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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
Orientação Educacional: Propostas e Alternativas para alunos com baixo
rendimento
ZELÂNDIA MENEZES LIMA CUPERTINO
Orientador: Professor Vilson Sérgio de Carvalho
Co – Orientadora: Professora Dayana Trindade
Rio de Janeiro – RJ
2013
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
Orientação Educacional: Propostas e Alternativas para alunos com baixo
rendimento
ZELÂNDIA MENEZES LIMA CUPERTINO
Monografia apresentada ao Instituto a Vez do Mestre como requisito
parcial para obtenção do título de especialista em Orientação
Educacional e Pedagógica.
Orientadora: Professor Vilson Sérgio de Carvalho
Co – Orientadora: Professora Dayana Trindade
Rio de Janeiro – RJ
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que me ajudaram na construção deste trabalho, de modo
especial a Deus, meu grande auxiliador de todas as horas.
EPÍGRAFE
"Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias."
(Augusto Cury)
RESUMO
A presente monografia tem como objetivo principal analisar a problemática educacional em relação ao baixo rendimento dos alunos, investigando alternativas para o bom desempenho, favorecendo ao orientador educacional e pedagógico um trabalho focado na prevenção do fracasso escolar. O fracasso escolar é considerado um processo pelo qual os alunos não conseguem alcançar um desempenho satisfatório para prosseguirem seus estudos. Muitos ficam desmotivados, acabam achando que não têm capacidade para aprender, culminando na evasão escolar. As causas do fracasso escolar/baixo rendimento podem estar associadas a dois fatores: fatores escolares (exógenos): vinculados a problemas de origem educacional, motivacional, emocional ou ambiental e/ou a fatores endógenos ligados à existência de uma disfunção neurológica relacionada ao problema de aprender (distúrbio de aprendizagem). É devido a esta realidade, que se faz necessário, no ambiente escolar, pessoal capacitado no trabalho de orientação aos pais, professores e alunos envolvidos nesta problemática. A equipe escolar envolvida deve ser multidisciplinar, realizando projetos ao longo do ano letivo com objetivo de identificar as causas do baixo rendimento, visando a recuperação destes alunos. Todavia, para que a proposta de trabalho acima se efetive, o gestor / gestão da escola deve unir esforços no sentido de que toda equipe escolar pense / repense em estratégias conjuntamente para a erradicação do fracasso escolar.
METODOLOGIA
Este trabalho monográfico foi desenvolvido em 03 etapas:
Na 1ª etapa foi realizada a pesquisa bibliográfica com consulta em
sites, revistas, jornais, arquivos, teses, dissertações, livros especializados,
folhetos, relatórios e comentários para que se tenha um conhecimento prévio
do estágio em que se encontra o assunto. Além das consultas em obras
publicadas foram feitos registros de anotações em fichas e rascunhos.
Nesta etapa foram analisadas as contribuições teóricas a respeito do
problema do baixo rendimento ou fracasso escolar pois, segundo
Galliano(1986), a pesquisa bibliográfica tem como objetivo desvendar, analisar
e recolher as principais contribuições teóricas sobre um determinado assunto,
fato ou ideia. (Pg. 109)
Os principais referenciais teóricos desta pesquisa são : Álvaro
Marchesi, Carlos Fernandez Gil e Jésus-Nicasio García Sánchez e outros. Os
dois primeiros autores falam do fracasso escolar, ou seja, seu conceito, sua
origem e estratégias de mudança. O terceiro autor cita as dificuldades de
aprendizagem e intervenção psicopedagógica.
Na 2ª etapa, foi aplicado um questionário a um grupo de alunos
retidos na série, ano letivo de 2011, da rede federal de ensino, sobre suas
principais dificuldades em relação aos seus estudos.
Ao final, na 3ª etapa, realizou-se o resultado da pesquisa de campo
(questionário) com o trabalho bibliográfico.
Nesta monografia foram abordados os principais assuntos que
interferem na vida acadêmica dos alunos e consequências para a vida
profissional. Também, um dos objetivos é propor alternativas contra o baixo
rendimento escolar e, consequentemente, a evasão escolar. Por isso, este
trabalho visa oferecer ao orientador educacional e pedagógico um material que
poderá lhe proporcionar um melhor acompanhamento dos seus alunos e uma
orientação focada na prevenção do fracasso escolar.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................... 01
CAPÍTULO 1 - Fracasso e Baixo Rendimento Escolares
1.1 - O que é Baixo Rendimento e Fracasso Escolar? ..... 03
1.2 - O Fracasso Escolar no Brasil..................................... 04
CAPÍTULO 2 - Causas do Baixo Rendimento Escolar
2.1 - As dificuldades de aprendizagem ou Distúrbios de Aprendizagem 06
2.2 - As dificuldades escolares............................................... 10
2.2.1 - A influência do nível socioeconômico.................. 10
2.2.2 - Relação família-escola........................................... 11
2.2.3 – Professores........................................................... 11
2.2.4 – Escola................................................................... 13
2.2.4.1 – Violência na escola.................................... 14
CAPÍTULO 3 – Orientação Educacional: Propostas e Alternativas para
alunos com baixo rendimento.
3.1 - O Trabalho do Orientador com a Família...................... 16
3.2 - O Trabalho do Orientador com o Aluno ........................ 17
3.3 - O Trabalho da Escola: Educação em valores............... 18
3.4 - O Trabalho Interdisciplinar............................................ 19
3.4.1 – O Assistente Social na escola................................. 20
3.4.2 – O Trabalho do Fonoaudiólogo................................. 21
3.4.3 – O Trabalho do Psicopedagogo................................ 22
3.4.4 – O Trabalho do Psicólogo......................................... 23
CAPÍTULO 4 – PESQUISA DE CAMPO............................... 24
CONCLUSÃO ....................................................................... 26
BIBLIOGRAFIA..................................................................... 27
WEBGRAFIA......................................................................... 29
ANEXOS................................................................................ 30
1
INTRODUÇÃO
Segundo uma pesquisa divulgada recentemente, os problemas de
aprendizagem das crianças surgem logo nos primeiros anos do ensino
fundamental. Organizada pelo movimento Todos pela Educação, a Prova ABC,
mostra que, em 2010, apenas 48% dos alunos do 3º ano da rede pública
aprenderam o que era esperado em leitura e só 42% em matemática. (Nova
Escola, outubro 2011)
Também uma pesquisa realizada na Espanha mostra que 25% de
seus alunos não terminam de forma satisfatória o ensino fundamental e
médio.”...devemos estar conscientes de que o fracasso escolar pode se ampliar
no futuro porque cada vez mais a sociedade global exigirá mais conhecimentos
e habilidades dos jovens”. (Marchesi, Hernàndez & Cols, 2004 , p.248 ).
