23
DOCE BALANÇO Novela de Antonio Figueira Escrita por Antonio Figueira Personagens deste capítulo: MARCOS MALU FRED GASPAR SABRINA DANTE JORGE ALBERTO MARCELÃO CECÉU VOSKOPOULUS MONTEIRO PRADO SENHORINHA ALFREDINHO DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 01

Doce balanço capítulos 57 & 58

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO

Novela de Antonio Figueira

Escrita por

Antonio Figueira

Personagens deste capítulo:

MARCOS MALU

FRED GASPAR SABRINA DANTE

JORGE ALBERTO MARCELÃO

CECÉU VOSKOPOULUS

MONTEIRO PRADO SENHORINHA ALFREDINHO

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 01

Page 2: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 02

CENA 1 - APARTAMENTO DE MALU - SALA - INT. - NOITE. MALU ABRIU A PORTA PARA MONTEIRO PRADO E SENHORINHA, QUE, AO SABEREM DA SEPARAÇÃO, FORAM Á SUA PROCURA. MONTEIRO PRADO - Minha filha! O BANQUEIRO ABRAÇOU A FILHA, SOB O OLHAR CONSTERNADO DE SENHORINHA. MALU - Acabou tudo, papai! Ele foi embora!... (em seguida, correu para os braços de Senhorinha, soluçando) Me abraça, Senhorinha! SENHORINHA - Oh, minha querida! Eu sinto tanto!... MONTEIRO PRADO - (sem entender) Mas o que aconteceu? Vocês pareciam tão bem!... Como é que pode... Cadê o Marcos? Pra onde ele foi? MALU - Não sei. Não quero falar disso agora. Eu só preciso de vocês... da minha família... nada mais!... MONTEIRO PRADO - Estamos aqui, meu amor. Vamos levá-la para casa. Não podemos deixar você aqui, sozinha. SENHORINHA - Volte conosco, Malu. Sua mãe está lá... e seu quarto continua do jeitinho que você deixou! MALU - (sorriu, tristemente) Está bem... eu volto. Vou pra casa com vocês. MONTEIRO PRADO - Senhorinha, vá ao quarto dela e faça as malas. Vamos todos pra casa! SENHORINHA - (animada, dirigiu-se para o quarto) É pra já! Pode deixar!

Page 3: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 03

MALU APANHOU O MEDALHÃO QUE ESTAVA SOBRE A MESA E MOSTROU-O AO PAI. MALU - Não sei o que fazer com isso... MONTEIRO PRADO - O que significa esse medalhão?

MALU - É meu. Emprestei a Diana. Foi encontrado junto ao corpo dela... O advogado da atriz, a Valéria França, veio aqui, tentando reaver esse medalhão, pra anexar ao processo e me acusar pelo assassinato da Diana! MONTEIRO PRADO - Que absurdo! (tomou o medalhão das mãos da filha) Deixe comigo! Vou guardar isso em lugar seguro! CORTA PARA: CENA 2 - APARTAMENTO DE JORGE ALBERTO - SALA - INT. - NOITE. SABRINA E JORGE ALBERTO ESTAVAM SENTADOS NO SOFÁ BRANCO DA AMPLA SALA DE ESTAR DA CASA DO COSTUREIRO. JORGE ALBERTO - Bem, Sabrina, chamei você aqui porque tenho uma proposta pra lhe fazer. SABRINA - (excitada) Recebi seu recado e vim correndo, Jorge Alberto! Adorei o convite pra vir à sua casa (olhou em volta, deslumbrada) É maravilhosa, como tudo o que você faz. Outro dia, vi numa revista de modas uns vestidos assinados por você, e fiquei apaixonada! Lindos, deslumbrantes! JORGE ALBERTO - Pois então, venha ao meu ateliê. Tenho uma surpresinha pra você! SABRINA MAL PODIA DISFARÇAR O CONTENTAMENTO. SABRINA - Jura? Adoro surpresas! LEVANTARAM-SE E DIRIGIRAM-SE Á SALA CONTÍGUA.

