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Epopéia Farroupilha

e a Maçonaria Riograndense

Antônio César Celente

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Epopéia Farroupilha e a Maçonaria Riograndense

(Relato Histórico)

1ª Edição

MAÇONARIA UNIVERSAL

“Le seul bien de létat fait son ambition, il hait la tyrannie, et la rebelion”.

(Henry Voltaire)

Antônio César Celente

Casa do Pensamento Livre www.portaldeconhecimento.com.br

Rua Marques de Souza, N. 29 – Loja “A”

Jardim São Pedro - Porto Alegre/RS - CEP 91040-230

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Copyright do Autor, 2004

Capa, ilustrações e desenhos: Marcelo Lima Celente

“Epopéia Farroupilha e a Maçonaria Riograndense”

Antônio César Celente ∴ (Mestre Instalado e Maçom do Real Arco)

Participa ou participou:

Loja York7 Loja York N. 8 Loja São Jorge

Loja Construtores Sociais Loja Philantropia e Liberdade

Loja Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia Capítulo Thomas Smith Web / Real Arco

Capítulo José Guimarães Gonçalves / Real Arco Delegado do GORGS

Deputado da Assembléia Legislativa Maçônica / RS Grande Loja Nacional Portuguesa

Grande Oriente do Rio Grande do Sul Grande Loja Unida do Rio Grande do Sul

Primeira Grande Loja Simbólica Nacional Brasileira Loja de Pesquisas Brasil – Londrina/PR

Loja de Pesquisas Quator Coronati – Londres Academia Maçônica de Letras do Centro Oeste Associação Gaúcha de Escritores Independentes

Portal de Conhecimento Casa do Pensamento Livre

Comitê Municipal de Defesa Civil Gabinete de Leitura Continentino Grêmio Beneficente da Maçonaria Fundação Humanitária Renascença

Comitê de Combate à Exclusão Digital Instituto Gaúcho de Valorização Humana

Home Page: www.portaldeconhecimento.com.br E-mail: [email protected]

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Céu, Sol, Sul, Terra e Cor Autor: Leonardo

“Eu quero andar nas coxilhas sentindo as flexilhas das ervas do chão, Ter os pés roseteados de campo ficar mais trigueiro que o sol de verão,

Fazer versos cantando as belezas desta natureza sem par, E mostrar para quem quiser ver um lugar prá viver sem chorar.

É o meu Rio Grande do Sul, Céu, sol, sul, terra e cor,

Onde tudo que se planta cresce, E o que mais floresce é o amor.

Eu quero me banhar nas fontes e olhar o horizonte com Deus, E sentir que as cantigas nativas continuam vivas para os filhos meus,

Ver os campos florindo e crianças sorrindo felizes a cantar, E mostrar para quem quiser ver um lugar prá viver sem chorar”.

Canto Alegretense

Autores: Antônio Augusto Fagundes - Bagre Fagundes “Não me perguntes onde fica o Alegrete,

Segue o rumo do teu próprio coração, Cruzarás pela estrada algum ginete, E ouvirás toque de gaita e de violão.

Prá quem chega de Rosário ao fim da tarde, Ou quem vem de Uruguaiana de manhã,

Tem o sol como uma brasa que ainda arde, Mergulhado no rio Ibirapuitã.

Ouve o canto gauchesco e brasileiro, Desta terra que eu amei desde guri,

Flor de tuna camoatim de mel campeiro, Pedra moura das quebradas do Inhanduí.

E na hora derradeira que eu mereça, Ver o sol alegretense entardecer,

Como os potros vou virar minha cabeça, Para os pagos no momento de morrer. E nos olhos vou levar o encantamento, Desta terra que eu amei com devoção,

Cada verso que eu componho é um pagamento, De uma dívida de amor e gratidão”.

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ÍNDICE

- PREÂMBULO – Prefácio (Rosa Bonini) 7 Nota sobre o Autor (Ércio L. Vieira da Cunha) 9 Apresentação 11 Dedicatória 12 Gabinete de Leitura Continentino 13 A Escola de Alfabetização de Adultos 15 Extrato do Balaústre 67, de 13 de setembro de 1835. 17 Descrição Maçônica do Brasão do Escudo Riograndense 19 Diploma Maçônico do General Bento Gonçalves 21 O Hino da Philantropia e Liberdade 22 A Palavra de Passe 23 O Quero-quero (Darcy Celente) 24 Aquerenciamento do Planeta (Prof. Celso Marques) 25 Hino Riograndense 26

- A EPOPÉIA FARROUPILHA – Odisséia Farroupilha (Ivar Ruis Nunes Piazeta) 27 Gen. Bento Gonçalves da Silva 31 Giuseppe Garibaldi - Maçom Carbonário 35 Anita Garibaldi a heroina de dois mundos 37 A Influência da Maçonaria na Revolução. 39 Relato Histórico 57 Duque de Caxias e a Maçonaria. 71 A Saga Gaúcha 77 Uma Província Isolada 78 Dinheiro Gaúcho pagava dívidas Inglesas 81 Na fronteira o clima era de tensão 82 Charque, produto de exportação 83 Os canhões Virtuais de Rio Pardo 85 Os mistérios ocultos no Chimarrão 86

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- FORÇA FEMININA - AS 7 MULHERES VALENTES - Anita Garibaldi (1835) – A Heroína Farroupilha 87 Maria Francisca (1835) – Chica Papagaia. 89 Joana Galvão (1680) – A Guardiã de Sacramento 90 Apolinária Cardozo (1893) 92 Olmira Leal (1923) – Cabo Toco 93 Frutuosa Souza (1923) 95 Zeferina Dias (1924) – A Bolachinha 97

- CONSIDERAÇÕES FINAIS - Uma guerra equilibrada 99 Epílogo 100 Fontes consultadas 101 Obras do Autor 101

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- PREÂMBULO -

PREFÁCIO “Revolução Farroupilha”: “Os mesmos ideais pelos quais lutara, ainda hoje estão latentes no coração de todos os gaúchos. O mesmo “garrote” da Metrópole dos idos de 1.831 ressurgiram. Estão presentes no Planalto Central, maneando nosso crescimento e encurtando rédea na corrida para o grande futuro”. Frase do autor desta obra histórica.

“Brigada de Ataque da Cavalaria Riograndense” Vemos aqui, neste adentrar caminhando pelo século XXI e na declaração do autor, a imensa tarefa dos brasileiros, do povo Sul-americano e de todos os seres humanos que vivem neste nosso planeta Terra : “o raiar de um grande momento histórico”. Por aceitarmos a reencarnação, podemos declarar tranqüila e serenamente, da possibilidade de que os grandes batalhadores do passado recente, cheios de ideais, continuam voltando em corpos e nomes diferentes, mas, com toda a certeza para dar prosseguimento às tarefas não completadas pelas dificuldades de outrora. Ganhar eleições, é compulsoriamente a obrigatoriedade de responder pelos anseios de um povo que elege seus líderes pedindo em primeiro lugar a paz, sempre dentro da liberdade com responsabilidade, bem como, a igualdade e fraternidade no manter o respeito para com todos os seres humanos e à natureza; navegamos todos no mesmo barco chamado Terra. O autor, Ir.´. Antônio César Celente, pesquisou nas páginas registradas no passado, revelando dados comprovados em documentos da nobre e respeitável Maçonaria.

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É uma obra de cabal importância neste momento, a fim de que os adultos e idosos possam recordar-se das lutas passadas e os jovens possam reconhecer que uma nação, maravilhosa como o Brasil, se mantém erguida através de honra e dignidade de almas nobres, as quais sempre lutam por ideais de liberdade e justiça. Mesmo quando necessário, com sangue e lágrimas, tendo de lutar por princípios e ideais nobres, justos e perfeitos. Sabemos das dores de um parto para despertar este maravilhoso bebê de quinhentos anos; gigante que já acordou em berço esplêndido e que continua a crescer robusto e forte. Como educadora podemos declarar que este livro revela dados históricos importantíssimos, de conteúdo universitário, deve ser divulgado nas escolas de alto nível, as quais mantém bons professores para bons alunos. A juventude atual precisa sentir o que é ser um patriota, o que é a verdadeira cidadania, o que é ser um protetor da liberdade dos direitos humanos daqueles que sabem respeitar os direitos e deveres de cada cidadão. Nossa pátria é o planeta Terra, somos irmãos e filhos de um mesmo pai criador e sabemos que a mãe é viuva. A Maçonaria é Universal e assumiu junto ao Grande Arquiteto do Universo a missão de lutar pela liberdade, igualdade e fraternidade para todos os povos. Escolas Ocultistas declaram que a partir deste novo milênio a Maçônica alcançará uma nova e importante atividade espiritual que irá aproximá-la da sua verdadeira função, assim, cumprirá o destino previsto há muitos séculos. A nobre Fraternidade Maçônica desceu para um estado bastante sectário e, como outros grupos, caiu na rede do materialismo, então, durante milênios a forma externa teve, aos olhos dos maçons, mais importância que o significado espiritual interno. Acentuaram-se mais aos símbolos e às alegorias, enquanto foram esquecidos aquilo que deveria ser transmitido e revelado aos iniciados, dentro do verdadeiro trabalho que se realiza no Piso Sagrado do Templo. Isso já está mudando e o poder e a eficácia dos trabalhos e cerimoniais da Loja serão demonstrados, então, compreender-se-á o verdadeiro trabalho espiritual e a função de toda Loja nobre, justa e perfeita.

Os Grandes Seres que dirigem os destinos da Humanidade, principalmente, o nobre Ser que se acha à frente da “ Magna Obra” para a América Latina neste momento, estão atentos aos grandes núcleos de atividades espiritualistas, desde que, seus membros estejam em condições de prestar relevantes serviços à causa fraternal de evolução da humanidade.

A Maçonaria será a que maiores serviços prestará a este trabalho, porém, já está entendido, após passar por estas mudanças de que tanto vem se ressentindo por longo tempo. Maçons, mister se faz que o “Ramo de Acácia” de todos os tempos não venha a secar sobre o túmulo glorioso dos seus antepassados. Os tempos são chegados meus irmãos e HIRAM vai ressuscitar dentro de cada um daqueles que quiserem seguir e apoiar o eterno gesto do Supremo Arquiteto do Universo, isto é : “construir, edificar coisas belas e perfeitas para a grande Obra da Humanidade e para isso, justiça se faça tem que ser, lado a lado com a mulher. Repetimos a inicial: “Os mesmos ideais pelos quais lutara, ainda hoje estão latentes no coração de todos os gaúchos. O mesmo “garrote” da Metrópole dos idos de 1.831 ressurgiram. Estão presentes no Planalto Central, maneando nosso crescimento e encurtando rédea na corrida para o grande futuro. Frase do autor nesta belíssima obra histórica.

Rosa T. Bonini de Araújo∴

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NOTA SOBRE O AUTOR Antônio César Celente, nasceu em Porto Alegre, em 4 de março de 1957, filho do

Ir∴Darcy Celente, cuja vida maçônica tem sido exemplo de bondade e incessante busca de conhecimento, graduou-se, na vida profana, em Análise de Sistemas e Administração de Empresas e Pós-graduou-se em Engenharia de Software pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Habituado à luta democrática, tendo participado ativamente das lutas acadêmicas pela redemocratização do país e por uma constituição mais justa. Tendo muito gosto pelo estudo e à pesquisa, o Ir∴ Celente, encontra aí, o veículo ideal para alardear seus ideais maçônicos de cidadão patriota e buscador da verdadeira luz.

(O Autor na Loja Philantropia e Liberdade) Filho de maçom, cresceu vendo o exemplo do pai, na busca da verdadeira luz, tentando “burilar a sua Pedra Bruta”. Pouco tempo decorreu desde a sua iniciação na Arte Real, até ocupar o Trono de Salomão. Sua personalidade carismática e aglutinadora, associada à uma imensa vontade de trilhar os caminhos do verdadeiro conhecimento, tornou-se manifesta, tanto pela maneira harmônica como se conduziu como Venerável, quanto pela sua preocupação constante com a instrução, principalmente dos Aprendizes do Rito de York. Por ser um destacado obreiro foi nomeado para exercer a função de Delegado Adjunto da 1ª Zona Maçônica do G.O.R.G.S. onde teve grande atuação na busca de uma maior integração das Lojas do Rito York e na unificação dos Rituais. Atuou também na aproximação e na dinamização das relações entre as Potências Maçônicas no Rio Grande do Sul. Exerceu a função de Deputado eleito e digno representante da Loja Philantropia e Liberdade junto à Poderosa Assembléia Legislativa Maçônica, onde destacou-se por um trabalho participativo e renovador.

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Participou também do Conselho Consultivo do Capítulo Porto Alegre, da Ordem DeMolay, onde foi presidente na gestão onde foram elaboradas novas diretrizes para a ampliação do Capítulo. Acredita que os jovens da DeMolay representam a renovação necessária para a preservação dos ideais da Maçonaria Universal. Nosso Irmão também atua na comunidade Porto-alegrense, pois é o representante da Maçonaria Gaúcha no Conselho Comunitário de Defesa Civil (COMUDEC), órgão componente da estrutura de Defesa Civil do Estado, subordinado ao Gabinete do Governador, Casa Militar, cujos objetivos são de atuar na defesa dos cidadãos e suas famílias.

Neste Comitê tem se destacado na defesa da natureza, ecologista nato, busca na preservação do ambiente e suas fontes naturais a inspiração e a força para sua luta. Fazendo da Maçonaria o seu verdadeiro Sacerdócio, pois não se consegue imaginar este abnegado Ir∴ sem o serviço na Ordem, viabilizou durante a sua gestão como V∴ M∴, depois de mais de 160 anos, a recirculação de “O Continentino”, jornal editado pelos “Conspiradores Marimbondos” nos anos que antecederam a rebelião gerada no âmago da Maçonaria de então. Sua inclinação pela palavra escrita é notória. Sua paixão pela pesquisa faz dele um leitor voraz e um obstinado colecionador de textos maçônicos, sempre impregnados dos mais elevados princípios filosóficos. O objeto desta busca incessante não envolve apenas o seu próprio desenvolvimento, mas, sempre, o aperfeiçoamento de todos quanto o estiverem ouvindo. Daí a sua Maestria, que não se restringe apenas ao saber, mas ao nobre objetivo de repartir a sabedoria adquirida com seus Irmãos de Ordem. Neste seu trabalho, dedicado à História do Saga Farroupilha e a influência da Maçonaria Riograndense, Celente apresenta farta gama de conhecimentos inerentes ao assunto com muita propriedade, textos relacionados com a Epopéia Farroupilha. Tenho a convicção de que Celente irá seguir adiante, trazendo à luz, proximamente, outros trabalhos seus, o que, não somente será motivo de orgulho para os obreiros da sua augusta oficina, mas se constituirá em preciosa fonte de informações a todos os que deles vierem a se servir.

Ércio L. Vieira da Cunha∴

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APRESENTAÇÃO Esta peça de arquitetura, é a obra de vários anos de trabalho na Ordem Maçônica, onde tive a oportunidade de entrar em contato com os conhecimentos milenares da Sabedoria Universal. Tive a oportunidade de conhecer o trabalho dos Irmãos que fizeram a história do Rio Grande do Sul, do Brasil e do mundo. É um livro dedicado aos leitores em geral, maçons e não maçons. Seu objetivo maior é desvendar uma página tão marcante e importante da história brasileira. Neste trabalho são apresentados vários textos sobre a influência da Maçonaria na história do Rio Grande do Sul e no contexto sócio-político, selecionados para darem um contribuição efetiva aos leitores que tiverem a oportunidade de entrar em contato com suas linhas. Nesta obra apresentamos um pouco da história do Rio Grande, que está intimamente ligada à Maçonaria e mais especialmente ao Gabinete de Leitura Continentino e à Loja Maçônica Philantropia e Liberdade, à qual teve grande influência no seu destino. Desde já agradecemos a oportunidade de nos dirigirmos aos nossos irmãos que desta forma estão colaborando com a continuidade deste trabalho, desta obra que se propõe à construção de um mundo melhor, mais justo, mais fraterno e mais humano.

“Todos podem comunicar os seus pensamentos por palavras escritas e publicá-las pela imprensa em toda a matéria, sem necessidade de censura prévia, ficando porém, responsáveis pelos abusos que cometerem no exercício deste direito, nos casos e pelo modo que a lei determinar.” (Art. 209 do Projeto de Constituição da República Riograndense, Oriente de Alegrete, ano de 1843 E.V.)

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DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meus filhos Rodrigo e Marcelo, luzes que Deus colocou no meu caminho e a todos os meus irmãos, pessoas dignas, honestas e buscadores da verdadeira luz, principalmente a Dante Fléride Bósio∴, pessoa em que muito me inspirei e que muito me ensinou sobre a Arte Real; a Suzano Jacques Suertegaray∴ com quem aprendi a maior das lições da vida a tolerância, a paciência e principalmente a persistência; a Claúdio dos Reis Berzagui∴, com quem aprendi muita coisa sobre a arte de viver; aos companheiros do Real Arco: Carlos Foltz∴, Aroldo Macan∴, Francisco∴ (Chicão), Paulo Afonso Faleiro da Silveira∴, com quem conheci o verdadeiro sentido da fraternidade; aos companheiros de luta da GLURGS, principalmente os manos: Maurício Kropidlofscky∴, Roberto Macarevich∴, Weber Augusto Marasquim, Lume∴, Jaques Leonel Bica∴, verdadeiros infantes da Nova Onda; a Gilberto Iung∴ e a Silvio Meucci∴, amigos de todas as horas; ao meu irmão Dejair Vargas∴, pela força que sempre me deu; a Juracy Vilela∴ e a Paulo Nunes Gomes∴ pessoas dignas e atuantes que estão modernizando o modelo de Gestão do GORGS; a José Firmino∴, incentivador e amigo; a Ivar Ruiz Nunes Piazeta∴, exemplo de competência, ação e fraternidade; a minha irmã Rosa Bonini∴ madrinha desta obra, pelo apoio recebido; a minha amiga Leila Koneski, minha colaboradora e incentivadora; a tantos outros amigos e amigas aos quais precisaria muitas folhas para descrever. A meu pai e Darcy Celente∴, companheiro leal de longas jornadas e lutas, fundador de três Lojas Maçônicas e da Grande Loja Unida do Rio Grande do Sul, a quem tento humildemente seguir a trajetória. E a tantos outros Guerreiros que já partiram para o Oriente Eterno, tais como: Abel Gonçalves∴, Breno Audibert∴, Justo Fabrício Krieger∴, Ércio Landó Vieira da Cunha∴, Diogo de Assis Brasil Soares∴, Tio Pedro∴, Cabo Rocha∴, Heitor Macan∴(meu grande escudeiro), Manoel Soares Leães∴(o Grão Mestre da Maçonaria Universal), pessoas com quem tive o privilégio de conviver, de compartilhar idéias, crescer como ser humano e como maçom e viver grandes momentos e emoções.

(Membros da Loja Philantropia e Liberdade - 25/12/1.831)

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Guerreiro é Luta

“É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glória, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espirito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta, que não conhece vitória nem derrota.”

(Proclamação da República Riograndense) “Rogo ao G∴A∴D∴U∴ que nos oriente e proteja nesta caminhada cujo objetivo final é a construção de um mundo melhor, um mundo de amor, compreensão e de Paz Profunda”.

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GABINETE DE LEITURA CONTINENTINO Esta é uma pequena Historinha, não uma Estorinha. Leia provavelmente você ainda não a conhece. Tenha certeza de que a leitura renderá dividendos para o seu acervo de conhecimentos históricos. Vá em frente ... Há cento e setenta e dois anos passados não existiam agências de propaganda e anunciar em jornais e revistas era fazer “reclame”, seja de produtos ou serviços. Talvez as coisas fossem divulgadas de ouvido-a-ouvido... Funcionava porque ainda era o tempo da forte confiabilidade na palavra e no “fio de bigode”. Isso nos leva e revelar alguns tipos de segredos muito diferentes do “segredo de polichinelo”. Vamos falar de um veículo de comunicação que nasceu aqui mesmo na Porto Alegre do século passado; era no tempo das modinhas, das serenatas, das moçoilas tímidas e dos inesquecíveis saraus ... Naqueles tempos as jovens casadoiras sorriam, escondendo a metade do rosto com o leque perfumado; a poesia e o romantismo flutuavam no ar qual perfume de manjericão. “O têmpora ! O mores !” No entanto hoje já estamos falando em transcomunicação. Naqueles dias do século passado, Porto Alegre era apenas a capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. A antiga e hoje ainda muito usada Rua do Rosário apenas talvez um beco de servidão e a noite escura “como breu”. De quando em vez, vultos esgueiravam-se e sumiam em alguma porta que só eles conheciam. Quem seriam eles? Por que se escondiam com a noite, quais fantasmas erradios em busca de uma “casa de terço”? Teriam propósitos nobres e edificantes? Provavelmente, sim ! ... Se não o fora, nada justificaria deslizarem, quase colados as velhas paredes, rostos semi-cobertos, como que flutuando sob a cinzenta luz bruxuleante de velhos e sonolentos lampiões. Naquelas noites se podia ouvir, de quando em quando a rouquenta e medrosa voz do “vigilante noturno", indagando para a noite : - Tudo em ordem ? Logo, logo apareceriam as “barras” do dia nascendo no horizonte; e as coisas acontecendo com muito sono, noite após noite. As estações do ano iam e viam, sumindo nos calendários... Primavera... Verão... Outono... Inverno... A eterna repetição dos dias, das horas, das semanas, meses e anos a fio e as transformações não aconteciam. As notícias eram sonolentas e antigas e a mesmice a figura mais conhecida. Repetitiva. Era um arrastar bocejante de pensamentos e aos poucos diluíam aos primeiros sopros do vento frio vindo dos lados do rio Guaíba. Tudo ficava por aí...quase sem registro. Escreviam-se historias e estórias dorminhocas que não eram questionadas, alguém mandava e todos obedeciam. Era tranqüilo viver assim, não dava complicações; enquanto isso alguém com pressa soprara rapidamente a luz do velho candeeiro sobre a mesa e saíra apressado ...

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O dia já estava clareando e as figuras noturnas sumiram todas, como que engolidas pelo “nada”; Beco do Rosário, dos escravos e da santa milagrosa...quanto tempo faz isso ? Eram reuniões e mais reuniões. Eles trabalhavam na angústia do silêncio, tecendo com suas emoções e idealismo um novo pensamento filosófico que dormia tarde e acordava cedo, tentando despertar gentes para o amanhecer pátrio. Afinal do que estamos falando ? ... Você até poderá concluir que este “blá-blá-blá” está tão vazio que nem o redator sabe do rumo a tomar com a narrativa. Na verdade estamos tentando pintar um quadro antigo que nosso imaginário pensa ter existido. Era o cenário onde se processava um grande movimento de transformações sócio-políticas, em vigílias noturnas e em formato de orações. Aqueles “vultos esguios” bordavam a bandeira libertária, força emblemática de tantas esperanças; esperanças que corcovearam nos corações, loucas para correrem pelos campos e cochilhas, vales e serras levando a grande “mensagem a Garcia”, o Pampa Gaúcho. ...Agora estamos em 2.003 Nos socorremos da autoridade do historiador José Luiz Silveira ao transcrevermos este trecho de sua obra intitulada (e de domínio e conhecimento de todos): “Revelações históricas da Maçonaria” -pag.147, edição de julho de 1.985: "Em 1.831 foi fundada em Porto Alegre numa rua central, uma Sociedade Secreta, que era um ponto de partida e um núcleo fomentador das idéias revolucionárias. Teve inicio disfarçada de Gabinete de Leitura, a Loja Maçônica Philantropia e Liberdade, a seguir foi denominada “Sociedade Literária Continentino", criando, em anexo, uma Escola de alfabetização de adultos e fundando um jornal “O CONTINENTINO” que sob a direção do Major João Manoel de Lima e Silva, circulou a partir de 1.831”. De acordo com o historiador, “O CONTINENTINO” deixou de circular no final de 1.835. Naquele ano do século XIX estava gerada a Revolução Farroupilha, filha legítima das noturnas elucubrações lítero-patrióticas nas madrugadas distantes do ano de 1.831 - beco do Rosário. O Continentino deixou de circular em 1.835. Estava cumprida a primeira etapa de sua participação no processo revolucionário de 1835, a “Revolução Farroupilha”. Os mesmos ideais pelos quais lutara, ainda hoje estão latentes no coração de todos os gaúchos.

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O mesmo “garrote” da Metrópole dos idos de 1.831 ressurgiram. Estão presentes no Planalto Central, maneando nosso crescimento e encurtando rédea na corrida para o grande futuro. O Continentino foi o arauto do movimento de 1.835. Retornou para seu lugar junto aos demais veículos de comunicação, somando esforços para que seja revertida esta situação que aí está. Reativar O Continentino não foi tarefa fácil, mas muito orgulha os componentes do Gabinete de Leitura e do Portal do Conhecimento. O trabalho continua firme, agora em formato digital, dando condições a que esta idéia fosse revitalizada e hoje O Continentino está novamente circulando, prestando sua contribuição à sociedade. Esta é a Historia do jornal O Continentino contada por gente que está por dentro de suas páginas. Por certo as informações aqui mencionadas um dia poderão integrar a História da Imprensa - seus veículos de comunicação - e o quanto tem de responsabilidade na construção de uma nova sociedade brasileira.

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A ESCOLA DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS O livro é a maior arma para libertação de um povo, neles estão as idéias e os ideais dos maiores homens da história. A Epopéia Farroupilha começou pelas idéias, os ideais estavam nos livros que vinham da Europa e dos Estados Unidos da América, livros que falavam de um mundo possível, democrático, justo, onde todas as pessoas podem convivem em paz, com liberdade e prosperidade.

(Reunião do Gabinete de Leitura Continentino – 1831)

Naquela época, nos idos de 1831, estas obras chegavam a todo momento, filhos de estancieiros e comerciantes voltavam dos estudos no exterior trazendo na bagagem muitos sonhos e muitos livros. Eles reuniam-se em grupos para estudar e discutir as obras, estavam convictos que para um povo ser livre ele precisa ser culto e ter acesso irrestrito às informações. O aperfeiçoamento cultural se dava em 3 níveis, o primeiro a alfabetização, o segundo o contato com as obras clássicas do conhecimento da época e num terceiro nível estudavam e se aprofundavam mais especialmente nas sete artes liberais e ciências: a gramática, a retórica, a lógica, a aritmética, a geometria, a musica e a astronomia, todas bem conhecidas entre os Maçons.

Em julho de 1831, foi fundada a Sociedade Literária Continentino, onde funcionava o Gabinete de Leitura com o mesmo nome.

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Logo aqueles homens perceberam que tinham um grande problema, tinham os livros, a vontade de evoluir, mas um grande número deles não sabiam ler ou escrever, então o que fazer, eles precisam ter acesso aquelas letras que continham tantas novidades. Foi então que foi colocada em funcionamento a primeira escola de alfabetização de adultos que se tem notícia no Brasil, patrocinada pelo Gabinete de Leitura Continentino, apoiada pela Loja Maçônica Philantropia e Liberdade.

(Armas usadas pelos oficiais Farroupilhas) O trecho do Hino Farroupilha que afirma que “povo que não tem virtude acaba por ser

escravo...” certamente teve origem no fato de que só o saber liberta, só seremos um povo livre se formos educados e cultos. Nestas célebres noites, se maravilhavam e viajavam com as obras de Camões, sonhavam com a liberdade, igualdade e fraternidade nas obras de Voltaire, se informavam do que acontecia pelo Brasil e pelo mundo com os jornais que chegavam por via marítima. Davam muito valor aos livros, um valor que realmente deveríamos admirar. Um povo culto nunca será vítima de maus governantes ou de governos espúrios, ele impões a sua vontade e os seus valores. Ah, se eu pudesse adentrar no túnel do tempo e participar de pelo menos uma reunião do Gabinete de Leitura e poder conviver com pessoas admiráveis, que realmente amavam o conhecimento e buscavam o aprimoramento intelectual de um povo, como mola mestra da sua independência e libertação. Observe bem o lema adotado pela Loja Philantropia e Liberdade, inspirado no pensamento de Henry Voltaire∴, que reflete o espírito revolucionário: “Le seul bien de létat fait son ambition, il hait la tyrannie, et la rebelion”. Desculpe o meu francês: “O só bem do Estado faz sua ambição, traz a tirania e a rebelião”.

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“Balaústre Nº 67 de 13 de setembro de 1.835”

“No ano em que se comemora 172 anos de Fundação da Loja Philantropia e Liberdade, fundada em 25 de dezembro de 1.831, publicamos o extrato do *Balaústre Nº 67, o qual retrata muito dos fatos da maior importância da nossa História Riograndense, a Epopéia Farroupilha, mantendo sua identidade original, apenas atualizando alguns termos para os dias atuais.”

Balaústre nº 67 Aos treze dias do mês de setembro do ano de 1.835 da E∴V∴ e 5.835 da V∴L∴, reunidos em sua sede, sito à Rua da Igreja, Nº 67, em um lugar Claríssimo, Forte e Terrível aos tiranos, situado debaixo da abóbada Celeste do Zenith aos 30º e 5’ de Latitude da América Brasileira, ao Vale de Porto Alegre, Província do Rio Grande do Sul, sob os auspícios da Sereníssimo Grão Mestre de Héredom, nas dependências do Gabinete de Leitura, na Rua da Igreja N.67, onde funciona a Loja Maçônica Philantropia e Liberdade, com o fim de especificamente, traçarem as metas finais para o início do movimento revolucionário com que seus integrantes pretendem resgatar os brios, os direitos e a dignidade do povo Riograndense . A sessão foi aberta pelo Ven∴Mestre Ir∴ Bento Gonçalves da Silva . Registre-se, a bem da verdade , ainda as presenças dos IIr. José Mariano de Mattos, Ex-Ven., José Gomes de Vasconcellos Jardim, Pedro Boticário, Vicente da Fontoura, Paulino da Fontoura, Antônio de Souza Neto e Domingos José de Almeida o qual serviu como Secretário e lavrou a presente ata. Logo de início, o Ven. Mestre, depois de tecer breves considerações sobre os motivos da presente reunião, de caráter extraordinário, informou a seus pares, que o movimento estava prestes a ser desencadeado. A data escolhida é o dia 20 do corrente, isto é, daqui a uma semana. Nesta data, todos nós, em nome do Rio grande do Sul, nos levantaremos em luta contra o imperialismo que reina no país.

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Na ocasião, ficou acertada a tomada da Capital da Província, pelas tropas do IIr. Vasconcellos Jardim e Onofre Pires, que deverão permanecer, com seus homens, nas imediações da Ponte da Azenha, aguardando o contingente que deverá se deslocar desde a localidade de Pedras Brancas, quando avisados. Tanto Vasconcellos Jardim como Onofre, ao serem informados, responderam que estariam à postos , aguardando o momento para agirem. Também se fez ouvir o nobre Vicente da Fontoura, que sugeriu o máximo cuidado, pois certamente, o Presidente Braga seria avisado do movimento. Tronco de Beneficência fez a sua circulação e rendeu a moeda cunhada de 421$000 contados pelo Ir. Tes. Pedro Boticário. Por proposição do Ir∴José Mariano de Mattos, o Tronco de Beneficência foi destinado à compra de uma Carta de Alforria, de um escravo de meia idade, no valor de 350$000, proposta aceita por unanimidade. Foi realizada uma poderosa Cadeia de União, que pela justiça e grandeza da causa, pois em nome do povo Riograndense lutariam pela Liberdade, Igualdade e Humanidade, pediam a força e a proteção do G∴A∴D∴U∴ para todos os Ir∴e seus companheiros que iriam participar das contendas. Já eram altas horas da madrugada quando os trabalhos foram encerrados, afirmando o Ven∴Mestre que todos deveriam confiar nas LL∴do Gr∴Arq∴do Univ∴. e como ninguém mais quisesse fazer uso da palavra, foram encerrados os trabalhos, do que , eu, Domingos José de Almeida, Secretário, tracei o presente Balaústre, a fim de que, a historia, através dos tempos, possa registrar que um grupo de Maçons, “Homens Livres e de Bons Costumes”, empenhou-se com o risco da própria vida, em restabelecer o reconhecimento dos direitos desta abençoada terra, berço de grandes homens, localizada no extremo sul de nossa querida Pátria. Oriente de Porto Alegre, aos dezoito dias do mês de setembro de 1.835 (E∴V∴), 18º dia do sétimo mês, Tirsi, da V∴L∴ano de 5.835.

Domingos José de Almeida∴ Secretário

(Antônio de Souza Neto) (Bento Gonçalves da Silva ) (José Gomes de Vasconcellos Jardim)

*Balaustre: é a designação dada a uma ATA que registra os acontecimentos de toda a reunião Maçônica, que pode ocorrer semanalmente, mensalmente, etc, mas sempre de caráter obrigatório, que sempre é lida na reunião seguinte para a aprovação dos presentes.

