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Ângela Alexandra Lopes Cardoso A VINCULAÇÃO E A DIFERENCIAÇÃO DO SELF NA VINCULAÇÃO ROMÂNTICA NO
ADULTO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
2011
I
Universidade do Porto
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
A VINCULAÇÃO E A DIFERENCIAÇÃO DO SELF NA VINCULAÇÃO
ROMÂNTICA NO ADULTO
Ângela Alexandra Lopes Cardoso
Outubro, 2011
Dissertação apresentada no Mestrado Integrado de Psicologia,
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade do Porto, orientada pela Professora Doutora Maria
Emília Costa (F.P.C.E.U.P.).
II
III
IV
RESUMO
Há largos anos que a vinculação é objeto de estudo em psicologia, contudo a
investigação dirigida ao par romântico adulto é ainda recente.
A Teoria dos Sistemas Familiares de Bowen tem muitos pontos de contato com a
teoria da vinculação de Bowlby, ambas se debruçam sobre o modo como as pessoas
gerem as emoções na interação com os seus significativos e pressupõem que a
pessoa aprende e interioriza padrões de comportamento e expectativas ao longo do
desenvolvimento, que são usados como modelo na idade adulta.
Vários estudos têm vindo a procurar estudar a natureza da relação entre os
constructos que compõe estas duas teorias, mas em Portugal ainda nada foi feito
neste sentido. Para preencher esta lacuna, foi validado para a população portuguesa
um instrumento de autorrelato, o Differentiation of Self Inventory (DSI). O DSI, versão
portuguesa, é um instrumento multidimensional de medida da diferenciação do self,
inspirado na Teoria de Bowen, que pretende avaliar o funcionamento emocional, a
intimidade e a autonomia nas relações interpessoais adultas através da avaliação dos
seus relacionamentos significativos e relação atual com a família de origem.
Participaram na investigação 486 adultos (243 homens e 243 mulheres), em
regime de coabitação há pelo menos três anos com idades compreendidas entre os
21 e os 87 anos.
A hipótese de que a qualidade da vinculação ao(à) companheiro(a) estaria
associada à diferenciação do self foi, de uma forma geral, confirmada, verificando-se
que perceber o(a) companheiro(a) como responsivo às necessidades de vinculação
está correlacionado positivamente com a capacidade do indivíduo, a nível
intrapessoal, para separar sentimentos e pensamentos; e a nível interpessoal, para
se separar emocional e fisicamente da sua família de origem, bem como para
alcançar a maturidade emocional e independência, sem que para isso perca a ligação
emocional com os outros. Encontraram-se diferenças em função da escolaridade e da
duração da relação para a vinculação ao(à) companheiro(a) e ainda em função do
sexo para a diferenciação do self. Como o esperado, as dimensões da diferenciação
do self constituíram-se preditores nas quatro dimensões da vinculação, ainda que em
diferentes combinações.
Palavras-chave: Relação romântica, Vinculação no adulto, Diferenciação do self,
Teoria de Bowen.
V
ABSTRACT
Attachment has been for many years a central subject of study in psychology
however research dealing with romantic couple is still recent.
Bowen‟s Family Systems and Bowlby's attachment have many points of
convergence, both concern how people manage emotion in interaction with important
others and assume that patterns of behavior and expectations are learned and
internalized throughout development and are used as blueprints in adulthood. Several
studies have been researching on the relational nature of the constructs that make up
these two theories, though in Portugal nothing has been done yet in this regard. To fill
this gap, a self-report instrument, the Differentiation of Self Inventory (DSI) has been
validated for the Portuguese population. The DSI, Portuguese version, is a
multidimensional measure of differentiation, based on Bowen‟s theory, which aims to
assess adults emotional functioning, intimacy and autonomy in their significant
relationships, and current relations with family of origin.
486 adults (243 men and 243 women) participated in the study, they were
cohabitating for at least three years and their ages ranged from 21 to 87 years.
The hypothesis that the romantic attachment quality is associated with
differentiation of self was, in general terms, confirmed once conceiving the partner as
responsive to the attachment needs was positively correlated with the ability of the
individual to, at intrapersonal level, separate feelings and thoughts, and at an
interpersonal level separate himself emotionally and physically from their family of
origin reaching emotional maturity and independence without breaking emotional
connection with significant ones.
Reliable differences were found for educational level and relationship duration in
romantic attachment. For differentiation of self gender differences were also reported.
As expected, differentiation of self subscales constitutes predictors for the four
attachment dimensions though in different combinations.
Keywords: Romantic relationship, Adult attachment, Differentiation of self, Bowen
theory
VI
RESUME
Pendant de nombreuses années que la l‟attachement est l'objet d'études en
psychologie, mais des recherches adressée à l‟adduit paire romantique est encore
récent. La théorie des systèmes familiaux de Bowen a de nombreux points de contact
avec la théorie de Bowlby sur l'attachement, ils sont axés sur la façon dont les
émotions sont réglementées au sein des relations significatives et supposons que les
modes de comportement et les attentes sont appris et intériorisé sur du
développement et sont utilisés comme des modèles à l'âge Plusieurs études ont
tenté d'étudier la nature de la relation entre les constructions qui composent ces deux
théories, mais au Portugal rien n'a été fait à cet égard. Pour combler cette lacune, a
été validé pour la population portugaise un instrument d'autoévaluation, la
différentiation du soi (DSI). La DSI, version portugaise, est un outil multidimensionnel
de mesure de la différentiation du soi, inspiré dans la théorie de Bowen, qui vise à
évaluer le fonctionnement affectif, d'intimité et d'autonomie dans les relations
interpersonnelles à travers l'évaluation des relations entre adultes et relation
significative avec le courant famille d'origine.
Dans cette recherché à participé 486 adultes (243 hommes et 243 femmes), sous
une cohabitation pendant au moins trois ans entre les âges de 21 et 87 ans.
L'hypothèse que la qualité de l‟attachement au compagnon est associée à la
différentiation du soi était, en général, confirmées par la vérification que le compagnon
réponde aux besoins de l‟attachement qui était corrélée positivement avec la capacité
de l'individu, dans l‟intrapsychique, de séparer les sentiments et les pensées, et dans
l‟interpersonnels, de se séparer émotionnellement et physiquement de leur famille
d'origine, et d'atteindre la maturité affective et l'indépendance sans avoir à passer
cette connexion émotionnelle avec les autres. Nous avons trouvé des différences
dans le niveau d'éducation et de la durée de la relation pour l‟attachement au
compagnon et par sexe pour la différentiation du delf. Comme prévu, les dimensions
de la différentiation du soi constitué des prédicteurs de l'attachement en quatre
dimensions, mais dans des combinaisons différentes.
Cette étude a été établi comme point de départ pour de nouvelles enquêtes qui
cherchent à comprendre les processus de maintenance / réorganisation des modèles
de l‟attachement dans les couples romantiques et leurs influences transnationales.
Mots-clés: Attachement pour adultes, Relation romantique, Differentiation du soi,
La théorie de Bowen.
VII
ÍNDICE
ÍNDICE DE ANEXOS ………………………………………………………………………. IX
ÍNDICE DE QUADROS …………………………………………………………………….. XI
ÍNDICE DE ABREVIATURAS ………………………………………………………………. XII
INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………….. 1
CAPÍTULO I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL
1. Teoria da Vinculação ……………………………………………………………. 3
1.1 História Sumária ………………………………………………………………. 3
1.2 Vinculação: uma necessidade primária que se mantém para toda vida .. 5
1.3 Vinculação romântica no adulto: Modelo Bidimensional de Bartholomew 7
2. Teoria dos sistemas emocionais de Bowen ………………………………... 10
1.1 História Sumária ………………………………………………………………. 10
1.2 A Diferenciação do Self ……………………………………………………… 11
1.3 Investigação …………………………………………………………………… 14
3 Teoria da vinculação e TSFB: Que relação? ……………………………….. 15
CAPÍTULO II. ESTUDO EMPÍRICO
1. Objetivos e hipóteses de investigação …………………………………….. 18
2. Método ……………………………………………………………………………... 20
2.1. Participantes ………………………………………………………………….. 20
2.2. Instrumentos ………………………………………………………………….. 21
2.2.1. Questionário sócio-demográfico …………………………………….. 21
2.2.2. Questionário de Vinculação Amorosa (QVA) – versão breve …… 21
2.2.3. Differentiation of Self Inventory (DSI) ………………………………. 22
2.3. Procedimento ………………………………………………………………… 24
3. Apresentação dos Resultados ………………………………………………... 25
3.1. Análises Preliminares ……………………………………………………….. 25
3.1.1. Estudo da qualidade psicométrica dos instrumentos …………….. 26
VIII
3.1.1.1. Questionário da Vinculação Amorosa (QVA) ………………. 26
3.1.1.2. Differentiation of Self Inventory (DSI) ……………………….. 27
3.1.2. Estudos Descritivos ………………………………………………...… 28
3.1.3. Estudos Correlacionais ………………………………………………. 29
3.1.4. Estudos Diferenciais ………………………………………………….. 31
3.1.4.1. Diferenças em função do sexo e da escolaridade na
vinculação ao companheiro ……………………………………………. 31
3.1.4.2. Diferenças em função do sexo e da escolaridade na
diferenciação do Self ……………………………………………………. 32
3.1.4.3. Diferenças em função da idade e da duração da relação na
vinculação ao companheiro ……………………………………………. 33
3.1.4.4. Diferenças em função da idade e da duração da relação na
diferenciação do self ……………………………………………………. 33
3.2. Análise de Clusters ………………………………………………………….. 34
3.3. Regressão Linear Múltipla ………………………………………………….. 38
4. Discussão dos resultados ……………………………………………………... 41
4.1. Examinar de que modo os indivíduos vivenciam as suas relações
amorosas …………………………………………………………………………… 41
4.2. Contribuir para o desenvolvimento da metodologia de avaliação da
diferenciação do self ……………………………………………………………… 43
4.3. Estudar associações entre as dimensões da vinculação com as
dimensões da diferenciação do self …………………………………………….. 45
4.4. Verificar em que medida as dimensões da diferenciação do self são
capazes de predizer a qualidade da vinculação ………………………………. 46
4.5. Analisar o efeito das variáveis sócio-demográficas na vinculação ao
companheiro e na diferenciação do self ………………………………………... 48
5. Considerações finais ……………………………………………………………. 50
5.1. Limitações do estudo e pistas para futuras investigações …………….... 50
5.2. Implicações para a prática clínica ………………………………………….. 51
5.3. Conclusão …………………………………………………………………….. 53
6. Referências Bibliográficas …………………………………………………….. 55
IX
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 – Caracterização dos participantes, em função de variáveis sociodemográficas
Anexo 2 – Questionário Sócio-demográfico
Anexo 3 – Questionário de Vinculação Amorosa (QVA) – versão breve
Anexo 4 – Differentiation of Self Inventory (DSI)
Anexo 5 – Solicitação de colaboração às famílias
Anexo 6 – Qualidades psicométricas do Questionário da Vinculação Amorosa (QVA) –
versão breve
6A – Estrutura fatorial do QVA
6A(a) – Medidas de adequabilidade do procedimento de análise fatorial
(Kaiser-Meyer-Olkin e Teste de Esfericidade de Bartlett)
6A(b) – Variância explicada pelos quatro fatores extraídos
6A(c) – Dimensões/ Itens e saturações ao longo dos quatro fatores
extraídos
6B – Consistência interna das dimensões do QVA
6C – Correlações entre as dimensões do QVA
Anexo 7 – Qualidades psicométricas do Differentiation of Self Inventory (DSI)
7A – Estrutura fatorial do DSI
7A(a) – Medidas de adequabilidade do procedimento de análise fatorial
(Kaiser-Meyer-Olkin e Teste de Esfericidade de Bartlett)
7A(b) – Variância explicada pelos quatro fatores extraídos
7A(c) – Dimensões/Itens e saturações ao longo dos quatro fatores
extraídos
7B – Consistência interna das dimensões do DSI
7C – Correlações entre as dimensões do DSI e DSI Escala Total
Anexo 8 – Efeito do sexo e da escolaridade sobre a vinculação ao companheiro
8A – Teste dos efeitos principais intersujeitos do sexo e da escolaridade para as
dimensões da vinculação ao companheiro
8B – Médias e desvios-padrão para as dimensões da vinculação ao companheiro
onde há diferenças
X
Anexo 9 – Efeito do sexo e da escolaridade sobre a diferenciação do self
9A – Teste dos efeitos principais intersujeitos do sexo e da escolaridade para as
dimensões da diferenciação do self
9B – Médias e desvios-padrão para as dimensões da diferenciação do self onde
há diferenças
Anexo 10 – Efeito da idade e da duração da relação na vinculação ao companheiro
10A – Modelos de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro
10B – Análises de variância para os modelos de regressão das dimensões da
vinculação ao companheiro
10C – Coeficientes de regressão para as dimensões da vinculação companheiro
Anexo 11 – Efeito da idade e da duração da relação na diferenciação do self
11A – Modelos de regressão para as dimensões da diferenciação do self
11B – Análises de variância para os modelos de regressão das dimensões da
diferenciação do self
11C – Coeficientes de regressão para as dimensões da diferenciação do self
Anexo 12 - Clusters para a vinculação ao companheiro
12A – Teste dos efeitos principais intersujeitos para as dimensões da vinculação
ao companheiro, em função do Cluster
12B – Teste dos efeitos principais intersujeitos para as dimensões da
diferenciação do self, em função do Cluster
12C – Comparação de pares de médias (Teste de Scheffe) para as dimensões da
vinculação ao companheiro e da diferenciação do self, em função do Cluster
12Ca: Dimensões da vinculação ao companheiro
12Cb: Dimensões da diferenciação do self
12D: Composição dos Clusters
Anexo 13 – Modelos de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro,
obtidos pelo método stepwise
13A: Análise de variância (ANOVA) da regressão
13B: Coeficientes de regressão para as dimensões da vinculação ao
companheiro
XI
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Valores mínimo e máximo, média e desvio-padrão para as dimensões
da vinculação ao companheiro e da diferenciação do self
Quadro 2 – Correlações de Pearson entre as dimensões da vinculação ao
companheiro e da diferenciação do self
Quadro 3 – Médias e desvios-padrão para as dimensões da vinculação ao
companheiro e da diferenciação do self, em função do Cluster
Quadro 4 – Modelos de regressão para as dimensões da vinculação ao
companheiro
XII
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
TSFB - Teoria Sistémica da Família de Bowen
QVA - Questionário de Vinculação Amorosa
DSI - Differentiation of Self Inventory
IP - “I” Position
EC - Emotional Cutoff
FO - Fusion with Others
ER - Emotional Reactivity
1
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, a Teoria da Vinculação tem sido objeto de inúmeros trabalhos
empíricos e científicos, sendo sobejamente conhecida. Esta foi aplicada a vários
aspetos da relação do casal, tais como a discórdia, a comunicação, a satisfação e
longevidade da relação, sendo que, em termos gerais, a vinculação adulta segura
está associada a resultados mais positivos do que a vinculação insegura nas relações
de namoro e de casal (Feeney, 1999). Atualmente, um dos constructos relacionados
com a relação de casal que se encontra em voga no âmbito da investigação na
vinculação, é a diferenciação do self. Com efeito, de entre as teorias relacionais do
desenvolvimento, a teoria da vinculação de Bowlby e a teoria sistémica da família de
Bowen fornecem, cada uma delas, um quadro de referência para a compreensão de
como a internalização das experiências vividas na família facilitam o desenvolvimento
da regulação das emoções. Por isso é importante perceber as convergências e as
divergências entre ambos os constructos relativamente às relações românticas.
Estudos têm demonstrado que vinculações seguras estão associadas à conquista da
autonomia, constructo indicativo da diferenciação do self (Skowron & Dendy, 2004).
A presente investigação procurou ajudar a clarificar o constructo da diferenciação
do self através da exploração da sua relação com a vinculação ao companheiro, e da
sua expressão na população portuguesa em termos das variáveis sócio-demográficas.
O trabalho encontra-se organizado em dois capítulos. O objetivo do Capítulo I é
fornecer uma revisão da literatura sobre as variáveis em estudo: a vinculação ao
companheiro e a diferenciação do self. Será, portanto, apresentado de forma breve o
panorama da teoria da vinculação, começando pela revisão dos desenvolvimentos
teóricos da vinculação na infância, no adulto e na relação romântica do adulto; em
seguida, salienta-se a literatura sobre a Teoria dos Sistemas Familiares de Bowen,
focando sobretudo o conceito basilar da sua teoria – a diferenciação do self.
Finalmente, apresenta-se a revisão da literatura relativa à relação entre a teoria da
vinculação e a diferenciação do self. No Capítulo II pretende-se expor o estudo
empírico. Em primeiro lugar são apresentados os Objetivos e hipóteses do estudo.
Segue-se a apresentação do método, começando pela descrição dos participantes,
instrumentos utilizados e respetiva informação psicométrica, e procedimento adotado.
Em terceiro lugar são apresentados os resultados, que se iniciam pelas análises
preliminares, seguidas do teste das hipóteses: estudo das qualidades psicométricas
2
dos instrumentos, estudos descritivos, estudos correlacionais, estudos diferenciais,
análise de clusters e, por último, análise de regressão linear múltipla. Este capítulo
integra ainda a discussão dos resultados, produto da confrontação dos resultados
com as hipóteses pré-estabelecidas. Por último, são apuradas as limitações do
estudo, avançadas pistas para futuras investigações, e apresentada uma sinopse das
conclusões fundamentais do estudo.
3
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
CAPÍTULO I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL
1. Teoria da vinculação
1.1. História sumária
“We are molded and remolded by those who have loved us; and though
the love may pass, we are nevertheless their work, for good or ill”.
François Mauriac (cit in Bowlby 1969/1982, p. 331)
A teoria da vinculação é fruto do trabalho conjunto de John Bowlby e Mary
Ainsworth (Ainsworth & Bowlby, 1991; Bowlby 1969/1982; 1973; 1980). O primeiro foi
um psiquiatra e psicanalista inglês que, durante as décadas de 1940 e 50, iniciou o
desenvolvimento de uma nova teoria, capaz de explicar a importância da ligação
afetiva entre mãe e filho para o desenvolvimento e funcionamento psicológico da
criança bem como as consequências da sua rutura por meio de separação, perda ou
privação (Bretherton, 1992). Bowlby não concordava com as teorias vigentes na
altura que explicavam a ligação mãe-filho ou pela questão biológica de satisfação das
necessidades de alimentação (teoria psicanalítica) ou como reforço secundário
decorrente da mesma necessidade (teoria da aprendizagem social) (Bowlby,
1969/1982). Então, integrando conceitos retirados da etologia, das teorias da
evolução da biologia, das ciências cognitivas, da psicologia do desenvolvimento e da
teoria cibernética dos sistemas de controlo, Bowlby propôs que o vínculo que une a
criança à sua mãe serve uma importante função biológica - a de proteção da criança;
e uma importante função evolutiva - a sobrevivência da espécie (Bowlby, 1969/1982).
Por sua vez, Mary Ainsworth foi uma psicóloga clínica canadiana, que em 1950 foi
integrada na equipa de Bowlby e cujas contribuições estão associadas ao
desenvolvimento de um novo método de estudo que permitiu testar algumas das
ideias de Bowlby e assim ampliar e modificar a teoria da vinculação. (Bretherton,
1992).
Em linhas sumárias, a teoria da vinculação conceptualiza “the propensity of
human beings to make strong affectional bonds to particular others” (Bowlby, 1979,
p.127). Ela compreende os conceitos de vinculação, que corresponde à disposição
4
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
motivacional da criança no de sentido de manter a proximidade espacial com a figura
de vinculação e de comportamentos de vinculação, que, por sua vez, se refere às
várias respostas que o indivíduo adota contextualmente para obter a proximidade
desejada em relação a uma figura de vinculação.
A figura de vinculação é alguém a quem o indivíduo recorre quando se sente
angustiado, ansioso ou assustado. A maior parte das pessoas têm uma hierarquia de
figuras de vinculação (Berman & Sperling, 1994). Contudo, a figura de vinculação
primária é aquela pessoa com quem o sujeito mais gostaria de estar quando se sente
angustiado independentemente de ser ou não a pessoa com maior capacidade para o
ajudar naquela situação. Para as crianças essa pessoa é normalmente um dos pais;
para os adultos a figura primária de vinculação é normalmente o par romântico ou um
amigo próximo (Colin, 1996; Hazan & Zeifman, 1994; Weiss, 1996).
Os comportamentos de um indivíduo em relação à figura de vinculação podem
ser de: procura de proximidade (necessidade de estar perto e/ou manter contato),
refúgio de segurança (recurso à figura de vinculação em busca de conforto, apoio e
tranquilidade), base segura (utilizar a figura de vinculação como base para explorar o
meio) e protesto de separação (resistir à separação e ficar angustiado com a mesma)
(Hazan & Zeifman, 1994). Estes comportamentos servem o intuito de maximizar as
hipóteses do bebé ser cuidado pelos outros (Bowlby 1969/1982).
Bowlby (1969/1982; 1973; 1980) postulou ainda a existência de modelos internos
dinâmicos (internal working models) de representação do self e do outro. Segundo o
autor, ao longo do primeiro ano de vida o bebé cria expectativas e representações
acerca da figura de vinculação (disponibilidade e responsividade) e sobre o self
(reconhecimento do seu valor pessoal e capacidade par influenciar a figura de
vinculação), tendo por base as repetidas interações com a figura de vinculação
(Bowlby, 1973). Essas expectativas vão sendo consolidadas até à adolescência,
altura em que os modelos internos dinâmicos se tornam relativamente estáveis.
Neste sentido, as crianças fazem uma organização da informação acerca do seu
ambiente físico, das suas figuras de vinculação, da sua relação com elas e de si
próprias, desenvolvendo uma maneira própria de ver as relações íntimas que
generalizam, então, para além da família (Bowlby, 1973).
Os modelos internos dinâmicos reúnem expectativas, crenças e emoções acerca
da acessibilidade e disponibilidade da figura de vinculação, mas também informações
sobre a capacidade do indivíduo para suscitar proteção e carinho, envolvendo
representações mentais das figuras de vinculação, de si e do meio ambiente. Para
5
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
Bretherton e Munholland (1999), os modelos internos dinâmicos permitem aos
indivíduos antecipar o futuro e fazer planos, eles funcionam como um guião de
avaliação das situações sociais e de assimilação de novas experiências, que permite
ao indivíduo manter uma imagem coerente tanto de si como dos outros.
Durante a década de 1970, Ainsworth e colaboradores desenvolveram uma
técnica chamada “Situação Estranha” que, de uma forma devidamente normalizada,
permitiu observar e medir quatro categorias de comportamentos nas crianças: (1) a
ansiedade de separação, isto é, o desconforto que a criança expressa quando é
deixada pelo cuidador, (2) a disposição da criança para explorar, (3) ansiedade
perante uma situação estranha: a resposta da criança à presença de um estranho e
(4) comportamento reunião: forma como o cuidador foi recebido no seu regresso
(Ainsworth, Blehar, Waters, & Wall, 1978). Este método possibilitou o estudo das
diferenças individuais na organização comportamental da vinculação e categorizar o
comportamento de vinculação segundo três padrões: seguro, evitante, e ansioso-
ambivalente (Ainsworth et al., 1978). Investigações posteriores sugeriram a existência
de um quarto padrão de vinculação designado desorganizado, as crianças com este
padrão de vinculação utilizavam uma mistura de estratégias dos outros três padrões
nas interações com a figura de vinculação (Main & Solomon, 1986).
