27
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO DA UFBA – FACOM Adalton dos Anjos Adriele Bandeira Karina Costa Laís Ferreira Matheus Sampaio EAD NA ERA DA CIBERCULTURA Trabalho proposto para conclusão da disciplina Comunicação e Tecnologia no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da UFBA.

EaD Na Era Da Cibercultura

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EaD Na Era Da Cibercultura

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO DA UFBA – FACOM

Adalton dos AnjosAdriele Bandeira

Karina CostaLaís Ferreira

Matheus Sampaio

EAD NA ERA DA CIBERCULTURA

Trabalho proposto para conclusão da disciplina Comunicação e Tecnologia no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da UFBA.

Page 2: EaD Na Era Da Cibercultura

Salvador,2009

Page 3: EaD Na Era Da Cibercultura

Adalton dos AnjosAdriele Bandeira

Karina CostaLaís Ferreira

Matheus Sampaio

EAD NA ERA DA CIBERCULTURA

Orientador: André Lemos

Resumo: A EaD encontrou na cibercultura seu lugar ideal, apesar de existir desde os cursos de correspondência. Com a adaptação e os usos que a sociedade atual faz com a grande rede, associada a outros aparelhos, foi possível reconfigurar a modalidade de ensino a distância, a partir do momento em que as salas foram virtualizadas e as explanações e consultas ao professor passaram a ser transmitidas ao vivo. A relação do homem com o ciberespaço é bastante interessante; ao mesmo tempo em que isola indivíduos, coloca-o em contato com outros, encurta distâncias, modifica nossa relação com o tempo e revoluciona as formas de acesso ao conhecimento.Palavras chave: cibercultura, EaD, novas tecnologias, internet,

Resumo: Distance education find with cyberculture its better place, although it has existed since the correspondence courses. With the adaptation and uses that current society makes with internet, associated with others devices, it was possible to reconfigure the modality of distance education, from the moment that the classrooms were virtualised and the explanations e consultations to the professor were transmitted live. The relation of the man with cyberspace is very interesting; at the same time that isolates individuals, keep them in touch with others, shortens distances, modifies our relations with the time and revolutionizes the forms of access to the knowledge.Key Words: cyberculture, Distance education, new technologies, internet,

Page 4: EaD Na Era Da Cibercultura

Salvador,2009

Portanto, para mim cada vez mais haverá uma mistura, uma

mixagem entre a educação à distância e a educação clássica.

Cada vez mais as escolas estarão em relação umas com as

outras, quando houver um curso interativo muito bom pela

internet, sobre uma determinada matéria várias escolas vão se

conectar, os alunos vão navegar, etc. Essa mistura é algo muito

favorável à evolução da escola em direção a uma adaptação à

nova relação que está sendo instaurada com o saber. (LÉVY,

entrevista postada em agosto de 2007 no Youtube)

Page 5: EaD Na Era Da Cibercultura

Portanto, para mim cada vez mais haverá uma mistura, uma mixagem entre a educação à distância e a educação clássica. Cada vez mais as escolas estarão em relação umas com as outras, quando houver um curso interativo muito bom pela internet, sobre uma determinada matéria várias escolas vão se conectar, os alunos vão navegar, etc. Essa mistura é algo muito favorável à evolução da escola em direção a uma adaptação à nova relação que está sendo instaurada com o saber. (LÉVY, entrevista postada em agosto de 2007 no Youtube)

Page 6: EaD Na Era Da Cibercultura

SUMÁRIO

Introdução ..............................................................................................................................p.5

Breve evolução histórica do EaD no Brasil ...........................................................................p.6

Confrontos com o ensino tradicional e as limitações da modalidade a distância ..................p.8

EaD no contexto brasileiro ....................................................................................................p.10

EaD na era da cibercultura ....................................................................................................p.12

Considerações finais .............................................................................................................p.14

Referências bibliográficas ....................................................................................................p.15

Page 7: EaD Na Era Da Cibercultura

O Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005, caracteriza a educação a distância como “modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos”.

INTRODUÇÃO

A característica fundamental do ensino a distância é que professor e aluno não se

encontram no mesmo espaço físico durante um determinado período de tempo, como ocorre

no ensino presencial. Embora a Internet seja a tecnologia imediatamente lembrada quando se

fala em EaD, ela não é a única. Considerando como educação a distância a transmissão de

conhecimento de uma pessoa para a outra, estando essas pessoas separadas pelo espaço e pelo

tempo, e utilizando tecnologia para mediar o contato, pode-se dizer que a EaD começa com a

invenção da própria escrita.

