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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS EFEITO DO LEVAMISOL SOBRE LEUCÓCITOS PERIFÉRICOS DE CÃES COM ERLIQUIOSE Dhagma Renata Denis de Souza Cuiabá – MT Março/2010

EFEITO DO LEVAMISOL SOBRE LEUCÓCITOS PERIFÉRICOS …livros01.livrosgratis.com.br/cp126893.pdf · uso de imunomoduladores em diversas atividades terapêuticas, abriram-se possibilidades

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

EFEITO DO LEVAMISOL SOBRE LEUCÓCITOS

PERIFÉRICOS DE CÃES COM ERLIQUIOSE

Dhagma Renata Denis de Souza

Cuiabá – MT

Março/2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

EFEITO DO LEVAMISOL SOBRE LEUCÓCITOS

PERIFÉRICOS DE CÃES COM ERLIQUIOSE

Autor: Dhagma Renata Denis de Souza

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Deijanira Alves de Albuquerque

Co-Orientador: Prof. Dr. Daniel Moura de Aguiar

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, área de concentração: Sanidade Animal, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciências Veterinárias.

Cuiabá – MT

Março/2010

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da autora: SOUZA, Dhagma Renata Denis de

Título: Efeito do levamisol sobre leucócitos periféricos de cães com erliquiose.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciências Veterinárias, área de

concentração: Sanidade Animal, da Faculdade de

Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade

Federal de Mato Grosso para a obtenção do título

de Mestre em Ciências Veterinárias.

Data: 22/03/2010

Banca Examinadora Prof.(a) Dr. (a) Deijanira Alves de Albuquerque Instituição: UFMT/Cuiabá

Assinatura: ___________________________ Julgamento: ___________________

Prof. Dr. Cor Jesus Fernandes Fontes Instituição: UFMT/Cuiabá

Assinatura: ___________________________ Julgamento: ___________________

Prof.(a) Dr. (a) Ana Helena Benetti Gomes Instituição: UNIC/Cuiabá

Assinatura: ___________________________ Julgamento: ___________________

4

DEDICATÓRIA

Dedico a todos que contribuíram direta

ou indiretamente para a realização deste

trabalho.

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e a Nossa Senhora Aparecida, por me

proporcionarem esta realização, pois sem os mesmos, sei que nada disso seria

possível.

Aos meus pais que tanto amo (Claudemiro Assis de Souza e Leonarda Denis

de Souza) e à minha irmã (Déborah Claúdia Denis de Souza), que sempre estiveram

ao meu lado incentivando.

Ao meu namorado Bernardo Batista Minetto, juntamente com seus pais, por

toda força, carinho e atenção.

A todos meus professores, mestres e doutores, que me guiaram pelos

caminhos do conhecimento.

Agradeço à Professora Dra. Deijanira Alves de Albuquerque pela confiança,

ensinamento, paciência e carinho com que me orientou.

Agradeço ao Professor Dr. Daniel Moura de Aguiar e à sua orientada, Andréia

Mello, pelo auxílio no desenvolvimento das provas moleculares.

Agradeço a todos do Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá - UNIC

pela oportunidade de desenvolver toda pesquisa neste estabelecimento de ensino.

Agradecimento especial à Lívia Saab Muraro e às técnicas do Laboratório de

Análises Clínicas - UNIC, que contribuíram em muito para que esse projeto se

consolidasse.

Agradeço à coordenadora do programa Professora Dra. Rosa Helena e ao

Técnico Administrativo Jean Carlos Gonçalves da Silva pelo apoio e carinho.

6

Agradeço a todos meus colegas de mestrado que de alguma forma

contribuíram para a realização deste sonho.

Agradeço à Fundação de Amparo e Pesquisa de Mato Grosso – FAPEMAT e

à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pela

concessão da bolsa de mestrado.

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RESUMO

EFEITO DO LEVAMISOL SOBRE LEUCÓCITOS PERIFÉRICOS DE CÃES COM

ERLIQUIOSE

A erliquiose canina é uma enfermidade endêmica causada, principalmente, pela

Ehrlichia canis. Sua ocorrência está diretamente relacionada à abundância e à

distribuição do vetor, o carrapato Rhipicephalus sanguíneos. Como a erliquiose

frequentemente causa leucopenia e outras anormalidades na resposta imune, mais

recentemente, tem sido utilizados imunoestimulantes associados a antibióticos para

o seu tratamento. O presente trabalho teve por objetivo avaliar a ação

imunoestimulante do levamisol sobre os leucócitos de cães infectados por Ehrlichia.

Foram estudados 21 cães com erliquiose atendidos no Hospital Veterinário (HOVET)

da Universidade de Cuiabá (UNIC). Durante os cinco dias do experimento, os cães

permaneceram internados por no HOVET/UNIC e foram avaliados clinicamente Os

animais foram divididos aleatoriamente em dois grupos: o grupo controle (GC),

composto por 10 animais, foi tratado com reposição hidroeletrolítica (NaCl 0,9%),

cimetidina (5 mg/kg IV, BID) e doxiciclina (10 mg/kg, VO, SID); e o grupo

experimental (GE), composto por 11 cães que receberam o mesmo tratamento do

GC mais o levamisol (1 mg/kg, SC, dose única). Amostras sanguíneas foram

coletadas de cada cão antes do tratamento e após cinco dias para avaliações

hematológicas. O diagnóstico da infecção foi feito através da amplificação parcial do

gene Dsb de Ehrlichia pela reação em cadeia pela polimerase (PCR), utilizando os

iniciadores Dsb-330 (5’- GAT GAT GTC TGA AGA TAT GAA ACA AAT -3’) e Dsb-

728 (CTG CTC GTC TAT TTT ACT TCT TAA AGT -3’). Os dados obtidos a partir das

avaliações hematológicas foram tratados pela análise de variância (ANOVA) seguida

do teste Tukey. Os valores dos leucócitos totais, linfócitos e monócitos obtidos a

partir do leucograma do GE foram significantemente superiores aos observados para

o GC. Conclui-se que o levamisol associado à antibioticoterapia aumenta

significativamente o número global e específico dos leucócitos.

Palavras-Chave: Ehrlichia canis, leucócitos, levamisol, imunoestimulante

8

ABSTRACT

EFFECT OF LEVAMISOL ON THE PERIPHERAL LEUKOCYTES OF DOGS WITH

EHRLICHIOSIS

The canine ehrlichiosis is an endemic disease whose agent is Ehrlichia canis. Its

occurrence is directly related to the abundance and to the distribution of the

biological vector, the tick Rhipicephalus sanguineus. Since ehrlichiosis often causes

leukopenia and other abnormalities in the immune response, for its treatment some

immunostimulating drugs have been associated with antibiotics. This study aimed to

evaluate the immunostimulating action of levamisole on the leukocytes of dogs

infected with E. canis. We studied 21 dogs suffering of ehrlichiosis and maintained at

the Veterinary Hospital (HOVET) of the University of Cuiabá (UNIC) for five days.

The animals were randomly divided into two groups: the control group (CG) was

composed of 10 animals which were treated with fluid replacement (0.9% NaCl),

cimetidine (5 mg/kg IV BID) and doxycycline (10 mg/kg, PO, SID). The group treated

with levamisole (GE) was composed of 11 dogs which received the same treatment

as the CG plus levamisole (1 mg/kg, SC, single dose). Blood samples in EDTA

solution were obtained from each dog before treatment and after five days for

hematologic evaluations. The diagnosis of the infection was performed by

amplification of the dsb gene by chain reaction polymerase (PCR), using primers

Dsb-330 (5'-GAT GAT GTC TGA AGA TAT GAA ACA AAT -3 ') and Dsb-728 (CTG

CTC GTC TAT TTT ACT TCT TAA AGT -3 '). The hematological data were treated

by the analysis of variance (ANOVA) followed by Tukey test. The values of total

leukocytes, lymphocytes and monocytes obtained from the GE were significantly

higher than those of the GC. According to the results, one could conclude that the

use of levamisole associated with antibiotic significantly increased the overall number

of leukocytes, lymphocytes and monocytes. In addition, animals that received

levamisole showed clinical improvement superior to that of the control dogs.

