ativos, população em que a síndrome

dolorosa patelofemoral é predominante1-4. A depender do grau de comprometimento

da articulação, a síndrome dolorosa patelofemoral pode limitar o nível de atividades

de vida diária ou interferir na participação em atividade esportiva, especialmente

aquelas que requerem corrida e caminhada2,5.

A síndrome dolorosa patelofemoral surge como resultado de alterações

físicas e biomecânicas da articulação patelofemoral, apresentando como principais

sinais clínicos dor difusa nas regiões anterior e retropatelar do joelho, sensação de

falseio, bloqueio do joelho e crepitação articular, que aliviam com o repouso6-8. Os

sintomas são exacerbados em atividades como subir e descer escadas, correr,

realizar agachamentos, sentar com os joelhos fletidos, permanecer ajoelhado por

algum tempo ou outras atividades que exijam aumento da atividade muscular dos

extensores do joelho5,9,10.

Não existe consenso na literatura acerca da etiologia da síndrome dolorosa

patelofemoral. Neste contexto, a fraqueza e∕ou o atraso na ativação do músculo vasto

medial oblíquo (VMO) pode causar mau alinhamento e instabilidade patelar e aumento

da compressão da patela sobre o fêmur, o que contribuiria para o desenvolvimento da

síndrome dolorosa patelofemoral11,12,13. Além disso, alterações estruturais nos

retináculos e, por consequência, em sua função de estabilização estática ou

alterações no controle neuromotor também podem ser referidos como fatores causais

da síndrome dolorosa patelofemoral11,14.

Finalmente, é possível que aumento no ângulo Q, o qual reflete as forças

advindas de movimentos do quadril e da tíbia no plano frontal sobre a patela, esteja

relacionado ao desenvolvimento da síndrome dolorosa patelofemoral, através do

aumento do valgismo no joelho15,16. Qualquer movimento excessivo em membro

inferior, que aumenta o ângulo Q (valgismo dinâmico), criaria um elevado vetor de

forças resultante para lateral, levando a mau alinhamento e pressão excessiva sobre

a articulação patelofemoral, resultando em dor anterior no joelho15,16.

Page 7: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

6

Estudos recentes analisaram a influência do quadril e de sua musculatura

no desenvolvimento da síndrome dolorosa patelofemoral, uma vez que estes

músculos contribuem para o controle de movimento do fêmur nos planos frontal e

transverso e influenciam na quantidade de estresse a ser absorvido pela articulação

patelofemoral17,18. A fraqueza da musculatura do quadril pode levar também ao mau

alinhamento da patela dentro da tróclea do fêmur em decorrência de movimentos

excessivos de rotação medial e adução do quadril17.

Dinamicamente, o ângulo Q é influenciado principalmente por rotação tibial,

rotação femoral e valgismo dos joelhos, sendo este último uma consequência da

adução do quadril, abdução da tíbia em relação ao fêmur ou uma combinação de

ambos16,18. Uma adução excessiva do quadril durante atividades em cadeia cinética

fechada pode decorrer de fraqueza dos músculos abdutores do quadril, especialmente

do músculo glúteo médio18. Também é possível que o valgismo dinâmico do joelho

seja influenciado por fraqueza dos músculos extensores e rotadores laterais do

quadril, como o músculo glúteo máximo, por levarem a um aumento da rotação medial

do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas

funcionais, tais como corrida, step-down, salto19,20.

É possível então que o fortalecimento da musculatura abdutora, extensora

e rotadora lateral do quadril seja importante para o tratamento da síndrome dolorosa

patelofemoral, a fim de aumentar o controle da adução, flexão e rotação medial do

quadril, principalmente durante atividades em cadeia cinética fechada ou atividade

esportiva que envolva corrida e caminhada, e diminuir a dor. No entanto, ainda não

há concordância de como a musculatura do quadril deve ser inserida no tratamento,

nem está totalmente estabelecido se o fortalecimento dessa musculatura apresenta

melhores resultados que o tratamento com foco em fortalecimento nos extensores do

joelho.

O objetivo dessa revisão sistemática foi investigar a eficácia do

fortalecimento dos músculos do quadril, associado ou não ao fortalecimento dos

músculos do joelho (a partir de agora definido como ‘fortalecimento dos músculos de

quadril e joelho’) para aumentar força, reduzir dor e melhorar o nível de atividade de

indivíduos com síndrome dolorosa patelofemoral. As perguntas clínicas específicas

foram:

Page 8: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

7

1. Fortalecimento dos músculos de quadril e joelho é eficaz para aumentar força,

reduzir dor e melhorar atividade de indivíduos com síndrome dolorosa

patelofemoral?

2. Fortalecimento dos músculos de quadril e joelho é mais eficaz que

fortalecimento isolado dos músculos do joelho para aumentar força, reduzir dor

e melhorar atividade de indivíduos com síndrome dolorosa patelofemoral?

Com objetivo de realizar recomendações baseadas no mais alto nível de

evidência científica, esta revisão incluiu apenas ensaios clínicos aleatorizados ou

controlados.

Page 9: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

8

2 MÉTODOS

2.1 Identificação e seleção dos artigos

As pesquisas por estudos relevantes foram realizadas nas bases de dados

Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), Cochrane Database of

Systematic Reviews, MEDLINE, PsycINFO e PEDro, sem restrição de data ou de

idioma. A estratégia de busca foi registrada no Pubmed/Medline e os autores

receberam notificações acerca de potenciais artigos relacionados a esta revisão

sistemática. Os termos utilizados na pesquisa incluem palavras em inglês

relacionadas à dor anterior no joelho (knee anterior pain), e aleatorizados

(randomised), quase-aleatorizados (quasi-randomised) ou ensaios clínicos

controlados (controlled trials), e palavras relacionadas a treino de força (strength

training). Títulos e resumos foram apresentados e selecionados por dois revisores

para identificar os estudos relevantes. Cópias completas de artigos relevantes

revisados por pares foram recuperadas e suas referências foram analisadas para

identificar mais estudos relevantes. A seção de métodos dos artigos recuperados foi

extraída e revisada independentemente pelos dois revisores, utilizando critérios

predeterminados. Ambos os revisores foram cegos em relação aos autores, revistas

científicas e resultados. Discordâncias ou ambiguidades foram resolvidas através de

um consenso.

2.2 Avaliação das características dos ensaios clínicos

Qualidade metodológica: A qualidade metodológica dos ensaios clínicos incluídos

foi avaliada por meio da extração da pontuação na base de dados em evidências em

fisioterapia PEDro (Physiotherapy Evidence Database – www.pedro.org.au). A escala

PEDro é uma escala de 11 itens projetada para avaliar a qualidade metodológica

(validade interna e informações estatísticas) de ensaios clínicos aleatorizados. Cada

item, exceto o item 1, contribui com 1 ponto para a pontuação final (0 a 10 pontos).

Sempre que um ensaio clínico não estava incluído na base de dados, ele foi pontuado

por um revisor que completou o tutorial de treinamento da escala PEDro.

Page 10: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

9

Participantes: Indivíduos com dor anterior do joelho. Dor anterior do joelho foi

definida como uma dor retropatelar (atrás da patela) ou peripatelar (ao redor da

patela), ocorrendo principalmente quando uma carga foi aplicada ao mecanismo

extensor do joelho como quando subimos escadas, agachamos, corremos, pedalamos

ou sentamos com os joelhos fletidos. Estudos incluindo participantes com patologias

de joelhos como síndrome de Hoffa, síndrome de Osgood Schlatter, síndrome de

Sinding-Larsen-Johansson, síndrome da fricção da banda iliotibial, tendinopatias,

neuromas, patologias intra-articulares incluindo osteoartrite, artrite reumatoide, lesões

traumáticas (como lesões ligamentares, lesões meniscais, fraturas patelares e

luxação patelar), síndromes da plica e mais patologias de ocorrência rara não foram

inclusas21,22. Estudos cuja intervenção do grupo experimental envolvia diferentes

modalidades de treino também foram excluídos. O número de participantes, idade,

nível de atividade física e intensidade da dor antes do início do tratamento foram

registrados para avaliar a similaridades dos estudos.