A escrita possibilitou que as pessoas registrassem num suporte físico – o papel –

aquilo que antes só podia ser transmitido oralmente. Este é o primeiro estágio da EaD. As

epístolas do Novo Testamento – por exemplo, as cartas do apóstolo Paulo aos Coríntios, entre

outras – podem ser consideradas EaD, pois apresentam um caráter claramente didático, com

orientações aos destinatários sobre diversas questões. Quando se inicia a prática do ensino a

distância ela é feita deste modo, através de cartas.

Com um alcance maior que o das cartas, o livro é o segundo estágio. A princípio era

manuscrito, mas o surgimento da imprensa aumentou sua produção, ampliando seu alcance. O

livro impresso representa a primeira forma de EAD de massa. Depois dele temos o rádio, a

televisão e, mais recentemente, o computador e a Internet, esta última capaz de compilar todas

as tecnologias anteriores.

Neste trabalho, pretendemos fazer uma reflexão sobre como a educação a distância é

influenciada com as mudanças culturais provocadas, sobretudo pela cibercultura. Para

resolver essa questão se faz necessário entender o contexto dessas transformações que

reconfigurou os modos de viver e pensar da sociedade moderna. Destarte, iremos traçar um

breve panorama histórico a fim de entender como a chegada de técnicas anteriores a internet

influenciou a modalidade de ensino à distância. Em seguida, a EaD será confrontada com a

educação formal e por fim faremos uma análise no contexto da sociedade brasileira e da

cibercultura. Para este trabalho utilizamos autores da bibliografia básica da disciplina,

Comunicação e tecnologia, como Pierre Lévy, Guillermo Orozco Gómez, André Lemos entre

outros das áreas de educação.

Page 8: EaD Na Era Da Cibercultura

BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO EAD NO BRASIL

Uma das primeiras experiências brasileiras do ensino à distância foi em 1904 com os

cursos por correspondência. Dessa forma era possível através da tecnologia da época, a carta,

desenvolver atividades educativas em locais diferentes, sem a presença física do professor e

em tempos distintos. No contexto da origem do ensino à distância no país, não era exigida

escolaridade anterior pelas instituições que ofereciam os cursos técnicos.

A carta seria utilizada no ensino à distância no Brasil até meados do século XX,

quando uma nova tecnologia que possibilita uma comunicação à distância é apropriada para o

fim educacional. Ao longo da evolução histórica da EaD é possível observar que essa

modalidade de ensino está sempre ligada a um meio de comunicação. Para cada nova

tecnologia que surge, há uma apropriação dos usuários, nesse caso, daqueles que oferecem o

ensino a distância; já que os instrumentos como a carta, rádio, TV e internet não foram

imaginados inicialmente para serem usados na EaD.

Ferreira (2007) explica que a chegada de uma nova técnica deve ser entendida com

uma negociação que ocorre em vários níveis: desde a justificativa do investimento de uma

nova criação, que se situa no nível estratégico e é decidido pelo governo ou pelo sistema

econômico; passando pela concepção, que articula a invenção com objetos próximos e desta

forma utiliza a retórica para estimular o uso e por fim o nível tático, que é a apropriação do

público daquele novo invento. Neste último nível a EaD desenvolve novos usos das técnicas

inventadas para comunicação a distância para cumprir o seu objetivo.

Até a metade do século XX, a oferta dos cursos por correspondência era a única

possível na modalidade à distância. Entretanto, a partir da estabilização de outro meio de

comunicação que tinha chegado ao país na década de 30 era possível inovar a EaD. Através

do rádio, o acesso à educação tornava-se mais popular, já que era um meio massivo e tinha a

possibilidade de atingir milhões de brasileiros. A primeira iniciativa foi em 1947 com a união

do Senac São Paulo com o Sesc da região, era a Universidade no Ar, que durou até 1962.

Os programas, gravados em discos de vinil, eram repassados às emissoras que programavam as emissões das aulas nos radiopostos três vezes por semana. Nos dias alternados, os alunos estudavam nas apostilas e corrigiam exercícios, com o auxílio dos monitores. Na década de 1950, a Universidade do Ar chegou a atingir 318 localidades e oitenta mil alunos. (MARQUES, 2004)

Paralelamente as iniciativas de educação que aproveitavam o meio radiofônico havia

os institutos, que ainda usavam o serviço da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos para

o envio do material didático. O Instituto Monitor e o Instituto Universal Brasileiro são

exemplos que existem até hoje e ainda usam como veículo as correspondências.