Key-words: Ehrlichia canis, leukocytes, levamisole, immunostimulant

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LISTA DE ABREVIATURAS

ATP: adenosina tri-fosfato

ELISA: ensaio imunoenzimático

GC: grupo controle

GE: grupo experimental

IFN: interferon

IgG: imunoglobulina G

IgM: imunoglobulina M

IL: interleucina

MHC: complexo de histocompatibilidade maior

NK: “natural killer”

PCR: reação em cadeia pela polimerase

TNF: fator de necrose tumoral

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................12

2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................14

2.1 A erliquiose canina no Brasil ...........................................................................14

2.2 Classificação taxonômica .................................................................................14

2.2.1 Ehrlichia canis ..................................................................................................15

2.3 Mecanismos imunes na patogênese da erliquiose ......................................16

2.4 Manifestações clínicas ......................................................................................20

2.4.1 FASE AGUDA ..................................................................................................20

2.4.2 FASE SUBCLÍNICA ..........................................................................................21

2.4.3 FASE CRÔNICA ...............................................................................................21

2.5 Diagnóstico ........................................................................................................22

2.5.1 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO .......................................................................24

2.5.1.1 Imunofluorescência indireta ...........................................................................24

2.5.1.2 Ensaio imunoenzimático.................................................................................24

2.6 Tratamento .........................................................................................................25

2.7 Imunomoduladores ...........................................................................................25

2.7.1 LEVAMISOL .....................................................................................................26

3 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................27

3.1 Seleção dos animais .........................................................................................27

3.2 Avaliação clínica ................................................................................................27

3.3 Procedimento das coletas de sangue .............................................................28

3.4 Tratamento .........................................................................................................28

3.5 Avaliações hematológicas ................................................................................28

3.6 Extração de material genômico (DNA) ............................................................29

3.7 Reação em cadeia pela polimerase (PCR) ......................................................29

3.8 Análise estatística .............................................................................................30

4 RESULTADOS .......................................................................................................31

4.1 Efeito do levamisol sobre parâmetros clínicos de cães com erliquiose .....31

4.2 Avaliação do efeito do levamisol sobre o número de leucócitos no sangue

periférico ..................................................................................................................32

4.3 Avaliação do número de neutrófilos ...............................................................32

11

4.4 Efeito do levamisol sobre o número de linfócitos .........................................34

4.5 Verificação do número de monócitos .............................................................35

4.6 Avaliação do número de eosinófilos ...............................................................36

4.7 Avaliação do efeito do levamisol sobre hemácias e plaquetas ....................37

4.7.1 ERITRÓCITOS E HEMATÓCRITO ..................................................................37

4.7.2 PLAQUETAS ....................................................................................................38

5 DISCUSSÃO ..........................................................................................................40

6 CONCLUSÕES ......................................................................................................44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................45

ANEXO I – Parecer do Comitê de Ética .................................................................55

APÊNDICE I – Termo de Consentimento ...............................................................57

12

1 INTRODUÇÃO

Os cães de companhia apresentam hoje uma inserção muito grande na

sociedade, o que gera preocupação em relação à sanidade desses animais. Nesse

contexto, atenção deve ser dada à erliquiose canina, doença infecciosa que acarreta

imunossupressão podendo levar o animal ao óbito.

Com a evolução de pesquisas científicas demonstrando o amplo potencial do

uso de imunomoduladores em diversas atividades terapêuticas, abriram-se

possibilidades para o uso de imunoestimulantes seguros e eficazes, os quais

futuramente poderão vir a ser utilizados como parte do tratamento, barateando

assim, os custos para a sociedade.

Vários estudos tem considerado os imunoestimulantes como recursos

promissores em novos protocolos terapêuticos de doenças relacionadas ao sistema

imune.

O levamisol tem efeito marcante na imunossupressão, sendo, portanto

indicado em todas as doenças que se caracterizam por este quadro. Como a

erliquiose é uma patologia que, na maioria das vezes, causa leucopenia, o uso do

levamisol associado ao tratamento padrão, apresentará melhores resultados.

Sua principal vantagem em relação aos demais imunoestimulantes é o custo

mais acessível, o que viabiliza seu uso concomitante com os demais medicamentos

para o tratamento da doença, obtendo assim uma resposta melhor.

Apesar das atividades terapêuticas comprovadas, a ação do levamisol como

imunoestimulante em animais naturalmente infectados com E. canis é pouco

conhecida. Faz-se necessário, portanto, pesquisas que comprovem cientificamente

se sua ação imunoestimuladora interfere ou não sobre o sistema imunológico,

inclusive sobre o número de leucócitos periféricos. Tendo como base esses

conhecimentos, é que se tornará possível a indicação ou a contra-indicação do uso

do levamisol, de acordo com os resultados apresentados pelos pacientes.

O presente trabalho tem por finalidade avaliar a ação imunoestimuladora do

levamisol sobre os leucócitos de cães naturalmente infectados por E. canis.

• Determinar as subpopulações de leucócitos sobre as quais o levamisol

atua;

13

• Verificar se o efeito imunoestimulante do levamisol é mensurável

laboratorialmente 5 dias após a primeira dose;

• Comparar a resposta do grupo controle X grupo experimental;

• Avaliar as alterações hematológicas dos animais tratados e não tratados

com levamisol.

14

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A erliquiose canina no Brasil

No Brasil, o primeiro relato de erliquiose canina ocorreu em Belo Horizonte-

MG, por Costa et al., em 1973, e o segundo relato em Jaboticabal-SP, por Maregati,

em 1978. Relatos de casos de “Pancitopenia Tropical Canina” vem sendo feitos em

várias regiões do Brasil (YAMAMURA; VIDOTTO, 1982; SILVEIRA et al., 1984;

NASCIMENTO et al., 1984; ALMOSNY et al., 1985; KAVINSKI et al., 1988; SEIBERT

et al., 1997; OLIVEIRA et al., 2000; RIBEIRO et al., 2000; SZABÓ et al., 2001;

BULLA et al. 2002; MOREIRA et al., 2003; DAGNONE et al., 2002; DAGNONE et al.,

2003, MUNHOZ et al., 2003; VILAR et al., 2004; MACIEIRA et al., 2005). A

erliquiose canina vem sendo detectada com frequência em cães atendidos em

hospitais e clínicas veterinárias em vários estados do Sudeste, Sul, Centro-Oeste e

Nordeste do Brasil (LABARTHE et al., 2003).

2.2 Classificação taxonômica

As espécies do gênero Ehrlichia foram divididas em formas monocíticas (E.

canis, E. risticii), formas granulocíticas (E. ewingii e E. equi) e formas trombocíticas

(Anaplasma platys), embora essa divisão demonstre limitações, pois a infecção por

uma espécie pode ocorrer em mais de um tipo celular (COHN, 2003). Uma

classificação mais objetiva tem utilizado a sequência homóloga do RNA ribossomal

(rRNA), em genes, para determinar o parentesco genético de vários organismos.

Muitos organismos anteriormente incluídos no gênero Ehrlichia foram reclassificados

e dirigidos para outros grupos genéricos e distribuídos dentro das famílias

Anaplasmataceae e Rickettsiaceae (DUMLER et al., 2001). A família

Anaplasmataceae possui quatro gêneros: Ehrlichia, Anaplasma, Neorickettsia e

Wolbachia. Conforme a reclassificação realizada, o genogrupo 1 mantém o nome

genérico Ehrlichia, enquanto membros do genogrupo 2 mudaram de Ehrlichia para

15

Anaplasma, e membros do genogrupo 3 tornaram-se Neorickettsia (DUMLER et al.,

2001).

