Educacao Nutricional - Passado, Presente e Futuro

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EDUCAO NUTRICIONAL: PASSADO, PRESENTE, FUTURO

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ARTIGO ESPECIAL

EDUCAO NUTRICIONAL: PASSADO, PRESENTE, FUTURONUTRITION EDUCATION: PAST, PRESENT AND FUTUREMaria Cristina Faber BOOG1Eu diria que os educadores so como as velhas rvores. Possuem uma face, um nome, uma estria a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale a relao que os liga aos alunos, sendo que cada aluno uma entidade sui generis, portador de um nome, tambm de uma estria, sofrendo tristezas e alimentando esperanas. E a educao algo para acontecer neste espao invisvel e denso que se estabelece a dois. Espao artesanal. Rubem Alves

RESUMO

A Educao Nutricional constitui importante estratgia de ao em Sade Pblica, disciplina obrigatria nos cursos de Nutrio e faz parte das aes do nutricionista em todos os campos de atuao. Entretanto, por razes histricas, analisadas no trabalho, no Brasil ela no se desenvolveu ao longo das ltimas duas dcadas. Os objetivos deste trabalho so: analisar as publicaes da Organizao Mundial da Sade (OMS), Organizao Panamericana da Sade (OPAS) e Food and Agricultural Organization (FAO) sobre Educao Nutricional, que foram as principais fontes de informao neste campo; elucidar as diferenas entre educao e orientao nutricional; propor desafios para os especialistas na rea e nutricionistas em geral visando ao desenvolvimento futuro desta rea de conhecimento, em beneficio da sociedade. Termos de indexao: educao nutricional, orientao nutricional, nutricionista.

ABSTRACT Nutrition Education constitutes an important strategy in public health actions, it is an obligatory subject in Nutrition courses and it is a part of nutritionists actions in a11 fields of work. Nevertheless, for historical reasons analyzed in this paper, in Brazil it has not developed during the Iast two decades. The objectives of the present paper are: to analyze WHO, PAHO and FAO publications about Nutrition Education, as they have been the principal sources of information in this area; to elucidate the differences between nutrition education and nutrition orientation; to propose challenges for experts in this field and nutritionists in general, aiming at the future development of knowledge in this area in favor of society. Index terms: nutrition education, nutrition guidance, nutritionist.(1)

Professora Assistente, Doutora, Departamento de Enfermagem da Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade Estadual de Campinas. Caixa Postal 6111, Campinas, 13083-970, SP.

R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 10(1): 5-19, jan./jun., 1997

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1. INTRODUO

Educao Nutricional uma disciplina que consta do currculo mnimo do curso de Nutrio, constitui atividade privativa do nutricionista segundo a Lei Federal 8 234/91 que regulamenta a profisso de nutricionista e faz parte das aes deste profissional em todos os campos de atividade2 . No livro Velhos e novos males da sade no Brasil: a evoluo do pas e de suas doenas, publicado em 1995, a Educao Nutricional apontada como estratgia de ao a ser adotada prioritariamente em sade pblica para conter o avano da prevalncia de doenas crnico-degenerativas. MONTEIRO et al. (1995) recomendam que se reserve lugar de destaque a aes de educao em alimentao e nutrio que alcancem de modo eficaz todos os estratos econmicos da populao. No Brasil, o interesse pela Educao Nutricional surgiu nos anos quarentas, perodo em que gozou de status privilegiado e era vista como um dos pilares dos programas governamentais de proteo ao trabalhador. Ela nasceu com a perspectiva de ser uma alavanca que d e t e r m i n a r i a m u d a n a s significativas nas condies de alimentao da populao trabalhadora (CASTRO & PELIANO, 1985). Nas dcadas de cinqenta e sessenta, vimos a Educao Nutricional ligada s campanhas que visavam introduo da soja na alimentao. Privilegiava-se o interesse econmico, por ser a soja um produto de exportao, em detrimento da preferncia nacional pelo feijo. Nesse perodo a educao se voltava tambm para a utilizao dos produtos obtidos mediante o convnio MEC/USAID (CASTRO & PELIANO, 1985). No ps-guerra, a United States Agency for International Development (USAID) implantou programas de ajuda alimentar internacional, mediante os quais o governo brasileiro se via na contingncia de usar estratgias educativas para induzir alguns grupos da populao a consumirem os alimentos fornecidos pelos programas. Na realidade, tais programas tinham como principal objetivo aliviar os excedentes agrcolas americanos a fim de manter o preo dos cereais no mercado internacional, e a Educao Nutricional foi chamada a intervir visando induzir a populao a efetivamente consumir aquilo que legitimaria o recebimento desta ajuda externa.(2)

Durante a dcada de sessenta, as publicaes no Brasil sobre o assunto ficaram restritas a materiais de divulgao como folhetos ou livretos destinados ao pblico. Nessa poca os Centros de Aprendizado Domstico do Servio Social da Indstria (SESI) j realizavam periodicamente cursos de educao alimentar, que existem at os dias de hoje. Dessa poca, podemos nos recordar tambm dos manuais do Instituto de Nutricin de Centro America y Panam (INCAP), que traziam textos didticos relativos a alimentos especficos para serem utilizados por professores e auxiliares de Servios de Sade. Em 1967, foi fundada nos Estados Unidos, a Socieiy for Nutrition Education, que a partir de 1968 passou a publicar o Journal of Nutrition Education (BRUN & GILLESPIE, 1992). Aps a instaurao do regime militar em 1964, as polticas de alimentao no I e II Planos Nacionais de Desenvolvimento foram norteadas pelo pensamento tcnico-cientfico. As medidas adotadas privilegiaram a suplementao alimentar, a racionalizao do sistema produtor de alimentos e as atividades de combate s carncias nutricionais especficas (LABBATE, 1989). O paradigma social foi substitudo pelo paradigma tcnico que procurou racionalizar as atividades de produo de alimentos e suplementao alimentar atribuindo exclusivamente aos tcnicos que trabalhavam sob a gide do Estado autoritrio em estreita colaborao com o setor produtivo, a deciso acerca dos programas sociais. indstria de alimentos interessava-se sobremaneira na pesquisa de tecnologias e produo de novos alimentos que o Estado se propunha a adquirir para distribuir nos programas de suplementao alimentar. Nesse contexto a Educao Nutricional comeava a ser relegada a segundo plano. A dcada de setenta trouxe outras modificaes nesse cenrio. Trabalhos realizados por economistas (ALVES, 1977), e sobretudo o Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), mostraram que o principal obstculo alimentao adequada era a renda, e que somente transformaes estruturais no modelo econmico teriam efetivamente poder de resolutividade frente aos problemas alimentares. Em decorrncia disso, como muito bem referem CASTRO & PELIANO (1985), o binmio alimentao/educao foi substitudo pelo binmio alimentao/renda, e os programas de educao alimentar partem para o exlio.