Page 9: EaD Na Era Da Cibercultura

Em 1950, aconteceu a primeira transmissão de TV no Brasil, mas apenas dezoito anos

depois, em novembro de 1968, foi inaugurada a primeira emissora de televisão universitária,

na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), que tinha a função de educar e formar uma

parcela da sociedade que estava distante dos centros de educação, principalmente na região

Nordeste. Dez anos depois, a Fundação Roberto Marinho e a Fundação Padre Anchieta

assinaram um convênio para realização de um projeto de teleducação. Através da TV, seria

possível atingir uma parcela igual ou superior a do rádio no processo de educação a distância

e com o recurso da imagem em movimento. O projeto de teleducação para pessoas que não

terminaram o 1º e 2º graus e que desejavam fazer um curso profissionalizante evoluiu ao

longo dos anos, e, ao se unir com a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),

MEC e Universidade de Brasília, Fundação Bradesco, se consolidou e beneficiou cerca de 5,5

milhões de pessoas. O sucesso do Telecurso 2000 ainda continuava a depender do envio do

material didático pelos Correios, como nos cursos à correspondência, e da presença periódica

dos alunos nas chamadas telessalas. Com o advento da internet, o Telecurso 2000 passou por

reformulações e agora utiliza a grande rede como canal de comunicação com os alunos.

A apropriação da internet pela sociedade vai ser responsável por uma grande

diversidade de mudanças culturais em quase todo o mundo. Na educação, ela está em combate

direto com as metodologias tradicionais aplicadas em sala de aula. As escolas ainda não

aprenderam a utilizar essa ferramenta em vantagem própria, e por isso preferem ignorá-la,

mas os alunos já utilizam largamente a internet como um auxílio no processo de

aprendizagem. A grande rede fez com que o conhecimento viesse não pela imitação e sim

pela descoberta. Essa mudança de paradigma não é nova, mas foi intensificada com a

possibilidade de acesso a várias fontes através da internet (GÓMEZ, 2006). Goméz argumenta

que o aprendizado descentralizado em rede é muitas vezes mais relevante do que o

institucionalizado e transmitido pela educação formal. Assim é possível um acesso aos

conhecimentos por parte dos sujeitos, antes mesmo do contato com o ensino das instituições

escolares. Emerge, desse modo, um cenário que proporciona a contestação dos saberes

instituídos, mais plural, democrático e anti-hierárquico. Por isso Goméz vai propor “Antes, o

livro que o professor trabalhava na sala de aula tinha a 'última palavra'. Agora, a última

palavra quem tem são os sujeitos da audiência, e seus olhos...”. A interferência do paradigma

da descoberta e do reconhecimento do processo de auto aprendizagem de um aluno na EaD

ajudam a intensificar a procura e aceitação dessa modalidade de ensino na sociedade.

Page 10: EaD Na Era Da Cibercultura

Enquanto a internet possibilitou a transmissão da aula ao vivo e tornou o EaD mais

interativo, já que os alunos agora podem interferir na aula como fariam no ensino tradicional,

mudanças nas Leis de Diretrizes Básicas, em 1996, também foram responsáveis por

consolidar e fortalecer o ensino a distância no país e abriu caminho para que as instituições de

ensino superior passassem a oferecer cursos a distância1 nos anos seguintes. No decreto nº

5.622 de 20 de dezembro de 2005 ficaram estabelecidas outras normas para os cursos em EaD

como a obrigação de momentos presenciais para avaliações, estágios, trabalhos para

conclusão de curso, mesma duração que os cursos presenciais, possibilidade de intercâmbio

entre as modalidades presenciais e a distância e a classificação dos níveis em educação básica,

de jovens e adultos, especial, profissional e superior.

CONFRONTO COM O ENSINO TRADICIONAL E AS LIMITAÇÕES DA

MODALIDADE À DISTÂNCIA

Considerando que a educação é um fluxo que acompanha as mudanças sociais

(Brigges e Burke, 2004 apud. Gouvêa e Oliveira), não seria indiferente com as mudanças nas

Tecnologias de Informação e Comunicação.