Page 4: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 04

CENA 3 - APARTAMENTO DE JORGE ALBERTO - ATELIÊ - INT. - NOITE. JORGE ALBERTO FOI ATÉ UM ARMÁRIO E VOLTOU COM UM VESTIDO BRANCO NAS MÃOS. JORGE ALBERTO - Experimente. Vamos ver como fica em você. É um modelo exclusivo. Deve ter as suas medidas. SABRINA - (pegou o vestido, emocionada) Nossa! É maravilhoso... Chiquérrimo... Um Jorge Alberto exclusivo e legítimo. JORGE ALBERTO - (apontou para uma porta) O provador é ali. ALGUNS MINUTOS DEPOIS, SABRINA VOLTOU. JORGE ALBERTO SORRIU, SATISFEITO. JORGE ALBERTO - Perfeito! Parece ter sido feito pra você! Dê uma volta... muito bom! Vá até o espelho (mostrou um enorme espelho na parede do aposento) Olhe-se! SABRINA FOI ATÉ O ESPELHO E OLHOU-SE EM TODOS OS ÂNGULOS. VOLTOU-SE PARA O COSTUREIRO COM LÁGRIMAS NOS OLHOS. SABRINA - Nossa! Nunca pensei que, um dia, pudesse provar um vestido seu! É maravilhoso! JORGE ALBERTO - Pois bem... ele pode ser seu... e você poderá ter muitos outros... se entrarmos num acordo. SABRINA - Meu Deus, você jura? Tou morrendo de curiosidade! JORGE ALBERTO - O que você acha de nós fingirmos... que somos namorados? Já imaginou seu nome nas revistas de fofocas, nas colunas sociais, os paparazzi te seguindo, querendo saber quem é a namorada de Jorge Alberto Bittencourt? Logo vai estar nas capas de revistas, recebendo convite para festas,

Page 5: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 05

eventos e, quem sabe, até para posar nua? SABRINA FITOU-O, DESLUMBRADA. MAL CONSEGUIA FALAR. SABRINA - É tudo o que sempre sonhei! Mas... e você... o que ganha com isso? Já é famoso, tem uma carreira consolidada no mundo da moda, nos desfiles de carnaval... JORGE ALBERTO - (piscou o olho, e fez um trejeito) Meu amor, mesmo com toda essa fama, adoro estar à frente dos refletores, nas colunas sociais... enfim, em evidência! Entendeu agora? Quero que falem de mim, que me chamem pra programas de TV, festas, eventos! Vou te confessar meu maior sonho: ser entrevistado pelo Jô! Entendeu agora os meus motivos? Nosso romance vai dar o que falar, menina! Vai ser o babado do ano! Como é... topa? SABRINA - Ser sua namorada de mentirinha? Mas é lógico, meu amor! Até beijo na boca eu encaro! JORGE ALBERTO - (desconcertado) Também, não precisa exagerar, né... Vamos devagar!... SABRINA - Como você quiser! Só quis dizer que pode contar comigo. O que tiver de fazer, eu faço! JORGE ALBERTO - Ótimo! Pois então, prepare-se! Vai precisar desse vestido hoje mesmo! Fui convidado pra um jantar de noivado de um casal da alta sociedade carioca, no Restaurante Fasano. Vai estar cheio de celebridades e repórteres! É uma ótima oportunidade pra todos conhecerem a namorada de Jorge Alberto! CORTA PARA: CENA 4 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - QUART O DE MALU - INT. - DIA. ERAM 11 DA MANHÃ QUANDO MALU ACORDOU. FOI ATÉ A JANELA E ABRIU A CORTINA. ESTAVA UM BELO DIA DE SOL E

Page 6: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 06

A PRAIA DE DE IPANEMA ESTAVA APINHADA DE GUARDA-SÓIS COLORIDOS DISPUTANDO COM OS BANHISTAS CADA METRO DE PRAIA. MALU- (fechou os olhos, respirou fundo e decidiu) Quer saber? Não vou ficar aqui, chorando! (num impulso, pegou o celular e discou) Alô! Alfredinho? Sou eu, Malu! Quero falar com você. Pode ser? OK, te espero no meu apartamento à uma da tarde. Não se preocupe. Marcos não vai estar em casa. Depois eu te explico. Tchau! SENHORINHA ENTROU NO QUARTO E ESTACOU, AO OUVIR AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE MALU. MALU - (voltou-se) Senhorinha... você tava aí? SENHORINHA - Acabei de chegar a tempo de ouvir o nome daquele rapaz... Malu, você ligou pra esse marginalzinho, o Alfredinho? MALU - Não fale assim, Senhorinha; ele não é marginal. Ele é como eu, um incompreendido! SENHORINHA - (benzeu-se) Pelo amor de Deus, não se compare a ele! Malu... eu ouvi bem ou você marcou com ele no seu apartamento? MALU - Marquei, marquei sim! Senhorinha, sinto muito, mas se você e papai esperam que eu fique trancada nesse quarto chorando, tão enganados! Acabo de tomar uma decisão. Vou fazer de conta que Marcos jamais fez parte da minha vida! Vou procurar meus amigos e voltar a ser a mesma Malu de antes! (dirigiu-se ao banheiro) E agora, se me dá licença, vou tomar um belo banho! SENHORINHA - (atônita) Malu, espere! Vamos conversar... Você acabou de se separar... Seu pai não vai gostar nada... A VOZ DE SENHORINHA FOI ABAFADA PELO BARULHO DA ÁGUA DO CHUVEIRO CAINDO SOBRE O CORPO DE MALU. PREOCUPADA, BALANÇOU A CABEÇA E SAIU DO QUARTO.