Intervenção: A intervenção para o grupo experimental tinha de ser um programa de

treinamento de resistência realizado utilizando o peso do corpo, pesos livres,

máquinas ou resistência elástica, afim de aumentar a força dos músculos

posterolaterais do quadril (ou seja, músculos abdutores do quadril, extensores e/ou

rotadores laterais), associado ou não com o fortalecimento dos músculos do joelho. A

intervenção tinha que ser de uma dosagem que poder-se-ia esperar melhora na força,

isto é, tinha que envolver contrações musculares repetitivas, fortes ou com algum

esforço de contração muscular, e tinha que declarado ou implícito que o objetivo da

intervenção era fortalecimento muscular23. Duração e frequência das sessões de

tratamento, duração do programa e características do programa de força (isto é,

músculos, tipos de exercícios, cenário, carga e progressão) foram registrados para

avaliar a similaridade dos estudos. A intervenção do grupo controle foi definida de

acordo com cada pergunta da pesquisa: (1) para examinar a eficácia do treino de força

de quadril e joelho, a intervenção do controle poderia não ser nada, placebo ou

qualquer outra intervenção que não seja realizada em membro inferior; (2) para

examinar o efeito do treino de força do quadril e do joelho comparado ao

fortalecimento isolado de músculos do joelho, a intervenção do grupo controle poderia

ser um treino de resistência isolado aplicado aos músculos do joelho.

Page 11: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

10

Medidas de desfecho: Três medidas de desfecho foram de interesse: força, dor e

função (atividade). A medição da força tinha que ser reportada como geração de pico

de força/torque e representativa de uma contração voluntária máxima (por exemplo:

teste manual de força ou dinamometria). Quando múltiplas medidas de força foram

relatadas, a medida que refletia o(s) músculo(s) treinado(s) era utilizada. Se era

apropriada a utilização de medidas de vários músculos diferentes (isto é, esses

músculos tinham sido alvo da intervenção), as médias e desvios-padrão das medições

individuais eram somadas24,25.

A medição da dor tinha que ser relatada como intensidade da dor e baseada

em métodos de auto avaliação validados (por exemplo, escala visual analógica – EVA

ou escala numérica – NPRS). Quando múltiplas medidas de intensidade da dor foram

relatadas em um estudo (por exemplo, dor em repouso, pior dor ou dor em atividade),

as médias e desvios-padrão das medições individuais foram somadas. Questionários

examinando múltiplos aspectos da dor (por exemplo, duração e frequência da dor)

foram incluídos, quando intensidade da dor era relatada separadamente.

A medição de atividade tinha que ser uma medida direta de capacidade ou

performance. Quando múltiplas medidas de atividade eram relatadas em um estudo,

a medida descrita como desfecho primário, a medida utilizada para calcular o tamanho

da amostra ou a medida que combinava mais atividades era usada. Questionários

examinando múltiplos desfechos (por exemplo, Western Ontario McMaster

Universities Osteoarthritis Index – WOMAC) foram utilizados se eles eram a única

medida de atividade disponível.

2.3 Análise estatística

Informações sobre métodos (isto é, desenho da pesquisa, participantes,

intervenção, medidas) e resultados (isto é, número de participantes, e médias

(desvios-padrão) de desfechos de saída), foram extraídos independentemente por

dois revisores. Discordâncias ou ambiguidades foram resolvidas através de consenso.

Sempre que informações não estavam disponíveis em artigos publicados, detalhes

foram solicitados ao respectivo autor.

Page 12: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

11

3 RESULTADOS

A pesquisa inicial retornou 5044 artigos (excluindo duplicados). Após uma

seleção prévia, a partir da leitura do título e do resumo, 5001 estudos foram excluídos,

restando 43 artigos para leitura completa.

Após a leitura completa dos estudos pelos avaliadores, foram incluídos 12

estudos nesta revisão sistemática, conforme fluxograma descritivo presente na

(FIGURA 1). A tabela 1 apresenta as características da população de cada estudo,

bem como uma síntese das intervenções adotadas e dos desfechos analisados. Cada

ensaio clínico foi avaliado quanto à sua qualidade metodológica de acordo com a

escala PEDro, conforme descrito na tabela 2. Dentre os 31 artigos que foram

excluídos, dois deles foram descartados pela dificuldade de tradução da língua

materna do autor do estudo para o inglês ou português26,27.

Figura 1 Fluxograma de seleção dos estudos

Page 13: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

Tabela 1. Características dos estudos incluídos (n = 12)

Artigo Desenho Participantes Intervenção Medidas de desfecho

Frequência e duração Parâmetros

Avraham et al34 RCT Q2

n=20 Idade (anos) = 35 Duração da dor (mês) = não informado Intensidade da dor (0-10) = não informado Não informado

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho 30 min x 2/sem x 3sem Con = Fortalecimento de joelho 30 min x 2/sem x 3sem Ambos = TENS + alongamento

Músculos = músculos rotadores laterais do quadril + músculos do joelho Carga = não informado Tipo = Peso corporal Cenário: não informado Progressão = não informado

Dor = EVA (0-10 cm) Atividade = Scoring of Patellofemoral Disorders Scale (0-100) Periodicidade: 0, 3 sem

Baldon et al30

RCT Q2

n=31 Idade (anos) = 22 (3) Duração da dor (mês) = 44(range 3 to180) Intensidade da dor (0-10) = 6.4 (1.5) Ativos

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho + tronco 90-120 min x 3/sem x 8sem Con = Fortalecimento de joelho 75-90 min x 3/sem x 8sem

Músculos = Músculos abdutores, rotadores laterais e extensores do quadril + joelho + tronco Carga = 20-75% de 1RM Tipo = Peso corporal, pesos livres, máquinas e resistência elástica Cenário: Clínicas Progressão = Resistência e/ou repetições aumentam de acordo com a capacidade dos participantes.

Dor = EVA (0-10 cm) Força = dinamometria (Nm/Kg) Atividade = LEFS (0-80), Periodicidade: 0, 8, 20 sem

Clark et al35 RCT Q1

n=27 Idade (anos) = 28 (7) Duração da dor (mês) = >3 Intensidade da dor (0-10) = 8.0 (4.2) Não informado

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho ? min x 7/sem x 12sem Con = Nada Ambos = Educação

Músculos = Músculos abdutores, rotadores laterais e extensores do quadril + joelho Carga = Peso corporal Tipo = Peso corporal Cenário: Em casa Progressão = Dificuldade do exercício aumenta todo dia.

Dor = EVA (0-100mm) Força = dinamometria (KgF) Atividade = WOMAC (0-96) Periodicidade: 0, 12, 48 sem

Dolak et al36 RCT Q2

n=27 Idade (anos) = 26 (6) Duração da dor (mês) = 32 (34) Intensidade da dor (0-10) = 4.4 (2.4) Não informado

Exp = Fortalecimento de quadril ? min x 3/sem x 4sem Con = Fortalecimento de joelho ? min x 3/sem x 4sem

Músculos = Músculos rotadores laterais e abdutores de quadril Carga = 3% do Peso corporal Tipo = Peso corporal, pesos livres Cenário: Em casa e clínicas Progressão = Resistência aumenta toda semana até chegar a 7% do peso corporal.