“Houve mais mudanças que continuidade na educação e no entretenimento durante o século XIX e XX. A maior delas é explicável em termos econômicos e sociais, desde que se incorpore na analise a tecnologia, tratada como atividade social envolvendo pessoas, produtos e patentes” (Briggs e Burkes, 2004. apud. Gouvêa e Oliveira)

No entanto, é importante compreender como a sociedade vai se apropriando dessas

técnicas para o uso da educação a distancia, de modo que essa modalidade de ensino tenha se

difundido e alcançado as potencialidades atuais. Fatores econômicos, sociais e culturais têm

somado para essa efetivação e consolidação do EaD. Em Gomez (2006), é apresentado

algumas barreiras que as novas tecnologias enfrentam até se consolidarem nos grupos

culturais. Segundo ele, o tempo de aprendizagem, de assimilação, os reajustes que uma nova

tecnologia sugere a tecnologia anterior, a diversidade de interesse e necessidades, o poder

aquisitivo se mostram como aspectos que precisam ser vencidos para a devida apropriação e

uso da técnica. No caso, especialmente da educação a distância o computador ou a televisão

são os principais suportes tecnológicos, com a contribuição principal da internet e da

transmissão televisiva, respectivamente. 1 Entre 2001 e 2004 o número de cursos a distância no Brasil cresceu 600%.

Page 11: EaD Na Era Da Cibercultura

Por conta das mudanças sociais, como a necessidade cada vez maior de formação

superior e a necessidade de inserção no mercado de trabalho, a EaD se mostra uma alternativa

cada vez mais procurada. É de fundamental importância compreender os limites e

potencialidades da educação presencial e a distância, de modo que estabelecendo

comparações poderá se compreender o real alcance da educação a distância.

O primeiro aspecto apontado como desvantagem para a educação tradicional é a

relação espaço-tempo, nesse caso, o horário escolar influi de forma direta ou indireta nos

processos de ensino e aprendizagem. Isso significa delimitação de espaço e tempo. A segunda

desvantagem apontada é a questão da criação de referenciais. Na escola, o professor e a

instituição são as referências, são eles os transmissores e detentores de conhecimento e o

aluno está ali para aprender, o que gera uma clara delimitação de funções e atuações. Em

terceiro é relatado a relação face a face que pode ocasionar constrangimentos por

comparações de níveis de aprendizagem (Voigt).

Todavia não há dúvidas que o modelo de educação presencial tem obtido sucesso e

oferece vantagens que não se encontram na educação a distância. Esse modelo clássico de

educação tem vários benefícios: a reação imediata à dúvida, ou seja, o aluno pergunta o

professor responde, por exemplo. Na EaD, muitas vezes, as respostas às perguntas dos

estudantes chegam descontextualizadas e desprovidas de significado. As teleaulas

transmitidas para todo Brasil acabam intimidando os alunos a fazerem perguntas, como

acontece numa aula tradicional. Sem falar das relações afetivas, “a relação face a face reforça

o sentimento de grupo e o desenvolvimento de responsabilidades mútuas”(Voigt).

Outro aspecto negativo apontado na EAD é o distanciamento da cultura escolar.

Elementos dessa cultura, como conversas paralelas, encontros nos corredores e ambientes que

fazem parte da instituição de ensino, mas que não pertencem ao currículo acadêmico e que,

entretanto, colaboram na formação da identidade do estudante. Além dessas limitações

citadas, há um questionamento sobre a profundidade do conhecimento desse estudante em

determinados assuntos, tendo em vista que nas faculdades convencionais existe o uso de

laboratórios e, em alguns casos, atividades de extensão. As atividades de pesquisa e extensão

incluem saída de campo e são essenciais, sobretudo nos bacharelados. Esse é o grande

problema das faculdades EaD, a maioria delas ainda não oferecem atividades que extrapolam

o ensino, e por isso, essa modalidade ainda é mais comum em cursos de licenciatura. Isso quer

dizer que apropriação da linguagem feita na educação a distância ainda encontra dificuldades

e deverá sofrer processo de negociação, ainda futuramente de modo que possa atender as

demandas sociais. De modo, também que a mixagem de técnicas e usos das linguagens seja

Page 12: EaD Na Era Da Cibercultura

maior e mais abrangente. Atualmente a linguagem mais utilizada é linguagem digital, através

da internet. Segundo Lévy (1993), “a linguagem digital é mais uma categoria para aquisição

do conhecimento e esta dar-se-á no espaço das novas tecnologias eletrônicas de comunicação

e informação”.