2.2.1 Ehrlichia canis

A erliquiose é causada por um grupo de bactérias gram negativos,

intracelulares obrigatórios e pleomórficos, com parede celular de estrutura não

protéica, com perda de lipopolissacarídeo e peptideoglicano, e incorporação de

colesterol de membrana, o que pode facilitar sua adaptação às células, tanto do

hospedeiro vertebrado como do carrapato vetor. As erlíquias parasitam leucócitos

circulantes de várias espécies de animais domésticos e silvestres, inclusive o

homem (HUXSOLL, 1970; RIKIHISA, 1991; 2006; COHN, 2003).

Dentre os agentes etiológicos da erliquiose, a Ehrlichia canis é a mais

patogênica e a causa mais frequente de doença clínica em cães. Atualmente, a

erliquiose apresenta uma distribuição cosmopolita e é transmitida principalmente

pela saliva contaminada do carrapato da espécie Rhipicephalus sanguineus. A

presença desse vetor no animal caracteriza importante fator de risco para ocorrência

da doença (HARRUS et al., 1997a; LABRUNA e PEREIRA, 2001; DAGNONE et al.,

2003).

A E. canis pode ser transmitida pela ninfa e adulto do carrapato vermelho do

cão (Rhipicephalus sanguineus). Nos carrapatos infectados, a E. canis multiplica-se

nos hemócitos e células da glândula salivar, eventualmente entram no trato digestivo

e se desenvolvem no epitélio do intestino médio. Os carrapatos transmitem a doença

transestadialmente, mas não por via transovariana. Carrapatos adultos podem

sobreviver por mais de 568 dias e quando infectados com E. canis podem continuar

a transmitir o patógeno por pelo menos 155 dias após ter abandonado o cão (NEER;

HARRUS, 2006). No momento do repasto sanguíneo, o carrapato inocula secreção

da glândula salivar com E. canis (RIKIHISA, 1991).

Nyindo et al. (1971) observaram que E. canis apresenta três estágios de

desenvolvimento: corpúsculos elementares, corpúsculos iniciais e mórulas.

Os corpúsculos elementares, formas individuais de Ehrlichia, entram nos

monócitos por fagocitose. Medem cerca de 0,5 µm de diâmetro, tornando difícil a

16

visualização à microscopia óptica. Crescem e se dividem dentro do fagossomo por

fissão binária, entretanto não há fusão fago lisossomal nas células hospedeiras

infectadas. Em três a cinco dias após a infecção é observado um pequeno número

de estruturas compactadas, medindo de 1,0 a 2,5 µm de diâmetro chamados de

corpúsculos iniciais. Durante os próximos nove a dez dias ocorrem crescimento e

replicação, originando as mórulas, que se rompem liberando os corpúsculos

elementares que irão infectar novas células, repetindo o ciclo (McDADE, 1990).

A atividade metabólica de espécies de Ehrlichia tem sido investigada. Os

membros deste gênero parecem efetuar catabolismo aeróbico e assacarolítico, isto

é, não utilizam glicose-6-fosfato ou glicose para produção de ATP. Utilizam

aminoácidos como a glutamina ou glutamato como fonte de energia, porém preferem

a glutamina por penetrar melhor no fagossomo que o glutamato (RIKIHISA, 1991).

Infecção concomitante com outros patógenos transmitidos por carrapatos tem

sido bem documentada por vários pesquisadores (KORDICK et al., 1999; HUA et al.,

2000; BREITSCHWERALT et al., 1998).

No Brasil, a única espécie descrita até o momento é E. canis, responsável

pela erliquiose canina, doença considerada endêmica principalmente nas áreas

urbanas, onde abundam populações do carrapato vetor (LABRUNA & PEREIRA,

2001).

2.3 Mecanismos imunes na patogênese da erliquiose

Esses microorganismos tem a habilidade de inibir a fusão fagolisossomal nas

células infectadas, permitindo a sobrevivência intracelular dentro dos fagossomos

(ZHANG et al., 2004; RIKIHISA, 2006). Essa inibição ocorre devido à: (i) supressão

de proteínas que formam um complexo que justapõe as membranas vesiculares,

dificultando a fusão (ZHANG et al., 2004); (ii) redução dos níveis de interferon-gama

(IFN- � ), que é importante na ativação de macrófagos para eliminação de

microrganismos intracelulares (ISMALL et al., 2005). Também, durante essa fase da

infecção, a imunossupressão induzida pela saliva do carrapato (WINSLOW, 2000),

pode facilitar a instalação do agente infeccioso, visto que a saliva de R. sanguineus

inibe a proliferação de células T, interfere na função de macrófagos e promove um

17

desequilíbrio na produção de citocinas, aumentando os níveis de IL-4, IL-10 e TGF-� , e reduzindo IL-2, IL12 e IFN- � (FERREIRA; SILVA, 1999).

A liberação de TNF- � pelas células infectadas pode ser um dos mecanismos

implicados na aparente supressão da medula óssea (HUA et al., 2000), o que

justificaria as alterações hematológicas. A elevação desta citocina também poderia

justificar a alteração as enzimas hepáticas devido à sua hepatotoxicidade

(BRADHAM et al., 1998).

O prognóstico da erliquiose canina pode ser dependente da capacidade do

sistema imune em controlar a infecção (ISMAIL; WALKER, 2005), estando mais

relacionada à resposta imune celular, embora a participação da imunidade humoral

também tenha importância (WINSLOW et al., 2000; GANTA et al., 2004). Na

erliquiose canina, a persistência do agente concomitante aos altos títulos de

anticorpos evidencia que, para a adequada eliminação do microrganismo, há

necessidade da interação entre a resposta humoral e a resposta celular do

hospedeiro (WEISER et al., 1991; KAKOMA et al., 2000).

A manutenção de altos títulos de anticorpos circulantes no hospedeiro

infectado por E. canis, pode indicar um estímulo antigênico persistente e/ou

periódico (PERILLE; MATUS, 1991; HARRUS et al., 1998). Outra característica da

resposta humoral nas infecções erliquiais é a plasmocitose evidente, na maioria dos

órgãos afetados, inclusive na medula óssea (GREENE; HARVEY, 1984; CASTRO,

2004; MYLONAKIS et al., 2004). Além dos mecanismos humorais, alterações na

resposta imune mediada por células, descrito em infecções por diferentes espécies

de erlíquias, tem sido amplamente estudado recentemente. Patógenos como as

erliquias, que tem como alvo células da defesa imune inata, ativam a produção de

IL-12 por células apresentadoras de antígenos, induzindo o desenvolvimento da

resposta Th1 e secreção de IFN- � , pelas células T CD4+, o que determina a

resistência do hospedeiro à infecção. Porém, a avaliação imunohistoquímica de

órgãos linfóides como o baço e linfonodos de cães experimentalmente infectados

com E. canis revelou uma redução significativa na expressão de moléculas do

complexo de histocompatibilidade principal de classe II (MHC II) (CASTRO, 2004). A

expressão de uma quantidade adequada dessas moléculas MHC II é necessária,

inclusive para a maturação de precursores de células T em linfócitos T CD4+

(GRUSBY et al., 1991), que possuem um importante papel na elaboração resposta

imune celular e na potencialização da resposta imune humoral. Nas infecções

18

causadas por erliquias, ocorre uma inversão da relação de linfócitos T CD4+:CD8+

no sangue periférico (FRANK; BREITSCHWERDT, 1999; HEEB et al., 2003;

HASEGAWA, 2005), algumas vezes demonstrando, mais especificamente, uma

redução dos níveis de células CD4+ (HASEGAWA, 2005), em experimentos de

inoculação parenteral com E. canis. Os linfócitos T CD4+ são responsáveis pela

produção de IFN- � , o qual estimula a atividade microbicida de macrófagos

(BITSAKTSIS; HUNTINGTON; WINSLOW, 2004); portanto, são essenciais no

mecanismo de proteção e eliminação da infecção causada por erlíquias

(BITSAKTSIS; HUNTINGTON; WINSLOW, 2004). Na infecção de camundongos por

E. chaffeensis, demonstrou-se que a presença de células T CD4+ funcionalmente

aptas é essencial para a produção de IFN-� e uma resposta celular do tipo Th1

(GANTA et al., 2002). A infecção por erlíquias monocitotrópicas restringe a produção

de IL-12 e reprime a produção de IL-15 e IL-18 por células mononucleares, que tem

papel fundamental no estímulo de células NK (“natural killer”) e Th1 para a produção

de IFN- � , e também interferindo na eliminação do agente em células infectadas

(BITSAKTSIS; HUNTINGTON; WINSLOW, 2004; ZHANG et al., 2004). Essas

alterações nos mecanismos imunes podem representar uma forma de evasão do

parasito.

