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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU Orientação Educacional: Propostas e Alternativas para alunos com baixo rendimento ZELÂNDIA MENEZES LIMA CUPERTINO Orientador: Professor Vilson Sérgio de Carvalho Co – Orientadora: Professora Dayana Trindade Rio de Janeiro – RJ 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · problema do baixo rendimento ou fracasso escolar pois, segundo Galliano(1986), a pesquisa bibliográfica tem como objetivo desvendar,

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

Orientação Educacional: Propostas e Alternativas para alunos com baixo

rendimento

ZELÂNDIA MENEZES LIMA CUPERTINO

Orientador: Professor Vilson Sérgio de Carvalho

Co – Orientadora: Professora Dayana Trindade

Rio de Janeiro – RJ

2013

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

Orientação Educacional: Propostas e Alternativas para alunos com baixo

rendimento

ZELÂNDIA MENEZES LIMA CUPERTINO

Monografia apresentada ao Instituto a Vez do Mestre como requisito

parcial para obtenção do título de especialista em Orientação

Educacional e Pedagógica.

Orientadora: Professor Vilson Sérgio de Carvalho

Co – Orientadora: Professora Dayana Trindade

Rio de Janeiro – RJ

2013

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me ajudaram na construção deste trabalho, de modo

especial a Deus, meu grande auxiliador de todas as horas.

DEDICATÓRIA

À minha família, meu maior tesouro.

EPÍGRAFE

"Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias."

(Augusto Cury)

RESUMO

A presente monografia tem como objetivo principal analisar a problemática educacional em relação ao baixo rendimento dos alunos, investigando alternativas para o bom desempenho, favorecendo ao orientador educacional e pedagógico um trabalho focado na prevenção do fracasso escolar. O fracasso escolar é considerado um processo pelo qual os alunos não conseguem alcançar um desempenho satisfatório para prosseguirem seus estudos. Muitos ficam desmotivados, acabam achando que não têm capacidade para aprender, culminando na evasão escolar. As causas do fracasso escolar/baixo rendimento podem estar associadas a dois fatores: fatores escolares (exógenos): vinculados a problemas de origem educacional, motivacional, emocional ou ambiental e/ou a fatores endógenos ligados à existência de uma disfunção neurológica relacionada ao problema de aprender (distúrbio de aprendizagem). É devido a esta realidade, que se faz necessário, no ambiente escolar, pessoal capacitado no trabalho de orientação aos pais, professores e alunos envolvidos nesta problemática. A equipe escolar envolvida deve ser multidisciplinar, realizando projetos ao longo do ano letivo com objetivo de identificar as causas do baixo rendimento, visando a recuperação destes alunos. Todavia, para que a proposta de trabalho acima se efetive, o gestor / gestão da escola deve unir esforços no sentido de que toda equipe escolar pense / repense em estratégias conjuntamente para a erradicação do fracasso escolar.

METODOLOGIA

Este trabalho monográfico foi desenvolvido em 03 etapas:

Na 1ª etapa foi realizada a pesquisa bibliográfica com consulta em

sites, revistas, jornais, arquivos, teses, dissertações, livros especializados,

folhetos, relatórios e comentários para que se tenha um conhecimento prévio

do estágio em que se encontra o assunto. Além das consultas em obras

publicadas foram feitos registros de anotações em fichas e rascunhos.

Nesta etapa foram analisadas as contribuições teóricas a respeito do

problema do baixo rendimento ou fracasso escolar pois, segundo

Galliano(1986), a pesquisa bibliográfica tem como objetivo desvendar, analisar

e recolher as principais contribuições teóricas sobre um determinado assunto,

fato ou ideia. (Pg. 109)

Os principais referenciais teóricos desta pesquisa são : Álvaro

Marchesi, Carlos Fernandez Gil e Jésus-Nicasio García Sánchez e outros. Os

dois primeiros autores falam do fracasso escolar, ou seja, seu conceito, sua

origem e estratégias de mudança. O terceiro autor cita as dificuldades de

aprendizagem e intervenção psicopedagógica.

Na 2ª etapa, foi aplicado um questionário a um grupo de alunos

retidos na série, ano letivo de 2011, da rede federal de ensino, sobre suas

principais dificuldades em relação aos seus estudos.

Ao final, na 3ª etapa, realizou-se o resultado da pesquisa de campo

(questionário) com o trabalho bibliográfico.

Nesta monografia foram abordados os principais assuntos que

interferem na vida acadêmica dos alunos e consequências para a vida

profissional. Também, um dos objetivos é propor alternativas contra o baixo

rendimento escolar e, consequentemente, a evasão escolar. Por isso, este

trabalho visa oferecer ao orientador educacional e pedagógico um material que

poderá lhe proporcionar um melhor acompanhamento dos seus alunos e uma

orientação focada na prevenção do fracasso escolar.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................... 01

CAPÍTULO 1 - Fracasso e Baixo Rendimento Escolares

1.1 - O que é Baixo Rendimento e Fracasso Escolar? ..... 03

1.2 - O Fracasso Escolar no Brasil..................................... 04

CAPÍTULO 2 - Causas do Baixo Rendimento Escolar

2.1 - As dificuldades de aprendizagem ou Distúrbios de Aprendizagem 06

2.2 - As dificuldades escolares............................................... 10

2.2.1 - A influência do nível socioeconômico.................. 10

2.2.2 - Relação família-escola........................................... 11

2.2.3 – Professores........................................................... 11

2.2.4 – Escola................................................................... 13

2.2.4.1 – Violência na escola.................................... 14

CAPÍTULO 3 – Orientação Educacional: Propostas e Alternativas para

alunos com baixo rendimento.

3.1 - O Trabalho do Orientador com a Família...................... 16

3.2 - O Trabalho do Orientador com o Aluno ........................ 17

3.3 - O Trabalho da Escola: Educação em valores............... 18

3.4 - O Trabalho Interdisciplinar............................................ 19

3.4.1 – O Assistente Social na escola................................. 20

3.4.2 – O Trabalho do Fonoaudiólogo................................. 21

3.4.3 – O Trabalho do Psicopedagogo................................ 22

3.4.4 – O Trabalho do Psicólogo......................................... 23

CAPÍTULO 4 – PESQUISA DE CAMPO............................... 24

CONCLUSÃO ....................................................................... 26

BIBLIOGRAFIA..................................................................... 27

WEBGRAFIA......................................................................... 29

ANEXOS................................................................................ 30

1

INTRODUÇÃO

Segundo uma pesquisa divulgada recentemente, os problemas de

aprendizagem das crianças surgem logo nos primeiros anos do ensino

fundamental. Organizada pelo movimento Todos pela Educação, a Prova ABC,

mostra que, em 2010, apenas 48% dos alunos do 3º ano da rede pública

aprenderam o que era esperado em leitura e só 42% em matemática. (Nova

Escola, outubro 2011)

Também uma pesquisa realizada na Espanha mostra que 25% de

seus alunos não terminam de forma satisfatória o ensino fundamental e

médio.”...devemos estar conscientes de que o fracasso escolar pode se ampliar

no futuro porque cada vez mais a sociedade global exigirá mais conhecimentos

e habilidades dos jovens”. (Marchesi, Hernàndez & Cols, 2004 , p.248 ).