Como já foi dito que a educação é um fluxo, é possível compreender que linguagem

digital é produto dessas inovações tecnológicas que são acompanhadas no âmbito

educacional.

A educação à distância, responde a necessidade de uma sociedade intitulada sociedade

do conhecimento, que por conta de diversas mudanças em sua estrutura exige cada vez mais o

ensino superior. Uma das vantagens apresentadas pelos defensores do EaD é a economia de

tempo no deslocamento dos estudantes de casa para o curso, já que esses não enfrentariam os

grandes engarrafamentos dos horários de pico, ou a possibilidade para aquelas pessoas que

residem longe de faculdades.

Outra interferência do fator tempo na educação distância é que o estudante necessita

geri-lo autonomamente, pois é ele quem acessa o material e realiza suas atividades quando

quer e deseja. Neste caso o conceito de participação se ajusta ao conceito de atuação e

produção, não necessariamente ao tempo dedicado ao estudo. Além disso, a educação a

distância permite uma maior adequação ao ritmo individual. Assim, o estudante pode definir

melhor seus objetivos individuais de acordo com as próprias necessidades. No que tange as

questões econômicas a EaD, não se encaixa necessariamente como proposta mais rentável,

apesar das mensalidades das faculdades serem em geral muito menores. O acesso à educação

exige um investimento para obter uma boa conexão à rede para receber as informações. Ainda

há muito para compreender sobre educação à distancia que apesar de ter um longo histórico

tem ganhando corpo, realmente, com o advento dos computadores e da internet.

EAD NO CONTEXTO BRASILEIRO

No Brasil, a EaD sempre foi vista como uma alternativa para resolver carências

educacionais acumuladas durante anos. O modelo foi pensado para atender aqueles que não

tiveram oportunidade de fazer uma graduação logo quando concluíram o ensino médio. Na

maioria das vezes, estas pessoas já estão inseridas no mercado de trabalho, por isso os cursos

possuem caráter profissionalizante. Não se trata propriamente de ensinar uma profissão, mas

de oferecer ao profissional um certificado que aumente suas chances de crescer na carreira.

Page 13: EaD Na Era Da Cibercultura

O curso a distância também é uma opção interessante para aqueles que vivem em

regiões onde a oferta de cursos de qualidade é pequena, ou ainda para pessoas que têm uma

longa jornada de trabalho. Em todos estes casos, o perfil é de pessoas para quem o ensino a

distância é o ideal, seja por questões financeiras – as mensalidades do curso não-presencial

são em média 60% mais baratas que o presencial – ou geográficas – afinal, não é necessário o

deslocamento diário até a instituição de ensino.

Hoje são oferecidos diversos cursos desde a graduação, pós-graduação, cursos de

idiomas, técnicos entre outros. As instituições de ensino que disponibilizam esses cursos são

na maioria privadas2 - com custo relativamente baixo das mensalidades -, mas algumas

universidades públicas também oferecem essa modalidade de ensino, aqui na Bahia a UFBA,

UNEB e UESC já são credenciadas junto ao MEC (Ministério da Educação) na oferta dos

cursos a distância.

Mesmo assim ainda é comum o mercado de trabalho e a sociedade enxergarem a EaD

como uma educação inferior à presencial, já que nela o aluno é o maior responsável pelo

processo. Esse ponto de vista justifica-se pela desconfiança do modelo de aprendizagem que

depende em grande parte da autonomia e da disciplina do aluno ao propor metas a si mesmo,

determinar horários de estudo e cumpri-los, enfim, seguir seu próprio ritmo.

Os defensores da EaD não negam que esta modalidade de ensino pode ser uma

“educação de segunda classe”, mas argumentam que, se isto acontece, não é devido à natureza

não presencial do processo, mas a falhas do sistema institucional. Segundo Demo (apud

Benakouche 1998, p. 13), "quando falamos de 'teleducação', a questão mais embaraçosa não

está na 'tele', mas na 'educação'". Eles defendem, por exemplo, que uma avaliação coerente

com o caráter dos cursos a distância seria a auto-avaliação. No entanto, esta prática não atende

aos critérios institucionais, e por esta razão a certificação é feita com base em avaliações

muito semelhantes àquelas aplicadas nos cursos presenciais.