Dor = EVA (0-10 cm) Força = dinamometria (Nm), Atividade = LEFS (0-80) Periodicidade: 0, 4, 8 sem

Page 14: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

Tabela 1. Características dos estudos incluídos (n = 12) (continuação)

Artigo Desenho Participantes Intervenção Medidas de desfecho

Frequência e duração Parâmetros

Fukuda et al1 RCT Q1 Q2

n=64 Idade (anos) = 25 (7) Duração da dor (mês) = >3 Intensidade da dor (0-10) = 4.8 (2.3) Sedentários

Exp 1= Fortalecimento de quadril + joelho ? min x 3/sem x 4sem Con 1= Nada Con 2= Fortalecimento de joelho ? min x 3/sem x 4sem

Músculos = Músculos rotadores laterais e abdutores de quadril + joelho Carga = 70% de 1 ou 10 RM Tipo = Pesos livres, máquinas e resistência elástica Cenário: Clínicas Progressão = Resistência ajustada para 70% da força máxima toda semana

Dor = NPRS (0-10) Atividade= LEFS (0-80) Periodicidade: 0, 4 sem

Fukuda et al2. RCT Q2

n=49 Idade (anos) = 23 (3) Duração da dor (mês) = 22 (18) Intensidade da dor (0-10) = 6.3 (1.2) Sedentários

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho ? min x 3/sem x 4sem Con = Fortalecimento de joelho ? min s x 3/sem x 4sem

Músculos = Músculos extensores, rotadores laterais e abdutores de quadril + joelho Carga = 70% de 1RM Tipo = Peso corporal, pesos livres, máquinas e resistência elástica Cenário: Clínicas Progressão = Resistência ajustada para 70% da força máxima toda semana

Dor = NPRS (0-10) Atividade= LEFS (0-80) Periodicidade = 0, 12, 24 sem

Ismail et al6. RCT Q2

n=32 Idade (anos) = 21 (3) Duração da dor (mês) = >1.5 Intensidade da dor (0-10) = 4.9(1.7) Não informado

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho ? min x 3/sem x 6sem Con = Fortalecimento de joelho ? min x 3/sem x 6sem

Músculos = Músculos rotadores laterais e abdutores de quadril + joelho Carga = não informado Tipo = Peso corporal e resistência elástica Cenário: Clínicas Progressão = não informado

Dor = EVA (0-10 cm) Força = dinamometria (Nm/kg) Atividade = Scoring of Patellofemoral Disorders Scale (0-100) Periodicidade = 0, 6 sem

Khayambashi et al31 RCT Q1

n=28 Idade (anos) = 30 (6) Duração da dor (mês) = >6 Intensidade da dor (0-10) =7.3 (1.9) Sedentários

Exp = Fortalecimento de quadril 30 min x 3/sem x 8sem Con = placebo

Músculos = Músculos rotadores laterais e abdutores de quadril Carga = Tubos elásticos coloridos Tipo = resistência elástica Cenário: Academia Progressão = Resistência aumentada a cada duas semanas

Dor = EVA (0-10 cm) Força = dinamometria (N/Kg) Atividade = WOMAC (0-96) Periodicidade = 0, 8, 24 sem

Page 15: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

Tabela 1. Características dos estudos incluídos (n = 12) (continuação)

Artigo Desenho Participantes Intervenção Medidas de desfecho

Frequência e duração Parâmetros

Khayambashi et al32 CT Q2

n=36 Idade (anos) = 28 (7) Duração da dor (mês) = >6 Intensidade da dor (0-10) = 7.3 (1.7) Sedentários

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho 30 min x 3/sem x8sem Con = Fortalecimento de joelho 30 min x 3/sem x 8sem

Músculos = Músculos rotadores laterais e abdutores de quadril Carga = Tubos elásticos coloridos Tipo = resistência elástica Cenário: Academia Progressão = Resistência aumentada a cada duas semanas

Dor = EVA (0-10 cm) Atividade = WOMAC (0-96) Periodicidade = 0, 8, 24 sem

Lun et al29 RCT Q1

n=64 Idade (anos) = 35 (11) Duração da dor (mês) = 9 (6) Intensidade da dor (0-10) = 4.6 (2.9) Ativos

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho 3 séries x 20 reps x cada exercício Con = Nada Ambos = brace patelar

Músculos = agachamentos (squats) Carga = não informado Tipo = Peso corporal Cenário: Em casa Progressão = Exercícios mudavam a cada 5 dias

Dor = EVA (0-10 cm) Atividade = Knee Function Scale (0-53) Periodicidade= 0, 3, 6, 12 sem

Nakagawa et al28 RCT Q2

n=14 Idade (anos) = 24 (6) Duração da dor (mês) = >1 Intensidade da dor (0-10) = 4.6 (2.8) Não informado

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho ? min x 5/sem x 6sem Con = Fortalecimento de joelho ? min x 5/sem x 6sem

Músculos = Músculos rotadores laterais e abdutores do quadril + joelho + transverso do abdomen Carga = não informado Tipo = Peso corporal + resistência elástica Cenário: Em casa + clínicas Progressão = Resistência aumentada a cada duas semanas

Dor = EVA (0-10cm) Força = dinamometria (Nm/Kg) Periodicidade= 0, 6 sem

Razeghi et al33 RCT Q2

n=32 Idade (anos) = 23 (3) Duração da dor (mês) = >1 Intensidade da dor (0-10) = 6.5 (1.4) Sedentários

Exp = Fortalecimento de quadril + joelho ? min x ?/sem x 4sem Con = Fortalecimento de joelho ? min x ?/sem x 4sem

Músculos = Músculos abdutores e adutores, rotadores mediais e laterais, flexores e extensores de quadril + joelho Carga = não informado Tipo = não informado Cenário: não informado Progressão = Técnica de resistência progressiva de Mc Queen

Dor = EVA (0-10 cm) Força = dinamometria (%) Periodicidade: 0, 4 sem

# Grupos e medidas de desfecho listados são aqueles que foram analisados nesta revisão sistemática; pode ter havido outros grupos ou medidas de desfecho no artigo. RCT = randomised clinical trial (Ensaio clínico aleatorizado), CT = controlled trial (ensaio controlado), Exp = grupo experimental, Con = grupo controle, 1RM = 1-repetição máxima TENS = neuroestimulação elétrica transcutânea, NPRS = numeric pain rating scale (escala numérica da dor), LEFS = Lower Extremity Functional Scale (escala de funcionalidade para membro inferior), Scoring of Patellofemoral Disorders Scale (escala de pontuação de desordens patelofemorais), Knee Function Scale (escala de funcionalidade do joelho).

Page 16: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

15

No total, 424 indivíduos, em sua grande maioria do sexo feminino, foram

incluídos nos 12 ensaios clínicos, variando de 1428 a 64 participantes por estudo1,29,

com médias de idade que variavam entre 21±3 anos6 a 35±11 anos29. Em dois dos

artigos selecionados, a população avaliada era fisicamente ativa29,30, enquanto em

outros 5 estudos1,2,31-33, a prática de atividade esportiva ou recreacional era critério de

exclusão para a pesquisa. Para os 5 estudos restantes, o nível de atividade física dos

participantes incluídos no ensaio clínico não foi reportado6,28,34-36.