Mais tarde, Hazan e Shaver (1987) ao estudar o amor romântico no adulto,
observaram uma organização da distribuição dos estilos de vinculação similar à
encontrada na infância por Ainsworth et al. (1978), com cerca de 56% dos sujeitos
seguro, 25% evitantes, e 19% ansiosos/ambivalentes. Desde então têm-se
desenvolvido inúmeros trabalhos no âmbito da vinculação ao par amoroso.
1.2 Vinculação: uma necessidade primária que se mantém para toda vida
Bowlby (1979) afirmou que a qualidade do laço de vinculação estabelecido entre
a criança e a figura de vinculação influencia o indivíduo ao longo de todo o seu ciclo
de vida. Esta ideia está sintetizada na célebre citação de Bowlby segundo a qual a
vinculação influência o individuo “from the cradle to the grave” (p. 129). Durante a
infância a criança tem como principais figuras de vinculação os seus pais. A partir da
adolescência verifica-se uma mudança gradual de vários componentes dos
comportamentos de vinculação em direção a outras figuras de vinculação que não os
pais, resultando numa mudança na hierarquia das figuras de vinculação. Neste
6
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
sentido, Hazan e Zeifman (1999) salientaram que as principais funções da vinculação
(segurança e proteção) descritas por Bowlby na infância (1969/1972, 1973; 1980)
permanecem nas relações íntimas durante a vida adulta, sendo normalmente o par
romântico quem funciona como principal figura de vinculação, deste modo, ambas
podem ser consideradas relações de vinculação (Hazan & Shaver, 1987). Weiss
(1996) sugere que, na idade adulta, a procura de novas figuras de vinculação é
motivada pela maturação social e sexual, pelo aumento da capacidade de reconhecer
as limitações dos pais, e pelo aumento da autoconfiança e da necessidade de
independência. Esta asserção acerca da existência de vinculação na idade adulta é
defendida por Hazan e Zeifman (1999):
The attachment system helps to ensure the development of an enduring bond that
enhances survival and reproductive fitness in direct as well as indirect ways. Pair
bonds are not simply mutually beneficial alliances based on the principle of reciprocal
altruism. Instead, they involve a profound psychological and physiological
interdependence, such that the absence or loss of one partner can be literally life-
threatening for the other (p. 351).
Deste modo, verifica-se que a vinculação na idade adulta partilha semelhanças
com os vínculos formados na infância. Hazan e Zeifman (1999) apoiam a ideia de
continuidade da vinculação mediante a análise de quatro variáveis. (1) Relativamente
ao contato físico (procura de proximidade e contato), observam-se nas relações de
românticas interações íntimas exclusivas destas relações e das interações mãe-filho
que não se verificam noutros relacionamentos. (2) Em segundo lugar, os critérios de
seleção da figura de vinculação são semelhantes nas crianças e nos adultos, estes
vinculam-se preferencialmente àqueles que respondem às suas necessidades
próprias e que são agradáveis, responsivos, competentes e familiares. (3) Também a
reação à separação da figura vinculação, é semelhante: ansiedade e o stress
seguidos de depressão e letargia, e, finalmente, caso a separação seja muito longa,
desapego e reorganização afetiva (Bowlby, 1980). (4) Finalmente, os efeitos sobre a
saúde física e psicológica. A rutura, as desavenças e os ciúmes no relacionamento
com a figura de vinculação, aumentam a suscetibilidade a perturbações fisiológica ou
psicológica devido ao seu efeito negativo sobre o sistema imunitário.
Apesar das semelhanças entre o sistema de vinculação da criança e o do adulto
existem também algumas diferenças significativas entre os dois. Nos relacionamentos
7
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
adultos íntimos ambos os elementos da díade oferecem e recebem cuidados e apoio
uma vez que o sistema de procura de cuidados (careseeking system) e o de
prestação de cuidados (caregiving system) atuam de uma forma simétrica e recíproca.
Além disso nestas relações de vinculação há intimidade sexual, que exerce uma
importante função na promoção e a manutenção do vínculo entre os parceiros pois
induz ao contato, pelo menos nos primeiros estadios das relações (Hazan e Zeifman,
1994, 1999).
Em suma, as relações de vinculação na idade adulta, continuam a exercer a
função de promover o sentimento de segurança básica e consequentemente a
estabilidade emocional do indivíduo (Weiss, 1996).
1.3 A vinculação romântica no adulto: Modelo Bidimensional de Bartholomew
Em meados dos anos 80, emergiram duas grandes correntes de investigação
sobre a vinculação no adulto (Bartholomew & Shaver, 1998; Simpson & Rholes,
1998). A primeira, desenvolvida por Mary Main e seus colaboradores (Main, Kaplan,
& Cassidy, 1985), centrava-se no estudo da relação pais-filhos e recorria à entrevista
como técnica principal de investigação, e.g. Adult Attachment Interview (AAI; George,
Kaplan, & Main, 1985). O seu objetivo principal era perceber como o adulto
organizava e integrava as suas experiências precoces de vinculação e as
representações atuais que mantinha acerca delas. A segunda linha de investigação,
iniciou-se em 1987 com os trabalhos de Cindy Hazan e Philipp Shaver, centrava-se
no estudo das relações românticas e recorria a medidas de autorrelato como técnica
principal de investigação. O seu objetivo principal era explorar o amor romântico
enquanto processo e contexto de vinculação na idade adulta.
Nesse sentido, Hazan e Shaver (1987) organizaram as diferenças individuais
relacionadas com os pensamentos, sentimentos e comportamentos dos adultos nos
seus relacionamentos íntimos em três padrões de vinculação: seguro, evitante e
ansioso-ambivalente, análogos à classificação tradicional da vinculação infantil
(Ainsworth et al., 1978). No seguimento dos trabalhos destes autores, Collins e Read
(1990), propuseram uma nova linha de abordagem da vinculação do adulto ao par
romântico, as abordagens dimensionais. Estas consideravam a possibilidade do
sujeito se situar ao longo de dimensões contínuas, possibilitando uma maior
variabilidade entre os sujeitos. Deste modo eles pretendiam colmatar as fragilidades
associadas à abordagem categorial de Hazan e Shaver (1987) que, ao agrupar os
8
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
indivíduos segundo características centrais rígidas, não refletia a dinâmica das
relações de vinculação adulta romântica. Posteriormente, Kim Bartholomew (1990,
Bartholomew & Horowitz, 1991) com o intuito de conciliar as duas abordagens
anteriores, sugeriu uma abordagem prototípica da vinculação romântica do adulto.
Este tipo de abordagem prevê a existência de padrões de vinculação distintos,
contudo considera a possibilidade da presença de elementos de vários padrões no
mesmo sujeito (Bartholomew & Shaver, 1998). Assim, deixa de se falar, e.g., de
indivíduos exclusivamente seguros para falar de indivíduos predominantemente
seguros. O modelo bi-dimensional da vinculação proposto por Bartholomew (1990,
Bartholomew & Horowitz, 1991) é ainda hoje a principal referência dentro das
abordagens prototípicas (Matos, 2002). Apoiando-se nos postulados de Bowlby
referentes aos MID, a autora configura um modelo que se organiza em torno da
positividade e negatividade das representações que o sujeito tem de si próprio e do
outro: 1) modelo de si positivo (perceção de si próprio enquanto merecedor de amor e
atenção) vs modelo de si negativo (perceção de si próprio como não merecedor de
amor e atenção); 2) modelo do outro positivo (perceção do outro como confiável e
acessível, capaz de proporcionar apoio e proteção) vs. modelo negativo do outro
(perceção do outro como pouco confiável e rejeitante) (Bartholomew & Horowitz,
1991). É das diferentes combinações entre estas duas dimensões e o seu caráter
positivo ou negativo que se obtêm quatro padrões de vinculação: Seguro – modelo
positivo de si próprio e do outro; Desinvestido – modelo positivo de si próprio e
negativo do outro; Preocupado – modelo negativo de si e positivo do outro; e
Amedrontado – modelo negativo de si próprio e do outro (Bartholomew & Horowitz,
1991; Matos, 2002). Os padrões também podem ser conceptualizado a partir da
combinação da positividade e negatividade de outras duas dimensões, a
dependência (necessidade de validação por parte dos outros para manter a
autoconfiança) e o evitamento da intimidade (desvalorização do contato com os
outros e da expressão emocional pelo medo de rejeição) (Bartholomew & Horowitz,
1991).
Assim, os indivíduos com padrão seguro caracterizam-se por elevados níveis de
autonomia e baixos de evitamento das relações íntimas. Eles veem-se como
merecedores de amor e vêm os outros como dignos de confiança, por isso sentem-se
“comfortable with intimacy and autonomy” (Bartholomew & Horowitz, 1991, p. 227) e
estão disponíveis para se envolver emocionalmente com os outros.
9
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
Por seu turno, indivíduos com padrão de vinculação preocupado caracterizam-se
por estarem constantemente “preoccupied with relationships” (Bartholomew &
Horowitz, 1991, p. 227). Eles têm uma perceção negativa de si pelo que apresentam
uma elevada dependência emocional face aos outros, buscando sempre a sua
atenção e aprovação; por outro lado têm um conceito positivo do outro que conduz à
idealização do outro, ao envolvimento exacerbado nas relações e à existência de
níveis de ansiedade de separação elevados.
“Dismissing of intimacy and counterdependent” é assim que Bartholomew &
Horowitz (1991, p. 227) descrevem os indivíduos com padrão de vinculação
Desinvestido. Estes indivíduos tendem a apresentar elevados níveis de autoconfiança
e a valorizar a realização pessoal e independência em detrimento das relações de
intimidade, as quais evitam e desvalorizam. Esta postura é interpretada pela autora
como uma estratégia de defesa decorrente da disposição negativa que estes
indivíduos têm face às outras pessoas. Isto é, negando as necessidades de
vinculação pela valorização da independência, o sistema de vinculação é desativado
e estes não incorrem nos riscos de rejeição. Finalmente, indivíduos com padrão de
vinculação amedrontado são descritos como “fearful of intimacy and socially avoidant”
(Bartholomew & Horowitz,1991. p. 227), estes têm uma autoconfiança baixa e
desejam as relações de intimidade que simultaneamente evitam pelo medo de serem
rejeitados.
A teoria da vinculação fornece uma estrutura para a compreensão da forma como
as pessoas vivenciam os relacionamentos significativos e, ainda, o seu
comportamento nos relacionamentos. São muitos os estudos empíricos que atestam
a validade da teoria de Bowlby e particularmente do modelo bidimensinal da
vinculação, o modelo de referência a ser utilizado neste estudo (Bartholomew &
Horowitz, 1991; Griffin & Bartholomew, 1994).
10
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
2. Teoria Sistémica da Família de Bowen (TSFB)
2.1. História sumária
“Después de haber pasado miles de horas en sesiones com las famílias, me
resulto cada vez más difícil ver a un individuo sin “ver” a todos los demás
miembros de la família, sentados como fantasmas junto a él.”
(Murray Bowen, 2010, p. 25)
A TSFB como o próprio nome indica foi criada e desenvolvida por Murray Bowen
(1913-1990), um investigador, médico, professor e escritor (Guerin & Chabot, 1997)
que na década de 1950, aderiu ao movimento emergente das terapias familiares por
constatar que, apesar da psicanálise ser capaz de explicar toda a gama de problemas,
as suas técnicas não se mostravam eficazes no tratamento dos transtornos
emocionais graves devido ao enfoque no individuo isolado e desvalorização das
relações familiares (Bowen, 2010).
Durante o seu trabalho com pacientes esquizofrénicos Bowen descobriu que a
relação simbiótica mãe-paciente, que na altura hipotetizava estar na base da
sintomatologia psicótica, era apenas o fragmento de um problema da família, em que
o pai detinha um papel fulcral - “the psychosis in the patient was now considered to be
a symptom of the total family problem.” (Bowen, 1960, p. 349). Assim, com o olhar
ampliado sobre a família esquizofrénica, Bowen notou uma forte interdependência
emocional entre os seus membros. Eles eram dominados pelas emoções e as suas
decisões essencialmente fundamentadas nos sentimentos (Bowen, 1960; 1990;
2010). Ao estender as suas observações a famílias com menores graus de psicose e
depois a famílias “normais”, Bowen constatou que os padrões de relacionamento
observados nas famílias esquizofrénicas eram iguais em todas as outras famílias,
variando ao longo de um continuum no grau de intensidade e perturbação emocional
dos seus membros (Bowen, 1990; 2010). Esta descoberta constituiu um novo ponto
de viragem nas investigações de Bowen, no sentido da construção de uma teoria
global do funcionamento emocional humano e dos seus processos de transmissão ao
longo das gerações (Guerin & Chabot, 1997).
A TSFB é, portanto, o resultado da hipótese de pesquisa original, modificada e
ampliada centenas de vezes (Bowen, 1990; 2010) e da convergência dos
11
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
conhecimentos (1) que Bowen adquiriu na observação de inúmeras famílias humanas
nas mais variadas circunstâncias, (2) com os da teoria dos sistemas naturais e (3) os
da teoria da evolução das espécies (Bowen, 1990; 2010; Guerrin & Chabot 1997).
Atualmente, ela é considerada a teoria mais completa no âmbito das perspetivas
sistémicas pois é composta por oito constructos interligados entre si e com
metodologia clínica correspondente (Charles, 2001, Guerrin & Chabot 1997, Papero,
1988, 1998 Skowron, Epps & Cipriano, in press).
A TSFB vê a família como uma unidade emocional constituída por um conjunto
de sistemas e subsistemas interligados entre si1. Faz parte da natureza de uma
família a ligação intensa emocional entre os seus membros, os quais afetam os
pensamentos, sentimentos e ações em tal medida que muitas vezes parece que
vivem todos sob a mesma "pele emocional". Eles solicitam atenção, aprovação e
apoio uns dos outros, e reagem às necessidades, expectativas e angústias de cada
um. Esta ligação e reatividade aos outros tornam o funcionamento dos membros da
família interdependente, tanto que a mudança no funcionamento de um membro da
família é seguida por alterações recíprocas no funcionamento dos outros. As famílias
podem diferir no grau de interdependência, mas há sempre algum grau (Bowen, 1990;
2010).
2.2. Diferenciação do Self
“The core of my theory has to do with the degree to which people are able to
distinguish between the feeling process and the intellectual process.”
(Murray Bowen, 1990, p. 355)
No desenvolvimento da sua teoria, Bowen (1990) usou o termo diferenciação do
self para descrever a capacidade do indivíduo “to maintain autonomous thinking and
achieve a clear, coherent sense of self in the context of emotional relationship with
important others” (Skowron & Friedlander, 1998, p. 237). Isto compreende a
1 Segundo Bowen (1990), cada indivíduo contém três sistemas básicos de funcionamento (além do
biológico), o sistema emocional, o sistema dos sentimentos, e o sistema intelectual. O sistema emocional refere-se às reações automáticas que temos a estímulos ou acontecimentos. Este é o nosso sistema mais primitivo e sobre o qual não temos nenhum controle. O sistema dos sentimentos consiste essencialmente na nossa resposta subjectiva ou avaliação que fazemos do nosso sistema emocional. O sistema intelectual é o nosso sistema de pensamento, aquele que se encontra associado à capacidade racional para decidir como agir acerca da acção. O sistema dos sentimentos é a ponte entre o sistema emocional e o intelectual, ele confere sentido às reações emocionais.
12
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
capacidade do sistema familiar e dos seus membros “to manage emotional reactivity,
act thoughtfully under stress, and allow for both intimacy and autonomy in
relationships” (Skowron et al., in press).
A diferenciação do self opera em dois domínios, o intrapessoal e o interpessoal
ou relacional. A nível intrapessoal a diferenciação do self consiste na capacidade
para distinguir o sistema intelectual do sistema dos sentimentos (Bowen, 1990) e
intencionalmente usá-los para gerir as emoções e os comportamentos (Skowron &
Friedlander, 1998). Indivíduos com baixo nível de diferenciação não reconhecem a
diferença entre os processos emocionais e intelectuais. Eles têm os seus
pensamentos e sentimentos fundidos, são emocionalmente reativos e, portanto,
tomam decisões fundamentadas nos seus sentimentos. (They) “live in a „feeling‟
controlled world in which feelings and subjectivity are dominant over the objective
reasoning process most of the time” (Bowen, 1990, pp.473-474). Em contrapartida,
indivíduos com elevados níveis de diferenciação não têm os seus pensamentos e
sentimentos fundidos, pelo que o indivíduo é capaz de pensar e responder
objetivamente às situações, independentemente dos sentimentos que possam estar
presentes (Skowron & Friedlander, 1998). Assim, há medida que a diferenciação
aumenta, aumenta também a capacidade do indivíduo para discriminar entre
processos de pensamento e de sentimento, gerir emoções fortes, pensar com
objetividade em situações de stress e lidar com a incerteza e a ambiguidade nos
relacionamentos sem perder a calma (Skonrow, in press). Quando a diferenciação é
elevada, o indivíduo tem tempo e energia para atividades dirigidas para Objetivos, ao
passo que, quando a diferenciação é baixa, a maior parte da sua energia é gasta na
procura da atenção, aprovação e amor dos outros (Bowen, 1990; 2010).
A nível interpessoal a diferenciação do self reflete a capacidade do indivíduo para
preservar a autonomia nas relações de intimidade, isto é, para fazer uma gestão
eficaz entre a proximidade e a separação face ao outro. Indivíduos com baixa
diferenciação são emocionalmente reativos, pelo que em situações de ansiedade
tendem a gerir as emoções ou pela fusão ou pelo distanciamento emocional, o que
resulta na extrema proximidade ou distância interpessoal, respetivamente (Bowen,
1990; 2010). Especificamente, a fusão é o ato de reduzir a distância relacional
através da aquisição das crenças e convicções do outro com o intuito de assim,
ganhar o seu amor e aceitação; o distanciamento emocional é ato de aumentar a
distância relacional pelo isolamento físico e/ou emocional ou pela negação das
emoções (Skowron & Friedlander, 1998). Por outro lado, indivíduos com elevados
13
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
níveis de diferenciação, porque são capazes de distinguir os seus sentimentos e
pensar objetivamente sobre as situações, são também capazes de configurar
respostas que não impliquem o uso da sua relação como processo de gestão das
emoções; eles negoceiam a proximidade e a distância. Assim, são capazes de
estabelecer relações com maior autonomia, sem que sintam medos de abandono
debilitantes; e de obter intimidade emocional nesses relacionamentos, sem que
experimentem o medo de se sentir sufocados ou aglutinados (Bowen, 1990; 2010).
De acordo com o seu grau de diferenciação, as pessoas podem posicionar-se em
relação aos outros segundo o seu sentido de self de três modos: (a) I-position, (b)
emotional cutoff, e (c) fusão (Bowen, 1990). Segundo Bowen, cada pessoa tem um
basic self e pseudo-selves (Bowen, 1990). O basic self é genuíno e constante, e não
é influenciado ou alterado por pressões dentro das relações íntimas. Ele só pode ser
alterado ou influenciado pela própria pessoa. Por outras palavras, o basic self não
oscila a fim de ser querido, amado ou aceite, e não cede à coerção emocional dos
outros. Por outro lado, o pseudo-self é alterado pela influência dos relacionamentos
importantes. Normalmente, o pseudo-self funde-se com os outros e adquire as
crenças e convicções do outro como se fossem suas. Em contraste com o basic self,
no qual as crenças e convicções dos outros são ouvidas sem que as do próprio sejam
alteradas, para o pseudo-self, partilhar as ideias do outro é visto como uma fonte de
amor e aceitação. Quando o pseudo-self se torna maior em relação ao basic self, e a
distância do parceiro é percebida pelo indivíduo como uma ameaça, o sujeito tem
reações emocionais excessivas, ou no sentido da fusão ou no sentido oposto da
distanciação, estes sujeitos são pois, pouco diferenciados. Eles aprendem a gerir a
ansiedade fundindo-se com o outro emocionalmente importante (Bowen, 1990) ou
através de um processo aparentemente oposto que enfatiza a separação da família
ou outro parceiro romântico.
A contrastar com as duas posições emocionalmente reativas, a I position reflete
uma elevada diferenciação do self (Bowen, 1990). Posicionando-se num I position, e
apesar da presença de alguns pseudo-self, o basic self do indivíduo não flutua, a fim
de ser querido, amado ou aceite, e por isso, o indivíduo não cede à coerção
emocional dos outros. Em vez disso, a pessoa reconhece as emoções do parceiro e
inclui essas emoções na resolução dos problemas ou situações de grande carga
emocional.
No seu âmago, a diferenciação do self envolve a capacidade para regular as
emoções e o comportamento nos relacionamentos significativos, o que por sua vez
14
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
potencia as capacidades relacionais de autenticidade, intimidade madura bem como
a capacidade de manter um self claramente definido no seio das relações
significativas (Skonrow, in press). Trata-se de um processo normativo e uma
propriedade fundamental das relações familiares; A diferenciação do self e as
posições relacionais são aprendidas e estabelecidas na infância, no seio da família
de origem (Bowen, 1990; 2010). O nível de diferenciação é relativamente consistente
em todo o sistema familiar com um limite de variação entre irmãos e entre gerações
(Skonrow, in press).
2.3. Investigação
Os conceitos que constituem a TSFB são complexos e de difícil
operacionalização. Talvez por isso, durante muito tempo predominou o seu estudo
teórico perante o estudo empírico. A construção, de instrumentos psicométricos
capazes de medir com precisão constructos como a diferenciação do self vieram abrir
novos caminhos à investigação que logo evidenciaram a sua relação com os mais
variados constructos: ansiedade crónica e a adaptação psicológica (Skowron &
Friedlander, 1998), adaptação ao casamento e satisfação conjugal (Peleg, 2008;
Skowron, 2000), stress e estratégias de coping (Murdock & Gore, 2004), ansiedade
de separação (Peleg, Halaby, & Whaby, 2006; Peleg & Yitzhak, 2011), stress em
alunos do ensino superior na adaptação à faculdade (Skowron, Wester, & Azen,
2004), saúde física (Peleg-Popko, 2002), bem-estar psicológico (Skowron, Holmes, &
Sabatelli, 2003), competências de regulação emocional (Skowron & Dendy, 2004),
sentimento de pertença a um grupo étnico (Skowron, 2004), violência na relação
(Skowron & Platt, 2005).
Até ao momento, a pesquisa não conseguiu suportar a hipótese de Bowen de
que os casais tendem a emparelhar-se com semelhantes níveis de diferenciação
(Skowron, 2000; Spencer & Brown, 2007), nem que pais e filhos adultos operam em
níveis semelhantes de diferenciação.