MARTINS, B.A.E.A.T. Atribuies do nutricionista nas diversas reas de atuao, 1996. Palestra proferida no XIV Congresso Nacional de Nutrio, realizado em Belo Horizonte, MG, agosto de 1996.

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Nesse perodo chegou a prevalecer uma rejeio Educao Nutricional, quando ela foi acusada de ser uma estratgia para ensinar o pobre como apertar o cinto sem doer e comer cascas de batata, ratos ou outros alimentos disponveis e de alto teor nutricional (VALENTE, 1986), o que levou a Educao Nutricional a permanecer ausente dos programas de Sade Pblica durante duas dcadas. Entretanto, ela continuou a existir na prtica profissional dos nutricionistas, pois a necessidade de tratamento para vrias enfermidades existe independentemente do modelo econmico, e para muitas delas a Dietoterapia requerida como tratamento bsico ou coadjuvante. Encontra-se referncia implantao de Servios de Nutrio junto a ambulatrios (JORGE, 1983; TAKAHASHI & LIMA, 1983; CARVALHO, 1984; SILVA, 1984; CAMARGO & VEIGA, 1989; NAJAS et al., 1992; KITAYAMA et al., 1995), mas estes trabalhos raramente fazem referncia especfica a propostas educativas. As experincias documentadas sobre os programas e as atividades de Educao Nutricional no Brasil so em nmero exguo e rarssimas as iniciativas junto aos Servios de Sade Pblica. Hoje ela retorna ao cenrio dos programas de Sade Pblica atravs da Coordenao de Orientao Alimentar do Instituto Nacional de Alimentao e Nutrio. Assim, frente s recomendaes de respeitados tcnicos para implement-la no mbito dos Servios Pblicos de Sade, ao fato de que ela sempre esteve e continua presente na prtica profissional dos nutricionistas e de que hoje ela de fato est inserida em um programa de governo, justifica-se proceder a uma anlise crtica das concepes que nortearam as aes at o momento e lanar desafios para o futuro. Os objetivos deste estudo so trs: em primeiro lugar analisar criticamente a contribuio da Organizao Mundial da Sade (OMS), da Organizao Panamericana da Sade (OPAS) e da Food and Agricultural Organization (FAO), cujas publicaes alimentaram os docentes dos cursos de Nutrio para desenvolver as disciplinas relativas rea, durante vrias dcadas; em segundo, elucidar as diferenas entre educao e orientao nutricional; em terceiro lanar desafios para os especialistas na rea e para os nutricionistas em geral, no sentido de

retomarem o interesse pelo ensino, pesquisa e implementao de programas relativos a este campo especfico de conhecimento.

2. A EDUCAO NUTRICIONAL NAS PUBLICAES DA OMS, OPAS E FAO

Uma das responsabilidades fundamentais da OPAS consiste em prestar cooperao tcnica em relao disseminao do conhecimento cientfico em sade (CRUZ, 1995), papel tambm desempenhado pela OMS e pela FAO. Estes organismos internacionais tem influncia relevante no ensino, na comunicao entre cientistas e conseqentemente na formao de opinio cientfica. A primeira publicao da OMS que tratou especificamente da Educao Nutricional data de 1951. Na poca, a OMS prestava assessoria aos pases do terceiro mundo, com vistas a produzir melhora do nvel de vida e de sade das populaes pobres desses pases. Um significativo nmero de experincias em diferentes pases ensejou a primeira iniciativa de sistematizar os conhecimentos deste campo, o que se concretizou no livro de Jean A.S. Ritchie Buenos hbitos en la alimentacin: mtodos para inculcar-los al pblico (RITCHIE, 1951). Neste livro, a autora dirige um agradecimento antroploga Margareth Mead, que na dcada de quarenta foi secretria executiva do Comit sobre Hbitos Alimentares do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos da Amrica. Este comit reuniu nutrlogos, antroplogos, psiclogos e educadores com o objetivo de por em comum seus conhecimentos buscando mtodos mais eficazes para modificar hbitos alimentares. Na introduo do livro, a autora posiciona-se dizendo que, antes de tudo, necessrio aumentar a produo e distribuio de alimentos e elevar o nvel de vida, mas que o ensino de bons hbitos alimentares da mxima importncia, tanto para populaes pobres como para os que convivem com a abundncia. Contudo, a maioria das experincias prticas foi desenvolvida em pases do terceiro mundo como Ir, Guatemala, Nigria, Porto Rico, Jamaica e ndia, por tcnicos de pases do primeiro mundo. Este tipo de interveno trazia em seu bojo um objetivo de carter poltico que era mimizar as tenses sociais e evitar a

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propagao dos movimentos de carter socialista (Vasconcelos citado por FREITAS, 1993). A publicao de 1951 tratava do estudo dos hbitos alimentares e de sua significao social; discutia a organizao de programas de ensino planejados verticalmente no nvel nacional, a preparao de pessoal para execut-los e orientava a seleo de mtodos e estratgias de ensino e avaliao. Dezessete anos aps, a mesma autora publicaria, novamente atravs da OMS, um novo livro, na mesma linha, sob o ttulo Estudiemos la nutricin , destinado a agrnomos, economistas domsticos, mdicos, trabalhadores sanitrios e bioqumicos. Ao longo da leitura das duas obras, observa-se que os tcnicos em Nutrio eram vistos como assessores de programas educativos (RITCHIE, 1968), sem responsabilidade direta na execuo dos mesmos e ainda sem qualquer funo poltica no planejamento. Nas duas publicaes observa-se um aprofundamento na anlise sociolgica, sob a vertente positivista da sociologia, pela nfase dada a aspectos como o significado social dos alimentos, aspectos religiosos, caractersticas dos hbitos segundo grupos tnicos, critrios culturais de distribuio intra-familiar de alimentos, atitudes frente a determinados alimentos. A modificao de hbitos discutida nas duas publicaes, tendo como base de contextualizao a anlise sociolgica feita segundo o prisma da sociologia positiva. A autora sugere recursos didticos para tornar as mensagens acessveis aos educandos e a influncia da mdia j era apontada como um fator importante na formao dos hbitos alimentares. A nfase dada aos aspectos sociais da alimentao, assim como a extensa bibliografia, sobretudo da publicao de 1968, revela vasta experincia de campo da autora e conhecimento profundo sobre a temtica em questo, alm de convico no valor da Educao Nutricional para a melhora das condies de alimentao. O enfoque dado pela autora ao planejamento fundamentava-se na verticalizao do processo decisrio. Mesmo quando preconizada a participao ativa dos educandos, esta pensada muito mais em termos de execuo de tarefas do que de participao nos processos decisrios. Estes esto sempre reportados a um planejamento centralizado em nvel