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DESCRIÇÃO MAÇÔNICA DO ESCUDO RIOGRANDENSE É sabido que a Maçonaria brasileira e seus membros componentes tiveram influência e decisiva atuação nos principais acontecimentos históricos de nossa Pátria, que marcaram indelevelmente várias épocas de nossa vida política. Limitamo-nos, neste espaço, a demonstrar apenas uma dessas influências, relacionada com o Rio Grande do Sul. Trata-se do triângulo existente na bandeira Riograndense, cujo simbolismo maçônico nela representado é dos mais puros e dos mais significativos. Seu autor foi o Conde Tito Lívio Zambiccari, maçom idealista e artista de grande cultura, natural de Bolonha (Itália), da estirpe de um Guiseppe Garibaldi, também italiano, mas ambos gaúchos de coração, imortalizados pela Epopéia Farroupilha. O emblema da República Riograndense é todo ele simbolicamente maçom e seus vários símbolos encontram-se bem vivos no sinete usado nos papéis oficiais pelos chefes da Revolução Farroupilha, sinete este do qual servimos para exame e análise interpretativa. O primeiro símbolo maçônico, que nos fere a vista, está bem no centro do emblema e é constituído por um losango (produto de dois triângulos), que se encontram pela base, ou seja os dois triângulos que formam a estrela de Davi, que se faz descer ou subir até que as bases se encontrem e que representa a Maçonaria Universal. Outro símbolo, e também importante, é o retângulo, que está dentro do losango. Significa ele, em linguagem maçônica, a Loja gravada nas publicações da Ordem. Dentro desse retângulo, pendente da ponta de uma espada (esta também simbólica, pois representa a Maçonaria atuante), está o barrete frígio da República, representativo da República a mostrar, evidentemente, que a República Riograndense teve origem numa Loja Maçônica. Os dois ramos, que saem do copo da espada e orlam a lâmina, subindo para o alto, a exaltar a República, antes de serem um de fumo e outro de erva-mate, serão fatalmente ramos de acácia, símbolo contundente da Maçonaria Universal, cuja origem é familiar a todo o maçom.

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E nem outra interpretação cabe no caso, se levarmos em conta o espírito maçônico do autor e que todos os elementos, de que se compõe o sinete, são indiscutivelmente simbolismos maçônicos. O certo, o verdadeiro, para haver coerência com o todo harmônico, é admitir que os dois ramos referidos são de acácia, pois se não fossem, não haveria completa unidade no desenho e nem a harmonia pretendida no seu simbolismo, que representa a Ordem milenar. Há a considerar, ainda, um outro detalhe, simbolicamente importante sob o ponto de vista maçônico, qual seja, a das estrelas existentes nos triângulos, que ficam acima e abaixo do retângulo (Loja). São estrelas de seis pontas, resultantes do enchimento das linhas delimitadoras da Estrela de Davi, formada por dois triângulos que se cortam de tal modo, que formam, internamente, um hexágono. Se, como se viu, as estrelas constantes do emblema original são de seis pontas e, em obediência ao desenho de Zambiccari, de seis pontas as estrelas a figurar na bandeira do Rio Grande do Sul, não se concebe a alteração havida na mesma, onde figuram estrelas de cinco pontas, em total desacordo com a pureza original, fixada por seu autor no desenho. Mas o autor do emblema, parece por dar um perfeito e bem acabado cunho maçônico ao seu trabalho, foi mais longe na aplicação de simbologia da Arte Real. Não satisfeito em representar a Maçonaria Universal pelo losango, a Loja pelo retângulo, a República criada numa Loja pelo barrete frígio dentro do retângulo, a Maçonaria atuante pela espada, os ramos de acácia., os triângulos (maçonaria local) e as estrelas de seis pontas, colocou tudo isto sob a égide ou proteção de duas colunas mestras, sobre as quais se assenta toda a ordem maçônica, e que no sinete estão a ladear o losango. Estas colunas, encimadas pelo globo terrestre, encontra-se em todos os templos maçônicos, figurativamente, por serem ocas, como receptáculos de todos os segredos da Arte Real colocados em seu bojo. Representam, além do mais, lemas tipicamente maçônicos, como força, união, beleza e perfeição. Muito se poderia escrever e gravar sobre os símbolos maçônicos da Bandeira Riograndense. Mas ficamos por aqui. Do sucintamente exposto, podemos afirmar que os símbolos existentes no emblema ou escudo Riograndense são totalmente de inspiração maçônica, sobre o que não pode pairar nenhuma dúvida. Obs. O Professor Henrique Carlos de Morais, então diretor do Museu Municipal Pelotense, foi o descobridor do escudo original da República Riograndense, o qual foi pela primeira vez publicado quando das comemorações do Sesquicentenário da cidade de Pelotas, em 1962.

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DIPLOMA MAÇÔNICO DO GENERAL BENTO GONÇALVES

Um dos documentos históricos mais importantes de nossos arquivos, pois comprova efetivamente que o então Coronel de Cavalaria Bento Gonçalves da Silva, então com 42 anos era Maçom, colado no Grau 18 de Cavaleiro Rosa Cruz e membro fundador da Loja Philantropia e Liberdade.

Trata-se de um documento datado de 1832, emitido sob os auspícios do Sereníssimo Grão Mestre de Héredom que outorga a ele apoio e poderes de se apresentar em nome da Maçonaria, iniciar Maçons e criar Lojas de acordo com as necessidades.

O documento original encontra-se muito bem arquivado, pois trata-se de uma peça

muito valiosa, no Museu Júlio de Castilhos, na Rua Duque de Caxias em Porto Alegre e foi descoberto pelo próprio autor do livro e gentilmente cedido pela direção, para que fosse feita uma cópia digitalizada do mesmo.

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O HINO DA PHILANTROPIA E LIBERDADE “HYMNO” (1831 E.V.)

Outro documento histórico de relevante valor, este hino escrito em 1831, que refletia

bem o sentimento de patriotismo e idealismo dos nosso valorosos irmãos. É uma pena que a música está perdida, talvez para sempre, ou talvez numa destas minhas

buscas eternas à procura de documentos e evidências sobre a história do Rio Grande eu encontre por aí em algum lugar e com certeza numa próxima edição estará presente neste livro.

1º Salve. ó Astro luminoso Throno do Supremo Ser; Os teus raios manifestão Sua Glória e seu Poder. Salve, ó Dia D’união pura! Nunca nos faltes Na idade futura. 2º Neste Dia Sempieterno Propicio, e venturoso Os teus raios mais reflectem Neste Templo magestoso. Salve, &c. 3º Neste Templo de Virtude Vedado ao vulgo profano, Votos fidos Te rendemos O’ Architecto Soberano. Salve, &c. 4º Esta Abobada, entre avessas Vontades, e Maçons rudes, Sempre firme sustentaste Jehová, Deos das Virtudes. Salve, &c.

5º O mais prazenteiro enlace Alfim tudo annuncia; Formando uma só cadêa A pura Maçoneria. Salve, &c. 6º Quaes trevas que se dissipão Quando dás a luz ao dia, Assim a discórdia hedionda Foge da Maçoneria. Salve, &c. 7º Dá-nos pois de dia em dia Entre júbilo e prazer, A luz da Sabedoria Stabilidade e Poder. Salve, &c. 8º Ao Monarcha do Brazil Progenie de Heroes famosos, Tua Aurora apetecida Traga dias venturosos. Salve, &c. 9º A’Egide que nos escuda Dá perpétua duração; Nosso Tymbre, Deos, Transmite a’futura geração. Salve, &c.

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A PALAVRA DE PASSE Os Maçons sabem bem da importância da Palavra de Passe, ou Senha como é conhecida nos meios militares. Bem esta Palavra de Passe tem inúmeras referências nos Rituais e Lendas Maçônicas e no passado serviu para identificar e se resguardar de inimigos, como aconteceu com o povo chamado de Ephramitas. Na Revolução Farroupilha, certamente inspirados pelo conhecimento da cultura Maçônica, nossos antepassados precisavam de uma Palavra de Passe que identificasse e diferenciasse os gaúchos dos castelhanos, como era conhecido o povo que habitava a região do Prata. A Palavra de Passe escolhida foi “Quero-quero”, que pela dificuldade da língua espanhola era muito difícil de ser pronunciada, pois pronunciavam “cuero-cuero” e não “quéro-quéro”, este insignificante detalhe custou a vida de inúmeros inimigos que se infiltravam nas linhas dos Farroupilhas em busca de armas, gado e charque.

A Palavra de Passe foi inspirada nos Rituais Maçônicos, como está exemplificado no relato abaixo: “Em conseqüência de uma disputa que há muito tempo existia entre Jephthah, juiz de Israel e os Ephramitas. estes tem sido um povo obstinado e rebelde, que Jephthah se empenha subjugar com medidas moderadas, mas sem resultado. os Ephramitas altamente enfurecidos, por não serem chamados a lutar e a partilhar do rico despojo da guerra Amnimítica, organizaram uma armada poderosa e passaram sobre o rio Jordão para dar lugar a luta contra Jephthah; mas este, tendo sido notificado da sua aproximação, reuniu os homens de Gilead, vencendo a batalha, pondo o inimigo em fuga; e para completar a vitoria, ele ordenou a colocação de guardas nas diferentes passagens do rio Jordão, recomendando que se os Ephramitas tentassem passar por esses pontos, dissessem “CHI..”; porém sendo eles uma tribo diferente, não conseguiam pronunciar corretamente “CHI...”, mas diziam “SI...”; este insignificante defeito provou-lhes que eram espiões, custando-lhes a vida; foram sacrificados nesta época, nas diferentes passagens do rio Jordão 42 mil”. Assim como a Palavra de Passe “CHI... x SI...”, eliminou milhares de soldados hostis nas diferentes passagens do Rio Jordão. Esta passagem é mais uma demonstração da Influência da Cultura Maçônica neste movimento. Quero-quero foi escolhida como a Palavra de Passe, porque este bichinho frágil, aparentemente indefeso é capaz de agigantar-se de coragem e valentia arriscando a própria vida na defesa do seu ninho, de sua ninhada e de seu espaço.

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QUERO-QUERO Darcy Celente∴

(Benemérito da Loja Philantropia e Liberdade)

Ah! Quero-quero. Eu sei que vives querendo. É nostálgico ouvir-te, quando a tarde vai morrendo.

No teu grito estridente, ficas sempre reclamando. E entristeces o gaudério, que no campo vai passando.

- Eta! Bicho guapo e valente. És a alma e a vida de uma tarde silente, companheiro eterno do taura gaúcho, na lida do campo, solito e sem luxo.

- Na grama sequinha é que fazes o teu ninho, a prenda chocando e tu bem sozinho, gritando bem longe, com muito vigor,

chamando a atenção de qualquer invasor. - Tu relembras o nosso guapo Sepé, que lutava ardente, a cavalo ou a pé,

enfrentando o inimigo na planície ou na serra, gritando com força que tem dono esta terra. - Sempre atento, na vigília de hora em hora,

tens tudo do gaúcho, até a espora, és dono da cochilha, que ao horizonte se expande,

ave atenta, patriota, sentinela do Rio Grande. - O penacho na cabeça, uniforme do infante, e a carga corajosa, no teu vôo bem rasante, tens a garra Farroupilha; agressivo e atento,

tu encarnas em valor, o grande General Bento. - Tens um porte mui pachola e muito amor ao torrão.

No teu peito orgulhoso arde forte um fogão. És farrapo na coragem e gaudério nas andanças, tens no bico uma espada e nas asas duas lanças.

- Eu te entendo, Quero-quero, pois somos da mesma estampa. Vendo a querência entregue a gaúcho guampa, humilhada, esquecida e sem chance de crescer,

eu te juro Quero-quero, até prefiro morrer.

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Aquerenciamento Planetário Professor Celso Marques

Temos na paisagem do Pampa Riograndense um pássaro chamado quero-quero, que é considerado a sentinela do Pampa. O quero-quero, diferentemente de outras aves, faz os seus ninhos no chão, vivendo a maior parte do tempo em contato com a terra e apegado ao lugar onde vive. A este lugar em que o quero-quero, outros bichos e o próprio ser humano costumam ficar, no linguajar gaúcho nós chamamos de “querência”. Em português esta palavra se reporta ao verbo querer. A querência é um lugar que tem uma vontade, um querer originário, conforme a própria etimologia da palavra indica. Mas não é um querer isolado e separado do querer humano, dos animais e das plantas que ali vivem. O querer da querência requer o querer de tudo o que ali vive, de tudo o que pertence ao lugar, inclusive a paisagem. Ser apegado a um determinado lugar é ser aquerenciado. O processo de se apegar a um lugar se expressa com o verbo “aquerenciar”. Ser aquerenciado significa também estar de bem com a vida, estar na posse da plenitude do sentido da vida. Na sabedoria campeira aqui do sul do Brasil, da Argentina e do Uruguai, do gaúcho, a felicidade é o próprio sentido de pertencer a um lugar. A querência é a intimidade com a natureza e com as coisas do local em que se vive. É ser parte das histórias das pessoas, dos animais e das plantas de um lugar. É ter a própria identidade pessoal, a própria história individual, inseparável de toda a teia destas histórias. É estar em casa no mundo. Por outro lado a pessoa que é infeliz, que não encontrou o seu lugar no mundo, que está de mal com a vida, é “desaquerenciada”. A pessoa desaquerenciada não tem paradeiro fixo, vive inquieta, sempre a procura de um outro lugar, insatisfeita, angustiada, no estado de carência, de falta. Na perspectiva da sabedoria gaúcha, o problema ecológico é a humanidade estar desaquerenciada da Mãe Terra, da Pachamama, de Gaia, a suprema morada do homem. O Fórum Social Mundial é a uma tentativa planetária de aquerenciar a humanidade na Terra. Mas para que isso aconteça, cada ser humano deve ser alerta e vigilante como o quero-quero, deve exercer a sua condição de cidadania planetária defendendo a Terra e a Humanidade em cada local onde vive. Cada cidadão do mundo pode se inspirar no exemplo da sentinela do Pampa: ao pressentir a aproximação de um perigo, o quero-quero dá o alarme, começa a gritar o canto que deu origem ao seu nome e a fazer investidas contra o intruso através de vôos rasantes. Para nós, ecologistas gaúchos, o quero-quero é o símbolo da soberania política e da cidadania planetária.. Pode ser comparado com uma revoada de quero-queros que espalha pelo mundo o grito de alerta para o aquerenciamento da humanidade no seio da Mãe Terra. Um novo mundo é possível.

Vanellus chilensis (quero-quero) Vanellus chilensis é uma ave. Suas puas rosadas, grito estridente e ataques com vôos rasantes, são inconfundíveis. Sabe de quem quero-quero falar, não é? O cuidado paterno, materno e o oferecido pelo provável ajudante, são essenciais nas primeiras semanas do filhote. Apesar de já capaz de alimentar-se e emplumado, suas penas infantis não são à prova dos poderosos fenômenos da natureza, em constante transformação. O cuidado na infância é essencial. Mas há de chegar o momento onde os pais não ficam tão próximos dos filhotes. Nesse momento os filhotes também não cuidam de si. Todos os elementos da natureza, clima e inimigos, não tem piedade, simplesmente agem. Esse momento é crítico. Muitos vão perecer, consumidos pela natureza. É necessária muita luta, luta pelo seu direito à vida. Não é uma luta contra a natureza, mas o despertar de uma grande intimidade com ela, para conseguir prever seus próximos movimentos, e assim poder caminhar ao lado dela. Caminhando com a natureza, desenvolve intimidade com seu próprio ser. Desenvolve suas armas e seus instrumentos de percepção. Aprende a cuidar de si. Cuida de si com muito vigor, com intenso amor próprio, e luta, grita, voa. Sempre confiante em si e intimo com a natureza.

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Como Vanellus chilensis, conheça a si mesmo, confia em ti, seja intimo com a natureza, e lute, a vida é um direito de todos aqueles que nasceram.

Hino Riograndense

“Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o Vinte de Setembro o precursor da liberdade.

Mostremos valor, constância, nesta ímpia e injusta guerra, sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.

Entre nós revive Atenas para assombro dos tiranos; sejamos gregos na glória

e na virtude, romanos.

Mostremos valor, constância, nesta ímpia e injusta guerra,

sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.

Mas não basta prá ser livre ser forte, aguerrido e bravo,

povo que não tem virtude acaba por ser escravo.

Mostremos valor, constância, nesta ímpia e injusta guerra,

sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra.”.

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- A EPOPÉIA FARROUPILHA -

ODISSÉIA FARROUPILHA No princípio o Grande Arquiteto do Universo criou o céu e a terra. A terra, porém, era sem forma e vazia. A um simples desejo seu as águas debaixo dos céus foram reunidas num só lugar e apareceu a porção seca. A terra produziu a relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie, árvores que davam frutos, cujas sementes estavam neles conforme a sua espécie. E viu o Grande Arquiteto do Universo que isso era bom. Disse ele, logo após: produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie. E assim se fez. No hemisfério sul fez o Grande Arquiteto do Universo uma terra abençoada. Com montanhas, lagos, rios, mar, árvores como a figueira e muito campo, lindo campo. Acrescentou muitos animais. Pássaros como o sabiá, as garças e o quero-quero. Capinchos, sucuris e animais de todas as espécies. Campos! Verdes campos, onde permitiu que se desenvolvessem, magnificamente, vacas, bois e cavalos. Importantes cavalos, meio de transporte sem igual. Disse o Grande Arquiteto do Universo, ainda, quando criava o mundo: façamos o homem a nossa imagem,, conforme a nossa semelhança. Tenha ele domínio sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra.

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E para que o homem tomasse consciência dessa semelhança deu o Grande Arquiteto do Universo, para cada um, uma porção de sua divindade, para que a partir dela buscassem acrescentar as suas as dos demais homens. Disseminou-os por todo o mundo, dando-lhes como divisa, a justiça e ideais de Liberdade. Criou as raças e os povos. Incutiu-lhes entretanto as idéias de Igualdade. Distribuindo-os na terra. Colocou muitos filhos da Liberdade. Legou-nos avatares, como Jesus e Buda. Deu-nos o princípio da evolução, que transformou os povos e seus sistemas. Com as experiências a humanidade cresce, cresce pelos méritos e pelas carências e insatisfações. Em 4 de julho de 1776, insatisfeitos com o tratamento da Inglaterra os “Filhos da Liberdade” obtém a declaração de independência da América do Norte, porque medidas tomadas pelo Parlamento Inglês reduziam os cidadãos livres em “miseráveis escravos tributários”. Postulantes desses movimentos, homens criados livres pelo Grande Arquiteto do Universo provinham de movimentos gregários. De muitas instituições, muitas de Lojas de Pedreiros Livres, de Lojas Maçônicas. De instituições Maçônicas que proclamam a prevalência do Espírito sobre a matéria, o aperfeiçoamento moral a beneficência e a livre investigação da verdade. Com essa motivação geraram também em 14 de julho 1789, a queda da Bastilha. É a Revolução Francesa como a americana postulando justiça e liberdade e a defesa da “rés pública”, do princípio republicano, que se aprova em 1791, na França. Esses princípios vinham embalados pela egrégora Maçônica que por seus membros sempre condenou a exploração do homem, bem como os privilégios e as regalias, mas enaltece o mérito da inteligência e da virtude, bem como o valor demonstrado na prestação de serviços à Pátria e a Humanidade. Afirmam esses postulados que o sectarismo político, religioso ou racial é incompatível com a universalidade do espírito, combate a ignorância, a superstição e a tirania. Para a instituição os homens são livres e iguais em direitos e a tolerância constitui o princípio cardeal das relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um. Defenderam ainda os Filhos da Liberdade que tais direitos, a partir da doutrina no direito natural, fossem transformados na Declaração Universal do Direitos do Homem, que postula, em resumo, que os homens: Nascem iguais em direitos; Tem direito a propriedade particular; Tem direito à vida e a liberdade; Tem ainda direito a verem reconhecidos esses direitos nas leis votadas pelo parlamento. O germe do Valor, da Sabedoria, da Bondade, da Beleza e da Força, atributos potenciais do homem, imagem e semelhança do Grande Arquiteto do Universo, permitiram que desde então novos progressos se manifestassem. Os bons ventos Americanos do Norte e Franceses impulsionaram sensíveis Cidadãos da Província Riograndense. Em torno de 1800 é o Brasil Colônia, assim como era até 1776, América do Norte.

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Aqui como lá o poder despóticos cerceia a liberdade e cobra tributos sem prévio aviso, injusta e imoderadamente. Tudo para sustentar guerras expansionistas e a perdulária corte. O fim da escravatura, um governo republicano e federalista era reclamado por homens insignes como Manuel Carvalho Paes de Andrade, que advogava a convocação de uma constituinte, para que tivéssemos refletidas “as luzes do séculos” advindas das revoluções americana e francesa. Já em 1828, havia, no Rio Grande do Sul, eleitorado republicano. E as idéias democráticas que, depois dos acontecimentos no 7 de abril de 1831, se haviam expandido por todo o Brasil, não podiam deixar de receber um semelhante impulso na província gaúcha. O Continentino, jornal que, sob a direção de João Manoel de Lima e Silva, que circulou a partir de 1831, foi uma das tribunas em que os insignes Farroupilha pregavam em favor do sistema republicano. Lado a lado com esse pensamento, caminhou o ideal federativo, que surgiu no Brasil, logo depois do 7 de setembro de 1822. O ato prepotente de Dom Pedro I, dissolvendo a Câmara, em 8 de novembro de 1823, fortaleceu aquele desejo e fez prosélitos entre os grandes valores mentais e as altas influências políticas do país. Nas plagas sulinas o sistema federativo principiou a ser pregado publicamente em 1832, pelas colunas do Recompilador Liberal, dos irmãos Calvet, de Zambiccari e de Manuel Ruedas. Em um dos números desse jornal, do referido ano, se lê: “se as leis existentes não são consentâneas, como podemos dizer que temos leis; que estamos anárquicos. Faça-se, pois a lei do estado: faça-se a Federação Republicana, e eis o remédio dos males da Pátria”. A revolução está madura, resultado da conjuração dos princípios Maçônicos e Universais, com a força do homem, impulsionada pelo Grande Arquiteto do Universo. Raia então o dia 20 de setembro de 1835 com ele nasce a Pátria Farroupilha, que logo será transformada em República. Na ata da proclamação da República pode se ver sua inspiração quando se refere ao Supremo Ser do Universo. “Aos 12 do mês de setembro do ano de 1836, no acampamento volante da costa do Rio Jaguarão, achando-se a brigada em grande parada, estando presentes o coronel comandante da mesma, Antônio de Souza Neto, oficiais, e oficiais inferiores que subscrevem, por unanimidade vontade destes e da tropa dita, foi declarado que: A Província do Rio Grande de ora em diante se constitui livre e independente, com o título de República Riograndense, não só por ter todas as faculdades para se apresentar entre as demais Nações Livres do Universo, se não por também obrigada pela prepotência do Rio de Janeiro, que por tantas vezes tem destruído seus filhos, ora deprimindo sua honra, ora derramando seu sangue e

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finalmente desfalcando-a de suas rendas públicas. Por todos os motivos que se declararão em a próxima reunião da Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, protestam ante o Ser Supremo do Universo não embainhar suas espadas, e derramar todo o seu sangue, antes que retroceder de seus princípios políticos e humanitários proclamados em a presente declaração. E que Deus nos ajude!” Lido o documento e achando conforme, firmaram-no os patriotas em número de 52, todos oficiais do Estado-maior e menor da Brigada. Tiradas, após, as cópias necessárias se fez imediatamente lançar por toda a província a boa nova. Quase dez anos depois, em 1845, estão cessados os combates e feito o armistício pelas mãos do Maçom Duque de Caxias. Não havia mais razão para prosseguir, uma vez que atingidos os objetivo da Revolução, conforme as palavras do líder Bento Gonçalves da Silva, ditas à Mariano Pereira Ribeiro, após 6 anos de luta: “A nossa questão é de princípios, e não de interesses individuais”. Significativas também as palavras de Duque de Caxias, apesar de habitualmente modesto: “Não foi a política por mim seguida nesta Província, nem os meus esforços, a causa deve ser atribuída a pronta pacificação do espírito do povo: elas tem verdadeira origem nos briosos e patrióticos sentimentos Riograndenses. E só a eles cabe tão subida glória. Eu nada mais fiz que cumprir à risca as instruções que, pelo Governo Imperial, me foram dadas na Corte, quando tive a fortuna de ser encarregado de tão árdua comissão”.

(Duque de Caxias) E arrematou o nosso Irmão o Duque de Caxias, patrono do exército brasileiro, em 1º de março de 1845: “Riograndenses! É sem dúvida para mim de inexplicável prazer o ter de anunciar-vos que a guerra civil, que por pouco mais de nove anos devastou esta bela província, está terminada”. “Os irmãos, contra quem combatíamos, estão hoje congratulados conosco, e já obedecem ao legítimo governo do Império Brasileiro”. “Sua Majestade o Imperador ordenou, por decreto de 18 de dezembro de 1844, o esquecimento do passado e mui positivamente recomenda, no mesmo decreto, que tais brasileiros não sejam judicialmente, nem por outra qualquer maneira, perseguidos ou inquietados, pelos atos que tenham sido praticados durante o tempo da revolução. Esta magnânima deliberação do Monarca Brasileiro há de ser religiosamente cumprida, eu o prometo, sob minha palavra de honra”.

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“Uma só vontade nos una, Riograndenses, maldição eterna a quem ousar recordar-se das nossas dissenções passadas. União e tranqüilidade seja de hoje em diante nossa divisa”. “Viva o Imperador Constitucional e defensor perpétuo do Brasil”. Os Riograndenses, Brasileiros e a Humanidade cumpriram mais um desígnio do criador Os Maçons Farroupilhas e Brasileiros mostraram com o cumprimento dos seus princípios que todos são irmãos, independentes de raça, nacionalidade e crença, dando o grandiloqüente exemplo de fraternidade e da fidelidade e devotamento à Pátria. Guilherme Schultz Filho, em seu poema “Gesta de um Clarim”, exalta os bravos Farroupilhas: - Bento Gonçalves da Silva, Austero, nobre e correto; - Antônio de Souza Neto, O Campeador Medieval; - Afonso Corte Real, O Cavaleiro Bizarro; - David Martins Canabarro, Taciturno e silencioso; - Teixeira Nunes, Garboso, Comandante dos lanceiros O primeiro entre os primeiros na missão mais arriscada; - João Antônio, A honrada espada De peregrina conduta, disciplinado na luta, misto de herói e de santo; Neste magistral poema, Schultz não esqueceu de evocar a memória de irmão que, vindos da longínqua Itália, aqui estiveram, irmanados com os Farrapos, lutando pela mesma causa da liberdade: “Românticos Carbonários, discípulos de Mazzini, Zambecari, Castilini, Garibaldi, Luiz Rosseti.” A epopéia Farroupilha é um patrimônio moral e cívico, de valor inestimável, que nos foi negado pelos nossos antepassados. Essa epopéia fulgurará para sempre nas páginas de nossa história, como bem disse o Maçom Rui Cardoso Nunes, em seu poema “Pago Imortal”: “A epopéia Farroupilha, Glorioso feito de heróis, em nossa história rebrilha, com resplendor de mil sóis!” Os homens livres de mundo inteiro continuarão a se espelhar nos vultos farroupilhas e em todos que fizeram a evolução da humanidade. Vale dizer, nos combates do tiranismo, da injustiça, da mediocridade e todo e qualquer embaraço ao pleno vive. E, ainda, que todos possam ver os homens e a humanidade crescer com igualdade de condições. “Os marcantes exemplos do passado continuarão a permitir o combate à vaidade e ao egocentrismo e a viabilizar a prática da bondade, da sabedoria e da tolerância”

Em resumo os homens justos e perfeitos serão eternos defensores dos ideais de: Liberdade, Igualdade, Fraternidade

Ivar Ruis Nunes Piazeta∴ (Mestre Instalado da Loja Província de São Pedro)

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GEN. BENTO GONÇALVES DA SILVA Falar sobre o general Bento Gonçalves é quase impossível sem narrar episódios da história do Rio Grande do Sul, na qual esteve notavelmente envolvido à partir da idade de 29 anos, especialmente como militar por excelência, patriota incomparável e destemido. Homem simpático e de estatura elevada, bateu-se gloriosamente contra os “castelhanos”.

Líder maior do Continente de São Pedro, Bento Gonçalves da Silva nasceu em Bom

Jesus do Triunfo, RS, em 23 de setembro 1788, filho de portugueses, alistou-se como voluntário na campanha de 1817, transferindo-se então para a Província Cisplatina ( atual Uruguai ) e conheceu de perto as lutas dos gaúchos para defender a fronteira do extremo sul do Brasil contra as investidas dos “castelhanos”. Na guerra de 1825 a 1828, contra as Províncias do Rio da Prata, alcançou o posto de Coronel de Guerrilhas, tendo se sobressaído nas batalhas de Sarandí ( 1825 ) e Ituzaigó ( 1928 ). Em 1834 Bento Gonçalves teve que defender-se no Rio de Janeiro contra acusações do reacionário Comandante das Armas, o Marechal Sebastião Barreto Pinto, de manter entendimentos secretos com Luís de Lavalleja, para unir o Rio Grande do Sul à República Oriental do Uruguai, formando uma nova nação. À esse tempo, já era notório o descontentamento dos Riograndenses com o descaso da Corte em relação à administração, à economia e à defesa da Província em suas fronteiras, uma vez que o último baluarte das tropas imperiais estava instalado em Rio Pardo, ficando a maior parte do território gaúcho à mercê de caudilhos e das constantes tentativas de invasão. Deste modo, nossas fronteiras eram defendidas por insignes Riograndenses, com Onofre Pires, fazendeiro e comandante da fronteira do Alegrete e Bento Gonçalves, comandante da fronteira de Jaguarão.

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A Maçonaria há muito tempo já havia se posicionado quanto a tais aberrações políticas, tanto que em 1831, com a participação de Bento Gonçalves, fundara-se em Porto Alegre, no Beco do Rosário, sob o nome disfarçado de Gabinete de Leituras, a Loj∴ Maç∴ Philantropia e Liberdade que trazia em estado embrionário a revolta destinada a mudar o rumo da história.

Até que, a 18 de setembro de l835, Bento Gonçalves da Silva, José Gomes de Vasconcellos Jardim, Vicente da Fontoura, Domingos José de Almeida, Antônio de Souza Neto, José Mariano de Mattos, Paulino da Fontoura e Pedro Boticário, reunidos em Loja , decidiram deflagrar o movimento que inicialmente tinha como meta exigir a substituição do Presidente da Província.

Porto Alegre seria tomada pelas tropas de Vasconcellos Jardim e Onofre Pires na madrugada de 20 de setembro de 1835. Escreve Bento Gonçalves ao Regente Feijó, logo após haver deposto o Presidente da Província Fernandes Braga : “O Rio Grande é a sentinela do Brasil, que olha vigilante para o Rio da Prata. Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode e nem deve ser oprimido pelo despotismo. Exigimos que o Governo Imperial nos dê um governo de nossa confiança, que olhe para nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade...”

Em 1836, Bento Gonçalves com suas forças ao tentar atravessar o rio Jacuí são cercados pelas tropas de Bento Manuel Ribeiro e Andrade Neves. Após violentos combates em 2, 3 e 4 de outubro, Bento Manuel impõe a Bento Gonçalves uma rendição honrosa. Preso, é enviado juntamente com Onofre Pires e Tito Lívio Zambecari, à fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.

Após tentativa de fuga através de um buraco aberto na parede, por onde não conseguira passar o gordo Conde Zambecari, Bento Gonçalves foi então transferido para uma fortaleza na

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Bahia, onde escapou da morte por envenenamento, quando, desconfiado deu a comida que recebera ao cão, que foi seu companheiro de infortúnio, ao qual deu o nome de Gengis Kan, o cachorro após alimentar-se morreu em seguida, envenenado.

Bento deu este nome ao cão por ser um estudioso da história e admirador deste grande guerreiro, cavaleiro e estrategista militar, com o qual com certeza se inspirava em suas batalhas.

Na manhã de 10 de setembro de 1837, ao banhar-se no mar, fugiu a nado, sendo ajudados por “pescadores” que o levaram para a ilha de Itaparica. Após alguns dias embarca num navio Inglês que, posteriormente aportou em Santa Catarina. Daí, segue por terra até Viamão. Na viagem que Bento Gonçalves fizera a cavalo pelo litoral, entre Santa Catarina e Viamão, ocorreu um fato pitoresco : Desejando trocar seu cavalo cansado, chegou a uma estância e sem dar-se a conhecer, pediu um cavalo. A velhinha que o recebeu disse : “Fui rica, hoje sou pobre. Dei tudo o que pude à revolução. As forças legais levaram-me o resto. Na estância só tenho um cavalo para todo o serviço. Esse eu não dou. Só daria ao General Bento Gonçalves se ele chegasse aqui. Guardo-o para ele quando voltar ao Rio Grande ! - Minha senhora - respondeu o chefe farrapo - Bento Gonçalves sou eu! O movimento cresce em meio a feitos de extrema bravura. Antônio de Souza Neto proclamara a República Riograndense em 1836, no Campo dos Menezes, hoje Município de Candiota. Canabarro e Garibaldi, integrados ao movimento invadem em Santa Catarina em 1839, onde ocorrem violentos combates com vitória dos farrapos, por terra e por mar. É proclamada, então, por Davi Canabarro, a República Catarinense, também denominada República Juliana, livre e independente, formando um estado Republicano e Constitucional, confederada à República Riograndense. Os farrapos perderam batalhas decisivas contra os “imperiais”, comandados pelo Barão de Caxias. Em fins de 1844, Canabarro é derrotado por um ataque de surpresa, em plena madrugada, de Chico Pedro, o “Moringue”. Luta-se mais três meses ainda, até a assinatura da paz em 25 de fevereiro de 1845. Bento Gonçalves retira-se então para as atividades do campo sem interessar-se mais por política. Faleceu dois anos depois acometido de pleurisia.