15
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
3. Teoria da vinculação e TSFB: Que relação?
Pela leitura da resenha apresentada fica claro que apesar da vinculação e da
diferenciação do self compreenderem constructos de teorias diferentes e terem
significados diferentes, ambas se debruçam sobre o modo como as pessoas gerem
as emoções na interação com os seus significativos. Contudo, nem sempre estes
dois constructos têm sido analisados em conjunto.
Ecke, Chope e Emmelkamp (2006), na tentativa de perceber como poderiam
potenciar os resultados terapêuticos a partir da utilização conjunta dos dois
constructos, procuraram os pontos de convergência entre as duas teorias. Eles
constataram que ambas as teorias consideram as relações interpessoais e familiares
fundamentais para o desenvolvimento saudável dos indivíduos e fonte do
desenvolvimento de perturbações; e que, tanto Bowen (1990; 2010) como Bowlby
(1969/1982) vêm o desenvolvimento humano como resultado dos relacionamentos
estabelecidos, e os relacionamentos como parte de um sistema sustentado por forças
opostas de natureza orgânica. As forças de união da TSFB podem ser vistas como
análogas aos comportamentos de procura de cuidados e de prestação de cuidados
na teoria da vinculação de Bowlby e o desejo de autonomização como análogo ao
desejo de exploração do meio (Ecke et al., 2006).
Na teoria da vinculação, a ativação do sistema de vinculação é acompanhado por
ansiedade, na TSFB o desequilíbrio entre as forças de união e de separação no
sistema familiar é vivida pelo indivíduo com ansiedade. Em ambas, é o modo como
os indivíduos gerem a ansiedade que permite classificar o seu comportamento. Para
os dois autores, em situação de ansiedade, os indivíduos inseguros deixam de ser
eles mesmos e passam a viver de acordo com regras externas, criando padrões de
resposta inflexíveis que apesar de automáticos, diminuem a qualidade dos
relacionamentos. Por seu turno, a flexibilidade de resposta representa o estado
saudável e deve ser, por isso, o objetivo da terapia.
Também a explicação para a origem dos problemas da criança é consensual nas
duas teorias, ambas os consideram enraizados nas práticas e relações parentais - os
padrões de relacionamento saudáveis são um mecanismo complexo que envolvem
fisiologia e cognição, e que resultam do sistema de relação em que cada um é criado.
Bowen define isto como diferenciação do self com um mínimo de fusão e Bowlby
como vinculação segura promotora da exploração.
16
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
Por último, tanto a TSFB como a teoria da vinculação de Bowlby, reconhecem
que os padrões de resposta nos relacionamentos são intergeracionais. Esta ideia
está patente nas próprias palavras de Bowlby: (there‟s a) "strong tendency for
attachment problems to be transmitted across generations, through the influence on
parenting behaviour of relationship problems stemming from the parent's own
childhood" (1988, p. 146); e nos conceitos de Bowen de “processo de proyección de
la familia”, mediante el cual los problemas de los padres se transmitem a los hijos” (e
de) “transmisión multigeneracional”, hecha por los padres, de distintos grados de
“madurez” e “inmadurez” através de várias generaciones (2010, p. 37).
A investigação empírica começa agora também a confirmar que há mais
semelhanças do que diferenças entre as duas teorias. Skowron e Schmitt (2003)
descobriram que baixos níveis de diferenciação do self estavam significativamente
relacionados com elevados níveis de fusão ao cônjuge e várias dimensões da
vinculação insegura; e que estes indivíduos apresentavam uma preferência por
relacionamentos íntimos com limites psicológicos e emocionais indefinidos,
possivelmente numa tentativa de aliviar a ansiedade que resulta do medo de
abandono. Skonrow e Dendy (2004), num outro estudo em que procuravam testar
especificamente a convergência entre o conceito de diferenciação do self de Bowen
(1990) e a teoria da vinculação de Bowlby (1982), encontraram relações significativas
entre as dimensões da diferenciação do self e as da vinculação no adulto, com a
diferenciação do self a prever até 40% da variância da vinculação ansiosa e 62% da
variância da vinculação evitante. Estes resultados permitiram constatar que as teorias
partilham duas dimensões semelhantes - a dialética da necessidade humana de
intimidade e autonomia; e que a manutenção de ligações positivas com os cuidadores
e parceiros anda de mãos dadas com a conquista da autonomia. Lippitt (2005) vem
corroborar estes resultados ao aferir que elevados níveis de diferenciação do self e
de segurança na figura de vinculação (i.e., baixos níveis de vinculação evitante e
ansiosa) estavam positiva e significativamente associados a uma maior satisfação
conjugal. Thorberg Lyvers (2006), quando investigam a diferenciação do self, a
vinculação e a intimidade, encontram resultados que vão no mesmo sentido ao
constatarem que os clientes com distúrbios relacionados com abuso de substâncias
tinham menor diferenciação do self, maior medo da intimidade e um padrão de
vinculação predominantemente inseguro quando comparado com clientes sem
distúrbios relacionados com abuso de substâncias. Mais recentemente, Hollander
(2007) encontrou uma associação significativa e positiva entre (a) a vinculação
17
Capítulo I ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL
ansiosa, a reatividade emocional e a incapacidade para manter um self claramente
definido, e (b) a vinculação evitante, baixa reatividade emocional e corte emocional.
A teoria da vinculação fornece uma estrutura para a compreensão da forma como
as pessoas vivenciam e se comportam nos seus relacionamentos significativos. Por
seu turno, a TSFB, tem contribuído substancialmente para a perceção da influência
da ansiedade no desenvolvimento de diferentes padrões de resposta nos membros
de um sistema familiar, e para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas
apropriadas às diferentes reações de ansiedade no sistema. Contudo, a avaliação da
diferenciação do self, tem sido feita principalmente sob a forma de entrevistas e
genogramas que são de aplicação mais exigente e que não propicia uma avaliação
pré e pós-tratamento (Ecke et al., 2006). Tanto a vinculação como a diferenciação do
self estão teoricamente ligadas à gestão dos afetos nos relacionamentos românticos
e no ambiente familiar de origem (Bowen, 1990; 2010; Bowlby, 1969/1982), e
pressupõem que a pessoa aprende e interioriza padrões de comportamento e
expectativas ao longo do desenvolvimento que são usados na idade adulta, talvez
abaixo do nível de consciência.
O presente estudo utiliza constructos da teoria da vinculação de Bowlby
(1969/1982; 1973; 1980) e da TSFB (1990; 2010) como lentes para melhor
compreender as relações românticas. A provar-se que as duas terias estão
interligadas, compreender as respostas do cliente à ansiedade e ser capaz de as
associar a um padrão de vinculação pode abrir novos caminhos à compreensão das
especificidades de construção e manutenção dos mecanismos de gestão dos afetos e
assim projetar novas abordagens terapêuticas, potencializando a eficácia do
processo psicoterapêutico no sentido da melhoria das relações românticas e
familiares da população.
18
OBJECTIVOS E HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO Capítulo II
Capítulo II - Estudo Empírico
1. Objetivos e hipóteses de investigação
Embora Bowlby se tivesse essencialmente debruçado sobre o comportamento de
vinculação na infância e lhe atribuísse uma importância fulcral no desenvolvimento da
criança, afirmou também que este continua a desempenhar um papel determinante
na vida adulta (Bowlby, 1969/1982). Consistente com esta afirmação, nos últimos
anos tem-se assistido a uma rápida proliferação da literatura acerca da vinculação no
adulto, que tem vindo a prestar suporte empírico à asserção de que a segurança
permanece uma característica essencial das relações ao longo da vida adulta (Weiss,
1996; Matos, 2002). Integrado numa investigação sustentada na perspetiva sistémica
transgeracional (Bowen, 1990), cujo objetivo é perceber os processos de
reorganização/manutenção dos padrões de vinculação romântica em casais, o
presente trabalho constituí-se como um estudo exploratório, a partir do qual se
desenvolve a validação do instrumento de Diferenciação do Self, a utilizar como
variável mediadora na supracitada investigação.
Por conseguinte, surge como principal objetivo deste estudo compreender a
relação entre a diferenciação do self e a qualidade da relação de vinculação com o
companheiro.
Especificamente pretende-se:
1. Examinar de que modo os indivíduos vivenciam as suas relações amorosas.
Concretamente, perceber a vinculação ao companheiro, partindo do
pressuposto que os indivíduos que constituem a amostra têm já uma relação
de vinculação ao par amoroso, sendo que este funciona como fonte de
conforto, segurança e apoio emocional (Hazan & Shaver, 1994; Hazan &
Zeifman, 1999). Pretende-se perceber se a distribuição dos estilos de
vinculação corresponde à solução de quatro protótipos interpretáveis à luz do
modelo de Kim Bartholomew (1990; Bartholomew & Horowitz, 1991).
2. Contribuir para o desenvolvimento da metodologia de avaliação da
diferenciação do self através da validação da versão portuguesa da
Differentiation of Self Inventory. Espera-se que a escala seja capaz de
19
OBJECTIVOS E HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO Capítulo II
apurar, por um lado, a capacidade intrapsiquica do indivíduo para demarcar
o sistema de pensamento do de sentimento, e por outro, a habilidade
interpessoal para manter as ligações com os significativos e simultaneamente
conquistar a autonomia do self. Nomeadamente, espera-se que se organize nos
quatro componentes propostos pelas autoras, Skowron e Friedlander (1998):
Emotional Cutoff (EC), Emotional Reactivity (ER), “I” Position (IP) e Fusion with
Others (FO). Pretende-se ainda explorar como a diferenciação do self se
expressa na nossa amostra.
3. Estudar associações entre as dimensões e padrões da vinculação ao
companheiro e as dimensões da diferenciação do self. Trabalhar-se-á com a
hipótese de que, de acordo com Skowron e Dendy (2004), uma maior
segurança da vinculação ao companheiro está relacionada com uma maior
diferenciação (isto é, menor distanciamento emocional, reatividade emocional e
fusão com os outros; e maior convicção nos seus pontos de vista).
Particularmente, espera-se associações positivas do EC e do ER e negativas do
IP com a vinculação evitante e associações positivas da ER, EC e FO e
negativas do IP com a vinculação ansiosa (Skowron & Dendy, 2004)2.
4. Explorar em que medida as dimensões da diferenciação do self são capazes de
predizer a qualidade da vinculação ao companheiro. Com efeito, espera-se
obter modelos diferenciados por dimensão da vinculação.
5. Analisar o efeito das variáveis sócio-demográficas na vinculação ao
companheiro e na diferenciação do self. De acordo com a literatura, não são
esperadas diferenças etárias e de sexo no que diz respeito às dimensões de
vinculação na relação com o companheiro (Brennan & Shaver, 1995), bem
como na duração da relação, uma vez que se está a estudar indivíduos com
relações de vinculação já estabelecidas (Hazan & Zeifman, 1999).
Todas estas variáveis, idade, duração da relação, escolaridade e sexo,
também serão alvo de exploração relativamente às dimensões da
diferenciação do self. Atendendo à investigação, não são esperadas
diferenças relativamente à idade e à escolaridade (Skowron & Friedlander,
1998; Skowron, 2000; Skowron, Holmes & Sabatelli, 2003; Skowron &
Dendy, 2004), contrariamente espera-se que as mulheres apresentem
maiores níveis de reatividade emocional (Skowron & Friedlander, 1998) e
fusão com os seus significativos (Skowron, Holmes & Sabatelli, 2003).
2 Na interpretação dos resultados é necessário ter em atenção os constructos invertidos, e.g. uma correlação
com sinal positivo entre o EC e evitamento não significa maior distanciamento emocional mas menor.
20
MÉTODO Capítulo II
2. Método
Nesta secção, é explanada a metodologia do estudo, começando pelos
participantes. De seguida, são descritos os instrumentos de medida utilizados e, por
fim, é feita a descrição do procedimento.
2.1 Participantes
O presente estudo empírico contou com a participação de 486 sujeitos,
residentes nos distritos do Porto e Braga, onde foi recolhida a amostra.
Do número total, 243 (50%) participantes pertencem ao sexo feminino e outros
tantos ao sexo masculino, e as idades estão compreendidas entre os 21 e os 87 anos
(M = 52.16, DP = 15.16).
Em relação ao nível de escolaridade, verificou-se uma elevada heterogeneidade
da amostra. Efetivamente, 226 (46.5%) participantes concluíram o primeiro ciclo, 59
(12.1%) completaram o segundo ciclo, 60 (12.3%) findaram o terceiro ciclo, 79
(16.3%) concluíram o Ensino Secundário e 51 (10.5%) participantes possuem
formação Superior.
Todos os sujeitos que participaram na presente investigação são casados ou
vivem em união de fato (numa relação heterossexual) e, do ponto de vista da duração
da relação3, verificou-se uma flutuação entre 3 e 56 anos (M = 27.60, DP = 15.01) de
durabilidade. Importa salvar, quanto a esta variável, que um mínimo de três anos em
regime de coabitação constituiu um critério para a inclusão na amostra. De fato,
pretende-se estudar casais cuja relação de vinculação esteja bem estabelecida e a
fase de enamoramento, comum no início das relações, tenha já corrido.
De acordo com a investigação, relações com mais de dois anos de duração, são
passíveis de serem consideradas relações de vinculação (Hazan & Shaver, 1994;
Hazan & Zeifman, 1999).
Sublinhe-se que a integração deste estudo numa investigação de maior
amplitude, com os Objetivos já enunciados, teve repercussões na caracterização da
3 Note-se que, quando se refere a duração da relação, não se pretende reportar o tempo de namoro, mas
apenas o tempo de casamento/união de fato.
21
MÉTODO Capítulo II
amostra, nomeadamente na grande amplitude de idades, na média elevada da
duração da relação e no baixo nível de escolaridade que se verificou4.
A caracterização pormenorizada da amostra encontra-se no Anexo 1.
2.1. Instrumentos
2.1.1. Questionário sócio-demográfico
O Questionário Demográfico destinava-se à recolha de informação demográfica
pertinente para o estudo, como a idade, sexo, escolaridade, a duração da relação e o
número de filhos (ver Anexo 2).
2.1.2. Questionário de Vinculação Amorosa (QVA) – versão breve
Para a avaliação da qualidade da vinculação dos indivíduos, foi aplicado o
Questionário de Vinculação Amorosa (QVA) – versão breve (Anexo 3). Este, é um
instrumento de autorrelato de 25 itens, que deriva do seu homónimo de 52 itens,
construído e desenvolvido por Matos, Barbosa e Costa (2001) e adaptado para a
versão breve por Matos, Cabral e Costa em 2008. Fundamentado na teoria da
vinculação de Ainsworth e Bowlby e no modelo bidimensional da vinculação adulta de
Kim Bartholomew (1990; Bartholomew & Horowitz, 1991), o QVA procura, através de
uma escala tipo Likert com valores de concordância de 1 (“concordo totalmente”) a 6
(“discordo totalmente”), avaliar como se posicionam os participantes acerca do que
sentem e pensam em relação ao par romântico.
O questionário está organizado em quatro fatores ou dimensões, são elas: a
Confiança, que com 6 itens, avalia as perceções do sujeito quanto à responsividade
do par romântico para satisfazer as suas necessidades e proporcionar conforto e
apoio e, em que medida, o companheiro é percecionado como base segura de
incentivo à exploração (e.g., “O(A) meu(minha) companheiro(a) respeita os meus
sentimentos”); a Dependência, também com 6 itens, e que avalia a necessidade de
proximidade física e emocional (e.g., “Eu e o(a) meu(minha) companheiro(a) é como
se fôssemos um só.”, a ansiedade de separação (e.g. “Só consigo enfrentar situações
novas, se ele(a) estiver comigo”) e o medo da perda (e.g., “Não sei o que me vai
4 Tal deve-se ao caráter transgeracional do estudo mencionado, cuja amostra são famílias com as seguintes
características: jovens heterossexuais, em regime de coabitação há um mínimo de três anos, com pais vivos,
também em regime de coabitação e com condições cognitivas para responder aos questionários. Desta forma,
em cada família foram acedidas duas gerações, os casais jovens, também denominados de “casais da
segunda geração” numa proporção 1/3 e os “casais de primeira geração”, numa proporção de 2/3.
22
MÉTODO Capítulo II
acontecer se a nossa relação terminar”); o Evitamento, que com 6 itens, avalia, por
um lado, o papel secundário que o companheiro ocupa no preenchimento das
necessidades de vinculação do sujeito (e.g., “Na minha vida, a minha relação
amorosa é secundária”), por outro, a centração do sujeito na sua capacidade de
resolução de problemas (e.g., “Quando tenho um problema, prefiro ficar sozinho(a) a
procurar a(o) minha(meu) companheira(o)”); e por fim, a Ambivalência, com 7 itens,
que reflete a insegurança do sujeito, expressa numa forte irritabilidade face a
situações imprevisíveis e na dúvida sobre o papel que desempenha enquanto figura
amorosa (e.g., “Tenho dúvidas se sou realmente importante para ele(a)”), bem como
as suas próprias emoções relativamente ao par romântico (e.g., “Às vezes acho que
ela(e) é fundamental na minha vida; outras vezes não”).
Salientam-se as boas qualidades psicométricas evidenciadas em diversos
estudos com a versão alargada do QVA (Barbosa, 2002; Barbosa, 2008; Rocha, 2008;
Santos, 2005) e que começam a ser replicadas nos estudos com o QVA - versão
breve (Assunção, 2009).
2.1.3. Differentiation of Self Inventory (DSI)
O Differentiation of Self Inventory (DSI), é um instrumento de autorrelato,
construído e desenvolvido por Skowron e Friedlander em 1998, cuja versão
portuguesa é de Gouveia, Oliveira e Costa (2009). Segundo as autoras, inspirado nas
contribuições teóricas de Bowen (1976, 1978, Kerr & Bowen, 1988), ele pretende
avaliar o funcionamento emocional, a intimidade e a autonomia nas relações
interpessoais adultas através da avaliação dos seus relacionamentos significativos e
relação atual com a família de origem (inSkowron & Friedlander, 1988).
O DSI contém, 43 itens classificados segundo uma escala tipo Likert de 6 pontos,
em que 1 significa “Não é de todo verdade” e 6 “Totalmente verdade” e é constituído
por quatro subescalas: Emotional Reactivity (ER), “I” Position (IP), Emotional Cutoff
(EC) e Fusion with Others (FO).
A primeira, ER, é composta por 11-items e avalia a tendência do sujeito para
responder aos estímulos ambientais com recurso a respostas emocionais
automáticas e labilidade emocional (e.g., “Por vezes os meus sentimentos tomam
conta de mim e fico com dificuldade em pensar com clareza;” item invertido).
A subescala IP, é também constituída por 11 itens, que refletem um sentimento
de self claramente definido, bem como a capacidade do sujeito de, conscientemente,
se manter fiel às suas convicções pessoais mesmo quando pressionado em contrário
23
MÉTODO Capítulo II
(e.g., “Sou capaz de dizer “não” aos outros mesmo quando me sinto pressionada”).
Pontuações altas nesta subescala, indicam uma capacidade de mantêm-se fiel às
suas convicções e por isso uma maior diferenciação do self.
A terceira subescala, EC, contém 12 itens que refletem por um lado o medo de
intimidade ou super envolvimento nos relacionamentos (e.g., “Tenho dificuldade em
expressar os meus sentimentos às pessoas de quem gosto”; item invertido) e por
outro, os comportamentos de defesa contra esses medos (e.g., “Quando algum
relacionamento se começa a tornar muito intenso, sinto a necessidade de me afastar”;
item invertido). Pontuações altas nesta subescala significam menor evitamento
emocional e por isso maior diferenciação.
Finalmente, a quarta subescala, FO, com 9 itens, mede o envolvimento
emocional com as pessoas significativas (e.g., “Preocupa-me que as pessoas que me
são próximas fiquem doentes, magoadas ou preocupadas”; item invertido) e a
identificação excessiva com os pais, compreendida como adoção dos valores,
crenças e expectativas parentais sem as questionar (e.g., “Procuro corresponder às
expectativas dos meus pais”; item invertido). Aqui, sem dúvida, pontuações mais altas
significam menos fusão ou seja uma maior diferenciação do self.
Para calcular a pontuação total do DSI, todos os itens que constituem as
subescalas RE, EC, FO e um da subescala IP devem ser invertidos, de modo que,
pontuações mais altas significarão maior diferenciação. Depois de invertidos os itens,
o seu valor é somado e dividido pelo número total de itens que compõe o instrumento,
assim, na escala total, a pontuação variará de 1 (baixa diferenciação) a 6 (alta
diferenciação). Para facilitar a comparação de resultados entre a escala total e as
subescalas, é calculada a pontuação de cada subescala individualmente através da
inversão dos respetivos itens, soma e divisão pelo número de itens da subescala.
Deste modo, e à semelhança do que acontece com a escala total, a pontuação de
cada uma das subescalas vai variar entre 1 e 6, com uma maior pontuação a refletir
uma maior a diferenciação.
Vários estudos levados a cabo pelas autoras, atestam as boas qualidades
psicométricas do instrumento (Skowron & Friedlander, 1998; Skowron, 2000; Skowron,
Holmes, & Sabatelli, 2003; Skowron & Dendy, 2004)
24
MÉTODO Capítulo II
2.2. Procedimento
Encontrar famílias em que todos os elementos preenchessem os requisitos pré-
definidos foi difícil, assim como o foi, em muitos casos, que todos aceitassem
participar. Como cada família era composta por 3 casais, numa proporção de dois
casais de 1ª geração por cada casal de 2ª geração, optou-se por colocar os
questionários em envelopes individuais, passíveis de serem selados. Cada envelope
continha uma mensagem de solicitação de colaboração (Anexo 5) que referia o
objetivo da investigação e que remetia para a confidencialidade de todo o processo
de análise de dados. Seguiam-se, então, os questionários. Primeiro o de recolha dos
dados demográficos e depois, sem uma ordem específica, o QVPM (Questionário de
vinculação ao pai e à mãe), AIRS (Authenticity inRelationships Scale), DSI
(Differentiation of Self Inventory) e QVA (Questionário de Vinculação Amorosa).
Foram dadas indicações para selar o envelope assim que terminado o preenchimento
do questionário, tendo sido, para isso, utilizados envelopes de fecho rápido. Isto tinha
como objetivo garantir aos participantes que apenas o investigador ia ter acesso aos
dados presentes do questionário. Cada envelope estava codificado de forma a
permitir ao investigador perceber o grau de parentesco dentro das famílias.
Foi nestes modos que se efetuou a administração dos mais de 600 envelopes,
durante os anos de 2009 e 2010, a casais em regime de coabitação (casados ou em
união de fato) há um mínimo de três anos e seus respetivos pais. Regressaram às
nossas mãos 570 envelopes, 285 casais, 95 famílias.
25
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
3. Apresentação dos Resultados
A presente secção destina-se à apresentação dos resultados relativos às
análises preliminares e teste de hipóteses. Para tal, recorreu-se ao Pasw Statistics 18.