Page 7: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 07

CENA 5 - APARTAMENTO DE MALU - SALA - INT. - DIA. ALFREDINHO E MALU CONVERSAVAM, SENTADOS NO SOFÁ. ALFREDINHO - Caramba, por essa eu não esperava! Taí, não esperava mesmo! Vocês tavam tão ligados um no outro... Legal! MALU - Legal? ALFREDINHO - Legal você ter se descartado do padreco. Pensando bem, eu não sei como você conseguiu aguentar ele tanto tempo. Aquele cara é um mala! E parece que ele tava desconfiado do seu envolvimento na morte de Diana. MALU - Como é que você sabe? ALFREDINHO - Pô, ele andava fazendo perguntas pra todo mundo. Lembra da confusão na Boate do Diabo? Fui eu que preparei. Pra dar uma lição nele. Tava precisando. MALU - Você o odeia! ALFREDINHO - Odeio mesmo. Podendo arrebentar ele, eu arrebento. E agora, por dois motivos: por Diana e por você! MALU RESPIROU FUNDO E BALANÇOU A CABEÇA, COMO A DESVIAR O PENSAMENTO, QUE, CONTRARIANDO SUA VONTADE, A LEVAVA SEMPRE À LEMBRANÇA DE MARCOS VENTURA. MALU - Tive uma idéia! Vou dar uma festinha aqui! ALFREDINHO - Taí, gostei! E também tou gostando de ver que a Malu que eu conheci e sempre curti de montão tá de volta! MALU - E então, você me ajuda? ALFREDINHO - Lógico, gata! (fitou-a, sedutor) Malu... sabia que você tá ainda mais gata que antes? Se é que isso é possível...

Page 8: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 08

MALU - (constrangida) Ah, para com isso, Alfredinho.... ALFREDINHO - Tou falando sério... você sabe que tou. CORTA PARA: CENA 6 - APARTAMENTO DE MARCELÃO - SALA - INT . - DIA. VOSKOPOULUS ABRIU A PORTA. CECÉU ENTROU E ESTRANHOU AO VER MARCELÃO DEITADO NO DIVÃ, OLHANDO PARA O TETO. CECÉU - (ao mordomo) O que é que ele tem? VOSKOPOULUS - (murmurou) Foi bom ter vindo, seu Cecéu. Faz uns dois dias que ele tá assim. Nem à praia tem ido... tou começando a ficar preocupado! CECÉU - (dirigiu-se ao playboy) Ô irmão! O que é que tá pegando? Tá deprimido? MARCELÃO - (suspirou, sem encará-lo) Olá, Cecéu... CECÉU - (sentou-se ao lado) Cara, isso tá me cheirando a... mulher! Acertei? Não vá me dizer que é a... MARCELÃO - (fitou-o, sem emoção) Acertou, meu amigo. É a Luana. Ela não quer me ver mais. Não atende minhas ligações... e o diabo é que não consigo parar de pensar nela! Perdi a vontade de comer, beber, ir à praia... CECÉU - Que isso!... Então é muito mais sério do que eu pensava! Quem diria!... O velho Marcelão tá apaixonado! MARCELÃO - Não sei definir o que tá acontecendo, meu camarada... só sei que não tou gostando nada, sacou? Esse sentimento tomou conta de mim... O problema é que é mais forte do que eu!...