Devido a esta real problemática educacional, é necessário investigar

as alternativas para o bom desempenho dos alunos com baixo rendimento,

identificar as suas causas e propor alternativas de orientação educacional para

alunos com baixo rendimento escolar.

Este estudo será de cunho bibliográfico para a resposta do

problema: Como orientar alunos com baixo rendimento?

Após a pesquisa bibliográfica do problema estudado, se iniciará uma

pesquisa de campo com um questionário para alunos do 1º e 2º ano do Ensino

Médio, retidos no ano de 2011, alunos estes, de uma escola pública federal

situada na cidade do Rio de Janeiro.

Com análise desta pesquisa deverá se chegar a uma conclusão a

respeito das causas do baixo rendimento desses alunos, traçando-se metas

para que o baixo rendimento seja minimizado através de uma orientação

educacional e pedagógica, com propostas e alternativas.

Esta pesquisa será dividida em 4 capítulos com uma conclusão no

final do trabalho.

No capítulo I, será definido o que é fracasso escolar e baixo

rendimento, além de ser feito um breve comentário sobre o fracasso escolar no

2

Brasil ao longo da história.

No capítulo II, serão explicadas as causas do baixo rendimento

escolar, diferenciando as dificuldades de aprendizagem ou distúrbios de

aprendizagem, bem como as dificuldades escolares.

Já no capítulo III, as propostas e alternativas em orientação

educacional e pedagógica serão elucidadas através do trabalho do orientador

com a família, com o aluno com baixo rendimento, o trabalho da escola e o

trabalho interdisciplinar.

No capítulo IV, abordará sobre a pesquisa de campo: público alvo,

tempo do trabalho, local, nº de participantes e o questionário aplicado. Enfim,

será colocado tudo a respeito de como o trabalho de campo ocorreu.

Na conclusão é feita uma análise, relacionando a teoria do trabalho

com a pesquisa de campo. As possíveis causas do baixo rendimento dos

alunos pesquisados serão citadas, sendo propostas alternativas de trabalho em

orientação (capítulo III) para esses alunos.

Descobrindo as causas do baixo rendimento e estratégias para

reduzí-lo, teremos um ensino de melhor qualidade, com alunos mais

interessados pelo estudo, mais motivados a aprender, contribuindo também

para a diminuição do fracasso e evasão escolares.

3

CAPÍTULO I : FRACASSO E BAIXO RENDIMENTO

ESCOLARES

1.1 – O que é Baixo Rendimento e Fracasso Escolar ?

Para o estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico):

Insiste no fato de que, independentemente das diferenças no uso do termo, assim como em sua definição, o baixo rendimento escolar deve ser considerado um processo mais do que um resultado final atribuível a variáveis institucionais, sociais e individuais.(KOVACS, 2004, p. 45)

A OCDE distingue três momentos-chave nesse processo:

1º momento: Durante o período da educação obrigatória, apresenta-

se quando o rendimento do aluno é consistentemente inferior ao da média ou

quando o discente inclusive tem de repetir um ano escolar.

2º momento: Ocorre quando o aluno desiste dos estudos antes de

terminar a educação obrigatória (Evasão Escolar) ou quando este termina

seus estudos sem obter um certificado

3º momento: Se refere à dificuldade que os jovens têm de ingressar

na vida produtiva devido à falta dos conhecimentos e habilidades básicas que

deveriam ter adquirido na escola. (KOVACS, 2004, pg. 45)

Segundo o texto acima podemos dizer que o baixo rendimento

também é uma forma de fracasso escolar, já que este é um processo onde o

baixo rendimento é o 1° momento.

Ou ainda sobre a definição do tema Fracasso escolar:

Se refere àqueles alunos que, ao finalizarem sua permanência na escola, não alcançaram os conhecimentos e as habilidades considerados necessários para desempenhar-se de forma satisfatória na vida social e profissional ou prosseguirem seus estudos. (MRCHESI; PÉREZ, 2004, Pgs. 17 e 18)

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1.2 - O Fracasso Escolar no Brasil

Segundo Patto (1999) as explicações sobre fracasso escolar da

escola pública brasileira foram baseadas, num primeiro momento, nas teorias

racistas, por volta do ano de 1870, onde os colonizadores colocavam os

colonizados numa situação de inferioridade intelectual, ou seja, achavam que

os colonizados eram incapazes de aprender. O auge destas ideias racistas foi o

período de 1850 a 1930.

As pesquisas iniciais sobre o fracasso escolar– a partir dos anos 30 -

estavam sob a influência do escolanovismo que apontavam as causas das

dificuldades de aprendizagem não no indivíduo, mas nos métodos, que

deveriam ser determinados pela observação do indivíduo e de suas

capacidades e não por critérios externos.

Para Patto (1999) a psicologia a partir dos anos 30 adotou a prática

de diagnóstico e tratamento de desvios psíquicos o que levou a justificar o

fracasso ou tentar impedí-lo por meio de programas preventivos para

diagnosticar precocemente os distúbios no desenvolvimento psicológico infantil.

Predominou, a partir de então, a explicação psicologizante das dificuldades de

aprendizagem juntamente com as teorias racistas, marcadas, desde a

colonização, pelo preconceito em relação aos índios, aos mestiços e aos

negros.

Até os anos 70 predominou a explicação do fracasso escolar em

função das características biológicas, psicológicas e sociais dos alunos,

perdendo-se de vista a dimensão pedagógica do processo. Desconsiderava-se

os aspectos estruturais e funcionais do sistema de ensino como determinante

do fracasso escolar.

Durante os anos 70, o fracasso escolar passou a ser explicado pela

teoria da Carência Cultural, na qual se afirmava que as deficências (déficit) do

ambiente cultural das classes mais baixas ocasionavam deficiência no

desenvolvimento psicológico infantil e, consequentemente, as dificuldades de

aprendizagem e de adaptação escolar, sendo considerado por Patto (1999)

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uma manifestação poderosa de preconceito racial e social.

Um novo marco conceitual foi o ano de 1977 com as ideias de

Snyders e Gramsci com a reflexão sobre o problema da ineficiência e do papel

social da escola para o povo.

Patto (1999) afirma que nos dias atuais, há a retomada ou o

retrocesso de explicações sobre o fracasso escolar que já deveriam ter sido

superadas. A autora aponta para a necessidade de se quebrar o estigma de

que o fracasso é culpa do aluno ou de sua família e alerta para a proporção

muito maior dos determinantes institucionais e sociais na produção do fracasso

escolar do que problemas emocionais, orgânicos e neurológicos, rompendo

com as visões psicologizantes, da carência cultural e das dificuldades de

aprendizagem.