nacional. Alm disso, em nenhum momento se explicita a quem efetivamente compete realizar as aes da Educao Nutricional, o que j havia ficado evidente na introduo do primeiro livro, quando Ritchie citava que ele se destinava a agrnomos e economistas domsticos entre outros profissionais. A Educao Nutricional era vista, em suma, como misso de todos, mas no era identificada como responsabilidade direta de nenhum profissional em particular e de nenhum setor especfico de prestao de servio. Seguindo a trajetria histrica da Educao Nutricional sob os auspcios da OMS, nos deparamos com as contribuies de BURGESS & DEAN (1963). A linha tomada pelas autoras, no difere fundamentalmente da abordagem de Ritchie. A Educao Nutricional efetivava-se dentro de um processo bem mais abrangente do que um mero repassar de informaes e no se destinava apenas a populaes pobres, mas fazia-se necessria para todos os cidados. Permanecem as caractersticas de inespecificidade em relao a quem compete a responsabilidade de executar as aes e atravs de que setores. Citando Autret, dizem as autoras que:a Educao Nutricional responsabilidade de muitas pessoas em diversas disciplinas e no pode ficar restrita a um s departamento ou classificar-se como Educao Sanitria. Exige a ao conjunta do pessoal mdico e de sade pblica e no mdicos, ou seja, dietistas, agrnomos, trabalhadores dos servios de extenso agrcola, especialistas em economia domstica, professores de escola, pessoal dos servios de desenvolvimento da comunidade, trabalhadores sociais e outros".

Em relao aos setores onde tais aes seriam desenvolvidas, BURGESS & DEAN (1963) listam uma srie de servios, no priorizando nenhum em particular: ministrios de educao, sade pblica ou agricultura, associaes cvicas ou profissionais, centros de educao de adultos ou centros religiosos, instituies de ateno mdica ou de promoo da sade, centros de sade, hospitais ou clnicas externas, lugares onde se fornece suplementao alimentar, cooperativas e mercados, empresas comerciais, conselhos de nutrio, escolas e universidades, clubes de jovens, associaes atlticas e campos de veraneio. Enfim, um extenso leque onde se mistura os Servios de Sade aos campos de veraneio e as boas intenes

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missionrias aos interesses comerciais sem qualquer critrio poltico, tcnico ou tico. As autoras recomendam que os mdicos nutrlogos atuem junto aos centros de deciso poltica e os nutricionistas junto a professores, para-mdicos, pessoal da agricultura, economistas domsticos, funcionrios de centros de sade, donas de casa e alunos. A funo do nutricionista era de divulgar informaes (pensadas por outros), e por isso ele era visto como um multiplicador . A contribuio maior de Burgess & Dean foi ampliar o respaldo tcnico para a execuo dos programas, trazendo para o campo da Educao Nutricional as tcnicas de planejamento de ensino fundamentadas e desenvolvidas luz do pensamento behaviorista: necessidade de um diagnstico educativo bem elaborado e da formulao precisa de objetivos educativos. O diagnstico deveria ser suficientemente amplo de forma a comportar desde dados relativos ao ambiente fsico (terra, clima, gua) como a estrutura social (posse da terra) e econmica (produo, armazenamento, distribuio e comercializao de alimentos), at os mais especficos de utilizao, preparo e consumo de alimentos, fatores scio-culturais relativos alimentao, alm dos problemas de Nutrio em Sade Pblica prevalentes na populao. Alm desses dados, uma outra gama de informaes denominadas por elas de problemas educativos e de relaes pblicas deveria ser coletada no levantamento prvio: 1) grau de conhecimento da populao sobre as deficincias nutricionais e benefcios dos alimentos; 2) conhecimentos e crenas a respeito dos alimentos e, em especial, a produtos aos quais se atribua propriedades especiais; 3) atitudes gerais das pessoas em relao vida, situao momentnea que atravessam e nutrio em particular; 4) conduta alimentar incluindo aspectos econmicos, critrios de oramento e consumo efetivo de alimentos; 5) dinmica social do hbito alimentar, incluindo o que come cada um, em companhia de quem e quando, quem faz as compras e quem influencia na seleo de alimentos; 6) reconhecimento dos formadores de opinio, dos inovadores e das pessoas influentes no setor da alimentao; 7) papel da imprensa falada e escrita. Observa-se aqui um avano em relao sistematizao de conhecimentos. Observa-se tambm uma preocupao incipiente com o significado das aes de Educao Nutricional em relao educao global da criana,

como se pode verificar atravs do trecho que se segue:em alguns pases, os alimentos so utilizados como recurso principal para disciplinar as crianas. Elas sabem que se comem os legumes podem comer sobremesa. Deste modo aprendem duas coisas: que os legumes so algo que ningum comeria se no fosse subornado, e que virtude experimentar a dor antes do prazer (...): uma lio primordialmente moral!

Este aspecto das repercusses mais amplas da Educao Nutricional mencionado apenas de forma superficial, permitindo concluir que realmente a contribuio mais significativa destas autoras foi em relao aos aspectos a serem estudados nos diagnsticos educativos. Virando mais algumas pginas da histria da Educao Nutricional deparamo-nos com JELLIFFE (1970) que trata do problema enfatizando dois outros aspectos at ento no abordados pelos demais autores: o do sofrimento humano pelas ms condies de alimentao e sade e o estabelecimento de metas educativas a partir de uma base de dados referente aos problemas de sade infantil da regio. Wilson citado por JELLIFFE (1970) diz que:a fome, a desnutrio e o crescimento insuficiente so fatos to constantes na vida da criana, que freqentemente so considerados normais. Sculos de luta desalentadora contra os riscos de um ambiente hostil, com o sofrimento reiterado que traz consigo elevada mortalidade infantil, tende a produzir uma aceitao fatalista e aparentemente aptica das conseqncias, a qual resulta difcil de combater. A preocupao de Wilson com os aspectos do sofrimento estendem-se tambm para o mdico. Diz ele que ao superestimar os aspectos tcnicos do trabalho, a formao mdica tende a reprimir o instinto de considerar as pessoas como pessoas e fomentar o hbito de v-las como casos de tal ou qual enfermidade; muitas situaes resultariam demasiado horrveis se fossem consideradas em todo seu contexto de sofrimento humano.

Como mdico, Jelliffe pensa a Educao Nutricional como meio para solucionar problemas de

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Nutrio em Sade Pblica. Comum enfoque diferente das autoras que o antecederam, que procuraram mostrar que a Educao Nutricional fazia parte da educao global do ser humano necessria a todas as pessoas, Jelliffe recomenda, como primeira etapa do planejamento de um programa educativo estabelecer,em ordem de prioridade, sobre a base de dados que se dispe, os problemas de sade infantil na regio e determinar o componente nutricional do problema mais destacado.