Outros estudos da patogênese da infecção, utilizando cepas pouco virulentas

comparativamente a uma amostra altamente virulenta para modelos experimentais

de erliquiose monocitotrópica, demonstraram um desequilíbrio de citocinas, com

evidente redução de IFN- � , além de uma elevação significativa de TNF- � (ISMAIL et

al., 2005), evidenciando-se assim a importância de mecanismos imunopatogênicos

no desenvolvimento da doença. A expressão de mRNA de TNF- � , IL-1 � , IL-2, IL-4,

IFN- � e IL-6 foram examinados por métodos moleculares, em cães

experimentalmente infectados pela via parenteral, com E. canis, demonstrando

expressão persistente de mRNA de TNF- � e IFN- � e baixos níveis de IL-1 � , IL-2, IL-

4 e IL-6 até 56 dias após a infecção (TAJIMA; RIKIHISA, 2005). Porém, esses

resultados foram observados na erliquiose moderada, contrastando com a

persistente elevação de IL-1 � e IL-8 e reduzidos níveis de TNF- � e IFN- � em cães

com erliquiose aguda severa (RIKIHISA, 2006). Esses resultados indicam que uma

resposta Th1 representada por IFN- � , pode estar associada à doença moderada e

não à doença severa como evidenciado pela infecção de camundongos com uma

amostra patogênica de erliquia monocitotrópica identificada em Ixodes ovatus

19

(ISMAIL et al., 2005). Portanto, os fatores considerados mais críticos na

determinação de uma erliquiose severa e até fatal, por esses estudos, são: (i) a

marcada redução da resposta de células T CD4+ e diminuição do número de células

Th1 produtoras de IFN- � , com deficiente produção de IL-2; e (ii) a superprodução de

TNF- � com consequente elevação dos seus níveis séricos (ISMAIL et al., 2005).

Os efeitos do desequilíbrio dessas citocinas foram evidenciados em diversos

estudos. A produção aumentada de TNF- � pode resultar em hepatotoxicidade

(BRADHAM et al., 1998), que pode estar correlacionada à elevação das enzimas

hepáticas observada em cães infectados por E. canis, durante a fase aguda da

doença. A elevação dessa citocita pode estar relacionada também à supressão da

atividade medular, levando à redução do número de células sanguíneas (HUA et al.,

2000), podendo estar relacionada à pancitopenia observada em cães com erliquiose.

Os efeitos sistêmicos de elevados níveis de TNF- � e ou IL-1 estão associados

à febre, perda de peso, redução do apetite e prostração (ABBAS; LICHTMAN;

POBER, 2000), sinais esses observados tanto na fase aguda como na fase crônica

da erliquiose canina, e que poderia ser um indício do desequilíbrio de interleucinas

nos animais infectados. A formação de complexos antígeno-anticorpo nas infecções

induziu uma potente expressão de mRNA de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-

� , IL-1 � e IL-6, indicando que na presença desses anticorpos o efeito do agente no

hospedeiro pode ser tão prejudicial quanto o choque endotóxico (LEE; RIKIHISA,

1997). Visto que as espécies de erliquia monocitotrópica induzem uma forte resposta

humoral, a produção de elevados níveis de citocinas pró-inflamatórias por período

prolongado poderia justificar as alterações clínicas e laboratoriais observadas.

Portanto, pode-se sugerir que um desequilíbrio de citocinas com elvação de IL-4 e

IL-10 e redução de IL-2, IL-12 e IFN- � (predominantemente do tipo Th2), inicialmente

induzido pela picada do carrapato vetor, pode favorecer a instalação da infecção

pela Ehrlichia. Posteriormente, durante a infecção esses microrganismos podem

manter reduzidos os níveis de algumas citocinas importantes na coordenação de

uma resposta efetiva contra as erliquias (IFN-� , IL-2, IL-12, IL-15 e IL-18) e elevação

de outras citocinas (TNF- � , IL-1 � e IL-6) que podem determinar alterações clínicas

fatais (RIKIHISA, 2006).

20

2.4 Manifestações clínicas

Em cães, geralmente suspeita-se de erliquiose quando o animal apresenta

histórico de infestações por carrapatos associadas a manifestações clínicas

inespecíficas como febre, anorexia, depressão, letargia e perda de peso (COHN,

2003; NEER; HARRUS, 2006).

O curso da doença, classicamente, pode ser dividido em três fases: aguda,

subclínica/assintomática e crônica.

Clinicamente é difícil, se não impossível determinar a fase da infecção em que

o animal se encontra (WANER et al., 2001).

2.4.1 FASE AGUDA

Depois de um período de incubação de oito a vinte dias, o cão infectado com

E. canis começa a apresentar diversos sinais clínicos iniciando a fase aguda da

doença, que dura de duas a quatro semanas. Nessa fase, as erlíquias se multiplicam

dentro das células mononucleares circulantes e nos fagócitos mononucleares do

fígado, baço e linfonodos, induzindo a linfoadenomegalia e hiperplasia linforreticular

do fígado e do baço. As células infectadas atingem outros órgãos através da

corrente sanguínea, principalmente pulmões, rins e meninges, e aderem ao

endotélio vascular, levando à vasculite e à infecção tecidual subendotelial

(BREITSCHWERDT, 2004).

Os sinais clínicos na fase aguda podem ser suaves e inespecíficos, porém

alguns casos podem apresentar com ameaça à vida. Os sinais incluem depressão,

letargia, anorexia, pirexia, linfoadenomegalia, esplenomegalia e perda suave de

peso. Os cães podem apresentar tendências a sangramento, principalmente

petéquias e equimoses na pele e mucosas, e epistaxe ocasional. Os sinais oculares

não são incomuns e incluem uveíte anterior e opacidade corneana por edema e/ou

deposição de precipitados celulares, hifema, vasos retinianos tortuosos e lesões

focais da coriorretina consistindo em pontos pigmentados centrais com áreas

circunvizinhas hiperreflexivas (ORIÁ, 2001). A hemorragia retiniana resulta em

21

deslocamento e consequente cegueira. Outros sinais clínicos podem incluir vômito,

descarga ocular e descarga nasal serosa ou purulenta, claudicação, ataxia e

dispnéia (WANER e HARRUS, 2000). Breitschawerdt (2004) relatou também nesta

fase a presença de edema de membros e escroto.

Durante a fase aguda ocorre trombocitopenia imunomediada. Os mecanismos

de trombocitopenia podem envolver a destruição imune, o consumo aumentado de

plaquetas, meia vida diminuída das plaquetas, sequestro pelo sistema mononuclear

fagocitário ou pode ser secundário às concentrações aumentadas do fator circulante

inibidor da migração plaquetária (BULLA et al., 2004b).

A contagem de leucócitos é variável para Breitschawerdt (2004). BULLA et al.,

(2004a) em um estudo restrospectivo de dez anos na cidade de Botucatu,

observaram leucopenia por neutropenia, eosinopenia e linfopenia na fase aguda da

doença em cães. Associaram a neutropenia às mesmas causas da trombocitopenia,

e a eosinopenia ao stress provocado pela doença.

A anemia está relacionada à supressão da produção de eritrócitos e à

destruição acelerada dessas células (BREITSCHWERDT, 2004; BULLA et al.,

2004a).

2.4.2 FASE SUBCLÍNICA

Também conhecida como assintomática, ocorre após seis a nove semanas da

inoculação, mas pode durar meses ou ano. É caracterizada por persistência variável

de trombocitopenia, leucopenia e anemia na ausência de sinais clínicos. Nesta fase,

os cães imunocompetentes podem eliminar as erlíquias e cessarem a doença, não

entrando na fase crônica (VARELA, 2003; BREITSCHWERDT, 2004).