"A escola ... pode trabalhar com o homem em nova dimensão,

bastando para isso que seus membros se disponham a estabelecer um novo

projeto de reflexão e ação." (NAGEL, 1989, Pg.10)

Para a autora significa estudos e aprofundamentos de todos com

questões relativas à humanidade, à sociedade. Um novo projeto para uma

educação de qualidade, garantindo a permanência e o sucesso dos que nela

interagem.

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CAPÍTULO 2: Causas do Baixo Rendimento Escolar

A existência do baixo rendimento no sistema escolar envolve fatores

estritamente individuais que se podem referir a muitos diferentes âmbitos,

desde o cognitivo até o motivacional. Há também fatores estritamente

educacionais, relacionados com os conteúdos e as exigências escolares, com

a forma de trabalhar em sala de aula, de responder às dificuldades que alguns

alunos podem apresentar.

A contraposição de culturas entre a família e a escola também é um

fator que influencia o rendimento do aluno, além dos fatores sociais e culturais

mais amplos (formação dos professores, suas atitudes e valores sociais, o

papel da televisão, etc).

Esses diferentes fatores atuam juntos, conspirando para tornar

altamente provável a experiência do fracasso em um determinado número de

alunos.

2.12.12.12.1 – As Dificuldades de Aprendizagem ou Distúrbios de

Aprenizagem

Utiliza-se o termo dificuldade de aprendizagem no sentido

internacional do DSM-IV-TR e consensual do Comitê Conjunto para as

Dificuldades de Aprendizagem (Das).

O DSM-IV-TR classifica os transtornos da aprendizagem:

Dentro dos transtornos diagnosticados pela primeira vez na infância ou na adolescência, considerando o transtorno da leitura, o da matemática, o da expressão escrita e o transtorno da aprendizagem sem outra especificação. A classificação da American Psychological Association (APA, 1995a,b) é compatível com a inclusão das dificuldades de aprendizagem como um tipo transtorno de desenvolvimento, e em relação a outros transtornos que aparecem ao longo do desenvolvimento e que necessitam de intervenção psicopedagógica." (SÀNCHEZ, 2004, apud GARCÍA, 1999)

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Segundo a conceitualização internacional, as dificuldades de

aprendizagem se caracterizam por:

Um funcionamento substancialmente abaixo do esperado, considerando a idade cronológica do sujeito e seu quociente intelectual, além de interferirem significativamente no rendimento acadêmico ou na vida cotidiana, exigindo um diagnóstico alternativo nos casos de déficits sensoriais. Assumem-se, portanto, um critério de discrepância entre aptidão e o rendimento e um critério de exclusão, além do baixo rendimento e da interferência na vida cotidiana. Esses critérios de exclusão e de discrepância foram e ainda são muito discutidos. (SÀNCHEZ, 2004, págs 15 e 16)

O Comitê Conjunto sobre Dificuldades de Aprendizagem assume a mesma linha de conceito ao sugerir que as dificuldades de aprendizagem são algo heterogêneo, supõem problemas significativos na conquista das habilidades da leitura, de escrita e/ou de matemática, que se acredita serem intrínsecas ao indivíduo, é possível encontrar superposição com outros problemas que não se devem a influências extrínsecas. (SANCHEZ, 2004, P. 16)

Para Johnson & Myklebust (1987), em seu livro, “Distúrbios de

Aprendizagem:

Em “Práticas e Princípios Educacionais”, o distúrbio não é uma incapacidade para a aprendizagem. Chamam atenção para o fato de haver, nestas crianças, boa capacidade motora, inteligência entre a média e acima da média, audição, visão e ajustamento emocional satisfatórios, juntamente com um distúrbio de aprendizagem e o fracasso escolar.” (JOHNSON & MYKLEBUST,1987, apud SILVA, 2002, Pg.)

Silva (2002) ressalta que a criança com dificuldades de

aprendizagem não é uma criança “deficiente”, ela apenas aprende de uma

forma diferente, apresenta uma discrepância entre o potencial atual e o

esperado. Não apresenta deficiência mental, pois possui um potencial normal

que não é realizado em termos de aproveitamento escolar.

Estas crianças apresentam capacidade motora adequada, inteligência entre a média e acima da média, audição e visão

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adequadas, ajustamento emocional adequado e insucesso escolar. Apresentam dificuldades para aprender e compreender, falar, ler, escrever, dizer as horas, brincar, calcular, distinguir entre direita e esquerda, ou relacionar-se bem com os outros e, ainda assim, não apresentam deficiências sensoriais, não apresentam problemas emocionais e não possuem dificuldades motoras. Possuem uma disfunção cerebral que não se manifesta através de anormalidades neurológicas gritantes mas que causa sérios entraves à aprendizagem, impedindo a realização do que poderia vir a ser um potencial intelectual normal. (Guerra, 2002, p.11)

Conforme colocado pelos autores acima, a dificuldade de

aprendizagem não é vista como um empecilho para que o aluno aprenda. É

um transtorno do desenvolvimento que pode estar associado a outros

transtornos, porém o indivíduo não é considerado deficiente mental e tampouco

apresenta deficiência sensorial, emocional e motora. O que vem a apresentar é

uma disfunção cerebral sem anormalidades neurológicas gritantes, causando

problemas na leitura, na escrita, na matemática, na comunicação interpessoal

etc, aprendendo de forma diferenciada dos outros alunos considerados com

potencial intelectual normal.

Atualmente, assume-se um critério de discrepância entre aptidão e

rendimento, onde a capacidade de aprender não está proporcional com o

rendimento acadêmico, ou seja, o aluno tem a capacidade para aprender,

porém, por problemas intrínsecos, não consegue um bom rendimento. Outro

critério é o da exclusão que acaba rotulando o aluno de ser incapaz de

aprender (potencial esperado pela escola), desvalorizando o seu potencial

atual (capacidade que se tem para aprender). Esses dois critérios são muito

discutidos, com a finalidade de se chegar a um consenso para o

esclarecimento das causas que afetam a aprendizagem.

Segundo Silva (2002) as principais causas dos distúrbios da

aprendizagem e da inadaptação escolar são:

1) Causas físicas - São aquelas representadas pelas perturbações somáticas

transitórias ou permanentes.

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2) Causas sensoriais - São todos os distúrbios que atingem os órgãos dos

sentidos, que são responsáveis pela percepção que o indivíduo tem do exterior.

3) Causas neurológicas - São perturbações do sistema nervoso, tanto do

cérebro, como do cerebelo, da medula e dos nervos.

4) Causas emocionais - São distúrbios psicológicos, ligados às emoções e

aos sentimentos dos indivíduos e à sua personalidade.

5) Causas intelectuais e cognitivas - São aquelas que dizem respeito à

inteligência do indivíduo, isto é, a sua capacidade de conhecer e compreender

o mundo em que vive, de raciocinar e de estabelecer relações entre eles.