Page 9: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 09

CECÉU - Então, temos que fazer alguma coisa! Alguma coisa que chame a atenção dela! Uma coisa bem louca.... MARCELÃO - (esperançoso) O quê? CECÉU - Já sei! (segredou ao ouvido do amigo) Aposto que vai acertar no alvo! MARCELÃO DEU UM SALTO DO DIVÃ E, NUM IMPULSO, BEIJOU CECÉU NO ROSTO. MARCELÃO - Genial! Você é um gênio, Cecéu! CECÉU - (empurrou-o e limpou o rosto, com cara de nojo) Para com isso, velho! Menos, pô! CORTA PARA: CENA 7 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - DIA . DUAS HORAS DEPOIS, O AVIÃO CARREGANDO A FAIXA DE MARCELÃO: “LUANA, GAMEI POR VOCÊ, MARCELÃO”, CRUZAVA O CÉU DE IPANEMA, INDO ATÉ O ARPOADOR E VOLTANDO AO LEBLON, POR DIVERSAS VEZES, ATRAINDO A ATENÇÃO DOS MILHARES DE BANHISTAS NA PRAIA. CORTA PARA: CENA 8 - “FOLHA DO RIO” - REDAÇÃO - INT. - DIA. DOIS DIAS DEPOIS, JORGE ALBERTO E SABRINA DAVAM UMA ENTREVISTA A FRED GASPAR, NA REDAÇÃO DA ‘FOLHA DO RIO”, QUANDO MARCOS ENTROU E FOI DIRETO À MESA DE DANTE. MARCOS - Bom dia, seu Dante. DANTE - (olhou-o, surpreso) Marcos Ventura! Como vai?

Page 10: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 10

MARCOS - Queria falar com o senhor, se possível em particular e fora daqui. MARCOS ESTAVA TENSO, COM OS NERVOS À FLOR DA PELE. DANTE PERCEBEU QUE HAVIA ALGO ERRADO. DANTE - Claro. Onde você quiser. A ALGUNS METROS DALI, NUM CENÁRIO IMPROVISADO, JORGE ALBERTO E SABRINA POSAVAM PARA O FOTÓGRAFO DO JORNAL, SOB AS INSTRUÇÕES DE FRED GASPAR. SABRINA - (fazendo caras e bocas) Vai sair na capa, seu Fred? FRED GASPAR - Por favor, esqueça o “seu”. Pode me chamar de Fred. Respondendo à sua pergunta, não. Não vão ser capa, mas página dupla eu garanto. JORGE ALBERTO - (sorriu, satisfeito) Está ótimo! FRED GASPAR - Voltando às perguntas, como vocês se conheceram? SABRINA - Eu vim de Belo Horizonte e... JORGE ALBERTO - (cortou) Ela viajou muito cedo pra Europa. Foi morar na França e desfilou para grandes estilistas, como Yves St. Laurent, Armani, Calvin Klein... FRED GASPAR - Engraçado... Sabrina Mota dos Santos... nunca ouvi esse nome no mundo da moda... JORGE ALBERTO - (disfarçou o embaraço) Eh... ela é mais conhecida na França e na Itália... FRED GASPAR - (mudou de assunto) Já pensam em casamento ou...

Page 11: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 57 PÁGINA 11

JORGE ALBERTO - Por enquanto, não. É só namoro. Estamos nos conhecendo, não é mesmo, meu amor? SABRINA - (beijou-o no rosto) Claro, Jorginho, e está maravilhoso, assim... Não temos pressa, não é? FRED GASPAR - (murmurou) Quem diria... (e para o casal) Já sei qual será a manchete: “Jorge Alberto in Love”. Já pensou se isso acabar em casamento? JORGE ALBERTO - Ainda é muito cedo... mas, quem sabe? CORTA PARA: CENA 9 - PENSÃO PRIMAVERA - QUARTO DE MARCOS - INT. - DIA. DANTE - (sentando-se numa poltrona) Mudou-se para cá há quanto tempo? MARCOS - Uns três ou quatro dias. DANTE - Até agora não entendi você ter vindo morar numa pensão. O Monteiro Prado não lhe ajudou? MARCOS - Não quero a ajuda dele. Aliás, minha situação é complicada. Meu salário de professor mal dá pra sobreviver. Porém, não foi pra discutir isso que fiz o senhor vir até aqui. O senhor vai levar um susto, quando eu lhe disser o que tenho em mente. DANTE - Pois então, fale. Sou todo ouvidos.