3.1. Análises Preliminares
Nas análises preliminares, foram examinados os dados quanto à normalidade,
outliers e dados omissos. De seguida, procedeu-se à análise descritiva dos mesmos
para o cálculo das médias, desvios-padrão e consistência interna dos instrumentos,
análise das correlações entre as dimensões dos instrumentos e teste dos efeitos das
variáveis sócio-demográficas nas dimensões em estudo.
Embora tenham respondido aos questionários 570 sujeitos, 72 desses foram
eliminados por não completarem uma parte substancial dos mesmos, restando 498
participantes. Além disso, 12 tiveram perdas aleatórias de dados, pelo que também
foram excluídos, constituindo, então, a amostra 486 participantes.
Para a pesquisa de outliers, recorreu-se à inspeção dos gráficos Boxplot que,
embora tenham identificado alguns participantes como possíveis outliers, depois de
comparada a média de resposta ao item com a 5% Trimmed Mean5, nenhum destes
se revelou um verdadeiro outlier, pois em todos os itens, ambas as médias eram
semelhantes. Deste modo, nenhum participante foi excluído da análise.
Os testes de normalidade Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, revelaram-se
significativos, o que indica ausência de normalidade. Contudo, nas Ciências Sociais e
Humanas, as distribuições normais são raras e consideradas por muitos autores uma
“abstração estatística”. Sobrevém que, como referido na literatura, em amostras de
dimensão considerável (≥ 200), a não normalidade não é tão preocupante (Pallant,
2005). Portanto, com uma amostra que ultrapassa em grande margem o valor critério,
nada foi feito em relação a este aspeto.
5 Média recalculada após removidos os extremos superiores (5%) e inferiores (5%).
26
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
3.1.1. Estudo da qualidade psicométrica dos instrumentos
O estudo das qualidades psicométricas dos instrumentos compreendeu a análise
da estrutura fatorial, o cálculo do coeficiente de consistência interna e correlação
entre as subescalas.
3.1.1.1. Questionário da Vinculação Amorosa (QVA)
O primeiro passo ao realizar uma análise fatorial é avaliar a adequação dos
dados ao uso desta estatística. Isto requer a inspeção: da matriz de correlação para
os coeficientes iguais ou superiores a .3; o cálculo da medida de Kaiser-Meyer-Olkin
(KMO) para valores superiores a 0.6; e da significância do teste de esfericidade de
Bartlett. O QVA apresentou na matriz de correlação coeficientes que corroboram os
supracitados pressupostos de adequação da amostra, obtendo correlações iguais ou
superiores a .3 na matriz de correlação, KMO = 0.92 e teste de esfericidade de
Bartlett X2 (300) = 4507.04, p < .001.
Para determinar o número de fatores a extrair, foi utilizado o critério de Kaiser
(eigenvalues maior que 1.0) e o “Teste do Cotovelo” de Catell que sugeriram uma
divisão em cinco fatores, com uma variância total de 57.26%. Contudo, optou-se pela
extração em quatro fatores, de acordo com a efetuada no instrumento original, pois,
por um lado, é a que melhor se coaduna com a bibliografia do fenómeno em estudo,
e por outro, não altera em muito a variância total (53.02%).
A segunda etapa consiste na Análise Fatorial Exploratória em Componentes
Principais, com rotação Varimax. Os itens foram sujeitos à rotação duas vezes,
tendo-se, para a segunda, eliminado dois dos 25 itens originais (porque a sua
saturação naquele fator era incongruente com o indicado na literatura). O instrumento
utilizado no estudo é, por conseguinte, composto por 23 itens, organizados em quatro
fatores, que correspondem às dimensões encontradas e explicam 52.67% da
variância total.
Interpretados os itens que constituem cada um dos fatores, verificamos que estes
correspondem, pela seguinte ordem, às dimensões Evitamento, Confiança,
Dependência e Ambivalência. A dimensão Evitamento, com 7 itens, explica 18.99%
da variância total e as saturações oscilam entre 0.37 e 0.79; a dimensão Confiança,
com 5 itens, explica 11.90% da variância total, variando as saturações entre 0.38 e
0.80; a dimensão Dependência, com 6 itens, explica 11.35% da variância total, e as
saturações variam entre 0.43 e 0.74; por fim a dimensão Ambivalência, com 5 itens,
27
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
explica 10.44% da variância total, e as suas saturações variam entre 0.37 e 0.76
(Anexo 6A).
No que concerne ao coeficiente Alpha de Cronbach, verificou-se que os fatores
respeitaram os valores mínimos recomendados de .7: a dimensão Evitamento obteve
um valor de .84, a dimensão Confiança teve um valor de .81, a dimensão
Dependência deteve um valor de .71 e a dimensão Ambivalência de .74 (Anexo 6B).
Finalmente, a relação entre as dimensões foi avaliada pelo coeficiente de
correlação de Pearson. Ao observar as correlações interdimensão, constatou-se que
as quatro dimensões que compõem o QVA estão correlacionadas entre si de forma
significativa. O Evitamento surge correlacionado de forma negativa alta à Confiança (r
= -.52, p < .01), negativa baixa à Dependência (r = -.19, p < .01), e positiva alta à
Ambivalência (r = .70, p < .01); a Confiança tem uma correlação positiva alta com a
Dependência (r = .53, p < .01) e negativa média com a Ambivalência (r = -.47, p
< .01); por fim, a correlação entre a Dependência e a Ambivalência é negativa baixa
(r = -.18, p < .01)6 (Anexo 6C).
3.1.1.2. Differentiation of Self Inventory (DSI)
Os 43 itens da escala de Diferenciação do self (DSI) foram submetidos à Análise
Fatorial Exploratória em Componentes Principais. Antes da sua realização, os dados
foram avaliados quanto à adequação para a utilização desta estatística. A matriz de
correlação revelou a presença de coeficientes iguais ou superiores a .3, o valor de
KMO foi igual a 0.83 (excedendo largamente o valor de 0.6 recomendado) e o Teste
de esfericidade de Bartlett alcançou significância estatística. A análise dos
Componentes Principais revelou a presença de nove fatores, com eigenvalues acima
de 1.0, que explicam 56.27% da variância total. A observação do “Teste de Cotovelo”
de Cattel evidenciou uma quebra clara depois do quarto fator, por isso, e por
sugestão da literatura, decidiu-se adotar a estrutura em quatro fatores para as
restantes análises. Para auxiliar na interpretação destes quatro fatores foi realizada a
rotação varimax por duas vezes, tendo-se, para a segunda, eliminado oito dos 43
itens originais (porque ou não saturou em nenhum fator ou a sua saturação no fator
era incongruente com o indicado na literatura).
6 Os valores de corte utilizados como referência para a classificação das correlações como baixa, média ou
alta foram os sugeridos por Cohen (1988 in Pallant, 2005).
28
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
O instrumento utilizado no estudo é, por conseguinte, composto por 35 itens,
organizados em quatro fatores, que correspondem às dimensões encontradas, e
explicam 39.75% da variância total.
No fator 1, com as saturações a oscilar entre 0.38 e 0.69, concentraram-se 12
itens relativos ao Emotional Cutoff, que representam 13.25% da variância total. No
fator 2, com as saturações a oscilar entre 0.38 e 0.67, agrupam-se 10 itens, relativos
ao Emotiona Reactivity, que representam 10% da variância total. Quanto ao fator 3,
com as saturações a oscilar entre 0.35 e 0.67, encontraram-se 8 itens relativos ao “I”
Position, que representam 8.29% da variância total. Por fim, no fator 4, com as
saturações a oscilar entre 0.41 e 0.81, concentraram-se 5 itens, desta feita, relativos
ao Fusion with Others, que representam 8.22% da variância total (Anexo 7A).
De acordo com Skowron & Friedlander (1998), os fatores revelaram uma boa
consistência interna, EC=.82, ER=.84, IP=.83, FO=.74, e a escala total .88. No
presente estudo, o coeficiente Alpha de Cronbach foi, para o fator EC .83, o ER .77, o
IP .68, o FO .78 e a escala total .80. O fator IP é aquele que tem uma menor
consistência interna relativamente às restantes, ainda que os seus valores estejam
próximos dos mínimos considerados aceitáveis (Anexo 7B).
Para avaliar a correlação entre os quatro fatores do DSI, foi utilizado o coeficiente
de correlação de Pearson que revelou para o EC uma correlação positiva média com
o ER (r = .39, p < .01) e uma correlação positiva baixa com o IP (r = .22, p < .01), não
se correlacionando com o FO (r = -.01, ns). O ER não se correlaciona com o IP (r = -
.01, ns), mas revela uma correlação positiva média com o FO (r = .41, p < .01). Por
último, o IP e o FO têm uma correlação negativa média (r = -.34, p < .01). (Anexo 7C).
3.1.2. Estudos descritivos
Antes de prosseguir com a análise estatística dos dados, é imperativo calcular a
pontuação total de cada uma das subescalas uma vez que, a partir de agora é sobre
estas que vão incidir as restantes análises. Neste sentido, instruiu-se o Pasw
Statistics 18 para somar as pontuações de todos os itens que compõem as
subescalas, originando assim nove novas variáveis: quatro, que correspondem a
cada uma das dimensões encontradas para o QVA, quatro que correspondem a cada
uma das dimensões encontradas para o DSI e relativa à dimensão “diferenciação do
self”, concebida através da soma das quatro anteriores.
Uma análise descritiva das variáveis relativas à relação com o companheiro
revelou que os participantes se percecionam como pouco evitantes (M = 2.67, DP =
29
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
1.09) e muito dependentes (M = 4.14, DP = 0.91), percebem alguma ambivalência em
relação ao companheiro romântico (M = 3.10, DP = 1.04) e percecionam-no como
fonte de apoio e base segura (Confiança, M = 4.84, DP = 0.86).
Relativamente à diferenciação do self, cujos itens foram avaliados numa escala
de 6 pontos, verificou-se que os sujeitos apresentam uma tendência para serem
capazes de gerir habilmente entre o funcionamento emocional e intelectual, e a
intimidade e autonomia nas relações, pois a média da escala total é maior que o seu
ponto médio (M = 3.57, DP = 0.54), e as suas subescalas apresentam resultados que
vão no mesmo sentido: EC, M = 3.88, DP = 0.91 (invertido); ER, M = 3.02; DP = 0.82
(invertido); IP, M = 4.42, DP = 0.74; e FO, M = 2.58, DP = 1.11 (invertido).
No Quadro 1 pode-se observar de forma esquematizada os dados expostos.
Quadro 1
Valores mínimo e máximo, média e desvio-padrão para as dimensões da vinculação ao companheiro e da
diferenciação do self.
Instrumento/Dimensões Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão
Vinculação ao companheiro
(N=463)
Evitamento 1,00 5,86 2,67 1,09
Confiança 1,60 6,00 4,84 0,86
Dependência 1,50 6,00 4,14 0,91
Ambivalência 1,00 5,80 3,10 1,04
Diferenciação do Self (N=433)
Emotional Cutoff 1,33 6,00 3,88 0,91
Emotional Reactivity 1,00 5,40 3,02 0,82
“I” Position 1,88 6,00 4,42 0,74
Fusion with Others 1,00 6,00 2,58 1,11
DSI_Total 2,14 5,23 3,57 0,54
3.1.3. Estudos Correlacionais
Como o Quadro 2 expõe, as variáveis foram examinadas quanto à sua correlação
com recurso ao coeficiente de correlação de Pearson. Os resultados evidenciaram
uma correlação significativa entre todas as variáveis, com exceção da Dependência
com o EC (que apresenta uma correlação nula, r = .00), e da confiança com ER (r = -
.09, ns).
30
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
O Evitamento correlaciona-se significativamente, e de modo negativo, com todas
as subescalas e a escala total do DSI, à exceção da subescala FO com a qual se
correlaciona de forma positiva. Efetivamente, quanto mais a relação com o
companheiro é tida como secundária no preenchimento de necessidades de
vinculação, mais o distanciamento emocional e a negação da importância da família
são usados como estratégias de resolução de problemas (EC; r = -.65, p < .01) e
mais as respostas às situações de tensão são preponderantemente automáticas e
emocionalmente carregadas (ER; r = -.14, p < .01). Por outro lado, quanto maior o
Evitamento, menor é a capacidade do sujeito para se manter fiel ao seu sistema de
valores (IP; r = -.25, p < .01) e menor é a tendência para o envolvimento emocional
excessivo com os seus significativos (FO; r = .11, p < .05). Portanto, os resultados
das subescalas indicam que quanto maior o Evitamento, menor a diferenciação do
self. Esta premissa é corroborada pela correlação entre o Evitamento e a Escala Total,
pois quanto maior o primeiro, menor o segundo, r = -.48, p < .01.
Com a Confiança, correlacionam-se significativa e positivamente as subescalas
EC (r = .35, p < .01) e IP (r = .36, p < .01) e a Escala Total (r = .20, p < .01).
Correlaciona-se de forma significativa mas negativamente a subescala FO (r =-.26, p
< .01). Assim, quanto mais o companheiro é percecionado como base segura e fonte
de apoio, menor é o distanciamento emocional e maior é a tendência do sujeito para
se manter fiel ao seu sistema de valores e se envolver a nível emocional de modo
excessivo. Em suma, quanto maior a confiança maior a diferenciação do self.
Também a Dependência apresenta uma correlação significativa positiva, desta
feita, somente com a subescala IP (r =.21, p < .01), expondo que quanto maior a
dependência, maior a propensão do sujeito para se manter fiel aos seu sistema de
valores. Relativamente às restantes subescalas, a Dependência correlaciona-se
significativa mas negativamente com a ER (r = -.29, p < .01) e FO (r = -.21, p < .01), o
que significa que quanto maior a Dependência, maior a reatividade emocional, maior
a convicção no seu sistema de valores e maior a tendência para o envolvimento
emocional excessivo com os seus significativos. No computo geral, a relação da
Dependência com a Escala Total, indica que quanto maior a primeira, menor a
segunda (r = -.15, p < .01).
Por fim, a correlação da Ambivalência com a Escala Total é significativa negativa,
o que quer dizer que quanto maior é o sentimento de ambivalência menor é a
diferenciação do self. Correlaciona-se ainda significativamente com todas as
subescalas da diferenciação do self: EC (r = -.53, p < .01), ER (r = -.20, p < .01), IP (r
31
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
=-.27, p < .01) e FO (r = .12, p < .05). Sendo que, por um lado, elevados níveis de
Ambivalência se correlacionam com elevados índices de distanciamento e reatividade
emocional e, por outro lado, com baixos índices de convicção no seu sistema de
valores e de envolvimento emocional excessivo com os seus significativos.
Quadro 2
Correlações de Pearson entre as dimensões da vinculação ao companheiro e as dimensões da diiferenciação
do selfa
Dimensões
Vinculação ao companheiro
Evitamento Confiança Dependência Ambivalência
Emotional Cutoff -0,65** 0,35
** -0,00 -0,53
**
Emotional Reactivity -0,14** -0,09 -0,29
** -0,20
**
“I” Position -0,25** 0,36
** 0,13
** -0,27
**
Fusion with Others 0,11* -0,26
** -0,21
** 0,12
*
DSI_Total -0,48** 0,20
** -0,15
** -0,44
**
** p<.01
* p<.05
a. Listwise N=414
3.1.4. Estudos Diferenciais
Finalmente, como várias das variáveis se mostraram significativamente
relacionadas entre si, foram conduzidas uma série de Análises de Variância
Multivariada (MANOVA) para testar os efeitos do sexo e escolaridade (variáveis
nominais) e Regressões Múltiplas7 para testar os efeitos da idade e duração da
relação (variáveis contínuas), que talvez precisem ser controladas na análise de
hipóteses.
3.1.4.1. Diferenças em função do sexo e da escolaridade na vinculação ao
companheiro
Nestas análises, as variáveis demográficas (sexo e escolaridade) foram as
variáveis independentes, e as dimensões da vinculação (Evitamento, Confiança,
Dependência e Ambivalência) foram as variáveis dependentes.
A MANOVA (traço de Pillai) não revelou qualquer efeito principal do sexo
[F(4,458) = 0.86, ns] sobre as dimensões da vinculação. Contrariamente, observou-se
um efeito principal da escolaridade [F(16,1788) = 5.28, p < .001] sobre três das
7 Dada a natureza ordinal das variáreis idade e duração da relação, e a impossibilidade da sua transformação
em variáveis nominais, recorreu-se à Regressão linear múltipla com método Enter como método de inclusão
das variáveis (inclusão simultânea).
32
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
dimensões em análise: o Evitamento [F(4) = 9.58, p < .001; η² = .079], a Confiança
[F(4) = 6.75, p < .001; η² = .057] e a Ambivalência [F(4) = 6.49, p < .001; η² = .055],
não se registando diferenças para a dimensão Dependência [F(4) = 2.46, ns]. No que
concerne à direção dos efeitos, verificou-se que quanto maior o nível de escolaridade,
menor o evitamento (com valores a variar entre M = 2.97, DP = 0.07 para o 1º ciclo e
M = 2.17, DP = 0.15 para Ensino Superior); maior a confiança (com valores a variar
entre M = 4.66, DP = 0.06 para o 1º ciclo e M = 5.20, DP = 0.12 para Ensino Superior);
e menor a ambivalência (com valores a oscilar entre M = 3.29, DP = 0.07 para o 1º
ciclo e M = 2.56, DP = 0.15 para Ensino Superior). Relativamente ao tamanho do
efeito, observou-se que a escolaridade teve um efeito moderado sobre a dimensão
Evitamento (7.9%), e pequeno sobre as dimensões Confiança (5.7%) e Ambivalência
(5.5%), pelo que considerou-se desnecessário o controlo destas variáveis para a
análise de hipóteses.
Para uma observação mais detalhada dos resultados consultar o Anexo 8.
3.1.4.2. Diferenças em função do sexo e da escolaridade na diferenciação do Self
Nas análises que se seguem, as variáveis independentes foram o sexo e a
escolaridade, e as variáveis dependentes foram as dimensões da diferenciação do
self (EC, ER, IP e FO).
A MANOVA (traço de Pillai) aferiu um efeito principal do sexo sobre duas das
dimensões do DSI [F(4,428) = 8.85, p < 0.001]: o ER [F(1) = 19. 74, p < .001; η² =
0.044] e o FO [F(1) = 11. 00, p <.001; η² = 0.025], ambos com tamanho do efeito
pequeno (4.4% e 2.5%, respetivamente). No que se refere à sua direção, verificou-se
que os participantes do sexo masculino apresentam menores níveis de reatividade
emocional (M = 3.19, DP = 0.84) e de fusão com os seus significativos (M = 2.75, DP
= 1.16) comparativamente com os participantes do sexo feminino (M = 2.85, DP =
0.76 e M = 2.40, DP = 1.04).
Além deste, foi encontrado um efeito principal da escolaridade [F(20,1676) = 3.54,
p < 0.001] para todas as dimensões da diferenciação do self: EC [F(4) = 8.85, p
< .001; η² = 0.078], ER [F(4) = 2.51, p <.05; η² = 0.023], IP [F(4) = 5.89, p <.001; η² =
0.053], e FO [F(4) = 4.75, p<.01; η² = 0.043], sendo que para o primeiro o tamanho
do efeito é moderado (7.8%) e para os restantes é pequeno (2.3%, 5.3% e 4.3%,
respetivamente).
Relativamente à direção dos efeitos, observou-se que à medida que aumenta o
nível de escolaridade, diminui o distanciamento emocional (1º ciclo, M = 3.68, DP =
33
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
0.91 e Ensino superior, M = 4.38, DP = 0.79) e a reatividade emocional (1º ciclo, M =
3.05, DP = 0.81 e Ensino superior, M = 3.20, DP = 0.80). Por outro lado, quanto maior
o nível de escolaridade, maior a convicção no sistema pessoal de valores (1º ciclo, M
= 4.27, DP = 0.73 e Ensino superior, M = 4.71, DP = 0.56) e maior a fusão com os
significativos (1º ciclo, M = 2.80, DP = 1.18 e Ensino superior, M = 2.36, DP = 1.17).
No anexo 9, segue a apresentação detalhada dos resultados.
3.1.4.3. Diferenças em função da idade e da duração da relação na vinculação ao
companheiro
No teste da influência da idade e da duração da relação sobre as dimensões da
vinculação ao par amoroso, as primeiras foram introduzidas como potenciais
preditores e cada uma das dimensões como variável dependente.
Com a dimensão Evitamento como variável dependente, o modelo de predição
revelou-se significativo [F(2) = 14.61, p < .001), explicando 6% da variância (r = . 06).
No entanto, apenas a variável “duração da relação” evidenciou uma contribuição
significativa na predição do evitamento de 1.4%8 (β = 0.038, p<.01),.
Também para a dimensão Confiança como variável dependente, o modelo de
predição se revelou significativo [F(2) = 11.47, p < .001), explicando 5% da variância
(r = .05). Neste, toda a variância se deve ao modelo, pois, isoladamente, nenhum dos
preditores mostrou uma contribuição significativa.
Quanto à Ambivalência como variável dependente, o modelo de predição
revelou-se significativo [F(2) = 9.82, p < .001), explicando 4% da variância (r = .04). À
semelhança do que acontece com o Evitamento, apenas a variável duração da
relação revela uma contribuição significativa na predição da ambivalência, de 1.1% (β
= 0.337, p< .05).
Comparativamente, para a dimensão Dependência, o modelo de predição não se
revelou significativo [F(2) = 2.33, ns).
Uma análise mais detalhada dos resultados encontra-se no Anexo 10.
3.1.4.4. Diferenças em função da idade e da duração da relação na diferenciação do
self
Para testar a influência da idade e da duração da relação sobre as dimensões da
diferenciação do self, as variáveis idade e duração da relação foram introduzidas
8 O quadrado do Coeficiente de Correlação Part indica quanto da variância total na variável dependente é
exclusivamente explicada pelo preditor e como o valor do R2 iria cair se ele não fosse incluído no modelo.
34
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
como potenciais preditores e cada uma das subescalas da diferenciação do self como
variável dependente.
Com a dimensão EC o modelo de predição revelou-se significativo [F(2) =12,79,
p < .001) explicando 5% da variância (r = .05). No entanto, apenas a variável duração
da relação evidenciou uma contribuição significativa na sua predição que foi de 1.3%.
(= -0.36, p<.05).
Também para as dimensões IP e FO os respetivos modelos de predição
revelaram-se significativos [F(2) = 10,18, p < .001)] e [F(2) = 13,89, p < .001)]
explicando respetivamente 4% (r = . 04) e 6% (r = . 06) da variância. Para as duas
dimensões, a variância é devida ao modelo pois, isoladamente, nenhum dos
preditores mostrou contribuição significativa.
Para a dimensão Emotional Reactivity o modelo de predição não se revelou
significativo [F(2) = 1.66, ns).
No anexo 11, segue a apresentação detalhada dos resultados.
3.2. Análise de Clusters
Procedeu-se à análise de clusters pelo método K-Means com o propósito de
avaliar a existência de configurações específicas na organização das dimensões da
vinculação ao companheiro, e verificar em que medida os resultados são consistentes
com o modelo bidimensional de Kim Bartholomew (1990; Bartholomew & Horowitz,
1991). É esperado que os valores nas várias dimensões se organizem de acordo com
os protótipos de vinculação Seguro, Preocupado, Amedrontado e Desinvestido.