6) Causas educacionais - as causas são devido a fatores exógenos:

problemas no meio escolar, familiar e etc.

7) Causas sócio-econômicas -São problemas que se originam no meio social

e econômico do indivíduo.

Os principais distúrbios de Aprendizagem são a dislexia , a disgrafia,

a disortografia, discalculia, hiperlexia, dissemia, TDAH (Transtorno de Déficit de

Atenção / Hiperatividade), TDA (Transtorno de Déficit de Atenção)

I. Dislexia – Dificuldade na aquisiçao da escrita e da leitura. O

cérebro do dislexo não identifica e codifica os sinais gráficos que

caracterizam as letras.

II. Disgrafia – Dificuldade na quisiçao da escrita. O indivíduo

fala, lê, mas não consegue transmitir informações visuais ao sistema motor,

podendo ter problemas motores e de equilíbrio.

III. Disortografia – dificuldades de escrita relacionadas aos processos de

ortografia, ocorrendo quando a escrita envolve a formulação e a

codificação (fator semântico e sintático) que antecede o ato de

escrever, compreendendo a fase de planificação ou fase ortográfica.

IV. TDA/TDAH - Geralmente não tem ligação com disfunções

neurológicas e caracteriza-se pelo baixo desempenho escolar,

deficiência ou ausência de memória ou ainda tendo aprendizado

satisfatório, o indivíduo pode ser disperso, desatento ou hiperativo.

V. Discalculia – Distúrbio neurológico com causas diversas que pode

envolver o orgânico e o psiconeurológico. Existe uma dificuldade

10

para reconhecer e codificar sinais numéricos ou geométricos e inabilidade para

cálculos matemáticos.

VI. Hiperlexia – Ao contrário da dislexia, na hiperlexia o indivíduo apresenta

aprendizado acelerado da leitura e da escrita, possuindo excelente memória e

capacidade para cálculos matemáticos complicados, destacando-se como

auto-didata.

VII. Dissemia – Dificuldade para utilizar e entender sinais e sinalizações não

verbais, ou seja, dificuldade para comunicar as informações não- verbais

através de expressões faciais, posturais, gestos e ações.

2.22.22.22.2 – As Dificuldades Escolares

As dificuldades escolares, estão vinculadas a outros problemas que

podem ser de origem educacional, motivacional e ambiental, ou seja, estão

relacionadas com fatores exógenos.

2.2.1 – A Influência do Nível Sócio-econômico

Soler (2004) apud Rumberg (1995) mesmo resolvendo os problemas

do rendimento acadêmico e outras características, a classe social do estudante

constituía um fator importante de abandono. (MARCHESI, HERNÀNDEZ &

COLS. , 2004, p. 216)

Para Soler (2004) os alunos de famílias mais pobres têm uma ideia

de que seus pais veem o êxito educacional de seus filhos em termos relativos.

Por exemplo, algumas famílias consideram que o acesso ao nível médio já é

um nível muito alto de escolarização.

Outro ponto a ser considerado é que essas famílias por estarem

numa situação econômica difícil devido ao baixo nível de educação,

pressionam os filhos para contribuírem economicamente com o sustento da

casa, interferindo no desempenho deles e, consequentemente, contribuindo

para a saída destes da escola.

11

Também a pobreza econômica pode significar um meio inadequado

no lar para um estudo tranquilo e acesso a material de leitura, como também

deficientes condições de higiene e nutrição.

12

2.2.22.2.22.2.22.2.2 – Relação família-escola

A escassa cultura de relações família-escola existente entre nós contribui muito pouco para fomentar nos pais a transformação de suas ideias a propósito de seus filhos, de suas capacidades, da forma de os estimular e melhorar suas condições de criação e educação, assim como de mudar a própria visão que os pais têm de si mesmos como capazes de influir sobre o desenvolvimento infantil. (PALÁCIOS, 2004, apud MARCHESI, HERNÀNDEZ & COLS, 2004, Pg 81)

Segundo os autores acima citados ressalta-se a participação da

família como um dos fatores primordiais para o êxito educacional, já que sem

elo família – escola a possibilidade do fracasso torna-se evidente.

Pois como afirmam Ferhaman, Keith e Reimers (1987) sem uma

mudança de ideias tradicionais - ideias distantes da cultura escolar - para as

modernas, não haverá uma troca de informações, um intercâmbio, entre

família-escola. Nesse sentido, a probabilidade dos alunos fracassarem será

maior, pois as interações dos pais nas realizações dos trabalhos escolares do

filho e ao encorajamento verbal e reforço direto de comportamentos, o que

supõe suporte e monitoramento das atividades diárias, contribuindo para

produzir melhoras no desempenho acadêmico da criança.

O papel da família, hoje em dia, é considerado forte influência para o

êxito escolar. Pais que participam, que estão sempre trocando ideias com a

escola, são pessoas responsáveis em estimular a participação dos seus filhos

no processo educativo, contribuindo para formação de cidadãos críticos e

conscientes da realidade.

2.2.3 – Professores

O papel do professor constitui-se basicamente, em ajudar o educando a aprender em todos os aspectos, isto é, na aquisição e desenvolvimento de conhecimentos e habilidades, hábitos, atitudes, valores, ideias ou qualquer tipo de aprendizagem ainda não desenvolvida e julgada importante e necessária para o educando tanto pessoal como socialmente. (REEDER, 1943, apud LÜCK, 1998, P. 13)

13

O professor como sujeito de aprendizagem se encontra no centro da

mudança escolar, pois é ele quem lida diariamente com os alunos,

influenciando positivamente ou negativamente na maneira de pensar e agir dos

discentes, estimulando ou desestimulando para as aprendizagens.

Mudanças curriculares, inovação de métodos e técnicas de ensino ou do próprio currículo não tornarão por si só o processo ensino aprendizagem repentinamente eficazes. Se este estiver que ser melhorado, terá que ser a partir dos professores, do desenvolvimento de suas atitudes, habilidades e conhecimento a respeito das mudanças e inovações necessárias." (LÜCK, 1998, Pg. 15)

A indisciplina e o baixo rendimento podem ser causados pela falta de

domínio no âmbito científico e no conhecimento das técnicas didática básicas,

sendo necessário o conhecimento dos interesses dos seus alunos, as

diferenças de organização e gestão de sala de aula, estratégias para que os

alunos participem no processo de ensino e aprendizagem e na avaliação do

seu rendimento. Mas para que isso aconteça é necessário que se tenha um

número reduzido de alunos nas classes, tempo para trabalho em equipe e

acompanhamento dos alunos junto ao setor de orientação, professores

suficientes e atenção individualizada para determinados alunos com

dificuldades. Para que essa prática se efetive o apoio da escola também é

primordial.

