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CAPÍTULO 4 Sabe quanto você vai poder pagar? É hora de sentar na mesa com o credor. 1 - Aproprie-se de sua vida E-BOOK COMO SE PREPARAR PARA A NEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS Com dívidas em quase 20 instituições diferentes, Joana fez uma lista dos valores de cada prestação, mas já se perdeu no quanto pagou e não tem clareza sobre o total de sua dívida. Uma estimativa revela que ela deve, por alto, o equivalente a 30 vezes o seu salário. Ela é funcionária pública e sua renda bruta passa de 10 salários mínimos, alta para os padrões brasileiros*. Isso mostra que não é o tamanho do bolso que garante educação financeira. Pessoas de todas as classes sociais estão sujeitas a perder o controle de suas contas. Boa parte da renda líquida de Joana já está comprometida com empréstimos compulsórios e pessoais, que são debitados em seu holerite e conta bancária mensalmente. Na tentativa de pôr a vida em ordem, Joana fechou várias negociações, mas não tem conseguido pagar. “Foi a primeira vez na vida que meu nome ficou negativado e isso foi um baque para mim. Entrei numa bola de neve e, agora, vou fazer de tudo para sair. Não posso mais viver assim”, diz. Para a especialista em conciliação Marinalva Gonçalves Requião, situações complexas, como a de Joana, podem ser superadas com muita organização e planejamento financeiro. Psicóloga, Marinalva atua no Programa de Ambulatorial dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP e integra a equipe da Associação Viver Bem, parceira do Serasa Consumidor na orientação a consumidores endividados. A primeira coisa a ser feita é conhecer sua real condição financeira. “É preciso pôr tudo no papel para saber quanto você poderá dispor para pagar as dívidas e, então, negociar o pagamento com os credores”. Veja, a seguir, alguns passos e dicas para seguir esse caminho e não voltar a ficar endividado. Algumas vezes, as pessoas são pegas de surpresa. Marcos Pereira de Souza alugou um imóvel e o inquilino, simplesmente, deixou de pagar a conta de luz, acumulando uma dívida de mais de R$ 6 mil com a concessionária de energia. Só depois que o inquilino saiu do imóvel e entregou as chaves é que Marcos ficou sabendo da dívida. O ex-inquilino sumiu e Marcos ficou com o nome sujo. * Segundo o Instituto Datafolha, apenas 5% da população brasileira tem renda familiar acima de R$ 7.000.

E-BOOK COMO SE PREPARAR PARA A NEGOCIAÇÃO Sabe … · tudo o que aprendi aqui e o que levei foi de grande ajuda lá em casa. É um conhecimento que pode mudar a vida da gente. Isso

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CAPÍTULO 4Sabe quanto você vai poder pagar? É hora de sentar na mesa com o credor.

1 - Aproprie-se de sua vida

E-BOOK COMO SE PREPARAR PARA A NEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS

Com dívidas em quase 20 instituições diferentes, Joana fez uma lista dos valores de cada prestação, mas já se perdeu no quanto pagou e não tem clareza sobre o total de sua dívida. Uma estimativa revela que ela deve, por alto, o equivalente a 30 vezes o seu salário. Ela é funcionária pública e sua renda bruta passa de 10 salários mínimos, alta para os padrões brasileiros*. Isso mostra que não é o tamanho do bolso que garante educação financeira. Pessoas de todas as classes sociais estão sujeitas a perder o controle de suas contas.

Boa parte da renda líquida de Joana já está comprometida com empréstimos compulsórios e pessoais, que são debitados em seu holerite e conta bancária mensalmente. Na tentativa de pôr a vida em ordem, Joana fechou várias negociações, mas não tem conseguido pagar. “Foi a primeira vez na vida que meu nome ficou negativado e isso foi um baque para mim. Entrei numa bola de neve e, agora, vou fazer de tudo para sair. Não posso mais viver assim”, diz.

Para a especialista em conciliação Marinalva Gonçalves Requião, situações complexas, como a de Joana, podem ser superadas com muita organização e planejamento financeiro. Psicóloga, Marinalva atua no Programa de Ambulatorial dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP e integra a equipe da Associação Viver Bem, parceira do Serasa Consumidor na orientação a consumidores endividados.

A primeira coisa a ser feita é conhecer sua real condição financeira. “É preciso pôr tudo no papel para saber quanto você poderá dispor para pagar as dívidas e, então, negociar o pagamento com os credores”. Veja, a seguir, alguns passos e dicas para seguir esse caminho e não voltar a ficar endividado.