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O Chimarrão Preparando um Amargo...

O chimarrão é uma tradição gaúcha que acompanha a peonada do campo e da cidade diariamente, o clima quase sempre frio favorece a prática desse outro costume que além de gostoso é revigorante e também fraterno poisa cuia passa de mão em mão, dando seqüência às trovas e conversas. E é ótimo parceiro do churrasco, pois é diurético e digestivo. Tomas mais um? 1. Comece colocando água para esquentar 2. Coloque a erva em 3/4 da cuia 3. Tape com a mão, e deite a erva até ficar quase vertical, sacuda. 4. Despeje água morna na cuia 5. Deixe inchar a erva. 6. Enterre a bomba na erva tapando a ponta com o polegar. Vá até o fundo. 7. Deixe a água chiar, sem ferver. 8. Encha a cuia e tome até roncar, antes de passar para outra pessoa. Dicas para iniciantes: Use erva nova . Não tome muito depressa

CHIMARRÃO

“Amargo doce que sorvo, Um beijo em lábios de prata,

Tens o perfume da mata, Molhada pelo sereno, E a cuia, seio moreno,

Que passa de mão em mão, Traduz a hospitalidade,

Da gente do meu rincão”.

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GIUSEPPE GARIBALDI - MAÇOM CARBONÁRIO O grande guerreiro Giuseppe Garibaldi foi um dos grandes destaques da Epopéia Farroupilha, italiano de nascimento, veio para o Rio Grande movido pela sua paixão pela luta em defesa dos ideais de liberdade e justiça. Era um grande guerreiro, não foi um grande cavaleiro, seu forte não era lidar com cavalos, mas era um grande marinheiro e construtor naval. No seu estaleiro improvisado em Camaquã, hoje município de Cristal, logo ali próximo as barrancas do Rio Camaquã ele construiu os dois barcos que formaram a marinha Riograndense, eram o Seival e o Farroupilha, os quais causaram terror à poderosa marinha imperial. O que tornava ainda mais terrível aos inimigos a ação de Garibaldi, era a sua mobilidade, pois os lanchões podiam movimentar-se por terra, puxado por juntas bois. Várias batalhas se sucederam na lagoa dos Patos, Rio Pardo, Rio Camaquã e inclusive participaram da tomada de Laguna, onde conheceu o seu grande amor Anita. A valentia, aliada à sua grande capacidade de lidar com barcos, fez deste homem um Titã Farroupilha. Garibaldi no seu retorno à Itália, após ter comprido sua missão no Sul, ainda foi um grande herói na luta pela unificação da Itália. Em sua carreira ainda teve tempo de ser um destacado Maçom, chegando ao cargo de Grão Mestre da Maçonaria Italiana.

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O texto citado abaixo, é uma carta de Garibaldi dirigida a Antônio de Souza Neto, a qual recebeu em campanha na Guerra do Paraguai, cujo conteúdo é o seguinte: “Eu vi corpos de tropas mais numerosos, batalhas mais disputadas; mas nunca vi, em nenhuma parte homens mais valentes, nem cavaleiros mais brilhantes que os da bela Cavalaria Riograndense, em cujas fileiras aprendi a desprezar o perigo e a combater dignamente pela causa sagrada das nações. Quantas vezes eu fui tentado a patentear ao mundo os feitos assombrados que vi realizar por essa viril e destemida gente, que sustentou por mais de nove anos, contra um poderoso Império, a mais encarniçada e gloriosa luta. Não tendo escrito semelhante prodígio por falta de habilitações, porem a meus companheiros de armas, por mais de uma vez tenho comemorado tanta bravura nos combates, quanta generosidade na vitória, tanta hospitalidade, quanto afago aos estrangeiros. E a emoção que minha alma, então ainda jovem, sentiu na presença e na majestade de vossas florestas, na formosura de vossas campinas, dos viris e cavalheirescos exercícios de nossa juventude corajosa, e, repassando pela memória as vicissitudes de minha vida entre vos em seis anos de ativíssima guerra e da pratica constante de ações magnânimas, como em delírio brado : - Onde estão agora esses buliçosos filhos do Continente, tão majestosamente terríveis nos combates? Onde estão Bento Gonçalves da Silva, Antônio de Souza Neto, Canabarro, Teixeira, Antônio Ribeiro (nosso Clarim) e tantos outros valorosos, que não me lembro? - Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão de vossos centauros, avessados a carregar uma massa de Infantaria com o mesmo desembaraço como se fosse uma ponta de gado.” Giuseppe Garibaldi∴

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ANITA GARIBALDI A HEROINA DE DOIS MUNDOS

Anita Garibaldi - Ana Maria de Jesus Ribeiro - nasceu em 1821 em Morrinhos, Laguna, na então província de Santa Catarina. Seus pais Bento Ribeiro da Silva e Maria Antonina de Jesus, eram pobres, porém honrados. Do seu pai parece ter herdado a energia e a coragem pessoal, revelando desde criança um caráter independente e resoluto. Em 1835, já falecido o pai, casou aos 14 anos por insistência materna, com Manoel Duarte de Aguiar, na Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna. O curto matrimônio, sem afinidades e sem filhos, revelou-se um fracasso seguido de separação. Aos 18 anos conheceu a José Garibaldi que viera com as tropas farroupilhas de Davi Canabarro e Joaquim Teixeira Nunes tomar Laguna em julho de 1839, fundando a República Juliana dos Cem Dias. Garibaldi chegara à Laguna com a fama de herói pelo feito épico que acabara de realizar ao transportar, por terra, as duas embarcações “Farroupilha” e “Seival” de Capivari a Tramandaí e posterior salvamento do naufrágio da primeira ao sul do Cabo de Santa Maria. Seu encontro com Anita resultou em amor a primeira vista, dando origem a um dos mais belos romances de amor e dedicação incondicionais. A 20 de Outubro de 1839 Anita decide seguir José Garibaldi, subindo a bordo de seu navio para uma expedição de corso até Cananéia. Sua lua de mel tem lances de grande dramaticidade. Em Imbituba recebe seu batismo de fogo ao serem os corsários atacados por forças marítimas legais. Dias depois, a 15 de Novembro, Anita confirma sua coragem ímpar e amor heróico a Garibaldi e à causa na célebre batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, em que se expõe a mil mortes ao atravessar uma dúzia de vezes num pequeno escaler a área de combate para transportar munições em meio de verdadeira carnificina humana. Com o fim da efêmera República Lagunence, o casal segue na retirada para o sul. Subindo a serra, Anita combate ao lado de Garibaldi em Santa Vitória, passa o Natal de 1839 em Lages.

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Toma parte ativa no combate das Forquilhas (Curitibanos) à meia-noite de 12 de Janeiro seguinte. Feita prisioneira de Melo Albuquerque, consegue deste comandante permissão para procurar no campo de batalha o cadáver de Garibaldi que lhe haviam dito morto. Fugindo depois espetacularmente, embrenhando-se pela mata atravessando o Rio Canoas a nado reencontrando as tropas em retirada e seu Giuseppe, oito dias depois. Em 16 de Setembro de 1840 nasceu seu primogênito Menotti em Mostardas, na região da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Doze dias depois do parto, é obrigada a fugir dramaticamente a cavalo, seminua e com o recém-nascido ao colo, de um ataque noturno de Pedro de Abreu durante a ausência de Garibaldi. Reencontrados depois, Anita e o filho seguiram, também, na posterior grande retirada pelo mortífero vale do Rio das Antas, da qual nos conta o próprio Garibaldi, foi a mais medonha que jamais acompanhou, e que a desesperada coragem de Anita conseguiu meios de salvar o filho à última hora. Em 1841, dispensado por Bento Gonçalves, Garibaldi segue com a pequena família para Montevidéu, onde engajou-se nas lutas uruguaias contra o tirano Rosas. A 26 de Março de 1842, Garibaldi casa com Anita na Igreja de São Francisco de Assis. Nos anos seguintes Anita tem mais três filhos: Rosita, Terezita e Riccioti. Rosita não consegue vencer um ataque de difteria, falecendo aos trinta meses, deixando seus pais desesperados. Em fins de 1847 segue Anita com seus três filhos para a Itália, para Gênova e Nice sendo seguida pelo marido poucos meses depois. Na Itália Anita Garibaldi deu múltiplas demonstrações de aprimoramento intelectual, aparecendo como esposa condigna do herói italiano cuja estrela começa a brilhar internacionalmente. Infelizmente a vida de Anita foi demasiado curta. Em meados de 1849 vai a Roma sitiada pelos franceses ao encontro do marido, e com ele e sua Legião italiana faz a celebre retirada, dando repetidas mostras de grande dignidade e de coragem em lances de bravura frente aos inimigos austríacos. Grávida pela quinta vez e muito doente, não aceita os conselhos para permanecer em San Martino para restabelecer-se. Não quer abandonar o marido quando quase todos o abandonaram. Acompanhado de poucos fiéis, ziguezagueando pelos pântanos ao norte de Ravenna, fugindo dos Austríacos, que prometiam pena de morte a eles, Garibaldinos e a quem lhes ajudasse. José Garibaldi vê definhar rapidamente a mulher que mais amou na vida e de sua coragem disse desejaria muitas vezes fosse a dele. Pelas 19 horas do dia 4 de agosto de 1849 Anita Garibaldi falece nos braços do esposo em pranto, longe dos filhos, num quartinho do segundo pavimento da casa dos irmãos Ravaglia em Mandriole, próximo a Santo Alberto.

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A INFLUÊNCIA DA MAÇÔNARIA NA REVOLUÇÃO FARROUPILHA Por volta de 1830 já havia lojas maçônicas espalhadas pelo território da Província do Rio Grande do Sul , assim como na Argentina e no Uruguai. Maçons dos três países viajavam constantemente e filiavam-se nas lojas visitadas, comungando das mesmas idéias e dos mesmos interesses . Segundo o historiador Alcibíades Lappas , sócio correspondente da Academia Maçônica de Letras , ao irromper a Revolução de Maio de 1810 , existia em Buenos Aires uma Loja Maçônica, tendo como Venerável o Dr. Julián B. Alvarez, entre cujos membros foram selecionados aqueles que secundariam a Alvear, San Martin e Zapíola, e demais maçons que chegaram na fragata Jorge Canning, para a fundação da Loja Lautaro, de Buenos Aires, em 1812. Seus integrantes formaram posteriormente as lautarinas das cidades de Santa Fé, Córdoba e Mendoza, na Argentina, de Santiago do Chile e de Lima, no Peru. O General Belgrano fundou a Loja Argentina, na cidade de Tucumán, depois denominada Unidade Argentina. Esta loja trabalhou regularmente, com carta constitutiva outorgada pela Maçonaria de Nova Granada (Colômbia). Em 1821, um grupo de constitucionalistas espanhóis chegou a Buenos Aires, fundando a Loja Aurora , debaixo dos auspícios da Maçonaria Espanhola. Com a morte do General Rafael de Riego y Nuñez , vários de seus partidários chegaram a Buenos Aires, formando outra Loja, com o título distintivo de Liberdade, sob os auspícios do Grande Oriente Norte Espanhol .

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Dessa época, data a Loja Fênix fundada sob os auspícios da Grande Loja de Maryland, assim como a Valeper , fundada por Lafinur. Em 1825, um grupo de súditos norte-americanos organizou a Estrela Sulina (Southern Star), com carta constitutiva da Grande Loja da Pensilvânia. A essa Loja pertenceu Bernardino Rivadavia. Em 1829, por força da perseguição do tirano argentino Rosas, seus integrantes foram obrigados a emigrar de Buenos Aires para Montevidéu, onde formaram a Loja Asilo da Virtude, com carta constitutiva também da Grande Loja de Pensilvânia. Como se vê, estas eram lojas maçônicas regulares . Durante a tirania rosista, surgiram numerosas lojas conhecidas com a denominação genérica de Unitárias, fazendo oposição ao regime sanguinário de Rosas. Algumas delas chegaram até os nossos dias, como, por exemplo, a São João da Fronteira, da cidade de São João; a Constante União, da cidade de Corrientes; e a Jorge Washington, da cidade de Conceição do Uruguai . Em 1837, Garibaldi, durante sua estada em Entre-Rios, fundou uma loja em Gualeguaychu. Aqueles americanos e platinos que fundaram em 1829, em Montevidéu, a Loja Asilo da Virtude, só obteriam a sua carta constitutiva da Grande Loja de Pensilvânia, 3 anos depois, mas fizeram obra imorredoura, pois essa loja tem trabalhado virtualmente sem interrupção, até a atualidade, contando, portanto, com quase 150 anos , sendo a mais antiga do Estado Oriental e considerada, por esse motivo, a Loja Mãe da Maçonaria Uruguaia. Posteriormente, outras lojas foram fundadas, como as Decretos da Providência, Sol Oriente e Beneficência, com carta constitutiva do Grande Oriente do Brasil; a amigos da Pátria (Amis de la Patrie), com carta constitutiva do Grande Oriente de França, a que pertenceu Garibaldi; e a Loja Acácia, com carta constitutiva da Grande Loja da Irlanda, reorganizada posteriormente sob os auspícios da Grande Loja da Inglaterra (a Grande Loja Mãe do Mundo ). Maçons uruguaios e argentinos visitavam as lojas do Rio Grande do Sul, e vice-versa. E isso servia aos objetivos políticos de todos. No duelo político travado entre Rivera e Lavalleja, com Rosas por trás de tudo, as lojas maçônicas estavam sendo manipuladas , na tentativa de carrear adesões para as facções em luta. Lavalleja, nas suas viagens ao Rio Grande do Sul, filiaram-se a várias lojas gaúchas, com a intenção de ampliar os seus relacionamentos políticos, nos quais se utilizava até de sua esposa, Ana Lavalleja. A Maçonaria não estava ausente dos acontecimentos que culminaram com a ocupação da Banda Oriental pelo General Lecor, em 1817. Para tanto , veja-se o depoimento de Vicente G. Quesada, em Apontamentos para o Direito Internacional: “A invasão fora promovida pelo partido monarquista do Rio da Prata, pelos emigrados orientais no Rio de Janeiro, pela Loja criada sob a direção de Pueyrredon e pelos que temiam mais as crueldades de Artigas do que o domínio português”. Monarquistas, segundo Souza Docca ,foram: Bolivar, San Martin , Alvear ,Belgrano , Rivadavia , Pueyrredon, todos maçons, os três últimos diretamente envolvidos nas negociações diplomáticas para a ocupação . Em 1830, a maçonaria uruguaia procurou organizar-se em torno do irmão Lavalleja, contra Rivera.

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Segundo Fernando Osório, a primeira vez que no Rio Grande do Sul se agiu com armas na mão , em favor de idéias políticas, foi em 26 de abril de 1821, em Porto Alegre, quando a tropa e o povo, em altos brados, exigiram o juramento imediato da Constituição Lusitana, no meio da praça. Houve quem afirmasse, estribado nos arquivos do Sul, que o principal motor dessa prova do espírito constitucional Sul-rio-grandense foi o Padre José Rodrigues Malheiros Francoso Souto Maior, que, por isso foi preso e seguiu para o Rio de Janeiro, à disposição do Governo Real. Foi na Chácara da Floresta, do Padre José Custódio Dias, que se reuniram, em março de 1831, os líderes nacionalistas, ali redigindo uma representação a D. Pedro I, onde se referiam á Federação, considerando-a “uma questão política , cuja decisão penderia do juízo e deliberação do poder legislativo “ .Dias depois , a 7 de abril , dava-se a abdicação do Imperador do Brasil . Inúmeros sacerdotes figuraram nas sociedades secretas que então se formaram, mesclando alvos filantrópicos com políticos e onde , no dizer insuspeito de D. Duarte Leopoldo, arcebispo de S. Paulo, “a independência se enroupou para as galas da liberdade, e era coisa muito diversa dos esforços estrênuos das lojas francesas, italianas e mesmo alemãs, assim como as dos “carbonari”, nas quais se mesclavam os ideais de liberdade com profissionais conspiratas e propaganda anti-religiosa’’. Lado a lado com os padres que abraçaram a causa da Maçonaria sobressaiu-se o considerável contingente de militares , sobretudo da ala jovem, que se incorporou ao esforço libertador, favorecidos, em sua causa , pelas contínuas transferências de que eram alvos. Entre estes vamos encontrar José Mariano, o Tenente Alpoim, Sebastião Mena , Ulhoa Cintra, João Machado da Silveira , Serafim de Alencastro, Silvano José Monteiro de Araújo, Lourenço Júnior, João Manoel de Lima e Silva ( tio de Caxias ) e tantos outros que constituíram a nata dos intelectuais do movimento , paralelamente com alguns civis de nomeada . Consta que por volta de 1820 foi pela maçonaria fluminense , incumbido de organizar lojas maçônicas no Rio Grande do Sul , o irmão Francisco Xavier Ferreira , que havia de tanto se destacar na gênese e explosão da Guerra dos Farrapos , sobretudo através da imprensa maçônica revolucionária . Em 1831 , depois da revolução maçônica do 7 de abril , a maçonaria gaúcha já estava em condições de organizar-se. Mas fê-lo discretamente, como convinha aos propósitos do momento histórico. Para isto , podia contar também com aqueles maçons egressos da sociedade secreta de Lisboa, intitulada “ Gruta”, composta exclusivamente de brasileiros, com a finalidade de, ao regressarem ao Brasil, promoverem a proclamação da República. Entre estes, sobressaíram-se: Cândido Batista de Oliveira, José de Araújo Ribeiro, Antônio Vieira Braga, Antônio Rodrigues Fernandes Braga e outras personalidades que, depois do ato de 7 de abril, tanto influíram sobre os destinos nacionais e provinciais . Em 31 de julho de 1831 constituiu-se em Porto Alegre , em uma das principais ruas da cidade, um pouco acima da Igreja do Rosário, uma sociedade secreta que seria , por excelência , o núcleo formador da Revolução de 1835. Começou funcionando sob a denominação de GABINETE DE LEITURA. Em seguida , abriu uma escola. Depois editou um jornal. Denominou-se “SOCIEDADE LITERÁRIA CONTINENTINO”. Em breve, formou uma Loja

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Maçônica sob o título distintivo de “PHILANTROPIA E LIBERDADE”, cujos membros, na noite de Natal de 1831, elegeram Bento Gonçalves da Silva, como Venerável Mestre. Já se vê que, mesmo naquele tempo, as distâncias eram curtas, e Jaguarão ( onde servia Bento Gonçalves ), bem como todo o Rio Grande do Sul, Maçônicamente estava estreitamente ligado à capital da Província . Quando a Loja Philantropia e Liberdade escolheu, dentre todos os gaúchos proeminentes, o nome de Bento Gonçalves para seu chefe imediato, automaticamente designou quem seria o líder supremo do movimento político do Rio Grande do Sul, daí em diante. Antecipou-se, assim, de 4 anos, aos acontecimentos da Revolução de 1835. O jornal criado pela Sociedade chamava-se “Continentino”. Foi fundado pelo maçom João Manoel de Lima e Silva e circulou de 1831 a 1835. Seguiram-se outros periódicos, criados pelos maçons , como “Compilador” em Porto Alegre, “Recompilador Liberal”, “Idade do Pau”, “Eco Portoalegrense ”, “O Republicano” e, ás vésperas da Revolução, “O Continentista”. Portugueses e adversários do movimento liberal acabaram por denominar pejorativamente o agrupamento maçônico de “Sociedade dos Maribondos”, tal deveria ser o enxame e a agressividade dos que se acolhiam sob os seus umbrais . Para manter-se, a Sociedade tinha sócios contribuintes de vários matizes políticos ou mesmo sem nenhuma cor partidária, já que os objetivos secretos só eram definidos na loja maçônica “Philantropia e Liberdade”. Não é de admirar, portanto, que até absolutistas de monta a ela pertencessem e colaborassem financeiramente, na ignorância de suas verdadeiras finalidades, como atesta um de seus membros mais conspícuos que foi Antônio Álvaro Pereira Coruja, emérito gramático, latinista e historiador, que deixaria para a posteridade o livro “Antigualhas”, repositório de informações sobre os vultos e os atos da terra gaúcha. Mas, não resta a menor dúvida de que a tradição legalista é unânime em garantir que a sociedade maribondina foi o centro dos trabalhos subversivos, (como testemunha Alfredo Varela ), com João Manoel, José Mariano, Pedro Boticário , Bento Gonçalves , e outros. O próprio plano de operações dos farroupilhas teria sido da lavra de José Mariano de Matos e de João Manoel. A verdade é que os retrógrados desconfiavam de todos esses grêmios, propalando serem eles perfeitos conventículos sediosos, acusando sobretudo a Sociedade Continentino e as Lojas Maçônicas das cidades do Rio Grande e de Jaguarão, ambas possivelmente fundadas por Bento Gonçalves. Não há como negar que os maçons interpretaram, naquele instante histórico, o próprio sentido revolucionário, como asseverou Dante de Laytano . Todos os centros de população da Província tinham as suas Lojas, as suas Oficinas e seus Triângulos, conforme a importância local: Porto Alegre, Rio Pardo, Rio Grande, Jaguarão, Bagé, Piratini, Caçapava, São Borja, Cruz Alta e outros lugares menos populosos. Em 10 de janeiro de 1832, em seu número 163 , o jornal “ A Sentinela da Liberdade ” do maçom major Lourenço Júnior, publicou o seguinte tópico, que teve o efeito de uma bomba: “Há alguns dias anda muito espalhada a notícia de que uma facção desorganizadora, composta de pessoas as mais desprezíveis por seus vícios e imoralidades, entretém correspondência oculta e criminosa com Frutuoso Rivera, a fim de proclamar a independência

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desta Província, desmembrando-a do Império, para erigi-la em Estado Republicano, unido ao da Banda Oriental; cuja notícia havia enchido de espanto homens pacíficos e virtuosos”. Lourenço Júnior, maçom e liberal monarquista, acolhia assim os boatos que circulavam no Rio Grande do Sul e no Prata, de um conluio com Rivera, para a separação da Província, a que não estariam alheios alguns membros proeminentes da Sociedade Continentino, entre os quais Paulino da Fontoura e o marechal de campo Sebastião Barreto, Cmt. Das Armas e conhecido amigo do caudilho oriental. Em abril desse mesmo ano o padre Caldas (maçom revolucionário, que havia transplantado a idéia da Confederação do Equador para as plagas gaúchas) achou oportuno deslocar-se de Serro Largo, retomando os seus contatos com os políticos gaúchos. Vai á cidade do Rio Grande , onde obtém sucesso em seus entendimentos, e depois transporta-se para Porto Alegre. Imediatamente entra em ligação com Sebastião Barreto, colocando-o a par do falado movimento reincorporador oriental , prestes a irromper além fronteiras, segundo o padre Barreto, deixa-se iludir pelos sonhos do sacerdote e solicita uma sessão da Sociedade Continentino. A esta comparecem: o médico mineiro Dr. Marciano (nacionalista convicto); o carioca major José Mariano de Matos, Cmt. Do 1º Corpo de Artilharia (depois Regimento Mallet), republicano ferrenho; o porto-alegrense Gabriel Martins Bastos, tesoureiro da Alfândega; e muitos outros liberais do grupo republicano . Segundo H.O.O .Wiederspahn, Sebastião Barreto, nessa reunião não só procurou provar haver mudado de intenções e idéias pró-Rivera, como também declarou-se abertamente partidário de Lavalleja e de sua empresa incorporativista, solicitando, inclusive, o auxílio de “O Recompilador Liberal”, dos irmãos Calvet, de Zambecari e de Ruedas, para amparar a intenção do vencedor de Sarandí (Lavalleja ). Esta reunião deve ter sido aquela a que o padre Caldas compareceu , na afirmação do major F.C. Lobo Barreto, em seu livro “Memórias”. Enquanto isto, em Bagé o tenente Felisberto Fagundes de Souza, do 2º Corpo de Cavalaria, desdobrava-se em tenaz propaganda, procurando angariar adeptos á causa do padre Caldas, “na gloriosa tarefa de libertar os Riograndenses”. A esta altura , florescia mais do que nunca a Sociedade Continentino, antecâmara da loja maçônica Philantropia e Liberdade. Criada com a finalidade de “fomentar o progresso, tanto na instrução do povo, como em um mundo de negócios que se esperava recebessem grandes impulsos com a entrada na vida constitucional”, o grêmio, no testemunho dos contemporâneos, sobressaiu-se, não há como negar: “ criando instituições e dando combate eficaz ao vergonhoso tráfego de escravos”. Em 5 de maio, ainda de 1832, a Loja Philantropia e Liberdade foi reconhecida pelo Grande Oriente do Lavradio ,ao qual ficou filiada como loja regular. Depois disto, o movimento maçônico tomou conta da Província inteira, sendo rara a localidade que não contasse pelo menos com um triângulo maçônico. Em Pelotas, a Maçonaria congregou dois vultos exponenciais: o mineiro Domingos José de Almeida e o gaúcho Davi Canabarro, os padres Antônio Augusto de Assunção e Souza e Ruperto Luzzano, além do cônego Francisco Teodósio de Almeida Leme, segundo Fernando Osório. Na cidade de Rio Grande não foi fácil ao maçom Francisco Xavier Ferreira manter uma Loja Maçônica em sua residência . Hábil jornalista e político sagaz, Ferreira era redator e proprietário de “O Noticiador”, além de ter feito parte da junta governativa da Província, de 1822 a 1824; de 1826 a 1829 tinha sido deputado da Assembléia Geral, na primeira legislatura.

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Em virtude de suas funções, manteve por longos anos contato pessoal e epistolar com o irmão José Clemente Pereira, desde que este era o presidente do Senado da Câmara, na Corte. No Rio de Janeiro, era a ocasião em que a Maçonaria preparava a aclamação do Imperador para 12 de outubro. . Houve, então, o impasse criado por aqueles que não queriam que o Príncipe Regente prestasse o juramento prévio da Constituição que fosse elaborada pela Constituinte. Aqueles, é claro, eram o próprio D. Pedro e José Bonifácio. Antes, porém, que esse impasse se estendesse ás demais províncias brasileiras, Clemente Pereira foi incumbido de remeter uma circular a todas as Câmaras Municipais não apenas para comunicar o fato, mas com a finalidade de ajustar-se todas essas câmaras para a proclamação simultânea, no dia e hora aprazados, em todo o Brasil, pelo menos naquelas províncias que aderissem á Independência. Nessa circular ainda constava a cláusula do juramento prévio e as razões da convocação da Assembléia Geral Legislativa e Constituinte . Foi essa circular, com carta em 17 de setembro ,que Francisco Xavier Ferreira trouxe para o Rio Grande do Sul, como emissário nomeado pela Maçonaria Fluminense. Ainda em dezembro de 1832 foi quando o maçom Lavalleja foi a Porto Alegre, com carta de apresentação a Bento Gonçalves, dirigida ao irmão Marciano Pereira Ribeiro. Tentava ele a formação do célebre Quadrilátero. Entrementes, a Loja Philantropia e Liberdade continuava no seu afã de organizar e dinamizar a Maçonaria Gaúcha. A 4 de dezembro de 1832, uma prancha assinada por Tomaz de Lima Teixeira Gomes, Freitas e Castro e Manoel de Moraes, dava a Bento Gonçalves o direito de “regularizar e filiar em todos os municípios ou freguesias das fronteiras do Rio Grande, que vai percorrer... ” Idêntica competência foi dada a Sebastião Mena , que , da Loja de Rio Pardo, recebeu a incumbência da regularização da Maçonaria “nos lugares por onde o espírito dessa expressão andasse...” Em 1833 Bento Gonçalves vai a Porto Alegre e numa sessão do clube secreto consegue neutralizar os desígnios barretistas, denunciando o marechal como aspirando ao mando autocrático do Rio Grande do Sul, em combinação com idêntica atitude de Rivera, no Uruguai. Era o mês de fevereiro, Bento Gonçalves, sabedor de que Rivera enviara emissários a Porto Alegre, segundo denúncias dos jornais da capital gaúcha, viajou para lá e foi direto a Sociedade Continentino. Alfredo Varela narra o episódio: “Levado o recém- vindo ao “vale” para onde confluíam ambas correntes de vero ou falso tipo republicano, foi introduzido na sede mais recôndita do grêmio onde fraternizam cristãos-novos e cristãos-velhos . Bateu o martelo do rito o Venerável e teve começo o trabalho dos pedreiros-livres. Realizou-se a memoranda “sessão secreta”, em que ocorreram alterações políticas do máximo vulto e conseqüência. Durante a mesma, entraram estas duas irmandades em palestra íntima com o amigo do peito do padre Caldas (Bento Gonçalves), “irmão de nota”, e buscaram entender-se com o homem de farda, como antes se haviam entendido com o homem de batina. Pôde, então, certificar-se Bento Gonçalves de muita coisa que ignorava ou apenas entrevia. Exempligratia, Rivera, até mesmo nas convulsões da recente guerra civil no Uruguai, não deixara em inteiro abandono o tear de sua já vetusta intriga captadora, e claro se lhe tornou

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em que a rede insidiosa buscava envolvê-lo, com a carta de outubro, que teve oportuno translado. ( Carta em que ele apresentava Lavalleja ao Dr. Marciano). Verificou, a par disso, algo mais. Tamanho caminho fizera a propaganda oculta do grado lindeiro, que gregos e troianos, ali presentes, se lhe mostravam propensos: uns e outros predispostos a uma entente com o remexido presidente ( Rivera), a fim de obter-se com ele, o que falhara com Lavalleja. Notada a geral inclinação, considerou o perigo e decidiu-se a conjurá-lo imediatamente. O Coronel depois de ouvir quantos se quiseram pronunciar, tomou a mão, proferindo “um discurso que desmoronou os planos” dos “amantes do despotismo antigo” e dos liberais assaz levianos para não penetrarem as vistas desses corifeus de um regime odioso. Coube, desta sorte, a Bento Gonçalves, a glória de pulverizar o partido que por último se formara, com os mais híbridos elementos, em torno de Barreto. Esbarrondou o heteróclito edifício e impôs silêncio em tudo ao que também se frustara em 1829. Porquanto, os ingênuos que os acolitavam, em vez de assistirem á solene ereção da sonhada Pátria Riograndense, enfim unidade soberana e redimida, podiam assistir a uma redonda burla. Presenciariam, quiçá escandalizados, ao que eles próprios classificam mais tarde, com um perfeito rigor, como devendo ser a “República de Veneza”, regida por governo de espadas, espiões e nepotismos”, torpe, negra obra realizada em grande modernamente, e há pouco desmoronada, na América Lusitana, seja dito de passagem”. O fato, em síntese, foi publicado em “O Noticiador ”, do dia 2. Sá Brito comentou para a História o acontecimento, elogiando a atitude de Bento Gonçalves, dizendo que ele, nessa sessão, “despertou ao mesmo tempo nos bons cidadãos o nacionalismo e o amor á liberdade”. Perguntamos nós: Como Sá Brito estava tão bem informado a respeito de uma sessão secreta, se diz que não era maçom ? Penso que foi aí que Bento Gonçalves realmente assumiu o comando do movimento libertador e imprimiu-lhe, de fato o cunho de sua personalidade e o rumo cauteloso que deveria ser seguido, infenso, tanto quanto possível e conveniente, às interferências estrangeiras e ao radicalismo dos republicanos extremados. Por volta de 1833 o prestígio pessoal de Bento Gonçalves tinha crescido tanto que se pode dizer que seu nome estava projetado em todos os quadrantes do território gaúcho. Por essa época, era comandante das armas provinciais o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto, que exerceu esse cargo de 1831 a 1835. Em 1832 ele ainda apreciava as qualidades de Bento Gonçalves, tanto que o havia indicado ao Vice- Presidente da Província para o cargo de Comandante da Fronteira do Rio Grande, como reunindo em si os méritos da “confiança pública, atividade e préstimo militar”, sendo tal indicação aceita . É verdade que, ainda em 1832 Bento Gonçalves já fora acusado, no Rio de Janeiro, pelo Ministro dos Estrangeiros de intervir nas contendas do Uruguai, em favor de Lavalleja tendo sido, na oportunidade, defendido pelo Presidente da Província, Manoel Antônio Galvão, em ofício ao Ministro da Guerra. Agora, em 1833, é o próprio comandante das armas Sebastião Barreto que o denuncia ao mesmo Presidente da Província, pelo mesmo motivo e em termos mais graves.

