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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 22, pp. 39 - 64, 2007 REDE DE DRENAGEM URBANA EM ÁREA TROPICAL: MUDAN- ÇAS NA MORFOLOGIA DO CANAL E NÍVEIS DE POLUIÇÃO DAS ÁGUAS – RIO DOS MACACOS – RIO DE JANEIRO – RJ Luciano Marin Lucas* & Sandra Baptista Cunha** *Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e-mail: [email protected] **Professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal FluminensePesquisadora do CNPq. E-mail:[email protected] RESUMO: O presente trabalho, realizado na área urbana da cidade do Rio de Janeiro, teve como objetivo analisar as variações ocorridas na morfologia do canal do rio dos Macacos, bem como avaliar os níveis de poluição das águas ao longo do perfil longitudinal, em virtude da atuação antrópica. A área de estudo foi monitorada no período de março de 2002 a fevereiro de 2003. As mudanças na morfologia foram identificadas através da relação entre as variáveis obtidas em campo, como largura, profundidade, área da seção transversal, raio hidráulico e relação largura/profundidade (L/P). Para a avaliação dos níveis de poluição das águas do canal foram feitas interpretações dos valores obtidos dos parâmetros pH, OD, DBO e colimetria. No período estudado, as maiores variações na morfologia foram identificadas na área das seções transversais, onde ocorreu a erosão do canal (aumento da capacidade do canal de até 0,28m 2 no PT1) e o assoreamento acentuado identificado através da redução do canal de até 0,90m 2 no PT5. Quanto ao nível de poluição da água, foram identificados índices extremamente elevados de coliformes fecais de até 1.600.000 NMP/100 ml para todos os pontos, enquanto que, valores reduzidos de OD e DBO foram identificados próximos a jusante, provenientes da maior concentração de efluentes. PALAVRAS-CHAVE: Geomorfologia fluvial; canais urbanos; rio dos Macacos; qualidade da água; atuação antrópica. ABSTRACT: The present work, accomplished in the urban area of the city of Rio de Janeiro, aimed to analyze the variation occurred in the morphology of Macacos river channel. The levels of pollution in the waters along the longitudinal profile was also evaluated due to human actuation. The area was monitored from March 2002 until February 2003. The changes in the morphology were identified through the relation among variables obteined in field, as width, depth, cross-sectional area, hydraulic ray and relation width/depth (W/D). In order to evaluate the levels of pollution in the waters of the channel some interpretation of the obtained values from parameters pH, DO, BOD and colimetry were performed. In the studied period, the largest variation in the morphology were identified in the cross-sections area where occurred the erosion of the channel (which increased the channel capacity to 0,28m 2 in PT1) and high deposition identified through the reduction of the channel to 0,90m 2 in PT5. Regarding to the level of water pollution, extremely high rates of fecal coliform were identified (1.600.00 NMP/100 ml for all the points), whereas reduced values of DO and BOD were identified next to downstream, due to the largest effluent concentration. KEY WORDS: Fluvial geomorphology, urban channels, Macacos river, water quality, human actuation.

Drenagem Rio Dos Macacos

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  • GEOUSP - Espao e Tempo, So Paulo, N 22, pp. 39 - 64, 2007

    REDE DE DRENAGEM URBANA EM REA TROPICAL: MUDAN-AS NA MORFOLOGIA DO CANAL E NVEIS DE POLUIO DAS

    GUAS RIO DOS MACACOS RIO DE JANEIRO RJ

    Luciano Marin Lucas*&

    Sandra Baptista Cunha**

    *Mestre em Geografia pelo Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiroe-mail: [email protected]

    **Professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal FluminensePesquisadora do CNPq. E-mail:[email protected]

    RESUMO:O presente trabalho, realizado na rea urbana da cidade do Rio de Janeiro, teve como objetivoanalisar as variaes ocorridas na morfologia do canal do rio dos Macacos, bem como avaliar osnveis de poluio das guas ao longo do perfil longitudinal, em virtude da atuao antrpica. Area de estudo foi monitorada no perodo de maro de 2002 a fevereiro de 2003. As mudanas namorfologia foram identificadas atravs da relao entre as variveis obtidas em campo, como largura,profundidade, rea da seo transversal, raio hidrulico e relao largura/profundidade (L/P). Paraa avaliao dos nveis de poluio das guas do canal foram feitas interpretaes dos valoresobtidos dos parmetros pH, OD, DBO e colimetria. No perodo estudado, as maiores variaes namorfologia foram identificadas na rea das sees transversais, onde ocorreu a eroso do canal(aumento da capacidade do canal de at 0,28m2 no PT1) e o assoreamento acentuado identificadoatravs da reduo do canal de at 0,90m2 no PT5. Quanto ao nvel de poluio da gua, foramidentificados ndices extremamente elevados de coliformes fecais de at 1.600.000 NMP/100 mlpara todos os pontos, enquanto que, valores reduzidos de OD e DBO foram identificados prximosa jusante, provenientes da maior concentrao de efluentes.PALAVRAS-CHAVE:Geomorfologia fluvial; canais urbanos; rio dos Macacos; qualidade da gua; atuao antrpica.ABSTRACT:The present work, accomplished in the urban area of the city of Rio de Janeiro, aimed to analyze thevariation occurred in the morphology of Macacos river channel. The levels of pollution in the watersalong the longitudinal profile was also evaluated due to human actuation. The area was monitoredfrom March 2002 until February 2003. The changes in the morphology were identified through therelation among variables obteined in field, as width, depth, cross-sectional area, hydraulic ray andrelation width/depth (W/D). In order to evaluate the levels of pollution in the waters of the channelsome interpretation of the obtained values from parameters pH, DO, BOD and colimetry wereperformed. In the studied period, the largest variation in the morphology were identified in thecross-sections area where occurred the erosion of the channel (which increased the channel capacityto 0,28m2 in PT1) and high deposition identified through the reduction of the channel to 0,90m2 inPT5. Regarding to the level of water pollution, extremely high rates of fecal coliform were identified(1.600.00 NMP/100 ml for all the points), whereas reduced values of DO and BOD were identifiednext to downstream, due to the largest effluent concentration.KEY WORDS:Fluvial geomorphology, urban channels, Macacos river, water quality, human actuation.

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    I- Introduo

    O interesse pelo reconhecimento dascaracter s t i cas dos cana is f luv ia i s temcrescido em todo o mundo, principalmente apartir de quando o homem, como agentemodelador da paisagem, passou a interferirna d inmica e forma dos cana is . Aimportncia dos rios no reside somente nofato destes serem um dos agentesgeolgicos mais expressivos no modeladoda superfcie terrestre, mas tambm por seapresentarem como um cond ic ionanteambienta l da prpr ia v ida do homem(SUGUIO e BIGARELLA, 1990).