Note-se que a análise de clusters pretende definir uma estrutura na qual os
dados mais similares se agrupam. Neste caso como se procurava a correspondência
com os quatro protótipos, instruiu-se o Pasw Statistics 18 no sentido de agrupar os
dados segundo 4 grupos (clusters). A similaridade entre os sujeitos foi medida pela
distância euclidiana9 (Euclidean distance) e o procedimento estatístico utilizado para
a formação dos clusters foi a combinação do Método Hierárquico com o Não-
Hierárquico, que rentabiliza as vantagens e colmata a fragilidades de cada um.
Cada cluster correspondeu, em teoria, a um protótipo de vinculação específico.
Assim, ao observar o Quadro 3, constata-se que o Cluster 1 (n=105) caracteriza-se
por uma muito elevada Confiança (M = 5.66, DP =0.39), elevada Dependência (M =
9 Segundo a qual pequenas distâncias indicam uma maior similaridade entre os sujeitos.
35
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
4.75, DP = 0.73), e por muito reduzida Ambivalência (M = 1.77, DP = 0.64) e
Evitamento (M = 1.48, DP = 0.44), configuração que parece estar de acordo com o
protótipo de vinculação Seguro. O Cluster 2 (n=174) caracteriza-se por uma
Confiança muito elevada (M = 5.09, DP = 0.46), alta Dependência (M = 4.11, DP =
0.75), moderada Ambivalência (M = 3.06, DP = 0.65) e moderadamente baixo
Evitamento (M = 2.33, DP = 0.55), associando-se ao protótipo Preocupado.
Nos clusters 3 e 4, as médias para as dimensões da vinculação comportam-se de
forma similar.
Com pequenos intervalos de diferença entre si, para o cluster 3 as médias
oscilam entre 4.19 e 4.77 e para o cluster 4 variam entre 3.20 e 3.69. Assim, observa-
se que a única diferença entre os dois clusters reside na unidade. No sentido de
clarificar o emparelhamento cluster-protótipo recorreu-se à análise comparativa do
comportamento dos dois clusters, não só nas dimensões da vinculação, mas também
nas subescalas EC, IP, FO, ER, DSI-Escala total, Ausência de Medo da Desilusão e
Risco da Intimidade10
. Deste processo concluiu-se que ao cluster 3 (n=77)
corresponde o protótipo Amedrontado porque revela maior Ambivalência e
Dependência, maior medo da desilusão (Ausência de Medo da Desilusão), maior
reatividade emocional e maior fusão com os seus significativos. Comparativamente,
ao cluster 4 (n=107), corresponde o protótipo Desinvestido porque revela menor
Dependência e Ambivalência, menor medo da desilusão (Ausência de Medo da
Desilusão), arrisca menos o envolvimento nas relações (Risco da Intimidade), não se
envolve de forma tão excessiva com os seus significativos e apresenta menor
reatividade emocional.
10
A conjugação de informação do DSI com o Authenticity Relationship Scale foi possibilitada pelo fato de
ambos serem estudos preliminares no mesmo projeto de investigação.
36
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
Quadro 3
Médias e desvios-padrão para as dimensões da vinculação ao companheiro e da diferenciação do self, em função do cluster
Dimensões
Cluster
Seguro Preocupado Amedrontado Desinvestido
Média Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Vinculação ao companheiro (N=463)
Evitamento 1.48 0.44 2.33 0.55 4.19 0.63 3.29 0.73
Confiança 5.66 0.39 5.09 0.46 4.77 0.52 3.69 0.64
Dependência 4.85 0.73 4.11 0.75 4.58 0.57 3.20 0.65
Ambivalência 1.77 0.64 3.06 0.65 4.21 0.55 3.67 0.71
Diferenciação do Self (N=414)
Emotional Cutoff 4.65 0.76 4.05 0.80 2.90 0.67 3.60 0.55
Emotional Reactivity 3.00 0.88 3.10 0.78 2.63 0.67 3.22 0.80
“I” Position 4.70 0.72 4.53 0.69 4.31 0.66 4.01 0.73
Fusion with Others 2.18 0.94 2.70 1.20 2.42 0.97 2.98 1.11
Escala total 3.84 0.51 3.69 0.51 3.08 0.40 3.49 0.44
Autenticidade na relação (N=453)
Ausência de Medo da Desilusão
6.99 1.40 6.23 1.46 4.20 1.21 5.30 1.22
Risco da Intimidade 7.70 1.02 7.19 1.16 6.74 1.23 5.78 1.31
Uma vez determinada a solução em quatro clusters, procedeu-se: à análise de
variância – com o fim de averiguar a variabilidade de cada uma das dimensões em
função dos clusters; à validação e interpretação da solução de clusters e à descrição
das características distintivas de cada um.
A MANOVA (traço de Pillai) revelou um efeito multivariado do cluster [F(12, 1374)
= 107.72, p < .001] responsável pelas diferenças no Evitamento [F(3) = 371.73, p
< .001; η² =.71], na Confiança [F(3) = 291.67, p < .001; η² = .66], na Dependência [F(3)
= 111.67, p < .001; η² = .42], e na Ambivalência [F(3) = 252.29, p < .001; η² = .62]
(Anexo 12A).
Atendendo ao teste de Scheffe (Anexo 12C) todos os clusters diferem de forma
significativa nas dimensões Evitamento, Confiança e Ambivalência. Na dimensão
Dependência, apenas os Seguros e os Amedrontado não diferem entre si.
37
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
Os Amedrontados são os que mais atribuem um papel secundário ao par
romântico na satisfação das necessidades de vinculação (Evitamento), logo seguidos
pelos Desinvestidos, Preocupados e Seguros. Os Seguros são os que mais avaliam o
companheiro como merecedor de confiança, seguidos pelos Preocupados,
Amedrontados e Desinvestidos. Também são os Seguros que revelam maior
necessidade de proximidade física e emocional (Dependência), seguidos dos
Amedrontados, Preocupados e Desinvestidos. Para terminar os Amedrontados são
os que revelam maior insegurança e dúvida relativamente ao companheiro
(Ambivalência), seguidos dos Desinvestidos, Preocupados e Seguros (Quadro 3).
Repetiu-se o procedimento anterior para observar se os sujeitos apresentam
diferenças na Diferenciação do self e dimensões em que se desdobra (EC, ER, IP,
FO) em função do seu padrão de vinculação. O traço de Pillai revelou diferenças
significativas entre os clusters para as variáveis do DSI [F(12, 1227) = 21.69, p
< .001]: Escala total [F(3) = 37.23, p < .001; η² =.21] EC [F(3) = 84.99, p < .001; η²
=.38], ER [F(3) = 7.90, p < .001; η² =.06], IP [F(3) = 18.02, p < .001; η² =.12] e FO [F(3)
= 9.65, p < .001; η² =.07] (Anexo 12B).
O teste de Scheffe (Anexo 12C) revelou que, para a Escala Total, não há
diferenças significativas entre os indivíduos Seguros e os Preocupados. Estes são os
mais diferenciados, seguidos dos Desinvestidos e Amedrontados. Relativamente à
dimensão EC, todos os clusters diferem de forma significativa. Sendo os indivíduos
Seguros os que menos recorrem ao distanciamento emocional em situações de
tensão, seguidos dos Preocupados, Desinvestidos e Amedrontados. Quanto à ER,
identificaram-se diferenças apenas com os amedrontados. Os Desinvestidos,
Preocupados e Seguros revelaram-se mais capazes de manter a calma perante
situações de tensão emocional do que os Ambivalentes. No que diz respeito à IP não
se revelaram diferenças significativas entre os Seguros com os Preocupados e entre
os Preocupados com os Amedrontados. Os indivíduos Seguros e Preocupados são
aqueles que têm maior tendência para se manter fiel ao seu sistema de valores,
seguidos dos Amedrontados e Desinvestidos. Finalmente, na FO, não existem
diferenças significativas entre os Desinvestidos com os Preocupados, os
Preocupados com os Amedrontados, e os Amedrontados com os Seguros. Assim, os
Desinvestidos são aqueles que menos se fundem com os seus significativos,
seguidos dos Preocupados, Amedrontados e Seguros.
Termina-se a análise dos Clusters com a caracterização da amostra atendendo
aos padrões de vinculação.
38
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
Como se pode observar no Anexo 12D, os sujeitos Seguros apresentam uma
distribuição equitativa quanto ao sexo (52 indivíduos do sexo feminino e 53 do sexo
masculino), uma média de idades de 49.05 anos (DP = 15.13) e de duração da
relação de 24.54 anos (DP = 15.59). Quanto à escolaridade, a maioria dos indivíduos
concluiu o 1º Ciclo (n=37), registando-se uma distribuição pelos restantes níveis de
escolaridade bastante equitativa (16 indivíduos com o 2º Ciclo, 17 indivíduos com o 3º
ciclo e 17 com o Ensino Secundário e 18 com formação Superior). Com o padrão
Preocupado existem 80 indivíduos do sexo feminino e 94 do sexo masculino, com
uma média de idades de 49.92 anos (DP = 14.48) e de duração da relação de 24.98
anos (DP = 14.57). Relativamente à escolaridade a maioria dos indivíduos tem o 1º
ciclo (n=65), 19 o 2º ciclo, 23 o 3º ciclo, 39 o Ensino Secundário e 24 formação
Superior. Com o padrão Amedrontado existem 42 indivíduos do sexo feminino e 35
do sexo masculino com uma média de idades de 54.56 anos (DP = 14.65) e de
duração da relação de 31.31 anos (DP = 13.42). No que concerne à escolaridade, 50
indivíduos têm o 1º ciclo, 9 o 2º ciclo, 6 o 3º ciclo, 9 o Ensino Secundário e 2
formação Superior. Finalmente, com o padrão Desinvestido existem 56 indivíduos do
sexo feminino e 51 do sexo masculino, com uma média de idades de 57.28 anos (DP
= 15.70) e de duração da relação de 32.35 anos (DP = 15.02). Verifica-se que os
indivíduos têm na sua maioria o 1º ciclo (n=62), seguido do 2º ciclo (n=14), 3º ciclo
(n=10), Ensino Secundário (n=9) e formação Superior (n=6).
3.3. Regressão Linear Múltipla
Toda a investigação girou em torno de um objetivo macro: examinar a
convergência e divergência entre a vinculação ao par amoroso segundo os padrões
de Bartholomew (1990) e a diferenciação do self de Bowen (1990; 2010). Para
continuar a atender a este objetivo foi executada uma regressão múltipla com recurso
ao método stepwise11
como método de inclusão das variáveis, para cada uma das
dimensões da vinculação. Assim, cada dimensão entrou no respetivo modelo como
variável dependente e as subescalas da diferenciação do self, EC, ER, IP e FO como
potenciais preditores em todos os modelos.
11
A opção pelo método stepwise prendeu-se com dois aspetos: primeiro, é o programa estatístico que
selecciona as variáveis que vão entrar no modelo e sua ordem na equação, segundo além de permitir avaliar
o modelo final proposto, permite verificar passo a passo, as alterações que ele foi sofrendo com a entrada de
cada uma das variáveis (Pallant, 2003; Poeschl, 2006).
39
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
No Anexo 13 são apresentados os resultados pormenorizados para os modelos
de regressão; entretanto, no Quadro 4 são adiantados os modelos de predição
obtidos pela análise descrita.
Quadro 4
Modelos de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro
Variável dependente Preditores R R2 R
2
ajustado Erro padrão
da estimativa
R2
change
Evitamento Emotional Cutoff 0,663 0,439 0,435 0,828 0,422
“I” Position 0,010
Emotional Reactivity 0,007
Confiança Emotional Cutoff 0,497 0,247 0,239 0,762 0,126
“I” Position 0,073
Emotional Reactivity 0,039
Fusion with Others 0,009
Dependência Emotional Reactivity 0,311 0,097 0,092 0,871 0,083
“I” Position 0,013
Ambivalência Emotional Cutoff 0,552 0,305 0,302 0,876 0,280
“I” Position 0,026
Para a dimensão Evitamento, a primeira variável a entrar no modelo é a EC, que
explica 42,2% da variância, seguida pelas variáveis IP e ER que a aumenta em 1% e
0,7%. Assim, obteve-se um modelo significativo que explica 43,9% da variância do
Evitamento [F(2,419) = 109.10, p < .001, R2 = 0.439). A investigação dos valores e
dos testes-t mostrou que as três subescalas têm uma contribuição significativa para o
modelo de predição, EC, =-.66, t(2, 419) = -16.20, p<.001; IP, =-.09, t(2, 419) = -
2.40, p<.05; ER, =.09, t(2, 419) = 2.3, p<.05 pelo que, a tendência para o uso do
distanciamento como reação às situações de tensão emocional prediz o nível de
Evitamento, logo seguido pela menor capacidade par se manter fiel ao seu sistema
de valores e da escassa tendência ao recurso a respostas baseadas nas emoções.
Para a Confiança, a primeira variável independente a entrar no modelo é a EC,
com um poder explicativo da variância de 12.6%, seguida pelas IP, ER e FO com
7.3%, 3.9% e 0.9% respetivamente. Os preditores conciliam-se num modelo de
predição significativo que explica 24.7% da Confiança [F(3,424) = 34.62, p < .001, R2
= 0.247). Todos os preditores têm uma contribuição significativa para o modelo, ainda
que uns exerçam mais influência que os outros. Pela observação dos valores e
40
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
testes-t, verificou-se que o melhor preditor para a perceção do companheiro como
base segura é a baixa tendência para o uso do distanciamento como reação às
situações de tensão emocional [=.36, t(3, 424) = 7.62, p<.001]; seguido da
capacidade para se manter fiel ao seu sistema de valores [=.22, t(3, 424) = 4.79,
p<.001]; da baixa tendência para o uso de respostas baseadas nas emoções [= -.16,
t(3, 424) = -3.17, p<.01] e da ausência de um envolvimento emocional excessivo com
os seus significativos [=-.11, t(3, 424) = -2.25, p<.05].
No modelo de predição da Dependência a primeira variável a entrar é a ER, que
explica 8,3% da sua variância, seguida da IP que a faz aumentar em 1.3%, pelo que
se obteve um modelo significativo capaz de explicar 9,2% da variância da
Dependência [F(1,424) = 22.60, p < .001, R2 = 0.092). As duas subescalas revelaram
uma contribuição significativa para o modelo, ER, =-.29, t(1, 424) = -6.19, p<.001;
IP, =.12, t(1, 424) = 2.51, p<.05, sendo que a tendência para o uso de respostas
baseadas nas emoções é o que mais contribui para a predição de elevados níveis de
dependência face ao companheiro, seguido da capacidade para se manter fiel ao seu
sistema de valores.
Finalmente, no modelo de regressão da Ambivalência, entraram, por esta ordem,
a EC e a IP, com um poder explicativo de 28% e 2,6%. Este modelo de predição
mostrou-se significativo e capaz de explicar 30.5% da variância da Ambivalência
[F(3,423) = 92.68, p < .001, R2 = 0.305). Aferiu-se que o melhor preditor para a
ambivalência face ao companheiro é a tendência para o uso do distanciamento como
reação às situações de tensão emocional [=-0.49, t(2, 423) = 11.78, p<.001] logo
seguido da capacidade de se manter fiel ao seu sistema de valores [=-0.17, t(2, 423)
= -3.95, p<.001].
41
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
4. Discussão de resultados
Esta secção apresenta a discussão dos resultados encontrados no estudo.
Relembra-se que o estudo gira em torno da vinculação ao companheiro e sua
relação com a diferenciação do self.
A discussão será feita de acordo com a ordem de apresentação das hipóteses.
4.1. Examinar de que modo os indivíduos vivenciam as suas relações amorosas
Os elevados níveis de confiança obtidos apoiam a hipótese que os indivíduos
percecionam o companheiro como uma base segura, facilitadora da exploração e
refúgio de segurança. Esta conclusão é reforçada pelos níveis de dependência
também elevados, e vai no sentido da literatura em que a confiança e a dependência
costumam andar de mãos dadas.
Uma das hipóteses deste estudo prendeu-se com a possibilidade de observar a
vinculação ao companheiro segundo o ponto de vista prototípico do modelo
bidimensional de Bartholomew (1990; Bartholomew & Horowitz, 1991). O instrumento
utilizado provou ser sensível às características dos indivíduos, uma vez que foi capaz
de os agrupar nos quatro padrões de vinculação esperados.
O cluster 1 corresponde ao padrão Seguro, pois compreende os indivíduos que
apresentam: os maiores níveis de Confiança – o que indica que percecionam o
companheiro como responsivo, base segura e fonte de apoio –; os maiores níveis de
Dependência – observada na busca constante de proximidade física e emocional –;
os mais baixos níveis de Evitamento – pois são os que mais valorizam a importância
das relações de proximidade –; e de Ambivalência – isto é, baixos níveis de dúvida e
insegurança.
A par do cluster 1, o cluster 2 apresenta elevados níveis de Confiança e
moderados de Evitamento, Dependência e Ambivalência. Esta dispersão é
congruente com o padrão de vinculação Preocupado, em que os elevados níveis de
confiança refletem a visão positiva que têm do outro, enquanto os comportamentos
de evitamento, dependência e ambivalência refletem um modelo negativo do self, que
não é digno de ser amado. Estes apresentam sentimentos constantes de
vulnerabilidade e necessidade de segurança assentes na dificuldade em confiar que
os seus significativos podem realmente amá-los.
42
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
Os indivíduos que se agrupam no cluster 3 são os que apresentam o maior nível
de evitamento e ambivalência, conjugado com níveis elevados de dependência e
confiança. Tal parece configurar o padrão Amedrontado uma vez refletir, pelos
elevados níveis elevados de ansiedade e de evitamento, uma vinculação insegura.
Estes indivíduos, com um modelo do self e do outro negativo são inseguros quanto à
disponibilidade do companheiro, desejam e evitam as relações de intimidade pelo
medo antecipado de rejeição e apresentam elevada dependência emocional e
ansiedade de separação (Bartholomew, 1990; Bartholomew & Horowitz, 1991)
Por fim, o cluster 4 caracteriza-se por elevados níveis de Evitamento e
Ambivalência que contrastam com os baixos níveis de Dependência e Confiança.
Esta configuração está de acordo com o padrão de vinculação Desinvestido em que
há uma representação de si positiva do self e negativa do outro. De forma a gerir as
suas inseguranças relacionais e a preservar esta imagem positiva do self, estes
indivíduos tendem a manter o distanciamento nos relacionamentos – o que parece
ser a estratégia encontrada para lidar com a rejeição e não se sentirem vulneráveis a
sentimentos que possam levar à ativação do sistema de vinculação (Bartholomew,
1990; Bartholomew & Horowitz, 1991; Mikulincer & Shaver, 2005).
Na sua maioria, os estudos que utilizaram o QVA como instrumento de avaliação
da vinculação ao companheiro, tiveram como amostras adolescentes e jovens adultos
(Barbosa, 2008; Fachada, 2009; Matos, 2002; Rocha, 2008; Santos, 2005; Vieira,
2008). Nestes, embora a distribuição dos indivíduos pelos padrões de vinculação
fosse diferente, salientou-se sempre uma grande prevalência de indivíduos seguros e
uma baixa prevalência de desinvestidos. Na presente investigação, contudo,
destacou-se um elevado número de indivíduos desinvestidos. Também, em alguns
estudos de âmbito internacional a distribuição dos padrões de vinculação em adultos
mais velhos se diferenciou por um elevado número de desinvestidos. Webster (1997,
cit in Magai, Cohen, Milburn, Thorpe, McPherson, & Peralta, 2001) encontrou numa
amostra de adultos com uma média de 67,9 anos de idade, 52,5% de desinvestidos,
33,3% de seguros, 11,6% de amedrontados e 2,9% de preocupados. Também Magai
et al. (2001), para uma amostra com uma média de 74 anos de idade, encontrou 78%
de desinvestidos e 22% de seguros. Diehl, Elnick, Bourbeau e Labouvie-Vief (1998)
reportaram níveis mais altos de desinvestidos em adultos mais velhos quando
comparados com adultos mais jovens. Zhang e Labouvie-Vief (2004), num estudo
longitudinal de 6 anos, verificaram que o aumento da idade estava relacionado com
43
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
alterações nos padrões de vinculação, com idades mais avançadas a predizer maior
número de desinvestidos. Isto parece sugerir que os padrões de vinculação se
alteram ao longo do ciclo de vida. Magai et al. (2001), referem que a alteração
encontrada na sua investigação pode, em parte, dever-se ao fato de se tratar de uma
população urbana e à alteração nas condições de vida experienciadas pelos adultos
ao longo do seu envelhecimento. Também Bowlby perspetivava que as experiências
de vida que se desviam dos modelos internos dinâmicos construídos inicialmente
poderão estimular a alteração do padrão de vinculação (Bowlby, 1973).
Nomeadamente, alterações ao nível da quantidade e qualidade das relações de
intimidade, experiências múltiplas de morte declínio das capacidades de
funcionamento executivas e a perda de recursos e autonomia podem influenciar s
perceção do self e do outro e requerer a reconstrução dos modelos internos
dinâmicos de forma a torná-los mais coerentes com as atuais experiências de
vinculação (Magai et al., 2001, Zhang e Labouvie-Vief, 2004).
Em suma, a atual investigação parece confirmar o que vários outros estudos têm
vindo a observar acerca dos padrões de vinculação de adultos mais velhos: a
vinculação é menos segura e mais desinvestida. Note-se que, à medida que a idade
avança, aumenta o número de desinvestidos na amostra, o que faz supor que se o
intervalo de idades não fosse tão alargado este número seria ainda maior (Anexo
12D).
Dada a inconsistência entre os estudos, seria interessante planear investigações
longitudinais, capazes de observar todos os estadios do ciclo de vida. Assim poder-
se-ia apreender o processo de vinculação ao longo de todo o ciclo de vida a fim de
perceber o que o caracteriza em cada uma das etapas e construir instrumentos de
medida específicos para cada uma delas.
4.2. Contribuir para o desenvolvimento da metodologia de avaliação da diferenciação
do self
Em Portugal, pouco ou nada se sabe acerca dos níveis de diferenciação do self
na população, possivelmente devido à falta de instrumentos de medida construídos
para o efeito. No sentido de colmatar esta lacuna foi iniciado o estudo de validação
para a população portuguesa do Inventário de Diferenciação do Self desenvolvido por
Skonrow e Friedlander, em 1998.
44
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
Tomando por base o modelo original, estava previsto a operacionalização do
constructo de diferenciação do self segundo a definição de Bowen e das respetivas
dimensões respetivo e interpessoais: “I” Position e Emotional Reactivity, Emotinal
Cutoff e a Fusion with Others.