Devido a esta real problemática educacional, é necessário investigar
as alternativas para o bom desempenho dos alunos com baixo rendimento,
identificar as suas causas e propor alternativas de orientação educacional para
alunos com baixo rendimento escolar.
Este estudo será de cunho bibliográfico para a resposta do
problema: Como orientar alunos com baixo rendimento?
Após a pesquisa bibliográfica do problema estudado, se iniciará uma
pesquisa de campo com um questionário para alunos do 1º e 2º ano do Ensino
Médio, retidos no ano de 2011, alunos estes, de uma escola pública federal
situada na cidade do Rio de Janeiro.
Com análise desta pesquisa deverá se chegar a uma conclusão a
respeito das causas do baixo rendimento desses alunos, traçando-se metas
para que o baixo rendimento seja minimizado através de uma orientação
educacional e pedagógica, com propostas e alternativas.
Esta pesquisa será dividida em 4 capítulos com uma conclusão no
final do trabalho.
No capítulo I, será definido o que é fracasso escolar e baixo
rendimento, além de ser feito um breve comentário sobre o fracasso escolar no
2
Brasil ao longo da história.
No capítulo II, serão explicadas as causas do baixo rendimento
escolar, diferenciando as dificuldades de aprendizagem ou distúrbios de
aprendizagem, bem como as dificuldades escolares.
Já no capítulo III, as propostas e alternativas em orientação
educacional e pedagógica serão elucidadas através do trabalho do orientador
com a família, com o aluno com baixo rendimento, o trabalho da escola e o
trabalho interdisciplinar.
No capítulo IV, abordará sobre a pesquisa de campo: público alvo,
tempo do trabalho, local, nº de participantes e o questionário aplicado. Enfim,
será colocado tudo a respeito de como o trabalho de campo ocorreu.
Na conclusão é feita uma análise, relacionando a teoria do trabalho
com a pesquisa de campo. As possíveis causas do baixo rendimento dos
alunos pesquisados serão citadas, sendo propostas alternativas de trabalho em
orientação (capítulo III) para esses alunos.
Descobrindo as causas do baixo rendimento e estratégias para
reduzí-lo, teremos um ensino de melhor qualidade, com alunos mais
interessados pelo estudo, mais motivados a aprender, contribuindo também
para a diminuição do fracasso e evasão escolares.
3
CAPÍTULO I : FRACASSO E BAIXO RENDIMENTO
ESCOLARES
1.1 – O que é Baixo Rendimento e Fracasso Escolar ?
Para o estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico):
Insiste no fato de que, independentemente das diferenças no uso do termo, assim como em sua definição, o baixo rendimento escolar deve ser considerado um processo mais do que um resultado final atribuível a variáveis institucionais, sociais e individuais.(KOVACS, 2004, p. 45)
A OCDE distingue três momentos-chave nesse processo:
1º momento: Durante o período da educação obrigatória, apresenta-
se quando o rendimento do aluno é consistentemente inferior ao da média ou
quando o discente inclusive tem de repetir um ano escolar.
2º momento: Ocorre quando o aluno desiste dos estudos antes de
terminar a educação obrigatória (Evasão Escolar) ou quando este termina
seus estudos sem obter um certificado
3º momento: Se refere à dificuldade que os jovens têm de ingressar
na vida produtiva devido à falta dos conhecimentos e habilidades básicas que
deveriam ter adquirido na escola. (KOVACS, 2004, pg. 45)
Segundo o texto acima podemos dizer que o baixo rendimento
também é uma forma de fracasso escolar, já que este é um processo onde o
baixo rendimento é o 1° momento.
Ou ainda sobre a definição do tema Fracasso escolar:
Se refere àqueles alunos que, ao finalizarem sua permanência na escola, não alcançaram os conhecimentos e as habilidades considerados necessários para desempenhar-se de forma satisfatória na vida social e profissional ou prosseguirem seus estudos. (MRCHESI; PÉREZ, 2004, Pgs. 17 e 18)
4
1.2 - O Fracasso Escolar no Brasil
Segundo Patto (1999) as explicações sobre fracasso escolar da
escola pública brasileira foram baseadas, num primeiro momento, nas teorias
racistas, por volta do ano de 1870, onde os colonizadores colocavam os
colonizados numa situação de inferioridade intelectual, ou seja, achavam que
os colonizados eram incapazes de aprender. O auge destas ideias racistas foi o
período de 1850 a 1930.
As pesquisas iniciais sobre o fracasso escolar– a partir dos anos 30 -
estavam sob a influência do escolanovismo que apontavam as causas das
dificuldades de aprendizagem não no indivíduo, mas nos métodos, que
deveriam ser determinados pela observação do indivíduo e de suas
capacidades e não por critérios externos.
Para Patto (1999) a psicologia a partir dos anos 30 adotou a prática
de diagnóstico e tratamento de desvios psíquicos o que levou a justificar o
fracasso ou tentar impedí-lo por meio de programas preventivos para
diagnosticar precocemente os distúbios no desenvolvimento psicológico infantil.
Predominou, a partir de então, a explicação psicologizante das dificuldades de
aprendizagem juntamente com as teorias racistas, marcadas, desde a
colonização, pelo preconceito em relação aos índios, aos mestiços e aos
negros.
Até os anos 70 predominou a explicação do fracasso escolar em
função das características biológicas, psicológicas e sociais dos alunos,
perdendo-se de vista a dimensão pedagógica do processo. Desconsiderava-se
os aspectos estruturais e funcionais do sistema de ensino como determinante
do fracasso escolar.
Durante os anos 70, o fracasso escolar passou a ser explicado pela
teoria da Carência Cultural, na qual se afirmava que as deficências (déficit) do
ambiente cultural das classes mais baixas ocasionavam deficiência no
desenvolvimento psicológico infantil e, consequentemente, as dificuldades de
aprendizagem e de adaptação escolar, sendo considerado por Patto (1999)
5
uma manifestação poderosa de preconceito racial e social.
Um novo marco conceitual foi o ano de 1977 com as ideias de
Snyders e Gramsci com a reflexão sobre o problema da ineficiência e do papel
social da escola para o povo.
Patto (1999) afirma que nos dias atuais, há a retomada ou o
retrocesso de explicações sobre o fracasso escolar que já deveriam ter sido
superadas. A autora aponta para a necessidade de se quebrar o estigma de
que o fracasso é culpa do aluno ou de sua família e alerta para a proporção
muito maior dos determinantes institucionais e sociais na produção do fracasso
escolar do que problemas emocionais, orgânicos e neurológicos, rompendo
com as visões psicologizantes, da carência cultural e das dificuldades de
aprendizagem.
"A escola ... pode trabalhar com o homem em nova dimensão,
bastando para isso que seus membros se disponham a estabelecer um novo
projeto de reflexão e ação." (NAGEL, 1989, Pg.10)
Para a autora significa estudos e aprofundamentos de todos com
questões relativas à humanidade, à sociedade. Um novo projeto para uma
educação de qualidade, garantindo a permanência e o sucesso dos que nela
interagem.