FIM DO CAPÍTULO 57

Page 12: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO

Novela de Antonio Figueira

Escrita por

Antonio Figueira

Personagens deste capítulo:

MARCOS DANTE

DELEGADO NOGUEIRA VALÉRIA

ALFREDINHO MONTEIRO PRADO

D. SOLEDAD SENHORINHA

CECÉU DOM JOSÉ

MALU GERMANO

LUANA SELMINHA

JULIO BIRUTA LEANDRO

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 01

Page 13: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 02

CENA 1 - PENSÃO PRIMAVERA - QUARTO DE MARCOS - INT. - DIA. Continuação Imediata da Última Cena do Capítulo Ant erior. MARCOS - (calmo e decidido) O sofrimento, a desilusão, a revolta, fizeram de mim um outro homem. Quando o senhor veio falar comigo pela primeira vez, eu lhe pedi pra deixar Diana em paz. Agora, sou eu quem lhe diz: é preciso que todos saibam porque ela morreu, porque tudo isso aconteceu! É preciso apontar os culpados! Denunciar! Punir! DANTE OLHAVA PARA MARCOS COM ESPANTO. DANTE - Mas você sabe quem são os verdadeiros culpados? MARCOS - Sei, sim. Muita gente a matou. Inclusive com a nossa cumplicidade, com a nossa omissão. DANTE - Não estou entendendo! MARCOS - Importa muito pouco quem a empurrou lá de cima do paredão. Outros a vieram empurrando antes para lá. E esses outros não são menos culpados! São os verdadeiros culpados! Esses é que é preciso denunciar, desmascarar, destruir! DANTE - (continuava atônito) De que maneira? Com que armas? Pela imprensa? MARCOS - Isso mesmo (fez um sinal com a cabeça) Estou disposto a escrever uma série de artigos ou reportagens, dando o meu depoimento pessoal sobre tudo isso. Sobre o mundo em que Diana viveu e que a matou. Sem omitir nada, sem livrar ninguém. Sem contemplação (fez uma pausa e prosseguiu, mais lentamente) Sei que vou mexer com gente poderosa, gente sem escrúpulos, gente vingativa, mas lutarei de peito aberto contra eles. Pra acabar com eles!

Page 14: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 03

DANTE - Eu não acredito que você acabe com eles. Acredito que eles acabem com você. Veja bem, Marcos: eu estou do seu lado. Mas quanto à “Folha do Rio”, perca as esperanças! Não vão publicar nada. Contudo... há outros jornais, não vendidos a Monteiro Prado. O “Correio da Tarde”, por exemplo... (estendeu a mão para Marcos) Conte comigo! Estou com você, nessa! Bem, eu tenho que voltar pra Redação. MARCOS - (apertou-lhe a mão, com gratidão) Muito obrigado, Dante. DANTE - Não precisa me agradecer. Você me considerou capaz de topar a briga do seu lado. Esse foi o maior elogio que já recebi como profissional. E eu nem sei se mereço. CORTA PARA: CENA 2 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO NOGUEIRA - INT. - DIA. ALFREDINHO ESTAVA À FRENTE DE NOGUEIRA, QUE ENCARAVA-O, COM FRIEZA. ALFREDINHO - Como é, seu Delega, posso ver Valéria? DELEGADO NOGUEIRA - (coçou o queixo, refletindo, e decidiu-se) Cabo Jorge, acompanhe o senhor Alfredo Ribeiro à cela de Valéria França. CORTA PARA: CENA 3 - DELEGACIA - CELA DE VALÉRIA - INT. - DIA. O CABO JORGE ABRIU A PORTA DE FERRO E VALÉRIA ATIROU-SE NOS BRAÇOS DE ALFREDINHO, EMOCIONADA. VALÉRIA - Meu querido, que saudade!... ALFREDINHO - E aí, como é que você tá?