Por isso, procedeu-se ao estudo da análise fatorial exploratória que confirmou a
capacidade da versão portuguesa da escala para diferenciar entre os quatro
constructos. Foram encontrados índices de consistência interna elevados para todas
as subescalas bem como para a escala total. Todavia, a análise fatorial sugeriu que,
dos 9 itens que no instrumento original constituem a subescala FO, apenas 5 reuniam
os critérios necessários para fazer parte desta subescala. Em 2003, Skowron e
Schmitt procederam à revisão da subescala FO, pois, ao longo de vários estudos,
esta mostrou-se notavelmente mais fraca do que as outras quanto rigor psicométrico,
utilidade preditiva e clareza conceptual. Atendendo aos fatos apresentados e aos
resultados positivos obtidos com a versão revista da escala, sugere-se a validação
desta última para a população portuguesa em futuras investigações.
Os resultados sugerem uma tendência da população portuguesa no sentido da
diferenciação (M=3,57, DP=0,26), isto é da capacidade de gerir com assertividade o
sistema emocional e intelectual e a intimidade e autonomia no contexto das relações
intimidade. Neste sentido os indivíduos demonstram: uma elevada capacidade para
tomar decisões objetivas, congruentes com as suas prioridades e sistema de valores
pré-estabelecido, não se deixando assim, controlar pelos sentimentos (IP, M=4,42;
DP=.04); uma atenuada tendência para o distanciamento emocional das pessoas
importantes e negação desses comportamentos (EC=3.88, DP=.44); uma capacidade
moderada para separar pensamentos e sentimentos, funcionando ao nível racional
(ER=3.02, DP=.04); e tendência para um envolvimento emocional excessivo com os
seus significativos e necessidade constante destes para confirmar as suas crenças,
convicções e tomar decisões (FO=2.58, DP=.05).
Em suma, nos relacionamentos românticos, estes indivíduos, maioritariamente
diferenciados, tendem a fazer a separação entre pensamentos e sentimentos e a
responder ao companheiro de forma racional e não emocional. Mesmo em situações
de stress, eles tendem a agir consoante o seu sistema de valores (isto é, conhecem e
defendem as suas crenças e convicções pessoais); não tendem a regular a tensão
emocional através do distanciamento (ou seja, pela negação das ligações emocionais
e influência que os outros têm sobre si) e tendem, por vezes a recorrer à fusão
45
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
emocional (ou seja, cedem às crenças e convicções dos outros e assumem-nas como
suas).
4.3. Estudar associações entre as dimensões da vinculação ao companheiro a as
dimensões da diferenciação do self
Uma das hipóteses do estudo previa uma associação significativa entre a
qualidade da vinculação ao companheiro e a diferenciação do self.
Os resultados suportam esta hipótese na medida em que quanto maior a
confiança e menor o evitamento, dependência e ambivalência, mais diferenciado é o
individuo. Isto é, maior a sua capacidade, a nível intrapessoal, para separar
sentimentos e pensamentos; e a nível interpessoal, para se separar emocional e
fisicamente dos seus significativos, sem que para isso perca a ligação emocional com
eles. Segundo Skonrow e Dendy (2004), estes resultados são consistentes com
outras pesquisas que corroboram que a manutenção de ligações positivas com o
companheiro anda de mãos dadas com a conquista da autonomia (e.g., Campbell,
Adams & Dobson, 1984; Grotevant & Cooper, 1985; Rice, Fitzgerald, Whaley, &
Gibbs, 1995 cit in Skonrow e Dendy, 2004).
Especificamente, quanto mais o companheiro é percecionado como base segura
e fonte de apoio (Confiança) maior é a capacidade do indivíduo para tomar decisões
objetivas, congruentes com as suas prioridades e sistema de valores mas também,
maior é a tendência para o envolvimento emocional excessivo com os seus
significativos e necessidade constante do outro para confirmar as suas crenças,
convicções e tomar decisões. Por outro lado, menor é a tendência para o
distanciamento emocional. A confiança não se correlacionou, ao contrário do
esperado, com a dimensão Emotional Reactivity.
Os resultados apontam que quanto mais o individuo considera o companheiro
secundário no preenchimento das necessidades de vinculação (Evitamento), ou
duvida do seu papel como figura de vinculação (Ambivalência), maior o Emotional
Cutoff e a Emotional Reactivity e menor o “I” Position e o Fusion with Others. Todas
as correlações vão no sentido esperado. Salienta-se a correlação positiva forte com o
Emotional Cutoff que também foi encontrada na literatura (Skonrow e Dendy, 2004).
Elevados níveis de ambivalência e evitamento caracterizam a vinculação evitante.
Segundo Mikulincer e Shaver (2007), os indivíduos este padrão de vinculação são
46
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
incapazes de ceder a independência que os caracteriza em detrimento de uma
dependência apropriada. Isto parece apoiar a elevada correlação encontrada entre o
evitamento e ambivalência com o distanciamento emocional.
Contrariamente ao esperado a dependência não se relacionou com o Emotional
Cutoff mas apresentou uma relação positiva fraca com o “I” Position. De acordo com
o previsto, esta revelou uma relação positiva com o Emotional Reactivity e a Fusion
with Others. Assim, quanto maior a necessidade de proximidade física e emocional, a
ansiedade de separação e o medo da perda, maior a tendência para ser
emocionalmente reativo e a necessidade constante de confirmação de crenças,
convicções e decisões.
Segundo Lopez (2001) o desejo constante de manter a proximidade física e
emocional, a ansiedade de separação e o medo da perda interferem com a
capacidade do indivíduo para (i) gerir de forma equilibrada as emoções e
pensamentos, e (ii) ser autónomo enquanto íntimo. O fato de a vinculação ansiosa
ser caracterizada por elevados níveis de dependência pode apoiar os resultados
encontrados segundo os quais a dependência está associada à tendência do
indivíduo para ser emocionalmente reativo e à necessidade constante de confirmação
de crenças, convicções e decisões. Também Mikulincer e Shaver (2007), referem
uma associação entre a vinculação ansiosa e autoestima e necessidade de
aprovação.
4.4. Explorar em que medida as dimensões da diferenciação do self são capazes de
predizer a qualidade da vinculação ao companheiro
De forma a testar a validade da hipótese, procurou-se examinar qual combinação
de variáveis independentes relativas à diferenciação do self que melhor explicam a
vinculação ao companheiro.
Constatou-se que, para cada uma das dimensões foram propostos diferentes
modelos, sendo que o único aspeto comum foi a IP ter entrado como preditor em
todos eles. O modelo encontrado para o Evitamento é constituído por três preditores
e explica 43,9% da sua variância; o da Confiança é constituído pelas quatro
dimensões da diferenciação do self e explica 24,7%; o da Dependência é composto
por dois preditores que explicam 9,7% da variância; finalmente o da ambivalência é
composto por dois preditores que explicam 30,5% da sua variância.
47
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
Debruçando-se sobre cada uma das dimensões, conclui-se que o distanciamento
emocional de pessoas significativas, e a negação desta conduta, é o comportamento
que melhor prediz elevados níveis de evitamento e de ambivalência, logo seguido da
incapacidade para tomar decisões congruentes com as suas prioridades e sistema de
valores. Apesar do baixo poder preditivo, não responder aos estímulos ambientais
com recurso a respostas emocionais automáticas prediz ainda um pouco do
evitamento. Os resultados sugerem, portanto, que indivíduos com elevados níveis de
evitamento e de ambivalência são menos diferenciados (baixo IP, elevado EC).
Elevados níveis de evitamento e de ambivalência são as dimensões que mais
caracterizam os indivíduos com padrão de vinculação evitante. Recentemente,
Hollander (2007) encontrou uma associação significativa e positiva entre a vinculação
evitante e o EC e negativa com a RE. Estes estudos vão de encontro aos resultados
descritos que apontam que indivíduos pouco diferenciados, que tendem a utilizar
estratégias de distanciamento emocional como forma de gerir a ansiedade, colocam a
relação com o companheiro em segundo plano e têm dúvida acerca da capacidade
deste para responder às suas necessidades de vinculação, caracterizando-se por um
padrão de vinculação evitante.
Indivíduos que confiam no companheiro enquanto capaz de dar resposta às suas
necessidades de vinculação, raramente evidenciam comportamentos de
distanciamento emocional, estes são capazes de tomar decisões congruentes com as
suas prioridades e sistema de valores pré-estabelecido embora possam apresentar
alguma labilidade emocional e envolver-se, a nível emocional, excessivamente com
os seus significativos. Indivíduos com vinculação segura são caracterizados por
elevados índices de confiança (Bartholomew, 1990; Bartholomew & Horowitz, 1991),
todavia, a literatura tem revelado que estes apresentam também elevados níveis de
dependência face ao companheiro. Isto dá sentido aos resultados encontrados que
sugerem que indivíduos com capacidade para gerir as situações de tensão emocional
com base no seu sistema de crenças e valores, são também indivíduos com elevados
níveis de fusão e necessidade de aprovação dos companheiros.
Responder aos estímulos ambientais com recurso a respostas emocionais
automáticas é o comportamento que melhor prediz a dependência face ao
companheiro, seguida do comportamento oposto, isto é, tomar decisões congruentes
com as suas prioridades e sistema de valores. Retomando os resultados de Hollander
(2007), este encontrou uma associação significativa e positiva entre a vinculação
ansiosa e a reatividade emocional. De acordo com os resultados encontrados,
48
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
indivíduos com tendência para, em situações de tensão emocional, responderem
automaticamente com base nas emoções e apresentarem uma labilidade emocional
acentuada, são indivíduos que procuram constantemente a proximidade física e
emocional, dados os sentimentos recorrentes de ansiedade de separação e medo da
perda (Dependência).
Em suma, a capacidade de predizer a vinculação ao companheiro através da
diferenciação do self suporta a teoria de Bowen (1978, in Skonrow & Dendy, 2004) de
que uma elevada diferenciação está associada a comportamentos positivos na
relação, como os que caracterizam a vinculação segura. Por outro lado, sujeitos com
elevados níveis de ER e baixos de IP, têm tendencialmente uma vinculação ansiosa,
e por isso gerem as necessidades de vinculação pela busca contínua de proximidade
com o companheiro, ao passo que aqueles que têm elevados níveis de EC e baixos
de IP, têm uma vinculação evitante e negam as suas necessidades de vinculação.
4.5. Analisar o efeito das variáveis sócio-demográficas na vinculação ao companheiro
e na diferenciação do self
Nenhuma diferença foi encontrada quando se compararam homens e mulheres
relativamente às dimensões da vinculação e às dimensões EC e IP da diferenciação
do self. Contrariamente, e de acordo com o esperado, para a ER e a FO, a análise
das diferença de sexo revelaram que os homens eram mais capazes de gerir as suas
emoções e pensamentos (ER), e de serem mãos autónomo enquanto íntimos nos
seus relacionamentos (FO).
Como o previsto, não foi encontrada nenhuma diferença quanto à idade quer
para as dimensões da vinculação, quer para as da diferenciação do self. Contudo, os
dados encontrados ao longo do estudo sobre a prevalência dos padrões de
vinculação nos adultos mais velhos (elevada frequência do padrão desinvestido) fazia
agora esperar o contrário. Estas diferenças podem estar camufladas pela elevada
amplitude de idades associada à distribuição desigual de indivíduos por idades.
Sugere-se novamente a averiguação do fenómeno, mas com uma amostra que
detenha um número equitativo de indivíduos por faixa etária.
Quanto à duração da relação, não foi encontrado qualquer efeito sobre as
dimensões Confiança, Dependência, ER, IP e FO, mas foi encontrado para o
Evitamento, Ambivalência e EC, indicando que quanto maior a duração da relação,
49
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo II
maior o Evitamento e a Ambivalência. Mais uma vez remete-se para a necessidade
de se estudar como as experiências de vida fazem variar a vinculação ao par
amoroso ao longo do ciclo de vida, nomeadamente o que leva dimensões como o
evitamento e a ambivalência aumentarem com a duração da relação. No que se
refere ao EC, verificou-se que ele varia em sentido contrário com a duração da
relação, isto é, quanto maior é a duração da relação menor é o distanciamento
emocional face aos significativos.
Por fim, a escolaridade mostrou fazer variar o Evitamento, a Confiança e a
Ambivalência no que concerne à vinculação, e todas as dimensões da diferenciação
do self. Discriminadamente, indivíduos com maior escolaridade apresentam menos
evitamento, ambivalência, distanciamento emocional e labilidade emocional, e
apresentam maior confiança, capacidade para tomar decisões baseadas no seu
próprio self e fusão com os seus significativos.
As diferenças demográficas significativas encontradas não foram controladas na
análise das hipóteses porque, (i) o tamanho dos efeitos foi baixo, e (ii) pretendia-se
explorar concretamente os efeitos da diferenciação do self sobre a vinculação ao
companheiro.
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS Capítulo II
5. Considerações finais
5.1. Limitações do estudo e pistas para futuras investigações
O processo de amostragem não-probabilística de conveniência com recurso à
técnica snowball constitui uma limitação do trabalho, todavia, considera-se que o
número elevado de participantes poderá colmatar o viés associado a este processo.
Decorrente do desenho experimental da investigação, surge uma outra limitação
do estudo, que se relaciona com o fato de ter um número desproporcional de
participantes entre os jovens adultos e os adultos mais velhos.
É de salientar a contribuição que a investigação trás para a perceção das
relações românticas adultas pelo fato de todos os participantes serem casados, ou
viverem em união de fato, e não os habituais casais de namorados universitários
encontrados na maioria das investigações.
Os instrumentos de medida utilizados nesta investigação foram questionários de
autorrelato, os quais têm sempre associados algum grau de contaminação decorrente
da desejabilidade social e estado de humor atual. Por exemplo, participantes que têm
elevados níveis de desejabilidade social podem ter relutância em reportar problemas
nas suas relações de intimidade e, por outro lado, as respostas podem ser
influenciadas por conflitos na relação prévios ao preenchimento dos instrumentos.
Assim, as respostas podem nem sempre ter sido o verdadeiro reflexo das
características habituais da relação dos participantes. Como forma de contornar este
viés e clarificar os resultados do estudo quantitativo, propõe-se para próximas
investigações associar aos instrumentos de autorrelato medidas de investigação
qualitativas.
Os resultados deste estudo levantam algumas questões interessantes acerca da
avaliação da vinculação em adultos mais velhos, contudo poucos ou nenhum estudo
longitudinal chegou a esta população. Neste sentido, é necessário compreender
como os padrões de vinculação se vão alterando ao longo do ciclo de vida, desde a
infância até à velhice bem como, o que fomenta as suas alterações, e desenvolver
instrumentos capazes de avaliar o constructo em cada fase do ciclo de vida. Uma
sugestão seria desenvolver uma versão do QVA adaptada para esta população capaz
de apreender as características de vinculação em adultos mais velhos.
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS Capítulo II
Uma vez que a amostra da presente investigação compreende casais, seria
pertinente, na continuação deste projeto, perceber se há um emparelhamento entre
os casais de acordo com o padrão de vinculação e nível de diferenciação do self uma
vez que ambas as teorias o sugerem.
Em futuras investigações, atendendo às razões apontadas no ponto 4.2,
recomenda-se a utilização da versão revista da escala (Skonrow & Schmitt, 2003).
Também se sugere a realização de estudos longitudinais capazes de perceber a
relação entre a diferenciação do self e a vinculação ao longo do ciclo de vida.
Estudos transgeracionais seriam úteis para verificar outra hipótese central da teoria
de Bowen de que os níveis de diferenciação do self são transmitidos pela família de
origem.
5.2. Implicações para a prática clínica
Toda a investigação deve servir um propósito, trazer sustentação para a prática
clínica. Neste sentido, os resultados desta investigação podem ser úteis ao dotar o
terapeuta de uma compreensão mais sofisticada da interação entre a vinculação ao
companheiro e a diferenciação do self. Muitas vezes, os Objetivos terapêuticos, tanto
em terapia com casais como em terapia individual, relacionam-se com a interação
com o companheiro, e passam pela alteração das características associadas ao
modelo de vinculação. Assim, conhecer os comportamentos que podem exercer
alguma influência sobre os modelos internos dinâmicos no sentido de uma maior
segurança na relação pode ser útil para a construção de programas de intervenção.
Os resultados encontrados sugerem uma relação entre as características da
vinculação ao companheiro e a diferenciação do self pelo que, a consciência do
terapeuta quanto ao modelo de vinculação do cliente e conhecimento de como cada
um destes se relaciona com a diferenciação do self, pode ajudá-lo a apreender os
comportamentos do cliente em situações de ansiedade e a ajustar a sua intervenção
em função dos mesmos.
O terapeuta pode ajudar o cliente a perceber como o seu padrão de vinculação
influencia os seus relacionamentos atuais, a compreender a sua relação com a forma
como reage com o companheiro perante situações de ansiedade, e como isso pode
afetar e/ou beneficiar as suas relações de intimidade. Podem também, ao estimular a
capacidade do cliente para regular as emoções, pela separação dos pensamentos e
52
CONSIDERAÇÕES FINAIS Capítulo II
sentimentos, pode fomentar a capacidade de autonomia e, por conseguinte,
promover uma vinculação mais segura. O terapeuta pode explorar junto do cliente
com vinculação ansiosa e evitante, como se comporta tendo em conta o seu nível de
diferenciação. Por exemplo, pode ser útil para o cliente ansioso perceber que as suas
respostas emocionais automáticas podem ser desajustadas e ajudá-los a gerir os
sentimentos e tomar decisões com base no sistema intelectual, isto é, a responder às
situações ao invés de reagir às situações. Depois de ser capaz de fazer esta
distinção, ajudá-los a explorar como a fusão com o companheiro, manifesta na
adoção do sistema de crenças e valores deste, é infundada pois reflete, na realidade,
os seus medos de abandono. Este cliente poderá assim melhorar a sua capacidade
para regular os níveis de autonomia e intimidade com o companheiro e aprender que
ser autónomo e fiel ao seu próprio sistema de crenças e valores não compromete a
intimidade com o outro. Em suma, espera-se que tornando-se mais diferenciado, o
cliente seja capaz de gerir a ansiedade com base no sistema intelectual e detendo
uma imagem clara do self se torne mais flexível para integrar as diferenças de opinião
do companheiro sem que isso seja interpretado como ameaça de abandono. Desta
forma contraria gradualmente as expectativas negativas de rejeição e estimula a
mudança do padrão de vinculação na relação com o companheiro. Com o cliente com
vinculação evitante, o terapeuta pode explorar como os comportamentos de
distanciamento emocional condicionam as suas relações e ajudá-lo a aceitar a
importância da ligação emocional com o companheiro e como este distanciamento e
autonomia são apenas aparentes pois pretendem encobrir o medo de abandono pelo
companheiro. Ciente disto, ao trabalhar a capacidade de recorrer ao sistema
intelectual para responder às situações de tensão emocional, incentivar o cliente a
ceder à independência que o caracteriza em detrimento de uma dependência
apropriada. Espera-se que os benefícios para a relação venham contrariar as
expectativas negativas de rejeição e, assim, estimular a mudança do padrão de
vinculação do sujeito na relação com o companheiro.
Por fim, ao constituir-se como base segura, o terapeuta pode contrariar as
expectativas de rejeição do cliente à medida que ele se vai tornando mais
diferenciando. Este utiliza a relação terapêutica para mostrar que é possível ser
autónomo, ter um sistema de crenças próprio e em simultâneo manter uma ligação
emocional importante. Neste sentido, a consulta e a relação com o terapeuta pode
ser o primeiro contexto de desenvolvimento de padrões de vinculação mais
adaptativos.
53
CONSIDERAÇÕES FINAIS Capítulo II
5.3. Conlusão
O maior contributo deste estudo para a comunidade científica foi
indubitavelmente a validação de um instrumento de medida para a diferenciação do
self, e o aumento do corpo de investigação neste domínio. Com efeito, apesar do
elevado número de estudos em torno da vinculação ao par amoroso, poucos foram
aqueles que abordaram a sua relação com a diferenciação do self.
Os instrumentos de medida utilizados mostraram-se sensíveis às características
que se pretendiam avaliar, tanto da vinculação – pela inferência teórica dos padrões
de vinculação de Kim Bartholomew (1990; Bartholomew & Horowitz, 1991) –, como
da diferenciação do self – pela validade cultural demonstrada.
Em síntese, verificou-se que:
A amostra é maioritariamente constituída por indivíduos com um padrão de
vinculação preocupado, por um elevado número com padrão desinvestido,
depois com padrão seguro e finalmente, em menor número com padrão
amedrontado.
Os indivíduos que percecionam o companheiro como uma base segura,
facilitadora da exploração, e um refúgio de segurança, que proporciona
apoio em situações de ameaça, tendem a fazer a separação entre
pensamentos e sentimentos e a responder às situações de forma racional e
não emocional. Mesmo em situações de stress, eles tendem a agir
consoante o seu sistema de valores (isto é, conhecem e defendem as suas
crenças e convicções pessoais); não tendem a regular a tensão emocional
através do distanciamento (ou seja, pela negação das ligações emocionais
e influência que os outros têm sobre si) e tendem, por vezes a recorrer à
fusão emocional (ou seja, cedem às crenças e convicções dos outros e
assumem-nas como suas).
Por outro lado, os indivíduos que consideram o companheiro como tendo
um papel secundário no preenchimento das necessidades de vinculação,
ou duvidam do seu papel enquanto figura amorosa, tendem a reagir às
situações de tensão automaticamente e de modo emocional, e a regular a
ansiedade, essencialmente, através do distanciamento emocional dos
significativos - negam a ligação emocional e influência que eles têm sobre si.
Consistente com os resultados de outros estudos, observou-se uma
distribuição dos padrões de vinculação ao companheiro nos adultos mais
54
CONSIDERAÇÕES FINAIS Capítulo II
velhos díspar da habitualmente encontrada em amostras mais jovens, a
qual caracterizou-se por um elevado número de desinvestidos.
Como o esperado, as dimensões da diferenciação do self constituíram-se
preditores nas quatro dimensões da vinculação, ainda que em diferentes
combinações.
Apurados os efeitos das variáveis sócio-demográficas sobre a vinculação
ao companheiro e a diferenciação do self, homens parecem mais capazes
de gerir as suas emoções e pensamentos, e de serem mais autónomos
enquanto íntimos nos seus relacionamentos, do que as mulheres. Os
indivíduos que mais atribuem um papel secundário ao companheiro, que
duvidam do seu papel enquanto figura vinculação, que têm um baixo nível
de revelação do self ou o percecionam desadequadamente o companheiro
e que revelam um menor distanciamento emocional, são os que têm mais
anos de relação. Também, indivíduos com maior escolaridade apresentam
menos evitamento, ambivalência, distanciamento e labilidade emocional; e
apresentam mais confiança, capacidade para tomar decisões baseadas no
seu próprio self e fusão com os significativos.
55
Referências Bibliográficas
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* Bibliografia citada nas fontes consultadas, e não diretamente.