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Em correspondência oficial chama-o de “indomável” e desobediente às ordens governamentais , protetor ardiloso de Lavalleja e outros emigrados platinos, em benefício de sua corrente política e da organização revolucionária . Galvão, posto em dois fogos e não vendo como sair da situação, encaminha a denúncia a Regência, com Aviso de 20 de abril desse ano, dizendo, entre outras coisas: “Esta coalizão do Padre Caldas com o Coronel Bento Gonçalves já era de si tremenda, pelo gênio díscolo (dissidente, brigão) do primeiro, crédito do segundo e índole própria para empresas; tem para cumulo de dificuldades, bastante ramificações, e todos esses projetos desvairados, junto ao estado geral das coisas, apresentam um conjunto de circunstâncias bem delicadas... ” A verdade é que tanto Bento Gonçalves como Sebastião Barreto haviam aprofundado as suas divergências desde a revolução do 7 de abril de 1831, fosse no campo da política nacional e provincial, fosse no terreno da política platina. Dizia-se que Barreto era compadre de Rivera , e Bento Gonçalves de Lavalleja, o que significa afirmar que, pelo menos uma vez na vida, houvera laços de amizade suficientemente fortes para chegarem ao compadrismo, por coincidência ou não , em facções políticas opostas. No campo interno, Barreto aderira aos Andradas e defendia a restauração de Pedro I, situando-se entre os “retrógrados” e “caramurús” do partido conservador , que pretendia implantar em todo o Império as chamadas “Sociedades Militares” em oposição ás “Sociedades Defensoras da Independência e da Liberdade ”, instituídas pelo partido liberal, do qual no Rio Grande do Sul , Bento Gonçalves era o líder inconteste. Chamado ao Rio de Janeiro, pela Regência, para justificar-se, Bento Gonçalves para lá embarca, munido de copiosa documentação a seu favor, constante de cartas que pessoalmente recebera, como de outras que apreendera em mãos de emissários de Rivera, tudo de molde a provar que nada se arredara um centímetro sequer da linha de conduta que se traçara invariavelmente e constante da carta que o Presidente Galvão anexara ao seu ofício de 6 de dezembro de 1832, dirigida ao Ministro da Guerra. Nela dizia: “Observei neutralidade, não obstante inclinar-me a este ou aquele partido; e tenho o desvanecimento de dizer a V. Exa. que em nada comprometi, nem a minha honra, nem a minha dignidade e a Nação”. As cartas de Rivera, subtraídas, punham à mostra o jogo duplo deste: enquanto mantinha oficialmente com o Império as mais cordiais relações, secretamente fomentava a revolução no Rio Grande do Sul e preparava-se para invadir a fronteira, a pretexto de combater Lavalleja. Filiado ao partido liberal da Província e membro da “ Sociedade Continentino” era também o major João Manoel de Lima e Silva, irmão do Regente do Império Francisco de Lima e Silva ( pai de Caxias ). Outro irmão de João Manoel, que também serviu no Rio Grande do Sul, tomando parte na batalha do Passo do Rosário, foi Luiz Manoel de Lima e Silva, que chegou a marechal e escreveu um livro sobre a guerra com o Rio da Prata, de 1825 a 1828. O quarto irmão dessa família ilustre, a cujo pai nunca deram o título de patriarca, foi José Joaquim, o visconde de Magé, que em 1823 expulsara da Bahia as tropas portuguesas do gen. Madeira. Era Brigadeiro durante a revolução do 7 de abril, tendo sido logo após nomeado pela Regência comandante das armas da Corte e da província do Rio de Janeiro. Maçom ativo , em 24 de junho de 1831 ,ajudou a instalar o Grande Oriente Brasileiro ( depois Grande Oriente do Passeio ), ocupando o cargo de Grande Chanceler Interino na administração do Grão-Mestre senador Vergueiro, que havia deixado a Regência Trina sete dias antes (o que é bastante significativo) .

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João Manoel, ao ter conhecimento da chamada de Bento Gonçalves ao Rio, conseguiu permissão dos seus superiores hierárquicos para ir, também, à Corte, sob um pretexto qualquer, possivelmente para tratar de interesses particulares. Mas, na verdade, sua intenção era socorrer seu correligionário e sentir o ambiente político da capital do Brasil, em confronto com o que estava realizando no Sul. Como era irmão de Francisco de Lima e Silva, Regente do Império, tinha grande facilidade para isto. Tal era a pressa do jovem e ativo agitador liberal em locomover-se para o Rio de Janeiro, que, obtida a licença, empreendeu viagem por terra, a cavalo, chegando ao seu destino nos primeiros dias de dezembro de 1833. Desenvolveu, ai, uma formidável campanha contra a administração da Província do Rio Grande do Sul e a favor de Bento Gonçalves. Não foi difícil a Bento Gonçalves desfazer a má impressão a seu respeito. Exibindo a farta documentação que trouxera e com o apoio dos políticos liberais da Maçonaria local, conseguiu justificar-se amplamente o que poderia ser a sua ruína política e funcional numa retumbante vitória para a causa que abraçara. Obteve do Regente duas promessas muito importantes para o liberalismo gaúcho: (1º) a nomeação de um gaúcho para a Presidência da Província; (2º) a proibição do funcionamento das “Sociedades Militares” em território sulino. No terreno pessoal seu êxito foi completo: foi decidido mantê-lo no Comando da Fronteira de Jaguarão. Além disto, pelos “relevantes serviços prestados á Pátria nas guerras anteriores”, onde despendera a sua fortuna particular, em benefício do País , foi-lhe concedida uma pensão anual de 1:200$000, o que não era muito, haja vista que José Bonifácio obtivera em 1829 da Assembléia 4:000$000. O gaúcho que seria nomeado para a presidência da Província, em substituição ao Dr. José Mariano, empossado em 24 de outubro de 1833, seria o Dr. Antônio Rodrigues Fernandes Braga, egresso da sociedade secreta de Lisboa, intitulada “Gruta”. Só uma coisa Bento Gonçalves não conseguiu e isto seria decisivamente funesto para a manutenção da paz na Província e no Brasil: a demissão do marechal Sebastião Barreto do comando das armas no Rio Grande do Sul. Forças políticas poderosas o apoiavam e não foi achado prudente, no momento, contrariá-las, porque serviam de contrapeso a qualquer excesso possível dos liberais gaúchos. Além disto, Barreto poderia ser útil aos desígnios do regente Francisco de Lima e Silva. Diz Gustavo Barroso, baseado em Assis Brasil, que Bento Gonçalves, chamado ao Rio, a cada aperto de mão que trocava sentia os toques rituais da Maçonaria. A verdade é que todos, os pró-homens do governo à frente, pertenciam à irmandade da Acácia. Evaristo da Veiga, o jornalista revolucionário que fazia regentes era irmão da mesma fraternidade. O senador Vergueiro, também. O brigadeiro José Joaquim, irmão de sangue do regente, Francisco, idem. O padre Diogo Antônio Feijó, idem. O 2º Visconde de Caravelas ( Manoel Alves Branco ), também. Vai além o autor da “História Secreta do Brasil”: “Afirmam alguns contemporâneos que a idéia da Revolução se assentara definitivamente no ânimo de Bento Gonçalves durante sua permanência na Capital; que um plano existia ali, concebido por homens como Evaristo da Veiga, de sublevar ao mesmo tempo o País inteiro, para estabelecer-se a Federação, já que , pelos meios legais, se afigurava impossível; que, no Clube Federal, secretamente se tramava a ruína completa do partido retrógrado, como condição de vida para a Nacionalidade Brasileira”.

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Chegando ao Rio foi logo procurar políticos e maçons, deparando-se-lhe uma cisão profunda em ambas as esferas: de um lado retrógrados e restauradores, tentando a volta de Pedro I ; de outro, liberais moderados e exaltados, em luta contra aqueles, uns pugnando simplesmente pela manutenção da monarquia constitucional, outros pelo federalismo republicano ou monárquico. O Ministro que atendeu a Bento Gonçalves, em companhia de João Manoel de Lima e Silva, foi Sepetiba, maçom da mesma escola de Evaristo, de Vergueiro, do cônego Januário, de Joaquim Gonçalves Ledo , de Santos Barreto, do brigadeiro José Joaquim de Lima e Silva, de Manoel Alves Branco, do padre Feijó e de outros que seria ocioso enumerar. Não foi, pois ,difícil a Bento Gonçalves desfazer todas as intrigas espalhadas a seu respeito no Rio de Janeiro, estando, como estava, entre amigos e irmãos. Prestigiado pelo Centro, como ninguém , e coberto de honrarias , voltou Bento Gonçalves a Província, em companhia de João Manoel. Coube a Evaristo da Veiga, através da “Aurora Fluminense ”, e com sua indiscutível autoridade moral, definir para o Brasil todo, sem sombra de dúvida, a liderança de seu amigo Bento Gonçalves: “Quando as recompensas são atribuídas ao mérito e ações relevantes, o governo que as dá por algum modo partilha a glória das mesmas ações e mérito, e a Nação, em vez de ser empobrecida por tais recompensas, ganha com a sua distribuição e se enriquece do que despende . O coronel Bento Gonçalves da Silva tem, com seu valor, adquirido um nome brasileiro: valente defensor de sua Pátria, contra o inimigo estrangeiro, por sua probidade, coragem e retidão , conquistou entre os povos da fronteira do Rio Grande do Sul , onde mora um tal conceito que, ao seu nome, toda aquela população se move para o combate, certa de que marcha a vitória e de que tem um chefe leal e um brioso companheiro de armas.” Assim chegando ao Rio Grande do Sul, Bento Gonçalves escreve ao Regente, cientificando-o da situação política gaúcha. A 20 de janeiro, o Regente responde-lhe, felicitando-o pela sua nomeação para comandante da Fronteira e acusando o recebimento da correspondência do Coronel por “ocasião da crise ” e, entrando no assunto principal, diz: “ Não pretendia escrever a V. S.ª sobre o negócio do Regente, porque não só contava com a sua amizade, como para não parecer suspeito . Agora, porém, que chegou a mim a notícia, de um modo terminante e decisivo, que o marechal Barreto, traidora e perfidamente, procura aliciar eleitores dessa Província para nomearem Pedro de Araújo Lima, homem inimigo constante das coisas do 7 de abril, do que tem dado sobejas provas, até traindo a Regência quando foi seu Ministro nos 40 dias, tudo isto induzido e aconselhado daqui por José Carlos de Almeida Torres e Galvão (desembargador Manuel Antônio Galvão , ex-presidente do Rio Grande do Sul ), autores de toda esta cabala. Dirijo-me a V.Sª que se por desventura aparecer tal homem para Regente, não só não lhe entregarei a Regência, como lhe farei sempre toda a oposição: não foi para ver o Brasil perdido que eu e minha família nos sacrificamos em 7 de abril. Espero que V.Sª me acuse a recepção desta carta e eu vou tomar sobre o marechal Barreto as convenientes medidas”. Souza Docca chama esta missiva de “carta branca para conspirar”, pela possibilidade que deu de os liberais atacarem pública e ostensivamente o poder na Província e o comandante das armas, abrindo uma “porta ampla a Revolução”.

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O jornal “O Continentista” , que surgiu em 18 de junho de 1835, portanto 3 meses antes da Revolução, e funcionou cerca de um ano, tinha como redatores Francisco Sá Brito e José de Paiva Magalhães Calvet , o mais célebre dos Calvets. Narra Sá Brito que, dez dias antes do início da Revolução, portanto a 10 de setembro de 1835, recebeu em sua casa em Porto Alegre a visita do coronel Bento Gonçalves, que se fazia acompanhar do Dr. Marciano Pereira Ribeiro, do advogado José de Paiva Magalhães Calvet e do capitão Antunes da Porciúncula (concunhado de Bento Gonçalves) que, em seguida, se retirou . Tratava-se, como foi logo dizendo Bento Gonçalves, de fazer uma revolução, para repelir da Província o seu Presidente, Fernandes Braga, e o comandante das armas, Sebastião Barreto. Sá Brito diz que não concordou. Mas a Revolução foi feita, tendo sido o Dr. Marciano o primeiro Presidente escolhido para a Província, e o Dr. Calvet preso na reação de Porto Alegre, como um dos três cabeças da separação do Rio Grande do Sul. Já se vê que a Revolução foi tanto Farroupilha como Maçônica. Posteriormente, Sá Brito seria Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Justiça e, interinamente, dos do Interior e Exterior, em plena Revolução. Em seguida, deu-se a famosa “Assembléia dos Deportadores”, em que Sá Brito funcionou como Presidente, e o major Mariano de Matos como Secretário. Ocorreu ela a menos de meia quadra da moradia de Sá Brito, a rua do Ouvidor ( ou Ladeira) , no centro de Porto Alegre, muito provavelmente em uma Loja Maçônica, já que Sá Brito faz questão de dizer que nunca identificou o lugar. Como o identificaria, se ele era “vedado aos olhos profanos”? Nessa Assembléia foi organizada uma lista de 400 e tantas deportações de elementos contrários a Revolução, tendo sido nomeada uma comissão para estudá-las, presidida por Mariano de Matos. Em pouco tempo a relação estava reduzida a 40 nomes. E quando foi mostrada, mais tarde, a Bento Gonçalves, este com um simples gesto, arremessou-a para baixo da mesa , dizendo : “ Isto não tem lugar”. Depois da rendição do Fanfa , Bento Gonçalves foi remetido preso para o Rio de Janeiro. Ele ainda não estava são de um ferimento de bala, recebido nas proximidades de Viamão. Esteve na Fortaleza de Santa Cruz e depois foi recolhido a uma prisão denominada “Casa Forte”, juntamente com Tito Lívio Zambecari, Corte Real , Onofre Pires, Pedro Boticário, João Maia, José Calvet, Marciano Ribeiro, e outros Riograndenses. Na fortaleza de Santa Cruz a alimentação era precaríssima. Os presos teriam morrido de fome e nudez se uma mão oculta não lhes ministrasse alimento e roupas. Alberto Faria, panegirista de Mauá, assim narra o episódio: “Rezam as crônicas que na ponta do Curvelo, em Santa Teresa, residência, do Visconde de Mauá, encontravam abrigo revoltosos foragidos. Certo é que nessa casa se trabalhava em favor deles; e veremos que, pela confissão de um, que, para a fortaleza de Santa Cruz, o negociante Irineu fazia transportar, ocultamente e a sua custa, a alimentação de 30 prisioneiros ”. E mais adiante: “Aí se tramou a evasão de Onofre Pires da Silveira, da fortaleza de Santa Cruz. Riograndense de nascimento, e filantropo de alma., é fora de dúvida que, ou tivesse espírito de revolucionário ou não, o morador da chácara de Santa Teresa fez jus a denominação que sua casa ganhou: “Quilombo Riograndense”. Esse “quilombo funcionou até o fim da revolução. Depois Bento Gonçalves foi transferido para a fortaleza da Laje, no meio da baía, para maior segurança, em princípios de 1837.

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Nessa fortaleza, preso com ele, achava-se o Pedro Boticário. Na de Santa Cruz haviam ficado: Onofre Pires, Corte Real e Tito Lívio Zambecari, entre os principais. Uma evasão conjunta foi marcada para a noite de 10 de março. Bento Gonçalves, depois de desvencilhado dos grilhões , limou pacientemente um varão de ferro da grade existente na pequena janela de seu cárcere e aguardou, na escuridão, o rumor dos remos da canoa que o viria apanhar. Esta chegando, o general transpôs rápido a abertura, desceu pela escada de cordas e já se achava entre os seus salvadores, quando verificou, desapontado, que o Boticário, por ser muito gordo , não podia escapar. Voltou ao recinto da fortaleza. No mesmo instante, as sentinelas, percebendo movimento estranho, davam o alarma. Ouvindo o barulho, a canoa mal teve tempo de afastar-se e procurar cumprir a segunda parte de sua missão. Ganhou o costado da fortaleza de Santa Cruz, onde se manteve ao largo. Nesta, Onofre e Corte Real, prontos também para fugir, vendo que a canoa não se lhes aproximava, desceram o parapeito, por uma corda, lançando-se na água . Zambecari, que devia acompanhá-los, não sabendo nadar, ficou inerte a contemplá-los, perdendo a oportunidade que lhe seria derradeira. Os dois fugitivos, alcançando a canoa a nado, foram conduzidos a terra firme, onde esconderam-se em casa amiga, provavelmente na de Mauá. Na primeira oportunidade, velejaram para o Prata, e daí para o Rio Grande do Sul, onde se reincorporaram á Revolução. Aumentando as preocupações em torno de Bento Gonçalves, o Governo em pouco tempo mandou transferi-lo para uma das prisões militares da Bahia. Foi embarcado no brigue nacional “Constança”, com destino a Salvador. O barco de guerra que, a 10 de agosto de 1837, levou Bento Gonçalves para Salvador, era comandado pelo português 1º tenente Joaquim José Inácio, depois Visconde de Inhaúma. Embora maçom da Loja “Integridade Maçônica”, do Rio de Janeiro, era um legalista extremado e combateria ao lado do governo, ainda neste ano, contra a Sabinada. Chegaria , em 1863, a Grão-Mestre Adjunto, no Grande Oriente de Saldanha Marinho. Durante o trajeto, que durou 16 longos dias, para Salvador, Bento Gonçalves escapou a custo da sanha de seus algozes, e, na Bahia, ao veneno que os portugueses lhe haviam preparado. Quando chegou à capital da província baiana, a 26 de agosto de 1837, não apresentava bom aspecto. O “Jornal ”, de 16 de setembro, ao noticiar a sua chegada, dá-lo com um “ar seco, aspecto melancólico e sisudo”. E foi com frieza que recebeu a bordo os amigos que o foram receber. Recolhido ao forte do Mar (ou de São Caetano), imediatamente começaram os seus “irmãos” da Maçonaria as articulações necessárias para a sua pronta libertação. Trancado na cela, durante o dia, de noite os escaleres dessa praça de guerra revezavam-se na ronda com o brigue “29 de Agosto”, ancorado à distância conveniente. Dois dias depois da chegada do líder farroupilha, na sessão da Loja “Virtude”, o “Irmão” Secretário apresentou uma prancha do Irmão Bento Gonçalves da Silva, grau 18, da qual a Loja ficou ciente, logo nomeados os irmãos Guimarães, Manoel Joaquim e Marques, para se dirigirem, por parte da Loja, ao dito Irmão e participarem-lhe que ela ficou inteirada, e que faria o que estivesse a seu alcance, a fim de melhorar a sua sorte. Dois dias após, na loja “Fidelidade e Beneficência”, fundada pelo Cap. Joaquim José Veloso, nesse mesmo ano, e que era o Cmt. Do forte do Mar, segundo Pedro Tomás Pedreira,

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no “Jornal do Maçom”, de Nov. Dez. 976, e cujo Venerável era o padre Antônio do Amaral, teve lugar igualmente a leitura de uma “prancha”, dirigida pelo irmão Rosa Cruz Bento Gonçalves da Silva , fazendo ver o estado em que se achava e, à vista do que pedia o único recurso de lhe serem ministrados meios de ser mudado para uma prisão cômoda, onde fosse lícito falar aos seus amigos; do que, sendo a Loja inteirada, foram nomeados pelo irmão Venerável Mestre, para visitarem ao dito Irmão e lhe oferecerem os socorros de que ainda precisasse, ou estivesse ao alcance da Loja, os irmãos Roberto , Tesoureiro e o Orador Adjunto... Nessa noite e nessa Loja, recebeu a investidura Maçônica o português Antônio Gonçalves Pereira Duarte, brasileiro adotivo, com 36 anos de idade, católico romano, negociante, morador no Cais Dourado. Esse cidadão é o mesmo que, no início do movimento farrapo , era vice-cônsul hamburguês em Porto Alegre e recomendou aos colonos alemães de São Leopoldo que não interviessem na luta intestina, o que lhe custou a retirada do “exequatur”, a pedido do presidente Fernandes Braga. Agora, ele estava em Salvador, como capitão e proprietário de um barco que fazia o transporte de mercadoria entre a Bahia e o Rio Grande do Sul. Às 10 horas do segundo domingo de setembro, dia 10, faltando 13 dias para o 49º aniversário natalício de Bento Gonçalves, os seus amigos, depois de lhe darem aviso do plano concertado para a sua fuga, conseguiram com o Cmt. do Forte permissão para que ele fosse tomar banho de mar, na circunvizinhança das baterias, vigiado pelas sentinelas em armas e por uma escuna de guerra, ancorada não muito longe. Velejava ao largo dos baluartes, entre outras baleeiras e embarcações pesqueiras, uma canoa de velas, com seis remos compondo a habitual paisagem da baía, como é vista ainda hoje. O general farroupilha despiu-se, mergulhou nas águas revoltas e nadou displicentemente de um lado para outro, distanciando-se lentamente da costa , à medida que sentia que a vigilância esmorecia, pela repetição da cena. Súbito, quando sentiu que não mais podia ser alcançado, orientou-se no sentido da posição da embarcação combinada, vislumbrada à meia distância. O fato não passou despercebido às sentinelas do Forte. Os artilheiros correram a suas peças mas a pólvora negou fogo . Havia sido molhada, na véspera para que isso acontecesse. Da fortaleza largaram, finalmente, dois escaleres, atrás do fugitivo. O Cmt, valendo-se de um porta-voz, fez ouvir o alarma no barco de guerra. A esta altura, já o líder farrapo ganhara o bote salvador, rumando para a ilha de Itaparica, onde foi recolhido, pelos amigos. Seus perseguidores, desorientados, dispersavam-se pelo Recôncavo. Ficou alguns dias na ilha, aguardando que a busca serenasse. Depois, transportou-se para a cidade, onde o abrigaram até 7 de outubro, à espera do bergantim do novo maçom Antônio Gonçalves Pereira Duarte, iniciado nos mistérios da Maçonaria, precisamente para este efeito. Numa bela tarde de primavera, completo o carregamento, o palhabote levantou ferros e abrindo as velas à viração deslocou-se mansamente pela baía, no rumo da barra, levando farinha para Pelotas e Montevidéu . No topo do mastro a flâmula auri-verde. O capitão português, de suíças, fumava tranqüilamente o seu cachimbo, agarrado ao leme. Quem diria ( pergunta Pedro Calmon) que, entre os sacos brancos, era devolvido aos pagos o homem da Setembrina, ávido de cobrar em Piratini a dívida do Fanfa? O navio o deixou em Desterro, capital da província de Santa Catarina, de onde, a cavalo, em companhia de um fiel Catarinense, de nome Mateus, penetrou no Rio Grande do Sul,

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passando por Torres a 3 e atingindo Viamão no dia 10 de novembro de 1837, justamente 60 dias após a sua fuga do forte do Mar, e 13 meses e 6 dias, de sua prisão na ilha do Fanfa. Conta Alfredo Ferreira Rodrigues que Bento Gonçalves, antes de chegar a este destino, com o cavalo cansado, parou em um estância. Faltava muito ainda para avistar Viamão, onde o exército republicano, sob as ordens de Onofre, instalara o seu quartel- general, sitiado a capital. Apeou-se à porta e veio recebê-lo uma velhinha , a quem expôs suas necessidades. A velha escusou-se, respondendo : “Fui rica. Hoje estou pobre. Dei tudo o que pude à Revolução. As forças legais levaram-me o resto. Na estância só tenho um cavalo para todo o serviço. Esse não o dou. Só se me viesse pedir o general Bento Gonçalves. Guardo-o para ele, quando voltar ao Rio Grande ”. O General deu-se a conhecer, encobrindo a custo a comoção que se apoderara dele. A 16 de dezembro de 1837 Bento Gonçalves assume a presidência da República Riograndense, eleito que fora em 6 de novembro do ano passado, quando se achava preso pelos legalistas. O mais importante documento político sobre as causas e a finalidade da Revolução Farroupilha é o Manifesto de 29 de agosto de 1838, assinado por Bento Gonçalves da Silva e Domingos José de Almeida. Nesse manifesto, escrito no período áureo da revolta, quando esta conquistava as principais vitórias militares e tinha quase todo o território gaúcho sob seu domínio, lê-se: “Perdidas, pois, as esperanças de concluírem com o governo de Sua Majestade Imperial uma conciliação fundada nos princípios da justiça universal, os Riograndenses, reunidos em suas municipalidades, solenemente proclamaram e juraram a sua independência política, debaixo dos auspícios do sistema republicano, dispostos todavia a se federarem, quando nisso se acordem as províncias irmãs que venham a adotar o mesmo sistema”. Em julho de 1839, Bento Gonçalves, em companhia de Mariano de Matos, foi conferenciar em São Gabriel com Bento Manuel Ribeiro, que estava prestes a desligar-se pela segunda e última vez das tropas revolucionárias. Este era o ano em que a Capital da República havia sido mudada de Piratini para Caçapava e Canabarro e Garibaldi haviam proclamado em Laguna, Santa Catarina, a República Juliana . Bento Gonçalves e Mariano de Matos, este, então, na vice-presidência da República, e ministro da guerra e relações exteriores, dirigiam-se para a fronteira, a oeste, atingindo posteriormente Alegrete, com a intenção de estabelecer tratados de aliança com as repúblicas vizinhas. Para essas negociações tinha sido nomeado Antônio Manuel Correia da Câmara, mas Bento Gonçalves queria substituí-lo como o faria, pelo general Bento Manuel Ribeiro. A falta de lojas maçônicas e ante as necessidades do momento, e ainda de acordo com os sublimes “Landmarques” e regulamentos da Ordem, muitos profanos eram feitos maçons “por comunicação”, lavrando-se documento escrito, para os efeitos legais. Nessa oportunidade, Mariano de Matos, que usava o nome simbólico de “Bruto”, iniciou nos mistérios maçônicos o fazendeiro Thomaz Ferreira Valle, conforme certificado que a História guardou nos arquivos da Loja Rocha Negra, de São Gabriel, que seria fundada em 29 de junho de 1873. Transcrevêmo-lo de um artigo de Celso Schröder, na RIHGRGS, de 1936 , tomo IV : “À G∴do S∴Arq∴ do Univ∴ A TT∴ N ∴CC∴ II ∴ espalhados pela Superfície da Terra.

S∴ F∴U∴

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“Certifico que, atendendo às boas qualidades e requisitos necessários, que concorrem na pessoa do prof ∴THOMAZ FERREIRA VALLE , natural da Freguesia de Encruzilhada, Bispado do Rio de Janeiro, idade de 39 anos, religião católica, apostólica , romana, e em virtude do meu Sub ∴ G∴ e dos poderes d que me acho revestido pelo G∴ Or∴ Bras∴, o iniciei Apr∴Maç∴; devendo dar a jóia de entrada na L∴ em que se houver de filiar. Em fé do que lhe dei o presente certificado; e para que este não possa servir senão ao dito I∴Valle, fiz-lhe assinar seu nome à margem - Ne Varietur. Rogo, portanto, a TT∴ os CC∴II∴o reconheçam por tal, e lhe prestem tudo quanto nos assegura N∴A∴ e R∴O∴. Dado no remanso da Paz, em lugar vedado às vistas dos PProf∴, em São Gabriel, República Riograndense, aos três dias do 4º mês de An∴ da V∴L∴ de 5.839’ ∴ ( Assinado ) José Mariano de Matos ( Bruto ) 7 ∴ 18 ∴ (Ne Varitur) Thomaz Ferr.ª Valle ” Em quase todos os documentos revolucionários transparecem expressões maçônicas, indicativas da alta influência da Sublime Ordem sobre os espíritos dos mais decisivos próceres farroupilhas. Num manifesto liberal, de 18-02-1843, assinado por Vicente da Fontoura, Amaral Sarmento, Alencastre, Silveira Lemos, Onofre Pires e Jardim Frazão, está escrito no final: “Lugar oculto e vedado às vistas do despotismo... ” João Manoel, em carta de 25-02-1837 ( de Montevidéu : “Vamos dirigir orações ao Supremo Arquiteto do Universo... ” A Câmara Municipal de Piratini em carta a Domingos José de Almeida, datada de 27-02-1841: “esta Câmara dirige fervorosas preces ao Supremo Árbitro das Nações... ” Vicente da Fontoura, no seu diário, em 15-07-1844 : “... O Ente Supremo, que é o único diretor dos Farrapos, não nos desampare jamais ”. “Às luzes do Século” é a expressão corrente em vários decretos republicanos. A República Riograndense sofreu a influência Maçônica até na própria composição do seu “brasão de armas” e em sua bandeira. O brasão tinha ao centro, sobre um fundo azul, as duas colunas do templo maçônico. Diz Dante de Laytano que o primeiro período revolucionário (os 10 anos de preparação e os cinco de agitação ) é a fase Maçônica dos Farrapos. O jornal “Sentinela da Monarquia”, do Rio, em 1847, escreveu : “...Felizmente, Bento Gonçalves ( o mais hábil para intrigar ) Deus se lembrou de levá-lo para si, pois já andava com os nossos Vitorino e Gaspar metido em revoluções Maçônicas e tinham declarado a Maçonaria da Província independente da Corte e só ligada com Norte- América”. Dizem os historiadores que o que golpeou o coração da República não foram as armas adversárias, mas a discórdia. O assassinato de Paulino da Fontoura, por mãos desconhecidas, foi o estopim que fez explodir a desavença entre os principais chefes da Revolução. A 30 de janeiro de 1844 reuniram-se o grosso das forças Farroupilhas à gente de Bento Gonçalves e de Souza Neto. Essa reunião, tão almejada, só trouxe ao Exército fatais dissabores. As duas forças reunidas, que, mais do que nunca, se deveriam dar as mãos, fraternalmente, pareciam, entretanto, no local em que acampavam, dois arraias inimigos. Com Bento Gonçalves chegaram também Mariano de Matos, Pedro José de Almeida ( o Pedro

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Boticário ) e outros próceres exaltados. Onofre Pires ( companheiro de Bento Gonçalves na cela da fortaleza de Santa Cruz, de onde o mesmo Bento deixaria de escapar , por não poder levá-lo junto ), agora partidário de Vicente da Fontoura e, portanto, inimigo de Bento Gonçalves, era, na outra facção, um dos mais exaltados, dizendo abertamente o que sentia dele. Este homem de honra, sobretudo, procurou tirar a limpo o que se passava e escreveu a Onofre, em 26-02-1844, perguntando-lhe, entre outras coisas, se era verdade que ele o chamara de “ladrão ”. Onofre Pires respondeu-lhe em carta do outro dia, confirmando : “Ladrão da fortuna, ladrão da vida, ladrão da honra e ladrão da liberdade...” Dessa troca de cartas, resultou, no mesmo dia, baterem-se os dois, em duelo, sem testemunhas . O que ficou para a História foram as palavras que Onofre pôde pronunciar, pois sobreviveu três dias ao duelo, e de Bento Gonçalves a memória escrita por um de seus filhos. Tendo Bento Gonçalves recebido a carta de Onofre, montou imediatamente a cavalo, não consentindo que o acompanhasse seu filho Marcos Antônio. Chegando ao acampamento, dirigiu-se à barraca de Onofre, que estava em companhia de Manoel Lucas de Oliveira e Antônio Vicente da Fontoura. Trocaram estas palavras: “Já sabeis para que vos procuro. Sim , senhor. Por isto esperava eu” . Saíram os dois a cavalo, apeando-se um quarto de légua distante do exército. Escolheram o terreno, desembainharam as espadas e tomaram posição . Antes que o duelo fosse começado, disse Bento Gonçalves: “Pelo fato de vos haver desafiado , deveis vos convencer de que o mesmo faria a Antônio Paulino, cuja morte me imputam, se dele houvesse recebido ofensa à minha honra”. Onofre respondeu qualquer coisa, que não satisfez a Bento Gonçalves. Os indivíduos que faziam Onofre instrumento de suas paixões, estavam certos de que bastaria a sua agigantada estatura e comprovada valentia para amedrontar o adversário. No entanto, esqueciam de que Bento Gonçalves era um terrível espadachim, que aos 18 anos já havia vencido mortalmente um dos valentões do lugar, num duelo a espadas. Onofre mostrou-se receoso no princípio da luta, permanecendo na defensiva, esquivando-se de atacar, com saltos para trás. - Sois um covarde - disse-lhe Bento Gonçalves. Com isto conseguiu irritar o adversário . A resposta foi uma chuva de impróprios, a que replicou Bento Gonçalves serem essas expressões próprias do caráter de Onofre. Este, irritado ainda mais, atacou desordenadamente. No ardor da luta, Bento Gonçalves conseguiu ferir a mão direita de Onofre, justamente aquela com que ele segurava a espada. E generosamente disse-lhe que estava satisfeito. Não, meu caro ( termo de que muito usava Onofre ) - Um de nós há de ficar aqui para sempre. Se assim quereis , assim será , respondeu Bento Gonçalves. Onofre ligou o ferimento com um lenço, já que o mesmo era leve , e novamente investiu furioso. Retomada a peleja, ainda mais intensamente, Bento Gonçalves com uma segunda estocada alcançou-o profundamente no antebraço direito, ofendendo a artéria.