    Desde os primrdios, as civilizaesantigas prosperavam s margens dos rios,buscando conhecer sua dinmica para finsde navegao e abastecimento de gua.Hoje, cerca de 80% da populao do Brasilencontra-se nos grandes centros urbanos,ocasionando uma super ocupao do espaoque, associado falta de conscientizaoquanto a importncia dos ambientes fluviaisna vida do homem, gera a deter ioraodestes ambientes.

    Uma das principais conseqncias soas enchentes, provenientes da ineficcia docanal em transportar um grande volumedgua, dev ido mui to vezes, aoassoreamento do le i to , gerado pe loaumento do transporte de sedimentos e del ixo para o cana l , or iundo das reasimpermeveis. Alm disso, casos tpicos,como a poluio das guas, tambm podemser observados, em que os canais recebemdiar iamente ef luentes domst icos eindustriais, bem como resduos slidos (lixo),comprometendo o ecossistema ali presente.

    As mudanas em uma bac iahidrogrfica ou em um canal podem variarsob influncia do processo de urbanizao,estabe lecendo-se novas cond ies deequilbrio. Essas mudanas registram-se deacordo com a escala temporal, podendoocorrer ao longo do tempo geolgico ou emum curto prazo (WOLMAN, 1967). Segundo

    o autor, o processo ou ciclo de urbanizaode uma bacia, que ref let ido no canal,consiste em trs fases: a inicial estvelou condio de equilbrio, cuja paisagemcaracteriza-se pela agricultura e florestas;a de construo na qual a terra apresenta-se nua e exposta eroso; e a final emque preva lece uma nova pa isagemimpermeve l dominada por ruas,residncias, indstrias, edificaes, etc.

    O conhecimento das caractersticasfluviais importante no somente para oentendimento da morfologia e dinmica doscanais, mas tambm como pr-requisito parauma proposta de recuperao eplanejamento destes ambientes (PERRONEe BARROSO, 1996) . O surg imento deproblemas ambientais graves, com reflexossobre o prprio homem, o levou a melhorcompreender os fenmenos naturais e aentender que deve ag i r como partein tegrante do s i s tema natura l . Es taconsc ient izao, entretanto, a inda noa lcanou uma parce la s ign i f i cat iva dapopulao, que cont inua a provocarmudanas drst i cas nos ecoss is temas,alterando-os de forma a prejudicar seuscomponentes, entre eles o prprio homem(MOTA, 1997).

    Problemticas como as inundaes ea poluio das guas so resultados domanejo inadequado dos recursos naturais,no qual o processo de ocupao do espaopr ior i za os in teresses po l t i cos eeconmicos, degradando o meio ambientee diminuindo a qualidade de vida (CUNHA eGUERRA, 1996). Portanto, no somenteestudos cientficos expressivos devem serdesenvo lv idos nestes ambientes mas,tambm, necessria a part ic ipao dasociedade, atravs da conscientizao douso rac iona l dos recursos , para que aresposta da natureza sobre as aesantrpicas no traga danos ainda maioresa populao.

    Para PORTO et al. (1997), as melhores

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    solues para estes problemas so obtidasa partir de uma compreenso integrada doambiente urbano. O conceito de drenagemurbana no mais se restringe a engenhariamas eng loba tambm a um prob lemagerenc ia l , com componentes po l t i cos esociais.

    Estudos integrados com equipesinterdisciplinares, que conheam os vriosprocessos atuantes em um problema, somais e f i cazes, dev ido a complex idadeambienta l em que esto inser idos osambientes urbanos. Cons iderando-se agrande quant idade de ambientes

    degradados e a crescente necessidade degua potve l , torna-se essenc ia l acaracter i zao dos impactos nos r ios .Estudos no menos importantes, como osde restaurao dos ecoss is temasdegradados, e propostas de diminuio doimpacto, levando em cons iderao asre laes soc ioeconmicas , garantem oprocesso de modernizao sem degradar omeio ambiente, atravs do desenvolvimentosustentvel (MUEHE e VALENTINI, 1998).

    Pensando n isso, a Secretar iaMunicipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio

    Figura 1 Localizao do rio dos Macacos

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    de Janeiro implantou o projeto denominadoGuard ies dos R ios que cons is te nacontratao de moradores de baixa rendadas comunidades ribeirinhas, tendo comoobjet ivo pr inc ipa l o monitoramento e alimpeza sistemtica em mais de 50 rios doMunicpio. A contribuio deste trabalho deextrema importncia, pois com a presenaconstante dos guardies possvel estarinformado sobre as mudanas que ocorremno canal como variao da vazo, fontes depoluio e quantidade de resduos slidosretirados do leito e das margens do canal.

    Estudos geomorfolgicos que envolvam oreconhecimento, a anlise (quantitativa e qualitativa)e a avaliao dos canais podem fornecer informaesimportantes sobre a forma e os processos fsicosatuantes no sistema fluvial (THORNE et al., 1996).Desta maneira, a adaptao de estudosdesenvolvidos em regies temperadas para regiestropicais podem trazer solues alternativas para amanuteno do canal, de modo que ele possa

    recuperar parte de suas caractersticas naturais.

    Este trabalho, realizado entre o perodo demaro (2002) e fevereiro (2003), teve comoobjetivos identificar as mudanas ocorridas namorfologia e no comportamento sedimentolgico docanal do rio dos Macacos (RJ), bem como avaliar osnveis de poluio de suas guas, devido a atuaoantrpica, com a finalidade de buscar alternativaspara a recuperao das caractersticas naturais docanal e do ecossistema, contribuindo para a gestodo mesmo.

    A rea em questo compreende o rio dosMacacos (4,81km), incluindo seus afluentes (riachodo Pai Ricardo, rio Algodo, rio Cabea e rio Rainha),localizados na cidade do Rio de Janeiro (Figura 1).Suas nascentes esto situadas na vertente sul domacio da Tijuca, drenando suas guas para a lagoaRodrigo de Freitas. Para facilidade de anlise, o riodos Macacos foi dividido em setores (A, B e C) porapresentar caractersticas distintas observadas emcampo quanto a morfologia e aos nveis de poluiodas guas ao longo do canal (Figura 2).

    Figura 2 Perfil Longitudinal do rio dos Macacos identificando a confluncia com: (1) riacho do PaiRicardo, (2) rio Algodo, (3) rio Cabea e (4) rio Rainha. (A), (B) e (C) setores do canal. Os pontosPT1, PT2, PT3, PT4 e PT5 indicam os locais de amostragem.

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    II- Aspectos Gerais da rea

    A bacia do rio dos Macacos est inseridano macio da Tijuca, composto por rochascristalinas do complexo Paraba do Sul (SERLA,1990). As rochas predominantes so osgnaisses e migmatitos altamente tectonizados,provenientes de esforos compressivos nosentido SE-NW ocorridos no pr-cambrianoinferior a mdio.