Esta viso epidemolgica, somada viso behaviorista de ensino que prevalecia na poca, levouo afirmao de que o critrio do xito do ensino no a acumulao de conhecimentos, porm a ao, a mudana de algum aspecto do comportamento e a substituio ou modificao de algum hbito nocivo. Parece-nos que a Educao Nutricional neste momento se distancia de um ideal de ensino para passar a preencher uma funo especfica de instruo a respeito de como resolver determinados problemas identificados a partir de dados epidemolgicos. A Sociologia cede lugar Medicina como mentora dos programas de Educao Nutricional. A despeito disso, pode-se perceberam relativo avano na concepo de Educao Nutricional examinando-se o trabalho de BOSLEY (1976), publicado como um captulo da obra de Beatone Bengoa Nutrition in preventive medicine: the major deficiency syndromes, epidemiology, and approaches to control. Segundo esta autora o objetivo da educao nutricional ajudar os indivduos a estabelecer prticase hbitos alimentares adequados s necessidades nutricionais do organismo e adaptados ao padro cultural e aos recursos alimentares da rea em que vivem. Ela

Foi resgatado em seu trabalho o pensamento de Burgess & Dean, somando a ele os princpios do planejamento normativo dizendo que o planejamento da Educao Nutricional deve-se dar em forma de um leque que tem seu ponto inicial em nvel nacional onde os nutricionistas tm por funo treinar pessoal auxiliar, desenvolver materiais adequados, assessorar os educadores que trabalham em nvel local, supervisionar atividades; a execuo caberia ao que ela denomina de agentes locais de sade , mdicos, enfermeiros, assistentes sociais e auxiliares. Pela primeira vez o nutricionista identificado como o responsvel tcnico pela Educao Nutricional, porm no como seu executor. Bosley deu grande nfase aos aspectos tcnicos dos programas, ou seja: dados que devem ser levantados previamente atravs de diagnstico, formulao precisa de objetivos, adequao de contedos, estratgias de ensino e de avaliao e coordenao interinstitucional de programas. Sugere ainda que as indstrias de alimentos sejam chamadas a colaborar nos programas governamentais atravs de marketing publicity, isto , os produtores colaborariam na Educao Nutricional empreendendo programas de. orientao ao consumidor. interessante ainda ressaltar a viso que se tem do educador. Se por um lado seu papel muito valorizado, por outro, a competncia percebida mais como dom do que como habilidade a ser desenvolvida. O educador deve ter sensibilidade, vivacidade, deve dar o exemplo e ser capaz de criar um clima bom de relacionamento interpessoal. A necessidade de treinamento chega a ser mencionada, assim como tambm o suporte de especialistas habilitados, mas a autora no deixa claro quem so estes especialistas e de que forma seriam preparados. Em suma, como aspecto novo, temos a emergncia da figura do nutricionista como responsvel tcnico e, como principal aspecto positivo, um resgate da valorizao dos aspectos culturais no processo educativo. Predomina entretanto um pensamento pragmtico no qual no cabem discusses acerca das contradies sociais, tais como problemas nutricionais versus poder aquisitivo, interesse das indstrias versus objetivos da Educao Nutricional, viso e poder do nutricionista (responsvel tcnico) versus viso e poder dos mdicos (executores). Todos os segmentos da sociedade so vistos como aliados que podem contribuir nesta nobre misso de

enfatiza que a Educao Nutricional no transferncia de informaes sobre valor nutritivo ou sobre tcnica de preparo de alimentos, mas sugere que, atravs da educao o educador deva criar o desejo no educando de mudar a sua alimentao. Chega a questionar o direito da intromisso do educador em hbitos da vida cotidiana do educando e chama a ateno para o respeito cultura, dizendo que no se deve pensar em mudar a dieta, mas melhor-la, respeitando valores, costumes sociais e religiosos, preferncias, tabus, idiossincrasias e mtodos habituais de preparao. Para BOSLEY ( 1976), o principal objetivo da Educao Nutricional era melhorar a dieta, reforando as prticas que so boas e orientando apenas as modificaes para aquelas que so prejudiciais.

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melhorar o estado nutricional oferecendo alternativas convincentes e prticas para a soluo dos problemas. Em seguida temos o texto de MUSHKIN (1982) que integra a publicao organizada por Klein e publicado pela OPAS/OMS. A preocupao norteadora do trabalho a avaliao da eficincia dos Programas de Nutrio com a finalidade de usar os resultados destas avaliaes como dados de base para a anlise de custo de oportunidade, isto , utilizao opcional de recursos para a rea social com vistas a um propsito de crescimento econmico. Segundo MUSHKIN (1982), os investimentos em Nutrio tm influncia sobre o desenvolvimento econmico e sobre os resultados da educao. Pela diminuio de suscetibilidade s doenas, aumento do vigor fsico e da expectativa de vida, o trabalhador torna-se mais apto para o desempenho de suas atividades e tem um perodo mais longo de vida produtiva, o estado nutricional um fator que influi na existncia de capital , afirma. Havendo um aumento na produtividade, h acumulao de capital para o empregador, advindo do lucro obtido pela diferena entre o custo do trabalhador e a sua produtividade, ou seja, lucro resultante da mais-valia do trabalhador. E a acumulao de lucro pelo empregador resulta em mais investimentos nos meios de produo, o que favorece o desenvolvimento. Com relao aos resultados da educao, diz que a Nutrio (e aqui ela se refere particularmente merenda escolar) contribuiria para melhorar o estado nutricional da criana, diminuindo a suscetibilidade s doenas e o absentesmo escolar, o que, teoricamente, resultaria em maior eficincia do ensino. A necessidade de avaliar programas para obter recursos incentivou estudos que poderiam gerar dados para avaliar o impacto dos programas de Nutrio: graus de desnutrio e rendimento intelectual, estudos de resultados de interveno como por exemplo efeito da suplementao alimentar sobre o desenvolvimento fsico e intelectual, efeito do fornecimento da merenda sobre o processo desnutrio/infeco e sobre o rendimento escolar, estudos antropomtricos e outros. Percebe-se nitidamente que as intervenes no campo da Nutrio so vistas como insumo econmico a ser ou no utilizado na dependncia dos resultados das anlises feitas pelos economistas sobre

os custos de oportunidade e no por reconhecimento do direito do ser humano ao alimento. Em 1983, a esposa de D.B. Jelliffe, autor do artigo anteriormente analisado La nutricin infantil en las zonas tropicales y sub-tropicales, publicou um texto com o ttulo Nutrition education and the planning process, na obra coordenada por D.S. McLaren Nutrition in the community (JELLIFFE, 1983). Para a autora, a Educao Nutricional umaeducao do pblico com vistas a uma melhora geral do estado nutricional, principalmente atravs da promoo de hbitos alimentares adequados, eliminao de prticas dietticas insatisfatrias, introduo de melhores prticas de higiene da alimentao e uso mais eficiente dos recursos disponveis. A autora refere-se Educao Nutri-