6
CAPÍTULO 2: Causas do Baixo Rendimento Escolar
A existência do baixo rendimento no sistema escolar envolve fatores
estritamente individuais que se podem referir a muitos diferentes âmbitos,
desde o cognitivo até o motivacional. Há também fatores estritamente
educacionais, relacionados com os conteúdos e as exigências escolares, com
a forma de trabalhar em sala de aula, de responder às dificuldades que alguns
alunos podem apresentar.
A contraposição de culturas entre a família e a escola também é um
fator que influencia o rendimento do aluno, além dos fatores sociais e culturais
mais amplos (formação dos professores, suas atitudes e valores sociais, o
papel da televisão, etc).
Esses diferentes fatores atuam juntos, conspirando para tornar
altamente provável a experiência do fracasso em um determinado número de
alunos.
2.12.12.12.1 – As Dificuldades de Aprendizagem ou Distúrbios de
Aprenizagem
Utiliza-se o termo dificuldade de aprendizagem no sentido
internacional do DSM-IV-TR e consensual do Comitê Conjunto para as
Dificuldades de Aprendizagem (Das).
O DSM-IV-TR classifica os transtornos da aprendizagem:
Dentro dos transtornos diagnosticados pela primeira vez na infância ou na adolescência, considerando o transtorno da leitura, o da matemática, o da expressão escrita e o transtorno da aprendizagem sem outra especificação. A classificação da American Psychological Association (APA, 1995a,b) é compatível com a inclusão das dificuldades de aprendizagem como um tipo transtorno de desenvolvimento, e em relação a outros transtornos que aparecem ao longo do desenvolvimento e que necessitam de intervenção psicopedagógica." (SÀNCHEZ, 2004, apud GARCÍA, 1999)
7
Segundo a conceitualização internacional, as dificuldades de
aprendizagem se caracterizam por:
Um funcionamento substancialmente abaixo do esperado, considerando a idade cronológica do sujeito e seu quociente intelectual, além de interferirem significativamente no rendimento acadêmico ou na vida cotidiana, exigindo um diagnóstico alternativo nos casos de déficits sensoriais. Assumem-se, portanto, um critério de discrepância entre aptidão e o rendimento e um critério de exclusão, além do baixo rendimento e da interferência na vida cotidiana. Esses critérios de exclusão e de discrepância foram e ainda são muito discutidos. (SÀNCHEZ, 2004, págs 15 e 16)
O Comitê Conjunto sobre Dificuldades de Aprendizagem assume a mesma linha de conceito ao sugerir que as dificuldades de aprendizagem são algo heterogêneo, supõem problemas significativos na conquista das habilidades da leitura, de escrita e/ou de matemática, que se acredita serem intrínsecas ao indivíduo, é possível encontrar superposição com outros problemas que não se devem a influências extrínsecas. (SANCHEZ, 2004, P. 16)
Para Johnson & Myklebust (1987), em seu livro, “Distúrbios de
Aprendizagem:
Em “Práticas e Princípios Educacionais”, o distúrbio não é uma incapacidade para a aprendizagem. Chamam atenção para o fato de haver, nestas crianças, boa capacidade motora, inteligência entre a média e acima da média, audição, visão e ajustamento emocional satisfatórios, juntamente com um distúrbio de aprendizagem e o fracasso escolar.” (JOHNSON & MYKLEBUST,1987, apud SILVA, 2002, Pg.)
Silva (2002) ressalta que a criança com dificuldades de
aprendizagem não é uma criança “deficiente”, ela apenas aprende de uma
forma diferente, apresenta uma discrepância entre o potencial atual e o
esperado. Não apresenta deficiência mental, pois possui um potencial normal
que não é realizado em termos de aproveitamento escolar.
Estas crianças apresentam capacidade motora adequada, inteligência entre a média e acima da média, audição e visão
8
adequadas, ajustamento emocional adequado e insucesso escolar. Apresentam dificuldades para aprender e compreender, falar, ler, escrever, dizer as horas, brincar, calcular, distinguir entre direita e esquerda, ou relacionar-se bem com os outros e, ainda assim, não apresentam deficiências sensoriais, não apresentam problemas emocionais e não possuem dificuldades motoras. Possuem uma disfunção cerebral que não se manifesta através de anormalidades neurológicas gritantes mas que causa sérios entraves à aprendizagem, impedindo a realização do que poderia vir a ser um potencial intelectual normal. (Guerra, 2002, p.11)
Conforme colocado pelos autores acima, a dificuldade de
aprendizagem não é vista como um empecilho para que o aluno aprenda. É
um transtorno do desenvolvimento que pode estar associado a outros
transtornos, porém o indivíduo não é considerado deficiente mental e tampouco
apresenta deficiência sensorial, emocional e motora. O que vem a apresentar é
uma disfunção cerebral sem anormalidades neurológicas gritantes, causando
problemas na leitura, na escrita, na matemática, na comunicação interpessoal
etc, aprendendo de forma diferenciada dos outros alunos considerados com
potencial intelectual normal.
Atualmente, assume-se um critério de discrepância entre aptidão e
rendimento, onde a capacidade de aprender não está proporcional com o
rendimento acadêmico, ou seja, o aluno tem a capacidade para aprender,
porém, por problemas intrínsecos, não consegue um bom rendimento. Outro
critério é o da exclusão que acaba rotulando o aluno de ser incapaz de
aprender (potencial esperado pela escola), desvalorizando o seu potencial
atual (capacidade que se tem para aprender). Esses dois critérios são muito
discutidos, com a finalidade de se chegar a um consenso para o
esclarecimento das causas que afetam a aprendizagem.
Segundo Silva (2002) as principais causas dos distúrbios da
aprendizagem e da inadaptação escolar são:
1) Causas físicas - São aquelas representadas pelas perturbações somáticas
transitórias ou permanentes.
9
2) Causas sensoriais - São todos os distúrbios que atingem os órgãos dos
sentidos, que são responsáveis pela percepção que o indivíduo tem do exterior.
3) Causas neurológicas - São perturbações do sistema nervoso, tanto do
cérebro, como do cerebelo, da medula e dos nervos.
4) Causas emocionais - São distúrbios psicológicos, ligados às emoções e
aos sentimentos dos indivíduos e à sua personalidade.
5) Causas intelectuais e cognitivas - São aquelas que dizem respeito à
inteligência do indivíduo, isto é, a sua capacidade de conhecer e compreender
o mundo em que vive, de raciocinar e de estabelecer relações entre eles.
6) Causas educacionais - as causas são devido a fatores exógenos:
problemas no meio escolar, familiar e etc.
7) Causas sócio-econômicas -São problemas que se originam no meio social
e econômico do indivíduo.