O professor deve repensar sua prática quando algo não está dando

certo. Ele deve sempre se perguntar sobre seus métodos de ensino, recursos

didáticos e técnicas de comunicação inadequados às características da turma

ou de cada aluno. Também, qualidades do professor como: paciência,

dedicação, vontade de ajudar e atitude democrática facilitam a aprendizagem.

Ao contrário, o autoritarismo, a inimizade e o desinteresse podem levar o aluno

a desinteressar-se e não aprender.

"Análises feitas reforçam a ideia de que é a qualidade do

relacionamento professor-aluno que tornam educativo e a escola significativos

para o educando..." (FOSTER, 1969, apud LÜCK, 1998, Pg. 15)

14

Outro fator que contribui para o fracasso dos alunos é a mudança

períodica de professores durante o ano letivo. Os professores que substituem

os antigos não conhecem direito os alunos, não tem uma proximidade, e isso

acaba interferindo no rendimento, devido aos conflitos que podem surgir pela

vinda de um novo professor.

Um ponto que não se pode deixar de pensar é na família do aluno

com dificuldades ou com problemas de comportamento em sala. Esse trabalho

com a família deverá ser conjuntamente com a orientação, conforme dito

anteriormente, onde será solicitado aos pais para conversarem a respeito de

notas e/ou comportamento e informações sobre rotina de estudo em casa.

É importante frisar que o professor tem um papel importante no

processo de aprendizagem e que cabe a ele repensar suas práticas, que

motivem seus alunos, trabalhando sua auto-estima, favorecendo a

aprendizagem significativa , partindo do que o aluno traz de conhecimento para

a escola, na sua bagagem de conhecimento historicamente acumulados que

serão transformados em conteúdos escolares e permitirão uma compreensão

da realidade cada vez mais abrangente.

2.2.4 – Escola

A Gestão da escola influencia positiva ou negativamente na

qualidade do ensino, pois o Gestor/Diretor assume uma posição central na

escola, desempenhando um papel de forte influência na qualidade do ambiente

e clima escolar, do desempenho do seu pessoal e a qualidade do processo

ensino-aprendizagem.

Por isso, o Diretor da escola tem a responsabilidade máxima:

Quanto à consecução eficaz da política educacional do sistema e do desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais, organizando, dinamizando e coordenando todos os esforços nesse sentido, e controlando todos os recursos para tal. (LÜCK, 1998, Pg. 16)

15

Sem uma boa gestão, a escola torna-se inoperante, sem

possibilidade de realizar o seu papel social. É função da escola realizar

esforços para a consecução dos seus objetivos através de uma gestão

participativa, democrática em que toda a comunidade escolar possa colaborar

para uma nova escola, àquela que tem no seu pessoal o foco para êxito e não

para o fracasso.

2.2.4.1 - Violência na escola

"A violência nas escolas é sem dúvida um dos fatores que dificultam

a serenidade e as relações interpessoais positivas imprescindíveis para uma

aprendizagem adequada." (MARCHESI, HERNÀNDEZ & COLS. P.111)

Olweus (1993) explica o comportamento violento e suas

consequências para a vítima:

Conduta de perseguição física ou psicológica que o aluno ou a aluna realiza contra o outro, que escolhe como vítima de repetidos ataques. Essa ação, negativa e intencional, coloca as vítimas em posições das quais dificilmente podem sair pelos próprios meios. A continuidade dessas relações provoca nas vítimas efeitos claramente negativos: diminuição de sua auto-estima, estados de ansiedade e inclusive quadros depressivos, o que torna difícil sua integração ao meio escolar e o desenvolvimento normal das aprendizagens.(OLWES,1993 apud MARCHESI, HERNÀNDEZ & COLS, 2004, Pg 112.)

Como pode ser observado na citação acima, a conduta de

perseguição física e psicológica (bullying) pode acarretar vários problemas para

o aluno, inclusive aumentar o desinteresse em frequentar a escola e,

consequentemente, o baixo rendimento.

A escola deve estar atenta para esses casos, trabalhando

preventivamente contra a violência, em conjunto com a equipe pedagógica,

evitando, assim, atos aterrorizadores que causam sequelas psicológicas nas

vítimas.

16

CAPÍTULO 3 : ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL:

PROPOSTAS E ALTERNATIVAS PARA ALUNOS COM

BAIXO RENDIMENTO

Neste capítulo serão abordadas estratégias para uma melhora do

trabalho do Orientador Educacional que atua diretamente com questões

relacionadas ao desempenho escolar dos alunos do ensino fundamental e

médio.

3.1 – O trabalho do Orientador com a família

A família é o primeiro contato social da criança e é com ela que a

criança passa a maior parte do tempo, por isso, é de extrema importância o

envolvimento dos pais com a escola para a contribuição do trabalho

pedagógico.

O Orientador Educacional é um profissional que atua também com a

família dos alunos. Ele, juntamente com a Direção e professores, promove

reuniões com os pais sobre questões mais gerais do colégio que afetam

diretamente o bom andamento do ensino. O Orientador também é aquele que

dialoga com os pais através de entrevistas a respeito do comportamento e

rendimento do aluno. Deverá investigar o que se passa na família do aluno

com problemas de nota e /ou comportamento.

"O papel do orientador educacional na dimensão contextualizada diz

respeito, basicamente, ao estudo da realidade do aluno, trazendo-a para dentro

da escola, no sentido do seu melhor desenvolvimento." (GRINSPUN (ORG),

1996, P. 29)

a) No rendimento : Para estabelecimento de uma rotina de estudo em

casa, supervisão e acompanhamento de tarefas, ambiente adequado com

recursos e instrumentos para estudo, interações positivas como o elogio,

incentivo e encorajamento na execução das tarefas de casa.

17

b) No comportamento : Este assunto é complexo por envolver diversos

fatores como, vida familiar, contexto escolar e problemas da personalidade.

O Orientador através das investigações feitas nas entrevistas,

deverá tirar conclusões para orientar os pais e fazer possíveis

encaminhamentos para alguns profissionais: psicólogos, fonoaudiológos,

psicopedagogos etc.

3.2 – O trabalho do Orientador com o aluno

O trabalho de orientar os alunos é favorecer o desenvolvimento

destes para a vida, ajudando-os a serem capazes de satisfazer às demandas

mais complexas que lhes serão exigidas no futuro: aprendizagem, cidadania,

relacionar-se com as pessoas, saber desenvolver-se nas situações.

Para que seja realizado com sucesso o trabalho acima citado, o

orientador deve ter uma boa relação com seus alunos, aproximando-os

sempre, fazendo com que se sintam mais à vontade para exporem situações

que os afligem tanto na escola quanto no meio familiar. Essa relação de

confiança é que ajudará o orientador na coleta de dados para analisar as

causas de problemas de comportamento e/ou rendimento.