    Durante o pr-cambriano mdio esuperior ocorreram intruses granticas,compostas por uma diversidade de rochas,predominando os granitos ps-tectnicos deestrutura fluidal, evidenciada pela orientaodas palhetas de biotita. As rochas bsicas(basalto e diabsio) so provenientes deintruses ocorridas no cretcio-jurssico,dispostas em forma de diques discordantes emvrias direes (SERLA, 1990). De modo geral,o canal segue uma linha de falha com direoW-L e desenvolve seu vale em relevo dobradoformado por rochas cristalinas e diques dediabsio (EMBRAPA, 1992). Os sedimentos comocascalhos, areias e siltes inconsolidados,provenientes do intemperismo destas rochas,encontram-se na calha do rio que, atravs dofluxo da gua, os transporta para a LagoaRodrigo de Freitas.

    A bacia do rio dos Macacos encontra-seinserida na unidade morfolgica macioscosteiros, representada pela serra da Carioca.Nas encostas possvel observar os depsitosoriginados pelo transporte por gravidade e quese intensificam em perodos de chuva intensa.A evoluo desses processos resulta na plancieinteriorana com pouca variao de declividade,variando com relao ao assoreamento e adeposio de sedimentos transportados pelorio. Os solos originados dos processos erosivosconsistem em latossolos, nas regies de menorinclinao e neossolos e cambissolos nasregies onde a inclinao mais acentuada(EMBRAPA, 1999).

    As mdias anuais de precipitao variamentre 1.500mm e 2.500mm (COSTA, 1995). Deacordo com BRANDO (1997), nos ltimos anos,

    o aumento da atuao do homem sobre oambiente fez com que a intensidade e afreqncia das chuvas, no municpio do Rio deJaneiro, se elevasse. O crescente aumentourbano traz como conseqncia a reduo dasreas verdes, o que contribui para a aceleraodos processos erosivos, fornecendo maiorquantidade de sedimentos para os canais,assoreamento e intensificando as inundaes.

    Frente a pluviosidade observa-sereduzida capacidade de armazenamento dagua pelos solos que cobrem os pontos maisaltos da bacia (nascente) por causa da sua finaespessura. Sendo assim, apenas uma pequenaparcela da gua fica retida no solo enquantoque a maior parte escoa pela superfcie at osrios (afluentes e principal), provocando osregimes de cheia.

    Em perodos de pouca ou nulapluviosidade ocorre uma diminuio da vazo,uma vez que o escoamento superficial, que oprincipal responsvel pelo fornecimento devolume de gua para o canal, apresenta-sepraticamente nulo. Assim, o rio passa a seralimentado apenas pelos reservatriossubterrneos.

    Nos pontos mais baixos, onde ogradiente do canal apresenta pouca variao,o escoamento superficial ainda o principalresponsvel pela contribuio hdrica para ocanal, pois estas reas apresentam-sedensamente ocupadas e modificadas pelaatuao antrpica. Como conseqncia desteprocesso ocorre a impermeabilizao do solo,impossibilitando a infiltrao da gua.

    O rio dos Macacos possui uma extensode 4,81 km, podendo ser separado em setores(A, B e C), de acordo com suas caractersticasmorfolgicas e em relao aos nveis de poluiodas guas (Figura 2):

    Setor A localiza-se entre as cotas de500 e 20m de altitude, com uma extenso de3,41 km. Nesse setor, a elevada variao dogradiente justifica a forma do vale em V, onde o

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    processo de entalhamento do talvegue e aproduo de sedimentos ocorre de forma maisexpressiva, por causa do aumento da energiado fluxo. As margens so compostas por blocosrochosos e mata ciliar, ao passo que o leitoapresenta grande quantidade de seixos emataces, bem como, areias e matria orgnica.Nesse trecho pode-se observar a expanso defavelas de forma desordenada, sendo apopulao ocupa a margem do canal, utilizandoo rio como local de depsito de lixo e delanamento direto de esgoto domstico. Outrofator ainda mais agravante refere-se aolanamento de produtos industriaisprovenientes de uma lavanderia,comprometendo a qualidade e o aspecto dagua.

    Setor B Corresponde ao trecho do riodentro do Jardim Botnico, com uma extensode 1,12 km e entre as cotas de 20 e 5m dealtitude, em que o canal apresenta a ampliaoda calha e do fundo do vale em razo dadiminuio da declividade. As obras decanalizao, utilizando blocos rochosos para aproteo das margens, tiveram incio no 1Reinado quando, em 1824, foram feitos vriosaterros nas margens. No 2 Reinado foramaterradas reas prximas ao canal e deu-seincio ao processo de retificao e desvios departe do mesmo (EMBRAPA, 1992). Desde ento,o canal vem sofrendo modificaes devido faltade manuteno dos blocos encaixados, os quaisconstituem as margens e que, com o tempo,esto sendo erodidos, permitindo que caiam noleito do rio.

    Os sedimentos caracterizam-se pelamaior quantidade de areia e seixos de menorcalibre que os encontrados no setor anterior eque passam a se acumular no leito do rio. Aindaneste setor, possvel observar o lanamentode efluentes domsticos no canal e em seusafluentes (rio Algodo), provenientes deedifcios prximos ao Jardim Botnico.

    Setor C Inicia-se na cota de 5m dealtitude at desaguar na lagoa Rodrigo deFreitas sobre a cota de 2m. Com um trecho de

    0,28 km, as margens e o fundo do leito foramalterados por obras de engenharia maisrecentes, atravs da concretagem que,associadas s chuvas concentradas e asrespostas imediatas da vazo, acentuam osproblemas de inundao local. possvelobservar a formao de bancos de areia eassoreamento no leito, em razo da diminuioda capacidade de fluxo, associado ao baixogradiente de declividade.

    Neste setor, no s o lanamento deesgoto pode ser observado, como tambm oescoamento pluvial que, em perodos de chuva,contribui para a poluio do canal, atravs dotransporte de detritos e lixo. As guasapresentam colorao escura, devido ao esgoto,ao lixo e aos sedimentos em suspenso.

    III- Condicionantes Climticos, hidrolgicos eantrpicos.

    III.I- Anlise dos dados pluviomtricos

    Para a anlise das variaes namorfologia do canal, fez-se necessrio obter osvalores dirios e totais mensais de precipitaodos meses de janeiro de 2002 a fevereiro de2003, da Estao Climatolgica Auxiliar doJardim Botnico (Figura 3). Em termos de totaispluviomtricos, a precipitao anual registradano perodo foi de 2.054mm

    Os meses mais chuvosos foramnovembro de 2002 (356mm) e janeiro de 2003(360mm). Este fato est relacionado maiordistribuio de chuvas que ocorreram em 19dias do ms de janeiro enquanto que emnovembro a precipitao mais expressivaocorreu de forma concentrada entre os dias 06e 07 (103,4mm e 122mm) (Tabela 1).