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Onofre, sentindo-se mal, largou a espada e Maçônicamente pediu socorro.

(Bento Gonçalves x Onofre Pires)

Bento Gonçalves foi em seu auxílio, mas não conseguindo fazê-lo montar a cavalo, correu ao acampamento, onde preveniu do fato a Manoel Lucas e Antônio Vicente. Em seguida apresentou-se a David Canabarro, a quem quis entregar a espada, mas recebeu a seguinte resposta : Não. Para sustentar a espada de Bento Gonçalves só conheço um homem. E esse homem é o senhor mesmo. Dizem que a malquerença de Onofre datava do combate da ilha do Fanfa. Depois da capitulação Bento Gonçalves teria exprobrado àquele, pelo peso que tivera, no conselho, o seu voto de passarem os Farrapos da terra firme para a ilha. Bento Gonçalves, em carta de 09-03-1844, a Domingos de Almeida, escreve : “ Já meu compadre saberá do fim desastroso que teve o coronel Onofre, que fazia o papel de Santerre na facção desorganizadora que o incitou a provocar-me tão atrevidamente. Essa facção contava com a vitória, porque olha para as coisas como elas parecem, e não como são de fato. A paixão os domina, e por isso vendo aquele homem tão corpulento o julgaram um gigante e eu um pigmeu. Enganaram-se, e depois escondendo todos o rabo, se retiraram dele, ao ponto de não achar-se um só desses malvados a seu lado, ao menos na hora da morte. Eu lamento sua sorte mas, não tenho o menor remorso, porque obrei como verdadeiro homem de honra. Em tais casos, obrarei sempre assim, não me importando com o tamanho e nem a nomeada da pessoa que se atreva a atacar minha honra”. No mesmo ano, Bento Gonçalves renuncia à Presidência da República Riograndense, em favor de Gomes Jardim. Em 6 de março de 1845, em carta a Dionísio, diz o seguinte : “Finalmente, está concluída a guerra civil que há perto de 10 anos sustentamos contra o poder do Império! Guerra que só podíamos perder, aparecendo, como apareceram, os ambiciosos de mando e ouro, que ou por verdadeiramente maus ou comprados, fizeram com empenho a desunião

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entre nós, e até fariam a guerra, se eu não desse o passo que dei, de demitir-me do poder supremo que me haviam confiado. Vós e todos os mais sabeis que, dando aquele passo, me prestei a servir como soldado. Ao obrar assim, não tive por fito outra coisa senão ver se conseguíamos uma paz honrosa, depois da qual seguiria, como sigo, para a minha pequena fazenda, com a glória mui ingrata de achar-me o homem, talvez, mais pobre do País”. E referindo-se ao General Bento Gonçalves, relata Garibaldi: “Era , na verdade, o filho dileto da natureza, que lhe deu tudo o que faz um herói . Já com 50 anos, quando a cavalo não se lhe daria mais de 25. Montava com graça e desembaraço admiráveis. Valente e feliz, não hesitaria por um instante, qual um cavaleiro de Ariosto, combater um gigante, fosse ele da corpulência de Polifemo e tivesse a armadura de Ferraguz. Oh! Quantas vezes tenho desejado nestes campos italianos um só esquadrão de vossos centauros , avessados a carregar uma massa de infantaria com o mesmo desembaraço com que o faziam a uma ponta de gado! ...Onde se acham eles? Que o Rio Grande ateste com uma modesta lápide o sítio em que descansam os seus ossos!” E Apeles Porto Alegre resume toda a sua vida e a sua obra em poucas palavras : “Síntese grandiosa de virtudes privadas e cívicas, modelo de sentimentos elevados e cultos, sublime pela abnegação, notável pelo talento, Bento Gonçalves da Silva personificava no molde de sua individualidade, essa gloriosa geração de 35, tão grande pelo seu valor quão nobre pelos seus sacrifícios e que amava a religião do dever com a intereza de caráter dos Fabrícios, quando idolatrava a liberdade com o fanatismo dos Brutos e dos Cássios. Soldado e político, guerreiro e estadista, homem de sua bravura, ele engrinaldava em sua fronte uma coroa entrançada dos louros que o espírito inteligente do estadista conseguia com seus conselhos, nos debates agitados da vida pública , em prol da liberdade , e os que o batalhador com a ponta da espada alcançava, com denodo, sobre a tirania nos campos de batalha. Ele concretizava em seu caráter franco generoso todas as grandiosas aspirações da Província, que via em seu vulto homérico, rodeado pelo prestígio de uma popularidade sem rival, não só o depositário de sua ilimitada confiança, como a mais sincera e leal expressão da democracia Riograndense pela bravura e pela virtude ”

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA – RELATO HISTÓRICO Em setembro de 1836, nos campos dos Meneses, os revolucionários farroupilhas proclamavam a República Riograndense, um ano após haver irrompido no Rio Grande do Sul a Guerra dos Farrapos.

O Imperador D. Pedro II, ao assumir o governo do País, em 1840, após ter saído vitoriosa a campanha de antecipação de sua maioridade, encontrou não apenas o Sul conflagrado, mas também o Maranhão, agitado pela Balaiada. Em 1841 o Coronel Luiz Alves de Lima conseguiu pacificar a província maranhense; em 1842, o governo imperial sufocou as revoltas liberais em Minas Gerais e em São Paulo; em 1845 chegou ao fim a Guerra dos Farrapos; em 1848 estourou em Pernambuco a Revolta Praieira, dominada em 1850. O Império entrava numa nova fase. As agitações que determinaram a partida de D. Pedro I para a Europa deixaram o país em difícil situação política e econômica: a decadência do comércio e da indústria acarretava a desvalorização das propriedades e diminuía as ofertas no mercado de trabalho, tudo isto em meio às crises administrativas que continuavam perturbando a vida nacional. Este era o quadro da situação do Brasil, apresentado pelo ministro da Fazenda, Bernardo de Vasconcelos, em discurso perante a Câmara em 1832. E o ministro pedia então, a imediata restauração da ordem pública. Para muitos entretanto, esta restauração encontrava-se intimamente ligada a presença de um poder central que, alem de ser respeitado, não fosse contestado: o sistema de regência, com seu caráter eletivo, despertava - segundo os defensores daquela tese - as ambições, insuflando a luta entre os adversários políticos. Contra a Regência, estes homens defendiam a entrega imediata do governo a um membro da família imperial, acreditando que apenas dessa forma seria possível recolocar o País no caminho da lei, da ordem e do desenvolvimento. A proposta do deputado Luiz Cavalcante para a antecipação da maioridade foi considerada inconstitucional

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Assim em 1835, o Deputado Luiz Cavalcante apresentou um projeto favorável a que a declaração de maioridade de D. Pedro Alcântara fosse antecipada, mas a Câmara não permitiu nem mesmo sua discussão, tachando-o de inconstitucional. No ano seguinte, uma outra questão foi levantada: ao completar 14 anos a irmã mais velha de D. Pedro, Princesa D. Januária, foi reconhecida de acordo com a constituição, como herdeira do trono, mas a própria Constituição encarregava-se de anular seu possível acesso ao trono ao exigir que, no caso de impedimento o parente mais próximo do imperador, para assumir o poder, tivesse no mínimo 25 anos. Os adversários políticos de Diogo Feijó - chamados de holandeses por defenderem a candidatura de Holanda Cavalcante na eleição para a primeira regência una - , ao terem certeza de que o padre Feijó sairia vitorioso das urnas, desejavam confiar a regência à Princesa. Este movimento era liderado por Bernardo de Vasconcelos, Miguel Calmon de Pin e Almeida e de D. Romualdo, arcebispo da Bahia, os quais, em defesa de sua pretensão, afirmavam que se a princesa era reconhecida como imperatriz, poderia igualmente assumir a regência. Regente único desde outubro de 1835 até setembro de 1837, o Padre Diogo Antônio Feijó viu, durante seu governo, iniciar-se a luta pela antecipação da maioridade de D. Pedro II. A idéia foi ardorosamente combatida, não conseguindo maiores adeptos. Entretanto, os partidários da antecipação não esmoreciam. Em maio de 1837, o Deputado José Joaquim Vieira Souto apresentava um projeto declarando o imperador habilitado a assumir o poder, sugerindo que se restaurasse o Conselho de Estado para assisti-lo, criando-se também o cargo de presidente do ministério. Este projeto foi apoiado por apenas nove representantes, sofrendo uma oposição maciça, principalmente por parte do Deputado paulista Álvares Machado. Tentando conciliar a situação, o Deputado Rafael de Carvalho apresentou a sugestão de que o Imperador fizesse uma viagem de cinco anos pelo estrangeiro, período em que aprofundaria seus estudos, tornando-se, assim, mais habilitado a ocupar o trono. Esta proposta foi igualmente combatida e o projeto rejeitado. Nos anos seguintes, principalmente nos últimos meses de 1839, as cessões da câmara combateram freqüentemente a questão da maioridade. O problema alcançava ampla divulgação e o que não passava de uma simples manobra política tomara ares de causa nacional. A partir de 1839 a questão da maioridade tornou-se causa nacional. Em março de 1840, ao completar 18 anos D. Januária voltava a figurar como a solução, sendo levantada ainda a questão da ilegitimidade da regência de Araújo Lima, já que D. Januária - na sua condição de princesa imperial - poderia governar como regente caso o imperador se encontrasse impedido “por causa física ou moral”. Os defensores desta tese, aliados aos holandeses, consideravam a menoridade de D. Pedro de Alcântara como “ uma causa física”, o que faria com que a princesa estivesse habilitada a substituí-lo até 1842. O essencial para os liberais, era afastar os conservadores do poder. Com o objetivo de acelerar este processo, o Senador José Martiniano de Alencar propôs a fundação Sociedade Promotora da Maioridade com caráter de sociedade secreta e destinada a trabalhar pela antecipação da posse do imperador. Para presidente da sociedade foi eleito Deputado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, sendo empossado ainda o Senador Antônio Francisco de Paula e Holanda Cavalcante de Albuquerque (vice-presidente). Senador José Martiniano de Alencar (secretário).

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Os membros mais importantes da sociedade pertenciam ao Partido Liberal, na oposição à regência de Araújo Lima, e, entre outros, destacavam-se: o Senador Padre José Bento Leite Ferreira de Melo, o Deputado Antônio Paulino Limpo de Abreu, Francisco Gê Acaiaba de Montezuma, Cônego José Antônio Marinho, Francisco Alvares Machado e Benedito Otôni. Criada a 15 de abril de 1840, logo de início a sociedade passou a ser mencionada simplesmente como Clube da Maioridade. Seus estatutos caracterizavam-se pela preocupação de conseguir novos membros, visando a difusão da idéia em todo o País. Os Andradas mais uma vez, sentiram-se donos da situação; a presidência de Antônio Carlos distanciou o Clube dos ideais de José Martiniano de Alencar, que, em conseqüência se afastou. Ao próprio imperador, o clube foi apresentado como um simples “movimento dos Andradas e seus amigos”. Em maio, as Câmaras iniciaram as sessões ordinárias, e o novo grupo político começou a agir. Antônio Carlos e Montezuma conseguiram incluir, no projeto de resposta da Câmara à fala do trono, uma referência à maioridade. À simples insinuação, os parlamentares governistas levantaram seu protesto, conseguindo que aquelas palavras “menos próprias” fossem suprimidas já que “encerravam toda a malícia de um plano político”. Os liberais no entanto já haviam conseguido o que desejavam: chamar , mais uma vez, a atenção pública para a causa da maioridade. O Clube da Maioridade foi denunciado ao imperador como uma manobra dos Andradas. A campanha pela maioridade saiu vitoriosa a 23 de julho de 1840. D. Pedro II era declarado maior e no pleno exercício de seus direitos constitucionais, com 14 anos e sete meses de idade, mas só no ano seguinte seria coroado. - “D. Pedro II”. Félix-Emile Taunay. Museu Imperial - Petrópolis, Rio de Janeiro. Sem perda de tempo, dez dias depois, os liberais, apresentavam dois projetos no Senado - onde as forças dos dois partidos quase se equilibravam. Pelo primeiro, o imperador era declarado maior de idade, e pelo segundo criava-se um conselho privado da coroa. O projeto de Martiniano de Alencar foi derrotado por uma diferença de apenas dois votos( 18 contra 16). A idéia da maioridade ganhava corpo. Os governistas, tentando neutralizar a ação dos partidários da maioridade apresentaram a 18 de maio um projeto do Deputado conservador Honório Hermeto Carneiro Leão, pelo qual os eleitores dariam uma procuração especial aos Deputados à próxima legislatura para que o artigo 121 da Constituição - que determinava a idade de 18 anos para a maioridade do imperador - fosse reformado. O que, na realidade, não representava uma tentativa de resolver o problema, mas simplesmente adiá-lo, já que a próxima legislatura só começaria a funcionar em 1842. Depois de derrotar, a 10 de setembro de 1836, as tropas legalistas comandadas por Silva Tavares, os revolucionários farroupilhas proclamaram a República Riograndense. Havia um ano que Bento Gonçalves da Silva vencera pela primeira vez os legalistas A questão foi discutida durante dois meses, sendo deslocada para o terreno do Direito Constitucional. Apressando os acontecimentos, o Senado rejeitou a proposta de adiamento e na sessão do dia 18 de julho o próprio Carneiro Leão pedia a retirada do seu projeto. Aproveitando-se da ocasião, os parlamentares que defendiam a maioridade passaram a pugnar pela união de todos em um só partido; Álvares Machado propôs a proclamação geral

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da maioridade imperial enquanto Limpo de Abreu sugeria que se encarregasse uma comissão de elaborar os planos exigidos pela nova situação. Clemente Pereira reafirmava seu desejo de que a questão fosse resolvida através de uma fórmula constitucional, embora alguns a quisessem revolucionariamente, afirmando porém que, “desde que a câmara consentiu que o projeto se retirasse, tudo tomou nova forma, as coisas mudaram inteiramente de figura”. E continuava: “Perderam-se as esperanças que havia de que a maioridade se apresse assim, e perdidas estas esperanças, quero dizer, estando decidido que não trata mais de reforma constitucional - poderemos deixar as coisas no estado a que foram levadas? Decididamente não. O negócio é muito grave e urgente. Já não é possível esperar que o imperador chegue aos 18 anos para ser maior - não é possível. Considere pois bem a Câmara a posição em que o Brasil se acha, depois de uma questão de tanta magnitude se ventilou: a opinião está correndo; e hoje não é mais possível que a proclamação da maioridade se faça senão por um ato revolucionário dos povos ou do próprio corpo legislativo.... embora seja um golpe de estado. São na verdade lamentáveis os golpes de estado mas admitidos por todos os publicistas em casos extremos”. A sessão de 20 de julho de 1840 começou com os ânimos exaltados e prometendo grandes acontecimentos. Logo após a leitura do expediente da Câmara, o Deputado Limpo de Abreu apresentou formalmente sua sugestão da sessão anterior, para que “se nomeasse uma comissão especial de três membros para oferecer à Câmara com urgência a medida que lhe parecesse mais conveniente sobre a maioridade de Sua Majestade Imperial, o Sr. D. Pedro II”. Considerando que a Câmara já estava suficientemente esclarecida sobre o assunto, o Deputado Rocha Galvão manifestou-se contra tal projeto - que retardaria a solução da crise, requerendo que “por aclamação se decrete desde já a maioridade do Sr D. Pedro II, Imperador constitucional do Brasil”. Defendendo a tese de que em momentos de crise como aquele, “é legal todo ato que satisfaz a vontade do povo”, Martim Francisco apresentava duas fórmulas: na primeira, pedia que se convocasse o Senado para uma sessão conjunta; na segunda, que se declarasse D. Pedro II “maior desde já”. A sessão de 20 de julho de 1840 da Câmara começou num ambiente de exaltação.... Após outros calorosos pronunciamentos, o projeto de Limpo de Abreu foi colocado em votação e , após sua aprovação, elegeu-se uma comissão especial de três elementos contrários à maioridade. O processo escolhido para resolver a situação parecia agora demasiadamente demorado. E já no dia seguinte Antônio Carlos exigia que a comissão desse seu parecer imediatamente “a fim de que não continue essa impaciência e estado de agitação em que se encontra o espírito público nesta capital”, afirmando ainda que sua sugestão fosse atendida apresentaria, no dia seguinte, um projeto depois de algumas observações o Deputado Carneiro Leão solicitou a apresentação imediata do projeto àquela assembléia no que foi prontamente atendido por Antônio Carlos, sendo levado à mesa a declaração da maioridade de D. Pedro II. “desde já”. Outros deputados pediram a palavra, novos discursos foram pronunciados enquanto o partido governista - através da comissão especial - tentando adiar a solução, propunha que o senado fosse convidado a também nomear uma comissão para, juntamente com a da Câmara, estudar uma solução para o assunto de tamanha importância. Esta manobra fez com que os ânimos se alterassem mais ainda, estabelecendo-se uma grande confusão no Plenário. A discussão de

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urgência do projeto de Antônio Carlos ficou para o dia seguinte, com o que os governistas ganhavam mais 24 horas. A sessão de 22 de julho iniciou-se com a aprovação da urgência do projeto de Antônio Carlos, e quando o presidente da Câmara se preparava para por o projeto em votação alguns Deputados tentaram tumultuar a tramitação, pedindo que a votação fosse nominal. Uma comunicação oficial viria acelerar os acontecimentos: era a nomeação de Bernardo Pereira de Vasconcelos para ministro do Império e o adiamento da Assembléia Geral para o dia 20 de novembro, sob a alegação de que assim a Câmara teria tempo e calma para com a “indispensável circunspecção e madureza deliberar sobre o assunto tão importante”. A agitação tomou conta do plenário. Álvares Machado, em meio a todo o tumulto, pediu a palavra, fazendo um veemente discurso em que terminava dizendo: “protesto contra todos os atos praticados por este governo ilegal, intruso, usurpador, ao qual é lícito todo brasileiro resistir: vamos para o campo!. Antônio Carlos exigiu um parecer imediato da comissão eleita pela Assembléia. Os Andradas sempre oportunistas, também fizeram ouvir suas vozes A notícia do adiamento da Assembléia Geral precipitou os acontecimentos na Câmara E Antônio Carlos declarou então: “Não reconheço legal este ato do governo: o regente é um usurpador desde o dia 11 de março, é um traidor... É um infame o atual ministério....Quero que estas palavras fiquem gravadas como protesto...” A seguir, falaria Martim Francisco: “Quando a Câmara discutia um projeto relativo ao imperador, é nesta ocasião que o governo toma medida de adiar as nossas sessões...e por que? Está claro - é porque não quer o monarca no trono... E se não o quer, a quem fica entregue o governo? A Bernardo Pereira de Vasconcelos! Fica pois, o governo nas mãos de seu maior inimigo, e a Câmara é o assassino da família imperial se em tal consente. “E levantando mais os ânimos surgia Cunha Azevedo: É um governo só igual a si.... e tão indigno como ele mesmo...e ainda mais indigno do que tudo que há de mais indigno sobre a terra”, no que era seguido por Coelho Bastos: “O governo conspira contra o monarca: os amigos do monarca que o coloquem no trono”. Antônio Carlos mais uma vez assumia uma postura dramática, lançando um novo apelo: “Quem é patriota e brasileiro siga comigo para o Senado! Abandonemos esta Câmara prostituída”. Antônio Carlos acusou o regente de usurpador. Seguidos pelo povo, os deputados deixaram o recinto do plenário. Ao presidente restou apenas mandar lavrar e ler a ata e suspender a sessão. Seguindo pelas Ruas da Assembléia Carioca, os deputados e o povo foram encontrar-se com os senadores que estavam no prédio daquela alta corte. O povo cerca de 3000 pessoas, invadiu suas dependências, espalhando-se por todos os recintos: estava formada uma assembléia revolucionária. O primeiro ato desta assembléia foi enviar uma comissão ao imperador afim de expor-lhe a situação e os perigos que ela acarretava, pedindo ainda que ele assumisse o governo. A comissão era composta de oito membros, cinco senadores e três deputados: Nicolau Vergueiro, Martiniano de Alencar, Conde de Lages, Paulo e Holanda Cavalcanti, Antônio Carlos, Martim Francisco e Montezuma, respectivamente. Uma comissão de 5 deputados e três senadores foi enviada ao imperador.

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Embora o próprio imperador tivesse negado sua concordância prévia com os planos dos deputados maioristas, Teófilo Otôni em sua Circular aos Eleitores deixava bem claro que a maioridade foi não “um golpe parlamentar” mas um “golpe palaciano” que teve na vontade do próprio imperador um elemento decisivo. O Regente Araújo Lima - que segundo diversos historiadores, “teria a tentação da renúncia passando o cargo a Bernardo de Vasconcelos, seu substituto legal”- ,logo que soube da ida da comissão à presença de D. Pedro, dirigiu-se também para o Passo de São Cristóvão, acompanhado de Rodrigues Torres. Assim que a comissão chegou ao Passo Imperial foi conduzida à presença do jovem imperador, encarregando-se Antônio Carlos de ler a mensagem da assembléia, em que apresentava o ato de adiamento das Câmaras com um insulto ao imperador e uma traição do regente, a quem consideravam um usurpador do trono desde o dia 11 de março daquele ano. Levando em conta os riscos que o país estava correndo, rogavam a Sua Majestade Imperial que aceitasse entrar no exercício de suas altas funções, desde já, salvando assim tanto o trono como a nação. O imperador pediu alguns minutos para resolver, durante os quais consultou seus conselheiros e o próprio regente. Não demorou muito para que diante da comissão, respondesse o famoso “quero já”- que alguns historiadores põem em dúvida - , determinando que as Câmaras fossem convocadas para o domingo, ocasião em que prestaria o juramento. A situação, no entanto, não permitia novos adiamentos, e a comissão fez um apelo no sentido de que a convocação fosse para o dia seguinte, sendo atendida pelo imperador. Às nove horas da manhã do dia 23 de julho de 1840, mais de 8000 pessoas aglomeravam-se dentro e fora do edifício do Senado, onde já estava reunida a maioria dos representantes das duas Câmaras para assistir ao desfecho da campanha pela maioridade. Antes de considerar aberta a sessão, o Marquês de Paranaguá fez questão de frisar que não se considerava ali como presidente do Senado, pois o que estava ocorrendo era “uma grande e majestosa reunião popular”. Verificando o quorum para a abertura dos trabalhos, a mesa constatou que 33 senadores e 85 deputados estavam presentes. Declarando, finalmente, aberta a sessão, o presidente do Senado fez a proclamação: Eu, como órgão da representação nacional, em assembléia-geral, declaro desde já maior a Sua Majestade Imperial, o Sr. D. Pedro II, e no pleno exercício dos seus direitos constitucionais”. Ainda no exercício de suas funções nomeou três comissões: uma que seguiu para o Passo com o objetivo de pedir a Sua Majestade Imperial que se dignasse prestar o juramento ainda naquele dia, outra para recebê-lo à entrada do edifício do Senado, e a terceira que ficou encarregada de redigir a proclamação com que a Assembléia anunciaria a subida de D. Pedro II ao trono. Às 15h30min, acompanhado de um grande séquito, o imperador chegou ao recinto do Senado, sendo recebido com verdadeiro delírio pela multidão. Logo depois, “com uma serenidade admirável “foi, acompanhado pela mesa da Assembléia, até o trono e, colocando-se de joelhos, prestou o juramento. No dia seguinte, 24 de julho, D. Pedro II nomeou o seu primeiro ministério, todo ele composto de liberais partidários da campanha da maioridade - O “ministério dos irmãos”- já que dele faziam parte os dois irmãos Andradas( Antônio Carlos e Martim Francisco), os dois irmãos Cavalcanti( os futuros Viscondes de Albuquerque e Suassuna), Limpo de Abreu, e Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho. O Marquês de Paranaguá declarou D. Pedro II maior de idade. O imperador foi recebido no Senado pela multidão em delírio.

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Ao iniciar-se o governo de Pedro II, o país ainda se encontrava sacudido por duas revoltas: uma no Norte, no Maranhão, e outra no Sul, no Rio Grande . O gabinete logo depois de empossado tentou pacificar estas regiões, oferecendo anistia aos revoltosos o que não foi aceito pela maioria dos rebeldes sulistas. No Norte, porém, a anistia já iria encontrar a região praticamente pacificada. Duas revoltas sacudiam o pais no inicio do governo de D. Pedro II Através de várias vitórias, as tropas farroupilhas conseguiram dominar, em fins de 1838, grande parte do território gaúcho. Em 1839, passaram á vizinha Santa Catarina, conquistando Laguna a 24 de julho e aí proclamando a República Catarinense, confederada à Riograndense. Muitas batalhas foram travadas entre as forças farroupilhas e as tropas legalistas. Os principais combates foram os de Porto Alegre, Ilha de Fanfa, Tapevi, Poncho Verde , Piratini, Rio Pardo, Laguna, e Taquarí. - “Batalha dos Farrapos “José Washt Rodrigues. Prefeitura Municipal de São Paulo - S. P. O Maranhão encontrava-se em pé de guerra desde 1838, quando, no interior, surgira uma luta entre os opositores ao regime regencial - os bem-te-vis - e os governistas - os cabanos - . A região passou então a ser dominada por grupos armados chefiados por Raimundo Gomes Vieira Jutaí ( o Cara Preta), Manoel Francisco dos Anjos Ferreira( o Balaio), cujo apelido deu o nome ao movimento - a Balaiada - e um ex-escravo, o preto Cosme, que se intitulara Tutor e Imperador das Liberdades bem-te-vis. Estes grupos não passavam de bandidos sertanejos que, dotados de muita audácia, assaltavam as propriedades particulares sob o disfarce de reformadores políticos, sem, entretanto possuírem qualquer ideologia - social ou política. O movimento teve início, nas vilas de Itapicorumim e Manga, onde Raimundo Gomes conseguiu reunir um número considerável de adeptos que ajudaram a arrombar a cadeia pública e soltar os presos que iriam se juntar ao seu bando. Pondo-se em marcha, Raimundo Gomes reuniu-se a Manoel Francisco na Vila do Brejo, formando assim uma tropa de mais de mil homens. Ao tomar conhecimento do que estava ocorrendo o governo regencial tratou primeiramente de substituir o presidente da província, Dr. Vicente Camargo - considerado incapaz de enfrentar aquele tipo de situação - pelo Dr. Manoel Felizardo de Sousa Melo. Percebendo imediatamente a gravidade do momento, Sousa de Melo tratou de enviar tropas para combater os revoltosos comandados pelo Major Feliciano Antônio Falcão, que foram vencidas. Continuando em sua jornada audaciosa e devastadora, os balaios tornaram-se senhores de todo o interior do Maranhão, chegando mesmo em meados de 1839 a sitiar a Vila de Caxias. Todos os esforços realizados pelo presidente da província, todos os reforços que as tropas legais receberam do Pará e de outros províncias vizinhas resultaram inúteis nas tentativas de deter as tropas rebeldes. Para socorrer a província onde o Império se achava ameaçado, a Regência resolveu mudar o governo do Maranhão, reunindo em uma só pessoa os cargos de comando de armas e presidente. Para esta importante missão foi escolhido o Coronel Luiz Alves de Lima, homem de inteira confiança do governo regencial. Sob entusiásticos aplausos da população, Luiz Alves, trazendo consigo auxilio de tropa e munição de guerra, desembarcou a 5 de fevereiro de 1840, e no dia 7 de fevereiro dirigiu uma proclamação aos maranhenses conclamando-os à luta contra os revoltosos. Desde 1838 o Maranhão estava em pé de guerra.

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O Coronel Luiz Alves de Lima assumiu em fevereiro de 1840 a presidência e o comando das armas do Maranhão. José Gomes de Vasconcelos Jardim, herói da Batalha da Ponte da Azenha, governou a República Riograndense até que Bento Gonçalves da Silva, em dezembro de 1837, fugisse da prisão. As ações do comandante das armas da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Sebastião Barreto Pereira Pinto, contribuíram para instigar os ânimos dos gaúchos contra o governo O novo presidente teve de enfrentar situações difíceis pois se viu atacado pelos revoltosos em diversas frentes e praticamente abandonado pelo governo central - que estava mais preocupado com a guerra no Sul do país e não tinha uma idéia exata do que estava ocorrendo no Norte. Após seis meses de avanços e recuos, vitórias, derrotas e sublevações da própria tropa legalista, as forças do governo conseguiram obter vantagens contra os rebeldes na ocasião em que recebiam a notícia da proclamação da maioridade. A 22 de outubro, Luiz Alves de Lima partiu com destino a Caxias, visitando durante o percurso diversas vilas , povoações e postos militares. Em Caxias, fez publicar o decreto de anistia que recebeu havia pouco da corte e enviou uma força contra os revoltosos acampados em São Francisco, intimando-os a que se rendessem sob pena de não sobrar ninguém para aproveitar a magnanimidade imperial. Mandou ainda que os últimos homens do preto Cosme, que andavam por aquela região, fossem perseguidos. Entre os muitos caudilhos deste movimento, Raimundo Gomes - morto em janeiro de 1841 - foi um dos que receberam anistia. Após mandar prender o preto Cosme no Sítio do Calabouço Luiz Alves de Lima anunciou na ordem do dia de 19 de janeiro de 1841 - portanto já em pleno governo imperial - o fim da guerra civil e a pacificação da Província do Maranhão. Enquanto no norte do pais se desenrolavam estes acontecimentos, o Sul encontrava-se assolado pela mais longa das revoluções brasileiras - a Guerra dos Farrapos ou revolução Farroupilha. Durante 10 anos, de 1835 a 1845, este movimento, ocorrido nas Províncias de São Pedro do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, desafiou a unidade do império. Diversas causas contribuíram para tornar esta rebelião diferente de todas as outras. A proximidade dos governos republicanos da região do Prata, a solidariedade existente entre gaúchos e platinos, motivada pela atividade pastoril que ambos exerciam, e o fortalecimento dos políticos exaltados( farroupilhas) contribuíram para cercar os habitantes daquela região de características próprias. Desde o início os gaúchos não aceitaram os presidentes que a Regência Trina lhes impunha, principalmente Antônio Rodrigues Fernandes Braga, a quem hostilizaram em virtude da violência de Pedro Chaves irmão do presidente, e do comandante das armas Marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto. A revolta irrompeu no dia 20 de setembro de 1835, na Ponte da Azenha, perto de Porto Alegre, onde o Coronel Bento Gonçalves da Silva, principal chefe revolucionário venceu a força legalista, entrando vitorioso na Capital abandonada pelo presidente da província. Diante disso , o Vice Presidente Marciano Pereira Ribeiro, homem simpático aos revoltosos foi empossado no cargo. Imediatamente algumas vilas aderiram ao movimento com exceção do Rio Grande, onde se organizou o foco de reação governista. De Porto Alegre os revoltosos partiram para Pelotas, onde conseguiram

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prender o Major Marques de Sousa. Enviado à capital o Major conseguiu libertar-se e retomar a cidade, ficando, assim as tropas fiéis à Regência senhoras da Lagoa dos Patos, e portanto dispondo de uma saída para o mar. Para a presidência da província foi nomeado pelo então regente Padre Feijó o futuro Visconde do Rio Grande - José de Araújo Ribeiro - que conseguiu o apoio de um dos chefes revolucionários Bento Manoel Ribeiro, seu parente. A revolução Farroupilha teve inicio a 20 de setembro de 1835. A 10 de setembro de 1836 foi proclamada a República Riograndense. A passagem de Bento Manuel Ribeiro para o lado legalista não enfraqueceu os ânimos dos revoltosos, que a 10 de setembro de 1836 venceram Silva Tavares, proclamando nos campos dos Meneses, a República Riograndense. A 20 de setembro a Câmara Municipal de Jaguarão aceitava esta proclamação. Os rebeldes não teriam igual sorte na ilha de Fanfa, mas apesar da derrota sofrida por Bento Gonçalves então chefe dos farroupilhas, diante das forças de Bento Manoel Ribeiro auxiliadas pela flotilha chefiada por Grenfell, os revoltosos conseguiram instalar seu governo na Vila de Piratini. Devido à prisão de Bento Gonçalves, o Vice-Presidente José Gomes Vasconcelos Jardim assumiu o comando.

(Gen. Antônio de Souza Neto) “Antônio de Souza Neto comandou as tropas farroupilhas que venceram as forças de Silva Tavares em Seiva, em setembro de 1836. Sousa Neto lutou pelos farrapos até o fim da guerra. Depois continuou sua vida de guerreiro, incorporando as forças brasileiras na Guerra do Paraguai”.

Um erro de Feijó mudou um pouco o rumo dos acontecimentos: O Presidente Araújo Ribeiro exonerou-se sendo substituído pelo Brigadeiro Antero de Brito, que se desentendeu com Bento Manoel Ribeiro. Isto fez com que Bento Manoel retornasse às lides rebeldes, obtendo a seguir diversas vitórias para as forças farroupilhas.