61
Anexos
62
Anexo 1
Caracterização dos participantes em função de variáveis sócio-demográficas
Quadro 5
Caracterização dos participantes (N=486)
Sexo
Feminino n=243 50.0%
Masculino n=243 50.0%
Idade
21 n=2 0.4%
22 n=2 0.4%
23 n=3 0.6%
25 n=3 0.6%
26 n=3 0.6%
27 n=9 1.9%
28 n=9 1.9%
29 n=8 1.6%
30 n=10 2.1%
31 n=11 2.3%
32 n=10 2.1%
33 n=9 1.9%
34 n=12 2.5%
35 n=8 1.6%
36 n=8 1.6%
37 n=7 1.4%
38 n=4 0.8%
39 n=1 0.2%
40 n=10 2.1%
41 n=7 1.4%
42 n=7 1.4%
43 n=12 2.5%
44 n=6 1.2%
45 n=4 0.8%
46 n=7 1.4%
47 n=5 1.0%
48 n=7 1.4%
49 n=6 1.2%
50 n=13 2.7%
51 n=11 2.3%
52 n=12 2.5%
53 n=13 2.7%
54 n=13 2.7%
55 n=11 2.3%
56 n=11 2.3%
57 n=7 1.4%
(Quadro continua)
63
(Quadro continua)
58 n=13 2.7%
59 n=8 1.6%
60 n=19 3.9%
61 n=15 3.1%
62 n=16 3.3%
63 n=14 2.9%
64 n=7 1.4%
65 n=11 2.3%
66 n=5 1.0%
67 n=12 2.5%
68 n=9 1.9%
69 n=5 1.0%
70 n=10 2.1%
71 n=8 1.6%
72 n=10 2.1%
73 n=11 2.3%
74 n=2 0.4%
75 n=6 1.2%
76 n=4 0.8%
77 n=5 1.0%
78 n=6 1.2%
79 n=2 0.4%
80 n=2 0.4%
81 n=1 0.2%
82 n=2 0.4%
87 n=1 0.2% M=52.16
Valores omissos n=1 0.2% DP=15.16
Duração da relação
3 n=20 4.1%
4 n=20 4.1%
5 n=24 4.9%
6 n=6 1.2%
7 n=14 2.9%
8 n=12 2.5%
9 n=2 0.4%
10 n=4 0.8%
11 n=6 1.2%
12 n=8 1.6%
14 n=3 0.6%
15 n=6 1.2%
16 n=8 1.6%
17 n=4 0.8%
18 n=10 2.1%
19 n=10 2.1%
20 n=2 0.4%
(Quadro continua)
64
(Quadro continua)
21 n=2 0.4%
22 n=2 0.4%
23 n=6 1.2%
24 n=15 3.1%
25 n=16 3.3%
26 n=8 1.6%
27 n=5 1.0%
28 n=5 1.0%
29 n=12 2.5%
30 n=14 2.9%
31 n=12 2.5%
32 n=20 4.1%
33 n=18 3.7%
34 n=12 2.5%
35 n=12 2.5%
36 n=12 2.5%
37 n=10 2.1%
38 n=14 2.9%
39 n=16 3.3%
40 n=20 4.1%
41 n=4 0.8%
42 n=14 2.9%
43 n=8 1.6%
44 n=10 2.1%
47 n=8 1.6%
48 n=12 2.5%
49 n=10 2.1%
50 n=6 1.2%
51 n=4 0.8%
52 n=10 2.1%
53 n=6 1.2%
54 n=2 0.4% M=27.60
56 n=2 0.4% DP=15.01
Escolaridade
1º Ciclo n=226 46.5%
2º Ciclo n=59 12.1%
3º Ciclo n=60 12.3%
Secundário n=79 16.3%
Superior n=51 10.5%
Valores omissos n=11 2.3%
65
Anexo 2
Questionário Sócio-demográfico
Caro (a) participante,
A faculdade de Psicologia está a realizar uma investigação para contribuir para
o melhor conhecimento das relações familiares.
Todos os inquéritos serão apenas utilizadas para fins académicos, sendo
anónimas e confidenciais.
Obrigada pela sua colaboração!
Dados demográficos:
Sexo: Feminino __ Masculino __
Idade _____
Anos de casado/união de facto _____
Nº de filhos _____
Escolaridade ______________
Se está disponível para participar noutras investigações da faculdade coloque,
por favor, o seu contacto __________________________
66
Anexo 3
Questionário de Vinculação Amorosa (QVA) – versão breve
UNIVERSIDADE DO PORTO
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
67
QVA
(Paula Mena Matos, Joana Cabral e Maria Emília Costa, 2008, versão breve)
Este questionário procura descrever diferentes maneiras das pessoas se relacionarem com o(a) companheiro(a). Leia
atentamente cada uma das frases e assinale com uma (X) a resposta que melhor exprime o modo como se sente na relação
com o(a) seu (sua) companheiro(a).
Duração da relação:
Para cada frase deverá responder de acordo com as seis alternativas que se seguem:
1. O(A) meu(minha) companheiro(a) respeita os meus sentimentos. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
2. Gostava de ser a pessoa mais importante para ela(e), mas não estou certo(a) de que assim seja. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
3. A(O) minha(meu) companheira(o) compreende-me. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
4. Só consigo enfrentar situações novas, se ele(a) estiver comigo. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
5. Às vezes sinto admiração por ele(a); outras vezes não. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
6. Não sei o que me vai acontecer se a nossa relação terminar. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
7. Na minha vida, a minha relação amorosa é secundária. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
8. Sei que posso contar com a(o) minha(meu) companheira(o) sempre que precisar dela(e). ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
9. Sei que, se a minha relação terminar, isso não me vai afectar muito. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
10. Ele(a) dá-me coragem para enfrentar situações novas. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
11. Eu e o(a) meu(minha) companheiro(a) é como se fôssemos um só. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
12. Prefiro que ele(a) me deixe em paz e não ande sempre atrás de mim. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
13. Não gosto de lhe pedir apoio porque sei que nunca me compreenderia. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
14. Ela(e) tem uma importância decisiva na minha maneira de ser. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
15. Tenho sempre a sensação de que a nossa relação vai terminar. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
16. Sempre achei que, apesar de gostar do(a) meu(minha) companheiro(a), não vou sentir muito a falta dele(a) se a
relação terminar. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
17. Às vezes acho que ela(e) é fundamental na minha vida; outras vezes não. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
18. Confio nele(a) para me apoiar em momentos difíceis da minha vida. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
19. Tenho dúvidas se sou realmente importante para ele(a). ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
20. Não preciso dos cuidados do(a) meu(minha) companheiro(a). ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
21. Ele(a) desilude-me muitas vezes. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
22. Quando vou a algum sítio desconhecido, sinto-me melhor se ele(a) estiver comigo. ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
23. Quando tenho um problema, prefiro ficar sozinho(a) a procurar a(o) minha(meu) companheira(o). ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
24. Tenho medo de ficar sozinho(a), se perder a(o) minha(meu) companheira(o). ① ② ③ ④ ⑤ ⑥
25. As relações terminam sempre; mais vale eu não me envolver. ① ② ③
④ ⑤ ⑥
Discordo Totalmente
Discordo Discordo Moderadamente
Concordo Moderadamente
Concordo
Concordo Totalmente
① ② ③ ④ ⑤ ⑥
68
Anexo 4
Differentiation of Self Inventory (DSI)
69
UNIVERSIDADE DO PORTO
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
DSI
(Skowron E.A. & Friedlander M.L., 1998; versão portuguesa: Gouveia T., Oliveira P. & Costa M.E., 2009)
As seguintes questões referem-se a pensamentos e sentimentos que tem sobre si próprio e sobre
as relações com outras pessoas. Por favor, leia atentamente cada frase e decida em que medida a
afirmação é globalmente verdade para si numa escala de 1 (não é de todo verdade) a 6
(totalmente verdade). Se considerar que alguma das questões não se aplica a si (ex: um ou ambos
os pais já faleceram ou não tem uma relação amorosa actualmente), por favor responda à questão
de acordo com o que acha que seriam os seus pensamentos e sentimentos nessa situação.
Responda a todas as questões da forma mais sincera possível.
1 2 3 4 5 6
Não é de todo verdade
Totalmente verdade
1. As pessoas dizem que sou excessivamente emotiva(o). 1 2 3 4 5 6
2. Tenho dificuldade em expressar os meus sentimentos às
pessoas de quem gosto. 1 2 3 4 5 6
3. Muitas vezes sinto-me inibida(o) quando estou em
família. 1 2 3 4 5 6
4. Tenho tendência a manter-me razoavelmente calma(o),
mesmo em situações de stress. 1 2 3 4 5 6
5. Geralmente procuro amenizar e resolver conflitos entre
pessoas que são importantes para mim. 1 2 3 4 5 6
6. Quando alguém próximo me desilude costumo afastar-
me por um tempo. 1 2 3 4 5 6
7. Aconteça o que acontecer na minha vida, nunca deixarei
de ser quem sou. 1 2 3 4 5 6
8. Tenho tendência para me afastar quando alguém se
aproxima demasiado de mim. 1 2 3 4 5 6
9. Pode-se dizer que ainda sou muito ligada(o) aos meus
pais. 1 2 3 4 5 6
10. Gostaria de não ser tão emotiva(o). 1 2 3 4 5 6
70
1 2 3 4 5 6
Não é de todo verdade
Totalmente verdade
11. Não costumo mudar o meu comportamento
simplesmente para agradar outra pessoa. 1 2 3 4 5 6
12. O(A) meu(minha) companheiro(a) não iria tolerar se eu
expressasse os meus verdadeiros sentimentos sobre
determinadas coisas.
1 2 3 4 5 6
13. Sempre que há um problema na minha relação, fico
ansiosa(o) por resolvê-lo rapidamente. 1 2 3 4 5 6
14. Por vezes os meus sentimentos tomam conta de mim e
fico com dificuldade em pensar com clareza. 1 2 3 4 5 6
15. Quando tenho uma discussão com alguém, sou capaz de
separar os meus pensamentos sobre o assunto dos meus
sentimentos acerca da pessoa.
1 2 3 4 5 6
16. Sinto-me pouco à vontade quando as pessoas ficam
muito próximas de mim. 1 2 3 4 5 6
17. É importante para mim manter contacto regular com os
meus pais. 1 2 3 4 5 6
18. Por vezes, sinto-me numa montanha-russa de emoções. 1 2 3 4 5 6
19. Não vale a pena aborrecer-me com coisas que não posso
mudar. 1 2 3 4 5 6
20. Preocupa-me o facto de poder perder a minha
independência nas relações íntimas. 1 2 3 4 5 6
21. Sou excessivamente sensível a críticas. 1 2 3 4 5 6
22. Quando o(a) meu(minha) companheiro(a) está longe por
muito tempo, sinto que falta uma parte de mim. 1 2 3 4 5 6
23. Aceito-me razoavelmente bem. 1 2 3 4 5 6
24. Sinto frequentemente que o(a) meu(minha)
companheiro(a) exige demasiado de mim. 1 2 3 4 5 6
25. Procuro corresponder às expectativas dos meus pais. 1 2 3 4 5 6
26. Quando tenho uma discussão com o(a) meu(minha)
companheiro(a), geralmente penso nisso o dia inteiro. 1 2 3 4 5 6
71
1 2 3 4 5 6
Não é de todo verdade
Totalmente verdade
27. Sou capaz de dizer “não” aos outros mesmo quando me
sinto pressionada. 1 2 3 4 5 6
28. Quando algum relacionamento se começa a tornar muito
intenso, sinto a necessidade de me afastar. 1 2 3 4 5 6
29. Discutir com os meus pais ou irmãos ainda faz com que
me sinta muito mal. 1 2 3 4 5 6
30. Se alguém fica aborrecido comigo, não me consigo
abstrair facilmente. 1 2 3 4 5 6
31. Preocupo-me mais em fazer o que acho correcto do que
em ter a aprovação dos outros. 1 2 3 4 5 6
32. Eu nunca consideraria procurar algum dos elementos da
minha família para ter apoio emocional. 1 2 3 4 5 6
33. Dou por mim a pensar muito na relação que tenho com
o(a) meu(minha) companheiro(a). 1 2 3 4 5 6
34. Sou muito sensível a ser magoada(o) pelos outros. 1 2 3 4 5 6
35. No fundo, a minha auto-estima depende daquilo que os
outros pensam sobre mim. 1 2 3 4 5 6
36. Quando estou com o(a) meu(minha) companheiro(a),
geralmente sinto-me sufocada(o). 1 2 3 4 5 6
37. Preocupa-me que as pessoas que me são próximas
fiquem doentes, magoadas ou preocupadas. 1 2 3 4 5 6
38. Muitas vezes interrogo-me acerca da imagem que crio
nos outros. 1 2 3 4 5 6
39. Quando as coisas estão mal, falar sobre elas geralmente
piora a situação. 1 2 3 4 5 6
40. Sinto as coisas mais intensamente do que os outros. 1 2 3 4 5 6
41. Geralmente faço aquilo que acredito ser correcto,
independentemente do que os outros dizem. 1 2 3 4 5 6
42. A nossa relação podia ser melhor se o(a) meu(minha)
companheiro(a) me desse o espaço de que preciso. 1 2 3 4 5 6
43. Geralmente sinto-me estável emocionalmente mesmo
em situações de stress. 1 2 3 4 5 6
72
Anexo 5
Solicitação de colaboração às famílias
Caro colaborador,
Somos estudantes do curso de Psicologia da Universidade do Porto e, neste
momento encontro-nos a realizar a nossa dissertação de mestrado para conclusão
do curso. Trata-se de uma investigação que pretende compreender as dinâmicas
relacionais dos casais portugueses.
Precisamos que casais unidos pelo casamento ou em união de facto no mínimo há
três anos, em que ambos os pais de ambos os cônjuges também se disponibilizem
a participar.
Para avançar com este projecto, necessitamos encontrar famílias que preencham
os critérios acima referidos, pelo que desde já peço a sua cooperação para a
indicação de mais famílias que conheçam, disponíveis para participar. A sua ajuda
é uma mais-valia.
Junto seguem seis envelopes, um
para cada pessoa da família que
vai participar no estudo. Os três
envelopes que têm um risco azul
são para o homem do casal mais jovem e seus pais; os três envelopes que têm um
risco cor-de-rosa são para a mulher do casal mais jovem e seus pais.
Os questionários são de preenchimento simples e anónimo, por isso peço que, no
seu preenchimento, não troquem impressões sobre as respostas para que não
sejam influenciadas, tal invalida os resultados.
Qualquer dúvida que surja, pode contactar-nos pelo número 936784549 /
934885621.
Agradecemos a sua colaboração.
Ângela Cardoso e Cristina Costa
Atenção. Tenha o cuidado de não enviar nenhuma página dos questionários por
preencher, pois nesse caso os questionários de toda a família não serão válidos.
73
Anexo 6
Qualidades psicométricas do Questionário da Vinculação Amorosa (QVA) – versão
breve
6A: Estrutura fatorial do QVA
6A(a): Medidas de adequabilidade do procedimento de análise fatorial (Kaiser-Meyer-
Olkin e Teste de Esfericidade de Bartlett)
Quadro 6
Medida de Kaiser-Meyer-Olkin e teste de esfericidade de Bartlett para o QVA
Medida de Kaiser-Meyer-Olkin ,924
Teste de esfericidade de Bartlett Qui-Quadrado 4507,035
GL 300
Sig. ,000
6A(b): Variância explicada pelos quatro fatores extraídos
Quadro 7
Variância explicada pelos quatro fatores extraídos do QVA
Fator Total % de variância % cumulativa
1 4,367 18,987 18,987
2 2,738 11,904 30,891
3 2,609 11,345 42,237
4 2,401 10,438 52,674
74
6A (c): Dimensões/itens e saturação ao longo dos quatro fatores extraídos
Quadro 8
Estrutura fatorial do QVA
Fatores Dimensões/Itens
Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4
Evitamento
20. Não preciso dos cuidados do(a) meu(minha) companheiro(a).
0,794 -0,099 -0,003 0,149
16. Sempre achei que, apesar de gostar do(a) meu(minha) companheiro(a), não vou sentir muito a falta dele(a) se a relação terminar.
0,729 -0,090 -0,217 0,185
25. As relações terminam sempre; mais vale eu não me envolver.
0,649 0,009 0,064 0,233
7. Na minha vida, a minha relação amorosa é secundária.
0,646 -0,110 -0,077 0,330
9. Sei que, se a minha relação terminar, isso não me vai afetar muito.
0,620 -0,187 0,028 0,129
23. Quando tenho um problema, prefiro ficar sozinho(a) a procurar a(o) minha(meu) companheira(o).
0,481 -0,120 -0,054 0,414
12. Prefiro que ele(a) me deixe em paz e não ande sempre atrás de mim.
0,371 -0,238 0,016 0,507
Confiança
3. A(O) minha(meu) companheira(o) compreende-me. -0,099 0,796 0,148 -0,142
1. O(A) meu(minha) companheiro(a) respeita os meus sentimentos.
-0,156 0,776 0,054 -0,138
10. Ele(a) dá-me coragem para enfrentar situações novas.
-0,255 0,693 0,282 -0,116
8. Sei que posso contar com a(o) minha(meu) companheira(o) sempre que precisar dela(e).
-0,467 0,457 0,313 -0,040
18. Confio nele(a) para me apoiar em momentos difíceis da minha vida.
-0,567 0,380 0,331 0,093
Dependência
24. Tenho medo de ficar sozinho(a), se perder a(o) minha(meu) companheira(o).
-0,042 0,024 0,737 -0,032
14. Ela(e) tem uma importência decisiva na minha maneira de ser.
0,195 0,126 0,667 -0,255
6. Não sei o que me vai acontecer se a nossa relação terminar.
-0,069 0,145 0,629 0,066
22. Quando vou a algum sítio desconhecido, sinto-me melhor se ele(a) estiver comigo.
-0,324 0,082 0,571 0,067
11. Eu e o(a) meu(minha) compnaheiro(a) é como se fôssemos um só.
-0,236 0,465 0,529 -0,175
4. Só consigo enfrentar situações novas, se ele(a) estiver comigo.
0,187 0,329 0,427 0,115
Ambivalência
5. Às vezes sinto admiração por ele(a); outras vezes não.
0,056 -0,045 -0,003 0,757
17. Às vezes acho que ela(e) é fundamental na minha vida; outras vezes não.