Page 15: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 04

VALÉRIA - (mostrou o aposento à sua volta) Preciso responder? Tou a ponto de enlouquecer nesse lugar horrível!... ALFREDINHO - Temos que dar um jeito de tirar você daqui... mas como? VALÉRIA - O Dr. Tadeu Junqueira, meu advogado, esteve aqui, hoje de manhã. Ele acredita na minha inocência. Vai entrar com um pedido de revisão criminal. ALFREDINHO - Revisão criminal? VALÉRIA - É. Ele disse que tem sérios motivos pra acreditar que Malu Monteiro Prado é a assassina de Diana! ALFREDINHO - (irritado) Olha, Valéria, tudo isso é besteira. Besteira! Livrar você e engaiolar Malu! Ele tá maluco? Então o Monteiro Prado vai deixar que alguma coisa aconteça com Malu? Qual é, não viaja... VALÉRIA - (desconfiou por instinto) Ela ainda tá casada com o padre? ALFREDINHO - Não. Se separaram. AO DIZER ISSO, ALFREDINHO SE TRAIU. E O OLHAR DE VALÉRIA FOI DE QUEM VIU REFORÇADA UMA FORTE SUSPEITA. VALÉRIA - (desconfiada) Está acontecendo alguma coisa que eu não sei? Alfredinho... você tem alguma coisa pra me dizer? ALFREDINHO - Não. Para de bobeira, pô! VALÉRIA - Bobeira, é? Sei!... CORTA PARA:

Page 16: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 05

CENA 4 - CASA DE D. SOLEDAD - PISCINA - EXT. - DIA. USANDO UM ENORME CHAPÉU E ÓCULOS DE SOL, D. SOLEDAD ACOMPANHAVA, SENTADA NUMA ESPREGUIÇADEIRA, CADA BRAÇADA DE CECÉU NA PISCINA. DOM JOSÉ A AVISTOU, DO LIVING, E FOI AO SEU ENCONTRO. DOM JOSÉ - D. Soledad! D. Soledad! Estava a su procura! D. SOLEDAD - Estoy aqui, Dom José. Mira, Cecelito non parece una criança feliz, em la piscina? DOM JOSÉ - Estoy muy preocupado! O Dr. Monteiro Prado llamou. Ele quer vê-la com urgência! Quer que a senõra vá até o banco, ahora! D. SOLEDAD - (sem demonstrar reação) Ahora non puedo, Dom José. Yo estoy a mirar Samuquito nadar. Vá usted! DOM JOSÉ - (assustado) Y... yo?! D. SOLEDAD - Si, si. Usted. No es mi procurador? CORTA PARA: CENA 5 - PENSÃO PRIMAVERA - QUARTO DE MARCOS - INT. - DIA. MARCOS AGUARDAVA, ANSIOSAMENTE, ENQUANTO O JORNALISTA ACABAVA DE LER A SUA PRIMEIRA REPORTAGEM. MARCOS - Que tal? DANTE - Rapaz, isto vai ser uma bomba! Você vai abalar os alicerces da República de Ipanema! Para o “Correio da Tarde”, isto vai ser um presente do céu. Vão dobrar de tiragem, garanto. E o Garcia Lopes vai se morder de raiva por não poder publicar. Sim, porque é o tipo de matéria que ele gosta. Tem aquilo que chamamos de impacto de opinião pública. E isso faz vender jornal.

Page 17: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 06

(pôs a mão no ombro de Marcos) De amanhã em diante, meu caro, se prepare: sua vida vai ficar muito mais agitada! Será uma guerra! CORTA PARA: CENA 5 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE MONTEI RO - INT. - DIA. MONTEIRO ACENDEU UM CHARUTO E ESTENDEU A CAIXA PARA DOM JOSÉ. VIROU-SE PARA GERMANO, QUE TRAZIA UMA PAPELADA. MONTEIRO PRADO - O caso é o seguinte: não é que haja nenhuma desconfiança de nossa parte, mas as informações de praxe, o senhor sabe, que tivemos que pedir ao México, são bastante contraditórias e não coincidem com as que D. Soledad nos deu sobre seus bens, ações, etc. DOM JOSÉ - Pero, no es posible... MONTEIRO PRADO - Seu Germano, mostre a Dom José. DOM JOSÉ EXAMINOU OS PAPÉIS, COM AS MÃOS TRÊMULAS. DOM JOSÉ - (tentou desesperadamente explicar, enrolando tudo propositalmente) Pero, señores, no puede ser... debe haver un equívoco, verdad? MONTEIRO PRADO - Sim, é claro que há um equívoco. O que nós queremos saber é: onde está o equívoco? VINTE MINUTOS MAIS TARDE, MONTEIRO E GERMANO JÁ ESTAVAM COM A PACIÊNCIA ESGOTADA. O DIÁLOGO PROSSEGUIA COM DOM JOSÉ, O PROCURADOR DE D. SOLEDAD, BATENDO SEMPRE NA MESMA TECLA: DOM JOSÉ - Hay un equívoco sí, verdad? MONTEIRO PRADO - (deu um murro na mesa e gritou) Basta!