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Outro fato contribuiu para o fortalecimento dos revolucionários causando ainda, auxiliado por outros fatore, a renúncia de Feijó: a fuga de Bento Gonçalves, que estava preso no Forte do Mar, na Bahia, e que, auxiliado pela Maçonaria conseguiu regressar ao Rio Grande do Sul, reassumindo a chefia dos rebeldes. Desenvolvendo sua campanha militar, um destacamento sob o comando de Bento Manuel Ribeiro conseguiu aprisionar duas embarcações legalistas, que foram então postas sob as ordens do italiano Giuseppe Garibaldi. Embora contasse apenas com estas incipientes forças, Garibaldi pôde entravar a ação de Grenfell, na Lagoa dos Patos. Depois da chegada do Barão de Caxias a Porto Alegre, onde assumiu os cargos de comandante das armas e de presidente da província, a sorte da Guerra dos Farrapos mudou. Os revolucionários foram derrotados em Poncho Verde, Piratini, Canguçu, Porongos, e Arroio Grande. A 10 de setembro foi proclamada a República Riograndense. Bento Manuel obteve muitas vitórias para as forças farroupilhas. Davi Canabarro proclamou em Laguna a República Catarinense.

Senhores de grande parte do território gaúcho, os farroupilhas resolveram estender seus domínios até o sul de Santa Catarina. Davi Canabarro, chefe militar dos farroupilhas, tomou Laguna, proclamou ali a República Catarinense ou Juliana nome este devido ao mês em que

foi feita a revolução. Esta República teve uma vida efêmera: cinco meses depois as forças revolucionárias foram vencidas pelas tropas do General Soares de Andreia.

Em 1840 ao assumir o poder D. Pedro II iria encontrar uma situação bem mais favorável aos legalistas que sob o comando do Presidente Saturnino de Sousa e Oliveira, haviam obtido algumas vitórias. O decreto de anistia não chegou a seduzir os farrapos, que se negaram a aceitá-lo, com exceção de Bento Ribeiro. Este, aproveitando a oportunidade, voltou a lutar ao lado das forças fiéis ao imperador. Como a anistia não tivesse conseguido pacificar o Sul do pais, o Ministério da Maioridade resolveu enviar para aquela região o já então Marechal-de-Campo Barão de Caxias, Luiz Alves de Lima , acumulando os cargos de comandante das armas e de presidente da província. Considerando-se donos da situação os farrapos chegaram até mesmo a convocar uma assembléia constitucionalista, que discutiu o projeto de uma constituição, na ocasião em que Caxias chegou a Porto Alegre, pondo-se imediatamente em ação. Aceitando o auxilio de Bento Ribeiro, entregou-lhe o comando de uma coluna enquanto assumia a chefia de uma segunda e confiava uma terceira a Francisco Pedro de Abreu. Depois de tomar providências para que os rebeldes deixassem de receber reforços do Uruguai, Caxias partiu em sua missão pacificadora. Seguiram-se diversas vitórias: Poncho Verde, por Bento Ribeiro; Piratini por Marques de Souza; Canguçú, onde Francisco Pedro conseguiu vencer Bento Gonçalves, Porongos, local em que o mesmo Francisco Pedro bateu Canabarro; e Arroio Grande. Em março de 1845 foi concedida uma ampla anistia aos farroupilhas, e através de duas proclamações, Caxias (pelo governo) e Davi Canabarro (pelos revoltosos) reconheceram que a região estava pacificada. Herdados do período regencial, não foram porém estes os únicos movimentos revolucionários contra os quais o jovem imperador teve que lutar no início de seu governo. Em 1842 surgiram duas outras revoluções liberais, uma em Minas Gerais outra em São Paulo. Ambas foram igualmente debeladas por Caxias e tiveram como origem um mesmo fato: a dissolução da câmara dos Deputados ordenada por D. Pedro II.

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O ministério liberal nomeado pelo imperador logo após sua posse manteve-se unido durante pouco tempo. Em março de 1841, Pedro II exonerou-o substituindo-o por um ministério conservador, sendo porém mantido no Ministério dos Negócios Estrangeiros o ministro da gestão anterior, Aureliano Coutinho. Dizia-se que este chefiava um clube político cuja finalidade era exercer influência nas decisões do imperador. O Barão de Caxias através de muitas vitórias conseguiu pacificar o Rio Grande. Em 1842 surgiram revoluções liberais em Minas Gerais e em São Paulo. A Catarinense Ana Ribeiro da Silva - Anita Garibaldi - acompanhou o marido José Garibaldi em Várias batalhas farroupilhas, tendo chegado certa vez a substituí-lo no comando.

(Gen. Davi Canabarro)

“O militar brasileiro David José Martins (1796-1867) adotou o nome David Canabarro em 1837. Nascido em Taquarí, veio a ser um dos grandes comandantes militares da Guerra dos Farrapos (1835-1845). Participou das campanhas militares do Rio do Prata e foi chefe da Revolução Farroupilha. Junto com Giuseppe Garibaldi, tomou Laguna, em Santa Catarina, proclamando a República Juliana em 1839, que durou apenas alguns meses. Aceitou a anistia em 1845 e continuou sua carreira militar dirigindo operações nas campanhas na Guerra do Paraguai. Residiu em Santana do Livramento, onde morreu” . A dissolução da Câmara pelo imperador levantou os liberais mineiros e paulistas O grupo era conhecido como Clube da Joana - assim denominado por serem as suas reuniões realizadas na casa do mordomo do Paço Imperial, Paulo Barbosa da Silva, localizada perto do rio Joana. Alegando fraude nas eleições realizadas para a Câmara dos Deputados - que deveria iniciar seus trabalhos em 3 de maio de 1842 e que já se encontrava em reuniões preliminares - o novo ministério conseguiu que D. Pedro II a dissolvesse a 1º. de maio. Este foi o motivo pelo qual os políticos de Minas Gerais e São Paulo, sentindo-se prejudicados, se revoltaram contra o governo que acusavam de reacionário. O movimento paulista contou com o apoio do Padre Diogo Feijó, e a 17 de maio de 1842 o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar foi proclamado presidente revolucionário.

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Com apoio dos liberais chefiados por Teófilo Benedito Otôni, o movimento mineiro seguiu caminhos idênticos: a 10 de junho, em Barbacena, José Feliciano Pinto Coelho era proclamado presidente revolucionário. Tanto o movimento mineiro quanto o paulista, no entanto, não contavam com recursos militares apropriados; os revoltosos foram atacados pelas forças legalistas compostas de elementos do Exército e da Guarda Nacional sob o comando geral de Caxias. Antes mesmo de entrar em luta contra os revolucionários paulistas, Caxias soube da derrota sofrida pela coluna rebelde, que pretendia conquistar Campinas, diante das tropas comandadas pelo Tenente Coronel Amorim Bezerra, na batalha de Venda Grande. Sem grande esforço, Caxias entrou em Sorocaba, aprisionando alguns revolucionários, entre os quais o já então bastante enfermo Padre Diogo Antônio Feijó, e deu por pacificada a província. De São Paulo, Caxias dirigiu-se para Minas Ferais, onde os insurretos, embora vitoriosos nos combates de Queluz e Sabará não se animaram a atacar a cidade de Ouro Preto, então capital da Província. Colocando-se à frente das Forças legalistas lançou-as ao encontro dos rebeldes, sendo atacado a 20 de agosto de 1842, próximo a Santa Luzia do Rio das Velhas. Graças à chegada de uma coluna legalista comandada pelo Coronel José Joaquim de Lima e Silva Sobrinho (depois Conde de Tocantins), as tropas do governo conseguiram sair vitoriosas. Os chefes rebeldes foram presos e processados, sendo como os paulistas - condenados. Vitimado pela paralisia que se apoderara de seu corpo, o Padre Feijó faleceu a 10 de agosto de 1843. Em 1844, quando o Partido Liberal mais uma vez assumiu o poder, todos os rebeldes foram anistiados. A revolução de fevereiro de 1848 na França - que culminou com a derrubada de Luís Felipe pelo povo - acenderia movimentos semelhantes pela Europa. E na Inglaterra, Áustria ou Hungria, as forças nacionalistas fizeram também com que suas vozes fossem ouvidas. Igualmente sobre a influência da revolução de fevereiro surgiria no Brasil, ainda em 1848, o último movimento revolucionário enfrentado pelo governo imperial: A Revolução Praieira que estourou em Pernambuco. Esta província mantinha ainda o sentimento revolucionário responsável pelos movimentos de 1817 e 1824, uma tradição de luta que começara com a Guerra dos Mascates no início do século XVIII. A tumultuada situação do pais durante o período regencial, naturalmente, encontraria em Pernambuco um campo fértil para que ecoasse com intensidade. A Revolução de 1848 na França refletiu-se no movimento pernambucano da Praieira. O Italiano José Garibaldi recebeu de Bento Gonçalves a incumbência de dificultar a ação das forças legalistas na Lagoa dos Patos e nos Rios que nela despejam suas águas. Com lanchões capturados aos imperiais, Garibaldi organizou uma frota e auxiliou Canabarro a conquistar Laguna. - José Garibaldi. Familiarizados com o terreno, onde em tempos de paz desenvolviam suas atividades pastoris, os soldados farroupilhas, durante um largo período chegaram a dominar grande parte do território gaúcho, estabelecendo-se também , embora transitoriamente, em Santa Catarina. Alguns jornais pernambucanos pregavam a separação entre Norte e Sul do Brasil Instabilidade política e agitação eram constante em Pernambuco. A idéia de colocar D. Januária no trono brasileiro teve também em Pernambuco adeptos ferrenhos e durante muito tempo o projeto de separar o Norte do Sul do Pais - formando-se

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um novo império com a coroa entregue a D. Januária - foi defendido calorosamente, mesmo depois da investidura de D. Pedro II. As discussões sobre o assunto eram feitas abertamente, até mesmo pela imprensa: a favor do projeto estava O Correio do Norte; contra O Nicolau e A Ordem. Neste último, em sua edição de 30 de outubro de 1841, no artigo O Clube da Rua do Hospício, a situação era claramente denunciada: “Constatamos que sob a presidência do Sr. Peixoto de Brito se instalara na casa do Sr. Coronel José de Barros Falcão de Lacerda uma sociedade secreta que tem por fim dividir o império do Brasil em dois: o do Sul e o do Norte, competindo o cetro do 2º. à Sereníssima Princesa Imperial a senhora D. Januária.” Ainda no mesmo jornal, na edição de 4 de novembro de 1841, eram publicados os nomes dos principais líderes: “Os Senhores Costinhas, Peixoto de Brito, o Jesuíta, José Inácio de Macedo, Roma e outros”. Embora com características, a separação parecia idéia fixa daquela região em que a instabilidade, agitação e inquietude eram uma constante. A situação de desequilíbrio sócio-econômico da província onde uma nobreza rural - dona de vastas extensões territoriais - exercia um completo domínio do meio político-econômico era a responsável pela insatisfação da grande massa marginalizada. Os historiadores são unânimes em apresentar a Praieira mais como um movimento de caráter sócio-econômico do que político. E Nabuco de Araújo afirmava: “Não se trata ali somente de questões, e as questões sociais são de grande alcance, são de grande perigo”. As raízes deste desequilíbrio remontavam ao ano de 1837, quando o gabinete de 19 de setembro implantou na província o domínio da oligarquia Cavalcante, o monopólio familiar, com um desenfreado abuso de poder em que todos os crimes eram possíveis inclusive o do contrabando de africanos, o do roubo de escravos o da circulação de cédulas falsas, bem como o do assassinato, contando com o apoio eventual do governo. Uma quadrilha popular definia com precisão o panorama local onde Pais Barreto, os Cavalcanti e o presidente da Província, Rego Barros, formavam um grupo unido pela solidariedade de classe e até mesmo por laços de família: “Quem viver em Pernambuco, deve estar desempregado, que ou há de ser Cavalcanti, ou há de ser cavalgado”. A causa aparente da revolução Praieira foi a substituição do gabinete liberal de 31 de maio pelo conservador de 29 de setembro de 1848, mas seus verdadeiros motivos estavam no descontentamento reinante entre as massas oprimidas e no exemplo de revolução francesa de 1848 que demonstrava a forma pela qual deveriam ser derrubados os governos absolutos que transformavam o povo em máquina de produzir dinheiro através de impostos cada vez mais altos. Em Pernambuco, alem da tradicional luta entre liberais e conservadores surgiria um terceiro partido - da Praia - dotado de características essencialmente regionais características que foram muito bem definidas num artigo publicado em 14 de agosto de 1849;. “Esse Partido da Praia, partido generoso, partido formado pela reação necessária, contra a imoralidade, o roubo, o assassinato e todos mais atributos da família nobre. Mas em que posição difícil não se encontra a Praia? Era um partido formado com cores locais era uma liga da província contra uma parte dela e a Situação era a mais falsa possível...” Foram os próprios adeptos do movimento que resolveram adotar a denominação pejorativa de oposição Praieira com que os governistas se referiam a eles. O nome vinha da localização de seu jornal O Diário Novo na rua da Praia, e os rebeldes resolveram assumi-lo considerando que alem de torná-los conhecidos assim como às suas idéias, ele resumia muito bem a precária situação em que se encontrava a grande massa popular obrigada a viver às margens de uma sociedade fechada.

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A revolução Praieira é, portanto o choque entre Cavalcanti e cavalgados, encontrando-se os seguidores destes últimos no meio do elemento popular, em geral trabalhadores rurais. Entre seus lideres estavam Antônio Borges da Fonseca, Nunes Machado, e Pedro Ivo, a principal figura do movimento e que ficou conhecido como o Capitão da Praia. A luta, teve início em novembro de 1848, em Olinda, quando a província era governada por Erculano Ferreira Pena. Após vários combates, sem maior expressão, os revoltosos encontraram-se em Água Preta sob o comando de Joaquim Nunes Machado, organizando dai o ataque contra Recife. Apesar da oposição de Pedro Ivo que planejara atacar a cidade com apenas uma coluna, os comandantes resolveram investir com duas colunas: uma atacaria por São José, outra por Soledade. Lançado o ataque em fevereiro de 1849, esta divisão veio a ser a causa do fracasso. As forças rebeldes já naturalmente débeis , com uma organização deficiente e chefes quase todos mal preparados militarmente, ao se dividirem, enfraqueceram-se mais ainda. Os camponeses-combatentes, em sua maioria, não conheciam a cidade, o que facilitou ainda mais o trabalho das forças legalistas comandadas pelo Brigadeiro José Joaquim Coelho, depois Barão da Vitória. Nesta fracassada investida contra Recife faleceu Nunes Machado, um político impetuoso e combativo. Embora não fosse muito favorável à deflagração da revolta, Nunes Machado acabara aderindo a ela completamente. Em setembro de 1852, outro nome importante da Praieira, Borges da Fonseca, escrevia sobre ele em um artigo publicado no jornal A Revolução de Novembro: “Vós sabeis que o imortal Nunes Machado compreendeu e quis a revolução como eu a compreendo e quero, e portanto esse nome hoje é meu e vós o profanais e vós o conspurcais”. Nunes Machado morreu naquela batalha. Pedro Ivo, no entanto, tendo Borges da Fonseca, sob seu comando, conseguiu realizar uma hábil retirada, dirigindo-se para o sul da província, enquanto Borges da Fonseca rumava para o norte, conseguindo tomar Goiana e invadir a Paraíba sua terra natal. Borges da Fonseca, o famoso Repúblico ( apelido herdado dos tempos em que redigira o periódico com esse nome), desde o princípio de sua vida, ainda mesmo como estudante dos seminários de Olinda e do Recife, fizera parte de sociedades secretas em que a luta contra o absolutismo era das mais significativas. Na província que então invadira, Borges da Fonseca iniciara sua carreira jornalística em A Gazeta Paraibana. A partir daí foram inúmeros os jornais que dirigiu, ficando célebres o seu destemor e o seu temperamento irrequieto e rebelde. Este espírito, no entanto não foi suficiente para torná-lo vencedor. Repelido na Paraíba Borges da Fonseca acabou sendo preso. Da Praieira restava apenas o núcleo de Pedro Ivo, que, em Água Preta, mantinha acesos os ideais da revolução. Conhecedor profundo da região, em que combatia, Pedro Ivo depois de conseguir burlar o General Joaquim Coelho em recife, embrenhou-se pela província: adotou então a tática das guerrilhas - chegando a ameaçar a Província de Alagoas. Conduzindo seus maltrapilhos comandados pelo agreste sertão, atacando e escondendo-se, Pedro Ivo transformou-se em uma lenda do Nordeste, sendo glorificado em versos de Alvares de Azevedo e de Castro Alves. Como as tropas governistas não conseguiam exterminar aquele foco de rebeldia, os presidentes das províncias de Alagoas e Bahia - José Bento da Cunha Figueiredo e Francisco Gonçalves Martins - conseguiram convencer o pai de Pedro Ivo, o Tenente Coronel Pedro Antônio Velos da Silveira, a encontrar-se com o filho. Levava ele oferta de uma anistia total, e a muito custo conseguiu convencer o filho. Mas o acordo não foi cumprido por parte do governo. Preso em Alagoas, em 1850, Pedro Ivo foi conduzido para o Rio de Janeiro, ficando encarcerado na Fortaleza da Laje. Auxiliado por alguns elementos do Partido Liberal, conseguiu entretanto, escapar da prisão, embarcando em um navio com destino à Europa. Não alcançou contudo seu objetivo, vindo a falecer, em 1851, em plena viagem. Dos chefes rebeldes presos e processados, nove foram condenados à prisão perpétua na ilha de Fernando de Noronha. Entre eles estavam Borges da Fonseca, Bernardo José da Câmara, Vilela de Castro Tavares, José Inácio de Abreu e Lima, Filipe Lopes Neto.

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Em 1852, era assinado o decreto de anistia para os praieiros, pondo fim à última revolta ocorrida no Segundo Reinado. O Brasil entrava em nova fase.

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DUQUE DE CAXIAS E A MAÇONARIA A vida dos grandes homens, escreveu Carlyle, é a síntese perfeita da história dos povos. Entre os vultos representativos da história nacional e mesmo continental do século passado destaca-se a figura marcante e inconfundível do Marechal Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias.

(Duque de Caxias) Sua longa e luminosa existência de 77 anos enche sozinha o capítulo que vai da nossa emancipação política até os pródomos da república, através de lutas incessantes para a manutenção da unidade nacional, para a preservação do equilíbrio político do continente e para a conservação do ritmo de evolução administrativa do país, em cujos processos influiu decisivamente não só com a força serena de sua espada invicta, mas também com o brilho radiante de sua inteligência privilegiada e a ação benfazeja de seu caráter de escol. Toda uma corte de ascendentes ilustres cooperou para legar ao Grande Cidadão uma soma de virtudes que se acrisolaram no perpassar do tempo, provando e eficiência das leis da hereditariedade . No insigne Marechal, porém , a herança foi sobrepujada pelas qualidades pessoais intrínsecas do herdeiro, que se constituiu num dos maiores construtores de nacionalidade que o mundo já conheceu. Foi o homem providencial, em cujos ombros fortes repousava invariavelmente a sorte da Pátria, nos dias de incerteza. Foi o nome tutelar, que o país se acostumou a invocar nos momentos de perigo, nas horas de aflição . Foi a figura sem par que deu nexo à nossa História. Foi o Condestável do Império, servindo de sustentáculo ao trono e de penhor das instituições vigentes . Foi um autêntico varão de Plutarco. A Pátria nasceu sob o signo da sua bravura, ajustou-se sob a inspiração da sua lealdade, cresceu ao influxo das suas virtudes e fortificou-se ao contato da sua grandeza. Quando o sino da liberdade ameaçava calar ; quando o edifício da ordem queria desmantelar-se; quando a causa da civilização principiava a ser vencida pela tirania e a

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barbárie; quando a integridade nacional começava a periclitar; quando os negócios políticos do país pretendiam desorganizar-se, lá estava Caxias, para fazer falar o sino com o desassombro do seu heroísmo, para restabelecer a ordem com a sabedoria de sua ação, para desagravar a civilização com a magnificência da sua generosidade, para manter a integridade, pátria com o magnetismo do seu valor, para dirigir a política com a majestade da sua ponderação. A estrela de Caxias é a própria estrela dos destinos do Brasil, que opera milagres, que transforma derrotas em triunfos, que aponta o caminho certo quando tudo se afigura perdido , que nos guia em meio da borrasca , como outrora o farol da Ilha de Faros, iluminando as noites do Mediterrâneo . É a estrela do general que nunca foi vencido , do Filho Querido da Vitória, do eleito do Deus dos Exércitos , do guerreiro que jamais deixou de ser um instrumento de paz, do cabo de guerra que fez desfilar impávido pelas ruas de três capitais estrangeiras o pendão que ele foi o primeiro a desfraldar, o estandarte glorioso da civilização brasileira. É a estrela do único Duque Brasileiro, possuindo honrarias de príncipe e aliando à dignidade honorífica a dignidade dos sentimentos do caráter, da inteligência e das ações. É a estrela do patriotismo, que dá o exemplo de espartana sobriedade, de severidade de costumes, de sentimentos elevados, de retidão no procedimento, de crepúsculo no emprego do dinheiro públicos, de desprezo do perigo, de generosidade para com os vencidos, de profundo conhecimento dos homens; do patriotismo que não mede sacrifícios, que arrosta a maledicência , a malquerença e a inveja, que supera as próprias limitações da capacidade física, que se devota inteiro ao serviço da Pátria , enquanto resta um sopro de energia, que não conhece um momento de descanso quando se trata de defender o bem comum e a felicidade total da Nação. Estrela que não se apaga. Acendida com o fogo vivo da tradição no coração dos brasileiros, cintilando por todos os céus da nossa vastidão geográfica, transmitindo-se imutável através das gerações sucessivas , arraigada na consciência de todos os nacionais, é essa estrela que tem tremeluzindo radiosa em todo o processo de desenvolvimento da Pátria, iluminando os campos de batalha , as oficinas de trabalho, os gabinetes de estudo, inspirando dirigentes e dirigidos, orientando-nos na paz e na guerra , apontando-nos o rumo certo, como a estrela dos pastores. É essa estrela que nos tem guiado em nossa vida de povo e de nação, norteado nossa diplomacia, aconselhado o incremento da nossa produtividade e advertido o espírito da nossa administração. Como estrela da Imortalidade, refulgiu nas planícies e montanhas da Itália, levando à Europa a lição da civilização do Novo Mundo. Como estrela da Fé, ela resplandece sobre nossas cabeças, acalenta os nossos desejos, impele-nos para o futuro, desperta-nos o propósito de emulação da grandeza da terra em que nascemos, fortifica-nos para os embates da vida e nos enche de confiança nos altos destinos do Brasil. O nosso Irmão, para honra de todos nós brasileiros, por seus méritos Maçônicos, recebeu um documento do Supremo Conselho do Grau 33º da Inglaterra o nomeando seu Grande Representante junto ao Supremo Conselho do Brasil o “Ilustre Irmão Duque de Caxias, 33º. Está datado de 12 de outubro de 1869 e devidamente assinado por quem de

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direito. Foi passado em Londres. Nesta época , Caxias já havia regressado do Paraguai e tinha recebido o título de Duque em 23 de março do mesmo ano. Na Maçonaria atingiu o mais elevado grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, que é o 33º, tendo sido Membro Efetivo do Supremo Conselho do Grau 33º , para o Brasil, sem o que não teria sido nomeado Grande Representante da Inglaterra. O Exército sabe perfeitamente o que é a Maçonaria, porque muitos dos seus membros são maçons. E não só o Exército como todas as Forças Armadas, o Governo e os Órgãos da Informação e segurança sabem dos nossos propósitos, dos nossos fins, dos nossos objetivos . Os ideais maçônicos, embora sejam em todo o mundo, os mesmos, podem sofrer deturpações, no tempo e no espaço, porque nós não nos julgamos enviados de Deus, mas seres humanos em busca da perfeição, da verdade e de Deus. Se algum Grão-Mestre de Grande Oriente ou Grande Loja de algum país disse alguma vez que “o marxismo e a maçonaria têm o mesmo ideal comum de felicidade humana ”, isto é pensamento seu e responsabilidade sua, e nós , maçons do Brasil, podemos afirmar, com toda segurança, que esse Grão-Mestre, bem como seu Grande Oriente ou Grande Loja, já foram considerados irregulares pelo resto da Maçonaria Regular do Mundo. Porque a Maçonaria Regular exige a crença em Deus e na Imortalidade da Alma . Assim sendo, mesmo que eles tivessem os mesmos ideais de felicidade humana, os métodos adotados para atingi-la não são os mesmos. Nós acreditamos na eficácia do lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e isto não se coaduna com qualquer sistema de ditadura, seja de esquerda, seja de direita. Odiamos fervorosamente, os governos de exceção , e, em contrapartida, eles nos odeiam. Em países onde existem governos de exceção a Maçonaria é sempre muito perseguida. Alguns dos nossos supremos dirigentes, defensores do “status quo” afirmam decididamente que a Maçonaria Brasileira tenha mudado. Sinceramente, eu desejo que não. Uma Maçonaria que propiciou a libertação dos escravos, a Independência, a República, a alfabetização de adultos, a liberdade espiritual e a soberania do Governo, não devia mudar nunca. Apraza ao Grande Arquiteto do Universo que ela encontre forças para igualar-se ao passado, como mola propulsora do progresso e da evolução do nosso Brasil, tendo à frente homens da mesma têmpera de Tiradentes, D. Pedro I , Bento Gonçalves, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Andrade Neves, Arruda Câmara, Benjamim Constant, Campos Salles, Deodoro da Fonseca, Padre Feijó, Evaristo da Veiga , Francisco Montezuma, Floriano Peixoto, Silveira Martins, Marechal Hermes da Fonseca, Hipólito da Costa , Frei Caneca, Cairú, José do Patrocínio, Saldanha Marinho, Barão de São Gabriel, Visconde do Rio Branco, Duque de Caxias, Gen. Osório, Mário Behring , Frei Montalverne, Nilo Peçanha, Nereu Ramos, Pedro Ernesto, Prudente de Moraes, Pinheiro Machado, Quintino Bocaiúva, Rodrigues Alves, Rui Barbosa, Sampaio Ferraz, Silva Jardim , Teófilo Ottoni, Tristão Araripe, Venceslau Brás , Veríssimo José da Costa, Viriato Corrêa ,Visconde de Taunay, Antão Abade das Chagas, Antônio Antunes Ribas, Frederico Renato Mótula, João Abel Gonçalves e tantos outros. Disse o Padre Francisco João de Azevedo: “Só podem ser maçons os que crêem em Deus Infinito , os que reconhecem a necessidade de um culto e os que têm uma pátria , cujos direitos e leis devem respeitar ”. Para se abordar o tema, que não é muito fácil em face da pouca matéria escrita sobre o assunto, devemos nos permitir a fazer um preâmbulo que nos historie a evolução mundial nos

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sistemas governamentais de diversos países, que foram influenciados pela Maçonaria, através de atividades de seus obreiros. A modificação da sociedade começou por volta de 1650 ( século XVII), quando começava a surgir os primeiros movimentos libertários nas movimentações burguesas que começava a surgir, em função de mercantilismo e do comércio. Estas atuações possibilitaram o surgimento de novas classes sociais, novos desejos de melhor vida e principalmente a luta pela modificação dos sistemas de governos. Estas reivindicações eram altamente faladas nas sessões Maçônicas, partindo daí a palavra de ordem para que todos os Maçons, seguissem a determinação dada pelo Grão Mestrado dirigente, com finalidade de conseguir movimentar a sociedade e a partir daí efetivaram os movimentos revolucionários que modificaram a sociedade mundial. Na Inglaterra o parlamento se insurge contra o Rei Carlos I, e daí estala a revolução parlamentarista comandada por Cronwell e seus cabeças redondas que culmina com a queda e prisão do Rei, e sua decapitação, resultando então a posse do poder pelo Parlamento, que parte para uma série de modificações na estrutura do sistema de governo. A partir deste movimento, na França em 1789, a Queda da Bastilha, em 14 de julho inicia uma nova modificação na sociedade francesa, com o lema de “Liberté, Igualité e Fraternité”, a república toma conta do governo com o fim de efetivar as grandes evoluções da sociedade francesa. Antes, já nos EE. UU. , a luta pela independência era liderada por Maçons americanos, que queriam a liberdade das colônias, com o fim de conseguirem uma melhor sobrevivência Lá estava Washington Franklin, Lafayete, e muitos outros. Em 1789, também no Brasil, surge o movimento libertário, com origens nos Maçons, que tinham como lideres homens como Tiradentes, Manuel Luiz Gonzaga, Alvarenga Peixoto e outros, era a inconfidência Mineira. Durante o século XIX, no princípio de 1808, estava a Europa com novas lutas. Napoleão enfrentava a todos e queria conquistar as mais diversas nações, Espanha, Alemanha. ( Prúcia), Itália etc. Aproveitando-se destes fatos surgem na América Latina, movimentos de independência. Argentina Chile, Bolívia, Perú, Equador, Venezuela, Colômbia, tinham lideranças de generais como San Martin, Sucre, Bolívar, Artigas, Rivera, todos maçons em seus países, liderando os movimentos revolucionários. No Rio Grande do Sul, como não poderia deixar de ser, por ser o Estado mais ao sul do Brasil, estava sempre em lutas com seus vizinhos, ora com Argentina, ora com o Uruguai ( província Cisplatina). Nossos homens, aprendiam desde cedo a lidar com armas. Na época viam-se os homens de negócios do Rio Grande do Sul, terem seus prejuízos cada vez maiores em função das importações que o Império fazia dos mesmos tipos de mercadorias de países estrangeiros, prejudicando os fazendeiros, xarqueadores e os mais diversos tipos de atividades aqui existentes Muito embora os reclamos de uma modificação na situação, isto não acontecia, e continuava a sangria, diminuindo cada vez mais o poder político dos gaúchos. As Lojas maçônicas existentes no Rio Grande do Sul, debatiam em suas seções a situação e compreendiam que deveria ser feito algo para minorar o problema. Instado o Governador ( na

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época Presidente da Província), este deu de ombros como a dizer, o governo central manda e eu obedeço. Ora, todos sabiam que isto não era forma de lidar com homens de valor, como aqueles lideres, que se encontravam entre a espada e a parede. Forçados pelos seus irmãos a tomarem uma atitude, estes resolveram que só havia uma solução para o caso - pegar em armas e tomar o governo, destituindo o Presidente, a fim de que o Governo central nomeasse outro para conseguir um diálogo. Isto posto, reuniram-se em sessões nas mais diversas localidades, com o fim de preparar as forças que precisavam para a luta. Após diversos contatos, em 18 para 19 de setembro, em sessão na Loja Maçônica de Guaíba, ficou acertado que tomariam Porto Alegre, no dia 20. Isto feito na noite de 19, Gomes Jardim, Bento Gonçalves, Onofre Pires e outros, comandando uma pequena força atravessam o rio e ficam a beira do riacho, na Azenha, esperando a hora para iniciar a batalha. Era o inicio de uma revolução que durou cerca de 10 anos. Lideres como Vasconcelos Jardim, Bento Gonçalves, Onofre Pires, Souza Neto, Tavares da Silva, Menna Barreto, Manuel Ribeiro, mais tarde Garibaldi, Zambecari e alguns outros como Domingos José de Almeida ( mineiro de nascimento), todos obreiros maçons, lideraram a Revolução Farroupilha. Deve-se notar ainda, que os mais diversos símbolos da Revolução, estavam com as marcas maçônicas em seu contexto.. Há ainda a se acrescentar que a bandeira tricolor, tinha como lema, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, uma trilogia maçônica Sabemos que estas pautas não realizam e nem demonstram como realmente aconteceu a influência da maçonaria na Revolução Farroupilha, pois já afirmamos, que muito pouco existe, por escrito, sobre o assunto, mas não há como discordar do fato de que realmente as lideranças e seus feitos, o foram através de obreiros maçônicos e princípios seus. Por último, deve-se salientar, que na paz de Ponche Verde, estava escrito nos seus doze artigos o que segue: 1º. O indivíduo que for pelos republicanos indicado Presidente da Província e aprovado pelo Governo Imperial, passará a presidir a Província. 2º. A dívida nacional é paga pelo Governo Imperial, devendo apresentar-se ao Barão a relação dos créditos para ele entregar à pessoa ou pessoas para isto nomeadas, a importância a montar a dita dívida. 3º. Os oficiais republicanos que, por nosso comandante e chefe, forem indicados, passarão a pertencer ao Exército do Brasil, no mesmo posto e os que quiserem suas demissões ou não quiserem pertencer ao exército, não são obrigados a servir, tanto na Guarda Nacional, como em primeira linha. 4º. São livres, e como tais reconhecidos, todos os cativos que serviram na República. Segue outros artigos. Eis aí, uma prova de que foi o Rio Grande do Sul, o primeiro estado do país a proclamar a abolição dos escravos e se não no seu todo, por sua maior parte... A estes homens que nos antecederam na Ordem, só nos resta seguir seus exemplos, procurando assumir nossos deveres na sociedade como líderes para tentar dirimir os sofrimentos dos mais necessitados. e principalmente, conseguir uma nova evolução da sociedade atual.