Varela (2003) afirma que nessa fase, os cães permanecem com títulos de

anticorpos elevados.

2.4.3 FASE CRÔNICA

22

Segundo Breitschwerdt (2004) os sinais clínicos da fase crônica da erliquiose

são discretos ou ausentes em alguns cães, e graves em outros, sendo diagnosticada

por ocasião da pesquisa de outras doenças. Cães da raça Pastor Alemão e cães

que apresentam outras doenças concomitantemente tendem a desenvolver sinais

graves nesta fase (RIKIHISA, 1991; KNOWLES, 2002).

Os principais sinais clínicos da doença crônica são: fraqueza, depressão,

anorexia, perda crônica de peso, membranas mucosas pálidas, febre, edema,

petéquias e equimoses na pele e mucosas e epistaxe. Pneumonia intersticial,

insuficiência renal, artrite e polimiosite também podem ocorrer. Algumas desordens

reprodutivas foram associadas também com a erliquiose, incluindo sangramento

prolongado durante o estro, infertilidade, abortos e mortes neonatais. Sinais

neurológicos podem ocorrer durante as fases aguda e crônica. São sinais de

meningoencefalite, ou seja, os cães apresentam dores severas no pescoço,

paraparesia ou tetraparesia, ataxia, déficits dos nervos cranianos e convulsões. Os

sinais neurológicos podem ser atribuídos à hemorragia, plasmocitose e infiltrados

perivasculares nas meninges (McDADE, 1990; WANER e HARRUS, 2000).

Gould et al. (2000) observaram um caso clínico de um cão Labrador Retriever

com quatro anos de idade apresentando uveíte bilateral, hemorragia intraocular e

deslocamento de retina associada à infecção crônica por E. canis.

As alterações hemorrágicas incluem pancitopenia, anemia aplásica,

neutropenia e trombocitopenia em resposta a medula óssea hipocelular, com

variados graus de supressão da série eritróide, mielóide e megacariocítica (WANER

e HARRUS, 2000; BREITSCHWERDT, 2004).

Em cães cronicamente infectados nos quais as alterações hematológicas são

mais frequentes, geralmente não respondem bem a terapia específica para o

microrganismo, resultando em óbito (MYLONAKIS et al., 2004).

2.5 Diagnóstico

Como os sinais clínicos da erliquiose canina não são patognomônicos, o

diagnóstico é feito através da associação dos sinais clínicos com a detecção de

mórulas do agente infeccioso no citoplasma de leucócitos, principalmente de

23

linfócitos e monócitos, em esfregaços de sangue periférico corados pelo giemsa

(ELIAS, 1992); da sorologia utilizando-se os métodos de imunofluorescência indireta

e western immunoblot (MATTHEWMAN, 1994), dot-blot e ELISA (ANDEREG &

PASSOS, 1999); reação em cadeia da polimerase - PCR (IQBAL & RIKIHISA,

1994a), cultivo e isolamento da E. canis de sangue e tecidos (IQBAL & RIKIHISA,

1994b).

As alterações laboratoriais encontradas nos animais na fase aguda da

infecção são: anemia e trombocitopenia, leucopenia variável, hipergamaglobulinemia

(HARRUS et al., 1997) e elevação das enzimas citosólicas hepáticas (ALMOSNY,

1998).

O diagnóstico da doença subclínica deve ser baseado em anamnese, na

localização geográfica do cão, em títulos persistentes de anticorpos contra E. canis,

leve trombocitopenia e hipergamaglobulinemia. O diagnóstico da erliquiose na fase

subclínica é um desafio para o médico veterinário, porém quando é reconhecida

precocemente está relacionado a um bom prognóstico, antes que o animal entre na

fase crônica cujo período de prognóstico é sombrio (WANER e HARRUS, 2000).

Harrus et al., (1998) estudando seis cães, após infecção experimental com E.

canis, observaram, através da reação em cadeia pela polimerase, a presença de

DNA de E. canis em baço, medula óssea e sangue. Os títulos de anticorpos

mensurados pela reação de imunofluorescência indireta daqueles cães aumentaram

progressivamente durante os primeiros cinco meses pós-infecção, permanecendo

elevados por um período adicional de mais de 11 meses e declinaram depois disso,

sugerindo que os cães estavam se recuperando da doença. Os resultados obtidos

neste estudo demonstraram que cães clinicamente saudáveis na fase subclínica são

portadores de rikettisia, podendo eliminar o agente e se recuperar sem desenvolver

a doença clínica crônica.

Na fase crônica, as proteínas séricas estão acima dos valores esperados na

maioria dos cães soropositivos para E. canis (BREITSCHWERDT, 2004). A

hipergamaglobulinemia pode representar o desenvolvimento de resposta

imunomediada a componentes celulares dos hospedeiros, evidência que pode ser

verificada pela ocorrência de eritrofagocitose e glomerulonefrite (KELLY, 1994).

Outros achados laboratoriais incluem azotemia associada muitas vezes a

glomerulonefrite por deposição de imunocomplexos; aumento da alanina

aminotransferase, fosfatase alcalina e bilirrubina total (BREITSCHWERDT, 2004).

24

Esplenomegalia, linfoadenopatia e plasmocitose foram observados em vários órgãos

de animais infectados por E. canis. Em cães experimentalmente infectados foi visto

um grande número de mórulas nos pulmões, baço e linfonodos mesentéricos e

através de microscopia eletrônica, em macrófagos pulmonares (McDADE, 1990;

RIKIHISA, 1991).

2.5.1 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO

Já foi mostrado que todas as erlíquias induzem a produção de anticorpos

específicos, detectáveis no soro ou plasma (RIKIHISA, 1991). Por isso, várias

técnicas sorológicas tem sido usadas para auxiliar no diagnóstico da erliquiose.

2.5.1.1 Imunofluorescência indireta

Esta prova é considerada padrão ouro para diagnóstico da erliquiose canina

(VARELA, 2003; WANER e HARRUS, 2000). É uma das técnicas mais utilizadas

tanto para inquéritos epidemiológicos como para estudos clínicos individuais.

A detecção de imunoglobulinas da classe G (IgG) anti-E. canis, pode ser feita

21 dias após a infecção. Altos títulos de anticorpos podem permanecer por vários

anos em cães que se tenham recuperado clinicamente, e declina gradualmente em

três a cinco meses depois do tratamento efetivo. Título positivo na

imunofluorescência indireta para E. canis significa infecção ativa ou exposição

passada (BANETH et al., 1996). Alguns animais podem apresentar um decréscimo

rápido no título de anticorpos, enquanto que outros pordem permanecer com títulos

elevados por semanas ou meses (MAGNARELLI et al., 1993).

25

2.5.1.2 Imunoensaio enzimático

O DOT-ELISA é um procedimento sensível que detecta anticorpos séricos

que não precisa que equipamentos caros, o antígeno fixado em nitrocelulose

permanece estável por mais de um ano, apresenta facilidade para interpretação sem

necessidade de treinamento especial e os resultados dão um registro permanente

das reações (CADMAN et al., 1994).

2.6 Tratamento

No tratamento da erliquiose canina, a tetraciclina, oxitetaciclina, doxiciclina e

dipropionato de imidocarb tem sido utilizados em clínicas e hospitais veterinários no

Brasil (MONTEIRO et al., 2003). A administração de doxiciclina, precedida ou não

pelo dipropionato de imidocarb, não parece interferir na resposta terapêutica de cães

com erliquiose (SOUZA et al., 2004). Corticosteróides também são indicados na

preservação da integridade vascular ou da função plaquetária, principalmente na

fase crônica e grave da erliquiose canina (SOUZA et al., 2004). Mesmo com o

tratamento e uma aparente recuperação clínica, o microrganismo pode permanecer

no hospedeiro que se torna portador crônico (BARTSCH; GREENE, 1996; HARRUS

et al., 1998b).