    As chuvas constantes ao longo do msde janeiro, com destaque para as precipitaesregistradas entre os dias 25, 26 e 27 (54,8mm,32,4mm e 92,3mm, respectivamente), foram asprincipais responsveis pelas maioresmodificaes na morfologia ao longo do canal,de acordo com o observado no trabalho decampo realizado em 10/02/03.

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    Figura 3 Totais mensais de precipitao entre os meses de janeiro de 2002 e fevereiro de 2003.Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) / Sexto Distrito de Meteorologia (6 DISME)

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    III.II- Parmetros da morfodinmica do canal

    O processo de urbanizao, decorrentedo desenvolvimento urbano, reflete diretamentenas caractersticas fsicas dos canais fluviais,trazendo como resultado o processo de eroso,assoreamento e diminuio na capacidade docanal, bem como, o aumento da precipitao eimpermeabilizao do solo. Mudanas ocorridasnas bacias de drenagem podem ter causasnaturais, entretanto, nos ltimos anos, o homemtem atuado como um agente acelerador dosprocessos modificadores e de desequilbrios dapaisagem (CUNHA e GUERRA, 1996).

    Segundo EBISEMIJU (1989) os impactosda atividade humana sobre o meio ambientepodem ser de dois tipos: diretos e indiretos.Porm, os mais significativos so os indiretos,originados pela urbanizao, que envolve asmudanas no uso da terra, na rede de canais,na precipitao e temperatura, na criao desuperfcies impermeveis, na propriedade eestrutura do solo e exposio da superfcie dosolo atravs do desmatamento.

    Ao estudar a regio de Ado-Ekiti, um dosprincipais centros urbanos da Nigria, o autoridentificou que, a exceo de duas baciasintensamente cultivadas, os canais de baciasrurais esto em equilbrio. Contudo, os canaisdas bacias urbanizadas apresentam grausvariados de desequilbrio, dado pelas diferenasna distribuio e grau de urbanizao, bemcomo, na intensificao de construes maisrecentes, que resulta em variaes nacapacidade e eficincia do canal.

    As mudanas climticas eantropogenticas so semelhantes nos termosde seus impactos nos sistemasgeomorfolgicos, por serem relativamenterpidas em comparao com mudanas emoutros sistemas ambientais (GRAFF, 1978). Parao autor, os dois tipos de mudanas afetam ossistemas fluviais pela modificao da vegetaoe da superfcie da terra, o que,conseqentemente, afeta os regimeshidrolgicos, alterando a morfologia e dinmicado canal.

    As variaes em modelos de descargados canais fluviais refletem as caractersticas dabacia de drenagem, as condies climticas eas atividades humanas. A ateno cada vezmaior para os efeitos do uso da terra namodificao do escoamento superficial e paraos impactos diretos sobre o canal como aregulao para melhorar a drenagem, reduziras inundaes, e controlar a eroso dasmargens. O aumento de superfciesimpermeveis, geradas pelo processo deurbanizao, leva ao aumento do escoamentosuperficial e a rpida remoo da gua da chuvade reas em construo, acarretando o aumentoda descarga do canal (WHITLOW e GREGORY,1989). Para o autor, que desenvolveu suapesquisa no Zimbabwe (rea tropical), asconcluses foram de que houve uma diminuiodas reas alagadias por causa do crescimentourbano e da introduo de sees descontnuasno curso do canal que ligam as reas alagadas.

    Para GREGORY et al. (1992) oconhecimento de como as mudanas nos canaisfluviais no presente, passado e futuro ocorremno meio ambiente e, particularmente, emrelao aos impactos da atividade humana, sonecessrios para o entendimento das relaesentre forma do canal e processos atuantes.Pesquisas realizadas no final do sculo mostrama natureza das mudanas ocorridas no canalem conseqncia do crescimento urbano:regulao do fluxo, canalizao e mudanas nouso da terra.

    Ao estudar o riacho dos Monges, nocentro-sul da Inglaterra, GREGORY (op. cit.)identificou um aumento considervel na mdiada largura do canal, a jusante da rea urbana,relacionado ao aumento do fluxo. Em algumassees transversais o desenvolvimento deobstculos mostrou uma reduo na capacidadee largura do canal, evidenciando umajustamento da geometria proveniente daatividade humana.

    No estudo aqui proposto, a morfologiado canal foi analisada em duas dimenses:transversal e longitudinal. A dimenso

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    Tabela 2 Variveis da morfodinmica do canal.

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    longitudinal consistiu em integrar os setoreslongitudinalmente, das nascentes at adesembocadura na Lagoa Rodrigo de Freitas. Adimenso transversal foi obtida atravs darelao entre as variveis largura eprofundidades do canal, medidas em campoentre os perodos de maro de 2002 e fevereirode 2003. Os valores obtidos foram plotados nosoftware Excel, para a confeco dos perfistransversais, facilitando a anlise e comparaodos dados.

    Os resultados obtidos, com relao smudanas ocorridas na geometria do canal dorio dos Macacos, foram analisados e discutidospor setores atravs da comparao dos dadosde cada seo transversal.

    Setor A - (PT1)

    O perfil transversal traado no ponto PT1apresentou valores constantes de largura(4,70m) e valores irregulares de profundidadedo talvegue entre 2,65 e 2,83m (Tabela 2). Nos13 meses monitorados, a rea da seotransversal aumentou gradativamente,passando de 11,56 para 11,84m2, evidenciandoo processo de entalhamento e eroso do leito.Neste ponto, a declividade e o fundo rochoso

    caracterizam o fluxo turbulento que o principalresponsvel pelo aumento nos valores daprofundidade mdia e da rea da seotransversal. A gua que percola por entre asrochas ganha mais intensidade, concentrando-se apenas em alguns trechos do canal, e noem toda a extenso do leito. A velocidade mdiaapresentou valores elevados entre 0,33 e0,96m/s, enquanto que os valores de vazovariaram entre 0,23 e 0,50m3/s.

    Poucos metros abaixo deste ponto, emdireo jusante, possvel observar oprocesso de solapamento de base dasmargens compostas por blocos rochososencaixados que, pelo intenso fluxo derivado dosperodos de maior precipitao, acabam caindono leito do canal (Figura 4).

    Os valores de raio hidrulico oscilaramde forma irregular, entre 0,13 e 0,19m,evidenciando a baixa eficincia do canal quantoao escoamento do fluxo. Este fato estassociado a rugosidade do leito, composto porblocos e mataces, que dificultam a passagemda gua.

    O aumento nos valores da relaolargura/profundidade (L/P), de 1,87 a 1,91m,evidenciam a eroso do leito e caracterizam ocanal como profundo e estreito (Figura 5).

    Figura 4 - Processo de erosode base, jusante do PT1,evidenciado pelos blocosdeslocados no leito do canal(Foto: maio de 2003, Crdito: L.Lucas).