A PEDRA CHAVE

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“Quando o Templo estava chegando a seu término, foi relatado ao Rei Salomão que os Obreiros estavam impossibilitados de prosseguir, por falta de uma pedra chave para o arco principal. O Rei Salomão replicou que aquela peça havia sido encomendada ao nosso G.M.H.A, que, por sua tão conhecida pontualidade, sem dúvida já a teria executado. Ordenada uma busca, a pedra foi encontrada nos escombros do Templo, entre as pedras rejeitadas e consideradas sem valor, e no devido tempo, foi colocada no arco”. “Se tal for vossa conduta, ainda que vos fira a desgraça, ainda que os amigos vos abandonem, ainda que a inveja vos calunie e manche vosso nome e a malícia vos persiga, ainda assim tende confiança de que entre os MM. de M. encontrareis amigos que proporcionarão alívio a vossos pesares e conforto em vossas aflições. Relembrem sempre, como consolo nos momentos adversos e como alento para a esperança de melhores perspectivas, que a pedra que os construtores rejeitaram, dotada de méritos por eles desconhecidos, tornou-se a principal pedra do Templo”.

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A SAGA GAÚCHA O Rio Grande do Sul comemora em 20 de setembro a sua maior revolução, feita quando era uma província isolada, com apenas 14 municípios. Os homens, mulheres e crianças que hoje estão desfilando pilchados, por todo o Rio Grande do Sul, para comemorar o aniversário da Revolução Farroupilha, têm um justo motivo de orgulho. Afinal, eles descendem, se não de sangue, ao menos em espírito, daqueles gaúchos que fizeram a maior revolta que já houve no país. Homens que, há tantos anos atrás, tomaram em armas, movidos pela indignação contra a arbitrariedade do governo central, e pelo sonho de construir uma República. E, quando a indignação e o sonho se casam, nasce a revolução. Foi assim que surgiu a Revolução Farroupilha. Ao longo de seus dez anos, teve momentos da estranha poesia, crua suada, que brota da santa loucura dos guerreiros. Como quando os farrapos arrastaram dois lanchões por cem quilômetros através dos campos e banhados, para atingir a Laguna de surpresa. Ou quando , ao final de uma batalha, em são José do Norte, os inimigos trocaram gestos humanitários, os farrapos soltaram prisioneiros, os legalistas dividiram com eles médicos e medicamentos. Ao final de 10 anos, chegou-se a um acordo de paz que não feria, em nada, a honra dos Farrapos. E não há maior glória do que o reconhecimento do inimigo. Porque o do amigo é fácil e certo. Essa glória maior, difícil de ser obtida, foi o louro da vitória dos Farrapos. Praticamente vencidos, não assinaram um termo de rendição Foram ao contrário, solicitados pelo antigo inimigo, para ajudá-lo a manter a integridade do país. Ex-farrapos lutaram na guerra do Paraguai, ombro a ombro com os homens que os haviam perseguido. Sempre teremos na lembrança os campos do Ponche Verde, em Dom Pedrito, onde se encerrou a guerra e se assinou o Tratado de Paz, onde a honra e a bravura Riograndenses foram reconhecidas..

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UMA PROVÍNCIA ISOLADA Em 1835, ano em que começou a Revolução Farroupilha, a província do Rio Grande do Sul era, ainda muito pouco povoada. Com não mais que 400 mil habitantes, tinha sua população concentrada na região da Depressão Central e no litoral, com poucos núcleos habitacionais na zona de Cima da Serra e nas Missões, e com a Campanha ocupada principalmente por estâncias de gado. Existiam, então, quatorze municípios: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha, Cachoeirinha, Pelotas, Piratini, Alegrete, Caçapava, São José do Norte, Triunfo, Jaguarão, São Borja e Cruz Alta. Entre eles, três se destacavam: Porto Alegre, capital da Província; porto de Rio Grande, por onde se fazia a maior parte das transações comerciais; e Pelotas, onde prosperava a manufatura do charque. Transportes - As comunicações eram bastante precárias. Em 1823, o charqueador Gonçalves Chaves, em seu livro “Memórias Ecônomo-Políticas”, dizia que não existia uma só ponte em toda a província. A principal forma de transporte de cargas eram as carroças, que tinham que enfrentar caminhos intransitáveis durante os períodos de chuva. Isto resultava em um grande isolamento de certas regiões, como a área da fronteira com o Uruguai e Argentina que, tendo dificuldades de se comunicar com o litoral, canalizava sua produção de charque para o porto de Montevidéu. Rios - Também se utilizavam os rios, como o Taquarí, Jacuí e Caí, através dos quais se estabelecia a comunicação com Porto Alegre e, desta, com o porto de Rio Grande. Em 1832 houve um considerável progresso na navegação fluvial, com a introdução de barcos a vapor. Mas a inovação, que tornava o transporte bem mais rápido do que o feito pelos veleiros, foi prejudicada pela Revolução Farroupilha, ficando quase que totalmente estagnada até o seu término. Apesar do isolamento da província, e das diferentes zonas dentro dela, grande parte dos produtos usados no Rio Grande era importada, pois , como nas demais regiões do País, a indústria nacional era praticamente inexistente. Vinham do exterior fósforos, vassouras, pregos, sapatos etc. As classes mais abastadas podiam encontrar tecidos e acessórios vindos da Europa. O Rio Grande, por sua vez, exportava charque - principalmente para as demais províncias - , e couros - para o exterior. O isolamento poderia dar a falsa impressão de uma província pacata, com uma vida quase parada. Isto, porém, não era verdadeiro. Os gaúchos, durante o século anterior, tiveram que lutar ferozmente com os espanhóis para garantir suas terras e, mesmo no início do século XIX, ainda enfrentavam problemas de fronteira, o último dos quais - antes da Revolução Farroupilha - tinha sido a guerra pela libertação do Uruguai, que tinha permanecido ocupado pelo Brasil entre 1817 e 1825.

Descontentamento com o controle alfandegário Na região de fronteira do Rio Grande, política e economia se misturavam. Ao lado da participação dos brasileiros nas questões uruguaias, havia o problema do controle alfandegário, especialmente do gado. Os charqueadores da região de Pelotas - que dependiam do gado gaúcho - defendiam um rígido controle, pois não queriam que as reses daqui fossem desviadas para o Uruguai. Os estancieiros, por sua vez, queriam o livre trânsito.

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Em 1824 foram criados postos aduaneiros na fronteira, para controlar o recolhimento do quinto real, do imposto de 640 réis sobre cada animal e os dízimos cobrados sobre couro, charque, sebo e gordura. Com a guerra de 1825 a 1828, pela independência uruguaia do domínio brasileiro, o funcionamento desses postos foi interrompido. Após a guerra, como a situação econômica da província não era muito boa, foi proibido o fluxo de gado para o Uruguai. Inspetores - Em 1830 foram adotadas novas medidas. Entre elas, um imposto de 15º. sobre todas as mercadorias entradas no Império, inclusive o gado uruguaio. Isso não agradava a ninguém: aos charqueadores porque não queriam que o gado saísse, mas não tinham objeção a que entrasse. Aos estancieiros porque queriam que o gado saísse e entrasse a seu bel-prazer. Continuava o contrabando de gado. No ano seguinte, o governo instalou quatro postos fiscais para o recebimento do dízimo (taxa de 2º. sobre o gado a ser transportado para o Uruguai); do quinto sobre o couro e de 15º. sobre toda a mercadoria importada do Uruguai, incluindo o gado. Essa última taxa era a que mais irritava os estancieiros, e viria a ser extinta em 1835. Alem disso, o gado de raça não podia deixar a província, sem autorização especial. O do Uruguai tinha que pagar, lá, 800 réis em moeda de prata por cabeça. Isso fez intensificar o contrabando e o descontentamento.

No cotidiano, a importância da fé Testamentos eram uma espécie de acerto de contas espiritual, em que se preocupava garantir a redenção da alma e comandar o espetáculo da morte. Não obstante o “caráter guerreiro”, que mesmo então era atribuído ao Rio Grande pelas populações das demais províncias, os moradores daqui conseguiam organizar o seu dia-a-dia de forma pacata. Nas cidades e vilas a grande atração eram as procissões e os atos ligados á religião. As irmandades, organizações de leigos que se dedicavam a festejar um determinado santo ou a certas práticas caridosas, estavam presentes em quase todas as cidades e vilas, e tratavam de dar a pompa necessária ás comemorações religiosas, desfilando pelas ruas com seus mantos coloridos. Os moradores, por sua vez, contribuíam para embelezar a festa colocando colchas trabalhadas nos balcões das casas. Mas nesse Rio Grande de então não só se vivia de forma diferente daquela de agora - também se morria de forma diversa. A morte era anunciada pelo sino da igreja - com toques específicos para homens adulto, mulher adulta, moça virgem e crianças. Isto em certas épocas, chegou a provocar conflitos entre as autoridades civis e eclesiásticas. Quando, no final do século passado, a província enfrentou uma epidemia de cólera, o presidente da província insistiu, junto ao bispo, para que fossem suspensos os toques de sino que anunciavam as mortes, porque “traziam a população em constante sobressalto”. Testamentos - Um dos principais atos da preparação para a morte era a confecção de um testamento. Ao contrário dos testamentos atuais, em que a preocupação central é realizar uma distribuição de bens, os de então eram uma espécie de acerto de contas espiritual, em que o testador procurava garantir a redenção de sua alma e comandar o espetáculo de sua morte.

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Além de determinarem a repartição dos bens, estabeleciam esmolas para os pobres a serem distribuídas no dia da morte do testador, missas a serem rezadas em benefício de sua alma e, em algumas vezes com minúcias incríveis, descreviam como deveria ser o enterro - que, pelo menos até a década de quarenta do século passado, era na maioria das vezes feito bem no centro das cidades, atrás da igreja, onde ficavam os cemitérios. Curiosamente para nós as pessoas não eram enterradas em caixão. Esse hábito só iria surgir a partir da metade do século passado. Antes disso, os caixões eram emprestados ou alugados pelas irmandades que os possuíam, servindo para conduzir o falecido até a cova, onde era retirado do caixão e baixado à terra. Os mais devotos requeriam, em seus testamentos, que fossem enterrados vestindo a roupa de algum santo de sua devoção - São Francisco de Assis, com seus trajes marrons, era especialmente cotado. Mas, de maneira geral, usava-se mortalha, pano cozido sobre o corpo do defunto: branca para moças virgens, branca ou azul para as crianças, roxa para as mulheres e homens adultos. MAÇONARIA - Apesar do enorme peso da religião, não se pode imaginar o Rio Grande de então como um enorme paraíso de devotos. Se as exterioridades do culto eram apreciadas e mantidas, eram entretanto, muitos os problemas. Havia uma falta crônica de sacerdotes, principalmente na campanha. A presença dos primeiros protestantes provocava atritos relativos à realização de casamentos pelos pastores ao local de enterro. As sociedades maçônicas floresciam. A maçonaria, aliás, contava com muita força. Nela estavam presentes até sacerdotes, e a maioria dos homens influentes da província era maçom. Entre os maçons ilustres, destacava-se Bento Gonçalves, que organizou diversas Lojas na fronteira e cujo codinome, na maçonaria era SUCRE.

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DINHEIRO GAÚCHO PAGAVA ATÉ DÍVIDAS COM OS INGLESES Superávit gaúcho não ficava no Estado nem para pagar os credores do Império. Mas, com esses recursos, se pagou os ingleses. Havia um descontentamento generalizado. E a situação era tensa na fronteira, onde Bento fazia alianças. A centralização do poder tinha sido a tônica do governo do Imperador D. Pedro I. Pela Constituição de 1824 ( que ele outorgara à Nação), os presidentes de província eram escolhidos pelo poder central, que também definia um valor determinado para as despesas de cada província, suprindo-as com dinheiro caso houvesse um déficit, mas, em contrapartida, apropriando-se do dinheiro para aplicá-lo a seu bel-prazer caso houvesse um superávit. Essa situação era altamente insatisfatória para as elites regionais. E, após a abdicação de D. Pedro, começaram a pressionar o governo com o objetivo de obter uma maior autonomia. Isto resultou, em 1834, na promulgação de um ato adicional que, entre suas diversas cláusulas, previa a substituição dos Conselhos Gerais Consultivos - órgãos que desempenhavam o papel de assessorar os presidentes de província - por Assembléias Legislativas Provinciais - que poderiam estabelecer leis fiscais, desde que não interferissem nas arrecadações nacionais já existentes. Esse ato tinha um objetivo principalmente conciliatório: procurava contentar aos liberais ao dar um pouco mais de autonomia fiscal às províncias; e aos conservadores, ao manter a escolha do presidente da província nas mãos do governo central, bem como o controle final dos fundos provinciais SUPERÁVIT - No Rio Grande do Sul, antes e até depois do ato, existia um grande descontentamento em relação à destinação dos fundos públicos. A província havia acumulado, durante alguns anos, um superávit. Mesmo assim, esse dinheiro não podia ser aplicada em benefício da província, em obras como construção de pontes, e nem mesmo no pagamento dos credores, que nessa época eram muitos. Hesistiam aqui inúmeros credores do governo que esperavam o pagamento das dívidas que este contraíra durante as Guerras Cisplatinas, de 1825 a 1828. Eram soldados, comerciantes, estancieiros, que haviam servido nas forças de combate ou tinham fornecido víveres , gado e outros bens para tropas, sem serem reembolsados. No entanto, como a legislação estabelecia uma quantia determinada para os gastos da província - e não previa o pagamento dessas dívidas - não podiam receber , mesmo havendo dinheiro para pagá-los. Por outro lado, o governo central podia legalmente se apropriar do superávit acumulado para utilização em outros locais. Assim, em 1832, vinte e quatro contos de réis do superávit gaúcho foram mandados para cobrir o déficit de Santa Catarina. O governo central, também usou o dinheiro do superávit do Rio Grande para pagar empréstimos feitos junto à Inglaterra. Chegou-se ao ponto de, no início de 1834, o Tesouro da província dispor de mais de 500 contos de réis que não podia utilizar em nenhuma obra pública. Naturalmente, essa situação irritava os gaúchos, que viam a renda que geravam ser utilizada em outros locais, enquanto a província carecia de estradas, escolas, pontes e outras obras de infra-estrutura básica.

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NA FRONTEIRA, REINAVA UM CLIMA DE TENSÃO Enquanto os problemas referentes à escassez monetária, moedas falsas e retirada do dinheiro público da província atingiam a população do Rio Grande do Sul como um todo, alguns grupos econômicos enfrentavam situações específicas, que também eram causa de descontentamento. Era esse o caso dos charqueadores, que pagavam altos impostos sobre seu produto, tendo que concorrer com a produção platina com menos impostos e mais barata. De seu lado, os estancieiros tinham interesses econômicos e políticos no Uruguai. Durante a ocupação da Banda Oriental ( (Uruguai) pelo brasil, de 1817 a 1825, muitos estancieiros gaúchos se estabeleceram lá. Compraram terras e gado, estreitaram laços políticos e familiares. Com a independência daquele país, insistiam em ter livre acesso às pastagens da Banda Oriental; afinal, tinham diversos interesses na área. Mas, para o governo central brasileiro a presença muito intensa de brasileiros no Uruguai representava um problema; terminavam interferindo na política local, provocando queixas freqüentes do governo uruguaio à diplomacia brasileira. Além disso, o nosso governo sofria a pressão dos charqueadores, que não tinham interesse em que os estancieiros levassem seu gado para o Uruguai. PROIBIÇÃO - .Por isto, depois da independência uruguaia, o governo central adotou uma política dura em relação aos estancieiros gaúchos: proibiu que o gado do Rio Grande fosse levado para os países vizinhos. O Uruguai por sua vez, adotou postura semelhante proibindo que gaúchos engordassem ou criassem gado lá. Essas medidas, entretanto, tinham caráter limitado. A fronteira era grande, e era fácil contrabandear gado. Por outro lado, a presença de Riograndenses no Uruguai era muito intensa, e cedo os líderes políticos daquele país perceberam que não tinham como evitá-la. Fructuoso Rivera, presidente uruguaio, ao constatar que não tinha como contornar a situação, resolveu usá-la em seu proveito. Autorizou um de seus agentes no Rio Grande passar escritura de terrenos no Uruguai em troca de pagamento em gado. Com isto, Rivera queria se tornar simpático aos gaúchos, e neutralizar a influência que seu rival, Juan Antônio Lavalleja, tinha na zona de fronteira. Essa postura durou pouco tempo. No final de 1832, Rivera começou a confiscar e vender gado e terras daqueles que apoiavam Lavalleja. Entre os brasileiros da fronteira, correu a notícia de que também estava confiscando o gado dos residentes brasileiros naquele pais que eram simpatizantes de Lavalleja. CONTRABANDO - Bento Gonçalves, o principal articulador do movimento farroupilha, era nessa época comandante militar da fronteira, em Jaguarão. Na sua opinião, os direitos dos gaúchos no Uruguai deviam ser mantidos, mas Rivera continuava a confiscar e retirar gado nas propriedades próximas da fronteira, e distribuía - gado e terras - entre os que o apoiavam. Bento Gonçalves resolveu então fazer vista grossa quando os opositores de Rivera - ligados a Lavalleja - traziam gado do Uruguai para trocar por armas no Brasil. Após inúmeros enfrentamentos entre as suas tropas e as de Rivera, Lavalleja entrou , no final de 1832, no Brasil, sendo recebido por Bento. Ao saber do fato, o presidente da província ordenou que Bento desarmasse Lavalleja e os seus homens e os conduzisse para Porto Alegre. Bento trouxe-os para a Capital, mas não os desarmou. Chegando na capital, o presidente ofereceu a Lavalleja duas opções: ou ele iria para alguma outra província brasileira, ou para Buenos Aires. Lavalleja escolheu Buenos Aires. O Brasil temia que houvesse uma associação entre Rosas, Lavalleja e Bento Gonçalves para se criar uma república independente ou interferir na política dos três países. Esse temor, aliás iria reger o relacionamento das autoridades com Bento. Em 1834 Lavalleja voltou ao Brasil, sendo novamente recebido por Bento. Mas então tanto ele como o outro comandante de

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fronteira, Bento Manoel, em Alegrete, já haviam perdido a confiança do governo. Bento Manoel foi transferido, enquanto Bento Gonçalves foi suspenso.

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CHARQUE, PRODUTO DE EXPORTAÇÃO Com gado abundante nos campos , o Rio Grande encontrou no charque a principal sustentação para a sua economia emergente. A ocupação do Rio Grande do Sul se fez, principalmente, graças ``a pecuária. Foram as enormes manadas de gado solto - que haviam se multiplicado a partir das reses deixadas pelos jesuítas das Missões - que atraíram os primeiros habitantes fixos da região, e foi a exportação de gado vivo para as demais províncias que sustentou a economia gaúcha em seu primeiro século de existência ( século XVIII ). No início do século XIX, uma outra atividade, também ligada à pecuária, tomaria o lugar da venda de gado vivo: era a exportação de charque que, a partir da instalação das primeiras charqueadas no final do século XVIII, iria crescer até se tornar a principal atividade econômica do Rio Grande, só vindo a declinar nas últimas décadas do século XIX. No final do século XVIII emigrou para Pelotas um português, José Pinto Martins, que até então residia no Ceará, onde fabricava carne seca ( charque). Embora a técnica de produção de charque já fosse utilizada no rio Grande, atribui-se a Martins a instalação da primeira grande charqueada. A partir de então, a atividade só fez crescer. O produto, que em 1814 era o terceiro item da pauta de exportação do Rio Grande, estando atrás do trigo e couro, em 1821 passou a ocupar o primeiro lugar, permanecendo nessa situação até o final do século. CONSUMO - Além de problemas com a produção de charques do Nordeste, outros dois aspectos contribuíram para a expansão desse item na província. O primeiro foi a existência de um grande mercado consumidor: afinal, o charque era o principal alimento dos escravos e das populações mais pobres do país. O segundo foi a existência de muito gado. Essa disponibilidade de matéria-prima aumentou ainda mais quando, a partir de 1817, o Brasil ocupou a Banda Oriental ( atual Uruguai), que foi incorporada ao país em 1821, com a denominação de Província Cisplatina. Isto abriu, para os estancieiros gaúchos, a possibilidade de se instalarem naquela área, expandindo suas criações e assim, garantindo um maior fornecimento para as charqueadas Riograndenses.

CICLO - Iniciou-se um ciclo de riqueza para os produtores de charque, que se concentravam principalmente em Pelotas. Vem dessa época a fama da cidade como local de cultura e riqueza. Para lá iam as companhias de ópera, após se apresentarem em Buenos Aires. Seus moradores contavam com o que havia de mais “moderno” na Europa. Mas essa riqueza tinha sua contrapartida. O charque não era só produzido para, mas também por escravos, nos estabelecimentos situados ao longo dos canais São Gonçalo e Santa Bárbara, que eram descritos, por Nicola Dreys, na década de 1830, como locais semelhantes a “penitenciárias”. A população escrava da cidade era, em 1833, de 5.169 escravos, contra 3.555 livres e 1.136 libertos

ESCRAVOS - Os charqueadores mais importantes tinham de 60 a cem escravos, que exerciam funções especializadas no processo que ia desde a morte das reses até o embarque do charque. Um grupo desses era capaz de processar, durante o verão, até 30 mil cabeças de gado. Como os escravos representavam o patrimônio do charqueador, que tinha investido uma razoável quantia em compra, muitas vezes eram empregados homens livres nas operações mais arriscadas - com isto, o proprietário evitava comprometer o patrimônio.

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INTERESSES DIVERGENTES Apesar de sua riqueza, os charqueadores também enfrentavam problemas. O principal era garantir o fluxo de gado para seus estabelecimentos. Nesse aspectos, os interesses de charqueadores e estancieiros divergiam. Enquanto os estancieiros queriam poder manter suas terras e gado no Uruguai, e comercializar seus rebanhos lá quando fosse mais vantajoso, os charqueadores tinham interesses diametralmente opostos. Para eles, era importante que contassem com um fornecimento garantido de gado, para o pleno funcionamento de suas charqueadas. Por isto, apoiavam a criação, por parte do governo central, de postos aduaneiros na fronteira, que coibissem o contrabando, e de taxas de exportação para o gado destinado aos matadouros do Uruguai - assim, o gado gaúcho não seria desviado para aquele mercado, e eles poderiam contar com seu fornecimento garantido. Além do contrabando de gado, outra queixa freqüente dos charqueadores eram os impostos que pagavam. Calcula-se que, considerados todos os impostos e taxas que recaiam sobre o charque, os charqueadores do Rio Grande do Sul pagavam 25% . a mais sobre o valor do produto, enquanto que seus competidores platinos só pagavam uma taxa de exportação de 4%. Apesar da oposição de interesses, charqueadores e estancieiros souberam encontrar um modus vivendi. Embora a adesão à Revolução Farroupilha tenha se dado principalmente entre os estancieiros, com pouca participação dos charqueadores, mesmo durante os dez anos de duração do conflito os dois grupos mantiveram seus negócios - afinal, um dependia do outro.

MOEDAS FALSAS COMPLICAVAM A ECONOMIA GAÚCHA

Durante todo o período colonial, o Rio Grande do Sul, sofreu devido à escassez de moeda. Inicialmente, as moedas de ouro compunham cerca de dois terços do dinheiro em circulação no Brasil, sendo o outro terço formado principalmente de moedas de prata, com uma pequena parte de moedas de cobre. Quando ao chegar ao Brasil, em 1808, dom João VI abriu os portos às nações amigas e aumentou as importações, causou um desequilíbrio na balança de pagamentos, que agravou a crise das moedas, pois o ouro empregado em sua produção passou a ser destinado à cobertura do déficit na balança comercial. A seguir ocorreu o mesmo com a prata e a solução foi aumentar a produção de moedas de cobre. Mas essas moedas logo começaram a ser falsificadas, tanto dentro como do país. Esse processo continuou a ocorrer depois da independência( em 1822), e mesmo depois da abdicação de D. Pedro I (em 1831). No Rio Grande do sul houve uma verdadeira inundação de moedas falsas. Calcula-se que entre as moedas de 40 e 50 réis, um quinto ou mesmo um quarto eram falsas.. O governo da província tinha medo de tomar medidas drásticas, como a proibição de circulação dessas moedas, e causar pânico entre a população. TROCA - Em 1833 o governo central resolveu que os portadores de moedas em cobre deveriam se apresentar dentro de um prazo de dois meses aos tesouros das diversas províncias, para entregar suas moedas e receber, em troca, células que representariam 95% do valor das moedas que entregassem. Essas cédulas passariam a circular como dinheiro legal. Para os gaúchos, a medida cedo mostrou-se complicada. O prazo era muito pequeno, e o número de postos insuficiente. Nesse quadro já confuso, apareceram dois novos problemas: a falta de cédulas em número suficiente e sua falsificação. A situação atingiu tal gravidade devido à falta de meio circulante e à falsificação de cédulas, que nesse ano (1833) chegou a se instalar o pânico entre a população. Para acalmar o povo, o Conselho Geral da província teve que determinar que as moedas de cobre continuassem em uso. como

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atenuantes, permitiu-se que o Tesouro recebesse vales como dinheiro, mas persistiu a desconfiança dos gaúchos.

UM PERÍODO DE REVOLTAS A Revolução farroupilha não foi apenas a mais prolongada, mas também a que levou seus objetivos mais longe. Embora tenha sido a revolta de maior duração que o pais já experimentou, a Revolução Farroupilha não foi a Única que houve no Brasil Império.

Especialmente no período regencial, que sucedeu à abdicação de D. Pedro I ao trono, em 7 de abril de 1831, inúmeras rebeliões estouraram em diversos pontos do país. Em comum, essas revoltas tinham o fato de serem uma tentativa por parte das províncias, de garantirem uma maior autonomia administrativa e econômica. Por isto, são geralmente chamadas de “revolução federalistas”: queriam que o pais funcionasse como uma federação, em que as unidades da federação teriam maior poder de decisão. EQUADOR - Ainda durante o reinado de D. Pedro I existiam revoltas federalistas. A Mais importante foi a Confederação de Equador ( 1824), ocorrida em Pernambuco. Foi deflagrada pelos senhores de escravos e alguns setores das camadas médias da população e, embora defendesse maior autonomia, não assumiu totalmente um caráter separatista. Durante o período regencial, as revoltas se sucederam rapidamente. Em 1831 houve a Federação dos Guanais, na Bahia. O ano de 1835 marcou o inicio da revolução Farroupilha, no Rio Grande, e da Cabanagem, no Pará. em 1837 aconteceu a Sabinada, na Bahia: em 1838 a Balaiada, no Maranhão e, fechando o ciclo, já durante o reinado de D. Pedro II, ouve em 1848 a Revolução Praieira, em Pernambuco.

OS CANHÕES VIRTUAIS DE RIO PARDO A capacidade de gerar soluções inéditas para problemas, o jogo de cintura, aliados à criatividade

e a improvisação são marcas do povo brasileiro e eram também, motivados pela falte de recursos, o ponto forte dos Farroupilhas.

Em 1837, os governantes do Império irritados com o vexame sofrido no Rio Grande do Sul, mandaram preparar uma forte esquadra, composta de navios Imperiais mais outros tantos de mercenários e corsários ingleses, armados com canhões por todos os lados. Esta esquadra era composta por navios de vários países e vinham para acabar com a Revolução que já estava causando problemas na imagem do Império na Europa.

Bem, esta esquadra super bem armada saiu do Rio de Janeiro em 1837 com a missão de acabar com o movimento revolucionário. Aportou em Rio Grande, reabasteceu de mantimentos e seguiu para o “front”.

Os Farroupilhas foram avisados da força tarefa e não tinham as mínimas condições de enfrentar tal inimigo. Estava praticamente decretado o fim da revolução, tal o poderio do inimigo.

Foi aí que a criatividade, “crise” x “crie” é só tirar o “s”, se manifestou, o General David Canabarro, mandou derrubar seiscentas (600) árvores de eucalipto, pintaram de negro, removeram os galhos, serraram no formato de canhões e espalharam pelas barrancas do Rio Pardo, colocando estrategicamente entre as árvores. Pode-se até hoje encontrar estes canhões virtuais no Museu de Rio Pardo.

Quando a esquadra Imperial se aproximou, avistaram aquela imensidão de canhões de artilharia, apavorados recuaram. Em reunião dos comandantes, decidiram voltar, uns foram de volta para o Rio de Janeiro, outros tomaram outros rumos, pois não estavam assim tão comprometidos com o Império para enfrentar uma artilharia tão pesada e tão poderosa.

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OS MISTÉRIOS OCULTOS NO CHIMARRÃO

Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, estamos certos de que o chimarrão não é um mero vício ou costume do povo gaúcho, nem um simples hábito alimentar sulino aprendido com os antepassados. O chimarrão, muito mais do que isto, é um rico cerimonial ritualístico, revestido de profunda “religiosidade”.

É um ato de verdadeira “comunhão”, onde se afirma perfeita integração dos planos visível e invisível.

Nessas ocasiões erguemos um brinde ao Criador Incriado e damos boas-vindas a todos os que queiram participar da paz e da harmonia reinantes em nossa “tribo”.

Na América do Sul uma nação inteira de índios, os Guaranis, empregava este ritual, da mesma forma que seus contemporâneos, na América do Norte, ofereciam aos conquistadores o “cachimbo da paz”.

Era de tal relev6ancia o seu uso que negar-se a participar de uma dessas cerimônias eqüivalia a uma grande ofensa à divindade, ao chefe da tribo e a todo o seu povo. Era como afirmar o desejo de não integrar-se à sua comunidade. Isso os deixava muito irritados e, não raro, extremamente violentos.

Muitos dos conquistadores não compreenderam esse procedimento e sua importância religiosa e, por esse motivo, passaram por maus momentos em suas relações com os povos nativos.

Coube então, aqui no sul, aos padres catequistas da Companhia de Jesus, os Jesuítas, a tarefa de fazer “desaparecer” esse obstáculo.

Era preciso incutir uma nova mentalidade religiosa-cristã entre os silvícolas e fazer com que eles abandonassem, por completo, a sua antiga tradição de pajelança.

Tentativa inútil e infrutífera... Foram décadas de proibições desobedecidas e de muito sofrimento em ambos os lados. Finalmente, não podendo vencê-lo pela força, a Igreja o cristanizou, transformando-o em

“produto de consumo” sem maior importância; um simples hábito, uma simples tradição pagã. É, portanto, fundamental resgatar a sua importância místico-religiosa, está no momento

de restabelecer o conhecimento de nossos ancestrais, para o fortalecimento das gerações vindouras.

PAZ “Se os senhores da guerra, Mateassem ao pé do fogo, Deixando o ódio prá trás,

Antes de lavar a erva, O mundo estaria em paz”.

Mais do que nunca é preciso que tornemos realidade estas palavras. Acreditamos, firmemente que isto seja possível. Depende exclusivamente do nosso desejo, aliado à nossa vontade inquebrantável, de melhorar o mundo em que vivemos. Descruzemos os braços, preparemos um bom mate e, juntos, busquemos a paz universal! Que assim Tupã nos ajude!

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FORÇA FEMININA – MULHERES VALENTES

ANITA GARIBALDI (1835) - A HEROÍNA FARROUPILHA

(Anita Garibaldi) Ao apaixonar-se por Giuseppe Garibaldi, acompanhando o corsário Italiano na proa de navios de guerra e no lombo de cavalos, a catarinense Ana Maria de Jesus Ribeiro, a Anita, protagonizou capítulos de aberta coragem e devotado amor na Revolução Farroupilha. Sem medo do estrondo de canhões e das cargas de cavalaria que estremeciam os campos do Rio Grande do Sul, Anita conquistou o que muitos homens almejavam - A coroa de heroína. Ainda hoje, a chamada “Heroína dos dois mundos” é reverenciada no Brasil e na Itália vem merecendo estátuas, livros, piquetes de amazonas, projetos de filmes. Ganhou até homenagem perpétua: A Árvore de Anita, uma figueira bravia que vem sendo replantada em lugares históricos. Anita deixou de ser a insossa dona de casa Ana Maria de Jesus Ribeiro em julho de 1839, quando tropas farroupilhas tomaram Laguna para fundar a República Juliana em Santa Catarina. Transformou-se em Anita ao ser admirada pela luneta indiscreta de Giuseppe Garibaldi, na época com 32 anos. Nas memórias ditadas ao escritor francês Alexandre Dumas, Garibaldi contou que estava a bordo do Itaparica, vasculhando o povoado atrás de mulheres:... “Uma delas, principalmente, atraía-me a atenção”. Enamorado, o italiano desembarcou. Teria sido recebido pelo próprio marido de Ana Maria, o sapateiro Manoel Duarte de Aguiar, o desafortunado Manoel dos Cachorros. Ao deparar com os olhos negros e sedosos da jovem de 18 anos, o corsário não se conteve: “Virgem, tu serás minha!”. Em outubro de 1839, Anita decidiu acompanhar Garibaldi. Viveram um tórrido romance, nos bivaques ás margens de riachos murmurantes ou no convés de embarcações enegrecidas de pólvora. O batismo de fogo ocorreu em novembro de 1839, na praia catarinense de Imbituba.