Os principais distúrbios de Aprendizagem são a dislexia , a disgrafia,
a disortografia, discalculia, hiperlexia, dissemia, TDAH (Transtorno de Déficit de
Atenção / Hiperatividade), TDA (Transtorno de Déficit de Atenção)
I. Dislexia – Dificuldade na aquisiçao da escrita e da leitura. O
cérebro do dislexo não identifica e codifica os sinais gráficos que
caracterizam as letras.
II. Disgrafia – Dificuldade na quisiçao da escrita. O indivíduo
fala, lê, mas não consegue transmitir informações visuais ao sistema motor,
podendo ter problemas motores e de equilíbrio.
III. Disortografia – dificuldades de escrita relacionadas aos processos de
ortografia, ocorrendo quando a escrita envolve a formulação e a
codificação (fator semântico e sintático) que antecede o ato de
escrever, compreendendo a fase de planificação ou fase ortográfica.
IV. TDA/TDAH - Geralmente não tem ligação com disfunções
neurológicas e caracteriza-se pelo baixo desempenho escolar,
deficiência ou ausência de memória ou ainda tendo aprendizado
satisfatório, o indivíduo pode ser disperso, desatento ou hiperativo.
V. Discalculia – Distúrbio neurológico com causas diversas que pode
envolver o orgânico e o psiconeurológico. Existe uma dificuldade
10
para reconhecer e codificar sinais numéricos ou geométricos e inabilidade para
cálculos matemáticos.
VI. Hiperlexia – Ao contrário da dislexia, na hiperlexia o indivíduo apresenta
aprendizado acelerado da leitura e da escrita, possuindo excelente memória e
capacidade para cálculos matemáticos complicados, destacando-se como
auto-didata.
VII. Dissemia – Dificuldade para utilizar e entender sinais e sinalizações não
verbais, ou seja, dificuldade para comunicar as informações não- verbais
através de expressões faciais, posturais, gestos e ações.
2.22.22.22.2 – As Dificuldades Escolares
As dificuldades escolares, estão vinculadas a outros problemas que
podem ser de origem educacional, motivacional e ambiental, ou seja, estão
relacionadas com fatores exógenos.
2.2.1 – A Influência do Nível Sócio-econômico
Soler (2004) apud Rumberg (1995) mesmo resolvendo os problemas
do rendimento acadêmico e outras características, a classe social do estudante
constituía um fator importante de abandono. (MARCHESI, HERNÀNDEZ &
COLS. , 2004, p. 216)
Para Soler (2004) os alunos de famílias mais pobres têm uma ideia
de que seus pais veem o êxito educacional de seus filhos em termos relativos.
Por exemplo, algumas famílias consideram que o acesso ao nível médio já é
um nível muito alto de escolarização.
Outro ponto a ser considerado é que essas famílias por estarem
numa situação econômica difícil devido ao baixo nível de educação,
pressionam os filhos para contribuírem economicamente com o sustento da
casa, interferindo no desempenho deles e, consequentemente, contribuindo
para a saída destes da escola.
11
Também a pobreza econômica pode significar um meio inadequado
no lar para um estudo tranquilo e acesso a material de leitura, como também
deficientes condições de higiene e nutrição.
12
2.2.22.2.22.2.22.2.2 – Relação família-escola
A escassa cultura de relações família-escola existente entre nós contribui muito pouco para fomentar nos pais a transformação de suas ideias a propósito de seus filhos, de suas capacidades, da forma de os estimular e melhorar suas condições de criação e educação, assim como de mudar a própria visão que os pais têm de si mesmos como capazes de influir sobre o desenvolvimento infantil. (PALÁCIOS, 2004, apud MARCHESI, HERNÀNDEZ & COLS, 2004, Pg 81)
Segundo os autores acima citados ressalta-se a participação da
família como um dos fatores primordiais para o êxito educacional, já que sem
elo família – escola a possibilidade do fracasso torna-se evidente.
Pois como afirmam Ferhaman, Keith e Reimers (1987) sem uma
mudança de ideias tradicionais - ideias distantes da cultura escolar - para as
modernas, não haverá uma troca de informações, um intercâmbio, entre
família-escola. Nesse sentido, a probabilidade dos alunos fracassarem será
maior, pois as interações dos pais nas realizações dos trabalhos escolares do
filho e ao encorajamento verbal e reforço direto de comportamentos, o que
supõe suporte e monitoramento das atividades diárias, contribuindo para
produzir melhoras no desempenho acadêmico da criança.
O papel da família, hoje em dia, é considerado forte influência para o
êxito escolar. Pais que participam, que estão sempre trocando ideias com a
escola, são pessoas responsáveis em estimular a participação dos seus filhos
no processo educativo, contribuindo para formação de cidadãos críticos e
conscientes da realidade.
2.2.3 – Professores
O papel do professor constitui-se basicamente, em ajudar o educando a aprender em todos os aspectos, isto é, na aquisição e desenvolvimento de conhecimentos e habilidades, hábitos, atitudes, valores, ideias ou qualquer tipo de aprendizagem ainda não desenvolvida e julgada importante e necessária para o educando tanto pessoal como socialmente. (REEDER, 1943, apud LÜCK, 1998, P. 13)
13
O professor como sujeito de aprendizagem se encontra no centro da
mudança escolar, pois é ele quem lida diariamente com os alunos,
influenciando positivamente ou negativamente na maneira de pensar e agir dos
discentes, estimulando ou desestimulando para as aprendizagens.
Mudanças curriculares, inovação de métodos e técnicas de ensino ou do próprio currículo não tornarão por si só o processo ensino aprendizagem repentinamente eficazes. Se este estiver que ser melhorado, terá que ser a partir dos professores, do desenvolvimento de suas atitudes, habilidades e conhecimento a respeito das mudanças e inovações necessárias." (LÜCK, 1998, Pg. 15)
A indisciplina e o baixo rendimento podem ser causados pela falta de
domínio no âmbito científico e no conhecimento das técnicas didática básicas,
sendo necessário o conhecimento dos interesses dos seus alunos, as
diferenças de organização e gestão de sala de aula, estratégias para que os
alunos participem no processo de ensino e aprendizagem e na avaliação do
seu rendimento. Mas para que isso aconteça é necessário que se tenha um
número reduzido de alunos nas classes, tempo para trabalho em equipe e
acompanhamento dos alunos junto ao setor de orientação, professores
suficientes e atenção individualizada para determinados alunos com
dificuldades. Para que essa prática se efetive o apoio da escola também é
primordial.
O professor deve repensar sua prática quando algo não está dando
certo. Ele deve sempre se perguntar sobre seus métodos de ensino, recursos
didáticos e técnicas de comunicação inadequados às características da turma
ou de cada aluno. Também, qualidades do professor como: paciência,
dedicação, vontade de ajudar e atitude democrática facilitam a aprendizagem.