Apenas 2 estudos optaram pela não inclusão do fortalecimento dos

músculos abdutores do quadril em sua intervenção29,34. Avraham et al34 investigaram

se o fortalecimento dos músculos rotadores laterais do quadril associado ao

fortalecimento do músculo quadríceps femoral mais alongamento dos músculos da

banda iliotibial e dos músculos que formam a chamada pata de ganso é mais eficaz

para o tratamento da síndrome dolorosa patelofemoral que o fortalecimento específico

do músculo quadríceps femoral mais os mesmos alongamentos realizados pelo grupo

experimental.

Ambos os grupos apresentaram melhora da dor e aumento de atividade

após 3 semanas de tratamento com 2 sessões por semana. No entanto, apesar dos

dois grupos terem apresentado significância estatística (p<0.05) quando comparados

ao início do estudo34, o grupo cuja intervenção combinou fortalecimento dos músculos

rotadores laterais do quadril e do quadríceps femoral que apresentou maior poder de

significância estatística. Na comparação intergrupos, não houve diferença

estatisticamente significativa34.

Lun et al.29, por sua vez, realizaram o fortalecimento dos músculos do

quadril e joelho inespecificamente no grupo experimental através da realização de

diferentes modalidades de agachamentos (squats), associado ao uso de um brace

patelar, enquanto o grupo controle, o qual não realizava exercícios, apenas fazia uso

do brace patelar. A intensidade da dor (EVA) e a função do joelho, no geral,

apresentaram melhoras graduais a cada avaliação realizada (em 3, 6 e 12 semanas)

para a dor e melhoras até a avaliação da 6ª semana, na atividade do joelho, mas na

comparação intergrupo, não houve diferença significativa29.

Dois estudos28,30 realizaram uma intervenção experimental que associava

ao fortalecimento de músculos do quadril e do joelho o fortalecimento de músculos do

tronco em comparação ao fortalecimento isolado dos músculos do joelho para o grupo

Page 17: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

16

controle. Enquanto Nakagawa et al28 realizaram cerca de 30 sessões de tratamento

(5 vezes por semana durante 6 semanas) e analisaram os efeitos da intervenção no

pré e pós tratamento imediato (0 e 6 semanas após), Baldon et al30 optaram por um

tratamento com uma duração maior e menos sessões (frequência de 3 sessões

durante 8 semanas), além de observar os efeitos da intervenção adotada também a

longo prazo (avaliações realizadas em 0, 8 e 20 semanas). Ambos28,30 apresentaram

redução significativa da dor após o tratamento, mas apenas após a intervenção de

Baldon et al30 que houve aumento estatisticamente significativo da força dos músculos

abdutores do quadril. Baldon et al30 ainda avaliaram atividade, através da escala

Lower Extremity Functional Scale (0-80) (LEFS), que só mostrou melhora significativa

para os grupos controle e experimental após as 8 semanas de tratamento, sem

diferença 3 meses após o término da intervenção.

Outros cinco estudos1,2,6,32,33 compararam os efeitos de uma intervenção

baseada no fortalecimento muscular do quadril e joelho em relação ao fortalecimento

isolado dos músculos do joelho, apresentando diminuição estatisticamente

significativa da dor após a intervenção em seus respectivos grupos experimentais e

grupos controles, exceto pelo estudo de Fukuda et al1 em que apenas o grupo

experimental apresentou melhora significativa da dor (p<0.01) ao subir e descer

escadas. Em estudo posterior, Fukuda et al2 comparou os efeitos da intervenção a

longo prazo (0, 3, 6 meses), e apenas 3 e 6 meses após o fim da intervenção que o

grupo controle que realizou fortalecimento de músculos do joelho foi estatisticamente

significativa para redução da dor, enquanto o controle sem intervenção não

apresentou alterações consideráveis. Na comparação intergrupos, o grupo

experimental apresentou diminuição estatisticamente significativa da dor em relação

ao grupo controle em todos os estudos, mas no primeiro estudo de Fukuda et al1

exclusivamente ao descer escadas que o grupo experimental foi estatisticamente

significativo para diminuição da dor.

O nível de atividade só não foi avaliado no ensaio clínico de Razegui et al33.

Nos 4 outros artigos1,2, houve melhora na função em ambos os grupos controle

(quando este foi submetido a algum fortalecimento muscular) e experimental ao final

da intervenção e das reavaliações subsequentes, quando foi o caso2,32. Na

comparação intergrupos, apenas Fukuda et al1 não apresentou diferença

estatisticamente significativa entre o controle e o grupo experimental.

Page 18: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

Tabela 2: Critérios e pontuações da escala PEDro para estudos incluídos (n = 12).

Artigo Alocação aleatória

Alocação secreta

Grupos semelhantes no início do

estudo

Participantes Cegos para o

estudo

Terapeuta cego para o estudo

Avaliador cego para o

estudo

< 15% desistentes

Análise de intenção de tratamento

Diferenças intergrupos relatadas

Medidas de precisão e

variabilidade relatadas

Total (0 a 10)

Avraham et al.34 S N N N N S N N S N 3

Baldon et al.30 S S S N N N S S S S 7

Clark et al.35 S N S N N S S S S S 7

Dolak et al36 S N S N N S N S S S 6

Fukuda et al.1 S S S N N S S N S S 7

Fukuda et al.2 S S S N N S S S S S 8

Ismail et al.6 S S S N N S S S S S 8

Khayambashi et al.31 S N S N N N S N S S 5

Khayambashi et al.32 N N S N N N S N S S 4

Lun et al.29 S N S N N N N N N S 3

Nakagawa et al.28 S S S N N S S S N S 7

Razeghi et al.33 S N N N N N S N S S 4

S = Sim; N=Não

Page 19: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

18

Apenas Ismail et al6 e Razegui et al33 avaliaram força, e em ambos houve

aumento de força nos músculos abdutores do quadril entre o início e o fim da

intervenção (6 e 4 semanas, respectivamente), embora na comparação com o controle

não houve resultado estatisticamente significativo. Ismail et al6 ainda observaram

aumento de força em músculos flexores e rotadores laterais do quadril, no

comparativo entre pré e pós intervenção.

Khayambashi et al31 em um estudo prévio optou por comparar a eficácia do

fortalecimento isolado da musculatura do quadril com um grupo controle que não

realizava nenhum tipo de intervenção, diferenciando-se do estudo subsequente32

também por medir força através de dinamometria. Todas as variáveis de interesse

(dor, força e atividade) apresentaram melhora em relação ao início do estudo no grupo

experimental, tanto ao fim do período de intervenção como após 6 meses pós

intervenção.

Outro estudo35 fez a comparação entre fortalecimento da musculatura de

joelho e quadril mais educação acerca da patologia versus o controle que recebeu as

mesmas orientações, mas não realizou nenhum outro tipo de intervenção. O estudo

durou 3 meses, com sessões diárias, e diminuição da dor (EVA 0-10 cm) e melhora

do nível de atividade (WOMAC) foram observados após esse período e ao final de 12

meses, enquanto aumento da força do quadríceps (dinamometria) foi observado e

avaliado apenas na primeira reavaliação, apresentando melhoras importantes no

grupo experimental, mas sem diferença estatisticamente significativa na comparação

com o grupo controle em nenhuma das medidas de desfecho35.

Por fim, Dolak et al36 foram os únicos pesquisadores que confrontaram os

efeitos isolados do fortalecimento dos músculos rotadores laterais e abdutores do

quadril e do fortalecimento dos músculos extensores do joelho isoladamente. Os

resultados observados após 12 sessões (3 vezes por semana durante 4 semanas)

mostraram uma redução da dor mais precoce para o grupo que fortaleceu a

musculatura do quadril, enquanto os resultados coletados após 8 semanas indicaram

um aumento da força do quadril36. Na comparação entre resultados do grupo controle

e do grupo experimental, a diminuição da dor no grupo experimental foi maior ao final

das 12 sessões36. Em relação a função, ambos os grupos apresentaram melhoras

significativas após 4 e 8 semanas36.