cional como uma ferramenta especfica para reduzir a morbidade e a mortalidade devida a deficincias nutricionais. Percebe-se no trabalho uma incipiente tentativa de sistematizar conceitos e teorias de Educao Nutricional construdos a partir de experincias prticas. Para tanto, ela inicialmente faz um retrospecto das fases histricas da Educao Nutricional. Em seguida, cita trabalhos de vrios autores, entre eles o de DRUMMOND (1975), uma brasileira que publicou, atravs da Universidade de Cornnel, um trabalho de Educao Nutricional baseado no mtodo Paulo Freire. JELLIFFE (1983) ainda enfatiza muito as tcnicas de planejamento normativo. Como aspecto positivo pode-se destacar o esforo de rever trabalhos nos quais autores que desenvolveram programas de Educao Nutricional procuraram construir teorias e sistematizar conceitos a partir de suas experincias. A autora nada menciona acerca das formas e competncia dos responsveis pelos programas, nem indica os servios onde os programas deveriam ser executados. Citando Fugelsang diz apenas que comunicao aplicada uma funo que requer sensibilidade e habilidade criativa por parte do educador e que a estes atributos pode-se acrescentarcuriosidade no seu sentido mais amplo, senso de humor e compaixo por aqueles que necessitam de assistncia.

Novamente aqui se identifica a percepo da competncia do educador como dom, como atributo pessoal e no como habilidade adquirida atravs de formao profissional especfica.

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As trs publicaes que se seguem so muito semelhantes, motivos pelos quais sero analisadas concomitantemente: Pautas para capacitar en nutricin a trabajadores comunitrios de salud (ORGANIZACIN..., 1983), Pautas para capacitar a los agentes de salud comunitrios en nutricin (ORGANIZACIN..., 1988) e Unidades didticas de nutricin (ORGANIZACIN..., 1990). Na realidade a segunda e a terceira publicaes constituem revises ampliadas e aprimoradas das anteriores. Estes manuais foram concebidos com a finalidade de serem utilizados nos servios de ateno primria de sade, visando prioritariamente o melhoramento da alimentao materno-infantil, a preveno, a deteco e tratamento oportuno da desnutrio, a vigilncia do crescimento e desenvolvimento da criana, a preveno e controle das enfermidades diarricas e daquelas prevenveis por imunizao. No prlogo da edio em espanhol da publicao de 1983, Carlyle Guerra de Macedo, ento Diretor da OPAS, diz que um dos fatoresdeterminantes da escassa existncia de aes sistemticas de alimentao e nutrio materno-infantil no nvel primrio tem sido precisamente o carter pouco prtico deste componente na capacitao dos trabalhadores comunitrios de sade.... O manual, dirigido aos

meio estariam representados pelo pessoal de nvel elementar do servio de enfermagem. Se por um lado louvvel a iniciativa de colocar nas mos dos tcnicos um material de utilidade imediata, por outro observa-se um predomnio da tecnologia educacional sobre as relaes interpessoais no processo educativo, e a crena na primazia do instrumento de trabalho tecnicamente bem elaborado para suprir necessidades de educadores e educandos. No h preocupao com o que, hipoteticamente, poderia ocorrer na mente desses indivduos durante o processo de aprendizagem. Alm disso, nos contedos sugeridos so misturados temas relevantes em Educao Nutricional, como por exemplo aleitamento materno e alimentao no primeiro ano de vida, com o que poderamos chamar de pseudo-tcnicas de higiene, como por exemplo a improvisao de um excelente refrigerador confeccionado com uma cesta de bambu. Evidentemente, tais improvisaes oferecem riscos sade. Escamoteia-se a causa real dos problemas e ensina-se tcnicas no mnimo enganosas (pseudotcnicas), criando-se a iluso de estar oferecendo solues. Em 1988, a OMS publicou um extenso manual (mais de 300 pginas sem numerao seqencial) com o ttulo Educational handbook for nutricionists de autoria de OSHAUG et al. (1988). O material, cuidadosamente elaborado dentro de uma linha comportamentalista, privilegia um planejamento cientfico do processo ensino-aprendizagem e uma primorosa organizao das experincias dos cursos e treinamentos. Todo o contedo do livro est relacionado a tcnicas de planejamento e avaliao, e pode-se considerar que, na viso dos autores, a eficincia do processo de aprendizagem est garantida atravs do controle rigoroso da programao. O contedo tratado diz muito pouco sobre nutrio ou alimentao, pois constitui-se de tcnicas de planejamento pedaggico. Pode ser til como fonte de exemplos de tcnicas, porm no prepara ningum para ser um educador em nutrio. A natureza do hbito alimentar no sequer cogitada. Programa-se o ensino de mudana de prticas alimentares como programa-se o ensino sobre como lidar com uma mquina. H um evidente esvaziamento da compreenso mais ampla deste fenmeno to rico, to complexo e to fascinante que a alimentao humana. Parece que no foi assimilada a lio da antroploga Margareth Mead que recomendou aos

responsveis pela capacitao, superviso e orientao dos trabalhadores comunitrios de sade, traz em seu bojo a proposta de suprir esta falha e ser utilizado permanentemente como guia das atividades rotineiras do trabalhador comunitrio de sade. Percebe-se aqui uma proposta de carter especificamente institucional voltada ao desenvolvimento de habilidades especficas. Os captulos contm objetivos operacionais de aprendizagem, contedo didtico e exerccios de fixao. O material foi elaborado para ser utilizado como recurso em treinamentos e no prev qualquer discusso de carter conceitual ou filosfico. Trata-se de abastecer com informaes aqueles que devero executar determinadas tarefas tais como pesar e medir crianas, estimular mulheres a amamentar seus filhos, aconselhar os pais sobre a melhor maneira de alimentar as crianas, aconselhar gestantes e lactantes sobre prticas alimentares adequadas ao seu estado fisiolgico, tratar crianas com diarria com soluo de reidratao oral entre vrias outras, sendo que todas estas aes seriam desenvolvidas pelos trabalhadores comunitrios de sade que em nosso

