EDUCAÇÃO GLOBAL - GUIA PRÁTICO [UE - 2010]

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    GUIA PRTICO PARA A EDUCAO GLOBALCONCEITOS E METODOLOGIAS NO MBITO DA EDUCAOGLOBAL PARA EDUCADORES E DECISORES POLTICOS

    Desenvolvido pela Global Education Week Network

    Em coordenao com o Centro Norte-Sul do Conselho da Europa

    Editado pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa Lisboa, 2010

    Redigido pelo Global Education Guidelines Working Group: Alicia Cabezudo,

    Christos Christidis, Miguel Carvalho da Silva, Valentina Demetriadou-Saltet,

    Franz Halbartschlager, Georgeta-Paula Mihai

    Ttulo original: Global Education GuidelinesTraduo para Portugus: Lurdes Jdice

    Coordenao de Miguel Carvalho da Silva

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    ndice

    NDICE

    Prefcio e agradecimentos

    Introduo

    Contexto

    Captulo A O que a Educao Global?

    Definies e Declaraes

    A Educao Global como um Processo de Aprendizagem Transformativa

    Captulo B Porqu a Educao Global?

    O nosso mundo de hoje: um mundo globalizado

    A Aprendizagem na Sociedade Global

    Objectivos

    Captulo C - Conceitos

    Saber Sugesto de reas de contedo

    Competncias

    Valores e Atitudes

    Captulo D - Metodologia

    Fundamentos da metodologia da educao global

    Abordagens metodolgicas em educao globalAspectos relevantes na prtica da educao global

    Mtodos para a prtica da educao global

    Critrios para o planeamento e avaliao de aces de educao global

    Critrios para a seleco e avaliao dos recursos

    Critrios para o desenho curricular em contextos formais e no formais

    Avaliao

    Captulo E Bibliografia & Recursos

    Obras de referncia

    Recursos de Aprendizagem sobre educao global

    Recursos educativos do Conselho da Europa

    Apndice I Declarao da Educao Global de Maastricht

    Apndice II Carta da Educao Global

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    4 Prefcio e agradecimentos

    PREFCIO & AGRADECIMENTOS

    Este documento deve ser encarado como um guia para a compreenso e a prtica da educao global, etambm como uma ferramenta pedaggica para apoiar a implantao de abordagens de educao globalonde estas ainda no existam, e para enriquecer as existentes. Na construo do seu contedo, foramtomadas em considerao as prticas e referncias do trabalho no terreno, bem como as diversas realidadesculturais, geogrficas, sociais e econmicas.

    Foi escrito com base na premissa de que os processos educativos em contextos formais ou no formaisdevem abrir caminho a uma melhor compreenso do mundo cada vez mais globalizado onde vivemos.Levanta questes importantes acerca das responsabilidades profissionais dos educadores e professores e

    do papel das escolas e outras organizaes e instituies, no reforo da consciencializao e conhecimentosglobais sobre as questes mundiais, de forma transversal ao longo do currculo e em projectos e actividadeseducativas no formais.

    Os autores gostariam de expressar a sua satisfao com o processo participativo que conduziu escritadeste Guia e a oportunidade que tiveram para discutir e contribuir para o desenvolvimento da educaoglobal. O Guia Prtico para a Educao Global reflecte as perspectivas de actores e interessados muitodiversificados. Foi simultaneamente desafiante e enriquecedor incorporar neste documento perspectivas eopinies diferentes e, por vezes, opostas.

    Agradecemos a todos os que, de uma forma ou de outra, contriburam para tornar realidade este documento,nomeadamente aos membros da Global Education Week Network (Rede da Semana da Educao Global)e aos parceiros que aceitaram gentilmente assumir o papel de amigos crticos.

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    Introduo

    INTRODUO

    O Guia Prtico para a Educao Global resulta da necessidade expressa pela Global Education WeekNetwork a Rede da Semana da Educao Global do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, de disporde uma ferramenta comum, construda com base na experincia adquirida por esta rede e outros parceiros,e capaz de ajudar os educadores a compreenderem e implementarem iniciativas bem-sucedidas no mbitoda educao global.

    Apresentando perspectivas sobre educao global a par de mtodos e critrios de avaliao com elasrelacionados incluindo a partilha de prticas, ferramentas e recursos o Guia pretende contribuir para ofortalecimento do trabalho geral em educao global. Pretende ainda apoiar os educadores em contextos

    formais ou no formais, fornecendo-lhes elementos gerais que podero desenvolver em funo das suasnecessidades e com base nas suas prprias experincias; ajud-los na identificao das abordagens e prticasde educao global existentes; incentivar a sua reflexo e consciencializao relativamente s suas prpriasactividades no domnio da educao global; incrementar a partilha de experincias e a criao de sinergiasentre as diversas partes interessadas e intervenientes; contribuir para as polticas de Educao a nvel local,regional, nacional e internacional.

    O Guia Prtico para a Educao Global uma iniciativa do Programa Educao Global do Centro Norte-Suldo Conselho da Europa e envolveu uma equipa de educadores da Rede da Semana da Educao Global queassumiu o mandato de concretizar colectivamente este documento. O processo de escrita foi participativo,com diversos nveis de consulta a educadores e outros profissionais com actividade na rea da educao

    global activamente envolvidos nos programas de Educao Global e Juventude do Centro Norte-Sul doConselho da Europa. Foi ainda constitudo, entre os parceiros Europeus e Internacionais, um Grupo deMentores, que incluiu, entre outros, uma equipa de formadores da University on Youth & Development(Universidade sobre Juventude e Desenvolvimento) do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa.

    Os tpicos apresentados no Guia visam a clarificao de questes fundamentais relacionadas com aeducao global. So sugeridas estratgias sobre construo de contedos, estabelecimento de objectivos,capacidades, competncias, valores e atitudes; so dadas orientaes sobre mtodos, desenho curricular eavaliao, bem como uma lista de contactos, e links teis e uma bibliografia.

    O Guia deve ser encarado como parte integrante de um processo evolutivo, a rever e actualizar regularmentecom novas ideias, experincias e prticas, com o contributo de uma grande diversidade de parceiros.

    A par da verso impressa, existe tambm uma verso electrnica, disponvel no site do Centro Norte-Suldo Conselho da Europa (www.nscentre.org). Na verso electrnica foi includo um captulo adicional comlinks teis no domnio da educao global, actualizados regularmente.

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    6 Contexto

    CONTEXTO

    O CENTRO NORTE-SUL DO CONSELHO DA EUROPA

    O Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, oficialmente designado European Centre for GlobalInterdependence and Solidarity (Centro Europeu para a Interdependncia e Solidariedade Global) umAcordo Parcial do Conselho da Europa. Tem 22 Estados membros: Alemanha, Cabo Verde, Chipre, Eslovnia,Espanha, Finlndia, Grcia, Irlanda, Islndia, Itlia, Liechtenstein, Luxemburgo, Marrocos, Montenegro,Noruega, Pases Baixos, Portugal, San Marino, Santa S, Srvia, Sucia e Sua. Com base na Resoluo (89)14, adoptada pelo Comit de Ministros do Conselho da Europa em 16 de Novembro, de 1989, o EuropeanCentre for Global Interdependence and Solidarity abriu as suas portas em Lisboa, em 1990.

    O Centro Norte-Sul do Conselho da Europa est mandatado para fornecer enquadramento cooperaoeuropeia para uma maior consciencializao sobre as questes da interdependncia global e promoverpolticas de solidariedade em conformidade com os objectivos e princpios do Conselho da Europa,respeito pelos Direitos Humanos, democracia e coeso social. O trabalho do Centro Norte-Sul baseia-seem trs princpios: dilogo, parceria e solidariedade. Os Governos, os Parlamentos, as autoridades locaise regionais e as organizaes da sociedade civil constituem-se como parceiros do quadrilogo e estoenvolvidos nas actividades do Centro. O Centro promove estudos e organiza debates, workshops e cursosde formao. Actua como um catalisador, facilitando reunies entre actores de diferentes horizontes eculturas, trabalhando em temas de interesse comum e encorajando a criao de redes.

    As actividades do Centro Norte-Sul envolvem duas linhas de aco: Aumentar o nvel de consciencializao europeia sobre os temas da interdependncia global e da

    solidariedade atravs da educao e dos programas destinados aos jovens;

    Promover as polticas de solidariedade entre o Norte e o Sul, em conformidade com os objectivos e princpiosdo Conselho da Europa, atravs do dilogo entre a Europa, os pases do Sul do Mediterrneo e a frica.

    O PROGRAMA EDUCAO GLOBAL DO CENTRO NORTE-SUL DO CONSELHO DA EUROPA

    objectivo do Centro Norte-Sul desenvolver, impulsionar e apoiar estratgias e sistemas de capacitaodirigidos a instituies e profissionais na rea da educao global, em contextos formais, no formais e informais.

    Este trabalho baseia-se na convico de que a educao global uma educao holstica capaz de abrir osolhos e as mentes das pessoas para as realidades do mundo, despertando-as para contriburem para ummundo com mais justia, equidade e direitos humanos para todos.1

    1 Declarao de Maastricht sobre educao global, 15-17 de Novembro de 2002. Esta definio foi originalmente formulada durante o Encontro[Anual] da rede da Semana da Educao Global, realizado em Chipre, de 28 de Fevereiro a 3 de Maro de 2002

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    Contexto

    Entende-se ainda que a educao global abrange a Educao para o Desenvolvimento, a Educao para osDireitos Humanos, a Educao para a Sustentabilidade, a Educao para a Paz e Preveno de Conflitos e aEducao Intercultural, dimenses globais da Educao para a Cidadania2

    O Programa Educao Global do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa promove, melhora e intensificaeste tipo de educao quer nos Estados membros do Conselho da Europa, quer a nvel global. O programabaseia-se nas recomendaes e concluses das conferncias organizadas pelo Centro Norte Sul em Atenas(1996), Budapeste (1999) e Maastricht (2002).

    A ideia de uma Carta da Educao Global para os Estados membros do Conselho da Europa surgiu noworkshop internacional Partnership on Global Education - Global Education in Secondary Schools (Parceriasem Educao Global Educao Global nas Escolas Secundrias), organizado conjuntamente pelo CentroNorte-Sul e pelo Ministrio da Educao Nacional e Assuntos Religiosos da Grcia e realizado em Atenasem Maro de 1996. Publicada em 1997, a Carta da Educao Global o primeiro documento de refernciado Centro Norte-Sul sobre este tema.