Page 20: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

19

4 DISCUSSÃO

O objetivo dessa revisão sistemática foi determinar se o fortalecimento dos

músculos do quadril e joelho é capaz de aumentar a força, reduzir a dor e melhorar o

nível de atividade de indivíduos com síndrome dolorosa patelofemoral. Como

resultado, todos os estudos selecionados apontam que o fortalecimento dos músculos

do quadril foi determinante para diminuição da intensidade de dor dos portadores da

síndrome dolorosa patelofemoral. Nos estudos em que o nível de atividade foi medida

de desfecho, houve melhora do nível de atividade dos indivíduos do grupo

experimental após a intervenção. No tocante ao aumento de força, não houve

concordância entre os autores a respeito do fortalecimento do quadril, quando se

comparou o grupo experimental com o grupo controle. No geral, por apresentar uma

grande variedade de protocolos de tratamento, não foi possível uma comparação

objetiva dos resultados.

A validade interna dos estudos foi avaliada de acordo com os oito primeiros

itens descritos na tabela 2 (itens 2 – 9 da Escala PEDro). Diz-se que um estudo possui

uma alta validade interna quando tem o mínimo ou nenhum erro sistemático, se segue

um planejamento de boa qualidade e quando a sua execução inclui adequada coleta

e análise dos dados37. Pode-se dizer que a maioria dos estudos selecionados

apresentou uma boa validade interna, exceto pelos estudos de Avraham et al34,

Khayambashi et al32, Lun et al29 e Razeghi et al33 que somaram apenas 2 dos 8 pontos

disponíveis para avaliação da validade interna e do estudo de Khayambashi et al31, o

qual pontuou 3 em 8. Apesar disto, nenhum dos 12 estudos selecionados foi pontuado

nos itens 5 e 6 da Escala PEDro, os quais dizem respeito ao cegamento dos indivíduos

e dos terapeutas, respectivamente. Esses itens não foram satisfeitos pela natureza

das intervenções adotadas nos estudos que analisam os efeitos de tais intervenções

fisioterapêuticas38.

A validade externa dos estudos, ou a sua aplicabilidade, é avaliada pelo

item 1 da Escala PEDro. Apenas três estudos28,32,34 não foram pontuados nesta

questão, uma vez que nenhum deles descreveu a origem dos indivíduos selecionados.

Desta forma, pode-se afirmar que os estudos selecionados, em sua maioria, possuem

uma alta validade externa.

Page 21: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

20

A influência do fortalecimento do quadril (associado ou não ao

fortalecimento do joelho) na força muscular foi investigada por 6 estudos6,28,30,31,33,36,

enquanto Clark et al35 avaliou apenas a força do quadríceps, e, como mencionado

anteriormente, os resultados foram controversos. Algumas das razões para tal fato

são as distintas abordagens em relação aos exercícios adotados e à forma de

acompanhamento por parte do profissional. Enquanto alguns estudos optaram por

exercícios mais funcionais, Khayambashi et al31, por exemplo, optou por realizar o

fortalecimento do quadril através de exercícios que isolaram cada porção muscular

que deveria ser trabalhada.

Quando um programa de exercícios é proposto e procura-se investigar a

eficiência do programa sobre a força muscular, é importante que a forma de avaliação

da força muscular seja similar à forma como o programa de exercícios foi

implementado, já que o aumento da força não é proporcionado para o músculo

exercitado em todas as atividades que requerem a sua contração39. Dois estudos31,36

realizaram o teste isométrico de força em posições não adotadas no tratamento.

Sendo assim, não se pode garantir que o aumento de força observado no teste

isométrico necessariamente represente um aumento de força em quaisquer situações.

Além disso, deve-se observar se os exercícios e os testes representam as reais

necessidades dos indivíduos.

O acompanhamento do fisioterapeuta pode exercer influência no aumento

de força, uma vez que a presença de um profissional corrigindo, orientando e dando

feedbacks é capaz de melhorar o padrão de movimento do paciente, fazendo com que

o mesmo consiga utilizar os músculos esperados de maneira mais eficiente. Em cinco

os estudos que avaliaram força30,31,33,35 houve a orientação do fisioterapeuta em todas

as sessões realizadas6. Baldon et al30 e Khayambashi et al31 apresentaram aumento

estatisticamente significativo da força dos músculos avaliados entre o pré e pós

intervenção e entre o grupo experimental e o grupo controle.

Dolak et al36, em que houve acompanhamento fisioterapêutico em 1 das 3

sessões semanais durante o tratamento, por sua vez, encontrou como resultado

aumento de força estatisticamente significativo em apenas 1 dos grupos musculares

avaliados (abdutores do quadril). Já Nakagawa et al28 ofereceram acompanhamento

do fisioterapeuta somente em 1 das 5 sessões semanais, e não apresentaram

aumento estatisticamente significativo da força muscular através do tempo nem na

Page 22: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

21

comparação intergrupos. Como observado, a frequência da orientação presencial de

um profissional parece exercer influência no ganho de força muscular, mas são

necessários outros estudos para testar esta hipótese.

Por outro lado, durante o tratamento proposto por Ismail et al6, os indivíduos

foram acompanhados pelo fisioterapeuta em todas as sessões e os testes de força

isométricos foram realizados na mesma posição de alguns dos exercícios adotados.

Ainda assim, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos

experimental e controle. Isto pode ser explicado pelo fato de ambos os grupos terem

feito atividades utilizando o peso do próprio corpo, favorecendo a melhora da força

muscular nos dois grupos e dificultando a identificação de diferença entre eles38.

A dor, outra medida de desfecho dos 12 estudos selecionados por esta

revisão sistemática, diminuiu em todos os pacientes após o fortalecimento muscular

do quadril1,2,6,28-36. A avaliação da dor se deu através de diferentes escalas e∕ou em

diferentes situações. No entanto, a utilização de escalas distintas não invalida o

processo de avaliação da dor, uma vez que a percepção da dor é subjetiva e pessoal.

Não existe ainda instrumento físico que permita a um observador externo mensurar

objetivamente a dor (Sousa). Desta forma, foram utilizadas a EVA e a NPRS para

avaliação desta medida de desfecho, podendo ser avaliada de maneira global entre o

momento anterior e posterior ao período de intervenção ou em determinados

contextos.

Em 3 estudos6,33,34, a percepção da dor foi avaliada no início e ao fim do

tratamento, com redução estatisticamente significativa no grupo experimental, o qual

realizou fortalecimento dos músculos do quadril e joelho nos 3 casos. Além disso,

houve também diminuição estatisticamente significativa da dor nos grupos controle

dos 3 estudos, mas apenas nos estudos de Avraham et al34 e Ismail et al6 que essa

diminuição foi maior. Isso pode ser explicado pelo fato de que em ambos os casos6,34,

nos programas de tratamento propostos aos grupos controles, havia exercícios que

exigiam ativação da musculatura do quadril, como o step-up lateral6 ou agachamento

unilateral34.

Esses achados corroboram com os resultados encontrados por Dolak et

al36 e Baldon et al30. Houve uma redução importante da dor em relação ao baseline

em ambos os grupos controle após a inclusão de atividades funcionais na fase final

do tratamento, sendo estatisticamente significativa no follow-up de 8 semanas para o

Page 23: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

22

estudo de Dolak et al36, enquanto para o grupo experimental, não houve alteração na

percepção da dor entre o fim do período de intervenção e o follow-up de 8 semanas,

uma vez que o grupo experimental realizou exercícios de fortalecimento de quadril

desde o início do tratamento. No estudo de Baldon et al30, a redução da dor foi

estatisticamente significativa em ambos os grupos tanto após o tratamento, quanto no

follow-up de 3 meses, mas na avaliação intergrupos, o grupo experimental apresentou

uma diminuição estatisticamente significativa em relação ao controle em todos os

momentos.