Ao contrário, o autoritarismo, a inimizade e o desinteresse podem levar o aluno
a desinteressar-se e não aprender.
"Análises feitas reforçam a ideia de que é a qualidade do
relacionamento professor-aluno que tornam educativo e a escola significativos
para o educando..." (FOSTER, 1969, apud LÜCK, 1998, Pg. 15)
14
Outro fator que contribui para o fracasso dos alunos é a mudança
períodica de professores durante o ano letivo. Os professores que substituem
os antigos não conhecem direito os alunos, não tem uma proximidade, e isso
acaba interferindo no rendimento, devido aos conflitos que podem surgir pela
vinda de um novo professor.
Um ponto que não se pode deixar de pensar é na família do aluno
com dificuldades ou com problemas de comportamento em sala. Esse trabalho
com a família deverá ser conjuntamente com a orientação, conforme dito
anteriormente, onde será solicitado aos pais para conversarem a respeito de
notas e/ou comportamento e informações sobre rotina de estudo em casa.
É importante frisar que o professor tem um papel importante no
processo de aprendizagem e que cabe a ele repensar suas práticas, que
motivem seus alunos, trabalhando sua auto-estima, favorecendo a
aprendizagem significativa , partindo do que o aluno traz de conhecimento para
a escola, na sua bagagem de conhecimento historicamente acumulados que
serão transformados em conteúdos escolares e permitirão uma compreensão
da realidade cada vez mais abrangente.
2.2.4 – Escola
A Gestão da escola influencia positiva ou negativamente na
qualidade do ensino, pois o Gestor/Diretor assume uma posição central na
escola, desempenhando um papel de forte influência na qualidade do ambiente
e clima escolar, do desempenho do seu pessoal e a qualidade do processo
ensino-aprendizagem.
Por isso, o Diretor da escola tem a responsabilidade máxima:
Quanto à consecução eficaz da política educacional do sistema e do desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais, organizando, dinamizando e coordenando todos os esforços nesse sentido, e controlando todos os recursos para tal. (LÜCK, 1998, Pg. 16)
15
Sem uma boa gestão, a escola torna-se inoperante, sem
possibilidade de realizar o seu papel social. É função da escola realizar
esforços para a consecução dos seus objetivos através de uma gestão
participativa, democrática em que toda a comunidade escolar possa colaborar
para uma nova escola, àquela que tem no seu pessoal o foco para êxito e não
para o fracasso.
2.2.4.1 - Violência na escola
"A violência nas escolas é sem dúvida um dos fatores que dificultam
a serenidade e as relações interpessoais positivas imprescindíveis para uma
aprendizagem adequada." (MARCHESI, HERNÀNDEZ & COLS. P.111)
Olweus (1993) explica o comportamento violento e suas
consequências para a vítima:
Conduta de perseguição física ou psicológica que o aluno ou a aluna realiza contra o outro, que escolhe como vítima de repetidos ataques. Essa ação, negativa e intencional, coloca as vítimas em posições das quais dificilmente podem sair pelos próprios meios. A continuidade dessas relações provoca nas vítimas efeitos claramente negativos: diminuição de sua auto-estima, estados de ansiedade e inclusive quadros depressivos, o que torna difícil sua integração ao meio escolar e o desenvolvimento normal das aprendizagens.(OLWES,1993 apud MARCHESI, HERNÀNDEZ & COLS, 2004, Pg 112.)
Como pode ser observado na citação acima, a conduta de
perseguição física e psicológica (bullying) pode acarretar vários problemas para
o aluno, inclusive aumentar o desinteresse em frequentar a escola e,
consequentemente, o baixo rendimento.
A escola deve estar atenta para esses casos, trabalhando
preventivamente contra a violência, em conjunto com a equipe pedagógica,
evitando, assim, atos aterrorizadores que causam sequelas psicológicas nas
vítimas.
16
CAPÍTULO 3 : ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL:
PROPOSTAS E ALTERNATIVAS PARA ALUNOS COM
BAIXO RENDIMENTO
Neste capítulo serão abordadas estratégias para uma melhora do
trabalho do Orientador Educacional que atua diretamente com questões
relacionadas ao desempenho escolar dos alunos do ensino fundamental e
médio.
3.1 – O trabalho do Orientador com a família
A família é o primeiro contato social da criança e é com ela que a
criança passa a maior parte do tempo, por isso, é de extrema importância o
envolvimento dos pais com a escola para a contribuição do trabalho
pedagógico.
O Orientador Educacional é um profissional que atua também com a
família dos alunos. Ele, juntamente com a Direção e professores, promove
reuniões com os pais sobre questões mais gerais do colégio que afetam
diretamente o bom andamento do ensino. O Orientador também é aquele que
dialoga com os pais através de entrevistas a respeito do comportamento e
rendimento do aluno. Deverá investigar o que se passa na família do aluno
com problemas de nota e /ou comportamento.
"O papel do orientador educacional na dimensão contextualizada diz
respeito, basicamente, ao estudo da realidade do aluno, trazendo-a para dentro
da escola, no sentido do seu melhor desenvolvimento." (GRINSPUN (ORG),
1996, P. 29)
a) No rendimento : Para estabelecimento de uma rotina de estudo em
casa, supervisão e acompanhamento de tarefas, ambiente adequado com
recursos e instrumentos para estudo, interações positivas como o elogio,
incentivo e encorajamento na execução das tarefas de casa.
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b) No comportamento : Este assunto é complexo por envolver diversos
fatores como, vida familiar, contexto escolar e problemas da personalidade.
O Orientador através das investigações feitas nas entrevistas,
deverá tirar conclusões para orientar os pais e fazer possíveis
encaminhamentos para alguns profissionais: psicólogos, fonoaudiológos,
psicopedagogos etc.
3.2 – O trabalho do Orientador com o aluno
O trabalho de orientar os alunos é favorecer o desenvolvimento
destes para a vida, ajudando-os a serem capazes de satisfazer às demandas
mais complexas que lhes serão exigidas no futuro: aprendizagem, cidadania,
relacionar-se com as pessoas, saber desenvolver-se nas situações.
Para que seja realizado com sucesso o trabalho acima citado, o
orientador deve ter uma boa relação com seus alunos, aproximando-os
sempre, fazendo com que se sintam mais à vontade para exporem situações
que os afligem tanto na escola quanto no meio familiar. Essa relação de
confiança é que ajudará o orientador na coleta de dados para analisar as
causas de problemas de comportamento e/ou rendimento.
O orientador é aquele que faz intermediações para a resolução de
conflitos, orientações para incentivo aos estudos e, até mesmo, conforme cada
caso, chamar a família para conversar, mas sempre demonstrando ao aluno
confiança do que será exposto aos seus pais, com intuito de ajudar e não de
críticar ou repudiar.