    A partir da Conferncia de Budapeste, Linking and Learning for Global Change (Conexo e Aprendizagempara a Mudana Global), realizada em Junho de 1999, o Centro Norte-Sul desenvolveu um sistema departilha de estratgias e prticas para o reforo e a melhoria da educao global, destinado a profissionaisdos Estados membros do Conselho da Europa. Este sistema formalizou-se em 2000, com a realizao emLisboa do primeiro encontro da Global Education Week Network (Rede da Semana da Educao Global).

    Esta abordagem em rede tem como ponto de partida a Global Education Week (Semana da EducaoGlobal), um evento anual de consciencializao que rene um conjunto alargado de pases europeus como objectivo de encorajar a prtica da educao global em contextos educativos formais, no formais einformais. A semana da Educao Global coordenada com a Rede da Semana da Educao Global e apoiadapor uma webpage interactiva e uma newsletter electrnica peridica. O processo de funcionamento emrede avaliado durante o seminrio anual de avaliao da Semana da Educao Global, um encontro ondeos membros da rede partilham estratgias para reforar e aperfeioar a educao global. Durante esteseminrio ainda escolhido o tema para a Semana da Educao Global do ano seguinte.

    Em 2002, o Maastricht Global Education Congress (Congresso de Educao Global de Maastricht), organizado

    pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa e seus parceiros, reforou a visibilidade da educao global,reunindo decisores e profissionais do terreno, na reflexo sobre a criao de um enquadramento estratgicoeuropeu para o reforo e a melhoria da educao global at 2015. Esta reflexo resultou na Declarao deMaastricht.

    2 Declarao de Maastricht sobre educao global, 15-17 de Novembro de 2002., ver Apndice 1

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    8 Contexto

    No mbito do processo que conduziu redaco do presente Guia Prtico, o Centro Norte Sul concluiuque este, juntamente com iniciativas anteriores como a Declarao de Maastricht sobre Educao Global,constitua base suficiente para o processo consultivo conduzido pelo CNS em 2008 e que levaria adopoda recomendao do Comit de Ministros do Conselho da Europa, de apoio educao global nos seusEstados membros.

    Mais recentemente, o Centro Norte-Sul do Conselho da Europa e a Comisso Europeia acordaram reuniresforos para promover iniciativas no domnio da Educao Global e Juventude, dentro e fora da Europa.Com este propsito, as duas instituies assinaram em 28 de Novembro de 2009, um Acordo de Gesto

    Conjunta, em que ficou estabelecido o objectivo de fortalecer o entendimento e apoio crtico pblico emmatria de cooperao para o desenvolvimento e visando o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento doMilnio, atravs de intervenientes-chave no campo da educao global. O projecto assenta em dois pilaresprincipais - a ambio de fortalecer a educao global nos novos Estados membros da Unio Europeia e, emsegundo lugar, a promoo da cooperao de jovens entre a frica e a Europa, no contexto da EstratgiaUE-frica e principalmente dirigido aos actores da sociedade civil e autoridades locais.

    O Programa Educao Global baseia-se tambm na Resoluo 1318 (2003) da Assembleia Parlamentardo Conselho da Europa, que recomenda aos Estados membros a promoo da educao global parafortalecer a consciencializao pblica sobre o desenvolvimento sustentvel, considerando a educaoglobal essencial para que todos os cidados adquiram os conhecimentos e competncias necessrios para

    poderem compreender, participar e interagir criticamente com a nossa sociedade global, como cidadosglobais esclarecidos e com poder de deciso. Este programa complementa a aco do Directrio Geralpara a Educao, Cultura, Juventude e Desportos do Conselho da Europa, no campo da Educao para aCidadania Democrtica e da Educao para os Direitos Humanos.

    Os objectivos do Programa Educao Global enquadram-se na Dcada das Naes Unidas e UNESCOpara a Educao para o Desenvolvimento Sustentvel. Referindo-se aos Objectivos de Desenvolvimento doMilnio, o programa pretende ainda facilitar o debate e o dilogo entre decisores polticos, organizaes dasociedade civil e especialistas, atravs do estabelecimento de parcerias e do networking.

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    C A P T U L O A

    O QUE A EDUCAO GLOBAL?

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    10 O que a Educao Global?

    DEFINIES E DECLARAES

    A educao global uma perspectiva educativa que decorre da constatao de que os povoscontemporneos vivem e interagem num mundo cada vez mais globalizado. Este facto faz com queseja crucial dar aos aprendentes oportunidade e competncias para reflectirem e partilharem os seusprprios pontos de vista e papeis numa sociedade global e interligada, bem como compreendereme discutirem as relaes complexas entre questes sociais, ecolgicas, polticas e econmicas quea todos dizem respeito, permitindo-lhes descobrir novas formas de pensar e de agir. Contudo, aeducao global no dever ser apresentada como uma perspectiva a aceitar universalmente de forma

    acrtica, pois so bem conhecidos os dilemas, tenses, dvidas e diferenas de percepo presentes emqualquer processo de educao sempre que se lida com questes globais.

    H muitas definies de educao global. Segundo a Declarao de Maastricht sobre Educao Global (2002):

    Educao global uma educao capaz de abrir os olhos e as mentes das pessoas para as realidadesdo mundo, despertando-as para contriburem para um mundo com mais justia, equidade e direitos

    humanos para todos.

    Entende-se que a educao globalabrange a Educao para o Desenvolvimento, a Educao para

    os Direitos Humanos, a Educao para a Sustentabilidade, a Educao para a Paz e Preveno de

    Conflitos e a Educao Intercultural, dimenses globais da Educao para a Cidadania.

    H vrios documentos internacionais relacionados com o desenvolvimento do conceito de educao global.Vamos referir alguns, pelo seu cunho prprio no que respeita ao enfoque e enriquecimento desta perspectiva

    Declarao Universal dos Direitos Humanos

    A educao deve visar plena expanso da personalidade humana e ao reforo dos Direitos do Homem e dasliberdades fundamentais e deve favorecer a compreenso, a tolerncia e a amizade entre todas as naes e todos osgrupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Naes Unidas para a manuteno da paz3.

    Artigo 26, Assembleia Geral das Naes Unidas, Paris, 10 de Dezembro de 1948

    Recomendao sobre a Educao para a Compreenso Internacional, Cooperao e Paz e Educao

    relacionada com os Direitos Humanos e as Liberdades FundamentaisCombinando aprendizagem, formao, informao e aco, a educao internacional deve promover o adequadodesenvolvimento intelectual e emocional do indivduo. Deve desenvolver um sentido de responsabilidade social e de

    solidariedade com os grupos menos privilegiados e conduzir observncia dos princpios de igualdade na conduta quotidiana.

    UNESCO, Assembleia Geral, Paris, 19 de Novembro de 1974

    3 Citao transcrita da traduo j existente em portugus e disponibilizada pelas Naes Unidas. (N. da T.)

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    O que a Educao Global?

    Agenda 21, Captulo 36: Promoo da Educao, Consciencializao pblica e Formao

    A Educao - incluindo a educao formal, a consciencializao pblica e a formao - deveria ser reconhecida comoum processo que permite aos seres humanos e s sociedades cumprirem integralmente o seu potencial. A Educaodesempenha um papel crtico na promoo do desenvolvimento sustentvel e na melhoria da capacidade das pessoaspara lidarem com questes relacionadas com o meio ambiente e o desenvolvimento.

    NAES UNIDAS, Conferncia sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, 3 a 14 de Junho de 1992

    UNESCO Declarao e Plano de aco integrado sobre Educao para a Paz, Direitos Humanos

    e Democracia

    Introduo: A Educao deve desenvolver a capacidade para apreciar o valor da liberdade e as capacidades necessriaspara enfrentar os desafios que lhe esto associados. Isto significa educar os cidados para resolverem situaesdifceis e incertas e desenvolver neles aptides para a autonomia e a responsabilidade individual. O que se liga coma apreciao do valor do envolvimento cvico e da capacidade de associao com outros para resolver problemas etrabalhar na construo de uma sociedade equitativa, pacfica e democrtica.

    UNESCO, Assembleia Geral, Paris, Novembro de 1995

    Declarao do Milnio das Naes Unidas, 2000,

    Captulo: Valores e Princpios

    Pensamos que o principal desafio que se nos depara hoje conseguir que a globalizao venha a ser uma forapositiva para todos os povos do mundo, uma vez que, se certo que a globalizao oferece grandes possibilidades,actualmente os seus benefcios, assim como os seus custos, so distribudos de forma muito desigual. Reconhecemosque os pases em desenvolvimento e os pases com economias em transio enfrentam srias dificuldades para fazerfrente a este problema fundamental. Assim, consideramos que, s atravs de esforos amplos e sustentados para criarum futuro comum, baseado na nossa condio humana comum, em toda a sua diversidade, pode a globalizao sercompletamente equitativa e favorecer a incluso4.Resoluo da Assembleia Geral das Naes Unidas, Nova Iorque, 6 a 8 de Setembro de 2000

    Dcada das Naes Unidas da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel 2005-2014

    Em termos bsicos, a Educao para o Desenvolvimento Sustentvel corresponde viso de um mundo onde todos

    tm a oportunidade de beneficiar da educao e aprender os valores, comportamentos e estilos de vida necessriosa um futuro sustentvel e a uma transformao positiva da sociedade.

    Dcada das Naes Unidas da Educao para o Desenvolvimento Sustentvel, Esquema de implementao Internacional,Janeiro de 2005

    4 Citao transcrita da traduo j existente em portugus e disponibilizada pelas Naes Unidas. (N. da T.)

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    12 O que a Educao Global?

    O Consenso Europeu sobre o Desenvolvimento: o contributo da educao para o

    desenvolvimento e da sensibilizao, 2007

    A sensibilizao e a educao para o desenvolvimento tm por objectivo permitir que todos os cidados da Europadisponham em permanncia de oportunidades de sensibilizao e de compreenso dos problemas relacionadoscom o desenvolvimento global, bem como da sua per tinncia local e pessoal, e possam exercer os seus direitos eassumir as suas responsabilidades enquanto cidados de um mundo interdependente e em mutao, influenciando aevoluo para um mundo justo e sustentvel.