Algumas vezes, as pessoas são pegas de surpresa. Marcos Pereira de Souza alugou um imóvel e o inquilino, simplesmente, deixou de pagar a conta de luz, acumulando uma dívida de mais de R$ 6 mil com a concessionária de energia. Só depois que o inquilino saiu do imóvel e entregou as chaves é que Marcos ficou sabendo da dívida. O ex-inquilino sumiu e Marcos ficou com o nome sujo.

* Segundo o Instituto Datafolha, apenas 5% da população brasileira tem renda familiar acima de R$ 7.000.

Esse foi realmente um aprendizado importante para ele.

Receitas: salário, pensão, renda com bicos ou alugueis de todos os integrantes da família.

Gastos: despesas básicas da casa, alimentação, transporte, gastos com saúde, educação e lazer.

Reserva: mesmo que tenha dívidas, continue reservando cerca de 5% de sua renda para os imprevistos.

Receitas( Entradas )

PrevisãoDezembro - R$

PrevisãoJaneiro - R$

PrevisãoFevereiro - R$

Salário do João 1.300,00 1.300,00 1.300,00

Pensão da mãe 920,00 920,00 920,00

Bicos feitos pelo Márcio 250,00 150,00 150,00

Soma das Receitas 2.470,00 2.370,00 2.370,00

Despesas( Saídas )

Aluguel 1.200,00 1.200,00 1.200,00

Supermercado 600,00 600,00 600,00

Remédios 80,00 0 0

Não ter passado a conta de luz para o nomedo inquilino, porque era uma pessoa que euconhecia. Confiei e deu nisso

“ “

,responde.

2 - Papo de famíliaSe você mora com outras pessoas da família, converse com elas sobre as dívidas e mobilize todos para organizar o orçamento familiar (veja a cartilha que o Serasa Consumidor preparou para ajudar você a fazer isso). http://www.serasaexperian.com.br/educacaofinanceira/ftp/2Orcamento_WEB.pdf

Faça isso considerando a situação real do mês e a previsão, para cada item, do quanto irá gastar nos próximos três meses. Se você tem uma dívida de R$ 5.000,00, veja um exemplo de como se organizar.

Nesse orçamento, inclua:

Conta de luz 110,00 110,00 110,00

Conta de água 160,00 160,00 160,00

Conta de gás 20,00 20,00 20,00

Prestação da geladeira 70,00 70,00 70,00

Reserva para imprevistos 100,00 100,00 100,00

Saldo disponível parapagar dívidas 130,00 110,00 110,00

Saldo 230,00 210,00 210,00

Soma das Despesas 2.240,00 2.160,00 2.160,00

(Receitas - Despesas)

Feito, isso, você saberá o quanto a família ganha e gasta e quanto poderá dispor para negociar a quitação da dívida com o banco. Nesse caso, o valor de R$ 5.000 em dívidas poderá ser negociado para pagamento em 45 parcelas de R$ 110,00 no máximo, pois é o que a família tem disponível.

3 - Estabeleça um limiteO objetivo é sair das dívidas, certo? Então, já sabendo o quanto poderá pagar, defina um valor limite para negociar e não assuma um compromisso com o qual não possa arcar.

No caso acima, se a família fosse pagar o valor de R$ 5.000,00 em parcelas de R$ 110,00 levaria 4 anos para quitar a dívida. Com essa informação em mãos, negocie um desconto no valor total para quitar a dívida mais rapidamente.

4 - Considere os imprevistosTodos nós costumamos acreditar no melhor cenário e, por isso, raramente prevemos um “plano B” para cobrir os eventuais imprevistos. Gastos com reforma, perda do emprego, consertos no carro e doenças na família são causas comuns do atraso no pagamento das contas.

Marivaldo gastou todas as suas economias para construir uma casa para alugar, mas quando a situação não saiu como planejado, perdeu o controle de suas contas e entrou no cheque especial. O resultado? Três anos depois, suas dívidas passam de 5 vezes a sua renda.

Quando planejar o pagamento de dívidas, reserve um valor mensal para cobrir novos imprevistos que poderão surgir. Seja cauteloso e previna-se de novas dívidas desnecessárias.

Antes de fazer a negociação com o credor, pense nos argumentos que irá apresentar e leve todos os documentos comprobatórios. Faça uma lista de perguntas que você poderá fazer antes de assinar a negociação. Por exemplo:

Se restar alguma dúvida, não decida por impulso. Peça para que a proposta de negociação seja feita por escrito, leve para casa, discuta com a família e volte depois com uma contraproposta ou, se houver concordância, para assinar o contrato de negociação.

Qual será o desconto, em percentual, sobre a dívida total?