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nutrlogos que se preocupassem muito mais em saber como mudam os hbitos alimentares do que em descobrir tcnicas para mud-los (RITCHIE,1968), pois fato evidente que os hbitos se alteram e que existem fenmenos sociais que determinam tais mudanas. Em 1991, a OMS publicou um guia para professores de ensino de primeiro grau, intitulado Alimentos, meio ambiente y salud (WILLIAMS et al., 1991). As justificativas para a linha de trabalho adotada, referidas no prefcio, fundamentam-se em premissas que refletem um pensamento tradicional em educao: as causas para a desnutrio so o baixo nvel de saneamento e de higiene pessoal, cuja soluo requer instalao de vaso sanitrio e hbitos corretos de higiene; a educao visa fomentar hbitos saudveis e esta tarefa compete escola primria; o professor deve ser instrudo para transmitir as informaes necessrias. Os contedos so tratados como se no houvessem questes sociais permeando as situaes apresentadas, pois ignora-se a responsabilidade da sociedade em relao falta de saneamento bsico e condies habitacionais. Ignora-se as condies de trabalho do professor de primeiro grau e a prpria finalidade precpua da escola. Em publicao de 1981 sobre funes do setor de sade em matria de alimentao e nutrio (ORGANIZACIN...,1981), tcnicos da Organizao Mundial de Sade discutem a necessidade de diagnsticos precisos da situao alimentar, fatores ambientais, magnitude e efeito dos problemas, programas intersetoriais e programas de suplementao alimentar. No resumo final, entre as medidas sugeridas para a preveno primria e secundria da desnutrio, citam: interveno nosistema docente oficial na transmisso de conhecimentos sobre nutrio e introduo de prticas de nutrio convenientes desde os primeiros momentos da vida. E

1990). Pelo contrrio, as publicaes que tratam de educao, atm-se unicamente preveno da desnutrio e desidratao, e s tcnicas para levantamento de dados antropomtricos para avaliao nutricional. Perguntamo-nos se no existe certo descompasso entre o enfoque dado s questes de nutrio nos documentos sobre outras temticas relacionadas Nutrio e aqueles que tratam especificamente da Educao Nutricional. Em outras palavras, falou-se muito sobre Educao Nutricional quando o problema era predominantemente econmico, e parece que a Educao Nutricional sai de cena quando surgem evidncias de que hbitos alimentares esto se constituindo em risco para a sade, devido ao consumo excessivo de certos alimentos, principalmente de alimentos industrializados.

3. ALTERNATIVAS PARA MUDAR ESTA TRAJETRIA

Entendendo que o questionamento filosfico o nico que pode dar respostas busca do sentido ltimo do ser e do fazer, valemo-nos das contribuies de alguns filsofos da Educao que podem nos auxiliar a reorientar a trajetria do pensar e do fazer em Educao Nutricional. So apontados a seguir cinco aspectos cuja ausncia nos discursos sobre Educao Nutricional oferece pistas para se compreender o descrdito que pesou sobre ela. REBOUL (1974) nos diz que o verdadeiro ensino distingue-se do treinamento e da instruo porque seu propsito no formar um tcnico, um cidado, um crente, mas um homem . Saber compreender. No possvel educar verdadeiramente, se o que move o educador a mera obedincia a determinaes impostas por tcnicos de nvel central. No possvel educar, se o contedo desta educao foi determinado atravs de diagnsticos elaborados por tcnicos que no transitam no mesmo espao organizacional e cultural daqueles a quem cabe executar os programas. No possvel falar em educao se a expectativa apenas a de que as populaes mudem algumas prticas do seu cotidiano a fim de que os indicadores de sade tornem-se menos sofrveis.

interessante observar que, ao sugerirem medidas de carter educativo, os tcnicos no citam os Servios de Sade, atribuindo-as aos educadores da rede de ensino bsico. As publicaes especficas sobre Educao Nutricional da OMS e da OPAS, por sua vez, no tratam de questes emergentes que dizem diretamente respeito necessidade de mudana de hbitos alimentares, tendo em vista a preveno de doenas crnico-degenerativas que vem ocupando o primeiro plano na discusso dos problemas alimentares emergentes (ORGANIZACIN..,1988; WORLD...,

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Pouqussimas vezes a bibliografia referente Educao Nutricional esteve prxima de auxiliar efetivamente o educador em nutrio a compreender em profundidade o fenmeno com o qual est lidando - alimentao humana. A abordagem pedaggica desta Educao Nutricional sempre esteve muito mais prxima da instruo, voltada a tcnicas e procedimentos, do que a um ensino que buscasse inserir o homem na cultura humana, iniciando-o na arte do servir-se do saber (REBOUL, 1974). FREIRE (1983) diz que o compromisso, prprio da existncia humana, s existe no engajamento com a realidade, de cujas guas os homens verdadeiramente comprometidos ficam molhados, ensopados. Freire nos faz ver a necessidade da sincera insero do educador numa realidade que no a realidade do educando, mas uma realidade nica, compartilhada por educador e educando. Uma realidade conflituosa, repleta de contradies, profundamente desafiadora para qualquer profissional que se proponha a trabalhar neste campo. MORAIS (1986) nos diz que o ensinar s se caracteriza quando h uma ultrapassagem da coexistncia para a convivncia. E no possvel pensar em convivncia enquanto o ensino planejado a distncia, atravs de terceiros, pensado por tcnicos que flutuam nos nveis centrais e regionais alheios ao cotidiano das organizaes e da vida das comunidades, como na prtica se faria, na linha de trabalho proposta pelos autores cujos trabalhos foram previamente analisados. Alguns contedos sugeridos nestas publicaes so frutos do desconhecimento da realidade e do desengajamento dos tcnicos, que se traduz pela apresentao de solues que levam em conta apenas a situao concreta atual, sem considerar as circunstncias sociais e histricas que as originaram e sem imprimir ao seu trabalho tcnico a dimenso da solidariedade. No possvel educar fora do engajamento com a realidade. FREIRE (1985) apresenta a educao dialgica, em oposio educao bancria como o caminho para a formao da conscincia crtica. AMATUZZI (1989) explica a emergncia dessa palavra prpria dizendo que enquanto atravs da educao bancria o educador pe as suas prprias palavras na boca do educando, produzindo nele um falar alienado, a educao dialgica, problematizadora, visa o renascer de dentro, o emergir da palavra prpria do educando. Esta palavra viva detm uma

fora transformadora, pois, ao falar original, autntico, seguem-se atos que interferem fisicamente nas coisas. Para fazer emergir este falar original o educador precisa acreditar no educando como interlocutor legtimo e dispor-se a ouvi-lo, de tal forma que este educador no falar mais ao educando nem sobre o educando, mas com o educando. A palavra poder assim cumprir sua funo mediadora do mundo, de argamassa que une existncias individuais na lida solidria que tem o poder de criticar a realidade e transform-la atravs de aes coletivas. No portanto possvel pensar uma educao nutricional desvinculada de um profundo encontro entre homens instaurado atravs do dilogo, do ouvir o educando para poder falar com ele. O tecnicismo presente nos textos analisados no privilegia nem a formao do educador nem a compreenso do educando. Apresenta-se como um discurso do qual os sujeitos se ausentaram. Monlogo que trata das tcnicas de Educao Nutricional sem se ater aos fatos relativos a alimentao e seus significados na vida das pessoas. A educao tem que ser libertadora e conscientizadora. MORAIS ( 1986) explica que ensinar intervir em vidas humanas, e, para ns, Educao Nutricional intervir na alimentao, entendendo-a como representao de fatores psicolgicos e culturais, a alimentao compreende um universo de significados, de forma que, na alimentao, o homem expressa-se psicolgica e culturalmente (GARCIA, 1992). Por isso, uma abordagem pragmtica que apenas instrui sobre como proceder, escamoteando os conflitos, ignorando as contradies, reduzindo o fenmeno da alimentao ao que comer, o que comprar e como preparar no pode resultar eficaz, na medida em que leva o educando a proceder mecanicamente segundo o pensar do educador, e destituindo o seu comer dos significados a ele inerentes. Dos autores analisados, Ritchie foi quem mais se aproximou desta viso, possivelmente inspirada pela abordagem antropolgica de Margareth Mead. Infelizmente esta forma de tratar a questo se perdeu na histria, sendo substituda por abordagens predominantemente tcnicas, inadequadas ao objetivo a que so propostas, qual seja modificar comportamentos. A alimentao foi deslocada do emocional, do social, do cultural, da vida enfim.