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    Figura 5 Sucessivos perfis transversais do canal do rio dos Macacos entre maro/2002 e feve-reiro/2003.

    Setor B - (PT2, PT3 e PT4)

    No PT2 as principais mudanasconcentraram-se no ligeiro aumento daprofundidade do talvegue (0,03m) e daprofundidade mdia (0,05m) que refletiram noaumento da rea da seo transversal em0,21m2, passando de 8,27 para 8,48m2 (Tabela2). Desta forma, o ndice da forma do canal,obtido atravs da relao L/P, variou de 2,29 a2,23m, mostrando um aumento da profundidadeem relao a largura que caracteriza o processode eroso do leito e a forma do canal comoprofundo e estreito (Figura 5).

    O PT3 foi o que apresentou maioresmudanas quanto a geometria, devido asinuosidade do talvegue. As maioresvelocidades de fluxo concentram-se na margemcncava, enquanto que ocorre a deposio desedimentos grosseiros na margem convexa,originando as soleiras. Desta forma, a deposiode sedimentos favorece a fixao da vegetaono banco de sedimentao, que serve comoobstculos para a passagem do fluxo.

    A rea da seo transversal, nesteponto, apresentou reduo de 0,30m 2,passando de 8,08m2 para 7,78m2, evidenciandoo processo de assoreamento do leito. O ligeiro

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    aumento da calha verificado no ltimo trabalhode campo (10/02/03), para 7,83m 2, estrelacionado ao aumento do fluxo e do processode entalhamento do talvegue, pela concentraode 360mm de chuva ocorrida no ms de janeiro(Tabela 2, Figura 5).

    O raio hidrulico, que vinha mantendo-se entre os valores de 0,09 e 0,20m, tambmapresentou uma elevao no ltimo trabalho decampo, passando para 0,27m, fato queevidencia aumento na eficincia do canal, pelaeliminao das rugosidades do fundo.

    Atravs do aumento gradativo dosvalores da relao largura / profundidade (L/P), de 3,16 para 3,28m, observou-se a tendnciada forma do canal como raso e largo, devido aoassoreamento.

    No ponto PT4, houve um aumentogradativo na profundidade do talvegue de 1,45para 1,63m, enquanto que a rea da seotransversal apresentou valores irregularesentre 5,64 e 5,98m2, com perodos de eroso eassoreamento (Tabela 2, Figura 5). A maiorvariao na morfologia de fundo aconteceu noltimo trabalho de campo (10/02/03) estandorelacionada precipitao de 360mm registradano ms de janeiro.

    Os valores de vazo variaram de formairregular entre 0,13 a 0,50m3/s em consequnciano s da precipitao, como tambm de outrosfatores importantes. Neste ponto, alm deocorrer o desvio de parte da gua do rio dosMacacos para o canal do Jquei, que funcionacom um sistema de comporta operado pelosfuncionrios do Jardim Botnico, tambmobservou-se a presena de uma caixa deconteno de sedimentos e de tubulaes deesgoto no leito do canal, jusante do ponto,contribuindo para o assoreamento e a reduoda velocidade do fluxo.

    O raio hidrulico apresentou valoresirregulares, indicando uma tendncia a baixaeficincia de escoamento do fluxo entre 0,19 e0,29m.

    Setor C - (PT5)

    No PT5 a largura manteve-se constante(10m) por se tratar de um trecho concretado,enquanto a profundidade do talvegueapresentou uma reduo de 0,20mcomprovando o assoreamento do leito (Tabela2).

    No ltimo trabalho de campo (10/02/03),houve uma reduo no valor da profundidademdia (0,09m), em relao ao aumento dapluviosidade registrada no ms de janeiro(360mm), acarretando a reduo de 0,90 m2 narea da seo transversal (Figura 5).

    Com isso, as modificaes observadasna rea da seo transversal para esse ponto,ao longo do perodo estudado, indicamprocessos de eroso e deposio que estorelacionados s variaes do fluxo, provenientesdas precipitaes e do aumento do escoamentopluvial das reas impermeabilizadas pelaatividade humana, e das correntes de retornodo corpo receptor (Lagoa Rodrigo de Freitas),impedindo que a gua chegue ao seu destinofinal.

    Os valores obtidos da relao largura eprofundidade entre 5,59 e 5,95m indicam aforma do canal neste trecho como raso e largo,predominando o processo de assoreamento doleito.

    Perfil Longitudinal

    Apesar das maiores precipitaes diriasterem sido registradas no ms de novembro de2002, as modificaes mais expressivas foramregistradas no ms de janeiro de 2003 paratodos os pontos, onde a precipitao ocorreude forma distribuda, em 19 dias do ms.

    A largura (L) manteve-se constante aolongo do perodo estudado por se tratar desees com pontes e margens concretadas oucompostas por blocos encaixados, comafunilamento em direo montante.

    A reduo da rea das sees

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    transversais pode ser observada nos pontosPT3 (0,30m2), PT4 (0,08m2) e PT5 (0,90m2) queesto mais prximos jusante, comprovando oprocesso de deposio e assoreamento do leito,enquanto que, o aumento ocorreu nos pontosPT1 (0,28m2) e PT2 (0,021m2), evidenciando osprocessos de eroso e entalhamento dotalvegue montante. Desta forma, o canalcaracterizou-se como largo e raso nos pontosPT3, PT4 e PT5 e estreito e profundo nos pontosPT1 e PT2.

    O ponto PT4, por sua vez, caracterizou-se por ser o ponto mais crtico, onde asmudanas no canal esto relacionadas no scom a precipitao, mas tambm com a maiorinterferncia antrpica.

    III.III- Impactos Antrpicos na qualidade dasguas

    Nos ltimos anos algumas fontes depoluio de recursos hdricos como esgotossanitrios, guas residurias industriais, resduosslidos (lixo), guas de drenagem urbana, fontesacidentais e fontes atmosfricas passaram aassumir importncia significativa. Estes fatores,provenientes do processo de crescimento edesenvolvimento urbano desordenado, so osresponsveis pelos valores elevados nos nveisde poluio dos rios brasileiros.

    A ao do homem sobre os recursoshdricos o principal responsvel pelasalteraes na composio da gua. Por muitosanos, os rios tm sido depositrios de rejeitosque alteram profundamente seu estadonatural. Os esgotos urbanos que lanamefluentes orgnicos, as indstrias quedespejam uma srie de compostos qumicos emetais pesados, e a agricultura que responsvel pela presena de pesticidas eexcesso de fert i l izantes na gua estodiretamente relacionados com algumas dasalteraes sofridas na qualidade da gua, oque reoresenta uma das maiores evidnciasdo impacto das atividades humanas sobre abiosfera (PORTO et al., 1991).