    Ano Europeu do Dilogo Intercultural 2008Artigo 2: Objectivos

    1. O objectivo geral do Ano Europeu do Dilogo Intercultural contribuir para [] aumentar o nvel de consciencializaode todos os habitantes da UE em geral, e dos jovens em particular, acerca da importncia de desenvolver uma cidadaniaeuropeia activa e aber ta ao mundo, respeitadora da diversidade cultural e baseada nos valores comuns na UE tal comose refere no Artigo 6 do Tratado da Unio Europeia e na Carta dos Direitos Fundamentais da Unio Europeia []

    2. Os objectivos especficos do Ano Europeu do Dilogo Intercultural so: reforar o papel da educao como meioimportante para ensinar sobre a diversidade, aumentar a compreenso de outras culturas e desenvolver capacidadese boas prticas sociais, bem como sublinhar o papel central dos media na promoo do princpio da igualdade ecompreenso mtua.

    Parlamento Europeu e Conselho da Europa, Deciso N 1983/2006/EC, 18 de Dezembro de 2006

    Livro Branco do Conselho da Europa sobre o Dilogo Intercultural, Junho de 2008

    A abordagem intercultural proporciona um modelo de gesto da diversidade cultural aberto s evolues futuras. Almdisso, prope uma concepo baseada na dignidade humana de cada indivduo (assim como na ideia de humanidade edestino comuns). Se h uma identidade europeia a construir, esta dever fundar-se em valores fundamentais partilhadose no respeito pelo patrimnio comum, pela diversidade cultural e pela dignidade de cada indivduo.

    Neste contexto, o dilogo intercultural desempenha um papel impor tante. Por um lado, permite-nos prevenir clivagenstnicas, religiosas, lingusticas e culturais e, por outro, permite-nos progredir conjuntamente e aceitar as diferentesidentidades de forma construtiva e democrtica, com base em valores universalmente partilhados.

    Carta do Conselho da Europa sobre a educao para a cidadania democrtica e a educao para

    os direitos humanos (adoptado pelo Comit de Ministros a 11 de Maio de 2010)

    A educao para a cidadania democrtica e a educao para os direitos humanos esto estreitamente ligadas econfortam-se mutuamente. A educao para a cidadania democrtica coloca essencialmente a tnica sobre os

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    O que a Educao Global?

    direitos e as responsabilidades democrticas e sobre a par ticipao activa, em relao dimenso cvica, poltica, social,econmica, jurdica e cultural da sociedade, enquanto que a educao para os direitos humanos interessa-se ao lequemais largo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em todos os domnios da vida.

    A EDUCAO GLOBAL COMOUMPROCESSO DE APRENDIZAGEM TRANSFORMATIVA

    Neste Guia, pretendemos encarar o papel da educao global e questionar atitudes, caminhando de umacultura de individualismo, frequentemente associada a domnio, para uma cultura de parceria baseada nodilogo e na cooperao. O primeiro modelo cultural caracteriza os sistemas educativos de muitos pases,onde os temas globais e a construo da consciencializao das realidades do mundo no so consideradosrelevantes para as vises nacionais. Por outro lado, o modelo de parceria pode levar compreenso ecooperao internacionais entre as naes e os povos.

    As questes do domnio, presentes sob vrias facetas nas nossas sociedades, esto profundamente enraizadasna estrutura dos nossos sistemas educativos. O modelo de educao actual reflecte, em grande medida,esta situao. Na crtica a este modelo, de sublinhar que ele conduz a relaes de antagonismo entre osindivduos e entre os povos, particularmente se pertencerem a diferentes culturas, religies, grupos sociaisou ideolgicos.

    A separao e a categorizao das disciplinas levaram criao de hierarquias de conhecimentos, desvalorizando

    outras formas de aprender. O distanciamento criado por este processo de compartimentalizao no noscoloca num mundo conectado, tornando-nos incapazes de construir pontes que nos permitam aproximar-nos dos outros, conhec-los e compreend-los.

    A educao global tem a ver com a implementao da viso necessria para evoluirmos para um modelo deparceria entre os povos, as culturas e as religies, quer a nvel micro, quer a nvel macro.

    A aprendizagem transformativa atravs da educao global envolve uma mudana profunda e estrutural naspremissas de base dos nossos pensamentos, sentimentos e aces. uma educao tanto para a mentecomo para o corao. Implica uma mudana radical no sentido da interconectividade e cria possibilidadesacrescidas para uma maior igualdade, justia social, compreenso e cooperao entre os povos.

    H trs estdios principais de aprendizagem transformativa fortemente ligados educao global:

    Uma anlise da situao actual do mundo

    Uma viso do como poderiam ser as alternativas aos modelos dominantes

    Um processo de mudana rumo a uma cidadania global responsvel

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    14 O que a Educao Global?

    Como aprendizagem transformativa, a educao global implica processos de tomada de deciso participativosem todos estes estdios. A finalidade deste tipo de aprendizagem incentivar o conhecimento mtuo e aauto-consciencializao colectiva. A educao global desafia a ganncia, a desigualdade e o egocentrismo,atravs da cooperao e da solidariedade, em vez de dividir os povos pela competio, o conflito, o medoe o dio.

    Como aprendizagem transformativa, a educao global apresenta-se como um caminho para fazer mudanasa nvel local com influncia no global, no sentido da construo da cidadania por estratgias e mtodosparticipativos, para que as pessoas aprendam atravs da assumpo de responsabilidades que no podem

    ser deixadas apenas aos governos e outros decisores.

    Tanto ao nvel micro como ao nvel macro, a educao global rene as agendas de diversos campos deeducao: Educao para o Desenvolvimento, Educao para os Direitos Humanos, Educao para aSustentabilidade, Educao para a Paz e Preveno de Conflitos, Educao Intercultural e Inter-religiosa,dimenso global da Educao para a Cidadania, etc. para definir os consensos da educao global.

    Isto ter um forte impacto tanto na educao formal como na no formal, que desempenham um papelmuito importante no despertar das pessoas para uma mais ampla compreenso do seu verdadeiro poderpara dar forma ao futuro.

    Mas a educao global no se centra apenas nos temas globais, nos problemas mundiais e na forma de

    encontrar solues em conjunto. tambm sobre como visionar um futuro comum com melhorescondies de vida para todos, conectando perspectivas locais e globais, e sobre a forma de tornar esta visoreal e possvel, a comear pelo nosso pequeno canto no mundo. A aprendizagem transformativa habilita aspessoas a construrem uma viso comum de um mundo mais justo e sustentvel para todos. Focarmo-nosno tipo de futuro que queremos , portanto, crucial nesta viso transformativa.

    A educao global pode contribuir para o processo de visionamento, mas pode tambm desempenhar umpapel relevante na criao de novos mtodos em que os movimentos sociais e os processos de aprendizagemno formais so essenciais, por abrirem espao para valores, assuntos e abordagens que no so centrais naaprendizagem formal e darem voz a todas as pessoas, incluindo as marginalizadas.

    Ao deslocar o foco para a transformao de uma cultura de reproduo e domnio para uma culturade parceria baseada no dilogo e na cooperao, a educao global modifica as regras estabelecidas daeconomia global, restaurando a dignidade humana como um valor central.

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    C A P T U L O B

    PORQU A EDUCAO GLOBAL

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    16 Porqu a Educao Global?

    O NOSSO MUNDO DE HOJE: UM MUNDO GLOBALIZADO

    Em resultado de muitos laos de interdependncia entre pases, o mundo onde vivemos evoluiu para um sistemaglobal. A histria recente mostra, de forma inquestionvel, que as vidas dos homens e mulheres do nosso planetapodem ser afectadas por acontecimentos e processos a milhares de quilmetros de distncia. As relaes econmicas,geopolticas e sociais mundiais, as comunicaes e tecnologias modernas, os media e os meios de transporte permitemum fluxo de informao rpido. As pessoas e os bens so, simultaneamente, causas e caractersticas da globalizaonum processo que conduz a um mundo interdependente e ao que, nos nossos dias, se designa por glocalizao.

    A globalizao complexa e ambivalente e as suas consequncias podem ser vistas tanto como positivas como como negativas.Das consequncias positivas da globalizao destacamos o alargamento dos horizontes dos povos, o acesso aoconhecimento e aos produtos da cincia e tecnologia, o multiculturalismo e os pontos de vista interculturais, oaumento de oportunidades, o desenvolvimento pessoal e social e a possibilidade de partilhar ideias e pr em prticaaces conjuntas para encontrar solues para os problemas comuns.

    As consequncias negativas encontram-se sobretudo aos nveis social, econmico e ambiental. Por um lado, verifica-se um incremento da pobreza nas sociedades, um desnvel crescente entre os pases desenvolvidos e os que estoem vias de desenvolvimento e entre os privilegiados e os excludos, baixos nveis de vida, doena, migrao forada eviolaes dos direitos humanos, explorao dos grupos sociais mais fracos, racismo e xenofobia, conflitos, inseguranae individualismo crescente. Por outro lado, h muitas repercusses ambientais negativas, como o efeito de estufa, as

    mudanas climticas, a poluio e o esgotamento dos recursos naturais.

    Muitos pensadores modernos defendem que as principais causas destas consequncias negativas da globalizaoresidem nas actividades desenfreadas das multinacionais e nas consequentes decises polticas principalmenteorientadas para o desenvolvimento unilateral, baseado essencialmente na dominncia do mercado, no aumento doconsumo e da concorrncia e no decrscimo da previdncia social.

    A consciencializao mundial da necessidade de uma mudana global rumo a um desenvolvimento mais sustentvele justo e a necessidade de cooperao internacional tm sido, cada vez mais, objecto de acordos, declaraes ecampanhas, promovidas principalmente por uma sociedade civil cada vez mais empenhada e por organizaesinternacionais.

    A necessidade da educao global como uma dimenso internacional nos mtodos de ensino e aprendizagem naeducao formal e no formal, para conduzir a uma melhor compreenso das questes actuais do mundo e do seuimpacto a nvel local e global , portanto, no apenas uma necessidade, mas um desafio tico no mundo actual.

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    Porqu a Educao Global?

    A APRENDIZAGEM NA SOCIEDADE GLOBAL

    A globalizao coloca desafios fundamentais em todos os pases. Ela permite novas formas de acesso apovos, culturas, economias e linguagens. Neste contexto, a educao sobre questes globais pode ser vista,em termos puramente mercantis, como desenvolvendo competncias e conhecimentos que podem tornaros que tm acesso ao mercado, consumidores e trabalhadores eficientes, na economia global.

    No entanto, a importncia da educao reside em ajudar as pessoas a reconhecerem o seu papel eresponsabilidades individuais e colectivas como membros activos desta comunidade global, no sentido do

    empenhamento na justia social e econmica para todos e na proteco e recuperao do ecossistema da Terra.

    A educao global o conceito pedaggico que sustenta esta viso.