Os demais estudos incluíram a avaliação da dor em determinadas

situações1,2,28,29,31,32,35. Por se tratarem de atividades que são facilmente realizadas

no cotidiano, a redução da dor mostrou que o tratamento que adota o fortalecimento

do quadril para a síndrome dolorosa patelofemoral traz repostas mais úteis ao dia a

dia do que simplesmente tratar a dor em repouso.

Lun et al29 foram os únicos que avaliaram a percepção da dor durante a

prática de esportes (durante e após 1 hora do término da atividade esportiva), além

de observar a percepção da dor após o paciente permanecer sentado com os joelhos

dobrados por 30 minutos. As avaliações ocorreram a cada 3 semanas durante as 12

semanas de tratamento e houve diminuição gradativa da dor a cada reavaliação,

exceto na 6ª semana na avaliação 1 hora após a prática de esporte, mas não foi

estatisticamente significativo na comparação entre os grupos de participantes29. Seus

resultados acabam por ser inconclusivos às perguntas desta revisão, visto que apesar

de o fortalecimento do quadril e joelho ter auxiliado na diminuição da dor, esta redução

ocorreu semelhante para o grupo que só utilizava o brace patelar29. Ademais, apenas

foram investigados os efeitos durante o período do tratamento29.

Clark et al35, Fukuda et al2 e os dois estudos de Khayambashi et al31,32

foram os únicos estudos que investigaram se as respostas obtidas permanecem a

longo prazo. Dentre estes estudos, somente Fukuda et al2, além da pesquisa prévia

de Fukuda et al1 e o estudo de Nakagawa et al28, investigaram a sensação de dor

durante o “subir e descer escadas”, enquanto Clark et al35 avaliaram a dor

exclusivamente na subida e durante caminhada em região plana. Em seus dois

estudos, Khayambashi et al31,32 solicitaram aos indivíduos participantes na pesquisa

que avaliassem a dor em qualquer atividade que a exacerbasse.

Page 24: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

23

Dentre os seis artigos1,2,28,31,32,35, em quatro deles1,2,32,35, a diminuição da

dor foi observada após o término do tratamento em todos os grupos, todavia essa

redução não foi estatisticamente significativa no grupo controle de Fukuda et al1. Na

comparação intergrupos, Clark et al35 e Fukuda et al1 também não houve redução

estatística significativa.

Os resultados foram mantidos mesmo após o encerramento do tratamento

no grupo que fortaleceu a musculatura póstero-lateral do quadril e dos músculos do

joelho em Clark et al35 e Fukuda et al2 até 1 ano do início da intervenção e em

Khayambashi et al31,32 em até 6 meses, sugerindo a importância do tratamento da

síndrome dolorosa patelofemoral com foco em fortalecimento desta musculatura para

manutenção dos benefícios a longo prazo.

Por fim, a última medida de desfecho analisada por esta revisão sistemática

foi a função (atividade) dos indivíduos com a síndrome dolorosa patelofemoral. A

medição de atividade foi realizada através da utilização de escalas funcionais

normatizadas que avaliam diretamente capacidade ou performance. Entende-se por

capacidade a habilidade que o paciente possui de realizar determinada tarefa ou ação

em ambiente padronizado, afim de evitar interferências externas40. O desempenho diz

respeito às ações que o indivíduo consegue realizar em seu ambiente natural,

incluindo o contexto social40. Desta maneira, a capacidade e o desempenho se tornam

uma fonte bastante útil para o fisioterapeuta atuar no ambiente do indivíduo e melhorar

seu desempenho40.

Lun et al29 utilizaram a escala KF de 0 a 53 pontos para avaliação da

atividade dos participantes de seu estudo, onde quanto maior a pontuação, melhor a

função. A função do joelho seguiu um padrão de melhora para o grupo experimental

com crescimento gradual entre o baseline e a primeira reavaliação, na 3ª semana,

com um grande crescimento da 3ª até a 6ª semana, quando atinge seu pico29. Da 6ª

à última semana, há uma redução da função no grupo experimental, mas os valores

alcançados ainda são superiores àqueles das 3 semanas iniciais de tratamento29. Para

o grupo controle, o qual não realizou nenhum exercício físico, a função do joelho

apresentou melhora a cada reavaliação29.

Dado o teor do treinamento (diferentes modalidades de agachamentos), o

tratamento proposto por Lun et al29 parece estar bastante condizente com as

atividades funcionais realizadas no dia a dia. No entanto, ainda que não haja diferença

Page 25: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

24

estatisticamente significativa entre os grupos avaliados, o grupo que fez uso do brace

patelar sem realizar exercícios físicos apresentou melhores resultados29. Ainda assim,

não se pode afirmar que o fortalecimento do quadril e joelho associado ao brace

apresenta resultados inferiores que ao uso isolado do brace, dado que este estudo29

possui uma baixa validade interna.

Dois estudos6,34 utilizaram a escala de Kujala et al41 (Anterior Knee Pain

Scale ou Scoring of Patellofemoral Disorders Scale) para avaliar o desempenho

funcional de indivíduos com síndrome dolorosa patelofemoral através de questões a

respeito do seu comportamento por exemplo em atividades que exacerbam os seus

sintomas como caminhar, correr, subir escadas, saltar, agachar e sentar muito tempo

com os joelhos flexionados, por exemplo41. Além disso, apresenta uma alta

confiabilidade no teste-reteste, uma moderada responsividade e validade adequada42.

Nos dois estudos6,34, houve melhora nos grupos controle e experimental, e

embora o grupo experimental de Avraham et al34 tenha apresentado melhor poder de

evolução em relação ao controle, apenas Ismail et al6 mostrou uma diferença

estatisticamente significativa entre os grupos. Estes resultados podem estar

relacionados ao fato de somente Avraham et al34 apresentarem baixa validade interna,

indicando que falhas metodológicas podem ter ocorrido durante a execução da

pesquisa. Enquanto isso, os resultados encontrados por Ismail et al6 ganham ainda

mais importância na elucidação dos questionamentos desta revisão, mostrando que o

fortalecimento do quadril e joelho seriam realmente eficazes e apresentariam um

diferencial na melhora das atividades dos indivíduos com síndrome dolorosa

patelofemoral.

O questionário WOMAC foi utilizado por três outros estudos31,32,35. Este

questionário caracteriza-se por apresentar uma significativa correlação com

desfechos específicos projetados para síndrome dolorosa patelofemoral43,44.

Os grupos controle e experimental dos estudos de Clark et al35 e

Khayambashi et al32 obtiveram melhora na atividade após o tratamento, mas não

houve diferença estatisticamente significativa na comparação intergrupos na pesquisa

de Clark et al35. Enquanto isso, em Khayambashi et al31, a melhora da função só foi

observada no grupo que fortaleceu o quadril. Nos dois estudos de Khayambashi et

al31,32 e no estudo de Clark et al35, nos 6 e 12 meses seguintes ao tratamento

Page 26: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

25

respectivamente a melhora ainda foi percebida, sugerindo a importância do

fortalecimento do quadril para a manutenção dos resultados obtidos com intervenção.

Os demais estudos1,2,30,36 optaram pela utilização da escala LEFS na

avaliação da função. A escala LEFS possui questões ligadas à funcionalidade do

indivíduo baseadas no modelo de deficiência da Constituição da Organização Mundial

de Saúde45. Também possui alta confiabilidade teste-reteste, moderada

responsividade e validade adequada42.