EDUCAÇÃO E CIBERCULTURA

As abordagens que privilegiam a história pelo viés tecnicista seriam insuficientes para

compreensão dos fenômenos sócio-técnicos. A questão da emergência das tecnologias de

2 De acordo com a Secretária de Educação a distância 187 instituições de ensino superior oferecem EaD no país, destas 86 são instituições públicas.

Page 14: EaD Na Era Da Cibercultura

comunicação social influencia decisivamente na circulação e construção do saber na

sociedade. A transmissão do conhecimento que, tempos atrás, dependia da oralidade, tem suas

possibilidades grandemente ampliadas com o advento do livro, que pode ser considerado uma

mídia portátil. Dessa forma a imprensa condicionou a construção do ensino básico e foi uma

mola propulsora das revoluções na ciência, por meio das revistas; os meios de comunicação

de massa, através dos jornais e folhetos, e até a religião, através da Bíblia, que foi o primeiro

livro impresso. (GIOVANNINNI, 1987)

A partir de uma economia baseada na concentração dos modos de produção, na

urbanização crescente, aliada à invenção da prensa de Gutenberg, a modernidade promoveu o

advento de uma sociedade massiva, calcada na concentração dos meios de comunicação. É

esse cenário que possibilita as transformações sociais condicionadas pela revolução

tecnológica. As incessantes mudanças nas organizações e no pensamento humano passam,

então, a ser conduzidos pelos processos de avanço tecnológico e de difusão da informação que

geram e descortinam um novo universo no cotidiano das pessoas.

Grande parte da produção intelectual que pretendia compreender esse período se

manteve em duas tradições que se opõem e podem ser classificadas: uma tecnocêntrica e outra

como sociocêntrica, classificação proposta por Orozco Goméz, mas abordada com mais

profundidade por Giovandro Ferreira. Para Ferreira “ambas abordagens nutrem-se de

elementos comuns, mesmo chegando a visões aparentemente antagônicas. Ambas são

colocadas numa perspectiva globalizante, ancoradas em questionamentos que buscam explicar

as mudanças e os movimentos da história, sucumbindo numa visão geral (ensaística),

fortemente marcada pelo determinismo...”. No argumento de Ferreira, essa duas tradições são

construídas uma por McLuhan e outra pelos teóricos de Frankfurt. O reducionismo dos

mcluhanianos se apresenta pela monocausalidade histórica, de considerar os meios de

comunicação a força motriz da história. Os frankfurtianos, a partir dos conceitos de Razão

Instrumental vão considerar que “A indústria cultural encarna e difunde um ambiente em que

a técnica arremata poder sobre a sociedade, reproduzindo e assumindo o poder econômico

daqueles que já dominam sobre a sociedade”.

Tendo em vista os méritos e os limites desses recortes teóricos, devemos, novamente,

adotar as perspectivas dos autores contemporâneos como Pierre Lévy e André Lemos,

levando em consideração as complexidades que envolvem a apropriação social das

tecnologias. A própria história da cibercultura, que veremos a seguir, comprova a adequação

do exame que fazem esses autores.

Page 15: EaD Na Era Da Cibercultura

A difusão e popularização da rede mundial de computadores, a Internet, é devedora

dos movimentos de contra-cultura. Definida pela enciclopédia colaborativa Wikipédia como

“A Internet é um conglomerado de redes em escala mundial de milhões de computadores

interligados pelo TCP/IP (conjunto de protocolos de comunicação entre computadores em

rede) que permite o acesso a informações e todo tipo de transferência de dados”. Os jovens da

contra-cultura, engajados na democratização das comunicações, se apropriaram dos

equipamentos e das redes desenvolvidas pelas pesquisas militares na época da Guerra Fria,

para construir computadores pessoais e uma rede mais aberta para conexões globais. Vivemos

a intensificação do que David Harvey concebeu como compressão do espaço-tempo.

O desenvolvimento tecnológico atual permite uma revolução sem precedentes. Ao

disporem de uma série de equipamentos digitais como câmeras de vídeo, câmeras digitais,

gravadores de áudio os indivíduos contemporâneos estão construindo uma sociedade pós-

massiva, que descentraliza e rompe com as hierarquias das grandes mídias. A

descentralização permite que se supere a dicotomia produtor-receptor ao proporcionar

equitativas chances de publicação de conteúdos.