Page 18: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 07

DOM JOSÉ SE EMPERTIGOU. MONTEIRO PRADO - (estendeu-lhe a mão) Tomara que haja, realmente, um equívoco, Dom José Quintana! O MEXICANO SAIU COM EMILIANO. CENA 6 - BANCO MONTEIRO PRADO - SALA DE ESPERA - INT. - DIA. GERMANO ACOMPANHOU DOM JOSÉ ATÉ A PORTA, ONDE SE DESPEDIRAM, E VIU UM JORNAL SOBRE A MESA DA RECEPCIONISTA. A MANCHETE LHE CHAMOU A ATENÇÃO. ELE APANHOU O JORNAL E COMEÇOU A LER. SUAS FEIÇÕES FORAM SE ALTERANDO E ELE CORREU, APRESSADO, DE VOLTA AO GABINETE DE ONDE SAÍRA. CENA 7 - BANCO - SALA DE MONTEIRO PRADO - INT . - DIA. GERMANO - Dr. Monteiro, o senhor já viu este jornal? MONTEIRO PRADO - (pegou o jornal e leu) “Quem realmente matou Diana”. (e mais abaixo) “Numa série de reportagens que iniciamos hoje, o Padre Marcos Ventura aponta os verdadeiros culpados!” (sob a manchete, uma foto de Diana) Mas que loucura é essa!... (leu a reportagem da primeira à última linha) Que houve com esse rapaz? Enlouqueceu? Não há dúvida que é ele mesmo. Quem podia saber de tantas particularidades do meu primeiro casamento, da doença de minha mulher, dos traumas de infância de Malu, senão ele? GERMANO - É... eu mesmo ignorava essas coisas. MONTEIRO PRADO - Poucas, pouquíssimas pessoas sabem que minha primeira mulher esteve vinte anos num sanatório! E ele diz aqui, inclusive, que eu enganei minha filha durante todo esse tempo a respeito disso! Quem ler essa reportagem, o que há de pensar de mim?! Que sou um monstro! E esta é apenas a primeira de uma série!

Page 19: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 08

CORTA PARA: CENA 8 - CASA DE D. SOLEDAD - SALA DE JANTAR - INT. - DIA. A CRIADA ENCAMINHAVA-SE COM UMA BANDEJA DE SUCOS E SANDUÍCHES PARA A PISCINA, QUANDO D. SOLEDAD FOI AO SEU ENCONTRO. D. SOLEDAD - Pode deixar, Matilde, yo levaré o lanche de mi marido. TOMOU-LHE A BANDEJA DAS MÃOS E DIRIGIU-SE PARA A PISCINA. CORTA PARA: CENA 9 - CASA DE D. SOLEDAD - PISCINA - EXT . - DIA. D. SOLEDAD - Cecelito! Trouxe lanche para tí, mi amore! SENTADO NA ESPREGUIÇADEIRA, CECÉU LIA O “CORREIO DA TARDE“. CECÉU - (sem tirar os olhos do jornal) Caramba! O padre botou pra quebrar! D. SOLEDAD - (olhando por cima do ombro do marido) Que estás lendo, Cecelito? CECÉU - O padre Marcos, marido de Malu, resolveu botar todos os podres do Monteiro Prado pra fora! Isso vai dar o maior bode! MATILDE, A CRIADA, APROXIMOU-SE EM COMPANHIA DE DOM JOSÉ. DOM JOSÉ - (com gestos nervosos, dirigiu-se a Soledad) Señora, precisamos conversar!