Apenas o estudo de Fukuda et al2 notou aumento da atividade após 3, 6 e

12 meses quando comparou o grupo que fortaleceu quadril e joelho ao grupo que

focou no fortalecimento isolado do joelho, mostrando ainda a importância do

fortalecimento do quadril e joelho para o aumento e preservação do nível de atividade

a longo prazo. Os demais estudos1,30,36 apresentaram melhoras na atividade em

qualquer dos grupos incluídos nas pesquisas. Ainda que não haja diferença

estatisticamente significativa, o grupo experimental demonstrou melhores resultados

em todos os estudos1,30,36.

Esta revisão sistemática apresenta algumas limitações que podem implicar

em conclusões imprecisas a respeito da melhor forma de realizar o tratamento. Uma

delas, é a baixa validade interna de alguns dos estudos selecionados29,31-34, indicando

que os resultados positivos ou a não diferença entre os grupos avaliados podem ter

sofrido influência de possíveis erros metodológicos. Pode-se levar em consideração

também os 3 estudos28,32,34 que não possuem uma boa validade externa para

determinar a qualidade desta revisão. Ainda que sejam minoria, os seus resultados

podem não ser representativos, já que sua aplicabilidade não pode ser confirmada

para a população geral28,32,34. Os referidos estudos28,32,34 não declararam a origem de

sua população, não podendo generalizar os resultados a qualquer portador de

síndrome dolorosa patelofemoral. Finalmente, cada autor seguiu um método próprio

em relação à duração, modalidade, intensidade e progressão do tratamento. Por outro

lado, os protocolos adotados, de maneira geral, apresentam alguma semelhança entre

si de forma que se pode inferir positivamente a respeito dos resultados encontrados.

E ainda as diferenças podem ser indicativas da variabilidade dos organismos e suas

alterações biomecânicas, sendo importantes para a adaptação a cada grupo de

indivíduos com síndrome dolorosa patelofemoral.

Page 27: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

26

5 CONCLUSÃO

A síndrome dolorosa patelofemoral é uma das maiores responsáveis por

dor no joelho, apresentando um alto grau de recorrência ou cronicidade. Os

fisioterapeutas encontram um grande desafio no tratamento desta patologia, uma vez

que ela se apresenta como uma patologia por vezes incapacitante, em especial para

aqueles que praticam esportes que exigem saltos, corridas ou agachamentos, ou para

alguém que necessite subir e descer escadas muitas vezes ao dia, por exemplo.

O objetivo desta revisão foi descobrir se o fortalecimento do quadril e joelho

é eficaz na diminuição da dor, aumento da força e melhora do nível de atividade em

portadores da síndrome dolorosa patelofemoral. Definir o tratamento ideal para esta

patologia passa pela adoção de estratégias específicas para cada paciente. Isolar a

musculatura do joelho ou do quadril pode tratar apenas localmente a lesão sem se

preocupar com a complexa biomecânica encontrada no corpo humano. A inclusão de

atividades funcionais pode ter um papel fundamental no tratamento da síndrome

dolorosa patelofemoral, uma vez que o envolvimento de diferentes grupos

musculares, traz à tona situações que serão enfrentadas pelo paciente diariamente.

A recuperação da funcionalidade é um dos principais aspectos nos

tratamentos fisioterapêuticos. Apesar das pequenas divergências encontradas nos

estudos selecionados nesta revisão, ao se observar que o fortalecimento do quadril

auxilia na recuperação precoce do paciente em comparação à outras modalidades de

tratamento e favorece a diminuição da dor, o aumento da força e melhora da função

nos pacientes portadores da síndrome dolorosa patelofemoral em atividades

funcionais, chegamos a um dos objetivos principais do tratamento, que é permitir o

retorno seguro às atividades diárias e esportivas, com o mínimo ou ausência de dor.

Os resultados encontrados por esta revisão sistemática podem servir de

guia para futuras pesquisas e para o tratamento da síndrome dolorosa patelofemoral

no ambiente clínico. Ainda assim, novos estudos devem surgir para elucidar de vez a

dúvida que permeia o meio clínico e acadêmico da fisioterapia no que diz respeito à

síndrome dolorosa patelofemoral e para que surjam novas opções de tratamento ou

opções mais eficazes. Mas para que isso ocorra, sugere-se que as próximas revisões

sistemáticas adotem como critério de seleção estudos que sigam uma linha similar de

tratamento para minimizar o viés da pesquisa.

Page 28: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. FUKUDA, T. Y. et al. Short-Term Effects of Hip Abductors and Lateral Rotators Strengthening in Females With Patellofemoral Pain Syndrome: A Randomized Controlled Clinical Trial. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 40, n. 11, p. 736-742, nov. 2010.

2. FUKUDA, T. Y. et al. Hip Posterolateral Musculature Strengthening in Sedentary Women With Patellofemoral Pain Syndrome: A Randomized Controlled Clinical Trial With 1-Year Follow-up. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 42, n. 10, p. 823-830, out. 2012.

3. ROUSH, J. R.; BAY, R. C. Prevalence of Anterior Knee Pain in 18-35 Year-old Females. The International Journal of Sports Physical Therapy, v. 7, n. 4, p. 396-401, ago. 2012.

4. VAN CANT, J. et al. Hip Muscle Strength and Endurance in Females With Patellofemoral Pain: A Systematic Review With Meta-Analysis. The International Journal of Sports Physical Therapy, v. 9, n. 5, p. 564-582, out. 2014.

5. CROSSLEY, K. et al. Physical Therapy for Patellofemoral Pain: A Randomized, Double-Blinded, Placebo-Controlled Trial. The American Journal of Sports Medicine, v. 30, n. 6, p. 857-865, 2002.

6. ISMAIL, M. M.; GAMALELDEIN, M. H.; HASSA, K. A. Closed Kinetic Chain exercises with or without additional hip strengthening exercises in management of Patellofemoral pain syndrome: a randomized controlled trial. European Journal of Physical and Rehabilitation Medicine, v. 49, n. 5, p. 687-698, out. 2013.

7. KANNUS, P. et al. An Outcome Study of Chronic Patellofemoral Pain Syndrome: Seven-Year Follow-Up of Patients in a Randomized, Controlled Trial. The Journal of Bone and Joint Surgery, v. 81-A, n. 3, p. 355-363, mar. 1999.

8. MIAO, P. et al. Vastus medialis oblique and vastus lateralis activity during a double-leg semisquat with or without hip adduction in patients with patellofemoral pain syndrome. BMC Musculoskeletal Disorders, v. 16, n. 289, p. 1-8, out. 2015.

9. COWAN, S. M. et al. Physical therapy alters recruitment of the vasti in patellofemoral pain syndrome. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 34, n. 12, p. 1879-1885, jul. 2002.

10. HARRISON, E. L.; SHEPPARD, M. S.; MCQUARRIE, A. M. A Randomized Controlled Trial of Physical Therapy Treatment Programs in Patellofemoral Pain Syndrome. Physiotherapy Canada, v. 51, n. 2, p. 93-100, 1999.

Page 29: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

28

11. DURSUN, N.; DURSUN, E.; KILIÇ, Z. Electromyographic Biofeedback-Controlled Exercise Versus Conservative Care for Patellofemoral Pain Syndrome. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 82, n. 12, p. 1692-1695, dez. 2001.

12. WITVROUW, E. et al. Intrinsic Risk Factors For the Development of Anterior Knee Pain in an Athletic Population: A Two-Year Prospective Study. The American Journal of Sports Medicine, v. 28, n. 4, p. 480-489, 2000.