    Por um bom tempo, apenas os sentidosda viso, sabor e olfato eram os parmetrosutilizados na avaliao da qualidade da gua.Com a evoluo de tcnicas de deteco emedidas de poluentes, foram estabelecidospadres de qualidade para a gua, isto , aquantidade mxima de concentrao deelementos ou compostos que poderiam estarpresentes na gua, de modo que fossecompatvel com a sua uti l izao paradeterminados fins. Desta forma, estabeleceu-sepadres de qualidade da gua para usos comoabastecimento pblico e industrial, preservaoda vida aqutica, irrigao, recreao, agricultura,navegao e paisagismo. Esses padres surgirama partir de experimentos realizados em centrosde pesquisa de pases desenvolvidos (BENETTI eBIDONE, 1997).

    No Brasil, a classificao das guas foidefinida pela Resoluo N 20, de 18 junho de1986, instituda pelo Conselho Nacional do MeioAmbiente (CONAMA). Esta resoluo estabeleceu9 classes, sendo 5 de gua doce, 2 de guassalobras e 2 de guas salinas, de acordo com ograu de salinidade. Neste caso, as guas docesforam divididas em classes, definindo-se para cadauma, os usos a que se destinavam e os requisitosa serem observados.

    Para a caracterizao da poluio dasguas do rio dos Macacos foram instaladas cincoestaes (pontos) de monitoramento, de formaque abrangessem os trs setores do canal.Realizou-se cinco coletas mensais, por um perodode cinco meses, definidas pela Fundao Estadualde Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA),responsvel, tambm, pela anlise das amostrasem laboratrio.

    Foram considerados os seguintesparmetros: fsicos (temperatura), qumicos(pH, oxignio dissolvido e demanda bioqumicade oxignio) e biolgicos (coliformes fecais etotais), e os dados obtidos nas estaes decoleta foram analisados e classificados deacordo com os padres indicados pelo CONAMA(Resoluo N 20, 1986), para guas da classe2.

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    Temperatura

    A temperatura da gua, obtida emcampo atravs de termmetro, oscilou entre25,5C em 20/05/02 e 21C em 22/07/02. Nodia em que foi registrado o valor mais baixo detemperatura (21C) observou-se a ocorrnciados valores mais elevados de ph e os menoresde oxignio dissolvido (Tabela 3).

    A temperatura um fator que pode afetara fauna e a flora aquticas, quando ocorre olanamento de efluentes industriais comtemperaturas elevadas provocando a poluiotrmica dos rios. Alm disso, a elevao datemperatura da gua provoca a reduo dooxignio dissolvido, agravando ainda mais osproblemas de poluio (AMARAL, 2002).

    pH

    Representa a atividade hidrogeninica,ou seja, a intensidade dos cidos e lcalispresentes em uma soluo, indicando o cartercido ou alcalino da gua. Seus valores variamentre 0 e 14, classificando-se como: cidos (pH> 7), neutros (pH = 7) e alcalinos (pH < 7).Valores baixos de pH tornam a gua corrosivaenquanto que valores elevados tendem a formarincrustaes nas tubulaes (MOTA, 1997).

    Alteraes no pH da gua podem

    prejudicar a fauna e flora aquticas, devendoser mantido entre os valores 6 e 9. O pH neutrono indica, necessariamente, que a gua sejapura mas que ela apresenta equilbrio entre assubstncias cidas e alcalinas (BENETTI eBIDONE, 1997).

    O pH foi determinado atravs do mtodocolorimtrico, supondo que solues diferentestenham a mesma concentrao de ons dehidrognio, se produzirem intensidade de coresiguais (CLESCERI et al., 1998). Sendo assim, omtodo colorimtrico baseia-se nas alteraessofridas em certos corantes, de acordo com asmudanas do pH.

    De modo geral, os valores de pHconcentraram-se entre 6,1U.pH (PT3) em 20/05/02 e 7,0 U.pH (PT5) em 22/07/02 para todas asamostras, estando dentro das normasestipuladas pelo CONAMA (6,0 a 9,0U.pH). Osvalores mais baixos de pH foram observadosno dia 20/05/02 entre 6,1 e 6,3 U.pH. Os valoresmais elevados, entre 6,7 e 7,0 U.pH,registraram-se no dia 22/07/02 (Tabela 3, Figura6).

    Os resultados obtidos indicam guaspropcias para o desenvolvimento da fauna eda flora aquticas e no corrosivas quanto scondies de formar incrustaes emtubulaes.

    Figura 6 Distribuio dos valores de pH

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    Tabela 3 Dados de poluio das guas do rio dos Macacos ano 2002

    Oxignio Dissolvido (OD)

    O oxignio dissolvido provm dadissoluo do oxignio atmosfrico e dafotossntese de microorganismos vivos na gua.Sua solubilidade est associada a altitude,temperatura e salinidade do corpo dgua(MURARO, 2001). Ele um dos principaisparmetros de caracterizao dos efeitos da

    poluio das guas decorrentes dos despejosorgnicos, j que para o processo dedecomposio so consumidos altos ndices deoxignio.

    Com a reduo do OD na gua, algumasespcies de peixes no sobrevivem e acabammorrendo por asfixia. Alm disso, caso a taxade OD caia para zero, as guas dos rios passama exalar maus odores, prejudicando o bem estar

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    das populaes que habitam prximo ao rio(AMARAL, 2002).

    No que se refere a quantidade deoxignio dissolvido (OD) pode-se dizer que agua apresenta boa qualidade quando as guassuperficiais esto saturadas de oxignio(BRANCO e ROCHA, 1977). Neste caso, a guapoder ou no estar poluda, mas a saturaoindicar que no est contaminada por matriaoxidvel. A taxa recomendada paraconcentrao de OD na gua deve situar-seentre 8 a 11 mg/l, onde valores iguais ouinferiores a 5,0 mg/l so prejudiciais vidaaqutica e passam a comprometer oecossistema fluvial (CONAMA, 1986).

    Para a determinao do oxignio

    dissolvido utilizou-se o mtodo de Winkler, apartir de REBELLO e CARREIRA (1997), adaptadode GRASSHOFF et al. (1983), que consiste naanlise da amostra em etapas.

    O oxignio dissolvido (OD) apresentouvalores entre 8,2mg/L (PT1) e 4,8mg/L (PT5)registrados no dia 22/07/02, com ligeira reduoem direo jusante (Tabela 3). No PT1 foramobtidos os maiores valores para OD (8,0 e8,2mg/L) em 18/06/02 e 22/07/02, evidenciandoa maior disponibilidade de oxignio, nesteponto, para as reaes qumicas e biolgicas. Ovalor mais baixo foi registrado no PT5 (4,8mg/L) em 22/07/02, estando associado maiorconcentrao de efluentes e baixa energia dofluxo neste ponto (Figura 7).