Se pagar a vista, posso ter um desconto maior?

Se parcelar, quais serão os juros?

Depois de pagar, em quanto tempo terei minha situação regularizada no Serasa?

Quando pagar, vou receber uma carta de quitação?

5 - Defina a sua estratégia para negociar

Quando uma pessoa endividada falece, tudo o que é possui é considerado patrimônio, seja ele positivo, como bens (imóvel ou carro) e dinheiro no banco, ou negativo (empréstimos, prestações e contas não pagas). Por isso, na perda de um familiar, como pai ou mãe, é obrigatório fazer o espólio.

No falecimento, as dívidas não deixam de existir. Elas precisam ser inventariadas e incluídas no espólio. Os herdeiros respondem pela dívida, até o limite da herança. Se esse for o seu caso, fale com um advogado, que poderá orientar a família em relação ao pagamento das dívidas.

6 - Faça o espólio

7 - Para evitar um novo endividamento

Não aceite o crédito fácil que algumas instituições ofertam com taxas maiores.

Mantenha a sua planilha financeira sempre atualizada.

Busque equilibrar as despesas e receitas, cortando os excessos.

Reserve pelo menos 5% da sua renda mensal para imprevistos, mesmo enquanto paga dívidas.

Evite fazer novas dívidas quando entrar dinheiro extra como 13º ou rescisão. Use esse dinheiro para quitar dívidas atuais, poupe para imprevistos ou junte para comprar à vista.

Qual será o desconto, em percentual, sobre a dívida total?

Se pagar a vista, posso ter um desconto maior?

Se parcelar, quais serão os juros?

Depois de pagar, em quanto tempo terei minha situação regularizada no Serasa?

Quando pagar, vou receber uma carta de quitação?

Depoimentos

Uma nova vida

Por essa eunão esperava

Marcos Pereira de Souza participou de todas as atividades do programa de educação financeira do Serasa Consumidor, realizadas entre setembro e novembro de 2015. Quando chegou à última sessão de orientação, ele trazia uma planilha de orçamento que fez junto com a mãe e o irmão, na qual incluiu todos os gastos e receitas da família.

Com uma dívida deixada por um inquilino, que saiu do imóvel sem pagar uma conta de luz de mais de R$ 6 mil, e com seu nome incluído nas listas de restrição, ele chamou a família para conversar. “Passei para eles tudo o que aprendi aqui e o que levei foi de grande ajuda lá em casa. É um conhecimento que pode mudar a vida da gente. Isso devia ser ensinado já na escola, para as crianças. Quando a gente aprende a fazer o orçamento enxerga o valor do dinheiro e vê o quanto pode fazer no futuro”, disse.

E, num futuro próximo, o que ele mais deseja é limpar seu nome para montar um negócio próprio: uma escolinha de futebol para crianças, investindo na formação de atletas. Com 43 anos, e morador do Jardim Pirituba, em São Paulo, Marcos conta que já conseguiu fazer uma boa economia só com o corte de “gastos bobos” que costumava fazer na rua, como lanches e cafezinhos.

Agora, ele vai participar do Feirão Limpa Nome do Serasa Consumidor, já sabendo que, se conseguir uma boa negociação, poderá pagar sua dívida à vista. “Não fui eu quem ficou devendo, mas aprendi que quando a gente deixa de cuidar direito das coisas, se torna responsável por elas”.

Marivaldo dos Santos Rodrigues recebeu a indicação de amigos para participar do programa de educação financeira do Serasa Consumidor e colocar um fim nas dívidas que já consomem boa parte de sua renda há três anos.

O descontrole começou quando resolveu comprar um terreno para construir uma casa que seria alugada para gerar renda extra à sua família. “Minha ideia era alugar e receber o dinheiro, mas isso não aconteceu e a dívida começou a crescer.” Apesar de fazer hora extra no trabalho, Marivaldo não conseguia cumprir os compromissos assumidos com os pedreiros e as lojas de material de construção.

Acertou uma negociação com os credores e, sentindo-se mais seguro, acabou comprando um carro que também gerou despesas inesperadas. “Tive que trocar algumas peças e não consegui pagar as prestações.” Enquanto a dívida crescia, Marivaldo também aprendeu que “não se deve aceitar a primeira oferta por empolgação”.

Antes de adquirir um bem, é preciso pensar, colocar as contas no papel, avaliar os riscos de imprevistos no caminho e reservar uma parte do dinheiro para essas situações.

“Agora aprendi a negociar e minha meta é pagar as dívidas e resolver a situação enquanto dá tempo, antes que outra surpresa aconteça”.