O orientador é aquele que faz intermediações para a resolução de

conflitos, orientações para incentivo aos estudos e, até mesmo, conforme cada

caso, chamar a família para conversar, mas sempre demonstrando ao aluno

confiança do que será exposto aos seus pais, com intuito de ajudar e não de

críticar ou repudiar.

O orientador também ajuda o professor, subsidiando-o de

informações sobre o aluno, ou seja, se tem algum problema cognitivo, físico,

emocional, de ordem sócio-econômica etc, facilitando o trabalho pedagógico do

professor, onde orientação e docentes pensarão em estratégias para facilitar a

aprendizagem destes alunos.

Faz parte do nosso trabalho a interdisciplinaridade, a intersubjetividade, o diálogo. O aluno, nosso centro de atenção, responsável maior pelo nosso trabalho, merece que tenhamos uma prática realmente comprometida com sua formação de cidadão. Para isso, é importante dar voz aos

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nossos alunos, para que eles participem ativamente como sujeitos e não como coisas. ( GRINSPUN, 1996, Pg.30)

É preciso dar voz aos alunos, reconhecendo-os como sujeitos que

podem, juntamente com os outros integrantes da vida acadêmica, pensar e

mudar a realidade que vivem, dentro e fora da escola.

3.3 – O Trabalho da Escola: Educação em Valores

Segundo Marchesi, Hernàndez & Cols. (2004) "Mundo dos valores"

é o fator causal do fracasso escolar. Encontramos os valores como conceitos e

como imagens na mente humana. Falar de valores é falar de ideias na mente,

nos hábitos na conduta e nas práticas na vida cotidiana, ou seja, é a soma de

ideias, hábitos e práticas de um indivíduo.

Para os autores acima, as ideias, os hábitos e as práticas se

plasmam em cada indivíduo ao construir a unidade que forma sua "biografia

inserida numa comunidade". O termo "comunidade" na expressão "biografia

inserida numa comunidade" se refere ao conjunto de meios de

desenvolvimento de um sujeito. O conjunto de todos os espaços comunitários

forma o horizonte de inserção de cada indivíduo, por exemplo, o âmbito

familiar, social, escolar, de diversão e etc.

Construir uma biografia satisfatória (aceitável auto-estima) e criar

comunidades moralmente densas são estratégias para limitar o fracasso

escolar.

Segundo Marchesi, Hernàndez & Cols. (2004) sobre comunidade

escolar moralmente densa é aquela que estabelece práticas que facilitam as

relações face a face entre jovens e adultos, criando situações de diálogo aberto

à opinião de todos participantes e que promove projetos de cooperação na

busca de um horizonte compartilhado. Uma escola capaz de afeto,

comunicação e cooperação.

"Quer dizer, trabalhar a unidade que formam "biografia e

comunidade", educar em valores, é um fator causal do êxito escolar."(Marchesi,

Hernàndez & Cols., 2004, Pg 89.)

19

Resumindo, para que possamos realizar uma educação em valores devemos:

1) Implantar a certeza de que todos os alunos estão suficientemente capacitados para terem êxito. Trabalho da auto-estima desses alunos; 2) Preocupar-se com cada aluno, em particular, ajudando-o em todos os níveis de sua personalidade; 3) Planejar escolas melhores, estabelecendo laços pessoais e práticas comunitárias, melhorando a convivência; 4) Destinação de recursos para a prática tutorial; 5) Transformar os centros educativos em núcleos, vivenciando práticas de valor, criando uma vida comunitária; 6) Entender que os grupos-classe são espaços de relação, diálogo e cooperação, e não de aprendizagem uniforme e simultânea. (Marchesi, Hernàndez & Cols., 2004, Pg. 90)

3.4 – O Trabalho Interdisciplinar

Alguns procedimentos poderão ser adotados com êxito pela

equipe interdisciplinar:

Ter sempre em mente que a pessoa deve ser considerada na sua experiência, no processo de trabalho grupal e comunitário e no contexto onde ela própria constrói e vai se construindo; Levar em conta a questão da "motivação" dos integrantes do grupo, tendo como ênfase a realização de um bom trabalho; Buscar a conquista de espaços dentro e fora do grupo – "posicionar-se"; Expor sentimentos, usar de franqueza e espontaneidade nas trocas com os outros integrantes do grupo, nas discussões, trabalhar a "ideia" e, sobretudo, perguntar a "união grupal"; A conquista de liberdade de opinião é primordial à interação grupal; os posicionamentos devem ser discutidos em nível de equipe (profissionalmente) e não a nível pessoal. Os resultados precisam vir ao encontro, visando o aperfeiçoamento do conjunto. (BACKHAUS,1992, Pg.52)

Para a autora acima, os profissionais devem trabalhar em equipe,

trocando saberes advindos de experiências anteriores, pois quanto maior a

20

integração do grupo, busca de novos conhecimentos e trabalho unificado,

maiores as condições de intervir na realidade escolar.

3.4.1– O Assistente Social na Escola

O trabalho do Assistente Social no ambiente escolar visa atenuar os

problemas socioeducacionais em conjunto com os demais agentes escolares.

Sua contribuição é de fazer com que a escola execute sua função

social, de proteção dos direitos fundamentais da criança e do adolescente,

como assegura o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), inclusive o

direito à cultura, pois os problemas sociais como: evasão escolar, indisciplina,

dificuldade econômica, desagregação familiar, drogas, gravidez precoce,

desinteresse do aluno etc, exigem a intervenção de uma equipe interdisciplinar.

Assim como o orientador educacional, o assistente social presta

assistência aos alunos e seus familiares, ou seja, é um intermediário entre a

comunidade e a escola. Sendo que, seu enfoque maior é impulsionar uma

reflexão política aos segmentos populacionais, em que também possam

reconhecer seus direitos e deveres, para exercerem sua cidadania.

O profissional do Serviço Social deverá desenvolver as seguintes atividades: - Pesquisar a natureza sócio-econômica e familiar para a caracterização da população escolar; - Elaborar e executar programas de orientação sócio-familiar, visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno, bem como sua formação para o exercício da cidadania;

- Participar, em equipe multidisciplinar, da elaboração de programas que visem prevenir a violência, o uso de drogas e o alcoolismo, bem como prestar esclarecimentos e informações sobre doenças infecto-contagiosas e demais questões de saúde pública; - Articular com instituições públicas, privadas, assistenciais e organizações comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de pais e alunos para atendimento de suas necessidades;

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- Ampliar o conhecimento acerca da realidade sócio-familiar do aluno, de forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo adequadamente; - Elaboração e desenvolvimento de programas específicos nas escolas onde existem classes especiais; − Empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da lei 8662/93. (NOVAIS, 2001, Pg.13)

3.4.2– O Trabalho do Fonoaudiólogo

De acordo com a lei 6965, de 09/12/1981, é de competência do

fonoaudiólogo que trabalha em escolas desenvolver trabalho de prevenção no

que se refere à comunicação oral e escrita, voz e audição, além de participar

da equipe de orientação e planejamento escolar, inserindo aspectos

preventivos ligados a assuntos fonoaudiológicos. Não compete ao

fonoaudiólogo escolar realizar terapia fonoaudiológica. Nos casos de terapia, o

fonoaudiólogo deverá fazer os devidos encaminhamentos.