    Figura 7 Distribuio dos valores de oxignio dissolvido (OD)

    Figura 7 Distribuio dos valores de oxignio dissolvido (OD)

    Demanda Bioqumica De Oxignio (DBO)

    Este parmetro avalia a quantidade dematria orgnica biodegradvel presente naamostra, indicando o consumo de oxignio apartir da atividade de algas e/ou bactrias, ouseja, indica a quantidade de oxignio que amatria poluidora biodegradvel necessita pararetirar da gua em seu processo debiodegradao (BENETTI e BIDONE, 1997).

    Para BRANCO e ROCHA (1977) ademanda bioqumica de oxignio (DBO) aquantidade de oxignio necessria para a total

    estabilizao de determinada quantidade dematria orgnica sujeita decomposio.Segundo o autor, as fontes de fornecimento deoxignio para a gua so o prprio aratmosfrico em contato com a gua, atravs daturbulncia desta, e a atividadefotossintetizante das algas microscpicas.

    As taxas adequadas para a demandabioqumica de oxignio devem concentrar-seentre 3mg/l O2 e 5,0 mg/l O2 (CONAMA, 1986).Valores acima desta quantidade indicam apoluio da gua dos rios com efluentesdomsticos e industriais.

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    O mtodo utilizado para determinao daDBO foi o de diluio, baseado no princpio deque a velocidade de degradao da matriaorgnica diretamente proporcional quantidade de matria orgnica remanescente.Assim, a utilizao do oxignio, em uma amostradiluda a 10%, feita a uma velocidade que serdez vezes menor do que a da amostra nodiluda (CLESCERI et al., 1998).

    Os valores de demanda bioqumica deoxignio (DBO) variaram entre 12,8 mg/L (PT1)em 19/08/02 e 2,0 mg/L (PT5) em 19/08/02(Tabela 3). Todos os pontos apresentaram

    ndices elevados de DBO, quando comparadoscom a classificao do CONAMA, caracterizandoo aumento do consumo de oxignio pela matriaorgnica biodegradvel, ao longo do canal.Ocorrncias anmalas foram registradas noponto PT1 (12,8mg/L) em 19/08/02 e no pontoPT5 em 22/07/02 (Figura 8).

    De acordo com a mdia, as maioresconcentraes de DBO foram encontradas nospontos PT1 e PT2 (6,2 e 6,0mg/L) sendo possvelobservar a tendncia de diminuio destesvalores em direo jusante.

    Figura 8 Distribuio dos valores de demanda bioqumica de oxignio (DBD)

    Colimetria (Coliformes Fecais e Totais)

    Os coliformes so bactrias que vivemnormalmente em grande nmero no intestinohumano e de animais de sangue quente. Suapresena num curso dgua pode estarrelacionada com o lanamento de esgotosdomsticos e fezes de animais. Um grandenmero de microorganismos patognicos podeestar presentes nos esgotos, sendo necessrioo teste de coliformes como indicador geral daqualidade bacteriolgica da gua, e suapresena a torna suspeita para o consumo(AMARAL, 2002).

    O teste de coliformes fecais consiste naanlise de presena de bactrias e organismos

    na gua, originados da matria fecal produzidapelo ser humano, sendo permitido at 1.000coliformes para cada 100 ml de amostra(BENETTI e BIDONE, 1997). As bactriascoliformes tendem a morrer mais ou menosrapidamente em contato com o meio externo,cujos agentes destruidores so: a luz, ooxignio, microorganismos predadores e asedimentao por gravidade.

    A anlise foi realizada atravs do mtodode diluio que consiste no princpio dacontagem da densidade bacteriana pelo NmeroMais Provvel (NMP), adaptado por Parnow, em1972 (apud MURARO, 2001).

    Os coliformes fecais apresentaram

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    valores elevados que oscilaram de formairregular, ao longo do perodo, entre 2.300Nmero Mais Provvel/100 ml (PT5 em 20/05/02) e >1.600.00 NMP/100 ml (PT1 em 19/08/02,PT2 em 23/09/02 e PT5 em 22/07/02) (Tabela

    3, Figura 9). Da mesma forma, os coliformestotais tambm apresentaram valores elevadossituando-se entre 2.300 NMP/100 ml (PT5) e >1.600.000 NMP/100 ml (PT1, PT2 e PT5), nasmesmas datas anteriormente citadas (Tabela 3,Figura 10).

    Figura 9 Distribuio dos valores de coliformes fecais

    Figura 10 Distribuio dos valores de coliformes totais

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    De acordo com a resoluo do CONAMA(Resoluo N 20, 1986), as guas do canal dorio dos Macacos apresentaram ndices elevadosde coliformes fecais e totais acima dos limitesestipulados para guas da Classe 2, sendoestabelecido para coliformes totais at 5.000NMP/100 ml. Neste caso, os altos ndices decoliformes fecais indicam contaminao da guapor fezes, favorecendo a transmisso dedoenas e a presena de odores desagradveis,porm ainda com ocorrncia de vida aqutica.

    Rede de Esgoto e Escoamento Pluvial

    A rede de esgoto administrada pelaCompanhia Estadual de guas e Esgotos(CEDAE) e funciona neste ponto com uma redede tubulaes simples, principal, recalques

    (bombeadores) e elevatria, ligadas ao sistemainterceptor ocenico, realizando a disposiodos esgotos sanitrios em um ponto situado a27m de profundidade e a cerca de 4 km da costa.

    Porm, com o aumento da urbanizao, comum observar o lanamento de esgotossanitrios na rede de gua pluvial atravs deligaes clandestinas ou at mesmo olanamento direto no rio como foi evidenciadono setor A, onde encontram-se casas nasmargens do canal. No setor B, prximo ao PT4,dentro do Jardim Botnico, foram encontradosdois locais de lanamento de esgoto,provenientes de edifcios vizinhos ao parque,que interferem diretamente na qualidade dagua e na morfologia de fundo atravs dainsero de tubulaes no leito do canal. (Figura11 e12).

    Figura 11 Lanamento de efluentes domsticos montante do ponto PT4,evidenciando as modificaes na qualidade da gua e na morfologia de fundo devido interferncia antrpica (Foto: setembro de 2002, Crdito: L. Lucas).

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    Figura 12 Mapa da rede de esgoto.

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    A rede de escoamento pluvialcompreende tais ruas principais: Rua PachecoLeo, Av. Jardim Botnico e Rua General Garzon.Na rua Pacheco Leo h trs locais delanamento do escoamento pluvial dentro docanal: dois prximos seo transversal doponto PT4 (Figura 13 e 14) e outro nocruzamento com a Av. Jardim Botnico. Oescoamento da Av. Jardim Botnico, por sua vez,compreende o trecho entre a rua transversalLopes Quinta (margem esquerda do canal) e um

    pequeno trecho em frente ao Jardim Botnico(margem direita do canal). A rua General Garzonno possui um sistema complexo deescoamento, apenas valas no meio fio queescoam direto para dentro do canal.