13. YIP, S. L. M.; Ng, G. Y. F. Biofeedback supplementation to physiotherapy exercise programme for rehabilitation of patellofemoral pain syndrome: a randomized controlled pilot study. Clinical Rehabilitation, v. 20, n. 12, p. 1050-1057, dez. 2006.

14. DENTON, J. et al. The Addition of the Protonics Brace System to a Rehabilitation Protocol to Address Patellofemoral Joint Syndrome. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 35, n. 4, p. 210-219, abr. 2005.

15. EMAMI, M. J. et al. Q-angle: An Invaluable Parameter for Evaluation of Anterior Knee Pain. Archives of Iranian Medicine, v. 10, n. 1, p. 24-26, jan. 2007.

16. POWERS, C. M. The Influence of Abnormal Hip Mechanics on Knee Injury: A Biomechanical Perspective. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 40, n. 2, p. 42-51, fev. 2010.

17. BOLING, M. C.; PADUA, D. A.; CREIGHTON, R. A. Concentric and Eccentric Torque of the Hip Musculature in Individuals With and Without Patellofemoral Pain. Journal of Athletic Training, v. 44, n. 1, p. 7-13, fev. 2009.

18. POWERS, C. M. The Influence of Altered Lower-Extremity Kinematics on Patellofemoral Joint Dysfunction: A Theoretical Perspective. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 33, n. 11, p. 639-646, nov. 2003.

19. IRELAND, M. L. et al. Hip Strength in Females With and Without Patellofemoral Pain. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 33, n. 11, p. 671-676, nov. 2003.

20. SOUZA, R. B.; POWERS, C. M. Differences in Hip Kinematics, Muscle Strength, and Muscle Activation Between Subjects With and Without Patellofemoral Pain. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 39, n. 1, p. 12-19, jan. 2009.

21. VAN DER HEIJDEN, R. A. et al. Exercise for treating patellofemoral pain syndrome (Review). Number 1. John Willey & Sons LTD., 2015, p. 199.

22. LANKHOST, N. E.; BIERMA-ZEINSTRA, S. M.; VAN MIDDELKOOP, M. Factors associated with patellofemoral pain syndrome: a systematic review. British Journal of Sports Medicine, v. 47, n. 4, p. 193-206, jul. 2012.

Page 30: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

29

23. SCIANNI, A. et al. Muscle strengthening is not effective in children and adolescents with cerebral palsy: a systematic review. Australian Journal of Physiotherapy, v. 55, p. 81-87, 2009.

24. NASCIMENTO, L. R. et al. Cyclical electrical stimulation increases strength and improves activity after stroke: a systematic review. Journal of Physiotherapy, v. 60, n. 1, p. 22-30, mar. 2014.

25. ADA, L.; DORSCH, S.; CANNING, C. G. Strengthening interventions increase strength and improve activity after stroke: a systematic review. Australian Journal of Physiotherapy, v. 52, n. 4, p. 241-248, 2006.

26. KARAKUS, D. et al. Patellofemoral Pain Syndrome: Results of a Home Exercise Program Versus Isokinetic Exercise Program on Functional Capacity. Turkish Journal of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 60, n. 1, p. 63-67, 2014.

27. MAZLOUM, V.; RAHNAMA, N. Comparison of the Effects of Vibration Technique and Resistive Exercise on Knee Pain and Proprioception in Patients with Chondromalacia Patellae. Journal of Kerman University of Medical Sciences, v. 21, n. 5, p. 437-445, 2014.

28. NAKAGAWA, T. H. et al. The effect of additional strengthening of hip abductor and lateral rotator muscles in patellofemoral pain syndrome: a randomized controlled pilot study. Clinical Rehabilitation, v. 22, p. 1051-1060, 2008.

29. LUN, V. M. Y. et al. Effectiveness of Patellar Bracing for Treatment of Patellofemoral Pain Syndrome. Clinical Journal of Sport Medicine, v. 15, n. 4, p. 235-240, jul. 2005.

30. BALDON, R. M. et al. Effects of Functional Stabilization Training on Pain, Function, and Lower Extremity Biomechanics in Women with Patellofemoral Pain: A Randomized Clinical Trial. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 44, n. 4, p. 240-251, abr. 2014.

31. KHAYAMBASHI, K. et al. The Effects of Isolated Hip Abductor and External Rotator Muscle Strengthening on Pain, Health Status, and Hip Strength in Females With Patellofemoral Pain: A Randomized Controlled Trial. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 42, n. 1, p. 22-29, jan. 2012.

32. KHAYAMBASHI, K. et al. Posterolateral Hip Muscle Strengthening Versus Quadriceps Strengthening for Patellofemoral Pain: A Comparative Control Trial. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 95, n. 5, p. 900-907, mai. 2014.

33. RAZEGHI, M. et al. Could Hip and Knee Muscle Strengthening Alter Pain Intensity in Patellofemoral Pain Syndrome? Iranian Red Crescent Medical Journal, v. 12, n. 2, p. 104-110, mar. 2010.

Page 31: EFEITOS DO FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS DO QUADRIL … · do quadril com consequente aumento do ângulo Q, durante a realização de tarefas funcionais, tais como corrida, step-down,

30

34. AVRAHAM, F. et al. The Efficacy of Treatment of Different Intervention Programs for Patellofemoral Pain Syndrome – A Single Blinded Randomized Clinical Trial. Pilot Study. The Scientific World Journal, v. 7, p. 1256-1262, ago. 2007.

35. CLARK, D. I. et al. Physiotherapy for anterior knee pain: a randomised controlled trial. Annals of Rheumatic Diseases, v. 59, n. 9, p. 700-704, set. 2000.

36. DOLAK, K. L. et al. Hip Strengthening Prior to Functional Exercises Reduces Pain Sooner Than Quadriceps Strengthening in Females With Patellofemoral Pain Syndrome: A Randomized Clinical Trial. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 41, n. 8, p. 560-570, ago. 2011.

37. COUTINHO, M. Princípios de Epidemiologia Clínica Aplicada à Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 71, n. 2, p. 109-116, 1998.

38. SANTOS, T. R. T. et al. Effectiveness of hip muscle strengthening in patelofemoral pain syndrome patients: a systematic review. Brazilian Journal of Physical Therapy, v. 19, n. 3, p. 167-176, mai-jun. 2015.

39. ENOKA, R. M. Neural Adaptations With Chronic Physical Activity. Journal of Biomechanincs, v. 30, n. 5, p. 447-455, jun. 1997.

40. CESAR, C. M. et al. Avaliação da progressão no desempenho e capacidade funcional em indivíduos em reabilitação devido à síndrome patelofemoral. Fisioterapia Brasil, v. 8, n. 1, p. 19-24, jan-fev. 2007.

41. KUJALA, U. M. et al. Scoring of Patellofemoral Disorders. Arthroscopy, v. 9, n. 2, p. 159-163, 1993.

42. WATSON, C. J. et al. Reliability and Responsiveness of the Lower Extremity Functional Scale and the Anterior Knee Pain Scale in Patients With Anterior Knee Pain. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 35, n. 3, p. 136-146, mar. 2005.

43. MCCONNEL, S.; KOLOPACK, P.; DAVIS, A. M. The Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC): A Review of Its Utility and Measurement Properties. Arthritis Care & Research, v. 45, n. 5, p. 453-461, out. 2001.

44. LAPRADE, J. A.; CULHAM, E. G. A self-administered pain severity scale for patellofemoral pain syndrome. Clinical Rehabilitation, v. 16, p. 780-788, 2002.

45. WORLD Health Organization. Constitution of the World Health Organization. 45. ed. New York, out. 2006, p. 18.