O orientador também ajuda o professor, subsidiando-o de
informações sobre o aluno, ou seja, se tem algum problema cognitivo, físico,
emocional, de ordem sócio-econômica etc, facilitando o trabalho pedagógico do
professor, onde orientação e docentes pensarão em estratégias para facilitar a
aprendizagem destes alunos.
Faz parte do nosso trabalho a interdisciplinaridade, a intersubjetividade, o diálogo. O aluno, nosso centro de atenção, responsável maior pelo nosso trabalho, merece que tenhamos uma prática realmente comprometida com sua formação de cidadão. Para isso, é importante dar voz aos
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nossos alunos, para que eles participem ativamente como sujeitos e não como coisas. ( GRINSPUN, 1996, Pg.30)
É preciso dar voz aos alunos, reconhecendo-os como sujeitos que
podem, juntamente com os outros integrantes da vida acadêmica, pensar e
mudar a realidade que vivem, dentro e fora da escola.
3.3 – O Trabalho da Escola: Educação em Valores
Segundo Marchesi, Hernàndez & Cols. (2004) "Mundo dos valores"
é o fator causal do fracasso escolar. Encontramos os valores como conceitos e
como imagens na mente humana. Falar de valores é falar de ideias na mente,
nos hábitos na conduta e nas práticas na vida cotidiana, ou seja, é a soma de
ideias, hábitos e práticas de um indivíduo.
Para os autores acima, as ideias, os hábitos e as práticas se
plasmam em cada indivíduo ao construir a unidade que forma sua "biografia
inserida numa comunidade". O termo "comunidade" na expressão "biografia
inserida numa comunidade" se refere ao conjunto de meios de
desenvolvimento de um sujeito. O conjunto de todos os espaços comunitários
forma o horizonte de inserção de cada indivíduo, por exemplo, o âmbito
familiar, social, escolar, de diversão e etc.
Construir uma biografia satisfatória (aceitável auto-estima) e criar
comunidades moralmente densas são estratégias para limitar o fracasso
escolar.
Segundo Marchesi, Hernàndez & Cols. (2004) sobre comunidade
escolar moralmente densa é aquela que estabelece práticas que facilitam as
relações face a face entre jovens e adultos, criando situações de diálogo aberto
à opinião de todos participantes e que promove projetos de cooperação na
busca de um horizonte compartilhado. Uma escola capaz de afeto,
comunicação e cooperação.
"Quer dizer, trabalhar a unidade que formam "biografia e
comunidade", educar em valores, é um fator causal do êxito escolar."(Marchesi,
Hernàndez & Cols., 2004, Pg 89.)
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Resumindo, para que possamos realizar uma educação em valores devemos:
1) Implantar a certeza de que todos os alunos estão suficientemente capacitados para terem êxito. Trabalho da auto-estima desses alunos; 2) Preocupar-se com cada aluno, em particular, ajudando-o em todos os níveis de sua personalidade; 3) Planejar escolas melhores, estabelecendo laços pessoais e práticas comunitárias, melhorando a convivência; 4) Destinação de recursos para a prática tutorial; 5) Transformar os centros educativos em núcleos, vivenciando práticas de valor, criando uma vida comunitária; 6) Entender que os grupos-classe são espaços de relação, diálogo e cooperação, e não de aprendizagem uniforme e simultânea. (Marchesi, Hernàndez & Cols., 2004, Pg. 90)
3.4 – O Trabalho Interdisciplinar
Alguns procedimentos poderão ser adotados com êxito pela
equipe interdisciplinar:
Ter sempre em mente que a pessoa deve ser considerada na sua experiência, no processo de trabalho grupal e comunitário e no contexto onde ela própria constrói e vai se construindo; Levar em conta a questão da "motivação" dos integrantes do grupo, tendo como ênfase a realização de um bom trabalho; Buscar a conquista de espaços dentro e fora do grupo – "posicionar-se"; Expor sentimentos, usar de franqueza e espontaneidade nas trocas com os outros integrantes do grupo, nas discussões, trabalhar a "ideia" e, sobretudo, perguntar a "união grupal"; A conquista de liberdade de opinião é primordial à interação grupal; os posicionamentos devem ser discutidos em nível de equipe (profissionalmente) e não a nível pessoal. Os resultados precisam vir ao encontro, visando o aperfeiçoamento do conjunto. (BACKHAUS,1992, Pg.52)
Para a autora acima, os profissionais devem trabalhar em equipe,
trocando saberes advindos de experiências anteriores, pois quanto maior a
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integração do grupo, busca de novos conhecimentos e trabalho unificado,
maiores as condições de intervir na realidade escolar.
3.4.1– O Assistente Social na Escola
O trabalho do Assistente Social no ambiente escolar visa atenuar os
problemas socioeducacionais em conjunto com os demais agentes escolares.
Sua contribuição é de fazer com que a escola execute sua função
social, de proteção dos direitos fundamentais da criança e do adolescente,
como assegura o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), inclusive o
direito à cultura, pois os problemas sociais como: evasão escolar, indisciplina,
dificuldade econômica, desagregação familiar, drogas, gravidez precoce,
desinteresse do aluno etc, exigem a intervenção de uma equipe interdisciplinar.
Assim como o orientador educacional, o assistente social presta
assistência aos alunos e seus familiares, ou seja, é um intermediário entre a
comunidade e a escola. Sendo que, seu enfoque maior é impulsionar uma
reflexão política aos segmentos populacionais, em que também possam
reconhecer seus direitos e deveres, para exercerem sua cidadania.
O profissional do Serviço Social deverá desenvolver as seguintes atividades: - Pesquisar a natureza sócio-econômica e familiar para a caracterização da população escolar; - Elaborar e executar programas de orientação sócio-familiar, visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno, bem como sua formação para o exercício da cidadania;
- Participar, em equipe multidisciplinar, da elaboração de programas que visem prevenir a violência, o uso de drogas e o alcoolismo, bem como prestar esclarecimentos e informações sobre doenças infecto-contagiosas e demais questões de saúde pública; - Articular com instituições públicas, privadas, assistenciais e organizações comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de pais e alunos para atendimento de suas necessidades;
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- Ampliar o conhecimento acerca da realidade sócio-familiar do aluno, de forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo adequadamente; - Elaboração e desenvolvimento de programas específicos nas escolas onde existem classes especiais; − Empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da lei 8662/93. (NOVAIS, 2001, Pg.13)
3.4.2– O Trabalho do Fonoaudiólogo
De acordo com a lei 6965, de 09/12/1981, é de competência do
fonoaudiólogo que trabalha em escolas desenvolver trabalho de prevenção no
que se refere à comunicação oral e escrita, voz e audição, além de participar
da equipe de orientação e planejamento escolar, inserindo aspectos
preventivos ligados a assuntos fonoaudiológicos. Não compete ao
fonoaudiólogo escolar realizar terapia fonoaudiológica. Nos casos de terapia, o
fonoaudiólogo deverá fazer os devidos encaminhamentos.