A conexão global permite uma difusão das informações e do conhecimento jamais

alcançado. Multiplicam-se as formas de interação social a partir das relações virtuais do

ciberespaço. Surgem redes colaborativas, fóruns de discussão de todos os tipos, publicação de

livros on-line, etc.

Entretanto, uma série de patologias sociais, resultantes das utopias modernas começa a

se proliferar nessa sociedade pós-massiva. “O pesadelo tomou o lugar do sonho prometéico:

poluição, desigualdades sociais, econômicas, políticas, caos urbano, violência, drogas, etc.”.

E, ao mesmo tempo, a luta de novos movimentos sociais que contestam as opressões e os

valores da sociedade burguesa vai marcar uma mudança de paradigma estético e cultural no

ocidente, que muitos autores chamam de era pós-moderna.

Novamente Pierre Lévy é importante para compreender essas mudanças. Lévy propõe

que a cultura contemporânea, em virtude das apropriações sociotécnicas proporciona a ruptura

da dicotomia sujeito e objeto do conhecimento. “Ao desenvolver o conceito de ecologia

cognitiva, irei defender a idéia de um coletivo pensante de homens-coisas, coletivo dinâmico

povoado por singularidades atuantes e singularidades mutantes”. São essas condições de

avanço e difusão do conhecimento que permitem a quebra dos paradigmas que vêem na

instituição escolar e na educação presencial os únicos meios de construção dos saberes. Em

meio a esse contexto é que se tornam possíveis as modalidades de Ensino à Distância( EaD),

Page 16: EaD Na Era Da Cibercultura

uma nova modalidade de ensino, instituído, mas que é muito mais flexível quanto à presença

física do aluno na instituição escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Várias transformações reconfiguraram os modos de viver e pensar da sociedade

moderna. Uma das características que mais marcam a modernidade é a experiência desta

sociedade com as novas tecnologias de base eletrônica, a cibercultura. As novas tecnologias,

junto com a socialidade contemporânea, segundo Lemos (2002), são responsáveis “por uma

dominação técnica do social, por um individualismo exacerbado, por um constrangimento

social exercido por uma moral burguesa e uma ética da acumulação, por uma abordagem

racionalista do mundo”. Por conta da micro-informática não nos relacionamos do mesmo jeito

com as pessoas, mudamos nossa forma pensar e agir; a nossa relação com espaço-tempo foi

alterada e passa por um processo de compilação; queremos o máximo de conforto e de

informação. Com o desenvolvimento tecnológico é possível a virtualização de ambientes

inteiros, e desta forma, reuniões, conferências, seminários e aulas podem ser transmitidos de

qualquer lugar do mundo, para várias pessoas ao mesmo tempo – sem a necessidade da

presença física do emissor e da audiência - sem grandes prejuízos a interatividade e o contato

entre eles.

A relação do homem com o ciberespaço provoca discussões intermináveis, tanto no

que diz respeito ao enfraquecimento das relações sociais, por conta do isolamento pessoal,

provocado pelo uso contínuo do computador, da perda de espaço do homem para a máquina,

pelas substituições do professor em sala de aula e das relações presenciais pelas virtuais. Com

a educação a distância essas discussões acabam se intensificando, devido a virtualização do

ambiente de ensino e, principalmente, pela ausência física do professor.

Ao contrário do que se costuma pensar, a educação a distância não é um processo de

auto-aprendizagem que independe totalmente da participação do professor. O professor do

ensino a distância tem sim o seu papel garantido e bem definido. Enquanto que, em um

ambiente convencional, o professor tem um número limitado de alunos por sala, na EAD, ele

pode ensinar até para milhares de alunos ao mesmo tempo, sem a necessidade de dividir o

espaço físico com estes. Assim, em um ambiente virtual, o professor passa a desempenhar o

papel de mediador, uma espécie de perito em animar coletividades inteligentes.