0,446 -0,169 -0,041 0,580
2. Gostava de ser a pessoa mais importante para ela(e), mas não estou certo(a) de que assim seja.
0,253 -0,009 -0,009 0,579
21. Ele(a) desilude-me muitas vezes. 0,429 -0,309 -0,233 0,414
19. Tenho dúvidas se sou realmente importante para ele(a).
0,536 -0,194 0,093 0,371
75
6B: Consistência interna das dimensões do QVA
Quadro 9
Alphas de Cronbach das dimensões do QVA
Dimensões Número de itens Alpha
Evitamento 7 0,835
Confiança 5 0,808
Dependência 6 0,707
Ambivalência 5 0,735
6C: Correlações entre as dimensões do QVA
Quadro 10
Correlações de Pearson entre as dimensões do QVAª
Evitamento Confiança Dependência Ambivalência
Evitamento 1,000 -,519** -,193
** ,703
**
Confiança 1,000 ,530** -,471
**
Dependência 1,000 -,181**
Ambivalência 1,000
**p<.01
a. Listwise N=463
76
Anexo 7
Qualidades psicométricas do Differentiation of Self Inventory (DSI)
7A: Estrutura fatorial do DSI
7A(a): Medidas de adequabilidade do procedimento de análise fatorial (Kaiser-Meyer-
Olkin e Teste de Esfericidade de Bartlett)
Quadro 11
Medida de Kaiser-Meyer-Olkin e teste de esfericidade de Bartlett para o DSI
Medida de Kaiser-Meyer-Olkin 0,834
Teste de esfericidade de Bartlett Qui-Quadrado 4358,049
GL 595
Sig. 0,000
7A(b): Variância explicada pelos quatro fatores extraídos
Quadro 12
Variância explicada pelos quatro fatores extraídos do DSI
Fator Total % de variância % comulativa
1 4,636 13,246 13,246
2 3,499 9,996 23,243
3 2,902 8,292 31,534
4 2,878 8,222 39,756
77
7A (c): Dimensões/itens e saturação ao longo dos quatro fatores extraídos
Quadro 13
Estrutura fatorial do DSI
Fatores
Dimensões/Itens Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4
Emotional Cutoff
42. A nossa relação podia ser melhor se o(a)
meu(minha) companheiro(a) me desse o espaço de
que preciso. 0,688 0,092 0,088 0,054
36. Quando estou com o(a) meu(minha)
companheiro(a), geralmente sinto-me sufocada(o). 0,658 0,030 0,244 0,030
3. Muitas vezes sinto-me inibida(o) quando estou em
família. 0,620 0,151 0,126 -0,074
8. Tenho tendência para me afastar quando alguém se
aproxima demasiado de mim. 0,598 -0,015 -0,003 -0,030
28. Quando algum relacionamento se começa a tornar
muito intenso, sinto a necessidade de me afastar. 0,594 0,156 -0,096 -0,014
12. O(A) meu(minha) companheiro(a) não iria tolerar
se eu expressasse os meus verdadeiros sentimentos
sobre determinadas coisas. 0,594 0,167 0,025 -0,042
39. Quando as coisas estão mal, falar sobre elas
geralmente piora a situação. 0,570 0,101 0,040 0,004
16. Sinto-me pouco à vontade quando as pessoas
ficam muito próximas de mim. 0,557 0,215 0,025 0,018
2. Tenho dificuldade em expressar os meus
sentimentos às pessoas de quem gosto. 0,536 0,071 -0,133 -0,052
32. Eu nunca consideraria procurar algum dos
elementos da minha família para ter apoio emocional. 0,531 -0,120 0,040 -0,067
24. Sinto frequentemente que o(a) meu(minha)
companheiro(a) exige demasiado de mim. 0,496 0,165 0,176 0,104
20. Preocupa-me o facto de poder perder a minha
independência nas relações íntimas. 0,380 0,339 -0,043 -0,024
Emotional Reactivity
1. As pessoas dizem que sou excessivamente
emotiva(o). 0,077 0,670 -0,015 -0,011
34. Sou muito sensível a ser magoada(o) pelos outros. 0,108 0,647 -0,022 0,294
18. Por vezes, sinto-me numa montanha-russa de
emoções. 0,125 0,593 0,022 0,082
14. Por vezes os meus sentimentos tomam conta de
mim e fico com dificuldade em pensar com clareza. 0,089 0,582 -0,093 -0,025
10. Gostaria de não ser tão emotiva(o). 0,351 0,521 0,009 0,069
21. Sou excessivamente sensível a críticas. 0,173 0,501 -0,029 0,122
30. Se alguém fica aborrecido comigo, não me consigo
abstrair facilmente. -0,069 0,458 -0,191 0,260
40. Sinto as coisas mais intensamente do que os
outros. 0,261 0,453 0,074 0,166
26. Quando tenho uma discussão com o(a)
meu(minha) companheiro(a), geralmente penso nisso
o dia inteiro. -0,072 0,413 -0,288 0,283
38. Muitas vezes interrogo-me acerca da imagem que
crio nos outros. 0,321 0,381 0,113 0,162
78
“I” Position
41. Geralmente faço aquilo que acredito ser correcto,
independentemente do que os outros dizem. 0,017 -0,143 0,673 -0,034
31. Preocupo-me mais em fazer o que acho correcto
do que em ter a aprovação dos outros. 0,078 -0,130 0,644 -0,124
23. Aceito-me razoavelmente bem. 0,201 -0,001 0,595 -0,179
11. Não costumo mudar o meu comportamento
simplesmente para agradar outra pessoa. 0,032 -0,099 0,551 -0,064
7. Aconteça o que acontecer na minha vida, nunca
deixarei de ser quem sou. 0,101 -0,059 0,515 -0,221
27. Sou capaz de dizer “não” aos outros mesmo
quando me sinto pressionada. -0,150 0,171 0,515 -0,051
35. No fundo, a minha autoestima depende daquilo
que os outros pensam sobre mim. 0,420 0,302 0,465 0,202
43. Geralmente sinto-me estável emocionalmente
mesmo em situações de stress. -0,129 0,235 0,349 -0,277
Fusion with Others
17. É importante para mim manter contato regular com
os meus pais. -0,019 0,139 -0,177 0,806
9. Pode-se dizer que ainda sou muito ligada(o) aos
meus pais. 0,073 0,127 -0,082 0,792
25. Procuro corresponder às expectativas dos meus
pais. 0,027 0,155 -0,107 0,777
29. Discutir com os meus pais ou irmãos ainda faz com
que me sinta muito mal. -0,107 0,269 -0,248 0,509
5. Geralmente procuro amenizar e resolver conflitos
entre pessoas que são importantes para mim. -0,151 0,161 -0,319 0,412
79
7B: Consistência interna das dimensões do DSI
Quadro 14
Alphas de Cronbach das dimensões do DSI
Dimensões Número de itens Alpha
Emotional Cutoff 12 0,827
Emotional Reactivity 10 0,772
“I” Position 8 0,680
Fusion with Others 5 0,776
DSI Total 43 0,799
7C: Correlações entre as dimensões do DSI e DSI Escala Total
Quadro 15
Correlações de Pearson entre as dimensões do DSIa
Emotional Cutoff
Emotional
Reactivity “I” Position
Fusion with
Others DSI Total
Emotional Cutoff 1,000 0,389
** 0,221
** -0,013 0,807
**
Emotional Reactivity 1,000 -0,014 0,410** 0,768
**
“I” Position 1,000 -0,344** 0,332
**
Fusion with Others 1,000 0,353**
DSI Total 1,000
**p<.01
a. Listwise N=433
80
Anexo 8
Efeito do sexo e da escolaridade sobre a vinculação ao companheiro
8A: Teste dos efeitos principais intersujeitos do sexo e da escolaridade para as
dimensões da vinculação ao companheiro
8B: Médias e desvios-padrão para as dimensões da vinculação ao companheiro
onde há diferenças
Quadro 17
Médias e desvios-padrão para as dimensões da vinculação ao companheiro onde há diferenças
Fonte
Categoria
Variável dependente
Evitamento Confiança Ambivalência
Média Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Escolaridade 1º Ciclo (n
a=214)
2,966 0,072 4,658 0,057 3,294 0,070
2º Ciclo (n
a=58)
2,608 0,139 4,834 0,110 3,190 0,135
3º Ciclo (n
a=56)
2,388 0,141 5,032 0,112 3,043 0,137
Secundário (n
a=74)
2,363 0,123 5,051 0,097 2,870 0,120
Superior (n
a=50)
2,169 0,150 5,200 0,118 2,556 0,145
a = Listwise
Quadro 16
Teste dos efeitos principais intersujeitos do sexo e da escolaridade para as dimensões da vinculação ao companheiro
Fonte Variável dependente
Ʃ dos quadrados
GL Quadrado médio
F Sig. Eta2
Escolaridade Evitamento 42,942 4 10,735 9,583 0,000 0,079
Confiança 18,890 4 4,722 6,748 0,000 0,057
Ambivalência 27,437 4 6,859 6,488 0,000 0,055
81
Anexo 9
Efeito do sexo e da escolaridade sobre a diferenciação do self
9A: Teste dos efeitos principais intersujeitos do sexo e da escolaridade para as
dimensões da diferenciação do self
Quadro 18
Teste dos efeitos principais intersujeitos do sexo e da escolaridade para as dimensões da diferenciação do self
Fonte Variável dependente Ʃ dos quadrados
GL Quadrado médio
F Sig. Eta2
Sexo Emotional Reactivity 12,624 1 12,624 19,739 0,000 0,044
Fusion with Others 13,349 1 13,349 11,004 0,001 0,025
Escolaridade Emotional Cutoff 27,782 4 6,946 8,845 0,000 0,078
Emotional Reactivity 6,712 4 1,678 2,509 0,041 0,023
“I” Position 12,301 4 3,075 5,894 0,000 0,053
Fusion with Others 22,841 4 5,710 4,751 0,001 0,043
82
9B: Médias e desvios-padrões para as dimensões da diferenciação do self onde há
diferenças
Quadro 19
Médias e desvios-padrões para as dimensões da vinculação ao companheiro onde há diferenças
Fonte Categoria
Variável dependente
Emotional Cutoff Emotional Reactivity
Média Desvio-padrão Média Desvio-padrão
Sexo Feminino (n=212)a
2,85 0,76
Masculino (n=221)a
3,19 0,84
Escolaridade 1º Ciclo (n=198)a 3,68 0,91 3,05 0,81
2º Ciclo (n=53)a 3,90 0,90 3,02 0,76
3º Ciclo (n=58)a 3,83 0,86 2,73 0,91
Secundário (n=69)a 4,22 0,88 3,06 0,81
Superior (n=47)a 4,38 0,80 3,20 0,80
Fonte
Categoria
Variável dependente
“I” Position Fusion with Others
Média Desvio-padrão Média Desvio-padrão
Sexo Feminino (n=212)a 2,40 1,04
Masculino (n=221)a 2,75 1,16
Escolaridade 1º Ciclo (n=198)a 4,27 0,73 2,80 1,18
2º Ciclo (n=53)a 4,41 0,81 2,49 1,05
3º Ciclo (n=58)a 4,48 0,70 2,26 1,01
Secundário (n=69)a 4,66 0,74 2,31 0,88
Superior (n=47)a 4,71 0,56 2,36 1,17
a = Listwise
Nota. Apresentam-se as médias e os desvios-padrões para as dimensões em que a MANOVA revelou um
efeito principal da variável analisada.
83
Anexos 10
Efeito da idade e da duração da relação na vinculação ao companheiro
10A: Modelos de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro
Quadro 20
Modelos de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro
Variável dependente
Preditores R R2 R
2 ajustado Erro padrão
da estimativa
Evitamento Idade 0,242 0,059 0,055 1,062
Duração da Relação
Confiança Idade 0,215 0,046 0,042 0,844
Duração da Relação
Dependência Idade 0,099 0,010 0,006 0,908
Duração da Relação
Ambivalência Idade 0,200 0,040 0,036 1,034
Duração da Relação
10B: Análises de variância para os modelos de regressão das dimensões da
vinculação ao companheiro
Quadro 21
Análises de variância para os modelos de regressão das dimensões da vinculação ao companheiro
Dimensão Quadrados GL Quadrado
Médio F Sig.
Evitamento Regressão 33,029 2 16,515 14,616 0,000
Residual 529,910 469 1,130
Total 562,939 471
Confiança Regressão 16,341 2 8,171 11,466 0,000
Residual 338,480 475 0,713
Total 354,822 477
Dependência Regressão 3,833 2 1,916 2,325 0,099
Residual 389,882 473 0,824
Total 393,714 475
Ambivalência Regressão 20,988 2 10,494 9,822 0,000
Residual 505,347 473 1,068
Total 526,336 475
84
10C: Coeficientes de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro
Quadro 26
Coeficientes de regressão para as dimensões da vinculação ao par amoroso
Dimensão Preditores
Coeficientes não-
estandardizados
Coeficientes
estandardizados t Sig.
Coeficiente de
correlação
Erro padrão Part
Evitamento (Constante) 2,471 0,280 8,826 0,000
Idade -0,010 0,010 -0,145 -1,024 0,306 -0,046
Duração da Relação
0,027 0,010 0,376 2,650 0,008 0,119
Confiança (Constante) 5,281 0,221 23,887 0,000
Idade -0,004 0,008 -0,078 -0,553 0,581 -0,025
Duração da Relação
-0,008 0,008 -0,139 -0,980 0,328 -0,044
Dependência (Constante) 4,593 0,240 19,156 0,000
Idade -0,019 0,009 -0,309 -2,131 0,034 -0,098
Duração da Relação
0,019 0,009 0,308 2,126 0,034 0,097
Ambivalência (Constante) 2,998 0,273 10,973 0,000
Idade -0,010 0,010 -0,150 -1,043 0,298 -0,047
Duração da Relação
0,024 0,010 0,337 2,336 0,020 0,105
85
Anexo 11
Efeito da idade e da duração da relação na diferenciação do self
11A: Modelos de regressão para as dimensões da diferenciação do self
Quadro 23
Modelos de regressão para as dimensões da diferenciação do self
Variável
dependente
Preditores R R2 R
2 ajustado Erro padrão da
estimativa
Emotional
Cutoff
Idade 0,230 0,053 0,049 0,897
Duração da Relação
Emotional
Reactivity
Idade 0,084 0,007 0,003 0,817
Duração da Relação
“I” Position Idade 0,204 0,042 0,037 0,730
Duração da Relação
Fusion with
Others
Idade 0,242 0,058 0,054 1,074
Duração da Relação
11B: Análises de variância para os modelos de regressão das dimensões da
diferenciação do self
Quadro 24
Análises de variância para os modelos de regressão das dimensões da diferenciação do self
Dimensão Quadrados GL Quadrado Médio F Sig.
Emotional
Cutoff Regressão 20,584 2 10,292 12,793 0,000
Residual 370,077 460 0,805
Total 390,662 462
Emotional
Reactivity Regressão 2,215 2 1,108 1,658 0,192
Residual 311,197 466 0,668
Total 313,412 468
“I” Position Regressão 10,869 2 5,435 10,181 0,000
Residual 250,893 470 0,534
Total 261,763 472
Fusion with
Others Regressão 32,045 2 16,023 13,893 0,000
Residual 516,663 448 1,153
Total 548,708 450
86
11C: Coeficientes de regressão para as dimensões da diferenciação do self
Quadro 25
Coeficientes de regressão para as dimensões da diferenciação do self
Dimensão Preditores
Coeficientes não-
estandardizados
Coeficientes
estandardizados T Sig.
Coeficiente
de correlação
Erro
padrão Part
Emotional
Cutoff
(Constante) 4,031 0,238
16,960 0,000
Idade 0,008 0,009 0,137 0,964 0,335 0,044 Duração da
Relação -0,022 0,009 -0,356 -2,496 0,013 -0,113
Emotional
Reactivity
(Constante) 2,625 0,216
12,154 0,000
Idade 0,014 0,008 0,261 1,792 0,074 0,083
Duração da
Relação
-0,013 0,008 -0,233 -1,597 0,111 -0,074
“I” Position (Constante) 4,621 0,193
23,982 0,000
Idade 0,003 0,007 0,058 0,407 0,684 0,018
Duração da
Relação -0,013 0,007 -0,258 -1,804 0,072 -0,081
Fusion with
Others
(Constante) 1,601 0,296
5,415 0,000
Idade 0,021 0,011 0,293 1,941 0,053 0,089
Duração da
Relação
-0,004 0,011 -0,055 -0,362 0,717 -0,017
87
Anexo 12
Clusters para a vinculação ao companheiro
12A: Teste dos efeitos principais intersujeitos para as dimensões da vinculação ao
companheiro, em função do cluster.
Quadro 26
Teste dos efeitos principais intersujeitos para as dimensões da vinculação ao companheiro,
em função do cluster
Fonte Variável
dependente
Ʃ dos
quadrados GL
Quadrado
médio F Sig.
Eta
quadrado
Cluster Evitamento 388.72 3 129.57 371.73 0.000 0.71
Confiança 222.72 3 74.24 291.67 0.000 0.66
Dependência 161.57 3 53.86 111.67 0.000 0.42
Ambivalência 314.03 3 104.68 252.28 0.000 0.62
12B: Teste dos efeitos principais intersujeitos para as dimensões da diferenciação
do self, em função do cluster
Quadro 27
Teste dos efeitos principais intersujeitos para as dimensões da diferenciação do self, em
função do cluster
Fonte Variável
dependente
Ʃ dos
quadrados GL
Quadrado
médio F Sig.
Eta
quadrado
Cluster Emotional Cutoff 131.13 3 43.71 84.99 0.000 0.38
Emotional Reactivity 14.97 3 4.99 7.90 0.000 0.06
“I” Position 26.37 3 8.79 18.02 0.000 0.12
Fusion with Others 34.39 3 11.46 9.66 0.000 0.07
Escala total 25.84 3 8.62 37.23 0.000 0.21
88
12C: Comparação de pares de médias (Teste de Scheffe) para as dimensões da
vinculação ao companheiro e da diferenciação do self, em função do Cluster
12Ca: Dimensões da vinculação ao companheiro
Quadro 28
Teste de Scheffe para as dimensões da vinculação ao companheiro, em função do cluster
Variável dependente Cluster Cluster Diferença de médias Erro padrão Sig.
Evitamento Preocupado Desinvestido -0.96* 0,073 0,000 Amedrontado -1.86* 0,081 0,000 Seguro 0.85* 0,073 0,000 Desinvestido Preocupado 0.96* 0,073 0,000 Amedrontado -0.90* 0,088 0,000 Seguro 1.81* 0,081 0,000 Amedrontado Preocupado 1.86* 0,081 0,000 Desinvestido 0.90* 0,088 0,000 Seguro 2.71* 0,089 0,000 Seguro Preocupado -0.85* 0,073 0,000 Desinvestido -1.81* 0,081 0,000 Amedrontado -2.71* 0,089 0,000
Confiança Preocupado Desinvestido 1,40* 0,06 0,000 Amedrontado 0,32* 0,07 0,000 Seguro -0,57* 0,06 0,000 Desinvestido Preocupado -1,40* 0,06 0,000 Amedrontado -1,08* 0,08 0,000 Seguro -1,97* 0,07 0,000 Amedrontado Preocupado -0,32* 0,07 0,000 Desinvestido 1,08* 0,08 0,000 Seguro -0,89* 0,08 0,000 Seguro Preocupado 0,57* 0,06 0,000 Desinvestido 1,97* 0,07 0,000 Amedrontado 0,89* 0,08 0,000
Dependência Preocupado Desinvestido 0,90* 0,09 0,000 Amedrontado -0,47* 0,10 0,000 Seguro -0,74* 0,09 0,000 Desinvestido Preocupado -0,90* 0,09 0,000 Amedrontado -1,38* 0,10 0,000 Seguro -1,65* 0,10 0,000 Amedrontado Preocupado 0,47* 0,10 0,000 Desinvestido 1,38* 0,10 0,000 Seguro -0,27 0,10 ,084 Seguro Preocupado 0,74* 0,09 0,000 Desinvestido 1,65* 0,10 0,000 Amedrontado 0,27 0,10 ,084
Ambivalência Preocupado Desinvestido -0,61* 0,08 0,000 Amedrontado -1,15* 0,09 0,000 Seguro 1,29* 0,08 0,000 Desinvestido Preocupado 0,61* 0,08 0,000 Amedrontado -0,53* 0,10 0,000 Seguro 1,90* 0,09 0,000 Amedrontado Preocupado 1,15* 0,09 0,000 Desinvestido 0,53* 0,10 0,000 Seguro 2,43* 0,10 0,000 Seguro Preocupado -1,29* 0,08 0,000 Desinvestido -1,90* 0,09 0,000 Amedrontado -2,43* 0,10 0,000
p < .05
89
12Cb: Dimensões da diferenciação do self
Quadro 29
Teste de Scheffe para as dimensões da diferenciação do self, em função do cluster
Variável dependente Cluster Cluster Diferença de médias Erro padrão Sig.
Emotional Cutoff Preocupado Desinvestido 0,45* 0,09 0,000 Amedrontado 1,14* 0,11 0,000 Seguro -0,60* 0,09 0,000 Desinvestido Preocupado -0,45* 0,09 0,000 Amedrontado 0,69* 0,11 0,000 Seguro -1,05* 0,10 0,000 Amedrontado Preocupado -1,14* 0,11 0,000 Desinvestido -0,69* 0,11 0,000 Seguro -1,75* 0,11 0,000 Seguro Preocupado 0,60* 0,09 0,000 Desinvestido 1,05* 0,10 0,000 Amedrontado 1,75* 0,11 0,000
Emotional Reactivity Preocupado Desinvestido -0,12 0,10 0,710 Amedrontado 0,47* 0,12 0,001 Seguro 0,10 0,10 0,836 Desinvestido Preocupado 0,12 0,10 0,710 Amedrontado 0,59* 0,13 0,000 Seguro 0,22 0,12 0,316 Amedrontado Preocupado -0,47* 0,12 0,001 Desinvestido -0,59* 0,13 0,000 Seguro -0,38* 0,13 0,035 Seguro Preocupado -0,10 0,10 0,836 Desinvestido -0,22 0,12 0,316 Amedrontado 0,38* 0,13 0,035
“I” Position Preocupado Desinvestido 0,52* 0,09 0,000 Amedrontado 0,22 0,10 0,198 Seguro -0,17 0,09 0,301 Desinvestido Preocupado -0,52* 0,09 0,000 Amedrontado -0,30 0,11 0,072 Seguro -0,69* 0,10 0,000 Amedrontado Preocupado -0,22 0,10 0,198 Desinvestido 0,30 0,11 0,072 Seguro -0,40* 0,11 0,006 Seguro Preocupado 0,17 0,09 0,301 Desinvestido 0,69* 0,10 0,000 Amedrontado 0,40* 0,11 0,006
Fusion with Others Preocupado Desinvestido -0,27 0,14 0,294 Amedrontado 0,29 0,16 0,362 Seguro 0,53* 0,14 0,004 Desinvestido Preocupado 0,27 0,14 0,294 Amedrontado 0,56* 0,17 0,017 Seguro 0,80* 0,16 0,000 Amedrontado Preocupado -0,29 0.16 0,362 Desinvestido -0,56* 0,17 0,017 Seguro 0,24 0,17 0,599 Seguro Preocupado -0,53* 0,14 0,004 Desinvestido -0,80* 0,16 0,000 Amedrontado -0,24 0,17 0,599
90
Escala total Preocupado Desinvestido 0,20* 0,06 0,018
Amedrontado 0,62* 0,07 0,000
Seguro -0,14 0,06 0,151
Desinvestido Preocupado -0,20* 0,06 0,018
Amedrontado 0,42* 0,08 0,000
Seguro -0,34* 0,07 0,000
Amedrontado Preocupado -0,62* 0,07 0,000
Desinvestido -0,42* 0,08 0,000
Seguro -0,76* 0,08 0,000
Seguro Preocupado 0,14 0,06 0,151
Desinvestido 0,34* 0,07 0,000
Amedrontado 0,76* 0,08 0,000
p < .05
91
12D: Composição dos Clusters
Quadro 34
Composição dos Clusters (N=463)
Seguro
(n=105)
Preocupado
(n=174)
Amedrontado
(n=77)
Desinvestido
(n=107)
Sexo
Feminino n=52 n=80 n=42 n=56
Masculino n=53 n=94 n=35 n=51 Idade
≤ 30 n=16 n=17 n=7 n=8
31 – 40 n=17 n=13 n=11 n=6
41 – 49 n=12 n=28 n=13 n=12
50 – 59 n=32 n=36 n=18 n=12
60 – 68 n=15 n=43 n=27 n=26
69 – 78 n=13 n=12 n=23 n=11
> 79 n=0 n=4 n=8 n=2
M=49.05 M=49.92 M=54.56 M=57.28
DP=15.13 DP=14.48 DP=14.65 DP=15.70
Valores omissos = 1
Duração da relação
≤ 10 n=31 n=42 n=10 n=15
11 – 19 n=10 n=27 n=5 n=10
20 – 28 n=9 n=25 n=11 n=12
29 – 38 n=34 n=43 n=16 n=23
39 – 47 n=12 n=23 n=25 n=21
> 48 n=9 n=14 n=10 n=26
M=24.54. M=24.98 M=31.31 M=32.35
DP=15.59 DP=14.57 DP=13.42 DP=15.02
Escolaridade
1º Ciclo n=37
n=65
n=50
n=62
2º Ciclo n=16
n=19
n=9
n=14
3º Ciclo n=17
n=23
n=6
n=10
Secundário n=17
n=39
n=9
n=9
Superior n=18
n=24
n=2
n=6
Valores omissos = 4
Valores omissos = 1
Valores omissos = 6
92
Anexo 13
Modelos de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro, obtidos
pelo método stepwise
13A: Análise de variância (ANOVA) da regressão
Quadro 31
Análises de variância para os modelos de regressão das dimensões da vinculação ao companheiro
Dimensão Quadrados GL Quadrado Médio F Sig.
Evitamento Regressão 224,580 3 74,860 109,104 0,000a
Residual 286,804 418 0,686
Total 511,384 421
Confiança Regressão 80,378 4 20,095 34,615 0,000b
Residual 245,562 423 0,581
Total 325,940 427
Dependência Regressão 34,276 2 17,138 22,598 0,000c
Residual 320,803 423 0,758
Total 355,079 425
Ambivalência Regressão 142,333 2 71,166 92,676 0,000d
Residual 324,058 422 0,768
Total 466,391 424
a. Preditores: DSI_EmotionalCutoff, DSI_IPosition, DSI_EmotionalReactivity
b. Preditores: DSI_EmotionalCutoff, DSI_IPosition, DSI_EmotionalReactivity, DSI_FusionWithOthers
c. Preditores: DSI_EmotionalReactivity, DSI_IPosition
d. Preditores: DSI_EmotionalCutoff, DSI_IPosition
93
13B: Coeficientes de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro
Quadro 32
Coeficientes de regressão para as dimensões da vinculação ao companheiro
Dimensão Preditores
Coeficientes não-
estandardizados
Coeficientes
estandardizados t Sig.
Erro padrão
Evitamento (Constante) 6,028 0,294
20,502 0,000
EmotionalCutoff -0,804 0,050 -0,662 -16,201 0,000
“I” Position -0,136 0,056 -0,092 -2,420 0,016
Emotional
Reactivity 0,124 0,054 0,092 2,312 0,021
Confiança (Constante) 3,080 0,300
10,258 0,000
EmotionalCutoff 0,350 0,046 0,361 7,624 0,000
“I” Position 0,260 0,054 0,221 4,789 0,000
Emotional
Reactivity -0,175 0,055 -0,162 -3,172 0,002
Fusion with Others -0,089 0,039 -0,113 -2,251 0,025
Dependência (Constante) 4,478 0,303
14,795 0,000
EmotionalReactivit
y -0,323 0,052 -0,286 -6,193 0,000
“I” Position 0,143 0,057 0,116 2,514 0,012
Ambivalência (Constante) 6,330 0,287
22,045 0,000
EmotionalCutoff -0,570 0,048 -0,491 -11,779 0,000
“I” Position -0,233 0,059 -0,165 -3,947 0,000