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Ao longo de cinco dcadas de discursos sobre Educao Nutricional, no se afirmou em momento algum quem seria o profissional responsvel pela sua execuo. Faltou explicitar o sujeito do discurso. Atribui-se vagamente esta responsabilidade aos mdicos, aos bioqumicos, aos economistas domsticos, aos professores, que teriam como misso incorpor-la ao seu fazer-profissional. O nutricionista chega a ser mencionado por Bosley como o responsvel tcnico, mas no como executor. Um educador portanto que no convive com o educando, que no est inserido na mesma realidade que o educando, que no dialoga com o educando. Um educador tcnico e assptico. Como diz ALVES (1984), um educador que produz um discurso do qual ele prprio se ausentou, um discurso vazio de significao humana. O que infelizmente se constata que, na maioria das vezes, a Educao Nutricional esteve deslocada da discusso sobre o modo de produo vigente na sociedade e, infelizmente, no ultrapassou uma proposta de adestramento de grupos de pessoas sem histria por tcnicos portadores de um discurso sem significao. ALVES (1984) diz que o verdadeiro educador habita um mundo em que a interioridade fazuma diferena, em que as pessoas se definem por suas vises, paixes, esperanas e horizontes utpicos (...) Um educador um, fundador de mundos, mediador de esperanas, pastor de projetos.

aprendizagem mais ativa, pressupe um comportamento espontneo e voluntrio, comporta ensaios-e-erros, mas no elimina o mtodo que permite direcionar as aes para um objetivo, dividir as dificuldades estabelecendo etapas, economizar erros, recapitular e sistematizar o processo. Em seguida Reboul descreve a iniciao que consiste na aprendizagem de um conjunto de tcnicas que confere uma habilidade profissional. A habilidade um meio, que pode servir a diferentes fins conforme o emprego que cada indivduo faz da tcnica aprendida. Finalmente Reboul descreve o ensino, dizendo que este a forma mais humana de instruo, porque seu propsito no formar um tcnico, um cidado, um crente, mas um homem e se inicia o aluno no para integr-lo nesta ou naquela comunidade nacional, profissional ou religiosa, mas para faz-lo entrar na comunidade humana, transcendente s pocas e s fronteiras. Para ele o ensino tem por fim fazer compreender. Como a Educao Nutricional muitas vezes se d numa situao de crise, na qual o indivduo surpreendido por uma doena, cabe tambm dimensionar o papel desta educao no contexto da doena e o papel da doena no contexto da vida. MORAIS (1989), reportando-se a Merleau Ponty diz que o corpo o bero de todas as nossas significaes, e cita Heidegger quando afirma que na crise que o pensamento se agiganta. Na mesma linha de pensamento BERLINGER (1988) diz que com as doenas que se toma conscincia do prprio corpo. Este autor lembra ainda o papel importante que a doena representa como estmulo a criatividade artstica e literria. LABBATE et al. (1992), citam uma definio de educao que se aplica bem necessidade do educador em Sade no confronto com a doena: educao um amplo processo de desenvolvimento dapessoa, na busca de sua integrao e harmonizao, nos diversos nveis do fsico, do emocional e do intelectual.

4. EDUCAR OU ORIENTAR?

REBOUL (1988) faz distino entre os termos educao e outros, muito menos abrangentes, que, embora fazendo parte da educao, descrevem aes limitadas com o objetivo estrito de instruir, dentro deste processo amplo que a educao. Estes termos so adestramento, aprendizagem, iniciao e ensino. Para este autor, a educao cabe principalmente famlia, a quem compete atingir o indivduo em profundidade, na camada anteintelectual de seu ser, em seus hbitos, suas emoes, suas afeies primeiras. O adestramento uma tcnica que leva o educando a adquirir uma rotina que prescinde do compreender e do querer. Aplica-se sobretudo a animais, porm, lembra o autor, reportando-se a Hubert, que o homem tambm um animal e h uma parte de adestramento em toda a educao. A

PILON (1990) se aproxima mais ainda desta problemtica, quando diz que a educao em sade sedefine no apenas face soluo dos problemas, mas face definio dos problemas enquanto tais, merc de um enfoque compreensvel e holstico do projeto de vida do homem. Ele abre uma perspectiva para se compreender

o papel que a Educao em Sade pode ter no contexto da doena face a um projeto de vida, mesmo na condio da cura ser impossvel.

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A diferenciao entre educao e orientao nutricional pode contribuir para melhor definir o papel do nutricionista enquanto educador, subsidiar a elaborao dos programas para a disciplina Educao Nutricional dos Cursos de Nutrio e esclarecer os demais profissionais acerca das diferenas entre um

trabalho especfico de Educao Nutricional e as orientaes nutricionais que precisam ser dadas emergencialmente pelos mdicos ou pelos enfermeiros. A seguir apresentado um quadro que sintetiza as principais diferenas entre Educao Nutricional e Orientao Nutricional.

DIFERENAS ENTRE EDUCAO E ORIENTAO NUTRICIONAL

Educao Nutricional nfase no processo de modificar e melhorar o hbito alimentar a mdio e longo prazo. Preocupao com as representaes sobre o comer e a comida, com o conhecimento, as atitudes e a valorao da alimentao para a sade, alm da mudana de prticas alimentares. A doena e a conseqente necessidade de mudana de hbitos pode ser considerada uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento pessoal. Busca-se a autonomia do cliente ou paciente. O profissional responsvel um parceiro na resoluo dos problemas alimentares, com o qual o cliente discute, sem constrangimento, seus problemas e dificuldades. As mudanas necessrias ao controle das doenas, entre elas as relativas alimentao, devem ser buscadas numa perspectiva de integrao e de harmonizao nos diversos nveis: fsico, emocional e intelectual. A descontinuidade no processo de mudana nos hbitos alimentares e as transgresses so consideradas etapas previsveis e pertinentes a um processo difcil e lento. nfase nos aspectos de relacionamento profissional/cliente ou paciente e na dialogicidade. Avaliao objetiva e subjetiva da evoluo do paciente. O objetivo do processo estabelecido em funo das necessidades detectadas que so discutidas com o paciente e das perspectivas e esperanas do cliente ou paciente.Fonte:BOOG.1996

Orientao Nutricional nfase na mudana imediata das prticas alimentares e nos resultados obtidos. A preocupao precpua a mudana de prticas e o seguimento da dieta.