    A rede de guas pluviais apresenta-senormalmente obstruda pelo lixo lanado pelapopulao e por detritos provenientes dasencostas que, associados impermeabilizaodo solo devido ao asfalto, contribuem para umaresposta imediata na vazo do canal, emperodos de chuva, atravs das inundaes.

    Figura 13 Vala localizada dentro do Jardim Botnico, montante do ponto PT4, quecanaliza parte do escoamento pluvial da Rua Pacheco Leo para dentro do canal (Foto:setembro de 2002, Crdito: L. Lucas).

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    Figura 14 Mapa da rede de escoamento pluvial

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    IV- Consideraes Finais

    Ao longo do perodo estudado, foipossvel perceber que o canal do rio dosMacacos vem sofrendo modificaes em suageometria, atravs, primeiramente, das obrasde engenharia, refletindo no comportamentodos sedimentos, pelo assoreamento do leito.Alm disso, as intensas modificaes ao longodo tempo, relacionadas ocupao das reasmarginais, tm afetado as caractersticasnaturais do rio sobretudo a vida aqutica,fazendo com que ela busque novas condiesde equilbrio no meio em que esto inseridas.

    Nos pontos analisados observou-se quea largura do canal manteve-se constante devido estabilidade das margens, compostas porconcreto e blocos encaixados que dificultam oprocesso erosivo proveniente do fluxo e doescoamento superficial. Sendo assim, os valoresde largura mantiveram-se em 4,70m no setor A(PT1) a montante, enquanto que para o setor C(PT5) a jusante, o valor manteve-se em 10m.Valores inferiores a 4,70m foram encontradosno setor B (PT2 e PT4) com 4,35 e 4,18m,respectivamente, o que comprova oestrangulamento ao longo do canal.

    Atravs dos valores obtidos da relaoL/P, constatou-se a intensificao dos processosde eroso e entalhamento do talvegue para ospontos mais prximos montante, com reduode 0,04m (PT1) e 0,06m (PT2). Ao contrriodisso, o aumento nos valores de L/P foramregistrados nos pontos mais jusante de 0,10m(PT3) e 0,30 (PT5) que caracterizam osprocessos de deposio e assoreamento doleito.

    Perodos de eroso e deposio foramidentificados no setor B (PT4) estandorelacionados com a precipitao e com outrosfatores como o desvio de parte da gua docanal, a construo de uma caixa de contenode sedimentos e a presena de tubulaes deesgoto no leito, que contribuem para oassoreamento e a reduo da eficincia deescoamento do fluxo.

    Fatores naturais, agravados pelaatuao antrpica, promoveram alteraes namorfologia do canal, onde observou-se reduesde at 0,90m 2 na capacidade do canal nossetores B e C, enquanto que o aumento dacapacidade do canal concentrou-seprincipalmente no setor A com valores de at0,28m2. Com isso, verifica-se a tendncia nareduo da capacidade do canal de montantepara jusante.

    Quanto aos nveis de poluio das guasdo canal, identificou-se que o nvel de pH dagua, embora esteja entre os ndicesestabelecidos pelo CONAMA (Resoluo N 20,1986), apresentou uma tendncia para a acidezdevido a lixiviao do solo pela gua da chuva,seja pelo material transportado pelo soloexposto, seja pelo transportado peloescoamento pluvial das reas asfaltadas.

    Os ndices de oxignio dissolvido (OD) ede demanda bioqumica de oxignio (DBO)apresentaram valores elevados nos pontos maisprximos montante, evidenciando aabundncia de oxignio e de reaes qumicase biolgicas que ali se estabelecem. Ao contrriodisso, os pontos mais jusante apresentaramvalores reduzidos de oxignio, por causa daconcentrao de efluentes e do baixo grau deenergia desses pontos.

    As maiores modificaes que dizemrespeito a atuao antrpica puderam serobservadas nos ndices de coliformes fecais, comvalores de at 1.600.000 NMP/100 ml, para ostrs setores. Os valores elevados indicam o altograu de contaminao do corpo dgua, j queo limite estipulado pelo CONAMA de at 1.000NMP/100 ml. Da mesma forma, ocorreu para oscoliformes totais que tambm apresentaramvalores elevados de at >1.600.000 NMP/100ml nos trs setores com maior concentrao nosetor C (PT1) na jusante do canal. Estes valoresesto associados aos lanamentos diretos deesgotos domsticos sem qualquer tipo detratamento, fato que contribui para adegradao do ambiente.

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    Este trabalho faz parte de um projetovoltado para a anlise da rede de drenagem dacidade do Rio de Janeiro, com base nacontinuidade do monitoramento das variveishidrodinmicas do canal, identificando a variaoe intensidade das mudanas ocorridas e osnveis de poluio das guas ao longo do tempo.

    V- Recomendaes

    Tendo em vista as modificaes ocorridas namorfologia do canal e os elevados nveis de poluiodas guas, sugere-se recomendaes que darocontinuidade esta pesquisa, possibilitando arecuperao de parte das caractersticas naturaisdo canal.

    a) Continuidade do monitoramento dacapacidade do canal, uma vez que o contnuoassoreamento um dos responsveis pelaocorrncia de cheias e inundaes locais.

    b) Reabilitao da estao fluviomtrica doJardim Botnico, desativada em julho de 1979, quefornecer dados relativos vazo e velocidade dofluxo.

    c) Avaliar a proporcionalidade de tamanhodas sees transversais da nascente at a lagoaRodrigo de Freitas eliminando os estrangulamentosem trechos do canal que favorecem otransbordamento e a eroso das margens emperodos chuvosos.

    d) Instalao de estaessedimentomtricas que registrem o comportamentoe a distribuio dos sedimentos ao longo do canal,para que seja possvel identificar os processosatuantes, no que se refere ao fornecimento dematerial para o leito.

    e) Reconstituio das reas marginaisocupadas por casas, principalmente montante,atravs da fixao da mata ciliar, importante parapromover a estabilidade do canal e a reconstituiodo ecossistema.

    f) Instalao de estaes de monitoramentode qualidade da gua com o propsito de identificaros locais mais crticos quanto poluio. Avaliaoda rede de esgoto no s identificando a rede atualcomo a rede clandestina, promovendo soluesjunto aos orgos pblicos.

    g) Intensificao do trabalho deconscientizao da populao, j iniciado pelaSecretaria Municipal de Meio Ambiente, sobre aimportncia da preservao dos ambientes fluviaise do desenvolvimento sustentvel.

    h) Avaliao do nvel de sade dapopulao local atravs de pesquisas e entrevistas

    Sendo assim, a viabilizao de projetos eplanos de gesto para reas degradadas, baseia-se em estudos preliminares, havendo porm, anecessidade de disposio e interesse polticos paraque finalmente possam ser postos em prtica.

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    Trabalho enviado em julho de 2007

    Trabalho aceito em agosto de 2007