2.7 Imunomoduladores

Como a erliquiose frequentemente causa leucopenia e outras anormalidades

no sistema imune (DAVOUST et al., 1996; MAGNARELLI et al., 1990; WEISER et

al., 2001), tem sido utilizado imunomoduladores que são substâncias que atuam no

sistema imunológico conferindo, entre outros, aumento da resposta imune contra

determinados microorganismos, incluindo vírus, bactérias e protozoários, mediante

principalmente à produção de interferon. Dentre os imunomoduladores utilizados nas

26

enfermidades infecciosas dos animais domésticos destaca-se o levamisol

(APPOLINÁRIO; MEGID, 2007).

2.7.1 LEVAMISOL

O levamisol é um fármaco anti-helmíntico de amplo espectro utilizado no

tratamento de parasitose intestinal. Concomitantemente à ação anti-helmíntica, esse

fármaco atua no sistema imunológico de maneira semelhante ao hormônio

timopoietina, produzido no timo (TIZARD, 2002), estimulando a ação de células T, a

resposta aos antígenos, a produção de interferons, aumentando a atividade

fagocitária de macrófagos e neutrófilos, estimulando a citotoxicidade mediada por

células, a produção de linfocinas e a função das células supressoras (TIZARD,

2002). Os efeitos do levamisol são mais efetivos em animais com redução no

número de células T, sendo que possui pouco ou nenhum efeito em animais com

função normal destas células (JANEWAY et al., 2002; TIZARD, 2002).

A ação imunoestimulante do levamisol depende da dose e da via de

administração. Para que se obtenha a ação imunoestimuladora, deve-se utilizar a

dose entre 0,5 a 2 mg⁄kg (PURZYC; CALKOSINSKI, 1998).

27

3 MATERIAL E MÉTODOS

O presente experimento foi desenvolvido no período de julho de 2008 a março

de 2009 no Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá (UNIC), em cães

atendidos com suspeita clínica de erliquiose e indicação médico-veterinária de

internação hospitalar. A erliquiose foi posteriormente confirmada pela reação em

cadeia pela polimerase (PCR) através da amplificação um fragmento do gene Dsb

de Ehrlichia

Os animais envolvidos nesse estudo foram somente aqueles cujos

proprietários autorizaram que fizessem parte da pesquisa, assinando assim um

termo de consentimento (Apêndice I).

O experimento foi realizado de acordo com os Princípios Éticos da

Experimentação Animal adotados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal

(COBEA), tendo, o protocolo, sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

Animal (CEPA) da UFMT, em reunião ordinária de 15/10/2008 cujo protocolo é n � 23108.021390/08-4 (Anexo I).

3.1 Seleção dos animais

Participaram da pesquisa cães de ambos os sexos, de diversas raças e

idades e leucopênicos. Foram excluídos da pesquisa fêmeas prenhes e lactantes,

recém-nascidos, animais que receberam transfusão sanguínea, com qualquer tipo

de doença concomitante e aqueles que estavam fazendo o uso de corticóides, pois

estes fatores interferem diretamente nos resultados.

No experimento participaram 21 animais distribuídos em dois grupos: o grupo

controle (GC) composto por 10 animais e o grupo que foi tratado com levamisol

(GE), composto por 11 animais. Durante a fase experimental, os cães

permaneceram internados durante cinco dias no Hospital Veterinário da UNIC.

28

3.2 Avaliação clínica

Os animais de ambos os grupos passaram por avaliações clínicas no dia zero

e também no dia cinco. Nas consultas foi feita palpação do abdômen e verificada a

temperatura corporal, usando um termômetro inserido no reto, coloração das

mucosas, pele e anexos, pulsação, movimentos respiratórios, batimentos cardíacos

e o estado de hidratação dos animais.

3.3 Procedimento das coletas de sangue

As coletas de sangue foram realizadas nos dias zero e cinco por punção da

veia cefálica ou jugular após assepsia, utilizando tubos a vácuo estéreis com e sem

EDTA, onde foram amostrados aproximadamente de 3 ml de sangue por tubo e

encaminhado ao Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Veterinário da UNIC

para realização do hemograma.

3.4 Tratamento

Durante o período de internação, todos os animais receberam doxiciclina (10

mg/kg) administrada por via oral e cimetidina (5 mg/kg) injetada por via intravenosa,

tendo sido ambos os medicamentos administrados a cada 24 horas. Quando

necessário, os animais foram hidratados. Além desse tratamento, o GE recebeu o

levamisol (1 mg/kg) administrado por via subcutânea, dose única. O GC recebeu 1

ml de solução fisiológica por via subcutânea para manter as mesmas condições que

os animais do GE.

29

3.5 Avaliações hematológicas

Foram realizadas no aparelho centra 80 horiba ABX automação. No

hemograma foram analisados volume globular, hematócrito, hemoglobulimetria,

leucometria global e específica. Paralelamente, foram feitos esfregaços de sangue

periférico corado pelo Panótico Rápido (Laboclin � ) para a contagem dos diferentes

tipos de leucócitos e a pesquisa de estruturas compatíveis com mórula de E.canis.

3.6 Extração do material genômico (DNA)

O DNA genômico foi extraído a partir de leucócitos do sangue periférico

coletado de cada animal no dia zero.

A amostra de sangue em solução de EDTA foi submetida ao processo de

extração de DNA conforme protocolo de Sangioni et al. (2005), utilizando Tiocianato

de Guanidina.

3.7. Reação em cadeia pela polimerase (PCR)

A confirmação da infecção dos cães por Ehrlichia foi feita através de PCR. A

amplificação de um fragmento do gene Dsb de Ehrlichia, foi feita utilizando-se os

primers Dsb - 330 (5’-GAT GAT GTC TGA AGA TAT GAA ACA AAT-3’) e Dsb - 729

(CTG CTC GTC TAT TTT ACT TCT TAA AGT-3’); 1,25 U de Taq Polimerase

(Platinum® Taq DNA polymerase – Invitrogen); solução tampão (pH 8,4) contendo 50

mM de KCL; 20 mM Tris-HCL e 3 mM de MgCl2 (KUYLER DOYLE et al., 2005). O

volume foi completado com água MiliQ autoclavada para completar 50 µl e a

amplificação foi efetuada em termociclador automático (Eppendorf®). Inicialmente as

amostras foram desnaturadas a 95ºC por dois minutos, seguida de uma sequência

30

de 50 ciclos repetidos de 15 segundos a 95ºC, 30 segundos a 58ºC e 30 segundos a

72ºC, seguidos de cinco minutos de extensão final a 72ºC. Os produtos da

amplificação foram submetidos à eletroforese em gel de agarose a 1.5-2%, em ácido

EDTA tris-bórico tamponado, corado com brometo de etídio (10 � g/ml) em

transluminação ultravioleta. Compararam-se os fragmentos de DNA com marcadores

de DNA de 100 pares de base (pb; Fermentas Life Science® Burlington, On),

considerando como positivas, as amostras cujos produtos apresentam tamanho

aproximado de 409 pb. Em cada série foram incluídos controles positivo (DNA de E.

canis) e negativo (água).

3.8 Análise estatística

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com dois

grupos e dez repetições. Os dados obtidos a partir do hemograma foram tratados

através da análise de variância (ANOVA) seguida do teste Tukey utilizando o

software SAEG-5.0 desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa por Ribeiro

Júnior (2001). Foram consideradas estatisticamente significantes as diferenças com

P ≤ 0,05. Os dados foram expressos como média ± desvio padrão.

31

4 RESULTADOS

4.1 Efeito do levamisol sobre os parâmetros clínicos de cães com erliquiose

Os achados clínicos verificados durante a primeira e segunda avaliação

clínica, antes e após a internação dos cães pertencentes ao GC são mostrados no

Quadro I.