A doena ou o sintoma sempre um fato negativo que deve ser eliminado ou controlado. Pressupe a heteronomia do cliente ou paciente. O profissional responsvel uma autoridade cuja orientao deve ser seguida. As mudanas relativas alimentao devem ser obtidas mediante o seguimento da dieta. No se aceita Transgresses e freqentemente elas se tornam motivo de censura. nfase na prescrio diettica. Predominncia ou uso exclusivo de mtodos objetivos de avaliao. O objetivo do processo estabelecido em funo de metas definidas pelo profissional, para controle dos processos patolgicos.

5. DESAFIOS PARA O FUTURO

A Educao Nutricional um desafio atual. apontada por cientistas respeitados como estratgia prioritria para programas de sade; como disciplina, consta do currculo mnimo dos Cursos de Nutrio; considerada atividade privativa do nutricionista segundo a lei que regulamenta a profisso; faz parte das atividades deste profissional em todos os campos de atuao. Educao Nutricional no misso, trabalho, nem a capacidade para execut-la provm de um dom,(2)

mas sim de estudo. O seu exlio como foi referido por CASTRO & PELIANO (1985), fez com que, infelizmente, ela no evolusse ao longo das ltimas duas dcadas como ocorreu com outras especialidades dentro do campo da Nutrio2 . Lamentavelmente, posies muito radicais de outros profissionais que jamais atuaram neste campo justamente por no serem nutricionistas, muito contriburam para execr-la da pesquisa e conseqentemente da produo cientfica. Em conseqncia disso o ensino tambm pouco evoluiu e hoje percebe-se um tmido renascer de experincias neste campo porm muito pouco respal-

O nico livro at hoje publicado no Brasil a respeito foi: MOTTA, D.G. da, BOOG, M.C.F. Educao nutricional: planejamento, execuo e avaliao de programas. 1984. O livro foi revisado para a segunda edio e houve ainda uma terceira edio.

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dadas teoricamente. A atuao dos nutricionistas neste campo dominada pelo empirismo e por um certo idealismo que pode levar a um fazer que no se d conta das intencionalidades subjacentes abordagem empregada nas aes educativas. preciso acordar para o fato de que o processo social da educao existe sempre, e que a recusa em faz-lo sistematicamente, apenas abre um espao maior para que ele acontea de forma espontnea, ou, pior do que isso, intencional, porm atravs de iniciativas que partem exclusivamente das indstrias de alimentos, as quais, atravs da mdia e hoje, at mesmo das escolas, desenvolvem programas de educao nutricional. Alguns obstculos se interpem ao desenvolvimento do conhecimento nesta rea que ficou estagnado por tantos anos. Para super-los trs desafios devem ser enfrentados: O primeiro ponto que vem sendo discutido por especialistas na rea (ACHTERBERG, 1988; ACHTERBERG & TRENKNER, 1990; ACHTERBERG & CLARK, 1992; GILLESPIE & BRUN, 1992) diz respeito necessidade de construir teorias que possam respaldar o delineamento de pesquisas na rea, e o desenvolvimento de novos mtodos de abordagem dos problemas de alimentao. Na formao dos nutricionistas h um predomnio das cincias biolgicas, e, por outro lado, as cincias humanas no so devidamente valorizadas pelos estudantes, o que acaba por comprometer o preparo do aluno para assumir atividades educativas. O fato no prerrogativa apenas das faculdades brasileiras. ACHTERBERG & CLARK (1992) avaliaram 346 pesquisas sobre Educao Nutricional, publicadas no Journal of Nutrition Education de 1980 a 1990, e verificaram que 75% no explicitavam a teoria que as fundamentava. Este um obstculo ao desenvolvimento de qualquer rea de conhecimento, e a Educao Nutricional no pode fugir regra: a pesquisa e a prtica profissional deve estar fundamentada em teoria, e, para trabalhar com Educao Nutricional preciso fundament-la na Filosofia da Educao, e nas teorias pedaggicas. O profissional que desconsidera estes aspectos compete com o leigo que tambm faz educao alimentar. Como no dispomos ainda de teorias de Educao Nutricional, torna-se imprescindvel o estudo e a

leitura de textos de filosofia da educao e de pedagogia para preencher esta lacuna. A teoria e a prtica em Educao Nutricional existem com a mesma finalidade, qual seja, possibilitar ao ser humano assumir com plena conscincia a responsabilidade pelos seus atos relacionados alimentao. O educador em nutrio deve fortalecer os educandos (alunos, clientes, pacientes, coletividades, comunidade) para que eles passem a agir em relao aos alimentos e alimentao de forma a prescindir, cada dia mais, das intervenes profissionais. A Educao Nutricional no uma ferramenta mgica para levar o educando a obedecer a dieta; pelo contrrio, ela deve ser conscientizadora e libertadora, por isso deve buscar justamente o oposto: a autonomia do educando. Em segundo lugar, constata-se receptividade, interesse e necessidade social de aes da Educao Nutricional, porm inexiste o espao institucional, entendido por cargos e funes nas Organizaes de Sade. Os nutricionistas precisam empreender uma luta corporativa no sentido de criar o espao institucional, com base na lei que regulamenta a profisso. Esta luta tem importncia social, na medida em que a sociedade necessita deste trabalho e esta necessidade pouco reconhecida nas instncias administrativas e governamentais. Em terceiro lugar, preciso reconhecer que o exlio pelo qual passou a Educao Nutricional ao longo de vinte anos no foi apenas das organizaes e servios, mas tambm do mbito acadmico, pois no h pesquisas e estudos desenvolvendo e aperfeioando teorias e mtodos. necessrio investir em pesquisas neste campo e no aprimoramento dos profissionais que nele militam. Alm disso, imprescindvel que os docentes que ministram esta disciplina nos cursos de graduao tenham formao especfica na rea. Concluindo, os trs desafios que se apresentam para o campo da educao nutricional nos dias de hoje so: a construo de teorias apoiadas em pesquisas que reflitam a nossa realidade, a implementao de atividades de Educao Nutricional em Servios Pblicos de Sade e o investimento na formao de especialistas, isto , nutricionistas com ps-graduao nas reas de educao e educao em sade.

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EDUCAO NUTRICIONAL: PASSADO, PRESENTE, FUTURO

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Recebido e aceito para publicao em 24 de fevereiro de 1997.

R. Nutr. PUCCAMP, Campinas, 10(1): 5-19, jan./jun., 1997