O trabalho do fonoaudiólogo escolar é de orientar, estimular e

detectar problemas na área de voz, de comunicação oral, escrita e audição,

tendo como população alvo alunos, pais e professores.

Com os alunos, o trabalho fonoaudiológico tem os seguintes objetivos: - Otimizar o desenvolvimento da linguagem oral, leitura e escrita; - Promover estratégias de prevenção, preservação e controle de abusos e riscos para a voz e a audição; - Estimular a eliminação de hábitos inadequados relacionados às alterações fonoaudiológicas; - Detectar precocemente, através das informações dos professores, alterações fonoaudiológicas relacionadas à audição, voz, motricidade orofacial e linguagem oral e escrita. −−−− Encaminhar para profissionais, quando necessário, e acompanhar os tratamentos externos à escola.

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No trabalho com os pais, o fonoaudiólogo realiza orientações sobre: - O desenvolvimento normal da criança e alterações fonoaudiológicas comuns na infância; - A importância do estímulo familiar para otimização do desenvolvimento da criança; −−−− O possível problema do filho e explicação de encaminhamentos necessários.(www.fonoeduca.blogspot.com.br)

3.4.3 – O Trabalho do Psicopedagogo

Conforme Rubistein e colaboradores (2004) o objeto de estudo da

psicopedagogia contemporânea continua sendo a aprendizagem, entretanto,

passa-se a valorizar a amplitude do fenômeno educacional.

A psicopedagogia é uma área de conhecimento interdisciplinar pois,

além de ter seu referencial na psicologia, considera a contribuição de outras

áreas como: Antropologia, Sociologia, Fonoaudiologia, Medicina, Neurologia e

Linguística.

A atuação do Psicopedagogo se faz em clínicas ou em instituições. No atendimento clínico sua intervenção se dá em situações de insucessos já ocorridos. Já nas instituições como: escolas, empresas, organizações assistenciais, a atuação é de caráter preventivo, ou seja, visa evitar possíveis situações de insucessos. (www.cienciasecognicao.org)

Albee e Joffe (1997) propuseram diferentes níveis para um trabalho

preventivo:

A prevenção primária, a secundária e terciária.

A prevenção primária se caracteriza por ações destinadas a evitar situações problemas por meio do desenvolvimento de programas educacionais destinados a todos e não a um grupo populacional. A secundária objetiva intervir em um determinado grupo, após o diagnóstico do problema. A terciária é mais ampla que as anteriores onde a intervenção se faz em populações ou grupos com problemas já instalados, visando a redução dos efeitos, das consequencias desses problemas. (www.cienciasecognicao.org)

23

A prevenção primária seria a ideal nas escolas, pois trabalharia com

programas de intervenção, atuando preventivamente nas causas de baixo

rendimento. Contudo, evita-se o problema antes que seja instalado.

3.4.4 – O trabalho do Psicólogo na escola

Novaes (1970) afirma que a ação do psicólogo na escola contribui

para um melhor ajustamento global da criança (individual, social e escolar),

colaborando com os professores e orientadores quanto ao aperfeiçoamento em

idade escolar no seu dinamismo psicológico evolutivo; e um favorecimento do

entrosamento da escola com a família dos alunos.

O psicológo atua em toda a estrutura da escola, pois procura

melhorias e um bom relacionamento entre toda a equipe, ou seja, seu objetivo

é aperfeiçoar o processo de aprendizagem e formação, que compreende

também a relação harmoniosa com professores, funcionários e colegas.

O psicólogo escolar efetua um trabalho preventivo junto a alunos de

todas as idades, professores, pais e demais integrantes da comunidade em

torno do colégio, de forma que problemas que comprometam o bom

desempenho e o convívio social de qualquer um dos membros desse grupo

sejam sanadas.

O bom rendimento dos alunos também é influenciado pela forma

com que estes se relacionam no ambiente escolar. Qualquer problema que

afete tal interação, será causa de futuros problemas disciplinares.

24

CAPÍTULO 4 – PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa de campo foi realizada através de um questionário

contendo 13 (treze) perguntas, sendo aplicado a um grupo de alunos (10

alunos) que foram retidos na 1ª e 2ª séries do Ensino Médio, no ano letivo final

de 2011.

O período da entrevista ocorreu de novembro a dezembro de 2012,

sendo feita pessoalmente com os alunos no próprio colégio.

Analisando o questionário aplicado observei que:

1. 9% dos alunos afirmaram terem tido dificuldades nas disciplinas

exatas como: Matemática, Física e Química.

2. Na rotina de estudo 3% não praticam/praticavam uma rotina de

estudo em casa, sendo que 2% destes alunos estudam/estudavam em

explicadora. Os 7% restante estudam/estudavam em casa, porém com

dificuldades para entender o conteúdo.

3. No relacionamento professor – aluno: 8% disseram ainda ter bom

relacionamento, 1% com relacionamento ótimo e 1% regular.

4. Na convivência com o grupo/turma relataram que: 9% tem boa

convivência e 1% afirmou que possui problemas de relacionamento.

5. No relacionamento com os funcionários de toda a escola 10%

afirmaram ter bom relacionamento.

6. Na participação da família nos estudos destes alunos: somente

1% afirmou não ter a preocupação/incentivo dos pais devido a problemas

familiares.

7. 6% relataram que passaram/passam por problemas familiares,

sendo o restante sem problemas relatados.

8. Sobre acompanhamento médico, fonoaudiológico e psicológico:

2% afirmaram terem realizado acompanhamento médico, 1% psicológico, 1%

fonoaudiológico no início do ensino fundamental. O restante afirmou nunca ter

feito nenhum tipo de acompanhamento.

9. Em relação as dificuldades, dúvidas sobre os conteúdos dados

25

em sala de aula: 3% relataram sempre recorrer ao professor e aos estudos em

casa para tirar as dúvidas, 2% recorrem ao professor, 1% pede somente

explicação ao colega, 1% pede explicação ao professor, ao colega e tira as

dúvidas em casa e 2% pede explicação ao colega e tira as dúvidas em casa e

1% tira as dúvidas somente em casa. OBS: Os alunos que estudam somente

em casa, afirmaram que não conseguem, na maioria das vezes, compreender

o conteúdo visto em sala de aula.

10. Na frequência destes alunos: 3% afirmaram ter se ausentado por

motivo de dengue, 1% passou por uma cirurgia, 4% ausência por viagem e 1%

por morte em família.

11. Sobre o grau de interesse em estudar no colégio: 9% afirmaram

gostar do colégio e apenas 1% afirmou não gostar por causa das constantes

greves.