Quadro I. Achados clínicos do GC verificados nos dias 0 e 5

Achado clínico Dia 0 Dia 5 Apatia 9/10 4/10 Mucosa hipocorada 2/10 0/10 Esplenomegalia 5/10 3/10 Petéquias abdominais 2/10 1/10 Linfadenopatia 5/10 3/10 Anorexia 7/10 3/10 Desidratação 3/10 0/10

Assim como no GC, os animais do GE passaram por consultas no dias zero e

cinco, antes e após a internação, cujos achados clínicos estão mostrados no Quadro

II.

Quadro II. Achados clínicos do GE nos dias 0 e 5

Achado clínico Dia 0 Dia 5 Apatia 9/11 3/11 Mucosa hipocorada 3/11 0/11 Esplenomegalia 7/11 3/11 Petéquias abdominais 4/11 0/11 Linfadenopatia 7/11 2/11 Anorexia 4/11 0/11 Epistaxe 1/11 0/11 Uveíte 1/11 0/11 Desidratação 3/11 0/11

32

4.2 Avaliação do efeito do levamisol sobre o número de leucócitos no sangue

periférico

Os dados apresentados na figuram 1 mostram no dia zero os cães de ambos

os grupos apresentavam leucopenia, (GC = 5.200 ± 970 leucócitos/mm3; GE = 4.327

± 1.228 leucócitos/mm3; p=0,1). Após cinco dias de tratamento, os cães que

receberam levamisol atingiram valores de leucócitos totais significantemente

superiores àqueles do grupo controle (GC = 8.450 ± 1.374 leucócitos/mm3; GE =

10.627 ± 2.757 leucócitos/mm3; p = 0,04) (Figura 1).

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Controle Experimental

Leuc

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tais

/mm

3

��� ����������� ������� ���

Figura 1: Leucócitos totais de cães tratados e não tratados com levamisol. Os dados estão expressos

como média ± desvio padrão

4.3 Avaliação do número de neutrófilos no sangue periférico de cães com

erliquiose

Os dados expressos na figura 2A mostram que, no dia zero, os cães de

ambos os grupos apresentavam neutropenia. Decorridos cinco dias do tratamento,

90% (9/10) dos animais do grupo controle atingiram valores normais dos neutrófilos

(dia zero: 4.109,5 ± 1.121,9 neutrófilos/mm3; dia cinco: 5.924,8 ± 1.306,1

33

neutrófilos/mm3; p=0,005). Já todos os cães tratados com levamisol atingiram

valores normais dos neutrófilos, no quinto dia após o tratamento. Essa diferença é

significante, considerando o dia zero do grupo experimental (dia zero: 3.312,3

±1.450,9 neutrófilos/mm3; dia cinco: 7.419,8 ± 2.555,2 neutrófilos/mm3; p=0,0004).

Entretanto, não houve diferença estatística entre os grupos, considerando-os no

quinto dia (p=0,12).

Além do aumento da quantidade de neutrófilos segmentados, no quinto dia

após o tratamento, os animais do GC apresentaram um aumento significante do

número de bastonetes no sangue periférico (p=0,003) (Figura 2B).

Por outro lado, os animais que receberam levamisol mantiveram os mesmos

valores de bastonetes no sangue periférico (p=0,7) (Figura 2B).

Figura 2A: Neutrófilos de cães tratados e não tratados com levamisol. Os dados estão expressos como média ± desvio padrão

34

Figura 2B: Bastonetes de cães tratados e não tratados com levamisol. Os dados estão expressos

como média ± desvio padrão

4.4 Efeito do levamisol sobre número de linfócitos

Antes de iniciar o tratamento, no dia zero, oito dos dez cães do grupo controle

apresentavam linfopenia (1.104,5 ± 167,71 linfócitos/mm3). Após cinco dias de

tratamento, três cães do grupo controle mantiveram-se linfopênicos (Figura 3). Por

outro lado, dos 11 cães tratados com levamisol, apenas 1 mantive-se linfopênico.

Sendo que os cães que receberam levamisol atingiram valores de linfócitos

significantemente superiores àqueles dos animais controle (GC = 1.705,1 ± 346,95

linfócitos/mm3; GE = 2.793,3 ± 1.229,93 linfócitos/mm3; p = 0,02).

35

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Controle Experimental

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Figura 3: Linfócitos de cães tratados e não tratados com levamisol. Os dados são mostrados

como média ± desvio padrão.

4.5 Verificação do número de monócitos

Os dados apresentados na figura 4 mostram que os cães de ambos os grupos

apresentavam diminuição no número de monócitos no dia zero (GC: 58 ± 61,5

monócitos/mm3; GE: 41,2 ± 35,7 monócitos/mm3). Após cinco dias de tratamento,

60% (6/10) dos cães do grupo controle atingiram valores normais dos monócitos

(132,1 ± 36,9 monócitos/mm3); sendo essa diferença estatisticamente significante

em relação ao dia zero (p=0,007). Por outro lado, 72,7% (8/11) dos cães tratados

com levamisol atingiram valores normais dos monócitos, no quinto dia após o

tratamento (219,7 ± 99,2 monócitos/mm3). Essa diferença é estatisticamente

significante em relação ao dia zero dentro do mesmo grupo (p=0,0001), bem como

em relação ao quinto dia considerando o grupo controle (GC: 132,1 ± 36,9

monócitos/mm3; GE: 219,7 ± 99,2 monócitos/mm3; p=0,02).

36

Figura 4: Efeito do levamisol sobre monócitos no sangue periférico de cães. Os dados são mostrados

como a média ±o desvio padrão.

4.6 Avaliação do número de eosinófilos

Houve diferença significativa comparando-se os dias zero e cinco dentro de

cada grupo (grupo controle p=0,01; grupo experimental p= 0,03) e também entre os

grupos com relação ao quinto dia (GC: 167,6 ± 83,5 eosinófilos/mm3; GTL: 217,4 ±

199,6 eosinófilos/mm3 (p=0,04) conforme ilustrado na figura 5).

Figura 5: Efeito do levamisol sobre eosinófilos no sangue periférico de cães com erliquiose. Os dados

são mostrados como média ± desvio padrão

37

4.7 Avaliação do efeito do levamisol sobre hemácias e plaquetas

4.7.1 ERITRÓCITOS E HEMATÓCRITO

Os dados expressos nas figuras 6A e 6B mostram que no dia zero, cinco dos

dez animais do grupo controle estavam com o número de hemácias e hematócrito

reduzidos. No quinto dia, apenas dois cães continuaram anêmicos. No dia zero, sete

dos onze cães pertencentes ao grupo que recebeu o imunoestimulante

apresentavam anemia. Decorridos cinco dias, quatro permaneceram com o número

de eritrócitos e hematócrito reduzidos. Não houve diferença estatisticamente

significante entre os dois grupos (p=0,4).

Figura 6A: Os dados estão expressos como média ± desvio padrão

38

Figura 6B: Os dados estão expressos como média ± desvio padrão

4.7.2 PLAQUETAS

No dia zero, os animais de ambos os grupos apresentavam redução no

número de plaquetas. Porém havia diferença significativa entre os animais de ambos

os grupos, onde os cães do GE apresentavam número de plaquetas

significantemente menor do que os do GC. Decorridos cinco dias do tratamento,

cinco dos dez animais do grupo controle permaneceram com o número de plaquetas

reduzido, já no grupo que recebeu o levamisol, quatro dos onze animais atingiram

número normais de plaquetas. Considerando o quinto dia, não houve diferença

significante entre os grupos (GC: 196.000 ± 33.461,7 plaquetas/µl; GE: 173.181,8 ±

66.311,6 plaquetas/µl; p=0,3), conforme mostrado na figura 7.

39

Figura 7: Efeito do levamisol sobre as plaquetas no sangue periférico de cães com erliquiose.

Os dados são mostrados como média ± desvio padrão

40

5 DISCUSSÃO

Um estudo experimental realizado por Rodrigues et al., (2005) utilizando

caprinos clinicamente sadios, demonstrou que, o uso de levamisol como

imunoestimulante não influencia no aumento do conjunto de sua imunidade, visto

que os efeitos do levamisol são mais efetivos em animais com redução no número

de células T, sendo que possui pouco ou nenhum efeito em animais com função

normal destas células (JANEWAY et al., 2002).