    Como educadores do sculo XXI, vivemos tempos desafiantes, num mundo controverso. Como prepararas pessoas para lidarem com tais desafios? Quais as nossas responsabilidades, num mundo de conhecimentoe desenvolvimento tecnolgico acrescidos? Quais as nossas responsabilidades, num mundo de pobreza,violncia, preconceito e prejuzos ambientais?

    A educao global uma nova abordagem que procura ajudar a responder a estas perguntas. Tem porobjectivo habilitar os aprendentes a compreenderem as questes mundiais, ao mesmo tempo que os dotados conhecimentos, competncias, valores e atitudes que lhes permitiro enfrentar os problemas globais

    como cidados do mundo. Nestes termos, a educao global um processo de crescimento individual ecolectivo gerador de transformao e de autotransformao. Basicamente, uma prtica social. tambmuma preparao permanente para a vida, em que a aquisio de competncias operativas e emocionaispara analisar a realidade e pensar criticamente sobre ela, torna possvel a transformao dos aprendentesem agentes sociais activos.

    Neste contexto, cada vez mais defendida a ideia de que a educao deve proporcionar oportunidadespara uma apreciao realista e informada dos assuntos contemporneos do nosso mundo, sem reforaras imagens negativas de um futuro inevitavelmente triste e sem esperana. Ao mesmo tempo, referidaa necessidade de incluir, nos desenhos curriculares, mais oportunidades para a realizao de discussescriativas e racionais sobre vises diversificadas e alternativas de futuro. Tudo isto est em sintonia com os

    movimentos contemporneos a favor da inovao curricular em diversos pases que encorajam a adopode uma perspectiva mais flexvel e aberta, atravs da introduo de novos contedos e da utilizao demtodos activos e novos recursos. A educao global corresponde a este movimento.

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    18 Porqu a Educao Global?

    OBJECTIVOS

    A educao global tem por objectivo educar os cidados sobre a justia social e o desenvolvimentosustentvel

    A educao globaltem por objectivo abrir uma dimenso global e uma perspectiva holstica na educaopara ajudar as pessoas a compreenderem as realidades e processos complexos do mundo de hoje edesenvolverem os valores, atitudes, conhecimentos, competncias e prticas que os vo habilitar a enfrentaros desafios de um mundo interconectado.

    A educao global ajudaos aprendentes a compreenderem alguns dos processos complexos queconduzem violncia e ao conflito aos nveis individual, colectivo, nacional e global, e a tomaremconscincia de algumas das formas de prevenir ou resolver esses conflitos. Promovendo a compreensodas diferentes culturas e reforando o papel das pessoas como actores dinmicos por um mundo maisjusto e igualitrio para todos, a educao global pretende desenvolver atitudes que conduzam a umaresoluo de conflitos construtiva e no violenta.

    A educao global tem por objectivo desenvolver comunidades de aprendizagem em que osaprendentes e os educadores so encorajados a trabalhar de forma cooperativa sobre as questesglobais.

    A educao global tem por objectivoestimular e motivar aprendentes e educadores para a abordagemdas questes globais atravs de um ensino e pedagogia inovadores

    A educao global tem por objectivo desafiar os programas e prticas da educao formal e noformal, introduzindo os seus prprios contedos e metodologia

    A educao global tem por objectivoaceitar a alteridade e a interdependncia, criando condiespara a livre expresso de todos e a construo de comportamentos solidrios

    A educao global ajudaos aprendentes a desenvolverem alternativas na tomada de decises acerca dasua vida pessoal ou pblica e a reflectirem sobre as consequncias das suas escolhas, cultivando dessa formaum esprito de responsabilidade global dos cidados do mundo.

    A educao globalpromove a participao. Por outras palavras, convida os educadores e os aprendentes aagirem dinamicamente na construo de um mundo mais justo e igualitrio para todos.

    A educao global promove a participao. Por outras palavras, convida os educadores e os aprendentes aagirem dinamicamente na construo de um mundo mais justo e igualitrio para todos.

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    C A P T U L O C

    CONCEITOS

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    20 Conceitos

    Educao global um termo guarda-chuva para conceitos pedaggicos relacionados com as realidadesdo mundo de hoje. Trata-se, portanto, de um conceito aberto, em evoluo, multidimensional, de oportunaeducao geral. Alm disso, ainda encarado como uma resposta colectiva e holstica ao desafio histricode apoiar cidados globais activos na criao e recriao de um mundo diferente, mais igualitrio, justo,pacfico e sustentvel, baseado na solidariedade.

    A educao global permite s pessoas desenvolverem os conhecimentos, competncias5, valores eatitudes necessrios a um mundo mais justo e sustentvel, onde todos tm direito a cumprir totalmenteo seu potencial.

    Tal como foi referido no Captulo A, educao global no interessam apenas as vrias perspectivas sobreos temas globalizados nem o que se ensina e aprende acerca deles. Interessa-lhe tambm como se ensinae se aprende e as condies contextuais em que se ensina e se aprende. Efectivamente, h uma unidade

    necessria entre o contedo, a forma e o contexto em que decorre o processo de aprendizagem.

    5 Skills (habilidades, capacidades), no original. Nesta verso em por tugus, utilizmos o conceito de competncia, sempre que nos pareceu ser estaa acepo adequada. (N. da T.)

    VALORES E ATITUDES

    COMPETNCIAS CONHECIMENTO

    DIMENSES DO CONCEITODE EDUCAO GLOBAL

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    Conceitos

    Se a educao global o ensino que deve lidar com a finalidade da mudana de forma a praticar umaeducao que no reproduza o sistema mas visione a transformao social e abra os olhos das pessoas 6, evidente que a definio tradicional de contedo tem de ser substituda por uma nova perspectiva.

    Os contedos de educao global aqui propostos no derivam de categorias abstractas mas das necessidadesdas pessoas, expressas nas suas prprias palavras.

    O conceito tradicional de contedo substitudo por

    a)anlise dos acontecimentos que ocorrem e se desenvolvem ao nvel micro, na realidade mais prxima

    b) seleco de temas especficos relacionados com esses acontecimentosc)reconhecimento de conexes com o mundo macro e o dilogo emergente entre ambos

    Num processo de aprendizagem de educao global, estudantes e educadores aprofundam, portanto, asrazes e as causas dos acontecimentos e a sua evoluo, partilhando ideias acerca das solues possveis,num exerccio dinmico de observao, anlise, reflexo e troca de informao, criador de um novo crculode conhecimento e interesses.

    As diferenas de gnero, classe social, etnia, religio, socioeconmicas e culturais, percorrem o dilogoe figuram entre os assuntos e problemas a discutir, integrando tambm as discusses sobre possveissolues. Neste processo, conhecer no acumular conhecimento, informao ou dados sobre certos temase problemas. Conhecer significa saber de todos os dias, abarcando todos os aspectos da vida, pensando

    localmente e globalmente, numa compreenso conectada e interdependente, fazendo do mundo exteriorparte integrante da anlise da vida de todos os dias, reabastecendo o processo de aprendizagem7.

    O contedo resulta, portanto, da inter-relao constante entre o saber abstracto da teoria e a experinciaconcreta da vida quotidiana. Se, no processo de construo deste contedo, se verificar transformao decomportamentos concretos em contextos especficos, aplica-se a designao praxis um fenmeno queerradica a distino entre contedo abstracto e comportamento em contexto 8.

    Em educao global, os contedos estabelecem pontes entre os problemas num contexto micro e asquestes globais (que so tambm problemas em contexto macro), avanando da realidade prxima (afamlia, o bairro, a escola, a cidade), para a realidade intermdia (a regio, o Estado) e a realidade distante (o

    mundo global). por isso importante acompanhar os mesmos problemas e questes a todos estes nveis,para investigar em permanncia a relao entre micro e macro, uma das abordagens metodolgicas maisimportantes na compreenso dos temas globalizados9.

    6 Ver a Declarao de Maastricht, no captulo A.

    7 Ver Relao Micro/Macro, Captulo D - Metodologia.

    8 Ver Paulo Freire Pedagogia do Oprimido. Este conceito desenvolvido no Captulo 4.

    9 Ver a Declarao de Maastricht, e outras definies de educao global, no captulo A

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    22 Conceitos

    SABER SUGESTO DE REAS DE CONTEDO

    A educao global no introduz contedos novos, mas enriquece, alargando a sua dimenso, os conceitos econtedos de todas as disciplinas e reas da educao relacionadas com o desenvolvimento global.

    Conhecimento sobre o processo de globalizao e o desenvolvimento da sociedade mundial

    A educao global foca-se na justia social e no desenvolvimento sustentvel para dar a todos as mesmasoportunidades. Assim, as reas de contedo onde a educao global poder ir buscar os seus temas incluemquestes-chave como as condies de vida ao nvel local e noutras partes do mundo, as sociedades multiculturais,

    os contextos, social, poltico, econmico e cultural, a violncia estrutural e directa, as interdependncias entreregies, pases e continentes e as limitaes dos recursos naturais, a sociedade de informao e os media.

    Conhecimento sobre a histria e a filosofia de conceitos universais da humanidade

    A educao global produz conhecimento sobre conceitos universais da humanidade como: Direitos Humanos,Democracia e Boa Governana, Economia, Justia Social, Comrcio Justo, Igualdade de Gnero, Paz e Transformaode Conflitos, Cidadania, Diversidade, Dilogo intercultural e inter-religioso, Desenvolvimento Sustentvel, Sade eIgualdade de Acesso s Conquistas Cientficas e Tecnolgicas.

    Conhecimento sobre semelhanas e diferenas

    A educao global produz conhecimento acerca das semelhanas e diferenas entre estilos de vida, culturas,religies e geraes. Onde quer que vivam, todas as pessoas tm emoes, alegrias e tristezas. Compreenderas semelhanas e as diferenas facilita o respeito pela diversidade.

    COMPETNCIAS

    Pensamento crtico e anlise

    A educao global deve ajudar os aprendentes a abordar os assuntos de forma aberta e crtica, reflectindoacerca deles e admitindo a possibilidade de mudar de opinio perante a apresentao de novos factos,provas, ou argumentos racionais. Reforando a sua capacidade para reconhecerem e desafiarem perspectivas

    distorcidas, doutrinais ou propagandsticas.Mudana de perspectiva ou abordagem multi-perspectiva

    A educao global deve tornar os aprendentes capazes de mudarem de perspectiva e olharem para assituaes sob diferentes pontos de vista.