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Uma bala de canhão atingiu a escuna Rio Pardo, matando dois marinheiros e ferindo levemente Anita. Preocupado, Garibaldi ordenou que ela se protegesse no porão da nave. Nas memórias escritas por Alexandre Dumas, autor dos clássicos os Três Mosqueteiros e o Conde de Monte Cristo, Garibaldi lembrou a resposta da mulher; “Sim desço, mas para trazer fora os covardes que ali se esconderam”. Assim era Anita - suave com Giuseppe, intrépida diante do perigo. Em janeiro de 1840, o casal lutou na batalha de Forquilhas, em Curitibanos (Santa Catarina). O livro de Garibaldi e Dumas conta como ela escapou dos imperiais:... Anita enterrou as esporas no ventre do cavalo e, de um salto, passou pelo meio do inimigo, não tendo recebido mais do que uma única bala que lhe atravessou o chapéu e levou parte dos cabelos, sem lhe tocar o crânio”.... O primeiro filho dos Garibaldi, Domingos Menotti, nasceu a 16 de setembro de 1840, na localidade de São Simão, em Mostardas, no litoral gaúcho. Mas não havia sossego naqueles tempos de pavios curtos e azeitados. Quando Menotti tinha apenas 12 dias, os imperiais atacaram São Simão, tentando capturar o corsário, que viajara para Viamão em busca de mantimentos. Garibaldi, narrou a fuga da mulher: “Anita tinha sido obrigada a montar a cavalo e, meio nua, com seu pobre filho nos braços, tinha sido obrigada a refugiar-se na floresta”. Garibaldi e Anita deixaram o Rio Grande do Sul em maio de 1841. Sempre envolvidos em revoluções, moraram no Uruguai e na Itália, onde Anita morreu, em 1849, aos 28 anos. Foi eternizada como a “heroína de dois mundos”. No Estado, vários pesquisadores cultivam a memória de Anita.” Ela foi Heróica”, diz Elma Sant’Ana, autora de oito livros de história e folclore. Um deles, Menott, o Garibaldi Brasileiro, foi publicado na Itália. Em 1992, Elma Sant’Ana fundou o Piquete Anita Garibaldi, reunindo amazonas que já desfilaram até na Itália. O legado de Anita Garibaldi não é perpetuado apenas no bronze. O Farroupilha Grupo de Pesquisas Históricas, comandado por Cary Ramos Valli, cultivou e espalhou as sementes da figueira que nasceu na quilha do Seival, o barco de Giuseppe. Vista pela primeira vez, em 1918, a planta frutificou.. Hoje, a chamada Árvore de Anita viceja nas cidades de Cristal, Viamão, Caçapava, Laguna e Porto Alegre.. “É um símbolo vivo dos farroupilhas”, destaca Cary Valli. No próximo dia 20, uma muda será plantada em Mostardas, onde nasceu Menotti.

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MARIA FRANCISCA (1835) CHICA PAPAGAIA - A DESAFORTUNADA

Maria Francisca Duarte Ferreira talvez seja a mais desafortunada das mulheres que ousaram participar da revolução no Rio Grande do Sul. Acompanhou as tropas farroupilhas na insurreição contra o Império do Brasil( 1835 - 1845), ajudou a costurar carnes rasgadas por golpes de lança e suportou o desconforto das longas marchas, mas não recebeu agradecimentos. Ao contrário , passou à história como a desventurada Chica Papagaia - a amante do general farrapo David Canabarro. E o pior: chegou a ser acusada de provocar a derrota na batalha do Cerro dos Porongos, porque estaria entretendo Canabarro dentro da barraca do quartel- general.

Nascida em Santo Antônio da Patrulha, Maria Francisca conheceu David José Martins o Canabarro, em Taquarí. Era um amor proibido, porque ela já estava casada com o farmacêutico João Duarte Ferreira. O historiador Otelo Rosa, no livro “Os Amores de Canabarro”, editado em1933 pela livraria do Globo, descreveu a aparência de Chica Papagaia na época da Revolução Farroupilha: “Era uma bonita mulher, Maria Francisca. De estatura mediana, tinha formas bem pronunciadas, fortes e rijas. Os cabelos eram pretos e longos, a tez moreno-clara. O seu encanto maior estava nos olhos negros, rasgados, profundos. Na boca, os lábios úmidos e vermelhos, trazia um constante sorriso, acolhedor e amável...”Em 1844, quando o romance incendiava os bivaques, Chica tinha 31 anos - 17 a menos que o general.

É certo que Canabarro encantou-se pelos negros olhos, pelos lábios úmidos de Maria Francisca. Ela e o Boticário João Duarte começaram a prestar serviços aos farroupilhas em 1840, no combate de Taquarí, tratando feridos. Quatro anos depois, João Duarte foi nomeado cirurgião das tropas. Os soldados divertiam-se com a situação. As zombarias aumentaram quando o marido traído apareceu com uma gaiola e um papagaio que aprendera a xingar os imperiais. O historiador Otelo Rosa transcreveu o comentário atribuído a um tal de Manduca Polvadeira: “Tenho visto gaiola feita de muita madeira diferente. Inté de osso, já vi. Mas gaiola feita de chifre aquela é a primeira que eu vejo”. Foi o que bastou para surgirem os apelidos de Doutor gaiola, para João Duarte, e de Chica Papagaia. As desventuras de Maria Francisca se conjugaram na madrugada de 14 de novembro de 1844, nas imediações de Piratini, na batalha do Cerro dos Porongos. Região de solo pedregoso e vegetação rasteira. Os 1,2 mil homens de Canabarro dormiam. Subitamente, os insones sentinelas gritaram: “O Moringue! O fuinha!”. Era o imperial Francisco Pedro de Abreu, o Astuto Moringue, atacando com 1170 praças . Foi um desastre: cem farroupilhas mortos, 300 prisioneiros mil cavalos e peças de artilharia apreendidos.

Parte da culpa recaiu em Chica Papagaia que teria amolecido o antes vigilante general Canabarro. Elma Sant’Ana, geolografa e pós-graduada em ecologia humana e folclore, observa que Maria Francisca foi injustiçada. Tivesse Canabarro assumido o romance, a exemplo do que Giuseppe Garibaldi fez com Anita, a história seria diferente. Na derrota de Porongos, o mais fácil foi acusar a amante e adúltera. Mas existem outros fatores a considerar. O general Antônio de Souza Neto, que havia proclamado a República Riograndense em 1836, prevenira Canabarro da possibilidade de ataque. Entre os imperiais, também havia oficiais brilhantes. Moringue marchara quatro noites, exigindo que os soldados abafassem o tinir de freios para surpreender os rebeldes.

Depois da tragédia, Canabarro saiu ao encalço de Moringue. Otelo Rosa registrou que o general farrapo chamou João Duarte e comunicou a dispensa: “Não convém mulheres no acampamento. E dê lembranças à dona “. Chica Papagaia morreu em 1894, em Taquarí, pobre e esquecida. Sem descendentes, não restou nada dela, nem mesmo a catacumba 548, já destruída.

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JOANA GALVÃO (1680) A GUARDIÃ DE SACRAMENTO

Há 323 anos, numa época em que a espada de Portugal e o arcabuz de Espanha disputavam os confins da América, Joana Galvão ajudou a fundar e a defender a Nova Colônia do Santíssimo Sacramento - a fortaleza de onde saíram povoadores para o Rio Grande do Sul. Em meio a soldados revestidos de armaduras, elmos e couraças, Joana enfrentou o primeiro ataque contra Sacramento. Descrita por historiadores como uma “leoa”, acabou sendo perfurada pelas lanças dos índios guaranis a serviço da coroa espanhola. Não virou heroína e nem santa - deixou o exemplo dos que preferem resistir. O Rio Grande do Sul surgiu oficialmente em 1737, quando o brigadeiro José da Silva Pais construiu o forte Jesus Maria José, no atual município de Rio Grande. Mas as origens gaúchas são mais antigas. O cordão umbilical do continente de São Pedro estende-se até a foz do Rio da Prata ( território do Uruguai ), em Colônia do Sacramento, a 500 quilômetros de distância da fronteira Riograndense. Acossados pelas invasões espanholas, muitos moradores de Sacramento vieram colonizar o Estado. A fundação de Colônia do Sacramento ocorreu em janeiro de 1680. Joana Galvão veio na frota de cinco galeões, comandada pelo mestre-de-campo e governador do Rio de Janeiro, Manoel Lobo, 44 anos. Ela acompanhava o marido, o capitão de cavalaria Manuel Galvão. “O simples fato de ela vir de Portugal para uma terra longínqua e selvagem já demonstra uma personalidade muito forte”, ressalta o historiador uruguaio Fernando Assunção, 66 anos. A expedição do fidalgo Manuel Lobo trouxe 200 soldados, alguns oficiais 18 canhões, cem barris de pólvora, alimentos, ferramentas, e tábuas para erguer Colônia do Sacramento às margens do Rio Prata. As famílias de colonos e as mulheres viriam depois. A cidadela portuguesa estava somente a 45 quilômetros de Buenos Aires. Fundada em 1534 como a mais extremada das fortificações espanholas, Buenos Aires contava menos de 20 mil habitantes Joana Galvão acostumou-se ao ambiente hostil e inóspito. Espanha logo percebeu que Portugal pretendia se expandir pela região. Com o enclave de Colônia os portugueses podiam controlar a navegação pela foz do Rio da Prata e o Oceano Atlântico. Dom Manuel Lobo iniciou a construção da fortaleza e atraiu povoadores nativos - na maioria indígenas, escravos negros e aventureiros. Índios das planícies, os charruas e minuanos corriam velozmente a pé, dominavam cavalos bravios manejavam lanças curtas e arremessavam as temíveis boleadeiras ( pedras do formato de ovo amarradas em correias de couro). Na madrugada de 7 de agosto de 1680, Antônio de Vera Muxica atacou Colônia de Sacramento, com 250 soldados espanhóis e cerca de 3 mil índios guaranis. O combate foi tão cruento quanto desigual. Os portugueses recusaram a rendição. Adoentado e convulsionado por febres, Manuel Lobo delegou a resistência para o capitão Manuel Galvão, marido de Joana. O historiador Fernando Assunção, que estuda Sacramento desde 1953, observa que não há documentos sobre o casal. “São lendas históricas”, ressalva. Manuel Galvão deveria ter 30 anos. Joana entre 20 e 25 anos. Os portugueses se bateram bravamente, mas era impossível deter a horda guarani. Indignados com o que consideravam invasão de território e açulados pelas promessas de

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saque, eles gritavam Ayuca caraiba ( morte aos brancos). Foram dizimados os 300 inimigos portugueses, arrebentando cabeças, espetando corpos. As setas transpassaram a cota de couro retorcido de Manuel Galvão. Então, surgiu Joana, recolhendo a espada do marido morto, que seria despojado pelos guaranis. “Ela foi defender a honra do marido”, destaca Fernando Assunção. Autor do livro Epopéia e tragédia de Manuel Lobo e de outras 52 obras, o historiador escreveu que Joana lutou como “uma leoa”, uma possuída”. O martírio de Joana Galvão poderia ter sido evitado, se houvesse a rendição. O doente Manuel Lobo, por exemplo, foi poupado pelo comandante espanhol Vera Muxica, numa gentileza entre fidalgos. O fundador de Colônia morreu em 1683, fulminado pelo febrão que tanto o atormentava Os espanhóis voltariam a invadir ou sitiar Sacramento, em 1705, 1735 - 1737 e 1761 - 1762. No auge, a cidadela portuguesa abrangia cerca de 25º. do atual território do Uruguai. Chamadas de “Jardim da América”, devido a abundância de manadas de gado e plantações de frutas, reunia perto de 3 mil moradores. Em 1777, Portugal entregou definitivamente Colônia à Espanha, recebendo em troca os sete povos missioneiros ( as reduções dos padres Jesuítas e índios Guaranis), que ficavam no Rio Grande do Sul.

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APOLINÁRIA CARDOSO (1893) O sangue e os estertores dos cerca de mil maragatos e pica-paus degolados durante a

Revolução Federalista de 1893 pareciam distantes de Apolinária Cardoso de Souza, pequena fazendeira em Santiago do Boqueirão. Mas quase nenhum dos 900 mil gaúchos daquele final de século estava a salvo da mais cruenta e bárbara guerra civil que já convulsionou o Estado.

Em agosto de 1894, Apolinária entrou involuntariamente no conflito, ao evitar o desaparecimento do cadáver do general maragato Gumercindo Saraiva. Cem anos depois, ganhou uma placa na praça de Itacorubi ( ex distrito de Santiago), com o elogio “Heroína do Rio Grande Antigo).

Quando estourou a guerra das degolas, entre pica-paus ( governistas do Partido Republicano Riograndense, identificados pelo lenço branco) e os maragatos ( Partido Federalista de lenço vermelho) , Apolinária de Souza estava viúva de Antônio Moraes. De idade desconhecida, ela cuidava dos rebanhos de gado e ovelha da Estância Velha, cuja casa em estilo colonial português ainda existe.

Os combates se sucediam, com degolas, castrações, pilhagens e estupros. Os soldados quase não disparavam as pesadas carabinas francesas Comblain. Alguns portavam pequenas facas, o gume afiado para secionar carótidas de pescoços inimigos. Em novembro de 1893, o maragato Adão Latorre comandou a degola de 300 pica-paus, às margens do Rio Negro, em Bagé. Em abril de 1894, a vingança : o coronel Firmino de Paula mandou abrir 370 gargantas maragatas, no Capão do Boi Preto, em Palmeiras das Missões.

Apolinária de Souza entrou na guerra em 1894. O partido Federalista, chefiado por Gaspar Silveira Martins, continuava tentando derrubar o governo de Júlio de Castilhos. A coluna maragata de Gumercindo Saraiva, então com 42 anos, sustentava a revolução. No entanto, a 10 de agosto de 1894, Gumercindo foi atingido por franco-atiradores em Caravi, perto de Santiago. Um tiro acertou o pericárdio( revestimento do coração). O médico da tropa, Ângelo Dourado, registrou, no livro Voluntários do Martírio, as últimas palavras do caudilho: “Meus filhos, vocês estão sem mim, eles me mataram...”

No dia seguinte, Gumercindo foi sepultado, em apressadas exéquias no cemitério de Santo Antônio dos Capuchinhos ( a 10 quilômetros do atual município de Itacorubi), perto da fazenda de Apolinária. Sempre sendo perseguida pela temível Divisão do Norte, a coluna maragata se dispersou. Ao passar pelo cemitério, o general pica-pau Francisco Rodrigues Lima, veterano da Guerra do Paraguai, mandou desenterrar o corpo de Gumercindo e expo-lo na beira da estrada, como trunfo de guerra. Quando os soldados se retiraram, Apolinária devolveu os restos mortais à tumba. Mas o pesadelo de infâmias e violações estava apenas começando. A retaguarda da divisão do Norte, vindo logo atrás, também queria desfilar diante do cadáver. Como não encontraram o corpo, oficiais pica-paus bateram na casa de Apolinária. Sob ameaças, ela revelou a sepultura. O cadáver voltou a ser mutilado. A cabeça de Gumercindo foi cortada ( a ordem teria partido do coronel Firmino de Paula) e posteriormente enviada a Júlio de Castilhos, como troféu. A fazenda continuou zelando os despojos do caudilho maragato. Espalhou espinhos ao redor do cadáver decapitado, para afugentar cães vadios e outros animais.

Depois, como os soldados pica-paus não voltassem, enrolou o que restava de Gumercindo numa lona e escondeu no tronco de uma árvore. Em agosto de 1895, ceifadas 10 mil vidas, foi assinado o tratado de paz. Em 1899, o general Aparício Saraiva, irmão de Gumercindo, mandou buscar o cadáver. Em agosto de 1994, a coragem e o humanismo de Apolinária de Souza foram recompensados, com placas na praça de Itacorubi e no cemitério dos capuchinhos.

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CABO TOCO COMBATEU MARAGATOS EM 1923 A pólvora que atiça os valentes e deixa nauseado os covardes significava perfume para

Olmira Leal de Oliveira, a Cabo Toco da Revolução de 1923. “Nunca tive medo de nada, queimava cartucho e acompanhava tudo”, declarou ela em 1987, dois anos antes de morrer. Tanta disposição para o combate rendeu elogios de oficiais da Brigada Militar, uma música e exposição de objetos pessoais no Museu Municipal de Cachoeira do Sul.

Nascida em Caçapava do Sul, Olmira de Oliveira tinha 21 anos quando eclodiu a revolução de 1923. De lenço vermelho ao pescoço, os maragatos da Aliança Libertadora ( embrião do Partido Libertador ) tentavam derrubar o presidente do Estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros acusado de se reeleger, pela quarta vez, mediante fraude eleitoral. Até mortos teriam votado nele. Ostentando lenço branco, os chimangos do Partido Republicano Riograndense ( P R R) queriam abafar o que consideravam inturgescias de bandoleiros. O conflito durou 324 dias, sobressaltando os 2,2 milhões de gaúchos da época.

Olmira de Oliveira alistou-se como enfermeira no 2º. Corpo Auxiliar da Brigada Militar, de Caçapava do Sul, comandado pelo coronel João Vargas de Souza. Carregava uma pequena valise de madeira com remédios, duas seringas, gaze esparadrapo, mas gostava mesmo era de alçar a mira do mosquetão Mauser. Aos 15 anos, já portava um revólver calibre 32.

Maragatos e chimangos ainda estavam ressentidos com as degolas da revolução Federalista de 1893. Mas o conflito de 1923 não foi tão encarniçado. Borges de Medeiros mandou os governistas evitarem matanças. Assestadas no topo das cochilhas, as metralhadoras Colt desencorajavam as cargas de cavalaria. O Historiador Artur Ferreira Filho calculou em menos de 1 mil o total de mortos. Não há registros de que Cabo Toco tenha alvejado algum maragato nos tiroteios.

Cabo Toco também atuou como espiã. Vestindo-se de homem, ela se aproximava das fazendas, para identificar possíveis inimigos. Audaciosa espionou as tropas de José Antônio Netto, o Zeca Netto, na época com 69 anos. Como teria namorado a Mãe de Cabo Toco, Auta Leal de Oliveira, Zeca Netto conhecia a visitante chimanga. Ela narrou, na entrevista de 1987, o encontro com o caudilho: “Zeca Netto me mandou descer do cavalo. E eu, com espírito de macaco, cuidava de um lado e de outro. Ele mandou assar uma costela, e eu sempre cuidando para ver se ele não ia envenenar a carne. Começou a me aconselhar a desistir da revolução e voltar para casa... Cabo Toco recusou o conselho. Contou tudo ao coronel João Vargas, que atacou os maragatos na madrugada seguinte, sem êxito.

Depois de 23, Cabo Toco voltaria a queimar cartuchos nos movimentos revolucionários de 1924 e 1926. Em 1951, casou-se com Antônio Martins da Silva, mas não teve filhos. Em 17 de julho de 1963,o coronel João Vargas atestou os “relevantes serviços ”prestados por Cabo Toco : .... “Não só trabalhando como enfermeira, mas também tomando parte ativa nos combates, onde mostrou destemor e valor pessoal”.

Nos últimos tempos, viúva Cabo Toco morava num casebre, em Cachoeira do Sul. Sempre usando guarda- chuva e casaco escuro semi-comprido, fosse inverno ou verão, ela andava numa carreta verde de duas rodas, fazendo pequenos fretes para sobreviver. O chicote estalando no ar e o imaginário revólver escondido na cintura assustavam as crianças.

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“Lá vem a Cabo Toco” gritavam elas, quando viam assomar a carroça tripulada pela carrancuda velhinha que se inebriava com o cheiro de pólvora.

A professora Rosana Sena dos Santos, 36 anos, era uma das que temia Cabo Toco. Num dia , já adulta, Rosana resolveu descobrir a razão do apelido de Olmira . Medindo 1m58 cm, postou-se ao lado da veterana de 1923. “Vi que ela era um pouco menor que eu”. constatou a professora. Em 1987, Cabo Toco ganhou uma música, composta por Nilo Brum. Subiu no palco da 5º. Vigília do Canto Gaúcho, em Cachoeira do Sul, e foi aplaudida. Logo depois recebeu pensão da Brigada Militar e mais homenagens. Em Ijuí, foi criado o Grupo de Artes Nativas Cabo Toco, congregando civis e militares. Ela morreu em outubro de 1989, com a aura dos que são batizados no fogo de batalhas.

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FRUTUOSA ENFRENTOU O LEÃO DO CAVERÁ

Frutuosa de Souza Américo não temia o matraquear das metralhadoras, os relinchos de cavalos, as imprecações dos feridos, a lividez dos que tombavam atingidos por balas ou golpes de espada. Ao contrário ela sentia-se à vontade nos campos de batalha, em meio aos fumos de pólvora e aos canos dos fuzis. Chamada de Frutuosa Silveira no 2º. Regimento de Polícia Montada ( 2º. RPMon) de Santana do Livramento, combateu nas revoluções de 1923 e 24. Tentou ir a São Paulo, para Lutar em 1930 e 32, mas não obteve permissão da Brigada Militar.

A trajetória de Frutuosa Silveira foi resgatada pelo jornalista e historiador Ivo Caggiani, 65 anos, de Livramento. Mulher do soldado-clarim Rosalino Silveira, do 2º. RPMon, Frutuosa decidiu lutar na Revolução de 1923 contra os maragatos (Aliança Libertadora) que tentavam derrubar o governo de Antônio Augusto Borges de Medeiros.

O batismo de fogo ocorreu justamente contra o caudilho Honório Lemes da Silva - um dos mais destemidos generais rebeldes.

As tropas do 2º. RPMon, com Frutuosa na retaguarda, se encontraram com a coluna de Honório Lemes em 6 de maio de 1923, no Passo dos Guedes a 15 quilômetros de Livramento. O caudilho vinha com cerca de 1,5 mil homens, para tentar invadir a cidade. Os batedores maragatos teriam atirado primeiro. Mas Honório Lemes precisou recuar porque era impossível enfrentar as metralhadoras Colt somente com alguns mosquetões de repetição Mauser, poucas carabinas Winchester e as Comblain de um tiro só. No relatório do 2º. RPMon, consta que umas “varejadas de metralha” dissuadiram os inimigos.

Os maragatos pegaram em armas porque recusavam a quarta reeleição de Borges de Medeiros pelo Partido Republicano Riograndense( PRR). Borges havia batido o candidato da Aliança Libertadora, o diplomata e fazendeiro Joaquim Francisco de Assis Brasil, por 106.319 a 32.217 votos. Houve várias denúncias de fraudes na eleição. O plano dos rebelados era conflagrar o Estado, para provocar uma intervenção do Governo Federal.

Última revolução a cavalo, a de 23 registrou combates esparsos. O maior duelo ocorreu entre a coluna de Honório Lemes e a Brigada do Oeste, comandada por José Antônio Flores da Cunha. Até mesmo os chimangos ( governistas) destacaram a bravura de Honório Lemes, na época com 59 anos. O elogio inscrito nos registros do 2º. RPMon: “O grande adversário desta Brigada foi o general Honório Lemes, o mais indômito guerreiro justamente apelidado de Leão do Caverá....”

Frutuosa Silveira não se assustou com a fama do Leão do Caverá. Em junho de 1923, ela voltaria a se bater contra os maragatos, na Picada do Aipo, a 70 quilômetros de Livramento, também como voluntária. Foi incumbida pelo então tenente Venâncio Batista de alcançar munição aos soldados. Comandados pelo Coronel Chiquinote Pereira, os revolucionários não suportaram o melhor armamento do2º. RPMon. O registro do combate feito pelos oficiais da Brigada “o fogo das armas, se não causou grandes baixas ao inimigo, ao menos obrigou-o a abandonar suas posições...

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Depois dos entreveros, Frutuosa lavou roupas para sobreviver. Os principais clientes eram oficiais do 2º. RPMon. Sem filhos naturais, adotou três crianças. “Ela era muito serviçal, prestativa”, diz Maria Edith Severo, 72 anos, uma das adotivas.

Maria Edith lembra de histórias de guerra. Frutuosa cortava o charque do almoço na carona (couro de sola, usado no lombo do

cavalo para amortecer o impacto da sela) e seguidamente depenava galinhas marchando, porque quase não havia tempo para acampar.

Um dos netos, Amauri Severo de Oliveira, 43 anos, recorda narrativas de degola. Os historiadores afirmam que as atrocidades de 1893 quase não se repetiram na Revolução de 1923, mas Frutuosa teria contado aos familiares que abriu gargantas de inimigos feridos. Um dia, já bem velhinha, ela ficou tonta e caiu no açude enquanto lavava roupa. Depois, comentou em casa: “É um dos que ajudei a degolar que está querendo me puxar”. Frutuosa morreu em março de 1968, aparentando cerca de 75 anos. Os familiares não sabem onde e quando ela nasceu.

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Zeferina Dias (1924) Combateu a Coluna Prestes

Quando a Coluna de Luiz Carlos Prestes partiu do município de Santo Ângelo disposta a sublevar o Brasil, em 28 de outubro de 1924, a voluntária Zeferina Dias, a Bolachinha, acompanhou as Tropas da Brigada Militar ( B M ) na tentativa de deter os revoltosos.

Em 3 de janeiro de 1925, Zeferina participou do tiroteio de mais de 12 horas contra as forças de Prestes, no combate da Ramada, em Palmeiras das Missões. Como o gás das metralhas, a fumaça dos campos incendiados e a pólvora queimavam a garganta dos soldados, ela arriscou a vida para buscar água nos riachos. “completamente alheia ao perigo das balas que sibilavam em torno de si, foi distribuindo o ambicionado liquido aos sequiosos combatentes”, elogiou o coronel Orestes Carneiro da Fontoura no relatório da B M.

O jornalista e historiador Ivo Caggiani, 65 anos, recuperou a trajetória de Zeferina Dias num livro sobre o 2º. Regimento de Polícia Montada ( R P Mont), de Santana do Livramento. Autor de 10 livros e biografias, Caggiani descobriu que Zeferina destacou-se na Revolução de 1924, contra a Coluna Prestes . Mas não existem maiores informações sobre a combatente. Não se sabe onde nasceu, data da morte, nem os motivos para o apelido de Bolachinha. Como outras voluntárias, quase foi esquecida.

O combate de Ramada (atualmente fica em Ajuricaba, que se desmembrou de Palmeiras das Missões) foi cruento, medonho, renhido. As tropas do 2º. RPMon, com Bolachinha na retaguarda, chegaram à região em 2 de janeiro de 1925.

Às 8 h. do dia seguinte, o confronto. No início, tiroteios esparsos, entre patrulhas avançadas. Firmadas as trincheiras os gatilhos não descansaram. O relatório da Brigada Militar elogiou a estratégia de Prestes, na época com 26 anos de idade: ... “cumpre registrar a manobra astuta do comandante da coluna, nos momentos que precederam o combate, quando queimou campos para assim esconder e disfarçar seus movimentos, protegido pela fumaça”.

As cortinas de fumaça que se desprendiam do capim ressequido, o calor, os gases expelidos pelas câmaras de propulsão das metralhadoras e os fumos de pólvora logo ressecaram gargantas. O coronel Orestes da Fontoura, que lutou como tenente em Ramada, registrou o suplício: “... os homens tinham a boca e a garganta secas, e nos lábios formavam-se uma crosta endurecida que, de momento a momento, era preciso arrancar por incômoda e nauseante”.

Quando a sede atormentava tanto quanto as balas inimigas, surgiu Zeferina Dias, a Bolachinha. Com duas garrafas de água por vez, socorria os soldados. Ignorando o zunir dos tiros montava num pequeno cavalo branco e voltava a se abastecer no arroio. O coronel Fontoura descreveu a Sena no seu relatório : “Além do desprezo pelo perigo a que se achava exposta percorrendo a linha, via-se em seu rosto jovem a satisfação com que desempenhava aquele ato de solidariedade humana

Podendo carregar duas garrafas por vez, Bolachinha, conseguia apenas aliviar as gargantas afogueadas. O coronel Fontoura contou como ela tentava distribuir as doses com igualdade: “..... quando algum homem reclamava ou queria forçá-la a dar-lhe maior quantidade de água, ela, sorrindo, dizia-lhe carinhosamente, ali, ainda não beberam”.

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O capitão Luiz Carlos Prestes rompeu o cerco, deixando 49 mortos, e iniciou a marcha que se estenderia por 25 mil quilômetros e só terminaria em 3 de fevereiro de 1927. Chamado de o Cavaleiro da Esperança, Prestes não conseguiu reformar o país e derrubar o então presidente Artur Bernardes, mas realizou possivelmente a maior marcha da história militar. As tropas do 2º RPMon não puderam ir atrás dos rebeldes. Não havia munição. Os cavalos estavam estropiados. Os cinco dias de vigília incessante, as 12 horas de “feroz combate” e sede haviam prostrado os soldados. Mas o coronel Fontoura destacou a bravura de Zeferina Dias: ... Bolachinha deixou em todos um grande sentimento de gratidão e, ao mesmo tempo, de admiração pela sua coragem e dedicação.

Seria justiça que este fato constasse na história da Brigada Militar “. .

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- CONSIDERAÇÕES FINAIS -

Uma Guerra Equilibrada A Revolução Farroupilha ficou marcada pelo equilíbrio nos combates entre as tropas do

Poderoso Império do Brasil e pelo corajoso e valente exército Riograndense, onde o amor à querência e ao torrão gaúcho, transformou homem da terra em verdadeiros guerreiros imbatíveis, os “Centauros do Pampa”. Centauros porque não se podia identificar onde terminava o cavalo e onde começava o homem, os dois quando em combate eram uma coisa só, parece que os cavalos que nascem aqui já nascem fortes e destemidos. Foram 118 confrontos bélicos e escaramuças com 59 vitórias para cada lado, sendo que nos anos de 1835, 1836, 1837, 1838 e 1839, houve ampla vantagem dos farroupilhas sobre os imperiais, o predomínio era marcante. Já de 1840 a 1844 a vantagem foi das forças imperiais, neste período o Rio Grande já estava desgastado por uma guerra tão longo e tão cara, a economia gaúcha estava liquida e a moral das tropas muito ruim. Mas em 1845, finalmente foi assinado o tratado de Ponche Verde, não houveram vencedores nem vencidos, aliás todos perderam e muito, com este acordo a paz voltou a reinar sobre o pampa Gaúcho, marcado por sangue e pólvora. Ficaram os ideais farroupilhas os quais preservamos até hoje, na busca de uma sociedade mais justa e mais humana.

“Liberdade, Igualdade e Humanidade”.

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Epílogo

Meus IIr∴ na Arte Real não há epílogo, cada um de nós é a continuidade do trabalho de outro irmão que nos antecedeu. A Ordem Maçônica é a mais importante obra simbólica da humanidade, por isso não tem início determinado e enquanto existir vida neste planeta estaremos trabalhando em prol da construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.

“Haverão dias em que não mais existirão fronteiras, barreiras, discriminação, racismo e tantas outras chagas que afligem a humanidade, neste dia haverá uma Maçonaria Universal onde todos serão iguais vigorando aí a nova ordem planetária o Reino da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.”

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FONTES DE CONSULTA A Bíblia Sagrada História do Brasil - Bloch Editores - Vol.II A Legenda e a Histórica da Maçonaria - Arão História Secreta - Gustavo Barroso Revelações históricas da Maçonaria - José Luiz Silveira Os Maçons: Vida e Obra – Morivalde Calvet Fagundes O Ensino Universitário e as Fontes da Rev. Farroupilha Os Maçons Vida e Obra – Morivalde Calvet Fagundes Cancioneiro da Revolução de 1835 - Apolinário P. Alegre Aparas do Tempo - Moysés Velinho - Ed. Erus Estância “poemas Diversos”- Ubiracy Silveira Borges O Continente - Érico Veríssimo - Ed. Globo Jornal O Continentino - 1831 - R. da Igreja, 67 Os Mistérios Ocultos no Chimarrão – Wilson Tubino – Ed. Evangraf

OBRAS DO AUTOR √ Série de Estudos Maçônicos:

ð “A Pedra Bruta” (01) Curso para Aprendizes e estudiosos de Maçonaria. ð “A Pedra Cúbica” (02) Curso para Companheiros e buscadores da Luz. ð “A Construção” (03) Curso para Mestres Maçons, e a caminhada continua. ð “Tratado da Pedra Filosofal” (04) Uma viagem pela alma e pela psique Humanas. ð “Tratado de Filosofia Maçônica” (05)

A verdadeira filosofia Maçônica apresentada de uma forma inédita, através dos diálogos de Lessing.

ð “Epopéia Farroupilha e a Maçonaria Riograndense”(06) A História contada pelos seus próprios personagens.

√ Outros Temas:

ð “NO AR ! Ah! Fazer Rádio.

A história do Rádio contada pelos microfones.

Epopéia Farroupilha e a Maçonaria Riograndense

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