O trabalho do fonoaudiólogo escolar é de orientar, estimular e
detectar problemas na área de voz, de comunicação oral, escrita e audição,
tendo como população alvo alunos, pais e professores.
Com os alunos, o trabalho fonoaudiológico tem os seguintes objetivos: - Otimizar o desenvolvimento da linguagem oral, leitura e escrita; - Promover estratégias de prevenção, preservação e controle de abusos e riscos para a voz e a audição; - Estimular a eliminação de hábitos inadequados relacionados às alterações fonoaudiológicas; - Detectar precocemente, através das informações dos professores, alterações fonoaudiológicas relacionadas à audição, voz, motricidade orofacial e linguagem oral e escrita. −−−− Encaminhar para profissionais, quando necessário, e acompanhar os tratamentos externos à escola.
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No trabalho com os pais, o fonoaudiólogo realiza orientações sobre: - O desenvolvimento normal da criança e alterações fonoaudiológicas comuns na infância; - A importância do estímulo familiar para otimização do desenvolvimento da criança; −−−− O possível problema do filho e explicação de encaminhamentos necessários.(www.fonoeduca.blogspot.com.br)
3.4.3 – O Trabalho do Psicopedagogo
Conforme Rubistein e colaboradores (2004) o objeto de estudo da
psicopedagogia contemporânea continua sendo a aprendizagem, entretanto,
passa-se a valorizar a amplitude do fenômeno educacional.
A psicopedagogia é uma área de conhecimento interdisciplinar pois,
além de ter seu referencial na psicologia, considera a contribuição de outras
áreas como: Antropologia, Sociologia, Fonoaudiologia, Medicina, Neurologia e
Linguística.
A atuação do Psicopedagogo se faz em clínicas ou em instituições. No atendimento clínico sua intervenção se dá em situações de insucessos já ocorridos. Já nas instituições como: escolas, empresas, organizações assistenciais, a atuação é de caráter preventivo, ou seja, visa evitar possíveis situações de insucessos. (www.cienciasecognicao.org)
Albee e Joffe (1997) propuseram diferentes níveis para um trabalho
preventivo:
A prevenção primária, a secundária e terciária.
A prevenção primária se caracteriza por ações destinadas a evitar situações problemas por meio do desenvolvimento de programas educacionais destinados a todos e não a um grupo populacional. A secundária objetiva intervir em um determinado grupo, após o diagnóstico do problema. A terciária é mais ampla que as anteriores onde a intervenção se faz em populações ou grupos com problemas já instalados, visando a redução dos efeitos, das consequencias desses problemas. (www.cienciasecognicao.org)
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A prevenção primária seria a ideal nas escolas, pois trabalharia com
programas de intervenção, atuando preventivamente nas causas de baixo
rendimento. Contudo, evita-se o problema antes que seja instalado.
3.4.4 – O trabalho do Psicólogo na escola
Novaes (1970) afirma que a ação do psicólogo na escola contribui
para um melhor ajustamento global da criança (individual, social e escolar),
colaborando com os professores e orientadores quanto ao aperfeiçoamento em
idade escolar no seu dinamismo psicológico evolutivo; e um favorecimento do
entrosamento da escola com a família dos alunos.
O psicológo atua em toda a estrutura da escola, pois procura
melhorias e um bom relacionamento entre toda a equipe, ou seja, seu objetivo
é aperfeiçoar o processo de aprendizagem e formação, que compreende
também a relação harmoniosa com professores, funcionários e colegas.
O psicólogo escolar efetua um trabalho preventivo junto a alunos de
todas as idades, professores, pais e demais integrantes da comunidade em
torno do colégio, de forma que problemas que comprometam o bom
desempenho e o convívio social de qualquer um dos membros desse grupo
sejam sanadas.
O bom rendimento dos alunos também é influenciado pela forma
com que estes se relacionam no ambiente escolar. Qualquer problema que
afete tal interação, será causa de futuros problemas disciplinares.
24
CAPÍTULO 4 – PESQUISA DE CAMPO
A pesquisa de campo foi realizada através de um questionário
contendo 13 (treze) perguntas, sendo aplicado a um grupo de alunos (10
alunos) que foram retidos na 1ª e 2ª séries do Ensino Médio, no ano letivo final
de 2011.
O período da entrevista ocorreu de novembro a dezembro de 2012,
sendo feita pessoalmente com os alunos no próprio colégio.
Analisando o questionário aplicado observei que:
1. 9% dos alunos afirmaram terem tido dificuldades nas disciplinas
exatas como: Matemática, Física e Química.
2. Na rotina de estudo 3% não praticam/praticavam uma rotina de
estudo em casa, sendo que 2% destes alunos estudam/estudavam em
explicadora. Os 7% restante estudam/estudavam em casa, porém com
dificuldades para entender o conteúdo.
3. No relacionamento professor – aluno: 8% disseram ainda ter bom
relacionamento, 1% com relacionamento ótimo e 1% regular.
4. Na convivência com o grupo/turma relataram que: 9% tem boa
convivência e 1% afirmou que possui problemas de relacionamento.
5. No relacionamento com os funcionários de toda a escola 10%
afirmaram ter bom relacionamento.
6. Na participação da família nos estudos destes alunos: somente
1% afirmou não ter a preocupação/incentivo dos pais devido a problemas
familiares.
7. 6% relataram que passaram/passam por problemas familiares,
sendo o restante sem problemas relatados.
8. Sobre acompanhamento médico, fonoaudiológico e psicológico:
2% afirmaram terem realizado acompanhamento médico, 1% psicológico, 1%
fonoaudiológico no início do ensino fundamental. O restante afirmou nunca ter
feito nenhum tipo de acompanhamento.
9. Em relação as dificuldades, dúvidas sobre os conteúdos dados
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em sala de aula: 3% relataram sempre recorrer ao professor e aos estudos em
casa para tirar as dúvidas, 2% recorrem ao professor, 1% pede somente
explicação ao colega, 1% pede explicação ao professor, ao colega e tira as
dúvidas em casa e 2% pede explicação ao colega e tira as dúvidas em casa e
1% tira as dúvidas somente em casa. OBS: Os alunos que estudam somente
em casa, afirmaram que não conseguem, na maioria das vezes, compreender
o conteúdo visto em sala de aula.
10. Na frequência destes alunos: 3% afirmaram ter se ausentado por
motivo de dengue, 1% passou por uma cirurgia, 4% ausência por viagem e 1%
por morte em família.
11. Sobre o grau de interesse em estudar no colégio: 9% afirmaram
gostar do colégio e apenas 1% afirmou não gostar por causa das constantes
greves.