Page 20: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 09

D. SOLEDAD - (para Cecéu) Coma su sanduíche, mi amor. Volto já! PREOCUPADA, D. SOLEDAD AFASTOU-SE ALGUNS METROS, SEGUIDA POR DOM JOSÉ, SOB O OLHAR DE CURIOSIDADE DE CECÉU. DOM JOSÉ - Fui pressionado pelo senõr Monteiro Prado! El desconfia que hay algo mui errado! Señora, no hay otra solución: tenemos que ligar para Dom Carvajal! D. SOLEDAD - (olhou discretamente para Cecéu) No, no es el momento. Acalma-te, Dom José! Ahora no es hora de hablar sobre esto. Después conversamos! DOM JOSÉ - Mas... mas... D. SOLEDAD VIROU-LHE AS COSTAS E VOLTOU PARA JUNTO DO MARIDO. DOM JOSÉ BALANÇOU A CABEÇA, RESIGNADO E RETIROU-SE EM SEGUIDA. CECÉU - O que ele queria? Dom José tava com uma cara esquisita!... D. SOLEDAD - Y yo sé? (respondeu, servindo-se de um copo de suco) Dom José no está muy bien de la cabeça, me parece... CECÉU - (desconfiado) Nem ele, nem você. Que era que vocês tanto discutiam, há pouco? D. SOLEDAD - Tonteiras, Cecelito. Pero, que dice el periódico? CECÉU - Faz uma devassa na vida do Monteiro Prado, que vou te contar! Nele e numa porção de gente. E diz que vai continuar... Continuar? SAMUCA FECHOU A CARA, PREOCUPADO. NÃO RIA MAIS.

Page 21: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 10

CORTA PARA: CENA 10 - APARTAMENTO DE MONTEIRO PRADO - SALA - INT. - NOITE. SENHORINHA ANDAVA DE UM LADO PARA O OUTRO, MUITO NERVOSA, QUANDO MONEIRO PRADO VOLTOU PARA CASA, APÓS MAIS UM DIA DE TRABALHO. SENHORINHA - (respirou aliviada) Ai, graças a Deus o senhor chegou, Doutor Monteiro! MONTEIRO PRADO - O que aconteceu, Senhorinha? Onde está Malu? SENHORINHA - Ela vai ficar uma fera quando souber que eu contei... mas não dá pra ficar quieta! MONTEIRO PRADO - (impaciente) Fale de uma vez! O que ela aprontou desta vez? SENHORINHA - Aquele tal de Alfredinho veio buscar ela aqui! Nesse momento estão dando uma festa no apartamento dela! CORTA PARA: CENA 11 - APARTAMENTO DE MALU - SALA - INT. - NOITE. A FESTINHA ESTAVA NO AUGE, QUANDO MONTEIRO PRADO CHEGOU. ESTAVAM PRESENTES, ALÉM DE ALFREDINHO, JULIO BIRUTA, LUANA, LEANDRO E SELMINHA. O APARTAMENTO PARECIA PEQUENO PARA TANTA GENTE. O BANQUEIRO FICOU ESPANTADO COM O QUE VIU. MONTEIRO PRADO - (avistou a filha e aproximou-se) Que é isso, minha filha? Você está louca? Pense na sua situação. Você se separou de seu marido há menos de uma semana!

Page 22: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 11

MALU - E que tem isso? Não estou me incomodando, ou você acha que devo entrar pra um convento? Estou apenas me divertindo com meus amigos! MONTEIRO PRADO - (passou a vista pela sala) Essa turma eu conheço muito bem! MALU SE AFASTOU E ELE FICOU UM INSTANTE INDECISO. LUANA SE APROXIMOU DELE, DANÇANDO. LUANA - Oi, coroa... MONTEIRO OLHOU PARA ELA, A PRINCÍPIO OFENDIDO, DEPOIS COM CURIOSIDADE. MONTEIRO PRADO - Quem é você? LUANA - (estendeu a mão, sorrindo, maliciosa) Eu sou a Luana. MONTEIRO PRADO - (impressionado) Você é muito bonita... (T) Bem, eu tenho que ir. Boa noite. LUANA - Chau. O BANQUEIRO RETIROU-SE. MALU ABRIU PASSAGEM ENTRE OS CASAIS QUE DANÇAVAM E DIRIGIU-SE PARA A VARANDA. DEBRUÇOU-SE E OLHOU PARA A RUA, COM O PENSAMENTO LONGE... ALFREDINHO, QUE NÃO A PERDIA DE VISTA UM SEGUNDO SEQUER, SEGUIU-A E TOCOU-LHE O OMBRO. MALU - (voltou-se) Ah, é você... ALFREDINHO - Eu tou louco pra fazer uma coisa... e vai ser agora! NUM ÍMPETO, ALFREDINHO TOMOU-A NOS BRAÇOS E BEIJOU-A COM ARDOR.

Page 23: Doce balanço   capítulos  57 & 58

DOCE BALANÇO CAPÍTULO 58 PÁGINA 12

FIM DO CAPÍTULO 58