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    Conceitos

    Reconhecer esteretipos negativos e preconceitos

    A educao global deve capacitar os aprendentes para reconhecerem esteretipos negativos e preconceitos ea eles se oporem activamente

    Competncias interculturais em comunicao

    A educao global deve ajudar os aprendentes a lidarem com a variedade cultural das linguagens e cdigos, paraalcanarem uma melhor compreenso mtua. Nas nossas actuais culturas-mosaico, temos de aceitar a ideia deque cada grupo sociocultural pode contribuir para o enriquecimento da vida comunitria atravs da partilhade elementos de identidade e do dilogo e envolvimento de todos os membros da sociedade multicultural.

    Trabalho em Equipa e Cooperao

    A educao global deve ajudar os aprendentes a apreciarem o valor da cooperao em tarefas partilhadase a trabalharem em conjunto com outros indivduos e grupos, para atingirem objectivos comuns.

    Empatia

    A educao global deve capacitar os aprendentes a compreenderem com sensibilidade os pontos de vista e ossentimentos dos outros, particularmente se estes pertencerem a grupos, culturas ou naes diferentes dos seus.

    Dilogo

    A educao global deve desenvolver competncias de dilogo, como a escuta activa, o respeito pelasopinies dos outros e a assertividade construtiva.

    Assertividade

    A educao global deve capacitar os aprendentes para comunicarem clara e assertivamente com os outros,ou seja, de uma forma que no seja nem agressiva (negando os direitos dos outros), nem passiva (negandoos direitos do prprio).

    Lidar com a complexidade, as contradies e a incerteza

    A educao global ajuda os aprendentes a compreenderem a complexidade do mundo, a tomaremconscincia das contradies e incertezas e a compreenderem que no h solues unidimensionais paraproblemas complexos.

    Lidar com os conflitos e a sua transformao

    A educao global deve capacitar os aprendentes para enfrentarem os conflitos e lidarem com eles deforma construtiva e sistemtica.

    Criatividade

    A educao global deve estimular a imaginao para pensar e trabalhar nos assuntos globais de uma formaagradvel e criativa.

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    24 Conceitos

    Investigao

    A educao global deve habilitar os aprendentes a procurar conhecimento sobre as questes globais,atravs da utilizao de diversas fontes.

    Tomada de deciso

    A educao global deve capacitar os aprendentes para participarem em processos de tomada de deciso etomarem iniciativas atravs de procedimentos democrticos.

    Lidar com os Media

    A educao global deve desenvolver a consciencializao dos aprendentes face aos media e capacit-lospara abordarem a informao com uma atitude crtica.

    Lidar com a Cincia e as Novas Tecnologias

    A educao global deve equipar os aprendentes com as competncias necessrias ao uso responsvel dasnovas conquistas cientficas e tecnolgicas.

    VALORES E ATITUDES

    Os valores nucleares (core values), permitem aos educadores clarificarem os princpios bsicos doprocesso de aprendizagem, guiando-os na escolha dos contedos, na identificao e utilizao das fontesde informao, no desenho das estratgias de ensino-aprendizagem-avaliao e no desenvolvimento decampos de interveno prtica para o aprendente.

    Em ltima anlise, o objectivo final da educao global desenvolver valores baseados no conhe-cimento das questes globais e nas competncias relevantes, para construir atitudes enquadrveisnuma cidadania global responsvel, ao nvel individual e colectivo.

    Estes valores podero incluir:

    Auto-estima, autoconfiana, respeito prprio e respeito pelos outros

    A educao global encoraja os aprendentes a desenvolverem uma noo do seu prprio valor no seuprprio meio social, cultural e familiar. Encoraja-os tambm a desenvolverem uma noo do valor dosoutros, particularmente se forem originrios de meios diferentes dos seus.

    Responsabilidade social

    A educao global encoraja os aprendentes a desenvolverem a solidariedade e a preocupao com ummundo socialmente mais justo, mais seguro e mais pacfico, aos nveis local, nacional e internacional.

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    Conceitos

    Responsabilidade ambiental

    A educao Global encoraja os aprendentes a preocuparem-se com o equilbrio ambiental natural, ao nvellocal e global.

    Abertura de esprito

    A educao global promove a abordagem de fontes de informao, culturas e acontecimentos diversificados,com abertura de esprito e sentido crtico.

    Atitudes visionrias

    A educao global encoraja os aprendentes a desenvolverem vrias vises do que poder ser um mundomais inclusivo, na sua comunidade, noutras comunidades e no mundo como um todo.

    Pertena comunitria proactiva e participativa

    A educao Global fortalece o sentimento de pertena a uma comunidade (local-global) onde os direitose responsabilidades individuais so conhecidos e respeitados por todos, criando um sentimento de apoiomtuo e a necessidade de participar nas decises comuns, promovendo dessa forma os princpios depluralismo, da no discriminao e da justia social.

    Solidariedade

    A educao global leva solidariedade activa, criando cidados mundiais conscientes das realidades globaise empenhados em trabalhar para construir um mundo mais sustentvel, com base nos princpios dos

    Direitos Humanos para todos, do dilogo e da cooperao.

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    METODOLOGIA

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    METODOLOGIA

    Como sistema de princpios e valores que precede e analisa a praxis, a Metodologia estuda de formasistemtica a relao entre os mtodos e a teoria, em cada cincia.

    Poder ser til discusso, estabelecer uma distino entre Metodologia e mtodos: como ncleo daepistemologia, a Metodologia a fundamentao cientfica e o desenvolvimento de mtodos, com oobjectivo de estabelecer os fundamentos para a criao de novos mtodos especficos ou para o estudo eanlise dos existentes. Um mtodo um procedimento planeado regulador da linha de aco seguida para

    alcanar os objectivos definidos numa cincia especfica.

    Em educao, e especialmente em educao global, a metodologia ultrapassa a discusso acerca dos mtodosde ensino, para se constituir num pilar essencial da poltica de educao. Mais do que estabelecer comoensinar ou como desenvolver actividades de aprendizagem, a metodologia inclui todas as questes quedefinem a educao. Neste sentido, o contedo de qualquer actividade educativa tem de estar directamenterelacionado com os mtodos a utilizar pelo grupo de aprendizagem para atingir os objectivos definidos paraessa actividade. Esta afirmao bsica torna-se crucial se aceitarmos que cada actividade em cada grupo deaprendizagem, em educao formal e no formal, a aplicao de um contexto ideolgico mais amplo. Assim,as questes metodolgicas tm de ser perspectivadas no apenas em relao com determinadas actividadesde aprendizagem, mas como o enquadramento de um processo de aprendizagem contnuo, relacionado

    com os objectivos principais da educao e em interaco dinmica com o processo de avaliao.

    E se concordarmos que qualquer forma de educao influencia a maneira de pensar, actuar e viver dosseres humanos, podemos concluir que qualquer discusso acerca do papel da metodologia na educao seaproxima da discusso mais geral sobre o papel da educao nas nossas sociedades.

    FUNDAMENTOS DA METODOLOGIA DA EDUCAO GLOBAL

    Para reflectir sobre os fundamentos da metodologia da educao global, temos de recuar aos conceitosprincipais da Declarao da educao global de Maastricht:

    Educao global uma educao capaz de abrir os olhos e as mentes das pessoas para as realidadesdo mundo globalizado.

    A metodologia da educao global tem de estar relacionada com as realidades do mundo. Isto significaque deve basear-se, antes de mais, na realidade, contextos e necessidades de cada grupo de aprendizagem;seguidamente, na realidade da sociedade local que rodeia o grupo e, por fim, na realidade da sociedadeglobal que influencia as realidades locais, bem como nas interligaes entre todas estas realidades. Isto

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    Metodologia

    requer uma clarificao de todos os conceitos com que teremos de lidar, alm da utilizao de uma amplavariedade de recursos adaptados s diferentes capacidades e caractersticas do grupo de aprendizagem(como a idade, a linguagem, os conhecimentos, o background cultural e as capacidades fsicas, por exemplo)e relacionados com os estilos de aprendizagem.

    Os objectivos e diferentes etapas de cada actividade tm de ser claros e compreensveis para todos, nos para garantir que todos podem participar, mas tambm para construir uma compreenso comum dasrealidades do mundo e da forma como estas se interligam.

    A ttulo de exemplo, eis algumas perguntas que podem ajudar-nos a reflectir passo a passo no processode aprendizagem:

    Quem so as pessoas que integram este grupo (educadores e aprendentes)? De onde vem (background cultural, etc.)? Como (so) vista(s) a(s) sua(s) identidade(s) cultural (culturais), no seio do grupo e na sociedade onde vivem?

    Porque esto aqui? Como se sentem neste grupo? Como se tratam umas s outras? Como que cada uma delas reage ao comportamento do educador?

    Como que o educador se sente e como reage aos comportamentos dos aprendentes como indivduos e como grupo?

    A compreenso do grupo de aprendizagem uma condio sine qua non para todos os educadores,especialmente se lidarem com questes de educao global.

    crucial compreender as pessoas que integram o grupo de aprendizagem, sem esquecer que, no nossomundo globalizado, no h identidades culturais individuais ou colectivas, que sejam estticas.

    extremamente importante definir a rea de conhecimento a abordar, em funo das necessidades dogrupo de aprendizagem.

    Igualmente importante a forma como vamos criar e gerir o ambiente de aprendizagem adequado, construirpontes de comunicao e confiana, e criar um espao estimulante, seguro e agradvel para aprenderem conjunto e aprender com os outros, onde todos se sintam autoconfiantes e com um sentimento depertena.

    Como que ns, educadores, vamos atingir este objectivo? Que procedimentos devemos seguir?

    A resposta surge sob a forma de uma nova pergunta. Ser possvel compreender todas as personalidadesdiferentes e inclu-las no grupo, usando um smtodo, uma sactividade e uma sferramenta?

    A resposta pode residir em diversasactividades atractivas, participativas, criativas e flexveis que envolvamtodos os aprendentes, respeitando os seus desejos, personalidade, vida, background cultural e dignidade.

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    30 Metodologia

    A educao global inspira as pessoas a construrem um mundo de maior justia, equidade e direitos humanospara todos.