“a principal função do professor não pode mais ser uma difusão dos conhecimentos, que agora é feita de forma mais eficaz por outros meios. Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o

Page 17: EaD Na Era Da Cibercultura

pensamento. O professor torna-se um animador da inteligência coletiva dos grupos que estão a seu encargo”. (Lévy, 1999, p.171)

O EaD, portanto, se mostra não como um “vilão” que substituirá o ensino tradicional e

junto com a internet acabará com as relações interpessoais e isolará cada vez mais os

indivíduos. Apesar de o nosso país apresentar vários motivos para que isso aconteça; como

por exemplo, a inversão da idéia de prisão, quando cidadãos honestos se trancam em suas

casas para evitar a violência, ou com o trânsito caótico que atrapalha os deslocamentos nas

grandes cidades. Como afirmou Lévy num trecho de uma entrevista transcrita na epígrafe

deste trabalho, o ensino a distância e através da grande rede, que virtualiza as aulas, poderá

servir como uma alternativa para algumas disciplinas escolares, ou mesmo para determinados

cursos de graduação, pós-graduação, técnicos e de idiomas como já acontece.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATAIDE, Maria Elza Miranda. Aspectos Legais que viabilizam a EAD no Brasil. Gestão universitária. 3 out. 2007. Disponível em: <http://www.gestaouniversitaria.com.br/index.php/edicoes/103-141/506-aspectos-legais-que-viabilizam-a-ead-no-brasil.html> Acessado em: 10 jun. 2009.

BARBERO, Jesús Martín. Tecnicidades, identidades, alteridades: mudanças e opacidades da comunicação no novo século. IN: MORAES, Dênis de (Org.). Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006 p. 51-76.

BENAKOUCHE, Tamara. Educação a distância (ead): uma solução ou um problema? IN: XXIV Encontro Anual da ANPOCS (Petrópolis, RJ - 23 a 27 de outubro de 2000). UFSC. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/anpocs00/gt02/00gt0232.doc> . Acessado em: 20 jun 2009.

DIAS, Bernadete Oliveira Sidney Viana. Potencialidades e limitações do ensino a distancia na Universidade Federal de São João del Rei – MG: uma análise interpretativa Disponível em: http://aveb.univap.br/opencms/opencms/sites/ve2007neo/pt-BR/imagens/27-06-07/Escola/trabalho_77_bernadete_anais.pdf Acessado em: 20 de jun. 2009.

FERREIRA, G. M. . A técnica nos estudos da comunicação: sob a égide do determinismo e da negociação. Diálogos Possíveis (FSBA), Salvador, v. V, n. 1, p. 15-29, 2006.

GIOVANNINNI, Giovanni - (org). Evolução na comunicação. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987

GÓMEZ, Guillermo Orozco. Comunicação social e mudança tecnológica: um cenário demúltiplos desordenamentos. IN: MORAES, Dênis de (Org.). Sociedade Midiatizada. Rio deJaneiro: Mauad, 2006 p. 81-97.

Page 18: EaD Na Era Da Cibercultura

GOUVÊA, Guaracira e OLIVEIRA, Carmen Irene C. de. Limites, viabilidades e potencialidades da educação a distância. UFRJ.Disponível em: http://www.lab-eduimagem.pro.br/frames/seminarios/pdf/guagou.pdf Acessado em: 5 jun. 2009

HOHLFELDT, Antonio. MARTINO, Luiz C. Martino. FRANÇA, Vera Veiga (orgs.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001.

LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Sulina. 2002.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Editora 34, Tradução de Carlos Irineu da Costa. 1999._____________ As Tecnologias da Inteligência. O Futuro do Pensamento na era da informática. Editora 34. Tradução de Carlos Irineu da Costa.2004.

MARQUES, Camila. Ensino a distância começou com cartas a agricultores. Folha Online, São Paulo, 29 set. 2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ ult305u396511.shtml> Acesso em: 7 de junho de 2009.

MORAN, José. O que é educação a distância. 2002. Disponível em:<http://www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm> Acessado em: 26 jun.2009

SENAC nas ondas do rádio. Senac São Paulo, São Paulo, 10 mai. 2006. Disponível em: http://www.sp.senac.br/jsp/default.jsp?tab=00002&newsID=a7409.htm&subTab=00200&uf=&local=&testeira=453&l=&template=&unit=ANY > Acessado em: 7 jun. 2009.

TOLEDO, Fransisco. Pedagogia on-line. 2003. Disponível em: <http://www.lo.unisal.br/nova/ead/artigo2.html> Acessado em 19 jun. 2009.

VOIGT, Emilio. A ponte sobre o abismo: educação semipresencial como desafio dos novos tempos. Disponível em: http://www3.est.edu.br/publicacoes/estudos_teologicos/vol4702_2007/ET2007-2c_evoigt.pdf. Acessado em: 27 jun. 2009.