12. Quando foi perguntado sobre a causa da reprovação no ano letivo

de 2011 afirmaram que: 1% disse que a greve e a dificuldade nas disciplinas

exatas atrapalharam o resultado no ano letivo, 3% afirmaram que foi por causa

da falta de uma rotina de estudo em casa, 1% devido a falta de frequencia por

problema de saúde e familiar, 4% afirmaram ser por causa somente da greve e

1% relatou que a timidez dificultou na hora de tirar as dúvidas.

13. Quando perguntado sobre o que é necessário para evitar a

reprovação: 6% responderam que o aluno deve ter muita dedicação nos

estudos, 2% colocaram que o colégio deve criar horários de monitoria para os

alunos com dificuldades e 2% afirmaram evitar as greves muito longas.

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CONCLUSÃO

A escola é um local de aprendizagens diferenciadas, as quais devem

ser valorizadas, incentivadas e motivadas em seus alunos. Esta é a direção

para qualquer bom desempenho escolar.

Porém, nossa realidade educacional está aquém desta perspectiva.

Nossos alunos estão cada vez mais desmotivados, excluídos e evadidos das

escolas por motivos vários.

Em pesquisa de campo realizada numa escola da rede federal de

ensino, onde os alunos do Ensino Médio responderam a um questionário para

análise das causas que os fizeram permanecer na mesma série (ano letivo de

2011) constatou-se que:

1. No colégio há uma carência de uma equipe multidisciplinar

envolvida com a questão do baixo rendimento escolar. Existem orientadores

educacionais, entretanto, há falta de psicólogos, psicopedagogos,

fonoaudiólogos para trabalharem com a família, professores e alunos.

2. Os alunos demonstraram dificuldades com as disciplinas exatas,

problemas de ordem familiar, de introspecção, em orientação na rotina dos

estudos e greves frequentes etc, prejudicando-os no ano ano letivo de 2011.

Portanto, por questões acima relacionadas, se faz urgente a

gestão/gestor da escola pensar em estratégias conjuntamente com toda a

equipe escolar para a criação de projetos que trabalhem com a questão do

fracasso escolar, envolvendo e aproximando toda a comunidade na tarefa de

educar para uma escola mais justa e humana.

"Um país que não cuida da educação está condenando seu futuro"

(Içami Tiba)

27

BIBLIOGRAFIA:

BACKHAUS, B. B. (1992) Prática do Serviço Social Escolar: uma

abordagem interdisciplinar. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo,

n.38, ano 13, abr. 1992, p.37-55.

CIÊNCIAS & COGNIÇÃO (2007); Psicopedagogia: limites e

possibilidades a partir de relatos de profissionais. Vol 12: 115-133

FEHRMANN, P. G.; KEITH, T.Z.; REIMERS, T.M. Home influence on

school learning: direct and indirect effects of parental involvement on high

school grades. Journal of educational Research, 80 (6), 330-337, 1987.

GUERRA, L. B. (2002) A criança com dificuldades de aprendizagem. Rio

de Janeiro: Enelivros.

GRINSPUN (ORG.) 1994 A prática dos orientadores educacionais. São

Paulo: Cortez.

LÜCK, H. (1998) Administração, Supervisão e Orientação Vocacional.

Petrópolis: Vozes.

MARCHESI, A. e Gil, C.H. & COLABORADORES (2004) Fracasso

escolar: uma perspectiva multicultural. Porto Alegre: Artmed.

NAGEL, L. (1989) Avaliação, Sociedade e Escola: fundamentos para

reflexão. Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

NOVAIS, M. H. (1970) Psicologia Escolar. Rio de Janeiro: Vozes.

PATTO, M. H.S. (1999) A produção do fracasso escolar: histórias de

28

submissão e rebeldia, São Paulo: Casa do psicólogo.

SÀNCHEZ, J. N.G. (2004) Dificuldades de aprendizagem e intervenção

psicopedagógica. Porto Alegre: Artmed.

SILVA, D. D. M. (2002) Os distúrbios da aprendizagem e o fracasso

escolar. Rio de Janeiro: monografia, Universidade Cândido Mendes.

29

WEBGRAFIA:

http://www.fonoeduca.blogspot.com.br;

http://www.cienciasecognicao.org

30

ANEXOS

QUESTIONÁRIO PARA ANÁLISE DE DADOS

1) VOCÊ TEVE/ AINDA TEM DIFICULDADE EM ALGUMA DISCIPLINA?

EM CASO AFIRMATIVO, DIGA QUAL E POR QUÊ?

2) VOCÊ TEM UMA ROTINA DE ESTUDOS EM CASA? REALIZA TODAS

AS ATIVIDADES RECOMENDADAS PELOS SEUS PROFESSORES?

3) EM GERAL, COMO É O SEU RELACIONAMENTO COM SEUS

PROFESSORES?

( ) ÓTIMO

( ) BOM

( ) REGULAR

( ) RUIM

4) VOCÊ TEM / TEVE BOA CONVIVÊNCIA COM SEUS COLEGAS DE

TURMA/TURMAS? POR QUÊ?

5) COMO VOCÊ SE RELACIONA / RELACIONOU COM OS OUTROS

FUNCIONÁRIOS DA SUA ESCOLA?

6) VOCÊ TEM / TEVE APOIO / INCENTIVO DOS SEUS PAIS EM

RELAÇÃO AOS SEUS ESTUDOS?

7) VOCÊ ESTÁ PASSANDO / PASSOU POR ALGUM PROBLEMA

FAMILIAR? SE JÁ PASSOU, INFORME O ANO.

8) JÁ PRECISOU FAZER ALGUM ACOMPANHAMENTO MÉDICO,

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PSICOLÓGICO OU FONOAUDIOLÓGICO? EM CASO AFIRMATIVO DIGA

QUAL, QUANDO E POR QUÊ?

9) QUANDO TEM DÚVIDAS NAS AULAS, VOCÊ:

( ) SEMPRE RECORRE AO PROFESSOR.

( ) NUNCA PERGUNTA E SEMPRE ESTÁ COM DÚVIDAS.

( ) PEDE EXPLICAÇÃO AO COLEGA, SOMENTE.

( ) TIRA AS DÚVIDAS EM CASA, QUANDO ESTUDA A MATÉRIA.

OBS.: PODE MARCAR MAIS DE UMA OPÇÃO, DESDE QUE NÃO OCORRA

AMBIGUIDADE.

10) VOCÊ TEVE QUE SE AUSENTAR DA ESCOLA EM ALGUM PERÍODO

DO ANO DE 2011? EM CASO AFIRMATIVO, E

11) VOCÊ GOSTA DA ESCOLA EM QUE ESTUDA? POR QUÊ?

12) O QUE VOCÊ ATRIBUI A SUA REPROVAÇÃO NO ANO LETIVO DE 2011?

13) PARA VOCÊ, O QUE É NECESSÁRIO PARA EVITAR A REPROVAÇÃO?