Em experimento realizado por Cazella (2009) com bovinos para avaliar a

influência do levamisol na resposta imune humoral anti-rábica mostrou que, o uso de

levamisol em bovinos primovacinados contra raiva não apresentou efeito

imunoestimulante.

A erliquiose canina é uma enfermidade endêmica, causada principalmente

pela Ehrlichia canis, uma bactéria intracelular obrigatória que parasita monócitos,

macrófagos e possivelmente outros leucócitos (RIKIHISA, 1991; DUMLER et al,

2001), causando leucocitose ou leucopenia e várias anormalidades da resposta

imune (MAGNARELLI et al, 1990; WEISER et al, 1991; MENESES, 1995; DAVOUST

et al, 1996;). No presente estudo, foram usados somente cães com erliquiose que

apresentavam leucopenia para verificar o efeito imunoestimulante do levamisol

sobre o número de leucócitos periféricos. A administração do levamisol

concomitante com o antibiótico para o tratamento da erliquiose aumentou

significantemente a quantidade de leucócitos periféricos comparando-se ao

tratamento de cães com antibiótico somente. O mecanismo pelo qual o levamisol

aumenta a quantidade de leucócitos periféricos em cães com erliquiose não foi

estudado no presente experimento. Entretanto, pode-se especular que o levamisol,

direta ou indiretamente estimula a ação microbicida de macrófagos, facilitando assim

a eliminação das erlíquias e, consequentemente a recuperação da quantidade de

leucócitos periféricos. Outra hipótese que pode ser formulada é que o levamisol

pode, diretamente, aumentar a produção de células do sistema imune, agindo na

medula óssea. Esses resultados corroboram dados da literatura mostrando que a

administração de levamisol em camundongos elevou o número global de leucócitos

e o número absoluto de linfócitos (SOUSA, 1992; RAYCHAUDHURY et al., 2005).

Até onde se sabe, esse é o primeiro estudo mostrando que o levamisol aumenta a

quantidade de leucócitos periféricos em cães com erliquiose e leucopênicos. Como

41

se sabe, cães com erliquiose crônica mais frequentemente apresentam alterações

hematológicas e não respondem bem ao tratamento específico indo a óbito

(MYLONAKIS et al., 2004). Como mostrado no presente estudo, uma única dose de

1 mg/Kg de levamisol corrigiu a leucopenia de cães com erliquiose, sugerindo que,

nesse caso específico, a associação do levamisol ao tratamento com antibiótico leva

a uma recuperação no número de leucócitos periféricos o que reflete na recuperação

clínica do animal, já que a erliquiose pode causar leucopenia o que dificulta a

eliminação da bactéria. A leucopenia dos cães usados no presente experimento era

decorrente da neutropenia, linfocitopenia e monocitopenia. No que tange à

neutropenia, o levamisol não elevou o número dessas células quando comparado

aos animais que receberam somente o antibiótico. Esse resultado poderia sugerir

que o levamisol não age sobre neutrófilos. Entretanto, essa hipótese não pode ser

formulada visto que, antes de iniciar o tratamento, os cães que receberia o levamisol

apresentavam uma neutropenia significantemente mais acentuada do que os cães

controle. Além disso, todos os cães que receberam levamisol associado ao

antibiótico recuperaram da neutropenia, enquanto um dos dez cães que receberam

somente o antibiótico permaneceu neutropênico no período do experimento.

Verificou-se no presente experimento, que os cães tratados somente com antibiótico

recuperam da neutropenia, mas tiveram um aumento significante do número de

bastonetes circulantes, comparados aos animais que receberam o levamisol. Esse

resultado sugere que houve morte dos neutrófilos segmentados na periferia e que os

bastonetes, que são neutrófilos imaturos, estariam saindo da medula óssea para

suprir a demanda de neutrófilos maduros na circulação. Se essa hipótese for

verdade, pode-se especular que o levamisol estimularia a resposta imune e

consequentemente controlaria a morte de neutrófilos na periferia.

Com mostrado, no dia zero, antes de iniciar o tratamento, oito dos dez cães

do grupo controle e todos os animais do grupo de que receberia levamisol estavam

linfopênicos. Após o tratamento com antibiótico, apenas cinco dos oito cães do

grupo controle que apresentavam linfopenia recuperam a quantidade dessas células

na circulação. Por outro lado, somente um animal dos onze cães que receberam

levamisol manteve-se linfopênico, cinco dias após receber apenas 1 mg/kg desse

fármaco. Além disso, os cães que receberam levamisol atingiram valores de

linfócitos significantemente superiores àqueles dos animais controle. Esse resultado

sugere que o levamisol pode, direta ou indiretamente, agir sobre linfócitos

42

controlando sua morte na periferia. A hipótese do levamisol controlar a morte celular

na periferia, advém do fato de não se ter visualizado células imaturas quando da

realização do hemograma, usando sangue periférico, no quinto dia após o início do

tratamento. Antes de iniciar o tratamento, todos os cães que participaram da

pesquisa apresentavam monocitopenia. A administração do levamisol associado ao

antibiótico promoveu a recuperação de oito dos onze animais que receberam esse

fármaco. Por outro lado, somente seis dos dez cães que receberam somente o

antibiótico se recuperaram da monocitopenia. Mais uma vez, deve-se salientar que

os valores do número de monócitos atingidos pelos cães que receberam o levamisol

foram significantemente superiores àqueles dos animais que receberam somente o

antibiótico. A partir do conjunto de dados pode-se especular que, possivelmente, o

uso de duas doses de levamisol levaria à recuperação da quantidade de todas as

células da circulação em cães com erliquiose.

No presente estudo, verificou-se que antes de iniciar o tratamento, os cães

apresentavam valores normais de eosinófilos. Porém, após cinco dias de tratamento

a quantidade de eosinófilos aumentou significantemente em relação ao dia zero.

Além disso, os cães que receberam o levamisol apresentaram uma eosinofilia

significantemente superior àquela dos animais controle. A partir desse resultado,

pode-se especular que a eosinofilia poderia estar mascarada pela leucopenia

observada antes de iniciar o tratamento. Essa hipótese foi formulada a partir de

dados da literatura mostrando que a erliquiose canina desequilibra a resposta imune

para um padrão do tipo 2, o que dificultaria a eliminação da bactéria, que é

intracelular obrigatória.

No presente experimento, antes de iniciar o tratamento, cinco dos dez cães

controle e sete dos onze animais que receberia o levamisol apresentavam anemia.

No quinto dia após o início do tratamento, dois dos cinco animais controle haviam-se

recuperado da anemia. Por outro lado, somente dois dos sete cães que receberam o

levamisol permaneceram anêmicos. Além de estarem anêmicos, antes do início do

tratamento, todos os cães apresentavam trombocitopenia. Porém, os cães que

receberiam o levamisol tinham valores de plaquetas significantemente inferiores aos

dos animais controle. No quinto dia após iniciar o tratamento, cinco dos dez cães do

grupo controle mantiveram-se trombocitopênicos, mas, somente dois dos onze

animais que receberam o levamisol não recuperaram da trombocitopenia.

43

Em conjunto, verificou-se que o levamisol associado ao antibiótico promove

um aumento significante do número de várias subpopulações de leucócitos na

periferia de cães com erliquiose. Embora os resultados tenham sido estatisticamente

significantes, estudos no sentido de descrever o mecanismo de ação do levamisol,

enquanto imunoestimulante ainda precisam ser feitos antes de se adicionar esse

fármaco aos protocolos terapêuticos para a erliquiose canina.

44

6 CONCLUSÕES

Considerando-se os resultados obtidos no presente experimento, conclui-se

que o uso de levamisol associado à antibioticoterapia aumentou significativamente o

número global de leucócitos, linfócitos e monócitos em cães com erliquiose e

leucopênicos. Além disso, os animais do GE apresentaram uma melhora clínica

superior àquela dos cães do GC.

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ANEXO I – Parecer do Comitê de Ética

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APÊNDICE I – Termo de Consentimento

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