    A discusso dos conceitos fundamentais de justia, equidade e direitos humanos requer a utilizaode mtodos que conduzam ao pensamento e anlise crticos procedimentos de pesquisa, actividadesbaseadas na investigao, estudo, explorao e inquritos. Ao mesmo tempo, o contedo da actividade deaprendizagem tem de estar relacionado com a vida das pessoas, situaes reais e experincias humanas,para reforar a consciencializao da injustia e da desigualdade. ainda importante reconhecer e estudaractos de justia, condies de igualdade e respeito pelos direitos humanos na vida quotidiana, para reflectirsobre os contextos favorveis ou criadores desses valores nas nossas sociedades.

    obviamente necessria a existncia de um verdadeiro dilogo democrtico entre todos os actoresenvolvidos no processo de aprendizagem, para manter um processo contnuo de explorao crtica ecriativa do mundo, facilitando dessa forma a construo de um saber colectivo e de uma compreensocomum do mundo onde vivemos. tambm necessria a integrao de vrios componentes relevantes dossistemas de valores e poder e a discusso da interdependncia entre as realidades das pessoas.

    Uma abordagem holstica busca a compreenso das relaes directas e indirectas entre formas de poder,violncia e injustia a todos os nveis, bem como dos valores, prticas e condies necessrias paraas ultrapassar. Passar da ignorncia e da indiferena ao conhecimento e consciencializao sobre asquestes globais pode ser o resultado de um processo de aprendizagem que liga o pessoal ao colectivo eo contexto local ao contexto global. Passar do conhecimento e consciencializao aco, para construir

    um mundo de maior justia, equidade e direitos humanos para todos, pode ser o resultado de um processode aprendizagem que visa o desenvolvimento do empowerment crtico e estimula a capacidade dosaprendentes para participarem num processo de tomada de deciso colectivo e em aces orientadas paraa transformao nesse sentido, ao nvel local.

    igualmente importante estabelecer ligao entre o conhecimento terico e as realidades sociais dopassado e do presente, para compreender os princpios fundamentais do processo histrico, compreendercomo e porque que a humanidade chegou s complexas situaes em que se encontra, ao nvel local eglobal, e desenvolver vises positivas de futuro.

    ABORDAGENS METODOLGICAS EM EDUCAO GLOBAL

    Aprendizagem baseada na cooperao

    Na aprendizagem cooperativa verifica-se uma interdependncia positiva entre os esforos dos participantespara aprenderem. Batendo-se pelo apoio mtuo, todos os membros do grupo ganham com os esforos dosoutros. H uma interdependncia positiva entre os compromissos dos participantes em trabalharem juntos.O mtodo permite a aprendizagem atravs da interaco, melhora as competncias de comunicao dosparticipantes e refora a sua auto-estima.

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    Metodologia

    Aprendizagem baseada na problematizao

    As metodologias baseadas na problematizao encorajam as pessoas a colocarem e responderema perguntas, dando largas sua curiosidade natural sobre assuntos ou acontecimentos especficos. Osparticipantes so convidados a reflectir sobre questes que no tm respostas absolutas nem fceis ereflectem a complexidade das situaes do mundo real. A aprendizagem baseada na problematizao abrecaminho a uma abordagem do processo de aprendizagem activa, orientada para as tarefas e auto-controlada.

    Aprendizagem baseada no dilogo

    O dilogo cria interaces orais entre os participantes, estimulando a troca de ideias. Funciona como uma

    ponte entre as pessoas e cria um espao amigvel para desenvolver pensamentos, reflexes e propostas,mesmo que sejam opostas ou diferentes. O dilogo ajuda a desenvolver as competncias de comunicaoe escuta, promovendo a compreenso de diferentes questes e pontos de vista. um dos mtodos maisimportantes, em educao global.

    ASPECTOS RELEVANTES NA PRTICA DA EDUCAAO GLOBAL

    Em educao global formal ou no formal, so considerados importantes os seguintes aspectos:

    Definio e compreenso do grupo de aprendizagem:

    Fundamental em todas as formas de educao, tomar em considerao a situao e background do grupode aprendizagem crucial em educao global. A idade, o nmero de participantes, as diversidades sociaise culturais em relao com os temas escolhidos, o tempo, os materiais e o espao disponveis devem ser

    CRITRIOS PARA ESCOLHER E AVALIAR MTODOS DE EDUCAO GLOBAL

    OS MTODOS DE EDUCAO GLOBAL TM DE SER: OS MTODOS DE EDUCAO GLOBAL:

    InteressantesAtraentesMotivadoresDesafiantesParticipativosColaborativosRealistas mas OptimistasPromissores

    ReflexivosDirigidos a pessoas diferentesDiversos e variveisCentrados na aprendizagemCriativos InteractivosDemocrticosDinmico

    Baseiam-se em bons recursos So coerentes com o contedo da EG

    No ensinam mas educam Suscitam consciencializaoPromovem o dilogoDo sentimento de pertenaDespertam a responsabilizaode todos Envolvem as pessoas

    Respeitam os aprendentesBaseiam-se em valores humanistasDesenvolvem o esprito crtico Ligam o local ao global Estimulam aces Ligam o contedo praxisBaseiam-se numa abordagemmicro/macroPromovem valores humanistas

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    os primeiros pontos a tomar em conta aquando do desenho e escolha dos mtodos apropriados, numprograma de educao global. Partir dos contextos dos aprendentes e explorar cooperativamente as suasnecessidades est igualmente entre os primeiros aspectos a ponderar. Isto particularmente essencialquando se trata de desenhar programas de educao global sem curricula prescrito.

    Discusses relevantes e questionrios so os mtodos mais frequentemente usados para identificar estasnecessidades e basear nelas os temas e aces do programa educativo.

    Escolher o ambiente de aprendizagem apropriado

    Um ambiente de aprendizagem centrado no aprendente baseia-se nos princpios da aprendizagem

    democrtica, participativa, cooperativa e experiencial. Neste tipo de ambiente interactivo, so valorizadose encorajados ao longo de todo o processo educativo o pensamento crtico, o dilogo democrtico e umaviso holstica.

    O aspecto conceptual

    Os principais conceitos relacionados com as questes globais com que lidamos tm de ser adequadamente referidos.Estes conceitos constituem a base concreta da aprendizagem interactiva.

    Desenvolver o pensamento crtico

    O pensamento crtico desenvolvido ao longo das diferentes etapas e nveis de aprendizagem. Em primeiro

    lugar, os aprendentes tm de reconhecer as realidades para estarem conscientes da sociedade global edesenvolverem valores relacionados com o direito de toda e qualquer pessoa a viver uma vida digna. Depois,tm de compreend-los atravs da anlise e da sntese.

    Traduzir as situaes para a sua realidade e vida quotidianas essencial compreenso.

    O AMBIENTE DE APRENDIZAGEM DAEDUCAO GLOBAL TEM DE SER:

    O AMBIENTE DE APRENDIZAGEMDA EDUCAO GLOBAL:

    Democrtico e dialgicoParticipativoAmigvel e apoiante

    Agradvel e provido de esperana Estimulante e inspirador

    Cria autoconfianaApoia a compreenso e confiana mtuas Estimula a aprendizagem com os outros

    Pode ser um microcosmos do mundo

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    Analisar situaes atravs da sua subdiviso em partes prepara o caminho para perguntas sobre o qu eo porqu, em lugar de respostas, e para um dilogo baseado na argumentao e na abertura diferena.Sintetizar reunindo as diferentes partes do puzzle mundial um passo importante para a compreenso dasdimenses polticas, sociais, econmicas e culturais de qualquer situao, da interdependncia das realidadespessoais diversas e para o desenvolvimento do sentido de responsabilidade.

    Aplicar a informao e o conhecimento a novas situaes abre perspectivas para um mundo melhor atravsda participao activa. Avaliar o conhecimento com base em critrios explcitos relacionados com o resultadode anlises e snteses, desenvolve atitudes e competncias necessrias cidadania com esprito crtico.

    Estimular a curiosidadeO estmulo da curiosidade um pressuposto muito importante para o desenvolvimento do pensamento crtico. Istopode ser feito essencialmente atravs da busca das perguntas certas, preferencialmente procura das respostas certas,

    que pode revelar-se impossvel num mundo incerto e recheado de questes complexas.

    Estimular a criatividade

    O estmulo da criatividade tambm um pressuposto muito importante para o desenvolvimento das perspectivas e

    alternativas de um mundo mais pacfico e sustentvel.

    A abordagem micro/macro

    Principais formas:

    Do local ao global, por exemplo, partindo da poluio ou pobreza na nossa rea, somos levados aconsiderar a dimenso global destes problemas, para regressarmos depois ao nvel local (glocalizao).

    Do pessoal ao colectivo, por exemplo, partindo das histrias e experincias pessoais apresentadaspelos participantes num programa de educao global multicultural, somos levados a confrontar-noscolectivamente com o problema da migrao.

    Do emocional ao racional, por exemplo, partindo das emoes individuais suscitadas pelas histrias demigrao acima referidas, somos levados a explorar os aspectos gerais do problema da migrao.

    Abordagem interdisciplinar

    As questes globais podem ser abordadas em qualquer disciplina curricular, formal ou no formal. A

    relao do conhecimento especfico com o conhecimento geral e a reunio de dados diversificados eprovenientes de vrias reas cientficas, permite uma abordagem multi-perspectiva, necessria percepodo conhecimento como um sistema unificado, contribuindo desta forma para uma melhor compreensode si prprio e dos outros num mundo complexo e interdependente, onde as realidades das nossasvidas podem ser complementares, mas tambm contraditrias. Passar de uma cultura de individualismo auma cultura de parceria pressupe a transformao dos critrios pessoas da verdade nica, em critrioscolectivos de mltiplas realidades.

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    As trs dimenses de tempo

    Lidar com as trs dimenses muito importante na abordagem de uma questo global. Por exemplo,inicialmente, centramo-nos naturalmente na aparncia actual do problema. No entanto, temos tambm deanalisar o seu passado e explorar as alternativas de futuro.

    Historicidade do conhecimento

    Alm do mais, importante reconhecer a historicidade e os limites dos processos individuais e sociais, osdiferentes estdios de desenvolvimento dos fenmenos, a gnese e a deteriorao, os limites e a possvelexausto e destruio de qualquer sistema (ecolgico, social, econmico, poltico) para alcanar uma razovelcompreenso das situaes.

    Lidar com a controvrsia

    expectvel que as questes globais sejam controversas. Assim, ao lidar com estas questes, a controvrsia

    no deve ser evitada mas enfrentada, de forma equilibrada, tendo em vista uma sntese dos pontos de vista. evidente que esta sntese nem sempre ser possvel. As questes relacionadas com a religio, por exemplo,podem ser particularmente controversas, talvez sem concluses possveis num debate democrtico. Porm, odebate tem, em si mesmo, um mrito prprio e no negligencivel. O tema do respeito pelas diversas culturaster necessariamente de ser discutido, no exemplo dado. E todos os participantes constataro que vivemos nummundo em mudana acelerada, onde inevitvel repensarmos as crenas, os valores e as atitudes existentes.