12. Quando foi perguntado sobre a causa da reprovação no ano letivo
de 2011 afirmaram que: 1% disse que a greve e a dificuldade nas disciplinas
exatas atrapalharam o resultado no ano letivo, 3% afirmaram que foi por causa
da falta de uma rotina de estudo em casa, 1% devido a falta de frequencia por
problema de saúde e familiar, 4% afirmaram ser por causa somente da greve e
1% relatou que a timidez dificultou na hora de tirar as dúvidas.
13. Quando perguntado sobre o que é necessário para evitar a
reprovação: 6% responderam que o aluno deve ter muita dedicação nos
estudos, 2% colocaram que o colégio deve criar horários de monitoria para os
alunos com dificuldades e 2% afirmaram evitar as greves muito longas.
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CONCLUSÃO
A escola é um local de aprendizagens diferenciadas, as quais devem
ser valorizadas, incentivadas e motivadas em seus alunos. Esta é a direção
para qualquer bom desempenho escolar.
Porém, nossa realidade educacional está aquém desta perspectiva.
Nossos alunos estão cada vez mais desmotivados, excluídos e evadidos das
escolas por motivos vários.
Em pesquisa de campo realizada numa escola da rede federal de
ensino, onde os alunos do Ensino Médio responderam a um questionário para
análise das causas que os fizeram permanecer na mesma série (ano letivo de
2011) constatou-se que:
1. No colégio há uma carência de uma equipe multidisciplinar
envolvida com a questão do baixo rendimento escolar. Existem orientadores
educacionais, entretanto, há falta de psicólogos, psicopedagogos,
fonoaudiólogos para trabalharem com a família, professores e alunos.
2. Os alunos demonstraram dificuldades com as disciplinas exatas,
problemas de ordem familiar, de introspecção, em orientação na rotina dos
estudos e greves frequentes etc, prejudicando-os no ano ano letivo de 2011.
Portanto, por questões acima relacionadas, se faz urgente a
gestão/gestor da escola pensar em estratégias conjuntamente com toda a
equipe escolar para a criação de projetos que trabalhem com a questão do
fracasso escolar, envolvendo e aproximando toda a comunidade na tarefa de
educar para uma escola mais justa e humana.
"Um país que não cuida da educação está condenando seu futuro"
(Içami Tiba)
27
BIBLIOGRAFIA:
BACKHAUS, B. B. (1992) Prática do Serviço Social Escolar: uma
abordagem interdisciplinar. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo,
n.38, ano 13, abr. 1992, p.37-55.
CIÊNCIAS & COGNIÇÃO (2007); Psicopedagogia: limites e
possibilidades a partir de relatos de profissionais. Vol 12: 115-133
FEHRMANN, P. G.; KEITH, T.Z.; REIMERS, T.M. Home influence on
school learning: direct and indirect effects of parental involvement on high
school grades. Journal of educational Research, 80 (6), 330-337, 1987.
GUERRA, L. B. (2002) A criança com dificuldades de aprendizagem. Rio
de Janeiro: Enelivros.
GRINSPUN (ORG.) 1994 A prática dos orientadores educacionais. São
Paulo: Cortez.
LÜCK, H. (1998) Administração, Supervisão e Orientação Vocacional.
Petrópolis: Vozes.
MARCHESI, A. e Gil, C.H. & COLABORADORES (2004) Fracasso
escolar: uma perspectiva multicultural. Porto Alegre: Artmed.
NAGEL, L. (1989) Avaliação, Sociedade e Escola: fundamentos para
reflexão. Secretaria de Estado da Educação do Paraná.
NOVAIS, M. H. (1970) Psicologia Escolar. Rio de Janeiro: Vozes.
PATTO, M. H.S. (1999) A produção do fracasso escolar: histórias de
28
submissão e rebeldia, São Paulo: Casa do psicólogo.
SÀNCHEZ, J. N.G. (2004) Dificuldades de aprendizagem e intervenção
psicopedagógica. Porto Alegre: Artmed.
SILVA, D. D. M. (2002) Os distúrbios da aprendizagem e o fracasso
escolar. Rio de Janeiro: monografia, Universidade Cândido Mendes.
29
WEBGRAFIA:
http://www.fonoeduca.blogspot.com.br;
http://www.cienciasecognicao.org
30
ANEXOS
QUESTIONÁRIO PARA ANÁLISE DE DADOS
1) VOCÊ TEVE/ AINDA TEM DIFICULDADE EM ALGUMA DISCIPLINA?
EM CASO AFIRMATIVO, DIGA QUAL E POR QUÊ?
2) VOCÊ TEM UMA ROTINA DE ESTUDOS EM CASA? REALIZA TODAS
AS ATIVIDADES RECOMENDADAS PELOS SEUS PROFESSORES?
3) EM GERAL, COMO É O SEU RELACIONAMENTO COM SEUS
PROFESSORES?
( ) ÓTIMO
( ) BOM
( ) REGULAR
( ) RUIM
4) VOCÊ TEM / TEVE BOA CONVIVÊNCIA COM SEUS COLEGAS DE
TURMA/TURMAS? POR QUÊ?
5) COMO VOCÊ SE RELACIONA / RELACIONOU COM OS OUTROS
FUNCIONÁRIOS DA SUA ESCOLA?
6) VOCÊ TEM / TEVE APOIO / INCENTIVO DOS SEUS PAIS EM
RELAÇÃO AOS SEUS ESTUDOS?
7) VOCÊ ESTÁ PASSANDO / PASSOU POR ALGUM PROBLEMA
FAMILIAR? SE JÁ PASSOU, INFORME O ANO.
8) JÁ PRECISOU FAZER ALGUM ACOMPANHAMENTO MÉDICO,
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PSICOLÓGICO OU FONOAUDIOLÓGICO? EM CASO AFIRMATIVO DIGA
QUAL, QUANDO E POR QUÊ?
9) QUANDO TEM DÚVIDAS NAS AULAS, VOCÊ:
( ) SEMPRE RECORRE AO PROFESSOR.
( ) NUNCA PERGUNTA E SEMPRE ESTÁ COM DÚVIDAS.
( ) PEDE EXPLICAÇÃO AO COLEGA, SOMENTE.
( ) TIRA AS DÚVIDAS EM CASA, QUANDO ESTUDA A MATÉRIA.
OBS.: PODE MARCAR MAIS DE UMA OPÇÃO, DESDE QUE NÃO OCORRA
AMBIGUIDADE.
10) VOCÊ TEVE QUE SE AUSENTAR DA ESCOLA EM ALGUM PERÍODO
DO ANO DE 2011? EM CASO AFIRMATIVO, E
11) VOCÊ GOSTA DA ESCOLA EM QUE ESTUDA? POR QUÊ?
12) O QUE VOCÊ ATRIBUI A SUA REPROVAÇÃO NO ANO LETIVO DE 2011?
13) PARA VOCÊ, O QUE É NECESSÁRIO PARA EVITAR A REPROVAÇÃO?