    QUAL OPROBLEMA?

    actores, lugares,sectores, dimenses

    QUAL AHISTRIA

    DO PROBLEMA?razes, causas,

    tentativas de soluoat hoje

    BUSCA DESOLUES

    E ALTERNATIVASfrequentemente

    atravs de exemplos,do passado ou de

    outros

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    Abordar as questes da identidade nacional ou cultural

    Frequentemente ligadas migrao, xenofobia, esteretipos e direitos humanos, estas questes podem, por issomesmo, gerar grande controvrsia, devendo por isso ser abordadas e tratadas com extrema delicadeza. Emboraa educao global implique resistncia ao status quo, ela nunca dever ser vista como uma ameaa mas semprecomo um desafio positivo que pode enriquecer e alargar a identidade nacional e cultural.

    Introduzir o elemento da mudana

    A mudana constante e, logo, a incerteza e a instabilidade so uma realidade no nosso mundo. A educaoglobal deve preparar os seus aprendentes para enfrentarem esta realidade e para se adaptarem positiva e

    construtivamente. Isto significa procurar uma espcie de bom equilbrio entre a estabilidade e a mudana. Oque requer uma abordagem mais holstica, que ligue as diferentes dimenses do ser (fsica, intelectual, emocionale espiritual), com as diferentes dimenses do meio envolvente (natural, social, cultural, econmica e poltica).

    Inspirar Optimismo e Prazer

    A educao global optimista e d esperana. H muitos profetas modernos que, ao jeito de Cassandra, parecemquerer profetizar o fim do mundo. Como lidar com o pessimismo? Uma forma positiva de o fazer enfatizandoa f na natureza humana. Basta recuar na histria apenas duas ou trs geraes, para constatar os progressos aonvel da segurana social ou na abrangncia da educao, por exemplo, e abrir perspectivas positivas. A educaoglobal tem ainda de dar prazer um elemento relacionado com o seu optimismo. O humor tambm ajuda a criarum clima alegre. Mtodos activos e atraentes podem ter um efeito notvel no desenvolvimento das competnciase valores globais e incitar aco.

    Construir com base nas experincias pessoais e em simulaes

    As experincias pessoas ou as simulaes so formas de aprendizagem experiencial. As teorias pedaggicasdizem-nos que as pessoas aprendem mais atravs da experincia, em situaes que envolvam cognio, emooe aco. As actividades de simulao em educao global podem provocar emoes fortes com as quais poderno ser fcil lidar. Por isso, os educadores tm de estar preparados para lidar com estas emoes e tm deconhecer e compreender cada um dos participantes do grupo. As actividades emocionais devem ser utilizadascom muita cautela, num tempo especfico, quer como pontos de partida, quer como parte de um programa maisamplo. Caso contrrio, o excesso de emoes pode fazer o grupo de trabalho distanciar-se da razo e da reflexo.

    Os mtodos de aprendizagem mais eficientes em educao global so os que integram tanto a experincia comoa reflexo, equilibrando a cognio, a emoo e a aco.

    Estimular o envolvimento activo

    O estimulo do envolvimento activo muito importante para provocar mudana de valores e atitudes. Asactividades podem ser desenhadas pelos aprendentes, para um grupo de aprendentes e para a comunidadelocal, com base numa avaliao das suas realidades e necessidades. Os participantes podem tentar propor

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    solues ou at desenvolver aces colectivas para promover a transformao do seu meio envolvente, aonvel micro (turma, escola, comunidade, aldeia, etc.), por exemplo, atravs da ligao da educao formal sorganizaes no governamentais (ONG). Estes processos permitiro aos aprendentes constatar a melhoriada qualidade de vida na comunidade, atravs da sua participao e capacidade de resposta a verdadeirasnecessidades, o que poder lev-los a um empenhamento tico e cvico ao longo de toda a vida.

    Networkingentre os povos

    Na prtica da educao global muito importante criar laos com outros pases, culturas e sociedades. Estasligaes devem traduzir-se em solidariedade concreta e visvel de grupos a trabalharem em conjunto. Podem,

    por exemplo, apoiar pessoas em pases desenvolvidos a apreciar a vida das aldeias, por contraposio dascidades, e pessoas de pases menos desenvolvidos a compreender que nem todas as pessoas dos pases maisdesenvolvidos nasceram em bero de ouro. Por outro lado h, em toda a parte, migrantes de vrios pases.Envolv-los no processo educativo, enriquec-lo com vozes diferentes, evidenciando activamente dessaforma a nossa interdependncia e necessidade de solidariedade.

    Utilizar mltiplos recursos:

    Os educadores que praticam a educao global devem usar uma ampla gama de recursos, a seleccionar emfuno das realidades do meio de aprendizagem (onde, quando, quem, o qu, e tambm qual o contedoe contexto do programa). Muitas vezes, as dificuldades objectivas reduzem a possibilidade de escolherrecursos. Os educadores globais tm de ser flexveis e capazes de adaptarem as suas actividades aos

    recursos existentes. Em educao global, o mais importante no a ferramenta, mas a forma de a utilizar.

    Utilizar os media

    Obter informao dos media (imprensa, TV, Internet) faz parte da nossa vida quotidiana. A educao globalatravs dos media , ao mesmo tempo, um meio e um objectivo um meio, devido enorme quantidadee diversidade de informao originria de vrias fontes complementares, e um objectivo porque aprendersobre o mundo atravs das fontes dos mass media a melhor maneira de desenvolver a consciencializaoacerca dos prprios media, imprescindvel aos cidados globais dos nossos dias.

    Compreender os media um objectivo da educao global: a educao sobre os media est directamenterelacionada com a educao global, na medida em que estimula o pensamento critico atravs da abordagem

    crtica de cada fonte de informao (objectiva ou subjectiva, ideolgica ou culturalmente orientada), atravs dadescodificao dos signos e smbolos da informao transmitida (palavras, imagens, sons, etc.), e atravs da anlise,distino e comparao entre acontecimentos e situaes reais, e opinies ou comentrios. A Educao sobre osmedia apoia a educao global, porque est relacionada com diferentes disciplinas dos programas de educaoformal e no formal. Uma condio sine qua nonpara a utilizao dos media em qualquer disciplina em Educao a distino entre informao e conhecimento.

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    Utilizar os media como um recurso em educao global:A utilizao da informao fornecida pelos media,num processo de aprendizagem, pode ser extremamente interessante ao nvel micro conhecer o microcosmosque envolve o grupo de aprendizagem, compreender como a comunidade local reage s realidades do mundo eanalisar a forma como as pessoas que nos rodeiam percebem a informao sobre o contexto global. tambmuma fonte de informao desafiante ao nvel macro compreender a interdependncia no mundo em que vivemos.Em educao global, um educador que utilize os media pode encorajar os aprendentes a tomarem conscincia dosproblemas globais, a tornarem-se numa audincia crtica para qualquer tipo de informao que lhes seja fornecida,a desconstrurem esteretipos, a desenvolverem uma cultura de compreenso e a tornarem-se cidados activos.Os aprendentes utilizadores dos media num processo de aprendizagem podem ser investigadores activos de

    informao e par ticipantes colaborativos no processo de descoberta do conhecimento.

    Utilizar os media como um meio de aco como cidados globais: A utilizao dos media umaforma desafiante no apenas para obter, mas tambm para divulgar a informao do grupo comunidade local ouglobal, se o grupo passar da actividade de aprendizagem aco na vida real ou no ciberespao. Os media podemser utilizados para estimular a consciencializao e dar visibilidade a aces individuais ou colectivas de interessecomum (por exemplo, aces de solidariedade ou cooperao para o bem-estar da humanidade, protestos contraviolaes, acontecimentos multiculturais, actividades para a sustentabilidade).

    Processo dinmico

    As actividades de Educao global seguem um processo de preparao, aco e reflexo contnuas. Todos

    os participantes neste tipo de educao devem avaliar necessidades, desenvolver propostas, criar planosde aco, reflectir, e partilhar os resultados da sua aco com o seu grupo de pares. A avaliao interna baseada na reflexo e ligada aos objectivos da actividade - um importante pilar do processo. Os resultadosda avaliao podem ser um ponto de partida para redesenhar uma actividade ou um projecto, para novasperspectivas e planos. A educao global no um procedimento esttico e repetitivo, mas um processodinmico de reflexo e aco, ou seja, uma praxis.

    MTODOS PARA A PRTICA DA EDUCAO GLOBAL

    Com o seu largo espectro de questes e aspiraes dinmicas, a educao global oferece, efectivamente,muitas oportunidades para a utilizao de vrios mtodos dos ditos mais clssicos aos mais inovadores.O que os educadores devem ter presente que um mtodo uma abordagem de aprendizagem, directamenterelacionada e em interaco dinmica coerente, com o contedo de cada tema e actividade. Alm do mais, aaquisio de conhecimentos em si mesma, interessa menos que o processo de aprendizagem utilizado pelosaprendentes para aprenderem a aprender.

    O mais importante, em educao global que, em todas as situaes, se utilizem as propostas metodolgicasacima apresentadas. Assim, um ambiente centrado no aprendente exclui o mtodo muito clssico das

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    exposies extensas dirigidas a aprendentes passivos, ainda que acompanhadas de utilizao das novastecnologias. Da mesma forma, as fichas de trabalho no podero ser muito eficazes se se basearem emtextos cientficos longos e secos, seguidos de numerosas perguntas acadmicas que requerem umaresposta individual. Pelo contrrio, as histrias (narradas ou sob a forma de banda desenhada) ou oscartoons, em ambos os casos acompanhados de algumas perguntas inspiradoras, podem motivar melhoros aprendentes a procurarem as respostas em grupo, discutindo as questes globais num ambiente deaprendizagem participativo, cooperativo, experiencial e, acima de tudo, democrtico.

    Nesta base, todos os processos interactivos so bem-vindos: icebreakers10 e energizadores, simulaes

    e jogos, role-playing11, brainstorming12, exerccios de resoluo de problemas, debates, discusses emgrupo, painis ou mesas redondas, exerccios em subgrupos de pares, troca de experincias, pesquisa eapresentaes, visitas de estudo, artes participativas, estudos de caso, actividades artsticas incluindo amsica e / ou a dana e actividades baseadas em histrias e fbulas ou artes visuais / iconografia (fotografias,filmes, colagens, bandas desenhadas, desenhos, etc.). Existem muitos mtodos deste tipo e os educadoresconhecem-nos. Hoje em dia, existem ainda muitos materiais impressos e online, disponibilizados pororganizaes internacionais e europeias, com exemplos concretos e ideias para a utilizao destes mtodos13.A principal mensagem de todos eles que o lugar onde a educao global praticada deve assemelhar-semetaforicamente a uma colmeia onde todas as abelhas tm um papel a desempenhar, contribuindo para umobjectivo comum, com a nica diferena de o educador no ser uma rainha autocrtica! ponto assente

    que, nas situaes de educao no formal relacionadas com grupos de jovens ou adultos, o educador deveprocurar assemelhar-se a uma espcie de maestro de uma orquestra, decidindo democraticamente comos msicos os detalhes do programa, bem como os papeis individuais e colectivos, para obter, no final, umasinfonia harmoniosa!

    OS EDUCADORES, OS APRENDENTES E OS DECISORES EDUCACIONAIS PERANTE OS NOVOS MTODOS

    Porque os educadores no so apenas membros do sistema educativo mas tambm indivduos e membrosde uma sociedade em constante mudana, frequente o aparecimento de mtodos educativos inovadores,resultantes de um processo de baixo para cima14. Ser um educador no mbito da educao global requer,certamente, que cada um desenvolva os seus prprios mtodos, de acordo com os seus conhecimentos,competncias, formao, personalidade, autoconfiana, ideias e motivao. Como resultado de auto-avaliaoligada a uma abordagem crtica dos mtodos convencionais utilizados em Educao, ou simplesmente

    10 Normalmente, utiliza-se a expresso em ingls. Por vezes, traduzida por quebra-gelo. (N. da T.)

    11 Normalmente, utiliza-se a expresso em ingls. Por vezes, traduzida por jogo de papis. (N. da T.)

    12 Normalmente, utiliza-se a expresso em ingls. Por vezes, traduzida por tempestade de ideias. (N. da T.)

    13 Ver o s ite do Centro Norte Sul do Conselho da Europa: www.nscentre.org, na sua seco de Educao.

    14 Bottom-up, no original (N. da T.)

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    Metodologia

    da necessidade humana de desenvolvimento e aperfeioamento, muitos educadores procuram novosmtodos capazes de corresponder aos desafios dos nossos dias. Muitas vezes, os aprendentes tambmpedem mtodos novos e inovadores e criticam os tradicionais. Mas, com muita frequncia, pelo menosno campo da educao formal, os educadores que procuram e pedem novos mtodos nos cursos deformao ministrados pelas autoridades educacionais pretendem, na prtica, apenas novas ferramentas. E,com igual frequncia, as autoridades fornecem novas ferramentas ou equipamentos e consideram que a suautilizao ir mudar a metodologia e influenciar a eficincia das aulas, sem reflectirem na coerncia entreferramentas, mtodos, objectivos e contedos (o qu, porqu, como). por isso que a clarificao do papele importncia dos mtodos inovadores, com ou sem novas ferramentas e equipamentos, mais um desafio

    para a educao global.PRTICAS RECOMENDADAS

    a) O mtodo de projecto

    Trabalhar em torno de um tema global comum, ou de alguns aspectos do mesmo, uma tarefa muito criativapara os aprendentes, em contextos educativos formais ou no formais. Este trabalho pode incluir certoselementos, como textos informativos poemas ou prosa, fotografias, desenhos, grficos, banda desenhada,cartoons, excertos de jornais e revistas, colagens, um jornal da turma, musica, role-playing ou at a produode audiovisuais ou de um CD-ROM. Mesmo quando desenvolvido individualmente, o projecto deveter uma dimenso colectiva que inclua uma apresentao final e discusso e avaliao pelo grupo. Mas

    ainda melhor que resulte do trabalho de uma equipa onde cada participante pode contribuir com algunsou a totalidade dos elementos acima referidos, em funo dos seus interesses e talentos. O trabalho decampo, de preferncia iniciando-se a nvel local, tambm muito bem-vindo. O resultado final pode serapresentado sob a forma de uma exposio do projecto no seu conjunto no stio onde foi criado ou aonvel da comunidade local15.

    A Semana da Educao Global evento anual iniciado e coordenado pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa

    - oferece uma excelente oportunidade para a concretizao ou divulgao deste tipo de projectos.

    b) O mtodo das ligaes com o mundo

    Este mtodo pode dar uma real substncia ao anterior. Tal como referimos anteriormente, trazer a realidade

    global para dentro da sala de aula (ou qualquer outro espao de aprendizagem) para uma cooperao activa,tem uma importncia vital em programas de educao global, quer estes decorram em contexto formal,quer no formal.

    15 Ver o s ite do Centro Norte Sul do Conselho da Europa: www.nscentre.org, na sua seco de Educao

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    H vrias maneiras de o fazer:

    Estabelecendo ligaes e criando redes com pessoas de diferentes partes do mundo, atravs decorrespondncia por correio ou email.

    Convidando visitantes de outros pases, como por exemplo imigrantes que vivam no pas, a participarem como

    animadores ou participantes, em programas de educao global, nas salas de aula ou em grupos informais.

    Organizando eventos multiculturais, festas, exposies ou outras actividades em escolas ou locaispblicos, em actividades, como a gastronomia, a msica, a dana ou o teatro, desenvolvidas por pessoasde diferentes culturas.

    Levando os aprendentes a visitar locais onde vivem pessoas carenciadas, para que possam experimentara situao e, se possvel, cooperar com elas na abordagem dos problemas locais.

    Envolvendo os aprendentes em actividades dirigidas ajuda a pessoas carenciadas, ou em trabalhovoluntrio iniciado por organizaes no governamentais, particularmente na rea da educao formal;

    Organizando sesses de aprendizagem sobre temas multiculturais, em encontros de professores,estudantes e pais.

    c) Parcerias internacionais entre escolas

    Esta prtica complementa a anterior. H centenas de ligaes bilaterais entre escolas do Norte, Sul, Lestee Ocidente. Muitas organizaes internacionais esto a estabelecer ligaes triangulares e, nos ltimostempos, em rede, entre escolas, dando origem a sites, ideias, experincias e relatrios escritos. Na maioria

    dos pases europeus, h agncias nacionais ou organizaes no governamentais que apoiam escolas e estointeressadas em parcerias internacionais de escolas.

    As parcerias, especialmente entre escolas do Norte e do Sul, oferecem muitas oportunidades para aeducao global.

    Do nosso ponto de vista, estas parcerias permitem:

    Melhor compreenso da interdependncia global, atravs dos contactos directos entre estudantes ealunos dos pases e escolas parceiros;

    Atenuao ou eliminao dos esteretipos e preconceitos mtuos;

    Aumento da motivao dos estudantes e professores;

    Uma nova cultura de ensino e aprendizagem, por exemplo, atravs da interdisciplinaridade;

    Um maior desenvolvimento de importantes competncias-chave em todos os envolvidos, como porexemplo na rea das novas tecnologias de comunicao, gesto de projectos, domnio das lnguasestrangeiras, comunicao internacional entre estudantes e professores;

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    Do ponto de vista metodolgico, as parcerias entre escolas do Norte e do Sul, fornecem muitasoportunidades para a realizao de actividades educativas concretas:

    Troca de correspondncia (por correio ou email);

    Concepo e utilizao de sites interactivos (incluindo fruns de discusso e salas de chat);

    Partilha dos resultados do trabalho de projecto com as escolas parceiras;

    Convite a especialistas originrios dos pases das escolas parceiras e que habitam na nossa aldeia oucidade, para virem sala de aula partilhar informao sobre os seus pases;

    Planeamento de visitas mtuas entre as escolas parceiras.

    d) Concursos de debates

    Os concursos de debates so um mtodo muito atractivo para a consciencializao dos aprendentes emeducao formal ou no formal, acerca das questes de educao global contemporneas. Podem serorganizados ao nvel do grupo, escola, local, nacional ou internacional em funo dos fundos disponveis.

    Objectivos do concurso:

    Desenvolver competncias ao nvel do discurso e da argumentao, com base no pensamento crtico.

    Sensibilizar os estudantes para as questes contemporneas e, atravs da sua explorao, lev-los acolocar perguntas

    Cultivar o esprito crtico

    Agir como um receptor cr tico de mensagens e desenvolver uma resistncia crtica manipulao

    Critrios de avaliao:

    Contedo (persuaso, argumentos, nvel do discurso)

    Presena geral (voz, postura, gestos,, expresso)

    Tempo (respeitar os limites de tempo)

    Comentrio geral: neste tipo de concursos, o mais importante no ganhar, mas participar. Os participantes

    devem perceber que o mrito reside mais no caminho estimulante por si mesmo, que na chegada ao destino.

    Atravs desta viagem, podem ganhar experincia e conhecimentos que os valorizam como cidados globais

    esclarecidos.

    e) Artes participativas

    As artes participativas funcionam como uma interface onde os facilitadores (artistas e / ou outras pessoascom um background especfico) e os no artistas interagem atravs de regras e instrumentos especialmentecriados para o efeito. Esta experincia educativa colectiva leva os participantes a outro tipo de auto-

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    aperfeioamento, atravs da criao de um espao comum seguro, de conforto fsico e mental. Neste espao,os educadores (formadores, professores, psiclogos, artistas) e os aprendentes trabalham em conjunto numaparceria baseada no respeito e na igualdade. Esta espcie de actividade artstica-formativa vem satisfazernecessidades grupais previamente identificadas e estabelecidas atravs de procedimentos especficos. Noque respeita aos objectivos educacionais, nas artes participativas o processo to importante como oresultado final (performance, happening,graffiti, teatro social, etc.).

    Os mtodos das artes participativas eliminam as inibies, substituindo-as por satisfao com a afirmaode possibilidades / personalidade e realizaes pessoais.

    Como arte participativa, o Teatro-frum, um mtodo que pode ser utilizado em diferentes contextose para diversos problemas, ao confrontar diferentes grupos, com diferentes interesses, pertencentes adiferentes categorias socioprofissionais.

    Os Formadores utilizam as artes participativas como uma forma efectiva de estimular o activismo /envolvimento aos nveis social, poltico e educativo. O mtodo baseia-se na linguagem do teatro e noespao esttico para estimular a interactividade dos participantes. Estes tornam-se espectadores e actores(espectactores), unidos na explorao, anlise e reapreciao da maioria dos problemas do grupo a